O olhar que me acalma



Estava num campo. Era enorme, não conseguia ver o fim. Mas era lindo. Flores de todas as cores por todo lado. Borboletas e joaninhas faziam a festa. Não se via nenhum bicho nocivo nesse lugar, apenas belos e dóceis animais. Era, em suma, um belo dia.
Eu estava só. Só, nesse imenso lugar. Nessa redoma que parecia não ter fim. Não saberia dizer se queria sair dali, porque toda aquela beleza, de algum modo, me apavorava. “Nem tudo é tão perfeito, tem de haver algo de irregular por aqui”, pensei. Não havia motivos para me assustar. Nada iria aparecer de ruim. Eu sentia. Do mesmo modo que sentia que estava segura demais.
- Isso não pode ser real. – Falei ao mesmo tempo em que deitava na relva. Não era um dia muito quente, a temperatura devia beirar uns 23°C. Um dos meus dias que pareciam ser felizes, mas que na verdade, apenas pareciam, porque tudo em mim não passava de uma felicidade disfarçada.
Aquele dia era lindo, mas nada acontecia. Tentei fechar os olhos e esperar o tempo passar, perdida em meus pensamentos. Passado um tempo eu abri meus olhos. Nada acontecia de verdade, era o que parecia. Eu olhei para aquele céu azul e vi alguns pássaros, além das flores que cobriam um pouco meu rosto. Resolvi sentar. Olhei para o lado e pude ver uma pessoa se aproximando. À medida que chegava mais perto, eu podia perceber que aquilo tudo era irreal. Porque ali estava uma pessoa que não existia: Edward Cullen.
Um deus se aproximava de mim. “Não é verdade”, eu pensava.
Ele sentou na minha frente, a pele cintilando com os raios de sol, e disse:
- Não tema. É verdade. Confie em mim, isso é real.
- Como pode ser real? Você não existe! Você é perfeito, e perfeição não existe.
- Já parou para pensar em como o lugar em que estamos contesta sua teoria?
- Deve haver algum defeito aqui. Eu estava tentando encontrar algum. Meio impossível, mas eu tentei, já que seria um lugar monótono, sem nada para fazer. Eu sou uma estranha aqui. Não combino com esse lugar. Eu sou a irregularidade, o defeito, o que há de errado aqui.
- Talvez eu seja o defeito. Eu nem ao menos deveria estar aqui. Tinha que estar na história de Meyer, com Bella, Renesmee e toda minha família. Mas não. Estou aqui, com você. E você corre muito perigo.
- O maior perigo que eu devo estar correndo é de que isso seja irreal.
- Não! Seu sangue canta para mim mais do que o de Bella cantava quando ela era humana. Você é uma tentação muito grande para mim, mas, assim como fiz com Bella, estou tentando mantê-la segura, em sua humanidade. Você faz com que eu esqueça tudo o que eu conheço, tudo o que sei. E apenas uma pessoa existe para mim agora: você.
- Para quê tudo isso? Você já tem a Bella, a Renesmee, sua família. Você não precisa desta tola humana aqui. Você ama a Bella. É assim que deve ser. Não posso mudar nada. Eu nem devia existir. Eu sou inútil e idiota. Um estrago total. Volte para seu mundo e me deixe no meu.
- Meu mundo já não existe, . Não sem você. A Bella é tudo para mim, mas você é mais do que tudo, agora que ela também é vampira. É como se ela tivesse deixado de ser o que era, como se tivesse mudado de personalidade. Era por isso que a preferia humana, que não queria transformá-la. Temia que aquilo tirasse o encanto de nosso sentimento. E isso simplesmente aconteceu para mim. Para ela não, ela ainda me ama. Mas para mim tudo mudou.
- Eu tenho que sumir daqui. Queria ser personagem agora, avisar para a Bella. Finja que eu não existo, será melhor. Era para ser assim com ela, e você falhou. É por isso que ela virou vampira. Se você não fosse tão egoísta, ou se ela não fosse tão teimosa, Bella ainda seria humana. Afaste-se de mim e fique com a sua família. Você está precisando exercitar amor platônico, que é o modo como te amo. Se realmente me amasse, me deixaria bem, na minha vida infeliz, mas ainda vivendo. Essa sua aparição só fez com que eu ficasse mais infeliz. Como você é egoísta.
- , eu sei que sou egoísta, mas entenda, eu te amo de um modo que não posso viver sem você.
- Você tem a Bella. Ela te ama. Eu não devia existir. EU NÃO DEVERIA TER NASCIDO!
- Não diga isso.
- Chega, Edward! Adeus, eu te amo, mas sua vida tem que ser ao lado de Bella. Eu realmente te amo, mas eu não te mereço. Sou muito imperfeita para você. – Dizendo isso me afastei. Mas logo senti sua mão no meu braço. Eu me virei e olhei em seus olhos de topázio.
Vendo aquilo era impossível não me sentir bem. A visão dos olhos dele me acalmava. E pude sentir que, apesar de ser errado o fato de ele me amar, mesmo ele estando com Bella, aquilo estava, de alguma maneira, certo. E eu me sentia completa.
Eu sentia o certo e o errado me importunando, mas aquilo não me interessava. Aquele olhar limpava tudo o que havia em minha cabeça, tudo o que eu sabia. Era o paraíso. Um paraíso incorreto, mas ainda assim maravilhoso. Mas eu tinha de ir. A sensação de fazer o errado era o que mais me atormentava, mas meus pensamentos confusos estavam sendo afastados por aquele olhar. Aquele olhar perturbador e ao mesmo tempo calmante.
- Prometa-me uma coisa.
- O quê?
- Guarde-me em sua mente.

So if you’re asking me I want you to know
When my time comes forget the wrong that I've done
Help me leave behind some reasons to be missed
Don't resent me, when you're feeling empty
Keep me in your memory, leave out all the rest
Leave out all the rest
[Linkin Park, Leave Out All The Rest]


- Eu prometo.

De repente, me vejo em meu quarto, meu corpo deitado incrivelmente aos pulos por causa das batidas do meu coração. Eu sabia que aquilo era sonho, que era irreal. Olhei para o meu livro Crepúsculo e, mesmo que a promessa tenha sido irreal, resolvi cumpri-la. Provavelmente seria impossível não cumprir.
Mas algo que me faria ter certeza de que eu não iria esquecer esse sonho seria o olhar de Edward. Aquele foi o único olhar que conseguiu me acalmar durante toda minha vida.