Capítulo 1
Eu estou dirigindo, os meus dedos estão esbranquiçados por conta da força que coloco neles sobre o volante. Acho que é uma forma que encontro de tentar dispersar minha ansiedade
Meus olhos estão um pouco ressecados pelo tempo indevido que os mantenho aberto tentando focar na pista à minha frente. Quando chega em uma bifurcação na estrada, é quase extintivo entro no caminho que me leva a onde não quero estar…A cadeia
Conforme me aproximo do prédio, meu coração começa a bater mais forte, um tipo de zunido surge ao fundo do meu ouvido, prendo o ar nos pulmões com certo medo que eles me abandonem
Eu estaciono um pouco afastada da entrada principal, eu apenas quero checar, ter certeza de que ele vai sair bem, porém de que não irá me procurar
Então após algumas figuras indecifráveis passarem por aquele grande portão de metal, surge um rosto “familiar”. Digo isso, porque desde a última vez que nos vimos ele parece mais velho, tem algumas rugas, grandes bolsas roxas abaixo do olho e o seu cabelo antes sedoso, agora parece desgrenhado
O encaro por tempo suficiente para ele ter a sensação de que está sendo observado, porque de alguma forma ele olha para os lados buscando da onde vem. Em um gesto rápido me abaixo atrás do volante, tentando me esconder de um dia quem eu amei com todo meu coração
É o fim… Não tem o que ser feito, rapidamente ligo o carro e saio dali. Acabou, ele cumpriu pelo que fez a mim, mas é difícil compreender que alguém que um dia te prometeu um futuro brilhante, foi a pessoa que te deu um futuro de dor
Me pergunto desde a noite daquele crime, por que você nos uniu destino? Era para isso, para eu conhecer o amor, para me sentir amada e tudo isso me ser retirado? Naquele dia devo confessar que perdi dois homens da minha vida, mas perante todos eu pude apenas sofrer pela perda de um. Chorei porque perdi o homem que me criou, mas também perdi o homem que me ensinou o que era amor. Eu sou uma pessoa ruim por ter amado o null?
null Salvatore porque você teve que matar o meu pai.
Cenoura, o que mais que falta além delas? O que falta mesmo para o cozido? Claro, a carne, vou até o freezer e me dou conta que não tirei e ela está uma pedra de gelo, as palavras escapam e formam um “porra”, bato forte sobre a bancada da cozinha
Se concentre nullz, apenas se concentra no jantar. Deixo minha cabeça pender para frente e se esconder sobre meus ombros, fecho os meus olhos para organizar os pensamentos
Delicadamente sinto sobre a curva do meu pescoço um beijo sendo depositado, depois minhas narinas são invadidas pelo aroma do perfume de null, meu esposo
– Precisa de ajuda, querida? – ele pergunta me virando de frente para ele
– Pensei em pedirmos pizza, tem um carinha muito afim disso sabe. – ele completa
Então minhas pernas são abraçadas pelo meu pequeno, Leo, me inclino e o pego no colo. Leo passa um braço sobre meu pescoço e outro sobre o do pai. Nós depositamos um beijo, um em cada lado da bochecha
E nesse momento ouço meu coração retornando a bater de forma serena, minha respiração está tranquila e sinto que eu posso enfrentar qualquer coisa com tanto que a minha família esteja assim, segura e perto de mim
– Pizza né. – null me encara com ternura e eu apenas confirmei com a cabeça.
Capítulo 2
Após uma semana de algumas crises ansiosas, hoje me sinto melhor. Consigo voltar a rotina, me dou conta disso quando vejo meu pequeno passar pelo portão colorido da escolinha
Mas antes disso, ele olha de forma rápida por cima dos ombros e os pequenos dedinhos balançam no ar acenando em minha direção, eu retribuo o gesto e mando um beijo para ele
Com a ajuda de null, faço uma visita esporádica ao meu psicólogo, e apenas para ele confesso o motivo da minha ansiedade
Por mais que o meu marido seja um homem incrível, compreensível e merecedor de todo o amor possível. Sei que não seria fácil ouvir da esposa, que outro homem rodeia os pensamentos dela, pelo simples fato dele estar fora da prisão
Com a orientação de Tadeus, eu consigo organizar e compreender que toda a minha história com null ficou para trás, e que por mais que trágica ela tenha sido, eu ainda posso me recordar dele pelos bons momentos e que não é tão simples cortar uma pessoa assim da sua vida. Mesmo que você fique sem vê-la a 10 anos, como no meu caso.
Além disso, ele me orienta a focar em meus hobbies para preencher meus pensamentos…e nesse momento eu escrevo uma frase abaixo de uma polaroid. Eu adoro fotos, adoro o poder de prender um momento, um sentimento para sempre naquele frame. E é por isso que toda a minha casa é decorada com álbuns de foto, um álbum para cada momento, e fase da vida
O álbum que estou organizando é do último aniversário do Leo, há fotos com familiares, colegas de escola, com a babá, e a minha preferida: Uma em que null e ele estão com os narizes sujos de glacê enquanto sorriem de olhos fechados. Ela é linda, espontânea e perfeita!
Eu me lembro da primeira câmera que ganhei e isso faz a minha cabeça girar e novamente me perco em lembranças
– Feche os olhos. – sinto a presença dele se distanciar e minutos depois retornar. – Pode abrir, amor.
Eu encaro a caixa média em minhas mãos, com um embrulho desengonçado, mas sei que foi o melhor que null conseguiu fazer. Eu o encaro de relance, mas ele nem nota porque está concentrado demais no presente em minha mãos
Há um brilho em seu olhar e um sorriso travesso nos lábios, há expectativa sobre minha reação e ao me dar conta disso meu estômago revira.
Vagarosamente eu desfaço o laço verde e rasgo o papel dourado, retiro algumas fitas crepe…E minha boca se abre com uma reação genuína. Eu não esperava por isso, eu corro meu olhar para a face de null, e então seu semblante fica sereno e seus olhos não deixam de brilhar, quase como uma sensação de dever cumprido
Era uma câmera profissional Nikon D850, eu tinha comentando com ele que era meu sonho uma dessas, e agora em mãos se confirmava a beleza dessa máquina
– Eu não sei como te agradecer, é linda.
– É uma forma de me desculpar… Por você sabe. A minha mãe ter te desconvidado para a nossa viagem para Tóquio. Eu juro que tentei de tudo para te levar, mas meu pai me pediu para não causar uma maior confusão. Então em uma das nossas saídas, tinha uma loja e quando eu vi, eu logo pensei em você. – ele parecia perdido com as palavras, seus olhos rodavam de um lado para outro.
Mas fazia sentido, null havia comentando sobre essa viagem desde o começo do ano. Estávamos ansiosos, iludidos que a mãe dele tinha concordado em eu ir, eu até juntei algum dinheiro sem meu pai saber. Porém dois dias antes, ela nos avisou que nunca comprou uma passagem para mim ou sequer reservou um quarto de hotel
A forma que ela falou simples e direta foi dilacerante, na frente de todos em um jantar casual. Eu sabia que ela não gostava de mim, que detestava o meu namoro com seu filho, tudo isso justificado pela nossa diferença bancária
Mas ter esse tipo de atitude só confirmou que era além de um desprazer de ter a minha presença junto deles, era uma guerra que ela travou e estava disposta a ganhar, seja qual fosse o preço.
Mas no final, nada disso valia a pena, porque os meus dedos ainda teriam os cabelos sedosos de null entre eles, e a respiração dele ainda iria terminar sobre o meu pescoço
Se eu tenho uma certeza, essa é que null Salvatore, me ama! E por saber disso, eu poderia suportar qualquer coisa
Fecho o álbum à minha frente com força, em uma tentativa fracassada, de sumir com essas memórias infelizes. Minha irritação só aumenta quando percebo o quanto era inocente, chegando a ser infantil.
A porta principal de minha casa é aberta de forma abrupta e logo posso visualizar a presença de null e Leo em seu colo. Porém, noto que meu marido parece suar e há uma palidez em seu semblante, o que há de errado com ele?
Assim que Leo e eu trocamos carinhos e ele sobe para o banho, rapidamente o meu olhar encontra o do meu marido, ele parece espantado, desde que chegou não pronunciou uma palavra. E de repente, ele solta, como se todas suas palavras estivessem amargando sua garganta até agora.
– Ele estava lá, parado em frente a escola do nosso filho. – sua respiração estava pesada e seu olhar tinha um toque de terror. E tudo isso só podia se tratar de null Salvatore
– Ele… Ele se aproximou de vocês? De Leo? – a aflição me toma, a ponta dos meus dedos começam a gelar.
– Não, mas acho que porque cheguei a tempo. Não sei qual era a intenção dele, mas se ele estiver tentando alguma coisa contra a minha familia, juro…– seus lábios se cerram e eu me aproximo e o abraço.
– null, acalme-se, não vai acontecer nada. Ele não é nada perto de nós, ele não tem mais poder...– sou interrompida pelo homem a minha frente.
– null, se ele sonhar em chegar perto de vocês, eu juro que o mato.
O meu coração gela com essas palavras, porque de repente parece que o tempo não passou e estamos novamente no ensino médio.
Capítulo 3
Eu não deixaria null se aproximar de Leo e null, o meu coração estava acelerado e meus olhos vidrados na casa da esquina. Já fazia um bom tempo que eu estava parada naquela rua, esperando o momento que a porta daquela casa cinza se abrisse
Depois que null contou da aproximação de null, resolvi contratar um detetive particular para descobrir onde ele morava, precisa lembrá-lo do lugar dele em nossas vida, no caso fora de nossas vidas
null sobe rapidamente os três degraus que levam a porta de sua casa, procura no bolso a chave, ele parece distraído. Observo ele um pouco mais, não parece tão cansado como da primeira vez que o vi. Noto que seus cabelos estão mais bem penteados, os cachos mais definidos, parece bem descansado e não há pêlos sobre seu rosto, seus olhos cristalinos parecem vividos
Bato a porta do carro com força, caminho de forma firme, como se quisesse deixar minhas pegadas na calçada. Estou tensa, minhas mãos estão cerradas, os lábios comprimidos, havia dez anos que não ficava de frente para aquele homem, o que poderia acontecer??
Ele estava prestes a girar a chave na maçaneta, então cruzei meus braços e raspei a garganta fazendo um pequeno ruído. Ele olha de relance, volta sua atenção para a chave e depois se vira rapidamente. Como se necessitasse de um tempo para analisar a minha figura
Ele está segurando uma sacola de papel, ao fazer esse movimento o ar traz a minha narina seu perfume suave e refrescante, o mesmo de tempos atrás. Ele arregala os olhos e abre a boca na forma de um O
– null… – ele fala baixo, quase como um sussurro para si próprio. – O que faz aqui? Co-como me achou?
– null, nossa conversa vai ser breve e não precisa forçar seu espanto, okay? – subo um degrau para diminuir a diferença de altura entre nós. – Você nem deveria se espantar, não é? Você me deu liberdade para vir até você já que foi até a porta da escola do meu filho.- dou certa ênfase nas palavras finais.
– A escola do seu filho? Do que você está…– ele desce um degrau e agora estamos mais próximos ainda. – null, olha…
– null, por favor! – corrijo ele de forma seca. Aperto ainda mais meus braços cruzados, não esperava tanta aproximação.– Nunca mais, entendeu? NUNCA MAIS se aproxime da minha família, nem dos lugares que frequentamos. Nem nos seus sonhos se de a liberdade de estar perto de nós, eu fui clara? – o meu dedo indicador agora está apontado para sua direção, estou ardendo em raiva. Mas ele mantém um semblante sereno, apenas me fitando de forma profunda.
– Eu não faço ideia do que você está falando. – ele fala de forma simples, dando de ombros, sem deixar de me fitar.
– Deixa de ser cínull, nós o vimos se aproximando da escola do Leo.
– Leo. - ele fala novamente de forma baixa para si próprio. Eu não entendo, estou confusa com esses comportamentos dele, antigamente ele era mais expressivo, talvez até autêntico demais? De repente estamos dividindo o mesmo degrau, a proximidade faz com que eu consiga sentir sua respiração contra meu rosto.
Recuo, odiei essa aproximação, volto para o primeiro degrau da escada. O que dá o direito dele chegar tão perto de mim, depois de tudo o que passamos.
– Fique longe da minha família, você entendeu? – ele engole seco, mas não responde a minha pergunta.
– Leo, ele é filho do null?
A bomba cai sobre mim, eu esperava qualquer coisa, menos essa pergunta. Minha respiração está irregular, meu olhos correm para qualquer outro lugar, menos para os olhos azuis de null. Voltei a encará-lo e percebi certa vermelhidão crescendo no espaço branco de seus olhos. O que há com ele?
– Não. – respiro de forma profunda. – Você sabe muito bem disso. – seu olhar se abaixa.
Eu me viro e vagarosamente, quase me arrastando, volto para o meu carro. Minha visão está embaçada, acelero e vejo de relance a figura do homem que estava na minha frente a minutos atras, passar pela janela do meu carro. Acelero conforme meus batimentos aumentam. O que eu acabei de fazer?
Qual o poder de null Salvatore sobre mim? Merda, merda, merda, eu contei.
Capítulo 4
Não consigo entrar em casa, e encarar meu filho e meu esposo. Deixo as lágrimas rolarem quentes pelo meu rosto, acho que nunca havia me permitido chorar por tudo que aconteceu entre mim e null
Éramos um, éramos um casal certo? Quando foi que nos tornamos estranhos, vingativos e tudo mais. Me encaro pelo espelho retrovisor, tento esboçar um sorriso e falho. Já passamos por isso null… Fico repetindo isso diversas vezes na minha mente
Tento me lembrar de algo bom, além de toda essa dor e sofrimento, então me lembro da primeira vez que vi null
null estava se desculpando enquanto me abraçava, a diferença de altura entre nós fazia com que ele conseguisse beijar o topo da minha cabeça. Enquanto ouvia suas palavras eu inalava seu perfume
– Olha, eu juro que vou ficar o mínimo possível lá, quando der, eu saio e vamos eu e você comemorar tá bom? – ele desfaz o abraço para encarar meu rosto.
– Okay. Não se preocupe com isso tá. A gente já deveria imaginar que sua mãe não ia querer minha presença lá.
E lá estava eu, tentando aliviar a barra da minha “sogra” do que adiantava isso, se eu acabava de receber a notícia que ela tinha planejado uma mega festa para o meu namorado, e sua única regra era que eu não poderia participar. Antes de tentar convencer null, eu estava tentando me convencer de que tava tudo bem, de que eu não me importava de participar
Mas sim, eu me importava, eu queria estar lá e cantar parabéns para ele e ser beijada na frente de todos os familiares dele. Eu também queria que ele batesse mais o pé, na tentativa de mudar a opinião dela, porém eu sabia que isso não iria rolar
Então, eu me conformava em comemorar com ele depois, às escondidas no meu quarto. De forma baixa, claro, porque se a mãe dele não gostava de mim, meu pai estava também no time dela.
Meu pai detestava que minha mãe o tivesse abandonado, detestava sentir falta dela, mas a mim, ahh… Eu era a única coisa que ele odiava. Ele sempre dizia que odiava porque eu lembrava ela, o jeito, a aparência, a forma de se impor. Era como se o meu viver fosse um lembrete que ele era um fracasso
Então ele passava a maior parte do tempo bêbado, tentando esquecer que me odiava e quando isso não dava certo, sua mão pesava sobre mim. Aprendi desde cedo, que ser feliz dentro da minha casa não era uma opção!
Eu não deveria ter sorrisos largos, roupas coloridas, olhos irradiando alegria, gargalhadas soltas. Eu deveria viver para passar despercebida por ele, evitar problemas para que ele não tivesse que resolver e acima de tudo não ter um namorado. Mas, eu falhei no último, e isso me fazia genuinamente feliz
Feliz, porque pela primeira vez na vida eu estava sendo amada de verdade, depois porque ao lado de null eu poderia fazer tudo, absolutamente TUDO o que eu era proibida em casa. Ele sempre fazia questão de dizer que a característica mais apaixonante minha, era meu sorriso de lado que eu dava quando o via e como ele foi crescendo conforme a gente foi se aproximando, e eu amava ouvir falar sobre isso.
Então de certa forma, era empolgante saber que eu poderia ser feliz, bem debaixo do nariz do meu pai, sem ele perceber! E convidar null para passar as noites comigo era a coisa mais empolgante e alegre da minha vida
Quando meu pai não estava em casa e eu estava com o cabelo esparramado sobre os braços do meu namorado, quando meus olhos estavam quase se fechando de sono, era nesse momentos que eu percebia que eu poderia viver aquilo para sempre
null me beija e se despede, ele está treinando mais do que nunca com o time, eles conseguiram passar para semifinal, graças aos lances incríveis do meu namorado. Ao pensar sobre isso, eu solto um pequeno sorriso.
Caminho distraída até a minha sala, penso sobre algumas coisas que devo resolver no dia de hoje, até que sinto um pequeno puxão no meu braço e me viro para encarar seja lá o que for que fez isso
– Ei, está me ouvindo? – eu fecho a cara com a forma grosseira que o rapaz na minha frente fala comigo.
Eu nunca havia visto ele antes por aqui, tem um cabelo empapado em gel, e isso faz com que reluza mais as madeixas douradas dele, seus olhos são grandes e verdes, sua pele é clara demais. E ele definitivamente, passa uma certa arrogância em sua postura, ainda mais, com essa jaqueta cafona de couro marrom.
– Meu nome é null, posso ajudar em alguma coisa? – falo com certa indiferença.
– Eu cheguei agora aqui, e me falaram que você é a monitora da turma que eu estou. – ele parece impaciente em ter que explicar isso. – Será que você pode me ajudar? Primeiro dia é foda.
– Eu posso ajudar, mas só depois da aula – o sinal toca nesse momento. – que no caso começa agora. – entro para dentro da sala e sinto sua presença me seguindo.
– Tá. – vejo ele arrastar uma cadeira e colar na minha mesa. Ele me interrompe, durante quase toda a aula. – Você precisa anotar exatamente tudo que o cara fala…– ele aponta para o nosso professor com a cabeça.
– Gosto de ter o máximo de informações.
– E qual é o máximo de informações que eu consigo de você, gatinha? – ele fala mais próximo do meu rosto e eu me ajeito na cadeira me afastando.
– Nenhuma.
Não vejo a hora de encontrar null, e poder destilar meu odio sobre esse…me dou conta que ainda não sei o nome desse cara.
– Qual seu nome?
– Me chamo null, null Gromov. E você a null né. – me dá uma piscadela.
Ok, agora posso destilar meu ódio sobre null Gromov.
Quem diria que o cara da jaqueta cafona seria hoje o meu esposo, aquele que eu mais amo na vida toda. Caminho de forma lenta para dentro de casa, me sinto mais confiante, porque sei que no final tudo ficará bem
Eu encontro meu menino soltando altas gargalhadas enquanto null assopra sua barriga, me junto a eles no sofá e dou um beijo rápido no meu esposo. E logo após início cócegas no meu filho, quando volto meu olhar para o homem em minha frente e vejo seus olhos cintilando, enquanto a trilha sonora são as inúmeras gargalhadas do meu filho
Eu entendo que eu quero viver isso para sempre!
Capítulo 5
Respirei fundo e abri meus olhos, minha professora de yoga se despediu e cada aluno começou a guardar seu tatame. Me despedi de algumas conhecidas, coloquei meu casaco e iniciei uma breve caminhada até o meu carro
O dia estava nublado e uma brisa gélida havia se instaurou pela cidade, acho que pelo medo da chuva todos resolveram estacionar em frente ao estúdio de yoga, com isso, eu tive que parar umas duas esquinas mais distantes do que estou de costume
Estava aproveitando aquela caminhada, estava leve, acordei me sentindo bem, sem nenhum tipo de preocupação. Tinha feito a grande maioria dos meus compromissos, agora só faltava pegar o Léo na escola e fazer um bom jantar
Assim que acionei o alarme para destravar o carro…
– Esposa troféu? não sabia que essa era sua vocação. – Olhei pelo vidro do carro apenas para confirmar que o homem atrás de mim era null.
Eu o ignorei e abri de forma rápida a porta do carro, não estava desesperada, mas era bom ser cautelosa quando o assunto era ele. Quando estava prestes a fechar a porta, ele colocou a mão no vão impedindo minha ação
– O que você está fazendo aqui? – Me coloquei de pé em frente a ele. – Se esqueceu que você não pode chegar perto de mim ou da minha família? Eu não deixei isso claro naquele dia?
– Você abriu essa porta, null – Rolei os olhos quando ele mencionou meu apelido – Quando foi até a porta da minha casa, me acusar de uma coisa que não fiz. Mas, não é sobre isso que quero falar com você.
Ele se mantinha próximo ao meu corpo e isso me incomodava
– Naquele dia você disse uma coisa, disse que o Leo não é filho do null.
Soltei um rápido riso pelo nariz. – Você sabe que ele não é, é só fazer as contas.– Esse assunto me irritava, conversar com null sobre isso, me embrulhava o estômago.
– Ele é meu, é o nosso bebê? – Eu quis encarar seus olhos, eu queria fulminar com o olhar, mas o que eu encontrei dentro de suas íris eram dor e sofrimento, apenas isso.
– Sim, o Leo era o seu filho. E eu digo era, porque eu e você sabemos muito bem que o null foi o pai dele, em todo esse tempo.
– E–eu não tive oportunidade para poder ser um pai para ele, você sabe… – Eu o empurrei com toda minha força, ele apenas cambaleou mas não caiu, bati a porta com força e me direcionei a ele, eu queria acabar com ele.
– OPORTUNIDADE? INTERESSANTE SUA ESCOLHA DE PALAVRAS… Nem se você tivesse todas as oportunidades do MUNDO, você teria sido um bom pai. Estar em uma cadeia, null, não foi o que te impediu de ser um pai, você que fez isso. Você inventa uma desculpa para você por que? NÓS SABEMOS A VERDADE – Estava lutando para manter a calma, mas isso se tornava impossível.
– null, depois que eu fui preso nunca mais soube de você, nunca soube sobre o nascimento do MEU filho, porque por mais que você odeie isso, ele é NOSSO. Isso que corre nas minhas veias corre na dele também, e é um direito dele saber que eu sou o pai dele.
– Você é doente, você matou o meu pai, e queria que eu te visitasse? Que tipo de louco você é? Queria que eu levasse o meu filho para visitar o cara que matou o avô dele? – O empurrei com mais força e com isso ele segurou meus braços e colou nossos corpos. – Me solta! Agora!
Ele não fez isso, ele fez algo pior, ele colou seus lábios no dele, eu fiquei imovel por alguns segundos, quando o nojo tomou conta total do meu corpo, eu mordi com força seus lábios e me afastei. Ele estava assustado, e pude ver um pequeno filete de sangue escorrer.
– SEU DOENTE.
– null, eu não queria que fosse assim, eu–eu…
– Para de fingir seu merda. – As lágrimas se iniciaram e desceram pelo meu rosto. – Era exatamente isso que você queria, você quer acabar com tudo que eu amo.
– É que você fala como se o seu pai tivesse sido uma boa pessoa, e nós sabemos o ser humano que ele era. Caralho, o que aconteceu com você? Você se esqueceu de tudo que aconteceu?
– Eu não me esqueci, eu me lembro bem… Eu me lembro todos os dias que eu não o tenho por sua causa, que eu quase perdi toda minha felicidade por sua causa! Você é o culpado por tanto sofrimento.
– Eu? Eu fiquei PRESO 10 ANOS POR UM CRIME QUE EU NÃO COMETI, POR TER MATADO UM MERDA DE UM BÊBADO, EU PERDI A INFÂNCIA DO MEU FILHO E PERDI A MULHER QUE EU AMAVA, CARALHO, É VOCÊ QUE TÁ MAL?
Era inútil tentar, entrei no carro rápido e tranquei as portas, null começou a bater no vidro da janela, gritando um monte de coisa, eu apenas chorei. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo, eu não conseguia aceitar que ele estava de novo na minha vida
– Uma última coisa null, eu vou atrás do meu filho, eu vou conquistar ele e depois você. Saiba disso. – Ele me encarou por um instante e depois desapareceu. Eu me encolhi no banco e chorei, eu queria que tudo isso fosse um pesadelo.
Eu estava deitada sobre o peito de null, o sol estava quase se pondo, tínhamos passado o sábado todo na cama. Era tão bom estar na companhia dele. Então levantei meu olhar para encará–lo, enquanto ele olhava pela janela
Era uma imagem linda, digna de foto, pedi para que ele não se mexesse corri peguei a câmera que tinha ganhado de presente, voltei ao local que estava e tirei uma foto, acho que a melhor até agora. Tentei captar a suavidade que a luz solar tinha sobre os olhos de null, a forma que o laranja do sol se encontrava e se curvava ao azul sereno dos seus olhos.
Ele se sentou na cama e me puxou para perto de si, rapidamente peguei sua camiseta jogada no chão e coloquei.
– Tenho uma boa notícia para te dar. – Ele iniciou, nesse caso éramos dois com boas notícias. Encarei para que assim continuasse a falar. – Conversei com meu treinador hoje, e ele disse que depois do meu desempenho no último jogo com certeza aquela bolsa na faculdade é minha. Se eu ganhar a bolsa de Londres, null, com o dinheiro que meu pai me der e mais algum trabalho que eu tiver, conseguiremos viver tranquilos lá. – Ele estava com um largo sorriso e eu também.– Tudo vai sair melhor do que a gente planejou.
– Sim, eu disse que iria dar tudo certo, eu posso ir tentando procurar algum emprego por lá para ajudar nas economias de casa também. Porque você sabe que eu tenho um dinheiro guardado, mas não é muita coisa.
– Ei… Eu não quero você se preocupando com esse tipo de coisa.
– Sua mãe sabe que eu vou com você para Londres?
– Não, amor. Claro que não, ela nunca toparia isso, mas ela não precisa saber. E caso ela saiba estaremos longe. Tem noção que só faltam seis meses para gente sumir daqui, nunca mais ter que encarar o merda do seu pai, a chata da minha mãe, ou aquele povo da escola, ainda mais o merda do null.
– Dei uma leve cotovelada em sua costela. – Não fala assim do null! Ele parece grosseiro, mas é um doce de pessoa, eu aprendi a conviver com ele. – Havia tantas coisas que tinham mudado nos últimos meses, umas delas era minha relação com null.
– Pra mim ele quer roubar minha namorada. – Ele me abraçou e deu início a um beijo lento.
Foi aumentando aos poucos a velocidade das nossas línguas, sua mão deslizou pela lateral do meu corpo, na procura da barra da blusa que eu vestia, então eu interrompi
– Ei… Espera, eu também tenho uma notícia para te dar. – Meu coração começou a bater mais rápido, me endireitei na cama, ficando totalmente de frente para null, eu queria captar suas microexpressões. – Agora que está tudo encaminhado para gente morar em Londres…– Comecei a brincar com meus dedos e a encará–los, não tinha porque eu estar nervosa, era o null. – Descobri semana passada, não sabia como contar, mas… A nossa família já vai se iniciar com gente nova. Eu estou grávida, null.
Não houve abraço, ou troca de afeto. Apenas um silêncio, ele abaixou a cabeça e ficou assim por um tempo. Eu dei o espaço dele, o respeitei, porque também foi um choque para mim, quando descobri, eu chorei e me preocupei, mas sempre foi um sonho ter um filho, a gente sempre quis
E agora, não era o momento perfeito, mas da forma que estavamos transando também não era impossível. Eu queria comemorar e contar para todo mundo, no caso ele e null, que eram as pessoas que eu confiava
null seria o tio babão que iria mimar a menina, e ensinar tudo ao menino. E null…ah null seria o pai que eu nunca tive, ele seria gentil, amável e colocaria ele para dormir. E quando estivesse uma certa idade eu iniciaria uma boa faculdade e ele teria os pais formados e juntos. Assim, como eu sempre sonhei
– null, fala alguma coisa. Meu amor…
Então ele me encarou e tinha lágrimas em seus olhos, ele estava chorando na minha frente. – Olha… Não sei o que você esperava, não sei qual reação você esperava, mas para mim isso não foi uma boa notícia null. Isso acabou com tudo, eu acabei de te falar que tudo daria certo para gente. – Nesse momento ele indicou com o dedo ele e eu, de uma forma grossa, ele parecia estar com raiva?– Você tem noção de quanto gasto uma criança causa?
– Sim, eu sei null, não pense que eu também não me desesperei com isso, mas aconteceu. Agora temos que lidar com isso, a gente consegue. E como eu disse eu posso começar a trabalhar assim que a gente chegar lá…vam…
– Sim, a gente vai dar um jeito nisso. – Ele apontou em direção a minha barriga, se levantou da cama e começou a se vestir. – Quanto tempo você acha que está, amor? – Eu estava meio aérea, apenas balbuciei um “não sei” – Tá, tá bom não deve ser muito tempo, porque foi a umas três semanas atrás que transamos sem camisinha, no máximo você está de três semanas. Tudo isso já facilita.
– Facilita? – Minha voz era um fio, uma súplica. Ele pegou na minha mão, me levantou e me abraçou. Após isso, colou seus lábios no meu ouvido e disse de forma suave.
– Nós vamos o abortar, null, é o melhor.