CAPÍTULOS: [ÚNICO]





A Loira do Bíquini Azul






CAPÍTULO ÚNICO


Vejamos bem... aqui na cidade que nasci e moro, nós não temos a tradição do halloween, apenas existem umas festas temáticas em algumas casas noturnas espalhadas pela cidade. E antes de tu achar que moro em uma cidade no meio do nada, não! Sou Belenense da gema!
Como já disse, aqui não temos essa tradição norte americana, mas temos as lendas e folclores da região que são de colocar medo em marmanjo grande. E eu sempre acreditei em tudo isso, desde bem novinha, até agora, com meus 20 anos de vida. Sou nova? Sim, mas não é por causa disso que nunca presenciei nada estranho por aqui.

Não sei se tinha uns 9 ou 10 anos quando um caso desses me aconteceu, mas aconteceu!
Eu, meus pais e irmãos - sou a mais nova de quatro filhos, estávamos aproveitando as férias que temos em julho numa Ilha próxima à 1 hora de Belém/PA e dessa vez, ainda não tínhamos a nossa própria casa nesta bendita Ilha.
Mosqueiro é uma ilha que frequento a mais tempo que tenho nessa terra, tanto por ser pertinho da cidade como por termos casas e amigos por lá.
Pois então, voltemos a história em si... eu com meus 9, 10 anos e querendo me enturmar com os amigos dos meus irmãos mais velhos.
Estávamos todos sentados na beira da praia, a água molhando nossos pés e eles conversavam sobre coisas que eu nem prestava atenção.
Naquela época não era muito urbanizado aquele lado da ilha e quando a noite caia, precisávamos ter uma lanterna potente o bastante para andar por ali. Mesmo na luz fraca da barraca ali perto, não conseguíamos nos ver direito, já que a noite caia bem mais rápido por ali.
Fiquei cansada de ter passado o dia na praia e, como a casa ficava a uma rua de distância, resolvi voltar pra lá e dormir.
Seria muito bom se tudo acontecesse como a gente planeja, mas...
No meio da rua - toda escura, vale lembrar, havia os fundos de uma igreja quadrangular bem antiga dali. Até aí estava tudo bem. Comecei a orar ali antes mesmo de deixar a areia da praia e atravessar a orla para então entrar na total escuridão da rua da casa que estávamos.
- Jesus, tu me abençoa até ali em casa e eu prometo que amanhã eu passo mais bloqueador solar. - Eu acabei fazendo barulho para não me sentir sozinha e continuava a falar alto. - Por favor Jesus, não me deixa sozinha aqui. São só uns metros...
Ainda andava tentando desviar de uns matos mais altos que tinham ali pelo caminho e então cheguei atéos fundos da igreja. Só eu e o prédio vazio e escuro ali.
Uma pequena pausa para explicar sobre a igreja! Por ser em um interior aonde quase não se tinha energia elétrica, mas ainda sim, bastante frequentada pelos moradores nativos da Ilha, a igreja mais parecia abandonada do que em funcionamento.
Não tinham lâmpadas na porta, não tinham lâmpadas dentro da igreja. Se o culto fosse até mais tarde, eles usavam velas. Sim, velas!
E com as paredes ainda em madeira espaçada, se tivesse algo luminoso ali dentro, quem passasse naquele ponto específico e parasse para observar - como eu estava ali naquele exato momento, enxergaria tudo lá dentro.
Pois então... eu, uma criança medrosa, parada no meio de uma rua na sua total escuridão, a uns 500 metros de casa, paro e olho por uma das brechas da igreja. Pior decisão que un ser humano faz na sua vida!
Outra pequena interrupção no meu conto: aqui temos uma lenda de uma procissão de velas que viram ossos para pessoas "curiosas". Curiosas num jeito bonito de chamar um fofoqueiro.
Voltando...
Estava curiosa com o que estava vendo, até então, apenas um brilho vindo de dentro da bendita igreja. Cheguei mais perto com toda a coragem que consegui reunir dentro de mim e olhei por uma das frestas que tinham na madeira.
Uma vela acesa. Em cima do púlpito, bem no meio da igreja. Sem explicação alguma para tão fato.
Eu congelei ali naquele lugar e posição. Devo ter ficado vários minutos ali parada e só olhando para a vela, mas começou a chover bem forte e saí correndo, sem querer que nada vivo ou inanimado me pegasse até que estivesse em casa.
Nessa noite eu dormi tão rápido quanto corri da igreja até a casa. Mas o que quer que esteja acima ou abaixo de nós, decidiu que aquele final de férias não acabariam sem algo mais significativo aparecer.
No outro dia, sol brilhando forte e todos já terminando de se arrumar para a praia, vi meu irmão tomando café e fui conversar com ele. Somos unidos a ponto de sentarmos e conversar por horas.
- Dormiu não? - Sou curiosa, e ele estava cheio de olheiras. - Vocês ainda beberam ontem?
- Sim, mas não é isso. - Tomou mais um gole de café e me deu um pedaço da tapioca dele. - Tu já estavas em casa quando a chuva caiu? - Neguei com a cabeça enquanto mordia a comida. - Tinha alguém atrás de mim ontem.
- Quem? Os Vicentinhos*?
- Era uma menina, acho que um pouco mais velha que tu. Tu viu ela quando tu voltou pra casa?
- Não vi ninguém. - Fiquei com tanto medo na noite anterior que quando cheguei, só tomei banho e dormi. Não tinha contado nada para ninguém. - Não é ninguém que tá ficando na casa da Jaque?
- Eu nunca vi aquela menina por aqui. - Ficamos em silêncio e voltei a mastigar. - Ela tava de biquíni azul, tem certeza que tu não viu?
- Égua Beto, tô dizendo que não vi.
Me levantei dali bem rápido e fui até o pátio da casa. Todos já tinham ido para a praia, e com o medo ainda bem presente em mim, tive que esperar o meu irmão mais velho - Beto, para irmos juntos encontrar os outros.
Ele terminou de comer e fomos. Passamos pela igreja e tava tendo um culto por lá. Olhei toda desconfiada para os lados da igreja e não vi nada que fosse estranho por ali, só um monte de bicicleta.
Chegamos na mesa que as coisas do pessoa estava e ficamos sentados lá até que os Vicentinhos viessem e sentassem com a gente.
- Vocês viram aquele toró* que deu ontem? - Um deles que eu não lembro o nome, perguntou. Todo mundo concordou e logo engatamos uma conversa.
Mais tarde, já depois do almoço e depois de jogarmos bilhar, o Beto resolveu abrir a boca:
- Êh mano, tem alguma menina por aqui, com uns 16 anos e loira? - Os meninos do bar se olharam e negaram. - Porra cara, ontem tava voltando correndo pra casa, tentando fugir da chuva e quando passei pela igreja eu senti que tinha alguém correndo atrás de mim. Eu meio que parei e olhei pra trás, mas como tava meio escuro, só vi que era uma menina nova, loira e tava de biquíni azul...
- Sério? - Um deles perguntou. Me interessei na história desde quando o Beto disse que tinha passado correndo pela igreja. Eu não tinha visto e muito menos ouvido ninguém perto de mim ontem. - Ih mano que coisa...
- O que foi? - Já estava agoniada com todo o mistério que eles estavam fazendo sobre a menina.
- A mamãe contava que uma menina de biquíni azul foi morta uns anos atrás, a gente nem tinha nascido ainda. Daí ela perambulava por aí atrás de quem tinha matado ela. - O mais velho deles, acho que Marcelo o nome disse, já olhando para todos os lados.
- Sério? - Eu e o Beto perguntamos ao mesmo tempo
- Aham. A mamãe dizia que ela nem era daqui. Veio numa excursão com alguma escola, ou uma igreja, nem lembro... mas que ela tinha sido estuprada e queria achar quem tivesse feito isso com ela.
- Sei que era uma menina loira e tava vestida toda de azul. - Eu e o Beto nos entreolhamos, ainda imóveis. - E o corpo dela foi achado ali pra cima na praia, perto dos barrancos.
- Sangue de Jesus! - Já comecei a orar mentalmente ali naquele momento. Os meninos da barraca foram atender um pessoal e acabei perguntando para o meu irmão. - Que horas tu passou correndo na igreja?
- Quando a chuva começou a cair eu já tava quase chegando na igreja, vi a menina, chamei umas duas vezes e nada dela responder ou se mexer, daí eu corri mais rápido ainda pra casa.
- Égua mano eu tava parada atrás da igreja quando a chuva caiu mas não te vi e nem te ouvi.
- E tu viu a menina?
- Não vi nada, ninguém.
- Eu também não te vi.
Naquele mesmo dia, eu e o Beto voltamos de ônibus para Belém e ficamos uns bons meses sem voltar à Ilha.



[Vicentinhos* donos e amigos até hoje de uma barraca na beira da praia do Marahu.
Toró* chuva forte e/ou torrencial.]


FIM



Nota da autora: (31/10/2016) Sem nota




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