Burnin' Inside
Fic by: Manu | Beta: Lilá


Meu anjo,
São duas da manhã e eu estou há horas titubeando sobre o que escrever nesta carta, quais as palavras certas para me expressar, para conseguir colocar em simples palavras a confusão que se instalou dentro de mim desde o momento em que seus lábios se afastaram dos meus antes de você sair de meu apartamento e conseguiu levar os últimos vestígios de felicidade que eu poderia sentir. Desde aquele momento, meus lábios estão secos, minhas mãos formigando à procura das suas e meus olhos ardidos, de tantas noites em claro pensando em todos os momentos bons que passamos juntos.
Eu estou queimando, meu amor. A chama que no início era apenas uma faísca agora se apodera de todo o meu corpo, percorrendo a minha pele sem dó, deixando meus átomos em brasa, mas nunca terminando o seu trabalho. Ela não me deixa queimar completamente e virar cinzas, acabar com a dor, e renascer delas como uma fênix. Ela gosta de me ver sofrer à noite, de me ver cortando minha própria pele, em um ato de desespero, de ver o sangue se misturar com a enxurrada de lágrimas que cai de meus olhos.
Esse fogo me lembra de algo que eu sempre soube, mas que tentei negar minha vida toda: o amor não é fácil, não é preto no branco. Ele é como um arco-íris se transformando e o sol depois de uma tempestade. Confuso e inesperado.
Ele destrói todo tipo de pensamento positivo que eu poderia ter e me faz lembrar que você me trocou por uma vida falsa, cheia de rancor e lágrimas.
Você sempre foi o tipo de cara que ninguém realmente prestava atenção. Não era nerd, não era um atleta. Era um esquisito que andava com a esquisita. Motivo de piadas, mas não de verdadeira atenção. E eu sempre estava ali por você, tentando te animar quando batiam em você, te dando esperanças quando você ficava caidinho de amores pelas garotas populares e gostosas, mesmo sabendo que nunca – nunca mesmo – teria chance com elas. E caindo de amores por você.
Desde o início, . Ou você estava cego demais pensando no impossível, ou não queria ver que meu sorriso era realmente feliz somente quando era destinado a você, pois tinha medo de encarar isso. Como o medroso que você sempre foi e que eu sei que ainda é.

“Lembre-se. É só ser invisível.” - pensei, enquanto olhava o portão da minha nova escola. Entrei pelo portão, recebendo um papel do porteiro, que continha um mapa da escola, com a secretaria circulada de vermelho. Estava tão na cara que eu era caloura? Eu odeio esses rótulos que criam. Calouros são novinhos, sem experiência, sem isso, sem aquilo. Isso me irrita. Como se, por serem veteranos, fossem mais espertos. Não duvido nada que metade da sala tenha rodado ano passado.
Sério.
Olhei para o mapa e percebi que a secretaria ficava no prédio três. Ok. Bom.
Agora alguém pode me dizer onde que é o prédio 3? Que mapa de merda.
Olhei para os lados, tentando identificar alguém naquele pátio que não tivesse silicone ou tomasse hormônios para parecer másculo. Ou que estivesse ocupado demais matando alguém pelo computador.
Senti alguém cutucando meu ombro e me virei, com uma carranca na cara, que sumiu após ver o dono da mão.
- Meu nome é e... eu estou perdido. É o meu primeiro dia de aula e tipo, você poderia me dizer onde fica o prédio três? Eu preciso mesmo encontrar a secretaria, e pegar o número do meu armário, e os horários das aulas, porque eu não posso me atrasar no primeiro dia de aula! Quer dizer, imagina se eu chego atrasado e é um professor bem chato, daqueles gordos e mal-comidos, e me dá uma folha com 25 questões para fazer, de coisas que a gente aprende só na faculdade? Isso não ia ser legal. Então, por favor, me salve da reprovação, e me diz onde é esse raio de prédio três? Nunca vi mapa tão ruim na minha vida e... – comecei a rir da cara de desesperado dele.
- , não é? – ele confirmou com um aceno. – Respira um pouco. Eu sou nova aqui também, não sei onde é o prédio três, mas, hm, a gente podia procurar juntos, não é?
- Ah – as bochechas dele começaram a ficar vermelhas. Que fofo! – Claro, claro. Qual o seu nome, a propósito?
- , mas pode me chamar de – estendi minha mão, a qual ele apertou.
- Me chama de – sorriu.


Seu sorriso me assombra à noite, revirando na cama. Aquele primeiro sorriso, tão sincero, cheio de emoções – medo, felicidade, insegurança – que fez com que eu me apaixonasse por você. O sorriso que me fazia suspirar, pelo qual eu fazia de tudo para ver.
O amor é para os fortes, que agüentam o que vier pela frente, sem medo do que pode acontecer. Que enfrentam as memórias do passado e se curam rapidamente.
Mas eu sou fraca. Extremamente. Meu coração sangra ao pensar em você, sangra ao pensar em como fui tola ao pensar que, sim, eu tinha chances com você desde o momento que seus lábios se afastaram dos meus, tensos, naquela festa. Eu estava radiante naquele momento. Plena. Pela primeira vez eu sentia meu coração bater feliz e a paz se apoderar de meu corpo. Minha respiração, descompassada, era de alívio. Alívio por ter uma resposta depois de meses em agonia. Você gostava de mim – do modo que eu queria -, afinal.
Agora, quando acordo e vejo nossa foto ao lado de minha cama, percebo como nunca estive tão errada.

Break your heart do Taio Cruz tocava alto no andar de baixo, onde, provavelmente, Amber e suas amiguinhas estavam se esfregando em um jogador de futebol qualquer, bêbadas ou drogadas demais para se importar no que iria acontecer. Eu e havíamos subido há meia hora e encontrado uma salinha de TV. Ele contava piadas e eu ria, contando as bolinhas marrons no seu olho.
- ? – falei, vendo ele parar de contar a piada e olhar direto nos meus olhos. Isso me desarmou.
- O que foi, ?
- Isso.
E o puxei pela nuca, colando nossos lábios em um ato desesperado. Era como se eu estivesse beijando um raio. Mas bem, não realmente. Por que não dá pra beijar um raio sem ser... bem... eletrocutada. Mas você entendeu.
Arranhei sua nuca e suas mãos, que até o momento estavam estiradas ao lado de seu corpo, provavelmente pelo choque, apertaram a minha cintura, fazendo com que um arrepio percorresse meu corpo, e parando em pontos estratégicos, fazendo meus dedos do pé se contorcerem de desejo dentro de meu tênis.
Sua língua contornou minha boca pedindo permissão, que logo foi concedida. Pressionei meu corpo ao dele, tão forte que eu podia jurar que sentia seus batimentos cardíacos descompassados, quando sua língua, quente, percorreu toda a minha boca e seu hálito de menta (causado pelo chiclete que ele havia mascado) preencheu-a.
Lembrei-me que precisava respirar quando meus pulmões gritaram por ar e puxei seus cabelos, o afastando de mim.
Naquele momento, mesmo a distância sendo mínima, pareciam quilômetros.
Eu precisava dele.
Sempre.


Eu fui desesperada. Uma otária. Eu fiz o que jurei que nunca faria: deixei meus sentimentos me guiarem. Eu dormia, como faço agora, e acordava pensando em você. Eu chorava por você.
Está tudo voltando ao começo.
Mas dessa vez eu não te tenho aqui.
Eu te amo, . Sempre te amei, sempre vou te amar. Te amo apesar das dificuldades, te amo incondicionalmente, mais do que as minhas células conseguem suportar – chega a doer-, te amo com todos os seus defeitos e todas as qualidades. Eles fazem com que você seja único, com que você seja meu.

Estávamos na Starbucks ao lado de minha casa e, enquanto eu tomava apenas um mocca, comia um muffin, tendo mais 4 à sua espera. Esse garoto comia como um urso. Estávamos em silêncio desde que nos sentamos, mas não o tipo de silêncio que te deixa incomodado. Era um silêncio bom, que dá vontade de deixar intacto. Bem, pelo menos é o que eu acho. - ? – perguntou, fazendo-me o olhar. Acenei com a cabeça, como se pedindo para que ele continuasse. – O que você mais gosta em mim? – A pergunta me pegou de surpresa, fazendo com que minhas sobrancelhas se levantassem. - Eu... eu gosto de como você é extremamente mau-humorado de manhã – ele riu -, gosto de como seus olhos brilham quando você olha para algo que gosta. Gosto do seu jeito com as crianças, sempre paciente e atencioso. O seu sorriso, que poderia iluminar o lugar mais escuro e lúgubre e a sua risada que preenche todo o recinto. Eu adoro como você se desconcentra facilmente e, ao mesmo tempo, como quando você se concentra totalmente, nem uma bomba nuclear te tiraria daquele estado. Eu amo o seu costume de fechar um dos olhos quando pensa demais e mexer nos cabelos quando fica extremamente envergonhado. Eu amo tudo em você, desde o pior defeito, até a melhor qualidade.

Você é o amor de toda a minha existência, tenho a plena certeza de que nossas almas, de algum modo, estão predestinadas a se juntar e se abraçar em baixo de um manto de estrelas e com a trilha sonora mais linda que se pode ouvir. Talvez elas estejam se procurando há dois mil anos e talvez em todos eles, elas tenham sido obrigadas a se separar por milhares de motivos, talvez em todos esses dois mil anos elas tenham perseguido uma jornada, sem saber o que estavam fazendo. Uma jornada que terminava, ainda termina e quem sabe quando não terminará em dor e perda. Toda essa dor, todo esse fogo que me queima aos poucos, avassalador, destruidor, é apenas outro dos milhares de obstáculos que já enfrentamos. Talvez na próxima vida nós nos encontraremos de novo e então, finalmente, descansaremos em paz.
Amar, , é sentir que poderia pintar o céu de rosa para o outro, é sentir que seu coração bate pela felicidade dele.
Mas esse amor, que todos querem, que todos sonham com, se tornou a minha kriptonita. Ele me destrói por dentro, me rasga. Eu me tornei um zumbi sem teu abraço, sem teus beijos. Não sei viver sem eles.

- Não dá mais, – ele disse, tirando o rosto de suas mãos e me olhando.
- Co-como assim?
- Eu não posso mais mentir para você. Isso está me matando por dentro. Eu não consigo mais fingir que te amo, que te quero. Eu te amava, no começo. Era incrível como você me fazia pleno, feliz. Chegava a assustar algumas vezes. Eu pensava em você inteiro. Lá estava eu, fazendo a prova quando me pego pensando em como seu rosto fica lindo quando você está concentrada, ou como seu cheiro, sempre diferente, me intoxicava.
Eu funguei, sentindo as lágrimas se acumularem em meu olho.
Ele continuou:
- Mas então, ela veio. Eu sempre havia sonhado com ela, você sabe. Ela era o brinquedo que era caro demais, que eu nunca poderia ter. E que eu estava ganhando, de presente. Eu não pude resistir. Eu deixei que o desejo carnal apagasse qualquer vestígio de você de dentro da minha mente e só conseguia pensar nela. Ela era meu tudo. Meu sol, meu ar. Então, eu me decidi, .
Deixei que as lágrimas escorressem pelo meu rosto, queimando-o como ferro em brasa. Meu coração, que há alguns minutos estivera tão feliz, sangrava de dor, perfurado, dilacerado.
- Me desculpe. Você é e sempre será a minha pequena, minha melhor amiga. Mas apenas em minhas memórias.
Aproximou-se de mim, encostando de leve seus lábios nos meus. Estava tão entorpecida que nem ao menos senti aquela conhecida faísca, as borboletas no estômago.
Dor, dor e mais dor. Era tudo que eu sentia, e tudo que eu viria a sentir.


O que me trás à razão de toda essa carta, todas as lágrimas que rolaram pelo meu rosto, todos os cortes em meu braço.
Não vai ser dessa vez, meu amor. Nossa chance termina agora, cada um em um canto. Você se decidiu.
E eu também.
Sinto medo, mas alívio. Um paradoxo que me fascina.
Estou desistindo dessa vida. Infelizmente, nossa jornada é parada bruscamente e será continuada apenas na próxima vez, da qual eu espero que façamos tudo certo.
Com toda a minha vida, todo o meu coração e todo o meu amor.
O definitivo último beijo,
Da alma que irá te esperar sempre,
.


n/a: Me arrepiei escrevendo essa fic, sério.
A idéia me veio do nada, e eu não dormi direito por não terminar. Amo esse tipo de fic, trágica. Pra mim é mais fácil escrever sobre dor que sobre felicidade.
Anyway, queria agradecer a Fernanda (minha bubu <3) por ler essa fic e suportar toda a minha ansiedade, obrigada por tudo, mesmo. À Jaque, por me ajudar com o nome da fic, te admiro demais, não só por isso. E a Juliana, beta linda, a gente não se falou muito, mas eu te agradeço infinitamente por betar essa fic e realizar meu sonho de ter uma fic no ffobs. Obrigada pela paciência he. E agradeço à você, quem seja, que leu essa fic <3
Beijo,
Manu.
(btw, eu aceito bem críticas ok? Haha)


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