A Última Filha do Sol


Challenge #18

Nota: 8,5

Colocação:




Nas montanhas do norte, existe um amigo

Ela pousou com suavidade no pico da montanha próxima de seu primeiro destino.
A neve surgiu com ela.
Estava ali... Foi um voo difícil, cansativo, complexo. Alcançar as montanhas rochosas naquele ponto do Canadá, nunca era tarefa fácil, mesmo para uma fênix. E ela comprovou o que sua vó lhe dizia ano após ano, se quiser voar para longe, esteja preparada para o cansaço extremo. Nunca pensou que quando finalmente alçasse voo para além de suas terras, fosse por obrigação e necessidade, não por prazer.
Sua vida podia ser irônica, se analisasse profundamente, mas não faria, ela tinha um propósito, uma missão e a cumpriria, concordasse ou não. Precisava salvar a avó da agonia, não podia deixá-la partir para sempre.
Suspirou e fez o restante do caminho a pé até o pequeno conjunto de cabanas na montanha à frente. Tinha que ir para o outro lado do mundo, seu destino a esperava em outra terra isolada, mas sua avó pedira que antes, fosse até o alfa daquelas montanhas entregar-lhe uma carta.
Aquele desvio lhe roubaria mais de uma semana, do fundo da alma não queria perder tempo indo até aquele lugar ermo habitado por lycans selvagens, mas ele era amigo da sua avó e ela não tinha muito tempo sobrando... Como dizer não aquela mulher que cuidou dela por toda a sua vida? Como ignorar que podia salvá-la daquele destino?
Alcançou a entrada da matilha quase ao mesmo tempo em que um garoto surgiu a sua frente. Ela estacou, ele também.
Nunca tinha visto um lycan de verdade na vida, mas sabia reconhecer um, por que sua natureza mágica tinha seus meios próprios de identificar outros seres mágicos. Havia todo um mundo de seres diferentes, além dos humanos que pensavam dominar o planeta que viviam. Ele era alto, esguio, um rosto oriental e um olhar escuro e curioso. E dos dois, foi o que fez o primeiro movimento.
- A bruxa da matilha disse que a neta da grande fênix viria quando caísse a última neve do ano. Achei que fosse mais alta.
- E eu achei que um lobo selvagem seria menos rude.
- Gostei de você – E ele estendeu a mão cordial – Me chamo Zitao, e você, pequena fênix?
- Trina... Eu vim em nome da minha avó, tenho algo para ao alfa... - Ela falou meio sem jeito, afinal o garoto não desgrudava os olhos de cima dela – Algum problema?
- Seu cabelo é mesmo vermelho fogo... Todas você são assim?
- Não, temos tonalidades diferentes...
- As filhas do sol...
- Você sabe bastante sobre nós...
- Sou um curioso, sei que existem outras terras e gentes, e raças fora dessas montanhas e um dia verei todas, um dia irei para a terra natal da minha mãe, do outro lado do oceano, Pisarei na China e viverei lá por um tempo, então voltarei mais sábio, e para que isso ocorra preciso saber sobre o mundo que existe fora daqui e todas as suas coisas, correto?
- Um lobo erudito, gostei.
Ele riu, o que soou muito bem-vindo e então lhe mostrou o caminho até a cabana do alfa.
Trina pensou que nunca iria gostar de alguém à primeira vista, mas aconteceu. Agora estava explicado por que sua avó, quando moça viajava todo ano para visitar seu amigo naquelas montanhas, eram pessoas gentis, se fosse pesar os demais pelo porteiro.
Ela nunca cruzou o continente, sempre viajou pelas terras em volta da floresta Amazônica, seu lar e seu esconderijo, lar das últimas fênix e definitivamente nunca foi bem tratada, por que os outros temiam o poder de uma ave que podia renascer das cinzas, como se todas escolhessem fazer aquilo ou como se todas realmente voltassem da morte, às vezes ser um mito era um grande problema, em sua opinião. Sina pior só as dos unicórnios mesmo...
- Chegamos!
E para sua surpresa, o garoto abriu a porta da casa do alfa.
Aquilo só podia significar que era da família, pois ninguém podia entrar em um lar de um alfa sem ser convidado. Era falta grave e risco de morte.
Mais violentos do que os lycans, só os tigres asiáticos, precisamente a raça que em breve faria parte da sua vida.
Trina entrou e se deparou com uma cena doce e caseira.
Uma mulher que já devia estar nos últimos estágios da gravidez, estava sentada de frente a uma lareira enquanto um homem massageava seus pés.
Quando ela entrou, ambos a olharam e sorriram. Trina soube que eles sabiam quem era. Nossa, estavam mesmo a esperando?
- Oi.
E se curvou educadamente. O garoto ao se lado riu.
- Esses são meus pais, mamãe, pai, essa é a Trina, neta da...
- ...Minha velha e saudosa amiga Soledad!
E outro homem surgiu na sala vindo de fora e com toras de madeira no braço.
Era o alfa, impossível não sentir a força daquele lobo emanar de seu corpo. Alfas eram únicos e muito fortes.
Trina se curvou de novo e recebeu um tapinha no ombro.
- Seja bem vinda em minha matilha, pequena fênix. Estávamos te esperando. Como anda minha velha amiga?
- Meu marido, deixe a pequena comer primeiro, ela deve ter viajado até aqui sem parar estou certa? - E a mulher a encarou carinhosa e depois para o filho – Leve Trina para a cozinha Zitao e lhe sirva sopa – E ela se voltou para o homem aos seus pés – Busque a bolsa de lã no nosso quarto, Suho e dê a garota, ela vai precisar.
- Sim!
Responderam ambos. Trina sorriu.
Nossa, quem era de fato aquela fêmea? Sua avó nunca falou da esposa do alfa e do beta daquela matilha. Contudo, Trina já gostava dela.
Meia hora depois, já alimentada e quente com o casaco de lã, ela entregou a carta ao alfa na ponta da mesa. Ele sorriu suave.
- Como está Soledad? Eu queria muito ir até ela, mas não posso me ausentar da matilha pelo tempo que dura a viagem... Eu lamento muito.
- Ela entende, alfa, por isso me mandou trazer a carta. Ela te quer bem e disse que nunca vai esquecer de você! Minha avó tem boa memória.
E o alfa sorriu. A esposa, agora a lado dele tocou em suas mãos carinhosamente.
- Ela vai ficar bem, Yifan, confie em sua amiga – E então ela se voltou para Trina - Está em missão para o reino dos tigres, estou certa?
Trina respirou fundo. Era tão óbvio? Claro que seria, para onde mais uma fênix desesperada iria se não, tentar salvar sua espécie e principalmente a vida da sua última família? Fênix eram solitárias, mas fieis ao amor familiar e sua avó estava deixando esse mundo por tristeza, a única coisa que Trina podia fazer era lhe dar um motivo para ficar mais tempo e esse motivo dependia do filho do líder dos tigres. Kim Minseok. O protetor do Vale vermelho.
- Sim, estou indo até ele.
A mão dela que estava sobre as do alfa, veio pousar sobre as de Trina.
- Seu sangue é forte, Trina, e sua linhagem brava, não se deixe entristecer por causa do que precisa ser feito, apenas veja pelo lado bom, existe amor em todos os seres, até nos mais improváveis, permita que seu coração encontre essas pequenas alegrias e encare seu dever como oportunidade. Eu vejo felicidade em seu futuro. Mas precisa enxergar além do óbvio...
- Mamãe! Vai assustar a fênix desse jeito!
E Trina saiu do quase transe que aquele olhar negro a aprisionou por alguns instantes. Bruxa... Aquela fêmea era uma bruxa.
Então sentiu sua mão ser agarrada e viu com certo atraso Zitao levá-la para a parte superior da cabana, só parou quando entrou em um quarto e ele fechou a porta.
- Vai ficar aqui essa noite e descasar antes de atravessar o oceano, certo?
- S-sim...
- Então temos tempo, me ensine o que sabe sobre as ervas medicinais do seu povo, preciso anotar e eu te ensino o que quiser saber sobre o que ainda não sabe. Bem, se vai para o Butão precisa ter certeza que seu sistema de direção migratório está ok.
- Eu sei como chegar lá, lobo, não sou desorientada.
- Claro que não... Tanto que está pensando em cruzar ao Atlântico, ao invés do Pacífico e cortar caminho...
- Eu tenho que ir até a Irlanda, essa pode ser minha última viagem sozinha, eu quero ir até a terra dos meus antepassados. Por isso vou pelo Atlântico... Mas como sabe disso?
- Seu olhar está a toda hora fugindo para a direção daquele oceano, deduzi assim, que faria essa travessia então.
Trina o encarou com um novo olhar, como um lycan caipira que nunca saiu da sua terra tinha aquele poder de observação? Se sentiu curiosa e desejosa de testar o jovem lupino.
- Combinado. Eu te ensino sobre as ervas que conheço, você me ensina sobre todas as formas de orientação marítima para um voo mais proveitoso, eu não tenho tempo a perder, logo será lua cheia e eu não vou controlar minha transformação.
- Eu sei, isso é um saco!
Trina riu, todas as criaturas mágicas sofriam em algum grau a influência da lua cheia.
E naquela noite, ela fez um amigo incrível, embora não contasse a ele sua conclusão.
Quando o dia nasceu, despertou envolvida em pesadas peles e com Tao aos pés da cama sorrindo.
- Se por uma eventualidade de mudança de rumo, rota ou uma tempestade te pegar no caminho... Acho que vai precisar de um desses.
E o lobo tirou do bolso um chaveirinho bonito de bússola! Trina riu mesmo sonolenta.
- Isso é irônico, fênix não deveriam precisar de bússolas! Me sinto uma cegonha agora!
- Desde quando cegonhas usam bússola, Aishii, mas que passarinho sem noção!
- Nunca ouviu a musiquinha da cegonha distraída? Que quadrúpede caipira! É assim...
E Trina respirou fundo e cantou a canção de ninar engraçada:

Era uma cegonha, distraída, distraída, distraída
Se perdia sempre que voava, que voava, que voava,
Ganhou então uma bonita bússola, bonita bússola, bonita bússola
E nunca mais ficou atrasada, atrasada, atrasada!


- Isso é sério ou você acabou e inventar?
- Ei! Eu cantava isso quando era criança, seu chato!
- Uma música irritante sem pé nem cabeça, em minha opinião.
- Sério Tao, cala a boca!
Eles riram e o lobo jogou sua mochila sobre ela.
- Não vai perder a bagagem enquanto voa por ai, passarinho. Bem, eu preciso ir, sabe, ser filho do alfa e do beta de uma matilha exige muito de mim, tenho que fazer essas coisas de quadrúpedes que seres penados não sabem fazer, desculpe.
- Eu voltarei e lhe mostrarei o ser penado inútil, garoto!
- Vou esperar vermelhinha, de verdade! - E ele piscou para mim – Vê se não esquece tudo o que te ensinei de orientação e navegação hein! Quero minha amiga inteira em uma visita futura! E pare nas ilhas para descansar, você também é filha dos deuses! Boa viagem!
Tao se foi do quarto e ela pensou que provavelmente sentiria falta dele, como se gosta de uma pessoa em tão pouco tempo?
Ele lhe chamou de amiga e aquilo aqueceu seu coração.
A voz da mãe dele voltou a sua mente... “Precisa enxergar além do óbvio...”
Sim, bruxa, eu trabalhei nisso!
Pensou sorrindo encorajada.

No deserto escaldante, existe um amor

Dois dias depois, pousou em uma ilha rochosa desconhecida.
Sua primeira irritação foi ver o que os humanos faziam com seu próprio lar, além de jogar lixo pelo mar e que iam acabar nas ilhas desabitadas, ainda matavam suas amigas aves que comiam aquele lixo todo sem entender que fazia mal. Sua segunda irritação foram as tempestades marítimas incessantes que a atrasavam, olhou para o céu esperando que alguma divindade colaborasse, qual é gente! Ela tinha que chegar na Europa, pelos deuses!
A terceira e não menos importante foi ter a plena noção que sua mochila pesava muito, o que não fazia absolutamente nenhum sentido, era uma bolsa mágica que ganhou da avó. Quando estava em corpo humano, ela virava uma mochila de viagem ou mala se fosse necessário, quando estava em corpo de ave, ela se transformava em uma pequena sacolinha que carregava no pescoço e sinceramente ela estava vendo a hora em que ia perder o membro que segurava sua cabeça em breve por causa do peso.
Sentou-se sobre uma pedra e sacudiu suas penas douradas. Estava encharcada e salgada e nunca quis tanto um rio doce como agora.
- Veja pelo lado bom, Trina, você não tinha expectativa nenhuma nas montanhas dos lobos e adorou o lugar, imagine só como será na Irlanda, tudo valerá a pena!
Disse a si mesma tentando manter o espírito positivo. Pensou em inclusive, ir pescar antes de prosseguir, quando notou algo estranho vindo em uma onda mais forte.
Se preparou para alçar voo e fugir do banho espumoso, mas seu cansaço levou o melhor e cinco segundos depois, estava encharcada de novo e com um guarda-chuva colorido atravessado na pedra a sua frente.
Trina bufou e jogaria o objeto longe, se nele não estivesse enroscado algo que lhe chamou a atenção. Eram uma série de espirais de plástico colorido formando um arco que fazia barulho conforme ela o movia com as garras da pata. Seria um brinquedo? Que coisa estranha... Era bem colorido... Ela gostou.
Uma mola colorida... Interessante. Desenroscou o objeto do guarda-chuva e o jogou na sua bolsa que fez o objeto diminuir quase que instantemente. Nunca se sabe quando vai precisar de uma mola né?
Deixou para pescar outra hora e voltou para o céu desejando que o mal tempo desse uma trégua. Mas não foi o que aconteceu e três dias depois se viu em uma tempestade furiosa que mesmo acima das nuvens a desorientou.
A última coisa que enxergou foi um ponto de terra ao longe onde voou com todas as suas forças, mas que perdeu os sentidos antes de saber se tinha alcançado a segurança de um solo seco.

Uma brisa forte a despertou.
Trina abriu os olhos e se viu em uma cama larga de um quarto tipicamente árabe. Se sentiu perdida, onde estava? Olhou para si mesma e viu que estava banhada, vestida em trajes típicos e sem sua mochila. Olhou ao redor, mas estava sozinha. Pelos deuses!
Saiu da cama e caminhou para a varanda que levava a um jardim interno.
Um homem estava sentado lá, a beira de um chafariz e se voltou para ela quando se aproximou temerosa do estranho e da estranha situação em que se via. Por alguns segundos perdeu o ar. Ele era lindo...
- Finalmente despertou, habib.
Ele falava inglês, ela suspirou aliviada, ao menos poderia se comunicar.
Abriu a boca, mas não sabia o que dizer, eram tantas perguntas e ainda assim estava temerosa, o que aconteceu?
- Está se perguntando quem sou eu e como veio parar aqui? Está surpresa habib? Então imagina a minha surpresa ao encontrar uma bela ave dourada, rara e exótica no deserto escaldante, à beira da morte, trazê-la para casa para tentar curá-la, pois todas as criaturas vivas são abençoadas por Alá e merecem viver, e me deparar com uma bela mulher no dia seguinte e assim descobrir que como meus antepassados disseram, uma fênix veio a minha porta e eu a trouxe para minha casa. Uma criatura mágica sagrada ao sol! Uma criatura mística!
- E-eu... Eu posso explicar e...
- Seu segredo morrerá comigo, habib, não se preocupe – Ele bateu palmas, logo uma mulher surgiu com uma bandeja cheia de frutas, colocou na mesinha de ferro próxima ao homem alto e depois saiu de cabeça baixa – Venha, sei que está com fome, dormiu por longos dias...
- Dormi?
Trina estremeceu.
A lua... Sabia que sentia algo estranho, estava na lua cheia... Por isso se transformara, óbvio, não tinha controle sobre seu corpo na semana da lua brilhante, e não poderia seguir viagem, pois corria o risco de estar voando e de repente se transformar em humana e cair do céu. O que faria?
- Venha se alimentar, lidaremos com seus conflitos após a refeição.
- Por que me ajuda?
Perguntou desconfiada, olhou mais uma vez para si, alguém tinha trocado suas roupas... Tocado em seu corpo...
- Não tem razão de temer a mim, habib, sou um mulçumano temente a Alá, e respeito todas as mulheres que vem a minha porta, mesmo ela sendo uma ave mágica. Minha empregada pessoal a banhou e trocou, apenas a mantive em meus aposentos por que esse palácio não pertence apenas a mim, mas a minha família e se a colocasse em outro local fariam perguntas, como trouxe uma ave e agora possuo uma mulher? Seu segredo ficaria comprometido. Venha, coma e me conte sua história, estou curioso.
Trina o encarou, ele era definitivamente um completo humano, como acreditaria nele? E como não fazer? Não podia alçar voo, e nem ao menos tinha suas coisas consigo.
- Onde está minha bolsa? - Perguntou indo até a mesa e se sentando com cuidado, sentia de fato seu corpo doer, a tempestade tinha machucado seus músculos. Onde estava? - Onde estamos?
- Sua bolsa está dentro do meu armário e estamos em um oásis próximo a Marrakesh, veio do oceano, presumo?
- Sim, estava indo para a Europa.
- Entendo... A propósito, sou o príncipe Kai, do reinado de Ménara. O terceiro sheik de Sidi Brahim. E você, filha do sol? Como se chama?
- Trina.
- Trina de que?
- Só Trina.
Respondeu comendo as frutas da bandeja, estava com fome, muita, sabia que não devia comer na mesa de estranhos, mas era comer ou ficar ainda mais sem forças. Embora fosse uma ave da luz solar, não vivia de luz e definitivamente não fazia fotossíntese.
Ele guardou silêncio, mas seu olhar era tão intenso sobre ela que não pode ignorá-lo por muito tempo.
- Faça suas perguntas, alteza, responderei o que puder.
- É estrangeira, tem cabelos da cor mais bela que meus olhos já viram, está claro que vem de longe, voava em uma tempestade no mar, depois enfrentou uma tempestade de areia. O que precisa ser feito que está tão disposta a enfrentar a fúria da natureza?
- Tenho uma missão, uma tarefa e preciso seguir até a terra onde a pessoa que pode salvar minha avó se encontra. Assim não posso ceder a violência do tempo, quando uma pessoa preciosa me aguarda em casa.
- Sim, tem razão, pessoas preciosas devem ser protegidas. Eu espero que aceite minha hospitalidade, habib, até que possa voltar a sua viagem fisicamente recuperada. E antes que me pergunte por que faço isso, eu lhe responderei o mais sincero possível, sua companhia e sua beleza me agradam, mais do que saber que tenho uma fênix como hóspede. Eu quero que se sinta em casa enquanto está nas terras de meu povo e que receba a hospitalidade marroquina como uma dádiva de Alá sobre sua viagem longa.
E ele se levantou.
- Voltarei para casa em breve, fique nesta ala, minha Shella irá trazer mais comida e tudo o que precisar, ela fala um pouco de inglês, o básico, mas suprirá suas necessidades. As-salam alaykom!
E ele se foi com o caminhar elegante e singelo de um felino.
Algum tempo depois conseguiu encontrar sua mochila e ficou aliviada de ver que estava tudo certo, tudo estava ali... E algo mais que não tinha notado ainda.
No fundo da mochila ela tirou um objeto pesado e embrulhado em pele... Zitao! Aquele danado tinha escondido aquilo na sua bolsa?
Desembrulhou e não teve como não sorrir. Era uma mini escultura em ouro maciço, um totem das montanhas esculpido elegantemente, um lobo de proteção.
- Ah Zitao, seu maluco, seu pai vai matá-lo!
Resmungou sorrindo pelo gesto, ele queria mesmo que ela sobrevivesse a viagem. Talvez o totem a tenha mandado ali, ouro para a filha do sol? Muito criativo.
Rolou os olhos guardando de novo o presente no fundo da mochila. Quase perdeu o pescoço por causa de uma miniatura de lobo...
Ouviu passos e olhou para trás. A mesma mulher que levou a bandeja a olhava com um pequeno sorriso gentil.
- Seu banho está preparado, Sayidati.
- O que significa?
- Minha senhora, em árabe.
Trina sorriu, a palavra soava muito bonita, curiosa resolveu perguntar sobre as outras duas palavras que ouviu o príncipe falar.
- E As-salam alaykom?
- É uma saudação, significa que a paz esteja com você, é um bom desejo e cumprimento.
- E habib?
Dessa vez ela sorriu mais largo e apontou para um corredor a direita.
- Seu banho vai esfriar, Sayidati.
Trina não entendeu bem por que ela não quis responder, mas a seguiu mesmo assim. Gostaria de verdade de um banho descente, depois dos dias em alto mar e pelo o que entendeu, na areia também.
A casa de banho era linda, cheia de ladrilhos e com a maior banheira em mármore que já viu, Ele devia mesmo ser um príncipe, pois aquilo era muito luxuoso e lindo.
E trina foi tratada como uma princesa também por todo o dia.
Aprendeu várias palavras em árabe com a tal Shella, que descobriu que era um tipo de empregada pessoal faz tudo. Além disso, também a ouviu contar os contos locais berbere, e um pouco da língua rural típica. Se sentia tão encantada que nem viu o dia passar. A única coisa que ela não contou, era a tradução da palavra habib.
Quando o príncipe retornou, Shella se foi, e a primeira coisa que ele percebeu foi que ela tentava memorizar as muitas palavras que havia aprendido no dia. Trina, era uma curiosa e a língua árabe era encantadora.
- Foi proveitoso o seu dia, habib?
- Aprendi muitas coisas alteza, obrigada por me receber.
Trina teve tempo, com ele longe, para sentir o lugar, se ele quisesse fazer algo de ruim, já teria feito. Assim optou por confiar no homem lindo a sua frente.
Ele lhe sorriu.
- Eu é que me sinto honrado por estar próximo de tanta beleza.
Trina se sentiu sem graça e desviou os olhos.
Então sentiu que ele tocava em seu rosto e pela primeira vez em sua vida se sentiu inclinada a permitir ser tocada, nenhum homem a tocara, ela era uma fênix afinal, que macho ousaria?
Um humano, respondeu sua mente surpresa, um humano ousaria.
Logo algo foi posto em sua mão e o toque dele se foi. Trina desceu os olhos e viu uma joia feita de pedras do sol. Ficou sem folego... Aquelas pedras? Como ele sabia?
- O sol, para outro sol. Espero que goste e use essa pulseira. Posso colocá-la?
Trina se perdeu nos olhos dele. Eram tão profundos e misteriosos...
Ela estendeu a mão e ele pegou a joia colocando em seu punho. Ela sentiu seu peso e os dedos dele em sua pele. Fechou os olhos.
- Eu quero te levar em lugar essa noite habib, permitirá que eu o faça?
Assentiu, sem nem entender direito o porquê fazia, o que aquele humano tinha que a fazia agir assim? Podia amar à primeira vista, de forma tão rápida e intensa?
E ele a levou por uma saída lateral até um carro grande, onde um motorista uniformizado os esperava e eles seguiram por uma estrada deserta até adentrarem na cidade movimentada.
Andaram por um tempo em um silêncio agradável até que o carro parou. Ele saiu primeiro e abriu a porta para ela ajudando-a a descer. Trina se viu diante de uma construção antiga, imponente.
- Essa é a Mesquita Kutubiya, a vista do minarete é linda a noite, não é permitida a visita de não mulçumanos, mas eu convenci meu pai a permitir sua visita... Vamos, a torre é de fato maravilhosa.
E Trina se deixou levar mais uma vez pelo moreno até o local que era lindo e imponente por dentro. Ele sorriu com sua empolgação, só havia os dois naquelas salas amplas.
- Aqui é como um templo para meu povo. E um segundo lar para mim. Queria compartilhar com você, habib. Este lugar que é um cartão postal dessa cidade que meus ancestrais tornaram farta e linda, hoje, essa mesquita é uma casa de oração à Alá. Venha.
Alguns minutos depois estava no minarete e de fato a vista era linda, os pontos brilhantes da cidade e mais além, a escuridão do deserto.
- Te agrada?
- Sim, é lindo.
- De fato, mas meus olhos veem mais belezas aqui, neste momento, que ao longe desta torre, você habib, você é mais linda que todas as belezas do mundo físico existente.
E para sua surpresa, ele virou seu corpo e roubou um beijo de si, um beijo profundo, esfomeado, intenso que a deixou sem chão, sem forças, sem reação.
Quando ele a libertou do beijo, porém não de seus braços, ela tinha a resposta de sua pergunta de antes, sim, ela havia se apaixonado à primeira vista, mas não tinha futuro aquela paixão, pois seu corpo, sua vida e sua alma já pertenciam a outro. Pertenciam a um desconhecido tigre, único que tinha a genética certa para dar lhe uma criança fênix e assim trazer vida e felicidade a sua amada avó solitária. Sua vida não lhe pertencia mesmo que quisesse, do mais fundo de sua alma, dar seu coração àquele homem, cujos braços rodeavam sua cintura e aprisionaram seu desejo de um amor impossível.
- Alteza...
- Não diga nada habib, eu sei que tal criatura mágica e especial não pode pertencer a um mero mortal como eu, tenho consciência disso, entretanto, só por essa noite, seja minha, e pegue o que já lhe pertence, meu coração. Ele irá com você quando se for e jamais estará com outra.
E Trina, dividida entre a felicidade de estar nos braços do único homem por quem seu coração já pulsou, e a tristeza de saber que não poderia pertencer a ele mais do que aqueles poucos dias que viriam, fez a única coisa que poderia fazer por ambos e aceitou o seu pedido.

Nas verdes colinas antigas, um inusitado salvador

A Irlanda era linda vista de cima, mas Dublin era caótica vista de baixo. Oito horas depois de pisar ali, já se arrependia de ter tido aquela ideia.
Não que a cidade não fosse linda, mas talvez por ela estar com o coração pesado de ter deixado Kai para trás, nada tinha muito brilho agora, e para piorar ela pousou de mal jeito e torceu uma das asas. Conclusão, ia precisar de pelo menos dois dias para poder voar com segurança novamente.
Então teve de ir por terra mesmo, atrás de uma pensão.
Infelizmente, era semana de São Patrício e todas as hospedarias estavam lotadas e pela primeira vez na vida, ia ter de usar o transporte público. Respirou fundo.
Sua primeira tentativa foi no ônibus.
Pegou a linha rumo ao bairro que segundo um senhor simpático que encontrou na rua, disse que havia outras hospedarias que poderiam ter vagas. Se perdeu três vezes, desceu no ponto errado e as duas únicas que encontrou, não tinham vagas.
Então foi aconselhada a voltar de metrô para o centro e ir tentar nos hotéis. Se perdeu novamente nas confusas e infinitas estações até que por fim, conseguiu sair de baixo da terra, mas ao invés do centro, estava em outro lugar estranho que não aparentava ser muito simpático.
Já tinha gasto uma quantia razoável de euros que trouxe para emergências e em seu bolso agora, haviam mais moedas do que notas. Suspirou. Teria de voltar andando.
Então, por que azar pouco era bobagem, começou a chover do nada e em poucos minutos ficou ensopada, precisava fazer algo e assim, quando viu um taxi surgir na esquina deu sinal para ele, sorriu aliviada ao vê-lo parar, mas em segundos seu alívio se foi, quando um homem passou por ela e entrou no veículo a empurrando de lado. Antes que percebesse, o taxi partia e ela perdia sua chance de se abrigar e voltar para um lugar conhecido, ao menos conhecido pelas memórias e dicas dadas por sua avó.
Assim, sem esperanças de encontrar outro taxi em breve, procurou algum lugar em que pudesse se abrigar até a chuva passar e viu um toldo de uma loja fechada. Parecia abandonada na verdade, correu para a cobertura sem pensar duas vezes e deixou-se ficar ali, rente a porta de vidro embotada pela poeira.
Fechou os olhos cansada.
Queria voltar para o Oasis, para os braços de Kai, para a alegria de ver o sol nascer nas areias douradas do Marrocos. Por que estava ali mesmo? Ah é, queria conhecer a terra de seus ancestrais antes de ir propor casamento e longevidade com o seu sangue de fênix para um príncipe Tigre em troca de sua genética pura. Muito romântico.
- Ei, ei garota! Dá para sair daí! Está atrapalhando a minha visão!
- Hein?
Trina olhou para os lados, mas não viu ninguém, estranho... E então o vidro vibrou e ela deu um pulo para trás, voltando seus olhos para a janela. Um par de olhos irritados a encarava do lado de dentro. Ele poderia ser facilmente confundido com um humano, mas não era. Seus instintos mágicos foram acionados e o olhar ondulante da criatura a fez sorrir. Tinha encontrado um WereCat?
Então ela colou os olhos no vidro como ele e sorriu.
- Olá gatinho!

- Olha, só vai ficar aqui por que me sinto penalizado por você, mas não pense que estou sendo legal! E não toque em nada entendeu, todas essas coisas são importantes!
Trina acompanhou o transmorfo até os fundos da loja abandonada que ele pegou para si e transformou em lar. Era uma mistura de sebo com loja de quinquilharias, mas a confusão de coisas ali até que parecia simpática aos seus olhos. Tinha cheiro de lar. Um lar de um felino, claro. Mas um lar. Sorriu de verdade pela primeira vez desde pousou naquela ilha.
- Eu juro que não vou mexer!
- É bom mesmo, eu nunca vi uma fênix, mas dizem que elas cumprem suas palavras, assim lhe darei uma chance, não desperdice.
- Não farei.
- Pronto, aqui estamos.
E Trina viu o amplo cômodo até que agradável, que ele disse ser seu canto de dormir. Havia um saco de dormir aparentemente macio sobre cobertas no chão. Um sofá largo com almofadas de crochê, mais livros, uma bicicleta pendurada na parede, duas esteiras de corrida que pareciam não funcionar postas paralelas a parede, dois cabideiros cheios de chapéus variados e cachecóis... Ele fazia coleção de chapéus? Se perguntou curiosa e por fim uma geladeira antiga, mas que parecia funcionar.
Então olhou o teto e por alguns instantes ficou pasma demais para se mover.
Haviam quadros no teto, com molduras lindas e delicadas, algumas pinturas eram de natureza morta, outras de rostos de animais e algumas de estrelas e planetas. Eram perfeitos, realistas, lindos e estavam no teto! Quem colocava quadros no teto? Que legal!!!
- Foi você quem pintou?
- Por que acha que fui eu? - E seu exótico e súbito salvador sorriu de canto, quase tímido com seus enormes olhos sobre ela - Ok, sim, fui eu, eu pinto por que isso me faz melhor, me faz relaxar.
- São lindos...
- São não são? Eu gosto de dormir admirando essas pinturas, por isso as coloquei no teto.
Trina assentiu e então se voltou para o garoto baixo estendendo a mão.
- Meu nome é Trina, e o seu, talentoso pintor?
- Kyungsoo.

Kyungsoo era um bom gato. Na dele, como todos os gatos e a ajudou nos dois dias que ficou em sua casa de penetra.
Ele também sofria com a lua e foi a irritação com a lua cheia que os aproximou nas horas tediosas da noite fria. Então, apaixonada por suas pinturas, Trina pediu um pequeno quadro para levar de recordação. E o pequeno metamorfo consentiu, não só no presente, como também tentou ensiná-la a pintar.
Ambos desistiram na noite seguinte, por que a fênix podia muitas coisas, entretanto pintar não era uma delas e seu avental caótico era a prova disso. Mas se divertiu em aprender mesmo assim.
Também descobriu que o pequeno gato falava várias línguas, já tinha viajado por toda a Europa e era um esperto metamorfo que vivia invisível entre os humanos por que escolhera assim. Tentou seu pobre árabe com ele e também não foi bem-sucedida, Kyung era um gênio, ela só uma curiosa. Ele falava três línguas além do inglês, francês, alemão e romeno, fluentemente, enquanto ela mal falava inglês. E mesmo com todas essas diferenças e peculiaridades, sua estadia na Irlanda foi salva pela companhia inesperada e erudita do singelo metamorfo.
Quando finalmente pode partir, para seu último destino, deixou para trás um querido gato que desejou muito rever algum dia. D.O Kyungsoo.

Na fronteira, um pedido de ajuda

Estava quase alcançando a fronteira do Butão quando, o tempo, esse ser difícil, resolveu brincar com sua vida de novo e uma súbita chuva de granizo a fez pousar na beira de uma estrada estranha e desértica.
Se certificou que não havia ninguém a vista e retomou sua forma humana para pegar seu chaveiro bússola e confirmar que sim, estava perto do seu destino, em algum lugar do norte da Índia, alguns quilômetros da fronteira.
Respirou fundo, precisava seguir viagem e não havia abrigo li.
Querendo ou não, tomou coragem e seguiu a pé, usando de sua magia para ir até um local mais habitado onde com certeza haveria proteção da chuva.
Trinta minutos depois, alcançou o Indo-Bhutan Gate, Alfândega e polícia de fronteira. Suspirou. Ao menos tinha chegado no país.
Se aproximou da construção simples e pitoresca, bem ao estilo do pequeno e singelo Butão e sorriu ao ver vário cartões postais presos em um paredão intitulado, estrangeiros visitantes.
Ela não tinha nenhum cartão para deixar ali, que pena. Embora não fosse tecnicamente uma visitante turista... Estava mais para suicida voluntária.
“Vamos, Trina, pare de drama, você tem um trabalho a fazer garota!”
- Ei, você é Americana?
A voz soando quase desesperada a fez se voltar para o som e viu um homem vindo para si correndo.
Um pouco assustada esperou que não fosse com ela, mas não havia ninguém sem ser ela ali, do lado Indiano da fronteira naquele momento.
- Diz, por favor que você é Americana!
Os olhos dele brilharam como um cão que caiu da mudança e ela suspirou. O pobre parecia mesmo desesperado.
- Sou sul americana, brasileira. Por que?
- Serve também, qualquer ocidental serve agora. Só me diga que está ai com seu passaporte!
- Desculpa, mas quem é você?
- Park Chanyeol, do jornal Seul News, correspondente de política internacional!
- E por que precisa do meu passaporte?
- Por que perdi o meu em algum lugar, já dei entrada na polícia, mas como você sabe, a Índia é um tumulto e eu preciso mesmo entrar no Butão até essa noite, o rei vai comparecer em um evento oficial, vai fazer um pronunciamento importante e eu preciso cobrir, é uma questão de vida ou morte, eu preciso mesmo entrar.
- Mas não pode entrar com meu passaporte, senhor Park!
- Se você fingir que é minha esposa, posso sim, eu dou um jeito, só fique do meu lado, sorria, finja que não sabe hindi e eu resolvo o resto.
Oi? Aquele cara era louco?
- Isso é errado, senhor Park, olha, eu sinto muito pela sua situação mas não deveríamos...
E ele se jogou aos seus pés com as duas mãos esfregando uma na outra de forma desesperada e quase cômica. Ela ficou sem reação.
- POR FAVOR! POR FAVOR! POR FAVOR! POR FAVOR!!!
- Levanta seu louco!
- Só se aceitar casar comigo, tem um templo budista não muito longe daqui, não é Las Vegas, mas se conseguirmos que um mestre nos case, entraremos no Butão com seus documentos, assim, por favor, me ajude brasileira, por favor!!! Só case comigo sim! Diga que sim!
Trina suspirou de novo.
Bem, ele parecia bem desesperado, na verdade louco, era descrição correta e segundo sua avó, se algo surge em seu caminho, é por que os deuses querem que aprenda algo com isso, ela não fazia ideia do que um coreano sem juízo alto e jornalista político poderia ensinar a ela, mas em fim. Quem era ela para questionar os caminhos tortuosos das divindades do mundo?
- Vem comigo estranho.
E ela o puxou para a floresta ao redor, onde pudessem falar a sós e sem serem vistos, ele foi sem reclamar, o que mostrava de fato que ele não tinha juízo, e se ela fosse má e quisesse matá-lo?
- Agora me ouça, tire tudo o que tiver no bolso, tudo!
E de novo o humano obedeceu.
Era só para deixá-lo mais leve, só que a quantia de objetos curiosos a fez ávida por vê-los, sem exatamente querer.
Havia celulares, dois, fios e cabos, um objeto branco pequeno cheio de furos, que quando ela perguntou o que era, ele disse que aquilo era um adaptador universal de tomadas. Já que ele viajava pelo mundo todo e precisava de um daqueles, fazia parte do seu quite pessoal.
Depois tirou um chaveiro, carteira, moedas de euro e um mini espiral colorido igual ao que ela encontrou na ilha preso no guarda chuva. Foi impossível não ofegar.
- Você tem um desses!
- Você tem uma mola maluca?
- Eu achei uma, sim.
- E já brincou com ela?
- Não, não sei usar.
- Puxa, mas é fácil, só jogá-la de um lado para o outro, o movimento das espirais relaxam, é meu vício.
E ele riu um pouco sem graça. Ela sorriu.
Tirou a mochila das costas, procurou a outra mola, a sua era grande e estendeu para ele.
- Olha, eu acho que está em bom estado, se gosta tanto pode ficar com ela.
- Mas e você?
Ela deu de ombros. Talvez só dessa vez, era ela quem deveria ajudar o estranho em seu caminho.
- Você precisa muito chegar até o rei?
- Meu emprego depende disso.
- Ok, eu vou te levar lá, senhor Park, contudo tem que prometer fechar os olhos e só abrir quando eu disser, sem perguntas, sem dúvidas, fará isso?
- Eu faria qualquer coisa desde que consiga chegar em Trashigang, o rei fará seu discurso na Universidade, eu preciso estar lá para cobrir.
- Certo, eu te levarei lá. Agora coloque todas essas coisas na mochila, feche os olhos e confie em mim ok?
E ele fez o que pediu, mais uma vez, e Trina sorriu. Ele podia ser louco, mas era um louco obediente.

- Olha, eu não sei o que você fez, mas obrigado mesmo assim, boa viagem e boa sorte até o Vale!
Ela deixou o coreano perto da Universidade e acenou se despedindo.
Ele tinha feito o que ela pediu. E ela tinha devolvido suas coisas, lhe dado sua mola maluca e aprendido a brincar com ela também. O levou até aquele distrito e ele de fato não lhe fez nenhuma pergunta a não ser para onde ela estava indo.
Trina sabia que ele ficou um pouco chocado, ele entendeu que ela não era apenas uma garota comum, mas cumpriu sua parte do trato e não perguntou sobre isso. Park Chanyeol era uma pessoa legal, no fim das contas. Mais um amigo em sua lista de viagens.

E no Vale profundo, as respostas do seu coração

- Cheguei.
Disse a si mesma olhando para o belo Vale que se descortinava a sua frente e para a construção medieval mais além.
Aquele era o distrito mais isolado e desabitado do reino e o líder dos tigres era o governador de lá, sem que, claro, os humanos soubessem que ele não era humano.
O velho tigre era amigo de sua avó, não tão amigo quanto o alfa das montanhas rochosas, mas um amigo que ela considerava muito e visitava com frequência. O velho tigre era o pai de quem deveria ser seu consorte a partir de então.
Os olhos de Kai vieram a sua mente e ela sorriu tristonha.
Ele seria apenas sua lembrança agora, sua melhor e mais doce lembrança preservada no local mais elevado do seu coração.
- Bem, vamos lá!
E ela saltou para o desfiladeiro montanhoso rumo ao castelo Butanês.
Pousou na alta torre e tomou a forma humana.
Logo um tigre veio até ela e também mudou de forma a sua frente. Ela encarou os olhos mesclados, gateados no corpo elegante de um jovem homem. Ele lhe sorriu educado.
- Presumo que seja a neta de Soledad.
- Sim, eu sou a neta dela - Trina se curvou educadamente ao tigre – Venho em busca de Kim Minseok, filho do grande líder dos tigres e protetor do Vale vermelho.
- Se veio por mim, fico honrado.
Trina ergueu os olhos e olhou novamente para o tigre elegante e lindo. Ele era Minseok? Sua avó nunca disse que ele era tão... Bonito. E tinha a sua altura. Sorriu.
- Achei que fosse mais alto.
De repente se lembrou de Tao lhe dizendo a mesma coisa assim que a viu. Riu baixo.
Ele a encarou de sobrancelhas arqueadas.
- E eu achei que as fênix fossem menos rudes.
- Perdão.
- Não se desculpe quando não são palavras verdadeiras, eu de fato não ligo sobre minha forma humana, ela não é quem me define. Entretanto, não deveria apontar meu ponto falho, já que veio atrás de mim por que precisa de um filho, Trina. E como vê, seu sangue e sua longevidade não farão diferença para mim, assim deveria conquistar minha simpatia, não meu desagrado.
Trina deveria ficar brava, ele também estava sendo rude, mas não ficou. Supreendentemente não ficou. Ele já sabia... Bem aquilo facilitaria sua vida no fim. Não era também como se ela quisesse aquilo com todas as suas forças, precisar fazer e querer fazer eram coisas diferentes. Deu de ombros.
- Certo, você está certo, fui rude e mal educada, confesso e você também foi, então estamos quites. Você sabe o que eu preciso e aparentemente você não quer o que eu posso te dar então temos um problema. O fato é que minha avó está esperando a morte por causa de sua tristeza já que sou a última fênix, solteira e fértil da nossa raça e infelizmente os deuses foram caprichosos e me deram um mau temperamento também, assim ela imagina que serei de fato a última mesmo e que não darei sequência a raça, e como eu a amo e não quero que ela morra dessa forma, eu vim atrás de você em busca de ajuda. E esse é o resumo do por que estou aqui. De fato, não tenho muito o que lhe oferecer além do que já citou. Estava só na esperança de que fosse uma boa alma ou coisa assim.
- Ou um homem desesperado por mais anos de vida.
- É, essa era opção mais viável até agora. Desculpe, mas vida longa é o desejo de dez entre dez homens...
- Não o meu desejo.
- Percebi.
- Mas você tem algo que eu quero, se me der, eu lhe dou o que veio buscar e então, ficaremos realmente quites.
Trina se surpreendeu, sério? Oras, o que ele poderia querer dela além do seu sangue mágico?
“Precisa enxergar além do óbvio...”
Mordeu o canto da boca, pois dessa vez ela não conseguia enxergar não. Não fazia a mínima ideia do que aquele tigre poderia querer dela.
- Quero que faça sua escolha.
- Hein?
- Você veio atrás de um pai para seu filho, não de uma pessoa que queira amar para sempre, mas eu quero uma pessoa que me ame e que eu possa amar para sempre, antes que ela seja uma mãe para meu filho. Assim faça sua escolha, se eu lhe der o que você deseja, então terá de me dar seu coração, completamente, sem empecilhos, sem resistência, mas se não puder fazer isso, então não quero seu corpo, por que um corpo sem sentimentos, é como uma casa linda e vazia. Não me serve.
- M-mas...
- Sem empecilhos, fênix, essa é minha proposta – E ele a encarou fixo e sério - Está aqui pelo motivo errado, não é certo querer um filho de alguém que não ama, assim como manter uma pessoa viva, se ela deseja deixar esse mundo. Está intervindo no livre arbítrio e nem mesmo os deuses tem esse direito. Assim, se não vem de livre vontade, deveria partir e encontrar suas respostas aonde de fato deseja estar.
Se seu coração já encontrou o amor, então ele já tem a resposta. E sua viagem aqui, já não tem propósito. Sou mais do que um tigre, ou um protetor do Vale, sou um ser vivo, fênix, e tenho o direito de encontrar o amor também, se já não o tivesse encontrado.
E para a incredulidade total da sua mente e susto por toda a sua vida, a bruxa, mãe de Zitao, esposa do alfa e beta da matilha das montanhas rochosas, saiu de trás de uma pilastra e veio sorrindo para Trina, que só não cedeu a gravidade em choque por que se escorou na balaustrada lateral.
- Por todos os deuses sagrados!
- Minseok também é um dos meus consortes, pequena fênix. Quando li naquela noite a carta da sua avó, ela me disse que tinha certeza que você viria atrás de Minseok para tentar conceber de uma fênix e tentar mantê-la viva, por que a ama e não quer deixá-la. Mas o tempo de Soledad chegou ao fim, e precisa aceitar, lembra-se? “Precisa enxergar além do óbvio...”, Foi o que lhe disse naquela noite, Soledad queria que você tentasse vir, entretanto, por que seria uma boa experiência para você. Então naquela noite eu pedi a Minseok que voltasse para casa e esperasse por você aqui no vale, mas ele me pediu que viesse junto, a final não víamos o rei dos tigres há algum tempo, desde que ele aceitou viver comigo na matilha e junto dos meus outros dois maridos. Tínhamos esperança que você encontraria outros motivos para desistir da ideia ou alguém por quem valesse a pena desistir da ideia e ser feliz do seu jeito. Contudo sua fé e seu amor por sua avó é grande e nos encontramos aqui, do outro lado do mundo, jovem fênix, para que eu possa lhe dizer de novo, que “Precisa enxergar além do óbvio...”
- Mas ainda assim, eu sou a última...
- Era a última, dei à luz a duas fênix logo depois que partiu, agora está livre desse fardo.
- Como? Você não é uma...
E Trina se calou quando a bruxa ergueu os braços e se transformou em uma linda ave, laranja e azul com o símbolo do sol acima do bico. Sim, ela era uma fênix. Por mais incrível que parecesse.
- Minha esposa foi a primeira fênix a vir me procurar, ela já tinha dois consortes, mas a melhor amiga de seu marido temia que a neta deixasse de encontrar seu destino e o amor por causa de saber que era a última fênix e que teria de dar continuidade a linhagem, então ela veio por mim para me avisar sobre isso, para que eu não aceitasse. Nos apaixonamos assim que nos vimos e eu a segui para seu lar nas altas e frias montanhas Canadenses.
Disse o tigre sorrindo para a ave elegante, que voltou a forma humana em seguida.
- Sou uma fênix chinesa, minha linhagem é de outra árvore, por isso não me reconheceu, eu me escondia atrás da minha outra parte, a bruxa, mas temos uma ancestral comum. Eu poderia ter lhe dito lá, mas sua avó pediu que a deixasse seguir sua viagem e assim eu fiz.
- Vovó sempre soube...
- Ela também te ama Trina, ela quer que encontre a sua felicidade. E a sua felicidade não está em sua floresta, nem entre outras fênix, não, pequena filha do sol, sua felicidade está onde está a minha, ao lado do amor da sua vida. Assim, volte para ele e aceite o coração que ele te deu. Ele está a sua espera.
Trina sorriu, de orelha a orelha e viu o tigre lhe piscar divertido.
- Vai logo, quanto antes resolver isso, mais rápido nos visitará de novo, Zitao vai cobrar sua promessa, assim, vá, vá!
E ela assentiu, abraçou a bruxa muito agradecida, pegou da sua bolsa a escultura em ouro da matilha e devolveu a sua legítima dona.
- O lobo cumpriu o seu papel, agradeça ao Zitao por mim, obrigada!
E saltou da torre voando para o alto e se sentindo pela primeira livre, de verdade. Como uma verdadeira fênix.

Sete dias depois, ela pousou no jardim do príncipe.
Ele saiu surpreso do quarto e ao vê-la, correu até ela e a rodeou em seus braços, feliz.
- Você voltou habib! Diga que para ficar!
- Eu digo só se me contar o que significa habib, meu príncipe.
E ele a encarou demostrando todo o seu amor a ela e sorriu radiante.
- Significa minha amada. Você, minha linda fênix, é a minha amada, para sempre.
E ele a beijou sob o sol escaldante do seu oásis.


Fim.





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