23 - You've got the love I need to see me through
Sometimes I feel like throwing my hands up in the air
I know I can count on you
Sometimes I feel like saying: Lord, I just don't care
But you've got the love I need to see me through
Sometimes it seems the going is just too rough
And things go wrong no matter what I do
Now and then, it seems that life is just too much
But you've got the love I need to see me through
(Florence + The Machine - You've Got the Love)
Sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
Alguma das coisas recentes que mais traziam a a sensação de casa, lar, era a presença da dupla extra de ingleses. Chegar em casa e encontrar Maisie e Louis se engalfinhando e reclamando por terem ficado sozinhos na presença um do outro fazia o capitão se lembrar das brigas entre e com as irmãs.
Ao que souberam, o dia na presença da família havia sido agradável, nenhum homicídio ou tentativa e a casa continuava em ordem. A mãe e irmãs haviam deixado Lahti na noite anterior, e e voltado a cidade na manhã do mesmo dia.
Se entre os visitantes ingleses o clima era de guerra e ódio, entre o casal tudo estava em paz. , depois de se sentir culpado durante toda a noite por ter dispensado a namorada, teve uma boa surpresa ao encontrá-la compreensiva e dócil no dia seguinte. Surpreendente. parecia ter apenas entendido e não guardado mágoas, o que fez com que o capitão se sentisse ainda mais tranquilo e em paz, além de confiante.
Estava certo de que agora conseguiriam colocar tudo nos eixos, o trabalho, os jogos, o papel de capitão, teriam juntos uma vida tranquila e em paz. Era bom o sabor. Tão bom que até se divertia com as piadas e provocações de Maisie a seu respeito, outras vezes atiçava a inglesa desbocada contra Louis, apenas pelo prazer de assistir a uma tensão sexual estranha se formar entre eles.
Estavam na mesa, terminando seu café da manhã, Louis, e , enquanto Maisie se arrumava. Os dois ingleses sairiam pela centésima vez para explorar a cidade e ver cães de trenó. e foram salvos graças ao trabalho, iriam para o centro de treinamentos logo e não poderiam – felizmente – acompanhar os dois no passeio.
– , você devia passar férias na Inglaterra. – Louis sugeriu, tomando seu iogurte. – Muita coisa é pior lá, tipo, as pessoas e a comida. Mas tem muitos bares bons.
– Eu vou a um casamento lá em breve. – O jogador respondeu com a boca cheia, mastigando seu mingau de aveia, olhou sugestivamente para a namorada e depois para o médico, arqueando as sobrancelhas.
Louis encarou os dois com uma expressão de surpresa divertida.
– vai ao casamento da sua irmã? – Indagou, surpreso. – Sua mãe já mandou o formulário para ele responder? O guia de como se vestir adequadamente para a ocasião? – Brincou e riu, mostrando a língua.
– A parte boa de morar longe deles é que não preciso me preocupar com essas coisas. – A inglesa balançou os ombros.
– já te contou sobre os pais dela? – Louis se inclinou mais sobre a mesa, atiçando a curiosidade do capitão, que estreitou o olhar. – Eles são tipo... como posso descrever os ? – rolou os olhos, ignorando o amigo. – Sabe aquele filme, Corra, do Jordan Peele?
– Mas eu não sou negro, então...
– Não, eles não vão te caçar e fazer uma lavagem cerebral de verdade. – Louis sacudiu a cabeça. – Talvez até tentem, tipo, já investiu na bolsa? Que tipo de investimento você faz? Quem de influente você conhece? Quem é a sua família?
– Isso é um pouco exagerado. – interveio.
– É, talvez a pergunta sobre conhecer alguém influente tenha sido, mas não o resto. – Respondeu Louis, maneando a cabeça. – Eles meio que se acham aristocratas, porque o tio avô de alguém que se casou com alguém era da linhagem real. – Explicou o médico. – Sem querer ofender, .
– Não ofendeu. – não deu importância, continuou focada em sua salada de frutas.
– Parece uma galera bem legal. – se recostou a cadeira e se espreguiçou, sorrindo irônico.
– O irmão, Josh. – Louis começou a contar. – Para te responder quando você diz bom dia, ele precisa conferir se há espaço na agenda. Não fala com você a menos que seja útil ou que você seja uma pessoa relevante. – Louis fez aspas com os dedos ao pronunciar a última palavra.
Enquanto prestava atenção no médico, olhava de soslaio, tentando capturar suas reações.
– Emily é tipo a irmã da Cinderela, arrogante, amarga e autocentrada. – Louis continuou. – Eu saí com ela algumas vezes. Acredite, ela é uma vilã da Disney.
deixou o queixo cair teatralmente, ao mesmo tempo em que Maisie se unia a eles na mesa, pronta para sair.
– Louis, nós vamos agora. – Ordenou a inglesa.
– Não, eu estou falando mal de pessoas para o agora. – O inglês ergueu seu iogurte. – E tomando meu iogurte.
– Falando mal de quem? – Maisie quis saber, impaciente.
– Da minha família. – respondeu distraída.
– A mãe é a Cruella De Vil, o Josh é um Gaston do direito, Emily é a Regina George, caso isso ainda estivesse na moda. – Resumiu Maisie.
– E o pai? – quis saber, olhando de Maisie para a namorada.
– Um espaço vazio na mesa. – suspirou entediada.
– Silencioso e trabalha demais. – Maisie deu de ombros. – já sabe sobre eles, agora vamos. – Maisie insistiu.
– Eu não vou agora. – Louis negou. – Estou comendo.
– Você vai agora.
– Não vou não. – O médico respondeu emburrado. – Se quiser, faça como pessoas normais e espere educadamente.
– Você tem dez segundos. – Maisie o ignorou.
– Não adianta, sua megera sem educação. – Louis rolou os olhos.
– Seis. – A inglesa começou a contar. – Agora quatro. Três. Você não vai querer pagar para ver o que acontece se eu chegar no um. – Maisie cruzou os braços sobre o peito, enfezada.
Louis bufou e ficou de pé.
– Eu te odeio tanto. – Declarou o inglês. – Não vejo a hora dessa viagem acabar e eu não precisar te ver por dias. – Falou ele, com dedo erguido em direção a Maisie, que sequer se moveu. – Terminamos nossa conversa mais tarde, , . – O médico os cumprimentou com um aceno de cabeça e se afastou com Maisie ao seu lado, enfezados.
– Por que será que essa cena é tão familiar? – brincou, rindo abafado e foi empurrado devagar pela namorada.
– Não vem, eu não sou assim. – riu pelo nariz, mas não parecia realmente feliz ou coisa do tipo. – Podia ter feito isso na quarta, em Pori, mas não fiz.
– E por isso falta muito pouco pra você usar meu sobrenome. – sorriu e piscou, a inglesa negou com a cabeça, sorrindo fechado. – Eu queria perguntar uma coisa.
– O quê? – ainda parecia distraída e alheia, como se estivesse em outro lugar, ao menos os seus pensamentos.
– Isso que o Louis estava dizendo, sobre sua família... – O capitão hesitou, virando o corpo na direção da namorada, a observando comer. – Você ficou aérea. E eles sempre falam da sua família assim?
– Eles podem, conhecem bem. – deu de ombros. – Você me achou aérea? Impressão sua. – Ela não se importou.
– Há. – fingiu uma risada. – Mentir pra mim? Sério?
A inglesa ergueu o olhar, encontrando os olhos castanhos e quase sempre ilegíveis do capitão, mas reconfortantes. manteve o contato visual e após alguns segundos maneou a cabeça.
– Eu sei ler você. – Disse ele, com certeza.
A inglesa se levantou, deixando sua tigela de salada de frutas e se aproximou do namorado repentinamente, sentando-se em seu colo e se aninhando nos braços do capitão sem qualquer aviso.
– Eu te disse que não era como a sua, e que talvez você não quisesse conhecer e... – parou de falar, se interrompendo com um suspiro.
– Não amo eles, amo você.
– Mas é o que eu posso oferecer. – A inglesa ergueu o rosto e afagou sua bochecha com cuidado. – E parte do que eu sou também.
– Eu não preciso que me fale quem você é, eu já sei. – O jogador respondeu depois de refletir um pouco. – Só não entendo como alguém como você pode te vindo de uma família tão...
– Talvez eu também não seja tão legal assim. – riu fraco, sem humor.
a repreendeu com um olhar.
– Não tem problema isso, a sua família ser complicada. – começou a falar outra vez após algum tempo em silêncio, abraçando forte a namorada. – A gente pode construir uma diferente.
ergueu o rosto, observando-o com curiosidade.
– Eu penso nisso. – Ele confessou, erguendo os ombros.
– Vinte de novembro. – falou e viu o namorado franzir o cenho. – Te levei para o meu apartamento e dormi com você em vinte de novembro.
– Não é o tempo e você sabe disso. – disse depois de rir abafado. – E eu já sabia que era você quando...
– Quando eu entrei no vestiário pela primeira vez e corrigi o Petri. – completou. – Você já disse isso várias vezes. E esse dia, dezoito de outubro. Você está apaixonado, paixões podem acabar com a mesma intensidade que começam. – riu, desviando o olhar do namorado ao falar.
– Por que não diz isso olhando pra mim? – riu pelo nariz. – É porque nem você acredita nisso. Se acreditasse, não teria se arriscado por mim várias vezes.
– Eu poderia fazer isso por qualquer pessoa. – deu de ombros, fingindo indiferença, ainda sem olhá-lo. – Todo esse altruísmo é só narcisismo disfarçado.
O capitão enfiou os dedos no cabelo da terapeuta, segurando sua nuca, trazendo seu rosto para mais perto e a obrigando a olhar em seus olhos.
– Diz isso olhando pra mim. – Ordenou , sorrindo de lado.
– Não preciso. – o desafiou.
– Diz.
ainda tinha os olhos nos do capitão, que segurava com força, puxando com firmeza seu cabelo. A inglesa triangulou o olhar para os lábios e de volta aos olhos do capitão.
– Diz olhando pra mim. – Ele falou mais baixo e sua voz causou arrepios a terapeuta. – Diz olhando nos meus olhos que isso é só uma paixão boba que vai acabar já.
– Não.
sorriu, depois puxou a inglesa para mais perto, a beijando com paciência e intensidade, enquanto se ajeitava ao colo do capitão, encaixando-se a ele.
Numa interrupção desgostosa, um dos empregados da casa surgiu e tossiu, tentando chamar atenção do casal. interrompeu o beijo e afundou o rosto no pescoço do namorado, padecendo de vergonha. suspirou e apertou os olhos, irritado.
– A gente precisa ficar mais sozinho aqui. – sussurrou para a namorada. – Sim.
– Desculpe, senhor , mas é que Mark Lehtinen está aqui, para vê-lo.
– Que maravilha. – suspirou, apoiando a testa ao ombro da namorada. – Eu vou receber.
– Quem é esse Mark? – quis saber.
– Meu empresário. – contou, depois de expirar pesadamente.
e foram para a grande sala.
A árvore de natal era desmontada por um funcionário que dispensou, pedindo para que ficassem a sós. estava sentada em um dos sofás, acompanhando a movimentação como uma criança curiosa, mas o capitão permanecia de pé, esperando o momento certo para abrir a porta. Ansioso.
– Você. – Foi a primeira coisa que Mark Lehtinen disse ao encontrar o rosto, agora com bigode, de . O empresário passou pela porta com dedo erguido e voz agitada. – Eu deixo você sozinho por pouco, pouco tempo e você apronta toda essa confusão. Sinceramente, , se envolver com alguém do time? Tudo bem, fácil de resolver. Mas precisava mesmo deixar isso ficar desse tamanho?
– Bom dia, Mark. – cumprimentou o homem de cabelos castanhos, impecavelmente penteados para trás, com desânimo, seguindo-o para a sala.
– E você? Quem é? – O empresário indagou com algum desdém quando percebeu a presença da inglesa sentada, que ouvia tudo com olhos arregalados.
– Essa é... – expirou pesadamente ao se aproximar, apontando para .
– Não me diga... – Mark riu pelo nariz, sem humor. – Não me diga que está nesse ponto. – O homem deu as costas para e encarou o capitão. – Eu achei que você ficaria bem sem alguém te vigiando. Que a fase agitada da adolescência já tivesse passado.
– Você ainda trabalha pra mim, Mark. – o encarou inclinando um pouco a cabeça, olhando-o por baixo das sobrancelhas. – Não o contrário. Eu não preciso de ninguém mandando na minha vida.
– Não precisa? – O empresário riu afetado e acompanhou com o olhar quando o jogador passou por ele, sentando-se no sofá perto de . – Só há um pequeno detalhe que você esquece. Sua vida pessoal também afeta sua vida profissional, afeta todo mundo que trabalha com você. Gestão de imagem, empresário. – Mark apontou para si mesmo. – Funcionários da casa, patrocinadores e todo o resto. Se escondeu em Lahti, mas não deixou de ser quem é.
bufou e rolou os olhos, estava sentado no sofá de modo despreocupado, quase entediado, escorrido. , do outro lado, apenas ouvia a conversa, sem saber se devia mesmo estar ali, presenciando aquilo e conhecendo outro lado do namorado.
– Qual é a crise tão urgente que te trouxe de Helsinki? – O capitão indagou direto.
– Recebi um memorando da diretoria do time. – Contou Mark e prestou mais atenção. – Querem uma reunião. A nova gerente quer conversar pessoalmente sobre as decisões do time a respeito do seu caso no time, sobre as implicações disso e sobre a renovação.
– Maravilha. – expirou pesadamente e cobriu o rosto com as mãos. – Eu esqueci da renovação.
– E por que eu não estou surpreso? – O empresário alfinetou, chegou mais perto e jogou o casaco pesado que usava sobre uma das poltronas. – Eu diria que no momento, temos uma pequena bomba nuclear nas mãos.
– Olha, é uma coisa, isso é. – respondeu depois de algum silêncio, após esfregar os olhos e repuxar a pele do rosto, arrastando as mãos dos olhos ao queixo. – Mas não é pra tanto. Nós já resolvemos isso tudo, agora só depende do time, de como eles vão fazer, o que vão decidir. – Contou o jogador. – Mas o , um dos acionistas, já disse que quer ela no time. – tentou disfarçar o tom de desgosto na voz ao pronunciar o nome do homem que mais perturbava sua vida.
– Mil anos nesse meio, depois de apanhar por muito mais que a metade deles e você ainda não entendeu. – Mark suspirou e apertou a ponte do nariz. – Okay. Vamos aos fatos. – O empresário se sentou em uma das poltronas. – Ela vai ficar? – Perguntou, apontando com o polegar para .
– Ela me ajuda a pensar. – Respondeu o capitão e o empresário suspirou depois de rolar os olhos.
– Certo, , eis seu cenário. – O homem começou a falar devagar. – Uma gerente nova, que precisa provar que está à altura do cargo. Ela não é boazinha ou alguém que quer ser aceita pelo time, ela quer a aprovação do conselho. Vai fazer o que for melhor para quem está atrás da mesa, não quem está no gelo. Essa Svedin, ela vem de meios muito mais competitivos e tão dominados por homens quanto esse, eu pesquisei sobre ela. Ela gosta de controle e sabe o que ela não controla agora? – Mark fez uma breve pausa. – O capitão dela.
– O meu. – interrompeu, atraindo o olhar dos dois homens. – O capitão em questão, é meu. – Falou com firmeza a terapeuta.
inclinou a cabeça e apertou os lábios e cobriu a boca com uma das mãos, apoiando o rosto, tentando não rir ou dar um gritinho. Mark encarou a inglesa perplexo, depois sacudiu a cabeça e tornou a falar:
– Independente de quem tenha a guarda, ela não gosta de enfrentamento, e não vai correr o risco de ficar vulnerável ou dependente de algum jogador, mesmo que seja você. – Explicou o empresário.
– O que isso significa na prática? – uniu as sobrancelhas. – Acha que vão propor alguma coisa diferente do que já é contrato?
– Svedin pretende limpar a casa, eu soube. – Segredou o empresário. – Um amigo da época da faculdade, que me devia um favor, a conhece bem. Não acho que ela vai correr o risco de perder você, mas não por ela, pela diretoria. Mas tenho certeza que as negociações vão ser difíceis, terão mudanças e nós precisamos estar preparados para responder a altura.
– Então, vamos. – ergueu os ombros. – Isso não é difícil. Você consegue resolver isso.
– É, mas agora temos um outro item na questão que eles podem usar. – Mark olhou para ao falar e acompanhou o olhar do empresário, enquanto os olhou de volta, perdida.
– Acha que vão fazer o quê?
– Eu imaginei uma hipótese de cenário entre milhões de possibilidades. – Mark maneou a cabeça. – E por isso vim até aqui apelar para o seu bom senso, para não usar nossa vantagem em nome dela.
– O quê? – se espantou, voltando seu rosto para o empresário.
– É melhor deixar pra lá, não envolver uma bagunça no meio da negociação. – Respondeu o homem. – Não exija que ela fique no time para você ficar.
– Mas eu não ia fazer isso. – riu sem humor, chocado.
– Não? – Mark estreitou o olhar. – Não pensou mesmo? – O empresário riu e apertou os olhos, surpreso, depois negou com a cabeça e ajeitou sua postura, sentando-se mais relaxado. – Você tem o time na mão e não pensou em nenhum momento em usar isso pra ter o que queria?
– Não. – respondeu com inocência. – Que papo é esse?
– Desculpe interromper. – chamou a atenção. – Mas o que quer dizer com ter o time nas mãos?
Mark riu, achando alguma graça na inocência ou estupidez dos dois.
– Talvez seja por isso que façam tanta besteira, são muito simplórios. – O empresário riu e e trocaram um olhar. – não está no Pelicans por falta de oportunidade, ou por falta de times maiores na Liiga. Está por capricho.
– Ei. – O central o uniu as sobrancelhas em uma careta de reprovação.
– Está porque quer se esconder nas montanhas como um urso velho e raivoso. – Mark ignorou a careta do jogador. – A diretoria do Pelicans sabe disso. Ele é a pérola mais preciosa que por sorte caiu no colo deles. Por isso ele tem um contrato diferente, regalias que só ele tem, que impedem que ele seja vendido, trocado... aquele contrato tem tantas letras miúdas que foi preciso abrir uma caixa nova de papel. – O homem riu. – Modestamente, o empresário dele é nível NHL, que é onde ele deveria estar. Não vamos ser dobrados por um time caseiro da Finlândia.
– Não fale assim. – o repreendeu de novo e depois se voltou para , inclinando-se em sua direção. – É que eu só posso sair, mudar de time se eu quiser e para onde e quando quiser. Apesar de pertencer ao time, eles não têm muito poder sobre mim lá. – O capitão explicou para a namorada com paciência. – Não queria ficar vulnerável a ser trocado e mudar de lugar. Todo ano de renovação o Mark colocava cláusulas novas, sempre que alguma brecha aparecia e eles sempre só aceitavam.
– Quando você compra o Messi, por três sacos de batata e duas tortas da Carélia, precisa aceitar todas as vontades dele. – Mark soprou ressentido.
– Mas o que isso tem a ver comigo? – também perguntou. – Minha relação com o time é independente e eu sempre soube que isso não afetaria o nesse sentido. Me voluntariei, comuniquei do nosso envolvimento e Svedin pediu tempo para tomar as providências. Como isso afetaria a renovação?
– Vocês são simples e inocentes demais para esse meio. – Mark apertou os lábios em um sorriso fechado, realmente tocado. – Nessa situação eles estão analisando tudo por todos os ângulos. – Explicou ele com gentileza. – Podem usar você como moeda de troca, ou podem estar esperando que o use. Podem pensar que se ele estiver insatisfeito com a condução do time a respeito do caso de vocês, ele pode sair.
– Relacionamento, caso não. – corrigiu o empresário, que deu de ombros.
– Podem te usar como exemplo, ou podem te manter e usar isso para facilitar a renegociação com os novos termos. – Sugeriu Mark. – Os termos deles.
– Isso explica a demora com essa resposta, ou essa demissão. – suspirou e ficou de pé, andando pela sala enquanto pensava.
– Acredito, pela minha experiência e por entender como mulheres tentando se provar capazes agem, que Isabel Svedin virá com tudo. – Mark se recostou a poltrona. – As cartas estão com e provavelmente a diretoria, cheia de homens, vai tratar isso como sempre fez. Displicência e um tapinha nas costas.
– E se houver algo mais...? – prendeu a respiração, um pouco mais preocupada e viu a encarar com cenho franzido e Mark empalidecer. – Svedin começou a me marcar depois que soube do nosso envolvimento. Me excluir de coisas, me sobrecarregar com relatórios sem sentido, me afastar de tudo que tinha a ver com e eu até acho que faça sentido. Quando o conheceu, ela me pediu um relatório mais profundo sobre ele, queria saber o que eu sabia... ela não usou a palavra, mas ela queria saber de coisas não só profissionais. – A ruga de confusão misturada a insatisfação na testa lisa de se intensificou. sabia bem como o namorado cuidadoso odiava se perceber sendo analisado, explorado, dissecado. – E eu não fiz, obviamente. Não como ela queria. – A terapeuta se explicou para o namorado.
– Aposto que ela já chegou ao time com todas as cartas marcadas. – O empresário falou, olhando para .
– E também... – mordeu o lábio, olhou para o namorado e maneou a cabeça, como se pedisse desculpas. – Tem mais uma coisa. Não sei o que ela sabe sobre isso, mas como disse antes, veio pessoalmente até mim, só para dizer que queria que eu ficasse. Ele quem me trouxe da Inglaterra, eu não sou exatamente uma funcionária do Pelicans. – O empresário e o jogador prestavam atenção em . – E nós... – maneou a cabeça e baixou o olhar. – É uma história complicada, mas nós temos um tipo de relação estranha de perseguição, conflitos e momentos inapropriados.
– Ótimo. – Mark começou a se abanar e inclinou a cabeça. O jogador tinha os cotovelos apoiados aos joelhos e olhava para o chão. – Então Svedin tem uma pessoa da equipe médica com envolvimento amoroso com o capitão e jogador intocado, e também com o principal acionista. Mudamos a figura poderosa, agora temos duas ameaças a ela. – O empresário começou a respirar fundo. – Será que ambulâncias chegam rápido aqui em cima? – Perguntou, abrindo os primeiros botões da camisa social.
– Não é um envolvimento amoroso. – o corrigiu. – Nunca foi nem uma amizade. Mas ele tem um tipo de obsessão maluca...
– Sabe como isso soa, não é? – Mark ficou de pé e se aproximou de . – Perigo. Influência. Nenhum time quer isso, porque se crescer...
– Mas isso não é verdade, não tem nada a ver. – Protestou a inglesa. – Nós mal conversamos e quando conversamos, nunca passa de uma troca de ofensas.
– Não importa sobre o que é, o que vale aqui é o que parece. – O empresário justificou. – É uma beleza. Eu só espero que isso não expanda mais e daqui a pouco afete a publicidade também.
– Foda-se a publicidade. – falou, ainda sem erguer o rosto, em seu tom sereno. – Não vou mudar. É a minha palavra. – O jogador ficou de pé, falando sério. – Não vou ser um garoto e usar isso pra manter a no time, mas também não vou ceder nenhum passo se eles me quiserem no Pelicans no ano que vem. – agora não usava seu tom mais suave, apesar de falar baixo, sua voz transmitia dureza. – E pode acrescentar uma cláusula nova na renovação. Não quero ninguém perguntando por aí da minha vida pessoal.
Dizendo isso, deu as costas aos dois e subiu as escadas em silêncio sendo observado por eles.
– Você não vai dizer nada? – Mark indagou a terapeuta.
– Para ele? – olhou para o empresário e apontou para o namorado. – Agora? Eu tenho amor à vida.
Sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
Depois de dispensar Mark e suas ameaças de infarto exageradas – ou nem tanto –, resolveu que devia ver como o namorado estava. Nos últimos dias estava acessando mais lados de que ainda não conhecia. O silencioso e recluso, segundo Atte Tolvanen e agora, o , o jogador. Por que ali, durante aquela conversa, principalmente do meio para o fim, pôde ver perfeitamente o namorado passar de , o seu , para o também seu . A diferença talvez fosse de que era mais frio, mais distante, mais duro, mais solitário do que seu . Mas era necessário a ele ser assim, o que só aumentava na terapeuta inglesa a vontade de cuidar, acarinhar e apertar aquele outro lado de seu personagem favorito junto ao peito.
o encontrou no banho, apoiado a parede, deixando a água quente cair sobre a nuca. Os cabelos estavam grandes e escorriam pela nuca do central e vez ou outra ela o via passar a mão na testa, afastando os fios dos olhos.
– Mark já foi. – se fez ser ouvida, apoiando o corpo ao batente da porta e cruzando os braços. – Disse que te liga para dar qualquer recado sobre a reunião. Ele vai ficar na cidade.
não respondeu, mas após alguns instantes, fechou o chuveiro e enrolou uma toalha na cintura. Petri tinha razão, o central havia mesmo ganhado peso nos últimos tempos, mas na opinião da terapeuta, nunca tivera estado melhor.
O central passou pela namorada, na porta do banheiro, indo para o quarto.
– Como nós vamos resolver isso? – o seguiu.
– Eu. – respondeu sem a olhar. – Não tem nós nesse caso, sou só eu e o Mark. A gente resolve como sempre resolveu.
– Não é só isso, você sabe. – o seguiu para o closet. – Você ouviu o que ele disse. Além do mais, a bagunça não é só sua aqui.
– Essa parte é. – O central respondeu sem muita empolgação, procurando algo para vestir e a inglesa rolou os olhos, bufando.
– , qual é? A gente pode falar sobre isso? – Tentou ela.
– Eu já disse tudo. – balançou os ombros ainda molhados. – Não tem mais nada para dizer antes da reunião.
apertou os lábios, irritada e deu as costas.
Depois de dois passos, a terapeuta parou, aquele não era o , era o . Sabia o que estava acontecendo, aquele lado de seu amado capitão não suportava ser usado, analisado como uma coisa em um laboratório, como um rato em uma gaiola. Estava incomodado, acuado e inseguro. Estava com todas as suas defesas erguidas e armadas e qualquer um que tentasse algo sairia ferido. Era como um animal com muita fome ou machucado, traumatizado. Inquirir e tentar falar não funcionariam com aquele , mas sabia de algo que podia funcionar, que o desarmaria completamente qualquer uma de suas versões.
A inglesa respirou fundo e baixou suas próprias barreiras, voltou para o closet e se aproximou do capitão, que fingiu a ignorar. chegou mais perto, abraçando o corpo de por trás e beijando suas costas com delicadeza e carinho, como se fosse uma espécie de último beijo. Logo sentiu a rigidez no tronco do namorado diminuir e relaxou os ombros e o pescoço, deixando a cabeça pender para trás.
– O que está fazendo? – Ele sussurrou.
– Estando com você. – respondeu no intervalo de um beijo e outro. – Pode não querer falar agora, ou achar que não precisar ou que não quer minha ajuda. Eu respeito e entendo, não vou insistir. Mas eu posso estar com você e é onde eu quero ficar. Ao seu lado. – A inglesa sentiu uma das mãos do jogador a alcançar a afagar sua pele. – Acho que isso nos fortalece de alguma maneira.
– Isso é um problema meu. – falou outra vez, com voz mais suave. – Não preciso que me salve. Já lido com esses caras antes de ter idade para beber.
– Não quero te salvar dos seus problemas, nem resolver isso por você. – devolveu no mesmo tom suave, quase rouco e o russo se virou para a olhar nos olhos. – Quero que sejamos parceiros. – estreitou o olhar rapidamente. – Cúmplices, ou do que você quiser chamar. Para resolver todas as... – Ela hesitou, umedecendo os lábios com a língua. – situações que se colocarem no nosso caminho.
– Ah, é? – triangulou o olhar dos lábios para os olhos da inglesa, com alguma malícia. Algo na forma de dizer ou na escolha de palavras da namorada o tinha atingido bem no fundo, em um lugar que não imaginava poder ser atingido. – E tem alguma ideia?
– Ainda não, mas vamos ter. – Respondeu enquanto acariciava o pescoço do central, tocando depois, devagar, a pele tatuada dele. – Acho que conseguimos fazer qualquer coisa juntos.
– Você é sempre surpreendente, . – a imitou, afagando a pele do rosto da namorada, ainda falando baixo, quase rouco. – E sabe me dominar.
– Não é por isso que você me ama? – Ela o olhou nos olhos, sustentando a tensão do contato visual e maneou a cabeça suavemente. – Eu sei lidar com o urso solitário daqui de dentro. – Disse, tocando devagar a testa do namorado, que respirou fundo.
– Você sabe, não é? – Ele assentiu.
puxou devagar o namorado, de acordo com que andava de volta ao quarto. ainda estava enrolado a toalha e ainda abraçado a ela, a seguiu para perto da cama.
– Eu sei, porque gosto dele. – Confessou a inglesa, ainda sustentando o contato visual, com queixo erguido. – Sei como ele se sente.
– E como é? – O capitão afastou as mãos do corpo da namorada para vê-la tirando o suéter que usava.
– Assustado, armado... – arqueou uma sobrancelha, surpreso pela audácia dela. – Ele não gosta que ninguém a quem ele não abriu a porta chegue muito perto. – piscou. – Eu não julgo, faria a mesma coisa. Ele não gosta de ser o animal de circo.
– Uau. – respondeu com sarcasmo. – Essa é a hora que você espera os parabéns?
– Eu nunca espero. – A inglesa deu a volta ao corpo do namorado, tocando suas costas outra vez, e depositando alguns beijos sobre as tatuagens, enquanto deslizava as mãos até a base da toalha. – Esse é o meu segredo. – Respondeu, jogando a toalha dele ao chão.
riu fraco, inclinando a cabeça e se virou para a namorada.
– E espera o quê?
– Por que eu tenho que esperar alguma coisa? – Devolveu ela, empurrando-o devagar para que se deitasse na cama e a medida com que ele se arrastava para ocupar a cama, com olhos atentos a ela, também se aproximava dele. – Eu já tenho tudo que preciso aqui. – Disse, tocando devagar a pele do namorado, onde estavam as tatuagens.
estava de joelhos na cama, com o corpo do namorado entre suas pernas. apoiava o tronco com os cotovelos e analisava a mulher, seguindo o movimento de uma de suas mãos, tocando a pele de seu ombro, até o peito, sobre a tatuagem e então ele a olhou com uma surpresa saborosa.
– Não sabia que minhas tatuagens te excitavam. – Ele sorriu malicioso, com um pouco de arrogância e retribuiu com um riso abafado.
A inglesa apenas maneou a cabeça outra vez e sorriu de lado, depois levou uma das mãos ao rosto, afastando uma mecha de cabelo. Com a cabeça ainda inclinada, olhou para sua calça jeans e então para o namorado de modo sugestivo. apertou os lábios, piscou e afastou o olhar por dois segundos, depois ergueu mais o tronco, liberando as mãos para que pudesse usá-las para abrir a calça da terapeuta inglesa. acompanhava atentamente os movimentos dele, ainda sem tocá-lo, mas quando terminou, a puxou com força pela calça jeans contra si, obrigando a inglesa a se segurar em seus ombros.
– Não sei o que você tá planejando... – Ele voltou a sussurrar, olhando-a por baixo, aproveitando para tocar a pele da namorada aonde alcançava. – Não deve ser boa coisa, mas eu gosto.
– Você pode descobrir logo. – piscou, puxando suavemente o cabelo do namorado e arranhando levemente sua nuca. mordeu o lábio inferior e o deixou escapar entre os dentes devagar, certificando-se de que ele estava acompanhando o movimento. – .
Ao ouvir seu sobrenome dito de forma tão lasciva, puxou contra si de uma vez, sem chance de resposta para a inglesa.
Sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia
Depois de ignorarem o almoço porque haviam perdido muito tempo no quarto, e estavam de volta ao trabalho. O casal bateu a porta do carro e caminhavam, um ao lado do outro, em direção a entrada do centro de treinamentos para o início do dia de trabalho.
– Ah. – foi invadida repentinamente por uma memória. – Combinei com Maisie e Louis, vamos ao apartamento hoje empacotar algumas coisas e terminar de vez essa mudança.
– Tem muita coisa lá ainda? – arqueou uma sobrancelha, olhando rapidamente para a namorada, depois voltando a se concentrar na neve no chão.
– Basicamente todas as minhas coisas. – rolou os olhos, cansada.
– Desculpe não conseguir ajudar. – fez um barulho com a boca, descontente. – Tem essa coisa das fotos hoje.
– Eu dou conta. – A inglesa garantiu sorrindo fechado. – Tenho meu pai e minha mãe comigo. – Ela piscou, fazendo uma brincadeira em menção a Louis e Maisie.
Houve um breve silêncio.
estava mais silencioso naquele dia, de modo geral, mesmo após algumas horas juntos na cama. Estavam bem, gentis e dóceis um com o outro, principalmente o capitão, mas havia algo por trás dos olhos dele, uma nuvem.
– Então, cúmplices. – O jogador repetiu pensativo, mas como se quisesse se certificar de ser mesmo sério o que a namorada havia dito antes, demonstrando ter pensado sobre as palavras dela.
parou de andar e sorriu.
A inglesa tinha as mãos nos bolsos, cabelos presos em um rabo e o olhava com alguma expectativa, curiosidade e uma pontinha de surpresa. também parou sua caminhada e a encarou.
– Por que você fez aquilo hoje? – O capitão perguntou, parecia realmente estar refletindo sobre as últimas horas. – Fez e falou.
– Não é óbvio? – Devolveu confusa.
– Talvez. – chutou um pouquinho de neve, baixando o olhar, depois ergueu os ombros e coçou a nuca. – Mas me pegou de guarda baixa.
– Você me colocou na sua vida, . – respondeu devagar e viu o namorado erguer o rosto, mas afastar o olhar. – Me colocou junto a sua família, seus amigos, na sua casa. Só estou fazendo parte dela.
O central riu fraco, ainda mantendo o olhar o mais fixo no horizonte possível. Não por temer que alguém se aproximasse e porque não queriam ser pegos, mas sim por estar mais mexido com coisas simples do que tinha estado ao descobrir ser amado pela terapeuta inglesa.
– Tá, mas... isso é meio diferente. – Ele tentou falar, mas não sabia como transformar o que sentia e pensava em palavras que fizessem sentido.
– Diferente por que? – estreitou o olhar, desafiando-o. – Os meus problemas são nossos e os seus são só seus?
– Não, não é isso. – riu nervosamente, baixou a cabeça outra vez e coçou a nuca de novo, depois de ajeitar a touca, que já estava certa. – Problemas do namoro, sim. Mas isso...
– Ah. – A inglesa se deu conta enfim. Estava se divertindo com o estado do namorado, mesmo que não entendesse a razão, mas agora, compreendendo o que se passava, ela sorriu. – O que é, ? – se aproximou um pouco e tentou olhar o namorado nos olhos. – Faz brincadeiras sobre casamento e filhos, me leva para viver com você, mas te assusto quando digo sobre sermos parceiros de crime?
O capitão riu nervoso outra vez e se afastou, negando com a cabeça e voltando a olhar para o horizonte.
– Não tô assustado. – Negou ele e arqueou uma sobrancelha, discordando. – Eu só... só... – Ele hesitou, nervoso e desconfortável. – É só que... – O jogador coçou a sobrancelha com o polegar. – Eu não sei explicar.
riu abafado, inclinando a cabeça um pouco.
– O que você fala? Tipo, essa coisa Bonnie e Clyde? – Ele perguntou, desajeitado e nervoso como um adolescente ao conversar com uma mulher mais velha.
– Te dou cobertura, te cubro, estou com você... o que preferir. – assentiu com a cabeça uma vez. – Mas pode usar os dois como comparação, sem a parte dos crimes ou balas. Mas também pode ser sim, se precisar. – maneou a cabeça.
– Ah, tá. – respondeu hesitante, ajeitando a touca outra vez.
sorriu de lado e negou com a cabeça, incrédula sobre como algo tão simples e sem intenção tinha causado uma reação tão surpreendente ao namorado. Principalmente no , e não apenas em .
– Se cuida, capitão. – A terapeuta inglesa tocou o ombro do namorado e disse, antes de se afastar.
permaneceu no mesmo lugar, assistindo à namorada se afastar em direção a porta e mesmo quando ela entrou, ficou ali, imóvel, encarando a porta. Absorvendo e digerindo, tentando traduzir a coisa piscando colorida e sem forma que ocupava sua cabeça em algumas palavras que fizessem sentido. Ela tinha razão, aquilo sim o havia afetado. Dizer que ama, não. Quer dizer, claro, era dizendo que o amava, mas... de algum modo já conhecia a sensação, já tinha achado ter encontrado o amor de sua vida umas três vezes durante seus vinte e sete anos. Mas uma cúmplice? Aquela era a primeira vez.
– Oi, boneco de neve. – Atte, que também chegava para o treino cumprimentou o melhor amigo. – Que foi? – O goleiro indagou quando percebeu a cara embasbacada do capitão, que tinha a mão no peito, respirava fundo e com a boca aberta. – Não tá enfartando ou coisa assim, está?
– Acho que acabei de perder a virgindade. – respondeu sem olhá-lo.
– Hein? – Atte gargalhou. – Qual é a brincadeira aqui? Isso não foi há uns quinze anos? – Ele ainda ria quando de repente parou. – Ou alguém te assediou, sabe... lá?
– Não, claro que não. – O capitão negou sacudindo a cabeça. – Mas de alguma forma, eu me sinto não virgem mais.
– E você se sentia? – Atte estreitou o olhar. – Por que a gente não entra? Às vezes o frio faz isso com a gente. Deixa a gente vendo coisas, ouvindo vozes, bem maluco mesmo.
– Não tô maluco. – Respondeu , começando a andar ao lado do amigo, para dentro.
– Olha, okay, lá naquela zona você não tem muita cobertura lá, amigo. – Atte tornou a falar, apontando para baixo da cintura do capitão. – Já cansei de ver o seu amigo. Isso tá parecendo o meu papo depois da cirurgia de excesso de pele no... – o interrompeu.
– Nem tudo é físico, Atte. – Ralhou o jogador, bufando. – É uma coisa diferente. Uma parada meio... – fez careta, como se enquanto falasse, tentasse lidar com o que sentia e que lhe era estranho. – É como se eu tivesse acordado.
– , é sério. – Atte parou de andar e segurou o amigo pelos ombros, obrigando-o a se virar em sua direção. – Você tá começando a me assustar e eu tô pensando realmente em ligar para algum hospital.
– Hoje aconteceu uma coisa. – ignorou o amigo e começou a contar. – Tive uma reunião com meu empresário e conversamos. Com a também, conversamos juntos e depois a gente transou loucamente, coisa pesada mesmo. – O capitão riu um pouco ao contar a última parte e o amigo rolou os olhos. – Mas, eu me sinto, agora, muito poderoso.
– Poderoso? – Atte arqueou uma sobrancelha.
– É.
O goleiro ainda o observava com estranhamento.
– De algum jeito, é como quando eu transei pela primeira vez. – Começou a narrar o capitão. – Aquela sensação de que pode qualquer coisa, de enfim viver a experiência humana como se deve. Acho que agora posso fazer qualquer coisa, sou tipo... invencível. – Disse ele, contemplativo.
– Entendi agora. – Atte cruzou os braços e assentiu. – Seu empresário te lembrou as cláusulas mágicas do seu contrato e agora você se lembra que é o . Surpresa! – O goleiro fingiu empolgação. – Grandes poderes vem com grandes responsabilidades, Homem-Aranha.
– Eu sempre soube muito bem de cada uma das cláusulas mágicas do meu contrato, Atte. – expirou um riso sem humor e estreitou o olhar. – Nunca me esqueço de nenhuma delas. Não preciso ser lembrado de quem eu sou, tenho espelho em casa. Mas não é sobre isso. – O capitão negou com a cabeça. – É sobre ela. .
– ? – Atte foi pego de surpresa. – O que foi?
– Você já... – hesitou, não sabia se o amigo entenderia. – Já sentiu que teria alguém... que o que você tinha com alguém era... intenso? Sabe, alguém que sabe quando estou fora de mim, como se pudesse simplesmente sentir. Se eu tivesse um milhão de dólares ou só dez centavos, ela aceitaria qualquer coisa, nunca precisaria convencê-la. – continuou. – Do tipo, correr ou morrer, Bonnie e Clyde... alguém que é a sua armadura, que mantém sua promessa. Calma e reservada, que mantém a compostura e que daria tudo por mim. Tipo, alguém pronto para morrer por você?
– Amigo, você não tá citando o diálogo do Coringa com a Arlequina em Esquadrão Suicida, não né? – Atte o interrompeu com olhos estreitos.
– Claro que não, deixa de besteira. – fez careta. – É só... tipo, eu sei que ela me ama. – O capitão voltou a andar. – Mas isso é algo mais.
– Acha um amor é fácil, achar uma parceira é que é difícil. – Atte deu de ombros e o olhou, como se todas as suas questões estivessem resumidas naquela frase.
– Como disse?
– É, tipo... amor, alguém para amar, compartilhar momentos bonitos e falar de sentimentos, brigar e transar... isso qualquer um pode ter. – O goleiro também andava. – Mas alguém pra te cobrir mesmo se estiver errado, pra te defender e arriscar tudo com você. Isso é raro. Ninguém acha um parceiro de crime no mercadinho.
– Eu acho que achei. – O jogador falou de repente.
– No mercadinho? – Atte estranhou.
– Não, idiota. – balançou a cabeça. – Na .
– Tipo a Beyoncé e o Jay-Z? – O goleiro tentou entender.
– É, tipo isso. – Assentiu . – A minha cúmplice. – Repetiu ele, experimentando como aquilo soava em sua voz.
– A Taylor Swift certamente tem uma música sobre isso. – Atte começou a falar, entrando junto ao melhor amigo no centro de treinamentos.
24 - I'm gon' be okay
Turn up the music, turn down the lights
I've got a feeling I'm gon' be alright
Okay (Okay), alright, it's about damn time (Ah)
Turn up the music, let's celebrate (Alright)
I've got a feeling I'm gon' be okay
Okay (Okay), alright, it's about damn time
(Lizzo - About Damn Time)
Sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia
estava na bicicleta, Atte ao seu lado e os dois em silêncio, pedalando com foco total em como a musculatura de suas pernas eram ativadas – jogadores de hockey nunca furam o dia de perna. O time estava na sala de musculação, ocupando os aparelhos e conversando animadamente, mas nem ou Jakkos estavam por lá, só preparadores. Santtu trocava de aparelho e passou perto do capitão, Topi caminhava ao seu lado e os dois riam sobre alguma piada suja. Quando percebeu Atte e o capitão, Santtu dispensou Topi e fez uma breve parada ao lado dos dois na bicicleta.
– E aí? – O defensor cumprimentou os dois amigos.
– Oi, sumido. – Atte piscou para o mais jovem.
– Não tem nenhum exercício para fazer não? – implicou, erguendo o queixo e bateu palmas, imitando Petri. – Pernas grossas não se ganham de presente de natal. Hoje é dia de pernas.
– Quem disse que eu preciso? – Santtu se afastou um pouco, levantando as pernas dos shorts que usava para mostrar as coxas ao capitão. – Eu tô em dia.
– Aí, vocês vêm aqui para malhar a língua, não é? – Aleks se aproximou também, antes que alguém respondesse Santtu.
– É, a gente estava falando mal de você. – respondeu a Aleks, apertando sua garrafa e jogando um pouco da água no ala.
– Devem mesmo. – Resmungou o mais jovem, escapando do jato com um pulo. – Agora tudo é Atte para cá, Santtu para lá... e eu fico sozinho. – Hade ergueu um dedo na direção do capitão. – Sua sorte é que sou um homem mudado, se não... teríamos alguns problemas.
Santtu abriu a boca para provocar e fazer alguma piada sobre bombons de coco, mas lembrou-se que ninguém devia saber que ele sabia, então se calou e inclinou a cabeça.
– O Santtu ficou órfão de loiro, por isso ele precisa de gente. – explicou, se divertindo da expressão retorcida que o defensor usou.
– Eu fiquei? – Santtu apontou para si mesmo, fingindo discordar.
– Claro, e o Otto, Jasper... todos são ruivos, não é? – Aleks cruzou os braços sobre o peito. – E o que você tem a ver com isso? Você nem loiro é, idiota.
– É que o Santtu ficou órfão de um jogador loiro e muito bom. – explicou com calma. – Atte é o jogador loiro. – Falou tocando o ombro do amigo. – e eu sou o bom. – Disse tocando o próprio peito.
Atte empurrou o capitão, enquanto os outros dois riam.
– Vou avisar o Mere disso. – Santtu comentou, ainda rindo. – Pedir para ele fazer uma visita. Porque eu não vou me contentar com isso aí não. – Implicou, sacudindo o dedo indicador na direção dos dois na bicicleta.
– Cala a boca. – olhou atravessado para o defensor. – Não inventa, não.
– Aí, os ciúmes... – Atte cantarolou, provocante. – Ele não se controla, impressionante. – O goleiro sacudiu a cabeça, enquanto ria.
– Meu parceiro, tu já está em outra... relaxa. – Aleks se apoiou a bicicleta de , dando um tapa suave no braço do amigo, que o olhou com estranheza.
– Em outra? – Santtu também não entendeu.
– É. – Aleks respondeu dando de ombros.
encarou Aleks por alguns instantes, tentando entender sobre o que ele realmente falava. Se se referia a terem assumido para Petri o caso ou se era sobre algum outro momento do relacionamento. Mas então, de súbito, o jogador foi invadido pela lembrança de que Aleks era um dos que não sabiam sobre o relacionamento deles, e arregalou os olhos.
– É claro que eu tô em outra. – O capitão falou rápido, atraindo olhares perdidos de Santtu e Atte. – É, tipo... e eu? – Ele expirou um riso nasalado e negou com a cabeça, com apertando os lábios com desdém. – Isso já foi há muito tempo. Bem antes daquele dia na sauna. – olhou sugestivamente para Santtu e Atte, que depois de algum tempo pareceram perceber o que acontecia e também arregalaram os olhos, tentando disfarçar mudando o foco da atenção, assoviando ou encarando as unhas.
– Ah, é... isso é verdade mesmo. – Atte concordou, fingindo-se de desentendido. – é do Merelä agora. Grande Merelä. Saudades. – O goleiro falou, olhando de olhos estreitos para o amigo capitão, temendo sua reação.
– É, eles estão felizes. – Santtu coçou atrás da cabeça. – Mere está bem animado, mesmo namorando a distância.
Aleks fez uma careta e um barulho desanimador com a boca.
– Que foi? – O capitão se alarmou.
– É, que sabe... eu ouvi por aí... – Hade puxou Santtu para mais perto de e Atte para que pudesse sussurrar. – Eu ouvi por aí que o nome que ela gritava a noite não era Merelä.
Os três se entreolharam, Atte e Santtu arregalaram os olhos e apertou os lábios para não rir e inclinou a cabeça.
– Às vezes ela se irritava assistindo TV. – Atte sugeriu, projetando o lábio inferior. – Ou tinha pesadelos com alguém.
– Bom, se eram sonhos, parece que não eram bem pesadelos... – Hade maneou a cabeça. – Eu acho que mais gente tem comido esse mingau.
– Aleks. – endireitou as costas e falou sério. – A gente não faz isso, ficar falando pelos cantos da assim. Nem pelos cantos, nem com ninguém. Nem sobre ninguém.
– Qual é? Não quer saber quem é? – O ala atiçou o capitão. – Não tem curiosidade? Mesmo?
– Não, porque tudo que eu preciso saber sobre eu já sei. – deu de ombros, enquanto Atte e Santtu assistiam curiosos com o desfecho.
– Eu ia querer saber. – Aleks cruzou os braços sobre o peito e uniu as sobrancelhas. – Se fosse a minha ex, se ela estivesse saindo com um cara do time... bem nas minhas costas... pode ser que eu tenha sido traído também.
– Não sou. – respondeu rápido, distraído quanto ao tempo de sua frase, mas Aleks parecia mais ligado (ou nem tanto) que o normal e com tendências mais maliciosas.
– Não é, porque pode ser você o traidor, né? – Hade provocou, causando um silêncio sepulcral entre o grupo.
Santtu prendeu a respiração e deu as costas, como se o quadro de exercícios do dia, preso na parede atrás deles, fosse muitíssimo atraente, Atte inclinou a cabeça e não ousou sequer manter os olhos abertos, começou a pedalar de verdade. O capitão encarou Aleks como costumava encarar o gelo quando a arbitragem lhe roubava um gol, ou quando recebia punições injustas, ou quando lhe acetavam forte e não ganhava um power play.
– Como é?
– É, sabe, pode muito bem ser você. – Aleks começou a dizer, cheio de pretensão, cruzando os braços e estreitando o olhar. – Você diz que namora, mas nunca apresentou ela para ninguém. Mas tudo bem, jogadores traem, é normal e você ter uma namorada não significa nada. – Hade ergueu os ombros. – Mas podia ser você... vocês dois vivem de papinho, você faz tudo que ela quer... e o nome que ela geme a noite não é Merelä. Bem que pode ser você quem anda comendo esse mingau com caldinha de morango.
O capitão desceu da bicicleta, atraindo o olhar apreensivo de Santtu e Atte – que parou seu exercício, pronto para intervir caso fosse necessário. se aproximou de Aleks, braços paralelos ao corpo e ombros rígidos.
– Petri também faz o que ela quer. E o Atte, o Santtu, o Otto. – O capitão listou com firmeza. – A lista de casos de me parece ser bem grande, então. – Ele estreitou o olhar ameaçadoramente. – Qual é a sua? Ciúmes por não estar na lista? – Aleks expirou um riso sem humor e afastou o olhar. – Achei que tinha sido claro, mas vou repetir uma última vez - coçou a nuca e mexeu os ombros, incomodado. – E só mais essa vez, porque hoje eu tô de bom humor, por incrível que pareça. – Aleks ergueu o olhar e o encarou com expressão desafiadora, debochado. – É melhor você e quem mais tem feito isso, de ficar espionando e falando da desse jeito, parar por aí. Ela é parte da equipe e a gente não faz isso com os nossos. – Aleks riu outra vez, mexendo as sobrancelhas para evidenciar o quanto não se importava ou não se intimidava. - Eu te conheço bem, mas você também me conhece, não é? – arqueou uma sobrancelha desafiadoramente. – E entendeu que eu não tô brincando.
Aleks projetou o lábio inferior, sem parecer realmente tocado pelas palavras e ergueu as mãos, rendido.
– É melhor você se ocupar com o treino. – Pediu e Aleks riu outra vez, afastando-se em seguida, sem parecer ter de fato se importar.
– Mas o que é que foi isso? – Santtu perguntou, pasmo, apontando para Aleks, que já estava distante o suficiente para que os três pudessem falar sem serem ouvidos.
– Aleks sendo o Aleks. – Atte respondeu, torcendo os lábios. – Não fica com essa cara, ele só parece muito idiota, mas na real, ele é só um pouco idiota. – O goleiro tentou justificar e Santtu fez careta. – E ele tem uma fixação meio bizarra no.
– Achei que tinha acabado a fase. – O capitão suspirou, cansado, apoiando as costas na parede.
– No bar em Pori, Willy, ele e Jay vieram com um papo estranho assim. – Atte contou, parando de pedalar e apoiando-se a bicicleta. – Perguntando de você para e eu, se você estava mesmo sozinho no hotel. Disse até que deviam fazer um encontro de casais. – Atte maneou a cabeça. – Na verdade o Willy falou isso tudo, Aleks e Jasper só estavam com ele, mas estranhos também. – Se corrigiu o goleiro.
– Jay não é esse tipo de cara, ele não falaria da . – Santtu comentou, pensativo. – Mas não foi o Willy quem disse que ouvia coisas do apartamento da ? Há tempos atrás? – Santtu se lembrou.
– Qual é a desses caras? – sacudiu a cabeça negativamente.
Fez-se silêncio entre os jogadores, enquanto cada um contemplava seus pensamentos mais particulares.
– Mas confesso que até acho engraçado, pensarem isso, que tenho um caso com a . – O capitão sorriu de lado, distraído. – Mas o Aleks exagera muito, é perigoso. Felizmente isso está perto do fim.
– Já sabem o que vai ser? – Atte quis saber, curioso.
– Não, mas sei que tem muita gente preocupada com a gente. – desviou o olhar, tentando disfarçar sua inquietação com aquele tópico. – Meu empresário acha que eles esperam que eu use a renovação para manter a aqui.
– E você vai? – Santtu indagou de cenho franzido.
– Nunca nem pensei nisso. – Confessou o central, dando de ombros. – Mas depois que ele disse, me pareceu uma proposta tentadora. Mas não ia querer isso, nem eu. Não assim. Tudo que sei é que quero que esse drama acabe de vez, quero contar para todos aqui sobre nós e viver a vida. Não aguento mais esse drama, ter que fingir e esconder. – O capitão bufou. - E agora o Aleks com essa coisa idiota.
– Ela já sabe o que vai fazer? – Atte quis saber. – Porque ela veio para Lahti para o Pelicans, não é?
– Bem, se ela sabe, não me disse. – deu de ombros. – A gente já se desgastou muito com esse assunto, parece que toda semana é um problema novo. Então, não temos falado muito sobre isso.
– Agora eles estão mais que nunca em uma lua de mel. – Atte provocou, sorrindo e apontando para o amigo com o queixo, atraindo para o capitão um olhar divertido de Santtu. – Desvirginados. – Implicou o goleiro.
– Oi? – Santtu riu e também, baixando a cabeça, envergonhado.
– A gente é cúmplice. – respondeu, aproveitando a sensação que a palavra lhe causava na boca. Estava apoiado a parede, mãos cruzadas atrás das costas, boné. – É uma maravilha.
– Ela disse isso pra ele de manhã, agora ele não para de repetir. – Atte contou a Santtu, que riu. – Com essa, já ouvi cinquenta e três vezes.
– O mais emocionado de todos. – O defensor brincou, sacudindo o moreno pelos ombros. – O leão foi domado, o homem está amando.
– Eu tô bem feliz. – sorriu grande.
– Ele nunca disse isso quando era comigo. – Atte torceu os lábios, fingindo insatisfação e os outros dois riram.
– A diferença, meu amigo... – abraçou o defensor pelo ombro. – É que a me deixa ser quem eu sou, até a parte antissocial. E você, só me enchia o saco. – O capitão apertou as bochechas de Santtu ao falar, olhando para Atte, e os três explodiram em risadas.
Sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Apartamento de
Lahti – Finlândia
Poucas coisas se comparam, quanto a capacidade de gerar serotonina, com estar com amigos, fazendo qualquer atividade – cozinhando, arrumando coisas, se arrumando – e ouvindo música alta e cantando junto. Maisie, e Louis embalavam as coisas de no quarto, enquanto ouviam Lizzo no volume mais alto que a Finlândia e o prédio permitiam. A música falava sobre um relacionamento fracassado com um homem e embora tivesse rido disso, lembrando os amigos de que seu namoro ia muito bem, obrigada, não se recusava a aproveitar. Enquanto Maisie dançava com as costas coladas a Louis, que acompanhava as duas mulheres, fazendo o serviço mais braçal, subiu na cama e cantava animada, pulando sobre o colchão e dançando como conseguia.
Talvez aquele fosse o momento em que a terapeuta mais se sentia ela mesma, sendo esquisita e se soltando completamente, sem pensar no que as pessoas diriam. Afinal, conhecia bem aquelas duas pessoas e sabia muito bem o que eles diriam – ou o que não diriam. Era como se estar com os melhores amigos desse a ela a oportunidade de liberar sua criança interior, de agir como queria e não como achava que devia para manter uma postura respeitável e madura perante todos. Mai e Lou não davam a mínima para a postura dela.
– Eu tive uma ideia. – Maisie deu alguns pulinhos. – A gente devia aproveitar que temos alguns dias de folga e você está quase desempregada e ir para Madrid. – Sugeriu a outra inglesa. – Ou Miami.
– Eu não vou pra Madrid, Mai. – gargalhou, deixando-se cair na cama. – Preciso de um emprego, lembra?.
– Você namora um milionário, quem liga pra emprego? – Maisie deu de ombros, parando de dançar. – E ele nem é velho. Você teve sorte.
– Talvez você devesse ficar aqui. – Louis sugeriu a Maisie, capturando o olhar das duas. – Quem sabe encontre seu jogador rico. Eu ficaria feliz.
– Pela Maisie se mudando para a Finlândia? – se sentou na cama, estranhando.
– Não, por não ter que a ver todos os dias. – Respondeu o médico e em seguida foi acertado com uma chuva de almofadas da parte de Maisie e .
– Vai. Saí daqui e vai comprar algo pra gente comer. – Maisie ordenou, empurrando o médico. – Ou quem vai ficar na Finlândia seremos nós dois. Você enterrado e eu presa. Insuportável.
Louis riu.
– Pizza seria bom. – concordou, apontando para a porta. – E eles até falam inglês lá.
– Isso, claro... – Louis reclamou, rolando os olhos. – Seja o único homem no meio delas, vai ser divertido. – Bufou, caminhando para a sala. Não se opôs a sair porque já tinham comentado antes sobre o quanto estavam com fome e já estavam naquela atividade há muitas horas.
– Não quero com abacaxi. – Maisie gritou do quarto quando ouviu o som das chaves.
– Pois essa é justamente a que eu quero. – Lou respondeu e em seguida as duas ouviram a porta bater e então o silêncio (além da música, é claro).
– Vocês precisam parar com essa implicância. – falou ao se levantar, tornando a colocar suas roupas em caixas. – Isso só é legal até os dezessete anos, depois fica meio estranho.
– Ele sente tesão em me irritar, não tenho culpa. – Maisie deu de ombros, dobrando um dos casacos da amiga.
– Por falar nisso... – se esgueirou para mais perto. – A gente não conversou direito sobre o que tem acontecido. – Maisie encarou a amiga com olhar estreito e incerto. – Sobre você e o Lou. Nem sobre o Santtu.
– Por favor, ... paciência. – Mai bufou, afastando-se de . – Quer falar sobre como seu amigo gostoso me fez ver estrelas no banheiro esquisito de um bar? Okay, te dou todos os detalhes. Quer falar sobre o Louis? Vou vomitar no seu tapete.
– Espera, não precisa se irritar. – A inglesa riu, e se sentou ao lado de Maisie, na cama. – Embora eu esteja bem tentada, acho que não quero criar imagens suas e do Santtu na minha cabeça. Meu namorado é quem estava curioso com isso. – Maisie rolou os olhos. – Mas, Mai... eu fiquei fora por algum tempo e as coisas parecem bem piores. Só quero entender o que está se passando com meus dois melhores amigos. – justificou, encarando a amiga com doçura e Maisie bufou outra vez. – Lou disse que vocês ficaram juntos outra vez, no fim do ano.
Maisie lançou a amiga um olhar de insatisfação e tédio, respirou fundo e apertou os olhos por alguns instantes.
– Que boca grande. – A inglesa morena reclamou. – Eu estava carente, triste, com saudades de você e só queria companhia. – Contou, com olhar baixo e dando de ombros. – As coisas só aconteceram. Mas foi rápido e não significou nada.
– Talvez não para você. – soprou e viu ter ganhado a atenção da melhor amiga. – implicou, mas ele tinha razão, Louis ficou bem perturbado com você e Santtu no bar. Ele ficou calado e depois armado e irritado, brigou até comigo.
– Isso é porque ele é controlador, quer controlar tudo e todos, amiga. – Maisie resmungou, irritada e ficou de pé. – Tenho ódio. Eu nunca sei o que estou fazendo. Para ele, sempre sou incapaz, imatura, inconsequente... não preciso de uma babá.
– Amiga... – apertou os lábios e apoiou os cotovelos nos joelhos. – Nós trabalhamos com isso, sabemos como essas coisas são. De onde que surge o desejo dele de controle? Essa superproteção?
Maisie ergueu o olhar e projetou o lábio inferior. Sua expressão misturava frustração, raiva e mágoa.
– E se por acaso fosse verdade? E se tudo isso de te controlar, que é o que você acha, fosse porque ele ainda gosta de você? – sugeriu, observando a melhor amiga, que riu.
– De mim? – Maisie apontou para si mesma, tentando voltar a postura inabalável de antes. – Não, Louis não me suporta. Ele nunca escolheria alguém como eu. – Maisie se aproximou da janela, onde mais neve caía, dando as costas para a amiga. – É como ele sempre diz, eu não tenho modos, não sou elegante e refinada. Não tenho uma família importante como a dele, estou mais para quem trabalha para eles do que para quem se senta na mesa. – Maisie riu, mas não parecia estar se divertindo. – Ele nunca escolheria alguém tão diferente. E eu não ia querer também, mudar quem eu sou para ficar com um homem. E o Louis. – Maisie riu outra vez, mas dessa vez mais alto e se virou para . – Frouxo, fresco, almofadinha, que fala baixo e que coloca dois torrões de açúcar no café. Que passa as meias, que não compra nada em feiras, que não come uma fruta que já foi mordida e nem consegue dividir um sanduíche porque tem medo dos germes. Isso é insuportável e eu preciso aguentar todo dia.
– Mai... – tentou dizer, mas a amiga não permitiu.
– Além do mais, a gente tentou. No passado. – A outra voltou a sua tarefa de empacotar coisas. – Por que diabos daria certo agora? – Maisie sacudiu a cabeça negativamente. – Somos polos opostos e ele tem razão, eu devia mesmo ficar aqui e ficar longe dele. Os homens daqui são melhores, você tinha razão. – tentou abrir a boca para retrucar, mas Maisie a repreendeu com o olhar. – Não tente. Assunto encerrado. Eu e Louis não é um assunto, aliás.
apenas aceitou, imitando Maisie e continuando o empacotamento. Ainda haviam muitas coisas para pôr em caixas e a inglesa estava saudosa com aquela movimentação. Tinha em seu interior o desejo de ligar para Mere, Santtu, Otto e Jay e os convidar para participar, já que o grupo havia ajudado a organizar o apartamento na primeira vez. Mas as coisas ainda estavam meio estranhas com Mere, e Santtu e Louis no mesmo ambiente não seria aconselhado. Chamar Otto poderia atrair curiosidade de Jay, que andava estranho demais nos últimos tempos e que ainda não sabia sobre o relacionamento de com o capitão.
Talvez fosse mais prudente fechar o ciclo de um jeito diferente, mesmo. Depois teria tempo para matar a saudade com os amigos.
– Eu não acredito. – falou de repente, erguendo o pinguim de pelúcia e mostrando a Maisie. – Tinha me esquecido disso.
– E o que é isso? – A amiga franziu o cenho. – Seu ursinho de criança?
– Não. – A terapeuta analisava a pelúcia como se fosse uma das coisas mais preciosas do universo. – É um presente. me deu.
– Quando? – Maisie se aproximou. – No seu aniversário de seis anos?
– Ridícula. – riu pelo nariz, olhando para a amiga. – Foi depois de uma briga. Ele tentou vir aqui e trazer chocolate, flores e esse pinguim. Pediu desculpas e admitiu estar errado, mas eu não acreditei. – A inglesa sorriu com a lembrança. – E aí ele admitiu que estava odiando aquilo, mas que queria se resolver.
– Que romântico. – Maisie ironizou, rolando os olhos.
– Mas foi mesmo. – Garantiu a inglesa. – Depois nós ficamos na cama comendo chocolate e conversando, rindo de qualquer besteira. – ergueu os olhos, encarando sua antiga cama. – Foram tantas coisas aqui... quando eu acordei com ele pela primeira vez. Ou com qualquer outro homem na minha cama, pelo menos. – Lembrou e Maisie riu pelo nariz. – Quando ele disse que tinha feito todo aquele drama para chamar minha atenção. Toda as vezes que brigamos aqui por coisas bobas, ou que rimos de nós mesmos... quando ele tinha ciúmes...
– Eu preciso confessar algo. – Maisie chamou a atenção da amiga. – Ele não é tão ruim quanto eu pensei. – Declarou, sem fazer qualquer esforço para disfarçar sua expressão de contragosto, como se as palavras ditas a desse ânsia de vômito e gargalhou. – Quando você me falava dele, das brigas e de tudo, eu imaginava um homem diferente. Mas ele é uma maricona.
– Maricona? - repetiu, achando graça.
– É, sabe... você é mais durona que ele. – Maisie riu também. – Vocês brigam muito, é verdade. Mas é um problema que criaram, por juntarem amor e trabalho. Transar com colega de trabalho só dá certo nas séries, vai por mim.
– Maisie... – riu outra vez.
– Eu esperava chegar aqui e encontrar quase um mafioso russo, cheio de tatuagens e lemas de família, com sotaque estranho e que só tomasse vodca. Que fosse bravo e quebrasse copos. Que fizesse a gente tremer com um olhar. – A inglesa morena se sentou na cama. – Mas ele também bebe coquetéis, cozinha e ele decorou minha torrada com carinhas.
– É, ele é um fofo. – assentiu, feliz em ter alguém com quem falar sobre o namorado.
– Ele é uma maricona, amiga. – Maisie gargalhou. – Aposto que ele chora mais que você quando vocês assistem filmes românticos.
– Não me lembro de ter tido a experiência. – se aproximou da cama, apoiando um dos joelhos. – Mas eu gosto dele assim. reage assim quando está com quem confia, quando se sente seguro. É difícil chegar a esse lado, tive que ultrapassar algumas muitas barreiras.
– E agora você já não aguenta mais? Eu entendo.
– Boba, é claro que não. - rolou os olhos. – Eu o amo. Gosto como ele consegue ser um cara durão quando é preciso, mas que não deixa de ser sentimental e doce. Romântico e puro. Ele é mais sentimental e passional que eu, isso é verdade, mas levo isso como algo bom. - maneou a cabeça.
– Espero que ele consiga mesmo ser um cara durão quando é preciso, porque senão, sua família vai bater tanto, que ele nem vai entender de onde está vindo o próximo soco. – Maisie suspirou. – Recebemos o convite do casamento, aliás. Louis e eu.
– Eu o convidei para ir comigo. – Confessou , sentando-se na cama e Maisie ergueu as sobrancelhas. – Todo dia penso que é uma péssima ideia, mas essas coisas de família são importantes para ele. Quando soube que minha família não sabia sobre ele, ficou desapontado. E aí um dia, minha mãe me ligou, começou a falar sobre o casamento e eu só disse. Não pensei.
– Achei que você realmente amasse ele. – Maisie foi sarcástica, deitando-se na cama. – Isso que você fez, não se faz nem com o pior inimigo.
– Acha que vai ser tão ruim assim? – A terapeuta apertou os lábios, preocupada.
– Talvez eles estejam tão ocupados em impressionar a família do noivo, que esqueçam de você. – Maisie pensou alto.
– Isso é o normal.
– Talvez se souberem que o seu namorado é famoso e rico, eles relevem... mas... – Maisie encarou a amiga. – Eles implicam até mesmo comigo, quando verem o russo com parte mexicana, tatuado, de brinco e com estilo duvidoso, vão te internar e proibir a entrada dele na festa.
– Eu devia cancelar. - suspirou, encarando as mãos e visualizando a consequência de suas ações no futuro.
– Não. – Maisie se sentou rápido. – Não. Você não vai fazer isso. Você vai a esse casamento, vai esfregar na cara de todo mundo que é competente e capaz. Que veio para outro país e conquistou reconhecimento, afeto e um amor. Chega de fugir, ser passiva e se esconder.
– Eu não sou passiva. - fez bico.
– Fugir para não ter que enfrentar, não é bem o melhor jeito de lidar com os traumas familiares, não é, amiga?
– Que seja. - expirou pesadamente, ficando de pé. – Ele vai me deixar depois desse casamento. – Concluiu triste.
– Que nada. – Maisie deu de ombros. – Se ele nem reclamou de mim, não vai te deixar por causa da sua família. Mas é mais uma razão para você se manter firme e enfrentá-los. Se por ele valer a pena. – Maisie sorriu e a terapeuta a imitou, assentindo com a cabeça.
Maisie piscou, empática. se aproximou da cama e tocou com suavidade um dos travesseiros, o que costumava usar. Não pensava muito sobre sua família e o encontro que estava por vir, aquilo sempre lhe gerava ansiedade. Queria não ter que ir, queria não precisar apresentar a eles, mas era importante para o namorado e Maisie tinha razão, talvez fosse a hora.
– Ele esquentava o meu lado da cama se viesse dormir antes. Ele ainda faz isso. – A inglesa maneou a cabeça. – Mas aqui era diferente. Aqui éramos só nós dois. Sem funcionários ou qualquer outra coisa. Ele cozinhava pra mim e fazia piadas sexuais ou só piadas ruins sobre renas e eu simplesmente não conseguia parar de rir. Por que eu estou triste lembrando disso? – Ela riu fraco. – Queria que ele viesse para cá, não eu para a casa dele.
Maisie se aproximou da amiga e a abraçou pelos ombros, apoiando o queixo no ombro da inglesa.
– Acho que é tipo um luto, pela fase que viveram. – Maisie começou a dizer, seu tom era doce. – Eram vocês dois e era segredo. Agora é outro momento, vocês têm que lidar com a família, amigos e com tudo que o relacionamento de vocês traz. – assentiu com a cabeça. – Mas isso não significa que precisam deixar de lado tudo que faziam e sentiam aqui. Vocês são vão estar em um lugar muito, mais muito mesmo melhor. – Brincou Maisie e rolou os olhos.
– Eu sei que não. – respirou fundo, abraçando o pinguim contra o peito. – Mas é que... será que estou sendo muito egoísta por preferir isso. Preferir quando éramos só nós dois nessa ilha deserta e isolada que era o meu apartamento?
Maisie riu.
– Não, claro que não. – A amiga beijou o ombro de . – Acho que é normal. É meio assustador tudo isso.
– Ele ser famoso?
– Não, amar alguém. – Maisie respondeu e se virou para a olhar. – É um salto na fé para o desconhecido. É normal ter medo de que as coisas mudem nessa nova fase. – A outra inglesa sorriu. – Você disse, trabalhamos com isso, sabemos bem como funciona. – Maisie piscou e sorriu, agradecida por ser uma garota que tem uma melhor amiga.
Sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Apartamento de
Lahti – Finlândia
Após horas intermináveis de fotografias cansativas e chatas, mas obrigatórias para os jogadores, estava de volta ao apartamento de . Fazia tempo desde a última vez ali, a última vez que a via ver. Nem se lembrava da última ocasião em que havia estado no prédio junto a namorada e pensar sobre isso havia tocado o coração do jogador com um saudosismo engraçado. Claro, preferia e achava ótimo que não tinha que a visitar mais, que agora moravam juntos e dormiriam e acordariam juntos sempre. Mas isso não mudava o fato de que a sensação de já ter vivido aquilo era um pouquinho saborosa.
Quando chegou, encontrou Maisie e Louis comendo pizza em silêncio, não estava com eles. O jogador se aproximou da mesa e se inclinou para olhar a pizza enquanto tirava as luvas e a toca.
– Sério? Abacaxi? – franziu o nariz. – Vieram da Inglaterra para comer essa porcaria?
– Foi o que eu disse. – Maisie resmungou, chutando Louis por baixo da mesa. – E ainda preciso responder quando me perguntam porque odeio ele.
– Você come a fruta e come a pizza, por que não comer os dois juntos? – Louis rolou os olhos e riu.
– Onde está a terceira inglesa? – O capitão quis saber.
– No quarto, nem ela suportou essa pizza horrível. – Maisie respondeu, empurrando a caixa na direção do amigo de modo brusco.
– Então por que comeu três pedaços? – Louis começou a retrucar enquanto se afastava.
O capitão os deixou com seus dramas e pizza ruim, pensou em bater na porta, mas a encontrou entreaberta. Pelo pequeno espaço de abertura, viu a namorada, que sentada na ponta da cama, observava a parede como se não tivesse mais nada programado em sua agenda. Tinha as mãos sobre o colo e uma linha entre as sobrancelhas, ombros baixos e respirava profundamente.
– Você devia estar tomando conta das crianças, elas estão se matando lá fora. – brincou e o olhou e sorriu.
– Oi. – Ela o cumprimentou baixo, entrou no quarto e fechou a porta.
– Oi, Rakkaani. – se sentou ao lado dela e a beijou no lado da cabeça. – Eu conheço esse olhar. Me diz, vou gostar do que você tá pensando, ou vou sair daqui chorando?
riu abafado e deixou a cabeça pender até se apoiar ao ombro do namorado.
– Acho que só estou um pouco saudosa. – Confidenciou em um suspiro. – Foram tantas coisas aqui... é como se esse lugar, esse quarto... como se ele tivesse algum tipo de magia poderosa. A casa onde o meu amor nasceu.
– Mas eu nasci em Viipuri. – a corrigiu e riu pelo nariz, depois o empurrou fraco. – Sabe que eu meio que senti isso também? Quando cheguei. Mas prefiro você comigo em casa.
– O que sentiu? – quis saber, entrelaçando seus dedos aos do namorado.
– Não sei, uma sensação engraçada de já ter feito isso milhares de vezes. – Ele contou. – Já surtei tanto lá no estacionamento. – confessou rindo. – Sobre o que falar, como falar... tentando impressionar você, ou tentando me desculpar. Foi uma fase gostosa.
– Você pedindo para subir... – começou a lembrar, sorrindo. – Me mandando mensagens, me chamando para sair logo depois da primeira noite.
– Por que naquela época eu pensava que um encontro em público era boa ideia? – franziu o cenho.
– Talvez fosse. – deu de ombros. – Sabe que me lembro de quase tudo? – Contou e o namorado sorriu, erguendo as sobrancelhas. – Das suas piadas, do flerte... das coisas engraçadas que você dizia.
– Espera, você disse dizia? – arregalou os olhos. – Eu não sou mais engraçado?
– Você é, é claro. – sorriu. – Mas acho que é diferente no início. Ou talvez, daqui uns anos eu sinta a mesma coisa ao olhar para o que é nosso presente agora.
ponderou por alguns instantes, em silêncio, quase sentindo fisicamente as sinapses acontecerem.
– Ou, talvez, a fase da paixão, do início onde tudo é novidade tenha passado. – Concluiu, erguendo o rosto e endireitando a postura. – E aí por isso a diferença.
– Obrigado, Deus, universo. Obrigado todo mundo. - olhou para o alto teatralmente e fechou os olhos, a inglesa o observou confusa e o jogador, quando voltou a olhá-la, explicou. – Seu maior argumento já era.
– Como assim? – Ela riu, sem entender.
– Isso é só uma paixão. - tentou imitar o tom da namorada. – É muito cedo para morar junto. Para casar. Para tudo, porque você não sabe se vai me amar no futuro. Você só está apaixonado e bla, blá, blá... - inclinou a cabeça e a olhou, erguendo as sobrancelhas.
rolou os olhos e riu.
– Tanto faz, . – A inglesa cruzou os braços, fingindo estar emburrada e o jogador a beijou no lado do rosto, perto da orelha.
– Não, diz assim – O capitão pediu, com os lábios pressionados contra a pele dela. – Diz que eu tô certo. Que eu venci essa. Diz.
– Não seja ridículo. - riu, negando com a cabeça, tentando não pensar sobre como era sexy a voz dele baixa, perto de seu ouvido, a sensação dos lábios cheios roçando sua pele, enquanto uma das mãos do capitão lhe abraçava a cintura.
– Diz pra mim. – Pediu outra vez, falando ainda mais baixo e sorrindo. – Diz que eu tenho razão.
suspirou contra a pele dela e fez-se silêncio.
– Você tem razão, capitão. - admitiu após alguns segundos. – Esse tempo todo, você tinha razão.
se virou por cima da namorada, obrigando-a a se deitar na cama e ficando por cima, beijando seu pescoço.
– Mas a gente não estava conversando? – riu, sendo agarrada por ele.
– Mas a gente pode continuar. – Respondeu sem muita atenção o capitão.
– Você quer matar a saudade da minha cama, relembrar os velhos tempos aqui? – perguntou, abraçando a cintura dele com uma das pernas.
– Eu achei que meu coração fosse explodir naquele dia, quando você me chamou aqui depois do jogo. – O capitão confidenciou, erguendo o rosto rapidamente e sorrindo como uma criança. – Não fazia ideia do quanto eu queria aquilo. Eu queria muito, queria naquela primeira noite, mas acho que estava mais curioso e com expectativas. Mas na segunda vez eu fiquei nervoso, animado e era como se fosse meu aniversário.
– Você nunca me disse isso.
– Nunca foi o assunto. – respondeu com simplicidade. – Eu lembro da gente conversar muito aqui também. – O jogador tocou a cama, apertando o colchão perto do rosto da namorada, onde tinha a mão apoiada. – Já chorei aqui também. Acho que vergonhosamente já chorei em muitos lugares. – riu pelo nariz e o beijou rapidamente. – Já quase falei que te amava várias vezes aqui também. – o olhou com surpresa. – E fiquei com medo de você não me querer mais se me conhecesse melhor. Mas aí eu te fazia rir e achava que estava te distraindo de perceber isso.
O casal riu alto, juntos.
– Acho que os nossos melhores momentos são assim, conversando sobre qualquer coisa na cama e rindo. – falou, abraçando a cintura do namorado. – Ou naquela cozinha, quando você cozinhava para mim e por um momento... – hesitou, acariciando as orelhas dele.
– Por um momento? – O jogador a incentivou.
– Por um momento era como se aquele fosse o mundo. – Ela completou após uma respiração mais funda. – Como se fossemos só nós dois.
maneou a cabeça, um pouco confuso, porque para ele, sempre foram apenas os dois, não importava aonde estivessem.
– Acho que sou um pouco egoísta nisso. – confessou, baixando o olhar para as correntes que pendiam do pescoço do namorado. – Maisie diz que não, mas eu acho que sim. Ou só não estou acostumada a dividir sua atenção e você com mais ninguém, o que me torna, além de egoísta, narcisista.
– Hein? – riu pelo nariz, perdido.
– Eu só... – expirou pesadamente. – Aquele dia no bar, depois do jogo. Senti falta de quando você abandonava as comemorações e vinha até mim, e me escolhia ao invés de outras coisas e aí éramos só nós. – Ela confessou, sentindo um pouco de vergonha, por isso não o olhava nos olhos. – Ou agora, sinto falta de saber que não vamos mais ser nós dois naquela cozinha, ou só nós dois aqui, à noite, assistindo TV ou rindo de alguma piada ruim. Eu sei que é idiota, mas...
– Até é um pouco. – se pronunciou, sorrindo. – Mas eu continuo com você, por que não podemos fazer essas coisas?
– Porque no geral, quase nunca estamos sozinhos. – suspirou um pouco consternada. – Agora é uma fase diferente, eu acho. – O capitão franziu o cenho. – Maisie diz que isso é o meu medo de que as coisas mudem agora que mudamos de fase. – Ela explicou (ou tentou), depois de ver a careta de confusão do namorado.
– Eu até fico lisonjeado de querer ficar só comigo assim. – falou após algum tempo em silêncio. – Até porque, é tudo que eu mais quero. Por isso queria que morasse comigo, por isso queria ficar com você o tempo todo. Mas não entendo qual é o problema da minha casa.
– Não tem nada a ver com a sua casa. – respondeu, mas vendo que a confusão do capitão não se dissipara, sacudiu a cabeça e apertou os olhos. – Deixa pra lá, esquece isso. – A inglesa sorriu, tentando o puxar para perto. – Acho que o saudosismo mexeu muito com a minha cabeça.
– É, tô vendo que sim. – Respondeu , com olhar estreito. – Mas desde que não te faça mudar de ideia...
– Nada pode me fazer mudar de ideia. – sorriu, tomando o rosto do namorado nas mãos. – E estar aqui, visitar todas essas lembranças só me fazem ter mais certeza disso.
sorriu mostrando os dentes e correspondeu, beijando-o depois, aproveitando a atmosfera quente e carregada do quarto.
Sábado, 22 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia
No sábado o Pelicans teria outro jogo, dessa vez em casa.
A torcida enchia a arena, entoando hinos e celebrando à sua maneira, porque a cada dia passado eles estavam mais próximos dos playoffs e isso os animava. A arena já estava cheia, os times já estavam no aquecimento e mantinha sua palavra de aproveitar ao máximo seu tempo – restante – no time. Na noite de sábado a terapeuta inglesa havia convidado seus amigos para conhecer de mais perto a estrutura, seu trabalho e o time. Também seria o primeiro jogo de Maisie e Louis e os dois estavam mais animados do que a terapeuta esperava.
Enquanto as equipes de mídia e o pessoal do staff corria de um lado para outro, trabalhando duro antes do jogo, mostrava todos os detalhes das instalações aos amigos.
– Deve ser um trabalho legal, aqui. – Louis comentou quando chegaram a grande sala de musculação.
– É, eu acho que foi bem melhor do que eu esperava. – sorriu, cruzando os braços. – Devia escrever um artigo sobre isso, talvez me ajudasse a voltar para a área depois.
– Vale a tentativa. – Maisie comentou, sentando-se. – O que exatamente você faz aqui? Uma mistura do campo da saúde mental com o da física? – Quis saber a outra, um pouco perdida. – Acho que não se encaixa em nenhum dos dois. – respondeu. – É como outras áreas de atuação, que você não pode colocar em caixinhas. Eu resolvo alguns problemas de saúde física, algumas lesões... mas não sou exatamente responsável, como os fisioterapeutas e preparadores. – Explicou , cruzando os braços sobre o peito. – Na verdade, tenho pouquíssimo contato com eles. Só quando é algo específico, lesão de mão bem específica, como foi o caso do . Nós, terapeutas ocupacionais, ainda temos algum reconhecimento quanto a isso, pelo menos. – riu e os amigos a acompanharam.
– Mas se você não trabalha muito com isso, faz o que? – Louis tornou a perguntar.
– Se lembra dos nossos estágios nos centros para idosos? Quando trabalhávamos num tipo de coisa ligada a saúde mental? A promoção de saúde? – gesticulava ao falar, tentando explicar o que nenhuma vez antes tinha explicado em palavras. – É tipo isso. Eu tento acolher o time, estar junto, promover vínculos mais fortes entre a equipe, acolher quando é necessário. Pensar em grupos, no que posso fazer para deixar o grupo mais coeso e unido. Mas não é como se eu fosse psicóloga, é outra coisa. É saúde mental, com esporte. Uma coisa diferente.
– Quando você escrever o artigo me avise. – Maisie suspirou, perdendo algum tempo observando o espaço. – Talvez assim eu entenda.
A morena brincou e a empurrou devagar, pelo quadril.
– Você vai sentir uma falta danada daqui, não é? – Louis sorriu fechado.
– Vou. – ergueu os ombros, expirou e sorriu. – Vou, bastante. Eu adorava trabalhar aqui, nem era como se eu trabalhasse de verdade.
– Por que está falando isso no passado? – Maisie arqueou uma sobrancelha. – Não sabe ainda se vai mesmo sair. E eu acho que se fossem te demitir, já teriam feito.
– Não sei. – se aproximou da amiga, sentando-se ao lado dela. – Meio que eu quero sair também. Não vou me sentir bem ficando aqui. diz que nossa relação não importa, que ele me respeita como profissional... mas sei que isso só é verdade em partes, ele não tem essa compreensão. Sei o quanto o amor dele por mim interfere nisso tudo. E eu sei também que alguns jogadores vão pensar duas vezes antes de qualquer coisa, só por saberem que eu durmo com ele todos os dias. – desabafou, baixando os ombros. – Entendo as implicações disso tudo, ele não, por não ser da área. Acho que meu tempo aqui realmente acabou.
– Relações são delicadas. – Louis suspirou e sorriu empático. – Mas você marcou o time, tenho certeza. E cresceu muito, porque a maior parte dos profissionais que eu conheço não tomariam essa decisão.
– É por isso que ela é uma boa profissional. – Maisie sorriu, abraçando a amiga de lado, com força. – E agora ela pode até pensar em voltar para casa com a gente.
– Você sabe que isso tá fora de cogitação, né? – piscou, depois de rir. – Minha família não perderia a chance de jogar na minha cara que eu falhei, como eles tanto previram. – riu, balançando a cabeça negativamente. – E tem o , tem tudo aqui. Eu realmente gostei da Finlândia, tô bem feliz aqui.
– É, tem gosto pra tudo mesmo. – Maisie suspirou, torcendo a expressão, desgostosa.
– , está aqui! – Uma voz chamou a atenção dos três, que olharam para a porta. Era Brie.
– Oi. – A inglesa ficou de pé e sorriu. – O que houve? Estava me procurando?
– Petri quis que eu descobrisse onde você e estavam. – A alemã contou, tentando recuperar o fôlego, parecia ter vindo de uma maratona.
– está sumido? – arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços sobre o peito, ficando de pé.
– Não. – Brie sacudiu uma das mãos. – Na verdade, sim. Mas não mais. – a encarou com impaciência, desconfiada e Brie respirou fundo antes de continuar. – Ele estava com Aleks e Atte no banheiro do vestiário. Parece que pregaram uma peça no Atte, ou algo assim. Eu já o encontrei. Faltava você.
– Eu tô bem aqui. – respondeu, um pouco mais aliviada por saber o motivo do sumiço do namorado, mesmo que ainda não tivesse se dado conta disso. – Estava apresentando tudo aos meus dois melhores amigos.
Maisie e Louis se aproximaram, ficando de pé também.
– Esses são Maisie e Louis. – apresentou. – Essa é Brie, ela é da mídia do time.
Os três trocaram apertos de mãos e sorriam uns para os outros.
– O Petri... – Brienne voltou a falar. – Ele sempre faz isso? Controlador? Querendo saber onde todos estão o tempo todo?
– É o jeitinho dele. – riu pelo nariz, trocando um olhar cúmplice com Maisie e Louis. – É só implicância, no geral ele não é assim. Petri tem estado mais cuidadoso, mas é só isso.
– Eu diria controlador, isso sim. – Brie rolou os olhos e apenas deu de ombros. – Bom, sejam bem-vindos ao Pelicans então. – A alemã tornou a falar com a dupla, sorrindo.
– Eles são da Inglaterra, como eu. – sorriu ao olhar para os amigos e explicar. – Estou apresentando tudo que posso desse novo universo caótico do hockey.
Maisie suspirou teatralmente e Brie sorriu.
– Se quiserem, posso mostrar onde nós da mídia ficamos, mostrar algumas coisas da transmissão e dos conteúdos que produzimos dos jogadores antes de entrarem no gelo. O que acham?
– Seria incrível, Brie. – sorriu aberto, animada com a ideia da colega. – Obrigada.
– Não, obrigada. – Maisie respondeu educada, mas sem qualquer traço de simpatia verdadeira.
– Eu quero. – Louis se voluntariou, empolgado.
– Ótimo! – Brie celebrou com um grande e iluminado sorriso.
– Mas você nem gosta de hockey. – Maisie acusou.
– E daí? – Louis deu de ombros, aproximando-se mais de Brie. – Eu quero ver tudo que ela puder me mostrar. – O médico arqueou as sobrancelhas e Brienne corou.
– Não acredito que vai deixar a gente sozinha. – Maisie protestou, emburrada.
– Relaxa, Mai. – abraçou a amiga de lado. – Eu vou assistir ao jogo com você hoje, e a Inessa também vem. Deixe ele se divertir.
– Mas eu não acho que seja boa ideia. – Maisie tornou a negar. – Olha, Louis, se se atrasar, não vou guardar um lugar pra você. – ameaçou ela.
– E quem disse que eu vou precisar? – Louis devolveu, dando de ombros e se foi, seguindo Brie, ignorando completamente a amiga.
Maisie encarou , como quem espera uma intervenção, mas a terapeuta apenas ergueu os ombros e a olhou como quem diz “o que eu devia fazer?”. Maisie rosnou como uma adolescente em crise.
Sábado, 22 de janeiro de 2022
Isku Areena
Lahti – Finlândia
A torcida fazia uma ola intensa e que movimentava cada um na arena. O time da casa estava vencendo por quatro a um, mas durante o segundo tempo sofreram um empate dolorido e agora brigavam para retomar a vantagem. estava ao lado de Inessa, Maisie também estava com elas, mas de péssimo humor. Havia estado no celular e exibindo uma péssima expressão desde o início do jogo.
Por sua vez, e Inessa aproveitavam juntos. Algo em assistir junto a Ness dava a a sensação familiar de quando ia com os amigos a jogos de futebol na Inglaterra. As duas estava de pé durante todo o jogo, entoando os hinos da torcida, reclamando da arbitragem, sofrendo intensamente a cada lance e se abraçando em cada boa jogada ou gol. Tão animadas que no hat-trick de Topi, Inessa tinha jogado seu boné no gelo e , ao pular, havia arranhado as pernas no assento. Era um bom dia. Era noite de hockey
Quando Smells Like Teen Spirit começou a ecoar das caixas de som da arena e o som característico das buzinas marcaram o fim do segundo período, as garotas viram Louis tentando atravessar a multidão, que saía em busca de comidas e bebidas. O médico parecia animado, quase saltitante e ao chegar junto a elas, fez como ingleses não costumam e abraçou Inessa e , menos Maisie.
– Eu podia muito largar tudo e trabalhar como câmera. – O médico falou, empolgado.
– Se mude pra Finlândia, tento te conseguir um emprego. – brincou.
– Ele devia mesmo. – Maisie, que agora estava de pé também, resmungou, mas foi ignorada.
– Se não for no Pelicans, te levo para cobrir meus jogos. – Inessa sorriu.
– Eu ia adorar o meu melhor amigo aqui, no Pelicans. – colocou as mãos na cintura. – Me mantendo informada sobre tudo depois que eu sair.
– Você não precisa que ele venha pra isso. – Inessa respondeu. – Tem pelo menos uns vinte homens fofoqueiros nesse time, que contariam tudo a você.
– Mas eu posso ser um deles. – Louis tocou o próprio peito.
– Que idiota. – Maisie falou outra vez. – Até parece, você não vai largar tudo e vir para a Finlândia. Não vai.
– Por que não volta para seu celular? – Louis desdenhou. – Acho que vou assistir o próximo tempo com a Brie também. – O médico tornou a falar, olhando para Inessa e . – Ela é super legal e do lugar que estávamos... é uma baita vista privilegiada. – Ele suspirou teatralmente. – Me senti em um camarote chique.
– Até ela perceber o quão insuportável você é te despachar. – Maisie rolou os olhos.
– Mai, já chega. – pediu, cutucando a cintura da amiga.
– Aproveite, porque esse tipo de experiência não se tem todo dia. – Inessa estimulou, ignorando Maisie. – E é uma visão única. Toda essa engenharia que eles tem, tudo que faz a mágica acontecer e as imagens chegarem a transmissão.
– É mesmo mágico. – Louis assentiu com a cabeça, ainda sorrindo.
– Que coisa idiota. – Maisie resmungou bufando, sentando-se de qualquer jeito, fazendo birra. – Ele nem gosta disso. Só está querendo chamar atenção.
repreendeu a amiga com um olhar atravessado, Inessa rolou os olhos e expirou pesadamente.
– Alguém quer refrigerante ou cerveja? – Louis perguntou depois de sacudir a cabeça. – Vou comprar alguma coisa antes que o humor de megera de uma certa pessoa me afete. – O médico rolou os olhos. – Mas não vai, fique você sabendo, certa pessoa. Você não vai estragar minha noite.
Maisie rolou os olhos.
– Eu quero uma cerveja bem grande, ou um advogado. – Inessa pediu, dando a Louis um olhar sugestivo.
– Se conseguir trazer tudo, um refrigerante. – também pediu e o amigo se afastou.
Uma música qualquer tocava na arena enquanto as líderes de torcida faziam suas coreografias, o show de luzes pintava o gelo branco com as cores do Pelicans. Era estranho e familiar para estar ali, ignorando o fato de ser um membro da equipe, vivendo a realidade de ser apenas a namorada do jogador que estava no gelo. A presença de Inessa tornava tudo mais engraçado, era como se fossem adolescentes e estivessem em um jogo da escola, ou faculdade, assistindo aos namorados jogarem. Era uma realidade muito gostosa com a qual pensava que poderia se acostumar.
– Essa sua amiga é um doce, huh!? – Inessa comentou baixinho, fazendo a terapeuta se inclinar em sua direção.
a olhou e torceu os lábios sem jeito.
– Ela é uma boa pessoa, no fundo. – Explicou .
– Tipo, no muito, muito fundo, né? – Inessa a olhou e arqueou uma sobrancelha. não encontrou argumentos, então apenas riu sem jeito.
– Falta muito para isso acabar? – Infelizmente Maisie voltou a se pronunciar. – Eu não aguento mais esse barulho, o cheiro de cerveja e homens gritando.
– Isso é um jogo de hockey. – Inessa respondeu antes que tivesse chance. – Não é uma apresentação da orquestra sinfônica. Mas se estiver com pressa, você encontra um táxi lá fora.
Maisie arregalou os olhos com a resposta direta de Inessa e antes que um caos muito maior se instaurasse, se apressou a se sentar perto da amiga.
– Mai, qual é o problema? – perguntou, tentando desviar o olhar injetado de Maisie, que parecia ponderar sobre voar na jugular de Inessa. – Você está esquisita. Num péssimo humor. – tentou com mais empenho atrair a atenção da amiga, tocando seu rosto. – Ei, Mai.
– Eu estou bem. – Respondeu com os dentes apertados. – Melhor que nunca. Não está vendo?
– Maisie, qual é? – arqueou uma sobrancelha. – Você estava okay lá dentro. Estávamos conversando muito bem e você estava animada com o jogo.
– Estava, agora quero ir embora. – Resmungou, cruzando os braços sobre o peito. – Eu odeio esse lugar.
– O lugar não tem culpa do seu ciúme. – Inessa entrou na conversa. A morena estava de pé, de costas para as duas, mas parecia estar ouvindo a tudo.
– Como é? – Maisie ficou de pé em um rompante e também, de olhos arregalados.
– Se você ouviu, não preciso repetir. – Inessa manteve os olhos no gelo, indiferente. estreitou o olhar enquanto pensava que poderia jurar estar vendo bem ali, na sua frente. A mesma postura de quem não liga, indiferente, mas muito incomodado.
– E quem é você? – Maisie continuou. – Ciúmes? Ficou louca? – Maisie apontou para Inessa e depois para , afetada. – Ela é louca, não é? Certamente é maluca.
– Você nem consegue disfarçar. – Inessa girou o corpo encarando a inglesa. – Só consegue ser insuportavelmente desagradável com todos. Ninguém tem culpa da sua vida ruim.
viu a amiga estreitar o olhar e uma veia saltar em seu pescoço.
– Quem é a insuportável aqui? – Maisie devolveu. – Ninguém nem falou com você.
– Péssima ideia. – começou a sussurrar para a melhor amiga. – Não brigue com um . Não brigue com uma . Péssima ideia.
– Que não brigue o quê? – Maisie se desvencilhou de . – Eu não tenho medo de unhas postiças e aplique de cabelo.
Inessa abriu a boca, chocada.
– É bom ouvir sua amiga. – Inessa ergueu um dedo, apontando para Maisie.
– O irmão dela tem medo dela. – tentava puxar Maisie, alarmada. – O tem medo dela. O irmão bruto, jogador de hockey tem medo dela. Não é uma boa ideia.
– Ela quem devia ter medo de mim. – Maisie ignorou e avançou sobre Inessa, que fez o mesmo.
Em um ato impensado e mais rápido do que imaginava conseguir realizar, a terapeuta se enfiou entre as duas, evitando que a irmã de , e a melhor amiga de sua namorada se estapeassem durante um jogo dele.
– Chega! Chega, okay? – ralhou com as duas, olhando de Maisie para Inessa, com os braços erguidos para separá-las. – Eu ainda trabalho aqui. Ninguém vai brigar na arquibancada. Inessa, você é namorada do goleiro e irmã do . – falou, olhando para Inessa, que ainda tinha nos olhos a expressão pronta para matar. – Se recomponha. – A terapeuta respirou fundo. – Maisie, você é uma convidada. Melhor amiga da namorada do , não dê vexame. E também – tomou coragem e respirou fundo. – Inessa tem razão.
– O quê? – A morena inglesa arregalou os olhos, incrédula.
– É. – maneou a cabeça e ergueu os ombros. – Eu não sei se é por ciúmes mesmo, mas... Mai, você está sendo deselegante e desagradável a noite toda. Isso não é legal.
– Você vai ficar do lado dela, só porque está dando para o... – Maisie começou a acusar.
– Opa, opa. – a interrompeu, erguendo um dedo na direção da melhor amiga. – Pode ir parando por aí. Não sou o Louis, não vai descontar sua raiva e irritação em mim e ficar por isso mesmo. – Inessa se sentou e começou a assistir a cena, contemplando. – Não tenho culpa se você desistiu, se achou que foi uma péssima ideia estar aqui. Ou se está mesmo com ciúmes do Lou com a Brie e é orgulhosa demais para admitir. Eu não tenho culpa, nem a Ness, nem ninguém. Nem mesmo o Louis.
Maisie se sentou, emburrada, cruzando os braços sobre o peito.
– Tenho aturado seu comportamento ruim, as ofensas ao meu namorado e a todo o resto. Seu mau humor e implicâncias com o Louis, seu azedume desde que chegou em Lahti. – tornou a falar. – Mas já chega. Você não é mais criança e nem uma adolescente em crise. Isso não é mais aceitável quando se passa dos vinte e cinco anos. – A terapeuta colocou as mãos na cintura. – Você é a minha melhor amiga e eu não quero que quando essa viagem terminar, as únicas lembranças que essas pessoas terão de você é do quanto você é grosseira, amarga e desagradável. Então, já chega.
expirou pesadamente e se sentou entre Maisie e Inessa. Maisie mantinha o rosto emburrado, olhos fixos no gelo, Inessa ao lado, apertava os lábios para não rir. Quando se sentou, a mais velha ergueu uma mão, cumprimentando com um soquinho sútil.
– Essa é a minha cunhada.
25 - She is my religion
Everybody wants to have their taste
I'm no different, I am just the same
But she helped me finds a different kind of love
Made me feel like I was finally enough[…]
She's no angel, but she is my religion
(Pale Waves - She's My Religion)
Sábado, 22 de janeiro de 2022
Isku Areena
Lahti – Finlândia
tinha as mãos sobre a pequena mesa onde as entrevistas pós-jogo aconteciam. O atleta apertava a quina com força, mas só percebeu o que fazia quando correu os olhos para os dedos e percebeu as pontas esbranquiçadas pela pressão que fazia. soltou, tentou relaxar os ombros e se concentrar na próxima pergunta.
– , como fica a confiança do time em jogos como o de hoje, quando sofreram com uma virada difícil e que quase custou o jogo? – Um jornalista perguntou e umedeceu os lábios e maneou a cabeça, pensativo, antes de responder.
– Ah... – O capitão hesitou, coçando a sobrancelha. – Acho que temos algumas coisas para ajustar para os próximos jogos. A equipe deles se aproveitou muito bem de todas as falhas, os erros... e... bom, temos que ficar focados e confiantes.
– , sobre a renovação. – Alguém perguntou. – Já tem alguma previsão? As negociações já começaram? Pretende ficar em Lahti?
– Não vou responder sobre isso. – foi rápido e se voltou para outro jornalista, para outra pergunta.
– , como avalia sua postura hoje no jogo? – Um jornalista local esticou o microfone. – Vimos você em lances mais defensivos e com poucas aparições na zona de ataque.
ergueu os ombros e sacudiu a cabeça, encarando o jornalista.
– É mais importante que a gente tenha boas chances e vença o jogo. – Respondeu o capitão, como se fosse óbvio. – Não sei mais o que dizer sobre isso.
E assim a coletiva com o capitão do Pelicans terminou.
suspirou aliviado, estava exausto e tentou evitar a todo custo participar das entrevistas naquela noite, mas não tinha sido convincente o bastante. andava pelo corredor, em direção ao vestiário, onde se trocaria e então encontraria sua família e iriam para casa. Tinham planos.
E como o capitão precisava daqueles planos...
sabia o que o time não estava tão bem assim. Viradas como aquelas, para times que não estavam nem entre os dez mais ofensivos da Liiga era inaceitável. No último jogo, apesar da vitória, também não tiveram vida fácil e o capitão gostava de pensar ser sobre o estilo do outro time. Mas não era. Algo faltava no Pelicans. Talvez estivessem sentindo mais a falta de Waltteri Merelä do que imaginavam, talvez as novas peças ainda não estivessem tão entrosadas ou talvez fosse tudo junto e ao mesmo tempo. Enquanto caminhava devagar, concentrado em seus pensamentos, o capitão mordia a língua e pensava que não havia hora pior para perderem .
– . – Isabel Svedin surgiu no campo de visão do jogador.
não andava rápido, estava sem pressa, mas concentrado. Odiava sair correndo pelos corredores, como uma criança agitada, então não devia ter sido difícil para Isabel o alcançar, mesmo no alto de seus saltos altos e sua saia justa.
O capitão a olhou rápido, por sobre o ombro e seguiu sua caminhada, sem se importar em ser simpático. Ainda não tinha digerido a história sobre a executiva querer informações pessoais a seu respeito.
– Vi sua entrevista. – Isabel começou a andar ao seu lado. – Foi muito vigoroso. – Ela disse e franziu a testa e a olhou por dois segundos. – Mas também muito ríspido. Vamos tentar não manter esse o padrão.
– Vigoroso? – O capitão perguntou de modo irônico, ainda curioso com a escolha de palavras e tom dela. olhava para frente, caminhava do jeito de ser, passos firmes, ombros soltos e olhar vago.
– Ríspido. – Isabel sorriu de lado. – Não me importo com o vigor.
ergueu as sobrancelhas e desviou o olhar, expirando um riso curto.
– Mas é sempre bom saber que nossa maior estrela tem controle e sabe como conduzir e se portar em uma situação delicada com a mídia. – A executiva continuou.
– Não é só com a mídia. – inclinou a cabeça e depois a ergueu. – Eu te garanto.
– E o que isso significa na prática? – Isabel sorriu.
– Que eu não gosto de ninguém se metendo em como eu falo ou deixo de falar, ou na minha vida. – O capitão foi firme e direto, parando de andar e encarando a morena, que fez o mesmo.
Isabel maneou a cabeça.
– Vamos trabalhar juntos aqui, . – Svedin o lembrou. – Não faz mal algumas dicas de alguém que já está acostumada com esse trabalho há muito tempo.
– É, por isso você pode dar pra quem pedir. – O capitão respondeu e Isabel sorriu. pensou se o sorriso era uma resposta a sua total falta de educação, ou ao jogo de palavras que havia criado sem querer.
– Ouvi falar da sua resistência a mudanças. – Isabel tornou a falar, depois de sorrir mostrando os dentes. – O quanto é intenso, firme no que acredita e quer. No quanto não se dobra a vontade dos outros e sobre como pode ser que demore para que eu te conquiste. – riu abafado pelo nariz e inclinou a cabeça, depois ergueu o olhar novamente. – Sempre falam muito de você por aqui.
– Isso é tipo uma reunião? Uma conversa oficial? – O capitão se manteve sério e arqueou uma sobrancelha, Svedin o encarou por alguns instantes, em silêncio, depois sorriu.
– Não, é claro que não. – Ela respondeu, o observando. – Só estamos tendo uma conversa comum, entre duas pessoas que trabalham juntas. – Isabel sorriu.
– Então, boa noite. – a cortou, não se incomodou em sorrir ou se despedir, apenas lhe deu as costas, rezando para que ela não o seguisse e continuou seu caminho.
Sábado, 22 de janeiro de 2022
Isku Areena
Lahti – Finlândia
Estavam em uma área pequena, na saída, reservada a família dos atletas e geralmente pouco usada em Lahti. Haviam ali algumas famílias de outros jogadores, mas que aos poucos foram saindo, até que ficassem apenas Inessa, Louis, Maisie e . O clima entre os quatro não estava nada agradável. Maisie em completo silêncio desde a discussão no intervalo, Louis confuso e incerto, tentando agradar a amiga e fazer suas vontades. Tudo isso enquanto Inessa e tentavam fingir alguma normalidade e aproveitar o momento.
Até que, depois de mais tempo que o de costume, e Atte surgiram, já vestidos, prontos para irem embora. Inessa e Louis se aproximaram dos dois de pronto, porque não aguentava mais o clima pesado daquele espaço e estavam felizes por mais pessoas ali. aproveitou a brecha, porque só uma coisa a incomodava mais do que o clima de funeral, a possibilidade de ter mesmo magoado a melhor amiga.
– Mai. – se aproximou e falou baixo, Maisie a olhou. – Você está bem? – Perguntou angustiada. – Eu não queria ter falado com você daquele jeito. Não queria ter me exaltado... mas eu...
– Tudo bem, . – Maisie sorriu fechado, interrompendo a melhor amiga. – Talvez eu tenha merecido essa. – A morena fez careta. – E infelizmente você é alguém a quem eu não posso culpar e acusar de estar errada, porque geralmente você nunca está. – Ela sorriu e sorriu de volta.
– Você quer falar sobre isso? – tentou. – Sobre o que aconteceu hoje?
– Essa noite não. – Maisie suspirou. – Acho que estou tentando entender as minhas emoções. Amanhã a gente conversa melhor, prometo. – Maisie sorriu e a abraçou de lado, com força.
As duas inglesas interromperam o abraço quando se aproximou. se desvencilhou da melhor amiga e beijou o namorado, segurando seu rosto e depois os dois trocaram um grande sorriso.
– Maisie. – a cumprimentou, sorrindo, ainda abraçado a .
Maisie sorriu de volta e em seguida, capturou um olhar significativamente sugestivo que o namorado dirigiu a inglesa morena. olhou de um para o outro, confusa.
– Ah, mas como você tem sorte por eu amar a . – Maisie suspirou, passou por , o acertou com dois tapinhas no ombro e se afastou.
estranhou e acompanhou a melhor amiga com os olhos.
Maisie se uniu a Louis e Inessa, que já estava de braços dados a Atte. O pequeno grupo acenou para o casal, mandou beijos e gritou alguns “até logo”. foi totalmente ignorada por eles e tinha em seu semblante estampado o quanto estava injuriada.
– Mas o que? – se afastou do capitão para ver melhor do que acontecia. – Aonde eles vão? Por que não convidaram a gente? Eles convidaram você? – A inglesa disparou a perguntar. – Eles não se despediram. A Maisie nem se despediu. Nem o Louis. Por que eles não convidaram a gente? Para onde vão?
riu fraco, tornando a abraçar a namorada.
– É por minha culpa. – Confessou.
– Não me diga que decidiu ficar sozinho de novo e cancelou as comemorações? – perguntou desapontada. – Mas e eu? Eu queria ir. Por que não me convidaram?
– Não, linda. – segurou a namorada pelos ombros e se afastou um pouco dela, para que pudesse a virar em sua direção. – É minha culpa, porque eu fiz isso tudo. – Ele contou e a viu unir as sobrancelhas e projetar o lábio inferior, confusa. – Eu tenho uma surpresa pra você.
Primeiro ficou confusa, depois achou que tinha entendido tudo errado, para depois perceber que não e sorrir maravilhada, para em seguida ficar confusa outra vez.
– Mas como? Uma surpresa? – Ela riu de modo infantil.
– Segura a ansiedade, menina. – O capitão brincou sorrindo, beijando a testa da namorada. – Vamos?
assentiu rápido.
Como a saída ali era exclusiva e ninguém os veria chegar ao carro, tomou a liberdade de segurar a mão da namorada. sorriu quando fez, entrelaçando o dedo mínimo, como gostava de fazer e se sentindo como um garoto na escola, com sua primeira garota.
– Então... – Ele brincou, sorrindo e o olhou com curiosidade. – Ness me contou sobre ela e Maisie, e sobre você e Maisie.
– É. – torceu os lábios, chateada. – Era isso, ou as duas iam chegar no gelo rolando pelos assentos, brigando. – Contou e riu, a acompanhou.
– Ela vai ficar bem. – soprou ao abrir a porta para a namorada. – Não foi tão sério, ela nem reclamou de ir com a Ness.
– Você deve ter prometido algo muito bom a ela. – estreitou o olhar, sentando-se no banco do carona e se inclinou para vê-la de mais perto.
– É que eu tenho charme. – Ele piscou. – E posso ser bem convincente.
gargalhou e a encarou incrédulo, boquiaberto.
– Não acredita?
– Acredito, é claro. – balançou a cabeça. – Mas é que conheço minha melhor amiga o suficiente para saber que ela não se impressiona com um olhar estreito e uma boca rosinha tanto quanto eu. – mordeu o lábio inferior e percebeu a atenção do namorado presa ali.
– Você se surpreenderia com o que eu sou capaz de fazer quando amo alguém. – piscou, aproximando-se dela e tomando para si a tarefa de morder o lábio de .
Sábado, 22 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
Quando o atleta estacionou, nevava pouco, mas o suficiente para salpicar de branco a touca que ele usava, seu casaco preto e o casaco cor de rosa da terapeuta inglesa. conduziu a namorada pela mão até a porta, devagar e ainda em silêncio, ignorando como os ombros dela estavam tensos, ou como ela tentava se esticar para olhar para dentro, buscando alguma pista. Toda vez que tentava fazer uma pergunta, o capitão a olhava com sobrancelhas juntas, num pedido ou ordem silenciosa para se calar, como havia feito desde que entraram no carro, evitando as perguntas dela, usando a boca apenas para sorrir e a beijar. Era divertido ver como assumia a curiosidade infantil, ansiosa para descobrir o que lhe esperava em casa, sem ter qualquer ideia dos passos que o namorado havia dado até aquela consumação.
Quando na porta, confiou que todas as suas ordens milimetricamente pensadas e explicadas, quase desenhadas, haviam sido cumpridas com perfeição e deixou entrar primeiro, abrindo a porta para a namorada e a seguindo devagar, dando espaço a ela.
A primeira coisa que visualizou ao passar pela porta foi o chão repleto de velas acesas de vários tamanhos e calibres, com um caminho entre elas que levava até a mesa de jantar. A inglesa sorria maravilhada e surpresa, como uma criança prestes a abrir um presente muito esperado na manhã de natal. Ela olhava por sobre o ombro vez ou outra, buscando a figura do capitão, como se quisesse se certificar não se tratar de um sonho ou coisa do tipo. Queria ter certeza de que estava com ela, seguindo-a pelo caminho de velas e de que tudo era real.
O interior da casa era quente e aconchegante, estavam acessas apenas luzes amareladas que davam um ar muito mais intimista a tudo. As velas aumentavam de quantidade a medida com que se aproximava da mesa. Para todo lugar que olhava, não encontrava ninguém. Estavam sozinhos?
Quando perto o suficiente da mesa, parou e observou, contemplando a mesa posta, os castiçais, as rosas vermelhas que enfeitavam, o balde com algo que parecia champanhe e mais velas, que davam ao ambiente um aspecto romântico e sensual por causa da luz baixa. Logo a inglesa sentiu as mãos grandes, macias e quentes do namorado a envolverem na cintura, apoiou o queixo em seu ombro e respirou seu cheiro. se arrepiou ao sentir a respiração quente dele.
– Hoje estamos sozinhos. – Ele sussurrou, beijando devagar o ombro da namorada. – Só você e eu. E eu, inteiro, só para você.
se virou para o olhar nos olhos, pousando as mãos sobre o peito do jogador.
– Fez tudo isso por mim? – Ela tinha a boca entreaberta, o coração acelerado e uma quentura na barriga. – Nem vou perguntar como... ou como conseguiu esconder tudo isso, porque eu sei que não sou exatamente atenta.
sorriu e a beijou devagar, tentando memorizar a sensação dos lábios em contato. Tinha as mãos em sua cintura e sentia o toque da namorada em seu peito, enquanto envolvia os lábios dela com os seus, para depois ela fazer o mesmo.
– Você falou sobre ficar sozinha comigo, que sentia falta de quando eu era só para você. – falou ao se afastar um pouco, em um sussurro, afagando o rosto da namorada com o polegar e a olhando nos olhos. – Não resisti a tentação. Posso comemorar vitórias em bares com meus amigos milhares de vezes, já fiz isso no passado milhões de outras vezes... – O capitão fez uma breve pausa, respirou fundo e devagar, a olhando fixamente. – Mas cada momento com você é único.
– É bom que esteja me abraçando agora, porque se minhas pernas falharem... – maneou a cabeça, estava em um misto de surpresa e mais uma série de emoções diferentes que faziam sua barriga e a parte embaixo dela ferverem. riu, negando com a cabeça, devagar.
– Se cair, eu te seguro. – Ele respondeu a olhando nos olhos com intensidade e apertando o abraço. – É o que os cúmplices fazem, não é? – O jogador arqueou uma sobrancelha de modo insinuante.
– Não sei, mas acho que posso descobrir. – Disse a inglesa.
afastou o olhar, concentrando-se no peito do namorado, onde suas mãos estavam. Desenhou pequenos círculos invisíveis ali, com a ponta dos dedos, depois, devagar, subiu as mãos até o pescoço de , que a assistia com atenção. desenhou uma linha invisível da gola da roupa do jogador, passando por seu pescoço, até seu queixo, passando pela orelha, onde uma argola pequena refletia a luz das velas. desenhou a mandíbula de seu capitão, fazendo o contorno definido e sentindo a aspereza agradável da barba dele, que crescia, quase se unindo ao bigode.
A inglesa tocou os lábios rosados, depois escorreu as mãos para os ombros de , apertando com firmeza, sentindo e gravando na memória a sensação e o calor do corpo do namorado.
– Mas acho que temos um jantar agora. – lembrou após o silêncio cheio de significado, mas não se moveu.
– Tenho sim, e eu estou com ele bem nos meus braços agora.
o olhou boquiaberta, espantada pela audácia dele e por ter sido tão franco, mas não teve muito tempo para reclamar, concordar ou fazer qualquer comentário. Sem tempo para pensar, empurrou a namorada contra a mesa, fazendo esticar uma das mãos para se apoiar a superfície. uniu seus lábios em um beijo intenso e ardente, aproveitando o contato de suas línguas. Depois tirou um dos braços da cintura de e usou para empurrar a louça da mesa posta para longe, em seguida a segurou pela cintura com as duas mãos e ergueu o corpo da terapeuta inglesa, sentando-a na mesa sem muita delicadeza. O capitão a puxava contra si, de modo enérgico, ao mesmo tempo que que o puxava pela gola do casaco e envolvia o quadril do namorado com as pernas, enquanto a beijava de modo intenso.
– Vamos colocar fogo na casa? – riu contra o beijo dele, mordendo seu lábio.
– Se for preciso... – O capitão respondeu, aumentando a força nas mãos, trazendo o corpo da namorada para junto do seu.
– A gente devia... – A inglesa tentou falar, mas a interrompeu.
– Ei. – O central segurou o queixo de com uma mão, a forçando a manter o contato visual. – O seu capitão, não é? – assentiu devagar com a cabeça, boca entreaberta e queixo erguido, olhos semicerrados. – Não foi o que disse? Para o Mark? Não o capitão da Isabel, o seu.
– Sim. – respondeu em um fio de voz, derretida e tonta pela energia que ele emanava. Ela prendeu o lábio inferior entre os dentes.
– Então, eu comando. – decidiu com firmeza. – E você obedece. – O capitão, que ainda segurava o rosto da inglesa, a beijou, apenas tocando seus lábios com suavidade. – Pode começar tirando a roupa. – Ordenou, afastando-se um pouco para que pudesse observar.
– Mas aqui? – , ainda atordoada e sentada na mesa, olhou ao redor. – Tem essas velas. Também o jantar...
– Agora. – Ele ordenou de novo, a olhando por baixo das sobrancelhas, baixando um pouco o queixo, a namorada expirou e assentiu, sem tirar os olhos dele. Sentindo-se amolecida.
A casa estava quente o suficiente para que a inglesa conseguisse tirar as roupas sem se sentir desconfortável. assistiu paciente tirar cada peça e colocá-las sobre uma cadeira, tendo muito cuidado para não incendiar a casa. Primeiro as botas e as meias, depois o casaco, o suéter e as outras duas blusas que vestia, até ficar de pé e arrancar a calça. Quando estava apenas de lingerie, um conjunto branco, a interrompeu.
– Quer me ajudar agora? – Perguntou e a viu sorrir de lado.
Talvez fosse o tempo se despindo sob o olhar malicioso dele, que a havia auxiliado a se adaptar a sensação, mas agora estava menos assustada e surpresa, e mais curiosa e excitada. A inglesa se aproximou do jogador devagar, mantendo o contato visual.
– Achei que eu fosse apenas obedecer, capitão. – adoçou a última palavra na língua e ele riu abafado.
– Você sempre tem uma escolha. – Explicou , a olhando com atenção enquanto tocava seus ombros, escorrendo as mãos até seu peito, para depois afastar o casaco, puxando-o com cuidado para baixo. – Mas eu não tenho problema em mandar, se for o caso.
– O capitão gentil. – sorriu, mas não o olhava, repetia os mesmos movimentos de antes. Passando as mãos pelo abdômen, peito e ombros, tirando o blazer que o central usava. – Deve ser por isso que sempre tem mais alguém querendo competir por você.
– Para de tentar me dominar e me dobrar, hoje não vai funcionar. – Ele riu, entendendo as intenções dela.
– É isso que eu estou fazendo? – ergueu o olhar, fingindo inocência.
O central enfiou uma das mãos na nuca, segurando os cabelo da inglesa, apertando e puxando um pouco os fios, com a outra mão a puxou pela cintura, trazendo-a para junto dele com vigor.
– Você é uma diabinha quando quer, não é? – O capitão a olhou nos olhos e riu, lasciva.
– Estou só testando meus novos limites. – Respondeu ela, voltando a tocar a lateral do rosto e pescoço do namorado, arranhando um pouco a pele dele e balançou a cabeça negativamente, devagar.
– Às vezes, por essa sua carinha de boa moça, até esqueço que tipo de mulher é você. – O capitão a apertou contra si mais forte, puxando seu cabelo outra vez. – O tipo de coisa que você gosta.
sorriu outra vez e devagar desceu uma das mãos, arrastando um dedo por todo abdômen dele, alcançando um pouco mais além da fivela do cinto que o namorado usava naquela noite. Quando alcançou o que queria, tocou por sobre a roupa e aumentou o sorriso, suspirou, baixou os ombros e deixou a cabeça pender para trás.
– E do que é que eu gosto, capitão?
estalou a língua ao chamá-lo por seu título, falando perto do rosto dele de modo que com o movimento causada pela fala, seus lábios tocaram a pele do capitão. Uma das mãos do jogador ainda estavam em seu cabelo, a outra da cintura havia escorrido até a base da coxa da inglesa e a apertava com força.
– Eu tenho muito do que você gosta, bem aqui. – Ele voltou a olhá-la, tinha olhos estreito e sussurrava. – Te mostro o caminho.
A inglesa sentiu a mão do namorado se apertar em sua nuca, puxando um pouco mais seu cabelo, ao tempo em que sua outra mão ia para o meio deles, enquanto tentava abrir o cinto, mordendo o queixo da namorada.
– Por que eu não te ajudo? – Ela sussurrou perto da orelha do central e sentiu respirar fundo outra vez.
manteve o contato visual, mas começou a se abaixar devagar, até que ficasse de joelhos na frente dele.
– Isso sim é uma boa visão. – comentou, olhando para baixo, massageando a nuca da inglesa, para depois lhe dar outro puxão.
– Se alguém chegar, aí sim, seria uma boa visão. – brincou, ainda o olhando, enquanto soltava o cinto do capitão. riu.
– Volta para o personagem de safada. – Pediu, divertindo-se e também riu, se desconcentrando.
– Não existe nada mais nós dois do que isso que acabou de acontecer. – A inglesa sorriu, interrompendo a tarefa de ajudá-lo com a calça.
– . – tentou conter o riso e chamou a atenção da namorada, puxando um pouco o cabelo dela outra vez.
– Okay, capitão. – arqueou uma sobrancelha, retomando sua postura.
– É melhor assim. – Disse ele, depois ergueu as sobrancelhas em um claro incentivo para que ela continuasse, e então, relaxou.
O vento do lado de fora agitava as árvores e o ruído do farfalhar de suas folhas chegava dentro de casa. e estavam deitados no sofá grande da sala de estar, sobre o corpo uma manta branca, protegendo do frio. aninhada ao peito do namorado, com o cheiro característico de quando tinham seu momento íntimo, dedos entrelaçados, enquanto afagava a cabeça da inglesa. E ao fundo, ouviam uma música baixinho, prestando atenção na letra e na melodia que parecia combinar com aquele momento. Deitados, felizes e cansados, satisfeitos e em paz, a meia luz, aproveitando a claridade das velas que ainda resistiam acesas.
– Sabe, você disse que tem muitas memórias do seu apartamento, mas aqui... – começou a falar depois de refletir em silêncio por algum tempo. – Eu tenho muitas lembranças nossas na minha casa também.
ergueu o rosto para ele e sorriu.
– Como quais?
– Você chegando aqui, quando eu estava doente. – Ele lembrou, beijando o topo da cabeça da namorada. – Todas as conversas daqueles dias, todas as conversas de todos os dias. Todas as vezes que eu via você pela casa, descendo as escadas, brincando com Felix, ou sei lá... qualquer coisa. É como se na minha cabeça começasse um filme, em looping, com velocidade acelerada, de todos os momentos meus com você aqui.
– Sua descrição é daqueles momentos, quando a esposa morre no início do filme e aí ficam lembrando dela com vídeos caseiros e tristes. – brincou, quebrando o clima completamente e bufou, depois gargalhou. – Eu ainda não estou morta, amor. Não precisa pensar na homenagem ainda.
– Como você é antirromântica, . – Ele a apertou junto a si com mais força e riu de modo infantil. – Mas é só que... eu não consigo pensar em um momento só. Tudo é importante, cada momentinho. Cada segundo. – O jogador suspirou.
– Você sempre foi romântico e meio meloso assim, ou mudou quando me conheceu? – se virou, deitando-se sobre ele, apoiando o queixo sobre o peito do capitão, desenhando com a ponta do dedo indicador as tatuagens dele. Apesar do comentário, a inglesa exibia um sorriso apaixonado e olhar brilhante.
– Não sei, . – sorriu, esticando-se para afagar o rosto dela, tocando suas bochechas e seus lábios, amassando-os com o polegar. – Eu não sei o que acontece comigo quando é com você. Eu fico sem juízo. – Ele confessou, olhando para os lábios dela. – Quer dizer – riu. – Eu nunca deixei nada entrar no meio do meu trabalho antes. Nem interferir no meu foco, ou entrar muito na minha vida, na minha casa e muito menos na minha cabeça. Só que, de algum jeito, pela primeira vez eu quis deixar. – Ele ergueu os ombros e desviou o olhar por um milissegundo. – Aí já não estava me importando se tinha o time, renovação, se era o capitão ou se gostava de ficar sozinho. Ou se tinha vergonha de quem eu era, no fundo, ou se tinha medo de me abrir demais para alguém.
ergueu o tronco e o beijou apaixonada, roçando a ponta de seu nariz ao dele, sentindo sua respiração e o vendo sorrir contra seu lábios e apertar com mais firmeza sua pele, onde as mãos dele alcançavam.
– Às vezes eu penso no porquê disso, sabe? – Ela também abriu o coração. – Por que, entre tantas opções mais simples, você me escolheu? Eu fico pensando e... sabe, se eu tivesse te conhecido em outra situação... se eu fosse alguém lá na arena, aleatoriamente, para assistir um jogo e visse você no gelo, tenho certeza que você nunca me notaria.
– Talvez não. – ergueu os ombros. – Mas tinha que ser assim. Era o destino. Talvez se eu fosse para a Inglaterra e te visse lá, você quem não me notaria. – Ele falou, mas expirou uma risada nasalada, o interrompendo.
– Claro que eu te notaria, você é alto, tem essa postura de quem não liga, cheio de marra. – Ela torceu os lábios. – É obviamente o meu tipo.
– E você nunca me disse isso porque? – riu boquiaberto, fazendo cócegas na namorada.
– Você nunca me perguntou. – Ela respondeu com simplicidade e o viu negar com a cabeça. – Mas você não me respondeu, sobre porque ter escolhido a mim. – Ela o incentivou com o olhar.
– Era uma pergunta? Achei que fosse só você viajando. – O capitão uniu as sobrancelhas, fingindo confusão e fez careta. – Eu não sei, Rakkaani. – Ele suspirou, pensando numa resposta boa o suficiente, ou que fizesse sentido. – Eu poderia dizer um monte de coisas, mas seria mentira. Eu não sei. – projetou o lábio inferior e baixou os cantos dos lábios, enquanto sacudia a cabeça negativamente. – Obviamente, você é gostosa, engraçada, gosto do seu jeitinho, e não parecia interessada em mim, então, como você mesmo disse, obviamente meu tipo. – O capitão riu a imitando e sorriu de volta. – Mas eu não sei porque tudo aconteceu. Acho que essas coisas não tem uma explicação lógica, porque não são lógicas. Você precisa parar com isso de tentar entender tudo, não é um experimento científico com causa e consequência. É amor. Eu te vi, alguma coisa tocando harpa cantou no meu ouvido que era você e aqui estou, quase incendiando minha casa porque queria ser romântico e te dar uma noite a sós.
começou a gargalhar antes mesmo de finalizar sua frase e o acompanhou, abraçando-o pelo pescoço e o beijando ali.
– Eu queria te levar pra outro lugar, jantar, sei lá. – Ele suspirou com olhar baixo. – Te devo um encontro. Mas fiquei com medo de você não gostar, por causa das coisas do time.
– Isso é importante para você, não é? – sorriu fechado, afastando-se para vê-lo melhor e afagando o rosto do namorado, sua bochecha, fotografando com o olhar cada detalhe, cada pequena cicatriz, pintinha e detalhe de seu rosto moreno.
– O encontro? Sim.
Ele apertou os lábios.
– Eu queria ter feito isso desde o início, porque não me parece certo. – uniu as sobrancelhas e ele continuou. – Eu sei lá... Talvez seja a criação. – sorriu fraco. – Mas eu queria fazer tudo certo, te levar em encontros como você merece. Te levar para jantar, mostrar para todo mundo que eu tô com você.
– Conhecer meus pais está na lista? – Ela quis saber, curiosa.
a olhou nos olhos e apertou os lábios outra vez, em uma espécie de sorriso de lado, mas que não era um sorriso, parecia uma expressão de incerteza.
– É, estava, mas agora eu sei como são as coisas, então...
– Você é mesmo muito compreensivo. – sorriu fechado e viu o jogador a imitar.
– Mas eu te amo, , claro que eu vou ser compreensivo. – Respondeu erguendo os ombros, como se fosse óbvio, mas seu tom era doce. – Se tem alguma coisa que sei que te magoa, não vou fazer. Ou pelo menos tentar não fazer.
A inglesa sorriu outra vez e enfiou o rosto na curva do pescoço do namorado, queria se esconder ali para sempre.
– O que me lembra uma coisa que aconteceu hoje. – tornou a falar e apenas murmurou um som ininteligível.
Não passou pela cabeça do central esconder aquele fato.
– Svedin veio atrás de mim hoje, depois do jogo.
ergueu o rosto, sobressaltada, olhos arregalados.
– O que ela queria?
– Não sei, na verdade ela falou muito, mas não disse nada. – O jogador balançou a cabeça. – Falou da minha entrevista, que tinha sido vigoroso e ríspido, que não era pra ser ríspido, mas vigoroso podia.
lançou um olhar sugestivo a namorada ao pronunciar a palavra vigoroso. estreitou o olhar e uniu as sobrancelhas, fechando o semblante em uma expressão irritada.
– Ela deve estar realmente querendo ir para o hospital. – rosnou, apertando os dentes e riu, fechando os olhos. – Qual é a dela? Vigoroso com o quê? Ela quer se meter até nas entrevistas?
– Quer saber mais?
– Óbvio, . – Respondeu a inglesa, irritada e o namorado apertou os lábios em uma careta de deleite e riu.
– Ela veio com um papo sobre ser bom que eu consigo controlar e me virar bem nas entrevistas, eu falei que não gostava de ninguém se metendo na minha vida. – Narrou com a maior quantidade de detalhes que conseguia se lembrar (ou que um homem consegue contar alguma coisa). – Ela disse que era apenas uma dica de alguém que já estava acostumada.
– Ela é impressionante... – passou a língua pela bochecha e balançou a cabeça negativamente.
– Aí ela disse que sabia que eu tinha resistência, que era intenso e que não me dobrava, e que... – fez uma pausa proposital e viu a namorada erguer as sobrancelhas, num pedido não verbal para que continuasse. – Escute, só...ela disse que sabe que pode ser que demore até ela me conquistar. – arregalou os olhos.
– Você tá brincando, não é? – Ela estreitou o olhar. – Isso é alguma brincadeira, porque você gosta de me deixar com ciúmes.
– Juro pela minha irmã que não. – falou sério, unindo as sobrancelhas. expirou pesadamente e negou com a cabeça. – Mas relaxa, que aí eu deixei ela falando sozinha. – Contou ele, orgulhoso. – Ela jogou uma de que aquilo era uma conversa comum, entre pessoas que trabalham juntas e aí eu fui embora.
expirou um riso incrédulo, parte pela audácia da executiva, parte por estar orgulhoso por ter sido fiel ao acordo mais básico de um relacionamento. Homens... ela pensou.
– Eu não acredito que ela quer mesmo entrar nessa. – bufou e se sentou no sofá, depois de alguns instantes em silêncio, digerindo a situação. – Por isso que quer me tirar do caminho? Ela quer o meu namorado?
– Viu como essas pessoas são safadas? – comentou, erguendo as sobrancelhas, afagando entre as coxas da inglesa, que expirou outro riso incrédulo.
– Não entendi seu tom.
– Esse pessoal, Isabel... todo mundo que vem de fora parece gostar de mim, isso é fato, é só olhar a minha mulher... mas ultimamente, a gente não tem paz. – Ele comentou. – Todo mundo que vem de fora parece obcecado na gente.
– Falta bem pouco para eu te dar um soco, amor. – respirou fundo, o encarando com seriedade.
– Tô brincando. – O capitão a puxou contra si, abraçando a terapeuta. – Achei graça. – Ele justificou, beijando a lateral da cabeça da inglesa várias vezes. – Mas eu também amo te ver com ciúmes, fazer o quê? – riu, embora estivesse tentando se desvencilhar dele. – Mas Isabel não tem chance. Nenhuma outra tem chance. Talvez só uma versão sua usando cinta-liga e salto alto. Mas a Isabel não.
não conseguiu conter o riso e gargalhou, tentando sair do abraço do namorado.
– Você é ridículo. – Ela riu, o empurrando.
– É, mas você não pode negar que seria uma boa ideia. – piscou erguendo as sobrancelhas e maneando a cabeça.
riu, sacudindo a cabeça e o olhou em silêncio, ao mesmo tempo ele fazia o mesmo. deitado, uma mão sobre a barriga, a outra acariciando a base da coluna de , que segurava o cobertor branco junto a si, cobrindo do frio a frente de seu corpo, olhando para o namorado.
– Você disse, minha mulher? – Ela inclinou a cabeça sobre o ombro.
– Disse? – O jogador desconversou.
– É, disse sim. – Insistiu . – Disse que é só olhar a sua mulher para ver como todos que vem de fora gostam de você.
– Quando você repete, parece mesmo uma frase meio arrogante. – Ele respondeu, apertando a coxa da namorada.
– Você não quer admitir que disse. – percebeu, abrindo a boca de surpresa e rindo. – Por que não quer admitir que disse?
– Eu não neguei. – riu sem jeito, puxando a namorada contra si outra vez, fazendo-a se deitar.
– Qual é o problema, ? – sorriu, o rosto próximo ao dele. – Por que não admitir ou falar disso todo apaixonado e com orgulho, como sempre faz?
– Mas eu não neguei. – Ele tentou, mas o encarou com um olhar que gritava não aceitar menos que uma resposta minimamente coerente. – Eu acho sexy quando você me chama pelo nome todo. É como se você estivesse brava, eu gosto de você brava quando não está brava de verdade.
– Amor? – o interpelou de modo doce e o capitão bufou.
– Você já me chama de meloso e bobo, eu posso não querer te dar mais razões. – Respondeu envergonhado, fingindo estar irritado, sem a olhar.
– , eu amo você. – declarou depois de sorrir, atraindo o olhar dele. – E com toda certeza, grande parte disso vem do fato de você não ter vergonha de ser emocionado, de expressar suas emoções e de me dar certeza sempre, sem que eu precise pedir, do quanto gosta de mim.
– Isso foi fofo. – sorriu fechado, tornando a afagar o rosto dela. – Mas, você pula na água sem saber nadar, cuida de mim enquanto eu tenho um vírus maluco e perigoso, escolhe eu e não seu trabalho, vem com esse papo de ser minha cúmplice e me ajudar a resolver meus problemas... – se aproximou dela, a olhou nos olhos e sussurrou. – Eu não sei como fazer o mesmo, se tudo que eu faço aqui é ser o único de quem você come carne de rena e quem faz as declarações românticas.
– Não sabia que minha impulsividade te deixava inseguro. – riu alto e fez careta.
– Eu quem devia fazer essas coisas. – Resmungou.
– Espera, vamos para a piscina resolver isso agora. – propôs, tentando se levantar e a segurou.
– Para com isso, tonta. – Repreendeu ele. – Eu tô falando sério com você, . Me leve a sério. – Pediu, rindo contra os lábios dela.
– Você nunca vai conseguir fazer o que eu faço, porque ninguém em sã consciência teria tantas atitudes impulsivas. – A inglesa sorriu, beijando a bochecha dele. – E também, eu preciso de segurança. – fez uma breve pausa e ergueu o olhar. – Preciso saber que o meu homem vai estar lá, caso alguma dessas minhas decisões idiotas deem errado.
maneou a cabeça e estreitou o olhar, do jeito que costumava fazer quando a namorada dizia ou fazia algo que o excitava em seus momentos íntimos.
– Mas o seu homem não pode te salvar disso, se suas decisões ruins são pra salvar ele.
– Você me disse uma vez que, só dizer que ama não adianta, que qualquer um faz isso, mas que provar é mais difícil. – assentiu quando ela disse. – Eu só faço isso. Só ajo de acordo.
– Mas mesmo assim, eu... – O jogador tentou argumentar.
– Amor, você fala demais. – o beijou. – E olha como é engraçado, no final, você é mais emocional que eu.
– Aposto que você está se divertindo. – rolou os olhos e fez careta.
– Estou com o meu homem, que quase incendiou a casa só para me agradar, então sim. – piscou e estreitou o olhar, enfiando uma das mãos nos cabelos dela, afagando sua nuca.
– Seu homem? – Ele estalou a língua. – Agora você só vai me chamar assim.
– Tenho uma condição. – Ela falou e viu o namorado levantar as sobrancelhas. – Me aperte forte agora, como estava fazendo há um tempinho atrás, e aí durante eu te chamo assim.
gargalhou e no instante seguinte, puxou a namorada contra si, virando-se por cima dela e colocando seu peso sobre ela.
– Aí como eu amo você, .
26 – Blow
This place about to blow
(Ke$ha – Blow)
Domingo, 23 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
Era manhã.
Uma manhã escura.
Do lado de fora a neve caía e se depositava nos peitoris das janelas, cobrindo o cinza e preto da casa de com o branco macio. Estavam no meio do inverno, era janeiro e fazia muito frio, os dias custavam a clarear e escureciam repentinamente depois das três da tarde. sentiu a mão dormente quando começou a despertar, tirou o braço de baixo do travesseiro e esticou, flexionando e estendendo os dedos, ainda sem abrir os olhos. Quando sentiu que era o suficiente, jogou a mão sobre o corpo da namorada, que estava deitada de costas para ele. Cabelos nas costas, mãos perto do rosto e servindo de apoio para o jogador, que apenas conseguia dormir se tocasse aquela pessoa, e se, pudesse usar algo entre as pernas. Antes, era um travesseiro específico e longo o suficiente, agora era de quem ele tinha ansiedade de separação.
Com o peso do braço do jogador, se remexeu e se virou na cama, afundou o rosto no peito de e abraçou forte o tronco dele. Alguns instantes depois, o jogador sentiu a namorada se mexer outra vez, afrouxando o abraço e levantando o rosto.
– Que é? – murmurou sonolento, sem abrir os olhos.
– Como eu vim para aqui? – indagou confusa.
– Na minha casa, na minha cama, na minha vida ou na minha boca? – provocou, sorrindo de lado de olhos fechados.
custou um pouco a entender, mas quando fez, expirou um riso e empurrou o namorado, que sequer pareceu sentir o impacto.
– No seu quarto. – Ela se deitou outra vez, com a barriga para cima, cobrindo os olhos com o antebraço. – Minha última memória foi naquela poltrona da sala.
– Você esqueceu da melhor parte. – riu abafado e se aconchegou mais a ela, se achegando como um gato. – A gente repetiu tudo aqui no quarto, depois que você ficou com medo demais da Maisie e Louis chegarem.
– E você teve fôlego para tudo isso? – A inglesa provocou e estalou a língua em reprovação.
– É tipo no gelo, turnos de um minuto, no máximo dois, para durar os três tempos e o overtime, se precisar. – Ele respondeu sorrindo e riu, balançando a cabeça.
– E será que eles chegaram? – A terapeuta perguntou após algum tempo em silêncio, sentindo a respiração do namorado em seu pescoço enquanto afagava os cabelos dele. – Não ouvi nenhum barulho.
– É porque você ronca alto demais, mas eles chegaram sim. – respondeu e recebeu uma cotovelada da namorada. – Eu não menti. – Reclamou o jogador, erguendo a cabeça.
– Não foi por mentir, foi por falar a verdade. – o encarou e viu o central rolar os olhos, depois se afundar na curva de seu pescoço outra vez.
Ficaram ali por mais alguns minutos em silêncio, tentando dormir outra vez, já que estava de folga, não pretendia sair da cama antes das dez. Ao seu lado, com o corpo amassado por ele, que parecia um cão grande demais e que não tinha noção de seu peso – cem quilos. A inglesa tentava lembrar dos detalhes da noite passada, repassando em sua mente cada um, saboreando as sensações que sentia na memória corporal outra vez. A surpresa, o jantar que sequer provaram, as conversas, as risadas, a intimidade, os olhares. Era tudo muito bom e por um breve instante, sentiu medo. Medo por pensar que algo pudesse acontecer e mudar o rumo de tudo. Um medo grande por se dar conta de estar feliz, sendo amada e por perceber que aquilo era o que mais valorizava no mundo.
– Obrigada por ontem. – Ela disse de repente e sorriu de olhos fechados. – Foi especial.
– Não precisa agradecer.
– Foi a melhor escolha... ter vindo para a Finlândia, para Lahti... – Compartilhou a inglesa, conseguindo um pouco de atenção dele. – É uma vida perfeita aqui. Com você. E agora aqui, juntos. Dormindo e acordando todos os dias, sem preocupações... é tudo que eu sempre quis. E você é perfeito, é muito mais do que eu achei que teria algum dia.
– Quem é o emocionado e meloso agora? – implicou porque sua vontade era de chorar, mas pensou que não seria muito adequado, então fugiu pela tangente.
– Viu por que não sou romântica? – devolveu, empurrando-o para longe quando o jogador tentou ficar por cima.
– Vamos casar? – propôs repentinamente, a olhando com doçura.
– Estaria no top cinco das minhas maiores loucuras impulsivas. – sorriu, abraçando o pescoço do namorado e enlaçando sua cintura com as pernas.
– Isso não foi um não. – estreitou o olhar, surpreso.
– Não, não foi. – sorriu e o beijou, logo se dando conta do que havia dito. – Mas ainda não é momento. – Completou, tentando amenizar, assustada com o que havia saído sem querer de seus próprios lábios, tirando o brilho do semblante do namorado e o fazendo unir as sobrancelhas. – Tem o casamento da minha irmã, a minha situação no time, sua renovação ou não... ainda não é o momento. – Ela relaxou as pernas, libertando-o.
– Ei, ... – riu fraco, sem humor. – Calma aí... – Ele tentou falar, mas a inglesa se desvencilhou dele rapidamente, empurrando-o e se sentando na cama.
– Eu vou ver se eles chegaram. – Ela fugiu. Não sabia porque havia dito aquilo, talvez fosse a emoção do momento, o calor na barriga causado pelo gesto da noite passada, o medo de perder. – Se Maisie e Lou chegaram bem.
pulou da cama rapidamente, deu as costas para ele, enrolando o corpo em seu robe, a encarava pasmo e boquiaberto. Incrédulo com o fato da namorada apenas encerrar aquele assunto e fugir, principalmente depois de não ter negado e rido dele.
– Eu não terminei. Você vai aonde? – Ele indagou, vendo a namorada agitada para deixar o quarto. – . – Chamou em tom repreensivo. – !
– Só vou ver se eles chegaram. – Ela escapuliu.
– Droga, amor. – xingou frustrado e se levantou também, vestiu a cueca do jeito que conseguiu e a seguiu para fora do quarto.
– Você não pode falar assim e aí fugir, do nada. – Ele continuou reclamando, a seguindo, enquanto abraçava o corpo para fechar o robe e andava agitada pelo corredor, ignorando Felix, que trançava entre suas pernas.
– O quarto da Maisie está vazio. – avisou depois de enfiar o rosto no cômodo, com a porta aberta. – Eles não devem ter voltado. Você deve ter se enganado. – Ela o ignorava, nervosa.
– ! – continuava a seguir a namorada, começando a se irritar. Estava com sono, era cedo, a casa estava fria e a namorada o estava forçando a andar pela casa de cueca. – Você pode parar de fugir de mim? .
– Talvez você se enganou e eles não voltaram, mesmo. – Ela fingia não o ouvir, enquanto andava. – Talvez eles decidiram passar a noite com Atte e a Ness, faria mais sentido. – bufou atrás dela. – A porta do quarto do Lou também está aberta.
se apressou até lá quando notou que a alcançava, mas parou na porta, em silêncio.
– Vai me ouvir agora? – O russo chegou perto. – Ou pelo menos parar de fingir que não está me ouvindo? Isso é irritante, sabia?
– Mas eu ouvi. – sibilou.
– Claro, eu te vi me ouvindo. – Reclamou o jogador, se apoiando no batente da porta, mas sem olhar para dentro. Naquele momento não dava a mínima se os hóspedes estavam ali ou se haviam voltado para Inglaterra. – Você parece ser meio maluca às vezes. – O central olhou para dentro do cômodo que a namorada encarava, tentando usar como argumento para voltarem para a cama. – Mas que porra é...
O quarto, ao contrário do de Maisie, não estava vazio. encarava a cama com olhos arregalados, chocada. A porta estava aberta, então não tinham culpa de estarem vendo o que viam, já que, qualquer um poderia estar vendo aquilo. Já que tudo estava – literalmente – escancarado.
Roupas estavam espalhadas pelo quarto já bastante bagunçado. Na cama, Louis estava deitado de bruços, com uma das mãos pendurada para fora da cama, ainda tinha os óculos de grau que costumava usar no rosto, mas estavam tortos. Metade do corpo do médico era coberto por um cobertor grosso e apenas isso, mas que não era suficiente para cobrir o que precisava ser coberto. Debaixo dele, servindo de apoio para um dos braços do inglês e uma de suas pernas, aparentando estar nua como ele, estava Maisie. Metade de seu corpo coberto por um lençol, outra metade pelo braço do médico. Os dois dormiam um sono pesado.
tinha a boca entreaberta e olhos semicerrados, como quem encara algo, tentando entender como aquilo aconteceu, cheia de estranhamento. Ela olhava de um para o outro, inclinando a cabeça sobre o ombro, tentando ter certeza de que eram mesmo quem pareciam ser e aquilo não se tratava de uma miragem. , por sua vez, encarava a cena com o mesmo olhar que pessoas que flagram seus pais ou irmãos fazendo sexo tem.
– A gente devia sair daqui. – Sugeriu , entredentes, impressionada e abalada com a visão escandalosa.
– Com certeza, apesar de eu já estar traumatizado pelo resto da vida. – Mäkelä concordou, perturbado.
Domingo, 23 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
havia fugido do café da manhã.
Felizmente, depois do flagrante, o central havia se concentrado em rir e fazer piadas infames sobre Louis e Maisie, enquanto rolava na cama e confabulava. Era bom, porque assim parecia esquecer o pequeno lapso de quanto a ideia do casamento. Mas durante o café da manhã ela não escaparia, conseguia sentir os olhos escuros, líquidos e profundos de sobre si, inquirindo sobre casamento, fazendo perguntas que ela não sabia como responder.
Certo, não parecia um passo tão estranho depois de tudo, mas ainda era um passo grande. Um passo que não estava pronta para dar naquele inverno, ou que ainda tinha medo demais para dar. Pensando com seus botões, enquanto secava os cabelos após um longo e demorado – propositalmente – banho, a inglesa conseguia rir de si mesma. Já moravam juntos, usar um anel faria assim tanta diferença? Para no instante seguinte concluir que faria, sim.
Não porque não gostava daquele russo teimoso e cheio de vontades, passional e indecente, o amava demais. Mas porque em sua cabeça, casamentos eram para sempre e prometer algo naquela magnitude... prometer estar junto sempre, até o final da vida... ela poderia, conseguia pensar nele daquele jeito. Mas não conseguia relaxar e imaginar seu lindo russo moreno prometendo aquilo, porque às vezes, achava difícil demais alguém conseguir a amar por alguns anos, quiçá a vida inteira.
foi desperta de seus pensamentos quando ouviu alguém bater duas vezes na porta. A inglesa endireitou a coluna e apertou os olhos, tensa, mas no instante seguinte relaxou a postura, não bateria antes de entrar em seu próprio quarto. A terapeuta saiu do banheiro.
– Sim.
– Sou eu. – Maisie entrou, sorrindo fraco, sem jeito.
– Oi, Mai. – uniu as sobrancelhas rapidamente e apertou os lábios, incerta se devia tocar no assunto daquela manhã ou não. – Não vi vocês chegarem ontem. – Preferiu não abordar.
– É. – Maisie se sentou na ponta da cama de , parecia sem jeito, olhos no chão, nada da postura altiva e combativa de sempre. – Chegamos tarde. Como foi a noite de vocês? Tudo que ele preparou funcionou?
cruzou os braços sobre o peito e se recostou ao batente da porta do banheiro.
– Eu não sei tudo o que ele preparou, mas, até onde sei, tudo mais que funcionou. – Contou aquecida. – Chegamos aqui e havia uma trilha de velas até a mesa, acho que devíamos ter jantado antes, mas o jantar foi ele.
– Ele? – Maisie ergueu o olhar pela primeira vez, rindo pelo nariz.
– Foi um bom jantar. – maneou a cabeça, rindo de sua própria piada. – Não sei que horas acabou, porque me perdi no tempo e nas ações. Ainda tenho algumas marcas arroxeadas, mas as roupas vão esconder. – sorriu e viu a amiga baixar a cabeça outra vez. – Está ruim para sentar, mas é domingo, então tudo bem. – A inglesa se aproximou mais, com cuidado. – Vocês sabiam sobre isso? Ajudaram ele?
– Não. – Maisie negou erguendo os ombros e suspirando, enquanto brincava com os dedos. – Só que ele despachou a gente, a base de ameaças muito fortes. Ele não quis ajuda, nem contar sobre o que era a surpresa. Quis fazer tudo sozinho. Acho que nem a Inessa sabia de nada. – Maisie sorriu fraco, ainda sem encarar a melhor amiga. – Ela disse que quando ele soube da nossa discussão no jogo, quase cometeu um crime. Achou que ia atrapalhar os planos que tinha feito. – Maisie bateu fraco com o dorso da mão na perna da amiga. – Ele se importa mesmo em te deixar feliz.
– É o que as pessoas que amam fazem. – fingiu não dar a importância que dava para aquele relato, só porque sentia que a amiga merecia mais atenção. Poderia falar por horas sobre o ato do namorado, sobre como era ainda mais incrível que ele tivesse feito tudo sem ajuda, mas Maisie não precisava daquela conversa naquela hora. – Mai... – hesitou, tossindo para tentar limpar a voz. – Eu pensei e não ia mencionar nada, mas... você não me parece muito okay.
– Não? – Maisie deu de ombros, sorrindo fraco. – É impressão, amiga. Eu tô bem.
se sentou ao lado dela, tentando encontrar uma posição menos desconfortável, enquanto respirava e pensava sobre como abordar aquele assunto sem afugentar a amiga.
– Mai... pode ser que eu tenha visto algo hoje de manhã. – Confessou a terapeuta e Maisie arregalou os olhos, encarando a amiga. – Eu não vou te julgar, não é isso. Só... confesso que fiquei bem curiosa.
– Não é nada do que você está pensando. – Maisie pulou, ficando de pé, na defensiva.
– Eu não pensei nada, só vi. – ergueu um ombro.
– Foi só... – Maisie parecia com dificuldade para encontrar as palavras. – Coisa de gente bêbada. A gente saiu ontem, com Atte e Inessa e eles são muito sexys, então você olha para aquilo e pensa... – Maisie gesticulava e andava de um lado para o outro no quarto, sem parecer prestar atenção ou dirigir seu discurso a . – Você pensa que seria ótimo que alguém segurasse sua nuca assim, ou que beijasse você daquele jeito... e aí tinha vocês aqui, sabia que estavam fazendo a mesma coisa...
– Vocês ficaram no modo porque pensaram no e eu juntos e viram a Inessa e o Atte dando uns pegas? – encarou a amiga com estranheza.
– Não, . – Maisie franziu o rosto em repulsa. – Claro que não. Eca, que nojo. – Maisie tornou a se sentar. – É que eles estavam lá, no bar. Bebendo, rindo, se beijando e se abraçando. Você estava aqui, tendo uma noite romântica e linda com um cara bruto, mas que faz qualquer coisa para te alegrar... e eu... eu estava sozinha. – Maisie suspirou, apoiou os cotovelos nos joelhos e expirou, enfiando as mãos nos cabelos. – Eu estava sozinha, como sempre. Tão sozinha, que nem caras querendo um lance casual me chamavam atenção ontem. Eu só queria dormir e acordar com alguém, só queria ser amada. Me sentir amada. Quem nunca fez uma loucura em um momento de carência?
– Louis também estava carente? – inquiriu com uma sobrancelha alta.
Maisie balançou os ombros depois de erguer o corpo.
– Você não queria um lance casual, porque estava carente, mas acabou tendo um lance casual. – pensou alto e viu a amiga expirar derrotada, baixando os ombros.
– Eu não sei o que aconteceu. – Declarou chateada. – Foi só mais um erro. Mais um, na gigante lista de erros da Maisie.
– Eu poderia dar a explicação baseada na psicologia, sobre porque sua escolha pelo Lou não foi aleatória ou casual, mas não é o que você quer ouvir, não é? – esticou a mão, apertando a da amiga morena.
– Eu quero veneno. – Choramingou, Maisie.
A outra inglesa ergueu os olhos marejados para a melhor amiga.
– Você sabe, eu não posso gostar dele. – Maisie mordeu o lábio com força, seu queixo tremeu e , depressa, a puxou para um abraço.
Domingo, 23 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
cantarolava, enquanto preparava seu mingau.
– With that in mind, the soft, nice smellin' girl's better. Plus, she let me wear my chain and my turtle neck sweater – Cantava ele, ao mesmo tempo em que misturava algumas frutas vermelhas em sua tigela. – I just had sex and felt so good. A woman let me put my penis inside of her. I wanna tell the world! I just had sex.
A chegada de Louis fez erguer o olhar e sorrir malicioso, mas sem interromper seu pequeno show.
– Vamo! Comigo! – O capitão chamou assim que o médico se sentou à mesa. – I just had sex and it felt so good, a woman let me put my penis inside of her. I wanna tell... – Louis o interrompeu.
– Mas que porcaria é essa? – O médico indagou com sobrancelhas juntas e mãos espalmadas sobre a mesa.
– I just had sex and it felt so good, a woman let me put my…
– , eu falei sério! – O médico o cortou. – Que coisa idiota é essa que está cantando?
– É só uma música. – O capitão respondeu, franzindo o cenho e dando de ombros. – Qual é? Você devia estar mais animado. – Implicou , mastigando de boca cheia.
– Do que está falando? – Louis ajeitou os ombros, ainda tensos.
– A gente viu você do avesso na cama hoje de manhã. – contou, sem muita ênfase, focado em seu mingau. – Com a que você disse que não suporta. – O russo riu nasalado, ainda sem olhar para o médico. – Legal o jeito de vocês da Inglaterra de odiar alguém.
– Foi um engano. – Louis corrigiu rápido, preocupado e ainda mais tenso. rolou os olhos. – Não foi nada disso que você tá pensando.
– Vai quebrar o coração dela assim? – riu pelo nariz outra vez, recostando-se na cadeira. – Pelo menos converse com a garota no dia seguinte. Não seja um babaca.
– Só foi um deslize, não tem graça. – Louis apertou os dentes. – Não tem o que conversar.
negou com a cabeça e se serviu com café.
– Tsc, tsc, tsc... – O capitão torceu os lábios. – Eu entendo, cara. Mesmo. As vezes a gente gosta das que não prestam. Elas geralmente fodem melhor. – ergueu as sobrancelhas, depois ergueu o queixo, lançando a Louis um olhar sugestivo.
– Que idiotice é essa. – Louis ficou de pé, apoiando as mãos a mesa. – Já disse que não tem nada a ver. Que foi só um deslize, não tem nada mais. É ridículo, patético. Eu não suporto a Maisie desse jeito. – O médico tocou o próprio peito. – Já disse que...
– É você já disse um monte de coisas. – rolou os olhos, perdendo a paciência e interrompendo Louis, falando um pouco mais alto. – Vocês deviam mesmo terminar juntos, porque são chatos demais. – Bufou o jogador. – Ficam aí, nesse jogo, fingindo que se odeiam. Enchendo a paciência de todo mundo. Na verdade, vão terminar infelizes, os dois, fingindo que não querem o que na verdade, mais querem no mundo. – Louis não respondeu, apenas encarava o jogador com expressão afetada e irritada. – No bar eu vi você o tempo todo... – riu balançando a cabeça negativamente, recostou-se na cadeira outra vez, apoiou o queixo com a mão e coçou a barba. – Cara, não vou me meter... mas estava claro que você queria ir até lá e tirar ela do Santtu, no bar. Só que se continuar nessa coisa de ela não ser boa o suficiente, vai ficar pelos cantos vendo ela com outros. – maneou a cabeça. – Até o dia que não vai conseguir afastar algum cara dela só com seu mal humor e por contar todos os defeitos dela que você sabe de cor.
Domingo, 23 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
Quando chegava perto de seu quarto, cruzou com Maisie, que saia dele de cabeça baixa e rosto vermelho. A inglesa murmurou algo parecido com um bom dia e passou pelo jogador como uma bala. ainda se virou para vê-la melhor, mas a outra inglesa estava empenhada em evitá-lo, ou evitar qualquer um – aparentemente.
O jogador entrou no quarto, fechou a porta atrás de si e se jogou na cama, de bruços, fechando os olhos. Percebeu e ouviu os passos de , saindo do banheiro em direção ao closet.
– Esse seu amigo é muito chato. – Comentou o capitão, ainda deitado, de olhos fechados.
– Por que diz isso? – perguntou em voz mais alta, do closet.
– Porque sim. – respondeu, suspirou, depois se virou, deitando-se com olhos no teto. – Achei que ele ia estar feliz. Quem não fica feliz depois de transar?
– Você falou com ele sobre isso? – surgiu na porta do closet com olhos arregalados e pelo tom urgente dela, o jogador ergueu a cabeça para a olhar.
– Eu só brinquei. – Ele deu de ombros. – Ele é muito fresco. – Reclamou .
– Maisie está sem jeito, com vergonha e chateada. – Contou a inglesa, torcendo os lábios e cruzando os braços, indo para mais perto dele. – Ficou comigo aqui, até agora. Estou preocupada.
– Ela também é chata.
resmungou e a namorada o acertou com um tapa no ombro, que ele respondeu com um olhar atravessado.
– Mas é verdade. – O jogador deu de ombros. – Os dois são chatos, mas ele é ainda mais. Falando que não gosta dela, que não suporta, mas quando tem uma oportunidade, é dentro. – tornou a falar e torceu os lábios, concordando.
– Ela gosta dele. – Confessou , se sentando ao lado do namorado. – Mas acha que não pode, porque ele não corresponderia.
– É a melhor coisa que a Maisie faz. – Concordou e uniu as sobrancelhas, em estranhamento. – Não precisa pensar muito, Rakkaani, se ele quisesse, já estava com ela. Entenda uma coisa, se o homem enrola muito, é porque ele não quer, ou acha que vai conseguir algo melhor. Que é o caso dele.
– Que horror. – projetou o lábio inferior e aumentou a ruga entre suas sobrancelhas. – Mas você disse que ele estava caído por ela, no bar.
– A gente sabe se quer namorar ou não, assumir ou não uma mulher com cinco minutos de conversa. – Explicou . O jogador tinha uma das mãos pousadas sobre a barriga e a outra lhe apoiava a cabeça. – Ele gosta dela, por isso ele é tão idiota. Ele gosta, mas acha que pode conseguir alguma coisa melhor, então só come quando tá disponível e está carente.
– Que linguajar. – o repreendeu e riu, tentando a puxar para mais perto.
– Desculpa, esqueci que era com você que estava falando. – O capitão riu, esticando uma das mãos para cutucar a cintura da inglesa. – Ele só procura ela quando está sozinho, abandonado...
– Ela disse que estava carente ontem, porque pensou sobre nós dois aqui, que você fazia qualquer coisa por mim. – Contou e viu o namorado sorrir grande. – E viu a Inessa e o Atte lá, no bar. Viu os dois se beijando, se curtindo...
– Inessa não tem respeito por ninguém mais? – fez careta. – Se pegando assim, em público?
– Deixe sua irmã em paz. – Comandou , empurrando a mão do namorado, para que se afastasse. rolou os olhos.
– Viu, ela estava carente, terminou na cama dele. – ergueu um ombro. – Ele acordou sem nem querer tocar no assunto, ela acordou chorando. Vou apresentar a Maisie para o meu empresário. – Ele pensou alto. – É uma opção melhor.
– O Louis ainda é meu melhor amigo, sabia? – o encarou com incredulidade. – Perdeu essa parte da conversa?
– Atte também é meu melhor amigo, nem por isso eu queria que ele fosse o namorado da minha irmã. – O central falou, despreocupado. – Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
ficou em silêncio, pensando um pouco.
tinha razão. Não era por amar Louis como seu amigo que devia fechar os olhos para outras coisas. Pessoas podiam ser ótimos amigos, filhos e mesmo assim, grandes idiotas em outras relações.
– Não sei como ajudar. – mordeu o lábio inferior, jogando-se ao lado do namorado.
– Que tal, só para variar, me ouvir? – virou o rosto para a encarar. – Fica fora disso. Daqui a pouco eles voltam para a Inglaterra e se resolvem. Você é amiga dela e amiga dele. Não vai dar certo.
– Mas...
– Mas nada. – a cortou, a olhava nos olhos e dirigiu um olhar sério para a namorada, apertando os lábios. – Pensa com a cabeça, sem ser impulsiva, e vai ver que eu tô certo. – Ele falou, depois suspirou e fechou os olhos. – Se você apoiar um, vai ficar contra o outro.
– Pode até ser. – assentiu, mas não estava conformada. – Sei lá. – Ela deu de ombros, se sentando na cama, com ombros caídos e semblante chateado.
Houve um silêncio enquanto refletia sobre as palavras do namorado.
– E você, ? Vai parar de fugir de mim agora? – perguntou, retomando ao assunto daquela manhã.
– Não. – respondeu rápido, ficando de pé e partindo para o closet outra vez.
Domingo, 23 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
Depois de um almoço frio e desajeitado, com mirando de olhos estreitos e desconfiados, fugindo do capitão como um coelho arrisco, Maisie trancada no quarto e Louis mal humorado na mesa, Atte e Inessa estavam com eles outra vez. As garotas conversavam na biblioteca pequena de , que com a presença de era agora mais visitada que a sala de estar. Atte, Louis e estavam vendo TV, conversando sobre apenas Deus sabia o que. Maisie não estava em seu melhor humor, monossilábica, sorria apenas quando percebia os olhares das outras duas sobre si, para disfarçar, sem clima algum para estar socializando e falar sobre relacionamentos amorosos.
Não queria ser desagradável outra vez e talvez o maior sinal de sua chateação fosse aquele, não querer incomodar. Geralmente a inglesa não se preocupava em ser a pessoa mais chata ou detestável do recinto, mas quando estava triste, preferia se tornar invisível, não ter qualquer atenção para que não tivesse que falar, se explicar.
– Minha mãe vai matar seu namorado quando descobrir que ele quase incendiou a casa. – Inessa apontou e gargalhou, as três falavam ainda sobre a surpresa do capitão russo.
– Eu fui muito cuidadosa e logo saímos de perto das velas. – Contou , se divertindo. – Foi tipo aquele vídeo de A Thousand Years, com todas aquelas velas. Foi a coisa mais romântica que alguém já fez por mim. Nem sei como ele arrumou tudo a tempo.
– As pessoas que ele paga arrumaram, não é? – Inessa apertou os lábios em uma expressão de obviedade. – Mas meu irmão deu o nome, isso é verdade. – A golfista escorreu no pequeno sofá. – Atte não faz nada assim. Da última vez que pedi para ele ser mais romântico, ele me trouxe uma cerveja com um laço vermelho amarrado.
As três riram, porque tinha os olhos em Maisie enquanto Inessa contava.
– É um sonho e eu até tenho medo de falar muito a respeito, mas... – A inglesa se interrompeu para tomar mais um gole do chocolate quente que estava em suas mãos. – eu nunca precisei pedir. Ele sempre foi romântico, dedicado e focado em mim. Nunca me deixou nenhuma dúvida. E ainda diz que quer me levar em um encontro, como eu mereço, assim que toda essa coisa do time se resolver. – Narrou , apaixonada, Inessa sacudiu-a pelos ombros.
– Você tem sorte. – Inessa assentiu com a cabeça. – Atte é o melhor amigo do meu irmão, mas não é nem um pouco parecido com ele nesse sentido. Só nas piadas idiotas.
– Nem me fale disso. – jogou a cabeça para trás e fingiu rosnar. – Por que homens são tão idiotas? Parece que ficaram presos na quinta série.
– O ficou mesmo. – Confessou a russa morena, também tomando um pouco de seu chocolate quente. – Ele repetiu o ano.
gargalhou, apoiando-se a Maisie, que a abraçou pelo pescoço.
– Não sabia disso.
– Eu só não entendo como eles são capazes de transformar qualquer assunto em algo sexual, ou em alguma piada idiota. – Inessa pensou alto, continuando o assunto. – O cérebro deles é muito limitado. Pouco desenvolvido.
– Isso é, com certeza. – Maisie se pronunciou, enfim.
Inessa endireitou a postura, como se surpresa.
– Inglesa, você está aí? – Fingiu a russa. – Nem tinha te visto. – Maisie rolou os olhos e expirou.
– Pelo menos uma parte dela está. – completou, abraçando um dos braços da amiga, que estava ao redor de seu pescoço.
– Ainda o médico? – Inessa levantou as sobrancelhas. – Você precisa se resolver, nenhuma porta fica aberta para sempre, precisa tomar alguma atitude de uma vez.
– Essa porta já está fechada há tempos. – Suspirou baixinho Maisie, baixando o olhar.
– Talvez seja melhor assim. – tentou amenizar, ajeitando a postura para olhar para ela.
– Como assim? – Inessa arregalou os olhos. – Claro que não. Não é assim que funciona, gatona. – A morena estalou os dedos, chocada. – Não. , você é a namorada do homem mais bobo da Finlândia e diz isso? Onde está sua crença no amor?
– Seu irmão quem disse. – Confessou , atraindo um olhar confuso de Maisie. – Ele disse que... – hesitou, não queria dizer aquelas coisas porque sabia que magoaria a amiga, mas ao mesmo tempo, sentia que precisava falar. – Ele acha que se o Lou quisesse estar com a Mai, já estaria. – Contou, mordeu o lábio inferior e viu a amiga tremer o queixo e uniu as sobrancelhas em uma expressão de choro.
– Ah, mas... – Inessa tentou, mas lhe faltavam palavras. – O não conhece o Louis. Talvez na Inglaterra as coisas sejam diferentes. Não é? ? – Inessa lançou um olhar desesperado para a futura cunhada.
– Tudo bem, Ness... – Maisie engoliu o fôlego e fingiu, se recompondo. – Ele nunca me achou alguém a altura, mesmo. Então...
Inessa, atônita, olhou de Maisie para , depois de para Maisie e ficou de pé.
– E é isso? – Argumentou agitada. – Vai deixar por isso mesmo?
Maisie e encararam a russa com olhares que demonstravam sua confusão.
– Vai deixar ele te usar, dizer por aí que você não está à altura dele e ficar por isso mesmo? – Inessa continuou atiçando. – Você quase saiu no tapa comigo no jogo. Onde está toda aquela marra? Falta de educação e grosseira? Onde está sua falta de modos? Ele disse que você não serve e aí você diz sim senhor e segue a vida? Até quando? Quando estiver carente e ele se aproveitar outra vez? – As três haviam tocado no assunto antes daquele ponto e Inessa também contava com suas perspicazes observações da noite anterior.
– Não. – Maisie arqueou uma sobrancelha, se deixando levar pelas emoções de Inessa. – É, eu... quem ele pensa que é? Eu não sou um objeto.
– O Louis, nosso melhor amigo. – completou, atraindo um olhar mortal de Inessa. – Isso é quem ele é.
– Quem ele pensa que é, para julgar alguém assim? – Inessa alimentou a chama que crescia no interior da inglesa morena. – Você implicou com meu irmão, implicou comigo, e vai aceitar que um almofadinha fresco te coloque para baixo?
– Não vou. – Maisie ficou de pé, firme. – Não vou mesmo. Não vou.
– Ai, Deus... – escorreu o corpo, cobrindo os olhos com as mãos. – Entendi o que disse sobre não me meter agora.
– Não vou ficar aqui chorando pelos cantos, enquanto ele aproveita e fica por aí, como uma Madalena arrependida. – Maisie bateu o pé decidida. – Ele vai chorar lágrimas de sangue. Ele acha que pode me usar? Está muito enganado.
– Esse é o espírito. – Inessa aplaudiu. – Acerte ele bem no olho. Ou na boca, quebre um dente e eu duvido que ele saia por aí falando de você outra vez.
Maisie e Inessa saíram da pequena biblioteca decididas. Maisie como a futura campeã dos pesos pesados e Inessa como sua treinadora devotada. Pareciam prestes a explodir alguém e de fato, iriam.
– Esse lugar vai explodir. – se lamentou nervosa.
– Dois milhões e você dava. – Atte ergueu as sobrancelhas para o amigo.
sacudiu a cabeça e riu, levando a garrafa de cerveja aos lábios, olhos na TV, onde os comentaristas debatiam as escolhas do jogo do dia, um jogo do Tappara Tampere que a dupla queria muito assistir.
– Eu não.
– Todo mundo tem um preço, até você. – Atte insistiu, batendo no sofá. – Cinco milhões e você daria, sem pensar.
– Teria que ser mais alto que o meu salário, eu tiro seis. – maneou a cabeça, pensativo, projetando o lábio inferior. – Você faria por cinco?
– O que? – Atte arregalou os olhos. – Claro. – Respondeu com uma risada. – Eu não tiro nem um direito. Se o preço é eu liberar, eu faço.
riu alto, deixando a cabeça cair sobre o encosto do sofá.
– Eu te faço a transferência. – fingiu falar sério, apontando com o queixo e com as sobrancelhas, sugestivamente, para o andar de cima.
– Assim, sem nem um vinho antes? – O goleiro entrou na onda. – Nem nada para amaciar? Eu não tenho experiência.
– Eu tenho. – brincou, estreitando o olhar rapidamente, malicioso. – Não na sua posição – Gargalhou o central. – Mas na minha, eu tenho.
– Geralmente, quem fica por cima? – Tolvanen perguntou, baixo.
apertou os lábios e maneou a cabeça, com olhar mais que sugestivo, depois ergueu o queixo e as sobrancelhas, causando riso no melhor amigo e rindo alto também.
– Aonde está o Louis? – Maisie perguntou com voz de trovão, interrompendo os risos na sala.
Inessa ia atrás dela, como um cão de guarda e mais atrás, como o filho sem jeito que a mãe vai defender na saída da escola.
– Aonde está o idiota do Louis? – Maisie bateu o pé, entrando na frente da TV e atraindo enfim a atenção dos dois. – Onde está o Louis?
– Não tá aqui, então pode ir dando um espacinho aí. – pediu de modo passivo-agressivo, fazendo um gesto com a mão para a inglesa sair de sua visão.
– Aonde. Ele. Está? – Maisie rosnou, entrando ainda mais na frente deles.
– Acho que Brie, do time, ligou para ele. – Atte abriu a boca, o goleiro encarava a cena com surpresa e estranheza. – Ele saiu, foi para o centro. – Ergueu os ombros.
– Como assim ele só saiu com ela? – Inessa se meteu, injuriada e o irmão rolou os olhos. – Ele saiu daqui para encontrar outra mulher?
– Sei lá, Ness... – Atte respondeu amedrontado pelo olhar e tom da namorada. – A gente não perguntou muito.
girou o corpo, olhando para trás, queria saber onde a namorada estava em meio àquela confusão. estava de pé, atrás do sofá, assistindo tudo atenta e preocupada, mas não parecia tão inflamada quanto Maisie ou Ness.
O capitão a olhou fixamente por alguns instantes, até conseguir contato visual e então maneou a cabeça, tinha no rosto uma expressão de reprovação. , como resposta, ergueu os ombros e torceu os lábios, negou com a cabeça e voltou a olhar para a irmã e a outra inglesa, que gritavam a sua frente.
– Você não vai deixar assim. – Inessa mandou, apontando para Maisie, com uma das mãos no ombro dela.
– Não vou deixar assim. – Assumiu decidida.
– Nós vamos para a cidade, encontrar esse idiota e dar um chute na bunda dele. – Inessa se decidiu e Maisie assentiu, fervorosa.
– Ele vai dormir na rua hoje. – Concordou como uma criança que concorda com as crianças mais velhas.
– Vamos, agora. – Inessa ordenou com os olhos em Maisie, mas não se referia apenas a ela e quando ninguém a respondeu, a golfista se voltou para os dois no sofá.
– Nem inventa. – negou com a cabeça, expirando um riso sem humor, recostando-se no sofá.
– Amor, tem o jogo agora e... – Atte tentou negociar.
– Você vai com a gente. – Inessa foi firme, olhando fixamente para o namorado. – Não vai deixar três garotas sozinhas para enfrentar um crápula, vai? Atte Tolvanen? Vai? – A cada pergunta, a russa arqueava as sobrancelhas de modo mais ameaçador.
– Mas eu... – Atte choramingou, mas Inessa intensificou um pouco mais o olhar. Não como russa, parecia mais a parte latina saltando ali. – Tá certo, amor.
– Eu não vou não. – negou com a cabeça, cruzando os braços sobre o peito, depois de rir incrédulo da reação do melhor amigo. – Não tenho nada a ver com o problema de vocês.
– Vai ser babaca agora? – Inessa chutou o irmão, que respondeu devolvendo o chute de modo infantil. – Insentão. Idiota.
– Você que é descontrolada. – Respondeu ele, fazendo careta, enquanto Atte se levantava do sofá o mais devagar que conseguia.
– , ou você resolve, ou ele vai parar no hospital com o crânio rachado. – Inessa prometeu, afastando-se em direção a porta, com braços dados a Atte e Maisie.
A terapeuta se demorou, não tinha certeza se queria presenciar aquilo. Estava dividida demais entre os dois melhores amigos e mesmo detestando as atitudes de Louis, não o odiava ou queria enfiar uma estaca em seu coração, como pretendiam Inessa e Maisie com aquela caça aos bruxos. Sendo assim, precisava ir para evitar um homicídio, porque acreditava que seria a única a falar em defesa do médico naquele dia. hesitou, mas se deu por vencida, aproximou-se do sofá, na linha de visão do namorado, mas sem atrapalhar sua visão da TV.
– Rakkaani. – Ela o chamou apelativa.
– Não vai funcionar. – sequer a olhou, fingia estar muito concentrado na TV. – Não adianta. – O jogador esticou os braços no sofá.
– Amor... – o chamou com voz mais suplicante e viu o namorado a mirar de soslaio, com um olhar muito pouco convidativo.
maneou a cabeça em direção a porta.
negou.
Ela repetiu o movimento, apertando os lábios.
– Não.
– Por favor. – Implorou ela.
Ele sacudiu a cabeça.
apontou a porta com o queixo outra vez e o olhou com a maior cara de cachorro faminto que conseguia fazer. bufou, negou com a cabeça, resmungou e se levantou, desligou a TV e arremessou o controle no sofá, xingando baixo.
27 – Screaming and fighting and kissing in the rain
But I miss screaming and fighting and kissing in the rain
And it's 2 a.m. and I'm cursing your name
So in love that you act insane
And that's the way I loved you
Breaking down and coming undone
It's a roller coaster kind of rush
And I never knew I could feel that much
And that's the way I loved you
(The Way I Loved You – Taylor Swift)
Domingo, 23 de janeiro de 2022
Lahti – Finlândia
Não demorou muito para o pequeno exército de Inessa chegar ao centro da cidade. Durante o trajeto, no banco do carona, bufava a cada metro andado, Atte dirigia em silêncio, Inessa e Maisie planejavam como acabar com Louis, enquanto tentava amenizar a situação e evitar um homicídio. O grupo – Inessa – havia se decidido por deixar o carro em um estacionamento de mercadinho qualquer e tentar encontrar Louis a pé. Segundo a golfista, seria mais fácil e podiam até se dividir e isso facilitaria a busca. Era chocante para como alguém com tamanho potencial explosivo de guerrilha poderia ser tão boa em um esporte tão chato e silencioso como o golfe.
– Não fica me olhando assim, como se estivesse bravo comigo. – pediu ao namorado quando bateram as portas do carro, ao desembarcar.
– Como se eu estivesse? – arqueou as sobrancelhas, com sarcasmo.
o mirou emburrada, unindo as sobrancelhas, mas o namorado a ignorou. A inglesa sacudiu a cabeça negativamente e bufou, tentando se concentrar no problema atual, sua questão com podia esperar.
– Olha, eu sou super a favor da sessão de desabafo. – se apressou para alcançar as duas mulheres, andando de costas para que pudesse olhar para elas nos olhos. – Acho que a Mai devia mesmo conversar com Lou e dizer tudo. Brigar, gritar... mas...
– Mas o quê, ? – Inessa rolou os olhos impaciente, assim como seu irmão fazia as vezes.
– Será que bem aqui, no meio da cidade, com todos nós aqui... será que é a melhor ideia? – Perguntou, tentando convencê-las a uma atitude mais racional. Maisie pareceu tocada pelo pensamento da melhor amiga e mordeu o lábio, pensativa.
– Nós estamos aqui para garantir que os interesses dela estejam a salvo. – Inessa ergueu o queixo, decidida. – Só isso.
– Mas a gente nem perguntou o que ela quer de verdade. – tentou as acalmar outra vez. – Talvez a gente devesse pensar um pouco, juntos aqui, com calma...
Os olhares dos quatro caíram sobre Maisie, com expectativa do que a morena decidiria e ela mordeu o lábio com ainda mais força, incerta e nervosa. Ansiosa com os olhares, Maisie ergueu os ombros.
– Eu só quero dar um soco nele.
– Ótimo. – Inessa sorriu vencedora, enlaçou o braço ao braço de Inessa e a puxou, adiantando-se na frente, seguida por Atte, com e mais atrás.
– Essa situação está saindo do controle. – sussurrou nervosa para o namorado. – Vou tentar ligar para o Lou outra vez.
– Quando a gente achar ele, eu mesmo vou dar um soco. – bufou.
O central andava emburrado, mãos nos bolsos da calça de moletom, usava um casaco de moletom escuro e touca.
– Eu posso ter uma vaga ideia, mas... – tentou falar de novo com ele. – Você está bravo comigo pelo que, exatamente?
respondeu com uma risada sem humor, deixando a cabeça pender para trás.
– Você é um chato quando quer, não é? – resmungou, cruzando os braços.
– Eu sou chato. – a encarou incrédulo. – É, eu que sou chato agora. – O jogador apertou os dentes, irritado. – Sua bobona. – Xingou, na falta de algo melhor, porque por mais irritado que estivesse, não ofenderia sua garota.
o olhou feio e se aproximou mais das outras duas.
– Isso! – Inessa gritou de repente, apontando para uma loja de chocolates de uma rua movimentada no centro. – Ali está o nosso Judas.
O grupo se aproximou rápido da loja, atravessando a rua e seguindo as duas mulheres que puxavam o resto com bastante empenho. Era uma loja pequena, com paredes enfeitadas de chocolate e flores, um estabelecimento bem romântico. Era domingo e tudo parecia calmo, as ruas, as calçadas, as lojas.
Lá dentro, conseguiam ver Louis e Brie pela vitrine, os dois conversavam animados, sorrindo, pareciam ter dúvidas entre uma caixa de bombons vermelha e uma alaranjada. previu a terceira guerra mundial quando vislumbrou a cena, olhando do casal para Maisie, depois de Maisie para o casal. Até mesmo havia parado de bufar, Atte estava em silêncio, Maisie em choque, estática e Inessa sussurrando qualquer coisa no ouvido da inglesa morena.
As portas automáticas da loja se abriram e Maisie continuou encarando os dois, que ainda não haviam notado o furacão que se aproximava. Ela parecia chocada com a cena, incrédula com o fato de após a noite e tudo que havia acontecido, Louis estivesse mesmo ali com outra mulher, comprando chocolates.
– É agora ou nunca, garota. – Inessa estimulou.
Maisie abria e fechava as mãos, agitada, respirava tão fundo que a musculatura tensa de seu pescoço saltava a pele. Ela apertava os lábios e unia as sobrancelhas, respirava fundo, engolia saliva, respirava fundo outra vez, apertava as mãos e piscava.
– Ai, eu não consigo. – Maisie disse enfim, girando em seu próprio eixo e tentando pegar a direção oposta, fugindo da cena e do enfrentamento. – Já chega.
– Não. – colocou as duas mãos sobre os ombros da inglesa, girando-a para a porta da loja outra vez. – Não, você não me tirou de casa, do meu jogo, para desistir aqui. Pare de ser covarde e resolva isso de uma vez. Se você não for até lá, eu mesmo vou. – O capitão apontou para a cena, porque naquele momento, ele estava bastante injuriado com o médico também.
– Mas eu... – Maisie tentou argumentar, mas Inessa foi mais rápida.
– Você vai. – Inessa estimulou. – Arrase com ele.
A russa empurrou Maisie, que cambaleou para frente o suficiente para que não fosse mais possível mudar de ideia. Maisie buscou com o olhar, a terapeuta ergueu um ombro e apertou os lábios.
– Vai garota! – Atte também ajudou, mostrando com a mão um sinal positivo.
A inglesa morena respirou fundo, ergueu o olhar e entrou na loja com hesitação, parecia incerta do que estava prestes a fazer. Louis apenas a notou quando Maisie estava perto demais para que pudesse fugir, Brie e o médico exibiam uma expressão abismada quando perceberam que era Maisie ali. Mais atrás, os dois casais se aproximaram um pouco, entrando na loja também, atentos caso precisassem intervir.
– Maisie? – O médico se surpreendeu.
– Louis. – Maisie respirou fundo, os ombros estavam tensionados, assim como a musculatura de seu pescoço. – Eu pensei que fosse ser uma ótima ideia vir até aqui, atrás de você. – Começou a falar, desprendendo um tempo para dirigir a Brie um olhar atravessado e magoado. – Depois eu desisti e achei que era estupidez, porque não precisava vir até aqui para saber o que já sei. E agora eu já não sei se era boa ou ruim, mas que bom que eu vim.
– Mai, eu... – O médico tentou falar, mas a inglesa não permitiu.
– Eu estou cansada de você. – Louis uniu as sobrancelhas, confuso. – Cansei de você implicando com o que eu como, com o que eu visto, com quem eu saio, com o que eu bebo. Cansei de você implicando com o meu jeito, minha família e minha educação. – Maisie tinha o tom afetado, não era calmo ou agressivo, mas uma mistura de desapontado com toques de amargor. – E me cansei ainda mais de fingir que isso não me magoa, de fingir que ouvir você dizendo por aí que eu não sirvo para você, não me afeta.
Louis mexeu os lábios para tentar responder, mas não conseguiu emitir qualquer som.
– Essa pessoa... – Maisie lançou outro olhar para Brie, que engoliu seco. – Talvez ela não seja como eu, seja como você quer e merece. Talvez ela saiba se comportar, talvez ela não te envergonhe perto da sua família como eu, não seja rude ou grosseira, talvez seja até legal. – Maisie repuxou os lábios ao dizer. – Você está aqui comprando chocolates para ela, então deve gostar mesmo dessa. Estava rindo com ela, então talvez seja isso. Mas... – Maisie pareceu subir um pouco a voz e acrescentar algumas pitadas de raiva a conversa. – Mas ela sabe dos seus péssimos hábitos? Ela já te conhece de verdade para achar você legal?
Louis franziu o cenho, incerto e preocupado.
– Sabe como você gosta de usar as pessoas? – Continuou a inglesa morena, um pouco mais agressiva em seu tom. – Sabe como você só se importa consigo mesmo? Sabe como você acha que ninguém nunca está a sua altura? Mesmo você tendo só um metro e setenta e sempre mentindo sobre ter um e oitenta? Ela sabe da sua alergia a pólen e a árvores de natal? Sabe que você só perdeu a virgindade quando estava na faculdade? Comigo?
Maisie falava um pouco mais alto, emocionada e chateada. Brie estava pálida e com olhos arregalados, Louis ouvia tudo com uma ruga profunda entre as sobrancelhas juntas, enquanto o resto do grupo trocava olhares alarmados e chocados. Alguns transeuntes passavam pela loja e prestavam atenção na agitação, torcendo os rostos em clara reprovação a demonstração de emoções e sentimentos desregulados. Confusões sentimentais em público não deviam ser permitidas na Finlândia.
– Acho bom que ela saiba que você é um babaca que se aproveita dos meus sentimentos toda vez. – Ao dizer, a voz de Maisie falhou. – Que vai embora no dia seguinte fingindo que não me suporta e que eu sou uma péssima pessoa, mas que sempre volta. E que é a mim que diz amar quando está bêbado ou quando tudo dá errado. Só... – Maisie pareceu engolir o choro. – Espero que ela saiba o grande idiota que você é, Louis Thompson. – Maisie tremeu o queixo e tentou morder a língua para não chorar. – E também que saiba que mesmo sendo esse grande babaca, eu amo você e vou infernizar seu relacionamento até ele acabar.
O grupo atrás da inglesa se dividia entre os de expressões congeladas – e Inessa – e os que fingiam não conhecer aqueles dois, conferindo as prateleiras – e Atte.
Maisie deus as costas para o médico e a alemã.
– Maisie Winslet, você com toda certeza é a pessoa mais inadequada desse continente. – Louis respondeu com dentes apertados, chamando-a e Maisie parou de andar, o médico se aproximou dela alguns passos.
– O problema é seu. – Ela devolveu, passando as costas de uma das mãos no rosto, secando o que parecia ser uma pequena lágrima, sem se virar para olhá-lo.
– É, eu sei. – O médico falou firme. – Eu sei bem disso. Todo mundo parece obcecado em me lembrar a cada dois segundos. – Louis apontou, batendo no próprio peito com o dedo indicador. – Eu devia mesmo ficar com a Brie, agarrar ela e beijar ela, e levar ela para a Inglaterra comigo. E apresentar para a minha mãe. Era o que uma pessoa normal e com a cabeça no lugar devia fazer..
– Pois então faça! – Maisie gritou de volta, girando o corpo e se aproximando do médico.
– Eu devia, por que assim talvez eu teria alguma coisa normal na minha vida. – Louis se aproximou também. – Porque você é maluca. Se tivesse esperado, ou se tivesse perguntado como uma pessoa normal e não chegado aqui assim, gritando como alguém sem qualquer educação, você saberia que Brie e eu não estamos juntos. – Declarou, para surpresa de todos, incluindo os clientes curiosos que fingiam não estar prestando atenção.
e Inessa tinham o mesmo semblante chocado ao ouvirem aquela declaração. Os dois se encararam, depois voltaram o foco para o casal a frente, em seguida se olharam outra vez. Com as mesmas expressões, os Mäkelä se pareciam ainda mais. Atte ergueu o olhar de uma prateleira de salmiakki, surpreso e surgiu entre as prateleiras com bombons e trufas.
– Se fosse um pouco menos surtada e agisse como uma pessoa normal, poderia ter perguntado e eu diria a você que não vim até aqui para me encontrar romanticamente com a Brie. Vim porque precisava de ajuda para comprar uma coisa. E aí você saberia que vim até aqui comprar chocolates para alguém maluco e extremamente irritante, só porque o sem nenhuma noção e intrometido que namorada minha outra melhor amiga, me disse coisas que me deixaram confuso.
– Ei. – protestou, unindo as sobrancelhas. – Eu só quis ajudar.
– Você disse para eu não me meter. – acertou o namorado no ombro.
– Como ia saber que ele tinha me ouvido? – O jogador respondeu, sacudindo a cabeça, pego em flagrante.
– E aí, Maisie Winslet, você saberia que eu nunca poderia me apaixonar por outra mulher. – Louis amenizou seu tom, sua voz parecia um pouco cansada. – Que mesmo sabendo que pela lógica, você não é a mulher ideal para mim e que pela lógica, provavelmente você não suportaria ficar uma semana ao meu lado, você sempre seria a minha escolha. Mesmo que a errada. Mesmo que eu odeie escolhas erradas. Mesmo que eu odeie não agir pela lógica. Por que mesmo quando nós dois significamos tudo de errado, para ambos, você ainda é a minha escolha.
Repentinamente, mas não inesperadamente, Maisie chocou sua plateia ao se lançar sobre Louis e o beijar ardentemente.
– Esse não foi bem o final que imaginei. – Inessa comentou, maneando a cabeça.
– Bom, ninguém foi preso, então, é um final feliz. – ergueu um ombro. – Mesmo que meio estranho. Realmente inesperado e estranho. – apertou os lábios. – E cheinho de bandeiras vermelhas.
– Não é só meio não, é muito estranho. – completou. – E muito escandaloso. – Falou ele, olhando para os lados, para os que torciam os narizes para a demonstração digna de cinema que acontecia nos corredores da loja de chocolates.
– E olha quem fala. – Inessa implicou, olhando de canto para o irmão.
Enquanto discutiam entre si, Brie se aproximou, sem jeito e envergonhada. A alemã estava pálida e parecia alguém à beira de um colapso, ou alguém que quase havia capotado o carro no asfalto congelado. Algo entre os dois.
– E eu achando que não teria fortes emoções na Finlândia. – A alemã suspirou, sorrindo fraco, sem jeito. – Pensei que ela fosse me acertar um soco.
– Ela provavelmente teria, se ele não tivesse se declarado. – apertou os lábios. – O que foi isso? Como vocês dois pararam aqui? Isso foi a coisa mais aleatória do ano.
– Bem, é meio confuso. – Brie expirou, abraçando o próprio corpo. – Linguei para avisar que estava mandando umas fotos que tiramos no dia do jogo, fotos do Louis. Ele pareceu desanimado e eu perguntei se podia fazer algo por ele. Ele aceitou rápido demais. – A garota ergueu os ombros. – Devia ter desconfiado.
– Por que tinha o número dele? – Inessa arqueou uma sobrancelha, desconfiada.
– Ele me deu, caso soubesse de alguma chance como câmera na Inglaterra. – Contou Brienne. A garota parecia mesmo ter sido pega por engano no meio daquela troca de tiros pesada. – Eu juro que nunca aconteceu nada entre nós, ou.. sei lá. – A alemã parecia preocupada. – Ele disse que não falaria com você porque não queria te colocar em uma posição difícil, mas nem mesmo me explicou sobre o que era exatamente. – Justificou ela, apontando para .
– Veja, veja... – cantarolou, apoiando o braço em um dos ombros da namorada. – Veja só quem estava certo o tempo todo. Olhe como é bom o sabor...
– É, mas você me disse para não me meter, depois de ter se metido. – o encarou de olhos estreitos.
– Eu não sou amigo deles. – deu de ombros. – Eu não ligo.
– Como você pôde? – se injuriou, com um olhar mortífero, encarou o namorado.
– Espera... – Brie olhou para trás, onde Louis e Maisie ainda se beijavam, depois encarou , Atte, Inessa e outra vez. Parecia estar fazendo as contas. – O que você está fazendo aqui? .
O jogador não respondeu, maneou suavemente o rosto para o lado, ergueu o queixo, projetou o lábios e estalou a língua, perdido no que dizer. Maneou a cabeça e apertou os lábios, como o personagem favorito de em The Office, Jim Halpert costumava fazer no seriado.
– Eu? – O central repetiu. – O que eu tô fazendo aqui? – Brie assentiu. – É uma boa pergunta mesmo. O que eu tô fazendo aqui.
– Ele estava com o Atte, Inessa arrastou os dois, caso precisássemos de reforços. – explicou, salvando-o de sua confusão e o namorado assentiu, como se fosse mesmo aquilo que estava prestes a dizer.
– Pois é. – O jogador apertou os lábios e inflou as bochechas. – Salvar as moças em apuros. – Completou e o dirigiu um olhar atravessado. – Você é solteiro? – Brienne enrugou a testa e estreitou o olhar ao perguntar sem qualquer justificativa prévia.
O capitão começou a rir, primeiro fraco e baixinho, até a risada de transformar em algo descontrolado, nervoso e parecido com o grunhindo de um porco. encarava a alemã com o mesmo olhar que Inessa havia dirigido a Maisie durante sua briga no jogo e quando percebeu, começou a rir mais. Primeiro, o riso era de alguém prestes a ser pego em flagrante, nervoso e quase considerando fingir um desmaio, para depois, unir isso tudo ao doce gosto que sentia quando via sua garota sentir ciúmes.
– Não, querida. – Inessa, que havia percebido a situação, tomou a dianteira. – Ele tem uma namorada. Uma grande namorada. E ela é maluca, ciumenta, surtada, possessiva, sabe? Dessas bem malucas? – Inessa, ao dizer, avançou dois passos, se colocando entre e Brie. A golfista tinha braços cruzados e sobrancelhas arqueadas. – Assim como eu. Não gosto de ninguém perto do meu irmão. Eu sou ainda pior.
Brie estava recuada, assustada com a intensidade de Inessa, enquanto Atte assistia à namorada de cenho franzido. assentia orgulhosa, atrás dela, e tentava conter sua crise de risos com muita luta, mas pouco empenho. Brie não teve chance de responder, porque de forma brusca e inesperada, Louis e Maisie se juntaram ao grupo após sua intensa e um tanto desnecessária demonstração de afeto em público. O casal estava abraçado e sorriam muito, trocando olhares cheios de cumplicidade. Os olhares dos cinco presentes caíram sobre eles e o casal devolveu com expectativa, como se propositalmente, até trocarem um último olhar e enfim voltarem a encarar os amigos.
– Conte você. – Pediu Maisie, sem tirar os olhos do grupo.
– Não, conte você. – Louis se derreteu. – Vamos.
– Você, Lou. – Maisie riu, melosa.
– Você, amorzinho. – O médico insistiu.
– Se ninguém abrir a boca no próximo segundo, eu é quem vou ter que contar coisas. – Inessa se pronunciou, irritada. – Para a polícia.
O casal trocou olhares outra vez, nem mesmo a agressividade crônica de Inessa parecia os tirar do estado de êxtase.
– A gente vai casar. – Contaram em uníssono.
Domingo, 23 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
Em um sepulcral silêncio o grupo havia retornado. Maisie com Louis em seu carro, Atte e Inessa mal haviam retornado e já tinham saído outra vez. No ar uma mistura estranha de “Mas que droga é essa?” com “Realmente, todo mundo enlouqueceu.”
se desmontou sobre o sofá grande e ligou a TV, assim que chegaram em casa. ainda estava parada perto da porta quando notou Maisie e Louis prestes a subirem as escadas, para o andar de cima.
– Gente, será que... – A inglesa se pronunciou, atraindo o olhar dos amigos. – A gente não vai falar sobre isso? Tipo... – riu nervosa, aproximando-se deles. – Tipo, tudo isso. – Ela gesticulou ao falar.
– Sobre o que quer falar, amiga? – Maisie perguntou com muita suavidade, sorrindo como se nunca tivesse tido qualquer problema na vida.
– Mai. – respirou fundo e uniu as mãos na frente do corpo. – Você saiu daqui disposta a dar um soco nele. – A inglesa apontou para o amigo médico. – Agora, me dizem que vão se casar? Assim? Do nada?
– Por que esperar mais? – Louis também sorria e perguntou depois de apertar as bochechas de Maisie com suavidade. – A gente já se conhece há anos, não precisamos esperar mais.
não conseguiu responder, estava chocada.
– Eu agradeço a preocupação, . – Louis tornou a falar, seu timbre era de alguém superior, como um ser sobrenatural que vem ao mundo se comunicar com pessoas comuns por estar muito entediado ou ser muito benevolente. – E também, talvez, se não tivéssemos feito essa viagem, se não tivéssemos passado por essas coisas... talvez levasse ainda mais tempo para perceber que o que eu sempre quis foi a minha Nhonhonha. – Ele sorriu e Maisie se derreteu.
– Espera, o quê? – piscou, impactada, enquanto o casal se beijava outra vez.
– Até os conselhos não requisitados do . – Louis completou, erguendo um dedo e piscando para a direção em que devia estar.
– Mas não é muito precipitado? – tentou argumentar outra vez. – Digo, até hoje de manhã nada disso funcionaria. E é como você gosta de dizer, Mai... muitas bandeiras vermelhas.
– Você sabe como são essas coisas, . – Maisie também falou, sorrindo e tocando com suavidade o ombro da melhor amiga. – Você decidiu ficar com o bem rápido também. Sabe, morar juntos em dois meses... – Maisie suspirou e sorriu apaixonada, olhando para Louis. – E o é uma grande, bruta, rústica e inconveniente bandeira vermelha. – Respondeu com uma mansidão esquisita.
– Ou! – se aproximou, levantando rápido do sofá. – Aqui ainda é a minha casa, tá?
– Não se irrite, . – Louis sorriu, apertando Maisie contra si. – Ela não é sincera e ousada? – Perguntou como um elogio. – Isso é tão excitante.
sentiu um olho tremer de modo involuntário.
– Acho que é melhor subirmos um pouco. – O médico propôs depois de um longo suspiro.
– Amo como você sempre tem ótimas ideias, amorzinho. – Maisie respondeu fazendo vozinha e não conteve a expressão nauseada que tomou seu rosto.
O casal lhes deu as costas e subia as escadas devagar, enquanto e assistiam embasbacados e em total estado de choque.
– Eu preciso de uma bebida. – Comunicou , dando as costas para o casal.
Foi necessário certo tempo para que conseguisse desviar seu olhar congelado daquela cena e voltar a realidade. Quando o fez, o capitão sacudiu a cabeça e pareceu se dar conta do que havia dito.
– Mas você não bebe.
– Eu sei.
Na sala, ao lado da escada, oposto a cozinha, havia uma espécie de bar com muitas bebidas, uma ilha larga, com algumas cadeiras altas de couro. Garrafas de bebidas que o jogador colecionava, outras que ganhava dos amigos, taças e copos especiais. As garrafas eram organizadas junto a troféus, quadros com jerseys especiais e autografadas e fotos de família em uma parede cheia de prateleiras. Aquela era uma área pouco visitada por , mas que sempre servia para que a inglesa se lembrasse da excentricidade do namorado – e de pessoas muito ricas.
estava por trás da ilha que servia de balcão, preparava uma bebida para a namorada.
– Me diz, por favor, que não somos assim também? – Pediu o capitão, enquanto misturava o drink da namorada. – Eu ainda tô com estômago embrulhado.
– Eu espero muito que não. – suspirou. Ela tinha os cotovelos sobre a ilha e apertava as laterais do rosto com os dedos. – Se formos assim, eu nunca mais saio em público.
– Aqui. – empurrou o drink na direção da namorada.
O capitão assistiu segurar a taça, cheirar e beber. Temia ter exagerado no álcool e esperava alguma hesitação, talvez um pouco de reclamação e uma provável desistência, por isso nem se deu ao trabalho de preparar um para si. Mas a expressão calma do jogador mudou quando viu a namorada virar sua bebida de uma vez, e apesar de fazer careta com o gosto quente do álcool, não era exatamente o que o central esperava. franziu o cenho. Ela percebeu.
– Que é? – ergueu uma sobrancelha. – Eu sempre disse que não bebo, mas nunca disse que nunca bebi.
apertou e torceu os lábios em uma careta.
– Eu quero mais um. – Pediu ela e o namorado tornou a torcer o rosto em uma expressão insatisfeita, que ela ignorou. – Eu não sei nem o que pensar. Quer dizer, hoje de manhã ele estava agindo como uma babaca e então, de repente, eles se amam e vão se casar?
– Ninguém atura a Maisie sem realmente amar ela, isso é um fato. – ergueu os ombros, escolhendo um bom gin. – Eu aturo, mas porque amo você. Talvez ele só tenha acordado.
– Mas isso não é... – bufou. – Eu sei que não sou a melhor pessoa para falar, mas... sei lá. Me parece loucura.
– Por que quando você diz isso, sempre sobra para o meu lado? – O capitão resmungou.
– Para, não dá para fingir que a gente não apressa um pouco as coisas. – justificou, cruzando os braços sobre a ilha.
– É completamente diferente. – Rebateu ele. – Sempre disse que gostava de você e sempre tive certeza, ele não. Qual é? Idas e vindas desde a faculdade? – sussurrou, aproximando-se da namorada, apontando para trás de si, como se apontasse para eles. – E o lance da virgindade. Que parada estranha é essa?
– É justamente o que você ouviu, amor. – deu de ombros, prestando atenção no preparo de seu drink. – Louis é meio parado.
– Esse casal é muito estranho. – continuou. – Isso sim é uma intensidade que não vai dar certo. – O capitão disse, balançando a cabeça negativamente.
– Você é o patrono dos últimos românticos e está falando isso? – riu pelo nariz.
– É, Rakkaani. – Ele expirou um riso, assentindo com a cabeça. – Ao contrário do que você diz, eu não sou tão emocionado assim. Eu penso com a cabeça também.
– Com qual delas? – Implicou .
parou o que fazia e a olhou incrédulo, surpreso.
– Você nunca me leva a sério. – Reclamou sacudindo a cabeça. – Com essa aqui. – O jogador bateu com dois dedos na testa. – Palhaça.
gargalhou e a entregou a segunda bebida.
Quando percebeu o jeito com que ela segurava a bebida e sua intenção brilhar no fundo dos olhos, fez outra careta e se esticou para segurar o punho da namorada, interrompendo seu movimento.
– Não faz assim. – Ele a olhou sério. – Não quero ter que segurar seu cabelo enquanto você vomita.
– Eu não vou. – negou com a cabeça. – E eu posso prender meu próprio cabelo. – deu de ombros, o provocando.
No segundo seguinte, virou de uma vez seu drink, sob o olhar arregalado e queixo caído do namorado.
– ! – Ele a repreendeu, mas a terapeuta gargalhou outra vez.
– Não é nada demais. – ainda ria. – Eu não exagerei. Quer dizer, talvez sim. Mas eu acho que não. Se for, também, tudo bem. Porque você por cima é melhor.
– Tá falando do que? – O jogador estranhou, unindo as sobrancelhas e projetando o lábio inferior.
– O quê? Eu bebi, você não. – dirigiu a ele um olhar malicioso. – Vamos ter que fazer uma substituição no gelo agora? O meu capitão não vai conseguir dar um jeito nisso? – Provocou e viu o namorado cruzar os braços sobre o peito e se recostar as prateleira, a olhando com olhar cerrados e queixo tensionado.
– Quem disse que eu quero isso? – indagou e percebeu os músculos do rosto dele se mexerem, por causa do jeito que o namorado os tencionava, apertando os lábios em uma expressão de insatisfação.
– Não quer? – ergueu as sobrancelhas.
– Não.
– Ah, ... – A inglesa se inclinou um pouco mais sobre a ilha e sorriu para ele. – Você nunca me dispensou antes, por que começaria agora?
– Ah, interessante, , eu estava ansioso para você perguntar. – Ele respondeu, assentindo. – Primeiro, me deixou falando sozinho. – começou a enumerar nos dedos. – Segundo, me ignorou e me evitou o dia todo. Terceiro, não me respondeu direito sobre o lance do casamento.
– Eu disse sim, disse que não era o momento, mas que não era um não. – se defendeu.
– É, e que tal algo do tipo – tossiu para tentar limpar a garganta e imitar a voz da namorada. – Ah, amor, claro, vamos conversar claramente sobre o porquê agora não seria a hora certa para usar um anel, mesmo já morando junto e com você tendo praticamente o meu nome tatuado na testa.
– Isso não teve muita graça. – fechou a expressão com a imitação do namorado.
– Ah, é? – riu. – Perdeu o clima agora? Que interessante.
O jogador começou a organizar o balcão.
– Quer colocar um anel no meu dedo, ? – voltou a provocá-lo, usando o tom mais malicioso que podia evocar.
– Não mais. – Ele respondeu enfezado.
– Não me faça ir até aí. – seguiu em suas investidas, fosse por estar se divertindo, ou por estar um pouco alta pela bebida. – Sua cabeça pode não me querer agora, mas acho que só uma delas. O que a outra te diz?
se afastou outra vez, apoiando as costas na prateleira e a olhou com olhar estreito, um sorriso fechado, leve e incrédulo nos lábios cheios e rosados. O jogador negou com a cabeça, levou uma das mãos até abaixo do umbigo e apertou firmeza enquanto olhava a namorada, depois ergueu as sobrancelhas.
– O que você acha? Você não pode ficar fazendo isso comigo. – Ele protestou depois. – Esse seu joguinho. Você me quer, mas depois não me quer, para depois querer de novo.
– Eu sempre quero você, meu amor. – mordeu o lábio inferior. – Hoje... – ela hesitou, maneando a cabeça. – Só me surpreendi com o que havia saído da minha boca. – Confessou, enfim.
– Eu não acredito em você e você sabe, não é? – arqueou uma sobrancelha.
– Que tal isso – ficou de pé e devagar, começou a se aproximar dele, circulando a ilha. – Vamos resolver sua renovação, a situação com o time... depois você conhece a minha família... e se não desistir depois disso... – fez uma pausa proposital quando perto dele. Não estava raciocinando bem, quando ficou de pé, teve a sensação de ter tomado duas garrafas e não dois drinks, então não podia garantir total controle sob suas ações. – Você coloca o que quiser em mim.
– Uma aliança. – disse em tom repreensivo. – Uma aliança, . Sua safada.
– Que seja isso, então. – Ela deu de ombros, sorrindo.
– Eu devia repetir o discurso do Louis agora. – fez bico, cruzando os braços sobre o peito.
– Eu só tenho uma pergunta para fazer agora, . – atraiu um olhar curioso do namorado. – Eu vou subir. A pergunta é, vou subir sozinha ou acompanhada?
O capitão expirou pesadamente e rolou os olhos, enfatizando sua insatisfação. Em seguida, puxou o casaco de moletom pela gola, arrancando-o.
– Vai! Sobe logo. – Ordenou, seguindo-a para cima quando obedeceu, meio que cambaleante. – Rápido. E sem reclamações. E é bom que se esforce também hoje.
– Sem reclamações? – repetiu a fala dele como uma pergunta, enquanto subiam as escadas. – Você me deixou marcada, sem conseguir sentar direito e eu não reclamei. Eu nunca reclamo. – Lembrou, contrariada.
– Cala a boca e sobe logo.
28 - I was wrong
Last night we fell apart and broke to pieces
Our love was in the hall all packed in boxes
And I saw
What it was
That I had done to you
(Sleeperstar – I Was Wrong)
Segunda–feira, 24 de janeiro de 2022
Casa de
Lahti – Finlândia
estava deitado na cama depois do café da manhã. O dia era frio e estava escuro – como sempre naquela época do ano. O tempo era ruim, muito frio, nevava e o vento forte devia estar machucando até os habitantes mais acostumados. O jogador rolava a tela de seu Instagram preguiçosamente, recostado aos travesseiros e meio vestido com seu roupão. Deitada na cama também, mas entre as pernas dele, estava que ainda usava pijama. A inglesa repousava a cabeça em uma das coxas do namorado, para depois mudar de ideia e abraça–la, mudava de ideia outra vez e desenhava padrões na pele dele, ou apertava, sentindo a rigidez da área, ou surpreendia com mordidas.
– Ei, cachorrinha. – O moreno a repreendeu, balançando um pouco a coxa e afastando os olhos da tela do celular, dando a ela um olhar repreensivo. sorriu.
– Perdão.
, ainda sorrindo, resolveu se aproximar mais, escalou o corpo do namorado e apoiou a cabeça em seu peito. se rendeu ao afeto dela, largou o celular e a abraçou, beijando o topo de sua cabeça.
– Eu tô gostando dessa fase. – Ele disse primeiro. – Mais apegada a mim.
– Acho que as pessoas que namoram, que estão apaixonadas, quando não tem que se preocupar com dilemas éticos e todo o resto, são assim. – Ela brincou e ele riu.
– Achei que a fase da paixão tivesse terminado, você disse. – Lembrou , sorrindo.
– Não acho que vá acabar nunca. – devolveu o sorriso, afundando o rosto no peito descoberto pelo roupão, sentindo o cheiro dele. – Eu me viciei, não tem volta para mim.
gargalhou.
– Viciou em quê?
– Em você, na sua mão quentinha e no seu cheiro. – Listou a terapeuta. – Como eu vivi tanto tempo sem isso?
– Me pergunto a mesma coisa todo dia. – Respondeu, rolando por cima dela.
Em silêncio, o capitão perdeu algum tempo observando os traços do rosto de sua inglesa, até que ela sorrisse e lhe roubasse um beijo.
– Eu estava pensando e tenho duas coisas, dois assuntos para conversar com você. – Anunciou ela com ansiedade.
– Vamos primeiro ao que eu menos vou gostar. – pediu, erguendo as sobrancelhas e expirando pelo nariz.
afagava com uma mão a nuca do jogador, enquanto com a outra passava por baixo do braço dele e tocava suas costas.
– Vamos morar juntos agora, isso é um fato e eu não tenho qualquer objeção. – Ela começou e estreitou o olhar, se preparando para o que viria a seguir. – Mas eu gostaria que a gente realmente morasse junto, sabe? Compartilhasse tudo. Eu quero participar, não quero me sentir uma hóspede.
– Sim, mas já não era essa a ideia? – Ele concordou com a cabeça, ainda um pouco perdido no que ela realmente queria dizer.
– É que quero participar mais. – propôs ansiosa. – Tipo, fazer o mercado, a lista de compras, decidir...
A inglesa se interrompeu quando percebeu que a cada sílaba dita por ela, as sobrancelhas do namorado ficavam mais juntas e a ruga entre elas mais profunda.
– Que foi? Por que essa cara?
– Rakkaani, eu não faço essas coisas. – Ele respondeu, balançando a cabeça. – Nem me lembro da última vez que fiz algo assim aqui. Eu nem sei o que tem na minha dispensa até ir até lá e procurar alguma coisa para comer. Ou melhor, eu nunca entro lá. – sorriu leve. – Só fazia isso na sua casa, quando comprava carne de rena para cozinhar para você. – Lembrou, deixando vários beijinhos no rosto e pescoço da namorada.
– Espera, mas... – tentava, quase que literalmente, forçar seus neurônios a funcionarem. Tinha uma expressão confusa congelada no rosto. – Mas então você não...nunca? Nada?
– Não. – Respondeu ele, tinha voz abafada porque falava contra a pele de . – Algum funcionário cuida disso. Não tenho tempo para ficar me preocupando com esses detalhes. Tem o time, tem as coisas que gosto de fazer... não posso me preocupar com a conta de gás e com comprar leite. – roubou um beijo rápido, mordendo o lábio da namorada, para depois voltar a seu pescoço. – Aqui eu mal cozinho, é bem raro. Só com você aqui que as coisas mudaram e agora eu cozinho algumas vezes.
ainda estampava uma expressão chocada e surpresa. Quando pensou sobre aqueles detalhes, se imaginou como uma boa dona de casa, que organizaria tudo e teria tudo sob seu controle, como sua mãe faria se pudesse. Lembrava da mãe de e pensava que aquilo era o que Ema devia esperar de uma possível nora. Estava confusa, sentia seu castelo de cartas de expectativas ruir e cair sobre sua cabeça. Numa espécie de chateação angustiante que Alice devia ter sentido ao se perceber encolhendo, no livro.
não tinha muitas opções, daria qualquer coisa por uma luz, um conselho. Mas suas únicas opções eram Maisie, Petri, Santtu, Inessa, sua mãe e Ema – que de longe ainda lhe parecia a melhor e mais confiável, ela e Santtu.
– Mas então, como eu vou participar da sua vida? Da sua casa? – perguntou, estava murcha em seu propósito. – Se a gente não pode fazer isso, cuidar do mercado, então... sei lá, limpar, cozinhar, pagar contas... o que mais se faz junto quando se mora junto? Eu não quero ser inútil aqui.
riu pelo nariz, contido, como quem ri de algo inocente dito por uma criança, disfarçando por não querer magoá–la. Ainda se surpreendia com o coração de , principalmente com a parte ingênua e pura, que acreditava ser preciso rachar a conta de gás, ou as compras do mês com ele. O central ergueu o rosto, não ligava para seu cabelo bagunçado ou para se ficava feio ou não naquele ângulo. Estava com rosto próximo ao de e as correntes que usava de depositaram no pescoço e clavícula dela.
– Rakkaani, deixe sua grana para você, não se preocupe com essas coisas. – Ele sorriu, tocando com a ponta do nariz a bochecha dela. – Eu cuido disso. Na verdade, nem eu, alguém cuida dos pagamentos e de todo o resto, gerencia tudo. – maneou a cabeça. – Também tem isso de eu precisar seguir uma dieta, pelo trabalho, então eu fico restrito. – rolou os olhos. – Tem um cozinheiro, alguém que cuida da piscina e do jardim, alguém que limpa, alguém que cuida dos pagamentos, das compras. Tudo está sob controle.
– Eles são quase invisíveis aqui. – Comentou , lembrando-se dos momentos em que havia estado na presença dos funcionários da casa. – Eu nem fui apresentada a eles.
– Acho que faz parte. – Ele maneou a cabeça. – A gente dessa parte do mundo não é muito de bater papo ou ficar de conversinha.
– Mas como eu... como eu vou me sentir parte disso, se... – tinha o lábio inferior projetado, chateada. – Então nada vai mudar. Não vai ter nada diferente, além de estar dormindo aqui e...
– A gente pode... – começou a pensar. Queria que a namorada se sentisse em casa, queria que ficasse confortável e que sua casa fosse um lar. – Sei lá, que tal, redecorar alguma coisa. A gente chama algum arquiteto e você dá o seu toque, pode fazer do seu jeito. Quero que você sinta aqui como a sua casa. – O central sorriu e torceu o lábio em um meio sorriso lateral. – Eu acho que já estava na hora de dar uma mudada mesmo.
Talvez – ela pensava enquanto o namorado lhe beijava o pescoço – fosse mais esquisito deixar sua vida normal e ter a vida da namorada de um milionário do que imaginou. Tudo era frio, terceirizado, distante. Como se tudo que desse vida e sentido as coisas fosse transferido a terceiros, fosse impessoal. A comida era feita por outras pessoas e você não conheceria o tempero daquela família, ninguém demonstraria amor amarrando os pares de meia antes de guardá–los para que não se perdessem, porque algum funcionário o faria como uma tarefa qualquer de seu dia. Não poderia nunca chamar amigos para ajudar a desmontar um móvel, ou arrastar o sofá, porque tinha funcionários para realizar a tarefa. Nem teriam brigas por deixar sapatos ou roupas no lugar errado, porque alguém recolheria antes que notassem.
Não queria chatear com aqueles dramas, talvez fosse uma daquelas consequências com as quais se precisa acostumar. A semente chata de uma melancia fresca e doce. Sabia onde estava se metendo quando escolheu estar ali, com aquele homem, naquela situação, não podia reclamar e não reclamaria, porque não se arrependia de ter escolhido a . Nunca.
– Qual era a outra coisa? – a despertou de seus pensamentos.
– O que disse?
– Você disse que tinha duas coisas, qual a outra? – O central ergueu o rosto e apoiou o peso do tronco nos cotovelos, tornando a olhar nos olhos dela.
– Ah. – se lembrou e sorriu. – Será que essa semana conseguimos uma brecha para ir ao abrigo? No meio de toda essa confusão, acho que o que estamos precisando é um tempinho lá.
– Acho que tenho alguma folga, depois da viagem para os jogos fora. Em Tampere e tal.
– O jogo contra o novo time do Mere já é nessa semana? – arregalou os olhos.
– É, sim. – maneou a cabeça, depois deixou o corpo pender, caindo ao lado da namorada. – Você vai viajar com a gente?
– Sim, principalmente considerando que nunca sei quando pode ser o último jogo. – Ela torceu os lábios, virando-se para o namorado, pousando uma das mãos sobre o peito dele. – E quero ver o Mere, sinto falta dele. – rolou os olhos. – Não faça isso. – o repreendeu torcendo os lábios.
– Não, você está certa. – O central fingiu. – Tem mesmo que ir ao jogo do seu namorado. – foi irônico, mordido de ciúmes.
– . – se sentou na cama. – Não acredito que está emburrado por ciúmes, nesse ponto do campeonato.
– É que você não pensa muito nas coisas. – devolveu, batendo com dois dedos na testa e uniu as sobrancelhas, não gostou do tom dele ou de sua escolha de palavras. – Já pensou em como explicar para o time que você não vai beijar seu namorado depois de todo esse tempo sem ver ele? Ou como ele vai explicar para o time dele que namora alguém que trabalha no time rival?
– Quando essas explicações eram sobre você, ninguém parecia tão preocupado. – cruzou os braços e a lançou um olhar atravessado, sentando-se na cama. – Qual é a sua solução? Me trancar na sua torre até que o jogo contra o Tampere passe?
– Se eu pudesse... – Suspirou o central, ficando de pé.
– Era o que faltava. – riu sem humor e também se levantou. – O Mere já se mudou, mora quilômetros de distância daqui. Eu estou com você, morando com você, o que mais você quer? Seus ciúmes são, definitivamente, a pior parte sua. – não deu tempo para o namorado responder, lhe deu as costas e entrou no closet, irritada.
– Minha pior parte? – a seguiu, injuriado. – Vamos começar a falar sobre as piores partes agora? – O jogador riu sem humor. – Ótimo, . Muito coerente. – Ele aplaudiu teatral.
– Não venha falar de coerência, . – Ela devolveu, repetindo o que ele fizera, chamando-o pelo nome completo.
Quando tentou abrir a porta de um dos armários, a impediu, fechando a porta com a mão, usando-a para apoiar o peso de seu tronco, enquanto a olhava de modo nada amigável.
– Me diz como seria se fosse comigo? – Ele indagou, mas se recusava a olhá–lo. – Todo mundo pergunta sobre a minha namorada misteriosa. Devia encontrar alguém por aí para cumprir o papel. Talvez até a Isabel, ela sabe de tudo também, talvez queira ajudar.
o olhou chocada e furiosa.
– Isso foi baixo.
– Por que? – devolveu, arqueando uma sobrancelha. – Porque você sente ciúmes dela? Não é baixo quando é com o Merelä, não é? Porque quando sou eu, é exagero.
– Não foi planejado ou arquitetado, você sabe bem como tudo aconteceu. – apontou, batendo com o dedo indicador no peito dele. – Você estava lá, se lembra? E o Mere já era meu amigo, muito antes de você chegar.
– Claro. – sorriu amargo e assentiu com a cabeça. – É, isso aí. Obrigada por me lembrar. Tem mais alguma coisa? Algo mais que queira jogar agora?
– Você quem começou isso. – cruzou os braços. – Eu só queria rever um amigo querido, sem nenhuma malícia. Mas como eu disse, seu ciúme envenena as coisas, os momentos.
não se moveu ou respondeu, a fitou por alguns segundos sem esboçar qualquer reação, até que piscou.
– Meu ciúme envenena? – Ele assentiu, expirando um riso incrédulo, inclinou a cabeça e depois ergueu o olhar outra vez. – É, , tem umas coisas... não sei o que acontece, mas a cada dia que passa você fica melhor em me magoar. Hoje acho que é uma medalha de prata, parabéns.
deu as costas para a namorada, saindo do quarto, enquanto parecia se dar conta do que havia acabado de dizer a ele. Droga, . Era ela agora que estava sem reação.
Segunda–feira, 24 de janeiro de 2022
Centro de Treinamentos do Pelicans
Lahti – Finlândia
O Pelicans viajaria na segunda à noite, teriam um cronograma de jogos fora de casa para cumprir. Dessa vez os acompanharia e seria sua primeira viagem longa com o time, mas o clima não poderia estar pior.
Não havia trocado sequer uma palavra com desde sua discussão, o central sequer a olhava. passou todo o tempo até o almoço do lado de fora da casa, com Felix, no frio terrível, depois, o almoço havia sido silencioso e frio. Maisie e Louis estavam em uma curta viagem pra Helsinki, queriam explorar o país antes de irem embora. Durante a tarde, respondeu algumas mensagens da mãe e arrumou as malas. Apenas quando a viu descer que subiu para terminar de ajeitar suas coisas. Na hora de irem para a Isku, se encontraram na porta e saíram em silêncio, sem trocarem olhares ou gentilezas, ou qualquer coisa do tipo “você trancou a porta? ”, “pegamos tudo? ”. Era frio como o tempo naquele dia.
estava profundamente incomodada, parte porque sabia que tinha exagerado em sua escolha de palavras e o tinha mesmo magoado, parte porque estava magoada com ele também. Tudo estava péssimo, era um péssimo dia e sequer tinham uma razão forte o suficiente para isso.
Quando o capitão estacionou na arena, saiu do carro primeiro, sem se oferecer para abrir a porta, ou sem dizer qualquer coisa. As malas ficariam no carro até a hora da partida. o seguiu em silêncio, andando mais atrás e quando já dentro do centro de treinamentos do time, apenas seguiu seu caminho, sem olhar para trás. era como ela em vários pontos, um dos que tinham em comum era não fazer algo quando não queriam. Se não quisesse falar com ela, não falaria e era o que o central estava fazendo.
Por sorte ou azar, a inglesa tinha muito trabalho pela frente antes de viajarem, por cortesia de Isabel Svedin. Não que conseguisse se concentrar, estava contando faixas elásticas fazia quinze minutos e não tinha qualquer noção de quantas eram. Brie estava com ela, numa tentativa de socializar ou de se sentir útil, era difícil dizer. Era bom, porque parecia que estavam mesmo trabalhando, ninguém perceberia que enquanto a alemã falava animada, repensava todas suas escolhas de vida desde 2009.
– Tô feliz que você também vai nessa viagem. – A alemã sorria, mesmo que pouco respondesse, interagisse ou estivesse mentalmente presente naquele momento. – A viagem para Pori foi ótima, acho que essa também vai ser. Me disseram que a arena deles é no padrão da NHL. Você já conheceu?
– Não, nunca fui. – Respondeu a terapeuta, distraída.
– Eu tô muito animada. – Brie festejou, agitando as mãos. – Você deve estar também, não é? – A alemã tocou o braço de , despertando a inglesa dos pensamentos em seu capitão, fazendo a olhar nos olhos. – Vai ver seu namorado. E também, matar a saudade do namoro a distância. – Brie fez uma dancinha e expirou um riso fraco. – Deve ser muito legal a experiência de assistir seu namorado jogando hockey.
– Te garanto que é uma experiência e tanto. – sorriu, voltando a organizar as faixas elásticas por nível e cor.
Houve um breve silêncio, preenchido apenas pelo som das faixas sendo colocadas nas gavetas e as unhas de Brie batucando impacientes no balcão.
– Não quero ser invasiva, mas... – Brie apertou os lábios e apoiou os cotovelos sobre a bancada. – Você não parece feliz, nem animada. Ao contrário, está distante, triste...
– Eu? – tentou disfarçar, sorriu apertando os lábios e balançou a cabeça. – É impressão, acho que estou cansada. Segunda–feira, sabe como é. – Brincou ela.
– Você é transparente, . – Brie sorriu de lado, empática. – Posso fingir que acredito nessa resposta se não quiser falar, mas se quiser...
abriu os lábios, estava com tudo aquilo tão fresco e latente, que precisava desabafar com alguém. Com qualquer um. Se fosse uma garota, então seria ótimo. Mas seus planos impulsivos foram interrompidos com a chegada de Otto e Santtu. Brie trocou um rápido olhar com a inglesa, como quem empaticamente diz que podem tratar daquele assunto depois. negou com a cabeça, para surpresa da outra.
– Tudo bem, eles são meus melhores amigos aqui. – acenou, sentando-se sem jeito em uma das cadeiras. – Não tem problema falar na frente deles.
– Viu? – Otto se pronunciou. – É por isso que não gosto de vir aqui. Nem dissemos oi e já tem problema à vista. – Santtu apertou os lábios e levantou as sobrancelhas em resposta, com olhar em . – Qual é agora? O seu projeto de namorado? O Petri? O time? Ou tudo ao mesmo tempo? – Otto indagou.
maneou a cabeça, recebendo um beijo carinhoso na testa, dado por Santtu. O defensor ficou trás dela, com as mãos em seus ombros. Brie estava apoiada ao balcão, do outro lado e Otto ocupou um espaço ao seu lado.
– Estava conversando com a Brie, sobre o jogo dessa semana, contra o time do meu namorado. – Tentou falar com os dois nas entrelinhas, lançando a eles um olhar bastante sugestivo. Santtu apertou seu ombro como resposta, Otto estreitou o olhar, depois arregalou os olhos e assentiu. – Não estou em um bom dia.
– Vou perguntar de novo. – Ottis se inclinou sobre o balcão. – Namorado, Petri, time, tudo?
– Tivemos uma briga estranha e feia hoje. – Começou a contar a inglesa, projetando o lábio inferior em uma expressão chorosa. – Talvez eu tenha errado, mas estou confusa e triste demais para raciocinar.
– Impossível. – Otto saiu em defesa da amiga. – Eu conheço seu namorado, se alguém errou, é ele. Cem por cento.
– Você errou e aí brigaram? Ou errou durante a briga? – Santtu quis saber, enquanto Brie acompanhava tudo com olhos curiosos.
– Ele quem causou a briga. – suspirou derrotada, erguendo um ombro. – Os ciúmes outra vez.
– Isso é comum em relacionamentos a distância. – Brie tentou contribuir e sorriu, triste.
– Mas eu já tentei fazer tudo que estava ao meu alcance para não causar ciúmes, para passar mais segurança. – Explicou a inglesa. – Não sei mais o que posso fazer. Mas não posso ignorar um amigo, principalmente um amigo que foi tão importante quando cheguei em Lahti, que esteve comigo sempre, antes mesmo do namoro começar.
– Principalmente um amigo que já saiu da jogada e que tudo que fez foi tentar ajudar. – Santtu saiu em defesa de Mere. – Sempre.
– Coisa que seu namorado nem sempre fez. – Ottis alfinetou.
– Eu sei, achei que já tivéssemos resolvido isso, mas hoje parece que não. – contou, enfiando as mãos nos cabelos. – Isso surgiu durante a briga.
– Espera. – Brie ergueu uma mão, chamando atenção para si. – Podem me explicar o que rolou? Porque eu tô mais confusa do que os dois que chegaram agora.
mordeu o lábio e choramingou, escondendo o rosto nas mãos.
– O namorado dela é inseguro, chato, desde sempre foi assim. – Ottis começou a falar. – Eu estudei com ele, ele era péssimo. Morre de ciúmes dos amigos dela.
– Não, dos amigos não. – o corrigiu, erguendo o rosto. – De um amigo apenas.
– Do , não é? – A alemã supôs e todos a olharam com expressão espantada. – É que é meio óbvio. Eu também teria, se fosse ele.
– Do que tá falando? – Santtu quis saber.
– Pense só, você sempre teve ciúmes de um cara. – Brie começou a narrar, enrolando uma mecha de cabelo nos dedos. – Daí você se muda para outra cidade e sua namorada segue aqui, com esse cara. Qualquer um ficaria ansioso e inseguro.
– Acho que ele se referiu a porque você chutou o . – tentou explicar, também estava curiosa.
– Bem, porque vocês são grudados. – Ela respondeu rápido, dando de ombros.
– Que interessante. – Otto cruzou os braços e lançou um olhar que dizia “Eu te avisei” para a amiga. – Eu sempre digo isso a ela, mas ela nunca acredita. – respondeu ao loiro com um olhar atravessado e uma careta.
– Ele parece estar sempre perto dela. – Brie continuou. – Tipo no final de semana. Teve uma situação com os amigos ingleses da , ele estava lá. Ele, a irmã e o Atte. Tipo? Qual é, cara? Você não tem outro lugar para estar não?
encarou a alemã com olhos estreitos, pensando sobre como ela era uma bela fofoqueira.
– Ele não é inconveniente? – Ottis atiçou, sorrindo para Brie.
– Ei, não era essa a ideia, né? – Santtu interveio, conhecia Otto o suficiente para perceber as intenções do amigo. – Falar mal do .
– Tem razão, desculpe. – Brie deu dois tapinhas na boca, teatralmente e Otto rolou os olhos.
– Por que você errou? – O defensor perguntou para a amiga, voltando ao assunto.
– Eu disse que o ciúme era a pior parte dele. – Contou a inglesa e Santtu estalou a língua. – Ele não gostou, quis comparar. Disse que devia fazer o mesmo com uma outra mulher, de quem ele sabe que tem más intenções e que tem se metido entre a gente.
– Eu odeio admitir, porque não sou o maior fã. – Otto imitou Brie e se apoiou a bancada com os cotovelos. – Mas se for na situação que eu estou pensando, ele tem razão.
– Sobre o jogo, ele... acho que ele se incomodou com a situação...com as situações que podem acontecer no jogo. – tentou explicar sem ser clara. – Coisas que o time pode falar, provocações.
– Do tipo, o cara do time rival está com a sua garota. – Brie tentou adivinhar outra vez, ela parecia empenhada em compreender e ajudar, até além do necessário.
– É bem isso. – suspirou. – Eu acho...
– De novo, ele tem razão. – Otto projetou o lábio inferior e depois bufou. – Mas nunca conte a ele que disse isso. Nunca.
– É uma situação chata. – Santtu comentou. – Mas os dois são adultos, sabiam que isso ia acontecer. Se ele não queria, podia ter tomado uma decisão diferente, naquele dia, com o Petri. Quando ele perguntou a vocês sobre as festas.
– Eu sei, disse isso a ele. – completou, buscando o olhar de Santtu. – Disse que ele estava lá, ele me acusou de jogar esse fato contra ele. Depois falei que o ciúme dele estava envenenando as coisas, os momentos entre nós. – A inglesa suspirou triste. – E aí ele disse que eu estava cada vez melhor em magoá–lo.
Fez-se silêncio.
– Vocês estão se falando? – Brie quis saber.
– Depende do que você chama de se falar. – ergueu os ombros. – Ele... ele não faz nada que não queira. Se ele não quiser falar com você, vai fingir que não existe. E nesse momento ele não quer falar comigo.
– Sabe, eu nem devia ter entrado nessa sala hoje. – Otto se pronunciou, endireitando o tronco.
– Otto. – Santtu o repreendeu.
– É sério. – O ala apontou. – Eu gosto de soluções, não de problemas. Principalmente problemas onde eu sou obrigado a concordar com alguém que não simpatizo.
– Achei que Merelä e você fossem amigos. – Brie falou confusa.
– Não acredite em tudo que lê na internet. – Ottis deu de ombros.
– Você quer fazer o quê? – Santtu mudou de posição, sentando-se ao lado da amiga, em uma outra cadeira vazia.
– Sinceramente? Chorar. Tomar veneno.
– Você tem umas duas horas até a gente viajar, dá pra fazer. – Otto respondeu, conferindo as horas no relógio do celular.
– O que vocês acham? – A terapeuta quis saber. – Eu errei muito? Eu... eu devia fazer alguma coisa? Ou ele...
– Não tem certo ou errado nisso. – Santtu levantou os ombros. O defensor estava sentado, mãos sobre o colo, olhos no chão. – O ciúme dele é ruim, mas talvez o jeito que você falou...
– Eu fiquei com raiva. – Confessou , recostando-se na cadeira e fechando os olhos. – Fiquei com tanta raiva quando ele começou com isso, como se quisesse me aprisionar. Isso me tira do sério.
– Vocês se meteram nisso, . – Otto tornou a falar. – Nada estaria acontecendo se não fossem as escolhas erradas de vocês. Dentro do time. Agora precisam lidar com as consequências. Está com ciúmes? Chore. Não vai adiantar, não dá para chorar sobre o leite que azedou.
– Você é realmente doce, não é, amigo? – o respondeu com um olhar ressentido.
– Acho que... – Brie tentou contribuir. – É complicado. Talvez os dois devessem pedir desculpas. Essa semana, talvez vocês consigam um tempinho. – A alemã ergueu o tronco e sorriu. – Já sei, por que não pede uns dias de folga e fica com ele em Tampere?
– Nunca. – A inglesa respondeu rápido e sobressaltada, Brie estranhou e franziu o cenho. – É que... é... eu não posso me ausentar nessa fase do campeonato. É isso.
A alemã pareceu engolir aquela desculpa.
– Então, acho que você... é difícil, mas tenha paciência. – Brie esticou uma das mãos, apertando a da inglesa. – Ele deve se sentir inseguro. Ele está longe, aqui tem a estrela do time, o capitão, que faz tudo o que você quer... qualquer um sentiria ciúmes.
– Ela tem razão. – Santtu concordou. – Digo, o Otto também. Vocês entraram nessa juntos, agora precisam ter paciência e logo tudo vai se resolver.
– Acho que sim, é mais difícil do que parece, mas eu sei que sim. – concordou, fechando os olhos outra vez. – É difícil, mas já superamos coisa pior. Vou precisar encarar o de qualquer jeito. – Disse sem pensar e se amaldiçoou no mesmo instante, mordendo a língua.
– Se ele é seu amigo, vai entender caso tenham que se distanciar um pouco. – Brie pareceu não perceber. – Mas...
– Mas? – Os três indagaram em uníssono e Brie riu.
– Eu ia dizer que sempre achei o meio estranho.
– Estranho, como? – quis saber.
– Estranho como ele é, . – Otto riu pelo nariz. – Ele é pra lá de estranho.
ignorou o amigo e sacudiu a cabeça, tornando a dirigir seu olhar ansioso para Brie.
– Estranho. – Brie continuou, parecia confortável na presença da inglesa e dos amigos, até demais. – Ele é distante e na dele, no gelo é muito bom, mas não é sobre isso. Achava estranho o comportamento dele com os outros jogadores e com a . Quando soube que ele namorava, pensei muito se não era um daqueles namoros de fachada que alguns atletas usam para esconder o fato de serem gays.
arregalou os olhos, Otto e Santtu interromperam Brie com uma crise de risos. A dupla ria alto, Otto batia na bancada e os olhos de Santtu estavam molhados.
– Não é o caso. – negou rápido, beliscando os amigos, tentando controlá–los. – Ele passou anos solteiro. não é do tipo que liga para boatos e comentários. O time apenas soube do relacionamento dele depois de algum tempo, ele é discreto e odeia pessoas se metendo na vida dele. Por que pensaria algo assim?
– Alguém precisa contar sobre isso. – Otto ainda ria. – , gay.
– Otto, chega! – zangou-se.
– Eu não sei. – A alemã ergueu os ombros. – Talvez alguns trejeitos, quando ele está relaxado e perto de você. Só não eram como eu esperava.
– é tímido e quando se sente confortável com alguém, ele age como realmente é, com jeito de menino. Doce e afetuoso, mas isso não diz nada sobre a sexualidade dele. – Defendeu , ultrajada com aquela suposição, enquanto os amigos ainda gargalhavam.
– É, eu sei. – A alemã respondeu. – Foi só a primeira impressão. – Depois, soube que ele tem uma namorada. – Ela deu de ombros. – Mas sabe, ...acho que a namorada passa pelo mesmo problema que o Merelä.
– Do que está falando? – indagou, ainda irritada com as risadas dos dois, empurrando Santtu, tentando fazer com que se calasse.
– Ela deve sentir ciúmes de você, porque é nítido que gosta de você. – arregalou os olhos, a dupla parou de rir e engasgou com aquelas palavras. – Ele faz o que você quer, ele busca você entre todo mundo do time. Ele sempre conversa com você, sempre quer saber onde você está, sempre tenta arrumar o cabelo quando você chega perto. Ele muda até o tom de voz.
– Isso é verdade. – Santtu concordou, voltando a se sentar.
– Ele tenta bagunçar seu cabelo quando passa por você, espera você nos corredores, te espera para dar carona. – Brie continuou sua lista. – Há uma semana ele furou fila para comprar chocolate na máquina, porque ouviu que eu queria um chocolate e só tinha um. Depois ele deu a você. – Acusou um pouco ressentida e não conseguiu conter o sorriso leve que se formou em seus lábios. – Já vi ele chamando a atenção dos caras do time, quando começam a falar de você.
– O Aleks. De sempre. – Santtu explicou dando de ombros, prevendo a pergunta que se formava na cabeça da amiga quando ela o buscou com olhar.
– Ele parece alguém apaixonado, querendo ser notado por alguém. – Brie suspirou. – E não é a Isabel ou eu. Parte do motivo de ter pensado que ele era gay, foi por isso. Ele nunca olhava para Isabel. – A alemã se inclinou para mais perto, para sussurrar. – Eu observo muito. Todos do time já fizeram algum comentário ou olharam para a bunda ou decote dela. Menos ele. Achava que era por ser gay.
– Ei, eu nunca olhei. – Otto se defendeu, surpreso.
– Olhou sim. – Brie acusou, mirando o ala por sobre o ombro. – É por isso que digo, entendo o Merelä ter ciúmes e, entendo se a namorada do também tiver. Na verdade, eu fico curiosa para ver como ele reagiria em um ambiente, na presença das duas. Seria um ótimo experimento social.
sorriu triste e suspirou.
– também é ciumento, inseguro, com muita dificuldade para confiar e se abrir. – lembrou, deixando o sorriso de lado, voltando para sua expressão cabisbaixa. – Ele não é fácil. Aposto que a namorada dele deve sofrer com isso também.
– Você sofrendo aqui, ele sofrendo lá... – Santtu soprou. – É muita gente sofrendo, não?
Terça–feira, 25 de janeiro de 2022
Kiekkoritarinkuja 3 B
Hämeenlinna – Finlândia
O time tinha chegado a Hämeenlinna, a primeira cidade do cronograma de três jogos fora de casa. Primeiro enfrentariam o HPK, em Hämeenlinna, depois viajariam para Tampere, que não ficava muito distante, onde enfrentariam o Ilves e o Tappara. Chegaram na noite anterior, sem muito tempo para conversas ou atividades, apenas o jantar e o toque de recolher fora dado cedo. No dia seguinte, reunião pela manhã e depois treino no gelo, enfrentariam o HPK a noite. Viagens e cronogramas apertados como aquele impactavam o rendimento do time, mas eram poucos quilômetros, algo perto de uma hora e um pouco, até Hämeenlinna. Não deveria ser nada muito complicado para atletas de alto rendimento lidarem.
O capitão, por sua vez, não podia estar menos animado com a viagem, ou menos empolgado com os jogos. Ao contrário, naquele dia, até uma luva entregue na posição errada seria motivo para estresse. O central não gostava que seus sentimentos pessoais, fora do rinque, afetasse seu desempenho, mas nos últimos tempos aquela tarefa parecia impossível. Sentia a pressão sobre os resultados da equipe em suas costas também, era claro, mas não se tratava disso e sabia, melhor que ninguém.
Estava no treino tático há quarenta minutos e já tinha substituído seu taco duas vezes, quebrara os dois primeiros em lances duros contra a trave e contra Mikko. Petri o olhava feio e já o tinha lembrado sobre a limitação do número de equipamentos durante a viagem quatro vezes. O capitão não estava pensando direito, não conseguia pensar com clareza e sensatez, porque sentia uma vontade muito grande de quebrar alguma coisa. Ou alguém. Ou de quebrar alguma coisa em alguém. Não tinha os pensamentos embaralhados, ou ficava se lembrando do dia anterior em looping, pelo contrário. Tudo que via era coberto por um filtro vermelho, estava impaciente, irritado, mal–humorado, amargo e nenhum pouco amistoso ou generoso naquele dia.
– . – Petri o chamou depois de assoviar, acenando com os dedos para que ele se aproximasse.
Não estava no clima de broncas, mas deslizou até o treinador. Reclamando em pensamento e se preparando para responder o que achava que Petri o questionaria.
– Quero ouvir você sobre os próximos jogos. – Petri disse, para surpresa do capitão, que ergueu o olhar desarmado. – Nos últimos, é como se estivesse faltando algo. Quero sua opinião também.
– Difícil dizer uma coisa só. – Pensou alto, batendo com o taco no gelo.
Petri estalou a língua, concordando.
– Acho que as mudanças desse ano não estão funcionando, provavelmente vamos ter que mexer na sua linha de novo. – O treinador adiantou. – Te dar mais chances de gol. – Petri esticou seu tablet para o central. – Seu tempo na zona ofensiva não está tão bom quanto poderia. Quero te deixar mais aberto, mas precisamos cobrir alguns espaços. Estamos com dificuldade na posse.
– Faz o que achar melhor. – deu de ombros enquanto lia as informações na tela.
– Estamos sentindo mais falta do Merelä do que pensei que fossemos. – Comentou Petri, recebendo de volta o tablet.
torceu o nariz, como antigamente.
– Não dá pra ficar refém de um jogador. – Respondeu . – Qual é a desculpa das outras linhas para o rendimento ruim? Por levar viradas quando o jogo está ganho e passar sufocos contra equipes ruins? Saudades dos olhos azuis dele? Merelä não era da defesa.
Petri apenas maneou a cabeça.
– O time precisa jogar, não ficar chorando de saudade. – começou a se afastar, dando as costas para o treinador. – Devem ter vaga em Tampere, se alguém achar melhor.
passou por Santtu e Willy, que se aproximavam de Petri. Ao cruzar com eles, esbarrou no ombro de Santtu com mais força do que seria educado. O defensor olhou para o capitão e depois para o técnico, depois de volta para o capitão e em seguida para Willy.
– Qual é o problema dele? – Willy indagou, apontando para , que se aproximava da trave, para treinar tiros.
– Auto cobrança. – Petri ergueu um ombro. – E uma personalidade péssima.
Terça–feira, 25 de janeiro de 2022
Hämeenlinna – Finlândia
tinha o celular na mão enquanto caminhava pelo corredor do hotel, irritado e impaciente. Há pouco havia recebido uma mensagem e não teria respondido, obedecido, se não soubesse que o remetente não tinha muito juízo quando angustiado.
Era o início da tarde, tinham voltado para o hotel para descansar e almoço, depois, teriam o jogo. O hotel era próximo a arena, o que facilitava o deslocamento do time.
passou pelo longo corredor, até um pequeno hall com poltronas e uma varanda que, por razões óbvias, estava fechada. O jogador foi até a porta e abriu, ignorando o que seus instintos lhe diziam, sentindo o frio cortante lhe atingir a pele do rosto como um chicote.
– Você veio. – sorriu surpresa.
Estava encolhida, abraçando o próprio corpo, totalmente encapotada e as únicas faixas de pele do rosto que se podia ver estavam vermelhas. Os cílios salpicados de neve, assim como os ombros.
– Sim, alguém tinha que te impedir. – falou mais alto, porque o vento ruidoso naquela altura tornava tudo pior. – Sai logo daí.
– Não. – negou. – Eu quero conversar com você, pedir desculpas. Aqui é o único lugar discreto. – A inglesa cambaleou ao ser atingida por uma rajada mais forte de vento. – Vamos conversar antes.
– . – chamou com firmeza. – Já chega. Você vai ficar doente.
– Não vou, estou completamente confortável aqui. – Ela não cedeu, erguendo o queixo.
endireitou as costas, fechou os olhos e deixou a cabeça tombar para trás por alguns instantes. “Droga, !” O central abriu mais a porta e enfrentou o vento frio, se esticou e pegou a inglesa pelo braço, arrastando-a para dentro, ignorando os protestos de . Olhou para os lados, se certificando de que o corredor estava vazio e a arrastou para seu quarto, que não era longe daquela varanda.
O central abriu a porta, ainda a segurando pelo braço e a jogou para dentro. Sentado em sua cama, Atte se surpreendeu com a chegada dos dois.
– Vai dar uma volta, Atte. – Ordenou .
– O quê? – O goleiro parecia ter o raciocínio lento naquela tarde.
– Vai. – insistiu, fazendo se sentar em sua cama. – Vai comer alguma coisa. Logo.
O goleiro se levantou, confuso e surpreso, lançou a um olhar pouco conformado, pegou seu casaco e deixou o quarto.
– Qual é o seu problema? – começou a indagar assim que Atte bateu a porta. – Quer ficar doente? Quer chamar atenção? Qual é agora?
– Na verdade, eu só queria um lugar, um momento a sós com você. – respondeu enfezada, tinha as sobrancelhas juntas e estava zangada com a atitude imperiosa do namorado. – Mas se consegui as outras coisas, não foi proposital.
– Não tem graça, . – continuou. O central não a olhava, sua voz demonstrava sua irritação, mas ele sequer a encarava. – Não é hora de achar sua impulsividade algo romântico. O que você quer comigo, afinal?
– Me desculpar. – A inglesa ficou de pé. – Olhe, não vim brigar. Eu sei que te magoei, tenho pensado nisso desde Lahti...na verdade, desde que disse o que disse, me arrependi no mesmo instante.
– Mas palavras não voltam atrás. – se afastou quando tentou se aproximar, remexendo algo em sua mala.
– Eu sei. – apertou as mãos, fechando-as em punho. – Eu sei. – A inglesa suspirou e relaxou os ombros. – Foi uma ideia estúpida ir lá fora, mas eu só queria um lugar onde pudéssemos conversar. Eu errei, admito e sinto muito. Sobre essa ideia e sobre todo o resto.
ainda estava de costas, cabeça inclinada, apenas ouvindo.
– Sei que você está magoado e eu não queria isso, nunca quis. – Ela tornou a falar. – Mas quando você disse aquilo sobre me prender se pudesse... eu sei lá, eu só odeio a possibilidade de ser dominada assim.
– Mas eu nunca fiz isso. – A voz do jogador era calma, sem emoção, cansada. – Nunca nem te pedi para se afastar do Merelä. Nunca tentei te controlar ou te prender.
não conseguiu responder de imediato.
– Você tem razão. – Ela concordou, chateada. – Eu falei tudo sem pensar e me arrependo. – apertou os lábios e mordeu a língua. – Não tudo, digo... seus ciúmes não são legais mesmo, mas...
– Se você já disse tudo... – a interrompeu.
– . – A inglesa o olhou com sobrancelhas juntas, mas ele não pode ver a angustia, urgência e sofrimento em seu olhar. – Eu realmente sinto muito. Não quero me justificar ou nada disso... só... só queria que me ouvisse e que a gente pudesse se resolver. Eu realmente sinto muito.
– Você já disse, . – expirou.
– Mas mesmo assim você sequer consegue me olhar. – A inglesa expirou também, triste.
Fez-se silêncio.
– Vou te deixar sozinho. – Avisou depois de algum tempo. – Desculpe outra vez.
não respondeu, permaneceu de costas, em pé. hesitou um pouco antes de passar pela porta, esperando que ele olhasse para trás ao menos uma vez. Não aconteceu.
Cabisbaixa, a inglesa seguiu pelo corredor, nem se importava caso alguém a visse deixar o quarto de . Nada mais importava. Ao refazer seu caminho até o quarto, passou pelo pequeno hall, Atte estava lá, sentado.
– Pode voltar para seu quarto, Atte. – avisou sem sorrir. – Desculpe por isso.
– O que aconteceu? O que você fez?
– Falei o que não devia, eu acho. – A inglesa suspirou entristecida. – Até onde eu sei.
– Ele quebrou dois tacos no treino hoje, está mais ranzinza do que eu me lembrava que ele conseguia ser. – O goleiro começou a listar. – Só consegue reclamar e xingar.
– Eu lamento. – suspirou, abraçando o próprio corpo.
Atte analisou a inglesa por alguns instantes, depois sacudiu a cabeça e fechou os olhos, puxando para um abraço rápido e desengonçado.
– Ah... obrigada.
– Você parece péssima, então... – O goleiro coçou a nuca depois de se afastar de . – Vai dar tudo certo.
– Eu espero que sim. – assentiu, sorrindo fraco.
29 - Back to war
Kissing, screaming, straight back to war
I'm walking out until I lock the door
Maybe the danger's covered by the thrill
'Cause I know I should be running for the hil
( Run for the hills – Tate McRae)
Terça-feira, 25 de janeiro de 2022
Hämeenlinna – Finlândia
estava agindo no automático, em um daqueles momentos onde não se pensa muito no que se faz, como se faz, apenas se faz. Congelada, sem reação. Ao entrar no quarto que dividia com Brie, a terapeuta se sentou em sua cama e ficou ali, parada, encarando a parede por vários minutos, imóvel. Havia completado vinte e quatro horas sem conversar direito com , sem qualquer sinal de uma possível reconciliação. O jogador mal podia a olhar, não queria conversar e provocava ainda mais distanciamento entre os dois.
Se arrependia amargamente de cada palavra dita, mesmo que soubesse não ter toda culpa sobre os desdobramentos catastróficos. Queria estar em casa, assim podia chorar o resto da noite. Nada a impedia, também, de inventar estar doente e não ir ao jogo. Na verdade, era o que devia fazer. Era o que faria.
– .
A inglesa ergueu o olhar ao sentir Brie a sacudir pelo ombro.
– Desculpe por isso, mas estava te chamando e você não respondia. – A alemã a olhou com empatia. – Tudo bem?
– Não. – Respondeu sincera. – Quero vomitar, desaparecer, voltar no tempo, chorar até dormir.
– É por causa do namorado, não é? – Brie se sentou ao lado da terapeuta, segurando suas mãos.
– Eu já pedi desculpas, já tentei conversar, mas... – se interrompeu, engolindo o choro. – Ele não consegue sequer me olhar. E eu nem sei se foi para tanto...
– Talvez você... sabe, dê um tempo a ele. – Brie sorriu de modo doce. – Quando alguém está muito magoado, desculpas podem até significar, mas é necessário algum tempinho.
assentiu, tentando respirar fundo. Não queria desmoronar na frente da alemã, ao menos tinha que tentar guardar um pouco de sua dignidade.
– Sabe, se me permite... – Brie começou a falar outra vez depois de algum tempo em silêncio, apenas segurando as mãos de . – Às vezes, nos relacionamentos a gente precisa ceder. Não se trata de alguém que nos aprisiona ou alguém que coloca uma coleira, mas... quando se tem compromisso com alguém, é esperado algumas renuncias. – olhou para a alemã, recebendo duas palavras no coração. – Pense sobre isso.
Brienne assentiu, sorriu fechado e se levantou, deixando sozinha com seus pensamentos.
Terça-feira, 25 de janeiro de 2022
Hämeenlinna – Finlândia
caminhava pelos corredores do hotel outra vez. Em algumas horas precisaria estar de volta a arena, para o jogo, mas não estava confiante. Não estava concentrado, nem estava animado ou feliz. Não sentia qualquer vontade de sair do hotel, mas sabia que precisava. Estava em busca de máquinas de chocolate, muitos hotéis na Finlândia tinham em seus corredores e o central era grato por isso.
Talvez o chocolate ajudasse a colocar os pensamentos no lugar, ou fizesse se sentir melhor. Sabia que não, mas precisava se agarrar a aquela fantasia porque era a única coisa que tinha para se agarrar no momento. Ficar no quarto, ouvindo Atte e seus sermões não era a melhor escolha se quisesse continuar tendo um melhor amigo até o final do dia.
O capitão estava aéreo, não sabia o que pensar e sendo sincero, não queria pensar em nada. Só queria ficar sentado, quieto, comendo chocolates ou bebendo uma cerveja, encarando o nada, esperando que seu cérebro reiniciasse. Evitava pensar em . Primeiro, porque a cada segundo longe da inglesa, separados e brigados, seu interior parecia se apertar mais e mais, até que o desconforto físico chegasse e ele não conseguisse respirar. Segundo, porque estava magoado com o que ela lhe dissera, sobre envenenar os momentos. sabia de suas inseguranças, sabia de todas elas, sabia porque Merelä era um tópico sensível, mas mesmo assim parecia se esquecer todas as vezes que o assunto surgia. Como se fosse apenas um namorado surtado, idiota e ciumento. Tinha muitos defeitos e sabia disso, mas jamais impediria a inglesa de fazer ou falar com quem quisesse, isso nunca.
Ao contrário de sempre, o havia procurado, mesmo com a ideia estúpida de conversarem do lado de fora. Ela tinha dado o primeiro passo e pedido desculpas, mas mesmo que seu pedido – aparentemente honesto e sincero – significasse muito, ainda estava muito magoado. Ela sabia, tinha se aberto desde o início e mesmo assim, para nada.
vislumbrou de longe as máquinas, em um pequeno hall, longe o suficiente dos quartos do time. Mas quando chegou perto, notou que alguém ocupava um dos sofás de dois lugares dispostos ali. O capitão suspirou e balançou a cabeça ao se perguntar se era destino, se suas cabeças pensavam mesmo igual ou se só se atraiam sempre.
Devagar e em silêncio, se aproximou da máquina e escolheu seu doce, terminou sua compra e resgatou o chocolate, todo o processo sem cruzar os olhos com quem parecia o assistir. Mas quando se virou, porque planejava se sentar no sofá também, percebeu que os olhos estavam vazios, encarando o nada, inexpressivos, e estava mastigando devagar um pedaço de chocolate.
– Veio aqui porque achou que eu não estaria? – perguntou assim que o jogador se sentou ao seu lado, sem o olhar.
– Sim.
Enquanto mastigavam, não se olharam ou tiveram qualquer outro contato, estavam entristecidos juntos, por motivos quase parecidos, mas sem conseguir realizar o que lhes era mais básico: se conectar.
– Você não devia estar com o pessoal, se arrumando para o jogo? – indagou após algum tempo.
– Eu não vou ao jogo. – Respondeu , atraindo um olhar confuso do namorado. – Você não devia se arrumar também?
– Por que não?
A terapeuta ergueu os ombros e suspirou, puxando as pernas para cima do sofá e abraçando os joelhos.
– Não me sinto bem para ir, é melhor ficar no hotel hoje. – respondeu. – Já avisei ao Petri, ele me deixou furar o jantar com o time também.
encarou o chão.
Queria muito perguntar o que ela sentia, porque havia desistido de ir ao jogo, se era por não querer o ver. Queria a abraçar e dizer que devia sim ir ao jogo, mas não sabia se devia, se era o melhor a se fazer. Sentia o desconforto no peito aumentar outra vez.
– Espero que seja um bom jogo e que vocês consigam uma ótima vitória. – voltou a falar e a olhou.
– Vocês? – Ele repetiu com estranheza. – Já está tratando como se não fosse do time?
– Não. – sacudiu a cabeça. – Foi jeito de dizer, porque não vou estar lá.
– Você devia ir. – conseguiu atrair o olhar da namorada, e pela primeira vez em muitas horas, o casal se olhou nos olhos. – Não é igual se você não está.
– Eu não sei. – respondeu, ainda sustentando o contato visual. – Não estou exatamente no clima.
– Sobre a gente... – começou a falar, mas o interrompeu.
– Não, tudo bem. – A inglesa se esticou, segurando sua mão e entrelaçando seus dedos. olhou para as mãos juntas e depois de volta para . – Eu sei que precisa de um tempo e está tudo bem. Na verdade, eu não fui justa com você.
– Do que está falando? – uniu as sobrancelhas escuras e retas.
– Você me disse, no final de semana, que se sabe que algo me magoa, vai pelo menos tentar não fazer. – Lembrou e o namorado assentiu. – Eu não estava fazendo a minha parte. – A inglesa suspirou. – Você é a pessoa mais importante para mim, dentre todas. Sei que se sente incomodado com o Mere, não devia esperar você me dizer o que fazer, devia eu mesmo ter tomado uma atitude.
A cada palavra, as sobrancelhas de se aproximavam mais e seus olhos mais se estreitavam.
– Agora falta pouco, alguns dias talvez, para que tudo isso se resolva, mas Petri já sabe. – A terapeuta ergueu os ombros. – Não temos motivos para seguir com a mentira ou para ficar mais próxima do que deveria do Mere, se isso te fere de alguma maneira.
– Por isso está triste? – indagou, estava surpreso com a declaração da namorada, de longe não era o que esperava. – Por isso não quer ir ao jogo?
– Não. – virou seu corpo para olhá-lo mais de perto e balançou a cabeça. – Não, estou triste porque te magoei com o que eu disse. Não estou pensando em ninguém agora, além de você. Estou desapontada comigo, por ter te ferido. Eu não quero ser a pessoa que é boa em te magoar.
Houve um longo e desconfortável silêncio, onde as únicas coisas a serem ouvidas eram passos aleatórios no corredor, ou o som seco e desconfortável dos carrinhos do serviço de quarto. e voltaram a suas posições iniciais, encarando a parede das máquinas de comida, em total silêncio.
– Eu te contei tudo. – voltou a falar depois. – Te contei sobre o que me deixava inseguro, sobre porque me deixava inseguro, mas parece que foi por nada. – o ouvia com semblante arrependido, apertava os olhos, enquanto encarava as mãos. – Não é por ser ciumento, mas eu sei que sou. Mas não é por bobagem.
não pensou, apenas se lançou sobre ele e o abraçou de lado. Não considerou a possibilidade de a recusar, mas ficou feliz que não aconteceu. O central levou uma das mãos a um dos braços da inglesa, que estava a seu redor e o segurou, como se tentasse retribuir ao menos um pouco.
– Eu sei disso. – sussurrou. – Realmente sinto muito pelo que disse. Sinto tanto, tanto...
– Tudo bem. – respondeu ao pedido dela. – Já foi. – Ele fungou, indiferente.
– Eu não posso retirar o que disse, mas...foi um impulso, uma resposta porque estava com raiva e com ciúmes. – o olhou nos olhos. – Eu não acho aquilo. Não é a minha opinião.
– Não? – arqueou uma sobrancelha de modo desafiador e negou com a cabeça.
Alguém tossiu.
O casal se virou.
Jakkos, Janos Hari, Topi Jaakola e Mikko Kousa estavam de pé no corredor, encarando a cena com olhos arregalados.
– O que foi? – perguntou sem emoção, depois de correr os olhos pelo grupo.
O central não se moveu, tampouco mudou seu semblante, também continuou a mesma, como se não se lembrasse ou não se importassem em serem pegos em um momento íntimo.
– O que foi? – Janos repetiu a pergunta do capitão, mas dando a ela outra entonação, tinha os olhos arregalados e boca entreaberta.
– . ? – Jakkos estreitou o olhar e maneou a cabeça. – !
– Estava me procurando? – ergueu um ombro.
– Gente, é que... – Topi coçou a barba, sem jeito. – Bem, é que... – O defensor maneou a cabeça. – Bom, o... não era o...
– Agora, pelo menos ele não vai quebrar mais tacos em mim. – Mikko mostrou o polegar, apertando os lábios em um sorriso positivo.
– Foi mal, aliás. – deu um sorriso sem jeito. – Por aquilo lá.
– Talvez você devesse se arrumar para o jogo, também. – Topi apontou com o queixo, dirigindo-se a depois de tentar limpar a garganta. – Vamos sair em quarenta minutos.
– Que bom que o jogo é aqui e não em Tampere, hoje. – Janos expirou com um assovio e o lançou um olhar repreensivo. – Não que seja exatamente uma surpresa, mas...
– É melhor a gente procurar refrigerante em outra máquina. – Mikko acertou o braço de Topi, chamando a atenção do defensor, que assentiu. – Vamos lá.
Os três jogadores começaram a se deslocar devagar, mantendo os olhos sobre e , ainda abraçados.
– Então era por isso o... – Jakkos foi interrompido por Topi, lhe puxando para que os seguisse.
– Bora lá.
O casal assistiu os quatro, desconfortáveis, se afastando até sumirem no corredor.
– É um passo sem volta. – perguntou baixo, virando o rosto para olhar a namorada e arqueou a sobrancelha. No fundo, o central queria tentar encontrar alguma fagulha de arrependimento em seu olhar, se ela surtaria por terem sido vistos, se brigariam outra vez.
– Estou cansada de mentiras. – Respondeu a terapeuta, cruzando o olhar com o namorado. – A Isabel vai me matar, mas... desconfio que ela já faria isso de qualquer modo.
Terça-feira, 25 de janeiro de 2022
Kiekkoritarinkuja 3 B
Hämeenlinna – Finlândia
fora o último a se unir aos outros no saguão, depois no ônibus, e como sempre também tinha sido o último a deixar a deixá-lo. Não estava com paciência para lidar com piadas, brincadeiras ou qualquer coisa do tipo que poderia vir dos outros jogadores agora que alguns o haviam visto com sua inglesa. Ao contrário, ainda estava confuso e pensativo, um pouco chateado e preocupado com seu rendimento no jogo também. Sua mente estava uma confusão, se pudesse, teria imitado e ficado no hotel, mas não era tão fácil quanto para a terapeuta.
Ao menos tinha conseguido evitar as entrevistas, poderia ter mais tempo para se concentrar e limpar a mente. Estavam no vestiário, o time reunido, se arrumando para o aquecimento e a cada vez que Mikko, Janos, Jakkos ou Topi abriam a boca, sentia um arrepio na espinha. O que em sua opinião era ridículo, porque contar ao time e se exibir por aí com era a coisa que o capitão mais queria desde sempre.
Não entendia porque agora, justo quando isso estava perto, provável, praticamente feito, estava temeroso. Talvez se sentisse mal por Merelä, talvez fosse preocupação sobre como o time reagiria, talvez se preocupasse com a situação de depois disso, talvez estivesse com vergonha. Não fazia ideia do que sentia, mas torcia internamente e com muita força para que o grupo que o havia flagrado ficasse mudo, desmaiasse, ou fosse cortado do jogo, apenas para que não falassem com ninguém sobre a cena que tinham visto.
Tinham tempo, o capitão resolveu conferir seu celular. Talvez os pais tivessem mandado alguma mensagem, talvez .
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Espero que tenham um bom jogo. Vou ficar torcendo daqui
Sei que tudo está meio estranho desde ontem, mas existem coisas que nunca mudam, independente dos dias serem bons ou ruins. A primeira é que você é um jogador excelente, talentoso, que só precisa confiar em si mesmo para fazer coisas inimagináveis. A segunda é a minha admiração e amor por você
O capitão leu e releu algumas vezes aquela mensagem. Sentiu-se tocado pelas palavras, mesmo que ainda perdido e um pouco magoado. Podia ter dito mais do que disse, poderia ter se expressado com mais verdade e sinceridade. Poderia, mas não se sentia à vontade para fazê-lo naquele momento. Então, guardou suas emoções e reações no fundo do coração, como costumava fazer antes de tudo.
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Sei que tudo está meio estranho desde ontem, mas existem coisas que nunca mudam, independente dos dias serem bons ou ruins. A primeira é que você é um jogador excelente, talentoso, que só precisa confiar em si mesmo para fazer coisas inimagináveis. A segunda é a minha admiração e amor por você
Obrigado. Estou tentando manter o foco e os olhos nas vitórias
Ninguém disse nada sobre a gente...
Nem pra mim, acho que nem pra ninguém, porque não ouvi nenhum papo suspeito
digitou por vários segundos até responder aquela mensagem, mas para alívio do jogador, não o questionou ou fez perguntas sobre seu tom pouco íntimo.
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Isso me surpreende, mas não estou me importando muito
Por que?
Estou cansada
De...?
De ter problemas