Au Revoir
Escrita por: Lê Panichi
Betada por: Vanessa


Era uma manhã agitada em Paris, o rio Sena tilintava pelas poucas gotas que se desprendiam do céu e trombavam ao contato da água corrente. A grama do Campo de Marte escorava sob os pés que passeavam já pela manhã. Várias alegrias turistas adentravam o Louvre e rodeavam a Torrei Eiffel. Os pássaros que melodiavam o clima e as rosas que se abriam já nas primeiras horas mostravam que aquele não era um dia comum.
O dia ensolarado se camuflava pelas diversas pessoas que cruzavam a cidade, sem perceber tudo que as acompanhava. A leve chuva romântica se misturava com os carros que aceleravam apressados. O charme exalado pela cidade se afugentava na percepção medrosa de algumas pessoas. Ao mesmo tempo em que casais se amavam, diversas almas amarguradas se encontravam naquele dia com suas metades e nem percebiam.

Por algum motivo desconhecido, o despertador não apitou às sete da manhã como de costume. Madame, a Cocker Spaniel caramelo da família vizinha, não latiu uma sequer vez. O sr. Montoé, um velhinho de seus oitenta anos do apartamento de cima, não pregou quadros como gostava de fazer todo dia. Nenhum barulho foi feito naquela manhã e perdeu a hora.
Todo o planejamento de seu dia estava atrasado.
Era seu último dia em Paris, voltaria para Londres no primeiro voo da madrugada e sentia um aperto no coração, misto de tristeza e apreensão. Há dias que as duas pálpebras estavam pesadas e vultosas, os olhos se escondiam cada vez mais pela viscosidade das lágrimas que se alojavam.
amava aquela cidade, as pessoas que tinha conhecido e os momentos vividos. Não queria se despedir de Marie, muito menos de Annie e Joví. Os três tinham sido sua família e amigos nesses onze meses de intercâmbio. Tinha saído de Londres para estudar educação artística na Université de Paris, sabendo apenas quatro frases em francês, e voltaria com uma grande bagagem cultural e histórias para contar aos futuros netos quando eles tivessem idade suficiente para saber das coisas que sua avó aprontou na cidade mais romântica do mundo.
Morou esses meses todos em um apartamento na periferia parisiense. Simples, porém confortável - era o que conseguia pagar com sua bolsa de estudo e o modesto dinheiro que recebia de seus pais. Iria sentir falta até da uma hora e meia de metrô que enfrentava todos os dias para ir à faculdade. E não sabia como iria conseguir acordar todos os dias sem poder comprar os maravilhosos croissants da padaria ao lado.
Sua festa de despedida tinha sido na noite anterior no pub que tinha conhecido Annie e Joví, um casal de namorados que se arriscaram conversar com a jovem desconhecida dos cabelos longos e rosto assustado. Era o quarto dia de na cidade e as únicas pessoas das quais tinha conversado havia sido seus vizinhos de apartamento. Uns muito gentis e outros nem tanto. Tinha decidido conhecer o pub com aparência agradável que ficava a três quadras de seu prédio, mas, por não conhecer uma pessoa sequer naquele mar de gente, se sentia afogada. Desde então, Annie e Joví resolveram acolher a pequena inglesa que possuía o sorriso mais carismático que algum rosto já conseguiu esboçar. conheceu Marie dois dias depois, quando suas aulas começaram e os quatro novos amigos criaram um laço de amizade tão rígido que o mundo de desabou ao ver que era a última noite que desfrutaria com eles.
Ao acordar presunçosamente e perceber que havia dormido mais do que o esperado, pulou da cama em uma velocidade tão grande que a dor de cabeça resultante de uma enorme ressaca da noite anterior latejou em sua testa. Segurou o pequeno despertador vermelho com as duas mãos e o detestou por marcar nove horas da manhã, como se desejar que ainda fosse sete iria fazer os números retrocederem. Puxou da escrivaninha ao lado uma folha de caderno em que um cronograma de um dia inteiro estava escrito e planejado.
queria tanto aproveitar seu último dia, que tinha cronometrado tudo que teria que fazer para não voltar para Londres carregando três malas, dois casacos e um arrependimento qualquer.
Nas primeiras linhas do papel estava marcado que das sete às nove e meia iria acabar de arrumar as malas. era metódica, disciplinada e organizada. Gostava tanto de ter tudo em ordem, que correu contra o tempo para que conseguisse arrumar o que restava em apenas meia hora.
Do outro lado da cidade, no mesmo instante que acabava de levantar da cama, alguém nem tão disciplinado e organizado lutava contra os cobertores para não ter que acordar. odiava acordar cedo, na verdade, odiava qualquer coisa que o obrigasse a se organizar. Passou uma mão pelos cabelos emaranhados em ato reflexo, como fazia toda vez que acordava, era uma mania, e a outra tateou o lado esquerdo da cama, com receio de encontrar algo, ou melhor, alguém. Contraiu os músculos ao perceber que tinha, sim, uma mulher deitada ao seu lado. Cerrou os olhos, tentando lembrar quem era e o motivo de ela ter passado a noite com ele. Soltou um riso baixo ao se conformar que nunca teve um motivo ao certo para que saísse dormindo com as primeiras que ele arranjava pela noite. Na verdade, tinha, mas nunca iria admitir que era por carência herdada de um relacionamento que o fez ter um buraco no lugar do coração.
Os olhos doces e o sorriso cativante o perseguiam nos sonhos como um pesadelo. tinha sido rejeitado pelo argumento que era imaturo demais para assumir um relacionamento com alguém. Seus dias tinham se tornados lúgubres e gélidos a partir do dia que se viu sem a namorada e uma razão para continuar morando em Paris. Tinha se mudado de Londres por aventura juvenil. Queria descobrir o mundo, morar em vários países, conhecer diversas pessoas, não ir para a faculdade. Quando juntou dinheiro suficiente para pegar as poucas coisas que considerava essenciais para ir com ele, não tardou em tomar o primeiro trem que o levasse para qualquer outro país. Por algum motivo, do destino, talvez, ele marcava que iria para França.
Morou na grande cidade do amor por mais ou menos um ano e meio, mais do que imaginava que iria. Queria ter ido a Barcelona ou até mesmo Amsterdã há seis meses, mas foi quando conheceu o amor de sua vida e o motivo que o fazia querer voltar para Londres. Não se sentia mais a vontade na vida que havia escolhido para si, queria voltar para sua cidade, sua família, seus amigos e os casos amorosos antigos. Aquela garota o tinha destruído. Já tinha comprado a passagem do trem que o levaria de volta para sua imperturbada vida de um ano e meio atrás.
Endireitou-se na cama e olhou bem para o rosto que dormia sossegadamente ao seu lado. lembrava que o nome da mulher começava com Ju, mas não sabia se era Judhti ou Juliet. O pequeno e apertado vestido preto que ela usou na noite anterior estava jogado pelo chão do quarto, se misturando ao carpete encardido. Ele lembrava menos ainda de como o vestido era, na noite, tudo tinha sido apenas um borrão, de uma forma que ele e os longos cabelos também pretos eram um só para .
Juntou rapidamente as peças de roupa de Judhti ou Juliet e as colocou em cima da cama, jogou dentro da grande, e única, mala tudo que tinha naquele pequeno apartamento. Não era muito, apenas roupas e algumas coisas de banheiro. Tinha alugado o apartamento já mobiliado e equipado. E teria que devolvê-lo ainda nesse dia. Não poderia negar que estava ansioso para sair daquela vida irresponsável e deprimente.
Dez horas marcava o relógio de pulso de . Estava meia hora atrasada, mas sabia que não faria tanta diferença assim no fim das contas. De banho tomado e malas arrumadas, se despediu vagorosamente do seu lar. Considerou aquele pequeno lugar como lar por tantos meses que seus lábios formavam uma linha fina apertada como forma de segurar o choro. Não queria deixar as lágrimas escorrerem, pelo menos, não naquele instante. Tinha um dia inteiro para aproveitar.
Tocou a campainha receosa do apartamento vizinho e foi saudada pelos latidos de Madame. A família não foi tão receptiva e simpática nesse tempo que tinha morado em Paris, mas ela se sentia na obrigação de pelo menos se despedir e agradecer por serem ótimos vizinhos. Mesmo que a última parte fosse total mentira. Abgail não perdia uma oportunidade sequer de reclamar do barulho que fazia, às vezes. Mesmo que nunca tivesse reclamado do choro ardido que o pequeno Louis, o caçula da família, soltava toda madrugada ou do som alto que Janelle, a pré-adolescente rebelde ligava toda hora que resolvia estudar. Foi recebida na porta por Abgail, que vestia um avental molhado e um mau humor no rosto.
- O que você quer? - Cuspiu as palavras para a garota que estava há três passos de distância. Detestava esses jovens, principalmente os que não entendiam francês de forma absoluta.
- Eu só vim me despedir, estou voltando para Londres hoje mesmo. – Disse, de forma cautelosa, tentando assimilar as reações faciais de Abgail, no fundo tinha medo de ser expulsa aos gritos. Percebeu que a quarentona esperava que falasse mais coisas. - Obrigada por ser uma ótima vizinha nesses últimos meses. - A mulher se surpreendeu com as palavras da garota. Sabia que a menina a detestava, e quem não iria? Ela era grosseira com os vizinhos, todos os outros a odiaram e se mudaram sem nem ao menos falar um “tchau”. – Então, é isso... Até algum dia, quem sabe, sra. Thrierrée? - Boa viagem, garota, e seu francês melhorou muito. Mas ainda peca muito na pronúncia do meu sobrenome, você nunca irá aprender mesmo. - Fechou a porta logo depois de terminar de falar. não deixou de sorrir com a resposta, não esperava algo mais simpático dela mesmo.
- Então é isso, Noil. Aqui as chaves do meu apartamento como o combinado. - sorriu ao entregar as duas chaves que lhe foram dadas pelo mesmo senhor, o porteiro do prédio, há um ano e meio. - Tem uma senhorita ainda dormindo, ela deve acordar daqui umas duas horas, no máximo. Se o senhor puder trancar apenas depois que ela se retirar, eu agradeço.
- Os dois soltaram um riso breve. Não seria a primeira vez que Noil iria ter que explicar onde estava para alguma mulher que acordou sem ele do lado.
- Essa deve ser especial, para dividir com você a sua última noite. – Disse, de forma brincalhona.
- A mesma importância de todas as outras. - Dividiu o mesmo tom divertido que Noil.
- Mas não a mesma da senhorita...
- Nem fale o nome dela, Noil. – Interrompeu .
- Vocês nunca mais se reencontraram?
- Não, nunca mais.
- Você não tem nenhum interesse de saber como ela está, ? - Noil sempre insistia nesse assunto, ele sabia como a amava. Isso irritaria , se fosse qualquer outra pessoa, mas Noil foi como um pai para ele nesse tempo.
- Nenhum. - Mentiu. - E eu sei como ela está. Já deve ter voltado para a Inglaterra, ou está para voltar.
- Sem planos de se reencontrarem lá?
- Sem plano algum, Noil. - encerrou o assunto e repousou sua mão sobre o ombro do senhor. - Até mais, meu velho. Espero que possamos nos ver de novo algum dia. Você tem meu número, se algum dia for para a Londres, me avise.
- Pode deixar que irei, sim, sentirei sua falta, meu jovem. - Noil estava sendo totalmente sincero, , apesar de seu temperamento instável e sua falta de responsabilidade com a vida, tinha sido um grande amigo para aquele senhor solitário.
- Até mais, então!
- Até. - Os dois amigos se despediram e Noil viu atravessar a grande passagem formada pela abertura das duas portas de madeira rústica.
- ! - O jovem virou seu corpo rapidamente, curioso, para o senhor.
- Tome uma dessa. - Noil estendeu um botão de rosa vermelha. - Entregue para alguma mulher especial da sua vida hoje. - pareceu surpreso, não estava entendendo. - Você não sabe que dia é hoje? - Negou com a cabeça. - É dia dos namorados! O dia mais romântico do ano. Paris está em frenesi hoje.
As cores românticas coloriam a cidade. O amor abria os olhos nesse dia enamorado. Paris, por si só, já possuía uma alma apaixonada nata, essa cidade se traduz por palavras, história e essência amorosa. Mas, nesse dia, até o clima se contorcia, deixando tudo mais agradável. As janelas abertas deixavam que a brisa gostosa adentrasse cada casa. Na Praça da Concórdia casais se abraçavam, se beijavam e posavam para fotos como recordação de um dia especial e bonito, não ligando muito para a pequena chuva que estava, de certa forma, agradável. Histórias de amor escorriam soltas pelo Canal de Saint Martin coberto por um sol que amornava ruas e avenidas transmitindo uma grande vontade de viver e amar. As vitrines das lojas anunciavam os melhores preços de presentes, umas para lá, outras para cá. Cada pessoa que passava pelas ruas via em alguma esquina um par se abraçando. Pintores boêmios se divertiam, retratando o que acontecia. Os pequenos bares já abriam suas primeiras garrafas de vinho para servir a movimentada cidade. Era até possível escutar a voz doce de Édith Piaf cantar “Les amants de Paris” e ler, entre os sorrisos, poemas de Paul Éluard. Melros brancos embelezavam a cidade e pombas ciscavam as migalhas de pães caídas do café da manhã.
- Muito obrigada, sr. Montoé. Pode deixar que vou tomar cuidado, sim. - agradecia o vizinho que pregou quadros todos os dias que ela morou em Paris. Tinha acabado de ultrapassar o saguão do prédio quando o viu entrar com dois quadros novos. Sempre teve curiosidade em visitar o apartamento do senhor para saber se ele trocava de quadros ou se ele era repleto deles como imaginava. Sentiu o sol bater forte sobre seus cabelos e quatro gotas de chuva escorrem por suas bochechas.
Retirou o papel de caderno dobrado de um dos bolsos do fino sobretudo de lã que esquentava levemente seu corpo. Leu rapidamente o que tinha planejado fazer até a hora do almoço. tinha a intenção de visitar e saborear os lugares que mais marcaram sua estadia. Queria reviver cada sentimento e sensação. Começou a acelerar os passos até a estação de metrô que a levaria até a Ponte de Alexandre III. Foi o lugar no qual percebeu a plenitude de onde iria morar por onze meses. Lembrou-se de como admirou os querubins, as ninfas e os cavalos alados que decoram as extremidades. - Um chocolate para a doce senhorita. - Um homem de mais ou menos trinta anos disse, retirando de seu universo mental. Estava parada em frente a uma tenda que vendia chocolates com um cartaz escrito “Feliz dia dos namorados a todos os casais parisienses”. Sentiu os músculos se apertarem ao lembrar-se do ex-namorado que tinha conhecido em seus primeiros meses na cidade e como tinha terminado de forma rápida e triste. Naquele instante, não queria se importar muito com o que ele estaria fazendo, ela se contentava apenas com o carinho de Marie, Joví e Annie. Guardava na bolsa de mão diversas cartas dos três que tinha prometido ler apenas quando tivesse chego em Londres.
- Muito obrigada. - Agradeceu sinceramente e continuo a andar. Tinha muitos lugares para ir no dia e não queria perder seu tempo com pensamentos desnecessários, principalmente os que envolviam ele.
A outra face do amor é a solidão, aquela que se apodera de um ser, que, a partir de um momento fatídico, uma quebra de expectativas, de mudança de percurso, começa a acompanhar quem se deixa tomar. Acaba tendo vida no sofrimento do vazio e nas lágrimas que choram um passado feliz. Faz lembrar as noites que não eram sós e que promessas de futuros eram ditas. As mesmas noites que agora são deitadas sozinhas e nas fotos rasgadas ou guardadas junto às lembranças.
Enquanto casais queriam apenas aproveitar o dia, pessoas agiam como se fosse um dia qualquer como outro, mesmo que estivessem muito mais tristes que o normal; não era agradável ver casais se divertindo. Andavam sob a luz forte de começo da tarde como se seus corpos fossem programados a essas ações rotineiras. Estavam em todos os lugares. Dentro dos cafés sentados lendo o jornal do dia ou servindo os mesmos. Comprando algo ou vendendo. Limpando a calçada ou sujando-a com seus passos arrastados. Era possível ver o ressentimento contido nos olhares de alguns e a solidão nos gestos. Sorrisos enclausurados figuravam entre os amados. Emoções que um dia já viveram estavam aos ventos para uns e na esperança de voltar à tona para outros. Alguns se conformavam com a falta de um par enquanto havia aqueles que, apesar de tudo, ainda estavam à espera de um sussurro, um olhar cruzado ou de um simples detalhe que fosse tornar tudo diferente; uma pista do destino.
movimentava de forma ritmada o botão de rosa que Noil tinha entregado a ele horas mais cedo. Estava apoiado sobre a Ponte de Alexandre III. Fitava o horizonte e as águas corridas do rio Sena. Seus pensamentos estavam a mil, eram turbilhões de emoções. Nunca tinha passado o dia dos namorados com alguém, mas também não se lembrava de ter sofrido tanto em um por ter ninguém. Sempre se considerou autossuficiente e independente, mas não poderia negar mais que seu coração clamava por alguém. Tentava se convencer que essa carência e solidão iriam cessar assim que voltasse para Londres. Várias pessoas o esperavam. Ele não precisava de alguma mulher em sua vida ocupando um espaço tão significativo ou era, pelo menos, o que ele repetia para si. Apertou o gelado corrimão da ponte com a mão que não segurava o botão de rosa. Eram suas últimas horas em Paris, queria pelo menos se lembrar de momentos bons que teve, afinal, não foi pouco o tempo que a cidade serviu de lar. Seus dias trabalhando em uma padaria que era a umas quatro ruas de seu prédio vieram em sua mente. Não foi o melhor emprego do mundo, mas também não poderia dizer que foi de um todo mal. Dava para se sustentar de maneira razoável e o cheiro agradável compensava o dia. Em seus horários livres no emprego gostava de observar a clientela. Tinham os esporádicos que apareciam uma vez ou outra e aqueles que apareciam todos os dias. A senhora de vermelho que apenas vestia roupas vermelhas, o garoto que comprava pão às 8 da manhã rotineiramente, pois tinha que ajudar a mãe a criar os irmãos mais novos e os diversos jovens que passavam por lá a caminho da faculdade. Suas lembranças foram interrompidas pela imagem dela de novo. Tinha sido na padaria em um dia normal de expediente que se conheceram. apertou com força o cabo da rosa e sentiu finos espinhos entrarem de leve em sua pele, mas o suficiente para já sentir sua epiderme apitar de dor. Como ato de raiva, pensou em jogar a rosa no rio que corria mais veloz que sua alegria, mas, por algum motivo não certo, apenas deixou-a em cima do parapeito da ponte e se retirou de lá, continuando a caminhar e fugindo daquela sensação horrível que não queria mais ser assolado.
mordiscava o chocolate que tinha recebido do homem da tenda que saudava os namorados de Paris. Tinha esquecido ele dentro da bolsa de mão e já estava até deformado por passar horas guardado. Só lembrou-se dele, pois ficaria trinta minutos sentada no banco do ônibus até chegar ao próximo lugar da sua lista de lugares a visitar no último dia em Paris. Já tinha mandando diversas mensagens para Marie e respondido os e-mails de Annie e de seus pais mais cedo e não tinha muito que fazer, então vasculhou a bolsa à procura de algo que a distraísse, quando encontrou o pequeno chocolate amassado e derretido. O gosto meio amargo preenchia sua boca de uma maneira gostosa. gostava tanto de ganhar chocolates, que os três namorados que teve na vida sempre a presentearam com diversos bombons, porque sabiam que isso a deixaria contente, isso fez com que uma nostalgia a arrematasse. O primeiro namorado foi quando tinha quinze anos e poucas preocupações na vida. Era um amigo de colégio e sua eterna paixão infantil. Terminou três meses depois e, apesar de ser um relacionamento completamente imaturo, considerava o dia do término como um dos dias mais tristes de sua vida amorosa. O segundo ela conheceu no primeiro ano da faculdade, estavam em uma festa da turma de psicologia. tinha sido arrastada para a festa por Alyssa, sua companheira de quarto em Londres. O projeto de Barbie, apesar de se sentir uma psicóloga formada, querendo avaliar o comportamento de o tempo todo e ter uma dificuldade imensa em deixar a própria louça limpa, era uma ótima amiga que nesses onze meses distantes mandava e-mails adverbiando o quanto sentia falta de e como era difícil ter que cozinhar sozinha. Sabia que a amiga estaria a sua espera no aeroporto nessa madrugada ainda. O namoro durou bem mais que o primeiro, só terminou mesmo quando a garota avisou que tinha conseguido a bolsa para estudar em Paris. Como um bom pseudo-psicólogo igual Alyssa, o garoto surtou, achando que essa atitude de era uma maneira de querer se afastar dele. O terceiro namoro foi muito mais trágico e seu enredo se ambientou em Paris, nem gostava de lembrar, pois ainda sentia muita falta dele, mas terminar com o jovem foi essencial para ela, sentia que aquele namoro não iria acrescentar em nada na sua vida e só atrapalharia os momentos que queria viver no intercâmbio. Aqueles que agora via estampados nas ruas parisienses pela janela do ônibus. Tinha sofrido muito amorosamente em Paris por conta desse relacionamento, mas não conseguia não sentir vontade de viver tudo de novo. Ao descer no ponto em que desejava, sentiu um pequeno calafrio tomar conta de sua espinha, era o penúltimo lugar a ir antes de voltar para o prédio, pegar as três malas que foram guardadas na guarita do porteiro para que pudesse aproveitar o dia e chamar o taxi que a levaria até o aeroporto. Era o fim se aproximando. Mas começou a pensar em Alyssa, nos outros amigos e até em Finn, o ex-namorado. Sentia uma saudade absurda de todos. E os diversos presentes que comprou para cada um estavam muito bem guardados em sua bagagem. Sentia o começo da noite sombrear a cidade e a luz da lua, que apareceu tímida, tocar seu rosto. Em um falso silêncio dos seus gestos, saiu andando em direção ao café que ia sempre depois da aula tomar seu último capuccino dessa longa estadia. A partir daquela fração de segundo, sentiu algo diferente, uma sensação completamente nova e inesperada, como se o destino estivesse em seu encalço a guiando. Vários arrepios tomaram conta de seu corpo.
Difícil explicar o que passava na cabeça de naquele instante, ele apenas estava caminhando por uma avenida movimentada para chegar à estação de metrô que o levaria até a de trem. Estava em suas últimas horas em Paris e já pronto para se despedir daquela vida, quando se sentiu enlaçado por uma situação anômala, ao ver aquele rosto que transmitia encanto e alegria em sua direção. Explosões de sentimentos.
Estava relativamente distante, mas via aquele sorriso que nenhum outro rosto conseguia esboçar.
sentiu seu peito arfar ao ver aqueles olhos profundos e tristes perfurarem o seus, era fantástico e inexplicável. Sentia o seu corpo se movimentar em direção do dele como se as outras pessoas que preenchiam a rua não estivessem mais lá.
Aconteceu tudo muito rápido, mais do que os dois desejavam.
Como numa nota de melodia e um piscar de pálpebras.
Foi algo que fugiu do controle dos dois, eles não esperavam isso.
Não isso.
Fascinados pelos olhares e os pesares grudadas em cada pele.
Não poderiam acreditar no que estavam vendo e vivendo naquela avenida em suas últimas horas na cidade.

Pensamentos ligados.
Histórias cruzadas.
Amor à primeira vista.

Sentiam que já se conheciam de uma forma totalmente bizarra. Como se já tivessem dividido o mesmo espaço, o mesmo sentimento. A garota em sua frente tinha um sorriso mais avassalador que o de Mad, algo que nunca achou que seria possível. O garoto era mais misterioso que Jean, o francês que namorou e se encantou. O destino avisava aos dois naquele momento algo que tentou inúmeras vezes falar.
Se não tivesse preferido, naquele dia há seis meses, tomar café da manhã na faculdade ao invés de comprar os rotineiros croissants na padaria do lado do prédio, teria sido por seu sorriso que iria se apaixonar, não pelo de Mad. Se não tivesse ocupado sofrendo por Mad, teria notado-a todos os outros dias que decorreram no estabelecimento. Se não tivesse parado seu trajeto até o bar do pub na noite anterior para responder às mensagens de texto de Jean falando o quanto ela era importante na vida dele, apesar de tudo, ela teria ido esbarrado com , ao invés de Judhit ou Juliet. Se tivesse jogado a rosa no rio e não deixado no parapeito da ponte, não teria encontrado-a e guardado no bolso externo de seu sobretudo. E não teria reconhecido a rosa naquele momento. Poderia ser qualquer rosa, mas por algum motivo, sabia que era a dele.
Eles dividiam histórias de vida parecidas, mas personalidades distintas. Era aquilo que chamavam de metades da mesma alma. O destino tinha programado desde o começo para que os dois se conhecessem, mas, por obstáculos inúmeros, esse grande dia era interrompido. Mas, não tardou, agora eles se conheciam. Sabiam nada um do outro, mas a tensão elétrica que seus corpos formaram ao se atravessarem em direções opostas era o suficiente para que percebessem que, na verdade, sabiam tudo. Só desprenderam o olhar quando foram obrigados a continuar seguindo seus caminhos.
pensou em ir perguntar o nome da garota.
imaginou o que aconteceria se puxasse assunto.
Sem saberem que, de novo, estavam dividindo a mesma sintonia, o pensamento que era o último dia em Paris os impediram. E continuaram a andar sem olhar para trás.
sentiu a oportunidade de sua vida escapar.
ficou com raiva dessa falta de sorte por vê-lo apenas naquela vez. Se tivesse o visto antes, tudo teria sido diferente. Sem saberem que, na verdade, já tinham se trombado nessa vida inúmeras vezes. Agora os dois teriam que dizer adeus para a cidade sem a chance de conhecer um ao outro melhor.
Mas não imaginavam que depois de todo ao revoir há um novo salut. O destino ainda programava muitos novos encontros para aquelas duas metades de alma. E, mesmo depois de diversos dias dos namorados juntos em Londres, nunca esqueceram-se daquele em Paris que suas vidas se cruzaram. Essa não é só mais uma história de amor, é uma história sobre o amor como todas as outras que surgem em Paris e em qualquer lugar. É só parar para observar o que o destino planeja.

Fim.


n/a: Oi gente, pra começo de conversa: Feliz dia dos namorados para todos os casais desse mundo e para aqueles que irão se formar com o tempo! Espero que todo mundo tenha muito amor nessas vidas :D e nossa escrevi essa short em tempo recorde, deu nem oito horas. hahaha eu não iria escrever, mas eu adoro escrever pra challenge, porque me obriga a escrever. Se deixar eu só procrastino minhas fics :( quem acompanha Aquele Rosto (Andamento - Beatles) sabe o quanto eu demoro eternidades. E eu estava muito querendo escrever, pois escrevi uma vez para um challenge também de dia dos namorados e foi muito bom! Tentei escrever uma história de amor diferente do que todo mundo está acostumado. Que mostrasse o por trás e de o como acontece e não só a vivência do casal. Sei lá, tentei hahah agora vou-me indo que estou atrasadíssimas para os trabalhos da faculdade. E um obrigada a Vanessa por betar! Beijos beijos xx @lepanichi

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