Enviada em: 28/02/2021

Capítulo Único

“But are you still the same soul I met under the bleachers?”

Monte Carlo, Mônaco, 2013.
fora acordado naquela manhã por uma ligação de sua namorada e melhor amiga, , dizendo que os dois precisavam conversar o mais rápido possível.
A sua resposta para a amada foi que os dois conversariam após os seu treino matinal, provavelmente, no horário do almoço, e já esperava uma reclamação por parte dela, mas foi surpreendido quando a única resposta fora um aviso que estava a caminho da casa dele.
tocou a campainha da casa, sendo recebida por Hervé e cumprimentou a mais velha com um beijo na bochecha, desculpando-se por estar ali tão cedo, mas afirmando que tinha um assunto importante para tratar com o filho da mulher, consequentemente, seu namorado.
Cumprimentou Pascale, que estava sentado à mesa, saboreando seu café da manhã, com um sorriso e um aceno, antes de subir as escadas pulando sempre um degrau para que pudesse chegar mais rápido ao segundo andar.
Caminhou até a terceira porta do corredor, dando leves batidas e, ao não receber nenhuma resposta, empurrou a mesma para que pudesse entrar no quarto. Encontrou o local vazio, mas, pelo som do chuveiro, soube que o rapaz estava tomando banho para que fosse para os seus treinos.
Ela suspirou, sentando-se na cama confortável do quarto e retirou os tênis para que pudesse colocar os dois pés sobre o lençol sem sujar nada e sem correr o risco de levar uma pequena bronca de Hervé.
Seu olhar percorreu o quarto de , um espaço que ela tanto adorava. Simplesmente porque ela conseguia vê-lo perfeitamente em cada parte daquela decoração que demonstrava todo o seu amor pelas corridas e pelo seu sonho de se tornar um piloto profissional.
O barulho de água caindo cessou, mas nem se deu conta. Seus olhos estavam presos em um papel colado em um quadro que tinha no local. Ela podia não saber muito sobre corrida, mas havia um símbolo que ela conhecia muito bem e era o símbolo da .
Levantou-se, caminhando devagar até o quadro para que pudesse analisar de perto o que era aquele papel, mas a voz de ecoou pelo quarto, assustando-a e fazendo com que ela se sobressaltasse por alguns milésimos.

– Oi, . – o rapaz sorriu, ajeitando a toalha em sua cintura e se aproximou da namorada para depositar um beijo em sua bochecha. – O que há de tão importante para me falar que não poderia esperar o almoço?

A pergunta foi feita enquanto ele caminhava em direção ao armário para que pudesse pegar suas roupas e começasse a se arrumar para o treino e ela conteve a vontade de suspirar.
Detestava quando tinha que conversar com e ele não prestava atenção nela, mas lembrou-se que ele tinha um compromisso e havia sido ela a insistir para que os dois conversassem logo pela manhã.

– Eu vou me mudar para a Califórnia.

soltou a camisa que tinha em mãos e sentiu a mesma cair sobre os seus pés, mas não se importou. O garoto girou sob os próprios calcanhares, virando-se para encarar a a alguns metros de distância.

– Seu pai está mudando de emprego de novo?
– Eu fui contratada por uma agência. – ela sorriu, dando a segunda parte da notícia e absorveu a resposta, balançando a cabeça de forma devagar. – Você lembra de alguns testes que eu fiz no início do ano, não é? Eles gostaram e me chamaram para assinar o contrato! Só que eu preciso morar lá para estar mais próxima de onde as coisas acontecem.
– De onde as coisas acontecem. – o piloto repetiu a frase e soltou uma risada fraca. – Nada acontece aqui em Monte Carlo?
– Você sabe o que eu quis dizer, . – ela suspirou. – Nós não temos uma grande indústria visual e eu não posso me prender a ideia de ser uma celebridade apenas em Mônaco. Eu quero ser mundialmente conhecida!
– Quando você vai?
– Amanhã.

Ele piscou algumas vezes e soltou o ar pelo nariz de forma desacreditada, mas se manteve parado no mesmo lugar. estava com um sorriso de orelha a orelha e o encarava com os olhos repletos de felicidade. Ele podia ver o brilho que o encantava.

– Amanhã. – ele repetiu, balançando a cabeça e voltando a encarar a garota.
– Eu vim para me despedir.
...
, nós temos sonhos. Eles são diferentes e nos levarão a caminhos diferentes. Eu não quero me prender e me reprimir de viver qualquer coisa que a minha nova vida, que se inicia amanhã, possa me trazer. Eu quero viver a vida. – ela suspirou, secando uma lágrima que escorreu por sua bochecha. – Eu sou um espírito livre, artístico e eu não pertenço a esse lugar. – ela deu os ombros. – Eu nunca pertenci.

se manteve em silêncio. Se era aquilo que ela acreditava e queria para si, não havia nada que ele pudesse fazer para mudar seu pensamento.
Aquele era o destino de e, a ele, só caberia aceitar e seguir o seu próprio destino, seguir o seu próprio caminho.
Ele não viu o momento em que ela saiu deixou seu quarto, mas ouviu cada passo em direção a porta e cada um deles parecia estar ritmado com o seu coração que se partia em milhares de pedaços.
Fechou os olhos e suspirou alto. Se manteve parado no mesmo lugar, apenas relembrando as palavras que foram ditas e sentindo-as corretarem o seu coração.
Pascale e Hervé trocaram olhares curiosos e preocupados quando viram passar de forma apressada em direção a porta da casa da família .
O homem se levantou, respirou fundo e seguiu em direção as escadas para que pudesse ir até o quarto do filho para saber o que havia acontecido entre os dois jovens.

? – chamou, preocupado, adentrando o quarto e vendo que o rapaz já havia terminado de se arrumar. – Aconteceu com a ? Ela saiu correndo e sem se despedir... Eu tenho a ligeira impressão que até chorando ela estava.

suspirou, retirando a atenção da tela do celular para encarar o pai e deu os ombros antes de respondê-lo.

– Ela veio me dizer que vai se mudar para a Califórnia.
– Christopher está mudando de emprego novamente? – o mais velho soltou uma risada fraca, já conhecendo o histórico do pai da moça, mas percebeu que o filho não esboçou a mesma reação que ele. – Filho, o que há de errado?
– Lembra a história da dizer que não pertencia à Mônaco? – perguntou, recebendo um aceno positivo em resposta e suspirou mais uma vez. – Ela foi contratada por uma agência. Por isso vai morar na Califórnia.
– Vocês irão tentar namorar à distância?
– Não. Ela disse que não queria me prender e nem se prender de viver nada que os nossos sonhos distintos podem nos proporcionar. – ele deu os ombros, bloqueando a tela do celular.
– Eu concordo com isso. – Pascale sorriu, parando perto do rapaz e colocando uma mão sobre seu ombro, oferecendo-lhe um sorriso reconfortante. – Vocês são jovens e têm uma vida inteira pela frente, um monte de coisas para conquistar. Precisam viver, conhecer novas pessoas e conhecer o mundo. A vida é feita de ciclos, tudo tem um começo e um fim; mesmo que a gente não esteja preparado, temos que lidar com o fim e nos preparar para um novo ciclo que está sendo feito para nós.

concordou com a cabeça, ouvindo atentamente as palavras e sorriu, por fim. Colocou sua mão sobre a do mais velho e virou-se para encara-lo com um pequeno sorriso no rosto.

– Obrigado pelas belas palavras. – Pascale deu os ombros e, antes que o rapaz falasse mais alguma coisa, Hervé entrou no quarto.

A mulher havia chegado no corredor no exato momento em que o marido fazia seu curto discurso e preferiu esperar do lado de fora para não atrapalhar o momento, mas precisava relembrar os dois do compromisso.

, você vai acabar se atrasando. – comentou, entrando no quarto e sorrindo ao ver os dois abraçados naquele momento. – Seu irmão está esperando.
– Já estou indo, mãe. – o rapaz sorriu, pegando sua mochila e seu boné sobre a mesa do quarto para que pudesse sair do local, mas Hervé o chamou.
– Você viu a carta que chegou para você?
– Que carta? As pessoas ainda mandam cartas neste século? – ele soltou uma risada, vendo os mais velhos o acompanharem e Hervé apontou para o quadro.
– Eu pendurei no quadro porque é o único lugar que você olha, mas parece que eu terei de mudar o meu lugar de avisos. – ela riu, retirando o envelope do lugar onde havia deixado e o estendendo na direção do rapaz.

sorriu largamente ao ver o símbolo que havia no envelope e se apressou em abri-lo para ler o conteúdo.
Em poucos minutos, sua mente se esqueceu da desilusão amorosa. Não havia mais em sua mente, mas também não havia espaço para mais nada que não fosse o fato de que ele havia sido chamado para a Driver Academy.
O seu sonho de Fórmula 1 estava dando o primeiro e maior passo.



Los Angeles, Califórnia, 2016.
era o nome do momento em Hollywood. A garota que chegou à cidade dos anjos caçando dinheiro e fortuna se tornou uma grande estrela graças ao sucesso da série que ela estrelava na Netflix.
A moça ainda não se sentia realizada porque sabia que ainda tinha todo um caminho para percorrer para se tornar o que sempre sonhou, mas sabia que estava indo muito bem.
Afinal, todo mundo ama seu carisma e a sua beleza. O seu nome brilhava em letreiros ao redor da cidade e um milhão e meio de pessoas a seguiam em seu perfil no Instagram, interessados em saber mais sobre a sua vida e o seu trabalho.
A nada mais se parecia com a menina que saiu de Mônaco há dois anos. A vida americana havia a feito amadurecer e crescer, tendo sendo também o principal suporte para a fazer esquecer a vida em Mônaco.
Ela havia enterrado a monegasca em uma parte funda. Assim como havia enterrado todo sentimento por , bem como toda e qualquer lembrança de momentos vividos com o rapaz.
Entretanto, parecia que ela ainda buscava algo do piloto monegasco em outros homens. A vida amorosa da moça andava totalmente em desconformidade com a sua vida profissional.
E era justamente uma pergunta sobre este assunto que estava a irritando naquele momento.
Estava prestes a estampar a capa da Vogue pela primeira vez em sua vida e estava sendo entrevistada por uma das jornalistas que estava extremamente curiosa pela sua vida pessoal, que era um segredo guardado a sete chaves para a imprensa.

– Eu sou uma mulher focada totalmente na minha vida profissional no momento. – sorriu, finalmente respondendo a pergunta. – Eu não acho que exista nada de errado com isso. Hoje, graças a luta de várias mulheres do passado, eu tenho o direito de escolha sobre a minha vida, sobre o que eu quero ou não fazer. E eu quero ficar cem por cento no meu trabalho... Estrelar séries, filmes, fazer capas de revistas e aproveitar tudo que a vida me proporciona. Eu costumo dizer que eu sou um espírito livre e não pertenço a nenhum lugar. É isso o que eu sou hoje, mas eu acredito que, em algum momento, eu vou pertencer a algum lugar. Mas, por agora, eu não quero me prender a nada que não seja o meu trabalho.

Após o fim de seu discurso, algumas perguntas mais foram feitas relacionadas apenas ao trabalho e ao futuro, dando felicidade e tranquilidade para a garota.
Despediu-se da jornalista que a entrevistara e da equipe presente no local, seguindo para fora do estúdio na companhia de sua empresária e mais recente amiga, Elizabeth. A mulher de trinta e seis anos havia se tornado a maior companhia da monegasca na cidade e não era só a responsável pela sua vida profissional, mas também por zelar pela sua vida pessoal, já que os pais de haviam decidido retornar à vida mais tranquila que tinham em Monte Carlo.

– Por que as pessoas se interessam tanto pela minha vida pessoal?
– Porque tudo que envolve traz dinheiro. – Lizzie, o apelido que havia dado para a amiga assim que as duas começaram a trabalhar juntas, respondeu.

Embora achasse aquilo algo horrível, não pode deixar de sorrir com aquela resposta. As pessoas se interessavam tanto por ao ponto de querer saber quem era o dono de seu coração.
O som de seu celular tocando fez com que ela não pudesse responder a altura do comentário da mais velha. procurou o aparelho dentro da bolsa que carregava e sorriu ao ver o nome da irmã mais nova.

– Oi, Emi. – sorriu ao atender a chamada de vídeo e a irmã acenou do outro lado da tela. – Como você está?
– Oi, ! Estou bem, apenas sentindo falta da irmã desnaturada e celebridade que eu tenho. – a jovem de quinze anos respondeu, finalizando a sua frase com uma careta.

Emilie era apenas três anos mais nova que , mas as duas tinham uma relação boa, principalmente agora que uma morava distante e as brigas por causa de roupas e maquiagem não eram mais constantes.
Há um ano, Christopher e Rachel, os pais das meninas, haviam decidido que seria melhor retornar para Monte Carlo. A família ficou por um ano na cidade dos anjos para se certificar que ficaria bem e decidiram que seria melhor voltar para a terra natal e deixar a filha mais velha seguir a própria vida.
Desde então, ela não ia mais para Monte Carlo, embora sentisse uma falta enorme da sua família, retornar para aquele lugar era uma das últimas coisas em sua lista de coisas para fazer no futuro.

– A gente já falou sobre isso, Emi. Eu estou...
– Seguindo meu sonho. – Emilie completou a frase conhecida e rolou os olhos. – Mas você pode vir nos visitar. Semana que vem é o meu aniversário, ! A gente nunca passou esse dia longe uma da outra...
– Eu sei, Emi. Como eu poderia me esquecer do seu aniversário se você me manda mensagem todos os dias com um pedido diferente de presente? – a mais velha soltou uma risada, balançando a cabeça de um lado para o outro e seguindo junto a Lizzie para o elevador. – Mas, eu não posso voltar a Mônaco. Ainda não estou preparada.
– É o meu aniversário, . – Emilie respondeu afetada pelo comentário da irmã.
– Eu vou te mandar passagens para que você possa vir a Los Angeles me visitar, tudo bem? Fale com a mamãe e peça uma autorização. Nós vamos comemorar o seu aniversário aqui, alguns dias depois...
– Eu queria ter você aqui, no dia do meu aniversário. – a mais nova suspirou – Mas tudo bem. Faça o que você achar melhor, . Agora eu preciso ir.
– Nos falamos mais tarde? – Emilie concordou com a cabeça, não escondendo nem um pouco a sua feição chateada e encerrou a chamada.

sentiu o coração se partir em pequenos pedaços, mas precisava manter o que havia prometido a si mesma.

– Eu sempre achei um pouco estranho você não gostar de falar da sua vida em Monte Carlo... – Lizzie comentou e a mais nova suspirou, percebendo que a mulher havia escutado toda a conversa. – Achava que era um problema pequeno, mas parece ser algo maior ao ponto de te fazer nem querer ir visitar a sua família...
– Eu nunca gostei de morar lá. Eu sou um...
– Espírito livre. – Lizzie sorriu, completando a frase da mais nova. – Que vai se assentar em um lugar quando sentir que é o momento certo, mas que, por agora, quer ser livre.
– Parece que você aprendeu.
– Mas existe um motivo além disso, não é? Não é apenas por ser um espírito livre que você não quer voltar a Mônaco.

A mais nova assistiu os olhos azuis vidrados em sua direção, aguardando uma resposta à pergunta e a sua mente retornou para Mônaco. Ela passou uma mão pela bochecha devagar enquanto seu olhar se perdia e ela se recordava dos momentos vividos com um monegasco em especial que, mesmo após dois anos, não sumia de seu coração.

– Eu tenho alguns assuntos inacabados por lá.
– Alguns? – Lizzie insistiu, cerrando os olhos na direção da .
– Um em especial.

Lizzie concordou com a cabeça, encarando a mais nova e as duas saíram do elevador, caminhando lado a lado até o carro deixado no estacionamento do prédio.
A música foi a única coisa que fez com que a curta viagem de volta para o apartamento de não fosse em silêncio absoluto. A menor ainda continuava se sentindo culpada por não querer ir a Mônaco, mesmo sabendo que aquela decisão afetava negativamente a sua relação com a família.
Estar longe daquela cidade fazia bem para ela e ela se sentia feliz vivendo no lugar em que pertencia.
Los Angeles era o seu lugar.


Flashback
Monte Carlo, 2012.
– Você consegue acreditar que esse é o nosso penúltimo ano na escola? – perguntou, virando o corpo sobre a toalha verde e encarando o céu azul de Monte Carlo.

Ao seu lado, também deitado sobre a toalha, encarava o rosto da garota e sorria. Se havia algo que ele gostava de fazer era passar longos minutos a observando.

– Em breve seremos dois adultos. – continuou a expor os seus pensamentos para o namorado e soltou uma risada fraca – Eu estarei com meu rosto estampado em várias revistas, sites e blogs.
– Eu estarei comprando qualquer coisa que tiver o seu rosto estampado nela. – murmurou, fazendo com que a mulher virasse o rosto em sua direção, soltando uma risada fraca.

Os olhos dos dois se encontraram por alguns segundos e levou a mão até a bochecha do rapaz, acariciando o local com seu dedo polegar, fazendo com que ele fechasse os olhos para aproveitar o carinho.

– Eu serei piloto de uma grande equipe de Fórmula 1. – disse com os olhos ainda fechados e um sorriso brotou em seus lábios. – Nós ainda viveremos em Mônaco e você irá me acompanhar ao redor do mundo em todos os grandes prêmios...

parou o carinho no rosto do rapaz e abriu os olhos, encarando a para saber o que havia de errado. Ela tinha seu rosto voltado para o céu novamente, mas ao ouvir o longo suspiro, o rapaz soube que havia algum problema.

– Eu não vou viver em Mônaco para sempre, . – ela murmurou, virando-se para encará-lo e soltou o ar de forma pesada – Eu não gosto desse lugar e não vejo o meu futuro aqui.
– O que isso quer dizer?
– Em algum momento você já sentiu que nunca pertenceu a um lugar? Você sente que não é feliz, independente do que esteja fazendo, não se vê neste lugar no futuro e tudo que você se imagina fazendo não envolve estar vivendo neste lugar? – a encarou o rapaz novamente e, diante do silêncio como resposta de , ela voltou a falar – Eu me sinto assim em Mônaco. Eu sou um espírito livre, . Eu quero me tornar uma grande atriz, viver em Hollywood e ser conhecida mundialmente.

riu fraco, encarando atentamente, sem saber o que dizer. Não era a primeira vez que ele escutava a namorada dizer que não gostava de Mônaco, mas ele sempre acreditava que era algo verdadeiro... Para ele, era um sentimento passageiro.

– Então, você não vê um futuro para nós?
– Claro que eu vejo. – ela sorriu fraco – Eu sei que eu sou um espírito livre, mas que vou deixar de ser e vou me assentar em algum momento.

se aproximou do piloto, unindo os lábios dos dois em um selinho casto. Passou a mão pelo rosto de , afastando os lábios dos dele e permanecendo com a testa próxima a dele.

– A gente se reencontra.

deu os ombros, sem entender totalmente a fala da garota. Ele preferia continuar acreditando que o sentimento dela era passageiro do que imaginar a vida sem ao seu lado.

Fim do flashback.



Grand Prix da Itália, 2019.
Não era humanamente possível existir alguma outra pessoa mais feliz do que naquele dia na Itália.
Desde 2010 que a não ganhava uma corrida no país e o novato estava ali para fazer a história, ganhando um Grand Prix pela primeira vez.
Desde o momento em que viu a bandeira quadriculada ser balançada, ele ainda não conseguia acreditar que havia ganho. A ficha só caiu no exato momento em que estava no pódio, ao lado dos dois outros pilotos rivais.
Lembrou-se de toda a sua vida até aquele momento. Todos os seus treinos, seu trabalho árduo e a forma que sua família se entregou para ajudar a tornar realidade tudo o que ele sempre sonhou.
Nas entrevistas dadas após o pódio, o piloto não conseguia deixar de sorrir e nem se separar de seu troféu. O abraçava com o braço esquerdo, o segurando bem próximo ao seu corpo enquanto comentava a sensação de viver a sua primeira corrida.
sabia que ainda era jovem e estava apenas no início de um longo caminho que tinha para percorrer, mas estava tão feliz com a sua primeira vitória. Era muito importante para ele e para tudo que ele sonhava em conquistar como piloto.
A adrenalina que ele sentia percorrer o seu corpo enquanto dirigia o carro por um circuito era uma sensação única. Ele não sabia nada sobre o seu futuro, mas uma coisa ele tinha certeza: aquele ali era o seu lugar.
Estar dentro do cockpit de um carro de Fórmula 1, dirigir um daqueles carros trazia ao jovem piloto uma das melhores sensações de sua vida e a que ele torcia para que acontecesse por muitos e muitos anos mais.
sabia que aquele era ali que ele pertencia.


Grand Prix de Mônaco, 2019.
podia se lembrar da feição nervosa que Lizzie possuía quando adentrou o seu apartamento para lhe dar uma notícia que ela não sabia que não queria ouvir.
“Você foi convidada para participar de uma publicidade no Grand Prix de Mônaco” , foram as palavras da empresária assim que as duas se sentaram no sofá do local.
quis chorar, correr e se esconder. Quis negar a proposta, mas sabia que era impossível porque havia um contrato firmado com a empresa que a convidou para participar da publicidade.
Demorou dois dias para que ela avisasse a família que iria para Mônaco. Na videochamada feita com os pais e com a irmã, ela tentou se mostrar feliz por estar prestes a vê-los novamente após três anos sem encontrá-los pessoalmente.
Emilie pulou na frente do celular enquanto Christopher e Rachel pareciam prestes a chorar de alegria ao ouvir a filha mais velha dizer que estaria em Mônaco durante o fim de semana.
chegou ao Principado na quinta-feira à tarde. Aproveitou para encontrar a família e ficar até tarde conversando com Emilie, sendo atualizada de tudo o que aconteceu nos últimos três anos, independente de querer ou não saber sobre aqueles assuntos.

– Você só disse que viria a Mônaco... Tem algum motivo por trás disso? – Emi encarou a irmã mais velha e a viu suspirar, afirmando com a cabeça.
– Eu sou garota propaganda de uma das marcas que patrocina a Fórmula 1 e, como a corrida é aqui em Mônaco e eu sou monegasca, me chamaram para fazer uma publicidade. – ela deu os ombros – É algo simples: andar como carona e depois pilotar o carro pelo circuito.
– Isso é sério? – Emilie soltou uma risada – Eles vão dar um carro na sua mão?
– Aparentemente sim. – ela deu os ombros, se levantando e caminhando até a janela do quarto em que a irmã dormia.

havia oferecido aos pais uma nova casa em Mônaco. Maior, mais segura e em um local melhor do que a que eles tinham, mas Christopher e Rachel não aceitaram a proposta da filha porque aquela casa significava muito para a família para ser abandonada na primeira oportunidade por eles.
Então, a casa dos continuava no mesmo lugar que há seis anos atrás: ao lado da casa dos . E da janela do quarto de Emilie dava para ver exatamente a casa da família vizinha.
conteve uma vontade de suspirar que tomou conta dela. Encarando o jardim do local, ela pode se lembrar de alguns momentos vividos ali naquele local e sorriu fraco, colocando uma das mãos no vidro.
Se perguntou, por alguns instantes, se a família alertões continuava morando ali. A casa ainda estava totalmente pintada e parecia ter pessoas habitando.

– Eles não moram mais nessa casa. – Emilie falou alto como se lesse o pensamento da irmã, mas balançou a cabeça de um lado para o outro. – Eles se mudaram há um ano. se tornou um piloto e...
– Esse era o sonho dele. – se virou em seus calcanhares para encarar a irmã e sorriu – Parece que nós dois conseguimos alcançar nossos sonhos.
– Os meninos também estão buscando os deles. Arthur e Lorenzi também estão querendo se tornar pilotos. – Emilie sorriu – Aliás, sobre isso, eu preciso te contar uma coisa.
– Ele tem namorada?
? – a mais nova sorriu, feliz por saber que a mais velha ainda parecia ter sentimentos pelo piloto. – No aniversário do Arthur ele estava sozinho.
– Você é amiga deles? – piscou, surpresa ao saber que a irmã havia ido ao aniversário de um dos irmãos de .
– Eu sou a namorada do Arthur. – Emilie respondeu como se fosse óbvio e a mais velha balançou a cabeça, encarando a irmã com os olhos arregalados.

estava completamente chocada com a informação, mas ficou feliz em ser atualizada pela irmã. Ficava feliz porque, pelo menos uma das , havia dado certo com um .

X


sentiu que seu coração havia parado de bater por alguns milésimos de segundos quando viu a figura que ela reconheceria em qualquer lugar.
se aproximava do local onde ela estava parada junto a Lizzie esperando que o piloto da equipe chegasse para que pudessem gravar.
Ela observou atenta e acreditando que poderia desmaiar a qualquer momento, o rapaz cumprimentar algumas das pessoas e ir até Martha, a responsável pelo que eles fariam no dia. A mulher sorriu para o piloto e o guiou até o local onde ela e Lizzie estavam paradas com um sorriso nos lábios para apresentar os dois jovens.
encarou e sentiu que as pernas o abandonariam a qualquer momento. Ela estava diferente que da última vez em que se viram, parecia mais madura e, definitivamente, havia conseguido ficar mais bonita ainda.
Suas mãos se tocaram em um cumprimento rápido assim que Martha os apresentou, embora não houvesse nenhuma necessidade, e quis sair para respirar. Sentia-se sufocada só por estar ali, de frente para o piloto após tanto tempo.

– Liz, eu posso tirar alguns minutos para descansar? – perguntou baixo à empresária, rezando para que recebesse uma resposta positiva, e foi guiada para uma sala especial montada próxima.

A mulher se sentou em um sofá que havia por lá, inspirando e expirando fundo diversas vezes a fim de se acalmar e tranquilizar seu coração e sua mente.
Sempre jurou a si mesma que havia superado , mas nunca imaginou como seria reencontra-ló após tanto tempo simplesmente porque nunca cogitou a possibilidade de retornar a Mônaco.
Mas lá estava ela, sem nem conseguir ficar perto do rapaz em um local público, mas prestes a ficar dentro de uma com ele por quatro voltas no circuito.
Seu coração batia acelerado e uma chuva de memórias apareciam em sua mente. ainda conseguia sentir o gosto dos lábios do rapaz nos seus.
Do lado de fora, estava do mesmo jeito: surpreso e sentido. A diferença era que ele havia retornado ao paddock club para reclamar com a cunhada que ela não havia contado que seria a sua companhia para a publicidade.
Descobrir por conta própria havia sido um choque. A parte que ele acreditava estar adormecida dentro de si, se mostrou plenamente viva e capaz apenas com um aperto de mãos.

– Vá falar com ela. – era a frase que havia sido dita por Arthur e Emilie.

Era o que o jovem piloto havia decidido fazer.
Caminhou de forma apressada e não parou quando uma mulher lhe disse que estava descansando. sorriu, tranquilamente, e disse que o assunto era sério.
Na sua cabeça, apenas uma frase dita por se fazia presente e ele finalmente entrou na sala, encarando a para dizer o que mais esperava.

, nos reencontramos.


FIM


Nota da autora: Um desafio escrever essa história, mas muito feliz de ter conseguido. Um obrigada especial as meninas do grupo F1❤️ que tiveram a ideia desse projeto e ajudaram não só a criar tudo, mas desenvolver e cuidar para que desse certo. Entre surtos e tretas, ficou tudo maravilhoso. Essa história faz parte do projeto Drive To Survive, um união entre várias autoras que escrevem sobre Fórmula 1. Clicando aqui, você irá para a página onde todas as histórias estarão hospedadas permanentemente.


Nota da Scripter: Essa fanfic é de total responsabilidade da autora, apenas faço o script. Qualquer erro, somente no e-mail.


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