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18 - So, kiss me

Swing the spinning step
You wear those shoes and I will wear that dress
Kiss me
Beneath the milky twilight
Lead me
Out on the moonlit floor
(Sixpence None The Richer - Kiss Me)




Sábado, 15 de janeiro de 2022
Centro de Treinamento do Pelicans
Lahti – Finlândia



Era sábado, o primeiro jogo do ano aconteceria em algumas horas e finalizava alguns documentos para Svedin antes da loucura do início da partida. A executiva parecia ter decidido deixar a inglesa ainda mais ocupada nos últimos dias, após ficar ciente da relação entre a terapeuta e o capitão do time. Isabel não tinha tido qualquer conversa com ou depois disso, nem ninguém do time. Mas, os relatórios sobre era agora uma responsabilidade de Jakkos e estava proibida de interferir ou de ser consultada.
A nova executiva parecia mesmo empenhada em afastar a inglesa de tudo que envolvia o capitão do time, assim como parecia garantir que estivesse sempre muito ocupada e atarefada com coisas que ela sequer pensava serem de sua competência. lamentava, mas entendia que era apenas uma consequência de toda aquela bagunça. Por segurança e em nome de sua paz, havia construído um relatório forte e o mais profissional possível sobre o capitão, deixando-o na gaveta, na esperança de que a executiva mudasse de ideia. Queria mostrar que apesar de tudo, conseguia ser muito competente.
Era o primeiro jogo do casal morando juntos, mas havia passado todo o dia no centro de treinamentos e tudo que soube do namorado foi graças a Maisie, que mandavam mensagens a cada vinte minutos, descrevendo tudo que fazia. E por fim, citando as marcas de luxo que o capitão usava quando deixou a casa naquela tarde. Aparentemente, Maisie estava mais confortada com a escolha da melhor amiga e não atacava mais o jogador por qualquer coisa, os dando um pouco de paz. Talvez aquele fosse o gostinho de um bom relacionamento, pensava , sorrindo sozinha para o computador. A inglesa tentava evitar perder a concentração por causa da música alta que vinha da arena, por isso colocou sua própria playlist para tentar abafar o som externo e agitado demais.

– Desculpe, estou procurando minha colega de quarto. – se enfiou na sala de repente, fingindo confusão.

gargalhou, jogando a cabeça para trás e depois cruzando os braços sobre o peito. O capitão entrou e trancou a porta.

– Você me abandonou, tive que vir te procurar. – justificou, sorrindo e esticou a mão, o obrigando a parar para que pudesse vê-lo melhor.
– Mas o que é isso? – Ela sorriu surpresa, analisando o namorado.

O jogador vestia calça social azul marinho e um blazer da mesma cor, sobre uma blusa grossa de gola alta preta, tênis branco, três correntes no pescoço, uma com seu número e cravejada de pedras brilhantes, brincos nas duas orelhas, a barba estava feita, o cabelo penteado para trás milimetricamente e o cheiro de perfume oriental enchia toda a sala. Mas apesar do visual pouco convencional, não era exatamente o que vestia ou seus acessórios que chamaram a atenção da inglesa.

– O que a gente tinha conversado sobre bigodes? – apertou o olhar. – Porque eu acho que a gente tinha tido uma conversa sobre isso.

rolou os olhos.

– A gente tem conversas sobre um monte de coisas. – passou a mão sobre o bigode, ajeitando e depois pelo peito, como se tivesse orgulho de sua produção. – E não corte a minha vibe. Todo mundo no vestiário adorou.
– Nada que venha do vestiário do Pelicans me espanta mais. – A inglesa continuava olhando para o namorado com insatisfação. – Meu belo rostinho, agora tem essa coisa. – sacudiu a cabeça em negação e bufou e rolou os olhos outra vez. – Maisie não me disse dessa mudança. Traidora. Ela devia ter tentado impedir, porque eu te conheço e aposto que você mostrou para eles no momento em que fez essa obra. – sacudiu um dedo na direção do namorado.
– Eu mostrei mesmo. – deu de ombros, para depois perceber o que a namorada havia dito e abrir a boca chocado. – Espera, ela estava me espionando para você?
– Por que você acha que ela ficou em casa? – Respondeu a terapeuta e gargalhou.

enfim cedeu e deixou que o namorado se aproximasse e a beijasse. Ficaram ali por algum tempo, aproveitando a proximidade e se curando da ansiedade saborosa de pré-jogo.

– Quem você veio impressionar, vestido assim? – arqueou uma sobrancelha, enquanto o namorado beijava seu pescoço.
– Como assim? – ergueu o olhar, confuso.
– Vestido assim, arrumado demais para o jogo. – Ela ainda tinha o olhar estreito, mas ele riu.
– Rakkaani, eu sempre vim para os jogos vestido assim. – respondeu com simplicidade. – Os daqui e os de fora, pelo menos a grande maioria dos de fora.

respondeu com um olhar desconfiado e riu surpreso.

– Você nunca percebeu?
– É que você está arrumado demais, cheiroso demais. – Mentiu , desvencilhando-se do namorado.

Era vergonhoso admitir, mas realmente nunca havia dado atenção para aqueles detalhes. Considerando o jeito que se vestia, não era de se espantar. riu, achando fofa a reação da namorada, e a abraçou por trás.

– Isso é ciúmes? Por causa da Isabel?
– Eu não tinha pensado nisso. – se virou bruscamente, chocada e o namorado riu mais. – É bom que você fique bem...
– Definitivamente, eu amo você com ciúmes. – Ele roubou um beijo ao dizer. – Tanto quanto a sua versão brava e que não deita para ninguém, mas só quando não é direcionado a mim. – sorriu e o imitou, batendo no peito do namorado devagar, fingindo querer se afastar do beijo dele. – E a sua versão fora da linha, surtada por minha causa. – O capitão a beijou, mordendo o lábio inferior da inglesa. – E claro, a safada que só tem ideias com potencial de cadeia. Essa, definitivamente...
– Você é um ridículo. – riu, empurrando-o e se afastando, apoiando o corpo no balcão, de frente para o namorado.

O casal se olhou, sorrindo, enquanto a música da playlist da terapeuta se misturava com a música alta da arena.

🎵 Dê play na música aqui, e se necessário coloque para repetir [Taylor Swift – The Archer]🎵


fechou os olhos e inclinou a cabeça quando reconheceu a música que tocava.

– Do que está rindo? – perguntou, e assim como naquele primeiro jogo juntos, o jogador não conseguia parar de sorrir.
– Essa música. – Ela respondeu levantando o queixo. – Aquele dia no bar, quando você achou que seria uma boa ideia me ensinar a jogar sinuca, ela estava tocando.
– Eu não sabia que você realmente era péssima. – Ele brincou, se aproximou e apoiou as duas mãos no balcão, a cercando mas sem tocar a namorada. – Pensei que fosse charme para dar em cima de mim.
– Se fosse, eu teria usado algo que realmente sei fazer. – maneou a cabeça e rolou os olhos infantilmente, fazendo-o rir.
Taylor Swift. comentou após algum silêncio, para surpresa de . – O quê? Tenho duas irmãs e não é como se fosse a primeira vez. – Ele riu. – Eu digo que não quero lutar, mas e se eu quiser. – tinha a cabeça inclinada e sorriu quando repetiu um trecho da música.
– Me lembro de você, em uma das nossas conversas, me contar alguma coisa parecida. – A inglesa sorriu, implicando e o jogador riu pelo nariz.
– É, tipo quando eu surtei por gostar demais de você e não conseguir ser um canalha. – Lembrou o capitão. – Eu não queria querer, mas e se eu quisesse muito? – Ele riu a olhando por baixo das sobrancelhas. – Mas diferente dela, eu tenho bem mais do que cem discursos rejeitados que eu quase disse pra você. – Declarou, erguendo o rosto. – Eu chamo isso de ansiedade e você? – O capitão brincou.
– Essa é a nossa música? – mordeu o lábio.
– Eu sempre imaginei que seria algo mais romântico. – torceu o nariz, contrariado.
– Esse tipo de coisa não se consegue escolher, elas só acontecem. – sorriu. – Quem poderia me deixar? Mas quem poderia ficar? – A inglesa repetiu mais uma frase da música, sem dirigir suas palavras ao namorado.
– Eu não poderia deixar, mas posso ficar. – respondeu, fazendo a namorar sorrir apertando os lábios. – Parece que a gente já está junto há décadas.
– Parece, não é? – Ela riu. – Agora toda vez que ouvir essa música vou pensar no meu namorado, que por obra do destino usa um bigode. – A terapeuta expirou um riso teatral, ergueu a palma da mão, para depois deixar o braço pender.

O central gargalhou.

– Que bom, . – riu apaixonado. – Sabe, se lembra da nossa primeira vez juntos? – ergueu as sobrancelhas, o incentivando a continuar. – Quando você riu do meu plano idiota, mas muito eficaz de te ignorar?
– O que só funcionou porque eu já estava caída por você. – balançou a cabeça positivamente, tentando parecer séria.
– Esse detalhe eu não sabia, mas enfim – riu, sentindo as bochechas esquentarem. – Se lembra quando você estava rindo e aí disse que se eu não tivesse falado com você quando me machuquei, ou naquele jogo... e aí eu perguntei se não estaríamos ali, naquele lugar, daquele jeito, e você disse que não sabia se alguma coisa poderia impedir de que aquilo acontecesse?
– Acho que sim. – respondeu, projetando o lábio inferior, um pouco perdida quanto a aonde o namorado pretendia chegar. – Por que?
– Nada. – Ele ergueu os ombros. – Só estava pensando sobre isso. – Assumiu e entrelaçou seus dedos. – Hoje eu não consigo parar de sorrir, igual naquela noite. – A inglesa sorriu derretida. – Eu fiquei muito feliz, quando me escolheu.
... – balançou a cabeça, mas ele não a deixou terminar.
– Não, eu sei... – O central riu e afastou o olhar. – Eu sei, você já disse que isso nunca foi exatamente uma questão para você. E eu te conheço, sei que você ama aqui, o Pelicans, tem seus sonhos, inclusive sonhos profissionais que você ainda não está perseguindo, mas... não quero falar sobre isso, sobre como é isso pra você. Eu já sei como é. – O capitão estava tomado por uma emoção que geralmente não permitia que lhe dominasse. – Eu queria falar como é para mim. Eu fiquei com medo, porque você tem razão sobre eu ser inseguro, ciumento, imaturo e todo o resto. Mas você me escolheu e eu ainda não tô conseguindo acreditar mesmo que isso é real. Que logo a gente vai poder ser real do jeito que eu sempre quis. Sem esconder, sem fugir, sem fingir... só sendo normal. Que eu vou poder andar de mãos dadas, te levar pra jantar e segurar sua mão. Eu tenho a garota. – sorriu quando se aproximou, abraçando-o pelo pescoço e aproximando seus rostos. – Eu já conquistei muita coisa na vida e você sabe, mas você é a melhor delas. De todas elas.

A inglesa prendeu a respiração, pensando se era mesmo possível que aquilo estivesse acontecendo, agradecendo pelo namorado ser alguém tão sensível e emocionado.

– Eu acho que devia me casar com você. – Declarou sem pensar a terapeuta e a olhou surpreso.
– Quantas declarações eu tenho que fazer para você ter certeza? – Perguntou, mas riu e o beijou, não dando tempo para que ele dissesse mais nada.

❄❄❄


Sábado, 15 de janeiro de 2022
Isku Areena
Lahti – Finlândia



A arena estava lotada, a torcida azul enchia cada espaço disponível e os visitantes eram pontos coloridos espalhados, perdidos e espaçados. O mascote corria do lado de fora do gelo, fazendo poses e agitando as pessoas, tentando coreografias com as músicas de aquecimento, enquanto o time não voltava para o gelo para a apresentação e hino. Em um dos cantos, as líderes de torcida faziam suas coreografias milimetricamente calculadas e posavam para fotos. Haviam bandeiras, mosaicos e gente vestida como pelicanos entre os fãs.
A comissão técnica tomava seus lugares no banco, enquanto a luz baixava e a iluminação tomava as cores do time, o azul claro e frio do uniforme do Pelicans, junto a música que tocava quando o time pontuava.
Devagar e um por um, os jogadores da primeira linha, que começariam aquela partida, entraram e formaram uma fila junto aos jogadores rivais no meio do gelo. Aquele momento nos jogos era um espetáculo, as luzes no gelo, a música, o espetáculo pirotécnico toda vez que os jogadores entravam em gelo, tudo era fantástico. Um espetáculo verdadeiro.
As equipes estavam enfileiradas e o público ficou de pé para ouvir e cantar o hino nacional, enquanto a bandeira da Finlândia era desenhada no gelo pelo show de luzes. Era uma sensação ótima, melhor do que estar na arquibancada ou vendo de qualquer camarote, porque ali podia sentir, podia até fazer cara feia para os jogadores – disfarçadamente. Havia aprendido o gosto por estar tão perto com , e sabia agora que ele não exagerava quando dizia sobre o quanto estar ali era fantástico.
Enquanto o hino tocava e uma multidão em coro acompanhava, a imagem de ocupou o telão principal, sobre o gelo. O capitão tinha as mãos apoiadas ao taco e olhar distante, até perceber que aparecia no telão e olhar para ele, mas sem esboçar qualquer reação ou simpatia.
O jogo começou com um faceoff e os movimentos seguintes não foram de muito perigo para o time adversário e logo a primeira linha foi substituída pela segunda. Os jogadores escorregaram no banco, dando espaço para a primeira linha se sentar.

– Você. – Petri se dirigiu a , que segurava uma garrafa de água nas mãos e a terapeuta o encarou, congelada e assustada. – Não quero saber de você tocando em ninguém.

e Topi, que estavam no banco, perto dela, se entreolharam, depois para Petri e em seguida para . Os dois estavam sentados no banco e o treinador e a terapeuta estavam atrás deles.

– Ela pode me tocar se quiser. – Topi zombou, rindo para Petri.
– Igualmente. – também disse, mas sem olhar para os dois, com olhos no gelo.
– N-nem em sonho. – Petri gaguejou e esticou, de forma inocente, a garrafa que tinha em mãos para Topi. – Não vai tocar em ninguém aqui. – Petri interceptou a garrafa, sem saber o que fazer, o treinador jogou o líquido sobre e Topi, fazendo os dois jogadores gargalharem da atitude do treinador. – Nem sonhe com isso. – Ele ameaçou outra vez, que apenas assentiu com a cabeça e deu dois passos para trás. – Nem sonhe com isso. – Falou outra vez, para si mesmo, secando o suor do rosto.

O jogo seguia pegado e duro, com muitas chances para o time da casa, mas nenhum bom aproveitamento, de fato. O time estava nervoso e agitado, apressado com o resultado, sentavam-se no banco já prontos para pular de volta ao gelo.
Quando faltavam cinco minutos para o fim do primeiro período, o jogo estava empatado em zero. Uma jogada havia se iniciado na zona de defesa do Pelicans, com roubando o disco e o trazendo até a zona neutra, passando para Topi Jaakola, que voltou para a zona de defesa e deu o passe para o novato Ryan Lasch. O novo ala trouxe até a zona de ataque e tentou acertar a rede, mas foi interceptado, o rebote parou em Aleks Haatanen que levou o disco para o muro de proteção. Santtu Kinnunen e Topi Jaakola a se juntaram ao bolo que exprimia o disco contra a proteção tentando roubá-lo. Na briga, o defensor Kinnunen levou a melhor e em um giro achou atrás da rede, o capitão puxou o disco para a esquerda e pegou o goleiro rival de guarda-baixa.
Ponto para o Pelicans!
deslizou para o canto esquerdo do rinque, como sempre fazia, com um dos joelhos apoiados ao chão, com uma das mãos segurou o taco horizontalmente perto do rosto e com a outra imitou o um arqueiro, puxando a corda do arco e o soltando.

– Comemoração nova. – Jasper, que era goleiro reserva e estava assistindo ao jogo do lado de , observou.
– É, eu acho que sim. – A terapeuta sorriu, entendendo.

Assim que conseguiu se pôr de pé novamente, o central foi abraçado pelos companheiros de linha e apenas depois o grupo se dirigiu ao banco, cumprimentando os companheiros e para depois serem substituídos. olhou de canto para a inglesa, que inclinou a cabeça e mordeu os lábios, contendo o sorriso.

– Sem risinho. – Petri a cutucou, surpreendendo-a.
– Não fiz nada. – Se justificou .
– Estou de olho em você. – O treinador avisou, direcionando um olhar estreito de para , que o jogador ignorou.



O segundo período havia acontecido sem muito acontecimentos marcantes, apenas mais um gol para cada lado. Janos Hari para o Pelicans e agora o time da casa vencia por dois a um. O terceiro período, por sua vez, parecia bem mais quente do que fora os outros dois. Os árbitros já tinham separado duas brigas, dado quatro power plays e Santtu havia estado de molho para penalidade por duas vezes seguidas. O jogo era mais agressivo e pegado. Willy Mankinen havia sido imprensado contra a proteção, havia sido derrubado duas vezes e Aleks atingido por um disco bem no capacete.
Agora o time da casa tentava organizar uma jogada durante o power play, com e Willy juntos, adiantados. Santtu cobria a jogada pela esquerda e Aleks esperava o passe na zona de ataque, mas assim que o central e capitão cruzou a linha que separava a zona neutra da zona de ataque, foi jogado contra a proteção com violência por um rival. Quando caiu, por causa da proximidade e velocidade de Willy Mankinen, fora acertado de novo pelo corpo do ala, tendo a cabeça chutada pelo companheiro de equipe.
Uma briga teve início e o jogo foi paralisado enquanto os árbitros tentavam separar os dois times. Janos Hari, que trocava socos com um jogador do time visitante, já sem as luvas, ainda estava no chão. O capitão pareceu demorar um pouco para se recuperar, estava com os joelhos e mãos apoiadas no chão e não havia erguido a cabeça ainda. Aleks Haatanen tentava proteger o capitão, afastando a briga dele. Havia uma espécie de lei no hockey, você nunca bate no novato, nunca no goleiro e se bater na estrela do time, vai ter uma briga garantida.
A briga ainda era separada quando se levantou devagar e deslizou de cabeça baixa e corpo inclinado em direção a saída do gelo, indo direto para o vestiário.
acompanhava tudo de pé, assim como os outros jogadores do time, prontos para se meter na briga. Já estava suficientemente acostumada com o esporte, mas não era comum que eles demorassem para se levantar. E mesmo que fosse, aquele era o seu namorado, tudo ficava diferente e tinha um peso a mais a partir daí.
Quando o capitão passou direto, indo para o vestiário de cabeça baixa, tentou segui-lo, mas Petri a segurou pelo ombro.

– Nem pense.
– Eu tenho que ir. – Ela protestou.
– É médica? – O treinador questionou sem a olhar.
– Eu sou da equipe de saúde. – Respondeu .
– Se não é médica, não precisam de você lá.
– Petri, qual é? – A inglesa tentou passar outra vez, mas o treinador parecia irredutível. – Você sabe de tudo, então...
– Quantos anos ele tem? – Perguntou, para confusão de .
– Vinte e sete. – Respondeu ela, sacudindo a cabeça, sem entender aonde o treinador pretendia chegar.
– Foram todos esses anos sem precisar que você salvasse a pele dele, ele aguenta mais uma hora. – Respondeu o técnico e o encarou com olhar enfurecido e injustiçado. – , você fica. – Petri repetiu, dessa vez a olhando de um jeito diferente. – O jogo é aqui. – O finlandês indicou o gelo com o olhar. Seu tom de voz e olhar não eram duros, parecia mais com um conselho do que com uma bronca. – É aqui.
– Okay. – A inglesa respondeu, amarga, mas baixou a cabeça.

Era a primeira vez que baixava a cabeça para uma ordem de Petri, mas talvez, pelo olhar dele, ou por seu tom de voz, algo no modo com que ele havia proferido as palavras. Alguma coisa a dizia que era a melhor escolha. Além disso, ainda era a terapeuta do time e não apenas a namorada do jogador machucado, precisava ser profissional, independente de como se sentia a respeito daquilo. Por isso engoliu sua frustração e se sentou. Petri a olhou mais uma vez e quando seus olhares se cruzaram, o treinador assentiu uma vez com a cabeça, voltando depressa sua atenção para o gelo e para a arbitragem.

O jogo foi reiniciado, quatro de cada lado, graças a penalização pela briga. O Pelicans ainda vencia por um gol de diferença, faltavam alguns minutos para o final do jogo. Tentativas para acertar a rede dos dois lados e mais encontrões, empurrões e corpos se chocando contra a proteção. voltou para o banco.
O jogador chegou em silêncio e se sentou.
apenas notou sua chegada quando o banco se movimentou, dando espaço para o capitão. Seu olhar foi rápido de encontro ao do central, que já a olhava.

– Tô okay. – disse apenas mexendo os lábios e apertou os lábios e assentiu, sem esconder sua expressão angustiada.

O capitão se voltou para o gelo e a inglesa resolveu fazer o mesmo, prestando atenção aos movimentos finais da partida.



❄❄❄


Sábado, 15 de janeiro de 2022
Isku Areena
Lahti – Finlândia



– Ótimo jeito de começar o ano, pessoal. – Petri bateu palmas, animando os jogadores. – Vitória dura, mas limpa, boas chances, tentando até o final. Sem reduzir esforços, hoje o melhor time saiu vencedor. Não foi um jogo fácil, mas vocês foram muito bem e fizeram valer a presença da torcida hoje. Dia livre amanhã, nos vemos na segunda.

Quando o treinador finalizou o discurso, o time aplaudiu e gritou, animado. Já estavam todos desmontados, se alimentando do resto da adrenalina da partida, muitos sentados em suas baías usando apenas os equipamentos de proteção, outros nus, outros ainda com uniformes. aplaudiu e assoviou em resposta ao discurso do treinador e depois relaxou os ombros, em silêncio, se recuperando da noite.

– Como está a cabeça? – Willy se inclinou para o capitão, apertando a mão dele.
– Acho que não ficou torta. – riu.
– Foi mal mesmo, cara. – O ala voltou a se justificar, pela terceira vez na noite. – Eu não consegui evitar, quando percebi você já estava no chão e sua cabeça no meio das minhas pernas.
– Minha namorada diz muito isso. – brincou, ainda sorrindo. – Relaxa, acontece.
– Atenção! Atenção! – Janos Hari se colocou no meio do vestiário e começou a gritar, atraindo a atenção de todos. – Há uma grande revelação essa noite. Algo que merece ser dito em voz alta para toda a equipe. Os céus estão prestes a desabar. Vai acontecer o arrebatamento. – Ele proclamava de braços abertos, como alguém insano, sob olhar confuso e risos de todos no vestiário. – , seu capitão, está namorando. Não é apenas um mito, algo que ele disse para disfarçar. – Quando anunciou, inclinou a cabeça e riu, sacudindo a cabeça negativamente e apertando a ponte do nariz. O vestiário explodiu em zombarias e o jogador recebeu um banho de água, energético e gelo. – Sim, ele está afogando o ganso. Furunfando, molhando o biscoito, sapecando iaiá... até fez brincadeira sobre o tango deitado.
– Dá pra parar? – Pediu o central, depois de correr do outro banho de gelo que os companheiros de time tentavam lhe dar. – Eu estava solteiro, não em um mosteiro.
– E não é a mesma coisa? – Janos ergueu os ombros.
– Queridos, agora segurem suas garotas, porque se o Papi está comprometido, o Hade tá na área. – Aleks brincou, imitando o uivo de um lobo em seguida.

De soslaio, enquanto ria, viu as expressões fechadas de Santtu, Atte, Otto e Petri, que sacudiu a cabeça negativamente. O capitão engoliu o riso.

❄❄❄


Sábado, 15 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia



Depois do jogo algumas pessoas iriam para um bar comemorar, por isso o grupo de estava de volta em casa, se trocando para sair. Em dias normais aquilo não seria necessário, mas naquela noite, especificamente, algumas coisas estavam diferentes. Primeiro, precisou ficar mais na arena, tanto para conversar com os médicos, quanto para as entrevistas da noite. Era cedo e não queria chegar com muita antecipação junto a Maisie e Louis ao bar, Maisie reclamaria a noite toda. Além disso, havia uma outra questão que perturbava a terapeuta desde o início da noite e que apenas poderia resolver em casa.
Tinha falado com após o jogo, rapidamente, para se certificar de que ele estava mesmo bem. Não havia acreditado em nenhuma palavra da boca do namorado, mas ainda precisava manter alguma aparência, então, precisou se conter. Os médicos do time também tinham o mesmo discurso que o capitão, de que não era nada, apenas um pequeno susto. Por excesso de zelo ou intuição, não acreditava, mas foi incentivada por Louis a apenas entregar os problemas eu não lhe cabiam ao universo. O que lhe trazia de volta a outra situação um tanto delicada.

– Posso entrar? – perguntou ao bater na porta do quarto que Maisie ocupava.
– Claro. – A inglesa sorriu. – Não veio aqui me apressar, não é? – Perguntou Maisie, com olhar psicótico.
– Não, se acalme. – deu de ombros, sorrindo e se sentou na cama, assistindo a melhor amiga se maquiar.
– Qual é o seu problema? – Maisie a olhou pelo reflexo no espelho. – Esses ombros caídos eu conheço. – A morena se aproximou e apertou os lábios em um sorriso fraco, inclinando a cabeça sobre o ombro. – Me deixe adivinhar. – Pediu. – Não é o . Porque se fosse ele, você estaria com os ombros tensos, agitada e preocupada por terem tentado te deixar viúva antes de casar. – apenas sorriu, Maisie estreitou o olhar, ainda analisando a amiga. – Sua mãe te ligou?
– Não, por que? – A terapeuta balançou a cabeça, confusa com a pergunta.
– Você fica assim quando está mal consigo mesma. – A outra apontou. – Ombro caído, falta de ânimo, pouco reativa, tristinha. – Maisie sorriu. – Eu não sou sua melhor amiga só por ser legal.
– Você tem razão. – assumiu depois de um longo suspiro. – Eu percebi uma coisa hoje. Na verdade, não foi hoje, já vejo isso há muito tempo, mas eu... eu só não ligava.
– Percebeu que o Louis é um insuportável? – Maisie brincou, tentando amenizar o humor da melhor amiga.
– Boba. – empurrou a inglesa pelo ombro. – Hoje eu vi o todo arrumado para o jogo, super chique e lindo... sabe... eu só pensei...
– Não, não tem nenhum problema com você. – Maisie foi dura, supondo onde aquela conversa chegaria.
– Não, não é isso. – A inglesa negou com a cabeça. – Quando eu e ficamos pela primeira vez, a gente estava vestido igual, praticamente. – Contou e viu a amiga inclinar a cabeça sobre o ombro, prestando atenção com empatia. – E você sabe que eu nunca liguei muito para isso. Sempre preferi ficar confortável e também... acho que minha mãe me enchia tanto com isso que eu fiquei traumatizada. – sorriu e Maisie sorriu empática. – Mas de uns tempos para cá, eu não sei... – A terapeuta ficou de pé, sob olhar atento da outra. – Na casa dos pais dele, saímos a noite e todas estavam lindas, com vestidos e maquiagem e eu era eu.
– E qual é o problema nisso? – Maisie quis saber. – disse alguma coisa?
– Não, ao contrário. – ergueu os ombros. – Ele acha legal qualquer coisa que eu faça. Acha engraçado que a gente se vista igual as vezes. O que é estranho, porque as vezes ele me empresta algumas roupas e nem parece que elas são do meu namorado. – bufou e Maisie apertou os lábios, compreendendo a situação. – Eu só... você é a pessoa que eu mais confio e também é a mulher mais linda que eu conheço, então... eu... será que você podia...

Maisie apertou os lábios em um sorriso doce e ficou de pé, caminhou até a amiga e a abraçou com força.

– Claro que sim. – Respondeu. – Hoje você vai ser a mulher mais linda da Islândia toda.
– Fin. – corrigiu. – Finlândia.
– Da Finlândia toda. – Maisie completou, rindo enquanto ainda abraçava a terapeuta.


❄❄❄


, Maisie. – Louis bateu na porta pela quinta vez. – Atte, e a irmã dele já estão esperando. disse que vai dormir no sofá nos próximos cinco minutos. E eu vou cometer um assassinato nos próximos cinco minutos se ninguém me alimentar.
– Já estamos indo, pode avisar. – Maisie gritou do quarto. – Eu odeio quando ele me apressa. – Falou, dirigindo-se a .
– Tem certeza que isso está bom? – A terapeuta perguntou de novo, olhando-se no espelho. – Parece tão estranho.
– Você se sente estranha? Desconfortável?
– Não, eu me sinto bonita, mas é estranho. – A inglesa riu, sendo abraçada por trás pela amiga. – Eu sinto, lá no fundo, que devia estar com minhas roupas comuns.
– Amiga, você é , não tem nada de comum em você. – Maisie sorriu. – E vamos lá. – A inglesa deu um tapa fraco na bunda da terapeuta. – Ou o seu homem vai dormir e você vai ficar a ver navios. Naufragados.

aceitou ser arrastada para fora do quarto por Maisie, mas quando chegaram perto da escada, Maisie recuou.

🎵 Dê play na música aqui, e se necessário coloque para repetir [Sixpence None the Richer – Kiss Me]🎵


– O quê? – Maisie indagou quando parou de andar e olhou para trás. – É você que querem ver, não eu. Vai logo. – Sorriu ela, empurrando a amiga com uma mão, a distância.

respirou fundo, olhou para a amiga e sorriu depois de fazer careta. Olhou para as escadas e tentou ser o mais normal e confiante que conseguia, ignorando estar completamente fora de sua zona de conforto. O grupo na sala estava de costas, apenas Louis a viu.

– Até que enfim. – O médico reclamou. – Eu estava quase padecendo aqui.

Com a fala do inglês, o resto do grupo instintivamente voltou seu olhar para a escada, de onde descia. ria de alguma coisa junto a Atte e Inessa, mas assim que se virou e viu a namorada, a expressão do capitão congelou. tinha os cabelos mais soltos e caídos em um dos ombros, usava batom vermelho e um vestido verde, salto alto e segurava uma bolsa pequena e dourada em uma das mãos, enquanto com a outra tocava o corrimão da escada. Não era uma face surpresa ou em choque, ele tinha um olhar diferente e conhecido ao mesmo tempo, a boca entreaberta, segurava um copo de bebida em uma mão e por certo período, foi como se o tempo tivesse congelado. Quando percebeu a namorada quase terminar os degraus da escada, foi ao seu encontro.

– Uau.
– Me disseram que você estava quase dormindo no sofá. – Ela brincou, ignorando a expressão embasbacada e apaixonada dele.
– Você tá... – O jogador não encontrou a palavra que gostaria, então apenas ergueu os ombros. – Eu nem sei que palavra usar. Eu tô... você tá incrível.
– Obrigada. – sorriu tímida.
– Nossa. – ainda a admirava completamente tonto. – Você é com certeza a mulher mais linda que eu já vi na minha vida toda. – Declarou e viu a inglesa sorrir fechado, envergonhada.

– Põe um babador, Ivan Ilitch. – Maisie implicou ao passar por trás do casal, descendo as escadas. – E vamos logo? Eu quero muito beber? – Pediu sorrindo, ao se aproximar dos outros.
– Acho que essa é a nossa deixa. – sorriu, ainda sem jeito.
– Acho que sim. – , ainda bobo, sorriu e ofereceu uma mão para a namorada. – Por favor.



19 - I'm never confused

You make it look like it's magic
'Cause I see nobody, nobody but you, you, you
I'm never confused, hey, hey
And I'm so used to being used
So I love when you call unexpected
'Cause I hate when the moment's expected
So I'ma care for you, you, you
(Earned It – The Weeknd)




Sábado, 15 de janeiro de 2022
Tripla Bar, Salonaukio 7
Lahti – Finlândia



Era um bar diferente do que costumavam ir, ficava perto do Lago Joutjärvi, mais isolado, mais discreto, cerca de vinte minutos da casa de de carro. Tinha jeito de pub irlandês, misturado com o que é do imaginário comum de todo pub inglês. Muita madeira no teto, balcão, mobília, mesas e cadeiras, o carpete era parecido com carpete de casas antigas, de avós, com figuras que se pareciam com flores ou podiam ser formas aleatórias também, era difícil dizer. Era iluminado por luzes pendentes amareladas e do estofado de alguns assentos até a decoração, tudo gritava coisa antiga, mas que incrivelmente combinava e dava ao lugar um ar retrô confortável e aconchegante.
O bar não estava em sua maior lotação, provavelmente por não ser um bar esportivo e por não ser um dos mais próximos a Isku Areena. Ou também, pelo fato de alguns jogadores do time terem fechado o estabelecimento para que pudesse comemorar com mais tranquilidade. Estavam e sua irmã, Atte Tolvanen, Santtu Kinnunen, e seus dois amigos ingleses. Apesar de Otto agora também saber sobre o relacionamento dos dois, o ala havia recusado o convite, depois de lançar ao capitão um olhar matador.
Era um grupo pequeno sentado em uma mesa grande e larga, haviam também mais alguns amigos de Santtu e Atte, mas que não conhecia, alguns de Inessa também. Mas por estarem ali, a terapeuta entendeu que não deveriam representar ameaça.
Uma música mais agitada tocava alta e o grupo já havia bebido uma quantidade satisfatória até aquele momento da noite. segurava a mão do namorado, enquanto ele ria, conversava e bebia, se controlando para não iniciar diálogos intermináveis com ele. Tinha muito o que queria falar com o jogador, gostaria de perguntar como se sentia sobre o acidente no gelo, mas não queria ser insistente. Gostaria de saber sobre o que ele pensou sobre sua súbita mudança de figurino para a noite, mas não queria que sua mudança esporádica fosse baseada na aprovação dele. Queria talvez só falar sobre a música ou rir de alguma coisa, apenas com ele, elogiar o jogo e dizer da nova comemoração, mas não sabia se era o momento e lugar. Na verdade, sentia falta de quando eram só os dois e tinha o capitão só para si, sem precisar dividir a atenção de seu homem com mais ninguém.
Ao mesmo tempo, era o primeiro momento em que podiam ser apenas só mais um casal, em um bar, comemorando. não se importava com títulos, em ser vista como a mulher ao lado do grande , ainda porque a maioria dos presentes já sabiam há décadas sobre o relacionamento dos dois. Talvez para os dois significasse algo, ou devesse significar, mas não se sentia assim. Estava sendo chata e reconhecia, mas era difícil pensar que ele não chegaria de surpresa em casa, escolhendo a ela e não a todo o resto, para comemorar. Mas aquilo era algo que se acostumaria, gostava de pensar que sim.
finalizou um copo de uísque e depois de rir de alguma piada de Atte sobre o jogo, apoiou os cotovelos sobre a mesa e desviou o olhar para a namorada, a olhando de lado. prestava atenção no goleiro também e por isso custou alguns segundos para que notasse o olhar quente do capitão sobre si.

– Sim. – Ela sorriu e sorriu grande, baixou a cabeça e depois a olhou outra vez.
– Você tá linda. – elogiou, a olhando nos olhos e empurrando de leve a namorada pelo ombro, e sentiu a pele esquentar. – Sempre tá. Sempre é uma coisa linda. Mas hoje... você tá espetacular.
– Acho que era hora de começar a me vestir diferente do meu namorado. – sorriu, inclinando a cabeça sobre o ombro e roubou um beijo rápido, depois virou-se na cadeira, ficando de frente para a inglesa, ela o imitou.
– Mas você fica uma gracinha com meu moletom. – O capitão piscou e sorriu ladino. – Principalmente quando tá só com ele.
– Você poderia se controlar, senhor ? – riu, cobrindo a boca e o central esticou uma mão, apertando a coxa da namorada.
– Você quem escolheu usar vestido hoje. – maneou a cabeça. – Não tenho controle da minha imaginação a partir disso.
– Não deixe sua imaginação tomar o controle. – sorriu, tocando a mão do namorado que estava em sua perna, entrelaçando seus dedos.
– Isso é fácil para você dizer, você tem uma imaginação horrível. – O capitão resmungou. – Que besteira. Eu vivo em um mundo de fantasia. – Falou, tocando o próprio peito com a mão livre.
– Não acredito que você citou The Office no meio da nossa conversa. – baixou os ombros e riu, incrédula.
– E você ter reconhecido me dá certeza de que é com você que eu vou aumentar a família . – O central riu, erguendo os ombros e se aproximou mais da namorada, tomou o rosto dela nas mãos e a beijou, enquanto sorria. – Eu acabei de fazer algo ruim. Eu acho. – O jogador sussurrou contra os lábios da inglesa. – Beijei a namorada de um cara do time. Perto dos amigos dele.
– Ah meu deus, . – entrou na brincadeira, fingindo surpresa. – Isso não é uma atitude muito legal, principalmente sendo você o capitão.
– Fazer o quê? – ergueu os ombros, ainda com a testa junto a da namorada. – Eu não resisto a uma gatinha de verde. Batom vermelho é o meu ponto fraco.
– Coitado do Merelä. – estalou a língua e balançou a cabeça devagar, negativamente.
– Ele já beijou a minha garota, uma vez. – enfim afastou o rosto um pouco e a olhou, com expressão divertida. – Então, eu só tô retribuindo. E nossa... – O capitão jogou a cabeça para trás. – Como tem gosto bom.

riu, depois o puxou para outro beijo, um pouco mais demorado.

– Petri está sabendo disso? – Atte gritou, espalmando as mãos na mesa, em uma brincadeira, como quem denuncia algo. – Que safadeza.
– Ciúmes? – riu ao se afastar da namorada. – Eu já disse que tem um pouco pra você, sempre que quiser. – O capitão amassou um guardanapo de papel e atirou no melhor amigo. – É grande, dá pra dividir.

ria da brincadeira do namorado, enquanto tentava encontrar seu copo com água e limão.

– Seu ex-namorado fake não vem? – Maisie se inclinou para mais perto para perguntar, chamando a atenção da melhor amiga. Estava sentada de frente para , do outro lado da mesa.

franziu o cenho porque levou alguns segundos para compreender de quem a amiga falava.

– O Mere não vem. – Quando conseguiu unir os pontos, respondeu balançando a cabeça, tomando um gole de água. – Acho que ele ficou mais sentido com essa coisa do e eu termos admitido o relacionamento do que eu pensei que ficaria. – Comentou a inglesa, mordendo o lábio inferior, chateada. – E também, Tampere fica mais de uma hora e meia daqui, então...
– Uma pena. – Maisie projetou o lábio, depois comeu uma batata frita. – Eu estava muito ansiosa para conhecer ele melhor.

Santtu estava sentado ao lado de Maisie e ouviu o comentário da outra inglesa, o defensor precisou cobrir a boca para não cuspir a cerveja que tomava. Com a reação, acabou por chamar a atenção de Maisie e , que riram dele.

– Se ele soubesse, tinha vindo. – Santtu falou, virando-se para elas. – Não teve jogo hoje.
– Bom, ele pode me encontrar aqui em Lahti nos próximos dias. – Maisie cantarolou, bebendo um pouco de sua cerveja e erguendo um ombro.
– Ele não viria, eu acho. – sacudiu a cabeça. – Não pela Maisie, mas hoje, aqui. Quando liguei para agradecer e contar sobre eu ter me entregado para o Petri, ele pareceu decepcionado.
– Impressão sua. – Santtu deu de ombros.
– Ou ele já tinha planejado os encontros falsos para os dois. – Maisie colocou lenha na fogueira, sorrindo e Santtu negou com a cabeça.
– Talvez ele ficou com pena de você. – O defensor sugeriu e quando a amiga o encarou com confusão, ele explicou. – Por sair do time.
– Você vai mesmo sair? – Maisie perguntou, apontando para com uma batata frita nas mãos.
– Não sei. – suspirou, passando o dedo na borda de seu copo de água. – Não tive qualquer sinal do Petri ou de ninguém ainda. É um escuro. Mas não estou pensando nisso, não depende mais de mim.
– Agora vai seguir aquele seu sonho de faculdade? – A amiga morena quis saber. – Trabalhar com criancinhas?
– Eu mudei muito desde que vim para cá. – cruzou os braços sobre a mesa e sorriu. – Eu não sei mais o que eu quero fazer, além de estar no Pelicans. – Maisie apertou os lábios, empática. – Mas eu tô otimista. Existem muitas possibilidades e eu decidi deixar o universo decidir.
– É verdade. – Santtu assentiu sério. – Existem muitas possibilidades além do Mere também. – O defensor se dirigiu a Maisie, a olhando direto nos olhos e arqueando uma sobrancelha.

Maisie gargalhou, arregalou os olhos e deixou o queixo cair, chocada com o quão direto o amigo havia sido. Conhecendo a melhor amiga como conhecia, preferiu sutilmente se virar, voltando-se para o lado do namorado, tentando ignorar qualquer frase ou flerte constrangedor que saísse entre os dois.

– Você acha que eu aguento comer mais batata frita? – perguntou a namorada, distraído.
– Meu amor, eu não sei. – sorriu erguendo os ombros, ainda impactada com o flerte descarado de Santtu. – Você devia beber água, evitar uma ressaca.

O capitão maneou a cabeça e apertou os lábios, a repreendendo de brincadeira.

– Que foi? – quis saber, percebendo a expressão ainda pasma da namorada.
– Digamos que o Santtu acabou de ir com a formação de power play, para cima de uma Maisie jogando sem goleiro. – ergueu as sobrancelhas ao contar, tentando enfatizar e apertou os olhos e mordeu o lábio.
– Você ficou cem por cento mais gostosa depois de falar assim. – Brincou , deixando a cabeça pender em seguida, olhando para a namorada.
– É que eu namoro um jogador de hockey. – apoiou as duas mãos na perna do namorado e se inclinou para beijar seu pescoço.
– Eu quero ir embora agora. – riu abafado, afagando a nuca da namorada.
– Se controla, a gente mora junto. – riu, ainda concentrada no pescoço cheiroso do namorado.
– Não é para parar. – tornou a falar. – Não quero que pare, mas você falou Santtu e a Maisie? – O central riu abafado.
– Sim! – levantou o rosto e o namorado bufou.
– Não era pra parar.
– Okay. – A terapeuta assentiu, sorrindo divertida e abraçou a cintura do capitão, afundando o rosto em seu pescoço, mordendo com suavidade. – Ele foi – começou a contar entre uma mordida e outra. – bem direto. E olhe. Ela queria o Merelä. – comentou.
– O que vocês acham nesse cara? Todo mundo fica afim dele. – O central apertou os lábios, rabugento.
– É que ele é muito bonito, né? – ergueu o rosto e endireitou a coluna. – Além de ser muito bonito, ele é todo bom moço. Chama atenção. Certinho, com jeito de príncipe encantado, muito bonito.
– Chama atenção? – arqueou uma sobrancelha, afetado. – Te chama atenção, ?
– Não, nitidamente, eu não gosto dos bons moços. – levou seu copo de água aos lábios e ergueu as sobrancelhas. – Gosto dos que me ignoram.

ergueu o queixo e sorriu derretido.

– Será que tem algum banheiro livre? – O capitão perguntou enquanto buscava ao redor e o olhou perdida. – É que hoje você tá impossível. – Explicou ele, percebendo o olhar vazio dela e gargalhou.
– Aliás – se aproximou do ouvido do namorado, inclinou um pouco a cabeça, para ouvi-la melhor. – Eu gostei da sua nova comemoração.
– Você entendeu? – sorriu com doçura. – Sempre vai ser para você. – Prometeu ele, beijando-a, enquanto a inglesa acariciava o lado do rosto.
– Como está a cabeça? Não sente nada mesmo? – Perguntou ela, tocando com delicadeza uma pequena marca arroxeada, provavelmente deixada pelo capacete do jogador, no lance que o havia machucado.
– Coisa de jogo, Rakkaani. – franziu o nariz e sorriu. – Só fiquei um pouco tonto na hora e doeu. Mas depois você pode cuidar de mim, em casa. – Ele pediu, projetando o lábio inferior e sorriu segurou o queixo dele com uma mão e beijou sua bochecha. – Ou ali no banheiro, pode ser mais eficiente se for mais rápido.
– Que safado. – Ela riu contra a pele dele.
– Eu mereço. – falou como se fosse óbvio, recostando-se na cadeira e colocando as mãos no colo. – Eu arrasei hoje. Vou até te dar a honra de ter o número trinta e quatro na sua cama hoje. Maior e único. – Ele sorriu vaidoso, ajeitando e puxando a calça na região da coxa. – O capitão, príncipe de Lahti, .
– Olha só... ele chamou o para a festa. – brincou erguendo a sobrancelhas e umedecendo os lábios com a língua. – Mas a parte do maior eu concordo.
– Tô bem aqui, gata. – se aproximou mais, sussurrando para a namorada e roçando os lábios na pele dela ao falar.
– E não estamos todos? – o provocou.
– Não mais, a sua amiga Maisie sumiu e eu acabei de ver o Santtu ir para os banheiros. Eu acho que ele acabou de marcar um gol no power play. – comentou, apontando para a direção aonde o defensor havia passado com o queixo, olhou por cima dos ombros e sorriu. – Mas a gente sempre vai ter o meu carro, onde é sempre power play. Lá fora. Já fez isso no carro à noite? Nevando? – Ele quis saber. – A visão da neve caindo no teto solar só não é mais bonita que você.

não conseguiu responder.
Atte passou perto deles e despejou na nuca de um pouco de cerveja fria, depois imitou uma sirene de bombeiros e abraçou o casal pelo pescoço, enquanto ainda tentava se secar.

– Casal. Vocês moram juntos. – O goleiro, já um pouco alterado falou a eles. – Dá pra segurar a onda e interagir com as outras pessoas? As pessoas estão até saindo da mesa, de inveja.

e trocaram um olhar rápido e sorriram, enquanto Inessa espalhava shots de vodca por toda a mesa. A inglesa ergueu os ombros e negou com a cabeça, frustrado, depois de virar um shot.

Lá pelas tantas, quando até os finlandeses e russos já davam sinais de embriaguez, já havia mudado do estado cansada para sonolenta, conversadeira e desperta, sonolenta outra vez e agora estava acordada e agitada. A inglesa bebia água com gás e amassava uma rodela de limão no fundo do copo, tentando saborizar a água, entretida no processo até ser cutucada por . O jogador apontou com o queixo para Louis, sentado à frente deles, o médico encarava o gelo no fundo de seu copo com desânimo.

– O quê? – A inglesa uniu as sobrancelhas.
– Vocês da Inglaterra são todos desanimados assim? – O central sacudiu a cabeça. – Você dorme na mesa e ele parece que veio de um funeral.
– A gente não é desanimado. – negou. – Isso é cansaço de um trabalhador. – A terapeuta projetou o lábio inferior.
– Péssima desculpa. – O jogador rolou os olhos. – Mas e aí, então, qual é o problema dele? – sussurrou entredentes, como uma criança.
– Não sei, ora. – sacudiu os ombros e torceu os lábios para o namorado. – Lou. – chamou o amigo e ele ergueu o olhar. – Cansado?
– É, acho que sim. – O médico riu fraco. – Muitas coisas em um só dia. Acho que a Finlândia está sendo mais cansativa do que pensei.
– Certeza? – entrou no assunto, olhando o inglês com olhar estreito. – Talvez só não bebeu o suficiente. – Comentou erguendo os ombros. – Maisie bebeu, e ela está se divertindo muito por aí com o Santtu.

O médico prendeu a respiração.

– É, só tô com sono. – Louis apertou os lábios e bufou. – Foi um dia bem longo, como eu disse.
– É foi mesmo. – assentiu, empática. – A gente pode ir, se quiser. Já é bem tarde. – A inglesa sorriu e olhou para o namorado, que concordou com a decisão por um aceno de cabeça. – A gente só tem que encontrar a Mai.
– Boa sorte. – Louis rolou os olhos e respondeu amargo.
– Mas ela está com Santtu, é só achar ele. – lembrou enquanto se espreguiçava.
– A gente devia mesmo ir. – Louis bufou. – Eu tô bem cansado.
– Se você diz... – maneou a cabeça e torceu os lábios com um olhar sugestivo, começando a perceber que talvez o azedume do médico inglês tivesse nome e sobrenome.
– É sério. – Louis respondeu nervosamente, ajeitando os óculos no rosto e cruzando os braços sobre o peito. – Não tá todo mundo cansado? Eu já vi a dormir na mesa umas duas vezes.
– Foi uma só. – Protestou a terapeuta.
– Duas. – assentiu e ergueu dois dedos, mostrando a namorada e baixando o canto dos lábios, sua expressão tinha algo que a dizia que era melhor não continuar negando. – Duas. Ness até tirou fotos.
– Tá, legal. – desistiu e fez careta para . – Por que está irritado? – Perguntou, dirigindo-se a Louis.
– Eu não tô. – Louis negou. – Não tô. Vocês que estão insistindo.
– Mas eu não falei nada ainda. Nem comentei que seu olho pisca sozinho quando a gente fala o nome da Maisie. – O central deu de ombros, mas seu tom era irônico e sugestivo, depois dos dias de implicância de Maisie e desconfiança de Louis, estava se divertindo em poder devolver um pouquinho. – Como é? Tô mentindo? – dobrou os cotovelos sobre a mesa, olhando o fundo de seu copo e depois para o caminho dos banheiros.
– Eu não quero saber de nada. – Louis tocou o próprio peito, afetado. – Eu não vi nada e nem me importo com ver nada também. Só com o que eu bebi e com ir para casa, dormir.
– Não sei não, Lou. – , ainda com um risinho irônico nos lábios, recostou-se na cadeira e com as duas mãos tocou a aba de seu boné, ajeitando-o. – Mas se você diz...
– Meu Deus, você é terrível. – repreendeu o namorado, falando baixo. – Mas é melhor parar. – Ela piscou sorrindo, respondeu com um movimento suave de cabeça e um meio sorriso.
– Não tem nada para saber ou ver, mesmo. – O médico voltou a mexer o gelo no copo vazio, enquanto tentava prestar mais atenção ao seu redor, procurando o que poderia ter incomodado o amigo.
– Okay, só preciso encontrar a Mai e então vamos. Tudo bem? – perguntou, olhando ao redor.
– Vai dar uma olhadinha no banheiro. – sugeriu com o mesmo tom irônico e provocante de antes. – Quer dar uma ajuda, Lou?

O médico fuzilou o capitão com olhar.

– Olha eu saquei o que você tá fazendo. – Acusou Louis, erguendo um dedo. – E não tem nada a ver.

debochou erguendo as mãos, como quem se rende.

– Lou... – pareceu enfim compreender. – É por causa da Maisie mesmo? Tá chateado por causa dela?
– Eu não tô chateado. – Negou outra vez. – Esse senhor risadinha que é irritante, parece uma criança de dez anos. – Respondeu Louis, zangado com as provocações de .
– Esse sou eu? – sorriu fingindo surpresa, tocando o próprio peito.
. – o repreendeu torcendo os lábios.
– Será que ela ainda está no banheiro? – se perguntou.
– Pelos meus cálculos, se eles ainda estão lá... – voltou a provocar.
– E quem liga? – Louis o encarou impaciente com um olhar fulminante.
– Lou, eu não estou entendendo. – A inglesa sorriu, perdida. – Não precisa ficar tão preocupado ou irritado, o Santtu é legal. Não é uma escolha péssima, não como ela costuma fazer. – O médico bufou e rolou os olhos, depois riu nervosamente. entendeu. – Ah meu Deus, Lou, eu não sabia que você e ...
– O quê? – O médico expirou um riso incrédulo. – Claro que não. Isso já foi superado há muito tempo. Bem antes de você arrumar esse péssimo namorado. – apertou os lábios e se divertiu com o claro ataque a sua pessoa. – Não tem nada a ver. Nem sei porque estamos falando disso, nem porque contou isso a ele.
– Eu não contei. – respondeu com simplicidade, tentando afastar , que insistia em colocar o rosto perto demais do seu, apenas para provocar Louis. – Não contei a ninguém. Na verdade, nem eu mesma me lembrava disso.
– Não sei o que tem pra contar, mas não precisa contar. Tudo está muito óbvio aqui. – voltou a atazanar o inglês. – E eu aprendi no ensino médio o que um casal faz no banheiro de um bar. – Disse ele e o olhou com sobrancelhas juntas e o namorado ergueu um ombro.
– Não tem nada a ver, é absurdo. Maluquice. – O médico cruzou os braços emburrado. – Isso é só provocação. Sua provocação. – Louis apontou para ao dizer, um pouco mais nervoso e agitado.
– Minha? – fingiu-se surpreso.
– Lou, não parece que é só pela provocação. – voltou a dizer. – Quer dizer, claro que é, mas não entendi porque você ficou todo nervoso. Talvez eles só tenham saído para conversar, dançar, falar mal de mim, ou sei lá. Só porque ela não está aqui, não significa que...
– Significa sim. – interrompeu a namorada, assentindo devagar e com olhar malicioso. – Significa sim.
– Ignore ele. – balançou a cabeça. – Talvez ela só está vomitando no banheiro, ou foi lá fora tomar um ar. – A inglesa se deu conta do que havia dito. – Quer dizer, não lá fora, porque está nevando. Mas ela deve estar vomitando em algum lugar. – Sorriu . – É muito difícil acompanhar as pessoas daqui na bebida, até para alguém como ela.
– É, com certeza é isso. – assentiu e sorriu para Louis, feliz por enfim o namorado estar cooperando. – Talvez o Santtu só foi ajudar e segurar o cabelo. – falou, fingindo não se importar. – Para uma coisa ou outra. – O jogador estalou a língua e arregalou os olhos.
– Eu odeio seu namorado. – Louis sentenciou com as duas mãos espalmadas sobre a mesa.
– Eu tenho certeza que há uma explicação para isso. – , ainda perplexa, tentou amenizar.
– Tem, para sua sorte o horário já permite. – tornou a falar, parecendo falar sério. – Nesse caso, depende de como você quer começar. A mulher, se for uma mulher... ela fica de joelhos e aí...
. – o repreendeu.
– Tá, parei. – O capitão ergueu os ombros e voltou a se escorar a cadeira.
– Lou. – A terapeuta respirou fundo e uniu as mãos sobre a mesa. – Era coisa superada, não é? Tipo, quando foi a última vez? Já faz tempo... – riu nervosamente.
– Em dezembro. – Louis confessou e riu pelo nariz, deixando a cabeça pender.
– Okay, mais recente do que eu esperava. – A inglesa respirou fundo outra vez.
– Foi um deslize bêbado.
– Sabe, eu acho que se você devia só deixar pra lá. – continuou. – A não ser que esteja...tipo...
– Tipo o que? – Louis a olhou temendo o que ela diria a seguir.
– Tipo, mesmo afim dela. – experimentou dizer e viu o amigo gargalhar. – Porque aí devia contar a ela.
– Nunca. Não. – Louis gargalhou. – , Maisie e eu? Nunca. Ela é um ser humano horrível. Nunca me apaixonaria por ela.
– Olha que fofo, eu era assim também. – comentou apontando para Louis, quando a namorada o buscou com o olhar. – Mas eu não te achava um ser humano horrível.
– São coisas diferentes. – Louis parou de rir subitamente e ergueu o dedo indicador. – é bonita, doce e gentil. Maisie é uma megera, ela não é simpática ou doce, ou interessante.
– Negação é o primeiro estágio. – implicou.
– Vocês nunca tiveram uma relação super pacífica, mas... – voltou a dizer.
, ela é minha amiga, apesar dos muitos e óbvios defeitos. Por isso eu até me preocupo com o fato de ela não se preservar e se dispor a qualquer situação degradante, com qualquer um. – mexeu a cabeça, tentando protestar e defender Santtu, mas Louis não permitiu. – É só isso. E vocês pensarem que pode existir algo mais, me irrita porque é a Maisie. Droga. Quem ia querer ser relacionado a ela?

Louis ficou de pé e deixou a mesa, resmungando.

– Ele tá caidinho, né? – falou baixo, para que só o namorado a ouvisse.
– Ah, ele tá sim.
– O que você fazia no banheiro no ensino médio? – se virou para o namorado.



❄❄❄


Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia



No início da semana toda a equipe estava de volta aos trabalhos, empenhados e focados para os últimos meses antes dos playoffs. estava de volta a sua caminhada solitária para sua sala. Louis havia sido o motorista da vez, Maisie e o médico sairiam depois para explorar a cidade e comprar cacarecos. só entraria mais tarde e por isso ficou em casa, dormindo um pouco mais. Apesar da instabilidade, a inglesa estava feliz e calma. Tinha seus melhores amigos por perto, um namorado que a amava, nenhum peso na consciência e seguia feliz, sem a previsão de nenhuma outra crise inesperada pela frente. Enfim poderia apenas viver em paz.
A inglesa refletia sobre isso, caminhando serena quando cruzou com seu maior pesadelo no corredor. A assombração estava parada frente a porta da inglesa e parecia prestes a bater. A terapeuta congelou no lugar, seus neurônios gritavam para sair correndo e se esconder, mas o corpo não queria obedecer, aparentemente.
Quando enfim conseguiu se mover, pensou rápido e tentou se esconder atrás de uma planta grande e cheia de ramos, artificial, que enfeitava o corredor. Não podia voltar atrás porque o corredor era extenso e a assombração a veria de costas, fugindo, e isso sim seria ruim. Por isso tentou se esconder, mas o barulho atrapalhado da terapeuta inglesa em sua falha tentativa atraiu a atenção de seu bicho papão. Ele franziu o cenho e a buscou com o olhar, depois afastando-se da porta.

? – chamou, queria ter certeza se tratar da terapeuta.

se xingou, mas percebeu que o jogo era perdido, então fingiu estar se levantando.

– Não é bonita essa planta? – Tentou disfarçar, rindo.
– É, acho que sim. – assentiu confuso. – O que você... o que estava fazendo atrás da planta?
– Eu queria ver se é de verdade. – Ela mentiu, colocando as mãos na cintura e balançando a cabeça, enquanto ria de modo super culpado. – É que é tão verde. Tão brilhante. Eu amei tanto.
– Mas ela não esteve sempre aí? – projetou os lábios rapidamente, confuso.
– Como são as coisas, não é? A gente só dá valor... – bateu as mãos, como se tentasse limpá-las. – Agora eu preciso ir trabalhar. Licencinha. – A inglesa tentou escapulir.
– Claro, que bom. – se virou em seu próprio eixo para acompanhar a terapeuta. – Eu estava mesmo aqui para falar com você.
– Comigo? – tocou o próprio peito, fingindo-se de surpresa, enquanto se afastava devagar. – Não, não. Imagine. – Negou com a cabeça de modo teatral. – Há uma hierarquia aqui, , você devia falar com a Isabel. Com ela, sim.

fingiu não perceber que ela se afastava, inclinou a cabeça e sorriu fechado. Depois voltou a erguer o rosto e arqueou uma sobrancelha.

– Não, é com você mesmo. – Ele insistiu. – A gente tem um assuntinho. – O empresário repuxou o nariz e assentiu uma vez com a cabeça, imitando o tom de fuga infantil que a inglesa usava.

tossiu, engasgando com o ar.

– É que eu tô muito ocupada mesmo. – Tentou fugir.
– Só vai levar um minutinho. – piscou, usando o diminutivo propositalmente, seguindo pelo corredor. – Por onde é? Aqui?

seguiu e não teve escolha a não ser segui-lo.
Tremia em pensar o que viria a seguir, talvez Isabel ainda não a tivesse destruído porque pretendia fazer isso. respirou fundo antes de entrar na sala e viver o que poderiam ser seus últimos momentos de vida.
Quando dentro da sala, fechou a porta e fez silêncio por dois segundos, observando a terapeuta tentar ajeitar o espaço do modo mais desajeitado possível. Não queria dar o braço a torcer e se revelar nervosa ou afetada, mas estava em desvantagem ali, porque sabia de seu erro. Estar na presença de uma figura tão emblemática negativamente em sua história não facilitava.

– Então...
– Então. – se virou para ele quando ele tentou atrair sua atenção, sentiu o ar faltar, mas sorriu.
– Você e o . – foi direto, mas seu tom não era inquisidor ou agressivo, parecia mais com quem enfim se dá conta de algo óbvio e vê graça nisso.
– Sim. – A inglesa assentiu, depois de morder todo o interior da boca e desviar o olhar. – Como expliquei para o Petri e Svedin, não foi planejado, apenas aconteceu e nós temos tentado minimizar os danos. Mas eu assumo a responsabilidade, como profiss....
, não vim aqui te crucificar. – a interrompeu, atraindo um olhar confuso de . – Relaxa, não estou atrás de justificativas. – Ele expirou um sorriso e se recostou a uma das macas, cruzou os braços e a camisa social que ele usava reclamou.
– Não veio? – sacudiu a cabeça, confusa. – Como não veio? Mas você é o meu chefe e também...
– Como eu já disse, mas você parece obstinada em não acreditar, eu não quero te prejudicar. – respondeu com simplicidade. – Não vim aqui espezinhar. – Ele maneou a cabeça. – Apesar de você até merecer um pouco.
– Claro, aí está meu super chefe babaca branco-bilionário-nada-confiável. abriu os braços e sorriu com deboche. – Mostrando seu verdadeiro eu.
– Pelo menos me chamou de chefe dessa vez. – maneou a cabeça e sorriu. – Mas me diga, , não é um pouco controverso você me chamar assim, quando namora o . – O empresário provocou, aproximando-se dela.
– Ele não é como você. – riu pelo nariz e rolo os olhos, desviando o olhar. – Nunca.
– Não, eu acho que isso é só uma desculpinha.
– Existe uma razão para eu amar e odiar você, . – sorriu. – E é justamente porque vocês são opostos.

se aproximou, olhou em silêncio nos olhos da terapeuta e inclinou a cabeça sobre o ombro.

– Tá usando maquiagem? – O finlandês indagou de repente, desmontando a terapeuta por alguns instantes. Depois da mudança para o bar no final de semana, havia sido convencida por Maisie de que seria uma boa ideia usar maquiagem no trabalho também.
– Você veio aqui falar alguma coisa séria, ou só quis provocar meu namorado e eu? – cruzou os braços sobre o peito, enfezada, tentando recuperar a pose.
– Namorado. – assentiu sorrindo, projetando os lábios, como se surpreso. – Ela fala com tanta propriedade. – A inglesa arqueou uma sobrancelha. – Me diz, . – se aproximou mais, apoiando as mãos espalmadas sobre uma outra maca. – Ele era o cara no apartamento, não é? E o cara no natal. Desde aquele dia, no supermercado.
– Isso não é da sua conta. – Ela respondeu satisfeita, sorrindo vitoriosa.
– Na verdade, é sim. – piscou. – Mas eu já sei a resposta. Desde o primeiro dia.
– Se é assim, por que não me entregou? – o provocou, aproximando-se também.
– Porque eu não queria ferrar você. – respondeu tranquilo, pegando a terapeuta inglesa de surpresa outra vez.
– C-como?
– Eu escolhi você para estar aqui, . – começou a explicar, falando com suavidade, a olhando nos olhos. – Confio no seu trabalho e a última coisa que quero é te prejudicar nisso e no time. Você é boa aqui, tem tido ótimos resultados e os atletas sempre falam bem de você. – Ele disse. – E como já disse antes, ao contrário do que pensa, minha missão não é te infernizar.
– O que isso significa? – estreitou o olhar, surpresa mas ainda cheia de incerteza.
– Que eu não gostaria que você deixasse o Pelicans. – declarou e engoliu em seco. – A decisão não cabe só a mim, na verdade talvez minha opinião não seja tão relevante para a Isabel agora... mas, eu só queria que soubesse que, por mim você fica no time.
– Mas e o ? – A inglesa estava ainda mais perdida. – A nossa relação interfere no trabalho de um jeito que não se pode prever e...
– Vocês fizeram isso até agora, o que muda? – sorriu fechado. – Não sou idiota, sei que te perder seria a coisa mais estúpida que posso fazer. – A inglesa maneou a cabeça e o loiro tossiu. – Que o time pode fazer. Que o Pelicans pode fazer. – Ele corrigiu, cruzou os braços outra vez e ergueu o queixo, em uma posição mais séria.
, eu não sei o que dizer, eu... – foi interrompida quando alguém entrou na sala de repente. – . – A terapeuta se surpreendeu e apertou os lábios em um sorriso e ergueu as sobrancelhas.
– O que tá rolando aqui? – sentiu a tensão tomar seus ombros e estreitou o olhar, apertando os dentes.
veio falar sobre a nossa situação. – contou, relaxando os braços, expirando e inclinando a cabeça.
. – o encarou com um pequeno e quase imperceptível sorriso nos lábios.
. – O capitão se aproximou depois de garantir ter fechado a porta. Tinha aquela expressão inatingível e cheia de desprezo. – Sabe, é até bom ver você agora que já sabe de tudo. Tem muita coisa pra gente conversar.
– É, eu aposto que sim. – Respondeu o empresário, enquanto assistia a cena congelada. – Acho que você mentiu para mim no natal. – provocou.
– Ah é, foi mesmo. – fingiu pensar antes de responder. – Foi um pouco antes de você rolar com a minha namorada no gelo. – o enfrentou e riu abafado.
– Aposto que você viu, não é? – provocou de novo e sentiu o coração parar de bater.
– Não vai querer me testar. – disse depois de rir nervosamente, notou que o namorado se esforçava para manter as mãos fora do rosto de .
– Sabe, ... – coçou uma sobrancelha com o polegar. – Eu até entendo toda essa tensão que você tá mandando aqui. – O loiro sorriu. – Se eu tivesse que passar pelo mesmo que você, agiria assim também. Viver se escondendo, não poder aparecer, se conter a cada passo, não conseguir ter nenhum encontro decente... deve ter sido difícil. Não sei como você e a aguentaram, mesmo. – olhou de para , depois de para . – Ter que passar por essas coisas todas sem dizer nada. Sabe, comigo no gelo, com o Merelä naquele estacionamento também, ou os outros caras do time... – fingiu compreensão. – Nem consigo imaginar como deve ter sido isso.
– Agora você conseguiu o que queria. – sorriu sereno e ergueu os ombros.

Em uma fração de segundos a inglesa percebeu o que o namorado faria e interveio, colocando-se no meio deles.

, não. – pediu, olhando para o namorado com olhos arregalados. – Não. É o que ele quer. Não vai fazer isso. Não na minha sala.

ergueu as mãos, rendido e se afastou alguns passos, sorrindo.

– Qual é o seu problema? – , ainda na frente de , o questionou. – Não disse que não queria causar problemas? E como você...do que está falando? Sobre o Merelä.
– Vocês não estavam tão sozinhos naquele estacionamento. – Respondeu o empresário, fingindo estar entediado.
– Ótimo. – riu sem humor, afastando-se um pouco. – Ótimo. Que ótimo!
– Eu não sei qual é o seu problema comigo. – se aproximou um pouco de . – Ou qual é o seu problema com a gente, mas isso precisa parar. É sério.
– É que eu não consigo me conter quando há provocação. – piscou e ergueu as sobrancelhas, mas o encarava com incredulidade e choque. – Okay. Tá legal. – O finlandês cedeu depois de expirar. – Peço desculpas pelas minhas provocações gratuitas, não quis causar problemas a você e ao seu namorado. – enfatizou a última palavra e negou com a cabeça.
– É melhor você ir agora. – apontou para a saída. – A não ser que tenha algo mais a dizer. e eu estamos juntos e é isso. Estou em paz com qualquer decisão que tomarem, principalmente com a de deixar o time. – Garantiu ela, firme, enquanto arqueou uma sobrancelha para o empresário.
– Entendi. – Garantiu , assentindo com a cabeça.

Antes que o empresário saísse da sala, foi tomado por um impulso e puxou a inglesa para um beijo cinematográfico, segurando-a com uma mão na cintura e outra em seu rosto. apertou os lábios e inclinou a cabeça, expirando riso incrédulo, ergueu as sobrancelhas.

– Vou deixar vocês a sós. – Disse, antes de sair.



20 - Hard work, it pays off

Hard work, it pays off
I'm happy now, it's paying me
Close my eyes sometimes it feels as if I go away
I love the life I live and enjoy the ride along the way
I make a living out of living, yeah, that's what I say
I've got one life to live, and I wouldn't live it no other way
(Vacation – Dirty Heads)




Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia



Era dia de treino e apesar do pequeno estresse que o capitão do Pelicans havia experienciado, com , estava feliz. Claro que ver e ouvir admitindo para ele com todas as letras sobre estarem juntos tinha grande importância nessa felicidade. Faltava pouco para viver tudo que idealizava há meses, desde que aquela mulher havia pisado no vestiário. Mas beijar na frente de o tinha feito até esquecer de toda provocação do babaca finlandês. Esperava que com aquela espécie de marcação de território, parasse de perturbar a namorada e os deixasse viver suas vidas em paz.
As coisas pareciam estar nos trilhos enfim.
Mas era maduro o suficiente para entender que não podia ficar pensando sobre isso, ou logo tudo desandaria outra vez.

– É uma equipe que tem histórico de lances sujos, então quero todos muito atentos. – Petri falava no centro do gelo, com a equipe ao seu redor. – Não é bom uma lesão agora, porque se for grave, pode tirar alguém dos playoffs e não é o que queremos. Temos um calendário apertado, com muitos jogos e precisamos fechar a temporada regular do jeito que começamos. Regular, estável, com vitórias, obtendo o máximo de pontos que pudermos.

O treinador parou de falar para conferir algo em suas anotações, e implicou com Aleks, cutucando o amigo com a ponta do taco, o desequilibrando.

– Atenção, aqui. – Petri voltou a falar. – Vamos fazer umas tentativas com a nova organização para power play. no mesmo lado que Jasper, vamos tentar coisas novas, porque essa é a hora de explorar as novas peças. – O treinador bateu as mãos, como sempre fazia. – Vamos lá, garotos!

O time se dispersou e começou a deslizar pelo gelo, aquecendo para o treino. se ajoelhou, alongando os ombros e o quadril, mas Petri se aproximou e fez sinal, chamando-o. Geralmente desprendia muito tempo naquela parte, mas precisou ser mais rápido desta vez.

– Fala comigo. – chegou perto do treinador, que conversava algo com o auxiliar técnico.
– Quero você, Aleks e Mankinen em uma formação de overtime, queria sua opinião.

projetou o lábio inferior depois de refletir por dois segundos e sacudiu a cabeça negativamente, como quem não tem objeções.

– Acho okay. – Respondeu o central. – Willy pontua bem, acho que consigo liberdade para armar jogadas e ele finaliza. Aleks consegue dividir as duas coisas e ele com Willy pode me deixar mais aberto no meio, consigo finalizar mais.
– Certo. – Petri anotou algo em seu tablet. – Fica bem com o Leevi Tukiainen nas formações para power play?
– Por que mudar a formação principal antiga? – coçou a nuca.
– Porque eu tenho jogadores novos. – Petri respondeu como se fosse óbvio. – Tudo bem, volte ao aquecimento. Era só. Se tiver qualquer observação, quero ouvir depois.

assentiu e começou a se afastar, mas resolveu dar meia volta.

– Petri, eu queria falar com você. – Disse e o treinador o olhou com impaciência, como era comum, torceu os lábios e acenou com a cabeça para o auxiliar se afastar. – Quero pedir desculpas. Sei que a falou com você e com a Svedin, mas eu... – O capitão hesitou.
– Não tenho o dia todo, . – O mais velho cruzou os braços e respirou.
– Você tinha razão sobre tudo. – Confessou o central. – Sempre teve.
– Sobre o incidente com o Aleks. – Petri lembrou. – Foi mesmo por causa dela?
– Não. – negou prontamente. – Aquilo foi exatamente como te contei. Na época eu nem falava com ela, só começamos algo quando comecei a cuidar do punho machucado. – Contou e Petri torceu os lábios. – Aleks e a cabeça dele funcionam de um jeito que não entendo, mas isso já foi superado.
– A briga com Atte no vestiário?
– Minha irmã. – O capitão respondeu, surpreso pelo treinador levantar aquelas situações.
– A que marcou seu pescoço e a que você estava chamando de maluca no vestiário?
– É, isso foi ela sim. – Assentiu sem jeito, coçando a barba e Petri o olhou de olhos estreitos e expirou, contrariado.
– Anos com você e eu achei que te conhecesse. – Declarou o treinador, para surpresa do central. – Achei que você era o que era e que não ia mudar. Não nas habilidades no gelo, porque a cada ano você melhora, mas aqui dentro. – Petri bateu com dois dedos na própria cabeça e depois no coração. – E aqui. Mas você mudou, cresceu, pelo que parece. Nunca me trouxe tantos problemas, mas... talvez para você, pessoalmente isso tenha sido bom.
– Eu sei que não fui o melhor capitão que poderia e tenho ciência de todos esses problemas, eu peço desculpas por isso.
– Você fez o certo. – O outro ergueu os ombros. – Talvez pelo motivo errado, mas fez. Sabe que as coisas podem não sair como os dois planejam, não é?
– Sei, sim. – assentiu. – Tô pronto pra isso.

Petri riu.

– Você? Não muda nada pra você.

não respondeu, apenas uniu as sobrancelhas, confuso com a risada e a frase do treinador.

– Só cuidado. – Petri deu de ombros. – Relacionamentos estáveis podem ajudar muito um atleta, mas viver uma montanha russa que bagunça a vida dentro do gelo não vai te ajudar.

Petri piscou e se afastou, sem dar chance a de responder.



❄❄❄


Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia



esperava paciente junto a porta de Isabel Svedin. Estava no centro de treinamento do time naquela manhã para conversar com a nova executiva. No final da semana havia sido informado em uma videoconferência sobre a situação da terapeuta ocupacional do time, sua contratada e emprestada ao Pelicans. Obviamente não era nenhuma surpresa, só lhe faltavam argumentos firmes e provas para quebrar todos os argumentos infantis que sempre levantava em suas discussões.
Em alguns momentos tivera dúvidas sobre se tratar de Merelä, ou outro no time, só contava com a certeza de que era alguém do time. Não que isso fosse de sua conta, ou que devesse gastar tempo e energia buscando ou investigando o histórico afetivo de , mas mesmo assim fazia. Não entendia bem o porquê de estar tão intrigado e obstinado em tudo que se relacionava a terapeuta. Passava mais tempo do que o comum em Lahti, tentava acompanhar tudo sobre o time e seus jogadores, tentando encontrar alguma resposta para as perguntas que se fazia.
Era quase patológico e sem nenhuma resposta boa o suficiente para justificar para a namorada suas ausências e desinteresse. Claro, a relação já não era das melhores, se sentia apenas orbitando ao redor dela há meses. Talvez fosse um de seus problemas, ficar tão obcecado por algo que esquecia de todo o resto. Antes a namorada, agora e seu relacionamento. Seu namoro havia terminado logo após a descoberta de que e eram mesmo um casal. Talvez a cena em sua casa, comemorando o fato de estar certo sobre os dois, fizera a namorada perder a última ponta de esperança.
Agora estava em Lahti, não só para provocar , já tinha feito e como resposta, fora obrigado a presenciar um beijo do casal apaixonado. Não culpava , sabia ter pego pesado e na situação dele, não perderia tempo de beijá-la também. Mas precisava resolver coisas de outras pastas de sua vida, precisava estar ali como o que gostava de chamar de chefe.

. – Svedin sorriu ao abrir a porta, com seu visual de executiva impecável. – Desculpe te fazer esperar.
– Não, eu peço desculpas por não ter avisado que viria. – Ele sorriu, seguindo a mulher para dentro. – Imagino que esteja bastante ocupada com tudo que tem acontecido.

Isabel se sentou em sua grande cadeira e indicou à um lugar, sorrindo polida.

– Tenho algumas suposições do que te traz de Mônaco aqui, mas gostaria de te ouvir primeiro. – Ela disse e sorriu, sentando-se.
– Sobre o assunto da nossa última reunião, a videoconferência. – Lembrou o finlandês. – Achei que seria melhor conversarmos pessoalmente sobre isso.
– Claro, imagino que sim. – Isabel assentiu com a cabeça. – Foi uma indicação pessoal sua, ela é ligada diretamente a você. De qualquer modo, não queria tomar qualquer decisão junto ao conselho sem a sua participação. E devemos nos reunir nos próximos dias, esse ponto é um dos principais em pauta.
– E qual a sua posição? – investigou.
– Eu não faço a linha sentimental, você sabe. – Isabel sorriu, inclinando a cabeça sobre o ombro. – E não estamos em um filme romântico. É a vida real. E essa grande bomba da Segunda Guerra caiu bem na minha mão. – apertou os lábios em um sorriso empático. – Sabe o tipo de postura que costumo ter, você já me conhece.
– Sei, sim. – assentiu. – Mas é um caso diferente. Os olhos do mundo não estão exatamente sobre o Pelicans. é um jogador de holofotes e duvido muito que permaneça aqui por muitos anos. Por que gastar fichas enfrentando essa batalha?
– A temporada mal acabou e já temos muitas sondagens quanto ele, aliás. – Isabel assentiu. – Então, acho que é uma batalha importante e que pretendo sim, usar todas as minhas fichas. – A executiva piscou. – O contrato expira logo, ou ele renova ou teremos mais um agente livre.
– Você está pensando em... – tentou perguntar, surpreso.
– Não. – Isabel o interrompeu e riu. – Não. Como punição? Não. Como disse, não sou sentimental ou estúpida. O conselho nunca permitiria uma ação dessas apenas por um caso com uma funcionária do time. É só mais uma, não tem tanto sentido atingi-lo dessa maneira. – A morena cruzou as pernas e apoiou os braços a mesa.
não é só mais uma. – puxou o colarinho da camisa, incomodado. – Nem é só mais um caso entre um jogador e uma funcionária do time, como diz.
– Só estou te contando, extraoficialmente, todas as peças que preciso analisar.
– Certo, então... – apoiou o cotovelo a cadeira e apoiou o rosto na mão. – Você mencionou sondagens. Alguma perspectiva para venda?
– Existe uma cláusula no contrato dele que torna isso complicado e delicado. – Isabel estalou a língua. – tem o time nas mãos, ele é quase inatingível aqui.
– É o preço de manter a maior estrela do hockey europeu em um time não muito grande, em uma cidade pacata escondida na floresta. – sorriu.
– Não gosto disso. – Svedin arqueou uma sobrancelha. – O contrato dele é cheio de armadilhas que nos deixam vulnerável e que prejudica o gerenciamento. Não sei como Lauri permitiu que fosse renovado por tanto tempo, dessa maneira.
– Até onde sei, o empresário é um tubarão e é, ao contrário de você, sentimental. – riu, mordendo o lábio inferior.
– Nunca tive qualquer notícia desse empresário. – Svedin deu de ombros. – Mas provavelmente terei em breve. O fato aqui é, temos uma pequena crise que eu facilmente resolveria se não envolvesse o jogador estrela. Não por mim, mas todos parecem temer desagradá-lo.
– Eu sei que não é parte da sua personalidade de gelo, mas... estou sentindo um pouco de chateação na sua voz? Talvez alguma amargura? – indagou, sorrindo de canto.
– Talvez sim, talvez não. – Svedin sorriu e se recostou a cadeira. – Eu não gosto dessa disputa de poder.
– Algo me diz que não vai ter uma vida muito fácil no Pelicans.
– Ele vai ter a mesma que qualquer outro jogador, sem mais ou menos. – Sentenciou Isabel.
– Por que ser ele na equação está te atrapalhando a resolver a questão? – Perguntou o loiro, curioso.
– Causar descontentamento em um jogador como ele pode trazer consequências ruins para o time e para nós. – Explicou ela, pensativa. – Há muitos boatos sobre o comportamento mimado, caprichoso do , dificuldade em aceitar ordens, boicote a técnicos.
– Mas não são só boatos?
– Boatos existem por alguma razão. Podem não ser totalmente verdade, mas não criam do nada. – Ela respondeu maneando a cabeça. – E nesse momento, precisamos que ele queira renovar e permanecer. Assim, com um modelo novo de contrato, as relações ficariam equilibradas, não seriamos tão reféns dos desmandos dele. Nesse momento, se ele quiser reagir mal a como vamos conduzir a situação com o caso dele, podemos ter um problema grande para renovar, ou perdê-lo sem qualquer benefício.
– Isso significa que vai manter no time para agradá-lo. – sorriu e estreitou o olhar. – Já sabe minha posição quanto a isso, mas... vai acabar fazendo o que acha que ele quer.
– Primeiro, não decido sozinha, temos um conselho. – Isabel listou, devolvendo o sorriso ao finlandês. – Segundo, vou fazer o que for melhor para o time, não tenho apego a jogadores com estrelismo.
– Não costumo ser essa pessoa, se contar a alguém, provavelmente eu negue. – ameaçou sorrindo, inclinando o corpo para frente, apoiando os braços a mesa. – Mas até onde sei e acompanho, não é esse jogador que está imaginando. Talvez seja a chave para que ele aceite seu contrato e assine. – piscou. – Conheço pessoalmente a situação e acho que há poucas coisas que ele não faria por ela.
– Pessoalmente? – Svedin indagou e desviou o olhar e sorriu fraco. – Ela te acertou com algumas balas perdidas? – A executiva estreitou o olhar.
e eu temos uma história, não é bem o que está pensando, mas ela existe. – Confessou e Isabel sorriu de canto.
– Por isso quis vir a Finlândia pessoalmente para participar das decisões? – Inquiriu a morena, mas não respondeu. – O que essa mulher tem? – Isabel riu fraco. – Um dos donos do time, a estrela do time... e não é que ela seja exatamente um padrão a seguir. Digo, não o que você costuma seguir, pelo menos. – Isabel riu com acidez. – Foi antes ou durante seu relacionamento atual?
– Eu não estou mais em um relacionamento. – Contou , sorrindo fraco.

Isabel riu, passando a língua pela bochecha.

– Impressionante.
– Não é o que está pensando. – Ele tentou contornar.
– Isso soa como conflito de interesses para mim. – Ela apontou, com voz suave.
– Nem tudo precisa de toda essa rigidez. – ficou de pé e caminhou até a grande janela com vista para a floresta, da sala de Svedin. – E não é o que está pensando. e eu temos uma relação complexa, com também. Os dois me odeiam, provavelmente. – Começou a contar, olhando para fora. – Mas não tenho intenção em misturar as coisas. Ela é boa aqui, boa no time e eu, pessoalmente, não vejo problemas em mantê-la. Principalmente se isso te ajuda com e seu contrato multimilionário.
– Eu vejo. – Isabel o respondeu de uma vez.

❄❄❄


Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia



Nos fones Vacation do Dirty Heads.
Era uma forma de tentar se concentrar no trabalho e esquecer a cena que havia acontecido há pouco naquele mesmo espaço. e . Ainda estava um pouco tonta sobre a reação do chefe, não esperava que a defenderia de uma demissão, muito pelo contrário. Talvez ele estivesse sendo sincero quando dizia não querer o mal de e apenas se divertir com as provocações. Um relacionamento como o dela poderia ser o trunfo perfeito para que a destruísse caso quisesse.
Mas não queria pensar nisso e sacudia a cabeça toda vez que o assunto lhe vinha a cabeça. Estava ignorando também como havia provocado , ou a reação do namorado. Queria não pensar, porque talvez assim, esquecesse e ninguém precisaria tocar mais naquele assunto. Não precisariam brigar, não precisariam visitar lembranças doloridas outras vez, principalmente quando estavam tão bem.
Era melhor se concentrar no Dirty Heads.

– Oi, . – Brienne Krause surgiu pela porta aberta, sorrindo.
– Brienne, certo? – ficou de pé. – Oi. Posso ajudar?
– Pode me chamar só de Brie. – A alemã sorriu erguendo os ombros. – Eu espero que sim.
– Bom, é só dizer. – garantiu, apontando para uma cadeira vazia, para que ela se sentasse.
– Okay, então. – A recém-chegada respirou fundo antes de começar. – Eu estou aqui para mídia, então tenho várias ideias de produção de conteúdo. Vídeos, trends, TikTok... mas eu estou bem perdida por aqui. Primeiro, eu não sei falar a língua. Segundo, sou alemã, mas já não trabalho com meu pessoal há muito tempo, não sei bem como fazer esse povo mais frio e sem carisma agir bem frente as câmeras. Também parece que todo mundo do time me ignora, eles nem olham pra mim.
– Brie. – tentou chamá-la.
– Eu passo e cumprimento, mas eles passam e me ignoram. – A alemã falava disparado, rápido e sem perceber as tentarias de de se comunicar. – Tudo bem, eu falei em inglês. Mas ninguém me disse que isso seria um problema, então eu...
– Brienne. – interrompeu, falando um pouco mais alto e conseguiu a atenção dela. – Vamos com calma, tá? E se possível, mais devagar. – A inglesa sorriu.
– Desculpe. – Brie baixou os ombros. – É que eu fico nervosa. Quase todo mundo fala finlandês comigo, eu fico tão perdida.
– Está tudo bem. – sorriu e esticou as mãos, tocando as mãos suadas e frias da alemã. – No início eles podem ser meio resistentes, mesmo. Eu passei por isso. – A inglesa riu, relaxando um pouco a outra. – , o capitão? Ele me ignorava, no sentido literal.
– É brincadeira? – Brie arregalou os olhos.
– Não, e quando eu tentei fazer algo legal, para ver se ele pelo menos conversava um pouco comigo, ele foi para o hospital e ficou afastado por dois jogos. – Contou a terapeuta, sentindo um gostoso saudosismo a invadir.
– E não foi demitida? – Arregalou os olhos a outra.
– Incrivelmente, não. – sorriu e ergueu os ombros.
– Bom, então acho que não estou tão mal. – Ela suspirou. – Não tentei matar ninguém ainda. Não por não querer, só para deixar claro.

riu, acompanhando a garota.

– Vou te ajudar com o time. – Garantiu. – Mas você precisa ser firme, não tenha medo de dar ordens se for necessário. Mas mostre que também respeita cada um e que eles são importantes. Mas nunca tenha medo de ser mais dura, caso eles não queiram te respeitar. – aconselhou a olhando nos olhos, enquanto Brie assentia. – Mostre quem você é e deixe que eles se aproximem aos poucos. Esse pessoal tem um pouco de resistência a coisas novas, que não conhecem, mas depois, tudo fica bem.
– É bom ter mais alguém aqui. – Sorriu Brie.
– Nem me diga, eu daria qualquer coisa para ter alguma outra mulher quando cheguei. – confessou. – Principalmente se fosse estrangeira.
– Como você conseguiu? Parece que eles te respeitam muito. – Brie se aproximou mais um pouco para sussurrar. – Até o capitão.
– Acho que só fui eu mesma. – torceu os lábios pensativa e ergueu os ombros. – Não tive muitos truques. Sempre ouvia, sempre conversava e explicava, me colocava com firmeza e não deixava qualquer um me atropelar. Às vezes eu era um pouco estúpida, mas acho que de alguma forma, funcionou. – A inglesa sorria a medida com que as lembranças a invadiam. – No meu primeiro dia, Petri, o treinador, me levou ao vestiário e quando ele me apresentou, eu o corrigi na frente do time todo. – Brie arregalou os olhos e assentiu. – Depois, no mesmo dia, veio perguntar o que tinha me trazido a Lahti e eu respondi que as contas.
– Você é tipo uma lenda. – Brie riu alto. – O terror dos empregadores.
– E o pior foi, quando um atleta se lesionou, o gerente e o treinador estavam comigo, dizendo o que achavam e como deveria ser conduzido o tratamento daquele atleta. Eu estava no Pelicans há um mês. – Narrou a terapeuta inglesa. – Eu perguntei a eles onde haviam se formado. A parte mais horrível talvez seja que apenas me dei conta disso quando o atleta disse que foi muito corajoso enfrentar eles assim.
– Olha, se você, com tudo isso não foi demitida... – Brie riu. – Agora acho que estou mais segura.
– Eu não tenho certeza se entendo isso como um elogio, mas... é, acho que você consegue. – maneou a cabeça.
– É, eu só não sei como. – Brie expirou cansada outra vez. – Como fazer que eles produzam conteúdo? Eles devem achar isso ridículo...
– E daí? – arqueou uma sobrancelha e a alemã a encarou perdida. – E daí se eles acham idiota? Bobo? Eles têm que fazer. – se recostou na cadeira e negou com a cabeça. – Aliás, eu duvido. Esses caras adoram uma piada, uma brincadeira, duvido se negarem.
– Acha mesmo? – Brienne se animou.
– Claro. – ficou de pé em um pulo. – E eu vou com você. Se eles não te obedecerem, eu tento convencer. E se não fizerem mesmo assim, o capitão obriga.
– E como vamos fazer isso? – Brie a olhou incerta e insegura.
– Deixe essa parte comigo. – sorriu de lado e maneou a cabeça.



❄❄❄


Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia



e Brienne caminhavam apressadas em direção ao rinque de treinos. a frente, confiante e animada, Brienne atrás, incerta, mas se sentindo amparada. Os jogadores já estavam no vestiário, o treino já era finalizado e Petri caminhava distraído, anotando coisas enquanto andava.

– Petri, olá. – o interceptou. O treinador ergueu o rosto e olhou de para Krause, depois para outra vez.
– O que você está aprontando agora?
– Nada além do meu trabalho, enquanto ainda tenho um. – respondeu, erguendo um ombro. – É o seguinte. Essa é Brienne Krause, você sabe. – Ao ser apresentada, Brienne ergueu uma mão, sorriu e acenou, mas foi ignorada por Petri. – E ela precisa gravar alguns conteúdos, como você já deve saber.
– E o que eu tenho a ver com isso?
– Você pode, como um ato de gentileza com uma nova colega, ir ao vestiário e avisar o time para nos encontrar na sala de conferência. – pediu, sorrindo e falando com doçura, Petri estreitou o olhar.
– E por que você não faz isso? – O treinador questionou.
– Porque eles estão se trocando, não vou entrar no vestiário e correr o risco de ver algum deles pelado. – explicou como se fosse óbvio.

Petri gargalhou.

– Claro. – O mais velho ria pelo nariz.

olhou rapidamente por sobre o ombro, encontrando a expressão confusa de Brienne, depois voltou a encarar o treinador, que ainda gargalhava.

– Já terminou? – questionou impaciente, quando ele parou para tomar fôlego.
– Ai, é que foi realmente uma piada muito boa. – O técnico ainda ria e bateu no ombro da terapeuta inglesa duas vezes. – Muito bom, . Você é engraçada.
– E então? – tornou a indagar. – Vai fazer ou não?
– Eu aviso. – Petri, que ainda ria, respondeu. – Não garanto que vão, mas eu aviso. – O treinador começou a se afastar. – Não quer ver algum deles pelado. – Petri continuava a repetir para si mesmo e rir, enquanto se afastava.
– Eu posso perguntar... – Brienne começou a falar, mas a interrompeu.
– Melhor deixar para lá. – Cortou a terapeuta, e a alemã apenas assentiu.

❄❄❄


e Brienne já estavam com todo o cenário preparado quando os jogadores começaram a entrar, em pequenos grupos ou duplas, ou sozinhos. Alguns animados e assim que percebiam os equipamentos e tudo que Brie tinha separado, faziam perguntas e pareciam animados em participar. Outros, se escondiam em cantos, falando baixo e torcendo o nariz para cada vez que alguém demonstrava empolgação.
deixou que Brienne desenrolasse, explicasse e tentasse convencer os atletas e ela parecia conseguir sem ajuda. Aleks estava em uma conversa empolgada com a alemã, quando Santtu se aproximou da amiga.

– Como tá a sua amiga? – Foi a primeira pergunta feita pelo defensor e o encarou de olhos arregalados.
– Eu queria mesmo falar com você. – cruzou os braços sobre o peito. – Vai me contar tudo. – Ordenou.
– Ela não te falou nada? – Santtu se surpreendeu e riu.
– Não, na verdade ela passou o domingo discutindo com o Louis e depois trancada no quarto. – deu de ombros. – Maisie é o pior ser humano do mundo de ressaca. Ela não estava acostumada a beber com gente como vocês.
– Gente como nós? – Santtu implicou, fingindo-se de ofendido e rolou os olhos. – A gente só conversou. – Santtu contou dando de ombros.
– Como assim? Isso é uma gíria daqui? – A inglesa o encarou perdida. – Vocês sumiram por muito tempo, depois daquela sua cantada super direta, e só conversaram?
. – O jogador apertou os lábios. – O que você quer que eu diga? Detalhes?
– Sim. – Ela assentiu e o amigo gargalhou.
– Pois você devia perguntar a ela. – Respondeu Santtu. – Eu até te contaria todos os detalhes sórdidos da coisa, mas ela é sua amiga também. – Disse com um sorrido ladino e fez cócegas no defensor.
– Você... – riu, negando com a cabeça. – O pior é que tem razão, acho que não quero detalhes sórdidos de um, nem do outro. Nunca vou me recuperar das imagens que minha mente vai criar.

Santtu riu.

– Escuta, ela e o seu amigo... eles tem alguma coisa? – Quis saber ele, meio sem jeito.
– Não sei dizer. – apertou os lábios. – E acredite, estou sendo bem sincera. provocou ele no sábado, ele pareceu ter ficado afetado por vocês terem ficado juntos, mas... não sei.
– Ela falou dele o tempo todo. – Santtu contou. – Eu teria ficado com ciúmes, se não fosse lance de uma noite.
– Você perdeu o medo? – o encarou. – Está me dizendo que seu lance com minha melhor amiga foi coisa de uma noite?
– Não, eu tô dizendo pra minha melhor amiga que meu lance com a garota no bar foi coisa de uma noite. – Santtu arqueou uma sobrancelha. – Achei que nessa altura você já conseguiria separar as coisas. – Brincou ele.
– Há, muito engraçado. – o empurrou pelo ombro.
– E você e ? Tudo em paz?
– Bom, sim. – respondeu, buscando o namorado, que encarava Brienne com expressão de poucos amigos. – Vamos ver até quando.
– Nossa, , que otimista. – Santtu riu chocado e o acompanhou.
– É só que... sei lá... – Ela hesitou e ergueu os ombros. – Hoje o apareceu para falar sobre a nossa situação. Disse que é da vontade dele que eu siga no time, mas quando o apareceu, ele começou a provocar. Disse que viu o beijo do Merelä naquele estacionamento. – Quando ouviu aquilo, Santtu apertou os dentes. – Não sei como seu capitão vai reagir a isso, então... apesar de evitar pensar a respeito, tô tentando me preparar para uma longa briga quando chegar em casa.
– Se precisar de um lugar para ficar, posso te emprestar o porão dos meus pais. – Santtu sorriu, abraçando a amiga de lado. – Hoje meu irmão caçula vive lá, mas a gente pode expulsar ele.
– Obrigada, amigo. – riu. – Vamos torcer para não chegar a tanto. Mas obrigada.



Depois de algum tempo, grande parte dos jogadores já havia ido por livre e espontânea vontade – para animação de Brienne, outros haviam sido convencidos e também já tinham participado. Faltavam apenas Otto, e Mikko. Os três estavam reunidos em um canto, ignorando tudo que acontecia e espantando Brienne com suas expressões fechadas, como cães raivosos. estava ignorando tudo por enquanto, ali era território da colega recém-chegada e não interviria a não ser que lhe fosse pedido.
Talvez Brienne lesse pensamentos, porque no instante seguinte, a alemã se aproximou da inglesa, anotando algo em seu tablet.

– Bom, acho que eu consegui a grande maioria. – Brie suspirou e baixou os ombros. – Menos o capitão. Vou dar uma desculpa sobre ele.
– Por que? – sacudiu a cabeça, confusa.
– Bem, sempre que chego perto ele me fuzila com os olhos, ou me lança um olhar tão feio que tenho vontade correr. – Explicou Brie. – Ele é um homem grande, não sei se consigo ser como você e encarar.
– Você tá com medo do ? – riu alto, apontando com o polegar para sua esquerda, onde estava o namorado. – Sério?
– É, sabe, todos eles ainda me parecem meio ameaçadores. – Brienne apertou os lábios e inflou as bochechas.
– É o que você vai fazer. – se aproximou e segurou os ombros da alemã, olhando em seus olhos. – Você vai até lá e vai dizer que ele precisa participar.
– Não. – Brie negou rápido. – Ele vai me destruir.
– Você vai trabalhar com esses caras, Brie. – falou mais sério. – Não sei como funcionava onde você trabalhava, mas aqui você está com jogadores de hockey. Eles perdem dentes durante o jogo e acham graça. Você precisa ser durona, ou vai ser engolida. – incentivou. – Vai lá. É só ir. é inofensivo, eu garanto.

Brienne assentiu, parecia mesmo assustada. A alemã respirou fundo e começou a caminhar em direção a e seus companheiros de revolta. Santtu, Jasper e Willy se aproximaram de , percebendo as movimentações, assim como os outros jogadores do time.

. Oi. – A alemã cumprimentou sorrindo. – Não queria incomodar, mas é que eu realmente preciso de você lá agora.

torceu os lábios e trocou um rápido olhar com Santtu, pensava que Brie devia ter sido mais firme.

– Eu não. – respondeu a alemã usando o mesmo tom desinteressado que utilizava com no início, como se aquela pessoa ou um garfo de plástico tivesse a mesma relevância.
– É que eu realmente preciso que você, o capitão, participe. – Brienne foi educada e tentava convencê-lo, falando docemente.

passou a encará-la com aquela expressão, inabalável e inatingível, de quem não liga, e que provavelmente faria Brienne correr dali. Mas ao contrário de quando tentava interagir com o jogador no início de tudo, agora Brie não estava mais sozinha. Em uma das tentativas de fingir que Brienne não estava em sua frente, lhe pedindo algo, ergueu o olhar e cruzou com . A inglesa fez um sinal, dirigindo a ele um olhar e expressão repreensiva, que respondeu dizendo outra vez a Brie que não faria, mas encarando a namorada.
A alemã voltou para junto da inglesa, cabisbaixa e chateada.

– É, talvez na próxima ele esteja mais interessado. – Ela sorriu sem jeito, envergonhada pela negativa do capitão.
– Vou te mostrar como se faz. – estreitou o olhar e puxou Brie pela mão, aproximando-se de Brad, Otto e Mikko.

Quando perceberam a aproximação da inglesa, os três jogadores a olharam, mas rapidamente fingiram a ignorar. deu as costas para a namorada e o cutucou no ombro, até que se virasse para elas.

– Essa é a Brienne. – apontou para a garota, dois passos atrás. – Ela pediu algo a vocês, mas talvez pelo sotaque, não entenderam.
– A gente entendeu, mas é que a gente não vai. – Otto respondeu orgulhoso. – Eu não faço vídeos.
– Certo, outros jogadores, até da mesma posição, mais simpáticos, agradáveis e afim de jogo de equipe fizeram. – alfinetou. – Então talvez a sua pirraça não seja algo relevante positivamente, mesmo.

Ao ouvir isso, estreitou o olhar e Mikko cedeu.

– Acho que vou fazer. – Garantiu o jogador, coçando a nuca. – Eu só não levo jeito pra coisa.
– Ela te ajuda. – falou firme, ainda com olhos fixos no namorado. – Mais alguém?

Otto desviou o olhar e cruzou os braços, trancando a expressão em um bico.

– Eu não. – foi firme, cruzou os braços também e encarou de olhos estreitos, a olhando de cima.
– Tudo bem... – Brie tentou amenizar, puxando para trás, mas a terapeuta a puxou para mais perto em um solavanco.
– Ela precisa do capitão no vídeo, então o capitão tem que estar no vídeo. – respondeu falando devagar e com firmeza.
– Eu não gravo vídeos. – sentenciou.
– Esse você grava. – bateu o pé.
– Não vou. – a encarou de mais perto.
– Vai sim.
– Não.
– Vai gravar.
– Nem em sonho. – negou com a cabeça e apertou os lábios.
– Você vai.
– Esquece.
– Vai sim.



– Okay, , é só fazer o que combinamos, não é muito difícil. – Brienne orientou pela última vez.

direcionou um olhar matador para a namorada, atrás da câmera, suspirou e dirigiu outro para Brienne, que apenas respirou fundo.
Os jogadores precisavam responder perguntas simples, enviadas pelos fãs do time. Era aleatório e parecia engraçado. Em outra circunstância sabia que o namorado adoraria responder aquelas perguntas, mas naquele momento estava odiando tudo. Entendia a recusa dele e conhecia bem os traumas do jogador, mas seu lado terapeuta não podia deixar que aquilo o atrapalhasse na rotina de trabalho. Brad precisava enfrentar aquilo e todas as pessoas que o criticavam.

– É só escolher um papel e responder à pergunta. – Brie orientou outra vez.
– Por que eu preciso fazer essa coisa estúpida? – Brad reclamou depois de ler a pergunta. – Todo mundo já fez isso hoje.
– Na verdade, alguns fizeram coisas diferentes, então... – Brienne respondeu e viu o jogador bufar.
– Okay. – sacudiu a cabeça e falou baixinho, mas conseguiu ler seus lábios e entender o xingamento que escapuliu dos lindos lábios rosados do capitão. – O que eu mais ouço é Drake, The Weeknd e Dire Straits.

respondeu sem carisma e rápido e logo pulou da cadeira.

– Você pode fazer melhor. – se aproximou e o impediu de continuar.
– Se a gente só respondesse mais umas duas, acho que seria bom... – Brienne tentou convencer com seu tom amistoso e hesitante.
– Ele vai responder mais duas, com um pouco mais de carisma. – enfatizou, sob o olhar chocado da alemã. respirou fundo, apertou os dentes e voltou a se sentar.

O capitão remexeu a caixa com perguntas e dirigiu a câmera e a namorada um sorriso forçado e propositalmente ruim. negou com a cabeça e o ameaçou com o olhar, mas ignorou.

– O que mais faço quando não estou no gelo é ficar com meu cachorro, amigos e com a minha namorada. – lançou um olhar atravessado para a inglesa, que sorriu debochada. – Bem nessa ordem. – Ele implicou e mudou a feição sorridente para uma irritada.

ergueu as sobrancelhas e sorriu, feliz por ter devolvido um pouco do ataque a ela.

– O meu jogador favorito é o Joe Thornton. – respondeu com mais simpatia. – Ele é o melhor.

– Perfeito. – Brienne respirou aliviada. – Muito obrigada. Foi ótimo. Não ótimo, mas possível. Obrigada.

não respondeu.

– Desde quando você escuta Drake, The Weeknd e Dire Straits? – questionou baixo, assim que o namorado se aproximou. – Você só tem escutado Taylor Swift.
– Fica quieta, ninguém precisa saber. – Ordenou o capitão.



❄❄❄


Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia



No final do dia, Aleks, Jasper e Willy saiam do treino juntos. Santtu ou Atte não estavam com eles, nos últimos tempos Hade passava mais tempo com outros caras do time do que com seus melhores amigos antigos, para infelicidade de Aleks. sempre estava com Santtu e Atte, ou com , para confusão do ala. Atte sempre estava ocupado com sua nova namorada, com coisas da marca ou com planos de voltar para a faculdade. Por isso restava a Aleks a companhia dos caras comuns, e naquele dia, os escolhidos eram o goleiro reserva e outro ala, o que na opinião de Haatanen, era uma queda de padrão e tanto.
O trio conversava sobre as mudanças no gelo, animados com o caminhar da temporada, com as novas chances e com a ideia de conseguirem manter o bom ritmo e chegarem bem aos playoffs. Quando de repente Willy Mankinen empacou no lugar, no meio da porta, travando os outros dois jogadores. O ala abriu os braços e os impediu de passar, arregalou os olhos e abriu a boca.

– Willy, qual é? – Hade reclamou. – Eu queria chegar em casa hoje.
– Cala a boca. – Ordenou o ala de olhos azuis.
– Willy, isso não é um jeito legal de falar com um amigo novo. – Jay o repreendeu, torcendo os lábios.
– Será que vocês não podem prestar atenção? Nem um pouco? – Mankinen falou sério, apontando com o queixo para algo que acontecia no estacionamento.

Os outros dois seguiram o jogador com o olhar, até também notarem a cena. e caminhavam juntos pelo estacionamento, em direção ao carro do jogador. Os dois se empurravam de brincadeira, pelo ombro e riam de qualquer coisa que o trio não conseguia entender.

– Ele até que sabe rir. – Jay ergueu os ombros. – Chocante, mas okay. É o .
– Não, idiota. – Willy chacoalhou a cabeça. – Não é isso. Olhe bem. – O jogador loiro segurou o queixo de Jasper, forçando-o a fixar o olhar no casal. – Ele está rindo como um bobo, com a garota que acabou de forçar ele a gravar um vídeo.
– Bem notado. – Aleks assentiu estreitando o olhar. – Talvez ele só percebeu que era legal gravar o vídeo. – O ala continuou. – Eu mesmo. Adorei. Já falei com a Brie, quero fazer todo dia. Tipo o garoto propaganda da Pelicans.
– Será que eu tenho os únicos neurônios funcionando aqui? – Willy rolou os olhos e bufou. – Que falta me faz amigos melhores. Vejam só! Eles parecem um cara e a namorada de outro cara?
– O tem uma namorada também, ele diz. – Hade deu de ombros. – Então seriam o namorado de alguém e a namorada de outro cara. Mas mesmo assim, Willy, não acompanhei o raciocínio. – Admitiu Aleks e Willy rolou os olhos outra vez.
– Aquela é a namorada do Merelä, não é? – Willy apontou, olhando de Jasper para Haatanen, com olhar conspirativo. – E o . Que segundo você, Aleks, também namora.
– É, ele não tem me contado muita coisa, mas... – O ala mais jovem coçou o queixo pensativo.
– Será que eles estão tipo tendo um caso? – Jasper abriu a boca chocado. – Ih, não sei não. – O goleiro negou com a cabeça. – Essa parada tá muito estranha, meu brother.
– Eu não ficaria feliz se a minha namorada ficasse andando assim com o capitão do time. – Willy estreitou o olhar. – E eu sempre achei os dois bem estranhos, isso sim.
– Estranhos? – Aleks arqueou uma sobrancelha.
– É. – Willy deu de ombros. – Eles sempre pareciam estar falando algo proibido. De papinho pelos cantos, ou emburrados. – O ala deu as costas ao casal rapidamente e segredou. – E não era Merelä que ela gritava a noite, no apartamento. – Willy voltou a encarar o casal, girando em seu próprio eixo e cruzando os braços sobre o peito. – Mas eu posso apostar que nome era.
– Será que eu aviso o Mere? – Jasper coçou a barba.
– Calma. – Aleks se virou para os dois jogadores quando o casal entrou no carro. – A gente não sabe. Pode ser só amizade. não tá mais nessa, já até tem uma namorada nova. – O ala bufou e rolou os olhos. – Sobre quem eu não sei nada, óbvio. Como já disse.
– Isso me cheira a mentira. – Willy olhou de lado para Hade. – E aquilo ali não tem cheiro de amizade. – O ala cruzou os braços sobre o peito e Aleks desviou o olhar. – Do que você sabe? – Inquiriu.
– Eu não sei de nada. – Aleks tentou se defender. – Só sei que o me disse que não tinha interesse nela mais.
– Mais? – Willy estreitou os olhos e aproximou-se mais dos outros dois, puxando-os para perto de si. – Isso se tornou algo muito maior. Em algum lugar em meio à névoa, eu sinto que alguém foi traído.
– Tipo o com a , ou a com o Merelä? – Aleks tentou fazer as contas e viu Willy sacudir a cabeça.
– Alguém está comendo esse bolo, e não é o Merelä.
– Mas o que a gente faz? – Jasper quis saber. – Conta pra ele?
– Eu não vou entregar o . – Hade falou firme, se afastando dos dois. – E o Mere nem joga mais no time.
– A gente precisa ter certeza antes. – Willy falou pensativo. – Quem saberia se fosse real?
– Atte. – Jasper sugeriu, erguendo um dedo e sorrindo como se fosse uma ideia genial.
– Aham, e é claro que o melhor amigo do entregaria ele para a gente. – Willy rolou os olhos.
– Ei, o melhor amigo do sou eu. – Aleks protestou.
– Ah tá. – Willy olhou de lado para o mais jovem e rolou os olhos de novo.
– O Santtu saberia. – Jasper ergueu o dedo outra vez. – Ele é o melhor amigo dela aqui, depois vem o Mere.
– Santtu falaria com você. – Willy coçou a barba pensativo. – E ele é amigo do Merelä, então se ele soubesse de algo, já teria contado a ele. Se o Merelä não sabe, é porque o Santtu não sabe. – O ala sorriu como um vilão de filme infantil. – E se o Santtu não sabe, ele pode ajudar a descobrir. Ele sim é alguém de peso.
– Muito bem pensado. – Aleks assentiu. – Mas e se for verdade?
– A gente conta pro Mere. – Jay decidiu.
– A gente poderia colar fotos deles juntos no centro. – Aleks sugeriu com seu olhar maníaco.
– Mas não era você quem não queria entregar seu amigo? – Willy indagou, encarando o atleta com estranheza.
– É, mas se ele me deixou de fora disso, eu preciso mostrar que sei da verdade. – Aleks gesticulou, tentando fazer com que os outros compreendessem seu plano mirabolante.
– Acho que só contar para o Merelä é o suficiente no momento. – Willy assentiu, depois de trocar um olhar suspeito com Jasper, e ignorar o plano de Aleks, como se ignora o plano de vingança de uma criança. – Bem, amigo, agora parece que temos um mistério para resolver.
– E quem a gente é? A turma do Scooby-doo? – Jasper riu.
Os desvendadores de mistérios. – Aleks falou, erguendo as mãos como quem anuncia algo grandioso.
– Isso é ridículo. – Willy riu.
– Eu gosto. – Jasper sorriu. – Os desvendadores de mistérios. Tadãmm. – Jay apresentou. – É grande.
– Não vamos chamar assim. – Negou Willy.
– Vamos. – Aleks assentiu.
– Nunca. – O ala tornou a negar. – De jeito nenhum.



21 - I'll crawl home to her

When my time comes around
Lay me gently in the cold dark earth
No grave can hold my body down
I'll crawl home to her
(Hozier - Work Song)




Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia



Finalmente a noite caía em Lahti, o céu era coberto por nuvens escuras e acinzentadas que denunciavam o mau tempo, o frio e a ventania. Em alguns pontos no horizonte a luz do sol teimava em aparecer, furando buraquinhos alaranjados no grosso cinza. O interior do carro era quente e confortável, silencioso. Estavam presos em um engarrafamento, por causa de um engavetamento que tinha sido causado pelo gelo no asfalto. Em uma cidade pouco movimentada como Lahti, engarrafamentos ou trânsito lento era pouco comuns. estava no banco do carona, dirigia com paciência, em silêncio, mordendo o canto dos dedos vez ou outra, enquanto a inglesa observava a paisagem, distraída.
Às vezes, durante a viagem – geralmente rápida, mas que naquele dia estava absurdamente devagar – havia pensava sobre todos os acontecimentos intensos do dia e se perguntava se uma tempestade como a que parecia se formar no céu estava ou não a caminho de seu relacionamento. Não queria que a vida dos dois se tornasse uma eterna briga, sempre em guerra e no meio do caos. Não queria brigar, mas temia que não tivesse a mesma ideia.

– Então. – A inglesa tossiu, tentando fazer a voz soar mais firme e o namorado a olhou rapidamente, voltando a se concentrar no trânsito congestionado por causa da neve. – Quer falar sobre o dia? Porque teve aquilo...
– Não. – respondeu rápido.

virou para frente e respirou fundo, elevando e baixando os ombros. a olhou de canto, pensou e repensou a pergunta da namorada. Talvez ela quisesse falar sobre a cena com , talvez tivesse se chateado com o beijo na frente do chefe, mesmo não tendo dito nada no momento. Ou talvez fosse sobre sua recusa para a gravação idiota com a garota nova.

– Mas se você quiser, eu quero. – Ele cedeu e o olhou e sorriu.
– Eu só estava pensando que... – começou depois de respirar fundo. – Sobre aquilo do , se você quiser... se tiver se chateado comigo por eu...
– Com você? – Ele se surpreendeu, a olhando rápido e voltando ao foco na rodovia. – Óbvio que não. Por que? Claro que não, .
– Eu não sei, sei lá. – ergueu os ombros e as mãos, remexendo-se no banco. – Eu achei que sim.

parou o carro em um semáforo, inclinou-se na direção da namorada e a puxou com delicadeza, beijando sua têmpora.

– A gente já tem tanta coisa pra brigar, não precisa inventar mais. – soprou contra a pele dela. – Nem estou pensando nisso mais. Pra mim, resolvi quando beijei você na frente dele. – Confessou e viu a namorada sorrir.
– Fiquei com medo de ter uma briga me esperando em casa. – compartilhou seu anseio baixinho e projetou o lábio inferior.
– Vamos combinar de só brigar com os outros de agora em diante. – propôs, sorrindo. – E não entre a gente.
– Está bem. – concordou, sorrindo também.

O jogador deu partida e seguiram seu trajeto, enfim escapando do engarrafamento, em silêncio, até pensar em algo suficientemente bom para dizer.

– O que a gente vai fazer hoje? Com Louis e Maisie? – O capitão perguntou, esforçando-se em parecer animado.
– Não sei, na verdade tudo que eu queria era um banho quente e dormir. – Respondeu a inglesa. – Será que seria muito mal educado?
– Eles são seus amigos, você quem sabe. – riu, dando de ombros. – Chame o Santtu para acompanhar e te substituir.
– Você quer causar um homicídio, não é? – riu, afagando a nuca do namorado enquanto ele dirigia. – Louis zangado deixa a Mai de mal humor. Eu não consigo ter energia para ela irritada depois de um dia cheio de trabalho.
– Qual é a coisa entre eles? – dividia a atenção entre a namorada e a estrada.
– É até difícil de explicar. – expirou um riso. – Eu conheci o Louis na faculdade, porque Maisie e ele estavam saindo. – O capitão a mirou chocado. – Não durou muito porque eles eram opostos. Maisie era uma bagunça, fazia as coisas como o vento mandava, vivia o momento, nunca se planejava, erra nervosa e irritada. Brigava no trânsito e nas filas para comprar comida... – A inglesa riu ao contar.
– Não mudou muito, então. – provocou e sentiu a inglesa puxar seu cabelo com mais força, como retaliação.
– Enquanto isso, o Louis era quase um aristocrata britânico. – continuou. – Sempre com seus óculos de grau, roupas sociais, cabelo penteado perfeitamente, sapatos limpos e alergia a ácaros. Depois, com o tempo, construímos uma amizade bonita e forte, Maisie e ele, apesar de quase sempre trocarem farpas, também cultivaram esse sentimento. Mas vez ou outra acontecia de ficarem juntos.
– Ele gosta dela. – Comentou o capitão.
– Não, deve ser só o que ele disse... proteção por conhecer o potencial destrutivo das decisões da Maisie. – sorriu, negando com a cabeça. – Já estão nessa há anos, confie em mim. Ele não gosta dela desse jeito. Não deve gostar.
– É o meu lugar de fala, sei bem como é, conheço aquele jeito de olhar. – insistiu, olhando de lado para a namorada. – Ele é apaixonado por ela.
– Eu duvido. – negou.
– A gente devia apostar.
– Você acha mesmo que conhece meus dois melhores amigos, melhor que eu? – negou com a cabeça e retirou a mão que afagava a nuca do namorado. – Como você consegue viver com essa coisa tão grande que é o seu...
– Eu achei que você gostasse dessa coisa tão grande, porque nunca reclamou do tamanho. – Ele a olhou atravessado, fingindo ter entendido errado.
– Seu ego. – A inglesa completou, rindo incrédula. – Seu ego, .
– Já disse que amo quando você fica brava e me chama pelo nome todo?
– Você não consegue falar sério nunca? – bufou irritada quando os dois começaram a subir a rua da casa do jogador.
– Eu falo sério. – a olhou afetado. – Mas você começa a falar de coisas grandes, o que quer que eu pense?
– Meu Deus, como você é irritante e parece um adolescente. – A terapeuta apertou as têmporas e fechou os olhos. – Às vezes acho que devia receber insalubridade por gostar de homens.
– Você devia ter me conhecido na adolescência. – continuava a tagarelar, ignorando a irritação da inglesa. – A gente ia ser um casal bonito e eu ia tirar muita onda por namorar alguém de fora do país.
– Às vezes eu concordo com a Maisie sobre você.
– Você pode concordar com ela agora, ela apoia a gente. – lembrou quando passaram do portão. – Ela quem me mandou atrás de você, porque sabia que você ia fazer besteira.
– A Maisie? – gargalhou. – Eu duvido que ela te ajudaria.
– Pergunte a ela se quiser. – empurrou a namorada devagar, antes de saírem do carro.
– Até ela, que te conhece há dias, se irrita com você. – voltou a falar, parando do lado de fora do carro para esperar que o namorado a acompanhasse. – Sua irmã se irrita com você, ela te chama de bundão.

parou de andar e deu as costas para a inglesa.

– Olha aqui. – Ele pediu olhando para ela por sobre o ombro. – Esse é o motivo. Não por eu ser chato.
– Eu sei disso, gato. – se aproximou do namorado, ainda de costas, e estalou a língua ao chamá-lo daquela maneira. – Se procurar bem, tem marcas das minhas mordidas aí. – Sussurrou e desferiu um tapa estalado na bunda do namorado.

riu chocado e tentou alcançar a namorada para devolver, mas também correu, entrando na casa mais depressa. Dentro da grande sala da casa, a brincadeira atiçou Felix, que confuso começou a correr atrás do dono. soltava pequenos gritinhos a medida com que o namorado conseguia se aproximar, tentando usar o sofá como barreira.

– Foi fraco. – tentou se justificar, rindo e fugindo dele. – Foi fraco. Você não pode devolver, porque foi um tapinha fraco.
– Quem disse que eu ligo. – deu de ombros e tentou alcançar a namorada, passando por cima do sofá.

correu, passou atrás da grande árvore de natal que ainda estava montada na sala, a seguiu pela sala de jantar. Mas quando a terapeuta conseguiu escapulir pela cozinha, o central esbarrou nas cadeira e tropeçou, se embolando entre elas.

– Mas o que é isso? – Maisie surgiu das escadas. – É você quem chegou? Cadê a ? – Maisie perguntou, desdenhando do jogador e rolando os olhos ao fazer a segunda pergunta.
– E você ainda tá na minha casa? – devolveu de modo infantil, fazendo careta.
– Eu tô aqui. – A terapeuta surgiu da cozinha, esbaforida, ainda rindo. – Estávamos brincando.
– Brincando? – Maisie arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços.
– É, coisa que gente normal e feliz faz. – respondeu, apoiando os braços ao encosto de uma das cadeiras. – Desculpa, você não deve saber muito sobre isso, né?

Maisie rolou os olhos depois de lançar um olhar mortal para o jogador russo.

– Eu preciso sair de casa. – A hóspede se aproximou de e disse. – Ficar em casa o dia todo com Louis tem me enlouquecido. Hoje ele implicou com o jeito que eu mastigo cereal.
– Mesmo? – sorriu torto. – Eu tô um caco hoje, confesso. – Desabafou a terapeuta. – Será que a gente não pode só tomar um banho e assistir um filminho?
– É sério? – Maisie a encarou como se a amiga tivesse ofendido alguma minoria.
– É segunda-feira, Mai.
– Por que não chama o Santtu? – sugeriu, aproximando-se.
– Eu vou agredir ele. – Maisie apontou para o jogador, falando com .
. – A terapeuta se voltou para o namorado, repreendendo-o com um olhar.
– Juro pela minha mãe que não foi maldoso. – riu, depois se aproximou mais das duas, abraçando a cintura da namorada. – Mas não é uma ideia tão ruim. E não devia ser uma ofensa, já que ficou com ele.
– Mas é, porque metade do mal humor de hoje é porque Louis acha que sabe o que é melhor pra mim, e quer controlar até quem eu beijo em um bar, bêbada. – Reclamou Maisie.
– Onde ele está agora? – A terapeuta inglesa perguntou, apertando os dentes.
– Não sei, deve ter caído no banheiro e desmaiado. – Respondeu a outra, estressada.
– Ele deve estar com ciúmes porque o Santtu é bonito, e todo mundo que vem para cá, sempre acaba com um finlandês. – sorriu vaidoso. – Mesmo que seja só de consideração.
– Então a devia ter ficado com o Merelä, né? – Maisie provocou e fechou a expressão. – Ciúmes? De mim? Louis não me suporta. Ele só quer ter controle de tudo e todos. Isso é irritante. – Bufou ela, resignada, apertando as mãos em punho.
– Mas... e se fosse verdade? – sondou, comprando a teoria do namorado. – Foram tantas coisas, tantas idas e vindas...

Primeiro Maisie gargalhou, depois negou com a cabeça e então congelou por dois segundos e arregalou os olhos.

– Eu prefiro morrer.

❄❄❄


Quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Hotel Scandic Pori
Pori – Finlândia



O time tinha atravessado o país, até a borda, para enfrentar o HC Ässät Pori Ou em Pori. Era a primeira vez que fazia uma viagem longa acompanhando o time. A inglesa estava decidida a aproveitar cada minuto que tinha com a equipe, até que fosse tomada a fatídica decisão sobre seu destino. Ainda não havia nenhum sinal de qualquer novidade, por mais que perturbasse o juízo de Petri atrás de novas informações a cada duas horas.
Maisie e Louis ficariam em casa, já que seria uma viagem curta e torcia para que os dois amigos não se matassem no percursos. Inessa estava na cidade, por um pedido de e havia trago consigo Ema e Alicia, na tentativa de entreter os visitantes ingleses. A família de parecia empolgada em enfim ter mais contato com outros ingleses e obviamente, descobrir mais sobre . Mas a terapeuta preferia concentrar sua atenção na viagem e no jogo, não queria pensar nos horrores ditos por Maisie e Louis e como cada palavra teria potencial de fazer Ema mudar de ideia sobre apoiar o relacionamento do filho com a estrangeira.
O hotel escolhido pela equipe era chique, grande, algo com quatro estrelas e estava maravilhada, ao contrário do resto do time, que parecia tão acostumado ao espaço quanto eram com o centro de treinamento em Lahti. A cidade era absolutamente fantástica, em alguns aspectos parecia mais simples do que Lahti, talvez a arquitetura das casas. Mas era cheia de pontes bonitas e igrejas antigas e tinha um belo mar. Um grande e bonito mar, que não era muito parecido com as praias do resto da Europa, ao menos não as que conhecia. Era como se estivesse prestes a entrar em um bosque e então se chegava na praia.
Depois de ficarem perdidas no percurso de saída do ônibus até o balcão do hotel, Brie e chegaram junto ao grupo da comissão técnica e os atletas. Petri franziu o nariz quando as viu, mas estava lentamente ensinando a nova colega a ignorá-lo.

– Com quem é que eu vou ficar? – perguntou quando um membro da comissão entregou o cartão de acesso a seu quarto.
– A gente vai... – que prestava atenção na namorada, do outro lado do grupo, começou a falar.
– Com a Brienne, é óbvio. – Petri interrompeu e começou a falar, apontando para e depois olhando torto para . – E só para constar, meu quarto fica entre o seu – O treinador apontou para . – e o seu. – Disse apontando para . – E eu tenho sono leve, tenho filhos adolescentes e sou muito bom com vigilância. – Ameaçou.
– Por que você precisaria vigiar o nosso quarto? – Brienne perguntou, perdida no assunto e Petri engasgou.
– Ótima pergunta, Brie. – cruzou os braços sobre o peito e lançou um olhar desafiador para o treinador.
– Ora, porque... porque... – Petri resmungou nervoso, tentando afrouxar o nó da gravata. – Não interessa o porquê. Todos subindo, temos hora. Vamos, subindo. Agora. – O treinador bateu as mãos, espantando o grande grupo.

trocou um olhar divertido com o namorado ao passar por ele, em direção aos elevadores. a respondeu com uma expressão firme, como quem quer dizer que ela devia respeitar o treinador, para em seguida rir também. Entraram no elevador, , , Brie, Aleks e Santtu.

– Esse hotel é absolutamente fantástico. – comentou animada e sorriu, apoiando uma das mãos disfarçadamente a cintura da namorada. – Não sei porque nunca viajei com vocês. É lindo, a cidade é incrível. Simples, mas incrível. O hotel tem até sauna sabia?
– Eu amo esse hotel pelas lendas. – Aleks continuou o assunto, ainda mais empolgado. – Ele é o melhor da cidade, claro. Mas é o mais assombrado.
– Isso é besteira. – Santtu rolou os olhos.
– Aleks, se concentre no jogo. – pediu, parecendo sem paciência para o melhor amigo.
– Não, espera. – protestou. – Que tipo de lenda? – A terapeuta poderia apostar que aquilo devia ser para atormentar Brie ou ela, por isso resolveu dar corda.
– Algumas pessoas já morreram aqui, sabe? – Aleks se enfiou entre o grupo, colocando-se na frente da porta, para que pudesse olhar para todos. – De coisas idiotas, tipo infarto, mas uma moça se jogou da janela. Décimo sexto andar.
– Esse não é o andar que a gente está? – Brie percebeu, checando seu cartão.
– Justamente. – Aleks acenou devagar, maquiavélico. negou com um movimento de cabeça e rolou os olhos, pela previsibilidade do ala.
– Você pode parar? – pediu, talvez por estar com a mesma certeza que a namorada, pensou ela. – Não tem graça brincar sobre a morte dos outros.
– Mas quem está brincando? – Aleks levantou os ombros. – É a realidade. Ela pulou porque alguém partiu o coração dela. Dizem que foi um dos donos do hotel que a seduziu e enganou, dizendo que ia se casar com ela.
– E isso tem quantos anos? – riu, debochando. – Foi tipo, em mil e oitocentos?
– Tipo, dois mil e nove, ou oito. – Santtu respondeu, distraído. Quando a amiga o encarou com olhar repreensivo o jogador ergueu os ombros. – O quê? Mas é verdade. Alguém se jogou do décimo sexto, mesmo.
– Tem uma página sobre isso na internet, se não acredita em mim. – Aleks cruzou os braços, desafiando a inglesa. – A choradeira de Pori.
– Que patético. – negou outra vez e estalou a língua. – Não podia inventar um nome melhor?
– Aleks, já chega. – falou com mais firmeza, quando o elevador abriu as portas e o grupo saiu da caixa metálica. – Não tem graça.
– Ei, é verdade. – Brie ergueu o celular para o grupo, mostrando a tela rapidamente. – Tem mesmo várias pessoas falando sobre isso na internet. – A alemã começou a ler coisas no celular. – Até caça-fantasmas.
– Eu acho que isso é exagero e invenção do Aleks. – instigou, sorrindo de lado.

Estavam Aleks de frente para o grupo, e do lado oposto, e Santtu, atrás de e Brie.

– O que tem a ver ela chorar? – questionou. – Por que choradeira?
– Ai, , mas como você é fraca de cabeça. – Aleks bateu duas vezes na própria testa, impaciente. – Ela chorava porque foi abandonada e enganada. Ela se jogou da janela e caiu lá, no meio do asfalto. Dizem que a queda fez a parte de trás do corpo dela quase desmanchar, mas o rosto ficou intacto. E ela era linda.
– Como qualquer lenda, sobre qualquer mulher, em qualquer lugar no mundo. – rolou os olhos.
– Dizem que quando você dorme aqui, se for alguém que enganou o magoou alguém, ela vem atrás de você. – Santtu completou com ar sombrio.
– Santtu, é sério? – balançou a cabeça. – Até você? Isso é ridículo.
– Eu não acho que seja uma ideia muito boa duvidar. – voltou a falar, seu tom era cauteloso e a namorada o encarou com olhos estreitos. – Essas coisas espirituais... eu não gosto de brincar com isso.
, é claro que isso é só uma besteira. – voltou seu olhar para Aleks. – E é claro que Aleks está tentando assustar Brie e eu com isso. Qual é a próxima? Ela aparece no espelho se eu invocar o nome três vezes?
– Não sei, nunca tentei. – Aleks ergueu os ombros. – Eu tenho amor à vida.

riu.

– Eu não acredito muito em lendas. – Brie começou a falar. – Mas eu já vi muitos filmes de terror e sei que não é uma boa ideia desafiar entidades.
– É sobre isso. – Santtu concordou, estalando os dedos. – Eu acho que você tem toda razão.
– Eu não tô desafiando a entidade, tô desacreditando o Aleks. – respondeu, ignorando o tom cauteloso dos amigos.
– Será que a gente não pode falar de outra coisa? – O capitão pediu. – Sauna, praia, filhotes de cachorro?
– Eu adoraria dormir com você essa noite. – Aleks apontou para a terapeuta, que torceu os lábios e levantou o queixo. – Só para ver sua cara de pavor quando começar a ouvir as janelas batendo, os passos no corredor, o vento entrando pela janela que a choradeira se atirou. Até ouvir o choro dela tão perto de você, que vai duvidar se é mesmo ou não real, porque vai estar sentindo as lágrimas dela molharem o seu rosto.
– Pessoal. – Atte surgiu atrás do grupo de repente, tocando o ombro de .

O capitão se afastou na velocidade da luz, desviando do toque de Atte e soltou um grito alto e estridente, praticamente voltando para os elevadores. Brie, Santtu e se sobressaltaram com a aproximação repentina do goleiro, mas os três, incluindo Atte e Aleks, observavam a reação do capitão do time com surpresa.
, quando percebeu ser o melhor amigo quem o tinha tocado, inclinou o corpo, se apoiando nos joelhos e colocou a mão sobre o peito, dirigindo um olhar atravessado para o grupo.

– Esqueci que ele tem medo dessas coisas. – Aleks soprou, apertando os lábios.
– Ele tem? – riu, liberando o riso preso por causa da reação do namorado, sendo acompanhada por Brie e Santtu, mas de modo mais discreto. – Ai meu Deus. – A inglesa ria com a mão sobre a barriga, até ser empurrada pelo ombro por Atte, que a advertiu com o olhar. – Que foi? – O goleiro indicou com o queixo o central, que ainda tinha cabeça inclinada e respirava fundo, apoiando-se nos joelhos, empalidecido.

tentou engolir o riso, mordendo os lábios e se aproximou do namorado, esfregando suas costas.

– Respire devagar, soltando pela boca. – Pediu ela. – Vai se sentir melhor. – não respondeu.
– A choradeira fez sua primeira vítima. – Aleks apontou, balançando a cabeça.
– Atte fez. – tentou conter o riso. – Talvez devêssemos chamar ele assim de agora em diante.
– Não tenho culpa se o papo de vocês é estranho. – O goleiro ergueu os ombros e o grupo riu.
– Isso não teve graça. – se endireitou enfim, ainda respirando fundo. – Esse assunto não é engraçado. – O capitão gesticulou.
– Tranquilo, Papi. – brincou, provocando o namorado. – Essa noite ela não vem te pegar. – A inglesa recebeu um olhar atravessado do namorado.

O grupo se dispersou, ainda respirava fundo, com a mão sobre o peito, ao entrar no quarto que dividiria com Santtu. Aleks ficaria com Atte e Brie com , e todos precisariam se aprontar logo, para chegarem a arena, que ficava cerca de dez minutos do hotel.
Assim que entraram no quarto, se jogou sobre a cama, ainda rindo da reação do namorado.

– Dá pra acreditar? – começou a falar em voz alta. – Um homem tão grande, tão apavorado.
– Eu aprendo todo dia que nunca sei o que esperar de jogadores de hockey. – Brie riu, deitando-se na cama ao lado.
– Se acostume, Brie. – gargalhou. – Isso só vai aumentar.

Fez-se um breve silêncio, até que Brienne se virasse na cama, apoiando o rosto com uma mão para olhar a colega.

– Posso perguntar uma coisa?
– Claro. – sorriu fraco, girando o rosto para a olhar.
– Eu sei que todo mundo te respeita aqui. – Ela começou. – Até o treinador, mesmo do jeito dele. Mas, é diferente com alguns, dá pra ver. – uniu as sobrancelhas, confusa e Brie continuou. – Minha pergunta é, rola algo entre você e ?

não respondeu de pronto.
A inglesa virou o rosto, encarando o teto e respirou.

– O que acha que pode estar rolando? – devolveu a pergunta e Brie riu fraco.
– Não sei. – A alemã suspirou, deixando o corpo pender e tornando a encarar o teto também. – Mas dá pra ver que tem alguma coisa, mesmo que seja só uma amizade mais forte. Ele te obedece, mesmo não querendo e parece não se importar. De alguma forma ele tem um tipo de referência em você, confia no que diz. – Listou a americana.
– Muita gente diz isso. – concordou.
– E você também. – Ao ouvir a resposta da alemã, girou o rosto, buscando seu olhar. – Você não parece ter só uma relação profissional com ele. Claro, é nítido que tem uma amizade com ele, Aleks, Santtu e acho que com quase todos os caras do time. Uma intimidade, não tem medo de falar o que pensa ou de ser você. Mas você leva o capitão ao limite, não tem medo de que ele se irrite com você. – A outra fez uma breve pausa. – E o jeito que você toca ele, parece que tem algo mais.
– Você é bem sincera, não é? – respondeu sem sorrir, mas não tinha o tom duro.
– Talvez seja coisa de alemão. – Brie deu de ombros.

suspirou, ainda encarava o teto.
Queria dizer a verdade, mas havia prometido que manteriam aquilo por baixo nos próximos dias, e também, ainda não conhecia Brienne o suficiente para confiar algo tão íntimo. Brie não era tão próxima aos dois, e se Aleks e Jasper ainda não sabiam, não fazia sentido a alemã saber naquele momento, mesmo com sua percepção tão aguçada.

e eu temos uma história. – começou a contar. – Tivemos um início difícil no time, como já contei a você. Ele me ignorava e me desprezava e custei conquistar a total confiança dele. – A inglesa ocultou alguns fatos e salpicou algumas mentiras, porque dizer que era apenas uma restrita relação de trabalho soaria patético até para uma criança de cinco anos. – Temos uma relação boa hoje. Conheço a família, ele compartilha muito comigo sobre a vivência no time... acho que temos uma relação mais profunda mesmo, do que com os outros caras.
– Nunca rolou nada entre vocês? – Brie insistiu na pergunta.
– Por que isso importa? – A inglesa se sentou na cama, sorrindo.
– Desculpe, não quis ser invasiva. – A alemã sorriu fraco. – Só fiquei curiosa, pelo jeito de vocês. Sempre que nos juntamos aos outros, todos nos cumprimentaram, mas só ele se aproxima. – Lembrou Brienne. – No susto agora, ele pareceu...
– Eu sou a referência nesse sentido, eu acho. – tentou despistar. – É como buscar a professora se alguém se sente mal em uma sala de aula.
– Faz sentido. – Brienne pareceu comprar aquela mentira. – Acho que perguntei também, porque era uma preocupação minha. Na Fórmula Um e em outros esportes que trabalhei, era comum algum tipo de assédio.
– Não posso dizer que isso nunca aconteceu. – projetou o lábio inferior, reflexiva. – Não com os que sou mais próxima, como Santtu, , Atte, Otto e os meninos. Mas acho que consegui me livrar disso sendo firme. Sabe? Falando com firmeza, sem ter medo de quem era a outra pessoa.
– Funcionou?
– Eu acho que sim. – ergueu os ombros e suspirou. – Pelo menos dentro do time. Seja sempre firme, não importa com quem seja e imponha seus limites. Sobre como quer ser tratada. E nunca deixe de falar, nunca se cale.
– Vou anotar essas dicas. – Brienne sorriu sem mostrar os dentes. – Acho que vou tomar um banho. – A alemã apontou para a porta do que imaginava ser o banheiro, depois suspirou e sorriu, baixando os ombros. – Desculpe por perguntar essas coisas, sobre o . Imagino que deva ser um tanto desconfortável e eu, por alguma razão me esqueci do seu compromisso.
– Compromisso? – uniu as sobrancelhas.
– É. – Brienne ficou de pé e maneou a cabeça, parecia envergonhada. – Rádio corredor, sabe como é. Soube que namora o atacante que foi transferido. – A inglesa manteve a expressão perdida e sacudiu a cabeça negativamente. – Waltteri Merelä, o cara que foi para outra cidade.

arregalou os olhos e congelou.

– Imagino que deve ser bem chato as pessoas perguntarem isso, principalmente nessa situação. – A alemã continuou. – Quer dizer, ninguém provavelmente perguntaria se você fosse um homem. – Brie riu.
– Pois é, né... - riu de modo esganiçado, muito culpado.
– Bom, vou tomar meu banho. – A outra sorriu simpática. – Claro. – assentiu, com urgência de fugir. – Quero comer alguma coisa antes.
– Tem umas máquinas no corredor, perto dos elevadores. – Brienne lembrou. – Eu vi.
– Ótimo, volto logo então. – A inglesa assentiu, passando rápido pela porta.

- Deus do céu, . – A inglesa disse a si mesma ao sair do quarto. – Aonde você vai parar?

queria mesmo fugir da presença da alemã – por fatos óbvios e outros nem tanto.
Sentia-se culpada sempre que era lembrada ou quando era escancarado o fato de que e a terapeuta não conseguiam ser completamente discretos sobre o que sentiam. Soava irresponsável e não era uma adolescente que não conseguia controlar os hormônios, pelo menos não devia ser.
Pensava se mais pessoas no time percebiam ou pensavam o mesmo. Se isso por acaso já estava impactando e impedindo que alguns jogadores se aproximassem mais. Claro que Brie era uma mulher, mas era recém-chegada, e se Brienne já tinha aquela percepção, o que podiam pensar os outros?
Ao se aproximar da máquina de comida, escolheu todas as variedades de chocolate que seu dinheiro permitia no momento. Aquele era um dos momentos em que seu eu introspectivo gostaria de se deitar, comer chocolate e encarar o vazio, enquanto refletia sobre seus erros por ao menos setenta e duas horas. Mas não podia.
Droga de vida adulta.

– A gente tem tipo uma mente conectada, já percebeu? – surgiu, chamando a atenção da inglesa. – O que vai fazer com tudo isso de chocolate? – O capitão perguntou ao se deparar com os doces na mão da namorada.
– Quero uma overdose. – Respondeu , sem parecer brincar e estreitou o olhar.
– O que tá fazendo aqui fora? – Ele indagou após alguns instantes.
– Fugindo da minha colega de quarto. – Confidenciou , oferecendo um chocolate ao namorado.
– Já? – aceitou o chocolate e indicou um pequeno louge perto das máquinas, num convite silencioso.
– Ela perguntou se temos algo. – Contou e viu o capitão arquear uma sobrancelha. – Eu acho que estou fazendo tudo errado. Será que a gente é mesmo assim tão... – Ela achou difícil encontrar a palavra certa – tão... descuidado? Porque todo mundo sempre diz isso. Todo mundo diz que é só olhar, que bastar prestar atenção.
– Eu achei que a gente já tivesse resolvido isso. – suspirou cansado, apoiando a cabeça no sofá.
– A gente resolveu, não é sobre isso. – Negou , sentada ao lado dele. – Mas eu não queria ser desrespeitosa com o time. Se a Brie, que chegou há dias já percebeu... será que o time, que alguém não se sente bem perto de mim por causa disso?
... – a olhou perdido na bagunça que a cabeça da namorada parecia estar.
– Eu só pensei... – A inglesa se deixou escorrer pelo sofá, comendo um dos chocolates. – Não queria parecer uma adolescente, queria conseguir ser profissional, ser respeitada.
– E você não é?
– Eu sou? – Ela devolveu.
– É uma pergunta séria? – a encarou apertando os lábios, contrariado. – Porque é até um pouco idiota.
– Sei lá. – A inglesa deu de ombros. – Talvez seja mesmo bom que eu saia.

não respondeu, apenas olhava para a namorada.

– Sabe, acho que isso é normal. – O capitão tornou a falar. – A gente trabalha junto, sim. Mas não é só isso. Eu te amo, você me ama. Claro que isso vai aparecer. – tocou o joelho da namorada ao dizer, atraindo o olhar dela. – Seria estranho se fosse diferente.
– Ela disse que você me obedece, mesmo não querendo e parece não se importar com isso. Que confia em mim e que me tem como referência. – começou a contar. – E que eu te levo ao limite, não tenho medo de que se irrite comigo, e que o modo com que toco você parece ter algo mais. – Contou tudo ao namorado.

riu pelo nariz.

– Essa parte é só a parte da terapeuta. – explicou ao perceber a careta confusa da namorada. – Rakkaani, você acha que eu te obedeço porque te amo e sou completamente enlouquecido por você? – O capitão riu outra vez. – Acha que eu peço sua opinião, que mesmo quando manda eu fazer algo que não quero, faço, só porque você dorme comigo? Ou que confio na sua opinião só porque é você?

não respondeu.
esticou o tronco, olhando para o corredor, conferindo se estavam mesmo sozinhos. Depois se inclinou para mais perto da namorada e tocou seu rosto com delicadeza, afagando sua bochecha.

– Eu não sabia que duvidava tanto de si assim. – Falou o jogador, torcendo os lábios. – De alguma forma você consegue fazer até os mais teimosos e cabeças duras do time te ouvirem. Petri, eu... conseguiu o respeito até do Aleks. – sorriu. – E eu sei que nenhum dos dois está apaixonado por você. Você faz isso porque é boa, . Não é o meu amor por você que me faz não discordar ou fazer o que quer, mesmo discordando. É o fato de que eu sei que se você diz, há alguma razão e que eu devia te ouvir porque você sabe muito bem o que está fazendo.
– Mas eu não...
– Se lembra quando eu machuquei o punho? – a interrompeu. – Quando você enfrentou o cara mais poderoso do time, na época, para defender o seu ponto de vista, como se ele não fosse ninguém. Você era nova aqui, estrangeira e ainda estava conquistando o time.
– Que coisa idiota de se fazer. – rolou os olhos e sorriu.
– Corajosa, é o que eu diria e disse. – também sorriu. – Eu não te respeito no time porque é a minha namorada. Você é a minha namorada porque eu te admiro e respeito. Isso vem primeiro. – Disse ele. – Eu sei que você vai saber o que fazer, sei que você vai defender seu ponto de vista até o final. Sei que posso confiar em você e contar com sua ajuda. Vi o que fez quando tive aquela questão com Aleks, quando quase perdi o time. Enquanto capitão, vi que podia confiar em você. Que você ia me dar cobertura. – respirou fundo, subindo e baixando os ombros. – Se de alguma forma isso tem a ver com os meus sentimentos, eu não sei. Mas eu não respeitaria você no time se achasse que você só faz besteira.
– Sinto que teve um potencial ofensivo nessa frase, mas eu até gostei. – riu, baixando o olhar. – Pelo meu conhecimento, entendo que é praticamente impossível separar uma coisa da outra, mas... acho que posso confiar no que você diz essa noite.
– Só essa noite? – riu pelo nariz.
– Bobo. – riu, empurrando o namorado devagar, pelo ombro. – Sabe bem que eu confio em você pra tudo. Você é a coisa mais segura que tenho.

sorriu apaixonado.

– Então confia nisso que eu estou dizendo. – O central beijou a testa da terapeuta rapidamente. – Não é por minha causa, é por sua causa. Mérito seu.
– Eu te amo. – Te amo também. – Respondeu ele, aconchegando a namorada num abraço.



22 - Welcome to the Jungle

Welcome to the Jungle
Watch it bring it to your
Knees, knees
I wanna watch you bleed
(Guns N' Roses – Welcome To The Jungle)




Quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Jäähallinpolku, Astora Areena
Pori – Finlândia



Os atletas do Pelicans ocupavam o vestiário de visitantes, se ajeitando para as entrevistas pré-jogo, antes do aquecimento. Pori era uma cidade grande e a arena também não deixava a desejar quanto ao tamanho. Não era como a Isku, nem como a arena de Tampere, parecia uma arena universitária comum, em sua estrutura simples. Mas no fim das contas, em ligas como a finlandesa, arenas simples eram mais comuns do que as tecnológicas e cheias de benfeitorias.
O time não precisava de muito também. Obviamente que melhores condições, tecnologia e espaços mais confortáveis tinham um grande fator motivacional e trazia mais credibilidade ao time. Mas os Ases de Pori não precisavam disso, sequer pareciam ligar para isso. Era uma equipe com jogadores mais velho, a média de idade entre eles era maior que a do Pelicans por cinco anos. Era jogadores da velha guarda, do tipo pronto para tirar as luvas a qualquer momento, lances sujos e faltas sem medo da vantagem que dariam ao outro time. Eram incitadores e debochados na provocações, conhecidos por um jogo corporal pesado e com lances duvidosos, muitas vezes apoiados pela incompetência de árbitros inexperientes, ou também da velha guarda.
Na opinião do capitão do time visitante, o Pelicans, hockey era um jogo físico e precisava ser. Haviam vários momentos no gelo, inclusive momentos para lances físicos mais intensos, mas não defendia o estilo violento além da conta de alguns jogadores da velha guarda, que resolviam qualquer coisa na mão.
E nem Petri, por isso todas aquelas informações sobre o time da casa, assim como a fraqueza da terceira linha deles, sendo a mais furada da Liiga, foram passadas e repassadas pela comissão técnica aos jogadores. havia pensado nisso durante toda a viagem, enquanto Atte dormia ao seu lado e ficava com Brienne e Jasper. Precisariam explorar ao máximo todas as fraquezas táticas que o time rival tivesse, já que defensivamente, o Ässät contava com um dos melhores goleiros da temporada. Seria um jogo de provocações pela parte deles, buscando falhas e power plays, para tentar um contra-ataque e alguns pontos.

, você é o próximo. – Brienne avisou ao jogador, que aguardava paciente sua vez de responder as perguntas dos jornalistas.

estava com a alemã, tentando apoiá-la com o idioma, com o pouco que sabia, e junto a elas outro membro da equipe de mídia, que controlava os jornalistas na situação. O capitão piscou para a namorada, que sorriu de volta e se dirigiu para o centro de atenção dos fotógrafos e jornalistas. Odiava aqueles momentos. Mas se sentia pior antes, agora ao menos conseguia driblar perguntas ruins e se sentia livre e confiante para não responder o que não queria. Mas ainda desse jeito, se pudesse nunca mais fazer algo, seria dar entrevistas.

– O primeiro jornalista começou e umedeceu os lábios com a língua enquanto ouvia a pergunta. – Vocês estão vindo de um início de ano com vitória, apesar de resultados não muito lineares no ano passado. Hoje tem pela frente uma equipe bastante física, com um dos goleiros menos vazados da temporada. Como enxerga o jogo de hoje?
– Ah... acho que viemos bem preparados. – respondeu devagar. – Tivemos alguns altos e baixos na primeira parte da temporada, mas foram mais vitórias, isso é o que importa. Vamos explorar o máximo hoje... acho que estamos focados no que fazer e é importante se concentrar agora.
, como o Pelicans vem para essa fase? – Outro jornalista perguntou. – Tiveram novas contratações e com a saída do Merelä, que era uma peça importante. Como isso impacta o time na reta final?
– Ah... – pensou antes de responder, como sempre. – Obviamente o Mere era um cara importante para o time. Finalizações certeiras, recuperando bem o disco, armando jogadas... óbvio que vamos sentir a ausência, mas temos mais jogadores fortes e bons que conseguem cobrir os espaços. E confiamos uns nos outros.
– Outro jornalista ergueu o microfone. – Agora teremos a parada para alguns jogos da seleção, logo a lista deve sair. Qual é a sua expectativa?

riu pelo nariz.

– Honestamente, eu não estava me lembrando disso. – Confessou o capitão, com sinceridade. – Estou focado em uma coisa de cada vez agora.

olhou de lado para Brienne, e viu a alemã assentir, afastando-se enfim dos jornalistas.

– Como você esquece da convocação? – Willy riu ao passar pelo capitão, sacudindo a cabeça negativamente, deu de ombros.

Fato era, talvez tivesse mesmo deixado algumas coisas importantes de sua carreira de lado desde que entrou em sua vida. Algum tempo atrás teria surtado com isso, se odiado e terminado o namoro no mesmo momento, irritado por estar se desviando de seu caminho. Mas agora, entendia o quanto a separação podia ser mais prejudicial, que precisava se concentrar nas coisas importantes agora. Sabia também que, caso sua perda de foco se transformasse em um drama com a inglesa, não conseguiria mesmo se concentrar no trabalho. O central pensava com esperança que, agora, com as coisas calmas entre os dois, pudesse voltar ao seu centro e equilibrar tudo outra vez.

O . – Joensuu Jesse, um dos jogadores de ataque do Ässät, cumprimentou ao cruzar com o capitão no corredor, cantarolando com alguma faísca de provocação.

o respondeu com um aceno de cabeça, sério.

– Soube que estão cheios de novidades lá em Lahti. – O jogador brincou em tom provocativo, parando perto dos três membros do Pelicans, Briene, a terapeuta inglesa e o capitão, cruzando os braços.
– É o que bons times costumam fazer. – ergueu o queixo. – Na sua época era assim também?
– Na minha época jogadores de verdade é que jogavam hockey, e eram capitães. – Jesse provocou. – Hoje em dia qualquer molenga usa o C no peito.

O capitão moreno do Pelicans riu pelo nariz, sacudiu a cabeça baixando o olhar, depois voltou a encarar o jogador rival.

– Pois é, e mesmo assim não te deram nem o de capitão alternativo, não é? – devolveu. – Chato, não é?
– Não dá mesmo pra entender. – Jesse continuou. – Porque os resultados mostram a eficiência, sabe? E brigas no vestiário com o próprio time não contam pontos no gelo. Te contaram isso no cursinho? Ou seu treinador está ocupado demais beijando patins?

e Brie assistiam a cena chocadas, nem mesmo já havia presenciado algo semelhante. Brienne não entendia nada, devido ao idioma, mas a postura e a linguagem corporal dos dois eram bastante explicativas e assustadora para alguém que havia praticamente caído de paraquedas no esporte. compreendia e por isso talvez seus olhos estivessem mais arregalados. Santtu estava mais atrás, apoiado a parede, esperando por sua vez de responder as perguntas, mas atento ao que acontecia entre os jogadores, mesmo que aparentasse que não.

– Eu não sei nada sobre isso. – sacudiu a cabeça devagar, olhava o atacante com expressão desinteressada e entediada. – Mas já aconteceu com você? Tá com saudades?
– Minha única saudade do Pelicans é de quando a gente pega vocês de jeito no gelo. – Jesse sorriu grande. – Logo você vai ter o gostinho de novo. Só cuidado com a posição que cair no gelo, a gente não costuma perdoar. – O jogador olhou de para as duas mulheres que estavam perto, demorando-se ao analisá-las. – Ninguém. – Joensuu Jesse completou e piscou para e Brie, enfim se afastando vitorioso.

não respondeu, apenas o deixou ir, depois levantou as sobrancelhas, suspirou e negou com a cabeça.

– Mas o que foi isso? – quis saber, um pouco assustada.
– Nada demais, só ele sendo ele. – deu de ombros. – Se acostuma, Rakkaani. Isso é hockey. – maneou a cabeça, depois olhou para o jogador do Ässät, por sobre o ombro. – Ele é só um babaca e esse time é cheio deles.
– Eu entendi o que vocês falaram, entendi o olhar dele pra nós também. – disse e apontou para si mesma e Brie ao falar.
– Espera, ele falou algo sobre nós? – Brienne, que ainda estava perdida, se colocou.
– É só provocação. – coçou a nuca, virando o boné para trás e deu de ombros. – Vão ver muito disso no jogo hoje. Velha guarda do hockey.
– Por que mesmo eu aceitei esse emprego? – Brienne torceu os lábios, suspirou e se afastou, balançando a cabeça negativamente.

e acompanharam o movimento da alemã, em silêncio, indo para longe deles.

– Não precisa se preocupar, é mesmo só provocação. – falou, ainda com olhos nas costas de Brie, aproveitando estarem sozinhos. – Hoje vai ser um jogo quente, mas é normal.
– Está dizendo isso pra eu não surtar caso você se envolva em alguma briga? – expirou um riso fraco, cruzando os braços sobre o peito.
– Não tá nos meus planos, mas pode ser que aconteça. – inclinou a cabeça sobre o ombro. – Eles gostam de me provocar. De me bater também.
– E como eu devia reagir a isso? – o encarou incrédula.

riu e sem pensar esticou uma das mãos e abraçou a terapeuta pela cintura, beijando sua têmpora.

– Só tô tentando te preparar para o que pode acontecer. – Respondeu ele, antes de ser afastado por .
– Não gosto nada disso. – A inglesa reclamou emburrada. – Pessoas batendo em você. Você é precioso, tem que ser tratado como é.
– Ai, como eu te amo. – O capitão suspirou e sorriu. sorriu de volta, balançando a cabeça negativamente.



❄❄❄


Quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Jäähallinpolku, Astora Areena
Pori – Finlândia



No segundo período, depois de um offside (nenhum jogador do time ofensivo deve ultrapassar a linha azul da zona neutra do campo do adversário antes do disco. ), o jogo recomeçava com um faceoff, que o Pelicans perdeu. As estatísticas quanto aos faceoffs do time visitante não estavam muito boas naquela noite. O jogo estava sendo cheio de encontrões e jogadas duras, divididas que quase resultavam em penalizações. Estavam empatados, dois a dois. havia marcado uma vez e Willy Mankinen um, para a equipe visitante no início, mas o Ässät tinha conseguido uma bela virada no fim do primeiro período e agora estava com placares iguais.
A terceira linha do Pelicans estava no gelo e a primeira assistia sentado ao banco, debruçados ao muro. Numa dividida com defensores do Ässät, Leevi Tukiainen, central do Pelicans, foi jogado contra a parede em um lance sujo. Logo uma pequena confusão se formou do lado direito da rede do time de casa, com jogadores agarrados, tentando trocar socos e a arbitragem no meio. Tukiainen se levantou devagar e saiu com ajuda do gelo, a linha foi trocada e o jogo recomeçaria com outro faceoff.
Faceoff disputado na zona de faceoff ao lado direito da rede do Ässät, Ryan Lasch na disputa, levou a melhor para os visitantes, lançando o disco por trás, para Santtu. Santtu arrastou o disco por trás da rede adversária, usou a parede para conduzir e lançou para , aberto na frente, à esquerda. puxou e trouxe para o centro do gelo, recomeçando atrás, com Aleks, que tentou buscar espaço entre os defensores de casa. Aleks para Santtu, no meio, o defensor foi imprensado na parede por dois jogadores rivais, Ryan Lasch enfiou o taco e conseguiu recuperar a posse para o time de Lahti.
De Lasch para , sozinho no meio da zona de ataque, o capitão conduziu o disco com velocidade em direção as redes, mas foi interceptado por um ala do Ässät, que esticou o taco entre as pernas do central, o derrubando. O árbitro apitou.

– Número quarenta e quatro do Ässät, dois minutos por tripping (falta quando o jogador usa seu taco ou corpo para de algum modo causar desequilíbrio ou queda de outro).

Power play para os visitantes.
A formação contava com Willy Mankinen, Aleks, , Leevi Tukiainen e Santtu. Willy estava inclinado, pronto para que o árbitro jogasse o disco, esperava atrás, aberto.

– Por que não segura seu taco do jeito que segura o taco do seu treinador. – Joensuu Jesse se aproximou do capitão, deslizando por trás dele e o provocando. – Vocês de Lahti são sempre moles.

O capitão sabia o que o rival fazia, provocar uma briga, quatro contra quatro, o Pelicans perderia a vantagem do power play. Não ia ceder, conhecia o jogo de Joensuu bem o suficiente e já tinha experiência para saber que tudo era tática.
Willy Mankinen bateu o taco várias vezes contra o do jogador rival, tentando puxar o disco para si. Enquanto isso, era acertado nas costas com força, caindo com um joelho no chão, mas se levantando rapidamente. O árbitro pareceu não perceber o cross-checking (Quando um jogador usa o cabo do taco, segurando-o com as duas mãos contra o adversário, sem que o taco esteja tocando o gelo). se levantou rápido e deslizou para trás do gol adversário, de lá recebeu o disco de Leevi, o capitão puxou para a esquerda e pegou o goleiro desprevenido, encaixando no canto da rede, por trás, marcando mais um contra o time da casa.
O central comemorou com seu arco para sua amada, apoiando um joelho no chão, depois foi abraçado pelo time. Os dois jogadores envolvidos no gol deslizavam devagar para o banco, para cumprimentar os companheiros, mas em meio antes de chegarem lá, Santtu Kinnunen cedeu a provocação baixa de um dos defensores do Ässät e uma briga foi iniciada.
Aleks saltou sobre a briga, tentando jogar o outro jogador no gelo, Willy se envolveu também, tentando impedir que mais jogadores do Ässät se juntassem a confusão. deslizou devagar até lá, imitando Willy e tentando não se envolver, recolhendo os tacos dos jogadores de sua equipe que estavam no chão, observando o que aconteceria. Haviam dois pequenos focos, de um lado Aleks no chão com um jogador e o árbitro no meio, do outro Santtu agarrado ao uniforme de outro, já sem as luvas e o capacete. Joensuu Jesse tentou se aproximar do capitão, agarrando-o pela camisa, mas graças a presença de um dos árbitros, os dois foram rapidamente separados, enquanto Joensuu reclamava.
A confusão no gelo parecia interminável, cada vez que conseguiam tirar um jogador do centro do caos, outro entrava. Ainda fazendo apelações ao árbitro, Jesse tentou puxar pelo uniforme outra vez. O central não deu importância, continuou com os tacos nas mãos, esperando a confusão cessar.

– Que foi, Jesse? – respondeu, tentando se soltar do jogador para voltar ao banco. – Quer me beijar?

Foi o suficiente para que o atacante fizesse o que já pretendia desde o início daquele dia. Jesse com uma mão segurou o ombro do uniforme do central e com o outro se pôs a desferir socos no capitão rival, até que começasse a devolvê-los meio sem jeito. As luvas de Joensuu estavam no chão e em seguida os dois jogadores caíram juntos, tentando se erguer enquanto trocavam socos.
Ao ver o capitão envolvido em uma briga, jogadores que já estavam fora do conflito voltaram a ele, tentando intervir na briga. Um dos árbitros foi rápido e se lançou sobre , cobrindo com o corpo parte das costas e cabeça do jogador, ajudando-o a se proteger dos socos desferidos por um Jesse já caído no gelo também.
Quando a briga enfim foi interrompida, ficou de pé, ajeitando o capacete e o uniforme, que estava pela metade. O capitão foi logo indicado a penalty box pelo árbitro e entrou sem proferir qualquer palavra, com a mesma expressão serena de antes da briga. Jesse ocupou a caixa ao lado e continuava a reclamar, enquanto o resto da confusão era desmontada e os árbitros analisavam quem e quantos mais seriam punidos.

Não demorou para que o segundo período terminasse e para o início do terceiro. Os visitantes venciam por três a dois. O terceiro período seguia com muitas divididas duras, muitas pancadas dos dois lados, muitas provocações e jogadores se estranhando durante todo tempo. Depois de uma tentativa de tiro interceptada pro Atte, o jogo recomeçava e era quem estava no faceoff dessa vez.
O capitão conseguiu a posse e Aleks Haatanen começou a jogada de trás, na zona neutra, aproveitando a borda para conduzir o disco para Ryan, que devolveu para Topi, que perdeu a posse. tentou recuperar, já na zona de defesa e arrastou até o meio da zona neutra, escapando dos jogadores rivais, entregando a Santtu, que trouxe para perto das redes, disputando o disco atrás do gol. aguardava receber o passe na frente do gol, pelo lado direito, atento a Santtu e Ryan.

– Onde estão as meninas do time? – Um jogador de defesa começou a provocar o central outra vez, usando o taco para que perdesse o equilíbrio. – Não vocês, as meninas de verdade. As que ficam no banco. – ignorou e empurrou o jogador com o corpo, fugindo de outro cross-checking não marcado. – A fisioterapeuta, onde está? Já que vocês, Pelicans, não gostam disso.

se virou e devolveu um dos vários cross-checking recebidos na noite, derrubando o defensor e em seguida ouviu o apito do árbitro, antes que uma nova confusão começasse. Power play para o Ässät, o capitão do Pelicans na penalty box outra vez.
Santtu Kinnunen, Topi Jaakola, Matias Rajaniemi e Mikko Kousa do lado do Pelicans, para garantir que uma virada não aconteceria. Os jogadores estavam cansados depois de um jogo muito intenso, tudo que não precisavam era de uma prorrogação.
O time da casa atacava com força o gol protegido por Atte Tolvanen, vários lances seguidos. Faltavam trinta segundos para o fim da vantagem e o Pelicans não havia conseguido passar para a zona neutra com o disco nenhuma vez. Demoravam para substituir as linhas porque os ataques do Ässät eram muito intensos. O disco havia batido na trave algumas vezes, interceptado milagrosamente por Atte outras e salvo pela defesa algumas outras.
Em uma das tentativas do time de casa, após um rebote e com disco ainda vivo, Aleks Haatanen roubou o disco e conduziu rápido, desviando dos tacos que lhe eram colocados no caminho, como costumava fazer, e numa jogada limpa e clara. Hade marcava assim mais um para o Pelicans, um short-handed (gol que é marcado quando o time está em desvantagem numérica). estava livre e o jogo voltava a ser cinco contra cinco, com dois gols de vantagem para a equipe de Lahti.

Nos minutos finais do jogo, o time de casa resolveu tirar o goleiro (empty net) e ir para o tudo ou nada, armando o time com jogadores de ataque e dando cansaço a Atte Tolvanen. Depois de ser derrubado com outro tripping ficou de pé e correu rápido, alcançando o passe de Ryan e acertando um tiro certeiro no fundo da rede do Ässät, carimbando a vitória de cinco a dois sobre os donos da casa, e o hat-trick do capitão do Pelicans.
Quando as sirenes soaram avisando o final do terceiro período, alguns jogadores do Pelicans e Ässät iniciaram outra confusão, mas essa foi rapidamente interrompida para que a saída dos jogadores do gelo fosse liberada e que os visitantes pudessem cumprimentar o goleiro.
Estava terminado o trabalho em Pori.
Pelo menos naquela noite.



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Quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Jäähallinpolku, Astora Areena
Pori – Finlândia



Na coletiva pós-jogo, fora o primeiro a responder as perguntas. O capitão ainda sentia a tensão e adrenalina do jogo, estava com os cabelos molhados e vestia pouca roupa, exausto do jogo puxado.

, mesmo não jogando tão bem hoje, você marcou três vezes. – Um jornalista começou a perguntar. – O que pode dizer sobre isso?

O capitão ergueu os ombros e sacudiu a cabeça, perplexo e perdido quanto aquela pergunta.

– Eu não sei. – ainda sacudia a cabeça e expirou um riso confuso. – Não sei o que te responder.

A palavra foi dada a outro repórter.

, foi um jogo intenso e apesar disso, quando aconteceu o lance com Leevi Tukiainen, não houve uma resposta do time. Pelo seu ponto de vista, o que houve?
– Eu não vi bem o que aconteceu. – O central negou com a cabeça. – Não consegui entender o que estava acontecendo e... e só depois, eu acho, vi que foi um lance sujo.
, vimos um jogo muito físico e de muita provocação, marcação forte entre Jesse e você. – Outro jornalista ergueu o microfone. – O que pode dizer sobre isso?
– Ah... eu já conheço o estilo de jogo dele, de intimidação e provocação... obviamente em algum momento isso afeta, mas é normal acontecer. Eu só tento ficar concentrado no meu jogo e no jogo de equipe.
– Mais um o chamou. – Como o time saí dessa partida hoje?
– Nós tentamos confiar uns nos outros. – O capitão respondeu depois de umedecer os lábios. – Foram cinco gols, um jogo equilibrado. Podia ter sido mais, mas... ah... acho que um jogo assim é bom para a confiança, pra mostrar que o time está unido e forte.

O capitão respondeu e cumprimentou os jornalistas com um aceno de cabeça, afastando-se em seguida.
tomou o corredor até o vestiário de visitantes em silêncio, sozinho, com queixo erguido. Não pensava em nada, ainda estava atordoado com a pressão da partida, só conseguia pensar em um banho e em ficar sozinho, em silêncio, por um tempo.
De volta ao vestiário barulhento e cheio de vozes e pessoas peladas. entrou em silêncio e se sentou em sua baia, organizando suas coisas. Petri já havia dado seu discurso e agora devia estar se preparando para as entrevistas, os jogadores estavam sozinhos apenas com alguns membros da comissão técnica.

– Bar. Comemorar. Hoje. – Aleks se aproximou do capitão com Santtu ao seu lado, ambos sorridentes.

não se moveu, continuou com a cabeça baixa, guardando seus pertences e se despindo para um banho.

– Qual é, ? – Aleks reclamou. – Comemorar a vitória na casa desses caras? Vai ser demais. A gente merece.

O capitão ergueu o rosto e arqueou uma sobrancelha, encarou os dois por dois segundos e depois voltou ao que fazia.

– Você vai abrir mão de beber aqui, sabendo que o Jesse vai chorar a noite toda com os gols que fez. – Santtu arqueou uma sobrancelha.
– Vou. – respondeu direto, levantando-se e dirigindo-se aos chuveiros, deixando os dois companheiros de time frustrados, se encarando.

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Quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Hotel Scandic Pori
Pori – Finlândia



Depois do jogo intenso, de cumprir todos os protocolos, o time enfim estava de volta ao hotel. havia conversado com outros membros da comissão técnica durante toda a partida, tentando parecer confortável ou fingir normalizar o que acontecia no gelo. Mas tremia e apertava os lábios sempre que via seu capitão ser atingido por um empurrão, solavanco, taco ou coisa do tipo. Vibrou nos três gols marcados por ele, mas quis invadir o gelo quando o viu apanhar do mesmo jogador que havia o provocado antes, nas entrevistas.
Jakkos a tinha aconselhado a não mencionar o fato de não ser exatamente bom de briga na presença do jogador. Segundo o fisioterapeuta, comentar isso seria uma ofensa muito séria para a classe de . A terapeuta tinha os ombros tensionados ainda, mesmo tentando alongar e rotacionar os ombros a cada dois minutos, graças a tensão e adrenalina do jogo. Felizmente a equipe tinha planos de comemorar na cidade e até mesmo estava empolgada para sair e tentar relaxar, deixando para trás todo aquele caos cheirando a testosterona e sais vasodilatadores.
Desde o fim do jogo, a chegada ao hotel junto ao grupo era a primeira oportunidade que tinha – concreta – de falar com o namorado minimamente a sós. Durante a pequena viagem da arena até o hotel, o central permaneceu calado, sentado junto a Jakkos, sem socializar com qualquer outra pessoa.
percebeu que aguardava o elevador um pouco mais afastado do resto do grupo, que conversava animadamente. O capitão encarava as portas em silêncio, com uma das mãos no bolso e expressão concentrada. A inglesa chegou perto dele em silêncio, mas o central não esboçou qualquer reação. Após alguns segundos, se aproximou mais, para que seus braços se tocassem, os dois tinham os braços paralelos ao corpo. O clima ao redor era de euforia e ninguém parecia prestar muita atenção aos dois, mas mesmo assim, era melhor prevenir. Sutilmente, o capitão e sua terapeuta deixaram-se tocar nas mãos, roçando a pele suavemente, enquanto pareciam concentrados, olhando para direções opostas, até entrelaçarem o dedo mínimo.

– Quis invadir o gelo hoje. – Confidenciou ela, com semblante sério, fingindo prestar atenção em outra coisa, e percebeu o namorado inclinar a cabeça e rir.
– Mas eu te avisei, isso é o que é. – Respondeu ele, tentando se manter concentrado ao elevador. – E é muito comum.
– Não me importa se é ou não, o que me importa é você. – A inglesa deu de ombros. – Como o meu capitão, como está?
– Tô okay. – respondeu sem muita animação. – Só morto. Um jogo assim depois das pausas é de matar.
– Você não exagerou quando falou do jogo deles, nem sobre brigar e apanhar. – A inglesa olhava para o namorado ao falar. – Está bem mesmo? Principalmente depois daquela pancada no jogo passado e agora esse...
– Por isso eu te avisei. – ergueu os ombros, o jogador usava seu tom sereno e calmo, mas sem sorrir, olhos fixos ao elevador enquanto um grupo ocupava a capacidade máxima da caixa. – Mas eu tô bem. No outro jogo também não foi nada. Normal de acontecer.
– Eu tô me acostumando. – sorriu, enfiando as mãos no bolso e apertou os lábios e arqueou as sobrancelhas, balançando levemente a mão que tocava a inglesa. – Vamos deixar toda essa tensão e estresse de lado nessa saída, com o time. Vai ser bom relaxar agora que já está feito. E Pori me parece uma cidade tão interessante...
– Acho que não vou com eles. – respondeu, atraindo um olhar confuso da namorada. – Mas você pode ir se quiser. Vai ser bom, pra disfarçar para a Brienne.
– Mas como não vai? – estranhou. – Está sentindo alguma coisa? Sabia que aquela pancadaria toda teria algum resultado. Você devia ver o médico. Posso chamar. Eu fico com você.
– Não, . – a olhou nos olhos e torceu os lábios, como quem diz que não deveria se preocupar. – Eu quero ficar porque eu quero ficar, não tô te escondendo nada ou me sentindo mal, só cansado. Não quero barulho, nem festa, só quero dormir. Eu tô bem, mesmo.
– Eu não tô confiando muito, mas não vou insistir. – Cedeu a inglesa e o namorado piscou e apertou os lábios em um pequeno sorriso outra vez, agradecido, se endireitando e voltando a encarar as portas dos elevadores. – Fico com você, não me importo.
– Não, pode ir. – ergueu os ombros. – Não precisa ficar no hotel. A gente nem está no mesmo quarto, não vai adiantar. E é melhor não desafiar o Petri, ele só está tentando ajudar.
– Eu posso driblar o Petri, como tenho feito há décadas. – sorriu de lado, maliciosa. – Fico com você no hotel, posso te fazer uma massagem.
– Não, tudo bem, vá se divertir. – insistiu, inflando as bochechas.
– Eu fico, relaxa. – sacudiu os ombros, sorrindo. – Quero ficar com você.
– Mas eu quero ficar sozinho. – respondeu de uma vez, tornando a olhar para a inglesa, que arregalou os olhos. O capitão se deu conta do que havia dito e expirou pesadamente. – Não, amor, eu só quis dizer que quero um tempo só comigo. – O jogador se retratou logo. – Eu só quero mesmo ficar sozinho. Não é nada com você;
– Quem é você e o que fez com o meu namorado? – cruzou os braços sobre o peito e estreitou o olhar perigosamente.
– Sabe aquilo que conversamos hoje? – falou outra vez após respirar fundo. – Então, eu tô falando com a terapeuta agora, que quero ficar sozinho. É só isso, sem festa ou comemoração ou companhia. Só eu e um travesseiro confortável. – O capitão maneou a cabeça. – Como o velho eu fazia, antes de você... ou como o atual eu faz quando você não viaja com a gente.
– Mas porque você não me quer por perto hoje? Eu posso ficar em silêncio. – projetou o lábio inferior. – Tá chateado comigo?
– Não, ... não. – O central expirou um riso fraco, inclinou a cabeça, respirou, depois ergueu o olhar. – Eu te amo, Rakkaani. Não tô chateado, só tô muito cansado e essa conversa tá me cansando um pouco mais. – projetou mais o lábio e uniu as sobrancelhas em uma expressão ressentida. – Vai com eles. Se diverte, conheça a cidade e amanhã me conta o que achou. Mas hoje eu tô afim de ficar só eu, mesmo.

acenou com a cabeça e piscou, entrando em seguida no primeiro elevador que abriu as portas, mantendo contato visual com a inglesa, sorrindo fraco quando as portas se fecharam.
encarou o metálico do elevador por alguns instantes, tentando compreender o que estava acontecendo, mas sem sucesso. Ao olhar para o lado encontrou a figura de Atte Tolvanen, que prestava atenção a cena. A terapeuta inglesa ergueu os ombros para o goleiro, mantendo no rosto a mesma expressão sentida de quando o namorado havia ido. Atte, que já conhecia o amigo o suficiente para entender e lidar com aqueles momentos, apenas sacudiu a cabeça negativamente e torceu a boca em uma careta, como quem diz que não adiantava mesmo insistir.



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Quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Heidi's Bier Bar Pori
Pori – Finlândia



Um grupo entre os jogadores do Pelicans estava reunido em um bar esportivo do outro lado da cidade. Levou algum tempo para encontrarem um bar decente e que fosse cômodo ficarem. Aleks insistia que seria uma ideia perfeita que o time fosse comemorar em bares cheios de torcedores ou flâmulas do Ässät, mas felizmente resto do time pensava o contrário. O bar lembrava uma grande sauna, mas era aconchegante, com flores falsas pendendo das vigas de madeira, era confortável.
tomava refrigerante, ouvindo os companheiros de time falarem sobre confrontos antigos com o time da casa, histórias sobre provocações e brigas no gelo. Eram histórias engraçadas e se divertia com ela, mesmo que constantemente seus pensamentos se voltassem para o hotel.
Atte pareceu perceber, e também conhecia o suficiente para saber que certos comportamentos do amigo poderiam soar estranhos a outras pessoas. A personalidade enclausurada de , em alguns momentos, o tinha afastado de muitas garotas antes e era um dos principais motivos para que Atte insistisse no passado para que o capitão arranjasse alguém.

– Sua cara de quem não foi convidada pra sauna é por causa do ? – Atte falou baixo, arrastando sua cadeira para mais perto da inglesa. apenas sorriu tristonha, inclinando a cabeça sobre seu copo de Coca-Cola. – Não liga, esse é o . – A inglesa começou a prestar atenção. – Antes de você chegar, era tipo o Grinch, mas amando o natal. – O goleiro riu pelo nariz. – Passava vida no gelo, quando sobrava algum tempo, se trancava com Felix em casa, nos hobbies de obsessão dele ou em Viipuri.
– Hobbies de obsessão? – repetiu, sorrindo.
– É, ficava obcecado por algo e então aprendia tudo sobre aquilo em menos de uma semana. – Contou Atte, divertindo-se com a lembrança. – Depois começava outra coisa. Esportes, música... o que quer que fosse.
– Ele é mesmo bastante focado. – Concordou ela, sorrindo e tomando um pouco de sua bebida.
– Acho que por isso sempre insisti que ele devia ir para uma ligar maior, a NHL. Que devia arrumar uma namorada e pensar um pouco fora, sair da rotina monstro isolado na montanha, super ligado a família. Quase de um jeito meio doentio.
– Acho que nunca vi por esse ponto de vista. – virou o corpo para Atte. – Assim, pelos olhos de alguém que realmente o conhecesse. Ele sempre foi tão devotado a nós dois, sempre tão junto comigo... é difícil imaginar o meu desse jeito.
– Sabe aqueles solitários de filmes? Que vivem em castelos, sozinhos, com janelas cobertas por cortinas? – Atte riu. – Tipo nos filmes do Tim Burton, ou no castelo do Drácula? – assentiu com a cabeça. – Ele era assim. Tudo que importava era estar no Pelicans e se dedicar totalmente a isso, aos pais e irmãs, ignorar todo o resto. Acho que ele estava acostumado com isso, em viver assim e era confortável porque ele não precisava encarar nada que não queria, ou que temia.
– Ele me contou sobre como a coisa da mídia afetou ele, sobre como ele quis e escolheu estar no Pelicans por isso também.
– Ele achou que podia ser ele mesmo. – Atte fez um barulho com a boca, chateado. – Foi inocente e pagou um preço. Tudo sobre o é muito intenso, as pessoas falam muito sobre ele, esperam muito dele, criticam muito ele. Isso incomoda, ele se isola. – Atte ergueu os ombros enquanto dava um gole em sua cerveja. – Já vi muitas vezes ele afastar pessoas que tentavam se aproximar por causa disso. Ou naturalmente, sendo um Grinch, ou porque as pessoas não entendiam ou não queria lidar com esse jeito dele. – Atte estalou a língua. – Ou claro, quando ele não estava disposto a mudar.

maneou a cabeça e observou o goleiro com curiosidade.

– Talvez ele me mate, mas... – se inclinou um pouco para mais perto, pra cochichar. – Um dia ele chegou no meio da noite na minha casa, surtando. Sem entender porque fazia o que você queria e em crise por estar baixando a guarda. – riu pelo nariz. – Ele não estava esperando, foi repentino. Desde o primeiro dia em que ele te viu, tudo que tentou fazer foi te impressionar e chamar sua atenção. Demorou para o médico e o monstro trocarem de papéis. – Atte deu de ombros.
O médico e o monstro? – A inglesa riu.
– Ele era o médico com você, até agora. – Atte riu depois de um gole de sua cerveja, limpando os lábios em seguida. – Agora o monstro enclausurado, a fera que não gosta de luz do sol e interações humanas ficou confortável o suficiente para aparecer.
– Pelos meus conhecimentos, isso é bom.
– É, se você não for sair correndo. – O goleiro riu, mas encarou a terapeuta com curiosidade, como se quisesse se certificar de que o relacionamento do melhor amigo estivesse mesmo seguro.
– Acredite, já lidei com sapos, feras e todo tipo de criatura de contos de fadas. - sorriu. – Um príncipe enclausurado no alto de uma torre pode se tornar meu desafio favorito. – Garantiu, piscando.
– Ele tem razão por gostar de você. – Atte sorriu orgulhoso. – Sabe, , só dê espaço pra ele, vocês vão ficar bem. é enlouquecido por você e isso é um fato. Mas se ele se sente confortável o suficiente pra ser ele mesmo, até nessas partes mais sombrias e escondidas... se você não se assustar, vai o ter para sempre.

A terapeuta sorriu, grata pelo conselho do melhor amigo do namorado. Era diferente e raro que tivesse acesso a aquele tipo de conteúdo, Atte sempre tinha sido muito protetor e a inglesa não tinha acesso a muitas pessoas para falar sobre o namorado.

– Eu sempre me surpreendo com a profundidade e sensibilidade dele. – Confessou a inglesa, sorrindo.
– Ele é, só odeia que as pessoas saibam.
– Por que ele gostou de mim? – perguntou de repente e Atte uniu as sobrancelhas, pego de surpresa. – Digo, não penso muito sobre isso, mas... é o . O melhor da Europa, da Liiga, ele é famoso, bonito, jovem e rico... porque escolher alguém como eu?

O goleiro riu alto antes de responder.

– Não sei, . – Atte balançou os ombros, rindo. – Pergunte para ele. – A terapeuta o mirou com expressão entediada. – Não sei mesmo. e eu não ficamos, tipo, nossa eu amo o jeito que ela faz isso, ou aquilo, ou o cabelo, sei lá...
– Nunca?
– Nunca. – Atte desviou rapidamente o olhar quando respondeu e estreitou o olhar.
– Talvez que o sexo fosse bom. – A inglesa arregalou os olhos e abriu a boca, rindo chocada. – Você quem perguntou. – Atte se defendeu.
– Mas é só isso? – Insistiu a inglesa. – Nunca disse mais nada sobre mim?
– Não sei, ... que você é legal? Algo assim. – Respondeu o goleiro finlandês e a inglesa rolou os olhos.
– Homens. – Resmungou , tomando o resto de seu refrigerante.



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Quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Heidi's Bier Bar Pori
Pori – Finlândia



No outro canto do bar, perto do balcão, Willy Mankinen, Aleks Haatanen e Jasper Patrikainen observavam a movimentação como águias.

– É o lugar perfeito. – Willy disse. – Todos estão aqui, mas sem o com aquele olhar ameaçador.
– Mas a está aqui, não tem como falar dela, com ela por perto. – Aleks argumentou, gesticulando.
– Mas ela não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. – Willy bateu duas vezes com o dedo indicador na própria testa.
– Dividir e conquistar? – Sugeriu Jay.
– Eu fico com a Brie. – Aleks ergueu o dedo, rápido.
– Ela? Mas o que ela poderia saber? – Willy estranhou.
– Ela é bonita, não ligo se ela sabe. – Mankinen abriu a boca para protestar, mas resolveu apenas ignorar.
– Eu não vou falar com o Santtu. – Jasper disse. – Ele vai sacar tudo se eu falar.
– Certo, eu fico com Santtu e você com Atte. – Decidiu Willy.
– Não, por que eu? – O goleiro protestou. – O Atte é parceiro do , ele não vai falar nada comigo. Aleks devia.
– Se ele não me contou nada até agora. – Aleks riu com desprezo. – Não contaria hoje.
– Caramba, qual é o problema e vocês? – Willy reclamou, bufando. – Tenho que fazer tudo aqui?

O ala sacudiu a cabeça e marchou decidido em direção a onde Atte e , que riam juntos, cochichando.

– Oi, vocês. – Willy se sentou na mesa de repente, chamando atenção dos dois. Aleks e Jay estavam com ele, mas ficaram de pé, atrás do ala.

e Atte se entreolharam e depois analisaram os três jogadores a sua frente.

– Dia bom de bar, né? – Mankinen começou a falar, fingindo despretensão.
– Sim. – respondeu um tanto incerta.
– Pena que não veio também. – Continuou o ala.
– Uma pena mesmo. – Aleks repetiu.
– Aliás, onde será que ele está? O que está fazendo? – Jasper perguntou também, com ares misteriosos.
– No hotel? – Atte respondeu estranhando o comportamento deles. – Descansando.
– Sozinho? – Willy apertou o olhar, analisando as reações da inglesa. – Deixaram ele sozinho no hotel?
– Ele é maior de idade, acho que pode ficar sozinho. – respondeu, erguendo um ombro.
– Ele deve estar falando com... – Willy fez uma pausa dramática, olhando de Atte para . – a namorada.

Atte inclinou a cabeça para rir, apertando a ponte do nariz e franziu o cenho, rindo depois.

– É, deve estar. – A terapeuta assentiu com a cabeça. – Ou dormindo. Quem liga?
– Como está o Merelä, hein, ? – Aleks se inclinou sobre a mesa, apoiando as duas mãos espalmadas.
– Ele está bem. – A terapeuta trocou um rápido olhar com o Atte, estranhando aquela conversa. – Está tudo bem com vocês? Será que não beberam demais? Estão esquisitos.
– Esquisitos, por que? – Jasper devolveu, cruzando os braços sobre o peito.
– Agindo como bobos. – Atte respondeu rápido, encarando os três.
– Só tentando estreitar laços... – Willy também respondeu, evasivo.
– Sei. – assentiu, atônita, olhando de um jogador para o outro.
– Devíamos ter um encontro duplo um dia desses, . – Willy sugeriu ao se levantar. – Eu e você, Merelä e a minha garota. – Atte franziu o cenho ao ouvir aquela proposta esquisita. – Talvez o e a namorada dele poderiam ir também. E o Atte e a dele.
– E eu e a minha. – Aleks se colocou, Jasper apenas assentiu com a cabeça.
– Mas você não tem namorada. – Atte apontou.
– Eu arrumo uma. – O ala ergueu um ombro. – Fácil, fácil.
– A gente se vê por aí, ... – Willy deu uma última olhada em , estreitando o olhar. – A gente vai se ver por aí.
– Isso aí, a gente vai. – Jasper também disse, com o mesmo tom conspiratório dos companheiros.
– Se liga, – Aleks, com dois dedos, apontou para os próprios olhos e depois para , antes dos três se afastarem.

– Mas o que foi isso? – riu alto, ainda pasma.
– Tá vendo, é por isso que eu bebo. – Atte sacudiu a cabeça, rindo também. – Fala sério.




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