Memórias
A poeira cinzenta dançava nos raios de sol que se infiltravam pelas frestas das tábuas do porão. , com um casaco velho para se proteger do frio, vasculhava caixas empilhadas e seus dedos deslizando sobre objetos esquecidos. A casa de seus avós, agora vazia e silenciosa, era um labirinto de memórias.
A morte da avó havia a trazido de volta à pequena cidade onde crescera. A herança da casa antiga a obrigava a ficar ali por um tempo, e não podia negar que sentia uma estranha necessidade de se conectar com suas raízes. A casa, com seus quartos escuros e corredores longos, era um lugar sombrio, mas também era o único lugar onde poderia encontrar vestígios de sua infância.
Ela parou diante de uma caixa de madeira, as letras douradas na tampa quase apagadas pelo tempo. “Lembranças da infância”, lia-se. Com cuidado, levantou a tampa e começou a retirar os objetos um a um. Bonecas de pano, carrinhos de brinquedo, desenhos infantis... E então, lá estava: uma fotografia emoldurada.
Na imagem, duas crianças sorriem para a câmera. Um menino de cabelos escuros e olhos brilhantes segurava uma boneca de pano, enquanto uma menina de cabelos loiros e sardas espalhadas pelo nariz o observava com admiração. reconheceu imediatamente a menina: era ela mesma, com apenas cinco anos. E ao lado, estava ele. .
Ou melhor… Padre .
Uma onda de nostalgia a invadiu. havia sido seu melhor amigo na infância. Passavam horas brincando no quintal, construindo castelos de areia e inventando histórias. Ele a protegia dos outros meninos e a fazia rir muito. Mas com a mudança dela para outra cidade, seus caminhos se separaram.
se lembrava vagamente da última vez que o viu. Quando ela falou que iria embora e talvez nunca mais se vissem, falou que esperaria por ela e nunca a esqueceria. A partir dali, suas vidas tomaram rumos completamente diferentes. Ele se tornou padre e ela, uma estudante de medicina. Durante esse meio tempo, havia ficado noiva. , seu noivo, havia ficado na capital.
Ao tocar a fotografia, sentiu um aperto no coração. Aquele menino de olhos brilhantes havia se transformado em um homem de fé, dedicado a servir a Deus. Mas e se, em algum lugar dentro dele, ainda existisse aquele menino apaixonado? Uma parte dela ansiava por reencontrá-lo, por reviver aqueles momentos de felicidade.
Flashback on
O sol começava a se pôr, e o céu se tornava cada vez mais bonito. a convidou para dar um passeio pela praia, e ela, sem hesitar, aceitou.
Caminharam lado a lado em silêncio por um tempo, apenas apreciando a companhia um do outro. De repente, parou e a encarou, seus olhos brilhando intensamente. O coração de disparou. Com um gesto suave, ele afastou uma mecha de cabelo do rosto dela e se aproximou lentamente.
Seus olhares se encontraram, e o tempo parecia ter parado. Aquele momento era puro e intenso. se inclinou e seus lábios se tocaram em um beijo leve e delicado. Era como se uma explosão de sentimentos percorresse seu corpo.
Flashback off
Com a fotografia em mãos, desceu as escadas. A descoberta daquela foto havia despertado em seu interior uma curiosidade que a impulsionava a buscar respostas.
O som do órgão, grave e envolvente, ecoava pela igreja, criando uma atmosfera de profunda espiritualidade. , acomodada em um banco discreto, observava com uma mistura de admiração e nostalgia. Seus olhos, que um dia haviam brilhado apenas para ela, agora transmitiam uma paz serena, quase angelical. As vestes sacerdotais o envolviam em uma aura de mistério, acentuando sua beleza e elegância. decidiu ir à missa naquele domingo para ver com seus próprios olhos que o amigo havia se tornado um homem de fé. A cada gesto, a cada palavra, ela sentia uma profunda conexão espiritual com ele. Lembrava-se dos momentos que passaram juntos, das promessas que fizeram e das lágrimas que derramaram. A culpa a consumia por dentro. Aquele amor que um dia fora tão intenso agora se transformava em uma saudade dolorosa.
O interior da igreja estava imerso em uma tranquilidade que só aqueles espaços santos possuem. O cheiro de incenso ainda pairava no ar, e a luz suave que passava pelos vitrais criava um jogo de cores sobre o chão de pedra fria. avançou em silêncio, seus passos ecoando suavemente, até que seus olhos o encontraram.
estava ajoelhado diante do altar, a cabeça baixa, em uma oração que parecia tão intensa quanto o próprio ambiente. A visão dele assim, tão submerso em sua fé, trouxe um aperto no coração de . Ele parecia diferente, mais sério, mais... distante. Mas, algo nela sabia que, por trás daquele exterior calmo, ainda havia o que ela conhecia, o que ela amava.
Ela parou a alguns metros de distância, observando-o por um momento, até que ele, como se sentisse a presença dela, ergueu a cabeça e olhou para trás. Seus olhos se encontraram, e o tempo pareceu parar.
— … — a palavra saiu quase como um suspiro, e ele se levantou lentamente, sem desviar o olhar. A surpresa em seus olhos logo foi substituída por uma mistura de emoções que ela não conseguiu decifrar de imediato.
— Oi, . — ela respondeu, com um sorriso nervoso nos lábios, mas o coração martelando no peito. Por mais que tivesse imaginado esse reencontro, nada a preparou para o impacto de estar diante dele novamente.
Ele deu alguns passos em direção a ela, e quando finalmente estavam frente a frente, uma distância mínima os separando, percebeu como ele estava mudado. Os traços de menino que ainda existiam em sua memória haviam desaparecido, substituídos por uma maturidade que o tornava ainda mais fascinante. Mas, seus olhos... seus olhos ainda eram os mesmos, aqueles olhos que sempre a fizeram sentir que ele podia ver diretamente sua alma.
— Você voltou… — ele murmurou, como se ainda estivesse processando a realidade diante dele.
— Sim. — ela assentiu, sem saber exatamente o que mais dizer. O silêncio entre eles era carregado de coisas não ditas, de anos que se passaram, de sentimentos que nunca foram resolvidos.
Aquele reencontro era como um sonho que ela nunca imaginou que se tornaria realidade. Mas, também era um pesadelo, trazendo à tona tudo o que ela havia tentado enterrar no passado.
— O que faz aqui? — ele perguntou, quebrando o silêncio com uma voz que tentava soar casual.
— Vim visitar a casa da minha avó. Ela faleceu recentemente e me deixou a casa. — respondeu, tentando manter a compostura.
franziu ligeiramente a testa, como se estivesse tentando lembrar de algo.
— Eu soube da sua avó... Rezei por ela no enterro, mas não me lembro de ter visto você lá.
— Eu não consegui chegar a tempo para o enterro. — ela disse sinceramente, uma ponta de tristeza tingindo suas palavras. — Foi tudo tão rápido...
— Que bom que você voltou para cá. — respondeu, e desta vez, havia um sorriso genuíno em seu rosto, o tipo de sorriso que ela sempre amou, que iluminava os olhos dele e fazia seu coração acelerar.
— Eu também estou feliz por ter voltado. — respondeu, sentindo o calor do momento suavizar as arestas de sua ansiedade. — E você? Lembra de mim?
— Como eu poderia esquecer? — Ele sorriu novamente, mais amplo, revelando dentes brancos e alinhados. — Você foi minha melhor amiga, . Achei que nunca mais a veria.
sentiu uma onda de nostalgia invadir seu peito.
— Eu também senti sua falta, . Mais do que você imagina.
Ele deu um pequeno aceno de cabeça, como se estivesse absorvendo suas palavras, e o silêncio entre eles voltou a se instalar, mas desta vez, era um silêncio mais confortável, carregado de memórias e de um carinho mútuo que o tempo não conseguiu apagar.
— Além de resolver as coisas da casa da minha avó... acho que precisava de um pouco de paz, de clareza. Minha vida tem sido... complicada,— admitiu, sem querer entrar em detalhes, mas sabendo que ele entenderia o suficiente. assentiu, o olhar compreensivo.
— Entendo. Às vezes, voltar para onde tudo começou é o melhor jeito de encontrar respostas. — sorriu levemente, sentindo-se estranhamente em paz ao lado dele, como se os anos que passaram separados tivessem apenas fortalecido o vínculo que sempre existiu entre eles.
— Acho que sim.
E, por um breve momento, parecia que nada havia mudado. Eles eram apenas e , os mesmos amigos de infância, mas com uma história muito mais complexa e profunda para compartilhar.
Enquanto caminhavam lado a lado, relembraram histórias engraçadas da infância. Riam alto, como se fossem adolescentes novamente.
— Lembra quando construímos aquela cabana no quintal da minha casa? — perguntou, seus olhos brilhando com uma alegria nostálgica.
— Claro que lembro! E quando a gente se escondia lá dentro, fingindo ser princesa e cavaleiro? — respondeu, seu sorriso ampliando-se ao ver a mesma expressão nos olhos de .
— Ah, aqueles tempos! Eram tão simples e felizes. — ele disse, rindo.
assentiu, o sorriso ainda em seus lábios, mas por trás daquela expressão de alegria, havia uma tristeza que ela não conseguia esconder. Aquele sorriso carregava anos de arrependimentos e perguntas sem respostas. Enquanto relembravam os melhores dias de suas vidas, não pôde deixar de se perguntar: e se as coisas tivessem sido diferentes? E se ela nunca tivesse partido? Será que estariam ali agora, juntos, mas de uma maneira completamente diferente?
— Foram os melhores dias da minha vida. — ela disse, sentindo uma pontada de dor ao perceber o quanto desejava voltar no tempo.
— Eu também acho. — respondeu, e o silêncio que se seguiu entre eles foi cheio de significado, repleto de tudo o que não foi dito e de tudo o que nunca poderia ser.
A caminhada se tornou uma jornada nostálgica. A cada passo, uma nova memória aflorava, trazendo sorrisos e um aperto no coração. e falaram sobre tudo: a escola, os amigos, os sonhos que tinham na infância.
À medida que caminhavam, a luz do sol começava a suavizar, pintando o céu com tons de laranja e rosa. O cenário ao redor era perfeito, a brisa suave trazendo consigo o perfume das flores que os cercavam, mas mal conseguia apreciar aquilo. Sua mente estava presa em um passado que ela não podia mudar, e em um presente que a deixava dividida entre o que deveria ser e o que seu coração realmente desejava.
olhou para cima, observando o céu, e o sorriso que apareceu em seus lábios era um tanto triste quanto nostálgico.
— A vida nos leva por caminhos que nunca imaginamos, não é?
— Sim, leva. — concordou, sentindo o peso do passado e do presente se acumulando entre eles. Ela hesitou por um momento antes de interromper o silêncio, sua voz mais firme do que pretendia. — Por que você escolheu esse caminho, ? —
A pergunta pairou no ar, carregada de significados ocultos. respirou fundo, e a intensidade de seu olhar quase a fez recuar.
— Eu escolhi esse caminho, porque... precisava de paz, precisava de algo que me desse propósito, algo que... me afastasse dos sentimentos que eu não conseguia controlar.
Enquanto caminhavam, se viu cada vez mais imersa nas lembranças. A conversa fluiu de forma quase natural, mas havia uma tensão subjacente, uma corrente de emoções que ambos tentavam ignorar. Eles falaram sobre a escola, os amigos, os sonhos que tinham quando crianças, mas a cada palavra, sentia o peso de tudo o que não podia dizer. De repente, quebrou a tranquilidade da caminhada com uma pergunta inesperada.
— E você, ? Como tem sido sua vida desde que se mudou daqui?
— Tem sido boa. Mudei muito desde aquela época. Fiz faculdade, comecei a trabalhar... E estou noiva. — Ela mostrou a aliança em seu dedo anelar, mas a joia não brilhava em seu dedo como deveria. A palavra “noiva” ecoou no ar, carregada de um peso inesperado. parou de andar e a encarou, surpreso. Um misto de felicidade e tristeza se refletia em seus olhos. Começou receoso:
— Noiva? Isso é maravilhoso, ! Meus parabéns. Quando será o casamento? —
sentiu um nó na garganta. A pergunta de a pegou de surpresa. Ela não esperava que ele reagisse daquela forma.
— Ainda não definimos a data, mas estamos pensando em algo para o próximo ano.
— E a igreja? Gostaria que a cerimônia fosse aqui? A igreja ficaria honrada em celebrar a união de dois de seus filhos.
— Obrigada, Padre . Vou conversar com meu noivo e te aviso. — sorriu agradecida, mas a felicidade em sua voz era forçada. Ela queria fugir daquela conversa, queria se afogar nas lembranças do passado.
colocou a mão no ombro de , e ela sentiu um tremor percorrer seu corpo. Queria se aproximar mais, queria sentir o calor de seu abraço, mas a razão a impedia.
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sorriu olhando seus sapatos pretos, que combinavam com a batina.
— Prometa-me que voltará.
— Eu prometo. — respondeu , seu coração pulsando forte no peito.
Ao voltar para casa, se sentia confusa e nervosa ao mesmo tempo. O reencontro com havia reavivado sentimentos que ela achava que estavam enterrados há muito tempo.
olhou para o telefone em sua mão, a tela iluminando seu rosto hesitante. Respirou fundo e digitou o número do noivo. A chamada foi atendida rapidamente.
— Oi, amor! Tudo bem? — A voz de , seu noivo, ecoou do outro lado da linha.
— Oi, amor. Tudo sim, e com você?
— Tudo ótimo. Só trabalhando muito ultimamente. — aproveitou a oportunidade.
— , queria te falar uma coisa.
— Pode falar, meu amor.
— Você se lembra que eu te falei sobre a igreja da minha cidade? Aquele lugar onde eu ia quando era criança?
— Sim, lembro. Por quê?
— Eu estava pensando... E se a gente fizesse o casamento lá? Seria um lugar especial para mim. — Houve um silêncio do outro lado da linha. podia sentir a tensão crescente.
— , você tá falando sério? — A voz de saiu carregada de ironia.
— Sim, estou. Seria uma forma de homenagear minha avó e celebrar minhas raízes.
— , aquela cidade é o fim do mundo! Não tem nada lá. E organizar um casamento lá seria um inferno! Você não imagina a burocracia, a falta de estrutura… — A voz de se elevou, e sentiu um aperto no peito. Ela não esperava uma reação tão negativa.
— Mas, é o lugar onde eu cresci, . Tem um significado especial para mim.
— Eu sei, amor, mas você precisa pensar no que é melhor para nós dois. Imagine ter que levar todos os nossos convidados para lá? E a logística do casamento? Seria um pesadelo!
— Mas, podemos encontrar uma solução, . Podemos contratar uma empresa de eventos para nos ajudar a organizar tudo.
— , por favor, não insista nessa ideia. Vamos casar em um lugar bonito, moderno, onde todos possam aproveitar.
A discussão se arrastou por mais alguns minutos, e percebeu que não iria mudar a opinião de . Ela se sentia frustrada e desamparada. Tinha a sensação de que seus sonhos e desejos não eram importantes para ele.
Ao desligar o telefone, se sentiu perdida e confusa. A ideia de se casar em um lugar que não tinha nenhum significado para ela a deixava triste. Mas, por outro lado, ela não queria colocar em risco seu relacionamento.
A decisão de onde iria casar era apenas mais um dos desafios que ela estava enfrentando. era um pessoa difícil, foi seu primeiro namorado sério, foi com quem passou seus últimos anos planejando o futuro. Mas, agora não fazia mais tanto sentido. E não só por causa de sua mudança para outra cidade, mas era uma pessoa difícil. No começo do relacionamento ele era completamente diferente, comprava buquês e escrevia bilhetes de amor. Isso foi antes do incidente. O incidente chamado Verônica.
Verônica era a secretária de . Loira, olhos verdes e a cintura mais perfeita que alguém já imaginou. Ela estava empenhada demais em ajudar ele no trabalho, enquanto o chupava entre turnos no almoxarifado.
descobriu sobre Verônica numa tarde aparentemente comum, quando decidiu fazer uma visita surpresa ao escritório de . Ao bater na porta, encontrou-a trancada e percebeu passos apressados do lado de dentro.
— Oi, amor. — disse , ofegante e sem a gravata, abrindo a porta apenas o suficiente para deixá-la entrar.
— Por que a porta estava trancada? — perguntou , com um sorriso curioso ao notar a desordem de .
— Eu estava tirando um cochilo. — respondeu ele, tentando parecer descontraído, mas os olhos de , afiados como os de uma águia, examinavam cada detalhe da sala.
— Entendo... e por que tem uma calcinha vermelha no seu sofá? — perguntou , a voz fria e controlada. não teve tempo de formular uma resposta antes de sentir o impacto do tapa de , rápido e certeiro.
— Nunca mais me procure. — disse ela, saindo do escritório sem olhar para trás. Verônica então emergiu de seu esconderijo no armário, o rosto pálido e os olhos arregalados.
havia traído , quando o casamento estava prestes a ser celebrado. Ela, no entanto, o perdoara um mês após o incidente, não porque seu coração estivesse cicatrizado, mas para que a vergonha de ser traída permanecesse oculta, longe dos olhos de todos. Sua família adorava ; seus pais e avós frequentemente o convidavam para as festas de família. se via incapaz de revelar a verdade, então, optou por dizer que estava disposta a tentar perdoá-lo. Mas, em momentos como aquele, sentia-se uma tola por ter aceitado tão facilmente o perdão.
O telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Era , dizendo que aceitava a ideia de se casar na cidade do interior. , aliviada, agradeceu-lhe pela mudança de opinião.
Talvez, essa nova decisão o aproximasse mais dela, ou talvez, apenas obscurecesse ainda mais a verdade.
Nos dias que se seguiram, começou a frequentar a igreja com mais frequência. Cada visita era uma mistura de alívio e tormento. Ela buscava a orientação de para escrever seus votos de casamento, mas, no fundo, sabia que também estava buscando algo mais — talvez uma confirmação de que ainda havia uma conexão entre eles. , com sua paciência característica, fazia perguntas simples, tentando ajudá-la a expressar seus sentimentos.
— O que você mais admira em ? — ele perguntou, sua voz suave, mas com uma firmeza que a fazia sentir que ele via além de suas palavras. — hesitou, sentindo o peso da pergunta.
— Ele... é um homem responsável, sempre faz o que é certo. — respondeu, mas até para seus próprios ouvidos, as palavras soaram vazias, como uma desculpa que ela repetia para si mesma.
Enquanto respondia, seus pensamentos inevitavelmente voltavam para . O que ela mais admirava nele? Era fácil demais responder essa pergunta — era a bondade em seus olhos, a forma como ele sempre a fazia se sentir segura, a profundidade com que ele a entendia. Mas isso era algo que ela não podia admitir, nem para si mesma.
— O que você espera do casamento? — perguntou em seguida, sua voz gentil, mas os olhos observando atentamente cada expressão no rosto de . — Ela tentou focar em , mas a imagem de parecia sempre se sobrepor.
— Espero... companheirismo, respeito. — disse, mas a voz falhou ligeiramente, traindo a falta de convicção por trás das palavras.
A cada encontro, sentia o nó em sua garganta apertar mais. As perguntas de a faziam confrontar verdades que ela não queria encarar. , que deveria estar ao seu lado, mal aparecia, deixando-a sozinha para planejar o que deveria ser o dia mais feliz de sua vida. E isso a deixava ainda mais confusa.
Por que, então, ela continuava? Porque era um padre. Essa era a verdade inescapável que a mantinha presa a , apesar de todas as suas falhas. tinha escolhido um caminho que o afastava dos sentimentos que, secretamente, ela esperava que ele ainda tivesse. Mesmo quando estava com , sentindo a conexão entre eles reacender, sabia que ele nunca poderia ser mais do que um conselheiro espiritual.
Mas, o que a dilacerava por dentro era que, mesmo sabendo disso, seu coração teimava em bater mais forte por . Quando estava com ele, ela sentia algo que nunca havia sentido com — uma mistura de paz e paixão, como se estivesse exatamente onde deveria estar. E essa percepção a aterrorizava, pois significava que estava presa a um noivado com um homem que não amava verdadeiramente, tudo por causa de um amor que não podia ter.
, por sua vez, percebia o conflito em . Suas respostas evasivas e a tristeza em seu olhar não passavam despercebidas. Ele queria ajudá-la a encontrar clareza, mas também sabia que estava pisando em território perigoso, tanto para ela quanto para ele.
Enquanto lutava para encontrar palavras sinceras para seus votos de casamento, também lutava contra os sentimentos que, embora enterrados, nunca haviam desaparecido completamente. Cada encontro entre eles tornava mais difícil ignorar o que estava acontecendo — não só dentro de , mas dentro dele também.
Mais um encontro, que não apareceu. estava inquieta. notou seu semblante. Sentada em uma poltrona antiga, frente a ele, seus olhos brilhavam com uma mistura de tristeza e decepção. , sentado à sua escrivaninha, observava-a com preocupação. Ele conhecia aquele olhar — era o mesmo que tinha quando mais jovem, quando algo a perturbava profundamente.
— Sobre ...— começou ela, a voz hesitante, como se as palavras fossem difíceis de formar. inclinou-se ligeiramente para a frente, os olhos fixos nela, oferecendo toda a sua atenção.
— O que houve? — perguntou ele, com uma suavidade que só fez se sentir ainda mais vulnerável. Ela respirou fundo, tentando reunir coragem.
— Eu não sei se ainda quero me casar com ele.
As palavras pairaram no ar, carregadas de um peso que parecia sufocar os dois. parecia surpreso, a linha de seus ombros tensionando ligeiramente com a revelação. Ele conhecia os dilemas de , mas ouvir aquilo era diferente — era a confirmação de que algo estava realmente errado.
— Por que diz isso? — Ele perguntou, a voz firme, mas os olhos transmitindo uma empatia que só fez o nó na garganta de apertar ainda mais.
— Eu não sei… Eu não sinto amor por ele. Todas as vezes em que estamos juntos, parece que tem algo de errado, eu não confio mais nele desde que… — parou, a verdade travada em sua garganta. Ela nunca havia confessado aquilo em voz alta, e a ideia de fazê-lo agora a aterrorizava.
esperou, paciente, sem forçá-la, mas a intensidade de seu olhar lhe dava a segurança de que podia continuar. Quando ficou claro que ela não encontraria forças para prosseguir, ele completou, com uma serenidade que a desarmou completamente:
— , desde que me tornei padre, já escutei mais pecados do que você imagina. Todo mundo tem seus problemas, não estou aqui para julgá-los. E bem, você também sabe coisas de mim que ninguém mais sabe.
Aquela última frase mexeu com de uma forma que ela não esperava. A intimidade implícita em suas palavras a fez sentir um calor percorrer seu corpo, um calor que ela sabia ser proibido, mas que não conseguia ignorar. O conflito dentro dela era quase palpável, e ela se sentiu culpada por se sentir tão atraída por , um homem que havia feito votos sagrados, e que não deveria despertar esse tipo de desejo.
assentiu, mas a verdade era que a traição de parecia distante, quase irrelevante naquele momento. Com ao seu lado, o mundo ao redor parecia se dissolver, e a existência de se tornava apenas uma sombra tênue. Tudo o que ela podia sentir era a presença de , o perfume amadeirado que ele exalava, a força serena em seu olhar.
— Obrigada. — murmurou ela, os olhos se fixando nos dele, como se buscasse neles uma resposta que sabia que não podia ter. O silêncio entre eles era carregado de algo não dito, algo que ambos pareciam compreender, mas nenhum ousava mencionar. E assim, naquele momento, sentiu que estava em uma encruzilhada, entre um futuro que a aterrorizava e outro que ela sabia ser impossível, mas que seu coração desejava mais do que qualquer coisa.
respirou fundo, sabendo que precisava continuar. A confissão que estava prestes a fazer pesava em seu coração, mas ela não podia mais esconder a verdade. — ... ele me traiu. — disse, sua voz tremendo ao finalmente verbalizar o que havia guardado por tanto tempo.
Por um instante, o mundo pareceu parar. , que sempre mantinha uma expressão serena e controlada, franziu o cenho de maneira quase imperceptível, mas notou. A raiva brilhou em seus olhos, um lampejo que foi rapidamente suprimido, mas não antes que ela pudesse ver. Ele endireitou a postura na cadeira, como se estivesse tentando recuperar o controle sobre suas emoções.
— Ele te traiu? — repetiu, a voz firme, mas havia uma tensão subjacente, algo que nunca tinha ouvido antes. Ver aquela reação nele a deixou atônita. sempre fora o equilíbrio, a calma em meio à tempestade, mas ali estava ele, lutando para conter a ira que começava a se formar.
assentiu, incapaz de encontrar palavras. Vê-lo assim a fez perceber a profundidade do que sentia por ele, e também a feriu, pois sabia que, de alguma forma, sua dor havia se tornado a dele.
— Como ele pôde fazer isso com você? — A voz de era baixa, quase um murmúrio, mas carregada de uma intensidade que a fez estremecer. — Você merece mais, . Muito mais.
Ela sentiu um nó se formar em sua garganta novamente, não apenas pela traição de , mas pela reação de , que parecia profundamente pessoal.
— Eu o perdoei... ou pelo menos, achei que tinha perdoado. Mas, não consigo esquecer. Não consigo confiar nele. — olhou para ela, seus olhos fervendo com uma mistura de raiva e algo mais, algo que não conseguiu identificar completamente.
— Você perdoou por conveniência, , não por amor. — disse ele, a voz grave, mas sem julgamento, apenas uma constatação dolorosa.
Ela desviou o olhar, sentindo-se exposta, mas ao mesmo tempo, estranhamente aliviada por ter compartilhado aquilo com ele.
— Eu sei. — admitiu, sua voz um sussurro. — Mas, eu não sei o que fazer agora…— fechou os olhos por um breve momento, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Quando os abriu novamente, viu a tempestade que ele tentava conter.
— , você não merece estar presa a alguém que não te valoriza e você não precisa decidir nada agora. O que você sente é importante, e você tem o direito de pensar sobre isso com calma. Mas. não se force a ficar em uma situação que só te machuca.
sentiu os olhos marejarem, mas manteve a compostura. Aquele era o que ela sempre conhecera: protetor, sábio, e sempre colocando os outros em primeiro lugar.
Certa tarde, enquanto e estavam mais uma vez sentados nos bancos de madeira da igreja, finalmente apareceu. Ele entrou de forma inesperada, seu rosto exibindo um misto de cansaço e ansiedade. levantou os olhos para ele, surpresa e esperançosa, mas a tensão no ar era inegável.
— Desculpe pelo atraso. — disse , tentando forçar um sorriso. — Tive uma reunião que se estendeu mais do que o previsto.
observou a interação com um olhar atento, notando o desconforto de . Ele decidiu intervir com uma abordagem mais direta.
— , estamos trabalhando nos votos de . Talvez você pudesse compartilhar conosco o que admira nela e o que espera do casamento. — sugeriu , tentando trazer para a conversa de maneira significativa.
hesitou por um momento, seus olhos encontrando os de , que aguardava ansiosa por suas palavras.
— Eu... admiro a força e a bondade de . — começou ele, a voz ligeiramente trêmula. — Ela é incrivelmente dedicada e sempre se preocupa com os outros. Quanto ao casamento, espero que possamos construir uma vida juntos baseada em respeito e amor.
sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. percebeu que, embora as palavras de fossem bonitas, faltava algo essencial: sinceridade. O padre decidiu que era hora de abordar a questão com mais profundidade, mas naquele momento, optou por dar espaço ao casal.
— Obrigado por compartilhar, . — disse suavemente. — Talvez devêssemos continuar essa conversa em uma sessão conjunta. Pode ser útil para ambos expressarem seus sentimentos e expectativas.
concordou, e , embora ainda apreensiva, sentiu um leve alívio com a possibilidade de finalmente enfrentar os problemas de seu relacionamento de maneira aberta.
Na semana seguinte, e retornaram à igreja para a sessão conjunta sugerida pelo Padre . A tensão era palpável no ar enquanto os três se sentavam na sala de aconselhamento, iluminada por uma suave luz que entrava pelas janelas coloridas.
— Vamos começar de onde paramos. — disse , tentando criar um ambiente acolhedor. — Gostaria que ambos compartilhassem o que esperam deste casamento e como podemos trabalhar juntos para superar qualquer obstáculo.— , com um nervosismo visível, começou:
— Eu espero que possamos reconstruir a confiança, . Quero que possamos ser honestos um com o outro, sem segredos. — suspirou, mexendo-se desconfortavelmente na cadeira.
— Eu já pedi desculpas, . Estamos aqui para seguir em frente, não para ficar relembrando o passado. — interveio calmamente.
— , o perdão é um processo. Às vezes, é necessário revisitar o passado para entender como construir um futuro melhor. — bufou, cruzando os braços.
— Certo, mas isso já está ficando cansativo. Toda vez que tentamos seguir em frente, voltamos a essa mesma conversa. Estou começando a pensar que nunca vai ser o suficiente para você, . — sentiu uma onda de frustração e dor.
— Não se trata de ser suficiente, . Trata-se de realmente enfrentar o que aconteceu e mudar. Eu preciso sentir que você está comprometido com isso tanto quanto eu.
— Comprometido? — exclamou, a voz elevando-se. — Eu estou aqui, não estou? O que mais você quer de mim? — levantou uma mão, tentando acalmar a situação.
— Vamos manter a calma, ambos têm sentimentos válidos e é importante que sejamos respeitosos uns com os outros. — Mas, estava além de ouvir.
— Sabe o que mais, ? Talvez, o problema seja que você não consegue deixar de ser a vítima. Você adora se fazer de mártir, não é?— As palavras de atingiram como um golpe. Ela ficou em silêncio por um momento, lágrimas começando a se formar em seus olhos.
— Eu não acredito que você disse isso. — ela sussurrou, a voz tremendo. — interveio novamente, a voz firme.
— , essas palavras são prejudiciais e não ajudam a resolver a situação. Precisamos focar na comunicação aberta e honesta, sem ataques pessoais.
— Talvez eu não queira mais isso. — respondeu, levantando-se abruptamente. — Talvez esse casamento seja um erro.— sentiu um frio na espinha ao ouvir essas palavras.
— Então é isso? Você vai desistir de nós? — olhou para ela, os olhos cheios de raiva e frustração.
— Eu não sei, . Talvez seja o melhor. — tentou intervir uma última vez.
— Por favor, ambos, sentem-se e respirem. Podemos resolver isso, mas precisamos de calma. — , no entanto, já estava a caminho da porta.
— Estou saindo daqui. Preciso de um tempo para pensar.
ficou sentada, atônita, enquanto saía apressado, a porta batendo com força atrás dele. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor.
olhou para , a compaixão em seus olhos.
— , estou aqui para você. Vamos trabalhar nisso, independentemente do que decida. — Ela hesitou por um momento antes de responder.
— Esse noivado tem sido muito difícil. Era a minha última esperança de ter uma família, de ser feliz. — colocou a mão em seu ombro, transmitindo conforto.
— , você não precisa se casar por obrigação. O casamento deve ser uma celebração do amor, e não uma prisão. Se você não se sente pronta, não tenha medo de seguir seu coração.— Esse era um conselho que ela não poderia seguir, não quando seu coração palpitava em velocidade máxima para o homem à sua frente.
— , a decisão de se casar é uma das mais importantes da vida. É natural sentir dúvidas e inseguranças nesse momento. Mas, é fundamental que você ouça a sua intuição.
— Padre, como o senhor sabe tanto sobre amor? A vida religiosa não o afasta dos sentimentos? — sorriu levemente, seus olhos se perdendo em algum ponto distante.
— , a fé não anula a humanidade. Antes de dedicar minha vida à igreja, eu também experimentei o amor. Os sentimentos são parte intrínseca da vida, e a igreja não os nega, mas os transforma. A paixão, por exemplo, pode se transformar em um amor mais puro e altruísta.
sentiu um aperto no peito. Aquelas palavras ecoaram dentro dela. Será que ele estava falando sobre ela? Será que ele também havia sentido algo por ela? A ideia a deixou inquieta, mas ao mesmo tempo, a confortou.
— Eu já fui jovem, . Já sonhei com um futuro ao lado de alguém. Mas, a vida nos leva por caminhos inesperados, e às vezes precisamos fazer escolhas difíceis.
não disse mais nada, mas seus olhos falavam por ele. entendeu que ele havia vivido um grande amor e que essa experiência havia moldado sua vida. Ela não sabia se ele estava falando dela, mas a possibilidade a deixava esperançosa.
Com o passar dos dias, se sentia cada vez mais próxima de . Ele era mais do que apenas um padre para ela, era um confidente e um amigo. A cada conversa, ela se sentia mais leve e mais forte.
Reaproximação
Após aquele tumultuado encontro, começou a frequentar cada vez mais as missas, mas não apenas pela fé. Ela buscava conforto na presença de .
e haviam sido amigos inseparáveis durante a infância. Eles compartilhavam segredos, sonhos e uma conexão profunda que transcendeu o tempo. se lembrava vividamente da última vez que estiveram juntos antes de seguir seu caminho para se tornar padre e ela deixar a cidade. Era uma tarde ensolarada, e eles estavam sentados sob a antiga árvore de carvalho no parque da cidade. O vento suave agitava as folhas enquanto eles conversavam sobre o futuro
.
— Vou sentir sua falta, . — disse uma de 15 anos, os olhos brilhando com lágrimas não derramadas.
— Eu também vou sentir a sua falta, ,— respondeu , a voz embargada. — Mas, prometo que estarei sempre aqui para você, não importa onde estejamos.
Naquele momento, um silêncio carregado de emoções se instalou entre eles. , impulsionado por um sentimento avassalador, aproximou-se e, antes que pudesse reagir, beijou-a ardentemente. Foi um beijo cheio de paixão reprimida, de sentimentos não confessados e de um adeus que deixava marcas profundas. retribuiu o beijo, sentindo a intensidade do momento e a inevitabilidade da despedida.
Agora, anos depois, enquanto assistia às missas e via no altar, não conseguia evitar que essas lembranças voltassem à tona. O carinho e o respeito que sentia por ele eram inegáveis, mas também havia um turbilhão de emoções não resolvidas. A presença de oferecia uma sensação de segurança, mas também uma constante lembrança do que poderia ter sido.
Na manhã seguinte, acordou com uma única ideia fixa em sua mente: precisava descobrir o que realmente sentia por ela. Não podia mais ignorar os sinais, nem a crescente tensão entre eles. Sabia que era arriscado, mas estava disposta a correr o risco. Algo dentro dela a impelia a seguir esse caminho, mesmo que tudo o que ela conhecia estivesse em jogo.
Ela passou a manhã pensando em um plano. Sabia que não poderia ser direta; era um padre, e a responsabilidade de sua vocação o impedia de falar abertamente sobre seus sentimentos. Mas, conhecia melhor do que ninguém, e sabia que, se ele sentisse algo por ela, isso transpareceria em seu comportamento.
escolheu com cuidado o que iria vestir. Procurou algo que não fosse vulgar, mas que ainda assim chamasse atenção. Escolheu um vestido de cor vinho, justo, que delineava suas curvas sem ser excessivo. A abertura lateral da saia revelava suas pernas a cada passo, e o decote sutilmente sugeria mais do que mostrava. Ela prendeu os cabelos em um coque alto, deixando apenas alguns fios soltos, o que suavizava seu rosto. Queria parecer elegante, mas inegavelmente feminina.
Quando chegou à igreja, o coração de batia forte. Caminhou até o escritório de , tentando controlar o nervosismo. Não sabia exatamente o que esperava encontrar, mas estava decidida a ir até o fim.
estava em sua mesa, envolto em papeis e livros. Ele levantou o olhar quando ouviu o som dos saltos de ecoando no chão de mármore. Ao vê-la, sua expressão mudou de leve. Seus olhos percorreram a figura dela, e por um instante, algo diferente brilhou em seu olhar, uma hesitação, uma surpresa.
— ,— ele a cumprimentou, sua voz grave, mas com um leve traço de tensão. — Eu não esperava te ver aqui tão cedo. — Ela sorriu, tentando parecer descontraída.
— Eu precisava conversar, se você tiver um momento.
— Claro,— ele disse, gesticulando para que ela se sentasse. Enquanto se acomodava, percebeu que os olhos de evitavam os dela, um comportamento diferente do habitual. Normalmente, ele a olhava diretamente, mas agora, parecia relutante em sustentar o olhar.
— Sobre o que gostaria de falar? — Ele perguntou, tentando manter a voz neutra, mas notou um leve tremor em suas mãos quando ele ajeitou os papeis em sua mesa.
— Ah, nada específico,— ela respondeu, como se fosse algo trivial. — Só queria discutir algumas coisas sobre o casamento, talvez revisar os votos novamente. — Ela sabia que a desculpa era fraca, mas o objetivo não era a conversa em si, e sim observar como ele reagiria.
Enquanto falava, notou que parecia desconfortável. Ele estava mais sério do que o habitual, sua postura rígida, quase como se estivesse lutando para manter o controle. , por outro lado, fingia não notar, mantendo um tom leve na conversa, mas por dentro, estava analisando cada detalhe.
Ela se inclinou levemente para frente, como se estivesse interessada no que ele dizia, mas na verdade queria testar a reação dele à sua proximidade. engoliu em seco, desviando o olhar para um ponto qualquer na parede.
Depois de alguns minutos, ela notou que estava lutando contra algo dentro de si. As perguntas que normalmente fluíam com facilidade vinham agora com pausas e hesitações. Quando mencionou que ainda estava distante, pareceu mais tenso, o que a fez acreditar que sua presença estava mexendo com ele mais do que ele admitia.
Quando finalmente decidiu ir embora, agradeceu e se levantou lentamente, como se estivesse relutante em partir. Antes de sair, lançou um último olhar para , que agora parecia aliviado, mas havia algo nos olhos dele que não pôde ignorar — uma mistura de desejo contido e conflito interno.
A caminhada de volta para casa foi cheia de pensamentos. estava mais certa do que nunca de que sentia algo por ela, mas sabia que ele jamais o admitiria facilmente. No entanto, aquilo era apenas o começo. Ela não ia descansar até ter certeza, até forçar a encarar o que realmente havia entre eles. Por mais que ele tentasse esconder, ela sabia que não estava sozinha naquela luta. E isso a encorajava a seguir em frente, mesmo que o caminho fosse perigoso.
No domingo seguinte, entrou na igreja com uma determinação perigosa nos olhos. Se vestiu como havia se vestido quando viu pela última vez, e sentiu os olhares discretos dos fieis. Mas, não era por eles que ela se vestira assim. Seus olhos procuravam apenas uma pessoa, e quando o encontrou no altar, sentiu o coração disparar.
estava dando a missa com a mesma serenidade de sempre, mas por trás da fachada calma, havia um turbilhão de emoções. Quando seus olhos encontraram os de , ele engasgou levemente com as palavras, mas rapidamente retomou o controle, terminando a missa sem incidentes. Porém, ele sabia que a presença dela ali, especialmente daquela forma, não era acidental.
Após a missa, esperou pacientemente até que a igreja esvaziasse. Quando finalmente encontrou uma oportunidade, dirigiu-se ao confessionário. As sombras do pequeno espaço a envolviam, criando um contraste perturbador com o brilho intenso que ela sentia em seu peito. se aproximou do confessionário, sem saber que era ela ali dentro.
— Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...
— . — a voz de soou trêmula, quase inaudível. — Ele congelou ao ouvir seu nome, reconhecendo instantaneamente quem estava do outro lado da tela. Seu coração acelerou, mas ele manteve a voz firme.
— ... este é um lugar sagrado. O que deseja confessar? — Ela hesitou por um momento, mas depois as palavras começaram a fluir, uma após a outra, carregadas de desejo e confusão.
— Eu... tenho pensado muito em você, . Não só pensado... eu tenho sonhado com você. Sonhos que não são certos, que não deveriam existir. E eu não consigo parar. Eu... eu desejo você de uma forma que me assusta. Eu sei que é errado, mas não consigo evitar. Preciso de ajuda... você pode me ajudar?
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. lutava para encontrar uma resposta, seu coração em conflito com seu dever. Depois do que pareceu uma eternidade, ele finalmente falou, a voz carregada de uma tensão que ele não conseguia esconder.
— ... isso que você está sentindo, precisa ser resolvido. Mas, não aqui, não assim. Por favor, venha ao meu escritório mais tarde. Precisamos conversar... em particular. — assentiu, embora ele não pudesse vê-la.
— Sim, eu irei. — ela sussurrou antes de sair do confessionário, deixando para lutar contra os próprios demônios que suas palavras haviam despertado.
A tarde prometia ser um teste para ambos, um teste que poderia mudar o destino de suas vidas para sempre.
Mais tarde, quando a igreja finalmente ficou vazia e o silêncio absoluto tomou conta do lugar, caminhou até o escritório de . Suas mãos tremiam levemente enquanto girava a maçaneta da porta, entrando no pequeno ambiente que cheirava a madeira e incenso. estava de pé, de costas para ela, olhando para uma cruz na parede como se procurasse forças em sua fé para o que estava por vir.
Ele se virou lentamente quando a porta se fechou atrás dela, e seus olhos encontraram os dela. A tensão no ar era palpável, quase sufocante. hesitou por um momento, mas depois deu alguns passos à frente, parando a poucos metros dele.
— ...— sua voz saiu mais suave do que ela pretendia, mas carregada de emoção. — Eu não sei como começar… — Ele deu um passo à frente, interrompendo-a.
— , eu... nós precisamos ser honestos um com o outro. Eu sei que o que você sente não é fácil. E... você precisa entender que para mim também não é. Eu sou um padre, mas antes disso, eu sou humano. — Ela engoliu em seco, sentindo o coração acelerar.
— Então... você também...? — desviou o olhar, lutando para manter o controle.
— Eu tenho tentado ignorar, fingir que não sinto nada além de carinho fraternal por você. Mas... a verdade é que não consigo. Toda vez que você está perto, sinto algo que não deveria. Algo que me faz questionar tudo o que eu escolhi para a minha vida. — sentiu uma mistura de alívio e culpa. O que ela mais temia era real; ele sentia o mesmo que ela. Mas isso apenas tornava tudo mais complicado.
— , eu não quero te machucar. Eu não quero ser a causa de um conflito na sua vida... mas, eu não consigo continuar fingindo que o que eu sinto por você não existe. — Ele fechou os olhos, respirando fundo, como se estivesse reunindo toda a força que possuía.
— Eu sei. Mas, , nós precisamos tomar cuidado. O que sentimos... não pode ser consumado. Isso nos destruiria, destruiria tudo em que acreditamos.
permaneceu ali, o coração batendo freneticamente no peito, enquanto o olhar de parecia atravessá-la. A tensão no ar era quase palpável, e cada segundo que passava parecia carregar um peso insuportável.
— ...— ela começou, a voz suave, mas determinada. — O que você sente por mim? Preciso ouvir de você, preciso saber a verdade. — fechou os olhos por um momento, como se lutasse para encontrar as palavras certas, mas quando finalmente as abriu, havia uma intensidade em seu olhar que nunca tinha visto antes.
— Desde o momento em que você foi embora, , nunca consegui deixar de pensar em você. Você sempre esteve na minha mente, mesmo quando tentei seguir em frente, mesmo quando me dediquei à minha fé. Mas, a verdade é que... você sempre foi a presença mais ameaçadora à minha fé.
sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir aquelas palavras. Ela sabia que estava sendo honesto, mas ainda assim, o peso do que ele estava dizendo era quase esmagador.
— Ameaçadora? — Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles, o aroma amadeirado de seu perfume preenchendo o ar ao redor dela.
— Sim. Porque quando você está por perto, eu sinto coisas que um homem de fé não deveria sentir. Eu sinto desejo, sinto uma necessidade incontrolável de estar perto de você... de te tocar. — sentiu o coração disparar ainda mais, e sua respiração ficou entrecortada.
— O que você sente, ? O que exatamente você sente quando está perto de mim?
avançou mais um passo, encurralando-a suavemente contra a mesa de seu escritório. Ele estava tão próximo agora que podia sentir o calor de seu corpo, a corrente prateada com a pequena cruz de metal gelada em seu pescoço roçando levemente contra a pele dela. O contraste entre o frio do metal e o calor que emanava dele era quase sufocante, e ela mal conseguia pensar em outra coisa senão no quão bonito ele era, como as sombras da sala realçavam as linhas fortes de seu rosto, os olhos escuros que pareciam carregar o peso do mundo.
— , — ele murmurou, a voz rouca. — quando estou perto de você, sinto uma atração tão forte que me consome. É como se todo o meu controle, toda a minha fé, fosse colocada à prova. Eu desejo você de uma maneira que não deveria... desejo seu corpo, seu toque, tudo o que há em você. E isso... isso me assusta. — O coração de parecia querer explodir. Ela não conseguia mais manter a fachada de resistência que tinha construído ao longo dos anos.
— Eu sinto o mesmo, . Eu penso em você o tempo todo. Eu sonho com você, desejo você de uma forma que não consigo controlar. Mas... por que você se contém? Por que você não deixa isso acontecer? Não acha que Deus quer que você seja feliz, que você sinta prazer?
recuou levemente, como se suas palavras tivessem o atingido com força. Ele estava ali, tão próximo, a respiração dele misturando-se com a dela, o calor do momento tornando tudo mais intenso.
— ... isso… — Mas, antes que ele pudesse completar a frase, ergueu a mão, tocando suavemente o rosto dele, seus dedos deslizando pela pele macia.
— Você não precisa resistir, . Não quando é isso que nós dois queremos. Deus nos criou com esses desejos, e Ele não nos faria sentir algo tão forte se não fosse para seguirmos o que nossos corações desejam.
fechou os olhos ao sentir o toque dela, um suspiro escapando de seus lábios. Cada fibra de seu ser queria ceder, queria esquecer de tudo e se entregar ao que seu coração ansiava. Mas, havia algo dentro dele que ainda lutava, uma parte que ainda se agarrava à vida que ele havia escolhido.
Mas, naquele momento, com tão próxima, ele sabia que a escolha que teria de fazer seria mais difícil do que qualquer outra que já havia enfrentado.
via em uma tentação quase insuportável, algo que ele deveria resistir, mas que, ao mesmo tempo, o atraía de uma maneira quase irresistível. Para ele, ela representava uma provação, uma espécie de demônio disfarçado que parecia determinado a desviá-lo de seu caminho sagrado. No entanto, a ironia cruel da situação era que essa tentação não era apenas perigosa — ela era deliciosamente sedutora.
Cada vez que estava por perto, a luta interna de se intensificava. Ele sentia como se estivesse sendo testado, como se toda a sua fé estivesse em jogo. Mas, por mais que tentasse, a resistência se tornava cada vez mais difícil. , com seu sorriso provocante, seus olhares carregados de significado, e aquela energia que parecia pairar ao seu redor, fazia com que se sentisse dividido, tentando equilibrar seu dever espiritual com desejos que ele sabia que não deveria ter.
Por mais que a considerasse uma tentação, sabia, lá no fundo, que essa tentação estava ganhando terreno. Ele estava se deixando levar, porque a sensação era avassaladora, como um doce veneno ao qual ele não conseguia resistir. E, por mais que se culpasse por isso, por mais que orasse para ser forte, ele sabia que cada encontro com o empurrava mais perto do abismo — um abismo que, em seus momentos mais fracos, ele não tinha certeza se queria evitar.
ficou imóvel por um breve momento, os olhos fechados enquanto o toque de queimava sua pele. Era como se todo o controle que ele tinha se desintegrasse em um segundo. O desejo que ele tanto lutava para reprimir finalmente transbordou. Antes que ele pudesse reconsiderar, suas mãos se moveram, segurando delicadamente o rosto de , puxando-a para mais perto.
O primeiro toque de seus lábios foi suave, quase hesitante, mas a intensidade que ambos sentiam logo tornou impossível qualquer tentativa de contenção. O beijo rapidamente se transformou em algo mais urgente, mais voraz. Era como se anos de sentimentos reprimidos finalmente encontrassem uma saída. As mãos de se moviam para a cintura de , trazendo-a para mais perto, sentindo o calor do corpo dela contra o seu.
retribuiu o beijo com igual fervor, seus dedos deslizando pelo cabelo dele, puxando-o para mais perto. O cheiro amadeirado de a envolvia completamente, e ela não conseguia pensar em mais nada além dele, além do desejo que parecia crescer exponencialmente dentro dela.
Sem se dar conta, a levantou levemente, colocando-a sentada sobre sua mesa. Os movimentos apressados fizeram com que alguns itens que estavam sobre a mesa caíssem no chão — canetas, papeis e uma pequena cruz de madeira. Apenas uma Bíblia permaneceu sobre a mesa, aberta, como um testemunho silencioso do conflito que eles viviam. Mas, nem nem notaram; eles estavam perdidos um no outro.
começou a beijar o pescoço de , seus lábios quentes encontrando a pele macia dela, provocando um suspiro baixo e trêmulo. Cada beijo era como uma chama acendendo dentro dela, e a sensação de ter tão próximo, tão entregue, era quase surreal.
As mãos dele deslizaram pelo corpo dela, tocando, explorando, enquanto o desejo entre eles aumentava. O mundo ao redor parecia desaparecer, deixando apenas o calor de seus corpos, a urgência de seus beijos e o som de suas respirações entrecortadas.
O choque frio da cruz de , ainda pendurada em seu pescoço, contrastava com o calor de seus corpos, um lembrete silencioso da tensão entre o sagrado e o desejo que os consumia. Mas, naquele momento, e estavam além de qualquer racionalidade, entregues à paixão que por tanto tempo negaram a si mesmos.
parou por um instante, os lábios ainda próximos ao pescoço de , a respiração dele quente contra a pele dela. Ele a observou, os olhos cheios de desejo, mas também de uma profunda intensidade.
— ...— ele sussurrou, como se as palavras falhassem em expressar tudo o que ele estava sentindo.
Mas, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, puxou-o de volta para si, selando seus lábios em mais um beijo cheio de volúpia, como se quisesse apagar qualquer dúvida, qualquer hesitação, qualquer obstáculo entre eles.
E naquele momento, com a Bíblia aberta ao lado deles, o que antes era inatingível agora parecia inevitável.
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desceu sua mão até o meio das pernas de . Com uma expressão de surpresa ao senti-la escorrendo para ele.
— Esqueceu da calcinha? — Perguntou com a voz mais grossa de excitação.
Quando ia responder foi pega de surpresa com os dedos do padre adentrando sua buceta molhada. Deixou escapar um gemido de prazer. O padre desceu as alças do vestido, deixando os seios de à mostra. A sala do padre era fria, o que fez os mamilos da garota enrijecerem.
— …
— O que foi? Você não veio até aqui para me provocar? Agora você vai aguentar… — Inseriu mais um dedo dentro dela. Fazia um vai e vem delicioso enquanto chupava seus peitos. Sua língua era maravilhosa, rápida, quente e molhada. Ele brincava com os mamilos enquanto a fodia com os dedos.
se sentia nas nuvens. Era como um sonho. foi descendo até se encontrar entre as pernas de .
— Você está escorrendo… — Falou como se tivesse encontrado um tesouro. — Tudo isso pra mim? — estava incapacitada de falar, então apenas concordou com a cabeça.
Foi quando caiu de boca nela. Chupando com vontade cada centímetro de sua buceta. Era como se quisesse se afogar entre suas pernas. Sua língua era pontual e firme, ele sabia muito bem o que estava fazendo e isso a excitava cada vez mais.
parou e levantou-se.
Beijou enquanto abaixava seu zíper. Seu intuito era fazê-la provar de seu próprio mel. não acreditava que esse era o mesmo que conversara com ela a pouco. Esse parecia mais selvagem. E ela adorava. Apenas se perguntava onde ele havia aprendido essas coisas.
— Você tem camisinha? — Ele perguntou. quase riu da ironia, óbvio que ele não tinha.
apenas disse que não era preciso se preocupar. Sem esperar, enquanto ele segurava seu pescoço, meteu seu pau sem nem perguntar. revirou os olhos de prazer.
— Você é uma puta. Veio pra igreja pra ganhar pau e é isso que eu vou te dar, enquanto o corno do teu noivo não sabe que você tá sendo bem comida aqui. — Sussurrou em seu ouvido. Ele estocava com força fazendo gemer alto a cada estocada.
As paredes da igreja eram grossas e ela esperava do fundo do coração que não ouvissem as heresias a qual ela clamava.
retirou-se de dentro dela apenas para deixá-la de bruços na mesa. Em frente a um grande retrato da Virgem Maria.
Por um momento se sentiu culpada por estar pecando em um lugar sagrado, mas logo foi retirada de seus pensamentos pela ardência que sentiu ao levar um tapa de . Antes de reagir veio outro, e outro. E logo estava dentro dela novamente.
— Você não sabe a quanto tempo eu quero fazer isso. — Falou segurando o quadril da mulher com força. — Ver você gostosa desse jeito foi a gota d'água.
era rápido e forte, mas ao mesmo tempo seguro e confiante. Ele não a machucava, ele sabia que ela queria isso tanto quanto ele. Porque ela a conhecia como ninguém.
— Você é perfeita, meu Deus! — Soltou ofegante, entre estocadas.
— Você não pensou duas vezes antes de me fuder, não é? — Perguntou entre gemidos.
— Você é o único motivo pelo qual eu largaria tudo. — e a beijou.
Say no to this
Depois da primeira noite com , foi tomada por uma avalanche de emoções. A culpa a corroía de dentro para fora, como um veneno que se espalhava lentamente, mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia evitar o desejo de voltar ao escritório dele. Cada encontro era carregado de perigo, e isso a excitava mais do que qualquer coisa. Trair , se entregar àquele amor proibido, fazia com que algo dentro dela se rebelasse contra todas as expectativas que haviam sido impostas sobre ela.
Na manhã seguinte ao primeiro encontro, acordou em sua própria cama, mas ainda podia sentir o perfume amadeirado de em sua pele. As lembranças da noite anterior voltavam. O toque de suas mãos, os sussurros proibidos, a sensação de estar tão perto dele de uma maneira que jamais imaginara possível. Mas, junto com essas memórias, veio a culpa. Ela pensava em , mas a sensação de traição parecia pequena comparada à emoção avassaladora de estar com .
Dias se passaram, e ela tentou se manter longe, mas era inútil. O escritório de era um imã, e ela, inevitavelmente, retornava para mais. Toda vez que cruzava aquela porta, sentia o peso de sua escolha, mas a adrenalina de se envolver com ele a dominava. Eles repetiam o mesmo ritual: olhares intensos, beijos furtivos e o desejo que se consumava em meio aos móveis austeros do escritório.
No entanto, cada vez que deixava a igreja, o conflito em seu peito crescia. Ela sabia que aquilo era errado, sabia que não deveria se sentir tão viva com enquanto ainda estava comprometida com . Mas, ao mesmo tempo, era impossível não sentir prazer na ideia de machucar . Ele merecia, ela pensava. Depois de tudo o que ele havia feito, depois da traição que ela havia sido forçada a engolir, agora era a vez dela de controlar a situação.
Naqueles momentos de luxúria com , sentia-se vingada, e o perigo de ser descoberta tornava tudo ainda mais intenso. O pensamento de que poderia perder tudo – sua reputação, seu noivo, até mesmo , caso alguém descobrisse – a fazia sentir viva de uma maneira que não experimentava há muito tempo.
Apesar da culpa que insistia em assombrá-la, o desejo de era uma chama que ela não conseguia apagar. Ela sabia que, no fundo, estava indo longe demais, mas cada encontro proibido a puxava mais fundo nesse abismo de prazer e perigo. E quanto mais isso machucava , mais ela se entregava àquele ciclo destrutivo.
A cada encontro clandestino no escritório de , se sentia mais viva, mais desejada do que jamais fora. O toque de era diferente de qualquer coisa que ela já experimentara, como se cada vez que ele a tocava, algo se acendesse dentro dela. A maneira como ele a olhava, como a beijava, fazia com que todo o resto do mundo deixasse de existir. parecia um fantasma distante, enquanto era o único que a fazia sentir-se verdadeiramente viva.
O que mais mexia com ela, no entanto, era o que lhe dizia. Ele a olhava profundamente nos olhos e confessava o que esperou anos para revelar a ela. Suas palavras reverberavam na mente de , como uma promessa secreta que apenas os dois compartilhavam. Ela sabia o que aquilo significava para ele, o peso de abandonar o sacerdócio. Ser a causa de tamanha mudança em sua vida a fazia se sentir poderosa, mas também vulnerável. Era um jogo perigoso, onde ela não sabia ao certo até onde estavam dispostos a ir. E por isso ela sempre voltava…
estava novamente no escritório de , ela ouvia a voz dele ao telefone, baixo e firme como sempre, enquanto conversava com algum sacerdote de outro estado. Estava concentrado, mas a presença de parecia inquietá-lo, mesmo sem que ele demonstrasse. A garota, no entanto, não prestava atenção no conteúdo da conversa. Seus olhos estavam fixos nos lábios dele, nos movimentos que faziam ao falar – tão decididos, tão expressivos, e ainda assim, guardados e reservados.
Ela prendeu a respiração ao se lembrar de como aqueles mesmos lábios haviam percorrido sua pele, cada toque seu enraizado em sua memória como um segredo compartilhado apenas entre eles. Um calafrio percorreu-lhe a espinha, enquanto sua mente lhe traía com memórias da última vez que estiveram tão perto.
Ele pareceu notar a intensidade do olhar de e respirou fundo, como se estivesse reunindo forças para resistir àquilo que ela, claramente, não escondia mais.
— Sim, a cerimônia está se aproximando... Claro, obrigado pelo apoio. — ele dizia.
pareceu notar a intensidade do olhar de e respirou fundo, como se estivesse reunindo forças para resistir àquilo que ela, claramente, não escondia mais. Já estava próxima demais dele para resistir.
Ele não disse nada enquanto ela se aproximava, mas os dedos que seguravam o telefone tremiam levemente. Por um momento, parecia que ele havia perdido a linha de pensamento, as palavras engasgando na garganta, e ela podia jurar que sentia o coração dele acelerar sob sua pele.
Com a calma e determinação que só ela tinha, sentou-se em seu colo lentamente, sem tirar os olhos dele. engoliu em seco, tentando manter a compostura, mas viu quando os olhos dele vacilaram. Ainda ao telefone, ele se inclinou um pouco para frente, como se tentasse manter distância, mas ela encurtou esse espaço com a mesma leveza, tão familiar e tentadora, deixando os lábios tocarem levemente o pescoço dele.
— Sim, senhor. — ele murmurou ao telefone, a voz ligeiramente rouca, tentando manter o tom habitual. A ponta dos dedos dela se enroscou nos cabelos dele, os fios finos e ligeiramente rebeldes entrelaçando-se aos seus dedos. Ela sorriu ao perceber que ele fechou os olhos, mesmo que por apenas um segundo.
— Vou manter todos informados. — continuou, embora a respiração estivesse descompassada. Quando deslizou os lábios por seu pescoço, subindo até o canto da mandíbula, ele soltou um leve suspiro, quase inaudível.
sentia o coração de bater firme sob o tecido de sua camisa, e cada pulsação parecia intensificar a conexão entre eles. Seus dedos deslizavam lentamente pelo peito dele, explorando cada contorno com uma familiaridade quase perigosa. Ele não era musculoso, mas havia uma força silenciosa em seu corpo magro, uma firmeza que ela conhecia bem, capaz de erguê-la sem esforço. As mangas arregaçadas até os cotovelos revelavam os braços marcados, com veias que se destacavam sob a pele, detalhes que a faziam perder a cabeça. Ela não conseguia resistir ao charme discreto dele, a esse poder controlado que nem mesmo ele parecia perceber.
Seus dedos traçavam caminhos suaves e provocativos, deslizando pelo antebraço e pelas veias que ela admirava, até que suas mãos chegaram até o zíper de sua calça. estava sem batina hoje, vestia apenas uma camisa social preta e uma calça no mesmo estilo, que combinava bastante com ele. A garota abriu o zíper com cuidado e sua mão ágil encontrou o que queria rapidamente. já estava duro, e a olhava impacientemente.
— Sim, estou bastante animado para o que vai acontecer. — Falou ele para quem quer que estivesse do outro lado da linha.
Antes de se ajoelhar, retirou sua regata, deixando seus peitos à mostra para o padre, que só respondeu com uma mordida de lábio e um aceno de cabeça. Ela sabia exatamente do que ele mais gostava nela e abusava disso.
Ao se ajoelhar, conseguiu ficar na altura perfeita para o que estava prestes a fazer. Olhando para ele, abocanhou seu membro duro. Sua língua passava por cada centímetro, molhando e sugando toda sua extensão. segurava o cabelo de com carinho enquanto ela o chupava com vontade. Quando sentiu que ele estava perto de gozar, ela parou. Ele sorriu como se dissesse “você tá fudida”.
A garota voltou a sentar em seu colo, enquanto finalizava a ligação, seus dedos esguios brincavam com os biquinhos dos seios de .
— Bom, vou deixá-lo trabalhar por hoje, . Deve estar abarrotado de coisas para fazer aí na igreja. — deixou o telefone na mesa, ouvindo a voz do sacerdote no viva-voz.
— Estou bastante ocupado mesmo. — Falou com a voz monótona enquanto isso seus dedos se movimentavam em busca da calcinha de . E quando a encontrou, estava encharcada.
— É incrível ver um jovem como você tão interessado no trabalho divino. Os jovens hoje em dia só pensam em perdição…
— Com certeza, e nosso trabalho aqui é evitar que isso aconteça, não é? — Seus dedos se movimentavam rapidamente pela região íntima da garota, deixando-a ofegante.
Após encerrar a ligação, permaneceu em silêncio, os olhos presos em (que estava se vestindo novamente) como se tentasse decifrar cada traço de seu rosto, cada emoção que ela não dizia em palavras. Ele a estudava com uma intensidade quase insuportável, como se aquele momento pudesse desaparecer a qualquer instante.
Após notar que ela já estava vestida, sem dizer uma palavra, abriu a porta do escritório e a guiou por um corredor deserto. Seus passos eram rápidos, mas silenciosos, e mal respirava, tomada por uma mistura de expectativa e nervosismo. O cheiro amadeirado de , combinado com a proximidade deles, tornava impossível pensar em qualquer coisa além dele.
Quando chegaram à porta do quarto, ele olhou discretamente para os lados, certificando-se de que não havia ninguém por perto. Por um segundo, o mundo pareceu suspenso, o silêncio pesado preenchido apenas pelo som das respirações deles. então abriu a porta e a puxou para dentro.
Assim que a porta se fechou atrás deles, ele a beijou com uma urgência que fez o coração de disparar. Seus lábios a invadiram com uma mistura de necessidade e devoção, um desejo reprimido que finalmente encontrava seu escape.
O beijo de era tudo o que ela não sabia que precisava – intenso, avassalador, carregado de paixão. A comparação com surgiu involuntariamente em sua mente, mas foi esmagada no instante seguinte. Não havia comparação. Com , tudo era mecânico, previsível, como uma coreografia ensaiada. Mas, com ... com , era caos, fogo, um pecado que ela jamais conseguiria controlar.
Ele se afastou apenas o suficiente para encará-la, sua respiração descompassada enquanto seus olhos percorriam o rosto de . Não havia palavras entre eles, mas naquele instante, ambos sabiam que estavam pecando. era a contradição perfeita: o homem que lutava contra seus próprios desejos, mas que não podia mais resistir ao que sentia por ela. deslizou as mãos pelo peito dele, sentindo o coração dele bater tão rápido quanto o dela.
— Você vai se arrepender? — ela sussurrou.
— Não tanto quanto eu já me arrependi por tentar te evitar. — ele respondeu, a voz firme mesmo em sussurro.
Era tarde demais para voltar atrás.
deitou na cama cuidadosamente, sem interromper a sequência de beijos. Sua mão que antes segurava fortemente sua cintura, agora subia para tirar sua roupa pela segunda vez naquele dia.
estava surpreendentemente calmo, os movimentos dele precisos, como se cada toque fosse cuidadosamente planejado para gravar na pele de uma lembrança impossível de esquecer. Ele não tinha pressa, como se desejasse que ela sentisse não apenas o calor de suas mãos, mas a intenção por trás de cada gesto.
, no entanto, não conseguia ignorar a diferença na maneira como ele a tocava. Era mais do que desejo; havia uma suavidade, quase reverência, que fazia sua mente se perder em pensamentos perigosos. Ela amava o que tinham. “Amava?” A ideia a atingiu como um trovão, e ela sentiu o coração vacilar por um instante.
Mas, logo se forçou a afastar essa possibilidade, como se temesse o que significava encarar isso de frente. Não era hora de pensar no que realmente sentia ou se aquele momento era mais do que paixão. Era mais fácil se perder na tempestade de emoções que ele provocava do que mergulhar nas águas profundas do que aquilo representava.
Ainda assim, não podia ignorar o cuidado nos movimentos dele, a calma que parecia um contraste absoluto com o desejo ardente que emanava em cada toque. Era como se estivesse pintando um retrato dela com as mãos, cada carícia uma pincelada, cada beijo uma assinatura em sua pele. Para , aquela delicadeza era devastadora, quebrava suas barreiras com mais força do que qualquer impulso desgovernado seria capaz.
percorreu com beijos cada pedaço de sua pele, como quem grava memórias em um pergaminho secreto, protegendo-as do tempo. Seus lábios narravam uma história que dispensava palavras, e percebeu que não era apenas desejo que ardia entre eles – era algo muito mais perigoso, algo que ela não estava pronta para nomear.
Naquela noite, eles se entregaram um ao outro como se fossem as últimas pessoas no mundo, como se o tempo estivesse suspenso, dando-lhes uma trégua improvável. Foi mais do que físico; foi um encontro de almas que, por um breve momento, esqueceram as impossibilidades que os cercavam.
After
Depois de cada encontro, quando os corpos se acalmavam, eles conversavam sobre a vida. As longas conversas depois do prazer se tornaram uma constante. se surpreendia com a facilidade com que eles se aproximavam novamente como velhos amigos, como se todo aquele tempo separados nunca tivesse acontecido. Compartilhavam lembranças da infância, falavam dos sonhos que um dia tiveram e das escolhas que haviam feito.
, porém, também carregava o peso de seus conflitos internos. Ele se aproximava cada vez mais de , mas a culpa e o dilema o corroíam por dentro.
Lembrou da última vez que vira .
Flashback on
Ele riu, e o som da risada dele a fez lembrar de quando eram apenas adolescentes, de quando ele não usava o colarinho clerical e parecia mais... humano. Mais acessível. “Não que tenha muita coisa por aqui, mas… quer ver o que tem na cozinha?” Ele arqueou as sobrancelhas com um sorriso cúmplice. Os dois haviam passado a noite juntos e
“E desde quando você rouba comida da igreja?” retrucou, surpresa, mas já o seguindo sem resistência.
“Digamos que às vezes os princípios podem abrir uma exceção.” Ele piscou, conduzindo-a até a pequena cozinha da paróquia. A geladeira estava bem abastecida, e logo eles encontraram biscoitos, queijo e até algumas frutas que certamente eram para a próxima reunião de voluntários.
Sentaram-se em um canto da cozinha, rindo enquanto compartilhavam as “provisões”. A conversa fluiu leve, cheia de piadas e lembranças, como se tivessem voltado no tempo, aos 16 anos. se sentia, pela primeira vez em meses, descontraída e despreocupada. , por outro lado, parecia uma versão mais solta e alegre do homem austero que havia se tornado.
A conversa virou risos e, em certo ponto, se viu observando-o com mais atenção, reparando na expressão leve e nas pequenas linhas de cansaço ao redor dos olhos. Aquela era uma versão dele que ela raramente via – um que deixava a formalidade de lado, rindo despretensiosamente.
“Lembra daquela vez no lago, quando a gente achou que ia ser pego?” perguntou, inclinando-se ligeiramente para ele, a voz baixa, divertida.
riu, assentindo. “Acho que foi um dos dias mais tensos da minha vida. Até hoje me pergunto como não fomos pegos. Era estritamente proibido nadar naquele rio”.
“Você e essa necessidade de nunca quebrar uma regra...” provocou.
“Algumas regras existem por algum motivo, por exemplo, poderiam haver sanguessugas ou piranhas naquele lugar”.
Ela se inclinou, o rosto agora a centímetros do dele. permaneceu imóvel, os olhos mergulhando nos dela, sem resistência. estava prestes a fechar a distância entre eles, quando um ruído veio da porta.
“Bom, espero não estar interrompendo.” Padre Fernando surgiu, com um sorriso leve e uma expressão astuta.
recuou imediatamente, envergonhada, mas o olhar de permaneceu firme e respeitoso. O padre caminhou até eles, com as mãos cruzadas à frente, uma expressão quase paterna no rosto.
“, talvez seja hora de começar a preparar a cerimônia da Ordenação Sacerdotal ,” disse Padre Fernando, num tom amável, mas firme. “Se for para você tomar alguma decisão, que seja antes da cerimônia. Depois, meu rapaz, as coisas se complicam.” Após a fala, o Padre acenou com a cabeça entre os dois, sorriu e voltou pelo caminho que veio tranquilamente.
“O que ele quis dizer com isso?” perguntou , sentindo a tensão pairando entre eles.
suspirou, passando a mão pelo cabelo. “Minha ordenação diaconal termina em um mês. Depois disso... serei oficialmente ordenado como sacerdote.”
“Então, você ainda tem tempo.” A voz dela era baixa, quase esperançosa, mas cheia de uma determinação que quase o fez recuar.
“...” ele hesitou, o rosto sombrio. “Isso não é uma decisão fácil. Você sabe o que significa. Se eu... se eu seguir por esse caminho, não terei mais a liberdade de fazer escolhas tão levianamente.”
mordeu o lábio, o peito comprimido entre a raiva e a esperança. “Então, , o que realmente importa pra você?”
Ele a olhou, mas em vez de responder, baixou o olhar.
Fim do Flashback
percebia que algo em tinha mudado de alguns dias pra cá. Era como se ele estivesse sendo sincero mas se sentisse culpado por tudo. E isso era visível externamente, de uns dias pra cá sentia o cheiro de cigarro nele, o que nunca havia sentido. Era como se ele tivesse perdido o próprio brilho.
Buscando uma saída, ou pelo menos algum tipo de alívio, ele recorria ao padre Fernando, seu superior e conselheiro. não contava explicitamente sobre os encontros proibidos, nem confessava os atos que cometia dentro da igreja, mas deixava claro os seus desejos. Falava sobre as dúvidas que cresciam cada dia mais, sobre a ideia de largar o sacerdócio para seguir outra vida.
Padre Fernando, sempre gentil e compreensivo, o ouvia atentamente. Ele conhecia desde que este havia entrado para o seminário e percebia as mudanças nele. Fernando não julgava, apenas oferecia apoio, lembrando de que ele sempre teria uma escolha.
— Se o seu coração está em outro lugar, talvez seja hora de repensar seu caminho. — dizia o padre, com uma sabedoria calma. Embora Fernando não soubesse exatamente sobre o que acontecia entre ele e , ele intuía que havia algo mais. E mesmo sem conhecer os detalhes, oferecia a a oportunidade de se libertar do fardo que carregava.
Essas conversas com Fernando pesavam na mente de , mas ao voltar para , o mundo se tornava simples novamente. Com ela, ele não precisava fingir. Sentia-se livre, sentia-se homem, e não apenas um padre preso às regras da igreja. O amor proibido que compartilhavam trazia uma mistura inebriante de culpa e desejo, e quanto mais eles se aproximavam, mais se via dividido entre sua fé e a mulher que o fazia questionar tudo.
Término
não conseguia mais adiar o inevitável. Seu coração há muito tempo já não pertencia a , e cada vez que se encontrava com , sentia-se ainda mais distante do noivo. As conversas, os encontros furtivos, o toque proibido — tudo isso alimentava um desejo crescente dentro dela. Um desejo que não poderia mais ser ignorado. , para ela, não passava de um obstáculo em seu caminho, e agora, ela estava pronta para tirá-lo de sua vida.
A casa de estava silenciosa quando entrou, determinada. Ele a recebeu com um sorriso despreocupado, mas, ao ver a seriedade em seus olhos, algo dentro dele pareceu desmoronar. Ele se sentou no sofá, confuso, enquanto permanecia de pé, sentindo que o momento havia chegado.
— Acabou, — disse , a voz saindo com uma firmeza que ela mesma não esperava.
ergueu os olhos lentamente, incapaz de acreditar no que ouvia.
— O que você disse? — Ela respirou fundo, tentando não hesitar.
— Que acabou. Nós dois, nosso noivado... tudo. — levantou-se, a raiva começando a borbulhar por trás de seu olhar magoado.
— , do que você está falando? Você não pode estar falando sério. Estamos juntos há anos! Temos um casamento para planejar, uma vida inteira pela frente!
Ela riu, mas foi um riso seco, carregado de sarcasmo.
— Uma vida inteira de quê? De você me tratando como um acessório na sua vida perfeita? De me trair e depois esperar que eu finja que nada aconteceu? — empalideceu, mas tentou se defender.
— Você disse que tinha me perdoado!
— E você realmente acreditou nisso? — rebateu, sua voz ganhando um tom de desafio. — Eu disse porque era conveniente, porque continuar com você parecia mais fácil do que enfrentar a verdade.
— E qual é a verdade? — perguntou, a raiva transparecendo. Ela deu um passo à frente, encarando-o com uma intensidade que o fez recuar.
— A verdade é que você nunca foi suficiente para mim. Eu nunca me senti confortável ao seu lado. Você é egoísta, manipulador e superficial. Eu me sentia mais sozinha estando com você do que estaria se não tivesse ninguém.
— Eu estou. — cruzou os braços, como se isso fosse proteger o que restava de sua determinação. — Você e eu... nunca fomos certos um para o outro. Eu só demorei para perceber isso.
balançou a cabeça, incrédulo. — Depois de tudo o que passamos? Agora que estamos a poucos meses do casamento? Você vai jogar tudo isso fora assim?
— "Tudo isso" o quê, ? — o interrompeu, a voz ficando mais firme. — Você nunca demonstrou qualquer tipo de sentimento sincero por mim.
— Isso não é verdade! — começou a caminhar de um lado para o outro, como se as palavras de fossem pedras que o atingiam. — Eu sempre estive aqui por você, sempre fiz de tudo para te apoiar!
— Apoiar? — riu, mas sem humor. — Você me traiu, . Você mentiu para mim, me fez acreditar que eu era tudo para você, quando, na verdade, eu não passava de uma conveniência.
Ele ficou em silêncio por um momento, o rosto endurecendo. — Você disse que tinha me perdoado.
— E eu menti — confessou, encarando-o com uma frieza que o fez dar um passo para trás. — Eu te perdoei porque era o mais fácil a se fazer, porque seguir com o casamento parecia mais prático do que encarar a verdade. Mas, não dá mais. Eu mereço algo verdadeiro, e isso não está aqui com você.
— Então está com quem, você acha que alguém vai te amar mais do que eu? — perguntou, sua voz repleta de amargura.
hesitou por um segundo, mas decidiu não mentir. — Qualquer pessoa, vai me amar mais que você.
a encarou, como se fosse a primeira vez que realmente a visse. O choque estava claro em seu rosto, misturado à mágoa e à incredulidade. — Quem é ele?
Ela não respondeu. Não podia. O nome de não podia ser pronunciado naquele momento, naquele contexto. O que ela e compartilhavam ainda era algo clandestino, algo que existia em uma realidade à parte.
— Não tem ninguém, . Você não enxerga que não precisa ter outra pessoa para eu entender que você é um péssimo namorado, péssimo noivo... O que importa é que não te amo. Nunca te amei.
— Isso é loucura — ele disse, exasperado. — Você está jogando tudo fora por um capricho? Por causa de algum romance passageiro?
— Sabe o que é mais irônico? — Ela continuou. — Eu realmente tentei. Tentei te amar, tentei ignorar tudo o que você é. Mas, a verdade é que você nunca foi digno disso.
Ela deu um passo para trás, com a mão na maçaneta.
— Isso... isso é tudo o que tem a dizer? — murmurou, finalmente parecendo derrotado.
— É. — olhou para ele uma última vez, sem remorso. — E, sinceramente, não sei por que demorei tanto.
Sem esperar resposta, ela saiu, sentindo o ar fresco bater em seu rosto como um alívio. Ela sabia que havia magoado , mas também sabia que ele merecia ouvir cada palavra.
Enquanto caminhava para longe da casa, sentiu o peso da liberdade se misturar com a expectativa do que estava por vir. Não havia mais amarras, nem mentiras para sustentar.
Agora, finalmente, ela podia seguir em direção ao que realmente desejava.
.
The Truth
O sol entrava tímido pelas cortinas entreabertas do quarto de , criando um contraste entre a penumbra acolhedora e a luz suave que tocava os móveis simples. acordou devagar, sentindo a textura dos lençóis sob sua pele, ainda imersa na sensação de segurança e calor que a noite anterior lhe trouxera.
Ela virou o rosto para observar , adormecido ao seu lado. Ele parecia tão sereno, com a respiração profunda e regular, os traços suavizados como se o peso do mundo houvesse se afastado momentaneamente. não pôde evitar um sorriso pequeno e discreto ao vê-lo assim, tão diferente do homem sério e controlado que ele era quando acordado.
Seus olhos percorreram o ambiente com mais atenção. Era um quarto modesto, mas cada detalhe parecia ter a marca de . Havia um crucifixo simples na parede, uma estante com poucos livros e uma poltrona desgastada no canto, onde ele provavelmente passava longas horas lendo ou refletindo. Tudo ali parecia falar da vida que escolhera – regrada, disciplinada, mas também solitária.
voltou o olhar para ele, sentindo o coração aquecer ao pensar em como aquele homem a fazia sentir viva. Era assustador e reconfortante ao mesmo tempo. Como alguém podia ser o centro do caos e a calmaria ao mesmo tempo?
se mexeu levemente, os olhos se abrindo devagar. Ele lhe ofereceu um sorriso leve, o tipo que sempre a desarmava, mas sentiu que havia algo mais que precisava ser dito, algo que pairava entre os dois desde a noite anterior.
Ela respirou fundo, rompendo o silêncio.
— O que você falou era verdade?
piscou algumas vezes, confuso, ainda tentando se livrar do sono.
— O que falei?
sentou-se na cama, puxando os lençóis ao redor do corpo. Não era vergonha, mas talvez uma tentativa de se proteger do peso de sua própria pergunta.
— Na primeira vez que estivemos juntos... você disse que eu era o único motivo pelo qual largaria tudo. Isso era verdade? Ou foi só... o momento?
parou, e sua expressão mudou. Ele se sentou na cama, os olhos fixos nela, como se estivesse medindo cada palavra antes de responder.
— Eu... não fui sincero quando disse isso.
As palavras caíram entre eles como uma pedra lançada em águas calmas. permaneceu quieta por um instante, absorvendo o que ele havia acabado de admitir. Não havia lágrimas, nem uma explosão de raiva – apenas um silêncio carregado de significados.
— Entendi — ela disse finalmente, sua voz baixa, mas firme.
— , não é que... — começou, mas sua tentativa de explicar foi interrompida.
— Eu sei, . É complicado, não é? — Ela não parecia acusá-lo, mas suas palavras eram carregadas de uma verdade difícil de ignorar.
suspirou, passando a mão pelos cabelos, como se estivesse tentando encontrar a forma certa de consertar o que havia acabado de quebrar.
— Não é que você não signifique nada para mim. Você sabe que significa. Mas, o que eu disse naquela noite... foi algo que eu queria acreditar. Não sei se posso largar tudo, porque... não sei quem eu seria sem isso.
o olhou por um longo momento. Não havia raiva em seus olhos, mas algo mais profundo, mais difícil de traduzir.
— Então, é isso. Você não sabe quem seria sem isso, mas também não sabe quem é comigo.
Ele desviou o olhar, como se as palavras dela o atingissem mais do que ele estava disposto a admitir.
— Não é tão simples.
Ela riu, mas era uma risada leve, quase sem alegria.
— Não, . Nunca é simples com você.
Ele queria responder, queria dizer algo que pudesse apagar a distância que se criava entre os dois, mas as palavras lhe faltaram. se levantou, pegando suas roupas com movimentos lentos e precisos. Enquanto se vestia, ele permaneceu sentado, observando-a como se cada gesto dela estivesse marcado com algo que ele temia perder.
Quando ela estava pronta, virou-se para ele na porta.
— Eu não vou te pedir para escolher, . Mas, saiba que eu já fiz escolhas difíceis por você.
E com isso, ela saiu, deixando um silêncio no quarto, onde ambos sabiam que haviam se ferido mais profundamente do que pretendiam.
fechou a porta com cuidado, mas seu coração batia como um tambor no peito. A conversa com ainda ecoava em sua mente, cada palavra carregada de um peso que ela não sabia se conseguiria carregar sozinha. O corredor estava vazio, silencioso, e por um momento ela acreditou que conseguiria sair dali sem ser notada.
Ela caminhava com passos rápidos, quase seguros, mas ao virar o corredor, deparou-se com uma figura alta e rígida. O padre Antônio, conhecido por sua postura severa e suas opiniões inflexíveis, estava parado ali, os braços cruzados sobre o peito. Seus olhos eram penetrantes, como se já soubesse de tudo o que acabara de acontecer.
— Senhorita — ele começou, sua voz fria e precisa como uma lâmina. — Que interessante encontrá-la aqui a essa hora.
sentiu o sangue gelar, mas manteve a compostura. Não era a primeira vez que enfrentava olhares julgadores, mas aquele carregava algo mais: ameaça.
— Bom dia, padre Antônio. Estava apenas conversando com .
— Conversando, claro — ele respondeu, suas palavras impregnadas de sarcasmo. — Não sabia que ele costumava receber convidadas tão cedo.
ergueu o queixo, recusando-se a ceder à provocação.
— Sou amiga dele desde a infância. Não vejo problema em conversarmos, especialmente considerando que a chuva de ontem nos prendeu aqui.
Antônio inclinou ligeiramente a cabeça, como se estivesse avaliando a veracidade da explicação dela.
— Espero que suas intenções sejam tão inocentes quanto as palavras, senhorita. é um homem comprometido com sua vocação, e seria lamentável vê-lo desviar-se por... distrações mundanas.
A insinuação era clara, e sentiu a raiva borbulhar sob sua pele. Ela deu um passo à frente, seus olhos fixos nos dele.
— Eu sugiro que tome cuidado com suas palavras, padre. Não gostaria que suas suposições injustas manchassem a reputação de ninguém. — respondeu, sua voz firme, mas controlada.
Por um instante, Antônio pareceu surpreso com a ousadia dela, mas logo se recompôs.
— Meu dever é proteger a Igreja e aqueles que dedicam suas vidas a ela. é jovem, e jovens podem ser... facilmente influenciados.
deu um leve sorriso, mas seus olhos brilhavam com determinação.
— Não se preocupe, padre. sabe muito bem o que quer e no que acredita. Não sou eu quem o fará se desviar disso.
— tem uma vocação a zelar, uma missão sagrada que não pode ser comprometida. Já ouvi rumores demais para ignorar, e agora vejo com meus próprios olhos que não são apenas boatos.
sentiu o estômago revirar, mas manteve a expressão firme.
— Não sei do que está falando — respondeu, tentando soar indiferente.
— Não subestime a inteligência das pessoas desta comunidade, . Elas veem mais do que você imagina. E se isso continuar... bem, não terei escolha a não ser levar o assunto à atenção da igreja.
A ameaça pairou no ar como uma tempestade iminente. respirou fundo, mantendo o olhar fixo no dele.
— E o que exatamente o senhor acha que viu, padre? — perguntou, com um leve desafio na voz.
Antônio estreitou os olhos.
— Não se faça de desentendida. Se continuar aparecendo nos quartos privados, sussurrando nos corredores, sendo vista onde não deveria estar... será impossível esconder.
sentiu uma onda de raiva crescer, mas a controlou com esforço.
— Com todo respeito, padre, minha relação com é uma questão pessoal. E se não há provas do que o senhor está insinuando, talvez seja melhor evitar difamar pessoas sem motivos.
Antônio deu um sorriso frio, sem humor.
— Não subestime o peso de um escândalo, . Você pode não se importar com sua reputação, mas será o mais atingido. Pense no que isso significaria para ele, para o trabalho que dedicou sua vida a construir.
Aquela última frase foi um golpe certeiro. sentiu o sangue ferver, mas sabia que o padre tinha razão em uma coisa: seria o alvo principal de qualquer julgamento.
— E o que o senhor sugere, então? Que eu simplesmente desapareça? — perguntou, sua voz carregada de sarcasmo.
Antônio se aproximou mais, a expressão implacável.
— Afaste-se de . Se você realmente se importa com ele, é o melhor a fazer. Caso contrário, eu não terei escolha a não ser informar a igreja e, inevitavelmente, a comunidade.
sentiu o coração apertar, mas não deixou transparecer.
— Isso é uma ameaça?
— É um aviso. Um conselho para o bem de todos os envolvidos.
Sem esperar por resposta, Antônio se afastou, deixando-a sozinha no corredor.
Continua...
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