Fanfic e Capa: Ana
Beta: Luddie



Fanfic dedicada à minha amiga que, além de ter betado essa fanfic, tem um tombo uma queda pelo Rob, e pra quem eu prometi uma short-fic dele. Espero que essa sirva, Luddie! Hahaha. xx


Ai, merda!

Levei meu dedo indicado a boca, unindo minhas sobrancelhas em uma expressão dolorosa. É claro que eu tinha que ser burra o suficiente para me cortar com papel. Com papel. E essa porcaria doía. Fiquei de pé e corri para o banheiro, enfiando meu dedo debaixo da torneira e deixando a água amenizar a ardência enquanto eu erguia minha cabeça e encarava o teto branco. De verdade, essa não era nem de longe minha idéia de um fim-de-semana perfeito. Quer dizer, era sexta-feira e eu estava presa dentro do meu próprio apartamento terminando as lembrancinhas do casamento da minha irmã mais nova. Mais nova!

Se ela queria tudo tão perfeito, por que tinha deixado qualquer coisa sob meus cuidados? Eu sou o desastre em pessoa. Eu posso fazer o impossível em se tratando de quebrar coisas. Isso deveria incluir pequenos corações de ouro embrulhados em papéis dourados e colocados dentro de cestinhas com cheiro de baunilha. Eu nem me arriscava a tentar entender que tipo de lembrança era aquela.

Bom, pensando bem, poderia ser até pior: a imagem de dois dias atrás voltou a minha mente, com minha mãe abaixada, segurando nas mãos um pedaço do vestido que minha irmã fizera a costureira arrancar para colocar outro detalhe que ela decidira de última hora. Casamentos nunca iam fazer o menor sentido para mim. Afinal, eu não acreditava neles.

- ! – fechei meus olhos ao ouvir uma voz conhecida berrar meu nome, e fechei a torneira. Puxei a toalha de mão e a enrolei no meu dedo, enquanto caminhava apressada e irritada até minha varanda. Olhei para baixo e Jim abriu um sorriso largo para mim. Jim. O noivo. A versão masculina da minha irmã. O cara mais chato e idiota que eu lembrava já ter conhecido em vida. E para quem eu devia estar, infelizmente, abrindo o portão para que pudesse entrar.

Como Jim era tão chato quanto ela, minha irmã resolvera que ele podia cuidar de alguns detalhes do casamento, enquanto ela cuidava de outros. Fazia sentido, já que ele parecia querer que o casamento fosse um evento tão grande quanto ela queria. Eu tinha pena dos filhos que eles teriam.

- Bom dia. – ele disse, quando abri a porta do meu apartamento e ele passou por ela, exibindo suas jeans escuras, sua blusa social, seus sapatos brilhantes e seus cabelos loiros engomados de gel, puxados para trás. Ele também tinha o nariz meio arrebitado, a boca pequena e os olhos azuis e grandes. Eu ia passar o resto da minha vida jurando que aquele nariz era fruto de uma plástica muito bem feita, mas ninguém me dava a mínima atenção, já que mamãe idolatrava Jim, e papai gostava de fingir que ele não existia. Eu estava sozinha nessa.

- Estão prontos. – eu respondi, fechando a porta e largando a toalha em cima da mesa de jantar. Jim logo olhou para a mesa de centro da minha sala de estar, onde cinco caixas estavam empilhadas e algumas lembrancinhas ainda estavam do lado de fora. – Só falta colocar aqueles lá na última caixa.

- Será que pode fazer isso enquanto uso o banheiro? – sorri amarelo. – Ótimo, obrigado. – rolei os olhos e mostrei a língua enquanto ele virava de costas e seguia o corredor até o banheiro. Babaca fresco.

Senti-me incrivelmente aliviada quando fechei a quinta caixa de lembrancinhas e Jim apareceu na sala de estar de novo.

- É só isso. Pode levar. E bom casamento! – foi quando ele lançou o olhar que lançou que eu senti meus ombros caírem, pesados. – Ai, o que é? Eu esqueci alguma coisa? – ele rolou os olhos, impaciente.

- Não, sua tapadinha. Você vem! Sua irmã precisa de você, o casamento é em dois dias, você bem sabe disso!

- Por que ela precisa de mim? Ela tem mamãe e mais umas trinta pessoas arrumando aquela porcaria de casa. Eu não vou servir de nada.

- Alguém precisa fazer o trabalho sujo. – foi tudo que ele disse, antes de me fazer ficar de pé e me empurrar para o meu quarto, onde me obrigou a fazer uma mala (com roupas para um mês, não dois dias).


Fran, minha irmã, tinha decidido casar numa casa de campo. Toda aquela coisa clichê de tendas, garçons de branco, e mato. Eu realmente não tinha nada contra, desde que não tivessem me obrigado a me enfiar em um vestido rosa-chá de alças finas e com uma saia armada que me fazia sentir presa em um filme de baixo orçamento dos anos sessenta. De quebra, eu tinha ganhado (sem pedir e sem querer) um fone de ouvido com microfone, para carregar nas quatro horas que antecediam o casamento, me certificando de que tudo estava em seu devido lugar. É claro que eu já tinha abaixado o volume do áudio e estava tomando Coca-cola do bar que tinha achado a uns cinco quilômetros daqui. Tinha sido quase impossível conseguir pegar um carro para dirigir em busca de civilização, e não teria conseguido se papai também não quisesse muito uma cerveja.

Agora eu estava encostada na varanda da casa, de braços cruzados e aproveitando o vento que batia enquanto o gelado do refrigerante me deixava até num humor razoavelmente melhor. Foi exatamente aí que a coisa ficou doida.

- Hey, será que você pode me ajudar? Parece que sim. – eu estava com o olhar perdido no trabalho de um pessoal da organização do casamento, que tentava se certificar de que uma das quatro tendas ia ficar de pé mesmo com o vento forte, e quase não acreditei quando focalizei no cara que tentava me pedir informações. Ele era bonito demais para ser verdade. Só podia estar no lugar errado.

- Tem certeza disso? Eu acho que você não deveria estar aqui. – soltei, e ele franziu a testa, aparentemente confuso.

- E por quê? Por um acaso é alguma área restrita do casamento? – perguntou, mas voltou a falar antes que eu tivesse chance de responder: - Bom, em se tratando do casamento de Jim, eu deveria dizer que isso é bem possível. – então eu ri.

- Ah, então você conhece Jim e também acha isso patético? Você não só está no lugar certo, como também falando com a pessoa certa. – sorri e estiquei a mão para cumprimentá-lo. – , irmã da noiva, madrinha do casamento e aqui contra vontade própria. – ele abriu um sorriso incrível e me cumprimentou. Hm, bom aperto de mão. Bonito e macho.

- Rob Pattinson, primo de segundo grau do noivo, padrinho do casamento e aqui porque sou o único que conseguiu aturar Jim e que não quer, aparentemente, “roubar a cena”. – ele fez aspas no ar, e eu logo visualizei os amigos de Jim, tão babacas quanto ele, e entendi onde ele queria chegar. O único problema era que eu não conseguia ver como ele poderia não roubar a cena.

Rob tinha os cabelos castanho-claros, arrumados de um jeito totalmente bagunçados, que me fazia duvidar de que estavam mesmo arrumados, olhos azuis profundos e atraentes, o físico magro, mas na medida certa, e extremamente sexy na roupa formal de casamento. A verdade era que eu queria pular em cima dele ali mesmo. Vê? Ele me fazia até ter pensamentos maldosos. E, claro, vamos fingir que eu não tenho pensamentos maldosos.

- , cadê você? ? ! – Fran berrou tão alto que nem o áudio super baixo dos fones conseguiu conter sua voz de ecoar nos meus ouvidos e chegar até Rob, que pulou de susto (assim como eu) com a voz que saíra aparentemente de lugar nenhum. Quando notei de onde vinha a voz de Fran, rolei os olhos e aproximei o microfone da minha boca.

- Que é? – resmunguei. Rob pareceu conter uma risada, e passou a mão direita pelo rosto, passando depois pela nuca e abaixando a cabeça. Deus, como ele era charmoso! Fran bufou do outro lado da linha.

- Será que pode checar como está a família de Jim? Quero ter certeza de que está tudo como eles querem. – claro, vá lá, me escravize, eu sou só sua irmã mais velha que por um acaso tem mais o que fazer e que gostaria de poder ter mais tempo para investir na bela obra postada bem a sua frente. Suspirei.

- Claro, claro. Vou lá e já te digo como estão as coisas. – Rob voltou a me olhar quando percebeu que eu terminara a conversa. – Fran. – disse, apontando para o fone de ouvido. – Ela quer que eu vá ver como está a sua família. – apontei para ele, que ergueu as sobrancelhas e riu.

- Você vai precisar de alguém que os conheça. – e, antes que eu pudesse concluir que ele estava indo comigo, ele já tinha me puxado pelo braço e começado a me arrastar para a mesa de seus familiares.


Acho que me esqueci de especificar que estávamos no ensaio do casamento. No ensaio do almoço que seguiria o casamento, na verdade.

- São aqueles. – Rob apontou para uma das maiores mesas na segunda tenda: logo identifiquei a mãe de Jim, que eu já tinha conhecido há uma semana, com seu vestido vermelho e uma rosa da mesma cor presa ao topo do coque em que seu cabelo estava preso. Ela parecia só precisar de um taco para ir para o México. Ao lado dela, estava um rapaz de aparentemente a mesma idade que eu ou Rob, e ele devia ser uma das mais novas aquisições da mãe de Jim, que era uma velha cheia de dinheiro e fogo no rabo. O cara tinha a exata aparência de um daqueles de vinte e poucos anos tentando dar o golpe do baú em alguma vovó tarada.

- Eles não vão me morder, vão? – perguntei, e Rob riu. Mas eu estava falando sério. Andamos até a mesa, e eu abri meu sorriso treinado para situações assim: falar com quem eu não queria nem saber que existia e ainda assim parecer simpática.

- Pessoal! – Rob chamou, aumentando um pouco o tom de voz. As vinte e poucas pessoas dali olharam para ele primeiro, depois moveram seus olhares para mim e então de mim para ele, e dele para mim, feito um jogo de ping-pong.

- Hm, licença. – soltei uma risadinha. – Eu sou a irmã da noiva e vim aqui, a pedido dela, me certificar de que está tudo bem. Vocês precisam de algo? – a mãe de Jim me olhou de cima a baixo, e franziu o nariz. Ergui o olhar, observando as pessoas mais atrás na mesa. Na ponta oposta, de frente para mim, estava uma mulher de uns cinquenta anos, com os cabelos loiro-escuros presos em um rabo-de-cavalo elegante e usando um lindo vestido azul-turquesa leve. Ela abriu um sorriso simples, e acenou. Olhei para trás e notei Rob acenando de volta para ela. Ela sorriu para mim em seguida, e eu abri um pequeno sorriso de volta, um pouco surpresa. Nem imaginava que pudesse ter alguém decente na família de Jim. Bom, eu tinha Rob bem atrás de mim.

- Estamos bem. O lugar está bem bonito. – foi um cara, que aparentava ter a mesma idade que eu, quem respondeu. Ele tinha os cabelos negros e cacheados e... Er, taturanas no lugar do que deveriam ser suas sobrancelhas. Eu me contive de arregalar os olhos, e jurava que podia sentir Rob quase rindo. Sorri para ele.

- Oh, que bom, então! – disse, e então me afastei da mesa. Olhando-os uma última vez, disse: - Se precisarem de algo, é só me procurarem. – sorri, girei e Rob pareceu se despedir deles e logo estava me acompanhando.

- Tyler gostou de você. – ele disse, debochado. Eu lancei um olhar irritado a ele.

– Ah, sério? Continue com as piadinhas e vou lhe apresentar a prima Jane.

- Jane? – ele perguntou, em tom curioso. – Por que você disse desse modo? “A prima Jane”? – e soltou a última pergunta como uma imitação propositalmente barata de um tom de voz assustador. Eu soltei uma risada pelo nariz, divertida.

- Porque ela, como ela só, precisa até de uma introdução só para ela. “A prima Jane”. Ela é uma figura notável, talvez eu dê um jeito de colocar vocês juntos no almoço. – ele arregalou os olhos para mim, e agora dobrávamos uma saída da casa e entrávamos pelos fundos. Por que ele estava me seguindo mesmo? Ah, é, eu não tinha a menor idéia. Claro que não ia reclamar, ele era bonito e também não gostava de Jim, quais eram as chances de ter mais de um desses naquele casamento? Nenhuma.

- Por favor, não faça isso. Nós vamos sentar juntos. – ele disse, e eu parei de andar. Cruzando os braços e o encarando, confusa.

- O que o faz ter tanta certeza?

- Seu nome está na mesa. “ ”. – rolei os olhos.

- Malditos cartões. – resmunguei, e voltei a andar. Ele continuou me seguindo, e logo estávamos de frente para a porta que dizia “Não Entre”. Eu girei a maçaneta, ignorando o aviso, e Rob deu um passo para trás, evitando ser visto.

Fran tentava sair do vestido super justo que usava, que era para seu segundo vestido, logo depois do vestido do casamento. Era branco com detalhes em azul. Ela me olhou com os olhos esperançosos quando encostei no batente da porta e cruzei os braços. Suspirei.

- Está tudo bem. – disse, e ela pareceu soltar o ar que estava prendendo, seu corpo relaxando um pouco, mas não tanto. Acho que o vestido explodiria se ela o fizesse, de tão apertado. Fran era bem magra, no entanto. Tinha os olhos cor de mel e os cabelos loiros lisos, agora presos em um coque bem trabalhado com algumas mechas soltas.

- Graças a Deus. – disse, e então fez uma careta quando a mulher baixinha e com o rosto meio nervoso, que a rodeava segurando seu vestido, pareceu espetá-la com um alfinete. – Pode me fazer um segundo favor? – pediu, e eu a olhei, impaciente.

- Sério, Fran? – ela só assentiu, e eu suspirei. O que se pode fazer? – Ah, diga de uma vez.

- Preciso que você ache um primo de Jim. Ele vai ser o padrinho. O nome dele é...

- ...Rob? – perguntei, chamando-o ao mesmo tempo. Ele surgiu do meu lado, deixando seu perfume se misturar a brisa e me fazendo respirar fundo, inalando-o. Até o perfume era bom! Fran arregalou os olhos.

- Você é o Rob? Eu com toda certeza não lembrava de você assim. – ele sorriu.

- Um tempo longe pode fazer bem. – e então mamãe entrou no quarto feito uma louca, seguida de toda a carga feminina da minha família. Eu dei um salto para trás, Rob também, e então fugimos na primeira oportunidade.


A noite chegou e o ensaio do casamento acabou. Eu estava de banho tomado, usando meus pijamas do Bob Esponja e tentando repassar meu dia mentalmente. Rob era a única coisa que vinha a minha mente, no entanto. Tinha sido tão... Surreal. Simples, comum... Mas surreal. Tínhamos ficado juntos todo o ensaio, conversando e rindo, e eu não lembrava de ter me dado tão bem com alguém tão rápido. Eu ficava vermelha sempre que havia aquele pequeno momento, de saegundos que pareciam minutos, em que o silêncio caía e nossos olhares se encontravam, mas isso não parecia importar Rob... Ele só continuava me observando como... Como se algo realmente importasse em mim. Eu não tinha o menor costume de me achar minimamente interessante, então como... Balancei a cabeça. Como ele podia ter feito uma bagunça tão grande em tão pouco tempo? Não era justo, porque eu com certeza não conseguiria causar esse efeito em alguém. Nem mesmo em Tyler, o primo feio de Jim com as sobrancelhas medonhas.

Eu estava no quarto que fora separado para mim, no fim do corredor comprido e estreito da casa onde ficaríamos hospedados até amanhã de manhã, quando Fran e Jim casariam. Havia uma penteadeira bonita no canto esquerdo do quarto, e eu me sentei no parapeito da janela, de modo que ainda ficasse de frente para o espelho, e tentei pentear meus cabelos para que pudesse prendê-los.

Foi entre passar a primeira e a segunda volta do prendedor de cabelo que eu desejei muito não estar usando logo meus pijamas do Bob Esponja e ainda não ter tirado a maquiagem.

- Escuta, você tá com sono? – sério, o que esse cara fazia com quem ele conhecia há mais do que cinco ou seis horas? Ele já saía entrando no meu quarto sem bater na porta nem nada! Pulei de susto e tive todo tipo de emoção quando ele parou e observou o amarelo da minha roupa. Me preparei para a sessão de risadas mas... Mas... Peraí, ele estava sorrindo? Era isso mesmo?

- Não, não estou com sono. – porque você, seu idiota, não sai da droga da minha cabeça. Claro que eu não ia falar isso em voz alta. Ele parou de observar meus pijamas e procurou meu rosto. Me olhou nos olhos e abriu um sorriso maior. Andou até a minha cama e se jogou lá, só então eu notei que ele usava jeans gastas, rasgadas na altura dos joelhos, um suéter azul-claro nem tão justo, nem tão largo e tênis brancos gastos. Eu começava a ter a leve impressão de que qualquer roupa caía bem demais nele. Os cabelos continuavam a mesma bagunça.

- Não vou te chamar para sair, provavelmente deve ter alarmes espalhados pela casa para que ninguém fuja. – eu teria rido de sua piada, não fosse as palavras que ele usara. Terminei meu rabo de cabelo e fiquei de pé, saltando do parapeito da janela para o chão.

- Me chamar para sair? – repeti, abrindo um meio sorriso. A luz do quarto era fraca, amarelada, mas mesmo assim pude notá-lo ficar um pouco mais vermelho, já que sua pele era tão clara que qualquer coisa a alterava.

- Você diria que sim se eu te chamasse? Hipoteticamente. – ele acrescentou a última palavra rapidamente. Claro, ele não queria levar um fora. Achei engraçado, embora também achasse que essa devesse ser minha posição. Ele parecia muito mais provável a me dar um fora, do que eu a chutá-lo.

- Hipoteticamente. – repeti, em tom pensativo. Rob assentiu. Me sentei na cama também, na ponta oposta a ele, e cruzei minhas pernas, apoiando os cotovelos nela e a cabeça em minhas mãos. – Eu diria “Sim”, mas teria que ser em algum lugar legal. Tipo... Não no casamento da minha irmã. – nós dois rimos.

- E, hipoteticamente, onde seria um lugar legal? – ele se aproximou de mim, só um pouco. Eu senti meu estômago girar e meu coração acelerar. Tentei sorrir tranquilamente.

O sorriso divertido dele, confiante... Me quebrava totalmente. Me desarmava. Mas eu não ia dar essa a ele.

- Não posso te dar todas as peças do quebra-cabeça, Rob. Algumas você vai ter que achar sozinho. – eu me aproximei dele. Avançando consideralmente com uma coragem que eu nem sabia ter. Se eu esticasse meu braço, poderia tocar a mão dele que descansava com a palma para cima. Ele não mudou nada em sua expressão divertida.

- Amanhã, você vai ter um quebra-cabeça perfeitamente montado. – e então ele acabou com todo o espaço entre nós e me beijou. Me beijou tão de repente, e ao mesmo tempo parecia tão bem calculado. Eu perdi o ar por alguns instantes, e quando o achei de volta, Rob passou uma mão na minha cintura e outra estava em meu rosto, puxando-o para mais perto do dele. Eu consegui colocar meus braços ao redor de seu pescoço e coloquei uma das minhas mãos em seus cabelos, puxando-os levemente conforme a intensidade do beijo se alternava. O único som que preenchia o quarto era das nossas respirações, que se tornavam ofegantes gradualmente, e foi só quando ele colocou a mão por debaixo da minha blusa que ele mesmo parou o que fazíamos (ou o que estávamos prestes a fazer) e abriu um sorriso largo.

- Amanhã. – repetiu, e me beijou rapidamente nos lábios antes de sair do meu quarto e me deixar totalmente confusa.


Quando o dia amanheceu, eu não sabia se tinha sonhado ou se tinha mesmo beijado, agarrado e amassado Rob. Eu queria que fosse verdade, e que também não fosse. Porque tinha sido ótimo beijá-lo, mas não tinha sido nada legal que eu tivesse agarrado daquele jeito um cara que eu mal conhecia. Quase a ponto de avançar o sinal, ir para a próxima base ou qualquer metáfora usada para dizer: Eu ia transar com ele.

A confirmação de que eu não estava sonhando foi quando eu apareci na sala de jantar, que estava sendo usada para o café da manhã, e me deparei com ele passando por mim com uma jarra de suco, sorridente.

- Bom dia. Dormiu bem? – ele perguntou, e eu não respondi. O observei por alguns segundos, então ele colocou a jarra de suco na mesa e olhou para trás, onde era a cozinha e de onde ouvíamos vozes de muita gente conversando. Percebendo que estávamos sozinhos, ele sorriu e se aproximou de mim, me beijand por só tocar levemente nossos lábios como fizera ontem à noite, e então percebi quão de verdade tinha sido.

- Dormi muito bem, e você? – respondi de volta, divertida. Ele deu de ombros.

- Tinha algumas peças para juntar, mas até que dormi bem. – Fran atravessou a porta entre a cozinha e a sala de jantar nervosa, gesticulando, e eu não tive tempo de responder Rob. Na verdade, não consegui vê-lo pelo resto do dia.

Eu tive que tomar conta do vestido de noiva de Fran, para que Jim não o visse (porque ele parecia muito interessado em quebrar a barreira – a porta do quarto, no caso), tive que ligar para o cabeleireiro e para o maquiador de cinco em cinco minutos, já que eles chegaram dez minutos atrasados, tive que me certificar de que todos sabiam onde deveriam ficar e que todos apresentassem seus convites, tive que pagar a organização do casamento e tive que obrigar a prima Jane a parar de comer chocolates e tomar conta das crianças irritantes que eram os sobrinhos de Jim.

É claro que nunca mais ia querer saber de casamento na minha vida.

Mas o casamento tinha sido, na verdade... Bonito. Eu colocara meu vestido azul-escuro, de uma alça só e curto, que Fran havia escolhido para mim (nada que eu tivesse escolhido teria sido aprovado, eu bem sabia), sandálias prateadas e altas, e entrara na maior das tendas de braços dados com Rob, que estava elegante demais em seu terno preto, com os cabelos menos bagunçados do que o usual. Ele me deu uma piscadela quando nos separamos, cada um para o lado de um noivo, e trocamos olhares e sorrisos até que tivéssemos que nos juntar de novo, dessa vez para deixar a tenda.

- Me encontre em vinte minutos na garagem, ok? – ele sussurrou no meu ouvido, e eu tentei deixar meu rosto inexpressivo. Não respondi, mas ele sabia que eu tinha ouvido muito bem.

E, é claro, eu não tivera nem cinco minutos de paz, e precisava de muito mais do que isso para conseguir sair daquele vestido cabuloso. Em vinte minutos, eu tinha conseguido contornar minha irmã, dar parabéns a ela e Jim, dizer a mamãe que estava com o estômago embrulhado, fazer papai se concentrar na variedade do bufê e não no que eu estava fazendo em pé, comer alguma coisa só para bagunçar o prato (o prato de Rob, de frente para o meu, ficou intacto todo o tempo que eu estive lá), e correr para a garagem.

Rob estava lá, de braços cruzados e o olhar perdido em qualquer ponto longe dali. Eu andei devagar até ele que, para meu alívio, ainda usava a roupa do casamento. Ele sorriu para mim e eu ergui minha cabeça para poder olhá-lo nos olhos. Ele era, claro, muito mais alto do que eu. Rob passou um dos braços pela minha cintura, me apertando contra ele, e com a outra mão, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

- Temos um encontro. – ele disse, e dessa vez não me beijou. Só girou, de modo que ficássemos lado a lado, e me carregou até seu carro.


Tinha uma Starbucks aqui! Quer dizer, TEM! TEM UMA STARBUCKS NO FIM DO MUNDO! Pensei que Rob fosse me largar na estrada quando eu quase saltei de felicidade ao ver o letreiro tão familiar, mas ele só riu. Estacionou e me abraçou logo quando nos juntamos, deixando que eu entrasse primeiro.

Eu ainda estava chocada. Ele tinha mesmo juntado as peças do quebra-cabeça. Eu sempre tinha achado um encontro na Starbucks uma idéia genial, só que ninguém tinha colocado-a em prática ainda. Como...?

- Como você chegou a essa conclusão? – eu perguntei, enquanto ele me deixava escorregar para o canto do banco, ficando do lado da janela, e sentava ao meu lado, passando o braço por trás de mim e colocando a mão no meu ombro. Ele abriu outro daqueles sorrisos debochados dele.

- Você não é assim tão intrigante, sabe. – falou, e eu arregalei os olhos e abri a boca, dramática. Ele riu. – É sério. Quando se é um pouco estranho, - ele apontou para si mesmo, embora eu não visse nada de estranho ali. – fica bem fácil de entender outros estranhos.

- O que vão pedir? – uma garçonete razoavelmente animada me interrompeu, já que eu estava a ponto de responder Rob. Ele olhou para mim.

- Hã... Donuts e Frappuccino de chocolate pequeno. – disse. Rob olhou para a garçonete.

- Só um cappuccino médio pra mim.

- “Só um cappuccino médio pra mim” – repeti sua fala, fazendo a voz mais grossa, depois que a garçonete se afastara de nós com um sorriso. Ele ergueu as sobrancelhas.

- Qual o problema? – perguntou, e eu dei de ombros, rindo.

- Pedir cappuccino é tão cool. Sabe, você precisa poder pra pedir um cappuccino. E médio. Sem parecer bicha.

- Se eu estivesse pedindo qualquer coisa descafeinada eu estaria parecendo bicha. Pedir um cappuccino médio não tem nada demais. – eu rolei os olhos.

- Relaxa, Rob. Você pode pedir um cappuccino médio que ainda vai continuar muito macho e gostoso. – senti minhas bochechas ficarem vermelhas logo em seguida. – Tá vendo? Esse é exatamente o tipo de coisa que eu nunca falaria em um primeiro encontro. – o sorriso no rosto de Rob sumiu, e deu lugar a uma expressão séria e compreensiva.

- , nada disso parece como um primeiro encontro. – ele falou, e eu olhei ao redor. – Olha só pra gente, com roupas de casamento, conversando mais abertamente do que com qualquer pessoa que nós já conhecemos. – eu percebi o ponto dele. Tinha sido diferente desde a primeira vez que havíamos nos falado. Nunca ia ser igual a nada.

- Sabe, sobre ontem a noite... – eu comecei, deixando a frase vaga no ar em busca de palavras que a completassem. Rob tocou meu braço e eu me mexi para poder ficar de frente para ele, o que era bastante difícil, levando em consideração o vestido curto e apertado que eu usava.

- Nós não podíamos fazer nada sem nos conhecermos bem antes. – ele disse. Eu sorri.

- Sabe, não tem jeito melhor de conhecer alguém do que pelo que bebe e come. – dessa vez, foi ele quem sorriu. – Cappuccino médio. Oito ou oitenta. Bem macho.

- Frappuccino e donuts. Divertido. Sexy. – ele disse, e eu ri apesar de sentir meu rosto esquentar. Ele me beijou, novamente de surpresa, e novamente eu senti todo meu organismo parecer perder as coordenadas de um jeito bom.

- Sabe, podemos pedir para colocarem tudo para viagem. – eu disse, entre beijos. Ele assentiu, colocando as mãos na minha cintura e me fazendo estremecer ao seu toque.

- Minha casa fica há uma hora daqui. – sugeriu, e eu cortei o beijo, por colocando minhas mãos em seu peito e sorrindo, convencida.

- A minha fica a meia hora.

De todas as minhas escolhas impulsivas, eu nunca tinha acertado tanto.

FIM


N/A: Essa fanfic foi escrita em bem menos tempo do que eu esperava, e acabou como uma das minhas preferidas dentre todas as que eu já escrevi. Espero que vocês curtam também!

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Air and Sun - Livros - Interativas - Em Andamento