O Natal do Quarteto Fantástico

Autoras: Rê A., K. Alex., Duuh, Raphinha Cullen | Beta-Reader: Aline Santos | Revisão por Mel



*Rê POV*

Minhas malas já estavam prontas em cima da cama. Eu podia ouvir alguns gritos da Key pela casa, ora repreendendo a Duuh, ora xingando a Rapha. A Duuh tagarelava no telefone com alguma amiga da faculdade. E a Rapha... Bem, a Rapha pra variar estava atrasada. Nós deveríamos ter saído de casa há pelo menos umas três horas. Isso, claro, se a Rapha não tivesse inventado de fazer suas compras de Natal hoje, em plena véspera de Natal.


*Key POV*

Definitivamente eu ia matar a Raphaela quando ela chegasse. Por mim tínhamos saído bem cedo, mas aí ela veio com essa história de comprar presentes. O que me deu mais raiva foi o fato dela ter ficado de bobeira a semana toda e não ter ido às compras. Peguei o telefone da sala para ligar pra ela e para minha surpresa, ouço a Duuh, pela extensão, conversando com uma amiga sobre uns amassos que ela queria dar em um carinha aí.

– Duuh! Desliga o telefone agora! – Ordenei. Assim que ela desligou, eu gritei. – Que história é essa de amasso, posso saber?


*Duuh POV*

Ai! Tô ferrada! A Key vai querer comer meu fígado recheado com os meus dedinhos. Droga! Por que a Rapha não chegava logo? Culpa dela essa confusão. A Key estava nervosa porque achava que ia ter que voar pela estrada, e ela não gostava de correr quando eu estava no carro. Eu saí correndo pelo corredor até tropeçar na Rê, que tava saindo do quarto pra ver o que estava acontecendo.

– Renata, segura a Maria Eduarda! – A Key gritou chegando ao corredor.
– Não, Rê! Me protege... – Eu pedi fazendo cara de cachorro abandonado pra ela, que me abraçou sorrindo.
– O que aconteceu pra Duuh ficar com todo esse medo de você, Key? – perguntei, eu estava como sempre atrasada no meu raciocínio.
– Ai, Rê! Você é muito lerdinha, né? – A Key respondeu impaciente. – É claro que você não ia entender logo de cara algo tão óbvio.

A Rê fechou a cara. Ela abriu a boca, mas desistiu de falar quando ouvimos a porta da sala batendo.


*Rapha POV*

Eu sabia que elas iam encher o meu saco por causa do meu “pequeno” atraso. Principalmente a Key e a Rê. Elas eram tão metidas a responsáveis. Mas quando eu vi as três chegando correndo, juntas, se empurrando e se segurando ao mesmo tempo e com cara de bravas, eu não me segurei e soltei uma gargalhada.

Acho que não foi uma boa idéia, porque elas me olharam como se eu fosse a caça, e elas as caçadoras. Coloquei minhas bolsas no chão e parei de rir.

– Tudo bem, gente? – Perguntei inocente.
– Claro que tá. Nós só estamos umas três horas atrasadas por sua causa, mas está tudo ótimo! – A Key praticamente rosnava pra mim.
– Ah, Key... Nem demorei tanto a...
– Raphaela... XIU! – A Rê me interrompeu. – Melhor ficar quieta...

Eu abaixei a cabeça e peguei as bolsas novamente.

– Eu vou subir para guardar os presentes na mala e nós já vamos. – Disse subindo as escadas. Quando passei pela Duuh, vi que ela se segurava para não rir. Eu não segurei e ri de novo.


*Key POV*

Com quase quatro horas de atraso e muito sacrifício para guardar todas as malas no meu X5 preto, conseguimos finalmente partir. Eu sentei ao volante e a Rê sentou na frente comigo. Rapha e Duuh estavam tagarelando atrás, falando sobre os presentes que a Rapha tinha comprado. Com o canto dos olhos, vi a Rê revirando os olhos e colocando os óculos escuros antes de puxar o Financial Times da bolsa para dar uma última olhada antes das “férias”. Eu não sei como ela conseguia trabalhar com mercado financeiro. Nós nos formamos no mesmo ano, ela em Economia e eu em História. Eu era muito bem sucedida na área, e agora dirigia um museu. Aliás, foi por nossa causa que a Rapha veio cursar Publicidade e Propaganda e a Duuh veio fazer Criminalística esse ano. E eu confesso que AMO essas três, mesmo quando elas me irritam.


*Duuh POV*

Estávamos viajando devia ter mais ou menos uma hora e eu já estava com sono. A Rapha lia alguma coisa no notebook e às vezes caia na gargalhada. Impaciente, a Rê trocou a estação de rádio e logo em seguida começou a tocar uma música que nós amávamos. Nós gritamos eufóricas e começamos a cantar em coro.

(A Thousand Miles – Vanessa Carlton)

“Making my way downtown
Walking fast
Faces passed
And I´m home bound”
.
.
.
“If I could fall” – Eu cantei.
“Into the sky” – A Key acompanhou.
“Do you think time” – A Rapha gritou.
“Would pass me by” – E a Rê brincou com o microfone imaginário.
´Cause you know I’d walk a thousand miles, if I could just see you tonight” – Todas cantamos juntas e eu perdi o sono.


*Rapha POV*

A viagem agora estava mais animada. Comíamos uns sanduíches que a Duuh tinha preparado, antes de sairmos de casa, enquanto cantávamos. Exceto quando tocou Crazy, do Aerosmith. Nessa hora a gente gritou mesmo. Por algum motivo, eu lembrei do acessório que tinha comprado para a nossa viagem. Peguei minha mochila e tirei de lá quatro gorros lindinhos de Papai Noel.

– Gente, olha o que eu comprei pra gente usar. – Falei enquanto colocava o meu.
– Ai que lindo! – A Duuh puxou logo um deles e colocou. – Adorei a idéia Rapha, é tão Natal...
– Pode esquecer… Eu não vou colocar isso! – A Key é sempre tão amável! – Não vou ficar parecendo uma idiota com esse gorro ridículo.
– Tá bom… então não usa. – Olhei para a Rê. – Por favor, Rezinha linda... – Fiz a cara do gato de botas do Shrek, porque eu sei que ela não resiste. Ela puxou o gorro da minha mão bufando e colocou-o na cabeça.
– Satisfeita? – Perguntou.
– Muito!
– Key… coloca logo esse negócio... é Natal e eu não vou pagar mico sozinha. – Enfiei o último gorro na cabeça da Key, que reclamou.
– Jingle Bells, Jingle Bells… – A Duuh cantarolou e a gente riu.


*Rê POV*

Já tínhamos viajado mais de três horas. Paramos para comer em algum lugar no meio do caminho e agora estávamos na estrada, perto de cruzar a fronteira do estado. Foi aí que nós vimos uma fila de carros retornando na contramão. Droga! Aquilo não podia ser bom. Olhei no relógio. 19:20h. Fu...! Avançamos mais um pouco até que um guarda de trânsito nos parou, avisando que teríamos que retornar, pois a estrada estava fechada. Parece que a tempestade de neve estava chegando e já tinha alcançado um ponto mais adiante da estrada, e no ponto da rodovia onde estávamos tinha acontecido um acidente por causa da pista escorregadia. Assim como os outros carros, retornamos.

– E agora, gente? Como vamos fazer pra chegar em casa? – A Rapha perguntou ansiosa.
– Não sei, Raphaela. A única coisa que eu sei é que vou te matar! – A Key falou enquanto parava o carro perto do posto de gasolina na entrada da cidadezinha.
– Por que estamos parando? – Duuh perguntou desconfiada.
– Provavelmente para a Key matar a Rapha. – Respondi. Key já saía do carro e abria a porta de trás.
SAI, DUUH! – A Rapha gritou enquanto abria a outra porta e empurrava a Duuh pra fora, saindo depois dela.
– Raphaela, volta aqui! – A Key chamou, enquanto ia em sua direção.
– Não Keyzinha, não vou não. – Com essa eu ri. A Duuh me olhou assustada.
– Rê, você não vai fazer nada? – perguntou Duuh, apavorada.
– Eu? Mas por que eu faria alguma coisa? A Key ainda nem encostou na Rapha. – Nesse momento a Key agarrou o pescoço da Rapha, que tentava gritar esperneando que nem minhoca na ponta do anzol!
– Por favor, Rê. Ajude-a! – Essa bondade da Duuh às vezes estragava a graça das coisas.
– Tá bom, tá bom. – Caminhei até a Key e puxei-a. – Key, deixa pra lá, vai. Não adianta a gente brigar agora.
– Mas Renata, a Raphaela...
– Eu sei, Key. Eu também queria dar uns tapinhas nela, mas agora não vale a pena. É melhor a gente tentar sair logo dessa cidade, tentar uma rota alternativa, não sei.

Rapidamente a Rapha entrou no carro e fechou a porta. Com aquela carinha de anjo que ela estava fazendo, ninguém imaginava a peste que ela era. Entramos todas no carro para decidir o que fazer.


*Duuh POV*

Eu realmente tinha pensado que a Key ia matar a Raphinha. A cara dela me dava medo.

E eu acho que a Rê estava gostando de ver o circo pegando fogo. Ela ficou tão contrariada quando pedi pra ela interromper a briga. A Key estava com as mãos cruzadas sobre o volante e a cabeça jogada por cima. Eu sabia que ela estava tentando se acalmar. A Rapha estava pensativa ao meu lado. Ela com certeza tentava pensar em alguma alternativa para que as meninas ficassem menos irritadas. A Rê rabiscava alguma coisa no FT que ela tinha levado e eu não conseguia ver o que era. Mas eu vi quando ela puxou o iPhone dela e digitou alguma coisa. Em seguida saiu do carro e nós ficamos olhando, esperando que ela voltasse.

– O que vamos fazer? – Perguntei quando ela voltou.
– Não sei. – Provavelmente a conversa no telefone não foi boa.
– E se nós tentarmos pegar um avião? – A Rapha sugeriu.
– Impossível. Véspera de Natal! Tá tudo cheio. Teríamos que ficar torcendo por quatro desistências no mesmo vôo. – Key foi categórica.
– Mas quem sabe não damos sorte...
– A Key tá certa. Acabei de ligar para o aeroporto que confirmou estar lotado para nossas opções de rota. – Rê explicou o telefonema.
– Droga! – Resmunguei. – Vamos passar o Natal nesse carro então? Ai que ótimo, isso vai me traumatizar.
– Calma Duuh. – Rapha me abraçou.
– Vamos entrar na cidade e perguntar se alguém conhece alguma rota alternativa. – A Key falou ligando o carro.


*Key POV*

Entramos na cidade, que estava incrivelmente cheia para a data. Logo depois, percebemos que eram viajantes, assim como nós. Isso não era um bom presságio. Paramos em frente a uma cabine policial. Eu e Rê descemos para pedir informações. Os policias foram unânimes ao dizer que não havia rota alternativa, e que se quiséssemos ficar abrigadas naquela noite, seria melhor andarmos rápido, pois os hotéis e hospedagens estavam lotando. Antes de sairmos, eles nos devoraram com os olhos. Duuh e Rapha gargalhavam no carro por causa disso quando retornamos. Agora era certo. Não passaríamos Natal em casa. Passaríamos perdidas em Portland, um lugar que nunca quis conhecer. Não iria ter a ceia deliciosa da mamãe, nem as piadas de Natal, nada que eu conhecia e gostava. Seríamos só nós quatro numa cidade estranha, e se não tivéssemos sorte, ficaríamos trancadas dentro do carro.

Começamos nossa busca por um quarto vago. Até agora não conseguimos nada. A cada “Desculpem, senhoritas. Infelizmente estamos sem vagas.” que ouvíamos, A Duuh aumentava o drama. Apesar da culpa dessa história toda ser da Rapha, já nem conseguia ter mais raiva dela, depois de tantas desculpas que ela pediu. Juntando isso com a cara de culpada arrependida que ela fazia, era impossível ficar brava. A Rê continuava a ligar para alguns contatos, tentando conseguir alguma coisa, enquanto pesquisava endereços no Google pelo notebook da Rapha. Foi nesse momento que ouvi um estouro e meu carro perdeu a traseira, rodando na pista escorregadia. Graças a Deus eu dirigia muito bem e consegui segurar o carro logo em seguida. Nós nos olhamos. Todas nós sabíamos o que aquilo significava. Saí do carro e elas saíram atrás de mim.


*Rê POV*

Putz! Hoje não era nosso dia. Devíamos ter ficado em Los Angeles. Até agora estava dando tudo errado. O que mais poderia acontecer? Hum, melhor nem perguntar. Com a maré de sorte que estamos tendo, pode até cair um meteoro aqui. Fui até a traseira do carro e lá estava ele. O pneu do carro furado, nosso mais novo probleminha. Sorri irônica pesando nisso. A Rapha foi ajudar a Key a trocar o pneu. Eu já tinha perdido as contas de quantos palavrões ela tinha soltado. O mais engraçado é que sempre antes de falar um palavrão ela mandava a Duuh tapar os ouvidos. Eu rolava de rir quando a Duuh revirava os olhos se fazendo de ofendida. Enquanto isso, eu prosseguia na minha tentativa de achar um lugar para passarmos a noite. Foi aí que liguei novamente para um dos hotéis que já havia ligado antes, por engano. Quando a recepcionista atendeu e disse o nome do hotel, eu ia desligar, mas perguntei novamente se teria uma vaga. E pra minha surpresa e imensa felicidade, ela disse que tinham acabado de cancelar a reserva de um quarto. Nem pensei duas vezes, falei pra ela reservar no meu nome que nós já estávamos chegando. Comecei a pular e a dançar de felicidade, cantando mentalmente “You’re unbelieveble”.

– Rê, você ficou louca? – Duuh me perguntou assustada.
– Não... Só estou feliz! – Sorri. – Aliás, todas vocês também deveriam estar felizes.
– Ah sim. Claro que deveríamos estar felizes. Temos tantos motivos pra isso, né? – A Key reclamou do outro lado do carro, terminando de trocar o pneu.
– É Rê, eu tenho que concordar com a Key dessa vez. – Rapha falou resignada.
– Claro que temos, gente! Afinal, nós não vamos passar a noite de Natal na rua.
– COMO? – As três perguntaram em coro, E Key e Rapha levantaram.
– Explique-se. – Ordenou a Key.
– Eu acabei de conseguir uma vaga de desistência num hotel.
– Jura? – Os olhinhos da Duuh brilhavam.
– Juro! É naquele Paramount Hotel. Assim, a diária é cara, mas nada que nos leve a falência. Além do mais, hoje eu daria meu reino por um lugar pra ficar!
– AAAHHHHH! – As três gritaram juntas novamente.
– Não acredito que vamos ficar num lugar quentinho, com comida e cama! – A Duuh quase chorou.
– Sim, vamos! – Olhei pra Key. – Já acabou de trocar o pneu?
– Só vou apertar mais um pouco e podemos ir logo.
– Quem sabe a gente não consegue chegar, tomar banho e descer a tempo de pegar a ceia? – Rapha já estava até mais animadinha.
– Isso se você não ficar horas no seu banho, né?! – Key alfinetou.


*Key POV*

Finalmente chegamos ao hotel. Simplesmente lindo. Imagino que deve ser bem caro mesmo, mas no momento, isso não faz diferença. Subimos para o nosso quarto: 1203. Tinha uma cama king size e uma de solteiro no canto. A Duuh disse que ia dormir nela. Nós nem discutimos. A Rê correu para o banho, mas me deixou passar na frente quando viu que eu estava toda suja por causa do pneu. Meu banho não demorou e logo depois ela entrou. A Duuh já estava esperando a Rê sair e a Rapha estava escolhendo que roupa iria usar. Assim que a Rê saiu do banheiro, uma porta lateral se abriu. Nem tínhamos notado ela ali. Só percebemos quando vimos um homem alto e forte – muito forte – entrar no nosso quarto. As meninas ficaram paralisadas. Não sei se foi porque se assustaram, ou se foi por terem achado ele bonito, ou mesmo porque estávamos só com as roupas íntimas. Talvez tenha sido por causa disso tudo.

– SAI DAQUI, SEU MANÍACO PERVERTIDO! – Eu gritei enquanto corria na direção dele. Peguei um sapato que estava no meio do caminho e comecei a bater nele enquanto xingava. – Seu desgraçado, filho da p., tarado...
– Ai, ai, ai. Pára de me bater sua louca. SOCORROOO! – Ele gritou. As meninas tinha finalmente saído do transe e agora vinham na minha direção.
– Quem é você? – Rapha perguntou.
– Como entrou aqui? – Rê quis saber.
– O que você vai fazer com a gente? – A Duuh nem percebeu a duplicidade da pergunta.
– SOCOOORRROOO! – Ele gritou de novo. Logo chegaram três garotos do outro lado da porta.
– Kellan, o que tá acontecendo? – Falou um garoto de cabelos dourados, não era tão alto e tinha uma voz aveludada.
– Mais tarados! – A Duuh falou já pegando o travesseiro. Quando os garotos viram, correram para puxar o tal Kellan das minhas garras e se protegerem.
– CALMA! – Gritou um garoto mais alto e de cabelos castanhos. – Deixa a gente explicar. - As meninas me olharam, esperando a minha reação.
– Vocês têm 30 segundos! – Quando fui olhar o relógio no meu pulso é que percebi que estávamos semi-nuas e fiquei roxa de vergonha. – SAIAM DAQUI AGORA!
– Ela é bipolar? – Alguém perguntou. A Rê me jogou um lençol enquanto recolocava o roupão. Foi aí que as meninas lembraram como estavam vestidas e começaram a correr de um lado pro outro feito baratas tontas.
– Droga! Tava tão mais legal do outro jeito! – Esse Kellan tava abusando da minha paciência.
– Vira de costas, ANDA! – A Rê ordenou empurrando-os para virarem enquanto a Duuh e a Rapha se cobriam.
– Pronto! Podem virar. – a Duuh autorizou, assim que a Rapha terminou de se vestir.
– Assim não tem graça! – reclamou o tal Kellan. Eu desconfio que ele não tem amor a vida!
– CALA A BOCA, KELLAN! – Gritamos todos nós ao mesmo tempo. Acabamos rindo.
– Agora vocês podem se explicar. Estou marcando o tempo. – Informei séria, encarando o relógio.
– Olha, nós não temos culpa, mas parece que nossos quartos são interligados. – O garoto de voz aveludada falou, fui obrigada a desviar os olhos do relógio para vê-lo falar. Ele era tão lindo! – Desculpem o Kellan, mas nós não sabíamos disso. Chegamos ainda a pouco, e esse era o único quarto disponível. Estávamos indo para Washington, mas ficamos presos por causa da nevasca. Aí viemos parar aqui, esperando a nevasca passar para seguirmos viagem. Quando chegamos Kellan começou a explorar o quarto e...
– Tempo esgotado. – Falei. Eles me olharam com expectativa. Virei para as meninas e nós concordamos, através de uma conversa de olhares, que eles não tinham feito por mal. – Acho que já entendemos o que aconteceu.
– Graças a Deus! Já estava me preparando para correr. – Disse o tal Kellan coçando a cabeça aliviado.
– Hum, que tal nos apresentarmos? – Sugeriu o outro menino, que não tinha falado até agora. Moreno, mais baixo que os outros, forte e parecia ser mais novo.
– Ótima idéia! Eu sou Maria Eduarda, mas me chamem de Duuh! – Ela não é a Ave Maria, mas estava toda cheia de graça a palhaça, logo se engraçando para o menino. Já vi que vou ter problemas. – Essas são minhas amigas Raphaela, Renata e Kátia, mas podem chamar de Rapha, Rê e Key. Nós gostamos dos apelidos. – concluiu ela toda faceira, jogando os cabelos sobre os ombros. Hump.

A Rê olhou para mim e pude ver que ela estava pensando o mesmo que eu: a Duuh estava muito atiradinha.

– Prazer em conhecê-las! – Eles falaram juntos.
– Meu nome é Taylor, mas pode me chamar como quiser. – Ele disse isso olhando para a Duuh. Que abusado! A Rê soltou um rosnado pra ele. – Esses são meus amigos Robert, Kellan e Jackson. – Apontou para cada um deles. Então Robert era o nome do meu Deus grego hein?
– Prazer! – Cumprimentamos.
– Então, como vocês vieram parar aqui? – Perguntou o cara que o tal Taylor tinha apresentado á nós como sendo o Jackson.
– Estávamos indo para casa, em Washington e assim como vocês, também ficamos presas pela nevasca. – A Rê logo se prontificou a responder. Percebi que havia segundas intenções, no exato momento em que ela bateu os cílios repetidas vezes no final da resposta. Ela sempre fazia isso quando queria impressionar alguém.
– Hum, então quer dizer que o destino nos uniu? – Kellan falou. – Íamos para o mesmo lugar e acabamos presos em Portland, em quartos interligados – disse, achando-se o cara mais esperto do mundo!
– Com certeza o destino nos uniu! – A Rapha quase se jogou nos braços dele, a baba escorrendo pelo canto da boca. Revirei meus olhos, se realmente fôssemos ter que vê-los mais vezes teria que providenciar um babador pra ela.
– Vocês vão descer para a ceia de natal do hotel? – Robert perguntou olhando para mim.
– Sim. Estávamos nos arrumando quando vocês invadiram nosso quarto. – Falei, mas minha voz já não parecia tão severa. Quem poderia me culpar por isso? Alguém nesse mundo consegue brigar com uma coisinha fofa daquelas? Me respondam?
– Bem, então vamos deixar vocês acabarem. Quando estiverem prontas, batam na porta. Poderemos descer juntos, que tal? – Novamente a pergunta dele foi dirigida para mim.

Concordei balançando a cabeça e eles saíram do quarto.


*Rapha POV*

– OH MY GOD! OH MY GOD! OH… - A Key correu pra tampar minha boca evitando que eu concluísse minha frase.
– Cala a boca, sua histérica! – Ela me repreendeu, ela é tão delicada vocês não acham? – Você quer que eles ouçam você dando piti como se nunca tivesse visto um homem na vida? – Ela perguntou retirando a mão da minha boca devagar.

Eu olhei pra elas com olhos arregalados e resolvi concluir meu gritinho com mímicas:

Fazendo um “OH” com a boca sem emitir som, apontei o dedo pro meu peito mexendo os lábios como se dissesse “MY” e depois pro teto concluindo a frase com um “GOD”.

Elas caíram na gargalhada, nem a Key resistiu a minha performance.

– Você está na carreira errada, Rapha. – Disse a Rê ainda rindo – Você deveria tentar o teatro. – Concluiu.
– Gente o que era aquele tal de Taylor, mó gatinho hein? – Perguntou a Duuh toda serelepe.

Ela devia ter esperado a Key entrar no banheiro antes de dizer isso! Olhei pra coitada com uma pena danada, por que eu sabia que a Rê e a Key iam cair de pau em cima dela.

– Olha aqui, Dona Maria Eduarda, a Srta trate de controlar seus hormônios juvenis, entendeu bem? – A Key ralhou com ela, a pobre já deu aquela murchada básica né? – E tem outra, escreveu não leu o pau comeu! Se você sair um isso aqui – a Key fez um gesto indicando o mínimo que fosse que era pra Duuh entender bem - da linha, já era. – A Freddy Kruguer de saias cruzou a mão na frente do pescoço como se estivesse degolando a si mesma. Pena que isso não vai acontecer, sim primeiro por que a Key não é suicida, e segundo por que nós a amamos demais e não deixaríamos que nada de mal acontecesse com ela.

Olhei com dózinha a Duuh cujo beicinho já tremia, abracei-a tentando consolar, e fui logo amenizando a coisa.

– Ah, Duuh, fica assim não. O que a Key está querendo dizer é que você deve ser mais controla em demonstrar seus sentimentos. – Disse a ela, e olhei significativamente para as outras, implorando que elas não me interrompessem. – Faz como a sua amiga Rapha aqui, mantenha a classe, disfarce, não deixe que o garoto saiba que você está afim, entendeu? Assim ele terá muito mais respeito por você! – Finalizei me achando A CARA.
– Mas, Rapha, eu vi você babando, literalmente pelo tal de Kellan. – A Duuh lembrou-me confusa.

Ainn... Crianças! Essas Praguinhas são tão perspicazes! A Key e a Rê caíram na gargalhada, me olhando como se dissessem “Sai dessa agora Mané” a Duuh as acompanhou. Amarrei minha cara, pra não dar o braço a torcer.

– Detalhes Eduarda...detalhes. – Desconversei. – O assunto aqui é você e não eu! Por isso, siga os conselhos da Rê que é a mais sensata e equilibrada entre nós. –Olhei pra Key desafiando-a a me desmentir nessa, como ela não disse nada prossegui. – Se ela te disser que você chegou ao limite, acredite nela ok? – Pedi esperançosa.
– O.K. Rapha. Eu entendi.Obrigada pelo toque. – Ela disse sorrindo, nós voltamos aos nossos a fazeres. – Babar escondido sem que ele veja pode? – Perguntou ela, tombando a cabecinha sobre o ombro.
– Tirem essa garota da minha frente. – Pedia a Key exasperada.
– Vixi mulher estressada meu Deus. – Falei – Vamos Duuh, vamos nos arrumar, hoje a noite promete! – Disse esfregando as mãos uma na outra.
– Pode deixar que eu fico de olho nelas, Key. – Disse a Rê amenizando o clima – E você sabe que a Duuh é bem madura pra idade dela. Ela não fará nada sem pensar ou sem nos consultar antes, tenho certeza. – Falou a voz do equilíbrio.

A Key pareceu aceitar isso, e eu aproveitei pra me trancar no banheiro com a Duuh, e tentar esclarecer algumas coisitas pra nossa Litlle Sister.

– Duduzinha do meu Coração. Presta atenção no que a Raphinha vai te dizer ok? – Disse conseguindo prender a atenção da nossa cabecinha de vento – Quando você encontrar novamente com o gatinho do... – Eu esqueci o nome do carinha – Como é mesmo o nome dele hein?
– É Taylor. – disse uma Duuh suspirosa, carregando no mel quando pronunciou o nome da sua vítima.
– Tá, que seja. Quando o tal do Taylor vier conversar com você, PELOAMORDEDEUS, seja discreta. – Alertei-a – Equilíbrio é a chave do negócio – Nada de grosserias como a Key, ou de ficar batendo os cílios feito uma mariposa como a Renata – arrematei.
– O.K. entendi – disse a Duuh concentrada – Sem grosserias, sem cílios e sem baba também né Rapha? – inquiriu a pentelha.
– É, é Duuh, sem baba. – Falei perdendo a paciência. Quando será que elas iriam entender que eu era um ser extremamente sensível e que deixava minha natureza artística falar mais alto, hein? Sim, por que babar por um monumento daqueles, tipo o Kellan era uma demonstração de apreço, de admiração, de reconhecimento do belo! Fala sério, uma babinha de nada não ia matar ninguém.

Dei prosseguimento as minhas dicas de “Como agarrar um Gato em 10 segundos”, e tenho que admitir que a Duuh é bem esperta, não é que ela entendeu tudo e ainda incrementou com algumas tiradas rápidas!? Essa garota tem futuro, pensei orgulhosa.


*Rê POV*

Eu tinha que concordar com a Rapha quando ela deu aquele chilique todo. Não que eu concordasse com o chilique em si, mas concordava com o fato deles serem absurdamente lindos. Pelo menos o Jackson era. Que homem era aquele? Se ele quisesse, podia fazer comigo o que quisesse. “Me joga na parede, me chama de lagartixa”, ri dos meus pensamentos.

– O que foi, Rê? – A Key me perguntou.
– Hum... Nada! É... Eu estava pensando nas besteiras que a Rapha deve tá falando pra Duuh. – Eu menti, claro. Mas agora, pensando bem, seria provável que a Rapha estivesse enchendo a cabecinha da Duuh com besteiras.
– Sei... – Pela cara que ela fez, minha desculpa não colou.
– Key, que roupa você tá pensando em vestir? – Perguntei mudando o assunto.
– Hum... Ainda tô decidindo. Não sei se vou com aquele vestido verde ou se vou com o vermelho. Não sei qual a cor que o Rob... Qual a cor que combina mais. – Eu gargalhei.
– AHA! Então quer dizer que você está preocupada com a cor que o Robert prefere?
– Não, claro que não!
– Keyzinha, relaxa! – Abracei seus ombros. – Pode deixar que seu segredo está guardado comigo. – Pisquei o olho pra ela.
– Mas que saco! Não posso nem querer me arrumar mais. – Ela bufou, jogando o vestido na cama.
– Key, se acalme. – Ri. – Tenho uma sugestão. – Por que você não vai com aquele seu vestido preto de renda. Ele é perfeito, tem um caimento lindo no seu corpo e a parte das costas ficam de fora. Bem sexy, mas comportado ao mesmo tempo. O Robert vai babar... – Lancei antes de me afastar dela e pegar minha mala.
– Hum. Será? – Eu abafei minha risada. – É, aquele vestido é tão bonito e só usei uma vez. Hoje é um bom dia para usar.

Eu peguei minha mala e puxei o vestido tomara-que-caia branco com a barra florida em vermelho. Era bonito e delicado, e provavelmente minha melhor opção de roupa para aquela noite. Puxei as sandálias vermelhas e olhei.

– UAU! Vai ficar linda! – A Key elogiou.
– Obrigada! – Corei.
– Isso tudo é pro tal Jackson, é? – Claro que ela tinha percebido.
– Não Key. Na verdade, essa é a única roupa bonita que eu tenho pra ceia. – falei enquanto me vestia.
– Claro, claro.

Nós acabamos de nos vestir, a Rapha e a Duuh começaram a colocar suas roupas. A Rapha escolheu um vestido verde esmeralda, de seda que delineava todo o seu corpo. O decote na frente era discreto, mas as costas ficavam praticamente nuas. A Key quase matou a coitada da Rapha. Eu tive que segurar ela pra Rapha se trancar no banheiro. Já a Duuh colocou um vestido azul claro, de cetim, que ia até um pouco depois da coxa. Era bonito, tinha um decote sinuoso, mas a Duuh complemento o vestido com um bolerinho preto, ficou elegante e a Key nem pode reclamar tanto. Reclamar, ela reclamou, claro, mas não foi muita coisa. Assim que terminamos de nos maquiar ligamos para casa. Ouvimos os gritos do telefone da Key e olhamos a tempo de ver a cara que ela fez quando afastou o telefone do ouvido. Hilário. Minha mãe lamentou e ficou preocupada. Mas expliquei a situação e ela pareceu se conformar. Na casa da Raphinha tudo era festa. Acho que as pessoas já tinham bebido o bastante para não perceberem que ela não estava em casa. A mãe da Duuh estava quase tendo um filho de tanta preocupação. Ela chorou, brigou e por fim desejou Feliz Natal para todas nós.

– Prontas? – Perguntei antes de bater na porta do lado. Faltavam 30 minutos para meia-noite. Elas concordaram com a cabeça. Eu bati. Imediatamente a porta se abriu e eu dei de cara com aqueles olhos verde-claro incrivelmente brilhantes. Congelei. Só conseguia piscar. Piscar como uma mariposa.
– Você está linda! – Ele disse. – Estão prontas? – Eu tenho que responder? Então alguém me ajude, porque eu esqueci como se fala.
– Sim, estamos. – Santa Key!

Saímos para o hall do elevador e ficamos nos olhando. Os meninos nos fizeram vários elogios. Finalmente, quando o elevador chegou consegui me recompor.

– Você também está muito bonito, Jack. – Falei baixo, só para ele ouvir.
– Obrigado. – Ele se aproximou do meu ouvido para falar e eu quase derreti. A Key pigarreou e me olhou feio.
– Então, o que vocês fazem da vida? – Ela perguntou seca. Tão simpática!
– Temos uma banda de rock. – Robert respondeu. Ele não tinha tirado os olhos dela desde que a viu.
– Rock? Jura? Adoro rock! – A Rapha parecia uma gazela de tão empolgada.
– Que bom! Vocês bem que podiam ir ao nosso show, né?! – Kellan falou. Os dois flertavam descaradamente. – Você vai adorar o meu rock ‘n roll. – Eu e Key nos olhamos assustadas depois de ouvir isso.
– Eu tenho certeza! - disse a babona descarada.
– Raphaela. – A Key só falou isso para que Rapha segurasse a onda.
– E vocês fazem o que? – Taylor perguntou para Duuh, colado nela.

O elevador chegou. Nós saímos e caminhamos em direção ao salão enquanto a Duuh respondia. Eu me mantive estrategicamente atrás dela, para vigiar. Jackson estava ao meu lado. *_*

– Eu comecei a cursar criminalística esse ano. A Rapha está se formando em Propaganda e Publicidade. A Key e a Rê já são formadas. A Key é diretora do Museu de Arte Moderna de Los Angeles e a Rê é diretora executiva de uma divisão da Coca-Cola. – Quando ela terminou de dar nossa ficha, Jackson me olhou de boca aberta.
– Uau! – Ele me falou e eu fiquei vermelha. – Você não tem cara de ser uma executiva.
– Não? – Falei agora, um pouco irritada.
– Não! Você não parece em nada com aquelas mulheres feias e frustradas, devoradoras de homens que a gente costuma ver em filmes. – Eu explodi numa risada e ele me acompanhou. Todos nos olharam sem entender.

Logo que chegamos ao salão, fomos encaminhados para uma mesa.


*Duuh POV*

Aiai... Eu estava nas nuvens, pensava suspirando caminhando ao lado daquele gatinho!! Mas para meu constrangimento, tropecei numa cadeira que apareceu no meio do caminho, surgida sabe Deus de onde! Sorte que o Taylor me segurou antes de eu me esborrachar no chão! Ainn... que vergonha viu!? Por que essas coisas só acontecem comigo? Passei as mãos nervosas ajeitando o cabelo e o vestido, antes de encará-lo.

– Hã....Obrigada! – Disse baixinho, vermelha de vergonha.
– Tudo bem. Acontece – Ele deu de ombros sorrindo pra mim.

“OH MY GOD”! Como diria a Rapha. Será que eu estava diante na reencarnação de Apolo o Deus grego da Beleza e ninguém me avisou? Pisquei os olhos para espantar os pensamentos libidinosos que se formavam em minha mente.

– Tudo bem com você Duuh? – Perguntou a Key. Eu devia ter desconfiado que ela estaria de olho em mim! Sempre tão protetora. Às vezes eu ficava putiada com essa história de ela e a Rê ficarem o tempo todo me vigiando, mas no final eu até entendia o porquê! A Key era o que eu tinha de mais próximo de uma irmã mais velha, e a Rê supria essa necessidade que eu tinha de colo e carinho. Eu amava aquelas duas abelhudas super protetoras.
– Tudo sim. – Sorri para ela, que retribuiu calma.

Nos aproximamos das mesas e paramos indecisos, os oito sem saber direito o que fazer. Quer dizer, os oito não né? A Rapha e o Kellan foram logo puxando as cadeiras e sentando-se perto um do outro envolvidos no maior papo.

Olhamos pra Key, esperando a reação dela, ela deu de ombros, pela primeira vez eu a via sem nada pra dizer! Isso era estranho. Bizarro até!

– Que tal nos sentarmos todos juntos? – Sugeriu Robert, olhando significativamente para ela.
– Por mim tudo bem! – Ela disse suave. “Eu disse suave?” – O que vocês acham meninas? – Ela perguntou olhando para nós. STOP! Ela estava pedindo nossa opinião!? “Tem gato nessa tuba!” pensei desconfiada.

Nós sorrimos para ela em concordância e demos a volta na mesa para nos acomodar.

Vi quando o Robert puxou a cadeira pra Key sentar, e vi que ela ficou vermelha. Será que ela estava interessada nele? Ri internamente, achando a maior graça em ver a pose da dona-certinha da Kátia vir por terra diante dos olhos verdes daquele cara. Isso ia ser muito divertido.

O Taylor sentou-se. Fiquei feliz em ver que ele estava à vontade sentado ao meu lado.

“Olha pra mim! Olha pra mim! Olha pra mim!” eu rezava em pensamento, torcendo que ele puxasse conversa.

Ele virou-se para mim sorrindo de novo, me senti desfalecer. “Ainn...valeu anjinho da guarda por atender as minhas preces!” . Sorri de volta.

– Então, quer dizer que você faz criminalística? – Inquiriu. – Por que escolheu essa carreira tão incomum? Posso saber? – Perguntou curioso.
– Ah, eu sou muito curiosa sabe? E detalhista também – Informei-o – Eu assistia muito CSI, quando era novinha, e ficava intrigada com as tramas e como eles sempre conseguiam solucionar todos os crimes. É a mais pura verdade quando os policiais afirmam que não existe crime perfeito – Arrematei sorrindo.
– Não sei se concordo com isso! – Ele disse enigmático.
– Com isso o quê? – Perguntei intrigada.
– Com esse lance de não existir o crime perfeito. – Falou misterioso – Aposto com você que antes dessa noite acabar eu provarei a você que essa sua teoria é falha. – Ele disse sorrindo enigmático.
– O.K. está apostado. – Falei séria. Agora ele tinha mexido com meus brios. Onde já se viu duvidar da minha capacidade de desvendar um crime? Por mais lindo e gostoso que ele fosse, eu não poderia deixá-lo sair vencedor dessa parada.

A conversa rolava animada a nossa volta e uma banda animava o ambiente.

– Você quer dançar? – Convidou meu Deus dos cabelos de ébano e do sorriso Colgate.
– Claro! – Aceitei no ato, me levantei tirando o bolerinho e largando-o no encosto da cadeira. Vi que o Tay (olha só pra mim cheia de intimidades já! hihi) ficou todo assanhadinho pro meu lado. Sorri, fazendo minha melhor carinha de anjo.

Quando virei pra frente me deparei com a Key fitando meu decote com seus olhos assassinos prestes a voar no meu pescoçinho delicado. Ih...F&%*! Pensei desesperada.

Agarrei a mão do Tay (é, agora era assim que eu ia chamá-lo) e corri, literalmente, pra pista de dança me enfiando entre as pessoas que já estavam por lá.

Começamos a dançar, nos divertindo. Num determinado momento ele me perguntou alguma coisa que eu não consegui ouvir. Aproximei-me mais dele dizendo:

– O que foi que você disse? – gritei alto pra ele pudesse me ouvir.
– Eu disse que adoro essa música – Ele gritou a resposta de volta pra mim.
– Eu tamb.... – E não consegui terminar de falar, por que ele segurou meu rosto e me tascou o maior beijão! MORRI. Mas antes de morrer eu correspondi ao beijo né? Não sou besta de desperdiçar uma oportunidade dessas.

Ele afastou seus lábios dos meus e falou no meu ouvido:

– Você me deve! – Ele disse sorrindo maroto.
– Te devo o quê? – Perguntei sem entender.
– Eu disse que te provaria que existia o crime perfeito – Lembrou-me ele – Eu acabei de ROUBAR um beijo seu, sem que você nem desconfiasse do que ia acontecer. – Falou sorrindo alto se achando o máximo.
– O.K. você venceu – Falei derrotada, mas não triste, por que se fosse pra perder a aposta daquele jeito, ele podia me derrotar quantas vezes quisesse! – Eu pago, pode falar o preço –Disse calma.
– Como pagamento quero que VOCÊ me beije – Ele pediu sorrindo.

MORRI! De novo. Mas não sem antes me atracar com ele né?


*Key POV*

Aquele rosto encantador me fazia querer ficar sempre olhando pra ele, mas eu me lembrava que tinha que ficar de olho na Maria Eduarda. Hum. Ela acha que eu não percebi que aquele sujeitinho todo abusado estava com segundas, terceiras, quartas e várias intenções pra cima dela?

Quando a vi indo dançar, grudando seu corpo no dele, me mexi desconfortável na cadeira.

– Tudo bem. – A Rê falou. – É só uma música Key.

Oh God! Eu tenho que ficar de olho nessa garota. Ela tem tanto a aprender ainda... Aprender comigo, é claro, por que se depender da Rapha, só vem asneira.

– Você é muito linda para trabalhar em um museu. – Robert falou, fazendo desaparecer momentaneamente da minha cabeça todos os planos de aniquilar o amiguinho sem vergonha dele, caso encostasse um dedo na Duuh, enquanto dançavam aquela maldita música.
– Qual é a ligação da minha beleza com o lugar onde eu trabalho? – Perguntei curiosa e divertida.
– Todos falam que museu só tem coisas velhas e feias. E você está lá pra provar o contrário. – Ele falou com um sorriso nos lábios, provavelmente feliz que tenha passado uma cantada tão fuleira e antiga pra frente. Eu não ia comentar, mas não resisti.
– Você está flertando comigo? – Perguntei descarada. – E isso é o melhor que você consegue?
– Com cantadas pra quem trabalha em museu sim. – Ele respondeu cínico. – Se você trabalhasse em outra área, seria mais fácil. E sim, eu estou flertando com você. – Ele falou animado, aproximando a cadeira de mim. Ruborizei, disso eu tinha certeza, já que senti meu rosto esquentar.
– Sabe o que eu achei mais lindo no seu rosto? –Ele perguntou, sedutor, aproximando o rosto para falar perto do meu ouvido. Senti o cheiro gostoso do perfume.
– Não. O que é? – Respondi quase num sussurro.
– A sua boca. Ela é tão bonita, rosada, bem desenhada e eu sinto que ela me provoca. – Ele falou, olhando hora pra minha boca, hora para os meus olhos. Nossos rostos estavam perto o suficiente para que nos beijássemos.
– Como assim te provoca? – Perguntei quase inebriada.
– Pedindo para ser beijada. É quase um pecado obsceno não atender a esse desejo. – Ele falou, puxando meu rosto para mais próximo do seu, para que nossos lábios pudessem finalmente se tocar.

Foi bem nessa hora que eu vi o sujeitinho beijando a Duuh. Me esquivei do Robert, caindo da cadeira. Fiquei abaixada, espiando, apenas os olhos na borda da mesa para ter certeza. Eles agora já haviam se separado. Então Duuh agarrou a cabeça do pervertido, retomando o beijo.

– Maria Eduarda, você me paga! – Falei baixinho.

Levantei, arrumei o vestido, indo em direção àqueles dois pervertidos.

– Eita porra, fudeu! – Ouvi a boca suja da Rê falar, se levantando rapidamente, vindo atrás de mim, com uma Rapha aflita.

Acredita que quando eu cheguei lá, ela ainda estava com a boca grudada na dele, como se fosse um desentupidor de pia e ele o ralo?

Cutuquei-a no ombro. Continuaram. Cutuquei de novo. Nada. Pigarreei alto. Duuh largou o tarado com uma cara assustada. A boca dela e a região próxima, estavam num tom vermelho, quase roxo.

– Key! – Ela exclamou alto.
– Precisamos conversar! – Falei alto, diante da música. – Banheiro! Agora!
– Já volto! – Ela falou dando um beijinho no pervertido safado, me fazendo quase matá-lo com o olhar.

Saí na frente, escoltada por uma Rê que tentava me acalmar, enquanto ouvia atrás uma Duuh pedindo ajuda pra Rapha.

– Me protege Rapha. – Ouvi ela falar.
– Eu vou tentar. – A Rapha falou com uma risadinha. – Independente do que ela falar estou orgulhosa de você. – continuou cutucando-a nas costelas, fazendo-as rirem alto.

Parei olhando feio pra Raphaela, que se encolheu, cessando os risos. Abri a porta do banheiro, enquanto as três entravam.

– O.K. – Comecei. - Maria Eduarda, o que você pensa que está fazendo? – Perguntei com a voz alta.
– Estava dando uns beijos no Tay. – Ela me respondeu completamente descarada, parecendo a Rapha. Que raio de conselhos são esses que ela estava dando pra essa garota?
– Duuh, tu é pir... – Comecei.
– Ahhh Key! Pára de bobagem. Eu não estava fazendo nada que nenhuma de vocês aqui já não tenham feito também. – Ela falou, fazendo meu queixo cair. Continuou. – E outra, eu sei que você tá doidinha pra dar uns amassos no Rob também. – Ela falou sorridente, completamente feliz por ter argumentos contra mim. – Então por que não aproveitamos todas? – Ela perguntou olhando pra nós.
– Eu concordo. – A Rapha já se adiantou, indo se posicionar ao lado da Duuh, com o sorriso enorme no rosto, passando o braço pelos ombros dela. Ninguém aqui tinha percebido a promiscuidade dela e do tal de Kellan?
– E outra Key, a Rapha aqui já me deu todos os conselhos. – Ela falou, enquanto elas batiam a mão uma na outra, a palma aberta. – Pode ficar tranqüila!
– Meu Deus! Você não vai a lugar nenhum então! Você anda seguindo os conselhos da Rapha? Quantas vezes já te falei que o que for bom você absorve e o que for ruim você descarta, finge que não ouviu?
– Oxe, assim você me ofende! Tá falando que eu não sou uma boa conselheira? – A Rapha perguntou.
– Não Rapha. A Key não quis dizer isso, não é mesmo Key querida? – A Rê falou tentando tomar as rédeas da situação.
– Tá, tá, tá, tá. Não foi mesmo.
– Então, - A Rê continuou aliviada. – Vamos voltar e nos divertir! É Natal! Depois resolvemos isso!
– YEAH! – A Rapha já gritou.
– Eeeee! – A Duuh comemorou.
– Mas sem extrapolar OK? – Falei, enquanto saiamos do banheiro.
– A Key acha que eu sou boba. – Ouvi a Rapha sussurrar pra Duuh. – Eu vi o quase beijo dela com o Rob antes de ir acabar com a sua festa.
– Eu ouvi isso! – Exclamei.
– Ixii Rapha! Vamos! – A Duuh falou apressando o passo.
– Temos que retocar o estoque de conselhos da Duuh rápido, Rê.
– Urgentemente! – A Rê respondeu com uma gargalhada.


*Rê POV*

Estávamos voltando pra mesa, a Rapha e a Duuh na nossa frente. Elas chegaram e foram se sentar, estavam super entrosadas com o Taylor e o Kellan.

A Key foi sentar do lado do Rob e eu do lado do meu estereótipo de beleza masculina, não conseguia parar de olhá-lo, é muita beleza pra um homem só. O silêncio já estava ficando constrangedor, então resolvi quebrá-lo.

– Você tem uma banda de rock certo? – Pelo amor hein, dona Renata belo jeito de quebrar o silêncio. Ele abriu um sorriso lindo que me fez derreter, parece que ele também não estava gostando do silêncio.
– Tenho sim, qualquer dia vai junto com as suas amigas, ver um show nosso.
– É claro que vamos! – Quando olhei pro lado vi a Rapha se atracando com o Kellan comemorando da melhor forma possível o natal, fui ver se a Key ia querer matar a coitada pra tentar conservar a vida dela pelo menos no natal, eu era a sensata, mas ela era a “mãe” sempre brigando com as meninas, mas pelo jeito ela nem tinha visto, estava bem entretida com o Rob, deixei quieto já que estavam todas se divertindo ia fazer o mesmo.
– Você tem namorada Jackson? – Não acredito que eu perguntei isso!
– Não e você? – Se você quiser ser meu namorado eu terei logo, logo.
– Também não.
– Como uma mulher tão bonita como você está sozinha? – Com certeza eu devia estar roxa já de vergonha. Percebendo que eu fiquei sem graça e que não ia falar nada ele continuou -Você fica linda assim com vergonha sabia? – Essa era a hora que eu morria, só podia ser. Ele foi se aproximando de mim e eu continuava parada que nem um poste. – Eu já disse que você está linda nesse vestido? – Ele estava bem perto de mim falando no meu ouvido, segurei a respiração e quando eu menos esperava todo mundo começou a gritar, me assustei e me afastei dele quase caindo da cadeira. Lógico que lerda como eu sou e estando em uma situação dessas, eu esqueci que era natal, as pessoas estavam se abraçando e desejando feliz natal umas as outras.
– Feliz Natal Rê - disse o Jackson.
– Fe... – Não tive como responder, ele me beijou. Os anjinhos cantavam aleluias. No começo fiquei sem reação, mas depois correspondi, eu que não ia ser besta e desperdiçar.

Quando eu estava começando a me empolgar com o beijo...

– FELIZ NA... – A Rapha e a Duuh vieram gritando (nota mental: matar as duas depois)-erm... desculpa Rê eu não tinha visto - disse a Duuh arrastando a Rapha que tava rindo que nem uma hiena. Fuzilei as duas com os olhos, mas a culpa não era delas, elas não tinham visto, tá posso pensar em poupar a vida delas.

Me afastei do Jackson e fui falar com elas, ele também foi falar com os amigos dele, fui andando e vi as duas, só estava faltando a Key, deve estar comemorando o natal em grande estilo com o Rob.

– Feliz natal para as duas. – Disse abraçando-as
– Esava aproveitando mesmo o Natal hein amiga?
– Maria Eduarda, cala a boca. – Não me perguntem de onde a Key surgiu, só vi quando ela deu um tapa no braço da Duuh que fez a melhor cara de vítima dela.
– Machucou tá Key-*olhoscheiosdelágrimas*
– Ah desculpa, FELIZ NATAL MEUS AMORES! – A Key tem mania de ficar gritando mesmo.

Os meninos se aproximaram da gente pra desejar feliz natal. O Jackson veio direto falar comigo, mas ele já não me desejou feliz Natal?! Tudo bem ele pode vir falar comigo quantas vezes quiser e se quiser me dar mais daqueles presentinhos também não me importo.

– Feliz natal de novo! – Sussurrou ele me fazendo perder todos os sentidos, e me beijou novamente. Tem melhor presente que esse?


*Rapha POV*

Eu estava me sentindo nas nuvens nos braços do Kellan. Quer dizer, estava mais pra inferno de tão quente, mas era muito bom! Kellan tinha uma pegada que me levava à loucura. Eu estava perdendo o juízo alí. Mesmo durante a Ceia, ele dava um jeito de provocar. Assim que acabamos, vimos que os casais estavam se levantando para dançar. Rob tinha puxado a Key, que não pensou duas vezes e foi toda contente dançar. O Jack estava grudado na Rê, tudo que ela fizesse ele topava. Até a Duuh estava na pista com o Tay. Kellan me puxou para a pista.

– Nossa Rapha, você tá me deixando louco. – Ele disse antes de me roubar mais um beijo daqueles.
– Então estamos empatados. – Eu respondi quase sem ar. Ele sorriu safado. Morri!
– Hum... Que tal se nós subíssemos um pouco? – Ele sugeriu. A proposta era tentadora. Olhei para a Key, que não tava nem aí pra nada. Olhei para a Rê, que beijava o Jack.
– Vamos! – Falei enquanto o puxava pela mão e saía andando rápido do salão.
– Por que a pressa?
– Porque se a Key ou a Rê me virem saindo daqui com você, o tão adorável clima de Natal vai pro espaço. – Respondi.
– Elas são meio super protetoras, né? – Ele me perguntou fazendo uma cara engraçada.
– Meio? Piada, né? – Ri com vontade. – Eu tenho pena da Duuh. Ela é quem mais sofre com a proteção das duas. Mas no fundo, elas fazem isso porque se preocupam com a gente. – Disse. No fundo, eu até gostava desse cuidado delas.
– Ainda bem que elas não viram a gente subir, assim eu posso fazer isso... – Me puxou para o beijo mais quente da minha vida. Eu podia jurar que dentro daquele elevador a temperatura tava pelos 50º C. –... Sem que nos interrompam. – Disse quando parou de me beijar e aporta se abriu.

Ele me levou para o quarto deles, puxei-o para o nosso, passando pela tal porta de ligação. Kellan me beijava e cada vez mais eu achava que íamos entrar em combustão. Eu já tinha aberto sua camisa social preta e passava minhas mãos por aquele peito lindamente esculpido. Kellan Passava suas mãos ágeis pelas minhas costas nuas, me fazendo arrepiar. Ele veio descendo seus beijos pelo meu pescoço, dando leves mordidas. Eu gemi de empolgação. Minhas mãos já procuravam tirar a camisa dele para sentir melhor seu corpo, mas um barulho surdo e alto nos assustou.

– QUE ORGIA É ESSA QUE TÁ ACONTECENDO AQUI, RAPAHELA? – Droga! Flagrada pela Key nessa hora era o fim do mundo!
– Key... – Tentei começar a me explicar.
– RAPHAELA, XIU! – Claro! Só a Key não era o bastante. A Rê também tinha que aparecer.
– IMAGINA SE FOSSE A DUUH QUE PEGASSE VOCÊS DOIS AQUI? – A Key tava descontrolada.
– Calma Key. Eles não...
– CALMA NADA, ROB! – Tadinho do Rob, foi tentar ajudar e sobrou pra ele. Ele encolheu os ombros.
– Deixa eles falarem... – O Jack sugeriu e recebeu dois pares de olhos irados sobre ele.
– Jack... – Rê começou com a voz meiga e eu sabia o que vinha depois. – XIU PRA VOCÊ TAMBÉM!
– Gente, que gritaria é essa? – A Duuh tava chegando no quarto. Dei graças a Deus que o Kellan já tinha fechado a camisa.


*Key POV*

Rob dançava incrivelmente bem. A música estava acabando e eu sinceramente não queria me afastar dele. Parece que ele ouviu meus pensamentos. Ele me abraçou para mais perto dele e encostou a cabeça no meu ombro. Eu fechei os olhos e deixei a próxima música começar a nos embalar. Esava tocando Angel, da Sarah Mclahlan. Eu amava aquela música.

– Adoro essa música. – Rob sussurrou no meu ouvido. Eu senti todos os meus cabelinhos arrepiarem com a voz rouca dele no meu ouvido.
– Eu também. – Respondi com a voz fraca.
– “Let me empty, oh and weightless and maybe, I’ll find some peace tonight” – Rob cantou no meu ouvido e minhas pernas perderam a força.

Ele afastou seu rosto do meu ombro e nos olhamos. “In the arms of the angels, fly away from here...”, nossos rostos se aproximaram por vontade própria e seus lábios roçaram nos meus. “You’re in the arms of the angels, may you find some comfort here”, eu ouvia a música enquanto Rob abria meus lábios me fazendo perder os sentidos. Nunca um beijo tinha sido tão bom pra mim. O beijo era delicado, carinhoso, mas ao mesmo tempo quente e cheio de desejo. Era intenso e não desesperado.

Não percebi quando a música terminou e começou outra. Só paramos de nos beijar quando estávamos sem ar. Sem querer quebrar o beijo, nos afastamos com selinhos.

– Uau! – Ele disse recuperando o fôlego.
– Uau! – Eu fiz coro com ele. Nós rimos, vermelhos e ligeiramente sem graça.
– Eu queria muito fazer isso. – Passou a mão pelo meu rosto. Eu abaixei a cabeça com vergonha e olhei para o lado. Vi a Rê, abraçada com o Jackson. Eles pareciam tão sintonizados. Rob me abraçou e eu o apertei um pouco contra mim. Olhei para a Duuh e ela tava de mãos dadas com o Taylor. Estavam sentados como um casal de adolescentes comportados. Procurei pela Rapha. Não achei por alí. Virei o rosto e também não a encontrei do outro lado. Aquilo não era um bom sinal. Ela estava aprontando, eu tinha certeza. Me afastei do Robert, que se assustou.
– O que foi? – Ele perguntou.
– Cadê seu amigo com a Rapha? – Perguntei mais para mim mesma do que pra ele.
– Hum... Não sei. Eles devem estar se divertindo em outro lugar. – Sorriu com malícia.
– Filha da mãe! – Saí correndo pelo salão. Eles deviam ter subido. Eu a mato se ela estiver fazendo alguma besteira!

Quando passei pela Rê, vi que ela me acompanhou. Quando entramos no elevador, Rob e Jack entraram atrás da gente.

– Calma, Key! A gente não sabe o que aconteceu. – A Rê falou, já sabendo que eu estava atrás da Rapha.
– Eu vou matar a Raphaela!

Saímos do elevador e fui direto para o nosso quarto. Quando abri a porta, ela tava se pegando com um Kellan, quase sem camisa já. Eles estavam tão grudados que eu tive sérias dificuldades para saber onde começava um e terminava o outro. Perdi o controle!

Eles me olhavam com cara de culpados. E eu olhava com cara de que eles eram culpados! Quando a Duuh chegou, agradeci mentalmente por Kellan já ter se recomposto. Eles continuavam amassados e vermelhos como pimentões, mas pelo menos estavam vestidos.

– Raphaela – Disse juntando toda a minha calma. – Não quero explicações hoje. Quero vocês dois fora desse quarto, agora! – Dei as costas, mas virei novamente quando lembrei que a Rapha adora burlar as coisas. – E quero vocês fora do outro quarto também. Na verdade, quero vocês sob meu campo de visão.

Eu realmente não queria atrapalhar o Natal da Rapha. Mas não acho que aquela seria a melhor oportunidade para que eles consumassem o desejo deles. No fundo, sei que por mais chateada que ela ficasse naquele momento, ia acabar me compreendendo.


*Rê POV*

A Duuh ter chegado no quarto naquele momento foi providencial. Se não fosse isso, a Key teria matado a Rapha, e acho que eu não faria nada para impedir. Descemos em silêncio para o salão. Assim que Jack teve uma oportunidade, beijou minha mão. Eu sorri para ele.

– Eu não entendi o porquê de tanto estresse. – Ele me falou. Quase ninguém entendia.
– É que nós gostamos de proteger as meninas. – Respondi. – A Key é a mais protetora de nós duas.
– Percebi que vocês só “protegem” – Ele fez o sinal de aspas no ar. – as outras duas. Por que vocês não se regulam também?
– Porque nós somos grandinhas. – Sorri. – Eu e a Key sabemos o que fazemos. A Rapha é meio louca, às vezes ela é só vontade e esquece de pensar. – Jackson caiu na gargalhada.
– Então ela e o Kellan formam o casal perfeito. – Eu gargalhei junto. – Mas e a Duuh?
– A Duuh ainda é muito nova. É como se fosse nossa irmã mais nova. Nós sempre iremos protegê-la, mesmo que ela tenha 80 anos. – Lembrei de uma história e contei pro Jackson. – Eu e a Key não a deixamos ela qualquer coisa. A gente edita as coisas que ela lê de acordo com a idade dela.
– Meu Deus! Coitada! Vocês são piores que censura! – Ele disse fingindo indignação.
– Com certeza! – Concordei.

Passamos o resto do tempo ali, sentados com os outros, conversando, rindo e conhecendo um pouco melhor cada um ao outro. Key dividia sua atenção entre Rob e Rapha e Duuh. Não posso culpá-la. Eu também sempre dava umas espiadas nas duas. Mas depois do que aconteceu no quarto, nenhum deles ousou passar dos limites. Quem olhasse para Rapha e Kellan nunca imaginaria a cena quente que presenciamos no quarto. Mas pensando com meus próprios cascalhos, eu tava louca de vontade de esquentar as coisas com o Jack.

Quando o dia começou a amanhecer, estávamos exaustos. Subimos para nossos respectivos quartos e até deixamos a Duuh se despedir do Taylor sem olharmos. No caso da Rapha, eu disse para Key que ela podia se despedir do Rob em paz que eu ficaria de olho nela. A Rapha me olhou agradecida. Melhor eu do que a Key. Ela não abusou, e entrou logo no quarto.

– Nos vemos amanhã? – Jackson me perguntou com os lábios quase nos meus e carinha triste.
– Cl-claro. – Respondi nervosa com sua boca tão próxima da minha.
– Vou sonhar com você. – Ele disse grudando nossas bocas e me dando o melhor beijo de boa noite que eu já recebi.


*Rapha e Duuh POV*

“Aiai...” Era um tal de suspiro pra cá e suspiro pra lá que meu Deus do céu!

– OW HOMEM GOSTOSO PELOAMORDEDEUS! – disse a Rapha, se jogando com tudo na cama – Pena que não pude tirar a prova dos nove né? – ela concluiu olhando ferina pra Key e pra Rê.
– Do que você tá falando Rapha? – Perguntei curiosa – Você tinha uma prova pra fazer hoje é isso?
– Não é nada Duuh! Vai se trocar pra dormir que está tarde já – A Rê desconversou, antes que eu soltasse o verbo.
– É isso mesmo! Chega de papo. – A Key disse colocando um ponto final na estória. – Vocês já falaram e fizeram coisas de mais pra um dia!
– Pensa que não vi você fazendo coisitas também é Dona Key? – Disse a Duuh, perdendo completamente a noção do perigo. – E parecia que tava até gostando né Rapha? – a pentelha ainda me jogou no fogo. Eu a mato.
– Oh Duuh mais respeito comigo garota! – A Key falou abismada – Você hoje já brincou muito com sua sorte. Quer ver como já corto esse seu barato de namoro? Hein? – concluiu maldosa.

O beicinho da Duuh já tremeu na hora! Corri abraçá-la.

– Xiuu..fica assim não Dudulinda!! A Key só ta brincando com você. – Eu disse tentando reconfortá-la, olhando atravessada pra Key – Fala que você estava brincando Key - Pedi.
– É Duduzinha eu estava brincando. – A Bruxa má do Leste confirmou. – E querem saber a verdade? Eu tô é bem FELIZ por que hoje o QUARTETO FANTÁSTICO se deu foi bem!! – E começou a rir feito louca. E nós acompanhamos as gargalhadas dela lógico.

Começamos a comparar nossas impressões sobre os rapazes, discutindo quem tinha o melhor beijo e a melhor pegada. Bem por fim chegamos a conclusão que aquilo não vinha ao caso, por que cada uma tinha ficado exatamente com quem queria, por isso cada um deles era perfeito aos nossos olhos de um jeito bem particular.

– O.K meninas vamos dormir, por que daqui a pouco teremos que estar lindas para o Almoço de Natal. – Disse a Rê sorrindo maliciosa – E eu não quero estar com olheiras quando encontrar com o Jack. – Ela concluiu batendo as pestanas.
– Você tem razão Rêzinha! Eu quero estar linda pro meu Tay! – Sério que a Duuh não conseguia falar o nome do garoto sem suspirar?
– Tá legal, tá legal, vamos dormir por que amanhã o Kellan não me escapa! – Eu disse esfregando as mãos uma na outra sugestivamente. – Pela manhã eu darei um jeito de conhecer o Rock’ in Roll dele – Concluiu gargalhando.
– Você é doida Rapha! Maníaca mesmo – A Key me repreendeu severa. – Tenho pena desse rapaz. Ele não sabe a onde amarrou o bode dele. – Ela disse pesarosa.
– O Kellan tem um bode? – Perguntou a Duuh, colocando a cabecinha de vento dela pra fora da porta do banheiro com a boca cheia de pasta de dente.
–CALA A BOCA DUUH! – Nós três falamos ao mesmo tempo pra ela.

Acordei com um barulho insistente, parecia música natalina? Acho que era sim, mas estava tão alta e tão perto. Rolei na cama, e de repente dei um pulo me jogando na cama onde dormiam a Key a Rê. Elas acordaram assustadas me olhando como se eu fosse um fantasma e depois olharam para a direção que eu apontava e:

– AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH – Gritamos todas juntas, e foi só aí que a Rapha também acordou.
– Que putaria é essa aqui MERDA! Eu tô tentando dormir! – Disse a Rapha com a cara toda amassada e cheia de um creme branco em volta dos olhos.

Ela então olhou para a direção em que apontávamos e viu o mesmo que tinha nos assustado antes.

– AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH – Ela gritou desespera. Tapando o rosto com as mãos, saiu correndo pro banheiro.

O motivo dessa gritaria toda? Imaginem? Não conseguiram? Vou contar.

Os quatro HOMENS MAIS LINDOS DO MUNDO estavam cada um com um violão parados na porta que ligava nossos quartos cantando músicas de Natal pra nos despertar!!

Os coitados ficaram tão assustados com nossos gritos que começaram a se debater uns nos outros feito peixes fora d’agua. Eles conseguiram correr pro quarto deles de volta antes de ficarem surdos com nossos gritos.

– MAS QUE MERDA!! – A Key entrou em desespero. – Como assim ele vem aqui sem avisar e me pega babando no travesseiro? – Ela disse tapando o rosto nervosa. O cabelo dela parecia um ninho de mafagarfo.
– Fica assim não boba – Disse a Rê, mas que parecia também aflita. – Ele vai gostar de você de qualquer jeito – Ela podia ter dito outra coisa né? Jura que o Rob ia gostar da Key quando ela desse as crises dela de Serial Killer que mata qualquer um que mexer no queijo dela? Rá. Pago pra ver essa.

Nos levantamos correndo pra nos arrumar e desfazer a má impressão com os garotos . Duro foi convencer a Rapha a abrir o banheiro. Ela não queria sair de lá por nada.

– Não vou abrir! – Ela choramingou.– Ele está aí ainda e vocês querem que ele veja o meu fuá avacalhado suas diabas! – Ela disse numa voz alterada.
– DEXA DE PALHAÇA E ABRE LOGO ESSA JOÇA RAPHAELA! – A Key perdeu a paciência com ela – Se não abrir no três meto o pé na porta e acabo com a tua RAÇA!
– Tô abrindo sua do mal – Concordou a Rapha amedrontada. Ela preferia enfrentar o Kellan descabelada do que a Key raivosa.

Nos arrumamos rápido e saímos pra encontrar os meninos. Tinha um bilhete preso na porta do quarto deles dizendo:

“Achamos melhor esperar vocês no restaurante. Bjs pra todas! Ass. Rob, Tay, Jack e Kellan”.

Voamos pro elevador impacientes, loucas pra revê-los. Quando chegamos na porta avistamos os quatro sentados na mesma mesa que havíamos ocupado na noite anterior. Quando nos viram seus rostos se iluminaram cheios de sorrisos. Nos aproximamos e eles se levantaram, vindo cada qual de encontro com sua conquista.

O Tay me beijou suavemente, o mesmo fez o Rob com a Key e o Jack com a Rê, já o Kellan agarrou a Rapha e tascou um beijaço de novela mexicana, com direito a levantadinha de perna e tudo!

– Desculpe pelo susto – Disse o Tay envergonhado, tocando meu rosto.
– É,nós só queríamos que vocês acordassem alegres. – Falou o Jack cabisbaixo segurando a mão da Rê.
– Não tínhamos a intenção de causar nenhum desconforto. – Desculpou-se o Rob fitando a Key que tava vermelha feito um pimentão.
– Verdade! Mas que foi divertido foi. – Disse o Kellan rindo – Depois você me conta por que dorme de toca e com aquele troço esquisito na cara? – Ele pediu dengoso pra Rapha.

Nós olhamos pra eles espantados e a Key começou a rir até as lágrimas, nos juntamos a ela, só a Rapha não achou graça. Fizemos nossos pedidos e o almoço transcorreu sem incidentes. Preciso dizer que foi maravilhoso? Não né? Foi o MELHOR almoço de Natal que poderíamos ter!


*Rê POV*

Nosso almoço tinha sido perfeito! Eu nunca poderia imaginar que ia ficar tão feliz em passar o meu Natal presa por causa da neve em uma cidade desconhecida e longe na minha família. Tinha sido providencial essa neve. Na verdade, tinha sido uma intervenção divina, uma vez que era Natal! Jackson era incrível. Totalmente diferente de mim, de uma forma que me completava.

Eu sei que parecia cedo demais para dizer isso, mas era isso que eu sentia. Na verdade, arrisco dizer que todas nós achávamos isso. A Key era tão mais leve com Rob ao lado. Ela era até simpática. A Rapha estava se comportando bem, apesar de toda a tensão sexual que rolava entre ela e Kellan. E a nossa Duuh... Tão lindinha com o Taylor. Eu achei tão fofo quando ele pediu permissão para mim e para a Key para namorar com a Duuh. Claro que deixamos. E também é claro que a Key fez uma série de recomendações antes de deixar.

Jackson me beijou, levando para longe meus pensamentos. Quando ele me beijava, era como se só nós existíssemos. Eu me perdia, e só ele me encontrava.

– Acho que no próximo ano podemos pensar em uma outra forma de viajarmos pra Washington no Natal... – Ele falou. Olhei pra ele, meus olhos brilhando.
– Juntos? – Tive medo da resposta.
– E você imagina que eu vá te deixar?


*Key POV*

Eu realmente queria poder ficar mais tempo em Portland. A cidade tinha se tornado fantástica pra mim. Robert me ajudava a colocar as malas no carro. Eu não queria me despedir, nem ele de mim. As meninas se despediam, cheias de saudades já.

– Key, quero saber como vamos fazer no Ano Novo. – Rob me disse convicto.
– Como? – Olhei surpresa.
– Quero saber se vamos passar em Los Angeles, Portland, Washington... Enfim, quero saber onde vamos passar. – Borboletas começaram a bater asas no meu estômago. Era isso mesmo que eu estava ouvindo?
– Você tá falando nós... eu e você? – Perguntei idiotamente.
– Na verdade estava falando de todos nós. – disse fazendo um gesto englobando todo mundo. – Mas sinceramente estou mais preocupado em passar o Ano Novo com você. Onde você quer passar?
– Hum... Na verdade ainda não tínhamos decidido...
– Ok, me dá seu telefone. – Ele puxou o celular do bolso e anotou meu número. Logo em seguida anotou o telefone dele no meu. – Assim que chegarmos em Washington eu te ligo. – Me puxou para um beijo longo e gostoso.
– Eu espero você me ligar. – Disse sem saber o que falar.
– Estava pensando... Eu podia aproveitar a passagem por lá e visitar meus sogros, o que acha? – Ele estava com um meio sorriso torto na boca, absolutamente lindo.
– Sogros? – Mas de que raios ele estava falando? Ele não era solteiro? Não estava fazendo planos comigo?
– Sim, Key... Meus sogros, seus pais... – Ele deixou no ar e eu quase morri. Ele tá querendo me pedir em namoro?
– Sogros? – Repeti. – Por acaso você está querendo me pedir em namoro, Rob?
– Não Key. – Ele falou e eu broxei. – Eu estou informando, é diferente.

OMG! Eu juro que ovulei agora. Definitivamente isso era melhor do que qualquer desejo de Ano Novo, melhor do que qualquer presente de Natal. Eu estava feliz. Minhas amigas estavam felizes! O mundo estava feliz! – Pelo menos o meu!


~*~ FIM ~*~