Amor à Primeira Vista
por Ana Cláudia Dantas Martinho



Passava-se das quatro da manhã. Continuava a observar a janela da casa rosa. Uma garota estava sentada no chão chorando. Queria poder ir lá ajudá-la, mas nem ao menos sabia o nome da garota. Sabia apenas que era a garota da casa rosa.
Os dias se passaram. Sempre quando eu chegava dos ensaios tomava um longo banho e me sentava na cadeira do computador para observá-la. Ela era linda, parecia um anjo. Tinha a pele clara como a neve. Cabelos que caíam sobre seus ombros. Cada passo que ela dava por seu quarto, parecia que estava dançando. Nunca havia visto uma garota tão magnífica como ela.
Estava entrando na garagem com meu carro. Percebi um forte cheiro de queimado e gritos desesperados. Estacionei. Corri o mais rápido possível para a calçada. Olhei incrédulo, a casa rosa estava em chamas. Atravessei a rua e perguntei se alguém já havia chamado os bombeiros. Responderam-me que eles estavam demorando a vir. Aproximei-me de uma senhora que olhava tudo aquilo com desespero.

A garota acordou depois de um tempo declarando que estava com muita enxaqueca. Os médicos lhe deram remédio. Quando eles foram embora, a senhora os seguiu falando que também iria, pois tinha que ir cuidar de seus netos.
Quando ficou apenas eu e ela, perguntei se estava bem, em resposta ela apenas me agradecia. Sua voz era doce e meiga.

- Quer tomar um banho e depois ir descansar? Devo ter umas roupas largas minhas para lhe emprestar.
- Aceito. Obrigada novamente por tudo. Não sei o que vou fazer da minha vida agora, aquele era meu único lar – deixou escapar uma lágrima de seus olhos.
- Seus pais?
- Moram na Espanha. Não quero ir morar com eles. Estão me obrigando a casar por negócios. Por isso vim para Londres. Logo que cheguei aqui consegui um emprego como professora de balé. Vivo com o que ganho. Não vou me casar, sou muito nova. E, aliás, é um arrogante brutamontes. Ele é capaz de destruir tudo e todos quando quer algo.
- E a senhora que estava aqui agora pouco?
- Maria? Bom, ela é um anjo em minha vida. Ela me acobertou quando eu fugi para cá, e cuida muito de mim. Mas não tem como eu morar com ela.
- Por quê?
- Ela mora em um pequeno apartamento com sua filha e mais dois netos. E segundo que o primeiro lugar que minha mãe me procuraria seria lá.
- Se você quiser, pode ficar aqui. Eu moro sozinho mesmo, e minha casa é grande, tem espaço o suficiente - falei sorrindo – Ela é apenas um pouco bagunçada.
- Não sei nem como lhe agradecer. Nem te conheço e você me salvou e ainda está me oferecendo ajuda. Mas não se preocupe, até o final da semana já vou ter achado outro apartamento.
- Pode ficar aqui o tempo que precisar, não precisa ter pressa.
- Obrigada mesmo – disse me abraçando. Meu coração quase pulou para fora. Foi um ato tão distraído de sua parte, mas para mim foi mágico.
- Bom, se quiser tomar um banho, pode usar o banheiro no final do corredor, está bem?
- Muito obrigada – sorriu meigamente.
- Tem toalhas limpas lá. Vou arrumar seu quarto e deixarei uma roupa lá para você, está bem? – já estava quase subindo as escadas quando ela posicionou as mãos em meu ombro me impedindo de continuar a andar.
- Muito obrigada mesmo. Nunca nenhum homem foi tão gentil comigo.
- Não precisa me agradecer – coloquei minhas mãos em seu delicado rosto – Agora vá descansar um pouco, você está precisando – beijei sua cabeça.
- Qual seu nome? – me perguntou.
- e o seu?
- – disse sorrindo.
- Lindo nome.
- Obrigada, o seu também. Bom, acho que devo mesmo ir descansar. Estou muito cansada.

Acordei. Passava já do meio dia. Desci até a cozinha e senti um cheiro delicioso de ovos mexidos. Encostei-me no batente da porta e fiquei admirando cozinhando.

- Bom dia – disse animado me sentando na bancada da mesa.
- Achei que não iria mais acordar – falou rindo. Sentou-se de frente para mim e colocou os ovos para comermos – Achei apenas isto em sua geladeira.
- Não precisava se incomodar, aliás, você é visita. Prometo que hoje farei compras – ela riu.
- Não se preocupe. , você se importaria de ir comigo hoje ao shopping? Afinal, não me restou roupa alguma.
- Claro que não! Eu adoraria. Podemos ir às quatro horas?
- Para mim não vejo problema algum – disse sorrindo.
- Mas , eu ainda estou perturbado com algo. Como sua casa explodiu?
- Eu sou uma burra – exclamou batendo nela mesma – Esqueci o bujão de gás aberto.
- Me desculpe. Mas você é uma burra mesmo – nós dois rimos, o que me fez ficar feliz em vê-la bem.

Um mês havia se passado. ainda estava morando comigo. Ela havia encontrado um novo apartamento, mas era muito longe de seu emprego. Então a convenci de ficar mais uns tempos comigo até encontrar um apartamento que se localizasse mais perto.

- , posso pegar este último pedaço ou você irá comer?
- Não, obrigado. Já estou muito satisfeito. Mas como foi sua tarde?
- Não tem o que se fazer de domingo à tarde, então dormi o dia todo. E como foi lá na gravadora?
- ASSINAMOS – gritei pulando pela sala – Cd vai começar a ser gravado daqui duas semanas – me abraçou e senti meu coração pular como quando sempre ela me abraçava ou beijava meu rosto. Era inevitável eu tentar evitar o que eu sentia por ela. Se antes eu estava apenas encantado, agora eu estava completamente apaixonado.
Foi questão de segundos para eu colar nossos rostos. Sentia sua respiração se misturar com a minha. Juntei meus lábios com os dela educadamente. Não queria pressionar nada. Começamos a nos beijar. Um beijo calmo e suave.
Separei nossos lábios ressentido pelo o que ela poderia pensar ou não gostar.

- Me desculpe, – disse olhando para baixo. Sabia que ela não poderia querer aquilo como eu queria. Mas a única coisa que eu não queria era estragar nossa amizade.
- Não tem o que se desculpar – ela respondeu levantando meu rosto, fazendo nossos olhares se encontrarem novamente – Eu também queria isso – juntou nossos lábios novamente, mas desta vez era um beijo com mais desejo, mais volúpia.
Beijava-a como se fosse o último beijo em minha vida. Amava-a, isto eu tinha certeza. Deitei no pequeno sofá de minha sala e comecei a tirar sua blusa.

Acordei com o cheiro de ovos que apenas sabia cozinhar. Fui até lá e a encontrei concentrada em frente ao fogão. Abracei-a por trás e distribui leves beijos por todo seu pescoço.
- Ovo com bacon, gosta?
- O melhor prato – disse rindo, me sentando à mesa.
- Deixa que eu atendo – disse se levantando e indo até a campainha que tocava descontroladamente. Depois de um minuto ouvi a porta batendo com muita força. Obviamente deveria ser para ela. Comi todos os ovos esperando ela voltar. Ouvi berros vindos do lado de fora e os passos de voltando para cozinha. Ela parou em frente à porta. Olhava-me tristemente com olhos marejados.

- Eu vou me casar – disse correndo para onde fora seu quarto neste último mês.
- Você não pode se casar! – pronunciei-me assustado entrando em seu quarto.
- MAS EU DEVO, MERDA – gritou parando de arrumar suas roupas – Escute, , esta não é minha realidade, está bem? Ontem foi ótimo, mas não iria dar certo. Eu preciso me casar com – depois de ouvir aquelas últimas palavras, desci para a sala me sentando no sofá, relembrando de tudo que me acontecera neste último mês. Senti os braços de tocarem em meus ombros. Levantei rapidamente.

- Diga-me que é brincadeira, por favor – implorei.
- Eu gostaria, , mas não dá – a primeira lágrima escorria de seus olhos.
- Por favor, fique, – a abracei querendo prendê-la em meus braços – Eu te amo muito – sussurrei em seu ouvido.
- , obrigada por tudo, mas eu devo ir mesmo – e saiu.
Meia hora depois que ela se fora, me dirigi até seu quarto para pensar que tudo aquilo era brincadeira e mais tarde ela estaria de volta.
Olhei cada quanto de seu quarto até meus olhos pararem em um certo envelope branco endereçado a mim. Era de .

!
Desculpe-me por estar fazendo isto, mas eu sei que você nunca entenderia se eu tentasse lhe explicar.
Era àquela hora na porta. Ele me chantageou, disse que se eu não me casasse com ele, ele faria meus pais irem à falência. Eu não quero isso.
Então hoje às sete horas da noite serei uma mulher casada com um animal – estou com nojo de mim mesma.
Obrigada por tudo que você me fez. Por ter sido corajoso o suficiente de salvar minha vida. Por ter me deixado ficar em sua casa neste último mês. Pela sua maravilhosa amizade. E principalmente pelo momento maravilho de ontem à noite.
Você é um cara muito especial. Literalmente PERFEITO!
Eu Te Amo!
Com muito amor,


Li e reli aquelas palavras infinitas vezes. Fiquei mais aliviado em saber que ela iria se casar para salvar seus pais, e não por vontade própria. Senti-me péssimo por não poder ajudá-la de nenhuma forma.
Deitei-me em sua cama e relembrei de todos os momentos que passamos juntos. Tudo havia sido maravilhoso.
Não percebi que havia pegado no sono ali mesmo. Desci para comer algo. Passava-se das três da tarde, e minha barriga pedia por comida. Senti o cheiro de ovos que apenas sabia fazer. Deveria estar delirando. Fui até a sala e lá estava ela, mais linda do que nunca, sentada em meu pequeno sofá com dois pratos em suas mãos.

- Está com fome? – me perguntou deixando os pratos em cima do sofá.
- O que faz aqui? – abracei-a pela cintura.
- Quer que eu vá?
- Não! De jeito nenhum. Mas você não deveria estar casada?
- Deveria – sorriu – Expliquei tudo para meus pais. Eles acharam ridículo eu me casar só para não irmos à falência. Também falaram que eu tinha que correr atrás de quem eu realmente amo. Eu te amo, !
- Eu te amo muito, – abracei-a a levantando um pouco do chão. Beije-a com desejo, mas um desejo diferente. Era um desejo de tê-la para sempre.


FIM!



n/b: Oi gente! Tudo bom? Só passando pra avisar/pedir que se vocês encontrarem algum erro, seja ele qual for, me enviem um e-mail [paulabrussi@gmail.com], ou um tweet indicando o erro e o nome da fic. Lembrando que é para enviar para mim, e não para o site. Um beijão pra todas e obrigada! =]


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