Challenge: #010
Nota: ---
Colocação:





- Mamãe, mamãe! Conta uma história pra eu dormir? - Escutei Serena me chamar de sua cama.
- Claro, meu amor. - Fui até o quarto e me deitei ao seu lado, apagando as luzes em seguida. - Que história você quer?
- Eu quero uma história de princesa.
- Outra história de princesa, meu bem?
- Por favor, mamãe!
- Tudo bem. - Ri, me rendendo. - Vou te contar uma história. Mas essa é verdadeira.
- Sério? - Os olhos da minha pequena Serena brilharam à meia luz. - E aconteceu há muito tempo?
- Mais ou menos. - Sorri. - Pra você, sim.
- Então me conta, mamãe.
- Está pronta?
- Estou! - Respondeu com animação.

Passei meu braço ao redor do corpo da minha pequena. Serena tinha apenas oito anos e era a razão da minha vida. Arrumei seus travesseiros e olhei fundo em seus olhos, intensos como os de seu pai. Respirei fundo e, sabendo qual seria a história daquela noite, comecei.

Era uma vez, há muito tempo atrás, na pequena ilha de Mallida, um príncipe. Esse príncipe era muito bonito, mas suas qualidades não paravam por aí. O príncipe também sabia nadar muito bem, tocava piano e era um perfeito cavalheiro. Não o tempo todo, mas conseguia ser quando queria. Ele, no entanto, não era sempre perfeito. O príncipe tinha vários defeitos. Por exemplo, era viciado em perfumes e morria de medo de altura.

- O príncipe tinha medo de altura? - Serena fez uma careta.
- Tinha, acredita? - Fiz uma voz incrédula.
- Príncipes têm que ser corajosos.
- É verdade, mas esse era diferente.
- Tá bom. - Se conformou. - Pode continuar.

O nome do príncipe era Gregory. Em sua pequena ilha, ele possuía alguns hábitos. Todo dia pela manhã, ele saía para correr na praia e, depois de alguns quilômetros, ele voltava para perto de seu castelo e, antes de entrar, tomava um rápido banho de mar. Foi naquele mar que conheceu uma garota.

- Uma princesa, mamãe?
- Acalme-se, minha princesa. - Acariciei seus cabelos.

Era uma garota comum, como qualquer adolescente daquela ilha. Ela era um pouco mais nova do que Gregory. Enquanto ele tinha 23 anos, a garota tinha apenas 18. Naquele dia, ela estava nadando nas proximidades do castelo e Gregory a avistou. Percebendo como ela era bonita, decidiu se aproximar.

"Bom dia." Ele falou.
"Bom dia." A garota respondeu.
"Não vai fazer uma reverência nem nada?"
"Deveria?" Provocou. "Até onde eu sei, você que veio até mim e não o contrário, príncipe."
"O prazer é todo meu, plebeia."


- Ela era uma plebeia?! - Serena gritou. - Eu quero uma história de princesa, mamãe, e não de príncipe.
- Espera, meu amor. Daqui a pouco você vai entender.

"O que faz aqui perto do meu castelo?"
"Que eu saiba a praia é pública, príncipe. Se eu for tentar achar um pouco de água longe do seu castelo nessa ilha minúscula, eu vou morrer sem encontrar."
"Quanto exagero, plebeia." Gargalhou.
"Eu tenho nome, príncipe." Mergulhou.
"E qual seria?" Gregory questionou assim que viu a cabeça da garota fora da água.
"Emma." Respondeu.
"Gregory."
"Como se você precisasse se apresentar." Riu ironicamente. "Todos te conhecem, príncipe."
"Eu também tenho nome, plebeia."
"Todos te conhecem, Gregory." Girou os olhos. "Você e sua maravilhosa família aparecem na televisão o tempo todo."
"E quanto você me conhece para falar qualquer coisa de mim ou da minha família?"
"Conheço o suficiente." Deu de ombros. "Agora, se me dá licença."

Emma, então, mergulhou e Gregory a perdeu completamente de vista. Tentou ver algum rastro através das águas claras que banhavam o pequeno país, mas, aparentemente, ela tinha aproveitado a areia levantada e a espuma formada por uma onda para desaparecer. O príncipe deu um mergulho rapidamente e, sem nem ao menos se secar, retornou a seu castelo.

Assim que chegou, Greg, como era conhecido pelos mais próximos, foi direto para seu quarto, que ficava no andar de baixo, por causa de seu pavor de altura. Tomou um banho para tirar o sal do corpo e, como quase sempre acontecia, ficou sem nada para fazer. Leu durante um tempo razoável e então decidiu andar pelo grande salão de festas, observando os quadros que decoravam o local. Parou para analisar, em especial, um quadro abstrato. Ele nunca entendera muito bem aquele tipo de arte e não gostava muito também, mas era uma unanimidade da família Sutherland: quadros abstratos eram maravilhosos pela sua abrangência de interpretações. Afastou-se um pouco do quadro e tentou interpretá-lo. O que ele poderia significar?

"Vossa Alteza..." Uma das empregadas do palácio se aproximou, interrompendo o devaneio do rapaz. "O almoço está servido e a rainha te espera."


- Meu amor? - Chamei Serena, mas percebi que ela já dormia tranquilamente.

Com cuidado, me levantei de sua cama e desci a escada. Quando pisei no último degrau, esbarrei em meu marido.

- ! - Gritei em um sussurro para não acordar nossa filha. - Que susto! O que você está fazendo aqui?
- Eu estava escutando a história que você estava contando para a Serena. - Sorriu. - Se importa de terminar de contá-la pra mim lá na sala?

Não precisei responder mais nada, apenas segui meu caminho. Antes de ir para a sala, peguei em uma das gavetas do escritório algumas folhas. Sentei-me no sofá e, assim que fez o mesmo, deitei minha cabeça em seu colo, sentindo suas mãos em meus cabelos. Ele sabia o fim, mas desejava me ver contando, como eu fizera algumas outras vezes desde o nosso casamento.

- Onde eu estava? - Perguntei.
- Você estava na parte em que o Gregory é chamado pro almoço.
- Ah! – Exclamei. – Eu vou começar a ler. – Mostrei as folhas. – Eu escrevi essa história, sabe... Queria que você fosse o primeiro a ouvi-la da forma como eu coloquei no papel. – E, voltando meus olhos para o que eu escrevera, comecei a leitura.

Gregory foi para a sala de jantar. Como em todo castelo, tudo era extremamente exagerado. A mesa, onde comeriam ele, o pai, a mãe e a irmã mais nova, possuía dezesseis lugares a mais do que a família precisaria naquele momento. O rapaz se sentou e abriu seu prato, que já estava preparado para ele.

"Greg, como anda a leitura?" A rainha questionou.
"Anda bem, mãe." Respondeu. "Por mais que eu não ache que ler sobre como governar vá me ajudar quando eu me tornar rei."
"A leitura é importante. Todos os reis e rainhas de Mallida leram. Você não será diferente." O rei afirmou. "Eu tenho uma coisa importante para te falar, filho."
"O que é?"
"Eu vou abdicar em seu favor." O patriarca anunciou.
"O quê?!" Foi a vez da princesa. "Papai, o senhor não pode fazer isso! O Greg não está pronto!"
"Mallida mal é um país. Mallida não aparece na maioria dos mapas. A população é pequena, estável. Não será tão difícil. Eu garanto que o rei Gregory IV será um rei muito amado."
"Eu tenho certeza que eu consigo!" Gregory respondeu calmamente. "Eu estudei pra isso minha vida inteira. Se o senhor quiser mesmo abdicar, eu estarei disposto a assumir."
"Só tem um problema, Greg." A mãe dele avisou. "De acordo com a nossa lei, você não pode se tornar rei solteiro. É uma irregularidade. E a última coisa que queremos é nossa família acusada de alguma irregularidade. Sempre fomos uma monarquia muito correta e vamos continuar assim. Por isso, estamos preparando uma festa há alguns meses. Convidamos princesas e as garotas do reino."
"Não, mãe..." O rapaz se levantou da mesa sem ao menos tocar na comida. "Eu quero ser rei e aceito que meu pai abdique, mas não posso evitar ficar um pouco triste. Essa festa está sendo preparada e eu nem ao menos fui avisado. Encontrar uma boa rainha, como a senhora, requer tempo. O reino pode ficar em perigo se eu escolher qualquer uma. Eu sou contra essa festa, mas, em todo caso, se for necessário, eu irei.”

Gregory voltou para o seu quarto, batendo a porta com força atrás de si. Não demorou para que ouvisse uma batida. Sua irmã, Michelle, entrou e se sentou na cama, ao lado dele. Os dois se entreolharam, mas nenhum conseguiu proferir sons. A garota sabia que seu irmão nunca sonhara em se casar, mas ser rei, na hora certa, era um grande desejo de Gregory. Ela temia que ele não estivesse pronto, mas, se ele acreditava estar, quem era ela para dizer o contrário? Por outro lado... Casar? Que tipo de lei era aquela?

"Greg, você não precisa fazer isso." Ela disse.
"Eu preciso, Mich." Respondeu. "É o meu sonho. É meu dever."
"Mas você estaria disposto a sacrificar sua vida e a vida de uma garota por causa desse dever?"
"Estaria. São duas vidas pela vida de um país inteiro. Pela estabilidade política. Pela honestidade da nossa família."
"É incrível, Greg, como você leva essa coisa de política a sério. Na sua vida como um todo você não é assim."
"Eu sei." Respirou fundo. "Mas eu vou ser rei. E vou nessa festa. Talvez encontrar uma boa esposa demore mais do que nosso pai quer, mas..."
"A vida é sua." Michelle interrompeu. "E, como você já é maior de idade, adulto e sabe o que faz, qualquer coisa que você faça, eu vou te apoiar."
"É muito importante ouvir isso, irmã." Sorriu. "Qual dos meus perfumes eu deveria usar essa noite?"
"Ai, Greg!" A garota gargalhou. "Você é um colecionador. Eu não tenho ideia de quais perfumes você tem. Então, por favor, passe o que você mais gostar."
"Ajudou bastante." Ironizou.
"Não vai almoçar hoje?"
"Não." Disse. "Vou assistir um pouco de televisão, mas prometo que como alguma coisa se eu sentir fome."
"Nada de greve de fome, vossa majestade."
"Majestade ainda não." Riu. "Mas logo, eu espero, vossa alteza."
"Eu espero que o melhor aconteça." Michelle beijou a cabeça do irmão. "Até mais tarde."


- Assistir televisão? - questionou. - Isso não se passa na Idade Média ou em uma época parecida?
- Quando eu disse isso?
- Você falou para a Serena que aconteceu há muito tempo.
- Eu falei que foi há mais ou menos muito tempo. - Ri. - Pra ela, oito anos é muito tempo.
- Então eu vou aceitar essa história da televisão.
- Eu já tinha mencionado televisão em alguma fala da Emma.
- Eu sei... Achei que você tinha errado. - admitiu.
- Eu não erro meus contos de fada. - Afirmei. - Posso continuar agora?

Enquanto isso, em uma pequena casa, Emma estava analisando o que comprara. Duas bolsas Hermès, uma sandália Jimmy Choo, algumas coisinhas básicas de maquiagem da Mac, dois vestidos de uma loja de departamentos... É, nada de muito extravagante. Ela precisava daquilo, não precisava?

Infelizmente, Emma também precisava pagar as contas e as cobranças que não paravam de chegar. Ela era garçonete em um famoso restaurante de Mallida e ganhava o suficiente para viver desde que sua mãe morrera afogada no mar enquanto nadava em um dia de tempestade. Essa tragédia foi capaz de afastar a garota do mar por alguns anos, mas sua intensa paixão pela água falou mais forte. No entanto, tendo que se sustentar sozinha, ainda não tinha noção de como gastar o dinheiro e, então, se tornou uma compradora compulsiva. Sempre depois de seu mergulho matinal, Emma ia ao shopping de Mallida e comprava coisas que julgava serem necessárias, sem se lembrar de seu pequeno salário e das altas cobranças que chegavam pelo correio.

"Emmy..." Hannah, amiga da garota, entrou na casa. "Não..." Foi a única coisa que ela conseguiu dizer quando viu as compras sobre o sofá. "Emmy, você não vai parar de comprar? Isso é uma doença. Você precisa de tratamento."
"Isso não é doença, Hannah!" Respondeu. "Eu compro só o que eu preciso. Se o meu salário não desse, eu não comprava."
"Emma, é óbvio que o seu salário não dá! Você ganha menos do que eu e eu só vivo razoavelmente porque Mallida não tem impostos absurdos! Olha isso!" Pegou as cartas sobre a mesa de centro. "Olha isso, Emma! São contas! Dinheiro que você deve pro Banco Nacional! Dinheiro que você não tem!"
"Eu vou trabalhar mais!" Tirou as cartas das mãos da amiga e as jogou sobre o tapete, pisando sobre elas em seguida. "Eu tenho condições de pagar minhas contas e eu vou te provar!" Se jogou no sofá, em meio às suas compras, e atirou uma almofada em sua amiga, que, com rápidos reflexos, a segurou.
"É sério, Emmy... Eu só quero te ver bem. Você sabe disso." Deu uma rápida pausa. "Eu vim aqui porque quero saber se você vai."
"Onde?"
"Na festa."
"Que festa?"
"A festa do príncipe."
"Eu não fui convidada." Emma deu de ombros, se sentindo incomodada por não ter o convite.
"Todas as garotas de dezesseis a vinte e cinco anos do reino foram convidadas em um pronunciamento da rainha!"
"Você está pensando em ir?"
"Eu vou, com certeza!" Hannah afirmou. "E você deveria ir. Não é todo dia que Gregory Sutherland convida meras plebeias para sua festa."

A amiga de Emma se retirou da casa com um sorriso no rosto. A garota ficou pensando por um tempo. Deveria ir à festa? Aquilo era simplesmente tão clichê. Ir à festa de um príncipe? Lógico que não iria! Estava no séc. XXI! Ninguém da família real poderia dizer a ela o que fazer! Mas e se... Não! Não havia um "mas". Emma não iria à festa de Gregory. Ela não era Cinderela e nem tinha interesse em se tornar uma. A não ser pelos magníficos sapatos de cristal. E seu esplêndido vestido azul. Se fosse, definitivamente precisaria de um vestido. E um sapato. E uma joia verdadeira. Sim, porque festas da realeza exigem produção completa.

"Eu vou!" Emmy decidiu em voz alta.

A garota rapidamente juntou todas as suas compras e as guardou. Pegou sua bolsa e retornou ao pequeno shopping de Mallida, onde ela iria comprar tudo que precisava para a festa no palácio.


- A Emma é uma compradora compulsiva? - Meu marido gargalhou.
- Vai me dizer que você não sabia disso?
- Eu achei que você fosse eufemizar essa parte da personalidade dela mais uma vez.
- Achei melhor colocar abertamente. Pelo menos pra você. Pra Serena não faria sentido nenhum.
- Eu sei. – Se recompôs. – Continue.

No palácio, Gregory assistia à televisão sem prestar muita atenção. Começava a sentir fome, mas, mesmo assim, não queria encarar seus pais naquele momento. O motivo? Simples pirraça. Ele já tinha decidido que seria rei, ainda que para isso tivesse que se casar. Sua obrigação estava na frente de seus desejos pessoais. Ele não tinha escolhido nascer com sangue real, mas era algo que não conseguiria mudar. Seu sangue carregava sua obrigação. E quem tinha dito que casamentos arranjados não podiam ser casamentos felizes? A barriga de Greg roncou. A fome estava crescendo. Torceu para que seus pais não estivessem no andar de baixo e saiu de seu quarto, em direção à sua bicicleta.

O príncipe pedalou até ao pequeno centro de compras. Ele não queria comprar nada... Um perfume, no máximo. Estava ali apenas para comer. Ele sabia que poderia encontrar algo agradável, uma comida mais simples, sem os temperos arrojados que serviam pra ele. Deixou a bicicleta no bicicletário do shopping e se dirigiu para a praça de alimentação. Enquanto colocava em seu prato um pouco de estrogonofe de camarão, foi empurrado em direção às panelas.

“Me desculpe, vossa alteza.” Uma voz quase familiar soou próxima aos seus ouvidos.
“Querida súdita...” Revirou os olhos ao ver quem era. “Esses nossos encontros acidentais estão ficando cada vez mais estranhos.”
“Eu que o diga.” Emma respondeu. “Não é todo dia que eu vejo o príncipe pagando de lunático e se jogando em cima das panelas do restaurante.”
“Não é todo dia que uma plebeia qualquer me empurra em cima das panelas do restaurante como se eu fosse qualquer um e ainda me chama de lunático!” Revidou.
“Eu não te chamei de lunático. Eu disse que você está pagando de lunático. Isso é bem diferente... Agora, se você se considera um lunático, eu não posso fazer nada.”
“Você é uma plebeia muito atrevida, sabia?”
“Sabia...” Ela terminou de colocar sua comida e foi para uma mesa, sendo seguida por Gregory. “E eu estou começando a achar que esse meu jeito atrevido te encanta.”
“Sabia que eu posso te prender por perseguição?” Se juntou a ela na mesa.
“Não pode.” Afirmou. “Você se sentou voluntariamente comigo.”
“Estamos numa monarquia. Eu posso te prender se eu quiser.”
“Você não faria isso.” Começou a comer. “Não vai manchar o lindo nome da sua família, vai, vossa alteza?”
“Não...” Levou um pouco de estrogonofe à boca. “Tem noz-moscada nisso aqui!” Gritou, cuspindo em seu prato a comida.
“Não gosta, mimadinho?”
“Eu sou alérgico a essa porcaria!” Bebeu água. “Sabia que 5 gramas são suficientes pra causar efeitos horríveis? Alucinações, por exemplo?”
“Sabia que menos de 5 gramas aumentam o apetite sexual?”
“O que você está falando, garota?” Bebeu mais alguns goles de água e, afastando o estrogonofe, voltou a comer o que sobrara.
“A verdade.” Deu de ombros. “Deveria comer. Tem que estar agitadinho pra sua festa essa noite.”
“Eu estarei. Com ou sem noz-moscada.”
“Bom...” Emma afastou seu prato, cuja comida estava praticamente intocada. “Eu não posso te fazer mais companhia, alteza. Tenho algumas compras pra fazer.”
“Não trabalha?”
“Dia de folga.” Respondeu. “Até mais.”

Gregory observou a garota se afastar. De alguma forma estranha, ela era interessante. Seu jeito doce e sarcástico, atrevido e comportado, como ela mesma dissera, o encantava. A forma como ela se aproximou dele também o intrigava. Ela não era como as outras garotas. Desde a praia ele percebera aquilo. Era jovem, mas madura. Demonstrava interesse e o desprezava. Mas, no fim das contas, ele sabia que era aquilo. Emma não passava de uma plebeia levemente interessante. Não era com ela que ele poderia se casar para assumir o trono. Um casamento, Gregory sabia, deveria ser firmado na estabilidade e na cumplicidade do casal, coisa que nunca haveria em um casamento com uma garota como aquela.


- Você acha que ele pensou em casamento tão rápido assim, meu amor? Ele estava apaixonado?
- Lógico que não, ! – Gargalhei. – Ele pensou em casamento porque ele precisava se casar, meu bem. Ele analisava todas as garotas do reino.
- Mas ele estava ao menos interessado?
- Estava. Mas interesse vem e vai. Interesse depende de olhar. Emma era bonita, era inteligente. O jeito dela era intrigante. Óbvio que o príncipe iria ficar interessado. – Expliquei. – Bom, continuando...

Depois de comer, Gregory retornou ao seu palácio. Ele tinha que se arrumar para a festa, que começaria às nove horas. Enquanto isso, depois de seu pequeno almoço fora de hora, Emma tentava escolher um vestido. A garota não entendia o que acontecia com ela quando estava perto do príncipe, subitamente parecendo mais confiante e atraente. Será que todas as garotas ficavam assim perto dele? Bom, isso não importava. A questão era que ela ia ao baile e precisava estar no mínimo apresentável.

Apesar de morar em um país minúsculo, o shopping possuía boas lojas. Entrou no estabelecimento de vestidos de festas. Lá, encontrou um vestido azul que parecia perfeito. Tinha um grande decote em U e o busto, em tecido transparente, era completamente bordado com pedras azuis, que se estendiam pelas alças até as costas. A saia de cetim azul céu era justa até o quadril, onde começava a se abrir. Foi também à Tiffany’s e comprou um brinco de brilhantes com cristais azuis. Antes de ir embora, passou na loja Jimmy Choo e comprou uma sandália gladiadora com strass. Agora, sim. Estava pronta para o baile. Emma, então, voltou para sua casa e iniciou sua preparação.

A noite caiu. A festa já estava pronta. O palácio estava iluminado e Mallida em peso estava chegando para ver a escolha da esposa do príncipe. No fundo, todas as garotas tinham esperanças de conseguirem pelo menos um pouco de atenção de Gregory. Ele, no entanto, desejava estar invisível. Sabia que não iria encontrar sua esposa daquela forma.

Enquanto as meninas entravam, Greg tocava uma música suave ao piano. O rei e a rainha estavam em seus tronos, usando suas coroas, que só eram tiradas em ocasiões especiais. As garotas eram anunciadas, entravam pelo tapete vermelho, reverenciavam os monarcas e, então, iam para o salão de baile.

“Senhorita Emma Duncan.” Foi anunciado.
“Emma?” O príncipe quase parou de tocar por um instante, mas voltou rapidamente, sem desviar os olhos da porta por onde ela entrava.

Gregory não conseguiria descrever tamanha beleza. Seus cabelos presos em um rabo de cavalo caíam perfeitamente sobre suas costas, destacando seu rosto bem feito e o seu colo. Antes de reverenciar, parou e olhou para os lados, mordendo seu lábio inferior. A garota fez uma rápida reverência e saiu para o salão principal. Só então Greg percebeu que estivera segurando sua respiração desde que a vira. Ela estava deslumbrante. A plebeia estava verdadeiramente uma... Uma princesa. Sim, era o que ela era naquela noite.

Depois que todas as convidadas se fizeram presentes, o príncipe foi, acompanhado de seus pais, para a festa. As meninas conversavam entre si e com os convidados que apenas prestigiavam tudo aquilo.

“Eu espero não ter que dançar com todas as garotas daqui.” Disse para a rainha.
“Não, meu filho. Eu não faria tamanha maldade com você. Quero apenas que você se divirta.”
“Obrigado, mãe.” Respondeu dividido entre a ironia e o alívio.

O príncipe caminhou pelo salão, cumprimentando as meninas que passavam por ele. Incrivelmente, todas sorriam largamente, fazendo-o apenas abrir um sorriso sem graça e curvar a cabeça.

“Vossa alteza...” Gregory já sabia quem falava. “Será que eu poderia ter um minuto da sua atenção?”
“Emma...” Ele começou. “Você por aqui.”
“Eu vim propor uma trégua.” Estendeu a mão. “Eu sei que não fui uma súdita muito agradável, mas, você tem que admitir, você não foi um bom príncipe hoje.”
“Eu achei que estávamos apenas brincando.” Arqueou uma sobrancelha.
“E estávamos!” Ela deu um tapa no braço do rapaz. “Quando será que você vai começar a entender minhas piadas?”
“Eu te conheci hoje... Acho que ainda tenho uma tolerância, certo?”

A Duncan apenas assentiu e se virou de costas, se misturando à multidão. Que tipo de garota perderia aquela oportunidade, pensou Gregory. Emma era diferente, ele tinha certeza daquilo. Talvez conhecê-la melhor aquela noite não fosse a pior das opções. Seu dever era conhecer uma menina, não era? Ele precisaria se casar de qualquer forma, correto? Então seria melhor se casar com uma que conseguisse mantê-lo interessado, concluiu.

“Emma!” Gritou, indo atrás dela pelo salão. “Emma!”
“Sim?” Se voltou para ele. Sua forma de se vestir, de falar e até de agir não combinavam com a garota que ele conhecera naquela manhã.
“Você... Quer dançar comigo?”


- , eu tenho certeza que não foi tão rápido assim! O Gregory demorou um pouco pra chamar ela pra dançar.
- Não foi! – Contestei, entre risadas, o meu marido. – Ele foi muito rápido. Greg sabia que ele não teria muitas chances de conhecer garotas interessantes naquela festa. Ele também sabia que, se iria se casar, pelo menos podia se casar com alguma garota que ele não conheceu na festa e que parecesse interessante.
- Mas ele pode não ter pensado nisso. Acho que ele queria só diversão naquela noite.
- Pode ser também. – Dei de ombros. – Mais uma vez, continuando...

Uma música lenta começou a tocar e, entregando sua mão ao príncipe, Emmy deixou-se ser levada pela melodia. Os dois começaram a rodopiar pelo salão, sendo seguidos por outros casais formados instantaneamente. A harmonia entre eles era visível. Qualquer um que olhasse, poderia acreditar que o Príncipe Encantado estava dançando com a Cinderela naquele momento. Será que a história deles era aquela?

“É... Pode ser...” Emma pensou alto.
“O quê?” Gregory perguntou.
“Nada.” Riu timidamente. “Besteira minha.”

Continuaram dançando até quase a música terminar. Clichê ou não, Greg a conduziu para o jardim do palácio, buscando um pouco mais de privacidade. Do lado de fora, os arbustos conduziam ao lago, local para onde o príncipe desejava ir. De mãos dadas e em silêncio absoluto, chegaram sem demais problemas ao lago, iluminado apenas pela lua, vagalumes e algumas fracas luzes nas plantas.

“Você quer ir à ponte? Ver o reflexo da lua de lá é maravilhoso.”
“Não!” Emma respondeu rapidamente. “Eu... Não subo em pontes.”
“Não sobe?” A garota respondeu negativamente com a cabeça. “Medo?”
“Gefirofobia.” Deu de ombros. “Alguma outra opção?”
“Eu poderia te levar para a torre se eu não tivesse acrofobia.” Riu. “Você não é única, Emma. Até a realeza tem essas coisinhas estranhas...”
“Bom saber...”
“Eu tenho uma ideia do que podemos fazer, então...”

Depois de falar isso, Greg desapareceu. A Duncan ficou observando o lago e a ponte. Mais uma vez, se sentiu como Cinderela. Se ela se lembrava bem, era em um lugar como aquele para onde o Príncipe Encantado a levava. Por outro lado, ela não entendia o que estava acontecendo com ela. E a segurança que costumava sentir ao lado de Gregory? Emma mal conseguia falar agora! Desde que dançara com ele, a timidez tinha a invadido por completo. Não conseguia ser sarcástica e nem fazer brincadeiras tão eficientes quanto as da praia ou do shopping. O que iria acontecer quando Greg voltasse?

Não houve tempo para pensar. O príncipe se aproximava carregando um pequeno barco. Colocou-o na água e ajudou a garota a entrar, fazendo o mesmo em seguida e ajustando os remos. Os dois estavam sentados em lados opostos. À meia luz, Emma conseguia ficar ainda mais bonita. Gregory remou até o meio do lago e, então, largou os remos.

“Você está bem quietinha, né?” Ele perguntou.
“É...” Abaixou a cabeça.
“Obrigado por ter vindo aqui comigo.”
“Por nada.” Levantou a cabeça em direção ao céu.

Gregory a fitou por alguns momentos. Ele não sabia ao certo o que, mas algo naquela garota, tanto sua versão sarcástica, quando sua versão calada, o intrigava. Ela parecia ser bonita, inteligente, engraçada, forte, mas ao mesmo tempo tímida e frágil.

“Não quer conversar?” O Sutherland insistiu.
“Não tenho certeza.” Riu. “Não sei bem o que está acontecendo comigo. Geralmente eu provoco as pessoas, irrito, mas... Agora eu não quero fazer isso.”
“Então vamos só nos conhecer melhor...” Sugeriu. “O que você gosta de fazer?”
“Eu amo nadar. Tomo banho de mar todo dia pela manhã, antes de ir às compras e depois trabalhar.”
“Eu também amo nadar. Eu corro e dou um mergulho todo dia.” Sorriu. “O que mais?”
“Filmes de terror.” Deu de ombros. “São menos aterrorizantes que pontes.”
“E torres altas.” Riu. “Eu também gosto. Mas prefiro ver com boa companhia. Quem sabe não possamos assistir juntos algum dia.”
“É... Quem sabe...” Evitou encarar os olhos do rapaz.
“Mais alguma coisa?”
“Eu compro. Muito. Todos os dias.”
“Acho que isso é normal.” Concluiu. “Se você trabalha, não tem problema gastar as sobras.”
“É...” Emma não teve coragem de falar sobre suas dívidas.
“Sonhos?”
“Sair de Mallida conta?”
“Isso é um pesadelo e não um sonho.” Brincou. “Sim, conta.”
“É esse. Queria conhecer o mundo, morar em uma cidade grande, com muitas lojas.”
“Você realmente gosta de comprar.” O príncipe falou. “Eu coleciono perfumes. Não tente me reconhecer pelo cheiro. Cada dia é um diferente.”
“Vou anotar isso.” Sorriu brevemente. “Não tem vontade de sair daqui? Conhecer Londres? Nova Iorque? O mundo é muito maior que Mallida.”
“Eu sei...” Sua voz saiu suave. “Mas meu amor por Mallida é maior que o mundo. Eu vou ser rei, Emma.”
“Tinha esquecido desse detalhe.” O sorriso desapareceu. “Você não acha que talvez devêssemos voltar para o palácio?”
“Por quê?” Arqueou uma sobrancelha. “É minha festa, não é? Eu faço o que eu quiser.”
“Tudo bem.” Deu de ombros. “E me desculpe por não estar falando muito. Eu realmente não sei o que está acontecendo comigo agora.”
“Eu já entendi.” Sorriu compreensivamente. “Sabe... Você disse que ama nadar. Estava pensando que nós podíamos cair nessa água agora.”
“Eu não vou fazer isso.” Emma afirmou. “Esse vestido foi uma fortuna.”
“Ah, vamos!” Gregory ficou de pé e começou a balançar o barco de um lado para o outro.
“Eu não acredito que você vai mesmo nos derrubar na água.” A garota se segurou, tentando, inutilmente, evitar se molhar quando o barco virou.

Greg emergiu com um enorme sorriso no rosto. Sua acompanhante, por outro lado, estava com os cabelos grudados em seu pescoço e, os poucos fios que se soltavam de seu rabo de cavalo, estavam colados em seu rosto. Sua maquiagem estava borrada e sua expressão não estava muito amigável.

“Melhora essa carinha, vai.” O rapaz pediu. “Eu acabei de molhar minha casaca italiana e estou feliz.”
“Eu acabei de molhar o vestido que eu comprei hoje. E eu não sou da família real. Vou ter que trabalhar muito pra comprar outro desse.”
“Agora já está molhado.” Concluiu. “Vamos nadar um pouco.”

Emma fitou seu vestido. Ela estava vestida para um baile e não para tomar banho em um lago. Em todo caso, ela já estava lá dentro. A água envolvia seu corpo e tornava aquela proposta quase irrecusável. Rapidamente, tirou suas sandálias e as colocou sobre a madeira do barco, abrindo, pela primeira vez, um sorriso caloroso.

“Então vamos nadar!” A garota gritou. “Apostando corrida, vossa alteza!” E mergulhou.
“Isso não vale!” Gregory nadou até ela e a segurou pela barra do vestido. “Não vale, garotinha.”
“Por quê?” Aproximou seu rosto do dele a ponto de encostarem seus narizes. “Tem medo de perder, príncipe?”
“De você? Eu sei que eu vou ganhar.”
“Então vamos. No três...”
“Três!” O rapaz gritou e saiu nadando.

Emma colocou a cabeça na água e, com toda a agilidade que o vestido permitia que ela imprimisse, seguiu Greg até uma parte ainda mais escura e funda do lago. O vestido azul agora pesava e se manter do lado de fora, por causa da água e do cansaço, se tornava difícil. O rapaz, um pouco mais alto, segurou em sua cintura e encostou seus corpos. A garota prendeu sua respiração. Naquele momento, ela era Cinderela. Por mais que estivesse parecendo mais uma Gata Borralheira, ela teria, pela primeira vez, o seu príncipe. Com esse pensamento, fechou seus olhos e permitiu que fosse beijada.


- Acabou? – Meu marido questionou, segurando em minha mão.
- Não. – Sorri. – Você sabe que não.
- Verdade. – Riu. – Mas eu estou começando a ficar com sono, meu amor.
- Eu deixo você dormir até mais tarde amanhã. Ainda são só onze e meia, meu bem.
- Vou dormir até às dez, no mínimo.
- Tudo bem. – Girei os olhos, me rendendo. – Posso continuar?
- Deve. – Meu marido respondeu e eu voltei meus olhos para o papel.

Emma e Gregory andavam de volta ao palácio de mãos dadas. Ele, provando ser um cavalheiro, carregava as sandálias da garota. Por causa do medo dela de pontes, fizeram um caminho mais longo até a entrada dos fundos, por onde passariam sem serem percebidos pelos monarcas e seus convidados.

Foram discretamente até o quarto do príncipe no andar de baixo. A Duncan se sentou na cama tremendo. O frio começava a aparecer para os dois jovens encharcados. Por um instante, Greg desapareceu, mas não demorou a reaparecer segurando algumas roupas femininas.

“Emma, eu sei que você está com frio...” Colocou as roupas ao lado da menina. “É da minha irmã. Acho que vai te servir. O banheiro é ali.” Apontou. “Eu vou tomar banho no quarto de hóspedes e já volto.”

Ela se levantou e foi ao banheiro. Não pôde evitar ficar impressionada com o tamanho do cômodo. Conseguia ser quase maior do que seu quarto. Tudo era extremamente rebuscado. Por que ela não tinha uma vida fácil daquele jeito? Com tanto dinheiro, poderia comprar tudo que desejasse, sem pensar em contas e sem ter que trabalhar. Tirou seu vestido molhado e o deixou no chão, entrando no chuveiro em seguida. Depois de um banho quente, vestiu o vestido curto casual da princesa e preferiu ficar descalça a usar suas sandálias molhadas. Voltou para o quarto e, sentando-se de frente para a televisão, sobre as almofadas, esperou Gregory voltar.

“Está pronta?” O príncipe perguntou assim que entrou no quarto.
“Pra quê?”
“Pensei que pudéssemos assistir a um filme de terror. Você disse que gostava.” Mostrou o DVD que carregava em sua mão. “Juro que não tem torres altas e nem pontes. Só morte, sangue e monstros.”
“Razoável.” Deu de ombros, rindo.
“Posso me juntar a você?” Se sentou nas almofadas ao lado da garota.
“A casa é sua.”
“Olha, Emma... Quero agradecer por ter vindo, por ter me feito companhia hoje. Eu sei que nós não nos conhecemos direito, mas... A festa foi justamente por isso. Eu não conheço meus súditos. Sou confinado nesse castelo desde criança. Pra ser rei, eu tenho que me casar. É bom que eu conheça algumas moças, não é?”
“Sim, mas... Suas convidadas estão no salão. Talvez você devesse colocar sua casaca e ir para a festa.”
“Minha mãe disse que não iria me obrigar a dançar com todas as convidadas. Ela só queria que eu me divertisse, e é isso que eu estou fazendo.” Se levantou rapidamente para colocar o DVD no aparelho.

Os dois assistiram o filme de terror em silêncio até a metade, quando Emma começou a esconder seu rosto no pescoço do príncipe. Ele não entendia se ela estava com medo, com sono ou se estava, mais uma vez, apenas o provocando. Gregory queria que aquela noite fosse mais além. Ele não estava disposto a deixá-la em casa depois do filme. Queria que ela ficasse ali, ao seu lado, até o amanhecer, momento em que, decidira, pesquisaria um pouco sobre a vida da garota e, se ela preenchesse os pré-requisitos mínimos para a família real e aceitasse, se tornaria sua esposa, em nome do reino.

“Você gosta muito de filme de terror?” O rapaz questionou.
“Gosto bastante.”
“Eu também gosto.” Ele afirmou. “Mas tem uma coisa que eu gosto mais.”
“Tem?”
“Várias na verdade.” Concluiu. “Mas uma em especial, eu gosto mais agora.”

O olhar da adolescente estava assustado, mas sentiu seu corpo relaxar quando as luzes foram apagadas e a televisão desligada. Ainda deitada sobre as almofadas, sentiu as mãos de Gregory deslizando por seus ombros e, delicadamente, tirarem seu vestido.

“Eu não sei se deveríamos fazer isso...” A garota suspirou, fechando seus olhos ao sentir os lábios do príncipe tocarem seu pescoço.
“Você quer isso tanto quanto eu, Emmy.” Ele respondeu com confiança.

Aquela noite, para Emma, foi mais do que a noite em que se tornou uma mulher. Foi a noite também em que Gregory a fez uma princesa de verdade, tendo, ainda que momentaneamente, o príncipe que sempre sonhara ao seu lado, sendo apenas seu.


- Você fala de um jeito... Quase como se a Emma já estivesse apaixonada. Eles se conheceram naquele dia, amor!
- Eu sei. – Confirmei para o meu marido. – Mas você não pode culpá-la. Ela era uma plebeia, órfã, compradora compulsiva, que não estava bem em relação a dinheiro, adolescente, sonhadora... Quantas meninas assim não teriam uma paixão platônica pelo jovem príncipe bonitão?
- Então o príncipe era bonitão? – Gargalhou. – Sempre soube.
- Era bonitinho. – Provoquei. – O suficiente pra fazer a garota ter uma queda por ele. Ele, por outro lado, só achava ela bonitinha, queria testá-la durante a noite e, se tudo desse certo, ele iria se casar com ele por motivos políticos. Era óbvio que ele não gostava dela, até pra ela.

Na manhã seguinte, Emma acordou atordoada, com gritos de Gregory próximos ao seu ouvido. Ela demorou alguns segundos para perceber o que estava acontecendo, mas, assim que reconheceu o príncipe e o lugar onde estava, entendeu toda a situação.

“Emma, você tem que sair daqui! Se meus pais te pegam aqui dentro, você está morta e eu perco o trono! Você tem que ir embora! Se veste e eu vou te levar até a saída do castelo!” O rapaz jogou as roupas de sua irmã sobre as almofadas e, enquanto ela se vestia apressadamente, passou um de seus numerosos perfumes.
“Vamos?” Ela ainda esfregava os olhos de sono. “Depois você pode mandar minhas roupas pra sua casa? Acho que não vou conseguir levar.”
“Não...” Entregou uma bolsa grande para a Duncan. “Aqui estão suas roupas, sua sandália... Não vai ficar nada seu aqui.”

Antes que ela pudesse falar qualquer outra coisa, o Sutherland segurou em seu pulso e, apressadamente, a conduziu para fora do quarto. Saíram pela porta dos fundos, atravessaram o jardim e chegaram à ponte.

“Você vai ter que atravessar.” Ele disse.
“De jeito nenhum.” Respondeu.
“Você tem que ir, Emma! É a saída mais rápida do palácio! A qualquer momento vão aparecer guardas. Se te virem aqui, nós estaremos mortos!”
“Pois eu prefiro morrer a pisar nessa ponte!” Gritou.
“Vamos ver!” O príncipe a segurou com firmeza e a jogou sobre as suas costas, correndo com ela sobre a ponte.
“Nunca mais faça isso na sua vida!” Seus olhos estavam cheios de lágrimas. “Entendeu?! Nunca mais!”

Sem despedidas, a garota correu portão a fora, deixando Gregory aliviado. Rapidamente, o rapaz voltou para dentro do palácio. Agora era a hora de conseguir informações sobre a garota que ele sacrificaria em nome de seu país.


- , do jeito que você conta, parece que esse príncipe é super frio e calculista. – falou.
- Não é isso, meu bem. – Comecei a explicar. – É que o Greg sonha em ser rei. Ele precisa casar e, como ele mesmo disse pra Michelle, ele estaria disposto a se casar sem amor em nome o pais. O que faria ser um sacrifício para a Emma, em especial, são os sonhos de sair de Mallida que ela teria que jogar fora.
- Mas, ao mesmo tempo, ela seria a rainha. Não é tão ruim.
- Realmente. – Concordei. – Não é nada ruim.

“Bom dia, Gregory.” A rainha cumprimentou assim que o rapaz se sentou para almoçar, uma vez que ficara em seu quarto a manhã inteira. “Você desapareceu do baile ontem. Encontrou alguma garota em especial?”
“Não, mãe.” Respondeu rispidamente. “Eu dancei com uma, mas ela foi embora depois. Eu sabia, tão bem quanto a senhora, que seria difícil encontrar uma boa candidata a rainha.”
“É verdade, mas... Então você conheceu alguém?”
“Conheci.”
“Qual seria o nome dela?” A mãe insistiu no assunto.
“Emma Duncan.”
“Duncan não me parece um sobrenome real. Ela é de onde?”
“Daqui.” Greg comia sua comida sem se importar muito com a conversa.
“Uma plebeia?” A rainha fez uma expressão de desagrado.
“Sim... Mas não se preocupe, mãe. Eu cheguei à conclusão que vai ser melhor me casar com alguma garota de linhagem real. É sempre melhor não correr riscos, certo?”
“Fico feliz por sua sensatez.” Sorriu. “Michelle queria conversar com você. Ela e seu pai precisaram almoçar mais cedo para ir visitar um orfanato. Ela te esperará na ponte às quatro horas.”
“Certo.”

A conversa não se prolongou durante do almoço. Príncipe e rainha terminaram de comer e, depois de um breve descanso, Gregory foi encontrar sua irmã sobre a ponte do palácio.

“Queria falar comigo, Mich?” Abraçou-a pelo pescoço.
“Queria...” Sua voz era séria. “Eu vi você e a Emma. Ontem e hoje.”
“Mich, você... Não conte nada pra ninguém!”
“Eu não vou contar!” Ela se virou de frente para ele, gritando. “Mas você poderia ter sido mais responsável, Greg! Como você faz uma coisa dessas com a nossa família?! Se essa garota resolve contar pra imprensa que dormiu com você ou se ela aparece grávida, pode ser o estopim para uma revolução, sabia?! Nós somos uma das únicas monarquias plenas do mundo! As pessoas vêm para Mallida ver o rei que reina e governa! O papai já anunciou que está só esperando você se casar para abdicar! O que nosso povo vai pensar se descobrir que o futuro rei dormiu com uma plebeia? O que vão pensar se por acaso essa menina aparece grávida? Vão dizer que o futuro rei é um irresponsável! Vão querer acabar com a monarquia, porque vai ser melhor não ter um rei do que ter um rei que engravida as plebeias e não se casa com elas depois!”
“Mich, se acalma!” Segurou no braço da sua irmã. “Eu posso me casar com ela.”
“Eu sei que você não vai se casar!” Se soltou dele. “Eu fiquei sabendo sobre as pesquisas que você fez sobre a Emma. Também fiquei sabendo que você já falou pra mamãe que não encontrou nenhuma garota boa o suficiente pra você.”
“Não foi isso que eu disse...”
“Ah, tá!” Girou os olhos, impaciente. “Greg, eu sei o que você descobriu, ok? Quando nessa vida você iria se casar com uma garçonete que compra coisas pelas quais não pode pagar? Você iria colocar suas finanças pessoais em risco por causa de uma garota? Lógico que não, Gregory! Você sempre foi assim... Um galanteador, conquistador barato e só leva duas coisas a sério na vida: sua família e a política. Com essa sua irresponsabilidade, você está colocando as duas em risco!”
“Calma, Mich!” Gritou de volta. “Percebi que eu fiz besteira. Mas agora é tarde. Se a Emma quiser ir à imprensa, eu não posso fazer nada, porque não vai ser mentira. Se eu tenho que me tornar responsável, o primeiro passo é assumir meu erro. Sim, eu sou um galanteador e só me importo com meu futuro político, mas o que está feito está feito. Eu me interessei por ela e cheguei a pensar em casamento, mas, como você mesma disse, eu não posso me casar com uma garota que está devendo cada centavo que possui no banco e um pouco mais. Eu sempre penso primeiro no nosso país, não é?”
“Acho que você tem que continuar fazendo isso mesmo.” Deu de ombros. “Aparentemente, a única vez que você não fez issopode acabar com tudo que as gerações passadas construíram.”


- E o que a Emma fez? – Meu marido questionou enquanto brincava com os dedos da minha mão.
- Bom, de imediato nada. – Contei. – Mas você vai saber dentro de instantes.

Dois meses tinham se passado desde a noite do baile. Gregory ainda estava completamente solteiro, mas vinha saindo com a princesa Maria Laura, da Bélgica, que tinha apenas dezesseis anos. A Duncan e o príncipe não se reencontraram. Obviamente não por falta de vontade dela. A garota, mesmo tendo jurado a si mesma que aquela noite seria insignificante, deixara-se levar pelo momento e se pegava pensando em Gregory durante longos períodos do dia. Ele, por sua vez, preferira evitá-la. Não queria causar constrangimento para nenhuma das partes e, pensando principalmente em si mesmo, muitas vezes optava por se isolar em casa ao invés de arriscar encontrá-la pela cidade.

Greg estava em seu quarto vendo um filme de terror. Era de tarde, mas o quarto estava razoavelmente escuro. O príncipe não estava realmente prestando atenção no filme. Por mais que gostasse, a falta do que fazer em casa o obrigara a assistir os mesmos filmes diversas vezes. Depois de tanta repetição, se pegava pensando em Emma, no fato dela também gostar daqueles filmes e no que acontecera sobre cada almofada em que ele estava deitado naquele momento.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.

“Quem é?” O príncipe gritou do lado de dentro.
“Greg, é a Mich. Eu tenho uma carta pra você.”
“Pode entrar.” A porta se abriu.
“É da Emma.” A princesa entregou o envelope. “Se precisar de mim, eu não vou estar no meu quarto pra você não ter que subir. Eu estarei no jardim.”

Gregory sentou-se em sua cama e começou a abrir a carta. De dentro do envelope saiu um papel de carta rosa, escrito em letras redondas à caneta azul. Sem entender direito o que estava acontecendo, começou a ler.

“Caro Gregory,

Eu sei que não temos nos falado muito desde que tudo aconteceu. Na verdade, nós não nos falamos desde que você me carregou pela ponte. Mas isso não vem ao caso. Você deve estar estranhando essa carta, não é? Tenha certeza que eu não escreveria se não fosse importante, afinal eu percebi que o que aconteceu entre nós não passou de uma noite.

O que eu tenho para falar é que eu estou me mudando para Londres. E eu estou fazendo por você, por sua família e pelo nosso país. Gregory, eu estou grávida. Preferi me mudar, já que vir para uma cidade grande sempre foi o meu sonho. Não quero atrapalhar seus planos de se tornar rei. Só queria que você soubesse que você terá um filho. Não me peça para abortá-lo, eu não vou fazer isso. Também não venha atrás de mim. Sim, é da sua vida que estamos falando, mas esse é um pedido meu. Respeite o pouco de dignidade que me restou.

Com carinho,

Emma Duncan.”


Os olhos de estavam brilhantes e sua boca se curvava em um sorriso sutil.

- Emma estava grávida, então. – Sua voz saía preguiçosa. – E Gregory já sabia.
- Exatamente.
- E ela não ia abortar.
- De forma alguma. Ela podia estar completamente falida, mas não seria louca de tirar a vida de outro ser. – Respondi.
- Tenho certeza que o príncipe não queria que ele abortasse. Lá no fundo, ele sabia que seria a melhor coisa que aconteceria na vida deles.

Mordi meu lábio inferior, em uma tentativa inútil de evitar um sorriso e, então, segui com a história.

“Mich!” Gregory correu pelo jardim em direção à sua irmã. “Mich, o que eu vou fazer?!”
“O que aconteceu, Greg?” A garota abraçou o irmão, que aparentava desespero. “Você está pálido e tremendo! O que aconteceu?!”
“A Emma!”
“Está tudo bem com ela?”
“Não!” Gritou. “Ela está grávida, Mich! Não é possível! Eu devo ter feito alguma coisa de muito grave! Isso é castigo! Castigo! Coisas terríveis assim não acontecem a esmo! Eu devo ter cometido um grande erro!”
“Seu erro, Greg, foi usá-la por uma noite e depois nem olhar na cara dela. Por isso ela ficou grávida!”
“Eu cheguei a pensar em me casar, ok?! Mas eu não podia! Não é culpa minha se ela uma compradora compulsiva endividada! Eu não podia arriscar nossa família! Nosso país!”
“E o que você vai fazer agora, Gregory?” Michelle se virou de costas e começou a andar em círculos pelo jardim.
“Ele vai atrás dela.” Uma terceira voz surgiu na conversa.
“Mãe?” O príncipe engasgou.
“Você ouviu, Gregory. Você cometeu um erro e tem que ir consertá-lo nesse momento. Você vai se casar com a plebeia endividada.”
“Mãe, mas o nosso reino...” Tentou contrabalancear.
“Você colocou nosso reino em risco no instante em que fez o que não deveria ter sido feito. Não foi uma atitude digna de um príncipe. Muito menos de um rei. Vamos fazer nosso melhor. Você irá até ela agora. Irá se oferecer para pagar suas dívidas, além de comprar para ela várias coisas pelas quais ela possa se interessar. Você só voltará para nossa casa com ela e se ela estiver com um anel no dedo. Se ela tiver alguma amiga que já sabe o que aconteceu, o escândalo pode ir à rede nacional em qualquer momento. Por isso, vou iniciar os preparativos do casamento. Se, mesmo assim, sua rejeição for grande, você irá publicamente abdicar do direito ao trono em favor de Michelle.”
“Mãe...” A garota tentou replicar.
“É isso. Tenho muitas coisas pra preparar.”
“Ela está em Londres, mãe.” O príncipe falou.
“Bom...” A rainha hesitou por um instante. “Vá para Londres e esteja de volta com ela o mais rápido possível.”

O Sutherland, sem dizer nada para sua mãe ou sua irmã, entrou no palácio e seguiu em direção ao seu quarto, onde arrumou suas malas. Com uma rápida ligação, mandou prepararem seu navio e separarem uma passagem de trem, já que a acrofobia o impedia de viajar de avião. Algumas horas depois, desembarcava em Londres.


- E como ele pretendia encontrá-la? – perguntou.
- Bom, ele é um príncipe. Ele tinha toda a ajuda possível para fazer aquilo.
- Faz sentido. – Deu de ombros. – Ou talvez ele só tenha seguido o cheiro do amor.
- Não. – Fiz uma careta enquanto gargalhava. – Ele teve ajuda.

Gregory chegou em Londres de madrugada. Não estava com cabeça para pensar em nada, muito menos em Emma e seu filho. Seu filho. Mesmo que fosse estranho falar aquilo, soava bem. Ele teria um filho. Ou uma filha, mas preferia que fosse um filho. Um menino forte como ele, cavalheiro. Talvez fosse melhor que o futuro príncipe não tivesse medo de alturas, mas Greg acreditava que ele teria, uma vez que a mãe tinha gefirofobia e o pai acrofobia.

O Sutherland foi direto para o hotel, onde conseguira um quarto especial no primeiro andar. Acordou na manhã seguinte com uma terrível chuva caindo sobre a cidade. A primeira coisa que fez foi checar seu celular.

“Oi.” Retornou uma das ligações perdidas. “É? Bom saber, estou indo pra lá agora.”

O rapaz pegou um táxi para chegar mais rapidamente até o lugar. Avistou Emma de longe. Ela era inconfundível. No meio de milhares de inglesas, a garota da ilha se destacava. Seus cabelos estavam presos e ela trajava, aparentemente, um uniforme branco. Sua gravidez não era perceptível, mas tinha uma criança ao seu lado. Gregory saiu do táxi e foi até a calçada, onde a garota colocava um band-aid no joelho da criança, amparada por guarda-chuva.

“Emma!” Tocou em seu ombro, ao que ela virou.
“O que você está fazendo aqui?!” Sua expressão era de incredulidade. “Foi a única coisa que eu te pedi, Gregory!”
“Eu não podia te deixar criar um filho meu sozinha.”
“Ah, tá!” Revirou os olhos. “Como se você estivesse se importando! Você não está ligando para esse bebê!” Terminou de colar o band-aid e ficou de pé. Segurou a mão da criança e deu as costas para o príncipe, começando a andar.
“Eu preciso conversar com você, Emma!” Gritou. “Por favor! Podemos nos encontrar aqui na hora do almoço?”
“Eu vou te dar cinco minutos.” Ela parou, mas não se virou para encará-lo. “Aqui, meio dia.”

Para Greg, o dia se arrastou até o horário do encontro. Ele não tinha feito nada a não ser esperar, sentado em uma cafeteria em frente ao local combinado. Ao longe, percebeu a Duncan se aproximando e sorriu para ela, sem obter o mesmo gesto em resposta. Decidiu então chegar até ela.

“Vamos, pode começar a falar.”
“O que você está fazendo vestida assim?” O Sutherland questionou.
“Eu sou babá. Tenho que aprender a lidar sozinha com crianças.”
“Emma, eu vim aqui...” Sua voz falhou. “Pra te pedir em casamento.” Tirou uma caixinha vermelha do bolso e a abriu, revelando um anel de noivado.
“Eu...” Sentiu seu coração acelerar. “Não vou aceitar. Nós mal nos conhecemos. Não quero que você se case comigo por pena.”
“Se você aceitar, eu perdoo suas dívidas.” Prometeu.
“Pior ainda!” Gritou. “Eu estou trabalhando pra pagar, além de estar indo em um grupo de tratamento. Não preciso da sua ajuda!”
“Eu pago suas dívidas, então. Elas não serão simplesmente perdoadas. Você deixa de dever lojas e bancos e passa a dever para mim. Continue trabalhando e, quando tiver o dinheiro, me pague.”
“O que você quer comigo, Gregory?” Sua expressão era de nojo. “Eu gostava realmente de você, mesmo sem te conhecer. Você é um príncipe. Eu, por um instante, acreditei que poderia ser a sua princesa. Mas eu me enganei. Nesses últimos dois meses, tudo que eu fiz foi pensar em você e em como as coisas poderiam ter sido. No entanto, quando eu descobri que estava grávida, percebi que eu deveria pensar apenas dele.” Apontou para a sua barriga. “E eu vi que o melhor para ele é ficar longe de você. Um egoísta.”
“Você acha que é melhor pra ele ficar longe do pai? Se você ficar aqui, estará tirando o direito dessa criança de ser da família real. Emma, você mal tem condições de se sustentar e quer sustentar a vocês dois? Por favor!” Foi a vez dele revirar os olhos. “Pare de agir como uma criança mimada e simplesmente aceite a minha proposta! Nosso filho não passará necessidades, nem você.”

A Duncan não respondeu nada por alguns instantes. A chuva havia passado e o sol começava a iluminar Londres, formando um arco-íris no céu.

“Sabe, Emmy... Arco-íris é o sinal da aliança de Deus com os homens...” Gregory tentou. “Os homens aceitaram a aliança de Deus. Aceite a minha também.”
“Tá certo.” Ela disse, bufando. “Mas prometa que você não vai encostar um dedo em mim. Nosso casamento vai ser uma farsa, pelo nosso filho. Eu quero um quarto só pra mim e pra ele.”
“Do jeito que você quiser.” Ele aceitou, colocando o anel na mão de sua noiva. “Nos encontramos na estação ferroviária às oito da noite. Esteja com tudo pronto até lá. Vamos pro litoral, onde pegaremos um navio de volta para Mallida.”

Sem dizer mais nada, Emma se virou de costas para ele e começou a andar. Gregory respirou aliviado. Tinha cumprido sua missão. Não teria problemas internos, não teria problemas diplomáticos e poderia ser rei. Sorriu. Sua vida estava melhor do que ele poderia imaginar.


- Que príncipe metido! – fechou os olhos, visivelmente frustrado. – Ele fez uma chantagem emocional com a Emma!
- Fez, sim. – Concordei. – Mas o que ele falou foi verdade. Ela não podia tirar o direito do bebê de ser da família real.
- E o que aconteceu quando ela voltou para Mallida?
- Bom... – Tentei ficar mais confortável no sofá. – Assim que voltaram, anunciaram o noivado e a gravidez de Emma. A rainha sabia que seria melhor daquela forma. Se a rejeição fosse grande logo de cara, ele deveria declinar de sua posição como sucessor do trono, como fora combinado. Felizmente para ele e para Michelle, a população aceitou bem o casamento e a vinda de um novo membro à família real. Alguns dias depois, o rei comunicou que abdicaria em favor de Gregory logo após o casamento.
- Eles se casaram mesmo?
- Em pouco tempo estava tudo pronto. Se casaram e, se você perguntasse para qualquer um do reino, Gregory e Emma eram o casal mais feliz da ilha. Eram fotografados em seus mergulhos matinais lado a lado, em eventos oficiais estavam sempre sorrindo. Emma tinha se tornado uma verdadeira dama. Andava com tiaras lindíssimas, roupas de marca e não tinha mais dívidas.
- Ela estava do jeito que sempre sonhara. Podia ter o que quiser.
- Sim, mas se sentia sozinha. Ela saia com Gregory pela manhã para nadar um pouco no mar. Os dois retornavam para o palácio e cada um ia para o seu quarto. Ela pensara em fugir várias vezes, mas lembrava sempre que a saída mais rápida pelos fundos dependia de uma ponte e a saída da frente estava sempre vigiada. O melhor momento do dia era quando ia para o encontro de compradores compulsivos. As pessoas ali falavam a sua língua e pareciam mais acessíveis do que qualquer outra do castelo.
- Ela se aproximou de Mich?
- Não muito. – Respondi. – Ela estava bastante resistente quanto a fazer parte da família.
- Pagou a dívida? – continuou a perguntar.
- Emma percebeu que “dever para Gregory” tinha sido apenas uma forma de não ter seu orgulho ferido. Como rainha, não podia ter um trabalho comum. Logo, nunca ganharia dinheiro para pagar o que devia.
- E o filho deles?
- Nasceu uma menina. Ela era linda e acabou aproximando um pouco os dois.
- Eles acabaram se apaixonando?
- Vou ler mais um pouco pra você. – Afirmei e voltei meus olhos para as folhas.

O sol estava se pondo em Mallida. A filha de Emma e Gregory estava fazendo um ano naquela noite. Os dois já estavam prontos. Gregory estava sobre a ponte, observando o lago onde beijara Emma pela primeira vez. A rainha, por outro lado, caminhava pelo jardim em direção ao mesmo lago, com olhar baixo. Seu vestido arrastava pelo caminho e seu cabelo preso parecia não combinar com a tiara que escolhera para usar. Levantou seus olhos em direção à ponte e viu seu suposto marido parado.

“Emma!” Exclamou e caminhou em direção a ela, lembrando que a garota não viria a seu encontro sobre a ponte. “Aposto que está nervosa com a festa.”
“Estou...” Voltou a olhar para o chão. “Não estou me sentindo confortável. Minha bebê também não deve estar gostando daquele vestido enorme.”
“Ela tem sangue real. Vai gostar.”
“Não precisa jogar na minha cara a minha origem. Eu nunca pedi para me casar com você.” Deu as costas ao rei e começou a voltar para o palácio.
“Emmy, calma!” Segurou em seu braço. “Será que a gente nunca vai conseguir conversar direito? Será que você não se lembra que um dia nós gostamos um do outro?”
“Gostamos um do outro?” Deu uma risada irônica. “Eu gostava de um príncipe engraçado, colecionador de perfumes, que eu criei na minha mente. Você nunca gostou de mim.”
“Emma, quantas vezes eu vou ter que te falar? Eu pensei em me casar com você! Sim, eu errei, deixei-me levar pela sua condição financeira... Mas isso já passou. Estamos casados há mais de um ano!”
“Um casamento de mentira!” Respondeu. “E é assim que tem que ser. Você não me quis quando eu era pobre. Não tem direito de me querer só porque agora eu sou nobre!”
“Você é nobre por minha causa, ok?! Se eu não tivesse ido atrás de você e implorado pra você se casar comigo, nossa filha estaria passando fome agora!”
“Não! Não!” Gritou. “Por que você se tornou tão arrogante e prepotente?! Você acha que o mundo gira ao seu redor! As coisas não são assim, Greg! Eu sinto falta daquele rapaz do barco, que me derrubou na água! Sinto falta da pessoa que brincava com o meu sarcasmo! Sinto falta de ler nas revistas sobre sua coleção de perfumes! E mesmo assim, eu sobrevivo! Com a sua completa ausência, eu também sobreviveria!”
“Emma, você está...” O Sutherland hesitou. “Você está dizendo que sente falta daquela noite e do que você sentia por mim antes daquele dia?”
“Sim, eu sinto.” Sua voz saiu baixa e embargada. “Eu sonhei tanto com nosso casamento, em ter uma família com você. Eu queria ser sua princesa, sua rainha. Eu sempre achei que você fosse um perfeito cavalheiro, mas eu me enganei.”
“Não, não...” Segurou as mãos da garota. “Quando você veio pro palácio, eu fui percebendo a cada dia a besteira que eu fiz quando carreguei você por aquela ponte. Eu devia ter visto a garota incrível que você é, como seu coração é bom, como você seria uma rainha maravilhosa, da forma que está sendo. Você não precisava estar aqui, mas você está. Se quisesse, não precisaria fingir estar feliz ao meu lado todas as manhãs, na praia. Não precisaria dizer que nós assistimos filmes de terror aos finais de semana por diversão. E você está fazendo tudo isso porque pensa, antes de tudo, no seu país. Se não fosse pela nossa filha, você moraria em Londres, sua cidade dos sonhos. Emma, você sempre pensa primeiro nos outros e isso é maravilhoso. Você é maravilhosa.”
“Por que você não me disse isso um ano e nove meses atrás?” As lágrimas rolavam livremente pelo rosto da garota. “Por que você deixou que eu sofresse por você? Deixou que eu me apaixonasse? Por que você me usou daquela forma?”
“Eu não sei... Eu era imaturo. Eu precisei virar rei e pai para amadurecer. Agora eu vejo tudo claramente. E sabe o que eu descobri?”
“O quê?” Limpou as lágrimas.
“Que eu cansei desse nosso casamento de mentira. Desde o nascimento da nossa princesa, eu comecei a me apaixonar por você. Você, uma mãe tão dedicada, tão amorosa. Estar com você, dando banho nela, trocando a fralda, comprando roupas... Você pode tentar negar, mas nós nos divertimos. Em momentos como esses, nós chegamos a parecer uma família de verdade. Eu quase acreditei que tudo que tínhamos era real. Comecei a te amar... Cada dia um pouco. Cada dia mais forte. Eu quero que você seja minha rainha, minha esposa, de verdade.”
“Eu não sei...” Se afastou, mordendo o lábio inferior. “Greg, eu já sofri tanto por você, por tanto tempo.”
“Eu sei, Emma. E eu vou passar cada dia da minha vida tentando te recompensar por esse sofrimento. Eu te amo, Emmy. Só estou pedindo uma chance.” Gregory olhou fundo nos olhos da garota.
“Você sabe por que eu aceitei me casar com você aquele dia, Greg?” Questionou, ao que ele respondeu negativamente. “Porque eu sabia que eu te amava. Eu sabia que o príncipe cavalheiro estava dentro de você em algum lugar. E eu sabia que tudo que eu tinha passado uma hora iria valer a pena. Talvez em algum momento eu tenha duvidado dos meus sentimentos por você e tenha sonhado em fugir desse palácio...” Confessou. “Mas, como você mesmo falou, quando estávamos eu, você e a nossa pequena, nós parecíamos uma família. Aquilo tudo simplesmente parecia... Certo.”
“Isso é um sim?” O rapaz se aproximou, abraçando-a pela cintura.
“Depende.” Sorriu de lado. “Nós amamos nadar. Vamos ter que continuar fazendo isso todas as manhãs. Quero também filmes de terror aos finais de semana de verdade. Também vou ser a única a poder ver sua coleção de perfumes e te ajudar a escolher um todos os dias.”
“Eu digo sim para os seus pedidos.” Riu. “O que você diz para o meu?”
“Sim.” Sorriu e o beijou, se livrando de todo o desejo que reprimira por um ano e nove meses.


estava sorrindo com o fim da história. Era incrível como coisas como aquelas poderiam ser reais. Coloquei os meus papéis sobre minha barriga e olhei nos olhos do meu marido.

- Quando você conta, criando personagens e tudo mais, eu mal consigo acreditar que éramos nós.
- É difícil mesmo. – Concordei. – Mas eu ainda lembro como se fosse ontem.
- E hoje a Serena tem oito anos.
- Como o tempo passa rápido! – Exclamei, me sentando. – Meu amor, você acha que eu sou uma boa rainha?
- Você é a melhor rainha que nossa ilha poderia ter. – Segurou em meu cabelo e encostou nossos lábios com delicadeza. – Como eu pude ficar um ano e nove meses sem você?
- Eu me pergunto como eu fui forte do suficiente para fingir não te amar todo aquele tempo.
- A Serena nos uniu. Ela foi a melhor coisa das nossas vidas. Nenhum menino seria melhor que a nossa menininha.
- Com certeza. – Abracei-o com força. – Obrigada por tudo. Eu não sei como o destino nos uniu dessa forma, mas... Eu sei que eu te amo, meu , meu Gregory, meu rei, meu eterno príncipe.
- , eu também te amo. Meu amor, minha Emma, minha rainha... Minha eterna plebeia atrevida.
FIM



Nota da autora: Fic escrita para o challenge #010! Tema maravilhoso. Achei, à princípio, que seria bem fácil, mas acabou se tornando realmente um desafio. Espero que gostem do resultado final.
Beijinhos :*
Clara

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