Roxanne


Challenge #18

Nota: 8,0

Colocação:




Não aguentava mais ficar sentada na sala de recepção do escritório de Derek. Aquele barulho, da secretária dele digitando, me irritava. Esperar Derek me irritava. Viver com Derek me irritava. Olhei no relógio, a hora não havia passado mais de cinco minutos.
Quando eu havia me mudado para New York, afim morar com Derek, não pensava que seria tão entediante. Foi um amor muito devastador.
Foi no passado.
Foi no início.
Eu amava Derek. Ainda amo. Mas não era mais a mesma coisa. Era vazio por minha parte.
Derek era um cavalheiro. Sempre gentil, educado, amável. Jantares e mais jantares. Todos feitos com carinho por ele mesmo. Ele que me ensinou a cozinhar. Não foi nem uma, nem duas vezes que começamos a preparar algum jantar juntos e acabamos na cama. Ele é um príncipe. Mas não era meu. Pelo menos não mais.
A voz da secretária de Derek me despertou. Levantei o olhar, percebendo o sorriso gigantesco e aconchegante de Derek. Meu coração apertou. Uma das várias noites que cozinhamos juntos ressurgiu.
- Oi, meu amor! Por que veio até aqui? Disse que iria te levar para o aeroporto. – Derek chegou perto de mim, logo beijando meus lábios. O nó na minha garganta não me deixou responder. Logo, fazendo Derek notar que havia algo de errado.
Antes de sair de casa, havia prometido a mim mesma que seria forte. Eu já tinha tomado minha decisão a tempo.
-Vamos para dentro da minha sala, Querida. – continuou o rapaz, me puxando para junto dele.
Assim que a porta se fechou, Derek me encarou:
- O que aconteceu?
Tentei, com força, o responder. Mas minha voz ainda estava embargada. O olhar de Derek caiu sobre minhas mãos e não se esforçou a continuar. Caminhou pelo escritório, fazendo leves barulhos. Em pouco tempo, suas mãos estava estendidas para mim. Ele me oferecia água. Um grande copo de água. O peguei sem olhar para os olhos do meu, até então, namorado. Beberiquei algumas vezes, até me acalmar. Eu sabia o que eu faria. Ele não. Respirei fundo e, finalmente, encarei Derek.
-Derek, eu menti. – desabafei. Eu não conseguiria ir para qualquer lugar que fosse sem, no mínimo, terminar com Derek. Não queria me sentir presa a ele, nem o deixar preso a mim O olhar confuso de Derek chegava a dar pena. Mais um nó se formou.
- Eu menti, Derek. Não vou visitar meus pais. – desmenti as desculpas do meu destino.
- Eu não estou entendendo, Roxie. – implorou.
- É claro que não está. Derek, eu não vou voltar. – o olhar do mesmo se tornou mais confuso. – Eu vou embora.
-Que? Não fala bobagens, Roxie! – ele ainda não está acreditando muito menos intendo. – Do que você está falando?
- Derek, Eu... – minha voz embargou novamente. Desta vez não consegui segurar. As lágrimas quentes rolaram sobre minhas bochechas. – Eu não te amo mais. – disse simplesmente. O olhar confuso se tornou atônico.
- Que você está dizendo? – o rapaz deu alguns passos para trás, franzindo o cenho. – Como assim não me amam mais? E o que tem a ver com a sua viagem?
- Tem a ver que eu vou embora. Não vou ficar mais aqui.
-Roxanne. – sussurrou sem saber o que dizer. Seus olhos foram tampados por suas mãos.
-Me Deus! Você vai me largar? Vai largar seu emprego? Para onde você vai? - finalmente conseguiu concluir.
- Eu não sei onde vou, mas Eu não consigo mais. Eu não te mereço. Você é demais para mim, Derie! Você Não merece uma pessoa como eu.
Eu não conseguiria ficar mais tempo ali.
- Acabou, Derek. Espero que você seja feliz. – disse por fim.
Toquei a maçaneta da porta e Derek riu sem humor.
- Você não sabe o que é merecer alguém. Ninguém merece alguém. Nós as conquistamos. Eu não te conquistei o suficiente. Mas você, Roxanne Resses me conquistou. Espero que alguém lhe conquiste mais do que você me conquistou.
Segurei as lágrimas. Apressei o passo para sair do local. Não respondi Derek. Apenas fugi.

XXX
Paguei o táxi, jogando algumas moedas, e puxei a mala que já havia feito há algumas horas antes. Logo entrei no aeroporto e encarei a placa luminosa de pousos e decolagens.
Não sabia para onde eu iria. Eu não tinha rumo. Observei as chamadas de decolagem. Precisar me decidir. Podia voltar para casa. Podia ver sol novamente. Olhei mais uma vez a placa luminosa, que desta vez fazia a chamada para Inglaterra. Uma luz tomou conta da minha mente.
Corri para agência aérea que estava fazendo a chamada.
Apesar de ter nascido em L. A. meus pais se conheceram em uma viagem. Meu pai era da Grã Bretanha.
Cheguei na bancada e ofegante.
- Quero a primeira passagem para Inglaterra. Neste que saindo.
O rapaz procurou as passagens para tal, avisou que teria que correr para conseguir pegar. Assim que entrei na fila do check-in outros se posicionaram atrás de mim.
As pessoas corriam com suas malas para lá e para cá. Era fora de sério. As pessoas deviam dar um tempo. Fugir de tudo. Não havia avisado ninguém do meu sumiço. Não sabia quanto tempo ficaria fora. Eu estava precisando ficar sozinha.
Corri os olhos pela fila, não demoraria muito para chegar minha vez. Conferi a hora, imaginei estar um pouco atrasada. Não demorou dois minutos para que a última chamada do meu vôo fosse feita.
Vi um corpo, no meio da multidão, se destacar. Era Derek. Ele praticamente corria. Seu rosto estava, além de vermelho, perdido. Parecia que estava procurando alguém. Um bolo na minha garganta se formou. Assim que consegui ser atendida, fiz tudo de maneira rápida. Verifiquei a hora e tinha poucos minutos para chegar à sala de embarque.
Enquanto corria, trombei com algumas pessoas. Mas eu precisava chegar. Pedi aos céus para não trombar com Derek. Corri mais alguns metros e, finalmente, respirei fundo. Eu estava a salvo na sala de revistas.
- Atrasada? - perguntou o segurança, sorrindo.
- Um pouco - confirmei ofegante enquanto passava pelo detector de metais.
Juntei minhas coisas e acendi para segurança, dando grandes passadas.
- ROXIE!
Alguém gritou por mim. Olhei para trás e Derek estava sendo segurado pelo segurança. Meus olhos encontraram os seus e fui tomada por uma dor enorme. Mais uma vez, as lágrimas escorrem. Doía largar Derek daquele jeito. Continuei correndo cambaleante. Olhei para trás para conferir Derek. Ele continuava tentando se desprender do segurança.

XXX
Respirei tranquila quando já estava a tempo no voo. O voo faria uma escala na Flórida e outra em Portugal, depois o último destino seria Londres. Eu ia adorar a neve, aquele frio. Eu até já estava acostumada.
As horas até Flórida não passavam. Eu já havia pensado o que faria. Assim que chegasse na Flórida ligaria para minha Tia Madalena, irmã do meu pai.
Peguei a revista da companhia aérea oferecia. Folheei as páginas que falavam dos benefícios de ser um cliente da mesma. Olhei os diversos destinos que a companhia cobria. As fotos eram maravilhosas. Lugares incríveis, praias, Montes, frio, calor. Não importava o lugar, eles tinham o transporte. Depois de algumas folhadas, adormeci por pouco tempo. Acordei com comissária de bordo ordenando os ajustes para o pouso.
Assim que desci do avião fomos direcionados a uma sala de espera. Peguei meu celular e finalmente o liguei. Havia desligado um pouco antes de sair do escritório de Derek. O celular começou a apitar intensamente. Logo que ele terminou a atualização, o peguei, destravando a tela.
Mensagens e ligações de minha mãe e Derek era o que não faltava; as de Derek ignorei imediatamente. Não as li, nem escutei as mensagens de voz. Não faria nesse momento. Já as mensagens de minha mãe eram em tons de desperto. Uma delas até perguntava se eu havia perdido a sanidade. Talvez eu tinha perdido mesmo. Talvez eu apenas tivesse adquirido ela de volta. Eu não sabia.
Olhei no relógio, já era tarde. Minha tia não devia estar acordada, mas eu tinha que tentar. Não podia chegar em Londres e não tem um abrigo. Busquei seu número na lista telefônica. Não demorou muito para a voz sonolenta de minha tia Madalena tocar meus ouvidos.
- Alô? Quem fala?
- Tia? Oi, é a Roxie. Estava indo para Londres e pensei em passar ai? – exprimi os lábios, em dúvida.
Tia Madalena demorou alguns segundos até responder.
- Oi, Querida! Quanto tempo? Claro! Venha! Quando você vem? – perguntou animada.
- Bom... Chego em Londres em 12 horas.
- Ah, claro! Você tem alguma coisa para resolver em Londres?
-Na verdade, ia, estou indo só para ver vocês. – confessei.
- Ah, meu Deus! – tom dela foi de susto, parecia até que ela se levantou. – Querida, não estamos mais em Londres. Eu e Charlie mudamos para a Escócia!
Minha espinha vibrou. Escócia. Nunca havia ido para a Escócia. Mesmo com meu pai morando perto. Foram poucas as vezes que fui passar férias com meu pai.
- Ah! Tudo bem. Vou pra ai. Sem problemas. Claro, só se a Senhora quiser. - sorri sem graça.
A risada contagiante de minha Tia tomou conta da conversa.
-Querida Roxie, você sempre vai ser desejada aqui.
Tia Madalena sempre foi muito doce e carinhosa. Sorri. Seria bom passar o tempo com ela.
– Vocês estão morando em Glasgow?
- Na verdade, é uma cidade um pouco além de Glasgow. Mas vamos buscar você em Londres. – a voz dela era em tom preocupado.
Após convencer Tia Madalena a me deixar ir até Glasgow, me despedi e desliguei.
Voltei para as mensagens de minha mãe e me limitei a dizer:
“Mãe, estou bem. Eu volto. Te amo, Roxie!”
Não queria mais perguntas.

XXX
Desci no aeroporto de Londres, e logo que toquei o pé no chão londrino. Uma sensação diferente de todas as outras me tomou.
Eu me sentia livre. Eu podia correr. Gritar. Cantar. Dançar. Olhei para as pessoas ao redor e um grande sorriso se formou em meu rosto.
Assim que terminei de comprar as passagens para Escócia. Liguei para Tia Madalena e a avisei dos horários de partida e chegada.
Sentei em um dos bancos e encarei meu celular, que mais uma vez, estava cheio de ligações e mensagens de Mamãe e Derek. E mais vai vez ignorei as do rapaz. Eu não conseguiria ser forte, se tivesse que escutar a voz dele de longe. As mensagens de voz da minha mãe mostram a voz embargada e a preocupação. Desta vez, não respondi. Ela já havia sido avisada sobre meu bem estar.
Imediatamente, meu coração doeu. Eu estava sendo egoísta de apenas me preocupar em fugir. Devia responder, pelo menos, as perguntas de minha mãe. Cliquei no botão de áudio e enviei.
“Mãe, estou realmente bem. Estou num lugar seguro e vou ser bem cuidada. Não se preocupe, eu volto. Te amo!”
A chamada do meu voo aconteceu e pude me levantar. Meu estômago doeu. Passei em rápido em uma padaria dentro do aeroporto mesmo. Corri para a porta de embarque. Assim que entrei no avião coloquei novamente meu celular em modo avião. Peguei o adaptador do celular e conectei na tomada que havia no acento do avião.
Agora era só esperar algumas horas.

XXX
Olhei ao redor procurando minha Tia. Observei duas ou mais pessoas, até que notei uma mulher com os olhos tão aconchegantes quanto os de meu pai. Sorri. Tanto por fora como por dentro. A mulher me abanou, esboçando um grande sorriso.
- Tia! – abracei forte. Eu sentia saudade que nem sabia que tinha. New York fazia isso com as pessoas. As tornava frias.
-Oh, Querida, que saudade! – falou Tia Madalena enquanto me abraçava forte.
Ela me encarou e seus olhos, cheio de carinho, me deixaram envergonhada.
- Tia, me desculpe lhe avisar assim de repente. – me desculpei antes de puxar a mala ir sair do aeroporto.
- Não se desculpe! Será Muito bom ter você conosco.
Partimos para fora. Tia me levou até um carro com um rapaz mais ou menos da minha idade.
- Roxie, este é Bartholomew, sobrinho de Charlie.
- Olá! – cumprimentei o com um a perto de mão.
- Prazer em convencê-la. – retribuiu, mostrando a fileira branca de dentes perfeitos.
Bartholomew me ajudou a colocar a mala dentro do carro, logo seguimos para Braemar.
Fazia alguns minutos Que estávamos na Estrada e uma música desconhecida tocava. Era meio gospel. Tia Madalena fez perguntas para saber como iam Minha mãe, Derek e meu emprego. Foi ia que noites que não tinha nada além deles. Nada além de Mamãe, Derek e Meu emprego. Bartholomew, que dirigia, Logo notou que eu escondia alguma coisa. Breve em breves momentos seu olhos disparavam aos meus quase como se me pressionassem a falar verdade.
- Roxie, estava com tanta saudade. Fazia tempo que não nos vimos. Quase não te reconheci, devo admitir. Você não veio para essas terras desde... desde que meu irmão morreu. – confessou minha tia quase em um sussurro. Havia dor ali. – Pedi para Charlie para irmos embora Londres não era mais a mesma coisa sem seu pai. Por isso que não estamos mais em Londres. Fiquei tão feliz quando você me ligou. Mas eu sei que não é uma simples visita. O que aconteceu? - aquilo me pegou de surpresa. Eu não tive como não reagir de forma que expressasse que sua afirmação estava certa.
- Eu... eu... – um bolo havia se formado na minha garganta. – Me desculpe. Eu não... Eu não... Droga!
Respirei fundo e o bolo deu uma breve abertura. Desmenti minha história. Contei tudo que estava acontecendo. Era melhor contar na Estrada onde minhas palavras não marcariam nenhum lugar da casa

XXX
Assim que abri a porta do carro Tio Charlie já vinha em minha direção.
- ROXIE! CRIANÇA! Quanto tempo! - cumprimentou, me abraçando forte. Ri com no carinho do meu tio. Sua barriga saliente permanecia ali.
Meus tios me levaram para dentro, sem parar um minuto de falar como estavam felizes com a minha visita. Tia Madalena e o sobrinho de Charlie sabiam. Que minha estadia demoraria um pouco mais de alguns dias.
O lugar em que moravam eram distante de Glasgow e distante do Centro da pequena cidade de Braemar. Mas dava para sentir a pureza daquela aquela brisa fria da Escócia e observar o imenso verde tranquilizador. Colocaria minha cabeça no devido lugar.
- Querida, vá se deitar um pouco. Vamos preparar algo para comer. Essa noite foi cansativa.
Quando minha tia falou da minha canseira, eu a senti. Os ombros pesaram, assim como meus olhos. Havia cochilado no avião, porém não como dormir em cama macia. Minha tia me encaminhou para quarto. Havia uma boa cama, bem aconchegante e um pequeno armário. Para mim, estava mais que bom.
- Quarto não é grande, Mas a cama é Boa. – Tia Madalena comentou; sorri sem graça.
- Está ótimo, tia. Melhor do que eu mereço. – sorri e a abracei.
- Tome um banho descanse. Bartholomew irá ao Centro buscar algumas coisas. Quando tiver pronto, eu te acordo.
A mulher me mostrou onde era o banheiro. E logo foi a cozinha, Me deixando sozinha.
Arrumaria minhas coisas, tomaria um banho, após isso eu descasaria. Mesmo que pouco.
Coloquei a mala, que havia feito ainda em Nova York, em cima da cama. Desfiz o caminho dos zíperes.
Olhei para a mala aberta, Me assustando com a pequena caixa Vermelha dentro. Juntamente com um envelope bege cerrado. Aquela mala não era minha. Só podia ser. Tirei os dois objetos estranhos, revirando a mala.
Era minha.
Havia minhas roupas.
Era minha.
Sentei na cama e abri o envelope. Minhas mãos tremeram ao reconhecer a letra bem desenhada de Derek.
“Querida Roxie, caso esteja lendo esse pedaço de papel, provavelmente estará com a sua mãe. Demorei meses para finalmente ter coragem para o que vou fazer. Não sabia como juntar todos sem que você desconfiasse dos meus atos, pensei em algumas coisas mirabolantes, entretanto, nada me parecia bom ou sincero o suficiente. Eu não sei mentir, principalmente para você. Então você anunciou essa viagem e a ideia me ocorreram. Não haveria necessidade de nada tão mirabolante como tinha pensado, bastava que você e sua família soubessem de minha intenção. Foi difícil me manter firme diante desta decisão, não que tivesse dúvidas, mas faltava coragem às vezes. Essa semana você deve ter percebido um pouco a minha distância, sinto muito, mas era a única maneira de conseguir manter meu plano. Então, é isso. Creio que já deve estar desconfiada sobre o que estou falando. Não escreverei aqui justificativas, pois não acho necessário escrever sobre sentimentos tão intensos e fortes, mesmo num papel deste tão sensível. Quero que saiba que a amo. Amo-a como nunca imaginei ser possível amar alguém. Desejo cuidar e protege-la. Faze-la sentir-se sempre amada.
Roxanne Resses, você quer casar comigo?
Com todo meu amor e para sempre seu,
Derek”
Meu coração estava congelado. Meu rosto úmido pelas lágrimas.
Eu abandonei Derek, minha mãe, meu emprego e meu sonho de formar uma família feliz.
Passei os dedos pelo rosto, secando as lágrimas. Peguei a caixa vermelha escura e a abri. Meu coração aperto só de ver o círculo delicado, simples e sincero como Derek. As lágrimas rolaram com mais intensidade. Eu amava Derek disso que tinha certeza. Já era tarde demais, não adiantava chorar pelo leite derramando.
Peguei o anel e o envelope, os guardando em uma parte da mala.
Era a hora de mudar a minha vida.

XXX
Acordei no meio da madrugada com a boca seca. Saí do pequeno quarto entrando na sala onde há poucas horas havíamos jantado. Sentado a mesa estava Bartholomew. Ele ainda era uma incógnita para mim. Tia Madalena apenas contentará que era sobrinho de Charlie.
- Sem sono? – perguntei indo em direção à cozinha.
Ele balançou a cabeça positivamente, sorrindo.
- Só vim pegar num copo de água.
- o dia foi longo para você. Nem se alimentou direito. - Bartholomew comentou. Me limitei a apenas assentir. Não comi direito, não dormi direito, não fiz nada direito. Depois de ler a carta de Derek, eu não compreendi mais nada da minha vida.
Peguei um copo, o enchendo de água gelada. Saí com o mesmo na mão e o rapaz continuava sentado na mesa com as mãos juntas.
- Quer alguma coisa? - questionei após beber um copo de água.
- Se importaria em me ajudar? - me respondeu com outra pergunta. O olhar do rapaz era aflito.
- Não! Claro que não. – disse enquanto puxava a cadeira.
Bartholomew umedeceu seus lábios carnudos e voltou a olhar suas mãos.
-Sempre fui muito temente a Deus e a igreja anglicana. Sempre estudei em escolas coordenadas por padres. Frequentava a missa. Você deve estar me achando um louco. Não estou te explicando nada direito. – riu sem graça. Resolvi deixá-lo continuar. – mas ao contrário dos outros, eu não frequentei uma faculdade. Resolvi dedicar minha vida a Deus. Na época, todos acharam incrível. Meus pais são muito religiosos, logo me apoiaram. Eu era seu orgulho. Mas fui posto para fora de casa quando desisti do seminário. Não consigo mais entrar em uma Capela sem me sentir sujo. Eu rezo toda noite. Roxanne, eu sou sujo por quer numa vida diferente daquela que meus pais imaginavam?
Pesquei algumas vezes para focar em seu rosto. Meus olhos viram o desespero dele. Ele foi abandonado pelos pais justo quando mais precisava. Era quase palpável, a angústia presa em seu peito.
- Não, não é. Se você fosse sujo por não ser padre. Então, a maioria da população seria também. Bartholomew, essa rejeição dos seus pais deve ser um simples susto. Eles vão voltar atrás.
- Eles não voltaram faz cinco anos. Divido que vão voltar. – ele sorriu sem graça.
- Acho que você, como um temente a Deus, deva crer mais. Faça a essa sua fé se transformar em ações. Você não precisa ser um padre para ser digno.
Uma pequena ponta de alívio se formou em seus olhos.
- Sabe, Roxanne, você foi a única que consegui me abrir.
- Me sinto lisonjeada. Mas me chame de Roxie, por favor. – agradeci tentando fazer graça.
Eu e Bartholomew conversamos por mais algum tempo. Assim que terminamos, fui para cama.

XXX
Eu terminava de lavar a louça do almoço enquanto minha tia secava. Tio Chalie foi para o seu quarto tirar um cochilo enquanto Bartholomew ajudava a guardar a louça.
- Barthie, você já mostrou seu ateliê para Roxie? – Tia Madalena questionou o garoto.
- Não. – confessou o mesmo, sem graça.
- Pois devia mostra-lo a ela. – reprovou Bartholomew. O rapaz sorriu para mim e convidou para ver seu ateliê mais tarde.
Terminamos de arrumar a cozinha, logo o ex-padre me levou até uma construção minúscula no fundo do terreno de minha tia.
As diversas telas pintadas eram incríveis. Os traços leves e aquarela eram bem desenhados. Havia de todos os tamanhos e tons. Percebi que Bartholomew gostava de trabalhar cada tom em uma tela. Juntas ali mostravam tons terrosos, frios, quentes, pastéis e assim por diante. Daria uma ótima exposição.
- Uau! Isso aqui é maravilhoso. – enfatizei ao desfilar por entre as telas. – São suas?
Apesar da pergunta ser óbvia, eu queria uma certeza.
- São! – confirmou, rindo gostoso.
- Isso é tão lindo! - manifestei ainda embasbacado. – Eu queria tanto saber fazer algo assim.
Toquei em uma tela feita com relevo.
- Não há problemas! Sempre podemos aprender coisas novas. – disparou Bartholomew, sorrindo travesso. Pegou uma tela, posicionando no tripé. – Sente-se no Banco, Roxie.
O pintor logo se acomodou ao meu lado. Explicado diversas coisas sobre tintas, pincéis. Informações que nem sabia que eram importantes para a confecção de uma tela.
Passamos a tarde pintando e conversando sobre assuntos variados. Não tocamos em nossos passados. Não era preciso, nem queríamos tocar neles. Quando voltamos a casa, eu e a tia Madalena preparamos a janta. Não demorou muito para irmos dormir. Antes de tomar banho olhei os dedos sujos de tinta.
Sorri.
Fazia anos, longos e longos anos que não via tinta em meus dedos. A última vez foi quando eu e Derek pintamos nosso apartamento. A imagem de Derek surgiu, sendo incontrolável imaginar como ele estava. Meu coração apertou.
Peguei meu celular e tirei do modo avião. As chamadas de Derek não haviam se acrescentado desde a última vez que verifiquei. O que me fez me sentir ainda pior que eu estava. Porém, ao contrário de Derie, as de minha mãe se multiplicaram.
Li algumas, mas, basicamente, eram sobre o meu local e minha segurança. Respondi que estava segura. Enviei uma foto do quarto para ela ter certeza disso. Disse que ainda não era a hora da volta e pedi por sua paciência.
Me deitei e encarei o lugar da mala onde havia guardado o anel e a carta.
Mais uma vez dormi pensando em Derek.

XXX
Algumas semanas haviam se passado e não posso dizer que não estava adorando aquele lugar, toda a cidade era fantástica. As casas, lojas e os poucos prédios que tinha eram, na maioria, estilo medieval. Os poucos lugares que não eram com esse design, não eram tão modernizados como em New York. Tudo havia um toque de rústico e antigo.
Ao longo das semanas, Bartholomew e eu nos aproximamos demais. Íamos ao centro da cidade para fazer as compras e outras coisas que necessitamos. Passeávamos pelas cidades vizinhas. Nos domingos fomos à igreja juntamente com meus tios e pela amanhã ajudava minha tia com os afazeres de casa. A tarde, Bartholomew me dava pequenas aulas de pintura e informações sobre a religião.
Uma cidade relativamente pequena como Braemar ocorria de todos se conhecerem e consequentemente, saberem um pouco a mais da sua vida pessoal. Entretanto, me sentia mais livre ali. Ninguém me conhecia. Ninguém sabia mais do que o necessário e não havia a carga do passado. Com o passar das semanas as mensagens de Derek cessaram; as de minha mãe não eram mais com tanta urgência, mas o tom de preocupação continuava. Recebi um e-mail do meu chefe comunicando a minha demissão. Apesar de tudo ainda me sentia segura.
Entrei no ateliê e Barthie estava em seu pequeno templo, havia criado para manter suas rotinas de oração. Fiquei em silêncio por alguns minutos até o pintor se levantar.
- Já tem algo para hoje? - perguntou um pouco depois que iniciarmos a conversa.
- Pra falar a verdade, não. – arqueei as sobrancelhas, sem graça.
Bartholomew sorriu grande.
- Quero te mostrar um lugar então.
Durante algumas aulas minha inspiração foi sempre minha relação com Derek. Olhei para a tela que tinha terminado há poucos dias. Era meio abstrato, havia riscos e cores vivas, porém trazia cores fortes e negras. Era como meu relacionamento com Derek, não sabia será bom ou ruim. Era apenas um relacionamento.

XXX
Eu e Bartholomew passeávamos pelos campos de Braemer para talvez assim eu encontrasse inspiração. Olhei para Bartholomew e conseguia notar como ele era bonito, não encontrar motivos para alguém como ele se tornar padre.
- Por que desistiu do seminário? - perguntei sem olhar em seus olhos. Aquela era uma pergunta íntima. Desistir de um seminário, de ser padre, é diferente de desistir de qualquer outra profissão.
- Não era minha vocação. – afirmou convicto, sem fraquejar – No início eu tinha certeza. Eu estudei minha vida toda para passar a palavra de Deus, mas quando descobri a arte das tintas. – os olhos de Bartholomew brilharam – Soube que minha vocação não era ser padre.
- É ser pintor. – o completei, sorrindo com o sol pegando em meus olhos.
Ele riu gostoso.
- É!
Observei os montes crescendo ao longe. Já havia caminhado pelos campos, mas aquele lugar parecia diferente. Era ainda mais puro que os outros.
- Já teve sua inspiração? - perguntou Bartholomew mostrando seus dentes brancos. O retribui.
- Acho que sim.

XXX
Abri a porta do ateliê de Barthie e fui até os pincéis.
- Quero pintar os montes no horizonte.
Ele preparou o tripé com uma tela média. Logo tocando o banco a frente para eu sentar mais uma vez.
Nunca imaginei que uma coisa tão delicada e precisa quanto a pintura fosse tão relaxante.
Barthie revisou como devia traçar as linhas com o lápis no quadro. Logo que terminei, o ex-seminarista trouxe os pincéis e as tintas já posta no plano. O rapaz indicou a cor e a localidade que eu devia começar. Iniciei com calma fazendo o que ele me instruiu há alguns dias atrás.
Batholomew, enquanto pintávamos, contava como um dos seus professores de filosofia descrevia o horizonte. Era tão bonito. A forte religiosidade da família de Bartholomew influenciava muito sua maneira de pintar.
- Não segure tão forte o pincel. Seja carinhosa. – aconselhou logo ponto seu banco atrás do meu e pegando minha mão e ajeitando com o pincel.
A proximidade com o homem me assustou. O toque delicado de sua pele junto a minha era energizante. O pintor falou alguma coisa que não consegui prestar atenção. A sua voz me desconcertou um pouco. Notei as pinceladas no tecido da tela enquanto o mesmo continuava a falar. Não consegui me contrair e virei a cabeça para o lado, encontrando a dele. Eram milímetros que nos separavam. Nossas respirações aceleram em descompasso, os movimentos dos nossos olhos intercalavam a íris e os lábios, e as pinceladas, que antes eram firmes, se tornaram soltas.
O barulho do pincel batendo contra o chão não conseguiu ser absorvido totalmente pelo meu cérebro, já que os lábios carnudos de um certo padre tocaram os meus.
Não foi difícil não retribuir.

XXX
Depois do primeiro beijo, ocorrem muitos outros. Bartholomew e eu, no tornamos muito íntimos. Logo Bartholomew escapava de sua cama para vir na minha. Ou combinávamos de ir ao ateliê.
Era mais uma tarde que passávamos no ateliê. Me sentei no sofá, bebendo um pouco de chocolate quente. Naquela tarde não pintamos. Curtimos o momento de podermos estar juntos sem se esconder. Seria difícil para nós contarmos sobre uma coisa que nem nós sabíamos ao certo.
O rapaz se atreveu a beijar meu pescoço. Senti um arrepio bom. Era tão gostoso ficar junto de alguém. Lembrei do tempo que Derek e eu ficávamos na sala sem nada para fazer. Apenas nos curtindo. Eu gostava tanto desses momentos simples e discretos.
Bartholomew se levantou e vestiu as calças e pôs a puxar uma pequena tela no tripé.
- Roxie, queria lhe pedir uma coisa. – Bartholomew me encarou, depois de algum tempo concentrado no quadro.
- Peça. – sorri, incentivado o a falar.
- Queria saber se esse fim de semana não gostaria de ir um restaurante comigo? - ele não perdeu sua linha de raciocínio, já eu não podia dizer o mesmo.
Um calafrio percorreu meu corpo. Não era algo bom. Eu não sabia o que dizer.
- Ah, claro. – sorri sem graça e ele voltou ao quadro, mas desta vez bem mais animado.
Decidir dormir.

XXX
Os dias até o fim de semana passaram. Era sexta à noite. Quando acordaria não estaria mais ali. Fechei o zíper da mala e deitei na cama, esperando as horas passar.
Meu despertador nem chegou a tocar. Peguei a mala e pé por pé sai do quarto. Olhei para o pequeno carro que me esperava na frente de casa. Deixei a carta que havia escrito na cozinha, perto do avental que minha tia usava pela manhã.
Olhei para os móveis, Eu sentirá falta. Corri para fora da casa e antes que chegasse ao portão a voz de Bartholomew tocou meus tímpanos.
- Eu sabia que você estava planejando algo. Já esperava sua partida.
Me virei sem saber o que dizer.
- Eu... Eu... – comecei a gaguejar assim que tentei me explicar.
- Roxie, não precisa me explicar. – anunciou o homem.
- Barthie, não estou pronta para um relacionamento. – admiti.
- Eu sei. Nem Eu estou.
Abracei Bartholomew e me despedi.
- Antes de ir, Roxie. Fique com isso e lembre-se de mim.
Bartholomew deu me um pequeno embrulho de papel pardo.
- Claro que irei lembrar. – ri – Principalmente quando você for famoso. – debochei.
Ele me puxou pelos ombros, abraçando me forte.
- Diga a tia Madalena e ao a Chalie que os amo e vou voltar para visitá-los. Boa sorte, pintor. – Bartholomew assentiu, sorrindo.
Corri para o táxi que me levou para o metrô.
Eu iria de metrô até Londres de lá eu veria o que faria da vida.

XXX
Quando cheguei na aeroporto, não sabia ainda o lugar para qual eu iria. Sentei em uma pequena cafeteira, pedi um café e alguns muffins, já que não comi nada desde a janta. Um lugar que eu gostava muito era a Grécia, mas eu já havia ido para lá com Derek. Queria um lugar diferente, com pessoas diferentes, com comida diferentes, com estilo diferente, com tudo diferentes.
Meu olhar passou pelas pessoas do aeroporto. Lembrei que não sabia ainda o que Barthie havia me entregado. Tirei o embrulho pardo da mala e tirei as fitas. Era um pequeno quadro de uma moça deitada em um sofá, sem moldura. Foi impossível não remeter à tarde em que ele me convidou para sair.
Era tão simples e discreto, mas com os tons negros trazia seu mistério era como Bartholomew.
A garçonete me despertou quando trouxe meu pedido. A agradeci, logo notando seus olhos puxados e sua pele pálida. O estalar da minha mente fez meu olhos brilharem e meu corpo queimar.
Eu ia para o Japão.

XXX
Eu sempre quis conhecer Tóquio. Desde mais nova observava a cultura japonesa. Quando a ideia me ocorreu, meu coração vibrou de uma maneira que nunca aconteceu antes.
O avião começou o procedimento de descida, foi inevitável o frio na barriga.
Assim que pisei em território asiático, sorri. Encarei as pessoas, quando puxava da esteira minha mala. Não demorei a encontrar a alfândega e resolver minhas pendências.
Apesar demorar as burocracias do país, me martilhei por ter reclamado da demora. Meu estômago rangeu de fome. Poderia comer no aeroporto, mas assim que a ideia surgiu, ela se foi. Eu precisava de uma comida forte. Comida de avião era horrível.
Carreguei minha mala para fora do aeroporto, arrumando um táxi. Indiquei que gostaria de ir a um pequeno bairro de Tóquio que sabia que havia restaurantes e alguns hotéis. Eu havia lido nas revistas de cortesia.
O Motorista me levava enquanto, ficava cada vez mais abismada com aquela cidade. New York era demais, a cidade não parava, mas Tóquio não perdia nada.
Assim que o taxista parou, me deixando em um restaurante quase que comum, o paguei com a moeda que havia trocado na casa de câmbio.
Encarei a rua, a maioria estava com as portas fechadas. Droga! Olhei meu relógio do celular, já quase estava na hora de acordar. Vi os barulhos de Chaves e encarei um garoto novo que eu.
- Você está abrindo ou fechando? - gritei, enquanto corria até ele, puxando minha mala.
- Fechando. Está meio tarde. – riu, o garoto.
- Isso é relativo. – bravejei. O horário, que estávamos, era tão tarde que chegava ser cedo.
O asiático sorriu e encarou seu relógio.
-Talvez você tenha razão.
-Sabe onde tem um restaurante aberto que não esteja vender o café?
Ele comentou de uma casa de show que ficava sempre aberta e que servia comida.
- Não quer que eu te leve até lá?
Olhei para a estrada e para minha mala. O encarei de canto de olho.
- Não vou te matar. – completou o rapaz – É aqui perto.

XXX
Não demorou muito para chegarmos ao local. Como também não demorou para já ser tornarmos amigos. Seu nome era Shirou Mizushima. O local era colorido e um pouco pequeno. Talvez fosse porque estava lotado.
- O que eles servem? - perguntei me ajeitando em uma mesa pequena de canto.
- O que você quiser. Na verdade não recomendo você pegar o sushi e sashimi. Não são bons, Mas o resto está tranquilo.
Sorri para ele. Eu já havia experimentado os pratos mais tradicionais que eram feitos nos Estados Unidos.
- Sempre quis saber como era o tempura.
- Com certeza você vai gostar daqui.
Fizemos nossos pedidos, assim não tardamos começar a observar e comentar os estrangeiros cantando no karaokê. Não sabia o quer mais engraçado: os estrangeiros cantando ou os nativos quando se atreviam. Outros também, enquanto cantavam, dançavam sem ritmo.
Rimos por longos minutos até finalmente nossos pedidos chegarem. Shirou queria muito que fossemos cantar. Neguem insistentemente.
Ao longo da janta descobri mais sobre Shirou. Ele morava sozinho, era o quarto filho de cinco. E seu some significava o “o quarto filho” e seu sobrenome “ilha”. Tinha mal completado 19 anos. Os seus três primeiros irmãos eram apenas homens e sua última era uma pequena garotinha.

XXX
- Mas então, pra que lado é seu hotel? – Shirou questionou quando saímos do Karaokê.
Um calafrio percorreu minha espinha. Não sabia nem onde passaria essa noite.
O rapaz notou minha incerteza.
-Você tem um lugar para ir, certo? –arqueei as sobrancelhas.
Neguei rapidamente. Os olhos de Shirou se estreitaram.
- Onde você pensa em ficar? – Shirou perguntou um pouco confuso.
- Quando decidi vir para cá não sabia, exatamente, onde ficar. Olhei alguns hotéis por aqui. Tem um que vi na revista do avio.
- Olha eu ia te chamar de louco de vir para Tóquio sem hotel, mas vou te chamar por quer ficar em um hotel de revista cortesia.
- Eu não tinha opção! Aliás, eu não tenho. – retruquei, dando os ombros.
- Por que não se planejou? - questionou o jovem. Meu sangue ferveu. Não gostava dessa invasão na minha vida. Ignorei. – Se você não me contar não posso ajudar.
Revirar os olhos e descruzei os braços.
- Eu estou fugindo do meu... Meu noivo. – soltei as palavras com peso. Eu já não sabia o que Derek era meu. Não havia aceitado seu pedido, mas ele já não era mais meu namorado. Na verdade, ele não era nada meu mais.
- Ainda não estou convencido. - ele cruzou os braços e franziu o cenho.
- Tudo bem, tudo bem.
Virei a mala sentei, começando a me explicar.

XXX
- Acho que você ainda gosta muito e ama muito Derek. Acho que você só quer se descobrir. – olhei para Shirou depois que terminou seu comentário.
- Por que diz isso?
Ele sorriu. Nós caminhávamos pela rua cheia de hotéis, restaurantes e casas de shows, indo para o desconhecido. Pelo menos para mim.
- Você pode me achar muito novo e dizer que só tenho 19 anos. Porém eu tenho um dom. – ele me encarou com o brilho nos olhos. – Eu sinto a aura das pessoas. Não sei se isso é um dom ou todos conseguem, mas sei que é forte.
“você fala dele sua alma brilha de uma maneira tão forte que eu nunca vi. Sinto que sua aura sente uma vontade de brilhar ainda mais, mas não da mesma maneira que brilha quando fala de Derek. É como se você quis se libertar.”
- Eu quero muito. Você não sabe como era entediante estar com Derek. Não sei se concordo com você sobre ainda amá-lo. Era sempre aquela mesmo jeito, mesmas coisas, mesmas situações. Aquele mesmo amor. Estou cansada disso. Está me deixando doente.
Ele começou a rir.
- Não sei se notou, mas está dando “same old love”.
Percebi as batidas da música e o refrão sendo cantado. Balancei a cabeça, negando.
- Acho que você estava apenas pensando na música e não em seus sentimentos. – debochou o mais novo.
- Talvez a música defina meus sentimentos.
O garoto me encarou, finalmente.
- Nunca saberemos.
Sem dizer mais uma palavra sobre o assunto, engatou a chave em uma porta estreita e nossa conversa se perdeu pelo caminho.
Nenhum lugar seria marcado na minha memória. Eu podia deitar em paz.

XXX
- Não repara na bagunça, minha irmã veio me visitar estes dias. Não tive tempo de arrumar. Sabe as contas estão chegando. – ele deu os ombros. – Essa noite, você passa aqui. Amanhã podemos falar com o sindico, pois o apartamento da frente está para alugar.
Concordei. Sentei no sofá enquanto puxava um pequeno brinquedo, que devia ser de sua irmã mais nova.
- Já que é assim, aqui está a chave de casa. – peguei o molho de chaves junto com um chaveiro rosa. Encarei o objeto e tranquei a risada.
- Era da minha mãe. – se defendeu.
- Que idade tem sua irmã? – perguntei depois de algum tempo em silêncio.
- Completou três anos semana passada.
Novamente, olhei para o objeto de recém-nascido.
- É de estimação. Ela esqueceu aqui.
Ele deu os ombros, voltando para o que devia ser a cozinha.
Logo que acabou seus afazeres, me mostrou onde ficaria. Seria o sofá. Já estava bom. Na verdade, estava ótimo.

XXX
Acordei cedo demais. Revirei alguns minutos no sofá, mas não voltei a dormir. Shirou me avisou que trocava o dia pela noite e que dormia feito uma pedra. Arrumei a sala recolhendo algumas caixas de pizzas, e dobrando as roupas de cama que havia me dado. Dei um jeito na cozinha, lavando a louça e passei um pano pelo apartamento. Abri um pouco as janelas. Fiz um café para mim.
Percorri o pequeno apartamento com o olhar, eu estava na casa de um estranho. Quando eu aceitei o convite de dormi na casa dele, não medi as consequências, pois ele só tinha 19 anos. O que poderia fazer com uma mulher berrando os 30. Absolutamente nada na minha cabeça.
Balancei a cabeça, apagando da memoria tais pensamentos. Do mesmo agora já tinha dormido. Bebi um pouco do café.
-Bom dia! – escutei a voz de Mizushima.
-Bom dia! Quer um café? Acabei de passar. – ofereci.
El assentiu, indo para a cafeteira elétrica. Não falei mais nada com o pequeno Shirou.
Ao sentar e beber um pouco do café, o mais novo indagou:
-Você está estranha. O que deu?
Levantei minha cabeça, encontrando os olhos puxados de Shirou.
-Nada.
-Mentirosa!- gritou e eu me sobressaltei. – Sua aura está pesada. Pode começar.
Tentei desconversar, mas foi em vão. A questão dele “ver” a aura parecia o ajuda-lo. Não consegui mentir, muito menos desconversar.
- É só isso? Você está com medo de mim? – zombou o garoto, rindo da minha cara.
- Te conheço a menos de 12 horas e já estou na sua casa!
- Eu confio em você. Não teria te trazido se não confiasse.
-A questão, talvez, não seja você confiar mim, e sim, eu confiar em você.
- A questão é você me dar um voto de confiança. – disse o rapaz arqueando uma de suas sobrancelhas – E outra: você está em uma cidade que conhece apenas por imagens e textos da internet. Com pessoas tudo iguais, você com certeza vai se perder.
Eu encarei embasbacada. Como assim?
- Vamos logo, se arruma. Vou te levar para dar um volta. Mas cuida que posso te matar. – o garoto saiu da cozinha, rindo. Eu ainda não havia entendido.

XXX
- Vamos rápido! – alertou Shirou, quase tropeçando em seus pés.
Nós havíamos ido visitar alguns pontos turísticos em Tóquio, e por consequência perdemos a hora.
Pegamos o primeiro metro que nos levava o mais perto possível do restaurante que Shirou trabalhava.
-Vamos, Roxie! Tenho que chegar três. – gritou mais uma vez.
Em nosso passeio, Mizushima se mostrou um garoto muito sonhador. Ele queria viver sua vida no Havai como surfista e não com sushiman em Tóquio. Ele disse que adorava surfar e que fazia muito bem. Sempre que podia dava uma ida para uma praia próxima para se energizar. Shirou ainda era muito inocente. Ainda achava que as pessoas eram boas e usava seu dom para afirmar: “A maldade ainda é minoria, eu vejo. Você sabe?” Não havia como descordar. Eu sabia que quando ele encarrasse a vida ele realmente ia saber o que eu estou falando.
Assim que fechou a porta do restaurante o pequeno Mizishima gritou:
- Não estou atrasado! São 14: 58.
Todos, que estavam no estabelecimento, se assustaram.
-Sua sorte que não tem nenhum cliente! – o homem gordo e de olhos puxados jogou uma pano branco em seu colo. Shirou vestiu. – Quem é sua amiga? – perguntou em um tom de reprovação.
-Desculpa, senhor. Ela veio porque ainda não se deslocar aqui em Tóquio.
O homem gordo encarou tanto eu e Shirou reprovando nossas atitudes.
-Tudo bem! Vê se não atrapalha! – repreendeu o dono.

XXX
Bebia minha água enquanto conversava com Shirou e seus colegas no balcão. Notei a pequena fresta da porta da sala da administração aberta. Bebi um gole da minha água, vendo o Senhor Hideki quebrando a cabeça com as contas.
-Acho que estamos falindo. – comentou o pequeno Shirou, baixo.
-Por quê?
- Há dias vem fornecedores pedir o pagamento e ele enrola. Estou com medo de no final do mês nem para nós sobrar.
Voltei a olhar apara a saleta. Eu tinha que ajudar Shirou. Ele estava me ajudando.
Me levantei e atravessei a porta. Ninguém me impediu. Sabia que Shirou havia sentido o que iria fazer.
-Precisa de ajuda, Senhor Hideki?
O olhar do homem foi em direção ao meu.
- Você tem dinheiro para me emprestar? – debochou – Então, não.
-Não, não tenho. Mas posso te ajudar com as contas.
Derek havia me ajudando um monte quando me mudei. Aprendi muita coisa sobe economia com ele.
- Por que devo confiar em você? Eu lhe conheço.
A conversa com Shirou pela manhã tocou minha cabeça. Ele precisava confiar em mim.
- Por nada, mas sou sua única opção. Você está perdido nas suas contas, como eu estou perdida em Tóquio. Eu aceitei confiar em Shirou, talvez você deva aceitar confiar em mim. – soltei as palavras com confiança ao mudar o peço corpo para uma única perna e cruzar os braços.
Apesar de relutar o Senhor Hideki aceitou. Assim, me pus a sentar ao seu lado.

XXX
Ao final da noite, estávamos todos contentes. Pelas minhas contas faltava um pouco menos de um quinto para que Hideki quitasse suas contas com os fornecedores. Um dos fornecedores concedeu voltar no outro dia, já que afirmamos precisar da renda da noite para que quitássemos. Havíamos conseguido. O movimento ali não era ruim, mas faltava gestão. O resto dos dias para o fim do mês seria usado para pagar o resto. Funcionários, luz, água, seguranças e entre outros.
- Estou exausta! – confessei me atirando no sofá.
- Você fez um bom trabalho hoje! – disse o mais novo.
- É, talvez você tenha razão. Porém há muita coisa para arrumar.
Shirou foi para cozinha, logo voltando com o café.
-Amanhã não podemos esquecer de falar com o sindico. – pronunciei.
Shirou apenas concordou com a cabeça.
Peguei meu celular, que constava uma mensagem de minha mãe. Respondi que estava um pouco mais longe desta vez e por isso não havia a respondido. Afirmei que estava bem e garanti que em algum momento voltaria.
Ela sabia que eu estava bem.

XXX
Fazia um pouco mais de uma semana que estava na casa de Shirou. Ainda não tinha falado com síndico. Estava ajudando o sushi bar de Hideki enquanto esperava Shirou. Ajeitava uma conta ali e aqui, organizava planilhas, conversava sobre as finanças com o dono.
- Roxanne, quero te fazer uma pergunta. - sentou Senhor Hideki na minha frente. Assentou para que continuasse – Não sei por quanto tempo você passará aqui, mas acho que você demorará para ir embora, estou certo?
- Provavelmente. – sorri para homem.
- Ótimo! Vi que está se dando bem com no pessoal e, principalmente, com as contas. – Hideki, homem de pouco sorrisos, riu. – E eu estou satisfeito com seu trabalho. Estamos, finalmente, dando num rumo ao bar. Então, pensei em juntar o útil ao agradável. Você provavelmente precisa de um trabalho para se manter e eu preciso de alguém para me ajudar. Pensei em talvez você pudesse trabalhar por aqui.

XXX
- Foi meio que irrecusável. – contei ao Shirou enquanto bebiamos um cerveja no balcão da cozinha do seu apartamento. Ele ofereceu um salário bom.
- Acho que você fez certo! Sabe, você vai conseguir ficar mais tempo com essa ajuda.
- Com certeza.
Apesar de concordar com Shirou, minha estadia em Tóquio não estava sendo como imaginava. Não que estivesse ruim, longe disso. Entretanto, não havia pensando que Tóquio podia ser tão parecida com New York. Isso estava me incomodando. Não demorou para que o mais novo me despertasse do transe.
- Roxie, não querendo de incentivar a partir, mas falei com no síndico hoje, pela manhã, e, infelizmente o apartamento já foi alugado. Então, estive pensando: não esta tão ruim dividir o apartamento contigo. Juro, que já havia tomado minha decisão antes de saber de qualquer coisa. – olhei confusa. Quando começou a fala achei que iria pedir para eu ficar aqui, porém estava me enrolando demais.
- Vá ao ponto. – pedi ansiosa.
- Pensei que você pudesse dividir o apartamento comigo. – confessou o mais novo, coçando a nuca, encabulado.
Mostrei os dentes e o puxei para um abraço.
- Claro que sim! Até porque não tenho onde morar. – debochei.
- Ia ficar sentido se tivesse que te pedir isso antes de você trabalhar no bar. Sabe, com a sua ajuda posso economizar um pouco para minha ida ao Havaí. Não iria gostar de saber que seria difícil para você.
Apertei ainda mais o mais novo. Ele era tão puro, ingênuo. Confiava em uma pessoa que mal conhecia. Era um garoto cheio de sonhos.
- Shirou, não ficaria incomodada em lhe ajudar se fosse para realizar seu sonho. Devemos sempre correr atrás deles. Veja eu. E olha que nem sei o que quero. E outra, sei como Havaí é incrível, te apoio totalmente nesse sonho.
O garoto retribuiu o abraço, mas logo se esquivou.
- Mas conta como foi sua idade para o Havaí. – a pergunta me fez ter tantas lembranças e todas ela com Derek. O japonês franziu o cenho e continuou:
- Aposto que seu amado Derie que te levou.
Rimos, mas sabia que era verdade e não me arrependia.

XXX
Não estava mais me sentindo confortável. Parecia que estava anos em Tóquio, apesar de não passar de algumas semanas. Estava voltando a ficar cansada de tanto trabalhar. Apesar de ser mais uma brincadeira, ainda assim era sério. Estiquei o braço e ajudei o sushiman a enrolar os sushis.
Shirou havia me ensinado, no tempo livre, a fazer sushis, sashimis e alguns outros pratos que eu gostava da culinária japonesa. Me ensinou a força, alegando que eu faria para Derek anos mais tarde. Sorri com sua esperança.
- Fala o que tanto te atormenta. Do jeito que está o nosso almoço ficará ruim.
- Não é nada demais, só canseira.
O mais novo revirou os olhos, sabia que não adiantava mentir.
- Parece que estou de volta em Nova York. – confessei.
- Então está na hora de ir embora. – o tom triste na voz do mais novo fez um buraco em meu peito.

XXX
Desta vez foi diferente, passamos algumas tardes pesquisando sobre alguns lugares. Shirou queria, porque queria que fosse para o Havaí. Armou todo um plano de viagem, mas no fundo ele sabia que era uma viagem só minha. Ao final, escolhi o Egito. Seria maravilhoso. Uma cultura totalmente diferente da que eu estava acostumada. Arrumei minhas coisas, deixei o apartamento em ordem, assim como as contas do bar. Deixei tudo pronto para minha partida.
Fiz a maioria dos procedimentos de entrada antes mesmo da primeira chamada do voo. Segurei a mão do meu amigo.
- Sabe que quero manter contato, certo? - verifiquei o seu conhecimento.
- Sim, Roxie. – riu. Eu havia repetido diversas vezes durante os dias que antecediam minha viagem.
- Era para ter certeza.
Fiquei alguns minutos conversando enquanto meu voo não era chamado, o que logo não demorou a acontecer.
Abracei o mais novo e desejei tudo de melhor. Afirmei que torcia pelo seu sucesso no Havaí. Antes de ir embora puxei da carteira uma pequena foto minha e de Derek no Havaí e a entreguei a ele.
- Uma lembrança minha e de seu sonho.
Shiryu encarou a foto e reforçou o que me disse durante minha estadia:
- Vocês vão ser muito felizes. E ainda por cima, juntos – Sorri sem mostrar os dentes. Dei os ombros sobre sua afirmação.
- Siga seus sonhos, garoto. – ele voltou a me abraçar antes de finalmente me deixar ir.
- Vou seguir e quando estiver lá, te mando um cartão-postal. – gritou ao longe.
Fiz todo o caminho até a entrada no avião. Assim que sentei no banco o homem que estava ao meu lado estava bem vestido com uma pasta reta em seu colo. Não parecia nenhum momento como um asiático. Eu estava feliz, pelo menos não me lembraria de meus momentos com Shirou.
Tóquio era incrível, toda aquela agitação e as luzes. Entretanto, não foi nada como esperei. Todo aquele ar urbanizado me lembrava de Nova York. E esse não era o propósito. Não que foi ruim, mas não foi O que esperei.
O homem, que devia ser uns 10 anos mais velho que eu, sorriu. Retribui. Ele era alto e fina, estacava o corte do terno.
Enviei uma mensagem para minha mãe, já que fazia tempo que não nos falávamos. Um aperto no coração fez minha garganta fechar e as lágrimas sair.
Não tive muito tempo para pensar, fomos mandados a arrumamos os acentos e os cintos de seguranças. Fizemos a decolagem da sensação de vazio era uma tanto quanto imensa.

XXX
Já estava algum tempo rolando a câmera de fotos do meu celular enquanto as lágrimas caíam mais grossas que antes. Eu estava com saudade. - Com licença, mas a senhora está bem? – Perguntou o moço ao meu lado.
Passei as mãos pelo meu rosto e assenti.
- Sim, sim, só estou com saudade de casa.
Ele confirmou com a cabeça.
- Eu te entendo. Deve ter uma família te esperando. – comentou o mais velho.
- Na verdade, não.
O homem franziu o cenho, confuso.
- Duvido que uma moça bonita e bem apessoada não tenha ninguém lhe esperando.
Sorri.
- Na verdade, até tem, mas ainda não é hora de voltar.
- Ainda bem. Prazer, Tory Zuma!
- Prazer, Roxanne Resses.
- Então, Roxanne, sua família mora na África?
Franzi o cenho, confusa.
- Não, não. Moram nos Estados Unidos.
- Está indo a trabalho?
Ainda estava confusa.
- Não, não a passeio. Vou para o Egito.
Foi então que o mais velho franziu o cenho.
- Não, este voo vai para África do Sul.
Meu sangue gelou. Em pouco tempo fiquei perdida. Chamei a comissária e ela garantiu que o voo Não pararia no Egito.
Como eu havia pegado voo errado? Lembrei da pequena confusão de portão que teve, porém garanti que estava certa. O que estava errado?
- Senhora Resses, - chamou Tory – desculpa minha intromissão, mas acho a melhor a senhora não relatar a falha. Pois provável que te deixem na primeira parada e sabe se lá quando vão de encaixar no voo correto. Se descer Comigo, na África do sul, posso te ajudar. Tenho amigos importantes e não teria nenhuma dificuldade em lhe assegurar um voo.
De início achei a ideia absurda. Onde este homem estava com a cabeça. Porém o juízo me tomou e seria mais aconselhável e fácil descer na África e pegar um voo para Egito, do que ficar refém de uma agência aérea. Talvez eu estivesse errada e Shirou certo. A maldade ainda era pequena eu precisava dar um voto de confiança para as pessoas. Foi isso que aprendi com o pequeno Shirou. Confiar nas pessoas.

XXX
Nas horas restantes ao voo, Tory me contou que trabalha para ONU. Era um dos representantes dos direitos humanos da organização. Homem extremamente importante para diversos povos do mundo. Tory contou também que suas viagens o fizeram aprender muito idiomas, além do inglês – idioma mais falado no local. Aprendeu Alemão, Francês e Espanhol. Sem contar idiomas menos falados da própria África.
-Se você ficasse na África poderíamos ver diversos lugares tão bonitos quando os mais famosos do mundo. – explicou o Africano.
-Eu imagino!- falei animada quando falávamos de lugares que já havíamos visitado. Eu e Derek viajamos muito, antes de eu resolver surtar. – Um dia visitarei.
-Mas e você, querida, porque está indo para o Egito.
Encarei Tory e não soube mais dizer o por quê de eu e Shirou termos escolhido o Egito. Havíamos conversado muito sobre como foram construídas as pirâmides e todas as lendas que cercavam o local. Entretanto nenhum deles era um motivo bom o suficiente, pelo menos para mim – naquele momento- para ser um destino.
-Não sei, na verdade. – sorri sem graça. O mais velho respondeu com um olhar um pouco confuso. –Bom, eu estou... meio que mochilando. – menti. Não queria contar a ele sobre Derek e sobre nossa história complicada.
- Claro, viajando sem rumo. Mas você realmente quer ir para o Egito? – perguntou, erguendo uma de suas sobrancelhas. Balancei negativamente a cabeça. – Então, como eu estava dizendo: se você ficar na África, conheço vários hotéis bons e acessíveis, você poderia ficar lá. Estou com alguns dias livre e, também, poderia ser seu guia.
Ele riu, sendo inevitável não sorrir.
-Talvez, eu aceite.

XXX
Assim que descemos em Bloemfontein, me explicou que a Africa do sul havia mais de um capital. Havia uma capital executiva, que seria Pretória; outra legislativa, Cidade do Cabo, e uma judiciária, que era Bloemfontein.
Após arranjarmos tudo, um carro já esperava por Tory. O mesmo, novamente, me explicou os passos do nosso caminho. Íamos para uma cidade chamada Durban, ele me largaria em um hotel que já estaria reservado para mim e seguiria para seu compromisso.

XXX
Me instalei no quarto de hotel, Que havia sido escolhido por Tory e era simplesmente incrível. Até uma banheira tinha. Ele havia explicado que morava na cidade e conhecia muito apesar de sua família morar em uma cidade do interior. Deixei a mala em cima da cama e a abri, encontrando o quadro de Bartholomew, o chaveiro rosa da chave do apartamento de Shirou e ao lado, a caixinha onde estava meu anel de noivado. Peguei meu celular, e notei a resposta de minha mãe. Conversamos por alguns minutos. Ela já não perguntava onde eu estava; tinha entendido que precisava de um tempo.
Peguei uma roupa e logo tomei um banho, eu precisava dormir.

XXX
Assim que acordei, pedi uma comida do hotel. Peguei meu celular e a uma nova mensagem de minha mãe estava presente. Era apenas numa saudação de despedida. Assim que pensei em responder, a campainha de meu quarto tocou. Era uma servente trazendo minha comida quente. Fazia algumas horas que não comia algo realmente saudável.
Não passou mais do que uma hora e a recepção me informou que Tory estava a minha espera. Liberem sua entrada. Arrumei um pouco por cima o quarto. Escutei o barulho da porta e corri até ela.
- Olá! – cumprimentei o homem a minha frente, logo o convidei a entrar.
- Achei que não estaria acordada. – confessou o mais velho. – Fizemos uma longa viagem.
- Acordei faz algum tempo.
- Bom, passei aqui para te levar para jantar. – sorriu o representante.
- Oh, Tory! Não precisava se preocupar.
- Você é minha convidada.
Fiquei um pouco constrangida de recusar. Ele estava sendo tão bondoso. Não contei que já havia jantado e acabei aceitando seu convite.

XXX
Não demoramos muito, já que estávamos cansando. Homem explicou que ali iríamos encontrar muito mais pessoas falando no zulu, língua nativa, do que o inglês- africano, contrariando as estatísticas do continente.
Pelo caminho, Tory anunciou que não estaria pela manhã em Durban, mas que a tarde me levaria ao um lugar surpresa.
Ansiedade quase bateu o sono. Eu gostava de surpresas, mas que não me contasse que fariam. Eu era curiosa demais.

XXX
Como prometeu Tory Zuma apareceu era um pouco passado do meio dia. Se certificou que havia almoçado e finalmente saíamos.
Ao longo do caminha contei a ele que pela manhã havia ida a praia que era próxima ao hotel. Ele comentou do píer era uma grande atração e que em uma noite me levaria lá.
Chegamos num local de azul intenso. Encarei o lugar, um pouco desconfiada.
- É um show com animais aquáticos? – Eu não gostava da utilização para shows artísticos. Eu acho que os animais deviam ser livres.
- Não, é apenas um aquário. Há muito peixes que são utilizados como decoração. Este aquário tem quase intensão de disso. Este aqui tem total formação científica. O pessoal que trabalha são totalmente competente e vivem para cuidar desse animais. – explicou Tory enquanto subíamos as escadas.
Assim que entramos, fiquei encantada com o tamanho dos aquários da beleza dos peixes.
Tory me apresentou a uma amiga que seria nossa guia. A moça explicou que cada um daqueles aquários era um ecossistema. Eram misturados e postos de maneira desordenada. Ela falou de equilíbrio ambiental enquanto me mostrava os peixes.
Eu podia passar mais que dias ali. Era tão calmo, tão lindo. Era maravilhoso.

XXX
Era um noite quente, eu já estava quase completando há primeira semana em Durban. Tory havia me levando ao um jantar. Segundo o mesmo, eu precisava conhecer a noite típica africana. Disse que era regada com muita comida, dança e música. Íamos ao um restaurante mais nativista, já que os que tinham me levado eram muito chiques e cheios de dedos.
O mais velho puxou a cadeira para mim quando chegamos. Observei Tory conversar com o garçom na língua nativa. Eu já estava me acostumando com O dialeto diferente.
O garçom se virou e Tory voltou a me olhar.
- Se você não se importar já fiz nosso pedido. – anunciou, sorrindo – Você não entenderia nada e acharia estranho. Pedi um prato típico.
- Não, não me importo. – concordei.
Uma música animada e cantando em Zulu começou. O mais velho me explicou algumas palavras que a música dizia. Falava de luta e conquistas, exatamente como o povo.
Longo um grupo iniciou numa dança. Eles não dançavam com sincronia, porém, segundo Tory, era assim que se dançava. Ressaltou que, se notássemos, podia ser confundida com uma luta. Tory, novamente, contou como funcionava a cultura de lá. Em basicamente tudo que se era feito havia uma lenda, um história ou um motivo.
Observei a dança enquanto comíamos. Não demorou muito para que Tory me tirasse para dançar. Eu não tinha ginga nenhuma.
Enquanto rodávamos para lá e pra cá, a noite brilhava e a brisa marítima tocava nossas peles. Foi impossível não pisar nos pés do mais velho algumas vezes.
- Tenho que te ensinar a falar zulu! - afirmou, Tory.
- Com certeza! – concordei, rindo. Toda vez que escutava algum nativo falando em zulu ficava como uma expressão “estranha”. Eu contorcia o rosto numa tentativa frustrante de intender alguma palavra.

XXX
Depois da janta tipicamente Africana, eu e Tory jantávamos juntos quase toda noite. Nos jantares, costumava me ensinar um pouco de zulu. Eu até estava me arriscando a falar uma ou outra frase. Já pela amanhã e, às vezes, pela tarde resolvia seus assuntos da organização. O mais velho consumava dizer “eu saio do trabalho, mas o trabalho não sai de mim.” para explicar seus afazeres.
Entretanto, hoje ele não teria nada pelo dia inteiro. Só a noite um jantar com alguns políticos da região. Havíamos combinando que naquele dia iríamos fazer um safari, pois ir para África e não fazer safari é a mesma coisa que nada. Quando fechamos que faríamos o safari, lembrei de Derek. Nós faríamos juntos. Antes de descer coloquei meu chapéu e então desci. Logo que sai notei que Tory já me esperava. Então, seguimos.

XXX
Ver os animais tão perto de nós em seus habitat natural era uma experiência indescritível. Confesso que algumas vezes senti muito medo. Quando vimos os leões, lembrei de Derek. Sempre que combinávamos de fazer um safari juntos. O mesmo debochava, dizendo que me daria aos leões como bife. Tirei algumas fotos de animais, pois minha mãe adorava e sabia que ela se encantaria. Não sabia quando a mostraria, mas sabia que este momento chegaria.

XXX
Estávamos na frente do hotel. E Tory me convidava para ir para seu jantar e pela manhã ir pela a casa de seus familiares numa cidade mais ao interior.
- Não! São seus pais e vou me sentir deslocada.
Depois de negar algumas vezes mais, ele concordou. Mas me fez garantir que qualquer coisa eu o ligaria. Nos despedimos e lhe deu boa viagem.

XXX
Fazia alguns dias que Tory havia ido. E já se completavam três semana e meia que estava na África. E também completava quase quatro meses que havia fugido. Tory Zuma me ligava Tory ligava todos os dia para saber como eu estava. Eu já havia conhecido os arredores e eu estava me virando bem.
Puxei o computador e desta vez queria me assegurar um destino certo e seguro. Logo que Tory voltaria, não teríamos muito dias para irmos embora. Decide que quando Tory partisse, Eu faria o mesmo.
Já tinha algo em mente, bem diferente do que Tory queria que eu fizesse. O representante da ONU queria que fosse junto com ele para a Índia. Eu nunca me daria bem na Índia.
Queria ir para um lugar latino. América Latina. América do Sul. Eu já havia ido para o Brasil e havia adorando. Queria poder ir para outro país de lá.
Olhei alguns destinos e Machi Picchu foi o que mais me encantou. Reservei as passagens e um hotel pela companhia de viagem que conhecia.

XXX
Quando Tory voltou combinamos de irmos ao Jardim botânico. Minha viagem estava marcada para dois dias dali. Ajeitei meu cabelo e peguei meu celular, enviando uma mensagem para minha mãe. Disse que estava indo para outro lugar. Eu não a contava os lugares aonde ia. Não demorou muito para que ela me respondesse, dando boa viagem.
O telefone tocou, recepcionista avisou que Tory estava a minha espera. Desci, pegando uma bolsa.
Não demorou para que Tory me levasse ao carro e chegássemos ao jardim
Ele me cumprimentou em zulu e assim no respondi. Era uma língua difícil precisava de prática e bons ouvidos.
- Quando é seu voo? - perguntou o mais velho.
- Pelas seis da manhã.
- Você está decida mesmo a ir para o Peru? – o tornou, com tristeza na voz.
- Sim! Eu sempre quis conhecer Machu Picchu.
- A Índia não é como você imagina. É um lugar tão bonito. – insistiu o homem.
- Você já falou isso é, talvez, eu até concorde. Porém não minha hora de ir para lá.
Ele concordou mais uma vez. E conto nos o passeio. Tory contou um pouco sobre a importância da maioria das árvores ali presentes.
Era um lugar tão arborizado, verde e limpo. Víamos um ou outro grupo de turistas e logo um calafrio tomou conta da minha espinha. Um deles era dos Estados Unidos. E a passar de rezar para não encontrar ninguém de conhecido, Deus não atendeu. Uma moça que trabalha com Derek estava lá. Se ela me visse e reconhecesse eu estaria frita. Tory sentiu minha tensão e se atreveu a perguntar:
- Está tudo bem?
- Pra falar a verdade, não acho que caiu minha pressão.
O mais velho me puxou para um banco enquanto resmungava alguma coisa sobre água. Não demorou para moça notar minha presença. Ela me encarou por alguns instantes, sem acreditar no que via. Ela se remexeu, desconfortável. Ela não havia entendido ou não a queria entender que realmente era quem ela achava que era. Em um gesto simples, acenei. E, finalmente, ficha caiu. Ela não soubesse se vinha até mim, acenava de volta ou simplesmente me ignorava. Quando ela conseguiu respirar, mencionou de vir até mim, mas desistiu. Escolher acenar e depois me ignorar, seguindo o grupo, perturbada.
Tory chegou com uma água e um saquinho de pipoca.

XXX
Estava, novamente, na frente do hotel para me despedir do homem.
- Amanhã tenho compromisso. Mas vamos jantar juntos, meu voo sai de madrugada, então já deixarei um carro para você.
- Tory, não precisa se preocupar eu pego um táxi.
- Bem capaz, Roxie. Agora, vá descansar. Amanhã o dia será longo.

XXX
A amanhã passou mais rápido que à tarde. Assim que acordei, tomei um café e logo corri para a praia, onde havia algumas mulheres deitadas em suas esteiras, pegando uma cor. Passei pela Beira mar. Até que voltei e tomei um banho já era meio dia. Saí para comer e dei numa pequena volta, entretanto as horas não passavam. Olhei um pouco de tevê. Enviei uma mensagem para minha mãe. Estava louca de saudades. Mas ainda não era de voltar.
A noite chegou e horas antes do horário marcado, eu já estava pronta. Eu queria dormir logo para poder, finalmente ir para o Peru. Pela primeira vez durante a fuga eu estava nervosa.
Logo que recebi o chamado de Tory desci apressada.
- Vamos ir naquele restaurante ali? – apontou o mais velho, ao restaurante Beira mar perto do píer.
- Vamos!
O lugar era tão charmoso, fresquinho e acolhedor. Sentamos em uma mesa quase na areia. O cheiro do. Mar e o toque aveludado das ondas dava um clima ao local.
Pedimos uma comida simples. Eu já quase sabia todos os pratos. Conversamos sobre nós nos reencontrarmos algum dia.
- Roxie, queria lhe dar isso para se lembrar de mim. – declarou Tory com um livro nas mãos.
Peguei o embrulho de suas mãos o agradecendo pelo presente. Era livro grande, grosso e com dizerem que não soube traduzir. A capa vermelha e dura meditava ser algo raro.
- Você vai rir quando eu lhe contar o que é. – disse, rindo o mais velho.
Folheei algumas páginas e me parecia familiar.
- Não sei o que é, mas é lindo.
- É um dicionário Zulu. – comentou, logo pondo se a contar que era dele quando mais novo.

XXX
Caminhávamos pela praia indo em direção ao píer enquanto alguns iam de bicicleta. Ele contou um pouco da história do píer e como era um importante marco para Durban. Ele era homem de muito conhecimento. Eu adorava escutar aquilo.
- Vou sentir sua falta. – admitiu o homem.
- Eu também.
Fogos de artifícios explodiram no céu, devido a uma feira que acontecia pela volta.
Encarei os brilhos no céu. E pela primeira vez, notei que céu era mais limpo, ali. Os fogos Não cessavam um minuto.
- Não vou conseguir ir embora sem isso.
Me virei para comentar sobre a beleza dos fogos e da África quando as mãos grossas e os lábios carnudos de Tory tocaram os meus. O beijo durou pouco tempo, porém tempo suficiente para me assustar. Assim que nos afastamos. O encarei confusa, mas ele não falou nada. Apenas voltamos para hotel em silêncio. Quando chegamos apenas nos abraçamos. Tory caminhou até o carro ele, finalmente, falando:
- Adeus, Roxie.

XXX
Cheguei na recepção para pagar a minha estadia.
- Olá, gostaria de fechar a conta.
A moça perguntou meu nome e meu quarto.
- Senhora, sua conta foi paga ontem à noite.
Olhei confusa.
- Não, moça. Olha de novo. Eu não paguei.
- Foi paga, Senhora, por Tory Zuma.
Agradeceu pegando minhas malas, ainda confusa. Ele havia pago minha conta. Fui até a frente do hotel e larguei minhas coisas, dando uma ultima respirada fundo.
- Com licença, Senhora Resses? – perguntou um senhor de terno.
- Sim?
- Estou encarregado de te levar até o aeroporto.

XXX
Não esperava ir para um lugar tão maravilhoso como África. Suas praias paradisíacas e sua recepção foram as melhores que já recebi. Era tão incrível ver um lugar que em alguns anos atrás era devastado por guerras e hoje é uma potência. Aquele lugar me enchia de orgulho, mesmo não nascendo ali. Era uma nação de ser muito mais que valorizada; era uma inspiração de nação. Eu já estava a mais de uma hora no avião. E a aeromoça já se preparava para o pequeno lanche. Me ajeitei no assento e passei a olhar as fotos da câmera. Minha mãe iria gostar daquelas fotos. Iria amar aquele lugar. Pensei como seria legal ter ela comigo. Por mais rebelde que eu estava, eu ainda amava.

XXX
As horas no avião foram longas. Demorou as paradas, demorou a viagem. Foi entediante. Entretanto, finalmente tinha chegado. Notei a chuva que caia enquanto saímos do avião. Logo procurei a companhia de viagem. Fiz o processo de reconhecimento e logo já estava sendo encaminhada ao carro. A chuva que cai dificultou a chegada no carro, porém o motorista já me esperava com um guarda-chuva.
Assim que cheguei na pousada, me senti em casa. Eu adorava aquela alma caseira. Um dos motivos para eu ter amado ficar na casa da Tia Madalena. Havia um sofá marrom avermelhado e ao seu lado uma pequena mesa. Em. Um dos cantos tinha uma escultura rudimentar, imagino que seria. Uma moça muito querida me atendeu, levando me são quarto. Não demorei para começar a ajeitar minhas coisas. Desci e perguntei ao pessoal que horas era servido a janta e assim resolvi dormir. Coloquei o despertador para um pouco antes do horário do janta.

XXX
O despertador tocou, em seguida desci. Havia um pequeno grupo de pessoas de diversos países. Nós conversamos, comentamos sobre o que algum deles faria e descobrimos os passeios que tínhamos em comum.
Após a janta voltei ao quarto e me pus a dormir novamente. Eu teria um passeio pela manhã.

XXX
Me encontrava na frente da pousada esperando o guia liberar nossa entrada no ônibus. Íamos ao Sacsayhuaman, que seria uma espécie de templo.
-Bom dia, aventureiros! – disse um homem mais ou menos da minha idade com os cabelos sem corte e a pele morena sofrida. – A partir de hoje eu sou o Guia de vocês e seremos um grupo. Vamos fazer um pequeno e mais luxuoso mochilão. Meu nome é Pablo Duran e conforme chamarei entrei no ônibus.
O mesmo fez um sinal para acompanharmos, em seguida subiu as escadas do mesmo, sentou-se no primeiro banco, colocando o braço e a cabeça para fora. Sua mão fez contato com a lataria do ônibus e começou a char os nomes, sendo assim cada um fazia o que foi mandando: subia no ônibus.

XXX
Todos já estavam acomodados quando o instrutor gritou ao motorista que partisse. Após sairmos dos portões rústicos da pousada, o guia levantou e se pôs a falar:
-Vocês ainda lembram meu nome? – disse sorrindo.
- Pablito! – um garoto gritou debochado.
- Boa, rapaz. – o guia caminhou até o garoto, dando um tapa na mão do mesmo.
- Uma pergunta mais difícil, qual o nome do lugar em que vamos?
- Sacsayhuaman. – falei. Era um dos lugares que mais queria ir sem contar Machu Picchu.
- Boa, garota! Qual seu nome? – Pablo veio caminhando de volta para o banco em que estava.
- Roxanne.
-Roxanne, you don't have to wear that dress tonight. – cantarolou. Todos olharam confusos, Mas eu conhecia a música era do The Police. Derek fazia questão de cantar. Meu coração apertou só de lembrar. – Que foi? É do The Police. Não conhecem? - reclamou. Desta vez decidi não me pronunciar.
Pablo explicou como andaríamos pelo local e algumas questões de seguranças.
Imediatamente que cheguei ao local senti uma sensação tão boa, quase uma leveza Pablo explicou algumas informações importantes, em seguida liberou o passeio pelo mesmo.

XXX
Passava a mão pela estrutura do Sacsayhuaman quando Pablo me chamou:
- Se não é a Roxanne, mexendo nas pedras.
- Só estou olhando, não vou roubar. – debochei. Os tamanhos daquelas rochas eram de deixar qualquer um embasbacado. A arquitetura do local ficava ainda mais rústica.
- Sabe, Roxanne...
- Roxie, por favor.
- Ah claro, tipo “the name on everybody's lips is gonna be Roxie...” – cantarolou. Franzi o cenho em confusão. – Chicago, o musical sabe?
- Ah, sei.
- Então, Roxie, - me encarou com as sobrancelhas em pé – Eu sou muito fã de pedras, sei a maioria que estão pela região. Estas aqui com certeza são pesadas para se carregar e ficam lindas. Mas não são as mais lindas. Antigamente havia um lugar onde era possível pegar alguns pedaços de uma das mais caras pedras sem preocupar. Nem sabíamos o valor, sabíamos da beleza. Muito comerciantes vendiam em seus colares a preço de banana, porém uma empresa se adotou do lugar e descobrimos os valores. Muito venderam a maioria de suas pedras, mas eu não. As que consegui lá guardei todas. Um dia, querida, te mostra minha coleção.
Entramos em uma conversa sobre pedras preciosas e viagens. Contei sobre minha vontade de ficar um pouco mais de tempo do que havia pago. Ele sugeriu que concordasse com a dona da pousada e resolver.
Perguntei um pouco sobre os outros passeios e Ele me disse por cima um pouco de cada uma. O que me surpreendeu foi que para irmos a Machu Picchu passaríamos uma noite fora. Acamparíamos entre as cordilheiras que levam até o lugar.
- Vocês não podem fazer um mochilão de luxo sem pelo menos acampar uma noite. – disse convicto.

XXX
Mais um dia madrugamos. Acordamos antes das galinhas e partimos. O pouco de animo que tínhamos e o guia animadão fez com que fizéssemos. No primeiro pit-stop, após quase 12 horas de viagem sem pausa, o guia Pablo indicou que comprássemos balas, pois demoraríamos a parar e passaríamos por lugares altos, cerca de 4.910m acima do nível do mar. As paisagens que ser formavam eram incríveis, agradeci por termos escolhido sairmos pela manhã. Arequipa é linda. Uma pena que sua região periférica não a acompanhava. Mas as casas vão sumindo e começa a subida até o Altiplano. Não existem árvores. Só pedras e, em alguns lugares, pastos ressequidos. Como plano de fundo, estão os cumes de vulcões. Bem como Pablo havia me explicado no dia anterior, as pedras que estavam ali eram muitas vezes mais pesadas e maiores que as que eu tinha visto em Sacsayhuaman. Pablo comentou que no inverno podia até nevar pela região. O resultado é tão diferente, eu não conseguia crer estar na Terra.
Num dado momento, o motorista encostou o veículo junto de um campo onde pastavam lhamas e alpacas. Pablo insistiu que fossemos devagar, não invadíssemos o campo e que não falássemos, pois os animas eram sensíveis. Eu era quase uma das ultimas O guia achou melhor dividir o grupo em quatro. Foi com o último grupo. Tirei varias fotos para mostra a mamãe quando voltasse. Na descida do fomos em direção ao vale, que quase não tinha estrada, sendo estreita e quase nos levava ao abismo.
Chegamos a Chivay, a principal cidadezinha do Vale do Colca que era nossa prioridade de visita e já anoitecia. Ficamos em uma pousada simples, mas a melhor de Chivay.
O jantar com músicas típicas peruanas. A maioria estava em casais, então Pablo me puxou para dançar. Ele me ensinou como dançar aquelas músicas. Os vestidos coloridos que as mulheres usavam davam todo um charme a dança. Os músicos não eram nenhuma maravilha, mas ninguém ligou, uma vez que estávamos ali para aproveitar e nos divertir. Assim que terminamos de jantar, fomos direto para cama. Tínhamos que dormir relativamente cedo, pois seríamos despertados às 5h da manhã.

XXX
No dia seguinte tomamos café e fomos até a Cruz del Condor incluiu paradas em vários lugarejos. Em absolutamente todos haviam cholas vendendo artesanato. Num deles comprei um par de luvas de lã de alpaca, havia achado bonito e em Nova York, talvez eu pudesse usa-las. Quando entendi o que tinha pensado, sorri. Era hora de voltar. Primeiro terminar meus passeios.
Finalmente rumamos ao canyon del Colca, nossa principal atração. Em todo o caminho as paisagens eram não apenas “bonitas”, mas incomuns, com plantações em terraços forrando o vale, lagunas de águas de diferentes tons, o canyon profundo formado pelo Colca. Voltamos para Chivay e almoçamos, assim que todos terminaram, partimos de volta para Lima.

XXX
A volta todos nós dormimos. Chegamos era madrugada e combinamos de só sair à tarde. Partimos sem demora, após todos acordem e o grupo se reunir. Faríamos uma viagem de Lima até Cusco, portanto seriam quase 24 horas dentro do ônibus. Pablo indicou que descasássemos pelo caminho, pois assim que chegássemos na cidade de Cusco pegaríamos a trilha Inca e partiríamos para Machu Picchu, que durava de dois a quatro dias conforme no ritmo do grupo. A viagem de ônibus até Cusco foi calma. O pessoal não estava muito para festa e farra. Pablo sentou ao meu lado e puxou assunto.
-E aí, Roxette?
Sorri em deboche ao guia e entrei naquele jogo de músicas dele.
- Listen to your heart when he's calling for you. listen to your heart…
-Você é boa! – declarou com as mãos acima da cabeça.
-Você que me deixou ganhar.
- Gostando da viagem?
- Cansativa, mas vale totalmente a pena.
- Com certeza. Não me canso daqui. – o brilho dos olhos de Pablito aumentaram, no momento eu soube que ele estava no lugar certo.
-Sua casa, né?
-Sim! – o orgulho transbordava pelas ondas doa voz do guia.
-E você já achou sua casa?
Franzi o cenho com a pergunta, porém o aventureiro não se intimidou e continua com o olhar tênue.
-Na verdade, acho que sim. Essa viagem fez abrir os olhos.
-Que bom! Aqui é um lugar histórico, sabe? Muita coisa importante que não sabemos nem sei se somos evoluídos o suficiente para descobrir tudo que ocorreu aqui. Esse lugar muda as pessoas. – Não soube se era Pablo, o guia doido, ou Pablo, o patriota.
Sorri. Eu não precisava saber. Às vezes, na vida, não precisamos saber o motivo, o porquê, num exato momento; apenas precisamos fazer o que precisa ser feito.
-Ou amadurece. – levei a frase de Pablo não limitando “lugar histórico” até o fim das fronteiras do Peru, mas sim pelo mundo todo.
Ele balançou a cabeça positivamente. Olhei para fora e aquelas belas paisagens me mostravam que ali não era a minha casa. Encarei Pablo sentando ao meu lado com os olhos fechados e lhe confessei:
- Sai fugida de Nova York a uns 4 meses mais ou menos. – os olhos sem julgamento do guia tornaram a me observar em silêncio – Fugi pensando que não queria mais minha vida, achava que me problema era meu noivo e minha vida cotidiana. Na verdade, não era. Era apenas eu querendo me provar que lá é meu lugar. Quando sai dos Estados Unidos fui para minha Tia na Escócia. Eu nunca tinha ido para Escócia! Foi maravilhoso passar aquele tempo com ela, Tio Charlie e, principalmente com Bartholomew. Porém lá não era minha casa. Um dia cansada fui para Tóquio, um dos lugares que mais queria conhecer. Acabei trabalhando e não vendo nada além de uma cidade tão populosa quanto New York. Cansei e dei no pé. - Pablo esboçou um sorriso de orgulho. Sorri de volta e continuei. Ele parecia gostar - Ia para o Egito. Eu me planejei. Acabei me embolando com uma multidão e entrei no voo errado. Parei na África do Sul. Passei um mês, conhecendo e ali não era meu lugar. Passei todo esse tempo pensando no meu noivo, Derek, que nem sei se ainda é. Pensei em minha mãe. Sabe, são essas as duas pessoas que tenho na vida. Elas são a minha casa. A onde elas estão.
Pablo, finalmente, se pronunciou:
- Roxie, é isso que estou falando. Esse lugar é minha casa. É aqui que tenho tudo que preciso e amo. Sabe, digo que esse lugar muda as pessoas, porque ele me mudou. Se você me conhecesse há 5 anos me acharia louco.
- Não precisei te conhecer há 5 anos para achar isso. – debochei e me empurrou com ombro.
-Ei! – riu da minha piadinha – Eu era pior. Bem pior. – ele disse sério. Ali percebi que não era louco sinônimo de gente boa. Era louco de ruim.
Pensei em como nossa conversa tinha começado e conclui que ambos éramos loucos. Não havia nem sentido nas nossas frases. Ri comigo mesma. Sentia que para Pablo nossa louca tinha significado muito mais do que frases soltas e aleatórias. Era o inicio de algo maior.

XXX
Pablo não nos deu muito tempo para fazermos nossas coisas direito.
- Estão vendo essas mochilas? – gritou o guia enquanto distribuía as mochilas. Elas em tudo que precisam para viagem. Ah, também sinalizadores e kit de primeiros socorros. Sem Falar dos sacos de dormir. Sim, porque agora vamos mochilar e sem luxinho de agua quente.
Prontamente começamos a colocar nas costas e seguir o guia. Pablo deixou de ser o calmo e passou a nos incentivar com música, que ele mesmo cantava. Algumas até nos acompanhávamos. Não me sentia cansando.
- Esta é a trilha Inca, pessoal! E preparassem, temos chão pelo frente. Dormiremos duas noites nos sacos de dormir, por favor, cuidem. – alertou o guia.

XXX
As primeiras horas foram tranquils, mas o nosso despreparam fazíamos parar e beber um pouco de água a cada quilômetro.
-Temos que chegar ao nosso ponto. Lá encontraremos água! – Pablo incentiva e nos animava.
Pablito, como bom amante de música, começou a cantar e desta vez não eram em inglês.
O ritmo ficava na cabeça.
- Vamos, pessoal! Pra frente, pra frente, frente. Pra frente, pra frente, frente nossa vida vai, nossa vida vai.
O guia cantou a mesma música, desta vez par ao inglês e não consegui não rir.
- Só falta você dançar, Pablo. – desafiou um norte americano.
-Não seja por isso.
Pablo veio para minha direção, em seguida puxou para perto e me guiou pela trilha a dança peruana, que havia me ensinado. Por longas horas, ficamos naquela diversão e nem víamos as horas passar. Quando percebemos já estávamos parando para repor agua e condimentos para viagem. Decidimos, também, almoçar.
Quando voltamos a andar, Pablo avisou:
- Essa é a parte mais complicada, pessoal. Não pararemos até chegar a parte segura e dormimos. Depois que o sol baixar devemos parar. Então, vamos nos animar sem tanta fuzarca como antes.

XXX
Desta vez, as horas não passavam e o sol torrava nossas cabeças. Era difícil se manter em pé. A beleza dos locais que encontrávamos era de tirar o fôlego. As plantas alguns bichos. Pablo pediu que não fizemos muito barulho quando algum animal aparecia, já que estávamos invadido território deles.
Pablo nos orientou a partir desse sol. Assim que o astro começou a desaparecer, pediu que acelerássemos os passos para que chegássemos antes de anoitecer na clareira onde dormiríamos.
Ao encontrarmos um local mais limpo de vegetação, montamos acampamento. Pablo e os rapazes fizeram uma fogueira e montaram as barracas enquanto eu e as meninas esquentávamos a água para fazer macarrão instantâneo e arrumávamos os sacos de dormir.

XXX
A noite foi quente e demorada para passar, porém o sono tomou a todos pela manhã, acordamos cedo, preparamos o café, desmontamos as barracas e, só então, partimos.
As paisagens continuavam a encantar os olhos, dava gosto de olhar. Embora o cansaço fosse grande, a beleza da trilha fazia ter mais gosto pela viagem. Pablo voltou a se animar.
- Aqui, se vocês tenham cuidado, as pedras tem uma textura diferente das outras. Estamos subindo, ou seja, faremos mais força. Se vocês tem algo para mascar, masque. A altitude está cada vez maior e seus ouvidos podem incomodar. Quem não tiver, faça de conta que está mascando, não a melhor coisa, no entanto já é uma ajuda.
O dia foi passando e nossas pausas aumentaram. O ar já se fazia escasso, isto é, mais cansados ficávamos.
Pelo caminho, encontramos alguns grupos, que conforme íamos parando eles se distanciávamos.
- Vamos, seus bundas moles! Vamos ultrapassá-los! – incitou o guia enquanto dava passos largos.

XXX
Novamente havíamos montado um acampamento. Enquanto fazíamos a janta, rapazes ajeitavam as barracas e os sacos de dormir.
- Pessoal, estamos um pouco adiantados. Pelo menos cálculos se continuarmos nesse ritmo chegaremos mais ou menos ao meio dia em Machu Picchu.
A notícia que Pablito havia dado pareceu dar uma gaseificada no grupo. Ficamos animados com a possibilidade de termos mais um turno de caminhada. A janta foi mais animada que a anterior conseguimos conversar. Pablo falou dos animais da região e contou algumas teorias sobre os Incas. Pablo afirmou com veemência que quando chegássemos em Machu Picchu não devíamos ter nada em mente. Não explicou os motivos, mas também ninguém o perguntou. Decidi ir logo dormir para que mais cedo acordar. O pessoal não demorou a se juntar em suas barracas.

XXX
Pablo, dessa vez, nos acordou. Fizemos o café e não para voltarmos a caminhar. Estávamos muito mais animados. Já havíamos pegado o jeito da trilha. Pelo caminho, o guia voltou a cantar e fazer suas palhaçadas. Mesmo com a intensidade do sol crescer aos poucos, a leve brisa passava, fazendo nossos corpo se manter em equilíbrio. Algumas horas de caminhada e Pablo se tornou sereno e calmo.
- Pessoal, descansem! - pediu o guia quando paramos. – Estamos a pouco tempo de Machu Picchu. A sensação ser vocês vão mudar. Então, por favor, esvaziem suas mentes e deixem Machu Picchu fazer sem trabalho.
Sem demora, voltamos ao caminho e tentei fazer o que Pablo havia pedido. Durante algum tempo, não senti nada de diferente, porém vi Pablo parar e encher os pulmões de ar e só depois de expeli-lo iniciou a caminhada de novo. Soube que era ali que começava a energia de Machu Picchu.
Passei pelo ponto onde o guia havia parado e reproduzi seu gesto. Dava para sentir a mudança na atmosfera. Apesar da altitude maior, o ar se tornou mais leve.
- Entramos em Machu Picchu, pessoal! Em pouco passo vamos ver as ruínas. – anunciou Pablo e instantes depois demos os passos largos e rápidos que podíamos. Finalmente, havia chegado.
Aquele lugar não era na Terra. Aquele lugar era de outro mundo. Não era natural. Era mágico. Foram as conclusões que tirei após observar os detalhes. Era simplesmente o lugar não se comparava com nada que eu já tinha visto. Eu só queria agradecer por tudo. Aquele lugar era numa graça de Deus. Não consegui pensar em nada a não ser nos meus agradecimentos. Eu não podia ter escolhido melhor meu último destino. Agradeci pela viagem tranquila. Agradeci pelas pessoas que conheci durante ela. Agradeci pelos que deixei em New York.
Pablo nos deixou soltos, aconselhou em uma ou outra coisa, mas ali estávamos livres. Soube o porquê precisávamos deixar nossa mente vazia e permitir Machu Picchu fazer o que devia ser feito. Era o tempo dando suas explicações.

XXX
Não queríamos ir embora. Pablo insistiu por minutos, aquele lugar era tão espetacular que fotos só foram lembradas no momento de partida. Antes que Pablo partisse, tiramos algumas fotos com posses típicas.
Para voltarmos, pegamos um ônibus para Águas Calientes que demoraria uns 20 minutos. A viagem foi silenciosa demais até o destino. Em seguida, Pablo nos guiou até outro ônibus que nos levaria a Cusco.
Eu apaguei assim que o ônibus começou a andar.

XXX
Acordei poucos minutos de pararmos na frente do hotel onde havíamos ficado há dias atrás.
- Se arrumem, pessoal. A janta já estará servida.
Fiz o que foi mandado. Tomei um bom banho e arrumei e desci. O salão estava cheio. O cheiro de carne e legumes era forte. Não demorou para que Pablo se posicionou ao meu lado.
- Já podemos nos servir. Alguns já estão até comendo. – observou o guia.
Fomos ao buffet e peguei máximo de comida que coube no prato. Não imaginei estar com tanta fome. Analisei e faziam alguns dias que não comia direito.
Quando nosso grupo se juntou, Pablo se soltou. Chamou o garçom e pediu por cervejas e músicas. A cerveja veio e a música iniciou, por consequência, o guia me tirou para dançar a dança peruana. Desta vez estava com o vestido e as voltas ficaram muito mais bonitas e até típicas da dança. Um pouco mais de cerveja entrou no organismo e mais música tocou os tímpanos, ou seja, o jantar se alongou por mais alguns minutos.

XXX
Cheguei da janta do grupo um pouco embriagada e um tanto cansada. Abri a ducha para me levar e busquei meu celular. Havia diversas mensagens de minha mãe. Estranhei. Fazia tempos que ela não enviava nada.
Abri a primeira mensagens, e meus olhos encheram d'água.
“Roxanne, é Derek, como não conseguimos te localizar, dei me o direito de pegar o celular da sua mãe, já que era a única que ainda mantinha o contato com você. Bom, não é a maior importância isso. Espero que esteja sentada. Desculpa me alongar, mas é difícil de falar. Enfim, sua mãe, Dona Resses, sofreu um acidente grave e está em coma. Venha para casa. Ela precisa de você. Eu estou com ela, aqui no hospital, por enquanto. Qualquer coisa me ligue, meu número continua o mesmo.”
Meu corpo gelou, imediatamente busquei o número de Derek nos contatos e liguei.
- Alô, Derek? Como minha mãe está?

XXX
Logo após Derek me explicar, por cima, o que tinha acontecido. Corri para Pablo. O guia ajudou a ajeitar minhas coisas enquanto comprava a primeira passagem para os Estados Unidos. Ainda bem que estávamos em uma cidade grande.
Faltavam poucas horas para o voo partir, sendo assim tive que correr. O pessoal não demorou a saber, o que estava acontecendo. E enquanto Pablo arrumava minha bagagem no carro, eles me motivam ao positivo.

XXX
Chegamos ao aeroporto e corria para conseguir pegar o avião. Me despedi brevemente de Pablo que insistiu que, assim que tudo terminasse, eu e minha mãe voltássemos e terminássemos o passeio que eu comecei e pediu que assim que chegasse era para eu ligar.
Eu concordei, agradeci por tudo, apesar de estar um pouco confusa, já que não pensava em nada sem ser na minha mãe.
O avião não atrasou, entretanto a viagem foi longa demais. O tempo não passava. Sentia que a cada minuto eu perdia minha mãe. Eu não conseguia dormi ou descansar. O álcool que havia ingerido recitava no meu estômago, quase me fazendo vomitar por ali mesmo.
Antes de sair avisei o meu horário de chegada em New York a Derek. O mesmo concordou em me buscar.

XXX
Saí do portão do desembarque e corri os olhos pelo aeroporto, não encontrando Derek. Caminhei um pouco para frente, observando homem apresando vindo em minha direção. Era Derek. Assim que consegui caminhar, o abracei e, finalmente, chorei. Ele não disse nada, apenas me abraçou forte. Sabia que era difícil para ele, mas eu me Sentia tão segura ali dentro. Não queria que ele me largasse.
Fomos para no carro, e Derek disse que me deixaria no apartamento para que tomasse um banho. Não era o horário de visitas.
- Derie, minha mãe está sozinha lá. – olhos vermelhos de Derek me encaram com quase desgosto.
- Não está! Minha mãe está com ela.
Apesar de parecerem simples palavras, não eram. Havia muito mágoa ali. Muita dor e tristeza. Ela está sozinha quando eu fugi.

XXX
Não liguei muito para os detalhes do apartamento. Eu não tinha tempo. Tomei meu banho e desci.
- Preparei macarrão. Deve estar com fome. – avisou Derek.
- Na verdade, não estou. Só quero ver minha mãe. – senti os olhos de Derek queimar. Ele nunca havia me olhado daquele jeito. Senti também meu corpo se encolher.
- Roxanne, você deve comer. Agora você pode estar sem fome, mas seu corpo precisa estar forte. Não quero cuidar de mais uma pessoa. – apesar de me chamar pelo nome, a voz dele era suave. Eu o encarei e sua postura nem seu olhar eram os mesmos que antes estavam. Meu corpo foi em direção ao dele e simplesmente o abracei. As mãos de Derek no início não queriam me tocar, entretanto não demorou para ceder e começar um carinho de leve em minha cabeça.
- Agora coma. – insistiu meu noivo.

XXX
Derek empurrou a porta do quarto de minha mãe e o olhar felino de minha sogra quase me fez desistir. Entrei no quarto, vendo minha mãe deita em uma cama, sem se quer se mexer.
Segurei as mãos de minha mãe e rezei. Pedi para todos os santos que Bartholomew rezava para proteger e deixar minha mãe viver. Não contive as lágrimas. Elas rolaram grossas até o fim do meu rosto.
A mão firme de Derek foi de encontro da minha, que segurava a mão de minha mãe, enquanto a outra pousou em meu ombro. O calor do corpo de Derek fez com que todo o mal parasse de me rodear.
-Não chore, Roxanne! – apesar da voz suave, Derek me chamando pelo meu nome me incomodava. Ele não tinha o direito de me chamar assim.
-eu não sei o que posso fazer! – confessei, sentindo o gosto salgado das lágrimas.
-não tem o que fazer, Roxanne! – mais duas facadas no peito.
-Para! – pedi, levando minhas mãos o rosto. –Para de me chamar de Roxanne!
Os lábios de Derie beijaram meu cabelo.
-Não sei se devo continuar a te chamar de Roxie.
-Você tem o direito de me chamar de Roxie. – declarei.
-Roxie, você nem eu conseguimos fazer alguma coisa a não ser esperar.

XXX
Fazia algum tempo que já estava lá dentro e ainda não havia trocado nenhuma palavra com minha mãe. Derek havia se afastado e voltei a pegar as mãos de minha mãe.
-Oi, mãe! Eu voltei, eu não disse que voltava. – tentei por um pouco de animo em minha voz. – Pois é, fiquei um tempo fora, mas estou de volta. Mãe,...- comecei a contar sobre Tia Madalena e Tio Charlie e Bartholomew. Falei de Shirou e de Tóquio, contei das belezas da África do sul, do safari e do Peru. Me alonguei na parte que contei do Safari, sabia que ela ia gostar se tivesse a oportunidade de ir. Eu não sabia se ela conseguia escutar ou entender, mas Derek, que ficou comigo, estava e suas reações eram as mais diversas. Não se atreveu a perguntar nada, sabia que a conversa era minha e de minha, Dona.
O médico entrou na sala e pediu para falar conosco. Beijei minha mãe e saímos do quarto. Derek explicou quem eu era e pediu para que me explicasse o processo. Era processo lento, a passo de formiguinha. O doutor estava muito confiante, chegou a dizer que mamãe estaria de volta no máximo até o final da próxima semana. O alivio foi imediato. Ela estava bem. O médico pediu que voltássemos para casa e que eu dormisse de verdade. Sugeriu que voltasse pela manhã, pelo mesmo horário que minha mãe costumava acordar. Derek e eu agradecemos e me despedi de minha mãe.

XXX
Derek preparava o jantar enquanto eu tomava meu banho. Quando sai do banheiro a minha mala me chamou. Vesti me rapidamente, logo me pondo na frente do objeto retangular. A abri, levantando a tampa e encontrando um saquinho diferente de todo que eu tinha. Desamarrei e sacudi, vendo um papel pequeno e uma pedra azul cair em meu colo. Desenrolei o papel, encontrando uma letra sem forma especifica e nem métrica.
“ Querida amiga Roxanne, Roxie, Roxette,
Não sei como tudo aconteceu, mas no momento em que te vi tive uma grande afinidade por você. Eu queria muito ter trocado nossos endereços, números telefônicos e mantido o contanto, mas por consequência do destino nada disso tenho. Como te contei meu apresso por pedra é tão grande quanto meu amor pelo meu País, deixo com você uma de minha pedras favoritas, umas de minhas relíquias. Sim, é daquela pedreira que te falei. Sim, é uma pedra valiosa. Espero que você não a venda, pois foi nessa pedra que depositei nossa amizade. É a partir dela que vamos nos reencontrar. Como não sei? Espero que você não esqueça que você tem que terminar sua viagem e nem que esqueça de me avisar quando chegar. Deixei meu número abaixo para você fazer isso e para não deixar que nosso encontro fique apenas em uma pedra. Não sou supersticioso o bastante nem louco o bastante para acreditar tanto nisso. Bom, para dizer a verdade talvez seja, mas não vamos falar disso.
Vê se me avisa que chegou.
Com carinho, Pablito.”

Sorri ao terminar de ler a carta de Pablo. Encarei apedra e eu já sabia o que fazer com ela. Entretanto deixaria para outra hora. Liguei para o Peru avisando Pablo sobre minha chegada. Ele informou ao pessoal, ficando todos aliviados.

XXX
Algum dias depois
Mamãe estava voltando. Derek e eu combinamos de ficarmos com ela no apartamento mesmo durante a recuperação.
Eu e Derek estavamos relativamente bem, não havíamos conversado sobre nada ainda. Entretanto minha mãe já estava mandando e desmando. “Você já falou com Derek”, “ Já conversou com Derek.”, “Não vai se explicar para o Derek.” E, blá, blá, blá, Derek, blá, blá, blá.
- Sim, mãe. Quando ele chegar. – confirmei, depois da milionésima vez que contava sobre Derek naquele dia.
Derek não demorou a chegar, por consequência o medo tomou conta de mim.
- Boa noite! – cumprimentou Derek com o cenho franzido quando entrou na cozinha vendo minha mãe fazer caras e bocas.
- Boa noite! – retribuindo quase juntas.
- Eu vou deixar você conversarem. – continuou minha mãe sem ao menos ter me dado uma chance de pensar. Quando notei que ela não estava mais ali, Derek já me encarava, esperando que eu começasse a falar.
Respirei fundo e, sem encarar o homem, iniciei meu discurso.
- Desculpa pelo que te fiz passar, Derek. Você não merecia nada disso. Juro, que depois que percebi o quão errada estava das ideias, minha consciência não me deixar dormir uma noite em paz. Quando estava no Peru, Pablo falou que talvez minha fuga fosse de mim mesma, uma prova para mim mesma que aqui é minha casa e com vocês dois. Não tenho nada além de vocês. Mas nenhuma justificativa vai minimizar o meu ato. Quando vi o seu pedido, eu pensei em voltar. Passou pela minha cabeça, mas eu estava louca. Aquela não era eu. Derek, não vou dizer que me arrependo de tudo que fiz, porque não me arrependo. Eu cresci tanto nessa viagem, mas devo confessar que em cada lugar que eu ia eu lembrava de você. Lembrava da gente. Eu ia voltar. Eu já tinha decidido. Cheguei no Peru e já sentia tanta a falar a de vocês Que eu terminaria a viagem e voltaria. Eu juro. – admiti com as mãos no rosto. Eu não conseguia olhar para ele.
Derek pediu a palavra e assento para que ele falasse:
- Roxie, não entendo seus motivos. Vou ser franco. Porém eu entendo que você precisava disso. Você desistiu de muita coisa Lara vir morar comigo. Sinto que você estava testando sua liberdade. E eu sabia que você voltaria para mim, porque quando te chamei no aeroporto, você quase voltou. E logo depois enviou uma mensagem para sua mãe. Não digo que não fiquei bravo, chateado e querendo te matar. Com tudo, eu sabia que tinha te conquistado, sei que você é minha, porque eu sou seu. Somente seu. E eu esperei por você todo esse tempo. E não me importaria de esperar mais se eu soubesse que você voltaria.
Derek me abraçou e toda minha dor se foi. Ele era minha casa.
Derie se afastou de mim e se ajoelhou no chão. Ninguém estava vendo, mas não contive em levar uma das minhas mãos ao rosto.
- Roxanne Resses aceita se casar comigo?
- Sim!
O sim mais esperado de toda minha viagem, finalmente, eu havia dito.



Fim.



Nota da autora: Olar, pessoal! Twitter: @MaxcellXCX
Wattpad: MaxcellXCX
Facebook: Marcell Xcx
E leiam No Escape
Beijos, Estrelinhas!




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