Miss El






– Você está atrasada! - a voz rouca soou assim que atendi ao telefone, após ignorar suas ultimas quatro ligações naquela manhã - Se não chegar em cinco minutos, juro que vou comer os cookies que minha mãe mandou te trazer.
– Não se atreva a encostar nos meus cookies ou será uma pessoa morta. – por mais que tenha tentado soar assustadora, ouvi o riso de Rupert ressoar na linha enquanto já podia notar sua silhueta do outro lado da rua, em frente ao grande letreiro do Today's News.
– Você realmente consegue intimidar alguém com esses tipos de ameaça? – perguntou enquanto me entregava o pequeno pote que cheirava maravilhosamente bem - Não sei como os caras maus te levam a sério?
– Eu posso ser bem assustadora se preciso. – argumentei depois de depositar um beijo de bom dia em sua bochecha. Entramos na sede do jornal caminhando em direção ao andar destinado a nós, cumprimentando o fluxo constante de pessoas que passava apressada.
– Talvez, ou talvez eles só fiquem um pouco atordoados por te verem no seu uniforme colado. – comentou quando estávamos apenas os dois no elevador.
– Vou desconsiderar seu ultimo comentário levando em conta que você me ajudou a fazer meu uniforme.
– Por isso mesmo, eu sei bem como ele é. Se você não fosso como uma irmã mais nova pra mim, teríamos sérios problemas.
– Você não era tão pervertido assim, garoto.
– É isso que a cidade grande faz com você. – piscou caminhando em direção a sua mesa. Depositei minha bolsa sobre minha mesa que ficava exatamente ao lado da sua e me acomodei na cadeira finalmente abrindo o pote que Rupert tinha me entregado lá em baixo. Sorri ao sentir aquele cheiro maravilhoso e uma nostalgia me invadiu ao me lembrar da doce mulher que produzia aquelas perfeições em formas de cookies. – Mudando de assunto, porque não me atendeu antes?
– Estava meio ocupada tentando achar algo sobre o roubo no Banco. – respondi colocando um dos cookies na boca – Deus, como isso é maravilhoso! Estava com saudades. – exclamei com a boca cheia fazendo-o me olhar rindo.
– Já que comentou, mamãe te espera no próximo dia de Ação de Graças, disse que jantaremos todos em família nem que ela tenha que vir te buscar amarrada, palavras dela. – sorri ao imaginar a voz de Meguie dizendo exatamente isso. Ela sempre foi algo muito parecido com uma mãe pra mim.
– Vou tentar o possível, quem sabe na próxima não tenha nenhum louco tentando destruir a cidade ou roubando o Banco Central me fazendo voltar no meio do caminho.
– Você conseguiu achar alguma coisa?
– Tirando o fato de que o assaltante conseguiu roubar um montante considerável e sair sem maiores problemas, não, não temos nada. Estranhamente não consegui encontrar uma testemunha se quer em toda a vizinhança.
– Talvez daremos mais sorte se formos como simples jornalistas mesmo. – concordei me levantando e preparando um pequeno bloco de anotações.
– Dermott e Oneil, onde pensam que vão? – gemi ao escutar a voz de Cely me virando vagarosamente para dar de cara com nossa chefe com os braços cruzados.
– Vamos tentar alguns depoimentos sobre o assalto no Banco. – respondeu Rupert.
– Robert já está encarregado disso e eu tenho outros planos pra vocês. Hoje o trabalho dos dois é cobrir a corrida do Circuito de Pomper. O evento de hoje pode dar o prêmio ao Asper com dez rodadas de antecedência e como o repórter da coluna de esportes está doente preciso de alguém pra fazer a matéria.
– E porque nós? A matéria sobre o assalto do banco ainda está incompleta, nos poderíamos muito bem verificar o local, ou achar mais testemunhas enquanto você manda o Robert pra corrida. – tentei argumentar.
¬– Porque eu acabei de manda-lo pro Banco em busca de alguma coisa nova. Agora parem de reclamar e movimentem as bundas de vocês em direção àquela corrida e só me perturbem de novo quando tiverem a matéria que eu pedi pronta. – terminou se retirando em direção a sua sala me fazendo prender um palavrão.
...
– Ainda não entendo porque Cely não mandou Robert pra cobrir essa porcaria de corrida enquanto nós olhamos o assalto. – resmunguei pelo que pareceu ser a décima vez já que Rupert revirou os olhos bufando do meu lado.
– Será que dá pra você parar de reclamar e se concentrar em achar o tal do Asper?
– E como diabos é esse cara? – perguntei olhando em volta tentando identificar algum cara com roupa de piloto, mas considerando que eu estava em uma das corridas decisivas do campeonato o que mais tinha a minha volta eram pessoas com roupas de corridas. Os fãs desse tipo de esporte são mesmo fanáticos, principalmente pelo piloto de número doze, tive que rir ao ver um garotinho com um uniforme estampando um grande número doze nas costas que mal conseguia para em pé devido ao tamanho do capacete.
– Acho que encontramos nosso cara. – Rupert tirou minha atenção do garotinho me fazendo olhar num amontoado de pessoas, principalmente mulheres, que gritavam em volta de um homem que sorria e acenava.
– Bem, quanto mais rápido começarmos mais rápido terminamos e mais rápido eu vou poder estar jogada na minha cama com uma garrafa de coca na mão tendo minha dose diária de Netflix. – caminhei em direção à pequena multidão sendo empurrada diversas vezes.
– Ei garota, pode ir tirando o cavalinho da chuva que hoje o Asper é meu. – uma ruiva siliconada me segurou pelo braço quando passei por ela, a olhei com uma sobrancelha erguida tentando entender o porquê daquilo.
– Eu não faço a mínima ideia do que você está falando, mas se me der licença eu preciso trabalhar. – tentei me soltar, mas a mulher firmou o aperto no meu braço fazendo com que eu me virasse totalmente pra ela – Olha aqui garota, ao contrário de você eu estou aqui tentando trabalhar e não esfregar meus peitos na cara de alguém. Então eu sugiro que você me solte e me deixe passar antes que eu fique realmente irritada. – falei aumentando o tom de voz e só percebi isso quando toda a multidão a nossa volta tinha parado o que estava fazendo pra nos olhar.
– Não briguem meninas – o homem que estava no centro da multidão falou sorrindo em nossa direção – tem Adam pra todas vocês. – então esse era o tal do Adam.
...
– “Gênio, bilionário, playboy ou filantropo? Qual a personalidade mais aparente de Adam Asper?” Achei que a ideia era só noticiar que ele venceu o campeonato. – Cely comentou abaixando os óculos depois de ler o título da matéria que havíamos deixado em sua mesa no dia anterior.
– Seria se o Senhor Ego não estivesse esgotado com a minha paciência. – respondi dando um sorriso irônico para minha chefe que estava em frente à mesa de Rupert onde nós dois nos encontrávamos.
– Senhor Ego? – questionou logo negando com a cabeça- Quer saber? É melhor eu nem ficar sabendo. A matéria ficou boa vou publicá-la na edição de amanhã. Quanto a vocês, quero os dois na cobertura do assalto no Banco. – Cely apontou de Rupert pra mim me fazendo sorrir instantaneamente, maravilha.
– Achei que você tinha mandado o Robert cobrir essa matéria? – Rupert fez uma careta de dor quando dei uma cotovelada em seu estômago assim que fez a pergunta. O que ele pensa que está fazendo?
– Eu tinha, mas temos novidades no caso. Uma fonte anônima disse que conseguiram imagens de uma das câmeras de segurança.
– Então sabemos quem é o assaltante? – questionei caminhando atrás dela, quando a mesma seguiu em direção a sua sala.
– Não, parece que a polícia não quer divulgar.
– É ai que nós entramos, estou certo? – questionou Rupert.
– Exatamente, me tragam o nome do assaltante e terão a primeira página. – falou virando para nos encarar.
– Odeio quando ela faz isso. – ouvi Rupert resmungar logo após Cely fechar a porta de sua sala na nossa cara.
– Não sei como ainda não se acostumou. – ri seguindo em direção a minha mesa pegando meu bloco de anotações. Era hora de começar a trabalhar.
...
– Obrigado. – ouvi ao longe a voz de Rupert agradecendo a um morador da rua vizinha, ergui uma das minhas sobrancelhas esperando por alguma novidade. – Nada, parece que ninguém viu ou ouviu nada de diferente na noite do assalto.
– Essa é a parte mais estranha, como alguém rouba um dos bancos mais bem vigiado de toda cidade sem fazer ao menos um ruído?
– Não sei. É como se não tivesse acontecido nada de anormal naquela noite.
– Parece que a única forma de descobrirmos é com a filmagem que conseguiram recuperar.
– Ai está outro problema, falei com o detetive Jordan pelo telefone e parece que a polícia se recusa a divulgar o vídeo ou qualquer informação que seja sobre ele. – Rupert comentou contrariado.
– Isso não faz sentido, porque se recusariam a divulgar a identidade do assaltante? Poderiam usar isso a seu favor, com o rosto do criminoso estampando nas fontes de notícia seria muito mais fácil chegar até ele.
– Eu realmente não faço ideia, mas tem outra coisa me intrigando nisso. Se todas as câmeras foram cuidadosamente desfocadas durante o crime como poderia haver apenas uma delas ainda filmando? Quer dizer, pelo que Jordan me disse, a câmera que acharam não foi sequer manipulada, nem uma tentativa pra isso. Se o assaltante é realmente bom pra não deixar nada passar, porque deixaria uma das câmeras funcionando? E exatamente a que daria visibilidade de todo o crime?
– Realmente, parece um descuido grande demais pra quem planeja o assalto perfeito, quase como se fosse de propósito. – completei o pensamento de Rupert chegando à mesma conclusão que ele – Isso, mais o fato da polícia se negar a divulgar as imagens, parece que estão tentando esconder algo. – divaguei vendo-o concordar comigo - E é exatamente isso que vou descobrir hoje à noite.
– O que tem em mente?
– Vou fazer uma visitinha ao setor de provas da delegacia hoje à noite.
...
– Eu sei, o entregador parece estar perdido. Ele está com um carregamento de papel para o setor de impressão, peça alguém pra instruí-lo até o alçapão pra que o mesmo descarregue lá. - Cely falava ao telefone mexendo distraidamente com um de seus brincos de argola quando entramos em sua sala - Me trouxeram a matéria? – perguntou depois de desligar o telefone. Minha primeira reação foi uma careta, aquela era uma ótima maneira de começar o que eu previa ser um péssimo dia.
– Não exatamente. – Rupert foi o primeiro a se pronunciar, eu não havia tido tempo para conversar com ele sobre os acontecimentos da noite anterior, sendo assim ele ainda estava no escuro diante de qualquer novidade sobre o caso optando por mencionar apenas o que havíamos conseguido na tarde do dia anterior.
– Pode traduzir o que isso quer dizer? Temos ou não a matéria da primeira capa?
– Confirmamos que há mesmo a filmagem de uma das câmeras, mas os policiais não querem divulga-la. – explicou melhor tentando obter a atenção de Cely que naquele momento estava mais focada em seu copo de café e na caixinha cheia de donuts a sua frente.
– Ou seja, não temos a matéria. – respondeu ainda olhando para a caixa de guloseimas parecendo indecisa sobre qual pegar me fazendo revirar os olhos.
– Isso, mas ainda podemos conseguir. – comentei tentando passar confiança conseguindo que ela olhasse pra nos pela primeira vez naquele dia.
– Talvez Rupert consiga, agora tenho outros planos pra você. – Cely apontou pra mim sorrindo, o tipo de sorriso que me fazia ter certeza de que eu não iria gostar nada do que se sucederia ali.
– Tenho um pressentimento ruim quanto a isso. – murmurei para Rupert fazendo o mesmo projetar os lábios para cima na sugestão se um sorriso.
– A matéria sobre o Asper foi um sucesso, tanto que querem uma continuação. – minha chefe continuou fazendo com que eu a parasse antes que terminasse.
– Só não diga que quer que eu escreva mais uma matéria sobre o Senhor Ego. – pedi pensando seriamente em cruzar os dedos.
– Não quero que escreva mais uma matéria com Adam – suspirei aliviada, mas parece que foi cedo demais – Quero uma por semana pra ser publicada nas edições de domingo até o final do Circuito de Pomper.
– Sem chance. Não tem a mínima possibilidade de mais uma matéria minha sobre ele.
– Essa não é uma opção.
– Mesmo se eu concordasse com isso eu não teria material pra escrever qualquer coisa.
– Eu já cuidei disso. Falei com o assessor dele e ele concordou que você o acompanhasse todos os dias até o final do campeonato já que teríamos um espaço no jornal dedicado a ele durante esse período.
– É claro que ele não negaria mais ibope. – resmunguei, mas Cely fingiu não ouvir estendendo um papel em minha direção – O que é isso?
– O endereço de encontro de vocês, acho que é um café ou algo do tipo. Ele vai estar te esperando hoje as onze para que possa começar.
– É isso? Eu vou ficar andando atrás de um playboyzinho pra cima e pra baixo durante um mês?
– Aham. – murmurou atendendo ao telefone que tocava novamente a sua frente ignorando toda e qualquer reclamação que eu pensasse em fazer. Sai bufando da sala dela me controlando pra não fazer qualquer besteira como inundar sua sala ou mesmo ater fogo naquela redação inteira, me joguei sobre a minha cadeira só lembrando que Rupert estava ao meu lado o tempo todo quando o mesmo se sentou sobre minha mesa de frente pra mim.
– Do que está rindo? – esbravejei quando vi que o mesmo segurava a risada diante da minha frustração.
– Nada. – assegurou levantando as mãos em sinal de inocência – Você ainda não me disse o que encontrou ontem, achei que teria o nome do assaltante.
– Eu consegui, tive alguns problemas pra entrar, mas consegui fazer uma cópia do vídeo.
– E porque disse a Cely que não tinha a matéria?
– Porque entendi o motivo da policia não divulgar as informações contidas no vídeo e até que eu concordo com eles. Apesar de que se soubesse pra onde Cely me mandaria pensaria duas vezes em deixar isso na surdina.
– Eu sei que sim. Agora desembucha o que você encontrou?
– Don. – respondi sentindo um frio percorrer minha espinha ao recordar do vídeo.
– O Don? Mas eu achei que ele tinha... – Rupert deixou a frase incompleta encarando-me atônito esperando qual seria minha reação.
– Eu também, acho que todo mundo acreditou que ele tinha morrido no ultima vez que nos encontramos. – murmurei tendo flashes inevitáveis da última luta que tivemos e posso confirmar certamente o fato desse ser meu maior inimigo, Don Marcoli.
, você sabe como esse cara é perigoso. Eu lembro bem do que aconteceu da ultima vez. – Rupert argumentou e eu pude notar sua voz tremer ligeiramente ao completar sua sentença.
– Eu também lembro Rupert. Ou você se esqueceu de que era eu quem estava com ele naquele galpão aquela noite.
– E mesmo assim você vai atrás desse cara de novo? – perguntou incrédulo, aumentando em algumas oitavas sua voz fazendo com que algumas pessoas que passavam por nós nos encarassem.
– Será que dá pra você falar mais baixo. – pedi sussurrando e trazendo minha cadeira pra mais perto dele para que pudéssemos continuar a conversar nesse tom.
– Ok, desculpe. Eu só acho loucura você ir atrás de um cara o qual um dos principais objetos de vida é ter matar, quer dizer, matar a Miss El, o que na prática dá na mesma.
– Eu entendo suas preocupações Rupert, mas não se trata de uma questão de escolha, ele fez uma ameaça clara a cidade. Não só a ela, mas uma diretamente a El. Eu preciso ir atrás dele.
– Como assim uma ameaça direta a você? – perguntou parecendo um pouco mais aflito me fazendo ficar mais nervosa ao recordar exatamente as palavras proferidas por Marcoli no vídeo
“Como estão queridos habitantes de SownCity? Sentiram minha falta? – o homem grande apareceu exatamente no centro da imagem, sorrindo enquanto brincava com seu colar de prata, a peça compunha sua vestimenta excessivamente negra, o que parecia deixar em contraste a enorme cicatriz que marcava toda a lateral direita de seu rosto trazendo um ar ainda mais sombrio à figura que se movia confiante diante a câmera. - A maioria de vocês deve ter se equivocado sobre as notícias sobre minha morte, não? Mas podem comemorar, eu estou de volta. Essa não é uma grande notícia? – lançou um sorriso de escarnio e completa ironia - Talvez devamos fazer uma festa pra comemorar minha volta? Sim, sim, essa é uma ótima ideia e sabe o que eu vou querer nela? Fogos, fogos que tomaram conta da cidade inteira – falou soltando uma gargalhada escandalosa como se tivesse acabado de contar a maior piada do mundo, logo parando de rir e se aproximando lentamente da câmera - E o mais importante da festa, minha convidada especial para essa noite, minha querida Miss El. – sua voz tinha abaixado consideravelmente e seus olhos pareciam encarar a câmera como se a mesma fosse uma pessoa, a pessoa pra quem ele queria destinar seu “convite” - Não sabe como senti sua falta nesse tempo que passei me recuperando do nosso ultimo encontro, devo dizer que você consegue esgotar todas as minhas energias, Docinho. Mas como pode ver eu estou bem agora. Ansioso para o nosso próximo encontro, você vai estar lá, não vai? – encerrou sua aparição diante da câmera deixando um sorriso macabro tomar conta de suas feições depois da última pergunta.”.
– Eu não acredito que ele está realmente de volta. – Rupert tinha as mãos fechadas com força enquanto me olhava com preocupação.
– Eu também não acreditaria, mas minha mente parece reproduzir aquele vídeo de tempos em tempos, me lembrando do quão real e assustador Marcoli pode ser. – contei angustiada vendo meu melhor amigo pegar ambas as minhas mãos e coloca-las no meu das suas as envolvendo carinhosamente tentando me passar alguma ideia de proteção.
– Você sabe que não precisa ir atrás dele, não sabe? – perguntou me fazendo olhá-lo e soltar um pequeno sorriso, não era tão simples assim.
– Eu preciso, eu não posso deixar que ele faça nada a SownCity.
– Não me lembro de você ter assinado qualquer contrato se responsabilizando da proteção da cidade. – argumentou.
– Eu fiz, assim que resolvi vestir um uniforme e usar meus poderes pra defender os que precisassem. Comprometi-me quando fiz as pessoas acreditarem que podiam confiar na Miss El. “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, lembra? – perguntei fazendo-o rir, mesmo que minimamente.
– Eu ainda não sei de onde você tirou essa frase, parece o tipo de coisa que você lê numa caixa de cereal.
– Acho que a li em algum caminhão. – respondi erguendo uma sobrancelha em sua direção podendo ouvir uma risada verdadeira vindo dele pela primeira vez depois que lhe contei sobre o vídeo e ri junto com ele, me lembrando do quão bom era poder fazê-lo sorrir. Era como se eu pudesse retribuir um pouco por todas as vezes que ele fez de tudo pra tirar um sorriso meu, mesmo isso muitas vezes sendo quase impossível.
– Talvez lá no fundo eu saiba que você tem que realmente fazer isso, mas é que às vezes eu acho que eu preferiria que você fosse uma garota normal, que seus maiores problemas adolescentes tivessem sido sobre qual vestido escolher para o baile e não sobre como controlar poderes recém-descobertos.
– Realmente, acho que seria tudo mais fácil, só não tenho certeza se eu preferiria assim.
– Você tem razão, pelo menos passamos tempo demais tentando encontrar respostas para você poder fazer essas coisas que não tive que lidar com um monte de carinhas do colegial tentando sair com a minha irmãzinha. – bagunçou os fios do meu cabelo os jogando na frente do meu rosto me fazendo chingá-lo pra logo depois rir. Eu gostava quando Rupert me chamava de irmãzinha, eu me sentia tendo uma família de novo depois de tudo. E de fato era assim que nos sentíamos, como irmãos, protegendo e ajudando o outro para o que viesse. Prova disso era todos os anos que ele passou me ajudando a me adaptar as minhas novas habilidades e ficando do meu lado quando eu resolvi criar e colocar a máscara da Miss El. – Só tome cuidado. – pediu depois de um tempo.
– Eu sempre tomo. – respondi vendo que ele sustentava uma feição desconfiada.
– Vou fingir que acredito. Agora é melhor você ir, só faltam cinco minutos pras onze.
– Merda. - arregalei os olhos ao lembrar-me de onde deveria estar pegando minha bolsa e correndo em direção ao elevador.
...
– Está atrasada. – foi a primeira coisa que ouvi ao passar pela porta do que parecia ser um dos cafés mais sofisticados da cidade.
– Ok, desculpe. Eu realmente não esperava ter que vir. – respondi me virando para o homem que sentava displicente sobre uma das cadeiras do local, o mesmo me indicou a cadeira a sua frente.
– Vou desconsiderar já que você deve ter ficado um pouco desnorteada com a bela notícia de ter que passar todos esses dias atrás de mim. – abri a boca para contestar, mas o mesmo já chamava um dos garçons – Acho que minha amiga gostaria de fazer seu pedido. – me indicou ao garçom e o mesmo se colocou ao meu lado pronto para anotar o que eu pediria.
– Eu não sou sua amiga. – comentei lançando um olhar desafiador ao homem sentado a minha frente e o mesmo retribuiu sorrindo na mesma hora.
– É claro que não, como pude cometer esse erro. – respondeu como se estivesse se desculpando e logo depois se voltou novamente para o garçom – Ela não é minha amiga é minha acompanhante. – piscou cumplice para o homem me fazendo arregalar os olhos quando entendi o que ele estava querendo fazer parecer e julgando pelos olhares do homem que nos atendia e para seu sorriso satisfeito, ele parecia ter conseguido. Resolvi não tentar discutir abrindo o cardápio e o colocando na frente do meu rosto tentando inutilmente tampar minhas bochechas coradas de vergonha. Fiz rapidamente meu pedido querendo sair depressa daquela situação.
– Você parece aquelas moças do século passado. Coram de vergonha por tudo. – implicou e eu tinha certeza que a coloração das minhas bochechas naquele momento triplicou.
– Você é um inconveniente, sabia? – perguntei a Adam.
– Eu não fiz nada, apenas concertei um erro que você mesma tinha me apontado. – respondeu simplesmente bebendo um gole do conteúdo de sua xícara.
– Não se faça de idiota, você fez parecer que eu e você estávamos em um tipo de encontro ou sei lá.
– Não deixa de ser. E vamos ter ‘encontros’ pelo resto do mês.
– Claro que não, eu só vou estar por perto para escrever sobre você e o que quer que você faça.
– Sabe, eu realmente não entendo seu problema. – o homem comentou depois de minutos em silencio em que eu apenas me concentrava em beber o café escolhido por mim.
– Eu tenho problemas? – perguntei erguendo uma sobrancelha vendo o mesmo concordar.
– Claro, quem no seu lugar estaria incomodada em passar um tempo com um cara como eu? – o olhei incrédula não pensando duas vezes antes de responder.
– Talvez esse seja o problema, você.
– Oh, entendi. – sorriu pra mim me deixando confusa sobre o que ele queria dizer – Você está toda estressadinha só para disfarçar o nervosismo. Pode dizer, você tem uma queda por mim, não tem?
– O que? – o olhei não segurando a risada, ele só podia estar de brincadeira com a minha cara.
– É isso, essa é a única razão pra você se comportar assim.
– Nunca te passou pela cabeça que nem toda mulher é fascinada por você, Senhor Ego?
– Sinceramente? Não. – respondeu com o mesmo sorriso irritante. Definitivamente seria um longo mês.
...
– Como foi seu encontro com o Asper?
– Você também? – perguntei incrédula para Rupert – Nós não tivemos um encontro, eu só estou fazendo a porcaria do meu trabalho.
– Tudo bem, não está mais aqui quem falou. – Rupert ergueu as mãos em sinal de rendição – Mudando de assunto, você tem alguma novidade sobre Marcoli?
– Infelizmente não. Parece que depois do assalto ele simplesmente sumiu do mapa novamente. Vou passar a noite procurando por mais alguma coisa que possa me dar qualquer tipo de pista.
– Parece que você vai ter que adiar isso. – olhei pra Rupert sem entender e o mesmo apontou para a televisão onde um repórter passava os dados sobre um acidente que acabara de acontecer envolvendo um carro e uma carreta. Pelo que pude entender o motorista da carreta parecia ter saído ileso enquanto o do carro ainda estava preso sob as ferragens e não era possível saber como ele estava ainda. Sai rapidamente enquanto já buscava por meu uniforme dentro da bolsa.
...
Cheguei rápido ao local do acidente aproveitando para agir antes que mais curiosos chegassem e deixassem as coisas mais complicadas. Olhei as condições em que o carro estava e momentos depois tratei de levantá-lo para que eu pudesse desvirá-lo já que o mesmo parecia ter capotado depois da batida. Puxei o teto pra cima ganhando um espaço considerável pra que eu pudesse tirar o motorista dali sem maiores danos e simplesmente não acreditei quando vi de quem se tratava.
– De todas as pessoas dessa cidade pra salvar tinha que ser exatamente o Senhor Ego. – murmurei pra mim mesma, mas fui surpreendida quando o mesmo levantou a cabeça me olhando com olhos arregalados.
– Do que você me chamou? – perguntou se apoiando em mim para poder ficar em pé. Pelo visto o acidente tinha sido mais um susto, pois aparentemente ele parecia estar bem.
– Eu não disse nada, senhor. – tentei disfarçar minha voz o máximo que consegui evitando olhá-lo diretamente nos olhos.
– Você me chamou de Senhor Ego, a menina do jornal é a única que me chama assim. – completou tentando tocar minha máscara para removê-la do meu rosto.
– Você deve estar delirando, deve ter batido a cabeça com o impacto. A equipe de resgate logo estará aqui para examiná-lo. - o coloquei deitado no chão tomando cuidado para não fazer movimentos bruscos, apesar de parecer bem ele podia ter algum tipo de dano interno.
– Eu não estou delirando, eu ouvi. Você me chamou de Senhor Ego, ninguém nunca me chamou assim sem ser ela.
– Como eu disse, o senhor esta equivocado, eu falei sobre o eco, como ele pode ter afetado você na batida. – inventei a primeira coisa que me passou pela cabeça agradecendo aos céus quando a equipe de resgaste chegou e se ocupou de atender Adam. Essa tinha sido por pouco.
...
– Bom dia. – cumprimentei assim que me foi dada permissão para entrar na sala da mansão Asper. Adam estava sentado em uma poltrona, tinha alguns curativos pequenos pelo rosto e algumas escoriações nos braços, fora isso parecia normal, sem qualquer sequela do acidente da noite anterior. Assim que notou minha presença o mesmo passou a me encarar por minutos, estudando cada parte do meu rosto. Fiz um som com a garganta para quebrar seu contato visual, eu esperava que ele não se lembrasse dos detalhes da noite anterior. – Eu soube do acidente. Seu empresário disse que estaria bem e que eu poderia vir até sua casa para continuarmos com o projeto do jornal, isso se estiver tudo bem pra você. Qualquer coisa podemos esperar que se recupere.
– Está tudo bem, só estou surpreso, ele não me avisou que viria. – respondeu me indicando um dos sofás próximos a ele.
– Espero que esteja bem. Disseram que só teve ferimentos leves, mas nada mais sério. – tentei soar simpática.
– Parece que bati a cabeça na hora, mas nada de grave. – sorriu e eu correspondi ao sorriso suspirando aliviada. Se ele bateu de fato a cabeça seria mais fácil pra que acreditasse no que eu disse na noite passada.
– Quem bom, se não se importar podemos continuar... – comecei, mas fui interrompida por um mini furacão que desceu pelas escadarias e se jogou nos braços do homem a minha frente.
– Papai, podemos jogar vídeo game mais tarde? – a criança que aparentava ter uns três anos perguntou a Adam me fazendo olha-lo de olhos arregalados.
– Papai. – murmurei chamando a atenção dos dois e Adam parecia só agora ter se lembrado da minha presença ali. Ele me encarou com uma espécie de horror nas feições e eu continuei estática olhando a cena a minha frente. Eu não sei se eu estava mais espantada pelo fato dele ter escondido um filho da mídia por anos, ou se pelo fato de que ele parecia outra pessoa enquanto olhava carinhoso para o menino e pedia para que o mesmo fosse o esperar no quarto.
– Eu posso explicar. – Adam falou assim que o garoto, que só agora reparei, era de fato uma copia sua, subiu as escadas nos deixando a sois novamente.
– Explicar que você tem um filho e que ninguém tem ideia disso?
– Não conte a ninguém sobre Connor. – era a primeira vez que eu ouvia sua voz em um tom mais suave e ele não parecia estar dando ordens ou fazendo piadas, ele tinha uma postura séria e aflita enquanto me fazia o pedido.
– E porque eu faria isso? – perguntei curiosa - Só pra que o mundo não saiba que você é um mulherengo e que por anos escondeu um filho pra que não fosse julgado por sua irresponsabilidade? Cresça Asper, o mundo não gira em torno de você e da sua imagem inabalável.
– Você não entende, não faço isso por mim, faço por ele – o olhei desacreditada e o mesmo suspirou antes de continuar - A primeira vez na minha vida que senti algo foi quando Connor nasceu e eu o tive nos braços pela primeira vez – um sorriso bob aparecia à medida que ele parecia se lembrar do acontecimento. – Só ai eu entendi que não era sobre mim, o mundo não girava ao meu redor, mas sim ao dele. Pelo menos o meu mundo girava e gira em função dele. Naquele dia eu fiz uma promessa a mim mesmo, eu nunca deixaria que ninguém machucasse a coisa mais importante da minha vida. E é isso que eu estou fazendo, por isso o mantenho escondido. Não se trata da minha reputação, mas sim da sua segurança.
– Eu ainda não consigo entender.
– Eu sou um dos caras mais ricos da cidade e você não tem ideia do que as pessoas fazem por dinheiro, não tem ideia do quão más elas podem ser pra consegui-lo. E o pior de tudo é que mesmo tendo tanto dele, tendo mansões, carros e propriedades milionárias eu ainda me sinto tão pequeno para protegê-lo, tão incapaz. É como se eu fosse um pequeno inseto diante de todo o mal que podem fazer a ele pra me atingir. – Adam falava e parecia um homem totalmente diferente do qual eu tinha conhecido até agora – Pode parecer bobagem, mas sinto que se souberem dele vão machuca-lo pra tentarem me atingir. Eu sei que não somos sequer colegas, mas eu estou pedindo, não diga nada a ninguém, não por mim, mas por ele, para mantê-lo seguro. – eu ainda estava em choque pelas descobertas e ele parecia tão sincero que eu não tive outra escolha.
– Tudo bem, só tenho uma condição. – ele sorriu aliviado e concordou no mesmo instante.
– Qualquer uma.
– Eu quero conhece-lo.
...
– Então quer dizer que ele tem um filho? E não é o cara insuportável que você imaginava? – Rupert questionou assim que lhe contei sobre minhas descobertas. Eu sabia que tinha prometido a Adam a não contar a ninguém, mas eu tinha mais confiança em Rupert do que em mim mesma.
– Não é bem assim, ele ainda é insuportável, mas parece outra pessoa quando está perto de Connor. Ele faz tudo pra que o pequeno esteja sempre rindo.
– E como é o garoto? – perguntou ainda perplexo.
– Ele é um amor, é completamente educado e inteligente, mesmo pra um menino de três anos. - respondi sorrindo ao lembrar da tarde agradável que tive ao lado do mesmo.
– Não sei como Adam conseguiu esconder isso por tantos anos sem a mídia ao menos especular.
– As pessoas são boas em esconder coisas, Rupert. Você mais do que ninguém devia saber disso.
...
...
– Eu recebi outro bilhete ontem à noite. – comentei entregando o papel para que Rupert pudesse dar uma olhada.
“Esta chegando o dia do nosso encontro, espero que esteja preparada para algo quente e explosivo, Docinho.” – ele leu em voz alta – O que isso quer dizer?
– Eu não sei, assim como não sei o que todos os outros querem dizer. – respondi frustrada. Já fazia um mês desde o assalto ao banco e consecutivamente a descoberta de que Don Marcoli estava vivo e desde então o mesmo tem mandado bilhetes para Miss El. Era sempre assim, uma vez por semana, durante minhas rondas noturnas, eu encontrava algum desses bilhetes, que já somavam quatro. Por mais que eu procurasse não conseguia encontrar quem os havia deixado ali, porém sabia com certeza sobre o remetente. Don Marcoli era a única criatura na face da Terra que me chamaria de docinho, levando em conta o quanto ele sabia que aquele apelido me irritava. Eu estava completamente irritada pelo fato dele estar me fazendo de boba com esses bilhetes. Marcoli era o tipo de cara que gostava de jogos e principalmente de plateia. Por isso ele havia gravado o vídeo no dia do assalto, além de mandar um recado direto sobre sua sobrevivência depois da nossa ultima luta ele queria que toda cidade soubesse que estava de volta e soubessem também que ele estava preparando algo grande para restaurar o título de um dos maiores vilões dessa cidade. Por isso a polícia nunca tornou o vídeo público, se já seria difícil encontrar alguém como ele na surdina, imagina que alvoroço seria se todos estivessem apavorados diante disso.
– Hey, fica tranquila, nós vamos descobrir o que ele está armando. – Rupert tentou me tranquilizar.
– Só espero que não seja tarde demais.
...
– Eu achei que pudesse confiar em você. – Adam cuspiu as palavras assim que abri a porta do meu apartamento.
–Do que você está falando? – perguntei espantada, apesar de toda personalidade egocêntrica e tudo mais ele nunca tinha sequer levantado a voz pra mim.
– Não se faça de inocente. Eu confiei em você, te deixei conhece-lo e pra que? Pra você entrega-lo de bandeja pra todos os tabloides sensacionalistas dessa cidade.
– Adam, eu juro eu não tenho ideia do que você está falando.
– Pare de mentir! Pelo menos seja descente pra assumir o que você faz. Eu tinha te pedido, te implorei pra não dizer a ninguém sobre Connor e você... você o colocou na primeira página. Deus, você colocou até fotos dele. – ele me olhou com uma mistura de ódio e raiva, suas emoções pareciam estar tão intensas que eu tinha a impressão de vê-lo ganhar uma cor esverdeada. Eu estava completamente perdida sobre o que Adam falava até que o mesmo deixou meu apartamento da mesma forma exasperada que entrou, mas não sem antes deixar algo sobre minha mesa. Aproximei-me do que parecia ser a edição de hoje do Today’s News, peguei o exemplar nas mãos e me vi apática encarando os dizeres da manchete da primeira página, ‘Bilionário esconde filho por anos, parece que agora finalmente conhecemos a personalidade de Adam Asper’. Murmurei o título da matéria pra mim mesma ainda não conseguindo entender como aquilo havia parado ali, mas minha surpresa foi ainda maior ao ler o pequeno trecho escrito em letras menores logo abaixo, ‘escrito por Dermott’.
...
– Que diabos de matéria é aquela na primeira página? - adentrei a sala de Cely sem ao menos bater na porta.
– Aí está você, ainda não tive o prazer se cumprimenta-la. Você fez um trabalho incrível esse mês, tenho certeza que teremos uma das maiores vendas do ano, todos estão loucos pra saber sobre o filho que Asper escondia.
– Mas não fui eu, não foi essa a matéria que eu escrevi.
– Não seja modesta, . Você fez um ótimo trabalho, merece todo o reconhecimento por ele.
– Eu estou falando sério, não foi essa a matéria que eu escrevi. Não tenho ideia porque tem o meu nome nela. Eu nem sei como alguém mais poderia saber sobre isso. – sussurrei a ultima parte pra mim mesma tentando de alguma forma entender o que estava acontecendo.
– Claro que foi, foi à matéria que você mandou no meu e-mail. Eu nem cheguei a fazer qualquer tipo de alteração, apenas li e como a achei ótima simplesmente lhe garanti a primeira página, até mesmo a foto deixei como você havia colocado. – respondeu se levantando e apertando de leve meu ombro – Agora volte pra sua mesa e comece a trabalhar e antes que eu me esqueça, parabéns pela matéria. – concluiu me deixando ainda mais perdida do que eu poderia imaginar.
...
– Eu não entendo. Se não foi você, quem escreveu essa matéria? E porque usaria seu nome pra isso? – Rupert perguntou assim que eu lhe contei sobre a manchete que já circulava por toda cidade há essa hora.
– Eu não sei. Só sei que preciso achar quem fez isso o mais rápido possível e mostrar a verdade pra Adam.
– Tudo bem, vamos pensar em algo pra descobrir quem foi. – Rupert declarou me fazendo acenar agradecida pra ele, tentei pensar em algo que pudesse ajudar, mas o olhar que ele ainda mantinha sobre mim estava me incomodando.
– O que foi? – perguntei o encarando vendo o mesmo sorrir.
–Você gosta dele. – declarou simplesmente.
– O que?
–Você gosta do Asper. – completou ainda rindo.
– Eu não faço ideia do que você está falando.
– Hora , você está toda desesperada pra provar pra ele que não foi você. Pra que ele não pense coisas erradas.
– É claro, eu dei minha palavra a ele sobre não expor Connor. Só quero que ele saiba que eu a mantive.
– Não, é mais que isso, bem mais. – divagou ainda me olhando como se pudesse encontra sua resposta em minhas feições e eu posso com certeza afirmar que agora não era uma boa hora pra corar como eu estava corando.
– Para de paranoia, Rupert. Você vai me ajudar ou não? – perguntei tentando desesperadamente mudar de assunto, talvez porque eu achasse que lá no fundo ele pudesse ter razão.
– Tudo bem, vamos discutir sobre sua queda pelo Asper depois. Agora, você falou que Cely publicou a matéria que recebeu por e-mail? Mais especificamente um e-mail mandado por você?
– Sim, mas eu não mandei nada. Estava finalizando a matéria e a minha não tinha nada haver com a que está circulando por ai agora.
– Certo, mas mesmo assim o e-mail partiu da sua conta. Aí está nossa chance de descobrirmos quem escreveu a matéria. – Rupert concluiu me fazendo entender aonde ele queria chegar.
– Acho que entendi o que você quer dizer. A resposta está no meu e-mail.
– Isso, é só procurarmos o IP do computados pelo qual o e-mail foi enviado e ai teremos o nosso culpado.
– E como fazemos isso? - questionei.
– Acho que meus dias de hacker no colegial vão servir pra alguma coisa. – murmurou já sentado em frente ao seu computador. Sentei-me ao seu lado, onde fiquei por umas duas horas esperando algum resultado. – Achei!
– Você encontrou quem foi? – perguntei animada vendo o mesmo colocar alguns dados para imprimir.
– Não exatamente, o computador pelo qual o e-mail foi enviado tem uma proteção bem mais alta que o comum, mas eu pelo menos consegui o endereço de onde o mesmo está.
– E em que isso me ajuda? – perguntei sem entender.
– Ajuda que de acordo com os dados do CEP, o computador pelo qual foi enviado é de outra cidade. – sorri dando um beijo em sua bochecha em forma de agradecimento enquanto tomava o papel de suas mãos rumando para o elevador.
...
– Desculpe senhorita, mas o Senhor Asper deu ordens pra que não a deixássemos entrar de forma nenhuma.
– Eu imagino que sim, mas eu preciso urgentemente falar com ele. Eu preciso esclarecer um mal entendido. – pedi novamente ao porteiro que me impedia de entrar na mansão de Adam.
– Eu sinto muito, mas não há nada que eu possa fazer.
– Diga a ele que eu não vou sair daqui até que ele me atenda. – pedi decidida vento o homem falar algo em seu rádio e logo depois se voltar novamente pra mim.
– Ele disse que é melhor a senhorita ter trago um banco, pois passará muito tempo aqui. – o homem respondeu e parecia sem graça por ter que me dizer isso, mas eu apenas acenei com a cabeça sabendo que ele ainda devia ter amenizado as palavras que lhe foram mandadas dizer. Virei-me dando a entender que iria embora, porém eu daria meu próprio jeito pra entrar.
...
–O que você está fazendo aqui? Como entrou? – Adam me olhou espantado eu me ver no meio de sua sala. – Achei que tivesse deixado claro pra que não te deixassem entrar.
– Eles não deixaram, eu apenas dei o meu jeito. – respondi sem entrar em mais detalhes.
– Que seja, é melhor você sair daqui. Não tenho nada pra falar com você.
– Mais eu tenho pra falar com você.
– É uma pena, mas eu não quero ouvir. Talvez você devesse escrever o que quer que tenha pra falar comigo na sua próxima manchete. – falou irônico me fazendo revirar os olhos.
– Olha aqui Adam, eu realmente preciso falar com você. Esclarecer as coisas. – pedi abaixando a voz, mesmo por trás de toda a pose de inabalado que ele tentava mostrar, eu conseguia ver em seus olhos toda a decepção que ele sentia e por mais que aquilo não tivesse sido causado por mim necessariamente eu ainda sentia meu peito se apertar diante do seu sofrimento.
– Não temos nada pra esclarecer, você me fez uma promessa, mas a quebrou, não a mais nada que se possa fazer.
– Mas eu não quebrei minha promessa. – ouvi um riso amargo sair dele e antes que ele pudesse falar o cortei – Eu sei que é difícil acreditar em mim diante de todas as provas me apontando, mas eu preciso que você me escute. Deixar-me explicar. – pedi me aproximando e pela primeira vez no dia, ele não se afastou.
– Tudo bem. – respondeu simplesmente, deixando a deixa que eu tanto queria.
– Eu sei que a matéria tem o meu nome, mas eu não a escrevi. Eu te prometi que de maneira nenhuma eu ia expor o Connor e eu não quebrei minha promessa. Sua proteção para com ele é uma das coisas mais doces que eu já vi e eu nunca seria capaz de prejudicar isso.
– Ótimo, então como você explica tudo?
– Alguém escreveu a matéria e a mandou pra minha editora com o meu nome, o infeliz até usou meu e-mail pra manda-la, por isso eu estou como a autora, mas eu juro, não fui eu. Eu tenho como provar que a matéria foi escrita em outro computador, mas precisamente um computador localizado em outra cidade.
– E com eu posso acreditar nisso? Você pode muito bem ter escrito isso em outro computador, você esteve fora nos dois últimos dias, podia muito bem ter ido pra outra cidade pra que agora tivesse algum tipo de álibi.
– Você precisa confiar em mim, Adam. Eu estive sumida os últimos dois dias, mas eu nunca cheguei a sair da cidade. Não fui eu que escrevi essa matéria.
– Certo, tem alguém que pode me provar que você não saiu da cidade? Alguém que não seja o Rupert, pois sei muito bem que ele falaria o que você pedisse.
– Eu... Eu não tive contato com muita gente nesses dias. Eu estava organizando algumas coisas em casa e quase não sai. – respondi esperando que aquilo fosse o suficiente pra ele.
– Eu não sei se acredito nisso. Eu sinceramente não sei se posso confiar em você, não mais. - assim que a voz de Adam preferiu a última sentença eu sabia que só tinha uma forma de fazê-lo acreditar em mim, falando a verdade sobre quem sou eu.
...
– Eu não posso acreditar! Era você o tempo todo. – Adam exclamou admirado enquanto me via manipular a água que antes estava dentro de um copo e agora flutuava no ar criando as formas mais diversas que eu imaginava na minha cabeça. Eu havia acabado de contar a ele sobre meu segredo, sobre ser a heroína mascarada que praticamente toda cidade sonhava em conhecer a identidade. No começo ele não pareceu acreditar, como eu mesma já imaginava, por isso achei que a melhor forma para fazê-lo era lhe mostrando meus poderes e aqui estávamos nós. – Foi você, no dia do acidente de carro, foi você quem me salvou!?
– Fui eu. – murmurei concordando com o que pareceu ser uma pergunta.
– Mas como, aquele dia você conseguir virar o carro sozinha, como pode ter tanta força? Você é filha de algum Deus, ser místico ou alguma entidade mágica? E sobre você fazer isso com a água? E tem o fogo, já ouvi dizer que você também pode manipulá-lo, é verdade? O que mais você pode fazer? – Adam disparava perguntas e eu tive que rir da sua ansiedade, ele parecia um garotinho na manha de natal prestes a abrir seus presentes.
– Ok, uma coisa de cada vez. Primeiro, meus pais eram pessoas normais, pelo menos até o que eu sei antes deles desaparecerem e sim, antes que você pergunte eu acho que isso pode ter alguma coisa haver com o fato deles sumirem. Eu ainda não tinha os poderes naquela época, ou se os tinha nem eu mesma sabia, mas eles sempre falavam coisas que só depois de anos pareceram fazer sentido. – falei me lembrando como meus pais sempre pareceram preparados para que eu apresentasse algo diferente, como sempre diziam como eu era especial e eu de fato nunca descobri se isso era por eles saberem de algo ou se era apenas algo que pais costumam dizer para os filhos – Eu posso manipular a água e o fogo, aliás, posso manipular a terra e o ar também.
– Por isso o nome. – afirmou me fazendo concordar.
– Exatamente, Miss El seria uma espécie de abreviação pra Miss Elementos, Rupert disse isso uma vez brincando e acabou que foi o melhor nome que encontrei pra uma heroína que tivesse esse tipo de poder.
– Rupert sempre soube que era você?
– Desde o começo. Como eu te contei uma vez, quando meus pais desapareceram a família Oneil resolveu me adotar, Rupert sempre foi meu melhor amigo desde as fraldas e nossas famílias sempre tiveram um lanço muito grande. Descobri sobre o que podia fazer quando estava na adolescência, enquanto as garotas da minha idade se preocupavam com mudanças no tamanho dos peitos eu me preocupava em entender porque coisas estranhas aconteciam quando eu estava muito próxima a certas coisas, como fogões explodindo, redemoinhos estranhos, banheiras espirrando água e inundando a casa. Eu demorei muito tempo pra entender que essas coisas aconteciam por minha causa e mais tempo ainda pra entender como eu as podia controlar. Foi uma fase bem difícil e estranha e Rupert sempre esteve lá pra mim. Apesar dele nunca ter concordado de fato com a criação da Miss El, por dizer ser muito perigoso, ele sempre esteve do meu lado e sempre foi a única pessoa a saber. Pelo menos até agora que eu estou te contando.
– Obrigado. – Adam falou alguns segundos depois – Obrigado por ter confiado em mim pra contar seu segredo. E me desculpa por duvidar de você, é que...
– Está tudo bem – o cortei antes que continuasse – Você tinha motivos pra duvidar.
– Agora que tudo foi esclarecido, tem uma coisa que não se encaixa.
– O que? – perguntei o encarando.
– Nós sabemos que não foi você quem escreveu a matéria, mas alguém fez.
– Certo, você tem alguma ideia de quem possa ter sido? – voltei a questionar.
– Não, mas algo me diz que não é algo que eu deva deixar de lado. Sei que pode parecer idiotice mais é como se tivesse um sexto sentido me fazendo pressentir algo ruim, algo que eu tenho que evitar que aconteça.
– Agora que você tocou no assunto, algo parece realmente estranho. Não o fato de alguém ter escrito a matéria, mas o fato de terem a colocado no meu nome. Você é um dos homens mais famosos da cidade e qualquer um que tenha uma boa notícia sobre você teria a primeira página sem esforço, e porque então alguém escreveria algo pra não ter reconhecimento nenhum o dando para outra pessoa? – coloquei em palavras meus pensamentos e Adam concordou.
– Exatamente. Você está com o endereço de onde o arquivo foi criado?
–Sim. – respondi estendendo a ele o papel impresso por Rupert naquela manhã.
– Amanhã mesmo vou dar um jeito de averiguar isso.
– Posso ir com você se quiser.
– Não, nós não sabemos quem pode estar por trás disso. – respondeu me fazendo prender o riso até que o mesmo pareceu pensar sobre o que falou.
–Acho que eu posso me defender sozinha.
– E eu acho que você pode ter razão. – respondeu risonho.
...
– Como assim o endereço levava a uma propriedade do seu irmão? – questionei tentando entender a lógica dos fatos. Adam tinha acabado de chegar da viagem que fez em busca do culpado pela publicação da matéria.
– Exatamente isso. O endereço é de um dos prédios da companhia do meu irmão. Eu perguntei pelo mesmo na recepção e, de acordo com os cadastros, ele esteve lá um dia antes da publicação da matéria.
– Que seria no dia que o e-mail foi mandado. – completei sua sentença vendo o mesmo concordar.
– Exatamente.
– Mas por quê? Ele é seu irmão, Connor é seu sobrinho, o que ele ganharia com isso? – questionei confusa.
– Muitas coisas, e todas elas me afetariam diretamente. – me respondeu se sentando no sofá ao meu lado. Estávamos na sua casa, mesmo depois de ter acabado o acordo do jornal com o empresário de Adam, nós não paramos de nos ver. Pode parecer estranho, no começo eu queria que esse mês passasse rápido pra não ter que vê-lo e agora, depois que acabou eu ainda continuo frequentando sua casa. Estranhamente eu havia tomado gosto por sua companhia, sem contar na feição enorme que desenvolvi por Connor. – Eu e meu irmão nunca tivemos o tipo de relação familiar modelo, ele sempre agiu mais como meu inimigo do que como meu amigo. Só nunca imaginei que ele chegaria a esse ponto. – Adam comentou chateado.
– Talvez ele tenha alguma explicação. – tentei achar alguma desculpa razoável, mas eu mesmo não conseguia acreditar no que tinha acabado de dizer, não depois de Adam me contar tudo que já havia passado com o irmão.
– Depois dessa, ele não só conseguiu ser meu inimigo declarado, como conseguiu ser o maior deles a partir de agora. – afirmou com uma expressão dura.
– Sabe o que eu não entendo? – perguntei e o mesmo acenou pra que eu prosseguisse – Porque ele usou o meu nome? Ele teve todo o trabalho de rackear meu e-mail sendo que podia ter pagado para qualquer um colocar seu nome na matéria.
– Ele fez isso pra me afetar, de todas as maneiras possíveis. Ele sabia o quanto me machucaria a exposição de Connor e sabia também como seria muito pior se eu achasse que tivesse vindo de você. “Nós somos uma mistura química que cria o caos. Nós somos... uma bomba relógio.” – franzi a sobrancelha diante de sua sitação. Adam se virou pra mim olhando diretamente em meus olhos respirando fundo antes de continuar – Ele sabia que se eu achasse que vinha de você doeria mais, porque ele sabia que eu gostava de você.
– Adam... – murmurei perdida diante de suas palavras, eu não sabia como reagir ou o que falar. Só sabia que a cada segundo seu rosto se aproximava mais do meu, por instinto fechei os olhos quando senti sua respiração quente no meu rosto. Senti seus lábios roçarem nos meus e antes que eu pudesse decidir sobre me afastar ou puxá-lo pra mim, ouvi o toque do meu celular sentindo o mesmo vibrar no meu bolso. Afastei-me ainda desnorteada, tirando o aparelho do bolso com dificuldade.
– Temos problemas. – demorei alguns segundos para reconhecer a voz de Rupert do outro lado da linha e demorei mais ainda para entender a gravidade da sua próxima frase – Marcoli acabou de jogar um vídeo pra cidade toda, parece que hoje é o dia.
...
– Tem alguma novidade? – perguntei assim que passei pela porta do meu apartamento onde Rupert estava me esperando. Parei de frente para o mesmo que apenas ergueu a sobrancelha para a figura do homem atrás de mim – Ele insistiu em vir e estamos sem tempo, toda ajuda é bem vinda.
– Ok, como vai cara? – Rupert cumprimentou Adam que parecia um pouco acanhado depois do episódio de momentos antes, na sua sala de estar. Após a ligação disse que precisava voltar pra casa e ele insistiu até que eu dissesse o porquê e depois apenas declarou que viria comigo. – Certo, vamos ao que interessa. Marcoli abriu o jogo, como de costume ele quer ver a cidade em pânico, o que parece ter dado certo já que estão todos chocados por vê-lo vivo, ainda mais depois do recado que ele deixou.
–O que exatamente ele disse? – perguntei.
– Disse que hoje, as oito, era o grande dia. Que a cidade veria sua grandiosidade quando ele acionasse seu brinquedo.
–Você tem ideia do que ele quer dizer com isso? O que de fato é esse brinquedo? –perguntei novamente, checando as horas, notando que faltava exatamente meia hora para o horário marcado por ele.
– Eu não faço ideia. – Rupert respondeu compartilhando do meu olhar assustado.
– Mas talvez eu faça. – olhei assustada pra Adam, que se pronunciou pela primeira vez depois que chegamos – Ele falou em acionar um brinquedo, se somarmos isso ao que ele disse no vídeo do dia do assalto, ele disse algo sobre fogos de artificio.
– Aonde você quer chegar? – Rupert perguntou.
– O que é acionado, gera explosões e fogo e tem um efeito em massa? – Adam prosseguiu com seus pensamentos fazendo com que chegássemos à mesma conclusão.
– Uma bomba? Esse maluco colocou uma bomba na cidade? – Rupert se exaltou.
– Acabamos de entrar no jogo. – murmurei chamando a atenção dos dois. Ambos questionavam do que eu estava falando enquanto eu saía pela casa em busca dos bilhetes que tiraram meu sono durante esse mês. Espalhei-os pela mesa em ordem, confirmando minhas suspeitas.
“Estava com saudades, Docinho. O que acha de um joguinho pra compensar o tempo perdido?”
“Há tantos lugares, tantas possibilidades, isso não te excita, Docinho”?
“Um presente: é mágico para um jovem deslumbrado na cidade grande, entende o que quero dizer, Docinho?”
“Esta chegando o dia do nosso encontro, espero que esteja preparada para algo quente e explosivo, Docinho.”

– O que é isso? – Adam perguntou ao ver os bilhetes.
– São bilhetes que Marcoli tem me deixado durante esse mês.
– Que tipo de maníaco piadista ele é? – voltou a perguntar assim que leu o conteúdo dos bilhetes.
– Ele não é um maníaco piadista, é um maníaco jogador. – respondi suspirando frustrada ao notar quanto tempo perdi não entendendo o que aquele desgraçado queria dizer – Os bilhetes se encaixam, vejam – pedi apontando pro primeiro bilhete – Pra ele tudo não passa de um jogo, desde o começo ele estava me vigiando e se divertindo as minhas custas. Eu era um peão enfeitando seu tabuleiro de jogo.
– Não estou te entendendo, . – Rupert comentou enquanto Adam concordava com o mesmo.
– Ele escondeu a bomba em algum ponto da cidade, mas pense, ele pode ter a escondido em qualquer canto. Ele sabia que eu só entenderia seu jogo com o último bilhete e que não me daria tempo nenhum pra encontra-la. O fato é que temos vinte minutos pra descobrir onde ele a escondeu a bomba e desarmá-la e a única pista que temos é o bilhete número dois.
– Ou o bilhete dois é apenas uma distração. – Adam completou me fazendo concordar.
– Exatamente.
– O que a gente faz agora? – Rupert perguntou.
– Ou vou procurar pela cidade, tentar alguma detecção de calor mais alta que o normal.
– Nós vamos com você.
– Nem pensar. – neguei rapidamente.
– Rupert tem razão, . Se formos com você podemos cobrir um número de lugares muito maior. “Não se ganha a guerra com gentileza. Se ganha a guerra com coragem.” E pelo menos coragem nós dois temos – Adam argumentou me fazendo negar com a cabeça.
– Eu não quero vocês dois metidos nisso mais do que já estão.
– Temos só dez minutos agora, . – Adam voltou a falar.
– Não vai dar tempo pra rastrear nem um décimo da cidade nesse tempo. Acho que o melhor que temos a fazer e desvendar o lugar do segundo bilhete e rezar pra que esteja lá. – conclui.
– E como vamos saber o que quer dizer esse bilhete? Que diabos um lugar tem haver com um jovem deslumbrado na cidade grande?
– Isso vocês vão saber melhor do que eu. Eu sempre morei aqui, vocês vieram de cidades menores. – Adam respondeu a pergunta de Rupert fazendo uma luz invadir minha mente.
– É isso. Qual foi a primeira coisa que você disse quando chegamos aqui, Rupert? – perguntei me virando pra ele.
– Que eu sentiria falta da comida da minha mãe? – respondeu incerto me fazendo negar.
– Não, estou falando da primeira coisa que disse no nosso primeiro dia de estágio.
– Que o prédio do Today’s News era fantástico, uma obra prima pra quem não está acostumado a cidade grande. – murmurou arregalando os olhos logo depois. – Ele colocou a bomba no prédio da redação – exclamou voltando ao tom de voz normal.
– Eu acredito que sim. Lá é um dos pontos mais altos da cidade, além de estar cercada pelos pontos mais importantes, a prefeitura, o museu, tudo.
– Faz sentido – Adam exclamou – Sem contar que está localizado no coração da cidade, dependendo do raio que a bomba pode atingir, teremos um dano de quilômetros.
– Certo, eu estou indo pra lá agora. E vocês nem pensem em me seguir. – sai em disparada sem tempo pra escutar qualquer tipo de objeção. Eu tinha exatamente cinco minutos pra evitar uma das maiores catástrofes que essa cidade já viu.
...
– Parece que você avançou uma casa. – me virei assustada, dando de cara com Marcoli. Ele usava sua típica roupa preta e estava escorado ao lado de artigo que eu procurava.
– Acha que isso é um jogo? Explodir a cidade?
– Se for, você está perdendo. – me olhou divertido logo depois apontando para a bomba ao seu lado.
– Eu não vou matar você, eu só vou te machucar bastante. Você sangra? Vai sangrar. – murmurei me aproximando dele colocando toda minha força em um golpe acertando-o, porém senti meus dedos estralarem com o impacto, machucando não só a ele, mas a mim também. Essa era a parte mais difícil de lutar com Marcoli, ele tinha exatamente os mesmos poderes e habilidade que eu, era como se eu estivesse lutando contra uma parede refletora. Tudo que eu fazia era espelhado contra mim.
– Isso não foi esperto. Mas foi divertido ver você sangrar. – ele gargalhou ao ver minha mão coberta de sangue. Preparei-me para acertá-lo novamente, porém um barulho vindo da porta chamou minha atenção, arregalei os olhos ao ver Rupert ali. Tive que me segurar para não gritar com ele e perguntar o que diabos estava fazendo ali, mas eu não podia. Não podia arriscar que Marcoli notasse algum sinal de associação minha a ele, eu não poderia permitir que ele o usasse para me atingir.
– Um telespectador, sabe acho que você vai deixar as coisas mais interessantes. – antes que eu pudesse digerir o que aquilo significava, uma rajada jogou Rupert contra a a parede do outro lado da sala e antes que eu pudesse processar os fatos, eu já estava ao seu lado olhando-o horrorizada ao ver que o mesmo tinha caído sobre uma mesa e que pedaços da mesma estavam cravados em suas costas – Como eu disse, bem mais interessante. – ouvi aquela voz de novo, fez meu estômago embrulhar – Você tem três opções Docinho: primeira, você vem atrás de mim e deixa toda a cidade virar pó e o carinha ao seu lado morrer, já que vamos ser sinceros, se ele não chegar a um hospital o mais rápido possível ele não sobreviverá. Segunda, você salva a cidade desarmando a bomba, mas me deixa ir e novamente o carinha ai morre ou terceira e última, você o salva eu vou embora e uma parte da cidade vai pros ares. A escolha é sua, Docinho. – olhei aterrorizada pra ele vendo-o fugir por uma das janelas. Olhei para Rupert que gemia de dor ao meu lado, eu tinha apenas alguns minutos, mas que ainda era tempo suficiente para leva-lo para o hospital. O arrumei em meus braços prontos para levantá-lo quando um estalo fez todos os músculos do meu corpo retesiarem. Olhei para o lado aonde o barulho veio, a bomba iniciava uma regressiva de dois minutos. Abaixei os olhos e pude ver Rupert encarar o mesmo ponto que eu, o mesmo tomou fôlego e me olhou pronunciando de forma sôfrega.
– Você sabe o que tem que fazer.
...
Olhei para o pequeno grupo de pessoas que se afastava demoradamente e caminhei lentamente até onde o grupo estava anteriormente. Eu tinha uma única rosa nas mãos a qual eu alisava tentando a todo custo retardar o momento que seguiria. Soltei o ar, que eu ao menos havia percebido que prendia, e parei de frente a lápide. Abaixei-me até que pudesse repousar a flor ali, acariciando lentamente os dizeres presentes na placa.
‘Rupert Edward Oneil. Filho e amigo amado’.
Senti uma mão em minhas costas e avistei Adam ao me virar, o mesmo me ofereceu uma das mãos como apoio a qual eu aceitei. Firmei-me ao seu lado sentindo o mesmo passar um de seus braços pela minha cintura, me apoiei em seu peito fungando enquanto sentia meus olhos embaçarem novamente.
– Estava pensando que pudéssemos passar uns dias fora.
– Eu não posso, a cidade precisa de mim. Não posso deixar o manto da Miss El. – respondi vendo o mesmo me encarar surpreso pela minha decisão.
– Achei que depois de tudo que aconteceu você o deixaria, mas fico feliz em saber do contrário. – Adam murmurou suavemente em meu ouvido deixando um pequeno beijo em minha bochecha.
– Quando eu vi Rupert morrendo em meus braços, eu me senti tão impotente, tão pequena. De que adiantava todos os meus poderes quando eu não podia fazer nada? De que adiantava poder salvar o mundo se eu não podia salvar meu melhor amigo? – falei sentindo uma pontada forte no peito ao lembrar da cena, meu melhor amigo, meu irmãozinho morrendo nos meus braços – Eu teria desistido dessa coisa de herói ali mesmo se não fosse o que ele me disse antes de falecer. Ele me fez entender que não é preciso ter poderes pra ser um herói. Toda minha vida meu maior herói era só um cara que gostava de usar coletes, que não conseguia correr mais que dez minutos sem estar mega cansado, mas era o cara que conseguiu me tirar do buraco quando meus pais sumiram, que estava lá pra mim quando ninguém mais parecia estar. O cara que enfrentou as coisas mais bizarras do meu lado e que continuou ali sempre, o cara que me fez ter sonhos e acreditar que um dia eles pudessem se tornar realidade, Rupert era e sempre será meu maior herói. – falei sentindo lágrimas quentes correrem livremente pelo meu rosto - Ele me deu um motivo pra continuar com isso e é por ele que eu vou fazer de tudo pra fazer de SownCity um lugar melhor. Por ele e por todos aqueles que se machucaram tentando o mesmo, pra que as pessoas continuem acreditando, pra que tenham esperança. É como ele mesmo disse e é pra isso que eu estou aqui.
É pra isso que servem os heróis, pra fazerem as pessoas acreditarem.

FIM



Nota da autora: Sem nota. (01/10/2015)




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