Capítulo 10
- Você está bem? - me perguntou, assim que me sentei à mesa.
- Sim, apenas tive um ligeiro mal-estar.
- Tem certeza? Você não quer ir para o hospital? - Ela estava visivelmente preocupada. Se ela soubesse que o motivo do meu “mal-estar” era o namorado dela, essa preocupação toda não estaria ali.
- Estou bem, não se preocupe. - Garanti.
- O seu almoço chegou enquanto estava fora. - Ela apontou para o prato de comida à minha frente.
Peguei o garfo e comecei a comer sem nem pestanejar. Enquanto mantivesse minha boca cheia, menos perguntas teria que responder. Não voltei a olhar para Oliver. Era mais seguro se eu me fechasse no meu próprio mundo e esquecesse que meu ex-melhor amigo estava ali bem perto de mim.
- Sabe, eu admiro muito a amizade de vocês dois. - comentou, durante um assunto qualquer que ela estava tendo com . Mantive-me calada praticamente o tempo todo, mas uma hora minha comida acabou e eu tive que enfrentar aquilo que chamavam de conversa entre amigos. Oliver e até chegaram a trocar algumas palavras, o que me surpreendeu até certo ponto, mas tirando esses momentos, Oliver estava tão calado quanto eu. - É muito raro ver duas pessoas que costumava ser um casal se tratando como dois amigos.
- Eu e somos diferentes. - respondeu e sua mão tocou a minha por cima da mesa. Olhei para ele, que sorria para mim e sorri de volta. - Tivemos alguns problemas no início, claro. Ela me odiava. – Brincou.
- Ei, eu não te odiava. - Me defendi. - Eu só... Não suportava respirar o mesmo ar que você por muito tempo.
Ele e riram. Pelo canto do olho pude ver Ollie se remexer desconfortável.
- Fico feliz que consegui mudar isso.
- É, eu também. – Concordei.
- Tá vendo, é isso que eu admiro. - se intrometeu. - Isso nunca aconteceu comigo. Também não posso dizer que gostaria que isso acontecesse. - Ela revirou os olhos e riu, assim como eu e .
- A conversa está muito boa, mas eu tenho que ir embora. - Oliver se pronunciou, atraindo a atenção da namorada para si.
- Ah, eu vou com você. - falou, se levantando. - Enquanto você pede a conta ao garçom, eu vou ao banheiro. - Ele assentiu e ela saiu em direção aos banheiros. No mesmo instante o telefone de começou a tocar e ele também se retirou para que pudesse atender. Vi-me sozinha com Oliver e um clima tenso se instalou ali. Pela segunda vez naquela tarde, peguei-me o observando, só que dessa vez ele não me olhava de volta.
- Quando foi que chegamos a esse ponto? - Ouvi minha própria voz perguntar. Oliver me encarou totalmente surpreso. Eu também estava. Para mim, aquela pergunta tinha sido feita mentalmente, mas parece que meu corpo e minha mente não estavam colaborando comigo.
- Não sei. - Ele respondeu, por fim. - Talvez quando você me pediu ficar longe.
A voz dele era fria e cheia de sarcasmo. Aquilo doeu. Ultimamente, tudo que era relacionado a Oliver estava me machucando mais do que eu gostaria.
- Me desculpe por ter me apaixonado por você. Eu me odeio por ter destruído nossa amizade dessa forma.
- Eu não quero ter essa conversa. - Ele balançou a cabeça. - Você pediu para que eu ficasse longe, então estou ficando. Não entendi o motivo de você ter aceitado sentar comigo e minha namorada para almoçar como se tudo estivesse normal.
- Por que você está me tratando dessa forma? Você acha que eu queria me apaixonar por você? Aconteceu, Oliver. Eu não mando nos meus sentimentos.
- Eu não sei o que posso te dizer, . Já disse que não quero ter essa conversa.
- Eu sinto sua falta. - Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e eu tratei de enxugá-la. Me recusava a chorar na frente dele. - Eu quero meu melhor amigo de volta.
Ele me encarou, a feição indecifrável. Eu queria muito saber o que ele estava pensando, se ele também sentia minha falta, mas se tinha uma coisa que Oliver era extremamente bom, era de esconder seus verdadeiros sentimentos. De longe, vi que estava voltando para a mesa.
- Não sei se isso ainda é possível. - Foi a última coisa que ele disse, antes de se levantar e puxar para fora do restaurante.
Fechei os olhos com força, tentando de todas as formas impedir que as lágrimas saíssem dos meus olhos. Meu sofrimento nunca acabava?
- Ei, você está bem? - perguntou, sua voz transbordando preocupação.
- Não.
- Vamos sair daqui.
Ele pagou pelo almoço e me puxou para bem longe daquele lugar.
- Eu não vou cansar de te agradecer por ficar do meu lado.
Eu e estávamos no meu trailer, ele sentado no sofá, enquanto eu estava deitada com a cabeça repousada em seu colo. Ainda tínhamos alguns minutos até a hora do almoço acabar e eu aproveitei cada minuto deles para chorar no colo de .
- E eu não vou cansar de te falar que não precisa me agradecer. Eu sempre vou estar aqui para você.
- Você tem sido tão bom para mim.
- E você para mim. - Ele respondeu, fazendo carinho no meu cabelo. - Eu gostaria de fazer mais por você.
- Não há mais nada que você possa fazer por mim que você já não tenha feito.
- Eu queria poder te ajudar a curar suas feridas. – Ele disse baixinho, mas eu escutei. - Consertar os erros que eu cometi e te fazer feliz no processo.
- ... Esse caminho é perigoso.
Sentei-me no sofá, sem deixar de encará-lo.
- Desculpe, é que eu não consigo parar de pensar no quanto eu perdi quando deixei você escapar por entre meus dedos. Eu nunca verdadeiramente te esqueci... E agora, ver você sofrer por outro que não te dá valor e não poder fazer nada a respeito, me mata.
- , você está casado com ...
- Eu sei. - Ele suspirou. - Mas estou pensando seriamente se quero continuar com esse casamento. - Arregalei os olhos com a nova informação.
- , eu não quero ser motivo de separação sua com a .
Eu me recusava a aceitar aquilo. Aquela conversa já era estranha por si só.
- Não é por sua causa. Eu já vinha pensando há algum tempo, mas agora com todas as crises de ciúmes e as brigas, minhas dúvidas só aumentaram.
- Você tem certeza de que isso não é só uma crise que vai passar?
Ele suspirou e olhou para o chão. Eu percebia agora o quanto aquela situação com estava o afetando. Senti-me mal por não ter percebido antes, estava tão presa no meu próprio drama que sequer prestei atenção nas pessoas a minha volta.
- Não acho que isso é algo passageiro. A gente briga todo dia, eu não estou dormindo direito e isso está me estressando bastante. E eu não consigo mais... Você sabe... Sentir tesão.
- Muita informação, muita informação! - exclamei, tentando expulsar a imagem e e transando da minha mente.
- Desculpe. - Ele riu. - Mas é basicamente isso. Estou cansado de tentar fazer meu relacionamento dar certo, quando tudo que quer é só brigar.
- Realmente, é bastante complicado. - Ponderei. - Queria poder te ajudar a resolver isso, mas tudo que eu posso fazer é te aconselhar a seguir seu coração.
- Isso já ajuda bastante. - Respondeu ele.
- Que bom. - Sorrimos um para o outro e permanecemos em silêncio. Não havia mais nada para falar, mas ficar em silêncio não me parecia uma boa opção, pois ficou me encarando de forma tão intensa, que cheguei a ficar tímida. Ele deu um sorriso terno e estendeu a mão para colocar meu cabelo atrás da orelha, deixando minha bochecha livre para o seu toque.
- Você fica ainda mais linda tímida...
E claro que depois que ele falou aquilo eu fiquei ainda mais tímida. Ele riu, se divertindo as minhas custas. Seus olhos me encaravam intensamente e, mesmo que minha mente estivesse em alerta vermelho e gritasse para que eu me afastasse, eu me encontrava presa ali naquele sofá. desceu seu olhar para minha boca e mordeu os lábios, enquanto aproximava ainda mais o rosto do meu. Senti minha própria respiração acelerar e tentei com todas as minhas forças pensar em algo que me fizesse sair dali.
- , eu... - ainda tentei falar, mas ele me cortou na metade da frase.
- Não diz nada... Você disse para eu seguir meu coração e eu estou seguindo seu conselho...
Os olhos de tinham um brilho diferente, algo que eu nunca tinha visto antes e, eu me encontrei sem forças para combater aquilo. A tensão que existia entre a gente era mais forte que eu, era algo que não dava para combater, então deixei que ele se aproximasse mais, que nossas respirações se misturassem e os nossos narizes encostassem um no outro. Fechei os olhos, ansiando para sentir seus lábios nos meus, mas esse momento não chegou a acontecer.
Batidas na porta me assustou e eu pulei para longe de devido ao susto.
- , Trevor mandou avisar que o horário de almoço acabou. - Jane nunca tinha chegado em um momento tão apropriado como aquele. Eu estaria me atracando com o novamente, se não fosse minha assistente.
- Já estou indo. - Gritei de volta quando me recuperei do susto. Olhei para e ele me observava com uma cara engraçada. - Que foi?
- Nada. - Respondeu, mas dava para ver claramente que ele segurava o riso.
- Vamos logo, vai. – O empurrei para fora do trailer. - Trevor está nos esperando e não queremos deixar o chefe irritado, certo?
- Certo, madame.
Limitei-me a revirar os olhos e segui em direção ao local destinado as próximas gravações com ao meu lado.
Gravamos mais três cenas durante o resto da tarde. Já se passava das seis da noite quando e eu começamos a gravar a última cena do dia e essa envolvia uma cena na qual a personagem de descobria sobre a traição do marido e de Melissa, minha personagem. Depois de trocar de figurino pela milésima vez naquele mesmo dia, me juntei a e para que a gravação fosse iniciada.
- Vocês já sabem o que fazer, certo? - Trevor perguntou. Assentimos ao mesmo tempo em resposta. - Ótimo. e fiquem em posição.
Seguimos as instruções de Trevor e nos posicionamos na entrada do que seria o corredor de um hotel. me abraçou por trás, como mandava o script e Trevor se preparou para dar início a gravação da cena.
- Finalmente eu vou poder concluir o que comecei no trailer. - Ele sussurrou em meu ouvido, me pegando de surpresa. Não tive tempo de processar e responder, no entanto. O grito de Trevor ecoou pelo local e a cena começou a desenrolar.
Tive que colocar toda a minha concentração para não esquecer uma linha sequer do que tinha decorado. Não que tivesse muitas falas nesse momento em particular. Meu corpo foi prensado na porta que daria para o quarto e os lábios de tomaram os meus, iniciando um beijo. Uma coisa era certa para mim: de profissional aquele beijo não tinha nada. Deixei que ele continuasse da forma que queria, afinal, quanto mais real melhor, certo?
Entre beijos e algumas falas, entramos no quarto e seguimos direto para cama, tirando nossas roupas e jogando-as no chão do quarto no meio do caminho. Caí na cama apenas de lingerie e se aproximou apenas de cueca. Não pude deixar de observar o quanto o corpo dele era perfeito. Não que eu já não tivesse visto outras vezes, mas somente naquele momento eu tinha parado para realmente prestar atenção em como o tempo só havia feito bem a ele. subiu na cama, ficando por cima de mim e encaixou uma de minhas pernas em sua cintura, segurando minha coxa com possessão. Voltamos a nos beijar e, nesse momento, eu sabia que não estávamos agindo como Otto e Melissa. E a pior parte: eu estava gostando daquilo. Estava gostando de ter ele me beijando daquela forma, me tocando daquela forma, do seu corpo no meu... Estava tão presa àquele momento que até esqueci que ali tinha câmeras e pessoas olhando. Só me dei conta do que estava fazendo quando entrou no quarto em um rompante, assustando a nós dois.
Felizmente, ninguém percebeu, pois o susto fazia parte do desenrolar da cena então tratei de me recompor e entrar no personagem. Olhei para e ele se encontrava na mesma situação que eu. É... Pelo visto eu não era a única que tinha saído do personagem.
XxX
Entrei no meu trailer, exausta e confusa. Depois que terminamos de gravar e, Trevor nos liberou, praticamente corri de volta para meu trailer. Eu já tinha pensado e repensado em possíveis motivos para minha falta de profissionalismo, mas não tinha encontrado nenhuma que justificasse. me fazia bem e com ele eu me sentia segura, mas se eu estava tão apaixonada por Oliver, por que eu ainda sentia tamanha atração quando se tratava de ? Talvez estivesse carente e estivesse tentando substituir Oliver por ele, mas não podia deixar de pensar que estava pisando em ovos. era casado com e, mesmo que ele estivesse pensando em acabar com o matrimônio, eu não podia me deixar envolver com ele novamente. Afinal, eu tinha terminado o noivado por causa de uma traição. Por outro lado, não poderia ignorar todas as coisas que ele tinha me dito sobre ter se arrependido e todas as coisas que ele vinha fazendo por mim. estava cuidando de mim mesmo sem eu pedir e ele não estava querendo nada em troca. Ele só queria me ver feliz.
Depois de tirar o figurino e vestir a roupa que tinha vindo para o trabalho mais cedo, juntei minha bolsa e a chaves do carro e saí do trailer, fechando a porta ao passar. Segui caminho por entre os trailers em direção ao estacionamento, porém um par de mãos me puxou, encostando-me contra um dos trailers com força.
- MAS QUE M... Oliver? - falei ao reconhecer a figura à minha frente.
- Foi por isso que você pediu para eu me afastar? Para que você pudesse ficar com ?
- Como é que é?
- Eu vi o quanto vocês estavam envolvidos gravando aquela cena, . Eu te conheço o suficiente para saber que você não estava sendo profissional ali.
Não acreditei no que estava ouvido. Eu sabia que ele estava certo, mas quem era ele para vir me crucificar depois da forma que ele me tratou mais cedo?
- E quem você pensa que é para vir me dar lição de moral, Oliver? - Me livrei de seu toque. - Porque você deixou bem claro que a nossa amizade não tem mais volta.
- Você disse que estava apaixonada por mim, você estragou a nossa amizade. - Ele acusou.
- Sim, eu me apaixonei por você e, sim, destruí nossa amizade, mas eu pedi desculpa por isso, eu disse que sentia sua falta e queria meu melhor amigo de volta e o que você disse? Que não queria falar sobre o assunto.
- E isso te dá o direito de correr para os braços do ?
- Eu não corri para os braços dele! Caso você não tenha percebido, tem me dado apoio, tem sido um grande amigo, enquanto você escolheu me dar às costas e não estava nem olhando na minha cara porque não soube lidar com o fato que sua melhor amiga estava apaixonada por você!
- Eu sei bem o apoio que ele tem te dado. - Ele disse sarcasticamente. - Eu posso te dar esse apoio também, se você quiser. - Ele tocou minha cintura e aproximou seu corpo do meu.
O encarei sem acreditar que aquele era a pessoa que um dia considerei como melhor amigo, a pessoa pela qual eu estava apaixonada.
- Você não tem o direito de brincar com meus sentimentos. - Afastei suas mãos de minha cintura, tomando devida distância dele. - Quem é você e o que fez com o Oliver que eu conhecia e chamava de melhor amigo? Porque eu não estou te reconhecendo mais e, se você foi sempre assim e eu fui cega demais para perceber, então eu faço questão de reforçar o meu pedido. Fique longe de mim! - Não esperei que ele me respondesse. Dei as costas e corri em direção ao meu carro. Não olhei para trás nenhuma vez e muito menos permiti que lágrimas caíssem por meu rosto. Eu não choraria por Oliver nunca mais, não valia a pena e agora eu sabia disso.
Um mês depois...
Hoje era o último dia de gravação. Não dava para acreditar que oito meses passaram tão rápido assim. Trevor estava mais feliz que nunca e isso se devia ao fato de conseguimos terminar o filme poucos dias do prazo final. Cheguei ao set bem cedo, apesar de não ser necessário. Havia poucos funcionários no local, então segui diretamente para o local que seria meu trailer pela última vez hoje. Entrei no tão conhecido camarim, deparando-me com os figurinos que usaria pela última vez e o último script. Olhei ao redor, guardando cada pedacinho daquele lugar na minha memória. Cada pedaço daquele lugar equivalia a uma lembrança para mim, a começar pela cama. Lembro perfeitamente do primeiro dia em que deitei naquela cama, Oliver estava comigo e, após uma pequena provocação minha, acabamos transando. Sorri com a memória. Apesar de não ter mais ele em minha vida e ter bloqueado totalmente meus sentimentos em relação a ele, eu escolhi por não deletar as boas memorias de minha mente. Era melhor carregar apenas lembranças boas do que ficar sem nada.
Voltei para a entrada e sentei-me no sofá. Aquele trailer me deu tanto momentos bons como ruins. Brigas com , conversas com , os momentos que eu chorei por causa de Oliver, por causa de estresse, por causa da TPM... Tudo aquilo fazia com que eu me sentisse nostálgica e, me peguei, mais uma vez, com uma vontade imensa de chorar. Eu não estava pronta para dizer adeus para tudo isso. O filme que eu tanto tinha relutado e me recriminado por ter aceitado no início, tinha passado a ser parte de mim e agora que estava prestes a acabar, eu não tinha ideia do que fazer a seguir.
O toque do celular anunciou que alguém tinha me mandado uma nova mensagem e eu peguei o aparelho. Era uma mensagem de .
“Bom dia. Acabei de chegar ao set e não tem quase ninguém aqui. Morrendo de tédio... Que horas você chega?”
Ri sozinha. era o único além de mim que chegaria cedo mesmo sem precisar. Bem, eu não o culpava, não era fácil aturar a mulher que ele tinha.
Deixei meu trailer e caminhei até o trailer de . Abri a porta sem me importar em pedir permissão antes. Não era necessário, já tínhamos intimidade suficiente.
- Bom dia, senhor . - Anunciei minha chegada. estava esparramado no sofá, mexendo no celular. - Nossa, você está mesmo entediado.
- Ainda bem que você está aqui. - Ele se afastou, dando espaço para que eu sentasse.
- O que faz aqui tão cedo?
- . - Revirei os olhos.
- O que ela fez dessa vez?
- Sei lá... Ela começou a brigar do nada e eu preferi sair de casa do que ficar escutando-a no meu ouvido. E ainda trouxe a Dulcie comigo. - Ele apontou para cama e só então notei a pequena dormindo no colchão.
- Por que você ainda está com ela mesmo?
- Porque você não me quer. - Ele fez bico.
- É sério! - Dei uma tapinha de leve em seu ombro e ele riu.
- Eu tento conversar com ela sobre a separação, mas parece que ela adivinha e sempre muda o rumo da conversa.
- Eu entendo, mas se você quer acabar com o casamento, é melhor fazer logo do que ficar preso em algo que não te faz feliz.
- Tem razão. - Concordou. - Você sempre me dando ótimos conselhos.
- Você sabe que estou aqui para o que precisar. Agora, chega para lá e liga essa televisão que eu quero assistir.
- Sim, senhora. – Ele riu e ligou o aparelho, deixando em um desenho que ele sabia que eu gostava. Ajeitei-me no sofá, encostando a cabeça em seu ombro e me abraçou pelo ombro, tornando minha posição mais confortável. Ficamos assistindo por um tempo, até que o choro de uma criança chamou nossa atenção. se levantou e correu até sua filha para acalmá-la. Observei a cena e foi inevitável não sorrir ao ver os dois juntos. Eu sempre soube que ia ser um bom pai e, mesmo que a filha não seja nossa, aquilo ainda era verdade. Ele sabia lidar com crianças e aquilo era essencial.
- Papai, quem é essa moça? - Ouvi a garotinha perguntar e olhou para mim rapidamente antes de responder.
- Ela é aquela amiga do papai que te deu o animalzinho de pelúcia, lembra?
Ela assentiu em resposta.
- Posso ir falar com ela? - Ela pediu com a sua vozinha fofa.
- Claro, meu amor.
A pequena se levantou da cama com a ajuda de e veio em minha direção timidamente. Sorri para ela, a encorajando a se aproximar. A garotinha era linda e apesar de ter muitos traços da , as partes marcantes eram do , como os olhos azuis e o belo sorriso.
- Oi... Qual é o seu nome? - Ela perguntou ao se aproximar.
Me ajoelhei no chão em frente ao sofá, ficando assim na mesma altura que ela.
- Oi, pequena. Eu sou e você deve ser a Dulcie, certo? - Ela assentiu. - Muito prazer.
- Você é linda.
Sorri abertamente ao ouvir aquele elogio. Ela era tão fofa e linda que eu tive vontade de roubá-la para mim.
- Obrigada, meu amor. Você também é muito linda, parece uma princesinha.
- Papai fala que eu sou uma princesa.
- Ele tem toda razão.
Olhei pra e ele sorria para mim. Aquela era a primeira vez que eu interagia com Dulcie. Se soubesse daquilo, provavelmente daria um ataque, mas pouco me importava. A filha também era de e se ele tinha me dado carta branca, por que eu iria me preocupar com o que pensa?
Não ficamos muito tempo dentro do trailer. Dulcie sentiu fome então decidimos sair para tomar café em uma Starbucks perto do set. O local era aconchegante e discreto, o que precisávamos naquele exato momento. Segui para mesa com Dulcie, enquanto foi fazer os nossos pedidos. Acomodei a garota na cadeira e sentei na cadeira oposta, deixando o lado vago para que sentasse perto da filha. Minutos depois, ele voltou com os nossos pedidos.
- Então, Dulcie... - comecei chamando a atenção da garota. - Você gostou do tigre de pelúcia?
- Muito! Obrigada, tia .
Escutar ela me chamando de tia me pegou de surpresa, ainda mais porque ninguém tinha a ensinado isso... Foi totalmente natural.
- Por nada, pequena. Fico feliz que tenha gostado do brinquedo.
Ela sorriu para mim e continuou a devorar seu café da manhã. Fiz o mesmo, completamente satisfeita pela situação que me encontrava.
Quando voltamos para o set, toda a equipe já estava lá montando os equipamentos, juntamente com Trevor que dava algumas coordenadas enquanto eles montavam os últimos cenários. Achei que seria melhor ir me trocar, então me despedi de e da pequena e corri de volta para meu camarim. O figurino dessa cena era um dos meus favoritos, pois era a roupa que Melissa usava quando estava executando suas missões como espiã. Depois de me vestir e passar pelo maquiador, fui para onde seria o primeiro cenário, onde encontrei com .
- Hey, . Bom dia - Ela me cumprimentou quando me aproximei.
- Bom dia. - a abracei rapidamente. - Como está se sentindo sabendo que hoje é o último dia?
- Feliz e triste ao mesmo tempo. – Respondeu ela. - Nem acredito que não vou mais ver vocês diariamente.
- Ainda vamos nos ver muito até o dia da estreia do filme. - Garanti. - Além do mais, podemos sempre marcar de sair.
- Com certeza. - Ela concordou. - Nunca imaginei que fosse fazer uma amiga aqui. Estou bastante feliz por ter te conhecido.
- Te digo o mesmo. Quem diria que eu viraria amiga do meu ídolo? - Ri comigo mesma. - O mundo acaba te surpreendendo.
- E agora eu também sou tua fã. - Completou ela.
- Isso é bom demais para ser verdade. Me belisca aqui. - Estiquei o braço de brincadeira. - Ai! - Dei um gritinho quando ela realmente me beliscou.
- Você pediu. - Ela se defendeu, rindo e eu acabei rindo junto.
- Posso saber do que vocês estão rindo? - se aproximou.
- Besteira. - Abanei as mãos, indicando que não era grande coisa. - Cadê a Dulcie?
- A deixei com sua assistente. Tem algum problema?
- Nenhum. Jane adora crianças.
- Estou vendo que o papo tá ótimo, mas essas cenas não vão se gravar sozinhas. - Trevor gritou, chamando a nossa atenção. Olhamos uns para os outros e eu segurei a risada. O bom humor do meu chefe nunca dura, nem mesmo no último dia de gravação.
Como de costume, as gravações foram bastante divertidas. gostava de me fazer rir sempre que podia, até mesmo para descontrair momentos de tensão ou até mesmo quando Trevor reclamava de algum erro bobo que cometemos. Acho que até mesmo Trevor se divertia com a situação, mesmo que não demonstrasse.
Não dava para acreditar que aquele era o fim. Tanta coisa aconteceu e mudou. Gravar esse filme foi e será uma das minhas melhores experiências e, definitivamente, eu aprendi várias coisas com cada um ali.
- MAIS UMA VEZ. - Trevor gritou, quando acabamos caindo na gargalhada por causa de uma brincadeira boba de . - Eu gostaria que você parasse de fazer brincadeiras, .
A cara séria que ele fez desencadeou em um mar de gargalhadas da nossa parte. Trevor ficou vermelho, mas eu sabia que no fundo ele queria rir também.
- Desculpa, vamos ficar sérios agora. - Disse, tentando segurar a risada. Trevor, por sua vez, revirou os olhos e voltou a dar instruções sobre a cena.
Gravar a última cena não foi fácil. Pensar que, depois que aquela cena acabasse, estaria tudo acabado deixava meus sentimentos a flor da pele. Várias vezes tivemos que parar porque eu errava a fala, mas a verdade é que eu estava me segurando para não chorar e acabava errando sem querer. Confesso que também queria adiar o momento em que Trevor daria tudo por encerrado.
Porém, não podemos adiar as coisas para sempre e, como tudo um dia chega ao fim, a gravação da cena também chegou. Trevor deu o grito final e assim que as câmeras foram desligadas, todo o elenco, figurantes e até mesmo Trevor nos abraçamos em conjunto. Aquilo não foi combinado, simplesmente aconteceu. Ao nos afastar, batemos palmas para nós mesmos, os colegas de trabalho e o nosso diretor.
- Ah, não. Você está chorando Trevor? - se pronunciou e, imediatamente, olhei para meu chefe, constatando que ele estava mesmo chorando. Aquilo foi o suficiente para que eu começasse a chorar também. E, de repente, todos estavam se debulhando em lágrimas, cada um com seu próprio motivo. Abraçamos uns aos outros e, por fim, eu abracei Trevor fortemente.
- Foi ótimo trabalhar com você, . - Ele falou depois que nos separamos. - Você é uma artista incrível e tem um caminho longo para brilhar bem mais do que você já brilha.
Sorri e foi necessário de todo o meu controle para que eu não começasse a chorar de novo.
- Obrigada por tudo, por ter me dado essa oportunidade e ter aguentado todo o drama que minha vida pessoal trouxe. Eu vou sentir muita falta de gravar todo dia.
- Até meus gritos? - Ele riu e o acompanhei.
- Até dos seus gritos.
Nos abraçamos novamente e ele se afastou. se aproximou com Dulcie em seus braços.
- Ei, boneca. - Acariciei o seu cabelo e ela se esticou para que eu a pegasse. Sorri surpresa e a segurei em meus braços. - Tudo bem?
Ela assentiu e deitou a cabeça no meu ombro.
- Ela gostou mesmo de você. - comentou.
- Que certa pessoa não descubra. - Respondi rindo.
- Trevor tá convidando todo mundo para casa dele. Ele vai fazer uma festinha para comemorar o fim das gravações e tal. Você vai?
- E perder a chance de conhecer a mansão dele? Claro que vou!
Ele riu.
- Acho que vou também. Só preciso deixar a Dulcie em casa e depois vou direto para lá.
- Tudo bem. A gente se encontra lá então.
Entreguei Dulcie para ele e me despedi da pequena, prometendo que nos veríamos novamente. Pelo menos é o que eu esperava. Fiquei observando se afastar com ela em seus braços e, quando eles sumiram de minha vista, virei de costas e voltei para junto dos outros.
- Quem vê vocês de longe juram que são um casal. - apareceu do meu lado, me assustando.
- Quê?
- Você e . A forma que vocês agem um com o outro é tão natural que parece que vocês são um casal.
- Você tá imaginando coisas. – Ri, nervosa. Eu e agindo como um casal? Que papo era aquele?
- Eu só falo o que vejo. - Ela deu de ombros. - Até dá para entender o porquê que tem tanto ciúme de você. Eu também teria ciúme se a ex do Oliver agisse com ele da mesma forma que vocês dois.
Abri a boca para responder, mas não encontrei nenhuma resposta que contra-argumentasse aquilo. Eu e estávamos mesmo próximos, mas éramos apenas amigos. Dei de ombros, chegando à conclusão que não tinha que dar explicação nenhuma para ninguém sobre minhas amizades e a forma que eu ajo com as pessoas que são próximas a mim.
Voltei ao meu trailer para buscar o restante das minhas coisas e, após dar uma breve olhada naquele lugar pela última vez, tranquei tudo e segui para o meu carro, onde dali seguiria para casa de Trevor.
Como era a primeira vez que eu ia até a casa dele, tive que seguir alguns carros dos outros membros da equipe até chegar ao endereço de destino. A mansão do diretor ficava localizada em um bairro bastante rico de Londres, o que não era surpresa, mas, a sua casa, essa sim me surpreendeu. Tinha um jardim enorme na frente e tinha todo tipo de planta e rosas e que você poderia imaginar. A mansão era linda por fora e eu passei a imaginar em como ela deveria ser ainda mais linda por dentro. Estacionei meu carro atrás do carro de Trevor e desci, olhando fascinada ao meu redor.
- Lindo, não é? - parou ao meu lado, tão deslumbrada quanto eu.
- Mal posso esperar para ver como é por dentro.
- Estamos esperando o que, então? - perguntou e me puxou em direção a casa.
Subimos os degraus e, logo, passamos pela grande porta aberta. Meu queixo caiu. O local era extremamente lindo. Os móveis rústicos davam tom chique e charmoso a casa. Sem falar que era muito aconchegante. Trevor nos escoltou até a sua grande sala de estar nos indicou o sofá.
- Eu quero levar esse sofá para casa. - Disse para . - Eu nem precisaria de cama com um sofá desses.
- Ele sabe mesmo como ter uma vida bastante confortável. - Ela concordou.
Uma mulher linda e que aparentava ter uns 40 anos se aproximou de Trevor. Eles sorriram um para o outro e trocaram um breve selinho. Abri a boca, completamente surpresa. Só eu não sabia que Trevor era casado?
- Pessoal, eu quero que você conheça minha esposa, Diana.
- Olá, pessoal. É um prazer conhecer vocês. - Ela acenou timidamente.
Um a um cumprimentamos a esposa de Trevor. Logo, estávamos todos acomodados no sofá e uma das empregadas trouxe bebidas para todos.
- Eu quero propor um brinde. - Trevor se levantou com a sua taça de bebida. - Eu quero dizer que esses últimos oito meses foram uma grande experiência para mim. Eu não poderia ter escolhido um melhor cast para o meu filme e estou muito feliz por termos concluído essa etapa juntos. Então, esse brinde eu dedico a melhor equipe e cast do mundo. - Ele esticou o braço e assim brindamos.
Depois de um tempo, Trevor colocou música na casa e pudermos nos dispersar. Passei um tempo conversando com e Jane, mas logo Oliver chegou e eu fui obrigada a me afastar. Eu já havia superado os meus sentimentos por ele, mas também tinha me decidido que não iria me humilhar e correr atrás dele e sua amizade.
Decidi que iria dar uma volta pelo jardim e caminhei até a porta, abrindo-a e por coincidência dei de cara com .
- Ei, achei que não vinha mais. Por que demorou tanto?
Ele não me respondeu de imediato. Seu rosto estava sério e aquilo me preocupou, pois eu sabia que ele só ficava assim quando brigava com a . Estava prestes a perguntar o que tinha acontecido, quando ele finalmente me respondeu.
- Acabou. Eu pedi a separação pra .
- Sim, apenas tive um ligeiro mal-estar.
- Tem certeza? Você não quer ir para o hospital? - Ela estava visivelmente preocupada. Se ela soubesse que o motivo do meu “mal-estar” era o namorado dela, essa preocupação toda não estaria ali.
- Estou bem, não se preocupe. - Garanti.
- O seu almoço chegou enquanto estava fora. - Ela apontou para o prato de comida à minha frente.
Peguei o garfo e comecei a comer sem nem pestanejar. Enquanto mantivesse minha boca cheia, menos perguntas teria que responder. Não voltei a olhar para Oliver. Era mais seguro se eu me fechasse no meu próprio mundo e esquecesse que meu ex-melhor amigo estava ali bem perto de mim.
- Sabe, eu admiro muito a amizade de vocês dois. - comentou, durante um assunto qualquer que ela estava tendo com . Mantive-me calada praticamente o tempo todo, mas uma hora minha comida acabou e eu tive que enfrentar aquilo que chamavam de conversa entre amigos. Oliver e até chegaram a trocar algumas palavras, o que me surpreendeu até certo ponto, mas tirando esses momentos, Oliver estava tão calado quanto eu. - É muito raro ver duas pessoas que costumava ser um casal se tratando como dois amigos.
- Eu e somos diferentes. - respondeu e sua mão tocou a minha por cima da mesa. Olhei para ele, que sorria para mim e sorri de volta. - Tivemos alguns problemas no início, claro. Ela me odiava. – Brincou.
- Ei, eu não te odiava. - Me defendi. - Eu só... Não suportava respirar o mesmo ar que você por muito tempo.
Ele e riram. Pelo canto do olho pude ver Ollie se remexer desconfortável.
- Fico feliz que consegui mudar isso.
- É, eu também. – Concordei.
- Tá vendo, é isso que eu admiro. - se intrometeu. - Isso nunca aconteceu comigo. Também não posso dizer que gostaria que isso acontecesse. - Ela revirou os olhos e riu, assim como eu e .
- A conversa está muito boa, mas eu tenho que ir embora. - Oliver se pronunciou, atraindo a atenção da namorada para si.
- Ah, eu vou com você. - falou, se levantando. - Enquanto você pede a conta ao garçom, eu vou ao banheiro. - Ele assentiu e ela saiu em direção aos banheiros. No mesmo instante o telefone de começou a tocar e ele também se retirou para que pudesse atender. Vi-me sozinha com Oliver e um clima tenso se instalou ali. Pela segunda vez naquela tarde, peguei-me o observando, só que dessa vez ele não me olhava de volta.
- Quando foi que chegamos a esse ponto? - Ouvi minha própria voz perguntar. Oliver me encarou totalmente surpreso. Eu também estava. Para mim, aquela pergunta tinha sido feita mentalmente, mas parece que meu corpo e minha mente não estavam colaborando comigo.
- Não sei. - Ele respondeu, por fim. - Talvez quando você me pediu ficar longe.
A voz dele era fria e cheia de sarcasmo. Aquilo doeu. Ultimamente, tudo que era relacionado a Oliver estava me machucando mais do que eu gostaria.
- Me desculpe por ter me apaixonado por você. Eu me odeio por ter destruído nossa amizade dessa forma.
- Eu não quero ter essa conversa. - Ele balançou a cabeça. - Você pediu para que eu ficasse longe, então estou ficando. Não entendi o motivo de você ter aceitado sentar comigo e minha namorada para almoçar como se tudo estivesse normal.
- Por que você está me tratando dessa forma? Você acha que eu queria me apaixonar por você? Aconteceu, Oliver. Eu não mando nos meus sentimentos.
- Eu não sei o que posso te dizer, . Já disse que não quero ter essa conversa.
- Eu sinto sua falta. - Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e eu tratei de enxugá-la. Me recusava a chorar na frente dele. - Eu quero meu melhor amigo de volta.
Ele me encarou, a feição indecifrável. Eu queria muito saber o que ele estava pensando, se ele também sentia minha falta, mas se tinha uma coisa que Oliver era extremamente bom, era de esconder seus verdadeiros sentimentos. De longe, vi que estava voltando para a mesa.
- Não sei se isso ainda é possível. - Foi a última coisa que ele disse, antes de se levantar e puxar para fora do restaurante.
Fechei os olhos com força, tentando de todas as formas impedir que as lágrimas saíssem dos meus olhos. Meu sofrimento nunca acabava?
- Ei, você está bem? - perguntou, sua voz transbordando preocupação.
- Não.
- Vamos sair daqui.
Ele pagou pelo almoço e me puxou para bem longe daquele lugar.
- Eu não vou cansar de te agradecer por ficar do meu lado.
Eu e estávamos no meu trailer, ele sentado no sofá, enquanto eu estava deitada com a cabeça repousada em seu colo. Ainda tínhamos alguns minutos até a hora do almoço acabar e eu aproveitei cada minuto deles para chorar no colo de .
- E eu não vou cansar de te falar que não precisa me agradecer. Eu sempre vou estar aqui para você.
- Você tem sido tão bom para mim.
- E você para mim. - Ele respondeu, fazendo carinho no meu cabelo. - Eu gostaria de fazer mais por você.
- Não há mais nada que você possa fazer por mim que você já não tenha feito.
- Eu queria poder te ajudar a curar suas feridas. – Ele disse baixinho, mas eu escutei. - Consertar os erros que eu cometi e te fazer feliz no processo.
- ... Esse caminho é perigoso.
Sentei-me no sofá, sem deixar de encará-lo.
- Desculpe, é que eu não consigo parar de pensar no quanto eu perdi quando deixei você escapar por entre meus dedos. Eu nunca verdadeiramente te esqueci... E agora, ver você sofrer por outro que não te dá valor e não poder fazer nada a respeito, me mata.
- , você está casado com ...
- Eu sei. - Ele suspirou. - Mas estou pensando seriamente se quero continuar com esse casamento. - Arregalei os olhos com a nova informação.
- , eu não quero ser motivo de separação sua com a .
Eu me recusava a aceitar aquilo. Aquela conversa já era estranha por si só.
- Não é por sua causa. Eu já vinha pensando há algum tempo, mas agora com todas as crises de ciúmes e as brigas, minhas dúvidas só aumentaram.
- Você tem certeza de que isso não é só uma crise que vai passar?
Ele suspirou e olhou para o chão. Eu percebia agora o quanto aquela situação com estava o afetando. Senti-me mal por não ter percebido antes, estava tão presa no meu próprio drama que sequer prestei atenção nas pessoas a minha volta.
- Não acho que isso é algo passageiro. A gente briga todo dia, eu não estou dormindo direito e isso está me estressando bastante. E eu não consigo mais... Você sabe... Sentir tesão.
- Muita informação, muita informação! - exclamei, tentando expulsar a imagem e e transando da minha mente.
- Desculpe. - Ele riu. - Mas é basicamente isso. Estou cansado de tentar fazer meu relacionamento dar certo, quando tudo que quer é só brigar.
- Realmente, é bastante complicado. - Ponderei. - Queria poder te ajudar a resolver isso, mas tudo que eu posso fazer é te aconselhar a seguir seu coração.
- Isso já ajuda bastante. - Respondeu ele.
- Que bom. - Sorrimos um para o outro e permanecemos em silêncio. Não havia mais nada para falar, mas ficar em silêncio não me parecia uma boa opção, pois ficou me encarando de forma tão intensa, que cheguei a ficar tímida. Ele deu um sorriso terno e estendeu a mão para colocar meu cabelo atrás da orelha, deixando minha bochecha livre para o seu toque.
- Você fica ainda mais linda tímida...
E claro que depois que ele falou aquilo eu fiquei ainda mais tímida. Ele riu, se divertindo as minhas custas. Seus olhos me encaravam intensamente e, mesmo que minha mente estivesse em alerta vermelho e gritasse para que eu me afastasse, eu me encontrava presa ali naquele sofá. desceu seu olhar para minha boca e mordeu os lábios, enquanto aproximava ainda mais o rosto do meu. Senti minha própria respiração acelerar e tentei com todas as minhas forças pensar em algo que me fizesse sair dali.
- , eu... - ainda tentei falar, mas ele me cortou na metade da frase.
- Não diz nada... Você disse para eu seguir meu coração e eu estou seguindo seu conselho...
Os olhos de tinham um brilho diferente, algo que eu nunca tinha visto antes e, eu me encontrei sem forças para combater aquilo. A tensão que existia entre a gente era mais forte que eu, era algo que não dava para combater, então deixei que ele se aproximasse mais, que nossas respirações se misturassem e os nossos narizes encostassem um no outro. Fechei os olhos, ansiando para sentir seus lábios nos meus, mas esse momento não chegou a acontecer.
Batidas na porta me assustou e eu pulei para longe de devido ao susto.
- , Trevor mandou avisar que o horário de almoço acabou. - Jane nunca tinha chegado em um momento tão apropriado como aquele. Eu estaria me atracando com o novamente, se não fosse minha assistente.
- Já estou indo. - Gritei de volta quando me recuperei do susto. Olhei para e ele me observava com uma cara engraçada. - Que foi?
- Nada. - Respondeu, mas dava para ver claramente que ele segurava o riso.
- Vamos logo, vai. – O empurrei para fora do trailer. - Trevor está nos esperando e não queremos deixar o chefe irritado, certo?
- Certo, madame.
Limitei-me a revirar os olhos e segui em direção ao local destinado as próximas gravações com ao meu lado.
Gravamos mais três cenas durante o resto da tarde. Já se passava das seis da noite quando e eu começamos a gravar a última cena do dia e essa envolvia uma cena na qual a personagem de descobria sobre a traição do marido e de Melissa, minha personagem. Depois de trocar de figurino pela milésima vez naquele mesmo dia, me juntei a e para que a gravação fosse iniciada.
- Vocês já sabem o que fazer, certo? - Trevor perguntou. Assentimos ao mesmo tempo em resposta. - Ótimo. e fiquem em posição.
Seguimos as instruções de Trevor e nos posicionamos na entrada do que seria o corredor de um hotel. me abraçou por trás, como mandava o script e Trevor se preparou para dar início a gravação da cena.
- Finalmente eu vou poder concluir o que comecei no trailer. - Ele sussurrou em meu ouvido, me pegando de surpresa. Não tive tempo de processar e responder, no entanto. O grito de Trevor ecoou pelo local e a cena começou a desenrolar.
Tive que colocar toda a minha concentração para não esquecer uma linha sequer do que tinha decorado. Não que tivesse muitas falas nesse momento em particular. Meu corpo foi prensado na porta que daria para o quarto e os lábios de tomaram os meus, iniciando um beijo. Uma coisa era certa para mim: de profissional aquele beijo não tinha nada. Deixei que ele continuasse da forma que queria, afinal, quanto mais real melhor, certo?
Entre beijos e algumas falas, entramos no quarto e seguimos direto para cama, tirando nossas roupas e jogando-as no chão do quarto no meio do caminho. Caí na cama apenas de lingerie e se aproximou apenas de cueca. Não pude deixar de observar o quanto o corpo dele era perfeito. Não que eu já não tivesse visto outras vezes, mas somente naquele momento eu tinha parado para realmente prestar atenção em como o tempo só havia feito bem a ele. subiu na cama, ficando por cima de mim e encaixou uma de minhas pernas em sua cintura, segurando minha coxa com possessão. Voltamos a nos beijar e, nesse momento, eu sabia que não estávamos agindo como Otto e Melissa. E a pior parte: eu estava gostando daquilo. Estava gostando de ter ele me beijando daquela forma, me tocando daquela forma, do seu corpo no meu... Estava tão presa àquele momento que até esqueci que ali tinha câmeras e pessoas olhando. Só me dei conta do que estava fazendo quando entrou no quarto em um rompante, assustando a nós dois.
Felizmente, ninguém percebeu, pois o susto fazia parte do desenrolar da cena então tratei de me recompor e entrar no personagem. Olhei para e ele se encontrava na mesma situação que eu. É... Pelo visto eu não era a única que tinha saído do personagem.
Entrei no meu trailer, exausta e confusa. Depois que terminamos de gravar e, Trevor nos liberou, praticamente corri de volta para meu trailer. Eu já tinha pensado e repensado em possíveis motivos para minha falta de profissionalismo, mas não tinha encontrado nenhuma que justificasse. me fazia bem e com ele eu me sentia segura, mas se eu estava tão apaixonada por Oliver, por que eu ainda sentia tamanha atração quando se tratava de ? Talvez estivesse carente e estivesse tentando substituir Oliver por ele, mas não podia deixar de pensar que estava pisando em ovos. era casado com e, mesmo que ele estivesse pensando em acabar com o matrimônio, eu não podia me deixar envolver com ele novamente. Afinal, eu tinha terminado o noivado por causa de uma traição. Por outro lado, não poderia ignorar todas as coisas que ele tinha me dito sobre ter se arrependido e todas as coisas que ele vinha fazendo por mim. estava cuidando de mim mesmo sem eu pedir e ele não estava querendo nada em troca. Ele só queria me ver feliz.
Depois de tirar o figurino e vestir a roupa que tinha vindo para o trabalho mais cedo, juntei minha bolsa e a chaves do carro e saí do trailer, fechando a porta ao passar. Segui caminho por entre os trailers em direção ao estacionamento, porém um par de mãos me puxou, encostando-me contra um dos trailers com força.
- MAS QUE M... Oliver? - falei ao reconhecer a figura à minha frente.
- Foi por isso que você pediu para eu me afastar? Para que você pudesse ficar com ?
- Como é que é?
- Eu vi o quanto vocês estavam envolvidos gravando aquela cena, . Eu te conheço o suficiente para saber que você não estava sendo profissional ali.
Não acreditei no que estava ouvido. Eu sabia que ele estava certo, mas quem era ele para vir me crucificar depois da forma que ele me tratou mais cedo?
- E quem você pensa que é para vir me dar lição de moral, Oliver? - Me livrei de seu toque. - Porque você deixou bem claro que a nossa amizade não tem mais volta.
- Você disse que estava apaixonada por mim, você estragou a nossa amizade. - Ele acusou.
- Sim, eu me apaixonei por você e, sim, destruí nossa amizade, mas eu pedi desculpa por isso, eu disse que sentia sua falta e queria meu melhor amigo de volta e o que você disse? Que não queria falar sobre o assunto.
- E isso te dá o direito de correr para os braços do ?
- Eu não corri para os braços dele! Caso você não tenha percebido, tem me dado apoio, tem sido um grande amigo, enquanto você escolheu me dar às costas e não estava nem olhando na minha cara porque não soube lidar com o fato que sua melhor amiga estava apaixonada por você!
- Eu sei bem o apoio que ele tem te dado. - Ele disse sarcasticamente. - Eu posso te dar esse apoio também, se você quiser. - Ele tocou minha cintura e aproximou seu corpo do meu.
O encarei sem acreditar que aquele era a pessoa que um dia considerei como melhor amigo, a pessoa pela qual eu estava apaixonada.
- Você não tem o direito de brincar com meus sentimentos. - Afastei suas mãos de minha cintura, tomando devida distância dele. - Quem é você e o que fez com o Oliver que eu conhecia e chamava de melhor amigo? Porque eu não estou te reconhecendo mais e, se você foi sempre assim e eu fui cega demais para perceber, então eu faço questão de reforçar o meu pedido. Fique longe de mim! - Não esperei que ele me respondesse. Dei as costas e corri em direção ao meu carro. Não olhei para trás nenhuma vez e muito menos permiti que lágrimas caíssem por meu rosto. Eu não choraria por Oliver nunca mais, não valia a pena e agora eu sabia disso.
Um mês depois...
Hoje era o último dia de gravação. Não dava para acreditar que oito meses passaram tão rápido assim. Trevor estava mais feliz que nunca e isso se devia ao fato de conseguimos terminar o filme poucos dias do prazo final. Cheguei ao set bem cedo, apesar de não ser necessário. Havia poucos funcionários no local, então segui diretamente para o local que seria meu trailer pela última vez hoje. Entrei no tão conhecido camarim, deparando-me com os figurinos que usaria pela última vez e o último script. Olhei ao redor, guardando cada pedacinho daquele lugar na minha memória. Cada pedaço daquele lugar equivalia a uma lembrança para mim, a começar pela cama. Lembro perfeitamente do primeiro dia em que deitei naquela cama, Oliver estava comigo e, após uma pequena provocação minha, acabamos transando. Sorri com a memória. Apesar de não ter mais ele em minha vida e ter bloqueado totalmente meus sentimentos em relação a ele, eu escolhi por não deletar as boas memorias de minha mente. Era melhor carregar apenas lembranças boas do que ficar sem nada.
Voltei para a entrada e sentei-me no sofá. Aquele trailer me deu tanto momentos bons como ruins. Brigas com , conversas com , os momentos que eu chorei por causa de Oliver, por causa de estresse, por causa da TPM... Tudo aquilo fazia com que eu me sentisse nostálgica e, me peguei, mais uma vez, com uma vontade imensa de chorar. Eu não estava pronta para dizer adeus para tudo isso. O filme que eu tanto tinha relutado e me recriminado por ter aceitado no início, tinha passado a ser parte de mim e agora que estava prestes a acabar, eu não tinha ideia do que fazer a seguir.
O toque do celular anunciou que alguém tinha me mandado uma nova mensagem e eu peguei o aparelho. Era uma mensagem de .
“Bom dia. Acabei de chegar ao set e não tem quase ninguém aqui. Morrendo de tédio... Que horas você chega?”
Ri sozinha. era o único além de mim que chegaria cedo mesmo sem precisar. Bem, eu não o culpava, não era fácil aturar a mulher que ele tinha.
Deixei meu trailer e caminhei até o trailer de . Abri a porta sem me importar em pedir permissão antes. Não era necessário, já tínhamos intimidade suficiente.
- Bom dia, senhor . - Anunciei minha chegada. estava esparramado no sofá, mexendo no celular. - Nossa, você está mesmo entediado.
- Ainda bem que você está aqui. - Ele se afastou, dando espaço para que eu sentasse.
- O que faz aqui tão cedo?
- . - Revirei os olhos.
- O que ela fez dessa vez?
- Sei lá... Ela começou a brigar do nada e eu preferi sair de casa do que ficar escutando-a no meu ouvido. E ainda trouxe a Dulcie comigo. - Ele apontou para cama e só então notei a pequena dormindo no colchão.
- Por que você ainda está com ela mesmo?
- Porque você não me quer. - Ele fez bico.
- É sério! - Dei uma tapinha de leve em seu ombro e ele riu.
- Eu tento conversar com ela sobre a separação, mas parece que ela adivinha e sempre muda o rumo da conversa.
- Eu entendo, mas se você quer acabar com o casamento, é melhor fazer logo do que ficar preso em algo que não te faz feliz.
- Tem razão. - Concordou. - Você sempre me dando ótimos conselhos.
- Você sabe que estou aqui para o que precisar. Agora, chega para lá e liga essa televisão que eu quero assistir.
- Sim, senhora. – Ele riu e ligou o aparelho, deixando em um desenho que ele sabia que eu gostava. Ajeitei-me no sofá, encostando a cabeça em seu ombro e me abraçou pelo ombro, tornando minha posição mais confortável. Ficamos assistindo por um tempo, até que o choro de uma criança chamou nossa atenção. se levantou e correu até sua filha para acalmá-la. Observei a cena e foi inevitável não sorrir ao ver os dois juntos. Eu sempre soube que ia ser um bom pai e, mesmo que a filha não seja nossa, aquilo ainda era verdade. Ele sabia lidar com crianças e aquilo era essencial.
- Papai, quem é essa moça? - Ouvi a garotinha perguntar e olhou para mim rapidamente antes de responder.
- Ela é aquela amiga do papai que te deu o animalzinho de pelúcia, lembra?
Ela assentiu em resposta.
- Posso ir falar com ela? - Ela pediu com a sua vozinha fofa.
- Claro, meu amor.
A pequena se levantou da cama com a ajuda de e veio em minha direção timidamente. Sorri para ela, a encorajando a se aproximar. A garotinha era linda e apesar de ter muitos traços da , as partes marcantes eram do , como os olhos azuis e o belo sorriso.
- Oi... Qual é o seu nome? - Ela perguntou ao se aproximar.
Me ajoelhei no chão em frente ao sofá, ficando assim na mesma altura que ela.
- Oi, pequena. Eu sou e você deve ser a Dulcie, certo? - Ela assentiu. - Muito prazer.
- Você é linda.
Sorri abertamente ao ouvir aquele elogio. Ela era tão fofa e linda que eu tive vontade de roubá-la para mim.
- Obrigada, meu amor. Você também é muito linda, parece uma princesinha.
- Papai fala que eu sou uma princesa.
- Ele tem toda razão.
Olhei pra e ele sorria para mim. Aquela era a primeira vez que eu interagia com Dulcie. Se soubesse daquilo, provavelmente daria um ataque, mas pouco me importava. A filha também era de e se ele tinha me dado carta branca, por que eu iria me preocupar com o que pensa?
Não ficamos muito tempo dentro do trailer. Dulcie sentiu fome então decidimos sair para tomar café em uma Starbucks perto do set. O local era aconchegante e discreto, o que precisávamos naquele exato momento. Segui para mesa com Dulcie, enquanto foi fazer os nossos pedidos. Acomodei a garota na cadeira e sentei na cadeira oposta, deixando o lado vago para que sentasse perto da filha. Minutos depois, ele voltou com os nossos pedidos.
- Então, Dulcie... - comecei chamando a atenção da garota. - Você gostou do tigre de pelúcia?
- Muito! Obrigada, tia .
Escutar ela me chamando de tia me pegou de surpresa, ainda mais porque ninguém tinha a ensinado isso... Foi totalmente natural.
- Por nada, pequena. Fico feliz que tenha gostado do brinquedo.
Ela sorriu para mim e continuou a devorar seu café da manhã. Fiz o mesmo, completamente satisfeita pela situação que me encontrava.
Quando voltamos para o set, toda a equipe já estava lá montando os equipamentos, juntamente com Trevor que dava algumas coordenadas enquanto eles montavam os últimos cenários. Achei que seria melhor ir me trocar, então me despedi de e da pequena e corri de volta para meu camarim. O figurino dessa cena era um dos meus favoritos, pois era a roupa que Melissa usava quando estava executando suas missões como espiã. Depois de me vestir e passar pelo maquiador, fui para onde seria o primeiro cenário, onde encontrei com .
- Hey, . Bom dia - Ela me cumprimentou quando me aproximei.
- Bom dia. - a abracei rapidamente. - Como está se sentindo sabendo que hoje é o último dia?
- Feliz e triste ao mesmo tempo. – Respondeu ela. - Nem acredito que não vou mais ver vocês diariamente.
- Ainda vamos nos ver muito até o dia da estreia do filme. - Garanti. - Além do mais, podemos sempre marcar de sair.
- Com certeza. - Ela concordou. - Nunca imaginei que fosse fazer uma amiga aqui. Estou bastante feliz por ter te conhecido.
- Te digo o mesmo. Quem diria que eu viraria amiga do meu ídolo? - Ri comigo mesma. - O mundo acaba te surpreendendo.
- E agora eu também sou tua fã. - Completou ela.
- Isso é bom demais para ser verdade. Me belisca aqui. - Estiquei o braço de brincadeira. - Ai! - Dei um gritinho quando ela realmente me beliscou.
- Você pediu. - Ela se defendeu, rindo e eu acabei rindo junto.
- Posso saber do que vocês estão rindo? - se aproximou.
- Besteira. - Abanei as mãos, indicando que não era grande coisa. - Cadê a Dulcie?
- A deixei com sua assistente. Tem algum problema?
- Nenhum. Jane adora crianças.
- Estou vendo que o papo tá ótimo, mas essas cenas não vão se gravar sozinhas. - Trevor gritou, chamando a nossa atenção. Olhamos uns para os outros e eu segurei a risada. O bom humor do meu chefe nunca dura, nem mesmo no último dia de gravação.
Como de costume, as gravações foram bastante divertidas. gostava de me fazer rir sempre que podia, até mesmo para descontrair momentos de tensão ou até mesmo quando Trevor reclamava de algum erro bobo que cometemos. Acho que até mesmo Trevor se divertia com a situação, mesmo que não demonstrasse.
Não dava para acreditar que aquele era o fim. Tanta coisa aconteceu e mudou. Gravar esse filme foi e será uma das minhas melhores experiências e, definitivamente, eu aprendi várias coisas com cada um ali.
- MAIS UMA VEZ. - Trevor gritou, quando acabamos caindo na gargalhada por causa de uma brincadeira boba de . - Eu gostaria que você parasse de fazer brincadeiras, .
A cara séria que ele fez desencadeou em um mar de gargalhadas da nossa parte. Trevor ficou vermelho, mas eu sabia que no fundo ele queria rir também.
- Desculpa, vamos ficar sérios agora. - Disse, tentando segurar a risada. Trevor, por sua vez, revirou os olhos e voltou a dar instruções sobre a cena.
Gravar a última cena não foi fácil. Pensar que, depois que aquela cena acabasse, estaria tudo acabado deixava meus sentimentos a flor da pele. Várias vezes tivemos que parar porque eu errava a fala, mas a verdade é que eu estava me segurando para não chorar e acabava errando sem querer. Confesso que também queria adiar o momento em que Trevor daria tudo por encerrado.
Porém, não podemos adiar as coisas para sempre e, como tudo um dia chega ao fim, a gravação da cena também chegou. Trevor deu o grito final e assim que as câmeras foram desligadas, todo o elenco, figurantes e até mesmo Trevor nos abraçamos em conjunto. Aquilo não foi combinado, simplesmente aconteceu. Ao nos afastar, batemos palmas para nós mesmos, os colegas de trabalho e o nosso diretor.
- Ah, não. Você está chorando Trevor? - se pronunciou e, imediatamente, olhei para meu chefe, constatando que ele estava mesmo chorando. Aquilo foi o suficiente para que eu começasse a chorar também. E, de repente, todos estavam se debulhando em lágrimas, cada um com seu próprio motivo. Abraçamos uns aos outros e, por fim, eu abracei Trevor fortemente.
- Foi ótimo trabalhar com você, . - Ele falou depois que nos separamos. - Você é uma artista incrível e tem um caminho longo para brilhar bem mais do que você já brilha.
Sorri e foi necessário de todo o meu controle para que eu não começasse a chorar de novo.
- Obrigada por tudo, por ter me dado essa oportunidade e ter aguentado todo o drama que minha vida pessoal trouxe. Eu vou sentir muita falta de gravar todo dia.
- Até meus gritos? - Ele riu e o acompanhei.
- Até dos seus gritos.
Nos abraçamos novamente e ele se afastou. se aproximou com Dulcie em seus braços.
- Ei, boneca. - Acariciei o seu cabelo e ela se esticou para que eu a pegasse. Sorri surpresa e a segurei em meus braços. - Tudo bem?
Ela assentiu e deitou a cabeça no meu ombro.
- Ela gostou mesmo de você. - comentou.
- Que certa pessoa não descubra. - Respondi rindo.
- Trevor tá convidando todo mundo para casa dele. Ele vai fazer uma festinha para comemorar o fim das gravações e tal. Você vai?
- E perder a chance de conhecer a mansão dele? Claro que vou!
Ele riu.
- Acho que vou também. Só preciso deixar a Dulcie em casa e depois vou direto para lá.
- Tudo bem. A gente se encontra lá então.
Entreguei Dulcie para ele e me despedi da pequena, prometendo que nos veríamos novamente. Pelo menos é o que eu esperava. Fiquei observando se afastar com ela em seus braços e, quando eles sumiram de minha vista, virei de costas e voltei para junto dos outros.
- Quem vê vocês de longe juram que são um casal. - apareceu do meu lado, me assustando.
- Quê?
- Você e . A forma que vocês agem um com o outro é tão natural que parece que vocês são um casal.
- Você tá imaginando coisas. – Ri, nervosa. Eu e agindo como um casal? Que papo era aquele?
- Eu só falo o que vejo. - Ela deu de ombros. - Até dá para entender o porquê que tem tanto ciúme de você. Eu também teria ciúme se a ex do Oliver agisse com ele da mesma forma que vocês dois.
Abri a boca para responder, mas não encontrei nenhuma resposta que contra-argumentasse aquilo. Eu e estávamos mesmo próximos, mas éramos apenas amigos. Dei de ombros, chegando à conclusão que não tinha que dar explicação nenhuma para ninguém sobre minhas amizades e a forma que eu ajo com as pessoas que são próximas a mim.
Voltei ao meu trailer para buscar o restante das minhas coisas e, após dar uma breve olhada naquele lugar pela última vez, tranquei tudo e segui para o meu carro, onde dali seguiria para casa de Trevor.
Como era a primeira vez que eu ia até a casa dele, tive que seguir alguns carros dos outros membros da equipe até chegar ao endereço de destino. A mansão do diretor ficava localizada em um bairro bastante rico de Londres, o que não era surpresa, mas, a sua casa, essa sim me surpreendeu. Tinha um jardim enorme na frente e tinha todo tipo de planta e rosas e que você poderia imaginar. A mansão era linda por fora e eu passei a imaginar em como ela deveria ser ainda mais linda por dentro. Estacionei meu carro atrás do carro de Trevor e desci, olhando fascinada ao meu redor.
- Lindo, não é? - parou ao meu lado, tão deslumbrada quanto eu.
- Mal posso esperar para ver como é por dentro.
- Estamos esperando o que, então? - perguntou e me puxou em direção a casa.
Subimos os degraus e, logo, passamos pela grande porta aberta. Meu queixo caiu. O local era extremamente lindo. Os móveis rústicos davam tom chique e charmoso a casa. Sem falar que era muito aconchegante. Trevor nos escoltou até a sua grande sala de estar nos indicou o sofá.
- Eu quero levar esse sofá para casa. - Disse para . - Eu nem precisaria de cama com um sofá desses.
- Ele sabe mesmo como ter uma vida bastante confortável. - Ela concordou.
Uma mulher linda e que aparentava ter uns 40 anos se aproximou de Trevor. Eles sorriram um para o outro e trocaram um breve selinho. Abri a boca, completamente surpresa. Só eu não sabia que Trevor era casado?
- Pessoal, eu quero que você conheça minha esposa, Diana.
- Olá, pessoal. É um prazer conhecer vocês. - Ela acenou timidamente.
Um a um cumprimentamos a esposa de Trevor. Logo, estávamos todos acomodados no sofá e uma das empregadas trouxe bebidas para todos.
- Eu quero propor um brinde. - Trevor se levantou com a sua taça de bebida. - Eu quero dizer que esses últimos oito meses foram uma grande experiência para mim. Eu não poderia ter escolhido um melhor cast para o meu filme e estou muito feliz por termos concluído essa etapa juntos. Então, esse brinde eu dedico a melhor equipe e cast do mundo. - Ele esticou o braço e assim brindamos.
Depois de um tempo, Trevor colocou música na casa e pudermos nos dispersar. Passei um tempo conversando com e Jane, mas logo Oliver chegou e eu fui obrigada a me afastar. Eu já havia superado os meus sentimentos por ele, mas também tinha me decidido que não iria me humilhar e correr atrás dele e sua amizade.
Decidi que iria dar uma volta pelo jardim e caminhei até a porta, abrindo-a e por coincidência dei de cara com .
- Ei, achei que não vinha mais. Por que demorou tanto?
Ele não me respondeu de imediato. Seu rosto estava sério e aquilo me preocupou, pois eu sabia que ele só ficava assim quando brigava com a . Estava prestes a perguntar o que tinha acontecido, quando ele finalmente me respondeu.
- Acabou. Eu pedi a separação pra .
Capítulo 11
’s POV
Parei o carro em frente de casa e suspirei, me preparando mentalmente para o que teria que enfrentar. Eu sabia que no momento que passasse por aquela porta, teria que enfrentar mais uma briga com apenas pelo fato de ter que sair novamente ou por qualquer motivo que ela achar que deve brigar comigo. Isso estava acontecendo muito ultimamente.
Saí do carro e abri a porta traseira, retirando cuidadosamente minha filha adormecida de sua cadeirinha. Acomodei-a em meus braços e caminhei até a entrada da casa, parando para abrir a porta. Tudo estava silencioso e a luz da sala estava apagada. Pedi mentalmente para que estivesse dormindo, embora soubesse que era cedo demais para isso. Com Dulcie em meus braços, subi as escadas cuidadosamente e andei até a porta aberta de seu quarto, tomando o maior cuidado para não fazer nenhum barulho e chamar a atenção da , caso ela estivesse em casa. Deitei Dulcie na sua caminha e a cobri com um lençol para que ela não sentisse frio. Sorri ao observar minha pequena dormindo tranquila. Ela estava crescendo tão rápido e sequer tinha noção do que acontecia ao seu redor. Depositei um beijinho em sua testa e me afastei, saindo do quarto antes que aparecesse. Não queria correr esse risco.
Desci as escadas rapidamente e fui direto para a porta, porém uma voz vinda do alto da escada me parou.
- Para onde você pensa que vai?
Me xinguei mentalmente e contei até dez antes de virar em direção a minha esposa.
- Vou para casa do Trevor comemorar o fim do filme.
- Você não vai sequer me chamar para ir?
- Você sabe que Trevor não quer te ver pintada de ouro depois do que você fez em Los Angeles.
- Então o que você vai fazer lá? - ela desceu as escadas e se aproximou de mim. - Você não tem mais obrigação com ele. Fica com a sua esposa.
- , eu prometi que iria; é importante.
- Prometeu para quem? Pra ?
Fechei os olhos com força. Lá vamos nós.
- Não começa, por favor...
- Sabe, eu estou bastante feliz que esse filme acabou, só assim você não tem mais que ficar vendo-a todo dia.
- , quer você goste ou não, eu e ainda vamos nos ver. Nós somos amigos e ainda temos muitas coisas relacionadas ao filme pelos próximos meses.
- Vocês são amigos ou amantes? - ela alfinetou. - , eu não sei como você não percebe que ela quer só me dar o troco, que ela quer se vingar de mim por ter roubado de você dela.
- , para. não quer se vingar de você.
- VOCÊ ACHA QUE EU SOU BURRA? - ela se exaltou. Estava até demorando. - EU SEI BEM QUE VOCÊS SAÍRAM HOJE COM MINHA FILHA AGINDO COMO SE FOSSE UMA FAMÍLIA FELIZ. ESTÁ EM TODOS OS SITES PARA TODO MUNDO VER: AMÉLIA, A CORNA DA VEZ.
Respirei fundo, tentando manter em mente que minha filha estava dormindo no andar de cima.
- , você vai acordar a nossa filha...
- QUE ACORDE! ELA É UMA INGRATA! - ela continuou gritando. - VAI, VOLTE PARA SUA AMANTE. NÃO PRECISA MAIS MENTIR PARA MIM.
- Para, por favor! - tentei segurar seu braço, mas ela puxou violentamente.
- EU ESTOU CANSADA DISSO! VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI QUE SE VOCÊ NÃO TIVESSE A TRAÍDO, VOCÊS ESTARIAM JUNTOS? ELA TE DEU UM PÉ NA BUNDA E FOI EMBORA SEM PENSAR DUAS VEZES. ELA NUNCA TE AMOU DE VERDADE. EU SIM!
- Você não sabe do que está falando.
- MAS EU SEI, EU SEI! - ela chorava e ria ao mesmo tempo. Aquilo estava começando a me assustar, nunca tinha visto agir daquela forma. - Sempre doeu te ver com ela, mas eu sabia que você pulava a cerca. Todo mundo especulava a sua infidelidade, afinal, vamos combinar que a é sem graça e todas as viagens a trabalho estava desgastando o relacionamento de vocês. Então eu te segui e tirei fotos suas saindo com a sua amante do motel.
Arregalei os olhos com a revelação.
- Então, foi você? Você destruiu o meu noivado com a ? - perguntei chocado.
- Não. - ela balançou a cabeça. - Você que destruiu quando a traiu. Eu só dei um empurrãozinho.
Passei as mãos no cabelo nervosamente. Esse tempo todinho tinha sido ela. destruiu meu noivado por causa de uma burrice e um deslize meu. Eu ainda era o maior culpado disso, mas ela tinha tido a sua contribuição.
- Deus, quem é você? - cuspi, sentindo nojo de mim mesmo e dela. - Eu não conheço a mulher com quem casei.
- Você me conhece muito bem, . Tudo que eu fiz e faço por você é por amor.
- Amor? Você não sabe o que é amor. Você é louca.
Dei as costas e caminhei até porta decidido a sair dali, não aguentando mais ficar no mesmo ambiente que ela.
- Para onde você vai? Volta aqui, !
Parei na porta e olhei para ela.
- Eu vou para bem longe de você. Se eu tinha ainda alguma dúvida, agora não tenho mais. Eu quero o divórcio, .
Ela me encarou paralisada. Não esperei que ela tivesse alguma reação, apenas abri a porta e saí, batendo a mesma com força. Meu casamento tinha chegado ao fim, era impossível adiar mais.
’s POV
Minha mente ainda estava tentando processar toda a informação que tinha me contado. Sorte minha que estava sentada ou então estaria no chão, literalmente. Não dava para acreditar que ela tinha orquestrado tudo aquilo para me separar de . Certo que ainda tinha sido uma traição e eu merecia saber, mas, ainda assim, saber que tinha sido para o próprio benefício da pessoa que achei ser minha melhor amiga, tinha me deixado em choque. Oliver tinha me dito que sempre fora apaixonada por e só eu nunca tinha percebido, mas eu nunca imaginaria que ela seria capaz de me apunhalar dessa forma. Todo esse tempo minha amizade com ela tinha sido uma mentira e perceber isso doía bastante.
- Eu achava que ela era minha amiga de verdade e só tinha mudado por causa do casamento, mas esse tempo todo foi uma mentira? Que tipo de pessoa finge ser amiga de outra dessa forma?
- Eu sei, eu sei. Eu também não reconheço a mulher com quem me casei. Não dá para acreditar no quanto fui manipulado.
estava com ambas as mãos enterradas no rosto. Dava para ver o quanto aquela situação tinha mexido com ele.
- Como você está?
- Eu não sei o que pensar. - ele foi sincero. - Só sei que não dá mais para prosseguir com esse casamento; eu não consigo.
- É compreensível.
Ficamos em silêncio. Eu sabia que mesmo que ele quisesse aquilo, terminar um casamento não era fácil. amava , mesmo que ela não merecesse um pingo do amor que ele tinha para oferecer. Porém, dessa vez, ele não era o culpado pelo fim do matrimônio; que era. Ela que cultivou o que plantou depois de todos aqueles barracos sem sentidos, ela que não soube cuidar do marido que tinha.
- Você acha que ela vai querer te dar o divórcio? - expressei o questionamento que estava martelando em minha mente nesses últimos minutos. me encarou, os olhos azuis inexpressivos.
- Não sei. Mas espero não ter que levar isso para a justiça.
Ele suspirou. O encarei com compaixão. Ambos sabíamos que essa separação ia ser bem mais complicada do que imaginávamos.
Suspirei e olhei para a entrada da mansão. Uma música alta fez-se ouvir e eu invejei as pessoas lá dentro por estarem se divertindo.
- Eu sei que não é a hora apropriada, mas... Você quer ir lá para dentro? Sei lá, tentar esquecer os últimos acontecimentos um pouco?
Ele me encarou em silêncio, parecendo ponderar se deveria ou não entrar. Por fim, se levantou e esticou a mão em minha direção.
- Esquecer um pouco dos problemas não faz mal, né? - sorri fracamente e segurei sua mão, me levantando. entrelaçou nossos dedos e eu encarei as nossas mãos juntas, perguntando-me se aquilo representava algo para nós dois. Decidi não pensar muito e deixar para descobrir a resposta depois. Um drama por vez.
Assim que passamos pelas portas de entrada da casa, foi abordado por Trevor. Permaneci do seu lado o tempo todo, enquanto ele conversava normalmente com o diretor e sua esposa. Se eu não o conhecesse e nem soubesse dos problemas que passava pela vida do meu colega de trabalho, juraria que tudo estava normal e que ele não estava prestes a se separar. Esse era um dos muitos pontos positivos de ser um ator: se torna bem mais fácil fingir na vida real também.
- não quis vir? - Trevor questionou.
olhou para mim rapidamente e eu pude notar que ele não esperava por aquela pergunta, ainda mais vinda de Trevor.
- Ela preferiu ficar em casa. - respondeu ele.
- Entendo... - Trevor assentiu. - Não quero que ache que sua esposa não é bem-vinda. Ela seria muito bem recebida, desde que soubesse se comportar.
- Sim e eu estou de acordo, mas não foi por esse motivo que ela não veio.
Trevor olhou para mim e um flash de compreensão passou por seus olhos. Esperava eu que não fosse uma ideia errada. Com a conversa encerrada, Trevor se afastou, deixando-me sozinha com novamente.
- Quer dançar? - ele me perguntou.
Assenti em resposta e seguimos para a pista de dança improvisada, onde algumas pessoas já se encontravam dançando e curtindo a música. Uma música que eu não conhecia do The Weekend estava tocando, mas a batida era tão envolvente que não demorou para que eu entrasse no clima.
- Eu já disse que você é um péssimo dançarino? - gritei para devido à música alta.
Ele revirou os olhos em resposta. Ri e continuei aproveitando o máximo da música enquanto ela durou. Logo, a música acabou e começou a tocar uma com o ritmo mais lento. Uma música que eu conhecia muito bem, pois ela era a nossa música. Minha e de . Estava pronta para sair da pista, mas os dedos de tocaram minha cintura, atraindo minha atenção para si. O observei enquanto ele se aproximava e colava os nossos corpos. Um sorriso brincava no canto de seus lábios e eu soube que ele lembrava; não tinha como esquecer.
Começamos a balançar nossos corpos, dançando lentamente no ritmo da música.
- Quais são as chances dessa música tocar logo hoje? - perguntou, perto de meu ouvido. Minha pele se arrepiou, mas tratei de ignorar.
- ... - o repreendi.
- Só estou falando porque sei o que essa música representou para o nosso relacionamento. - ele suspirou e mais arrepios vieram. Fechei os olhos, na tentativa de ignorar os efeitos que aparentemente ainda tinha sobre mim. - Take me into your lovin' arms, kiss me under the light of a thousand stars... - ele começou a cantar ainda próximo ao meu ouvido. - Place your head on my beating heart... - nesse momento ele pegou minha mão e colocou em seu peito, bem em cima do seu coração. Fechei os olhos enquanto sentia o coração dele bater fortemente. - Maybe we found love right where we are.
Seu toque em meu rosto despertou-me e eu abri os olhos, dando de cara com aquela íris azuis me encarando. Seus olhos continham um brilho diferente, um que eu não via há muito tempo e, não sei se era coisa da minha cabeça, mas eu não queria que aquele brilho sumisse. Seus olhos, que antes encaravam os meus, agora observavam minha boca atentamente. Eu sabia onde aquilo ia chegar, aquele momento em específico tinha contribuído para isso e, eu me peguei querendo, desejando que ele me beijasse.
- Eu quero muito te beijar... - ele encostou sua testa na minha, voltando a me olhar nos olhos. - Mas eu não vou fazer isso.
- O quê? Por quê? - perguntei, surpresa por aquela atitude.
- Porque eu quero agir certo. Eu acabei de te dizer que vou me separar de e não quero que você tenha uma impressão errada de mim. Eu não quero que você me veja como o cara que traí a esposa na primeira oportunidade que aparece e, apesar de algo ter rolado entre a gente algumas vezes, eu sei que errei e peço desculpas por isso.
Sorri, não acreditando no que estava ouvindo. Que eu e ele estávamos próximos, é verdade, mas ainda assim, minha confiança nele não existia pelo simples fato de que ele continuava cometendo os mesmos erros e, mesmo que eu soubesse que ele e estavam em crise, ainda assim não era motivo para ele agir daquela forma. Tudo bem que eu também não tinha agido muito certo, afinal, eu tinha permitido que, o quer que seja que eu ainda sentia quando estava por perto, afetasse o meu julgamento de certo e errado e, consequentemente, minhas ações. Mas, era bom saber que ele tinha percebido e reconhecia que o que ele estava fazendo era errado e, o mais importante: ele estava disposto a mudar.
- Eu... Eu não sei o que dizer - fui sincera.
- Não precisa dizer nada. - ele colocou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, ainda mantendo contato visual. - Eu sei que provavelmente não tenho mais nenhuma chance com você, mas se você me vir como uma pessoa diferente já vai fazer uma grande diferença. Talvez... Só talvez, eu ainda seja capaz de te reconquistar.
- Eu não vou te impedir de tentar desde que você realmente esteja tentando mudar.
- Eu estou e vou provar para você. - garantiu ele.
O abracei em resposta. Talvez as pessoas sejam capazes de mudar, afinal.
A música acabou e decidimos que seria melhor procurar algum lugar para sentar. Eu ainda precisava processar direito tudo o que ele havia me dito e o que aquilo afetava na minha vida, porém eu deixaria para fazer aquilo quando estivesse sozinha.
- Eu vou ao banheiro. - declarei, parando na metade do caminho.
assentiu e eu me afastei, deixando-o para trás. Subi as escadas da enorme mansão, deduzindo que o banheiro ficava em algum lugar do primeiro andar. Assim que cheguei no topo das escadas, percebi que a procura seria mais difícil devido ao enorme número de portas que tinha naquele imenso corredor. A decoração era a mesma e tinha alguns quadros lindos pendurados na parede; as portas eram brancas e possuíam detalhes que não deixava dúvida de que elas tinham sido caras.
Decidi arriscar e saí abrindo de porta em porta em busca do banheiro. Algumas delas estavam trancadas, o que facilitou na procura. Quando encontrei, tranquei-me no local e parei em frente a pia, me olhando no espelho. As coisas na minha vida tendiam a sair do controle e eu sempre tinha que achar uma maneira de não fazer besteira, o que nunca dava certo - o que aconteceu com Oliver está aí para comprovar. tinha acabado de se separar da e eu sabia que ele não estava apaixonado por mim, assim como eu não estava mais apaixonada por ele, mas, ainda assim, eu ainda o dei esperança e o fiz acreditar que poderíamos ter algum tipo de futuro. Bem, não custa nada deixá-lo tentar, certo? Eu tinha deixado meus sentimentos por Oliver de lado, mas isso não significava que eu tinha o esquecido e, se me oferecer essa proeza, eu serei mais do que grata.
Depois de alguns minutos, cheguei à conclusão de que ficar trancada dentro do banheiro não iria me dar as respostas que eu precisava. Saí do banheiro e segui o caminho de volta para o andar de baixo. De cima do lance de escadas dava para ver todas as pessoas que estavam no local e não demorou muito para que eu identificasse Oliver e no meio deles. Ambos dançavam bem juntinhos e vez ou outra trocavam beijos nada discretos. Senti inveja daquilo por um momento, pois era algo que eu queria ter, mas nada parecia dar certo para mim. O motivo da minha vida ser tão complicada era algo que ainda queria descobrir.
Desviei o olhar do casal e desci os degraus, traçando meu caminho até onde sabia que estaria.
- Já estava começando a achar que tinha sido raptada. - ele brincou quando me viu.
- Quase, mas ainda sei me defender. - entrei na brincadeira.
- Não duvido disso.
Sentei-me ao seu lado no sofá e peguei a bebida que ele me oferecia. Era muito bom saber que amanhã não teria que acordar cedo e ouvir os gritos de Trevor durante o dia todo.
- Ainda não acredito que acabou. - disse, atraindo a atenção dele para mim.
- O tempo passou rápido, mas agora vem a parte mais difícil: as entrevistas.
- Nem me fale. Já posso imaginar o tipo de perguntas que eles vão fazer.
- Como é trabalhar com o ex? - perguntou ele, imitando a voz de uma repórter.
- Muito chato. Tive vontade de afogá-lo muitas vezes. - respondi, entrando na brincadeira.
riu, fazendo com que eu risse também.
- Pensando melhor, podemos tirar proveito da situação e criar momentos que vão render boas risadas.
- Com certeza. - concordei.
O telefone dele começou a tocar e ele o tirou do bolso para ver quem era. Como estava do seu lado, consegui ver o nome de piscando na tela. O sorriso de sumiu e ele suspirou, provavelmente prevendo que mais problema vinha pela frente. Não precisava estar na mente dele para saber disso. só vinha causando dor de cabeça ultimamente e agora as coisas só piorariam com a separação.
- Acho melhor eu voltar para casa. - ele falou, se levantando.
- Você tem certeza? - perguntei, preocupada.
- Eu sei que ainda vai estar lá, mas a Dulcie também está e eu não posso abandoná-la. Ela vai sentir minha falta e não quero que encha a cabeça dela de besteira.
- Eu entendo. - sorri, compreensiva. - Se precisar de um lugar para dormir, minha casa vai estar a sua disposição.
- Obrigado, .
Ele levantou e eu o acompanhei. Também iria para casa.
Nós despedimos do pessoal e de Trevor com um abraço apertado e um até logo, já que eu sabia que nos veríamos mais vezes em entrevistas e outros eventos relacionados ao filme.
e eu andamos lado a lado até os nossos carros, que, por coincidência, estavam um ao lado do outro.
- Tome cuidado. - falei, quando ele abriu a porta do meu carro para mim. Entrei o veículo e fechei a porta. se apoiou na janela para que conseguisse me ver.
- Tomarei. é louca, mas acho que ela não vai me fazer nenhum mal.
- Mesmo assim... Qualquer coisa me ligue.
- Pode deixar.
Ele se inclinou para depositar um beijo em minha bochecha. Em seguida se afastou, e eu liguei o carro. Acenei para ele uma última vez, antes de seguir meu caminho para fora da casa.
Entrei no meu apartamento aparentemente vazio e joguei minha bolsa em cima do sofá, antes de seguir para a cozinha. Abri a geladeira, tirei a garrafa de água e bebi, sem me importar em pegar um copo.
- Que nojo! - minha irmã apareceu do meu lado, me assustando. - Eu bebo água dessa garrafa, !
Coloquei a garrafa de volta na geladeira e virei para encará-la.
- Deixe de besteira. Eu sei que você faz isso também. - acusei.
Ela abriu a boca para responder, mas desistiu quando viu que eu tinha razão.
- Odeio quando você usa minhas ações contra mim mesma.
- É tudo questão de igualdade, irmãzinha. - retruquei ironicamente e segui caminho para a sala com ela me seguindo.
- Como foi o último dia de gravação?
- Foi bom... Quando acabou, Trevor nos convidou para ir à sua casa. Era lá que eu estava até agora. - sentei-me no sofá e liguei a TV. - Acredita que Trevor chorou?
- Mentira! - ela começou a gargalhar.
- Sério! Chorou igual a uma menininha. - falei, fazendo-a rir ainda mais.
- Queria ter visto isso.
- Isso é o mínimo! Acredita que ele é casado?
Ela abriu a boca, chocada com a informação. Não era para menos; não dava para acreditar que eu trabalhei para ele por meses e sequer sabia que ele tinha uma esposa.
- E você nunca percebeu uma aliança no dedo dele? - perguntou ela.
- Acredita que não?
- Acredito. - ela balançou a cabeça em desaprovação. - Nunca vi tão distraída.
Apesar de sempre querer, nunca levei minha irmã até o set e, tenho certeza de que esse era o tipo de detalhe que ela notaria.
- Em minha defesa, eu não fui a única que não percebi.
- São todos distraídos, então. - declarou.
Decidi não discutir, ou iríamos ficar debatendo o assunto pelo resto da noite.
- Já está tarde. - comentei, após verificar que já se passava das duas da madrugada. - Acho que vou dormir.
- Eu também. Estava só esperando você chegar.
Levantamos do sofá e seguimos pelo corredor até os nossos quartos.
- Boa noite, irmã.
- Boa noite, .
Entrei no meu quarto e tranquei a porta. Olhei para minha cama, ficando tentada em me jogar na mesma e dormir como uma criança, mas aquela roupa estava grudada na minha pele e eu não conseguiria dormir se não tomasse um bom banho antes.
Tomei uma ducha rápida, mas que me deixou sentindo nova em folha e pronta para dormir o quanto quisesse já que não teria que trabalhar no dia seguinte. Vesti um shortinho e uma blusa larga e em seguida me joguei na cama e fechei os olhos, deixando que o sono me envolvesse.
xXx
- Bom dia! - cumprimentei minha irmã que estava sentada na sala, vendo algum programa que não prestei atenção.
- Você quer dizer boa tarde, né? - respondeu ela, a voz carregada de ironia.
Dei de ombros e entrei na cozinha, abrindo a geladeira e procurando algo para comer; meu estômago praticamente gritava por comida.
- O que vai fazer hoje? - ela perguntou alto o suficiente para que eu a escutasse.
- Não tenho nada planejado.
- Mamãe convidou a gente para o jantar.
- Ótimo! Então pode dizer a ela que iremos.
Já fazia um tempo que eu não visitava minha mãe e eu já estava sentindo sua falta.
Peguei os ingredientes necessários para se fazer uma macarronada. Não estava com paciência para preparar algo mais complexo e minha fome também não deixava.
- Quando é que você vai contratar uma empregada mesmo?
entrou na cozinha minutos depois.
- Eu consegui alguns números e vou te deixar encarregada de contratar uma, tudo bem?
- Você está falando sério?!
- Estou.
- E por que você não me disse isso antes, criatura? Já teríamos uma empregada há tempos!
- Eu tinha muita coisa na cabeça e não pensei nisso. - admiti.
E aquilo era verdade. Tinha ficado tão presa no meu próprio drama com Oliver e que esqueci completamente das outras coisas que devia fazer.
- Me passa logo esses números que eu vou ligar agora mesmo!
- Você está mesmo desesperada por uma empregada. - ri, achando engraçado todo aquele alvoroço.
- Você já olhou para esse apartamento? É enorme! Estou cansada de arrumá-lo todo santo dia.
Revirei os olhos. Minha irmã tendia a ser muito dramática. Comigo fora o dia todo, não tinha muito o que arrumar. Ela só tinha preguiça mesmo.
- Os cartões estão na minha bolsa. Pega lá.
Ela saiu praticamente correndo em direção ao meu quarto, deixando-me sozinha preparando o que seria o nosso almoço. Não que ela fosse de muita ajuda caso tivesse ficado. Enquanto preparava o molho do macarrão, me ocorreu o quão era estranho ter que ficar em casa agora que as gravações tinham acabado. Tudo bem que não seria assim todos os dias, mas ainda assim, era estranho. A pior parte de tudo isso? Não ter Oliver ao meu lado para me tirar do tédio.
Sim, eu ainda sentia falta dele e, mesmo depois de tudo que aconteceu entre a gente, mesmo eu ainda tendo sentimentos por ele e mesmo depois dele ter dito aquelas coisas para mim, eu ainda o queria ao meu lado. Oliver não era apenas meu melhor amigo, ele era meu agente, eu confiava meu trabalho nele e agora eu teria que confiar a outra pessoa justamente pelo motivo de que ele não estava mais ali para mim.
Balancei a cabeça espantando tais pensamentos. Era incrível a minha capacidade de mudar minha linha de raciocínio dentro de segundos. Se eu achava difícil acompanhar meu próprio pensamento, quem dirá os outros que conviviam comigo.
- Pensando na morte da bezerra? - minha irmã falou, atraindo minha atenção. Nem tinha percebido que ela tinha voltado.
- Estava pensando em Oliver.
- Você nunca me contou o que realmente aconteceu entre vocês.
- É complicado. - despejei o macarrão em uma travessa e coloquei em cima da mesa da cozinha. Minha irmã tratou de pegar os pratos e os talheres, enquanto eu pegava o refrigerante dentro da geladeira.
- Eu sou sua irmã. Você sabe que pode me contar tudo, né?
- Eu sei. – suspirei, decidindo se contava ou não para ela. Detestava despejar meus problemas em cima de outras pessoas. - Eu me envolvi demais e Oliver não soube lidar com isso.
- Você quer dizer que se apaixonou? - ela arregalou os olhos. Mordi o lábio e assenti timidamente. Era a primeira vez que eu estava contando para alguém além do o ocorrido com Oliver. - E ele pulou fora? - assenti mais uma vez. - Mas que filho de uma puta!
- A culpa foi minha. - ela franziu o cenho ao ouvir minha afirmação. - Não devia ter me apaixonado por ele. Eu sabia desde o começo que não devia, tínhamos combinado isso, éramos amigos com benefícios e nada mais.
- ... Você deveria saber que isso nunca termina bem.
- Eu sei, mas achei que com a gente fosse diferente.
Ela balançou a cabeça em reprovação. Eu sabia que ela estava pensando que eu tinha sido burra por ter acreditado naquilo. Eu me achava burra e me culpava por isso todo dia.
- Mas isso não justifica a forma que ele lidou com isso. - ela falou em minha defesa. - Ele não teve nenhuma consideração por você ou pela amizade que vocês tinham.
Aquilo era verdade. A forma como ele tratou aquilo deixava claro que minha amizade não era importante para ele como eu achava.
- Não quero mais falar sobre isso. - suspirei. Falar daquele assunto só me deixava ainda mais deprimida e eu detestava me sentir daquela forma por algo que não tinha mais solução.
- Vamos mudar de assunto, então. - propôs. - Eu liguei para duas agências de empregadas e eles vão mandar algumas para fazer a entrevista amanhã!
- Nossa, que rápido! – exclamei, impressionada.
Minha irmã não brincava em serviço mesmo.
- Ajuda bastante quando a casa é de uma pessoa famosa.
- Ah, para. Eu não sou famosa assim, minha carreira praticamente começou agora.
- Você não tem mesmo noção, né? - ela riu em negação e pegou o celular em busca de algo. A observei com curiosidade e alguns segundos depois ela virou a tela para que eu visse. Meu perfil do Twitter que eu sequer lembrava que existia estava aberto e o número de seguidores que eu tinha ganhado desde a última vez que tinha visto era absurdamente grande. Eram quase dois milhões de seguidores, algo que eu sequer imaginei que seria possível para mim.
- Como isso aconteceu? - perguntei boquiaberta.
- Agora você sabe o seu nível de popularidade. Black Widow é um dos filmes mais aguardados do ano e, irmã, você é a protagonista; não deveria estar tão surpresa assim.
Peguei meu celular e abri o Twitter, indo diretamente para as menções. O tanto de pessoas me enviando tweets por segundo era incrível e, meu Deus, eu me senti maravilhada e assustada ao mesmo tempo. Ver que as pessoas estavam ali me elogiando e não me xingando, como acontecia quando estava com , era muito recompensador e fazia tudo o que eu passei nos últimos meses valer a pena.
- Eu sabia que o filme era grande coisa, mas definitivamente não imaginava que seria algo assim.
- Já vi que você vai ficar encarando o celular por um bom tempo, então vou ser uma ótima irmã e lavar a louça do almoço.
Não respondi. Estava muito concentrada em ler aqueles tweets com calma para não perder algum de vista. Sem me dar ao trabalho de tirar a louça suja da mesa, me levantei e caminhei para a sala, me jogando no sofá ainda com o celular em mãos. Um sorriso bobo aparecia em meu rosto a cada tweet que eu lia e eu comecei a responder alguns, favoritar outros ou até mesmo retweetar.
“ e Knowles são a combinação perfeita para esse filme. Mal posso esperar para assistir! #BlackWidow”
“Confesso que mal posso esperar para ver contracenando com . Eles eram perfeitos como casal! #BlackWidow”
Ri muito com esse último tweet. Era engraçado ver que ainda tem gente que imaginava eu e como um casal mesmo depois de quase três anos separados. Acho que da mesma forma que tem aqueles que odiavam a gente como um casal até hoje, também tem aqueles que amavam.
O celular em minhas mãos começou a vibrar de repente e a foto de apareceu na tela, indicando que aquela era uma ligação de vídeo. Deslizei o dedo na tela, atendendo.
- Vi que está ativa no Twitter novamente.
- Minha irmã me mostrou meu perfil e eu enlouqueci. Eu estou com quase dois milhões de pessoas me seguindo! Tem noção do tanto de gente que acompanha meu trabalho?
Ele riu, provavelmente achando todo aquele meu espanto engraçado. Claro que era, para ele aquilo era mais que normal.
- Você se acostuma. - respondeu por fim. - Mas é bom que você interaja com os fãs. Eu faço isso às vezes e não custa nada fazê-los felizes, né?
- A felicidade deles é a minha felicidade.
E era mesmo. Saber que eles estavam ali me apoiando e felizes, me fazia não só feliz, mas também fazia com que eu me sentisse completa.
- Como está sendo o primeiro dia de férias? - perguntou ele, mudando de assunto.
- Estava um tédio, mas o Twitter me salvou.
- Ah, achei que eu tivesse te salvado. - ele fez um bico de desapontamento, que, na minha opinião, era fofo e engraçado.
- Meus fãs chegaram primeiro. - debochei e ele deu língua. - Meu Deus, quantos anos você tem? Dois? - ele fechou a cara, o que me fez rir mais ainda.
- Você está muito engraçadinha, .
- Errado. Só estou de bom humor, então aproveita.
Ele sorriu em resposta. Ele ficava lindo sorrindo, pena que isso não acontecia frequentemente.
- Como estão as coisas? - perguntei depois de uns segundos em silêncio.
Qualquer resquício de sorriso em seus lábios desapareceu e ele suspirou, demonstrando seu descontentamento por ter que falar sobre o assunto.
- Ontem foi a pior noite da minha vida. - ele começou. - Assim que pus os pés em casa, começou outra briga e ficou reclamando no meu ouvido a madrugada inteira.
- Eu sabia que ela não ia aceitar o divórcio numa boa.
- A pior parte é essa, porque eu não queria ter que resolver isso na justiça.
- Sinto muito.
- Eu mereço isso pelo que fiz com você. - ele respondeu. - Se esse é o castigo que tenho que pegar, que assim seja.
- O que aconteceu com a gente não tem nada a ver com o seu casamento com ela. Você não tinha ideia de que estava se casando com uma louca, assim como eu não imaginava que nunca tive uma melhor amiga.
- Só espero não ter que aguentá-la por muito tempo. Só estou aqui ainda por causa da Dulcie.
- E onde ela está?
- ? - assenti. - Saiu. Não me disse para onde ia e, também, não me importei de perguntar.
- Ela levou a Dulcie?
- Não. Ela está assistindo televisão.
Suspirei aliviada. Do jeito que era louca, não dava para confiar nela sozinha com uma criança de dois anos.
- Eu sei que não deveria me meter mas... Não seria melhor se você ficasse com a Dulcie?
- Eu pensei nisso também, mas não sei o que fazer. Já estou me separando da , não quero que ela ache que estou tomando a filha dela também.
- Dulcie também é sua filha e, sinceramente, não sei se é confiável com uma criança, mesmo que seja a filha dela.
- Não sei. Vou falar com meu advogado.
- Desculpa por me meter.
- Que isso! Você faz parte da minha vida e sua opinião é muito bem-vinda.
- Só não quero que você ache que estou me intrometendo demais. - me justifiquei.
- Não penso isso de você.
- Tenho que desligar. Tenho que sair daqui a pouco e sequer comecei a me arrumar.
- Certo. Beijos.
- Se precisar de mim, pode me ligar, okay? - ele assentiu, concordando. - Beijos.
Como já não era surpresa, demorei mais de duas horas para terminar de me arrumar. Minha irmã estava sentada na minha cama há quase meia hora completamente pronta e impaciente por ter que me esperar.
- Se você não demorasse tanto para escolher a roupa que vai vestir, nós já estaríamos na casa de mamãe há muito tempo.
- Estou quase terminando. - falei pela décima terceira vez em menos de dois minutos. Terminei de passar o batom nos lábios e analisei meu reflexo mais uma vez antes de me virar para ela. - Pronto.
- Aleluia! - ela levantou da cama exasperada. - Já estava considerando ir embora e te deixar aqui.
- Você não ousaria me abandonar.
- Não duvide de mim, maninha.
Revirei os olhos e a segui para fora do quarto. Tranquei a porta do apartamento ao passar e segundos depois, estávamos no elevador, descendo para a garagem. Seguimos até o meu carro e entramos, eu no banco do motorista e na do passageiro.
- Você deveria me deixar dirigir seu carro alguma vez. - comentou quando já estávamos a caminho da casa da nossa mãe.
- Nem pensar. Você tem o seu carro. No meu bebê, só eu que dirijo.
- Nossa, que egoísta!
Revirei os olhos e não a respondi. Até parece que ela deixaria eu dirigir o carro dela se eu pedisse. O caminho até a casa da minha mãe era curto, então não demoramos a chegar.
Foi a maior alegria quando ela nos viu, pois realmente fazia tempo que eu tinha a visto e eu sei bem que ela ainda sente falta de ter morando com ela. Josh e os filhos dele também estavam lá, então a alegria foi três vezes maior.
- Senti a falta de vocês. - abracei os dois pequenos, recebendo um abraço apertado em retorno. Eu amava crianças e, agora que estava de férias, tentaria passar mais tempo com meus sobrinhos.
Sem mais delongas, minha mãe chamou todos para comer. Minha barriga roncou e minha boca salivou só de sentir o cheiro da minha comida favorita. Minha mãe era demais!
- Isso está uma delícia! - falei, enquanto mastigava a comida.
- Finalmente uma comida decente - alfinetou e eu a fuzilei com os olhos.
- Minha macarronada é uma delícia, tá legal? - defendi-me.
- E é tudo que você sabe fazer. - Josh falou e minha irmã riu. - Não sei como conseguiu se virar dois anos na Itália.
- O que é isso? Um complô contra mim? - fiz bico e todos riram. - Não é como se você soubesse cozinhar também, né, maninha? - alfinetei e na mesma hora o sorriso sumiu de seu rosto.
- Não precisa jogar na cara; assim você machuca meus sentimentos.
Tivemos um momento de silêncio encarando uns aos outros e então caímos na gargalhada.
O jantar foi assim, cheio de gargalhadas e risadas. Sentia saudade de passar mais tempo com a minha família e agora que eu tinha tempo, iria aproveitar. Depois do jantar nos juntamos na sala para conversar. Descobri que Josh e a esposa estavam planejando em fazer uma festa de aniversário de 10 anos de Lauren e imediatamente me voluntariei para ajudar em qualquer coisa que eles precisassem.
- Como está Oliver, ? - minha mãe perguntou, de repente.
- É, faz um tempo que não o vemos. - meu pai completou.
Olhei para minha irmã, imediatamente me sentindo desconfortável. Eles ainda não sabiam que eu e Oliver não éramos mais amigos e nem eu queria que eles soubessem. Meus problemas eram só meus.
- Ele está bem… Só está um pouco ocupado e tal. - falei, já querendo acabar logo com aquele assunto.
- Ah, entendo. Diga a ele que venha me visitar quando puder, estou com saudade dele.
Forcei um sorriso e assenti, dando aquele assunto por encerrado. Minha irmã quase que de imediato começou a tagarelar sobre coisas da escola e eu não pude ficar mais grata a ela por isso.
xXx
- Nossa! Achei que ela não fosse nos deixar sair mais. - falou, se jogando no sofá.
- Você é muito reclamona. - me joguei ao seu lado e ela ligou a TV, deixando em um canal de clipes.
- Sou mesmo.
Ficamos em silêncio, ambas olhando para o que passava na tela da TV. Bom, pelo menos parecia estar prestando atenção, porque seja o que for que estivesse passando não estava conseguindo minha atenção. Não pude deixar de me perguntar como estaria naquela casa com . Saquei meu celular e procurei seu nome na lista de contatos, pensando se deveria ou não lhe enviar uma mensagem.
“Como você está?”
Digitei e apertei o botão de enviar. Fiquei olhando para tela e segundos depois apareceu que ele estava digitando.
“Bem… Na medida do possível. E você?”
“Cansada. Acabei de chegar da casa de minha mãe…”
Enviei e comecei a digitar outra mensagem.
“Ela chegou?”
Passaram-se alguns minutos, até eu receber sua resposta.
“Sim… Infelizmente.”
Suspirei, imaginando como ele estava vivendo um verdadeiro inferno morando naquela casa.
“Eu queria ir embora, mas não queria deixar a Dulcie…”
Eu conseguia entender que ele estava em um dilema, mas uma hora ou outra ele ia ter que sair daquela casa, pois era óbvio que não sairia de lá.
“Você falou com o advogado?”
A resposta dessa vez demorou mais que cinco minutos, mas ela veio.
“Falei. Ele disse que minha situação é complicada, mas que vai ver o que pode fazer em relação à Dulcie. De uma maneira ou de outra, isso vai ter que ser resolvido na justiça.”
Me senti mal por ele. não merecia nada disso.
“Tudo vai se resolver, você vai ver. Se precisar de mim, é só me ligar.”
- se separou de ? - a voz da minha irmã bem próxima a mim me assustou e a olhei com os olhos arregalados. estava praticamente debruçada por cima de mim, olhando para tela do meu telefone.
- Deixa de ser curiosa! - digitei um boa noite rápido para e bloqueei a tela, deixando o aparelho de lado.
- Você estava tão entretida que eu fiquei curiosa mesmo. - respondeu ela na cara de pau. - Por que eles estão se separando?
- Isso não é da sua conta, .
- Nossa! Só queria saber…
- Porque é curiosa - revidei. - Mas a vida não é minha, então não vou te contar nada.
Ela fez um bico emburrado e voltou a olhar para a televisão.
- Não sabia que estava tão amiga do . - ela alfinetou.
- Sim, estamos amigos. Qual o problema?
- Nenhum. Apenas uma observação. - ela ergueu as mãos declarando inocência. Cerrei os olhos, não acreditando em toda aquela inocência. Eu a conhecia muito bem para saber que ela estava pensando coisas, mas preferi ignorar.
- Bom, já está tarde e eu vou dormir. - levantei-me do sofá, antes que ela voltasse a me fazer perguntas inconvenientes. - Boa noite.
- Boa noite. - a ouvi responder, quando já estava no corredor. Dei uma última olhada para ela antes de seguir meu caminho para o meu precioso quarto.
xXx
As semanas seguintes foram completamente maravilhosas. Eu e minha irmã tínhamos contratado uma empregada e o apartamento brilhava ainda mais, além das comidas preparadas que eram dos deuses. Trevor ainda não tinha entrado em contato para falar sobre entrevistas então estava aproveitando o máximo que eu podia. Passei mais tempo com minha família e minha irmã do que tinha conseguido passar nos últimos meses e aquilo me deixava extremamente feliz, até porque eu sentia uma falta enorme desses momentos com a minha família. Minha mãe às vezes ainda perguntava de Oliver, mas eu conseguia desviar o assunto para qualquer coisa. Fazia dias que eu sequer tinha notícias dele ou de e eu preferia deixar dessa forma, pois não queria que feridas fossem reabertas.
- Nem acredito que você quis fazer compras comigo. - falou superanimada.
- Eu cumpro o que prometo, irmã.
Estávamos no shopping há algumas horas e já tinha perdido a conta de quantas lojas já havia entrado para comprar qualquer besteira que fosse. Não era muito fã de ficar fazendo compras, mas eu tinha prometido a minha irmã e, bem, até que estava sendo divertido, tinha que admitir.
- Acho que devíamos ir ao salão. Seu cabelo está precisando de um tratamento.
Olhei meu reflexo no vidro da vitrine da loja e fiz careta ao constatar que ela estava certa. Antes eu não me preocupava muito porque tinha meus cabeleireiros no set, mas agora que o filme tinha acabado, meu cabelo tinha deixado de ser cuidado e eu admitia que queria me livrar daquele loiro e voltar para o meu amado ruivo.
- Tem razão. - concordei, por fim.
Ela deu um gritinho animado e soltou a peça de roupa que estava na mão, segurando em meu braço e me puxando para longe dali. Andamos um pouco até achar um salão e, logo, entramos no mesmo. Minha irmã optou por fazer as unhas, enquanto eu tratava do meu cabelo. Aproveitei para fazer as unhas também. Cuidar de si mesma nunca era demais, certo? Certo.
Encarei meu reflexo no espelho e sorri, aprovando o que via. Depois de meses, meu cabelo ruivo estava de volta e agora ele não iria mais embora. Aproveitei para dar um corte no meu cabelo, deixando-os na altura dos ombros, já que tinha gostado da outra vez que meu cabelo tinha ficado daquele tamanho.
Um grito fino chamou minha atenção e eu virei o rosto, vendo minha irmã dar um chilique no meio do salão. Meu Deus, ela era a rainha do exagero.
- Você ficou ainda mais linda! - ela disse ao se aproximar.
- Eu fico linda de qualquer forma, meu amor. - fiz pose e ela gargalhou.
Pagamos pelo serviço e saímos do salão.
- Estou faminta. - reclamou.
- Eu também.
Seguimos caminho para a praça de alimentação e entramos em uma das filas para comprar algo para comer.
- ? - virei em direção a voz e franzi o cenho ao não reconhecer a pessoa. Era uma menina que aparentava ter seus 20 anos.
- Sim?
- Ai meu Deus! É você mesmo! - ela exclamou e abriu um sorriso largo. - Eu sou mega fã sua! Posso tirar uma foto com você? - ela pediu.
Abri um sorriso e balancei a cabeça concordando. A menina sacou o celular e se aproximou de mim. Fiz pose e ela tirou uma selfie de nós duas.
- Qual é o seu nome? - perguntei.
- Hannah. - respondeu ela.
- É um prazer te conhecer, Hannah.
- Nem acredito que te conheci! Estou super ansiosa para ver o seu filme!
- E eu estou ansiosa para que você veja. Espero que goste.
- Tenho certeza de que vou adorar! - respondeu ela, sorrindo. - Er… Posso te dar um abraço?
- Mas é claro! - abri os braços e ela me abraçou fortemente.
- Obrigada - ela disse, quando nos afastamos.
- Eu que te agradeço pelo carinho. - sorri. A abracei mais uma vez e ela sorriu, se afastando em seguida. Olhei para minha irmã e ela sorria abertamente. Assim como eu, ela também ficava feliz por ver que meu trabalho estava sendo reconhecido.
xXx
- Aquela comida estava uma delícia! - minha irmã falou, assim que entramos em casa carregando várias sacolas.
- Estava mesmo. - concordei.
Coloquei minhas sacolas em cima do sofá e fui direto para cozinha. Precisava beber água urgentemente.
- Vou tomar um banho! - ela gritou da sala e logo ouvi seus passos pelo corredor.
Tomei minha preciosa água e coloquei o copo na pia. Caminhei de volta para a sala e peguei as sacolas para levá-las para meu quarto. A campainha tocou e eu cerrei meus movimentos, largando as sacolas novamente no sofá. Franzi o cenho, tentando imaginar quem podia ser, já que não estava esperando ninguém. Girei a maçaneta e abri a porta, dando de cara com alguém que imaginei que não veria nunca mais; pelo menos não na minha porta.
Fiquei estática. Minha boca abriu e fechou várias vezes, mas nenhum som saia de minha boca. Não dava para acreditar no que eu estava vendo, não podia ser real.
- O-Oliver? - gaguejei. Respirei fundo, tentando me controlar e voltar ao normal. Meu coração acelerado no peito dizia-me que me controlar não era possível. - O que está fazendo aqui?
Parei o carro em frente de casa e suspirei, me preparando mentalmente para o que teria que enfrentar. Eu sabia que no momento que passasse por aquela porta, teria que enfrentar mais uma briga com apenas pelo fato de ter que sair novamente ou por qualquer motivo que ela achar que deve brigar comigo. Isso estava acontecendo muito ultimamente.
Saí do carro e abri a porta traseira, retirando cuidadosamente minha filha adormecida de sua cadeirinha. Acomodei-a em meus braços e caminhei até a entrada da casa, parando para abrir a porta. Tudo estava silencioso e a luz da sala estava apagada. Pedi mentalmente para que estivesse dormindo, embora soubesse que era cedo demais para isso. Com Dulcie em meus braços, subi as escadas cuidadosamente e andei até a porta aberta de seu quarto, tomando o maior cuidado para não fazer nenhum barulho e chamar a atenção da , caso ela estivesse em casa. Deitei Dulcie na sua caminha e a cobri com um lençol para que ela não sentisse frio. Sorri ao observar minha pequena dormindo tranquila. Ela estava crescendo tão rápido e sequer tinha noção do que acontecia ao seu redor. Depositei um beijinho em sua testa e me afastei, saindo do quarto antes que aparecesse. Não queria correr esse risco.
Desci as escadas rapidamente e fui direto para a porta, porém uma voz vinda do alto da escada me parou.
- Para onde você pensa que vai?
Me xinguei mentalmente e contei até dez antes de virar em direção a minha esposa.
- Vou para casa do Trevor comemorar o fim do filme.
- Você não vai sequer me chamar para ir?
- Você sabe que Trevor não quer te ver pintada de ouro depois do que você fez em Los Angeles.
- Então o que você vai fazer lá? - ela desceu as escadas e se aproximou de mim. - Você não tem mais obrigação com ele. Fica com a sua esposa.
- , eu prometi que iria; é importante.
- Prometeu para quem? Pra ?
Fechei os olhos com força. Lá vamos nós.
- Não começa, por favor...
- Sabe, eu estou bastante feliz que esse filme acabou, só assim você não tem mais que ficar vendo-a todo dia.
- , quer você goste ou não, eu e ainda vamos nos ver. Nós somos amigos e ainda temos muitas coisas relacionadas ao filme pelos próximos meses.
- Vocês são amigos ou amantes? - ela alfinetou. - , eu não sei como você não percebe que ela quer só me dar o troco, que ela quer se vingar de mim por ter roubado de você dela.
- , para. não quer se vingar de você.
- VOCÊ ACHA QUE EU SOU BURRA? - ela se exaltou. Estava até demorando. - EU SEI BEM QUE VOCÊS SAÍRAM HOJE COM MINHA FILHA AGINDO COMO SE FOSSE UMA FAMÍLIA FELIZ. ESTÁ EM TODOS OS SITES PARA TODO MUNDO VER: AMÉLIA, A CORNA DA VEZ.
Respirei fundo, tentando manter em mente que minha filha estava dormindo no andar de cima.
- , você vai acordar a nossa filha...
- QUE ACORDE! ELA É UMA INGRATA! - ela continuou gritando. - VAI, VOLTE PARA SUA AMANTE. NÃO PRECISA MAIS MENTIR PARA MIM.
- Para, por favor! - tentei segurar seu braço, mas ela puxou violentamente.
- EU ESTOU CANSADA DISSO! VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI QUE SE VOCÊ NÃO TIVESSE A TRAÍDO, VOCÊS ESTARIAM JUNTOS? ELA TE DEU UM PÉ NA BUNDA E FOI EMBORA SEM PENSAR DUAS VEZES. ELA NUNCA TE AMOU DE VERDADE. EU SIM!
- Você não sabe do que está falando.
- MAS EU SEI, EU SEI! - ela chorava e ria ao mesmo tempo. Aquilo estava começando a me assustar, nunca tinha visto agir daquela forma. - Sempre doeu te ver com ela, mas eu sabia que você pulava a cerca. Todo mundo especulava a sua infidelidade, afinal, vamos combinar que a é sem graça e todas as viagens a trabalho estava desgastando o relacionamento de vocês. Então eu te segui e tirei fotos suas saindo com a sua amante do motel.
Arregalei os olhos com a revelação.
- Então, foi você? Você destruiu o meu noivado com a ? - perguntei chocado.
- Não. - ela balançou a cabeça. - Você que destruiu quando a traiu. Eu só dei um empurrãozinho.
Passei as mãos no cabelo nervosamente. Esse tempo todinho tinha sido ela. destruiu meu noivado por causa de uma burrice e um deslize meu. Eu ainda era o maior culpado disso, mas ela tinha tido a sua contribuição.
- Deus, quem é você? - cuspi, sentindo nojo de mim mesmo e dela. - Eu não conheço a mulher com quem casei.
- Você me conhece muito bem, . Tudo que eu fiz e faço por você é por amor.
- Amor? Você não sabe o que é amor. Você é louca.
Dei as costas e caminhei até porta decidido a sair dali, não aguentando mais ficar no mesmo ambiente que ela.
- Para onde você vai? Volta aqui, !
Parei na porta e olhei para ela.
- Eu vou para bem longe de você. Se eu tinha ainda alguma dúvida, agora não tenho mais. Eu quero o divórcio, .
Ela me encarou paralisada. Não esperei que ela tivesse alguma reação, apenas abri a porta e saí, batendo a mesma com força. Meu casamento tinha chegado ao fim, era impossível adiar mais.
’s POV
Minha mente ainda estava tentando processar toda a informação que tinha me contado. Sorte minha que estava sentada ou então estaria no chão, literalmente. Não dava para acreditar que ela tinha orquestrado tudo aquilo para me separar de . Certo que ainda tinha sido uma traição e eu merecia saber, mas, ainda assim, saber que tinha sido para o próprio benefício da pessoa que achei ser minha melhor amiga, tinha me deixado em choque. Oliver tinha me dito que sempre fora apaixonada por e só eu nunca tinha percebido, mas eu nunca imaginaria que ela seria capaz de me apunhalar dessa forma. Todo esse tempo minha amizade com ela tinha sido uma mentira e perceber isso doía bastante.
- Eu achava que ela era minha amiga de verdade e só tinha mudado por causa do casamento, mas esse tempo todo foi uma mentira? Que tipo de pessoa finge ser amiga de outra dessa forma?
- Eu sei, eu sei. Eu também não reconheço a mulher com quem me casei. Não dá para acreditar no quanto fui manipulado.
estava com ambas as mãos enterradas no rosto. Dava para ver o quanto aquela situação tinha mexido com ele.
- Como você está?
- Eu não sei o que pensar. - ele foi sincero. - Só sei que não dá mais para prosseguir com esse casamento; eu não consigo.
- É compreensível.
Ficamos em silêncio. Eu sabia que mesmo que ele quisesse aquilo, terminar um casamento não era fácil. amava , mesmo que ela não merecesse um pingo do amor que ele tinha para oferecer. Porém, dessa vez, ele não era o culpado pelo fim do matrimônio; que era. Ela que cultivou o que plantou depois de todos aqueles barracos sem sentidos, ela que não soube cuidar do marido que tinha.
- Você acha que ela vai querer te dar o divórcio? - expressei o questionamento que estava martelando em minha mente nesses últimos minutos. me encarou, os olhos azuis inexpressivos.
- Não sei. Mas espero não ter que levar isso para a justiça.
Ele suspirou. O encarei com compaixão. Ambos sabíamos que essa separação ia ser bem mais complicada do que imaginávamos.
Suspirei e olhei para a entrada da mansão. Uma música alta fez-se ouvir e eu invejei as pessoas lá dentro por estarem se divertindo.
- Eu sei que não é a hora apropriada, mas... Você quer ir lá para dentro? Sei lá, tentar esquecer os últimos acontecimentos um pouco?
Ele me encarou em silêncio, parecendo ponderar se deveria ou não entrar. Por fim, se levantou e esticou a mão em minha direção.
- Esquecer um pouco dos problemas não faz mal, né? - sorri fracamente e segurei sua mão, me levantando. entrelaçou nossos dedos e eu encarei as nossas mãos juntas, perguntando-me se aquilo representava algo para nós dois. Decidi não pensar muito e deixar para descobrir a resposta depois. Um drama por vez.
Assim que passamos pelas portas de entrada da casa, foi abordado por Trevor. Permaneci do seu lado o tempo todo, enquanto ele conversava normalmente com o diretor e sua esposa. Se eu não o conhecesse e nem soubesse dos problemas que passava pela vida do meu colega de trabalho, juraria que tudo estava normal e que ele não estava prestes a se separar. Esse era um dos muitos pontos positivos de ser um ator: se torna bem mais fácil fingir na vida real também.
- não quis vir? - Trevor questionou.
olhou para mim rapidamente e eu pude notar que ele não esperava por aquela pergunta, ainda mais vinda de Trevor.
- Ela preferiu ficar em casa. - respondeu ele.
- Entendo... - Trevor assentiu. - Não quero que ache que sua esposa não é bem-vinda. Ela seria muito bem recebida, desde que soubesse se comportar.
- Sim e eu estou de acordo, mas não foi por esse motivo que ela não veio.
Trevor olhou para mim e um flash de compreensão passou por seus olhos. Esperava eu que não fosse uma ideia errada. Com a conversa encerrada, Trevor se afastou, deixando-me sozinha com novamente.
- Quer dançar? - ele me perguntou.
Assenti em resposta e seguimos para a pista de dança improvisada, onde algumas pessoas já se encontravam dançando e curtindo a música. Uma música que eu não conhecia do The Weekend estava tocando, mas a batida era tão envolvente que não demorou para que eu entrasse no clima.
- Eu já disse que você é um péssimo dançarino? - gritei para devido à música alta.
Ele revirou os olhos em resposta. Ri e continuei aproveitando o máximo da música enquanto ela durou. Logo, a música acabou e começou a tocar uma com o ritmo mais lento. Uma música que eu conhecia muito bem, pois ela era a nossa música. Minha e de . Estava pronta para sair da pista, mas os dedos de tocaram minha cintura, atraindo minha atenção para si. O observei enquanto ele se aproximava e colava os nossos corpos. Um sorriso brincava no canto de seus lábios e eu soube que ele lembrava; não tinha como esquecer.
Começamos a balançar nossos corpos, dançando lentamente no ritmo da música.
- Quais são as chances dessa música tocar logo hoje? - perguntou, perto de meu ouvido. Minha pele se arrepiou, mas tratei de ignorar.
- ... - o repreendi.
- Só estou falando porque sei o que essa música representou para o nosso relacionamento. - ele suspirou e mais arrepios vieram. Fechei os olhos, na tentativa de ignorar os efeitos que aparentemente ainda tinha sobre mim. - Take me into your lovin' arms, kiss me under the light of a thousand stars... - ele começou a cantar ainda próximo ao meu ouvido. - Place your head on my beating heart... - nesse momento ele pegou minha mão e colocou em seu peito, bem em cima do seu coração. Fechei os olhos enquanto sentia o coração dele bater fortemente. - Maybe we found love right where we are.
Seu toque em meu rosto despertou-me e eu abri os olhos, dando de cara com aquela íris azuis me encarando. Seus olhos continham um brilho diferente, um que eu não via há muito tempo e, não sei se era coisa da minha cabeça, mas eu não queria que aquele brilho sumisse. Seus olhos, que antes encaravam os meus, agora observavam minha boca atentamente. Eu sabia onde aquilo ia chegar, aquele momento em específico tinha contribuído para isso e, eu me peguei querendo, desejando que ele me beijasse.
- Eu quero muito te beijar... - ele encostou sua testa na minha, voltando a me olhar nos olhos. - Mas eu não vou fazer isso.
- O quê? Por quê? - perguntei, surpresa por aquela atitude.
- Porque eu quero agir certo. Eu acabei de te dizer que vou me separar de e não quero que você tenha uma impressão errada de mim. Eu não quero que você me veja como o cara que traí a esposa na primeira oportunidade que aparece e, apesar de algo ter rolado entre a gente algumas vezes, eu sei que errei e peço desculpas por isso.
Sorri, não acreditando no que estava ouvindo. Que eu e ele estávamos próximos, é verdade, mas ainda assim, minha confiança nele não existia pelo simples fato de que ele continuava cometendo os mesmos erros e, mesmo que eu soubesse que ele e estavam em crise, ainda assim não era motivo para ele agir daquela forma. Tudo bem que eu também não tinha agido muito certo, afinal, eu tinha permitido que, o quer que seja que eu ainda sentia quando estava por perto, afetasse o meu julgamento de certo e errado e, consequentemente, minhas ações. Mas, era bom saber que ele tinha percebido e reconhecia que o que ele estava fazendo era errado e, o mais importante: ele estava disposto a mudar.
- Eu... Eu não sei o que dizer - fui sincera.
- Não precisa dizer nada. - ele colocou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, ainda mantendo contato visual. - Eu sei que provavelmente não tenho mais nenhuma chance com você, mas se você me vir como uma pessoa diferente já vai fazer uma grande diferença. Talvez... Só talvez, eu ainda seja capaz de te reconquistar.
- Eu não vou te impedir de tentar desde que você realmente esteja tentando mudar.
- Eu estou e vou provar para você. - garantiu ele.
O abracei em resposta. Talvez as pessoas sejam capazes de mudar, afinal.
A música acabou e decidimos que seria melhor procurar algum lugar para sentar. Eu ainda precisava processar direito tudo o que ele havia me dito e o que aquilo afetava na minha vida, porém eu deixaria para fazer aquilo quando estivesse sozinha.
- Eu vou ao banheiro. - declarei, parando na metade do caminho.
assentiu e eu me afastei, deixando-o para trás. Subi as escadas da enorme mansão, deduzindo que o banheiro ficava em algum lugar do primeiro andar. Assim que cheguei no topo das escadas, percebi que a procura seria mais difícil devido ao enorme número de portas que tinha naquele imenso corredor. A decoração era a mesma e tinha alguns quadros lindos pendurados na parede; as portas eram brancas e possuíam detalhes que não deixava dúvida de que elas tinham sido caras.
Decidi arriscar e saí abrindo de porta em porta em busca do banheiro. Algumas delas estavam trancadas, o que facilitou na procura. Quando encontrei, tranquei-me no local e parei em frente a pia, me olhando no espelho. As coisas na minha vida tendiam a sair do controle e eu sempre tinha que achar uma maneira de não fazer besteira, o que nunca dava certo - o que aconteceu com Oliver está aí para comprovar. tinha acabado de se separar da e eu sabia que ele não estava apaixonado por mim, assim como eu não estava mais apaixonada por ele, mas, ainda assim, eu ainda o dei esperança e o fiz acreditar que poderíamos ter algum tipo de futuro. Bem, não custa nada deixá-lo tentar, certo? Eu tinha deixado meus sentimentos por Oliver de lado, mas isso não significava que eu tinha o esquecido e, se me oferecer essa proeza, eu serei mais do que grata.
Depois de alguns minutos, cheguei à conclusão de que ficar trancada dentro do banheiro não iria me dar as respostas que eu precisava. Saí do banheiro e segui o caminho de volta para o andar de baixo. De cima do lance de escadas dava para ver todas as pessoas que estavam no local e não demorou muito para que eu identificasse Oliver e no meio deles. Ambos dançavam bem juntinhos e vez ou outra trocavam beijos nada discretos. Senti inveja daquilo por um momento, pois era algo que eu queria ter, mas nada parecia dar certo para mim. O motivo da minha vida ser tão complicada era algo que ainda queria descobrir.
Desviei o olhar do casal e desci os degraus, traçando meu caminho até onde sabia que estaria.
- Já estava começando a achar que tinha sido raptada. - ele brincou quando me viu.
- Quase, mas ainda sei me defender. - entrei na brincadeira.
- Não duvido disso.
Sentei-me ao seu lado no sofá e peguei a bebida que ele me oferecia. Era muito bom saber que amanhã não teria que acordar cedo e ouvir os gritos de Trevor durante o dia todo.
- Ainda não acredito que acabou. - disse, atraindo a atenção dele para mim.
- O tempo passou rápido, mas agora vem a parte mais difícil: as entrevistas.
- Nem me fale. Já posso imaginar o tipo de perguntas que eles vão fazer.
- Como é trabalhar com o ex? - perguntou ele, imitando a voz de uma repórter.
- Muito chato. Tive vontade de afogá-lo muitas vezes. - respondi, entrando na brincadeira.
riu, fazendo com que eu risse também.
- Pensando melhor, podemos tirar proveito da situação e criar momentos que vão render boas risadas.
- Com certeza. - concordei.
O telefone dele começou a tocar e ele o tirou do bolso para ver quem era. Como estava do seu lado, consegui ver o nome de piscando na tela. O sorriso de sumiu e ele suspirou, provavelmente prevendo que mais problema vinha pela frente. Não precisava estar na mente dele para saber disso. só vinha causando dor de cabeça ultimamente e agora as coisas só piorariam com a separação.
- Acho melhor eu voltar para casa. - ele falou, se levantando.
- Você tem certeza? - perguntei, preocupada.
- Eu sei que ainda vai estar lá, mas a Dulcie também está e eu não posso abandoná-la. Ela vai sentir minha falta e não quero que encha a cabeça dela de besteira.
- Eu entendo. - sorri, compreensiva. - Se precisar de um lugar para dormir, minha casa vai estar a sua disposição.
- Obrigado, .
Ele levantou e eu o acompanhei. Também iria para casa.
Nós despedimos do pessoal e de Trevor com um abraço apertado e um até logo, já que eu sabia que nos veríamos mais vezes em entrevistas e outros eventos relacionados ao filme.
e eu andamos lado a lado até os nossos carros, que, por coincidência, estavam um ao lado do outro.
- Tome cuidado. - falei, quando ele abriu a porta do meu carro para mim. Entrei o veículo e fechei a porta. se apoiou na janela para que conseguisse me ver.
- Tomarei. é louca, mas acho que ela não vai me fazer nenhum mal.
- Mesmo assim... Qualquer coisa me ligue.
- Pode deixar.
Ele se inclinou para depositar um beijo em minha bochecha. Em seguida se afastou, e eu liguei o carro. Acenei para ele uma última vez, antes de seguir meu caminho para fora da casa.
Entrei no meu apartamento aparentemente vazio e joguei minha bolsa em cima do sofá, antes de seguir para a cozinha. Abri a geladeira, tirei a garrafa de água e bebi, sem me importar em pegar um copo.
- Que nojo! - minha irmã apareceu do meu lado, me assustando. - Eu bebo água dessa garrafa, !
Coloquei a garrafa de volta na geladeira e virei para encará-la.
- Deixe de besteira. Eu sei que você faz isso também. - acusei.
Ela abriu a boca para responder, mas desistiu quando viu que eu tinha razão.
- Odeio quando você usa minhas ações contra mim mesma.
- É tudo questão de igualdade, irmãzinha. - retruquei ironicamente e segui caminho para a sala com ela me seguindo.
- Como foi o último dia de gravação?
- Foi bom... Quando acabou, Trevor nos convidou para ir à sua casa. Era lá que eu estava até agora. - sentei-me no sofá e liguei a TV. - Acredita que Trevor chorou?
- Mentira! - ela começou a gargalhar.
- Sério! Chorou igual a uma menininha. - falei, fazendo-a rir ainda mais.
- Queria ter visto isso.
- Isso é o mínimo! Acredita que ele é casado?
Ela abriu a boca, chocada com a informação. Não era para menos; não dava para acreditar que eu trabalhei para ele por meses e sequer sabia que ele tinha uma esposa.
- E você nunca percebeu uma aliança no dedo dele? - perguntou ela.
- Acredita que não?
- Acredito. - ela balançou a cabeça em desaprovação. - Nunca vi tão distraída.
Apesar de sempre querer, nunca levei minha irmã até o set e, tenho certeza de que esse era o tipo de detalhe que ela notaria.
- Em minha defesa, eu não fui a única que não percebi.
- São todos distraídos, então. - declarou.
Decidi não discutir, ou iríamos ficar debatendo o assunto pelo resto da noite.
- Já está tarde. - comentei, após verificar que já se passava das duas da madrugada. - Acho que vou dormir.
- Eu também. Estava só esperando você chegar.
Levantamos do sofá e seguimos pelo corredor até os nossos quartos.
- Boa noite, irmã.
- Boa noite, .
Entrei no meu quarto e tranquei a porta. Olhei para minha cama, ficando tentada em me jogar na mesma e dormir como uma criança, mas aquela roupa estava grudada na minha pele e eu não conseguiria dormir se não tomasse um bom banho antes.
Tomei uma ducha rápida, mas que me deixou sentindo nova em folha e pronta para dormir o quanto quisesse já que não teria que trabalhar no dia seguinte. Vesti um shortinho e uma blusa larga e em seguida me joguei na cama e fechei os olhos, deixando que o sono me envolvesse.
xXx
- Bom dia! - cumprimentei minha irmã que estava sentada na sala, vendo algum programa que não prestei atenção.
- Você quer dizer boa tarde, né? - respondeu ela, a voz carregada de ironia.
Dei de ombros e entrei na cozinha, abrindo a geladeira e procurando algo para comer; meu estômago praticamente gritava por comida.
- O que vai fazer hoje? - ela perguntou alto o suficiente para que eu a escutasse.
- Não tenho nada planejado.
- Mamãe convidou a gente para o jantar.
- Ótimo! Então pode dizer a ela que iremos.
Já fazia um tempo que eu não visitava minha mãe e eu já estava sentindo sua falta.
Peguei os ingredientes necessários para se fazer uma macarronada. Não estava com paciência para preparar algo mais complexo e minha fome também não deixava.
- Quando é que você vai contratar uma empregada mesmo?
entrou na cozinha minutos depois.
- Eu consegui alguns números e vou te deixar encarregada de contratar uma, tudo bem?
- Você está falando sério?!
- Estou.
- E por que você não me disse isso antes, criatura? Já teríamos uma empregada há tempos!
- Eu tinha muita coisa na cabeça e não pensei nisso. - admiti.
E aquilo era verdade. Tinha ficado tão presa no meu próprio drama com Oliver e que esqueci completamente das outras coisas que devia fazer.
- Me passa logo esses números que eu vou ligar agora mesmo!
- Você está mesmo desesperada por uma empregada. - ri, achando engraçado todo aquele alvoroço.
- Você já olhou para esse apartamento? É enorme! Estou cansada de arrumá-lo todo santo dia.
Revirei os olhos. Minha irmã tendia a ser muito dramática. Comigo fora o dia todo, não tinha muito o que arrumar. Ela só tinha preguiça mesmo.
- Os cartões estão na minha bolsa. Pega lá.
Ela saiu praticamente correndo em direção ao meu quarto, deixando-me sozinha preparando o que seria o nosso almoço. Não que ela fosse de muita ajuda caso tivesse ficado. Enquanto preparava o molho do macarrão, me ocorreu o quão era estranho ter que ficar em casa agora que as gravações tinham acabado. Tudo bem que não seria assim todos os dias, mas ainda assim, era estranho. A pior parte de tudo isso? Não ter Oliver ao meu lado para me tirar do tédio.
Sim, eu ainda sentia falta dele e, mesmo depois de tudo que aconteceu entre a gente, mesmo eu ainda tendo sentimentos por ele e mesmo depois dele ter dito aquelas coisas para mim, eu ainda o queria ao meu lado. Oliver não era apenas meu melhor amigo, ele era meu agente, eu confiava meu trabalho nele e agora eu teria que confiar a outra pessoa justamente pelo motivo de que ele não estava mais ali para mim.
Balancei a cabeça espantando tais pensamentos. Era incrível a minha capacidade de mudar minha linha de raciocínio dentro de segundos. Se eu achava difícil acompanhar meu próprio pensamento, quem dirá os outros que conviviam comigo.
- Pensando na morte da bezerra? - minha irmã falou, atraindo minha atenção. Nem tinha percebido que ela tinha voltado.
- Estava pensando em Oliver.
- Você nunca me contou o que realmente aconteceu entre vocês.
- É complicado. - despejei o macarrão em uma travessa e coloquei em cima da mesa da cozinha. Minha irmã tratou de pegar os pratos e os talheres, enquanto eu pegava o refrigerante dentro da geladeira.
- Eu sou sua irmã. Você sabe que pode me contar tudo, né?
- Eu sei. – suspirei, decidindo se contava ou não para ela. Detestava despejar meus problemas em cima de outras pessoas. - Eu me envolvi demais e Oliver não soube lidar com isso.
- Você quer dizer que se apaixonou? - ela arregalou os olhos. Mordi o lábio e assenti timidamente. Era a primeira vez que eu estava contando para alguém além do o ocorrido com Oliver. - E ele pulou fora? - assenti mais uma vez. - Mas que filho de uma puta!
- A culpa foi minha. - ela franziu o cenho ao ouvir minha afirmação. - Não devia ter me apaixonado por ele. Eu sabia desde o começo que não devia, tínhamos combinado isso, éramos amigos com benefícios e nada mais.
- ... Você deveria saber que isso nunca termina bem.
- Eu sei, mas achei que com a gente fosse diferente.
Ela balançou a cabeça em reprovação. Eu sabia que ela estava pensando que eu tinha sido burra por ter acreditado naquilo. Eu me achava burra e me culpava por isso todo dia.
- Mas isso não justifica a forma que ele lidou com isso. - ela falou em minha defesa. - Ele não teve nenhuma consideração por você ou pela amizade que vocês tinham.
Aquilo era verdade. A forma como ele tratou aquilo deixava claro que minha amizade não era importante para ele como eu achava.
- Não quero mais falar sobre isso. - suspirei. Falar daquele assunto só me deixava ainda mais deprimida e eu detestava me sentir daquela forma por algo que não tinha mais solução.
- Vamos mudar de assunto, então. - propôs. - Eu liguei para duas agências de empregadas e eles vão mandar algumas para fazer a entrevista amanhã!
- Nossa, que rápido! – exclamei, impressionada.
Minha irmã não brincava em serviço mesmo.
- Ajuda bastante quando a casa é de uma pessoa famosa.
- Ah, para. Eu não sou famosa assim, minha carreira praticamente começou agora.
- Você não tem mesmo noção, né? - ela riu em negação e pegou o celular em busca de algo. A observei com curiosidade e alguns segundos depois ela virou a tela para que eu visse. Meu perfil do Twitter que eu sequer lembrava que existia estava aberto e o número de seguidores que eu tinha ganhado desde a última vez que tinha visto era absurdamente grande. Eram quase dois milhões de seguidores, algo que eu sequer imaginei que seria possível para mim.
- Como isso aconteceu? - perguntei boquiaberta.
- Agora você sabe o seu nível de popularidade. Black Widow é um dos filmes mais aguardados do ano e, irmã, você é a protagonista; não deveria estar tão surpresa assim.
Peguei meu celular e abri o Twitter, indo diretamente para as menções. O tanto de pessoas me enviando tweets por segundo era incrível e, meu Deus, eu me senti maravilhada e assustada ao mesmo tempo. Ver que as pessoas estavam ali me elogiando e não me xingando, como acontecia quando estava com , era muito recompensador e fazia tudo o que eu passei nos últimos meses valer a pena.
- Eu sabia que o filme era grande coisa, mas definitivamente não imaginava que seria algo assim.
- Já vi que você vai ficar encarando o celular por um bom tempo, então vou ser uma ótima irmã e lavar a louça do almoço.
Não respondi. Estava muito concentrada em ler aqueles tweets com calma para não perder algum de vista. Sem me dar ao trabalho de tirar a louça suja da mesa, me levantei e caminhei para a sala, me jogando no sofá ainda com o celular em mãos. Um sorriso bobo aparecia em meu rosto a cada tweet que eu lia e eu comecei a responder alguns, favoritar outros ou até mesmo retweetar.
“ e Knowles são a combinação perfeita para esse filme. Mal posso esperar para assistir! #BlackWidow”
“Confesso que mal posso esperar para ver contracenando com . Eles eram perfeitos como casal! #BlackWidow”
Ri muito com esse último tweet. Era engraçado ver que ainda tem gente que imaginava eu e como um casal mesmo depois de quase três anos separados. Acho que da mesma forma que tem aqueles que odiavam a gente como um casal até hoje, também tem aqueles que amavam.
O celular em minhas mãos começou a vibrar de repente e a foto de apareceu na tela, indicando que aquela era uma ligação de vídeo. Deslizei o dedo na tela, atendendo.
- Vi que está ativa no Twitter novamente.
- Minha irmã me mostrou meu perfil e eu enlouqueci. Eu estou com quase dois milhões de pessoas me seguindo! Tem noção do tanto de gente que acompanha meu trabalho?
Ele riu, provavelmente achando todo aquele meu espanto engraçado. Claro que era, para ele aquilo era mais que normal.
- Você se acostuma. - respondeu por fim. - Mas é bom que você interaja com os fãs. Eu faço isso às vezes e não custa nada fazê-los felizes, né?
- A felicidade deles é a minha felicidade.
E era mesmo. Saber que eles estavam ali me apoiando e felizes, me fazia não só feliz, mas também fazia com que eu me sentisse completa.
- Como está sendo o primeiro dia de férias? - perguntou ele, mudando de assunto.
- Estava um tédio, mas o Twitter me salvou.
- Ah, achei que eu tivesse te salvado. - ele fez um bico de desapontamento, que, na minha opinião, era fofo e engraçado.
- Meus fãs chegaram primeiro. - debochei e ele deu língua. - Meu Deus, quantos anos você tem? Dois? - ele fechou a cara, o que me fez rir mais ainda.
- Você está muito engraçadinha, .
- Errado. Só estou de bom humor, então aproveita.
Ele sorriu em resposta. Ele ficava lindo sorrindo, pena que isso não acontecia frequentemente.
- Como estão as coisas? - perguntei depois de uns segundos em silêncio.
Qualquer resquício de sorriso em seus lábios desapareceu e ele suspirou, demonstrando seu descontentamento por ter que falar sobre o assunto.
- Ontem foi a pior noite da minha vida. - ele começou. - Assim que pus os pés em casa, começou outra briga e ficou reclamando no meu ouvido a madrugada inteira.
- Eu sabia que ela não ia aceitar o divórcio numa boa.
- A pior parte é essa, porque eu não queria ter que resolver isso na justiça.
- Sinto muito.
- Eu mereço isso pelo que fiz com você. - ele respondeu. - Se esse é o castigo que tenho que pegar, que assim seja.
- O que aconteceu com a gente não tem nada a ver com o seu casamento com ela. Você não tinha ideia de que estava se casando com uma louca, assim como eu não imaginava que nunca tive uma melhor amiga.
- Só espero não ter que aguentá-la por muito tempo. Só estou aqui ainda por causa da Dulcie.
- E onde ela está?
- ? - assenti. - Saiu. Não me disse para onde ia e, também, não me importei de perguntar.
- Ela levou a Dulcie?
- Não. Ela está assistindo televisão.
Suspirei aliviada. Do jeito que era louca, não dava para confiar nela sozinha com uma criança de dois anos.
- Eu sei que não deveria me meter mas... Não seria melhor se você ficasse com a Dulcie?
- Eu pensei nisso também, mas não sei o que fazer. Já estou me separando da , não quero que ela ache que estou tomando a filha dela também.
- Dulcie também é sua filha e, sinceramente, não sei se é confiável com uma criança, mesmo que seja a filha dela.
- Não sei. Vou falar com meu advogado.
- Desculpa por me meter.
- Que isso! Você faz parte da minha vida e sua opinião é muito bem-vinda.
- Só não quero que você ache que estou me intrometendo demais. - me justifiquei.
- Não penso isso de você.
- Tenho que desligar. Tenho que sair daqui a pouco e sequer comecei a me arrumar.
- Certo. Beijos.
- Se precisar de mim, pode me ligar, okay? - ele assentiu, concordando. - Beijos.
Como já não era surpresa, demorei mais de duas horas para terminar de me arrumar. Minha irmã estava sentada na minha cama há quase meia hora completamente pronta e impaciente por ter que me esperar.
- Se você não demorasse tanto para escolher a roupa que vai vestir, nós já estaríamos na casa de mamãe há muito tempo.
- Estou quase terminando. - falei pela décima terceira vez em menos de dois minutos. Terminei de passar o batom nos lábios e analisei meu reflexo mais uma vez antes de me virar para ela. - Pronto.
- Aleluia! - ela levantou da cama exasperada. - Já estava considerando ir embora e te deixar aqui.
- Você não ousaria me abandonar.
- Não duvide de mim, maninha.
Revirei os olhos e a segui para fora do quarto. Tranquei a porta do apartamento ao passar e segundos depois, estávamos no elevador, descendo para a garagem. Seguimos até o meu carro e entramos, eu no banco do motorista e na do passageiro.
- Você deveria me deixar dirigir seu carro alguma vez. - comentou quando já estávamos a caminho da casa da nossa mãe.
- Nem pensar. Você tem o seu carro. No meu bebê, só eu que dirijo.
- Nossa, que egoísta!
Revirei os olhos e não a respondi. Até parece que ela deixaria eu dirigir o carro dela se eu pedisse. O caminho até a casa da minha mãe era curto, então não demoramos a chegar.
Foi a maior alegria quando ela nos viu, pois realmente fazia tempo que eu tinha a visto e eu sei bem que ela ainda sente falta de ter morando com ela. Josh e os filhos dele também estavam lá, então a alegria foi três vezes maior.
- Senti a falta de vocês. - abracei os dois pequenos, recebendo um abraço apertado em retorno. Eu amava crianças e, agora que estava de férias, tentaria passar mais tempo com meus sobrinhos.
Sem mais delongas, minha mãe chamou todos para comer. Minha barriga roncou e minha boca salivou só de sentir o cheiro da minha comida favorita. Minha mãe era demais!
- Isso está uma delícia! - falei, enquanto mastigava a comida.
- Finalmente uma comida decente - alfinetou e eu a fuzilei com os olhos.
- Minha macarronada é uma delícia, tá legal? - defendi-me.
- E é tudo que você sabe fazer. - Josh falou e minha irmã riu. - Não sei como conseguiu se virar dois anos na Itália.
- O que é isso? Um complô contra mim? - fiz bico e todos riram. - Não é como se você soubesse cozinhar também, né, maninha? - alfinetei e na mesma hora o sorriso sumiu de seu rosto.
- Não precisa jogar na cara; assim você machuca meus sentimentos.
Tivemos um momento de silêncio encarando uns aos outros e então caímos na gargalhada.
O jantar foi assim, cheio de gargalhadas e risadas. Sentia saudade de passar mais tempo com a minha família e agora que eu tinha tempo, iria aproveitar. Depois do jantar nos juntamos na sala para conversar. Descobri que Josh e a esposa estavam planejando em fazer uma festa de aniversário de 10 anos de Lauren e imediatamente me voluntariei para ajudar em qualquer coisa que eles precisassem.
- Como está Oliver, ? - minha mãe perguntou, de repente.
- É, faz um tempo que não o vemos. - meu pai completou.
Olhei para minha irmã, imediatamente me sentindo desconfortável. Eles ainda não sabiam que eu e Oliver não éramos mais amigos e nem eu queria que eles soubessem. Meus problemas eram só meus.
- Ele está bem… Só está um pouco ocupado e tal. - falei, já querendo acabar logo com aquele assunto.
- Ah, entendo. Diga a ele que venha me visitar quando puder, estou com saudade dele.
Forcei um sorriso e assenti, dando aquele assunto por encerrado. Minha irmã quase que de imediato começou a tagarelar sobre coisas da escola e eu não pude ficar mais grata a ela por isso.
xXx
- Nossa! Achei que ela não fosse nos deixar sair mais. - falou, se jogando no sofá.
- Você é muito reclamona. - me joguei ao seu lado e ela ligou a TV, deixando em um canal de clipes.
- Sou mesmo.
Ficamos em silêncio, ambas olhando para o que passava na tela da TV. Bom, pelo menos parecia estar prestando atenção, porque seja o que for que estivesse passando não estava conseguindo minha atenção. Não pude deixar de me perguntar como estaria naquela casa com . Saquei meu celular e procurei seu nome na lista de contatos, pensando se deveria ou não lhe enviar uma mensagem.
“Como você está?”
Digitei e apertei o botão de enviar. Fiquei olhando para tela e segundos depois apareceu que ele estava digitando.
“Bem… Na medida do possível. E você?”
“Cansada. Acabei de chegar da casa de minha mãe…”
Enviei e comecei a digitar outra mensagem.
“Ela chegou?”
Passaram-se alguns minutos, até eu receber sua resposta.
“Sim… Infelizmente.”
Suspirei, imaginando como ele estava vivendo um verdadeiro inferno morando naquela casa.
“Eu queria ir embora, mas não queria deixar a Dulcie…”
Eu conseguia entender que ele estava em um dilema, mas uma hora ou outra ele ia ter que sair daquela casa, pois era óbvio que não sairia de lá.
“Você falou com o advogado?”
A resposta dessa vez demorou mais que cinco minutos, mas ela veio.
“Falei. Ele disse que minha situação é complicada, mas que vai ver o que pode fazer em relação à Dulcie. De uma maneira ou de outra, isso vai ter que ser resolvido na justiça.”
Me senti mal por ele. não merecia nada disso.
“Tudo vai se resolver, você vai ver. Se precisar de mim, é só me ligar.”
- se separou de ? - a voz da minha irmã bem próxima a mim me assustou e a olhei com os olhos arregalados. estava praticamente debruçada por cima de mim, olhando para tela do meu telefone.
- Deixa de ser curiosa! - digitei um boa noite rápido para e bloqueei a tela, deixando o aparelho de lado.
- Você estava tão entretida que eu fiquei curiosa mesmo. - respondeu ela na cara de pau. - Por que eles estão se separando?
- Isso não é da sua conta, .
- Nossa! Só queria saber…
- Porque é curiosa - revidei. - Mas a vida não é minha, então não vou te contar nada.
Ela fez um bico emburrado e voltou a olhar para a televisão.
- Não sabia que estava tão amiga do . - ela alfinetou.
- Sim, estamos amigos. Qual o problema?
- Nenhum. Apenas uma observação. - ela ergueu as mãos declarando inocência. Cerrei os olhos, não acreditando em toda aquela inocência. Eu a conhecia muito bem para saber que ela estava pensando coisas, mas preferi ignorar.
- Bom, já está tarde e eu vou dormir. - levantei-me do sofá, antes que ela voltasse a me fazer perguntas inconvenientes. - Boa noite.
- Boa noite. - a ouvi responder, quando já estava no corredor. Dei uma última olhada para ela antes de seguir meu caminho para o meu precioso quarto.
xXx
As semanas seguintes foram completamente maravilhosas. Eu e minha irmã tínhamos contratado uma empregada e o apartamento brilhava ainda mais, além das comidas preparadas que eram dos deuses. Trevor ainda não tinha entrado em contato para falar sobre entrevistas então estava aproveitando o máximo que eu podia. Passei mais tempo com minha família e minha irmã do que tinha conseguido passar nos últimos meses e aquilo me deixava extremamente feliz, até porque eu sentia uma falta enorme desses momentos com a minha família. Minha mãe às vezes ainda perguntava de Oliver, mas eu conseguia desviar o assunto para qualquer coisa. Fazia dias que eu sequer tinha notícias dele ou de e eu preferia deixar dessa forma, pois não queria que feridas fossem reabertas.
- Nem acredito que você quis fazer compras comigo. - falou superanimada.
- Eu cumpro o que prometo, irmã.
Estávamos no shopping há algumas horas e já tinha perdido a conta de quantas lojas já havia entrado para comprar qualquer besteira que fosse. Não era muito fã de ficar fazendo compras, mas eu tinha prometido a minha irmã e, bem, até que estava sendo divertido, tinha que admitir.
- Acho que devíamos ir ao salão. Seu cabelo está precisando de um tratamento.
Olhei meu reflexo no vidro da vitrine da loja e fiz careta ao constatar que ela estava certa. Antes eu não me preocupava muito porque tinha meus cabeleireiros no set, mas agora que o filme tinha acabado, meu cabelo tinha deixado de ser cuidado e eu admitia que queria me livrar daquele loiro e voltar para o meu amado ruivo.
- Tem razão. - concordei, por fim.
Ela deu um gritinho animado e soltou a peça de roupa que estava na mão, segurando em meu braço e me puxando para longe dali. Andamos um pouco até achar um salão e, logo, entramos no mesmo. Minha irmã optou por fazer as unhas, enquanto eu tratava do meu cabelo. Aproveitei para fazer as unhas também. Cuidar de si mesma nunca era demais, certo? Certo.
Encarei meu reflexo no espelho e sorri, aprovando o que via. Depois de meses, meu cabelo ruivo estava de volta e agora ele não iria mais embora. Aproveitei para dar um corte no meu cabelo, deixando-os na altura dos ombros, já que tinha gostado da outra vez que meu cabelo tinha ficado daquele tamanho.
Um grito fino chamou minha atenção e eu virei o rosto, vendo minha irmã dar um chilique no meio do salão. Meu Deus, ela era a rainha do exagero.
- Você ficou ainda mais linda! - ela disse ao se aproximar.
- Eu fico linda de qualquer forma, meu amor. - fiz pose e ela gargalhou.
Pagamos pelo serviço e saímos do salão.
- Estou faminta. - reclamou.
- Eu também.
Seguimos caminho para a praça de alimentação e entramos em uma das filas para comprar algo para comer.
- ? - virei em direção a voz e franzi o cenho ao não reconhecer a pessoa. Era uma menina que aparentava ter seus 20 anos.
- Sim?
- Ai meu Deus! É você mesmo! - ela exclamou e abriu um sorriso largo. - Eu sou mega fã sua! Posso tirar uma foto com você? - ela pediu.
Abri um sorriso e balancei a cabeça concordando. A menina sacou o celular e se aproximou de mim. Fiz pose e ela tirou uma selfie de nós duas.
- Qual é o seu nome? - perguntei.
- Hannah. - respondeu ela.
- É um prazer te conhecer, Hannah.
- Nem acredito que te conheci! Estou super ansiosa para ver o seu filme!
- E eu estou ansiosa para que você veja. Espero que goste.
- Tenho certeza de que vou adorar! - respondeu ela, sorrindo. - Er… Posso te dar um abraço?
- Mas é claro! - abri os braços e ela me abraçou fortemente.
- Obrigada - ela disse, quando nos afastamos.
- Eu que te agradeço pelo carinho. - sorri. A abracei mais uma vez e ela sorriu, se afastando em seguida. Olhei para minha irmã e ela sorria abertamente. Assim como eu, ela também ficava feliz por ver que meu trabalho estava sendo reconhecido.
xXx
- Aquela comida estava uma delícia! - minha irmã falou, assim que entramos em casa carregando várias sacolas.
- Estava mesmo. - concordei.
Coloquei minhas sacolas em cima do sofá e fui direto para cozinha. Precisava beber água urgentemente.
- Vou tomar um banho! - ela gritou da sala e logo ouvi seus passos pelo corredor.
Tomei minha preciosa água e coloquei o copo na pia. Caminhei de volta para a sala e peguei as sacolas para levá-las para meu quarto. A campainha tocou e eu cerrei meus movimentos, largando as sacolas novamente no sofá. Franzi o cenho, tentando imaginar quem podia ser, já que não estava esperando ninguém. Girei a maçaneta e abri a porta, dando de cara com alguém que imaginei que não veria nunca mais; pelo menos não na minha porta.
Fiquei estática. Minha boca abriu e fechou várias vezes, mas nenhum som saia de minha boca. Não dava para acreditar no que eu estava vendo, não podia ser real.
- O-Oliver? - gaguejei. Respirei fundo, tentando me controlar e voltar ao normal. Meu coração acelerado no peito dizia-me que me controlar não era possível. - O que está fazendo aqui?
Capítulo 12
Meu mundo parou.
Sim, essa era a única forma de descrever a forma como eu estava me sentindo naquele momento. Oliver não me respondeu de imediato, talvez estivesse tão extasiado quanto eu com aquele momento, não sei. Sua feição era completamente indecifrável e era impossível saber o que se passava por sua cabeça.
Aproveitei o momento para o observá-lo como não fazia há algum tempo. Ele vestia uma camisa de botão branca, calça jeans e um tênis de marca, o cabelo estava bagunçado do jeito que eu gostava. Ele estava lindo de morrer, mas aquilo não era novidade. Subi o olhar, encontrando sua íris azul me encarando de uma forma estranha. Era horrível não saber mais o que os olhares dele significavam, não saber mais nada sobre ele. Ele, agora, era um completo estranho para mim.
- Oi - ele finalmente falou. - Eu vim entregar o calendário de entrevistas do filme para o próximo mês.
Só então notei que ele segurava um envelope nas mãos.
Ah, claro. Ele ainda era meu agente, tinha esquecido desse detalhe.
- Ahn... Obrigada - disse, pegando o envelope que ele me estendia. - E não se preocupe, eu vou achar um outro agente.
Ele franziu o cenho, surpreso. Ele parecia não esperar que eu falasse aquilo.
Céus! As coisas entre nós estavam tão estranhas, que um mero diálogo fazia com que eu desejasse cavar um buraco no chão, me jogar lá dentro e nunca mais sair.
- Você não... - ele começou a falar, mas parou, suspirou e fechou os olhos, logo os abrindo novamente. - Será que podemos conversar?
Arregalei os olhos, pega de surpresa. Meu coração acelerou e eu pisquei algumas vezes, ainda sem acreditar. Oliver querendo conversar? Aquilo só podia ser um sonho!
- Claro - segurei a vontade de sorrir e me afastei em sinal para que ele entrasse. - Quer entrar?
Ele assentiu e adentrou o apartamento. Fechei a porta com o coração na mão e me virei, encarando-o. Oliver sentou no sofá e apontou para a poltrona, indicando que eu deveria me sentar também. Fiz o que ele pediu e fiquei esperando ansiosamente ele começar a falar.
- Você não precisa mudar de a gente por causa do que aconteceu entre nós - franzi o cenho confusa e surpresa com aquela declaração. Achei que depois daquele dia, tudo o que ele quisesse de mim fosse o máximo de distância possível.
- Desculpe, mas eu não entendi.
- Eu sei que não estamos no nosso melhor termo e eu sei que não tenho te tratado bem, mas você sabe muito bem que eu não misturo o profissional com o pessoal.
- Sim, eu sei - disse pausadamente. - Mas acho que você não entendeu o verdadeiro problema aqui. Não acho que eu vá conseguir continuar trabalhando com você depois de tudo que aconteceu, pois, de certa forma, a sombra da nossa vida pessoal sempre vai estar lá.
Ele inclinou a cabeça, provavelmente processando o que eu tinha acabado de dizer. Ele sabia que eu tinha razão. Era impossível trabalharmos juntos depois de tudo.
- Você tem razão - disse, por fim. - Se é o que deseja, pode procurar um novo agente.
Se eu tivesse um sorriso no rosto, teria murchado na hora, porque eu murchei por dentro. Tinha sido tão idiota em sequer cogitar que ele poderia ter vindo se desculpar por ter sido um babaca, quando, na verdade, não tinha chegado nem perto disso. Eu nunca o teria de volta na minha vida, nem mesmo profissionalmente.
- Tudo bem - me levantei. - Se era só isso que você tinha para dizer, pode ir.
Ele me encarou, mas não soube dizer o que ele estava pensando ou o que aquela expressão queria dizer. Foi-se o tempo que eu saberia o que ele queria dizer com apenas um olhar. Meu melhor amigo tinha ido embora e só me restava aceitar. Oliver se levantou e deu dois passos, parando à minha frente.
- Eu sinto que devo te pedir desculpas... Você sabe, por ter agido daquela forma no restaurante e depois no trailer - ele desviou o olhar, parecendo sem jeito, mas logo voltou a me olhar novamente. À essa altura do campeonato, meu coração estava praticamente saindo pela boca. - A culpa foi minha de tudo isso ter acontecido com a gente. Eu não devia ter me envolvido com você, foi um erro bem idiota da minha parte.
E então meu coração murchou novamente, enquanto eu sentia como se estivesse acabado de levar uma facada. Um erro. Era isso que ele achava. Eu tinha sido um erro. Meus olhos marejaram e eu tive que desviar o olhar para que as lágrimas não começassem a cair. Eu não choraria na frente dele, ele não merecia. Caminhei até a porta, abrindo a mesma em um claro sinal de que eu não o queria mais ali. Eu ainda o amava, mas não queria ele na minha vida quando ele achava que eu tinha sido um erro. Olhei para ele com a expressão dura, querendo demonstrar que as palavras dele não tinha me afetado. Ele sabia que tinha. Infelizmente, ele ainda me conhecia bem demais. Oliver deu um suspiro longo e veio em direção à porta. Não ousei olhá-lo quando passou para mim. Eu não queria olhar na cara dele.
- ... - ouvi sua voz baixa, mas não dei tempo para que ele concluísse a fala. Fechei a porta com força em sua cara.
Que Oliver fosse para a puta que pariu.
Me joguei no sofá, deixando que as lágrimas escorressem por meu rosto livremente. Eu não aguentava mais sofrer por quem não me merecia, por quem só me machucava. Estava cansada de ser trouxa, porque era isso que eu era: uma completa trouxa. Senti quando o sofá ao meu lado afundou e eu lembrei que minha irmã estava em casa. Ela, no entanto, não disse nada. Apenas me puxou para um abraço e eu acabei deitando em seu colo. Aquele era o modo silencioso dela de dizer que tudo iria ficar bem e eu não poderia ficar mais grata por isso.
Oliver’s POV
Saí do prédio que morava sentindo um vazio no peito. Era assim que eu me sentia desde que ela tinha me contado que estava apaixonada por mim e eu reagi daquela forma escrota. Eu tinha plena consciência de que tinha sido um completo babaca com ela e achava que nunca seria digno do seu perdão. As coisas entre nós nunca mais iriam ser as mesmas e eu tinha acabado de estragar qualquer chance que eu poderia ter de me redimir com ela.
Fechei a porta do carro com força e girei a chave na ignição, dando partida e deixando para trás a e parte do meu coração. Eu deveria ter pedido desculpas, deveria ter dito que poderíamos voltar a ser amigos, que poderíamos esquecer tudo e começar de novo, mas nada disso eu fiz e estava me sentindo um completo imbecil por isso.
Eu sentia falta dela. Claro que sentia! Sentia falta do seu sorriso, das brincadeiras, das nossas conversas e, pode até parecer loucura, mas eu sentia falta do seu toque e dos seus beijos. Não me entenda mal, eu amo minha namorada e sou completamente louco por ela, mas, sem por perto, eu me sinto incompleto e doía profundamente perceber que a pessoa que a tinha magoado tinha sido eu.
- Merda - soquei o volante com raiva. - Por que você foi dizer que ela tinha sido um erro, seu merda? Por que, hein?
Tinha vontade de dar meia volta e implorar por seu perdão, mas era tarde demais. nunca me perdoaria e ela tinha toda razão. Eu também não me perdoaria se eu fosse ela.
Parei no sinal e peguei o meu celular na intenção de ligar para minha namorada e avisar que me atrasaria um pouco, mas assim que bati os olhos naquela foto, esqueci completamente o que tinha que fazer. Na proteção do meu celular, estava eu e . Ela mantinha um sorriso gigante no rosto, enquanto eu a carregava em minhas costas. Eu me lembrava bem do dia em que tiramos aquela foto. Ela estava na Itália e eu tinha ido a visitar e, em um dos nossos passeios, tiramos aquela foto. O sorriso dela era tão lindo e espontâneo que me fez sorrir também
Droga! Eu sentia falta dela. Não era justo que aquilo estivesse acontecendo com a gente. Não era justo que eu não a visse mais sorrir para mim daquela forma. Eu precisava pedir perdão a ela, precisava ter ela de volta na minha vida.
Sem pensar em mais nada, dei a volta, traçando o caminho para a casa de novamente. Eu não podia mais deixar que as coisas continuassem assim e, mesmo que ela ainda tivesse apaixonada por mim, eu estava disposto a lidar com isso desde que ela estivesse ao meu lado. Eu sei que era um pensamento egoísta, mas eu não ligava. Eu precisava de na minha vida, pois já não sabia mais como era viver sem ela.
Freei bruscamente quando cheguei ao endereço e desci do carro às pressas. Precisava fazer isso logo antes que a coragem fosse embora. Qual era a pior coisa que poderia acontecer? Ela fechar a porta na minha cara, como tinha feito minutos atrás. Passei pelo porteiro e segui direto para as escadas, não iria esperar pelo elevador, já tinha perdido tempo demais.
Quando cheguei ao andar de seu apartamento, corri até a porta e parei para recuperar o ar perdido durante a subida e, quando achei que estava recuperando o suficiente, toquei a sua campainha e fechei os olhos, torcendo para que ela não demorasse a abrir. Os segundos que se seguiram foram os mais agoniantes da minha vida, mas nada superou quando a porta finalmente se abriu e não foi que apareceu e sim sua irmã... Com uma expressão nada contente, só para constar.
- Er... Oi. Será que eu... hm... Posso falar com a ?
- Não! Não pode - ela foi curta e grossa.
- Nossa... - cocei a nuca, sem jeito. Não iria desistir. - É realmente importante.
- É importante que você seja um otário com ela toda vez que vocês se encontram?
Arregalei os olhos. Ela não estava me poupando de nada mesmo.
- Por favor, ...
- Não me chama de - ela disse entredentes. - Não te dei essa liberdade.
- Tudo bem - disse, querendo amenizar as coisas. - Mas eu realmente preciso falar com ela.
- E eu já disse que você não...
- Quem é, ? - ouvi a voz da e logo ela apareceu atrás da irmã. Ela tinha chorado... Por minha causa.
Você é mesmo um idiota, Oliver.
- Esse idiota quer falar com você, mas eu já disse que ele não vai.
Ela assentiu para a irmã e deu as costas, sem ao menos olhar em minha direção. Não. Eu não podia deixar ela ir embora. Ela tinha que me escutar.
- Por favor, . Cinco minutos, é tudo que eu peço.
Ela parou e longos segundos de silêncio tortuosos se passaram enquanto ela parecia se decidir. E então, ela se virou para mim e eu soube que ela iria me escutar.
- Dois minutos.
- Sério, ?! - protestou. a encarou por um segundo e ela bufou, saindo em seguida pisando forte em uma demonstração clara de insatisfação. Voltei a encarar e, agora que estava ali, diante dela, não sabia por onde começar.
- Seu tempo está passando - falou ela. Sua expressão estava neutra, não me deixando saber o que ela estava pensando. era muito fácil de ler, mas ultimamente ela tem sido um enigma e tanto para mim.
- Me desculpa - disse, por fim. - Eu sei que tenho sido um babaca com você - ela ergueu a sobrancelha. - Ok, muito babaca. Eu não sei o que deu em mim, não sei explicar minhas ações e, porra, eu sei que não tenho direito nenhum de vir aqui e pedir para que me perdoe, mas eu sinto sua falta. Pra caralho - terminei de falar e a encarei, esperando a sua reação.
De início, ela não falou nada, nenhum músculo de seu rosto se moveu. Ela continuou me encarando sem expressão e eu estava começando a achar que ela fecharia a porta na minha cara a qualquer momento, mas não foi isso que aconteceu. Ela piscou, uma, duas, três vezes. Eu sabia o que aquilo significava e as lágrimas no canto de seus olhos confirmavam minha teoria. Ela iria chorar de novo... Por minha causa.
- Não, não, não - murmurei, me aproximando dela. - Por favor, não chora. - Em um ato impulsivo, a puxei para os meus braços, a abraçando. Eu alisava os seus cabelos enquanto pedia repetidamente para que ela me desculpasse. No início ela não me abraçou de volta, mas logo seus braços passaram por minha cintura e eu a abracei mais forte, enquanto sentia meus próprios olhos se encherem d’água.
Eu era mesmo um idiota, um babaca, um imbecil e não merecia aquela mulher na minha vida. Se ela não me perdoasse, eu entenderia perfeitamente, pois eu não teria me perdoado se tivesse no lugar dela. Ficamos incontáveis minutos daquela forma, abraçados, até que ela se acalmou mais. Me afastei para encará-la. Ela continuava linda, mesmo com a cara de choro. Sorri minimamente para ela e segurei seu rosto com as duas mãos, para que pudesse olhá-la fixamente nos olhos. - Me desculpa, eu sou um otário.
Ela pôs uma de suas mãos sobre a minha e fechou os olhos por alguns segundos, logo os abrindo novamente.
- Você é mesmo um otário - ela disse, por fim. - Você me machucou muito, Oliver. Disse coisas para mim que nunca imaginei que fosse sair da sua boca, você fez com que eu sentisse como se nossa amizade não tivesse sido nada para você.
- Eu disse muitas coisas que me arrependo, principalmente porque nenhuma delas é verdade, . Você significa muito para mim, muito mais do que você imagina. Eu sei que não tenho direito nenhum de te pedir isso, mas, por favor, me dê uma chance de me redimir com você.
- Tudo bem - ela disse, depois de um longo e angustiante minuto em silêncio. - Mas isso não significa que te perdoei.
Assenti, sabendo que conseguir o verdadeiro perdão dela seria bastante difícil e eu teria que ralar muito. Não importava, eu estava disposto a fazer de tudo para reconquistar sua confiança.
- Eu também senti sua falta - ela murmurou, antes de me puxar para dentro do apartamento e fechar a porta
’s POV
Estava de volta à Los Angeles. As entrevistas de divulgação do filme estavam de vento em poupa e, com isso, eu quase não tinha tempo para respirar. Nos primeiros dias foi fácil, pois a maior parte das entrevistas ocorreram em Londres, mas depois tivemos que viajar para alguns países e, aí a correria tinha começado verdadeiramente.
- Não sei por que você traz tantas bagagens - reclamou, enquanto carregava uma das minhas malas na mão. Eu carregava a outra.
- Ei, foi você que se ofereceu para carregar, então agora aguenta - brinquei.
- Não me provoca, que eu deixo aqui no meio do aeroporto - ameaçou.
- Você não está nem louco - retruquei. Ele riu e balançou a cabeça em negação.
Um táxi já nos esperava na porta do aeroporto e, assim que nos avistou, o motorista desceu do carro e se prontificou para guardar nossas malas. abriu a porta traseira para que eu entrasse e, assim que o fiz, ele também entrou, sentando ao meu lado. Olhei pela janela, vendo os carros passarem por mim, provavelmente muitos deles seguindo o seu caminho para casa já que era fim da tarde. Desejei poder fazer o mesmo, mas teria que me contentar em ficar em um hotel e longe de casa pelos próximos dias.
O motorista entrou no carro e, após passar o endereço para ele, o carro foi ligado e logo estávamos nos movimentando por L.A.
suspirou fortemente ao meu lado, atraindo minha atenção. Ele mexia no celular e digitava rapidamente, o que parecia ser uma mensagem.
- Está tudo bem?
- Estou preocupado com Dulcie - respondeu ele, sem tirar os olhos do aparelho.
- Tenho certeza de que ela está bem - tentei confortá-lo.
Para a situação era bem mais complicada. O divórcio com - que ainda não tinha aceitado - e agora ter que ficar longe da filha de dois anos era realmente algo bastante difícil. Eu não queria estar na pele dele, sinceramente.
- Eu espero que sim - murmurou, bloqueando o celular. Segurei sua mão, tentando passar algum tipo de confiança para ele. sorriu para mim e fechou os olhos em seguida, demonstrando o quanto estava cansado. Eu também estava.
Felizmente, não demoramos para chegar ao hotel. Um dos funcionários nos ajudou com a bagagem do carro, assim eu e pudemos ir despreocupadamente fazer o check-in no hotel. Bem, despreocupadamente até aparecer um problema com as nossas reservas. Aparentemente, o hotel estava lotado e só tinha uma suíte disponível. Que ótimo!
- Mas nós fizemos as reservas dias antes! - protestei.
- Desculpa, senhora. Não sei o que aconteceu, mas os seus nomes não estão aqui no sistema. O máximo que posso oferecer a vocês é a suíte disponível.
- Se você não percebeu, nós somos dois, então precisamos de dois quartos e não de um! - rebati, exaltada. Eu estava cansada, queria dormir e aquele panaca estava dificultando tudo.
- Nós podemos dividir, - interveio. - Eu não vejo problema algum... Você vê?
Eu via? Eu e em um quarto... Sozinhos. Isso não podia resultar em coisa boa, podia? Olhei para cara do recepcionista, desejando que ele dissesse que era uma pegadinha e que eu teria meu próprio quarto, mas ele apenas deu de ombros e eu percebi que não teria outra saída para aquele problema.
- Não, por mim tudo bem - murmurei, derrotada.
O recepcionista sorriu de uma forma que eu tive vontade de esfregar a cara dele no asfalto e começou a digitar algo no computador. Olhei para e ele segurava o riso.
- O que foi? - perguntei, mal-humorada.
- Nada - respondeu ele, tentando ficar sério.
Logo, recebemos a chave do quarto e seguimos para o 3º andar. destrancou a porta e eu praticamente corri para cama de casal, me jogando na mesma. Bem, pelo menos o colchão é confortável. As nossas malas foram colocadas no chão e, após o rapaz sair, fechou a porta e se jogou ao meu lado.
- Estou pensando seriamente em ir dormir e não tomar banho - ele disse, cruzando os braços debaixo do pescoço.
- Ah, mas nem pensar! Não vou dormir com você fedendo do meu lado - reclamei, o empurrando, em vão é claro.
- Ei, eu não estou fedendo - ele protestou. - Você que está.
Abri a boca, chocada com aquela audácia. Eu? Fedendo? Ao ver minha cara, riu e tacou o travesseiro em mim.
- , você quer mesmo me ver enfurecida à essa hora? Eu te coloco para dormir no chão, hein? - joguei o travesseiro com toda a força que tinha em sua cara.
- Ouch! Não tá mais aqui quem falou.
- Muito bem - aprovei e me levantei da cama. - Eu vou tomar banho, mas quando eu sair, você também vai.
Ele resmungou algo que não consegui ouvir, por causa do travesseiro que ainda estava em seu rosto. Catei a primeira roupa que vi na mala e segui para o banheiro para tomar meu maravilhoso banho. Tirei a roupa e entrei no box, ligando o chuveiro em seguida. A água estava tão deliciosa que acabei ficando mais do que pretendia e, quando me dei conta disso, tratei de desligar o chuveiro e sair do box de uma vez por todas. Uma vez vestida, saí do banheiro, apenas para encontrar um quase adormecido na cama. Ah, mas se ele achava que ia mesmo dormir sem tomar banho, estava muito enganado.
- - o cutuquei algumas vezes, até ele abrir os olhos. - Anda, vai tomar banho.
- Ah, fala sério! - ele resmungou e virou-se de lado, pronto para voltar a dormir.
- Estou falando sério - o cutuquei novamente. - Anda logo ou eu vou te empurrar para fora da cama.
Aquilo pareceu o suficiente para ele acordar. Ele se levantou, resmungando algo inteligível e seguiu para o banheiro, fechando a porta com mais força que o necessário. Ri, achando graça daquele comportamento. sabia bem agir como um adolescente malcriado quando queria.
Deitei-me na minha cama, cobrindo meu corpo com o lençol no processo e puxei meu celular. Três ligações perdidas de , uma da minha mãe e uma mensagem de Oliver. Sorri ao ver o nome dele na tela do celular, pois ainda não tinha caído a ficha de que as coisas entre nós estavam voltando ao normal. Cliquei na notificação, abrindo a mensagem.
“Chegou bem em L.A.?”
“Sim, acabei de me deitar. Como estão as coisas?”
Não demorou um segundo e a mensagem foi visualizada. A resposta chegou segundos depois.
“Bem. deve chegar aí pela manhã.”
Suspirei. Precisava trabalhar nos meus sentimentos em relação a esse relacionamento.
“Tudo bem. Por que você não veio também?”
A resposta veio dois segundos depois.
“Tenho algumas coisas para resolver. Mas estou preparando algo para a gente fazer quando você voltar.”
Sorri bobamente ao ver aquela mensagem. Meu coração disparou e eu comecei a imaginar mil e uma coisas.
“O quê?”
“É surpresa.
E não adianta ficar me perguntando que eu não vou contar.”
Fiz bico. Eu odiava ficar curiosa e Oliver sempre gostava de atiçar minha curiosidade.
“Aff. Depois dessa vou dormir. Boa noite.”
“Boa noite, Coisinha.”
Revirei os olhos. Eu ainda odiava aquele apelido com todas as minhas forças. Bloqueei o aparelho e coloquei na mesinha do lado da cama. No mesmo instante, a porta do banheiro foi aberta e saiu com apenas uma toalha enrolada na cintura. Pigarreei desconfortável e virei o rosto, olhando para qualquer outro lugar do quarto que não fosse ele. Ouvi sua risada e me segurei para não olhar para ele novamente. Ele tinha mesmo que desfilar pelo quarto daquele jeito?
Como se achasse pouco, ele fez questão de arrastar a mala dele até a minha frente, ficando novamente no meu campo de visão. Mordi o lábio, ao ver aquele tronco definido e aquela bunda coberta apenas por uma mera toalha... Um puxãozinho e... NÃO! Vamos parando .
- Apreciando a vista, ? - provocou. Meu rosto esquentou e eu tinha certeza de que estava mais vermelha que pimentão.
- Cala a boca - retruquei, mal-humorada. Ele riu, provavelmente achando muito engraçado aquela situação. Grunhi e virei de costas para ele, cobrindo meu corpo até os ombros. não falou mais nada e alguns minutos depois, senti quando o colchão afundou, anunciando que ele estava deitando do meu lado. Fechei os olhos, mas o sono parecia ter ido embora e eu estava completamente desperta. se remexeu ao meu lado e sua pele acabou entrando em contato com a minha e aquilo foi o suficiente para me deixar arrepiada. Encolhi-me e apertei os olhos com força, tentando ignorar a minha parte de baixo que parecia estar bem acordada e começando a ficar molhada. Minha mente me traiu e eu comecei a pensar em mim e naquela cama e nas coisas que poderiam acontecer.
Merda! Isso não ia mesmo resultar em coisa boa.
xXx
- Bom dia - sentei-me a mesa. já tinha chegado e estava tomando café com . - Muito obrigada por me acordar.
- Você merecia descansar – ele deu de ombros.
- Você conseguiu uma vaga aqui? – questionei ao lembrar da noite anterior.
- Não. Estou ficando em um hotel perto daqui - explicou. - me contou o que aconteceu. Que situação, hein?
- Nem me fale - peguei uma torrada sem me importar de quem era e comi. - Ter que aguentar roncando a noite toda não é fácil.
- Ei! - ele protestou. - Desde ontem que ela me ataca injustamente.
riu e eu revirei os olhos.
- Deixa de ser dramático - retruquei e peguei outra torrada agora do prato dele.
- Por que a moça não deixa de roubar minha comida e vai comprar a própria?
- Eu não, prefiro roubar a sua.
Roubei outra torrada e ele revirou os olhos, arrancando risadas minha e de . Acabou que teve que fazer o pedido mais uma vez, porque eu comi quase tudo que estava no prato dele.
Depois do café da manhã, saímos todos para o primeiro compromisso do dia. Teríamos que fazer um photoshoot e uma entrevista para uma revista famosa e, bem, isso duraria no máximo o dia todo.
- Não aguento mais trocar de roupa - reclamou. Essa era a quarta vez que trocávamos de roupa e aquilo já estava tirando minha paciência também.
- Se você que é acostumada com esse tipo de coisa está reclamando, imagina eu, que essa é a minha primeira vez.
- Vocês duas reclamam demais - apareceu e abraçou nós duas pelos ombros. - Só mais algumas fotos e estamos liberados.
- Isso mesmo - Luna, a fotografa, concordou. - Vocês estão maravilhosos. Venham, se posicionem aqui.
Fomos para o lugar que era indicado e ela começou a dar instruções de como queria as fotos. Algumas foram tiradas dos três, outras tirei sozinha, outras com e outras apenas eu e . No fim, acho que as fotos tinham ficado ótimas. Pelo menos, era isso que Luna dizia.
- Pronto, agora vão se trocar. Mia estará esperando vocês para a entrevista.
A primeira entrevista do dia. Respirei fundo e fui trocar de roupa, repetindo mentalmente que eu conseguiria passar por mais aquela, onde as perguntas provavelmente seriam as mesmas. Minutos depois, já com a roupa que eu tinha vindo mais cedo, encontrei com no corredor.
- Preparada para responder as mesmas perguntas? - perguntou ele em tom de brincadeira.
- Não.
- Sabia que sua resposta ia ser essa - ele riu. - Vamos, vai ser divertido.
- Não se empolgue tanto.
- Vamos, tira essa expressão emburrada do rosto.
- Não quero.
- Vai - insistiu. - Vamos, me dê um sorriso.
Me limitei em balançar a cabeça, mas dessa vez eu tentava prender o sorriso e ele sabia disso. Com um sorriso esperto no rosto, ele aproximou as mãos da minha barriga, mostrando que sua intenção era me fazer cócegas.
- Para! - comecei a rir antes mesmo que ele encostasse em mim.
- Olha só para esse sorriso. Agora sim está bom - ele sorriu vitorioso.
- Idiota - retruquei, ainda sorrindo.
- Quer sair para jantar hoje?
Nossa, isso que eu chamo de mudar de assunto bruscamente.
- Quê?
- Sair. Para jantar. Eu e você. Topa?
- Hm... Tipo um encontro?
- É... Tipo um encontro.
Encontro com . Era a primeira vez que ele me chamava para sair desde a sua declaração na festa de despedida de Trevor. Um lado meu achou que ele tinha desistido, mas pelo visto eu estava redondamente enganada. Com tantas coisas acontecendo na vida dele, era óbvio que eu ou qualquer romance não era prioridade. Nem eu queria ser. A filha dele tinha que vir acima de tudo, inclusive de mim. Mas, agora que estávamos ali, ele me chamando para sair, a pergunta que não saia da minha cabeça era: eu quero sair com ele? Afinal, ainda estava casado legalmente com e eu não queria ter nenhum problema ou ficar no meio do divórcio. já me odiava de graça, imagina se soubesse que eu estava saindo com o futuro ex-marido dela? Eu seria caçada e morta. Por outro lado, tinha aquela parte de mim que achava que eu devia sim, dar uma chance à ele, especialmente se eu quisesse superar Oliver de vez. Oh, céus, o que eu faço?
- Desculpa a demora! - apareceu. - Acabei me distraindo no telefone com Oliver.
Quase a abracei por ter me salvado. Eu não sabia o que responder a e não queria dizer algo que me arrependesse depois e fosse tarde demais. Pelo menos, agora eu teria um tempo para pensar melhor.
- Tudo bem - falei e, no mesmo instante, a porta foi aberta e uma mulher apareceu.
- Mia já está pronta para entrevistá-los.
Assentimos e entramos na sala.
O lugar era bonito e a decoração bastante sofisticada, diga-se de passagem. Mia estava sentada em uma poltrona de couro e, assim que nos viu, se levantou para nos cumprimentar.
- Olá! É um prazer tê-los aqui conosco.
- O prazer é nosso - respondeu, sorridente.
- Por favor, sentem-se - ela apontou para o sofá à sua frente e nos sentamos como foi pedido. - Podemos começar?
- Claro - concordei.
- Bem, estamos bastante ansiosos para ver Black Widow nas telonas. O que vocês podem nos contar sobre o filme?
- Bom, o filme é sobre essa mulher viúva e que é uma espiã secreta. O marido dela também era espião e foi morto durante uma missão. A missão dessa garota é infiltrar na vida do suspeito e arrancar o máximo de verdade possível e, por força do destino, o criminoso é o marido da melhor amiga dela - respondeu à pergunta.
- E, deixe-me, adivinhar... Ela se apaixona pelo criminoso?
- Não podemos falar mais nada, ou não vai ter mais graça assistir.
- Tudo bem... Podemos esperar bastante ação?
- Ah, sim! Tem muita cena envolvendo brigas, tiros, todas essas coisas de espião - foi a minha vez de responder.
- Tenho marcas roxas dos golpes da até hoje - brincou.
- Uau! Agora estou ainda mais curiosa para assistir - Mia comentou rindo. - Muitos estão curiosos para saber e pediram para eu te perguntar isso hoje, . - Ih... lá vem. - Como foi contracenar com o seu ex-noivo?
Suspirei antes de responder aquela pergunta pela milésima vez.
- Foi ótimo. é um ótimo ator e eu sempre admirei o trabalho dele. Então, contracenar com ele em um filme como esse foi uma enorme honra.
- Isso não foi um problema para vocês em nenhum momento?
- Não - menti. Tinha sido um problema enorme, pelo menos para mim, mas isso não era algo que eu deveria comentar em uma entrevista. - Eu não via há algum tempo, então quando nos encontramos não foi tão difícil. Soubemos ser profissionais.
- E hoje vocês são superamigos.
- Pois é - finalizei com um sorriso.
- Bem, sabemos que esse é o primeiro grande filme que a participa. Como foi para você, , contracenar com ela? Você teve que dar dicas para ela, ou não precisou?
Me dar dicas? Essa mulher acha que eu sou burra?
- Não tenho o que dizer dela. é uma ótima atriz e, inclusive, no início ela se saía bem melhor que eu. Trevor era só elogios para ela, tanto que até cheguei a ficar com ciúmes do tratamento VIP - ele riu. - Eu posso dizer que aprendi muito com ela e não o contrário.
Sorri diante daquele elogio. era incrível e eu devia muito a ele. Não poderia estar mais agradecida por tê-lo em minha vida. As perguntas continuaram e Mia fez mais perguntas sobre o filme e sobre a vida pessoal da gente. Bem, era o tipo de pergunta que não dava para evitar, mas felizmente eu poderia escolher se podia ou não responder. A entrevista logo chegou ao fim e fomos liberados. Logo, estávamos todos no carro, seguindo para o próximo local de entrevista. Agora era um programa de TV.
Enquanto olhava para a janela do carro, eu pensava no pedido de . Ele não tinha tocado no assunto novamente, mas eu não tinha parado de pensar se deveria ou não aceitar o seu convite. Eu havia listado todos os motivos pelos quais eu não devia aceitar, mas e os motivos pelos quais eu deveria aceitar? esteve do meu lado esse tempo todo, me apoiando quando ninguém mais esteve, nem mesmo Oliver, então, por que eu não dava o dava uma chance? Eu só saberia se ia dar certo ou não se tentasse. Olhei para ele, que, por sua vez, encarava a janela. Estiquei minha mão até a sua e a segurei, chamando sua atenção.
- Eu aceito - foi tudo o que disse, ele sabia bem do que eu estava falando. abriu um sorriso e segurou minha mão, levando-a até sua boca e a beijando delicadamente.
- Obrigado.
Marcava sete horas em ponto no relógio quando terminei de me arrumar. havia terminado bem antes que eu e já tinha deixado o quarto para que eu tivesse privacidade para me arrumar. Parei em frente ao grande espelho e analisei minha roupa pela segunda vez em menos de dois minutos. Eu vestia um vestido vermelho colado, costas nuas e com mangas com alguns detalhes rendados e que ia até o meio das coxas, par de sapatos da mesma cor e a maquiagem não muito exagerada, já que tinha decidido destacar os lábios com um batom também vermelho. Eu estava bonita e gostosa, mas sempre batia aquela insegurança quando chegava a hora de sair. Odiava minhas indecisões.
Meu celular apitou, indicando que uma mensagem tinha chegado e eu decidi acabar com meu dilema e descer de uma vez, antes que pensasse que eu tinha desistido. Peguei o aparelho em cima da mesinha, confirmando que a mensagem era dele antes de jogá-lo dentro da bolsa que tinha separado e deixar o quarto de uma vez. As portas do elevador se abriram e eu saí do cubículo, olhando para os lados a procura de . Logo o avistei sentado em uma das poltronas do lobby e caminhei com cuidado em sua direção. Assim que nossos olhos se cruzaram, ele se levantou prontamente e caminhou até mim com um sorriso largo no rosto.
- Uau! - ele segurou minha mão e me girou devagar, enquanto me olhava de cima abaixo. - Você está linda.
- Obrigada - sorri feliz. Tinha tomado a decisão certa no fim das contas. - Você também não está nada mal.
- Vamos? - perguntou, esticando o braço para mim. Aceitei de bom grado e, assim que enlacei minha mão em seu braço, caminhamos harmoniosamente para a saída do hotel. Um carro já nos esperava. O motorista apareceu e abriu a porta para que eu e entrasse. Quando nos acomodamos no banco traseiro, a porta foi fechada e logo o motorista também entrou no quarto e deu partida.
- Para onde vamos? - perguntei a , quando percebi que ele não iria falar nada para o motorista.
- Um restaurante Italiano. Estive lá da última vez que viemos aqui e pensei que você fosse gostar.
- Com certeza. Eu amo comida Italiana - disse animada.
Ele sorriu, provavelmente feliz por saber que tinha acertado o lugar. Bem, eu não duvidava de sua capacidade. No tempo que ficamos juntos, sempre me levava para lugares que eu amava, ele nunca havia me decepcionado nesse quesito.
O carro parou e eu olhei pela janela, olhando pela primeira vez o restaurante. A minha porta foi aberta e eu saí do automóvel, ainda observando o prédio. De onde estava pude perceber que o local estava cheio e os flashes que vieram no meu rosto praticamente me cegando, me deixou saber que paparazzi estavam a todo vapor em busca daquela foto exclusiva. se pôs ao meu lado e eu entrelacei meu braço no seu mais uma vez, antes de nos encaminharmos para a entrada do restaurante. Ouvi meu nome e o de serem gritados algumas vezes pelos paparazzi, mas não dei atenção, pois eu sabia bem o que eles queriam falar ou perguntar.
- Boa noite, senhores - uma mulher nos recebeu com um sorriso no rosto.
- Boa noite - foi que respondeu. - Reserva no nome de , por favor.
- Só um segundo - ela começou a digitar algo no computador e logo voltou a olhar para nós dois. - Por aqui, senhor .
A seguimos pelo salão até uma mesa vazia no canto do restaurante. Todas as outras mesas estavam ocupadas, felizmente. Ficar no centro era algo que eu não queria, pois era alvo fácil para os paparazzi do lado de fora. Tudo que eu não queria era ser alvo de fofoca nos sites amanhã. puxou a cadeira para que eu sentasse, logo depois sentando em outra à minha frente. Um garçom logo apareceu com o menu da noite. Fizemos o pedido e o garçom se retirou, dizendo que voltaria logo com a nossa comida.
- Gostou do lugar? - perguntou, quebrando o silêncio.
- É lindo - olhei ao redor. - Faz com que eu sinta saudades da Itália.
- Você nunca me contou nada sobre o tempo que passou lá - ele se ajeitou na cadeira e me olhou interessado.
- É porque não tem muito o que contar - dei de ombros.
- Ah, tenho certeza de que deve ter alguma coisa - insistiu.
- Nada que seja interessante. Eu passava a maior parte do tempo em casa ou trabalhando, só saia quando alguma me forçava ou quando Oliver ia me visitar.
- Não estou surpreso. Isso é tão você. - Ele balançou a cabeça rindo.
- Está querendo dizer que eu sou sem graça?
- Não, longe de mim - negou prontamente. - Nunca te achei sem graça, . Eu gosto bastante desse seu jeito por que eu também sou assim.
- Eu costumava achar que éramos o perfect match.
- Não acha mais? - seu tom de voz era brincalhão, mas eu notei um quê de seriedade.
- Não sei. Estamos diferentes.
- Isso é verdade - concordou -, mas isso não significa que não somos mais perfeitos um para o outro.
Revirei os olhos e sorri. Ele não perdia a oportunidade.
- Só o tempo vai dizer - falei, por fim. Ele balançou a cabeça levemente, concordando.
O garçom voltou com os nossos pratos e uma garrafa de vinho. Ele nos serviu e se retirou, deixando-nos à sós novamente.
- Esse vinho é uma delícia - comentei.
- Sabia que ia gostar. Esse aqui é o melhor vinho que já provei na minha vida.
- Tenho que concordar. Aliás, tudo está uma delícia - provei um pouco da minha comida. Ah, Itália, que saudade.
Comemos enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias. Não iria mentir, tinha sentido falta desses momentos com . Quando estávamos juntos, não nos víamos com frequência e por isso, sempre que ele voltava de viagem, nossos momentos eram cheios de conversas infinitas que só acabavam quando íamos para a cama matar a saudade de outra maneira, se é que me entende.
- Como estão as coisas com Oliver?
- Bem. Estamos voltando ao normal aos poucos, sabe? Acho que a parte complicada já passou.
- É bom saber que vocês se acertaram. Eu sei o quanto a amizade do Oliver significa para você.
- Pois é. Acho que ele só precisava de tempo para processar tudo e eu também. O importante é que agora está tudo bem.
- Você... Ainda, hm, gosta dele?
O encarei, surpresa com aquela pergunta. me encava de forma apreensiva e eu sorri levemente, pensando que aquela pergunta não deveria ter me surpreendido tanto assim. Se ele estava interessado, era óbvio que faria aquela pergunta.
- Ele é uma grande parte da minha vida e eu o amo muito sim, mas ainda não sei bem decifrar meus sentimentos. Talvez eu tenha confundido as coisas, talvez não. Só o tempo vai dizer.
Ele assentiu em sinal de compreensão. No fundo eu sabia que minha resposta tinha o decepcionado, seus olhos diziam isso, mas eu tinha sido sincera. Quando se tratava de sentimentos, eu era uma grande bola de confusão.
- Quer mais um pouco de vinho? - perguntou, mudando bruscamente de assunto. Abri um sorriso irônico.
- Está planejando me embebedar, ?
- E por que eu faria isso, ? - respondeu ele na mesma moeda.
- Não sei... Quais são as suas intenções comigo?
Ele abriu um sorriso malicioso e antes que ele falasse algo, eu já sabia a sua resposta.
- As mais impuras possíveis.
Peguei meu copo de vinho e levei até os lábios, bebendo um gole do líquido vermelho. Meus olhos não saiam de e ele sabia bem o que eu estava pensando, porque era o mesmo que ele.
Meu corpo foi prensado contra a porta fechada do quarto, enquanto beijava meus lábios com devoção. Minhas mãos ágeis passaram a desabotoar os botões de sua camisa, que logo foi para o chão, deixando todo o seu tronco disponível para meu toque. A mão de escorregou por minha perna e ele a levantou, a encaixando em sua cintura e eu aproveitei e impulsionei meu corpo, cruzando as duas pernas em sua cintura. Com a mão livre, ele subiu por minhas costas até o botão que prendia meu vestido no pescoço e desabotoou o mesmo, puxando as pontas em seguida, indicando que ele queria que eu o retirasse. Puxei os braços, tirando as mangas do vestido e a peça desceu o suficiente para que deixasse meus seios à mostra.
levou a mão diretamente para esse local e passou a massagear e apertar meu seio esquerdo, enquanto seus lábios exploravam meu pescoço. Fechei os olhos e arfei, sentindo-me cada vez mais molhada. Coloquei os pés novamente no chão e desci minhas mãos por sua barriga até a calça que ele vestia. Deslizei minha mão por seu membro duro e visível por cima da calça e apertei o mesmo levemente, arrancando um gemido rouco dele. Abri então o botão da calça, que logo foi ao chão, restando apenas a cueca box vermelha. Sexy.
Puxei seu rosto para mim e voltamos a nos beijar violentamente, nossas línguas explorando a boca do outro como nunca antes. Sem parar o beijo, empurrei seu corpo em direção a cama de casal, onde ele caiu sentado. Me afastei apenas para terminar de tirar meu vestido e a calcinha e voltei a me aproximar, sentando no colo dele. A mão de deslizou por meu corpo, parando em minha bunda, local que ele apertou e nossos lábios se chocaram novamente em mais um beijo cheio de tesão.
De repente, ele virou, me deitando na cama e ficando por cima de mim. então passou a trilhar beijos por meu corpo, começando pelo pescoço, passando pelo vão entre meus seios até minha barriga. Me apoiei nos cotovelos e encarei seus olhos agora cheios de luxúria. Eu sabia bem o que ele iria fazer e não poderia estar mais ansioso para isso. Com um sorrisinho altamente malicioso brincando nos lábios, ele se inclinou, depositando um beijo em minha virilha, antes de finalmente abocanhar minha intimidade com dedicação.
Meu corpo caiu na cama e agarrei os lençóis, arfando alto enquanto chupava e lambia o meu clitóris, me levando a extremos como nunca antes e, quando eu achava que não tinha como ficar melhor, ele colocou dois dedos em minha entrada. Mordi os lábios com força para conter o gemido alto que provavelmente sairia. Céus! Tinha esquecido o quanto ele era bom na cama. O primeiro orgasmo veio com força e dessa vez, não consegui reprimir o gemido alto que saiu dos meus lábios, juntamente com seu nome. Aquilo tinha sido maravilhoso.
depositou um beijo em minha intimidade mais uma vez, antes de erguer o corpo e aproximar seu rosto do meu espaço suficiente para que nossos lábios se tocassem. Agarrei seu pescoço e o puxei para mim, sentindo meu gosto em sua boca e me deliciando com seus lábios macios. Eu o queria dentro de mim, queria senti-lo por completo e queria agora. Com esse pensamento, o empurrei em um movimento rápido, trocando nossas posições e ficando por cima dele. , por sua vez, empurrou a cueca para baixo, para que pudesse finalmente se livrar da peça e seu membro pulou para fora totalmente ereto. Me inclinei sobre ele e nos beijamos de novo, minhas mãos atrevidas desceram de encontro ao seu pênis, massageando-o e fazendo alguns movimentos nada inocentes. cortou o beijo, arfando de prazer e tesão.
- Porra... - murmurou, o que só me incentivou a continuar com os movimentos. Desci meus lábios por seu pescoço, depositando beijos aqui e ali, assim como alguns chupões. - Camisinha... Minha calça...
Não foi preciso que ele falasse duas vezes. Parei os movimentos e me levantei, peguei a caça dele que estava no chão e vasculhei o bolso em busca da carteira e consequentemente do preservativo. Com a embalagem em mãos, voltei para cama e rasguei o pacote com os dentes, tirando a camisinha de dentro. parecia um pouco apressado, pois tomou o objeto de minhas mãos e se protegeu devidamente. Ri baixinho e ele me puxou para ele, me beijando mais uma vez naquela noite.
- Com pressa, ? - sussurrei contra seus lábios.
- Ansioso - rebateu. Seus olhos azuis brilhavam em minha direção, cheios de malícia e eu sabia que ele estava tão ansioso quanto eu para aquele momento. Ajeitei meu corpo em cima dele, e encaixei-me nele, logo começando a me movimentar. O gemido que escapou pelos nossos lábios foi inevitável. Não fechei os olhos, mantive o contato visual, querendo não perder um minuto da sua reação e a expressão de prazer que ele mantinha no rosto enquanto eu cavalgava em cima dele. - Gostosa - ele soltou entre um gemido ou outro e eu sorri, sentindo que estava cada vez mais perto do ápice.
chegou primeiro, o gemido rouco e longo dele, seguido pelo meu nome saindo da sua boca, me deixou saber que ele tinha atingido o orgasmo. Cravei minhas unhas em seu peito desnudo e continuei cavalgando, não demorando muito para atingir meu segundo orgasmo da noite. Meu corpo desfaleceu sobre o dele, ambos respirando fortemente, devido a toda movimentação feita até segundos atrás. Ficamos incontáveis minutos naquela posição.
Nenhuma palavra foi trocada, não era necessário. Com a respiração de volta ao normal, finalmente me afastei e me joguei ao seu lado na cama. Era a segunda vez que e eu transávamos em Los Angeles, mas dessa vez, eu não estava arrependida. Quer dizer, eu não tinha motivo para me arrepender, tinha?
Na outra vez, ele ainda estava casado com , as coisas estavam diferentes e agimos no calor do momento, aquilo tinha sido errado e ambos admitimos isso um para o outro depois, mas agora, apesar de ele ainda estar legalmente casado - apenas porque não aceitava o divórcio logo -, isso não era mais um obstáculo para que não ficássemos juntos e, sinceramente, por que não dar uma chance se ele estava tão disposto a me reconquistar?
Estava cansada de sofrer por um amor que nunca vai ser correspondido e, bem, eu precisava de alguém que realmente me amasse e cuidasse de mim. poderia ser essa pessoa, bastava somente eu querer. Foi com aquele pensamento que eu dormi tranquilamente aquela noite nos braços quentinhos de .
Sim, essa era a única forma de descrever a forma como eu estava me sentindo naquele momento. Oliver não me respondeu de imediato, talvez estivesse tão extasiado quanto eu com aquele momento, não sei. Sua feição era completamente indecifrável e era impossível saber o que se passava por sua cabeça.
Aproveitei o momento para o observá-lo como não fazia há algum tempo. Ele vestia uma camisa de botão branca, calça jeans e um tênis de marca, o cabelo estava bagunçado do jeito que eu gostava. Ele estava lindo de morrer, mas aquilo não era novidade. Subi o olhar, encontrando sua íris azul me encarando de uma forma estranha. Era horrível não saber mais o que os olhares dele significavam, não saber mais nada sobre ele. Ele, agora, era um completo estranho para mim.
- Oi - ele finalmente falou. - Eu vim entregar o calendário de entrevistas do filme para o próximo mês.
Só então notei que ele segurava um envelope nas mãos.
Ah, claro. Ele ainda era meu agente, tinha esquecido desse detalhe.
- Ahn... Obrigada - disse, pegando o envelope que ele me estendia. - E não se preocupe, eu vou achar um outro agente.
Ele franziu o cenho, surpreso. Ele parecia não esperar que eu falasse aquilo.
Céus! As coisas entre nós estavam tão estranhas, que um mero diálogo fazia com que eu desejasse cavar um buraco no chão, me jogar lá dentro e nunca mais sair.
- Você não... - ele começou a falar, mas parou, suspirou e fechou os olhos, logo os abrindo novamente. - Será que podemos conversar?
Arregalei os olhos, pega de surpresa. Meu coração acelerou e eu pisquei algumas vezes, ainda sem acreditar. Oliver querendo conversar? Aquilo só podia ser um sonho!
- Claro - segurei a vontade de sorrir e me afastei em sinal para que ele entrasse. - Quer entrar?
Ele assentiu e adentrou o apartamento. Fechei a porta com o coração na mão e me virei, encarando-o. Oliver sentou no sofá e apontou para a poltrona, indicando que eu deveria me sentar também. Fiz o que ele pediu e fiquei esperando ansiosamente ele começar a falar.
- Você não precisa mudar de a gente por causa do que aconteceu entre nós - franzi o cenho confusa e surpresa com aquela declaração. Achei que depois daquele dia, tudo o que ele quisesse de mim fosse o máximo de distância possível.
- Desculpe, mas eu não entendi.
- Eu sei que não estamos no nosso melhor termo e eu sei que não tenho te tratado bem, mas você sabe muito bem que eu não misturo o profissional com o pessoal.
- Sim, eu sei - disse pausadamente. - Mas acho que você não entendeu o verdadeiro problema aqui. Não acho que eu vá conseguir continuar trabalhando com você depois de tudo que aconteceu, pois, de certa forma, a sombra da nossa vida pessoal sempre vai estar lá.
Ele inclinou a cabeça, provavelmente processando o que eu tinha acabado de dizer. Ele sabia que eu tinha razão. Era impossível trabalharmos juntos depois de tudo.
- Você tem razão - disse, por fim. - Se é o que deseja, pode procurar um novo agente.
Se eu tivesse um sorriso no rosto, teria murchado na hora, porque eu murchei por dentro. Tinha sido tão idiota em sequer cogitar que ele poderia ter vindo se desculpar por ter sido um babaca, quando, na verdade, não tinha chegado nem perto disso. Eu nunca o teria de volta na minha vida, nem mesmo profissionalmente.
- Tudo bem - me levantei. - Se era só isso que você tinha para dizer, pode ir.
Ele me encarou, mas não soube dizer o que ele estava pensando ou o que aquela expressão queria dizer. Foi-se o tempo que eu saberia o que ele queria dizer com apenas um olhar. Meu melhor amigo tinha ido embora e só me restava aceitar. Oliver se levantou e deu dois passos, parando à minha frente.
- Eu sinto que devo te pedir desculpas... Você sabe, por ter agido daquela forma no restaurante e depois no trailer - ele desviou o olhar, parecendo sem jeito, mas logo voltou a me olhar novamente. À essa altura do campeonato, meu coração estava praticamente saindo pela boca. - A culpa foi minha de tudo isso ter acontecido com a gente. Eu não devia ter me envolvido com você, foi um erro bem idiota da minha parte.
E então meu coração murchou novamente, enquanto eu sentia como se estivesse acabado de levar uma facada. Um erro. Era isso que ele achava. Eu tinha sido um erro. Meus olhos marejaram e eu tive que desviar o olhar para que as lágrimas não começassem a cair. Eu não choraria na frente dele, ele não merecia. Caminhei até a porta, abrindo a mesma em um claro sinal de que eu não o queria mais ali. Eu ainda o amava, mas não queria ele na minha vida quando ele achava que eu tinha sido um erro. Olhei para ele com a expressão dura, querendo demonstrar que as palavras dele não tinha me afetado. Ele sabia que tinha. Infelizmente, ele ainda me conhecia bem demais. Oliver deu um suspiro longo e veio em direção à porta. Não ousei olhá-lo quando passou para mim. Eu não queria olhar na cara dele.
- ... - ouvi sua voz baixa, mas não dei tempo para que ele concluísse a fala. Fechei a porta com força em sua cara.
Que Oliver fosse para a puta que pariu.
Me joguei no sofá, deixando que as lágrimas escorressem por meu rosto livremente. Eu não aguentava mais sofrer por quem não me merecia, por quem só me machucava. Estava cansada de ser trouxa, porque era isso que eu era: uma completa trouxa. Senti quando o sofá ao meu lado afundou e eu lembrei que minha irmã estava em casa. Ela, no entanto, não disse nada. Apenas me puxou para um abraço e eu acabei deitando em seu colo. Aquele era o modo silencioso dela de dizer que tudo iria ficar bem e eu não poderia ficar mais grata por isso.
Oliver’s POV
Saí do prédio que morava sentindo um vazio no peito. Era assim que eu me sentia desde que ela tinha me contado que estava apaixonada por mim e eu reagi daquela forma escrota. Eu tinha plena consciência de que tinha sido um completo babaca com ela e achava que nunca seria digno do seu perdão. As coisas entre nós nunca mais iriam ser as mesmas e eu tinha acabado de estragar qualquer chance que eu poderia ter de me redimir com ela.
Fechei a porta do carro com força e girei a chave na ignição, dando partida e deixando para trás a e parte do meu coração. Eu deveria ter pedido desculpas, deveria ter dito que poderíamos voltar a ser amigos, que poderíamos esquecer tudo e começar de novo, mas nada disso eu fiz e estava me sentindo um completo imbecil por isso.
Eu sentia falta dela. Claro que sentia! Sentia falta do seu sorriso, das brincadeiras, das nossas conversas e, pode até parecer loucura, mas eu sentia falta do seu toque e dos seus beijos. Não me entenda mal, eu amo minha namorada e sou completamente louco por ela, mas, sem por perto, eu me sinto incompleto e doía profundamente perceber que a pessoa que a tinha magoado tinha sido eu.
- Merda - soquei o volante com raiva. - Por que você foi dizer que ela tinha sido um erro, seu merda? Por que, hein?
Tinha vontade de dar meia volta e implorar por seu perdão, mas era tarde demais. nunca me perdoaria e ela tinha toda razão. Eu também não me perdoaria se eu fosse ela.
Parei no sinal e peguei o meu celular na intenção de ligar para minha namorada e avisar que me atrasaria um pouco, mas assim que bati os olhos naquela foto, esqueci completamente o que tinha que fazer. Na proteção do meu celular, estava eu e . Ela mantinha um sorriso gigante no rosto, enquanto eu a carregava em minhas costas. Eu me lembrava bem do dia em que tiramos aquela foto. Ela estava na Itália e eu tinha ido a visitar e, em um dos nossos passeios, tiramos aquela foto. O sorriso dela era tão lindo e espontâneo que me fez sorrir também
Droga! Eu sentia falta dela. Não era justo que aquilo estivesse acontecendo com a gente. Não era justo que eu não a visse mais sorrir para mim daquela forma. Eu precisava pedir perdão a ela, precisava ter ela de volta na minha vida.
Sem pensar em mais nada, dei a volta, traçando o caminho para a casa de novamente. Eu não podia mais deixar que as coisas continuassem assim e, mesmo que ela ainda tivesse apaixonada por mim, eu estava disposto a lidar com isso desde que ela estivesse ao meu lado. Eu sei que era um pensamento egoísta, mas eu não ligava. Eu precisava de na minha vida, pois já não sabia mais como era viver sem ela.
Freei bruscamente quando cheguei ao endereço e desci do carro às pressas. Precisava fazer isso logo antes que a coragem fosse embora. Qual era a pior coisa que poderia acontecer? Ela fechar a porta na minha cara, como tinha feito minutos atrás. Passei pelo porteiro e segui direto para as escadas, não iria esperar pelo elevador, já tinha perdido tempo demais.
Quando cheguei ao andar de seu apartamento, corri até a porta e parei para recuperar o ar perdido durante a subida e, quando achei que estava recuperando o suficiente, toquei a sua campainha e fechei os olhos, torcendo para que ela não demorasse a abrir. Os segundos que se seguiram foram os mais agoniantes da minha vida, mas nada superou quando a porta finalmente se abriu e não foi que apareceu e sim sua irmã... Com uma expressão nada contente, só para constar.
- Er... Oi. Será que eu... hm... Posso falar com a ?
- Não! Não pode - ela foi curta e grossa.
- Nossa... - cocei a nuca, sem jeito. Não iria desistir. - É realmente importante.
- É importante que você seja um otário com ela toda vez que vocês se encontram?
Arregalei os olhos. Ela não estava me poupando de nada mesmo.
- Por favor, ...
- Não me chama de - ela disse entredentes. - Não te dei essa liberdade.
- Tudo bem - disse, querendo amenizar as coisas. - Mas eu realmente preciso falar com ela.
- E eu já disse que você não...
- Quem é, ? - ouvi a voz da e logo ela apareceu atrás da irmã. Ela tinha chorado... Por minha causa.
Você é mesmo um idiota, Oliver.
- Esse idiota quer falar com você, mas eu já disse que ele não vai.
Ela assentiu para a irmã e deu as costas, sem ao menos olhar em minha direção. Não. Eu não podia deixar ela ir embora. Ela tinha que me escutar.
- Por favor, . Cinco minutos, é tudo que eu peço.
Ela parou e longos segundos de silêncio tortuosos se passaram enquanto ela parecia se decidir. E então, ela se virou para mim e eu soube que ela iria me escutar.
- Dois minutos.
- Sério, ?! - protestou. a encarou por um segundo e ela bufou, saindo em seguida pisando forte em uma demonstração clara de insatisfação. Voltei a encarar e, agora que estava ali, diante dela, não sabia por onde começar.
- Seu tempo está passando - falou ela. Sua expressão estava neutra, não me deixando saber o que ela estava pensando. era muito fácil de ler, mas ultimamente ela tem sido um enigma e tanto para mim.
- Me desculpa - disse, por fim. - Eu sei que tenho sido um babaca com você - ela ergueu a sobrancelha. - Ok, muito babaca. Eu não sei o que deu em mim, não sei explicar minhas ações e, porra, eu sei que não tenho direito nenhum de vir aqui e pedir para que me perdoe, mas eu sinto sua falta. Pra caralho - terminei de falar e a encarei, esperando a sua reação.
De início, ela não falou nada, nenhum músculo de seu rosto se moveu. Ela continuou me encarando sem expressão e eu estava começando a achar que ela fecharia a porta na minha cara a qualquer momento, mas não foi isso que aconteceu. Ela piscou, uma, duas, três vezes. Eu sabia o que aquilo significava e as lágrimas no canto de seus olhos confirmavam minha teoria. Ela iria chorar de novo... Por minha causa.
- Não, não, não - murmurei, me aproximando dela. - Por favor, não chora. - Em um ato impulsivo, a puxei para os meus braços, a abraçando. Eu alisava os seus cabelos enquanto pedia repetidamente para que ela me desculpasse. No início ela não me abraçou de volta, mas logo seus braços passaram por minha cintura e eu a abracei mais forte, enquanto sentia meus próprios olhos se encherem d’água.
Eu era mesmo um idiota, um babaca, um imbecil e não merecia aquela mulher na minha vida. Se ela não me perdoasse, eu entenderia perfeitamente, pois eu não teria me perdoado se tivesse no lugar dela. Ficamos incontáveis minutos daquela forma, abraçados, até que ela se acalmou mais. Me afastei para encará-la. Ela continuava linda, mesmo com a cara de choro. Sorri minimamente para ela e segurei seu rosto com as duas mãos, para que pudesse olhá-la fixamente nos olhos. - Me desculpa, eu sou um otário.
Ela pôs uma de suas mãos sobre a minha e fechou os olhos por alguns segundos, logo os abrindo novamente.
- Você é mesmo um otário - ela disse, por fim. - Você me machucou muito, Oliver. Disse coisas para mim que nunca imaginei que fosse sair da sua boca, você fez com que eu sentisse como se nossa amizade não tivesse sido nada para você.
- Eu disse muitas coisas que me arrependo, principalmente porque nenhuma delas é verdade, . Você significa muito para mim, muito mais do que você imagina. Eu sei que não tenho direito nenhum de te pedir isso, mas, por favor, me dê uma chance de me redimir com você.
- Tudo bem - ela disse, depois de um longo e angustiante minuto em silêncio. - Mas isso não significa que te perdoei.
Assenti, sabendo que conseguir o verdadeiro perdão dela seria bastante difícil e eu teria que ralar muito. Não importava, eu estava disposto a fazer de tudo para reconquistar sua confiança.
- Eu também senti sua falta - ela murmurou, antes de me puxar para dentro do apartamento e fechar a porta
’s POV
Estava de volta à Los Angeles. As entrevistas de divulgação do filme estavam de vento em poupa e, com isso, eu quase não tinha tempo para respirar. Nos primeiros dias foi fácil, pois a maior parte das entrevistas ocorreram em Londres, mas depois tivemos que viajar para alguns países e, aí a correria tinha começado verdadeiramente.
- Não sei por que você traz tantas bagagens - reclamou, enquanto carregava uma das minhas malas na mão. Eu carregava a outra.
- Ei, foi você que se ofereceu para carregar, então agora aguenta - brinquei.
- Não me provoca, que eu deixo aqui no meio do aeroporto - ameaçou.
- Você não está nem louco - retruquei. Ele riu e balançou a cabeça em negação.
Um táxi já nos esperava na porta do aeroporto e, assim que nos avistou, o motorista desceu do carro e se prontificou para guardar nossas malas. abriu a porta traseira para que eu entrasse e, assim que o fiz, ele também entrou, sentando ao meu lado. Olhei pela janela, vendo os carros passarem por mim, provavelmente muitos deles seguindo o seu caminho para casa já que era fim da tarde. Desejei poder fazer o mesmo, mas teria que me contentar em ficar em um hotel e longe de casa pelos próximos dias.
O motorista entrou no carro e, após passar o endereço para ele, o carro foi ligado e logo estávamos nos movimentando por L.A.
suspirou fortemente ao meu lado, atraindo minha atenção. Ele mexia no celular e digitava rapidamente, o que parecia ser uma mensagem.
- Está tudo bem?
- Estou preocupado com Dulcie - respondeu ele, sem tirar os olhos do aparelho.
- Tenho certeza de que ela está bem - tentei confortá-lo.
Para a situação era bem mais complicada. O divórcio com - que ainda não tinha aceitado - e agora ter que ficar longe da filha de dois anos era realmente algo bastante difícil. Eu não queria estar na pele dele, sinceramente.
- Eu espero que sim - murmurou, bloqueando o celular. Segurei sua mão, tentando passar algum tipo de confiança para ele. sorriu para mim e fechou os olhos em seguida, demonstrando o quanto estava cansado. Eu também estava.
Felizmente, não demoramos para chegar ao hotel. Um dos funcionários nos ajudou com a bagagem do carro, assim eu e pudemos ir despreocupadamente fazer o check-in no hotel. Bem, despreocupadamente até aparecer um problema com as nossas reservas. Aparentemente, o hotel estava lotado e só tinha uma suíte disponível. Que ótimo!
- Mas nós fizemos as reservas dias antes! - protestei.
- Desculpa, senhora. Não sei o que aconteceu, mas os seus nomes não estão aqui no sistema. O máximo que posso oferecer a vocês é a suíte disponível.
- Se você não percebeu, nós somos dois, então precisamos de dois quartos e não de um! - rebati, exaltada. Eu estava cansada, queria dormir e aquele panaca estava dificultando tudo.
- Nós podemos dividir, - interveio. - Eu não vejo problema algum... Você vê?
Eu via? Eu e em um quarto... Sozinhos. Isso não podia resultar em coisa boa, podia? Olhei para cara do recepcionista, desejando que ele dissesse que era uma pegadinha e que eu teria meu próprio quarto, mas ele apenas deu de ombros e eu percebi que não teria outra saída para aquele problema.
- Não, por mim tudo bem - murmurei, derrotada.
O recepcionista sorriu de uma forma que eu tive vontade de esfregar a cara dele no asfalto e começou a digitar algo no computador. Olhei para e ele segurava o riso.
- O que foi? - perguntei, mal-humorada.
- Nada - respondeu ele, tentando ficar sério.
Logo, recebemos a chave do quarto e seguimos para o 3º andar. destrancou a porta e eu praticamente corri para cama de casal, me jogando na mesma. Bem, pelo menos o colchão é confortável. As nossas malas foram colocadas no chão e, após o rapaz sair, fechou a porta e se jogou ao meu lado.
- Estou pensando seriamente em ir dormir e não tomar banho - ele disse, cruzando os braços debaixo do pescoço.
- Ah, mas nem pensar! Não vou dormir com você fedendo do meu lado - reclamei, o empurrando, em vão é claro.
- Ei, eu não estou fedendo - ele protestou. - Você que está.
Abri a boca, chocada com aquela audácia. Eu? Fedendo? Ao ver minha cara, riu e tacou o travesseiro em mim.
- , você quer mesmo me ver enfurecida à essa hora? Eu te coloco para dormir no chão, hein? - joguei o travesseiro com toda a força que tinha em sua cara.
- Ouch! Não tá mais aqui quem falou.
- Muito bem - aprovei e me levantei da cama. - Eu vou tomar banho, mas quando eu sair, você também vai.
Ele resmungou algo que não consegui ouvir, por causa do travesseiro que ainda estava em seu rosto. Catei a primeira roupa que vi na mala e segui para o banheiro para tomar meu maravilhoso banho. Tirei a roupa e entrei no box, ligando o chuveiro em seguida. A água estava tão deliciosa que acabei ficando mais do que pretendia e, quando me dei conta disso, tratei de desligar o chuveiro e sair do box de uma vez por todas. Uma vez vestida, saí do banheiro, apenas para encontrar um quase adormecido na cama. Ah, mas se ele achava que ia mesmo dormir sem tomar banho, estava muito enganado.
- - o cutuquei algumas vezes, até ele abrir os olhos. - Anda, vai tomar banho.
- Ah, fala sério! - ele resmungou e virou-se de lado, pronto para voltar a dormir.
- Estou falando sério - o cutuquei novamente. - Anda logo ou eu vou te empurrar para fora da cama.
Aquilo pareceu o suficiente para ele acordar. Ele se levantou, resmungando algo inteligível e seguiu para o banheiro, fechando a porta com mais força que o necessário. Ri, achando graça daquele comportamento. sabia bem agir como um adolescente malcriado quando queria.
Deitei-me na minha cama, cobrindo meu corpo com o lençol no processo e puxei meu celular. Três ligações perdidas de , uma da minha mãe e uma mensagem de Oliver. Sorri ao ver o nome dele na tela do celular, pois ainda não tinha caído a ficha de que as coisas entre nós estavam voltando ao normal. Cliquei na notificação, abrindo a mensagem.
“Chegou bem em L.A.?”
“Sim, acabei de me deitar. Como estão as coisas?”
Não demorou um segundo e a mensagem foi visualizada. A resposta chegou segundos depois.
“Bem. deve chegar aí pela manhã.”
Suspirei. Precisava trabalhar nos meus sentimentos em relação a esse relacionamento.
“Tudo bem. Por que você não veio também?”
A resposta veio dois segundos depois.
“Tenho algumas coisas para resolver. Mas estou preparando algo para a gente fazer quando você voltar.”
Sorri bobamente ao ver aquela mensagem. Meu coração disparou e eu comecei a imaginar mil e uma coisas.
“O quê?”
“É surpresa.
E não adianta ficar me perguntando que eu não vou contar.”
Fiz bico. Eu odiava ficar curiosa e Oliver sempre gostava de atiçar minha curiosidade.
“Aff. Depois dessa vou dormir. Boa noite.”
“Boa noite, Coisinha.”
Revirei os olhos. Eu ainda odiava aquele apelido com todas as minhas forças. Bloqueei o aparelho e coloquei na mesinha do lado da cama. No mesmo instante, a porta do banheiro foi aberta e saiu com apenas uma toalha enrolada na cintura. Pigarreei desconfortável e virei o rosto, olhando para qualquer outro lugar do quarto que não fosse ele. Ouvi sua risada e me segurei para não olhar para ele novamente. Ele tinha mesmo que desfilar pelo quarto daquele jeito?
Como se achasse pouco, ele fez questão de arrastar a mala dele até a minha frente, ficando novamente no meu campo de visão. Mordi o lábio, ao ver aquele tronco definido e aquela bunda coberta apenas por uma mera toalha... Um puxãozinho e... NÃO! Vamos parando .
- Apreciando a vista, ? - provocou. Meu rosto esquentou e eu tinha certeza de que estava mais vermelha que pimentão.
- Cala a boca - retruquei, mal-humorada. Ele riu, provavelmente achando muito engraçado aquela situação. Grunhi e virei de costas para ele, cobrindo meu corpo até os ombros. não falou mais nada e alguns minutos depois, senti quando o colchão afundou, anunciando que ele estava deitando do meu lado. Fechei os olhos, mas o sono parecia ter ido embora e eu estava completamente desperta. se remexeu ao meu lado e sua pele acabou entrando em contato com a minha e aquilo foi o suficiente para me deixar arrepiada. Encolhi-me e apertei os olhos com força, tentando ignorar a minha parte de baixo que parecia estar bem acordada e começando a ficar molhada. Minha mente me traiu e eu comecei a pensar em mim e naquela cama e nas coisas que poderiam acontecer.
Merda! Isso não ia mesmo resultar em coisa boa.
- Bom dia - sentei-me a mesa. já tinha chegado e estava tomando café com . - Muito obrigada por me acordar.
- Você merecia descansar – ele deu de ombros.
- Você conseguiu uma vaga aqui? – questionei ao lembrar da noite anterior.
- Não. Estou ficando em um hotel perto daqui - explicou. - me contou o que aconteceu. Que situação, hein?
- Nem me fale - peguei uma torrada sem me importar de quem era e comi. - Ter que aguentar roncando a noite toda não é fácil.
- Ei! - ele protestou. - Desde ontem que ela me ataca injustamente.
riu e eu revirei os olhos.
- Deixa de ser dramático - retruquei e peguei outra torrada agora do prato dele.
- Por que a moça não deixa de roubar minha comida e vai comprar a própria?
- Eu não, prefiro roubar a sua.
Roubei outra torrada e ele revirou os olhos, arrancando risadas minha e de . Acabou que teve que fazer o pedido mais uma vez, porque eu comi quase tudo que estava no prato dele.
Depois do café da manhã, saímos todos para o primeiro compromisso do dia. Teríamos que fazer um photoshoot e uma entrevista para uma revista famosa e, bem, isso duraria no máximo o dia todo.
- Não aguento mais trocar de roupa - reclamou. Essa era a quarta vez que trocávamos de roupa e aquilo já estava tirando minha paciência também.
- Se você que é acostumada com esse tipo de coisa está reclamando, imagina eu, que essa é a minha primeira vez.
- Vocês duas reclamam demais - apareceu e abraçou nós duas pelos ombros. - Só mais algumas fotos e estamos liberados.
- Isso mesmo - Luna, a fotografa, concordou. - Vocês estão maravilhosos. Venham, se posicionem aqui.
Fomos para o lugar que era indicado e ela começou a dar instruções de como queria as fotos. Algumas foram tiradas dos três, outras tirei sozinha, outras com e outras apenas eu e . No fim, acho que as fotos tinham ficado ótimas. Pelo menos, era isso que Luna dizia.
- Pronto, agora vão se trocar. Mia estará esperando vocês para a entrevista.
A primeira entrevista do dia. Respirei fundo e fui trocar de roupa, repetindo mentalmente que eu conseguiria passar por mais aquela, onde as perguntas provavelmente seriam as mesmas. Minutos depois, já com a roupa que eu tinha vindo mais cedo, encontrei com no corredor.
- Preparada para responder as mesmas perguntas? - perguntou ele em tom de brincadeira.
- Não.
- Sabia que sua resposta ia ser essa - ele riu. - Vamos, vai ser divertido.
- Não se empolgue tanto.
- Vamos, tira essa expressão emburrada do rosto.
- Não quero.
- Vai - insistiu. - Vamos, me dê um sorriso.
Me limitei em balançar a cabeça, mas dessa vez eu tentava prender o sorriso e ele sabia disso. Com um sorriso esperto no rosto, ele aproximou as mãos da minha barriga, mostrando que sua intenção era me fazer cócegas.
- Para! - comecei a rir antes mesmo que ele encostasse em mim.
- Olha só para esse sorriso. Agora sim está bom - ele sorriu vitorioso.
- Idiota - retruquei, ainda sorrindo.
- Quer sair para jantar hoje?
Nossa, isso que eu chamo de mudar de assunto bruscamente.
- Quê?
- Sair. Para jantar. Eu e você. Topa?
- Hm... Tipo um encontro?
- É... Tipo um encontro.
Encontro com . Era a primeira vez que ele me chamava para sair desde a sua declaração na festa de despedida de Trevor. Um lado meu achou que ele tinha desistido, mas pelo visto eu estava redondamente enganada. Com tantas coisas acontecendo na vida dele, era óbvio que eu ou qualquer romance não era prioridade. Nem eu queria ser. A filha dele tinha que vir acima de tudo, inclusive de mim. Mas, agora que estávamos ali, ele me chamando para sair, a pergunta que não saia da minha cabeça era: eu quero sair com ele? Afinal, ainda estava casado legalmente com e eu não queria ter nenhum problema ou ficar no meio do divórcio. já me odiava de graça, imagina se soubesse que eu estava saindo com o futuro ex-marido dela? Eu seria caçada e morta. Por outro lado, tinha aquela parte de mim que achava que eu devia sim, dar uma chance à ele, especialmente se eu quisesse superar Oliver de vez. Oh, céus, o que eu faço?
- Desculpa a demora! - apareceu. - Acabei me distraindo no telefone com Oliver.
Quase a abracei por ter me salvado. Eu não sabia o que responder a e não queria dizer algo que me arrependesse depois e fosse tarde demais. Pelo menos, agora eu teria um tempo para pensar melhor.
- Tudo bem - falei e, no mesmo instante, a porta foi aberta e uma mulher apareceu.
- Mia já está pronta para entrevistá-los.
Assentimos e entramos na sala.
O lugar era bonito e a decoração bastante sofisticada, diga-se de passagem. Mia estava sentada em uma poltrona de couro e, assim que nos viu, se levantou para nos cumprimentar.
- Olá! É um prazer tê-los aqui conosco.
- O prazer é nosso - respondeu, sorridente.
- Por favor, sentem-se - ela apontou para o sofá à sua frente e nos sentamos como foi pedido. - Podemos começar?
- Claro - concordei.
- Bem, estamos bastante ansiosos para ver Black Widow nas telonas. O que vocês podem nos contar sobre o filme?
- Bom, o filme é sobre essa mulher viúva e que é uma espiã secreta. O marido dela também era espião e foi morto durante uma missão. A missão dessa garota é infiltrar na vida do suspeito e arrancar o máximo de verdade possível e, por força do destino, o criminoso é o marido da melhor amiga dela - respondeu à pergunta.
- E, deixe-me, adivinhar... Ela se apaixona pelo criminoso?
- Não podemos falar mais nada, ou não vai ter mais graça assistir.
- Tudo bem... Podemos esperar bastante ação?
- Ah, sim! Tem muita cena envolvendo brigas, tiros, todas essas coisas de espião - foi a minha vez de responder.
- Tenho marcas roxas dos golpes da até hoje - brincou.
- Uau! Agora estou ainda mais curiosa para assistir - Mia comentou rindo. - Muitos estão curiosos para saber e pediram para eu te perguntar isso hoje, . - Ih... lá vem. - Como foi contracenar com o seu ex-noivo?
Suspirei antes de responder aquela pergunta pela milésima vez.
- Foi ótimo. é um ótimo ator e eu sempre admirei o trabalho dele. Então, contracenar com ele em um filme como esse foi uma enorme honra.
- Isso não foi um problema para vocês em nenhum momento?
- Não - menti. Tinha sido um problema enorme, pelo menos para mim, mas isso não era algo que eu deveria comentar em uma entrevista. - Eu não via há algum tempo, então quando nos encontramos não foi tão difícil. Soubemos ser profissionais.
- E hoje vocês são superamigos.
- Pois é - finalizei com um sorriso.
- Bem, sabemos que esse é o primeiro grande filme que a participa. Como foi para você, , contracenar com ela? Você teve que dar dicas para ela, ou não precisou?
Me dar dicas? Essa mulher acha que eu sou burra?
- Não tenho o que dizer dela. é uma ótima atriz e, inclusive, no início ela se saía bem melhor que eu. Trevor era só elogios para ela, tanto que até cheguei a ficar com ciúmes do tratamento VIP - ele riu. - Eu posso dizer que aprendi muito com ela e não o contrário.
Sorri diante daquele elogio. era incrível e eu devia muito a ele. Não poderia estar mais agradecida por tê-lo em minha vida. As perguntas continuaram e Mia fez mais perguntas sobre o filme e sobre a vida pessoal da gente. Bem, era o tipo de pergunta que não dava para evitar, mas felizmente eu poderia escolher se podia ou não responder. A entrevista logo chegou ao fim e fomos liberados. Logo, estávamos todos no carro, seguindo para o próximo local de entrevista. Agora era um programa de TV.
Enquanto olhava para a janela do carro, eu pensava no pedido de . Ele não tinha tocado no assunto novamente, mas eu não tinha parado de pensar se deveria ou não aceitar o seu convite. Eu havia listado todos os motivos pelos quais eu não devia aceitar, mas e os motivos pelos quais eu deveria aceitar? esteve do meu lado esse tempo todo, me apoiando quando ninguém mais esteve, nem mesmo Oliver, então, por que eu não dava o dava uma chance? Eu só saberia se ia dar certo ou não se tentasse. Olhei para ele, que, por sua vez, encarava a janela. Estiquei minha mão até a sua e a segurei, chamando sua atenção.
- Eu aceito - foi tudo o que disse, ele sabia bem do que eu estava falando. abriu um sorriso e segurou minha mão, levando-a até sua boca e a beijando delicadamente.
- Obrigado.
Marcava sete horas em ponto no relógio quando terminei de me arrumar. havia terminado bem antes que eu e já tinha deixado o quarto para que eu tivesse privacidade para me arrumar. Parei em frente ao grande espelho e analisei minha roupa pela segunda vez em menos de dois minutos. Eu vestia um vestido vermelho colado, costas nuas e com mangas com alguns detalhes rendados e que ia até o meio das coxas, par de sapatos da mesma cor e a maquiagem não muito exagerada, já que tinha decidido destacar os lábios com um batom também vermelho. Eu estava bonita e gostosa, mas sempre batia aquela insegurança quando chegava a hora de sair. Odiava minhas indecisões.
Meu celular apitou, indicando que uma mensagem tinha chegado e eu decidi acabar com meu dilema e descer de uma vez, antes que pensasse que eu tinha desistido. Peguei o aparelho em cima da mesinha, confirmando que a mensagem era dele antes de jogá-lo dentro da bolsa que tinha separado e deixar o quarto de uma vez. As portas do elevador se abriram e eu saí do cubículo, olhando para os lados a procura de . Logo o avistei sentado em uma das poltronas do lobby e caminhei com cuidado em sua direção. Assim que nossos olhos se cruzaram, ele se levantou prontamente e caminhou até mim com um sorriso largo no rosto.
- Uau! - ele segurou minha mão e me girou devagar, enquanto me olhava de cima abaixo. - Você está linda.
- Obrigada - sorri feliz. Tinha tomado a decisão certa no fim das contas. - Você também não está nada mal.
- Vamos? - perguntou, esticando o braço para mim. Aceitei de bom grado e, assim que enlacei minha mão em seu braço, caminhamos harmoniosamente para a saída do hotel. Um carro já nos esperava. O motorista apareceu e abriu a porta para que eu e entrasse. Quando nos acomodamos no banco traseiro, a porta foi fechada e logo o motorista também entrou no quarto e deu partida.
- Para onde vamos? - perguntei a , quando percebi que ele não iria falar nada para o motorista.
- Um restaurante Italiano. Estive lá da última vez que viemos aqui e pensei que você fosse gostar.
- Com certeza. Eu amo comida Italiana - disse animada.
Ele sorriu, provavelmente feliz por saber que tinha acertado o lugar. Bem, eu não duvidava de sua capacidade. No tempo que ficamos juntos, sempre me levava para lugares que eu amava, ele nunca havia me decepcionado nesse quesito.
O carro parou e eu olhei pela janela, olhando pela primeira vez o restaurante. A minha porta foi aberta e eu saí do automóvel, ainda observando o prédio. De onde estava pude perceber que o local estava cheio e os flashes que vieram no meu rosto praticamente me cegando, me deixou saber que paparazzi estavam a todo vapor em busca daquela foto exclusiva. se pôs ao meu lado e eu entrelacei meu braço no seu mais uma vez, antes de nos encaminharmos para a entrada do restaurante. Ouvi meu nome e o de serem gritados algumas vezes pelos paparazzi, mas não dei atenção, pois eu sabia bem o que eles queriam falar ou perguntar.
- Boa noite, senhores - uma mulher nos recebeu com um sorriso no rosto.
- Boa noite - foi que respondeu. - Reserva no nome de , por favor.
- Só um segundo - ela começou a digitar algo no computador e logo voltou a olhar para nós dois. - Por aqui, senhor .
A seguimos pelo salão até uma mesa vazia no canto do restaurante. Todas as outras mesas estavam ocupadas, felizmente. Ficar no centro era algo que eu não queria, pois era alvo fácil para os paparazzi do lado de fora. Tudo que eu não queria era ser alvo de fofoca nos sites amanhã. puxou a cadeira para que eu sentasse, logo depois sentando em outra à minha frente. Um garçom logo apareceu com o menu da noite. Fizemos o pedido e o garçom se retirou, dizendo que voltaria logo com a nossa comida.
- Gostou do lugar? - perguntou, quebrando o silêncio.
- É lindo - olhei ao redor. - Faz com que eu sinta saudades da Itália.
- Você nunca me contou nada sobre o tempo que passou lá - ele se ajeitou na cadeira e me olhou interessado.
- É porque não tem muito o que contar - dei de ombros.
- Ah, tenho certeza de que deve ter alguma coisa - insistiu.
- Nada que seja interessante. Eu passava a maior parte do tempo em casa ou trabalhando, só saia quando alguma me forçava ou quando Oliver ia me visitar.
- Não estou surpreso. Isso é tão você. - Ele balançou a cabeça rindo.
- Está querendo dizer que eu sou sem graça?
- Não, longe de mim - negou prontamente. - Nunca te achei sem graça, . Eu gosto bastante desse seu jeito por que eu também sou assim.
- Eu costumava achar que éramos o perfect match.
- Não acha mais? - seu tom de voz era brincalhão, mas eu notei um quê de seriedade.
- Não sei. Estamos diferentes.
- Isso é verdade - concordou -, mas isso não significa que não somos mais perfeitos um para o outro.
Revirei os olhos e sorri. Ele não perdia a oportunidade.
- Só o tempo vai dizer - falei, por fim. Ele balançou a cabeça levemente, concordando.
O garçom voltou com os nossos pratos e uma garrafa de vinho. Ele nos serviu e se retirou, deixando-nos à sós novamente.
- Esse vinho é uma delícia - comentei.
- Sabia que ia gostar. Esse aqui é o melhor vinho que já provei na minha vida.
- Tenho que concordar. Aliás, tudo está uma delícia - provei um pouco da minha comida. Ah, Itália, que saudade.
Comemos enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias. Não iria mentir, tinha sentido falta desses momentos com . Quando estávamos juntos, não nos víamos com frequência e por isso, sempre que ele voltava de viagem, nossos momentos eram cheios de conversas infinitas que só acabavam quando íamos para a cama matar a saudade de outra maneira, se é que me entende.
- Como estão as coisas com Oliver?
- Bem. Estamos voltando ao normal aos poucos, sabe? Acho que a parte complicada já passou.
- É bom saber que vocês se acertaram. Eu sei o quanto a amizade do Oliver significa para você.
- Pois é. Acho que ele só precisava de tempo para processar tudo e eu também. O importante é que agora está tudo bem.
- Você... Ainda, hm, gosta dele?
O encarei, surpresa com aquela pergunta. me encava de forma apreensiva e eu sorri levemente, pensando que aquela pergunta não deveria ter me surpreendido tanto assim. Se ele estava interessado, era óbvio que faria aquela pergunta.
- Ele é uma grande parte da minha vida e eu o amo muito sim, mas ainda não sei bem decifrar meus sentimentos. Talvez eu tenha confundido as coisas, talvez não. Só o tempo vai dizer.
Ele assentiu em sinal de compreensão. No fundo eu sabia que minha resposta tinha o decepcionado, seus olhos diziam isso, mas eu tinha sido sincera. Quando se tratava de sentimentos, eu era uma grande bola de confusão.
- Quer mais um pouco de vinho? - perguntou, mudando bruscamente de assunto. Abri um sorriso irônico.
- Está planejando me embebedar, ?
- E por que eu faria isso, ? - respondeu ele na mesma moeda.
- Não sei... Quais são as suas intenções comigo?
Ele abriu um sorriso malicioso e antes que ele falasse algo, eu já sabia a sua resposta.
- As mais impuras possíveis.
Peguei meu copo de vinho e levei até os lábios, bebendo um gole do líquido vermelho. Meus olhos não saiam de e ele sabia bem o que eu estava pensando, porque era o mesmo que ele.
Meu corpo foi prensado contra a porta fechada do quarto, enquanto beijava meus lábios com devoção. Minhas mãos ágeis passaram a desabotoar os botões de sua camisa, que logo foi para o chão, deixando todo o seu tronco disponível para meu toque. A mão de escorregou por minha perna e ele a levantou, a encaixando em sua cintura e eu aproveitei e impulsionei meu corpo, cruzando as duas pernas em sua cintura. Com a mão livre, ele subiu por minhas costas até o botão que prendia meu vestido no pescoço e desabotoou o mesmo, puxando as pontas em seguida, indicando que ele queria que eu o retirasse. Puxei os braços, tirando as mangas do vestido e a peça desceu o suficiente para que deixasse meus seios à mostra.
levou a mão diretamente para esse local e passou a massagear e apertar meu seio esquerdo, enquanto seus lábios exploravam meu pescoço. Fechei os olhos e arfei, sentindo-me cada vez mais molhada. Coloquei os pés novamente no chão e desci minhas mãos por sua barriga até a calça que ele vestia. Deslizei minha mão por seu membro duro e visível por cima da calça e apertei o mesmo levemente, arrancando um gemido rouco dele. Abri então o botão da calça, que logo foi ao chão, restando apenas a cueca box vermelha. Sexy.
Puxei seu rosto para mim e voltamos a nos beijar violentamente, nossas línguas explorando a boca do outro como nunca antes. Sem parar o beijo, empurrei seu corpo em direção a cama de casal, onde ele caiu sentado. Me afastei apenas para terminar de tirar meu vestido e a calcinha e voltei a me aproximar, sentando no colo dele. A mão de deslizou por meu corpo, parando em minha bunda, local que ele apertou e nossos lábios se chocaram novamente em mais um beijo cheio de tesão.
De repente, ele virou, me deitando na cama e ficando por cima de mim. então passou a trilhar beijos por meu corpo, começando pelo pescoço, passando pelo vão entre meus seios até minha barriga. Me apoiei nos cotovelos e encarei seus olhos agora cheios de luxúria. Eu sabia bem o que ele iria fazer e não poderia estar mais ansioso para isso. Com um sorrisinho altamente malicioso brincando nos lábios, ele se inclinou, depositando um beijo em minha virilha, antes de finalmente abocanhar minha intimidade com dedicação.
Meu corpo caiu na cama e agarrei os lençóis, arfando alto enquanto chupava e lambia o meu clitóris, me levando a extremos como nunca antes e, quando eu achava que não tinha como ficar melhor, ele colocou dois dedos em minha entrada. Mordi os lábios com força para conter o gemido alto que provavelmente sairia. Céus! Tinha esquecido o quanto ele era bom na cama. O primeiro orgasmo veio com força e dessa vez, não consegui reprimir o gemido alto que saiu dos meus lábios, juntamente com seu nome. Aquilo tinha sido maravilhoso.
depositou um beijo em minha intimidade mais uma vez, antes de erguer o corpo e aproximar seu rosto do meu espaço suficiente para que nossos lábios se tocassem. Agarrei seu pescoço e o puxei para mim, sentindo meu gosto em sua boca e me deliciando com seus lábios macios. Eu o queria dentro de mim, queria senti-lo por completo e queria agora. Com esse pensamento, o empurrei em um movimento rápido, trocando nossas posições e ficando por cima dele. , por sua vez, empurrou a cueca para baixo, para que pudesse finalmente se livrar da peça e seu membro pulou para fora totalmente ereto. Me inclinei sobre ele e nos beijamos de novo, minhas mãos atrevidas desceram de encontro ao seu pênis, massageando-o e fazendo alguns movimentos nada inocentes. cortou o beijo, arfando de prazer e tesão.
- Porra... - murmurou, o que só me incentivou a continuar com os movimentos. Desci meus lábios por seu pescoço, depositando beijos aqui e ali, assim como alguns chupões. - Camisinha... Minha calça...
Não foi preciso que ele falasse duas vezes. Parei os movimentos e me levantei, peguei a caça dele que estava no chão e vasculhei o bolso em busca da carteira e consequentemente do preservativo. Com a embalagem em mãos, voltei para cama e rasguei o pacote com os dentes, tirando a camisinha de dentro. parecia um pouco apressado, pois tomou o objeto de minhas mãos e se protegeu devidamente. Ri baixinho e ele me puxou para ele, me beijando mais uma vez naquela noite.
- Com pressa, ? - sussurrei contra seus lábios.
- Ansioso - rebateu. Seus olhos azuis brilhavam em minha direção, cheios de malícia e eu sabia que ele estava tão ansioso quanto eu para aquele momento. Ajeitei meu corpo em cima dele, e encaixei-me nele, logo começando a me movimentar. O gemido que escapou pelos nossos lábios foi inevitável. Não fechei os olhos, mantive o contato visual, querendo não perder um minuto da sua reação e a expressão de prazer que ele mantinha no rosto enquanto eu cavalgava em cima dele. - Gostosa - ele soltou entre um gemido ou outro e eu sorri, sentindo que estava cada vez mais perto do ápice.
chegou primeiro, o gemido rouco e longo dele, seguido pelo meu nome saindo da sua boca, me deixou saber que ele tinha atingido o orgasmo. Cravei minhas unhas em seu peito desnudo e continuei cavalgando, não demorando muito para atingir meu segundo orgasmo da noite. Meu corpo desfaleceu sobre o dele, ambos respirando fortemente, devido a toda movimentação feita até segundos atrás. Ficamos incontáveis minutos naquela posição.
Nenhuma palavra foi trocada, não era necessário. Com a respiração de volta ao normal, finalmente me afastei e me joguei ao seu lado na cama. Era a segunda vez que e eu transávamos em Los Angeles, mas dessa vez, eu não estava arrependida. Quer dizer, eu não tinha motivo para me arrepender, tinha?
Na outra vez, ele ainda estava casado com , as coisas estavam diferentes e agimos no calor do momento, aquilo tinha sido errado e ambos admitimos isso um para o outro depois, mas agora, apesar de ele ainda estar legalmente casado - apenas porque não aceitava o divórcio logo -, isso não era mais um obstáculo para que não ficássemos juntos e, sinceramente, por que não dar uma chance se ele estava tão disposto a me reconquistar?
Estava cansada de sofrer por um amor que nunca vai ser correspondido e, bem, eu precisava de alguém que realmente me amasse e cuidasse de mim. poderia ser essa pessoa, bastava somente eu querer. Foi com aquele pensamento que eu dormi tranquilamente aquela noite nos braços quentinhos de .
Capítulo 13
Os raios de sol entravam pela janela do quarto, mas não havia sido aquilo que tinha me despertado. O toque dos lábios de em meu ombro e suas carícias em minha pele tinham sido o motivo pelo qual eu estava consciente até demais. Sorri preguiçosamente e agarrei-me mais ao travesseiro, ainda de olhos fechados.
— Bom dia. — Sua voz rouca sussurrou próximo ao meu ouvido e minha pele instantaneamente se arrepiou.
— Bom dia. — Respondi arrastado. A verdade é que eu não queria levantar daquela cama nem tão cedo.
Ainda com o corpo encostado ao meu, arrastou sua mão por minha perna por debaixo do lençol, subindo até minhas nádegas, onde ele deu um leve aperto. Soltei uma risada, mas não me mexi ou disse algo.
— Eu adoraria passar o dia nessa cama aqui com você. — Ele sussurrou, sua voz abafada por conta dos seus lábios em minha pele. A essa altura do campeonato, minha intimidade já tinha despertado e estava começando a ficar pronta para as carícias que ele estivesse disposto a proporcionar. Seus dedos habilidosos passaram a acariciar a parte de dentro das minhas coxas e, automaticamente, minhas pernas se abriram, permitindo que ele tivesse um contato mais amplo. riu safado e seus dedos logo alcançaram minha intimidade, agora molhada. Mordi o lábio inferior em uma tentativa falha de conter um gemido, enquanto sentia os dedos de rodearem minha entrada, antes de finalmente mover um dedo para dentro. A sensação era maravilhosa e ele era mais do que habilidoso com os dedos. Empinei minha bunda e rebolei sobre seu dedo, enquanto soltava alguns gemidos aleatórios. Senti uma movimentação atrás de mim, mas não olhei. Meus olhos continuavam fechados, aproveitando aquela sensação de prazer que estava me proporcionando. Quando os seus lábios tocaram meu clitóris, sugando o pequeno pontinho, eu achei que fosse enlouquecer.
— ... — Chamei por seu nome, entre gemidos desconexos e aquilo só pareceu incentivá-lo mais pois ele inseriu mais um dedo em minha intimidade e aumentou a velocidade dos movimentos dos seus dedos e língua. Segurei os lençóis com força e rebolei sem realmente conseguir controlar mais os gemidos que saiam por minha boca. Logo, as paredes internas de minha intimidade se contraíram e eu fui invadida pelo orgasmo, que se espalhou por todas as terminações nervosas do meu corpo. Arfei longamente e deixei meu corpo relaxar na cama, aproveitando a sensação maravilhosa que tinha tomado conta de mim. Aquele era o melhor “bom dia” que eu poderia ter recebido. voltou a se deitar ao meu lado e eu me virei para ele, o encarando pela primeira vez naquela manhã. Seus cabelos estavam bagunçados, o que lhe dava um charme irresistível. Me aproximei dele o suficiente para puxá-lo para um beijo caloroso. Eu podia sentir meu gosto em seus lábios e língua e aquilo foi o suficiente para me fazer aprofundar o beijo e me agarrar mais a ele. Eu teria ido mais adiante e retribuído o que ele havia feito por mim minutos atrás se ele não tivesse rompido o beijo e falado:
— Eu adoraria passar o dia nessa cama com você — Repetiu a frase dita minutos atrás — Mas temos que trabalhar.
Resmunguei desgostosa. Preferia mil vezes ficar na cama com ele ao invés de enfrentar todas aquelas entrevistas chatas e que provavelmente teriam as mesmas perguntas e respostas.
— Não podemos deixar as entrevistas para lá e só ficar aqui? — Pedi.
— Poder, até podemos, mas depois temos que enfrentar a fúria de Trevor. — Arregalei os olhos, me lembrando desse detalhe. Enfrentar a fúria do diretor era a última coisa que eu queria a essa altura do campeonato.
— Você sabe bem como convencer uma pessoa a ir trabalhar. — Comentei, já me levantando. riu e se levantou também.
Os minutos seguintes foram intercalados entre mim e . Eu tomei banho primeiro, já que demoro mais para me arrumar e logo depois foi a vez dele. Ele até chegou a sugerir que tomássemos banho juntos, mas eu sabia que se aceitasse, acabaríamos nos atrasando para a entrevista. Uma hora depois, ambos estávamos dentro do carro a caminho do estúdio da CBS. Iríamos fazer uma participação especial no programa do Corden. Estava ansiosa, pois sempre que podia assistia alguns episódios e me acabava de rir com o humor que ele tinha durante suas apresentações.
Assim que chegamos, fomos direcionados para um camarim, onde foi dado o retoque na minha maquiagem e algumas pessoas da produção nos deram algumas instruções.
— Está ansiosa? — perguntou ao perceber que eu não parava quieta em um canto. Assenti e ele veio em minha direção e me puxou para um abraço. — Vai dar tudo certo.
— Eu sei que vai — murmurei, e arrodeei meus braços ao redor dele, retribuindo o abraço.
Batidas na porta interromperam os nossos momentos e nós nos separamos, enquanto pedia para que a pessoa entrasse.
— Vocês entram em cinco minutos. — Uma moça, que deveria ser uma das assistentes, informou.
Agradecemos e a moça se retirou, nos deixando sozinhos.
— Pronta? — me perguntou.
Assenti e, logo, saímos porta afora.
— Vocês estavam noivos há quase três anos, certo? — perguntou e eu assenti, já sabendo o tipo de pergunta que vinha por aí. — Como foi para você descobrir que iria trabalhar com o seu ex noivo depois de tanto tempo sem se verem? — Ele me encarou atentamente, esperando minha resposta.
Pigarreei antes de começar a responder.
— De primeira foi um choque. Eu não o via há um bom tempo e não fazia ideia onde ele estava ou o que estava fazendo, então encontrar com ele no set pela primeira vez e descobrir que trabalharia com ele no primeiro grande filme de minha carreira foi bastante surpreendente.
— E como você lidou com isso? Foi estranho e vocês tiveram que sentar e conversar?
— Tivemos que conversar em um certo ponto — falei, tentando medir as minhas palavras para acabar não falando besteira —, mas tanto eu quanto sabíamos ser profissionais e, bem, já havia passado bastante tempo, não tinha motivo para brigas ou qualquer outra coisa, então tudo meio que fluiu naturalmente.
— E hoje vocês são amigos?
— Sim, somos bastante próximos — e eu nos encaramos e sorrimos um para o outro. Ah, se as pessoas soubessem o quão próximo nós éramos.
— Eu descobri uma coisa bastante interessante e acho que poucas pessoas sabem. A esposa do , , fazia parte do seu ciclo de amizade durante o seu relacionamento com . — Engoli em seco e enrijeceu o corpo ao meu lado. Era a primeira vez que tocavam naquele assunto em uma entrevista e, sinceramente, não estava preparada para a pergunta que veio a seguir. — Você só descobriu que ela e tinham casado quando voltou da Itália, ou ela te contou antes? Estanquei, sem saber o que dizer. Quer dizer, eu sabia sim, mas aquilo era tão pessoal e poderia causar tantos problemas que eu tinha que procurar as palavras certas para não acabar causando um caos com a minha resposta. Tudo o que eu menos queria era mais briga com . Já bastava os meus próprios problemas, não queria ter que lidar com os dela também.
Por fim, limpei a garganta e me pus a falar da forma mais neutra possível.
— Bem, e eu acabamos perdendo o contato e, foi somente quando voltei da Itália, que descobri sobre o casamento dos dois. Fiquei bastante feliz por eles e conheci a filhinha deles, que é bastante adorável por sinal.
— Ah, a pequena Dulcie é mesmo muito adorável. Como ela está, ?
Tive que me conter para não dar um suspiro de alívio quando o foco da conversa passou a ser . Ele tinha bem mais prática que eu com entrevistas e respondeu tudo perfeitamente, sabendo quando desviar de perguntas inapropriadas e dar as respostas certas que fizesse com que o apresentador ficasse satisfeito.
— Muito obrigado pela participação de vocês. Foi um prazer tê-los aqui.
— O prazer foi nosso, . — Disse, cumprimentando o homem.
— É isso aí, uma salva de palmas para e . Assistam Black Widow nos cinemas no dia 20 de novembro.
Nos despedimos e fomos embora. O sorriso não saia do meu rosto e se encontrava do mesmo jeito. Mais um compromisso cumprido e não poderíamos estar mais realizados.
Abri a porta do meu apartamento e inspirei o ar, querendo sentir o familiar cheiro que minha casa possuía. Depois de dias de mais e mais entrevistas, photoshoots e passeios por Los Angeles, voltar para casa era tudo que eu queria. Larguei todas as minhas malas no chão do quarto — arrumaria depois quando tivesse coragem — e corri para minha cama, me jogando na mesma. Nunca imaginei que fosse sentir tanta saudade assim do meu lar e olha que eu já tinha passado bem mais tempo longe dele.
— ? — rompeu pela porta animada como sempre. — Até que fim você chegou!
Levantei da cama e minha irmã me abraçou fortemente. Ri, estranhando; desde quando sentia minha falta assim?
— Calma, eu nem fiquei fora por tanto tempo. — Me afastei para olhá-la melhor.
— Para mim foi uma eternidade. — Fez drama. — Mamãe quase conseguiu me arrastar de volta para casa nesse meio tempo.
Ah, estava explicado todo o sentimentalismo.
— Tenho certeza de que você sobreviveu.
— Sim, mas foi por muito pouco.
— Não sei por que tanto medo de voltar a morar na casa da nossa mãe.
— Não é medo, mas com você é diferente do que quando era com a mamãe.
Olhei para ela e ergui a sobrancelha.
— Está querendo dizer que só gosta de morar comigo porque eu não imponho regras?
Ela arregalou os olhos, assustada.
— Não, não! — Apressou-se em dizer. — Eu gosto de morar com você porque sempre foi meu sonho.
Cerrei os olhos, não acreditando naquilo. As coisas precisavam mudar por aqui; afinal tinha apenas 16 anos e eu não queria ser responsável se algo de ruim acontecesse.
— Onde está Martha? — Questionei ao lembrar da empregada. Outra coisa que tinha sentido falta nesses últimos dias. A comida da minha empregada era divina; às vezes ficava me questionando o motivo de ter demorado tanto para contratar uma. Era óbvio que eu me alimentava bem melhor que antes.
— Saiu para fazer umas comprinhas, mas deixou comida pronta para você.
mal terminou de falar e eu praticamente corri em direção à cozinha. Estava faminta e a comida de Martha era tudo que eu precisava agora. Em cima do fogão tinha risoto e frango, especialidade da empregada e meu favorito. Minha boca até salivou de tanta vontade. Preparei meu prato e coloquei no micro-ondas para esquentar e fui procurar algo para beber na geladeira... Hmmm... suco de laranja; Martha era mesmo um anjo.
— Se qualquer pessoa que não te conhece te visse nesse momento, diria que estava passando fome — brincou e se sentou ao meu lado em um dos bancos da cozinha.
— Não estava passando fome, mas também não era a comida da Martha.
— O que tem a minha comida? — Martha entrou na cozinha carregada de sacolas. imediatamente se levantou para ajudá-la. Eu faria o mesmo, se não estivesse ocupada comendo aquela delícia.
— Estava dizendo a que estava com saudade da sua comida. — Falei quando terminei de mastigar.
— Então fiz certo em preparar o risoto para a senhora.
— Sem me chamar de senhora, já falamos sobre isso — ralhei. — E sim, fez muito certo. Está uma delícia.
Ela sorriu e se pôs a guardar os condimentos que tinha comprado. Terminei de comer e me juntei as duas. Acabamos iniciando uma conversa aleatória que durou bastante tempo até sermos interrompidas pela campainha. Martha saiu para abrir a porta e, minutos depois, ela retornou, sendo seguida por Oliver.
— Vejo que chegou de viagem e sequer me mandou mensagem. — Acusou e me puxou para um abraço.
— Desculpe. Acabei me distraindo aqui com e Martha. — Confessei. — Aliás, achei que você fosse diretamente matar a saudade de sua namorada.
— estava cansada então a deixei em casa e vim direto para cá.
Então ele estava mesmo com ela antes de vir para cá... aquilo não deveria me surpreender.
— Qual é a minha surpresa? — Perguntei ao me lembrar da sua ligação de dias atrás. Ollie me olhou surpreso, provavelmente achando que a essa altura do campeonato eu já havia esquecido. Não mesmo.
— Se eu te contar, deixa de ser surpresa — rebateu, sorrindo esperto. Resolvi não insistir para saber, ele não ia me contar e se ele queria me surpreender, eu lhe daria essa chance. Olhei para minha irmã e ela nos encarava com desconfiança. Quer dizer, ela encarava Oliver com desconfiança. Ela ainda estava com o pé atrás em relação a ele, mas eu não a culpava, afinal, Ollie pisou feio na bola comigo. Se não gostasse tanto dele e não fosse tão besta, com certeza também estaria com o pé atrás.
Como não tinha planejado nada e sair era a última coisa que eu queria naquele momento, decidimos assistir alguma coisa na televisão. Com um balde enorme de pipoca preparada por Martha, eu e Oliver nos sentamos no sofá e começamos o nosso dilema do que iríamos assistir.
— Eu não quero assistir essa série de novo — reclamei, tomando o controle da mão dele. — Já assisti Friends com você cinco vezes. Você não cansa?
— Você sabe que não — retrucou ele. — O que você quer assistir então?
Com o controle, naveguei pelo catálogo da Netflix, até que uma série em especial me chamou a atenção.
— Essa aqui!
— Outlander? — Ele franziu o cenho. — Por favor, não. — Ele resmungou, afundando o corpo no sofá.
— Por favor, sim! — Contrariei. — Vamos lá! Eu sempre assisto o que você quer e eu realmente gostei da sinopse.
Ele suspirou alto, mas por fim concordou. Dei um gritinho de felicidade e, com o controle remoto, dei o play no primeiro episódio. A série é baseada em um livro com o mesmo nome da série e conta a história de uma mulher que era enfermeira na Segunda Guerra e que, acidentalmente, viajou para 1746, 200 anos no passado. A história era bastante interessante e, apesar da relutância no início, Oliver também estava gostando; a todo momento ele fazia comentários e acabamos por assistir 6 episódios sem parar.
— Nossa, já são quase três da manhã. — Ele falou, se espreguiçando. Eu estava com a cabeça deitada em seu peito, então me afastei para que ele pudesse se movimentar melhor.
— O tempo passou rápido mesmo.
— Sim. Acho melhor eu ir embora.
Ele fez menção de se levantar, mas segurei sua mão.
— Não! Fica, por favor.
Ele me encarou, seus olhos analisando meu rosto cuidadosamente. De repente, uma vergonha sobrenatural se apossou de mim e meu coração acelerou, como um bom tolo que era.
— Tem certeza? — perguntou.
Eu sabia bem o motivo daquela pergunta. Antigamente, eu não precisaria pedir duas vezes para que ele ficasse comigo, mas agora, toda vez que eu fazia um pedido parecido como aquele ou se estivermos em um momento extremo de intimidade, Ollie recuava. Eu não o culpava por estar agindo como se estivesse em um campo minado, afinal, eu havia me apaixonado por ele e, embora eu não queira, parte minha ainda guardava tais sentimentos por ele. No entanto, eu sabia que precisava esquecer, que precisava apagar aqueles sentimentos e estava tentando; meu recente envolvimento com provava isso.
— Se você quiser ficar... — deixei que ele decidisse. Não iria impor ou ficar pedindo como uma desesperada.
Ele ficou em silêncio, mas eu podia ver em seu rosto que ele estava decidindo se era seguro ficar ou se ele deveria ir embora.
— Acho melhor eu ir — falou, por fim.
— Tudo bem — assenti, embora estivesse decepcionada por dentro.
Ele levantou do sofá e eu o acompanhei até a porta. Ele não me abraçou, não me deu um beijo no rosto como de costume, não fez nenhum contato íntimo. Nossa despedida se resumiu em um aceno de longe e, em um piscar de olhos, ele tinha ido embora. Fechei a porta e me encostei na mesa, suspirando alto. Quando é que vamos voltar a agir normalmente com o outro? Talvez eu nunca tivesse uma resposta para tal pergunta, então não me detive muito nela. Bocejei, só então percebendo o quanto estava cansada. Sem mais delongas, segui para meu quarto, onde me joguei embaixo dos lençóis e dormi como um anjo pelo resto da noite.
Estacionei o carro em frente à casa de minha mãe. Tinha um tempo em que não ia visitá-la e já estava com saudades. Naquele dia tinha amanhecido com um ótimo humor e sentindo minhas energias renovadas depois de semanas trabalhando sem parar, então havia resolvido deixar minha irmã na escola — para a completa surpresa dela — e passar um tempo na casa dos meus pais em seguida.
— Olha a cara das recalcadas. — comentou, quando estacionei o carro em frente à sua escola. Algumas pessoas tinham parado para observar e outras começaram a comentar assim que viram que era eu no volante. Não dei muita bola, afinal já estava acostumada com os olhares. Por outro lado, minha irmã estava mais que feliz com a atenção que estava recebendo. Ter uma irmã famosa para ela a coisa mais maravilhosa do mundo, coisa que eu não entendia, afinal, eu era uma pessoa normal com um trabalho legal e nada mais. — Morrem de inveja por não terem uma irmã famosa. Ou alguém famoso na família.
— Boa aula, — disse, deixando claro que queria que ela saísse do carro de uma vez. Ela pareceu entender o recado, pois soltou o cinto e abriu a porta do veículo.
— A gente se vê mais tarde maninha — falou, antes de bater a porta do carro e correr para dentro da escola.
Agora, aqui estava eu, parada em frente à minha casa, esperando que alguém abrisse a porta. Logo, minha mãe apareceu e sorriu abertamente quando me viu.
— Querida! — Ela me puxou para um abraço. — Senti tanto a sua falta.
— Também senti saudades, mãe. — Respondi, retribuindo o abraço caloroso dela.
— Venha, entre.
Ela me puxou para dentro e, como o esperado, dois pares de braços se envolveram em minhas pernas. Sorri e me abaixei, abraçando meus sobrinhos fortemente, demonstrando o quanto tinha sentido falta deles.
— Tia, mamãe está grávida. — A pequena Lauren contou a novidade.
— É. Eu vou ter um irmãozinho — Mike completou, feliz da vida.
— Vai ser uma irmãzinha. — A mais nova replicou e Mike fez careta iniciando uma discussão do porquê ele achava que seria um irmão.
Sorri, achando aquela cena adorável. Lembro-me bem de ter essa mesma discussão com meu irmão quando soube que minha mãe estava grávida de . Ergui os olhos para minha mãe e ela também encarava os netos com o mesmo sorriso que eu.
— Como assim Martha está grávida? — Perguntei, finalmente expressando minha surpresa com a novidade.
— Sim, está grávida de quatro meses.
— Posso saber como é que estou sabendo disso somente agora? — Cruzei os braços, me sentindo ofendida por ter sido deixada de lado no compartilhamento da novidade. Minha mãe deu de ombros, como se dissesse que não sabia a resposta. — Onde está Josh? — indaguei, quando não o avistei em nenhum canto da casa.
— Saiu com o seu pai, mas eles chegam daqui a pouco.
Ótimo, tiraria essa história a limpo quando ele chegasse. Minha mãe se direcionou para a cozinha e eu a segui, já sentindo o cheiro maravilhoso que era a comida dela. Minha boca automaticamente se encheu d’água e eu me peguei mexendo nas panelas para verificar que delícia ela estava preparando.
— Quer ajuda com alguma coisa? — Perguntei prestativa. Ela negou com a cabeça, mas eu sabia que ela precisava de ajuda sim, então peguei uma faca e algumas verduras, passando a cortá-las devidamente.
— Eu disse que não precisava, filha — protestou.
— E eu te conheço bem o suficiente para saber que precisa — rebati. Ela não discutiu, mas pelo canto de olho pude vê-la balançar a cabeça negativamente para o meu comportamento. Reprimi um sorriso; até parece que ela não conhecia a filha que tinha.
Horas depois, mais precisamente na hora do almoço, Josh e meu pai chegaram. Fixei meu olhar sério no meu irmão, que logo percebeu que tinha algo de errado.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou ele.
— Aconteceu sim — apontei o garfo que segurava em sua direção e ele arregalou os olhos assustado. — Como é que você não me conta que Martha está grávida? Eu sou ou não sou a tia dessa criança?!
Sua expressão suavizou e ele riu, me deixando ainda mais ultrajada. Mas que diabos?! Ele esconde a gravidez da própria irmã e ainda ri na minha cara?
— Você está sempre ocupada; não tive como te contar.
— Agora a culpa é minha? Celular existe para isso meu caro irmão: para comunicação.
Minha mãe riu e eu a olhei indignada. Oras, mais ninguém nessa família me levava a sério?
— Desculpa, maninha. Não foi minha intenção te deixar por fora das novidades.
Cerrei meus olhos em sua direção, enquanto me decidia se aceitava ou não seu pedido de desculpas.
— Certo — por fim, disse. — Dessa vez vou deixar passar..., mas não ouse me deixar por fora de mais nada, está me ouvindo? — Impus, ainda balançando o garfo em sua direção.
Ele arregalou os olhos, mas eu sabia que ele queria rir. O esforço que ele estava fazendo para prender o riso estava bem perceptível.
— Sim senhora — falou e essa foi a gota. Meu pai e minha mãe explodiram em gargalhadas, assim como o meu irmão. Também quis rir, mas mantive minha pose, olhando seriamente para o rosto dos três.
— Do que vocês estão rindo? — Martha adentrou a cozinha. Sua barriga já estava aparecendo, apesar de ainda estar pequena. Acabei por esquecer do que estava me perturbando segundos atrás e me foquei na mulher à minha frente.
— Martha! Sua barriga está aparecendo — exclamei, completamente deslumbrada. — Posso? — perguntei, me referindo a tocar sua barriga. A mulher assentiu e eu coloquei minha mão em cima de sua barriga, como se quisesse sentir o bebê. — Já sabem se é menina ou menino?
— Não. Josh e eu decidimos que vamos deixar para descobrir quando o bebê nascer.
Assenti, compreendendo. No entanto, a curiosidade se apossou de mim e eu me vi ansiosa para saber se teria mais um sobrinho ou uma sobrinha. Amava crianças, apesar de não ter tido a oportunidade de ter uma. e eu sempre fazíamos planos e tudo mais, mas bem, aconteceu o que aconteceu e os planos foram por ladeira abaixo. Martha e eu engatamos em uma conversa sobre bebês e assim permaneceu pelo resto do almoço. Depois que terminamos de comer, ela e meu irmão tiveram que ir embora com Lauren e Mike, restando apenas meus pais e eu na casa. Aproveitei para ajudar minha mãe na cozinha, apesar dos seus protestos.
— Quando vai ser a estreia do filme?
— 20 de novembro. Ainda temos mais algumas entrevistas para dar, entre outras coisas, mas está perto do fim.
— Já sabe o que vai fazer depois disso? — perguntou.
— Na verdade, não. Nem tinha parado para pensar a respeito — confessei.
— Não se preocupe com isso. Você pode tirar umas férias enquanto descobre o que quer fazer.
— Odeio ficar sem fazer nada, mãe; você me conhece.
— Sim, conheço. Mas ficar se matando de trabalhar não te faz bem e te deixa estressada.
Ela tinha razão. Talvez eu precisasse de férias, mas isso era algo que deixaria para decidir depois. O toque do celular interrompeu nossa conversa e eu corri até o aparelho, atendendo-o depois de ver o nome de piscando na tela.
— Olá, Mr. . Em que posso ajudá-lo? — falei formalmente, arrancando uma risada do homem.
— Olá, Ms. . Eu gostaria muito que a senhorita viesse à minha casa, pode ser? — respondeu, tão formal quanto eu.
— Opa, direto hein?
— Claro, não perco tempo — rebateu e eu ri, sendo acompanhada por ele. Me virei, encontrando minha mãe me encarando de forma curiosa. — Mas sério, eu queria muito te ver — ele suspirou e só então notei que algo estava errado.
— Aconteceu alguma coisa?
— — revirei os olhos. Claro que tinha a ver com aquela mulher. — Fez o maior barraco porque saiu algumas fotos nossas juntos em Los Angeles. Não foi nada demais, mas você sabe como ela é, né?
— E como sei... — respondi. — Ela está aí?
— Não. Ela arrumou as malas e foi embora... E levou Dulcie com ela.
Fechei os olhos. Era possível sentir a dor em sua voz através do aparelho. amava sua filha demais e vê-la sendo levada por deveria ser horrível. Não poderia imaginar como ele deveria estar se sentindo nesse momento.
— Eu chego aí em trinta minutos — disse, por fim, e encerrei a ligação. — Preciso ir — falei para minha mãe. Ela assentiu, mas pelo seu olhar, notei que ela reprovava minha atitude. Não importava, precisava de mim e eu iria correndo ajudá-lo, não importava o que os outros pensassem sobre aquilo. Peguei minha bolsa e, após me despedir de meus pais, corri porta afora, até o meu carro, entrando no veículo e dando partida.
O caminho para a casa do não era tão distante, mas por incrível que pareça, o tráfico estava uma loucura, então eu demorei quase uma hora para chegar lá. Estacionei o carro em frente à grande residência e saí do veículo, travando o carro após fechar a porta do motorista. Pelo canto do olho avistei um paparazzo escondido atrás de uma árvore, mas não me preocupei com aquilo, só segui até a porta da casa de e toquei a campainha.
No instante seguinte a porta foi aberta e um abatido apareceu. Meu coração se apertou quando o vi daquele jeito; o cabelo bagunçado, os olhos inchados indicando que ele havia chorado. Meu primeiro pensamento foi que eu deveria abraçá-lo, mas precisei me lembrar de que estávamos sendo observados ali.
— Entra — ele falou, a voz baixa e rouca. Assenti e entrei na casa, sem tirar os olhos dele. fechou a porta e só então me permiti jogar os braços ao seu redor em um abraço de conforto. Eu queria muito dizer que tudo iria ficar bem, mas aquilo soava clichê demais, então optei por ficar em silêncio e torcer para que ele entendesse o significado o meu abraço. Ele, por sua vez sua vez, arrodeou seus braços ao redor de minha cintura, me puxando para perto e enfiou o rosto em meu cabelo. — Eu não sei o que fazer — murmurou.
Me afastei e segurei seu rosto fazendo com que ele me olhasse nos olhos.
— Ei, você vai conseguir a Dulcie de volta, tá? Ela não vai te afastar da sua filha; ela não pode fazer isso.
— Ela disse que ia assinar os papéis do divórcio, mas que ia fazer o possível para que eu nunca mais visse a Dulcie.
Ele se afastou, sentou-se no sofá e afundou o rosto nas mãos. Ele estava desesperado e, pela primeira vez, eu tive vontade de ir atrás da e encher ela de porrada. tinha seus defeitos — assim como todo mundo —, mas era muito injusto o que ela estava fazendo só porque ele não gostava mais dela e tinha descoberto a cobra com quem tinha se casado. Um sentimento forte se apossou de mim e eu senti necessidade de proteger . Ele tinha estado do meu lado quando mais precisei e agora eu faria o mesmo por ele. Se dependesse de mim, não ia fazer nada que o prejudicasse ou o afastasse da filha.
— Ela não vai fazer isso; eu não vou deixar — sentei-me ao seu lado e me encarou de cenho franzido. — É isso mesmo que você ouviu. Você esteve do meu lado quando não tinha ninguém mais que pudesse me consolar; você me ajudou de maneiras que nunca achei que fosse possível. Agora é minha vez de fazer o mesmo por você. Eu estou aqui, ; você me tem do seu lado e se depender de mim, você vai ter a Dulcie de volta, porque eu vou mover céus e terra para fazer com isso aconteça.
Um sorriso pequeno brotou em seus lábios e ele se inclinou, selando meus lábios com os seus. Nos beijamos calmamente, não existia pressa e nenhum sentimento de luxúria. Aquele era um beijo puro e com sentimento, um beijo de agradecimento.
— Eu não mereço você — ele sussurrou. Seu rosto ainda estava próximo ao meu, nossos olhares conectados; estávamos presos na nossa própria bolha e, sinceramente, eu gostava daquela sensação de que ele estava me causando. Ergui minha mão e toquei seu rosto com a ponta dos meus dedos, só para vê-lo fechar os olhos por uns segundos, logo abrindo-os novamente.
— Você não merece, mas aqui estou eu, não estou?
Ele assentiu antes de voltar a me beijar. O toque dos lábios dele nos meus me deixavam entorpecida e entregues de uma forma que nunca tinha acontecido antes. Nem mesmo quando éramos namorados/noivos anos atrás. Isso não quer dizer que eu não o amava, porque eu sabia que sim, mas aquilo era diferente, era forte... e bom. Se dependesse de mim, passaria o dia inteiro só beijando aqueles lábios e não precisaria de mais nada. Mas, infelizmente, o beijo foi diminuindo até que ele chegou ao fim. relaxou os ombros e impulsou o corpo para trás, se encostando no sofá. Soltei um suspiro, ao ver que ele estava bem mais relaxado. Saber que tinha o confortado era um alívio e tanto.
— Eu vou fazer alguma coisa para você comer. Enquanto isso, você pode ir tomar um banho — dei uma leve batidinha em uma perna, antes de me levantar.
— Está querendo dizer que estou fedendo? — ele levantou a sobrancelha de modo desafiador.
— Não, mas a sua aparência te denúncia.
Ele murmurou alguma coisa que não entendi, mas fez o que pedi. Segui para a cozinha e fui direto para geladeira, em busca de algo prático e que não demorasse muito para fazer. Acabei por achar uma lasanha congelada no freezer e empanados de frango. Não era uma opção muito saudável, mas era o que tinha. Coloquei a lasanha no micro-ondas e, enquanto esperava, assei os empanados e fiz um suco de laranja. Quando tudo estava pronto e eu já tinha colocado à mesa. apareceu com o cabelo molhado e vestindo apenas uma calça de moletom. Oh, céus; ele tinha mesmo que ficar sem camisa?
— Estou faminto — disse, se sentando na mesa e já se servindo.
— Estou vendo — ri e me juntei a ele, também me servindo.
Comemos em silêncio. estava mesmo com tanta fome, que ele sequer se importou em conversar. Acho que nem teria como, já que ele mantinha a boca ocupada o tempo todo. Depois do jantar, seguimos para sala, onde ele colocou um filme para assistirmos. Não tocamos no assunto Dulcie de novo e eu não quis mencionar nada, pois não queria presenciar todo aquele semblante de sofrimento dele. Aquele seria um assunto para voltar a se pensar amanhã. O tempo passou rápido e eu só percebi que era tarde quando o meu celular apitou com uma mensagem de perguntando onde eu estava.
— Tenho que ir. Já está tarde... — anunciei, ao me levantar do sofá.
— O quê? Não vai... — ele me puxou de volta, fazendo com que eu me sentasse em seu colo. — Fica comigo hoje.
— Minha irmã está sozinha e me esperando.
— Ela pode se cuidar. Por favor, ... — ele começou a dar leve beijos em meu pescoço, deixando minha pele arrepiada no processo.
— Não faz isso... Eu tenho que ir...
— Não quero ficar sozinho hoje...
Suspirei, sabendo que ele não ia desistir e que uma hora ou outra eu iria acabar cedendo.
— Tem certeza de que quer que eu fique? E se voltar?
— Ela não vai voltar...
Meu celular tocou novamente. Dessa vez era mensagem de Oliver.
Oliver
online
online
Posso passar na sua casa? Preciso conversar...
Meu coração acelerou e eu fiquei sem saber o que fazer. Eu não queria abandonar , mas Ollie precisava de mim e eu não podia simplesmente ignorar aquela mensagem.
— Eu realmente preciso ir — me virei para encará-lo, a tempo de ver que ele observava a tela do meu celular.
— Tudo bem. Seu amigo precisa de você.
Seu rosto era indecifrável, mas eu sabia bem que ele não tinha gostado daquela situação.
— ...
— Pode ir, . Eu entendo.
O encarei, tentando ter certeza de que ele entendia mesmo, mas acabei desistindo.
— Tudo bem. — Disse, por fim. Selei nossos lábios em um selinho longo e, em seguida saí do seu colo e me encaminhei até a porta ao mesmo tempo em que respondia a mensagem de Oliver. — Eu volto amanhã, está bem?
Ele assentiu. Saí da casa e corri até o carro, entrando no mesmo e dando partida, dessa vez para minha casa.
Ao adentrar meu apartamento, me deparei com a cena mais esquisita da minha vida: estava no maior amasso com um rapaz que eu nunca tinha visto antes em toda minha vida.
— ! — me pronunciei assustando o casal. O garoto caiu no chão e me olhou com os olhos esbulhados. Teria sido uma cena engraçada se eu não estivesse tão surpresa. — O que é isso?
— ! — ela se levantou e veio até mim, arrumando a roupa amassada. — Eu te mandei mensagem. Não achei que vinha para casa hoje.
— Então achou que seria conveniente chamar um garoto? Você está louca?
— Esse garoto é meu namorado, David.
— Não importa quem ele é, ! — Olhei para o rapaz, que já estava em pé, nos encarando feito bobo. — Rapaz, você poderia ir embora? Eu tenho que ter uma conversinha com minha irmã.
O garoto arregalou os olhos e, sem nem questionar, se despediu de minha irmã e foi embora. Agora que o choque tinha passado, eu estava brava, muito brava. Se minha irmã acha que só porque mora comigo, ela vai poder fazer o que bem entender, ela está muito enganada.
— O que você tem na cabeça, ? Trazer o namorado para a minha casa, ainda por cima quando não estou nela!
— Eu achei que...
— Que podia trazer quem quisesse? Não, você não pode! Você não está morando com a mamãe, mas isso não significa que não vão existir regras. E se esse rapaz fizesse algo com você que você não consentisse? Por Deus, ! Eu sou a responsável por você. Se algo te acontece, mamãe me mata.
— Você está exagerando, . David estuda comigo.
— E isso faz com que você esteja certa? — Ela não respondeu. — Que essa seja a última vez que você tenha trazido alguém sem o meu consentimento e sem a minha presença, ouviu? Faça isso de novo e eu te mando de volta para a casa da nossa mãe. — Ela abriu a boca, pronta para falar algo, mas não permiti. — Eu não quero ouvir suas desculpas. Vá para o seu quarto e só me saia amanhã para ir à escola.
Ela bufou e marchou para o quarto. Como se eu já não tivesse problemas o suficiente, vem com mais essa. Sentei-me no sofá, apenas para levantar-me de novo, pois a campainha tocou anunciando a chegada de Oliver. Corri até a porta e girei a maçaneta afobada, dando de cara com um Ollie completamente abatido. Arregalei os olhos, ficando instantaneamente preocupada.
— O que aconteceu? — disparei.
— Longa história... Posso entrar?
— Ahn... Claro. Desculpe. — Dei espaço para ele passar e fechei a porta, assim que ele o fez. O segui até a sala, onde ele se acomodou no sofá como de costume.
— terminou comigo.
Ele sequer me esperou sentar antes de me jogar aquela bomba. O choque foi tão grande que meu corpo literalmente caiu no sofá. Tenho certeza de que se pudesse me ver naquele momento, me veria com o queixo no chão. Era exatamente como eu estava naquele momento. Levei minha mão à boca para conter meu choque e surpresa, em vão. Vasculhei minha mente por palavras ou qualquer outra coisa para falar, mas nada vinha. Na verdade, eu ainda estava processando aquela notícia e Oliver sabia disso, porque ele apenas continuou me olhando e esperando pacientemente que eu voltasse ao normal.
terminou com Oliver.
terminou com Oliver.
Oliver agora estava solteiro.
Estaria mentindo se dissesse que pensar em meu melhor amigo solteiro e completamente livre não fez meu coração disparar. Não que eu fosse expressar isso e demonstrar felicidade, porque eu não era esse tipo de pessoa. Acima de qualquer coisa, Ollie era meu amigo e eu sei que ele gosta muito de . No entanto, seria muita hipocrisia minha se eu dissesse que aquela chama de esperança não acendeu; afinal, eu ainda gostava bastante dele e, por mais que estivesse tentando seguir em frente com , meu sentimento não desapareceu da noite pro dia. Não... Ele ainda existia e tinha acabado de ser acordado.
— Por quê? — Foi a primeira coisa que saiu da minha boca. — Vocês pareciam estar tão bem...
— E estávamos — ele suspirou. — Não sei o que aconteceu.
— Ela não te deu nenhuma explicação?
— Ela aceitou uma proposta para outro filme e ele vai ser filmado no México.
— Isso não é motivo. Existe relacionamentos à distância.
— Eu sei e nós conversamos sobre isso, mas... Talvez eu tenha me precipitado um pouco e tenha pedido ela em casamento.
— QUÊ? — mais uma bomba jogada no meu colo, e junto dela minhas esperanças foram destruídas.
Ele tinha pedido ela em casamento.
— Eu sei, fui estúpido — ele apoiou os cotovelos nas coxas e enterrou o rosto nas mãos. — Ela disse que não estava pronta e que nosso relacionamento não iria dar certo e era melhor terminar agora.
— Oh, Ollie... — Levantei-me e fui até o sofá no qual ele estava e me sentei ao seu lado. — Eu sinto muito.
Ele não respondeu e eu resolvi ficar em silêncio. Não tinha muito o que ser dito naqueles momentos e nem eu sabia o que dizer. Sabia que era horrível um fim de relacionamento por experiência própria, ainda mais quando se ama tanto a pessoa ao ponto de pedi-la em casamento. Ficamos em silêncio por vários minutos até que ele ergueu o corpo.
— Quer saber? Eu não vou ficar aqui sofrendo porque ela não me quis ao ponto de aceitar meu pedido de casamento.
— Ollie, você sabe que não precisa se reprimir comigo. Tudo bem sofrer, tudo bem chorar, isso é normal. Você vai ficar bem, eu prometo.
— Eu não quero nada disso, . Não quero ter que ficar me lamentando e chorando pelo fim de um relacionamento. — Eu conseguia ver a dor em seus olhos e aquilo era a mesma coisa que me matar. Detestava ver Ollie sofrendo daquela forma.
— Ei — segurei o seu rosto, tomando sua atenção para mim. — Você confia em mim? — ele assentiu. — Eu te prometo que vai ficar tudo bem, mas você não pode reprimir seus sentimentos por mais dolorosos que eles sejam, tudo bem? — ele assentiu novamente.
— Por que eu não me apaixonei por você? Seria tudo tão mais fácil...
— Sim, seria. Mas nós nunca queremos o que é fácil, não é? — sorri fracamente. Ele se deitou no meu colo, e eu passei a acariciar seus cabelos.
— Me desculpa por ter te feito sofrer, . Eu fui tão babaca com você.
— Esqueça isso, Ollie. Eu já esqueci.
Nada mais foi dito por ele, ou por mim. Continuei acariciando seus cabelos e quando ouvi seu choro baixinho, apenas continuei por perto, para que ele soubesse que eu não sairia do seu lado por nada no mundo. E foi exatamente isso que eu fiz.
Capítulo 14
Ollie dormiu na minha casa pela primeira vez desde que retomamos nossa amizade. Eu sabia que a situação o havia levado a ficar em meu apartamento, mas também desejava que isso fosse apenas o começo de uma volta ao normal para nós. Sentia saudade de como nossa amizade era antes, de como éramos unidos, e, bem, tudo o que eu queria era ter essa normalidade de volta, já que eu não poderia tê-lo para mim de outra forma. Cheguei à conclusão de que era melhor tê-lo como amigo do que não tê-lo de maneira nenhuma em minha vida. E foi esse pensamento que me fez decidir deixar qualquer esperança de um possível relacionamento com ele de lado.
Preparei o café da manhã, coloquei tudo em uma bandeja e levei para o quarto. Ollie ainda estava dormindo, então, com cuidado, coloquei a bandeja sobre a mesinha de centro e me agachei ao lado do sofá branco.
— Oliver... — Cutuquei o braço dele e ele resmungou um pouco, ainda sem acordar. — Oliver, acorda... — Chamei novamente e, finalmente, ele abriu os olhos devagar. — Ei... Bom dia. — Sorri cordialmente quando ele me olhou.
— Bom dia. — Respondeu, ainda meio sonolento. — Que horas são?
— Ainda é cedo, não se preocupe. Preparei um café da manhã para você.
Ele ergueu o corpo o suficiente para ver a bandeja em cima da mesinha atrás de mim.
— Não precisava se incomodar com isso, . — Ele se sentou, e eu peguei a bandeja, colocando-a em seu colo.
— Não é incômodo, você sabe disso.
Ele deu de ombros e se pôs a comer. Ollie sabia bem que não adiantaria ficar discutindo comigo, pois eu acabaria vencendo a discussão uma hora ou outra.
— Está uma delícia. Obrigado. — Comentou entre uma mordida e outra na panqueca que eu tinha preparado.
— E você achava que eu não sabia fazer nada? — Ri.
— Acredite, estou completamente surpreso por não estar comendo uma panqueca queimada. — Fez graça e eu o fuzilei com os olhos.
— Muito engraçado.
Ele voltou a se concentrar na comida e eu optei por ligar a TV, torcendo para que estivesse passando algo que preste. Por sorte, estava passando um filme do qual eu não sabia o nome, mas parecia ser bastante interessante. Oliver permaneceu ao meu lado o tempo todo, ora ou outra fazendo comentários sobre o filme ou a atuação dos atores principais, o que, na maior parte das vezes, gerava uma grande discussão entre nós dois. Dessa vez não foi diferente.
— Nossa, ele poderia ter atuado muito melhor. — Disse ele, referindo-se ao ator principal do filme.
— Ele foi perfeito. Não tem como ter uma atuação melhor que essa. — Rebati.
— Claro que tem. Brad Pitt é um ator foda para caralho, todo mundo sabe disso, mas nesse filme a atuação dele foi insuficiente, sim.
— Você não sabe de nada, Ollie.
— Sei sim. Esqueceu quem é o seu agente aqui?
Revirei os olhos e me levantei do sofá. Quando se trata de filmes e atuações, Ollie poderia ficar discutindo o dia inteiro, mesmo estando errado — como ele estava dessa vez.
— Tá bom, Ollie. Não vou mais discutir.
— Ué, vai fugir da briga, Coisinha? Não vai defender seu ponto de vista até o fim?
— Nah! — Balancei a mão com descaso. — Estou com preguiça.
Ollie riu e se levantou também, me seguindo até a cozinha.
— Quer ajuda aí? — Questionou, quando comecei a lavar a louça.
Balancei a cabeça, negando.
— Você não vai trabalhar hoje?
— Está me expulsando? — Ele ergueu a sobrancelha em questionamento.
— Claro que não, idiota. — Revirei os olhos.
— Ouch! Assim você me magoa! — Disse, fazendo uma voz afetada. Balancei a cabeça, perguntando-me onde tinha errado para conseguir um amigo tão palhaço. — Estou me dando folga hoje. Acho que mereço... — Sua feição se contorceu e ele adotou uma expressão triste, deixando-me saber que estava pensando em e no fim do relacionamento.
Suspirei, sem realmente saber o que fazer ou falar. Oliver não gostava muito de falar sobre o que o incomodava e ele sabia que podia contar comigo, mas ficar o tempo todo cobrando aquilo ou exigindo que ele me contasse algo seria, no mínimo, irritante. Além do mais, não queria que ele pensasse que estava tentando me aproveitar da situação para conseguir algo.
Bem, eu sabia que Oliver me conhecia, mas as coisas têm estado tão diferentes e complicadas entre nós que tudo o que menos quero é piorar a nossa situação. Optei então por não tocar no assunto “” e iniciar uma conversa altamente aleatória, mas que fizesse sentido.
— Quando é que você vai dizer o que era aquela surpresa?
Pareceu funcionar, pois sua atenção voltou para mim e um sorriso esperto apareceu em seus lábios.
— Estou surpreso que você não tenha descoberto ainda.
— Caso não saiba, eu não tenho bola de cristal. — Ironizei. Ele riu.
— Não é nada demais, na verdade. Mas eu irei te mostrar ainda essa semana... Antes que você morra de curiosidade.
Fechei a cara, o que só fez com que ele risse mais.
— Sabe... Não se deve provocar uma garota que tem utensílios que pode te matar em mãos... — Apontei a faca para ele.
Ollie arregalou os olhos em falso teatro, mas continuou sustentando o sorriso esperto nos lábios.
— Olha... Que perigosa! — Debochou.
Cerrei os olhos em sua direção e, em um ato rápido, virei a mangueira que segurava em sua direção, molhando seu rosto e blusa. A cara que ele fez foi impagável e arrancou-me boas gargalhadas.
— Não acredito que você fez isso! — Exclamou, chocado.
— Você provocou. — Dei de ombros, ainda rindo.
Ele ergueu a sobrancelha e eu soube que estava ferrada. Ele iria se vingar.
— Acho melhor você correr...
Não precisei pensar duas vezes, soltei a mangueira na pia e corri em direção ao meu quarto. Eu podia ouvir Oliver correndo atrás de mim, mas não ousei virar para olhar, mesmo sabendo que ele estava mais perto do que eu queria. Estava ferrada. Entrei no quarto como um furacão e empurrei a porta, na intenção de fechá-la, mas foi tarde demais e Ollie entrou no quarto com tudo, me levando com ele no processo. Soltei um gritinho conforme ia caindo no chão, mas ele me segurou pela cintura e, em um movimento rápido, trocou de posição, fazendo com que eu caísse por cima dele. Quando eu achava que tudo tinha acabado, Ollie trocou nossas posições mais uma vez, me colocando no chão, apenas para que ele tivesse livre acesso e fizesse cócegas em mim.
— PA-PA-PA-PARA! — Gritei, enquanto ria desesperadamente. Ollie também ria e eu nem preciso dizer que o sorriso dele era lindo, não é? Era tão bom vê-lo sorrir daquela forma para mim — coisa que não acontecia há um bom tempo. De repente, me vi tão presa em seu sorriso, que sequer percebi que ele tinha parado de me fazer cócegas e agora me encarava de forma intensa. Meu coração começou a bater forte no peito, e aquela sensação de que meu estômago estava afundando me atingiu com força. Tudo que eu via era Oliver e sua beleza. Ele tinha algo que nenhum outro homem tinha, a beleza dele era incomparável. Seus olhos azuis eram profundos como o mar e, quando eu os encarava, era impossível não me sentir perdida. Era exatamente como eu estava me sentindo agora, perdida naquela imensidão azul... tão perdida que somente percebi que seu rosto estava bastante próximo do meu, quando senti sua respiração quente próxima à minha boca. O olhar dele oscilou para minha boca e eu fiz o mesmo, a tempo de vê-lo morder o próprio lábio. Quando seus lábios roçaram os meus, meu coração já batia tão forte que parecia que ia sair pela boca. Meus olhos se fecharam e me vi completamente entregue àquele beijo, entregue a ele e, sinceramente? Não podia ser de outra forma.
Oliver envolveu minha cintura e sua língua tocou os meus lábios, pedindo por mais contato. Minhas mãos acariciavam os cabelos dele gentilmente, enquanto eu apreciava seu toque e seu beijo. Estávamos conectados de uma forma que nunca tivemos, só me restava saber se aquilo era bom ou ruim.
Depois de um tempo, nossos lábios se separaram e eu abri os olhos lentamente, apenas para encontrar Oliver me encarando serenamente. Não consegui identificar o que sua expressão dizia, mas também não me importei muito com isso, pois o único impulso que tive foi o de beijá-lo novamente. Dessa vez, o beijo foi curto, mas ainda assim continha grandes revelações. Eu já sabia que meu sentimento por Ollie não tinha desaparecido por completo, que ele ainda estava ali, na espreita e na espera de que algo acontecesse para que ele voltasse à tona. O que eu não sabia, no entanto, era a dimensão desse sentimento dentro de mim. Enquanto Oliver me beijava, eu sentia como se meu peito fosse explodir e, sim, foi nesse momento que tudo voltou à tona, mais forte do que nunca. Me agarrei ainda mais a ele, não querendo que aquele beijo acabasse, mas infelizmente, meu pedido não foi atendido e os nossos lábios se separaram pela segunda vez.
Mantive minhas mãos em volta de seu pescoço, assim como meus olhos fechados. Sabia bem que Oliver me observava, pois podia sentir seu olhar em mim, porém, eu não tinha coragem o suficiente para encará-lo de volta. Eu tinha medo do que iria ver, do que ele iria falar e eu não queria perdê-lo novamente. Não suportaria se isso acontecesse.
— ... Olha para mim. — Ele pediu. Sua voz era suave, o que só poderia indicar um bom sinal, não é? Com o pingo de coragem que eu possuía, abri os olhos devagar, encontrando Ollie me encarando como imaginava. Sua expressão era séria, mas não de raiva, o que já era grande coisa. Ainda sem dizer uma palavra, Ollie saiu de cima de mim e se levantou do chão. Em seguida, estendeu a mão para me ajudar a levantar.
Enquanto me levantava, peguei-me imaginando o que ele estaria pensando de toda aquela situação. Será que ele achava que eu estava me aproveitando do fim de seu relacionamento para tentar algo? Porque eu não estava e tinha plena consciência de que ele estava sofrendo com o fim do relacionamento que ele não queria que acabasse, por sinal. Eu não queria que ele pensasse mal de mim e que isso afetasse sua confiança. Acima de tudo e de qualquer coisa, eu era sua amiga e a última coisa que eu queria era destruir aquela amizade mais uma vez.
— Me desculpa. — Disparei. — Eu sei que não devia ter te beijado assim e não quero que pense que estou me aproveitando, porque eu não estou e a última coisa que eu quero é te afastar novamente. Não me odeie, por...
— Ei, ei, ei, calma! — Ele me interrompeu. — Eu não te odeio, fica calma, está bem?
— Jura?
— Sim, juro. O que aconteceu não era para ter acontecido e o que eu menos quero é te magoar novamente. Você é minha melhor amiga e dessa vez eu quero resolver isso da maneira correta. — Ele me puxou para um abraço. — Eu não vou a lugar algum, mas você tem que me prometer que não vai confundir as coisas, tudo bem? — Assenti, mesmo sabendo que já era tarde demais, que meu coração bobo tinha voltado a bater fortemente por ele. — Eu vou embora agora. — Ele se afastou. — Qualquer coisa, é só me ligar, está bem?
— Você vai ficar bem? — Perguntei, e ele sabia que me referia ao seu término.
— Vou sobreviver. — Ele sorriu tristemente.
— Não faça nenhuma besteira, por favor. Não quero receber ligações no meio da noite e ter que ir te buscar bêbado em algum bar.
— Não se preocupe comigo, Coisinha. Vou ficar bem.
O acompanhei até a porta. Ollie se aproximou de mim apenas para depositar um beijo em minha cabeça, antes de ir embora após um breve aceno. Fechei a porta e me encostei nela, pensando no quão encrencada eu estava por ter me deixado levar daquela forma minutos atrás. Não adiantava ficar me martirizando pelo que já tinha acontecido e não podia ser desfeito. Agora, só me restava seguir com a minha vida e ver como as coisas se desenrolam com o tempo.
Toquei duas vezes na campainha da casa de Jamie e torci para que ele estivesse em casa. Havia tentado inúmeras vezes ligá-lo naquela tarde, mas em nenhuma das vezes obtive resposta. Tinha a impressão de que ele ainda estava chateado comigo por tê-lo deixado sozinho no dia anterior, mas talvez apenas não quisesse atender ninguém.
A porta se abriu e Jamie apareceu, a expressão abatida, como eu já estava esperando. Meu coração apertou ao vê-lo daquela forma e, imediatamente, me senti culpada por ter ido direto ao socorro de Oliver na noite anterior. Preferi não pensar na parte do beijo, ou eu iria me sentir pior, e não era isso que Jamie precisava naquele momento. Ele precisava de mim e eu estaria ali para ele enquanto ele precisasse.
— Oi. — Fui a primeira a falar. E a única também. Sem dizer nada, ele abriu espaço para que eu passasse, e foi exatamente o que eu fiz. — Jamie... Me desculpe... — Comecei a me desculpar, mas fui interrompida pelos lábios de Jamie nos meus. Ele empurrou meu corpo contra a porta fechada e me beijou fortemente, me deixando surpresa e ofegante. Passei os braços por seu pescoço e retribuí a carícia da melhor forma que pude. Eu queria que ele soubesse que sentia muito por tê-lo deixado sozinho, que, se eu pudesse voltar no tempo, não teria ido embora — até porque minha decisão da noite anterior me levou a fazer coisas estúpidas e quase perder a amizade de Oliver no processo. Não queria nem imaginar como Jamie se sentiria se descobrisse o que eu tinha feito. A última coisa que ele precisava era que eu o machucasse, e eu faria o máximo que pudesse para que isso não acontecesse.
O beijo aos poucos foi diminuindo, até que parou por completo e nos separamos, ambos ofegantes.
— Por favor, não me deixe mais sozinho. — Ele disse, com a sua testa encostada na minha. Olhei em seus olhos e pude ver a dor que eles possuíam. Eu sabia que ele estava sofrendo e passar aquela primeira noite sem a filha deve ter sido horrível. Eu era uma pessoa horrível.
— Estou aqui agora. — Levei minha mão até sua bochecha e a acariciei levemente. Jamie fechou os olhos e suspirou, parecendo aliviado de alguma forma. Depositei um selinho rápido em seus lábios e me afastei o suficiente para que pudesse segurar sua mão e o puxar em direção ao quarto. Ele me seguiu sem dizer nada, mas, pela sua expressão, sabia que ele tinha perguntas sobre o meu destino.
Ao chegar no primeiro andar, parei ao perceber que era a primeira vez que estava naquela área da casa e não sabia qual das quatro portas era o seu quarto.
— Segunda porta à esquerda. — Falou ele, parecendo entender o meu dilema de imediato. Agora que sabia o destino, continuei o puxando até seu quarto. Girei a maçaneta e abri a porta, tendo a primeira visão do quarto de Jamie, que antes também pertencia a . Olhei ao redor, esquecendo-me momentaneamente do meu objetivo ali. A decoração do quarto deixava claro que tinha sido escolha de . Cada parede, cada objeto, tinha o dedo dela e eu sabia disso porque costumava a conhecer bem os gostos que minha ex-melhor amiga tinha. Chegava até a ser irônico quando eu pensava em como minha ex-melhor amiga, pois eu sabia bem que ela nunca tinha de fato sido uma.
— Nunca gostei dessa decoração. — Olhei para o lado e Jamie também observava os detalhes do quarto. — Vai ser um alívio e tanto me livrar dela de vez. — Disse e, por fim, olhou para mim. Ele sorriu e eu retribuí, antes de balançar a cabeça e continuar com meus planos. Caminhei até o banheiro do quarto, tendo plena consciência de que Jamie me observava, e entrei no mesmo, indo direto até a banheira, ligando a torneira e deixando encher o recipiente. Enquanto a água escorria, estiquei-me para pegar alguns sais e passei a derramar um pouco no líquido. Logo, a espuma se formou e, quando a água já estava em um nível bom, desliguei a torneira, finalmente me colocando em pé e me virando em direção a Jamie. Ele estava encostado na soleira da porta, me observando com a sobrancelha arqueada.
— Que foi? — Perguntei, segurando o riso.
— Vai me dizer que estou fedendo de novo?
Ri, mas neguei com a cabeça. Me aproximei e parei à sua frente, me esticando, deixando nossos rostos bem próximos.
— De maneira alguma, senhor . Só quero que você relaxe. — Desci minhas mãos até a barra de sua camisa e puxei o pano para cima, retirando-o com a ajuda dele. Jamie riu de forma sacana e continuou me observando, me desafiando silenciosamente a continuar. Rocei meus lábios nos dele em provocação e continuei o despindo, tirando as calças e, por último, a cueca box, deixando-o da forma na qual ele veio ao mundo: peladíssimo. Com a primeira parte do meu objetivo concluído, me afastei para guiá-lo até a banheira, mas Jamie me puxou de volta, fazendo com que meu corpo colidisse com o dele. Não tive tempo para protestar, pois seus lábios tomaram os meus e um beijo lento foi iniciado. Não tinha malícia, não tinha segundas intenções, era um beijo cheio de carinho. Eu sabia que aquela era uma forma dele me agradecer por estar ali com ele e, bem, eu permaneceria ao seu lado pelo tempo necessário, enquanto ele precisasse de mim.
O beijo foi finalizado com um selinho e ele se afastou. Seus dedos espertos se engancharam nas alças de meu vestido e ele as puxou para baixo, fazendo com que elas deslizassem pelos meus braços, e, consequentemente, meu vestido caiu no chão, deixando-me apenas de calcinha — peça que logo foi retirada. Caminhamos juntos até a banheira e Jamie entrou primeiro para depois me ajudar a entrar. Nos sentamos na banheira, ele em uma extremidade e eu na outra.
— Como está se sentindo? — Perguntei.
— Estaria melhor se você estivesse mais perto. — Retrucou.
Revirei os olhos e ri. Mais perto do que já estávamos só seria possível se eu ficasse em cima dele.
— Você não perde a oportunidade, não é?
— Mas é claro. Não é todo dia que se tem uma gostosa na banheira.
Balancei a cabeça, rindo. Nem preciso dizer que eu me sentia da mesma forma em relação a ele, certo? Me ajoelhei na banheira, apoiando-me em suas coxas no processo, e me inclinei por cima dele, aproximando nossos rostos. Rocei os nossos lábios, prendendo meus dentes no seu lábio inferior e o puxei devagar. Jamie, por sua vez, espalmou suas mãos em minhas nádegas, apertando-as de forma que nossas intimidades se tocaram. Sorri maliciosamente antes de deixar que ele me beijasse mais uma vez. No entanto, não permiti que o beijo durasse muito e logo me afastei, deixando-o confuso e atordoado.
— Estamos aqui para tomar banho, senhor . Pode deixar as segundas intenções de lado.
Dito isso, girei o corpo, voltando a me sentar na banheira, dessa vez entre suas pernas, de modo que minhas costas encostaram em seu peito. Jamie suspirou e apoiou a cabeça em meu ombro.
— Você vai me deixar louco. — Murmurou.
— Espero que de um jeito bom. — Retruquei esperta.
— Ah, tenha certeza que sim.
Sorri e me acomodei, encostando a cabeça em seu ombro. Fechei os olhos, enquanto sentia seus dedos me acariciarem, porém, dessa vez, não havia malícia. Estávamos apenas sentindo a presença um do outro, e isso era bom. Nada foi dito por vários minutos, ambos imersos nos próprios pensamentos enquanto estávamos presos na nossa própria bolha. Ali, nos braços de Jamie, eu percebi o quanto minha vida tinha mudado nesse último ano. O destino tinha sido sacana o suficiente para pôr Jamie de volta no meu caminho, dois anos depois do fim do nosso noivado, e, bem, aqui estávamos nós, juntos de alguma forma, presos em nossa própria bolha, como nunca imaginei que aconteceria novamente. Era impossível não estar com ele e não pensar em tudo o que tivemos e vivemos no passado. O nosso relacionamento agora era diferente? Com certeza. Nossas vidas estavam ainda mais complicadas do que antes, mas eu tinha a sensação de que poderia enfrentar todo e qualquer problema com ele do meu lado, e eu esperava que ele também se sentisse assim. Ele tinha sido minha rocha quando mais precisei, e agora eu seria a dele. Entre o passado e o presente, não restam dúvidas de que eu escolheria o segundo. Afinal, quem vive de passado é museu.
— Eu tenho tanto medo da Dulcie me odiar. — Ele quebrou o silêncio, me trazendo de volta à realidade. Meu coração apertou ao ouvir aquelas palavras, ao mesmo tempo em que uma raiva se apossou de mim. Raiva de . Arriscaria até dizer que tinha ódio dela e do que ela estava fazendo com alguém tão maravilhoso como Jamie. Ele se casou com ela, lhe deu amor, uma filha linda, e era assim que ela o deixava? Tinha vontade de ir até onde quer que ela estivesse e arrastar a cara dela no asfalto. Porém, sabia bem que, mesmo que saísse satisfeita, aquilo não ajudaria Jamie em nada. Mesmo que quisesse dizer umas boas verdades na cara daquela falsa, aquilo teria que esperar. Minha prioridade era outra.
— Ela não vai te odiar. — Virei a cabeça para encará-lo. — Não fique pensando nessas coisas. Você sempre foi um pai maravilhoso, e a sua filha te ama. Nada no mundo vai fazê-la te odiar.
Ele assentiu, apertando-me mais contra o seu corpo. Nunca tinha visto Jamie tão fragilizado daquela forma e, apesar de entender seu sofrimento, estava desesperada para distraí-lo com alguma coisa. Ficar trancado em casa só iria fazê-lo se encher de pensamentos ruins que poderiam acarretar coisas piores, como depressão, por exemplo. Decidi então que não deixaria que aquilo acontecesse. Distrair Jamie seria minha missão, e eu levaria aquilo muito a sério.
— Vamos sair hoje. — Falei, decidida, e Jamie me olhou surpreso.
— Quê?
— Eu disse que vamos sair hoje. E nem adianta dizer que não quer sair de casa. — Completei quando ele fez menção de protestar.
— Mas...
Levantei um dedo, impedindo-o de continuar.
— Está decidido. — Falei. Levantei-me, enrolei a toalha no corpo e saí da banheira antes de seguir até onde meu vestido estava jogado no chão. — Vamos, está ficando tarde. — Apressei-o quando percebi que ele ainda estava sentado na banheira. Jamie balançou a cabeça em negação, mas fez o que pedi.
Como não tinha nenhuma roupa dele que servisse em mim, vesti o mesmo vestido e fiquei esperando que Jamie se arrumasse. Ele não demorou muito, mas para uma pessoa que detesta esperar, pareceu uma eternidade.
— Tem certeza de que não quer ficar em casa? — Perguntou ele. Já estávamos na varanda e eu esperava que ele trancasse a porta para seguirmos nosso caminho.
— Vamos, Jamie. Você não pode ficar trancado em casa para sempre.
Ele bufou, mas finalmente tirou a chave da fechadura. Andamos até o meu carro, que estava parado em frente à sua casa, e, após uma breve discussão sobre quem iria dirigir, seguimos até o meu pub favorito. Eu estava no volante, e ele no banco do passageiro.
Parei o carro em frente ao The Time, que estava lotado como sempre. Desliguei o motor e olhei para Jamie, esperando que ele saísse do carro. Durante todo o caminho, ele permaneceu em silêncio, e eu sabia bem que ele não aprovava minha ideia de sair de casa, mas também não podia deixá-lo se afundar em lamentações enquanto estava por aí, de bem com a vida. Ele precisava tomar alguma atitude, e eu esperava que aquela noite fosse o estalo que ele precisava para acordar para a vida.
— Tem certeza de que quer entrar em um lugar público comigo? — Jamie perguntou, a voz carregada de insegurança.
— Por que não iria querer? — Franzi o cenho, sem compreender. Aquela não era a primeira vez que saíamos juntos em público.
— Eu não sei se vou conseguir agir só como amigos o resto da noite.
Meu rosto se contorceu em compreensão quando descobri qual era o real problema. Ninguém sabia que estávamos “juntos”, nem mesmo minha família — embora desconfiasse de algo. Também não tínhamos falado sobre o que realmente éramos ou sobre o que queríamos. Tive que parar para pensar: o que eu realmente queria? Estaria disposta a expor meu relacionamento com Jamie para quem quisesse ver? Legalmente, ele ainda era um homem casado, e não queria que viesse bater na minha porta no dia seguinte, assim como não queria a atenção indesejada da imprensa. Além disso, todos iriam me rotular como amante, e isso eu não queria.
Encarei , vasculhando sua expressão em busca de respostas. Tantas coisas poderiam dar errado e tantas consequências a enfrentar com essa exposição. Coisas que afetariam mais a ele do que a mim.
— Se o que temos for exposto, pode te causar sérios problemas e eu não quero isso. — Falei, a voz suave, mas firme.
suspirou e encostou a cabeça no banco do passageiro. Assim como eu, ele também estava pensando nas consequências.
— Eu não me importo. — Ele falou de repente, fazendo-me olhar com as sobrancelhas erguidas. — Não me importo que nos vejam como um casal. Fodam-se as consequências. Desde que eu esteja com você do meu lado, posso enfrentar toda e qualquer consequência.
Um sorriso se formou em meus lábios ao ouvi-lo dizer tais coisas. De repente me dei conta de que também não me importava. Ter ao meu lado me fazia criar coragem e forças para enfrentar qualquer tipo de coisa e, se ele não estava preocupado com o que aconteceria depois, eu também não precisava me preocupar. Inclinei-me sobre ele e selamos nossos lábios em um longo selinho.
— Vamos nos divertir então. — Sussurrei. depositou um breve selinho em meus lábios antes de abrir a porta do carro e sair. A porta do motorista foi aberta e eu saí do carro com a ajuda dele. Seguimos caminho em direção à entrada VIP, onde famosos ou pessoas de classe alta entravam sem qualquer dificuldade. Minha mão estava entrelaçada na dele e isso atraiu muitos olhares, tanto das pessoas que passavam e nos reconheciam, como de vários paparazzi que tinha por perto. Flashes e mais flashes vinham em minha direção de todos os lados, me deixando praticamente cega. Já podia imaginar o tanto de notícias que estariam em todos os sites de fofoca amanhã me delatando como a amante de . Não importava. Somente eu e ele sabíamos o que acontecia em nossas vidas e aquilo era o suficiente para mim.
— Eu não vinha aqui há um bom tempo. — gritou para mim em meio à música alta. — E ainda assim, está tão lotado quanto da primeira vez que estive aqui.
Olhei ao redor, tendo a mesma sensação que ele. e eu nos conhecemos nesse mesmo lugar há exatamente cinco anos. Oliver tinha me arrastado para uma festa privada de um amigo e, mesmo sem querer ir inicialmente, no final tive muito a agradecer por ele ter me forçado a ir. Se não tivesse ido, não teria conhecido .
— Eu vim aqui algumas vezes depois que voltei da Itália. Esse lugar mudou tanto e, de alguma forma, sinto como se não tivesse mudado nada.
— A energia é a mesma.
— Isso! — Concordei. Sorrimos um para o outro, presos novamente em nossa própria bolha, e permaneceríamos assim se alguém não tivesse batido no meu ombro, indicando que estávamos bloqueando a passagem dos demais. — Vem, vamos procurar um lugar para sentar.
Passar no meio de tanta gente não foi fácil, e se não fosse por nossas mãos unidas, eu teria me perdido facilmente de . Felizmente, achamos uma mesa na área VIP e, após me acomodar em uma das cadeiras de veludo, saiu, se encarregando de pegar nossas bebidas. Enquanto esperava ele retornar, peguei meu celular e abri o Twitter, apenas para ver se tinha alguma novidade. Observei a tela distraidamente, sem realmente encontrar algo útil até que meus olhos pararam nos trending topics do mundo. Meu nome estava lá, assim como o de . Arregalei os olhos e cliquei em cima dos nossos nomes e a página foi redirecionada para os tweets que estavam falando sobre o assunto. Fotos de nós dois na entrada da boate estavam em quase todos os tweets. Aquela rapidez me surpreendeu, embora eu soubesse que era muito ingênuo da minha parte achar que só sairiam fotos e notícias amanhã. Eu sabia bem o quão rápido a mídia poderia ser quando se tratava de uma fofoca quente.
— O que você está vendo aí? — perguntou, sentando-se ao meu lado com nossas bebidas.
— Já tem fotos nossas espalhadas pelo Twitter. — Virei a tela do celular para ele. olhou os tweets por uns segundos, mas logo tomou meu celular e o colocou de volta na minha bolsa.
— Deixe-os falarem o que quiserem. Só nós sabemos o que se passa na nossa vida e o que vem de fora é só especulação.
— Eu sei. — Revirei os olhos. — Quando entrei aqui com você, eu sabia bem o que teria que enfrentar. Não estou reclamando.
— Então esqueça isso e vamos aproveitar a noite, ok?
— Esquecer o quê mesmo? — Ele riu e aproximou seu rosto do meu, me dando um selinho, que acabaria virando um beijo, se eu não tivesse o interrompido.
— O que você trouxe para mim? — Perguntei, finalmente dando atenção ao copo que ele tinha trazido.
— Hmm... Bloody Mary...
— Você nunca acertou tanto. — Peguei o copo e dei um gole do líquido vermelho, sentindo minha garganta queimar por causa da vodca.
— Pegue leve com a bebida. — Falou ele quando eu praticamente bebi tudo de uma vez.
— Não planejo te embebedar hoje.
— Ah, então quer dizer que naquele dia você pretendia? — Questionei, me referindo à noite em que jantamos juntos em L.A. Ele deu de ombros.
— Não disse isso.
Abri a boca para lhe dar uma resposta atrevida, mas começou a tocar Downtown, da Anitta, uma cantora brasileira, e eu me vi completamente eufórica porque simplesmente amava aquela música.
— Vem, vamos dançar. — Me levantei e puxei comigo, sem ao menos dar tempo para ele assimilar ou protestar. Foi difícil chegar à pista de dança devido ao tanto de pessoas, mas não deixei que aquilo me impedisse de dançar. Meu corpo se movia de acordo com a batida; minha bunda vez ou outra roçava em , que estava atrás de mim. Quando paramos em um lugar fixo, suas mãos envolveram minha cintura e eu me deixei levar, dançando pra valer com ele colado no meu corpo atrás de mim. enfiou o nariz no meu pescoço e eu acabei por deitar a cabeça no seu ombro, dando espaço para que ele pudesse explorar a área com os lábios. Minha pele se arrepiou com o contato de sua língua com aquela parte sensível do meu corpo e fechei os olhos, aproveitando a sensação enquanto uma de minhas mãos se enroscava nos seus cabelos, puxando-os levemente. De repente, girou meu corpo, deixando-me de frente para ele, e no segundo seguinte, seus lábios estavam nos meus, sua língua enroscada na minha. Era a primeira vez que nos beijávamos em público e, sinceramente, eu não poderia me importar menos com o fato de que várias pessoas poderiam estar nos observando e que milhares de fotos pudessem estar sendo tiradas, seja por fãs ou paparazzi. Tudo o que me importava era que ele estava ali comigo e, mesmo que não soubesse exatamente o que sentia por ele, eu sabia que me fazia bem e não pretendia mudar aquilo. A velocidade do beijo aos poucos foi diminuindo, até que se tornaram selinhos e depois nossos lábios se separaram devagar. Minha mão segurava a nuca de e eu podia sentir sua respiração descompassada próximo ao meu rosto. Abri os olhos devagar e encarei sua íris azul, notando que ele também me observava. Tanto eu quanto ele estávamos cientes dos diversos flashes que vinham em nossa direção, mas estávamos, mais uma vez, presos em nossa bolha o suficiente para não nos importarmos com aquilo. As fotos e toda a confusão que viria com elas eram problemas para outra hora.
— Obrigado. — Ele falou alto o suficiente para que eu o escutasse por cima da música.
— Pelo quê? — Perguntei, sem entender.
— Por tudo. — Respondeu simplesmente. Não foi preciso que ele dissesse mais nada, pois eu sabia bem que ele estava me agradecendo pelo suporte que eu o estava dando, por ter tirado ele de casa e ter o forçado a se distrair quando tudo o que ele queria era mofar no sofá por causa dos problemas.
— Você é incrível. — Continuou, sua boca voltando a roçar na minha. Sorri involuntariamente e depositei um selinho em seus lábios.
— Você não precisa me agradecer por nada disso, . — Ele precisava saber que eu faria qualquer coisa para ajudá-lo, não só porque detestava injustiças, mas também porque gostava dele. — Estamos juntos... Da nossa maneira torta, mas estamos. Os seus problemas também são meus. Foi assim que sempre funcionou, lembra?
Ele assentiu e encostou a testa na minha, seus olhos conectados com os meus, seus braços envolvendo minha cintura calorosamente. Era quase como se estivéssemos em casa, sozinhos... Pelo menos era assim que eu me sentia.
— Eu fico me perguntando o que eu fiz para ter uma mulher tão maravilhosa comigo.
— Você reconquistou minha confiança. O passado não importa mais para mim, o que importa é o presente e o futuro, então não quero que fique pensando nisso também, ok?
— Tudo bem. — Ele concordou. Depositei mais um selinho nele e me afastei, mexendo o corpo no ritmo da nova música que tinha acabado de tocar.
— Vamos, não estou vendo você dançar. — riu, mas logo seu corpo começou a se movimentar de acordo com o meu.
O restante da noite foi assim. Dançamos, bebemos, nos divertimos, esquecemos do mundo. Não existiam problemas, não existia ; éramos somente eu e ele, aproveitando aquele momento para ficar juntos sem preocupações. E, arrisco dizer, que trazê-lo para aquela boate em que nos conhecemos foi a melhor coisa que fiz.
Continua...
Nota da autora: Oi, oi, oi! Estou de volta depois de tanto, tanto tempo! Eu sei, sumi por anos, provavelmente perdi a maioria das minhas leitoras, mas espero que ainda tenha alguém aqui que queira ver o final de Black Widow e, dessa vez, eu prometo que só vou parar quando concluir! Isso mesmo, voltei com a inspiração do mundo todo para escrever. Às leitoras novas, bem-vindas! Temos um grupo no Facebook, mas venho pensando em criar um grupo no WhatsApp, futuramente. Vocês se interessariam? Se sim, comentem aqui embaixo e, na próxima atualização, eu deixo o link para o grupo! Também comentem o que estão achando, pois eu amo ler tudo e prometo que vou responder a todas!
Enfim, é isso, nos vemos na próxima att!
Xx, Mily
Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Outras Fanfics:
Life of my Dreams [Restrita – Jonas Brothers/Em Andamento]
Toothbrush [Jonas Brothers/Finalizada]
Enfim, é isso, nos vemos na próxima att!
Xx, Mily
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Outras Fanfics:
Nota da beta-reader: Vocês não sabem o quão delicioso é poder betar esta fanfic! O privilégio de ser uma das primeiras a ler o capítulo é tudo de bom, mas o que me mata mesmo é o fato de eu ficar eufórica, querendo conversar sobre tudo o que está acontecendo e não ter com quem! Sendo assim, aproveito este singelo espaço para perguntar o seguinte: quem também está apaixonada pelo Oliver? Gente, a Emily consegue fazer a gente ficar completamente dividida, porque eu quero o Jamie com a PP, mas o Oliver já é tão meu que... nossa! Obrigada por me dar a chance de betar essa maravilha, dona Mily.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber se há atualizações pendentes dessa fic, clique aqui.