Por: R. Black
Revisão por Mel


SlashWood - Mudança Radical


Rafaela se olhava no espelho. Sua roupa de aprendiz não condizia muito com seu estilo, mas ela gostava da capa preta. Olhou rapidamente para o relógio e notou que estava atrasada para sua aula. Passou rapidamente o rímel nos olhos e em um momento de descuido o acertou dentro da retina. Piscou sem parar procurando o banheiro com a mão sobre o olho que ardia. Praguejou baixo enquanto lavava e depois pingava o colírio para amenizar a irritação. Correu para a varanda sem nem mesmo olhar para trás. Sua tutora a mataria pelo atraso. Fechou os olhos se lembrando das palavras que deveriam ser ditas e em um piscar de olhos estava no local combinado.

- Está atrasada, Rafaela! – Disse seriamente sua tutora, Heloíse.

- Desculpe-me, eu apenas tive um pequeno contratempo. Podemos começar? – Deu um sorriso amarelo tentando convencer Heloíse a se esquecer do assunto.

- Não. Primeiro de tudo: espero que seu atraso não se repita. Segundo: você terá que ir para Nashville, Rafaela, sua prova final será lá. E terceiro: sua maquiagem está borrada.

Rafaela arregalou os olhos percebendo que não tinha se olhado no espelho. Num estalar de dedos seu estojo de maquiagem apareceu em suas mãos e ela consertou o estrago. Sorriu.

- Bem melhor.

- Você sabe que não pode ficar usando a magia assim. Está bem, esqueça. Temos muito trabalho pela frente. Rafaela, estou colocando toda minha confiança em você. Não me decepcione.

- Sim, senhora. Qual será minha missão? – Perguntou apreensiva.

- Você terá que dar uma lição em um rapaz um pouco mais velho que você. Ele terá que aprender a respeitar o próximo e, por favor, faça-o perder o medo das bruxas. É bem ridículo para a idade dele. – Rafaela gargalhou com a afirmação de sua tutora.

- Ele tem medo de bruxas? – Sua tutora apenas confirmou com a cabeça.

- Levante sua mão direita e repita comigo. – Heloíse andava de um lado para o outro pela sala que parecia a de um castelo.

- Eu preciso fazer o juramento?

- Precisa. Eu juro solenemente, pela casta das bruxas SlashWood, cuidar e proteger o nosso segredo. Nenhum humano ou criatura do mundo real poderá saber da nossa existência. Caso isso aconteça, eu aceito as leis, tendo consciência de que serei banida, e meus poderes retirados. – Rafaela repetiu as palavras e com elas um pequeno símbolo, como uma tatuagem, se formou em sua mão que estava levantada. Aquilo sempre a lembraria de que não poderia contar a ninguém.

- Quanto tempo eu tenho e quando vou?

- Três dias. Seu prazo termina à meia noite. No Halloween. E você irá agora. – Quando sua tutora terminou de falar Rafaela foi puxada por uma força invisível e quando abriu os olhos lentamente estava de frente a uma empresa de grande porte. Balançou a cabeça um pouco tonta. Ainda não tinha se acostumado com aquele tipo de transporte, se é que podia ser chamado assim. A vassoura era bem melhor. Bons tempos.

Em sua mão, notou um pequeno papel. O abriu e viu as instruções que deveria seguir. Fez uma careta quando percebeu que não estava mais com sua roupa de aprendiz, e sim algo que nem podia ser chamado de roupa. Haviam transformado-a numa baranga! Sua vontade era amaldiçoar todos os ancestrais das anciãs SlashWood por terem lhe vestido de nerd. Mas apenas respirou fundo e adentrou a empresa, indo direto para a recepção principal.

Entrou no elevador com a cara amarrada por causa do nariz torcido e a expressão de nojo da recepcionista. Uma bela de uma patricinha isso sim! Rafaela tinha vontade de chorar. Uma das coisas que ela mais gostava era seu visual. E agora era uma brega! Desastre. O que mais teria que fazer para virar uma bruxa completa?

Seu cargo como secretária do “julgado”, que era aquele ao qual ela deveria ensinar algo de bom, já estava garantido. E nem mesmo uma entrevista precisava fazer. Suspirou aliviada já que não estava com cabeça para isso. Sua tutora já tinha cuidado de tudo.

Foi direto para o banheiro para ver o “estrago” que as anciãs tinham feito com ela. Só elas teriam o direito de mudar assim a aparência de uma das bruxas caso fosse necessário.

Abafou um grito quando viu os sapatos masculinos e as meias ¾ cinza escuro que completavam seu look “fashion”. Ele era composto por uma blusa social que tinha duas vezes o seu tamanho, saia de pregas preta até o joelho, óculos fundo de garrafa, aparelho nos dentes, cabelos pretos enrolados excessivamente altos, sua pele pálida, e sombrasselhas grossas como de um lobisomem. Gemeu de insatisfação. Qualquer um que a olhasse cairia morto agora. Lá vai minha alto-estima pelo ralo – pensou. Fechou os olhos com força antes de sair do banheiro e ignorar o modo como estava vestida.

Seguiu para a sala do seu “chefe” para as apresentações sob o olhar assustado de uns, o riso outros - a maioria - e a expressão de desdém de alguns. Mesmo não querendo se sentiu mal com aquilo. Não era uma Miss Universo, mas gostava de si mesma. Achava-se bonita de alguma forma.

Afastou os pensamentos ao dar duas leves batidas na porta e ouvir um “entre”. Abriu lentamente a porta e quase desmaiou ao se deparar com o homem que a olhava. Ele era alto, forte, tinha um rosto marcante, uma mistura de homem e menino, tudo sendo completado por um corpo esculpido perfeito. Mesmo escondido por baixo do paletó seus músculos transpareciam com uma facilidade incrível.

Fechou sua boca rapidamente quando percebeu que estava quase – literalmente – babando.
Taylor tinha uma expressão confusa e irritada. Não acreditava que tinham contratado essa baranga nerd para ser sua secretária. Todas as suas secretárias eram lindas e gostosas. E agora mandam essa coisinha. Ele somente ignorou um pensamento em sua mente: talvez seja porque todas elas terminam na minha cama.

Levantou-se de sua cadeira e apertou a mão da menina. Um tipo de choque percorrer seu corpo. Mas ele não era ruim. Seus olhos se encontraram com os da menina por um instante. Ao contrário dela, eles eram lindos. Castanhos escuros e brilhantes. Pareciam que olhavam dentro de sua alma. Sentiu um arrepio e rapidamente soltou a mão da garota.

- Taylor Lautner. Você deve ser a...? – Tentou desviar sua atenção dos olhos dela enquanto se sentava e indicava para que ela se sentasse a sua frente.

- Ra-Rafaela Tihelmann.

- É um prazer conhecê-la. – Disse. Embora não fosse de verdade. Pensava consigo: como uma criatura podia ser tão feia. Mas tinha olhos lindos. Ok ele só podia estar delirando.
Balançou a cabeça de leve.

- Dulce já deve ter lhe passado suas funções. Foi avisada de que começava hoje? – Disse sem olhá-la. Prestava toda atenção que podia em papéis em cima da mesa para não ter que olhá-la novamente.

- Ham... Fui sim. – Disse meio incerta.

- Então pode começar. Já deve ter visto sua mesa vaga na frente do meu escritório. Dulce te levará até lá.

A viu sair da sala com o nariz torcido. Teria pesadelos aquela noite a não ser que alguém o acompanhasse. Sorriu com a idéia. Pegou sua lista de contatos abrindo-a e tentando escolher entre diversos números de “garotas passa-tempo” como ele as tinha apelidado. Seu olhos pararam em um nome do qual não se recordava, mas pegou o telefone e ligou para a garota.

- Alô, aqui é o Taylor. Poderia falar com Raquel? – Girou sua poltrona se recostando melhor enquanto falava.

- TAY! – Afastou o telefone do ouvido quando a garota gritou. Se arrependeu de ter ligado. Mas era só uma noite afinal. Ela não falaria muito. Sua boca estaria bem ocupada. Sorriu maroto com o pensamento.

- Queria saber se você não quer passar lá em casa hoje. Tenho me sentido tão sozinho. É bom ter alguma companhia para preencher o vazio que é aquele apartamento na cobertura.

- Apartamento na cobertura? – Os olhos da menina brilharam.

- Claro que eu posso ir. Que horas?

- As oito está ótimo. Meu motorista irá buscá-la. Até mais tarde docinho. – Desligou o telefone sem deixar que a garota falasse mais nada. A voz dela já estava deixando-o irritado.

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Rafaela olhava entediada para o monitor quando teve uma idéia. Olhou para os lados para ver se ninguém a pegaria e seus dedos digitavam enquanto seus olhos brilhavam. Já tinha muito tempo que não entrava no Twitter - mais ou menos umas duas horas – o que era tempo demais para ela ficar sem “twittar” nada.

RTihelmann #entediada Alguém me diz como acabar com o tédio? ‘Tô me controlando para não comer o chocolate da gaveta e mandar minha dieta pro espaço.
1 minute ago

Poucos minutos depois ela recebeu a resposta de uma amiga que estava “logada”:

LietP Come logo Rafy, você sabe que não vai resistir mesmo. #euri
1 minute ago

Rafaela riu da amiga e pegou o chocolate – que provavelmente era da última menina que trabalhou ali – abriu e levou um pedaço até a boca. Ela estava feliz até tomar um susto daqueles e quase cair da cadeira. Pôs uma de suas mãos no coração que batia acelerado e viu que seu chefe a olhava acusatoriamente.

- Ham... É... Hum... – Afastou o chocolate da boca e o jogou no lixo do lado de sua mesa sorrindo amarelo.

- É proibido comer ou entrar na internet a não ser que seja para o email da empresa. Mas Dulce já deve ter lhe informado sobre isso. – O rosto de Rafaela pegou fogo de vergonha. Ela era mesmo muito tapada.

- Des-desculpe senhor.

- Tudo bem. Mas que não aconteça outra vez. Pegue suas coisas. Nós precisamos ir a uma reunião e você irá almoçar comigo e alguns colegas em um restaurante. A reunião será lá. – Ela apenas confirmou com um aceno de cabeça. Porque ficava tão idiota perto dele? Aquilo já estava começando a irritá-la. Ela nunca fora assim. Sempre foi segura de si, até demais algumas vezes.

O almoço foi uma droga. Todos aqueles empresários falando coisas que ela não entendia. Só anotava tudo e fingia prestar atenção. Já estava se esforçando para não cochilar. Até que uma hora não agüentou mais e pediu licença, seguindo logo depois para o toalete.

- Aí Taylor. A sua nova secretária é super gostosa ein cara. – Os amigos debochavam dele. Taylor não gostava nada, mas se mantinha quieto.

- Aposto que ele não vai querer levá-la para cama que nem fez com as outras. – O outro falou. Taylor então resolveu se envolver também, mesmo que se sentisse mal falando aquilo.

- Aquela baranga? Nem que me pagassem. Só não vou ter pesadelos porque a gostosa da Raquel vai lá para casa hoje. – Disse esfregando as mãos com um sorriso.

- Raquel não é aquela loira peituda da festa da Lorena? - Rafaela saia do banheiro quando ouviu parte da conversa. Seu sangue subiu e a raiva transbordou. Quem eles pensam que são para falar assim de mim? – ela pensou. Voltou para o banheiro no mesmo instante e colocou sua bolsa sobre a pia. Ela jogava tudo na pia de qualquer jeito a procura do que precisava mas não conseguia achar.

- Meu chapéu de bruxa, não. Dentes de vampiro, não. Alho, não. Lanterna, não. Isso! – Disse quando achou finalmente o que procurava. Era ilegal ela usar os poderes a não ser que tivesse permissão, mas não estava nem ai. Correu para a porta do banheiro e os viu ainda rindo. Imprestáveis, vão me pagar – pensou.

O pequeno vidrinho começou a flutuar por entre as pessoas enquanto ela o guiava para perto da mesa. Os homens conversavam e riam distraidamente dando um gole ou outro nas suas bebidas.
Sem que eles percebessem todo o conteúdo do vidro foi parar em suas bebidas enquanto Rafaela segurava a gargalhada que queria sair. Suas bochechas doíam de tanta força que ela fazia para não rir e ser percebida. Se recompôs rapidamente e caminhou normalmente até a mesa. Disse apenas que não estava se sentindo bem e se retirou para casa de sua melhor amiga que morava perto dali. Ela ficaria com ela enquanto estava cumprindo a tarefa.

Se desmanchou de tanto rir dentro do táxi que tinha pego para ir à casa da amiga. O taxista já a olhava como se fosse louca. Ela não era louca. Só imaginava o estrago que aquele laxante faria aos rapazes. E na linda e romântica noite que Taylor teria... Com a privada!

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Taylor estava sentado assistindo um jogo de futebol qualquer quando a campainha tocou. Ele sabia quem era então se levantou e atendeu. Quando a garota o viu pulou em seu pescoço e quando se deram conta já estavam derrubando tudo pelo caminho até o quarto num amasso daqueles.
Então Taylor se lembrou dos olhos castanhos da menina baranguinha. Tinha alguma coisa nela que o fazia querer ficar perto, e mesmo assim ele queria distância dela.
Sentiu seu estômago embrulhar e empurrou a garota correndo para o banheiro em seguida. Só deu tempo de levantar a tampa da privada. Aquela seria uma longa noite...

Rafaela seguia para cozinha enquanto coçava os olhos e deu de cara com um caldeirão, várias abóboras e morcegos espalhados pela sala. Ela olhou a amiga assustada. O que a surtada da Katherine está fazendo? – pensou.

- O que significa isso? – Apontou em volta.

- São para sua festa de Halloween né Rafy? Ou você esqueceu que é amanha? – Rafaela arregalou os olhos quando percebeu que a amiga estava certa. Ela fazia uma grande festa todo o ano. Sempre gostara muito do Halloween, não por ser o “dia das bruxas”. Mas ela tinha uma afeição muito grande por aquele dia. E suas festas sempre arrasavam.

Katherine fazia rostos nas abóboras. Rafaela desconfiou que o caldeirão era parte da decoração. Não tinha tido muito tempo de organizar a festa que planejara o ano todo nessas ultimas semanas. Heloíse estava pegando pesado nas tarefas.

- Desculpe por não poder te ajudar Katherine, eu... – Foi interrompida antes que continuasse.

- Tudo bem Rafy. Você se esforçou para essa festa dar certo o ano todo. Eu dou conta pode deixar. Agora vai se arrumar, ou se enfeiar, sei lá. Por que se não você vai chegar atrasada. – Disse rindo. Rafaela deu língua para ela antes de seguir para o quarto para tomar banho.

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Pouco antes de chegar à empresa seu celular tocou. Era Dulce lhe dando o endereço de Taylor dizendo que ele não poderia comparecer ao trabalho. Então ela teria que ajudá-lo a organizar os papeis e outras coisas para o próximo projeto da empresa. Como ela havia conseguido meu número? – pensou.

Ao chegar ao apartamento de Taylor hesitou um pouco antes de bater a porta. Passou as mãos na roupa para tentar se ajeitar e depois revirou seus olhos. Do que adianta tentar ajeitar se eu ainda vou continuar baranga? – pensou. Não sabia para quê toda essa preocupação. Era só o idiota do chefe dela, o qual ela tinha que concertar e não fazia idéia de como faria.

A porta foi aberta segundos depois, e ela sentiu o ar faltar quando notou que Taylor estava apenas com uma calça de moletom. O peitoral dele é muito mais definido do que eu pensei. – pensou e mordeu a língua para não falar nada. Tentou desviar o olhar – mesmo achando algo muito difícil - e entrou rapidamente.

- Sente-se. – Ele disse com sua voz rouca. Ok Rafaela, não pira. Não pira.

Ela o olhou por baixo dos silhos e notou que ele tinha um sorriso convencido no rosto. Sua expressão fechou e ela se sentou no sofá. Não havia gostado nada do ar convencido dele. Estava se controlando para não dizer nada.
Ele se sentou ao seu lado e ela sentiu seu corpo esquentar com a presença dele tão perto. Ignorou as sensações rapidamente.

- Bom o que temos que fazer? – Ela começou. O dia foi longo e cansativo. Mas ela não pôde negar que foi um pouco – apenas um pouco – agradável. Taylor não tinha se comportado como um idiota completo. Tinha as sensações estranhas que ele causava nela e até mesmo alguns sorrisos convencidos dele quando percebia as reações dela. Não foi tão ruim afinal. Mas ela estava com medo do que estava acontecendo. Isso não poderia acontecer. Ela iria terminar esse teste, prova, tarefa, ou o que quer que fosse para se tornar uma bruxa completa e iria embora. Voltaria para o mundo das bruxas. E nunca mais o veria...

Sacudiu a cabeça tentando dissipar os pensamentos malucos. Ela se achava maluca por pensar coisas assim. Percebeu então que já estava na hora de ir embora.

- Er... Eu tenho que ir Sr. Lautner. – Levantou-se pronta para ir embora.

- Ham... Só Taylor, Rafaela. E... Eu chamo um táxi para você. – Taylor não estava contente por ela ir embora e não sabia o por quê. Aquela garota - completamente fora dos padrões que estava acostumado - chegou e virou tudo de cabeça para baixo. Tão rápido. Ele não sabia se devia ficar feliz ou triste com isso. Será que ele estava...? Não... Claro que não... Você ‘ta ficando muito gay Lautner. – pensou.
Eles seguiram até o Hall do prédio e depois para a portaria. O táxi já esperava Rafaela. E apenas uma tempestade a afastava dele. Ela abriu a bolsa e procurou por algo para não se molhar e só achou a sua capa de chuva da Barbie.

- Isso é constrangedor. – Disse baixo o suficiente para Taylor não entender.

- O que disse? – Ela corou.

- Na-nada.

- Ham... Então tchau. – Eles ficaram alguns instantes tentando arranjar formas de se despedirem e por fim Taylor acabou dando um abraço desajeitado nela. Eles se apertaram como se não quisessem mais soltar. Mas o taxista buzinava impaciente.

- Eu tenho que ir. – Ela disse e ele acenou. Ela pôs a capa de chuva da Barbie sem ter mais alternativas. E correu até o táxi. Taylor riu da sua capa e a observou até o carro dar a partida. Depois voltou para seu apartamento. Pensando em como ela era meio louca e mesmo assim encantadora.

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Hoje Rafaela não iria à empresa assim como ontem. Ela estava preocupada. Só faltava um dia para o prazo acabar e ela não tinha cumprido a tarefa.
Seguiu em direção a quadra de tênis onde Taylor estava jogando com um amigo. Ela ainda não entendia como ele andava com esses idiotas. Talvez porque ele é igual a eles. – pensou.
Sentou-se na arquibancada e assistiu ao jogo por algum tempo. Até ficar entediada e começar a mexer no celular. A última coisa que ela sentiu foi algo atingir sua testa.

- Rafaela! Rafaela! – Sentiu alguém sacudi-la de leve e forçou os olhos a se abrirem. Taylor a olhava aflito e a cabeça dela latejava muito.

- O que aconteceu? – Perguntou aturdida.

- Que bom que você acordou. Me desculpe. Me desculpe. – A ajudou a levantar.

- Por que esta se desculpando? – Juntou as sombrasselhas – horríveis que tinha agora – e o encarou.

- Bom... Na verdade eu acertei uma bola na sua cabeça durante o jogo de tênis. Me desculpe. – Disse envergonhado. Ele parecia sincero, e por isso ela o desculpou.

- Ta tudo bem. Não foi nada. Eu... – Rafaela sentiu uma tontura e se Taylor não a tivesse segurado pela cintura ela teria caído. Foi aí que os dois perceberam o quão perto estavam. Podiam sentir a respiração um do outro. Rafaela estava confusa e sentia seu coração bater mais forte. Taylor não tinha idéia do que estava acontecendo e parecia um adolescente no seu primeiro beijo de tão nervoso.
Ela tentou se levantar, mas se desequilibrou e então os dois caíram. Eles se olharam e explodiram numa gargalhada alegre e gostosa de ouvir.

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A festa aconteceria dali a três horas. Mas Katherine não deixou Rafaela terminar de organizar nada. Por mais que a festa fosse sua e ela tivesse insistido. A amiga parecia mais teimosa que ela.
Seu celular vibrou e ela o atendeu de imediato. Sentiu seu coração dar um salto quando viu quem era.

- Alô. – Esperava que sua voz não tivesse saído falhada.

- Ham... Rafaela? Eu queria saber com que fantasia você acha que eu devo ir... Quer dizer. Eu não tenho idéia do que... – Ela não deixou ele terminar.

- Você vem de príncipe. – Ele arqueou as sombrasselhas do outro lado da linha.

- Por que?

- Porque você perguntou como deveria vir e eu disse: de príncipe. E se não vier eu me demito. – Ele riu.

- Você não faria isso.

- Você duvida? Então ta. Taylor Lautner, eu me demito. Assino os papéis amanhã.

- Você... Esta brincando não é? – Ele perguntou perplexo.

- Não. – Ela sentiu seu peito apertar porque sabia que mesmo que estivesse mesmo se demitindo ela não poderia assinar os papéis. Ia embora hoje e nem ao menos viraria uma bruxa completa.

- Rafy... Olha não brinca. Eu vou de príncipe ta bem? – Isso se eu estiver vivo até lá. As bruxas não são legais no Halloween. – pensou. Sentiu um arrepio na espinha só de pensar em encontrar uma bruxa e fez uma rápida prece para que Deus o ajudasse.

- Hum... Ok Taylor. Tenho que desligar. Tchau. – Ela foi até a cozinha atrás de Kate.

- Tchau. – Taylor disse sozinho do outro lado da linha. Rafaela já tinha desligado.

- Rafy o que significa a palavra sevanjinha? – Rafaela a olhou estranho e caminhou até a sala. Pegou algo na estante e voltou folheando um livro.

- Esta aqui no dicionário. Sevanjinha: Qualquer parasito ou verme imundo. Mas por que você quer saber isso? – Levantou uma das sombrasselhas.

- Hum... Não sei. Ouvi essa palavra por ai e fiquei curiosa.

- Você é estranha. Mudando de assunto: Já combinou de colocarem o vídeo da festa no You Tube?

- Sim. E você já colou a minha sandália que você arrebentou? – Rafaela fez um joinha com a mão e falou.

- Super cola! – Logo depois as duas riram dessa atitude boba.

- Já comprou sua cinta-liga para por na fantasia? – Rafaela perguntou de volta.

- Confere! – Katherine respondeu rindo.

- Vou me arrumar. Ou como você diz, me enfeiar. Fui. – Rafaela foi em direção ao quarto. A casa estava uma bagunça e pessoas andavam de um lado para o outro arrumando tudo. A decoração estava ficando linda. Ela sorriu por isso.

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Katherine saiu para comprar algumas coisas que faltavam, mas encontrou um velho amigo – lindo – por quem ela já tinha sido apaixonada. Eles conversaram por um bom tempo. Já havia escurecido quando eles saíram de dentro da StarBucks na qual eles entraram para tomar um frapuccino e conversar.

- OMG! – Ela gritou de repente. Eles já estavam pertos do carro dela e ele a olhou achando-a meio louca.

- O que foi? – A expressão dela era assustada e perplexa.

- EU ESQUECI A FESTA DA RAFAELA!

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A casa já estava bem cheia quando Rafaela resolveu descer. Ela estava muito desconfortável por ainda estar feia. Quando eu ia voltar ao normal? – pensava ela.

Desceu as escadas decepcionada por querer seu corpo de volta e não poder tê-lo. Mas tudo se apagou quando viu Taylor beijando uma garota loira na ponta da escada.

Sentiu seus olhos arderem e terminou de descer as escadas correndo. Passou por eles quase sem ser notada. Quase. Todo o ponche do copo que estava na mão de Taylor caiu em sua fantasia quando ela esbarrou nos dois para passar. Seu vestido de época que era armado tinha toda a culpa.

- Droga! – Ela exclamou e correu dali sem olhar para trás. Taylor correu atrás dela mas parou quando viu uma criança na porta.

- Doce ou travessura? – A voz de sinos da menina de cabelos cacheados e pretos soou. Taylor sorriu e lhe entregou um punhado de balas que havia em uma tigela ao lado da porta, em cima de uma mesa posta ali. Imaginou que eram para as crianças mesmo.

- Tay, docinho. Vem cá meu amor. – Taylor rolou os olhos após ouvir a voz irritante de Raquel.

- O que você quer? – Perguntou rudemente.

- Larga essa pirralha e vem cá amor. – Taylor respirou fundo.

- Escuta aqui! Eu não sou seu amor. Então vá embora, pois você já me causou problemas demais. – A feição de Raquel se fechou.

- Como ousa falar assim comigo por causa dessa peste? – Disse apontando para a criança.

- Quer saber? Fique com ela. – Raquel foi embora batendo os pés. Ela achava que Taylor iria atrás dela. Mas não foi o que aconteceu.

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Rafaela chupava as balas que tinha pego antes de sair compulsivamente. Já era quase meia noite e as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Está tudo acabado. – pensou. Ao longe viu uma figura se aproximar, mas continuou olhando para o nada.

- Rafy! – Se assustou ao ouvir seu apelido sendo dito por ele. Ela o olhou. As lágrimas ainda escorriam.

- Rafy eu... Eu não... – Ela sorriu forçadamente.

- Vai embora Taylor. O que você ainda está fazendo aqui? – Antes que ela pensasse em dizer algo mais ele acabou com a distância que os separava e a beijou. Os olhos de Rafaela se arregalaram e ela ficou completamente sem reação. Mas aos poucos seu corpo foi cedendo e ela acabou se entregando a aquele sentimento. Todas as sensações dos dias anteriores vieram com força total. Os dois sentiram um arrepio quando as línguas se encontraram. Era como se estivessem flutuando. O frio na barriga, a atração entre eles, o modo como se beijavam e buscavam a boca quente um do outro. Não podiam mais negar: estavam apaixonados. Nada poderia ser melhor que aquilo.

Mas ambos precisavam de ar, então lentamente se separaram. Rafaela foi a única que abriu os olhos e sorriu ao constatar que o frio na barriga não era só pela presença de Taylor.

- Eu não beijei a Raquel. Ela se jogou em cima de mim. Eu... Não sei como dizer isso. Nunca disse para mulher nenhuma. Mas estou completamente apaixonado por você, Rafy. Não dá mais para negar isso. E as diferenças não me importam. Você é linda para mim. – Ele disse de olhos fechados com a testa encostada na dela.

- Taylor, abra os olhos. – Ele lentamente os abriu. Ele não acreditava no que via. Eles estavam flutuando, e Rafaela não tinha a mesma aparência. Seus cabelos agora estavam na altura dos seios. Eles eram vermelhos e repicados com uma franja jogada de lado. Ela não usava mais óculos ou aparelho. Seus dentes eram perfeitos, assim como seus lábios e seu sorriso. Sua pele levemente bronzeada combinava perfeitamente com o vestido pérola que usava. Ele era comprido e armado. A parte de cima tinha um pequeno decote em “V” e as alças caiam por seus ombros. A coroa em seu cabelo não negava. Ela estava vestida de princesa.

Toda a perplexidade de Taylor se foi quando ele olhou nos olhos castanhos dela. E os dois sorriram. Mas o sorriso dela desapareceu logo depois. Ela o abraçou apertado.

- Prometa que não vai fugir, Taylor. Para ficarmos juntos você tem que saber de algo. – Sussurrou em seu ouvido.

- Me diga. – A abraçou apertado.
- Eu sou uma bruxa. Ou era. Desculpe, eu não podia te contar. – O coração dele gelou. Todo o sangue que havia em seu rosto sumiu.

- Taylor não... Eu sei que é difícil, mas por favor entenda. Eu não podia te contar nada e... – Rafy já se embolava com as palavras.

- Shh... Meu anjo não importa. – Ele segurou seu rosto entre as mãos.

- Eu te amo, não ligo se foi rápido, essa é a única certeza que eu tenho. Esquece esse medo idiota... – Ele arregalou os olhos por ter falado demais e ela sorriu.

- Eu já sabia que você tinha medo de bruxas Taylor. – Deu um selinho nele.

- Já? – Ela balançou a cabeça afirmativamente.

- E agora, Rafy? Se você não podia me contar... Então algo grave vai acontecer se... – Rafaela sentiu a marca da promessa em sua mão direita e fechou os olhos. - Vai ficar tudo bem, Taylor. Você só precisa confiar em mim. Temos que ser fortes, não vai ser fácil.

- Eu confio em você mais que tudo. Estou pronto. – Ele sorriu e ela retribuiu acariciando sua face.

- Eu te amo. – Ela finalmente disse.

- É só o que importa. – E ele a beijou mais uma vez.

Ainda flutuando, eles ficaram lá por toda a noite. Mas uma coisa eles não tinham notado. Se Rafy tivesse sido banida e seus poderes retirados eles não poderiam flutuar. Essa era missão dela. Ela era uma bruxa completa agora. E fizera o mais cafajeste dos homens se apaixonar por uma bruxa, por mais horrível que ela fosse. Ela poderia contar a ele o segredo, pois eles estariam juntos para sempre. Apenas o segredo deles. Ele faria toda a vida deles mudar. Uma mudança radical.


Fim