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Ultima atualização: Agosto de 2024

Prólogo

“Sombria não é aquela noite escura e aterradora, mas aquela pessoa que carrega o ódio no coração.”
Jader Amadi


O cheiro de sangue já estava impregnado no ambiente. Dois corpos caídos sem vida em suas respectivas poças do líquido vermelho escarlate. O terceiro, de joelhos perante ela, esperava sua hora. Sabia que iria morrer. A questão era somente o tempo que isso levaria para acontecer. Observava a garota à sua frente. Imponente, decidida.
Em seus olhos nenhum resquício de piedade. Nem sequer algo que provasse que ali dentro do corpo esguio e pequeno, havia um pingo de humanidade. A arma, apontada para sua cabeça, o fazia questionar a burrice de seus atos recém quistos, porém nunca concluídos. À noite, de fato, não terminaria como planejou durante tanto tempo. Sequer teria um fim para ele. A escuridão eterna, para ele, se iniciaria dali poucos instantes. Respirou fundo uma última vez e clamou aos céus por alguma piedade. Mas ele sabia que, se existisse um Deus, não seria para ele que seu olhar estaria voltado. Não depois de tudo o que fizera durante sua miserável vida. Era um homem orgulhoso. Um homem que jamais abaixou a cabeça para mulher alguma, e hoje, estava de joelhos diante de uma garota, de no máximo 20 anos, esperando qual seria a hora em que ela decidiria que ele deixaria de viver. Não que sua existência fosse de fato fazer falta a alguém. Era um criminoso, culpado de atos terríveis. Sua morte mais traria paz do que qualquer outra coisa. Um som, além do de sua respiração descompassada e da forte chuva que caia sem piedade do lado de fora do galpão abandonado, o fez engolir em seco.

Uma risada.

Sentiu um arrepio mais forte do que todos que sentira durante a noite. Se tinha alguma esperança de sair vivo da merda em que ele próprio havia se enfiado, ela se esvaiu totalmente no instante em que a doce voz feminina reverberou em seus ouvidos.
— Olha pra você. — ela começou, com a voz divertida. — Acostumado a ter mulheres aos seus pés, usá-las como brinquedo, moedas de troca... tratá-las feito lixo e hoje está aqui, cheirando a xixi enquanto chora como um bebê. — a arma fez mais pressão em sua testa, o fazendo cerrar os olhos com força, sentindo o tremor em seu corpo se intensificar. — Você é um nojento de merda que merecia muito mais do que uma bala na cabeça. Sorte sua que eu não tenho tempo pra me divertir te fazendo sofrer. Espero que tenha aproveitado sua vida de merda, porque ela acaba agora. — o som do tiro ecoou alto pelo saguão vazio ao mesmo tempo em que o corpo do homem caia ao chão. A garota sequer piscou. Olhou para o corpo velho sendo banhado pelo sangue e se permitiu ter a visão prazerosa que era vê-lo morto por breves segundos, antes de virar as costas e rumar para fora do velho galpão. Antes de sair de encontro a chuva, pegou o pequeno aparelho celular que estava em seu bolso e digitou uma mensagem ao número tão conhecido e odiado em sua agenda.

"O trabalho está feito."


Capítulo 1

Aprendera a apreciar a noite da grande Londres. Quando chegou, seis meses atrás, a odiava com todas as forças. Não pela cidade em si, mas pela nova realidade à qual seria apresentada morando nela. Aprendeu a gostar do lugar, visando manter o pouco de sanidade que lhe restara. Há seis meses, perdeu a única pessoa por quem valia a pena ficar viva. Mas por ela também, e disso não se arrepende, fez dívidas que só seriam quitadas quando estivesse à sete palmos do chão. Talvez nem assim.
Sentiu a brisa gelada da noite Londrina lhe atingir a pele exposta onde o grande e grosso casaco preto que vestia, não conseguia cobrir. Respirou fundo e olhou para a cidade abaixo de si. Era linda, imponente... grandiosa. Poderia facilmente amar Londres, se não fosse, claro, pelas circunstâncias que a faziam ser obrigada a morar nela. Outra brisa gelada a atingiu, fazendo um arrepio descer por sua espinha. Conforme a madrugada ia anunciando sua chegada, o frio se tornava mais intenso.

Isso a encantava, o frio.

— Você não deveria ter voltado a ativa tão cedo. — Olhou para o lado ao ouvir a voz de Ander, seu amigo, e só então lembrou onde e com quem estava. Ele a fitava sério, enquanto segurava o cigarro de maconha entre os dedos de uma das mãos e estendia em sua direção, ela o tomou de sua mão e rapidamente o levou a boca, dando uma tragada e fechando os olhos em seguida, sentindo o torpor que a fumaça causava em seu organismo enquanto prensada por ela. — Caralho, que frio. — Ander resmungou, apertando o grosso casaco ao redor do corpo. sorriu soprado e soltou a fumaça da tragada recente, observando-a desaparecer por entre a escuridão. Devolveu o cigarro para o amigo, que o pegou de prontidão.
— Eu 'to bem. Se ficasse mais tempo parada ia fazer, segundo você e Celeste, a maior burrada da minha vida. Mataria minha mãe. — a última palavra saiu como ofensa dos lábios da garota, junto a careta desgostosa em sua face. Somente por chamar aquela mulher de mãe, seu estômago revirava tamanho nojo que carregava por Samantha. Ela não merecia ser chamada de mãe. Não depois do que fez.
— Se você realmente estivesse bem eu não precisaria estar aqui.
— Se o Falconne não acredita nisso problema é dele. Não meu. Eu sei que ‘to bem. — , dessa vez, arrancou o cigarro de Ander, ele riu. Não soube o porquê, mas achou engraçado. Talvez fosse o efeito da erva fazendo efeito em sua cabeça, ou talvez porque conhecia muito bem e não creditou em nenhuma palavra dita por ela.
— Não, gata, você não ‘tá bem. ‘Tá operando em modo louco. Você sabe do que ‘to falando. — bufou. Estava farta das pessoas achando que sabiam mais de seus sentimentos do que ela própria. — O Falconne tem razão de se preocupar. Se não fosse a Sky ter conseguido invadir o sistema de câmeras antes da polícia encontrar os corpos no último trabalho que você fez sozinha, você estaria presa.
— Você realmente acha que ele se preocupa comigo? — ela o fitava realmente incrédula. Ander assentiu. — Ele se preocupa é com o dinheiro e com tempo que gastou me transformando em uma Falcon. Não comigo em si. Eu o odeio e tenho certeza que o sentimento é recíproco.
— Você é a única da equipe de limpeza que o conhece além de mim, . Você sempre teve contato direto com ele desde que... — uma pausa foi feita, não era hora para tocar naquele assunto. Talvez nunca seria. Era delicado e Ander sabia. — Bom, você sabe. Você é uma das protegidas dele.
— Sim, porque eu mato quem ele manda matar sem questionar. Porque ele me fez assim. Não ache que tem algo a mais nisso. — Ander ergueu as mãos em rendição. A conversa havia acabado. Quando a garota se exaltava era hora de parar. A conhecia muito bem para entender e compreender seus momentos e sentimentos. O frio àquela hora era cortante, somado a altura em que estavam, ele duplicava. O terraço do prédio em que Ander morava era o refúgio para onde corria quando estava prestes a ceder as obscuridades que em sua mente residiam. O silêncio se fez presente e ambos se contentaram em observar o restante da madrugada naquele lugar, em silêncio. Embora, em suas mentes, houvessem gritos e lembranças de dias que nunca poderiam se apagar.

🔥

Não se orgulhava da pessoa que havia se tornado. Não se orgulhava do que fazia, tampouco da vida que levava. Mas sabia que toda ação tem uma reação e, em consequência de sua ação desesperada para tentar salvar a vida de seu pai, teria consequências que perpetuariam por toda sua vida. Quando se meteu com Frederick Falconne, foi com um objetivo claro em mente: Pagar o tratamento de uma doença que seu pai tinha. E ela o fez, obteve êxito. O tratamento foi eficaz e lhe permitiu alguns anos há mais com o homem que lhe criou sozinho, e mesmo com todas as dificuldades impostas pela vida, lhe deu tudo. Ele era sua âncora, mantinha-lhe estável em meio às tempestades que desde sempre sondavam sua mente turbulenta. Era sua bússola, lhe ajudando a encontrar o caminho de casa sempre que se perdia pagando pelo o que havia lhe proporcionado o benefício de anos há mais. Mas a vida, ela é trágica. Pelo menos para . Segundo ela, a vida acharia uma forma de lhe punir pelos maus que causara em prol de seus próprios desejos, sempre soube disso. Mas não estava preparada para quando aconteceu. A vida lhe tirou seu pai de outra forma. Um acidente de carro lhe ceifou a vida, deixando uma completamente devastada e sozinha para lidar com a dor. A dor de perder quem sempre foi seu Norte. Seu herói. Seu melhor amigo. E foi lembrando do pai que saiu do apartamento de Ander às 4 horas da madrugada, rumando sozinha pelas ruas de Londres em direção à casa na qual morava. Não demorou muito para avistar os portões imponentes do condomínio luxuoso. Sempre que passava por ele, o ar em seus pulmões se comprimiam. Odiava aquele lugar. Odiava ter que morar ali. Odiava não ter opção. Conforme se aproximava da residência, notou um Bugatti Chiron — reconheceria em qualquer lugar — preto, estacionando em frente a mesma. Revirou os olhos e pensou em dar meia volta quando teve a certeza de que ele estava ali. Conviver com Samantha não era nada agradável. Conviver com Samantha e Hector, o marido milionário por quem foi abandonada, era horrível. Agora, passar mais de 10 minutos com Samantha, Hector e — o filho pródigo de seu padrasto e criado como filho pela mãe que a rejeitou, era, de fato, insuportável. Metido, arrogante e um tanto quanto narcisista, era tudo o que desprezava. Respirou fundo e seguiu em direção à porta de entrada, retirando a chave que estava em sua posse do bolso do casaco e colocando-a na fechadura, tentando fazer o mínimo de barulho possível durante o processo. Assim que entrou em casa, o ar quente a abraçou e o frio de Londres ficou do lado de fora. rapidamente trancou a porta e seguiu rumo as escadas, querendo acima de tudo um banho quente e sua cama. Mas, quando estava prestes a subir o primeiro degrau, notou uma movimentação na divisão que separava a sala de estar, que era onde estava, da cozinha. Não iria parar, no entanto, pela sua visão periférica já o havia reconhecido. Não estava com saco para aturar . Não agora. E nem nunca, se pudesse escolher. Mas não compartilhavam do mesmo pensamento, já que se fez ser notado não somente pela presença, como por sua voz que se fez presente assim que percebeu que a garota não iria parar.
— Boa noite pra você também, . Perdeu os bons modos que ainda tinha? — assim que a voz rouca do rapaz — que em qualquer mulher causaria reações diretas em seus ventres, mas que em causava repulsa – ecoou pelo cômodo silencioso, a garota parou e girou nos calcanhares, fitou e o mesmo carregava um sorriso irônico nos lábios bonitos.
— Você não vale o esforço que teria que fazer para usá-los. – Retribuiu o falso sorriso e voltou a subir os degraus. O homem gargalhou.
— Afiada como sempre. Vejo que nada mudou por aqui. – Ele andou poucos passos até ficar no pé da escada, e olhava a garota continuar a subir sem lhe dar atenção. – Mas me diz, , o que você tanto faz pelas madrugadas de Londres? Não é a primeira nem a segunda vez que passo a noite aqui e você chega nesse horário. — parou, novamente. O pouco de paciência que lhe restava se esvaindo conforme olhava seriamente para o homem que tinha o semblante sereno aguardando por sua resposta. Ele certamente sabia que não viria. Mas era divertido, para ele, deixar a menina estressada. Já havia tentado uma aproximação assim que a garota veio morar com sua madrasta e, consequentemente, com seu pai. Mas nunca lhe dera uma brecha sequer. Sempre com respostas prontas e língua afiada. Por mais que entendesse o que sentia em relação à mãe, não achava correto o modo que ela a tratava e, muito menos, o modo que tratava seu pai. Não morava com a garota, mas sempre que podia vinha visitar seu velho e, nunca houve uma vez sequer em que estivesse presente, que não tenha presenciado discussões feias entre Samantha e a filha. Seu pai tentava ficar afastado e não se meter, mas quando não conseguia, também virava alvo das grosserias de . Consequentemente ele também se metia e tudo virava uma bola de neve com gente gritando por todo lado.
Ele odiava.
Então, quando percebeu que nada do que fizesse ou falasse faria com que lhe escutasse ou gostasse ao menos um pouco de si, resolveu que seria engraçado devolver tudo na mesma moeda. Deixá-la irritada era divertido.
— E desde quando o que eu deixo ou não de fazer te interessa?
— Não interessa. Bom, pelo menos não pessoalmente. Mas como policial, me preocupo com a sua segurança. As madrugadas de Londres não são muito seguras.
— Pode pegar a sua preocupação e redirecioná-la para quem se importa com ela. O que, certamente, não é o meu caso. – não conseguia ficar irritado com as respostas atravessadas da garota. Bom, pelo menos não mais. Ele achava graça, até. Obviamente, quando redirecionadas a si. Quando era ao seu pai, a história era outra.
Estava pronto para testar mais um pouco da paciência da garota quando ouviu o barulho da porta atrás de si abrindo e fechando logo em seguida. Se virou e viu seu pai, que o era principal motivo da sua vinda à residência àquela hora da madrugada. Hector olhou para o filho com a testa franzida. Depois, olhou para o alto da escada a tempo de ver subindo o restante dos degraus e sumindo de suas vistas. Olhou novamente para o filho, não entendendo o que ele estava fazendo ali.
? Quando voltou de Nova York? – O senhor falou, já indo em direção ao filho para lhe cumprimentar.
— Hoje mesmo. Cheguei há pouco tempo. – Deu um abraço em seu pai e logo lembrou o porquê de ter voltado. Um semblante sério se formou em seu rosto e Hector percebeu. – Quando o senhor ia me contar que está recebendo ameaças? – Seu pai respirou fundo e retirou um dos grossos casacos que vestia, jogando o mesmo em cima do sofá, indo, logo após, em direção à uma mesinha na sala com várias bebidas e alguns copos. Pegou a garrafa de whisky e colocou uma pequena dose em dois copos, voltando ao filho e lhe entregando um.
— Eu não iria contar. Tinha esperanças de resolver antes de você voltar das férias. – Hector andou em direção ao sofá sentando-se nele. – Não é nada para se preocupar.
— Você está brincando, não é? – estava de fato, indignado. – Rowan me contou tudo o que aconteceu, pai. Não tente diminuir a gravidade disso.
— Não estou diminuindo a gravidade de nada. Só estou querendo dizer que já tenho tudo sob controle.
— Chegou a essa conclusão hoje? Antes ou depois de receber isso aqui? – retirou do bolso traseiro de sua calça um papel, um tanto quanto amassado, e estendeu em direção ao seu pai que, já imaginando do que se tratava, pegou-o de sua mão e deu uma rápida olhada para os escritos que continham ali, já sabendo de cor o que estava escrito, por tê-lo lido e relido várias vezes durante a tarde.
— Quando a Rowan te entregou isso?
— Assim que sai do aeroporto, fui no apartamento dela. – rumou em direção ao sofá em frente do qual seu pai estava, sentando-se ali. – Ela está apavorada, pai.
— E consequentemente te deixou apavorado também. Mas novamente, não tem com o que se preocupar. – Hector virou o resto do whisky em seu copo, sentindo o arder tão caraterístico em sua garganta. – De verdade, filho. São ameaças vazias. Ninguém nessa cidade teria coragem de me fazer alguma coisa.
Ele teria. – o olhou sério.
— Não é coisa do Falconne. – Hector respondeu, convicto.
— Você já deve imaginar que eu estou sabendo de tudo que o senhor tentou esconder de mim, não é? Inclusive da lista que interceptaram de um e-mail de um dos caras dele.
— Um e-mail que supomos ser de um dos caras dele. Não temos certeza.
— Pai, Félix Northen morreu semana passada e já sei que confirmaram ser obra dos Falcons. O nome dele está na lista. Seria muita coincidência não ter ligação, não acha? O senhor é um detetive bem melhor que eu, pai. Sabe que isso tem ligação, sim.
— Então nós vamos focar ainda mais na investigação contra ele. É assim que vamos resolver. Não criando um caos e dando palco para joguinhos ridículos. – Hector levantou, respirou fundo e fitou o filho, que ainda permanecia sentado. – Agora, eu preciso dormir. Hoje foi um dia cheio. Vá para o seu apartamento também, descanse. Fico esperando você na Scotland segunda. Tire o dia de hoje para colocar a cabeça no lugar.
— Eu não vou embora, pai. – também levantou, sinalizando com a cabeça para perto da porta, onde suas malas estavam. – Vou ficar aqui por um tempo, pelo menos até resolvermos isso.
, realmente não vejo necessidade....
— Não precisa gastar sua voz tentando me convencer do contrário, pai. Eu vou ficar. Não quero deixar o senhor sem proteção nenhuma em casa.
— Se é por isso eu posso pedir proteção, filho. Não quero incomodar e sei o quanto você desgosta de estar aqui no meio da confusão que é e Samantha.
— Eu não quero deixar o senhor sem a minha proteção, pai. Sou o melhor daquele departamento, depois do senhor, claro, e você sabe. Não confio em deixar sua segurança com aqueles policiais incompetentes. – Hector riu da fala do filho, modéstia nunca fora sua qualidade mais notável. – E eu posso suportar uns dias de drama se é para ter certeza de que o senhor está bem.
— Tudo bem então, como queira. Já sabe onde fica seu quarto. – acenou com a cabeça e Hector começou a se afastar. – Preciso realmente dormir agora. Nos vemos no almoço. – Mais uma vez acenou, e viu seu pai subindo escada a cima. Sentou novamente no sofá e pegou seu celular, assim que o visor acendeu, discou rapidamente os números que já sabia de cor e colocou o aparelho na orelha, aguardando. Não demorou muito para o “Alô” sonolento do outro lado da linha ser ouvido.
— Hunter, desculpa a hora. Sei que teríamos mais umas semanas de férias, mas surgiu uma coisa grande em Londres. Preciso da minha equipe. Preciso que acione todo mundo pra mim. Quero todos na Scotland segunda. Temos um peixe grande para pegar.


Capítulo 2

Dormir sempre fora algo sagrado para a garota. Sentia que era o único momento em que podia ficar em paz. Mas também, amava a noite. Gostava de olhar para a escuridão por se familiarizar com ela. Então, sempre trocava as noites pelos dias. Dormiria facilmente o dia todo se deixassem. E seu humor, que já não era dos melhores, se tornava ainda mais insuportável quando era acordada sem motivo. E para ela, o único motivo tinha nome, sobrenome e uma fama terrível: Frederick Falconne.
No entanto, naquela manhã, não fora o toque estridente de seu celular que a acordou. O aparelho, desta vez, nada tinha a ver com os barulhos irritantes que a acordaram. Batidas na porta. Eram esses os sons que tentava diminuir colocando o travesseiro em volta de sua cabeça. Porém, de nada adiantava. Quem quer fosse do outro lado estava disposto a acorda-la e, certamente, teria que lidar com as consequências de seu humor ácido pelo feito.
Bufou, jogando as cobertas pelos ares e levantando da cama impaciente. Não se importou com a roupa que vestia – ou que não vestia, no caso – e rumou com passos pesados até a porta abrindo-a num rompante. Do outro lado, uma Elena assustada estava encolhida já temendo pelos desaforos que teria que ouvir. No entanto, não lhe falou nada. Sabia que, se Elena estava ali, não era por vontade própria. Era uma funcionaria e obedecia a ordens.

— Desculpe lhe acordar, senhorita. – A mulher, baixinha e corpulenta de 40 e poucos anos, falou, com a voz baixa. – Sua mã... dona Samantha me pediu para acordá-la. O almoço será servido em breve.
— Bom, avise para ela que, como sempre, não vou me reunir à mesa para fazer parte de um teatro ridículo de família feliz. Tenha um bom dia, Elena. – Não esperou por respostas e fechou a porta em seguida. Já estava quase chegando em sua cama novamente quando as batidas na porta voltaram a acontecer. Estancou no lugar e respirou fundo algumas vezes, odiava soar grosseira com quem não merecia. E, para , naquela casa, Elena era uma das poucas pessoas que mereciam ser tratadas com respeito. As outras duas eram o motorista, Jasper, e a cozinheira, senhora Choi. Sendo assim, e sabendo que quem batia à porta era Elena, voltou os poucos passos que havia andado e com uma calma que não lhe pertencia, abriu a porta novamente.
— Desculpe novamente, senhorita. Mas dona Samantha exigiu que eu insistisse. E falou que se a senhorita insistisse em não descer, era para ir avisa-la pessoalmente.
— Tudo bem, então. – saiu para o corredor e Elena arregalou os olhos no mesmo instante.
— A senhorita vai descer a-assim? – Se atreveu a perguntar, se punindo na mesma hora, mentalmente, pela ousadia. Mas oras, a garota vestia somente uma camisola que mal cobria sua bunda. E era um tanto transparente!
— Vou sim, Elena.
— Não, não vai. – A voz que se sobressaiu não fora a de Elena e sim, de Samantha. Atraindo no mesmo instante a atenção de e Elena pra si. – Saia. – Falou para a empregada que, sem questionar, saiu em passos apressados para qualquer outro lugar longe o bastante da troca de tiros que aconteceria dali instantes.
— É, não vou. Já que está aqui me poupa o trabalho de descer até lá embaixo.

virou as costas e voltou para o quarto, fechando a porta atrás de si em um baque. No entanto, a mesma logo fora aberta por Samantha, que adentrou o cômodo e fechou a porta atrás de si, com calma. Fitou a filha parada no meio do quarto que retribuía seu olhar com o dobro de sentimentos negativos do que ela própria carregava nos seus. Não gostava de . Sequer suportava olhar para a garota. Mas era obrigada a suportar sua existência e ser lembrada todos os dias do quanto imbecil foi por ter dado à luz a ela. Se arrependia.
— Você vai colocar uma roupa decente e descer para o almoço. — sua voz não carregava nenhum sentimento sequer.
— Para quê, exatamente? Pra você entrar no seu papel de mamãe desprezada pela filha e passar de coitadinha na frente do seu amado marido? — riu da própria constatação. Samantha era inacreditável.
— Não exatamente. — ela começou, andando pelo quarto e indo em direção a penteadeira de , se inclinando em direção ao espelho e ajeitando alguns fios soltos de seu cabelo. — O também está aqui, então, vou precisar encenar na frente dele também. — sequer era capaz de pronunciar qualquer palavra. Quanto mais conhecia Samantha, mais a odiava. E odiava ainda mais o fato de que, ninguém além dela, lhe conhecia verdadeiramente.
— Eu não vou descer. — conseguiu pronunciar, apesar do nó que se formava em sua garganta.
— Olha , eu, de verdade, não queria ter que apelar para isso, mas você não me dá escolha. — Samantha rumou para mais perto da garota, parando a um passo de distância. se encolheu quando, com um desprezo no olhar, a mulher levou uma de suas mãos aos cabelos da garota passando a ponta dos dedos neles. E, quando ela começou a falar, o bolo em sua garganta aumentou e a cara de incredulidade que fez foi inevitável. Por mais que tivesse que lidar com a verdadeira face de Samantha todos os dias, não estava preparada para o que ouviu.
— Sabe o asilo onde seus avós estão e eu, encarecidamente, assumi os custos quando seu amado pai morreu? Seria uma pena se, infelizmente, eu cortasse esse pagamento, você não acha? — A mais velha fez um bico com os lábios, como se estivesse triste. nunca quis tanto pegar sua arma, que guardava em um fundo falso na sua gaveta de calcinhas, e meter uma bala no meio da cabeça de Samantha. Mas ao invés disso, deixou com que tudo que estava sentindo saísse em tom de espanto junto com sua voz quando pronunciou:
— SÃO SEUS PAIS!
— Deixaram de ser quando não me deram a vida que eu merecia. — a mulher se afastou, indo em direção à porta.
— Você está se ouvindo? – Samantha cada vez mais se mostrava ser uma pessoa horrível. E mesmo sabendo que só tendia a piorar, ficou complemente em choque com a frase proferida pela mulher.
— O importante é se você me ouviu. — Ela deu meia volta, e fitou novamente.
— Eu odeio você. — a mais nova falou, pausadamente e com a voz embargada. Não poderia chorar em frente de Samantha. Mas a dor que sentia em seu coração naquele momento, quase foi demais para que conseguisse se conter.
— Gostaria de dizer que é recíproco. Mas eu não me importo o suficiente para me permitir sentir qualquer coisa que seja por você. — Dito isso, ela virou novamente e caminhou em direção a porta. ficou parada, chocada demais para ter qualquer reação a princípio. O bolo em sua garganta se intensificou e a primeira lágrima desceu rolando por sua bochecha. Por mais que soubesse desde o princípio que Samantha nunca iria ter qualquer sentimento afetivo por ela, ouvir isso sair de sua boca com todas as letras esmagou tudo o que restava do coração da garota, que mesmo inconscientemente e nunca jamais admitindo, tinha esperanças de um dia poder ter uma relação que fosse no mínimo descente com a mulher. Antes de Samantha chegar à porta, no entanto, rumou em passos apressados até a penteadeira agarrando a primeira coisa que viu — um vidro de um perfume qualquer — e atacou na direção de Samantha, que somente parou de andar quando o vidro atingiu a parede à sua frente e se desfez em cacos no chão. Alguns segundos de silêncio se passaram. A mulher não havia esboçado nenhuma reação, como se estivesse esperando por alguma atitude da garota.
— Vou mandar a Elena vir limpar isso. — Voltou a andar, chegando finalmente na porta e abrindo-a com calma. — Desça em no máximo 5 minutos. — Foram as últimas palavras proferidas pela mulher antes de sair do quarto, deixando uma completamente desestruturada para trás.

🔥


Quando chegou à sala de jantar, onde todos já estavam devidamente sentados em seus devidos lugares, as vozes, devido a conversa paralela que estavam tendo, deu lugar ao silêncio instantâneo. E os olhares de todos os presentes se voltaram para a garota. não retribuíra nenhum, no entanto. Rumou para o lugar que estava reservado para você ao lado de Samantha, em silêncio.
— Fico feliz em ver você aqui, . — A voz que ecoou pelo ambiente silencioso fora a de Hector. se limitou a voltar seu olhar para o mais velho, não esboçando nenhuma reação ao seu comentário. Não gostava dele. Sentia que era sua culpa ela ter crescido sem sua mãe. Se bem que, conhecendo Samantha como conhece hoje, sabia que no fundo fora melhor.
Sentiu sua pele queimar sob a fina blusa preta que optou por usar. Samantha e Hector já haviam engatado em uma conversa qualquer e soube assim, que estava sendo alvo dos olhos raivosos de . E soube também, que era por culpa do silêncio que fez quando seu pai lhe dirigiu a palavra. Não o julgava por isso. Fora uma atitude mal-educada. E entendia que ele tomava as dores de seu pai para si. Ela também fazia isso quando o seu ainda era vivo.
Pensar no pai fez a ardência característica do choro ser sentida em seus olhos, mas tratou de pensar em qualquer outra coisa quando percebeu que estava prestes a chorar em meio a todos eles. Nunca se permitia mostrar fraqueza perante ninguém. E não seria hoje que aquilo iria mudar. Hector tentava, e ela achava sim ser de verdade, ter uma relação boa com ela. Ele não parecia ser um terço do que sua mãe era. Parecia ser um bom homem. Mas, por mais que quisesse o tratar melhor do que tratava, não conseguia ignorar o fato de ele ter sido o pivô da separação dos pais. O homem que tirou Samantha de sua vida.
Se já conhecesse como sua mãe era, iria ter lhe agradecido. Mas nunca soube de fato antes de viver com ela. E por todos os anos que passou chorando e sozinha sem o colo de uma mãe que ela achava ter, o sentimento ruim que carregava por ele era mais forte do que a vontade de fazer isso mudar. Com o tempo, talvez, ela conseguiria. Mas, sabia que isso demandaria tempo demais e sabia também, que não ficaria morando com eles mais tempo do que o necessário.
— Então, meu querido, por quanto tempo você vai ficar conosco? — Samantha perguntou para , que não estava com uma cara muito boa.
— Até resolvermos o assunto do papai.
— Que assunto? — ela perguntou, fitando o marido que estava olhando feio para , o repreendendo com o olhar.
— Nenhum, querida. É um caso em que estamos trabalhando. — iria começar a falar quando Elena e senhora Choi entraram com os pratos de comida.

Odiava ser servida. Parecia que não tinha capacidade de o fazer. Se sentia uma dondoca. E odiava se sentir uma dondoca. A comida posta em seu prato era diferente das demais refeições que foram devidamente colocadas em cada prato. Enquanto nos outros três havia uma gororoba estranha que ela não soube identificar, no seu havia um pedaço de lasanha de 4 queijos. Odiava comida de rico. Estava prestes a abrir a boca para agradecer senhora Choi — havia contado para a cozinheira uma vez qual sua comida preferida e, desde então, a senhora sempre fazia pelo menos uma vez na semana — quando ouviu a voz de Samantha ao seu lado e se segurou para não enfiar a faca, que já estava em sua mão, na jugular da mulher e vê-la sangrar.
— Pedi para Choi fazer seu prato preferido hoje. Por isso insisti que descesse para almoçar conosco. — a fitou e a mulher tinha um sorriso forçadamente gentil nos lábios. Falsa do caralho, foi o que pensou. No entanto, sua única reação foi rir ironicamente, negando com a cabeça. Samantha abaixou a cabeça e fitou sua comida, parecendo estar envergonhada de ter tentado um contato com a filha sabendo qual seria sua reação. Depois de uns segundos com o silêncio reinando novamente, ouviu bufar. Ele fazia isso sempre que estava na presença de . Ela tinha uma leve impressão que tirá-lo do sério era sua especialidade. Não se importava, no entanto. para si não significava nada.
— Será que é...
— Eu estou sofrendo ameaças. — Foi a voz de Hector que cortou a fala de . Certamente preferia ser alvo da atenção de todos os presentes antes de mais uma discussão se iniciar. Porque era o que iria conseguir ao tentar recriminar as atitudes de . Uma discussão generalizada e gritaria sem igual. Estava cansado disso todos os dias. — É esse o assunto que temos que resolver. vai ficar aqui até que consigamos achar quem está o fazendo.
— Como assim ameaças? — Samantha perguntou, com a voz levemente trêmula. — Você está sendo ameaçado e não me contou? Eu não acredito que não me contou, Hector . — a voz da mulher aumentava a cada palavra dita. — Eu vou tirar você da cidade! É isso. Da onde já se viu? Ameaças, Hector! Você está em perigo e não me contou! — até , que estava absorta demais saboreando sua lasanha, levantou seu olhar para cada um dos homens presentes querendo saber suas reações ao chilique que Samantha estava dando. fitava o pai, o julgando também por não ter dito nada a mulher. Hector, por sua vez, estava com os cotovelos apoiados na mesa e as mãos na cabeça. Com os dedos, massageava as têmporas. não pôde evitar rir da cena. Um riso contido, claro. E que ninguém percebeu.
— Por isso eu não contei. — O mais velho entre eles falou, pegando seu copo com suco e bebericando um gole.
— Mas nós já sabemos quem está por trás disso. Não vai demorar para isso acabar. — Hector rolou os olhos quando acabou de falar. Céus, seu filho era inacreditável.
— E quem é? — Samantha perguntou, sua voz ainda mais trêmula do que antes.
— Frederick Falconne. — nesse instante os olhos de correram para imediatamente, em sua testa, um grande ponto de interrogação em neon piscava e, se alguém estivesse prestando atenção na reação que teve, de fato notariam que ela fora exageradamente estranha.
— Nós não temos certeza, . Pare de afirmar isso sempre que tiver a oportunidade ou passara a acreditar somente nisso sem se abrir a outras possibilidades. E isso, no nosso trabalho, é um erro gravíssimo. — a voz de Hector estava impaciente.
— Pai, está mais do que óbvio! Felix Northen morreu. Nome dele em primeiro da lista. Obra dos Falcons. O seu nome está em quinto! Quinto, pai! Nós não temos tempo de criar mil e uma possibilidades e suspeitos diferentes! — A careta de estava pior agora. Ela era a responsável pela morte de Felix Northen. E não foi por uma lista idiota que ele morreu. O que estava acontecendo, afinal? Deixou sua comida de lado e passou a prestar mais atenção na conversa, mesmo que tentasse disfarçar ao máximo sua curiosidade.
— Você está sendo irresponsável.
— Que lista? Alguém pelo amor de deus me explica direito o que estava acontecendo! — Samantha estava chorando. Chorando! Céus, pelo visto, a simples possibilidade de perder seu banco particular era realmente assustadora para a mulher.
— Nós temos acesso a um endereço eletrônico possivelmente pertencente à um cara que trabalha para o Falconne. — Hector explicou, pacientemente. E antes que voltasse a falar, Hector o fez um sinal para que ficasse quieto. — Deste endereço, interceptamos uma suposta lista de possíveis futuras vítimas dele.
— Por que você é cheio de suposições e possivelmente’s enquanto seu filho tem tanta certeza? — Samantha novamente questionou. E Hector novamente interrompeu o filho antes deste começar a falar.
— Porque meu filho está cego de ódio, fato este que está o fazendo agir irracionalmente.
— Eu estou agindo com a razão, pai. Só quero que o senhor fique seguro. Só isso. E eu não estaria o culpando se não tivesse certeza de que estou certo!
— Estaria sim. Você quer colocá-lo atrás das grades desde que....
— Não, pai. Não precisa terminar a frase. — levantou da cadeira, e fitou seu pai. — Eu quero sim que ele pague pela morte da minha noiva. Mas não é por isso que defendo a culpa dele nas ameaças ao senhor. E muito obrigada por tocar nesse assunto. Com licença. — dito isso, o rapaz rumou para fora da sala e pode perceber o arrependimento imediato que Hector sentiu ao tocar no último assunto abordado. tinha uma noiva. Noiva que morreu por culpa de seu chefe. Havia recebido muitas informações para assimilar tão rapidamente. Precisava de ar. Se pôs de pé e rumou em direção ao seu quarto, sem ao menos se importar se Hector ou Samantha achariam sua atitude mal-educada. Precisava falar com Ander. Urgentemente.

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Lista? Que porra de lista? — Ander falava do outro lado da linha. Tão chocado quanto a garota por ouvir tal absurdo.
— Estranho, né? O e-mail é o que achei mais bizarro nisso tudo.
Nós não fazemos nada pela Internet! Isso está muito estranho, .
— Eu sei. Por isso vim com falar com você. — a garota estava jogada na cama enquanto falava com Ander pelo telefone celular.
O chefe do departamento de homicídios da Scotland sendo ameaçado pelo Falconne! — O garoto gargalhou. — Caralho, isso é muito surreal de se pensar. Desde quando o cara mata polícia?
— Hector não está certo de que é ele que está por trás disso. O filho que acha saber tudo é que está.
Bom, então vemos que o filho dele não procede a fama que tem.
tem uma história com o Falconne. Ele está convicto de que está certo e não parece que vai mudar de ideia. — se virou de barriga para baixo, estavam há tampo tempo em ligação que suas costas doíam.
Cara, eu desconfio do que isso possa significar.
— Que alguém está querendo comprar briga com o Falconne? — a garota chutou. Também havia pensado nisso.
Sim. E você sabe o que isso significa, não é? suspirou. E mais convicta do que nunca, respondeu:
Guerra.

Capítulo 3

Via os raios cortarem o céu e ouvia os sons dos trovões cada vez mais alto. Os ventos faziam-na se encolher sob o casaco, três vezes maior que ela, a fim de conter o frio que se fazia cada vez maior. Apressou os passos quando sentiu um pingo grosso de chuva cair sobre a pele exposta de sua mão. Nenhum barulho além do som dos trovões e da chuva que se iniciava podia ser ouvido naquela escura rua. Andava à passos largos pelo caminho já decorado. Não sabia se conseguiria chegar em casa antes da chuva despencar, mas tentaria. Apressou ainda mais os passos, estava quase correndo agora. Os pingos de chuva se intensificaram e um trovão mais alto que todos os outros cortou os céus no mesmo instante em que a garota esbarrou em um homem parado no meio da calçada. Ela se desculpou e passou por ele, mantendo seu caminho. No entanto, não andou mais cinco passos sequer antes de tudo ficar escuro e sua consciência lhe abandonar.

acordou com a respiração desregulada e olhos arregalados. O coração em seu peito batia acelerado e sentia leves tremores em suas mãos. Maldito pesadelo.
Demorou a perceber seu celular tocando. Mas quando o fez, tratou de logo atende-lo, sem antes checar quem era do outro lado. Se arrependeu no instante em que a voz grossa e impaciente de Frederick Falconne reverberou pelo aparelho.
— Essa é a segunda vez que eu estou ligando. Espero uma desculpa plausível para não ter atendido na primeira chamada. respirou fundo, ainda tentando normalizar sua respiração.
— Me desculpe. — sua voz saiu rouca e baixa — Eu estava dormindo.
— Eu ligo, você atende. Não me interessa o que esteja fazendo no momento. Espero que não se repita. Sou um homem ocupado e não disponho de tempo a perder.
— Sim, me desculpe.
— Ander me contou de uma lista de nomes que está em posse de seu padrasto e da Scotland. Eu quero que descubra todos os nomes que estão nela e me passe assim que conseguir. franziu o cenho e não conseguiu segurar sua língua dentro da boca quando questionou.
— É uma lista falsa com futuras vítimas falsas. Estão tentando te incriminar pelas ameaças feitas ao Hector . Por que te interessa quais os nomes que estão lá? — O silêncio que permeou por segundos do outro lado foram suficientes para se arrepender de questionar.
— E quando foi que eu passei a te dever satisfações, Lynx? engoliu em seco e estava pronta para se desculpar novamente, quando a voz de Falconne voltou a invadir seus ouvidos. — Não tenho tempo pra perder com você. Só faz o que eu mandei e faça o quanto antes. — A ligação foi desligada e se jogou na cama. Como diabos iria conseguir acesso a porra da lista não sabia, mas sabia que se não o fizesse teria que lidar com consequências severas e não estava nem um pouco afim de lidar com elas.

Gostava de banhos longos. Gostava de sentir a água quente queimando em sua pele. Gostava de se sentir limpa, de corpo e alma. Sabia que sua alma era tão suja quanto o chão de um banheiro de rodoviária, mas ali, debaixo da água que caia em jatos fortes, sentia como se todo o peso de ser quem era saísse de seus ombros. Ouvir sua consciência era uma coisa que a garota evitava, mas nesse momento, ela gritava tão alto contra o desperdício de água que foi impossível ignora-la. Desligou o chuveiro e saiu do box, sentindo na mesma hora o ar gélido lhe atingir. Ignorou o arrepio que passou por seu corpo e tratou de logo alcançar as duas toalhas que estavam dispostas ali, enrolando uma em sua cabeça e secando-se com a outra. Saiu do banheiro em passos apressados. Pegou seu celular que estava jogado em cima de sua cama e conferiu às horas. 21:45. Se xingou mentalmente por estar atrasada. Tinha um trabalho com Ander e haviam marcado às 22:00. Jogou o celular de volta à cama e logo tratou de se vestir. Optou por uma calça preta rasgada nos joelhos e uma blusa justa da mesma cor. Calçou seus coturnos também pretos e foi novamente em direção ao seu celular checar as horas mais uma vez. 21:50.
Largou novamente o aparelho e correu para o banheiro secar os cabelos, não que tenha se demorado tempo o suficiente nessa ação para de fato, secar bem os fios, mas deu uma tapeada os secando por cima.
Voltando ao quarto, foi na direção de sua gaveta de calcinhas, usando uma faca que sempre tinha disposta ali, para retirar o fundo falso e pegar seu revólver. Depois de conferir se estava travado e com munição, o prendeu com maestria no cós da parte traseira de sua calça. Rumou mais uma vez para seu armário de roupas e pegou uma jaqueta de couro, vestindo-se rapidamente. Passou em frente ao espelho parando diante dele e permitindo se analisar por breves segundos para checar se estava tudo ok, antes de pegar seu celular e sair do quarto.
A casa estava silenciosa.
Foi o que constatou assim que colocou os pés no corredor. Muito provavelmente não havia ninguém em casa e, se houvesse, estariam dormindo. Enquanto rumava em direção ao primeiro andar, mandou uma mensagem para Ander avisando que estava pronta e o esperando. Quando chegou no alto da escada, pode perceber uma movimentação na sala de estar. . Imerso demais em papéis jogados na mesinha de centro para percebe-la ali. E como em um estalo, a voz de Falconne durante a ligação de mais cedo lhe invadiu a mente. Ela desceu as escadas e parou quando chegou ao último degrau, ainda sem atrair a atenção do policial. Ela precisava bolar um jeito de conseguir os nomes que estavam na maldita lista. E só isso passava pela sua cabeça quando se viu andando na direção de . No entanto, quando chegou perto o suficiente para atrair a atenção do moreno, travou. O que falaria? O que pensou indo até ele? O homem a fitava com uma grande dúvida estampada em sua face. o fitava de volta, enquanto sua mente trabalhava em algo pra dizer.
— Quer alguma coisa? — quem falou. pareceu sair do transe em que se colocou e falou a primeira coisa que viera em sua mente.
— Eu sinto muito pelo seu pai.
— Não precisa fingir que se importa com ele.
— Eu não gosto do seu pai, mas não é por isso que quero vê-lo morto. — ergueu uma sobrancelha e a fitou com clara desconfiança. rolou os olhos. — Eu não sou um monstro, . Eu já senti o mesmo medo que está sentindo agora. Ou já se esqueceu? — não esperou por mais alguma interação. Girou nos calcanhares e começou a rumar em direção da porta. Mas parou assim que ouviu a voz de adentrar seus ouvidos novamente. Sua respiração falhou e seus olhos arregalaram levemente com o tom que o homem usou e pelas palavras que saíram de sua boca. Lembrou no mesmo instante da arma no cós de sua calça e sua espinha gelou.
— O que é isso, ? — A garota girou e o fitou. Sem deixar transparecer o nervosismo. Bom, pelo menos esperava que estivesse conseguindo.
— Isso o quê?
— Me dirigiu a palavra somente pra dizer que sente muito pelo meu pai? Sem xingamentos ou no intuito de me tirar do sério? — respirou aliviada no mesmo instante. Céus, se tivesse visto a arma, certamente teria problemas. Problemas que resolveria somente puxando o gatilho. E não estava a fim de mata-lo. Não hoje, pelo menos.
— A função de me tirar do sério é sua, detetive. mudou sua expressão para uma divertida assim que a garota terminou de falar. Mais uma vez ela rolou os olhos. Céus, homem insuportável. Porém, sua expressão de divertimento durou somente por breves segundos, até abaixar seu olhar e fitar um papel que tinha em mãos.
— Eu entendo que você ache saber o que estou sentindo no momento, mas... — Esticou o papel na direção da garota — O que eu sinto quando vejo o nome do meu pai nessa lista não é medo. É raiva, . A mais pura e genuína raiva. Eu não sinto medo de perder ele. Eu sinto medo do que eu vou fazer com quem está por trás disso se eu perder ele. — pegou o papel e quase sorriu quando percebeu do que se tratava. O celular de começou a tocar e ele pediu licença, saindo da sala e indo em direção a cozinha com o aparelho no ouvido. demorou a perceber e acreditar na sorte que estava tendo. Assim que se viu sozinha, rapidamente pegou seu celular e abriu na câmera, não se demorando em tirar uma foto do papel, no mesmo instante em que uma mensagem de Ander fora recebida.
Largou o papel em cima da mesinha e guardou o celular no bolso traseiro de sua calça, rumando em passos apressados até o lado de fora da casa.

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— Nós fomos rebaixados agora?
— É só uma cobrança, Lynx.
— Não precisa me chamar de Lynx ainda. Estamos só nós dois aqui.
— Estamos em missão. Seu codinome é Lynx. — bufou.
— Eu vou continuar te chamando de Ander até chegarmos lá.
— Tudo bem. Meu nome de bandido é feio mesmo. Mas o seu é legal. – riu. Conversas aleatórias e sem sentido faziam parte quando estava com Ander. Seguiram em discussão até chegarem no local de destino. Os olhos de brilharam no mesmo instante e Ander, ao seu lado, logo percebeu o entusiasmo que de repente tomou conta da amiga.
— Isso é o que eu ‘to pensando?
— Depende, se você está pensando que estamos em um racha do Dios de Las Cales, você está certa. – Ander respondeu enquanto estacionava seu carro.
— Espera... – a garota se virou de lado para fitar Ander no momento em que ouviu o nome que saiu de sua boca. – O Dios é o cara que viemos cobrar?
— Sim.
— Esse cara é uma lenda! As corridas que ele organiza são famosas por toda a Inglaterra! Se eu tiver que matar ele, vai ser uma pena.
— Não vamos precisar mata-lo. – Ander acendeu um cigarro e ofereceu um para , que aceitou. Deu uma tragada e fitou a garota, falando entes mesmo de soltar a fumaça: — Pelo menos, por enquanto, não.

O Rapaz com traços latinos observava a garota que invadira seu trailer e estava sentada em um pequeno sofá que ali se encontrava. Ela o olhava com diversão nos olhos, parecia estar se divertindo com a confusão estampada em sua cara. E de fato, estava. O moreno ainda não havia movido um musculo se quer desde que notara a presença da garota ali dentro. Não a conhecia de nenhum lugar, e estava com medo de perguntar. Muita gente o queria morto. Cogitou a possibilidade de a garota ser uma policial, muita gente o queria preso também, mas não. Ela era muito jovem, se tivesse vinte e dois anos já seria muito.
Engolindo em seco e respirando fundo, jogou para fora a primeira pergunta que conseguiu formular. E a mais importante, talvez.
— Q-Quem é você? – Não obteve resposta de imediato. No lugar, ganhou um rolar de olhos e uma bufada da garota, nitidamente frustrada.
— Vocês sempre fazem as perguntas erradas – Ela se levantou e foi na direção do homem, que ainda se encontrava parado do mesmo jeito, no mesmo lugar.
Quando estava a poucos centímetros de distância dele, se inclinou um pouco para então sussurrar em seu ouvido.
— Deveria perguntar para quem eu trabalho, docinho.

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estava, ainda, sentado no sofá da casa de seu pai – e, temporariamente sua – a fim de tentar achar algum lugar para começar suas buscas e provar para seu pai que estava certo. Dessa vez, sentia que iria colocar Falconne atrás das grades e não podia estar mais ansioso por isso. Estava tão entretido que não ouvira ou ao menos se atentara ao seu pai parado ao seu lado no sofá, em pé. Somente quando este pigarreou, chamando a atenção do filho, foi que ele percebera a presença do homem. Ainda estava chateado pelo o que acontecera no almoço, ele pôde perceber, mas, se sobrepondo a esse sentimento, estava a tristeza. percebeu assim que o fitou.
— Eu quero me desculpar pelo o que disse mais cedo. – O mais velho começou, sentando ao lado do filho. – E não tinha que ter citado...
— Tudo bem, pai. – o interrompeu. – Não precisa pedir desculpas. Só vai parar de doer se eu não parar de reagir da maneira que reagi hoje toda vez que esse assunto surgir.
— E eu concordo com isso. Mas, não tinha o direito. Eu sinto muito, de verdade. – o fitou.
— Eu sei, pai. – o mais novo lançou-lhe um sorriso gentil - Eu também quero pedir desculpas. Eu sei que estou agindo de uma forma completamente antiprofissional e correndo sério risco de cometer erros graves nessa investigação, porque estou completamente focado em colocar minhas mãos no Falconne. – suspirou e jogou as costas contra o sofá, levando ambas as mãos à cabeça e bagunçando os fios de seu cabelo – não que este fosse, de fato, arrumado. – Só que, de verdade pai, eu sinto que ele tem alguma coisa a ver com isso.
— Eu fico feliz de você admitir que corre risco de fazer merda por culpa de sua raiva. – Hector virou seu corpo de lado para observar seu filho. – Mas acho completamente compreensível que você sinta que alguma coisa, nisso tudo, tenha dedo dele. – o mais velho respirou fundo e direcionou seus olhos à mesa, onde os vários papeis que obtinham toda a atenção de instantes antes, estavam. Pegou a folha onde seu nome estava e a analisou por breves segundos. – Eu não entendo. Tem muitos nomes aqui, nenhum com ligação aparente. Tem criminosos procurados, donos de grandes empresas, que possuem ficha limpa, devo salientar... e bem, o meu. Não faz sentido!
— Você é o responsável pela divisão de homicídios da Scotland, pai. E também, quem coordena toda a operação de investigação conta ele. – comentou, pegando o papel das mãos de seu pai. – E isso já me parecem motivos os suficientes para que ele queira dar um fim no senhor.
— Pode ser. – Hector bufou. – Pode ser que você tenha razão. Mas eu preciso que você coloque na sua cabeça que você precisa ser mais cuidadoso com o que afirma e que precisa ser cem por cento profissional quanto à essa investigação. Ou...
— Ou o que, pai?
— Ou eu vou tirar você do caso antes mesmo de entrar, de fato, nele. – arregalou os olhos ao ouvir as palavras do pai. Céus! Entendia que apesar de ser seu pai, Hector também era seu chefe e precisava exigir dele o seu melhor sempre, mas apesar disso, sabia também, que mesmo do seu jeito torto de investigar, ele era o melhor daquele departamento. E sempre prendia o cara certo. Nunca, em anos de profissão, cometeu um erro que colocasse atrás das grades uma pessoa inocente. E não seria dessa vez que isso iria acontecer. Não conseguia entender, por mais que tentasse, as medidas extremas que seu pai estava disposto a tomar caso, segundo ele, não agisse com cem por cento de profissionalismo. Por Deus, nunca agira assim. Sempre investigou de um jeito torto, mas sempre concluíra seu trabalho com maestria. Pensou em questionar seu pai e rebater até conseguir tirar aquela ideia – que julgava maluca – de sua cabeça, mas não o fez. Sabia que, mesmo não demonstrando externamente, seu pai estava preocupado com sua própria segurança e sua cabeça, certamente, não estava em ordem. E também porque, já havia ficado um mal-estar entre os dois mais cedo e odiava ficar de bico com seu pai. Odiava. Aos poucos a expressão de incredulidade foi deixando seu rosto, e esta foi para o rosto de seu pai quando o mais novo acenou em concordância. – Você não vai questionar?
— Não, pai. Não vou. – o cenho de seu pai franziu ainda mais em desconfiança. – Eu não concordo, obviamente. E vou ficar muito puto se isso acontecer, mas vou dar meu melhor, como sempre, para poder investigar quem está ameaçando o senhor sem ser escondido e por baixo dos panos. – sorriu sem mostrar os dentes em direção de seu pai, este por outro lado, lhe lançou um olhar feio em resposta de sua gracinha. – Eu estou brincando, relaxa.

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dash;&m Eu não tenho esse dinheiro em mãos agora, ele tem que esperar. – estava nervoso, não sabia se sairia dali com vida, mas não tinha como fabricar o dinheiro e entregar para a moça, que ele descobriu que era ninguém menos que Lynx, a garota que amarrava as pontas soltas deixadas por Frederik Falconne, maldito Falconne. Já ouvira falar de Lynx e das coisas que ela já havia feito. Sabia que poderia levar uma bala na testa a qualquer momento, mas ele não tinha o dinheiro. Simplesmente não tinha.
— Esperar? – sorriu sem mostrar os dentes, brincava com uma caneta em cima da mesa – Digamos que Falconne não seja muito paciente.
— E o que você quer que eu faça? – O moreno falou levantando a voz, parou de brincar com a caneta e o olhou. Ele tinha mesmo gritado com ela?
— Primeiro eu quero que pense duas vezes antes de levantar a voz pra mim – Ela se levantou da cadeira e rumou em sua direção, o homem sentiu uma gota de suor escorrer por seu rosto, estava morto, de fato, estava morto. – Segundo, se ousar fazer isso de novo mesmo depois de pensar as duas vezes, é melhor que esteja pronto pra dizer adeus ao que carrega no meio das pernas. – levou uma das mãos até o cós da calça do moreno, agarrando ali e se aproximando ainda mais dele. Pode observar o homem engolindo em seco e deu uma risadinha com aquilo. - Terceiro, eu posso te dar até amanhã à noite para conseguir esse dinheiro. Nem um minuto a mais. – Virou as costas e rumou em direção a porta do trailer, mas antes de sair se virou para o homem novamente. – E nem pense em fugir, porque eu vou atrás de você. E quando eu te achar, porque eu vou achar, pode se considerar um homem morto. – Sem esperar respostas, saiu do trailer rumando em direção ao carro. Ander a seguiu, sem contestar.
Tinha conseguido ouvir a última parte da conversa pelo fato das vozes lá dentro estarem levemente alteradas.
— Espera! – O tal Dios apareceu ofegante, antes que pudessem entrar no carro. – Eu preciso que espere até domingo. – o fitou com os olhos semicerrados, qual a parte do nenhum minuto a mais ele não havia entendido?
— Eu acho que fui bem clara lá dentro.
— Eu não consigo esse dinheiro até amanhã à noite. Tem uma corrida amanhã, e outra no domingo. Com o dinheiro das duas eu consigo pagar a minha dívida. Eu preciso que espere. – bufou, mas não via alternativas a não ser esperar. Falconne poderia não ficar feliz com isso, e ela sabia. Mas sabia também que não era mais quem cobrava dívidas fazia tempo. Ela era da limpeza. O que fazia de melhor era matar quem Falconne queria morto, o que não era o caso de Dios. Então, foda-se.
— Nos vemos no domingo. – Foram as últimas palavras que proferiu antes de entrar no carro, juntamente de Ander, e dar o fora daquele lugar.

Capítulo 4

Domingos eram melancólicos e tristes. Odiava domingos. Lembrava de seu pai, de quando a vida ainda era boa, de quando não era uma fodida de merda. De quando ainda tinha algum motivo para viver. Não tinha mais. Sentia que ainda estava nesse mundo por ter contas a pagar. Por ser uma péssima pessoa. Pessoas ruins nunca morrem antes de acertarem as contas nessa terra de merda. Pelo menos era o que seu pai falava. Céus, sentia tanta falta dele. Dos abraços do nada, dos “eu te amo, pai” e “amo você, minha filha”. Dos carinhos, dos momentos juntos, das séries que assistiam juntos, dos passeios... Nunca superaria sua morte. Nunca. Quis ir junto com ele no momento que soube, não queria viver sem ele. Sentia seu coração despedaçado, quebrado em mil pedaços e sabia que nunca o concertaria. A que existia antes de seu pai falecer, jamais voltaria a existir. Ele a mantinha com os pés no chão. Veja bem, já trabalhava para Falconne há algum tempo, mas sempre fora muito cuidadosa com tudo que fazia. Só de imaginar o desgosto de seu pai se descobrisse com o que estava metida, lhe apertava o peito de forma que a deixava sufocada. Depois que ele se foi, não via mais motivos para ser cuidadosa. Operava sem controle e sem o mínimo medo de ser presa ou morta. O que para ela era até divertido. Mas para Falconne, demasiado trabalhoso. As vezes pensava que se conseguisse irritar o velho o bastante, ele mesmo lhe mataria e acabaria com o martírio que era para ela estar viva. Já havia tentado acabar com isso por conta própria, mas aparentemente, nem controle sobre a própria vida ela tinha mais. Médicos idiotas.

Fora tirada de seus devaneios por seu celular tocando indicando uma nova mensagem.

“pode sair do condomínio, chego aí em 15”

Havia até se esquecido do compromisso que tinha. Levantou da cama e rumou porta afora. Estava quase no fim da escada para o primeiro andar quando deu de cara com , com uma expressão feliz demais no rosto, o que não era normal. O normal de era estar sério, sempre. Como se sorrir lhe causasse dor.
— Normalmente essa é a hora em que as pessoas chegam em casa, não saem. - Odiava . Era enxerido demais em suas coisas e estava lhe sugando a paciência que ainda tinha. Pensou por um momento como teria sido se tivesse de fato visto sua arma na sexta-feira à noite e ela tivesse que, de fato, lhe dar um tiro na cabeça. Permitiu que a imagem do homem esticado no chão em uma poça de sangue lhe invadisse a mente, e não pôde evitar um sorriso. - Olha, ela sorri.
— Porque não vai a merda, ?
— Estou de muito bom humor para isso. - Respondeu ele alargando ainda mais o sorriso.
— Você de bom humor? Isso é raro, Detetive. Transou? - Alfinetou e a risada do homem chegou aos seus ouvidos, de novo. - Risos e mais sorrisos. Odioso.
— Entendo que é difícil sorrir dentro dessa casa, não é, , ainda mais com você tornando nossa convivência tão tranquila.
— Eu concordo, mas no seu caso, é só ir embora. Olha a porta ali – aprontou para a enorme porta branca à sua frente. - É bem grande, acho que você consegue achar. - Mais uma risada de . Rolou os olhos e lhe deus as costas. não falou mais nada, pegou o controle da enorme TV e a ligou. Sentia que os dias que passaria nessa casa serviriam como um teste para sua paciência. não era fácil, mas teria que engoli-lo. Por bem, ou por mal.

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Adorava o som dos carros acelerando. Adorava a adrenalina de uma corrida de carros e adorava ainda mais quando era ela que estava no volante. Trocava as marchas com uma maestria de causar inveja. Cada marcha trocada, cada curva acentuada, cada novo décimo que o velocímetro subia, a fazia sentir mais viva. Ali, dentro de um carro, acelerando e abandonando seu oponente às suas costas comendo poeira, se sentia indestrutível. A chegada também tinha seu potencial, pessoas que não a conheciam venerando e aplaudindo, lhe tecendo elogios... Poderia facilmente fazer isso todo dia. Devolveu a chave do carro para Ander assim que se desvencilhou da muvuca de pessoas.
— Se o Falconne souber que você entrou em um carro no banco de motorista ele me mata. - O ouviu falar assim que se aproximou.
— Será o nosso segredinho. - Lhe direcionou uma piscadinha.
— Nossa, passo uma semana longe e vocês já tem segredinhos? - Uma voz feminina e conhecida falou atrás dos dois, que se viraram de imediato vendo Celeste ali. A ruiva era a única amiga que tinha, a conheceu quando começou a trabalhar para Falconne.
lhe deu um abraço e Ander a cumprimentou de longe, com um aceno. Acho bom pontuar que a ruiva era além de amiga, ex-namorada de Ander. Eram obrigados a trabalhar juntos, mas o garoto não conseguia superar a mágoa de ter sido abandonado. Tentavam ter uma boa convivência, mas era difícil. Ander era difícil e Celeste era complicada. Não entravam em consenso quanto a conduta com também, ambos tinham ordens para ficar de olho nela devidos aos acontecimentos de meses atrás, mas cada um queria fazer do seu jeito. O que sempre ocasionava discussões e brigas sobre , que levavam por fim, a brigas sobre o passado dos dois. Eram raras as ocasiões em que não havia bate-boca entre eles. detestava, mas eram a única família que tinha e, quando as coisas ficavam muito feias, ela sempre tentava apaziguar. Não queria perder nenhum dos dois e temia que sempre depois de uma briga feia, um deles fosse sumir. Não gostava nem de imaginar o que faria se não os tivesse consigo.
— Como sabia onde estaríamos? - Perguntou Ander, olhando para qualquer lugar, menos para a ruiva.
— Me informei com a Sky. Cheguei de Nova Iorque agora a pouco e não tinha nada para fazer.
— Falconne sabe que está aqui?
— Ele tem que saber de tudo, Ander? - Perguntou a ruiva. já via as faíscas. Céus, Celeste acabara de chegar não tem nem dois minutos.
— Quando se trata de alguma missão, sim. Ele tem. Não estamos aqui à toa, Viper. E aqui, você me chama de Mouse. - Celeste rolou os olhos e estava pronta para rebater quando interviu. Era muito cedo para brigas.
— Vamos logo fazer o que viemos fazer, antes que os dois me estressem.

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O som da música alta e dos carros eram abafados pelas paredes do trailer. estava sentada em uma cadeira da pequena mesa disposta no lugar enquanto esperava pacientemente Dios contar as cédulas de dinheiro para lhe entregar. O pequeno ambiente contava com tudo que fosse necessário para uma pessoa morar nele. Tinha cozinha, mesa de jantar, banheiro e até uma cama nos fundos. Pequenas janelas eram dispostas pelo lugar, e foi por uma dessas janelas que teve a visão de uma pessoa que, nem em um milhão de anos, cogitaria ver ali. Sua cabeça trabalhou rápido e quando viu, estava de pé prensando um Dios com olhos arregalados e completamente assustado contra uma parede. Sua arma estava em punho já apontada para a cabeça do homem.
— Mas o que...
— ARMOU PRA GENTE? - Os olhos do pobre coitado dobraram de tamanho, se é que era possível.
— O que?
— Eu perguntei se foi burro o suficiente pra armar pra gente, porra! - Celeste e Ander adentraram o trailer no momento em que ouviram a voz de gritar.
— Que merda tá acontecendo?
— Eu acho que esse merdinha armou pra gente, Mouse, é isso que tá acontecendo!
— Eu não sei do que caralhos você ‘tá falando, porra! - apertou ainda mais a arma contra a cabeça do homem. - Eu juro que eu não sei! - Nesse momento viu lágrimas se acumulando nos olhos arregalados.
— Lynx, o que você viu?
— Tem polícia aqui, Viper. - Se afastou de Dios e rumou até a porta que estava aberta, fechando-a num rompante.
— Eu juro que não armei pra ninguém! - Ander lhe encarava de forma mortal.
— Eu vi dois policiais da Scotland ali fora, fala a verdade antes que eu perca a porra da minha paciência. - Rumou novamente em direção ao homem que se encolheu como um animal indefeso.
— Eles devem estar atrás de mim! Dá última vez que organizei uma corrida na porra da terra da rainha eles quase me pegaram, eu ‘to jurado, acreditem em mim. Eu não seria tão idiota de armar pra vocês.
— A terra é do Rei agora. - A voz de Celeste se sobressaiu, atraindo os olhares dos presentes. Ander e lhe fitaram com a mesma cara de “É sério, porra?”. Celeste deu de ombros.
— Bom, se eles estão aqui pra isso, fico feliz em dizer que é a sua noite de sorte. Veio pra cá como, Viper? - A ruiva lhe fitou com as sobrancelhas franzidas em clara confusão.
— De taxi. - sorriu.
— Que merda você quer fazer Lynx? Pega esse dinheiro e vamos embora. - Ander já abria a mochila e colocava todo o dinheiro que estava em cima da mesa dentro dela.
— Não podemos simplesmente ir embora, eles devem ter feito uma emboscada pra pegarem o Dios. Devem ter carro por todo o lado. - espiava pela fresta da janela. estava ali. Junto com seu fiel escudeiro, Hunter. Tentavam se infiltrar pra não chamar atenção. Mas a todo momento falava algo em algum aparelho que tinha em mãos, e seus olhos estavam bons o suficiente para perceber que a porra de walkie talkie? Estavam em 2023! Que velharia.
— O que quer fazer? - Celeste perguntou para , mas quem respondeu foi Ander.
— Nós vamos pegar a porra do carro e vazar, não precisamos chamar a atenção da Scotland pra nós.
— Tem razão, Mouse. Não precisamos. - estava com determinação no olhar quando ficou de frente para Dios e lhe fitou. - Preciso de um carro.

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— Essa é uma péssima ideia!
— Você já falou isso dez vezes nos últimos cinco minutos, A...Mouse. - Celeste bufou.
— Pega isso – Disse entregando sua arma e celular para Viper. - Não parem essas merdas de carros, sumam com o Dios e não olhem pra trás. Se é como eu estou pensando vai ter muito policial e vai ser um caos, então, acelera essa merda Mouse.
— Você é inacreditável, de verdade. - Disse Ander entrando no carro, que era de Dios, mas que ele pilotaria. Nesse momento, puderam ouvir três disparos de arma e uma voz feminina gritando “polícia”. Era o sinal. Dios veio correndo sei lá de onde e entregou uma chave para .
— É o verde.
— Provavelmente ele vai ser apreendido. - Alertou a garota.
— Que se foda, antes ele do que eu. - Dios entrou no carro com Ander e Celeste embarcou no carro de Ander, que estava bem perto. Gritaria e caos se formaram enquanto todos os presentes aceleravam seus carros para longe. Sendo fechados por todos os lados por carros de polícia e sirenes. De onde haviam saído não saberia dizer, mas como imaginava, era um cerco. Correu para trás do trailer onde três carros estavam estacionados. Todos que Dios alugava para quem queria correr e não tinha com o que. não poderia negar que ele sabia fazer dinheiro. Entrou no verde, não demorando a sair dali. Em fila, Ander, Celeste e aceleraram se misturando a muvuca de carros.
Conforme o plano, que haviam bolado muito rápido, logo avistaram o carro de no meio da bagunça. Ander fez questão de passar devagar em sua frente, e como havia previsto, ele acelerou logo atrás. Sabiam qual era o carro do Dios. Bingo.
Celeste colou atrás de com em seu encalço.
Sendo guiado por Dios, Ander acelerou por meio dos carros e conseguiu seguir para fora do amontoado de veículos. Seguiram em perseguição por uma estrada deserta somente com a luz dos faróis iluminando o caminho. Quando Ander piscou os faróis traseiros e aumentou consideravelmente a velocidade, Celeste acelerou e embicou o carro na frente do de , abriram vantagem e foi logo atrás, a tentou fechar, sem sucesso. Agora, era no carro dela que estava colado. Seguiram por um longo caminho, pelo retrovisor, viu as luzes vermelhas e azuis de outros carros da polícia se aproximando. Haviam chamado reforço. As coisas estavam indo melhor do que tinha imaginado.
Feito mágica, Ander sumiu ao virar uma curva e Celeste, logo atrás dele, fez o mesmo. , no entanto, puxou o freio de mão, freando e virando o volante, fazendo um cavalo de pau perfeito, servindo de barreira para a rua onde Ander entrou. Seu coração batia acelerado no peito devido a adrenalina. Ouviu os carros freando bruscamente. Havia pelo menos quatro carros, com faróis apontados em sua direção. Um deles era de . Graças a película extremamente preta, não conseguiam ver seu rosto, e se vissem, se espantariam ao ver uma garota rindo atrás do volante. não sabia por que estava rindo, sabia que iria se foder, mas estava em um estado entorpecente. Havia frustrado os planos de . Só esperava ter herdado os excelentes genes de atriz que sua mãe possuía para se livrar dessa.
— Saia do carro com as mãos para cima! - . Sua voz adentrou seus ouvidos, alta, potente e zangada. não havia movido um músculo sequer. Queria irritá-lo mais um pouco. - Sai da merda desse carro agora, porra! - Porra. Ele sabe xingar. Um arrepio subiu por sua espinha quando levou uma de suas mãos até a porta, abrindo-a, devagar. Saiu do carro com as mãos para cima, de costas para os policiais.
— Vira, devagar. - Mais um comando de . Autoritário, grave. Sentiu mais um arrepio. Conforme foi se virando, sua expressão antes atrevida, mudou para assustada e inocente. - Nem ferrando! - estava prestes a surtar. Hunter do seu lado lhe encarrava em completo choque. Os demais policiais se entreolhavam sem saber o que fazer com as armas apontadas para .
— Abaixem as armas! - A voz que soou agora foi a de Hunter.
— Não abaixem merda nenhuma! - Mais uma vez, .
a menina ‘ta apavorada, não precisa disso.
— Cala a boca Hunter. - Bradou o moreno dando alguns passos na direção de , que ainda estava com mãos acima da cabeça.
— Que merda foi essa ? - sua voz estava rouca. Mais rouca que o normal. acabara de perceber que gostara desse tom.
— E-eu só estava correndo! Me apavorei quando ouvi os tiros, eu não vi que era a polícia!
— As porras das sirenes não te deram um sinal de que era a polícia, ? - ela se encolheu. - Abaixa a porra dos braços. - obedeceu.
— Eu só percebi agora, por isso parei!
— Algema ela. - Seus olhos arregalaram. O comando era para Hunter.
— Não vou fazer isso, . Não há necessidade.
— Eu mandei você algemar ela, cacete.
— E eu falei que não vou fazer!
— Não é pra tanto, . É só uma corrida de rua, vai me prender por isso? - usava a expressão mais inocente que conseguia.
— Tudo bem, faço eu mesmo. - Deu mais alguns passos se aproximando mais ainda de . - Se você quer agir como marginal participando dessas merdas de corridas ilegais, vai ser tratada como a porra de uma marginal. - A única coisa que os separava agora era a porta do carro ainda aberta. a fechou num rompante, fazendo dar um leve pulinho pelo susto.
— Vira de costas. - O moreno pediu e ali, frente a frente, não pode deixar de provocar mais um pouco.
— Não. - Faíscas saia de seus olhos. Se falasse que não estava gostando daquilo, mentiria.
— Vira de costas, . - Pelo tom de voz percebeu a paciência do moreno se esvaindo.
— É assim que trata os marginais? - A frase foi o estopim para algo que nunca vira antes nos olhos de , se acender.
— Não. É assim. - Tudo acontecera muito rápido, sentiu o aperto de em seu braço e logo depois fora virada de costas e se viu prensada com os peitos e barriga contra a lataria do carro, sentindo em suas costas algemando seus pulsos. Nunca vira esse , e jamais admitiria nem para si mesma que sentiu algo em seu ventre pulsar o vendo agir daquele jeito a segurando firme, forte e bruto. Ficou tão aérea, tentando entender a coceirinha que surgiu no meio das pernas, que só se deixou ser levada para o carro de sem lutar contra.
— Hunter, leva o carro dela pro pátio. Vocês - apontou para os demais policiais - Entrem naquela merda de estrada e achem aquele filho da puta! - Abriu a porta de seu carro jogando no banco do carona como se fosse uma boneca. - E você, , espero que esteja pronta para um interrogatório.

Capítulo 5

Olhava seu reflexo no vidro escuro na parede à sua frente. A sala era pequena, havia uma mesa disposta no centro dela, com somente duas cadeiras, uma de cada lado. Estava sentada em uma das cadeiras, suas mãos ainda algemadas. Fitava seu reflexo impaciente. Sabia que deveria ter alguém lhe observando do outro lado. Uma típica sala de interrogatórios. havia a deixado ali fazia alguns bons minutos. Só queria acabar logo com isso e ir embora. Não sabia certo o porquê fez o que fez. Mas gostava de ver irritado. E sabia que atrapalhar a captura de Dios o deixaria possesso. Todavia, sabia também que Dios sendo preso, poderia de alguma forma ter seu codinome ligado a ele. Afinal, o que o impediria de abrir a boca e falar aos quatro ventos que sabia a identidade de algum Falcon em troca de redução de pena ou liberdade? Nada. Melhor prevenir do que remediar. Fora tirada de seus pensamentos com o barulho de passos no corredor seguido do barulho da porta abrindo. Calmamente ele entrou na sala, deixando a porta aberta, e se sentou na outra cadeira disposta de frente para onde estava sentada. Lhe fitou em silêncio por breves segundos, e sustentava seu olhar, com o mesmo ar de arrogância que encontrava no olhar do moreno. No entanto, logo se sentiu desconfortável e rolou os olhos para o teto bufando em seguida.
— Está desconfortável, ? — A voz rouca chegou aos seus ouvidos lhe arrancando uma risada sarcástica.
— Meus braços estão doendo, estou com sede e entediada. Não poderia estar mais confortável. Obrigada pela preocupação. — O tom ácido em sua voz fez rir. Ele ainda estava com raiva, podia sentir.
— De onde conhece o Dios?
— Quem? — A princípio se fazer de despendida parecia ser a melhor saída. Dependendo do rumo da conversa mudaria a tática.
— Não se faça de idiota, garota. Não vai me convencer de que o que fez não foi proposital. — colocou os braços grandes em cima da mesa, entrelaçando os dedos da mão e se apoiando ali. Não tirava os olhos de nem por um minuto. O que estava a deixando extremamente desconfortável. Era essa uma técnica de interrogatório? Deixar a pessoa maluca com esses olhos escuros fitando cada movimento seu?
— Pois você acreditando ou não, é a verdade, detetive. — Bufou. — Eu só estava correndo, ‘tá? Segui aqueles carros porque eram os únicos que saíram do meio da bagunça.
— No meio da bagunça, com sirenes, luzes vermelhas e azuis piscando, bem características da polícia e você não viu que era a polícia, não é? — As palavras saiam com um tom de ironia de sua boca que dava a vontade de rir.
— Não, não vi. Eu ouvi os tiros e só pensei em sair de lá.
— E como foi parar lá, para começo de conversa?
— Na sexta à noite fui em boate e fiquei com um carinha muito gato, que falou dessa corrida. — se aproximou mais da mesa e lhe fitou com a mesma intensidade que lhe era dirigida. — Quer saber os detalhes de como minha noite terminou também? — não respondeu, ela continuou. — Bom, fomos para o apartamento dele. Que era bem grande, mas não era a única coisa grande se quer saber...
— Disso eu não quero saber, . — Pela primeira vez tirou seus olhos dela e jogou suas costas contra o encosto da cadeira. Dessa vez não conteve o pequeno sorriso que brotou em seus lábios.
— Mas o que está acontecendo aqui? — A atenção de ambos fora direcionada para a porta, onde Hector estava parado com cara de poucos amigos. levantou, ficando de frente para seu pai.
— Me deixe adivinhar... Hunter chamou o senhor?
— Claro que chamou. Solta ela. — A voz firme não pareceu firme o suficiente para que o obedecesse. Uma silenciosa batalha de olhares se travou enquanto observava a cena em silêncio.
, eu não vou repetir. — Dessa vez obedeceu, relutante e querendo obviamente negar o comando, mas fez o que lhe foi pedido. Com passos lentos e pesados, rumou para trás de , pegando uma chave em seu bolso, levando as mãos grandes até a algema e soltando seus pulsos. imediatamente puxou os braços para frente, massageando o pulso e fazendo cara de dor. Estava doendo de fato, mas não tanto quanto fez questão de fazer parecer.
— Agora me responda, , o que está acontecendo aqui?
— Graças a o Dios fugiu. Outra vez.
— Calma aí, eu já falei que foi sem querer caramba!
— Porque você estava atrás do Dios? Ele não é do seu departamento pelo que eu sei. — Hector se sentou na cadeira que antes estava sendo ocupada pelo filho.
— Styles me pediu uma ajudinha. — Styles era quem cuidava de casos como o de Dios. Corridas ilegais, brigas de ruas, furtos, coisas mais simples, pode-se assim dizer.
— Então vou ter uma conversa com ele, afinal, se não consegue fazer o trabalho dele sozinho com a equipe que lhe é disposta, duvido de sua capacidade de continuar trabalhando aqui. — Falou e o encarou incrédulo.
— Você está fugindo do foco principal aqui, pai. Eu disse que a sua enteada ajudou o Dios a fugir.
Hector encarou que estava pronta para retrucar mais uma vez.
você conhece o Dios?
— Não.
— O que estava fazendo no racha?
— Só fui correr. Corridas de rua eram comuns em Bradford, sempre corria com o meu pai. — Hector se levantou da cadeira.
— Certo, não sei se essas corridas eram permitidas em Bradford, ou se a polícia local simplesmente não se importava, mas aqui elas são proibidas. Não faça mais isso. Pode ir embora. — lhe fitava sem reação, sabia que de nada adiantaria contestar seu pai. Ele tinha um jeito único de resolver as coisas. Sem esperar por mais nenhuma palavra, levantou da cadeira e rumou porta afora, sem olhar para trás. — E você, nos vemos no meu escritório. — Saiu da sala deixando um enraivecido para trás.

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— Pai, o senhor não sabe o que ela fez! Não deveria ter deixado ela sair assim. Se ela está metida em coisas erradas a gente tem que saber!
— Eu sei do cavalo de pau, . Sei também que muito provavelmente ela fez de propósito. Deve ter reconhecido seu carro e quis atrapalhar seja lá o que estivesse fazendo, não necessariamente porque conhecia o Dios mas porque, simplesmente, te detesta o suficiente para querer atrapalhar seja lá quais fossem os seus planos. — O queixo de caiu.
— Tá, você acha isso e deixou ela ir embora por quê?
— Porque prende-la e acusá-la de coisas aleatórias da sua cabeça não vai ajudar em nada meu filho. Ela tem essas reações porque nos odeia. E vamos ter que lidar com isso de uma forma que não acabe afetando mais ainda o psicológico dessa garota. Não precisamos que ela tente se matar de novo. — Tentar se matar? O que Hector sabia que ele não fazia a menor ideia?
— Do que está falando, pai? — A postura antes rígida, amornou. Hector se sentou no sofá disposto na grande sala, e respirou fundo. Não deveria ter tocado no assunto, não lhe dizia respeito e jurou que não contaria a ninguém o que a assistente social o havia contado de . Mas lidar com aquilo sozinho o estava sufocando. E não poderia lidar com agindo de tal maneira com sem esperar consequências catastróficas.
— Nos dois meses que se passaram depois da morte do Charlie, tentou suicídio três vezes. Foi por isso que fizeram de tudo para encontrar a Samantha. Em uma tentativa acredito eu de salvar essa garota. — respirou fundo. — Em dois meses ela se afundou em drogas, teve uma overdose, dilacerou os pulsos e capotou um carro. — Se dissesse que não estava em choque estaria mentindo. Uma garota tão nova passando por tudo aquilo em tão pouco tempo era triste demais para que conseguisse digerir com tranquilidade. De repente o peso de seu corpo ficou pesado demais para continuar se sustentando em pé. Rumou para o sofá e se sentou ao lado do pai.
— Por que eu não sabia de nada disso? — perguntou com uma dúvida sincera. Tinha que lidar com a garota praticamente todos os dias e achava justo saber que ela estava afundada em depressão.
— Porque nem a Samantha sabe disso. — o olhou incrédulo. — Não me julgue, meu filho. Achei demais jogar isso tudo em cima dela. Pensei que talvez fosse se afundar em culpa e aí teríamos problemas em dobro.
— Pai, isso é muito sério! Você realmente acha certo a Samantha não saber? — fez uma pausa. — Aliás, como foi que o senhor conseguiu que a assistência social não lhe contasse nada?
— Porque fui eu que lidei com tudo. Samantha só assinou os papéis. E não, não acho certo. Mas se a Samantha souber vai querer conversar com sobre isso. E sabemos bem como é o diálogo das duas. não aceita que foi obrigada a morar conosco, e acho que nunca irá aceitar Samantha como sua mãe. — Hector se levantou e caminhou em direção as enormes janelas que davam vista para as ruas agitadas de Londres logo abaixo. Abriu as persianas e ficou parado por um tempo observando a madrugada. também levantou e se colocou ao seu lado, ambos em silêncio afogados nos próprios pensamentos.
— Ela está conosco tem quatro meses, . Nesses quatro meses, nenhuma vez ela tentou pôr fim a própria vida. Acho que do jeito dela, ela encontrou algo aqui para se agarrar a vontade de viver. Nunca toquei no assunto com ela, e não quero ninguém falando disso. — Hector falava tudo sem tirar os olhos da rua, mas sentia os olhos de queimando em sua pele. Sabia que o filho não o entenderia a princípio, mas sentia dentro de seu coração que estava fazendo o certo em omitir o passado de . Era sombrio demais e tinha certeza que Samantha não lidaria bem com aquelas informações.
— Qual foi a droga que ela usou? — Dessa vez, Hector fitou o filho e entendia o motivo da pergunta. Mas tocar naquele assunto era delicado. Optou por somente responder sem se aprofundar muito. O passado de ainda pesava.
— Heroína. — soltou o ar pelo nariz e olhou para baixo, lembranças que o afogavam em arrependimento e desgosto inundando seu cérebro feito um enxame de abelhas. Balançou a cabeça tentando dessa forma expulsar as memórias indesejadas. Encontrou sua voz segundos depois, e logo o medo lhe atingiu em cheio conforme a lembrança do maldito vicio lhe era acometida.
— Ela não conseguiria parar depois da overdose. Pelo menos não sozinha e por vontade própria. — Seu pai ainda lhe fitava observando cada reação sua.
— E o que você acha, ? Ela ainda está usando?
— Não. — A resposta veio cheia de uma certeza que só ele, naquela sala, conseguiria ter.
— Então não nos interessa como ela conseguiu parar. Desde que não volte a usar. — Hector virou as costas e rumou para o porta casaco disposto na entrada da sala. Tirou de lá seu sobretudo e o vestiu. — É por isso que não quero tocar nesse assunto com ela. Se ela acha que não sabemos, é melhor continuar assim.
Hector saiu da sala deixando para trás ainda olhando as ruas de Londres e tentando encontrar nelas algum conforto. Sabia que carregava cicatrizes. Porém, até aquele momento, não imaginava que eram tão profundas. Conhecia o vício da heroína. A sensação de bem-estar, do alívio da dor imediato, a sensação de felicidade e leveza eram bons demais para quem a usasse, querer só uma vez. No entanto, assim como o peso da vida era tirado dos ombros imediatamente após a droga percorrer de forma esplendorosa o caminho até o cérebro, exercendo seu papel de causar uma euforia intensa, o efeito rebote também era imediato. O peso nos ombros voltava em dobro como um soco no estomago, colocando tudo nele para fora. E até ficar em pé se tornava pesado demais. Não se orgulhava de conhecer tão bem os efeitos da heroína, mas apesar de ter tentado de todas as formas, não conseguia apagar seu passado. Até os heróis tem passado sombrio, e o de , dava orgulho ao próprio capeta.

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Pensamentos intrusivos são uma classe de pensamentos que, embora completamente desprovidos de fundamentos, podem gerar grande preocupação. não costumava ter esses tipos de pensamentos. Normalmente suas ações já era intrusivas demais e não necessitavam passar por seu cérebro antes. No entanto, enquanto caminhava pelas ruas de Londres a caminho do apartamento de Ander, um pensamento mais que intrusivo e que estava lhe causando repulsa não parava de lhe perturbar a mente. Tinha a ver com um moreno metido, mesquinho e que lhe dava náusea só de pensar nele. No entanto a náusea não estava presente, e era isso que lhe dava mais desespero. O que estava presente era a lembrança de ser prensada contra um carro enquanto era algemada. O que estava presente era a voz rouca do detetive e o aperto em seu braço quando lhe segurou e girou seu corpo sem nenhum cuidado. O que estava presente era uma coceirinha característica de quando sentimos atração física por alguém. Céus, queria morrer só de pensar na possibilidade de estar sendo traída por seu corpo. Seu corpo que estava aparentemente querendo experimentar um pouco mais da brutalidade do detetive.
Queria morrer. Dessa vez mais do que em todas as outras.
Estava chegando perto do apartamento de Ander e com muito custo conseguiu afastar seus pensamentos do moreno. Entrou pela porta do decadente prédio, subindo os três lances de escadas necessários para chegar ao seu destino. Bateu na porta e esperou. Logo Ander abriu a porta e sua cara de poucos amigos logo chamou a atenção de , mas não durou muito tempo, porque logo sua atenção fora atraída para atrás do garoto. Dios, sentado no sofá como se pertencesse àquele lugar.
— Por que ainda não se livrou dele?
— Por que vocês me ajudaram e eu quero ajudar de volta. — Ander nem se deu ao trabalho de responder, apenas de ombros e saiu da frente da porta para que pudesse entrar. O pequeno apartamento era composto por uma sala e cozinha conjulgada, um quarto e um pequeno banheiro. As paredes com a tinta desgastada e os móveis antigos mostrava o quanto aquele imóvel havia sido esquecido pelo tempo. O ambiente era pequeno, simples, porém bem aconchegante. Ander tinha dinheiro para pagar por algo melhor, mas, seu lema de vida era não chamar a atenção. Concordava com ele, no trabalho que tinham, tudo o que não precisavam era atenção. Adentrou de vez o apartamento e avistou Celeste sentada em uma das cadeiras dispostas ao redor da pequena mesa de jantar. Estava séria e parecia perdida em pensamentos. estranhou aquilo. Celeste normalmente era a mais despreocupada com a vida e nunca parecia realmente se preocupar com alguma coisa.
— O que eu preciso saber? — Foi direta e seu olhar encontrou com o de Dios, que lhe encarava de volta. O homem respirou fundo procurando sua voz. A garota à sua frente lhe dava medo.
— Há alguns dias uns homens estranhos me procuraram oferecendo cocaína para vender. Falaram que me conheciam e conheciam meu negócio. Que sabiam da quantidade de drogas que rodava nas corridas, e que queriam meus contatos para começar a vender aqui em Londres. — lhe fitava incrédula. Não era possível. Londres era do Falconne. Inglaterra era do Falconne. O Reino Unido era do Falconne. Não havia um homem suficientemente estúpido nessa porra de terra que teria culhão para querer se meter aqui. Dios estava mentindo. Era isso, ou de fato, a cara de preocupação de Celeste era totalmente compreensível.
bufou. Procurou o olhar de Ander e o encontrou tão perdido quanto ela.
— Você tem noção do que é isso, Lynx? — O garoto falou tentando manter um pouco da calma, mas já estava suando frio só de imaginar o que teriam que enfrentar se aquilo fosse verdade.
— Como esses homens chegaram até você? — Voltou seu olhar para o moreno no sofá.
— Falaram que venderam para um comércio em Brixton. Tenho conhecidos naquela área. — novamente procurou o olhar de Ander. Mas Dios logo capturou a atenção da garota para ele novamente. — Olha, não quero confusão ‘pro meu lado. Quero deixar bem claro que não comprei nada com eles. Meu fornecedor é o Falconne. — Ele levantou do sofá — Eu não comprei, mas eles fizeram questão que eu experimentasse o produto. Não é tão pura como a droga de vocês, contudo, é bem mais barata. E sabemos que viciados não se importam muito com o quão pura essa merda é.
— Como eles eram? Estrangeiros? — perguntou, teriam que conseguir o máximo de informações possíveis antes de contarem isso ao Falconne.
— Ingleses. Do tipo mais típico, para ser bem sincero. — Estava ainda mais desacreditada. Alguém daqui seria tão burro assim? — Eu contei isso pra vocês porque me ajudaram hoje. Achei que seria uma informação que quisessem saber. Agora vou embora.
— Eu não preciso dizer para esquecer desse lugar, preciso? — A voz era de Ander, que fitava Dios de forma mortal de algum canto da sala.
— Não precisa, não. Só me verão de novo no ano que vem, isso, claro, se Londres ainda existir até lá dada as circunstâncias. — Não esperou por resposta ou mais alguma ameaça, rumou porta afora saindo daquele lugar. se jogou no sofá. Sua cabeça trabalhava a milhão.
— O que vamos fazer? — Pela primeira vez desde que chegou, a voz de Celeste se fez ouvida.
— Vai ser algo fácil de resolver. São novatos, matamos todos e damos um fim a isso.
— Considerando que sejam novatos sim, mas e se não forem? — Ander questionou enquanto andava em direção ao sofá se jogando ao lado de , esta que lhe fitava esperando que terminasse seu raciocínio. — Podem ser as mesmas pessoas que forjaram aquela lista e que querem incriminar o Falconne pelas ameaças ao seu padrasto. E se forem, acredito que saibam o que estão fazendo. — respirou fundo, jogando a cabeça para trás no encosto do sofá. Céus, será que estavam à beira de uma guerra eminente?
— É meus amigos, acho que os tempos de paz estão acabando. — Celeste se levantou da cadeira e foi em direção a geladeira, pegando uma latinha de cerveja, abrindo-a e a virando de uma só vez.
— Faz sentido eles começarem por Brixton, é um dos nossos maiores pontos de vendas.
— Isso reforça que eles sabem o que estão fazendo. — constatou por fim. Ander falou alguma coisa sobre ligar para Falconne e se levantou do sofá, rumando para qualquer canto que não fez questão de se atentar. Sua cabeça estava cheia, cheia demais. Se isso de fato se tornasse um grande problema, teria um grande trabalho à frente. Teria que se esquivar mais vezes e sair sem ser notada das grandes paredes da mansão que chamava de casa. Teria que lidar com e sua mania enxerida de fuçar em sua vida. Temia que seus caminhos se cruzassem e sua identidade fosse revelada. No entanto, gostava do perigo, da emoção e do sentimento de poder que lhe cercava quando estava em serviço com uma arma em punho. Por fora, deixava transparecer um semblante preocupado e até amedrontado pelo que estava por vir, mas por dentro, no fundo mais obscuro de sua alma, estava ansiando pela guerra. Ansiando pelo desconhecido caminho que viria a seguir.

Capítulo 6

Com passos apressados Hunter Baker caminhava por entre os corredores da Scotland Yeard. Seus cabelos loiros contrastavam com seu tom de pele alva e seus olhos escuros como a noite. Seu destino era a sala de , seu parceiro e líder de equipe. Apertava o pen drive que possuía em mãos como se sua vida dependesse daquilo. Em frente a porta de , não se deu ao trabalho de bater, tampouco havia necessidade tratando-se da urgência com que havia solicitado seu serviço. O moreno estava sentado em frente a grande mesa que havia disposta ali. Trabalhava em seu notebook tão concentrado que somente notou Hunter quando este parou diante de sua mesa e lhe entregou o pequeno dispositivo que tinha em mãos.
— O que descobriu? — Perguntou ao loiro já inserindo o pen drive no notebook.
— Dos vinte nomes nessa lista, pelo menos dez deles estão mortos. Outros cinco desaparecidos. — deixou os olhos correrem pela pasta que abriu no aparelho, vendo com os olhos o que Hunter acabara de falar. — Mais uma coisa, cruzei os nomes com as listas de procurados do FBI, CIA, Narcóticos... Praticamente todos os mortos são criminosos procurados.
— E a lista não segue ordem alguma também, pelo visto.
— Não, não segue. Confesso que fiquei um pouco surpreso com o que Felix Northen fazia debaixo de nossos narizes. — procurou o motivo do homem citado estar entre os criminosos procurados do FBI e se surpreendeu quando leu abaixo de seu nome as palavras “tráfico humano e prostituição”.
— Materiais de construção não eram as únicas coisas que ele transportava nos contêiners dele pelo visto. — Fez uma pausa na rolagem da tela para fitar Hunter e lhe dirigir a pergunta mais importante de todas, talvez. — Quem os matou?
— Falcons. Mesma metodologia e assinatura. Tem assassinatos aqui em Londres, Veneza e alguns na Rússia, entre Moscou e Kazan. — queria estar certo sobre Falconne, e a informação que acabara de receber devia lhe causar conforto por lhe dar a certeza que almejava sobre o caso. Mas, ao mesmo tempo, estava a tanto tempo atrás do desgraçado sem obter êxito algum, que o medo de estar certo, pela primeira vez, lhe atingiu em cheio. Poderia não conseguir pegá-lo. Poderia não conseguir colocar suas mãos nele antes do mesmo chegar até seu pai. O pensamento levantou outra dúvida, que acendeu uma luz vermelha em sua cabeça.
— O que o nome do meu pai está fazendo nessa lista se só tem criminosos nela?
— Analisando como um todo, parece que foi jogado aí.
— Hunter, qual é? Está me dizendo que não acredita que aquele velho desgraçado está por trás disso?
— Estou tentando dizer que talvez devesse escutar seu pai e seguir atrás do responsável com outros olhos. — bufou, estava se sentindo um péssimo policial. Se fosse somente seu pai a lhe dizer que talvez estivesse um pouco obcecado com Falconne, tudo bem, mas Hunter falar também... Aquilo de certa forma o deixou receoso de fato. Seu pai era preocupado consigo e sempre jogava a culpa de sua obsessão na morte de Amelie. Talvez por isso não dava muito ouvidos, afinal, da missa seu pai não sabia um terço. Não relacionado a Amelie e sua morte, pelo menos. Mas Hunter, esse sabia de tudo. E por isso, sentiu que talvez estivesse mesmo agindo como um maluco obcecado.
— Está bem. Vamos seguir com outros olhos então. — Hunter agradeceu mentalmente. Tinha quase certeza que não era Falconne que estava por trás disso. E temia que o pior acontecesse se seguisse por aquele caminho.
— Eu digo que podemos quase descartá-los com certeza. — A voz veio de Susi, parada no batente da porta de forma que deixava claro que ouvira toda a conversa. Susane era da equipe de , ficava mais atrás de um computador do que em campo. Mas suas funções eram de fato importantes. Podia achar quase qualquer um em qualquer lugar. O que era um trunfo para a equipe. Era secretamente apaixonada por , o que não seria problema de fato se esse não estivesse interessado somente em tirar suas roupas durante a noite e não ter compromisso na manhã seguinte. era um cafajeste, mas Susi sabia disso e embarcou em um bote furado porque quis. Porque era gostoso e perigoso, já que relacionamentos com colegas de equipe eram proibidos dentro da Scotland. Não que se importasse com isso. Adorava quebrar regras, por mais que não admitisse jamais.
— E por que diz isso? — Hunter que perguntou, embora a mesma dúvida pairasse na cabeça de também.
— Falcons não ameaçam. Esses demônios têm um método, e seguem ele independentemente de onde estejam, ou na situação que estejam. São mais executores do que qualquer outra coisa. Inclusive, com essa lista aí, podemos quase confirmar que fazem a limpeza pras agencias de seguranças americanas também. — Hunter olhou para que o olhou de volta deixando claro que, por mais que odiasse admitir, tudo o que Susi falou era de fato, verdade. Seus pensamentos estavam tão nublados a ponto de não perceber antes que, quando a ficha caiu, ficou estressado consigo mesmo.
— A nossa suspeita de que não conseguimos chegar nele porque deve ter um trato com a CIA somente se concretizando. — Hunter constatou por fim. Inúmeras foram as tentativas em conjunto com agências americanas para pegar Frederik Falconne. E todas elas foram de falhas vergonhosas. Falconne matando criminosos que estavam em suas listas de procurados? Para um bom entendedor, meia palavra basta. Teriam como provar? Jamais. Mas sabiam que estavam sozinhos nessa. não gostava nem de pensar na sujeira que ocorria por debaixo dos panos, preferiu não dar continuidade ao assunto pois a mera menção da coisa toda o deixava enojado.
— O que conseguimos com o endereço de e-mail? — O descontentamento em sua voz era palpável.
— Criado em uma lan house em Westminster à uma semana atrás. Foi desse mesmo lugar que a lista caiu nas redes e conseguimos interceptar.
— Hunter vai até lá e veja o que consegue com as câmeras de segurança e funcionários. — Hunter assentiu e foi até Susi pegando o papel com as informações da lan house e saindo pela porta logo depois. voltou a atenção para o notebook, não percebendo que Susi continuava na sala e havia fechado a porta delicadamente para não atrair atenção indesejada. Somente se deu conta de sua presença quando ela se colocou atrás de si na cadeira e suas mãos alcançaram seus ombros fazendo uma massagem no local.
— Parece estar muito estressado. — não recuou diante do carinho, embora não gostasse de fazer nada com a mulher dentro do escritório, sentia que precisava aliviar um pouco a tensão.
— Já disse que aqui não é lugar, Susi. — Havia certa resistência em sua voz. Mas depois de um ano, a mulher já sabia como deixar em baixa guarda. Seus lábios seguiram para o pescoço do homem depositando leves beijos no local. Embora gostasse realmente de estar com a ruiva, aos poucos parecia que estava ficando mais imune aos seus encantos. Se deixou levar por um momento, antes de delicadamente se levantar da cadeira e ficar de frente para a mulher, lhe dando um breve sorriso antes de se afastar em direção à mesa de bebidas que havia em seu escritório. Não gostava de beber em serviço, mas considerando a atual situação se permitiu servir um pouco de whisky em um copo e bebericar alguns goles. Sentiu novamente a presença de Susi se aproximar. Não que estivesse negando a mulher, mas porra, não estava no clima.
— Quero que pesquise por onde anda o resto das pessoas que estão na lista e ainda estão vivas. Talvez nos leve à algum lugar. — Deu as ordens e virou de frente para a mulher, notando um semblante entristecido em seu rosto, mas que ela logo tratou de esconder.
— É claro. — Sem mais delongas, virou de costas e deixou o moreno sozinho na sala, fechando a porta, desta vez, com um pouco mais de raiva.

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fitava o exterior do pequeno bar em Brixton de dentro do carro de Hunter. Suas roupas eram curtas demais para o tempo frio, mas sabia que estava ali com um objetivo. E com certeza, saia curta lhe ajudaria mais no que estava procurando do que calças cumpridas. Celeste estava no banco de trás, igualmente desconfortável com o vestido minúsculo preto que vestia.
— Essa merda é realmente necessária? — questionou a mais velha enquanto retirava o grosso casaco que usara para tentar aplacar o frio no caminho até ali.
— Se o cara para quem eu entrego estiver aí, ele vai me reconhecer. E não queremos isso, não é? — Celeste revirou os olhos. — Vamos repassar o plano; vocês entram, se misturam e tentem confirmar se a porra do Dios falava a verdade. Se o Malik estiver aí tragam o desgraçado pra fora. Se tiver droga que não é nossa aí dentro, vai ser a última noite dessa merda aberta. ?
— Estou ouvindo, Ander.
— Você tem certeza que consegue fazer isso sem... — A garota bufou e fitou o amigo com certo ódio não deixando que terminasse a frase.
— Sem cair com meu nariz em uma carreira de cocaína ou meter uma agulha no meu braço? — Ander lhe fitou seriamente deixando claro que sim, essa era mesmo a sua preocupação. — Vai à merda, vai. — Não esperou por mais frase alguma vinda de Ander e saiu do carro batendo a porta com certa força.
— Cuida dela, Cel.
— Eu sempre cuido. — Celeste também saiu do carro, sentindo o frio lhe atingir em cheio. Pegou pela mão e as duas seguiram em direção a entrada do bar, sumindo das vistas de Ander e adentrando o lugar. O ambiente era escuro e não era somente um bar qualquer. A música alta que reverberava pelas paredes revelava uma boate em seu interior. As luzes coloridas piscando causavam um certo desconforto à primeira vista. As duas logo seguiram em direção ao bar, sentando-se nos banquinhos dispostos ali. Logo um bartender veio atendê-las. Pediram por qualquer coisa alcóolica enquanto seguiam seus olhos ao redor do ambiente procurando por qualquer coisa que pudesse comprovar suas suspeitas. Nas mesas dispostas no lugar, havia várias pessoas consumindo cocaína deliberadamente. Só precisavam descobrir se a droga era deles, ou não.
— O que você acha? — A voz de Celeste chegou aos seus ouvidos, devido a música alta, era difícil de se comunicar.
— Eu acho que precisamos chegar até lá. — apontou com a cabeça disfarçadamente para o mezanino no segundo andar. Alguns homens com ternos estavam ao redor de uma mesa observando o ambiente enquanto uma garota qualquer dançava para eles no centro dela. Havia um segurança no pé da escada que levava ao segundo andar e era com esse mesmo cara que as garçonetes pegavam pacotinhos de cocaína e levavam até as mesas. sabia que a única forma de chegar até lá em cima era sendo convidada. Tinha consciência de que era bonita, havia sido usada de forma pejorativa algumas vezes. Com isso em mente, seguiu seus olhos até um dos homens, mais precisamente o que estava olhando para baixo mais vezes, e que era curiosamente quem precisava ser, e ficou lhe encarando até este pousar seus olhos em si. Levantou o copo de bebida em sinal de cumprimento e lhe deu uma piscadinha. Celeste logo percebeu a intenção da amiga, rindo baixinho enquanto bebia a pinã colada que tinha em mãos. Depois de saber que havia conseguido e atenção do homem, virou de costas para o mesmo e fingiu se entreter de verdade com a bebida rosa que estava à sua frente. — Acho que consegui nosso passe lá para cima.
Não demorou muito para sentir a presença de alguém em suas costas.
— Com licença, senhoritas. — Olharam para trás percebendo o segurança que antes estava na escada. — Meu chefe gostaria da companhia da senhorita esta noite. — Falou para , que lhe dirigiu um sorriso falsamente envergonhado.
— Ah, claro. Mas minha amiga pode ir comigo? — O segurança colocou a mão em um dos ouvidos, deixando claro que havia uma escuta ali, e assentiu assim que a permissão lhe foi dada.
— Pode sim. Me sigam, por favor. — Assim o fizeram. Seguiram o homem no meio das pessoas e assim que chegaram na escada, ele parou e somente lhes apontou o caminho. — Sigam a escada, porta a direita.
Seguiram pelo caminho apontado, chegando no segundo andar, notaram três portas. Uma do lado direito, e duas do lado esquerdo do corredor. fitou Celeste e ambas presumiram o óbvio. Em uma das portas era onde guardavam a droga. Como não sabiam se havia câmeras no local, não se atreveram a bisbilhotar o lugar ainda. Abriram a porta da direita, encontrando alguns olhares voltados para elas. Logo o homem que instigou se aproximou.
— Boa noite garotas. Não lembro de vê-las aqui outras vezes. — fingia uma timidez que não era sua. Olhos baixos, sorriso contido e Celeste seguia o mesmo caminho.
— Somos novas na cidade. — A mais velha falou, conseguindo a atenção do homem para si. — Estamos procurando um pouco de diversão, alguns amigos da faculdade nos recomendaram o lugar.
— E que tipo de diversão as moças pretendem encontrar aqui?
— Do tipo que nos tire da realidade um pouco. As provas chegaram e, o senhor sabe... Só queremos dispersar a cabeça um pouco. — A voz que saia da boca de não pertencia a ela. O tom de submissão... Celeste realmente precisou se segurar muito para não gargalhar.
— Bom, neste caso, fico feliz em poder ajudá-las. — O homem deu alguns passos para o lado, deixando com que ambas as garotas adentrassem o local definitivamente. Apontou o sofá de couro para onde se dirigiram.
— Não vou perguntar o nome de vocês, nem a idade. Isso não me interessa aqui. — Falou quando se sentavam no sofá, o homem sentou e apontou o colo dele para sentar-se. A repulsa tomou conta de seu corpo, mas imaginava o que a esperava quando subisse ali. Então simplesmente se sentou em uma das pernas do homem. Ele não era feio e parecia ter no máximo uns quarenta e cinco anos talvez. Mas só de saber que para ele pouco importava sua idade, já era suficiente para a garota querer lhe matar. No seu caso, tinha vinte anos, mas quantas garotas menores de idade passaram pela mesma situação?
Celeste se sentou ao lado do homem, e ele logo passou um braço por trás de suas costas e a puxou para mais perto dele, a garota com certeza estava com o mesmo pensamento de . Mas ambas foram treinadas para não deixar transparecer certos sentimentos, nojo era um deles.
— O que as garotas estão acostumadas a usar?
— Nada, na verdade. Seria nossa primeira vez.
— Bom, nesse caso então, vou pegar algo mais puro, para combinar com vocês. — O homem fez sinal para o segurança que estava dentro da sala. O homem se aproximou. — Pega a coca do Falconne, por gentileza. — Celeste buscou os olhos de que lhe fitava de volta.
— Esse homem existe mesmo? — perguntou com a voz baixa, quase sussurrando no ouvido do homem que lhe segurava pela cintura como se fosse sua.
— Quem?
— Falconne é claro! Desde quando chegamos aqui ouvimos algumas coisas a respeito dele. O cara parece uma lenda.
— O que ouviram? — O homem parecia genuinamente curioso. Levou a mão que antes estava na cintura de para a curvatura de seu quadril, quase em sua bunda. teve que se segurar para manter a postura tamanho nojo que estava sentindo.
— Que ele é único que fornece drogas em Londres e a polícia nunca chegou nem perto de pegá-lo. — O homem sorriu. Certo desdém no gesto fora notado.
— Digamos que a dinastia dele está prestes a acabar. E se as mocinhas gostarem de fazer fofoca, podem espalhar por aí que tem um novo fornecedor na cidade. Tem muita gente esperando o Falconne cair e acho que dessa vez vão conseguir. — Celeste se inclinou mais para o homem, praticamente se esfregando nele. Levou uma das mãos para o peito do mesmo e fez leves carinhos ali. Ele voltou sua atenção para a ruiva, um brilho maníaco surgindo em seu olhar.
— Você acabou de me entregar o que eu queria, sabia? — Celeste falou, sua boca formando um pequeno biquinho ao final da frase. Foi a deixa para perceber que o teatrinho podia terminar. O homem franziu o cenho, não entendendo o sentido da frase proferida pela mulher. levou os dedos delicadamente até o ouvido do homem tirando dali o ponto em seu ouvido, jogando o pequeno aparelho em um dos copos de bebida em cima da mesa. Tudo muito discretamente, ninguém percebeu.
— Muito prazer, Malik. Sou a Viper e a minha amiga sentada no seu colo se chama Lynx. Se tentar gritar ou pedir por ajuda, nós matamos todos nessa sala em um piscar de olhos. Então mantenha a postura que estava segundos atrás e sugiro que responda algumas de nossas perguntas, pode ser? — A careta que se formava no rosto do homem era cômica. A postura de macho alfa logo se desfez quando percebeu no tamanho da merda em que havia se enfiado.
— C-Como sabem meu nome? — sorriu.
— Nosso amigo que está lá fora no carro nos deu uma foto sua. Mouse o nome dele. Conhece? — o homem engoliu em seco. — Bom, eu sei que conhece. Já que é com ele que compra as drogas para abastecer esse lugarzinho, não é? — O mesmo segurança que minutos atrás foi buscar a droga que lhe foi mandada, estava voltando. Quem olhava para o trio no sofá, não imaginava o que acontecia ali. A mulher dançando na mesa completamente nua era uma boa distração para os três homens restantes na sala fora o segurança. Este que trouxe o pacotinho em uma bandeja de prata junto com dois canudos de metal. fez questão de se inclinar e pegar a bandeja quando o segurança se aproximou, Celeste não tirou os olhos um segundo se quer do mais velho, garantindo que não seria idiota o suficiente para lhes entregar. E não foi. Assim como se aproximou, o segurança virou as costas voltando para a posição inicial ao lado da porta de entrada.
— Vejo que preza pela sua vida, Malik. — A voz de agora estava afiada, como normalmente era. — Vamos fazer o seguinte, você nos conta o que sabe sobre esse novo fornecedor e nós deixamos você vivo. Perece uma boa troca, não acha? — O homem somente assentiu. Suor escorria de sua testa. Tentava manter seu semblante normal para evitar suspeitas, mas o pânico em seu olhar lhe entregava. Por sorte, o segurança era ruim o suficiente para não notar nada.
— Eu não sei de muita coisa. Sei que uns caras ingleses vieram falar comigo oferecendo algo mais barato. Mas juraram que eram tão boas quanto as drogas do Falconne.
— O que eles têm pra vender?
— Cocaína, Heroína, LCD... foi o que me ofereceram.
— Eu quero um nome, Malik.
— Sharma. O cara com quem eu conversei disse que podia chamá-lo assim. — bufou. Não era muito. Se quisessem descobrir quem estava por trás disso precisariam ir bem mais fundo nessa história. Mas era um começo.
— Ele te disse como entrar em contato com ele?
— Não, me disse que ele me procuraria.
— Muito bem Malik, tem mais alguma coisa pra gente? — O homem negou, eufórico. Só queria se ver livre das duas mulheres.
— Nós vamos nos levantar e você vai conosco. Eu estou com uma faca na minha bolsa, bem afiada, se tentar qualquer coisa eu a enfio na sua jugular. — falou ao pé de seu ouvido. O homem novamente concordou. saiu de seu colo e ambos se levantaram saindo pela porta sem levantar suspeitas. Desceram as escadas e seguiram para a saída sem problemas. Quando chegaram do lado de fora, parou em frente ao homem, ficando cara a cara com ele. Com um golpe bem rápido e certeiro, a mais nova lhe acertou um soco no estomago, fazendo com que o mais velho se curvasse gemendo de dor. O segurança que estava do lado de fora logo veio ao socorro do chefe, mas parou assim que avistou Ander com uma arma apontada para sua cabeça.
— Melhor não, grandão. — Com a mesma pressa que veio, o homem recuou, reconheceu Ander. Não seria maluco de se meter nessa briga.
— Malik, Malik... Você é mesmo tão idiota ao ponto de pensar que poderia comprar de outras pessoas sem a gente descobrir? — já estava afastada do homem, observava a cena ao lado de Celeste. Ander o circulava, parecendo um predador.
— Eu vou dar fim em tudo, por favor não me mate! — O homem estava quase chorando. Era engraçado ver o quanto de medo causavam nas pessoas.
— Não vou te matar, pelo menos não agora. Antes, queremos que faça algo por nós.
— Eu faço qualquer coisa!
— Vou deixar essa espelunca continuar aberta, em troca, quero que me contate assim que esses merdinhas voltarem a falar com você. Assim que eles pisarem aqui, eu quero saber. E é bom que ainda estejam aqui quando nós chegarmos.
— C-claro. Tem minha palavra. — Ander se afastou alguns passos, dando a deixa para que terminasse de dar o recado. A garota se aproximou, Malik se encolheu no mesmo instante. A garota causava mais arrepios em si do que o próprio Mouse.
— Você tem até amanhã de manhã para dar fim a tudo o que comprou desse fornecedor fantasma. E se por um acaso soubermos que fez negócio com essa gente de novo, eu mesma volto aqui, mato você e apago esse lugar do mapa. — O homem balançava a cabeça afirmativamente de forma bem esbaforida. — E mais uma coisa, se você gosta de fazer fofoca, pode espalhar por aí que essa merda de cidade tem dono. E qualquer um que tentar se enfiar aqui, vai queimar.

Capítulo 7



Frustrado.
Esse era meu estado de espírito naquela noite. Mais um dia terminando sem nada. Estava me sentindo um mal policial, um ser inútil que carregava um distintivo. A lan house não deu em nada, as câmeras de segurança não estavam funcionando, disse o gerente. Bando de inúteis também. Que Falconne não estava por trás disso eu já havia aceitado depois de hoje. Ao mesmo tempo em que me encontrava irritado por isso, também me acalmava de certa forma. Se não fosse ele, seria alguém que eu com certeza conseguiria pegar. Seria somente uma questão de tempo. Enquanto dirigia de volta para casa de meu pai, lembrava da conversa que tivera com Hunter momentos antes.

Uma hora antes - Prédio da Scotland;

— Será possível que vamos terminar mais um dia sem pistas nenhuma? — Eu estava irritado. Irritado demais por não conseguir nada.
— Na verdade, acho que consegui uma informação que pode ter haver com isso tudo. Não posso afirmar, mas, faz sentido. — Hunter sentou na cadeira disposta de frente a minha mesa. — Um amigo da narcóticos me avisou de um suposto novo fornecedor de drogas na cidade. Não coloquei fé a princípio, porque Falconne não permitiria algo assim. Mas justamente aí está o problema.
— Eles tem certeza disso?
— Não, estão especulando. Mas, se for verdade, essa galera aí pode estar por trás disso tudo.
— Colocando a polícia atrás do Falconne pra eles poderem tomar a cidade sem chamar nossa atenção. — Constatei por fim. Fazia sentido, de fato. Colocando a polícia atrás do Falconne por ameaças a um policial, certamente ficaríamos ocupados tentando pegá-lo. E ele, ocupado tentando descobrir quem o está tentando incriminar, ao ponto, talvez, de não perceber o que estava acontecendo em relação às drogas. — Mas Falconne não é idiota, Hunter. Ele já deve estar ciente de que estão tentando tomar a cidade. O que pode nos deixar com uma guerra nas mãos.
— Ele com certeza já está ciente. Ele tem Falcons espalhados por todos os lados, nada assim passaria despercebido.
— Ele tem esses merdas espalhados por todos os lados e não conseguimos a identificação de nenhum deles. O quão patéticos nós somos? — A sensação de impotência tomava cada vez mais conta de mim.
— Não se martirize tanto assim, sabe muito bem que já teríamos colocado as mãos nele se não estivesse protegido por alguém acima de nós.
— Só de você falar isso eu fico com vontade de vomitar. — E ficava mesmo. Não falávamos isso da boca pra fora, falávamos porque tínhamos certeza que a CIA o acobertava por alguma razão. Não que tivessem muito poder no reino unido, mas, ainda assim, eram um problema.
— Em relação ao Falconne nós só temos uma certeza, onde tudo começou. — Fitei Hunter, claramente ele tinha uma ideia. E pela cara dele, tinha medo até de contá-la. — Nós sabemos onde ele começou o negócio dele, e você mora com alguém que nasceu e cresceu no mesmo lugar.
. — A simples menção do nome da garota me causava arrepios. Ela tinha certa facilidade de me irritar com a sua simples presença. — Se você está tentando me dizer que poderia falar com ela se sabe de alguma coisa, está perdendo seu tempo. Não conversamos. Nunca. Ela me irrita, só isso. Não faz nada além disso. E também, meu pai provavelmente me mataria se soubesse que estou envolvendo no meio disso.
, qual é, vocês são adultos, podem tentar manter um diálogo. Você só vai perguntar. Seu pai nem precisa saber.
— Não, nós não conseguimos manter um diálogo. Ficar na presença dela me dá nos nervos.
— Bom, eu não reclamaria de ficar na presença dela, até agradeceria. — O tom de voz de Hunter me fez fitá-lo de olhos cerrados e claro sinal de dúvida. — Qual é? Ela é linda, e gostosa. Me deixa tentar falar com ela então. Eu não vou reclamar. — Fiquei o fitando alguns segundos antes de cair a ficha de que ele realmente estava falando sério.
— Você não está falando sério, está?
— Estou sim. Qual é , vai dizer que nunca reparou no quanto aquela garota é um pecado ambulante?
— Não, Hunter. Nunca reparei e nunca olhei pra ela dessa forma, se quer saber.
— Pois você deveria. É uma bela visão. — Rolei os olhos e levantei da cadeira de sopetão. Que ideia besta. A ideia de falar com ela a respeito de alguém que provavelmente ela nunca ouvira falar, e a ideia de considerar aquele ser irritante atraente.
— Vou embora dormir. E você também deveria ir, está delirando. — Hunter riu. Levantando da cadeira e levantando as mãos em rendição.
— Tudo bem, . Mas tente falar com ela, sério. Mesmo sendo uma civil, cresceu em Bradford. E sabemos que o berço do Falconne é lá. Dificilmente ela não vai saber de alguma coisa.


Agora.

Nunca pensei em falar com sobre Falconne. Nunca nem me passou pela cabeça cogitar falar com sobre algo. Mas apesar da ideia de manter um diálogo com ela me dar dor de cabeça, não poderia negar que Hunter poderia ter razão. A coisa com meu pai não estava nem perto de ser resolvida, mas meu carma de vida era Falconne. Muitas vezes fui dormir e acordei pensando no desgraçado. Muitas vezes ele vinha na minha cabeça em momentos completamente inoportunos como quando alguma mulher estava com a boca no meu pau. Ele estava ali, constantemente me lembrando de quão inútil eu era.
Falar com .
Como começaria o assunto eu não sabia, mas se conseguisse, poderia conseguir alguma informação que talvez pudesse usar. Estacionei o carro, peguei as chaves e entrei em casa. O completo silêncio e escuridão me receberam. Olhei as horas, passava de uma da manhã. Rumei em direção ao meu quarto, andando pelo extenso corredor, pude ver as luzes do quarto de acesas. Tentaria conversar com ela de alguma forma. Mas antes, precisava tentar pensar em alguma forma de aproximação. Segui pelo caminho, em poucos passos estava no aconchego de meu quarto. Sentei na cama e me permiti sentir o peso em meus ombros pela primeira vez. Estava esgotado. Essa era a verdade. A verdade que eu não queria admitir. Perdi uns bons minutos de vida encarando o chão antes de me levantar e rumar para o banheiro em busca de um bom banho. Me despi e entrei no box, sentindo a água quente me abraçar. Pensando que talvez, se ficasse ali debaixo tempo o suficiente, a água fosse levar embora pelo ralo toda a sensação de impotência que me tomava, as sombras do passado e as dores que mantinha no fundo da minha alma. Quando percebi que de nada adiantaria desperdiçar tanta água, me lavei rapidamente e saí do banheiro. Coloquei somente uma boxer e me joguei na cama. Não demorei muito para perceber que aquela seria uma das noites que não conseguiria pregar os olhos. Noites assim haviam se tornado comuns. Rolava entre os lençóis tentando em vão fazer minha mente descansar. Ao amanhecer, acordava mais cansado do que quando fui deitar. Depois de quase uma hora, a insônia me venceu e resolvi levantar. Coloquei uma bermuda qualquer e desci em direção a academia que havia ali. De todas as coisas que meu pai fez nessa casa, essa era uma das que eu mais gostava. Tanto que fiz uma em meu apartamento também.
Estranhei a claridade que vinha do ambiente, me aproximando lentamente, consegui ver uma movimentação. , com fones de ouvido, um coque na cabeça, bermuda e top de academia socando violentamente um saco de pancada. Sem luvas. O que com certeza lhe renderia um belo machucado.
Fiquei observando a cena em silêncio pensando que talvez fosse melhor voltar ao meu quarto para evitar sua presença. No entanto, lembrei que precisava de alguma forma conseguir ficar no mesmo ambiente que ela sem que uma discussão fosse iniciada. Com isso em mente, entrei tranquilamente na academia, ignorando sua presença. Rumei em direção aos halteres no canto direito da sala. A academia não era grande, mas tinha tudo o que era necessário. Quando peguei os pesos e me arrumei em frente ao espelho para realizar o exercício pude ver recolhendo suas coisas e se arrumando para sair da sala.
— Você não precisa sair daqui porque eu cheguei. — Considerando que ela estava de fone, acreditei que nem responderia por não me ouvir. Mas fui surpreendido pela sua voz, afiada como sempre, me respondendo de imediato.
— A sua presença me incomoda.
— A sua também me incomoda, mas eu estou tentando ser adulto aqui.
— Está me chamando de criança? — Ótimo , parabéns. Conseguiu com sucesso não alcançar seu objetivo.
— Não , só estou dizendo que moramos na mesma casa. Deveríamos ser capazes de ficar em um mesmo ambiente sem brigar. — A garota revirou os olhos e não me respondeu mais. Certamente continuaria seu caminho para fora dali, mas, ao contrário do que pensei, ela soltou seu celular novamente no chão, e voltou a socar com voracidade o pobre saco de pancadas. Ignorando completamente minha presença. Dei de ombros e comecei a executar uma série de rosca alternada. Observando meu reflexo no espelho, conseguia ver de canto de olho o quanto dava socos com maestria naquele saco de pancadas. Percebi também que seus olhos vagavam para mim vez ou outra e quando isso acontecia seus socos ficavam mais fortes e violentos. Com certeza me imaginando no lugar do saco. Terminei a primeira série, tomei água e estava prestes a iniciar a segunda série quando um gemido de dor saiu da boca de , olhei em sua direção e vi sangue pingando de suas mãos. Não contive o ímpeto de caminhar em sua direção, quando percebeu que eu me aproximava, seus olhos se arregalaram por algum motivo e ela tentou se desvencilhar quando fiquei a poucos centímetros dela, mas alcancei suas mãos mesmo assim e lhe encarei incrédulo ao ver os machucados devido aos socos sem luva, vertendo sangue.
— Sabe essas luvas ali atrás ? São para usar. — Seus olhos continham algo que nunca vi, na verdade, nunca a olhei tão de perto assim. A garota rolou os olhos e tentou puxar as mãos.
— S-Será que dá pra você me soltar? — Neguei com a cabeça e seu rosto se enraiveceu no mesmo instante.
— Eu vou limpar isso e fazer um curativo. Você é muito autodestrutiva, inferno.
— Não quero que faça nada. Eu me viro, agora pode por favor, se afastar de mim e soltar as minhas mãos? — Bufei. Não, não podia. De certa forma sabia que ela não cuidaria daquilo e estava me sentindo responsável por deixar a garota com tanta raiva a ponto de se machucar assim.
— Não posso. — Segurei com mais força suas mãos, observando mais de perto o estrago, Céus, os nós de seus dedos estavam esfolados. — Vem. — Não lhe dei tempo de resposta, apenas a puxei em direção ao banheiro da academia, chegando nele, tinha que soltá-la para procurar a caixa de curativos que tinha ali, mas não o fiz, porque tinha certeza que se soltasse suas mãos a garota sairia correndo. Soltei só uma de suas mãos e com a outra, procurei nos armários pela caixinha. Quando a encontrei, a coloquei em cima da pia, a garota ainda relutava e tentava puxar suas mãos a cada segundo, o que estava me deixando verdadeiramente irritado. Estava só tentando ajudar, porra.
, caralho, só vou limpar essa merda e fazer um curativo. Não precisa fugir de mim como se eu tivesse alguma doença contagiosa! — A garota bufou e em um momento de descuido meu, se desvencilhou das minhas mãos. Mas, ao contrário do que pensei, ela não saiu correndo. Sentou na pia e ficou me olhando como se pudesse me matar apenas com o olhar. Dei de ombros, peguei uma gaze e a embebi de soro fisiológico. Peguei uma de suas mãos novamente, estavam mais geladas agora. Levei lentamente a gaze e passei suavemente no machucado, não tão suavemente pelo que notei, já que gemeu e xingou baixinho até minha terceira geração.
— Desculpa. — Continuei limpando e estava indo para a segunda mão quando me veio a ideia de tocar no assunto de Falconne, agora. Ela não parecia mais querer fugir e de qualquer maneira, um momento assim com ela demoraria a acontecer novamente. — eu posso te fazer uma pergunta? — A garota me olhou como se eu estivesse louco. — O que foi?
— A gente não conversa, . Não temos um diálogo, eu não gosto de você, você não gosta de mim. De repente você está fazendo um curativo em mim e me fazendo perguntas?
— É só uma pergunta, . Ainda nos odiamos, mas sou culpado por isso - sinalizei suas mãos - E quero ajudar.
— Culpado por isso? Não era em você que eu estava batendo. Por mais que eu quisesse que fosse.
— Justamente. Me imaginou lá e se machucou por isso, acho justo eu ajudar. — riu. Acho que em todo esse tempo nunca tinha a visto rir. Seu sorriso era bonito. Sua boca era carnuda e seus dentes perfeitamente alinhados, só percebi isso pela distância em que nos encontrávamos. E só depois disso fiquei ciente que a distância em que nos encontrávamos era muito… Curta? Me afastei quase que imperceptivelmente e pigarrei. Não entendi o motivo da risada, mas não perguntei. Que ficasse entre ela e sua mente esquisita. — Posso perguntar ou não?
— Pode, . Pergunte.
— Pode soar uma pergunta besta, e você pode nunca ter ouvido falar nesse nome, mas… Eu estou atrás de alguém há muito tempo, o nome dele é Frederik Falconne. — Senti a garota ficar tensa sob meus dedos. Ela tentou disfarçar, mas eu havia notado. — Sei que ele começou o negócio dele em Bradford. Queria saber se sabe de alguma coisa que pode me ajudar.
— Eu não sei nada sobre ninguém. Ouvi você falar esse nome no almoço esses dias, e foi a única vez que o ouvi. — Não acreditei. Nem um pouco, na verdade. A senti tensa, sabia que estava mentindo. Mas por que?
só estou te perguntando porque morou sua vida inteira naquela cidade. Falconne não é alguém que passe despercebido. Eu sei que sabe de alguma coisa. — A fitei e nossos olhos entraram em uma pequena batalha por um breve momento.
— O que eu sei é que esse cara é uma lenda em Bradford, . Ninguém sabe se realmente existe, mas temem ele mesmo assim. Nunca vi ele, se é o quer saber. — Seus olhos agora estavam baixos. Peguei outra gaze limpa, pomada e um esparadrapo para fazer o curativo.
— Não imaginei que o tivesse visto. Aparentemente ele é um fantasma. Mas sei que sabe de mais alguma coisa , me conta. — Estava praticamente implorando e não me orgulhava. Mas precisava de mais.
— Eu sei que a polícia da cidade é só de enfeite e os caras dele fazem o que querem e quando querem. Eu sei que a maioria dos bares e comércios são dele. E eu sei que somos ensinados a olhar para o outro lado. Eu não posso te ajudar mais. — Ela tinha medo. Foi o que constatei quando terminou de falar. É totalmente compreensível. A cidade deve viver nas sombras de Frederick Falconne.
— Eu entendo. — Não estava satisfeito, mas a princípio, havia tido a confirmação de que a rede principal de Falconne girava em torno daquela cidade. Já era um começo. Terminei de fazer o curativo nas mãos da garota em silêncio. — Pronto, terminei.
— Obrigada. — E como um flash, a garota que antes estava ao meu lado, de repente não estava mais em lugar algum. Limpei a pia jogando as gazes ensanguentadas no lixo e voltei à academia para gastar as energias e tentar preencher a mente com algo que não fosse problemas. Iria pegar Falconne, nem que fosse a última coisa que fizesse em vida. Mas por hora, tinha que me contentar em me martirizar em silêncio e conviver com essa sufocante sensação de inutilidade.

Capítulo 8



Uma noite tranquila para mim nunca é uma noite tranquila, de fato. Terminamos a noite sem matar ninguém, o que de verdade era algo raro. Chegar em casa, tomar um banho e dar uns bons socos na porra de um saco de pancadas era para ser o ápice de minha noite.
Espairecer.
Era esse meu objetivo quando me enfiei na merda daquela academia. O que consegui, no entanto, foi estresse, um machucado e uma conversa muito estranha com meu querido irmãozinho. Ainda estava suando frio e com uma sensação muito esquisita dentro de mim. Algo que, com certeza, só poderia ser doença neurológica me causando alucinações. Ou, talvez, um espírito que tenha se apossado de meu corpo. Era isso, precisava de um neurologista ou de um padre. Tanto tempo de vida gasto fugindo de igrejas e hospitais para ir parar em um lugar em busca de um exorcismo, ou em outro, em uma mesa de cirurgia para retirada de um tumor.
Minha respiração ainda estava ofegante, o toque de suas mãos em mim queimavam. Era como se ainda estivessem ali, me segurando, muito mais perto do que jamais estivera. Fechei a porta do quarto em um rompante, trancando-a só por garantia. Fechei os olhos e tentei regular minha respiração. O que diabos estava acontecendo comigo? Eu o odiava.
Desde quando comecei a achar aquele filho da puta atraente?
Minha mente estava mais surtada e alucinada do que eu pensava. O cara me algemou e em consequência disso eu faço o que? Estouro a porra das mãos em um saco de pancadas tentando descontar no ato de socar, a porra de vontade de sentar no desgraçado. Ri novamente lembrando do momento em que ele disse que o imaginei no lugar do saco de pancadas. Se fosse esse o motivo de minhas mãos estarem destruídas eu iria estar extremamente grata. Mas não, de um dia pro outro, a voz irritante se tornou sexy pra cacete e nesse momento, eu queria ouvi-lo me chamar de no pé do ouvido.
Exorcismo.
Parecia o mais certo a se fazer. Ligaria para Celeste quando amanhecesse e lhe explicaria a situação. Com certeza com seus contatos não demoraria muito tempo para encontrar um padre disposto a me ajudar. Com o pensamento idiota, me permiti rir mais uma vez. Precisava transar. Era isso. Achar um bom pau para sentar com certeza tiraria da minha cabeça. Parei de andar de um lado para o outro dentro do quarto e rumei em direção ao banheiro.
Onde ele tocou ainda queimava e eu só queria tirar aquela sensação de mim. Arranquei as roupas de qualquer jeito e me enfiei embaixo da água fria. O arrepio tomou conta de meu corpo devido a água gelada que o atingiu. Me permiti ficar ali por alguns minutos, com água gelada me abraçando, até sentir meu corpo completamente dormente. A sensação era horrível, porém, bem melhor do que a quentura que sentia antes. Aqueci a água em busca de um pouco de conforto, encostei a testa contra o vidro do box e pensamentos não bem-vindos dançavam em minha mente. Minha mente que, mesmo contra a minha vontade, voltava para . As costas e peitoral bem definidos, mas não exageradamente, o corpo levemente bronzeado, as veias em seu braço e sua escápula que ficavam marcadas devido ao levantamento do haltere. O ápice de meu desespero se deu quando o desgraçado virou a porra daquela garrafa de água e uma gota infernal desceu pela mandibula bem marcada, pelo queixo, pescoço, peitoral e foi parar no cós de sua bermuda. A mera lembrança me fez conter o ímpeto de levar meus dedos para o meio de minhas pernas para tentar de alguma forma aliviar a porra do tesão que surgiu em meu interior. Me recusei. Não daria esse gostinho ao desgraçado, mesmo sabendo que, o que eu estava sentindo agora, só eu estava sentindo. nem sequer notou que meu desconforto perante ele não era o mesmo de sempre. Eu estava desconfortável diante dele não pelo ódio e nojo que sempre se faziam presente em sua presença, mas sim, pela porra do desejo que passei a nutrir por ele desde a noite da corrida. Tentei focar em qualquer outra coisa para tirar a imagem de sem camisa de minha mente, e consegui com êxito lembrar de outra coisa importante que aconteceu naquela noite.
As perguntas sobre Falconne.
Eu nunca tive a certeza de que eles sabiam que o velho começou as coisas em Bradford. Mas, de qualquer forma, poderia estar mais preparada para a pergunta. Fui pega de surpresa, e tenho certeza que minha reação não passou despercebida pelo detetive. Contudo, acho que não me saí tão mal assim. Sentia medo de Falconne, por mais que não gostasse de admitir, e pelo menos hoje, esse medo me foi útil. Falei o que um civil falaria. Eles são ensinados a olhar pro outro lado. Assim os negócios dele são mantidos e a paz também.
Com os pensamentos pela primeira vez na madrugada alinhados, terminei de tomar meu banho, saí do box, sequei meus cabelos e coloquei uma calcinha com um blusão grande o suficiente para chegar em minhas coxas. Antes de deitar, caminhei até a janela para fechar as cortinas. Não demoraria para o sol nascer e não queria que meu sono fosse atrapalhado por nada. Quando cheguei até a janela, uma cena em uma das espreguiçadeiras em volta da piscina me fez gelar. Paralisada, eu não sabia se o que estava vendo era uma alucinação de minha cabeça perturbada ou de fato, estava deitado em uma das cadeiras, completamente nu enquanto se tocava. Só poderia ser uma alucinação, já que provavelmente na rua estava beirando os 10 graus. Mesmo tendo certeza de que era uma alucinação, não conseguia desviar o olhar de seu corpo completamente molhado, uma de suas pernas estava dobrada, o que me impedia de ver seu membro. Porém, o movimento que seu braço estava fazendo o denunciava. Não sei quanto tempo fiquei parada observando, mas percebi quando seu abdômen sofreu pequenos espasmos e seus dentes se fizeram ser vistos quando mordeu seu lábio inferior com força, denunciando o ápice alcançado. Em um momento sua perna estava dobrada obstruindo minha visão, no segundo seguinte, não estava mais e eu pude ver seu membro ereto enquanto ele ainda fazia movimentos, lentos dessa vez, de vai e vem. De longe conseguia ver o brilho em sua glande. Minha boca estava aberta, seca e minha respiração completamente desregulada. Estava parada em frente a uma janela sem cortina observando uma alucinação de minha cabeça se materializar bem na minha frente. Meus olhos insistiam em observar seu pau como uma maluca alucinada, mas, aos poucos, meus olhos foram puxados para o rosto do detetive. Este que, sendo alucinação ou não, me encarava com os olhos negros penetrantes. Senti como se um balde de água fria fosse jogado em cima de mim e rapidamente dei dois passos para o lado, me escondendo entre o emaranhado de tecidos que compunham a enorme cortina, esta que, se estivesse fechada, teria me poupado de um enorme constrangimento. Esperei alguns segundos, poucos, mas precisava me certificar de que ele era uma alucinação. Espiei pela janela novamente e, com um suspiro de alívio, percebi que não estava mais ali. Na verdade, parecia que nunca estivera. Respirei aliviada novamente, sentindo minha alma voltar para o corpo. Com certeza era uma alucinação, mas uma alucinação que me faria rolar na cama até o sol nascer. Se fosse metade do que minha cabeça fértil foi capaz de imaginar, eu certamente poderia me entregar a insanidade e me permitir por um momento experimentar do gosto proibido e perigoso do maltido detetive.

O dia amanheceu e eu estava bem desperta. Não consegui pregar a porra dos olhos a noite toda. Minha cabeça doía, meu corpo doía. Eu precisava de um café ou uma dose de whisky. Resolvi optar pelo mais saudável. Pelo menos uma vez.
Nem me lembro quando foi a última vez que estive de pé nesse horário. Mas a noite em claro não havia sido fácil, estava me sentindo atropelada por um caminhão. Precisava de um café, um café bem forte. Sai do meu quarto devagar, e desci as escadas que me levariam à cozinha. Não havia ninguém nela quando cheguei, mas o cheiro do café de senhora Choy adentrou em minhas narinas me causando um conforto que há tempos não sentia. Ainda estava só de blusão, sabia que era muito cedo para qualquer pessoa além dos empregados estarem acordados e pretendia subir rapidamente de volta ao meu quarto. Choy apareceu quando eu estava me servindo de uma xícara de café, me lançou um olhar assustado como se minha presença naquela hora fosse deveras estranha. E de fato era.
— Acho que precisa de um café mais forte, senhorita. Não dormiu a noite? — Minha cara deveria estar realmente horrível para que Choy fizesse tal comentário. Antes que eu pudesse responder, no entanto, uma voz rouca atrás de mim me fez engasgar com o gole de café que havia acabado de engolir. Não tive coragem de virar em sua direção, mas a frase que saiu de seus lábios me fez ter certeza que, de alucinada na noite anterior, só tinha eu.
estava muito ocupada observando a paisagem da piscina para pensar em dormir, Choy. — Ele estava perto. Perto demais. Tão próximo de minhas costas que pude sentir o roçar de seu braço em mim quando o esticou em minha frente para pegar um biscoito qualquer que estava disposto sobre a mesa. Minha pele se arrepiou e meu rosto esquentou, tive a certeza que estava mais vermelha que um pimentão. Assim como se aproximou, ele se afastou, dando a volta na mesa, ficando de frente para mim e me obrigando a olhar nos seus olhos. Com um sorriso que nunca vi em seu rosto, me direcionou a pergunta do século que aos ouvidos de qualquer pessoa poderia parecer inocente, mas nós dois sabíamos do que ele estava falando. — Gostou do que viu, ?
E assim como cheguei a cozinha, sai praticamente correndo dela como o diabo foge da cruz. Não era possível.
Eu vi se masturbando, e ele me viu espiando. E o pior: Não parecia estar nem um pouco incomodado com isso.
Minha cabeça girava e quando entrei no meu quarto, desatei a rir. Nervosa, era o que eu estava. E totalmente puta com a porra da minha vida, também. Porque diabos eu saí correndo daquela merda de cozinha? Deveria ter ficado e enfiado uma faca no desgraçado. Poderia ter fingido demência e negado que vi alguma coisa. Poderia ter feito tudo diferente, mas, fugi como uma menininha covarde. De qualquer forma, sabia que não poderia lidar com nem tão cedo. Nem olhar naquele rosto bonito por alguns bons dias. Bonito, não, .
Horroroso. Isso que ele é.
Deitei em minha cama novamente querendo dormir. O sono já não se fazia presente, como no restante da madrugada. Fiquei rolando alguns bons minutos. Me dei por vencida e levantei. Não aguentava mais aquele quarto nem aquela casa. Nesse momento, até minha própria companhia estressava. Fui até meu closet e peguei o primeiro conjunto de moletom que encontrei e o vesti. Calcei um par de tênis qualquer e olhei as horas para ter certeza que já não estava mais em casa e sai do quarto quando constatei que já passava das oito da manhã. Desci as escadas praticamente correndo e sai pela porta sem olhar para os lados. O caminho a pé até o apartamento de Ander levava uns quarenta minutos. Mas como eu estava praticamente correndo, levei somente trinta. Subi as escadas e bati na porta já imaginando que demoraria alguns bons minutos antes do meu amigo acordar. Imaginem qual foi minha surpresa quando, no terceiro toque, a porta foi aberta e um Ander bem desperto se materializou em minha frente.
— Que merda você tá fazendo acordado a essa hora? — Perguntei já adentrando pela porta.
— Que merda você tá fazendo aqui uma hora dessa? — Dei de ombros e me joguei no sofá. — Não consegui dormir.
— A noite toda?
— A noite toda. — Olhei ao redor e havia várias caixas espalhadas. — Que merda tá acontecendo aqui?
— Vou me mudar. — Respondeu simplesmente e rumou em direção a cozinha continuando a encher uma das caixas de papelão.
— E por que?
— Porque não vou mais conseguir dormir em paz nesse lugar sabendo que o Dios sabe onde eu moro. — Já deveria ter previsto a reação de meu amigo. Conhecia Ander o suficiente para saber que era precavido demais para continuar ali.
— Já que vai ficar ai encaixotando coisas, você não pretende dormir já, né? — Falei me levantando do sofá e rumando em direção ao seu quarto. Estranhamente, quando coloquei os pés para dentro do apartamento, o sono me atingiu. Mais do que eu pensava, aquela casa estava afetando minha vida. Quando estava quase chegando na porta do quarto, Ander apareceu em minha frente como um flash, se colocando entre a porta, e eu. Obviamente ele não queria que eu entrasse ali.
— Você pode dormir no sofá! — Estreitei os olhos em sua direção. Estranho pra caralho. Somente uma pessoa poderia estar ali dentro e conhecendo meu amigo como conhecia, sabia que poderia ser tonto o suficiente para cair no papinho dela outra vez.
— Não me diga que você e a Celeste estão transando de novo! — E no timing perfeito a porta foi aberta revelando uma Celeste sonolenta encarando nós dois. Quando me percebeu ali, seus olhos arregalaram de tal forma que achei que fossem saltar de sua cara. — Vocês só podem estar zoando! — Veja bem, eram meus amigos. E eu os amava. Mas não davam certo juntos. Ponto. Sempre sobrava pra mim aturar Ander quando Celeste decidia não querer mais.
— Não é nada disso que você está pensando! — Celeste foi logo falando e abrindo ainda mais a porta do quarto, pude ver a reação de pânico nos olhos de Ander quando isso aconteceu. Graças a porta praticamente escancarada agora, pude ver mais um corpo jogado na cama. De uma garota. Nua. — O Ander tá namorando! Eu só dormi aqui porque eu tava… bêbada! Muito bêbada. — Olhei para Ander que ainda estava parado no batente entre a porta e o quarto. Seu semblante era de quem queria matar Celeste. Olhei mais atentamente no quarto - o quanto conseguia, já que meu amigo não parecia disposto a sair da minha frente - e vi várias provas de que não era só bêbada que Celeste estava.
— De verdade, não quero nem saber o que aconteceu aqui! — Voltei em direção ao sofá e me joguei nele. Ander gostava de pensar que eu não sabia que ele e Celeste usavam drogas deliberadamente. A restrição contra ela era minha, não deles. Era eu quem não sabia quando parar, não eles. Minha amiga veio atrás de mim e Ander voltou para a cozinha, continuando com o que estava fazendo antes.
, qual é, não pode ficar brava comigo! — Celeste se jogou em cima de mim - ela estava vestida, é bom salientar - e se alinhou contra meu corpo no sofá. — Eu não transei com ele, juro. — Algo me dizia que o efeito de seja lá o que haviam usado, ainda estava no organismo da garota. — Ele tá namorando, a menina se chama Lia. Ela é muito legal! — Nesse momento, Ander jogou algo com certa força além do necessário dentro da caixa.
— Está bravo por que? — Minha voz soava sínica. — Fiquei sabendo de algo que não era pra saber?
— A Lia não é minha namorada e a Celeste tá drogada. Desculpa por estarmos usando essa merda é que a noite foi…
— Não to nem ai se vocês usam essa merda, Ander! — Não o deixei concluir a frase. Eu estava brava. Mas era por causa da Lia. Ele queria guardar esse segredo de mim. Por que? A essa altura Celeste já havia voltado a dormir. Me desenrolei do corpo da garota e sai do sofá, indo em direção a cozinha. — Por que não me contou dela?
— Porque não é sério, porra! E desde quando damos satisfação um pro outro de com quem transamos?
— Eu não to nem ai pra quem você transa, mas eu vou me importar se esconder isso de mim. Somos amigos ou não? — Ander abaixou a guarda, foi para perto do balcão da pia e sentou nele. — Você sabe muito bem o quanto somos caçados, porra! Tem pessoas por aí que pagariam uma nota pela nossa cabeça.
— A Lia nem sabe quem é Falconne, inferno! Eu não quero enfiar ela no meio disso. Por isso não contei. Daqui duas semanas ela provavelmente nem vai estar mais na minha vida.
— Eu não gostei de saber disso assim. — Estava sendo sincera. Nós três éramos família. Eu tinha Ander e Celeste como meus irmãos. Qualquer pessoa que se aproxime de nós é alvo de desconfiança. Precisamos ser assim. Nossa identidade é guardada a sete chaves e temos alguém que cuida dia e noite para que nosso rosto não apareça em nenhuma câmera sequer. Não podemos ser descuidados.
— Me perdoa, vai. Sério. Se eu achasse que tivesse importância, eu ia falar. — Assenti positivamente com a cabeça e me arrastei de volta ao sofá. Não estaria preocupada se Ander fizesse isso com frequência. Ele não trazia ninguém pra sua vida. Era muito fechado quanto a isso porque tinha consciência que a vida que levamos, ninguém merece viver. Pela sua fala, a garota Lia já estava na sua vida há algum tempo. Mas eu estava com muito sono para pensar nisso agora e só queria conseguir dormir um pouco. Com certa dificuldade, afastei o corpo de Celeste o máximo que pude e me deitei de qualquer jeito no pequeno espaço, dormindo rapidamente.

Capítulo 9



Eu sabia que ela me olhava.
Desde que colocou os olhos em mim, eu senti.
Eu deveria ter parado assim que notei. Deveria ter me coberto, levantado e pedido desculpa na manhã seguinte.
Eu deveria estar me sentindo culpado.
Por que não estava?
Eu não deveria ter feito graça da situação.
Deveria fingir que nada havia acontecido.
Não deveria ter reparado em suas pernas desnudas quando entrei na cozinha.
Não deveria ter chegado tão perto dela.
E definitivamente, não deveria ter lhe feito aquela merda de pergunta.
Eu tinha que me sentir culpado. Errado.
Mas não me sentia.
Ver aquela garota respondona, cínica e debochada ficando sem palavras, foi o ápice da minha manhã. Deixar sem resposta é algo que nunca achei que conseguiria fazer. Mas lá estava ela, vermelha, envergonhada e saindo correndo como uma criança que fez coisa errada e foi pega no flagra.
Tudo estava errado.
Eu não estava batendo uma punheta pensando na desgraçada, mas, quando notei seus olhos em mim, estranhamente, passou a ser para ela. Eu não me orgulho. Isso nunca deveria ter acontecido, mas, aconteceu. Até ontem, antes da maldita conversa com Hunter, nunca havia pensado em olhar para com outros olhos. Mas nunca a vi como minha irmã, também. Embora esse fosse o sonho de meu pai. Ela só era uma garota qualquer que foi inserida no meu núcleo familiar. Mas que não era da família. Mesmo assim, nunca havia parado de fato para reparar em sua beleza.
E o fato de uma noite mudar completamente minha visão sobre ela, me assustava. Eu era tão propenso a me deixar levar pelo o que os outros falavam? Não teria reparado em seu rosto bonito se Hunter não tivesse dito que era bonito. Nem que ela era gostosa pra caralho se Hunter não tivesse dito que era. Mas na academia, reparei em seu rosto. Quando a vi na janela, reparei no quanto parecia gostar do que estava vendo, com seus olhos vidrados em mim. Quando a vi na cozinha, reparei em como seu corpo era lindo. Mesmo coberto pela blusa que ia até metade das coxas.
Em uma noite, eu comecei a enxergar e, para a desgraça da minha sanidade, e desgosto de meu pai, não a enxerguei como minha irmã. A enxerguei como alguém que eu queria. Alguém que eu odiava, mas também, alguém que com certeza, eu queria foder.
E isso era errado em tantos níveis que, inconscientemente, minha mente listava todos os motivos que deveriam me fazer esquecer completamente do que aconteceu.
Ela só tem vinte anos.
Ela é dez anos mais nova que você.
Ela é filha da sua madrasta.
Seu pai insiste para que chame ela de irmã, e para que a trate como tal.
Você a odeia.
Ela te odeia.

A lista era infinita. Para cada coisa que eu pensava em fazer com ela, duas luzes vermelhas se acendiam na minha cabeça.
Mas, falando bem a verdade, nunca fui muito de respeitar os sinais vermelhos.
Adentrei o prédio da Scotland ciente que o meu semblante era completamente diferente do dia anterior. Os acontecimentos da noite passada e nesta manhã me deram uma animo que a tempos não sentia. Não demorou para que eu chegasse em minha sala, tampouco demorou para que Hunter surgisse atrás de mim.
— Mas que merda de sorriso doentio é esse no seu rosto? — Porra, Hunter.
— Não sei do que está falando. — Tentei disfarçar sabendo que de nada adiantaria. Mas nem fodendo que contaria qualquer coisa a Hunter.
— Você transou, foi? — Não, mas queria. Infelizmente com alguém que eu não deveria querer. Ia responder quando notei Susi parada na porta atrás de Hunter. Sua cara de poucos amigos denunciava um mau humor do cacete. Seu olhar para mim era ameaçador. Com certeza ouviu a pergunta de Hunter. Vamos lá;
Eu sabia que ela gostava de mim.
Eu fingia que não sabia.
Eu continuava batendo em sua porta de madrugada.
Eu sabia que ela estava esperando por mais.
Eu não lhe daria mais.
Vejam bem, não sou um cafajeste. Deixei bem claro desde o inicio que essa relação não passaria de sexo casual. Nunca lhe dei mais do que sexo casual. Não lhe dei esperança, flores, chocolates, nunca lhe dei nem minha presença em sua cama pela manhã. Nós transavamos, eu colocava a roupa e ia pra casa. Nunca lhe dei falsas esperanças. Por isso, não considerava que seus sentimentos eram problema meu. Também não perdia a oportunidade de sempre deixar claro para ela que não somos exclusivos. E nunca seríamos.
— Na verdade não chegou a isso, mas foi quase melhor. — Respondi Hunter sem nenhuma cerimônia. Não fazia questão de parecer um cavalheiro, eu não era um. Quem criar expectativas que lide com elas. — Tem alguma coisa pra mim, Susi?
— Um pouco de vergonha na cara. — Rumou para dentro da sala parando em minha frente. — E esses papéis pra você assinar. — Jogou os papéis com certa violência contra meu peito, os segurei antes de caírem no chão. Virou as costas e saiu. Hunter me olhava segurando-se para não rir. Ele também sabia. Assim que ela saiu, meu amigo fechou a porta.
— Cara, você deveria terminar seja lá o que tem com ela. Daqui a pouco ela surta.
— Ela só tá assim porque faz cinco dias que voltei pra Londres e não bati na porta dela ainda. — Coloquei os papéis em cima da mesa e sentei na minha cadeira. Olhei para Hunter e seu olhar era de julgamento. — Eu não tenho nada com ela pra terminar alguma coisa. — Tratei logo de me justificar.
— Então não a procure mais. É sério, . Daqui a pouco todo mundo aqui tá sabendo. — Hunter tinha razão, se Susi continuasse desse jeito não iria demorar para meu pai saber que to comendo minha colega de equipe. E eu não queria ouvir o sermão que viria a partir disso. Assenti positivamente, não querendo prolongar aquele assunto. Liguei meu notebook para tentar me concentrar em algo que não fosse mulheres. — Mas me diz… — Hunter se aproximou sentando na cadeira em minha frente. — Quem foi?
— Ninguém que te interesse, meu caro amigo. — Hunter bufou se dando por vencido, sabia que de mim não arrancaria nada. — Será que dá para falarmos sobre trabalho? Minha cabeça está cheia com coisas que não deveriam estar.
— Claro, falou com ? — Ótimo Hunter, bela pergunta. Ouvir o nome da garota me fez engolir em seco. O perfume de seu cabelo estava impregnado no meu nariz graças a minha excelente ideia de lhe provocar essa manhã. Os pelos de seus braços se arrepiando quando sem querer esbarrei nela para pegar um biscoito que nem gostava de comer, seu rosto corado quando fiz questão de ficar em sua frente a obrigando a me olhar… Tudo isso voltou a minha mente pela simples menção de seu nome. — ?
— Não, eu não falei. — Menti, sabendo que se falasse a verdade, Hunter juntaria dois mais dois e não demoraria para atrelar meu estranho comportamento no momento com a garota problema.
— Já falei, eu posso falar com ela se você não…
— Eu vou falar com ela, Hunter. Mas agora será que podemos falar de outra coisa? — Precisávamos parar de falar de , eu realmente precisava me concentrar em qualquer outra coisa. Então tratei de cortá-lo. Não me importava de parecer rude. Sabia que Hunter trabalhava e era meu amigo por tempo suficiente para não se importar mais.
— Tudo bem, . Você que manda! — Hunter pegou algum papel de seu bolso e me entregou. — Meu contato na narcóticos me deu um nome. Disse que esse cara é um dos compradores assíduos do Falconne. Porém, soube por fontes seguras que ele comprou a droga nova.
— Interessante. Acho que devemos fazer tocaia na porta desse cara, não vai demorar pros Falcons irem tirar satisfação. — Hunter concordou com um aceno. — Onde fica o bar desse tal Malik?
— Em Brixton.
— Acha que a narcóticos consegue um mandato? Quer dizer, poderíamos fechar o estabelecimento e tirar um desses lugares do mapa. — Eu queria deixar Falconne bravo. Se o tal Malik era mesmo seu comprador, tiraria um pagador de sua lista. — Ficamos de tocaia, qualquer movimentação entramos com um mandato e podemos aprender seja lá quem estiver lá dentro.
— Provavelmente sim. Posso falar com meu amigo.
— Faça isso então, vou ver com meu pai se consegue falar com o juiz para adiantar o pedido. — Hunter levantou e saiu da sala me deixando sozinho. Teríamos trabalho durante a noite e seria uma ótima distração para minha cabeça. Qualquer vitória que conseguirmos ter sobre Falconne é motivo de comemoração. Sabia que chegaria em casa tarde e pela primeira vez em muito tempo, eu queria chegar em casa o quanto antes. Estava ansioso por um embate com , lhe jogaria na cara sempre que possível como a fiz ficar sem palavras. Estava ansioso para um caralho para ver como ela agiria comigo a partir de hoje. No que dependesse de mim, não a deixaria esquecer de como ficou vidrada em mim naquela noite. Não estou dizendo que vou de fato tentar alguma coisa a mais. Minha mente ainda não aceitou bem o fato de que estou me sentindo atraído por quem eu deveria tratar como irmã. Mas, pelo menos, faria questão de a colocar em seu lugar sempre que abrisse aquela boca. E se conseguir calar meu lado racional, vou fazer questão de eu mesmo manter aquela boca fechada. De preferência colada na minha, ou em volta do meu pau.

Capítulo 10



Quando o celular de Ander tocou aquela noite, meu subconsciente me alertou de que essa seria uma das noites em que terminaríamos com a arma apontada pra cabeça de alguém. O que para mim, na atual situação que me encontrava, era uma ótima distração.
Já estávamos em outro apartamento. Quando acordei, por volta das duas horas da tarde, meu amigo já tinha um endereço novo e uma missão pra mim: Ajudar na mudança.
Não que eu não fosse ajudá-lo de qualquer maneira, mas me abismava a facilidade de Ander para encontrar novos endereços tão facilmente. De qualquer maneira, só teríamos que levar caixas, já que os móveis em si eram do apartamento alugado. Nenhum resquício de que Ander morou lá algum dia restaria. Ele era assim. Cauteloso ao extremo quando se tratava de segurança com nossas identidades. No entanto, dessa vez, o lugar que Ander escolheu para morar me surpreendeu de verdade. Todos os seus antigos endereços eram apartamentos caindo aos pedaços, esse, divergia demais. Uma cobertura, de dois andares.
Que Ander tinha dinheiro, eu sabia. Que ele havia nascido em berço de ouro, também. De tudo o que sei sobre sua vida antes de Falconne, o que ele mais deixava claro era que odiava luxo. Nunca gostou da vida que tivera antes. De como cresceu em meio ao dinheiro e consequentemente da sujeira que ele escondia. Quando questionei o porquê de tal mudança, ele deixou claro que era pela segurança. Por um lado, concordava com ele. Por outro, achei a mudança drástica demais. Conversaria com ele em outro momento, estávamos no meio de uma possível guerra à frente, e eu, definitivamente, tinha preocupações maiores.
O que mais gostei desse apartamento foi que eu tinha um quarto pra mim. Não para mim, especificamente, mas era de visita. Teria que dividi-lo com Celeste, mas isso era assunto para outra hora. Seria meu quando eu precisasse de espaço e isso era suficiente para mim.
Estava em frente ao espelho. Olhava para as roupas jogadas em cima da cama pelo reflexo. Os arrepios que corriam pelo meu corpo a cada novo minuto estavam me acendendo um alerta vermelho que ficava piscando em minha cabeça.
— Daqui a pouco a Celeste chega e se não se vestir logo vamos nos atrasar. — Ander surgiu na porta do quarto, se apoiou no batente e ali ficou. As roupas que vestia eram iguais as minhas jogadas na cama. Uma calça militar branca, camiseta gola alta branca e uma jaqueta preta, com capuz por cima. Nos pés, um coturno preto. No cós da calça, presa de forma relaxada, uma balaclava branca.
Falcões peregrinos.
Foi neles que Falconne se baseou.
Nossa roupa de guerra, como costumávamos chamar.
— Você fica gato nessa roupa. A blusa branca evidencia seu tanquinho. — Ander era lindo, com seus 1,80 de altura, músculos evidentes e sorriso de covinhas, sua aura era de problema. E por incrível que pareça, um problema que eu nunca quis ter. Quando entrei nessa vida, achei que ia me apaixonar completamente por esse ser humano, mas conforme ia conhecendo esse garoto o único sentimento que apareceu foi o de irmandade. Eu o amava. O admirava e o considerava como um irmão mais velho de verdade.
— Você fala isso mas nunca quis me beijar. — Ander entrou na brincadeira e se aproximou de mim.
— Você parece carregar uma mágoa no coração por isso. — Ander se colocou atrás de mim no espelho, eu era alta, mas parecia minúscula perto dele. Eu tinha essa sensação perto de também, eu era poucos centímetros menor que ele, mas quando ficou perto de mim hoje de manhã, me senti tão pequena quanto um peixe cercado por um tubarão. Comparação idiota, eu sei. Mas não sou boa com comparações.
— Você está tensa e fazendo brincadeirinhas, o que houve? — Ander me conhecia bem demais, e em certos momentos odiava isso.
— Eu estou com um pressentimento ruim. — Fui sincera. Não havia porque não ser.
— Acha que é uma emboscada?
— Acho. — Me virei de frente para Ander. — Você não estava lá quando Malik falou do Falconne. Ele parecia confiante demais nessas pessoas para derrubarem ele. Não acho que tenha se assustado tão facilmente conosco para entregá-los assim.
— Sky hackeou as câmeras de segurança do lugar e o telefone do Malik. Se tiver alguma coisa errada, nós vamos saber antes de entrar. — Assenti, relutante. Eu sabia de tudo isso, mas mesmo assim não conseguia ficar tranquila.
— Eu sei de tudo isso, mas mesmo assim, será que a gente pode tomar um pouco mais de cuidado hoje? — Ander franziu o cenho e me fitou.
— Você pedindo para agirmos com cuidado? Logo você que ‘tá sempre se ferrando pra plano e mandando tudo se foder?
— Sim, Ander, logo eu. — Me afastei dele e comecei a tirar a roupa que vestia para trocar pela roupa que estava na cama. Ander continuou no quarto, não poderia se importar menos de me ver de calcinha e sutiã.
— Tudo bem. Assim que a Celeste chegar vamos rever o plano antes de sair. — Seu celular começou a tocar e ele saiu do quarto para atender. Não me demorei muito colocando a roupa, voltei para frente do espelho quando terminei. Vestida, a confiança que havia se ausentado durante o dia, voltou a se apossar de mim. Prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo baixo. Coloquei a balaclava e a touca da jaqueta. Assim, completamente vestida, ficava completamente irreconhecível. Os olhos, a touca enorme da jaqueta cobria. Peguei meu revólver e sai do quarto quando Ander chamou. Saí do apartamento com a certeza de que a roupa branca voltaria coberta de sangue. Só esperava que não fosse sangue dos meus.

Adentramos no carro de Celeste e seguimos em direção ao bar de Malik. Segundo o verme havia dito na ligação de mais cedo, entraram em contato com ele oferecendo mais produto, ele marcou de virem até o bar e nos avisou. Como foi compelido por ameaças a fazer.
Segundo Sky, que estava de olho nas ligações de Malik, tudo estava certo. Ele havia falado a verdade. Mas por que essa merda de sensação estranha não sai de mim?
A resposta veio quando passamos em frente ao bar de Malik. Um carro preto, estacionado a alguns metros de distância.
Os vidros do carro de Celeste eram tão escuros que não permitiam ver em seu interior, no entanto, o carro estacionado não obtinha a mesma segurança.
— Não para o carro. — Consegui falar rapidamente antes que Celeste fizesse menção de estacionar. Antes de questionar, a ruiva continuou virando a quadra. Só depois disso, ela estacionou.
— O que aconteceu, ? — O questionamento veio de Ander.
— Polícia.
— O carro preto parado lá atrás? — Confirmei com a cabeça. — Malik não seria tão idiota de chamar a polícia né?
— Você tem certeza ?
está naquele carro. Eu tenho certeza.
— Merda! — Ander balbuciou antes de pegar o celular que começou a tocar. Era Sky no telefone, atendeu colocando no viva voz.
Não parem na merda daquele bar, a polícia fez batida!
— Você foi lerda dessa vez, amiga. os viu antes de você.
— Se dependesse de você, estaríamos sendo presos agora mesmo. — Ander bufou.
Estava irritado. Seu celular começou a apitar novamente e pelos olhos arregalados de Ander, somente uma pessoa poderia estar do outro lado da linha. Falconne. — Merda! — Atendeu a ligação e a voz enfurecida de Falconne do outro lado da linha reverberou pelo interior do carro.
Não me interessa como vão fazer o que vou pedir, mas Malik não pode ser preso. Matem o desgraçado antes de chegarem com ele na delegacia. Ou é o cadáver de vocês três que vou ter o prazer de enterrar amanhã!

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Alguns minutos antes;

Havia um tempo em que eu amava ficar de tocaia. A sensação de ficar à espreita, esperando o momento certo para atacar e prender quem quer que fosse me deixava em êxtase. No entanto, hoje em dia não é assim.
Eu estava morrendo de tédio.
Era um tiro no escuro e sabíamos. Mas resolvemos tentar mesmo assim. Passariamos uma noite aqui, no dia seguinte, com certeza mandaria outra pessoa fazer isso. Se fosse para algo dar certo seria hoje, de qualquer maneira. Carros vinham e iam, mas nenhum estacionava na porra do bar. Estava incomodado, queria estar em qualquer outro lugar, menos ali. Um carro preto escuro passou por nós lentamente e parecia que iria estacionar, mas continuou o caminho virando na quadra da frente. Achei suspeito e iria externar esse pensamento quando Hunter chamou minha atenção.
— Se liga aí. — Uma van preta estacionou em frente ao estabelecimento e dois homens saíram de dentro dela. Mesmo ao longe conseguimos ver que ambos estavam armados. Não faziam questão de esconder as armas no cós da calça.
— Se entrarem com alguma bolsa lá dentro, nós invadimos. — Hunter concordou e logo foi pedindo pras unidades de patrulhas que estavam estrategicamente distribuídas pelo perímetro se aproximarem. Não deu outra, os homens se dirigiram para a parte de trás de van e de lá sairiam com três bolsas grandes. Entraram no bar e nos mesmo instante nós saímos do carro, com armas em punho. Antes de entrarmos, os policiais das unidades de patrulha chegaram e se juntaram a nós na entrada do bar. Dei as ordens mandando quatro dos policiais cobrirem outras possíveis saídas laterais. Depois disso, tudo aconteceu muito rápido.
Invadimos o lugar, silenciosamente, não dando tempo de resposta para os criminosos.
— Polícia de Londres! Todo mundo no chão! — No salão principal da boate, as luzes estavam acessas e cinco homens se encontravam no centro da sala. Um deles tentou reagir colocando a mão sobre a arma no cós da calça. — Nem pensa nisso! — Minha voz soava alta e autoritária. Nem ferrando que daria margem para algum deles reagir. Estavam cercados, e quando perceberam isso, foram se ajoelhando um a um. — Mãos na cabeça! — Conforme iam se ajoelhando com as mãos na cabeça, Hunter foi indo de um à um confiscando suas armas. Quando estavam devidamente desarmados e no chão, me direcionei até as bolsas abrindo-as e encontrando o que eu procurava. Drogas, muitas drogas. — Parece que temos um belo flagrante aqui. — Comecei. — Todos vocês estão presos.
— Vocês não podem entrar no meu bar assim não, porra! — Um dos homens falou, sua voz enraivecida. Malik.
— Então o bar é seu? — Minha voz era sarcástica. Tirei do bolso o mandato e o joguei no chão em sua frente. Malik fechou os olhos e bufou. — E a droga, é de quem?
— De quem você acha? — O tal Malik respondeu tentando soar engraçadinho. Olhei para os homens da van, e só uma certeza eu tinha.
— Esses dois idiotas não são Falcons. O que me leva a certeza que essa droga não é do Falconne. — Me aproximei do tal Malik, ficando na frente dele. — Não vou te perguntar de novo, mas vou te dar mais uma chance de resposta. — Esperei que ele falasse, mas o silêncio veio no lugar. Estava estressado. Queria moer a cara de todos eles, estava com uma gana de violência que não me pertencia. Respirei fundo, tentando conter o ímpeto de dar um soco na cara do homem ajoelhado em minha frente. — Tudo bem, você vai falar de qualquer jeito. Sendo aqui, ou na delegacia. Podem levar eles. — Meus homens pegaram um à um e levaram para fora. Quando foi a vez de Malik, eu mesmo fiz questão de gentilmente levantá-lo do chão e conduzi-lo a viatura que o levaria para a delegacia. Quando estava prestes a colocá-lo no banco traseiro do carro, o maldito resolveu falar.
— Eu posso fazer um acordo. Sei de coisas que podem interessar você. Coisas sobre o Falconne e aqueles filhos da puta que trabalham pra ele. — Ele poderia estar blefando, poderia estar me fazendo perder tempo. Mas, de qualquer forma, quem oferece acordo não sou eu, é a promotoria. Mas ele não sabia disso.
— Pode começar a falar então.
— Aqui não, primeiro quero ter a certeza de que estou seguro. — Ele olhava para os lados, como se estivesse com medo de alguém estar à espreita. E conhecendo Falconne como conheço, sei que seu medo era compreensível. Iria interrogá-lo na delegacia. Qualquer coisa que eu pudesse extrair desse homem eu iria extrair. Terminei de jogá-lo no banco da viatura e fechei a porta. Instrui o policial que o levaria à delegacia para levá-lo de uma vez. Não demorou para o carro dar partida junto com as demais viaturas levando os demais criminosos. Hunter e eu entramos no carro e também saímos do lugar.
— Foi uma noite boa, não é? — Hunter falou do meu lado. Concordo. — Posso passar em casa antes de voltarmos à Scotland? Acho que vamos passar a madrugada lá e eu esqueci de deixar os remédios da senhora Nina prontos. — Nina era uma senhora, vizinha de Hunter, que ele ajudava a cuidar. Arrumando os remédios, fazendo compras no mercado… Enfim, acho que ela o lembrava da avó.
— Claro, e podemos passar também em algum lugar que venda um café bem forte. A noite vai ser longa.

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A voz de Falconne ainda reverbera em meus ouvidos. Estou estática enquanto Ander e Celeste tentam bolar um plano para matar Malik.
Malik.
Que está dentro de uma viatura indo em direção a Scotland.
— A gente não pode ficar aqui parados! Se eles chegarem com ele na Scotland já era. Não tem como matarmos ele lá. — Celeste disse. Sua voz soava distante. Minha mente também trabalhando em uma forma de tirar a gente dessa.
— Quanto tempo demora até que cheguem lá? — Dessa vez, quem falou foi Ander.
— Com certeza não muito. — Um plano um tanto quanto suicida brotou em minha mente. Era tudo ou nada. Coloquei a balaclava e peguei meu revólver conferindo as munições. — Ander, você dirige. Celeste vai pra trás. — Eles me ouviram mas ficaram me olhando como se eu tivesse falado grego. — Anda, porra! A gente não tem tempo. — E como se tivessem saído de um transe, fizeram o que eu mandei. — Celeste liga pra Sky pra ela rastrear a viatura que o Malik está. — Assim minha amiga o fez, sem questionar.
— A sua ideia consiste em interceptar o carro e atirar? — Ander perguntou, já colocando sua balaclava também e se ajeitando no banco do motorista.
— Sim. — Respondi simplesmente. Era a única forma de conseguirmos fazer isso. — Vou tentar não matar os policiais. Só para a porra do carro. — Meu amigo respirou fundo antes de dar a partida. Na minha cabeça, só uma coisa eu pedia. Que Malik não estivesse no carro com . Não era hora de conhecer o lado policial de em ação. Por mais que eu estivesse um tanto quanto ansiosa por um embate com alguém à altura, não queria ter que matar agora. Não agora que as coisas entre nós poderia ficar interessante.
Afastou os pensamentos intrometidos da sua cabeça e focou na missão. Ander dirigia com maestria entre os carros, sua destreza no volante era de causar inveja.
— Celeste, quando Ander fizer com que eles parem o carro, nós três precisamos descer. Ander fica perto do carro para sairmos de lá rápido. Mas aponta a porra da arma pro policias. Talvez eles não reajam com as armas apontadas pra cabeça deles. — Minha mente estava a milhão. Euforia começa a tomar conta de mim. — Eu vou até o Malik e mato o desgraçado. Tudo isso não pode passar de um minuto. Em dois minutos temos que estar longe. — Ambos concordaram. Aflitos, nem sequer falavam. Avistamos a viatura e por incrível que pareça, ela estava sozinha. E não, não era o carro que estava antes. Me permiti dar um suspiro de alívio quando constatei isso. Os segundos seguintes passaram em câmera lenta. Ander acelerou e cortou a frente da viatura, atravessando nosso carro no meio da estrada, obrigando os policiais a pararem o carro. Não demos tempo de resposta, assim que eles frearam, já estávamos fora do carro. Mas como nem tudo é perfeito, um deles abriu a porta e atirou na nossa direção. Não acertou ninguém, mas meu reflexo foi de atirar de volta. De nós três, quem tinha a reação mais rápida era eu. Mirei na parte da perna dele que não estava protegida pela porta aberta da viatura e atirei. No mesmo instante ele caiu no chão, gritando de dor. Andei na direção da viatura, chutei a arma do policial caído para longe e logo senti Celeste em minhas costas me dando cobertura. O policial que estava no volante tinha as mãos levantadas acima da cabeça e estava nitidamente apavorado. No banco de trás, Malik estava tão apavorado que seus olhos quase saltaram de seu rosto. Aproveitei a porta aberta do carro e mirei em sua direção, não gostava de matar ninguém sem que a pessoa visse meu rosto, mas considerando que não queria ter que matar um policial por ele ver meu rosto, me contentei em levantar um pouco a touca da jaqueta, dando a Malik a visão de meu olhos. Pelo pavor em seu rosto que parece triplicar, percebi que ele havia me reconhecido. Dei uma piscadinha e um sorriso brotou em meu rosto por debaixo da balaclava no momento em que apertei o gatilho. Me permiti observar o tiro no meio de sua testa e seu corpo caindo no banco por breves segundos antes de ser puxada por Celeste de volta à realidade. O som de sirenes já ecoava ao longe e quando dei por mim, já estava dentro do carro com Ander acelerando para longe dali.

Capítulo 11



Não havia sentimento no mundo capaz de expressar o que eu estava sentindo nesse momento. Podemos começar com o ódio.
Seguindo pela raiva.
Qualquer um que atravessasse em meu caminho estava correndo grande risco de ser espancado ou levar uma bala na cabeça. Tenho consciência de que o único culpado pelo o que aconteceu fui eu. Justamente por isso estava dirigindo sem rumo desde que soube o que aconteceu com a porra do Malik. Em qualquer lugar que eu parasse corria sério risco de fazer uma besteira. Meus neurônios não estavam funcionando perfeitamente. Na verdade, não estavam funcionando de forma nenhuma.
Roubei o carro de Hunter.
Na verdade, peguei emprestado. Deve ser ele em algumas das 50 ligações perdidas. As outras, com certeza eram de meu pai.
Não iria atender nenhuma de qualquer maneira. Não até decidir o que fazer com a porra da raiva comprimindo meu peito.
Eu estava ciente que a culpa era minha.
Eu que confiei em dois policiais de patrulha para levarem ele até a delegacia.
Eu que fui burro o suficiente para confiar em dois policiais de patrulha para levarem ele até a delegacia. Deveria ter previsto. Se você quer alguma coisa bem feita, faça você mesmo.
A culpa era minha… Então porque eu queria ir até os dois idiotas e dar uma aula de como atirar em alguém? De preferência com eles servindo de amostra.
Passei em mais um sinal vermelho, perdi as contas de quantos foram.
Outro.
E mais outro.
Estava em modo automático.
Desviava dos carros como se fossem de brinquedo. Só que não eram.
Voltei a realidade quando, por muito pouco, não causei a porra de um acidente.
Consegui desviar a tempo e parei o carro na primeira oportunidade, sentindo meu peito explodir. Soquei o volante com tanta força que tenho certeza que meus punhos ficariam roxos no dia seguinte. Minha respiração estava acelerada, ao mesmo tempo em que o ar parecia faltar. Precisava me acalmar.
O celular jogado no banco do passageiro voltou a acender a tela indicando outra ligação.
Olhei de relance e o nome na tela me deu uma ideia de pra onde ir.
Susi.
Peguei o aparelho e atendi.
— Onde você está? — Pude ouvir uma respiração aliviada do outro lado da linha.
Eu que pergunto, ! Onde diabos você está? — Rolei os olhos e bufei. Não iria lhe dizer, tampouco sabia onde estava. Não atendi para lhe dar satisfações.
— Onde você está Susi?
No departamento claro!
— Vai pra casa agora.
O que?
— Eu preciso que você vá para casa agora, Suzane. Estou indo pro seu apartamento. — Uma risada do outro lado da linha me fez franzir o cenho. Não contei nenhuma piada.
Você só pode estar brincando, . Isso aqui está um inferno, sabia? E você não juda em porra nenhuma sumindo assim! Seu pai está louco atrás de você.
— Eu imagino o inferno que está, justamente por isso não posso voltar ai e preciso de você. — Susi não respondeu de imediato, mas pelos sons do outro lado da linha eu percebi que ela se movimentava pra algum lugar. E pelo tom de sua voz quando finalmente falou alguma coisa, sabia que era um lugar em que ela estava sozinha.
Vá a merda, ! Não vou embora pra transar com você enquanto o seu departamento está pegando fogo! Não é só na cama que você precisa ser homem não.
Ela desligou o telefone sem me dar chance de falar mais nada. Fitei o aparelho perplexo por alguns segundos. Porra! Se eu falasse que o que saiu de sua boca não me atingiu eu estaria mentindo. Mas também não estava mentindo quando disse que não poderia pisar naquele lugar hoje. Eu estava muito estressado. Muito. Não saberia dizer com precisão o quanto.
Voltei a dirigir e pensei em ir para o meu apartamento. Iria beber até desmaiar e na manhã seguinte iria voltar a pensar com a cabeça de cima. A cabeça de baixo estava me mandando achar alguma mulher para enfiar meu pau e me desestressar. Mas não me prestaria a esse papel.
No entanto, fazia dias que não ia pra casa e tinha certeza que não tinha bebida alguma naquele lugar. Então, rumei para a casa de meu pai. Com sorte Samantha não estaria em casa ou já estaria dormindo pela hora. Meu pai estava na Scotland e com certeza demoraria a ir para casa. E , bom, era . Ou estava em casa trancada no quarto ou não estava em casa. Torcia para a segunda opção. Bom, talvez a primeira fosse mais interessante. Arregalei os olhos com os pensamentos que ameaçavam vir assombrar minha mente. Chacoalhei a cabeça para mandá-los para longe. Liguei o carro e acelerei para casa. Passando pelos portões enormes do condomínio, avistei a dona dos pensamentos indesejados, que tratei de espantar minutos atrás, caminhando calmamente na direção de casa. Estava perto de casa, então não parei para lhe oferecer carona.
Não que ela fosse aceitar uma carona minha nem que estivesse a quilômetros de casa. Estacionei o carro e logo tratei de entrar. Precisava me manter distante de , principalmente hoje. Poderia fazer uma besteira da qual me arrependeria. Como jogá-la contra a parede e ver se aquela língua é afiada pra beijar também.
Merda. Pensamento indesejado do caralho. Entrei em casa e fui direto para o escritório de meu pai. Era lá que ele deixava seus melhores whiskys. Imaginem minha surpresa ao constatar que a porta estava trancada? Pois é. Dei meia volta e fui em direção a cozinha, deveria ter alguma coisa pelo menos um pouco decente lá. Estava fuçando a geladeira quando ouvi entrar. Fechei a geladeira para evitar que a luz dela me denunciasse. Não queria ver de muito perto essa noite. Era mais seguro assim. Fiquei em silêncio esperando até que ela subisse as escadas. O que não aconteceu, no entanto. Ao contrário disso, ouvi a tv da sala ser ligada. Espiei pela porta da cozinha e pude ver uma bem entretida mexendo no controle tentando achar algum canal que lhe interessasse. Olhei para mais do que isso para ser sincero. Deu uma pausa na busca por canais para tirar o casaco grosso que vestia, revelando usar somente uma blusa de alcinha por baixo. Me possibilitando ver com clareza algo que quase nunca deixava a mostra: Seus ombros e costas. Fez um coque alto na cabeça revelando também seu pescoço e nuca. Acho que meu olhar em sua direção estava queimando sua pele, já que ela virou na direção em que eu estava e pareceu forçar a visão para ver alguma coisa, mas fui mais rápido e me escondi. Precisava sair dali. Porém, para isso, precisava passar pela sala. Merda.
Meu ouvido capta um som vindo da tv que faz meus pelos arrepiarem… de ódio. A desgraçada colocou no canal jornal local.
Não sabemos ainda qual foi o motivo de tamanha barbárie pública, mas sabemos que a vítima era Jon Malik, um empresário local que estava envolvido com Frederick Falconne, famoso traficante da Inglaterra e que a nossa polícia ainda não conseguiu colocar as mãos. Inclusive, depois de hoje, acho que é difícil que um dia consigam.
— Concordo com você, Janet. Inclusive, pelo o que vimos hoje, a polícia parece estar bem despreparada para lidar com Frederick Falconne e tudo o que o envolve, já que temos também a informação de que foram os homens dele que executaram Malik.

A Scotland está deixando a desejar nesse quesito faz tempo. — Quando ouvi a última frase, fui obrigado a ir até a sala e olhar quem eram os dois repórteres que falavam tamanha babaquice. Queria marcar bem seus rostos em minha mente. Tinha até esquecido que estava lá, não fiz questão de tentar chegar de mansinho. — Estamos tentando a tempo falar com o chefe do departamento, para tentar entender a dificuldade que eles têm de pegar alguém que eles sabem o nome. Mas ele não deu nenhum indício de querer se explicar.
— Acho que devemos falar em nomes aqui, Janet. O chefe do departamento é Hector . Fez grandes coisas por Londres, mas no que parece mais importante, está conseguindo nos deixar na mão.
— Não consegui evitar dar uma meia risada sarcástica com o comentário. Cruzei os braços e segui olhando fixamente para a tv. Mas conseguia ver me olhando, finalmente percebendo minha presença. — Testemunhas nos disseram, inclusive, que era o filho de Hector que estava no momento da prisão de Malik. Parece que a incompetência vem de família mesmo. — Não aguentei e avancei em direção ao sofá para pegar a porra do controle da posse de , que, surpresa pela minha reação, só largou o aparelho sem ter muito o que fazer. Desliguei a tv e bufei.
— Se você não percebeu eu estava assistindo, . — Olhei em sua direção querendo a fuzilar somente com o olhar. Mas pela escuridão que ficou a sala com a TV desligada, não tenho certeza de que ela percebeu. Somente a luz dos postes da rua que entravam pelas cortinas da sala não eram o suficiente para iluminar o ambiente, mas era suficiente para que eu conseguisse ver levantar do sofá e vir em minha direção, lentamente. A luz quente que vinha de fora, deixava sua presença ainda mais sufocante. Aos poucos tudo foi ficando mais visível conforme o olho se acostumava com a escuridão, pude ver perfeitamente sua silhueta quando levantou do sofá. Sua calça era cintura baixa, sua blusa não chegava no cós da calça, deixando parte de sua barriga à mostra. Ficou na minha frente e tentou pegar o controle da minha mão. O levantei acima da cabeça.
— Você não vai ligar nessa merda de novo. — Minha voz era firme.
— É um jornal, . Não é porque não estão bajulando você e seu pai que é uma merda. — Ela deu mais um passo na minha direção, ficando bem perto e se esticando para tentar pegar o controle. Ela era alta, mas nem tanto. Gostei da proximidade e a forcei a chegar mais perto quando levantei ainda mais o controle. — Para de ser criança e me dá esse controle.
— Não. — Ela bufou. — Estão nos difamando, falando inverdades. Não é questão de bajulação.
— Inverdades? — Ela deu mais um passo na minha direção quase colando o corpo no meu. Mas que porra? Cadê a garota assustada de hoje de manhã? — Pelo o que eu sei, vocês não estão nem perto de pegar esse cara e, pelo o que eu soube agora pelo jornal, o que aconteceu hoje foi uma missão sua. Então, incompetência sua. — O sangue me subiu à cabeça naquele momento, e por incrível que pareça, foi na cabeça de cima. Fiquei em silêncio tentando achar resposta para aquela insolente mas tudo o que consegui foi ter minha atenção capturada por sua boca quando um sorriso de canto surgiu na porra daqueles lábios carnudos. — Qual é ? Minha vez de te deixar sem palavras? — A filha da puta se afastou de mim e foi em direção à cozinha. Uma simples frase, me levou ao momento de hoje de manhã na cozinha quando a fiz sair praticamente correndo de mim. O que eu deveria fazer e o que eu fiz a seguir foram coisas completamente divergentes. O que eu deveria ter feito: Subir as escadas e ir dormir. O que eu fiz? Fui pra cozinha atrás dela. Ela estava na geladeira, inclinada, procurando alguma coisa. Céus, que garota gostosa do caralho. Pegou uma garrafa de água e a colocou em cima da ilha central. Eu estava perto do interruptor, e querendo vê-la melhor, acendi a luz que ficava em cima da ilha. Era fraca e iluminava pouca coisa, mas era o suficiente. Ela foi até o armário de copos e ficou na ponta dos pés para alcançar o copo que queria. Tudo isso sob meu olhar atento. E ela sabia.
— Eu não estou conseguindo alcançar. Pega pra mim? — Olhou para trás por cima dos ombros e não fez questão de sair do lugar onde estava. Eu não deveria ter ido, mas o pedido chegou aos meus pés antes de chegar em meu cérebro e quando vi, já estava caminhando em sua direção. Fiquei atrás dela ainda tentando manter uma distância segura da porra da sua bunda, estiquei o braço e com facilidade peguei a porra do copo. Feito isso eu deveria ter saído antes dela fazer isso e rossar propositalmente a porra da bunda no meu pau. Que já estava duro e eu não havia sequer notado. Mas notei assim que ela encostou em mim e o senti latejar.
Porra. — Não pude evitar o palavrão. Fiquei parado no mesmo lugar tentando fazer meu cérebro voltar a funcionar mas tudo o que eu conseguia pensar era na porra do meu pau latejando.
— O que foi, detetive? Mais alguma coisa com a qual você não vai conseguir lidar? — Juro por Deus que tentei. Eu tentei impedir meus pés de girarem na direção de e prensar a filha da puta contra a ilha, nem ela esperava a minha reação já que esbarrou no copo que havia acabado de deixar na ilha pelo susto fazendo o mesmo cair e estilhaçar no chão. No entanto, nem o pequeno incidente me fez recuar. Sua cintura estava prensada contra a minha pélvis e a ilha. No entanto, seu tronco estava mais para trás, já que eu estava em cima dela feito um animal. Mirei seus olhos em busca de qualquer sinal de medo ou susto, mas ao contrário, encontrei um brilho doentio enquanto sua boca formava um pequeno sorriso debochado.
— Que merda você está tentando fazer, garota? — Consegui formular uma frase com muita dificuldade. Minha respiração estava acelerada.
— Tentando não, . — Ela aproximou o tronco do meu, nossos rostos próximos, não recuei. — Só estou mostrando que não sou a garotinha assustada que correu de você de manhã. — Ela movimentou o quadril, pouco, mas suficiente para fazer pressão na minha ereção. Fechei os olhos e tentei controlar minha respiração e pensamentos para evitar com que a ideia de jogá-la em cima dessa ilha e fode-la se tornasse real. Ela sorriu, a desgraçada sorriu ao ver minha reação e seu hálito de menta nublou ainda mais meus pensamentos. Abri os olhos e fitei sua boca pronto para avançar naqueles lábios e torná-los meus. Mas ela me impediu, virando o rosto e conseguindo se desvencilhar de mim saindo do meu aperto. Sua risada se intensificou. — Você é fraco, . Começou um jogo que você nem consegue tornar interessante. — Ela foi para o outro lado da bancada, e como um animal eu fui atrás. Eu não estava raciocinando direito. Sequer estava raciocinando, eu só queria continuar sentindo seu corpo no meu. Dessa vez ela tentou fugir, mas fui mais rápido e a prendi contra a parede. Seus olhos estavam em minha boca, sua respiração ofegante.
— Então me diz como deixar isso interessante, . Ou me fala pra parar, porque nesse momento tudo o que eu quero é calar a porra da sua boca com a minha. — Ela não falou, parecia estar tão vidrada em meus lábios quanto eu estava vidrado nela. Uma das minhas mãos estava em sua cintura e a outra do lado de sua cabeça. Suas mãos estavam espalmadas em meu peito. Ela lentamente subiu as mãos até a minha nuca aproximando meu rosto do seu. Aumentei o aperto de minha mão em sua cintura e o último resquício de sanidade que me restava se esvaiu quando o um gemido baixo saiu de seus lábios. Nossos olhares se encontraram e qualquer sanidade que restava nela, senti sumir também. Buscou a minha mão que estava contra a parede e a guiou para o seu próprio pescoço, fechando ela mesma meus dedos envolta dele. Eu estava vidrado. Simplesmente vidrado na porra da minha mão envolta de seu pescoço e da sua boca entreaberta. Precisava ouvir aquele gemido de novo, então simultaneamente apertei as minhas mãos causando mais pressão em seu pescoço e cintura. E ele veio, mais um gemido que fez minha espinha gelar. Filha da puta do caralho. Ela estava com os olhos fechados e quando os abriu, podia ver chamas faiscando em suas íris escuras.
— Me beija, . — Porra. Porra do caralho. Filha da puta desgraçada. Eu deveria ter me afastado, deveria ter saído correndo. Mas porra, nem fodendo. Avancei contra os lábios que até um dia atrás jamais havia pensando em beijar. Gostaria de dizer que o beijo começou lento com certo controle da minha parte, mas foi completamente o contrário. O que estava presente na porra do beijo era total descontrole de dois seres humanos que se odiavam. Nossas línguas se alcançaram antes dos lábios em si, era batalha travada. Parecia que o objetivo daquela merda era tirar sangue um do outro e porra, estava gostoso pra caralho. Nunca na vida havia beijado alguém daquela forma, chegava a ser violento, feroz. Nos afastamos em busca de ar e por breves segundos fiquei com medo da garota sair correndo, mas ao invés disso, ela me puxou de volta se agarrando em meus ombros. Quando vi, estava com em meu colo, com uma perna em cada lado da minha cintura, nossas intimidades se friccionando, nossas bocas novamente juntas e suas costas prensadas violentamente contra a parede, mas ela não parecia se importar. Pelo contrário, a agressividade de tudo parecia deixá-la ainda mais fora de si. Em dado momento, larguei seus lábios e desci os beijos para o seu pescoço e colo, arrancando vários gemidos entrecortados de sua garganta. Mas ela não me deixava ficar muito ali, logo me puxando de novo para voltar a me beijar. Quando suas mãos rumaram para a bainha de minha blusa a puxando para cima, um estalo da realidade nos puxou de volta. Nossos olhares se encontraram e uma batalha interna entre ambos pareceu se travar. Luzes de um carro vindas do lado de fora nos fez definitivamente voltar à realidade. Meu pai.
desceu de meu colo tão rapidamente que nem sequer tive tempo de assimilar, nossos olhares se encontraram por breves segundos antes da garota sair correndo em direção a sala e pude ouvir seus passos rápidos enquanto subia as escadas. Minha respiração estava desregulada, meu pau estava latejando, meu cabelo completamente desarrumado, assim como minha mente. Meus lábios provavelmente inchados pra caralho. E somente quando constatei tudo isso, a minha consciência pareceu voltar. Tudo pareceu voltar. Agi feito moleque não dando as caras na Scotland, teria que enfrentar a ira de meu pai ainda nesta madrugada, quase transei com na porra da ilha da cozinha. Meu Deus.
De tudo, o que mais me deixava perturbado era a última parte.
Que porra eu fiz?


Continua...



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