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XIX. My universe will never be the same, I’m glad you came


(Glad You Came - The Wanted)

Segunda feira, 20:21 - The Goring Restaurant

:

- Não acredito que a gente já viaja depois de amanhã! - bateu palminhas, animada.
- Nem eu, coleguinha. Tipo, dá pra acreditar? A gente está indo pra Cancún! - abriu um sorriso gigante, os olhos brilhando.
Estávamos jantando no Goring. Era um restaurante tipicamente britânico, com aqueles tapetes no chão, cadeirinhas estofadas, paredes claras e vários lustres. Perfeito para tomar um chá das cinco - com leite, é claro.
Ok, deixe minha mãe me ouvir falando essas coisas. Ela ficaria bem brava.
- Eu acreditei quando a gente comprou aquelas passagens caras. - zoou, tomando sua bebida.
- Tonto. - disse, revirando os olhos. - Ô , foi você quem disse que já tinha ido para lá?
- Foi, sim. - respondi, cortando um pedaço do peixe que comia. - Fui para lá ano passado.
- Ótimo. Você vai nos guiar por toda a cidade, então. - pediu, limpando a boca com o guardanapo.
- Ah, claro. Como se eu fosse uma cidadã que mora lá e conhece tudo. - falei, rindo.
- Como você foi para lá e não lembra das coisas? - perguntou.
- , você mora em Londres, sei lá, desde sempre. Conhece todos os bairros, ruas, shoppings, restaurantes e tudo o mais daqui? - desafiei.
- Erm... - pensou. - Justo, .
- Obrigada. - eu ri, levantando minha taça.
- Eu também já fui para lá. Não garanto que lembro de tudo, mas a gente dá um jeito. Leva GPS, pede informação, essas coisas. - , sentado ao meu lado, sugeriu. - E, comigo e a pensando juntos, é bem menos provável que a gente se perca lá.
- Ah, cara, você é foda. - fez um high five com ele. - Essa viagem promete!
Paraíso tropical, sol, praia, calor...
Oito jovens, ou, se preferir, quatro casais.
e eu.
Mordi o lábio, me esquecendo facilmente de Ian e o modo apaixonado como ele me tratara ontem, no cinema. O modo como ele me beijava toda vez que o casal se beijava no filme, como ele sussurrava coisas fofas em meu ouvido... Na verdade, era bem fácil esquecer de Ian quando ocupava minha cabeça.
Ah, e como essa viagem prometia...

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Pisquei duas vezes, encarando o reflexo do meu corpo coberto - minimamente - pelo biquíni Eres de estampa de tapeçaria.
Abri a porta do provador, em busca de minhas amigas. Não encontrando nenhuma do lado de fora, deduzi que:
a) elas estavam experimentando também;
b) elas estavam procurando peças na loja.
Parei novamente em frente ao espelho, em dúvida sobre o biquíni. Ele não deixava meu quadril meio grande demais? E meus peitos pequenos demais?
Mas que droga, eu preciso de uma opinião!
Levantei o olhar, encarando um novo reflexo no espelho. Um reflexo bem bonito, diga-se de passagem.
- Se me permite dizer, a senhorita está muito linda. - disse o atendente gato refletido no espelho. Virei para ele, tímida. Corei, minha a face vermelha, enquanto eu passava os olhos pelo vendedor. Ele vestia uma bermuda de praia - propositalmente, é claro, já que a loja era de moda praia - e nada na parte - extremamente musculosa, malhada, grande - de cima. Mordi o lábio inferior. Ele era bonito e bronzeado. Cabelos e olhos verdes. Sorriso perfeito.
Gato, gato, gato.
- Se me permite dizer, muito obrigada. - dei um sorriso para ele, que riu. - Acho que levarei este, então.
- Você devia. - ele encostou no provador, cruzando os braços. - Nunca vi ele cair tão bem em alguém.
Ok. É impressão minha ou ele está dando em cima de mim?
- Aposto que você diz isso para todas. - respondi, rindo.
- Na verdade, não. Quero dizer, eu não diria isso para qualquer uma. Mas você ficou realmente muito bem nesse biquíni. - ele sorriu.
Então, tá meio quente aqui, não?
- Você é um ótimo vendedor, senhor...? - indaguei, entrando no provador. Fechei a porta, retirando o biquíni e colocando a calcinha e o sutiã.
- Meu nome é Erik. - ouvi ele dizer. - E a senhorita é...?
- . - falei, colocando minha calça. Recolhi minha blusa, vestindo-a rapidamente.
- Lindo nome. - disse, ao mesmo tempo em que eu abri a porta do provador, devidamente vestida. - E também uma linda menina.
Certo. Ele está mesmo dando em cima de mim.
- Obrigada, Erik. - agradeci, pegando a bolsa Burberry e o cardigã de cashmere do banco do provador. Calcei as sapatilhas Chanel e arrumei o cabelo. - Você viu minhas amigas por aí?
Ele era gato, eu sei. Mas eu já tinha dois gatos na minha vida, e ambos estavam me dando um trabalhão.
Como dizem: um é pouco, dois é bom. Mas três é demais.
- Estão na loja procurando por mais algumas peças. - respondeu, passando a mão pela nuca.
- Ah, sim, obrigada. Acho que vou voltar para lá, então. A gente se vê. - pisquei, virando de costas.
- Ei, ! - ele chamou e eu fechei os olhos. Droga. Virei-me para Erik, sorrindo meio falsamente. - Você não quer, sei lá, sair algum dia desses? Conheço alguns ótimos lu...
- ! - ouvi berrar meu nome. Procurei por ela, encontrando-a no canto oposto ao que eu estava. Salva pelo gongo! - , vem cá! - ela chamou, as mãos segurando inúmeros cabides. e também estavam com ela.
- Desculpe, Erik. - falei, lamentando o fato de ter que dar um fora nele. - Deixa para a próxima. - completei, saindo apressadamente da seção de provadores.
Em alguns segundos, cheguei onde as meninas estavam.
- Nossa, coleguinha, você levou uma eternidade para provar o Eres. - disse, procurando mais biquínis entre os que estavam pendurados.
- Foi mal, gente. O vendedor começou a falar comigo e por isso eu demorei. - falei, passando o cardigã pelos meus ombros e cruzando as mangas dele no meu busto.
- Olha essa que menina ambiciosa. - riu. - Quer três, gente!
- Idiota. - rolei os olhos.
- É aquele ali, pequena ? - apontou discretamente para Erik. Eu confirmei com a cabeça. - Com um daqueles, até eu iria querer!
- Tontas. - eu ri. - Se querem saber, eu o dispensei, ok?
- Olha essa , que menina poderosa. - zoou e todas rimos.
- Vai se foder, . - falei, mostrando o dedo do meio para ela.
- O que vocês acham desse Missoni? - perguntou. Eu fiz um sinal de jóia para ela, ouvindo o Blackberry apitar.
Abri a bolsa, procurando o bendito.
Ah, mensagem nova.

"Onde você está, ? x "

Li rapidamente, respondendo em seguida.

"No shopping, provando biquínis, cabritinho."

"Vou perdoar o cabritinho porque estou com uma bela imagem de você de biquíni na minha cabeça."


Ri alto, atraindo a atenção das meninas.
- Ela endoidou, gente. - sussurrou.
- Babaca. - respondi, rindo.

"Espere até Cancún, ."

Subi o olhar, encontrando Erik. Ele me deu um sorriso tímido, o qual eu retribui.
Aqui vai um fato engraçado: agora, com em minha cabeça, Erik já não me parecia mais tão bonito.

Terça feira, 14:14 - Tesco

:

- Muito Coppertone pra pele branquela do gay. - declarei, passando o braço pela prateleira de protetor solar e derrubando vários exemplares no carrinho de compras.
Estávamos no supermercado, comprando algumas coisas para levar na viagem. Bermudas e afins já havíamos adquirido ontem, no shopping. Depois, encontramos as meninas e jantamos juntos. Hoje, ao acordar, terminei de fazer a mala e, depois de almoçar, fui pra casa do . Ele falou que precisava de mais algumas coisas e viemos para cá.
- Você diz como se fosse o cara mais moreno do mundo, . - mandou um dedo do meio para mim. - Nós somos da mesma cor, babaca.
- Que seja. Protetor para os dois, então. - disse, empurrando o carrinho. - , liga pra e pergunta se as meninas querem alguma coisa daqui.
- Por que pra ? - perguntou .
- Porque as meninas estão na casa dela. Francamente, , você nunca ouve o que a sua namorada diz? - rolou os olhos.
- Ela me ligou muito cedo, pô. Eu ainda tava meio que dormindo. - justificou, dando de ombros.
- Enfim, ligue logo, . - pediu.
- Certo. - respondi, sacando o iPhone do bolso. Vi uma mensagem de Hayley piscar na tela, perguntando "onde eu estava e o que eu faria hoje à noite". Lembrei que não havia contado para ela sobre a viagem ainda...
Bem, digamos que que ela poderia ter um pequeno surto ao saber que íamos, tecnicamente, "em casais".
Droga, por que mesmo ela tinha que ter se apaixonado por mim? E, mais ainda, contar para mim? Agora sempre vou ficar com essa sensação chata de não-quero-te-magoar-ficando-com-outras-mesmo-que- não-sejamos-namorados.
Bufei, resolvendo, por hora, ignorar a mensagem. Eu ligaria para ela e explicaria a situação depois. Agora, vamos ligar para .
Três toques foram necessários antes que a voz dela soasse pelo telefone.
- Diga, meu cabritinho. - falou.
Vocês repararam? Ela disse meu.
- Dizendo assim, parece que você é sei lá, uma fazendeira e eu sou parte do seu rebanho. - chiei. Eu reclamaria eternamente desse apelido. De onde raios ela o tirara, mesmo?
gargalhou, e eu gargalhei também, pelo simples fato da risada dela me querer fazer rir junto.
- Então você é um cabrito bem reclamão. Deve ser velho, ou coisa do tipo. - ela disse, rindo.
- Nossa, , você está super bacana hoje. - falei, empurrando o carrinho.
- Awn, desculpa. Magoei o meu pequeno animal? - perguntou, rindo baixinho.
Mais um meu. Até que estou gostando disso.
- Magoou. Mas vou fingir que você está perdoada, vai. - cedi, pegando várias embalagens de escova de dente e jogando no carrinho. sussurrou "bem lembrado, ".
- Andem logo com isso, casal amigos arco-íris. - zoou . Rolei os olhos e ri, colocando no viva voz. - A propósito, oi, baixinha! Manda um beijo pra minha namorada.
- Amigos arco-íris foi até engraçado, altão. E, não, ligue você pra ela e mande, ué? - ela disse.
- Toma essa, babaca! - sussurrei, mostrando o dedo do meio pra .
- Nossa, obrigado pela ajuda, simpatia. - reclamou.
- Ouch, eu sei. Tô nada legal hoje, né?
- Só hoje? - perguntou.
- Querido , eu, , gostaria de te lembrar que o senhor mora na minha humilde residência. Sendo assim, faça o favor de me respeitar. - ela riu.
- De humilde ela não tem nada, aliás. - observou. Concordei, lembrando da minha primeira reação ao encarar a mansão. - Aliás, oi, . Manda um beijo pra minha namorada.
- Vocês estão achando que eu sou beijo correio? Mandem vocês mesmo, panacas. Hunf. - reclamou.
- Essa é a minha ! - falei, gargalhando. - Isso aí, . Recebe ordem de ninguém, não.
- , dá chocolate pra adoçar a vida e o humor dessa menina, por favor. - pediu.
- Eu já dei uma cesta gigante no Natal. - dei de ombros. - É que ela é uma fera mesmo. - sussurrei.
- A fera ouviu essa, .
- Awn, é brincadeira, . - disse, rindo. - Enfim, liguei para perguntar se vocês ou suas três amiguinhas querem alguma coisa da Tesco.
- Hm... Acho que não, pera aí. - pediu. - Gente! Venham aqui! - berrou e nós tapamos os ouvidos.
- Talvez a gente chegue em Cancún meio surdo. - reclamou.
- Desculpa, gente. - riu. - Vocês querem alguma coisa da Tesco? Não, para, não vou pedir pra eles comprarem isso, ... Escovas de dente? Hm, ok... Pasta de dente? Pode passar com isso pelo aeroporto? Ah, é o México, eles permitem tudo. Ok, brincadeira. Lenços de papel e bronzeador? Fator qual? Ah, certo.
- Fizeram a lista, já? - perguntou, empurrando o carrinho. Fomos atrás.
- Besta. Olha, é o seguinte. Precisamos de escova e pasta de dente...
Vinte minutos depois, com as compras feitas e pagas, fomos embora. Eu ainda tinha uma grande problema a enfrentar no dia de hoje: Hayley.
Mais uma vez, por que ela tinha que ter se apaixonado por mim, mesmo?

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- O que você fez hoje? - perguntou , via Skype.
- Nada demais. - cocei os olhos. - Depois de voltar do mercado, deixamos as coisas no e ficamos lá pela tarde, jogando um pouco de video game.
É claro que eu ocultei a parte da ida na casa de Hayley e do surto dela ao saber que ia na viagem.
- Ah, parece legal. As meninas ficaram aqui a tarde inteira e me ajudaram a finalmente terminar de fazer as malas. - ela riu, prendendo os cabelos em um coque. - Também comemos muita porcaria, mas, não se preocupe, não deixei elas chegarem perto da minha cesta.
- Acho bom mesmo. - falei, rindo. - O que ainda resta nela?
- Os bombons e alguns biscoitos. - ajeitou-se na cama. - Você disse pra Hayley que ia viajar? - perguntou, a expressão facial séria e os olhos atentos.
Droga.
- Disse, sim. - dei de ombros, tentando parecer confortável e casual com o assunto. Mas eu não estava. - E você? Contou ao Ian?
- Contei. Ele aceitou bem. Acho que vai viajar também, ou vai ficar em Londres, não lembro bem...
Será que ela sabia? De Ian e de Hayley?
- Entendi. - passei a mão pelos meus cabelos.
Se ela sabia ou não, não cabia a mim contar, certo? E, de qualquer jeito, acho que o que valia para também valia para ele.
- ? - chamou, bocejando. - Acho que vou dormir... A gente se vê amanhã no aeroporto. Beijos, boa noite!
- Ok, . Boa noite, dorme bem. - fiz um tchau pra câmera do notebook e ela devolveu, sorrindo.
Nós teríamos duas semanas em Cancún, o perfeito paraíso. Vamos aproveitar essa viagem e esquecer de Londres por um tempo, sim?
E, também, de todos os problemas e pessoas que possam estar entre nós dois.

Quarta feira, 04:19 a.m. - Aeroporto de Heathrow

:

- Como eu odeio ser alérgica a cafeína e ser obrigada a ficar acordada por conta própria. - reclamou, coçando os olhos. Fiz uma cara de dó. Realmente, a única coisa que estava me mantendo acordada no momento era o precioso café que eu segurava na mão direita.
Encostei a cabeça no ombro de , que também estava quase dormindo. Meu Deus, de quem foi a brilhante ideia de comprar passagens de madrugada, mesmo?
- Eu ainda mato a por essa ideia maluca de voar tão cedo. - disse, bocejando.
Ah, sim, da . Valeu aí, coleguinha.
- E aquela doida nem aqui está ainda! - observou, revirando a mala de mão Sirius 55 by Louis Vuitton. - Ah, achei. - falou, retirando o iPhone branco da mesma.
- Seria realmente bom se ela chegasse logo. - falou. - Assim como .
- Pois é. - falei, sonolenta. - Eles estão mesmo sabendo que nosso voo é daqui quarenta minutos, certo?
- Eu mandei mensagens avisando. - disse, levantando da poltrona. - Faz assim, priminha. Eu ligo para a e você liga para o .
- Por que não o contrário? - perguntei.
- Casal com casal. - respondeu, mostrando a língua. Rolei os olhos e ri, caçando o Blackberry em minha Carryall.
Disquei o número dele, colocando o aparelho no ouvido. Dois toques depois, uma voz sonolenta me atendeu.
- Oi, . - falou, quase sussurrando.
- Bom dia, . Onde você tá? A gente sai em quarenta minutos!
- Eu sei, eu sei, desculpe. Parei pra comer alguma coisa e me atrasei. Chego aí em uns cinco minutos.
- É pra acreditar mesmo, ?
- Eu nunca minto para você, minha .

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- e no 2A e 2B. e em 3A e 3B. e , 4A e 4B. Eu e o somos no 5A e no 5B. - disse, apontando para os nossos assentos.
Estávamos dentro da primeira classe do voo 6598, com destino a Cancún. Não faríamos escala em nenhum lugar e o voo demoraria cerca de cinco horas. As aeromoças da United Airlines, até agora, tinham se mostrado muito simpáticas, embora eu tenha torcido o nariz para a cara de pervertido que fizera quando uma delas derrubou uma caneta e se agachou para pegá-la.
Homens... Por que tão assim? Quero dizer, quando é que algum deles iria se mostrar inusitado, diferente? Quando é que algum deles iria realmente me surpreender?

Quarta feira, 03:47 a.m. - poltronas 2A e 2B

:

- O que você tem, ? - perguntei, reparando no quão quieta ela estava. mantinha o cotovelo apoiado no braço da poltrona, enquanto sua mão sustentava o queixo e ela olhava diretamente para a janela do avião.
- Nada. - respondeu, monossilábica. estava estranha desde o começo da viagem.
- Por favor, fale comigo. Não gosto de aviões. - pedi, praticamente implorando.
- Tudo bem. - ela murmurou, virando-se para mim. - Desculpe, . - sorriu fraco.
- Eu fiz alguma coisa? - perguntei, minha mão pousando na cintura dela.
- Não. Não foi você. - sussurrou. - Tá tudo bem.
- De verdade? - indaguei, levantando uma sobrancelha.
Talvez o nosso "de verdade" fosse um pacto. Um pacto silencioso. Desde a primeira vez que eu usara e adquirira a ideia, ele havia sido bastante útil. Era como se quando um de nós perguntasse isso, o outro tinha que responder a plena verdade.
- Não. - ela mordeu o lábio e eu apertei a cintura dela, reconfortando-a. - Mas eu não quero falar disso, ...
- Tudo bem. - respondi, aproximando-me dela. - Mas saiba que eu tô aqui, ok? Pra tudo que você precisar, . - fiz carinho no rosto dela.
- Ok. - ela sorriu. - Agora, vai, me divirta.
- Hm... - pensei, passando os olhos pelo avião. Meu relógio escorregara para fora do moletom que eu usava, me fazendo lembrar de algo curioso. - Olha só, sabia que, tecnicamente, nós acabamos de voltar no tempo?
- Por que? - perguntou, a expressão facial confusa.
- Porque a gente saiu de Londres, que abriga o meridiano de Greenwich, certo? - indaguei e ela concordou. - É o primeiro fuso horário, o 0º. O planeta é dividido a partir dele, sendo que as horas são somadas ou subtraídas, conforme a localização dos fusos. Cancún fica à esquerda de Greenwich, então as horas são subtraídas. Isso quer dizer que, muito, muito tecnicamente, a gente "volta" no tempo. Mesmo que só no relógio, a gente voltou. Quantas horas eu não sei, mas...
- Você sabia que, mesmo sem saber, acabou de realizar mais um dos desejos da minha lista? - me interrompeu, sorrindo.
- Você está falando sério? - perguntei, meio abobado.
- Seríssimo. - ela sorriu mais ainda, o rosto iluminado. Eu abri um sorriso também, puxando-a para perto de mim. - Você se lembra dela?
- É claro que sim. Mando agradecimentos até hoje àquele seu pedido genial do beijo.
- Idiota. - xingou, rolando os olhos. - E, naquele dia, você me ajudou com dois deles, lembra?
- Claro que sim. O beijo e o medo de altura. - eu sorri e ela concordou. - E algum dia você ainda vai me contar os três que faltam, para que eu possa finalizar todos eles? - pedi, meu rosto quase colado no dela.
- Algum dia. - ela prometeu, a voz baixinha.
- De verdade? - perguntei, fixando meus olhos nos dela.
- De verdade. - respondeu, selando sua boca na minha.


XX. And there is no stopping us right now, I feel so close to you right now


(Feel So Close - Calvin Harris)

Terça feira, 23:22 - Aeroporto Internacional de Cancún

:

- Alguém, por favor, me explica: por que meu celular teima em dizer que hoje é terça feira? - perguntou , o braço esquerdo esticado e mostrando a data e o horário do iPhone.
- Porque é, oras. - respondeu, dando de ombros.
- Tá sofrendo de jet lag, ? - perguntou, rindo. - Olha, o meu celular também tá dizendo isso, . - ele apontou para o aparelho, com o rosto confuso.
- Eu não. Mas vocês, aparentemente, se esqueceram dele. - riu, e fizeram uma cara de confusão. - Voltamos seis horas no tempo, seus manés. Saímos de Londres às 5 da manhã da quarta e chegamos aqui em Cancún hoje, na terça, às 11 da noite.
- Ah! - e exclamaram, num tom de compreensão.
- Então, tecnicamente, voltamos no tempo? - perguntou .
- Isso mesmo! - Eu disse, animada.
Não era legal? E, de bônus, eu ainda havia eliminado mais um desejo da lista. E eu não teria sequer percebido se não tivesse me contado isso no avião.
Ele já havia realizado três dos dez. E eu estava gostando dele cada vez mais.
- Que bacana! - disse, extasiada.
- Todo mundo já pegou as malas? - perguntou , e nós sete concordamos com a cabeça. - Ótimo, agora vamos para o ponto de táxi.
- Certo. - falei, puxando minha mala pela alça e indo atrás de e .
- Quer ajuda, ? - perguntou.
- Não precisa, . Obrigada. - Sorri. Eu havia trazido pouca bagagem, só uma mala grande e uma de mão. - Mas, se quiser me acompanhar, fique à vontade.
- Isso é óbvio. Eu vou te acompanhar nessa viagem inteira. - ele falou, me dando um beijo na testa.
Alarguei meu sorriso.
- Acho bom. - falei baixinho, mirando os olhos dele.
Caminhamos até o ponto de táxi, externo ao aeroporto. Paramos, enquanto tentava pedir um.
- Quantos de nós fala espanhol, mesmo? - perguntou .
- Eu. - levantei a mão.
- Eu também. - levantou a dele. Eu uni o cenho. Sério mesmo? - Sua cara de surpresa quase me ofende, cabritinha.
Rolei os olhos e ri, pedindo desculpas.
- Eu sei um pouco, mas não garanto nada. - falou.
- Sou igual a . - deu de ombros. - Falo um pouco, mas deve dar.
- Ok, vamos fazer assim, então. Meninas em um táxi, meninos no outro. Como a e o são os únicos que falam de verdade e que também já vieram pra cá, a gente não corre o risco de se perder, nem de ser enganado pelos taxistas. - sugeriu.
- De acordo. - assenti.
- Caramba, que calor. - disse, retirando o casaco. - Em Londres tava frio pra caralho, mas aqui tá, tipo, escaldante. - reclamou, jogando o moletom em cima da mala.
- Bem vindo ao meu clima tropical. - falei, rindo. Retirei o meu casaco também, porque ele tinha razão, tava um calor de rachar.
- Acho que vou gostar desse calor quando a gente estiver em praias, e tal. - disse , prendendo os cabelos em um coque.
- Pessoal, estamos em Cancún! Dá pra acreditar? - bateu palminhas.
- Dá, sim, a gente chegou faz meia hora. - falou, rindo. mostrou o dedo do meio para , cruzando os braços.
- Galera, consegui os táxis! - berrou, as mãos apontando para dois carros amarelos parados em nossa frente. - Venham aqui!

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Quarta feira, 09:39 a.m. - quarto 155 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

- Acorda, vaquinha! - berrou, jogando-se na minha cama. Eu resmunguei, meus olhos ainda fechados.
- Sai, sai. - pedi, empurrando-a da cama e me virando de lado. Fala sério, ainda era de madrugada. Não era? - Me deixa dormir.
- Credo, . - disse . Cocei os olhos, sonolenta. Mas que merda, agora ela já tinha me acordado! Não conseguiria voltar ao sono. - Tudo bem, já que você não vai acordar assim, espero que goste dos maravilhosos raios de sol do México.
- Oi? Como ass...
AH! Maldita! Aquela vaca abriu as cortinas! Puta que pariu, puta que pariu. Dor nos olhos, dor de cabeça, ah meu Deus.
- Bom dia, pequena miss sunshine. - riu. Eu bufei, minha mão tapando meus olhos. Um forte jato de luz atravessava a janela do nosso quarto. - E trate de se aprontar logo, tá um lindo dia lá fora.
- Te odeio! - Falei, me levantando da confortável cama com lençóis de fio egípcio, e indo em direção ao banheiro.
- Isso é mentira. - sentou-se na cama, rindo. - Você sabe que me ama.

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Quarta feira, 10:41 a.m. - Isla Mujeres

Por favor, me lembre de agradecer infinitamente a por ter me acordado cedo. Esse sol está nada mais do que perfeito.
Depois do meu mau humor matinal, descemos para tomar o café - maravilhoso, por sinal. Aliás, estou gostando cada vez mais desse hotel. Tem até uma Starbucks dentro dele! - e viemos para a praia. Os meninos chegaram depois, com uma tremenda cara de sono. Vieram com roupas leves, como as nossas, retirando as camisas rapidamente.
Foi a segunda vez que eu vi o sem camisa. Quero dizer, a primeira foi quando as coisas saíram um pouco do controle, lá em casa - ainda não sei o que teria acontecido se a minha mãe não tivesse chegado -. Mas a visão do abdômen dele me causou a mesma coisa em que a primeira vez.
Só uma consideração: todos os meninos deveriam praticar futebol. Ou qualquer coisa que ele fazia para ter aqueles músculos.
"Hm... ?" foi o que ele disse depois de perceber os meus bons dois minutos babando por ele. "Tudo bem, também achei muito boa uma visão sua de biquíni", ele continuou. E depois piscou. E saiu, rindo à toa.
Só não levou com ele aquele cheiro de 212. Mas tudo bem.
- São nesses momentos que eu penso seriamente em fazer faculdade no litoral. - disse , ajeitando os óculos escuros aviador Ray Ban.
- América, baby. - falei, rindo. - Não tem litoral no mundo como esse.
- Sua vida no Brasil devia ser ótima, né, ? - perguntou , virando o olhar para mim. - Você não sente falta?
- Sente nada. - disse . - Ela tem a gente aqui. E o, bem, cabritinho. - completou, arrancando risadas das meninas. Revirei os olhos, mexendo no meu chapéu panamá.
- Tontas. - xinguei, rindo também. - Falando nisso, cadê eles?
- Cadê eles ou cadê ele, pequena ? - zombou . - Acho que eles estão ali... - ela disse, apontando para um canto.
- QUEM É AQUELA PIRANHA? - exclamou , os olhos estreitos e a face indignada diante da bela cena que víamos. Mas não era bela. Era vergonhosa. e escorados no bar da praia e acompanhados por duas meninas: uma loira e uma morena. A loira estava com a mão no braço de , e - ops - sem querer, querendo, a deslizara para o abdômen dele. - AH MEU DEUS! VOU VOAR NO PESCOÇO DELA! - esbravejou com o rosto vermelho. - Puta que pariu, me segurem!
- Ah meu Deus, ah meu Deus. Calma, , calma. - pediu, segurando o braço dela.
- Calma o caralho! Olha o rosto dele. Olha esse sorrisinho estúpido! - disse , muito brava. Apontou para a cena e depois bufou. - Esse filho da puta está gostando da situação!
Não era uma boa hora para pedir que ela não ofendesse tia Rebecca, né?
Ok, totalmente não. Voltei os olhos para a cena.
EI, MAS QUE MERDA É ESSA? A MORENA, ELA ESTÁ ABRAÇANDO O !
- AH NÃO! - falei, meio alto demais. Opa. - , topa ir para lá cortar as asinhas dos nossos homens?
- Você notou? Ela chamou o de homem dela. - sussurrou para . As duas riram. Mandei um dedo do meio para ambas, revirando os olhos.
- Tô sendo solidária com a minha amiga, ok? É para o bem dela. - falei, puxando o braço de . - Vamos!
- Sim, vamos! - ela me deu o braço.
- Tudo bem. Enquanto isso, eu e a vamos procurar os nossos, ok? - disse. - Vem, amiga! - puxou o braço de e saíram.
- Escuta, como vamos fazer isso? - perguntou, enquanto andávamos em direção aos meninos (desnecessário dizer que eles nem haviam percebido. Aquele sorrisinho idiota dos dois falava tudo). - A cena, eu quero dizer?
- Não sei bem... porque você tem todo o direito de fazer uma cena, já que é seu namorado. Mas o , ele não é o meu e... - falei, percebendo o quão estúpida eu era por estar com... ciúmes.
- Deixa disso, . O é seu e todo mundo sabe. - ela disse. - Agora, eu sugiro que a gente chegue lá e, simplesmente, sem dizer nada, tasquemos um beijo neles. Quero dizer, você beija o e eu o , claro.
- Hm... pode ser. - respondi, rindo. Isso seria divertido.
- Ou a gente podia armar o maior barraco, que tal? - sugeriu , com a expressão de quem queria aprontar. Isso também seria divertido.
O caminho até o bar era meio longo, e, enquanto passávamos, observei que olhares de vários meninos nos acompanhavam.
Vários meninos bonitos, aliás. Tipo, muito bonitos. Bronzeados e sarados. Ah, meu pai.
Resolvi confiar nas palavras de Erik, segundo o qual "esse biquíni caía realmente bem em mim". Então, sorrindo, eu pensei: por que não?.
- Tenho uma ideia melhor. - respondi, chamando dois garotos aleatórios com a mão. me olhou interrogativamente, mas depois compreendeu e sorriu maliciosamente.
- Ah, menina, você é má. - riu. - Mas é genial. - ela completou, no instante em que os meninos chegaram até nós.
- Oi! Vocês falam inglês? - perguntei, esperançosa. Por favor, digam que sim, digam que sim.
Meu Deus, eles eram lindos. Muito lindos.
- Mesmo que não falássemos, faríamos um esforço por vocês duas. - um deles sorriu. E, caramba, esse vai para a lista top 10 melhores sorrisos já lançados para mim. Adorei o jeito como os cabelos pretos dele eram enrolados e olhos verdes faiscantes. E como ele não usa nenhuma aliança. - Meu nome é Frank. Esse aqui é o Mitch. - ele apontou para si e depois para o amigo igualmente gato. Mas esse era ruivo; e os olhos, azuis.
- Prazer em conhecê-las, meninas. - Mitch estendeu a mão para gente, assim como Frank. Nenhuma aliança também. Mordi o lábio. - De onde são?
- Londres. - sorri. - Meu nome é , essa aqui é a .
- Olá. - disse, piscando uma vez. Depois, abriu um sorriso perfeito, completamente encantadora.
Ninguém segura uma mulher vingativa. Absolutamente ninguém.
- E vocês, de onde são? - perguntei.
- Nova York. - respondeu Mitch, coçando a nuca.
- Adoro sua cidade. - falou.
- Sim, mas é como dizem: não há nada como Londres... - Frank sorriu. - E, talvez, como as mulheres de lá. - falou, passando os grandes olhos verdes por nós duas.
A gente riu. Porque, sabe, não há outro jeito de reagir quando dois gatos nova-iorquinos não param de te cantar.
Talvez até haja, mas estávamos meio bobas demais. Talvez fosse por causa do sol. Ou, quem sabe, por causa dos belos cromossomos Y parados à nossa frente.
- Então, eu tô com bastante sede. - arrisquei, passando a mão pelo meu cabelo. Os dois nos olhavam atentamente. - E você, ?
- Eu também, . - ela respondeu, passando a língua pelos lábios. - Que tal vocês dois nos acompanharem até o bar?
- Você não poderia ter sugerido algo melhor, . - Mitch respondeu, entrelaçando o braço no de . Frank concordou e fez o mesmo comigo.
Mordi o lábio novamente. Ele lançou outro daquele sorriso top 10 e se aproximou do meu ouvido.
- E eu? Posso te chamar de , como a sua amiga? - perguntou, seu combo de beleza, bronzeado, barriga tanquinho, perfume masculino, voz aveludada e olhos verdes me intoxicando por completo.
Ah, meu Deus. Você pode me chamar do que quiser.

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Quarta feira, 11:55 a.m. - quarto 155 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

Mais uma batida na porta. E outra. E mais uma.
Olhei para , que bufou. Eu rolei os olhos, aumentando o volume do meu headphone Beats. colocou um travesseiro na cara, tentando ignorar os incessantes ", abre a porta" e ", eu sei que você está aí".
Estava assim há cerca de meia hora.
- Mas que merda! Não aguento mais! - ela disse, tirando o travesseiro da cara. Cedi, arrancando meu Beats. - , vamos nos trancar no banheiro, ou algo assim? - pediu, quase suplicando.
- Ainda ouviríamos as batidas. Só num tom mais baixo. - murmurei. - Vamos abrir, vai.
- Ah, mas que droga. Abre só para o , e eu saio. Eu realmente não quero olhar pra cara do nesse momento. - Disse . Eu concordei com a cabeça. - Vou para o meu quarto. Boa sorte, pequena .
- Obrigada. - Falei, sentando-me na cama. Ela sorriu de leve e abriu a porta, eu pude ouvir um audível "Não quero falar com você, . Não, eu não sei quando a gente vai se falar de novo. Agora, saia da minha frente, antes que eu me estresse de verdade".
Depois houve um click e a porta se fechou. Fiz menção de pegar o Beats novamente, mas ele foi mais rápido, recolhendo-o e jogando-o longe.
- Pode deixar de criancice e conversar comigo, ? - pediu , sentando-se ao meu lado. - Olha há quanto tempo eu tô te chamando!
- Você não precisava ter ficado todo esse tempo, na verdade. - sorri, cínica. - Podia ter, sei lá, voltado para a praia e aproveitado para pegar mais algumas morenas plastificadas.
- Meu Deus... - levou as mãos a cabeça, a expressão confusa. - Não sei se acho bom ou ruim o fato de você estar cheia de ciúmes.
- , o que a sua morena plastificada te deu para beber? - perguntei, sorrindo falsamente. Ele uniu as sobrancelhas, confuso. - Só para o caso de você estar ficando maluco. Porque, sabe, eu não estou com ciúmes.
- Jura? Então me diz por que raios você surgiu agarrada com aquele Frank-sei-lá-o-que e pediu, ironicamente, para eu apresentar minhas novas amigas a você? - ele perguntou, o rosto se aproximando muito do meu. Mais alguns centímetros e eu já estaria perdida, eu sei.
- O nome dele é Frank, não precisa do "sei-lá-o-que". E só achei que você deveria ser educado e apresentar suas pretendentes pra gente. Sei lá, a gente pode virar amiga e tal. - dei de ombros. - Talvez eu até diga pra ela que aquela sandália de verão da Manolo Blahnik não era original, e que também é de uma coleção super ultrapassada.
- Não é como se eu fosse me importar com as sandálias dela quando a gente estivesse, sabe como é... - ele riu, cínico.
- Sai do meu quarto. Agora. - Apontei para porta, completamente irada. Mordi minha boca muito forte, meus olhos fechados. - Eu não sou obrigada a aguentar você dizendo essas coisas pra mim. E, francamente, , quem é que está sendo criança, agora, hein? - perguntei, levantando-me da cama e marchando em direção ao banheiro.
- Merda. - ele sussurrou, levantando-se também. Olhei para ele, por dois milésimos de segundo, antes de fechar a porta. Mas ele foi mais rápido.
É claro que ele foi. Droga. Seus braços seguravam a porta, e todos aqueles músculos ridículos dele eram muito mais fortes do que eu.
- Vai embora. - pedi, quase suplicando. - Eu não quero você aqui, seu idiota.
Eu não me importava com ele. E não precisava dele, não é?
Então por que eu queria chorar agora?
- Mas eu quero ficar aqui, sua idiota. - murmurou, pressionando a porta contra mim. Ela finalmente se abriu e ele adentrou o banheiro. Encostei-me na parede e ele trancou o cômodo.
Sentei-me no chão e virei o rosto para o lado, mordendo o lábio para não chorar. Mas.Que.Merda.
Ele veio até mim e se sentou ao meu lado. Tentei me encolher, olhando para qualquer direção que não fosse a daqueles estúpidos olhos . pegou a minha mão e, apesar de estar com uma puta raiva dele, não consegui impedí-lo.
- Me desculpa. - disse, baixinho. Direcionei meu olhar para ao dele, que parecia arrependido. - Por bater no Frank-sei-lá-o-que, por ficar bravo com você e também por dizer aquilo sobre a menina. Acho que, no fim, eu também estava com ciúmes de você.
Vocês ouviram? Ele estava com ciúmes de mim!
De repente, todo o ódio que eu senti dele se foi. estar ali comigo era mais importante do que essa briga.
Muito mais do que já quis alguém, eu o queria ali, comigo.
- O nome dele é só Frank. - sussurrei, encostando meu nariz no dele. Mirei seus olhos , aproximando-me de sua boca. - E eu te desculpo. De verdade.
Colamos nossos lábios, dando início a um beijo calmo. Quer dizer, só no começo, porque, depois de alguns minutos, as mãos de foram parar debaixo da minha blusa, fazendo carinho na minha cintura, enquanto as minhas foram para debaixo da dele, arranhando suas costas.
Mas foi só isso. Aí a gente parou, porque não seria legal se ele desamarrasse o meu biquíni e a gente fizesse algo louco e imprudente.
Mentira. Seria até legal. Só não seria prudente, como eu disse.
- Você realmente não sabe brigar, cabritinho. - falei, minha cabeça recostada no peito dele.
- Não é como se eu quisesse brigar com você, .

Quinta feira, 20:06 - quarto 157 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

:

"Jogador um, Full House!"
- Você tá no quarto só com a ? - perguntei pra . A gente estava no meu quarto - que eu dividia com - jogando video game. Porque, além de gigante, super decorado, comida maravilhosa e cinco estrelas, esse hotel também tinha um Xbox em cada quarto.
E, para não esquecer o fato de estarmos no México, todos os quartos possuíam um mini bar (que não tinha nada de mini, na verdade) repleto de tequila. E outras bebidas também.
Tipo, fala sério. Quase tão bom aqui dentro como lá fora.
- Sim, sim. - ela falou, os olhos atentos no Full House Poker que a gente jogava. - E, se você perder agora, vai ter que aceitar qualquer desafio que eu propor.
- Caia matando. - respondi, rindo.
Cara, ela era muito boa no poker. Muito boa. Se, ao menos, eu tivesse proposto um strip poker...
Quinze minutos depois, um resultado: eu havia perdido.
E, agora, ela ia me propor um desafio. Mordi o lábio, receoso. O que será que ela faria comigo?
- E então... - ela começou, os lábios rindo divertido.
- E então... - continuei, sorrindo.
Ela riu e rolou os olhos, parando-os no mini bar do quarto.
Então, sorriu maliciosa.
- Aquilo.

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- Minha cabeça tá gi-ran-do. - disse, o sorriso bobo alargando seu rosto enquanto ela pulava na cama ao som de Feel So Close, do Calvin Harris. - A sua não está? - perguntou, rindo alto.
É isso aí. Totalmente bêbada.
Depois que eu perdi no desafio, me propusera tomar a garrafa toda de tequila - que estava na metade -. Eu até tentei, mas ela sempre acabava pegando um pouco. No final, ela acabou mais bêbada do que eu.
Não que eu estivesse reclamando. Quero dizer, meninas bêbadas são sempre muito interessantes.
Após muito limão e sal, álcool etílico, beijos, amassos e descoberta de uma rádio com músicas bacanas, acabamos bastante alterados.
- Mais ou menos. - Respondi, rindo ao ver o quanto ela se divertia. E pulava. Alto. Mais alto. - , cuidado para não ca...
E ploft. Ela tinha caído. Mas, por sorte, em cima da cama.
- Cair? - perguntou, rindo histericamente. - , você é tão engraçado.
- Eu sou? - Deitei-me na cama, ao lado dela. Sorri. - E por que?
- Ah, sei lá... - devolveu, virando-se ao meu lado. Meu olhar foi de encontro ao dela. E a gente estava muito perto. - Vamos conversar?
- , nós já estamos conversando. - falei, rindo baixinho. Ela revirou os olhos.
- Eu sei. Então vamos continuar conversando?
- Vamos, sim. - respondi. - Sobre o que você quer falar, ?
- Você sabia que, além da minha mãe, é a única pessoa que me chama assim?
- Aham. - confirmei. - Você me disse isso no dia em que a gente se conheceu.
- Ah! - Ela sorriu. - O dia em que a gente se conheceu...
- Parece que faz tanto tempo, não é? - perguntei.
- Parece, sim. E faz, sei lá, três meses?
- Mais ou menos isso. - Ri. - Eu gostei de você assim que te vi.
- Gostou de mim ou da minha camisola? - ela perguntou. - Sim, , eu percebi seus olhares indiscretos pras minhas pernas, viu?
Uau. Memória rápida. Reflexos rápidos.
Achei que ela estivesse bêbada, pô!
- Ambos. - Respondi, puxando-a pela cintura. - E você, gostou de mim assim que me viu?
- Na verdade, não muito. - ela passou a mão pelo meu rosto.
Franzi o cenho.
- Não? Por que não?
- Porque você me pareceu igual a todos os outros homens. Você olhou para as minhas pernas antes de olhar para o meu rosto. - Ela falou, franca. - E o que eu quero, , é alguém diferente. Alguém surpreendente. A monotonia e a mesmice cansam, não cansam?
Abri a boca, meio sem saber o que falar depois dessa declaração.
Certo. Acho que o efeito do álcool passou. Ela me parece muito, mas muito sóbria.
- Eu não olhei pras suas pernas antes de olhar para o seu rosto. - Disse. Sim, isso foi tudo que o meu não tão brilhante cérebro conseguiu formular.
- Não? - ela perguntou, arqueando sua sobrancelha. - Então prove.
- Eu me lembro muito bem da cara que você fez quando viu eu e o na sua casa. - Respondi.
Isso provava muita coisa?
- Imite. - desafiou.
- Ah, ... A minha palavra não é suficiente? Eu estou dizendo que não olhei pro seu corpo antes de olhar para o seu rosto. - girei meu corpo, encarando o teto. - Isso não basta?
- Tudo bem. - ela falou, tão baixo que eu mal pude ouvir.
- Eu não teria por que fazer isso, sabe? - Sussurrei. - Você é linda. - Mirei o rosto dela. - Não só seu corpo, o seu rosto, as suas pernas... Você tem um jeito muito único, é diferente das outras... Sei lá, , isso não é suficiente? Não importa pra o que eu olhei primeiro, o importante é que eu te olhei.
Os olhos dela estavam brilhando; as bochechas, coradas. Isso era bom ou ruim?
Vamos, por favor, que seja bom.
- Isso é o suficiente. - Ela respondeu, chegando perto de mim. Aquela cama estava estranhamente quente. - De verdade.
- Obrigado. - falei, observando-a encostar a cabeça em meu peito. Alcancei o cabelo dela, fazendo carinho. - E um dia eu vou te provar que sou diferente também. Um dia, minha , eu vou te surpreender.


XXI. You are my only one


(Only One - Yellowcard)

Sábado, 10:01 - quarto 155 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

:

- Esse está bom, gatinha? - perguntou , em frente ao grande espelho circular do nosso quarto. Passaram-se dois dias desde a minha semibriga com . Dois dias que ele havia sido tão estranhamente carinhoso comigo, que estava realmente difícil de acreditar no lance da "não exclusividade".
Será que ele tratava a Hayley do mesmo jeito que me tratava? Quero dizer, cheio de apelidos para lá, carinhos para cá... Será mesmo?
É errado eu querer ele assim só comigo?
Meu Deus, eu preciso mesmo parar de me fazer perguntas.
- Alô? - estalava os dedos na minha cara. - Cancún chamando , amiga com dificuldades no biquíni chamando !
- Ah, oi! - falei, rindo e saindo do meu microcosmo. - Diz aí, colega.
- Por que não posso ficar tão fabulosa quanto a Alessandra Ambrósio nesse biquíni da Victoria's Secret? - ela perguntou, encarando seu reflexo em frente ao espelho.
- Para com isso, . - falei, revirando os olhos. - Você está linda, o vai adorar.
- Deve ser porque não sou brasileira. Aliás, que genética a do seu povo, hein? - falou, completamente ignorando meu elogio.
- Seria bom se eu, ao menos, tivesse recebido essa tal genética. - respondi, rindo. - Deixa de neura, vai?
- Ai, mas que droga. - ela disse, me ignorando novamente. - Acho que vou trocar.
- ! Para com isso! - falei, me jogando na cama. - Esse daí está ótimo.
- Não está nada. Aliás, cadê aquele meu da Eres? - perguntou, agachando para revirar a mala. Ah, meu Deus. Vamos lá, nada como esperar mais quinze minutos pra ajudar uma amiga.
Fechei os olhos, tendo flashes da noite de ontem. Nós havíamos saído para jantar em um restaurante mexicano - que, logicamente, era algo que não faltava aqui - e depois fomos para a praia. Sabe quando você pode dizer, com clareza, que teve um dos melhores dias da sua vida? Eu, com certeza, posso dizer que ontem foi um deles. Não tinha me tocado do quanto essa viagem me faria bem até a noite passada. Mas quer saber? Essa viagem nunca teria acontecido se, antes de vir a Cancún, eu não tivesse ido a Londres. E, por isso, tenho que agradecer aos meus pais. Acho que o que eu tenho com meus amigos pode ser realmente o começo de algo muito bom.
E espero que com também!
E pensar que há três meses eu abominava a ideia de morar na fria Inglaterra...
- Você não está sendo uma boa amiga, menor. - abri os olhos ao ouvir a voz de . Ela estava posta à minha frente com as duas mãos na cintura e uma cara insatisfeita.
Opa.
- Ah, me desculpa, vaquinha. - falei enquanto me levantava da cama. - Fale.
- E quanto a esse? - perguntou, apontando para o corpo vestido em um bonito biquíni verde água.
- , que lindo! - respondi, sincera. - Você tem que usar esse, estou falando super sério.
- Ótimo, também gostei! - ela bateu palminhas, como de costume. Pegou a blusa e os shorts, vestindo-os. - Vamos, então?
- Vamos. - eu disse, recolhendo minha bolsa de praia Chanel Cabas Ete da cama.

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Sábado, 11:52 - Playa Delfines, Cancún

- Sem chances. - respondi para , revirando os olhos e o empurrando da cadeira.
A fala anterior dele? "Você está linda nesse biquíni, mas acho que ficaria ainda melhor sem a parte de cima".
- Poxa vida, . É costume em muitos países, sabia? - perguntou, sorrindo malandro.
- Não é no país de onde eu vim. Nem no que eu moro. E muito menos no que eu estou agora. - sorri, tirando meu Ray Ban. fez um beicinho. Eu até ficaria com dó, mas, nessa situação, não mesmo. - E vai passar um protetor solar antes que fique mais vermelho do que essas pimentas daqui.
- Eu vou. Mas só porque não quero ficar ardendo quando você me tocar. Especialmente porque vamos sair hoje à noite. - ele disse, me dando um selinho rápido. - Você tem protetor?
- Tenho, tá dentro da minha bolsa. - respondi, vendo-o se sentar ao meu lado e recolher a Cabas Ete. - E quanto a esse negócio de sair... A gente vai mesmo?
- Sim, nós vamos. - disse, encontrando o Coppertone. Ele me passou o protetor e retirou a camiseta. Comecei a passar o produto no corpo dele. - Todos os outros casais vão. Só que separados, cada um pra um lugar. Pensei em te levar também, sabe? Já que a preferiu o gay ao invés de mim...
- Ah, é? Sou sua última opção, ? - perguntei, lambuzando a cara dele com Coppertone.
- Ei! - reclamou, me puxando para perto dele e esfregando o rosto em mim. - É só brincadeira, minha . Eu te escolheria, sempre. - completou, me beijando.
- Bom mesmo. - falei quando partimos o beijo. - E então, aonde o senhor me levará?
- Bom, isso é surpresa, senhorita. Use um vestido e um salto. - respondeu, espalhando o resto de protetor que eu havia deixado.
- Tudo bem, então. - dei de ombros, dando um beijo no pescoço dele.
- Certo. Vou te deixar tomar sol agora. - falou, se levantando da cadeira. - Vê se dispensa esses homens que ficam te olhando, tá?
- Por que? Você tá com ciúmes? - provoquei.
- Não preciso disso, eu me garanto. - respondeu. - Só estou dizendo pelo seu bem.
- Ok, . - rolei os olhos. - Vai lá com os meninos e manda as meninas virem aqui, por favor.
Ele me deu um último selinho e saiu. Ajeitei meu chapéu, os óculos de sol e me deitei na cadeira, fechando os olhos.
Eu não tinha ouvido errado, não é? Ele disse que todos os outros casais sairiam. Isso implicava que eu e ele também erámos um. Ou será que eu estava delirando?
E por que raios meu coração está insistindo em bater tão rápido agora?
Certo. Eu realmente preciso parar com essas perguntas. Mais do que isso, eu preciso de respostas.

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Sábado, 18:40 - quarto 155 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

Não. Na verdade, eu preciso é de um par de sapatos novos.
Saco, saco, saco. Por que, raios, todas as meninas combinaram de sair à tarde e me deixaram sozinha, mesmo? Quero dizer, eu sempre as ajudo quando elas têm problemas com as roupas! Por que elas não estão aqui para me ajudar também?
Acho que é porque eu geralmente não tenho problemas com elas.
Ok. Justo. Mas agora estou tendo. E um dos grandes.
Puta que pariu, eu pareço assim tão gorda nesse Dior? E ninguém nunca me falou?
Ah, não! Agora, além de sapatos, eu também preciso de vestidos novos!
Bufei, arrancando o vestido de qualquer jeito, e o joguei na cama da . Ali estava eu, em crise com roupas, enquanto faltava menos de meia hora para o passar. Ótimo. Genial.
Abri minha mala novamente, me sentei e cruzei as pernas.
Concentração, . Você consegue. Você vai ficar linda, gata e gostosa e o vai querer você, só você.
Ah, meu Deus. Então agora eu também tô ficando retardada. É o fim.

Sábado, 18:47 - quarto 160 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

:

Quão gay era eu estar tendo dificuldades para me vestir?
Em uma escala de 0 a 10, eu diria um milhão.
, seu maricas. Vamos lá, vai dar tudo certo.
Ela gosta de azul claro, não é? Gosta, sim. Lembro dela falando isso. Então tá certo. Camisa azul, calça preta e blazer preto. Ou seria melhor um blazer de outra cor? Mais claro, talvez?
Porra, pare de ser tão boiola, . Assim está ótimo. Ela vai gostar.
Fechei os olhos, inspirei uma grande quantidade de ar e o soltei pela boca. Abri os olhos. Certo. Vai dar tudo certo.
Me vesti em poucos minutos, ficando satisfeito com o resultado. Parei em frente ao espelho para ajeitar o cabelo e calcei os sapatos. Notei que minhas mãos estavam suadas de tanto nervosismo. Fui ao banheiro e as lavei, aproveitando para passar bastante 212.
Isso. Do jeito que a gosta.
Escovei os dentes mais uma vez, só pelo medo de estar com mau hálito. Olhei para o relógio em meu pulso, já estava na hora.
Saí do banheiro em direção à cama, recolhendo a carteira e o celular. Teríamos que ir de táxi, já que meu carro estava, logicamente, em Londres. Aproveitei para já chamá-lo.
Finalizei a ligação depois de ter arranhado pra caramba no espanhol, mas acho que o taxista entendeu. Quero dizer, espero que ele tenha entendido. Passei novamente pelo espelho e arrumei ainda mais o cabelo.
Enviei uma mensagem de "Estou indo" à . Segundos depois, recebi a resposta: "De verdade? Haha". Ri com a piada, desligando as luzes do quarto. Abri a porta e saí, tentando parecer tranquilo, enquanto estava, na verdade, quase vomitando de nervoso.
Dois minutos se passaram até eu chegar no quarto 155. Bati na porta.
Ouvi um clique. saiu. Passou os olhos por mim até que parou em meu rosto. Abriu um bonito sorriso. E, caralho, como ela estava linda.
O vestido era curto e justo. Mas não vulgar, como estava acostumado a ver - principalmente igual aos da Hayley. Não. Era bonito, de verdade.
E caía muito bem nela.
- Você está... - interrompi a fala. Olhei para ela novamente. - Ah, , você está muito, mas muito linda.
- Você não está por baixo também, . - ela sorriu, envergonhada. - E, olha, usando azul claro! Eu adoro azul claro.
- Eu sei. - falei, passando o braço pela cintura dela. - Foi por isso que eu coloquei. - completei, lhe dando um selinho.
- Todo perfeito, não é, ? - sussurrou.
- Eu tento, . - respondi, pressionando levemente o corpo dela contra o meu.
- Obrigada por isso. - falou, se aproximando de mim e me dando um selinho mais longo.
- De nada, . - cochichei. - Mas me agradece melhor, vai?
Ela sorriu, meio que autorizando. Bom, pelo menos foi isso que eu entendi. Depois, coloquei o cabelo atrás de sua orelha, descendo a mão para o pescoço. Puxei-a devagar para mim, unindo nossas bocas.
Ah, sim. No final, tudo sempre dá certo.

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Sábado, 20:13 - em frente ao Fantino, Cancún

- Eu sei que eu poderia te levar para uma balada, tipo o Señor Frogs ou o Cocobongo. Mas, , sei lá, hoje eu queria só nós dois, sabe? Eu e você. Em um lugar bacana, com comida boa e sem gente demais pra atrapalhar. - falei, enquanto a ajudava sair do táxi.
Vou confessar: estou com um medo do caramba de ter cometido um erro ao trazê-la pra um restaurante. E se ela quisesse uma festa?
olhou para o Fantino. E abriu um sorriso gigante. Eu respirei, extremamente aliviado.
- , mas isso é perfeito! - ela disse, me abraçando. - Era exatamente o que eu queria pra hoje!
- Você tá falando sério? - perguntei, feliz por ter acertado na escolha. - É que, quando eu vim pra Cancún, tive que acompanhar meus pais até aqui, e foi meio porre, porque é super romântico e só dá casal. Mas me pareceu muito apropriado pra hoje.
- Então somos um casal, ? - arqueou uma sobrancelha. - E também teremos uma noite romântica?
Ela mordeu o lábio. E, cara, eu não resisto quando ela faz isso.
- Sim pras duas perguntas. - falei, puxando-a pela cintura.
- Bom saber. - sorriu, fazendo carinho em meus cabelos. Ela beijou o meu pescoço e pegou na minha mão, andando em direção à entrada.
- Boa noite, senhores. - disse o recepcionista do restaurante. - Nomes da reserva, por favor?
- . - respondi.
- Certo. Está aqui! - exclamou o homem após encontrar meu nome na lista. - Srta. Dulce irá acompanhá-los até a mesa, sim?
- Ok. - respondeu, lançando um sorriso e entrando no local.
Dulce andou com a gente por alguns segundos. Ela indicou a mesa e nós nos sentamos.
- Um garçom aparecerá daqui alguns instantes, certo? - disse a mexicana. - Sejam bem vindos, o cardápio é este. - completou, entregando o menu para nós.
- Obrigado. - respondi, recolhendo o caderno.
Ela sorriu e se retirou, deixando eu e sozinhos.
- E então... - comecei, sorrindo largamente. , tímida, colocou uma mecha do seu cabelo, agora enrolado, para trás da orelha. Ela abaixou a cabeça, com as bochechas vermelhas.
- E então. - respondeu, levantando o rosto para mim. Um leve sorriso foi formado no canto de sua boca pintada de rosa claro.
Caramba, ela estava mesmo muito linda. Aquele sorriso inocente, mas, ao mesmo tempo, com certa malícia, o fato dela estar com aquele perfume que eu adoro, a maquiagem perfeita... A cada momento em que eu a olhava, encontrava algum detalhe novo. E eu estava gostando muito disso.
- Desculpa, mas não aguento te ver tão linda e estar tão longe assim. - falei, arrastando minha cadeira para perto dela. Foda-se a arrumação do restaurante e a elegância também. Preciso ficar perto dela.
- Sem problemas. - sorriu, colocando a mão dela no meu rosto. - Obrigada por isso, meu .
- Na verdade, sou eu quem te agradeço, minha . - respondi, dando um selinho nela.
Nunca gostei tanto de uma menina me tratando por "meu". Talvez porque, de alguma forma, eu realmente seja dela.
E ela é minha também.

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- Tudo bem, próxima pergunta. - ela pediu, acariciando meus cabelos.
Deus, como eu adoro quando ela faz isso. É um carinho gostoso, aconchegante. Como nenhuma outra menina já me fez sentir.
- É uma pergunta idiota, mas eu sempre tive curiosidade. - falei, brincando com os dedos dela, entrelaçados nos meus. - Como, raios, você fala inglês tão perfeitamente? Tem até o nosso sotaque.
- Mamãe inglesa de alma e coração, . - respondeu, rindo leve. - Não, sério, minha mãe é completamente apaixonada pela Inglaterra. Sempre foi. Acho que ter deixado o país por causa do meu pai foi bem difícil pra ela. Daí, sabendo que a gente ia voltar algum dia, me educou em inglês também. Quando eu era menor, ela me fazia repetir as frases que eu dizia em português, em inglês. E o curso de inglês também ajudou.
- Mas como ela sabia que vocês iam voltar? - perguntei, curioso.
- Ah, eu nunca te contei isso? - indagou, a feição confusa. Fiz um "não" com a cabeça. - Certo. Bom, meu pai é brasileiro e minha mãe é inglesa. Eles se conheceram em Liverpool, os dois tavam só a passeio, mas acabaram se apaixonando. Em cinco anos de namoro, eles se casaram; alguns meses depois, eu nasci. Mas a história não para por aí, porque eles tinham que decidir onde iam morar definitivamente. Minha mãe ficou dizendo pro meu pai que tinha me carregado por nove meses, etc, então merecia a maior fatia dos anos. Sendo assim, fiquei no Brasil até os 16 e, depois, Londres até o que der. - terminou, rindo. - Não é um combinado esquisito o deles?
- Não. - falei, brincando nas franjas do vestido dela. - É ótimo, . Sabe por quê?
- Por que? - perguntou.
- Porque te traz aqui comigo. - respondi, levantando a mão para a cintura dela. Desenhei sua curva, fixando meus olhos nos dela. - E isso é bom, não é?
- Isso... - ela fechou os olhos, só para abri-los em seguida. Continuei a acariciar a cintura dela. se aproximou do meu rosto. - Isso é ótimo, .
- Acho que não consigo mais imaginar tudo isso sem você. - falei, intercalando olhares entre a boca dela, extremamente convidativa, e os olhos brilhantes. - Sabe? Essa viagem, Londres, meu colegial... Acho que você mudou tudo.
- Para melhor? - perguntou, me dando um selinho rápido.
- É lógico que sim, .

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- Pode trazer a conta, por favor. - pedi ao garçom.
e eu havíamos terminado de jantar. Foi uma noite, como eu tinha prometido, muito romântica. E, olha que estranho: eu tinha gostado mesmo daquilo. Pela primeira vez, não queria terminar a noite levando-a para a cama, como eu fazia com Hayley. Quero dizer, não rejeitaria se ela pedisse, mas não era minha prioridade. Hoje, eu só queria ficar com ela. Com ou sem sexo.
- E agora, garanhão, pra onde a gente vai? - ela perguntou, com aquele sorriso lindo estampado no rosto.
- Para onde você quiser, madame. - respondi, vendo os olhos dela brilharem. Colocou aquela teimosa mecha do cabelo para trás da orelha e deu uma mordidinha no lábio inferior. - Então eu acho que quero ir para a praia.
Quando ela terminou de dizer isso, o garçom chegou com a conta. Eu paguei e me levantei, postando-me ao lado da . Ela também se levantou e eu dei meu braço para ela, que entrelaçou-se em mim.
- Então nós vamos para a praia, . - sibilei no ouvido dela.
riu e me agradeceu com um beijo no pescoço.
- Obrigado pela noite. - disse à recepcionista.
- Nós que agradecemos, bonito casal. - ela respondeu. Gostei da maneira como "casal" soava, e ri da ideia enquanto eu e saíamos do restaurante.
- A praia mais próxima fica logo ali. - apontei para nossa frente. - Te atrapalha se você for a pé? Porque você tá de salto, e deve incomodar pra caramba.
- , não tem problema. - disse, sorrindo. - Já estou acostumada. E outra, é rapidinho. Quando a gente chegar lá, eu tiro.
- É uma boa ideia. - falei. - Nunca entendi como vocês conseguem andar em cima dessa coisa.
- Depois de algum tempo, você se acostuma. Mas machuca um pouquinho. - ela deu de ombros. - Obrigada por pensar em tudo.
Não respondi nada, sorrindo internamente e feliz por ela estar gostando da noite.
Fomos conversando por alguns minutos até chegarmos na praia. Um vento gelado passou por nós, e eu senti tremer ao meu lado.
- Frio? - perguntei.
- Quase sempre. - respondeu, tímida.
Tirei meu blazer, colocando-o sobre os ombros dela. Pra falar a verdade, caía melhor nela do que em mim. Gostei do jeito como ficava mais comprido que o vestido, e tão largo que poderia abrigar duas cópias dela ali.
- Obrigada por isso também. - ela me deu um beijo no braço.
- Imagina, minha . - dei um beijo no topo da cabeça dela. - Vamos sentar?
- Vamos, sim. - disse, passando os braços em volta do meu corpo. Abracei-a de lado, andando em direção aos banquinhos perto de um bar. Fechado a essa hora, claro.
Sentei-me em um banco; ela, ao meu lado.
- O céu tá lindo hoje. - disse, pegando na minha mão. - Todo cheio de estrelas.
- Foi assim que você imaginou a sua noite? - perguntei, arrastando minha cadeira para perto dela. - Eu acertei?
- Não, . - falou, e eu uni as sobrancelhas, preocupado. Em que errei? - Você melhorou. Superou o que eu imaginava.
- Você quase me enganou, . - ri, enquanto ela encostava sua cabeça em meu peito.
- Não se preocupa. - sussurrou, mordendo meu lóbulo. - Tá tudo perfeito, sabe? É um fim perfeito pra uma noite igualmente perfeita.
- Isso é bom. - sibilei, baixinho. - Mas ela pode melhorar, sabe?
Ela sorriu, entendendo a mensagem. Me aproximei do rosto dela, tocando sua bochecha. Coloquei aquela mecha para trás de sua orelha pela centésima vez. agradeceu e eu finalmente acabei com aquele espaço insuportável entre nós.
Colei minha boca na dela de um jeito meio desesperado. Minhas mãos percorriam cada extensão do corpo dela que o vestido e o blazer permitiam. Ela espalmava uma mão no meu cabelo, a outra fazendo um belo serviço nas minhas costas. Agarrei as coxas dela, preparado para carregá-la até o balcão do bar, um local mais interessante e com menos espaço entre a gente. Depositei na bancada, puxando-a para perto de mim, enquanto ela cruzou as pernas em volta do meu corpo. O beijo foi esquentando conforme suas mãos adentravam minha camisa, percorrendo meu abdômen. Pra não ficar em desvantagem, retirei o blazer dela, que não reclamou. Imaginei que não estivesse mais com frio, de qualquer jeito.
Cortei o beijo, levando minha boca em direção ao pescoço perfumado dela. arfava ao mesmo tempo em que eu distribuía beijos e mordidas ali. Subi minha mão em direção a sua cintura, apertando a região. Ela respondeu puxando ainda mais os meus cabelos e cravando, com a outra mão, as unhas em minhas costas. Instalei um chupão no pescoço dela, aproveitando cada milímetro da sua pele, que provavelmente ficaria marcada depois. Não importava. Tudo o que tinham que saber é que ela era minha. Só minha.
Uni minha boca na dela novamente. Estava tão acostumado com seu gosto, seu jeito, sua textura... Porque a gente pertencia um ao outro. E era assim que tinha que ser.
Lembrei dos guys tirando uma com a minha cara por causa da "amizade colorida". Nesse momento, fui obrigado a concordar com eles: nunca dá certo.
Então, num estalo, tudo fez sentido.
- Eu quero mais é que esse negócio de não exclusividade se foda. - declarei, ela me olhando atentamente. - , eu quero você, só você.


XXII. Tudo se completa de algum jeito


Domingo, 08:49 - quarto 155 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

:

- Eu só queria muito um Kit Kat. - disse . - Será que aqui não tem aquelas máquinas onde a gente põe dinheiro e recebe o produto?
Eu deveria contar pra elas?
- Deve ter sim. - respondeu . - Quer ir procurar?
Mas o sugeriu que a gente não contasse.
- Ou a gente podia fazer melhor: vamos a um supermercado. Tô precisando comprar mais bronzeador, de qualquer jeito. - sugeriu . - Mas, antes, a gente passa em alguma Starbucks. Já estou morrendo de saudades da cafeína.
Porque elas tirariam uma com a nossa cara.
- O que você acha, ? - perguntou .
Com certeza tirariam.
Tipo, apontariam para a minha cara e diriam "nós não te avisamos?".
- ? - tentou .
E, bem, só fazia algumas horas. E se eu esperasse até que a gente chegasse em Londres?
- ! - esbravejou . Eu acordei do transe na hora, piscando três vezes. - Caramba, o que você tem, hein? Tá avoadinha assim desde ontem, quando saiu com o ...
- Hmmmm... - riu, sapeca, para . - vai namorar, vai namorar!
- Idiotas. - falei, rolando os olhos. Mal sabia ela que isso, agora, era verdade.
Ai, meu Deus. Eu queria muito contar. , você me paga.
- O que aconteceu ontem, hein, ? - perguntou, rindo. Eu mandei o dedo do meio pra ela.
- Nada de mais, otárias. - respondi, indo para o espelho. Precisava secar meu cabelo. Curiosamente, ele ainda tinha o cheiro do eterno 212 de .
Como se nada quisesse me fazer esquecer a noite de ontem.
Não que nada precisasse me lembrar, é claro. Eu nunca esqueceria.
Caramba, foi tão perfeito. Fechei os olhos, me recordando no cenário da noite passada. Eu e o , na praia, nos beijando sob aquele céu lindo; o ventinho fresco, mas eu sem frio por estar com ele... E, depois, ele dizendo que queria só a mim, sem Hayley ou qualquer outra garota...
Finalmente, tudo parecia completo.

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Domingo, 9:35 - Walmart, Cancún

"Bom dia, . Dormiu bem?", dizia a mensagem. Sorri, meu coração anormalmente acelerado.

"Depois de uma noite como a de ontem, melhor impossível, cabritinho.", respondi.

"De verdade?"

"De verdade."

- O que você tanto digita, criatura? - perguntou , tentando enxergar a tela do celular. Bloqueei o Blackberry quase instantaneamente, guardando-o na bolsa Hermès Victoria II salmão e sorri amarelo. - Uau, é segredo, então?
- Nah. - resmunguei, dando de ombros. - Vocês provavelmente vão perceber, então...
- Perceber o quê? - indagou , retirando um total de dez Kit Kat's da estante. Apontei para o monte de chocolate, rindo. - Eu estou mesmo com vontade, colega.
- Duvido que vá comer tudo. - disse , revirando os olhos. - Mas, diz aí, o que a gente vai perceber, ?
- Nada. - falei, pegando alguns Twix para mim. - Será que aqui tem Ladurée? Estou morrendo por alguns macarons.
- Não tenta disfarçar, . E certeza que envolve o . Senão você não teria tentado esconder. - botou as mãos na cintura. - Quanto a sua pergunta, não, aqui não tem Ladurée.
- Droga. - reclamei, torcendo a cara e ignorando completamente a primeira parte do que ela tinha dito. Eu não podia contar para elas. Pelo menos não ainda. - Pierre Hermé, talvez?
- , para com isso! - pediu , empurrando o carrinho lotado de porcarias. - É lógico que aconteceu alguma coisa! Você não para de tentar desviar o assunto quando a gente fala do .
- Ai, gente... - comecei a morder o lábio inferior, nervosa. As três me encaravam, os braços cruzados. Engoli em seco.
E aí meu celular tocou.
Ufa, salva pelo gongo! Recolhi o aparelho e apertei o botão verde, sem ao menos ver quem me ligava.
- Alô? - atendi, depressa.
- , desculpa. É que o não para de me encher o saco atrás da namorada dele. Ela tá com você? - perguntou . Suspirei em alívio.
- Sim, e você acabou de me salvar de uma situação. - falei, me afastando das meninas. Elas bufaram.
- Que situação? Ai, , caralho! Sim, a está com a . Não, não sei onde elas estão. , onde vocês estão?
- Estamos no Walmart. queria chocolate, queria bronzeador. - respondi. - É que elas estavam me pressionando pra saber o que tinha acontecido ontem que me deixou tão avoada...
- Ah, então quer dizer que a senhorita ficou avoada por causa de mim? Bom saber que posso causar essas coisas em você.
Ah, , se você soubesse o tanto de coisas que causa em mim...
- Idiota convencido. - ri, alcançando um pacote de bolachas. - Mas, falando sério, não sei até quando posso aguentar.
- Tudo bem, então não precisa aguentar. De qualquer jeito, também não consegui por muito tempo. - ele disse. - Tava muito agitado. me fez falar, e aí foi efeito cascata. Um contou pro outro e no fim todos já sabem.
- Ah, ! - falei, alto e soltando o pacote. As meninas me encararam. - Por que não me disse antes? Já estava subindo pelas paredes sem saber como esconder isso delas.
- Me desculpa, . - ele riu e eu ri junto. - Bom, preciso desligar agora. Os meninos estão loucos pra ir na piscina do hotel.
- Tudo bem. Quer alguma coisa daqui? - perguntei.
- Hmmm... Você, tem como? - pediu, e eu agradeci por ele não poder ver o quão idiota eu devia estar agora. Toda derretida por ele.
- Daqui a algumas horas, sim. - falei, rindo.
- Mal posso esperar, então. - disse, desligando a ligação. As meninas vieram até onde eu estava. Sorriam, meio que já entendendo.
Eu ainda sorria igual boba quando declarei:
- Sobre o lance de amizade colorida... Vocês tinham razão. Nunca dá certo.

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Domingo, 10:03 - Plaza Hollywood, Av. Coba, Starbucks, Cancún

- Sentem em algum lugar, preciso lavar minhas mãos primeiro. - falei, tirando os óculos Ray-Ban Clubmaster pretos. - Alguém vem comigo?
- Ah, acho que vou ficar aqui mesmo, hein, ... - disse , colocando as compras em uma mesinha.
- De acordo. - falou , sentando-se no sofá da cafeteria.
- Vou com você, mini . - piscou, me acompanhando.
Chegamos ao banheiro em poucos minutos.
Duas meninas altas, loiras e bronzeadas no melhor estilo Barbie Malibu riam empolgadamente e falavam alto. Americanas, previ.
Prendi meus cabelos em um coque e comecei a lavar as mãos. entrou na cabine.
- Ah.Meu.Deus.Do.Céu! - exclamou uma delas. Levantei o olhar para o espelho. Ela me encarava fixamente. Ou melhor, encarava a minha bolsa. - Onde foi que você conseguiu essa Victoria? - perguntou, boquiaberta.
Tudo bem, justo. Uma Hermès podia mesmo causar uma reação dessas nas pessoas.
- Minha mãe reservou antes mesmo de chegar. - falei, simpática. - Você gostou?
- Se eu gostei? Charlotte, venha aqui! Dá uma olhada nisso, é espetacular! - disse a loira, em êxtase. A outra se aproximou da gente, sorrindo.
- Sua mãe foi esperta. Elas, nessa cor, esgotaram em poucas horas em Nova York. - observou a segunda loira.
- Pois é. - sorri. - Vocês são de lá? - perguntei.
- Sim! - responderam, em uníssono. - E você, de onde é?
- Originalmente, São Paulo. Mas estou morando em Londres agora. - respondi, pegando folhas de papel para secar as mãos.
- As duas cidades são maravilhosas. - disse a primeira loira. - E como você se chama?
- . - falei, secando minhas mãos. - E vocês?
- Charlotte e Olympia. - respondeu a segunda loira, apontando pra ela e depois pra primeira.
- Como os sapatos? - perguntei, me referindo à marca Charlotte Olympia. Elas riram.
- Sim, nossa mãe é uma fashionista assumida. Passou bastante disso pra gente. - disse Olympia. Eu sorri, concordando. - Mas, escute, sabia que poucas pessoas identificam a semelhança?
- Sério? - perguntei, unindo as sobrancelhas. Parecia tão óbvio pra mim.
- Sim! Acho que você deve ser tipo, totalmente demais. - falou Charlotte, colocando os longos cabelos de lado. Eu sorri, agradecendo. - O tipo de garota que devia estar em nossa festa de terça feira, não acha, Oly?
- Totalmente, Charly.
- E então, ? Aceita? - propôs Charlotte, pegando em minhas mãos. As duas tinham sido muito legais e, poxa, uma festa em Cancún seria demais. Então, não consegui pensar em outra coisa senão:
- Me diz o horário e o lugar.

Saí do banheiro com o número de telefone das duas, o endereço da casa de praia delas e um "chame quantas pessoas você quiser". Sorri, feliz por ter conseguido descolar uma festa pra todo mundo.
- Nós vamos, né? - perguntou , prendendo o cabelo.
- Por mim, totalmente. - respondi. Chegamos aonde as meninas estavam sentadas e nos juntamos à elas. falava ao telefone - provavelmente com - e passava os olhos pelo cardápio.
- Tem coisas aqui que não tem em Londres. - disse . - Mas tá tudo em espanhol, não tô conseguindo entender direito...
- Eu traduzo pra você, vaquinha. - falei, sorrindo. me passou o cardápio.
- Eu queria alguma coisa bem gelada. E sem cafeína ou chocolate. - ela disse.
- Hm... - rolei os olhos pelo menu. - Chá?
- Pode ser. - respondeu ela.
- O que acha desse Shaken Iced Passion Tea? - perguntei, mostrando a foto da bebida. - Parece gostoso.
- Parece mesmo! Pede um pra mim. - disse .
- Dois. - pediu .
- Acho que vou querer esse de hibisco. - falei, lendo o menu.
- Dizem que hibisco é ótimo para afinar a cintura - palpitou , desligando o celular. - Acho que vou trocar o café por algo mais saudável hoje.
- E paninis pra comer. - sugeri e elas concordaram.
Chamei o garçom. Gostaria de não ter que contar que ele acrescentou um "cierto, caliente muchacha" depois que eu terminei de fazer os pedidos. Mas, sim, ele fez.
Eu e as meninas engatamos em uma conversa sobre o que o pessoal da ERP devia estar fazendo agora. Mrs. Middle, como disse , devia estar asseando os trocentos gatos dela com aquelas unhas compridas pintadas de branco pérola. O professor Lacrosse devia estar pegando algumas alunas, pois esse parecia ser um dos passatempos dele. Mrs. Yoki deve ter embarcado pra algum país asiático de onde ela viera, se unindo àquelas competições loucas de matemática, etc.
Eu ainda me recuperava dos risos e comentários maldosos que elas faziam quando fui pega de supresa.
- Você ainda não nos contou como tudo aconteceu entre você e o , pequena . - falou, apoiando o queixo nas mãos.
Droga. Preferia ter voltado ao assunto "ERP e seu corpo docente".
- Ah, gente... - enrolei, mexendo no meu cabelo. - Não tem muito o que contar. Só aconteceu.
O que não era bem verdade. Se você parasse pra pensar, tinha várias coisas pra contar. Mas eu:
a) Não gostava de mostrar pra todo mundo o que eu sentia.
b) Não estava a fim de contar sobre a nossa noite romântica, porque eu sei o quão tedioso soaria para elas, apesar de ser tão especial para mim
c) Não queria ser zoada até o fim com a história.
- Ela não quer falar, pessoal. - disse , sorrindo pra mim. Agradeci mentalmente.
- Tudo bem, nós vamos te respeitar, coleguinha. Mas só dessa vez. - comentou . - Mas, , e aí, já pensou em como falar disso pro Ian?
Eu congelei, largando minhas mechas.
Ah.Meu.Deus.
Ian! Eu tinha me esquecido completamente dele!
- Puta merda! - xinguei alto, assustada.
- Sabia que você tinha se esquecido desse pequeno detalhe. - falou, recebendo nossos pedidos. O garçom ainda insistia em sorrir. Quase mandei um "se toca, moço", mas não fiz isso porque eu tinha um problema ainda maior e mais bonito: o francês de olhos azuis que me esperava em Londres.
- Ai, pessoal, e agora? - perguntei, aflita. O garçom depositou o meu chá e o panini, me olhando como quem perguntava: "está tudo bem?".
Como raios eu iria tratar o Ian? Quero dizer, eu sei que teria que terminar com ele. Mas, meu Deus, e agora? Como eu vou fazer isso?
As meninas mantinham uma expressão preocupada e solidária.
- Ah, ... Fica calma, vai dar tudo certo. Só diz pra ele que você encontrou outra pessoa, ué? - deu de ombros.
- É, menor. Diz isso. Vocês nunca pediram fidelidade, de qualquer jeito. Será que ele saía só com você, também? - questionou , mordendo o sanduíche.
- Espero que não. - comprimi os lábios, torcendo, pela primeira vez na vida, pra ser "corna".
- Então relaxa, meu amor. - falou , bebericando o chá. - Você ainda tem uma semana pra encarar isso.
Essa é pra você aprender, : assim como amizades coloridas, ficar com dois caras ao mesmo tempo também nunca dá certo.

Domingo, 11:09 - quarto 160 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

:

- Tá tudo certo, mãe. - falei, ao telefone, depois de ouvir minha mãe perguntar sobre "como andava a viagem". - Estou com saudades.
- Também estou morrendo de saudades, filho. - ela disse. - Você e seus amigos foram ao Fantino? Aquele restaurante é impecável, não deixem de visitá-lo!
- Hm... Na verdade, eu fui. Eu e a . - respondi, tendo um flashback da noite passada. - Levei ela lá ontem mesmo.
- Esse é o homem que eu criei! Levando mulheres a ótimos lugares! - mamãe exclamou, entusiasmada. - Ela gostou?
- Acho que sim. - não consegui evitar um sorriso ao pensar nela.
- Mas é claro que sim, não tem como não gostar de lá! Lembra quando seu pai nos levou? - perguntou, a voz emocionada ao lembrar dele.
Imaginei que, se era difícil para mim não ter um pai, era pior para a mamãe não ter um marido.
- Lembro, sim. Foi meio que um porre ficar entre vocês dois. - confessei, rindo um pouco.
- ! - exclamou, em tom de bronca. Mas acabou rindo também. - Duvido que voltar lá com a foi "um porre".
- Você tem razão. Não foi nada porre.
- Você realmente gosta dessa garota, não é, filho?
- Sim, mãe. Eu realmente gosto dessa garota.

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- O Kurt Cobain deve ser o cara mais legal que já foi pro céu. - disse , tirando os fones Beats. Escutava Nirvana, provavelmente. - Aposto que, ao chegar, foi recebido com álcool e heroína.
Estávamos jogados nas poltronas do saguão do hotel. Eram 12:49 e eu já começava a ficar com fome.
- Não, porque o Jim Morrison também estava lá. E os dois devem ter brigado feio por elas. - riu e limpou os óculos escuros.
- Duvido muito que algum dos dois tenha ido para o céu. - falei, rindo. Os caras concordaram e deram de ombros. - Aonde a gente vai almoçar?
- Bom, restaurante sem as meninas vai ser meio estranho. - opinou. - Em que lugar elas estão?
- A não te avisou? - perguntei, negou com a cabeça. - Bom, a me mandou uma mensagem dizendo que elas sairiam do supermercado para a Starbucks e de lá para o shopping.
- Ótimo, diz pra elas que a gente se encontra na praça de alimentação. - pegou o celular no bolso. - Vou chamar o táxi.
Ele se levantou e saiu. desligou os fones e cruzou os braços.
- E aí, , como vão você e a ? - perguntou num tom investigativo. Uni as sobrancelhas.
- Sério que você quer saber como anda meu namoro com a sua prima, ? - Ele fez um gesto de "tanto faz". se ajeitou na poltrona.
- Bom, ela é parte da família. Tenho que protegê-la, de qualquer jeito. - disse .
Proteger?
- Hmm... - murmurei, ficando desconfortável de uma hora pra outra. - , meu chapa, a questão é que a sua prima está comigo agora. Ela não precisa de proteção ou qualquer outra coisa.
- Olha lá, hein, ? Meus tios me odiariam se o meu melhor amigo fosse o cara quem quebrou o coração da filha deles.
- Eles não vão te odiar, . Porque isso não vai acontecer. Eu não vou decepcionar a . - declarei. - Estou falando sério.
- Tudo bem, o coração da você não quebrará, . Mas e o da Hayley? - perguntou .
Travei o maxilar.
Merda.
- Opa. - comprimi os lábios.
A verdade é que eu havia me esquecido completamente de Hayley. O fato de estar a milhares de quilômetros de Londres, na companhia dela e daquele seu jeitinho tinha ocupado minha cabeça integralmente.
Essa menina me prendeu. Me entorpeceu.
- Boa sorte em terminar com ela, . - disse , de uma maneira meio debochada. - Sei que odeia fazer isso.
- Não sei como depois de fazer isso tantas vezes você ainda não pegou o jeito. - caçoou.
- Não foram tantas vezes assim. - mostrei o dedo do meio pra eles, que riram mais ainda. Cruzei os braços. - O problema é que a Hayley vai pirar. Vocês sabem o que ela tinha me dito antes.
- Quem tinha dito o quê? - perguntou , desligando a ligação. Ele se sentou e guardou o celular no bolso.
- Estamos discutindo sobre como o vai dar um pé na bunda da Hay. - respondeu , sorrindo vitorioso.
Nenhum dos três nunca tinha gostado da Hayley. Talvez estivessem até se divertindo com o fato dela ficar sozinha.
- Ih, é verdade. Não pensou nisso antes, não, ? - questionou com uma expressão duvidosa.
- Não tinha pensado até agora... - respondi, passando as mãos pelo rosto, nervoso. Droga, droga, droga.
- Quem te viu, quem te vê, hein, ? Levou semanas pra conquistar a garota e agora esquece totalmente dela. - disse, rindo com os caras.
- Eu sabia que a ia bagunçar sua vida. - gargalhou.
- Poder . - se gabou de um jeito bem gay.
Os caras podiam estar rindo de mim. Mas isso não era engraçado. Nem um pouco.
Eu sabia o que tinha que fazer no instante em que pisasse em Londres. Só não sabia direito como.
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Chegamos ao Shopping Plaza Kukulcan em alguns minutos. Tivemos que nos enrolar com meu espanhol bem mais ou menos, mas, no fim, conseguimos ir até a praça de alimentação e encontrar as meninas. Sentei-me ao lado da , cumprimentando-a com um selinho.
- Quanto vocês me amariam se eu dissesse que descolei uma festa pra gente na terça? - perguntou, sorrindo.
Todos nós focamos os olhares nela. Festa?
- Muito, baixinha. - disse , abraçado na .
- Então pode me amar, panaca. - falou , unindo minha mão na dela. Olhei pra ela e abri um sorriso também. - Fiz amizade com duas nova iorquinas no banheiro da cafeteria e elas disseram que eu poderia chamar quem quisesse pra festa delas amanhã.
- Olha essa menina, que sensacional. - exclamou, bagunçado os cabelos dela. - Obrigado, zita.
- Não por isso, zito. Mas não precisava bagunçar meu cabelo. - revirou os olhos, arrumando os fios.
- Esse dom de ser foda é da família, né, ? - perguntou, piscando pra ela.
- Com certeza, . - fez um high five com ele.
Eu também a agradeci, mas com outro selinho.
- O que você quer comer, ? - perguntei, colocando uma mecha do cabelo dela para trás da orelha. Ela me abraçou.
- Ah... - suspirou, pensando. - Vamos de japonês?
- Sempre. - falei, rindo. - Contou para as meninas?
- Contei. - respondeu, me apertando. - Não conseguiria guardar por muito tempo, mesmo.
- Muito menos eu. - sorri, dando um beijo no topo da cabeça dela. - Gosto demais de você pra isso.

Depois do almoço, disse que precisava comprar um vestido pra festa - eu não entendia essa necessidade de uma roupa nova pra cada festa. Tipo, qual o problema em repetir? - e que as meninas teriam que ir com ela. Vi a rolar os olhos e me pedir ajuda. Para salvá-la, perguntei se ela não queria vir comigo escolher um presente pra minha mãe. Ela me agradeceu silenciosamente e se juntou à mim. , e decidiram voltar para o hotel e dormir.
- Traidora. - sussurrou. - Mas também esperta em ficar com o boy.
- Eu sei. - respondeu, piscando. - Você pode me mandar mensagens com fotos perguntando se está bom.
- É lógico que vou. - riu. Rolei os olhos.
Elas se despediram e saíram.
- Enfim, sós. - falei, olhando para .
- Sim, cabritinho. Enfim, sós. - ela disse, me abraçando de lado. - Onde você quer ir pra comprar o presente?
- Você acreditou mesmo que era aniversário da minha mãe? - perguntei, sorrindo debochado.
- ! - ela me deu um tapinha leve. - Não sabia que mentia bem assim.
- Essa é uma das minhas muitas qualidades que você ainda desconhece.
- Tá, mas será que isso é qualidade mesmo? - ela arqueou uma sobrancelha.
- Ah, , você não precisa se preocupar com isso. A gente só fala a verdade um para o outro, lembra? - perguntei, sorrindo de canto.
- Lembro. - ela sorriu. - É o nosso trato, esse negócio do "de verdade".

Decidimos ir ao cinema. pediu mil vezes pra ver "Meu Malvado Favorito 2" e eu acabei cedendo, apesar da vergonha de ir assistir a um desenho.
Tudo por ela.
- Primeiro você pede pra ver um desenho, agora tá aí se melecando com esse sorvete. - falei, limpando a boca dela com o dedo. A gente tava sentado em um banco, no 2º andar do shopping. O cinema ficava no 3º. - Tá parecendo mesmo criança.
- Então isso faz de você um pedófilo. - ela riu, me dando um beijo na bochecha.
- Tudo bem. Aceito as condições. - dei de ombros, rindo. - Que horas o filme começa, mesmo?
- Hmmm... - ela murmurou. - Pera aí, vou ver. - completou, retirando os ingressos da bolsa. - AH MEU DEUS, ! JÁ COMEÇOU! VOU PERDER MEUS MINIONS, CORRE!
Fui puxado pela mão e obrigado a correr. Chegamos em frente ao elevador, com uma impaciente batendo os pés ao meu lado. Apertou o botão e se virou pra mim.
- Olha a namorada que fui arranjar, Deus... - eu disse, batendo na minha testa. Ela fez uma careta e depois riu.
- Acostume-se, . Ninguém mandou querer ser meu namorado.
- Mas você não me deixou muita escolha, sabe? E isso não foi legal da sua parte. - falei, pegando na cintura dela e puxando-a para mais perto.
- Se não quiser mais, é só falar. - devolveu, me abraçando. Sorri de canto, apoiando minha testa na dela. Fixei o olhar em seus olhos.
- Em que planeta você acha que eu não iria te querer, ? - foi tudo o que eu disse antes de beijá-la.


XXIII. Can you lie next to her and give her your heart?


(White Blank Page - Mumford & Sons)

Segunda feira, 14:07 - Isla Mujeres, Cancún

:

Ajeitei os óculos e virei-me para , apoiando a cabeça em seu peito. Dei um selinho nele e me aconcheguei de novo, vendo um sorriso de canto iluminar seu rosto.
Aquele rosto. Meticuloso e perfeitamente desenhado. Como se cada detalhe desse tivesse sido escolhido. E, Deus, aqueles olhos... Poderia me perder neles, esquecer do resto do mundo. Pra sempre.
Resumindo: ficar com ele estava sendo muito bom. Na verdade, estava sendo a melhor parte de tudo.
levou as mãos aos meus cabelos, presos em um coque. Fez carinho em minha nuca, brincando com alguns fios soltos. Fechei os olhos, aproveitando o cafuné. Sua mão, fechada, subia e descia por aquela área.
- Isso é ótimo. - suspirei. - Se continuar, vou acabar dormindo.
- Bem, não era exatamente desse jeito que eu imaginei você dormindo comigo, mas acho que serve também...
Gargalhei, dando um tapa leve no abdômen dele.
- Idiota. - xinguei e depois dei um sorriso.
- Simpática. - devolveu, beijando o topo da minha cabeça.
Pelo canto do olho, vi recolher os óculos Ray Ban Wayfarer pretos e colocá-los. Ele também pegou o celular, e começou a mexer nele com uma mão, enquanto a outra me fazia carinho.
Certo, eu estava mesmo quase dormindo.
- Me conta o que tem de novo no Facebook pra eu não desmaiar aqui. - pedi, meus olhos mais fechados do que abertos.
- Hmm... - ele murmurou. - Stacy está na França com Troy. Os dois devem estar fazendo muita festa lá. - ele disse, e eu concordei. - Brian foi preso por dirigir bêbado. - riu e eu lamentei. - O treinador Tipp postou fotos da filha dele. Acho que é a 4ª.
- Sempre achei que ele era um pouco tarado. - falei, lembrando de seus olhares indiscretos para as pernas das meninas quando ensaiávamos.
- Idem. - disse. - O professor Lacrosse postou uma foto com uma garota. Deve estar pegando.
- Deixa eu ver. - pedi, curiosa. rolou os olhos e afastou o celular. Eu uni as sobrancelhas.
- O que vocês tanto veem nele? - perguntou, com o rosto fechado. Nota mental: ele fica ainda mais bonito bravinho.
- Ciúmes? - ri. Ele ainda mantinha a expressão fechada. Coloquei a mão na bochecha dele, fazendo um carinho com os dedos. - , é só curiosidade. Fica tranquilo. - me aproximei, lhe dando um longo selinho.
me envolveu com os braços, parecendo relaxar. Seus dedos começaram a desenhar a curva da minha cintura.
- Continua com a fofoca. - pedi, aconchegada nele. Seu corpo era quente, e a pele, macia e perfumada.
- Bem... - fez uma pausa. - Brooke foi fazer intercâmbio nos EUA... - dei de ombros. Quanto mais longe melhor, porque ela uma das melhores amigas da loira gema. - E a Hayl...
cortou a frase quando percebeu de quem falaria. Eu travei. Olhei pra ele quase no mesmo momento.
Um silêncio meio desconfortável se instalou ali.
Comecei a morder o lábio inferior, ligeiramente perturbada. Lembrei do relacionamento que ele tinha com ela, e do que eu tinha com Ian. coçou a nuca, naquele gesto que os meninos sempre fazem quando estão nervosos.
- ... - ele se virou. Decidi perguntar o que me afligia. - Você já contou? Quero dizer, contou pra Hayley sobre a gente?
- Não. - ele confessou. Seus olhos demonstravam uma leve preocupação. - E você? Já falou pro Ian?
Fiz gesto negativo com a cabeça.
- Achei melhor esperar e falar pessoalmente.
- Eu também. - ele comprimiu os lábios. Agora, me parecia estranhamente nervoso. - Olha, , sobre esses dois, eu tenho que te falar um neg...
- EI, MAIS NOVO CASAL! - ouvi a voz de interromper. Virei-me à procura dele. Estava balançando as mãos e vindo até nós.
- "Casal" é uma palavra bacana. - sussurrei. Ele concordou, ainda um pouco atormentado.
- Vocês não vêm? - perguntou ao chegar nas cadeiras onde estávamos.
- Vamos onde? - indaguei, tirando os óculos.
- reservou um passeio pra gente nadar com os golfinhos. - arrumou o chapéu panamá. - A tá implorando pra ir, então eu vou.
- Lógico que sim! - puxei a mão de , me levantando. - Eba, passeio!
- Meninas... - rolou os olhos e riu. - Vamos, então.
Nos dirigimos até o lugar onde o resto do grupo nos esperava. Andamos de mãos dadas pela areia fofinha da praia, conversando com , que tinha uma habilidade incrível em nos fazer rir.
Chegando no local, lembrei que havia sido interrompido.
- Ah, o que você queria me falar antes do chegar? - perguntei, curiosa.
- Anh... - murmurou, torcendo a cara. Uni as sobrancelhas, o olhando interrogativamente. - Não era nada.
Pela minha experiência de vida, aprendi que: quando alguém diz "não é nada", na verdade quer dizer "é tudo".
Era impressão minha ou ele estava tentando fugir do assunto?
- , o que foi? Você tá me deixando aflita. - coloquei a mão no rosto dele. comprimiu os lábios de novo.
- , esquece. - declarou. - Agora não tem mais importância, de verdade.
Resolvi deixar pra lá. Se ele disse que não era relevante, então eu não tinha que me preocupar, não é? E ele ainda disse "de verdade"!
Ainda assim, foi super estranho quando peguei sua mão e percebi que ela estava suada.

xxx


Terça feira, 20:09 - quarto 156 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

- Como você se veste para uma festa na praia? - perguntou , com as mãos na cintura. Ela usava um roupão e seu cabelo estava coberto com uma toalha.
- Se fosse de dia, eu te diria pra ir sem salto nem nada. Mas a festa vai ser a noite, e a disse que elas são umas Serena Van der Woodsen da vida, então se veste normal. - disse , tirando da mala o vestido azul que ela havia comprado e, lógico, me mostrado por mensagem.
E ela fez questão de me mandar bem na hora em que eu estava com o no cinema.
- E a festa não é na praia, gente. - falei, secando meu cabelo com a toalha. - É na casa delas, que é tipo, numa área de condomínios de luxo.
- Ah, sei! É naquela parte em frente à praia que a gente foi anteontem, não é? - indagou. Fiz que sim com a cabeça. - Sendo assim, duvido que vamos parar na praia à noite e tal. Quero dizer, só se quisermos.
Concordei. Eu poderia aceitar a ideia de ficar na praia a noite, levando em conta que foi lá onde eu e começamos.

Duas horas depois, estávamos prontas. Acabei optando por um Pucci que era, segundo , "a cara do verão e do Caribe". Gostei do palpite, então acabei aceitando. usava um vestido laranja, estava de vestido nude.
Maquiagem pronta, cabelos prontos e algumas fotos tiradas, ligamos para os meninos virem. Abrimos a porta quando chegaram.
- Que milagre foi esse? - perguntou , olhando para o relógio de pulso. - Só oito e meia e vocês já terminaram?
- É porque a gente começou a se arrumar, tipo, uma hora antes do que costumamos. - esclareci.
- Ahh tá! Então tá explicado. - ele falou, rindo. Vi sua namorada dar a mão pra ele.
Fiz a mesma coisa com , postado ao meu lado. Sua mão estava quentinha e meus dedos se entrelaçaram nos dele.
- Oi. - falei, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.
- Oi, princesa. - ele disse, sorrindo. Senti minhas bochechas corarem com o "princesa". Sempre achei meio idiota esse negócio de apelidos carinhosos entre casais, mas, de repente, não era mais idiota.
Era bom.
- Tudo bem, príncipe? - perguntei, sorrindo. Ele passou os braços pela minha cintura, de lado e me olhou dos pés à cabeça, soltando um "tudo ótimo agora".
- Ai, tá bom, tá bom, realeza. - , à minha esquerda, rolou os olhos. - Chega desse papo de sangue azul, eu quero ir pra festa logo. - terminou, dando as mãos para .
- Educada. - caçoou. Minha amiga riu e eu também. - Os táxis estão lá embaixo, vamos?

Nosso táxi chegou primeiro que o de , , e . Resolvemos esperar na frente da casa, cuja fachada era composta de vidros e um marrom muito escuro. Era lindíssima, do tipo que você vê em propagandas de residências à venda. Estava tomada por luzes coloridas e gente dançando com a música animada ao fundo.
- As pessoas tem razão quando dizem que as loiras se divertem mais. - disse , vendo as mesmas coisas que eu.
- Não é? - perguntei, abraçada em , que conversava com .
O segundo carro parou e o resto do nosso grupo desceu.
Entramos na casa ao som de Love More, do Chris Brown. Apontei para um grupo de meninas que dançava o Twerk, uma dança bem, digamos, insinuante. E esquisita também.
- Por que as pessoas fazem isso? - perguntei à , rindo alto. Ela olhou e gargalhou também.
- Porque a Miley Cyrus também faz. - ela respondeu, mostrando o grupo à .
- Desculpa, mas eu preciso de uma bebida depois dessa visão. - disse . Eu ri mais ainda e fui com ela.

- Oi, querida. - disse Charlotte, me cumprimentando com dois beijinhos na bochecha. Ela sorriu meio abobada e me olhou dos pés à cabeça. - Adorei os saltos Jimmy Choo.
No caminho de volta, parou para ir ao banheiro e eu retornei - o que foi um sacrifício, já que a casa era muito grande e estava bombando de gente - para onde estavam meus amigos. Percebi então que eles já tinham saído de lá e passei a procurar , mas ela também não estava mais no banheiro. Bufei, saindo de novo à procura do pessoal.
Andando pela casa, fui ficando cada vez mais assustada. Quero dizer, só de circular por uns dez minutos vi coisas do tipo: gente vomitando em vasos de flores, pó branco espalhados por mesas, vários galões vazios de uísque... Sem contar o cheiro fortíssimo de erva que emanava de uma stand preta, do lado de fora.
Meu estômago começava a embrulhar quando dei de cara com Charlotte.
- Obrigada, Charly. - agradeci, sorrindo. - Posso te chamar assim, né?
Ela deu uma risada arrastada, típica de gente que não está sóbria. Imagino que ela deve ter feito um "pré-festa" bem intenso. Na stand, talvez.
- Lógico que pode, . - sorriu, mostrando os dentes perfeitamente alinhados. Botou as mãos na cintura coberta por um vestido Yyves Saint Laurent, meio sujo do pó branco que eu encontrei nas mesinhas. Olhei para os pés dela, e notei que estavam descalços. - Opa, acho que perdi meus sapatos.
Ri, desconfiando que a alteração dela não era só de álcool. Era de outra coisa.
Ah, o México...
- É, acho que você perdeu mesmo. - falei, rindo. - Alguma ideia de onde pode ter deixado?
- Não. - ela gargalhou, mexendo nos cabelos loiros. Um cheiro forte de maconha saiu das madeixas dela quando a loira as prendeu em um coque.
É... Definitivamente, álcool não foi a única droga usada por Charlotte hoje.
- Depois você procura, então. - sorri. - Onde está a sua irmã?
- A última vez que eu vi ela foi em um quarto, com um moço aí. - riu mais ainda. - Mas não tenho muita certeza...
- Tudo bem. Acho que vou atrás dos meus amigos, então. - disse, me despedindo. Ela concordou com a cabeça.
- Paz, irmã. - Charlotte fez um "V" com os dedos da mão. Estava mais chapada do que tudo.

Era cerca de onze horas. Avistei , , e sentados em um sofá branco perto do DJ. Fui até lá e me joguei em cima deles.
- Achei vocês! - exclamei, recebendo reclamações em troca.
- Preguiçosa, sai de cima de mim. - disse , dando tapinhas leves na minha barriga.
- Grossos. - fiz biquinho, sentando entre e . - Cadê os outros?
- e foram buscar bebidas. - respondeu .
Me perguntei por que ele não tinha ido junto com os amigos, mas logo notei a Heineken que ele segurava.
- E o ? - perguntei, preocupada. A festa tava cheia de gente chapada e drogada, e eu definitivamente não queria ele andando sozinho por aí.
- Putz, , nem sei... - coçou a cabeça e bebeu um gole da cerveja. - Ele disse que ia ao banheiro, mas já faz um tempo.
Levantei em um salto, pegando meu celular rapidamente. Apertei o número um, que correspondia ao número de na discagem rápida. Ele tinha se colocado ali alguns dias atrás, pra eu "saber que sempre podia contar com ele, porque era meu número um".
O celular tocou sete vezes, e em nenhuma me atendeu.
- To ficando preocupada... - murmurei, recebendo olhares atentos de , e . - Acho que essa festa é uma furada.
- Pois é. Elas são bem liberais, né? - torceu a cara.
- Eu vi bastante gente usando drogas. - confessou.
- Eu to achando que elas é que pediram pro povo trazer isso. - falei, lembrando do quão mal Charly estava. - E agora o sumiu e não me atende...
Eu estava aflita. Tipo, muito aflita. Uma sensação ruim tomava conta da boca do meu estômago.
- Calma, . A gente vai achar ele. - colocou a mão no meu ombro, dando um sorriso reconfortante pra mim. - Vamos fazer assim: primeiro a gente acha o , depois a gente cai fora daqui. Dá tempo de arranjar um lugar pra jantar, eu acho.
- Vou ligar pra o , ele deve estar com o também. - disse , já saindo com o celular na mão.
- E eu vou com você procurar o . - se levantou. - Relaxa, pequena , nós vamos encontrar ele.
Eu concordei silenciosamente, mas ainda tava me sentindo um pouco mal.
Sabe quando você pressente que algo nada bom vai acontecer?

- Caramba, onde raios esse menino foi parar? - perguntou, comprimindo os lábios.
Procurávamos por há uns bons trinta minutos. A casa era gigante, mas já tínhamos contornado todo o segundo andar - inclusive os quartos, interrompendo vários casais - e praticamente tudo do primeiro. Liguei para ele exatamente cinco vezes, mas não me atendeu de novo.
Sentamos em um sofá de couro branco no meio da pista. Já estava quase desistindo, imaginando as piores coisas que podiam ter acontecido com ele.
Abaixei a cabeça e quando a levantei, percebi que faltava um lugar:
- A gente já viu na cozinha? - perguntei, apontando para uma porta branca que estava fechada. negou e eu fiz um gesto com a cabeça.
Era nossa última opção. Se estivesse na festa, era ali que se encontrava.
se levantou e eu também. Fomos em direção ao cômodo.
Coloquei a mão na fria maçaneta, sentindo meus pelos se arrepiarem. Aquela mal estar não me abandonava. Virei a peça, abrindo a porta.
E o mal estar estava certo. Porque quando abri a porta, vi uma cena que fez meus olhos arderem.
estava ali. Só que, junto com ele, estava Olympia. E ela se encontrava pendurada no pescoço dele, distribuindo beijos por ali. estava de olhos fechados, encostado na bancada da cozinha.
A porta bateu na parede, fazendo um barulho estrondoso que assustou o casal. abriu os olhos, arregalando-os quando me viu postada à alguns metros dele. Minhas bochechas queimavam e eu mordi meu lábio inferior até sentir o gosto de sangue.
colocou a mão no meu braço, me apertando. Mas nada me distrairia da cena que eu tinha acabado de presenciar.
- Eu não acredito nisso. - falei, com a voz trêmula. Oly se afastou do meu namorado, sorrindo meio abobada. Parecia mais chapada que a irmã.
Tudo que passava pela minha cabeça era: filho da puta, ele me traiu, filho da puta, como teve coragem, filho da puta, filho da puta...
- Ai, porra, ! Não, não é isso que você tá pensando... - ele se aproximou, as mãos na cabeça, tão aflito e perturbado. Mas ele não tinha o direito, porque eu é que havia sido traída.
- Então o que é, ? - perguntei, ironicamente. Agora, um par de lágrimas gordas escorriam dos meus olhos. Merda, pare de chorar, pare de chorar, . - PORQUE EU NÃO SEI O QUE PENSAR QUANDO VEJO O MEU NAMORADO COM UMA LOIRA PENDURADA NO PESCOÇO DELE!
estava atrás da gente, tão sem saber o que fazer quanto eu.
- ! Não é isso, por favor, me deixa falar, por favor... - pediu, tocando no meu braço.
- NÃO ENCOSTA ESSA SUA MÃO SUJA EM MIM. - berrei, meu rosto provavelmente vermelho. se assustou, tirando as mãos de mim. - Elas já estiveram em muitos lugares, não é? - perguntei, ironicamente. Sequei uma lágrima. - Acabou, tá?
- Não! - ele gritou. Virei as costas e saí correndo da cozinha.
Três dias. Tínhamos durado só três ridículos dias.
Eu sou uma idiota por acreditar que a gente podia dar certo. Eu sou mesmo uma idiota.
Já tinham me dito que ele era assim, por que estou tão surpresa? Por que eu esperava que ele fosse me surpreender, afinal?
Corri mais e mais e mais. Acabei indo parar na praia. Joguei meus sapatos em algum canto e me sentei em uma das cadeiras de tomar sol que tinha ali. Coloquei as mãos na cabeça, vendo as ondas do mar se arrastarem. Mas as minhas águas, provenientes do choro, também se arrastavam. E pelo meu rosto.
- Você não tem o direito de acabar com a gente sem nem antes me escutar. - sussurrou uma voz conhecida. Me virei, só para ver ele sentado na mesma cadeira onde eu estava.
- Você pode falar sozinho, então. Eu realmente não quero te ouvir. - respondi asperamente e me levantei. Dei as costas pra ele mais uma vez, recolhendo meus sapatos.
agiu rapidamente, se levantando e me alcançando em segundos. Ele agarrou meu braço, e meu coração começou a bater mais forte. Porque era essa a reação do meu corpo quando ele estava por perto.
- Quer me deixar em paz? - pedi, tentando me desvecilhar dele. Foi inútil, já que ele era bem mais forte.
- Não. Não quero e não vou. - respondeu, me apertando mais forte. - Você é sempre assim tão teimosa?
- Pois é. Você saberia disso se a gente continuasse a, sabe como é, namorar. - dei um sorriso falso. rolou os olhos. - Pena que conseguiu me trair em menos de uma semana.
- A gente vai. - ele disse. Uni as sobrancelhas, me perguntando "qual parte do 'acabou' ele não tinha entendido". sorriu de um jeito malandro, e antes que eu percebesse, me pegou no colo.
Isso. Assim mesmo. Em um instante eu estava no chão, no outro eu estava fora dele.
- VOCÊ É DOENTE? - berrei, mexendo minhas pernas e batendo nele. - Me solta!
- Se eu te soltar, você cai. Pode se machucar e vai se sujar inteira. Então não, eu também não vou te soltar, . - ele sorriu novamente, andando comigo em seu colo.
estava tão calmo e tão seguro de si que chegava a assustar.
- Não me chama assim. - falei, cerrando os olhos pra ele. Parei de me mexer, já que também estava sendo inútil. - Só quem eu gosto me chama assim.
- Então eu vou te chamar assim pra sempre. - declarou, me colocando na bancada de um bar. - , , .
Rolei os olhos, me segurando pra não mandá-lo tomar naquele lugar.
- Escuta. - ele disse, as duas mãos postas ao meu lado, se certificando de que eu não fugiria. - O que você viu ali não tem nada a ver. Você viu a situação daquela menina? Ela estava completamente chapada, . Ela trombou comigo no meio da pista, quando eu estava indo te procurar depois de ter voltado do banheiro. Aí me pediu pra procurar mais bebidas na geladeira com ela. Eu fui, porque fiquei com pena.
- Nossa, que coisa boa termos você na face da Terra, não? Praticamente uma Madre Teresa. - falei, ironicamente.
Fala sério, ele esperava que eu acreditasse nessa história?
- Para de fazer isso, caralho. - bufou, nervoso. Fixou o olhar no meu e eu senti calafrios. - Eu nunca tive que dar explicação pra ninguém. Nunca tive namorada. Será que dá pra fazer o favor de me ouvir? É difícil pra mim, ok?
- Difícil pra você? - uni as sobrancelhas. - , você me traiu! - gritei, querendo mais do que tudo sair dali.
- , eu NÃO te traí! É isso que eu to tentando dizer, porra! Eu fui com a menina na cozinha porque ela pediu ajuda, aí do nada aquela maluca começou a me agarrar! Se você não acredita que ela que me pediu pra ir, pode perguntar pro ou pro . Eles estavam comigo quando trombamos com ela.
Abaixei a cabeça. Mas que droga, aquilo soava verdadeiro.
E ele até tinha álibis.
- Então por que você tava com cara de quem tava gostando? - perguntei, com a voz baixa.
- Gostando? Você tá louca, ? Aquela menina estava com um cheiro insuportável de maconha. Fora que também não parecia ter tomado banho. Mas, principalmente, fora que ela não é você! Como eu poderia gostar da sensação de qualquer outra menina grudada em mim depois de ter você, ?
O olhar dele demonstrava muita sinceridade. Ele não estava mentindo, dava pra sentir.
E eu até senti uma pontinha de orgulho próprio depois da última frase.
Bom saber que eu também tenho efeito sobre ele. Muito bom mesmo.
- E o seu celular? Cadê? - indaguei, lembrando das inúmeras vezes que liguei pra ele.
- Eu não trouxe. Tá no hotel. - suspirou. - , eu juro que estou te contando tudo. Toda a verdade. E de verdade.
Fiquei em silêncio.
- Por favor, acredita em mim. Por favor, não termina comigo... - sussurrou, baixinho.
Por alguma razão, nunca gostei de ver meninos tristes. E é pior quando você o está fazendo sofrer.
Com aquele poder de minerva, resolvi perdoá-lo. Sabia que ele falava com veracidade.
- Eu acredito. - falei, tão baixo quanto ele. Coloquei meus braços em volta do pescoço dele e colei minha testa na dele. - Eu acredito em você, .
- Sério? - ele abriu um sorriso imenso e eu também. Sua expressão era de uma felicidade imensa. - A gente não acabou, então?
- Não, . Afinal, só faz três dias que a gente se juntou. - gargalhei e ele me encaixou em sua cintura.
- Três dias é quase nada. Quero você durante uns bons três mil anos... - murmurou antes de me dar o melhor beijo da minha vida.

Quinta feira, 18:43 - Shopping Plaza Las Américas, Cancún

:

- E o que acha desse? - perguntou , saindo do provador com um vestido preto.
Sim. tinha me arrastado pra fazer compras junto com ela.
Eu não estava em posição de negar nada, já que dispensava outra discussão depois da horrível briga que tivemos na terça feira.
- Muito curto. - falei, torcendo a cara. - Não quero minha namorada mostrando as pernas para outros aí.
- Ai, ... - ela rolou os olhos e depois entrou no provador.
Ri pelo nariz, jogando minha cabeça para trás no sofá. Estava ficando meio entediado com aquele lance de levá-la pra comprar roupas.
- Preciso de ajuda para fechar esse zíper. - ela pediu, a voz mais alta para que eu ouvisse. Me levantei e fui em direção ao cômodo.
Abri a cortina, bufando. Me arrependi desse ato no instante em que a vi em um vestido curto, justo e vermelho. Ela estava com as mãos na cintura, e o zíper da peça, aberto, mostrando um belo pedaço das suas costas. Por ser justo, marcava todo o contorno de seu quadril e coxas. O bronzeado só ajudava a destacar ainda mais o quanto a minha namorada estava gostosa.
Foi então que despertei do tédio.
- Oi. - ela disse, inocentemente. Passou a língua pelos lábios, abrindo um sorriso depois. - Você me ajuda?
- Com todo o prazer. - falei, sorrindo maliciosamente.
Afastei o cabelo dela pro lado, colocando minha mão em suas costas nuas. A outra subiu para sua nuca. Agarrei e a prensei contra a parede do provador.
- Por um instante, achei que você fosse mesmo me ajudar. - falou, rindo. Mordi o lábio inferior dela, puxando-o levemente.
- Vermelho é sacanagem, . - sussurrei no ouvido dela, dando um beijo em seu lóbulo. pegou um punhado dos meus cabelos.
- Você tava meio mortinho, então... - ela disse, provocante. Sorri pervertidamente, pronto para fazê-la se arrepender de ter dito aquilo.
- Vou te mostrar quem é o 'mortinho' aqui. - murmurei, pegando-a no colo e encaixando ela na minha cintura. lançou os braços em volta da minha cabeça e eu colei nossas bocas mais do que depressa. Minhas mãos passeavam pelas costas dela, ainda descobertas, enquando as unhas de me arranhavam.
Nos beijávamos ferozmente, eu concentrado em aproveitar de cada centímetro das coxas torneadas dela. Ela correspondia, partindo o beijo para começar um trabalho no meu pescoço. Dava pequenas mordidas e chupões ali, enquanto eu arfava, ofegante.
O calor era grande, ainda mais naquele cubículo apertado. Puxei o rosto dela para unir nossas bocas novamente. Eu agora passeava minhas mãos pela barriga dela, sentindo-a contrair cada vez que apertava um pouco a região. devolvia me arranhando mais forte, mas por debaixo da blusa.
E ainda havia muito tecido entre nós dois.
Parti o beijo, encostando-a na parede. Ela me olhou interrogativamente, e eu tirei minha camiseta. Então ela sorriu, mordendo o lábio inferior. Dei início ao beijo novamente.
Agora, sem camiseta, cravava suas unhas ainda mais intensamente em mim. Eu sabia que aquilo deixaria algumas marcas, mas não estava nem ligando. Ela sabia como me fazer perder o controle.
Então, não aguentando mais tudo aquilo, comecei a abaixar o vestido. Centímetro por centímetro, pedaço por pedaço. Até que ele estivesse na altura da cintura dela.
congelou. E partiu o beijo.
Olhei pra ela, meio que perguntando "por que parou?".
- Desculpa. - pediu, abaixando a cabeça. Estava vermelha. - Não acho que deva acontecer assim, sabe? Quero dizer, a gente tá em um provador...
Ela parecia estar com tanta vergonha que não tinha jeito de discordar.
- É, você tem razão. - sorri, dando um beijo na ponta do nariz dela. fechou os olhos, enterrando o rosto no meu pescoço.
- Me desculpa, cabritinho. - sussurrou, dando um selinho na minha clavícula.
- Não tem por que pedir desculpas, . - falei, fazendo carinho nos cabelos dela.
- É que, bem, a gente tá junto há pouco tempo e... - confessou, cortando a frase. Ela focou o olhar no meu. - Tipo, não é que eu não confie em você, é só que é cedo demais, entende?
- , tá tudo bem. - disse, sorrindo pra ela. - Eu vou esperar, pode deixar.
- Obrigada por ser compreensivo. - ela sorriu meigamente.
- Tenho certeza que vai valer a pena.
riu mais um pouco e eu a coloquei no chão. Ajeitou o vestido e dessa vez eu o fechei. Peguei minha camiseta e também a coloquei.
- Você não estava nada morto, afinal. - falou, rindo.
- Eu não te disse? - ri também e ela rolou os olhos. - Queria te dar licença pra você se trocar, mas acho que não posso.
- Por que? - perguntou, confusa.
Apontei pra minha calça, tomada por um certo volume. gargalhou alto.
- Você tem que se comportar pra passar, tá? Nada de ficar aí seduzindo os outros com um vestido vermelho.
- Ah, então quer dizer que eu te seduzi? - perguntou, se sentando em um banquinho no canto do cubículo. cruzou as pernas de um jeito muito sensual e me olhou, sorrindo perversamente.
- , por favor, sem provocar. Sério. - pedi, vendo ela rir e se divertir.
- Tá bom, parei. De verdade.

Sexta feira, 09:09 - quarto 160 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

O celular de tocou irritante e insistentemente, indicando que era hora de acordar.
Grunhi, irritado por ter meu sono perturbado. Por que tínhamos que acordar todos os dias tão cedo, mesmo?
"Porque senão não aproveitaríamos o Caribe, ", respondeu a voz de em minha cabeça. Era a mesma resposta que eu recebia toda vez que perguntava. E não, eu ainda não conseguia aceitar isso. Puta que pariu, viu!
Cocei os olhos, sonolento. Abri o esquerdo preguiçosamente, apenas para ver bater a mão na escrivaninha e deixar cair o celular. Tateei a cama a procura do meu, encontrando-o embaixo do travesseiro. Devo ter dormido depois da longa conversa com .

"Oi, ! Só mandando a mensagem pra saber se você tá vivo. Você parece ter me esquecido completamente enquanto está aí no México... Bem, caso tenha, você se lembrará, se é que me entende.
xx Hay"


Merda.
Fechei os olhos e torci a cara, esperando ter sonhado com o SMS e que ele não era real.
Mas era bem real. Bufei ao constatar e resolvi que responderia depois.
Eu precisava resolver.
Merda, definitivamente não sei lidar ao certo com os sentimentos das pessoas. Principalmente quando esses sentimentos envolvem amor, como é o caso da Hayley. Qual é, ela tinha se declarado pra mim!
E agora eu a machucaria...
Comprimi os lábios, acordando de vez. Levantei-me da cama, recolhendo minha camiseta do chão. ainda roncava alto, quase babando no travesseiro.
Três dias, . Você tem três dias até ter que enfrentar a fúria de uma menina com o coração partido.

Sábado, 10:17 - Playa Tortugas, Cancún

- Doeu muito pra fazer? - perguntei a , passando meu polegar pela tatuagem dela.
e eu estávamos sobre a toalha de praia dela, esticada próxima ao guarda sol das meninas. estava sentada, e eu, com a cabeça no colo dela. Ela olhava pro mar, seu rosto meio vermelho por causa do sol e os cabelos um pouco bagunçados. Ela mordeu levemente o lábio inferior e deu um sorrisinho, murmurando alguma coisa que eu nem percebi porque estava babando por aquela menina.
- Entende? - finalizou, acariciando meus cabelos.
- O quê? - olhei pra ela, que rolou os olhos.
- Tava avoado com o que, ? - indagou, chegando bem perto do meu rosto. Dei um selinho nela.
- Com você, .
Ela corou, o rosto ficando mais avermelhado do que já estava.
- Besta. - desdenhou. - Mas, então, como eu ia dizendo, doeu bastante. Confesso que pedi pro tatuador parar algumas vezes porque eu simplesmente perdia a visão.
- Caramba, . - falei, assustado. - Mas você se arrependeu?
- Nunca. - respondeu, olhando a tatuagem. - Eu adorei o resultado.
- Eu também. - sorri. - Quero fazer algumas também.
- Ah, você tem que fazer! É típico de banda. - disse, rindo. - Vocês tinham que fazer umas tatuagens em conjunto, sabe?
- E é isso que a gente quer! Já planejamos algumas no pé. - ri, lembrando da conversa com os caras.
- E qual desenho? - perguntou.
- Não chegamos em um consenso. tem umas ideias muito otárias, você tinha que ouvir.
- Obrigada, eu dispenso. - riu, enrolando seus dedos nos meus cabelos. - Posso me deitar com você?
- Você acha mesmo que eu faria alguma objeção à essa pergunta, ? - arqueei uma sobrancelha.
Ela gargalhou e me deu um tapa leve, se postando ao meu lado. Depois, deitou, encostando sua cabeça no meu peito.
- Tem quanto tempo até a gente voltar pra realidade?
- Dois dias. - murmurei, deslizando meus dedos pela cintura dela.
Fechei os olhos, tentando expulsar a ideia de uma Hayley furiosa da minha cabeça. Mordi meu lábio inferior, abrindo os olhos. Observei fazer uma cara de desgosto.
- Argh... - ela lamentou. - Bem, pelo menos temos até a outra semana pra voltar às aulas.
- É, pelo menos isso.
- Você tem que se preparar, tá, cabritinho? Quando a gente voltar, vamos ter que continuar com aqueles estudos. Você precisa recuperar suas notas.
- Ah, ... Eu acho que a senhora Middle tá blefando. Duvido que ela faria alguma coisa ruim comigo.
- Certo, . Mas não vai testando sua sorte não. Ela me assusta. - disse, arregalando os olhos. - E voltando ao assunto, a gente vai ter que estudar juntos, tá?
- Bom, pelo menos tenho sorte de namorar uma garota inteligente e que me ajuda. - sorri, dando um beijo na testa dela.
- Viu só? Você está no paraíso, .

Domingo, 21:29 - Ruth's Chris Steak House, Cancún

- , é sério, cala a boca. - disse , diante da piada totalmente sem graça que tinha feito.
- Ah, meu, vocês não têm senso de humor! - reclamou , franzindo o rosto. - Amor, diz pra eles que foi engraçado.
- Ai, ... Não vai dar. - falou, rindo da cara de indignada que o namorado fez. - Tá, vai. Foi mais ou menos engraçado.
- Não, não foi. - bebericou o suco de laranja. - Você já teve melhores, .
Era o nosso penúltimo dia em Cancún. reclamou que não suportava mais comer peixe, então sugeriu o Ruth's Chris Steak House.
- Quero sobremesa. - disse, recolhendo o cardápio. - Acho que quando voltar pra Londres vou ter que fazer um regime nervoso.
- Somos duas. A gente só comeu e ficou na praia aqui! - fez uma cara de preocupada.
- E o que as bonitinhas esperavam de uma viagem de férias? - perguntei, abraçando pela cintura. Ela me deu um sorriso, colocando a mão na minha perna.
- Sei lá. Bom, de qualquer jeito, penso nisso depois. Agora, acho que vou pedir esse waffle. - disse , apontando pra um pedaço do cardápio.
Desviei minha atenção para , que mexia no celular. Ela tinha o rosto tenso, demonstrando uma leve preocupação.
- O que foi? - perguntei. Ela estremeceu, levando um pequeno susto.
- Nossa, você me assustou. - disse, guardando o celular na bolsa.
- Desculpa. - pedi, encostando meu cotovelo na mesa. Olhei pra ela. - Aconteceu alguma coisa?
- Ah... - passou a língua pelos lábios, o rosto ainda meio aflito. - Não.
- Mentira. - falei, tocando a bochecha dela. - Desembucha, vai.
- Hmm... - murmurou, resolvendo, por fim, falar. - É que quando a gente voltar, tenho um problema pra lidar.
- Ian? - perguntei, imaginando que ela passava pela mesma situação que eu.
- É... - ela entortou o maxilar e fixou o olhar em mim. - Mas vamos deixar isso pra lá. Sei que vai dar tudo certo, de qualquer jeito.
- É, vai mesmo. - falei, tentando dar um sorriso. - Quer sobremesa?
- Lógico. Já que é pra engordar, vou engordar com gosto. - riu, pegando o cardápio.

Segunda feira, 10:30 - próximo a Starbucks da Forum By The Sea, Cancún

- Puta que pariu, tá um calor do cão. - xingou , tirando os óculos escuros. - De quem foi a ideia de vir a pé, mesmo?
- Da . - apontei para trás, onde ela andava junto com .
- O que tem eu? - ela gritou, levantando o braço.
- Só to pensando em quem tenho que amaldiçoar por ter me feito andar nesse calor infernal. - respondeu , mal humorado.
- Ah, zinho... Pelo menos a gente tá queimando algumas calorias. - disse , rindo. riu também. Andávamos de mãos dadas.
mostrou o dedo do meio pra ela, que riu mais ainda.
- Relaxa, moço. É logo ali. - apontou pra cafeteria. Ele fez um gesto de louvação.
Chegamos a cafeteria em mais alguns minutos. Arranjamos um lugar e nos sentamos, recebendo da garçonete oito menus.
- Vou me jogar num Frappucino e não quero nem saber. - disse , largando a bolsa em cima da mesa.
- Admirável esse seu amor pela nossa terra, colega. - falou, apontando para bolsa de , que tinha o desenho da bandeira do Reino Unido.
- Idiota. - revirou os olhos, rindo. - Mais amor pela Chanel, na verdade.
- Mentirosa. - disse. - Você ama a terra da Rainha que eu sei, .
- E ama os ingleses também. - falei, piscando pra ela. riu, apoiando a cabeça no meu ombro.
- Ih, se liguem! Seus convencidos.
- Não dá pra evitar. A gente é um povo muito bom, sabe? - entrou na brincadeira. - E todo mundo baba pelo nosso sotaque.
- Eu não gosto, tá? Prefiro o australiano. - disse, fazendo cara de esnobe.
- Você gosta da Austrália? A nossa Rainha manda lá também. - disse , e todos nós rimos.
- Malditos britânicos! - xingou, dando-se por derrotada. piscou pra ela, pegando o menu depois.
- A primeira fase de tudo é a negação, . - apoiou as mãos no cotovelo. - Depois, sabe como é... Vem o amor.
Fiquei ali, alheio à conversa do grupo. Olhei pra , deitada em meu ombro. Ela deu uma risada gostosa, fazendo com que eu sorrisse também.
Não é engraçado como certas pessoas podem te fazer bem?

- Tudo bem, como você quer aproveitar nosso último dia no Caribe? - perguntou , apoiando o queixo nas mãos, espalmadas em meu peito.
A gente estava deitado na cama do quarto que ela dividia com . As camas delas eram de solteiro, então tínhamos que ficar bem perto um do outro pra caber.
O que era uma glória, claro. Também era ótimo que as meninas tinham resolvido ir com os caras na praia, deixando eu e sozinhos. E aquele shorts dela só servia pra melhorar mais ainda a situação. Quero dizer, o comprimento...
- Bom, eu aproveitaria aqui. Nesse quarto mesmo. - sussurrei em seu ouvido, num tom malicioso. Depois, beijei o pescoço dela. - O que você acha?
sorriu de lado, tomando uma atitude que eu não esperava. Ela ficou por cima do meu corpo e encaixou as pernas ao meu redor. Depois, se aproximou do meu rosto, os cabelos jogados pra um lado de uma maneira que a deixava totalmente sensual.
- Você quem sabe, . - murmurou, mordendo o lábio inferior. - Só não me faça arrepender, então.
- Jamais. - sorri pervertidamente, colando minha boca na dela mais do que depressa. fechou os olhos e abriu a boca, permitindo que eu aprofundasse o beijo. Levou sua mão à minha nuca, subindo depois para puxar alguns fios de cabelo. As minhas foram para o rosto dela. Fiz um carinho rápido com os dedos e depois deslizei pelas suas costas. apoiou-se em meus ombros, fincando as unhas no meu braço. Apertei sua cintura, sentindo seu corpo contrair com o toque. Desci um pouco mais, levantando a barra da blusa que ela usava. Passei o dedo pelas covinhas das costas dela.
- Já ouviu o que dizem sobre pessoas com covinhas nas costas? - perguntei, cortando o beijo. tinha o rosto rosa e os olhos brilhantes.
- Sério que você parou por isso? - arqueou uma sobrancelha, ainda rindo. - Tudo bem, o que dizem?
- Que quem tem é bom de cama. - sussurrei, a tempo de ver ela corar intensamente. - Teoria interessante pra ser testada, não é?
Ela riu novamente, e eu a calei com um beijo. Girei ela na cama, fazendo-a ficar por baixo. Continuei com a mão direita por debaixo de sua blusa, aproveitando cada centímetro de sua barriga. puxava meus cabelos de um jeito mais feroz, o que me fazia querer ir mais longe. Então, com a mão esquerda, puxei o laço que prendia a frente da bata dela.
Abri os olhos, a tempo de ver um sutiã vermelho se revelando quando o nó se desfez.
Caramba, essa menina está tentando me matar.
puxou minha camiseta pra cima, fazendo-me parar o beijo pra que ela retirasse a peça.
- Gostei da cor. - eu disse, apontando para o sutiã semi relevado através de sua blusa.
- Ouvi dizer que você gosta de vermelho. - piscou, jogando minha camiseta no chão. Colou nossas bocas novamente, agora apertando cada parte do meu abdômen. Depois, passou a arranhar minhas costas.
Apalpei o quadril dela, indo depois para sua bunda. Era a primeira vez que ela deixava eu fazer isso, então já estava explodindo de desejo quando comecei a abrir seus shorts.
E, nesse momento, ouvimos três batidas na porta.
- Puta que pariu. - xinguei, partindo o beijo.
O clima já estava totalmente quebrado. fez uma cara aflita, rapidamente fechando os shorts e amarrando um laço na blusa. Ela se levantou, agachou, pegou minha camiseta e jogou-a até mim. Eu bufei, recolhendo a mesma e a vestindo.
passou pelo espelho, prendendo o cabelo em um coque. Lambeu os lábios, virando pra mim. Sibilou "tudo bem?". Dei de ombros e permaneci sentado.
Ela me enviou um beijo, abrindo a porta em seguida. A imagem de uma sorridente apareceu por trás da madeira.
- Oi, pessoal! - disse ela, entrando no quarto. - Atrapalhei vocês?
- S... - comecei, sendo censurado por um olhar de .
- Não, . Imagina. - falou , sorrindo. Fechou a porta, pegando no braço da amiga. - O que aconteceu?
- Ah, é que eu esqueci de pegar meu protetor. E bem, já estou bastante bronzeada. Se pegar mais sol, vou ficar toda descascando. - explicou, andando com em direção ao guarda roupa delas.
- Sei. - disse , sentando-se na ponta da cama, a uma distância considerável de mim. - Vocês estão todos na praia?
- Aham. - abriu uma pequena mala, retirando de lá dois tubos de Coppertone.
- Então a gente vai com vocês. - olhou pra mim, meio que pedindo. Eu franzi o cenho, mas acabei concordando.
Porra, a gente não ia ficar no quarto?
- Anh... É, vamos sim. - falei, dando-me por vencido.
É, não ia acontecer. Pelo menos não hoje.
- Tudo bem! Vamos, então? - pediu , recolhendo uns óculos escuros que estavam na cômoda dela. - Ah, e depois do almoço a gente vai ter que arrumar as malas, tá?
- Ok. - murmurou. Ela se levantou, estendendo a mão pra mim. Me movi até ela, entrelaçando nossos dedos. O clima entre a gente estava estranho, e eu bem sabia por que.
- Me desculpa? - sussurrei no ouvido dela. Saímos do quarto, andava à nossa frente. me olhou. - Por ter te pressionado com esse papo de covinha e... Bem, você sabe. Quase te forcei a fazer algo que você não queria.
- , para. - disse, com a voz firme. - Você não fez nada que eu não quisesse. Ou deixasse.
- Tem certeza? Eu forcei a barra, vai. Pode falar. - comprimi meus lábios, nervoso. - Por favor, só diz que você me desculpa.
- ! - exclamou alto. Tão alto que chamou a atenção de sua amiga, que nos olhou por um segundo. - Eu não vou te desculpar, porque você não fez nada de errado. Eu poderia ter te parado, só que tava bacana, sabe?
Sorri, malandro e dei um beijo na testa dela.
- Mas vale lembrar que a gente precisa maneirar um pouco. - sibilou, os olhos estreitando-se. - Só faz oito dias, .
- Você coloca um sutiã vermelho e um shorts desse tamanho e quer que eu me segure? - perguntei, fingindo indignação. gargalhou. - Namorada cruel essa que eu fui arranjar.

Terça feira, 08:05 - quarto 160 do Le Blanc Spa Resort, Cancún

PI, PI, PI, PI, PI...
- MAS QUE MERDA! - vociferou , batendo com força no despertador ao seu lado. Cocei os olhos, sonolento demais pra ligar pros xingamentos do .
Toc toc toc.
- Puta que pariu, hoje é o dia, hein? - grunhiu, levantando-se num salto. Abri um olho, ainda drogado de sono.
foi em direção à porta e a abriu sem nem ver quem era.
- Bom dia, doçura. - disse , entrando no nosso quarto. estava junto com ele. - Cadê a bicha ?
Levantei a mão.
- Aqui. - falei. deu um risinho malicioso e pulou em cima de mim, junto com . Senti o peso dos dois cair sob a minha barriga e berrei. - AH, VÃO TOMAR NO CU.
- Pra que vocês vieram aqui? - perguntou , deitando novamente.
- Nem pense em dormir de novo, . As meninas já estão nos esperando lá embaixo. - falou . - Só vamos tomar um café e seguir para o aeroporto.
- Vocês fizeram as malas, né? - tirou os tênis, deitando na minha cama. Eu me levantei, pegando o celular da cômoda.
- Mais ou menos. - assumi, lembrando das zilhões de coisas que eu ainda precisava arrumar.
- Porra, ! - xingou . - , vai tomar banho primeiro. A gente vai ajudar o gay aqui.

- Gosto de aeroportos. - confessou, com a cabeça encostada no meu ombro. Dei um selinho nela, passando os braços por sua cintura.
Agora, a gente aguardava nosso voo. O tempo estava um pouco ruim, então tinha grande chance dele atrasar.
- Ah... Não gosto muito de voar. - fiz carinho na curva do quadril dela. - Então não sou assim tão fã.
- Esse seu medo vem de algum lugar, ?
- Não especificamente, . Só acho estranho ficar dependendo do céu, sabe? Ele não tem apoio, sei lá. Não faz sentido pra mim. - sorri sem mostrar os dentes. - E o seu medo de altura? Tem algum motivo?
- Caí de uma escada, uma vez. - murmurou. - Acho que fiquei traumatizada. Mas assim, se eu não estiver vendo que estou nas alturas, não tem problema. Tipo num avião ou elevador. Mas rodas gigantes sempre foram um pesadelo pra mim.
- Até aquele dia... - sussurrei, lembrando do primeiro dia dela em Londres.
- Sim, . Até o dia em que você me levou na London Eye e me agarrou.
- E você não gostou? - perguntei, sorrindo de canto.
- Lógico que gostei. A prova disso é que eu te namoro hoje, seu inglês metido.

O voo iniciou a aterrissagem ao mesmo tempo em que aquela pressão ruim começou a atazanar o meu ouvido. Apertei a mão de muito forte, quase a esmagando.
- Tá tudo bem, . - ela sorriu ternamente, me dando um selinho. - Eu to aqui com você.
Confirmei com a cabeça silenciosamente, fechando os olhos. Aos poucos, fui sentindo o incômodo diminuir e abri os olhos.
me encarava de um jeito preocupado.
- Viu só? Ficou tudo bem, a gente já chegou. - ela me deu outro selinho.
- Obrigado, .
O avião logo parou. A aeromoça veio fazer aquele discurso de despedida e começamos a recolher as bagagens pequenas.
Em alguns minutos, nós oito já estávamos fora do avião. Era início da madrugada em Londres.
Uma rajada de vento gelado passou por nós, e eu senti estremecer ao meu lado. Tirei meu moletom e coloquei sobre os ombros dela.
- Você vai passar frio! - disse, fazendo menção de retirar a peça que eu a havia dado.
- Shhhh. - murmurei, passando o braço pela cintura dela. - É minha vez te de proteger.
- Sinto falta do calor de Cancún. - reclamou, fazendo um bico. Eu ri, dando um beijo na têmpora dela.
- Eu vou sentir falta de várias coisas de lá também. - sussurrei, pensando no quanto estava encrencado agora que estávamos em Londres.


XXIV. I don't want this moment to never ends


(With Me - Sum 41)

Quarta feira, 03:00 a.m. - hall da minha casa

:

Abracei mamãe, sentindo meu rosto ser coberto de beijos e uma jato de perfume Chanel Nº 5.
- Filha, senti tanto a sua falta! - ela disse, me apertando forte. Sorri largamente, dando um beijo no rosto dela.
Nosso voo tinha chegado em território londrino há meia hora. Me despedi das meninas e de , e, graças à Deus, Peter - nosso motorista - nos aguardava na sala de check-in, diferente do dia em que nos mudamos pra cá.
O aeroporto de Heathrow, ao contrário, estava bastante igual ao dia da minha mudança. Nevava naquela noite, assim como nessa.
Mas, enfim, tinha outra coisa bem diferente: eu. Antes, estava odiando me mudar. Mas agora percebia o quanto isso só me tinha feito bem: consegui amigos incríveis, numa cidade linda e um namorado maravilhoso.
Pai, mãe, obrigada pelo combinado estúpido. No fim, ele foi bastante válido.
- Eu também senti a sua, mãe! - murmurei, sentindo meus cabelos serem afagados. Ela me deu mais um beijo e me soltou, bastante emocionada. Ri baixinho, vendo fechar a porta de casa.
- , quanto tempo! - disse papai, vindo de braços abertos em minha direção. Ele sorria largamente, entusiasmado.
- Oi, pai! - falei, abraçando ele. - Sentiu muitas saudades?
- Claro que sim, meu anjo. Essa casa fica muito vazia sem você. - ele riu e eu também.
Espiei entrando em casa carregado de malas. Soltei-me de meu pai, tirando o moletom de .
- Não vou nem perguntar a razão de você estar com uma jaqueta masculina, . - papai murmurou, fazendo uma cara séria.
- Hmmm... - comprimi meus lábios, olhando pra minha mãe. Seu rosto carregava uma expressão interrogativa. - Podemos falar sobre isso mais tarde?
- Depende. Vou gostar da notícia ou não? - papai perguntou, cruzando os braços. Revirei os olhos, rindo.
- Ele é um cara legal, tio Paul. - disse, dando tapinhas no ombro do meu pai.

xxx


Quarta feira, 15:19 - meu quarto

Abri um olho, observando a frestinha de luz que saía do corredor do meu quarto.
Bocejei, ainda muito sonolenta.
Virei para o outro lado da cama, fechando novamente os olhos. E aí ouvi três batidas na porta.
- Filha? - minha mãe arriscou, entrando no quarto. - Você está acordada?
- Aham. - murmurei, virando para vê-la. Ela sorriu e andou até mim, enquanto eu coçava os olhos.
Mamãe sentou-se na cama, começando a fazer carinho nos meus cabelos.
- Eu queria te perguntar mais sobre o dono desse moletom. - ela sussurrou, rindo baixinho. Abri um sorriso também.
- Fala, mãe. - me sentei, acordando de vez. Liguei o abajur, tirando o edredom.
- Presumo que ele foi com você na viagem, certo? - indagou, colocando seus cabelos para o lado.
- Oui. - afirmei, cruzando os braços.
- Corta esse francês, . - ela esnobou, ficando de frente pra mim.
- Ok, ok. - ri. Inglaterra e a eterna rixa com a França.
- É o tal de Yan? - perguntou, interrogativa. Comprimi os lábios.
- Não, mãe. - passei a língua pelos lábios, nervosa. - E o nome dele é Ian. Mas eu meio que troquei ele pelo .
- Ahhh... - ela murmurou, fazendo uma pausa para pensar. - É aquele amigo do ?
Eu fiz que sim com a cabeça.
- Troca esperta, minha filha. O é mais bonito. - ela disse, dando de ombros.
Gargalhei, pensando no quanto era sortuda por ter uma mãe tão compreensiva.
- E você está namorando, então?
- Sim. E olha só, ele é inglês! - falei, rindo. Minha mãe riu também.
- Estou gostando cada vez mais desse meu genro, hein.
- Isso é ótimo! - exclamei. - Porque eu espero que você me ajude a dar a notícia ao papai. - mordi o interior da minha bochecha, apreensiva.
Meu pai é um pouco ciumento, principalmente porque eu sou filha única. Sabe aquela história de garotinha do papai e tal? Então.
- Sem problemas, . Vou preparar o terreno, mas traz o aqui ainda essa semana, ok?
- Pode deixar. - bati continência, imitando um soldado. - Mãe, vou precisar que o Peter prepare o carro para a noite, tudo bem?
- Onde você vai? - perguntou, as sobrancelhas unidas.
- Preciso dar a notícia pro Ian... - murmurei.
Ela concordou, sentindo a minha tensão. Pegou na minha mão e fez carinho na minha testa, dando um beijo ali.
- Boa sorte, . É a coisa certa a se fazer.

- ! - gritei, arrancando meus fones de ouvido Beats. - , VEM CÁ! - gritei novamente, deitada na minha cama.
- AH NÃO, ! EU 'TO JOGANDO, VEM VOCÊ AQUI. - ele berrou de volta.
Rolei os olhos, xingando baixinho.
Saí da cama, fechando a tampa do notebook. Andei até o quarto dele e abri a porta, encontrando o sentado no chão, próximo à televisão.
- Folgado. - murmurei, caminhando até ele. Sentei ao seu lado.
- Se Maomé não vai a montanha, montanha vai a Maomé, não é? - perguntou, rindo. - Vou pausar aqui, peraí.
- Ah, seu desgracento, quer dizer que você podia pausar e ainda assim não foi até o meu quarto?
- Aham. - sorriu, malandro. Apertou um botão e a imagem da tela congelou. - Agora fala, bonitinha.
- Preciso da sua ajuda. - falei, mordiscando meu lábio inferior.
- Vixe, , esse tipo de serviço só o pode fazer contigo. Além disso, somos primos, esqueceu? - murmurou, rindo.
Dei um tapa nele, rindo depois.
- Otário. - xinguei, sentindo minha bochecha arder de vergonha. - É sério, eu preciso da sua ajuda.
- Chora, priminha. - disse , abrindo um sorriso pra mim.
- Você pode fingir ser o Ian para que eu possa ensaiar como terminar com ele hoje? - cuspi a frase, direto e sem pausas.
Houve alguns segundos de silêncio. Depois abriu a boca e gargalhou. Alto e sonoro.
Dei um tapa de leve nele.
- , poxa! Eu to falando super sério. - murmurei, emburrada. Ele continuava a chorar de rir.
- ... - falou, entre risos. - , pelo amor de Deus...
Continuei com a cara séria. foi se acalmando aos poucos e, por fim, parou de rir.
- Pronto? Agora o senhor já pode colaborar? - perguntei, com um bico.
- Ai, , sem ficar bravinha, vai. - ele me abraçou. - Desculpa, mas é que foi engraçado.
- Não achei. - eu disse, abraçando ele de volta. - Agora vai. Você me deve essa.
- Devo, é? E por quê? - arqueou a sobrancelha, cruzando os braços.
- Porque eu sempre te ajudo com seus problemas com a . E porque se você fizer isso, vou contigo comprar o presente dela na semana que vem. - respondi, desafiando-o.
- Então, como é a pose desse francês viadinho?

Expirei a maior quantidade de ar possível, abrindo meus olhos de uma só vez. Encarei meu reflexo no espelho, com o coração batendo num ritmo descompassado.
Acho que nunca estive tão nervosa em toda a minha vida.
Durante os meses que ficamos juntos, Ian tinha sido um verdadeiro príncipe. Ele sequer tinha brigado comigo quando me agarrou em público. Quero dizer, é claro que ele nem tinha esse direito, porque não éramos fixos nem nada. Mesmo assim, outros caras teriam pirado.
"E ele pirou, . Socou seu atual namorado, lembre-se disso" sussurrou minha memória.
Atual namorado. . Certo.
Vamos lá, preciso fazer isso. Você ensaiou o que falar, você consegue.
Recolhi o Blackberry do pufe do meu closet e pesquei o número dele na agenda. Liguei, esperando quatro vezes até ser atendida.
- Oi, Ian. Sim, voltei hoje. - murmurei, monossilábica. - Aham, tá tudo bem. Escuta, eu posso ir na sua casa? - mordi o interior da minha bochecha, pronta pra dizer aquela frase que antecede todos os términos. - A gente precisa conversar.

Quarta feira, 21:06 - Audi de

- Como foi? - perguntou assim que eu entrei em seu carro.
Comprimi meus lábios, repassando os últimos perturbados dez minutos na minha cabeça.
- Silencioso. - falei, piscando duas vezes. Coloquei o cinto. - Desculpa te fazer vir me buscar, é que ninguém podia e eu não me sentiria bem saindo da casa do Ian pra entrar no carro do .
- Sem problemas, vaquinha. - ela sorriu de canto. - Agora vai, me conta.
- Ok. - concordei. Eu precisava desabafar, afinal.

Tudo já começou esquisito. Quando eu cheguei, ele já tava me esperando na porta. Graças a Deus os pais dele não estavam lá, porque seria ainda pior.
A gente se cumprimentou. Ele me deu um selinho, mas eu não deixei que ele aprofundasse. Acho que ele percebeu, porque fez uma cara esquisita depois. Pediu pra eu entrar.
A casa dele é lindíssima, . Tem um monte de decoração francesa e juro que vi umas quatro réplicas pequenas da Torre Eiffel. E... Ai, tá bom, vou pular essa parte.
Subimos pro quarto dele. É bem bagunçadinho, mas de um jeito legal. Não, eu só reparei porque foi onde a gente ficou. Para de falar essas coisas pervertidas, eu to com o agora.
Ele perguntou sobre o que eu queria falar. Eu abaixei a cabeça e juntei as mãos. Elas estavam suadas, , foi nojento.
E então eu comecei.
- Hmm... - murmurei, mordendo loucamente meu lábio inferior. Eu tava muito aflita. E ele tava muito próximo de mim, o que só piorava tudo. - Olha, Ian, eu sinto muito, mas acho que o que vou te falar não é muito legal.
- Eu imaginei. - ele disse, fixando aqueles olhos estupidamente azuis em mim. Eu estremeci, mas segui.
- Bem, é só que... - hesitei novamente. Ian me olhou de novo, meio que me estimulando a prosseguir. - Você é uma pessoa super legal. Sério, você é mesmo. Foi uma das mais simpáticas que eu conheci. Desde a primeira vez que a gente se trombou, lembra? - perguntei e ele concordou. - Por isso eu não quero que você pense que isso é culpa sua. Porque não é. De verdade.
Sim, , eu usei a porra do 'de verdade'. Me senti um pouco mal depois.
- A culpa é minha. Enquanto a gente tava junto, nunca estabelecemos regras nem nada, não é? Isso significa que ninguém devia fidelidade ao outro. E, bem, Ian, eu tenho ficado com outra pessoa. Assim como eu acho que você também.
- Não, , eu não tenho. - ele se adiantou em dizer. O semblante dele era muito triste.
Isso cortou meu coração. Todo esse tempo eu ficando com os dois e o Ian só comigo.
- Ahn... - eu sibilei, nervosa demais pra falar qualquer outra coisa. - Mas quanto à essa pessoa que eu tenho ficado, Ian, é com ela que eu quero ficar daqui pra frente. E dessa vez, é namoro.
Aham. Eu disse tudo isso de uma vez. Não aguentava mais ficar enrolando.
Aí ele abaixou mais a cabeça. Eu achei que ele fosse chorar, . Então peguei na mão dele, apertando ela bem forte.
- Me desculpa, me desculpa. - era a minha vez de quase chorar. Quero dizer, não chorar, porque eu não tava exatamente triste. É errado isso?
Só tava meio triste porque ele ficou triste.
O Ian concordou com a cabeça, silenciosamente. Eu apertei a mão dele um pouco mais forte e me aproximei. Dei-lhe um abraço rápido, completamente sem jeito.
Após uns dois minutos a coisa começou a ficar ainda mais estranha. A atmosfera estava muito pesada, então eu decidi que era hora de ir embora. Descemos, ele ainda em silêncio.
Ian abriu a porta pra eu sair. Fitei os olhos dele, . E estavam opacos. Foscos, sem brilho. Sem nada.
- Eu sinto muito mesmo. - falei mais uma vez.
Ele deu de ombros, mudo.
- No fim, eu sempre perco tudo pra esse .
Abaixei a cabeça. Achei melhor não perguntar o que era o "tudo", porque eu não tinha mais o que dizer. Dei um beijo na bochecha dele e vim pra cá.


- Silencioso mesmo. - disse , parando no sinal vermelho. - Mas pensando bem, mas não é melhor assim do que ele gritando com você?
- Não acho... - peguei um punhado do meu cabelo, olhando pra minha amiga. - O silêncio é um barulho assustador.

Quinta feira, 12:01 - Maze Grill

- Já pensou se alguém não gosta da comida daqui e vai brigar com o Gordon Ramsay? - sugeriu, sentando-se ao meu lado na mesa.
- Credo, duvido que alguém arriscaria. - falei, colocando minha bolsa Céline preta no cantinho da cadeira. - Fico aflita só de ver ele gritando com os outros em Hell's Kitchen.
As meninas riram e concordaram. Tirei meu celular e o deixei em cima da mesa, só pro caso de telefonar.
Eu tinha contado sobre o término com Ian. Agora era a vez dele fazer o mesmo com a Hayley. E ele faria isso hoje, como tinha prometido.
- Sejam bem vindas aos Maze Grill, senhoritas. - o garçom se apresentou, entragando vários cardápios pra gente. - Sou Luke e irei servi-las hoje. Aqui estão os menus, fiquem à vontade.
- Obrigada, Luke. - sorriu e ele saiu.
- Vou precisar de um regime nervoso quando as aulas voltarem. - reclamou, fazendo bico. - Vai, me falem umas maneiras rápidas de perder peso.
- Ouvi dizer que uma hora de sexo queima até 360 calorias. - murmurei, levantando as sobrancelhas.
Três pares de olhos se viraram pra mim. Corei de vergonha.
Aí elas gargalharam. E eu também, claro.
- Como raios você sabe disso, ? - perguntou , vermelha.
- Li em algum lugar. - respondi, comprimindo os lábios.
- Que tipo de coisa você anda lendo, pequena ? - deu um sorrisinho malicioso.
- Ai, rídiculas. Me deixem. - fiz cara de emburrada, rindo baixinho.
- Não, cara, se isso for verdade eu vou ligar pro a-g-o-r-a. - disse, dando ênfase na última parte da frase.
- Putz, me poupe, . Não quero mesmo saber dos coitos entre você e o meu primo. - fiz cara de nojo, recebendo um tapinha e um "besta" dela.
- Até que faz sentido. Nunca vi nenhuma biscate gorda. - sugeriu, abaixando o cardápio.
- Pois é. Pensa na Hayley e na patrulha de amigas dela. - encostou na cadeira. - Todas magérrimas.
Torci a cara ao ouvir o nome dela. percebeu e me encarou.
- Falando na loira gema, o já terminou com ela?
- Ainda não... - sibilei. - Ele disse que ia fazer isso hoje.
- Ótimo. - sorriu cheia de segundas intenções. - Vou adorar ver a cara de tacho da Herch vadia na segunda.
- Venenosa. - riu. - Mas eu também vou gostar.
- E eu, muito mais. - murmurei, mordendo o lábio.
- Pelo visto, você não seguiu meu conselho, né, ? - perguntou. Uni as sobrancelhas. - Acabou mesmo se apaixonando pelo .

Quinta feira, 18:55 - sala de estar da minha casa

Lancei um sorriso de canto pra e toquei em suas mãos. Ele estava suando frio, o nervosismo evidente.
- Só confirma pra mim: o seu pai não tem uma arma não, certo? - perguntou, fixando os olhos em mim.
Eu gargalhei, colocando a mão no rosto dele. Fiz carinho em sua bochecha, tentando acalmá-lo. Ele fechou os olhos e encostou sua cabeça no sofá.
- , relaxa... - cochichei em seu ouvido, dando um beijo no pescoço dele. - Meu pai só parece bravo, mas ele não é nada disso.
- Tem certeza? Em "Busca Implacável" o Liam Neeson sai matando todo mundo porque pegaram a filha dele e...
- É, mas tinham sequestrado ela e iam vendê-la pro tráfico, né? - rolei os olhos, dando uma risadinha. - E o pai dela era ex agente da CIA; o meu só tem uma gravadora, fica tranquilo.
- Não vou conseguir. - ele levou as mãos à cabeça, bagunçando os cabelos. Bufou alto. - Ficar tranquilo e tudo o mais. Mas você podia me ajudar a relaxar, não é? - sugeriu, arqueando as sobrancelhas de um jeito malicioso.
- Cretino. - xinguei, rindo baixinho. Puxei-o para mais perto, dando-lhe um selinho rápido. - Pronto.
Ele sorriu sem mostrar os dentes e me deu outro.
E eu lhe dei outro. E ele me deu outro.
Assim seguimos por uns quatro ou cinco leves selinhos, até que decidiu que era hora de aprofundar as coisas.
Puxou minha cintura e fez com que eu me inclinasse sobre seu corpo. Depois, deu um sorriso torto e me beijou. Abri a boca, permitindo a passagem da língua dele. Fechei os olhos, sentindo um arrepio na nuca quando sua mão gelada foi de encontro com aquela região. Eu apertei a barriga dele, que se contraiu instantaneamente. encostou em meus cabelos, pegando um punhado deles. Passei as pernas em volta de seu quadril, de modo que ficamos frente a frente.
Abracei ele, seu pescoço perfumado de 212 me fazendo perder as rédeas. Fiz tudo isso sem desgrudar nossas bocas, que se beijavam em sincronia.
Então as coisas foram esquentando. O espaço entre nós dois era mínimo e meu moletom, grosso demais. Desci o zíper dele.
sorriu e interrompeu o beijo mordiscando meu lábio inferior. Abri os olhos, encontrando os dele faiscando desejo. Dei uma risada baixa, e ele fez o favor de tirar meu moletom.
Antes da peça cair no chão, já estávamos unidos novamente.
Senti o bolso da minha calça vibrar. E um toque escandaloso soar.
Merda.
Olhei pra , mas ele estava bastante ocupado com o meu pescoço. Sorri, pegando o celular.
Ele nem pareceu ligar, então atendi.
- Alô. - murmurei, quase arfando quando começou a me dar um chupão.
- ! - a voz animada da minha mãe soou. - O tá com você?
- Anh... - sibilei, aquela palavra mais próxima de um gemido do que uma afirmação. Arregalei os olhos pra , que riu e continuou seu serviço. Filho da mãe. - Aham.
- Ótimo. Já estamos chegando, ok? - disse mamãe ao passo em que eu mordia meu lábio inferior muito forte. Ele me deitou no sofá e deu um beijo na minha clavícula, as mãos circulando pelas minhas coxas.
- Tudo bem. - falei, despedindo e desligando em seguida.
Senti meu corpo ficar mole e fechei meus olhos enquanto ele se divertia em fazer o traço da minha cintura e quadril. Foi subindo e distribuindo beijos até chegar em minha boca.
- Satisfeito? - perguntei, encarando aquele rosto estupidamente perfeito. E que ria da minha atual situação de fraqueza.
- Demais. - ele piscou pra mim, deitando-se ao meu lado. - E você?
- Você me deixou toda desconcertada, . - falei, entrelaçando nossos dedos.
- Não acho justo só eu sofrer quando a gente dá esses amassos. - disse , levantando as sobrancelhas.
- Será que a minha mãe percebeu alguma coisa? - perguntei, ligeiramente preocupada.
- Bom, caso ela tenha percebido, você tem mais alguns minutos pra se recompor. - ele me deu um beijo na testa. - Prometo me comportar.

Sexta feira, 10:25 - meu quarto

:

- E aí? Como foi ontem? - perguntou enquanto jogava o Assassin's Creed de sempre.
Os caras estavam em casa. Tínhamos combinado de ir pra casa da e encontrar com as meninas.
- Com a Hayley ou com os pais da ? - tirei uma camiseta branca do guarda roupa e a vesti.
- Com as duas. - disse , sentado em minha cama e mexendo no iPad.
- Só pula os detalhes íntimos com a , por favor. - pediu e eu lhe mostrei o dedo do meio, rindo.

Foi péssimo com a Hayley. Quando eu cheguei na casa dela, Hay me esperava muito animada. Pra ser sincero, quase pelada.
Aí eu pedi pra que ela sentasse, porque o que eu tinha pra falar era algo bem sério. Ela estranhou a rejeição, mas acabou aceitando.
Então era a hora. Eu tinha que fazer aquilo. Não dava mais pra adiar.
- Fala, . - ela disse, sorrindo.
- Hm... - comprimi meus lábios, endurecendo minha expressão. Fixei os olhos nela, nervoso pra caramba. - É que... Eu acho que não está dando mais certo, Hayley.
Ela uniu as sobrancelhas, confusa.
- O que não está dando certo? - perguntou, coçando a cabeça.
- Isso. - eu falei. Apontei pra mim e depois pra ela. - A gente, Hay.
- Oi? - ela piou, indignada. - Que porra é essa, ?
- Hay, olha, desculpa... - gaguejei, aflito. Levei as mãos à cabeça, bagunçando meus cabelos. - Mas não dá mais pra eu ficar contigo.
- VOCÊ ESTÁ TERMINANDO COMIGO? - ela gritou, muito vermelha. Seus olhos estavam arregalados, o que era um pouco assustador.
- Anh... - vacilei, mordendo meu lábio inferior. - Estou.
- COMO VOCÊ OUSA FAZER UMA COISA DESSAS? - berrou, brava como eu nunca tinha visto alguém ficar. - VAI SE FODER, SEU FILHO DA PUTA!
O que aconteceu depois foi engraçado, na verdade. Ela pulou pra cima de mim e começou a me bater. Socos, tapas, levei até uma mordida.
Louca, eu sei.
- Hayley, você tá doida? - segurei seus braços com força e a empurrei pro sofá.
- ISSO É POUCO PERTO DO QUE EU VOU FAZER COM A TUA VIDA, , SEU MERDA. - ela gritou e continuou a me chutar. Apertei os braços dela com mais força ainda e consegui controlar aquela fera. - Me solta, você tá me machucando!
- E se eu te soltar, quem se machuca sou eu. - murmurei, com os olhos fixos nela. - Se acalma, por favor.
- Não vou me acalmar! - ela disse em voz alta. Seu rosto agora parecia choroso. - Você me usou, !
- Não, Hay, eu não te usei! - exclamei, tentando me convencer daquilo também. - A gente ficou junto por um tempo e foi legal. É só que eu não quero mais, entende?
- O que aconteceu? - algumas lágrimas começaram a descer dos olhos dela. - O que aconteceu nessa droga de viagem?
Fiquei em silêncio. Se eu contasse da , ela com certeza iria pirar. Ficaria mais irada do que já estava.
- Eu só parei pra pensar. Não aconteceu nada. - menti, na esperança de que aquilo a reconfortasse.
- A gente estava tão bem... - continuou a chorar, as mãos cobrindo os olhos. - Tem que ter acontecido alguma coisa!
As meninas já choraram na frente de vocês? E por causa de vocês?
É uma bosta, não é?
Eu não tava mais aguentando aquilo, então resolvi cair fora. O clima tava pesado demais.
- Me desculpa. - soltei os braços dela, dando um beijo no topo da cabeça dela. Hay continuou a chorar, o rosto mais vermelho a cada minuto. - Fica bem, H.


- Quebrador de corações. - disse , sorrindo de canto. - Desse jeito que você conta, até pareceu que a Hayley tem um coração.
- Ah, meu, coitada... - entortou o maxilar. - Mas, enfim, tinha que ser feito, cara.
- É, eu sei. - sibilei. - Mas sei lá, não me senti bem enquanto fazia isso.
- Relaxa, cara, vai passar. - deu dois tapinhas no meu ombro. - Mas e aí? Já pensou por quanto tempo vai conseguir enganar a loira?
- Como assim? - perguntei, confuso.
- Você disse pra ela que não tinha acontecido nada, aí segunda vai chegar namorando a . - respondeu, tirando os olhos do celular.
- Vixe... - gargalhou, fuzilando três homens no jogo. - E agora, senhor Casanova?
- Mas eu e a Hayley terminamos. Ela não pode ficar brava por eu estar com a agora, não é? - perguntei.
- Vai sonhando, . - falou, me olhando sério. - A Hayley vai é te trucidar. Boa sorte com essa maluca.

Sábado, 19:13 - dentro do meu Posche, em frente à casa de

Batuquei minhas mãos no volante, meus dedos seguindo o ritmo de uma música agitada que tocava no rádio.
Hoje, eu levaria para uma festa da minha mãe. Era um evento pra comemorar a abertura da 100ª matriz de bebidas da fábrica do meu antigo padrasto. Meus avôs viriam de Durham pra participar também.
No bolso da calça, meu celular vibrou, indicando uma nova mensagem:

Estou descendo, cabritinho.

Sorri de canto e peguei a rosa vermelha no banco do carona. Saí do carro e andei em direção a porta da casa dela. Fiquei ali, à espera dela.
Num timing quase perfeito, a porta se abriu. Uma sorridente e muito bonita se revelou.
Seus cabelos estavam jogados pro lado com uma trança meio desarrumada. O vestido combinava com a pele bronzeada e o salto a deixava quase do meu tamanho, mas ainda me dava alguns centímetros de vantagem.
- Olá. - ela murmurou, piscando. O rosto dela estava coberto por uma maquiagem discreta.
- Cara, minha namorada é muito gata. - balbuciei, vendo ela gargalhar.
- Obrigada, . - agradeceu, colocando as mãos na cintura. - E o namorado dela é ainda mais gato, sabia?
Sorri, dando um selinho nela. Demos as mãos e andamos até o carro conversando sobre alguma coisa aleatória.
Abri a porta do banco do carona pra ela, que agradeceu e entrou. Dei a volta e entrei no veículo.
- Eu to nervosa, . - confessou, comprimindo os lábios. Virei para ela. - E se sua família não gostar de mim?
- É lógico que eles vão gostar, . - falei, fazendo carinho no rosto dela. - Meus avôs adoraram quando viram você, lembra?
- Ah, mas foi pela internet... Sei lá, e se eles me acharem feia?
- ! - eu ri, considerando aquela ideia absurda. sustentava uma expressão preocupada. - Isso é impossível. Você é bonita demais.
- Obrigada pelo elogio, mas não to comprando essa. - disse, ainda insegura. - Especialmente porque eu acho que meu penteado não deu muito certo e...
Interrompi a fala dela com um beijo.
- Sério, , você tá muito linda. - murmurei, quando parti o beijo. Sorri pra ela, fazendo carinho em sua bochecha levemente rosada. - E eu to falando isso de verdade.

Dei a mão direita para ela, que entrelaçou a sua esquerda. Sorri de canto e dei um beijo na testa dela.
- Preparada? - perguntei, andando em direção à porta do salão de festas que mamãe havia alugado para comemorar.
- Médio. - ela respondeu. - Mas vamos lá.
- Vai dar tudo certo. - sussurrei. - Pelo menos você não tem que pedir permissão pra minha família pra me namorar. - falei, lembrando da noite de quinta feira.
riu baixinho, rolando os olhos.
- Porque isso é função do homem, seu mole.
- Papo furado e sexista. - murmurei, rindo também. Chegamos à recepção da festa com mais alguns minutos de conversa.
- Boa noite, senhor . - disse o segurança, abrindo a entrada pra mim. - Como vai?
- Tudo ótimo, George. - respondi. Apontei pra . - Essa é a minha acompanhante, .
- Prazer em conhecê-la, senhorita. - disse Geroge, de um jeito cordial. sorriu pra ele. - Sua mãe o aguarda.
- Ah, to sabendo. Encontro ela lá dentro. - falei, entrando na festa ainda de mãos dadas com . - Viu só? O segurança já gosta de você.
- Besta. - sorriu, aflita.
Dei um beijo no topo da cabeça dela e continuamos andando. Avistei minha mãe numa roda com vários de seus amigos, mas nenhum que eu gostasse ou aturasse por tempo suficiente.
Ela ria de alguma coisa quando desviou o olhar pra mim. Alargou a expressão de felicidade e veio até nós com os braços abertos.
- ! - explanou, uma taça de champagne na mão e, com certeza, alguma dose de álcool no sangue. Ela me deu um abraço apertado e eu retornei o gesto.
- Oi, mãe. - dei um beijo na bochecha dela. Depois de soltá-la, apontei para com a cabeça. - Essa é a minha namorada, a .
- Ah, querido, como ela é bonita! - mamãe murmurou, cumprimentando com beijos na bochecha. - Ela é prima do ?
- Sou sim. - respondeu, sorrindo gentilmente. - Obrigada pelo elogio, mrs. .
- Imagine, meu amor. E devo dizer que adorei o seu figurino: esse vestido Burberry ficou um arraso. - disse minha mãe. riu e agradeceu novamente.
- E eu amei o seu Marchesa! - falou e elas logo engataram numa conversa que envolvia a decoração da festa.
Perdido e meio desinteressado naquele papo de estilistas-e-sei-lá-mais-o-quê, virei para o lado, vendo meus avós entrarem de mãos dadas no salão. Meu avô a ajudou com as escadas, não desviando a atenção dela por um segundo.
Não é engraçado como algumas pessoas conseguem ficar juntas por tanto tempo? E não deixarem de se gostar?
Olhei pra , que ainda conversava com minha mãe. Fiquei feliz por ela estar se entrosando com a minha família, porque, bem, eu quero passar bastante tempo com ela.
Tanto tempo quanto os meus avós.

- Você é completamente louca. - eu disse pra , que estava com as pernas esticadas no meu colo e tomava um Häagen-Dazs de morango.
Era fim de festa, o salão estava praticamente vazio. Mamãe ainda conversava com alguns de seus convidados, enquanto eu e estávamos sentados no sofá perto da entrada. Fazia um leve frio, então eu tirei meu paletó e cobri a . Mas ela não parecia estar com frio, já que tinha feito um pedido bastante gelado pra mim: sorvete.
Fui à cozinha, onde, por sorte, encontrei um pote.
A cara de felicidade dela quando voltei foi impagável, eu juro.
- Por que? - perguntou, a sobrancelha erguida enquanto dava uma colherada no sorvete.
- Porque tá quase 6ºC e você está tomando sorvete. - respondi, rindo. - Namorada insana essa que eu fui arranjar.
- Ah, mas tomar sorvete no frio é o que há. - ela disse, sorrindo. Apertei a coxa dela de leve, rindo também. - E morango é um dos meus favoritos! Quer?
- Ok, me dá um pouco. - falei, abrindo a boca. pegou um pouco e levou até mim, mas desviou no meio do caminho e colocou na boca dela.
- Lógico que não. - rolou os olhos, gargalhando. - Olha as ideias...
- Vou ter que roubar? - perguntei, vendo ela colocar mais uma colher na boca.
- Aham. - me desafiou, passando a língua pelo lábio inferior.
Sorri pervertido, deslizando minha mão pra cintura dela. Me aproximei de seu rosto, fixando os olhos nos dela. comprimiu os lábios, deixando o sorvete na mesa ao lado.
Dei um selinho na ponta de seu nariz, descendo para a boca. Mordisquei seu lábio inferior, puxando-o lentamente enquanto ela fechava seus olhos. Sorri de canto, me apressando em intensificar aquilo.
Colei minha boca na dela, aprofundando o beijo com a língua. Pude sentir o gosto gelado do sorvete e doce do morango enquanto nos beijávamos, e, cara, como aquilo foi bom.
Continuamos assim por alguns longos minutos, um aproveitando a presença do outro. sentiu calor e tirou o paletó, o que me deu mais trechos de seu corpo pra desfrutar.
Muitas mãos, apertões e cravadas de unha dela nas minhas costas depois, partimos o beijo.
- Você tem razão, sabe? - ela fixou o olhar em mim, fazendo carinho na minha bochecha. - Esse de morango é mesmo muito bom.
Ela riu alto, me dando mais um selinho.
- Quem é completamente louca agora, hein? - sibilou, recolhendo o pote de sorvete. - Quero mais.
- Você vai ao menos me dar um pouco agora? - perguntei, vendo ela se deliciar com o alimento.
- Talvez. - deu de ombros. - Quem sabe?
Ri e me aproximei dela, apertando sua cintura. Dei-lhe outro selinho.
Sabe aquele momento que você poderia viver para sempre sem nem se cansar? Esse era um desses.
As coisas entre nós estavam muito boas e eu não queria que aquilo acabasse jamais.

Domingo, 15:45 - meu quarto

- Por favor, alguém liga pra algum terrorista e encomenda uma explosão da ERP. - disse , jogado na minha cama. - Eu realmente não quero voltar às aulas.
Depois da pausa de cinco semanas, as aulas retornariam amanhã. Estávamos na metade de janeiro, e depois de uma viagem ótima e tanto tempo sem fazer nada, doía mesmo ter que voltar a estudar.
- Pelo menos você não corre o risco de ser expulso pela Middle. - respondi, me referindo a minha situação. - E pode pegar quantas recuperações quiser.
- É... Nisso você tem razão. - riu, mexendo em seu celular.
- Você acha mesmo que a Middle faria algo assim com você, ? - perguntou , pausando o Assassin's Creed.
- Não sei... - falei, colocando uma meia. - Mas a quer me ajudar, e estudar com ela tá sendo simplesmente do caralho.
e riram e eu alcancei meu Vans preto.
Nós íamos à casa de , onde ela, , , e nos esperavavam. Fazia muito frio, então a namorada de teve a ideia gay de ficar assando marshmallows na lareira.
- Vamos, então? - perguntei, caçando as chaves do Porsche.

- S'mores são a melhor coisa do mundo e eu nem me arrependo de ter arrebentado com o meu regime. - disse , passando a mão pela barriga enquanto mastigava.
- O que é s'more? - perguntei, colocando um pedaço de chocolate na minha boca. Normalmente, eu não gostava tanto de doces, mas quando via todo mundo comendo, ficava com vontade.
- É isso que estamos comendo, cabritinho. - respondeu, apoiando sua cabeça em meu ombro. - Biscoitos graham cracker com chocolate e marshmallow derretidos.
- Ah... - murmurei, beijando a bochecha dela. - Nem sabia que isso tinha nome.
riu, unindo nossas mãos.
- Preparado pra volta às aulas? - ela perguntou, sorrindo leve.
- Com a ajuda da minha namorada nerd, com certeza. - respondi, dando-lhe um selinho longo.
- Ei! Não sou nerd, . - reclamou, torcendo o nariz. - Desse jeito, parece que eu sou feia.
- Ah não, você é nerd daquele outro jeito, . Do tipo nerd sexy, com aquelas saias colegiais curtas e óculos e um sorriso pervert...
- . - ela me cortou, fazendo uma expressão séria. Depois riu, me xingando. - Seu idiota.
- Mas, mesmo assim, você não consegue resistir à mim. - murmurei, beijando o pescoço dela.
- Não mesmo. - disse, colando nossas bocas mais do que depressa.
A vida é uma coisa engraçada. Ao longo do caminho dela, a gente vai trombando com inúmeras surpresas e pessoas. Não gostamos de algumas, não nos damos bem com outras... Mas aí tem o tipo de surpresa como a . O tipo de pessoa que te faz um bem danado, que te deixa feliz só com um sorriso, que te faz sentir leve.
Naquele momento, pensei em mil coisas. Uma delas foi: por que raios demorei tanto pra namorar ela?
Não era óbvio? Sem ela, o tudo era nada. Eu precisava daquela menina mais do que qualquer coisa.


XXV. Estranho seria se eu não me apaixonasse por você


Segunda feira, 07:01 a.m. - meu quarto

:

- ACOOOOOOOOOORDA, PRIMINHA! - berrou , jogando todo o seu peso em cima de mim. - Primeiro dia de aula, primeiro dia de aula!
Acordei imediatamente, assustada e aflita. Cocei os olhos, pensando em mil maneiras de matá-lo.
estava parecendo o Nemo pulando em cima do pai dele no começo do filme. E, sério, eu o entregaria para os tubarões se ele fosse um peixe.
- , seu filho duma puta com sífilis, pelo bem da sua vida, saia da minha cama a-g-o-r-a. - falei, pausadamente, soltando ar pelas narinas.
Eu odiava ser acordada. Odiava mesmo.
Acordar antes das 10 não devia ser contra a lei? Tipo, sério mesmo. Ninguém funciona bem antes desse horário.
Bom, pelo menos eu não.
- Credo, bonitinha. Bom dia pra você também. E a sua tia não tem sífilis, eu acho. - ele disse, rolando para o meu lado. sorriu, os olhos muito brilhantes.
- Por que você tá tão feliz? A noite com a foi boa, é? - perguntei, olhando pra ele enquanto bocejava.
- Infelizmente, não. - ele cruzou os braços, sentando-se apoiado na cabeceira. - Sexo teria sido uma ótima ideia, mas eu só estou animado de voltar às aulas.
Levantei da minha cama, calçando uma pantufa qualquer.
- Você bateu a cabeça? - perguntei, olhando minha cara amassada no espelho. - Isso não é humanamente possível.
- Deixa de ser mal humorada, . - meu primo riu. - O ambiente escolar pode ser um lugar bom às vezes.
- É por isso que você não quer fazer faculdade? - indaguei, rindo enquanto caminhava ao banheiro.
- Idiota. - ele me xingou, rolando os olhos. - Vê se não demora, não quero me atrasar!
Gritei um "ok", batendo a porta do meu banheiro.
Será que eu estava pronta pra encarar Hayley, Ian e toda a ERP depois dessas férias intensas?

xxx


Segunda feira, 09:25 a.m. - sala do 2ºB, ERP

Pisquei duas vezes, mordendo meu lábio inferior, nervosa. Olhei pra , sentado no fundo da sala, junto com Troy e alguns jogadores de rúgbi. Conversavam animadamente, até que ele me avistou.
Ele sorriu de canto para mim, sussurrando um "oi, ".
Deus, como ele era lindo.
- Vou ali com a minha garota. - falou para seus amigos, se despedindo deles com um high five.
Minha garota. Isso não é legal?
Ele caminhou até mim, sorrindo de um jeito muito charmoso quando pegou na minha mão.
- Oi. - ele me deu um selinho, segurando na minha cintura.
- Oi, cabritinho. - sorri, dando-lhe outro selinho. - Como passou de ontem pra hoje?
- Muito bem. - ele apertou meu quadril, caminhando comigo até a segunda carteira. - Sabe, tenho uma namorada que fez o favor de conversar comigo até eu cair no sono... - ele sorriu, me abraçando.
- Pois é, e essa namorada sofreu horrores pra acordar e tampar as olheiras de panda por causa disso. - murmurei, rindo de leve. pegou minhas coisas e colocou em cima da carteira, me prensando contra ela.
- É mesmo? - perguntou, o hálito fresco soprando no meu rosto, de tão perto que estávamos. - Então ela merece um prêmio por isso, não é?
Passei a língua pelos lábios, colocando minha mão no peitoral dele.
- Com certeza. - respondi, me aproximando de sua boca.

Vou fazer o favor de resumir a aula de Geomorfologia em uma só palavra: sonolenta.
As bacias sedimentares que se fodam, não é?
Bocejei, deitando minha cabeça na carteira. Fechei os olhos, sentindo a voz do Sr. Tuckfield ficar cada vez mais longe.
Estava quase dormindo quando senti meu celular, escondido debaixo da minha coxa para que o professor não visse, vibrar. Pisquei, despertando da tentativa de dormir.
Eu tinha recebido uma nova mensagem.

"É bom você ficar acordada, . Têm que me explicar todas essas matérias depois, lembra? x

Sorri divertida, revirando os olhos. Procurei-o, encontrando-o sorrindo pra mim.
Fiz uma careta pra ele, sussurrando "folgado", baixinho. Ele piscou e me mandou um beijo.

- A saia dela está mais curta do que o normal hoje. - disse , os olhos atentos em certa loira gema que passava à nossa frente junto com seu grupo de patricinhas.
Comprimi os lábios quando ela direcionou o olhar pra mim. Eu nunca tinha recebido uma encarada tão séria quanto aquela, mas não estava nem ligando. Então, fiquei devolvendo o olhar pra ela. Hayley finalmente cansou e desviou o dela, cochichando alguma coisa para as suas amigas.
- Ela precisa arranjar um namorado novo, já que nossa brasileirinha roubou o dela. - murmurou , apertando minha bochecha.
- Ei! - reclamei, rindo. - Não roubei, eu conquistei. - pisquei, sorrindo sapeca.
- Ui! - zoou, fechando seu armário e pegando sua carteira Louis Vuitton Insolite. - Olha pra essa pirralhinha, toda cheia de charme.
Mostrei o dedo do meio pra ela, gargalhando.
- Ridícula. - xinguei, agarrando no braço de . - Vamos almoçar, vai.
- Vou ter que comer Salada Caesar pelo resto da minha vida. - fez beicinho, insinuando tristeza.
Bufei, murmurando um "exagerada" pra ela. Passamos pelo corredor principal da ERP, rindo de alguma coisa que contou enquanto andávamos em direção ao refeitório.
Mas, escorado na porta do local estava a última pessoa que eu queria encontrar.
Ian.
Parei de rir imediatamente. Ele me olhou por dois exatos segundos. Depois deu um sorriso murcho e abaixou a cabeça.
Senti-me meio mal. Sem jeito e sem graça. Rodei meu anelzinho de rubi no dedo anelar, nervosa. olhou para mim, entendendo a situação. Ela torceu o rosto e me puxou pela mão, fazendo com que a gente finalmente entrasse no refeitório.
- Fica calma. - disse, passando a mão pelo meu braço. - Vocês estudam juntos, esses encontros são inevitáveis.
- Eu sei. - sibilei, ainda rodando o anel. Continuamos andando até nossa mesa de sempre.
E então, quando aquele mal estar estava se desfazendo, encontrei a pessoa que eu mais queria.
.
Ele segurava sua bandeja, sempre repleta de batatas fritas. Fixou os olhos em mim e me lançou um sorriso de canto maravilhoso.
Sorri de volta, percebendo que tudo já tinha ficado ótimo.

Terça feira, 15:15 - minha sala de estar

- O que você quer estudar, cabritinho? - perguntei pra , que bocejava.
- Que tal nada? - riu, aproximando sua cadeira da minha.
Rolei os olhos, ignorando aquele comentário. estava por um fio de ficar de recuperação em várias matérias e eu realmente não queria ele expulso da ERP.
- O que você acha de História? - sugeri, fazendo um coque com o meu cabelo.
- Ugh... Mas que saco, hein, ? - ele reclamou, deitando a cabeça em cima do meu fichário.
Puxei o fichário, fazendo com que ele perdesse o apoio para dormir.
- Vamos logo, seu fracote. - murmurei, cruzando meus braços. - Preparado?

- Por que ninguém chutou esse maldito anão Bonaparte e me livrou de estudar toda essa merda? - perguntou , bufando alto enquanto puxava seus cabelos.
Estávamos estudando História da Europa há mais ou menos duas horas. As notas do eram tremendamente vermelhas nessa matéria, e com a arrogância do Sr. Proton, eu até entendia por que.
Fala sério, se o cara chama Proton, ele não deveria ter ido pras aulas de Química?
- Não é simples assim, bonitinho. - falei, colocando meu cabelo de lado. - Olha, o Bonaparte decretou um bloqueio continental na Europa, pra que todos os países isolassem a Inglaterra, que era concorrente direta da França. Ele conseguiu fazer isso porque era muito poderoso. Todo mundo tinha medo do exército dele.
Apontei para umas fotos no livro, mostrando pinturas de Napoleão e do exército.
- Como raios ele conseguia montar no cavalo? Só tinha 1,55m!
- , é sério. - eu o interrompi, fixando o olhar em seus olhos intensamente . Estava com uma louca vontade de beijá-lo e deixar tudo isso pra lá, mas não podia. - Você precisa recuperar essa nota, ou a Middle vai fazer você sofrer. - ele fez um gesto positivo com a cabeça e pediu desculpas. - Então, o senhor Napoleão começou a pressionar Portugal pra entrar no bloqueio. Mas Portugal era muito amiga do seu povo, os ingleses. Aí, o D. João VI, o rei português, fugiu para a minha terra, com medo de enfrentar os franceses. E ele fez isso com a ajuda da marinha inglesa, entendeu?
- Hmmm... - ele murmurou, com a mão no queixo. - Acho que estou começando a entender.
- Começando? Não, você tem que entender 100%! Vamos de novo. - exclamei, pronta pra explicar aquela matéria pra ele novamente.
- É brincadeira, . Eu entendi tudo. - ele murmurou.
- De verdade?
- Sim. O meu povo ajudou o seu antigo rei a escapar pro Brasil porque nós não gostávamos da França.
Sorri, feliz por ele ter entendido aquilo.
- E, acredite, a gente ainda não gosta. - sibilou, se referindo a Ian. Dei risada, colocando meus braços em volta do seu pescoço.
- Aeee! Você aprendeu mesmo! - comemorei, dando um selinho longo nele.
- Essa sua explicação ajuda bastante, sabia? É mais real porque você usa a gente como exemplo. - ele me devolveu o selinho.
- Isso é o que você ganha por ter uma namorada brasileira, meu amor. - sussurrei em seu ouvido antes de beijá-lo com vontade.

Quarta feira, 16:28 - ginásio da ERP

- Me dê um "E"! Um "R"! E um "P"! - gritou, pausadamente. Ela estava com o braço esticado, prestes a dar uma pirueta no ar. - Qual é o nome?
- ERP! - Nós berramos, em uníssono, enquanto levantávamos nossos braços e ajudávamos ela a girar.
As aulas de ginástica tinham voltado com tudo. O jogo dos meninos - a final do campeonato de futebol das escolas de Londres - contra a Mountain Ridge iria acontecer na próxima semana, e , nossa líder, tinha uma filosofia de que "uma dança pode estimular a vitória", então estava nos obrigando a treinar todos os dias. Mas eu achava mesmo que era porque ela queria ficar mostrando a bunda para o nessas piruetas malucas.
Brincadeirinha.
(Ou não).
- , por favor, vamos fazer uma pausa. - disse , ofegante. Ela mantinha as mãos na cintura, o rosto vermelho e suado.
- Eu imploro. - falou, também aparentando cansaço. Ela sentou no acolchoado do chão e cruzou as pernas.
Acompanhei ela no gesto, sentando ao seu lado.
- Tudo bem, tudo bem. Dez minutos servem? - perguntou , arrumando o coque em sua cabeça.
- Você está louca, colega. - murmurei, rindo. - Não está bom por hoje, não?
- , você me broxa. - rolou os olhos e eu gargalhei. - Ok, vai. Só porque vocês estão parecendo péssimas.
- Obrigada, fofura. - sibilou, fazendo uma trança lateral com os cabelos. - , a gente vai na sua casa hoje?
- Ah, sobre isso... - ajeitou a postura. - Tem como ser em outro lugar? Minha mãe tá recebendo visita de uma amiga da faculdade que é, por acaso, muito chata.
- Querendo fugir dela? - perguntei, rindo pra ela, que concordou com a cabeça. - Pode ser na minha.
- É isso aí, . Por isso a gente deixa você ficar no grupo. - riu, batendo na minha perna.
- Vaca. - mostrei o dedo do meio pra ela. - Os meninos vão também?
- Acho que sim. - respondeu, prendendo a trança. - Avisa o seu "cabritinho", tá, ?
- Idiota. - rolei os olhos, gargalhando com elas. - Vou avisar sim.
- De verdade? - debochou, piscando pra mim. As meninas explodiram mais ainda em risadas.
- VOCÊS SÃO INSUPORTÁVEIS, CARA! - reclamei, fingindo estar brava.

Quinta feira, 08:00 a.m. - sala do 2ºB, ERP

- Bom dia, . - falou, baixinho, em minha orelha. Ele colocou meu cabelo de lado e encostou seus lábios em meu pescoço.
E é lógico que meu corpo estupidamente fraco e rendido fez com que todos os pelinhos da região se eriçassem.
Virei de frente pra ele e subi meu olhar, fitando aqueles círculos brilhando pra mim.
É provocação que ele quer?
- Bom dia, . - sibilei, pausadamente, passando minhas unhas em sua barriga por cima do uniforme. - Dormiu bem?
- Mais ou menos. - ele falou, as mãos habilidosas subindo e descendo pelo contorno da minha cintura. - Ando tendo uns problemas com o sono.
- É mesmo? - levantei uma sobrancelha, dando um sorrisinho de canto pra ele. Passei a língua pelo meu lábio inferior, porque eu sabia que ele amava quando eu fazia aquilo. - E tem alguma coisa que eu possa fazer pra te ajudar?
- Dorme lá em casa qualquer dia. - respondeu, passando a mão nas minhas costas por debaixo da blusa.
- Tem certeza que vai te ajudar com o sono eu dormir na mesma cama que você? - mordisquei minha boca, agarrando um punhado de cabelo dele.
- Você tem razão. Mas vai me fazer acordar feliz, pode ter certeza. - ele murmurou, dando um selinho bem perto da minha boca. posicionou os indicadores no meu par de covinhas das costas e me puxou para perto dele. - Eu ainda quero testar aquela teoria da covinha, sabe?
Sorri maliciosa, beijando um pedaço de seu pescoço.
- Qualquer dia, , qualquer dia. - sussurrei em seu ouvido, o suficiente para que ele tomasse a frente me beijasse.

Quinta feira, 16:16 - minha casa

- ARGH, EU DESISTO. - esbravejou, enterrando a cara no livro de História da Inglaterra.
Torci a cara, sentindo pena dele. A gente estudava a três horas seguidas, mas ele não conseguia absorver aquele conteúdo. Trocava o nome de todos os benditos membros da família Tudor.
Dei um abraço nele, apoiando meu nariz na nuca dele. Comecei a fazer um carinho em seus cabelos.
- Vamos fazer uma pausa. Você precisa relaxar. - sussurrei, dando um beijo perto de seu ouvido. Pude ver seus pelinhos se arrepiarem.
O pescoço dele exalava aquele delicioso cheiro de 212. Mordi o lóbulo de sua orelha, minhas mãos indo em direção às suas costas. levantou o rosto para mim, fixando o olhar no meu. Sorri de canto, e ele captou a mensagem, unindo sua boca na minha.
O beijo começou quente e gostoso. Suas mãos, hábeis que só elas, logo seguiram para a minha cintura. Pulei da minha cadeira para o colo dele. Abri as pernas e ele me encaixou entre seu quadril.
Agora, ele me beijava mais intensamente, e eu não fazia menos. Puxava seus cabelos com violência, enquanto as suas mãos apalpavam minhas coxas. Arfei quando ele apertou minha cintura, subindo as mãos por debaixo da blusa. Alcançaram meu sutiã, fazendo um carinho pelas costelas, na região da minha tatuagem.
Sentindo o calor e a nossa necessidade de ficar mais grudados, interrompi o beijo, levantando os braços. retirou minha blusa rapidamente, e eu também tirei a dele.
Nossos peitos nus se encostaram quando retomamos o beijo. Senti faíscas se espalharem pelo meu corpo e o meu coração batendo intensamente. Eu arranhava as costas dele e ele desceu a mão para o meu short jeans, enrolando um pouco ali. Abriu o primeiro botão enquanto eu instalava chupões em seu pescoço.
Foi, então, em direção ao zíper. E com o som dele se abrindo, eu voltei ao meu juízo perfeito.
estava no andar de cima! Meus pais chegariam a qualquer momento! O que raios eu estava fazendo?
Parti o beijo, desesperada. me olhou interrogativamente.
- A gente vai ter que voltar a estudar. - falei, passando as costas da mão pela boca. - Agora.
Senti minhas bochechas queimarem diante da vergonha. Eu estava só de sutiã e com o short semiaberto!
- Me desculpa. - ele pediu, abaixando a cabeça. Saí do colo dele, fechando o short. Recolhi minha camiseta do chão, comprimindo os lábios. - É que você me deixa muito louco, cara.
- Não tem problema. Mas não podemos passar muito disso, sabe? - mordi meu lábio inferior. - Pelo menos agora.
- Tudo bem. - respondeu, saindo da cadeira para pegar sua camiseta, jogada em algum canto próximo de uma tomada.
Minha vergonha tinha passado um pouco. E eu passei a sentir um pouco de pena dele. Afinal, eu que comecei tudo isso.
- Me desculpa. - sussurrei, abraçando-o pela cintura. Ele deu um beijo no topo da minha cabeça.
- Pelo que? - perguntou, passando os braços pelos meus ombros. A leve diferença de altura nos permitia isso, e eu adorava.
- Ah... - murmurei, olhando pra ele. Mordi meu lábio inferior de novo, nervosa. - Por sempre fazer isso com você. Provocar e depois parar.
- ! - ele revirou os olhos. - Corta essa, . É lógico que não é a coisa mais legal do mundo ter que ficar parando, mas eu não me importo. Eu já te disse que vou esperar, não disse?
- Eu sei. Mas eu tenho medo de você ficar bravo porque estou demorando e...
- . - me olhou sério. - Eu não vou ficar bravo porque está "demorando". - disse, fazendo o gesto de aspas com as mãos. - Eu vou esperar o quanto você quiser, porque eu gosto muito de você. Não importa, eu sei que vai valer a pena.
- Gosta muito de mim, é? - perguntei, sorrindo abertamente.
- Sério que você só pegou essa parte de tudo que eu falei? - ele perguntou, sorrindo.
- Era a melhor parte. - murmurei antes de beijá-lo de novo.

Sexta feira, 13:39 - banheiro masculino do ginásio da ERP

:

"S.O.S. A vai me matar com esse treino. Vem me resgatar daqui!"

Ri alto ao ler a mensagem de . Respondi num instante.

"Se eu for te salvar, vou pedir algo em troca depois."

"O que você quiser. Vem logo!"

Opa, agora sim as coisas ficaram interessantes.

"Chego aí em 10 minutos. Aula de Relacionamentos depois?"

"Com certeza, cabritinho."

Entrei no chuveiro e tomei um banho rápido, assoviando uma música qualquer. Quando terminei, saí do Box e fui até meu armário. Destranquei ele e peguei minha mochila, recolhendo uniformes limpos de dentro.
Coloquei minha cueca e a calça, secando meu cabelo com a toalha de qualquer jeito. Peguei o desodorante e passei. Ouvi vozes vindas do corredor, mas continuei me trocando.
- E aí aquele mané virou e falou... - a frase foi cortada ao meio. Olhei pra ver quem era.
Para o meu completo azar, era o imbecil do Ian. Ele estava acompanhado de um de seus brutamontes, que fechou a cara ao me ver.
- Ora ora, olha quem temos aqui... - o francês viado começou a falar, cruzando os braços enquanto andava ao meu redor.
Tentei ignorá-lo, porque não estava a fim de espancar a cara de ninguém hoje. Coloquei minha camisa e comecei a abotoá-la.
- Ei! - Ian disse em um tom mais alto. - Presta atenção no que eu estou falando, seu retardado. Ninguém aqui me deixa falando sozinho.
- Tem certeza? - perguntei, debochado. Continuei sem olhar pra cara dele. - Porque eu e minha namorada deixamos, na verdade. E olha que não foi nem difícil.
Ian barrou seu amigo, que avançava em minha direção.
- Desse, cuido eu. - ele falou, sério. - Você está falando da vadiazinha da ? - perguntou, rindo.
Opa.
Subi meu olhar, furioso, para encarar o rosto daquele idiota.
- Do que é que você chamou ela? - perguntei, empurrando Ian com força na parede.
- Vadiazinha. - Ian disse, pausadamente e com calma. Comprimi meus lábios, preparado pra espancar a cara dele a qualquer instante. - É isso que ela é, , assume. Ficava comigo e com você ao mesmo tempo. Mais algumas semanas e ela dava para mim, com certeza.
Não sei descrever direito a raiva que senti quando ouvi aquelas palavras. Todo meu sangue subiu, me deixando furioso. Meu coração começou a bater acelerado, e eu fechei minhas mãos em punhos.
- Quem vai dar na sua cara sou eu, seu filho da puta. - grunhi, com ódio. - Pena que você não vai poder repetir isso, porque vai sair daqui sem poder falar. - completei, dando um soco muito forte em seu maxilar. Vi sua mandíbula se deslocar pra esquerda com o meu golpe, e ele cair no chão, urrando de dor. Pelo reflexo do espelho enxerguei seu amigo vindo em minha direção. Abaixei para desviar de seu soco e devolvi a gentileza no estômago dele. O amigo do Ian também caiu no chão, e eu dei-lhe um soco na bochecha, só pra garantir.
Ian continuava balbuciando de dor. Ele gritou tão alto que atraiu a atenção de algumas pessoas. Ouvi passos apressados no corredor.
- Que porra está acontecendo aqui? - perguntou, olhando pra cena. - , CACETE! Você vai ser expulso, merda!
- Não estou nem ligando. - dei de ombros, olhando pros dois idiotas meio inconscientes no chão. Sorri, vitorioso. - É pra eles aprenderem a não mexer com a minha namorada.
- Puta que pariu... - colocou as mãos na cabeça. - Fodeu pra você, cara.
- O que foi que aconteceu? - arregalou os olhos ao me ver. Ele apontou pro Ian e para o amigo. - Cara, você fez isso?
- Eles mereceram. - falei, cruzando os braços. - Xingaram a de vadiaz...
- VOCÊS XINGARAM A MINHA PRIMA DO QUÊ? - vociferou, partindo pra cima dos dois.
- Calma, ! - barrou ele. - O já deu conta deles, não tá vendo?
- Foda-se! É a minha prima, caralho. Ela é parente. - reclamou, tentando se livrar dos braços de .
- Para, porra. Já vai ser ruim o ser expulso, imagina se você também for. - falou, consciente. se acalmou. - O que a gente faz agora?
- Sei lá, pô. - caminhei até minha mochila, calçando os sapatênis. Peguei o 212 e borrifei no meu pescoço. - Só sei que preciso ir pra aula.
- E a gente vai simplesmente deixar eles aqui? , você quase matou eles! - exclamou.
Coloquei a mochila nas costas e voltei até Ian. Seu amigo estava meio inconsciente.
Eu me agachei, ficando frente a frente dele.
- Me escuta muito bem. - apontei meu dedo para seu rosto. Ian gemeu, encolhendo-se de medo. - Você sabe que eu posso fazer mais do que isso. Muito mais. Desloquei a sua mandíbula hoje, mas da próxima vez, eu quebro todos os seus dentes. Então é melhor que nada do que aconteceu aqui vaze para a diretora, tá me ouvindo? - eu perguntei, pausadamente. Ele comprimiu os olhos, o rosto vermelho e suado. - Juro que se eu for expulso dessa escola, dou um jeito de voltar só pra acabar com a sua raça.
- Hummmm... - Ian urrou, tentando responder.
- Entendeu? - perguntei novamente, minha expressão firme e séria para ele. Ian concordou com a cabeça. - Passa esse recado pro seu amigo quando ele acordar. E nunca mais ouse falar uma palavra sobre a minha garota.

- Por que demorou tanto? - perguntou quando eu a abracei no ginásio.
"Porque eu estava quebrando a cara do seu ex".
- Porque eu não achava meu uniforme, . - respondi, dando um beijo na testa dela. me censurou com o olhar, fazendo cara de reprovação.
- Tsc tsc tsc... Matando o treino. - falou, cruzando os braços. - Se vocês perderem na final, a culpa é sua, .
- Por tirar minha namorada que está com cólica de exercícios pesados? - perguntei, passando meu braço pela cintura da , que se contraiu, fingindo sentir dor.
- Cólica que começou agora, é? - arqueou uma sobrancelha.
- Não, eu estava com cólica antes, mas agora tá demais... - ela apertou a barriga, atuando. - Nossa, , meu endométrio, puta merda...
rolou os olhos, bufando.
- Vai lá, . Mas só porque você tá ótima na coreografia. - ela deu um sorrisinho. - Melhoras na sua "cólica".
- Yay! Obrigada, coleguinha. - deu um beijo na bochecha dela, me abraçando logo em seguida. - Vamos embora, coração.
Sorri pra ela, dando-lhe um beijo na cabeça.
- Relacionamentos, ? - perguntei, vendo-a sorrir pra mim.
- Hmm... Não podemos sair da aula teórica pra uma prática? - ela piscou, mordiscando o lábio.
Dei risada, mexendo na franja dela.
- Tentador. - dei uma mordidinha no lóbulo da orelha dela, que se arrepiou.
comprimiu os lábios, apertando minha barriga com as unhas.
- Droga, mas você não pode reprovar em nada. - ela bufou. - Deixa pra próxima, vai.

Sábado, 10:10 a.m. - hall da casa da /

- E aí, cara! - fez um high five comigo. - Vai ficar pro almoço?
Pela manhã, a me acordou dizendo que precisava que eu viesse na casa dela buscar um negócio. Segundo ela, era urgente.
- Acho que sim, . - dei dois tapas no ombro dele.
- Meu tio gostou de você? - ele perguntou, andando em direção à sala de estar. Fui atrás.
- Sei lá... Ele não falou muito comigo no dia em que eu vim aqui. - murmurei, colocando minhas mãos no bolso. foi até o Xbox, ligou e se sentou no sofá, colocando os pés na mesinha. - Ele falou alguma coisa?
- Não pra mim. - respondeu, me entregando um controle para jogar. - O tio Paul quase não para em casa, mas ouvi-o dizendo pra tia Lily que você parecia ser um bom rapaz.
- Lógico que sou. - falei, sentando no sofá.
- Lógico que não. - disse, rindo de mim. - Meu, calma aí, eu vou pegar alguma coisa pra comer enquanto a gente joga.
- Gordo. - ouvi dizer, encostada na porta da sala. Dei um sorrisinho pra ela.
- Ih, olha quem fala, menina. - passou por ela e apertou sua barriga. riu e deu um tapa nele. Percebi que ela segurava um pacote dourado com um laço vermelho na outra mão. Uni as sobrancelhas.
- Aproveita e pega refrigerante pra gente, obesidade. - ela pediu e depois caminhou até mim, sorrindo abertamente.
- Quem é o gordo agora, priminha? - ele perguntou, rindo e depois saindo.
rolou os olhos enquanto sentava ao meu lado. Passei o braço em volta dela e a abracei.
- O que é isso? - apontei pro pacote, curioso.
- É o que você veio buscar. - ela respondeu, me entregando o objeto. - Seu presente de Natal atrasado.
- Nossa, . - bati na testa. - Sério, não precisava mesmo.
- Nada disso, cabritinho. - negou com a cabeça. - Tomara que você goste.
Ri pelo nariz e peguei o presente. Desfiz o laço e enfiei a mão no pacote.
Tirei de dentro três coisas: um Beats Pill preto, um microfone autografado e dois ingressos para um show do Blink-182.
Arregalei meus olhos.
- Ai meu Deus, você não gostou, né? - comprimiu os lábios. - Achou exagerado? Foi coisa demais?
- . - chamei o nome dela e ela cravou o olhar em mim. - Esse microfone, por acaso, está autografado pelo Billie Joe Armstrong? - perguntei, pausadamente.
mantinha uma cara sem graça, de quem não sabe o que falar.
- Está... - ela deu um sorriso torto. - Você comentou que Green Day era uma das suas bandas favoritas, e na semana passada meu pai foi acertar o novo CD deles e me ajudou. Aí lembrei que seu Beats tinha quebrado, e que nunca tinha visto o Blink ao vivo, e então eu...
- Estou apaixonado por você. - falei, interrompendo todo aquele discurso nervoso dela.
A reação dela foi engraçada. abriu sua boca um pouquinho e depois piscou duas vezes, bem rápido.
Então ela fechou a boca e deu o maior sorriso que eu já tinha visto.
- Isso é ótimo, porque eu estou muito apaixonada por você. - ela murmurou, mordendo o lábio inferior enquanto ria.
- Cacete, você é mesmo perfeita. - eu ri, dando beijos pelo rosto dela. - Você me deu o melhor presente do mundo.
- Agradece meu pai depois. - ela sussurrou, pegando um punhado dos meus cabelos. - Brincadeira, agradece a mim mesmo, vai.
- Ah, pode deixar... - falei, baixinho, antes de descer pro pescoço dela. Afastei o cabelo dela pra um lado e passei a língua pelo seu pescoço, alternando beijos e mordidas. - Você sabia que é cheirosa?
- É... mesmo? - perguntou, com os olhos fechados. Ela arfou quando eu mordisquei uma região dali e depois suguei para começar um chupão. - Anh.. ...
Ouvi alguns passos, mas ignorei. A gemendo o meu nome enquanto cravava suas unhas nas minhas costas era maior do que qualquer coisa.
Continuei com a boca colada em seu pescoço, desenhando um coração conforme ia movendo meus lábios por ali.
- Que isso jovens, olha a putaria no sofá! - disse , sorrindo de canto. Ele segurava um pote de Nutella e outro de torradas.
Desgrudei do pescoço da e lhe dei um selinho. Ela sorriu e sussurrou "depois a gente termina".
Cara, as coisas que eu faria com essa menina...
- Arranjem um quarto, por favor. - fez uma cara de nojo e se aproximou da gente.
- Que tal o seu, docinho? - sugeriu, irônica.
- Ha ha. - rolou os olhos. - Acho melhor você arrumar o cabelo, . Dá pra ver essa marca de chupão lá do Brasil.
- O QUÊ? - ela arregalou os olhos, bagunçando o cabelo. - Merda, me deixa ver.
- Ele tá exagerando, . - falei, rindo. Vi ela caminhar até o banheiro. - Nem tá tão imensa assim.
- NÃO TÁ IMENSA? - gritou, a voz repleta de pavor. explodiu em risadas, abrindo o pote de Nutella. - , caralho, tá muito roxo!
- Ninguém mandou ser branca desse jeito. - disse, passando o doce na torrada. - Ah, porra, esqueci do refrigerante.
Ele fez o caminho de volta à cozinha e eu segui até o banheiro, encontrando uma desesperada pra cobrir a marca.
- Relaxa, . É só você arrumar o cabelo. - murmurei, dando um beijo na têmpora dela.
- Você fez em formato de coração. - ela sorriu, colocando os braços em volta do meu pescoço.
- Não achei que você fosse reparar. - dei um selinho nela, puxando o lábio inferior dela com os meus dentes.
- Como não? - ela passou a língua pelos lábios, me dando um sorriso safado depois. - Eu te disse que estou apaixonada por você, não disse?
Encostei ela na porta, usando o apoio do corpo dela para fechar o banheiro e trancá-lo.
subiu uma perna até o meu quadril, e eu a ajudei a se encaixar em volta do meu corpo.
Posicionei minhas mãos nos quadris dela, segurando-a praticamente pela bunda. Apertei de leve aquela área, arrancando dela um gemido baixinho, quase inaudível.
Comecei a distribuir beijos pelo busto dela, subindo até o pescoço enquanto ela puxava meus cabelos.
- Sabe... - murmurei, entre os beijos que eu dava nela. - Você me quebra, .
- Por quê? - ela sussurrou, subindo a barra da minha blusa.
Interrompi meu trabalho em seu pescoço para respondê-la.
- Porque eu nunca tinha me declarado pra menina nenhuma até você aparecer. - respondi, mordiscando o lóbulo da orelha dela.
- É mesmo? - ela me abraçou com força, quase fundindo nossos corpos ao mesmo tempo em que deslizava as unhas compridas pelas minhas costas. - Sou especial, então?
- E muito. - sibilei, finalmente indo até sua boca.
Fiz o desenho de seus lábios com a minha língua. Olhei no fundo de seus olhos.
- De verdade? - ela perguntou, dando um beijo na ponta do meu nariz.
- De verdade. - confirmei, fazendo carinho no cabelo dela. - Você, , é a mulher mais especial da minha vida.

- Puta merda, vocês são incontroláveis! - desviou o olhar quando eu e começamos a nos beijar.
Parti o beijo, rindo do comentário.
- Você e a que são os certinhos, né? - fez uma careta pra ele.
A campainha tocou e se levantou rapidamente.
- Falando nela... - sorriu, indo até o hall.
- Vamos sair pra almoçar ou ficar aqui mesmo? - perguntei pra , colocando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.
- Não sei, . - ela me abraçou, aninhando-se ao meu peito. - O que você quer fazer?
- OLÁ, MEU POVO! - , nada inconveniente, se jogou em cima de nós dois. fez cara de sufocada e eu ri.
- Cai fora, baranga! - xingou, dando risada.
- Poxa, , é assim que você trata a sua melhor amiga? - fez beicinho, cruzando os braços.
empurrou-a do sofá e do nosso colo, fazendo com que a menina caísse no chão.
- Sim. - ela respondeu, gargalhando. Fiz um high five com ela.
- Piranha. - mostrou o dedo médio para , rindo também. Depois ela se sentou no chão e começamos a conversar.
chegou depois de poucos minutos, trazendo alguns refrigerantes.
- Senhorita ? - a empregada da casa dos apareceu na sala de cinema. Ela era uma senhora por volta dos 40 anos.
- Oi, Rose! - sorriu pra ela e me abraçou.
- Quantos pratos devo servir à mesa? - perguntou.
- Meus pais já chegaram?
- Sua mãe telefonou dizendo que ela e seu pai não virão para o almoço. - Rose respondeu.
- Então põe oito. - disse e a empregada confirmou com a cabeça, saindo depois.
- Quem mais vai comer aqui? - perguntei para , unindo as sobrancelhas.
- , , e .

A mesa estava uma bagunça completa.
O começou a guerra de comida quando jogou três amendoins na cabeça do . O , apelão do jeito que é, resolveu que seria melhor virar o pote inteiro no . Aí ele sem querer jogou alguns na , que revidou com um copo de água, que molhou a também.
E agora estamos assim: totalmente imundos e cheirando ao almoço que a Rose tinha feito para nós.
- TRÉGUA! - gritou, o cabelo sujo de suco de laranja com alguns grãos de arroz. - A Anastácia vai me matar, porra!
- Quem raios é Anastácia? - perguntou, jogando sua colher na cabeça do .
- A empregada mal humorada que a minha mãe contratou. - respondeu, batendo na blusa para tirar os grãos. - Sério, gente, chega. Olha como o chão está.
Olhei para o chão, rindo. Ele estava muito sujo.
- Merda, e agora, ? - perguntei, comprimindo meus lábios.
- Ainda bem que tiraram aquele tapete que tinha aqui embaixo da mesa. Minha mãe ama aquele troço. - coçou a cabeça.
- , seu desgraçado, essa blusa é Dior! - revirou os olhos, tentando limpar o suco de uva da blusa creme.
- Ótimo, então agora ela vale o preço da Dior mais o suco de uva. - riu, o cabelo com um pedaço de tomate.
- Vamos tomar banho. Eu vou pedir pra Anastácia limpar isso aqui. - disse, levantando da cadeira. - , vem comigo.
Levantei também e coloquei meu braço em volta da cintura dela.
- Sabe, eu realmente acho que a gente devia tomar um banho juntos. - murmurei. - É justo, porque olha, eu te sujei, você me sujou... - dei um sorriso de canto pra ela. - Seria uma troca.
- Você sempre dá um jeito de desviar a situação pro seu lado, né, ? - riu e abaixou a cabeça, a bochecha vermelha de vergonha. - Tem muita gente em casa agora. Mas tenta de novo na próxima vez, quem sabe você consegue...
- Eu estou começando a achar que eu sou o brasileiro da parada. - falei, olhando pra ela. Ela fez cara de confusão. - Sou eu que não desisto nunca aqui.

- Tá todo mundo cheiroso e limpinho agora? - perguntou, colocando as mãos na cintura.
- Eu estou. - respondeu, colocando o queixo no ombro dela enquanto a abraçava por trás.
- Awn, amor, está mesmo. - sorriu pra ele, lhe dando um selinho.
- Tá, tá. Chega de romance. - tampou os olhos. - Diga logo o que você queria falar, vaquinha.
- Quem quer falar o quê? - , mais perdida do que tudo, perguntou.
- Oi? - , seu namorado lesado, tão perdido quanto ela, indagou.
- Ugh. - revirou os olhos. - SENTEM, TODOS VOCÊS!!!
E então nos sentamos no sofá da sala de cinema da , prontos pra ouvir o drama que viria a seguir.
- Só queria dizer que... - fez um suspense e começou a olhar para as unhas.
- Que o quê, ? - cruzou os braços, impaciente.
- Queria dizer que vou dar uma festa. - ela sorriu. se animou e gritou um "uhul". - Mas não é só uma festa. É aquela festa.
- Oh oh... - murmurou e depois sorriu. - É aquela época do ano, já?
Sorri malicioso, sabendo do que ela falava. Finalmente!
- Qual época do ano? - perguntou, confusa. - De que festa você tá falando, colega?
- Eu estou falando, cara amiga, do Baile de Máscaras Anual da ERP.

Sábado, 19:01 - banheiro da minha casa

Eu levaria a para jantar hoje à noite. e estavam em casa porque queriam jogar a nova versão do GTA, que só eu tinha.
- E vocês já fecharam o acordo? - perguntou , escovando os dentes.
- Quê? - uni as sobrancelhas, esperando ter ouvido errado. Peguei minha camisa xadrez e a tirei do cabide.
- Ah, , você sabe... - riu, cuspindo a espuma e enxaguando a boca.
- Transar, fazer sexo, amor... - resumiu, rindo.
- Não sei, na verdade. Eu estou pronto, mas estou esperando por ela. - falei, dando de ombros. Joguei desodorante nas minhas axilas e coloquei a camisa. - Demorou muito com vocês?
- Com a , não muito. - respondeu. - A gente foi levando e aconteceu, sabe?
- Com a foi meio complicado. - disse, honesto. - Mas como eu sou foda, consegui conquistar ela.
- Eu não quero conquistar a , cara... Ela não é um prêmio qualquer. Ela é especial mesmo. - falei, comprimindo meus lábios. Pesquei umas meias e calcei os Vans preto. - Ela tem que querer e se sentir segura pra isso, ou então não vai ser legal nem pra mim, nem pra ela.
- Oh-oh... - olhou de canto pra , sorrindo malicioso. - Você pensou o que eu pensei ?
- Pensei sim. - gargalhou, cruzando os braços.
- Pensaram o quê? - perguntei, não entendendo merda nenhuma.
- Eu realmente não achei que você fosse capaz disso, seu desgraçado. - deu um tapa na minha cabeça. - Parabéns, pô!
- Capaz do quê, porra? - repeti a pergunta, dando um soco nele pelo tapa. - E parabéns por quê?
- , seu viado, você não vê? Você ama essa garota! - disse, em alto e bom som.

Capítulo betado por Mariane.



XXVI. Aquelas três famosas palavras


a•mor (do latim amor)
1. Sentimento que induz a aproximar, a proteger a pessoa pela qual se sente afeição.
2. Sentimento intenso entre duas pessoas, ligação afetiva.


Quinta feira (12 dias após o último capítulo), 09:12 a.m. - sala do 2º B, ERP

:

Escorei-me na ponta da mesa e apoiei minhas mãos na carteira, dando um impulso para que eu me sentasse e acompanhasse a conversa das meninas.
- Precisamos passar na Harrods e comprar uns vestidos novos. - disse , os braços cruzados enquanto batia um pé, impaciente.
- Para quê? - perguntei, bebericando meu Moccha Branco, despreocupada.
Três pares de olhos me encararam assustados. Fiz uma cara de confusão.
- Para o Baile de Máscaras, sua desnaturada! - me deu um tapinha na testa.
- Ahhhh! - murmurei, concordando com a cabeça. - Tudo bem. Vocês vão hoje?
Eu andava passando muito tempo com o , então tinha me esquecido completamente dessa festa. Bem, vocês sabem, aquele homem é uma completa distração, muito obrigada.
A gente estava em uma situação engraçada, na verdade. Toda vez que ele tentava "dar o próximo movimento", alguma coisa nos impedia. Era o chegando na minha casa casa, a mãe dele chegando na dele... Até o cachorro dele nos atrapalhou uma vez.
Foi assim durante toda a semana. Hoje a gente não ia nos encontrar, porque ele ia à gravadora do meu pai. Logo, sem chances.
- Onde nós vamos? - , o namorado da , chegou e se apoiou no meu ombro.
- Comprar vestidos na Harrods, você nos acompanha? - perguntou , rindo dele.
- Eu, hein. - revirou os olhos, caminhando até . Ele deu um selinho nela e a abraçou. - O até toparia, gay do jeito que é.
- Eu sou o quê? - perguntou , as sobrancelhas levantadas quando se sentou ao meu lado.
- Oi, feio. - falei, dando um selinho nele.
- Oi, linda. - ele sorriu, pegando na minha mão.
- Não falei que ele era gay? - murmurou, revirando os olhos.
- Isso é ciúmes? - indagou, rindo.
- Sim. , você pode voltar pro Brasil e devolver a masculinidade do meu amigo? - pediu, rindo também. Revirei os olhos e dei risada, mostrando o dedo médio para ele. - Por favor!

Sexta feira, 12:17 - refeitório da ERP

conversava ao telefone com o moço responsável pela entrega das bebidas da festa. Ela falava bem rápido, porque estava bastante estressada.
Aparentemente, organizar um super Baile num tempo super curto pode ser bastante cansativo.
- Cara, não consigo acreditar que ela fez tudo isso em só alguns dias. - disse , apontando pra namorada e mordendo uma batatinha com ketchup.
- Né? Ela organizou o Baile inteiro, sendo que eu mal conseguia decidir meu vestido ontem. - falou, tomando um gole do chá gelado de limão.
- Não pense que foi fácil. Eu fui com ela escolher o lugar e vi o surto dela porque não encontrava "nenhum salão misterioso e chique o suficiente". - sibilei, rindo.
- , você vai amar essa festa. - falou, a cabeça encostada no peito de . - É linda, e tem aquele tom bacana por causa das máscaras.
- Certo, confio em você. - murmurei, sorrindo pra minha amiga. Essa festa parecia mesmo ser muito legal, e a e sua família eram os melhores organizadores de evento de toda a Inglaterra. - Só odiei o fato da gente ter que usar vestido longo.
- Desculpe, coleguinha. - disse . - São regras, desde sempre.
- Dizem que regras existem para serem quebradas. - falei, rindo.
- É mais ou menos desse jeito que as pessoas vão parar na cadeia. - falou, bebendo o último gole de sua Coca Cola. Rolei os olhos e ri. - Mas eu também sou contra esses vestidos longos. Ninguém aqui é obrigado a ficar sem ver as pernas das garotas e...
A interrupção dele foi porque a deu um tapa muito forte em seu ombro. Ele reclamou e então os dois entraram numa discussão sobre "você não tem o direito de ficar olhando pro corpo das outras meninas, seu filho da mãe".
Aquele papo era desinteressante pra mim, então direcionei meu olhar para a beleza que era o meu namorado.
- Ansioso pra festa, cabritinho? - perguntei, sorrindo quando ele me abraçou e me puxou para perto dele.
Ahh... Melhor.lugar.do.mundo.
- Sei lá... - ele falou, meio quieto de repente. - Eu gosto desse baile, a festa costuma ser irada. Só estou com um sentimento ruim, sabe? Uma coisa esquisita dentro do peito.
- Mas, já? Normalmente as pessoas só tem dor no tórax acima dos 50 anos, seu idoso. - falei, mostrando a língua pra ele. revirou os olhos muito e me deu uma mordida na bochecha.
- Tonta. - ele sorriu. - Não gosto dessa sensação. Incomoda.
- Fica tranquilo, . - eu tentei sorrir de uma maneira que o acalmasse. - Esse medo tem alguma coisa a ver com o fato da festa ser de máscaras?
- Não, . - ele rolou os olhos, rindo. - Não tenho medo desse tipo de máscara, só aquelas de filme de terror.
- Tudo bem. - eu fiz carinho no rosto dele. - Se estiver aflito por causa da gente, você tem que saber que nada vai acontecer. Eu estou feliz, você não está?
- Com toda a certeza. - murmurou, me dando um selinho. - Você me faz feliz, sabia?
Sorri largamente, escorando novamente em seu peito. Ouvi as batidas do coração dele, agradecendo mil vezes por tudo estar tão bem.
Eu nem acreditava na onda de sorte que estávamos. Ian e Hayley não tinham feito nada para nos prejudicar, meu pai tinha aceitado completamente bem o namoro (lógico que mamãe ajudou - nem quero saber como, a ideia dos meus pais fazendo aquilo é... argh), havia melhorado signitificamente nas notas... Tudo estava perfeito que, de repente, comecei a temer a vinda de algo ruim.
Comprimi meus lábios e torci a cara, espantando esse pensamento tão rápido quanto o tive.
- Você me faz mais. - respondi, puxando-o para um beijo de verdade.
Sábado, 19:21 - meu quarto

- DIA DO BAILE, DIA DO BAILE! - pulava em cima da minha cama, totalmente empolgada. - HOJE É O DIA DO BAILEEE!!!
Sinceramente, eu só deixei ela continuar devastando minha cama porque sabia como ela estava estressada e o tanto que ela tinha dado duro pra que tudo ficasse perfeito.
- Sim, e tudo estará incrível! - bateu palminhas, animada. Ela tentava escolher uma música no meu iPod para colocar no amplificador. - Zedd ou David Guetta?
- Você nunca erra com Zedd. - falou, sentada no chão e observando dois pares de saltos: um Jimmy Choo e um Prada. - Te ajudei com a música, agora me ajudem com os sapatos.
As meninas se arrumariam aqui em casa e iríamos todas juntas para a festa. e nos levariam, mas não precisavam começar a se arrumar agora, porque tudo o que os homens precisam para ficar prontos é: um banho. Sendo assim, eles jogavam GTA V, enquanto nós já havíamos feito a sessão manicure e cabeleireiro, além de depilação e preparação para maquiagem.
Mundo, você não é justo.
- Os Jimmy são mais elegantes. - respondi, indo em direção ao closet para pegar a minha roupa. Caminhei, dançando um pouco ao som de Clarity e recolhi meu vestido. Dei uma olhada nele e sorri. Aquele era um dos vestidos mais bonitos que eu já tinha visto.
- , esse seu Carolina Herrera é tão lindo que eu quero chorar. - disse quando eu voltei ao meu quarto. - Você é tão sortuda, cara. Último modelo e exatamente no seu tamanho.
- Obrigada pelo elogio, mas não sou nada. - falei, jogando o vestido na cama. já não pulava mais, ainda bem. - E você diz como se o seu Elie Saab fosse pouca coisa...
- Certo, já tomamos banho e fizemos o cabelo. Vamos terminar a maquiagem? - perguntou , guardando o par de sapatos rejeitados na caixa.
- Vamos! - piou, feliz, e pegou sua maleta da MAC.

- Puta que pariu. - soltei um palavrão, porque nada descreveria melhor a minha situação de choque quando pisamos naquele salão divino. Isso porque estávamos só na entrada, à beira das escadas. - , você é incrível!
- Obrigada, mon amour. - ela piscou e entregou seu casaco para um funcionário responsável por guardar as peças. - Agora vamos aproveitar essa festa, e não se esqueçam de colocar as máscaras!
Ah, sim. Nós aproveitaríamos aquela noite. Especialmente porque foi nesse momento que eu vi o meu namorado lindo pra caralho saindo de seu Porsche com um smoking que não podia cair melhor em qualquer outro ser humano do sexo masculino de todo esse planeta.
Isso era só o quão incrivelmente maravilhoso ele estava.
subiu seu olhar pra mim, os cabelos bagunçados daquele jeito proposital - só pra causar um impacto no coração de todas as meninas que olhassem pra ele. Mas, hoje, nenhuma olharia. Porque ele era meu.
Conforme andava, ele abria um sorriso e o cheiro de seu eterno 212 ficava mais aparente. Eu fiquei ali, olhando e babando até que ele finalmente chegou perto da gente.
- Oi. - murmurou, as mãos pousando na minha cintura quando ele me deu um selinho.
- Você é ridiculamente bonito, cara. - sussurrei, colocando meus braços em volta de seu pescoço. - Isso é muito injusto.
uniu as sobrancelhas, parecendo confuso. Depois, ele sorriu.
- Injusto é eu ter uma namorada tão gata assim e não poder levar ela pra algum lugar para prová-la o quanto sou louco por ela. - ele disse, baixinho, me dando um beijo no pescoço.
- A gente pode. - mordi meu lábio inferior, grudando minha mão no cabelo dele. - Mas só depois que aproveitarmos um pouco dessa noite.
- Estou de acordo. - ele piscou aqueles olhos para mim. - Você me acompanha, senhorita?
Era cerca de meia noite.
não tinha mentido. Esse Baile era realmente mágico. Tudo nele era bonito e elegante: a grande pista de dança, o fato de todo mundo estar mascarado, os vestidos longos das meninas e os smokings dos meninos, os lustres e as velas, as cortinas e os sofás meio provençal. Eu diria que tudo estava perfeito. Exceto por uma coisa.
Ian estava naquela festa. teve que convidá-lo, porque, afinal, a festa era da ERP. E Ian era da ERP.
Hayley também. E por isso os dois estavam ali. O mais esquisito, no entanto, era que eles estavam dançando juntos. Um rindo na orelha do outro, um olhando para o outro.
Não que eu estivesse com ciúmes. Aliás, longe disso. Eu realmente queria que ele fosse feliz, e se isso significava ficar com a Hayley, que seja. Ainda melhor, pois assim ela fica longe do .
Ele que, a propósito, estava dançando comigo há vinte minutos. Meus pés começaram a doer um pouco e eu queria ficar um tempinho sentada.
- , eu vou pegar uma bebida para nós. Você fica um pouco ali com as meninas? - perguntou , quase que lendo a minha mente. As meninas estavam no sofá, então seria ótimo.
- Lógico, cabritinho. - dei um selinho nele. - Vai lá.
Caminhei em direção às minhas amigas. e riam de alguma coisa quando eu cheguei e me juntei à elas.
- Oi, ! - sorriu, empolgada. Desamarrei a fita da minha máscara, deixando-a cair.
Me abaixei para pegar a peça, mas alguém foi mais rápido do que eu. Olhei para o lado, encontrando um Ian sorridente entregando aquela coisa para mim.
Uni as sobrancelhas, fazendo uma cara de confusão. Recolhi a máscara e agradeci.
- Hmmm, obrigada. - murmurei, achando tudo aquilo muito esquisito.
- De nada. - ele sorriu. - , , vocês nos dão licença? - pediu para as meninas. Elas me fitaram confusas, e eu dei de ombros. Acho que ele só queria conversar.
Elas concordaram com a cabeça e saíram. Ian se sentou e bateu no sofá para que eu o acompanhasse.
Sentei, mas a uma confortável distância de quinze centímetros.
- Sabe, eu fiquei olhando pra você a noite toda. - ele disse, um sorriso tímido encostado no canto de sua boca. - Não dá pra evitar. Você é a menina mais bonita dessa festa inteira.
- Ian, o que você quer? - perguntei, direta e sem paciência pra ficar ouvindo um ex me elogiar.
- Eu quero conversar, . - ele falou, olhando para mim. - Eu quero poder falar contigo, já que não tive essa oportunidade no dia em que a gente terminou.
Fiquei em silêncio, comprimindo meus lábios. Olhei para baixo, e ele tocou o meu queixo, fazendo um carinho no meu rosto.
Afastei a mão dele, negando o carinho.
- Você disse que quer conversar. - decretei, firme. - O que ainda não ficou resolvido entre a gente?
- Não ficou resolvido o fato de eu estar apaixonado por você e você ter quebrado o meu coração. - ele sussurrou, chegando perto de mim. Estávamos a uns cinco centímetros, e o hálito dele cheirava a álcool.
- Você não sabe do que tá falando. - falei, tentando me afastar dele. Não deu certo, porque Ian me prendeu. Eu agora estava deitada no sofá e ele estava por cima de mim.
- Eu sei, sim! - ele falou em um tom de voz alterado. - E vou te provar isso! - gritou, segurando meu cabelo com força. Ian se aproximou de mim e colou as nossas bocas com muita violência, agindo de uma maneira que eu nunca imaginei que ele fosse capaz. Eu fechei a minha boca, mas ele tentava de todas as maneiras aprofundar aquele beijo. Comecei a me debater, na tentativa de que ele desistisse daquele ataque.
Também tentei gritar, mas ele continuava insistindo no beijo, e depois de alguns segundos, começou a deslizar os dedos pela minha cintura. Fechei os olhos e senti uma lágrima descer pelo meu olho esquerdo quando ele subiu as mãos para o decote do vestido.
E, de repente, ele não estava mais lá.
- SEU FILHO DA PUTA! - vociferou, vermelho e insanamente feroz quando acertou um soco muito forte no rosto de Ian, que caiu de olhos fechados no mesmo momento. aproveitou a chance para chutar uma costela do outro, subindo em cima dele para continuar a pancadaria. - EU VOU TE MATAR!
Eu gritei, tentando desesperadamente fazer com que ele parasse. Um grupo considerável de pessoas se amontoou à nossa volta. Eu estava em pânico, implorando para que parasse com aquilo.
Ian já sangrava pelo nariz e pelo canto da boca, mas não era o suficiente, pois continuava socando ele no olho. Ele parecia cada vez mais bravo, ao passo que eu já imaginava o pior para Ian.
Vi , , , , e pedindo passagem pelo grupo que nos rodeava, mas não fazia nada para impedir. puxou com muita rapidez, gritando com o amigo.
- Para, cacete, para! - ele disse, segurando o , que tentava se desvecilhar do amigo. - , eu falei pra você parar!
foi checar a situação de Ian, e tentava acalmar também. Eu era abraçada pelas minhas amigas enquanto chorava.
- Me larga, porque hoje esse desgraçado não vai sair daqui com vida! - gritou, quase conseguindo se soltar dos braços de e .
- CHEGA! Você não precisa disso, , você sabe! - eu berrei de volta, correndo para sua direção. - O Ian é um...
- PARA DE DEFENDER ELE, PORRA! - ele se exaltou, o rosto ainda muito vermelho. - POR ALGUM ACASO VOCÊ ESTAVA GOSTANDO?
Eu calei a boca na mesma hora. Pisquei duas vezes para me certificar que não havia escutado nada errado.
Fitei aqueles malditos olhos de maneira incrédula, muito chateada.
- Eu acho que o seu ciúmes doentio afetou a sua cabeça. - comprimi meus lábios, magoada por ele ter pensado daquela maneira de mim. - A gente conversa quando você estiver são de novo.
Dei as costas para ele e caminhei até a porta da festa, até sentir uma mão agarrando o meu braço.
Eu conhecia seu toque, então só falei:
- , por favor, me deixe ir. - fechei meus olhos. - Hoje já aconteceu muita coisa.
- Não! Eu não vou perder você por causa disso! - ele se postou à minha frente.
- Você não vai me perder. - murmurei, mesmo que incerta disso. - Só me deixa ir pra casa.
- Não. - decretou, firme. - Eu vou te levar para casa. Você é minha namorada, e vai embora comigo.

bote para carregar!


Sábado, 01:20 a.m. - meu Porsche

:

Silêncio.
Era tudo o que podia ser ouvido dentro do meu carro. Nada mais do que o constrangedor e sufocante silêncio.
Fixei meus olhos nela por um instante. Seu cotovelo estava apoiado no vidro e o queixo, em sua mão. Mantinha uma expressão fechada.
Torci a cara, olhando para o farol, agora vermelho. Freei o carro e virei novamente para o banco do carona, esperando que ela falasse alguma coisa.
Mas ela não falou. Só continuou ali, fingindo que não me via. Alheia aos próprios pensamentos.
Bufei alto, passando as mãos pelo cabelo. O sinal ficou verde e eu atravessei a rua de entrada para a casa dela.
Eu estava nervoso, muito nervoso. Queria arrancar todos os fios do meu cabelo, arrancar tudo que havia dentro do carro, inclusive a , e depois beijá-la e dizer o quanto eu era louco por ela, o quanto ela me deixava louco, o quanto eu não suportava vê-la com qualquer outro cara que não fosse eu.
Mas não fiz nada disso.
- Sabe, às vezes eu acho que você não confia em mim. - disse, cortando o silêncio. Eu me virei para a esquerda, sustentando seu olhar. Era sério e um pouco decepcionado. - Não tem outra explicação lógica pra você ter dito aquilo.
- Você sabe que não é isso. - eu a interrompi. - Em você eu confio, . - falei, estacionando o carro na garagem dela.
- Ah, é mesmo? Foi por isso que você gritou aquilo? Sabe, , você pode não entender isso, mas palavras machucam muito. - disse, em um tom duas vezes mais alto. Eu senti meu rosto começar a formigar e cerrei os dentes. Apertei o volante. - Eu entendo a sua fúria, mas você Estava completamente fora de...
- Controle? - eu sugeri, explodindo em raiva. Tirei a chave da ignição e a enfiei no bolso. - É, . Eu estava mesmo. Quer saber? Você me deixa assim. Você me deixa desequilibrado, ciumento, totalmente fora de controle! Tá satisfeita agora?
- NÃO, EU NÃO 'TÔ SATISFEITA! - ela berrou. Seu rosto estava vermelho e os olhos ameaçavam desabar em lágrimas. Meus joelhos tremeram e eu senti meu sangue circular mais rápido. - EU NÃO 'TÔ SATISFEITA COM O MEU NAMORADO ME DIZENDO ESSAS COISAS, ! PORQUE EU NÃO QUERO QUE ELE ME DIGA ESSAS COISAS, EU QUERO QUE ELE CONSIGA CONFIAR EM MIM! - gritou, saindo do carro.
- PORRA, EU JÁ DISSE QUE CONFIO EM VOCÊ! - saí também, batendo a porta com força. Senti meu coração bater forte e acelerado, como se eu estivesse à beira de um colapso. Brigar com ela era a última coisa que eu queria no mundo, mas era necessário agora. - É nele que eu não confio, ! É no Ian! - falei, levando as mãos à cabeça.
Ela ficou quieta e abaixou a cabeça.
- Eu entendo que você se sinta assim. Eu juro pra você que não quero mais chegar perto dele. Nunca mais. - ela falou, baixinho. - Mas o que você falou me magoou mesmo.
- Existe um motivo pra eu ter pirado daquele jeito. - sibilei, meu tom de voz ainda alto.
- Qual? - ela perguntou, o rosto sustentando um olhar desapontado quando eu a fitei.
- Eu te amo. - cuspi aquelas três palavras com o coração tão acelerado que eu poderia cair morto a qualquer hora. Levei minhas mãos à cabeça, meio desesperado. - E quando você ama alguém o tanto que eu te amo, , você não tolera ver a pessoa com mais ninguém, muito menos com um idiota com quem ela já teve um relacionamento!
- ! - ela berrou, me encarando meio surpresa. Seus olhos estavam arregalados. - O que foi que você disse?
- Que eu te amo. - repeti, mais baixo. - E não vou mais ficar escondendo isso de você. É a primeira vez que eu digo isso pra uma menina, e não estou nem aí se você se sente assim também, e não ligo que posso soar retardado falando isso, e que o a gente é novo pra saber o que é "amor", e que as pessoas não me levem muito a sério, mas puta que pariu, , eu te amo demais.
- ! - repetiu, talvez pelo simples fato de não saber o que falar. Eu também não sabia o que dizer ao certo depois dessa explosão. Mas a abaixou a cabeça, comprimiu os lábios e levantou o rosto para mim, sorrindo de uma maneira pura. - Você é idiota? - perguntou, colocando as mãos na cintura. Ergui uma sobrancelha, olhando para ela de maneira duvidosa. - Em qual planeta você acha que eu não iria te corresponder, ? Eu também te amo.
Eu me senti leve. Eu senti como se a gravidade não existisse, como se estivesse voando. Meus pulmões foram preenchidos pelo ar mais puro, a sensação mais gostosa do mundo atingiu meu corpo em cheio. Foi como se, de repente, tudo fizesse sentido. Abri o maior sorriso que conseguia dar. Porra, ela me amava! Eu amava aquela garota e ela me amava também. Meu Deus, que coisa mais maravilhosa!
Minhas mãos tremiam, mas eu ordenei que elas parassem e agarrassem a cintura de . Puxei-a para perto de mim, acabando com aquela distância insuportável que nos acompanhava desde a festa. Coloquei-a em cima de meus pés. lançou os braços em volta de meu pescoço, cruzando as mãos em minha nuca. Agarrei seus cabelos com uma das mãos, olhando para ela pela última vez, como que pedindo permissão. Ela abriu um sorriso maior ainda e eu, sem mais hesitar, colei as nossas bocas.
Aquele era, de longe, o melhor dos beijos que já havíamos dado. Melhor do que o primeiro, melhor do que o do ano novo, o do pedido de namoro... Aquele beijo era único, especial, porque agora eu sabia: ela me amava.
Começou calmo, um aproveitando a presença e os sentimentos do outro. puxava meus cabelos daquele jeito que só ela sabia fazer e que me deixava doido, enquanto eu deslizava a mão e fazia carinhos por todos os locais alcançáveis do corpo dela. O beijo começou a adquirir intensidade quando eu agarrei suas pernas e a peguei no colo. Andei até a porta de entrada com ela, ainda sem cortar o beijo. começou a procurar, em sua bolsa, as chaves de casa. Enquanto ela procurava, eu dava beijos em seu pescoço. Ela jogou a cabeça para trás, os olhos fechados. Ouvi um "clique" e adentrei a escura casa, uma das minhas mãos no fim das costas dela e a outra na nuca. Pousei na mesinha central do hall. Continuei com a boca no pescoço dela, dessa vez, instalando ali um forte chupão. soltou um baixo gemido, cravando as unhas nas minhas costas. O suave cheiro que ela exalava estava me drogando, eu aos poucos sentia o autocontrole se esvaecer. Ela, aparentemente, também, pois no meio do meu trabalho em seu pescoço, começou a tirar meu smoking. Depois, enfiou a mão por dentro da minha camisa. Senti meu abdomên encolher com o toque da pele dela, deixando escapar um baixo gemido enquanto suas mãos se espalhavam por ali, sem vergonha nenhuma.
Incentivado por aquela atitude, voltei a beijá-la; agora muito mais feroz do que antes. Puxei a barra do seu vestido até suas coxas. Apertei aquele lugar, ouvindo-a arfar. Sorri safado, subindo ainda mais a mão pela perna dela. , por sua vez, começou a desabotoar minha camisa. Aquilo me levou ao delírio, e eu subi completamente o tecido do vestido. cortou o beijo, instalando sua boca macia em meu ouvido.
- Eu, você, cama, agora.

dê play!

Sábado, 01:44 a.m. - meu quarto

:

Era oficial. O cheiro mais viciante do mundo era o dele. Dane-se todas as drogas que os cientistas diziam ser as piores. Para mim, nada era tão eficaz quanto o perfume dele.
Havíamos conseguido, aos tropeços, subir para meu o meu quarto. Estava totalmente escuro, mas nenhum de nós preocupou-se realmente com isso. Ele andou comigo até minha escrivaninha, onde eu me sentei e entrelaçei as pernas em seu quadril.
Para conseguir um melhor apoio, tateei o móvel, impulsionando meu corpo para trás. Quando joguei a mão em cima da bancada, trombei com o amplificador, vendo o iPod piscar e ligar.
Os acordes de uma conhecida melodia começaram a soar.
- Ah, merda. Desculpe, . - pedi, ouvindo a música tocar ao fundo.
- Não tem problema. Até acho que combine. - ele falou, rindo.
Eu ri também e terminei de abrir sua camisa. Ele a tirou e eu a joguei em um canto qualquer.

"Give me love like her"
[Dê-me amor como ela]
"Cause lately I've been waking up alone"
[Porque, ultimamente, eu tenho acordado sozinho]
"Paint spotted teardrops on my shirt"
[Pintura manchada, lágrimas na minha camisa]
"Told you I'd let them go"
[Eu disse a você que os deixaria ir]


- Você tem razão. Denifitivamente combina. - sussurrei no ouvido dele, minhas mãos percorrendo cada centímetro daquele dorso maravilhoso.
Ele gargalhou, voltando a me beijar.

"And I'll fight my corner"
[E vou lutar pelo meu canto]
"Maybe tonight I'll call ya"
[Talvez hoje à noite eu vá chamar você]
"After my blood turns into alcohol"
[Depois que o meu sangue se transformar em álcool]
"No I just wanna hold ya"
[Não, eu só quero segurar você]


me pegou no colo, andando de costas até minha cama. Virou-se e me deitou nela, debruçando por cima de mim.
Colou sua boca na minha, continuando o beijo. Agarrei um punhado dos cabelos dele, minha outra mão deslizando até o cós da calça dele.
- Sabe, não é justo. To perdendo aqui. - murmurou, colando os lábios quentes em meu pescoço. Eu estremeci, sentindo minha pele se arrepiar conforme a boca dele descia.
- Dê um jeito nisso, então. - respondi, puxando sua calça para baixo.

"Give a little time to me, we'll burn this out"
[Dê-me um pouco de tempo, vamos queimar isso]
"We'll play hide and seek, to turn this around"
[Vamos brincar de esconde-esconde, para virar esse jogo]
All I want is the taste that your lips allow"
[Tudo o que quero é o gosto que seus lábios permitem]


- Você quem pediu. - declarou, tateando minhas costas à procura do zíper do vestido.
- Se não quiser, é só não fazer. - provoquei, rindo.
- Em que planeta você acha que eu não iria te querer, ? - perguntou, a voz rouca retomando o jeito como eu tinha me declarado pra ele. Sorri, sentindo o zíper ceder, meu vestido cair e abandonar meu corpo.
Corei, olhando para ele.

"My my, my my oh give me love"
[Minha, minha, oh, dê-me amor]
"My my, my my oh give me love"
[Minha, minha, oh, dê-me amor]
"My my, my my oh give me love"
[Minha, minha, oh, dê-me amor]


- Como você é linda. - ele sussurrou, os olhos brilhando enquanto sorria para mim.
- Como você é mentiroso. - rolei os olhos, puxando-o novamente para perto.
- A gente combinou que não contava mentira um para o outro, lembra?
sorriu de novo enquanto eu o beijava, suas mãos agora passeando pelo meu corpo.

"Give me love like never before"
[Dê-me amor como nunca antes]
"Cause lately I've been craving more"
[Porque, ultimamente, eu tenho desejado mais]
"And it's been a while but I still feel the same"
[E faz algum tempo, mas eu ainda sinto o mesmo]
"Maybe I should let you go"
[Talvez eu deveria deixar você ir]


- Você tem certeza disso? - ele perguntou, o tom de voz calmo.
- Como nunca tive certeza de algo antes. E você?
- Eu te amo. - ele me beijou.

"You know I'll fight my corner"
[Você sabe que eu vou lutar pelo meu canto]
"And that tonight I'll call ya"
[E que esta noite vou chamar você]
"After my blood turns into alcohol"
[Depois que o meu sangue se transformar em álcool]
"No I just wanna hold ya"
[Não, eu só quero segurar você]


- Espera. - ele pediu enquanto eu abaixava a cueca. Arqueei a sobrancelha. - A camisinha.
levou alguns segundos na procura, retornando rapidamente à mim.
- , eu juro, se você não quiser, está tudo...
- Por favor, cale a boca. - pedi, fixando meu olhar naqueles glóbulos . - Eu te amo. Agora é a hora, de verdade.
Ele assentiu, levantando-me um pouco da cama. Suas mãos foram em direção ao meu sutiã.

"My my, my my oh give me love"
[Minha, minha, oh, dê-me amor]
"My my, my my oh give me love"
[Minha, minha, oh, dê-me amor]
"My my, my my oh give me love"
[Minha, minha, oh, dê-me amor]


Uni minha mão na dele, nossos dedos se entrelaçando de um jeito perfeito. Como se tivessem sido feitos uns para os outros.
Ele me beijou mais uma vez, de um jeito delicado. Eu sorri.
E, quando não havia mais nenhuma peça de roupa a ser tirada, ele me deu amor.

xxx


- ... - murmurei, minha voz um tanto quanto medrosa.
Ainda estávamos deitados na minha cama.
- Hm? - ele resmungou, seu braço direito enroscado na minha cintura.
- Tá tudo escuro... - sussurrei, me encolhendo.
- E o que tem? - perguntou, suas mãos quentinhas fazendo desenhos aleatórios em minha barriga nua.
- Tenho medo. - confessei, baixinho.
- Sério, ? - ele riu pelo nariz.
- Sério, mas não ri de mim... - pedi.
- Certo. Vira pra mim, vai? Detesto não te ver, e ainda está escuro.
- Ok. - respondi, girando meu corpo para frente dele. - Viu só por que a gente tem que acender uma luz?
riu, fazendo carinho em meus cabelos.
- Vamos fazer o seguinte... - ele começou, me puxando para perto dele. A gente estava tão colado que eu podia até sentir os batimentos cardíacos dele. - Experimenta ficar assim comigo por alguns minutinhos. Se o medo continuar, a gente acende algo, tudo bem?
- Tudo bem. - assenti, recebendo um selinho dele.
- Então vamos dormir, minha . - disse, dando um beijo carinhoso na minha testa. - Boa noite. Eu te amo.
- Eu também te amo. - soprei, me aconchegando no pescoço perfumado dele.
Aquela foi a primeira vez, em 16 anos, que não senti medo algum do escuro.

Domingo, 10:07 a.m. - cozinha da

:

- Bom dia, princesa. - eu disse, entrando na cozinha e dando um beijo no topo da cabeça dela. vestia um avental, uma blusa branca e shorts jeans curtos.
- Bom dia, meu amor. - respondeu, me dando um selinho e sorrindo. - Roupas do ? - perguntou, apontando para mim. Eu vestia jeans, camiseta azul marinho e meias. Tudo do .
- Sim. - respondi, vendo ela virar uma panqueca na frigideira. A abracei pela cintura, dando um beijo na clavícula dela. - Precisa de ajuda com isso?
- Nah... - disse, desligando o fogão. - Preciso de ajuda com outra coisa, na verdade. - ela disse, virando-se para mim e iniciando um beijo muito quente.
Ela permitiu a passagem da minha língua, e eu permiti que ela tirasse a camiseta do , assim como ela permitiu que eu abrisse o shorts dela.
E então fizemos tudo de novo.

- Oi, mãe. Como está Amsterdã? - perguntou, no celular.
No momento, estávamos deitados no sofá da sala de cinema dela. Um filme de comédia romântica qualquer passava na TV. Desviei o olhar da tela para a minha garota, sorrindo quando ela soltou uma gargalhada para a mãe.
- Então tente não passar pelo distrito da luz vermelha à noite. E não entre nas Coffeeshops! - ela disse, um sorriso divertido sustentando o seu rosto. - Também te amo. Estou com saudades.
Dei um beijo na testa dela, envolvendo-a em meus braços.
- O não precisa que eu cuide dele, mãe. - ela rolou os olhos e eu dei risada. - Ah, o está aqui comigo. Quer falar com ele?
Ela olhou pra mim e eu concordei. pediu um minuto à mãe e me passou o celular.
- Olá, mrs. Collins. - eu falei, fazendo carinho no cabelo da . - Está tudo bem aí?
- Olá, ! - ela disse, animada. - Aqui está tudo maravilhoso. E a linda Londres, como está?
- Fria. - sibilei, rindo. - Mas agora já parou de nevar.
- Aqui nevou um pouquinho ontem. Mas, escute, . Eu queria te pedir um negócio. Você cuida da durante essa semana?
Eu queria dizer "com prazer", mas achei que ia soar pornográfico.
- Com certeza. - falei, espremendo num abraço apertado. Ela reclamou e eu lhe mostrei a língua. - Ela é o que eu tenho de mais valioso na minha vida agora.
- Fico feliz em ouvir isso. Ela também é o meu bem mais precioso. Eu estava aflita porque o mal vive em casa, e dei folga ao Peter, nosso motorista. Você pode levá-la à escola nesses dias, não pode?
- Não se preocupe, senhora Lily. - murmurei, sentindo a respiração de soprar em meu pescoço. - Eu te garanto que ela vai ser muito bem cuidada.
- Eu seria eternamente grata, . - ela suspirou. - Não é que você é mesmo um bom genro?

- Estou com fome. - disse uma saindo do banheiro de roupão e cabelos molhados.
Era assim que eu gostava das garotas. Em casa, com roupas confortáveis, cabelos desajeitados e sem maquiagem. Nessa hora, eu costumava as achar mais lindas do que nunca.
- Eu também. - falei, me levantando da cama e andando na direção dela. Mexi em seu cabelo, colocando uma mecha para trás de sua orelha. - A gente devia pedir alguma coisa pra comer, porque sabe, sua mãe pediu para que eu cuidasse de você...
fechou os olhos. Coloquei todo o seu cabelo para um lado, deslizando meus dedos para o seu pescoço.
- É mesmo? - ela sussurrou, sua mão direita pousando na minha nuca. - Então, , faça o favor de cuidar de mim.
Sorri de um jeito malicioso, desamarrando a fita de seu roupão. Ela abriu seus olhos e sorriu antes de me beijar.
- Me lembre de agradecer a por estar abrigando o nesse domingo. - disse , as unhas percorrendo o meu abdômen.
- Eles devem estar se divertindo tanto quanto a gente. - murmurei, enterrando meu rosto em seu pescoço.
- Ah, , não me faz imaginar essas coisas! - ela reclamou, torcendo a cara. Dei risada.
Devia ser por volta das três horas da tarde. A gente não tinha se desgrudado desde ontem à noite, mas era incrível o fato de eu não estar nem um pouco enjoado da presença dela. Pelo contrário, sentia que poderia passar mais um belo pedaço da eternidade ao seu lado.
Eu estava feliz como nunca antes.

Segunda feira, 08:57 a.m. - sala do 2ºB, ERP

- Você está com um sorriso muito grande pra quem teve uma briga horrível naquela festa. - disse , encostado numa carteira da sala.
- Tive um domingo dos sonhos, cara. - falei, sorrindo muito.
e se entreolharam e sorriram, maliciosos.
- Oh, oh... - encarou de relance. Ela acenou para nós. - Vocês...?
- Várias vezes. - respondi, encostando em uma carteira também.
- Mas que droga, ! - reclamou, fechando a cara. - Diz que foi só na cama dela, por favor.
- Quando for cozinhar, ver um filme ou jogar video game, lembre-se de nós, . - gargalhei, fazendo high fives com e .
- Ah, porra!!! - fez cara de nojo. - Não acredito, eu adoro aquela sala!
- Correção: adorava. - disse , rindo alto.


XXVII. Crazy with it, crazier without. Do you know what you're feeling? It's love, love, love...


Segunda feira, 09:00 a.m. - sala do 2ºB, ERP

:

- É verdade o que eles dizem sobre o sexo de reconciliação ser o melhor? - perguntou , lixando a unha.
Arregalei os olhos, ficando muito vermelha de repente. Dei um tapa leve no braço dela.
- ! - exclamei, rindo.
- Você espera que eu acredite que vocês não fizeram? - ela arqueou uma sobrancelha, me olhando de maneira irônica. - Principalmente depois de um domingo inteiro juntos?
- Ai. Meu. Deus. - corei mais ainda, escondendo o rosto. - A gente pode parar de falar sobre isso?
- Puta que pariu! - xingou, rindo. - , vocês fizeram???
Chão, por favor, abra-se para que eu possa me enterrar.
- Para de gritar, caramba! - tampei a boca dela com a minha mão, ainda muito vermelha.
- Ai, foi mal, vaquinha. - pediu, recompondo-se. Cruzei meus braços.
- , fala a verdade pra gente, vai. - murmurou, cruzando as pernas e se aproximando. - Ele broxou?
Senti meu rosto queimar e abaixei a cabeça na carteira.
- Eu odeio vocês, suas ridículas. - xinguei, rindo.
- Olha que eu vou chamar o pra te dar um trato, hein? - disse, achando graça da situação.
- Puta merda, ok, chega! - falei, com muita vergonha. - Sim, aconteceu. E não, ele não broxou. Pelo contrário, aliás.
- Ahhhhh!!! - deu um gritinho e bateu palminhas. - Conta tudo, , agora!
- Não, por favor. Não quero detalhes do P dele na sua V. - falou, retorcendo a cara.
- P e V? - arqueei uma sobrancelha, rindo pra . - Vocês não prestam, e eu não vou contar nada.
- Chata. - fez um biquinho. - Mas tudo bem, é melhor assim. É estranho pensar no meu amigo de infância transando com a minha melhor amiga.
Rolei os olhos e mirei o quarteto , , e . Acenei em direção a eles.
- Droga, . Vou ter que brigar com o pra testar essa teoria agora. - suspirou e eu gargalhei.
Conversamos mais um pouco até o sr. Proton entrar na sala e dispensar o pessoal do 2ºA.

Terça feira, 16:19 - sala de cinema da minha casa

- O Robert Downey Jr. é provavelmente o coroa mais gato que eu já vi na vida. - falei, embasbacada pelo charme do Tony Stark em Homem de Ferro.
Eu e estávamos estudando química. Mais especificamente, os elementos químicos. Ele perguntou se era possível que algum elemento natural ainda não estivesse na tabela periódica, então eu falei que sim, porque o Homem de Ferro, por exemplo, tinha descoberto um, aí o não acreditou, então paramos de estudar para assistir o filme.
- Você não tem como saber disso. - ele disse, fazendo carinhos nos meus cabelos. - Ainda não me viu coroa.
Soltei uma risada bem alta.
- Isso é o que eu chamo de usar a lógica a seu favor. - eu disse, dando um selinho nele.
- Sou inteligente igual à minha namorada. - ele sorriu, os olhos se estreitando .
Não vou dizer que o meu coração estava se derretendo por ele.
Porque não estava, lógico que não.
Ah, que se foda.
- Te amo. - sussurrei, aproximando o queixo dele do meu. Ele murmurou um "eu te amo mais".
Dei um selinho longo em seus lábios antes de começar um beijo de verdade.

Sexta feira, 15:41 - Aula de Relacionamentos

Comprimi meus lábios, sendo atingida pela dor.
Me encolhi na cadeira, tremendo um pouco.
me olhou interrogativamente. Ele se aproximou e colocou meus cabelos para o lado.
- Tá tudo bem, amor? - perguntou, preocupado.
Sorri fraco.
- Meu endométrio está descamando e provocando fortes dores na região abdominal. - falei, em termos técnicos. A gente tinha estudado essa matéria ontem, então eu queria ver se ele havia aprendido.
Ele sorriu, me dando um selinho.
- Sinto muito pela cólica, . - respondeu, fazendo carinho na minha bochecha. - Professora!
tinha levantando a mão. Uni as sobrancelhas.
- A minha namorada não está passando muito bem. - ele disse, apontando pra mim. - Podemos ir à enfermaria, por favor?
Sorri pra ele, agradecendo.
- Certamente, senhor . - a professora respondeu, assinando um papel. - Levem essa notificação de dispensa com vocês.
recolheu o papel, minha bolsa e sua mochila. Esticou seu braço direito nos meus ombros e eu passei o meu braço esquerdo por suas costas.
- Tomara que você fique melhor para amanhã. - me deu um beijo na têmpora.
Amanhã, no sábado, a gente tinha uma festa no Funky Buddha, uma das melhores baladas de Londres. tinha conseguido umas entradas VIPs para nós, e o DJ que se apresentaria era super famoso - eu não o conhecia, mas também não era assim tão fã de música eletrônica. Mas e os meninos eram, então estavam super animados. Segundo , seria mais ou menos o "evento do ano".
- Tomara mesmo. - murmurei, incomodada com a dor. Caminhamos mais um pouco até a enfermaria, onde uma senhora nos atendeu.
- O que aconteceu, jovem menina? - a senhora perguntou, esticando a mão para recolher o papel que entregava a ela. - Você está com um rostinho tão triste...
- Estou com muita cólica. - sibilei, sendo ajudada por para deitar na maca.
- Ah, entendo a situação. - ela sorriu, compreensiva. - Vou buscar alguns remédios e uma compressa, aguarde só um instante.
Agradeci, virando meu olhar para .
- Você não tem um ensaio com os meninos agora? - perguntei, me lembrando do que tinha comentado no café da manhã.
- Eu tenho, mas não quero te deixar aqui sozinha... - ele pegou na minha mão.
- , não tem problema! - falei, tentando sorrir. - A enfermeira vai cuidar de mim e depois eu vou embora. Sério, pode ir.
- Ah, ... Eu vou ficar preocupado se for. - disse, completa e absurdamente fofo.
- Para com isso, vai. - murmurei. - Não é tão grave. Pode ir, de verdade.
Eu não queria que ele perdesse o ensaio. Ensaiar era uma das coisas mais importantes para que uma banda melhorasse cada vez mais. Não que o McFLY precisasse melhorar, na verdade. Os meninos eram incríveis, e as músicas, maravilhosas. Mas é claro que treinar é sempre bom.
- Tudo bem. - concordou, me dando um beijo na testa. - Eu vou te ligar o tempo todo, ok?
- Claro. - sorri, dando um selinho nele. - Vai lá arrasar, cabritinho.
- Amo você, . - ele me deu outro selinho e saiu.
Fiquei ali, sorrindo, toda embasbacada. Bati meus dedos na maca, impaciente. A enfermeira não chegaria nunca, pelo amor de Deus?
Virei o rosto pro lado, olhando para uns banquinhos. Em cima dele estavam a minha bolsa e... A mochila de .
Droga, ele havia esquecido!
Levantei da maca e a peguei, pronta para correr atrás dele.
A enfermeira chegou naquela hora.
- Desculpe, senhora, é que o meu namorado esqueceu a mochila dele. - expliquei a situação. - Ele acabou de sair daqui. Posso ir entregar?
- Claro, mocinha. - ela sorriu e eu saí, andando o mais depressa que o dinossauro se alimentando do meu útero permitia.
Virei à esquerda, quase me perdendo naqueles corredores imensos da ERP. Ouvi algumas vozes e reconheci uma delas como sendo a de .
Feliz, fui andando em sua direção.
Mas, conforme chegava perto de sua voz, percebi que ele não estava sozinho. Na verdade, ele estava acompanhado de uma das piores pessoas da nossa escola.
Me escondi atrás de uma escultura esquisita do Davi, cópia de Michelangelo, espiando o meu namorado e a Hayley.
Bufei, ficando triste de repente.
De onde eu estava, não dava para ouví-los bem. No entanto, eu conseguia enxergar perfeitamente. Tão perfeitamente que vi a mão da maldita loira percorrer o abdômen do meu namorado, pousando no cós de sua calça. Depois, ela se aproximou do rosto dele e estalou um beijo bem perto de sua orelha.
Pasma com a situação e com a comodidade de , fiquei de pé, de um modo bem visível ao casal. Arremessei a mochila pelo ar, e ela caiu bem ao lado dos dois.
levou um susto. Hayley e ele olharam para mim.
Encarei os dois por exatos três segundos e depois saí, marchando de volta à enfermaria.
- !!! - ouvi a voz dele gritar. - , VOLTA AQUI!
Ignorei o chamado e corri novamente, entrando na salinha branca. Bati a porta com força, chamando a atenção da enfermeira, que me olhou indagativamente.
Eu estava com tanto ódio que a cólica agora era só uma boa lembrança.

Confesso que chorei.
Deixei meu rosto ser tomado por várias lágrimas, uma atrás da outra, caindo em sequência enquanto Peter me olhava preocupado.
- Senhorita , há algo que eu possa fazer? - Peter, o motorista, perguntou. Sua voz transparecia dó.
- Eu preciso de açúcar, Peter. - murmurei, subindo meu rosto para falar com ele. - Você pode parar em alguma doceria e comprar o estoque deles para mim?
- Certamente, senhorita. - ele sorriu. - Conheço a maioria aqui em Londres. Não é à toa que sou quase diabético.
Gargalhei.
- Muito obrigada. - agradeci, secando umas lágrimas.
Abri minha bolsa Hermès Birkin caramelo e peguei meu celular.
11 chamadas perdidas. 8 novas mensagens.
Todas de .
Li a última.

Estou indo para a sua casa. E vou esperar lá até você chegar. Até você abrir a porta, a gente conversar e eu explicar tudo.

Bufei. É lógico que tinha uma explicação. Sempre tem.
- Peter, a gente podia descer e ficar comendo. - falei, arrumando uma maneira de adiar aquele encontro. - O que você acha?

Levei três horas. Uma para comer, e duas para ficar fazendo compras.
Comprei várias coisas, na verdade. Na maioria, sapatos, bolsas e algumas joias, porque eu não estava com saco de ficar tirando a roupa já que
a) estava frio
b) eu estava inchada por causa da menstruação.
Liguei para a minha mãe, avisando que a conta do cartão poderia vir um pouco mais alta nesse mês. Expliquei a situação pra ela, e ela deu risada. Também disse "Gostaria de estar aí fazendo compras com você, mas estou aqui batendo um papo com o seu namorado, que quase congelou te esperando por uma hora do lado de fora". Rolei os olhos e falei que ia demorar mais algum tempo.
Ele que morresse de hipotermia. Eu não ligaria nem um pouco se aquele rostinho estupidamente bonito ficasse paralisado pra sempre.
Peter andava atrás de mim, carregando as sacolas.
- Senhorita ? - Peter me chamou, e eu tive pena dele carregando aquele monte de sacolas minhas. - Em alguns minutos, ficará escuro, não acha melhor voltar para casa?
Mordi o interior da minha boca.
Droga.
- Tudo bem. - falei, derrotada. - Vamos voltar.

Encarei a minha casa.
Peter estava recolhendo as compras. Ele abriu a porta para mim e eu desci.
Caminhei até a porta, pegando as chaves na minha Birkin. Abri, entrando no lugar.
- Pode deixar as coisas ali. - apontei para a escada. - Depois alguém leva lá pra cima.
- Tudo bem, senhorita. - Peter disse, andando até as escadas. Ele deixou as sacolas ali e olhou para mim. - A senhorita necessita de mais alguma coisa?
Minha mãe apareceu no hall nesse momento, acompanhada de , que transparecia estar sem graça. Comprimi os lábios, nervosa.
- Não. - sorri. - Muito obrigada por tudo.
- Você está dispensado, Peter. - minha mãe falou, me olhando. - Aproveite o final de semana.
Ele agradeceu e saiu, deixando nós três sozinhos.
- Boa sorte, meu anjo. - mamãe me deu um beijo na testa e me abraçou. - Estarei no meu quarto.
- Obrigada, mãe. - dei um sorrisinho pra ela. - Comprei um par de Vivier pra você.
- Eu sabia! Obrigada, . - ela me deu mais um abraço e saiu, carregando a caixinha vermelho-escuro com o par de sapatos.
Quando a porta do quarto dela se fechou, um silêncio se instaurou.
Eu não queria falar com ele. Não queria mesmo.
Andei até as escadas para pegar algumas sacolas. Quando abaixei, senti mais uma pontada.
Fiz uma cara de dor e soltei um "ai".
- Eu levo isso pra você. - se manifestou rapidamente, pegando todas elas de uma vez.
Dei de ombros, subindo os degraus. Ele estava logo abaixo de mim.
Fui até o meu quarto, morrendo de vontade de fechar a porta na cara dele. Mas não fiz nada disso. Só deixei a mesma aberta e sentei na cama.
entrou depois de alguns segundos e colocou as compras em um pequeno sofá.
- Numa escala de um a dez, o quanto você me odeia agora? - ele perguntou, no instante em que sentava ao meu lado.
- Onze. - respondi, cruzando os braços.
- Uau. - ele sibilou.
Outro momento de silêncio.
- O que você tá fazendo aqui, afinal? - perguntei, impaciente.
- O que você viu, exatamente? - ele perguntou, fixando os olhos em mim. Estremeci.
- Eu vi o suficiente para imaginar coisas muito ruins a seu respeito, . - respondi, me levantando. - Por quê?
- Porque tinha mais, . - falou. - Você não viu parte em que eu tentava desviar dela, a parte que eu tentava fazer com que ela recuasse...
- Ah, pelo amor de Deus, ! - berrei, perdendo completamente a paciência. - O que você vai falar agora? Que você não é forte o suficiente para afastar uma garota? Para de se fazer de vítima e assume que você gostou daquilo, caramba!
- Eu não vou assumir isso, porque eu não gostei mesmo! - ele berrou de volta. - Você tá vendo o que você tá fazendo? Tá dizendo as mesmas coisas que eu disse depois que vi você e o Ian no Baile!
- Ah, é? E como você se sente? - perguntei, brava. - Machuca, não machuca?
- Claro, porra, especialmente quando eu não fiz nada!
- Lógico, porque você é mesmo um santo que nunca faz nada. - falei, irônica. - Difícil de acreditar nisso com a fama que você tinha.
- Então agora você quer desenterrrar coisas do passado? - ele riu, sarcástico e bravo. - Era só o que faltava.
- Não to desenterrando nada, só tó falando que não dá pra acreditar nisso que você tá falando.
- E POR QUÊ? - gritou e eu estremeci, assustada. - POR QUE A MINHA NAMORADA, A ÚNICA MENINA QUE EU JÁ DISSE QUE AMAVA NÃO PODE ACREDITAR EM MIM?
- PORQUE ELA TE VIU COM OUTRA! - gritei de volta, meu coração acelerado. estava vermelho, seus olhos brilhantes se destacando no rosto. - E pela segunda vez, ! Isso dói, caramba!
- Mas não tem outra, ! - ele se levantou e foi até a mim. - Você é a única na minha vida! Cacete, quantas vezes eu vou ter que repetir até você acreditar e confiar em mim?
Deixei duas lágrimas caírem. Uma em cada olho.
Sentei na cama novamente e comprimi meus lábios, de algum jeito, acreditando na sinceridade dele.
- Eu te amo muito. - disse, se ajoelhando à minha frente. Os olhos dele estavam cheios de água e eu enxerguei uma gotinha caindo. - Tanto que assusta, . Acho incrível essa sua capacidade de me deixar completamente caído por você. Eu fico parecendo um bebê quando estou ao seu lado. - ele sorriu e eu sorri também. - Eu faria qualquer coisa pra te deixar feliz. Só pra arrancar desse seu rosto lindo o meu sorriso favorito. - ele pegou na minha mão. - O que você viu hoje foi um completo mal entendido. Por favor, por favor, acredita. E me desculpa se eu te magoei.
Fiquei em silêncio. Nada que eu dissesse ia transmitir o que eu estava sentindo.
É lógico que ele já estava desculpado.
- Você está certa quanto ao meu passado, sabe? Eu era mesmo terrível. Mas, , eu juro pra você que não sou mais assim agora. E a razão de tudo é você! Você me transformou de verdade. - ele murmurou, fazendo carinho nas minhas mãos.
Sorri, derretida.
Então eu cheguei bem perto dele, levantei seu queixo com a mão, e lhe dei um beijo.
correspondeu o beijo com a mesma vontade de sempre. Colocou uma mão na minha cintura e a outra em meu pescoço, fazendo com que eu me deitasse na cama.
- Odeio brigar com você. - parti o beijo, colando meus lábios em seu pescoço perfumado. - Odeio essa sensação de que posso te perder a qualquer momento.
- Eu também odeio tudo isso. - ele falou, baixinho, mordiscando meu lóbulo da orelha. - Mas adoro o que acontece depois das brigas.
Percebi o tom malicioso em sua voz e gargalhei, bagunçando seus cabelos .
- Hoje não vai dar, campeão. - sorri pra ele, fazendo carinho em seu rosto. - É aquela época do mês, lembra?
- Ah, droooga... - resmungou, fazendo um biquinho.
Dei risada, confortável com o modo como eu me encaixava perfeitamente no peito dele.
- Seu cretino, você só pensa naquilo! - bati de leve no braço dele.
- Errado. - sussurrou. - Na verdade, , eu só penso em você.

Sábado, 14:00 - sala de jantar

- Animada pra hoje à noite, priminha? - perguntou, levando uma garfada de macarrão para a boca.
- Mais ou menos. - murmurei, torcendo a cara para uma ervilha que encontrei no meio do molho. - To com cólica ainda.
Eu estava preocupada. Sabia que e os meninos estavam muito ansiosos pra essa festa, mas havia grande chance de eu não ir.
- Sinto muito que você não tenha nascido com um pênis, priminha. - me deu um tapinha compreensivo e meus pais riram. - Mas tenta tomar um remédio, sei lá...
- Já tomei. Três hoje, quatro ontem. - murmurei, incomodada com a dor. - Não passa.
entortou o rosto.
- Poxa, filha, então é melhor que você fique em casa descansando. - minha mãe disse, fazendo carinho no meu cabelo. - Eu faço um chá pra você e a gente arranja umas compressas também.
- É... - falei, baixinho. - Acho que é melhor mesmo. De qualquer jeito, eu não estava a fim de usar salto alto e vestido apertado.
- Que raridade! Minha filha em casa, num sábado a noite! - meu pai deu risada, bebendo um gole do seu vinho.
Rolei os olhos, rindo também.
- Agradeça à minha menstruação.
- Pô, , não fala essas coisas quando eu to comendo macarrão com molho vermelho! - reclamou, fazendo uma cara de nojo.
Mamãe, papai e eu gargalhamos.
- E pensar que a sua mãe queria que você fizesse medicina... - minha mãe falou pro , que agora não comia mais.

Sábado, 19:09 - meu quarto

Senti uma pontada forte. Xinguei um palavrão, me contraindo na cama.
Fechei os olhos, sem saco pra brigar no momento.
- Eu não to acreditando nisso. - disse, o tom de voz impaciente.
Abri os olhos.
- Você tá achando o quê? - gritei, encarando o idiota do meu namorado. - Eu já falei que sinto muito, porra, mas não estou com condições de ir pra uma festa agora.
- Por causa da cólica? - ele rolou os olhos. - Fala sério, . Toma um remédio logo e vamos!
- Eu já disse que a minha não passa com remédio! - gritei, morrendo de ódio. Eu odiava quando as pessoas não levavam minha dor a sério. E isso geralmente ocorria porque a porcaria dos homens não entendem como é.
- Tem algum motivo extra pra você não querer ir hoje? Tipo o negócio da Hayley ontem? - ele perguntou, cruzando os braços.
Uni minhas sobrancelhas. Ok, agora eu estou MESMO brava.
- O quê? - perguntei, incrédula. - Lógico que não! Eu já te desculpei por isso na briga de ontem! - bufei, muito estressada. - Estranho como de repente todo o nosso namoro gira em torno dela. Se ela é tão importante assim, , por que você não vai pra essa maldita festa dar uns pegas nela?
- Puta que pariu, ! - ele vociferou, com o rosto muito vermelho. - Você sabia que essa merda do seu orgulho não vai te levar à lugar nenhum? - ele perguntou, as mãos fechadas em punhos.
Eu também não estava assim tão calma, então respondi:
- ÓTIMO! Adoro ficar em casa, mesmo. - sorri cinicamente.
Acho que aquilo foi o auge. grunhiu, muito bravo. Ele fixou os olhos em mim e abaixou a cabeça, num tom de lamento. Depois andou até a porta, fechando-a bruscamente.br> Levei as mãos a cabeça, apoiando-me nos meus joelhos.
Mas.Que.Merda.
A verdade é que eu poderia adorar ficar em casa, mas eu detestava ficar sem ele.
Ainda com as mão na testa, ouvi minha porta se abrir. Levantei o rosto e olhei.
Era ele.
- Me desculpa. - pediu, andando até mim. Sentou-se ao meu lado na cama. Ele parecia muito arrependido.
- Por um minuto, achei que você fosse mesmo à festa sem mim. - sussurrei, encostando-me em seu peito. Ele me aninhou, dando um beijo no topo da minha cabeça. Seus braços me acomodaram e ele se deitou comigo.
- Por um minuto, eu também achei. - me deu um selinho. - Aí eu me dei conta de que festa nenhuma teria graça sem você. Me desculpa, . De verdade.
- Eu sei. E te desculpo, de verdade. - retribuí o selinho. - A gente pode, por favor, parar de brigar? Dois dias seguidos foram demais pra mim.
- Sim, por favor. - ele murmurou, me puxando para mais perto dele. Enterrei meu rosto em seu pescoço, me deliciando com o seu perfume.
E passamos nosso sábado assim. Nos beijando, rindo, comendo porcarias e nos amando.

4 meses depois...


Quinta feira, 12:18 - refeitório da ERP

:

- Vocês conseguem acreditar que o ano letivo acaba no mês que vem? - largou a lichia que comia e pegou um guardanapo. - Tipo, gente, daqui a dois meses e meio estaremos no terceiro colegial!
Estávamos na última semana de junho. Em julho, teríamos mais duas semanas de aulas, reservadas especialmente para as provas finais.
Eu e estávamos melhor do que nunca. Os últimos quatro meses haviam se passado de maneira tranquila - tivemos apenas três brigas, e nenhuma delas muito grande. Eu sentia que a amava cada vez mais, se é que isso era possível. Amava cada sorriso que ela me dava. Amava cada vez que a deixava com vergonha, e ela abaixava o rosto, toda vermelha. Ou cada vez que ela ficava nervosa e mordia o lábio inferior.
Outra coisa ótima era o fato do Ian e da Hayley terem sumido das nossas vidas. Acabei contando pra que o Ian já tinha ficado com a Hay mesmo quando os dois estavam juntos, mas ela nem ligou. Disse que os dois se mereciam. Eu concordei.
Encerrando nosso segundo colegial, também estava o aniversário de 17 anos dela, em agosto. Eu estava tentando planejar alguma coisa, mas não tinha tanto tempo livre, porque me preocupava com as minhas notas. Elas haviam aumentado bastante, mas eu não podia bobear, ou então estaria reprovado e/ou expulso.
E aí, adeus, McFLY.
- Acredito, porque estou enlouquecendo com essas provas finais. - disse, largando o livro de Física. Ele apontou pro mesmo. - Corro um sério risco de reprovar nessa matéria miserável.
- Você mora com um gênio da Física e nunca pensou em pedir ajuda? - perguntei, me referindo a .
A era seriamente inteligente. Inteligente do tipo boa em todas as matérias. Sem brincadeiras.
Eu não podia ter sido ajudado por uma pessoa melhor. E mais bonita.
- Não sou um gênio da Física. - ela rolou os olhos, rindo. - É uma matéria fácil, sei lá.
Todos viraram o rosto pra ela. Eu, , , , , e .
- Nunca mais repita isso. - sibilou.
- Física é uma matéria enviada especialmente do andar de baixo. - apontou para o chão, se referindo ao inferno.
- Não dá pra mandar de baixo para tão alto. - sorriu. - A gravidade não deixa.
- Aff, , cale-se, por favor. - deu um tapa leve nela.
- Vocês ainda estão a fim de fazer aquele abaixo-assinado pra mandar ela de volta pro Brasil? - perguntou, recebendo um tapa de verdade da .
Nós rimos.
- Então, priminha, os seus serviços começam hoje. - bagunçou o cabelo dela. - Você vai me salvar da recuperação, não vai?
espreitou os olhos, numa tentativa falha de imitar o Gato de Botas. Na verdade, só ficou parecendo que ele estava com dor.
- Tá bom, obesidade, eu te ajudo. - ela fez um high five com . - Mas vou querer chocolate em troca.
- Quem é a obesidade agora, sangue do meu sangue? - sorriu pra ela e tacou uma batata frita na cara dele.
- Ainda é você.

Sexta feira, 15:00 - dentro do meu Porsche

- Como foi com o ontem? - perguntei, vendo procurar uma música decente em alguma rádio. Parei no sinal vermelho e virei pra ela.
A gente tinha deixado de estudar no dia anterior pra que ela pudesse ajudar o com a Física. Eu aproveitei o dia sem ela para elaborar alguma coisa pro seu aniversário. Estava pensando em levá-la pra algum lugar, já que estaríamos de férias. Uma viagem sempre rendia em alguma coisa boa pra gente.
- Ah... - ela murmurou, aumentando o som de Ordinary Love, do U2. - Foi produtivo, eu diria. Estudamos das duas até as sete, sem parar.
- Caramba. - arregalei meus olhos, virando à esquerda para chegar no meu prédio. - E o que a gente vai estudar hoje?
- Fisiologia humana. Todos os sistemas. - ela disse e eu torci a cara. - Vamos ficar umas boas cinco horas nos matando pra decorar tudo.
- Eu odeio a matéria do Lacrosse. - reclamei, entrando na garagem.
- Você odeia a matéria ou odeia o Lacrosse? - perguntou, levantando uma sobrancelha.
Estacionei no meu lugar, desligando o carro.
- Odeio os dois. - assumi, saindo do Porsche. Contornei o automóvel e abri a porta do passageiro para que ela saísse.
- Obrigada, cavalheiro. - ela pegou na minha mão e sorriu. - Temos que pegar nossos materiais.
- Vou pegar. - falei, indo em direção ao porta malas.
se encostou na lateral do carro e cruzou os braços.
- Não consigo acreditar que já faz oito meses que estou aqui. - ela murmurou, sorrindo inocentemente pra mim.
Peguei a bolsa dela e a minha mochila, equilibrando nossos livros em um braço.
- Eu também não. - falei, esticando minha mão livre para ela. Andamos até o elevador e eu apertei o botão para chamá-lo. - E pensar que há oito meses eu dei o melhor beijo da minha vida...
corou, apertando minha mão.
- Foi tão bom que você acabou se apaixonando pela garota, não foi? - ela passou a língua pelos lábios, dando um sorrisinho.
Escorei ela na porta do elevador. Larguei nossos materiais no chão.
- Ainda é muito bom. - falei, puxando o lábio inferior dela com os dentes. Soltei-o delicadamente, começando um beijo.

Chegamos ao meu apartamento depois de perder uns bons quinze minutos na garagem.
- A sua cobertura é linda, . - ela disse depois de entrar em casa. - Eu nunca vou me cansar de falar isso.
Coloquei nossas coisas em cima do sofá e a abracei por trás, escorando meu queixo em seu ombro perfumado.
- E sabe o que é melhor? - perguntei, entrelaçando meus braços em seu quadril. - Estamos sozinhos aqui.
virou-se de frente para mim, sorrindo de canto. Ela me olhou e depois me puxou pela minha gravata.
- Quero muito estudar o corpo humano na prática. - murmurei, fechando os olhos enquanto ela distribuía beijos pelo meu pescoço.
- Sei... - ela sussurrou, desatando o nó da minha gravata. jogou a mesma no chão, partindo para tirar o terno do meu uniforme. - Vamos começar logo, então...
- Tenho certeza que você vai adorar o meu quarto, também. - sibilei, começando um beijo quente ao mesmo tempo em que a pegava no colo. sorriu e começou a desabotoar a minha camisa.

Sábado, 18:48 - sala de estar da /

- PUTA QUE PARIU, EU NÃO MEREÇO TER QUE ESTUDAR DE SÁBADO À NOITE!!! - gritou, jogando o livro de Geometria Analítica para o outro lado da mesa.
Estávamos na casa dos desde as três da tarde. havia formado um grupo de estudos, composto pelo nosso grupo de sempre. Cada casal estudava uma matéria diferente: Matemática, Química, Física e Biologia. Quando terminássemos, ainda faltava lidar com Literatura Inglesa. O resto ficaria para depois, pois as provas que começariam na próxima segunda feira eram de Exatas, Biológicas e Inglês.
- . - chamou, séria. Ela colocou as mãos na cintura e olhou pra ele. - Foco nas elipses. Agora.
- Eu acho que vou vomitar, gente. - disse , colocando a mão no estômago. - Toda essa botânica tá me deixando enjoada.
- Ah, mas não vai mesmo. - falou, brava. - Toma um energético e continua firme, amiga.
- Te odeio. - torceu o rosto, enterrando a cara no livro de Biologia. - Essas angiospermas que se fodam!!!
- , cheeeegaaaaa... - fez biquinho, parecendo cansado. - Vamos descansar um pouco. Sei lá, ver um filme, beber um pouco...
- Você ficou louco? - perguntou pro namorado, cruzando os braços. - , você precisa de um A+ pra passar em Química!
- Eu vou pedir alguma coisa pra gente comer. E vamos parar por quarenta minutos. Nada mais, nada menos. - se levantou da cadeira, bebericando um gole do meu Red Bull. - Vocês vão me agradecer quando o boletim cheio de A+ chegar!
- Namorada de ferro essa sua, hein, ? - se espreguiçou, bocejando.
- A leva os estudos bem a sério. - falei, apagando um exercício que eu havia errado.
- To vendo. - ele riu, jogando a lapiseira na mesa. - Ela conseguiu te mudar da água pro vinho, não é?
Sorri. Assinalei a alternativa c) da questão que fazia e fui até o gabarito conferir. Acertei!
- Ela me transformou, cara. - falei, tomando o resto do meu energético. - Quer ajuda com a Biologia? Acabei meus exercícios de Elétrica.

Quarta feira, 12:36 - refeitório da ERP

Abri outra lata de Red Bull e tomei um gole.
Fixei meus olhos nas páginas que a havia imprimido da internet para mim. Era uma análise de "Sonho de uma Noite de Verão", de Shakespeare. Eu já tinha lido o livro, mas não custava nada revisar mais um pouco, já que a prova era daqui meia hora.
Ela me abraçou de lado e encostou a cabeça no meu peito. Dei um beijo na testa dela e continuei lendo os papéis.

"A obra representa um mundo de aparente realidade e ordem (...), um mundo interior de transformação, no qual as coisas se tornam evidentemente muito mais desordenadas (...)"

Estreitei meus olhos. Chamei .
- Não entendi essa parte que você grifou. - apontei para um trechinho de três linhas.
Ela me explicou e eu assenti, voltando a atenção pra análise. Eu lia e mordia o interior da minha boca, meio apreensivo.
Uns dez minutos depois, fui interrompido por um que estalava os dedos freneticamente na minha frente.
- , Terra chamando. - ele zoou, rindo.
- Fala. - eu disse, virando a página.
- Você vai? - ele perguntou, comendo o resto de seu hambúrguer.
- Onde? - indaguei, unindo as sobrancelhas. riu.
- Eu falei que ele tava em outro planeta. - deu de ombros, mordendo um Kit Kat branco. Abri a boca, pedindo um pedaço pra ela.
- No aniversário do Chad, pô. - falou, finalmente. - Ele convidou a gente pelo Facebook.
- Francamente, , por onde você anda? - perguntou, rindo. - Acho que tá virando nerd, e isso é estranho, cara.
- Não entro no Facebook há uma semana. - assumi, roubando um pedaço do chocolate da minha namorada. - Onde e quando?
- Na Koko. Ele fechou o camarote pra festa. - disse, bebendo um suco verde nojento. - Não nesse sábado, no outro. Exatamente no dia seguinte ao fim das nossas provas.
- Vamos? - perguntou, animada. - Vocês vivem falando dessa boate, e eu nunca fui lá.
Sorri pra ela, fazendo carinho em seus cabelos.
- Por mim, pode ser. Vai ser um alívio depois dessas semanas horríveis.

Quinta feira (da última semana de aulas), 16:19 - Lamborghini de

assoviava no ritmo de Save The World, da Swedish House Mafia. Ele estava animado, já que segundo o mesmo, tinha "arrebentado o couro do Sr. Morgan na prova de Geometria". riu do comentário, sentada ao meu lado.
Estávamos indo pra casa deles. Essa era a nossa última tarde de estudos, já que a prova de amanhã também era a última. A matéria? História da Europa.
Eu estava com medo. História era, com certeza, minha pior matéria.
- Vamos pensar pelo lado bom: depois de amanhã, temos uma festa incrível pra ir. - falou, batucando os dedos no ritmo da música.

- Sabe, nossos melhores amassos foram durante nossas tardes estudando História. - sussurrei em seu ouvido, segurando na cintura dela enquanto ela abria o livro da matéria.
- Concordo totalmente, mas precisamos mesmo te deixar mais afiado pra prova. - ela disse, torcendo o rosto. - A gente pode aproveitar na tarde de amanhã, na sua casa.
Ela piscou e eu lhe dei um selinho.
- Te amo, mesmo que você me rejeite. - falei, fazendo um biquinho.
aproximou o rosto do meu e colocou a mão na minha nuca.
- Droga, por que não consigo dizer não pra você? - ela perguntou, me abraçando pelo pescoço.
Sorri maroto, começando a beijá-la. Fomos tropeçando até o banheiro mais próximo. Tranquei a porta.

Sexta feira, 19:13 - cozinha da minha casa

- Ok. Então temos leite condensado, manteiga e o achocolatado em pó. - Ela colocou a mão na cintura. - Você tem uma colher de madeira?
Tudo correu bem durante a prova. Graças à , eu estava mais do que preparado e não deixei nenhuma resposta em branco. Pela primeira vez, consegui fazer tudo com muita segurança.
Duas horas depois, eu tinha terminado as vinte questões mais cedo do que todos na sala. Entreguei o papel para um Sr. Proton embasbacado. Sorri e saí, sentando no corredor para esperar pela .
Em dois minutos, ela apareceu. Demos as mãos e viemos para minha casa, onde assistimos um filme chamado "Amor à toda prova". Eu tampava os olhos dela todas as vezes que um ator loiro aparecia sem camisa - o que ocorreu algumas vezes no filme. Ela só reclamava e dizia "Ei, me deixa ver o Ryan Gosling!" e eu respondia "O seu Ryan Gosling está logo aqui", apontando para mim. Então ela dava risada e eu a beijava, e foi assim durante a tarde toda, até que ela reclamou de fome e pediu pra cozinhar um negócio chamado "brigadeiro", um doce brasileiro, pra comemorar o fim do nosso segundo colegial.
- Hmmm... - falei, abrindo uma gaveta. Procurei por lá, encontrando a tal colher. - Aqui!
abriu a lata de leite condensado, jogando o doce na panela junto com a manteira e o achocolatado. Ligou o fogão e começou a mexer a mistura com a colher.
Depois, ela sentou no balcão, virando a panela de frente pra ela.
- Você tá muito bonitinha com esse avental, . - falei, ficando ao seu lado. Ela me abraçou com a mão livre, fazendo carinho nos meus cabelos.
- Obrigada, cabritinho. - me deu um selinho. - Você está muito gostoso com essa camisa meio aberta e essa cueca da Calvin Klein.
Sorri, malicioso. Ela estava usando um short muito curto e uma blusa azul marinho colada, o que destacava seus seios fartos. As pernas dela eram torneadas, e seu pescoço estava exposto, muito convidativo.
É por isso que eu amo o verão.
desligou o fogão, afastando a panela quente da gente. Puxei-a para a minha frente e ela entrelaçou suas pernas pelo meu quadril, olhando para baixo enquanto mordiscava o lábio inferior.
alcançou um spray de chantilly e borrifou um pouco do creme no meu pescoço. Uni as sobrancelhas, mas entendi o que ela queria fazer quando ela se aproximou e lambeu onde tinha sujado.
Peguei o spray e desfiz o laço do avental dela enquanto ela me beijava. Movi ela do balcão para a mesa da cozinha, aproveitando para passar a mão por suas pernas.
Puxei de uma vez o avental e a blusa dela, meus olhos faiscando desejo.
- Injusto. - ela sussurrou, puxando meus cabelos.
Sorri de um jeito pervertido. Peguei o chantilly e espirrei no local da tatuagem dela.
Delicadamente, passei minha língua pela região.
- Você ama essa tatuagem, não é? - ela perguntou, de olhos fechados. Dei um chupão bem leve ali e ela gemeu.
- Eu amo você. - respondi, sorrindo enquanto ela tentava abrir os botões restantes da minha camisa.
Subi para beijá-la novamente. conseguiu me livrar daquela peça de roupa de um jeito bem rápido: puxou a peça, rasgando os botões e depois jogou tudo no chão.
- Depois te dou outra. - ela murmurou, sujando todo o meu abdômen de creme. Peguei-a no colo enquanto ela ia me lambendo.
- Está calor e estamos sujos. - eu falei, pausadamente, indo com ela até o banheiro. - Precisamos de um banho.
- Concordo plenamente. - ela sibilou, puxando meu lábio inferior com os dentes.


XXVIII. Why do we fall in love so easy, even when it's not right?


(Try - P!nk)

Sábado, 10:08 - Oxford Street

:

- Estou morrendo por um Frappuccino. - eu falei, prendendo meus cabelos em uma trança lateral. - Está caloooor!
Dobrei o papelzinho de propaganda que havia ganhado de um homem e o usei de leque, me abanando.
Depois de sair da casa do , na noite passada, convidei as meninas para dormirem em casa. Pela manhã, decidimos que seria uma boa ideia fazer compras para o aniversário do Chad, hoje à noite.
- Concordo, . - murmurou, colocando os óculos escuros. - Vamos fazer uma pausa e procurar uma Starbucks?
- Eba! - bateu palminhas. - Já estava ficando com saudades daquele chá gelado.
- Tem uma logo ali na frente, perto da Debenhams. - disse, abrindo a bolsa para pegar o celular que estava tocando. Ela colocou o aparelho no ouvido e saiu de perto de nós. - Alô?
- Gente... - sussurrou, apontando para a nossa frente, onde uma certa loira gema andava de mãos dadas com um homem cujas costas eram muito semelhantes à de Ian.
Comprimi meus lábios, tendo uma sensação ruim de repente.
- Tá todo mundo comentando sobre os dois. - murmurou, espreitando os olhos para o casal. - Ouvi boatos que ela está grávida.
- Que seja. - falei, rolando os olhos. - Só quero que os dois fiquem bem longe de mim e do .
- Bom, acho que vocês estão seguros agora. - disse, entrelaçando seu braço no meu. - Esses nojentos se merecem. Só tenho dó da criança se os boatos forem verdadeiros.
Assenti, mentalizando pensamentos positivos. Eu e estávamos bem, não é?
Não havia nada que a Hayley e o Ian pudessem fazer para nos separar.
Dizem que se você repetir uma coisa várias vezes, alguma hora ela começa a se tornar verdade.
Gostaria que esse fosse o caso.

Sábado, 12:39 - Selfridges

Bati nas franjas do vestido para que elas ficassem certinhas. Ajeitei a bainha e coloquei as mãos na cintura, olhando meu reflexo no espelho.
- Odiei. - declarei, entortando a cara para a . - Mas que merda, por que não consigo achar nada decente para mim?
Eu estava impaciente. Normalmente, não era precisava de ajuda para encontrar roupa, mas hoje tudo parecia estranho.
- Eu não odiei esse em você, . - deu de ombros. - Só não acho que cinza seja a sua cor.
- Nem me fale. - bufei, tirando a peça e jogando-a no sofá do provador. - Não me resta mais nada aqui. Já vasculhei todas as araras possíveis.
Peguei meu short jeans e passei minhas pernas por ele, subindo o zíper e fechando o botão.
- Você não passou por uma ainda. - murmurou. Virei minha cabeça para ela, que sorria largamente e segurava um vestido preto com estampa de tapeçaria simplesmente maravilhoso. - Marchesa, meu amor.
Senti meu coração derretendo e meus olhos brilharem. Andei até a minha amiga e toquei no vestido, sentindo o tecido fino deslizar pelos meus dedos.
- Diz que é o meu tamanho, por favor, diz. - fiz um biquinho, implorando.
- Oui. - ela respondeu, colocando o cabide na minha mão. - Está esperando o que para provar?
Sorri e agradeci.

Sábado, 13:28 - Nobu

- Puta merda, como vocês demoram pra comprar roupa! - reclamou quando eu e as meninas chegamos no restaurante.
A ligação que a tinha atendido de manhã era dele, convidando a gente para almoçar com os meninos.
- Culpa da brasileira. - apontou o dedo para mim, sentado-se e deixando as sacolas no chão.
- O que tem a minha namorada? - perguntou, me dando um selinho e pousando as mãos na minha cintura. Ele puxou a cadeira para mim e eu me sentei, agradecendo.
- Obrigada, cavalheiro. - sorrimos um para o outro. - Eu não conseguia achar nada bom na Selfridges.
- Como? Minha mãe estoura o cartão de crédito toda vez que vai lá. - riu e soltou o menu, chamando um garçom.
- Meu tamanho estava esgotado, poxa. - fiz biquinho e uni minha mão na de .
- Boa tarde, pessoal. Meu nome é Patrick e irei servi-los hoje. Em que posso ajudá-los? - perguntou o garçom, cordialmente.
- Quero um temaki de salmão batido com cream cheese, sem cebolinha. - eu falei, entregando o cardápio para ele. Quando se tratava de comida japonesa, eu sempre comia as mesmas coisas, não precisava ficar escolhendo. - Na verdade, quero dois.
- Gulosa. - sussurrou em meu ouvido. Eu rolei os olhos e desviei minha atenção para ele, deixando os outros fazerem o pedido.
- Um deles é pra você, seu chato. - xinguei, rindo.
- Nesse caso, linda. - ele sorriu e eu me derreti. - Como foi hoje?
Pensei um pouco para responder. Eu devia comentar sobre o casal que havia visto mais cedo?
Não. Se eu quisesse que eles ficassem fora do meu relacionamento, eles deveriam ficar de fora mesmo. Afinal, nada me separaria do .
Nós estávamos bem, nós estávamos bem. Certo, , continue com o método da repetição.
Dei o melhor sorriso possível para e respondi prontamente:
- Complicado. - assumi, rindo. - Eu não achava nada que me deixasse bonita.
- Você não precisa de nada para ficar bonita. - disse ele, fazendo carinho nos meus cabelos. - Absolutamente nada, porque você é linda.
Sorri de orelha a orelha, dando um selinho longo nele.
Viu só? Estávamos bem.

Sábado, 19:33 - meu quarto

Puxei minha pálpebra para o lado direito, forçando meu olho a se fechar enquanto eu deslizava o pincel do delineador acima dos meus cílios. Fiz um risco fino, estilo gatinho, abrindo o olho para checar o resultado.
Olhei no espelho e assenti, satisfeita. Fiz o mesmo no outro olho.
Ouvi três batidas na porta.
- ? - abriu uma frestinha da porta. - Posso entrar?
- Claro, . - respondi, vendo ele entrar no cômodo. Estava sem camisa, só de calça jeans azul clara e meias brancas - Aconteceu alguma coisa?
- Não, só queria ter certeza que você não estava pelada. - ele falou, rindo. - Legal esse seu pijama de girafas. Acho que você devia usar isso hoje.
- Só se você for assim. - apontei para ele, pegando o rímel. riu. - Eu coloco o vestido por último, para não manchar de maquiagem. Mas isso não vem ao caso. Diga o que quer.
- Tática esperta. Então, as meninas já estão chegando? - perguntou, mexendo nos braços de um ursinho de pelúcia que havia me dado. - Eu e o somos os responsáveis pela carona hoje. A gente não pode beber, infelizmente.
- Coitados. E eu acho que sim, pedi para elas estarem aqui no máximo até às 19:50.
- Beleza. - ele fez um joinha com a mão e largou o ursinho. - ?
- Oi? - respondi, com os olhos arregalados em frente ao espelho, passando rímel.
- O . Ele... Ele te faz bem, né?
Fechei o rímel e me virei no banco da penteadeira, olhando pra ele.
- Muito. - assumi, sorrindo. - Por que, ?
- Porque, bom, eu não achei que fosse dar tudo tão certo assim. O costumava ser horrível, sabe, o pior de todos. - ele disse, sincero. Fixou o olhar em mim e deu um sorrisinho. - E vocês estão juntos faz um bom tempo, eu nunca imaginei que isso aconteceria. Acho que você deu um jeito nele.
- Obrigada, priminho. - eu fui até onde ele estava e o abracei. colocou os braços em minha cintura.
- Não quero que você se machuque, tá? - ele me deu um beijo na testa. - Eu amo vocês dois, mas quebro a cara dele se alguma coisa der errado.
Dei risada, achando fofa a preocupação dele.
- Agradeço, mas não sei se isso vai ser necessário. Eu confio no de olhos fechados. - falei, sorrindo.
- Fico feliz em saber disso, porque por mais estranho que seja, vocês ficam bem juntos. - ele riu e eu dei um beijo na bochecha dele. se levantou. - Tudo bem, vou deixar você esconder as suas espinhas e vou me trocar.
- Ei!!! Eu não tenho espinhas, seu idiota. - dei um tapinha leve nele.
- Vocês garotas são muito neuróticas, cara. - rolou os olhos e caminhou até a porta, rindo. - Esteja pronta em quinze minutos.

- Todo mundo colocou o cinto? - perguntou, mexendo no retrovisor. - Sou um motorista consciente que preza pela vida de todos no carro.
Depois de acabar a maquiagem, coloquei o vestido e terminei de me arrumar. Andrew, o cabeleireiro que me atendeu à tarde, tinha feito uma trança cascata em volta da minha cabeça, deixando as pontinhas enroladas. Com tudo pronto, desci e fiquei conversando um pouco com e meus pais.
Alguns minutos depois, minha casa foi invadida pelo resto do grupo. Resolvemos que sairíamos juntos e então nos dividimos em dois casais para cada carro.
era o motorista, estava no banco do passageiro, eu e atrás.
- Cala a boca e acelera, . - disse, sua mão acariciando a minha. Dei risada.
- Simpatia mandou um salve, . - zoou. - Vamos nessa.

Eram oito e vinte quando chegamos na Koko.
A frente da boate era muito legal. Toda branca, imitava a entrada de um teatro. Luzes rosa davam um tom muito bacana na pintura, e o nome do clube brilhava, chamando muita atenção.
Talk Dirty, do Jason Derulo, estourava pelas caixas de som quando entramos.
A área VIP da boate ficava no andar de cima, e subimos as escadas enquanto alguns casais faziam jus à letra da música, se agarrando por todos os lugares.
Um garçom estava parado no topo das escadas, bem na entrada do camarote. Ele segurava uma bandeja repleta de bebidas.
- Uau. - falei, sorrindo para .
- Chad gosta de álcool mais do que todos nós juntos. - ele deu de ombros, rindo.
- Mojitos, senhores? - o garçom estendeu a bandeja para nós e eu peguei um. pegou outro.
- Obrigada! - eu falei, bem alto, andando com até onde o resto do nosso grupo estava.
Bebi um gole do Mojito, sentindo o gosto forte do álcool invadir minha boca por completo.
- Caramba! - murmurei, fazendo uma careta.
riu e bebeu um pouco do dele.
- Só para os fortes. - ele bateu no peito, me dando um beijo na testa depois. Eu rolei os olhos.
- Cuidado, se exagerar nisso vai acabar fazendo besteira. - eu sussurrei em seu ouvido, nossas mãos muito juntas quando a gente se sentou com o pessoal.
- Besteira é só com você, . - ele respondeu, aproximando seu rosto do meu. Eu sorri, mordiscando meu lábio inferior. segurou meu rosto e uniu nossos lábios.

- Um brinde ao Chad, por nos fornecer as melhores bebidas de toda Londres. - levantou sua dose de tequila e nós quatro brindamos, rindo alto.
Os limões fatiados e os montinhos de sal estavam no meio da mesinha.
- Amém para isso! - disse , rindo, meio alterada. Mas, pra falar a verdade, nenhuma de nós estava em seu juízo perfeito.
Shots, do LMFAO, tocava ao fundo. estava com os meninos em algum lugar. Pegamos um pouco de sal e colocamos na mão.
- Essa música é mensagem subliminaaaar!!! - gargalhou, chupando o sal. Degustei o meu também. - Um, dois, três...
Virei a dose em um gole só. Peguei o limão e o coloquei na boca rapidamente, vendo as minhas amigas fazerem o mesmo.
- Puta merda! - xinguei, passando a língua pelos lábios e jogando o limão no prato. - Vamos de novo!
- Siiim, mas só depois que eu fizer xixi. - disse, se levantando da cadeira. - Vem comigo, vadia.
- Olha o respeito! - eu falei, rindo. Ela riu também e cruzamos nossos braços, procurando o banheiro.
- Acho que é ali! - apontou para uma portinha. - Vamos!!!
Assenti e andamos até lá. abriu a porta e um ambiente muito claro se revelou, fazendo com que a gente reclamasse.
Fechei e abri meus olhos muito rápido, a tempo de ver uma cena esquisita: Ian colocava um bolinho de notas no bolso do colete do garçom que havia me dado o Mojito na entrada.
- E vê se faz isso direito! - ele disse, bravo, apontando o rosto pro dedo do moço. Depois, desviou a atenção para a porta e se espantou. Acho que não tinha percebido nossa presença.
Peguei pela mão e a puxei, saindo imediatamente dali.
Eu já havia visto aquela cena antes. Mas quando?
Mordi meu lábio até que a gente chegasse no banheiro de verdade. Pense, , pense.
- Amiga? - me apertou. - O que foi aquilo?
- Acho que era a cozinha ou a área de serviço. - murmurei, vendo dar de ombros e empurrar a porta.
Foi então que eu me lembrei.
Ian havia feito o mesmo na primeira vez que a gente tinha saído, há cinco meses atrás, no restaurante de seu pai. Naquela noite, Ian comprou o garçom para que ele nos desse bebidas sem que seu pai soubesse.
Dei de ombros. Provavelmente, ele estava comprando o silêncio do moço novamente. Sabe-se lá para quê.
Abri a porta do banheiro, com a enroscada no meu braço. Deixei que ela fosse primeiro, porque só havia uma cabine disponível. Fui em frente ao espelho e peguei meu batom Yyves Saint Laurent Red Tempation na bolsa.
Destampei e comecei a passar. Eu olhava fixamente para o meu reflexo quando percebi que havia uma loira gema postada ao meu lado.
Desviei meus olhos para ela. Hayley vestia um cropped top branco muito justo - e que deixava a mostra quase todo o seu busto - com uma saia preta curtíssima. Típico de piranha.
- Olá, . - ela sorriu, cínica. Parei de retocar minha boca e fechei o batom. Uni minhas sobrancelhas, confusa. Ela apontou para a minha boca. - Bonita essa cor.
- O que você quer, Hayley? - perguntei, estranhando demais a situação. Tipo, sério, a menina me odiou o ano inteiro e agora vem fazer elogios? Eu sei que YSL pode fazer milagres, mas não desse tipo.
- Eu quero a sua felicidade, . - ela cruzou os braços, a vozinha fina quase incomodando meus ouvidos. - Estou cansada dessa nossa rivalidade por causa de algo que aconteceu há eras atrás, sabe?
Fiz uma cara estranha pra ela. Que raios era isso?
- Estou feliz com o Ian. - ela disse, sorrindo de um jeito meio falso. Hayley parecia estar queimando por dentro, como se estivesse fazendo um esforço imenso. - E eu simplesmente detestaria ver você sem o . Porque, afinal, vocês formam um casal lindo.
- Hmmm... - murmurei, achando aquela conversa mais esquisita a cada momento. Hayley ainda tentava sorrir. Eu só queria que ela fosse embora e cortasse esse papo furado, então fingi que acreditava nela. - Certo, ok, obrigada.
- É só isso. - ela disse, descruzando os braços. - Desejo tudo de bom pra vocês.
Ela comprimiu os lábios e saiu do banheiro, olhando para trás por um instante antes de ir embora de vez. Deu mais um sorrisinho e sumiu.
- QUE PORRA FOI ESSA, COLEGA? - gritou, saindo da cabine.
- Eu que pergunto!!! - falei, ainda meio passada. Encostei na pia. - Meu Deus, acho que a gravidez afetou o cérebro dela.
- Ah, a gravidez é mentira. Perguntei para a Leah agora há pouco. - disse minha amiga enquanto lavava as mãos. - Mas, puta merda, , que treco sinistro. Acho que hoje é o dia dos eventos extraordinários.
- Eu sei... - murmurei, cruzando os braços e mordendo meu lábio inferior. - E eu não acreditei em merda de palavra nenhuma que ela disse.
- Eu também não. Não comprei essa falsa declaração de amizade da loira gema. - murmurou, pegando papel e secando as mãos.

- Cadê o ? - perguntei para o , que abraçava pela cintura. Achei estranho o fato dele, e já estarem aqui com a gente, mas sem o . - Ele não estava com vocês?
- Ué... - olhou para trás, parecendo ter perdido alguma coisa. - Ele estava com a gente até uns dois minutos atrás.
Comprimi meus lábios, ligeiramente preocupada.
Meu namorado, sozinho por aí, numa festa com bebidas alcóolicas, drogas e meninas sem limites? Nada bom.
- Acho que ele deve ter descido, então, . - deu um palpite, sentando-se na cadeira. - O DJ que está aqui hoje é tipo uma versão mais nova do David Guetta, pode ser que o tenha ido trocar uma ideia com ele.
- É, você sabe como o adora música eletrônica. - disse, recebendo carinho de .
Uni minha sobrancelhas, achando essa opção meio improvável.
- Mas ele nem falou nada disso... - murmurei, aflita. Coloquei o dedo na boca, começando a arruinar o trabalho da manicure de hoje a tarde. - Tudo bem, acho que vou descer para procurá-lo.
- Quer que a gente vá contigo? - perguntou, já se levantando.
- Não precisa, coleguinha. Obrigada. - sorri. Eu queria achá-lo sozinha e aproveitar para passarmos um tempo juntos. - Mas vai tentando ligar para ele, por favor? Esqueci meu celular em casa.
- Claro, . - ela sorriu, abrindo a bolsa e pegando seu iPhone.
- Boa sorte, vaquinha. - me deu um abraço rápido. - Ah, leva meu celular pra avisar a gente depois!
Ela me estendeu seu aparelho e eu o peguei, agradecendo.
Saí imediatamente, meio nervosa. Eu tentava controlar as memórias que tinha de quando ele sumiu na festa em Cancún, mas não estava conseguindo. A todo instante, flashes de com outras garotas piscavam, me deixando cada vez pior.
, tente relaxar. Vocês estão bem, vocês estão bem.
Respirei fundo enquanto abria caminho pelas pessoas da festa. Cheguei às escadas com muita pressa. O garçom da entrada/de Ian me ofereceu uma bebida e eu recusei. Ouvi ele sussurrar algo como "bom para você", mas não liguei nem tentei entender. Eu precisava achar o , precisava mesmo.
Conforme descia, repassei meu dia pela cabeça. Lembrei de como a se referiu à ele, "dia dos eventos extraordinários". Senti aquela agonia atacar a boca do meu estômago quando finalmente pisei no primeiro andar da boate. Olhei para a cabine do DJ, não enxergando ninguém em sua companhia. Bufei, confirmando o que já suspeitava: a teoria de estava errada.
Droga.
Andei por aquela multidão de pessoas, procurando desesperadamente um segurança. Encontrei um senhor alto e sério, vestido de terno e com os braços cruzados na porta mais próxima ao palco. Uma cortina cobria a entrada por ali.
- Moço, o senhor pode me ajudar? - perguntei, em alto e bom tom. - Estou procurando pelo meu namorado. Ele tem cabelos e olhos , e é mais ou menos dessa altura.
Levantei minha mão um pouco acima de mim, indicando seu tamanho.
- Por acaso o senhor o viu por aí? - indaguei, colocando as mãos na cintura. Eu ficava mais nervosa a cada segundo.
O segurança fez uma cara de quem estava pensando e depois sorriu.
- Ah, sim, senhorita! - disse. - Ele entrou aqui há uns dez minutos atrás.
- Graças a Deus! - exclamei, aliviada. - Posso ir atrás dele?
- Tudo bem, mas se alguém perguntar, eu não sei de nada, certo? - perguntou, sério.
- Muito obrigada! - falei, quase dando um abraço nele. Abri as cortinas e atravessei, entrando num corredor.
Caminhei por sete segundos até encontrar uma porta entreaberta. Resolvi arriscar nessa.
Havia uma placa nela, escrita "CAMARIM". Será que era tão fã desse DJ que resolveu esperar por ele?
Que estranho.
Peguei na maçaneta e entrei de vez no local, ignorando o fato de estar enjoada, quase vomitando, além daquelas malditas memórias passando à minha frente, como um sexto sentindo me avisando que eu não gostaria do que veria ali.
Fechei a porta e me virei, piscando duas vezes. Inspirei e expirei a maior quantia possível de ar, encarando o chão.
Jogadas nele, emboladas e ao contrário, havia várias peças de roupa.
Um cropped top branco primeiro, depois uma saia preta e curta.
Era o que Hayley estava vestindo.
Segui a trilha, encontrando a seguir a camisa social azul claro de , os botões todos estourados.
Por favor, por favor, não, por favor...
Mordi meu lábio inferior muito forte, subindo meu olhar.
Eu poderia dizer que o que vi foi a minha morte. Alguns achariam exagero, e até um drama meu. Mas, na verdade, não havia porcaria de drama nem exagero nenhum. O que eu vi ali foi uma parte minha morrer, paralisando conforme eu caía no chão, em lágrimas.
No sofá, Hayley estava sem sutiã, em cima de . Ela o beijava no abdômen, e ele estava com as calças abaixadas até o joelho. olhava para o teto, parecendo meio alheio. Hayley ia descendo seus beijos, sorrindo maliciosamente para o meu . Para a pessoa que eu havia me apaixonado. Para o homem que eu achava ser único, especial, incrível e até perfeito. Para quem eu havia me declarado, me entregado, e para quem simplesmente havia me usado.
Aquilo doeu como nunca nada antes tinha doído. E não se tratava de um exagero. Era um pesadelo, e a pior parte é que era real.
- Não... - eu murmurei, baixinho, meus joelhos tocando a fria superfície do camarim. Eu apertei minha cabeça, tentando controlar a dor de cabeça que começava a me atacar. - Não...
- ! - gritou, espantando-se. Seus olhos se arregalaram e ele empurrou a menina. Lágrimas quentes caíam pelo meu rosto e eu puxei meus cabelos.
- Não, é Hayley, seu idiota. - ela falou, brava. Depois, olhou para onde eu estava. Então, transformou seu ódio em um sorriso satânico. - Ah, e aí, otária?
Hayley se levantou tranquilamente e recolheu o sutiã. subiu as calças, saindo do sofá, desesperado. Correu até a mim, ajoelhando-se.
- Não pode ser, não mais uma vez... - eu falava, mais para mim do que para qualquer um. Olhei para ele, chorando compulsivamente. - Diz que você não fez isso, diz.
- Eu não fi...
- COMO VOCÊ PÔDE? - eu gritei, explodindo em lágrimas. Hayley pegou o resto de suas roupas e escorou na parede do camarim, observando a cena. - EU CONFIEI EM VOCÊ!
- , isso é tudo um mal...
- NÃO OUSE DIRECIONAR SUA PALAVRA À MIM! - berrei, tão nervosa que eu podia ter um ataque. Ele tremeu e comprimiu os lábios. Seus olhos estavam vermelhos. - EU NÃO QUERO MAIS NADA COM VOCÊ, NUNCA MAIS!
Ele se calou. Olhou para mim.
- Você tem que acreditar, , eu não fiz nada disso! Eu nem lembro de como vim parar aqui e... - levou suas mãos à cabeça, os olhos arregalados e confusos.
- Eu me lembro muito bem. - disse Hayley, sorrindo, maléfica. - Você me trouxe aqui, . Disse que no camarim seria a melhor coisa pra gente.
- CALA A BOCA, SUA VADIA! - eu apontei o dedo pra ela, furiosa. - DÁ O FORA DAQUI!
- Eu vou. - Hayley murmurou, satisfeita. - Viu como é legal ser trocada por uma qualquer, ?
Meu ódio foi triplicado ao final daquela frase. A ironia dela e o fato dela ainda estar ali me deixou fora de controle. E, como prova disso, soltei um berro e voei em sua direção, começando a estapear o seu rosto. Hayley levou um susto e tentou me afastar, mas eu só queria saber de quebrar a sua cara. Puxava seu cabelo e dava socos em sua bochecha.
, vendo aquele ataque, me separou rapidamente dela, deixando com que Hayley escapasse. Ela saiu correndo dali, o rosto vermelho e muito bem marcado.
- Pelo amor de Deus, , se controla! - ele segurou meus pulsos, prendendo-me na parede.
- Não me peça para ter controle, . Não me peça porra alguma, porque eu não estou nas mínimas condições. - eu grunhi, olhando com raiva para ele. Seu rosto vacilou e ele me soltou.
- , eu juro, tá tudo confuso agora, mas sei que vou conseguir te explicar isso. - caminhou para trás enquanto minhas lágrimas voltavam a cair.
- Não me chama assim. - eu o cortei, secando o choro. - Só gente que eu amo me chama assim. E acredite, você deixou de ser uma delas.
deu um passo para trás. Abriu a boca, mas eu o interrompi novamente.
- ACABOU, . E DESSA VEZ, É DE VERDADE!
Não fiquei para ver a reação dele. Apressadamente, eu corri, fugindo daquela desgraça o mais rápido que pude.
Mas a vida não é assim. Não dá pra ficar fugindo dos acontecimentos. Principalmente dos ruins.
Por isso, revivi aquela cena dezenas de vezes enquanto passava pela multidão de pessoas. Quando consegui chegar na entrada, aos prantos, sentei no meio fio da calçada. Baguncei meus cabelos, chorando compulsivamente. Em alguns minutos, minhas mãos se encharcaram de água preta, borrão da maquiagem estúpida que eu passava enquanto me perguntava se me fazia bem.
Eu senti raiva. Raiva por ter confiado nele. Raiva por ele ter quebrado essa confiança. Raiva por ter me entregado aos seus encantos, ao seu sorriso e àqueles malditos olhos. Dentro de mim, havia apenas o ódio, nu e cru, tomando conta do meu corpo. Eu me sentia sufocada, asfixiada, poderia morrer.
Mas pouco a pouco a tempestade de nervoso passou. Esvaeceu-se conforme eu secava as minhas lágrimas, e aí restou somente a dor.
E a dor, meu Deus, a dor não passava.

Domingo, 00:05 - camarim da Koko

:

Caí no chão, vendo ela fugir de mim. Ela, o amor da minha vida, escapando das minhas mãos.
E não havia nada que eu pudesse fazer.
Todas as coisas à minha volta giravam. Minha vista estava embaçada, e eu, muito confuso.
Gritei, dando um soco na mesa que estava próxima de mim. O vidro trincou e eu me cortei, vendo uma quantia considerável de sangue escorrer pelo meu pulso.
- ! - gritei mais uma vez, na esperança de que ela voltasse para mim.
Mas ela não voltou. Ela me deixou ali. E eu, aparentemente, merecia aquilo.
Explodi em lágrimas, uma a uma, encharcando o meu rosto. Levei minhas mãos à cabeça, desesperado com tudo.
Me levantei depois de uns quinze minutos, ainda chorando, e andei até a minha camisa. Estiquei a mão machucada para pegá-la.
A dor do corte era só uma lembrança gostosa perto da minha dor interna.

- Eu vou te matar, . - declarou, ao me ver. Depois de sair do camarim, subi pra área VIP para procurar por ela. Acabei encontrando a mesa dos meus amigos, mas não se encontrava ali. - Sai da minha frente, ou eu vou te quebrar inteiro.
- Cadê ela? - perguntei, sem paciência para brigar mais. - , cadê ela?
- Longe de você, eu espero. - me respondeu, me fulminando com o olhar. - Você não vale nada, .
- CALA A BOCA, PORRA! - eu gritei, nervoso. se encolheu. - ALGUÉM ME RESPONDE ONDE ESTÁ A MINHA NAMORADA!
- NÃO FALA ASSIM COM ELA! - colocou-se à minha frente, esticando a mão no meu peito. - Você fodeu as coisas, . Se vire para resolver a sua merda sozinho.
- , sério, hoje não. - falou, afastando de mim. - Deixa pra resolver isso amanhã.
- Não posso! - berrei, desesperado. Mais uma lágrima caiu. - Eu preciso dessa garota...
me abraçou, dando tapas nas minhas costas.
- A gente sabe, irmão. - ele disse. - Mas o que você fez foi tenso pra cacete.
- Eu não fiz nada! - sibilei, nervoso. - Alguém tem que acreditar em mim, eu não fiz nada mesmo!
- Fica calmo, . Vamos dar um jeito nisso, você vai ver. - me deu um tapa no ombro. - O que você fez na mão?
- Soquei uma mesa. - murmurei. - , você acha que ela vai voltar pra mim?
- Eu não sei, cara... - ele comprimiu os lábios. - Foi feio demais.
- Mas eu a amo tanto... - falei, baixinho. - Eu a amo de verdade.

Domingo, 14:00 - meu quarto

Foi tudo um pesadelo. Volte a dormir.

Domingo, 15:08 - meu quarto

Não foi um pesadelo. Foi só a maior desgraça que poderia acontecer. Mas foi real.
Lavei o meu machucado, enrolando uma toalha nele.
Bufei, olhando meu reflexo no espelho.
Eu estava um lixo. Por fora, e, principalmente, por dentro.

Domingo, 16:47 - meu quarto

- Hey, é a . Não posso atender meu celular agora porque - 'ai, , pára!' - bem, por algum motivo. Mas deixe seu recado e, se você for legal, eu te retorno depois.
Eu sorri. Ela tinha gravado essa mensagem no dia do nosso terceiro mês de namoro. Enquanto tentava falar, eu comecei a fazer cócegas nela, por isso tinha aquela pequena interrupção em sua frase.
- Oi. Sou eu. Estou há mais de dezesseis horas sem ouvir a sua voz. Me liga, nem que for pra me xingar. Eu preciso de você.

Domingo, 18:23 - meu quarto

Olhei fixamente para o meu celular.
Nenhuma ligação perdida. Nenhuma mensagem. Nenhuma .
Eu a perdi.

Domingo, 19:31 - minha sala de estar

DING DONG.
Bufei. Eu não estava esperando e nem queria visitas.
Me arrastei até a porta e sem ver pelo olho mágico, abri.
e estavam à minha frente, cada um segurando um pack de Heineken. Além disso, traziam sacolas da Imperial City, que vendia comida chinesa.
- O álcool já acabou com a minha vida, obrigado. - falei, ameaçando fechar a porta.
- Não se você estiver com a gente por perto. - segurou a porta e entrou em casa. - Aliás, eu acho que pra superar, você precisa.
- Eu não quero superá-la. Eu quero ela de volta. - cruzei os braços, vendo os dois colocarem as bebidas em cima da mesa.
- Hmm... - murmurou. - Sinto muito, cara, mas precisamos trabalhar bastante nisso.
foi até a cozinha e voltou de lá com pratos e talheres.
- Sobre o , erm... - ele começou a falar e eu o interrompi.
- Parece que além de perder a minha namorada, perdi meu melhor amigo.
torceu o rosto.
- Dê um tempo a ele. Vai ficar tudo bem. - ele disse, rasgando o pack. Pegou uma garrafinha e abriu com a ponta da mesa.
Ele a esticou para mim.
- Quatro cervejas para cada um, mas eu deixo você tomar mais se explicar exatamente o que raios aconteceu ontem à noite.
- Se ao menos eu soubesse... - murmurei, dando um gole na bebida. - A última coisa que eu lembro é a gente pegando bebidas juntos. O que aconteceu depois?
- Bom, voltamos pra mesa e encontramos a e a retornando do banheiro. Achávamos que você estava com a gente, aí percebemos que não. - disse, colocando yakissoba em seu prato.
- Você não consegue lembrar pra onde foi? - perguntou, pegando um pote de guiozas da sacola.
- Não. É tudo um branco, um apagão. - confessei, aflito. - Eu não sei o que houve, cara. Só sei que nunca faria aquilo com a . Vocês sabem o que eu sinto por ela!
- Eu entendo. - ele me deu um tapinha no ombro. - Você estava muito bêbado?
- Acho que não. Pô, eu tinha bebido um Mojito e duas cervejas! Isso não é nada. - exclamei, virando a garrafinha.
- Pra você, não é mesmo. - entortou a boca, mastigando. - E sobre a Hayley?
- Nada, meu. Eu nem tinha percebido o que ela tava fazendo até a chegar lá e ver tudo. - assumi. - Eu estava mal, sério mesmo. Tudo em volta de mim era só um borrão, uma coisa sem sentido. Nem sabia o que estava acontecendo.
- , alguma coisa te derrubou ontem à noite. - disse, mastigando uma guioza.
- Sim. - falei, meus olhos fixos em um ponto morto. - E eu vou descobrir o que foi. Custe o que custar.

Segunda feira, 10:15 - meu quarto

Meu celular apitou e eu vooei para pegá-lo, desesperado. Podia ser a !
Caí na minha cama e li a notificação de Facebook que a tela indicava.

" passou de 'em um relacionamento sério' para 'solteira'."

Mordi meu lábio inferior, apertando muito forte o celular. Ela havia dado esse passo primeiro. Eu não tinha coragem de fazer isso, porque não conseguia acreditar.
Fechei meus olhos, só abrindo eles quando o aparelho apitou novamente.
Eu tinha recebido uma mensagem. Dela. De .

"Vê se me esquece."

Pensei em mil maneiras de respondê-la. Eu tinha enviado um total de vinte e três mensagens para ela, e liguei dezessete vezes. Aquela era a única frase que tínhamos trocado depois de tudo.

"Isso é impossível, sinto muito. Vou esclarecer toda a verdade pra você, . Eu prometo."

Ela visualizou aquela mensagem, mas não respondeu. Esperei por quinze minutos antes de jogar o celular longe e deitar na cama. Bufei.
Eu daria qualquer coisa para saber o que houve na noite passada. Qualquer coisa mesmo, porque só assim ela voltaria para mim. E ela, cara, ela vale qualquer preço.


XXIX. When we were in love things were better than they are


(Into Your Arms - The Maine)

Segunda feira, 12:47 - meu quarto

:

Fechei meus olhos.
Lembrando de uma frase de Gossip Girl, "as pessoas dizem que é um coração partido, mas na verdade, dói no corpo inteiro". Eu, infelizmente, agora entendia isso.
Dói como se cada mísera partícula sua tivesse sido reduzida à nada, senão cacos. No momento, eu era os cacos. Devastados, destruídos, quebrado. Um nada.
Encarei o teto, mordendo o interior da minha bochecha enquanto lágrimas teimosas caíam sob o meu rosto.
Sequei as gotinhas com o meu indicador.
- Você prometeu não chorar. - falei, em alto e bom som, para que a estúpida parte do meu cérebro responsável pelas estúpidas emoções entendesse de vez. - Você é forte.
- Acredite, você é. - disse uma voz masculina conhecida. Sentei na cama e cruzei as pernas, vendo sentar-se ao meu lado.
Eu nem havia percebido ele entrando.
abriu os braços para mim, e eu sequer hesitei.
- Diz que tudo isso vai acabar, . - eu choraminguei, encontrando conforto nos braços do meu primo, meu melhor amigo. - Só faz algumas horas, mas eu já não aguento mais.
- Hey... - ele afagou meus cabelos, a outra mão contornando a minha cintura. Eu estava encharcando sua camiseta, mas ele não parecia ligar. - É claro que vai, priminha.
- Quando? - perguntei, entre soluços.
- Ninguém pode te dizer quando, . - olhou para mim, secando uma lágrima minha com o seu dedo. - A única coisa que eu posso te dizer é que você é uma menina linda e muito querida, o suficiente para ter todo mundo à sua volta torcendo para que você seja feliz. Também é muito inteligente, o bastante para saber que o tempo é a chave para quase tudo. Eu não vou te falar que você vai esquecer ele rapidamente porque isso seria te iludir. Acho que a gente leva o triplo do tempo para esquecer uma pessoa do que levamos para se apaixonar por ela. Anteontem a leu um trechinho de um livro de um tal de John Green, que dizia "você pode amar muito alguém, mas nunca pode amar uma pessoa tanto quanto pode sentir falta dela". A gente ficou pensando sobre isso, sabe, e chegamos à conclusão que é verdade. - ele deu um mini sorriso para mim. - Estou querendo te dizer que, pequena, vai demorar. Semanas, meses, até anos. Mas você tem direito à isso. Você pode levar quanto tempo quiser. Porque a vida é sua, o relacionamento era seu, os sentimentos são seus. Não se pressione para, sei lá, superar o de uma vez. - fez carinho no meu rosto, e eu o escutava atentamente. - Isso não vai ser saudável, nem bom, nem bonito. Alguma hora você vai se tocar que toda aquela dor diminuiu, chegou a um ponto que você quase nem sente mais. E nós, seus amigos, vamos te ajudar a chegar lá, porque a gente te ama demais.
Eu dei o maior sorriso que a minha situação permitia.
Juro, eu poderia beijar o agora.
Brincadeira.
- Você é incrível, cara. - eu o abracei bem forte. - Muito obrigada por resolver ficar em Londres em vez de ir pra Liverpool. - dei um beijo na bochecha dele.
- Nem vai se achando muito, fiquei por causa de várias outras coisas. - disse, se fazendo de difícil. Eu rolei os olhos. - Falei bonito, foi?
- Você disse tudo que eu precisava ouvir. - murmurei, enxugando o resto das minhas lágrimas. - Eu nem sei como te agradecer.
- Bote um sorriso nesse rosto, porque eu convidei suas amigas pra vir aqui. - ele sorriu, pegando na minha mão.
Nesse momento, a porta do meu quarto se abriu, revelando minhas três melhores amigas sorrindo. estava com o rosto vermelho, o que indicava que ela havia chorado. segurava sete caixinhas listradas de verde claro empilhadas, e carregava duas sacolas imensas da Sainsbury's, com uma embalagem de Kit Kat Pop Choc caindo da sacola da mão direita.
- O livro se chama "O Teorema Katherine", caso você queira saber. - fungou, piscando duas vezes. - Mas tem uma parte considerável de matemática, então pode ser meio depressivo.
Eu dei risada, sendo acompanhada pelas pessoas do quarto. Olhei para .
- Obrigada, . - eu sorri, bagunçando os cabelos dele. - Amo você.
- Também te amo, fêmea. - foi a vez dele me bagunçar. - Vai ficar tudo bem, você vai ver.
Eu lancei mais um sorriso pra ele, que se levantou da cama, andou até a porta, deu um selinho na e saiu.
- Eu nem sei o que te dizer, cara. O , filho da mãe, roubou o meu discurso. - bufou, andando até a minha cama. Ela jogou as caixinhas em mim. - Mas, em compensação, você precisa saber que eu gastei mais de cem libras na Ladurée para que a sua vida ficasse um pouco mais doce.
abriu uma caixinha, sentando-se ao meu lado.
- Seu doce favorito. - ela estendeu macarons para mim, sorrindo.
Peguei um de pistache com chocolate branco e o mordi.
- Eu não mereço tudo isso. - falei, dando um abraço apertado nela.
- A estendeu o braço pela prateleira de chocolate da Sainsbury's e saiu correndo, enquanto eu passava com o carrinho. - murmurou, despejando o conteúdo de uma das sacolas na minha cama. Eu juro que nunca havia visto tanto chocolate na vida. - Aí, sem querer querendo, acabamos com o estoque de Kit Kat's deles. - ela sorriu largamente, e eu gargalhei. Apontou para os doces. - Vejamos, têm o meio amargo, ao leite, branco, de avelã e de morango. Também pegamos muitos Twix, Snickers e umas Pringles para não morrermos de diabetes.
- É, mas aí eu ainda não estava satisfeita. - passou a língua pelos lábios, sorrindo maliciosamente. - Tive que fazer uma visita ao refrigerador deles, sabe. E acabei pegando um Ben and Jerry's de cada sabor. - ela deu de ombros, enfiando a mão na sacola que a ainda não havia jogado na minha cama. - Enfim, gostaria de te falar que , queremos muito muito muito te ver feliz.
- Então, , faça o favor de levantar dessa cama, arrancar esse moletom e tomar um banho, porque a gente precisa da nossa amiga de volta. - murmurou, me dando um abraço de canto. Ela olhou pro meu cabelo e torceu o rosto. - Você tem mesmo que lavar isso, cara.
- Chata. - eu mostrei a língua pra ela, pegando mais um macaron, de framboesa. - Meninas, vocês são demais. Obrigada por serem as melhores do mundo.
- Não há de que, . - sorriu, abrindo um Kit Kat branco. - Vai pra lá e quando você voltar, a gente faz a nossa overdose de gordura.
- Tudo bem. - saí da cama, colocando a mão na sacola da . - Mas vou levar esse sorvete de Cookies junto.
- Pega uma colher! - me estendeu uma de prata. - E vê se não demora, senão vamos acabar com tudo isso.
Dei risada e andei até o banheiro, me deliciando com o sorvete o caminho todo. Coloquei ele na pia e olhei meu reflexo. Eu estava com olheiras, o cabelo horrível e embaraçado, rosto inchado e vermelho e tinha uma espinha no meio da minha testa. Estreitei os olhos para aquela bolinha, mas resolvi não espremê-la. E daí que todo o chocolate me deixaria com mais algumas marcas? E daí que eu poderia engordar? E daí que era um filho da puta que havia me traído com a minha inimiga?
Tirei o meu moletom e entrei no chuveiro, feliz pela primeira vez em dois dias.

Mas, infelizmente, a felicidade é uma coisa passageira.
E a tristeza tende a voltar no momento em que você fica sozinha.
Foi o que aconteceu comigo. Depois do nosso dia de gordices, mais ou menos às seis, as meninas precisaram ir embora. foi passear com , ia viajar no dia seguinte para visitar os avós escoceses e precisava arrumar as malas. foi para a casa de . Minha casa se esvaziou, a não ser por mim e meus pais.
Juntei as embalagens das porcarias que havíamos devorado e as joguei no lixo, indo para o chuveiro mais uma vez.
Trinta minutos depois, me vi solitária e entediada, jogada na cama vestindo um pijama largo enquanto via um episódio qualquer de Gossip Girl.

"- Nenhum de nós é santo. Eu transei com ele no banco de uma limosine, várias vezes. - disse Blair, à Serena, apontando para Chuck.
- Eu dormi com a Serena enquanto namorava a Blair. Uma vez. - respondeu Nate, encarando Chuck.
- Eu sou Chuck Bass. - Chuck deu de ombros, arrumando seu terno."


- E o ficou com a Hayley Herch enquanto me namorava. Mas o fato dele ser o não pode explicar isso. - falei sozinha. Minha voz ecoou no quarto e eu bufei, pegando o notebook.
Abri a tampa dele e entrei no Facebook. Eu já havia mudado o meu status. Fui ao perfil dele, constatando que não havia feito nada ainda.
Em vermelho, havia cinco mensagens não lidas, todas de amigas minhas. Duas da ERP, três do Brasil. Certamente, elas estavam perguntando o que havia acontecido e por que eu não estava mais namorando. Mas eu não estava com saco pra responder isso, porque aí seria obrigada a reviver tudo de novo. E esse tipo de coisa a gente não quer ficar revivendo. A gente quer esquecer. Botar no passado. Enterrar.
Ironicamente, esse tipo de coisa também é algo que demora a passar.

Segunda feira, 20:12 - meu quarto

- Collins. - minha mãe me cutucou, falando pausadamente.
Eu nem tinha percebido que havia caído no sono. Olhei pra TV. O episódio tinha acabado, assim como a bateria do meu notebook. Mamãe cruzou os braços, o rosto demonstrando uma leve irritação.
- Por que você ainda não está pronta? - indagou.
- Oi? - perguntei, coçando os olhos, confusa e sonolenta. - Pronta para quê?
Mamãe sentou-se na cama, rolando os olhos.
- Para o nosso jantar semanal em família, . - ela disse, fazendo carinho no meu cabelo. - Lembra o que a gente combinou? Pelo menos uma vez por semana, eu, você e o papai. Hoje é o dia, fiz reservas no Alain Ducasse.
- NÃÃÃÃÃO!!! - eu berrei e mamãe se assustou, colocando a mão no coração. - Mãe, eu não posso pisar os pés nesse restaurante!
- Oras, e por quê? - ela fez uma expressão indignada e depois abriu a boca. Silenciosamente, ela assentiu. - Ahhh, é por causa do tal Yan?
- Ian. E sim. É o restaurante do pai dele, lembra? - perguntei, comprimindo meus lábios. - Liga lá e cancela, vamos no Zuma.
- Ai, meu pai. - mamãe rolou os olhos e depois riu. - Tudo bem, filha. Mas só porque quero que você largue esse quarto e aproveite um pouco de Londres no verão.
E foi assim que eu tive uma ideia.
No almoço, meu pai tinha dito que ia para São Paulo fechar contrato com uma banda de lá. Ele até tinha feito uma piadinha do tipo "Brasil no inverno é mais quente do que Londres no verão", o que é uma super verdade.
Pensando bem: por que não? A ideia de aproveitar um pedacinho das minhas férias no Brasil parecia perfeita. Nesse momento, eu só precisava fugir de Londres e de toda a bagunça que estava aqui. Que lugar melhor do que a minha antiga casa?
- Por que não aproveitar o inverno brasileiro? - eu mordisquei meus lábios, ansiosa. - Será que você deixaria eu matar as saudades da minha terra natal junto com o papai?
Mamãe foi pega de surpresa e uniu as sobrancelhas. Ela passou a língua pelos finos lábios e se levantou da minha cama.
- A gente conversa sobre isso enquanto estivermos comendo nossos sushis.

Segunda feira, 23:24 - meu closet

"Vou para o Brasil na semana que vem! Eba!"

Selecionei a opção "enviar essa mensagem aos contatos favoritos" e sorri, tirando meus saltos Jimmy Choo e jogando eles em algum canto do tapete.
Meu celular apitou três vezes depois de apenas um minuto.
Abri a primeira mensagem, de .

"Mas que porra? Você vai voltar a morar lá?"

A outra era de .

"ATÉ QUE ENFIM! Brincadeirinha, por quê?"

A última era da única pessoa com a qual eu não queria falar.
.
Percebi que tinha esquecido de tirá-lo dos meus favoritos. Ops.


"Você me odeia tanto a ponto de ter que mudar de país? , por favor, fica. Eu sei que ainda vou conseguir te explicar tudo!

Mordi o interior da minha bochecha muito forte, a ponto de quase sangrar. Droga, droga, droga!
Resolvi responder.

"Foi engano. Não era pra ter ido pra você."

Ele retornou imediatamente.

"Estou feliz que tenha vindo. Você ainda não me respondeu."

"Sim, eu te odeio muito. Mas estou indo a passeio. Agora chega, não quero mais falar com você. Nunca mais."

Ele não me respondeu mais. E, pra falar a verdade, eu queria que ele tivesse.
Merda, , eu sinto a sua falta. Mesmo que eu não possa. Mesmo que eu não queira. Eu sinto. E não dá pra ficar negando meus sentimentos.

Sábado, 15:46 - minha sala de cinema

- Droga, ! Isso tem que parar! - falei, colocando as mãos na cintura ao ver ele, e discutindo por causa do jogo deles. Aparentemente, "não dá pra ficar em três, só em quatro pessoas". E eu sabia muito bem quem estava faltando.
Eu já tinha percebido há alguns dias. havia parado de falar com por causa de mim, mas eu sei que ele sentia saudades dele tanto quanto eu. Os dois eram melhores amigos desde sempre.
E não era justo eu separar eles. Não mesmo.
- Isso o quê? - meu primo perguntou, emburrado com .
- Eu não quero mais saber dessa história de você cortar o da sua vida por causa de mim. , o terminou comigo, não com você. - apontei para mim e depois para ele. - Para com isso e vai lá ligar pra ele. Peça desculpas. Vocês costumavam ser inseparáveis.
- É, mas aí ele fez aquilo e...
- Eu sei bem o que ele fez. A questão é que só eu tenho direito de estar magoada. Era o nosso relacionamento. - eu murmurei, fingindo estar brava. - Vai dizer que ele não faz falta?
- Ele costumava jogar comigo. - torceu a cara, jogando o controle do video game. Meio contrariado, meu primo levou as mãos à cabeça. - Droga, . Tudo bem, vou ligar.
Eu dei um sorrisinho e saiu, sacando o celular.
- Obrigado. - disse, baixinho. Ele me deu um abraço e um beijo na cabeça. - Foi muito legal o que você fez, .
- É, preciso fazer o mesmo com o meu pai. Ele quer transformar o McFLY num trio. - rolei os olhos e riu.
- Nós agradecemos, baixinha. A gente sabe que ele pisou na bola, mas precisamos mesmo daquele traste. - ele bagunçou o meu cabelo.
- Tudo bem. - murmurei e depois bufei. - Eu meio que também preciso. - sibilei, baixinho, para mim mesma.
Percebi que ouviu. Ele me deu um sorriso murcho.
- Vai melhorar, . - me apertou. - Juro que vai.

Sábado, 17:00 - meu closet

- , EU PRECISO DE AJUDA AQUI! - eu gritei, em cima de uma escada, percebendo que não conseguiria fazer aquilo sem a força masculina. - VEM LOGO!
- TO INDO, PRIMINHA! - ele berrou de volta. Ouvi passos e uma porta sendo aberta. - Ué, onde você tá?
- No closet. - respondi, segurando firme na escada.
entrou no cômodo, juntando as sobrancelhas, expressando confusão.
- O que raios você está fazendo aí em cima?
- Eu preciso das minhas malas. - indiquei elas com a cabeça. - E não sou forte o suficiente pra pegar tudo.
- Deixa com o papai aqui. - apontou para si mesmo, fazendo força com os braços.
Dei risada, descendo da escada.
- Pega essas duas aí. - eu pedi, vendo ele subir os degraus. Apontei para as de tamanho médio. - As duas marrons.
- Duas malas pra uma semana... - ele murmurou, desaprovando com a cabeça. - E eu achando que ia me livrar de você pra sempre.
Dei um soco na bunda dele, que reclamou.
- Pega logo e cala a boca, . - cruzei meus braços, batendo o pé.
Ele pegou a primeira mala e me estendeu. Eu a peguei e a coloquei no chão. puxou a segunda, trazendo junto uma caixa de madeira que eu reconhecia muito bem.
- O que é isso? - ele perguntou, recolhendo a caixa.
Comprimi meus lábios, ignorando aquela pergunta. Puxei a alça das duas malas e saí andando com elas.
- , o que é isso? - repetiu, descendo os degraus. - Posso abrir?
Dei de ombros. Quando chegamos ao meu quarto, sentou-se na minha cama e a abriu.
Ele retirou peça por peça.
Três rosas mortas. Embalagens de docinhos da Ladurée. Ingressos para "Meu Malvado Favorito 2". Um ursinho. Um ticket da London Eye. Bilhetinhos. Pulseiras de festas. Um Stitch gigante de pelúcia com um boné da New Era preto. Fotos de Polaroid na praia de Cancún. Um cartão com luzes que piscavam "eu te amo". Dois porta retratos. Uma embalagem rasgada de camisinha. Por fim, uma aliança. A minha aliança.
Cada lembrança dele. Cada bobeirinha significativa para nós, idiota para os outros. Cada pedacinho que marcou o meu namoro com o .
Eu desabei. Caí no chão e uni meus joelhos, já sentindo meus olhos se encharcarem.
foi muito rápido. Ele jogou a caixa no chão e se postou ao meu lado, me abraçando muito forte.
- Me desculpe, priminha. - ele lamentou, a voz baixinha para me acalmar. - Eu deveria ter imaginado.
- Não, você não tem culpa. - eu murmurei, deixando uma lágrima escorrer. - Eu fiz isso logo depois que cheguei daquela noite. Precisava me livrar de tudo que lembrava ele, sabe? Só que agora eu não sei o que fazer com isso.
- Aí você guardou. - assentiu. - Eu entendo, .
- O que eu faço, ? - perguntei, parando de chorar aos poucos.
- Sinceramente, , eu não sei. - entortou o rosto. - Você quer ficar com ela?
- Não sei. Não pensei nisso ainda. - eu assumi, mordendo meu lábio inferior. - Vou arrumar minhas malas e dar um jeito nisso depois.
- Tudo bem. Quer ajuda? - ele perguntou, se levantando e depois me dando a mão.
- Não precisa, obrigada. - eu sorri fraco. - Ah, faz um favor pra mim. Liga pras meninas e pede para elas virem aqui?
- Ligo sim. Vou dar uma saída com os meninos, tá? - ele me beijou na testa. - Você vai ficar bem?
- Sempre fico. Vocês vão sair em quatro, né?
- Aham. - confirmou com a cabeça. - Obrigado, .
Eu sorri. podia ter me feito muito mal, mas para o , ele era bom.

Peguei minhas malas Louis Vuitton e as fechei, terminando de arrumar as roupas para a minha viagem ao Brasil, na segunda feira.
e estavam na minha cama, segurando um pote de cristal repleto de berries. estava sentada no sofá, as pernas cruzadas enquanto mexia em um caderninho preto.
Agora que tinha acabado com as malas, restava dar um fim naquela caixa de lembranças. O que eu faria com ela?
- Talvez você devesse deixar todas essas coisas naquele "Museu dos ex relacionamentos", na Croácia. - disse , mastigando uma blueberry.
- O quê? - perguntei, minha sobrancelha arqueada enquanto eu arremessava aquela caixa em cima da cama.
- É um museu que guarda os objetos que foram significativos pra um antigo relacionamento. - respondeu, pegando uma frutinha do pote da . Ela tinha acabado de chegar da Escócia. - Fica em Zagreb. Quer que eu veja o preço do despache?
Cruzei os braços e fiquei em silêncio. Até que não era uma má ideia.
- Ou talvez você devesse fazer como a Blair depois de terminar com o Nate. - sorriu. - Vamos para um clube de strip e você arranca a roupa pra um Chuck da vida.
- Seria uma boa, se eu tivesse um Chuck da vida. - bufei, levando uma mão à minha testa. - Me passa esse pote, vai.
pegou a vasilha de cristal e a esticou para mim.
- Isso aí, ! Desconta sua raiva nas berries. - riu, jogando o cadernino em cima da cômoda.
- Eu queria mesmo um chocolate, mas não posso engordar. - falei, levando uma framboesa a minha boca. - Aliás, tem muita coisa que eu queria, mas simplesmente não posso ter.
Comprimi os lábios, olhando pra maldita caixa.
As meninas estavam em silêncio. Eu sentei no chão, comendo framboesa.
- Acho que preciso devolver isso pra ele. - falei, por fim. me encarou. - Não dá pra eu ficar com ela.
- Tem certeza? - perguntou. - Se você quiser, eu guardo isso pra você.
- Não... - murmurei, meio incerta. - Eu tenho que devolver. Só me deixe pegar mais uma coisinha.
Me levantei, sendo meticulosamente observada pelas minhas amigas. Caminhei em direção ao closet.
Sentei na poltrona em frente ao espelho e fechei os olhos.
Vamos lá, . Você consegue. , você consegue e precisa fazer isso.
Abri os olhos e enxerguei meu reflexo. Dei um sorriso triste e tomei a coragem que precisava.
Andei até a última lembrança material que eu possuía dele. Recolhi o moletom azul marinho jogado no meio dos meus casacos e o cheirei mais uma vez.
Ainda tinha o cheiro dele.
Mordi meu lábio, prestes a chorar novamente enquanto eu voltava para o meu quarto.
- , você quer mesmo fazer isso? - perguntou .
- Quero. - menti, jogando o agasalho na caixa entreaberta. - De verdade.
- Tudo bem. - falou, alcançando as chaves do carro, na cômoda ao lado da cama. - Eu dirijo. , você leva a caixa.
- Obrigada, gente. - sorri, meio desanimada.
- Não há de quê, vaquinha. - passou os braços pelos meus ombros. - Agora sem tristeza, vai.
Tentei sorrir. Agradeci mais uma vez.

Sábado, 21:03 - minha sala

:

Hoje tinha sido um dia bom.
havia finalmente voltado a falar comigo. Levou uma semana, mas ele me pediu desculpas. Foi um alívio, porque eu estava me sentindo um merda por ter perdido as duas coisas que eu mais gosto no mundo: a e meus amigos.
A primeira ainda não tinha me perdoado, mas eu estava contando com isso.
Me levantei do sofá e andei até a cozinha. Abri um armário e peguei um Cup Noodles, me lembrando do dia em que havia feito panquecas para a , e ela comentou que já tinha "provado todos os sabores que existiam" do tal macarrão. Foi no dia seguinte à sua chegada, e eu me lembrava disso porque lembrava de todas as coisas que ela havia dito.
Rasguei a embalagem do Cup Noodles e abri a geladeira, pegando uma cerveja. Miojo e cerveja, essa seria minha refeição de hoje.
Enquanto eu tentava alcançar o abridor de garrafas, a campainha tocou.
Estranho. Minha mãe estava viajando, e eu não esperava visitas.
Tirei a tampinha da Buddweiser e caminhei até a porta. Eu estava sem camisa e com uma bermuda xadrez.
Dei um gole na cerveja e abri a porta, engasgando quando vi quem estava ali.
Era ela. Era a !
- Oi. - ela comprimiu seus lábios, olhando para baixo. Depois, foi subindo o olhar bem devagar, perdendo um tempo muito longo na minha barriga.
Tossi várias vezes e depois me recompus.
Sorri e mordi meu lábio inferior. Ela estava simples, e, cacete, muito gata. Blusa branca, short jeans e um Vans vermelho. Meu tipo de garota. A minha garota.
Era a primeira vez que a gente se via desde a festa. E, puta que pariu, que saudades que eu sentia.
- Oi. - respondi, deixando a cerveja na mesinha que tinha ao lado. Dei um sorriso. - Entra.
assentiu. Ela segurava uma caixa de madeira relativamente grande, que colocou em cima da mesa.
- Quer sentar? - eu perguntei, apontando pro sofá. Cocei a minha nuca, sem saber ao certo o que dizer.
- Não precisa. Serei breve. - respondeu, fixando o olhar em mim. cruzou os braços e encostou-se na beira da mesa. - Você deve estar se perguntando o que tem dentro dessa caixa, não é?
- É, na verdade sim. - assumi, andando até onde ela estava. Posicionei-me ao seu lado, e ela encolheu.
- Abre. - disse, e eu assim fiz. Peguei a caixa e tirei a tampa, entendendo logo do que se tratava.
Passei minha língua pelos lábios e fechei os olhos. Bufei, levemente irritado.
- Foram presentes meus, . - falei, com a voz baixinha, olhando para ela. - Você não tem que devolver nada.
- Mas eu quero, . - ela sibilou, séria. - Eu não posso ficar guardando essas coisas. Não dá.
- E por quê? - perguntei, chateado. - Por que você não pode guardá-las, hein?
- Porque tudo aí me lembra você. - respondeu, seca. - E eu quero te esquecer, entendeu?
- Mas você não consegue. - sussurrei, levantando uma sobrancelha pra ela. travou no lugar onde estava, apertando a borda da mesa. - Porque você me ama.
- É aí que você se engana, . - ela disse, a voz tremendo um pouquinho. Dei um sorriso de canto e me aproximei, ficando frente a frente dela. Coloquei minhas mãos em cima das suas, impedindo-a de sair. - Eu, eu... Não sinto nada por você.
- Nada, não é? - murmurei, dando um beijo perto de sua boca. Fui descendo, ouvindo arfar de leve.
- Na...da... - respondeu, tremendo. Eu mordi o lóbulo de sua orelha, sentindo o seu perfume. Colei meus lábios no pescoço dela, distribuindo beijos por ali. Percebi seus pelinhos se eriçando e sorri com aquilo, dando-lhe uma mordida.
conseguiu se soltar das minhas mãos e, desesperada, me puxou até que a gente unisse nossas bocas.
Fechei meus olhos e agarrei em seus cabelos, envolvendo-a em meus braços. sentou na mesa e entrelaçou suas pernas no meu quadril, me beijando com muita vontade e intensidade.
Eu não fazia diferente. Sentia a falta dela, sentia falta de cada centímetro de seu corpo, de cada segundo que a gente passava juntos.
Subi a barra de sua blusa, passando minha mão pela sua cintura e barriga. puxou meu cabelo daquele jeito que só ela sabia fazer, cravando as unhas nas minhas costas. Eu fui meio que à loucura, então puxei sua blusa até acima do sutiã, deixando seu abdômen completamente nu. Eu fiz carinho em sua tatuagem com uma mão, enquanto a outra percorria suas coxas expostas.
A gente suava. A vontade era grande, os sentimentos eram fortes, o calor era insuportável. Mas nós estávamos ali, unidos novamente. Nem que fosse por alguns minutos, eu aproveitaria aquele momento o máximo possível. Porque, cacete, eu a amava mais do que tudo nessa vida.
jogou a cabeça para trás e cortou o beijo. Depois, ela piscou duas vezes e fez uma cara de espanto.
- Ah, meu Deus, ah, meu Deus. - disse, em pânico. Olhei para ela, comprimindo meus lábios. me empurrou para trás e saltou da mesa, arrumando sua blusa. - Droga, como foi que eu deixei isso acontecer?
Fiquei em silêncio.
- Merda, , merda! - xingou, atordoada e vermelha de vergonha. Ou ódio. Um misto dos dois. - Chega! Essa foi a última vez!
- Tem certeza? - perguntei, cruzando os braços. Eu sabia que ainda teria mais vezes. É lógico que sim. Até que eu a conquistasse de volta de uma vez.
- Tenho! - ela colocou os cabelos para o lado, se abanando de calor. - Eu estou indo embora agora. Fique com a caixa. Faça o que você quiser com ela.
- Eu não quero essa caixa, . Eu não quero as lembranças. Eu quero você. - falei, me aproximando dela de novo. Toquei em seu braço, mas se soltou rapidamente.
- Você deveria ter pensado nisso antes de me trair. - disse, brava. - Eu te avisei que essa era a única coisa que eu não perdoaria.
- Mas eu não te traí! - falei, alto e irritado. - E algum dia eu ainda vou te provar isso!
- Aham, . - ela riu, irônica. - Quer saber? Não importa mais. A gente nunca ia dar certo. Foi melhor assim.
- Do que você tá falando, ? A gente deu certo. Por muitos meses. - uni minhas sobrancelhas.
- Pois é, mas esse tipo de coisa foi no passado. E é assim que a gente tem que ficar, . No passado. - respondeu, cruzando os braços. - Faça bom proveito dessas memórias, porque a gente não vai criar outras tão cedo. E vê se tira essa sua aliança de vez.
- Eu não vou tirar, porque a gente não terminou. - murmurei, olhando fixamente para ela.
- Terminamos sim, . - estreitou os olhos, passando a língua pelos lábios. - Agora tchau. Tenho malas de viagem para arrumar.
- Quanto tempo você vai passar lá? - perguntei, por curiosidade.
- E por que raios isso te interessa, ? - arqueou uma sobrancelha.
- Qualquer coisa que envolva você me interessa, . - respondi prontamente e seus lábios tremeram. Eu sentia que ela poderia desabar em lágrimas a qualquer momento, e eu só... Meu Deus, eu só não queria que ela chorasse por mim.
Eu não queria que ela chorasse nunca.
- Uma semana. - respondeu, o olhar baixo e caído. - Viajo na segunda e volto no domingo de madrugada.
- Eu só preciso muito que você volte para mim. - murmurei, meus olhos fechados. Senti meu rosto ficar quente e meus olhos se encherem de água. - Por favor.
- Não dá. - me encarou, duas lágrimas escorrendo pela sua bochecha. - Não dá, , não dá. Porque cada vez que eu olho pra você eu me lembro dela, e de como vocês estavam naquele camarim, e daquela cena horrível, e de como doeu, de como ainda dói, de como eu deveria te odiar, mas não consigo... , dói demais, entende? Você me destruiu de um jeito que eu não consigo me recuperar.
Fechei minhas mãos em punho, me odiando mais do que tudo. Deixei a água cair pelo meu olho, chorando na frente dela.
Ali estava ela. A garota que eu amava. A única pela qual eu havia lutado. A única para qual eu havia me declarado. , bem à minha frente, chorando, com o coração destruído, por minha culpa.
E eu não podia fazer nada.
- Preciso ir agora. - sussurrou, secando as lágrimas. - Tchau, .
- Eu te amo. - sibilei, olhando mais uma vez para seu rosto. - Eu te amo de verdade.
concordou com a cabeça, mas não respondeu nada. Silenciosamente, ela saiu da minha casa.
Seu perfume, no entanto, ficou. As suas palavras, também, ecoando pela minha cabeça de maneira torturante.
Depois que ela se foi, a saudade, aquele buraco gigante no meu peito, ficou.

Segunda feira, 02:26 a.m. - meu quarto

Me revirei na cama, inquieto e irritado.
Ótimo. Segunda noite consecutiva sem conseguir dormir.
Bufei e desisti de tentar cair no sono. Eu fui pra cama à meia noite, mas nada do cansaço chegar.
Acendi a luz e me levantei. Meio zonzo, andei até a porta, tropeçando em alguma coisa grande no caminho.
- Porra! - xinguei, mal humorado, caindo de bunda no chão. Olhei para o objeto que havia me derrubado.
Era a caixa que havia deixado aqui no sábado. A tal que continha todas as nossas lembranças.
Eu ainda não havia aberto ela desde aquele dia. Sequer sabia como tinha vindo parar aqui.
Controlei meus batimentos acelerados e retirei a tampa dela.
Fui tirando os itens aos poucos. Reconheci cada um deles, sorrindo.
As rosas... Eu já havia dado mais flores à ela, mas aquelas deviam ser as que ela escolheu guardar.
As embalagens da Ladurée pertenciam à cesta que eu dei pra ela no Natal. Os ingressos eram do filme que vimos em Cancún, no dia em que eu menti sobre o aniversário da minha mãe. O ursinho eu tinha dado há pouco tempo, depois que fomos à um parque de diversões. O ticket da London Eye era do nosso segundo dia juntos, logo depois que ela chegou do Brasil, onde demos nosso primeiro beijo. A embalagem era da nossa primeira vez, depois do Baile. O Stitch tinha sido um presente da minha mãe da Disney, e eu complementei com o meu boné.
E, assim, cada peça tinha um significado especial para nós.
Confesso que doeu ver a aliança ali. Mas eu sabia que ela voltaria rapidamente para o dedo anelar dela.
Sentado no chão do meu quarto, às 2:30 de uma madrugada da segunda feira, tentei bolar um plano para conquistá-la de volta.
Procurei uma semelhança entre as lembranças. Depois de pensar por um tempo, percebi uma coisa: três daqueles itens eram de uma viagem que a gente tinha feito juntos.
Como um clique, finalmente entendi.
Há semanas eu vinha procurando o presente perfeito para o aniversário dela, daqui a algumas semanas. Se eu quisesse voltar com ela, precisava de um presente especial. E esse presente tinha que ser uma viagem.
Dei um sorriso, empolgado com a ideia. Mordi minha bochecha, sacando meu celular.
nunca aceitaria viajar só comigo. Ela estava muito brava para isso. Mas com o grupo não tinha desculpas, não é?
Apertei o "4", e um sonolento atendeu do outro lado.
- , vai se foder, você sabe que horas são?
- Quase 3, eu to sabendo. - murmurei, impaciente. - , escuta, a gente vai viajar.
- O quê? - ele perguntou, meio embasbacado. - , você tá ficando louco?
- Não, porra. Olha, eu to indo pra aí. - falei, pegando uma calça jeans e meus Vans preto.
- Cacete, meu irmão, você fumou um baseado do bom. - xingou, mal humorado. - Você tá vindo mesmo?
- Já estou com as chaves do Posche na mão.

- Me escuta. - eu disse quando um de cabelos bagunçados abriu a porta da sua casa. - Eu preciso que vocês viajem comigo e com a .
- E por que raios? - ele perguntou, fechando a porta e indo até a cozinha.
- Porque esse vai ser o único jeito dela me perdoar. - respondi, seguindo o meu amigo.
- Quando e para onde? - ele perguntou, abrindo a geladeira. Recolheu de lá duas garrafas de Buddweiser e me entregou uma.
- Tem que ser em agosto, no aniversário dela. Eu não sei para onde, a gente decide isso na agência. - recolhi a bebida e usei o canto do balcão para abrir a garrafa.
deu um gole longo na cerveja e passou a mão pelos cabelos, coçando a nuca.
- comentou ontem que queria ir pra Disney. - disse ele, comprimindo os lábios.
- Isso! - eu sorri, feliz e dei um tapa na ombro dele. - , isso é perfeito! Você sabe como as garotas amolecem com as histórias de príncipe encantado e todas essas merdas...
rolou os olhos e riu.
- Acho bom você fazer isso direito, . - ele deu outro gole na bebida. - Porque não vai ser fácil. A está muito triste com você.
- Eu sei. - bebi a Buddweiser, batendo meus dedos no balcão. - Mas essa viagem vai ser sensacional.
- Ok. A gente fala com o resto do pessoal amanhã. - terminou a bebida e colocou a garrafa vazia na pia. - Você vai dormir aqui?
- Depende, os pais dela estão aí? - entortei meu rosto, sabendo que eles certamente não ficariam felizes em me encontrar aqui depois do que tinha acontecido.
- Não. Estão os três no Brasil. - ele deu de ombros. - Vou subir para arranjar um colchão pra você. Termina aí.
Concordei com a cabeça e saiu da cozinha, subindo as escadas. Terminei a Buddweiser depois de alguns minutos e resolvi mandar uma mensagem para o resto do grupo.

"Almoço amanhã no Automat, às 13. Sem atrasos, tenho uma novidade pra gente."

Enviei a mensagem à , , , , e até .
Coloquei a garrafa na pia e subi as escadas, olhando para o corredor da direita.
Me lembrei das inúmeras vezes que vim na casa dela. Das várias tardes e noites que passamos juntos. Tivemos tantos momentos bons aqui...
Por pura saudade, resolvi fazer uma visita ao seu quarto.
Girei a maçaneta dourada, entrando no cômodo. Tudo estava escuro e quieto. Acendi as luzes.
O lugar estava organizado como sempre. Os mesmos tons de rosa, a mesma cama grande - só que sem o urso que eu havia dado à ela. Andei por ali, sentindo traços do cheiro dela. Passei meus dedos pela sua cômoda e vi seu amplificador ali, mas sem o iPod. Sorri, me recordando da nossa primeira vez, ao som de Give Me Love. Abri a primeira gaveta, encontrando um caderninho preto.
Eu deveria...?
Não.
Ou será que sim?
Ah, foda-se.
Abri o caderno na primeira página. Todas as linhas dela estavam preenchidas pela letra estilo caligrafia de . Aquilo parecia ser o diário dela.
- ? - ouvi a voz de chamar o meu nome. Eu estava concentrado pra caramba vendo o tal caderno, então levei um puta susto com ele.
Apavorado, larguei o caderno, deixando-o cair no chão como a arma de um crime.
- Porra, ! - xinguei, meu coração meio acelerado. - Que susto, seu filho da puta.
gargalhou e entrou no quarto.
- Viado. - ele disse, rindo, e eu mostrei o dedo do meio pra ele. - O que você tá fazendo aqui?
- Sei lá, cara... Só entrei. - murmurei, recolhendo o caderno do chão. Uma folha branca dobrada ao meio estava caída ao seu lado.
- Beleza. Vamos dormir ou jogar um pouco? - perguntou, sentando-se na cama de .
- Hmm... - resmunguei, recolhendo a folha do chão.
Desdobrei a folha, encontrando ali o meu tesouro.

10 COISAS PARA SE FAZER ANTES DE MORRER

1. Tatuagem
2. Dar a volta no mundo em menos de um dia
3. Fazer a diferença na vida de alguém
4. Beijar o meu melhor amigo
5. Casar na praia
6. Voltar no tempo
7. Trabalho comunitário em algum país africano
8. Esquecer meu medo de altura e andar em uma roda gigante
9. Pichar um muro
10. Ser realmente supreendida


- MEU DEUS... - eu murmurei, sorrindo largamente. - , ISSO AQUI VALE OURO!!!
- Isso o quê? - ele perguntou, levantando para ver o que eu segurava. Dobrei o papel rapidamente e o guardei no bolso.
- Tenho que manter segredo agora. Você só tem que saber que essa viagem vai ser incrível pra caralho. - falei, ainda sorrindo. - Eu tive uma ideia maravilhosa, cara.

Terça feira, 13:14 - Automat

- Desembucha, garoto . - disse , os braços cruzados enquanto ele dava um sorrisinho malicioso pra mim. - O que aprontaremos agora?
- A pergunta não é o que, , mas onde aprontaremos. - eu falei, sorrindo de canto enquanto bebia minha Coca-Cola. - Nós vamos viajar.
A reação do pessoal foi engraçada. deu risada, fez cara de confusão, sorriu, porque já sabia, , e me encararam.
- A gente vai? - perguntou, unindo as sobrancelhas e eu fiz que sim com a cabeça. - Desde quando?
- Desde ontem de madrugada, quando eu decidi. - respondi, chamando o garçom.
- Não estou acompanhando, . Como assim você tomou uma decisão dessas sozinho? - cruzou os braços, meio inconformada. - Eu não vou.
Cheguei perto do rosto dela, encarando seus olhos.
- Bem, então acho que você vai perder essa viagem incrível à Disney... - murmurei, dando de ombros.
Os olhos dela brilharam, e eu dei risada.
- AH, MEU DEUS, NÓS VAMOS PARA A DISNEY? - ela gritou, muito feliz, e eu assenti.
abriu um sorriso imenso e bateu palminhas. gritou um 'yay' e comemorou.
- Ai, que mágico! Amo aquele castelo! - suspirou. - Eu vou abraçar o Mickey mais uma vez!!!
- Quando vamos, pessoal? - perguntou , animada.
- Na segunda semana de agosto. - respondeu.
- Mas aí vai bater com o aniversário... - começou a dizer e eu o interrompi.
- Da ? - perguntei e ele confirmou. - Esse é o plano, na verdade. Eu quero dar essa viagem de presente para ela, só que agora ela não toparia ir só comigo, por isso vamos todos.
e fizeram um 'ownnn', aqueles bem de menininha derretida mesmo. Eu ri.
- Ah, entendi. - passou a língua pelos lábios. Ele me olhou, dando um sorriso torto. - Tudo isso para reconquistá-la, ?
- Qualquer coisa, cara. Eu faria qualquer coisa. - respondi, firme.
- Como você é romântico, . - murmurou, apertando minha bochecha. - Sério, faça tudo muito certo dessa vez.
- Pode deixar. Vai ser tão incrível que a única alternativa dela vai ser voltar para mim. - eu falei, sorrindo ao lembrar dela. - Então, estão todos de acordo? Vamos mesmo?
- Bem, temos que falar com nossos pais, mas por mim, já estou lá! - respondeu, abraçando .
- Ok. Então todo mundo pede para os pais hoje e amanhã a gente vai comprar as passagens, certo? - perguntou e todos assentiram.
- Beleza. Vamos comer agora, porque estou morta de fome. - disse, pegando o menu que o garçom oferecia.

Quarta feira, 12:29 - sala de estar da

Eu batia meu pé no chão, impaciente.
Tínhamos combinado de nos encontrar na casa da , cada um trazendo a resposta dos pais. Minha mãe, felizmente, tinha me deixado ir. Segundo ela, era "presente por você ter conseguido passar de ano sem nenhuma recuperação". Realmente, tinha sido um milagre. Foi a primeira vez em cinco anos.
E sabe a quem eu devo isso?
Pois é, à ela.
Só ocultei a parte de que eu pagaria toda a parte da , porque, bem, eu não queria abusar de sua boa intenção. Mas talvez ela nem se importasse, já que amava a tanto quanto eu.
- Puta que pariu, eles estão meia hora atrasados! - olhei para o meu relógio de pulso pela quarta vez.
- Relaxa, , eles já estão chegando. - pegou um punhado de pipoca e colocou na boca. Com a mão vazia, ele estendeu o pote na minha direção. - Quer?
Neguei com a cabeça.
chegou carregando um balde de gelo com sete garrafas de Smirnoff Ice. Ela pôs o balde na mesinha e se sentou ao lado de , entregando-lhe o abridor.
- Eba! - comemorou, pegando uma bebida.
Peguei uma também, abrindo-a rapidamente.
A campainha tocou nesse instante, e se levantou.
- Finalmente! - ela disse, andando até o seu hall.
Depois de uns dois minutos, um muito feliz pulou em cima de mim.
- , meu viado favorito! - ele me deu um soco leve no ombro.
Dei risada e o empurrei. Ele se sentou e pegou uma bebida.
- Adoro vir na casa da , cara. - ele abriu sua bebida e brindou comigo.
- Interesseiro. - rolou os olhos, caminhando até a gente, seguida por , e .
e colocaram duas sacolas cheias de comida chinesa em cima da mesa, e colocou outra que eu pensava ser os hachis, molhos e biscoitos da sorte.
- Ok. Vamos logo com isso. - disse, colocando a Smirnoff na mesa. - Meus pais deixaram.
- Minha mãe também. - falei, enfiando a mão na sacola que segurava. Peguei um biscoito da sorte e o abri.

"Lembre-se sempre que depois da tempestade, vem a calmaria."

Dei risada. Irônico, não?
Eu esperava mesmo que a calmaria viesse. E que trouxesse ela de volta.
Depois de cinco "sim", comemos bem felizes.
A gente ia viajar, eu ia fazer uma coisa maravilhosa pra ela e ela voltaria para mim. Ah, sim. Ia ser perfeito.

Quarta feira, 14:02 - Intrepid Travel

- Boa tarde, jovens. O que nós da Intrepid Travel podemos fazer por vocês? - perguntou uma moça ruiva, de aparência jovem, quando e eu sentamos nas cadeiras à frente dela.
- Queremos comprar uma viagem para a Disney World. - respondi, colocando os braços na mesa dela.
- Muito bem. Para quando? - ela perguntou, olhando para nós. Seus olhos eram verdes, e ela realmente era bem bonita. A moça sorriu para mim, piscando.
Opa.
Ela continuou a sorrir enquanto olhava para o seu computador.
- Certo, estamos na terceira semana de julho, então para daqui 14 dias. Queremos que pegue toda a segunda semana de agosto. - disse , fazendo as contas na cabeça. A moça tirou os olhos da tela e mordeu seu lábio inferior. Bati meu dedo com a aliança na mesa, propositalmente.
- Ok. Tenho um pacote de 13 dias, saindo daqui em sete de agosto e retornando no dia vinte. - ela olhou para o meu dedo e torceu o rosto, desapontada. Disfarçou e subiu o rosto para nós. - Quantas pessoas?
- Oito passagens de primeira classe. - respondi, cruzando meus braços.
- Tem certeza? Só há sete aqui nessa sala. - ela indicou a frente da sala, onde o resto dos meus amigos conversavam, sentados no sofá.
- Minha namorada está viajando. - declarei, olhando para ela.
- Ah... - ela disse, comprimindo os lábios. - Namorada. Certo.

Após oito passagens compradas, hotéis reservados e trinta minutos constrangedores, conseguimos sair da agência.
- Cara, por que ela não pulou logo em você? Só assim para dar mais na cara. - disse quando atravessamos a porta giratória, dando risada.
- Foi estranho demais. - falei, coçando a nuca. - Mas é para um bem maior.
- , troca a por mim. Eu deixo você pagar tudo sempre. - disse, me abraçando de um jeito bem gay.
Dei risada e empurrei ele.
- Não troco ela nem por todas as mulheres desse mundo, irmão, quem dirá por você. - falei, dando um soco no ombro dele.
- Meu Deus, e eu achando que eu era gay... - rolou os olhos, pegando a mão de .
- Você tá tão diferente, . - murmurou. - Sou sua amiga há anos e juro que não dá pra te reconhecer.
- Eu sei. - sorri de leve. - A culpa é toda dela.


XXX. I can't stand how much I need you


(Hate That I Love You - Ne-Yo ft. Rihanna)

OBS: Esse capítulo será inteiramente narrado pela principal, ou seja, somente pelo ponto de vista dela.


Quinta feira, 14:32 - casa dos meus avós, São Paulo

Peguei um bolinho de chuva e o mergulhei no doce de leite, levando a maravilha à minha boca.
- Vó, isso aqui tá sensacional! - falei, dando um abraço nela. - Obrigada por me fazer os melhores doces do mundo.
- Ah, minha netinha, faço qualquer coisa por você. Estava morrendo de saudades! - ela me deu um beijo na testa.
- Poxa, eu também! Estava sentindo falta do Brasil e de tudo daqui. - sorri, comendo mais um bolinho, simplesmente porque foda-se a boa forma.
- FILHA! - mamãe gritou, sua voz se aproximando de onde eu estava. Limpei minha boca com um guardanapo, vendo ela colocar as mãos na cintura quando postou-se à minha frente. - , você pode fazer um favor para mim?
- Ih... - murmurei, bebendo suco de maracujá. Mamãe ficou séria. - Diga.
- Fiquei de buscar um vestido Patricia Bonaldi, mas esqueci que marquei hora no salão. Você poderia quebrar esse galho para a sua mãe?
- Hmmm... - sibilei, meio preguiçosa.
- Vai, filha. Será bom para você matar a saudade de São Paulo. Prometo que podemos jantar no Paris 6 depois! - mamãe me abraçou de lado.
- Ande, meu amor. Saia para respirar um pouco de ar. - vovó me incentivou.
Que ar? O poluído de São Paulo?
Mamãe me olhava esperançosa. Rolei os olhos.
- Tudo bem, mas só porque eu faria de tudo por aquele crème brulée. - falei, me levantando e indo trocar de roupa.
Calcei umas botinhas pretas sem salto e coloquei uma saia solta, mantendo a blusa que eu já vestia. Peguei minha bolsa e uns óculos em formato de coração, colocando os fones do iPod em meus ouvidos. Pensei em pegar um cachecol, mas acabei desistindo. Não estava assim tão frio, não é?
Gritei que estava saindo, recebendo dois "Ok! Se cuida!" e fechei a porta. Percorri os dois quarteirões que separavam a casa dos meus avós, nos Jardins, até a saída do condomínio. Andei por mais alguns minutos até chegar na Oscar Freire, rua da loja onde estava o vestido de mamãe, ao som de Imagine Dragons.
Distraída e empolgada com "Demons", acabei trombando em um ombro masculino, forte e cheiroso.
- Desculpe! - me apressei em dizer, parando para ver em quem tinha batido. Estreitei meu olhar, reconhecendo os olhos verdes e o sorriso maravilhoso. - Ah, meu Deus, Aaron!
- ! - ele abriu os braços e me deu um abraço apertado. Dei o maior sorriso enquanto ele beijava a minha bochecha. - Que saudades!
Como definir Aaron?
Bem, ele era um garoto que havia estudado comigo desde sempre. A gente praticamente cresceu junto, embora tivéssemos perdido o contato quando eu me mudei. Mas, pensando bem, minha vida em Londres tinha sido tão agitada que eu mal tinha tempo para lembrar do Brasil.
Ele fazia muito sucesso entre as meninas. A grande maioria das minhas amigas achava ele maravilhoso, e ele era mesmo. Mas, de algum jeito, eu nunca tinha pensado nele dessa maneira. Talvez eu deveria, porque, caramba, ele sempre foi tão bonito assim?
- Eu sei! Estava morrendo de saudade também. - dei um sorriso imenso pra ele, tirando meus óculos para enxergá-lo melhor. Sim, ele estava mesmo muito gato.
- Caramba, você sumiu de verdade. - Aaron disse, e eu me doí com a última expressão. Mas tão rápido quanto o rosto de veio à minha cabeça, eu a espantei. Meu Deus, eu tinha que o esquecer. E ele estava a muitos quilômetros. Vou pensar nos problemas depois.
- Pois é, eu sei... - declarei, me sentindo culpada por ter "abandonado" toda a minha antiga vida. - Mas estou com um tempinho de sobra essa tarde, quer ir tomar um café?
Ele sorriu pra mim e entrelaçou seus braços na minha cintura, fazendo carinho nos meus cabelos.
Andamos desse jeito até a Kopenhagen. Confesso que a sensação dele me abraçando era boa, mas não chegava aos pés do que eu sentia quando fazia o mesmo.

- Você voltou de vez ou está só passeando? - ele perguntou, me fitando com aqueles olhos faiscantes.
- Segunda opção. - respondi, embora tivesse cogitado ficar no Brasil. A vida aqui estava tão simples...
Bebi um gole do meu Capuccino enquanto refletia sobre o que aconteceria quando eu voltasse para Londres. Não dava pra esquecer o beijo que tinha me dado, e o quase momento que tivemos antes de partir.
- E nesse seu passeio dá tempo de você sair comigo? - Aaron perguntou, sorrindo de canto.
Passei a língua pelos lábios, um pouco ansiosa, mas feliz.
Olha, vou te falar. Esse cara é bom.
Droga! Talvez eu não devia ter comido tanto hoje. Será que ainda entro nas minhas roupas?
- Com toda a certeza. - murmurei, tentando parecer tão sedutora quanto ele. - Vou ao Paris 6 hoje com os meus pais, quer vir?
- Isso depende. - ele mordeu o lábio inferior, os olhos verdes examinando meu rosto. - Vai me apresentar como o seu novo namorado?
Eu dei risada.
- Você não existe, Aaron. Mas acho que vai ter que vir comigo pra saber. - falei.
- Nesse caso, passo na sua casa às 8.

- Me explique como você foi buscar um vestido e voltou com duas blusas, uma saia e dois pares de sapato. - mamãe cruzou os braços, encostando na parede da sala de estar.
- Ops. - comprimi meus lábios, dando um sorrisinho. Andei em sua direção e a abracei. - Ah, mãe...
Qual é? Eu não resisti quando vi aquela loja da Kate Spade brilhando pra mim...
- , ... Vou perdoar só porque você foi me fazer um favor. - ela me deu um beijo na cabeça e eu sorri.
- Encontrei o Aaron enquanto ia. - olhei pra ela, vendo-a recolher o vestido e o esticar à sua frente, observando seu reflexo no espelho. - E convidei ele para o jantar, tem problema?
- Por mim, claro que não! Agora para o seu pai... - ela disse, dando risada.
- O que tem eu? - meu pai apareceu de repente, com a gravata afrouxada e a maleta na mão.
Ele se aproximou de mamãe e a deu um selinho, depois vindo até a mim.
- Lembra do Aaron? - perguntei, recebendo um beijo na testa.
- Aaron Del Rey? - ele indagou e eu confirmei. - Sei, o que tem ele?
- Ele vai jantar com a gente. - declarei, olhando para o meu pai.
- Ah, vai? - papai rolou os olhos. - E vocês continuam só amigos de infância, né?
Dei risada. Papai, desde o meu término com , estava tentando me proteger dos homens. Não que ele precisasse, na verdade. Eu não tinha saído muito de casa desde o fim.
Depois de chegar ao Brasil, decidimos ficar no nosso antigo apartamento, porque papai não tinha coragem de se desfazer dele. Na terça feira, liguei para as minhas antigas amigas avisando da chegada e fomos à uma boate, mas acabei indo embora cedo - não estava no clima de festa. Na quarta, fui ao cinema com mamãe e hoje tinha ido pra casa dos meus avós.
Em nenhum desses dias um homem se encaixou nessa programação.
- Sim, pai. Somos apenas amigos.

Sexta feira, 19:43 - Cinemark do Shopping Cidade Jardim, São Paulo

- Lembra quando você grudou um chiclete no cabelo da Maria Laura e ela achou legal e grudou mais? - Aaron perguntou, rindo. Eu afirmei com a cabeça, lembrando das nossas aventuras de infância. - Cara, aquela menina sempre foi retardada.
- Você ficou com ela! - falei, bebericando minha água e mastigando uma pipoca. Capitão América 2 passava ao fundo, mas a gente não estava ligando muito para o Chris Hemsworth e aquela roupa apertadinha dele.
- Eu disse retardada, não feia! - ele deu risada e eu também. - E como você ficou sabendo?
- Ela fez questão de me contar. - rolei os olhos, lembrando que, na época, eu e o Aaron estávamos com um rolinho. Não deu em nada, porque a amizade falou mais forte.
- Ela também contou que fiz isso só pra te deixar com ciúmes? - ele perguntou, aqueles olhos verdes perigosamente perto de mim. Eu comprimi os lábios, mordendo a bochecha de nervoso.
- Nã.. Não. - gaguejei, sorrindo levemente. É claro que, por dentro, eu estava nervosa.
Ele continuou se aproximando e tocou meu queixo com a ponta de seus dedos.
- Eu sei que você não quer estragar a nossa amizade, ... Mas sei lá, você vai voltar pra Inglaterra no domingo, não é? - Aaron fixou seus olhos em mim e eu confirmei.
Ai.Meu.Deus. Acho que ele vai me beijar.
Fechei os olhos, me deixando levar pela emoção do momento. A voz dele tinha um tom de persuasão incrível, e eu me entreguei quase completamente.
- Então eu pensei: por que não? - Aaron roçou seu nariz no meu e finalmente colou sua boca na minha.
Depois de apenas alguns segundos de beijo, eu entendi por que não. Era simples. Porque o Aaron não era quem eu amava, nem quem eu queria beijar.
Era insuportável o quanto eu precisava do .

- Como foi? - perguntou, mordiscando a unha do dedinho.
Olhei pra tela do computador. Eu falava com as meninas pelo Skype e tinha acabado de contar sobre o beijo de hoje.
- Horrível. - assumi, comprimindo meus lábios. - O Aaron é super lindo, legal e tudo o mais. E ele beija muito bem, sabe. A questão é que foi totalmente sem sentido.
- Sinto muito, . - torceu o rosto.
- Eu também, vaquinha. - disse, a feição triste. - Eu sei que parece um clichê, mas acho mesmo que pra superar o , só com o tempo. Pode ser que um menino novo te ajude, mas não está cedo demais? Quero dizer, vocês se amaram muito. E vai levar tempo pra amenizar essa dor.
Suspirei. É claro que ela tinha razão.
Por que eu deixei ele me beijar? Por que eu só não o empurrei?
- Eu sei. - murmurei, abaixando meus olhos. - Sei lá, gente, é tudo uma merda, sabe? É insano o quanto ele faz falta!
- Não se preocupe, . Juro que vai passar. - sibilou. - Aproveite o resto da viagem e tenta esquecer isso. Aliás, que horas são aí? Já não tá na hora de você ir dormir?
- Ela 'tá tentando te dispensar, ! Vai deixar barato? - deu risada.
- Na verdade, vou, porque são duas horas da manhã. - bocejei, encostando na cabeceira da cama. - Acho que preciso dormir e sonhar com coisas boas.

Sábado, 22:21 - Aeroporto Internacional de Guarulhos

- Não vai, minha netinha. Fique aqui para que eu possa fazer rabanada para você todas as manhãs. - minha vó me abraçou, fazendo um carinho aconchegante.
- Mas, vó, aí eu viraria uma bola! - dei risada, abraçando-a de volta. - Amei ficar esse tempinho com você.
- Acho que você deveria ficar sim, mas também para ir aos jogos de futebol comigo. - vovô me deu um sorriso. - Lembra quando eu te levava para ver os jogos no Pacaembu?
- Lembro, vô. Que saudades! - falei, encostando dando as mãos para ele. - Pena que o Palmeiras não jogou lá por esses dias!
Papai torceu a cara. Ele era corinthiano roxo, então, por regra, odiava o Palmeiras.
- Vamos parar de falar desse timinho e prestar atenção na moça que fala ao microfone. Vai que ela anuncia nosso voo.
- Bobo. - rolei meus olhos, rindo.
Esperamos e conversamos por mais vinte minutos até que nosso voo foi chamado. Depois de muita choradeira, nos despedimos e partimos de volta ao lugar que eu, agora, me sentia bem em chamar de casa.

Segunda feira, 16:21 - minha piscina

Lar, doce lar.
Eu havia voltado de viagem na madrugada, após passar uma semana em São Paulo.
Dizem que casa é aonde está o nosso coração. E como eu percebi, o meu estava em Londres, com uma certa pessoa.
Prendi meus cabelos em um coque, coloquei meus óculos de sol Butterfly da Chanel e estiquei as pernas. Eu estava deitada em uma espreguiçadeira de madeira, do lado de fora de casa, tomando um sol. Julho era o mês mais quente da Inglaterra, então é o tipo de coisa que você tem que aproveitar.
- Como foi sua viagem, ? - perguntou , o chapéu tampando metade do seu rosto. Ela estava logo ao meu lado.
- Foi incrível. - respondi, sorrindo ao me lembrar de como foi bom matar as saudades de tudo. - O mais engraçado é que eu acho que desaprendi umas palavras em português.
- Não acredito. - riu, passando mais bronzeador nos braços. - Perdeu, Brasil, a é toda inglesa agora.
Eu ri e rolei os olhos, coisa que ninguém pode ver porque eu estava com os óculos de sol.
- Besta. - xinguei, passando a língua pelos lábios. - Mas, sério, até deu pra sentir saudades de Londres.
- De Londres ou das pessoas de Londres? - perguntou , me oferecendo um pouco do chá gelado que ela bebia. Neguei e agradeci.
- De ambos. - assumi, olhando pras minhas unhas. Eu precisava ir à manicure, tipo assim, urgente. - Acho que a gente deveria fazer alguma coisa nessas férias, pessoal. Tipo outra viagem, sei lá.
olhou para , e depois pra . As três deram uma risadinha cúmplice.
Franzi o cenho.
- Não entendi. - falei, cruzando os braços.
- Ahhh, ... Se ao menos você soubesse. - deu tapinhas no meu braço.
- Soubesse do quê? - perguntei, não entendendo nada.
- Deixa que mais pra frente você descobre. - murmurou, bebendo o suco de laranja.
- Ah, não, gente! Me conta agora. - fiz birra, sentando na espreguiçadeira. - Quero saber!
- Não podemos. Mas é uma boa surpresa, , você vai amar. - sorriu, largando o chá e se deitando.
Fiz um bico. Mas que droga, ninguém ia me contar nada?
- Vou ter que subornar alguém pra entender do que se trata? - perguntei, mordendo meu lábio inferior.
- Sim, , sinto muito. - riu e colocou os óculos escuros. - Mas, sério, vai ser sensacional.
Cruzei os braços, emburrada. Eu odiava não saber das coisas.

Terça feira, 20:43 - The Ledbury

- Collins, por favor, cotovelos para fora da mesa. - mamãe pediu, dando um tapinha leve no meu antebraço. Ela odiava que eu desrespeitasse algumas regras básicas de etiqueta, e eu a amava muito, mas no momento não estava com saco pra regras estúpidas.
Eu sabia que os meus amigos estavam escondendo as coisas de mim, e aquilo estava me irritando.
- Hm. - murmurei, desencostando meu rosto da minha mão.
- O que deu em você hoje, ? Está muito desanimada. - papai me olhou, enrolando o macarrão. Ele apoiou a colher e o garfo no canto do prato e sorriu pra mim. - Vamos, filha, agite-se!
- Hm. - resmunguei novamente, largando meu garfo no prato. - Acho que estou sem apetite.
- Ah, não, filha! Olha, prove um pouco desse caviar dourado! - disse mamãe, me passando a colher de madrepérola para que eu degustasse aquele treco. - É divino!
Torci o rosto e fiz uma careta. Eu considerava uma carnificina você se alimentar do que viria a ser um peixe. Além disso, aquilo crescia dentro da barriga do peixe fêmea. Tipo, sério, nojento.
- Não gosto da ideia de comer ovas, mãe. - neguei com a cabeça, colocando a língua pra fora. Mamãe me reprovou com os olhos.
- , você que está perdendo. - disse papai, servindo uma porção nas costas da sua mão esquerda. Ele levou as ovas à boca e eu fiz cara de nojo. Papai deu risada. - Bom, filha, o que faremos para o seu aniversário?
- Ah, não sei... Eu estava pensando em algo mais simples, sabe? A gente podia alugar algum salão, contratar um bufê legal e tal. - falei, levando meu amuse bouche à boca. Era uma porção pequena, provavelmente a única coisa que eu comeria nessa noite.
- É uma boa ideia. - minha mãe disse, bebendo o vinho tinto Chapoutier. A pulseira Cartier escorregou pelo braço enquanto ela descia a taça à mesa. - Acho que tenho um lugar perfeito pra você, . É um salão próximo à Oxford Street que estou redecorando.
- Ai, que ótimo, mãe! - sorri. - Vamos dar uma passada lá amanhã.
Meu aniversário na segunda semana de agosto. Caía numa quinta feira, mas dava para mandar a festa para sexta, não é?
- Será que dá tempo de arrumar tudo, mulheres da minha vida? - papai perguntou, pegando na mão de minha mãe.
- Estamos bem em cima da hora. Vai ser uma loucura, mas acho vamos conseguir. - mamãe respondeu, sorrindo pra ele. - Faça a lista de convidados hoje, certo?
Comprimi os lábios e assenti, ligeiramente preocupada com uma coisa.
Eu deveria convidar o ?

Quarta feira, 12:02 - cozinha da minha casa

Apoiei a palma das minhas mãos no balcão e dei um impulso para cima, subindo no mesmo. Cruzei minhas pernas e comprimi meus lábios.
- O que te aflige, ? - perguntou , fitando meus olhos. Ele mexia o miojo com o garfo e estava sem camisa. - Você está com uma cara estranha.
- Várias coisas. - fiz um bico, abrindo a tampa de uma panela que estava no fogão, encontrando uma coisa: nada. - O que você vai fazer?
Mamãe tinha dado folga para a Rose, então não tinha nada para o almoço. estava tentando cozinhar alguma coisa, mas eu duvidava que ele conseguiria.
- Hmm... Que tal uma carne com batatas? - ele perguntou, desligando a boca do fogão que cozinhava o miojo. Ele tampou a panela da "sopa" e foi até a geladeira.
- Você realmente não quer pedir nada? - levantei minha sobrancelha, mordendo o interior da minha bochecha.
- Pedir comida é para os fracos. - respondeu, retirando uma embalagem de nuggets.
- Congelado é que é para os fortes, não é? - dei risada, apontando para o que ele segurava.
- Calada, . Já estou fazendo um favor em te alimentar. - disse, abrindo um armário e pegando uma garrafa de óleo.
- Você vai fritar isso sem camisa? - perguntei, vendo ele encher a panela com o líquido.
- Vou, por quê? - indagou, com o tom de voz confuso.
Rolei meus olhos. Lição número um da culinária: nunca frite nada sem camisa.
- Não vou nem comentar nada. - murmurei, enquanto ele acendia o fogão. deixou o óleo esquentando e veio até mim, sentando-se ao meu lado.
- Agora é sério, priminha, o que você tem?
- Ahh... É que você sabe que o meu aniversário está chegando, não sabe? - perguntei e ele confirmou com a cabeça. - Então, aí eu pensei em fazer uma festa, mas não sei se...
- VOCÊ NÃO PODE FAZER UMA FESTA! - berrou, em voz alta. Seus olhos se arregalaram e eu me assustei com a exaltação dele.
- Credo, ! Por quê? - questionei, franzinho o cenho.
Ele mordeu o lábio inferior.
- Porque... Hmm... Porque eu não estarei aqui na semana do seu aniversário.
Levantei uma sobrancelha e cruzei meus braços.
- Ah, é? E onde você estará, então? - perguntei, achando aquela situação muito estranha.
- Hmm... Tipo assim, , eu não posso contar. Mas você vai descobrir logo logo.
Bufei.
- , que saco, o que é que está acontecendo? As meninas também estão cheias de mistério pra cima de mim. - desabafei, irritada. - Ninguém vai me contar nada? Que coisa!
- Desculpa, . É que eu não posso mesmo. De verdade.
Mordi minha boca muito forte com a última frase dele. "De verdade".
Abaixei minha cabeça e fiquei em silêncio.
- Ah, merda! - deu um tapa na própria testa. - Desculpa. Eu esqueci desse negócio por trás dessa expressão.
- Não, tudo bem. Eu só queria mesmo entender porque ninguém pode me falar nada. - assumi, meio nervosa ainda.
- Foi mal, priminha. Mas é uma surpresa boa pra cacete, acredite. E por favor, por favor, não faz uma festa. - ele me deu um beijo na testa e pulou do balcão. - Agora me deixe terminar de preparar o nosso almoço.
Desci de onde estava sentada e caminhei até o armário, pegando os pratos.

Espiei pela frestinha da porta do quarto de , vendo ele falar baixinho com a minha mãe.
- Então, tia Lily, a senhora não pode de jeito nenhum deixar a fazer esse aniversário dela. - ele disse, olhando para a porta. Eu me encolhi atrás dela.
Certo. Eu assumo. Estava mesmo louca pra descobrir o que todo mundo estava escondendo de mim e, pra isso, estava espiando a conversa dos dois.
- Tudo bem, . Eu compreendo. - mamãe murmurou, dando um abraço nele. - A gente pode fazer uma quando vocês voltarem. Que tal?
Voltarem? De onde? Quem vai voltar?
- Acho essa uma ótima ideia! - exclamou, sorrindo. - Mas ela não pode saber de nada, tudo bem?
Rolei os olhos. Eu estava odiando ser a única que não sabia de nada.
- Claro! Vai ser divertido guardar esse segredo dela. - mamãe sorriu.
Oh! Minha própria mãe escondendo as coisas de mim!
Que porra estava acontecendo?
- Obrigado, tia! Eu juro que tomo conta dela quando a gente estiver lá. - disse, piscando pra minha mãe. - Agora vou tomar um banho.
Mamãe concordou e veio caminhando até a saída do quarto dele. Eu corri para o meu quarto e entrei nele, pensando no que havia acabado de ouvir.
Meu Deus. Tudo está tão esquisito nesse momento.

Quinta feira, 19:26 - casa da

Apertei a campainha da mansão da , checando meu celular enquanto ela não atendia.
Depois de sete segundos, a porta de madeira se abriu, e minha amiga sorridente apareceu.
- Oi, fêmea! - ela disse, dando passagem para mim.
- Oi, coleguinha! - sorri, cumprimentando ela com um beijo na bochecha. - Todo mundo já chegou?
- Sim, estão lá na sala de cinema. Por que você não veio com o ? - perguntou, fechando a porta. Ela foi andando até o cômodo e eu a segui.
- Porque minha mãe queria fazer compras. - rolei meus olhos. - Eu tava no Westfield até agora.
- Tá reclamando? - deu risada. - Vai indo lá, . Vou trazer a pipoca.
- Ok. - sorri, entrando no lugar silenciosamente. Todo mundo estava prestando atenção em alguma coisa que passava na TV.
E quando eu digo todo mundo, eu quero dizer inclusive ele. Sim, estava ali. E como não estaria? Ele fazia parte do nosso grupo, o que era uma droga.
Sabe como dizem, é meio complicado você tentar esquecer seu ex se ele está sempre presente.
E eu nem sabia se queria esquecê-lo.
Foco, ! Você quer sim!
- E até quando você vai esconder isso, ? - perguntou , aos sussurros. Acho que ninguém tinha percebido a minha entrada.
- Acho que até hoje. - respondeu, e eu fechei meus olhos ao ouvir sua voz. Deus, ela era como música pra mim.
Senti saudades de quando ele sussurrava pra mim. De quando ele murmurava, baixinho, aquele "eu te amo". Mas, tão logo quanto me lembrei disso, a imagem dele com a Hayley naquela noite surgiu, e eu abri os olhos repentinamente.
- Oi. - acenei para os meus amigos e levou um susto ao me ver.
- !!! - ele exclamou, exasperado. - Você está aí há muito tempo?
- Por que tá todo mundo se assustando comigo esses dias? Eu estou tão feia assim?
Cruzei os braços e fiz um bico.
- Como se isso fosse possível. - disse, baixinho. Olhei para ele, que percebeu que eu tinha escutado.
- Anhh, claro que não, . Vem aqui, senta com a gente. - ele bateu no sofá ao seu lado, que estava vago.
Caminhei até ele, sentando-me no sofá. Ele abriu os braços e eu me acomodei ali, recebendo um beijo na testa.
- Estou quase com ciúmes. - disse, sentando do outro lado dele. deu risada e a abraçou de lado, ficando nós duas entre ele.
- Então... Por que a gente está aqui, mesmo? - perguntou, pegando um punhado de pipocas de um balde colorido.
- Ah, é... Bem, hm, porque o quer anunciar uma coisa. - respondeu, escorando os cotovelos nos joelhos. - Não quer, ?
- Achei que era porque a gente ia ver um filme. - falei, me sentindo ligeiramente desconfortável.
Então o queria falar alguma coisa e eu tinha que estar presente?
- É, eu tenho. É uma coisa legal, eu acho. - coçou a nuca, também desconfortável.
- É uma coisa incrível! - bateu palminhas, mastigando um monte de pipoca.
- Ora, então desembuchem. - falei, cruzando meus braços.
- A gente vai viajar. - disse, rápido e repentinamente. - Vamos para a Disney de Orlando.
Uni meu cenho, mordiscando meu lábio inferior.
- Olha, gente, sem querer ser estraga prazeres nem nada, mas acabei de voltar de uma viagem e não acho que meus pais vão me deixar embarcar em outra. - falei, olhando para qualquer um que não o .
- Mas a sua passagem já está comprada. - falou, me fitando. - Seus pais não vão gastar nada, .
Pisquei duas vezes. Quem raios tinha comprado minha passagem?
- Não é questão de gastar, . É só que eu acho que eles me querem em casa um pouco. - murmurei, bagunçando a franja do meu cabelo.
- Acho que não, . Falei com a sua mãe ontem e ela deixou. - fez carinho na , sorrindo pra mim. - Você não é tão amada assim, foi mal.
Rolei meus olhos. Eu sabia que todos estavam tramando contra mim.
- Ah, gente, não sei não... E a minha festa de aniversário? Poxa, minha mãe já deve ter alugado o salão, eu estava planejando ela... - sibilei, mesmo tendo em mente que minha mãe tinha adiado o evento. Eu havia ouvido a conversa entre ela e , afinal.
- Pare de inventar desculpas, ! Você vai e ponto final, que saco! - cruzou os braços, ligeiramente irritada.
Fiquei quieta por dois segundos. Eu sabia que ela amava a Disney, então isso devia ser um dos motivos pelo estresse.
Refleti. Se eu ficasse aqui, perderia uma viagem incrível com os meus amigos. Também não os teria em minha festa. E não me divertiria nas férias.
É. Acho que viajar é o que temos para hoje.
- Ok, ok... Tá, então acho que vou. - abri um sorrisinho, ainda um pouco desconfiada de tudo. Fala sério, como eles fizeram tudo pelas minhas costas?
- AEEEEEEE!!! - jogou as mãos pra cima e depois riu. - Finalmente!
Todos comemoraram do seu jeito e depois me deram um abraço. Todos, é claro, exceto . Porque tipo, seria muito estranho.
- E por falar nisso, quanto eu devo para vocês pela passagem? - perguntei, ainda curiosa em saber quem tinha sido o generoso.
- Não é para gente. É só para um. - apontou pra .
Abri e fechei a boca, sem saber direito o que falar. O pessoal percebeu o clima tenso e tentaram voltar a conversar entre si, deixando eu e ele à vontade.
- Bem... Não sei ao certo porque você fez isso, mas obrigada. Eu te pago depois. - olhei para ele rapidamente. Se continuasse, iria acabar perdendo o foco.
- Acho que você sabe exatamente o porque, . - sussurrou, colocando um sorriso torto nos lábios. - E também sabe que eu não vou aceitar dinheiro nenhum. Considere como seu presente de aniversário adiantado.
É claro que eu sabia o porquê. Ele queria o meu perdão, eu sei que sim. Mas era difícil. Muito difícil.
E mesmo assim, contrariando toda a minha raiva, naquele momento me apaixonei novamente por ele.
Concordei com a cabeça e desviei o olhar de seu rosto estupidamente esculpido, tentando prestar atenção na conversa dos meus amigos.


XXXI. She is all I need; she is all I dream; she is all I always wanted, it's you!


(All Of This - Blink-182 ft. Robert Smith)

Sábado, 13:03 - minha casa

:

- Cara, é sério, eu preciso muito de ajuda! Por favor, você é o mais organizado com esses lances! - pediu , a voz pelo telefone num tom de súplica.
Nós viajaríamos na segunda, pela manhã, e como sempre, não tinha feito as malas ainda.
Não que a minha estivesse pronta, porque eu ainda tinha um dia, mas eu tinha pelo menos começado. Ele, por outro lado, não tinha nem uma mala (a que tinha usado em Cancún quebrou depois que ele a jogou no chão).
A questão é que ele pedia minha ajuda pra arrumar, e isso requeria uma ida à casa dele, e consequentemente, ver ela.
Eu sabia que isso a deixava desconfortável, pude perceber anteontem, na casa da .
- , pede ajuda da tua namorada, pô! - falei, jogando a embalagem de 212 no meio das minhas calças, dentro da mala.
- A é mais bagunceira que eu, cara. - ele disse. - , vai, você nem vai ver a ! Ela saiu pra comprar não sei o quê com a minha tia.
- Hmm... Tá, mas você vai ficar me devendo essa. E aliás, você vai querer uma mala emprestada?
- Sim. Valeu, mané, te vejo mais tarde. - falou e depois desligou.
Joguei o iPhone na minha cama e fui até as escadas. Eu morava na cobertura, mas em meu prédio cada apartamento possuía dois andares. No primeiro ficavam a cozinha, sala de jantar, sala de estar, alguns banheiros, a despensa, a área externa e a piscina na sacada. No segundo, todos os quartos e mais alguns banheiros. Eu sabia que a minha mãe estava em casa, porque ela tinha feito um almoço horrível para nós - ela definitivamente não aprendeu nada com a minha avó - e provavelmente lavava a louça.
- Mãe! - gritei enquanto batucava no corrimão da escada. - Mãe, cadê você?
- Na sala! - ela gritou de volta. - Venha até aqui!
Assoviei até chegar ao local. Lá, mamãe estava no sofá, as pernas cruzadas e os olhos concentrados em alguns papéis, provavelmente documentos da empresa.
- Mãe, onde a gente guarda as malas, mesmo? - perguntei, sentando no encosto do sofá.
- Primeiro, desça daí. - ela disse, me olhando séria. Me endireitei. - Depois, me explique porque a fatura do seu cartão veio tão absurdamente alta nesse mês.
Passei a mão pela nuca de nervosismo.
- Hmmm... - passei a língua pelos lábios, pensando na encrenca em que estava. - Porque nós estamos, hm, pagando a viagem da .
- Estamos? - ela levantou a sobrancelha. - E por que? Ela está com problemas financeiros?
- Não, mãe, não é isso... - bati na minha testa e ela me olhou indagativamente. - É que eu preciso reconquistar ela, e isso envolve fazer essa viagem.
- Como assim reconquistar? , desde quando vocês terminaram? - mamãe arregalou os olhos e retirou os óculos.
- Ah, merda, acho que esqueci de te contar. - cocei a cabeça. - Então, a gente meio que terminou.
- Como assim meio que terminou? Que negócio é esse de meio?
- Mãe, olha, calma! Significa que ela terminou comigo, mas eu não acho que tenha sido mesmo o fim. Tanto que eu ainda estou usando a minha aliança.
- Hmm... - ela murmurou. - E o que a viagem tem a ver com tudo isso?
- É que é o presente de aniversário dela. Na verdade, um dos. Vou fazer algumas surpresas para que ela me perdoe.
- , perdoar o quê? O que você fez com a ? - mamãe perguntou.
- Caramba, como você faz perguntas. - falei, dando risada. Ela permaneceu séria. - Olha, é o seguinte, lembra aquela minha ex, a Hayley?
- Uma do cabelo loiro feio? - perguntou e eu afirmei. - Sei.
- Bom, de alguma maneira, por uma armação dela, a me pegou junto com ela. Aí a achou que eu estivesse a traindo e terminou comigo. Só que eu sei que não fiz nada, mãe. Eu nunca trairia a , nunca mesmo. - falei, franco. - Mas ela não acredita em mim. E eu acho que se eu provar o tanto que a amo, talvez ela me perdoe, entendeu? E por isso precisamos viajar junto, para eu fazer algumas surpresas pra ela.
- Filho, isso é lindo... Meu Deus, você realmente se transformou em um homem! - ela me abraçou e fez carinho nos meus cabelos. - Seu pai estaria muito orgulhoso.
Sorri, abraçando-a de volta.
- Tudo bem, então? - perguntei.
- Claro que sim, . Você sabe que eu a adoro! - mamãe me deu um beijo na bochecha. - E trate de trazer ela de volta!
- Pode deixar, mãe. Eu vou reconquistá-la, porque ela é tudo o que eu sempre quis.

- Cacete, , por que você demorou tanto? - perguntou ao abrir a porta de sua casa/da .
- Que tal um: oi, cara, você é o melhor amigo do mundo por ter perdido seu sábado vindo me ajudar a fazer as malas? - sugeri, dando risada. Fizemos um high five e eu entrei na tão conhecida mansão, carregando uma mala grande.
- Você é um gay, isso sim. - ele me deu um tapa no ombro. - Ah, e desculpa aí, mas você enrolou tanto que já deu tempo da e da mãe dela voltarem. E a trouxe as meninas, mas a gente vai ficar lá em cima, empacotando tudo.
Fiquei meio sem saber o que fazer. Era a primeira vez que eu vinha na casa dela depois de tudo.
Mas o que tinha me convidado, não é?
- Quer que eu acredite que vamos ficar arrumando suas coisas ao invés de você ficar lá se agarrando com a ? - perguntei sarcasticamente.
- Quero, porque ela não veio. - esclareceu, recolhendo a mala da minha mão. - Agora vamos.

Trinta e cinco minutos depois, terminamos.
- Até que foi rápido. - se jogou em sua cama, pegando o celular no bolso. - Vou ligar pra e mandar ela vir aqui. Chama os meninos.
- Beleza. - peguei meu celular.
- , preciso pedir para que saia do meu quarto agora, cara. - disse, apontando para a porta. - Estou com saudades dela, e posso ser um pouco meloso ao falar no telefone.
- Ah, cara, vai se foder. Você vai é ficar falando besteiras com ela. - me levantei do sofá e caminhei até a saída.
- Também. Adoro sexo via celular. - ele deu risada. - Alô, amor?
Bati a porta imediatamente. Disquei para o primeiro, caminhando pelo corredor da casa.
Enquanto tocava, andei, meus pés sem rumo, mas a minha cabeça sabendo exatamente onde queria ir.
Encontrei-me na porta do quarto dela, entreaberta. Fancy, da Iggy Azalea, tocava muito alto e eu espiei pela frestinha para ver o que ela fazia.
vestia um short curto e justo. Sua camisa mostrava um pedaço da barriga chapada e me fazia lembrar das vezes que ela usava as minhas camisas. Seu corpo estava perigosamente exposto, e é claro que ninguém parecia ligar para isso, apenas eu. Isso porque eu era ficcionado por aquela menina.
Mas não era só isso.
dançava. Ela levantou os braços, e o umbigo apareceu. Ela rebolou lenta e vagarosamente, no ritmo da música.
- Alô? - atendeu o telefone, mas eu nem liguei.
- Faz o "cadradinho", ! - , sentada na cama de , pediu.
gargalhou e eu sorri. Sentia saudades da risada dela.
- É quadradinho, amiga! E é assim, ó.
Ela desceu até o chão e subiu com as mãos até o joelho. Depois, empinou a bunda justamente para o local de onde eu espiava e requebrou o quadril, simulando o desenho de um quadrado, mas com a bunda.
Meu queixo foi até o chão. Meu corpo ficou quente e meus olhos faiscaram.
Eu preciso dela. Agora.
Puta que pariu! Que menina maravilhosa!
- Alô? - - repetiu. - , porra! - ele gritou e eu me assustei, deixando o celular cair no chão, o que fez um barulho muito alto e provocou a parada da música.
Cacete! Eu ia ser pego!
Recolhi o celular rapidamente e me preparei para disfarçar da melhor maneira possível.
já tinha desligado.
Ouvi passos e encostei na parede, tentando controlar minha respiração. Eu tinha sido forçado a sair do meu transe, e ele estava muito bom...
- ? - perguntou. Ela parecia surpresa e depois envergonhada. - O que você está fazendo aqui?
Me excitando ao ver você dançar, é claro.
- Ahnnn... - eu murmurei. O que eu estava fazendo lá, mesmo? - Eu tava indo pro quarto do e aí ouvi uma música...
- E aí resolveu parar aqui por quê? - ela levantou uma sobrancelha e fechou a porta do quarto.
Mordi meu lábio inferior e olhei para ela. abaixou o olhar.
Toquei em seu queixo e aproximei meus lábios de seu ouvido esquerdo. Deslizei minha mão até sua nuca.
Ela se arrepiou.
- Você sabe que é sacanagem dançar desse jeito e esperar que eu nada faça. - sussurrei, abaixando o tom da minha voz. Fechei os olhos, sentindo o perfume dela.
comprimiu os lábios, cedendo aos poucos.
Comprimi ela na parede, minha outra mão na barra dos shorts dela. Sua pele macia e levemente bronzeada só contribuía para me levar à loucura.
- Eu não estava... Não estava... Dançando... Pra você. - ela disse, entre pausas, enquanto eu trilhava beijos pelo pescoço dela. - Anhh...
Eu sabia que o pescoço era seu o ponto fraco. E, obviamente, me aproveitaria disso.
Ela arfava enquanto eu distribuía mordidinhas por toda a região. puxou meus cabelos e eu a impulsionei para cima, fazendo com que ela cruzasse as pernas ao redor do meu quadril.
Dei um sorriso malicioso e fitei os olhos dela. estava vermelha e com a boca levemente aberta.
Num gesto desesperado, ela uniu nossos lábios. Eu dei um sorrisinho antes de encontrar a língua dela, que se entrelaçou na minha da mesma maneira deliciosa de sempre.
É claro que o beijo foi maravilhoso. Sempre era. Cada segundo melhor do que o outro, nossos corpos quentes e procurando diminuir a distância quase inexistente entre eles. Eu a pressionava contra a parede, e ela puxava os meus cabelos de um jeito que me alucinava.
Estávamos tão perto um do outro que eu podia sentir o coração dela bater, forte e sucessivamente. Minha mão, antes nos shorts dela, subiu até sua barriga, explorando aquela região por baixo de sua camisa.
Quando o sexo já era quase uma certeza e a excitação, máxima; fomos interrompidos.
A porta do quarto de fez um barulho alto ao ser escancarada. Eu e paramos de nos beijar instantaneamente, e ela pulou do meu colo para o chão.
- Não acredito no que acabei de ver. - disse, em tom de deboche.
, do meu lado, tentava controlar a respiração. Eu estava meio sem reação.
Outra porta se abriu. Dessa vez, a do quarto de . e saíram de lá.
- O que está acontecendo? ? - perguntou, levantando uma sobrancelha.
- Hmmm... Oi, . - respondi, coçando a nuca.
- , não é o que você tá pensando... - tentou se explicar. franziu o cenho, e eu também. Não era? - Quero dizer, é, mas não vai acontecer de novo.
- Não to entendendo nada. - disse, a feição confusa. - O que não vai acontecer de novo?
Fiquei em silêncio. É claro que ia acontecer de novo.
- Tudo bem. Vou fingir que acredito. - deu de ombros. - Bom, vocês que se resolvam. A história é entre os dois, afinal.
Dito isso, ele andou até as escadas e desceu, sendo seguido por e .
Assim, eu e ela ficamos sozinhos.
- Eu falei sério quando disse que não ia acontecer de novo. - declarou, fixando o olhar em mim. Ela parecia séria.
- Foi o que você disse da última vez. - respondi, comprimindo meus lábios.
- Quer saber por que a gente se beija toda vez que se encontra, mesmo depois de ter terminado? - ela perguntou, não esperando uma resposta minha. - É porque é mais fácil fazer isso do que conversar, . É mais fácil pra gente ignorar o que aconteceu do que enfrentar a verdade. Mas não pode ser assim. A gente não pode simplesmente esquecer o que passou. Você me traiu, e doeu muito. Essa é a verdade.
Mais uma vez, fiquei ser ter o que responder. Apenas a olhei nos olhos.
- Acabou. Vamos começar a aceitar isso, pode ser? - finalizou e me deu as costas, começando a andar até as escadas.
Fui atrás dela. Peguei em seu braço e ela se virou.
- A questão é que eu não consigo ficar sem você, , porque eu sinto muito a sua falta. - falei. - Eu sinto a sua falta a todo instante, . Tenho saudade de cada momento que a gente ficou junto, de cada risada que você dava, de cada "de verdade" que a gente trocou, de cada beijo que você já me deu. Sei lá, eu não achava mesmo que isso era possível, , mas eu te amo tanto que dói. E dói mais ainda falar tudo isso no passado. Por favor, por favor, vamos voltar.
Foi a vez dela ficar quieta.
Ela fechou os olhos, permanecendo assim por dois segundos.
- Não dá. Vou sugerir que você aprenda a viver sem mim, porque não dá mesmo. Aceita que dói menos, . - ela disse, o rosto vacilando um pouquinho. - Comece a ficar com outras pessoas, sei lá. Eu já tentei, e está dando certo.
Abri a boca. Como assim ela tinha tentado? Como assim ela estava ficando com outras pessoas?
Que porra é essa?
Não podia ser verdade. Não, ela deveria estar mentindo para mim.
Olhei para ela, perplexo. Ela comprimiu seus lábios, os olhos marejando e sua bochecha ficando vermelha.
Era mentira, não era? Tinha que ser mentira!
- Você... Outras pessoas? - perguntei, pausadamente.
- Vou descer, . - ela ignorou minha pergunta.
- ... - balbuciei e ela se soltou de mim.
- Tchau.

Sábado, 17:13 - minha casa

:

- Mas não deve ser horrível demais? - perguntou . - O cabelo deve grudar todo na cara e atrapalhar pra caramba.
- O quê é horrível? - me intrometi na conversa, alcançando uma batata frita. Minha mão se chocou com a de e eu me contraí. Ele cedeu e me deixou pegar.
O clima entre nós dois estava o mais estranho possível. Acho que eu não devia ter falado aquilo, afinal.
- Beijar na piscina. - respondeu . - Você já tentou, ?
- Já. - falei, bebericando um gole de água. Na verdade, a pessoa que eu já havia beijado na piscina estava sentada a dois lugares de mim, prestando atenção na nossa conversa Tentei ignorá-lo. - Mas eu nunca beijei na chuva, e sempre quis experimentar.
- É ótimo. - disse . Viramos o olhar pra ela. - Tipo, é bem diferente do que na piscina porque não tem toda aquela água pra atrapalhar. Fora que tem todo aquele lance do romance e tal.
- Poxa, ! Fiquei com mais vontade de experimentar. - falei, fazendo um bico.
- Ah, , relaxa. Oportunidades não vão te faltar, porque aqui em Londres chove o tempo todo. - sorriu.
Dei uma risada meio forçada, pensando no quanto queria que o desgraçado do parasse de me encarar tão descaradamente.
Lancei um olhar duro e incomodado na direção dele. concordou com a cabeça, silenciosamente, e virou-se para prestar atenção em .

Domingo, 16:39, Hyde Park

- Pai? Oi, sou eu. Desculpa te atrapalhar, é só que eu acho que vai começar a chover muito. Tem como você vir me buscar, por favor?
- Claro, . Onde você está? - papai perguntou, ao telefone.
- Hyde Park. Quis vir correr para espairecer um pouco.
- Tudo bem, filha. Estou a caminho, te amo. - ele disse e desligou.
Olhei para o céu, escuro como a fuligem. Suspirei, prevendo uma imensa chuva.
Por que raios eu tinha inventado de vir correr no parque, mesmo? Por que o idiota não veio comigo? Por que eu ainda não tinha 17 anos pra poder dirigir? Por que eu tinha que depender de caronas?
Bufei, estressada. E, como num passe de mágica, a primeira gota caiu.
E a segunda. A terceira. Inúmeras. Porque em Londres chove dia sim, e no outro também.
Uma rajada de vento frio passou por mim. Por que eu não trouxe um casaco? Ah, sim, porque esqueci na Lamborghini de .
Amaldiçoei os céus e todos os santos. Puta que pariu, viu!
A água agora me encharcava por completo, e a corrente de ar gelado não ajudava em nada. Irritada, andei até o ponto de táxi, disposta a pegar o primeiro que passasse. Não, eu definitivamente dispenso outra gripe por causa desse tempo horrível dessa cidade horrível.
Com pressa e irritada, senti meu ombro trombar em alguém. Bufei, virando o rosto para ver quem era.
E um certo par de olhos brilhantes fixaram-se em mim.
.
Ah, você tem que estar brincando comigo!
Comprimi os lábios, vendo algumas gotas de água caírem sob os cabelos dele. deu um sorrisinho de canto, no melhor estilo malandro.
- Chuva. - ele sussurrou, se aproximando de mim.
Arqueei a sobrancelha, não captando a mensagem.
E, de repente, eu estava sendo beijada.
Meu corpo foi prensado contra o tronco de uma árvore. Suas mãos, quentes, seguravam meu rosto. Instantaneamente, direcionei minhas mãos à seus cabelos.
Sem pensar, abri minha boca, permitindo que ele aprofundasse o beijo. Sua língua se chocou com a minha ao mesmo tempo em que abri os olhos. Os dele ainda estavam fechados, e eu logo o imitei. tocou minha nuca com uma mão, e a cintura com a outra. Desenhou a curva dessa com o polegar, apertando levemente o local.
Ele fazia um carinho gostoso na minha barriga e eu o abraçava cada vez mais, sentindo o frio passar e dar lugar ao calor reconfortante que eu sentia quando estava com ele.
As gotas de chuva escorriam pelos nossos rostos e quando uma se chocou com os nossos lábios, interrompeu o beijo.
- E você dizendo que nunca mais aconteceria. - ele murmurou, dando um sorrisinho de canto.
Filho da puta.
Encarei ele, me desvencilhando rapidamente de seus braços.
- Que cortês, . O que eu sou para você? Um casinho que você pega e não se apega? - perguntei, irritada. O calor foi substituído pelo frio, e meu corpo sentiu a ausência dele.
- Na verdade, não. Eu me apeguei demais à você. Mas isso, aparentemente, não foi recíproco. - ele disse, irônico. - Tanto que foi super fácil pra você me trocar, não foi?
Olhei para ele.
Ele devia estar se referindo ao Aaron.
Respirei fundo, encarando seus olhos. Ele estava triste, triste mesmo. E é claro que eu também estava.
- Olha, ... Desistir de você foi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida. - falei, lenta e pausadamente. - Mas eu fui forçada a fazer isso. Você queria o quê? Que eu continuasse atrás de você depois daquilo?
- Daquilo o quê? Eu já falei mil vezes que eu não te traí! , armaram para mim, cacete! Vê se enxerga isso! - ele berrou, a face vermelha.
- Você espera mesmo que eu acredite nisso? É mais fácil para você botar a culpa nos outros do que assumir o que fez? Ou você não é homem o suficiente para isso?
- EU NÃO SOU UM HOMEM, ? EU 'TO AQUI ARRUMANDO MIL MANEIRAS DE RECONQUISTAR VOCÊ, EU TO FAZENDO TUDO O QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SÓ PRA TE TER DE VOLTA! MAS QUE MERDA! - gritou, a pleno pulmões, chamando atenção de todos ao nosso redor. - Acha que eu não ouvi que você sempre quis beijar na chuva? Acha que eu vim atrás de você à toa?
Fiquei em silêncio.
Estava cada vez mais difícil ficar longe dele. Era quase impossível.
Lógico que eu queria dizer "sim, seu idiota, eu volto pra você, e também tenho saudade de cada estúpido minuto que passei ao seu lado, e nós éramos incríveis juntos, e eu odeio essa merda de ter que falar no passado, porque te amo mais do que tudo". Lógico que eu queria! Mas, meu Deus, não dava. Cada vez que eu pensava nisso, as imagens dele e daquela maldita garota naquela maldita noite na maldita boate estalavam diante de mim.
E, por causa disso, não dava.
- Obrigada. - sussurrei, evitando olhar para ele. - Por ter me mostrado como era. Mas você sabe que a gente não po...
- É, eu sei. - ele me cortou, tirando a mochila das costas. Abriu a mesma, recolhendo o moletom Abercrombie & Fitch azul marinho que eu o havia devolvido na caixa. Esticou-o para mim. - Pega.
- , não precisa, de verdade. - falei, apesar de estar tremendo de frio. Já sentia minha garganta reclamar.
- , de verdade, eu acho que você precisa sim. - falou, firme. Abriu o zíper, me envolvendo no moletom. Deus, estava quentinho. - Não tenho um guarda chuva, mas usa o capuz.
- Tudo bem. Obrigada, . - agradeci, colocando o capuz. - Depois te devolvo.
- Não precisa. Não se vier em outra caixa com mais lembranças. - ele disse e eu me calei outra vez.
Ouvi uma buzina e vi papai estacionar a Ferrari. Ele desceu do carro com um guarda chuva bem grande.
- Preciso ir. - sibilei, tentando não encará-lo mais.
Dei dois passos para frente e senti meu braço sendo agarrado.
- Eu não vou desistir da gente. - murmurou, me olhando de um jeito tão profundo que eu estremeci. - Não vou desistir nunca.
Ele me deu um selinho e me soltou. Dei as costas para ele, confusa. Estava feliz por aquele momento, triste por não poder voltarmos. Mas, acima de tudo, eu estava contente. Ele não desistiria de mim, afinal.
Corri até papai e ele me ajudou a entrar no carro.
Ao sentar, olhei na direção de . Ele ainda estava ali. O cabelo bagunçado de um jeito lindo, a camisa meio aberta. Na boca, um sorriso murcho. Maravilhoso.
Nunca tive muitas certezas na vida, mas naquele momento, eu entendi: ficar longe dele era mesmo uma das coisas mais difíceis que eu já havia feito. E, até que eu me recuperasse, era necessário.

- ELE TE SEGUIU ATÉ O PARQUE? - gritou, os olhos arregalados enquanto ela mexia a panela de chocolate.
- Caramba, , você vai acordar todo mundo! - falei, pedindo para que ela abaixasse o tom.
- Desculpa. - ela colocou a mão na boca.
- Pelo que parece, sim. Sei que ele dormiu aqui ontem, aí hoje a tarde o me levou até o parque. Sei lá o que houve, ele pode ter nos seguido com o carro dele.
- , você precisa perdoá-lo. - disse, sentada numa cadeira enquanto picava as frutas. Olhei para ela. - Desculpa, mas é sério. Ele comprou uma viagem de aniversário pra você, te seguiu para receber só um beijo, vive dizendo coisas lindas...
- Eu entendo a . - disse, colocando um morango na boca. - Eu sei como é ser traída. Tipo, aconteceu antes do . Lembram do Chester?
- O Chester, aquele canalha! Eu me lembro, . - concordou com a cabeça.
- Então, , acontece que eu e o Chester estávamos muito apaixonados. Tudo era lindo, ele foi o meu primeiro grande amor. Namoramos por quase sete meses, até que eu descobri a traição. - torceu o rosto. - , eu sei como é estar apaixonada por uma pessoa e de repente perceber que você viveu uma mentira. Mas acho o seu caso bastante diferente do meu.
- Por que? - perguntei, lambendo uma colher de chocolate, atenta ao que ela falava.
- Porque o te ama mesmo. É impressionante o quanto você mudou ele. Tipo, você o transformou da água pro vinho. Não é exagero. - falou, honesta. - E então, sei lá, eu acho que ele merece uma segunda chance.
- Vamos com calma aqui. - pediu. - Você está dizendo que a deveria perdoar a traição do ?
- Estou, ué. Foi um erro, mas todo mundo comete erros. Até mesmo as pessoas que nós amamos. - deu de ombros.
- É, mas foi um erro muito feio. - disse. - Eu acho que ela deveria pensar mais um pouco a respeito. Não é fácil superar uma coisa dessas, .
- Bom, de qualquer forma, é importante que você saiba que fez toda a diferença na vida dele, . - finalizou, me olhando fixamente. - A decisão de perdoar ou não cabe à . De qualquer maneira, voltando ou não, estamos aqui por você, .

- MERDA, MERDA, CADÊ??? - berrrei, jogando o meu diário no chão.
Levei minhas mãos à cabeça, puxando meus cabelos. Mas que droga!
- Filha, o que foi que aconteceu? Por que você está gritando dessa maneira? - mamãe entrou no meu quarto, o hobby de seda preto encostando no chão enquanto ela vinha até mim.
Ela sentou ao meu lado na cama e me abraçou.
- Mãe, eu não consigo achar a minha lista... - balbuciei, fazendo um pouco de birra.
Eu sei que era estúpido, mas a lista era minha. Era algo pessoal, que eu não queria compartilhar com mais ninguém.
Era o meu segredo. Os meus desejos. Só meus, de mais ninguém.
- Mas, filha, faça uma nova! - ela me deu um beijo na testa.
- Não é questão disso, mãe! É só que me incomoda saber que a minha está por aí! Poxa, deve estar com alguém, e esse alguém está lendo ela.
Mamãe me abraçou mais forte. Não havia nada a se fazer.
- Vou perguntar para as empregadas se alguma delas viu esse papel por aí. - mamãe fez carinho nos meus cabelos. - Mas, , de verdade, acho que você deveria dormir agora.
- Tudo bem. - dei um beijo na bochecha dela. - Boa noite, mãe.
- Suas malas estão prontas, meu anjo? - ela perguntou.
Afirmei com a cabeça, apontando para as Pegase e Deauville da Louis Vuitton encostadas na parede do meu quarto.
- Durma bem, amor. Nós vamos achar a sua lista, ok? Prometo que ela voltará para você. - mamãe beijou o topo da minha cabeça e depois andou até a porta, apagando a luz.
Com a escuridão, dormi.

Segunda feira, 05:00 a.m. - minha casa

:

- Filho, você tem certeza que não esqueceu de nada? - minha mãe perguntou, colocando as mãos na cintura.
- Acho que não, mãe. - respondi, fechando a mala depois de jogar o carregador do meu celular lá dentro. - Você vai querer alguma coisa de lá?
- Você voltando vivo e com a namorada de sempre, tá tudo ótimo. - ela sorriu, me abraçando. Era mais baixa que eu, então apoiei meu queixo em sua cabeça.
- Espero o mesmo, mãe. - dei um beijo na testa dela.

Nos bancos do aeroporto, sentei-me ao lado de , que estava também ao lado de . Ela mexia no celular, os óculos escuros não permitindo que eu a olhasse nos olhos.
Mas, levando em consideração o clima que estava entre a gente, talvez seria melhor manter a distância. Pelo menos por enquanto.
Então, de repente, ela se virou para mim. Abriu a bolsa preta e tirou de dentro o meu moletom.
- Obrigada. - ela estendeu a blusa para mim. Eu a peguei. olhou dela para mim e deu um sorriso de canto.
- De nada. - falei, a ponta do meu dedo em contato com as mãos dela.
Ela se virou e começou a conversar com .

Segunda feira, 07:28 a.m. - primeira classe do voo 2033 com destino à Orlando

- O.k., vamos escolher os lugares. - disse, colocando a Carryall da Louis Vuitton no porta malas do avião. - Eu vou ao lado de , ao lado de , ao lado de e com o .
Bufei, rindo debochadamente.
- Não é uma escolha, então? - perguntei, de maneira irônica.
- Não. Desse jeito, a maioria fica feliz. - sorriu, dando risada.
- Aham. - concordou, sarcasticamente. Ela não me fitou para mim nem por um segundo, talvez pelo simples fato de não quer passar desconfortáveis horas ao meu lado.
Ela sentou-se na poltrona do corredor.
Comprimi meus lábios.
- Anh, será que você pode ficar ao lado da janela? - perguntei, olhando para ela.
Inspirando uma grande quantidade de oxigênio para dentro dos pulmões, ela se levantou e trocou de lugar.
- Obrigado. - agradeci e enfim me sentei.
Ela conectou o iPod nos Beats, enfiando logo os fones nos meus ouvidos. Eu fechei meus olhos, já esperando um silêncio infinito durante toda a viagem.
E então a aeromoça surgiu, citando as instruções em inglês e também em libras.
Quando o avião começou a decolar, congelei. Mordi o interior da minha bochecha, extremamente nervoso.
Travei minhas pernas, tentando inspirar e expirar o mais rápido possível.
Inesperadamente, tocou na minha mão.
Olhei para ela, que deu um mini sorriso. Ela entrelaçou nossos dedos.
- Isso ajuda? - perguntou, os olhos fixos em mim.
Concordei com a cabeça, aliviado por ela estar comigo.
E ficamos nos olhando por um bom tempo, até mesmo quando o avião já estava no ar.


Continua...



Nota da autora: Oi, gente bonita!!!
Em primeiro lugar, peço desculpas. Sim, eu sei que a última att foi em novembro do ano passado (vergonha). Sim, sei que estou atrasada e que algumas de vocês querem me trucidar. Hehe. Mas se eu parasse pra contar o tanto que a minha vida virou de ponta cabeça (e depois desvirou) de 2014 para cá, vocês não acreditariam. Bom, até acreditariam, mas não vou ficar tagarelando mais. Vocês só tem que saber que tá tudo muito corrido, muito mesmo! E que eu sinto muito pela demora. De verdade.
Esclarecendo isso, espero que vocês tenham gostado da att! Estão ansiosas para saber o que vai acontecer nessa mais nova viagem? Muaha.
Beijos, até a próxima! Má.




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