Escrita por: Vanessa
Betada por: Isabela H.


Capítulo 1

Se algo naquele dia pudesse piorar, pioraria, certamente. estava arrasada. Chegou em casa e logo procurou por algo que pudesse acalmá-la, um livro, um filme, um seriado... Mas ela sabia que nada seria suficiente para curar o vazio que ela sentia dentro de si. Olhou no relógio: 18h. Certo, dentro de duas horas sua mãe chegaria e ela não queria ter que vê-la, principalmente no estado em que se encontrava. Não conseguia mais conter suas lágrimas e as deixou cair. Não era mais raiva, a raiva, até então, era consequência. O que sentia era pior: era desânimo, tristeza profunda. Entrou no banho para poder relaxar sua mente, o que não conseguia fazer desde que tudo começou. Seus pais, seu ex-namorado, suas amigas.


Flashback

- É a última vez que eu te falo, Anthony! Eu não aguento mais! – ouvia sua mãe gritando na cozinha. – É a terceira vez que você esconde as coisas de mim! Anda! Quero saber por que chegou tarde dessa vez!
Seu pai apenas negava com a cabeça. Depois da última frase, bateu com força na mesa, levantando-se e indo em direção ao quarto. As brigas haviam se tornado frequentes desde que seu pai começara a deixar perguntas sem respostas. Sua mãe chorava cada vez mais e seu pai não se pronunciava. apenas fingia que não ligava, mas, no fundo, estava sofrendo. Muito.
- Eu não te devo satisfações, Joann! – ele urrou quando voltou para a cozinha, já com uma mala em mãos.
- Não me deve satisfações? Isso é um casamento? – sua mãe derrubava muitas lágrimas, a menina observava pela pequena fresta que se formava na abertura da porta, chorando junto com sua mãe. – Isso não é um casamento!
- Não é mais! – ele gritou, fechando a porta da casa com força e saindo.
fechou a porta e deixou que as lágrimas caíssem, sentindo a tristeza e o desamparo tomarem seu ser.

End of Flashback

Fechou os olhos e sentiu a água quente caindo em seu corpo. Lágrimas se misturavam à água, no entanto, aquilo já era normal. Passava a semana toda sem esboçar um sorriso, sem trocar uma palavra com alguém. Ela estava cansada daquilo. Então, a ideia perfeita veio à sua mente: álcool. Era o que ela precisava pra esquecer os problemas. Estava tão óbvio e ela não via isso. Por que só tivera aquela ideia agora? Brilhante.
nem se arrumou muito, apenas colocou um vestido tomara que caia curto, justo no tronco e largo da cintura para baixo, um sapato de salto baixo simples preto e pouca maquiagem. Nem estava ligando para a sua aparência de qualquer forma, ela só queria esquecer. Esquecer o divórcio, esquecer seu ex-namorado idiota e suas pseudo-amigas. "Amigas". Se é que se pode dizer isso.
Pegou seu carro e foi em direção ao primeiro pub que lembrava. O lugar não iria fazer tanta diferença assim, afinal de contas. Estacionou e se dirigiu à entrada do pub. Avistou a bancada de bebidas, toda colorida, mas resolveu observar as pessoas do local antes. Não estava cheio demais, mas cheio o suficiente para ser considerada uma balada agitada. Sentou-se em um banco do balcão e ficou de costas para a bancada. Não demorou para que sua mente vagasse até a cena de e Dionne se beijando. Certo, ela não precisava mais aturar aquilo.
- Barman, me vê uma tequila, por favor? – pediu, vendo o moço alto e forte, que era responsável pelas bebidas do local.
- É pra já, moça! – disse sorridente, preparando o drink.
bebeu tudo em um só gole, o que tradicionalmente se faz com tequila. Logo pediu mais uma e assim foi, até que perdesse sua sanidade e, finalmente, sua mente estivesse relaxada. Ainda que estivesse vendo tudo rodando, ela estava feliz, muito feliz. Claro que a bebida interferira um pouco, mas, pela primeira vez em semanas, ela não tinha pensamentos ruins em sua mente. Ela só queria dançar e rir. Observou moço moreno, o qual desde que chegara estava sentado ao seu lado, ainda que não tivesse ligado muito na hora que chegou, naquele momento o garoto parecia extremamente atraente, então, resolveu puxar assunto. Além, claro, de ser uma ótima oportunidade de ela realizar suas duas vontades: dançar e rir.
Papo vai, papo vem, percebeu, com o pouco de sanidade que lhe restava, que o garoto também estava alto. Isso apenas a animou mais, fazendo-a gargalhar e sentir como se nada mais no mundo importasse. Descobriu que seu nome era e que ele fazia parte de uma banda. Não que isso importasse, ela só queria puxá-lo para dançar logo. E foi o que fez.
- Vem, ! – ela gritou, puxando-o até a pista, cambaleante. O garoto riu e foi até ela, acompanhando seus movimentos desengonçados.
Suas pernas começavam a ceder, então foi se sentar, seguida de , que pediu outra bebida assim que chegou. Olhou a hora no celular e então se tocou que já estava realmente muito tarde.
- , eu tenho que ir! – ela disse, mostrando o horário a ele. Quatro horas.
- Fica mais, amor, tá cedo! – respondeu, despreocupado, mas naquele momento estava sã, ela realmente precisava ir embora.
- Não, eu preciso ir, mesmo. Me desculpe. – ela disse, dando um beijo na bochecha de , mas o mesmo a puxou de volta.
- Não ganho nem mesmo um beijo? Poxa, , achei que você gostasse de mim! – estava realmente muito bêbado, mas ela não poderia beijá-lo. Ele era muito bonito e engraçado e a noite tinha sido boa ao seu lado, mas não, ela não podia. Ela não sabia o motivo, mas algo dizia que era errado.
- Me dê seu celular. – ordenou. levantou a sobrancelha, sem entender, mas ainda assim, entregou-lhe o aparelho. Ela digitou seu número e salvou na agenda do celular. – Pronto, agora você pode me ligar qualquer dia desses, quando quiser. Até mais, ! – dizendo isso, saiu do pub, ainda cambaleante.
Chegou em seu carro e encarou o painel. Certo, ela conseguiria fazer isso. Sua casa não era nem tão longe e ela já havia passado por situações parecidas com suas amigas. É, não teria problema nenhum, ela chegaria sã e salva em sua casa. Ok, sã não se pode ter certeza, mas salva, sim, chegaria.
Respirou fundo e girou a chave na ignição. Ela não via com clareza para onde estava indo, apenas via muitas luzes dispersas. Viu uma placa indicando o nome de seu bairro com uma seta ao lado. Sorriu, satisfeita, estava indo para o lado certo. Seguiu o caminho tranquilamente, já começando a sentir sua cabeça latejando enquanto ainda tinha fortes tonturas. A garota tentava se concentrar apenas no trânsito ao seu redor, mas parecia extremamente difícil naquele momento. Virou uma rua e avistou um semáforo. O mesmo estava vermelho, ela conseguia ver isso, mas ela simplesmente odiava parar em semáforos de madrugada. Era muito desnecessário. Então, reduziu a velocidade, para que desse tempo do verde tomar lugar do vermelho.
Entretanto, isso não aconteceu. Ela chegara ao semáforo antes. Em um ato reflexo, aumentou a velocidade bruscamente, para atravessar de uma vez aquela avenida. Uma buzina muito alta foi ouvida, olhou para sua esquerda e viu um carro preto. Não fora rápida o suficiente, vira o carro de relance, pois, em seguida, tudo que ela via era um grande preto. Sua consciência fora perdida.

Capítulo 2

's POV

Eu não sabia o que estava acontecendo. Eu não conseguia me lembrar de nada. Eu começava a achar muito estranho me ver em uma cama. Como eu estava vendo a mim mesma? Eu também não reconhecia aquele lugar, mas tenho certeza que era um hospital.
Olhei para a minha direita e vi um homem vestido todo de branco entrando pela porta, acompanhado de minha mãe, que tinha seus olhos muito vermelhos e inchados. O que estava acontecendo, afinal?
- E, então, doutor? – vi minha mãe enxugar uma lágrima ao olhar pra mim. Eu começava a entender o que estava acontecendo.
- Infelizmente, nenhuma novidade, Sra. . – ele suspirou longamente, também analisando meu corpo.
- Por quanto tempo o senhor acha que isso ainda vai durar? Digo, eu sinto muita falta dela, de vê-la sorrindo, de vê-la... Acordada. – e, com minha mãe dizendo isso, eu finalmente compreendi.
Eu estava em coma.
O motivo por eu estar me vendo, eu ainda não sabia, não fazia sentido, mas quando tentei me olhar no espelho, no banheiro do quarto do hospital, não havia absolutamente nada refletido. Tentei girar a maçaneta da porta do quarto, mas eu também não conseguia senti-la: eu não precisava. Eu conseguia ultrapassá-la sem abri-la.
Vi o médico posicionado ao lado da minha mãe, explicando qualquer coisa, e decidi que não precisava ouvir aquilo, eu já tinha entendido tudo perfeitamente. Minha consciência ainda estava presente, porém, separada do meu corpo. De alguma forma, era como se minha alma tivesse criado vida própria. Ou qualquer coisa do tipo, eu ainda iria descobrir, mas definitivamente não iria ser naquela hora.
Andei pelo hospital – agora eu o reconhecia, era o mesmo hospital que sempre ia quando tinha alguma emergência – e fui até o refeitório. Lá, junto com minha mãe, vi todas as pessoas que eu não gostaria de ter visto: , e . Ver aquilo foi exatamente como se toda a raiva que eu sentia antes do acidente de carro voltasse a mim. Não só a raiva, mas a tristeza que me assolava há tempos. Entretanto, chegando mais perto, pude ver meu pai e minha mãe – lado a lado – conversando, ambos com a aparência péssima de quem não dormia há muito tempo. , e conversavam entre si, mas, honestamente, eu não entendia a razão de estarem ali. havia me traído, demonstrando o quanto não se importava. Já e não confiaram em mim quando eu precisei, me dando as costas e me deixando ainda mais desamparada. O que todas aquelas pessoas que só me faziam mal estavam fazendo ali? Foram apenas acompanhar meu sofrimento?
- , nós devíamos ter confiado nela. não iria mentir... – Pude ouvir o que dizia. Afinal, estava sendo interessante observar tudo sem eles poderem me ver.
- Eu sei... Agora eu sei, mas... Mas na hora parecia tão real! Eu pude ter certeza que era a voz de dizendo todas aquelas coisas... , eu me sinto tão culpada! Ela estava passando por um momento difícil, nós sabíamos... – deixava uma lágrima cair enquanto dizia. Confesso que senti meus olhos enchendo de lágrimas naquele momento. a abraçou e ambas choravam baixinho.
estava quieto, encarando o visor de seu celular e claramente abatido.
- Não. – ele disse, depois de alguns minutos de silêncio, as duas o encararam. – A culpa é minha. Só minha. Se estamos nesse hospital há mais de 24 horas é por minha causa. Se eu não tivesse beijado Dionne... Estaríamos juntos, eu estaria a apoiando no divórcio de seus pais e ela não estaria sozinha naquele momento.
Então era assim que ia ser?
Quando eu realmente precisei, eu não tinha ninguém, mas agora que eu estava realmente na pior, todos estavam ali, apoiando, ainda que ninguém pudesse fazer nada? Mas eu tenho que confessar que aquilo estava sendo bom. Eu estava vendo todos sofrendo. Todos que me fizeram sofrer.
- Eu preciso ir. – se pronunciou, algum tempo depois. – Vocês vão ficar? Daqui duas horas, vocês têm que estar na faculdade.
- Eu vou ficar. Não iria ter cabeça de assistir aula, de qualquer forma. – disse e concordou. apenas assentiu e se despediu das duas, despedindo-se dos meus pais em seguida.
Então, eu fui até mais perto de meus pais para ouvir a conversa deles.
- Eu... Eu não tinha chegado em casa ainda, Anthony. Eu não tive culpa se ela saiu antes mesmo de eu poder fazer algo pra impedir. – minha mãe dizia enquanto meu pai ainda tinha uma postura durona.
- Joann, não estou te culpando... – ele dizia, sem olhá-la nos olhos. – Eu só queria saber como foi que tudo aconteceu. Eu me sinto culpado, eu... Eu não a via há duas semanas. – vi uma lágrima escapar de seus olhos. – Sou um fracasso como pai.
Minha mãe não disse mais nada, o silêncio permaneceu por ali e parecia que iria ficar por mais um tempo. Então, eu comecei a perceber que não era tão legal assim ver o sofrimento de todos eles. Não estava me trazendo felicidade.
Voltei ao quarto onde estava meu corpo e o observei. Eu estava péssima. Havia vários curativos em meu rosto e tubos e mais tubos ligados a máquinas que ali se encontravam. Mais à direita, vi duas mochilas em cima de um sofá de cor clara, deviam pertencer à minha mãe, que, provavelmente, estava dormindo no hospital.
De repente, a porta se abriu e foi até meu corpo. Em um ato reflexo, eu desviei, sem lembrar que isso não seria necessário. Ela pegou minha mão e sussurrou, quase inaudivelmente:
- , você não tem ideia do quanto isso está sendo difícil para nós. Nós te amamos, não nos deixe, por favor. – disse, quase suplicante. Ela deu um beijo de leve em minha mão e saiu vagarosamente. estava encostada ao batente da porta, mas não olhava pra dentro do quarto. As duas se abraçaram e foram andando pelo corredor, conversando baixinho.
Decidi não segui-las dessa vez. Eu ainda tinha muita raiva e a raiva logo me fazia entrar na profunda depressão, da mesma forma que nada do que dizia me fazia ao menos pensar em desculpá-lo. Nada seria suficiente naquele momento.
Mas algo havia chamado minha atenção. Havia outra pessoa perto do meu corpo. Mas eu não a conhecia. Quem era aquela pessoa? Quem era ele?

Capítulo 3

Ele já tinha me visto, mas, aparentemente, aguardava que eu fosse até ele. Eu estava com medo. Ele era que nem eu, então, ninguém, além de mim, podia vê-lo. Era um homem alto, mas não era forte, seu cabelo era curto e tinha um sorriso angelical no rosto. Parecia não se importar com a minha presença naquele quarto.
Esperei mais uns instantes e resolvi me aproximar.
- Quem é você? – eu disse, insegura.
- Isso não importa. Eu estou aqui em uma missão, . – Certo, então ele sabia meu nome, mas eu não poderia saber o dele. Adoro essas coisas. – Mas pode me chamar de representante, que está bom pra mim.
- Missão? Que missão? – eu não estava entendendo absolutamente nada.
- Calma, , vamos com calma... – Aquela calma dele era irritante, da mesma forma que era algo que eu não tinha. – Estou aqui porque fui mandado.
- Mandado por quem? E por quê? – muitas perguntas assolavam minha cabeça.
- Pela força maior. – ele abriu um sorriso de lado, achando o maior barato minha confusão. – Eu tenho que te fazer uma proposta, .
- Certo, e eu vou poder saber qual é essa proposta ou é mais um enigma? – falei, já impaciente. Ele apenas deu risada.
- Vai, sim. Mas peço que preste muita atenção e pense muito bem. – ele disse e pareceu esperar que eu processasse as informações para continuar. – , você está em coma. – ele disse e eu assenti, isso era óbvio. – Como é de conhecimento geral, o coma é a transição entre a vida e a morte. Em diversos casos, eu não sou necessário. Entretanto, no seu, eu fui requisitado para vir até aqui.
- E então...? – eu começava a entender aonde aquilo iria chegar.
- Seu caso é especial, . Nós costumamos decidir por nós mesmos se a pessoa continua aqui na Terra ou se ela vai embora, mas você nos causa muitas dúvidas. Seu estado é recuperável, mas não sabíamos o que você queria. Observamos seus últimos dias antes do coma e seu estado era...
- Deplorável. Sim, eu sei... – não o deixei terminar, contudo, ele pareceu concordar comigo.
- Eu diria complicado. Mas deplorável é, de certa forma, aceitável.
- E por que eu deveria confiar no senhor? Por que deveria acreditar no que o senhor diz? Eu nem te conheço. – eu disse e vi sua expressão suavizar ainda mais.
- A pergunta mais correta é: por que não confiar em mim? Eu sou o único que pode te ver e conversar com você. – disse sorrindo. Ele estava certo, afinal de contas.
- Certo. Então, me fale logo... Qual é a proposta? – ele se aproximou de mim.
Percebi que seu sorriso agora era tênue, eu podia perceber quase uma tensão ali.
- Depois de muita observação e discussão, me mandaram aqui pra que eu te perguntasse... O que você quer, ?
- Eu... – parei pra pensar em tudo que acontecera comigo naqueles dias. Minha vida estava me trazendo apenas desgosto, eu me sentia sozinha, triste. Abandonada. Eu não tinha ninguém comigo e eu só conseguira a paz que eu tanto procurava depois de muito álcool. Valia à pena continuar? Eu não tinha muita certeza. Muitas vezes, eu pensara em diversas maneiras de dar um fim naquilo, na minha vida. Mas, por outro lado, eu tinha saúde. Não estava tudo perdido. Havia também, lembrava, ainda que pouco, que ele havia sido um bom amigo. E havia todos os bons momentos que estavam guardados bem no fundo da minha memória. e . Eu não sabia dizer se elas eram, de fato, minhas amigas. Elas não souberam demonstrar que confiavam em mim. . Era extremamente difícil de dizer se os bons momentos conseguiam superar toda a dor que ele me causara no último mês. Traição sempre fora algo imperdoável para mim. Meus pais. Minha mãe não me dava nem um "bom dia" desde que o divórcio fora anunciado. Meu pai, então, nem o via, desde que ele saíra de casa, eu não sabia nem ao menos o que era a figura de um pai. Eu devia a eles minha vida, contudo. A dúvida não me deixava escolher. – Eu não sei.
- Não se preocupe, . Você tem uma semana pra decidir. Mas, como eu disse, pense muito bem, pois a decisão é definitiva. – e dizendo isso, desapareceu do meu campo de visão.

's POV off

Capítulo 4

passou a noite pensativa, mas percebeu que não chegaria a lugar algum se não se mexesse. Decidiu caminhar um pouco pelo hospital, ficar naquele quarto observando seu próprio corpo inanimado não a ajudaria.
Foi para a sessão da maternidade para que um pouco de alegria preenchesse seu ser. Bebês sempre fora uma paixão de e ela sabia que vê-los ali seria uma alegria. Parou em frente ao berçário e decidiu entrar. Entretanto, viu um bebê menor que os demais que chamou sua atenção. O nome indicado em sua pulseirinha era Alexia e o bebê, encolhido, parecia muito frágil. Por um instante, podia jurar que vira o bebê abrir um pequeno sorriso ao vê-la, o que seria totalmente impossível, posto que ninguém conseguia enxergá-la.
Em súbito, a porta do berçário se abriu e uma médica se aproximou de Alexia, pegando-a no colo. se assustou com a seriedade da médica e, já apegada ao bebê, resolveu segui-la até outra sala, a qual a médica levava o bebê. Muitos exames foram feitos e, então, Alexia foi levada até o quarto de sua mãe, que tinha uma expressão tensa.
- Senhorita... Sua filha está com uma doença grave e isso aconteceu porque o RH do seu sangue é negativo e o dela positivo. – ela parecia preocupada, respirou e fundo e continuou. – Alexia foi reconhecida pelo seu organismo como uma intrusa, mesmo que ela tenha nascido com seis meses e não tenha sofrido tanto com a doença, ela não tem força suficiente e... – respirou fundo novamente. – Seu organismo não estava totalmente formado e, infelizmente...
- Eu acho que já entendi, doutora. – a mãe do bebê deixou uma lágrima cair. – Quanto tempo eu terei com ela?
- Fizemos o possível, senhorita... – Casey pegou sua filha no colo e assistiu sua fragilidade por um instante. Muitas lágrimas foram derramadas enquanto Casey a abraçava, que respirava com dificuldade. – Mas Alexia só terá mais algumas horas de vida. – a mãe do bebê começava a soluçar enquanto mais lágrimas caíam sobre seu rosto. Então, um homem entrou pela porta. Era alto e tinha a mesma expressão tensa que todos ali. Assim que viu Casey, abraçou-a, deixando uma lágrima cair também.
- Aaron, nossa garotinha... – Casey disse, chorando em seus braços. – Nossa garotinha não teve forças suficientes, Aaron! – Aaron agora chorava também, junto à Casey.
assistia à cena. Sentia uma vontade imensa de abraçar o casal e ceder sua vida à pequena Alexia. Mas ela não podia. Uma lágrima escorreu por seu rosto enquanto ainda não conseguia se mover, paralisada pela cena que assistira. Naquele momento, percebera algo realmente importante.

Capítulo 5

Saiu do quarto e foi até o refeitório, encontrando seus pais ali, totalmente debilitados. Sentiu outra lágrima em seu rosto.
Deixou o hospital e foi até a faculdade de e . Ambas estavam na biblioteca da faculdade, com livros abertos, mas nenhuma concentração. Elas pareciam não só distraídas, mas também tinham a expressão tensa e trocavam olhares cúmplices. Teve muita vontade de abraçá-las e dizer que estava tudo bem, mas não podia.
Então, foi até sua faculdade. Encontrou olhando fixamente para a lousa enquanto assistia a uma aula de cálculo. Assim como , o professor percebeu que sua atenção estava muito longe dali e, sabendo do acontecimento, deixou que ele saísse da sala por um momento. saiu da sala e foi até seu armário. o seguia, apenas observando. O garoto pegou uma foto que estava dentro do armário e sentiu seus olhos inchados. Era uma foto dele com , do dia que ele a pedira em namoro. Os dois estavam abraçados e sorridentes, ainda que estivesse com os olhos vermelhos por ter chorado. sentiu outra lágrima escapar naquele momento.
Deixou a faculdade e voltou para o hospital. Observou por uma última vez seu corpo inanimado. Ela não podia deixar todas aquelas pessoas. Não podia.
A semana passou vagarosamente.
Seus pais revezavam quem ficava no hospital em tempo integral e , e a visitavam todos os dias. Seus outros parentes apareciam por lá vez ou outra e deixavam votos de solidariedade. Seus amigos da faculdade também haviam ido com em determinados dias.
Não havia tido um dia sequer no qual nenhuma lágrima fora derrubada naquele quarto.
e sempre conversavam com , ainda que sem obterem resposta. Elas gostavam de contar a ela todos os acontecimentos recentes para que ela "não ficasse desinformada" quando voltasse para elas. respondia às amigas, mas elas não a ouviam, o que a deixava frustrada. , por sua vez, pedia desculpas todos os dias, além de explicar todas as vezes que se arrependia muito e dizer que a amava. tentava abraçá-lo, mas sem sucesso. Seus pais tinham cada vez mais olheiras e pareciam compartilhar de um mesmo sentimento: arrependimento. enxergava isso, o que só a fazia ter mais certeza de sua decisão.
Alexia, se pudesse ter escolhido, certamente não abandonaria seus pais. Não deixaria aquelas pessoas que a amavam. Alexia seria sua salvadora. Exatamente como seu nome dizia ser. Salvadora.

Capítulo 6

's POV

Passada a semana, o representante retornou ao meu quarto. Eu o esperava impacientemente. Como da outra vez, ficara um tempo apenas observando o corpo inanimado e esperando que eu me aproximasse dele. Dessa vez, não demorei a ir até ele, cumprimentando-o com um aperto de mão. Ele franziu o cenho, sem entender, mas abriu um sorriso tênue em seguida.
- Bem, uma semana se passou e aqui estou eu, . E preciso de sua decisão.
- Sim... Eu pensei bastante, senhor representante, e já tomei minha decisão. – eu disse, respirando fundo. – Não posso deixar todos daqui ainda. Eles erraram, mas somos humanos e os erros fazem parte. Juro que cogitei bastante a hipótese de partir, mas não posso.
- Então...? – ele disse, fazendo um gesto com a mão para que eu continuasse.
- Eu decidi ficar. – eu disse, por fim. Ele sorriu, fazendo-me sorrir junto.
- Fico muito feliz por sua decisão, . – ele sorriu, vindo me abraçar. – Eu torcia para que decidisse ficar. Você ainda tem uma vida linda pela frente.
- Obrigada por isso, senhor representante! – parei por instante, pensativa. – Er... Será que agora o senhor pode me dizer o seu nome?
- Posso sim, . – ele sorriu. – Sou o seu destino. – e, dizendo isso, partiu, saindo de meu campo de visão. E foi a última coisa que vi antes de ficar tudo preto pela segunda vez.

's POV off

O sol nascia, anunciando mais um dia. Joann e Anthony haviam dormido no hospital e já saíam do quarto para tomar o café da manhã. Olharam o corpo de por uma última vez e encontraram , e no refeitório do hospital. Era sábado e eles decidiram ir logo cedo visitar . Tomaram o café em silêncio e logo voltaram para o quarto. Nada havia mudado, todos já sentiam os olhos incharem novamente.
Até que mexeu seu braço.
- Anthony, a mexeu o braço! – Joann disse, incrédula, e seus olhos já começavam a encher de lágrimas. – Eu juro, eu a vi mexendo o braço! – todos passaram a encarar .
E seus olhos se abriram.
- ! Você voltou, ! Ai, meu Deus, eu sabia! Eu sabia que você não ia deixar a gente! – e exclamavam, indo abraçá-la. O doutor logo apareceu no quarto, suspirando de alívio. tentava abraçá-las de volta, mas os tubos conectados a ela a impediam. Anthony e Joann choravam de felicidade e saíra do quarto.
- Alguém pode me dizer o que aconteceu aqui? – pronunciou lentamente, olhando para todos ali, confusa.
- A senhorita acaba de acordar de um coma, . – o doutor disse, sorridente. – E eu vou precisar fazer alguns exames para verificar se está tudo bem com sua memória. – Seus pais a abraçaram e saíram do quarto, junto com e .
- Eu fiz muita coisa errada, doutor? – ela disse, sorrindo, mas preocupada.
- É... Fez sim, . – ele disse, dando uma leve risada. – Mas o que importa é que agora está tudo bem.

Capítulo 7

Depois de se certificar que estava tudo bem com sua memória, o médico permitiu que visitas entrassem no quarto naqueles dois dias que ela ainda permaneceria no hospital sob observação.
estava muito confusa, não se lembrava do acidente e tampouco de sua semana agitada em coma, mas o restante ela lembrava perfeitamente. Suas amigas passaram a tarde com ela, colocando o assunto em dia, e mal podia esperar a hora de sair do hospital. Sentiu falta de alguém ali com ela e sabia muito bem quem era, mas não iria admitir nem pra si mesma.
Seu celular tocou em sua cabeceira e ela leu o nome "" no visor. Céus, disso ela lembrava.
- Quem é , dona ? – brincou.
- Longa história, . – ela disse, rindo. – Depois eu conto pra vocês.
Um silêncio se instalou no local por alguns instantes e ouviram leves batidas na porta.
- Er... Posso entrar? – disse, colocando apenas a cabeça pra dentro do quarto.
- Entre, . – disse e suas amigas se retiraram do quarto.
- , eu preciso te pedir desculpas. – ele disse, com as mãos atrás do corpo. – Essa semana eu percebi o idiota que eu fui e eu não vou conseguir sem você, , me perdoa, por favor.
Ela parecia pensativa, mas por qualquer razão que ela não entendia, logo abriu um sorriso para ele e disse:
- Eu te perdoo, .
- Mesmo? – ele não pôde conter a felicidade, deixando uma lágrima escapar, vendo-a ali, acordada e dizendo que o perdoava.
- Mesmo. Venha aqui! – Ela disse, puxando-o para um beijo suave. Sentindo seus lábios com os dele, ela entendia a razão de tê-lo perdoado: ela o amava. Verdadeiramente. Finalmente, mostrou o que havia em suas mãos, que pela primeira vez eram vistas. Um lindo buquê de rosas brancas. abriu um sorriso que mal cabia em seu rosto.
e entraram no quarto tempo depois e abraçaram os dois, felizes pela reconciliação. Seus pais e alguns tios e tias agora se encontravam ali no quarto também.
- Eu não sei o que aconteceu comigo nessa semana, mas algo me diz que minha filha vai se chamar Alexia. – ouviu pigarrear ao seu lado. – O que foi?
- Não vai pedir minha opinião sobre o nome? – ele disse, rindo, fazendo todos no quarto rirem também.

Fim


Nota da Autora: Como começar essa n/a? To perdida, mesmo.
Bom, vamos lá. Em primeiro lugar, eu comecei a escrever essa fic a partir de um sonho de uma amiga minha, a Nathália Pim. Quando eu soube do especial, fiquei meio sem rumo porque não tinha ideia nenhuma, então veio a calhar, totalmente. (É, quando eu soube que a ideia que ela me deu era um sonho que ela tinha tido fiquei muito pasma, porque eu só sonho com coisa tosca.) Claro que fiz umas modificações, mas a base da história foi ideia dela, então, muito obrigada, Pim, por confiar em mim pra passar tudo pro papel. Queria agradecer à Isabela também, essa linda que tá sempre aí, me aturando, e é uma das minhas melhores amigas. Obrigada, Isa. E obrigada Bruna, Brunna, Carol e Giovanna por lerem, porque eu sei que vocês irão ler. Hehe.
Em segundo lugar, a parte da bebê foi totalmente baseada em histórias reais. Isso realmente aconteceu com alguém da minha família – não exatamente igual – e eu me emocionei bastante escrevendo, então, espero ter conseguido emocionar a vocês também. Assim como espero ter conseguido passar a mensagem que eu queria passar.
Em terceiro lugar, é a primeira vez que eu publico alguma coisa aqui no FFOBS, mesmo que eu já seja do site há um ano, então estou bem nervosa com a aceitação dessa Short, mesmo.
Bom, é isso aí. Já falei demais. Espero que tenham gostado da fic assim como eu gostei de escrevê-la, e, se não for pedir muito, deixem um comentário! Iria amar saber o que vocês acharam da história! :3
Xx. Vanessa.

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Nota da Beta: Ai, Van, que história mais linda e triste! Você sabe que: mexeu com bebês, mexeu comigo, né? Fiquei toda manteiga derretida. A doença do bebê, pra quem quiser saber, é Eritroblastose Fetal (dependendo da idade de quem está lendo, já até deve ter estudado isso em Biologia), que nem sempre provoca a morte, quando não provoca, deixa outras sequelas!
E achei lindo saber que sou uma das suas melhores amigas, Van! Fiquei emocionada de verdade, nhonhonho. Saiba que a recíproca é verdadeira, ok? Amo você! <3
E, leitoras, deixem um comentário para fazer a Van feliz! xx

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