Diga Que Me Ama
por Clara


Challenge #03

Nota: 8,2

Colocação:




“Mas o que você está fazendo?” Uma garota ruiva me perguntava em sonho. Seus olhos verdes me fitavam com tanto pavor que eu ficava com medo de mim mesmo.
“O que parece que eu estou fazendo?” Eu respondia com agressividade, evitando olhá-la nos olhos. Meu rosto estava vermelho de raiva e eu mexia compulsivamente em uma mala.
“Pára com isso! Pára, por favor.” Algumas lágrimas começaram a escorrer sobre suas bochechas extremamente rosadas.
“Agora é tarde.” Eu suspirei. “Nós já viemos até aqui. Se voltarmos atrás, vamos ser pegos.”
“Eu não ligo.” Ela caminhou até mim e tirou as minhas mãos de dentro da mala, segurando-as com firmeza e me mirando com súplica. “Nós vamos dar um jeito nisso. Vamos embora. Deixe isso aí. Essa sua namorada está te corrompendo. Você não precisa disso, . Vamos comigo. Esqueça disso! Nós vamos conseguir um presente pra ela sem que você precise roubar nada. Agora vamos embora.” A garota ruiva me puxou e saímos do lugar escuro em que nos encontrávamos.


Eu acordei exasperado. Todas as noites a idéia de que o dia dos namorados estava chegando me amedrontava. O dia dos namorados seria no dia seguinte e eu não sabia o que deveria dar para . Flores? Não, flores murchariam. Chocolate? Não, ela reclamaria que eu a deixaria gorda. Um simples cartão, um recado de amor? Com certeza não, uma vez que me daria um presente, no mínimo, caro.

Antes que eu pudesse continuar a pensar, Fluffy, meu gato, se aproximou e começou a lamber meu rosto. Ele era, definitivamente, meu brinquedo preferido. Não que eu o tratasse como tal, mas, todas as noites, brincávamos juntos, sobre a minha cama, antes que eu pegasse no sono abraçado a ele. Fluffy subiu na minha cama e se aninhou no meu peito.

“Ei, garotão. Tudo bom com você?” Acariciei seu pêlo acinzentado. “Perdeu o sono também? Não sabe o que dar pra sua namorada? Pelo menos ela não é tão exigente quanto a .” Sorri comigo mesmo. Conversando com um gato em plena madrugada? Eu devia ser louco. “O que você acha que eu devo dar pra ela? Será que ela se contentaria com o meu amor, Fluffy? Não, não é mesmo? Garotas sempre querem mais. Elas são alienígenas vindas diretamente do planeta consumo! São materialistas! Aposto que sua namorada não é assim. Ela com certeza é uma gata terráquea, ao contrário da minha namorada, que, um dia eu ainda descubro, é uma alienígena. Certeza, Fluffy! As garotas não são do mesmo planeta que os garotos.”

Depois da minha reflexão inútil, Fluffy desceu da cama. Me virei para observar o relógio, que marcava quatro e vinte da manhã. Eu teria tempo suficiente para ficar pensando no que dar para a minha garota até as seis, hora em que eu iria me arrumar e sair para tentar comprar alguma coisa. Infelizmente, quanto mais tentamos pensar em alguma coisa, mais nossa mente se desvia para coisas que desejamos esquecer.

, meu amor!” pulou em minhas costas enquanto eu andava tranquilamente pelo parque, apreciando o sol maravilhoso que brilhava naquela manhã.
“Oi.” Sorri fraco, me virando para encará-la. “Como você está?”
“Bem.” Minha animação provavelmente a tinha contagiado. Por mais que ela tivesse a horrível mania de falar com uma voz excessivamente alta e grossa, sempre estava alegre e resplandecente. “...” Afinou sua voz, coisa que acontecia raramente. “A gente precisa conversar.”
“O que foi, ?” Revirei os olhos.
“Será que dá pra sentarmos?” Seu tom voltou ao normal. “É realmente sério.”

Nos dirigimos para o banco mais próximo. Nos sentamos e ela, delicadamente, colocou sua mão sobre a minha perna esquerda.

“Pode falar.” Incentivei minha namorada.
“Eu quero saber o que você quer ganhar de dia dos namorados.” Sua expressão realmente mostrava seriedade mas, ainda assim, não consegui evitar de rir. “Qual o problema, ? Eu não sei o que eu posso te dar.” se desesperou. “Eu já pensei em algumas coisas, mas... ! Por favor! Dá pra parar de rir?”
“Desculpa, . Eu achei que fosse alguma coisa séria.”
“Mas é sério, !” Agora ela parecia estar se estressando. “Tudo bem... Eu quis começar a falar sobre isso pra dar uma amenizada na situação, mas já que você não quer me ajudar, eu vou falar o que eu quero falar pra você há muito tempo.” A voz grossa e escandalosa da minha namorada já começava a chamar a atenção de algumas pessoas, que passavam por nós e não conseguiam evitar uma bisbilhotada. “Você conhece a Ava, não é? Ela é super amiga sua e está namorando a menos de três meses com Evan. E sabe o que ele deu pra ela? Um anel! E não foi só um simples anel! Foi um anel de ouro, com um brilhante em cima. Um anel que, por acaso, já pertenceu à avó dele. É uma aliança, sabia? E o que você me deu, ?! Flores que duram por alguns dias, bombons que só me deixam mais gorda, recados de amor pra eu prender na geladeira!” Respirou fundo antes de continuar. “Sabe quantas vezes eu já ouvi o Evan falar ‘Eu te amo’ pra Ava, ? Inúmeras. E você pode não saber, mas eu percebo que você nunca fala que me ama. Eu falo dos meus sentimentos pra você e o que você faz? Sorri, agradece, mas nunca diz que me ama de volta. Pode não parecer, mas eu sofro com isso. Você parece que não está feliz comigo. Nunca está satisfeito. Falta alguma coisa em mim pra você, ? Porque, se faltar, pode falar.” Ela segurou minhas mãos com força, assim como a garota do meu sonho. “Eu te amo, . Te amo demais. E eu faria qualquer coisa pra te agradar. Eu mudaria qualquer coisa em mim pra te fazer feliz.”
, eu não quero que você mude.” Apertei suas mãos de volta. “Nosso namoro está bom do jeito que está. Não se preocupe comigo. De verdade.” Ela suspirou.
“Eu te amo, .” Sua voz quase masculina soltou entre um suspiro.
“É... Legal.”


Essas lembranças me aterrorizavam. Além de não saber o que dar para , eu ainda teria que arrumar um meio de me desculpar por não ser muito bom em expressar meus sentimentos. Fiquei perdido em meus pensamentos e, quando dei por mim, já passavam das seis e meia da manhã.

Me levantei da cama, agradeci a Deus por ser sábado e eu não ter que trabalhar, tomei um bom banho de banheira, com bastante espuma e uma água bem quentinha para ver se conseguia relaxar um pouco. Observei o tempo e vi que uma leve brisa soprava. Vesti uma calça jeans, uma pólo vermelha e um colete de linho marfim sobre ela, só para me manter aquecido o suficiente. Guardei minha carteira e meu celular no bolso de rãs da calça e fui para a loja de Evan, um dos meus melhores amigos, onde eu tinha certeza que encontraria um presente bom o suficiente para e ainda poderia ter um pequeno auxílio dele.

Entrei na loja de roupas e Evan rapidamente me cumprimentou.

“E aí, cara? Como andam as coisas?” Seu sorriso era verdadeiro e reconfortante. Eu sabia que ele me ajudaria.
“Ah! Bem... Na medida do possível. Estou pensando em que dar pra de dia dos namorados. E não tenho nenhuma idéia. Pensei que você poderia me ajudar...” Cocei minha nuca, indicando que estava desconfortável com o pedido.
“Mas é claro que ajudo! Vem comigo! Vou te mostrar uma roupa linda que você pode dar pra ela.” Ele pegou em minhas costas e me guiou para a sessão de roupas femininas.

Evan tirou de uma das araras uma calça jeans com os bolsos bordados e, de outra arara, uma blusa com um grande coração cor-de-rosa sobre o qual as palavras meu namorado lindo me deu de presente se destacavam em letras brancas.

“Ela não vai resistir.” Piscou.
“Posso confiar em você?” Arqueei uma sobrancelha. “Você é tão cara quanto eu. Não sabe o que uma garota quer.”
“Eu sei que a quer essa roupa. Vamos... Pode comprar. Eu ainda faço um desconto legal pra você.” Ofereceu.
“Tudo bem então.” Relaxei. “Mas se ela não gostar você é um cara morto.”

Caminhamos até o caixa e Evan passou as roupas para mim. Devo admitir que pensei que fosse ser muito mais caro, mas, graças à camaradagem do meu melhor amigo, eu recebi um desconto que soou agradável para o meu bolso.

“E o que você vai dar para a Ava?” Perguntei enquanto saía da loja.
“De verdade? Não vou dar nada. Terminamos semana passada. Tivemos um probleminha. Não foi nada muito grave, continuamos sendo grandes amigos, mas eu tenho certeza que ela não iria querer continuar comigo depois daquilo.” Falou com seriedade.
“E o que foi?”
“Ah! Coisa que eu prefiro não comentar... Provavelmente você vai descobrir logo.” Abriu um sorriso. “Bom, , foi um prazer receber você aqui. Volte sempre... Agora eu tenho que continuar a cuidar da loja.”
“Falou, cara.” Dei duas batidinhas em seu ombro e saí.

Caminhei pelas ruas carregando a sacola com o presente de . Eu não sabia ao certo aonde eu ia, mas estava definitivamente mais tranqüilo. Eu sentia que meu namoro estava salvo e esperava que estivesse certo. Enquanto olhava a paisagem com muito mais admiração do que de manhã por estar, naquele momento, completamente relaxado, encontrei Ava, sentada em uma mesa de um café.

“Hey, .” Olhei para ela, que me chamava enquanto seus cabelos extremamente pretos voavam com a brisa suave que batia em nós.
“Oi, Ava.” Sorri.
“Senta. Vamos conversar um pouquinho.” Ela apontou para a cadeira ao seu lado e vi o seu dedo médio engessado.
“O que aconteceu?” Me sentei.
“Ah! Quebrei enquanto jogava handebol.” Respondeu com naturalidade. “Comprou na loja do Evan?” Apontou para a sacola que eu acabara de deixar na outra cadeira.
“Foi, sim... Fiquei sabendo que vocês terminaram.” Mudei de assunto.
“É, terminamos...” Ela suspirou. “Na verdade, era por isso que eu estava jogando handebol. Depois de tudo que eu passei, só o esporte consegue me fazer esquecer.”
“O que aconteceu de verdade?”
“Então ele ainda não te contou?” Seus olhos verdes me fitaram com curiosidade.
“Não...” Revidei o olhar.
“O Evan é gay, ...” A garota constatou com tristeza.
“Gay?! Mas... Não pode ser...” Levei minhas mãos à cabeça. “Ele é meu melhor amigo.”
“Isso não faz dele menos gay.” Ela sorriu, compreensiva.
“Mas... Como você descobriu?” Eu estava atordoado.
“Bom... Foi engraçado na verdade.” Abafou um risinho. “Nós estávamos na casa dele. Ele estava sentado no sofá e eu estava deitada no colo dele. Não sei o que aconteceu, mas estávamos conversando sobre pornografia. Eu acabei por perguntar se ele já tinha lido a Playboy.”
“Visto a Playboy.” Corrigi.
“Que seja.” Ava deu de ombros com um sorriso. “O que importa é que ele me olhou com tanto nojo que eu achei que ele pudesse vomitar a qualquer momento. Eu disse que era normal homens lerem a revista e que eu não me incomodaria nem um pouco se ele falasse que já tivesse lido, mas tudo que ele fez foi dizer que nunca leria porque ele tinha nojo.”
“E aí você desconfiou?”
“É... Aí eu perguntei que tipo de música ele gostava... Ele começou a se revelar aos poucos, sabe... Mas no fim eu perguntei claramente se ele era gay. Ele só pôde abaixar a cabeça e dizer que era. Disse que não queria me magoar, mas estava namorando comigo porque não tinha coragem de assumir pra família. Eu abracei ele e falei que estava tudo bem. Não tinha mais nada que eu pudesse fazer.”
“Meu Deus.” Passei a mão na nuca. “Eu nunca poderia imaginar.”
“E acho melhor você se preparar, ...”
“Por quê?” Não entendi o que ela falara.
“Quer ir lá em casa?” Ela deixou algum dinheiro em cima da mesa do café e nos levantamos. Ava acendeu um cigarro e me ofereceu. “Tem melancia por lá... Eu parto pra você e a gente come enquanto conversa um pouquinho mais, o que acha?”
“Pode ser.” A segui, impressionado em vê-la fumando. “Desde quando?” Deixei a pergunta solta.
“O quê?”
“Você fuma, Ava.” Afirmei.
“Desde que eu quebrei o dedo. Você pode não entender, , mas quando a gente perde alguém que a gente gosta, a gente precisa de alguma coisa pra fazer. Eu jogava handebol. Com o dedo quebrado, eu encontrei abrigo nos cigarros.”
“Nossa...”
“Talvez agora você dê mais valor à .” Ela piscou.
“Eu dou.” Protestei.
“Tem certeza?”

Não tive coragem de responder. Ava parecia tão certa no que falava e eu resolvi que mais tarde, quando estivesse sozinho no meu quarto com Fluffy, repensaria minhas atitudes com a minha namorada.

Chagamos à casa da garota e subimos direto para o apartamento dela, que não ficava em um andar muito alto. Ela abriu a porta e um cheiro estranho veio de encontro às minhas narinas.

“Desculpa.” Seus olhos verdes se arregalaram.

Ava correu para a cozinha e voltou de lá com uma vassoura e uma pá, instrumentos estes que serviram para limpar as necessidades que seu cachorrinho, ainda filhote, tinha feito no tapete da sala. Depois da vassoura guardada e das mãos lavadas, a garota voltou com a melancia partida.

“Sirva-se.” Ela me entregou um prato e colocou a travessa com os pedaços de melancia sobre a mesa.
“Ava...” Comecei enquanto colocava a fruta para mim. “Por que eu sinto que você está tentando me agradar?” Ela se engasgou um pouco.
“Talvez porque eu realmente esteja.”
“Com qual intenção?”
“Não posso simplesmente agradar um amigo?” Quando a garota me fitou, percebi a mentira em seus olhos.
“Pode... Mas não é por isso que eu estou aqui.”
“Talvez não seja.” Sorriu.
“Por que eu estou aqui, Ava?” Deixei o garfo de lado, parando de comer.
“Porque eu preciso te preparar para uma coisa, .” Ela também largou o garfo. “Bom... Agora você já sabe que o Evan é gay...”
“Sei... E daí?”
“Bom... Eu preciso te contar pra você poder preparar uma reação ou qualquer coisa assim...” Respirou fundo. “, o Evan está preparando uma declaração pra você. Ele quer contar que, bom, você sabe, está apaixonado por você. E acho que seria saudável se você estivesse preparado na hora que ele te falar.”

Eu simplesmente não sabia o que responder. Não sabia como agir. Eu queria dizer alguma coisa para Ava, mas Evan era meu melhor amigo e eu não estava preparado para que tudo isso acontecesse.

Me levantei da mesa completamente atordoado e, sem proferir nenhuma palavra, saí da casa da minha amiga. Caminhei até o meu apartamento enquanto pensava nos acontecimentos recentes. Passei em frente à loja de Evan, que acenou para mim através da vitrine. Forcei um sorriso amarelo e continuei em meu caminho. Eu precisava evitá-lo e, acima de tudo, eu precisava de .

Entrei em casa e telefonei para ela. Pedi que ela fosse até lá, me fazer um pouco de companhia. Eu nunca tivera me sentido tão estranho. Eu nunca poderia imaginar que Evan era gay. Também não sabia como agir, afinal ele era o meu melhor amigo. Mas o que ele poderia pensar se eu continuasse a falar com ele depois de tudo que eu sabia? Não... Eu tinha decidido que o melhor para nós dois seria o afastamento, mas não é fácil se afastar de um amigo. Por isso eu precisava de .

Depois de fazer o telefonema, entrei na banheira de água quente para relaxar. Era incrível como a banheira era meu primeiro refúgio quando eu estava sobrecarregado.

Saí do banho quando ouvi a campainha tocar. Era a minha namorada.

“Oi, .” Abri espaço para ela entrar.
“Que saudade, meu amor.” Ela deixou uma caixa de sapatos furada que carregava sobre o sofá e me abraçou calorosamente. “Tudo bem com você?” Se sentou. Eu deitei minha cabeça sobre suas coxas.
“Não...” Suspirei. “Eu já te falei o porquê quando eu te liguei.”
“Não se preocupe, meu amor.” Sua voz estava estranhamente fina. “Vai dar tudo certo. Você vai superar.” Ela riu. “Mas sabe que chega a ser engraçado? Será que o Evan realmente acredita que você iria me largar pra ficar com ele?”
“Não sei o que ele pensa.” Me sentei corretamente e corri meus dedos por seus longos cabelos cor-de-mel.

Ficamos por um curto período em silêncio e, então, pegou a caixa que trouxera consigo.

“Bom... Eu sei que o dia dos namorados é só amanhã... Mas eu resolvi te trazer o presente hoje.” Me entregou a caixa, que nem embrulhada estava. Arqueei uma sobrancelha. Ela sempre fora de dar presentes caros e de marca, geralmente bem embrulhados. E agora me trazia uma caixa de sapatos?
“O que é?” Fiz menção de sacudir.
“Não balança!” Segurou meu pulso. “Só abre.”

Tirei a tampa e, dentro da caixa, vi um gatinho. Tão pequeno que caberia na palma da minha mão. Olhos muito azuis e um pelo rajado de preto e branco.

“Ele é lindo, .” Sorri de verdade. “O Fluffy vai adorar ter companhia.”
“Que bom que você gostou.” Seus olhos pretos se iluminaram. “Como você já tinha me dito que adorava brincar com o Fluffy antes de dormir, pensei que seria bom que você tivesse mais um gatinho pra brincar de noite.”
“Eu adorei, .” Dei um beijo caloroso na minha namorada. “Bom, já que você já me deu seu presente, vou te dar o seu...”

Fui rapidamente até o quarto para buscar a sacola com o presente dela. Quando voltei, fitava minhas bebidas no bar, procurando alguma coisa que nos servisse. Pigarreei.

“Desculpe.” Ela se virou, com um grande sorriso. “Eu queria pegar umas bebidas pra nós. Pensei que seria bom se a gente tomasse alguma coisa e assistisse a um filme. O que você acha?”
“Eu prefiro sair pelas ruas... Ainda está claro e a gente pode esperar anoitecer pra voltar pra casa e aí sim beber e assistir o filme.” Sugeri. “Mas vamos ao que interessa. Seu presente.” Estendi a sacola para a garota, que a pegou com empolgação.
“Ai, ! É lindo!” Ela tirou as peças do embrulho e levou as mãos à boca. “Eu adorei, meu amor.” Ela me abraçou a me deu um selinho.

Ficamos algum tempo contemplando nossos presentes e depois decidimos sair para dar umas voltas pela cidade, sem compromisso. Deixei Fluffly e Filburd, o meu mais novo gatinho, em casa. Começamos a andar.

Estávamos em uma rua desconhecida por nós dois. Muitos prédios estavam sendo construídos e estava tremendo com a idéia de serem todas construções abandonadas.

“Com esse jeito de menina e esse gosto de mulher, e nada existe em você que eu não ame. Sou metade sem você.” Ouvi um pedreiro cantar para minha namorada quando passamos perto de sua construção.
“O que foi isso?” Ela sussurrou para mim.
“Foi só um pedreiro.”
“O que ele está fazendo?” Arqueou uma sobrancelha.
“Tentando passar uma cantada em você.”
“Com Reginaldo Rossi?” Sua expressão me fazia rir.
“Ele gosta.” Gargalhei. Mais uma vez o pedreiro cantou.
“Hey, moço, pode parar de cantar Reginaldo Rossi. A moça tá acompanhada e não gosta, ok?”
“É, eu to acompanhada.” confirmou com sua voz grossa e excessivamente alta.
“Eita!” Ouvi o pedreiro gritar para os companheiros. “É travesti!” Suspirei. Sabia que não gostava quando falavam isso dela.
“Ignora eles, ok?” A abracei pelos ombros.

Caminhamos em silêncio por mais algum tempo. Eu sabia que aquele comentário dispensável do pedreiro tinha deixando minha garota chateada. Chegamos a uma praça, onde nos sentamos.

, você acha que eu falo igual um travesti?” Sua voz, pela segunda vez naquele dia, estava estranhamente fina.
“Claro que não.” A abracei com força. “E mesmo que você falasse...” Respirei fundo, me preparando para falar o que ela queria ouvir e, por mais estranho que fosse pra mim, eu queria falar. Eu nunca dissera pra ela dos meus sentimentos, talvez por medo ou por insegurança, mas eu sentia que precisava falar. Eu, pela primeira vez, queria falar. “Mesmo que você falasse... Eu te amo, . Do jeito que você é.”
“O quê?” Sua voz voltou um pouco ao normal e seus olhos se arregalaram. “Você disse o quê?”
“Eu disse que eu te amo.” Eu consegui repetir. Eu me sentia mais leva com essas palavras e me sentia bem ao dizê-las. “Muito.”
“Eu não acredito! Esse é o melhor presente que você poderia me dar!” Ela me abraçou com força e senti algumas lágrimas caindo nos meus ombros. “Meu Deus, será que isso é verdade ou é só o seu irmão gêmeo malvado que quer me ver sofrer amanhã, quando você não me falar isso de novo?”
“Isso é verdade, . Não é meu irmão gêmeo malvado.” Eu ri um pouco. “Eu te amo.” Passei minhas mãos por suas costas, o que fez seu cabelo se afastar um pouco e aparecer uma pequena mancha vermelha.

Me soltei dela e a virei, procurando a mancha vermelha.

“O que é isso?” Perguntei quando achei um pedaço.
“Isso?” se virou de costas e tirou o cabelo para deixar visível o coração vermelho que fizeram, com o meu nome escrito. “Uma tatoo que eu fiz. Eu não quero te esquecer, . Eu te amo, mas estava com medo de te mostrar. Não sabia o que esperar de você... Mas agora.” Seu sorriso mais uma vez preencheu os lábios.
“Uma tatoo com o meu nome?” Sorri, abobado. “Você realmente me ama, não é?” Ela afirmou. “Bom... Eu também te amo.” Nos beijamos e então nos levantamos, prontos para voltarmos para minha casa e começarmos nossa comemoração do dia dos namorados.


FIM



Nota da autora: Oi, gente!
Tudo bom? Então... Espero que vocês gostem! Essa é minha terceira fic para o chall. As outras vocês podem ver clicando nos links aí em baixo, ok?
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Beijos :*

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