Um dia de sorte
História por Aline Santos | Revisão por Sarah C.


* Pov*

“Shiii... Tempestade... Shiiii... Neve...

Estrada... Shiiii... Interestadual I-70 Oeste de Denver... Shiii...

Shiiiiii...”


Nada bom. Não era exatamente isso que eu planejei para mais um de meus natais enfadonhos e constrangedores. Eu estava seguindo justamente pela interestadual de Denver para Aspen, Colorado, e pelo que pude entender dos chiados emitidos pelo rádio, haveria uma tempestade de neve por essas bandas. Eu precisava me apressar.

Pisei fundo no acelerador, mesmo sob o risco de derrapar naquela pista úmida. Eu não poderia furar com minha irmã, já estava atrasado, o que de fato é péssimo, visto que eu sou o único deslocado daquela família.

Talvez a sorte não estivesse comigo essa noite, na verdade ela nunca esteve, em momento nenhum. Se ela estivesse comigo, eu não teria perdido meus pais naquela tragédia. Se ela sequer encostasse em mim, eu teria ao menos encontrado alguém decente para construir uma família. E, aparentemente, isso não vai acontecer tão cedo, muito menos hoje. Segui mais alguns quilômetros à frente só para constatar que a minha teoria era a mais nua e crua verdade. Eu não tenho sorte.

Havia uma barreira feita pela polícia rodoviária. Os carros estavam bloqueando a passagem enquanto eles colocavam placas imensas e com letras garrafais: “PISTA INTERDIDATA”. Encostei o carro no acostamento e desci. Caminhei cuidadosamente pela pista, agora coberta de neve, até chegar em um dos policiais.

- Er... Boa noite. Por que a pista está sendo interditada? – perguntei meio sem jeito.
- Não ouviu os noticiários, senhor? A tempestade de neve veio mais rápido do que o previsto. Estamos interditando tudo antes que aconteçam acidentes. – ele respondeu rapidamente e voltou sua atenção para o serviço.
- Não existe a possibilidade de me deixar passar?
- Não, senhor.
- Tem certeza? Não há nada que eu possa fazer pra você me liberar? Eu preciso mesmo passar por essa estrada... - insisti, mas o sujeito apenas me olhou de canto de olho e não se deu ao trabalho de responder. – Dinheiro...? – perguntei receoso, afinal era a primeira vez que eu apelava para “medidas desesperadas”.
- Você por acaso não está tentando me subornar, está? – ele agora me deu toda a atenção, mas com uma careta assustadora.
- Não senhor, você ouviu errado. Er... Obrigado pelas informações... - acenei cordialmente e apressei o passo antes que o sujeito resolvesse me prender por tentativa de suborno.
- Hei, se eu fosse você me hospedaria na Pousada da sorte. Ela não fica muito longe, é só seguir por aquele atalho ali e seguir reto, não tem erro. – O sujeito gritou para mim quando eu cheguei perto do meu carro.

Olhei para o pequeno caminho que ele me apontou e tentei balancear todos os prós e contras em aceitar aquele conselho. Eu tinha uma irmã estressada me esperando para a ceia de natal e uma rodovia bloqueada pela tempestade de neve. Não havia outro caminho pra seguir para a cidadezinha que ela morava e muito menos a possibilidade de eu furar a barreira dos policiais.

Ótimo, ! Você é um bosta mesmo. Sem família, sem amigos, sem namorada, e agora sem a porra de um natal mais ou menos.

Entrei no carro antes que eu começasse a congelar e arranquei em direção a tal Pousada da Sorte. Ri com um falso humor dessa piada de mau gosto. Ah, qual é? O que teria demais numa droga de pousada de quinta pra dar sorte? Se minha teoria não estiver equivocada, o máximo de sorte que eu posso ter é de não encontrar baratas debaixo do meu colchão ou não ter aquecedor e eu morrer congelado.

Segui alguns metros por uma estradinha íngreme e tortuosa, envolta de árvores e rochas. Parei em frente à uma casa grande e de aparência rústica. Havia vários carros amontoados no que parecia um estacionamento improvisado e várias pessoas saindo apressadas carregando suas bagagens e filhos. Pelo visto, eu não era o único azarado por ali.

Abri o porta-malas e tirei apenas uma das malas, apressei o passo com medo de não achar mais vagas na pousada, não posso brincar com a sorte, né? Apoiei a mala no ombro esquerdo e estiquei a mão direita para abrir a pequena porta da pousada. No mesmo instante uma figura surgiu do meu lado se chocou contra meu peito.

- Ops! Er...desculpa... Er... O gelo... Escorreguei... - a mulher gaguejou envergonhada.
- Não tem problema. – sorri cordialmente e abri a porta pra ela passar.
- Obrigada. – ela sorriu docemente e entrou na pousada.

Caminhei até a recepção e apoiei meus cotovelos no balcão, ao mesmo tempo em que a garota adquiria a mesma posição que eu. Acabei deixando uma risada escapar, a garota me olhou de canto de olho como se eu fosse um doente mental. Mordi meus lábios um tanto constrangido e voltei minha atenção para uma senhora de meia idade que acabara de entregar uma chave para um de seus clientes.

- Um quarto, por favor. – pedimos eu e a garota ao mesmo tempo. Mordi minha boca por dentro pra evitar que outra risada escapasse.
- Hum, só um minuto. – a senhora digitou algo no seu computador ultrapassado e nos encarou sugestivamente com os óculos levemente inclinados para baixo. – um quarto de casal, certo? – ela perguntou.
- Não! – falamos em uníssono. – quartos separados. – completei e arrisquei uma olhadela de lado para a garota, ela estava completamente corada.
- Vocês tiveram sorte, esses são os últimos quartos de solteiro disponíveis. – ela sorriu cordialmente e nos passou as chaves. – última porta à direita. – ela completou olhando pra mim.
- E o meu? – a garota perguntou.
- Última porta à esquerda.

Virei-me na direção do corredor ao mesmo instante em que a garota se virou na minha direção. Inevitavelmente ela se chocou comigo. De novo.

- Eu acho que é por ali...- falei com um tom divertido.
- Ah... Desculpe. – ela corou e se virou bruscamente em direção ao corredor.
- Eu levo pra você. – abaixei-me e peguei a única bagagem que ela trazia.
- O-ok... - ela gaguejou e caminhou ao meu encalço.

Parei no fim do corredor e larguei sua bagagem em frente ao seu quarto que, por coincidência, ficava de frente para o meu.

- Obrigada mais uma vez. – ela murmurou e entrou no seu quarto, deixando-me ali parado, com cara de pateta.
- Disponha... - respondi para o vazio.

Entrei naquele quarto frio e vazio só para novamente eu me sentir o maior bostão de toda Colorado. Era triste passar o natal com a família feliz da minha irmã. Eu sempre me sentia tão deslocado, ela tinha seu esposo, seus filhos com quem compartilharia presentes e momentos íntimos, momentos estes em que eu não estaria encaixado. Momentos que eu deveria passar com a minha família. Família que eu não tinha. Não por não querer, mas por falta de sorte mesmo. Eu tenho 28 anos e nunca tive uma namorada decente, quem dirá uma noiva ou esposa e, muito menos, filhos...

Tudo bem, isso é triste, mas não chega a ser tão deprimente como o momento em que eu me encontro. Agora eu não tenho nem ao menos a minha irmã estressada, ou meus sobrinhos barulhentos, ou meu cunhado insuportável. Eu não tinha ninguém.

Seríamos só eu e a minha garrafa de vinho branco.


* Pov*


Eu sempre soube que nunca fui uma mulher de sorte. Mas passar o meu natal, que já não seria lá essas coisas, numa pousada caindo aos pedaços, já era demais!

O meu dia já não tinha começado bem. Primeiro, porque a minha amiga querida decidiu viajar para passar o natal com os pais e me deixou a ver navios. Nós sempre passávamos os natais juntas... Segundo, porque eu tinha esquecido de comprar as comidas e guloseimas para a minha ceia solitária, o que me fez sair de carro nessa pista molhada e cheia de neve. Nessa pequena empreitada, comprei tudo o que precisava num supermercado da cidade vizinha e peguei a estrada de volta pra casa. Mas como eu sou muito sortuda, encontrei a estrada bloqueada.

E aqui estou, deitada num colchão quentinho, num quarto escuro e gelado de uma pousada “da sorte”, e sozinha. Legal, né?

Bom, já que eu iria passar o natal sozinha mesmo, tenho que pelo menos tentar tornar isso menos depressivo. Eu tinha tudo o que eu precisava para uma ceia de natal no meu carro. O que diabos eu ainda estava fazendo aqui deitada de cara pra cima?

Levantei do meu aconchego e peguei as chaves do meu carro. Saí do quarto e fui buscar a minha pequena ceia. Retirei as sacolas plásticas de dentro do carro e procurei pela cozinha da pousada. Eles tinham que ter um microondas aqui né?

Voltei para o meu quarto super feliz com minha ceiazinha recém-aquecida. Agora só faltava arrumar tudo no chão, ao melhor estilo japonês, e “voilá”! Era só comer e beber!

Ops, beber? Mas que droga! Eu não comprei nada pra beber!

É, o jeito é pedir alguma bebida pelo serviço de quarto. Olhei ao redor e não encontrei um telefone. Ótimo, eles não têm um serviço de quarto...Respirei fundo e, com muita calma, decidi ir buscar diretamente na cozinha da pousada. Abri a porta do quarto e dei de cara com o sujeito que me bati mais cedo. Ele estava com o punho levantado e parou a centímetros do meu nariz.

- Er... Oi. – ele falou desajeitado e recuou o punho colocando-o dentro do bolso de sua calça.
- Oi... - respondi confusa.

Afinal, o que diabos ele fazia parado na frente do meu quarto?

- Eu não quero que você pense que eu sou um maluco, mas, bem, eu acho que você vai pensar isso, é que... Bom... Eu estava pensando se eu... Digo... Se nós poderíamos... Tomar um vinho... E, sei lá... Conversar... - ele cuspiu todas as palavras rapidamente e me mostrou a garrafa de vinho que ele trazia em mãos.

Ele não era lá o homem mais gato do universo, mas que ficava uma “coisa” coradinho... Uh... E como ficava...

- Hum... Deixa eu ver se eu entendi. Você está se oferecendo para passar o natal comigo? – perguntei num tom divertido.
- Er... Hum... - ele pigarreou constrangido. – deixa pra lá, foi uma idéia horrível. Desculpe... – ele falou cabisbaixo e girou nos calcanhares, mas eu o segurei pela camisa.
- Calma, eu não disse que era uma má idéia... - sorri ternamente quando ele me olhou de canto com as bochechas avermelhadas.
- Eu só achei que... - ele murmurou ainda virado de costas.
- Você achou que nós merecíamos muito mais do que passar o natal sozinhos, correto? – conclui. Ele voltou a se virar e sorriu ao mesmo tempo em que coçava sua nuca.
- É, por aí...
- Hum, são exatamente 23:50, acho que estamos perdendo tempo parados aqui fora... - falei num tom descontraído.
- Certo, então eu... Eu posso...? – ele perguntou, enquanto fitava o interior do quarto.
- Claro, fique à vontade. Não tão à vontade, é claro... - revirei os olhos e adentrei o quarto.
- Você só precisa me dizer o significa exatamente esse “não tão à vontade” – ela falou calmamente enquanto fechava a porta atrás de si.
- Ah, você sabe... Não é porque eu te deixei entrar no meu quarto que nós... - balancei o dedo indicador entre ele e eu sugestivamente.
- Ah...claro, claro, eu não tinha pensado nisso. – ele balançou a cabeça de um jeito esquisito.
- Certo. Então, senhor...? – perguntei enquanto me sentava no chão junto à minha pequena ceia.
- . E você é…? – ele perguntou enquanto se sentava de frente pra mim.
- , mas pode me chamar de . – respondi cordialmente.
- Ok, . Mas me diga, você pretendia comer tudo isso e não ia me convidar? – ele perguntou divertido com uma falsa feição de ofendido.
- Ei! nem tem tanta comida assim... - cruzei os braços fazendo birra.
- Não se preocupe, eu entendo que você estava faminta... - ele continuou brincando, mas agora ele tentava abrir a garrafa de vinho.
- Tá, eu confesso. Eu sou muito gulosa e iria comer tudo sozinha, sem deixar nenhuma migalha. – brinquei enquanto estendia uma taça pra ele colocar o vinho.
- Então, senhorita gulosa, o que aconteceu pra você vir para nessa pousada em plena véspera de natal? – ele perguntou curioso enquanto bebericava do vinho.
- Hum, a culpa é toda desse banquete que você está vendo. – apontei com a cabeça e ele franziu o cenho confuso. – Esqueci de comprar a comida pra minha ceia e tive que ir ao supermercado da cidade vizinha, mas quando ia voltando...
- A estrada estava bloqueada. – ele concluiu pensativo. – mas você deixou alguém te esperando. – ele afirmou com os olhos grudados nos meus.
- Oh, não. Eu não tenho ninguém... Digo... Eu não ia passar o natal acompanhada...
- Não ia passar o natal com a sua família? – ele me perguntou curioso.
- Hum, não. Infelizmente não. Meus pais moram na Califórnia e eu não quis viajar...
- Entendo. E os amigos? Namorado... Não tinha ninguém com que você pudesse passar o natal?
- Er...não... - mordisquei meus lábios. – eu sempre passava o natal com minha amiga, mas dessa vez ela foi visitar os pais. E você? Tem família por essas bandas? Essa cidade é pequena, nunca te vi por aqui...
- Não sou daqui, mas sempre venho passar o natal com minha irmã, Cristine. – ele falou enquanto começava a beliscar dos petiscos.
- Cristine?! Esposa do Lucian?
- Sim, essa mesma. – ele sorriu maroto.
- Nossa, nós somos amigas de longa data! – falei um pouco empolgada. – caramba, ela fala tanto de você! E eu vi fotos de vocês quando criança, que coincidência incrível!
- Vê? No final das contas, não somos tão desconhecidos assim. – ele falou e eu concordei com um aceno de cabeça.
- Verdade, foi muita sorte encontrar com você aqui, e nessa situação... - murmurei pensativa.
- Cristine vive tentando me convencer a morar aqui em Aspen...
- Aposto que ela vive querendo te apresentar as amigas dela! – comentei divertida.
- Hum, sempre. Ela me liga pelo menos uma vez por mês pra falar de uma das amigas dela. Eu nunca a conheci, mas é sempre dessa mesma amiga que ela fala. Algo como: “ela é perfeita pra você”. – ele riu enquanto tentava imitar a voz aguda da irmã.
- E você nunca quis conhecer a amiga perfeita dela? – perguntei curiosa.
- Não que eu não quisesse. Eu só não tinha tempo pra ficar viajando, o trabalho não deixa sabe...
- Sei...você trabalha com o quê?
- Sou médico...
- Wow! Sério? É sempre bom ter amigos médicos, consulta de graça... Essas coisas... - gargalhei matreira e ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas com uma falsa expressão de ofensa.
- Amigos? Já temos um progresso aqui... - ele falou com a boca cheia e cuspindo um pouco de farofa no meu rosto. – hum, desculpe. – ele colocou a mão na boca e acabamos gargalhando feito dois idiotas.

Passamos boa parte da noite e madrugada comendo, bebendo e falando bobagens. Acabamos nos conhecendo mais do que o que necessário e no fim da noite, parecíamos amigos de longa data, sem esquecer o fato de que nós parecíamos combinar perfeitamente um com o outro. Nossos gostos e idéias eram parecidos, e até o jeito brincalhão e descontraído era semelhante. Ele não tinha namorada... Eu não tenho namorado... Ele é bonitão... Enfim...

Uma pena que não rolou nada mais do que um abraço apertado antes dele voltar para o quarto dele. De uma coisa eu tinha certeza, era o tipo de homem “certinho”, mas que sabia deixar um garota deslumbrada. Como a própria irmã dele sempre dizia: “O homem perfeito pra casar”.

Talvez ele não tenha se interessado por mim... Eu não sou lá uma top model da vida, mas também não sou de se jogar fora... Ou ele simplesmente era direito demais pra avançar o sinal...

E se ele só estava esperando algum tipo de “sinal verde” da minha parte?

Droga, eu sou lerda demais pra perceber essas “entre linhas”...

Ah, realiza, !! O cara é medico, tem uma carreira promissora, trabalha na maior e melhor cidade do Estado. O que ele iria querer com uma caipira de cidade pequena e congelada como eu?


* Pov*


No final das contas, meu natal não foi tão ruim assim. Na verdade, foi ótimo, muito melhor do que seria se estivesse na casa da minha irmã. É claro que essa noite poderia ser melhor... Mas eu não sou esse tipo de cara que chega chegando, sabe? Ela não me deu nenhum sinalzinho de que eu poderia avançar para o próximo estágio... Seria um fiasco se eu tentasse algo mais ousado e ela me desse um fora. Iria estragar o pouco de confiança e respeito que construímos só nessa pequena noite de natal. A amizade dela já se tornou muito importante pra mim, e se ela só quer ser minha amiga, eu aceito de bom grado.

Sacudi minha cabeça para esvair esses pensamentos nada apropriados e fui para o banheiro tomar uma ducha. Vesti apenas uma calça de moletom, graças ao aquecedor que estava no ponto, e tentei dormir. Em vão, obviamente. Não dava pra dormir quando minha cabeça estava presa dentro de um certo quarto que ficava em frente ao meu.

Eu não iria conseguir dormir até saber se eu fui um idiota por não ter avançado. E eu vou descobrir, nem que pra isso eu leve um belo de um tapa na cara e tenha que me ajoelhar pra pedir perdão e suplicar pra que ela volte a ser minha amiga.

Levantei da cama e abri a porta, ao mesmo instante em que recebo algo parecido com um murro no peito. Oh, era com os punhos fechados.

- Ai... - resmunguei, passando a mão no local dolorido.
- Desculpe... Er... Eu ia... Bater na porta... E, bem... Você abriu antes... - ela gaguejou constrangida.
- Não tem problema, sua mão não é tão pesada assim... - dei de ombros e a fitei profundamente, esperando que ela continuasse.
- Er... Bom... Não me entenda mal... Nem me chame de maluca... - ela revirou os olhos. – mas eu não estava conseguindo dormir com uma dúvida... E bem... Eu preciso saber se ia pegar muito mal se eu te desse um sinal verde pra avançar... Assim... Você sabe... a gente só se conheceu hoje e...
- , você acha que ia parecer muito ousado se eu te beijasse agora? – perguntei, enquanto me aproximava de seu corpo e me inclinava em sua direção até que nossas respirações descompassadas se chocaram.
- Hum... Por que você não tenta? Depois a gente vê o que acontece... - ela sussurrou e colou seu corpo no meu, ficando na ponta dos pés a espera do beijo.

Não esperei mais nenhum segundo. Enlacei meus dedos em seus cabelos e selei nossos lábios ao mesmo tempo em que a puxava pra dentro do meu quarto e fechava a porta com o calcanhar.

Ainda com nossos lábios trabalhando num beijo profundo e cálido, cheio de sentimentos ainda novos e desconhecidos, deitei-a em minha cama e inclinei meu corpo sobre o seu sustentando meu peso nos cotovelos.

- Respondendo a sua dúvida... - falei entre beijos. – não ficaria estranho você me dar um sinal verde, nós somos adultos... Hum... - deixei um gemido escapar quando ela acariciou minha nuca e passou sua língua suavemente por meus lábios. – e nem ficaria estranho se você me deixasse avançar para o estágio três... - conclui e finalizei o beijo à espera de alguma reação brusca, como um tapa ou até mesmo um soco no nariz.

Mas o que eu não esperava era a reação que veio em seguida.

Ela me olhou de um jeito tão doce, mas ainda assim um olhar cheio de segundas intenções, e, oh, um belo apertão na bunda...

Foi o que eu precisava pra avançar o sinal...

~*~

Acordei com um bolo de cabelo me fazendo cócegas no nariz. A cama era de solteiro e por isso acabamos dormindo espremidos, o que de fato não foi tão ruim assim. O corpo de era tão quente e tão convidativo que me deu uma vontade louca de sempre a ter por perto, de sempre acordar com ela assim. Ela era tão perfeita pra mim!

Eu não sabia que sentimento era esse que crescia no meu peito, que fazia meu coração inflar só com a lembrança de tê-la em meus braços, sorrindo pra mim e chamando o meu nome. Eu não só queria essa lembrança pra sempre, como queria pra sempre...

- Hum... - sibilou e se remexeu em meus braços.
- Ora de acordar, anjinho... - sussurrei em seu ouvido e a senti estremecer com o contato.
- … - ela se virou e ficou de frente pra mim exibindo seus lindos dentes brancos. – Bom dia!
- Bom dia, minha linda! – respondi enquanto acariciava seus cabelos.
- Hum, posso saber o motivo desse sorriso todo? – ela perguntou docemente.
- … Você acredita em sorte?
- Hum... Eu acredito em azar, serve? – ela falou e eu gargalhei com sua resposta inusitada.
- Serve. Sabe... Eu sempre me considerei um cara azarado. Nunca tive sorte com minha família, com amigos, nem no amor... E nesse momento eu me acho o cara mais sortudo do mundo! Eu encontrei uma mulher incrível e em apenas um dia ela me deixou completamente apaixonado...
- Oh... Quem será essa mulher sortuda? – ela brincou já com olhos marejados.
- Hum... Eu só conto se houver alguma possibilidade desse sentimento ser recíproco...
- Hã... Vamos supor, apenas supor, que essa mulher sortuda também esteja apaixonada. – ela sussurrou com a voz embargada e deixou uma pequena lágrima escorrer em sua face.
- … Eu… Amo você… - sussurrei enquanto apartava as lágrimas que escapavam de seus olhos.
- Oh…… Eu também amo você… Amo tanto que parece que meu peito vai explodir…
- Parece loucura, né? Foi só um dia... Mas é tão real...
- Sabe... Eu sou mesmo a mulher mais sortuda desse mundo! – ela riu e se remexeu na cama pra ficar em cima de mim.
- E eu sou o homem mais sortudo do mundo! – sorri abobalhado.
- Estou louca pra ver a cara da sua irmã quando ela nos vir... - ela murmurou enquanto desenhava pequenos círculos no meu peito nu.
- E eu quero ver a cara dela quando eu disser que nunca mais vou deixar essa cidade... - falei divertido, mas ela congelou em cima de mim. – o que? Falei alguma coisa errada?
- Vo-você... Vai morar aqui? – ela gaguejou e eu revirei os olhos.
- , você acha mesmo que agora que eu te encontrei eu vou te deixar e voltar para aquela cidade de merda? Meu futuro é aqui com você, anjinho... Eu quero ficar com você e quero que você seja a mãe dos meus filhos...
- Oh...eu adoraria ser a mãe dos seus filhos, ...
- Você vai ser, anjinho...
- Sabe, esse definitivamente foi o meu melhor natal... - ela se inclinou sorrateiramente até ficar a centímetros de minha boca.
- O dia ainda não acabou, querida... Ainda temos um dia inteiro de natal pra curtir...
- Hum... Um então que Feliz Natal pra nós! – ela falou empolgada e selou nossos lábios com ternura.
- Um Feliz Natal pra nós!

E assim se passou o nosso primeiro de muitos natais felizes.


~*~*~*~*~*~*~* FIM *~*~*~*~*~*~*~