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Life is a theater
por Mi.


Challenge #15

Nota: 9,0

Colocação:




ATO 1
- Todos os alunos do terceiro ano estão sujos, quilos de comida desperdiçados, o pátio inteiro repleto de comida, um braço quebrado ... - a diretora Hammings dizia entredentes, encarando e sentados nas cadeiras do outro lado da mesa. - O que vocês tem a dizer sobre isso? - suspirou, enquanto massageava as têmporas em busca de algum tipo de conforto mental.
- Olha, Lilian...
- Diretora Hammings, ! - a mulher esbravejou, fazendo revirar os olhos e tomar partido.
- Diretora Hammings, me desculpe por todo esse transtorno. Só queria ressaltar que a culpa não foi minha. Isso tudo só aconteceu porque o fez o favor de jogar refrigerante na minha blusa branca, na frente de todos os amigos dele... - Foi interrompida pela risada irônica de , ao seu lado.
- Vê se te enxerga, garota! Sabe muito bem que eu não fiz por querer! Você que deu a louca e tacou purê de batata no meu cabelo!
- Olha, moleque, eu ainda estou falando com a pessoa descente presente nesta sala, quando eu decidir que devo me rebaixar ao seu nível de novo, eu falo com você.
- Você se acha de mais, né? Você não passa de uma mal com...
- Ei! Vocês já não acham que causaram confusão de mais por aqui hoje, não? - a diretora os interrompeu, antes que mais uma briga fosse iniciada. - Será que a única punição a qual vamos ter que recorrer será a expulsão?
- Sobre isso, diretora, por favor, expulsão não... Estamos no ultimo ano, se eu for expulsa vão ser quase anuladas minhas chances de ir pra universidade. - choramingou.
- Vocês são capazes de analisar o que fizeram aqui hoje? Quanto tempo vou passar arrumando a bagunça que vocês dois fizeram? A Ravens High School nunca admitiu um tipo de comportamento como esse. - apesar de tentar, a diretora Hammings não conseguia disfarçar o quão irritada estava. - Primeiro; não quero saber o porque de terem começado uma guerra infantil de comida que acabou por envolver o terceiro ano todo. Segundo; A situação de vocês é muito grave, um delito como esses leva a expulsão imediata, e como a disse, chance zero numa boa Universidade. Terceiro; O único motivo pelo qual ainda estou avaliando a situação de vocês é porque são ótimos alunos.
- Eu, né? - disse, com sarcasmo. - Porque o bonitão aqui só sabe bancar o babaca com as meninas e falar de basquete com os amiguinhos acéfalos dele...
- Você diz isso porque queria que eu fosse babaca com você também, mas ops, você não faz nem de longe meu tipo.
- Vocês dois, calados! A partir de agora vão só ouvir. - Lilian exaltou o tom de voz, fazendo os dois alunos completamente sujos de comida a sua frente, retesarem suas posturas. - E sim, , apesar de ser jogador do nosso time de basquete e passar grande parte do tempo com as líderes de torcida... - ela lançou um olhar furtivo ao rapaz, que sorriu com inocência. - É também um ótimo aluno, as segundas melhores notas em Literatura e Inglês.
revirou os olhos e a diretora suspirou, dentro das normas da escola, o mais cabível para aquele delito era expulsão, mas sabia que naqueles dois havia potencial, e por este motivo não queria simplesmente manda-los embora, porem, não podia simplesmente deixar aquilo passar. Concentrou seu olhar em sua mesa, procurando em sua mente por alternativas que fizessem com que e aprendessem a lição sem terem uma punição tão dura, e como um passe de magicas, a solução pulou em seus olhos, concentrada em seu diário escolar aberto sobre a mesa.
- Bom, eu já sei como puni-los. - assistiu a garota morder o lábio e arregalar os olhos, e o garoto engolir em seco. - Não se preocupem, eu serei razoável. - Lilian sorriu esperta, e abriu a gaveta de sua mesa, retirando de lá dois panfletos informativos. - Todos os anos, nossa escola organiza um festival de despedida para os alunos que iram se formar, e esse ano serão as turmas de vocês. Esse festival conta com a participação de todos os alunos, e como o grande destaque da noite, temos uma peça de teatro organizada pelo grupo de teatro da escola, e esse ano, iremos organizar um musical!
- Tá, mas o que a gente tem a ver com isso? - perguntou, dando de ombros.
- Calma, senhor ... Estou chegando lá. - Lilian parecia estupidamente calma no momento, o que só os deixava mais nervosos. - O professor de teatro, senhor Evans, veio até minha sala esta manhã para dizer que estão com poucos alunos no elenco, que não vai ser possível realizar o musical que estávamos programando, e veja só, existem aqui dois ótimos concorrentes as vagas. - ela sorriu, e seus olhos brilharam assistindo , antes perfeitamente jogado na cadeira, de pernas abertas e braços cruzados, arregalar os olhos e se inclinar para frente, e , já sentada na ponta da cadeira, curvar as sobrancelhas e abrir a boca sem emitir nenhum som. - Considerem-se já parte da equipe! Farei com que o Sr. Evans analise o potencial de vocês. Aqui estão os boletins para se informarem, a ficha de inscrição está no fim deste corredor. - colocou os panfletos sobre a mesa, vendo recolher rapidamente.
- Diretora, você não pode fazer isso! Eu não posso entrar no grupo de teatro com aqueles estranhos! Eu tenho uma reputação a zelar! - começou, pela primeira vez parecendo realmente preocupado.
- Ora, Sr. , encare isso como um projeto de socialização. Expanda seus horizontes, faça amigos novos. - Lilian se reclinou em sua cadeira. - É isso ou a expulsão, vocês que escolhem.
O garoto bufou, recolhendo o folheto sobre a mesa e o analisou. Riu sarcasticamente, passando a mão pelos cabelos sujos de purê de batata e outros alimentos que ele mal conseguia identificar quais.
- Diretora Hammings, eu tenho o concelho estudantil! Não vou ter tempo para ensaiar pra peça, cuidar do concelho e estudar para as provas! - a garota mordeu o lábio.
- Bom, considerem esse musical como parte da nota anual de vocês. Mas, caso não se esforçarem, faltarem a algum ensaio, ou o Sr. Evans tenha que vir aqui dizer da falta de vontade de seus novos atores, terei que tomar as providências necessárias, que acabarão por dificultar muito a entrada de vocês na Universidade... - revirou os olhos. - Mesmo que essa entrada seja qualificada como bolsa para jogadores de basquete. - Lilian olhou sugestivamente para ele, que respirou fundo. - Estamos entendidos, Sr. e Srta. ? - eles assentiram a contra gosto. - Ótimo, estão liberados.
Os alunos se levantaram, andando em silêncio ate a porta da sala. O garoto fez uma reverência irônica quando esbarraram ao tentar sair ao mesmo tempo da sala. revirou os olhos e saiu, encontrando meia dúzia de líderes de torcida paradas do lado de fora, passou por todas aquelas barbies estupidamente iguais e saiu pelo corredor, a tempo de ouvir as milhares de exclamações preocupadas quando também saiu. A garota avistou sua amiga Claire parada no fim do corredor, esperando ela. Claire estava cheirando a uva, com a blusa repleta de bolo de carne e os sapatos sujos de alguma coisa viscosa, e enquanto andava até ela, reparou que praticamente todos os alunos estavam da mesma forma, todos participantes da guerra de comida criada por ela e .
- Ai, ... O que aconteceu lá dentro? - Claire perguntou, vendo a cara de preocupação de . A garota no entanto, só suspirou. - Ai meu Deus, não me diga que você foi expulsa!
- Pior. - mordeu o lábio, se livrando de um pedaço de repolho que tinha no cabelo. - Vou ter que fazer parte do maldito festival que vai acontecer no final do ano.
- O quê? Como assim? - a morena fez a cara mais confusa que já tinha visto na vida.
- É, a diretora Hammings obrigou a mim e o a entrar para o grupo de teatro, que vai fazer parte de um musical no fim do ano, durante o festival de despedidas. - Revirou os olhos, indo até o armário que ficava a alguns passos de onde estavam. Tirou do armário a mochila, já que todos os alunos tinham sido dispensados do resto do período para irem pra casa se limpar.
- Você acha que vai conseguir conviver com ele sem que alguém vá parar no hospital?
- Claro que sim, é só ele se manter na dele que está tudo bem. Já fizemos isso antes, não vai ser diferente agora.
- , mas antes, vocês não tinham uma historia, nem se odiavam.
- E quem disse que nossa historia é importante? Eu já superei, espero que ele tenha feito o mesmo. - a garota finalizou o assunto, dando a entender que não queria mais falar sobre isso.
xx
- Quer dizer que você vai contracenar com a ? Aquela ? - Tyler, amigo de , disse, cuspindo os salgadinhos que tinha na boca.
- É, cara... Aquela . - revirou os olhos, concentrando-se no jogo de vídeo-game que eles disputavam.
- Ai meu Deus, ! Isso não vai dar certo! - Nathalie, a melhor amiga dele, disse.
- Vai ter que dar. - suspirou, ganhando o jogo já entregue por Tyler que nem mesmo olhava para a televisão.
- Você sabe, nós podemos te ajudar a se livrar dessa se quiser. - a garota o encarou.
- Essa eu vou ter que encarar... Caso não faça direito, vai ser expulsão na certa. - reiniciou o jogo.
- E você acha que vai conseguir passar mais de meia hora com ela sem que alguém vá desta para melhor? - Tyler riu.
- Se ela se manter na dela, vai ficar tudo bem. - O garoto bufou, concentrado no jogo. - Pra começar, foi ela que ficou toda estranha depois do verão, eu não tenho culpa alguma no cartório.
- Essa garota é uma maluca. - Natalie revirou os olhos, encarando os amigos. - Te disse pra não se aproximar dela, espero que me ouça dessa vez.
- Ok, mamãe. - ergueu uma da sobrancelhas, rindo sarcasticamente. - Vou me manter longe dela, se ela se manter longe de mim.
- Ela pode ser maluca, mas é gostosa. - Tyler riu maliciosamente, levando uma cotovelada "acidental" de , fazendo-o perder o jogo.
- Você é um babaca, Tyler. - Natalie se levantou, saindo do quarto. Os garotos se encararam e deram de ombros, largando os controles sobre o mini sofá no quarto de .
- E você acha que suas chances com a princesinha do grêmio foram aniquiladas?
- Claro que não... Eu conheço uma garota, elas ficam todas na defensiva quando estão tentando ter um autocontrole que naturalmente não tem. - sorriu malicioso. - não esqueceu os poderes do .

ATO 2
caminhava pela escola, em direção ao mural interativo que ficava ao final daquele corredor. Parou em frente ao mural, encarando a abandonada lista de teatro, com alguns poucos nomes preenchendo as lacunas. A garota pegou uma caneta em sua bolsa e assinou seu nome num dos espaços, leu os termos encontrados no rodapé da folha, onde estava escrito que os ensaios aconteciam todos os dias, na sala de teatro localizada no terceiro piso da escola. Ótimo, agora ela teria que perder suas tardes enfurnada numa sala de teatro, e tendo que largar de vez suas responsabilidades como presidente do concelho estudantil.
- Oi, princesinha. - Ouviu a voz rouca e próxima sussurrar em seu ouvido, fazendo com que estremecesse de súbito.
Pigarreou, retomando a sua postura e revirando os olhos, tentando não transparecer o rubor que havia tomado conta de seu rosto.
- Você é a pessoa mais desnecessária que eu conheço. - encarou , que sorria maliciosamente.
- Obrigada, você também é muito legal. - respondeu sarcástico. - Pena que eu não tenho refrigerante aqui, seria adorável ver sua camiseta molhada mais uma vez.
- Que cretino! Eu sabia que você tinha feito de propósito!
- Não foi de propósito, eu já te falei... Mas mal não fez, digamos que não foi uma visão ruim. - riu maliciosamente, vendo a garota abrir a boca, mas não emitir som algum. - Me empresta uma caneta?
Ela franziu o cenho, tentando entender como alguém estava num ponto e subitamente mudava para outro, sem ao menos fazer uma pausa ou anunciar isso.
- Você é a pessoa mais aleatória que eu conheço.
- Nossa, você não conhece muitas pessoas, né? - ergueu as sobrancelhas. - Aparentemente eu sou sua referência pra tudo.
- Pra tudo que é desagradável, claro.
- Pra tudo que te deixa louca, também.
- Que cantada barata.
- Quem disse que foi cantada? - ele estava próximo, e ela mal tinha percebido essa quebra de distância. - Vai me emprestar ou não? - engoliu em seco, erguendo a caneta pelo pequeno espaço que detinha seus corpos de se tocarem. - Obrigado.
assinalou seu nome abaixo do da garota na lista de teatro.
- Te vejo na saída, princesinha. - ele sorriu, devolvendo a caneta.
xx
O sinal tinha batido a pouco mais de cinco minutos, e estava no gramado da escola, junto com seus amigos do time de basquete e algumas garotas.
- Ai, . - Dilan, um dos jogadores, o chamou. - Vamos fazer uma festinha lá em casa, tá afim de ir?
- Claro, to dent... - se interrompeu, lembrando do que o aguardava ao final de todos os períodos escolares pelos próximos cinco meses. - Foi mal, cara. Mas hoje eu tenho que resolver umas coisas.
- O que pode ser mais importante? - Dilan desdenhou, rindo. - Vai estudar? - disse sarcasticamente.
- Puff... - riu, desdenhando. - São só umas coisa idiotas. Você sabe, me meti em confusão depois de ontem.
Dilan assentiu rindo, e deu de ombros, enquanto ia junto aos outros jogadores em direção á saída. suspirou, agora, além de perder treinos de basquete por causa da maldita punição, também perderia diversão, aquilo estava indo longe de mais. Ao menos, algo incrivelmente animador o aguardava lá, com longos cabelos e uma personalidade forte que o deixava louco - em todos os sentidos da palavra -. Pensando "positivamente", o garoto entrou na escola já vazia aquela hora, e subiu as escadas até o terceiro andar, caminhou a passos calmos até a única porta aberta do corredor, estava sem um pingo de vontade de fazer aquilo. Ergueu a mão para bater na porta e chamar a atenção das pessoas que provavelmente já tinha iniciado a aula, porém paralisou ao perceber que a sala estava escura, com apenas alguns feches de luz que iam desde a porta até as cortinas vermelhas e abertas do palco.
- Olá? - perguntou olhando em volta enquanto estava parado na porta. Ainda confuso, adentrou e seguiu pelo caminho indicado pelas luzes que o levavam a subir no pequeno palco, e atrás das cortinas ele podia enxergar uma espécie de luz roxa que lhe chamou a atenção. Entrou no vão disposto e sentiu as cortinas atrás de si se fecharem, e antes que pudesse dizer qualquer coisa a luz da sala foi acesa e ele enxergou ali também. A garota se virou e o olhou, parecia tão confusa quanto ele. - Ei, o que está fazendo aqui?
- Eu sei tanto quanto você... - ela murmurou. - Acabei de chegar e encontrei a sala assim, eu vim ver se tinha alguém aqui atrás e não encontrei ninguém. Eu já estava saindo.
- Eles devem ter cancelado e não avisaram a gente. - concluiu, mas antes que pudesse confirmar, eles ouviram uma música baixa vinda de algum lugar desconhecido. - Você está ouvindo isso?
- Sim...- a garota assentiu, olhando em volta. - Vamos sair daqui, tá ficando sinistro...
- Bem-vindos. - Uma voz masculina disse, antes que eles pudessem se quer abrir as cortinas para sair dali. - Existem duas perguntas que precisam ser respondidas antes da iniciação de vocês.
- O quê? Que merda é essa? - esbravejou, tentando abrir as cortinas e ver quem estava falando, mas não conseguindo. Parecia que estavam pregadas. - Não esta abrindo...
- Primeira pergunta; Quem são vocês? - a voz voltou a dizer. - Só então poderão se iniciar.
- Iniciar o quê? - disse baixo, mais pra si mesmo do que para a pessoa do outro lado das cortinas.
- Han... eu sou , small forward do time de basquete. - respondeu alto, dando de ombros quando lhe lançou um olhar cético. - Ele disse que só assim a gente pode iniciar... Acho que você também tem que responder.
- Não vou responder nada... - ela negou, encarando as cortinas. - Quem está ai?
- Responda, por favor. Quem é você? - a voz repetiu. Não era um timbre assustador e nem maldoso, apenas uma voz masculina que parecia vir de um homem comúm, era a situação estranha que causava medo nos dois adolescentes.
- Sou , presidente do concelho estudantil. - a garota bufou.
- Segunda pergunta; O que estão fazendo aqui? - a voz perguntou novamente.
- Estamos tentando sair. - respondeu, batendo levemente na cortina.
- Não, idiota... ele perguntou o que viemos fazer, e não o que estamos fazendo agora... - ela desdenhou, rindo da careta que o menino fez. - Viemos para ter aulas de teatro, fomos mandados pela diretora Hammings.
- Vou dar mais uma chance; O que estão fazendo aqui? - a voz repetiu com calma.
Enquanto começava a cacarejar como uma galinha irritada, balançou a cabeça suspirando com showzinho que ela estava dando e se distraiu por alguns segundos com uma placa pendurada na parede ao seu lado direito. Estava escrito "Aprenda a ser outros, sendo si mesmo".
O garoto riu, concluindo o que na verdade era a resposta correta para a pergunta. Voltou sua atenção para a garota que ainda falava.
- Quieta, eu já sei a resposta. - segurou o braço dela, que riu.
- Claro que sabe, porque a única resposta eu já disse, mas eles parecem que não entenderam.
O garoto suspirou e se voltou para a direção da voz novamente.
- Estamos aqui para aprender a ser outros além de nós mesmos. - disse.
Se virou para a menina, que tinha uma cara surpresa. Antes que ele pudesse sorrir vencedor, a cortinas se abriram e revelaram uma sala com alunos, e um homem no centro, sorrindo satisfeito.
- Muito bem, Sr. ... - o homem assentiu - Foi o mais rápido de todos os alunos iniciantes a responder corretamente. - e perceberam que era ele o dono da voz.
- O que esta acontecendo aqui? - iniciou, olhando para todos os rostos ao mesmo tempo conhecidos e desconhecidos.
- Vocês são iniciantes, e nós costumamos aplicar um teste para ver se eles estão no lugar certo. - O homem jovem disse, a garota já tinha visto ele algumas vezes pela escola, mas nunca realmente soube do que ele era professor, ou se era.
- Se EU não tivesse respondido, nós ficaríamos presos aqui? - perguntou, frisando exageradamente o "eu" na sentença. revirou os olhos.
- Não, eu deixaria vocês entrarem, mas só teria a confirmação de que meu trabalho com vocês seria ainda mais difícil...
- Passamos? - o garoto deu de ombros.
- Bom, foram meras formalidades... O pedido da diretora Hammings sobre a estrada de vocês foi bem claro. - ele riu. - A propósito, sou Eric Evans, bem-vindos ao clube. Podem descer dai...
Eles desceram do palco, sentando numa das pequenas arquibancadas acachoados dispostas ali. Os alunos estavam quietos, apenas assistindo ao palco onde agora o professor subia, fazendo com que e se perguntasse se eles estiveram ali o tempo todo, provavelmente sim, ela concluiu. Para o garoto, não era como se tivesse muito para avaliar, apenas gente que ele sabia já ter visto alguma vez na vida dentro da escola, mas que não sabia o nome de ninguém. Também se lembrava de ter os visto nas peças de teatro que a escola promovia todos os fins de semestres, não que comparecesse a todas, mas algumas como Hamlet e A Tempestade, de seu escritor preferido, ele teve que ir acompanhar de perto, claro, com a máxima descrição possível para seus amigos e companheiros de time, sob fortes alegações que uma das atrizes era incrivelmente gostosa e que ele estava de olho nela. Mentira.
- Bom, agora temos muito trabalho a fazer. - Eric iniciou, puxando um banco alto do canto do palco e o fixando no centro. - Durante o resto do semestre viemos ensaiando a parte teórica de um musical, com canções, coreografia, história... Mas agora, iremos iniciar a parte prática. Para nossos peixinhos novos, já adianto que o trabalho vai ser duro, vocês vão ter que aprender a atuar, cantar e dançar...
- Espera, vamos ter que cantar? Não vai ter playback? - interrompeu. Pode ouvir as risadas pela sala, e Eric sorrindo.
- Não, Srta. . A alma do teatro pede que tudo que façamos e sintamos seja ao vivo, esqueça toda a porcaria que você já assistiu na TV... Aqui é onde está a verdadeira essência. Mas, vocês tiveram sorte. Eu ainda não terminei de selecionar os papéis para os personagens do nosso musical, então encerraremos as audições hoje. - Eric chamou um garoto loiro até o palco, este pegou um violão e sentou ao lado do professor, num dos bancos altos. Em seguida, Eric encarou e . - Alguém se voluntaria para ser o primeiro?
- Pode deixar, princesinha. Já percebi que tem medo do público. - sussurrou para , piscando provocativo e se levantando. - Eu sou o primeiro.
O garoto caminhou calmo até o palco, e parou no centro.
- O que eu canto?
- O que quiser. - Eric deu de ombros, segurando uma prancheta nas mãos.
caminhou ate o menino com o violão e combinou com ele alguma coisa, depois voltou ao centro. Os acordes começaram, e então a voz rouca seguiu a melodia. Não era o forte de , muito menos era um sonho ser cantor, mas ele tinha uma boa voz que nunca tinha sido mostrada a ninguém além dos produtos do banheiro de sua casa. Nunca tinha encontrado um bom motivo para mostrar isso ao mundo, já era bom o bastante no basquete para conseguir tudo que queria na adolescência; popularidade, garotas e faculdade.
reconheceu Wonderwall do Oasis, que inusitadamente se encaixava muito bem com a voz rouca dele. Após o primeiro refrão, os acordes foram finalizados e o garoto sorriu convencido, enquanto Eric agradecia e dizia que tinha sido ótimo.
- , por favor. - o professor pediu, enquanto descia do palco.
A garota andou a passos curtos até lá, e foi até o garoto que tinha um violão no colo, combinou com ele a musica e retornou ao palco. Não deixaria parecer que estava nervosa, a filosofia de sua vida era ser forte e nunca transparecer inferioridade, e ao contrario de , ela sempre cantava quando era menor, incentivada pela mãe a aprender todos os tipos de artes musicais, porém, desde o dia que seu irmão se foi, ela não ousava mais cantar porque não via mais propósito nisso, sabendo que o único motivo pelo qual o fazia na infância era agradar a mãe.
Pigarreou, limpando a garganta e respirando fundo, para começar. Deixou que a melodia se seguisse para que a voz a acompanhasse, mesmo não conseguindo olhar para nada além da parede de fundo da sala. Quando tentou encarar sua plateia, a voz deu uma leve trepidação, que fez seu coração palpitar como uma maquina velha. encontrou em meio a tantos, os olhos de , que a encaravam sem piscar uma vez se quer, estavam serrados, mas ele sorria. A garota tentou se manter ali, o encarando, pois inusitadamento o brilho que encontrou ali eram iguais aos de seu irmão, e transmitiam a mesma segurança que ela encontrava nos dele. Ela então entendeu o porque de gostar tanto dos olhos de , apesar de esconder isso no poço mais fundo de sua alma orgulhosa. Mal percebeu quando o violão parou de tocar, e então parou junto.
- Muito bom, . - O professor sorriu, anotando algo na prancheta. - Pode se sentar, por favor.
Ela caminhou até seu lugar, e se manteve olhando para frente, encarando todos ali que não fossem seu querido amigo ao lado.
- Quando quiser, posso ir para os seus braços sem problema nenhum. - ele disse, após alguns minutos. A garota o encarou confusa, vendo que apesar de sorrir maliciosamente, ele também encarava um ponto fixo a sua frente. - Você só precisa pedir com jeitinho...
- Do que está falando?
- A sua música, cantada pra mim... - ele riu.
Ok, cantar You do The Pretty rockeless encarando definitivamente não tinha sido uma ideia inteligente.
- Você não é o único nesta sala. - ela revirou os olhos.
- Mas o único para quem você olhou. - ele arfou convencido, cruzando os braços. Podia nem estar encarando , mas sabia que ela tinha corado. - Eu adoro quando você não sabe o que dizer. - ele riu.
- GREASE! - Ouviram milhares de vozes ao redor gritarem.
- Oh meu Deus, professor, quando será divulgado os papéis? - Alicia, a vice-presidente do concelho, sentada na primeira arquibancada perguntou.
- Amanhã.. eu já terminei de escolher. - ele sorriu, fazendo morder o lábio confusa. Tinham perdido um pedaço crucial da aula.
- Desculpe, Sr. Evans, Grease será nosso musical?
- Exatamente. - ele sorriu. - E só temos cinco meses para tanto, então amanhã começaremos, pois sinto dizer mas nossa aula terminou. - Eric levantou. - Vejo todos vocês amanhã.
Os alunos se levantaram, enquanto alguns seguiam para fora da sala, e outros se aproximavam de Eric para tentar arrancar alguma informação a respeito dos papéis. permaneceu sentada, imaginando sua maravilhosa atuação de jovens na década de 50. Era uma ideia ridícula, mas melhorava quando ela imaginava que teria que fazer isso também.
- Mal vejo a hora de te ver numa daquelas jaquetas de couro e com o cabelo pingando de gel. - a garota riu, levantando. O garoto riu sarcasticamente.
- Você mal vê a hora de saber se vai fazer par comigo... - mordeu o lábio, encarando-a. Apesar disso, ela riu novamente.
- Minha nossa, como eu posso resistir a você? - ela revirou os olhos teatralmente e colocou a mão na testa, rindo em seguida. - Vê se deixa seu ego em casa amanha, . - andou até a porta a tempo de ouvir a voz do garoto.
- Você só precisava de um motivo para estar comigo de novo, princesinha. E conseguiu.
xx
atravessou o pequeno gramado de sua casa em direção a porta de entrada. A casa era tão aconchegante por fora quanto era por dentro, com a pintura em branco e rosa claro, com a porta num vermelho intenso e flores bem cuidadas pelo gramado. A decoração do lado de dentro era ainda mais características, com alguns autógrafos de artistas conhecidos e desconhecidos dos quais sua mãe gostava, alguns porta-retratos da própria em programas de TV e medalhas de apresentações de canto, era o tipo de decoração que a garota estava acostumada a ver desde pequena, crescendo de acordo com as vontades da mãe.
Ouviu o barulho característico da batedeira vindo da cozinha, concluiu que sua mãe teria chegado a pouco tempo e que estava preparando deliciosos biscoitos de chocolate, ela adorava aqueles biscoitos. costumava chegar cedo em casa, mesmo com as aulas adicionais de teatro, considerando que a distância da escola até lá era curta e permitia que ela fosse a pé, o lugar de Baltimore que morava era muito tranquilo também. Andou até a cozinha e sentou na mesa, colocando a mochila sobre esta.
- , você demorou! Não sabia que tinha concelho estudantil hoje. - Susan, sua mãe, disse sorrindo ao ver a filha.
- E não tinha, eu só estava resolvendo algumas coisas. - não tinha contado a sua mãe sobre a tal punição, por medo da reação da mulher, e preferia esconder o fato até o ultimo minuto.
- Estou terminando os biscoitinhos aqui, me ajude a colocar a massa na forma... - Susan falou, retirando a bolsa da menina de cima da mesa. - Já falei para não deixar suas coisas espalhadas... - e quando colocou-a no chão, o pequeno panfleto de divulgação do clube de teatro caiu de um dos bolsos externos. A mulher recolheu o papel, e leu atentamente.
- Mãe, eu estava pensando, será que... - iniciou, ainda sem perceber que sua mãe tinha encontrado o panfleto. Assim que viu o papel nas mãos da mãe, cerrou os olhos e suspirou esperando pela reação - que ela já sabia bem qual - da mãe.
- Oh meu Deus... - a mulher disse pausadamente. - Isso é... MARAVILHOSO! - deu pequenos pulos, sentando na frente da filha em seguida. - Por que não me contou, ?! Mal posso acreditar que você está seguindo meus passos!
- Eu queria fazer uma surpresa, mãe. - sorriu amarelo, encarando suas mãos na mesa.
- Oh, e quando começou as aulas? Hoje? Você gostou? Você sabe que eu fui do coral da sua escola quando era jovem! - a mulher parecia imensuravelmente feliz, mal se lembrava de quando tinha visto sua mãe assim. Apesar de tudo, não queria ver Susan decepcionada, e por isso, achou que podia omitir a parte de "Estou sendo obrigada a fazer isso, mamãe."
- Eu gostei, sim. Fiz minha audição hoje, vamos encenar Grease.
A mãe levantou de súbito, pegando a forma de assar e colocando sobre a mesa, com o pote de massa ao lado. Ela ainda sorria como uma criança.
- Já sei o que faremos está tarde... Vamos colocar esses biscoitos para assar, e depois vamos assistir Grease, o musical, claro. E podemos ensaiar algumas coisas, quer dizer, não sabemos quais serão as suas canções ainda, mas claro que a Sandy será sua. A propósito, quem será seu Danny? Não quero que me deixe de fora de nada agora... Ai, estou tão animada. - Susan falou tão rápido que só pode associar metade das frases, em seguida a mulher começou a cantar, tão alegre a ponto de mal perceber que o sorriso que a filha carregava estava como um objeto pendurado em seu rosto, sem um pingo de animação. O motivo de toda a expectativa de Susan era o puro sonho que a mulher tinha criado na adolescência, após participar do dito coral, de ser uma cantora famosa, ela realmente tinha muito talento e quando tinha chegado a sub-fama, a ser conhecida no sul dos Estados Unidos e participar de programas de televisão e quase gravar um CD, engravidou de seu produtor musical, Evan , com qual teve dois filhos, Henry e , mas ele a abandonou antes que a caçula completasse um ano de vida. Sendo por esse motivo, tinha, assim como sua mãe, construído uma barreira de força, e dificultado quaisquer relações com os seres do sexo oposto, ela não tinha aprendido a confiar nos homens já que nem ao menos pode confiar e conhecer seu próprio pai.

ATO 3
chegou na hora a sala de teatro naquela tarde, já que não estava disposto a se deparar com uma sala escura e perguntas filosóficas estranhas. Encontrou todos os alunos, cerca de 20, amontoados sobre alguma coisa no canto da sala. Alguns dando pulinhos de alegria, outros com uma cara de poucos amigos. O garoto caminhou até o menino loiro do dia anterior, que estava sentado no palco e tinha o violão no colo.
- Ei... Craig, né? - perguntou, sabia que aquele garoto do violão era familiar desde o dia anterior. - Temos aula de calculo juntos, certo?
' Sim, do time, né?
Isso mesmo. Cara, o que está tendo ali?
- A divulgação dos papéis... - o garoto respondeu, apoiando-se sobre o violão.
revirou os olhos e sentou, esperando que Eric chegasse e iniciasse as aulas.
- Dude, acho melhor você ir ver a lista... - o garoto loiro aconselhou, sorrindo.
- Não estou interessado... Pra mim qualquer coisa serve, só tenho que fazer isso e me mandar daqui.
- Sério, você vai gostar de ver onde seu nome foi colocado. - o garoto riu.
Curioso, levantou e caminhou até o amontoado de pessoas, procurou por espaço e depois por seu nome, com reticencias antes do nome de...
- Danny Zuco. - sussurrou, arregalando os olhos quando teve noção do que aquele nome significava.
Antes que perdesse a visibilidade da lista, procurou pelo nome de , e riu imensuravelmente alto por dentro quando encontrou.
- Só pode estar de brincadeira... - sorriu, balançando a cabeça.
Não demorou para que a voz de Eric fosse ouvida ao fundo e todos procurassem seus lugares, ainda conversando animadamente sobre o musical. sentou na ultima arquibancada, se jogando contra a parede e cruzando os braços, só queria que a princesinha do grêmio chegasse para que sua alegria interior estivesse completa. E antes que terminasse o raciocínio, atravessava a sala enquanto se desculpava pelo atraso, e se sentava a frente dele, ignorando totalmente sua presença. Era melhor aproveitar a oportunidade, já que pelos próximos meses eles teriam que se ver bastante.
- Bom, acredito que todos já viram a lista, e... - Eric foi interrompido por uma garota que começou a reclamar sobre o papel pego, e logo em seguida vários outros alunos começaram suas reclamações, fazendo o professor elevar um pouco a voz, mas ainda calmo.- Gente, gente! Por favor, me deixem falar... Não vai ter troca de papéis, eu avaliei cuidadosamente cada um de vocês e fiz minhas escolhas.
- Cuidadosamente? Professor, aqueles dois chegaram ontem e já pegaram o lugar de destaque! - a garota com cabelos cacheados e longos acusou.
Em seguida olhou para trás, com uma expressa pergunta de "Do que ela está falando?" nos olhos. O garoto apenas sorriu, dando de ombros. Ainda não convencida, manteve-se calada e voltou a atenção a Eric, que dialogava com a menina.
- Alicia, por favor, eu tenho experiência e sei o que estou fazendo... Você não pode negar que á muito potencial esperando para ser explorado ali. - ele apontou vagamente para os dois alunos sentados ao fundo. só sabia morder o lábio e ansiar por respostas. - Bom, chega de discussões, só quero que façam um belo trabalho já que é nosso ultimo espetáculo. Posso contar com vocês? - ele encarou a plateia, que mesmo com alguns urros fracos, concordou. - Ok, vamos lá.
Eric pegou a bolsa que ele havia trazido, e começou a chamar os alunos para se aproximarem e pegarem uma espécie de pasta com algumas folhas dentro, o roteiro, concluiu.
Ao chegar seu nome, o garoto levantou e pegou sua pasta, com o nome "Danny" cuidadosamente impresso na capa, em seguida se aproximou e pegou sua pasta, fazendo o garoto parar tudo apenas para ver a cara dela quando lesse o nome ali.
- Professor, acho que peguei a pasta errada... - ela estava calma, apenas caminhou até Eric e entregou as folhas.
- Não, ... Creio que está tudo certo aqui, eu não confundiria. - ele sorriu, entregando de volta as folhas.
A garota estava com a boca aberta, tão perplexa que nem conseguia debater aquilo com Eric, e olha que ela muito boa nisso. Se virou para parado a alguns metros dali, encostado na parede. Ele sorriu esperto e acenou, fazendo a garota engolir em seco, agora além de toda a pressão que teria que enfrentar diante de sua mãe, teria algo dificultando todo seu caminho. era como a praga e ela era como a plantação, apenas lutando inutilmente contra algo que não poderia manter longe.
- Olha ai, se não é nossa Sandy Dee... - ele riu, circulando a menina que lia o roteiro cheio de canções, falas, beijos...- Será que toda a inocência dela será somada com a sua? Ai teremos uma perfeita freira.
- Ha, ha, ha. Muito engraçado. - ela declarou, revirando os olhos. - E será que você sabe mexer os quadris como John Travolta fazia? Vai ter que dançar muito bem, queridinho, na frente de toda a escola. - riu, encarando ele.
- Não é problema. Metade das garotas dessa escola querem me ver mexendo os quadris... Porque você sabe, a outra metade já viu. - piscou cínico, rindo da cara de , se ela tivesse laser nos olhos provavelmente acabaria com a raça dele em dois segundos.
Foram interrompidos pela voz do professor, que pedia para que todos os alunos se posicionassem em linha reta no palco. Assim feito, ele começou a explicar o contexto do musical, e toda a historia por trás. Não que fosse necessário, pois todos obviamente conheciam Grease - Nos tempos da brilhantina, como a palma da mão. Após toda a introdução, Eric pediu para que abrissem a pasta na primeira canção, "Grease", que dá inicio ao musical e ao filme.
- Vamos ensaiar essa música um pouco hoje, depois eu quero que cada um ensaie em casa e amanhã começaremos a coreografia dela, que é muito simples comparada as outras.
O ensaio daquele dia, como de todos os outros, consistia em aprender as coreografias, e as canções deveriam ser praticadas em casa assim como as falas. estava se saindo relativamente bem comparado a seu companheiro de cena, , que tinha visto o quanto aquela tarefa seria difícil. Apesar de ter uma voz excelente e uma ótima memória, era péssimo com as coreografias de Danny Zuco, ele sabia dançar da forma que garotos normais dançavam, e não da forma que garotos com molas nos quadris e doutorado em Macarena dos anos 50 dançavam. E também tinha toda a pressão do lado de fora do clube, onde ele estava perdendo cada vez mais os treinos de basquete e tendo que explicar constantemente para seus companheiros de time que aquilo era um castigo. Ele já era obrigado a lidar com eles por todos os outros motivos, ainda tinha mais essa, definitivamente aquilo não estava sendo tão fácil quanto ele pensou que seria.
Alguns dias depois eles iniciaram a coreografia de Summer Nights, um dos ápices do musical, e tinha realmente se esforçado, e como sempre, se frustrado enormemente pelo fato de que por mais que tentasse, parecia que era em vão.
- Tell me more, tell me more. Did she put up a fight? - os garotos do clube cantaram, e Craig, o garoto loiro do violão, cantou o ultimo verso.
- Took her bowling in the arcade... - errou a nota, elevando a voz quando não devia, provocando um "corta" de Eric.
- , vai tomar uma água e depois continuamos... - o professor disse, obviamente frustrado. O garoto suspirou e desceu do palco, sendo seguido por Craig.
- Primeira peça, né? - iniciou, pegando sua água também.
- Pois é... Preferia a pressão de cinco finais com 47 a 48 para o time convidado do que uma música aqui. - suspirou, sentando e secando o suor com a camisa.
- É sempre assim... Quando entrei no primeiro ano, fiz uma árvore, e acredite ou não foi a maior pressão. - Craig disse irônico, fazendo-os rir. - Talvez deva ensaiar com fora daqui, ela é boa.
- Acredite ou não, ela é a única garota daqui que não vai querer me ajudar. - ele encarou as outras garotas do clube que o secavam como um vestido em liquidação.
- Ah, ela vai sim. Ela está tão frustrada com seus erros quanto você. - Craig levantou e deu a mão para , para que retornassem ao palco.
Ao fim daquele ensaio, esperou do lado de fora da escola, pensando milhares e milhares de vezes se estava prestes a fazer aquilo mesmo. E quando a garota apareceu, ele a seguiu.
- Princesin.. ! - ele se corrigiu, não seria bom começar provocando-a.
- O que é, ? - ela girou nos calcanhares, o encarando.
- Calma, eu vim em paz. - ergueu as mãos, sorrindo. - Eu queria pedir uma coisa...
- Você me pedindo alguma coisa? Nossa, essa eu vou adorar ver. - sorriu debochadamente, cruzando os braços.
suspirou, mantendo a calma para não responder a mesma altura, e fez sua melhor cara de bom menino.
- Acho que você esta vendo que estou com um pouco de dificuldade e...
- Como não ver, né?
- Olha, garota, eu acho melhor... - parou no meio da frase, vendo que já iria usar a hostilidade que não poderia.
- Eu acho melhor...? - o incentivou, sorrindo satisfeita quando ele engoliu as palavras.
- Eu acho melhor a gente ensaiar fora do colégio para que eu melhore. Sabe como é, você não quer passar vergonha porque seu companheiro de cena errou uma música inteira.
- Não vai ser eu que vou passar vergonha, queridinho, e por que eu te ajudaria? Esse não me pareceu motivo suficiente.
- Qual é ! Eu estou te implorando! O que você quer que eu faça mais? Quer um chicote para me bater também? - disse frustrado, esperando que ela se comovesse.
- Uau, me implorando. Gostei de ver, viu. - ela riu. - Pra sua informação, eu já ia te ajudar quando pediu da primeira vez. - piscou, vendo a careta que ele fez.
- Só queria que eu me humilhasse? Que mal da sua parte, princesinha.
- Pra começarmos, pode cortando esses apelidinhos idiotas. E imagino que você tenha meu número, me ligue para marcarmos os ensaios para esse final de semana. - disse por fim, saindo pelo extenso gramado da escola em direção a saída.

ATO 4
Era sábado a tarde, hora em que geralmente estava dormindo para acordar quase a noite e sair para algum lugar agitado, mas não, estava ali, no parque municipal de Baltimore esperando para ensaiar o musical. Estava sentando embaixo de uma das árvores, com seu caderno vermelho em mãos enquanto escrevia algumas ideias de romances que queria colocar em pratica algum dia de sua vida, ele preferia usar os cadernos ao invés de notebooks ou coisas assim, era mais intenso colocar tudo no papel com a caneta em mãos, rabiscando quando errava uma palavra e simplesmente deixando que todos e quaisquer registros ficassem naturalmente ali. Ele estava adiantado alguns minutos, e nunca mais tinha tido tempo de apenas parar com o basquete, com o teatro, com a escola e as cobranças para simplesmente sentar, e ler. Sim, ler. Ele era apaixonado por literatura, por escrever, e era seu sonho um dia, depois que já tivesse conquistado tudo que queria, publicar livros, se tornar escritor, que era o que realmente o fazia feliz.
- Olha, que bonitinho... está escrevendo. - ouviu a voz ao seu lado, fazendo-o se assustar. - Calma, eu vim em paz! - ela imitou o gesto do dia anterior, e eles riram. Sim, por um segundo eles esqueceram que se odiavam, mas só por um segundo.
- Vamos começar? - ele pigarreou, levantando e buscando a pasta de roteiros dentro do caderno vermelho.
- Claro, é só irmos para um lugar menos cheio...
- Calma, princesinha... Acabamos de chegar e já quer me levar para um local privado. - ele brincou, e ela revirou os olhos. - Sabe, um dia acho que seus olhos vão sair das órbitas de tanto que você faz isso.
- Tanto faz. - ela balançou a cabeça, prendendo o riso. - Vamos ali, parece que está meio vazio. - ela apontou um local atrás de algumas arvores.
Depois de algumas horas de ensaios, ambos estavam exaustos, e apesar dos erros do garoto, estava realmente se esforçando e sendo paciente, ela tinha percebido que ele também estava se esforçando, e ela gostava de vê-lo empenhado em alguma coisa assim.
- Olha, ... Talvez devamos parar por hoje, talvez só parar. - ele sentou, bebendo a água de sua garrafinha e em seguida tirando a camisa, limpando o suor que escorria por seu rosto. Apesar da bela visão que ele era sem a camisa, a garota tentou se manter firme, tentando enterpretar aquele ultimo "parar" que ele disse.
- Como assim, parar? - ela sentou ao lado.
- Parar de tentar, desistir. Eu acho que é melhor eu desistir disso, eu não vou conseguir.
- E largar por aqui? Deixar todo mundo na mão? - ela o encarou, via que ele estava realmente decepcionado consigo mesmo.
- Eles não vão, tem vários caras lá que fazem isso porque querem e são muito bons. - Ele assentiu, dando de ombros.
- Não, . Você não está entendendo, se você largar isso você vai ME deixar na mão, e eu não posso deixar isso acontecer.
- Por que você se importa? Se eu sair quem vai se ferrar sou eu, você ainda vai ser a princessinha do grêmio com notas excelentes e vai para uma boa Universidade. - ele bufou. - E até onde eu me lembre, você também não queria fazer essa peça.
- E eu não quero, mas tem muito mais envolvido agora.
- Do que você está falando?
suspirou, ela poderia mentir para e inventar qualquer coisa, mas aquilo tudo estava a sufocando e de alguma forma ela sabia que podia contar com ele para ouvi-la, que ele não seria o da Raven High School, mas sim o que ela conheceu no verão, um cara legal.
- Minha mãe tem o sonho de ser uma grande cantora, você sabe. - iniciou, vendo-o assentir. - Ela também deposita esse sonho em mim desde que sou pequena, e ela descobriu sobre o musical e desde então ela tem estado muito feliz com isso, de uma forma que desde o... acontecimento, ela não fica. - a garota exitou, não gostava de lembrar da morte de seu irmão, mas todos na cidade sabiam do que tinha acontecido então ela não precisava necessariamente falar o que queria dizer com "acontecimento".
- Se compreendi, você não quer decepcioná-la com esse Musical, e quer ser uma boa Sandy?
- Sim, mas vai além disso. Agora minha mãe acha que eu voltei ao sonho de criança de ser uma cantora famosa como ela quer.
- Ela transferiu o sonho dela para você?
só assentiu, olhando a grama em que estava sentada. Era estranho falar tanto com sem que nenhum xingamento fosse trocado ou briga fosse iniciada, mas ela gostava.
- Eu não quero isso para mim. Ser apenas uma cantora famosa... Eu quero mais, quero fazer a diferença na vida das pessoas.
- Tipo médica?
- Não, tipo no Congresso. Eu venho estudando muito para isso, eu quero me engajar politicamente, fazer com que as leis sejam cumpridas e que o irmão de ninguém mais seja morto por um motorista bêbado que está solto até hoje. - ela desabafou, o encarando.
O irmão de tinha morrido a pouco mais de um ano, num acidente de carro onde um motorista bêbado cruzou a faixa em alta velocidade e atingiu o carro dele, era ação de graças e ele dirigia da faculdade para casa para ficar com a irmã e a mãe. O motorista tinha sido liberado por se recusar a fazer o teste de bafômetro, e punido a 200 horas de trabalho comunitário após pagar fiança, acobertado pelas leis por ser réu primário. A garota, desde então, nunca mais tinha esquecido e seu o sonho tomou força, fazer o que tivesse ao seu alcance para punir aqueles que mereciam, da melhor forma que podia.
- Eu acho que você deve dizer isso a ela, com certeza sua mãe vai te apoiar, você tem motivos muito bons.
- Não quero decepciona-la.
- Você não vai. A questão é que você passa tempo de mais sendo o que os outros querem que você seja e esquece do que realmente quer ser. - disse, a encarando, e viu a garota balançar a cabeça negativamente e sorrir sarcasticamente.
- Esse concelho não vale só para mim. - ela o encarou de volta. - Você está nesse mesmo problema, talvez devesse usar seu próprio concelho.
- Comigo é diferente, eu quero fazer o que estou fazendo.
- Será que realmente quer, ? Não estou certa disso. Eu sei muito bem que você adora ler, adora escrever, e esconde isso de todo mundo para não ser taxado como nerd ou coisa assim. - ela revirou os olhos. - Você não é esse cara que usa o casaco dos Ravens 24 horas por dia e fica pegando todas as garotas de uma festa.
- E quem te disse que esse não é meu verdadeiro eu? Se liga, , você está presa no verão, mas não sabe se aquele é realmente eu. - ele bufou, totalmente na defensiva. Ele estava tão acuado que não encontrou escapatória que não fosse usar a historias deles a seu favor.
A garota engoliu em seco, e o encarou.
- Às vezes eu ando sozinha à noite, quando todos os outros estão dormindo, e com o silêncio que só a noite me proporciona eu consigo pensar claramente em tudo, e perceber o que eu realmente quero ser, mesmo que eu esteja perdida agora, eu sei que no futuro, após a faculdade, eu realmente vou fazer o que eu quero e isso me conforta. Mas você, , você vai viver uma vida medíocre, com um emprego que vai te fazer infeliz, todos os dias se perguntando porque não seguiu seus verdadeiros sonhos quando ainda era tempo, quando ainda era jovem, porque agora você esta sendo egoísta consigo mesmo, só pensando na satisfação instantânea, mas não da felicidade plena e verdadeira, e isso vai tornar sua vida horrível. É isso que vai acontecer. - ela levantou, pode ver o rosto do garoto trancado em uma expressão dura, de maxilar marcado e olhos escuros de raiva. Ela temeu, mas ele não teve nenhuma atitude que não fosse atitude sair andando, calado, levando o caderno vermelho consigo.
xx
Naquela segunda-feira, após as aulas de teatro, estava disposta a procurar por e pedir para ela deixar ajudá-lo. Sim, ajudá-lo. Tinha se sentido imensuravelmente mal depois de tudo que tinha dito para ele, e após pensar e repensar, e conseguir coragem, decidiu que se desculparia de alguma forma, e se isso fosse com sua ajuda, que fosse então. A garota assistiu o rapaz deixar o prédio alguns minutos depois do fim da aula e passar reto por ela, sem ao menos olhar em sua cara enquanto mexia distraidamente em seu celular. De alguma forma ela sabia que ele só tinha feito isso para não ter que olhar pra ela.
- , espera! - ela foi atrás sabendo que tinha que fazer isso, mas ele parecia não dar ouvidos. - Por favor, preciso falar com você!
- O quê? Quer me dizer mais uma vez que tenho uma vida ridícula me esperando? Não, obrigado , eu não preciso de você me dizendo o que eu já sei.
- É sério! Eu quero... me desculpar! - ela continuou o seguindo.
- O que eu menos preciso agora é da sua pena, então obrigado, mas não. - guardou o celular, indo até seu carro, um Opala preto velho.
- Para de agir como uma mocinha ofendida e me escuta, por favor. - ela fechou a porta que ele abriu, e respirou fundo, cansada - literalmente - de correr atrás dele. - Eu quero te ajudar, eu realmente acho que você é plenamente capaz de fazer isso bem, mas me deixe ajudar.
- Ora, como as coisas mudam. A alguns dias eu implorava por sua ajuda, hoje você que me implora para ajudar.
- Para de ser idiota, e aceita logo. - ela revirou os olhos e viu o sorriso de escárnio nos lábios dele.
- Ok. - ele disse simplesmente, a encarando.
- Ok?
- É, ok, eu aceito sua clemencia por me ajudar. - apoiou o corpo na porta aberta do carro.
- Mm, tudo bem. - sorriu incerta. - Precisamos de uma locação para ensaiar.
- Entra no carro, vamos ensaiar na minha casa.
- Nesse carro? - olhou o veículo de ponta a ponta, ela podia sentir o cheiro de etanol pingando do motor que poderia fazer sua rinite atacar em dois piscares de olhos. Aquela carro não era nem antigo nem novo, nas palavras de , era um "clássico" e não um velho.
- Você esta vendo outro? - ele revirou os olhos e entrou, abrindo por dentro a porta para ela. - Para de frescura, ele não vai te morder. - suspirou e entrou, não estava em posição de discordar dele.
Aquele foi um de muitos ensaios que os dois tiveram juntos ao longo dos três meses que se seguiram, e então, a pouco mais de dois meses para a apresentação do musical, praticamente tudo estava em sua reta final, as ultimas canções estavam sendo ensaiadas, roupas experimentadas, e as provas finais da escola estavam para começar. A maioria dos alunos já tinham suas decisões a respeito da Universidade, e os exames de admissão se aproximavam, assim como os jogos finais de basquete em que tentava se empenhar também, dividindo seu tempo entre os ensaios na escola, ensaios com e treinos, infelizmente só conseguindo executar duas das tarefas com êxito. O tempo que passara com tinha servido para fazê-los, ao menos por hora, esquecer todos os problemas do passado que tinham acontecido. tentava a todo custo não abaixar de mais a guarda diante da presença de , mas era quase impossível. Era como se uma antena na sua cabeça a alertasse loucamente em sinal de perigo todas as vezes que ele sorria de lado e a encarava com aqueles olhos cintilantes e lindos, ou que o corpo dele se movia próximo a ela durante os ensaios, tão rustico e bonito, mas, gradativamente e aos poucos, ela ia se esquecendo do que a tinha feito sofrer a quase um ano, e com o novo verão que ia se aproximando em julho, o anterior ia sendo levado junto as folhas secas de outono.
- Conta mais, conta mais, tipo, ele tem um carro? - Claire chegou cantando na mesa de refeitório onde estava sentada, fazendo a garota rir. - Olá, Sra. Dee, como está essa manhã?
- Muito bem, obrigada, mas sinto dizer que quem canta essa parte é a Layla, no clube de teatro. - sorriu para a amiga, que deu a língua em resposta.
- E as coisas com ? Tem ensaio hoje de novo?
- Não, hoje ele vai treinar com o time, o jogo final está próximo. - tentou evitar, mas a pequena decepção que surgiu em seus olhos por menos de 5 segundos foram rapidamente captadas por Claire.
- Wow, será que isso que vimos aqui foi vontade de ter momentos particulares com o Sr. ? -
- Claro que não, do que você está falando? Eu só ajudo ele, inclusive tivemos muito progresso. - a garota comeu um pedaço da pizza em seu prato.
- A claro, progresso no estilo "Ai , como você é forte, isso, você é muito bom nisso, ai " - Claire simulou com a voz maliciosa, fazendo corar e dar um tapa em seu ombro. As duas riram. - Mas eu vejo que vocês tem se dado bem.
- Nós só tivemos que aprender a conviver, provavelmente esse era o objetivo da diretora Hammings.
- Hmm, será que o sapo virou príncipe? Ou melhor, que o corvo virou príncipe, de novo?
suspirou, encarando o garoto que acabava de entrar no refeitório ao lado dos amigos de time, todos vestindo a jaqueta roxa, preta e branca dos Ravens, com um corvo costurado no brasão.
- não pode se tornar um príncipe, porque ele nunca foi um. A diferença era que eu gostava do sapo, ou corvo. - falou, mordendo o lábio. Sentiu o olhar de Claire sobre si. - Eu disse que gostava.
- Essa conjugação no passado não me parece convincente. - Claire encerrou, comendo a salada de frutas em seu prato.
A história que os dois adolescentes tinham tido era cheia de incertezas, pois após o verão passado, nenhum dos dois tinham se quer tocado no assunto, e tudo que podia denunciar a possibilidade de uma história passada eram os olhares que se sucederam após ela. lembrava perfeitamente do fim do verão passado, da areia em seus pés enquanto caminhava pela praia.
FLASHBACK ON. - Summer, 2013.
Fazia duas semanas que e sua mãe Susan tinham chegado a praia, depois de decidir que ir para Califórnia naquele verão era o melhor a se fazer, para as duas. Patrick tinha morrido a pouco menos de dez meses, quebrando a tradição de também ir para casa nos verões e passar ele com as duas por Baltimore, redescobrindo a cidade. Doía ainda mais em , que adorava sair com seu irmão durante o verão, mas não poderia mais.
A garota estava andando pelas areias da praia de St. Monica, era fim de tarde mas o sol não parecia querer se por, por consequência do verão. Tocava Fix you do coldplay em seu Ipod, enquanto ela cantarolava olhando fixamente para as ondas que se desfaziam ao chegar a costa, quando foi abruptamente arrancada de seu mundinho particular de auto piedade assim que uma bola atingiu sua cabeça com uma força que na hora parecia descomunal. retirou os fones e olhou para trás, vendo um garoto de olhos cintilantes e cabelo bagunçado correr até ela, tinha um sorriso envergonhado no rosto, este que ela sabia já ter visto em algum lugar.
- Foi mal! - o garoto disse recolhendo a bola do chão. Quando ele se posicionou a sua frente, a garota automaticamente vestiu ele com uma jaqueta roxa, branca e preta e jeans surrados, reconhecendo de súbito a pessoa ali. Ela não parecia a única, já que ele a encarou de modo engraçado. - Ei, você é a garota do grêmio da escola!
- Presidente. - ela corrigiu. - Só tome cuidado da próxima vez, .
- Se lembrou de mim... - ele sorriu. - Eu vou tomar sim, princesa.
- ! Vem logo! - ouviu-se uma voz feminina e irritadiça ao fundo, de uma garota ruiva a alguns metros. Se tratava de Nathalie Sparks, uma das populares fúteis da Ravens High School. Ela e o grupo de amigas oxigenadas andavam com e seus amigos. Inclusive, pode ver quatro deles parados ao fundo, eles deveriam estar fazendo uma viagem entre amigos.
- Presidente. - ela corrigiu mais uma vez, bufando. - Acho que seus amigos estão esperando. Melhor não demorar. - se virou, tentando sair da areia. Era só o que lhe faltava, ter que encontrar os babacas acéfalos do time de basquete da escola em pleno as férias.
- Ei, espera... Não tá afim de tomar um sorvete? Tem um lugar ótimo ali na esq...
- Não, obrigada, . Eu tenho que ir e você também.
- Ah, eles não se importam, eu já estava cansado da companhia deles mesmo. O que você vai fazer hoje?
- Mmm... Lição, eu tenho muitas coisas para fazer.
- Wow, Você pode mentir melhor que isso... Lição, nas férias? Anda, dar um fora num cara deveria exigir mais da mente de uma garota. - ele sorriu com escárnio.
- Ta, ok. Eu não quero sair com você, só quero ir embora. Feliz? - sorriu com escárnio também.
- Nossa, é verão, gata! E estamos na Califórnia! Não é engraçado nos encontrarmos do outro lado do país? Isso não pode passar em branco.
- Bom, só o fato de que nos encontramos num lugar onde milhares de turistas visitam todos os anos não é algo tão impressionante assim. - Ela bufou, e revirou os olhos. De alguma forma bem estranha, achou aquilo adorável e prometeu a si mesmo que faria de tudo que estivesse ao seu alcance, até o fim dos seus dias para ver aquele ato de perto. Aquela garota era mesmo sensacional.
- Era disso que eu estava falando. - ele riu. - Isso foi uma boa resposta, princesa do grêmio.
- Para com esses apelidinhos! Me dão repulsa, sabia? - ela voltou a andar, colocando os fones.
- Hm, ok, então que tal princesinha? Acho que fica melhor, você não acha? - e pela primeira vez, ela não conteve a risada. Era o apelido que sua mãe usava quando ela era pequena. - Wow, tivemos um avanço aqui.
- Você não vai parar de me seguir não? - ela ignorou ele, fingindo que não tinha se quer rido de alguma piada.
- Não. Você não quer sair comigo, mas não disse nada sobre eu sair com você. - pela primeira vez, ela não sabia o que responder. - Touché. - ele soprou, erguendo uma das sobrancelhas.
- Tá, vamos tomar um sorvete. - ela revirou os olhos do sorriso vencedor dele. - Você paga.
pagou, e pagou um no dia seguinte também, e outro, e outro, por todos os dias daquela semana, até eles decidirem que comer cachorro quente na lanchonete da outra esquina era mais interessante, ou alguém morreria de diabetes. Para a garota, era engraçado estar com alguém, que fora do estado "Enjoy the summer!", ela nunca sairia, porque simplesmente julgava todos aqueles caras do time de basquete uns babacas como qualquer pessoa do sexo oposto, e ela não seria machucada por um deles, não mesmo. Mas , ele parecia tão diferente, era como um refugio do mundo no qual estava enfiada depois da morte de Patrick. Ele conseguia fazê-la rir, se irritar, e rir de novo, de uma maneira que a muito ninguém fazia, como seu irmão conseguia. E para o garoto, que não via mais seus amigos durante aquelas férias já que estava ocupado de mais conhecendo , ela conseguia ser a única pessoa para qual valia a pena se abrir, afinal as incontáveis folhas rabiscadas de seu caderno vermelho estavam acabando. Ela não julgava, apenas apreciava. Eles discutiam sim, muito, mas no final era como se toda discussão os levasse a descobrir um pouco mais sobre o outro, e gostar muito disso.
- Está me dizendo que ler Shakespeare é entediante? Não, você não está me dizendo isso! - ele a encarou, já tinha escurecido e a praia era constituída por algumas poucas pessoas que passeavam por ali. A lua brilhava intensamente acima deles ao lado de milhares de estrelas, o mar estava calmo, e estava calor. e estavam ao pé de um coqueiro, apreciado a paisagem.
- Não é entediante. Só não é tão interessante, tipo, as pessoas superestimam isso de mais. Elas usam essa metonímia para falar dele sem realmente se referir a alguma obra, porque elas quase não conhecem nenhuma, apenas querem se sentir inteligentes por lerem "Shakespeare". - fez aspas com os dedos, dando de ombros.
- Então você está me dizendo que Tudo Bem Quando Termina Bem, Como Gostais, Love's Labour's Lost, O Mercador de Veneza, Cimbellino, e muitas outras obras magnificas do William, são entediantes? - ele se apoiou no cotovelo, encarando o rosto dela enquanto estava deitado de lateral. Ela sorriu e balançou a cabeça.
- Tá, você conhece Shakespeare, e conhece muito. Cadê o jogador burro de basquete?
- Ha, ha, ha. - deu uma risada irônica. - Você julga de mais, .
- Eu estava brincando. - agora ela é que estava deitada de lateral, encarando ele. - Mas é sério, porque você não mostra suas anotações para alguém, ou porque eu nunca te vi lendo um livro se quer na escola?
- Você sabe como as pessoas lá são, se você demonstra que não é como elas esperam que você seja, você é massacrado. E eu dependo do que elas me proporcionam para crescer na vida.
- Eu prefiro você assim, falando de Shakespeare e escrevendo no caderninho vermelho. - ela mordeu o lábio, o rosto dele era tão bonito aquela luz.
- Eu também gosto mais de você assim, sem estar no altar real do concelho estudantil, com aquela cara de "Todos vocês são inferiores a mim", como uma princesinha esnobe. - ele disse, rindo da cara que ela fez.
colocou a mão na cintura dela, eles estavam muito próximos. Sorriram um para o outro, e ele a beijou. Não era a primeira vez naquele verão, mas ainda era especial, como uma sensação mútua de que alguém os entendia no mundo, e estava bem ali, em seus braços. Mas toda vez que o beijo se partia, as outras lembranças vinham, e eles notavam que o verão estava acabando, e que aquela história provavelmente também.
- Eu vou voltar para Baltimore daqui a cinco dias... - ela disse rápido, quando finalmente encontrou palavras para anunciar aquilo.
- Mas o verão só termina em duas semanas.
- Eu sei, mas minha mãe precisa resolver algumas coisas a respeito da nossa hipoteca... Algo assim, e precisamos voltar.
suspirou, e a encarou ternamente. Apesar de não ser nada típico do descolado, o de verdade queria dizer certas palavras a , e como parte daquela personalidade que ele assumia com ela, ele disse.
- Mas isso não acaba por aqui. Sabe, nós moramos na mesma cidade e frequentamos a mesma escola. Isso é mais que um amor de verão.
A garota sorriu ternamente, ela não esperava que ele dissesse algo como aquilo, mas havia um pontinha de desejo na parte mais insana e desacreditada de sua alma que sim.
Ela o beijou novamente, e naquela noite, os dois experimentaram o que era amar alguém, além da malicia ou qualquer outra coisa, mas com todo o coração. Para um adolescente como , sexo era apenas uma troca de favores que resultava no prazer mútuo, e para , ela não poderia dizer, pois era a primeira vez e foi mais do que ela esperava. Porem, os sentimentos trocados a cada toque ou as promessas feitas a cada olhar era a prova de que aquilo era mais que paixão jovem. Foi a melhor noite da vida dos dois.
Após quatro dias, na véspera da viagem de volta para casa de , os dois combinaram de se encontrar naquele mesmo local isolado de uma praia pouco movimentada, para se despedirem. A garota acabou por ir a Rodeo Drive para fazer compras antes de ir, e foi direto para o local onde os dois tinham marcado, abaixo daquele coqueiro ao lado de grandes pedras. Ela estava animada, tinha comprado um presente para , algo que quando ela bateu os olhos lembrou imediatamente dele. Chegou ao local, já esperando não encontrar o rapaz que sempre chegava atrasado. E inusitadamente quando chegou encontrou o caderno vermelho dele ali na areia. nunca havia deixado ela ver as anotações, ele dizia que "apenas quando os olhos leigos dela estivessem prontos para maravilhar o próximo gênio do literatura mundial" ela poderia ver, mas sabia que na verdade ele é quem não estava pronto para mostrar seu trabalho para alguém. Poderia ser errado, sim, mas ela estava meia hora adiantada, sozinha com o caderno, então não resistiu em recolher ele e folhear algumas coisas.
"Quando nos dermos conta de que somos apenas marionetes do destino atuando diante do palco da vida, não poderemos mais desmascarar o personagem que usamos, pelo simples motivo de que nos apegamos a ele para não ter que encarar de frente o mundo no qual vivemos. No final das contas, o personagem é apenas a cópia fiel do que gostaríamos de ser, mas que não somos."
Era o que estava escrito no verso da capa. Ela mal podia acreditar que alguém como ele poderia ter escrito algo assim, e agora, mas do que nunca ela acreditava que o jogador de basquete era apenas um personagem.
Continuou a folhear, rir com algumas anotações, sorrir com outras, mas uma folha em questão lhe chamou a atenção. Estava com uma das orelhas dobradas e algumas anotações em versos. Ela o leu.
"Um jogador, uma santinha.
Eles se encontram, ele gosta do tipo dela, ela tem medo de gostar dele.
O jogador conquista, ela é conquistada. Ele diz, ela acredita, ele joga, ela é o joguete.
Ele tira a inocência dela, e ela acredita na inocência dele. Ele é apenas um jogador, de corações.
Quando eles voltarem, o jogador vai contar para seus amigos. Se os amigos espalharem, ele não se importa, o jogador vai gostar do troféu que a santinha será em sua estante.
Ele é um jogador de corações, ela é um santinha que se acha forte. Mas no fim, seu coração foi apenas mais um troféu.".

estava perplexa, ela poderia negar para si mesma que aquilo não era sobre ela e , mas sua consciência destoata de afeto pelo garoto dizia em letras vermelhas e garrafais que sim. A garota largou o caderno na areia, e se levantou, tentando não deixar que as lagrimas que inundavam seus olhos descessem, ela não queria ter que explicar isso a sua mãe, não queria ter que dizer que foi burra e que se deixou levar assim como sua mãe tinha sido por seu pai. O que mais doía era que desde o inicio algo dentro dela dizia para não confiar, e ela ignorou essa parte porque os olhos cintilantes de pareciam toda a verdade existente no universo. Ela nunca mais confiaria, não se deixaria levar, e ele nunca mais tocaria nela.
Andou apressada pela praia, não queria ter que olhar nos olhos dele nunca mais. Mas, antes de deixar o mar, lembrou da caixa que tinha no bolso do cardigã fino, pego-a e abriu, encarando a caneta tinte preta com uma gravura em dourado, "Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar - William Shakespeare ". Era o presente dela para , apenas uma lembrança dela com ele todas as vezes que ele fosse fazer o que mais amava, para que soubesse que ela o apoiava inteiramente. Respirou fundo, mordendo o lábio inferior e recolhendo a caneta, queria apenas joga-la no mar e nunca mais ver, mas não conseguia, ela não conseguia se desprender daquilo. Guardou novamente e saiu da praia, prometendo a si mesmo que nada como aquilo aconteceria novamente.
Flash Back Off -
tinha essa concepção formada, até que como um jogo do destino, o do verão retornou e parecia estar querendo jogar com ela novamente, e o que mais enfurecia era saber que estava conseguindo.
xx
estava a espera de no gramado da escola após o ensaio, eles estavam treinando no clube uma das ultimas músicas para o musical com um solo de Danny com seus amigos, mas já tinha virado um hábito a ajuda de , eles estavam passando muito tempo juntos, e de alguma forma, o verão de 2013 estava de volta e ele se sentia bem com isso. Apesar de contradizer todas suas concepções "masculinas" de ser, se sentia bem com a presença dela quando ela não estava o atacando com palavras, por mais que ele gostasse de quando ela ficava irritada também. Era apenas o fato de que com alguém ele podia apenas ser ele mesmo, mas após o verão tinha ficado fria, distante. Ele se lembrava perfeitamente de quando tinha chegado a praia naquela tarde de verão, onde eles se despediriam, e simplesmente não tinha ninguém ali, e nada, nem sequer um bilhete repousando abaixo do coqueiro. Quando ele e seus amigos retornaram para Baltimore, não o procurou para explicar, e parecia nunca estar em casa quando ele ia até lá tentar falar com ela. Quando as aulas retornaram, ele viu a oportunidade certa para finalmente vê-la, mas a garota que ele encontrou lá era apenas a versão que ele conhecia antes do verão, a presidente perfeita do concelho estudantil que parecia de ferro, sem um coração que batia no peito. Ela nunca mais tinha falado com ele de verdade, ignorado e retalhado todas as suas tentativas de aproximação com grosserias e indiferença, e simplesmente não explicando o porque disso. Tudo durou até o dia em que - acidentalmente - ele derrubou refrigerante na blusa dela, e enfim toda aquela guerra de comida aconteceu. Mas ele não era vitima, a partir do momento que se sentiu completamente ignorado e inferior, ele voltou a ser o que era com todas as meninas, não fazia parte de seu dicionário a "humilhação" diante de alguém que o tratava como nada, que era exatamente o que ele tinha tentando não ser a vida toda, um nada.
- ! Finalmente te achei! - ouviu a voz fininha de Nathalie se aproximando, e tossiu disfarçando o susto enquanto deixava que seu exemplar de Um sonho numa noite de verão que estava escondido pela revista mangá caísse entre suas pernas e fosse escondido por elas, deixando apenas que a revista ficasse entre suas mãos. Ele não deixava que seus amigos soubessem sobre esse seu hobbie, pois sabia que não seria bem aceito por aquele grupo de pessoas, e no momento, ele não podia dar as costas ao time e os amigos que o mantinha lá, pois era isso que o levaria para a Universidade e o tiraria daquele subúrbio de Baltimore, o fim do mundo.
- Oi, Nathalie. - fingiu a animação que não tinha, enquanto ela se agachava a sua frente e o encarava animada.
- Anda tão longe nas ultimas semanas, amor. É aquela coisa do clube de teatro, ainda? - ela desdenhou.
- Pois é, estão pegando no meu pé... É realmente um saco, mas já estamos para terminar o ano. - ele deu de ombros colocando a revista ao seu lado. Não era totalmente verdade, ele tinha se habituado ao clube de teatro e visto que ali haviam pessoas legais de verdade, como Craig, um dos caras que tinha conhecido lá, mas diante de Nathalie ele nunca diria isso.
- Que ridículo! Gente como nós não pode ficar metida com gente como eles! - Nathalie gralhou. - Precisamos passar mais tempo juntos, sinto sua falta. - ela sorriu, mordendo o lábio.
nunca tinha tido nada com Nathalie, mas chances não haviam faltado. Era bem óbvio que ela era apaixonada, e faria qualquer coisa por ele, e era uma gata, ele não podia negar, mas não fazia nem de longe seu estilo, era totalmente fútil e irritante, ele apenas tinha que aguentá-la para manter estreitas as relações com todo o pessoal com quem ele tinha que andar para ser descolado e ter tudo que queria naquela escola. Apesar dele geralmente pegar aquele tipo de menina, se tivesse algum tipo de contato mais do que "melhores amigos" com Nathalie, a garota cobraria mais dele, e se não concedesse isso a ela, entraria em sua lista negra e todos os outros o tratariam como tal, sabia o poder que ela tinha. Por tanto, manter-se segurando ela como sua aliada era o mais inteligente a fazer.
- Eu sei, Nathy. Olha, após tudo isso teremos milhares de festas na faculdade, é só questão de tempo. - sorriu, jogando a cabeça para trás.
- , não vou deixar você passar por isso... Essa gente merece uma lição, e aposto que o pessoal vai achar o mesmo. - A garota a sua frente se levantou e sorriu confiante. - Vamos dar um jeito nisso.
- Espera, Nathalie. Do que você esta falando?
- Calma, amor, você vai ver. - ela beijou o canto de sua boca, e saiu, deixando-o totalmente confuso.
Demorou menos que dois minutos para que já estivesse parada diante dele, acenando.
- Desculpe a demora, sorte que sua amiguinha Nathalie te fez companhia...
- Isso é ciúme, princesinha?
- Claro que não. - ela revirou os olhos. - É só que não entendo como você, que lê um Sonho numa noite de verão, pode andar com pessoas como ela.
- Quê? Claro que não, isso é mangá! - tentou disfarçar, mas a garota já tinha visto o livro entre suas pernas.
- De cabeça para baixo? - riu, e o menino engoliu em seco um pouco constrangido.
- Eu só estava interpretando uma figura... Mas isso não importa. - ele se levantou, pegando os livros. - Vamos ensaiar ou não?
- Só estou te esperando, bonitinho. - ela ainda ria, mas disfarçava. Sabia que ele não sabia lidar bem com que realmente era.
Após aquela sexta, o final de semana chegou e tudo que desejava era paz, mentalmente e fisicamente. Os ensaios estavam a esgotando, a constante competição de Alicia, sua vice-presidente do grêmio que queria tomar seu lugar, já que estava comparecendo pouco aos comitês em pró da escola, e que sugava boa parte de seu esforço mental e físico estavam a enlouquecendo. Por mais que estivesse na reta final escolar, queria fechar com chave de ouro sua participação no conselho estudantil, porque sabia que muitos líderes políticos importante tinham feito isso antes de se tornarem esse líderes, afinal como ela mesmo costumava pensar, "faça a diferença em seu pequeno ciclo de vida, para depois fazer a diferença no grande ciclo de vida das outras pessoas.". Ela pretendia fazer os exames para Yale e cursar direito, para depois ingressar jovem em chapas politicas e ser eleita deputada estadual, federal, e depois, como seu maior objetivo, o cargo de governadora. Não era comum que garotas de 17 anos quisessem um futuro politico de verdade, sem que fosse como primeira dama ou seja lá o que, mas era muito focada e tinha seus sonhos em mente, ela queria poder mudar o mundo, um pouquinho de cada vez e da melhor forma que podia.
Naquele sábado, a garota acordou com o barulho alto de uma música, e sua mãe cantando junto animadamente. Abriu os olhos e pode constatar que era pela quadragésima vez a musica de abertura do festival, "Grease", que ela não aguentava mais ouvir. Não na escola, porque lá eles já estavam ensaiando as ultimas musicas, mas em sua casa mesmo, com Susan. Sentou-se na cama e respirou fundo, eram quase dez horas, mas ela não tinha que levantar antes de uma da tarde quando teria que estudar para os exames que seriam dali a um mês e meio, uma semana antes da estreia do musical.
- Bom dia, querida! - sua mãe exclamou parada no vão da porta, ironicamente sussurrando mesmo com a música ensurdecedora ao fundo. - Vim ver se minha estrela da Broadway estava acordada.
- Broadway? - a garota riu sem humor. - Acho que não é para tanto, mãe.
- Claro que é... Quando você for fazer seus testes nas gravadoras, e alcançar o estrelato, vai ser convidada por muitos espetáculos.
- Mãe, você não acha que...
- Que estou sendo pretenciosa? Claro que não querida, eu sei bem que você consegue, afinal você é uma e temos o estrelato musical em nosso sangue. - a mulher sorriu, apertando as mãos de que sorria incerta. Ela não queria mesmo ter que dizer a sua mãe que nada daquilo era seu sonho, mas não queria acabar com os sonhos que sua mãe depositava nela, afinal, desde Patrick, elas só tinham uma a outra.

ATO 5
atravessava o corredor do terceiro andar em direção a sala do musical, estava atrasado depois de ter uma conversa com Tyler e seus outros amigos de time, e quando chegou a porta, pode ver o amontoado de pessoas paradas diante desta, assistindo a algo lá dentro que ele não conseguia ver. Se aproximou, e quando tentou falar com Craig a respeito do que estaria rolando ali, todas as pessoas ao redor viraram em sua direção e o encararam como se fosse um alienígena recém chegado a terra.
- O que aconteceu? - sussurrou, buscando por respostas que não encontrava no rosto de ninguém ali.
As pessoas, incluindo Eric e Craig, se afastaram, deixando que ele visse o estado da sala de teatro. Estava com todas as roupas do musical rasgadas e jogadas por todos os cantos, metade do cenário quebrado e amaçado, lixeiras de outros lugares da escola derramando todo o lixo pelo ambiente, as cortinas rasgadas, penas pretas espalhadas com cola por todos os lugares, e ao fundo, em roxo estava escrito na parede com tinta spray "Ravens!". não conseguia distinguir o que aquela situação queria dizer, mas obviamente tinha percebido que todos ali o culpavam.
se aproximou de súbito dele, interrompendo seus pensamentos.
- O que aconteceu? - ela sorria irônica, o olhar dela estava como igual ao primeiro dia que ele a viu após o verão. - Ora, , se não queria fazer isso aqui dar certo poderia ao menos ser homem o suficiente para simplesmente sair, mas destruir tudo para nós... Isso eu não esperava nem de você. - cuspiu as palavras, e saiu pela porta antes que ele dissesse qualquer coisa.
- Professor, eu não fiz nada! - falou, vendo o rosto cansado e abatido de Eric.
- Não podemos julgar a situação agora, . Vamos deixar isso para a diretora Hammings avaliar.
- Pergunte ao Craig! Cara, você sabe que eu estava me esforçando! Eu nunca faria isso! - disse ao amigo, que deu de ombros.
- Desculpa, ... Mas não posso dizer que tenho certeza que você não fez isso. Você mesmo sabe que não queria estar aqui.
- Eu não queria antes, mas agora... - ele estava tentando, mas todos os olhos o julgavam, então viu que era melhor se calar, qualquer coisa que dissesse seria inútil, ninguém ali, nem mesmo Craig parecia disposto a acreditar nele.
As pessoas foram deixando a sala, quietas, alguns burburinhos de "Esses idiotas egoístas" ou "Não vai ter mais peça, foram meses desperdiçados". O garoto ficou na sala parado encarando aquela bagunça. Queria entender como aquilo teria acontecido, e quem teria o feito, seria para o incriminar? Mas quem gostaria tanto assim do mal dele? Mas então, de súbito, aquelas palavras retornaram a sua mente e ele compreendeu o que se passara ali.
", não vou deixar você passar por isso... Essa gente merece uma lição, e aposto que o pessoal vai achar o mesmo [...] Vamos dar um jeito nisso.".
A voz de Nathalie ecoou eu sua mente de súbito, e sua garganta secou, ele estava muito ferrado.
xx
- Nathalie, o que você fez? - correu para o ginásio onde estava tendo o treino de líderes de torcida, abordando a garota que estava na frente das outras, ela era líder.
- ? O que foi? - arqueou as sobrancelhas.
- O que foi? Vou te dizer o que foi... Que merda que aconteceu lá na sala de teatro?
O rosto da garota clareou e ela riu, virando-se para as outras líderes que olhavam curiosas.
- Meninas, me deem 5 minutos... Vão treinando as piruetas do final. - disse, indo com ate o canto do ginásio. - E então? Qual foi a cara daqueles babacas quando viram? Eu daria tudo para ter visto isso! - a garota riu mais.
- Nathalie, por que você fez isso?! Estragou tudo e agora eles pensam...
- Calma ! Eu fiz o que devia ser feito! Eles tem que aprender que com nosso grupo eles não mexem.
- Mas agora estão colocando a culpa em mim! Você tem noção do que é isso? Eu vou ser expulso!
- Claro que não vai, querido... Eu dou um jeito nisso num piscar de olhos!
- Você não entende, não é? Você arruinou o musical, o trabalho de várias pessoas por meses!
- Ai, ... Não vai me dizer que está gostando daquele clube de desajustados! - ela sorriu cínica. - Você é maior que eles, querido. Gente como nós não se mistura com gente como eles.
O garoto suspirou, vendo que não tinha formas de conversas com alguém como Nathalie. Como algum dia ele pode ser o melhor amigo dela? Não entendia como tinha chegado tão longe nessa busca incessante por alguém que ele não era.
- Não faça nada, Nathalie... Você já fez de mais. - ele balançou a cabeça. - Na verdade, faz algo sim. Nunca mais se meta na minha vida de novo!
- Como assim, amor...
- Para com esse "amor" e "querido", eu nunca vou ficar com você, Nathalie! Entenda de uma vez. - ele retirou as mãos dela que tentavam o segurar pelos ombros.
Saiu pelo ginásio, ignorando os olhares curiosos, ainda podendo ouvir as suplicas distantes de Nathalie pedindo para que ele ficasse e tentando se desculpar. Do lado de fora, andando até seu carro, ele percebeu que nunca tinha se sentido tão leve, mas teria consequências, ele sabia que sim.
xx
Naquela manhã de terça, o dia seguinte após o incidente do teatro, foi convocado a ir ate a sala da direção durante sua aula de calculo. o encarou de forma vingativa, porem triste, enquanto ele andava para fora da sala. Aquilo já não o abalava mais, durante todo o dia ele teve que lidar com esse tipo de olhar dela, dos integrantes do clube que cruzavam com ele hora e outra, de Nathalie. Era sufocante.
Chegou a sala da direção e bateu na porta, sendo recebido pela diretora Hammings que tinha um pesar estranho nos olhos, ele tremeu quando se sentou na cadeira a frente da mesa.
- Bom, . Acredito que você saiba por que esta aqui. - suspirou.
- Sim, mas eu queria ter a chance de me explicar.
- Eu não vou te impedir, de forma alguma... mas esse delito foi grave de mais. A destruição da nossa única sala com os matérias limitados que tínhamos.
- Diretora, eu não fui o culpado... Eu nem sequer sabia disso. - o garoto falou baixo, não estava desesperado, não tinha porque implorar.
- Eu não acho que você esteja mentindo , mas receio que não será o bastante, o concelho pediu sua expulsão e acho que não tenho outra alternativa a não ser fazer isso. - ele não pode evitar de repara que o concelho, que na verdade devia se chamar "Reinado da " que tinha pedido a sua expulsão, e isso doeu.
- Quando eu pego minhas coisas? - engoliu em seco, encarando a mesa de mogno perfeitamente polida.
- Amanhã. Por hoje você pode continuar a ter as aulas, se despeça de seus amigos. - a mulher deu de ombros triste, não queria ter que fazer isso porque sabia que apesar de tudo ele era muito esforçado e inteligente, e não tinha sido o culpado daquilo.
- Se eu tivesse algum... - sussurrou, levantando da mesa. De alguma forma aquela jaqueta roxa, branca e preta com um corvo como brasão, que ele usava todos os dias desde o primeira ano do ensino médio não fazia mais sentido, os Ravens não era mais sua casa. - Diretora, ainda vai ter o musical, né? Acho que ainda da tempo de refazer os materiais... - deu de ombros, já parado na porta. Ele só queria ter certeza que não haveria mais nenhuma vida destruída além da sua.
- Receio que não, . Temos tempo para refazer tudo, mas nosso orçamente era limitado, e como já tínhamos gastado tudo com as roupas e os materiais... Não vai ter como fazer o musical.
Ele engoliu em seco decepcionado e assentiu, saindo da sala. Tinha que ter algo que ele pudesse fazer para salvar o musical.... e como num passe de mágicas, a ideia dançou em sua mente. Era a única chance.
O garoto voltou correndo para a sala da diretora Hammings, e entrou sem nem se quer bater na porta.
- Diretora, e se eu puder pagar os materiais e tudo o mais? O musical ainda aconteceria?
- Eu não vejo como poderia, ... Era um preço alto e...
- Eu tenho o dinheiro, diretora. E quero muito fazer isso.
- Bom, eu posso avaliar junto ao concelho e então te dar a resposta amanhã.
Ele assentiu, e deixou novamente a sala. O maior empasse da vida de tinha sido lançado. A alguns meses ele não se importaria nem um pouco com nenhuma daquelas pessoas do clube de teatro, afinal ele já tinha tudo que queria e apesar de ser uma boa pessoa, sabia que não podia mudar o mundo então tentava não se importar com quem ele nem conhecia. Agora, a situação havia mudado completamente, ele tinha convivido com todos lá, tinha visto que as pessoas podiam ser melhores do que ele achava que eram, que o mundo era mais do que status e a quantidade de amigos ou festas que você vai, que podia realmente se divertir apenas falando de um livro ou uma nova exposição que iria acontecer. E, com todo o espetáculo arruinado a menos de um mês de estreia, ele também se sentia frustrado afinal tinha dado seu suor para interpretar seu personagem, tinha trocado tempo de treinos de basquete - dos quais ele realmente gostava também - para ensaiar, e com isso, acabou conseguindo se aproximar de novamente, algo que ele achou que não aconteceria mais, mas apesar de não ser culpado sabia que nada do que dissesse faria a diferença, todos os fatos estavam contra ele, e mesmo que fosse provado que ele não teria estado na sala na hora do vandalismo, ninguém poderia provar que ele não teria mandado seus amigos fazerem isso.
Os pais de eram separados e ele vivia oras na casa da mãe em Baltimore, onde estudava, oras na casa do pai, na Califórnia, onde passava as férias de verão, e apesar de nunca terem se dado bem, os dois guardaram dinheiro para cursar a faculdade por mais que ele fosse entrar com bolsa de esportes no time de basquete, ainda haveria todas os materiais e parte da bolsa de estudos que ele teria que pagar para ir para a universidade que queria, e agora que havia aquele enorme impencilho que de uma forma ou outra era culpa dele, se sentia na necessidade de pagar por aquilo e não deixar que o musical fosse por água abaixo, ele não queria sentir que estragou o ultimo ano de todos os integrantes do teatro, então ele faria isso por todos e uma vez na vida pensaria em alguém que não fosse ele mesmo, afinal de contas ele estava saindo do personagem que criara a vida toda.
xx
Naquela mesma tarde o garoto tentou se concentrar no que ainda tinha, o time de basquete. Eram um dos últimos treinos antes do jogo final, e ele não só queria, mas precisava retornar a boa forma de jogador. chegou ao ginásio e abriu a porta, já vestia o calção e a blusa roxa, branca e preta dos Ravens, encontrando todos os seus amigos de time já treinando cestas.
- Hey, galera. - disse por alto, deixando a garrafa de Gatorade sobre o banco da arquibancada e se aproximando dos outros que tinham parado o jogo. - Vamos fazer alguns lances, acho que estou meio enferrujado.
Os jogadores se encararam e depois a , que não estava entendendo a situação e aquele clima estranho que rondava a área.
- Eu falo com ele. - disse Dylan ao time.
- Falar o que, dude? - curvou as sobrancelhas, totalmente confuso.
- É que... eu e os caras decidimos que é melhor você não jogar mais com a gente. - Dylan passou a mão pelos cabelos loiros suados, e as postou na cintura aguardando a reação de .
- Como assim? O que quem dizer com "não jogar mais com a gente"?
- É isso ai, dude... Desculpa, mas você não anda aparecendo nos treinos como antes e agora mais do que nunca nós precisamos de um SF concentrado. - o garoto disse, dando de ombros. A cara de beirava a insanidade quando constatou o que se passava ali.
-Vocês não podem me tirar do time! Eu sou o capitão daqui!
- Na verdade podemos sim, se todo o time concordar... E foi o que aconteceu.
- Vocês estão brincando, né? O Tyler não concordaria com isso, ele é meu amigo. - apontou para o garoto, que se desculpou com os olhos e deu de ombros. engoliu em seco, e balançou a cabeça. Ele já devia saber que uma hora ou outra as consequências por quebrar os elos com Nathalie iriam aparecer, e lá estavam elas. Agora ele estava fora do time de basquete, fora do clube de teatro e quase fora da escola. Sua vida era uma bela merda, e ele nem sabia como tinha chegado a esse ponto tão rápido, mas constatou que uma hora ou outra o personagem que construiu iria cair, e lá estava sua derrota diante dos palcos.
- Vocês que sabem, só não venham chorando quando perderem o jogo final por causa daquela vadiazinha... - declarou por ultimo antes de deixar o ginásio. Não iria transparecer o quão abalado estava com tudo aquilo, chorar o leite derramado não adiantaria nada.
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No outro dia, a caixa que carregava nas mãos estava vazia e contava muito com a sorte para que ela continuasse assim, não queria ter que que colocar seus materiais guardados no armário ali e ir embora para uma vida medíocre. Ele ate podia enxergar, um velho com uma barriga enorme de cerveja que trabalha toda a semana, oito horas por dia num posto de gasolina e que mora com a mãe, era o futuro dele. Nem dinheiro ou disposição ele teria para comprar seus amados livros ou ver algum clássico francês no cinema, seria medíocre o bastante para assistir aquelas comédias baratas na TV toda noite, um lindo clichê de um ex-popular do time de basquete após a escola, a única diferença era que nem terminar ela, ele iria conseguir fazer. Parou diante do armário e abriu, sua bola de basquete foi o primeiro item a cair, ele recolheu e a colocou na caixa.
- Acho melhor você colocar isso ai de volta. - ouviu a voz de Craig ao seu lado.
- Eu quero levar ela comigo como lembrança dos bons tempos, acho que não podem me negar isso. - deu de ombros, suspirou e encarou o amigo que estava encostado no armário ao seu lado com uma das sobrancelhas erguidas.
- Os bons tempos continuam, jogador. - ele falou, batendo no ombro de . - A diretora Hammings pediu pra você ir na sala dela.
o encarou com a duvida nos olhos, mas o garoto sorriu de lado e saiu sem dar respostas. colocou a caixa no armário e foi em direção a sala da diretora, batendo na porta quando a atingiu.
- Entre, ... e sente-se, por favor. - o garoto o fez, e ela continuou. - Acredito que tenha vindo recolher suas coisas, mas fico muito feliz em avisar que não será necessário.
- Como assim? Aceitaram o meu dinheiro? - o garoto sorriu, encarando Susan.
- Apesar do comitê ter ficado dividido e eu ter que desempatar os votos, acredito que as razões pelas quais você deve ficar são mais fortes do que as que querem que você vá embora. - ela sorriu sem mostrar os dentes. - Bem-vindo novamente, .
- O comitê ficou dividido? - ele perguntou, não exalando tanta felicidade quanto antes. Saber que queria que ele fosse embora não era uma boa noticia para ele.
- Sim, mas...
- Não, tudo bem... eu já esperava. - deu de ombros, tentando sorrir novamente. - De qualquer forma, eu agradeço muito! Quando vamos começar a remontar o musical?
- Eu não vejo motivos que apontam o contrário. - a mulher sorriu.

ATO 6
Tinham se passado dois dias desde que as aulas do clube tinham se iniciado de novo, enquanto metade dos alunos ajudava a remontar o novo cenário e a outra metade ensaiava para o espetáculo que seria dali a duas semanas. Iam acontecer as provas para a universidade em duas semana, e o jogo final dos Ravens seria um dia antes da estreia do Musical, e deve se dizer que nenhum daqueles fatos agradavam . Ele estava fora do time e sem nenhuma preparação para os exames de admissão em Yale ou qualquer outra boa universidade, pois desde que entrou no ensino médio sabia que iria para alguma Universidade com a bolsa de basquete, sem ela seu único plano era o dinheiro que tinha guardado, mas sem o dinheiro não restava nada, apenas um garoto que além de perder tudo, tinha perdido os supostos amigos. A única coisa que restara era uma mesa solitária no canto do refeitório, ele já não usava mais a jaqueta dos Ravens e tênis esportivos como estava acostumado a fazer todos os dias, agora era apenas uma jaqueta de coro marrom, jeans e all star. Ele percebeu que aqueles caras que brincavam compulsivamente com uma bola de basquete e riam de tudo, com milhares de garotas em volta eram amigo do , o personagem, e não do , a pessoa de verdade.
- Suponho que esteja arrependido de não estar lá. - ouviu a voz ao seu lado o despertar dos pensamentos enquanto encarava mesa dos jogadores, próxima a uma grande arvore. Virou o rosto e encontrou sentada ao seu lado com a bandeja de comida posta sobre a mesa.
- Não, só estava analisando eles agora que estou de fora. - deu de ombros, comendo seu cachorro quente tranquilamente. A verdade era que não estava tranquilo e tudo que se passava em sua cabeça era ao porque dela estar falando com ele quando devia o odiar com todas as suas forças.
- Muito idiotas, né? - ela disse, e ele suspirou. - Acho que você preferia não ter pagado o concerto do clube se isso te levasse para o time de novo.
- Você está errada. Me sinto... livre agora que estou fora. - ele deu de ombros, aquilo era verdade.
- Mas se pudesse não voltaria?
- Por que está fazendo tantas perguntas? Pelo o que eu sei por você eu nem estaria mais aqui. - sorriu ironicamente.
- O que você quer dizer com isso?
- O que eu quero dizer com isso? Você sabe o que quero dizer. O concelho estudantil, vulgo - reino da - votou contra a minha permanência no colégio.
- Nossa, . Achei que você só era lerdo por causa do suor que penetrava seu cérebro enquanto jogava basquete, mas agora que está fora achei que seria um pouquinho menos idiota. - ele fez uma cara confusa e ela continuou - Quem votou contra sua permanência na escola foi a Alicia, minha vice presidente. Eu votei contra sua expulsão. - ela disse baixo, apesar de tentar parecer sarcástica e fazer pouco caso com o assunto. O garoto arregalou os olhos.
- Como assim? Achei que...
- Achou errado. Eu sabia que ir pra Universidade era importante pra você, e apesar de achar que você merecia uma lição eu não seria egoísta o bastante pra aplicá-la assim. Eu tenho coração, querido.
Ele ficou quieto, assimilando os fatos. Não era possível que tivesse a julgado tanto, ele se achava julgado tantas vezes e quando deu por si estava fazendo o mesmo com os outros. Era realmente um idiota.
- Bom, eu agradeço, mas e Universidade não são duas palavras que se encaixam.
- Como assim? Achei que você fosse direto.
- Achou errado, porque aparentemente eu fui expulso do meu próprio time. - revirou os olhos, comendo uma das batatas fritas em seu prato. franziu o cenho, e riu.
- E você vai desistir fácil assim?
- O que você quer que eu faça? Senhorita sabe tudo... Eu não tenho como passar, pelo menos não na Universidade que eu quero.
- Você fala como um perdedor... Nós temos duas semanas antes das provas, e convenhamos, você não é burro nem nada. Eu sei bem que você prestava atenção em todas as aulas, por mais que fingisse que não.
- , não seja idiota, eu nunca iria passar...
- Sua negatividade me irritada. Come on, , você sabe que eu não falaria isso se eu não achasse que é verdade.
continuou a comer, fingindo não estar concentrado nas palavras da garota. Tarde de mais, ele já havia fixado aquela ideia na cabeça.
- Duas semanas, né?
- Sim, é tempo o bastante pra estudar agora que você não tem aquela ocupação inútil. - encarou a mesa dos jogadores e se levantou.
O garoto não respondeu, mas concordava mentalmente com ela. Além de tudo, o que mais o impulsionava a tentar ao menos passar para a Universidade por meio do exame era poder mostrar para todos que ele não precisava de uma bola de basquete para ser alguém, que só o fato de ele estar ali determinado a fazer aquilo era o importante.
- Você vai ficar sentando sozinho aqui?
- Eu acho que não tenho outra opção. - ele deu de ombros, fingindo indiferença.
- Aquela mesa ali está pronta pra te acolher, se quiser. - disse e se afastou, e os olhos dele a seguiram até a mesa onde os integrantes do time de teatro estavam, conversando animadamente.
Não seria má ideia, de fato ele gostava do pessoal do clube e ele queria muito que todo o incidente fosse superado, então sem pensar levantou e seguiu até a mesa. Os olhares curiosos que recebeu o deixou desconfortável, mas não estavam o julgando, apenas surpresos. Logo a tensão passou e ele foi chamado por Craig para ver a partitura de You're the One That I Want, e todos voltaram a agir normalmente enquanto ele estava sentado lá.
XX
Aquelas duas semanas foram as mais rápidas da vida de e , eram os ensaios do Musical, estudos para os exames, e a pressão que exigia muito deles a todo momento. ajudando com os exames, apesar de se amaldiçoar por sempre voltar para ele como um cachorrinho. Era inevitável que ela sempre voltasse a confiar nele como num passe de mágicas, não era necessário nem mais do que duas boas ações de para que ela já estivesse ali, pronta para o ajudar e ficar próximo a ele. No entanto, faltava um dia para a estreia do musical, os exames eram na manhã seguinte e o jogo final também. Era nítida a animação do time de basquete na escola, todos ainda ignorando , mas de alguma forma ele não ligava, estava rodeado de gente de quem ele realmente gostava, estava ocupado de mais para sentir falta das regalias que tinha enquanto estava dentro do time, e estava sempre lá, estudando com ele, o ajudando com a peça. Naquela noite em especifico, eles estavam próximo ao Aquário Nacional de Baltimore, sentados na grama fofa e com algumas pilhas de livros próximos a eles, enquanto tentavam estudar.
- Tudo bem, só mais essa e a gente volta a estudar.- declarou, prendendo o riso. Ela então levantou e cantou um solo de Hopelessly Devoted to You com uma interpretação exagerada e a voz desafinando de propósito, fazendo os dois rissem igual loucos. Ela voltou a se sentar, enquanto ele a encarava com aquele brilhinho nos olhos que a deixava constrangida. - Você não acha que vou arrasar depois de amanhã? - tentou mudar de assunto, rindo.
- Claro... vou adorar fazer as cenas com você, tão competente. - ele riu, tentando encarar o livro a sua frente. - Você gostaria de dormir comigo esta noite?
- Quê? - A garota exclamou, o encarando com os olhos arregalados.
- Calma! - ele riu. - É só um pedaço de Lady Marmallade, eu não me lembro da versão dessa frase orginalmente em francês, você lembra?
- Sim... desculpe. - ela corou. - Voulez-vous coucher avec moi (ce soir)?
- Sim, eu gostaria, mademoseille. - ele sorriu de lado, vendo ela revirar os olhos e sorrir, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. A antena sobre sua cabeça apitou, sinal feminino de interesse.
- Foco, . Quero você indo bem no exame. - tentou mudar de assunto, entendendo o fracasso quando viu que o sorrisinho permanecia ali.
- Pode deixar, amor. - ele piscou. - Cuidando de mim, assim até acho que sou importante pra você. - riu.
- Não seja convencido, eu faria isso por qualquer um. - o garoto cerrou os olhos e se levantou tão rapidamente que ela mal percebeu quando ele já estava a poucos centímetros dela. Sentiu o hálito quente contra seu rosto e suspirou, ela tinha uma espécie de abstinência do gosto do beijo dele desde o verão, a ultima vez que experimentará, e quando ele sorriu de novo, pronto para quebrar o espaço que tinham ali e fazer o que ambos imploravam para ser feito por todos aqueles meses, o celular dela tocou e os dois se afastaram bruscamente.
- Oi, mamãe. - ela declarou, se afastando enquanto ele coçava a cabeça, frustrado. Estava tão perto... - Sim, eu já estou indo, só estava terminando algumas coisas aqui... Tudo bem, tchau.
- Você já vai? Eu precisava de ajuda. - ele disse, dando de ombros e apontando para os livros.
- , se você ficar mais preparado do que já está será eleito presidente da republica depois da prova. Relaxe. - a garota recolhia suas coisas, e quando apanhou a bolsa, tirou de lá aquela velha caixinha vermelha que ela guardava a tanto tempo consigo. Respirou fundo e deu para ele. - Use amanhã... Você vai fazer um bom trabalho. - ela piscou e saiu depressa.
abriu a caixinha e viu a caneta tinte que repousava em um estofado verde, a frase de Shakespeare brilhava em letras prateadas. Sorriu e guardou a caixa no bolso, ele não a decepcionaria de novo.
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O garoto não se sentia tão nervoso assim dês da ultima vez em que esteve numa estreia de jogo, era o mesmo frio na barriga e a respiração que o obrigava a resfolegar de minutos em minutos. Ele estava na sala de espera de um dos prédios de Yaleem Connecticut, ele tinha viajado de carro com sua mãe ate lá para realizar a prova, e teria que voltar a tempo de apresentar a peça no dia seguinte. Apesar do nervosismo, as palavras de ecoavam por sua mente toda vez que ele pensava que não iria passar, ou pior ainda, pensava em desistir. Mas ele não a decepcionaria ali, ela tinha depositado muita confiança nele para que tudo fosse recolhido e jogado fora novamente.
- ... - ouviu uma mulher anunciar seu nome, era a hora do exame. A diferença daquele sistema de avaliação era que se era feito através de entrevista, e isso o deixava ainda mais pesaroso.
Enquanto caminhava até a porta aberta para ele, ajeitou o blazer usado raramente em casamentos ou funerais, e buscou no bolso da calça a caneta dada por ela, sorrindo ao se lembrar de que alguém realmente acreditava nele.
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estava a quilômetros de distância do rapaz, na Ravens High School ajudando com os últimos preparativos para o musical. Eles podiam estar distantes, mas era como se ela estivesse sentindo toda a aflição que o incomodava, mal conseguia se concentrar nos recortes que estava fazendo em papéis laminados, se atrapalhando constantemente com a tesoura.
- Ai! Droga... - resmungou quando a lamina atingiu seu dedo indicador, e Eric se aproximou para ajudá-la.
- Você está longe.- comentou, enrolando um pedaço de papel no dedo dela. - Tudo isso é nervosismo pelo musical ou está envolvido nisso?
- É só nervosismo, porque eu o ajudei muito nos últimos meses e vou me sentiu incompetente se ele não passar. - ela deu de ombros, pressionando a área do dedo ferido.
Eric riu esperto, ele sempre agia como se conhece todas as verdades do mundo, mas não era muito mais velho que a própria mãe da garota.
- Sabe de uma coisa? Eu morava aqui em Baltimore quando era adolescente, e eu fazia parte do coral na época. Eu namorava uma garota que queria ser cantora, e eu nunca mais a vi depois que sai daqui para fazer faculdade de artes em Nova York, mas eu nunca a esqueci de verdade. - Ele disse por alto, sentando ao lado dela. - Se tem uma coisa que eu aprendi é que não se pode deixar o amor de lado, por mais que seus objetivos sejam fortes você nunca vai se sentir feliz com nada que faça sem ele. E o único motivo pelo qual eu coloquei dois iniciantes sem qualquer experiência, juntos numa peça, é porque eu sabia que a ligação de vocês seria crucial para a essência do musical.
- Foi por isso... - ela sussurrou, sorrindo. - Isso é tão clichê, você é o professor que dá concelhos para os alunos com problemas e todos que assistem o filme gostam de você. - riu, após alguns minutos em silêncio enquanto ele cortava alguns papéis por ela.
- Eu sou o bom moço, querida. - ele sorriu gentil.
Ouviu-se um grito vindo de porta e eles se assustaram, iria acontecer o jogo dos Ravens dali a algumas horas e todos pareciam empolgados, prontos para torcer. Exceto , pois o seu jogador preferido estava em outra partida muito mais difícil do que acertar uma bola na cesta.
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Sexta. O grande dia.
O sol que brilhava acima deles anunciava que as altas temperaturas do verão estavam se aproximando, dali a uma semana seriam o fim do ano letivo e então as férias de verão viriam com tudo.
estava dormindo desajeitadamente em sua cama, com direito a sapatos e baba escorrendo no travesseiro. Tinha chegado de Connecticut de madrugada, com dez horas cansativas de viagem de carro. Já passavam do meio-dia quando ele sentiu gotas d'água caindo sobre seu rosto, tentou se livrar do movimento mas a água não parava de vir, então ele se levantou assustado, pensando que estava atrasado ou que tinha perdido a hora, e encontrou rindo enquanto segurava uma garrafa de água quase virando sobre ele.
- Você tá maluca? Eu podia ter te machucado! - ele disse, passando a mão pelo rosto.
- Ah claro... com seus supers golpes de karatê estilo "eu durmo babando". - ela riu, tomando a água.
- O quê você está fazendo aqui? - ele suspirou, procurando por algum relógio.
- Primeiro, bom dia , como foi a prova? Você está bem? Eu gostaria muito de conversar com você. - ela sorriu, sentando no sofá ao lado da cama dele. - Melhora esse rostinho, amor. Só falta um cachimbo pra parecer o popeye.
- Segundamente, Bom dia, . Eu acho que me sai bem, e estava bem até ser acordado com água na cara, e eu não gostaria de conversar com você. - anunciou.
- "Segundamente" não é correto.... mas não vim conversar gramatica com você. - ela deu de ombros. - Temos que ir para a escola, o musical é daqui a oito horas e eles precisam da gente.
- Ok... me dá um minuto. - o garoto levantou e foi para o banheiro, trancando a porta.
se viu sozinha no quarto dele, e respirou fundo, esperando. Deu uma passada de olhos pelo local, que era bagunçado e arrumado ao mesmo tempo, como se tivesse sido organizado de um jeito bagunceiro, complexo de mais pra que ela entendesse. E como num passe de mágicas - ou mágia negra -, o caderno vermelho abaixo do travesseiro pulou diante de seus olhos. Não poderia negar que seus dedos coçaram para pegar aquilo e ler, talvez ele tivesse escrito alguma coisa sobre eles que a deixaria preparada para os próximos passos de , para saber o que aconteceria a partir dali já que ela estava andando no escuro, uma hora achava que era um, outras horas ele era outro. Mas não era como se ela fosse muito inocente, já que sua personalidade mudava muito de acordo com a dele, se sentisse ameaçada, ameaçava, se sentisse segura, baixava a guarda. O personagens que vestiam era complexo de mais para que ambos entendessem.
Antes que se desse conta já estava se aproximando do caderno, quando ouviu a porta do banheiro ser aberta. Ela se retraiu de imediato e fingiu que não tinha feito nada, o seguindo para fora do quarto.
Não demorou para que eles estivessem no clube de teatro. Todos estavam lá, incrivelmente excitados com a peça e com a apresentação. Era tão legal e ao mesmo tempo tão confuso, e os pressionava a fazer um bom trabalho por todos que estavam ali.
- Você não me contou sobre ontem... - comentou, enquanto eles organizavam o auditório da escola, que seria o local da peça.
- Bom, eu entrei lá, e falei o que tinha que falar. Eles vão me ligar se eu conseguir a vaga. - deu de ombros, ajeitando um dos holofotes na ponta do palco.
- Só isso? Nada mais aconteceu? - ela forçou, tentando arrancar qualquer coisa dele.
- Só. - respondeu monossilábico, ainda arrumando as lâmpadas.
- Ok... - desistiu, vendo que dele não sairia nada. Deveria ser apenas a tática de "não coloque expectativas para não se decepcionar.". - Ontem foi o jogo dos Ravens. - mudou de assunto, vendo que agora sim ele estava interessado no que ela dizia.
- E...?
- E que eles perderam de 45 á 32. Sua amiguinha saiu chorando da quadra. - riu, vendo a cara surpresa de , que depois virou satisfação.
- Não estou surpreso. - ele riu com escárnio, se fazendo de autossuficiente. - Hoje, o capitão deles está em outro time, e neste time ele vai vencer. - sorriu para ele, que devolveu o sorriso.
Duas horas depois.
A maior parte do clube já estava terminando a maquiagem e vestindo suas devidas roupas, era muita euforia em todos os cantos do backstage. O público do lado de fora já se acomodavam nas cadeiras por todo o auditório, Eric estava extremamente ocupado por todos os minutos, e naquele em especifico conversava com a diretora Hammings. estava sentando numa das cadeiras do camarim, tendo seu cabelo penteado com dezenas e dezenas de mãos de gel para que ficasse num topete grande, diferindo do bagunçado e caído de sempre. O rosto estava bem barbeado e outra das garotas do clube maquiavam seu rosto, apesar dele achar inútil, espirrando ou coçando o rosto toda hora, e levando belos xingos por isso. A verdade era que ele não estava nervoso, se sentia pressionado a fazer um bom trabalho mas ao mesmo tempo se sentia totalmente disposto a enfrentar aquilo, não havia cansaço físico nem psicológico.
estava do outro lado, enrolando as pontas dos cabelos em cachos largos como os de Sandy. Já estava maquiada, nada de mais, apenas o básico, e sua roupa a aguardava numa arará ao lado. O script com todos os textos e as músicas estava sobre a penteadeira a frente, e ela olhava incessantemente para todas as falas, nervosa e aflita. Agora era ela quem se sentia na obrigação de ser boa o bastante para todos que queriam que ela fosse assim, em especial sua mãe. Terminou o cabelo e correu para o banheiro, colocando a roupa inicial de sua personagem, saia longa e amarela, blusa branca e cardigã amarelo pendurado nos ombros, analisou o tecido em seu corpo e correu para fora do banheiro, voltando para os textos.
- Oh, Querida! - escutou a voz melada de sua mãe atrás de si, e depois enxergou o reflexo da mulher que lhe encarava através do espelho. Susan colocou a mão em seus ombros e sorriu. - É a melhor Sandy que já vi.
- Mas você nem me viu atuando ainda, mãe. - mordeu o lábio inferior, cautelosa.
- Mas eu já posso afirmar que você será a melhor! Eu vi um ou dois produtores lá fora, quer dizer, não sei se eram produtores musicais, mas se forem você será a nova estrela da música, e depois eu, e depois nós duas. - sorriu empolgada, batendo palminhas.
- Mãe, nós precisamos conversar... - a garota soltou, respirando fundo. Não conseguiria ficar mais calma antes que conversasse com sua mãe sobre tudo aquilo. Estava na hora de se livrar do personagem para interpretar outro, e dessa vez, ele seria temporário.
- O que foi, querida? Está se sentindo mal? - a mãe segurou as mãos da filha, preocupada.
- É que...
- ! Entraremos em dez minutos, precisamos de você para uma reunião de equipe. - Craig a interrompeu, olhando com um olhar de desculpas para a mãe da garota.
- Tudo bem, eu vou para o meu lugar lá fora. Nos vemos depois, querida, e faça um bom trabalho. - Susan fez joias com os dedos e piscou de lado, saindo do camarim.
mal teve tempo de digerir o fato de que não tinha contado a verdade para sua mãe a respeito de sua futura profissão e Craig já estava a levando para junto dos outros colegas de elenco. Todos já estavam devidamente caracterizados, com as típicas roupas dos anos 50 e os cabelos penteados volumosos ou cheios de gel. Os meninos do grupo, incluindo e Craig vestiam jaquetas de couro e calças largas de cintura alta jeans, os cabelos em belos topetes, reparou no olhar de a ela enquanto se aproximava, era algo como excitação misturado com nervosismo, ele sorriu pra ela sutilmente.
Enquanto Eric não chegava para o discurso de antes do musical, a garota deu uma olhadinha pelas cortinas que ainda estavam fechadas, vendo o auditório lotado do lado de fora. Um frio percorreu sua barriga e ela teve vontade de vomitar, quase entrando em pane. Sentiu a mão no seu ombro e se virou.
- Muita gente, né? - disse, tão receoso quanto ela.
- Sim, muita. - encarou o chão.
- Bom, só nos resta fazer um bom trabalho...
- Não sei se consigo, . Tem a minha mãe lá fora que espera que eu seja a melhor Sandy Dee do universo, e o pessoal do grupo que está contando com a gente, toda essa pressão, e...
- , calma. - Ele a segurou pelos ombros, e a encarou nos olhos. Buscou no bolso traseiro a caneta que ela o deu e rabiscou no antebraço da garota.
- "Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar". - ela leu sussurrando, e sorriu junto com ele.
- Arrisque. - ele sussurrou de volta, e piscou de lado.
- , ! Aqui, por favor. - chamou Eric, entrando no camarim. Todos os alunos se colocaram em um grande circulo, e ouviram Eric atentamente. - Estivemos trabalhando duro a tanto tempo, nos conhecemos a tanto tempo, e mesmo que alguns não estejam conosco a todo esse tempo, eles já fazem parte da família, certo? - ouviram sonoras concordâncias em volta, com e rindo. - É a nossa ultima peça juntos, mas eu garanto que as cortinas dos palcos do mundo estão apenas se abrindo pra vocês, crianças... e ao contrario daqui, tentem ao máximo tirarem as máscaras e não serem personagem nenhum além de si mesmo, para que no fim consigam ganhar um final feliz autêntico. - Eric declarou, e todos os alunos começaram a segurar as mãos uns dos outros, segurou a de . - Viver é fácil com olhos fechados, mal entendendo tudo o que você vê, e agora, vocês vão ter a oportunidade de ver tudo, de ver o mundo. Já adianto que será difícil, que vão querer fechar os olhos e ter o conforto de um papel ensaiado onde se sabe o final, mas acreditem, coisa melhor que viver não existe... Então, vamos fazer deste o melhor musical de todos os tempos! Grease is the world, baby! - gritou o professor empolgado, e todos gritaram concordando e batendo palmas.
Era a hora.
começou a dar pulos, se aquecendo como antes de um jogo, e respirou fundo, todos os personagens principais se alinharam diante da cortina vermelha, e pode se ouvir os gritos e aplausos do outro lado enquanto as luzes se apagavam. Era milagre que o coração de não estivesse sendo ouvido devido a força que fazia contra o peito da garota, e não estava diferente, suas mãos suavam.
A musica de abertura, "Grease", começou a tocar e as cortinas se abriram, as luzes ainda apagadas. A plateia aplaudiu e gritou quando o conjunto de vozes começou a cantar, ainda alinhados. As luzes se acenderam, e o mundo parecia ter parado. Tudo que existia na mente de era a plateia e ela, o resto do grupo não estava diferente com aquela adrenalina. Eles dançaram e cantaram pelo cenário construído as pressas mas que tinha ficado tão bonito quanto o outro, todos estavam empenhados e a plateia os recebia muito bem, foi sem dúvidas um ótimo começo. No final da primeira música, as luzes se apagaram e os personagens principais saíram do palco para se preparar para a próxima cena enquanto o elenco de apoio dançava a coreografia ensaiada. Enquanto os rapazes e as garotas principais iam até o camarim tomar água e se preparar para entrar em dois minutos, puxou e sussurrou em seu ouvido "Independente do que aconteça essa noite, nós vamos ficar juntos.", antes que tivessem de entrar no palco novamente.
Summer Nights, Hopelessly Devoted to You, Sandy, Beauty School Dropout, e todas as outras músicas escolhidas cantadas sob os instigantes olhos da plateia, animadas coreografias, solos bem afinados, e quando chegou a hora de cantar You're the One That I Want, onde entrou no palco totalmente diferente usando saltos vermelhos, legging apertada e preta, blusa colada e jaqueta de couro, os cabelos enrolados e um cigarro na boca, não fora só o Danny que se surpreendeu, mas o próprio também. Aquela, escolhida para ser a penúltima música, fora a mais bem interpretada e cantada pelo casal, correndo pelo cenário, dançado, e sendo finalizada com e prontos para se beijar, a poucos centímetros um do outro, e sendo previsivelmente atrapalhada por todos os outros alunos. Fora uma pena, eles realmente queriam se beijar.
E quando cantaram a ultima música, We go together, todos no palco dançaram e cantaram como nunca, era a ultima apresentação de todos ali que iriam se formar e ir para um novo mundo, seguir seu caminho e se separar dos colegas feitos, manter os verdadeiros amigos, e realizar seus sonhos em outro musical, desta vez verdadeiro.
e entraram no carro vermelho trazido pela equipe de apoio enquanto os outros cantavam o final da música ao redor, até que a ultima nota fosse tocada e as cortinas se fechassem. O olhar que os dois trocaram naquele escuro só pode ser enxergado pelo brilho que tinha ali, cintilante em ambas as íris. Era algo como "Nós conseguimos!", que eles nem precisavam falar para saber que ambos pensavam.
Saíram do carro e voltaram a se alinhar com os outros atores, e quando as cortinas se abriram, todos se curvaram e agradeceram ao publico pela audiência. encontrou sua mãe e Claire na primeira fila, aplaudindo e gritando, sabia que sua mãe chorava e riu. nunca tinha se sentido tão bem recompensado por algo em toda sua vida, os aplausos e gritos que recebia na quadra de basquete eram daquela forma, mas não era a mesma coisa, aqueles eram melhores, tinham mais sintonia, a energia era a melhor, e nas quadras ele não podia segurar a mão da garota de sua vida. Foi o momento de glória.
xx
Todos voltaram ao camarim comemorando e gritando sonoramente, tinha sido espetacular.
- Oh meu Deus, vocês todos foram ótimos! Mal posso descrever o quanto estou orgulhoso! - Eric sorriu, seus olhos brilhavam. - Parabéns, e , eu adoraria ter tido vocês a mais tempo com a gente.
- Eu também queria ter estado aqui por mais tempo. - a garota sorriu. - Muito obrigada, eu nunca vou esquecer desse momento.
Não demorou dois minutos para que alunos amigos de alunos do elenco começassem a entrar no camarim, todos parabenizando o elenco pela maravilhosa peça encenada. tentou falar com , mas o perdeu de vista quando sua mãe apareceu e começou a falar e gesticular loucamente em sua frente.
- Querida! Eu sou a mãe mais orgulhosa do mundo! Você é ainda melhor que eu na sua idade, você foi linda... Meu Deus. - a mulher limpou as lagrimas, e a abraçou.
- Obrigada, mãe.
- A gente pode conversar sobre ir para New York, existem ótimas faculdades de artes lá e você...
- Mãe, eu tenho que te falar. - segurou a mulher pelos ombros, e a encarou nos olhos. - Eu não vou para Faculdade de artes, vou para Yale.
- Yale? - a mulher questionou.
- Eu nunca quis fazer artes, mãe. Meu sonho é fazer Direito, eu ganhei uma bolsa em Yale a dois meses. - a garota suspirou, esperando pela reação da mãe.
- Oh, , eu... - sibilou, incerta. Susan estava chocada sim, mas voltou a sorrir. - Esse tempo todo eu estive concentrando meu sonho em você e nunca percebi que você realmente não queria isso tanto quanto eu.
- Me perdoa, mãe, é que...
- Não precisa se desculpar, meu amor. Eu sou sua mãe e vou te apoiar em tudo que você quiser fazer, pode ser na faculdade de artes, pode ser em Yale... O que importa é que você seja feliz. - disse, e a abraçou. Se sentiu leve depois de quebrar aquela mascara.
- , estava te... - Eric se aproximou das duas, e parou quando viu Susan, espantado. A mulher fez a mesma expressão quando o encarou, e ficou confusa assistindo aos dois.- Susan ?
- Eric Evans? - a mulher disse, e demorou mais um minuto até que eles se abraçassem.
- Espera? O que está acontecendo aqui? - entortou as sobrancelhas, totalmente confusa.
- Nós nos conhecemos na adolescência, éramos do mesmo coral... - a mãe da garota disse, encarando o homem. Então se lembrou, a história que Eric tinha lhe contado era sobre sua mãe, a boca da garota formou um perfeito circulo quando se deu conta. - Nós namoramos também.
- Eu devia ter reparado, tem os seus olhos. - Eric disse, sorrindo.
- Professor de teatro? Eu sempre soube que você iria seguir as artes. - a mulher iniciou, e se sentiu uma vela entre os dois, então saiu para procurar . Estava feliz por sua mãe, Eric era um bom homem e os dois eram muito parecidos, ela torcia para que passasse de um reencontro.
Começou a caminhar entre as pessoas, onde varias delas lhe davam parabéns, mas nenhuma era quem ela queria ver.
- , você estava linda! - a diretora Hammings viera em sua direção, sorrindo. A garota agradeceu, e quando estava pronta para sair em busca de , a diretora indagou novamente. - Você viu o ? Eu preciso falar com ele.
- Estou procurando ele também. - mordeu o lábio.
- Se o encontrar, diga que quero falar com ele. Simon Harris, coordenador geral de Yale ligou a poucos minutos antes do Musical para informar que ele passou. - Lilian disse, e não conseguia pensar em mais nada além daquela informação. tinha passado.
- Oh, meu Deus... ele passou! Obrigada, Diretora! - a garota abraçou a diretora, e saiu rapidamente. Ela precisava contar aquilo para ele.
Alcançou o lado de fora da escola e saiu andando apressadamente, ainda usava os saltos vermelhos que faziam barulho diante do chão. Escutou vozes vindas da lateral do prédio do auditório, e foi até lá, torcendo para ser o menino. Ela não aguentava mais de ansiedade para falar com ele, seria o fim de noite perfeito.
Porem, infelizmente quando alcançou a lateral do prédio, quis nuncater desejado que fosse ele ali, e o que viu fez com que o sorriso em seu rosto morresse.
Nathalie estava beijando fervorosamente.
Não pode evitar o soluço que nasceu eu sua garganta quando as lagrimas lutaram para sair de seus olhos, e o beijo foi quebrado pelo rapaz, que a encarou assustado.
- , espera, não é que você está pensando! - ele deixou Nathalie pra trás e foi ate a garota.
- E o que estou pensando, ? Que você é um mentiroso de merda? Que só quer jogar comigo de novo? Desculpa, mas não vai acontecer. - sorriu irônica enquanto as lagrimas escorriam, e saiu apressadamente. Os saltos não permitiam que ela andasse tão depressa quanto queria, então os tirou e correu.
- Nathalie, está vendo o que você fez? Porque me beijou? eu já te disse que...
- Ai, ! Eu já te disse que eu percebi que o time e que eu não somos nada sem você! Me perdoa por favor, gatinho, nós podemos ficar juntos. - a garota se aproximou, brincando com a barra de sua jaqueta de couro.
- Você não entende, né? Eu amo a ! Eu sempre amei, e eu nunca gostaria de alguém como você. - cuspiu as palavras na cara dela, e saiu correndo atrás da garota que amava.
Não quis realmente saber como Nathalie se sentiria, ele nunca mais teria que ver a ruiva em sua vida mesmo, então só se importava em achar . Sabia onde ela estaria, e rezava para que estivesse certo. Quando chegou no gramado do outro lado da escola, atrás de um arvore pode ouvir alguns soluços, e seu coração apertou. Se aproximou cauteloso e a viu sentada ali.
- Vai embora, , eu nem consigo mais olhar pra você sem ter nojo. - ela disse calma, e o que mais o assustou foi o timbre que era puro e simplesmente magoado. Agora sim ele tinha sentido o maior medo de sua vida, de nunca mais consegui-la de volta.
- , só me dá uma chance e eu juro que explico tudo. - mal reconheceu sua própria voz, nunca achou que ficaria daquela forma por alguém.
- Uma chance? Eu já te dei três, e você conseguiu acabar com todas... Eu não posso mais, . - ela ainda não o encarava. O rapaz engoliu em seco, a única luz que tinham ali era a da lua.
- Eu nunca entendi o porquê que você me ignorou depois do verão passado... Só me explique isso, e eu vou embora e você nunca mais vai me ver, eu juro. - foram as piores palavras que ele já teve que dizer, mas disse. Ele sabia que amar era colocar a felicidade do outro em primeiro lugar, e se a felicidade dela só acontecesse sem ele, então que assim fosse.
- Me deixe refrescar sua memória. - ela levantou, e o olhou pela primeira vez desde que chegou. Os olhos magoados e molhados trituraram o coração dele, que só queria poder abraça-la e jurar que nada de errado aconteceria de novo. - O jogador e a santinha, por . - ela sorriu irônica.
- O quê? - curvou as sobrancelhas.
- No seu caderno, . Você escreveu isso naquele caderno vermelho. E tinha muito mais escrito. Você o deixou na praia, naquele lugar onde íamos nos encontrar antes que eu voltasse.
- Não, ! Eu nunca escrevi isso, eu nunca deixaria meu caderno na praia.
- Estava lá!
- Naquele dia eu me atrasei porque a Nathalie me segurou no quarto, disse que estava passando mal, e... - e como num passe de magicas ele se deu conta do que tinha acontecido. - Foi ela, ! Eu juro, foi a Nathalie que fez isso, ela pegou meu caderno, escreveu nele e deixou lá para que você o achasse e nunca mais quisesse ficar comigo!
- Ela é uma vadia, mas não faria isso... Admita seu erro, . Uma vez na vida ao menos.
- Ele está falando a verdade. - ouviu-se uma terceira voz, e lá estava Tyler, saindo de trás da arvores e aparecendo diante dos dois. - Nathalie pediu para que eu roubasse o caderno de enquanto ele estivesse cuidando dela e escrevesse o que ela mandasse, e depois deixar na praia para que você encontrasse.
- Tyler? Mas porque você fez isso? - disse, encarando o rapaz a alguns metros.
- Porque eu gosto dela, e ela me disse que seria minha se eu fizesse isso por ela. - ele engoliu em seco, respirando fundo. - Me desculpe, . Eu não conseguia mais conviver com isso, principalmente depois que ela me manipulou de novo para que você saísse do time. Eu nunca devia ter trocado um amigo de verdade por uma garota suja como a Nathalie.
- Tyler, a Nathalie é louca, você não pode mais ouvir ela.
- Eu sei, eu sei... Isso vai soar gay, mas amar dói e te faz esquecer o que é certo. - ele encarou que estava ao lado de . - Não deixe que a Nathalie acabe com o que vocês tem, nunca fez nada de errado, vocês deviam ter ficado juntos desde o primeiro momento. - respirou fundo. - Me desculpa, cara, só te segui até aqui porque vi que a Nathalie te beijou a força lá trás e decidi que não deixaria as coisas assim... Você merece ser feliz. - disse por fim, e saiu calmamente do local.
sempre achou que Tyler fosse seu amigo de verdade, e quando tinha perdido essa concepção ao vê-lo o substituindo no time de basquete, lá estava ele de novo provando que era uma boa pessoa apesar de tudo. Todo mundo tinha seus personagens, e o de Tyler era apenas um garoto apaixonado por uma garota, agora ele parecia livre.
O garoto encarou , que estava quieta, encarando o chão. Ele só queria uma reação dela.
- Então tudo foi culpa dela, não é?
- Sim. - respondeu simples.
- Detesto admitir que você estava certo o todo o tempo. - ela revirou os olhos, e sorriu. não conseguiu evitar de sorrir junto, achou que nunca mais veria aquilo dirigido a ele novamente.
- Bom, eu nunca fiquei tão feliz em estar certo.
- E eu nunca fiquei tão feliz em estar errada.
Eles riram, e inesperadamente, não esperou nenhum segundo para correr para os braços dele e o beijar. Aquele beijo que os dois esperavam a tanto tempo, o beijo que selou o sentimento grande e forte que um sentiam pelo outro. Eram muito sortudos, algumas pessoas levavam a vida toda para encontrar alguém que amasse de verdade, eles conseguiram isso sem nem ao menos sair do ensino médio, mas já era o bastante para saberem que aquilo seria muito mais que um amor de verão, ou que amor de escola. Seria um amor que duraria a vida, e que talvez, além dela também. Não dava para explicar tamanha cumplicidade, o tanto que se encaixavam, mas era assim, e assim seria enquanto vivessem.
Ela separou os lábios do dele, e o encarou de perto, vendo o movimento calmo dos olhos que ela tanto amava se abrirem e a encararem.
- Então, você vai pra Yale, né? - perguntou, enquanto ele ainda a segurava pela cintura.
- Sim... aparentemente. - ele sorriu, se lembrando do fato. - Não vou ser um velho gordo que trabalha no posto de gasolina, uhu. - fingiu uma comemoração, e ela riu.
- Bom, se os seus livros não venderem... Talvez tenha que trabalhar no posto de gasolina. - ergueu uma das sobrancelhas.
- O marido da futura presidente americana não pode trabalhar no posto. - sorriu, junto com o sorriso dela. - Os livros sobre a nossa história vão vender muito. Só vou acrescentar algumas guerras, robôs e apocalipse pra ficar mais interessante. - ele riu do tapinha que levou no peito.
- Acho que a noite está acabando, melhor irmos lá pra dentro comemorar nosso maravilhoso musical. - Ela suspirou. - Depois tem Yale, para nós dois.
- Como assim, nós dois? - Ergueu uma das sobrancelhas, e viu o sorriso esperto dela - Oh, não... e as festas da faculdade, como vou aproveitar? - ironizou, e ela revirou os olhos.
- Melhor se acostumar, jogador. Está só no começo. - ela sorriu, e beijou ele brevemente.
- Acostumar? Não da pra acostumar com você. - ela fez uma careta ao ouvi-lo. - E é o que eu mais amo em você, princesinha.
Grease poderia ter acabado, mas a história de um garoto jogador de basquete e uma garota presidente do grêmio estudantil estava apenas no inicio. Eles estavam correndo juntos para o palco da vida, e as mascaras foram ficando para trás, os personagens foram abandonados e a novela da vida real, com todas as suas desavenças, loucuras, risos, tristezas e "finais" felizes voltava a tona para brincar com eles, mas agora era essência verdadeira que estava ali para encara-la. A vida é um teatro, sim, mas quem disse que você não pode ter um final feliz sendo quem realmente é? A verdade é que só se consegue um final feliz autentico quando se aprende que a vida é muito mais do que encenar, mas sim, viver e deixar viver.

FIM




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