Capítulo 1
Eu estava sentada no meu quarto, observando pela janela as gotas de chuva que caíam simultaneamente. Ao fundo, a T.V anunciava as diversas teorias malucas sobre o fim do mundo. Eu disse maluca? Sim! Muito malucas. Não é que eu não acredite nessa história de que o mundo irá acabar, mas também não é que eu acredite... Só acho que o mundo está acabando aos poucos e que não vai ser nada como estão pensando os cientistas e religiosos, tipo o mundo acabando em fogo ou em água, ou em uma explosão, quem sabe.
Explosão... Explosão! Sabe, até que não seria uma má idéia o mundo explodir, eu estava tão cansada e esgotada carregando bagagens de problemas pesados da vida que seria fácil se as coisas simplesmente puff, explodissem.
Olhei para o relógio alguns instantes, e depois voltei minha atenção para a chuva que ainda caía insistentemente, molhando as diversas pessoas que passavam desprotegidas pela rua. Fechei os olhos, encostei minha cabeça no vidro da janela e tentei esvaziar a mente, mas era tão difícil e desgastante, pois toda vez que eu fazia isso, ou pelo menos tentava, as lembranças me vinham à mente, lembranças de um passado feliz, de amigos incríveis e de um amor perfeito.
As coisas haviam mudado desde os meus dezesseis anos, as pessoas haviam mudado, eu havia mudado, mas mesmo assim dois sentimentos em mim continuaram iguais a como eram quatro anos antes, o amor e o arrependimento... A consequência do amor era a saudade, e a consequência do arrependimento eram as noites mal dormidas que eu tinha quando acordava às 2hrs da manhã me perguntando onde ele estaria ou o que poderia estar fazendo. Tá certo que às 2hrs da manhã ele provavelmente estaria na casa dele dormindo, mas isso é só um detalhe.
Ouvi passos no corredor.
Toc... Toc... Toc…
Ao ouvir o barulho na porta, abri os olhos repentinamente e balancei a cabeça, a fim de espantar meus pensamentos.
– Pode entrar – eu disse, me levantando e indo para frente da penteadeira. Meu cabelo precisava ser penteado urgentemente, antes que ganhasse vida própria.
– Olá, querida, vim te chamar para o jantar – Minha mãe disse gentilmente, me observando da porta.
– Não estou com muita fome – respondi mecanicamente, enquanto pegava minha escova e passava pelos meus cabelos.
– Está começando de novo, – minha mãe disse, entrando no quarto e fechando a porta. Ela parou atrás de mim e pegou a escova das minhas mãos.
– Não sei do que você está falando – respondi.
– Sabe, sim... Você está de férias agora e com muito tempo livre, e não está se divertindo, você está parando de novo, eu não sei o que acontece com você – ela ia dizendo enquanto passava a escova pelos meus cachos, que caíam como cascata pelos meus ombros.
– Só estou descansando, mãe.
– Não é só isso, toda a vez que você fica com muito tempo livre você acaba se apagando, é como se lembrasse de algo que a congelasse no tempo.
Essas palavras que ela disse me cortaram gelidamente. Respirei fundo e comecei a mexer nas maquiagens esparramadas na minha frente, tentando não olhar pro espelho. Era mais fácil mentir quando não se encarava as pessoas.
– Impressão sua, mãe, eu estou bem – respondi, soltando um sorriso em seguida.
– Tudo bem, querida. – Ela não parecia muito convencida, mas não podia fazer mais nada por ora. – Vou descer e te espero lá embaixo em cinco minutos, ok? Já vou servir o jantar. – Ela me entregou a escova e saiu por fim.
Mamãe estava certa. Era como se eu estivesse congelada no tempo, vivendo de pura inércia. Terminei de me arrumar calmamente, evitando qualquer tipo de pensamento que pudesse aparecer agora, espirrei perfume e me levantei, desligando finalmente a T.V que já estava me irritando de tanto noticiar sobre o fim do mundo. Fala sério, se eles acreditassem mesmo no fim do mundo iriam aproveitar o tempo que ainda tinham, e não ficar aí, relatando fatos de uma população que já morreu havia séculos.
Saí do quarto, fechando a porta atrás de mim quando ouvi a campainha tocar. Parei e esperei, e segundos depois risos invadiram o andar de baixo, animação! Eu conhecia muito bem aquela risada, e ao ouvi-las um sorriso enorme apareceu no meu rosto como mágica, e disparei pelo corredor, descendo as escadas rapidamente.
– ! – gritei assim que a vi toda molhada por causa da chuva, mas com o mesmo olhar de sempre, cheio de vida.
– ! – Ela disse, vindo ao meu encontro no pé da escada e me abraçando, sem se importar se me molharia ou não, e quer saber? Realmente não importava, ela poderia me molhar o quanto quisesse, eu tinha tanta saudades.
– Minha nossa, como você está linda – ela dizia enquanto mexia no meu cabelo. – E que peitões, hein? – disse com seus típicos sorrisos maliciosos e divertidos, e foi quando meu pai pigarreou. – Desculpe, senhor Carter, como vai? – ela falou, se dirigindo a ele.
– Eu vou bem, , e você, querida?
– Eu também – ela respondeu, e realmente estava bem. Ela irradiava alegria.
– O que você está fazendo aqui? – perguntei.
– Nossa, eu venho ver você e é isso que eu recebo, ? Um “o que você está fazendo aqui?” – ela disse, tentando se mostrar o mais dramática possível, e depois logo caiu na gargalhada.
– Sua tonta, sabe que estou brincando – eu falei, abraçando-a. – Vamos pro meu quarto, você precisa trocar de roupa.
– Sim senhora! – ela disse rindo, pegando sua mala. E então subimos.
Explosão... Explosão! Sabe, até que não seria uma má idéia o mundo explodir, eu estava tão cansada e esgotada carregando bagagens de problemas pesados da vida que seria fácil se as coisas simplesmente puff, explodissem.
Olhei para o relógio alguns instantes, e depois voltei minha atenção para a chuva que ainda caía insistentemente, molhando as diversas pessoas que passavam desprotegidas pela rua. Fechei os olhos, encostei minha cabeça no vidro da janela e tentei esvaziar a mente, mas era tão difícil e desgastante, pois toda vez que eu fazia isso, ou pelo menos tentava, as lembranças me vinham à mente, lembranças de um passado feliz, de amigos incríveis e de um amor perfeito.
As coisas haviam mudado desde os meus dezesseis anos, as pessoas haviam mudado, eu havia mudado, mas mesmo assim dois sentimentos em mim continuaram iguais a como eram quatro anos antes, o amor e o arrependimento... A consequência do amor era a saudade, e a consequência do arrependimento eram as noites mal dormidas que eu tinha quando acordava às 2hrs da manhã me perguntando onde ele estaria ou o que poderia estar fazendo. Tá certo que às 2hrs da manhã ele provavelmente estaria na casa dele dormindo, mas isso é só um detalhe.
Ouvi passos no corredor.
Toc... Toc... Toc…
Ao ouvir o barulho na porta, abri os olhos repentinamente e balancei a cabeça, a fim de espantar meus pensamentos.
– Pode entrar – eu disse, me levantando e indo para frente da penteadeira. Meu cabelo precisava ser penteado urgentemente, antes que ganhasse vida própria.
– Olá, querida, vim te chamar para o jantar – Minha mãe disse gentilmente, me observando da porta.
– Não estou com muita fome – respondi mecanicamente, enquanto pegava minha escova e passava pelos meus cabelos.
– Está começando de novo, – minha mãe disse, entrando no quarto e fechando a porta. Ela parou atrás de mim e pegou a escova das minhas mãos.
– Não sei do que você está falando – respondi.
– Sabe, sim... Você está de férias agora e com muito tempo livre, e não está se divertindo, você está parando de novo, eu não sei o que acontece com você – ela ia dizendo enquanto passava a escova pelos meus cachos, que caíam como cascata pelos meus ombros.
– Só estou descansando, mãe.
– Não é só isso, toda a vez que você fica com muito tempo livre você acaba se apagando, é como se lembrasse de algo que a congelasse no tempo.
Essas palavras que ela disse me cortaram gelidamente. Respirei fundo e comecei a mexer nas maquiagens esparramadas na minha frente, tentando não olhar pro espelho. Era mais fácil mentir quando não se encarava as pessoas.
– Impressão sua, mãe, eu estou bem – respondi, soltando um sorriso em seguida.
– Tudo bem, querida. – Ela não parecia muito convencida, mas não podia fazer mais nada por ora. – Vou descer e te espero lá embaixo em cinco minutos, ok? Já vou servir o jantar. – Ela me entregou a escova e saiu por fim.
Mamãe estava certa. Era como se eu estivesse congelada no tempo, vivendo de pura inércia. Terminei de me arrumar calmamente, evitando qualquer tipo de pensamento que pudesse aparecer agora, espirrei perfume e me levantei, desligando finalmente a T.V que já estava me irritando de tanto noticiar sobre o fim do mundo. Fala sério, se eles acreditassem mesmo no fim do mundo iriam aproveitar o tempo que ainda tinham, e não ficar aí, relatando fatos de uma população que já morreu havia séculos.
Saí do quarto, fechando a porta atrás de mim quando ouvi a campainha tocar. Parei e esperei, e segundos depois risos invadiram o andar de baixo, animação! Eu conhecia muito bem aquela risada, e ao ouvi-las um sorriso enorme apareceu no meu rosto como mágica, e disparei pelo corredor, descendo as escadas rapidamente.
– ! – gritei assim que a vi toda molhada por causa da chuva, mas com o mesmo olhar de sempre, cheio de vida.
– ! – Ela disse, vindo ao meu encontro no pé da escada e me abraçando, sem se importar se me molharia ou não, e quer saber? Realmente não importava, ela poderia me molhar o quanto quisesse, eu tinha tanta saudades.
– Minha nossa, como você está linda – ela dizia enquanto mexia no meu cabelo. – E que peitões, hein? – disse com seus típicos sorrisos maliciosos e divertidos, e foi quando meu pai pigarreou. – Desculpe, senhor Carter, como vai? – ela falou, se dirigindo a ele.
– Eu vou bem, , e você, querida?
– Eu também – ela respondeu, e realmente estava bem. Ela irradiava alegria.
– O que você está fazendo aqui? – perguntei.
– Nossa, eu venho ver você e é isso que eu recebo, ? Um “o que você está fazendo aqui?” – ela disse, tentando se mostrar o mais dramática possível, e depois logo caiu na gargalhada.
– Sua tonta, sabe que estou brincando – eu falei, abraçando-a. – Vamos pro meu quarto, você precisa trocar de roupa.
– Sim senhora! – ela disse rindo, pegando sua mala. E então subimos.
Capítulo 2
era minha melhor amiga desde o ensino fundamental. Nos conhecemos em um passeio no museu de história natural, éramos da mesma turma, porém parecíamos habitar um mundo totalmente diferente, até que a professora de história, Rachel, nos sorteou para um trabalho em dupla, e, ah, fomos uma ótima dupla; aliás, SOMOS uma ótima dupla. Ela era espontânea e extrovertida, tinha a alegria como o que há de mais importante na vida. Fizemos loucuras no ensino médio e tínhamos muitas histórias para contar. Depois do ensino médio, foi para a Columbia, em NY, cursar Biologia, e eu havia ficado em Londres cursando direito. Mas nada disso importava no momento, agora ela estava ali.
– Vai ficar aí me olhando, é? – ela perguntou enquanto trocava de blusa. – Eu sei que eu sou linda, mas não precisa me tarar.
– Como sempre convencida, realmente você não mudou nada – eu disse rindo. – E você não vai me contar porque está aqui? – perguntei com meu melhor olhar de “xeque-mate”.
– Eu infelizmente ainda não sei dizer se você mudou, e nem se mudar seria algo bom ou ruim no seu caso, mas enfim... Não posso querer visitar minha amiga nas férias? Desnaturada.
– Eu, desnaturada, ? – sorri. Apesar de saber o que ela queria dizer sobre mudanças, preferi ignorar. – Senti muito a sua falta!
– Eu também – ela disse, chegando perto e colocando algo em minhas mãos. Era uma pulseira de couro sintético branca, com as iniciais PSOF, que significavam “para sempre onde formos”. Usamos durante todo o ensino médio. Foi um presente dado pelo Dougie, nosso chaveirinho; era assim que chamávamos um dos nossos grandes amigos. Enquanto e eu formávamos uma bela dupla “sozinhas”, junto com ,, e formávamos uma equipe melhor ainda, e foi no verão de 2010 que havia nos dado a pulseira, depois de um show que ele e os meninos fizeram num pub pequeno de Londres.
Eles tinham uma banda chamada Mcfly, e eram ótimos, acreditem! Tocavam com a alma, com o coração e com todas as demais vísceras do corpo. Era verão e eles tinham conseguido um público legal e ganhado uma grana boa, e então, para comemorar, nós pegamos o carro e fomos para o apartamento do . Após algumas garrafas de tequila (e alguns amassos quentes da com o ), nos reuniu e fez um daqueles discursos emocionantes de orador de turma bêbado no final de formatura, e então nos entregou a pulseira, para que usássemos como uma lembrança daquele ano e dos anos anteriores, que foi tão especial para todos nós. E por algum tempo eu usei.
– ... – Eu tentei afastar minha mão, mas ela me segurava e não me deixava soltar a pulseira.
– Eu só achei que você podia voltar a usar, por favor – ela dizia, e isso soava como se ela estivesse implorando, o que era muito estranho vindo dela. – Pelo , pela gente e pelas lembranças.
– Eu tento me livrar das lembranças todos os dias, – eu respondi séria, e senti que meus olhos ardiam. Talvez fossem lágrimas.
– , são tantas lembranças boas… – ela dizia docemente.
– Mas são as ruins que ainda me tiram o sono no meio da noite, que me fazem chorar, que me deixaram por meses sem ouvir uma música ou assistir um filme. Você não entende.
– Não, você tem razão, ... Eu não entendo, mas você sabe o que eu entendo? Que a nossa amizade e a dos meninos com a gente foi a coisa mais linda que já aconteceu. Poxa, ... vem cá, quero te mostrar uma coisa. – Ela me pegou pela mão e juntas nós nos sentamos no chão, perto da cama.
puxou sua mala para mais perto, era preta com bordados coloridos, bem do jeito que ela gostava. Ao abrir a mala, as roupas estavam todas reviradas, e ela revirou mais ainda quando por fim encontrou e retirou do fundo uma caixinha lilás, feita de madeira e artesanalmente.
– Pronto, achei você – ela disse sorridente, pegando a caixinha e fechando a mala.
– O que é isso? – perguntei curiosa, eu nunca tinha visto aquela caixa antes, mas ao mesmo tempo me parecia algo bem familiar.
– Minha caixinha da vida – ela disse pensativa, enquanto a olhava e passava os dedos por ela, como se sentisse ou pensasse em algo muito distante dali.
– Hum, interessante – eu respondi. – Mas ainda não sei exatamente o que é.
– Olhe – ela disse abrindo a caixinha –, aqui tem toda a nossa história, de uma forma resumida, digamos assim. – Ela me entregou a caixa aberta para eu mesma poder ver.
Fiquei em silêncio enquanto revirava seu conteúdo. Lá dentro tinha recibos de passagens antigas de quando íamos ver os meninos tocar nas cidades vizinhas, e cada recibo tinha uma data e o local do show, escritos em cor-de-rosa. Havia um colar de flores, que eu tinha certeza que era do baile da escola do nosso segundo ano; o tema fora Havaí, e eu mesma havia feito os colares. Tinha uma embalagem de chiclete que, segundo a , era o chiclete que o comprou quando os dois deram o primeiro beijo, bem romântico, né? E, ah, havia fotos... Muitas fotos. Peguei uma em que estávamos apenas eu e a , em uma daquelas montanhas russas em que uma máquina instalada tira fotos dos passageiros. E, olha, tenho que dizer, essa foto pegou nossa melhor pose, os cabelos todos bagunçados e a nossa careta seria capaz de espantar baratas, ratos e camundongos... Virei a foto e atrás estava escrito assim: “Por mais que a nossa barriga fique gelada, a emoção final vale a pena”. É, era eu quem havia escrito aquilo e dado a foto pra antes de ela se mudar. E agora eu me perguntava onde estava a que havia escrito aquilo... que pensava daquela forma.
– É, eu também sempre gostei dessa foto – disse, me dispersando do transe. – Olhe, tem mais no fundo.
Eu apenas assenti.
Retirei mais uma foto. Estávamos nós seis na praia, em uma viagem feita para o interior. estava de shorts e usando a parte de cima de um biquíni enquanto abraçava a , que ria enquanto o encarava. estava com uma garrafa de tequila e virava seu conteúdo na boca do , que estava ajoelhado ao seu lado, todo vermelho por causa do sol... e eu? Bom, eu estava montada de cavalinho nas costas do . Eu sorria e ele também. Ah, como éramos felizes juntos.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas e então fechei a caixinha.
– Você não vai ver o resto? – perguntou enquanto tentava abrir a caixa novamente.
– Não, já vi o suficiente – eu respondi, tentando espantar as lembranças pra lá. – Vamos conversar, me conte como está indo em NY e as coisas que tem feito.
– Você sabe de tudo, conversamos todos os dias por e-mail – ela disse, fazendo a maior cara de óbvia.
– Eu sei, é que pessoalmente é mais emocionante – eu falei, dando uma piscadela pra ela, que começou a rir. Por alguns segundos rimos juntas, até ela ficar séria novamente.
– O que tem nessa sua cabecinha? – perguntei.
– Eu só estava pensando – ela disse enquanto mexia no zíper da blusa.
– Sobre?
– Você acredita no fim do mundo? – ela perguntou séria, me encarando.
– Não.
– Nem um pouco? – insistiu.
– Não... por um acaso você acredita?
– Não exatamente – ela fez uma pausa, tentando achar as palavras certas. – Só fico pensando que, se for mesmo verdade, eu devia usar o último dia como uma forma de fazer algo único.
– Único como? – perguntei curiosa.
– Fazer algo que me deixe muito feliz, fazer algo que eu nunca fiz ou....
– Ou?
– Acertar questões do passado.
– Ah, ... se você está insinuando que…
– Não estou insinuando nada, , só pensa comigo... Se o mundo acabar mesmo, você não gostaria de acertar as coisas? De viver um dia plenamente feliz de novo?
Fiquei quieta por algum tempo, mas eu sabia que ela iria continuar insistindo com aquilo, então achei melhor levá-la a sério e responder.
– Viver um dia plenamente feliz eu não sei, ... Mas eu gostaria de acertar as coisas – respondi olhando para ela, e ela sabia bem de que coisas eu estava falando.
– Foi por isso que eu vim, , pra acertarmos as contas antes que o “mundo acabe”.
– Mas o mundo não vai acabar, .
– Então finja que vai, oras...
– Parece que você quer usar o fim do mundo como uma desculpa pra consertarmos erros passados.
– Não como uma desculpa, e sim como um incentivo. Pensa nisso, .
– Tudo bem, eu vou pensar.
– Vai ficar aí me olhando, é? – ela perguntou enquanto trocava de blusa. – Eu sei que eu sou linda, mas não precisa me tarar.
– Como sempre convencida, realmente você não mudou nada – eu disse rindo. – E você não vai me contar porque está aqui? – perguntei com meu melhor olhar de “xeque-mate”.
– Eu infelizmente ainda não sei dizer se você mudou, e nem se mudar seria algo bom ou ruim no seu caso, mas enfim... Não posso querer visitar minha amiga nas férias? Desnaturada.
– Eu, desnaturada, ? – sorri. Apesar de saber o que ela queria dizer sobre mudanças, preferi ignorar. – Senti muito a sua falta!
– Eu também – ela disse, chegando perto e colocando algo em minhas mãos. Era uma pulseira de couro sintético branca, com as iniciais PSOF, que significavam “para sempre onde formos”. Usamos durante todo o ensino médio. Foi um presente dado pelo Dougie, nosso chaveirinho; era assim que chamávamos um dos nossos grandes amigos. Enquanto e eu formávamos uma bela dupla “sozinhas”, junto com ,, e formávamos uma equipe melhor ainda, e foi no verão de 2010 que havia nos dado a pulseira, depois de um show que ele e os meninos fizeram num pub pequeno de Londres.
Eles tinham uma banda chamada Mcfly, e eram ótimos, acreditem! Tocavam com a alma, com o coração e com todas as demais vísceras do corpo. Era verão e eles tinham conseguido um público legal e ganhado uma grana boa, e então, para comemorar, nós pegamos o carro e fomos para o apartamento do . Após algumas garrafas de tequila (e alguns amassos quentes da com o ), nos reuniu e fez um daqueles discursos emocionantes de orador de turma bêbado no final de formatura, e então nos entregou a pulseira, para que usássemos como uma lembrança daquele ano e dos anos anteriores, que foi tão especial para todos nós. E por algum tempo eu usei.
– ... – Eu tentei afastar minha mão, mas ela me segurava e não me deixava soltar a pulseira.
– Eu só achei que você podia voltar a usar, por favor – ela dizia, e isso soava como se ela estivesse implorando, o que era muito estranho vindo dela. – Pelo , pela gente e pelas lembranças.
– Eu tento me livrar das lembranças todos os dias, – eu respondi séria, e senti que meus olhos ardiam. Talvez fossem lágrimas.
– , são tantas lembranças boas… – ela dizia docemente.
– Mas são as ruins que ainda me tiram o sono no meio da noite, que me fazem chorar, que me deixaram por meses sem ouvir uma música ou assistir um filme. Você não entende.
– Não, você tem razão, ... Eu não entendo, mas você sabe o que eu entendo? Que a nossa amizade e a dos meninos com a gente foi a coisa mais linda que já aconteceu. Poxa, ... vem cá, quero te mostrar uma coisa. – Ela me pegou pela mão e juntas nós nos sentamos no chão, perto da cama.
puxou sua mala para mais perto, era preta com bordados coloridos, bem do jeito que ela gostava. Ao abrir a mala, as roupas estavam todas reviradas, e ela revirou mais ainda quando por fim encontrou e retirou do fundo uma caixinha lilás, feita de madeira e artesanalmente.
– Pronto, achei você – ela disse sorridente, pegando a caixinha e fechando a mala.
– O que é isso? – perguntei curiosa, eu nunca tinha visto aquela caixa antes, mas ao mesmo tempo me parecia algo bem familiar.
– Minha caixinha da vida – ela disse pensativa, enquanto a olhava e passava os dedos por ela, como se sentisse ou pensasse em algo muito distante dali.
– Hum, interessante – eu respondi. – Mas ainda não sei exatamente o que é.
– Olhe – ela disse abrindo a caixinha –, aqui tem toda a nossa história, de uma forma resumida, digamos assim. – Ela me entregou a caixa aberta para eu mesma poder ver.
Fiquei em silêncio enquanto revirava seu conteúdo. Lá dentro tinha recibos de passagens antigas de quando íamos ver os meninos tocar nas cidades vizinhas, e cada recibo tinha uma data e o local do show, escritos em cor-de-rosa. Havia um colar de flores, que eu tinha certeza que era do baile da escola do nosso segundo ano; o tema fora Havaí, e eu mesma havia feito os colares. Tinha uma embalagem de chiclete que, segundo a , era o chiclete que o comprou quando os dois deram o primeiro beijo, bem romântico, né? E, ah, havia fotos... Muitas fotos. Peguei uma em que estávamos apenas eu e a , em uma daquelas montanhas russas em que uma máquina instalada tira fotos dos passageiros. E, olha, tenho que dizer, essa foto pegou nossa melhor pose, os cabelos todos bagunçados e a nossa careta seria capaz de espantar baratas, ratos e camundongos... Virei a foto e atrás estava escrito assim: “Por mais que a nossa barriga fique gelada, a emoção final vale a pena”. É, era eu quem havia escrito aquilo e dado a foto pra antes de ela se mudar. E agora eu me perguntava onde estava a que havia escrito aquilo... que pensava daquela forma.
– É, eu também sempre gostei dessa foto – disse, me dispersando do transe. – Olhe, tem mais no fundo.
Eu apenas assenti.
Retirei mais uma foto. Estávamos nós seis na praia, em uma viagem feita para o interior. estava de shorts e usando a parte de cima de um biquíni enquanto abraçava a , que ria enquanto o encarava. estava com uma garrafa de tequila e virava seu conteúdo na boca do , que estava ajoelhado ao seu lado, todo vermelho por causa do sol... e eu? Bom, eu estava montada de cavalinho nas costas do . Eu sorria e ele também. Ah, como éramos felizes juntos.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas e então fechei a caixinha.
– Você não vai ver o resto? – perguntou enquanto tentava abrir a caixa novamente.
– Não, já vi o suficiente – eu respondi, tentando espantar as lembranças pra lá. – Vamos conversar, me conte como está indo em NY e as coisas que tem feito.
– Você sabe de tudo, conversamos todos os dias por e-mail – ela disse, fazendo a maior cara de óbvia.
– Eu sei, é que pessoalmente é mais emocionante – eu falei, dando uma piscadela pra ela, que começou a rir. Por alguns segundos rimos juntas, até ela ficar séria novamente.
– O que tem nessa sua cabecinha? – perguntei.
– Eu só estava pensando – ela disse enquanto mexia no zíper da blusa.
– Sobre?
– Você acredita no fim do mundo? – ela perguntou séria, me encarando.
– Não.
– Nem um pouco? – insistiu.
– Não... por um acaso você acredita?
– Não exatamente – ela fez uma pausa, tentando achar as palavras certas. – Só fico pensando que, se for mesmo verdade, eu devia usar o último dia como uma forma de fazer algo único.
– Único como? – perguntei curiosa.
– Fazer algo que me deixe muito feliz, fazer algo que eu nunca fiz ou....
– Ou?
– Acertar questões do passado.
– Ah, ... se você está insinuando que…
– Não estou insinuando nada, , só pensa comigo... Se o mundo acabar mesmo, você não gostaria de acertar as coisas? De viver um dia plenamente feliz de novo?
Fiquei quieta por algum tempo, mas eu sabia que ela iria continuar insistindo com aquilo, então achei melhor levá-la a sério e responder.
– Viver um dia plenamente feliz eu não sei, ... Mas eu gostaria de acertar as coisas – respondi olhando para ela, e ela sabia bem de que coisas eu estava falando.
– Foi por isso que eu vim, , pra acertarmos as contas antes que o “mundo acabe”.
– Mas o mundo não vai acabar, .
– Então finja que vai, oras...
– Parece que você quer usar o fim do mundo como uma desculpa pra consertarmos erros passados.
– Não como uma desculpa, e sim como um incentivo. Pensa nisso, .
– Tudo bem, eu vou pensar.
Capítulo 3
Depois da conversa que tivemos, ficamos conversando sobre coisas bobas e fúteis do dia a dia, como qualquer garota normal que não vê a amiga há tempos. Comemos o risoto de camarão que a minha mãe havia preparado e depois subimos novamente para o quarto, onde ouvimos músicas, cantamos e ainda assistimos “segunda chance para o amor”, ou seja, um filme bem sugestivo para o momento. Era pouco mais de 3 horas da manhã quando caiu de sono, literalmente, no meio de uma conversa sobre a diferença de preços de cosméticos, que estavam muito mais baratos nos Estados Unidos. E era óbvio que eu deixei bem claro que ia fazer uma listinha para ela me trazer todos na próxima vez que viesse me visitar. Ela estava cansada da viagem e por isso dormia como um neném. Eu tentei dormir, mas não conseguia, me revirei na cama por alguns minutos quando resolvi descer para comer. Assaltar a geladeira de madrugada era uma das minhas especialidades. Ao passar pela penteadeira, notei que a caixinha lilás da estava lá. Hesitei por alguns instantes, mas resolvi pegá-la. Fechei a porta em silêncio e desci para o andar de baixo.
Vasculhando a geladeira, achei um pedaço enorme de torta de chocolate cheinha de cerejas, só pra mim... Retirei o plástico e me sentei no balcão. Enquanto eu comia algumas garfadas, abri a caixinha novamente, passando os olhos e analisando o que eu já havia visto antes de deixá-los de lado. Mas lá no fundo havia mais fotos, e ah... Minha barriga gelou e eu perdi a fome, sendo tomada por uma espécie de ansiedade que eu não sabia de onde estava vindo. Retirei as fotos para vê-las e lá estava eu, com um vestido branco todo de renda, segurando uma taça de champanhe, e ao meu lado me beijava docemente na bochecha. Eu me lembrava bem daquele dia, havia tirado a foto, era ano novo de 2009 para 2010, e a festa era na casa do . Ao virar a foto, vi que tinha algo escrito, e era a letra do , nosso querido fotógrafo da noite. “ e – Eleitos por mim o casal do ano, e de todos os outros também.”
Ah, como será que aquela foto havia parado ali? Eu achei que a tivesse jogado fora. Mas não importava mais, pois eu tinha acabado de ver a foto que estava embaixo. Era minha e só minha. Cabelos soltos, maquiagem leve e um lindo sorriso, era uma foto apenas de rosto, e eu estava realmente muito bonita aos meus 17 anos. adorava aquela foto. Virei ela e vi a música... Aquela que ele havia escrito pra mim e que era tão linda. Fechei os olhos, e era como se eu pudesse ouvi-lo cantando, sim... Ele cantou pra mim aquela música numa tarde de primavera, sentados na varanda como o casal feliz que éramos.
Some people laugh, some people cry, some people live, some people die
(Algumas pessoas riem, algumas pessoas choram, algumas pessoas vivem, algumas pessoas morrem)
Some people run right into the fire… Some people hide their every desire
(Algumas pessoas correm direto para o fogo, algumas pessoas se escondem de seus desejos)
But we are the lovers if you don't believe me, then just look into my eyes 'cause the heart never lies
(Mas nós somos amantes e se você acredita em mim, então olhe dentro dos meus olhos porque o coração nunca mente)
Some people fight, some people fall …Others pretend they don't care at all. If you want to fight I'll stand right beside you, the day that you fall I'll be right behind you.
(Algumas pessoas lutam, algumas pessoas caem… Outras fingem não ligar pra nada. Se você quiser lutar, eu ficarei ao seu lado, no dia que você cair eu estarei bem atrás de você)
To pick up the pieces if you don't believe me. Just look into my eyes 'cause the heart never lies
(Pra recolher os pedaços, se você acreditar em mim. Olhe dentro dos meus olhos, porque o coração nunca mente.)
Another year over and we're still together, it's not always easy, but I'm here forever
(Outro ano se passou e nós ainda estamos juntos, nem sempre é fácil, mas eu estou aqui para sempre)
Yeah we are the lovers, I know you believe me When you look into my eyes Because the heart never lies
(Nós somos os amantes, eu sei que você acredita em mim, porque o coração nunca mente)
Vasculhando a geladeira, achei um pedaço enorme de torta de chocolate cheinha de cerejas, só pra mim... Retirei o plástico e me sentei no balcão. Enquanto eu comia algumas garfadas, abri a caixinha novamente, passando os olhos e analisando o que eu já havia visto antes de deixá-los de lado. Mas lá no fundo havia mais fotos, e ah... Minha barriga gelou e eu perdi a fome, sendo tomada por uma espécie de ansiedade que eu não sabia de onde estava vindo. Retirei as fotos para vê-las e lá estava eu, com um vestido branco todo de renda, segurando uma taça de champanhe, e ao meu lado me beijava docemente na bochecha. Eu me lembrava bem daquele dia, havia tirado a foto, era ano novo de 2009 para 2010, e a festa era na casa do . Ao virar a foto, vi que tinha algo escrito, e era a letra do , nosso querido fotógrafo da noite. “ e – Eleitos por mim o casal do ano, e de todos os outros também.”
Ah, como será que aquela foto havia parado ali? Eu achei que a tivesse jogado fora. Mas não importava mais, pois eu tinha acabado de ver a foto que estava embaixo. Era minha e só minha. Cabelos soltos, maquiagem leve e um lindo sorriso, era uma foto apenas de rosto, e eu estava realmente muito bonita aos meus 17 anos. adorava aquela foto. Virei ela e vi a música... Aquela que ele havia escrito pra mim e que era tão linda. Fechei os olhos, e era como se eu pudesse ouvi-lo cantando, sim... Ele cantou pra mim aquela música numa tarde de primavera, sentados na varanda como o casal feliz que éramos.
(Algumas pessoas riem, algumas pessoas choram, algumas pessoas vivem, algumas pessoas morrem)
Some people run right into the fire… Some people hide their every desire
(Algumas pessoas correm direto para o fogo, algumas pessoas se escondem de seus desejos)
But we are the lovers if you don't believe me, then just look into my eyes 'cause the heart never lies
(Mas nós somos amantes e se você acredita em mim, então olhe dentro dos meus olhos porque o coração nunca mente)
Some people fight, some people fall …Others pretend they don't care at all. If you want to fight I'll stand right beside you, the day that you fall I'll be right behind you.
(Algumas pessoas lutam, algumas pessoas caem… Outras fingem não ligar pra nada. Se você quiser lutar, eu ficarei ao seu lado, no dia que você cair eu estarei bem atrás de você)
To pick up the pieces if you don't believe me. Just look into my eyes 'cause the heart never lies
(Pra recolher os pedaços, se você acreditar em mim. Olhe dentro dos meus olhos, porque o coração nunca mente.)
Another year over and we're still together, it's not always easy, but I'm here forever
(Outro ano se passou e nós ainda estamos juntos, nem sempre é fácil, mas eu estou aqui para sempre)
Yeah we are the lovers, I know you believe me When you look into my eyes Because the heart never lies
(Nós somos os amantes, eu sei que você acredita em mim, porque o coração nunca mente)