CAPÍTULOS: [Único]








2000

- Tá com você! – Nicolas gritou ao tocar em Angeline.
- Eu não quero mais brincar disto – a menina falou, cruzando os braços emburrada.
- Vamos Angeline, não acredito que você vai desistir – Camille provocou.
- O Nicolas sempre me pega, ele faz de propósito, não quero mais brincar disto.
- Por que não brincamos de pique esconde, então? – Caleb sugeriu, sempre cedendo às vontades da irmã.
- Só se ela já começar contando.
Angeline não gostou muito, mas era isso ou nada.
- Tudo bem.
A menininha foi começar a contar e rapidamente os outros três e mais algumas crianças da rua correram para se esconder.
Camille foi a primeira a ser encontrada e acabou por ir contar.
Nicolas puxou Angeline para juntos procurarem um esconderijo e quando encontraram, atrás de alguns arbustos, se sentaram no chão, com ele respirando forte.
- Não respira tão alto, assim ela vai nos encontrar. – repreendeu.
- Eu só estou nervoso.
- Medo de contar?
- Não.
- Nervoso porque então?
Sem saber mentir Nicolas respondeu:
- Estou nervoso por estar aqui com você.
Ela o encarou e ele ficou ainda mais nervoso com aqueles olhos cor de esmeralda lhe olhando como se pudesse ler seus pensamentos. O menino fechou os olhos para tentar conter a sensação estranha na barriga.
- Por que te deixo nervoso?
- É que... – ele sabia o porquê? – Amo você, Angel.
- Angel? – ninguém nuca tinha a chamado assim. – Você me ama?
- É – respondeu, já que não sabia mentir. – Amo você.
Depois de falar isto fechou os olhos e deu um selinho na garota, antes de abrir os olhos escutou dois dos amigos gritarem.
- Nicolas beijou a Angeline.
- O que? – Caleb saiu do seu esconderijo gritando, o que fez todos os outros saírem.
- Ele a chamou de Angel. – um dos garotinhos comentou rindo.
- Chamou nada! – Angeline tentou negar.
- Nicolas beijou a Angel – os outros garotos começaram a cantarolar.
- Parem de me chamar assim!
- Angel, Angel.

2005

- Para de ser bobo, Nick. É só uma brincadeira, vai amarelar?
- E se tiver alguém ali embaixo, Luke? O tio Thomas mandou não mexer nisso.
- Mas ninguém vai jogar nela, nem vamos tirar da sacola. Só vamos jogar no porão daquele velho chato. Você é homem ou não é?
Nicolas bufou e pegou a sacola com a colmeia dentro.
- Tudo bem.
Ele correu rumo o porão do senhor Cooper e os amigos correram atrás.
- Não vai sair daqui que fizemos isso, não é mesmo?
- Claro que não. – os amigos falaram juntos.
- Tudo bem!
Abriu a portinha que dava para o porão e jogou a sacola, achou que todos correriam junto com ele, mas viu Luke se abaixar e gritar fingindo voz de garota:
- Olhem as abelhas, meninas.
Nick voltou e começou a ouvir a gritaria das meninas.
- Você disse que não tinha ninguém lá, quem está aí dentro?
- As meninas, fazendo clubinho de maquiagem, que coisa infantil.
- Você quer matá-las? – um dos garotos gritou.
- Tá dentro da sacola, como pode sair?
Escutaram o barulho das meninas subindo e fugiram para trás de uma árvore. Foi quando Nicolas viu Angeline sair respirando forte e Camille gritando para fecharem a porta.
- Calma, Angel, foram só umas duas picadas, vou procurar o tio Thomas, aguenta firme. – e saiu correndo.
- A Carly fechou sacola, não deu tempo sair muitas, mas ela também foi picada. – uma das garotas falou, mas parou ao olhar o rosto pálido de Angel. – Angel, você está bem?
Nick que assistia tudo junto aos outros garotos pulou em cima de Luke.
- Você é maluco? Você sabe que a Angel é alérgica, e se ela morrer?
- Eu esqueci disso, e ela não vai morrer, tá bom? Olha ali o pai dela chegando para ajudar.
Nicolas olhou e viu a menina respirando com dificuldade perto do pai.
- Filha, fica calma. Toma esse remédio, vamos para o hospital agora. – e pegou a filha no colo rumo ao carro.
- Se ela não ficar bem, eu mato você.

2006

- A Camille está afim de você, porque não vai falar com ela? Aproveita a festa.
- Eu não quero ficar com a Camille, Luke.
- O Nick tá querendo beijar minha irmã novamente – Caleb falou, rolando os olhos.
- Eu já disse que nunca beijei sua irmã, foi só um selinho de criança, eu nem sabia o que estava fazendo.
- Você e a Angel já ficaram?
- Não!
- Ele só se declarou pra minha irmã quando tinha dez anos e ela oito, esse apelido de Angel foi ele quem deu – comentou rindo. – Ainda deu um beijo nela, mas não foi muito bem sucedido na paquera, nunca ouvi falar que se beijaram novamente.
- Já disse que não beijei sua irmã – Nick falou impaciente.
Luke ouvia tudo irritado. Nicolas tinha tudo que queria. Pai advogado, rico, pais que o amavam e que lhe davam tudo mesmo ele sendo suspenso da escola quase que todo mês. Garotas lindas como Camille dando em cima dele em todas as festas, mas ele tinha que querer logo a Angel? Logo a Angel que Luke tanto desejava ficar? Ele não poderia ficar com ela também.
- Não importa se foi beijo ou não, você vai ficar com a Camille?
- Já disse que não, Luke.
- Você está mesmo querendo dar uns pegas na Angel?
Ele poderia mentir, não podia? Até poderia, se soubesse como fazer isso sem se entregar.
- Quero sim.

- Falou com o Nick?
- Ele não quer você – Luke respondeu furioso.
- O que?
- Isso mesmo, ele não quer ficar com você.
- Como? Todo mundo quer ficar comigo.
- Acontece que ele quer a Angel.
- Achei que você fosse ficar com a Angel.
- O Nick tem tudo que quer, não me admira se conseguir a Angel também. – resmungou.
- Eu tenho um plano para a Angel não querer ele.
- Qual?
- Ela precisa saber que vocês são os culpados pelas abelhas no porão.
- Como, você...
- Eu vi vocês escondidos, não contei para não prejudicá-los, sabia que a Angel ficaria bem.
- Acontece que se contarmos ela também ficará com raiva de mim.
- Não conte, só faça o Nick assumir que estava lá, ele não sabe mentir. Depois, se ele te acusar você também o acusa de estar mentindo pela primeira vez.
- Camille, não sabia que você poderia ser tão inteligente.

- Que tal jogarmos um pouco de jogo da verdade? – Luke propôs.
- Vamos – Camille respondeu, fingindo não saber de nada e tanto Caleb, como Angel e Nick também toparam.
O jogo começou com perguntas bobas, Luke não queria deixar na cara que aquilo era uma armação, depois de várias rodadas a garrafa apontou novamente para Nick e ele teve a oportunidade de colocar o plano em prática.
- Nick, é verdade que foi você quem jogou a sacola com abelhas no porão, ano passado?
Caleb olhou assustado para Nick, ele sabia da verdade, o amigo tinha corrido para casa dele quase chorando e contou tudo que tinha acontecido, não disse nomes de ninguém, apenas falou que foi uma brincadeira de amigos e que não sabia que tinha gente lá dentro. Caleb acreditou, é claro, não tinha porque duvidar de Nick, ele nunca mentia e já que o mesmo não quis contar quem estava com ele, também não perguntou, mas agora suspeitava que Luke era um deles e não entendia o motivo daquela pergunta.
- Claro que não foi o Nick – Angel falou, antes dele mesmo responder.
- É verdade ou mentira, Nick? – Luke insistiu e Nick o olhou desesperado, sem entender porque ele estava fazendo aquilo.
A demora pela resposta fez Angel cogitar que ela fosse verdade, fazendo a mesma puxar pela roupa de Nick para que ele ficasse de frente para ela.
- Isso é verdade Nicolas?
Ele sabia que deveria mentir e até tentou, mas quando percebeu já estava falando a verdade.
- É sim.
Angel o empurrou e levantou num pulo, chutando a costela dele.
- Você tentou me matar?
Nick levantou-se parar poder explicar.
- Eu não sabia que tinha gente lá dentro, foi uma brincadeira com os meninos, eu juro, não sabia que você estava lá.
- Claro que sabia. Foi você quem gritou: Olhem as abelhas, meninas?
- Não, eu não sabia e não fui eu quem gritei.
- Eu não acredito, eu não acredito que fez isso. Eu poderia ter morrido.
- Já falei que não sabia, foi tudo sem querer, eu quase pirei quando vi vocês saindo.
- VOCÊ SABIA! VOCÊ GRITOU SOBRE AS ABELHAS!
- FOI O LUKE QUEM GRITOU!
- Eu? – Luke entrou na conversa - Eu nem estava lá, como você pode me culpar por uma coisa que fez sozinho?
- O que? Foi você quem me mandou jogar aquela merda dentro do porão.
- Luke? – Angel virou para o garoto.
- Angel, acredita em mim, eu não fiz nada disso, soube há poucos dias por um garoto que viu ele dando em cima de você na festa. Ele achou injusto você ficar com ele sem saber a verdade e me contou para que eu te contasse. Acha mesmo que contaria se estivesse metido nisto?
- Angel... – Nick tentou.
- Não me chama assim – ela falou, chorando. – Você poderia ter me matado – deu-lhe uma tapa no rosto e Caleb segurou-a. – Me solta, você deveria bater nele também, ele tentou em matar.
- Eu não...
- Você sabia que eu sou alérgica, como você fez isso? Caleb, você não vai fazer nada?
- Eu já sabia e acredito nele – disse, mais para Luke do que para a própria irmã. – Ele me contou no dia que aconteceu.
- Eu não acredito que você escondeu isso de mim, não acredito.
Angeline saiu correndo e Camille foi atrás.
- Angel, Angel, espera.
- Eu poderia ter morrido, Camille. – virou-se chorando para a amiga. – Ele sabe disto.
- Fica calma.
- Eu odeio o Nicolas, odeio meu irmão, odeio essa alergia, odeio esse lugar, odeio tudo isso. Assim que completar dezoito anos vou sumir dessa cidade, vou sumir de Beaufort.

2016

Muita coisa tinha mudado desde aquele ano de 2006. Luke já não fazia mais parte do grupo, desde aquele ano Caleb – que tinha se casado, tornado-se pai e agora era viúvo - o proibiu de ser do seu grupo de amigos, acreditava em Nicolas e por isso jamais escolheria Luke à Nick. As coisas também mudaram para Nick, desde aquele jogo da verdade ele decidiu que aprenderia a mentir e durante esses anos vinha melhorando a cada dia, perdeu seus pais em um acidente de carro em 2010 e agora era um órfão muito rico e advogado de Nova York.
Camille tinha passado os últimos anos fora do país, mas ainda era a melhor amiga de Angel, essa por sinal foi a que mais mudou, cumpriu a promessa que fez naquele fatídico dia e assim que completou 18 anos foi embora de Beaufort e como nunca fez questão do dinheiro da família, muito pelo contrário, sempre achou tudo muito extravagante, agora levava uma vida simples em Nova York, escondendo quem era de verdade. Se pra família ela estava na cidade apenas cursando arquitetura com o dinheiro dos pais, para seus amigos da cidade ela era uma garota simples que trabalhava durante a noite em um bar afastado do centro da cidade, que amava dançar e sonhava em um dia ser profissional nisto.
Mas algumas coisas não mudaram. Angeline ainda acreditava na inteira culpa de Nicolas sobre o episódio das abelhas e por isso não o suportava, tanto que nem foi ao sepultamento dos pais dele – se sentiu culpada, mas não queria ver o cara que quase a colocou em um caixão também. – Nicolas por tabela acabou desenvolvendo uma espécie de raiva dela também, não acreditava que ela tinha sido tão idiota por acreditar em um quase completo estranho e acreditava menos ainda que ela não apareceu no momento que o mesmo mais precisou.
Mas no primeiro dia do ano de 2016 um acidente uniu todos eles novamente.

***

- Eu preciso entrar lá.
- Senhorita, acalme-se. Por favor, me escute, eu trarei mais notícias assim que tiver alguma.
- Você não está me entendendo – falou, se jogando contra o enfermeiro para tentar entrar na ala hospitalar. – VOCÊ TE QUE ME DEIXAR ENTRAR. EU PRECISO VÊ-LO.
- Senhorita Angeline, seu irmão está na emergência, não se entra lá.
- Mas eu preciso entrar – choramingou e se sentou no chão, colocando a cabeça entre as pernas. – Você tem que me deixar entrar – ela falava.
Nicolas chegou nesse momento e desejou não ter visto aquela cena. Ele odiava gente chorando, odiava hospitais, odiava desespero, odiava gente chorando desesperadamente dentro de hospitais, tudo isso lembrava seus pais. E Angeline era sempre tão forte, as poucas vezes que a viu – sempre em ocasiões onde os amigos se reencontravam – ela estava sempre com aquele ar de quem não podia ser abalada. Mas lá estava ela, sentada em um corredor de hospital, chorando de dor e transmitindo essa dor para todos que a via.
- Angeline – ele chamou meio incerto, vai que a raiva é maior que a dor e ela tenta matar ele.
- Pede pra ele me deixar entrar – ela implorou. – Eu preciso vê-lo.
- Eu já expliquei para ela que isso não é possível – o enfermeiro falou. – Mas ela insiste em tentar entrar, já a tiramos do corredor da emergência três vezes, mais uma vez e serei obrigado a colocá-la para fora do hospital.
- Como ele está?
- Seu estado é grave, mas ele está nas melhores mãos deste hospital. Se ele tem chances de sair daqui, essas chances são com os médicos que estão cuidando dele.
- Não tem mesmo como ela entrar?
- Sinto muito, mas não. Se puder me dar licença, preciso ir. Por favor, cuide dela, sei o quanto ela está mal e não quero ter que tirá-la daqui.
- Claro, pode deixar.
O enfermeiro foi embora e Nicolas sentou ao lado de Angeline, não falou nada, – nem sabia o que falar, na verdade – apenas ficou a olhando e tentando manter o controle das suas próprias lágrimas.
- Eu preciso vê-lo.
- Não tem como.
- Você não entende – levantou a cabeça e o encarou.
Meu Deus, ela está destruída. Nicolas pensou.
- Eu preciso vê-lo uma última vez.
- Você vai vê-lo e não vai ser apenas uma vez, você o verá muito ainda, por anos.
Ela soltou um riso pelo nariz.
- A quem você quer enganar?
- Eu não estou aqui pra enganar ninguém, mas eu não acredito que o Caleb que conheço vá desistir tão fácil. O Caleb que conheço estava lutando para superar a perda da mulher da sua vida e mesmo aos poucos, estava conseguindo. Ele é o cara que cuida praticamente sozinho de uma criança de seis meses, que é o líder da nossa turma. Que te apoia e te defende em tudo, que não deixa nós dois nos matarmos nas reuniões de amigos, que me ajudou no dia que mais precisei. Ele sabe da importância que tem, - Nicola chorava um pouco – o cara sabe que não pode nos deixar, a gente não sabe viver sem ele. Ele não vai morrer.
- Eu quero tanto acreditar nisto. – ela falou em meio as lágrimas, colocando a cabeça entre as pernas novamente.
- A Camille já está chegando.

- Angel – Camille quase gritou quando viu a amiga correu para abraçá-la. – Como aconteceu isso?
- Ele foi visitar o túmulo da Prya, acabou bebendo um pouco em um bar que tem quase que colado ao cemitério, perdeu o controle do carro. Eu não sei como viver sem ele.
- Nenhum de nós sabe. – Camille puxou pela camisa de Nick e colocou-o no abraço também.

***

Estavam os três sentados em uma mesa grande enquanto o advogado arrumava uma papelada, ninguém sabia o motivo daquilo, mas estavam bastante ansiosos para saber.
- Podemos começar? – o advogado perguntou.
- Deve – as meninas responderam juntas.
- Você deve ser o Nicolas, melhor amigo do meu cliente. Você a Angeline, irmã do mesmo. E você a Camille, melhor amiga dele. Certo?
- Sim.
- Bom, vocês sabem que meu cliente é viúvo e pai de uma criança de apenas seis meses de vida. Por esses motivos meu cliente se preocupava muito com o futuro da sua filha e há seis meses, desde que ficou viúvo, ele me procurou para deixar algumas coisas acertadas, caso acontecesse alguma coisa com ele...
- Ai meu Deus – Nick falou alto demais.
- O que foi? – as meninas perguntaram.
- Algum problema, senhor Nicolas?
- Eu sei aonde você quer chegar.
- Aonde ele quer chegar? – Angel perguntou.
- Seja mais rápido, nós dois já sabemos do que se trata e elas estão curiosas – Nick aconselhou o advogado.
- Tudo bem.
Dito isso as meninas praticamente paralisaram seu olhar em cima do advogado, esperando cada palavra sua.
- Vocês três são as pessoas que meu cliente mais confia, isso são palavras do próprio, por isso ele me deixou uma coisa para vocês. O senhor Caleb sempre temeu morrer e deixar sua filha sozinha, consequentemente me procurou para deixar registrado que se alguma coisa acontecesse com mesmo vocês seriam os responsáveis pela criança.
- O que? – as meninas praticamente gritaram e Nicolas apenas confirmou com um maneio de cabeça.
- Os avós paternos da criança não são apegados a ela, Caleb diz que os mesmos a culpam um pouco pela morte da senhorita Prya. Meu cliente também deixou claro que embora ame os pais, sabe que essa criança seria aceita apenas por obrigação, mas eles não a amariam como filha, os dois já estão com uma idade avançada e não possuem a mesma paciência de antes para criança.
- Ele prefere entregar a filha dele a três criaturas que mal cuidam delas mesmas? – Camille perguntou.
- De acordo com meu cliente vocês amam a garotinha mais que qualquer outra pessoa, fora ele. Caleb acha que isso é a coisa mais importante para se cuidar de alguém. Ele também deixa claro que cada um de vocês possuem coisas para ensinar a filha dele e que tem certeza que não existirá criança melhor educada que ela. Também deixa claro que o que vocês não tem em experiência, possuem em força de vontade, ele disse que vocês nunca aceitaram perder e não seria dessa vez que aceitariam, ainda mais sabendo que perder significaria deixar a sua filha perder também. Quero deixar claro que tudo isso são palavras dele.
O advogado calou e os três ficaram mudos, cada um em seu mundo. Até que Angeline falou:
- Tudo bem, eu sou tia dela, eu aceito ficar com a Penelope.
- Acho que vocês não entenderam, ele quer que os três cuidem, não um dos três.
- Os três? – Nick e Angel gritaram.
- Sim.
- Mas eu não vou conviver com esse daí. – ela falou com desprezo.
- E nem eu com ela. – Nick respondeu no mesmo tom.
- Gente, por favor – Camille tentou.
- Ele tentou me matar, nunca vou deixar esse homem cuidar da minha sobrinha e ainda por cima ficar perto de mim.
- Ela também é minha sobrinha! Você pode ter o mesmo sangue que ela, mas sabe que fui ainda mais presente nesses seis meses que você, e pela milésima vez: EU NÃO TENTEI MATAR VOCÊ. Meu caro, eu não vou deixar a Penny ser criada no cortiço a qual ela mora, minha sobrinha merece tudo do bom o de melhor, se você ver onde essa garota maluca mora você me dará a guarda da Penny na mesma hora.
- Não é porque eu não ostento luxo como você que não devo ficar com a guarda dela.
- Você mora em um lixo, qualquer coisa comparada aquele lar de sem tetos é luxo.
- CHEGA! – Camille gritou.
- Obrigada – o advogado agradeceu. – Eu não sei o motivo deste ódio todo, mas meu cliente estava preparado para isto...
- O senhor poderia parar de falar dele no passado? Caleb ainda está vivo, não me faça começar uma discussão também – Camille disse.
- Claro, desculpe. Meu cliente tem umas palavras para vocês, creio que possa resolver essa situação. Posso ler?
- Sim – os três responderam juntos.
- “Olá, tribo. Se isso está sendo lido, creio que devo dizer que sinto muito por ter feito vocês chorarem, relaxem, está tudo bem, na pior da hipóteses eu estarei com minha amada, posso escutar um VIVA? – os três riram, mas depois rolaram os olhos. – Tudo bem, hora de falar sério, não é mesmo?
Camille, creio que mesmo em choque você está se comportando bem, boa menina. Angel e Nick, será que vocês podem não brigar ao menos uma vez na vida? É a vida da minha filha, seus ordinários. Angel, pela última vez, talvez, o Nick não tentou matar você. Nick, pare de ser grosseiro com ela, a Angel não mora em um lixão. Eu preciso de vocês três unidos, a Panny precisa. Não sei se o advogado já falou esta cláusula, mas se não for os três, não será nenhum, nunca, deixei isto bem claro nos papéis, caso queiram ler. Eu sou pai e por vezes pensei que não seria capaz de dar conta, por isso digo: tem que ser os três. Eu só estava dando conta por que tinha vocês comigo.
Quero que minha filha aprenda com a tia Camille a ser uma garota linda por dentro e por fora, que goste de viajar como a mesma, de aprender culturas novas, que mostre para todos que um rosto bonito também pode vir acompanhado de um cérebro maravilhoso – Camille chorava ao escutar. – Desejo que ela seja uma criança verdadeira como o tio Nick foi, que consiga ver no tio a força para superar a perca dos pais e ainda assim ser uma das pessoas mais bem humoradas e bem sucedidas do mundo, que ele dê quase tudo a ela, mas ensine que sem trabalho ninguém alcança sucesso. – Nick segurava as lágrimas. – Mas também quero que mesmo ela sendo a garota mais maravilhosa do mundo, aprenda a manter os pés no chão como a tia Angel, que não tenha medo de lutar pelo que acredita, que seja ensinada pela tia que desistir de um sonho é desistir de si mesma, que ela não tenha limites, voe alto, procure seu lugar no mundo como a tia Angel procura.
Quero que a Penny tenha tudo isso, e só vai acontecer se ela tiver vocês três. Ninguém melhor que vocês para ensinar tudo isso, e ninguém melhor que essa tribo para me manter vivo na vida dela. Não aceito um, não aceito dois, só os três. Espero que vocês aceitem minha filha também.”
As meninas soluçavam, enquanto Nick deixava algumas lágrimas solitárias escorrerem e até o advogado segurava o nó na garganta.
- Bom, Caleb já falou da cláusula, agora é com vocês. Quero deixar claro que se algum pensar em lutar pela guarda da criança serei obrigado a mostrar ao juiz que meu cliente não quer isso. Ele pede que vocês passem um ano cuidando da criança, depois vocês decidem se continuam os três ou se querem sair, lembrando que ninguém exclui o outro, só sai se quiser. O que vocês escolhem?
- Eu viajo muito a trabalho, como faço? – Camille perguntou.
- Não é proibido trabalhar, desde que você ainda se mantenha presente na vida dela.
- Então, eu aceito.
Os outros dois continuaram em silêncios e Camille falou:
- É sério que vocês vão deixar essa briga idiota interferir na vida da Penny? Nem um ano vamos passar com ela, Caleb voltará antes disto, mas por hora ela precisa de nós. Vocês serão tão egoístas assim? É sério, Angel? É sério, Nick?
- Eu aceito. – Angel falou.
Nicolas continuou calado. Será que ele conseguiria conviver com Angeline? Ele sabia que os dois seriam quem mais cuidaria de Penelope, conviveriam demais. Ele estava pronto para conviver com a sua antiga paixão que não acreditou nele e até hoje o julga por algo que ele não fez? Estava pronto para suportar alguém que se manteve ausente no dia que ele mais precisou? Mas era a Penny, ele não conseguiria dizer não a ela.
- E você, senhor Nicolas?
- Eu aceito. Mas primeiro de tudo: Penny não vai morar naquele lugar, entendido?
- Mas...
- Entendido – Camille interveio. – Sinto muito, Angel, mas não é o melhor lugar para se criar uma criança.
- Tudo bem.

- O que fazemos agora? – Nick perguntou, já do lado de fora do escritório do advogado.
- Vamos buscar a Penny – Camille disse.
- Então temos um longo caminho pela frente, posso comprar as passagens agora pelo celular.
- E pagar com a vida?
- Eu pago tudo, Angeline. Isso se você não se incomodar de ter a passagem paga por mim – provocou.
- Angel, não podemos negar essa ajuda. Depois pagamos a ele.
- Tudo bem. – bufou.
- Vamos daqui mesmo então, peço pra o meu amigo ir buscar meu carro no aeroporto depois.
- Nossa, vamos de Ferrari – Camille brincou.
- A moça aqui deve estar morrendo com esse excesso de capitalismo – novamente provocou Angel que só não revidou porque Camille tampou sua boca.
- Nick, facilite as cosias.
- Ela não tem facilitado por praticamente dez anos. Mas tudo pela Penny.
- Pela Penny – Angel repetiu pra si mesma.

- Começamos isso tão bem que logo de primeira temos que pousar em um lugar estranho e não temos onde dormir. Não vamos dar conta. – Angel falava enquanto via Camille andar de um lado para o outro no aeroporto tentando fazer Penny parar de chorar.
- Por que você não cala a boca? Isso não está ajudando – Nick falou, irritado. – Termos onde dormir, vamos para um hotel que tem aqui perto, já me hospedei nele algumas vezes.
- Então vamos logo, eu não aguento mais ficar aqui. Esse barulho deve estar incomodando a Penny, e ela deve estar querendo mamadeira.
- Vamos pegar um taxi.

Quando Nick falou de um hotel, nem Camille, nem Angel pensou que seria um hotel de luxo como aquele. Enorme e todo espelhado refletia a cidade, e suas luzes douradas vindas dos apartamentos faziam dele a vista mais linda da cidade.
- Você acha que todo mundo aqui é rico como você? Isso aqui é um hotel de luxo.
- Sei que gosta de bancar a pobre, mas você é RICA e mesmo assim eu pago, se esse for o problema.
- Não podemos nos hospedar em um mais simples?
- Eu não trabalho todos dos dias para ficar hospedado em um hotel de quinta categoria, vamos nos hospedar neste. Já disse: Eu pago.
- Eu espero mesmo que pague, nem se eu modelar até os cem anos vou poder pagar minhas dívidas e ainda me hospedar aqui. – Camille brincou.
Nicolas riu.
- Não entendo como se hospedam em outros que não sejam deste nível.
- Acho que este hotel é pequeno, não tem suporte parar caber todo seu ego, Nicolas.
- Apenas gosto do que é bom, não gosto de viver como um mendigo.
- Parem de discutir!
Os dois calaram no mesmo segundo, Camille tinha o dom de colocar ordem.
Assim que chegaram ao quarto, Camille foi preparar algo para Penny comer.
- Gente, a Penny não tem o que comer. Não temos leite, nem aquelas outras cosias que colocam na mamadeira, não temos nada.
- O que? Mamãe não colocou nada aí dentro.
- Nós arrumamos a maioria das coisas, acho que ela pensou que tínhamos colocado aqui dentro.
Mesmo relutando, Angel sabia que teriam que comprar e Nicolas provavelmente se ofereceria para pagar tudo.
- Vamos comprar, mas dessa vez rachamos a conta.

Durante todo o trajeto Penny não se calou nem por três minutos, Nicolas já estava cogitando levá-la ao hospital, mas temia que os prendessem por maus tratos, estava na cara que aquela criança estava quase morrendo de fome.
- Será que o senhor pode ir mais rápido? Estamos com pressa! – ele pediu ao taxista.
Angel segurava a vontade de chorar. Como Caleb achou que eles dariam conta? Estavam com a criança fazia menos de doze horas e já estavam prestes a matá-la de fome. Viu uma igreja e gritou para que o taxista parasse.
- Onde você vai?
- Preciso ir até a igreja. Olha o shopping ali, vai dar pra eu ir a pé e encontrar vocês.
- Mas... – Nick ia protestar quando percebeu que ela estava prestes a chorar.
- Eu preciso ir até lá.
- Tá okay.
Enquanto os dois seguiram rumo ao shopping, ela entrou na igreja que estava quase vazia, tirando algumas doze pessoas e o pastor. Dobrou os joelhos e mesmo suspeitando que todos a olhavam, chorou.
- Sei que não costumo vir aqui tanto quanto deveria, mas se não for pedir muito, eu preciso do meu irmão de volta, a Penny também precisa. Eu não sei viver sem ele e minha sobrinha não sobreviverá se ele não estiver aqui. Não sabemos cuidar dela...
Orou por mais uns minutos e depois levantou limpando as lágrimas e saiu.
Desde que Prya morreu que não tinha ido a uma igreja. Ainda conseguia lembrar de Caleb chorando agarrado ao caixão da esposa e sentia um pânico tomar conta de si só de imaginar Caleb morto e ela tendo que viver aquilo novamente.
Ligou para a amiga que a disse onde estava e ela foi ao seu encontro.
Assim que Camille a viu, puxou-a para um abraço. Camille sempre foi assim, ela sabia exatamente o que fazer e sabia que Angel precisava daquele abraço.
- Vamos dar conta e Caleb vai ficar bem.

Com a ajuda de uma mãe que por ali passava, eles deram comida a Penelope, trocaram sua frauda e conseguiram fazê-la parar de chorar.
- Poderíamos chamar essa mulher para ser babá só por essa noite – Camille brincou.
- Quem dera, mas acho que somos só a gente mesmo. Vamos para casa.
- Vamos – os outros dois concordaram.
E se pudessem ouvir os pensamentos de Penelope saberiam que ela disse: Vamos, estou com sono.

- No que você está pensando? – Angel perguntou, juntando-se a Camille no tapete do quarto.
- Em como vamos fazer isso da certo. Eu não tenho casa aqui, Nick mora praticamente no centro da cidade, você mora do lado oposto. Como vamos fazer?
Nick escutou a conversa e se aproximou.
- Também estava pensando nisto. Vamos ter que morar juntos.
- Vamos ter que morar com você – Camille concluiu.
- Eu não posso. – antes que achassem que era apenas birra, Angel explicou. – Eu dou aulas de canto de manhã cedo e a tarde ensaio para um teste muito importante. Mesmo que arranjasse um meio de ensaiar em casa, tenho as aulas para dar. Nunca vou conseguir chegar na hora certa.
- E ainda tem a faculdade, não é?
- Dei um tempo nela, preciso muito ensaiar e não conseguiria estudando.
- Posso te levar de carro todas as manhãs. – Nick sugeriu a contragosto.
- E todos me verem chegando de Ferrari? – rolou os olhos e sorriu de maneira falsa. – Não. Obrigada.
- Ele pode te deixar algumas quadras antes.
- Não ache que vou insistir, pegar ou lagar – ele avisou, impaciente.
Ela teria outra opção?
- Aceito.

Eram duas da manhã e Penelope acordara aos prantos. O motivo? Eles também queriam saber.
- Você já deu comida a ela?
- É, ela deve estar com fome – Nick falou cheio de certeza.
“Eu não aguento mais comer, seus malucos” Penny pensou.
- Eu já dei mamadeira a ela, não é isso – Angel falou com os olhos cheios de lágrimas.
- Então o que ela quer?
“Que vocês tirem meu xixi!” A pequena respondeu, mesmo que eles não escutassem.
- Que tal trocarmos a frauda dela? Tava pesquisando e dizem que quando a criança está com soluço, pode ser a frauda cheia de xixi e ela está com soluço.
“Ainda bem que a tia Camille me entende.”
- Você sabe fazer isso? – Nick perguntou.
- Fazer o que?
- Trocar fraudas.
- Não deve ser tão difícil.
Tiraram a frauda cheia de xixi de Penny e depois encararam a criança.
- A gente deve dar banho nela?
- São duas da manhã, quem toma banho essa hora? Quer que ela fique doente?
- Esses lenços a limpam.
- Sempre devemos colocar talco?
- Acho que sempre.
Longos minutos depois, Penny estava de frauda trocada nos braços de Nick. - que tinha perdido o sono depois daquele chororô e ainda brincava com a criança.
- Vou dormir – Camille avisou. – Não vem, Angel?
- Não confio em deixar a Penny com esse maluco. Vai saber o que ele é capaz de fazer.
Encantado pelo riso de Penny, Nick resolveu deixar a provocação para lá.

***

- Prontinho, ultima caixa.
- A gente poderia ter pedido a ajuda do Nick, estou sem forças.
- Não o quero me ajudando em nada, eu não confio nele para nada. Inclusive, cadê minha sobrinha? Penny, onde você está, meu amor?
As duas foram procurar a garotinha e Nick, mas não o encontraram.
- Eles sumiram!
- Calma, Angel. Devem ter ido lá embaixo tomar um ar.
- Eu não confio no Nick, Camille. Ele foi capaz de tentar me matar.
Camille sentiu o estômago revirar, era sempre assim, se sentia a pior pessoa quando Angel falava assim do amigo.
- Calma, está bem? Vou ligar para ele.
Ligaram, mas ele não atendia. Quase meia hora depois Angel perdeu a paciência.
- Eu vou à polícia, Camille. Se aquele maluco...
Ela parou assim que viu a porta abrir e Nick aparecer com Penny nos braços.
- Penny! – correu para pegar a menina. – Você está maluco? Por que não atendeu nossas ligações? Onde você a levou?
- Penelope e eu fomos dar uma volta, ela estava entediada daqui.
“Foi ótimo, tio Nick.”
- Sem nos avisar? Da próxima vez chamo a polícia! Achei que tivesse sumido com ela, sabemos que você é capaz de coisas piores que isso.
Todo bom humor de Nick acabou ali.
- Pode pegar ela aqui, Camille?
- Claro.
Camille pegou a criança e Nick se aproximou de Angel o bastante para que ela percebesse sua irritação sem ele precisar gritar e assustar a sobrinha.
- Escuta aqui, Angeline. Eu não sei se você ainda não percebeu, mas você está na minha casa, então me respeite, estou tentando fazer o mesmo com você. Nem por um segundo ache que gosto da ideia de te ter aqui na minha casa, mas mesmo assim venho tentando manter o controle, mesmo você repetindo a cada minuto que não confia em me deixar sozinho com a Penny. Não deveríamos confiar em você, - colocou o dedo próximo do rosto dela - que vive uma mentira, ainda não entendo como Caleb te achou uma boa influência para a Penelope...
- Não fa...
- Estou suportando tudo por conta dele e da Penny, não me faça desistir.
Não esperou a garota falar nada, jogou algumas sacolas cheias de compras no sofá, abriu a primeira porta que encontrou e se enfiou dentro. Precisava ficar sozinho para não surtar, mesmo que a porta que tivesse aberto fosse a do banheiro.
Camille esperou que a amiga gritasse, fosse tentar abrir a porta para xingá-lo, mas em vez viu Angel se jogar no sofá e chorar.
- Ei!
- Não vamos conseguir, Camille. Por mais que a gente tente, nos mataremos antes que o Caleb acorde. Não vamos conseguir.
- A gente tem que conseguir. – abraçou a amiga.
Durante o abraço Camille abriu uma das bolsas que estavam atrás de Angel e viu um lindo vestido rosa.
- Ele fez compras para a Penny – falou, soltando a miga.
- O que?
- Olha que coisa mais linda. Penny, você gostou?
“Amei”
- Ele comprou uma coroa pra ela – Angel falou confusa e Camille gargalhou.
- Ele está mesmo entrando na onda de ser papai. Olha quantas coisas. O que é aquela sacola enorme ali na porta?
Angel correu para pegar e quando abriu encontrou uma enorme baleia de pelúcia.
- Angel, acho que você deve um grande pedido de desculpas.
- Por quê? Só porque mais uma vez ele resolveu esbanjar sua grande fortuna para o mundo? Penelope nem precisava disto tudo. – tentou argumentar, embora também estivesse encantada.
- Angel...
A garota bufou.
- Tudo bem, eu errei. Quando ele sair do banheiro eu me desculpo.
Alguns minutos depois Nicolas abriu a porta e Camille encarou a amiga, encorajando-a.
- Ér... Desculpa, sei que você ama a Penny.
- Eu não me importo com o que você sabe ou deixa de saber, só lembre que está na minha casa. Camille – virou-se para a amiga – sinta-se em casa. Minha casa é sua casa e da Penny também.
- Claro. Eu e a princesa Penelope estamos amando sua banheira enorme. – brincou tentando quebrar aquele clima.
- Sabe como é, só gosto do que é bom. Viva o capitalismo, aos hotéis de luxo, as Ferraris, as pessoas que não mentem e resolvem assumir a vida que levam! Viva!

Os dias que se passaram foram igualmente atrapalhados e desconfortáveis. Era sempre uma loucura até eles descobrirem porque Penelope chorava e todos os dias, sem exceção, Nick e Angel brigavam, tanto em casa como no caminho até o trabalho de Angel.
- Você não precisa me trazer se não quiser.
- E você pretende vir como, voando? Será que você pode ser ao menos um pouco agradecida?
- Eu não entendo como um dia a gente chegou a ser amigos. O que fizeram com aquela criança que você era?
- Mudou, graças a Deus. Já imaginou se eu continuasse gostando de você? Poderíamos estar juntos hoje e eu teria que te aturar diariamente, sem nem reclamar como faço hoje.
Camille assistia tudo calada, estava cansada de tentar acabar com a briga dos dois.
- Quem gosta de alguém não tenta matar esse alguém.
- CHEGA! – mesmo tentando se manter afastada da briga, Camille não conseguia ficar calada quando eles entravam neste assunto.
- Isso, chega! – Nicolas concordou e parou o carro. – Está com dinheiro aí, Angeline?
- Estou. – respondeu irritada.
- Dá pra pagar um taxi?
- Como?
- Se não der, eu pago. Mas hoje, ao menos hoje, eu não quero ter que aguentar você. Eu pago teu taxi, mas desce do meu carro.
- Nick? – Camille não acreditou no que estava escutando, Angel igualmente.
- Qual é, Camille? Eu já disse mil vezes que não tentei matar ninguém, que não sabia que tinha gente lá dentro, mas ela continua me chamando de assassino. Acha que tenho sangue de barata?
- Mas...
- Não precisa me defender, Camille. Eu tenho dinheiro suficiente pra ir até lá.
- Isso. Ela é rica, embora não goste de assumir.
- Vai para o inferno! – Angel gritou antes de descer do carro.
- Nick, dessa vez você pegou pesado.
- Você não escuta o que ela diz?
- Escuto, mas vocês tem que se esforçarem para se darem bem, agora principalmente.
- Como assim?
- Quando chegar em casa te falo.

- Atrasada! – Joy brincou quando viu Angell chegar.
- Desculpa, rolou um estresse lá em casa.
- Falando em casa, quando vai me levar pra conhecer?
Angel gelou.
- Já te disse que não moro sozinha.
- Mas nem posso entrar lá, que tipo de amigos são esses que você tem?
- É complicado, mas um dia te convido.

Bastou chegarem em casa para Nick falar:
- Desembucha.
Camille contornou a mesa e sentou.
- Senta aqui.
- Você está me assustando. – ele brincou.
- Eu vou viajar a trabalho esse fim de semana.
- O que? Assim do nada?
- É assim que as cosias funcionam no meu trabalho. Estou sem trabalhar a mais de um mês, não posso negar.
- Claro, eu entendo. Só não sei como vou conseguir lhe dar com a Angel sem você aqui.
Ela riu.
- É sério, assuma que ela é intragável.
- Eu não estou rindo disto.
- Está rindo de quê, então?
- Longe dela você a chama de Angel. – ela riu novamente e viu o amigo corar. – Sei que não a odeia tanto assim, Nicolas.
- Não, ela é quem me odeia.
Camille abaixou o olhar, contendo a vontade de chorar. Estava na hora de contar a verdade, Penny precisava que eles se dessem bem.
- E é tudo culpa minha.
- Culpa sua? Claro que não, Camille. Você é quem nos segura.
- Não, Nicolas. A culpa é minha, desde o início, há dez anos.
- Como assim? – perguntou, mesmo temendo a resposta.
- Por favor, me desculpe. Lembra que naquela mesma época do fatídico jogo eu estava interessa em você? – Viu o amigo balançar a cabeça em um sim. – Luke estava interessado na Angel, pedi ao Luke para me ajudar com você e em troca eu o ajudaria com a Angel, mas ele veio me contar que você não me queria, estava irritado, afinal, você queria a Angeline. Eu te queria, você queria a Angel, Luke queria a Angel e provavelmente a Angel queria você, eu sabia disto, o clima entre vocês existe desde aquele dia que você se declarou pra ela. Meu Deus, Nick, eu fui tão egoísta – ela limpou uma lágrima. – Eu sabia do lance das abelhas, tinha visto vocês escondidos, foi aí que dei a ideia de fazer a Angel saber de tudo, disse ao Luke que você assumiria, mesmo sendo inocente, você nunca foi bom em mentiras, depois era só ele negar que tinha a ver com isso, inventar uma boa desculpa e pronto. A Angel te odiaria, o Luke a consolaria, e eu faria o mesmo com você.
- Camille...
- Eu sei – ela riu, mesmo com lágrimas escorrendo. – Isso foi terrível. Eu nem sei como achei que isso fosse dar certo, eu nunca consegui me aproximar de você, todas as vezes que tentava, me batia uma culpa e eu recoava. Essa culpa me atrapalhou outras vezes, você deve fazer ideia. Mas é que eu nunca me imaginei sem a Angel, e eu sabia que no dia que ela soubesse me odiaria assim como te odeia hoje, mesmo sendo egoísta, nunca quis arriscar. Mas agora tem o Caleb, a Penny, eu não posso deixar que esse ódio acabe com tudo, vocês precisam se dar bem, pelo bem da Penny. Não posso falar com o Caleb, Nicolas, não mais. Estou te contando agora e assim que a Angel chegar, contarei a ela.
- O que? Não, não.
- Como assim?
- O que você fez foi péssimo, Camille. Não vou mentir dizendo que não estou decepcionado ou até mesmo irritado, mas isso foi há dez anos, passou. A Angel me conhece desde criança, ela deveria ter acreditado em mim, não quero que vocês acabem a amizade por causa disto. Prometo me esforçar para tomar conta da Penny, essas brigas não vão me atrapalhar.
- Mas...
- Eu sou o maior prejudicado nisto e estou dizendo que prefiro manter as coisas assim, já estou acostumado com o ódio dela, você não. Vamos deixar assim.
Camille pulou no colo dele e o abraçou.
- Nick, você poder ser metido, mas é a melhor pessoa que conheço. Obrigada, obrigada!
- Vamos combinar assim: eu não conto nada a Angel e assim que o Caleb acordar você vai correr atrás daquilo que essa culpa não te deixou ter.
- Hã?
- Nem vem, você gosta dele.
- Isso foi no passado! - tentou se defender.
- Não! Isso está aqui até hoje – falou, apontando para onde ficava o coração dela. – Eu amava a Prya, sei que você também, mas ela se foi, você tem que lutar por ele. Combinado?
Chorando, ela falou:
- Combinado – e o abraçou mais uma vez.

***

Fazia uma semana desde que Camille viajara, tentando manter o melhor clima Nick decidiu que ficaria com Penny pela manhã, depois iria para o trabalho e enquanto Angel não chegasse para ficar com a garotinha pela tarde, uma jovem do mesmo prédio ficaria olhando a bebê. Se vendo apenas um horário era mais fácil de manter uma boa convivência, ainda mais porque a noite Angel sempre ensaiava em um salão do prédio.

- Eu não vou conseguir, Camille. Mal estou ensaiando, vou acabar prejudicando o Adam.
- Ele não está ensaiando também?
Enquanto elas se falavam ao telefone, Nick acabava de chegar à porta do quarto para dizer que era a vez de Angeline trocar a frauda de Penny, mas parou ao perceber que ela chorava.
- Está sim, a irmã dele também dança, acontece que sem um par, eu nunca vou estar boa o suficiente para dançar com ele. Meu maior sonho está indo por água a baixo.
Quando Nicolas percebeu que ela iria desabar no choro, resolveu interromper. Ele sempre odiou choro, mas desde que a viu chorando no hospital, percebeu que só existia uma coisa pior que choro, era ver Angeline chorando.
- Sua vez de trocar a frauda e se prepara, está fedendo mais que nunca.
- Claro, claro – falou enquanto tentava disfarçar as lágrimas. – Pode me dar apenas um minuto?
- Sim. – e saiu do quarto.
- Camille, o dever me chama. Beijos.
- Beijos e vai dar tudo certo.
Mesmo um pouco preocupado, – embora nunca fosse assumir isso em voz alta – Nick resolveu não tocar no assunto da ligação, mas durante a semana seguinte Angel só parecia ainda mais preocupada.
- Sei que não é da minha conta, mas o que você tem? Está péssima.
- Nada importante, posso dar um jeito.
- Você está chegando sempre atrasada do seu trabalho, a Hillarie veio conversar comigo dizendo que quer um aumento.
- Eu não posso pegar um taxi todos os dias na frente de todos, tenho que ir a pé até uma parte afastada, depois procuro um táxi, fora que algumas vezes alguns dos meus amigos precisam sair e se dispõem a me acompanhar até o metrô.
Uma provocação sobre ela ser uma grande mentirosa quase saiu da boca de Nick, mas ele achou que ela não precisava ficar ainda pior naquele momento.
- Entendi. Vou negociar um aumento para Hillarie então.
- Obrigada.

- Nicolas, pode vir aqui, por favor?
Embora sempre evitassem muita conversa, desde que Camille viajara a trabalho que Nick e Angel eram obrigados a se falarem cada vez mais. Digamos que um pedacinho da bandeira branca tinha sido levantado.
- O que foi?
- Toca aqui na Penny, ela não está um pouco quente.
Ele tocou na pequena e depois falou:
- Quente ela está, mas isso quer dizer o que?
- Ela deve estar com febre.
- E você sabe quando alguém está com febre? – ele perguntou, provocador.
- Mais do que você – ela respondeu. – E sem provocações agora, acho que ela está doente. Dormiu mais que o normal hoje. Você tem um termômetro aí?
- Não, mas vou arrumar, talvez na casa da Hillarie tenha.
Alguns minutos depois Nick voltou com o termômetro, Hillarie e a mãe dela.
- A mãe da Hillarie é mãe, ela sabe melhor das coisas.
Mãe e filha riram, enquanto Angeline rolou os olhos.
- Licença – a mulher pediu, antes de colocar o termômetro na criança.
Depois de passados os minutos necessários, ela checou a temperatura.
- Ela está mesmo com febre, na verdade está ardendo em febre. Ela não chorou muito durante essas horas?
- Não, foi o dia em que ela mais ficou calada – Nick falou.
- Não espirrou ou vomitou?
- Também não.
- O estranho foi que ela passou o dia dormindo.
- Vamos levá-la ao hospital – Nick decretou.
- Clama, talvez seja...
- Obrigada senhora, mas vamos levá-la agora. Angeline, pode trocar a roupa dela? Vou arrumar a bolsa.
- Claro.
A garota correu para o quarto e quando tirou a roupinha da criança gritou:
- Nicolas!
Ele veio correndo junto com as duas mulheres.
- Ela está com a barriga toda vermelha. – começou a chorar – O que é isso? Ai meu Deus.
- Calma, minha querida, pode ser alguma reação alérgica.
- Pega uma roupa, a gente troca ela no carro. – Nick disse, puxando a garota pelo braço.
Embora a mãe de Hillarie insistisse para que eles tivessem calma, os dois saíram desesperados rumo ao hospital.
- Vou ligar para Camille – Angel falou assim que entrou no carro, mas tentou e não conseguiu. – Não tá chamando.
- Tudo bem, damos conta.
Desde que toda aquela história tinha começado que Nicolas se perguntava: E se algo der errado? E se não dermos conta? E se ela ficar doente? Se a gente não fizer da maneira certa? Todos esses medos estavam se tornando realidade, enquanto dirigia ele só pensava: Deus, não me deixe falhar com as pessoas que mais amo nesse mundo.
Assim que chegaram ao hospital saíram quase correndo do carro, foi neste momento que Angeline olhou para o chão e viu que Nicolas estava descalço.
- Onde estão os seus sapatos?
- Você acha que lembrei disto quando saí de casa?
Mesmo em meio aquela situação, ela não deixou de rir.
- Vai à merda, Angeline. Deixe pra implicar comigo depois.
- Eu precisava disto para aliviar a tensão.
Ele acabou sorrindo também, mas logo correram a procura de um médico.

- Ela vai ficar bem, foi apenas uma reação alérgica. Geralmente só ficam vermelhos, mas alguns tem queda de pressão e foi isso que aconteceu com a pequena. Nada de biscoitos recheados para ela. – riu, tentando acalmar o casal a sua frente. – Pais de primeira viajem?
- Como?
- Esse pânico estampado em suas caras, isso entrega que são iniciantes.
Ambos pensaram em explicar a situação ao médico, mas deixaram para lá, aquela noite fez eles se sentirem mesmo pais de Penolepe.
- Ela ficará em observação essa noite, precisa tomar um soro, mas acalmem-se, amanhã ela já estará ótima. – disse e saiu da sala.
Nicolas se jogou em uma poltrona que tinha no quarto do hospital.
- Eu nunca senti tanto medo em toda minha vida. – disse rindo, aliviado por saber que sua sobrinha ficaria bem. Parou quando percebeu que Angel chorava. – O que foi?
Ela balançou a cabeça, tentando dizer que não era nada.
- Fala Angeline. – disse impaciente.
- Não estamos preparados para isto, Nicolas. Eu não estou. Meu Deus, eu achei que a Penny fosse morrer, nunca me senti tão culpada em toda minha vida.
- Mas ela vai ficar bem. – tentou.
- Eu sei, mas olha pra ela. Precisou ser furada, vai passar a noite no hospital. Eu não sou capaz. – começou a chorar mais alto e ele levantou, pensando em um jeito de fazê-la parar. – Tenho uma apresentação de dança que até outro dia era a coisa que mais importava na vida e claramente não estarei boa o suficiente, afinal troquei minha prioridade. Daí hoje, estou aqui no hospital olhando para minha atual prioridade e sabendo que não sou boa o suficiente pra dar conta dela também.
Abandonando toda sua raiva e seguindo seu instinto, ele a puxou para um abraço apertado. Angel ficou sem reação no primeiro momento, mas estava mesmo precisando de um abraço, então retribuiu.
- Você vai conseguir as duas coisas, ainda não sei como, mas sei que vai.
- Obrigada.
Ele não sabe dizer se foi o alívio de saber que Penny não morreria, se foram as lágrimas de Angel ou tudo junto, mas quando se deu conta já estava dizendo:
- Não precisa agradecer. – e beijou a testa dela.
Quando se soltaram ambos ficaram sem jeito. Tentando quebrar o clima, Angel falou:
- Temos que contar ao Caleb o que aconteceu, pode me levar amanhã?
- Claro, deixamos a Penny com a Hillarie e vamos amanhã a tarde.


- Então é isso, irmão. Desculpa a gente. – Nick contava tudo para o amigo desacordado a sua frente e Angel apenas segurava a mão do irmão.
- É, Caleb. Desculpa a gente – a menina disse e foi aí que algo aconteceu. – Nicolas, ele apertou minha mão!
- O que? – o rapaz correu para o outro lado da cama.
- Faz de novo, Caleb, mostra para ele.
E um aperto de mão muito fraco aconteceu.
- TEMOS QUE CHAMAR UM MÉDICO! – Nick disse e correu para procurar um.
Quando Nicolas voltou encontrou – não para sua surpresa – Angel chorando igual uma criança e acabou por derramar algumas lágrimas também.
- Pode apertar minha mão também, Caleb? – o médico pediu e de uma maneira mais fraca que as outras duas vezes ele obedeceu.
Angel virou para abraçar Nicolas, mesmo não confiando no mesmo tinha apenas a ele para comemorar, mas ele estava de braços cruzados e claramente segurando as lágrimas. Então ela apenas tocou em seu braço.
- Você estava certo. – ele a olhou, confuso – Ele não vai nos deixar.
Ele apenas sorriu e ela não sabia explicar exatamente o motivo, – tentou colocar em sua cabeça que fora o calor da emoção – mas sentiu um arrepio percorrer seu corpo.

Durante a volta para casa ligaram para Camille que chorou igual uma criança com a notícia e avisou que estava voltando para casa em uma semana.
Foi o dia em que Angel e Nick mais conversaram, ainda tinham provocações, mas elas já não carregavam tanto ódio.

- Penny, Penny! – Angeline correu para pegar a sobrinha no colo e anunciou – Seu pai está melhorando. Ele vai ficar bom! Você terá seu pai de volta.
- Você não mais precisar se preocupar com o fato de que não temos experiência contigo.
“Amo o papai, mas vocês também são legais.”
- Posso dizer uma coisa? – Hellarie perguntou.
- Claro – os dois responderam.
- Vocês são bons pais para a Penny, claro que sendo franca, acho que vocês ainda não estão prontos pra isso. Mas seus filhos vão adorar. Quando tiverem os seus – ela disse rindo. – Eles vão adorar ter vocês como pais. A Penny adora, mesmo sendo iniciantes e totalmente despreparados.
- Obrigada, Hillarie – a garota agradeceu, com lágrimas nos olhos.
- Por nada, vou indo nessa, precisando é só chamar.

***

- Hoje teremos um dia diferente, pequena. Vamos buscar sua tia para nos divertimos muito. Você vai gostar, aposto. Para que tudo dê certo você só precisa ser muito fofa para me ajudar a convencer sua tia a sair conosco.
“Pode deixar. Eu sou sempre muito fofa.”
- Só porque sua tia é cheia de coisa, aluguei um carro bem simples para buscá-la no trabalho.
“Você está gostando dela, tio.”
- Por que tá me olhando assim? – falou, como se pudesse ler os pensamentos da sobrinha. – Só estou sendo legal, os dias andam estressantes para todos.

Nicolas chegou em frente ao prédio onde Angeline dava aulas e também estudava dança e pensou que comparado ao lugar onde ela morava, aquilo até parecia bonitinho. Mas só bonitinho e só se comparado à casa de Angeline.
- Poderia me dizer onde encontro Angeline?
- Ela está na sala seis, está dando aula.
- Posso ir até lá?
- Claro.
Com Penny no colo ele foi até a sala seis e de lá ficou olhando a garota ensinar uma turma mista – tinham crianças, jovens e até adultos.
Ela parecia ter nascido para aquilo.
- Vamos gente, neste tom – e cantou o tom desejado.
- Sua tia manda muito bem, não é Penny? – perguntou, encantado.
- Posso ajudar? – escutou uma garota perguntar.
- Oi, não, estou esperando a aula acabar.
- Deseja falar com a Angel?
- Não precisa interromper a aula.
- Claro.

- Quem era aquele, Jade? – Joy perguntou.
- Não sei, acho que está esperando a Angel.
- Tem pinta de rico, não tem?
- A Angel também, mas nem por isso é. – Jade brincou e foi embora.

- Até a próxima aula, turma.
Angel estava saindo da sala quando deu de cara com Nick e Penny.
- Ah! – tomou um pequeno susto.
- Oi.
- O que estão fazendo aqui?
- Viemos te buscar – ele disse, rindo.
Ela olhou para todos os lados e disse:
- Me esperem lá fora, vou deixar essas coisas na sala.
Quando ela chegou do lado de fora foi logo perguntando:
- Você é maluco? E se percebem algo?
- Não vão perceber. Aluguei até um carro bem simples – ele disse e ela rolou os olhos. Como ele era metido. – E olhe minhas roupas, estou vestido de forma bem simples.
- Não que isso mude seu jeito de playboy ricaço. A propósito, não vai trabalhar? Cadê seu paletó, sua pasta cheia de documentos?
- Hoje não irei ao trabalho, precisamos de folga. Penny, você e eu teremos um dia diferente. Estou passeando com a Penny desde cedo.
- Eu acho melhor irmos para casa.
- Só uma vez na sua ida, confie em mim.
Motivos? Tecnicamente ela não tinha, mas confiou.
- Tudo bem – bufou e entrou no carro. – Mas isso não vai te arranjar problemas no trabalho?
- A vida passa rápido demais, e se você não parar de vez em quando para vivê-la acaba perdendo seu tempo.
- Onde vamos, então?
- Pra vários lugares.

- Onde estamos?
- Para de ser curiosa e vamos entrar.
Lá dentro ela percebeu que era uma pista de corrida, mas não com carros grandes e profissionais. Só carrinho que mais pareciam feitos para crianças e que não chegavam a uma grande velocidade.
- Tem como colocarmos a bebê também?
- Temos como adaptar o carro, mais sugiro que o mais experiente fique com ela.
- Eu fico então – ele disse.
- Quem disse que você é mais experiente?
- Você nem gosta de carros.
- Claro que gosto.
- Gostando ou não, você não tem um. Então, sou o mais experiente.
Ela bufou.
- Tudo bem.
Colocaram as roupas adequadas e depois de muita recomendação da parte de Angel, entraram no carro.
- Lembrando que sou contra a Penny participar, se acontecer algo...
- Não vai acontecer, para de ser chata. Aqui está o mapa do tesouro, vamos procurar juntos. Você fica com esse lado e eu com esse.
- Não sabia que tinha caça tesouros nesses lugares.
- E não tem, mas paguei para que tivesse hoje – ele respondeu, convencido.
- Você se supera às vezes – disse, rolando os olhos.
- Vamos?
- Vamos.

Durante a caça ao tesouro Angeline teve de concordar que Nicolas era o melhor para Penny, ela batia nos pneus constantemente e mesmo de longe ele gritava algo e ria sem parar.
Quando finalmente acharam o tal tesouro, que era especialmente para ela, dentro ela encontrou ingressos para uma apresentação lírica, um vale que tinha escrito em seu verso algo como: “Vale uma continuação de tarde maravilhosa.” Um diploma de garota mais chata do mundo, um monte de chocolates, algumas coisas para Penny e bom, nada para ele.
- Você compra o tesouro e não coloca nada para você.
- Não preciso, mas se quiser, posso te acompanhar na ópera.
Ela ficou um pouco sem graça, mas aceitou.
- Claro. Mas que tal usarmos o vale neste momento?
- Agora mesmo.

E lá seguiram para o Central Parke e ele tinha uma cesta cheia de comidas.
- Penny, o que fizeram com seu tio? Esse cara legal não é ele.
- Explica para ela que sempre fui assim, ela só era chata demais para merecer esse meu lado.
- E o que fiz para deixar de ser chata? – perguntou, rindo.
- Você continua chata – disse, enquanto mordia uma maçã. – Mas está se esforçando tanto, merecia um dia para relaxar. – deu de ombros.
- Obrigada – fingiu um sorriso e ele gargalhou.
- Quer sorvete? – perguntou, mostrando uma barraquinha.
- Claro, passa a grana. – pediu, rindo.
- Vamos com você, eu também quero.
- O que o lindo casal vai querer?
Os dois se olharam meio sem jeito e sorriram.
- Quais os sabores? – perguntaram juntos.

Estavam voltando para casa e ainda riam das coisas que aconteceram durante aquela tarde.
- Desculpa a pergunta, mas você tem roupa para ir à ópera?
- Tava demorando – ele rolou os olhos.
- É sério, podemos parar e comprar em algum lugar.
- Eu me viro, Nicolas. – disse, impaciente.
- Para de ser trouxa, a gente pode ir à alguma loja agora mesmo.
- A Penny está cansada, mas você lembrou de algo importante. Vai com ela que vou de taxi para casa. Procurarei algo.
- Tudo bem.

Ele seguiu para casa e ela para uma loja. Fazia tempo que não entrava em uma loja daquele porte.
- O que a senhorita deseja?
- Quero um lindo vestido de noite.
- Um encontro?
Angel parou um pouco para pensar na resposta e se surpreendeu com o que disse.
- Talvez. – mas sorriu ao falar.

- Hellarie, na menor suspeita de que há algo errado com ela, no ligue. Nada de biscoito recheado, nada de nada, a não ser mamadeira ou papa...
Nick falava sem parar as recomendações que nem percebeu Angel chegando na sala.
- Acho que a Hillarie já está acostumada a cuidar da Penny, Nicolas. – falou, rolando os olhos, mas rindo.
Quando o rapaz virou em direção a ela, toda a frase que pretendia falar sumiu de sua mente. Meu Deus, ela estava linda.
- Estou bem vestida para uma ópera?
Ele a olhou novamente de cima à baixo e falou:
- A riqueza te faz bem, sabia?
- Vá à merda.
Ambos riram.
- Vamos, não quero atrasar. – ela o chamou. – Penny, se comporte. Amo você.
- Pode me dar ela um pouco? – Nicolas pegou a sobrinha no colo e a levou até a cozinha. – Sua tia está linda, não está?
“Maravilhosa, tio.”
- Sei que não vai responder, mas eu precisava contar isso a alguém da minha confiança. – depois voltou a sala – Toma.
- Vou indo também, quando chegarem é só chamar lá e casa.
- Está levando tudo que precisa?
- Sim.
- Tchau, pequenininha. – Angel se despediu mais uma vez da sobrinha. – pegou as chaves?
- Sim. – balançou para que ela visse. – E você, pegou as entradas?
- Nossa, esqueci! Já pego.
Mesmo de salto correu para o quarto.
- Vamos logo, vamos nos atrasar.
- Estou aqui, vamos.

- Já veio aqui? – ele perguntou.
- Uma vez, e você?
- Algumas.
- NICOLAS! – uma morena linda gritou o seu nome.
- Oi, Melanie.
- Que surpresa ao te encontrar aqui, desde aquele nosso dia que não nos falamos mais.
- Nosso dia – ele repetiu baixinho, rindo. – Ando um pouco ocupado.
- Ah, sim. O Peter me falou que você está cuidando de uma criança, que mancada o cara exigir isso, não é? Nem tem seu sangue.
- Não é nenhum fardo, Melanie.
- Ah, não estou dizendo isso, mas é que esse seu amigo não tem família?
- Melanie... – ele tentou fazê-la calar, mas ela continuou.
- Licença, - Angel se intrometeu – vou ali, me recuso a escutar tanta merda.
E saiu pisando forte.
Era pedir demais ter um dia completo de felicidade ao lado de Nicolas. Como ainda esperou isso?
- O que aconteceu com ela?
- Ela é irmão do cara em questão, Melanie. – falou e saiu tentando acompanhar Angeline.
- Angeline! Angeline! – apressou os passos e alcançou o braço da garota que parecia furiosa.
- O que é? – quase gritou.
- Por que você está irritada comigo?
- Por que você a deixou falar tudo aquilo do meu irmão? Por que você não o defendeu? Porque você tem amigas babacas? Por que provavelmente só ficou calado porque comeu a mesma no “dia de vocês”?
- Eu não deixei ela falar nada!
- Claro que deixou!
- Fala baixo, estamos em publico. – e a puxou para um lugar reservado. – Me escuta, pode ser?
- Talvez nesta sociedade ser homem e babaca o faça merecedor do nosso tempo, mas eu não quero o escutar.
- Mas vai. – falou e se colocou na frente dela – Melanie é uma sem noção, não é a toa que não liguei mais para ela, acontece que você nem me deixou falar nada com ela, saiu irritada de lá. Eu não acho nada daquilo que ela falou.
- Acon...
- Eu poderia ter dito que não aceitava nada disto, na pior das hipóteses a Penny iria ficar com alguém que o Caleb não desejava, mas sem casa ela não ficaria, mas eu aceitei. Aceitei mudar minha rotina, receber três novas pessoas em casa, aceitei te aturar e até mudei. Acha mesmo que acho o Caleb um babaca? Eu não faria nada disto se achasse.
- Tudo bem – Angel respondeu, com aquela expressão que ele odiava. Era o tipo de expressão que ela usava para deixar claro que nada do que você falou importa. – Será que podemos ir para nossas cadeiras agora? Suspeito que já tenha começado.
- Claro – ele respondeu, bufando.

Tirando a briga, a noite tinha sido muito boa. Angel ficou maravilhada com o concerto e Nick gostou de vê-la emocionada, mas mesmo assim trocaram poucas palavras.
Já no carro ele tentou uma coneversa.
- Gostou?
- Sim.
- Bem emocionante, não é?
- Sim.
- Ligou para saber da Penny?
- Sim.
- Como ela está?
- Bem.
Angel respondia tudo sem nem ao menos olha-lo.
- Vai continuar com isso?
Dessa vez ela não respondeu.
- Eu já disse que não concordo, que estava pronto para respondê-la...
- Como você pode ir pra cama com pessoas tão vazias?
Ele a olhou intrigado.
- O problema é que eu fui pra cama com ela?
- Claro que não! – respondeu, embora estivesse mesmo irritada com esse fato.
- Pois parece.
- Não tem problema nenhum, tudo bem? Você dorme com quem quiser e responde a quem quiser. A vida é sua.
- Como pode ser tão linda e tão chata? – ele perguntou, irritado.
- Pra sua informação eu n ao me iludo com elogios baratos.
- Não tem porque eu querer te iludir, não mesmo.

Chegaram ao estacionamento do prédio calados, entraram no elevador calados, chegaram à porta do apartamento ainda calados.
Nick foi abrir a porta quando percebeu que ela já estava aberta.
- Nossa, eu tinha esquecido de fechar.
Quando abriu a porta percebeu algo estranho, estava tudo escuro e ele nunca deixava todas as lâmpadas apagadas.
- Sai da porta, preciso tirar esses sapatos e ir buscar a Penny.
- Fica aí, Angeline. Melhor, vai para o apartamento da Hillarie.
- Hã? Eu preci...
Ele tampou a boca dela com uma das mãos.
- Faz o que estou te pedindo, tem alguma coisa errada aqui.
- Co...
- Por favor, vai embora.
Por mais que duvidasse de Nicolas, dava para perceber que ele estava falando sério. O medo estava estampado em seu rosto.
- Ligo para polícia? – cochichou para ele.
Nicolas balançou a cabeça em um sim.
Angeline correu para o apartamento de Hillarie, mas sua vontade era não deixar Nicolas sozinho. E se acontecer algo com ele?
Nick entrou em casa sem ascender nenhuma lâmpada, foi direto para perto da televisão e pegou um taco de beisebol que ele sempre deixou próximo a ela.
Seguindo um barulho chegou até o quarto onde Angel dormia e logo viu a sombra de um homem revirando uma gaveta.
Sem pensar muito bateu com toda força o taco de beisebol na cabeça do rapaz que caiu no chão gemendo e antes que pegasse a arma recebeu um murro no estômago e desmaiou.
Enquanto esperava a polícia Nick sentou na cama e ficou com a arma que tinha pego do assaltante apontada para o mesmo. Estava com tanta raiva, pensou em atirar quando viu o assaltante acordar e gemer de dor na cabeça.
- Nem pense em se mexer ou eu atiro.
Rapidamente o rapaz procurou pela arma, mas Nick avisou:
- Procurando pela sua arma? Ela está aqui comigo.
O homem ainda gemia tocando a parte machucada.
- Olha, cara, acho melhor você deixar eu me mandar, não roubei nada seu e se não em deixar ir embora o cara que veio comigo vai subir aqui para me procurar.
- Jura? Estou louco para bater nele também.
- Eu não roubei nada seu, no máximo admirei as calcinhas da sua mulher, pela foto parece gostosa.
Nicola segurou o taco de beisebol e mirou nos testículos do homem, batendo com força.
- Ahhhh!
- REPETE O QUE VOCÊ DISSE! REPETE!
Foi para cima do rapaz e chutou sua barriga.
- REPETE! REPETE!
Chutou outra vez.
- REPETE SEU FILHO DA MÃE! – ele gritava enquanto o homem gemia de dor. – REPETE!
- Polícia, polícia. – um policia chegou avisando, mas Nicolas continuava chutando o rapaz. – Senhor, pare com isso.
- REPETE!
Dois policiais seguraram Nick enquanto ele tentava voltar e bater no assaltante.
- EU DEVERIA MATAR VOCÊ!
- Retirem ele daqui.
Quando voltou à sala encontrou Angel paralisada.
- Nicolas! – ela correu para abraçá-lo assim que o viu. – O que foram aqueles gritos? Por que estava tão transtornado?
- Eu deveria voltar lá e matar aquele filho da mãe. Se você ou a Penny tivessem entrado aqui e se machucado eu estouraria a cabeça dele. – disse, soltando-se do abraço.
- Nada aconteceu conosco – o abraçou novamente. – Estamos bem.
Nicolas repirava forte, tentando controlar a vontade de voltar lá e bater naquele homem.
- Ele estava no seu quarto, olhou suas calcinhas.
- O que? – ela o soltou e o encarou, chocada.
- Isso mesmo e ainda me disse isso. Eu quero matá-lo!
- Ei – o segurou pelo braço. – Isso é horrível, mas ele só tocou em pedaços de panos, eu estou aqui, estou inteira.
- se ele tivesse dito que ia roubar tudo desse lugar eu estaria com menos ódio. Veio em dizer que te achou gostosa.
- Nicolas – segurou o rosto dele com as duas mãos e o encarou. – Eu agradeço toda preocupação, mas eu estou inteira. Olha – soltou e mostrou-se para ele. – Estou inteira.
Nicolas a puxou para um abraço.
- Viu? Eu estou inteira. – falou, tentando conter as lágrimas. Não sabia porque, mas sentiu-se tão segura quando viu como ele a defendeu.
- E linda. – Nick falou baixinho enquanto a abraçava e ela escutou.
- Obrigada. – ela respondeu e deixou ele na dúvida se ela agradecia por tê-la defendido ou também pelo elogio, já que não tinha certeza se ela tinha escutado.
Ela agradecia pelos dois.

Depois de toda a confusão os dois não conseguiram dormir. Ainda estavam vestidos com as mesmas roupas que foram à ópera e jogavam xadrez para ver se o tempo passava.
- Isso era do meu pai. Jogávamos muito quando eu era mais novo.
- Sente muita falta deles? – Angel perguntou, referindo-se também a mãe.
- Muito, mas já me acostumei. Mas não quero falar deles – falou, afinal, isso fazia uma mágoa da garota crescer dentro de si – e cansei desse jogo.
- Então, o que fazemos agora?
- Podemos conversar.
- Eu não sei o que falar com você – ela comentou, não era uma provocação, apenas um fato.
- Que tal me falar sobre sua importante apresentação de dança? Melhor, me fala como entrou nessa coisa de vida dupla.
Ela suspirou, mas começou a falar.
- Foi tudo meio der repente. Eu sempre quis dançar, lembra que eu fazia balé desde nova? – ele balançou a cabeça em um sim. – Conheci uma garota na faculdade que me levou para uma festa, ela era da morava onde eu morava até me mudar para aqui. Fizeram uma apresentação lá e eu fiquei louca, eles eram demais, perguntei para minha amiga como eu poderia me juntar a eles e ela falou que eu era elitizada demais para aquilo, que tudo aquilo era voltado para pessoas carentes, eles cresceram naquilo. Eu tentei argumentar, mas ela sequer me apresentou para eles dizendo na verdade quem eu era, falou que eu era apenas uma colega da faculdade, acho que ela não queria dizer que tinha amigas ricas. Depois ela precisou se mudar, na verdade ela meio que fugiu, conheceu um cara errado e sumiu do mapa quando ele começou a persegui-la, acho que ela nem sabe que ele foi morto a pouco tempo, perdemos o contato. Uma tragédia para ela e uma possibilidade para mim. Depois que ela sumiu da faculdade fui a uma festa deles para procurá-la, mas ninguém sabia dela. Depois de me verem dançando perguntaram por que eu não me juntava a eles, até ali eu não pretendia fingir nada, mas no meio do papo percebi que eles achavam que eu era pobre e vi que não dava para dizer a verdade. Então, foi assim que tudo começou.
- Ninguém sabe da verdade?
- Ninguém.
- Minha nossa, você é uma bela mentirosa.
- Cala a boca – e deu-lhe ma tapa.
- E a tal apresentação?
- Estou tentando uma vaga em uma importante escola de dança, seria minha grande oportunidade, mas acho que nem vai mais rolar.
- Por que não?
- Não estou podendo me dedicar como antes. E não tenho mais um rapaz para ensaiar as partes com saltos, essas cosias. Já pensei em dizer que não mais poder me apresentar, a irmã do meu parceiro é totalmente capaz de ajudá-lo, mas não é tão fácil assim abrir mão do seu sonho. Dói.
- Mas você não tem que abrir mão.
- Como não? Eu sei que não vou passar. Melhor eu aceitar e não prejudicar ninguém.
- A dança de você é feita totalmente em conjunto?
- Não, passamos boa parte da apresentação em lados opostos, mas ainda sim, precisamos um do outro.
- Eu posso te ajudar, então.
- Você não dança – ela falou, rindo.
- Mas se a apresentação é quase toda vocês sozinhos, você só precisa me ensinar o básico para eu poder te levantar e fazer aquelas besteiras todas.
- Não é besteira.
- Tanto faz – deu de ombros. – Mas e aí? Vai aceitar minha ajuda?
- Isso não é fácil.
- Não quero ser um dançarino profissional, só preciso aprender o básico.
Rindo, Angel levantou, pegou um disco de vinil e colocou para tocar. Ela amava discos.
- Se quer o básico, vamos de uma valsa.
- Agora?
- Sim – riu da surpresa dele. – O básico.
Puxou-o e logo estavam com os corpos próximos dançando valsa.
- Não pise no meu pé – reclamou quando ele pisou de leve. – Mantenha o ritmo. Vamos.
- Se você parar de ser mandona eu posso fazer melhor que isso.
- Será?
- Você vai ver.
Esticou o braço para que ela rodasse na sala e ambos riram.
Ela de pensar em o quanto aquela cena parecia surreal e ele por estar maravilhado com a mulher à sua frente.
- Você deve ter armando muitos admirados enquanto dança.
Ela riu.
- Isso eu já não sei.
- Claro que sabe, namorou com quantos já?
- Não te interessa – brincou enquanto dançavam.
- Vai...
- Dois.
- Que puritana! – ele provocou.
- Não sou puritana, só altamente seletiva.
Ele esticou o braço para a mesma rodar mais uma vez e quando seus corpos tornaram a se colarem, ela perguntou:
- E você?
- Eu o que?
Angel rolou os olhos.
- Quantas vezes namorou?
- Defina namoro.
- Você sabe o que é namoro.
- Para ser namoro tem que haver pedido, frequência, presentes, mãos dadas e tudo mais?
- Só o pedido que não.
- Mas todo o resto sim?
- Sim.
- Então eu nunca namorei.
- O que?!
Ela curvou a cabeça para trás para poder olhá-lo.
- Que foi? Ninguém me atraiu a esse ponto.
- Você já quis namorar alguém, alguma vez na vida?
- Sim, só uma vez.
- Diga-me o nome dessa felizarda.
Nick parou a dança, mas não solou Angel.
- Você.
Angel o encarou e Nick se lembrou do dia que se declarou para ela a primeira vez. Nunca foi muito bom em lembrar-se do passado, mas lembrava-se perfeitamente daquelas duas esmeraldas penetrando sua alma. Estava acontecendo novamente.
- Eu?
- Sim. Depois de você, mais nenhuma. – falou, acariciando o rosto da menina com o polegar. – Só você, Angel.
Escutá-lo dizendo seu apelido depois de tanto tempo deixo-a ainda mais sem reação do que estava. Um turbilhão de sensações tomava conta dela, dos dois, na verdade.
Vendo que ela não faria nada além de encará-lo, ele a beijou.
Um beijo que estava atrasado por anos e fora desejado esse tempo todo, mesmo que ambos disfarçassem com seus sarcasmos e ódio.
Quando intensificaram o beijo, Angeline recuou.
- Eu preciso dormir.
Já estava andando correndo para o quarto quando ele a segurou.
- O que foi?
- Obrigada por se oferecer para me ajudar, mas não precisa.
- Angel, para com isso.
- Para você! – ela praticamente gritou. – Eu ainda sou a Angeline de sempre, não sou a Angel para você há muito tempo, assim como você é o Nicolas, não o Nick. Isso não teria como dar certo.
- Tudo bem, mas você tem que aceitar...
- Obrigada, mas eu me viro. Obrigada, Nicolas.
Virou e seguiu para as escadas rumo ao quarto.
- Por nada, Angeline.
Quando ficou sozinho jogou-se no sofá se perguntando o que estava acontecendo ali.
Começou a lembrar do dia completo que tinha passado com ela. A senhora do sorvete achando que eles eram um casal, eles rindo na pista, como ela estava linda vestindo aquele vestido longo vermelho sangue, como o batom vermelho que caía bem, em como ele ficava ainda melhor nela quando ela rodopiava pela sala.
O que estava acontecendo?
- Você nunca esqueceu essa garota, Nicolas.

No outro dia Nicolas acordou cedo e esperou Angeline chegar à sala.
- Angeline.
- Oi – tentou soar normal.
- Desculpe por ontem, acho que estávamos um pouco a flor da pele. Mas não negue minha ajuda só por causa daquilo.
- Podemos conversar depois? Tudo que eu menos quero é ter que falar disto a essa hora da manhã.
Nick bufou, mas sabia que não adiantaria discutir.
- Tudo bem.

Assim que chegou na escola Angel percebeu que alguma coisa estava diferente. Ninguém nas calçadas da escola, tudo em silêncio, só um burburinho na cozinha da escola.
O que estava acontecendo?
Seguiu para o cômodo e viu seu chão se abrir quando viu Peyton, sua amiga da faculdade lá dentro.
- Angel! – a menina gritou ao vê-la.
- Peyton – tentou responder na mesma intensidade. – Você por aqui?
- Saudades de você e eu que pergunto: você por aqui?
- Ela dá aulas aqui – Joy respondeu.
- Não sabia que aceitavam garotas ricas aqui, que sorte, Angel!
- Ricas?
- Sim! Ai, de pensar que eu te falei que não te aceitariam por causa da sua grana, olha como as coisas mudaram.
- Que grana? – foi a vez de Jade perguntar.
Peyton virou-se para Angel, chocada e até mesmo culpada.
- Eles não sabiam?
- Você é rica? – alguém que Angel nem viu, perguntou.
- Rica? – Joy perguntou, chocada.
- Eu posso explicar.
- Tenta – falou, irritada.
E Angel tentou, mas não adiantou.
- Você mentiu para a gente esse tempo todo? Faz mais de ano que você está aqui.
- Desculpem – falou, chorando. – Mas é que...
- Por isso eu não podia ir à sua nova casa, não era? Aquele cara com pinta de mauricinho era quem? Seu namorado?
- Não! Ele não é meu namorado. Estamos cuidando da minha sobrinha juntos.
- Quem ele é? Um ricasso de Nova York?
- O dinheiro dele não importa.
- Claro que importa! Vivia aqui com os pobres por quê? Algum tipo de laboratório? Ou era só pra poder rir com seu namoradinho depois? Foi ele quem mandou você sair da nossa casa?
- Para! Ele não tem nada a ver com isso. Eu quem menti, saí daqui porque a Penny precisava de um lar...
- E onde moramos não estava a altura da sua rica sobrinha não é mesmo?
- Ela é uma criança, claro que precisava de um lar normal.
- Daí você foi brincar de casinha lá na parte rica da cidade? Me diz o que seu namorado acha daqui?
- Não importa o que ele acha, importa o que e acho e eu amo esse lugar.
- Ama? Você ama o que a gente te deu. E nem precisa responder, com aquela pinta de playboy já sei que ele é um nojo, toda sua família feliz.
- Não fala deles, Joy! Eu já disse, eles não tem anda a ver com isso. Nem estavam aqui quando tudo começou.
- Não importa. Só sai daqui.
- O que?
- Você sabe, isso aqui é para a galera carente, sem grana. Isso aqui é um meio de vida, você não precisa disto.
- Claro que preciso – falou, chorando. – Por favor, Adam e eu precisamos.
- Você precisa dela, Adam?
- Adam... - suplicou.
- Preciso.
- Pois ensaiem longe daqui – Jade decretou.
- Mas...
- Tudo bem, Angel. A gente marca outro lugar, melhor você ir agora.
- Angel – Peyton chamou.
- Oi.
- Me desculpe, eu não sabia. Como você?
Angel não respondeu, saiu chorando.
Já nas ruas ela ligou para Camille e contou tudo que aconteceu.
- Eu tinha tanto medo que esse dia chegasse.
- Viver com medo é viver pela metade. Agora você está livre disto.
- Você não está entendendo, todos me odeiam. Acham que eu ria deles.
- Se acham isso, não te conhecem. Você errou, Angel, mas nada que precisasse desta retaliação.
- Eles falaram mal da Penny, do Nicolas...
- Eles não te merecem. Você disse que o Adam ainda está ao seu lado, então, mexa-se.
- Mas agora teremos ainda menos ensaios.
- Não tem ninguém para te ajudar?
- O Nicolas se ofereceu...
- O Nicolas?
- Sim, mas não vou aceitar.
- Você precisa disto, Angel. Aceite.
Conversaram por mais tempo até que Camille convencesse a amiga a ligar para Nicolas pedindo para buscá-la e avisando que aceitava a ajuda.

Estava em um dos salões do prédio na intenção de ensaiar, mas Angel apenas encarava o nada.
- Você precisa me ensinar para que possa te ajudar. Passou, hora de seguir em frente. Isso foi há dois dias.
- Tudo bem, vamos.
Começaram a ensaiar e embora Nick se dedicasse, ele não levava muito jeito.
- Isso não vai dar certo. – Angel falou, passando as mãos nos cabelos molhados de suor. – Eu nunca vou passar.
- Eu não acredito que você está dizendo isto.
- É mais fácil acreditar nas coisas bonitas, já percebeu?
- Nada disto, eu só não acredito porque eu não conheço a Angeline que desiste. Vamos. A gente consegue.
Passaram a tarde ensaiando e a noite foram buscar Camille no aeroporto.
- Olha a tia Camille, Penny.
- Penny! Que saudades a tia estava de você. Nem aprece que foram apenas um dois meses.
- Sentimos tanto sua falta. – Angel abraço-a.
- Eu também. Já estão feras em trocar fraudas?
- Nisso, sim. Mas nos resto ainda estamos uma catástrofe, até hoje não conseguimos saber o motivo do choro logo de primeira.
Camille gargalhou.

Com Camille de volta Angel e Nick tiveram mais tempo para ensaiar, o que Camille estava achando bastante estranho, afinal, não o viam brigando.
- Toma, pequena. – Camille colocou a mamadeira com leite na boca da sobrinha e logo a pequena rejeitou. – Está tão ruim assim? – perguntou rindo.
“Sim, tia.”
- Vamos lá embaixo procurar pelo seu tio e sua tia, eles devem saber fazer melhor que isto.

- Quem diria que você melhoraria tanto em tão pouco tempo. Você era péssimo até dias trás – Angel falou, rindo.
- Você que não ensinava direito – brincou, empurrando-a de leve.
- Sai daqui. – o empurrou de volta.
Camille tinha acabado de chegar e sorriu ao ver a estranheza da cena. Não tinha ódio naquilo, nem um pouco de raiva, na verdade parecia ter amor, muito amor.
- O que aconteceu quando eu estava ausente?

***

Como boa amiga que era, Camille preferiu não falar anda sobre o clima logo de começo, mas cada dia se tornava mais impossível não tocar no assunto.
- Nicolas me ligou, disse que o Caleb está apresentando melhoras.
- O Nicolas te ligou?
- Sim, porque?
- Angel, o que está acontecendo com vocês dois?
- Como assim?
- Não se faça de desentendida. Vocês estão diferentes.
- Só nos acostumamos. – tentou mentir.
- É mais que isso. Você ficaram?
Neste momento Nick chega em casa e segue para a cozinha onde as duas estavam. Parou quando percebeu que o assunto era ele.
- Você beijou o Nick? – Camille perguntou rindo e Nick riu escondido também.
- Para de rir! – Angel falou, constrangida. – Foi só um beijo.
- Vocês se gostam. Isso está na cara, saquei assim que cheguei.
Angel balançou cabeça em um não. Parecia nervosa.
- Que foi?
- Nick e eu não rola, entende?
- Claro que rola, você até está o chamando de Nick e essa não é a primeira vez.
- Mas não rola. Eu não gosto e nunca vou gostar dele. Só estamos confusos, mas eu não esqueci quem somos. Ele era, é e sempre vai ser o mentiroso que eu não quero por perto. Nunca teria algo com ele.
- E se...
Antes que Camille contasse, Nicolas entrou na cozinha fingindo não ter escutado nada.
- Trouxe comida japonesa. Que tal?
- Faz tempo que chegou? – Angel perguntou, preocupada.
- Não, acabei de chegar.

Os ensaios depois daquele dia não tinham o mesmo clima de antes. Angel continuava a mesma, mas Nick estava calado.
- O que está acontecendo?
- Como?
- Esse já é o terceiro ensaio que você entra mudo e sai calado.
- Nada – tentou.
- Então porque nem me olha nos olhos? Você escutou alguma conversa?
- Hã? Que conversa? Do que está falando? – agradeceu por ter aprendido a mentir, mesmo que ainda não conseguisse fazer isso olhando nos olhos.
- Nada. Só fala se tiver algo errado, está bem?
- Claro. Vou subir.
Nick chegou ao apartamento procurando uma forma de pôr um fim naquilo. Queria ajudar Angel, mas aqueles ensaios estavam sufocando-o. Sentou no sofá tirando a camisa achando estar sozinho, mas viu Hillarie aparecer na sala.
- A Penny já está dormindo, estava indo para casa. – ela avisou. – Aconteceu algo, Nick?
- Está tão na cara assim?
- Bom, você aprece péssimo.
- Nada demais, coisa de gente mais velha.
- Por favor, já tenho dezenove anos, não sou nenhuma criança. – rolou os olhos e ele riu, concordando. – Até já suspeito do motivo. Você deveria seguir.
- Não é assim que acontece. – falou, rindo de si mesmo.
- Se olhasse para os lados encontraria pessoas dispostas a te fazer esquecer um pouco.
Demorou um pouco para Nick entender o que Hillarie queria dizer, mas como ela não tirava os olhos dos seus, compreendeu.
- Eu não quero usar ninguém.
- Acho que usar é quando a outra pessoa está inocente, não quando ela faz porque quer. – falou e se dirigiu ao sofá onde ele estava.
- Hillarie, não provoca. Faz tempo que não faço nada, não vou aguentar muito.
- Não aguente! – cochichou no ouvido de Nick.
- Eu não sinto nada por você.
- Não importa – cochichou novamente.
- Droga! – riu e puxo-a para um beijo.
- Não é melhor subirmos ou fecharmos a porta?
- Angel vai demorar ensaiando e Camille vai demorar no shopping. Fora que meu quarto está muito longe.
- Tudo bem então.

Depois de treinar mais um pouco Angel viu que não conseguiria melhorar mais que aquilo, ao menos não com Nick tomando conta dos seus pensamentos e roubando sua concentração. Achou melhor subir, tomar um banho e esfriar a cabeça.
Assim que abriu a porta viu uma mulher nua por cima de alguém no sofá, de começo até pensou que fosse Camille e algum cara, mas reconheceu a tatuagem de coração no ombro de Hillarie e logo concluiu quem estava por baixo dela.
- O que isto? – gritou e viu Hillarie pular do sofá.
- Angel?
Enquanto a menina tentava se cobrir, Nick apenas encarava Angel, aprendo chocado e culpado.
- Será que poderia se vestir também? – ela precisou dizer para que ele despertasse e começasse a colocar sua roupa.
- Angel, você subiu tão rápido.
- Talvez a cosia aqui estivesse tão boa que você não viu o tempo passar.
- Melhor eu ir indo – Hillarie falou.
- Sim, bem melhor.
Quando a garota fecho a porta, Angel gritou:
- O QUE FOI ISSO?
- A Penny está dormindo.
- O que foi isso, Nick?
- Acho que...
- Você e a Hillarie? Ela é uma criança.
- Não, ela já tem dezenove anos.
- E só por isso você acha que pode ficar com ela?
- E não posso? – perguntou, irritado.
- Não pode!
- Por que não? – perguntou, torcendo para escutar algo bom.
- Porque não.
- Eu posso sim. Sou solteiro, Angeline. É totalmente normal, fico com quem quiser.
- Realmente – falou, mordendo os lábios, tentando não chorar. – Você fica com quem quiser.

Depois daquilo o clima voltou a ficar ruim, mas não tinha mais frases de ódio, ou sarcasmo. Angel e Nick simplesmente não se falavam.
Sabendo as duas versões e tendo que esconder de Angel que Nick tinha escutado e de Nick que Angel estava com ciúmes, Camille preferiu não se envolver.

- ANGEL! ANGEL! – Camille subiu as escadas gritando.
- O que foi? – a amiga perguntou, rindo.
- Nick acabou de me ligar, Caleb acordou. – as duas se abraçaram em meio ao choro. – Ele disse que Caleb está um pouco confuso, mas lembrou-se dele.
- Temos que ir para lá. – já ia correr para se trocar quando lembrou de Penny. – E a Penny?
- Podemos deixar com a Hillarie.
- Não!
- Angel, só por hoje, esquece isso. Por favor.
Bufou.
- Tudo bem.

Para a surpresa das duas, Nick não estava mais no hospital. Passaram pouco tempo com Caleb, graças a toda emoção a pressão do rapaz subiu e pediram para as duas se retirarem.
- Onde o Nick está? – Camille perguntou depois de ligar várias vezes para ele.
- Vai ver está dormindo em casa. Estou até querendo fazer o mesmo.
- É, vamos.
Quando chegaram em casa encontraram algumas malas na sala e Nick descendo as escadas com mais uma.
- O que é isso? – Angel se ouviu dizendo.
- Caleb acordou, falei com o advogado e concluímos que não é mais necessário que os três tomem conta da Penny.
- Está nos expulsando?
- Claro que não. Vocês ficam aqui até o Caleb estar totalmente recuperado. Eu é quem vou sair.
- Mas essa é sua casa – Camille disse.
- Que anda, essa casa também é da Penny. Você ficam, eu saio.
- Por que isto?
- Quero um pouco de privacidade.
- Assim ele come quem quiser.
- Isso também, Angeline. – respondeu, irritado. – Mas só estou saindo, venho uma vez por semana pegar a Penny para passar o dia comigo.
Angel estava pronta para dizer que não, mas Camille falou:
- Claro.

***

Angel nunca aparecia na porta para entregar Penny a Nick e ele sempre dizia que não queria entrar, então ele nunca a via e ela escutava apenas sua voz.
Um dia antes da sua audição ela falou que precisava sair um pouco e que precisava ser sozinha. Afinal, ela não queria ter que explicar porque tomar sorvete na mesma mulher do Central Parke era tão importante para ela.
Enquanto Angel estava fora, Camille foi arrumar seu quarto e encontrou um caderno aberto, foi impossível não ler.
“Odeio seu sarcasmo.
Odeio sua mal vontade.
Odeio com tanta força,
Assim como odeio sua futilidade.

Odeio seu sorriso,
e odeio sua falsa boa vontade.
Odeio suas mentiras
e ainda mais suas verdades.

Odeio o que você me causa,
Odeio tanto que sinto náuseas.

Odeio tanta coisa em você, que poderia enumerar.
Começando do seu beijo,
Citando seu desmazelo
E terminando no fato que odeio te amar.”
Rapidamente Camille fotografou o poema e mandou para Nick.
“Vocês precisam um do outro.”

Era o grande dia, Camille e Penny estavam presentes e por mais que odiasse admitir, Angel não sentia falta apenas de Caleb, mas também de Nick. Sentia muita falta.
Obrigou-se esquecer disto quando ouviu que era sua vez de fazer o teste.
- Vamos? – perguntou a Adam.
- Vamos.
O teste foi lindo, ela não conseguia acreditar que tinha se saído tão bem. Quando foi a procura de Camille encontrou Nicolas ao lado da amiga.
- Você foi impecável – ele falou.
- Obrigada. – estalou a língua.
- Será que podemos conversar?
Ele não respondeu, apenas balançou a cabeça em um não.
- Penny, que tal parabenizarmos o Adam? – Camille falou, já levantando.
- Camille, por favor. – olhou de forma repreensiva para amiga. – Não temos o que conversar, Nicolas.
- Nem se eu te disser que não consigo tirar aquele maldito beijo da cabeça? Que todos esses...
- Para – falou, deixando uma lágrima escorrer.
- Me desculpa pela Hillarie...
- Não é só a Hillarie – falou, rindo. – A Hillarie só confirmou o que eu já sabia. Você não é para mim, Nicolas. Você nunca vai voltar a ser o Nick, não depois de dois mil e seis. Se puder ir embora, eu agradeceria.
Ele sabia que poderia ser doloroso, mas não tanto. Doía ver a facilidade como ela falava e como ela nunca cogitou acreditar nele.
- Claro. – virou-se para ir embora, mas depois voltou e falou: - Amo você, Angeline.
- De todas as mentiras, essa foi a que mais me machucou.
Ele não estava disposto a responder. Aquela tinha sido a última vez que contava uma verdade para ela e a via duvidar. Era a última vez que iria falar alguma cosia importante para ela.

Camille achou que conseguir alcançar seu sonho melhoraria o humor de Angel, mas ela sequer quis comemorar.
- Só quero ficar aqui deitada, pode ser?
- Você deveria ter conversado com ele.
- Para quê? Para escutar mais uma de suas mentiras?
- E se ele não tiver mentido, de desde dois mil e seis você estiver errada?
- Eu não estou. – riu. – Eu sei que não.
- Você vai me odiar, mas eu preciso contar.
E assim repetiu tudo o que tinha falado para Nicolas meses atrás.
- Ele disse que eu não deveria te contar. Não quis acabar com nossa amizade.
De tudo que Camille esperava, uma tapa no rosto era o menos esperado, mas foi isso que recebeu.
- Eu não acredito. Você tem noção que esses anos vivemos uma mentira? Nossa amizade, meu ódio pelo Nick, minha relação com meu irmão. Você causou tudo isso.
- Me desculpa.
Angel não respondeu nada, apenas pegou a sua bolsa e saiu do quarto.
- Onde você vai?
- Vou atrás do amor da minha vida.

Já era tarde da noite quando Nicolas ouviu o telefone tocar.
- Quem é?
- Senhor, tem uma moça querendo subir.
Olhou o relógio e já era onze e quarenta. Quem queria falar com ele uma hora dessas?
- Que é?
- Ela disse que se chama Angel.
Coçou a cabeça. Estava disposto a escutar mais alguma coisa uma hora daquela?
- Mande ela subir.
Tentou não ficar ansioso, mas bastou escutar Angel chamar seu nome para corre e abrir a porta.
Tomou um susto quando ela o beijou.
- Eu sei que estou dez anos atrasada, mas, por favor, me desculpa.
Ele riu.
- Camille te contou. Por isso veio aqui?
- Acho que mais dias menos dias eu teria que fazer isso, mesmo sem saber a verdade. Nicolas, eu sei que fui idiota, mas doeu tanto ver o garoto que você amava assumir que fez algo que quase te matou. Fiquei tão mal que não consegui enxergar mais nada.
- Amava?
- Amava, amo e vou amar para sempre. Eu te amo. Amo mesmo odiando aquelas cosias que sei que a Camille te mandou. Mo você desde o dia que você se declarou para mim, mesmo eu não sabendo o que era amor. Hoje, dezesseis anos depois sei que aquelas borboletas no estomago já entregava o sentimento que eu sentiria e guardaria por anos. Se não for pedir muito, me perdoa.
- E a Camille?
- Eu não quero falar dela agora.
- Você precisa perdoá-la.
- Talvez um dia. Agora responde: você me perdoa?
A resposta veio em beijos e abraços que os levaram até a cama.

***
16 de setembro de 2016


Estavam todos em uma praia, vestidos para a renovação de votos dos pais de Caleb e Angel.
Tinham muito o que comemorarem. Cada um deles.
Camille e Angel voltaram a serem amigas, não conseguiriam viver sem a outra por muito tempo.
Caleb estava ótimo e se resolvendo com Camille, não acreditava que o amor pudesse estar tão perto.
Angel já não precisava mentir sobre quem era e estudava na escola dos seus sonhos. E Nicolas e ela, bom, estava finalmente vivendo o amor que sempre sentiram um pelo outro.
Sem mentiras, sem raiva, mas sempre com um pouco de provocação.
O que fazer? Foi assim que aprenderam a se amarem.
- Amo você, meu anjinho.
- Seu anjinho?
- Claro, acha que foi porque que te nomeei Angel?
- Amo você, idiota.
Gargalharam e se beijaram, tendo um final digno de filme.

FIM



Nota da autora: Não acredito que terminei isso a tempo, vai ser em cima da hora. Mas amei, amei e amei. Espero que amem também. Perdoem não ser interativa, mas esse final explica um pouco.
É isso, tomara que gostem. Beijos.






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