Coincidências do Destino
por Tracie


Challenge: #011
Nota: 9,6
Colocação:




Jennifer

- Boa tarde, posso ajudá-la? – pergunto a uma senhora elegante que acabou de entrar na loja e ela sorri para mim. Trabalho já há algum tempo em uma loja de roupas muito famosa aqui na Inglaterra. Gosto muito de trabalhar aqui, o ambiente é bom e eu me dou bem com as pessoas que trabalham comigo.
- Hola. – ela responde e eu sorrio. Estrangeira, imaginei. Pergunto novamente se ela precisa de algo, só que dessa vez em sua língua nativa e ela parece bem surpresa quando vê que eu falo espanhol fluentemente. Apenas sorrio e agradeço quando ela me elogia. Não comento que, além de espanhol e inglês, também falo alemão e português porque não quero me gabar. Mas eu falo. Desde pequena, na verdade. Minha família é meio maluca. Minha mãe era argentina, meu pai brasileiro, mas meus avós por parte de mãe eram alemães e depois do casamento meus pais vieram para a Inglaterra e meus avós vieram junto. Maluco e complicado, é, eu sei. E desde que eu nasci eles falam comigo em suas línguas nativas, então acabei aprendendo. O inglês eu aprendi naturalmente, por ter nascido e sido criada aqui. Dá pra imaginar que loucura eram as reuniões de família.
- Gracias! – digo, acenando para a mulher, que sai dali com uma sacola cheia de roupas.
- Não sei como você pode ser fluente em quatro línguas e ainda trabalhar como vendedora. – ouço Chloe dizer e rio; ela me fala isso quase todos os dias. Viro para encará-la e sorrio. – Já sei! Você vai me responder que já está na faculdade de comércio exterior e que continua aqui porque gosta. Caramba, se eu fosse você ia sair por aí esfregando na cara de todo mundo que falo três outras línguas além da minha própria e ia trabalhar como tradutora em tempo integral para seduzir vários turistas.
- Isso é porque você gosta de se gabar. – respondo e ela ri alto, me mostrando a língua. – Sei que vai sentir minha falta enquanto eu estiver no Rio de Janeiro.
- Isso é verdade. – ela faz cara de triste e eu abraço-a, indo até os fundos da loja para me trocar e ir embora. Seria a primeira folga realmente longa que eu tiraria desde que comecei a trabalhar ali. Tenho uma prima chamada Melanie, e ela é uma modelo de sucesso. Minha tia, mãe dela, faleceu há alguns meses e era ela quem acompanhava Mel para todos os lugares. Ela tem um desfile grande no Rio de Janeiro e queria algum familiar por perto, e também precisaria de uma tradutora. Aceitei ir junto e, apesar de ter que traduzir as coisas, seriam férias para mim, já que Melanie é a minha melhor amiga e aproveitaríamos para ficar mais um tempo por lá depois do desfile. O bom era que eu não precisaria pagar nada, já que os empresários de Mel bancavam tudo. Seria bom. Claro que o grande sonho da minha vida era ir para a Austrália (meu cofrinho dentro do armário e as horas extras que eu passava trabalhando na loja provavam isso), mas como a viagem ao Rio não me custaria nada do meu fundo pró-Austrália, eu topei ir.
Já tinha metade do que precisava para a viagem até a terra dos cangurus, era só economizar mais um pouco e eu conseguiria.
Saio da loja, acenando para todas e respondendo com um sorriso aos desejos de “Boa Viagem” de minhas colegas de trabalho e de minha chefe. Moro quase ao lado da loja, então vou andando para casa; não sem antes passar em uma loja de revistas e comprar uma com a previsão astrológica do dia seguinte. Sou de Áries e olho meu horóscopo todos os dias. Minha mãe tinha essa mania e eu peguei dela. Desde criança confiro as novidades do meu signo, e acredito piamente nas previsões que estão ali.
Ao chegar ao meu pequeno apartamento alugado, deixo as coisas em cima do sofá e vou até a geladeira. Preparo um sanduíche e volto à sala para ler a revista que comprei.
Aqui diz que minha vida vai mudar e que vou conhecer alguém especial. Não diz se é algum amigo ou namorado, mas mesmo assim fico intrigada. Quem seria esse alguém especial? Eu o conheceria na viagem? Oh, céus. Melhor arrumar minha mala logo.

Christian

- Professor, poderia explicar novamente essa última parte, por favor? Não consegui compreender. – uma aluna no final da sala ergue o braço e faz a pergunta, com um ar de dúvida. Eu sabia por que ela estava apreensiva. Alguns professores aqui da universidade não tinham paciência de explicar as coisas novamente, então simplesmente não o faziam. Mas eu não era assim. Sorrio e sinto o alívio da aluna.
- Claro...
- Willow.
- Claro, Willow. Posso repetir sem problemas. – respondo, sorrindo, e volto a olhar para o quadro. – Quando temos esses dois elementos... – explico novamente, só que desta vez mais devagar e de modo um pouco mais simplificado e sinto que Willow não era a única com aquela dúvida na sala. Ela só foi corajosa o suficiente para perguntar. Estudantes. Às vezes não entendo o que se passa na cabeça deles.
Sou professor de Química em uma universidade muito famosa da Inglaterra. Dou aula ali há dois anos, praticamente desde que me formei. Gosto dali, é um lugar agradável de trabalhar, na maioria das vezes. E o salário é bom. Dá para economizar para minha viagem para a Austrália sem maiores prejuízos. Sim, Austrália. Meu sonho desde pequeno é ir para lá. Um dia, por volta de meus nove anos, estava assistindo televisão, quando acabei me deparando com um documentário sobre a Austrália, falava sobre sua história e também sobre como era hoje. Foi amor à primeira vista. Desde aquele momento, decidi que precisaria ir até lá. Assim que terminei a faculdade, passei a usar parte do dinheiro que ganhava trabalhando para economizar para tal coisa.
Uma batida na porta me desperta e levo um susto ao ver minha irmã ali. Brianna é três anos mais velha que eu, recém-formada em moda e trabalha para um estilista famoso. Ela é bem... Diferente, digamos. Veste-se com roupas coloridas e a cada dia seu cabelo está preso de uma forma diferente. Hoje está para um lado só, o que é praticamente normal se compararmos aos outros penteados que usa. Não faço a mínima ideia de o que ela está fazendo ali, então apenas a encaro enquanto ela para ao meu lado.
- Olá! – diz para os alunos, e eles respondem desconfiados. – Para quem não me conhece, sou Brianna. Irmã do Chris. – observo alguns alunos erguerem as sobrancelhas e minha irmã aponta para mim. Eles então entendem e sorriem. – Vim aqui porque preciso da ajuda de vocês.
- Como? – pergunto, incrédulo, e ela sorri.
- Espere e verá, maninho. – fala, piscando para mim e eu fico ainda mais surpreso. Que raios ela está fazendo aqui? Brianna nunca apareceu em meu local de trabalho, por que faria isso agora? – Então... Como podem bem observar, meu irmão é um homem muito bonito. – escuto alguns concordarem com ela, mas estou paralisado demais para olhar para meus alunos; encaro apenas minha irmã maluca. O que ela pretende com isso? Envergonhar-me? – Eu trabalho para um estilista muito famoso, e ele vai fazer um mega desfile no Rio de Janeiro. Eu vou com ele. – acrescenta, sorrindo. – Só que ontem aconteceu uma coisa muito chata. Nosso modelo principal caiu da escada e quebrou a perna. Acreditam? Terrível, terrível. – coloca a mão na testa, encenando algo dramático. Reviro os olhos. – E meu querido chefe me deixou responsável por achar algum substituto igualmente lindo, para ir ao Rio de Janeiro conosco. Hoje é o último dia de aula de vocês, não é? Estive pensando, como meu irmão estará de férias, ele pode... – finalmente percebo onde ela quer chegar e dou um passo à frente.
- Não. – digo, sério, e ela apenas me encara sorrindo.
- Sim. – me olha, agora furiosa, mas logo vira para os alunos novamente. – Ele pode ir comigo e participar do desfile, como modelo, e de quebra ganhar férias em um lugar lindo. O que vocês acham?
- Uma ideia maluca. Sem qualquer cabimento. – eu respondo, frio. Ela nem me olha.
- Acho genial. Nunca entendi o motivo de ninguém ter descoberto ele ainda. – Ella argumenta, com um sorriso, mas eu ignoro. Ela já tentou me seduzir no ano passado, mas não dei chance alguma para ela. Não me leve a mal, Ella é muito bonita, mas sou honesto demais para me envolver com uma aluna. E ainda mais com uma aluna fútil feito ela.
- Também acho. – outra aluna comenta, e eu começo a me sentir sem graça. Cruzo os braços, sem saber como aquilo vai terminar. Só sei que não vou aceitar algo assim. Mesmo.
- Ótimo. Então está decidido. Você vai. – ela diz e o sinal toca. Sai dali sem me dar tempo para responder e eu praticamente saio correndo atrás dela. Entra em seu carro e eu faço o mesmo. – Olá. Quer carona? – não me espera responder, apenas liga o motor e sai dali.
- Você é maluca? Enlouqueceu de vez? Tem ideia da confusão que isso pode me causar? – me seguro para não começar a gritar, mas atiro as perguntas nela sem parar.
- Que confusão? Confusão nenhuma, meu bem. Eu falei com o diretor antes de ir até a sala e ele deu o maior apoio, já que você estaria de férias de qualquer forma.
- Você o que?
- Ai maninho, relaxe. Vai ser bom pra você.
- Eu não disse que iria. Disse? – a encaro de modo desafiador e ela ri, sem desviar os olhos da estrada.
- Ah, mas você vai. Acredite.

Jennifer

- Credo, esse aeroporto está muito cheio. – Melanie já chega reclamando e eu rio.
- Bom dia pra você também, priminha. – ela sorri e me abraça. Mel é mais alta que eu, e é muito bonita. Tem os cabelos loiros e olhos verdes e tem algo nela que a diferencia das outras modelos que conheci. A sinceridade, talvez. Não sei como demoraram tanto tempo para convidá-la para participar de desfiles. Ela nasceu pra isso.
- Você trouxe a habilitação?
- Você quer dizer minha carteira de motorista? – pergunto, confusa, e ela assente. – Não, por quê? – minha prima arregala os olhos e eu dou de ombros – Por que deveria? Eu nem tenho um carro, Melanie.
- Mas você é burra mesmo, hein. Ô cabeça, é você quem vai dirigir até o hotel. Eu nem fiz minha habilitação ainda, tive que parar as aulas por causa da carreira.
- Ué, mas eu pensei que o pessoal que trabalha com você ia com a gente.
- Eles já estão lá. – reclama, impaciente.
- Eu preciso de um café...
- Aproveita e traz um pra mim. Mas deixa seu passaporte comigo. – entrego a ela minhas coisas, e coloco o celular e o dinheiro no bolso. Vou andando calmamente até o outro lado do aeroporto, onde tem uma cafeteria, pensando sobre a viagem. Vai ser legal conhecer o Rio de Janeiro. Vi algumas fotos de lá e deu para reparar que é uma cidade muito bonita. Claro que não é a Austrália, mas vai ser maravilhoso da mesma forma.
Uma lojinha à minha esquerda atrai minha atenção, é cheia de colares com mapas e nomes de lugares. Entro e olho todos rapidamente, mas obviamente meu olhar para sobre um colar. Austrália. Ele é dourado e tem um mapa do lugar. Impossível não reconhecer. Não demoro a ir até o caixa e o comprar, logo colocando o colar em meu pescoço.
Chego ao pequeno lugar, feliz por não ter nenhuma fila ali. Encosto-me ao balcão e peço dois cafés. O atendente sorri para mim e eu agradeço.
- Você não é daqui, é? – acabo perguntando, sem conseguir me controlar. Percebi algo diferente em seu sotaque. Era adorável. Não era nem britânico, nem americano, nem australiano. Era algo no meio disso.
- Não. Sou alemão. – ele sorri novamente, me entregando os cafés. Agora que falou, consigo reparar que ele é da Alemanha. Tem inclusive um colar com o nome do lugar. Pelo visto a loja onde comprei o meu da Austrália faz muito sucesso. Vejo seu nome no crachá e meu sorriso aumenta. O mesmo nome de meu avô.
- Danke, Tobias. – agradeço, em alemão, e ele dá uma risadinha.
Começo a ir novamente até o local do check-in e levo um susto quando meu celular começa a tocar. Não tenho como pegá-lo, já que está em meu bolso e eu tenho um café em cada mão. Quem poderia ser?
O barulho começa a me irritar e as pessoas também me olham irritadas, com aquela cara de “por que você não atende essa porcaria logo?”. Bem, pessoal, eu estou com as mãos meio ocupadas.
Acabo chegando ao limite e por ainda estar na metade do caminho, tento equilibrar os dois cafés em uma mão só, enquanto caminho e tento alcançar o celular no bolso. Acabo batendo contra uma pessoa e um dos cafés vira sobre ela. O outro permanece em minha mão. E o celular continua tocando. Isso poderia ficar pior?
- Ah, meu Deus. Desculpe. Mil desculpas, eu não vi você e... – começo a me desculpar com o homem, nervosa; enquanto ele apenas me olha, furioso. Não consigo deixar de reparar em seus belos e brilhantes olhos azuis, mas não acho que ele gostaria do elogio nesse momento; então apenas afasto o pensamento.
- Qual é o seu problema? – murmura, num tom tão frio que me assusta.
- Nossa, eu já pedi desculpas. – reclamo, ofendida. Quem ele pensa que é para falar comigo desse jeito? Não obtenho resposta, já que o homem apenas vira as costas e entra no banheiro que tem ao nosso lado.
Sinto uma tontura repentina e preciso me sentar. Assim que me sento, o celular desliza do meu bolso e cai na cadeira, ao meu lado. Ele continua tocando e vejo no visor que quem liga é minha prima. Atendo, a contragosto.
- Oi.
- Onde você está? Eu já fiz o check-in, você precisa vir para cá, a gente logo vai embarcar!

Christian

Tiro o casaco sujo de café, feliz por ele ter me protegido de ter minha camisa molhada também, e deixo-o de lado. Não gostava dele, mas Brianna tinha praticamente me obrigado a usá-lo.
E agora aquilo acontecia. Essa garota surge do nada e derruba café em mim. Droga, ela era linda, mas precisava ser tão descuidada? E o pior é que eu consegui ser rude com ela. Palmas para você, Chris.
Deixo o casaco ali em cima da pia, sem parar para pensar no quanto minha irmã vai ficar brava por eu simplesmente largá-lo ali. Quando saio, vejo que a maluca do café está sentada, com o rosto entre as mãos. Será que ela ainda estava se culpando pelo que aconteceu?
- Ei. – me aproximo, e ela se levanta repentinamente. Cai para o lado e eu estendo os braços para segurá-la. – Está tudo bem? O que você tem?
- Tontura? – fala, como se fosse óbvio, e eu não consigo segurar uma pequena risada. Tenta se firmar em pé e pega o celular, que começa a tocar. – Oi Mel. Estou indo. – de forma rude, tiro o celular da mão dela e o coloco no ouvido. A mulher apenas me olha, com os olhos arregalados.
- Com licença. Acho que ela não está em condições de ir a qualquer lugar agora. Ela está sentindo umas tonturas e...
- Onde vocês estão? – a voz pergunta.
- Ao lado da escada rolante.
- Estou indo para aí.
Desligo e devolvo o celular a ela, que continua me olhando espantada.
- Quem quer que esteja do outro lado da linha está vindo para cá agora. – ela ameaça despencar mais uma vez e eu a seguro. – Acho melhor você se sentar. – ela incrivelmente não discute, apenas senta.
Em alguns segundos uma mulher aparece correndo, e imagino que deva ser a tal Mel, já que tem algumas semelhanças com a mulher ao meu lado. Ela sorri para mim e entrega algo a ela.
- Oi. Obrigada por me avisar. Ela tem anemia. Precisa tomar comprimidos de ferro de vez em quando. Desculpe por isso. – estende a mão para ajudar a outra a levantar, mas a tontura parece já ter passado. A recém-chegada fala algo para a outra e vai seguindo em frente.
- Ei, obrigada. E desculpe pelo casaco. – sorri, envergonhada e eu me limito a um dar de ombros.
- Não foi nada. A propósito, meu nome é Christian.
- Bom pra você. – ela sorri, sumindo pelo longo corredor, e eu fico parado com cara de idiota.
Preciso descobrir o nome dessa mulher.

Jennifer

- Uau, olá Rio! – sorrio, extasiada, enquanto tiro meu casaco. Verão! Sol! Calor! Praia! Tem coisa melhor?
- Caramba, Jen, a gente está no aeroporto ainda. – Mel reclama, e eu mostro o dedo médio para ela.
- Não destrua minha alegria, ok?
- Ok. Mas quero só ver quando você descobrir onde nós vamos ficar. Copacabana, lá vamos nós! – ela parece se lembrar de algo e olha para mim. – Ah. Iremos para lá só se pegarmos um táxi, já que a senhorita esqueceu a habilitação na Inglaterra e o carro que eu aluguei vai continuar por aqui mesmo.
- Vocês aceitam uma carona? – uma voz masculina me surpreende e quando me viro vejo que quem falou conosco foi o tal Christian. Agora finalmente paro para olhá-lo com mais calma e reparo em como ele é bonito. Alto, com uma pele clara, aqueles olhos azuis brilhantes e a pose convencida. Seus cabelos castanhos são quase da mesma cor dos meus e não são nem curtos, nem longos. Em minha opinião, do tamanho perfeito. Estão bagunçados em um corte que o deixa com certo charme. Certo. Como se ele precisasse de mais essa.
Melanie se vira para mim, com as sobrancelhas arqueadas e eu dou de ombros.
- Achei você, irmãozinho! – uma voz aguda chama a atenção de Christian e ele se vira. Logo uma garota estranha aparece. Ela é baixinha e está usando algo que me lembra uma piscina de bolinhas. É um vestido preto com várias bolinhas coloridas. Usa um scarpin listrado com várias cores e seu cabelo está preso para cima (literalmente, tipo bem no meio da cabeça), com algumas presilhas que me lembram de borboletas. No mínimo bizarro.
O que é mais bizarro ainda é quando minha prima sorri para ela e elas se abraçam.
- Brianna?
- Melanie! – a outra responde, e elas engatam em uma conversa à qual não presto atenção. Christian me encara com um olhar divertido, e as sobrancelhas arqueadas.
- Tenho a impressão de que você vai aceitar a carona. – ele diz, cruzando os braços.
- Não acho que eu tenha alguma escolha. – é tudo o que eu respondo, pegando a minha mala e a de Melanie e levando até o carro do lado do qual as duas estavam conversando, elas logo entram no banco de trás. Christian logo aparece com outras três malas e me surpreendo ao ver todas elas caberem no porta-malas do carro. Ele sorri novamente e abre a porta do carona para mim. Entro, a contragosto. Por que raios ele estava sendo legal comigo? Caramba, eu derrubei café nele. Café quente. Ele tem algum problema?
Ele logo dá a partida, e depois de um pouco de conversa acabam descobrindo que estão hospedados no mesmo hotel que nós duas. Ótimo.
Paro para prestar atenção na conversa e descubro que Brianna é assistente do estilista que vestirá a Mel para o desfile. E elas são amigas. O que significa que terei que conviver com o Christian enquanto estivermos ali. Não sei por que me incomodo tanto com isso, mas tem algo nele que é tão... Irritante. Inquietante. E ao mesmo tempo curioso.
Tiro da bolsa a revista que comprei no dia anterior e releio tudo o que tinha lá sobre o meu signo. Quando paramos em um sinal, Christian tira a revista de minha mão e eu o olho, furiosa. Ele ri.
- Não vá me dizer que você acredita nessas bobagens. – diz, atirando a revista em cima de mim.
- Claro que eu acredito. E isso foi bastante rude, caso queira saber.
- Perdão. – responde, e parece sincero, mas não compro seu arrependimento. – Odeio astrologia. Acho besteira. Não sei como eles conseguem fazer tantas pessoas acreditarem em algo tão ridículo como previsões do futuro.
- Se eu fosse você, pararia de falar, Christian. Você não ia gostar de ver minha priminha brava. Acredite. – Melanie o alerta, e eu sorrio largamente, olhando para a estrada. O homem parece entender o aviso, porque fica imediatamente em silêncio.
Pego minha bolsa novamente, guardando a revista ali dentro e tiro um potinho de plástico, abrindo-o e começando a comer.
- Mas que raios é isso? – o irritante pergunta e eu não olho para ele.
- Cerejas. Já ouviu falar? – respondo, amarga, e ele ri. – Dá pra você prestar atenção na estrada e não em mim?
- Eu tento, mas você é interessante demais. – provoca e eu coloco três cerejas na boca. O gosto maravilhoso delas me distrai e eu apenas ignoro a provocação. – Por falar em interessante, ainda não sei seu nome. – ele sussurra, e eu dou uma risadinha, ainda encarando o lugar. O Rio de Janeiro é um lugar belíssimo, a paisagem captura minha completa atenção. É tudo lindo, e a singularidade do local me encanta. O português parece a língua perfeita para ser falada aqui, é charmosa o suficiente.
- Você sabe pra onde está indo? – a tal Brianna pergunta e Mel ri.
- Mais ou menos. Só não sei se aqui viro à esquerda ou à direita.
- Encoste aqui. – aponto para o acostamento e ele estaciona ao lado de uma banca de revistas. – Com licença. – chamo o homem, em português. – Você sabe me informar como eu faço para chegar até essa rua? – aponto para o nome no papel e o homem assente.
- Você pode virar a direita no próximo sinal e depois do posto de gasolina entrar para a direita de novo. – o sotaque dele é um pouco diferente do que eu tinha aprendido com o meu pai, mas perfeitamente entendível.
- Ok, muito obrigada. – agradeço, e rapidamente traduzo para o inglês tudo o que o homem me falou. Christian não fala nada nem liga o carro novamente. – O que foi?
- Você fala português? – pergunta, extremamente surpreso, e eu reviro os olhos.
- Falo. Agora se mexa, vamos. – respondo, e ele logo liga o carro. Em poucos minutos, chegamos ao hotel e aparecem alguns funcionários para carregar nossas malas. Eu continuo com o meu potinho de cerejas em mãos e aguardo no saguão enquanto Mel vai ao balcão pegar a chave dos nossos quartos.
- Eu ainda não sei seu nome. – Christian sussurra, às minhas costas, me dando um susto.
- Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim. – digo, sorrindo. – Mas quanto ao nome, vou te deixar na curiosidade. – pego duas cerejas e coloco na boca dele, saindo dali em direção ao corredor, onde Mel estava.
- Ei, isso é bom! – ele grita e eu rio, entrando no elevador junto com a minha prima. Nossas malas já estão dentro do quarto, e quando estou quase fechando a porta escuto vozes. Vejo pelo cantinho da porta Christian e Brianna, e ela entra no quarto ao lado do nosso, e ele no da frente. Ah, que legal. Realmente ótimo.

Christian

Após dar uma breve arrumada em minha mala, troco de roupa e decido ir até a piscina do hotel, aproveitar esse verão quente. Apesar de gostar muito do inverno, o verão é a estação do ano que eu mais aprecio. E não é por causa das mulheres de biquíni, eu juro. Ok, só um pouquinho.
Quando entro no elevador, tem um homem e uma mulher lá dentro e eles estão um pouco exaltados, parecia que estavam brigando. O homem, que devia ter uns trinta anos, apenas dá um breve aceno para mim e a mulher não para de olhá-lo, com raiva.
- Travis? – ela diz, e ele a olha. – Hoje à noite, no lugar de sempre. – fala, no momento que o elevador chega ao térreo, e eles seguem por caminhos diferentes, como se nem se conhecessem. Estranho, mas não tem nada a ver comigo, então apenas sigo meu caminho até onde vi ser a piscina, mergulhando nela. Apoio-me em uma das bordas, mexendo as pernas sem muito entusiasmo. A mulher que estava no elevador aparece ali com as mesmas roupas de antes, só que agora a expressão em seu rosto é de pura felicidade. Ela caminha até um homem, beijando-o. Oh, que interessante. Acho que tem uma traição acontecendo. Qual dos dois será que é o amante?
Fecho os olhos, aproveitando a sensação do sol em meu rosto, mas uma sombra escurece minha visão. Quando abro os olhos vejo que é a prima da amiga de minha irmã, que está inclinada sobre mim. Ela sussurra algo em meu ouvido, mas não entendo nada.
- Ahn... Se for falar tão baixo, é melhor falar no outro ouvido. Não escuto direito nesse. – digo, baixinho e ela ri. É verdade. Quando eu era criança, perdi metade da audição do ouvido direito, em um pequeno acidente. Não me lembro do que aconteceu, e meu pai morreu antes de poder me contar. Eu tinha doze anos quando ele se foi.
A mulher sorri, e se inclina sobre meu ouvido esquerdo.
- Acho que vou te deixar na curiosidade de novo. – sussurra, e se levanta, pulando na piscina. Enquanto ela mergulha, levanto o olhar de novo para a mulher do elevador, e vejo que o homem que ela beijou está agora conversando com o tal Travis. Traição entre amigos. Acho que vou gostar desse hotel. – Olá Christian. – ela aparece ao meu lado e eu sorrio.
- Você sabe o meu nome, mas eu não sei o seu. Isso não é justo. – reclamo, e ela sorri.
- A vida não é justa. – levanta a cabeça e então reparo no colar que ela tem no pescoço.
- Austrália? – levanto a mão e encosto no colar; ela parece tensa com o meu toque. – É meu sonho ir para lá, sabia?
- Sério? O meu também. – sorri, mergulhando novamente. Ela sai da piscina e, depois de alguns minutos eu saio também, mas já a perdi de vista.
Vou até o quarto e tomo um banho rápido, trocando de roupa. Um grito me assusta e eu abro a porta, dando de cara com um corredor vazio. Outro grito ecoa pelo corredor e eu percebo que veio do quarto de Melanie e sua prima. Abro a porta rapidamente, encontrando a mulher do nome desconhecido. Ela está envolta em uma toalha e com um olhar assustado; quando me vê, aponta para o chão e eu dou uma gargalhada.
- Todo esse escândalo por causa de uma aranha? Caramba. Pensei que você estivesse morrendo. – ela me olha, com raiva.
- Eu vou morrer se você não matar esse bicho logo. – ela parece realmente assustada, então antes de fazer qualquer comentário, vou até a aranha e dou uma chinelada nela, que morre imediatamente. Ouço seu suspiro de alívio e rio novamente. – Não tem graça.
- Ah, não? A senhorita destemida com medo de uma aranha. – cruzo os braços. – Acho que tem graça sim. – ela me encara por um tempo, mas depois olha para a porta.
- Não dá pra você por uma camisa, não? – ela pergunta e eu dou um passo em sua direção.
- Por quê? Minha seminudez a incomoda? – provoco e ela aponta para a porta. – Você ainda não me agradeceu por ter matado o monstro terrível.
- Obrigada. Agora saia.
- Saio se você aceitar jantar comigo na praia essa noite.
- De jeito nenhum. – ela parece irredutível - Saia.
- Ótimo. – eu sorrio largamente. – Venho te buscar às oito.

Jennifer

- Você ficou maluca? Eu não vou usar todo esse... Brilho. - seguro o vestido em um único dedo, balançando-o em frente a Mel. Falei para ela que ia jantar fora, já que ela tinha compromissos profissionais, e ela atirou em mim um vestido de paetê totalmente dourado. Era lindo, mas tinha brilho demais.
- Ah, por favor.
- Melanie, é um jantar. Em uma praia. No verão.
- Use uma sandália baixa então. Qual é. – ela parecia decidida a me fazer ir com aquele vestido. – Fica lindo em você, mas é curto demais para mim. Em você fica perfeito. Por favor, Jen, faz isso por mim!
- Você é louca. Mas tudo bem, eu uso... Isso. – cedo e ela comemora, logo saindo para o tal jantar. Eu me troco e prendo o cabelo para o lado, colocando o vestido e uma sandália baixa.
Ouço duas batidinhas na porta, e dou de cara com Christian. Caramba, porque ele tinha que ser tão lindo? Ele estava com uma calça jeans escura e uma blusa branca folgada, o mesmo cabelo bagunçado de sempre. Seguro um suspiro, porque não quero dar a ele mais esse trunfo sobre mim. Já basta a cena da aranha.
- Vamos? – pergunta, estendendo o braço, e eu dou uma gargalhada. – Que foi? – sorri.
- Por que você está com isso na cara?
- Você está falando do chapéu ou do tapa olho?
- Dos dois. – respondo, rindo, e ele dá de ombros.
- É porque durante a noite eu sou um pirata. – responde, sussurrando, como se estivesse me contando um segredo. – Mentira. Minha irmã, por algum motivo, colocou isso em cima da minha cama e eu decidi usar. Por que não?
- Por que é ridículo, ó, senhor pirata? – insinuo, irônica e ele dá de ombros mais uma vez.
- Vai ser divertido. Vamos. – dessa vez ele fala como uma afirmação. Quando estende o braço para mim, coloco minha mão ali e saímos do hotel, indo para a beira-mar. – A propósito... – ele diz, quando chegamos a um restaurante na beira da praia. Abre a porta para mim e eu entro no local. – Você está linda. – me conduz até uma mesa em frente à janela, e podemos ver o mar dali.
- Boa noite. – um garçom vem até nós, sorridente e nos cumprimenta em português.
- Boa noite. – respondo.
- Desejam fazer os pedidos?
- Vamos esperar um pouquinho, obrigada. – sorrio e ele assente, saindo dali.
- Espero que você não tenha dito para ele não aceitar o meu cartão porque é roubado. – Christian diz e eu rio.
- Por quê? Ele é?
- Você nunca saberá. – pisca para mim, pegando o cardápio e o olhando. Faço o mesmo, e reparo que eles colocaram o nome dos pratos em português, inglês e espanhol. – Esse restaurante serve frutos do mar?
- Estamos praticamente dentro do mar. Você achou que eles serviriam o que, pizza? – respondo e ele me olha nos olhos por um momento. Não consigo segurar o riso ao olhar de novo para o tapa olho e para o chapéu. – Você deveria tirar essa coisa. Vai assustar os clientes.
- Os piratas sofrem muito preconceito, sabia? – reclama, mas acaba tirando ambos e colocando na cadeira ao lado.
- Adoro frutos do mar, ok? Só pra avisar. – digo, e ele franze a testa.
- Acho que você leu o meu diário, ok? Só pra avisar.
- Você tem um diário? – pergunto, com um meio sorriso.
- Você sonha em ir para a Austrália, gosta do verão e adora frutos do mar. Tem algo mais que temos em comum e eu deveria saber? – pergunta, apoiando-se na mesa. Eu faço o mesmo.
- Definitivamente não é o apreço por piratas. Ou aranhas. – ele ri e eu faço sinal para o garçom, que logo vem até a nossa mesa. Peço um prato de camarões e um coquetel de frutas. Christian pede o mesmo.

Christian

- Você está aqui para participar do desfile? Não sabia que era modelo. – ela diz, e parece realmente surpresa.
- Não sou. Sou professor de química. Estou apenas fazendo um favorzinho pra minha irmã.
- Eu coleciono livros de química, sabia? – ela diz e eu dou uma gargalhada. – É sério. Morro de ciúmes deles.
- Então quer dizer que você é materialista
- Claro que não! – ela riu, balançando a cabeça. Estávamos caminhando pela bela praia do Rio de Janeiro, descalços e sem a menor pressa. – Eu só... Coleciono algumas coisas, e tenho ciúmes delas.
- Então ser materialista é o seu defeito?
- Não é o único. – confessa, depois de uma pequena pausa, e eu sorrio. – Tenho uma longa lista deles, caso queira saber.
- Aprecio a informação, obrigado.
Continuamos caminhando por mais alguns minutos e passamos por uma família alemã conversando, minha acompanhante vai até eles e fala algo. Eles parecem felizes com o que ela disse e saem andando. Eu não consigo evitar a surpresa quando ela vem para meu lado novamente.
- O que foi isso? – pergunto e ela aponta para a família, que já se afastou.
- Isso? Ah, eles queriam saber se tinha algum restaurante perto daqui. – dá de ombros.
- Céus, quantos idiomas você fala? – questiono e ela ri, colocando as mãos no rosto.
- Quatro.
- Uau. Você é mesmo surpreendente. – deixo escapar e ela sorri, olhando para o chão. Seu rubor me encanta, mas não falo mais nada. Caminhamos até o hotel em silêncio e no meio do caminho entrelaço nossas mãos. Não sei o porquê, mas fiquei com vontade de fazer aquilo e quando vi já tinha pegado sua mão. Ela não falou nada, nem me olhou.
Paramos em frente à porta de seu quarto e ela sorri, abrindo a porta.
- Foi uma noite muito agradável. Obrigada. – se aproxima de mim, dando um beijo em minha bochecha. Começa a entrar no quarto, mas parece se lembrar de algo e se vira para mim. – Jennifer.
- O que? – pergunto, sem entender nada, e ela sorri largamente.
- Meu nome é Jennifer.

Jennifer

- Jen? – sinto que alguém me cutuca, mas apenas solto um resmungo impaciente. Que horas são? – Acorde, Jen! – dessa vez reconheço a voz de Melanie, e ela me sacode.
- Que foi? – resmungo, enfiando a cara no travesseiro.
- Vem comigo, preciso de você! – ela me puxa, e eu finalmente arrumo forças para me mexer. Levanto e tomo um banho rápido, quando saio de lá com um vestidinho minha prima já sumiu. “Estou na piscina”, é o que diz um bilhete deixado em cima da minha cama. Pego o celular e os chinelos, saindo do quarto. Parte de mim espera cruzar com Christian, então fico desapontada ao encontrar o corredor vazio. Por incrível que pareça, ele foi uma companhia muitíssimo agradável. Não é tão metido e arrogante quanto pensei.
O elevador não demora a chegar e eu vou até a área da piscina. Há algo parecido com uma tenda árabe lá, e imagino que seja onde Mel está. Chegando lá perto, vejo-a me olhar e vir correndo em minha direção.
- Sei que soa ridículo, mas você poderia, por favor, dizer pra eles que eu sou alérgica a morangos? Não tem nada que não tenha morangos aqui nessa mesa! – aponta para uma mesa lindíssima e enorme que tem lá dentro, cheia de comidas e bebidas e a grande maioria delas tem uma coloração rosa ou vermelha.
Vou até uma garota que tem um crachá do hotel, e ela vê Melanie ao meu lado e tenta oferecer um copo de suco de morango a ela, que apenas balança a cabeça negativamente.
- Desculpe, mas ela é alérgica a morangos. – informo a garota, em português, e ela sorri, finalmente entendendo que a recusa de minha prima não era falta de educação.
- Tudo bem, eu posso ir buscar outra coisa para ela lá dentro. Essas são as amostras para o desfile, é o que vão servir nos camarins dos modelos. – ela me informa e eu nego com a cabeça.
- Não precisa, podemos ir até lá. Onde é servido o café da manhã dos hóspedes?
- No salão principal, ao lado da recepção. Vou chamar algum funcionário que fale inglês, eu só sirvo as comidas. – ela dá um sorriso de desculpas e eu sorrio de volta, negando mais uma vez.
- Não tem necessidade, imagine. Obrigada pela informação. – me viro para sair dali e vejo que minha prima me olha com uma expressão confusa.
- Que foi? Avisei pra ela. – dou de ombros. – Vamos, que eu estou ficando com fome.

Depois de alguns minutos, Mel e eu estamos tomando café da manhã e conversando. O lugar está vazio, talvez por ser muito cedo, então logo vejo quando Christian se aproxima de nós.
- Bom dia! – ele sorri. – Tinha alguma aranha no quarto ou vocês sempre acordam cedo desse jeito? – Mel ergue uma sobrancelha quando ouve a parte da aranha, mas eu só reviro os olhos.
- Ela me acordou para que eu pudesse dizer a alguém que ela é alérgica a morangos... – é a vez de Christian erguer a sobrancelha, e minha prima me cutuca. – Que foi? Não é verdade?
- Falando assim até parece que eu sou uma maluca.
- Eu só traduzi. – dou de ombros, e Christian ri. Ele senta em nossa mesa e pede uma xícara de café para o garçom, que o traz quase imediatamente.
- Tem algo que eu não entendo... – ele começa, enquanto coloca açúcar na xícara. – Nós estamos no Rio de Janeiro. Em uma cidade praiana, turística e famosíssima. Nosso hotel é conhecido e praticamente na beira do mar. Para cada lado que você olhe, principalmente no verão, verá turistas. Eu arriscaria dizer que no mínimo sessenta por cento dos funcionários desse hotel é fluente em inglês. Ou seja... – dá duas batidinhas com a colher na xícara, deixando-a em cima do prato. Desvia o olhar lentamente para Melanie, que se vira para mim, surpresa. Eu não digo nada, mas sei quão certo Chris está. Eu não precisava estar aqui.
- Ela é minha prima e eu a queria aqui, algum problema? – Melanie parece irritada, olha para Christian com raiva e desvia o olhar rapidamente para mim. – Vou ver se a Brianna já acordou, ok? Quero fazer umas compras e sei que você não é muito fã. – dá um beijo em minha bochecha, e sai dali, me deixando sozinha com Christian, que tem um olhar confuso.
- Eu falei alguma coisa errada?
- Não exatamente. – eu rio. – Ela só não gosta de admitir que queira alguém por perto. Minha tia se foi há poucos meses, e era ela quem ia às viagens mais importantes com a minha prima. – dou de ombros. – Ela inventou essa história de tradutora só pra me convencer a vir junto, mas assim que cheguei aqui eu vi que era tudo besteira dela, já que ela não me pedia pra traduzir nada.
- Uau. – ele ri, jogando a cabeça para trás e eu não posso deixar de perceber quão adorável isso parece. Reprimo o pensamento imediatamente, e Christian arqueia uma sobrancelha. – Tem algum plano pra hoje?
- Não. – franzo a testa, em dúvida. – Por quê?
- Quer dar uma volta?
- Você não tem que treinar para o desfile?
- Treinar o que? – dá um riso baixo. – É só andar por uma passarela, não pode ser tão difícil.

Christian

- Você tem alguma ideia de onde estamos? – Jennifer pergunta, olhando para os lados e eu dou um riso baixo. Não respondo nada, apenas balanço a cabeça em negativa e ela ergue as sobrancelhas, parecendo preocupada. – Só espero que a gente consiga voltar para o hotel depois.
- Você fala português. Qualquer coisa é só perguntar, certo? – ela me olha por alguns segundos, mas por fim assente, sorrindo. Caminhamos um pouco pela cidade, nos arredores do hotel, alternando o tempo entre conversas e silêncios agradáveis. Por fim, o calor do verão nos obrigou a transferir a caminhada para a beira do mar. O problema é que estávamos indo no sentido contrário ao do hotel, e para se perder era facílimo e muito provável. Eu não estava exatamente preocupado com isso, mas tranquilizei Jennifer mesmo assim. Ela olha para o lado por alguns momentos, sussurra alguma coisa que não entendo e sai correndo em direção à calçada. – Jennifer? – chamo, mas ela olha para trás e faz um breve movimento, me convidando a segui-la. É isso que eu faço, mas vou devagar. Observo-a entrar em algo que parece uma banca de revistas e quando chego à entrada ela já está saindo, com uma pequena revista em mãos.
- Que foi? – pergunta, quando percebe que não digo nada e eu apenas rio, a acompanhando de volta à beira do mar. Andamos por alguns minutos em silêncio, e a garota lê a revista que comprou; não consigo ver seu título então apenas espero ela terminar de ler. De repente, ela se vira para mim com um sorriso. – Qual é o seu signo? – pergunta e eu reviro os olhos. A revista é sobre astrologia. Eu devia ter adivinhado. Ela me cutuca de leve com o cotovelo. – Ah, qual é. – me olha por alguns instantes e eu permaneço irredutível. Jennifer para de repente, e puxa o meu braço, me parando também. Ela sorri como se tivesse acabado de ter uma grande ideia. – Se você me disser seu signo, saímos para jantar hoje à noite e eu uso seu chapéu de pirata.
- Só o chapéu? – pergunto, analisando a situação, e ela nega levemente.
- Só o chapéu. É pegar ou largar. – analiso as possibilidades por alguns instantes, e imaginar Jennifer usando o chapéu acaba me convencendo.
- Leão. – revelo, por fim, e ela sorri, começando a andar novamente.
- Marte e Aquário mexem com seu coração – ela começa a ler e eu reviro os olhos novamente, mas não interrompo. - e uma nova paixão pode surgir a qualquer momento do mês. Uma pessoa inteligente, independente e diferente do comum pode marcar o início de uma nova fase. – ela ri, fechando a revista. – Acho que você vai se apaixonar, hein. – me cutuca de leve, com um sorriso no rosto. -Cuidado.
- Ah, claro. Vou tomar cuidado. – falo de maneira debochada, revirando os olhos mais uma vez.
- Não entendo como você pode odiar astrologia.
- E eu não entendo como você pode amar. – olho para ela, que continua encarando o oceano. – Você tem essa mania desde pequena?
- De conferir meu horóscopo todos os dias? Sim. – ela olha para o chão e sorri. – Quando eu era criança minha mãe lia as previsões do meu signo pra mim todos os dias antes de eu ir para a escola e nos finais de semana durante o café da manhã. Era como um ritual, já fazia parte da rotina. – ela dá de ombros, rindo baixo. – Depois que ela morreu eu continuei a fazer isso; no começo era meio melancólico, mas agora me acostumei. Foi a minha maneira de manter ela por perto... De sentir ela comigo todos os dias, sabe? Pessoas normais têm fotos, eu tenho revistas de astrologia.
- Uau. – exclamo, surpreso com a história. – Confesso que você me surpreendeu de novo.
- Acho que estou ficando especialista nisso. – ela sorri, afastando o cabelo dos olhos. Eu avisto uma banca a alguns passos de distância, e a única palavra que reconheço dali é Milk-shake. Peço para Jennifer esperar um pouco e vou até lá, fazendo o pedido para um cara sorridente que – ainda bem – entendia um pouco de inglês. Ele me entrega dois copos de plástico com canudos e eu dou o dinheiro para ele, agradecendo e saindo dali e voltando ao local onde minha acompanhante está parada. Ela me olha com uma expressão confusa e eu entrego a ela um dos copos. Depois de provar o milk-shake, seu sorriso aumenta. – Cerejas? – dá um risinho e me abraça de lado, meio sem jeito. - Muito obrigada.
- Dje nadá. – arrisco a falar, em português, e ela me olha de um jeito engraçado, começando a gargalhar logo em seguida. Não entendo nada. Achei que era exatamente aquilo que o homem da banca tinha dito. – Qual é a graça?
- Você tem um sotaque muito bonitinho, sabia? – responde, quando consegue parar de rir. – De nada. – ela repete, de modo um pouco diferente e eu assinto, finalmente entendendo.
- Ah, qual é, não foi tão ruim. Eu nem falo português, poxa. Dê um desconto. – brinco, cutucando seu braço de leve e Jennifer sorri largamente.
- Eu sei. Por isso mesmo. – ela para de andar, me entrega seu copo e dá mais alguns passos para dentro da água, abrindo os braços e fechando os olhos enquanto joga a cabeça para trás. Eu poderia fazer o mesmo, mas não consigo tirar meus olhos da mulher à minha frente. Tem alguma coisa nela que é tão intrigante quanto irresistível. Seus cabelos castanhos caem em ondas em suas costas, e balançam por conta do vento. O vestido solto que ela está usando se mexe freneticamente, como em uma dança imaginária. Observo a cena, extasiado. Além de ser inegavelmente linda, ela tem um brilho especial. Não sei o que é, mas quando olho para ela não consigo desviar o olhar. O que tem de errado comigo? - Die Sonne ist schön, nicht wahr? – escuto-a dizer e franzo a testa.
- Hã? – deixo escapar, e ela solta uma risada, abrindo os olhos e virando para mim.
- O sol é lindo, não é? – traduz e eu sorrio, concordando.
- E por que razão você falou isso em alemão mesmo, hein? – ela me olha com curiosidade.
- Então você sabe que eu acabei de falar alemão?
- Claro que sei. – faço uma pose convencida, me aproximando um pouco mais. - Ich spreche Deutsch. – ela abre a boca, completamente surpresa e eu tento segurar o riso, em vão. Uma risada escapa por meus lábios e Jennifer faz cara de quem não entendeu nada. – Não se empolgue. Essa é a única coisa que eu sei falar em alemão. – é a vez dela de rir. – Sim, a única coisa que eu sei falar em alemão é “eu falo alemão”. Irônico, não?
- Irônico? Eu diria surreal e estranho, mas irônico serve. E preciso repetir que você tem um sotaque adorável. – ela sorri e eu cruzo os braços, fingindo estar incomodado.
- Você é a garota que fala quatro línguas e sou eu que tenho um sotaque adorável?
- Dizem que é chato eu me gabar por ser poliglota, mas ficam jogando na minha cara o tempo inteiro a minha situação linguística. Não entendo vocês, humanos. – coloca as mãos pra cima, com uma expressão engraçada e eu sorrio largamente, convidando-a para voltar ao hotel.

Jennifer

Assim que voltamos ao hotel, Brianna praticamente surta e arrasta Christian para longe, falando algo sobre provar as roupas do desfile. Eu não entendo nada e ele me dá um sorriso de desculpas, sumindo pelo corredor. Ao conferir o celular, percebo que ficamos fora por mais ou menos uma hora e meia. Tive a sensação de ter sido bem menos, foi tão agradável que nem vi o tempo passar.
Subo até o quarto, distraída e coloco o biquíni e pego uma toalha e o protetor solar. A parte de cima do biquíni me faz rir, me lembrando do jantar com Chris, já que tem brilho por todo ele, assim como o vestido que eu usava.
Pego meu Ipod e coloco os fones no ouvido, ao som de Give me Love, do Ed Sheeran; uma das minhas músicas favoritas. Ela é calma, mas é linda.
Sigo até a piscina com calma, e fico aliviada ao ver que está tudo tranquilo, sem crianças correndo para lá e para cá, nem adolescentes bêbados gritando quanto a vida é linda. Meu sorriso chega ao rosto sem que eu perceba e eu paro em frente a uma das cadeiras de madeira que tem ali, esticando minha toalha e deitando em cima dela. Começo a passar o protetor nos braços, distraidamente enquanto escuto a música, depois na barriga e por fim nas pernas. Quando fecho o protetor e o coloco no chão, percebo que tem um homem me observando, sentado na cadeira ao lado. Tiro os fones e o olho, confusa.
- Posso ajudar? – pergunto, em inglês, antes de me lembrar que estamos no Brasil, mas antes que eu possa repetir a pergunta em português ele sorri.
- Pode. Como é o seu nome? – o olho de cima abaixo, tentando avaliar se é confiável ou não, mas o sorriso simpático e a aparência indefesa acabam me convencendo. Sorrio de volta.
- Jennifer. E o seu?
- Eric. – ele ri, e seus cachos ruivos balançam um pouco, de um jeito fofo. Levo um susto quando vejo Christian vindo em nossa direção, não só por não esperar ver ele por perto tão cedo, mas também por ficar extasiada com seu corpo perfeito. Ele parece um deus grego, ou alguém saído de um filme. Chega a ser surreal, ele nem parece humano. E eu não acredito que pensei isso.
Ele chega ao nosso lado e, quando vê Eric, olha para mim sorrindo e se aproxima.
- Oi, meu amor. – diz, se abaixando para me dar um beijo na testa. Eu não entendo nada, mas não pergunto também. Não sei se é por culpa dos músculos de Christian ou pelo fato de ele ter me chamado de “amor”, mas Eric dá uma desculpa qualquer e praticamente evapora em um segundo. Chris senta no lugar onde ele estava, puxando a cadeira um pouco mais para perto de mim. Fico encarando-o por alguns segundos, até que não consigo me segurar.
- Ok, que diabos foi isso? – pergunto, com raiva, mas ele não parece se importar, apenas se deita na cadeira.
- O que? Eu só estava te protegendo desse babaca.
- Ah, é mesmo, oráculo? – comento irônica. – E como você deduziu que ele era um babaca?
- Hoje de manhã, antes de aparecer lá no salão para tomar café com vocês, eu passei por ele no corredor e ele estava com umas cinco mulheres ao redor dele, todas praticamente penduradas em seu pescoço. Você acha mesmo que ele não é um babaca? – ao final da última frase, ele se vira para mim e seus olhos azuis ganham certo brilho por culpa da luz do sol, que bate direto em seu rosto. Eu olho para cima e bufo, irritada.
- Ele parecia um cara legal.
- Tão legal que eu aposto que ele estava pensando em mil maneiras de transar com você enquanto te observava. Fala sério, Jennifer. Você me deve uma.
- Se eu precisasse de ajuda, teria pedido.
- O cara é um idiota.
- Você não acha que sou eu quem tem que deduzir isso?
- Você não precisa deduzir. Eu estou te dizendo. Ele é um idiota.
- Não, Christian. Você é um idiota. – levanto, pegando minhas coisas e saindo dali.

Christian

- Ok. – digo para mim mesmo, assim que Jennifer some de minhas vistas. – Eu definitivamente não entendo as mulheres.
- Precisa de alguma ajuda com isso? – Melanie me dá um susto, aparecendo do nada com uma expressão divertida. – Sou expert em “Jennifer”.
- E como você sabe que era dela que eu estava falando? – pergunto confuso, me sentando de frente para ela, que agora está sentada onde a prima estava.
- Qual é. – ela ri, de um jeito debochado. – O furacão passou por mim. Ela estava irritada. O que você fez?
- Tinha um babaca puxando papo com ela e eu o espantei me fingindo de namorado dela.
- Uh, oh. – a expressão em seu rosto é engraçada, uma mistura de espanto e divertimento. – Alerta de perigo. Você não deveria ter feito isso, meu querido.
- E por que não?
- Digamos que ela não tem um histórico muito feliz no que se refere a confiar no julgamento das outras pessoas. Mas essa é uma história que ela mesma tem que te contar. – dá de ombros. – Brianna pediu para eu vir te chamar, ainda temos alguns detalhes para resolver. Vamos. – acena, impaciente e eu logo me levanto, seguindo-a.

Jennifer

Segundos depois de Melanie sair para jantar com algum cara que conheceu ali, ouço batidas na porta e abro, impaciente, pensando que ela esqueceu a chave. Mas é Christian. Ele está com uma calça jeans e uma blusa branca. Simples, mas muito charmoso. Sorrio para ele, cumprimentando-o com um aceno de cabeça. Ele me olha confuso, e depois explode em uma gargalhada.
- Você é imprevisível, sabia?
- Não entendi. – respondo, confusa e ele ri fraco.
- Deixa pra lá. Você ainda vai sair para jantar comigo? – ele tira as mãos das costas, revelando o chapéu de pirata e eu me lembro do que tínhamos combinado. Levanto um dedo para ele, pedindo que aguarde, e vou até o quarto para calçar uma sandália. Ele me estende o chapéu quando apareço na porta novamente e sorri quando o coloco na cabeça. – Ficou uma gracinha. Eu adotaria definitivamente o novo visual, se fosse você.
- Engraçadinho. – mostro a língua para ele, fechando a porta atrás de nós e seguindo-o até o elevador. Seguimos até o carro e eu fico surpresa por não irmos a pé. – Pra onde estamos indo?
- Você vai ver. – pisca para mim, abrindo a porta do carro. Entro, com um sorriso de agradecimento, e ele dá a volta, também entrando no carro. Logo dá a partida, e eu seguro a curiosidade de perguntar novamente para onde vamos. Vejo duas mochilas no banco de trás, mas novamente fico quieta. O que será que ele está planejando?
Depois de alguns minutos em silêncio, ele para o carro em um lugar estranho e deserto, desce do carro e abre a porta para mim.
- Que lugar é esse?
- Caramba, Jen. Confie em mim. É uma surpresa. – finalmente aceito sua mão estendida, saindo do carro. Ele pega as mochilas, sem soltar minha mão, e me conduz por um caminho estreito e íngreme, mas no fim vamos parar na areia. Consigo ver o mar um pouco distante, mas Christian para ali mesmo, em um lugar na areia entre duas rochas. Ele tira algo branco da mochila, e eu começo a rir quando vejo o que é.
- Um lençol?
- Que foi? – estende o lençol no chão, sentando em cima dele. – Senta logo, vai. – dá um tapinha à sua frente e eu finalmente me sento, rindo. – O que?
- Nada. Só estou surpresa. Como foi que o senhor turista descobriu esse lugar deserto, posso saber?
- Eu tenho minhas fontes. – ele sorri e eu fico ainda mais curiosa. Começa a tirar algumas coisas da mochila, mas quando tira dois pratos e quatro talheres eu dou um pulo, surpresa.
- Você trouxe um banquete para cá ou o que?
- Só algumas coisinhas. – ri baixo, e eu me ajeito em cima do lençol. É incrivelmente confortável, e não nos suja de areia. Confesso que a ideia de Christian foi muito boa. – Está com fome?
- Depende... – digo, receosa, e ele dá um sorriso, mexendo em alguns potes, revelando arroz, camarão e um molho que não sei do que é, mas me parece ser de frutos do mar. – Sim. – confesso, rindo, e ele pega os pratos, servindo nós dois. Entrega um para mim e eu sorrio, agradecendo. – E onde foi que você conseguiu essa comida mesmo? – pergunto, curiosa, e experimento-a. – Muito boa, por sinal.
- Digamos que eu fiz alguns amigos no hotel. – dá de ombros, sem mais explicações. – Gostou da comida? Sei que você adora frutos do mar tanto quanto eu, então...
- Está maravilhosa. Mesmo. – elogio, sorrindo e ele agradece com um aceno.
Comemos em silêncio e eu aproveito a oportunidade para aproveitar a beleza do lugar onde estamos. É um espaço amplo e realmente deserto. O mar está lindo, e a única luz que nos ilumina é a da lua, que está enorme, brilha muito e reflete no mar, o que transforma algo tão simples e natural em uma paisagem de perder o fôlego. Ao terminar de comer, deixo o prato de lado e pego meu celular, tirando uma foto daquilo.
- Jennifer? – viro a cabeça para trás e escuto um clique. Christian sorri, observando o celular. – Ficou ótima. O chapéu deu um brilho especial pra paisagem. – pisca, e eu tiro o chapéu de pirata da cabeça, dando um pulinho para parar ao lado dele. Coloco-o em sua cabeça e tiro uma foto antes que ele possa protestar. Quando analiso o resultado, fico satisfeita e escondo o celular antes que Christian possa fazer qualquer coisa. – Você é esperta. – ri, balançando a cabeça e tirando o chapéu.

Christian

- Eu não consigo te imaginar dando aula de química, sabia? – Jennifer comenta, sem tirar os olhos do céu. Depois do jantar, tínhamos deitado em cima do lençol para olhar as estrelas. Estávamos em silêncio há alguns minutos, até que a voz dela me despertou.
- E eu não consigo te imaginar sendo vendedora de uma loja de roupas. – digo, e ela vira a cabeça subitamente para mim.
- Como você sabe disso?
- Que você trabalha em uma loja de roupas renomada lá da Inglaterra? Sua prima me contou. – ela franze a testa, parecendo confusa, e eu ergo as mãos. – Juro que eu não perguntei. Ela simplesmente começou a me falar sobre você.
- Ó, céus. Você está começando a me assustar. O que ela disse? – pergunta, sentando, e eu não consigo segurar uma pequena risada, observando seu desespero.
- Nada comprometedor, então não se desespere. – consigo dizer no meio de um riso e ela se deita novamente, voltando a encarar o céu estrelado. – Ela só reforçou ainda mais o fato de você ser materialista.
- Não sou! – vira o rosto para mim abruptamente e eu a encaro em silêncio. Ela bufa, cruzando os braços. – Só um pouquinho.
- Eu também sou um pouco, caso isso ajude você a se sentir melhor.
- Ah, sim, obrigada. – ela ri. – Esse lugar é lindo.
- É, né? – suspiro, encarando o céu. Lindo, imenso e brilhante. Nunca pensei que algum céu estrelado pudesse superar o que eu conseguia ver do meu apartamento, mas pelo jeito o Brasil me reservou mais uma surpresa, das mil que já recebi. Eu tinha inventado aquele jantar maluco para podermos ter um lugar tranquilo para conversar, mas não imaginei que estar deitado ali ao seu lado, em cima de um lençol, em uma parte da praia deserta e encarando um céu que transbordava estrelas pudesse ser tão agradável e maravilhoso. – Ah, eu queria te pedir desculpas por hoje. – começo, antes que perca a coragem. – Não sabia que você ia ficar tão chateada com aquilo, desculpe.

Jennifer

Sou pega de surpresa pela fala de Christian, e pelo choque fico alguns segundos em silêncio. Eu me sento, e me aproximo dele, que vira o rosto para mim e me olha sem dizer nada. Sem parar para pensar no que estou fazendo, me deito, colocando a cabeça no peito de Chris e a mão em sua cintura. Se ele fica surpreso por minha aproximação repentina, não demonstra, já que apenas envolve um dos braços ao redor do meu corpo, apoiando o queixo no topo da minha cabeça. Respiro fundo, sentindo seu perfume inebriante.
- Eu é que peço desculpas por ter reagido daquele jeito. Digamos que eu sou meio receosa no quesito confiança.
- Jura? – ele pergunta baixinho, como quem não quer nada, fazendo desenhos imaginários em meu braço. Eu suspiro.
- A história é longa e um pouco ridícula... – eu aviso, e ele ri.
- Eu tenho tempo.
- Sabia que você ia dizer isso. – é minha vez de rir, e me aproximo ainda mais de Christian. Respiro fundo antes de começar. – Quando eu era menor, tinha uns treze ou catorze anos, eu não era popular na escola nem nada do tipo, mas por algum motivo as pessoas confiavam em mim. – fecho os olhos, deixando as lembranças me dominarem. O único som ali é o da minha voz, que se eleva ao barulho do mar, ao fundo. – Sempre que tinham algum problema vinham falar comigo e, apesar de não entender o motivo, eu dava conselhos a elas. E, de repente, aquilo virou uma loucura. Eu ouvia coisas horríveis sobre algumas pessoas, e acabava sem querer passando as informações para as outras. E quase tudo que me diziam era mentira ou preconceito, mas eu não tinha a menor ideia. De um dia pro outro todo mundo começou a me odiar, porque eu acreditava no que me diziam e acabava julgando as pessoas pelos olhos dos outros, sabe? – dou uma risada baixa, tentando impedir as lágrimas de encherem meus olhos, nas memórias das últimas semanas de aula daquele ano, aqueles dias horríveis que eu nunca vou esquecer. – Desde aquela época eu parei de confiar nesse “disse me disse” e comecei a tentar conhecer as pessoas antes de pensar qualquer coisa. – respiro fundo, ainda sem abrir os olhos. - Eu disse que era ridículo, mas de certa forma é um trauma que eu nunca consegui superar.
- Seu segredo está seguro comigo. – abro os olhos finalmente, levantando o rosto para olhar para Christian. Ele vira o rosto para mim e sorri. – Não é ridículo. Eu entendo. Também já tive problemas com isso e entendo o seu receio. Sério. – dá um beijo em minha testa e eu sorrio, olhando para cima.
- Acho que eu nunca vi um céu com tantas estrelas. E uma lua tão grande.
- É. – ele ri baixo. – Confesso que não imaginei que a paisagem fosse tão linda. Quer dar uma volta?
- Quero! – respondo, animada e logo me levanto. Christian faz o mesmo.
Tiro a sandália, deixando-a em cima do lençol e sigo pela areia sem parar para ver se ele está me seguindo. Alguns segundos depois ele surge ao meu lado e segura minha mão, entrelaçando nossos dedos. Quando olho para ele, vejo que sorri, olhando para o chão.
- Sabe... Eu achei que essa viagem fosse ser uma tortura, mas está sendo surpreendentemente... – ele faz uma pausa, e eu sorrio.
- Incrível? – sugiro e ele olha para mim, um sorriso ameaçando aparecer em seus lábios.
- Linda. – ele para, sorrindo, e eu também paro de andar, me virando para ele. Retribuo o sorriso.
- A viagem? – pergunto e ele ri.
- Também... – diz, e leva a mão livre até o meu rosto, sem tirar os olhos dos meus. Um barulho me assusta e eu dou um pulo para frente, ficando com a boca a centímetros de distância da de Christian. Ele separa nossas mãos e põe a dele em minhas costas, me puxando mais para perto. Eu sorrio por antecipação e Chris considera isso um assentimento, já que no segundo seguinte está me beijando.
Envolvo seu pescoço com os braços, aprofundando o beijo e nos aproximando mais do que achei ser possível. Christian sorri sem separar nossos lábios, mas logo volta a me beijar. Logo descubro o motivo de seu sorriso, ao sentir alguns pingos em minhas costas. Chuva. Muita chuva, caindo em gotas enormes e em uma rapidez impressionante. Em poucos segundos estamos completamente encharcados, mas nem passa pela minha cabeça interromper aquele beijo; só quando a necessidade de ar me atinge, eu separo nossos lábios por alguns segundos, rindo.
- Esse foi o jantar mais maluco da minha vida. – falo, num suspiro, com os olhos fechados por culpa da chuva, que continua nos atingindo sem qualquer pausa. Christian murmura uma concordância, colando nossas bocas novamente e envolvendo minha cintura, me levantando até que meus pés não toquem mais o chão; envolvo minhas pernas ao redor de sua cintura e ele dá alguns passos, sem parar de me beijar. Quando percebo, estamos deitados novamente no lençol, com Christian por cima de mim. E, de repente, a chuva para. Sem qualquer aviso, como se fosse obra do destino. Ou uma brincadeirinha de mau gosto.
Ele dá uma risadinha, levando os lábios ao meu pescoço e as mãos à minha cintura, levantando minha blusa molhada, que está colada ao meu corpo. Eu rio e o ajudo a tirá-la. Ele dá um sorriso.
- Gostei do sutiã. – ri, me beijando novamente. Lembro-me então do sutiã que estou usando. Ele é branco e tem cerejas na estampa.
Em alguns segundos, Christian também se livrou da blusa molhada. E o resto de nossas roupas some com a mesma facilidade.

Christian

Os primeiros raios da manhã incomodam meus olhos, e me vejo obrigado a abri-los. Apenas para dar de cara com um imenso céu azul, as lembranças da noite anterior vindo em pequenos flashes. Sorrio ao reparar que Jennifer dorme em meus braços, sua cabeça descansando em meu peito. Ela consegue ser ainda mais linda dormindo, e observar sua respiração tranquila me traz uma paz enorme. Fico apenas observando seus movimentos ritmados, até que ela mexe a cabeça de leve, levando a mão aos olhos. Parece que o sol a incomoda também.
- Hey, bom dia. – digo, em um sussurro, e ela sorri, levantando a cabeça para me olhar nos olhos.
- Bom dia. – ela olha em volta por alguns instantes e encara a si mesma, parecendo aliviada ao ver que está vestida com as roupas íntimas. Ela se senta, se aproximando de mim para dar um suave beijo em meus lábios. Sorri, levantando para observar o local novamente e pegar as suas coisas. Faço o mesmo, e vamos de mãos dadas até o carro. Não sei o que está acontecendo entre nós dois, mas eu gosto de tê-la por perto. A astrologia não conta somente mentiras, pelo visto.

- Finalmente vocês chegaram, hein? – Brianna nos encontra na recepção e sorri para Jennifer. – Já está quase na hora do almoço, seus dorminhocos. – ela se vira para mim. - Você, senhor, tem um compromisso com a sua irmã, esqueceu?
- Caramba, esqueci. Desculpe. – digo, culpado. Tinha prometido a Brianna que sairíamos para almoçar, fazer compras e conhecer a cidade. Estava um pouco atrasado, mas os planos continuavam os mesmos. – Podemos ir agora? – ela concorda com a cabeça e eu me viro para Jennifer, abraçando-a de lado e indo até o quarto trocar de roupa para fazer compras com a minha irmã.

Jennifer

Toc, toc, toc.
Toc, toc, toc.

O barulho irritante e repetitivo me desperta, e abro os olhos. É a porta. Tem alguém batendo à porta. Será que é para Melanie? Ela nem demonstra sinais de que vai acordar, então acabo me levantando. Uma breve olhada no relógio me diz que é uma hora da manhã. Passei a tarde inteira aproveitando a praia e a piscina com Melanie, e nada de muito emocionante aconteceu. Jantamos ali no hotel mesmo e tínhamos ido dormir cedo, já que o desfile já seria na manhã seguinte. Estou com um short e uma blusa qualquer, nem é um pijama de verdade, então abro a porta sem qualquer constrangimento.
É Christian.
- Jennifer. – ele sorri de lado. Parece desconfortável, o que acho estranho. Ele sempre parece tão confiante. – Você pode vir comigo? Quero te mostrar uma coisa. É importante.
- Claro. – entro no quarto novamente, pegando um chinelo. Ele me conduz até seu quarto e quando abre a porta reparo que suas mãos tremem. – O que aconteceu, Chris?
- Eu acabei de presenciar um crime. Na verdade, vi de camarote. Pela janela. – aponta para o binóculo em cima da cama e eu o olho, confusa.
- Crime? Que crime?
- Um assassinato. – meus olhos quase saltam das órbitas e eu dou um passo para trás, fechando a porta sem querer. Christian parece muito abalado, então espero em silêncio enquanto ele se recompõe. – Vem aqui. – estende a mão, que ainda treme, e eu a seguro, sem saber o que dizer. Ele me conduz até a janela, que tem vista para a piscina. Há uma mulher atirada no chão, seus cabelos loiros espalhados ao seu redor. Mas o que mais me assusta é a poça de sangue ao redor dela.
- Ela está...
- Sim. Daqui a pouco eles vão descobrir que ela está lá.
- Você ainda não falou para os funcionários do hotel? – pergunto, surpresa. Parece uma informação urgente, e não entendo o motivo de ele ter mantido silêncio.
- Não. Porque eu ainda não decidi quanto vou contar pra eles. – ergo as sobrancelhas e ele balança a cabeça. – Não é o que você está pensando. Não sou o responsável. Só vi tudo acontecer.
- Tudo o que? – ele estende a mão para mim novamente e me conduz até a cama. Sento ao seu lado, mas ele não me solta.
- Fui jantar com a minha irmã e quando chegamos, não consegui dormir, então fiquei aqui no escuro só olhando pra praia. Depois de um tempo algo chamou minha atenção, e eu vi um casal andando ao redor da piscina. Deu pra perceber que eles estavam discutindo, então peguei o binóculo. E bem nessa hora o cara tirou alguma coisa do bolso, e bateu na cabeça da mulher com ela. Ele bateu várias vezes, ela caiu no chão e ele continuou batendo. Até que ela parou de se mexer. Pode parecer loucura, mas aquilo não parecia uma faca. Eu poderia jurar que era um alicate. Mas aí o homem sumiu. Eu não consegui ver a cara dele, - ele suspira - mas acho que sei quem é.
- Sério? – pergunto e ele assente. Segura minhas mãos entre as suas e me olha nos olhos.
- O que eu vou te contar agora é segredo absoluto. Entendeu? Você não pode nem sonhar em falar isso pra alguém. Segredo.
- Segredo. Entendi.
- Há uns dias, quando desci no elevador antes de ir pra piscina... BOOM
Ouço uma explosão e nós dois corremos para a janela. O local onde antes estava o corpo da mulher agora é um conjunto indistinto de chamas, que dançam e refletem na piscina.
- Car... – digo, com as mãos na boca e os olhos arregalados.
- Agora eles descobrem o corpo...

- Então você viu os dois homens conversando? – pergunto, tentando organizar tudo que Christian tinha acabado de me contar. A mulher com o tal Travis no elevador, depois a mesma mulher com outro cara e depois os dois caras conversando.
- Sim. E eu sei quem eles são. – vai até a mesa, pegando o notebook, que coloca no meu colo. - Esse é o site do hotel. Está tudo em português, mas eu usei o Google. – aponta para uma foto na aba “Sobre nós” do hotel – Esse é o dono do hotel, Vicente Garcia. É o homem que beijou a mulher na piscina. Essa é a mulher, que por acaso é esposa dele. Giuliana Garcia. E esse – ele aponta para um homem ao lado da mulher – é o cara do elevador. Travis Lightwood. Um americano que mora no Brasil há alguns anos. Ele está em algum ponto entre a gerência e a direção do hotel. É como se fosse o braço direito do Vicente. Posso apostar meu diploma se você quiser, mas eu tenho certeza que esse tal de Travis é amante de Giuliana. E foi ele que eu vi na piscina, atacando ela. Quanto à explosão, eu não sei quem foi.
- Nossa. E você vai contar pra polícia tudo que viu?
- Acho que não. Ainda não. Esse cara é poderoso e é o melhor amigo do dono desse hotel. Eles não acreditariam em mim. E eu não tenho nenhuma prova.
- Mas e as câmeras?
- Que câmeras, Jennifer? – ele ri, desgostoso. – Esse hotel não tem câmeras. Não posso provar. A não ser...
- A não ser... – provoco, apreensiva.
- A não ser que a gente arranque dele uma confissão. Ou ache o alicate.

Christian

- Essa é uma ideia completamente maluca... – ela começa e eu concordo com a cabeça. Provavelmente vai sair correndo e gritando que eu fiquei louco. – Mas eu vou te ajudar.
Aí, não falei? Espere...
- O que você disse? – pergunto e ela sorri.
- Eu vou te ajudar a provar isso tudo. – dá uma risada, encolhendo os ombros. – Acho que eu assisti a muitos episódios de Criminal Minds, mas acredito que a gente consegue provar. Só precisamos de um plano.
- Plano?

No dia seguinte...
Por incrível que pareça, o desfile não foi cancelado. Minha irmã, logo cedo, bateu à porta do meu quarto, e não pareceu muito feliz ao ver que Jennifer tinha dormido ali. Não fiz questão de dizer a ela que passamos a noite inteira bolando como provar que alguém era culpado de um assassinato, mas ela não precisava saber. Era segredo, afinal. Eu não contaria de qualquer forma. Era surreal demais, maluco demais. Por falar em surreal...
- Bom dia. – Jennifer sorri para mim, e ela está belíssima. Quando olha para mim, vejo um brilho especial em seus belos olhos castanhos e sei que ela está pensando no segredo que compartilhamos. Não é nada agradável, mas não deixa de ser um segredo.
- Bom dia. – devolvo o sorriso, dando um beijo em seu rosto. A seriedade da situação que presenciamos noite passada me faz controlar o desejo de beijar seus lábios. Talvez em outro momento, já que nem mesmo tínhamos conversado sobre a noite que passamos juntos na praia. Estendo o braço para ela, e vamos juntos até a praia; local onde aconteceria o evento. – Dormiu bem? – pergunto e ela ri, negando.
- Não dormi. E estou um caco. Já você parece que acabou de sair de um SPA. – se aproxima de mim, sussurrando algo. Eu me aproximo dela, e também sussurro.
- Esse é o ouvido danificado, lembra? Fale um pouco mais alto, ou então no outro.
- Ops. – ri novamente, escorando a cabeça em meu braço. – Perguntei qual é o segredo para acordar desse jeito.
- Eu também não dormi. Coincidência não? Quanto ao segredo... – inclino a cabeça – Você é quem parece ter acabado de sair de um SPA, não eu. Acredite.
- Você chegou! Aleluia! – Brianna aparece e me arrasta para um lugar antes que eu tenha tempo de me despedir de Jen. – Ali estão as suas roupas. O desfile começa em vinte minutos.

Jennifer

Assim que Brianna e Chris somem de minhas vistas, Melanie aparece e me arrasta para seu camarim. Ela está nervosa e quer passar algumas instruções para os maquiadores brasileiros, apenas traduzo o que ela quer dizer e então vou pra frente do palco, junto ao resto das pessoas que assistiriam ao desfile.
Uma das primeiras pessoas que vejo e reconheço é o nosso suposto assassino, Travis. Ao lado dele, o marido desolado (e traído) ainda está com o rosto abatido e prestes a despencar. Fico com pena do sofrimento do homem, e por segundos chego a pensar que seria melhor para ele não saber de nada; nem da traição, nem de quem matou sua mulher. Chris ficou responsável por fazer algumas perguntas discretamente às pessoas envolvidas na investigação, como quem não quer nada. Minha tarefa era outra.
- Olá, com licença. – falo a Travis, que me olha com espantoso interesse. Ele dá um passo para o lado, e eu sento ali. – Obrigada. – sorrio, desviando o olhar para o palco, onde os preparativos para o desfile estavam sendo finalizados. Sinto o olhar dele sobre mim e uma adrenalina incrível me invade quando ele finalmente fala alguma coisa.
- Posso perguntar seu nome? – diz, de modo suave, e eu coloco em meu rosto uma expressão de surpresa, como se me perguntasse se ele falava comigo. Ele me olha bem nos olhos então assinto levemente com a cabeça.
- Jennifer.
- Jennifer. – ele repete, devagar. – Mas que belo nome. Sou Travis.
- Obrigada. Travis também é um belo nome. – “para um assassino” completo mentalmente, mas não permito que o sorriso saia do meu rosto.
- Aprecio a gentileza. Desculpe se eu parecer distante em algum momento, mas é que uma tragédia se abateu sobre nós essa noite. – franzo a testa, fingindo não saber do que se trata.
- É mesmo? O que aconteceu?
- A esposa do meu melhor amigo foi assassinada. – ele fala lentamente, e eu ergo as sobrancelhas.
- Que horror! Onde foi isso?
- No Hotel Surreal.
- Jura? – faço uma pausa. – Mas é lá que eu estou hospedada! – ele também tem no rosto uma expressão incrédula.
- E você por acaso ouviu alguma explosão ontem à noite? – ele pergunta e eu arregalo os olhos, como se subitamente algo me viesse à mente. Ele concorda com a cabeça. – Então. Foi o que aconteceu.
- Que tragédia. – balanço a cabeça, e ele apenas concorda novamente.
O desfile começa e ele pede desculpas, se levantando e voltando a ficar ao lado do Sr. Garcia, que está em pé em uma das pontas do palco.
O primeiro a subir no palco é o próprio estilista, que dá as boas vindas a todos em inglês e depois desaparece. Umas três modelos de biquíni entram, mas não são de grande destaque. E então vem Melanie. Consigo sentir uma mudança na atmosfera quando ela entra, desfilando em um vestido vermelho moda praia que é a coisa mais linda que eu já vi na vida. Ela usa uma tiara com brilho e um sapato de salto preto. Está maravilhosa.
Estranho quando ela desce do palco e vai até outra parte da praia, perto dali. Ela tira os sapatos e sobe em alguma coisa. Levanto e me aproximo, assim como fazem os outros espectadores, e eu fico extasiada quando ela simplesmente sobe em cima de alguns cabos e anda por ali com tanta graça que parece que faz aquilo o tempo inteiro. Tinha que ser coisa da minha prima. Ela não tinha me dito nada sobre essa parte do desfile. Tem um fotógrafo acompanhando cada passo dela e eu imagino quão maravilhosas ficarão as fotos dela em cima dos cabos com aquele vestido vermelho esvoaçante. Ela desce dali e segue novamente até o palco, desaparecendo. As pessoas começam a aplaudir sem parar, e eu faço o mesmo.
O estilista aparece novamente no palco, agradecendo e falando um pouco sobre a coleção dos homens. Logo um homem vestindo um calção aparece, e depois dele vem Christian. A mesma mudança na atmosfera acontece, e ele flutua por aquele palco com tanta graça que eu não consigo nem piscar. Ele veste uma bermuda bege e uma camisa azul escura com uns enfeites estranhos, mas a blusa é tão colada que consigo ver perfeitamente as formas de seu abdômen definido. Ah, céus. Isso fica cada vez pior. Ele é lindo mesmo.
Dá a volta e, antes de desaparecer pelos bastidores, vira o rosto para o local onde estou e dá uma piscadinha.

Dou duas batidinhas na porta de Chris, que logo abre e me puxa para dentro. O desfile havia acabado há algumas horas, mas só agora havíamos conseguido nos encontrar.
- E então? O que você descobriu? – pergunto de uma vez, e ele me puxa para a cama. Sentamos lado a lado e ele me mostra algumas anotações.
– Os funcionários do hotel não sabem de muita coisa, mas tem muitas desconfianças. Parece que Travis não é muito querido por aqui. O pessoal do desfile não sabe muito, só leram no jornal que a polícia está investigando. De fato, vi alguns investigadores lá em baixo e na área da piscina, mas eles pareciam perdidos. Acabei me aproveitando disso para conseguir algumas informações.
- Como assim?
- Os ouvi comentando que acharam estranhíssimo que ao lado do corpo da mulher tivesse um antigo abajur derretido e um pedaço de lâmpada, ou pelo menos foi isso que eu achei que ouvi; você sabe que não falo português, mas pelo menos tenho alguma noção de espanhol e deu para deduzir algumas coisas. Acabei me aproximando deles e disse que sabia que era aquilo que tinha causado a explosão. Um dos três homens ali falava inglês e traduziu para os outros, que me olharam espantados. Falei que era professor de química e que, por curiosidade, tinha pesquisado há alguns anos sobre explosões. Há uma mistura que podemos colocar dentro de uma lâmpada e ela, quando ligada, explode. Aposto que foi isso que aconteceu.
- Só pode ter sido. – concordo, e ele me olha. – Falei com Travis, mas não foi nada demais. E ele pareceu não sentir nada ao falar da morte de Giuliana. Parecia que estava apenas transmitindo a informação e não sofrendo com o fato, sabe? Ele me pareceu frio ao extremo. Deu medo... Chris, tem certeza que a gente devia estar fazendo isso? Agora que conheci o suposto culpado, acho que ele é perigoso demais. É melhor deixar isso nas mãos da polícia, você não acha? – acabo despejando de uma vez só e Christian me puxa para um abraço. Seus braços em volta de mim são firmes e seu cheiro acaba me acalmando. Não sei por que estou reagindo dessa forma, mas quando dou por mim já envolvi meus braços ao redor do seu pescoço. Ele acaricia meus cabelos com carinho, e eu enterro o rosto em seu pescoço.
Ficamos naquela posição por um longo tempo, em minha concepção. Se se passaram segundos ou minutos, eu não sei. Mas não quero me mover. Christian se mexe, e coloca as mãos em meu rosto, me olhando nos olhos com tanta intensidade que sinto meu coração acelerar.
- Eu sei. Ia mesmo te pedir para ficar fora disso. É perigoso demais. – suspira. – Mas eu não posso alertar a polícia ainda. Quero que você fique fora disso.
- Mas e você? – pergunto, com medo.
- Não se preocupe, eu vou ficar bem.

Christian

Como era possível que eu só a conhecesse há quatro dias? Eu já queria protegê-la como se... Como se eu estivesse apaixonado por ela. Jennifer era sim encantadora, mas será que a adrenalina de tudo que presenciei estava me fazendo delirar e pensar que sentia tudo isso por ela? Ou eu sentia mesmo?
- Jen? – sussurro, e ela levanta o olhar. Nossas bocas estão a centímetros de distância e eu encaro seus lábios. – Eu estaria me aproveitando da situação se te beijasse agora? – não acredito que de fato disse aquilo em voz alta, mas ela apenas nega com a cabeça e cola nossos lábios em um segundo. Separa a boca levemente e eu coloco uma mão em suas costas, puxando-a para o meu colo. Jennifer coloca os braços ao redor do meu pescoço e permite que eu aprofunde o beijo. Deito de costas na cama, com ela por cima de mim, mas um barulho na porta me surpreende e Jen levanta rapidamente.
- Jennifer? Sei que você está aí. Tem um tempinho pra mim? – escuto uma voz que deve ser da prima dela, já que Jen abre a porta na mesma hora.
- Mel! Claro. – sorri para mim, acenando brevemente, sumindo e fechando a porta atrás de si. Atiro-me na cama novamente, suspirando.
Droga, estou muito ferrado.

Jennifer

Melanie me arrasta de volta para o quarto e me obriga a colocar um biquíni, que, devo confessar, fica ótimo. Seguimos para a praia e ela não para de falar sobre o desfile, mas minha cabeça está em outro lugar. Naquele beijo. Aliás, naqueles beijos. Meu Deus, o que foi aquilo? A sensação mais maluca que já experimentei, de estar fazendo algo errado, mas que ao mesmo tempo parece tão certo. O que estava acontecendo comigo? Simplesmente não conseguia tirá-lo de meu pensamento.
- E o Christian estava incrível, né? – ela diz, e me desperta.
- O que?
- Nada. – ri. – Ah, o calor! – ela abre os braços quando chegamos à praia, olhando para cima. Eu ando mais um pouco até colocar os pés na água, e sorrio com a sensação deliciosa que o verão causa no meu corpo. É como se nada mais importasse desde que eu tivesse o sol, o calor e o mar. Confesso que preferia estar na Austrália, mas o Rio de Janeiro é exatamente o que eu preciso nesse momento. O verão sempre me fez bem, e essa bela praia é perfeita. Entendo agora quando meu pai dizia que as praias do Brasil eram lindas. Elas são.
- Mel? Vou dar uma volta pela praia, ok? – minha prima concorda, e eu começo minha pequena caminhada pela areia de Copacabana. Ela logo aparece ao meu lado, sorrindo e eu aproveito para cutuca-la de leve. – Você não me falou sobre a surpresinha do desfile.
- Os cabos? – ela sorri, convencida. – Foi ideia da Brianna. Tive que praticar várias vezes pra não despencar lá de cima, mas o resultado ficou bom, não ficou?
- Você está brincando? – eu rio, colocando os pés na água. – Foi perfeito. Surreal. Impressionante.
- Obrigada. – ela me abraça de lado, rindo e nos atirando na água.

Christian

Quando chego ao saguão do hotel, estou suando. Não sei se é por eu estar nervoso ou por estar quente, mas sinto minha camisa grudar ao corpo. Vejo Travis um pouco longe e tem um momento em que ele simplesmente sai andando e olha para os lados de forma suspeita. Segundos após ele sumir em um corredor, vou atrás e vejo que ele entrou em uma sala. Escondo-me atrás de um vaso e depois de alguns segundos ele sai dali, trancando a porta. Logo que ele sai de minhas vistas, saio do esconderijo e vou até a porta trancada.
Já esperava por aquilo, então pego um pedaço de arame e a maçaneta gira com facilidade. A sala em que entro é pequena, mas decido dar uma olhada nela mesmo assim. Deslizo a mão rapidamente para o bolso, e ligo o gravador de voz que levei comigo, só por precaução. Uma breve olhada na sala não me diz nada, e ela está escura. O único móvel ali é uma mesinha no canto, vou até lá e não consigo esconder minha surpresa.
Ali em cima, coberto de sangue, está um alicate.
- Eu sabia que você ia me causar problemas, garoto. – escuto uma voz atrás de mim, seguida pelo barulho de uma porta sendo fechada. – Desde aquele dia em que você entrou naquele elevador, eu sabia que você ia me causar problemas. – me viro, apenas para dar de cara com Travis Lightwood. Ele está suado e muito nervoso, esconde algo nas costas. Não sei o que é, mas estremeço só de pensar. Uma arma? Uma faca? Outro alicate?
Afasto-me da mesa, para que ele não perceba que eu vi a prova do crime. Dou alguns passos para o lado, tentando permanecer calmo. Ou pelo menos dar a ele essa impressão. É como estar cara a cara com uma bomba relógio, que pode explodir a qualquer momento.
- Posso saber o que você está fazendo aqui? Porque eu tenho certeza absoluta que tranquei a porta. Assim. – ele diz, virando a chave e escondendo-a no bolso. Sinto-me suando frio, e o peso do gravador ainda ligado em meu bolso me tranquiliza um pouco, apesar de não melhorar as coisas. Travis dá alguns passos na minha direção, parando a uma pequena distância. Ele sorri de um jeito que me assusta. – Tenho um presentinho para você. Mas antes te dou direito a fazer três perguntas. Só porque sou legal.
Respiro fundo, tentando pensar no que dizer.
- Foi você que matou a Giuliana? – pergunto, com medo de sua reação, mas ele apenas dá um sorriso.
- Sim, fui eu.
- Por quê? – escolho a minha segunda pergunta e ele novamente não se abala.
- Vou resumir a história para você, ok? Eu vinha tendo um caso com ela já há algum tempo, e em um dos nossos encontros deixei escapar que estava roubando dinheiro do hotel e do marido dela, aquele idiota que nunca desconfiou de nada. Estava tudo bem, até que ela resolveu ficar com peso na consciência e ameaçou contar tudo a ele. Eu só precisei dar um fim nisso. Boom. – ele balança a cabeça, rindo e indicando que terminou o relato. – E a terceira pergunta?
- O que você vai fazer comigo?
- Primeiro, vou te dar uma injeção de morfina. Depois te enrolar em alguns cabos e te atirar no mar. – sorri, mostrando todos os dentes, e eu estremeço. Num impulso, jogo meu braço direito para frente, dando um soco na cara de Travis, que cai no chão. Chego até a porta, apenas para me lembrar de que ela está trancada. Vou correndo até o outro lado da sala, onde antes vi uma janela, mas Travis segura meu pé e eu acabo caindo no chão, batendo com a cabeça na mesa. Levo as mãos à testa e vejo que está sangrando. Sinto uma picada nas costas, e penso na morfina; vou ficando cansado, até que minha visão se torna totalmente escura.

Jennifer

- Brianna? Cadê o Chris? – cutuco o ombro dela insistentemente. Faz meia hora que cheguei da praia com Melanie, e não consigo achar Christian de jeito nenhum.
- Não sei. – ela dá de ombros. – Faz uns vinte minutos que não o vejo. Se o vir diz que preciso falar com ele, ok?
- Ok. – respondo, desanimada, saindo da área da piscina. Subo até o meu quarto e pego um arame de cabelo. Após uma breve olhada nos corredores, vou até a porta de Christian e coloco o arame na fechadura, mexendo-o até que ouço um clique. Abro a porta com cuidado, mas me deparo com o quarto vazio. Passo meus olhos por ele com cuidado, até que vejo um caderno aberto em cima da mesa, ao lado do binóculo. Nele está escrito, às pressas: “Travis, sala 6 – Verificar”. Sala seis? Ó, céus, será que Chris foi atrás dele?
Abro todas as gavetas rapidamente, em busca de qualquer outra pista, mas só acho uma faca. Guardo-a no bolso, escondendo-a contra o meu corpo e saio dali, voltando para o local onde Brianna estava antes. Agora Melanie está com ela. Chego até as duas, ofegante.
- Ouçam com atenção. Tem uma coisa muito séria acontecendo, e eu ainda não sei o que é. Mas se eu não voltar pra cá em dez minutos, quero que chamem a polícia e mandem-nos até a sala seis. Entendido? É muito sério. – digo, com breves pausas, e elas me olham, assustadas. Saio quase correndo dali antes que elas tenham tempo de me perguntar qualquer coisa.
Quando chego a tal sala, a porta está entreaberta e, quando entro, vejo sangue no chão. Meu coração acelera e observo também que em cima da mesa tem um alicate, coberto de sangue. Está tudo vazio. Saio correndo dali em direção à saída do hotel. Estou quase entrando em pânico e é difícil regular minha respiração.
Quando chego até o saguão, diminuo o passo e avisto Travis. Ele parece um pouco nervoso e vai até um dos recepcionistas, chamando-o com um leve movimento. Os dois saem praticamente correndo dali, e não olham nenhuma vez em minha direção. Espero alguns segundos e começo a segui-los, mas depois de algumas quadras eles passam por um portão enferrujado, onde está um depósito.
A possibilidade de Christian estar machucado me apavora e quase passo do tal depósito, tendo que voltar alguns passos. Ele parece acabado, e eu não tenho dificuldades para pular o pequeno portão. Vou devagar até os fundos do lugar, indo parar em uma pequena área quadrada coberta por grama. Do outro lado, tem um carro grande. Um barulho me desperta e dou alguns passos para trás, encostando-me à parede. Coloco a cabeça um pouco para o lado, de modo que consiga ver o que está acontecendo ali. Vejo dois homens carregando um corpo imóvel, e reconheço Chris imediatamente. Meu coração quase pula pra fora do peito. Será que ele está...
- Silva? Pega aqueles cabos ali, vamos enrolá-lo com eles. – escuto uma voz que penso ser de Travis e quando me mexo um pouco percebo que estou pisando nos tais cabos. Uh, oh. Em alguns segundos, um rosto surge à minha frente, e eu só tenho tempo de pegar o rosto surpreso do homem e batê-lo contra a parede. Tento segurá-lo enquanto cai, desmaiado, para não fazer barulho, e sofro para que ele não caia em cima de mim. Será que o matei? Coloco o dedo na frente de seu nariz e percebo que ele ainda respira, o que me deixa um pouco mais tranquila. – Que demora é essa? – ouço Travis dizer e tiro a faca do bolso, encostando-me à parede. – Mas que diab... – assim que o vejo, jogo braço em sua direção, e ele fica com um corte na bochecha. Aproveito o momento de susto para sair correndo na direção de Christian, que está deitado ao lado do carro. Ouço um berro e me viro a tempo de desferir outro golpe no homem, que grita de dor, mas consegue segurar meu braço e tirar a faca de mim. Ele segura-a contra o meu pescoço e eu respiro com dificuldade; o pânico só atrapalhando minha situação. Pelo canto do olho consigo ver um policial, e sem pensar atiro a cabeça para trás, batendo contra o queixo de Travis, que me solta. Aproveito a oportunidade para me afastar dele. Quando me dou conta, já tem dois policiais segurando ele e levando-o para fora dali.
Atiro-me no chão, ao lado de Christian, dando tapinhas em seu rosto, mas ele não acorda. Começo a me desesperar, quando alguém vestido de branco me empurra um pouco para o lado.
- Ele está vivo. – afirma, e eu suspiro aliviada, sorrindo.

Christian

Os últimos dois dias tinham passado como um borrão, entre hospital e delegacia. Aquela era a primeira vez que eu pisava no hotel desde que tinha sido arrastado para fora dali, completamente dopado. A polícia foi chamada por minha irmã e Melanie quando elas viram Jennifer passar correndo por elas pelo saguão do hotel, com o sapato sujo de sangue. Elas a seguiram, mas voltaram para avisar a polícia quando a viram entrar em um depósito. Travis tinha sido preso, mas negou as acusações, porém como eu tinha gravado tudo ele não teve como negar e está na cadeia. Eu tinha permanecido ainda por algumas horas sob o efeito da morfina e no hospital por culpa dos ferimentos na cabeça. Fiquei desacordado por um bom tempo e estava morrendo de vontade de ver Jennifer. Brianna tinha me dito que ela havia passado algumas horas no hospital comigo, mas eu não estava acordado então não a vejo há dois dias.
Entro no quarto, fechando a porta e indo tomar banho. Quando saio, vou até a janela e percebo que está tendo uma festa ali ao redor da piscina. A música alta começa a tocar e eu decido descer para conferir o que está acontecendo.
Coloco uma roupa leve, já que continua quente, mas assim que saio do quarto algo me para.
Desvio o olhar para a porta do quarto de Jennifer e bato à porta antes de conseguir me controlar. Ela abre, parecendo surpresa ao me ver, e sorri. Ela está linda, como sempre, mas não parece estar ciente da festa que acontece lá em baixo. Posso apostar que a roupa que está vestindo é um pijama.
- Precisa de ajuda para matar alguma aranha? – pergunto, e ela ri. Fecha os olhos por um momento, se apoiando na porta e eu entro no quarto, segurando-a em meus braços. – Ei, tontura de novo? – ela concorda, colocando as mãos na testa e eu a conduzo até a cama, deixando-a sentada ali. – Cadê o remédio?
- Dentro da bolsa marrom. – murmura, colocando a cabeça entre os joelhos. Com uma breve olhada no quarto, acho uma bolsa marrom em cima da outra cama e mexo nela até achar uma caixa com comprimidos. Tiro um e entrego para Jennifer, indo até o frigobar e pegando uma garrafa de água, entregando a ela, que logo toma o remédio. Respira fundo e depois de alguns segundos levanta a cabeça. – Obrigada. E desculpe por isso.
- Não foi nada. – sorrio.
- Ei, de onde vem essa música?
- Acho que está tendo uma festa lá em baixo. – ela arqueia as sobrancelhas e levanta da cama.
- Então era disso que a Melanie estava falando! – sorri. – Você estava indo pra lá?
- Sim.
- Pode esperar um minutinho? – pergunta, pegando algo em cima da cama e indo até o banheiro. Fecha a porta e eu não respondo, apenas vou até a cama, me sentando lá. Depois de alguns minutos ela sai dali, usando um vestido azul de um tom escuro, bastante solto. Usa um sapato de salto preto e prendeu o cabelo para trás.
- Você está linda. – elogio, e Jennifer dá um sorriso enorme, saindo do quarto. Sigo-a e entramos no elevador. Levo um susto ao ver que quem está lá dentro é o senhor Vicente Garcia, apelidado em minha mente como “o marido”. Ele sorri para nós dois e, quando chegamos ao térreo e estamos indo em direção ao terraço, nos chama.
- Eu gostaria de agradecer... – ele começa, em inglês. – Por tudo o que vocês fizeram, e por descobrirem a verdade. Vocês não precisavam ter feito aquilo, mas fizeram. Muito obrigada. Estou realmente muito grato. – me cumprimenta, e depois abraça Jennifer. – Tem algo que vocês dois queiram? Algo que eu possa fazer por vocês?
Começo a negar, quando uma cabeça aparece em meu ombro. Minha irmã. Melanie logo surge ao lado e empurra sua prima e eu para longe.
- Na verdade, tem algo que os dois querem sim... – minha irmã diz, e ela e Mel conduzem Vicente para um lugar onde não possamos ouvir o que dizem a ele. Dizem algo para ele, que imediatamente concorda e vira a cabeça para sorrir para nós dois. Despede-se das duas mulheres, desaparecendo, e quando as duas chegam ao nosso lado novamente, sorriem largamente.
- O que vocês disseram para ele, posso saber? – pergunto, e elas riem.
- Pode. – Brianna responde. – Mas não hoje. Aproveitem a festa. – arrasta Melanie pelo braço e as duas logo engatam em uma conversa com dois homens que estão no saguão.

Jennifer

- Vamos? – Christian estende a mão para mim e eu concordo, rindo. Seguimos até a área da piscina e eu fico surpresa com o capricho da decoração, eles se esforçaram bastante. Tem muitas lâmpadas coloridas para todos os lados, e eles usaram lençóis para fazer a decoração, o que achei muito criativo. Eles estão presos por todo o lugar, e as luzes os tornam ainda mais diferentes.
O lugar ainda está vazio, mas é cedo; então presumo que os convidados e hóspedes começarão a chegar em breve. E nem está tudo pronto ainda, passamos ao lado de um homem em cima de uma escada, que está arrumando alguma coisa.
- Cuidado! – o ouço dizer, e Christian me puxa para trás pela cintura. Uma lâmpada cai e se estilhaça no chão, me assustando. Quase caiu na minha cabeça. O homem desce da escada, culpado. – Mil perdões!
- Não tem problema. Não aconteceu nada. – tranquilizo-o e Christian, ainda me abraçando pela cintura, me conduz até o outro canto do local. – Acho que você acabou de salvar minha vida. – sorrio, me virando de frente para ele. Ele ri.
- Nesse caso, estamos quites. – se aproxima de mim e eu coloco os braços ao redor do seu pescoço. Começamos a nos mexer ao som de Slow Dancing in A Burning Room, outra música que adoro.
- Você dança muito bem, sabia?
- Você também. – sorri, se aproximando um pouco mais. – Na verdade essa é uma das minhas muitas qualidades. E isso me lembra que não nos conhecemos direito. – se afasta subitamente, estendendo a mão para mim, com um sorriso no rosto. – Muito prazer, meu nome é Christian, tenho vinte e cinco anos e sou professor de química em uma universidade da Inglaterra. Eu adoro frutos do mar, aranhas e piratas, não acredito em astrologia e perdi metade da audição do meu ouvido direito quando era criança. Tenho uma irmã maluca que trabalha organizando desfiles e ajudando estilistas. Eu tenho a mania irritante de corrigir as pessoas quando elas falam errado. O verão é minha estação favorita do ano e meu maior sonho é ir para a Austrália. Acabei sendo professor de química porque era a única matéria na qual eu ia bem no colégio e eu sempre gostei de lidar com pessoas. Sou muito irritante e falo mais do que o necessário... E meu signo é Leão e eu falo francês. – finaliza o monólogo com uma risadinha e eu seguro sua mão.
- Muito prazer Christian. Meu nome é Jennifer e eu sou vendedora de roupas em uma loja da Inglaterra. Eu adoro frutos do mar, cerejas e sotaques diferentes. Sou um pouco materialista e sempre esqueço a minha carteira de habilitação em algum lugar, já a perdi três vezes. Também sonho em ir pra Austrália e não gosto de dançar músicas de balada. Nos últimos dias adquiri certa fobia de alicates e cabos. – rio, sem soltar sua mão. – Quando eu era criança tive uma cachorrinha chamada Morfina, e nunca entendi o nome bizarro que dei pra ela. Sou irritante e um pouco tímida, viciada em música e adoro o calor. Tenho mania de olhar meu horóscopo todos os dias, meu signo é Áries e eu falo português, alemão e espanhol.
- E você tem vinte e... Três? – ele chuta minha idade, e eu rio.
- Dois.
- Ah, foi quase. – ele leva minha mão aos lábios, depositando ali um delicado beijo. – É um prazer lhe conhecer, Jennifer.
- Digo o mesmo de você, Christian.
- Agora fizemos tudo direitinho? Nenhum café derramado? – ele lembra e eu começo a rir.
- Definitivamente, nenhum café derramado. E de novo, desculpe por aquilo. – digo e ele dá um passo à frente, levantando meu queixo para que eu olhe em seus olhos.
- Eu estava brincando.
- Ei! – escuto a voz de Melanie, que aparece com um sorriso e um cara a tiracolo. – Esse é o Jake, ele é de Los Angeles. Vocês querem beber alguma coisa? – ela pergunta, e eu olho para Chris, que dá de ombros, colocando a mão em minhas costas enquanto seguimos minha prima até o bar. Ela pede duas bebidas coloridas e estranhas e dá uma delas para mim. Christian pega alguma outra coisa e o tal Jake também. Não dá um minuto e ela começa a agarrar o cara, fazendo uns barulhos estranhos e quase atirando toda a bebida no chão. Olho para Christian com uma cara engraçada e ele acena para fora, mexendo os lábios para dizer “vem comigo”. Concordo com a cabeça, saindo praticamente correndo dali. Quando chegamos ao saguão do hotel, começamos a rir e os recepcionistas nos olham com umas expressões estranhas, o que me faz rir mais ainda.
Quando o gerente aparece e nos olha de um jeito irritado, vou até a saída do hotel e sigo Christian até a praia. Ele para assim que pisa na areia, e eu tiro meus sapatos de salto, deixando eles em um canto e continuando a caminhar até que chego ao mar, mas fico só com os pés na água. Depois de alguns minutos, fecho os olhos e sinto os braços de Chris ao meu redor.
- Acho que o seu horóscopo estava certo, no fim das contas. – ele sussurra, levando aos lábios ao meu pescoço.
- Eu sabia que você ia me causar problemas desde que roubou aquele telefone da minha mão.
- E eu soube que você era especial desde que por acaso trombei em você no aeroporto e tomei um banho de café. – ele ri, e me vira de frente para ele, colando as nossas testas. – Nunca fiquei tão feliz com um desastre desses...
- Ah, então você costuma trombar com muitas mulheres por aí? – provoco, de brincadeira.
- Na verdade não. – dá uma risadinha. – E se você está pensando – ele dá um beijo em minha bochecha – que eu vou deixar você escapar – dessa vez ele beija a outra bochecha – quando voltarmos pra Inglaterra, – para os lábios a centímetros da minha boca e eu sorrio – você está muito enganada.
- Era tudo o que eu queria ouvir. – confesso, num sussurro, e ele sorri largamente, colando nossos lábios.

Christian

Abro os olhos, e logo sinto um peso sobre mim. Não consigo evitar o sorriso ao reparar que Jennifer dorme abraçada a mim novamente, sua cabeça encostada em meu peito. Levo a mão até seus cabelos, fazendo carinho nela, até que pisca algumas vezes, acordando.
- Bom dia. – digo e ela resmunga, levando uma das mãos à testa. – Dor de cabeça?
- Aconteceu algo ontem sobre o qual eu deva ter conhecimento? Porque minha memória só vai até aquele momento na praia. – ela pergunta e, quando olha para mim, finjo surpresa.
- Eu não acredito que você não se lembra de tudo que fez! – continuo fingindo surpresa e ela se senta rapidamente, olhando para mim. Depois olha para si mesma, e parece confusa ao constatar que estamos completamente vestidos.
- Ah, meu pai. O que eu fiz? – ela parece realmente assustada, e eu não consigo segurar uma risada.
- Brincadeirinha. – confesso, e ela me dá um leve tapa no ombro, sem resistir a rir junto comigo. – A gente só voltou pra festa, bebeu e dançou um pouco e eu não conseguia achar a Melanie para pegar a chave do quarto, então dormimos aqui. Foi só isso.
- Você me assustou, poxa. – ri novamente.
- Com fome? – pergunto e ela imediatamente confirma. Vai para o próprio quarto, e eu aproveito para fazer a higiene matinal. Depois de alguns minutos nos encontramos na porta, e seguimos juntos até o salão onde é servido o café-da-manhã. Reparo que Jennifer está um pouco estranha e parece incomodada com algo, mas quando vou perguntar, ela apressa o passo, prevendo o questionamento e então decido ficar quieto.
Quando chegamos lá, Brianna e Melanie já estão comendo, e nos convidam para sentar com elas. Reparo que cada uma tem um envelope em mãos, mas resisto à curiosidade de perguntar o que é. Um garçom chega e começa a nos oferecer várias coisas, além de dizer tudo o que tem em uma mesa cheia de comidas do outro lado do salão, mas eu e Jennifer pedimos a mesma coisa: café e um croissant. Logo chega e começamos a comer, quando Melanie pigarreia e bate na mesa, pedindo atenção.
- Temos uma surpresinha para vocês dois... – sorri, e entrega o envelope que estava ao seu lado para Jennifer. Brianna entrega o outro para mim e eu a olho confuso, pedindo uma explicação, mas ela apenas dá um sorriso. Abro o pequeno envelope com cuidado, e vejo que tem alguns papéis ali dentro.
- Uma... Passagem pra Austrália? – Jennifer pergunta e eu não consigo segurar minha surpresa, tirando todos os papéis de dentro do envelope em minhas mãos e confirmando que o que tinha dentro do meu envelope também era uma passagem pra Austrália.
- Bem... É um pouco simbólico porque não tem uma data definida para a viagem ainda, mas sim. É uma passagem para a Austrália. Aliás, duas. Aproveitem. – Brianna diz, e ela e a prima de Jen levantam, nos abraçando e sumindo de vista.
- Caramba... – ela sussurra e eu reparo que seus dedos tremem. – Eu não estou acreditando nisso. – eu sorrio, concordando.
- Eu também não. – coloco a minha mão em cima da dela, que dá um pulo e se joga em meu colo, me abraçando. Começo a rir junto com ela, ainda sem realmente acreditar que aquilo estava acontecendo. Algo pelo qual eu esperei tanto tempo, ali na minha frente. Era surreal demais.
- Chris? – ela pergunta, se afastando o suficiente para que consiga me olhar nos olhos. – Eu sei que parece sem sentido eu te perguntar isso, ainda mais depois de a gente ter recebido uma notícia maravilhosa dessas. – suspira, desviando o olhar. – Mas tem uma coisa me incomodando e eu vou enlouquecer se não esclarecer isso logo.
- O que é? – pergunto, com a voz suave, e ela respira fundo.
- Ontem, lá na praia, quando você disse que não ia me deixar escapar quando voltássemos pra Inglaterra... – finalmente levanta o olhar, fixando os olhos nos meus. – Era sério?
- Eu te conto se você prometer que vamos pra Austrália juntos. – é a minha resposta, e ela deixa escapar uma risadinha.
- Eu prometo. – se aproxima um pouco mais. – Então...
- Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. – confesso, e ela sorri largamente, me beijando.

Jennifer

Acordo com preguiça, mas logo me animo quando lembro que é meu último dia no Rio de Janeiro. Quero aproveitar cada segundo. Os últimos três dias tinham passado tão rápido que parecia ter sido um só. Eu e Christian tínhamos passado a maior parte do tempo juntos, e agíamos como namorados, apesar de não sermos isso ainda.
Tomo um banho rápido, troco de roupa e saio do quarto, indo em direção ao do Christian para ver se ele já acordou, porém quando vou bater à porta vejo que ela está entreaberta e reconheço a voz de Brianna lá dentro.
- Somos só amigos. – ele responde à pergunta que não ouvi, e eu estremeço inteira. Ele está falando de mim?
- Só se for amigos com benefícios, não é, maninho? – ela retruca, irônica, e eu me aproximo ainda mais da parede para ouvir melhor.
- Ah, então você não passou a noite com ela?
- Claro que não! – ele nega, e meu coração começa a bater freneticamente dentro do peito. Não? Qual é o problema dele?
- Caramba, Christian, ela é minha amiga, sabia? Você vai simplesmente ignorar ela quando voltarmos pra Inglaterra?
- Vou! – ele responde, e eu coloco a mão na boca para não arquejar, surpresa. Então era tudo mentira? – Brianna, eu nunca prometi compromisso nenhum e nem tive nada demais com ela, ela que é maluca e fica deduzindo as coisas. Aliás, acho que é importante que você saiba que eu estou apaixonado por outra pessoa. – lágrimas já encheram meus olhos e eu saio correndo dali, indo para a praia e começando a correr em qualquer direção. Eu corro por cima do mar, e acabo chutando um pouco de água para a minha cara, o que acaba se misturando com as minhas lágrimas. Chega um momento em que minhas pernas começam a doer e eu paro de correr, apenas para olhar para o lado e ver que ali está a banca de revistas. Droga. São muitas lembranças.
- Ei, eu e Brianna já estamos indo embora e... – escuto uma voz conhecida, e me viro para Christian. – Ei. – a voz dele se torna suave e eu fico ainda com mais raiva. Finco os pés na areia para não sair correndo até ele e espancá-lo. – O que aconteceu?
- Não interessa, você não se importa mesmo. – respondo, amarga e ele parece confuso.
- Do que você está falando? É óbvio que eu me importo. – ele parece tão sincero que aumenta ainda mais minha vontade de socá-lo.
- Ah, é mesmo? E por que você se importa? Você nunca prometeu compromisso nenhum e não tivemos nada demais, por que você deveria se importar? – despejo tudo de uma vez e a compreensão atravessa o rosto dele.
- Não é o que você está pensando. – ele começa a se aproximar, e eu dou alguns passos para trás. – Você entendeu tudo errado. – ele para, e eu sinto ainda mais lágrimas escorrendo por minha bochecha. Não faço esforço algum para limpá-las.
- Sim, Christian. Eu entendi tudo errado desde o começo. Se é que existiu algum começo.
- Christian? Já estamos atrasados! – Brianna aparece de algum lugar e puxa o braço dele, que não para de me olhar. Eu forço um sorriso, me lembrando que o voo deles sai algumas horas antes do nosso.
- Tenha uma boa viagem. – digo, me virando e começando a correr na direção oposta. Alterno corrida e caminhada, e me atiro na areia quando sinto que estou longe o suficiente. O choro vem novamente e eu não me mexo para secar as lágrimas. Não sei quando tempo depois, mas em algum momento Melanie chega e me abraça, me falando palavras de conforto superficiais, o que me diz que ela ainda não sabe o que aconteceu. Óbvio que não. O idiota do Christian não contaria a ela.
- Vamos voltar para o hotel? Daqui a pouco a gente já vai pra casa. – ela sussurra e eu concordo, me levantando.

Horas e mais horas depois, finalmente piso na Inglaterra novamente. Chorei mais um pouco no avião, mas depois consegui me controlar melhor, para não assustar Melanie. Ainda não contei pra ela o que aconteceu, e por algum motivo ela ainda não me perguntou. Dividimos um táxi e a primeira parada é o meu apartamento. Depois de tirar minha mala, percebo que Melanie nem desceu do carro.
- Você não quer subir? – pergunto e ela nega.
- Melhor não. – dá um sorriso misterioso e eu dou de ombros, pegando minha mala e minha bolsa e entrando no elevador. Tem uma rosa caída no chão, me abaixo e a apanho, pensando que possivelmente algum namorado romântico deixou cair enquanto levava um buquê para a namorada. O pensamento me faz estremecer e eu jogo a rosa de volta no chão, deixando-a ali.
Abro a porta com cuidado, e quando ligo a luz levo um susto enorme. Têm rosas espalhadas por todo o lugar, pelo menos aqueles que eu consigo enxergar. Algumas em vasos, outras simplesmente espalhadas pelo chão e pelos móveis.
Mas o susto maior eu tenho quando vejo Christian vindo em minha direção pelo corredor. Ele tem uma rosa em mãos e um olhar triste no rosto. Fecho a porta e largo as malas, sem parar para olhar em seus olhos. Pelo canto do olho vejo ele se aproximar mais, porém para no meio da sala. Estou surpresa demais para falar qualquer coisa.
- Acho que essa foi a coisa mais maluca que eu já fiz por alguém. – ele diz, sorrindo de lado, e eu não demonstro qualquer reação. – O que você ouviu lá no hotel... Brianna não estava falando de você. Eu não estava falando de você. Sei que por tudo que eu disse você deve ter deduzido isso, mas na verdade não era de você que estávamos falando. Era de uma amiga louca da minha irmã e eu realmente nunca tive nada com essa tal amiga. Nem a conheço direito. – ele respira fundo e eu ainda não me mexi, continuo tentando assimilar o que ele disse. – Mas a gente falou de você em outro momento sim. Brianna me perguntou por quem eu estava realmente apaixonado e, se você tivesse escutado a minha resposta provavelmente não estaríamos aqui agora, então sei que você não ouviu o que eu disse pra ela. – ele dá mais um passo para frente e eu continuo imóvel, apesar de sentir meu coração bater freneticamente. – A verdade, Jennifer, é que eu me apaixonei por você naquele momento em que você derramou café em mim no aeroporto, e eu me apaixonei de novo por você quando te vi lá no Rio. E eu fui me apaixonando mais e mais por você a cada segundo que passávamos juntos, e fui me dando conta disso a cada segundo que passávamos separados, porque eu contava os momentos que faltavam para eu te ver de novo. Eu não me apaixonei por você por termos nos conhecido melhor naquele lugar lindo, muito menos por você ser linda do jeito que é. Eu me apaixonei por você, Jennifer, por você por inteiro. Eu me apaixonei por todas as suas manias, pelos seus defeitos e pelas qualidades. Você me faz perder a cabeça e fazer coisas que eu nunca imaginei serem possíveis. – ele sorri e eu sinto algumas lágrimas teimosas escorrerem dos meus olhos. - Eu nunca sou sincero desse jeito com ninguém, mas é esse o efeito que você causa em mim. Eu sei que estou me enrolando demais e não falo mais coisa com coisa, mas eu vim aqui hoje porque eu quero que você saiba que eu te amo e que eu não pretendo te deixar escapar.
Quando ele termina de falar eu permito que um sorriso ocupe o meu rosto, e vou correndo até ele, me jogando em seus braços ao mesmo tempo em que colo os nossos lábios. Christian me envolve em seus braços e me levanta até tirar meus pés do chão.
- Isso significa que estamos bem de novo? – ele separa nossos lábios por um breve instante e eu concordo com a cabeça. – Significa também que você aceita ser minha namorada? – pergunta e eu não respondo, apenas junto nossas bocas novamente, fazendo Christian rir. – Eu vou considerar isso um sim. – ele diz, me beijando intensamente. Eu nunca me senti tão feliz, e finalmente entendo o tal “felizes para sempre” que os filmes adoram exaltar, apesar de ter certeza que o que estou tendo com Christian é um começo, e não um final. A verdade, eu me dou conta agora, é que eu o amei desde que o vi pela primeira vez.

“Amor não é se envolver com a pessoa perfeita, aquela dos nossos sonhos.
Não existem príncipes nem princesas.
Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos.
O amor só é lindo quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.”
Autor desconhecido.



FIM



Nota da autora: Ainda não acredito que essa história ficou tão grande. Minha gente, juro que eu nunca pensei que fosse dar tudo isso de história. Mas deu, e acho que é uma das minhas preferidas. Desculpem por não ter feito ela interativa, mas tinham algumas características ali que precisavam ser fixas e eu decidi que queria que vocês conhecessem esses dois lindos que são a Jennifer e o Christian.
Acho que esse foi o primeiro challenge que já me fisgou em uma primeira olhada. Não foi esforço nenhum começar ele, apesar de eu ter começado há uma semana e amanhã já é o último dia pra enviar, então... Tinha uma certa pressão porque eu não tinha certeza se ia conseguir terminar ou não, mas olha... Consegui!!!
Espero de coração que vocês tenham gostado dessa história.
Mil beijos!
Tracie (@belongtolovato)

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