CAPÍTULOS: [prólogo] [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7]





O Amor Mais Bonito






Prólogo


Nenhum conto de fadas é de todo belo desde o princípio, por mais que existam as músicas, os castelos, os majestosos vestidos, e os príncipes perfeitos. Temos uma ideia fixa e previsível demais sobre o amor nessas histórias. Ele parece tão fácil, que assim que se encontra seu maravilhoso príncipe, ele acontece instantaneamente e depois e só esperar pelo felizes para sempre. Mas o amor é bem mais do que o primeiro contato, ou a beleza física.
O fato é que o amor não é um sentimento instantâneo, e sim, algo bem mais trabalhoso.
O que quero lhes dizer, minhas queridas, é que muitas vezes esperamos por príncipes montados em cavalos brancos, que nos salvaram das garras de uma bruxa malvada, ou até mesmo de uma madrasta medonha. Ficamos tão ligadas à procura de um par ideal que não percebemos que a verdadeira magia esta na surpresa, em poder ver o seu príncipe num café, ou quem sabe na porta do cinema, ele pode até ser aquele vizinho com quem você nunca havia conversado antes. A verdade é que ele pode ser qualquer um, e me parece muito mais mágico quando ele entra na nossa vida de uma forma inusitada. É bem melhor do que se frustrar esperando por algo que nunca virá, pois sejamos francas, príncipes em cavalos brancos são raridade hoje em dia.
Dessa forma, trago-lhes esta história. Nela, digamos que o amor e a paixão não acontecem à primeira vista, nem posso lhes dizer se de fato acontecerá, mas quem sabe não tenhamos uma pitada de romance e algumas... Oh! Acho que estou falando demais, assim lhes contarei o final antes da hora e o que é uma história sem a expectativa do final? Só o que posso dizer é que a verdadeira magia está no nosso dia-a-dia, mesmo que não a percebamos tão facilmente. A magia acontece quando você se deixa viver e aprender com quem esta do seu lado.

A realidade é muito mais agitada. Muito mais turva. Muito mais assustadora. A realidade é muito mais interessante do que viver feliz para sempre.

Voltando a nossa história, ela não terá grandes castelos nem bosques encantadores, nem ao menos teremos um reino, mas não se preocupem, teremos o mais importante, um príncipe e uma princesa. Não propriamente ditos, mas acho que podemos chamá-los assim. Já que os mencionamos, acredito que seria interessante falarmos um pouco sobre eles.
De um lado uma linda jovem que teve que sacrificar-se por um pedido do pai. Nunca fora de muitos namoros mesmo que tivesse vários pretendentes, até mesmo o que seria o mais cobiçado da cidade a queria com ele, mas ela nunca deu qualquer tipo de atenção a essas investidas, tanto que mesmo contrariada, nossa princesa se casou a pedido de seu progenitor. Nada que envolvesse a paz entre reinos, se bem que podemos chamar assim, já que grandes empresas não deixam de ser reinadas por seus donos, e quando foi preciso de um elo que unisse duas grandes empresas, nossa princesa entrou em cena. Não podia ser diferente, afinal, era a única moça da casa já que a mesma só tivera irmãos e nenhuma irmã. Sentia-se deslocada diversas vezes no meio de tanta testosterona, além do pai ainda tinha dois irmãos e depois da morte da mãe foi assim que viveu, ela e os três homens que eram sua família, só viveu uma situação mais extrema que essa quando teve que se hospedar na casa dos primos enquanto o pai viajava, ela se recordava bem do quão constrangedor foi passar aqueles dias na companhia de tantos garotos.
Flashback on
_ Seja bem vinda, prima querida. – exclamou Leonard assim que recebeu a moça na porta. Pelo que ela se lembrava ele era o mais velho dos filhos de seu tio, que somavam sete num total, e os sete moravam ali sozinhos, onde ela passaria o próximo mês hospedada.
_ Olá. – disse tímida enquanto acenava de modo geral pra todos os rapazes que a observavam deixando-a ainda mais sem jeito.
_ Me deixe levar suas malas lá pra cima, você ficara com um dos quartos. – mencionou Frederick, o mais novo e aparentemente mais simpático de todos ali.
_ Não se incomodem comigo, eu posso dormir na sala mesmo.
_ Você é nossa convidada, . Ficará em um dos quartos e não se preocupe que nós nos resolvemos nos outros. Só não repare a bagunça, somos sete caras morando num único apartamento, digamos que organização não é nosso forte. – e não era de fato, isso ela pode comprovar assim que chegou próxima ao cômodo e notou uma cueca na maçaneta da porta do mesmo. Dentro do quarto parecia um caos, uma montanha de roupas sujas sobre uma das camas, sapatos para todos os lados. Pelo jeito ela teria muito trabalho pela frente.
Flasblack off

E de fato teve, se lembrava bem como passou o mês tentando organizar, mesmo que minimamente, aquela casa, mas não pode negar que passou bons momentos ao lado dos sete primos.
Já que falamos um pouco da nossa princesa, porque não falarmos um pouco do príncipe? O homem sempre teve uma personalidade difícil, desde pequeno. Muitos o chamavam de sem educação, adjetivo que não podemos descartar sobre ele já que muitas vezes ele se comporta de maneira rude, pelo menos com quem acha ser necessário, mas não podemos negar também que ele tem um bom coração, pois assim como nossa princesa, ele acatou ao pedido dos pais. Acostumado com uma vida um tanto livre e boêmia, teria que se adaptar ao que lhe esperava agora.
Acho que já temos o necessário para podermos começar a história, não? Pois bem, ai vamos nós...

Era uma vez...
Acho que não é um bom jeito de começar essa história, quem sabe se eu começasse mais formal? Acredito que não, quem sabe se eu começasse de forma mais romântica? Isso também não daria certo, afinal eles não estavam felizes quando se conheceram, na verdade, eles estavam revoltados... É isso! Acho que encontrei o começo da nossa história, então vamos a ela...



I - Sentimentos são fáceis de mudar, mesmo entre quem não vê que alguém pode ser seu par.


Ambos estavam revoltados, estavam ali sem escolha própria. Em alguns minutos estariam diante de alguém o qual nunca tinham visto, mas que depois daquela celebração seria seu cônjuge. Seria aquele com quem passariam a morar, a conviver, mesmo que fossem totalmente contra aquilo.
estava inquieto em cima do altar, não que isso fosse algo incomum para noivos, mas pra ele era diferente. Ele não estava inquieto por ansiedade, não contava os minutos para ver uma linda mulher entrar por aquela porta e caminhar até ele com um sorriso lindo nos lábios indicando o quanto ela estava feliz de estar ali. Ele ao menos tinha o brilho nos olhos que todo noivo costuma ter, o brilho ao ver a pessoa amada a poucos passos de se tornar sua. Não, sua inquietação era apenas pra que passasse logo, pra que ele pudesse sair de todo aquele teatro que já o estava enlouquecendo. Sabia que não podia fazer um escândalo, não que já não o tivesse feito antes, mas de nada adiantou. De nada adiantou seus pedidos para acabarem com aquela loucura. Ele não queria casar, não que fosse do tipo anti-casamentos, ele só não queria estar fazendo aquilo obrigado. Só não queria que fosse com alguém que ele nem conhecesse.
admirava-se no grande espelho a sua frente. Seria hipocrisia dizer que nunca tinha sonhado com aquilo, que nunca se imaginou num lindo vestido de noiva como aquele. O que de fato nunca imaginou foi que estaria tão triste em estar ali. Suspirou frustrada dando uma volta e verificando se estava tudo em ordem com o vestido, escutou barulhos na porta e logo seu irmão mais velho estava sorrindo ao olha-la.
_ Você está tão linda, pequena. – disse emocionado a irmã, que penas assentiu com um sorriso sem mostrar os dentes. – Sorria, você fica tão mais bela quando o faz. – pediu o mais velho podendo ver o quão tristes estavam os olhos da outra.
_ Eu já estou aqui Philip. Já vou fazer isso por vocês e pelo papai, mesmo não querendo. Apenas peço que não me obrigue a mostrar uma felicidade que eu não carrego no momento. – pediu e o rapaz concordou. Sabia que não era do agrado da irmã estar ali. Também não era do seu, mas tinha coisas maiores envolvidas.
_ Tudo bem. Vamos, está na hora. – seguiram em direção ao grande corredor e quando a música começou, respirou fundo e pôs-se ao lado do pai seguindo em passos firmes até o altar.
via a moça se aproximar e teve que admitir, ela era bonita, não que esse fato mudasse alguma coisa na sua concepção. também o observou enquanto caminhava para perto parando ao seu lado no altar, notou uma aura misteriosa que o deixava charmoso. Balançou sutilmente a cabeça como se pudesse tirar esse pensamento dela. Por um segundo seus olhares se encontraram, mas tão rápido ambos desviaram e passaram o resto da cerimônia assim.
Os noivos passaram a maior parte da celebração tentando evitar qualquer tipo de contato, até mesmo palavras. Por mais que soubessem estar errados por isso, culpavam um ao outro por aquela situação. Mantinham apenas olhares atentos, como se estivessem em um jogo de estratégia, onde tinham que estudar minuciosamente cada passo do inimigo.
Aos poucos os convidados foram se despedindo, ao ponto de ficarem apenas os familiares e cada vez era mais desconfortável para e se imaginarem sozinhos. Não tinham ideia do que fariam ao se encontrarem somente os dois, nem uma palavra se sequer tinham trocado ainda sem contar o sim de momentos atrás.
_ Acho que já devemos ir. – o pai do noivo se pronunciou ao notar estarem somente os pais e os noivos no salão.
_ Vamos deixar vocês na nova casa e de lá iremos embora. – dessa vez foi o pai de quem se manifestou e ela apenas balançou a cabeça em concordância. Depois de uma pequena discussão decidiram que os noivos precisavam ir juntos, portanto iriam com os pais de e logo atrás iriam o pai e os irmãos de para se despedirem da mesma. Os dois seguiram todo o caminho olhando a paisagem que passava rápida pela janela do carro. Ao chegarem, à primeira coisa que passou pela cabeça de ambos foi o quão bonita era a casa. A mesma tinha um grande e bem cuidado gramado na frente, acompanhado da famosa cerquinha branca que parecia gritar em letras neon “casa de família”. Subiram os poucos degraus que permitia o acesso a grande porta de entrada abrindo a mesma. Por dentro era tão bonito quanto por fora, a sala carregava tons claros de azul, cor que descobririam mais tarde ser a preferida de ambos. Os móveis tinham um ar rústico com detalhes tão pequenos que pareciam ter sido talhados com uma fina agulha. Toda sofisticação se contrapondo com um tapete simples na cor creme, deixando o ambiente mais acolhedor ao mesmo tempo em que envolvia o conforto que a modernidade podia trazer e a beleza e elegância da antiguidade. Descarregaram a bagagem de ambos e prepararam-se para as despedidas. À medida que a possibilidade de ficarem sozinhos se aproximava era como se algum tipo de adrenalina fosse liberada por seus corpos, deixando seus batimentos mais rápidos e a respiração mais acelerada.
_ Aproveitem a noite de núpcias. – ouviram a ultima frase enquanto acenavam em despedida. Um leve tremor percorreu o corpo de ao ouvir o barulho da porta se fechando. Aquilo indicava que ela estava sozinha com o seu agora, marido…



II - “Sejamos abrigo um do outro, para que nas noites sombrias e vazias, possamos saber aonde se encontra o nosso melhor aconchego.


fechou a porta, demorando-se para virar. O homem ergueu uma das sobrancelhas ao encarar a mulher, que mais parecia uma estátua, de costas pra ele. Tão grande foi seu susto, que parou abruptamente ao ouvir um soluço saindo da mesma. Permaneceu parado sem entender o choro que ouvia.
Nem mesmo era capaz de explicar o porquê de estar chorando, só sabia que num momento pensava no que estaria pra acontecer e no outro seu rosto já era lavado pelo líquido salgado. Não sabia se estava daquele modo pelo que viria a seguir, segundo a lógica de casais normais, a noite de núpcias era uma confirmação do compromisso que haviam acabado de firmar e ela assim como não estava pronta para um casamento, não estava pronta para uma noite de núpcias.
O homem não sabia explicar, mas algo dentro dele se inquietava ouvindo os sons vindos da mulher. Nem mesmo a conhecia, mas sentia uma necessidade estranha de fazê-la parar, de vê-la melhor. Ao notar uma trilha de lágrimas escorrer pela face dela, algo doeu dentro de seu peito. Uma dor estranha, algo como um aviso de que não deveria nunca fazê-la chorar. Incerto, se aproximou até estar de frente à esposa e sutilmente levantou-lhe o rosto, tirando com o polegar uma das tantas lágrimas ali.
_ Podemos ser amigos. Vamos passar bastante tempo juntos, então seria melhor se pudéssemos conviver de maneira pacífica. – disse se sentindo um tolo ao fazer a proposta. Que tipo de homem diz pra serem amigos em plena noite de núpcias? Era o que rondava sua cabeça enquanto esperava algum tipo de reação da mulher a sua frente.
se sentiu extremamente aliviada e um tanto comovida com a atitude de , por um momento chegou a achar que ele forçá-la-ia de alguma forma. Estava tão encantada que lhe beijou rapidamente a bochecha, arregalando os olhos logo depois ao perceber seu ato espontâneo.
_ Acho que podemos ser amigos. – começou ainda sem coragem de olhá-lo depois do contato. – Mas como faremos com os outros? Tenho certeza que nossos pais não aceitariam isso.
Por um momento também pensou nas pessoas que estavam a sua volta e o quão estranho seria pra elas entender o que acontecia ali, mas talvez essa fosse à resposta. Só quem está envolvido diretamente sabe o que realmente acontece e sendo assim, só eles precisavam saber da verdade.
_ Eles não precisam saber. Será nosso segrego. – proferiu as palavras de maneira calma e sentiu uma intensidade única na palavra nosso. Algo deles, mal haviam se casado e estranhamente já tinham algo que só pertencia aos dois, mesmo que fosse um segredo.
_ Podemos apenas disfarçar quando eles estiveram por perto. – confirmou e ela sorriu, o sorriso mais sincero que tinha dado nos últimos dias e a beleza do mesmo não passou despercebido pelo moreno. – Isso dará certo. – exclamou ainda entusiasmada, mas logo algo lhe veio à mente – E o quarto? Como vamos dividi-lo? – a vergonha tomando conta de novo quando fazia a pergunta.
_ Isso não é de fato um problema. A casa é grande, tenho certeza que há um quarto de hospedes em algum lugar e não será incomodo pra mim, ocupa-lo. Só precisamos achar onde ele está. – solucionou rápido o problema e passaram a subir as escadas em busca do cômodo. – Aqui está. Bem ao lado do seu. – exclamou apontando. – Acho que é isso, vou me preparar pra dormir. Tenha uma boa noite. – cumprimento e antes que pudesse seguir, foi impedido por mãos delicadas. Virou-se esperando que ela dissesse algo, mas o que aconteceu foi um pequeno flashback do que havia acontecido no andar inferior minutos antes, os lábios de tocaram sua bochecha, só que desta vez de forma um pouco mais demorada.
_ Boa noite. – respondeu a mulher olhando, pela primeira vez de fato, para os olhos do maior e foi desconcertante a forma com que eles a encantaram – obrigada. – completou se virando e entrando rápida para o quarto, fechando a porta logo depois, ainda encabulada com a intensidade daquele tom âmbar.
Assustou-se ao se deparar com o quarto todo arrumado e suspirou, por todo o cômodo estavam espalhadas velas, flores, incensos, a cama coberta por lençóis de seda. Parece que mais uma vez seus pais estavam interferindo. Arredou como pode as pétalas espalhadas pelo colchão se aninhando no mesmo, fechou os olhos e adormeceu com a sensação estranha de que era errado estar ali sozinha.
se encaminhou para o quarto de hospedes ainda sem entender a si próprio. Era a primeira vez que fazia algo assim, mas era um motivo especial, ela de uma forma muito estranha parecia especial. Sabia que nunca teria coragem de obrigar nenhuma mulher a nada, acima de tudo seus pais sempre o ensinaram a respeitá-las da maneira mais honrada e por mais que não assumisse, ele era um cavalheiro. Ela parecia tão inocente e assustada que seria incapaz de tocar em um fio de cabelo seu se ela não permitisse.
Colocou a cabeça no travesseiro deixando sua mente vagar tentando achar o sentido de ter sido tão doce e carinhoso com a mulher, que no momento dormia ao quarto ao lado, o qual era destinado aos dois...



III - Esta canção que eu canto é só para você. O amor compôs o tema e o poema vem de você.


Ambos se surpreendiam cada dia mais que conviviam juntos…
A timidez esteve presente nos primeiros momentos, afinal ainda eram estranhos, mesmo que tivessem um acordo de amizade, ainda eram estranhos um pro outro. Em momento nenhum chegou a passar pela cabeça de ambos que seria fácil, sabiam que uma convivência diária permitiria que conhecessem a fundo as qualidades e os defeitos do outro, mas se surpreendiam a cada momento em que se baseavam mais na parte boa do que na ruim que estavam conhecendo.
Com esse tempo, aprenderam também os gostos. ficou horrorizado quando descobriu que tomava café puro sem qualquer tipo de adoçante e ela quando descobriu a estranha mania que ele tinha de andar pela casa só de cueca. Descobriram suas comidas favoritas e foi um dos momentos mais engraçados na vida de ambos quando resolveram cozinhar juntos.
...
_ Não é assim, . – o moreno se sobressaltou com a voz da garota, que riu alto com a careta dele – Assim você vai derramar tudo, tente mexer devagar, assim. – explicou enquanto guiava as mãos do maior mexendo o molho que estavam preparando.
_ Assim? – perguntou se virando e deixando o rosto dos dois colados devido à forma que estavam posicionados. se afastou o mais rápido que seu subconsciente permitiu, o que não quer dizer que foi necessariamente rápido já que ela passou certo tempo perdida nos olhos do rapaz. Ah! Aqueles olhos lhe eram um problema desde que os encarou profundamente na noite de núpcias, o mistério que aquele âmbar trazia a deixava inquieta.
_ Você aprende rápido. – elogiou vendo um sorriso genuíno nos lábios do aprendiz.
_ Parece bom. – o cheiro pelo menos estava, na opinião de , mas nenhum dos dois pode desfrutar daquela refeição, já que depois de pronta em um deslize a travessa foi toda para o chão o que só lhes permitiu rir enquanto limpavam a bagunça. Tanto trabalho pra acabarem em volta de uma caixa de pizza.
...
Em um dos dias, se surpreendeu ao chegar em casa e escutar um som alto tocando Help, dos Beatles. Nunca imaginou que aquele fosse o tipo preferido de música da garota e se surpreendeu ainda mais quando passaram a noite sentados em frente à lareira, dividindo uma garrafa de vinho enquanto discutiam sobre as bandas mais importantes para história da música e para a vida de ambos. Arriscaram até a cantar I Don’t Want To Miss A Thing, do Aerosmith, juntos e se maravilhou com o quão linda era a voz de , do mesmo modo que ele ficou encantado com o brilho nos olhos da moça enquanto a mesma lhe mostrava todos os discos da banda que compunham sua amada coleção de vinis.
Pequenos momentos faziam o dia daqueles dois único, como quando compartilharam seu amor por heróis e como passaram horas discutindo e defendendo os seus favoritos, o que levou a mais uma noite de conversas e risadas, mas não era pra menos, há muito a se discutir sobre Batman e Superman.
...
_ Ele é o cavaleiro das trevas, , não tem como ganhar dele. – argumentou o rapaz com o boneco do homem morcego nas mãos.
_ Claro que tem! Superman, o próprio nome já diz, ele é o super homem. Ninguém é mais super que o super. – exclamou e só depois parou pra pensar no quão lógico foi sua resposta, olhou pra , que a encarava com uma sobrancelha erguida e como se fosse combinado, os dois caíram na gargalhada ao mesmo tempo, uma sincronia agradável de se admirar.
...
Com o passar dos dias, foram se acostumando a uma rotina compartilhada, um sabia os horários e afazeres do outro e se empenhavam em ajudas mútuas para as pequenas coisas da casa.
não admitia, mas começou a esperar ansiosa pela hora em que o moreno saía do trabalho e entrava sorridente pela porta. Quão surpreendente foi quando em mais uma das suas esperas, viu que o mesmo trazia consigo um livro, que momentos depois foi entregue a ela.
_ É pra você, vi que aprecia muito a escrita dessa autora e achei que iria gostar. – falava envergonhado ao admitir que a vinha reparando tão atentamente.
_ Obrigada, vou lê-lo hoje mesmo. – agradeceu mais animada ainda ao notar o nome as sua autora favorita na capa do livro.
_ Espero que me conte a história depois.
_ Será um prazer. Posso até lê-lo pra você. – disse a garota sorridente e praguejou por se encantar tanto com aquele sorriso.
Depois do presente parecia mais tranquila em dizer que tinha feito o prato favorito do rapaz para o jantar, o qual foi totalmente agradável, enquanto saboreavam o mesmo contanto os detalhes daquele dia, sendo iluminados pela luz da vela que a moça havia acendido.
...
_ Deus! Você é um ogro comendo, . – a mulher disse rindo ao olhar a bagunça que o homem fazia, estava com o rosto todo vermelho de molho, parecia uma criança ao se sujar daquela forma.
_ Eu não tenho culpa, isso está delicioso. – exclamou dando mais uma garfada no enorme prato de macarronada.
_ Obrigada pelo elogio, mas você ainda parece um ogro. – lhe lançou um falso olhar irritado e no segundo seguinte estava esfregando a mão suja pelo molho no rosto da garota, a mesma tentou se esquivar, mas isso só fez com que o estrago fosse maior.
_ Agora somos dois ogros comendo. – deu de ombros gargalhando da irritação da mais nova que logo se entregou ao riso com ele. O mesmo pegou um dos guardanapos que repousava sobre a mesa e puxando a cadeira de para o lado da sua, começou a limpar o rosto delicado dela. Vendo a ação dele ela prontamente se pós a fazer o mesmo com seu rosto. Qualquer sujeira que havia ali foi limpa, mas não porque eles se importassem com isso, mas sim porque o contato era agradável demais para ser tão curto. Assim que acabaram se olharam envergonhados e voltaram a comer, esquecendo, muito provável que propositalmente, de voltarem às cadeiras para seus devidos lugares, ficando assim, o mais próximo que a ocasião lhes permitia.
...
Cada momento parecia único com alguma pequena descoberta sobre o outro, cada pequeno detalhe que compartilhavam os aproximava mais. Sem que eles ao menos notassem, já dividiam mais experiências e sensações que muitos casais de verdade...



IV - Entenda que, quem te ama de verdade, ama até os seus defeitos.


Em um desses dias saíram juntos pela primeira vez depois do casamento. Primeiro foram visitar a avó da garota, costume que ela não tinha perdido mesmo depois que se casara e que fazia frequentemente, porém era a primeira vez que ia acompanhada. Depois da tarde agradável com a senhora divertida e de sorriso tão doce quanto o de , resolveu prolongar o passeio e apresentou a garota ao melhor amigo. James sempre fora como um irmão para , talvez por ambos serem filhos únicos, desde pequenos aprontavam juntos e cresceram com uma cumplicidade invejável.
Chegaram ao restaurante e o loiro, que já os esperava, fez questão de ser o mais gentil que conseguiu. Ela era esposa de seu melhor amigo, o mínimo que podia fazer era tentar uma amizade com a mesma, o que foi uma ideia extremamente promissora, permitindo que a moça soltasse altas risadas com as histórias dos dois amigos, e também permitindo que ela conhecesse cada vez mais o homem com quem compartilhava seus dias.
_ Quer dizer que você já teve uma fase de boêmio inconsequente? Vai me dizer que também tocava saxofone, passava as noites ao som de jazz e muita cerveja? – perguntou após ouvir os relatos de James sobre a vida do amigo - Adoraria vê-lo em um terno portando um daqueles adoráveis chapeis. – acrescentou divertida.
_ Eu não era nenhum bêbado, ok? E outra, eu ainda sou um boêmio e pode ter certeza que eu fico lindo de chapéu. – piscou para a garota, que mesmo notando o tom brincalhão nos olhos do moreno, não pode evitar-se corar.
_ Não era nenhum bêbado, mas adorava dançar e cantar no meio da rua de madrugada, principalmente quando as mesmas contavam com postes, eles sempre foram seus parceiros de dança preferidos. – James contou a moça gargalhando ao receber um olhar intimidador do moreno.
_ Pare de lhe contar essas coisas, o que achará de mim, gênio? – tentou fazer-se de ofendido diante dela que tinha um sorriso nos lábios ao admirar a relação de irmandade dos homens a sua frente. Era inegável o monte de histórias que passaram juntos e o carinho que carregavam pelo outro, apenas no modo brincalhão que se tratavam enquanto James tentava, de brincadeira, acabar com a moral de e como o mesmo sempre se referia ao amigo como gênio, devido ao grande conhecimento acadêmico que o mesmo possuía, como ela mesma já havia comprovado em apenas poucas horas de conversa.
_ Isso porque eu ainda não contei a ela que você fugiu de casa quando era criança. – os olhos de se arregalaram temendo ter sido algo grave e vendo sua expressão assustada, logo tratou de explicar o acontecido.
_ Não foi nada de mais. Eu tinha sete anos e estava jogando bola na sala de casa e acidentalmente eu quebrei um dos vasos da coleção da minha mãe. Como eu sabia que ela os adorava e que me daria uma bronca enorme e um castigo maior ainda, já que tinha me avisado para não brincar de bola ali, eu fugi. Não propriamente fugi já que eu fui para a torre da casinha da arvore que tínhamos no quintal, mas eu fiquei lá dois dias sem dar notícias. Quando me acharam minha mãe estava tão feliz que nem se lembrava mais do vaso quebrado.
_ Você era impossível, . – a garota exclamou ainda surpresa com ele.
_ Viu, gênio? Está abaixando ainda mais minha moral. – fez uma expressão de desagrado fazendo o amigo rir.
_ Vou aumentar ela um pouco então, cara. – James trocou um olhar cúmplice com o moreno – , você sabia que o praticamente me salvou de um afogamento?
_ Mesmo? – perguntou desconfiada, já pensando se tratar de mais uma brincadeira dos dois. – Como foi isso? – o rapaz começou a descrever como tudo havia acontecido sendo corrigido diversas vezes por que aumentava ou diminuía a história com pequenas mentiras a seu favor fazendo com que James o desmentisse e risse ainda mais da discussão que os dois travaram sobre a originalidade do fato.
_ Se vocês não entrarem num acordo eu não vou entender nada.
_ Ok, eu falo e você cala a boca, certo? – pediu ao loiro que concordou com um revirar de olhos – Vamos dar um pouco de emoção ao fato. Bom, era uma vez dois melhores amigos, um moreno alto e esbelto e um loiro nem tão esbelto assim – apontou em direção ao outro homem sentado à mesa fazendo-o protestar. fazia uma voz parecida com a de um locutor antigo de rádio, deixando o episódio mais cômico – eles bebiam e conversavam no quintal de um deles onde havia uma bela piscina. Como já estavam um pouco alterados pela bebida, um bem mais que o outro e a prova disso é que este ria como uma hiena de qualquer coisa que se dissesse...
_ Eu não ria como uma hiena. – protestou James interrompendo a história.
_ Que bom que você esclareceu quem é que estava pior naquele dia, mas agora me deixe continuar a história. Como eu dizia, os dois estavam um pouco alegres de mais e foi quando o que ria como uma hiena resolveu dar um mergulho, pulando com tudo na piscina enquanto segurava uma boia em formato de sapo. Até ai tudo parecia estar correndo bem, isso é claro, se a piscina tivesse mais de quarenta centímetros de água, o que definitivamente não era o caso. Assim que ele pulou, foi direto com o rosto no chão e como ele estava grogue não conseguia se levantar. O moreno vendo seu amigo em uma situação tão perigosa, não mediu esforços e nem pensou nas consequências ao bravamente pular naquela piscina e tirar seu companheiro dali. Era arriscado, sem dúvida alguma, mas não havia tempo para pensar nele mesmo quando era uma vida que estava em jogo. – suspirou dramaticamente - E foi assim que o moreno esbelto, vulgo eu, – apontou pra si com um olhar convencido - salvou o James das profundezas obscuras da piscininha da priminha dele.
_ Você se afogou em uma piscina infantil? – apontou para James que deu de ombros fazendo-a rir ainda mais.
_ Eu não estava muito bem aquele dia.
_ Mas isso não tira o fato de que eu o salvei de um afogamento, então ponto pra mim. - conclui feliz.
_ Com certeza, super herói. – a garota fez uma voz imitando admiração, levando os três ao riso. – Acho que eu nunca ri tanto assim na minha vida. Eu não saía muito, pra falar a verdade eu não saia praticamente nunca. Depois da morte de mamãe, eu passava a maior parte do tempo presa em casa. – comentou a garota em um agradecimento a bela noite que estava tendo.
Quem visse a cena, diria que se tratava de três amigos de infância, onde dois formavam um belo casal a julgar pela troca constante das mãos se acariciando mesmo sem que percebessem. O que não podemos dizer o mesmo de James, que notara claramente a conexão dos dois, mas resolveu não comentar, deixaria pra fazer isso quando ambos já tivessem percebido o que sentiam, ai zoaria o amigo dizendo que já sabia há tempos, afinal o que melhores amigos fazem de melhor, se não, implicarem uns aos outros?



V - Que importa o mal que te atormenta, se o sonho te contenta e pode se realizar?


_ Parece que já tiramos tudo. – a garota suspirou exausta pela correria que os dois estavam desde que os pais do rapaz ligaram avisando que passariam um tempo na casa deles, o que significava que não poderiam dormir em quartos separados como estavam acostumados. Pra quem quer que fosse eles eram um casal, marido e mulher, e se quisessem continuar aquela relação sem que ninguém se intrometesse, deviam se portar como tais na presença dos demais.
_ Parece que sim. – comentou o moreno ao examinar o cômodo com uma passada de olhos. Encarou novamente a garota e suspirou antes de retornar a falar – Eu sinto muito por tudo isso, , eu não tinha ideia que eles resolveriam passar um tempo conosco.
_ Está tudo bem, , não é como se um de nós pudesse prever isso. Você não é nenhum lobo mau que me atacará enquanto eu estiver dormindo e além do mais, será apenas por uma semana. Podemos sobreviver no mesmo quarto por esse tempo. – completou sorrindo fazendo o moreno a acompanhar.

_ Como estão, meus queridos? – ouviram a voz entusiasmada assim que abriram a porta depois de escutarem a companhia. rodeou os grandes braços pelo corpo da senhora depositando um beijo demorado em sua bochecha, afinal de contas estava com saudade dos pais. parecia um pouco perdida no começo, mas se entregou ao abraço da sogra quando a mesma lhe estendeu um sorriso acolhedor, fazendo sorrir também enquanto desfazia o abraço do pai.
_ A casa está muito bonita, vejo que mudaram um pouco da decoração original.
_ Quisemos dar nosso toque pessoal, pai. – o mais velho concordou enquanto ajudava o filho a subir com a bagagem para o, agora desocupado, quarto de hospedes.
_ É melhor descermos logo para o jantar, você sabe como sua mãe fica quando nos atrasamos para as refeições. – o mais novo concordou rindo e chamando a atenção das duas mulheres assim que chegaram à sala de jantar.
_ Já ia chama-los pra se apressarem, sabem como me desgosto com atrasos perante a mesa. - a matriarca comentou fazendo os recém-chegados rirem ao comprovarem a veracidade da afirmação anterior.

_ Isso está delicioso, .
_ Obrigada – agradeceu tímida aos elogios dos sogros em relação à comida, mas não podia deixar de dar os devido créditos à ajuda que recebeu do marido na cozinha – Mas não creio que teria sido tão bem sucedida se não tivesse me ajudado. – completou vendo o rosto do rapaz ganhar uma coloração um pouco mais avermelhada que o comum e sorriu ao se lembrar do quão difícil era deixa-lo envergonhado como agora.
_ Isso é ótimo, seu pai costumava me ajudar nos jantares antigamente, ele fazia uma torta de maçã deliciosa, pena que anda preguiçoso demais nesses últimos dias. – a matriarca comentou levando todos na mesa ao riso com a careta que o homem fez diante do comentário da mulher.
_ Já estou ficando velho, querida, ia mais te atrapalhar que ajudar, mas não posso negar que aqueles foram bons tempos. Meus avos costumavam dizer que o casamento é aperfeiçoado com as pequenas coisas do dia a dia que os cônjuges decidem fazer juntos, como uma troca de cumplicidade. – terminou acariciando a mão da mulher que estava ao seu lado impedindo que ambos notassem o sorriso tímido e os olhares conectados do casal mais jovem.

_ Boa noite. – desejarem antes de adentrarem o quarto, por um segundo um Déjà vu passou pela cabeça de ambos ao associarem a mesma tensão presente ali à tensão da noite de núpcias, mas logo suas expressões suavizaram ao se olharem. Tinha se passado bastante tempo desde aquele dia e agora era diferente, eles não eram mais meros desconhecidos.
_ O que está fazendo? – questionou assim que o mesmo pegou seu travesseiro e acomodou o mesmo em uma poltrona que ficava do lado esquerdo do quarto.
_ Estou me preparando pra dormir.
_ Mas ai na poltrona? – voltou a questionar.
_ Sim, não tive tempo de trazer outro colchão para o quarto, então vou ter que me contentar com isso mesmo. – respondeu sem entender aonde a mulher queria chegar com aquelas perguntas. viu o homem que era grande demais para o tamanho do móvel se acomodar no mesmo, por mais que ele tentasse não conseguia achar uma posição adequada para dormir fazendo a mulher se sentir desconfortável ao vê-lo daquela maneira, afinal ela teria uma cama enorme enquanto ele ficaria desconfortável demais naquela poltrona minúscula.
_ Você não precisa dormir ai, é pequeno demais pra você.
_ Não tem outro lugar, , e se eu for para o sofá da sala vai ser pior se meus pais me virem lá.
_ Você pode vir pra cama comigo. – arregalou os olhos assim que acabou de dizer, logo tentado concertar a frase – Quer dizer, você pode dormir comigo… não, quer dizer… não desse jeito, dormir mesmo.. de olhos fechados e tudo – a garota se enrolou fazendo rir e admirar o quão vermelha estavam suas bochechas.
_ Eu entendi o que você quis dizer e se não se importar eu aceito. – apenas concordou com a cabeça ainda sem coragem de encara-lo nos olhos. Ambos se acomodaram ainda incertos sobre a cama e tentaram o mínimo de contato possível. Com o passar dos minutos, sentiu o corpo ao seu lado mais leve como se ela já estivesse dormindo e como se para comprovar se virou dando as costas ao homem e se deitando numa posição mais confortável.
Uma leve brisa entrou pela janela que eles tinham esquecido de fechar fazendo os pelos dos braços do moreno se arrepiarem e o corpo feminino ao seu lado se encolher pelo frio, inconscientemente levou seu braço até a cintura da esposa e os entrelaçou ali, trazendo o corpo da mesma pra mais próximo do seu.
Sentir as mãos macias do marido lhe segurando firmemente a cintura fez o rubor correr seu rosto novamente, mesmo que pra ele foi impossível de ver. acreditava que estava inconsciente pelo sono, por isso se acomodou de forma tão intima a ela, mas mesmo que assim fosse ele não deixava de estar estranhamente feliz por tê-la tão perto, mal sabendo que ela sentia o mesmo.
acordou mais cedo que o comum, mas mesmo assim se sentia extremamente leve ao acordar, algo que era definitivamente raro. Assim que começou a projetar o corpo pra cima, sentiu que seus braços estavam presos a algo e sorriu ao se lembrar que não se tratava de algo e sim de alguém. dormia em paz, com o semblante sereno, iluminada pela pouca luz existente no quarto, proveniente da janela que ainda se encontrava aberta. Era estranho como ele sabia cada detalhe dela, seu tom de pele, a maciez dos seus fios de cabelo, o tom rosado de seus lábios, até mesmo a forma como ela suspirava graciosamente durante o sono. Uma coisa ele tinha que admitir, a achava linda, uma das mulheres mais deslumbrantes que já virá e contraditoriamente a qual ele não queria só uma única noite e nunca mais vê-la, ele queria protegê-la, queria cuidar dela. Vagarosamente se levantou da cama, sabia como seria constrangedor se quando ela acordasse notasse estar envolvida em seus braços, já que pra ele, ela não havia percebido a posição na qual dormiram. Mas sempre esteve ciente do contato de ambos desde o começo da noite, mas não diria, mesmo porque, de uma forma estranha pra ela, aquilo parecia certo. Parecia que ali era o lugar onde ela deveria estar. Escutou o barulho de porta se fechando e levantou-se ao constatar que era a do banheiro do quarto indicando que já não estava mais no mesmo. Tentou ser o mais depressa possível ao se trocar e passar rapidamente o pente pelos cabelos se organizanda para descer, estava envergonha e queria evitar olhar diretamente para os encantadores orbes do homem naquele momento, já que sabia o quão desconcertante isso seria vendo que não havia um segundo sequer que, depois de despertar, não se lembrasse do quão maravilhoso foi dormir em seus braços.
...
_ Bom dia – estava tão concentrada ao arrumar a mesa que ao ouvir a voz atrás de si, deu um pulo levando as mãos até o coração em uma tentativa falha de normalizar seus batimentos cardíacos. Sua sogra veio ao seu encontro se desculpando e logo após desejando-a um bom dia. A mais velha se juntou a moça terminando de por a última xícara na mesa enquanto a outra levava uma cesta repleta de pães para o móvel, completando todo o necessário para o café da manhã. Conversavam animadamente, o que era uma surpresa para ambas, visto a intimidade que haviam tomado em tão pouco tempo. Depois da morte da mãe, sempre ficou rodeada por pessoas do sexo masculino e era bom poder conversar e trocar experiências como uma mulher tão sábia assim, além do mais se sentia acolhida pela forma doce e carinhosa com a qual sua sogra sempre lhe tratava.
...
_ Sua tia nos chamou para o jantar de aniversário do seu tio e pediu para você fosse com . – o homem se dirigiu ao filho enquanto todos ainda estavam à mesa. lançou um olhar questionador para a esposa, como se pedisse seu consentimento, o que de fato era verdade, não queria que ela fosse por qualquer tipo de obrigação, mas sim porque quisesse passar esse tempo ao seu lado e ao lado de sua família. A mulher confirmou minimamente com a cabeça fazendo o homem sorrir, eles já haviam criado um tipo de comunicação interna e conseguiam se entender magnificamente apenas por olhares. O moreno comunicou ao pai que os acompanhariam até o almoço.
_ Seus primos vão adorar rever você, querido. Luke tem perguntado de você sempre que nos vê, você e o pequeno tem uma ligação incrível, filho. – a progenitora de comentou feliz, fazendo o mesmo sorrir grande ao se lembrar do primo mais novo, que significava pra ele um irmão caçula o qual adora mimar e lhe ensinar coisas novas.
_ Será uma ótima oportunidade para que eu possa lhe apresentar . – comentou olhando para a mais nova – Você vai se encantar com ele, Luke é simplesmente incrível. – sorriu ao notar o entusiasmo de ao falar do primo.
_ Será um prazer conhecer sua família melhor. Só creio que eu tenha hora certa para voltar para casa. Não posso passar das onze, visto que meu irmão ficou de ligar pra cá nesse horário pra saber como estou. – a moça justificou recebendo um aceno de todos.
Mais tarde naquele dia, conheceu o garotinho pessoalmente e pode compartilhar sua noite com ele e um que parecia tão criança quanto o primo enquanto brincavam no jardim dos fundos da casa de sua tia. Era mais um lado que ela não imaginava do rapaz, mas vê-lo tão empenhado em fazer a criança sorrir lhe tocou profundamente. Era nítido que ele era capaz de tudo para fazer feliz as pessoas que amava e como era adorável a capacidade que tinha de lidar com o pequeno. Todos esses pensamentos a levaram até uma imagem que era resumida nela, o rapaz e uma pequena criança no meio dos dois, uma cena tão bonita que quando notou já tinha exteriorizado essa imagem em apenas uma frase.
_ Você será um bom pai. – disse só parando para pensar na imensidão de suas palavras depois. sorriu quando sua mente lhe trouxe a mesma imagem que a moça visualizara a pouco e ele pode perceber mais que isso. Sua frase, mesmo que intimamente, queria dizer que ela o queria como pai de seus filhos. Eram casados, o que queria dizer que herdeiros eram esperados e ver que ela o imaginava como uma família, criando alguém que viria deles, encheu seu peito de algo que ele não soube identificar, mas era bom. Definitivamente bom...



VI - Você pode sentir o amor essa noite? Você não precisa olhar muito longe.


_ Obrigada meus queridos, foi ótimo passarmos esses dias com vocês. – a mãe do rapaz o apertava num abraço, logo depois apertando uma de suas bochechas fazendo com que risse da careta de .
_ Vocês sabem que serão sempre bem vindos. – pronunciou enquanto se despedia do pai com um abraço.
_ Não fale isso senão moraremos aqui de vez. Aquela casa fica grande e silenciosa demais sem você, meu filho. Você era o terror do bairro, garoto. – o mais velho se pronunciou levando todos ao riso – Antes que eu me esqueça, obrigado pela bela hospitalidade, , você foi maravilhosa conosco.
_ Oh, não foi nada. Foi um prazer tê-los aqui. – a moça sorriu sincera se despedindo dos sogros.
_ Agora é melhor irmos ou chegaremos muito tarde. – os quatro acenaram e pouco tempo depois, havia somente os dois de frente a grande casa.
_ Acho melhor subirmos, já está tarde. – se pronunciou e enlaçou a cintura da moça com um de seus braços deixando o outro livre para fechar a porta. Subiram as escadas ainda abraçados, mas sem de fato se darem conta disso. Já estavam tão acostumados a pequenos contatos assim, que nem percebiam como essas pequenas ações os aproximavam. Pararam em frente à porta do quarto que passaram a dividir enquanto os pais do rapaz estavam ali e só então perceberam que aquilo não era mais necessário, poderiam muito bem voltar para o antigo modo em que dormiam, separados por um corredor. Permaneceram um tempo parados ali, pareciam perdidos em pensamentos quando adentraram o cômodo. seguiu até o seu lado da cama e o que mais queria era se deitar ali e passar a noite ao lado da mulher, com a mesma em seus braços, mas não teria coragem de pedir por isso, não queria soar inconveniente, mesmo que quisesse muito continuar ali. Permaneceu parado com o travesseiro em mãos, no fundo tinha esperanças que se sentisse como ele e quisesse dormir em sua companhia como vinham fazendo nos últimos dias, mas precisava de algum sinal dela para fazer isso, o qual ela não parecia querer mostrar. Suspirou soltando todo o ar que prendia durante sua espera e desistindo seguiu até a porta do quarto.
_ Vou voltar para o meu quarto, levo as minhas coisas amanhã. – o moreno pediu internamente pra que ela o impedisse de realizar tal feito, mas ao ver que a mesma permaneceu quieta, apenas desejou uma boa noite antes de sair em direção ao quarto de hospedes, que naquele momento voltava a ser o seu quarto.
Os minutos pareciam não passar para ambos, se reviravam na cama, mas nenhum resquício de sono parecia colaborar com eles. Estavam inquietos e aflitos. por sentir falta do calor dos braços do maior a sua volta e por sentir falta da paz que ouvir o ressonar da mulher ao dormir lhe trazia. Por mais que não tivessem passado tanto tempo diante desses detalhes, eles pareciam essenciais demais agora que tinham os conhecido. Parecia tão fácil se acostumar com tudo, mas era extremamente frustrante se desacostumar.
se sentou sobre o colchão, era nítido como não conseguiria dormir, pelo menos não sem ele do lado. Não sabia dizer quanto tempo ficou parada olhando pela janela vendo as cortinas se movimentarem pela suave brisa que entrava por ela, mas de fato não prestava atenção nesse detalhe. Sua mente estava ocupada demais em uma batalha interna, de um lado estava à vontade de ir até o outro quarto e se aconchegar ao lado de . Mas do outro lado estava toda a sua insegurança e a vergonha que se apossava dela. E se ele não a quisesse lá? Afinal ele poderia ter pedido pra ficar, mas preferiu ir dormir em outro quarto. Mas e se ele estivesse tão confuso quanto ela. Se ele tivesse medo como ela tinha de traçar os poucos passos que a colocariam do seu lado. Tantos se e mas faziam sua cabeça girar e quando viu já estava de pé disposta a dar os passos tão decisivos.
Aquele corredor nunca lhe pareceu tão grande, da mesma forma que aquela porta nunca lhe pareceu tão imponente. Pensou em voltar, mas se amaldiçoou internamente quando inconscientemente sua mão girou a maçaneta da porta, e então entrou no cômodo. Sentiu seu rosto esquentar ao notar que o moreno parecia dormir tranquilamente enquanto ela tinha os pensamentos atordoados com todas aquelas coisas. Desanimou ao imaginar que só ela sentiu falta do outro ao seu lado. Virou com a intenção de ir embora sem que ele pudesse perceber que ela estivera ali, mas foi impedida ao ouvir a voz que tanto a desconsertava pronunciar seu nome.
_ ? – chamou a garota que pareceu congelar na mesma posição. Passara tanto tempo tentando criar coragem para estar ali que se esquecera completamente de pensar no que falaria quando estivesse feito. Virou de frente para o homem que trazia um olhar mesclado em confusão e alegria, se sentiu mas leve quando percebeu esse ultimo sentimento nos orbes castanhos, talvez ele estivesse feliz por vê-la ali.
_ Eu vim ver se está tudo bem. – forçou-se a falar ao notar que esperava algum tipo de reação dela, mas tinha certeza que aquilo tinha soado fajuto demais pra que ele acreditasse. O homem fez um gesto com as mãos pra que ela se aproximasse, o que mesmo incerta ela fez. se ajeitou sobre a cama ficando sentado ao seu lado, pegou uma das mãos da moça, que tremeu levemente, colocando-a entre as suas. – Eu não queria te acordar, eu só... – sua frase morreu quando ele tocou suavemente seus lábios com os dedos, como se dissesse que ela não precisava explicar nada. E ela de fato não precisava, afinal, ela estava ali. Ela foi até ele e isso era tudo que lhe importava. Passaram alguns segundos se olhando exatamente na mesma posição, sempre se comunicavam pelos olhares e estavam fazendo isso agora, tentando mostrar tudo, que era tão difícil explicar, com os olhos. O homem aproveitou que seus dedos permaneceram parados sobre os lábios de e começou a acariciá-los suavemente, tendo o prazer de ver os olhos da mulher se fecharem em deleite. Continuou aquele carinho enquanto aproximava sutilmente um rosto do outro e sem conseguir esperar mais colou sua boca a dela. Aquilo foi o estopim para tudo que sentiam, como se uma luz fosse ligada instantaneamente sobre seus pensamentos, sobre seus sentimentos. Naquele momento eles simplesmente descobriram o que sentiam.
Foram sensações totalmente novas que aconteceram ali. estava encantada, principalmente quando via a expressão no rosto do homem ali presente, ver seus olhos quase fechados formando uma pequena ruguinha em sua testa, sua boca estava semiaberta soltando uma respiração quente e abafada sobre seu rosto que fazia os pelos de sua nuca arrepiarem e um frio lhe subisse a espinha. Olhando na imensidão que aqueles olhos âmbar lhe traziam, sentiu uma sensação de nostalgia ao dividir aquele momento com ele. E ali, no calor daquela ação, teve certeza que não havia outra pessoa no mundo inteiro com quem quisesse ter aquele momento se não com o moreno a sua frente. A mesma certeza se passava pela mente de , não haveria mais ninguém com quem pudesse sentir aquilo tudo, não havia nada que pudesse o fazer sentir-se melhor do que tê-la tão perto, tão entregue. Tão sua.
Por mais irônico que possa parecer, a primeira noite não aconteceu na noite de núpcias e tão pouco no quarto destinado a eles. Foi no quarto de hóspedes onde ambos se entregaram juntos aos sentimentos que um despertava no outro. Encararam-se e puderam ver que ali tinha algo muito maior do que um dia chegaram a imaginar.



VII - E aqui está você, somente você. A mesma visão, aquela do sonho que eu sonhei.


Depois de tudo que viveu na noite e antes de adormecer com ela em seus braços, a ouviu murmurar uma frase que mudaria a vida de ambos dali pra frente.
acordou sentindo algo úmido e aconchegantemente quente sobre seu rosto, demorou apenas alguns segundo para perceber que era acordada com um suave beijo na bochecha. Espreguiçou minimamente tirando os cabelos que caiam sobre seu rosto e levantou o olhar dando de cara com uma bandeja de café da manhã muito bem arrumada, com direito a um vasinho com uma única rosa amarela, sorriu largo ao ver que o homem havia se lembrado de qual era sua flor preferida. Sentou-se, segurando o lençol para cobrir seu corpo coberto apenas pela lingerie. Olhou ao redor, dando de cara com lindos olhos âmbar. O moreno a seu lado não estava muito diferente dela, tinha um sorriso impossível de ser contido nos lábios e trajava apenas uma boxer azul marinho, que no ponto de vista dela, lhe caia incrivelmente bem, não que fosse novidade já que segundo ela, ele ficaria bonito de qualquer forma, inclusive com os cabelos revirados como estava agora.
_ Bom dia. – o homem disse de forma doce – Espero que esteja com fome, fui eu mesmo quem preparou. – admitiu um pouco envergonhado.
Era estranho como seus corações aceleravam quando estavam perto, ou como suas peles se arrepiavam ao se tocarem, como o ar lhes parecia escasso quando se olhavam nos olhos. Por tanto tempo não quiseram admitir, mas não tinha como negar mais, estava explícito em cada ação, em cada suspiro. Tinha algo maior ali, maior do que um dia eles julgaram ser possível. O que havia entre os dois era o sentimento mais belo e puro que havia no mundo. O modo como queriam estar perto, proteger e fazer o outro feliz só mostrava que era amor. Tão puro e simplesmente, amor.
_ Eu também te amo. – disse a fazendo se engasgar com o suco que tomava. Quando havia dito aquilo a ele na noite passada imaginou que o mesmo estaria dormindo, sua respiração estava tão calma que a levou a crer que ele estava adormecido. Havia sido por isso que tivera coragem de proferir a pequena frase que tinha um significado tão grande. Há tempos havia notado a mudança nos seus sentimentos pelo marido, algo que no começo era gratidão pelo mesmo ter sido tão bom e compreensivo com ela se transformou com os dias de convivência. Os pequenos detalhes do dia a dia lhe mostraram o quão magnífico aquele homem era e como ela não poderia mais viver longe dele. Olhando fundo em seus olhos, lembrou que ele havia acabado de lhe dizer que seu sentimento era mútuo. Ele também a amava. Imediatamente seus lábios estavam colados e o café da manhã esquecido do lado da cama.
...
_ Eu quero que case comigo. – comentou enquanto lhe acariciava o rosto, era majestoso tê-la daquele modo.
_ Nos já somos casados. – ela riu do pedido dele. Ela parecia tão mais solta agora, era como se a vergonha lhe tivesse sumido, afinal tudo que escondiam havia vido a tona na noite passada e naquela manhã.
_ Eu sei, mas agora é diferente. Sei que não podemos fazer toda uma cerimônia pra isso, mas. – o homem parou pegando delicadamente a mão de e retirando o anel que tempos antes ele mesmo havia colocado. Levantou-se a levando junto, tirou seu próprio anel e entregou a ela, que ainda parecia confusa.
_ O que você está fazendo ?
_ Não preciso de convidados ou uma grande festa, eu só preciso que você me aceite como seu marido. Como alguém que estará ao seu lado sempre, alguém com quem você terá uma família, alguém que você ame e que te ama de volta. Você me aceita? – pediu sorrindo.
_ É claro que eu aceito. – respondeu rápido, mal acreditando que estava vivendo aquele momento. – Você me faz tão feliz, . Desde o começo, a forma como foi doce e bom me mostrou o quão sortuda eu sou por te ter. Você é o homem mais maravilhoso que eu se quer poderia sonhar. Será uma honra ser sua. Eu te amo tanto, querido. – completou sua declaração lhe cedendo à mão para que o mesmo pudesse recolocar sua aliança, fazendo o mesmo com a do marido. Ao final, seus corpos estavam entrelaçados e seus corações unidos.
Tudo que aconteceu só lhes ensinou que, mais válido do que uma paixão inesperada, é o amor construído aos poucos. O sentimento que tinham um pelo outro mostrava que é de pequenas ações, pequenos gestos que surge o amor mais bonito. O amor que cuida, que protege, o amor que faz feliz. Então eles seriam felizes, pois eles tinham amor. Eles construíram seu próprio amor.
Um mundo ideal, um mundo que eu nunca vi. E agora eu posso ver e lhe dizer que estou num mundo novo com você.



The End



Nota da autora: (sem nota)

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