Escrita por: Lêh Barros
Betada por: Andy
A partir do 23, betado por Laura Aquino




CAPÍTULOS: [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] [15] [16] [17] [18] [19] [20] [21] [22] [23] [24] [25]



Capítulo I -


POV'S

‘Vai chover...’. Estava parada na janela, sentido o vento entrar pelo quarto e bagunçar as folhas que estavam em cima da minha escrivaninha. A cada lufada de vento que batia eu podia sentir o cheiro bom de terra e grama molhadas adentrando minhas narinas e chegando até os meus pulmões.
Não sei por que a sensação boa e reconfortante que eu sentia raras vezes era trazida sempre quando a chuva ameaçava a chegar.
! Ôh , filha! Desça para comer alguma coisa e ir logo para a escola!’
‘Já vou mãe! Estou terminando de me arrumar!’. Merda! Esqueci que ainda eram seis horas da manhã de uma quarta-feira e que dali a duas horas eu teria que estar sentada em uma sala assistindo a aula de geografia com o Sr.Turner e com pessoas que, apesar de já estar no meio do ano letivo, eram desconhecidas para mim. O Sr.Turner é um bom professor e ótimo como pessoa também, apesar de aparentar ser mais velho do que era e de ter a fisionomia de uma pessoa mal humorada, mas o que me faz ficar sem ânimo para assistir suas aulas (aliás, sem ânimo de assistir todas as aulas) era que eu sabia que quando terminassem, não iria encontrar com Isabelle, Brianna e Bárbara.
Ainda posso sentir lágrimas nos olhos quando lembro do dia em que me despedi delas, coloquei minhas malas no carro, entrei e observei as três dando acenos enquanto eu me afastava, saindo de Los Angeles e indo em direção a Charlotte, na Carolina do Norte.
Sempre fomos grudadas. Estudávamos há seis anos juntas no mesmo colégio e na mesma sala, então fazíamos tudo juntas. Principalmente eu e Isabelle, com quem eu convivi a maior parte da minha vida. Nos conhecemos desde meus dois anos de idade, e hoje, com 16 anos, nunca pensei em que seria tão difícil ter que me separar dela assim tão de repente.
! Desce logo, menina! Ainda está dormindo, é?’
‘Já disse que estou indo, mãe!’. Mas que merda, eu tinha que descer para o café da manhã e ainda nem tinha começado a me arrumar. Olhei em volta do meu quarto à procura das minhas roupas e da minha mochila. Quando as localizei, pensei por dois minutos se realmente eu iria para o colégio... Não, não adiantava. Teria que ir. Se não fosse, com certeza mamãe iria me encher de perguntas do porquê eu não ir, se eu estava sentindo alguma coisa, se fizeram alguma coisa comigo e enfim. Não queria passar por esse interrogatório todo e fingir que estava tudo bem. Era mais fácil ir para o colégio.
Assim, peguei a toalha, calcinha, sutiã e a saia do colégio e fui ao banheiro, onde tomei uma boa, relaxante e quente ducha. Terminei de tomar banho, me enxuguei e coloquei a roupa. Fui para o quarto, coloquei a blusa e o meu all star vermelho (que sobressaía na saia preta e blusa branca do colégio). Minha mãe dizia que não combinava nada, mas, e aí? Como se eu me importasse com o que combinava ou não. Aliás, eu ia para o colégio, não me interessava em estar como uma modelo.
Embolei o meu cabelo vermelho, grande e pesado em um coque mal feito, peguei meu casaco preto, a mochila, e fui descendo as escadas em direção à cozinha. Dei bom dia para minha mãe e um tapa na cabeça do meu irmão, que também me batia em resposta enquanto comia seus ovos com bacon. Me sentei à mesa, comi três torradas com geleia de morango e suco de laranja, enquanto mamãe bebia apenas um chá com biscoitos.
Assim que todos terminamos, saímos de casa. Mamãe se despediu de mim e do meu irmão e foi direto para o carro. Logo depois vi o mesmo desaparecendo no final da rua. Enquanto eu pegava meu iPod e colocava para ouvir minha banda preferida, meu irmão entrou em um Toyota Corolla prata, que tinha mais dois garotos dentro, usando o mesmo uniforme que ele, até mesmo o casaco do time de futebol, que meu irmão também usava. Phill (O nome do meu irmão é Phillipe, mas ele não gostava muito, pois acha muito "fru fru", então o chamamos apenas de Phill. Menos mamãe, que ainda o chama pelo nome) é o típico garoto que se junta com os "fodões" da escola e vira um deles. Ao contrário de mim, Phill fez muitas amizades assim que nos mudamos e agora era um dos idolatrados garotos do colégio. Coloquei a música no último volume e fui andando a caminho do colégio.
Já estava na metade do caminho quando senti as primeiras gotas de água caírem sobre meu casaco. Então coloquei a mochila de lado e procurei o guarda-chuva. "Mas que droga!" rosnei alto quando não encontrei o guarda-chuva na bolsa e lembrei que tinha deixado na parte dos fundos da garagem da última vez em que o usei. As gotas começavam a cair mais rápido e a serem mais densas. Então comecei a correr para chegar ao colégio sem estar molhada. Não que eu não gostasse de tomar banho de chuva (e eu amava isso!), mas chegar no colégio toda molhada seria motivo de olhares e eu não queria sentir três mil olhares em cima de mim. Queria estar longe daquilo.
Quando cheguei, estava com várias marcas de pingos d'água no casaco, mas nada alarmante, e então, assim que pus o pé no corredor do grande prédio cheio de alunos, ouvi o barulho da tempestade que desabava lá fora, assim como ouvi também gritos de meninas desesperadas entrando no corredor por causa da chuva que molhava seus cabelos secos e lisos com auxilio de uma escova alisadora.
Oito horas e o sinal tocou, avisando os estudantes para irem para suas aulas diárias de quarta-feira. Segui meu caminho e subi as escadas que se encontravam no outro corredor repleto de alunos. Uns apressando-se para a aula e outros calmamente conversando e subindo. Cheguei ao terceiro andar, fui para o primeiro corredor à direita, entrei na segunda sala que já estava com uma boa quantidade de alunos e me sentei na primeira cadeira da terceira fileira. Ao meu lado sentava-se . Ela ficou minha amiga logo após o meu primeiro dia na escola e desde então passamos o tempo que temos na escola juntas e com algumas mais pessoas da nossa turma.
Como toda turma, sempre tem aquela pessoa que gosta de ser a fodona e essa pessoa da minha turma era . Ele achava que todos queriam ser ele ou ser seu amigo (embora eu acabei achando isso também com o passar do tempo e pelo modo de como todos agiam quando se tratava dele) e com isso se exibia na frente de todos com o seu skate, e outras vezes, tocando bateria em uma banda de heavy-metal. Se já não bastasse isso, ele ainda tinha a capacidade de ser lindo (É, eu achava ele lindo sim). Desfilava com cabelos bagunçados devido ao vento que passava entre eles, olhos brilhantes e uma pele impecável. Porém, beleza superficial não é tudo para mim. Ele era exibido, metido a sabichão, arrogante e rodeado de garotas que suspiravam a cada merda que ele dizia. Ele era realmente um completo idiota, mas parecia que ninguém via isso - ou não queriam admitir.
chegou e já foi para o fundo da sala, onde sempre se sentava com a sua turminha. Jogou seu skate em cima da mesa e foi ao encontro das garotas que o babavam. Enquanto ele falava algo que as faziam rir, elas deixavam a mão dele fazer o contorno de suas cinturas, o que o deixava com um sorriso malicioso no roso. Cretino aquele garoto.
‘Por favor, sentem-se e abram a apostila no capítulo seis. O assunto de hoje será População e Economia.’ dizia o Sr.Turner, assim que adentrou a sala e abriu seu notebook em cima de sua mesa.
‘Oba! Que aula interessante! Estou louco para aprender!’ falou alto e todos então riram de seu comentário tosco.
‘Se esse é o seu desejo, Sr. , vamos atênde-lo. Mas em todo caso, mantenha-se calado, por favor.’ Sr.Turner disse em tom de voz calmo e sério, enquanto o fodão ria e trocava soquinhos com seus amigos, também idiotas como ele.
‘É, mais um dia tendo que ouvir as idiotices do e sua turminha de capachos.Que dia empolgante!’ disse baixo e rindo em minha direção. Dei um sorriso de desânimo.
‘É, mais um dia.’ bufei. Olhei para trás e o fitei. Quando seria que ele iria se tocar e se dar conta de que ele era um grande estúpido? Voltei a olhar para frente e prestar atenção na aula. Impossível.

Narrador Avulso:

Lá fora chovia forte e o céu era negro. Tudo indicava que seria mais uma semana chuvosa e fria, assim como amava. Porém, as coisas que estavam por vir estavam fora de sua rotina. Ela não tinha a mínima ideia do que aconteceria dali para frente.


Capítulo II -


POV'S

Enfim,depois de dois longos tempos de aula, finalmente pude respirar o ar livre que corria pelo campus da escola. Fui a cantina com e compramos alguma coisa para comer. Sendo assim, andamos até as mesas de concreto que estavam do lado de fora da cantina.
e eu comemos e conversamos sobre o que poderíamos fazer no final de semana que se aproximava. Sempre fazíamos alguma coisa para nos distrairmos durante o tempo que tínhamos livre no final de semana. Eu poderia dizer que fazíamos tudo aquilo que todos os adolescentes normalmente faziam em uma sexta-feira à noite ou sábado à noite. Mas não. Não íamos muito em shoppings e principalmente em festas. Não. Não éramos antissociais, como todos estão acostumados a pensar, (só um pouco). É que nós preferíamos algo mais calmo, que nos relaxasse e que não precisássemos sair para comprar roupas novas ou nos importar muito com a aparência. Gostamos mais de sairmos de um jeito mais natural e confortável.
Decidimos ir ao cinema para assistirmos um filme de época que estava estreando, que se passava no período da 1ª Guerra Mundial. Depois iríamos ao Starbucks, beberíamos alguns cafés, comeríamos alguns muffins também e conversaríamos até a loja nos "expulsar" de lá, como já haviam feito antes. Apesar de eu e Julie nos falarmos todo tempo na escola, sempre tínhamos alguma coisa para falarmos por horas e horas quando saíamos.
'Então , eu estava na aula de biologia ontem, ouvindo o Sr.Carter falar e falar, quando ele perguntou sobre o ciclo do nitrogênio. Eu ia começar a falar, mas aí Jake foi mais rápido que eu e começou a responder a pergunta perfeitamente bem! Fiquei comendo mosca na hora... ele é muito inteligente.' sempre ficava com os olhos brilhando quando falava de Jake Manson, o aluno que entrou no meio do ano no colégio. E para a felicidade dela, estava fazendo as mesmas aulas que ela.
'Nossa , você está super afim dele, não é?' falei, mandando uma piscadela.
'Super afim? Ah, que isso !' ela disse, fazendo bico. 'Eu só estou impressionada por algum garoto naquela sala saiba realmente das coisas.' Own, que fofo, ela estava corando. HAHAH
'Sei... tá bom. Você não está super afim dele. Você está é apaixonadinha! Own, estou emocionada!' eu disse, colocando a mão no peito esquerdo e suspirando.
'Já te disse que eu vejo Bones? Sei direitinho como matar alguém sem deixar vestígios.' ela falou com cara de psicopata e ao mesmo tempo esmagando um biscoito que estava em sua mão.
'Sai de perto de mim, sua louca!' eu disse, fazendo cara de medo e rindo logo depois.
Conversamos mais um pouco até que o sinal, anunciando o término do intervalo, tocou. Agora seria aula de filosofia. Essa era a única aula em que eu realmente prestava atenção, até porque, em modéstia parte, eu dominava essa matéria.
Me despedi de , que teria aula de química agora. Então me direcionei até o outro bloco do colégio e fui até a sala que teria a aula. Cheguei na sala e me sentei ao lado de Laura, que sempre era a minha parceira dessa aula.
'Oi ! Como vai a minha depravada?' ela disse, me mandando um beijo.
'Bem. Só esperando o tempo certo para te quebrar a cabeça.' Segurei o caderno como se fosse um taco de baseball.
'Já vi que hoje você está feliz. Quando a chuva chega, você se liberta. Isso dá medo em pessoas normais, sabia?' Será que eu deixava tão claro assim que os dias de chuva eram os meus preferidos? Acho que eu deveria saber disfarçar melhor.
'Eu diria feliz por saber que hoje irei arrumar um tempinho só para armar um plano maquiavélico para te matar.' eu disse, fazendo a mesma cara que fez poucos minutos atrás no intervalo.
'Eu sei que você me ama garota, não precisa disfarçar.' Ah, como ela era convencida. Parecia até o... o que? Não, eu já estava prestes a comparar minha amiga com aquele garoto! Aff, não, tadinha dela.
A sala já estava com todos os alunos dentro, inclusive a professora já estava presente na sala de aula, até que abriu a porta, fazendo todos o olharem.
'Seja bem-vindo Sr. . Queria saber qual seria a sua triste e emocionante desculpa por chegar atrasado novamente em minha aula.' A srt.ª Lynn falava quase que ironicamente, recostada na mesa, olhando e folheando as páginas do livro, sem sequer olhá-lo durante todo o tempo.
'Hãã... desculpe-me srt.ª Lynn. Eu fiquei preso, hãã, na enfermaria. Acho o sanduíche de atum que comprei na cantina me fez mal.' ele disse, passando a mão no estômago e fazendo cara de dor. '
'Tudo bem então, sente-se.' A professora falou e ele saiu em direção ao fundo da sala (como sempre) com um sorriso de lado.
'Ah, e quando começarem a vender sanduíche de atum na cantina, me avise. Adoro esse sanduíche.' ela soltou, como se fosse uma bola de fogo em direção a ele. Ah, eu adoro a srt.ª Lynn! Ela era uma das únicas pessoas que conseguia por aquele garoto em seu devido lugar. Agora ele revirava os olhos por causa da mancada que dera, mas mesmo assim, ele ainda ria.
'Então, devido às notas das últimas provas, eu tive a ideia de mandá-los fazer um trabalho para ajudar com suas notas. Devo dizer que as notas foram mais baixas do que eu havia previsto. Poucas pessoas já passaram na minha matéria. Devo citar a senhorita , pois obteve excelentes notas em todas as minhas avaliações.' ela disse, sorrindo em minha direção. Eu disse que dominava essa matéria.
'Entretanto, outras pessoas, se não obtiverem nota boa neste trabalho, já considerem bem possivelmente reprovadas.' Com um olhar quase cortante, ela olhou para , que brincava com a borracha, impaciente. 'Pois então, eis aqui minha escolha de tema do trabalho: quero que vocês apresentem a mim um trabalho sobre algum filósofo, à escolha de vocês. Falem sobre suas premissas, sua vida, sobre algum texto ou frase de sua autoria, e enfim. Quero também trabalho manuscrito.' Nesse momento, todos começaram a falar e fazerem caras de reprovação. Também, quem gostaria de fazer um trabalho manuscrito com impressora e computador existindo? Mas a professora continuava falando. 'Eu não iria deixar fácil assim, não é mesmo? Apenas copiar, colar e depois imprimir. Não e não. Quero que vocês tenham esse trabalho e ainda, quero com as palavras de vocês próprios.' Pronto! Agora estavam quase todos tendo um enfarte. Porém a srt.ª Lynn ainda dizia calmamente 'Como quero que todos fiquem com boas notas, irei deixar que façam em duplas. Agora, organizem-se e daqui a uns minutos irei começar a falar sobre alguns filósofos interessantes.'
Bom, eu não precisaria me importar com esse tal trabalho, afinal, eu já estava com notas ótimas, porém eu iria fazer esse trabalho com Laura, porque ela estava querendo alguns pontos. Estávamos falando sobre o que possivelmente poderíamos fazer e então ouvi chamarem por mim. Olhei em direção da mesa central e vi que srt.ª Lynn me chamava. Então me levantei e caminhei em sua direção.
'Srt.ª , sei que a senhorita é uma das melhores, se não a melhor aluna da minha classe. Então queria lhe pedir um favor.'
'Sim, senhorita.' Por que será que após eu lhe responder, senti um frio na espinha e pensei que talvez não viria nada de bom após isso?
'Pois então, queria que você pudesse ser a dupla de uma pessoa que está muito, necessitada digamos assim, desses pontos para passar.'
'Ah, mas claro, Srt.ª Lynn. Acho que posso sim ajudar, sem problema.' Não sei o porquê o frio na espinha e toda aquela tensão antes de receber o favor, afinal, ajudar alguém não deveria ser tão difícil assim.
'Ah, ótimo! Muito obrigada. Agora, sr. , poderia vir até aqui, por favor?' FRIO NA ESPINHA, FRIO NA ESPINHA, FRIO NA ESPINHA 'Acredito que o Sr. não tenha formado uma dupla ainda, certo?' NÃO! POR FAVOR, ELE NÃO!
'Não, ainda não.' DESGRAÇA, DESGRAÇA, ALGUÉM CALE A BOA DESSA MULHER!
'Pois então, como quero ajudá-lo muito, pedi para que a srt.ª faça dupla com o Sr. para ajudá-lo a concluir o trabalho no qual necessita muito.' E nessa hora nos olhamos e eu quase corri e me joguei da janela. Eu poderia fazer com qualquer um daquela sala, menos ele! Como eu iria aguentar aquele garoto idiota que tanto sinto repulsa? Pior, como eu iria aguentar ficar ao lado dele? AH, preferia a morte!
'Hum... Está bom né. Depois nos falamos então, .' ele me falou indiferente e saiu para o seu lugar. Eu apenas o olhei, sorri fraco para a professora e fui andando, ainda em choque, para o meu lugar.
'Ah , eu estava pensando e... Nossa, o que houve com você, menina?' Laura me olhava de um jeito estranho. 'Parece que a Samara acabou de te fazer uma visita.'
'É... Foi quase isso.' eu disse quase que estaticamente, olhando para Laura, que estava meio assustada.
'Fala logo então garota, o que houve.'
'Não vou mais fazer o trabalho com você. A Lynn falou para eu fazer com o , para ajudá-lo com a nota.' Ao pronunciar o nome dele, senti meu estomago revirar.
'Puta merda!' Laura soltou, passando a palma da mão no rosto. 'E você aceitou?'
'Eu não sabia que seria justamente ele.' eu disse, ainda meio desnorteada.
'Bom, boa sorte. Ah, creio que agora seja melhor que você passe a beber frequentemente.' Foi a última coisa que ela me disse. A professora começou a falar sobre a matéria e tudo o que eu fiz foi prestar atenção na aula. Não queria pensar sobre o que eu tinha acabado de aceitar. Além do mais, eu não queria ficar atormentada por causa dele, me recusei a essa decadência.
Depois da aula de filosofia, segui para aula de biologia laboratorial, onde passei por mais dois tempos de 50 minutos e, por fim, o dia de aulas havia acabado. Eram 13:15 da tarde e eu estava cansada, andando calmamente a caminho de casa. Agora estava chovendo e eu estava consideravelmente ensopada, mas não fazia mal algum, pois me sentia mais leve a cada pingo d'água que penetrava minha roupa e tocava minha pele. Meus cabelos estavam soltos agora, devido a força da chuva que desmanchou o coque. Sentia-os pesados caindo sobre minhas costas, juntamente com minha mochila, que estava mais cheia devido aos livros que peguei a mais no meu armário do colégio. A chuva parecia aumentar mais a cada passo que eu dava, mas mesmo assim eu continuei no meu ritmo normal, olhando as pessoas correndo da chuva, se protegendo dela com seus guarda-chuvas. Olhava também como as gotas tocavam o chão, como elas pareciam violentas em seu trajeto pelo ar, mas quando atingiam o chão, pareciam lavar as ruas e calçadas com leveza. É incrível como esse fenômeno natural me faz reparar em coisas tão pequenas e simples, mas ao mesmo tempo tão fascinantes e consideráveis. A chuva é incrível. É tão simples e linda. É tão suave e ao mesmo tempo violento. É algo grande e ao mesmo tempo tão rica em detalhes. Ela tem o poder de acalmar as aflições. Acho que é por isso que sempre que chove eu aprecio cada momento, cada gota d'água que cai. Realmente, eu amo a chuva.

______x______x_____x_____x______x______x______x_____

Parecia que eu tinha me tele transportado para a porta de casa. Há poucos minutos atrás eu estava há três quarteirões de casa andando na velocidade de uma lesma, e agora estava parada na porta de casa. Entrei, joguei a mochila e o tênis no canto da sala de estar e subir correndo para o quarto. Precisava tomar um banho e trocar a roupa molhada, senão, do jeito que eu era, iria ter tudo aquilo com “ite” se passasse mais vinte minutos com aquelas roupas encharcadas. Peguei uma nova calcinha, uma calça de algodão preta e uma blusa roxa que ficava grande e meio larga em mim, o que era bom, pois assim não precisaria usar sutiã. Assim que tomei meu banho, sequei meu cabelo e fui para a cozinha procurar algo para almoçar. Retirei uma lasanha bolonhesa do freezer e coloquei no microondas. Enquanto isso, fui até a sala e coloquei em algum canal de filme, que passava alguma coisa sobre os making off de um filme super legal. Passado alguns minutos, ouvi o apitar do microondas avisando que a comida estava pronta.
Peguei com cuidado, levei até a mesa, peguei um refrigerante e assim almocei. Minha mãe e meu irmão almoçavam fora. Minha mãe porque passava o dia todo no trabalho e meu irmão almoçava com os amigos no club de futebol. Eu sempre almoçava sozinha em casa, a não ser quando almoçava comigo em casa ou combinávamos de comer fora. Às vezes me perguntam sobre meu pai. Bom, o que posso dizer é que ele nos largou por causa de uma briguinha idiota com a mamãe e desde então não tenho mais contato com ele, e nem quero. Isso faz uns dois anos, mas ainda não gosto de falar nisso, porque me faz lembrar da raiva que sinto por ele ter sido tão idiota, mas enfim, ele não nos faz falta.
Depois de comer, me deitei na sala para descansar um pouco e ver alguma coisa de interessante. Parei no canal que estava passando Harry Potter e o Cálice de Fogo, um dos meus preferidos. Então, depois de meia hora, caí no sono que já estava previsto assim que me deitei no sofá. Apaguei por algumas horas e quando acordei já estava anoitecendo e meu irmão estava fazendo barulhos na cozinha.

_____x_____x______x_______x_______x______x_____

Depois que me levantei, subi até o meu quarto e liguei o notebook. Levei até a cama e me recostei na cabeceira, enquanto isso, ouvi o barulho do carro de mamãe estacionar na garagem. Fiz meu login no facebook e fiquei vendo o que as minhas amigas de Los Angeles tinham postado no meu mural, e então vi que tinha vindo falar comigo pelo chat:

: oooi ! Não te vi na hora da saída hoje.
: ooi :D Ah, eu saí da aula de biologia cansada e cheia de fome x_x nem pude te esperar. Foi mal
: atá, não tem problema, pensei que tivesse acontecido alguma coisa.
: ah... não. Foi só isso mesmo. E aí? Ficou babando o Jake a aula de química toda? hahahaha
: hahahaha você é muito engraçadinha :x eu só tive que ficar olhando pra ele porque ele sentou na minha frente hoje u.ú
: AAAH,jura? *-* você deve ter adorado, né? E aí, sentiu o cheio dele? Que tipo de perfume ele usa? (6)
: !!! Para com isso menina u.ú Eu não adorei... eu só não me incomodei. tbm, ele não usou perfume hoje u.ú
: AAAAAH! Eu sabia que você era afinzona dele *---* O que falta pra você ir falar com ele, hem? Finge que tem dúvida no ciclo do nitrogênio e pede para ele ter dar uma aulinha particular ;D
: Você é fd mesmo né? u.u Eu não admiti nada. Aliás, eu que não vou falar com ele. u.u
: Não adianta de nada você ser cabeça dura, sabia? anyway, ainda sinto que vocês dois vão ter um rolo aí 8)
: af . Mas, e você garota? ;D O que me conta de bom?
: ixi, nada, meu bem. Sou só eu e minha mão até agora x_x
: hahahaha. Relaxa , com certeza você vai esbarrar com algum garoto interessante por aí.
: Espero que sim \õ/
: Em último caso,você ainda tem o ué xD
: VIRA ESSA BOCA PRA LÁ PORRA! Prefiro morrer sozinha do que algum dia ter alguma coisa com aquele otário u.u
: Ah, que isso amiga. Ele gosta do mesmo tipo de música que você, das mesmas bandas. Vocês até se esbarraram no show do Metallica que teve aqui no início do ano. E você acha ele bonito que eu sei ;D
: Detalhes, u.ú Sim, ele é bonito, gosta de músicas pesadas, toca em uma banda super boa. Mas, você já não percebeu como ele é? Idiota, egoísta, exibido, arrogante e ainda sai com todas aquelas garotas vadias. Ele não está nem aí para a garota desde que ela se entregue para ele fácil. Eu não gosto disso, muito pelo contrário.
: Isso com as outras '-' e tbm você nunca conversou com ele por mais de 2 minutos! , as vezes ninguém é o que aparenta ser...
: E o que garante que ele não será assim comigo? e...ah! Ele sendo assim ou não comigo, não me importa. Quero distância dele e ponto. :x
: ta bom , tá bom. Mas pensa nisso depois...
: E por que você está jogando ele pra cima de mim? Pensei que você não gostasse dele '-'
: Eu nunca disse que não gostava dele '-' eu só acho que algumas brincadeiras dele são idiotas. Mas quase todos os garotos de hoje tem essas idiotices. E tbm, se eu não achasse que, acima de tudo, ele fosse um garoto legal, eu nunca iria falar pra você dar uns pegas nele, né amiga? u.ú
: Que dar pegas! Que...iiiih! Não inventa. Só você mesmo
: hahahaha, sabe que eu te amo, né amiga? ;D
: hahahaha, sei muito bem. , eu vou descer para jantar. mãe já está lá embaixo, até amanhã. beijos querida :*
: okay, beijinhos :*

Desliguei o notebook, desci as escadas e fui ao encontro de mamãe, que estava sentada na sala vendo tv junto com Phill.
'Olá querida.'
'Oi mãe.' mamãe me deu um beijo na testa e me sentei ao seu lado. 'Como foi o seu dia?'
'Foi normal.'
'Falou com as meninas?'
'Sim, elas estão bem e mandaram um beijo para a senhora.'
'Ah, mande outro para elas.' minha mãe sorriu. Ela adorava as meninas.
'Ôh mãe, amanhã eu vou trazer meus amigos aqui depois da escola para comermos alguma coisa e depois jogarmos video game e ver a banda do tocar na garagem.' Quando ele pronunciou o nome do , pela milésima vez no dia, me senti congelar.
'Por que a banda tem que vir tocar aqui em casa?' eu disse, quase que dando um pulo do sofá, o que fez minha mãe e Phill me olharem meio assustados.
'Qual o problema? Não posso trazer meus amigos aqui?' Phill me disse indignado.
'Não... Quer dizer, pode sim, mas...Por que a banda do tem que tocar aqui?' perguntei, sentindo meu coração dar leves pulos dentro da minha caixa torácica devido à adrenalina que eu estava sentindo.
'Porque a banda é muito boa e o é meu amigo. Só porque você não gosta dele, não quer dizer que eu não possa trazer ele aqui. Essa também é a minha casa.' Phill disse com um tom de voz de ignorância. O que? Desde quando Phill era amigo de ? Eu nunca havia visto eles dois se falando e muito menos Phill falando sobre ele. Ah não, como se não bastasse ter que ter a presença daquele garoto na escola, agora eu teria que vê-lo também em casa? Não, não mesmo.
Saí do sofá e subi para o meu quarto. Peguei o telefone e liguei para .
'Alô?'
' ? Sou eu, .'
'Ah, oi! O que foi?'
'Amanhã posso passar o dia na sua casa?'
'Hã, mas é lógico , mas por que? O que houve?'
'O meu irmão vai trazer os amigos pra cá depois do colégio.'
'Ah, mas é isso? Então era eu que tinha que ir para sua casa. Ele tem uns amigos bonitos e...'
' ... O também vai estar aqui.' Senti que ficou tão surpresa quanto eu assim que ela voltou a falar.
'Mas o que? Ele? Desde quando ele é amigo do seu irmão?'
'Foi isso que eu me perguntei assim que o Phill disse.'
'Nossa, que coisa hem . Mas então, vem sim. Amanhã assim que você sair da sala, me encontra no pátio para virmos juntas pra cá.'
'Tá bom então, . Obrigada. Beijos'
'Beijos, até.'
Joguei o telefone em cima da cama, depois me joguei junto e fiquei encarando o teto branco do meu quarto. Não acreditava que aquilo estava acontecendo. Como meu irmão virou amigo do ? Ele nem se quer curte tanto rock assim. Agora eu teria que sair da minha própria casa por causa daquele garoto? Que merda. Mas, se eu ficasse em casa com ele lá, com certeza eu iria cometer um assassinato, caso ele fizesse aquelas brincadeiras idiotas. Tentei me acalmar e fechei os olhos em uma tentativa de esquecer aquilo. Alguns minutos passaram e minha mãe bateu na porta do meu quarto.
'Entra, mãe.'
'Querida, você está bem?'
'Sim, mãe.'
'Não parece.' Eu não parecia mesmo.
'Ah, só estou cansada, só isso.'
'Se o problema for os amigos do Phillipe, eu posso pedir para que eles venham só no final de semana, enquanto você sai com a Julie.'
'Não mãe, que isso. O Phill tem o direito de trazer seus amigos aqui. Eu só fiquei meio...surpresa, porque eles quase não vem aqui e...sabe que os vizinhos não gostam muito de barulho.' Minha mãe me olhou de uma forma que me fez sentir como se alguém estivesse invadindo minha mente e lendo-a toda.
'Se for só isso mesmo, tudo bem então. Qualquer coisa me diga, querida.'
'Pode deixar.'
'Boa noite, flor da minha vida.' ela me deu um beijo na testa e foi até a porta.'
'Boa noite, mãe.' ela me olhou e saiu logo depois.
Não tinha mais nada a fazer, apenas peguei um roupa leve, tomei um banho, desci e comi um lanchinho. Subi novamente, abri a janela do quarto abrindo espaço para o vento, que urrava lá fora, entrar e preencher todo o espaço que havia ali. Me deitei e imaginei como iria ser ter que esbarrar com o dentro de casa e também na escola. Espera... Meu irmão só chamou ele para vir aqui uma vez! Como eu adoro sofrer antecipado, né? Enfim, deixei de lado esses pensamentos e me concentrei em dormir, o que fez efeito. Depois de dez minutos eu já estava em sono profundo.

Narrador Avulso:

Não disse que a semana de seria fora de sua rotina? Agora ela teria que viver com a recente amizade de seu irmão Phill com . Ela pensava que não esbarraria com ele em sua casa mais do que uma vez... Bem, já imaginamos que ela está errada.
Ainda estamos no início de uma história sobre um garoto e uma garota que mal se falam e que quase se odeiam plenamente, porém, o que o destino guarda para os dois é muito menos do que ódio e muito mais do que coincidência. Haverá muitas pedras no caminho.


Capítulo III -


Assim que saí da aula, me encontrei com e fomos juntas para sua casa. No caminho paramos para comprar doces e sorvetes para comermos mais tarde, enquanto estivéssemos assistindo algum filme que a mãe de tinha em DVD.
'Bom, como você já sabe: Mi casa es su casa.' me disse assim que entramos na pequena, mas confortável, sala de estar.
'Ah, obrigada.' Mesmo já tendo ido a casa dela mais algumas vezes eu ainda sentia um leve sentimento de vergonha. Ainda mais eu tendo pedido para passar o dia lá.
'Minha mãe deve estar na cozinha. Vamos lá ver o que ela tem de bom para comermos hoje.'
'Humm. Já sinto cheio bom daqui!' eu disse, seguindo , que ia até a cozinha aos pulinhos. A casa dela não era uma casa muito grande, mas era linda e confortável demais. Nas paredes tinham quadros com fotos da mãe e do pai de com ela quando bebê, outras ela já mais velha. As paredes eram amarelas, com assoalhos de cor marrom claro e na sala havia uma linda lareira e sofás fofos e branquinhos. O tapete vermelho parecia um convite quase que irresistível para dormir nos dias mais frios, enquanto um filme rolasse pela tv.
'Olá meninas! O que há de novo?' A srª era muitíssimo gentil e adorável. Era uma ótima pessoa para poder desabafar e pedir alguma luz quando se tinha algum problema difícil.
'Oi mãe. O que faz de bom para comermos?'
'Bom... Eu não tinha muito em mente o que fazer para o almoço, mas então decidi fazer uma lasanha bolonhesa caprichada.'
'Wow! Beleza! Adoro lasanha.' disse, passando a língua por cima dos lábios superiores. 'Quero o primeiro pedaço.'
'Ah não. O primeiro pedaço vai para a visita' eu disse, fazendo um bico.
'É filha, primeiro as visitas.'
'HAHAHA. Ganhei, boboca.'
'Ah, pára. Só porque minha mãe puxa seu saco.'
'Parem de discutir e vão lavar as mãos e sentem-se a mesa logo, antes que a lasanha esfrie.'
'Já estamos indo.'
Assim que lavamos as mãos, nos sentamos à mesa e devoramos a lasanha quase toda. Estava ótima! A srª era uma cozinheira de mão cheia! Enfim, assim que acabamos de comer, eu e subimos para o andar de cima e nos revezamos para o banho. Enquanto tomava banho, me dando a, não tão feliz, honra de ouvir seu show de cantoria, fui para seu quarto e fiquei olhando os livros novos que ela havia comprado, que estavam em sua escrivaninha. 'Preciso de livros novos também.' Pensei, enquanto foleava um deles. Tirando dormir e comer, o meu hobby preferido era ler. Quase toda semana eu ia à livraria do bairro e me deliciava escolhendo livros para comprar. Assim como a chuva, o livro era uma espécie de tranquilizador pra mim. Me fazia ter o poder de imaginar como algumas coisas seriam se fossem de outra forma.
'Tá na sua hora, garota.' disse, entrando no quarto enrolada na toalha e sacudindo seus cabelos.
'Cruzes garota! Parece até que a morte veio me buscar.'
'Nossa, já pensando em morte? Calma, o daqui a pouco já estará indo embora da sua casa.' Meu sangue borbulhava quando ouvia o nome dele. Me lembrei que aquela peste estava nesse exato momento dentro da minha casa, perambulando pelos corredores, pelos cômodos... Ah não. Ele que não ousasse entrar em meu quarto! Eu não iria conseguir dormir sabendo que ele pôs os pés imundos dentro do único lugar onde eu podia me esquecer de tudo.
'Não precisava me lembrar de que essa coisa existe.' bufei.
'Ok, relaxa . Agora vai lá tomar um banho, que quando voltar vamos assistir The Last Song.'
'Ah, sério mesmo que vamos assistir um filme de amor? Será que você não percebeu que estou sozinha e carente?'
'Nós estamos, . Mas é por isso mesmo. Já estamos aqui, duas amigas empacadas dentro de casa, com doces e sorvetes a vontade. Só falta mesmo é o filme, não é?'
'Hum. Ah... Pior que é mesmo.' suspirei e fui pegar minhas coisas para o banho.
'É isso aí. Então vai logo tomar seu banho, que eu já vou ajeitar o tapete lá da sala e a tv.'
'Então não vou ver o filme. Você sabe que eu durmo sempre que deito naquele tapete.' Era a mais pura verdade.
'Não tem problema, só vai logo tomar esse banho. Não demora, viu?'
'Tá bom, vaca. Não demoro.' Saí em direção ao banheiro e assim que fechei a porta do mesmo, comei a me despir.

----------------------------------------------------x---------------------------------------x------------------------------------------------------

POV's

Hoje eu estava de boa. Saí do colégio e fui para a casa de um amigo com os outros caras e o pessoal da minha banda. Chegamos lá e já vi umas gatas entrando pela porta da frente. 'Nossa, que gostosas.' Já imaginei que haveriam mais daquelas lá dentro para eu provar. Confesso que não faziam meu tipo. Aquelas mini saias coladas nos quadris e com blusas justas com decotes que mostravam até os joelhos me deixavam muito animado (se é que você me entende) mas nada se compara a uma metaleira gostosa. Ah sim, essas são o meu ponto máximo. Shorts pretos com cintos metálicos e aquelas blusas largas que deixam uma pequena parte do sutiã a mostra... Hum, você já entendeu.
'Fala aí, mano.'
'Faala, seu bichinha.' Respondi, dando em resposta um soco de leve no ombro do Phill, que abriu a porta pra mim e os outros.
'Entra aí e se divirta. Tem umas paradas para beber lá a cozinha, é só pegar, e também tem umas gatas loucas para te verem tocando.'
'Opâ, tá beleza então.' Trocamos mais um soco e parti em direção ao corredor que estava cheio de gente com bebidas nas mãos. Não conhecia essa casa para saber onde era a cozinha, mas seguir o fluxo de pessoas era uma boa para poder se achar no local. Peguei uma bebida na geladeira e fui para a porta de vidro que dava para uma pequena varanda de fundos. Lá tinha uns conhecidos e umas garotas. Cheguei onde estavam e cumprimentei o pessoal e aí comecei a conversar com todos, mas já de olho em uma gostosa de cabelos pretos enrolados, que toda vez em que eu a olhava, me mandava um sorrisinho safado. Em poucos minutos de conversa com o pessoal, puxei a gata para conversar e aí, em segundos, estávamos nos pegando loucamente no canto da varanda. Sentia que todos nos olhavam e então comecei a esquentar mais a ficada com a garota, que se entregava sem ao menos se importar com o local ou com as pessoas ao redor. Fáceis demais essas. Não era a toa que eu logo me enjoava delas. Qualquer um ali com músculos pegaria elas de jeito sem ao menos dizer seu nome. Mas, por que eu seria quem reclamaria? Até ali, estava ótimo demais pra mim.
'Ôh ! Chega aqui, bicha.' Ouvi de longe meu nome.
'Porra. O que é?' Logo agora? Quem era o viadinho?
'Vem logo aqui!' Phill me chamava da porta da varanda.
'Tá bom. Puta que pariu hem.' Tasquei um último chupão na garota e saí andando em direção ao Phill. A garota já estava rodeada de outras garotas avoadas, querendo saber de todos os detalhes. Que viadagem.
'O que foi, cara?' eu disse bufando.
'Relaxa mano, mais tarde você pega de novo. Óh, os garotos já começaram a montar os instrumentos lá na garagem, só falta você.'
'Beleza, vou lá então.' Atravessei a casa cheia de gente e fui até a garagem. Cheguei lá e comecei a ajeitar minha bateria. Quando terminei, fui na pasta onde guardava os pratos para pegar as minhas baquetas. 'Puta que pariu, mano! Esqueci a porra das baquetas em casa.' Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa quando de manhã coloquei as coisas da bateria no carro antes de ir para a escola. Como eu tocaria sem as minhas baquetas agora?
'Ôh Phill, você tem alguma coisa que sirva como baqueta pra eu tocar? Esqueci as merdas das minhas em casa.'
'Pô mano, lá no meu quarto acho que tenho duas baquetas de um malabare dentro do meu armário. Vê se acha e pega lá se servir.'
'Beleza então, deve servir sim.'
'Ok então. É só subir a escada.'
'Ok.' Respondi e fui direto para a escada que dava para o segundo andar da casa. Subi toda a escada e me deparei com um corredor com quatro portas. 'Bom, uma dessas e a do quarto dele, então só tenho que abrir e ver.' pensei. Dei uns passos adiante e abri a primeira porta à esquerda. Dentro do cômodo havia um armário com portas de correr e uma cortina longa preta. A escrivaninha tinha porta-retratos de dois bebês. Logo ao lado tinham outro com duas pessoas, um garoto e uma garota abraçados. Tentei enxergar melhor, mas a luz que vinha da janela aberta, refletindo no porta-retratos fazia com que a imagem dos rostos ficasse como um borrão branco. Desviei o olhar e vi uma cama de casal. Mas era óbvio que esse não era o quarto do Phill. Era da mãe dele. Fechei a porta e fui para a porta em frente. Abri mas não consegui ver nada lá dentro porque estava escuro. Procurei o interruptor de luz e logo o achei na parede ao lado da porta. Acendi a luz e me deparei com paredes roxas, com alguns posters colocados nas paredes, como os do Metallica, Slipknot e Within Temptation. Também reparei no armário com portas de correr branco, uma cama de solteiro com lençóis lilás e uma escrivaninha abarrotada de livros. Ousei e entrei no quarto para olhar melhor um quadro que estava acima da escrivaninha. Estava cheio de fotos de garotas abraçadas sorrindo, algumas listas do que pareciam ser de livros, mas uma coisa me prendeu a atenção. Uma foto que estava no canto superior do quadro. Uma garota no meio de uma multidão, com uma blusa do Metallica, abraçada ao vocalista da banda. Olhei melhor o rosto da menina e percebi que eu conhecia. Olhei nas demais fotos e a vi em todas. Quando fui chegar mais perto, percebi que chutei algo e quando olhei, vi que era um all star vermelho, meio velho, mas o vermelho ainda estava forte. Não era o quarto do Phill e sim da . Não acreditei quando cheguei a essa conclusão. A era irmã do Phill? Mas... Ah, como sou burro. Phillipe . . Então ela era irmã do Phil... E eu estava no quarto dela. Nossa, que revira volta. Mas descobri uma coisa mais: ela gostava das mesmas bandas que eu. Ela gostava de músicas boas! Quem diria, a garota mais nerd da sala ouvindo música pesada. Descoberta do ano, hem! Então isso explica aquela vez que esbarrei com ela no show do Metallica. No dia jurei que eu estivesse tão bêbado que esbarrei em outra pessoa parecida com ela e pensei que fosse ela mesmo. Bom, a foto deixa claro que era ela mesma. A mesma blusa, o mesmo cabelo vermelho caído nas costas. Por um instante eu me perdi naquela foto, mas depois voltei a mim. Não iria ficar babando a foto daquela garota, embora eu tivesse já assumido mentalmente que eu a achava linda daquele jeito roqueira. Ela era a maior nerd daquela sala, ou talvez até da escola. Fora o jeito dela, garota metida a superior, que anda só com os nerdões da sala e com um sorriso irônico quando os professores elogiavam suas ótimas notas, fazendo com que os outros parecessem uns burros. Não acredito que irei ter que fazer o trabalho de filosofia com ela. Quando a srª.Lynn disse que ela iria me ajudar, senti meu sangue borbulhar por dentro. Gente metida a sabichona me dá nos nervos. Apenas tive que concordar. Antes que eu tivesse dito que já tinha um parceiro e depois me virasse pedindo alguém para colocar o meu nome no trabalho em troca de algum dinheiro (ou se fosse garota, em troca de uns amassos). Enfim, me dirigi até a porta quando Phill surgiu diante dela.
'Ôh cara, o que está fazendo aí?'
'Ah, eu... Só estava procurando as...'
'As baquetas estão no meu quarto e esse não é o meu quarto, né?' Phill me cortou. Eu tinha que falar algo logo, antes que ele achasse que eu estava me masturbando com as roupas íntimas da irmã dele.
'Eu sei que não, mas abri a porta procurando seu quarto e vi os posters. Resolvi dar uma olhada neles.' falei firme e descontraído. Era uma desculpa de merda, mas qualquer coisa iria servir.
'Ah, beleza, sem problema. Esse é o quarto da minha irmã.'
'Ata.'
'Bom, vamos lá no meu quarto para pegar as baquetas. O pessoal já está louco querendo ver o showzinho e tenho que despachá-los antes que minha mãe chegue, senão ferrou mano.'
'Claro pô, bora lá então.' Saímos do quarto e fomos em direção a outra porta do outro lado do corredor. Agora sim era o quarto de Phill. Pegamos as baquetas e descemos para a garagem. As baquetas quebraram o galho e deu para tocar direito as músicas. Depois de mais algumas horas, Phill já foi enxotando todo mundo da casa. Eu e o pessoal da banda ficamos mais um pouco, guardamos os instrumentos e um tempo depois fomos embora. Cheguei em casa, tomei um banho e fui deitar um pouco ouvindo música no último volume. Vaguei, no pensamento, pelo dia que tinha passado e lembrei quando estava no quarto da . Senti meu sangue aquecer por baixo da minha pele, mas logo mudei de pensamento. Não iria ficar lembrando da foto daquela nojentinha. Não mesmo.
Como estava sem fome, não comi nada (e nem ninguém naquele dia), apenas tirei a roupa e dormi só de boxes, ouvindo rock'n'roll pesado. Isso que é relaxar.

----------------------------x---------------------------------------------x---------------------------------------------------------

POV's

Há algumas horas eu tinha saído da casa de e vim para minha casa. Já estava de noite e eu estava na sala vendo tv sozinha. Phill estava na garagem fazendo não sei o que. O dia tinha sido bom. Almocei com , vimos filme e nos entupimos de doces, ainda dormimos no tapete da sala (não podia faltar). Fizemos alguns trabalhos da escola, comemos mais doces, e no final me fez pintar as unhas. Se em que o meu esmalte preto já estava pela metade. Enfim, me enjoei do programa que passava e decidi ir até a garagem ver o que Phill estava fazendo. Assim que abri a porta da frente, senti o vento gelado passar pela porta e tocar a pele do meu rosto e no mesmo momento abri um sorriso. É uma sensação ótima que sinto quando esse vento percorre minha pele, me fazendo estremecer e sentir arrepios por todo o meu corpo. Assim que caminhei até a garagem, senti os pingos da chuva tocarem meus cabelos e algumas partes dos meus braços. Isso fez com que eu andasse mais devagar até a garagem, me fazendo desfrutar mais ainda daquele momento. Logo cheguei na garagem e vi Phill arrumando algumas coisas nas prateleiras das paredes, também segurando duas sacolas plásticas que pareciam estar cheias de alguma coisa metálica. Cheguei mais perto e vi uma latinha caída no chão, que parecia com alguma latinha de energético. Estalou alguma coisa em minha mente.
'Nossa, fez uma festa e nem para chamar a irmãzinha?' falei, abaixando e pegando a latinha.
'Que foi? Já vai me chantagear?' ele nem se assustou quando eu falei atrás dele. Nunca consegui pegar ele desprevenido.
'Não. Calma. Só perguntei ué.'
'Sei. E como foi o seu dia na casa da ? Fez muito trabalho de casa?' disse em um tom irônico.
'Haha. Como estou rindo demais.' É claro que eu não iria dar o gostinho para ele dizendo que fiz alguns. 'E como foi o seu "encontro de amigos"? Jogaram muito video game? Já sei, brincaram com o seu Max Still lá no quarto?' eu tinha que ser irônica também.
'Claro pô. Até chamamos algumas meninas para brincarmos de papai e mamãe.' disse com um sorrisinho safado.
'Creeeeedo! Vocês são nojentos.' eu disse, fazendo cara de nojo.
'Hahaha. Agora você sente nojo, né?'
'Mas é claro. Só de imaginar meu irmão com outra garota... que... arg! Não irei conseguir dormir hoje.'
'Relaxa mana, não foi só eu. Os caras também pegaram umas garotas, mas ficamos só nos amassos. O que quase estava comendo uma na varanda lá de trás.'
WHAT? Aquele garoto estava se agarrando com uma qualquer pela minha casa? Nunca mais iria ficar naquela varanda.
'Que bom pra ele.'
'É mesmo. Ela era uma gata do cacete.' Eles só pensam em bunda, peitos e cintura fina, não é? Aposto que se perguntasse quanto era 1+1 era iria dizer 11. Qual seria a vantagem de ser 'turbinada' se o cérebro que é o bom, não se encontra na caixa craniana? Não entendo esses garotos, só pensam com a cabeça de baixo.
'Tá bom. Eu vou comer alguma coisa e dormir. Diz para mãe que eu estou muito cansada e por isso não esperei ela, ok?'
'Ok irmãzinha.'
Quando eu já estava saindo pela porta da garagem, ouvi Phill falar.
'A propósito, o curtiu os seus posters.'
'Hum. Ok.' Me virei e continuei andando. Mas logo assimilei o que ele tinha acabado de me falar. O gostou dos meus posters? Mas para ele ver os meus posters, ele tinha que entrar no meu quarto! NÃO ACREDITO! Comecei a voltar para a garagem aos passos pesados e vi que Phill se assustou quando me viu entrar novamente na garagem.
'Vamos adivinhar? Faíscas saindo da sua cabeça, quase quebrando o chão com os pés... Agora que você assimilou tudo, né? Pra essas coisas você é lerdinha.' ele disse, rindo.
'Não se faça de engraçadinho! Como você deixou aquele garoto entrar no meu quarto?' estava quase explodindo.
'Relaxa mana. Ele estava procurando o meu quarto para pegar umas baquetas, porque esqueceu as dele em casa.' Phill estava calmo me respondendo.
'Relaxar? RELAXAR? Nunca mais deixe ele pisar ou chegar perto do meu quarto, ouviu Phillipe? NUNCA MAIS! Agora eu vou ter que trancar meu quarto toda vez que seu amigo vier pra cá?' eu realmente estava explodindo de raiva.
'Eu já disse para ficar calma. Ele não te roubou nada e nem fez nada.'
'Mas eu disse que não quero! Não ele!' Saí voando pela porta afora e fui direto para o meu quarto. Fechei a porta com toda a força. Não acreditava naquilo. Como ele teve a cara de pau de entrar no meu quarto sem ser ao menos convidado? Agora em diante eu ia ter que trancar a porta do meu próprio quarto quando esse garoto viesse pra cá. O pior de tudo é que eu iria ter que fazer aquele maldito trabalho com ele. Tinha que achar uma forma de me acalmar. Não iria me cansar por causa daquele idiota. Apenas liguei o notebook e fui procurar alguma coisa para fazer e me esquecer daquela merda toda.

----------------------------------------x-------------------------------------------------x----------------------------------

Era uma hora da manhã e eu ainda estava na internet, esperando o sono chegar. não havia entrado na internet e nem as outras meninas, então passei horas e horas lendo textos, vendo alguns episódios da minha série preferida, ouvindo músicas, pesquisando algumas bandas novas. Encontrei um trecho de um livro que parecia ser bom e comecei a lê-lo. Gostei e resolvi comprá-lo. Me levantei da cama, fui até a minha escrivaninha, abri a terceira gaveta e peguei o cartão de crédito que havia guardado ali. Eu não era muito de usar esse cartão, mas de vez em quando usava ele para comprar algum livro que achava perdido pela internet. Assim que ia começar a compra, não sei o que me deu e fui ver onde eu podia encontrá-lo sem ser na internet. Não achei ele para comprar em nenhuma livraria que era perto de casa e que eu costumava ir. Fui um pouco mais persistente e encontrei uma livraria que tinha o bendito livro. Não era perto de casa, mas também não era tão longe assim. Era em um outro bairro, mas ir de carro não demoraria muito. Enfim, peguei o endereço da livraria, deixei anotado no meu celular e guardei o cartão novamente na gaveta. Agora sim o sono havia chegado e então fechei o computador e me deitei na cama. Finalmente amanhã seria sexta-feira.

-------------------------------------x---------------------------------------------------x--------------------------------------

'Finalmente sexta-feira chegou! Amanhã vai ser o dia de acordar tarde.' falei para no intervalo da escola.
'Ah, nem fala. Acordar cedo todos os dias só para estudar é fogo.'
'Pois é... Mas, se bem que você tem um motivo muito bom para vir pra cá, né? Aliás, não só um bom motivo, mas também inteligente, bonito.' falei com um sorriso sapeca.
'Ah é, tenho mesmo, sabe. Um bom motivo que nem sabe que eu existo.'
'Mas é claro, sua cabeçuda! Você não vai falar com ele! Quantas vezes eu já te disse isso? Vai esperar ele parar na sua frente e te dizer "Oi , eu olhei pra você e resolvi te chamar para sair, quer?" Que isso, né? Nem conheço ele, mas só o jeito dele já sei que ele não é assim.'
'Tá, tá. Af. Eu vou falar com o Jake, mas...'
'Mas o que?' falei, quase agarrando seus cabelos.
'Mas eu não sei o que ele vai dizer, reagir...'Ah, como ela era cabeçudinha.
'Mas é claro que você não sabe! Você não foi falar com ele ainda.'
'Ok Ok . Quando eu tiver uma boa oportunidade para falar com ele, eu vou.' ela disse, passando a mão nos cabelos.
'Bom, não irei deixar você perder o Jake. Quando é que você vai achar outro garoto bonito e inteligente assim?'
'Hahaha. Você me faz rir.'
'Ah é? Se você não aproveitar, eu posso...' ameacei, dando um sorriso malicioso.
'Você nada. Vamos mudar o assunto.' ela respondeu, ficando séria.
'Hahaha. Relaxa querida, eu não coloco o olho nele. Até porque prefiro os que têm cabelo grande, usam all star velho e gostam de bandas com som pesado.' falei suspirando, o que era verdade. Meu tipo é dos roqueiros.
'Então, por que ainda está aí sonhando?' me perguntou meio séria, o que me fez olhá-la meio confusa.
'Com assim?'
'Você não tem motivos para ficar sozinha.' fiquei mais confusa ainda.
'Como não? Será por que eu estou sozinha?' falei como se fosse uma coisa óbvia, o que era verdade.
'., você já tem o seu roqueiro.'
Olhei para , continuando não entendendo, mas quando ela riu, soube onde ela queria chegar e dei um tapa ela.'Nem pense em falar nele. Cala essa boca.'
'Ah, mas que isso, ! O ...'
'O porra nenhuma.' cortei. 'Já disse que prefiro a morte do que aquele garoto. Será que não entende?'
'Tá, relaxa. Não me mate. Eu gosto de perturbar mesmo.' ela me abraçava, rindo.
'Ok Ok, mas só não me lembre dele.'
'Tá bom, você que sabe.'
O sinal da próxima aula soou e então eu e fomos caminhando até o bloco da escola em que iríamos ter aula de inglês. Essa aula eu e fazíamos juntas também, então nos sentamos uma ao lado da outra e ficamos conversando sobre os nossos planos da noite.
Olhei para trás e vi Jake há umas duas cadeiras atrás da gente, conversando com um outro garoto. Voltei a olhar para , que seguia meu olhar.
'O que foi?' ela me perguntou.
'Nada... Só estava pensando se...'
'Pensando se o que?'
'Se você convidasse o Jake para ir com a gente hoje.'
'Ih, já começou.'
'Sério. Seria um bom jeito de conversar e tudo.'
'Não, . Não viaja, tá?'
Eu ia tentar convencer ela, mas o professor chegou na sala e então eu tive que me calar. Mas não iria desistir assim, ela ainda iria falar com ele. Ah, ia sim.
Se passaram 50 minutos de aula e ganhamos o passaporte para a liberdade! Pelo menos, por dois dias. Me despedi de e fui para casa. Almocei, tomei um banho e subi para o quarto, para já ir arrumando a minha roupa para mais tarde sair. Fiquei no quarto ouvindo música e esqueci da hora, até quando me mandou uma mensagem dizendo que iria se atrasar um pouco. Então comecei a me arrumar logo, antes que eu me atrasasse. Banho tomado, coloquei minha calça jeans, meu all star, uma blusa regata preta e uma blusa aberta quadriculada azul por cima. Deixei meu cabelo solto, mas a franja prendi com um grampo para trás. Enfim peguei minha bolsa, fui para a sala e esperei me ligar, para que ela pudesse me pegar em casa e fossemos para o cinema. Quando sentei no sofá, vi meu irmão descer a escada, também todo arrumado. Nada de se estranhar, porque ele sempre saía na sexta e só voltava de manhã.
'Qual é a boa de hoje?' perguntei indiferente.
'Não sei. O pessoal ainda não decidiu aonde vamos direito. E você?'
'Nada de demais. Só uma rave com drogas em muita orgia.' falei com uma voz grossa.
'Isso significa cinema, chocolate e música depressiva pra você.' disse, sentando no mesmo sofá que eu.
'Não, hoje é só cinema mesmo.'
'Ah, que pena.'
'E por que você ainda está aqui? Já não devia estar lá fora?'
'Relaxa mana. Está me expulsando?' No momento em que eu ia responder, senti meu celular vibrar e um som de buzina.
'Que bruxaria é essa, garota?' Phill me disse, se levantando e me dando uma careta.
'Cala a boca e vamos. A também está lá fora me esperando.' Disse, me levantando e indo até a porta junto com ele.
Saímos de casa e haviam dois carros parados na frente da casa. O de estava na frente e então fui em direção a ele, mas pude ver os garotos que estavam no carro de trás. Vi debruçado no volante, e consegui ver sua blusa do Metallica, a mesma do show em que o encontrei no início do ano. O observei por uns instantes, até perceber que ele também me olhava. Desviei o olhar e cheguei ao carro de .

----------------------------------------x----------------------------------------------x--------------------------------------------x---------------------------

POV's

Estava animadão para sair. Era sexta-feira e não tinha hora para chegar em casa. Isso era vida!
Estava parado em frente a casa do Phill, esperando ele sair para irmos a algum lugar bom com os outros caras. Em uma sexta-feira a noite tinham vários lugares cheios de garotas fáceis e muita bebida. Estava conversando com os garotos, sobre o convite que recebi de uma gata do colégio para ir a uma festa, e vi Phill finalmente sair de casa. Me debrucei sobre o volante para enxergar melhor quem estava atrás dele. Ela estava com uma blusa xadrez que sobressaía sobre uma outra blusa, seus cabelos extremamente vermelhos soltos e um all star verde limão. Por um instante, pensei que ela estava vindo para o carro onde eu estava, mas logo desviou um pouco e foi para o carro que estava logo a frente do meu. Nem tinha notado a presença dele ali. Acompanhei seu andar até a porta do carro, mas me dei conta de que ela percebeu que eu a olhava e então ela olhou para o motorista do carro. Entrou e depois vi o carro sumir pela rua. Nunca tinha reparado em como ela sabia se vestir bem e como tinha um andar quase que leve. Acordei de meu pequeno transe quando ouvi a porta do carro bater e ouvi a voz de Phill surgir.
'Fala aí! E aí, vamos para onde?'
'Vamos para uma festa que está rolando do outro lado da cidade.' um dos garotos que estava atrás de mim falou.
'É, acabei de receber um convite de uma gostosa lá do colégio.' falei.
'Beleza então. Vamos encher a cara, meus amigos!' Phill disse com um tom entusiasmado.
'Já estamos lá.' respondi e dei a partida no carro. Quando virei a esquina, vi o outro carro parado no sinal e também vi duas silhuetas conversando animadamente. Ela também saía às sextas-feiras? Nossa, fiquei de boca aberta. Mas logo deixei aquilo de lado e me concentrei na conversa dos garotos. Se ela tinha vida social ou não, não me interessava. Não sei por que eu ainda perdia meu tempo pensando nessas bobagens. Acelerei mais e dali a uns 50 minutos já estava na tal festa. A noite iria ser boa.


Capítulo IV -


POV’s

Eu e estávamos paradas no sinal da rua conversando sobre qual cinema iríamos e qual filme poderíamos ver. Eu não queria ir para o cinema que sempre íamos, como de costume. Queria ir para algum diferente, para mudarmos um pouco e tudo.
'Então , que tal irmos para Ballantyne? Lá tem um cinema muito bom!'
'Em Ballantyne? Não é um pouco longe?'
'Ah, que isso. Não é muito longe não. Dá para irmos lá de boa. Se você ficar cansada de dirigir, na volta eu dirijo.'
'Hum... ok então né.' Ela falou e logo em seguida acelerou com o carro, assim que o sinal se manteve verde. 'Mas não sei por que essa sua enorme vontade de ir para Ballantyne. Sempre se contentou em ficar por aqui mesmo, em Myers Park.'
'Ah, eu queria ir para algum lugar diferente. É cansativo ir sempre para um mesmo lugar. Você não acha?'
'Ok ok. Vamos então, mas, na volta é você quem dirige.'
'Tudo bem.'
Durante todo o caminho, e eu fomos conversando sobre o que, possivelmente, poderíamos ver no cinema e sobre o que poderíamos fazer depois disso. Como ficamos indecisas sobre o que fazer depois, decidimos resolver na hora. O mais importante era chegarmos no cinema a tempo do filme, que eu queria ver começar.
Demoramos um pouco para chegar ao cinema porque as pistas estavam escorregadias, por conta chuva que havia caído no dia anterior, então teve que dirigir um pouco mais devagar, fora também alguns trechos da pista que estavam congestionados. Em uma sexta-feira a noite, o movimento de carros em direção à Ballantyne era mais intenso que o normal. Ballantyne era um bairro que era considerado o melhor para ir se divertir por conta dos vários shoppings e casas noturnas. Phillipe quase sempre ia pra lá e isso explica ele conhecer várias pessoas.
Assim que chegamos, foi estacionar o carro em um estacionamento ao lado do cinema, enquanto eu ia para a bilheteria. Quando cheguei lá, vi algumas pessoas já na fila para comprar os bilhetes, então me juntei a elas para fazer o mesmo. Como eu sabia que demoraria um pouco para estacionar o carro (ela tem uma pequena dificuldade para estacionar direito) entrei na fila para comprar o meu e o bilhete dela também. O filme que escolhi estava estreando naquela noite, então o cinema estaria relativamente cheio, mas eu já saberia onde nós iriamos nos sentar.
'Cheguei. Já estou pegando o jeito, viu? Não demorei muito.'
me disse, ficando ao meu lado e ajeitando o cabelo que estava feito em uma trança embutida.
'Ah, é sim. Dessa vez só demorou meia-hora.' eu disse, rindo.
'Muito idiota você. Então, vamos ver o que?'
'Bom, eu estava pensando que...' antes que eu terminasse de responder, vi um grupo de garotos se sentando nos bancos que estavam perto da porta da sala do cinema. Reparei em um,em especial, que estava segurando uma certa quantidade de bilhetes, provavelmente sendo de todo o grupo de garotos. Então, antes que percebesse minha leve distração e olhasse também, tentei continuar o que estava dizendo sem parecer muito distraída. 'que... acho que a fila da pipoca vai lotar logo. É melhor você já ir comprar.' tentei remendar a resposta. Resposta de merda. Eu dei um leve riso assim que falei, sem que ela percebesse.
'Mas já? Nem compramos os bilhetes do cinema ainda.' Ela disse, me olhando.Torci para que ela não me questionasse muito, como sempre fazia quando não engolia alguma desculpa.
'É... e também que não comi nada quando saí de casa. Vai dizer que você não está com fome?'
'Rum... é, pior que é mesmo. Acho que então irei comprar alguma coisa para comermos. Acho que dá tempo de comprar e vir aqui comprar com você os bilhetes, já que tem ainda algumas pessoas na sua frente. Já volto então .' Ela se afastou de mim, indo em direção a bancada de pipoca.
Olhei para trás para ver se o grupo de meninos ainda estava lá e vi que sim. O tal menino olhou em minha direção também e pareceu que logo me reconheceu. Ele me mandou um tchauzinho e mandei um outro em resposta. Olhei novamente para a fila e vi que já estava chegando a minha vez de comprar, então olhei para o lado tentando localizar e a vi escolhendo alguma coisa na vitrine. Sorri, pois iria ganhar tempo. Fiquei olhando fixamente para as pessoas que estavam atendendo o caixa, como se aquilo fizesse ir mais rápido. Assim que o caixa 3 ficou livre, fui em direção a ele, sem ao menos esperar o chamado do atendente. Comprei os bilhetes do filme, que iria começar em alguns minutos e fiquei mais aliviada assim que saí do caixa. Logo veio ao meu encontro com dois pacotes de pipoca, dois refrigerantes e alguns doces nas mãos.
'Não vai me dizer que já comprou os bilhetes?' ela me perguntou com uma cara de reprovação.
'Já. Você demorou e eu tinha que comprar, senão iria ter que entrar na fila novamente.'
'Af. Da próxima vez, só irei comprar pipoca depois que tivermos comprado os bilhetes.'
'Tá bom. Você que sabe.'
'E não estava lotado coisa nenhuma a fila da pipoca, tá bom?'
'E eu disse que estava lotado? Apenas disse que poderia lotar.'
'Ruuum... sei . Enfim, qual é o filme que você escolheu para vermos?'
Eu ia responder, mas logo vi que alguém se aproximava de nós duas, então deixei a pergunta de sem resposta... naquele momento.
'? Dá pra falar logo?'
'Oi meninas.'
'Oi Jake.' eu disse sorrindo, enquanto estava paralisada na minha frente, sem conseguir dizer nada. Ela estava com os olhos fixos em mim, e nesse momento pensei que ela fosse começar a gritar, como se alguém estivesse prestes a matá-la.
'Então... vieram pegar um cinema né.' Jake disse, meio... meio não, muito sem graça, pois apenas olhava pra mim. Parecia que ela estava com o pensamento longe... ela estava analisando o que estava acontecendo ali.
'É sim. Depois de uma semana de aulas, temos que dar uma descansada, não é mesmo?' eu disse, sorrindo. Eu estava tentando achar alguma coisa para falar, mas então finalmente voltou para Terra e se virou para Jake.
'Jake, que filme você vai ver mesmo?' ela perguntou pra ele com um sorrisinho, meio que parecendo irônico.
'Bom... er, eu e os garotos vamos ver "Sherlock Holmes: A Game of Shadows" que está lançando hoje.' ele ficou meio assustado com o jeito dela perguntar.
'Ata.'
'Sério? Que legal!' eu disse com uma voz entusiasmada. 'Nós também vamos.' Nesse instante, me olhou e eu apenas sorri. Iria ser hoje que ela iria conversar com ele.
'Beleza então. Vocês podem sentar junto com a gente então.' Jake disse, sorrindo. 'Então, eu vou lá falar com os meninos e já volto.' ele se afastou em direção ao grupo de amigos que estavam conversando ainda na porta da sala do cinema.
'Ir para um lugar novo, não é? Com muita fome e não deixar eu comprar os bilhetes com você, não é ?' falou, olhando firme pra mim assim que Jake saiu.
'AAAAAH . Para de graça e confessa que você adorou minha surpresa.' eu disse, abraçando ela.
'Eu não acredito nisso. Como eu não percebi também?' ela disse, batendo com a palma da mão no meio da testa.
'Relaxa .' disse, soltando ela e pegando a pipoca da mão dela.
'Você marcou com ele? Armou isso tudo por cima do meu nariz e eu não suspeitei de nada? Como pode isso?'
'Muito pelo contrário, eu não marquei nada com ele.' eu disse tranquila, comendo pipoca, que alias, estava deliciosa.
'Como assim você não marcou nada com ele?' ela fez cara de confusa.
'Hoje, na hora em que eu virei para trás e olhei para ele, ouvi uma parte da conversa dele com o amigo. Ouvi ele dizer sobre a estréia do Sherlock Holmes e que estava querendo muito ir ver na estreia. Então, o amigo dele disse que iria ver aqui.'
'Ham... só isso? Mas como você sabia que ele viria nesse horário? E como tinha também certeza que ele viria?'
'Eu não sabia que ele viria nesse horário. Eu apenas pensei que se ele viesse mesmo, iria vir no primeiro horário da noite, assim como nós duas sempre vamos. E eu não tinha certeza de que ele viria, apenas arrisquei. Fora que também o amigo dele parecia muito empolgado. Com certeza iria arrastar ele também.' eu disse, orgulhosa de tudo ter dado certo.
'Ata. Bom... aconteceu tudo como você pensou que seria.'
'É, ainda bem que sim. Torci muito pra isso. E agora, tira essa cara amarrada e vai aproveitar! Hoje você tem a noite toda para conversar com ele... dar uns pegas.' eu pisquei.
'Eu não estou de cara amarrada... só fiquei surpresa com a situação... e que pegas o que, vamos só conversar mesmo.'
'Sei... mas se ele quiser te beijar, você não vai nem tentar impedir, não é mesmo?'
'Pára ... ele é mais forte que eu também né? Se ele me agarrar a força não irei ter a menor chance de impedir.' ela disse, corando.
'Ahá. Eu sabia!' Eu estava feliz por ela. Eu sentia que eles dois iriam dar certo, mas agora, seria com eles. Eu fiz eles darem o primeiro passo.
Logo depois, Jake e os amigos deles surgiram em nossa frente. Então nos apresentamos e fomos todos juntos para a sala de cinema. Todo mundo concordou em sentarmos na última fileira de cadeiras lá em cima, porque era melhor de ver e tudo. Eu e nos sentamos primeiro, depois os meninos sentaram do nosso lado. Mas, como eu queria ainda dar uma ajuda para os "pombinhos", fiz com que Jake sentasse no meu lugar com uma vaga desculpa de que eu preferia me sentar do outro lado. Então ele se sentou do lado de e os dois ficaram conversando. O filme começou e ficamos prestando atenção. O filme era muito bom, mas foi mais legal ainda porque um amigo de Jake que estava do meu lado ficou comentando algumas coisas sobre o filme e eu também, daí sempre a dizia 'shiiiiiiiu' pra gente, mas nem ligávamos, continuávamos a comentar e tal.
Depois de quase duas horas dentro da sala do cinema, o filme acabou e saímos para o saguão. Como todos estávamos com fome, combinamos de irmos todos juntos para algum lugar comermos. Andamos alguns metros, entramos em alguma lanchonete que parecia ser boa e que tinha algumas pessoas também. Então todos nos sentamos em volta de uma grande mesa que havia na parte descoberta da lanchonete.
e Jake já não paravam de conversar e dessa vez eu não precisei sair do meu lugar para deixá-los sentados um ao lado do outro. Jake já havia puxado uma cadeira para que sentasse ao lado dele.O rosto dela estava todo reluzente, os olhos brilhando e o sorriso de orelha a orelha, mas Jake também não ficava para trás. Os dois juntos era lindo.
Pedimos duas pizzas gigantes de mussarela e calabresa, duas garrafas de coca-cola e detonamos tudo! Comemos e conversamos por mais de duas horas. Os amigos de Jake eram hilários! Ri muito com eles, mas principalmente com o Matthew, aquele que conversei durante quase todo o filme. Ele tinha o melhor senso de humor dali. Depois de comermos e pagarmos a conta, fomos todos juntos novamente para o cinema para pegarmos os carros e irmos embora. Quando chegamos, já fomos nos despedindo.
'Hoje com certeza foi uma das melhores noites. Vocês duas são hilárias.' disse um dos garotos.
'Hahahaha. Que isso, vocês que são ótimos.' eu disse sorrindo.
'Podemos marcar isso mais vezes, não é mesmo?' disse Jake.
'Claro, assim que pudermos!' disse.
'Bom, e as senhoritas? Como irão voltar pra casa?' Matthew perguntou.
'Nós vamos no meu carro.' disse.
'Ah, melhor assim então. Se vocês fossem de ônibus eu iria oferecer uma carona.' Jake disse gentil.
'Ah, obrigada, mas deixa para próxima.' respondi.
'Bom, vou então pegar o carro ali no estacionamento. Fica aí , que eu paro aqui em frente.' disse.
'Ok.'
já estava indo em direção ao estacionamento, mas Jake correu pro lado dela.
'Espera aí, eu vou junto com você. Tenho que pegar o meu carro também, e é melhor você não ir sozinha.' ele sorriu junto com .
Os dois foram andando juntos até o estacionamento e depois entraram nele. Fiquei na calçada com os garotos esperando o carro parar em frente. Os outros garotos estavam conversando sobre algo do filme enquanto Matthew ficou ao meu lado.
'Então , você estuda no mesmo colégio que o Jake?'
'Sim. Ele faz algumas aulas junto comigo.'
'Com a também?'
'Ah, eles fazem as mesmas aulas, e pode acreditar, até hoje não se falavam.'
'Sério? Bom, a partir de agora acho que vão se falar todos os dias.' ele riu.
'Ah, vão sim. E se não se falarem, eu faço eles falarem.' eu disse com um tom autoritário, mas depois ri.
'É isso aí.' ele disse e depois ficamos um pouco em silêncio.
O silêncio já estava ficando chato.
'Se liga , não quero ser intrometido mas...' ele olhou pra mim, tentando esconder o pouco de vergonha que estava surgindo no seu rosto. 'Você tem namorado?'
Olhei para ele tentando entender o porquê isso iria fazê-lo parecer intrometido. Sorri por ver suas bochechas um pouco vermelhas quando o olhei.
'Não.'
'É? Você tão bonita e engraçada assim, sem ninguém do lado? Que desperdício.'
Eu ri de leve com o que ele disse e ele percebeu o porquê do meu riso.
'É. Eu sei, eu sei. Foi horrível essa. Clichê demais.' ele riu dele mesmo.
'É...' ri sem graça, mas era verdade.
'Então foda-se tudo. Você já percebeu que eu adorei te conhecer hoje. Não esperava que vir ao cinema hoje arrastado por um amigo iria ser tão bom.' ele riu pra mim, olhando nos meus olhos.
'Também adorei ter conhecido você hoje, Matthew.' Era verdade.
'Então... Será que poderíamos marcar de sair? Seria muito legal, não acha?'
'Claro, acho sim.' sorri.
'Então, depois eu posso te ligar? Ou isso é uma coisa muito antiga e você prefere que eu pegue o seu facebook?' ele disse em um tom humorado.
'Hahaha. Você pode me ligar sim e também pode pegar meu facebook, chato.'
'Chato? Duvido hem.' disse em um tom convencido.
'Tá, não é não... só um pouquinho.' disse sapeca.
'Aé? hahahahaha' nós dois rimos. Então e Jake surgiram com os carros parados na nossa frente. Mattew me deu o celular dele onde coloquei o meu número, então nos abraçamos e dei tchau para os outros meninos. Entrei no carro de , que buzinou, e partimos para casa.

--------------------------x----------------------------------------x----------------------------------------x------------------------------------------

Depois que entrei no carro, já fui perguntando para o porque demorou para pegar o carro. Eu já sabia que em parte, era porque ela tinha dificuldade de tirar o carro da vaga, mas queria saber se tinha rolado alguma coisa entre ela e o Jake.
'Entãããão. Me diz, o que rolou?'
'Hãm? Calma .'
'Calma nada, diiiiz logo.' eu parecia uma garotinha aos pulos.
'Tááá. Eu demorei um pouco porque tive uma certa dificuldade em tirar o carro.'
'Disso eu já sei.' fiz uma careta.
'Chata.'
'Chega de lenga-lenga. Diz.' falei autoritária.
'Táááá. Fomos andando até o meu carro conversando sobre o filme e tudo. Quando paramos a porta do carro, ele ficou de frente pra mim e eu até pude sentir a respiração dele bem perto de mim.' Nesse instante eu tive que ficar atenta na estrada para evitar algum acidente, porque já estava quase que fora da Terra. 'Daí ele falou que tinha adorado ter nos encontrado no cinema, que foi uma surpresa mais que boa pra ele. Eu falei que também tinha adorado né, falei que não sabia que ele era tão legal e engraçado assim, e aí ele falou que não foi assim com ele, porque ele já sabia que eu era legal e engraçada.' Fiquei com os olhos mais atentos ainda na estrada e nos carros. Em vez de olhos, tinha estrelas reluzentes. 'E eu fiquei sem jeito, né. Já falei que ele tem um cheiro delicioso? E o sorriso? Lindo.' Daí eu já sabia o que tinha acontecido.
'Então...??' eu perguntei.
'Ah... depois só senti ele me segurando pela cintura e a boca dele em cima da minha.' AAAAAAAAAAAAIN
'OWWWWWWWN, que liiindo!' Minha noite tinha se completado.
'Foi a melhor sensação que senti . Ele é maravilhoso.' Eu podia sentir a alegria e emoção exalando de .
'Você não sabe o quanto estou feliz por você!'
'Ah, se não fosse por você ... com certeza eu não estaria assim.'
'Que isso. Estou muito feliz por ter ajudado. Mas agora, quero ver hem. É com você.'
'Pode deixar .' ela riu.
'Bom, mas e depois do beijo?'
'Ele perguntou se poderíamos sair, só nós dois. Eu disse que sim né, óbvio. Aí ele disse que iria falar comigo mais tarde pelo facebook, daí demos mais um beijos de despedida e eu entrei no carro.'
'OWN, que fofo.' falei juntando as mãos.
'É. Mas e você, dona ?'
me cutucou.
'Eu o quê?' olhei pra ela.
'Pensa que não reparei? Você e o Matthew, conversando, rindo, trocando sorrisinhos... safadinha né.' ela riu.
'Hahahahaha. Safadinha, eu? Nem, ok?'
'ÉÉ sim, agora vamos, pode falar.'
'Ah... ele é legal sim, adorei ele mesmo. Só que não rolou nada demais.' falei olhando para a janela.
'Nada de demais? Humm... sério? Nada nada?' ela perguntou com um tom meio desanimador.
'É... bom, na verdade, ele disse que gostou de me conhecer e tal. Ele pegou até o meu telefone e...'
'E...?'
'E me chamou pra sairmos.' Sorri.
'E ISSO NÃO É NADA DEMAIS?' quase gritou.
'Calma. Não é nada comparado ao seu né?' dei uma piscadela.
'Você entendeu o que eu quis dizer.'
'Hahaha. Sim, entendi.'
Já estávamos na metade do caminho quando uma chuva fina começou a cair sobre a pista e o para-brisa do carro. Fomos conversando e ouvindo música até chegarmos em frente a minha casa.
Eu estava feliz com aquela noite. Consegui fazer e Jake se aproximarem, conheci garotos hilários, ri muito com eles, gostei também de um garoto que é super gente boa.O Matthew era um garoto ótimo e adorei ele mesmo, só que, para ser sincera, eu não estava colocando muita fé. Do tipo, de que iríamos para alguma coisa mais séria, sei lá... mas, caso houvesse ocasião para sairmos e conversarmos mais, é claro que eu iria. Não poderíamos ser mais que amigos, mas como amigos com certeza teríamos futuro.
'Prontinho. Entregue.' disse, destravando as portas do carro.
'Obrigada amiga.'
'Por nada , eu é que agradeço.'
'Não por isso amiga.' sorri.
'Ok, mas óh, se livrou hem. Eu que vim dirigindo.'
'Ah é! Tinha me esquecido que tinha combinado com você que eu voltaria dirigindo.' O que era realmente verdade. Fiquei tão distraída com a história toda que acabei me esquecendo.
'Sei. hahahaha. Tudo bem , deixa pra próxima.'
'Ok. Mas se serve de consolo, eu fiquei com os olhos grudados na estrada durante todo o caminho de volta. Não confiei em você na estrada quando estava falando do Manson.' brinquei.
'Hahahaha. Tá ok então.' ela disse sorrindo.
'Boa noite . Tenha óóótimos sonhos. Até amanhã.' Disse, abraçando e beijando na bochecha ela.
'Hahaha. Boa noite. Bons sonhos você também.' ela também disse, me abraçando e me dando um beijo estalado na bochecha.
Saí do carro e dei um último tchau para . Assim, ela buzinou e saiu a caminho de sua casa. Andei em direção à porta da frente e entrei em casa. Estava tudo escuro, só a luz da cozinha que parecia estar acesa. Tranquei a porta e fui para a cozinha, onde encontrei minha mãe sentada bebendo chá e comendo alguns biscoitos, enquanto lia algum artigo de jornal.
'Oi mãe.' Falei, entrando pela porta da cozinha.
'Olá filha.'
'Por que está acordada ainda? Já está tarde.'
'Já está é?' ela olhou para o relógio que estava pendurado na parede, que marcava uma hora da manhã. 'Nossa, é mesmo. Perdi a noção da hora lendo aqui na cozinha.'
'Então é melhor a senhora ir dormir. Deve estar cansada do trabalho.'
'Ah sim, estou mesmo filha. Mas, como foi o passeio?'
'Foi bom, mãe. Eu e fomos para Ballantyne ver a estréia de um filme.'
'Que bom filha. Foram só vocês duas?'
'De início sim, mas quando chegamos lá encontramos com um amigo da escola que estava também com os amigos. Daí vimos o filme todos juntos, conversamos, comemos e tal.'
'Ótimo então. E seu irmão saiu também, não é?'
'É né mãe, como toda sexta-feira.'
'Ah, é verdade. Só fico preocupada com ele indo para esses lugares longes e voltando só de manhã.'
'Não esquenta mãe, o Phill já é bem grandinho. Sabe o que faz.'
'É, espero que saiba mesmo.'
'Ok então. Agora vai deitar, mãe.'
'Ok filha. Boa noite, minha flor.Até amanhã.' ela me deu um beijo na testa.
'Boa noite, mãe.' falei sorrindo.
Nós duas subimos as escadas juntas, então minha mãe entrou no quarto dela e eu fui para o meu. Joguei minha bolsa em cima da escrivania e já fui pegando minha toalha para um banho antes de dormir. Depois que fui ao banheiro e tomei um delicioso banho, arrumei minha cama e me deitei. Como de costume, relembrei todo o dia e sorri quando pensei na parte da noite. Não demorou muito e eu já havia caído no sono. Estava realmente cansada.

-------------------------------x--------------------------------------------x-------------------------------------------x-----------------------------------------

POV's

A noite tinha sido muito foda. Desde que eu e os garotos chegamos na tal festa, não paramos de beber e de pegar garotas. Estava destruído, cansado, com as roupas colando no corpo, com dor de cabeça, cheio de sono e ainda tive que dirigir até Myers Park para deixar o resto dos caras em casa. Deixei todo mundo largado na porta de casa e depois só faltava o Phill, que estava com a cabeça tombada no vidro da janela. Tive que tomar umas duas latinhas de energético para poder dirigir um pouco mais consciente. Assim que cheguei em frente a casa de Phill, já estava de manhã. Parei o carro e sacudi ele para que abrisse a porta do carro e caísse fora.
'Ôh Phill, bora, já chegamos na sua casa. Rala daí.'
'Já? Ainda bem cara... estou todo fudido. Preciso dormir um pouco.'
'Valeu cara. Eu também preciso muito de uma cama agora.'
'Ok. Não quer entrar para comer alguma coisa ou descansar?'
'Não mano, valeu. Quero ir é pra minha casa.'
'Beleza então, estou indo nessa, mano. Valeu pela carona.'
'Por nada cara, estamos aí pra isso.'
'Ok. Vê se passa aqui em casa mais tarde.'
'Beleza. Qualquer coisa eu passo aqui.'
'Ok. Tchau mano.'
'Tchau bicha louca.' eu disse dando um soco nas costas dele.
Assim que ele bateu a porta do carro, acelerei e fui correndo pra casa. Não aguentava mais aquela roupa colando, não conseguia mais nem enxergar direito. Minha casa não era muito longe dali e logo depois já estava estacionando o carro na garagem de casa. Entrei pela porta dos fundos e encontrei com meu pai na cozinha tomando café. Não estava com muito saco para conversa. Tentei passar direto, mas meu pai me parou com a mão nas minhas costas.
'Que noite em?'
'Bom dia pro senhor também, pai.' não conseguia nem olhar para ele direito de tanto sono.
'Acho que para você é boa noite e bons sonhos.'
'É.' apenas consegui dizer isso.
'Sobe logo pro quarto então, antes que sua mãe acorde e te encha de perguntas. E vê se não faz barulho.'
'Ok. Até mais.' Meu pai, tinha horas que era maneiro.
'Até mais.'
Me arrastei até o meu quarto, saí tirando minha blusa e minha calça, peguei uma toalha e uma cueca box vermelha e fui direto pro banheiro. Tomei um banho muito bom, me enxuguei, coloquei minha cueca e me taquei na cama. Assim que a minha pele entrou em contato com o edredom da cama, foi como um sonífero pra mim. Em questão de segundos eu estava completamente apagado em cima da cama.

Quando levantei a cabeça do travesseiro, senti uma dor de cabeça do inferno. Não estava com a visão totalmente boa ainda, então cocei os olhos para ver se conseguia distinguir as coisas em minha volta. Logo vi que estava no meu quarto e olhei para o relógio digital em cima da cômoda que estava ao lado da cama. Cinco horas da tarde. Eu tinha chegado umas sete horas da amanhã, eu acho, em casa. Não lembro de muita coisa, só lembro da cara do Phill e depois a do meu pai. Me levantei e sentei na cama, procurando alguma coisa para vestir. Fiz uma careta quando vi que teria que andar até o armário para pegar alguma coisa. Então me levantei e fui até o armário, onde peguei uma bermuda preta e uma blusa de manga azul escuro e calcei meu all star preto. Saí do quarto e fui em direção às escadas. Desci e encontrei minha mãe e meu pai vendo tv.
'Boa tarde, querido.'
'Boa tarde, mãe.'
'Chegou que horas, hem?'
'Ele chegou de madrugada, você já estava dormindo.' meu pai disse.
'É. Não quis acordar a senhora.'
'Ah bom. Dormiu tanto assim?'
'É... a festa foi boa demais.'
'Estou percebendo. Bom, vá até a cozinha e coma alguma coisa.'
'Ok.'
Fui até a cozinha, e chegando lá, percebi que realmente estava morrendo de fome. Preparei um sanduíche bem grande e peguei um copo de coca cola. Comi tudo em alguns instantes e me senti cheio. Ainda estava me sentindo cansado, mas não iria deitar e dormir de novo. Tinha que sair para acordar. Mas antes fui para o banheiro e tomei outro banho para melhorar a minha cara de adolescente vagabundo. Assim que me arrumei, peguei as chaves do carro, que estavam jogadas no chão do quarto, desci as escadas novamente e fui para a garagem. Peguei o carro e parti em direção a casa do Phill. Os outros caras, se bobeasse, estariam do mesmo jeito que os larguei em frente a suas casas, então nem adiantaria ir procurá-los agora. Depois de algumas ruas e sinais, já estava entrando na rua da casa do Phill. Estacionei o carro em frente e fui andando até a porta da frente. Toquei a campainha e esperei apoiado com o braço na parede ao lado.
'Olá.' a mãe do Phill, eu acho, atendeu a porta.
'Oi. O Phill está aí?'
'Ah, está sim querido. Entre. Irei chama-lo.'
'Ok.' Entrei e andei em direção do sofá, me sentei e esperei Phill vir pra sala enquanto eu olhava pra tv.
'Ele já está vindo. Você quer alguma coisa?' A mãe dele era gentil demais.
'Ah, um copo de água por favor.'
'Ok. Já trago.' ela me respondeu com um sorriso.
No instante em que ela saiu, ouvi um barulho de passos na escada. Não me virei para olhar quem era, eu já sabia...
'Fala aí, bicha.'
'Olá .' ou não sabia.
'Er... Oi .' Falei, virando a cabeça rápido assim que ouvi sua voz. 'Pensei que fosse o seu irmão.'
'Não. Ele está no banho, já vai descer.' ela disse com a voz meio seca.
'Beleza então.' também disse com a voz seca. Não iria me encolher por causa dela.
'Aqui a água. Quer mais alguma coisa?' a mãe do Phill entrou na sala.
'Ah, não, obrigado.'
'Por nada. Estarei na cozinha se precisar de alguma coisa.' e ela saiu em direção novamente para cozinha.
A se sentou no sofá que estava do lado oposto em que eu estava. Quando fui colocar o copo d'água em cima da mesinha de centro, reparei que ela usava fones de ouvidos. Mesmo usando fones de ouvido, dava para ouvir o zumbido da música. De início não consegui ouvir a música que ela estava ouvindo, mas depois reconheci o solo de guitarra. Seek and Destroy, Metallica. Me virei para ver o que estava passando na tv. Geralmente eu não me incomodava com o silêncio que ficava quando tinha alguém a mais no local, mas aquele silêncio estava de certo modo me incomodando. É como se eu pudesse ouvir cada pequeno som que vinha de mim. Senti que algumas vezes um olhar era lançado sobre mim, mas eu sabia que era só impressão. Depois de um tempo, ela cortou o silêncio, tirando os fones de ouvido e falando em minha direção.
'Então. Quando você irá se interessar em fazer o trabalho de filosofia?' Pensei em ter ouvido aquilo com um certo tom de irônia. Vindo dela, eu acho que não era impressão.
'Não sei. Quando eu tiver vontade.' disse ríspido.
'Ok. A nota é sua. Eu já passei.' Eu sabia. Como ela era sarcástica e exibida.
'Ótimo pra você. Assim pode ir puxar o saco de outro professor no próximo ano.'
'Puxar saco de professor? Você acha que eu preciso disso para passar de série?' disse em tom irônico.
'Não sei para passar de série, mas para que eles te aturem, acho que sim.' Senti o olhar dela me fuzilar. Ótimo.
'Então você totalmente enganado. Não preciso de puxar saco de alguém para poder ter notas boas e muito menos para que alguém goste de mim, ao contrário de você, que tenta ser o fodão para que todos de idolatrem. Coitados.'
'Eu tento ser fodão? Hahaha. Me faça rir, . Me desculpe se eu sou mais sociável que você.'
'Mais sociável ou mais panaca?'
'Panaca? HAHAHAHA. Pára, sério, assim eu morro. Você usa vocabulário de outro século só para parecer mais inteligente? Relaxa, pode deixar disso, eu não vou ficar impressionado não.'
'Viu? Depois eu é que sou a metida. Não preciso e nem quero te impressionar, garoto idiota. Tem muito mais o que fazer.'
'Aé? Então por está aqui tendo essa conversa comigo?'
'Ai garoto, é simplesmente porque eu estou fazendo algo que a professora me pediu, um grande favor, que é fazer o milagre de fazer você tirar uma nota boa que seja.'
'Eu não preciso de você para tirar notas boas. Muito obrigado e volte sempre.'
'Vai se foder então, garoto metido a fodão. Só quero ver quando você for reprovado. Nunca fiz isso com ninguém, mas com você irei ter o prazer de rir.' GAROTA IDIOTA, VADIA.
'Vai se foder você, garota. Vai procurar alguém que te queira.' Nessa altura do jogo, já estávamos em pé, falando alto.
Phill estava descendo as escadas e a mãe dele vinha até a sala.
'O que está havendo?' a mãe dele perguntou.
'Ah, nada mãe. Não esquenta não, esses dois não se batem.' Phill disse, chegando ao meu lado.
'Ok, mas que horror. Parem de brigar. Aqui não é lugar para essas coisas.' a mãe dele parecia estar zangada.
'Ok, me desculpe senhora . Não deveria ter gritado por estar em sua casa.'
'Ninguém merece, hem? Vem na minha casa e ainda fica todo exaltadinho?' esbravejava.
'Chega vocês dois. Bora ,vamos dar uma volta para acalmar.' Phill disse, me puxando pelo braço. Eu ainda estava com o olhar preso nos dela. Meu sangue estava fervendo, quase explodindo por debaixo de minha pele. Que vontade de acabar com aquela garota.
'Vamos. Mais uma vez, desculpe senhora .' Segui Phill até a porta e saímos daquela casa. Não aguentava mais olhar
pra .
'Mas que caralho vocês dois em? Quase se atracaram ali dentro.' Phill disse com um tom de riso na voz.
'Ah cara, sua irmã me tira do sério. Como você aguenta ela? Puta que paril.' eu disse desabafando.
'Relaxa cara. Ela não é tão má assim. Vocês nem se conhecem direito.'
'Não, é? Hahahaha. Não acredito nisso. E nem pretendo conhecer ela melhor. Quero ela o mais longe possível de mim.'
'HAHAHAHAH. Bota aí, vocês ainda vão acabar se pegando.'
'Não, Phill. Nem aqui e nem no inferno. Todas, menos ela.'
'Valeu valeu. Vamos dar umas voltas por aí então.'
Entramos no meu carro e fomos dar umas voltas sem destino pelo bairro. Precisava me livrar da lembrança da cara daquela garota.


Capítulo V-


Já era noite quando a chuva dava os seus primeiros sinais de vida. O respingo dela estava começando a lavar a janela do meu quarto, que estava com uma parte aberta e outra fechada. Me levantei da escrivaninha para poder fechá-la toda antes que molhasse o interior do quarto. Quando a fechei, me recostei na parede ao lado e fiquei observando enquanto ela começava a engrossar e a cair com mais velocidade. Em alguns minutos parada ali, voltei para a escrivaninha, onde eu escrevia um resumo sobre a matéria dada na última aula de biologia, já que o professor nos obrigou a fazer essa merda durante o final de semana e entregá-lo na segunda-feira seguinte.
Estava quase no final do resumo, mas então não consegui concluir a minha linha de raciocínio. As palavras pararam de fluir e eu ficava com o lápis sambando entre os dedos. Reli todo o resumo e tentei me lembrar da última aula e das palavras do professor.
'Assim podemos concluir que...' Escrevi e ao mesmo tempo falei em voz alta. Mas peguei a borracha e apaguei. 'Diante dos dados acima, verificamos que o ciclo de Krebs é um impor.... Não.' Borracha novamente. 'Conclusão: O ciclo de Krebs faz com que... Droga.' Joguei o lápis em cima do papel e passei a mão na testa, fazendo com que minha franja ficasse um pouco arrepiada. 'Hoje não é o meu dia.' Bufei, olhando pro papel. Peguei o celular e liguei para o número que estava na lista de discagem rápida.
'Hey cabeçuda.' Ouvi do outro lado da linha.
'Oii amiga.'
'O que houve?'
'Hmm... Não estou conseguindo terminar o resumo de biologia.' Respondi, olhando pro papel.
'Está me ligando pra dizer isso?' disse, estranhando.
'É.' Eu disse, fazendo uma voz de criança.
'Quer ajuda?'
'Não.' Ainda estava encarando o papel.
'Vou pra sua casa, daqui a cinco minutos estou aí.' Ela falou sem ao menos esperar eu dar tchau ou falar outra coisa.
Joguei o celular em cima da cama e me levantei. Desci as escadas e fui para a cozinha caçar algo para comer. Minha mãe estava na sala vendo tv e Phill estava sentado na bancada da cozinha, devorando um x-burguer maior que a boca dele.
'E aí.' Ele falou, engolindo um pedaço e já partindo para outra mordida.
'Oi.' Falei, meio desanimada.
'Já acalmou?'
Olhei pra ele, rolando os olhos e mexendo na geladeira.
'Sério, você tem que aprender a ficar mais calma.'
'Então não traz mais ele aqui.'
'Haha.' Ele riu como se eu tivesse falado alguma coisa engraçada.
Desisti da geladeira e fui para o freezer e peguei um potinho de sorvete de blue ice que tinha ali. Peguei uma colherzinha e também me sentei junto a bancada, de frente para Phill. Ficamos algum tempo só ouvindo nossos próprios barulhos enquanto comíamos e então a campainha soou.
'Deixa que eu vou, mãe.' Falei, já passando pelo corredor que ligava a cozinha à sala e vendo minha mãe já se levantando. Cheguei até a porta e abri, vendo Julie parada na porta com um casaco maior que ela preto, uma calça jeans e sapatilhas azuis.
'Oii pessoa-que-mal-espera-eu-dar-tchau.'
'Oi querida.' Ela riu. Mandei ela entrar e ela foi logo em direção a minha mãe, dando-lhe um abraço e um beijo.
'Quer sorvete, ?' Perguntei.
'Hummm... Esse é de blue ice?' Ela perguntou, olhando pra minha mão.
'É sim, vamos lá na cozinha.' Ela concordou e me seguiu até a cozinha.
Puxei uma cadeira pra ela se sentar e ela o fez, e vendo que Phill estava ali, mandou um sorriso pra ele. Então ele parou de comer para falar com ela.
'E aí , veio acalmar minha irmãzinha?' Ele falou em um tom sarcástico.
'Acalmar?' Ela arqueou a sobrancelha.
'Não liga pra ele.' Eu respondi, dando de ombros e me lhe entregando o potinho de sorvete azul com uma colherzinha.
'Acalmar do que?' Insistiu.
'Ah, ela não te contou? Ela e o quase se pegaram aqui na sala.'
'Como assim, "se pegaram"?' Ela arregalou os olhos, me jogando o olhar.
'Calma, ainda não foi aquele se pegar de amassos.' Nessa hora dei um soco em seu braço, mas obviamente ele nem sentiu dor. 'Eles quase rolaram pelo chão trocando socos.'
'Aé? Nossa, não acredito que perdi essa!' Ela disse, fazendo cara de arrasada e dando um soquinho de leve na bancada.
'Pois é, quase que eu tive que colocar uma camisa de força neles dois.' Phill disse antes de dar a última mordida no hambúrguer que não existia mais na mão dele.
'Que saco.' Ela ainda falou com o mesmo tom de arrasada.
'Eu é que devia ficar com cara de arrasada.' Falei com um tom irônico. 'Queria ter dando um soco naquele idiota.'
'A briga iria ser boa, viu?' Phill ainda disse, fazendo soltar um riso alto.
Phill se levantou da cadeira e saiu da cozinha. Segundos depois disso, olhou pra mim.
'Iria me contar isso?'
'Não sei... Talvez.' Dei de ombros.
'Como assim, talvez? Iria me deixar sem saber dessa quase briga?' Ela ficou um pouco indignada. Na verdade, não era que eu não quisesse contar pra ela, mas não queria me lembrar daquilo. Ele não valia tanto a pena assim, de eu me ocupar contando dessa briga.
'Não foi nada de importante. Ele só ficou putinho por eu dizer umas verdades pra ele.'
'Verdade? Hahaha, agora é que eu quero saber de tudo, .' Ela riu. Eu realmente não queria contar, mas eu sabia que ela não iria descansar até que eu contasse tudo, e já que Phill já tinha falado demais, resolvi contar logo tudo de uma vez.
Passamos algumas horas ali na cozinha, rindo e conversando. Comemos mais dois potinhos de sorvete e então olhou o relógio que estava preso à parede da cozinha e viu que já se passavam das onze. Não tínhamos nem percebido, porque minha mãe ainda estava na sala vendo tv (na verdade, parecia que estava cochilando deitada no sofá) e Phill já não tinha mais dado sinal de vida na cozinha e nem na sala. Ela se levantou e eu a levei até o carro. Depois de mais uns minutinhos conversando, nos despedimos e o carro de avançou na rua.
Entrei em casa e tranquei a porta da frente. Fui até o sofá e chamei minha mãe, que se levantou e foi direto para seu quarto. Fui até a cozinha e desliguei a luz, depois fui para o meu quarto, arrumei minha cama, peguei uma camisa larga, um short leve e uma calcinha e fui tomar um banho. Demorei alguns minutos no banho por ficar debaixo do chuveiro quente somente sentindo as gotas caírem sobre minhas costas. Tive a consciência de que estava gastando água demais e logo me ensaboei, fazendo todo o resto. Me vesti, escovei os dentes e fui para o quarto .Olhei para a escrivaninha, que ainda tinha em cima o resumo de biologia. Me sentei na cadeira, peguei o lápis e escrevi "E assim concluímos essa merda.".
Guardei a folha na gaveta junto com o lápis, abri a janela do quarto, sentindo o vento frio que soprava lá fora, ainda chovia um pouco, mas ainda sim deixei aberta. Apaguei a luz do quarto e me deitei na cama. Assim que o fiz, senti meu corpo relaxar e minhas pálpebras pesarem, então apenas deixei que elas caíssem e vaguei pelo pensamento.

Acordei com a luz do sol que estava entrando pela janela e batendo no meu rosto. Olhei o relógio que estava no criado mudo e mostrava que eram dez e meia da manhã. Me levantei e fui direto para o banheiro, escovei meus dentes e desci para tomar café da manhã. Encontrei minha mãe fazendo panquecas e dei bom dia pra ela, recebendo um beijo na testa como sempre. Comi algumas panquecas com suco e logo depois subi para arrumar meu quarto, que já estava precisando de um jeitinho. Passei o dia todo arrumando meu quarto, já que eu não tinha tanta animação assim para arrumá-lo, mas se eu deixasse para fazer outro dia, isso seria só no ano que vem. A noite li um pequeno livro para passar o tempo, jantei e logo depois de um banho, me deitei para dormir novamente. Quase sempre meu domingo era parado. costumava tirar o domingo para ir visitar uns parentes na cidade vizinha, e isso fazia com que ela ficasse praticamente o dia todo lá. Eu saía às vezes com umas outras pessoas da minha turma de filosofia e de inglês, mas isso só acontecia quando elas me ligavam perguntando algum programa legal ou me chamando para irmos a cinema e tudo. Já Phill, passava quase toda manhã de domingo dormindo e a tarde e noite passava na casa de alguns amigos.

'Eita segunda-feira.' Eu disse, me sentando ao lado de para assistirmos a aula de literatura. Nem merecia aula de literatura logo em uma segunda-feira de manhã. Isso era pedir para continuar dormindo. Graças não era dessa turma. Desde sábado de manhã que não o via ou sequer ouvia seu nome e isso era ótimo.
Logo depois de assistirmos a aula de literatura, eu fui para a aula de biologia teórica e foi para biologia laboratorial e com certeza ela iria se encontrar com o Jake. Quando conversamos no sábado a noite, ela tinha me dito que tinha conversado com ele pelo telefone e que marcaram de ir ao cinema na próxima quinta-feira. Como sempre, ela falava dele com brilhos de estrelas nos olhos e eu adorava ver isso.
Me sentei na fileira do canto da sala e fiquei folheando o meu livro esperando o professor chegar. Algumas pessoas vieram conversar comigo sobre o resumo e eu engatei a conversa com elas. Ficamos conversando até o professor chegar a sala e começar a falar.
'Agora, quero os seus resumos em cima da minha mesa para que eu possa dar uma olhada neles.' Todos se levantaram e deixaram a folha em cima da mesa que tinha no canto esquerdo da sala. Peguei minha folha e fiz o mesmo caminho que as demais pessoas e logo depois estava novamente sentada em minha cadeira.
Enquanto ele olhava as folhas, eu rabiscava qualquer coisa na folha de trás do meu caderno e estava contando os minutos para a aula acabar, mas aí ouvi o professor chamar meu nome.
'Senhorita , pode vir até aqui?' Me levantei e fui até ele sem nenhuma pressa.
'Sim.' Falei, olhando para ele. Parecia que ele segurava minha folha, pois reconheci minha grafia.
'A senhorita fez o resumo sozinha?'
'Fiz sim.' Falei.
'A senhorita por acaso acha que eu tenho senso de humor para brincadeiras idiotas logo pela manhã?'
'Hãm?' O olhei confusa, arqueando a sobrancelha. 'Como assim?'
'Vai me dizer que isso não é uma brincadeira?' Ele apontou para o final da folha. 'Puta merda', eu quis tacar minha cabeça na parede naquele exato instante. Esqueci de apagar o que eu tinha escrito sem paciência no sábado a noite, antes de dormir.
'Hãmmm...' Fiquei com cara de tacho, olhando pra ele e tentando buscar na minha mente algo que fosse plausível e bem, não tive sucesso, até porque era óbvio demais que não encontraria. 'Bom... eu... eu...' Passei a mão pelo cabelo, não desistindo de encontrar alguma coisa, mas ele cortou minha linha de raciocínio.
'A senhorita queira se sentar, por favor.'
'Professor, eu juro que não quis... n-não quis..'
'Senhorita , sente-se.' Não pude fazer nada, apenas concordei e fui me sentar. Como eu era burra! Não olhei o resumo antes de entregar e muito menos lembrei de apagar aquela maldita frase. Agora só me restava esperar o que o professor iria fazer em relação a isso.
O sinal do intervalo tocou e então coloquei meus livros e caderno dentro da mochila e fui andando em direção à porta, louca para sair e respirar ar puro. Antes que eu o fizesse, o professor se aproximou de mim e falou: 'Quero outro resumo amanhã, com duas páginas e palavras diferentes dessas que você escreveu. Se não receber amanhã, considere-se dispensada da minha aula por uma semana.' Assenti e caminhei para fora da sala. Ótimo, agora eu teria que fazer outro completamente diferente e mais longo. Parabéns pra mim.
Sentei no banco que tinha do lado de fora da cantina e esperei por . Um pouco depois, vi que ela vinha caminhando junto com Jake. Os dois riam de algo que conversavam e eu continuei esperando por eles, sorrindo.
'Oi .' me disse, sentando ao meu lado.
'Oi .' Jake parecia um pouco sem graça quando falou meu nome. Não sei porque, mas pensei que talvez fosse porque eu já sabia de suas intensões há algum tempo.
'Oi pessoas. Pode me chamar de , Jake. Agora você já é considerado meu amigo íntimo.' Falei, dando uma piscadela pra ele, que ficou um pouco mais sem graça e me deu um empurrão com o cotovelo. 'Ai.'
'Ok.' Ele passou a mão no cabelo e colocou no bolso do casaco.'Er... Vou indo falar com uns amigos. Vejo vocês mais tarde.'
'Tudo bem, até mais.' Sorri.
'Depois nos falamos.' sorriu e ele sorriu de volta e depois foi ao encontro de uns garotos que estavam um pouco mais distantes da gente. Esperei mais algum tempo antes de fazer um interrogatório a . Perguntei tudo o que tinha direito e ela me disse que estavam conversando o tempo todo e que estava mais ansiosa ainda para o próximo encontro de quinta. Estávamos conversando e rindo, quando senti alguém se aproximar de mim e instantaneamente um frio na espinha me fez puxar o ar mais rápido. Vi que me olhou e olhou por cima de meus ombros rapidamente, me dando a confirmação de que realmente tinha alguém próximo de mim. Então, me virei para poder ver quem era e vi ele indo para na minha frente. Fiquei um tempo parada tentando pensar em uma razão lógica para estar parado bem a minha frente depois daquela briga que tivemos. Eu ia começar a falar, mas ele foi mais rápido.
'Esse era o último lugar da Terra em que eu queria estar, mas a professora me encontrou hoje cedo no corredor da sala e quase me obrigou a vir falar com você, então, não fique tão lisonjeada por vir falar com você.' Ele falou, passando a mão pelo cabelo, deixando-o mais desarrumado e suspirou forte.
'Lisonjeada? Me poupe.' Falei sarcástica. 'Veio falar sobre o trabalho de filosofia? Pensei que você não desse a mínima pra isso.'
'E não dou. Já falei o porquê de eu estar aqui.' Ele olhava para todos os lados, mas não fixou o olhar em mim e eu fazia o mesmo, só que nos encarava como se estivesse assistindo a algum filme. Ficamos em silêncio por três segundos e senti aquele silêncio de segundos me cortando por dentro. E por que diabos minha respiração estava acelerada?
'Vamos fazer o seguinte.' Ele disse, olhando agora pra mim. 'Você faz tudo e eu te pago depois.'
Olhei para ele, rolando os olhos. Por mais que eu quisesse me ver livre dele, não iria deixar ele se dar bem as minhas custas, e ainda me pagando? Quem ele pensa que eu sou?
'Não. Não irei fazer as coisas fáceis pra você.' Vi o olhar dele preso no meu rosto e vi sua insatisfação aparecer rápido, mas logo respirou fundo.
'Eu poderia xinga-la agora, mas se você quer assim, iremos fazer do seu jeito. Quando começamos então?'
Fiquei meio confusa. Ele tinha aceitado assim fácil? Não confiei muito naquilo, mas iria continuar para ver no que dava.
'Ok então. Como você foi bonzinho, você pode escolher o lugar melhor para o trabalho.' Ele parou um tempo de me olhar e olhou para os pés, logo depois senti que ele dava um sorrisinho.
'Te vejo na sua casa depois da aula. Até lá.' Ele saiu enquanto eu olhava pra minha frente ainda. Me levantei para ir atrás dele. Como assim na minha casa? Assim que me levantei, o sinal do intervalo soou de novo, mandando os alunos irem para as aulas. Odiei aquele maldito sinal, mas ainda senti o impulso de ir atrás dele, mas... se ele queria assim, então tá, mas ele não iria ficar tão a vontade assim. Iríamos começar a jogar.
'Posso ir?' apareceu do meu lado, batendo os dedos um no outro e com voz de criancinha.
'Hahahaha.'
'Sério, quero mesmo ir. Daria tudo para ver no que vai dar, apesar de que eu já desconfie.'
'Não , fica na sua casa mesmo, mas pode deixar, se ele quer fazer o joguinho de tentar me aborrecer pode ter certeza de que a mágica irá se voltar contra o feiticeiro.' Falei com um sorriso no rosto. riu e fomos para a aula.

Era impressionante como o relógio adorava me contrariar. Da primeira vez em que olhei para o meu relógio, ele já marcava vinte minutos para o fim da última aula. Era impossível que da hora do intervalo até a hora da saída, os minutos tivessem passado correndo sem ao menos eu ter a mínima noção daquilo.
Tentei enrolar um pouco na sala guardando o meu material, na tentativa de que acontecesse algo para que as horas demorassem a passar, mas a cada coisa que eu fazia, parecia que o tempo dava cinco passos a minha frente. Resolvi então sair da sala e ir para casa. Encontrei com na porta da escola e ela me deu um "Boa sorte" antes de entrar no carro. Ela sempre me oferecia uma carona até a minha casa, mas em dias de chuva eu recusava, e isso você já devem saber a resposta. Fui andando até em casa ouvindo música no iPod.
Abri a porta de casa e fui direto para a cozinha. Estava morrendo de fome, parecia que no intervalo eu não tinha comido nada, e comi um sanduíche natural junto com uma coca naquela hora. Preparei um nhoque com molho de bolonhesa e acompanhado de batatas. Claro que já estava feito, só tirei da embalagem e coloquei no microondas. Cozinhar não era muito o meu forte. Comi acompanhado de uma latinha de chá gelado de pêssego, e quando terminei, subi para o quarto e logo depois tomei um banho. Coloquei um short jeans desfiado com uma blusa de manga preta lisa. Prendi o cabelo em um coque frouxo e desci para a sala. Não sabia que horas que ele iria chegar, então deitei no sofá e procurei algum filme bom para ver.
Acho que eu estava cansada e por isso caí no sono, porque quando abri os olhos, o relógio da tv marcava quatro horas da tarde. Quando me levantei senti uma leve pontada nas costas, por ter dormido no sofá que não era uma boa opção de lugar para dormir. Lembrei de que iria vir para minha casa para fazermos o trabalho, mas pela hora, duvidei que ainda viria. Fiquei pensando por alguns minutos o porquê ainda acreditei que ele viria, com certeza ele só tinha dito aquilo para me fazer esperar, e pelo jeito deu certo. Cortei meus pensamentos quando a campainha de casa tocou e eu fui atender.
Provavelmente devia ser Phill que tinha esquecido as chaves pela enésima vez, nunca lembrava de levar com ele. Quando abri a porta, levei um susto, me deparando com a figura de parado em frente a mim. Tentei pensar direito, já que eu tinha acabado de acordar.
'Então... Veio né.' Foi o que veio em minha boca.
'É né, se estou na sua frente.' ele debochou. Rolei os olhos e não tive outra opção a não ser pedir que ele entrasse. Fechei a porta e vi que ele já se sentava no sofá. Contei até dez e falei para mim mesma 'Relaxa, quem vai sofrer é ele.'
Falei para ele ficar na sala esperando enquanto eu ia até o meu quarto e pegava os livros e o notebook. Assim que o fiz, desci as escadas com uma certa dificuldade, já que estava carregando vários livros e ainda o notebook. Ele apenas me observou descer as escadas bem devagar enquanto estava sentado no sofá. Não que eu quisesse ajuda, não esperava nada dele, mas pelo menos que ele não se sentasse que nem um largado no sofá.
'Pronto. Aqui está tudo o que iremos precisar.' Peguei o primeiro livro e abri na página em que falava sobre Aristóteles. 'Aqui fala sobre Aristóteles e no outro fala sobre Platão. Vou ler algumas partes para você ver qual prefere.' Comecei a ler o primeiro parágrafo, mas de vez em quando, olhava para ele e via que estava olhando para a tv. Me levantei, peguei o controle que estava no outro sofá e desliguei a tv e me virei para ele 'Não vai ser tão fácil assim.' Ele apenas me olhou. Me sentei novamente no sofá e comei a reler o trecho que eu já tinha lido, mas então ele pegou o livro da minha mão e ficou olhando para o trecho que eu estava lendo.
'Não preciso que leia pra mim.' Falou ríspido.
'Ótimo.' Também respondi no mesmo tom de voz.
Passaram alguns minutos, e ele ainda estava lendo sobre Aristóteles. Quando ele começou a ler sobre Platão, vi que ele já iria ler sobre o Mito da Caverna, então decidi falar alguma coisa interessante.
'Você vai começar a ler agora sobre o Mito da Caverna, desenvolvida por Platão. É fácil de entender o que ele quis dizer com isso porq..'
'Não preciso da sua ajuda. Já disse que eu sei ler.' Ele me cortou. 'Quando eu quiser explicação de alguma coisa, em último caso eu peço pra você.' Se virou novamente para o livro. Não falei nada, me contentei em apenas ficar calada. Se ele não entendesse alguma coisa, não faria questão de ajuda-lo também. Estava sendo idiota por querer ainda tentar ajuda-lo.
Passaram mais minutos e minutos. Eu brincava com um lápis que tinha do meu lado enquanto ele parecia realmente ler o que estava escrito nas páginas. Me levantei e fui até a cozinha beber um copo de água e quando voltei para sala, também se levantava do sofá, jogando o livro em cima dos outros. Fui até ele, mas nem precisou eu falar alguma coisa para ele já ir falando também.
'Já li tudo. Vou querer fazer sobre Platão mesmo. Estou indo que já cansei disso aqui. Amanhã eu continuo.'
Assenti com a cabeça e ele se virou, saiu em direção à porta e saiu por ela. Peguei os livros e os empilhei, deixando em cima da mesinha de centro. Peguei meu notebook e fiquei um pouco na internet. Tentei achar online em algum lugar, mas ela não estava. Sabia que ela iria querer saber tudo o que havia acontecido enquanto estava aqui em casa, mas para a decepção dela, não havia acontecido nada de demais. Nada demais.
Continuei vagando pela internet tentando achar alguma coisa de bom para fazer ali, mas estava um completo tédio. Desisti do computador e liguei a tv. Fiquei vendo Pretty Little Liars até que a campainha tocou. Me levantei do sofá na maior preguiça e fui me rastejando até a porta da sala. Dessa vez era Phill que estava do outro lado da porta. Abri a porta e voltei para o sofá. Fiquei mais um tempo vendo tv, mas depois a fome venceu minha preguiça, me fazendo levantar do sofá e ir para a cozinha arrumar algo para comer. Comi alguma coisa e ouvi o carro da minha mãe entrar na garagem.
'Oi minha flor.' Ouvi minha mãe dizer assim que entrou pela porta da cozinha.
'Oi mãe.' Dei um beijo na bochecha dela e ela me deu um beijo na testa.
'Como foi o dia?'
'Normal. E o seu?'
'Bem. Cansativo como sempre.'
'Ah.' Sorri pra ela. 'O que vai querer para comer?' Perguntei a ela, indo até o freezer pegar alguma coisa congelada.
'Hum, não sei.' Ela disse, indo até mim e escolhendo alguma coisa. Escolheu uma lasanha de quatro queijos e colocou no microondas. 'Me sinto mal por só deixar comida congelada para você e seu irmão. Queria que vocês comessem algo mais saudável e feito na hora.' Ela disse, me olhando comendo, de frente pra ela na mesa.
'Ah, que isso mãe. Nós sabemos que a senhora não faz isso porque tem que trabalhar de manhãzinha e volta a noite muito cansada.' Tentei anima-la um pouco.
'Mesmo assim, queria fazer alguma coisa mais saudável.' Ela ainda tinha o tom de voz um pouco baixo.
'Nha, pára mãe. Relaxa. Nós sabemos que a senhora quer o nosso melhor.' O time do microondas apitou. 'Agora come um pouco para poder tomar um banho e descansar.' Sorri pra ela e fui pegar a lasanha. Coloquei em um prato e peguei uma latinha de chá gelado, e coloquei na mesa pra ela. Terminei de comer e me levantei, passei pela sala e peguei os livros, o notebook e fui para o meu quarto. Guardei tudo e fiquei mais um pouco na internet, dessa vez estava online. Não precisou de muito tempo para que ela viesse falar comigo.

: você só entra pq já estou de saída né sua vaca. @_@
: que nada sua chata. u.ú acabei de jantar. e eu já tinha entrado antes mas você nem estava aqui.
: eu estava ocupada.
: hmmm com o que? (6)
: depois eu te conto. ah, e você já fez o trabalho de biologia?
: KCT! :@ ainda bem que você me lembrou, já tinha esquecido.
: se não sou eu na sua vida hem? hahahaha. vai lá logo fazer, tenho que ir jantar. beijinhos, até amanhã.
: okay! até amanhã, beijos :*

Já tinha esquecido daquele maldito resumo que eu tinha que refazer. Agora tinha que fazer duas folhas e com outras palavras. Desliguei o notebook e fui pra a escrivaninha, para tentar fazer aquela bosta.


Capítulo VI -


Já fazia uma semana que o ia na minha casa todos os dias, sempre pelo horário das quatro horas, para fazermos o trabalho. Na verdade, para ele fazer, porque desde quando ele chegava até a hora em que ia embora não trocávamos uma palavra. Eu ficava sentada no sofá ouvindo música, enquanto ele lia alguns textos dos livros e às vezes procurava alguma coisa na internet. Ele se recusava me perguntar alguma coisa, o máximo que ele fazia era me pedir um copo de água ou pedir para ir ao banheiro. Admito que estava quase me acostumando ter ele lá em casa, mesmo que fosse no puro silêncio. Quando chegou o final de semana, ele ainda frequentava a minha casa. Não por causa do trabalho (óbvio), mas por causa do Phill, já que meu irmão o chamava para ir lá para jogarem vídeo game ou quando eles iam sair com os outros garotos, sempre era quem ia busca-lo de carro com os outros. Quando ele ficava calado assim, era mais fácil de aturar a presença dele. Às vezes eu sentia um olhar sobre mim, mas quando eu o olhava ele estava com os olhos concentrados na leitura do livro.

Cheguei na escola um pouco mais cedo do que de costume e encontrei estacionando o carro na calçada. Fui em direção a ela e ela sorriu para mim.
'Bom dia!' Ela me disse com um sorriso maior que a boca. Ela e o Jake haviam saído na quinta-feira passada e desde então vivia suspirando e sorrindo o tempo todo. Ela havia me contado que eles foram ao cinema, jantaram em um restaurante super lindo e que no final, quando ele a levou até em casa, eles se beijaram de novo. Depois que ele chegou em casa, ligou para ela e os dois vararam a madrugada conversando pelo telefone. Agora, quando se encontravam na escola, trocavam selinhos e algumas vezes andavam de mãos dadas. Com certeza não iria demorar muito para que eles namorassem.
'Hmmm, bom dia! Já acordou feliz, foi?' Perguntei animada.
'Posso dizer que sim.' Ela corou.
'O que o seu príncipe fez?'
'Ah, o de sempre. Me ligou antes de dormir e mais uma vez ficamos por horas conversando.'
'Nossa, vocês tem tanto assunto assim?'
'Temos sim, só não sei dizer da onde vem tanta falação.' Ela riu. 'Mas tem vezes em que apenas ficamos ouvindo a respiração um do outro.'
'Nooossa. Isso tudo para não dizer "Boa noite, tchau."?' Brinquei.
'Nha, Ficamos assim só por alguns segundos, depois eu ou ele puxamos assunto sobre qualquer coisa.'
Fomos andando e conversando até o pátio colégio e nos sentamos em uns banquinhos que tinham por ali, mas logo o sinal tocou e fomos para a sala juntas, já que a próxima aula fazíamos juntas. Nos sentamos no canto da sala e ficamos conversando com os outros que estavam ali. Quando olhei para a porta, vi entrando na sala e indo se sentar perto dos amigos. Era incrível que ele tivesse chegado cedo, porque quase sempre estava atrasado, mas voltei a minha atenção para a conversa que ainda rolava ali.
O dia na escola até que passou bem rápido, então depois de algum tempo, eu já estava saindo no pátio. Senti uma mão na minha cintura e quando olhei, vi ao meu lado.
'E aí gatona, vai querer carona hoje?' Olhei pro céu e vi que estava nublado, com algumas chances de chover, mas eu estava com um pouco de preguiça de ir até em casa andando, então aceitei o convite dela.
'Ok, hoje eu irei te dar a honra de minha companhia.' Falei com um tom de madame.
'Hahaha. Cala a boca e vamos logo.'
Assim que entramos no carro, Jake parou na janela do lado de e se abaixou para falar com a gente.
'Oi .' Ele inclinou a cabeça e deu um selinho nela. Não pude deixar de falar.
'Awwwwwn, que lindo! E fui eu que ajudei.'
'Como?' Jake perguntou confuso. Ele ainda não sabia que eu tinha arquitetado que ele estaria no cinema e levei pra lá de propósito. Preferi deixar ele pensar que era coisa do destino.
'Nada. Maneira de dizer.' Falei sorrindo e ele riu.
'Oi . Não tinha te visto aí.'
'Eu sei, pareço ser invisível pra todo mundo.' Fiz bico.
'Mas parece que o Matthew te vê inteirinha.' Ele falou, piscando pra mim. Desde o início da semana passada, ele havia me ligado alguns dias e ficávamos conversando por algum tempo. Conversamos sobre marcarmos de sair, mas os dias em que estávamos disponíveis, sempre tínhamos alguma coisa para fazer. Não que eu fosse muito ocupada, mas sempre no dia em que ele pedia para sairmos, eu tinha que fazer algum trabalho importante.
'Nhá. Sei.' Falei um pouco envergonhada e ele riu.
'Já estou indo pra casa. Quer carona?' perguntou.
'Não, não. Estou com o meu carro aqui. Mas obrigada pelo convite linda, eu adoraria.' corou quando ele sorriu pra ela.
'Bom, então tá bom.' Ela disse.
'Nos vemos mais tarde.' Ele deu outro selinho nela e saiu.
'Humm, mais tarde é?' Falei dando um tapinha no braço dela.
'É, vamos sair para tomar um café.' Ela disse, ligando o carro e já manobrando para sair da vaga.
'Que fofo!' Falei sorrindo.
Não demorou nem meia hora e já estávamos parando em frente de casa. Claro que de carro era mais rápido, se a pé já não demorava muito.
Convidei para entrar um pouco, mas ela preferiu ir logo pra casa. Devia querer ficar já preparada para ir com o príncipe dela.
Saí do carro e entrei em casa, indo direto pra cozinha. Não sei como não estava engordando. Toda vez em que chegava do colégio, corria pra cozinha e comia quase uma caixa de lasanha inteira ou outra coisa qualquer.
Como sempre, depois que terminei de comer, subi e fui logo tomar um banho. Coloquei um short de tecido fino e um casaco de manga longa cinza. Desci e fiquei na sala assistindo Marley & Me. Depois que assisti esse filme, procurei no guia de programação outro filme bom e achei Dear Jhon. Adorava aquele filme. Me ajeitei no sofá e coloquei no canal. Tive sorte que ainda estava começando. Passei mais algum tempo assistindo o filme e quando ele acabou, vi que já eram 16:50min. ainda não tinha aparecido lá em casa, mas procurei não me importar muito. Assim que comecei a vagar pelos canais, procurando alguma coisa de bom para assistir, a campainha soou. Quase que me levantei com um pulo por causa do susto que tomei. Ajeitei o short e fui até a porta. Quando comecei a abrir a porta já disparei:
'Não estou ao seu dispor a hora que quiser não, ok?'
'É assim que sou recebido em minha própria casa?' Phill me olhou com uma sobrancelha arqueada.
'Ah, er... é você, Phill.' Passei a mão nos cabelos, tentando disfarçar minha vergonha por ter dito aquilo. Eu tinha que aprender a ver quem era primeiro, para depois sair falando.
'Estava esperando alguém?' Ele perguntou, passando por mim e entrando em casa.
'Hãm.. eu? Não, claro que não.' Falei, tentando disfarçar.
'Então por que falou aquilo?'
'Ora, porque... p-porque..' Na hora em que eu estava tentando responder, o celular do Phill tocou e ele saiu da sala indo para a cozinha para atendê-lo. Dei graças por aquilo ter acontecido. Eu realmente não tinha desculpa para falar.
Fechei a porta e voltei a me deitar no sofá e depois ouvi Phill subir para o quarto. Fiquei por mais algumas horas ali vendo tv até que resolvi ir tomar um banho. Ele não iria vir mais àquela hora. Deixei a cabeça de baixo da água do chuveiro por alguns minutos, pensando o porquê eu passei a tarde toda esperando por ele. Tinha dito a mim mesma antes que não iria me preocupar com . E também tinha me esquecido que ele era o tipo de garoto que não se importava com nada, a não ser com ele mesmo e com o pênis. Saí do banheiro ainda de roupão e fui para o quarto, abrindo a janela e deixando o ar soprar forte pelo interior dele. Me sentei na beirada da cama e fiquei penteando o cabelo, quando ouvi meu celular tocar. Procurei ele por todo canto, mas não achei. Só achei quando virei minha mochila de cabeça pra baixo, fazendo que todo o conteúdo caísse na cama. Olhei no visor e vi que o nome de Matthew estava ali.
'Alô?' Ele falou, assim que viu que atendi.
'Alô. Oi' Falei, sorrindo.
'Tudo bem ?'
'Tudo sim. E com você?'
'Tudo ótimo. Estou te atrapalhando em alguma coisa?' Ele sempre me fazia essa pergunta quando me ligava.
'Não, fica tranquilo.' Sorri.
'Que ótimo então. Então... Como foi o dia?' Ele começou a conversa e dali fomos quase uma hora conversando.

Por ali estava calmo. Havia apenas umas cinco ou seis pessoas sentadas, espalhadas pelo pequeno Starbucks, bebendo seus cafés e conversando com outras pessoas que estavam acompanhando elas. Eu estava sentada em uma mesa que ficava em frente à vitrine da loja, bebendo um pequeno Frappuccino e mexendo em qualquer coisa no meu celular. Uma pessoa chegou a minha frente e eu levantei a cabeça para olhar em seu rosto. Sorri em resposta ao sorriso que me mandava, então puxou uma cadeira e se sentou de frente para mim.
'Fico muito feliz que possa ter vindo.' Matthew disse.
'Também estou feliz por ter me feito esse convite.'
'Eu imaginava alguma coisa mais movimentada, mas estava difícil achar algum dia em que nós dois tivéssemos livres à noite.' Ele deu um meio riso.
'Sim, eu sei.' Fiquei encarando minhas mãos em cima da mesa por um tempo. 'Mas aqui está ótimo. Adoro vir aqui.' Sorri.
'Que bom. Foi o que veio a minha cabeça ontem à noite, antes de te ligar. Queria te ver logo e... - Ele deu uma leve corada. - como à noite fica mais difícil, achei que depois da escola seria melhor.'
'É sim. Agora eu estaria em casa sozinha, me enchendo de qualquer coisa congelada.'
Ele e eu rimos e então ele pediu licença e foi pedir alguma coisa para beber. Vi meu celular vibrar em cima da mesa e vi que era uma mensagem de ."Já estão se pegando?
hahahahahah" Rolei os olhos quando li aquilo. "Você é muito engraçadinha." enviei em resposta. Outra mensagem chegou: "Isso foi um sim? Vai dizer que...;)" "Re: NÃO! Cala a boca, ou melhor, os dedos." O celular vibrou novamente e eu já iria ver o que estava escrito, mas então Matthew sentou-se de novo na minha frente, então apenas joguei o celular dentro da bolsa antes que começasse uma conversa ali entre mim e .
Ficamos algumas horas ali sentados conversando sobre qualquer coisa que vinha em nossas mentes. Apesar de não conversarmos sobre algo totalmente divertido ou interessante, conseguíamos estender o assunto por vários minutos e em meios a risos e gargalhadas, eu sempre o olhava e via como ele olha pra mim. Eu sabia que quando acontecia isso, eu corava, porque sentia um calor percorrer minhas bochechas e um sorriso leve aparecer no rosto dele.
'Deixa que eu te levo em casa, .'
Matthew disse assim que saímos da loja.
'Não precisa, sério. Eu posso ir pra casa sozinha.'
'Nããão. Mê dá essa mochila aqui, eu te levo pra casa. Estou de carro.' Ele arrancou a mochila da minha mão e foi abrir o seu carro, que estava parado na calçada em que estávamos.
'Tudo bem. Já que insiste.' Eu disse, soprando e rindo logo depois. Entramos no carro e ele ligou o rádio, procurando alguma música legal para ouvirmos durante o caminho. Ele estava passando as estações quando eu ouvi o refrão de Jeremy, do Pearl Jam. Na mesma hora falei para ele deixar aonde estava e aumentei o som.
'JEREMY SPOKE IN CLASS TODAAAAAAAAY.' Eu cantava junto com a música e alto, fazendo Matthew rir enquanto prestava atenção no transito.
'Já te disseram que você é uma ótima cantora?' Ele falou em um tom de ironia e alto tentando me fazer escutar, devido o som alto da música.
'Eu sei que canto muito bem!' Falei, rindo e fingindo tocar uma bateria imaginaria.
'Não custa nada sonhar, não é?' Ele riu e dei um tapa no braço dele, continuando cantando a música e batendo a cabeça no ar, fazendo com que meus cabelos ficassem desarrumados. Depois que a música acabou, diminui o som e arrumei meu cabelo. Continuou tocando algumas músicas do PJ, mas eu tinha que falar para Matthew em que ruas entrar para chegarmos na minha casa. Não demorou muito para que chegássemos logo. Ele parou o carro em frente a casa e então eu já estava tirando o sinto de segurança e procurando minha mochila no carro de trás.
'Obrigada Matthew. Foi muito boa essa tarde.' Eu disse, sorrindo.
'De nada . Eu gostei muito também.' Me aproximei dele para dar-lhe um beijo de despedida na bochecha, então ele envolveu minha cintura com sua mão, me puxando para um abraço. Demos um abraço e quando fui afastando minha cabeça do pescoço dele, senti que a cada segundo a respiração dele estava mais próxima ao meu rosto. Tentei pensar em poucos segundos se realmente era uma boa deixar que aquilo rolasse, mas ele já estava perto demais e automaticamente meus olhos estavam cerrados. Senti seu nariz encostar no meu e a mão dele me trazendo mais para perto. Meu cérebro trabalhava rapidamente pensando no que fazer ou no que deixar de fazer. Os lábios dele estavam quase selados aos meus, mas então ele se afastou. Fiquei estática por segundos, mas logo depois abri os olhos e me sentei normalmente no banco do carona. Olhei para Matthew, que estava passando a mão no rosto e logo em seguida olhou para mim.
'Não vou passar de amigo pra você, não é?' Agora podia-se ver um pouco de desapontamento em seu olhar. Meu coração apertou.
'Matthew... er.. olha, n-não quis q-que..' Gaguejei, tentando não piorar a situação.
'Não . Não precisa se preocupar. Não sei como, mas... eu já suspeitava disso.'
'Já?' Falei com uma voz baixa. Estava me sentindo horrível com aquilo. O Matthew era um cara super legal, me fazia rir, além de ser super gentil e tudo, mas... não sabia o porquê de eu apenas sentir como se ele fosse já um grande amigo de muito tempo. Ele merecia uma garota muito mais que ótima.
'Já. Eu pensei que depois de algumas conversas e tal, você já poderia começar a se interessar por mim, assim como eu estou em você. Pensei até que se eu te beijasse, você fosse corresponder, mas você apenas ficou estática, nem ao menos teve o impulso de tentar me beijar também. Eu vejo que você gosta de mim, mas não do jeito que eu gostaria que fosse.' Na hora eu segurei sua mão e olhei nos olhos dele.
'Matt, você é uma ótima pessoa. Mesmo com poucos dias te conhecendo e conversando, sei que você é um cara de melhor caráter que quase todo os outros. Eu realmente gostaria de gostar tanto assim de você, juro.' Senti querer colocar meu coração pra fora. 'Não vou te dizer que tentei gostar de você mais que amigo, porque eu deixei que tudo fosse rolando naturalmente, só que... tudo o que sinto por agora, é apenas amizade.'
'Ok, eu entendo. Talvez eu quisesse que tudo fosse rápido demais.' ele disse, apertando minha mão.
'Talvez. Mas ainda podemos sair e ser amigos!' Falei, colocando um sorrisinho no rosto.
'Claro. Não quero deixar de ter contato com você.' Ele disse rindo.
'Pode deixar. Se você não ligar, eu ligo.'
'Só quero ver.' Agora ele estava com uma fisionomia melhor, mas ainda sim não me senti melhor.
'Então, tenho que ir. Mas eu realmente adorei essa tarde.'
'Eu também gostei muito... Não muito do final, mas todo em si né.' Ele deu um meio sorriso.
'É.' falei e ficamos ainda de mãos dadas em um silêncio. Será que era certo eu fazer isso? Será que se eu tentasse...
'Não precisa fazer isso por mim. Já sei que não gosta desse jeito de mim. Já agradeço muito por ser sincera comigo, .' Como se ele tivesse lido o que estava passando em minha mente naquele instante. Não sei o que eu poderia ter feito naquela hora, mas apenas concordei com a cabeça, dei-lhe um beijo demorado na bochecha e saí do carro. Ouvi a buzina do carro que se afastava de casa e suspirei. Não queria que fosse assim, aliás, não queria vê-lo daquele jeito, mas fazia pouco tempo desde que nos conhecíamos e ele já havia criado um sentimento mais que amizade por mim. Sinceramente, eu não conseguia desenvolver aquele sentimento assim tão facilmente... Talvez, não conseguisse por medo das consequências.
Entrei em casa e me joguei no sofá. Ainda estava com o uniforme do colégio e já eram quase cinco da tarde. Precisava de um banho imediatamente. Fui me arrastando até o meu quarto e procurei alguma coisa para vestir e continuei me arrastando, indo dessa vez para o banheiro. Fiquei um bom tempo de baixo da água molhando minha cabeça até que a campainha de casa tocou. 'Mas que merda, logo agora?' bufei desligando o chuveiro, me enxugando e colocando a roupa, tudo na velocidade na luz. A campainha tocou mais uma vez, me fazendo quase escorregar no corredor dos quartos enquanto saía do banheiro com os pés ainda um pouco molhados. Desci as escadas e fui abrir a porta.

Já estava quase dormindo no sofá. A música que eu ouvia não ajudava em nada. Lost, do Within Temptation, me fazia dormir quando eu estava sem sono e ouvi-la agora não me ajudava nem um pouco ficar acordada. Estava olhando pro teto fazia uns trinta minutos desde que havia chegado na minha casa. Como sempre, ele se sentou no sofá, eu trouxe os livros e a partir dali, ele lia os livros e eu ficava mergulhada no sofá esperando ele ir embora. Não perguntei o porquê dele não ter vindo fazer o trabalho no dia anterior porque sabia que ou ele iria me responder com um fora ou talvez nem sequer iria responder. Mas como eu havia dito antes, o trabalho não é meu, é dele. Então.
'Ou.' Abri os olhos rapidamente tendo a sensação de que alguém havia falado alguma coisa. 'Ooou.' Tirei os fones de ouvido para ver se realmente tinha escutado uma voz ou se já estava ficando louca assim tão nova.
'Hãm?' Falei, como se tivesse perguntando para alguma coisa do além.
'Será que pode me falar uma coisa?' me perguntou, me olhando com uma careta e uma sobrancelha arqueada.
What? Como assim "me falar alguma coisa"? Ele tinha quebrado a lei do silêncio? Huuumm.
'Hããm... Posso.' Respondi, passando uma mão no rosto, tentando melhorar o foco da minha visão.
'Como você consegue se dar bem nessa merda de matéria?' parecia fazer essa pergunta seriamente, me olhando com uma sobrancelha ainda arqueada. Ri de leve, tentando achar alguma explicação para o fato dele ter me perguntado aquilo, ou tentando achar algum sarcasmo naquela pergunta ou se ele estava de zoação com a minha cara. Fitei ele por uns instantes e falei a coisa mais óbvia que tinha na minha mente.
'Conseguindo.'
'Nossa. Que sorte.' Ele riu e voltou a ler o livro. Como assim ele tinha falado comigo do nada? E por que ele estava falando comigo?
'É. Acho que sim.' Falei em um tom tanto quanto desconfiado e voltei a me deitar no sofá.
Depois disso voltamos a ficar em silêncio até a hora em que ele se levantou e saiu pela porta da frente. Ainda não tinha me levantado do sofá e fiquei por ali mesmo até Phill entrar em casa juntamente com minha mãe. Minha mente ficou tentando achar uma explicação para aquilo que tinha acontecido entre mim e .Quer dizer, não era uma coisa normal e eu termos pequenas conversas durante o tempo em que ficávamos um suportando a presença do outro. Eu sabia que teria que ficar mais ligada. Ele não era do tipo de garoto que se tornava, vamos dizer "gentil", assim de uma hora para outra sem querer alguma coisa.
'E ele falou com você do nada?' pareceu ficar surpresa quando contei a ela no intervalo das aulas.
'Sim. Não é um bom sinal, não é?'
'Ah ... Talvez sim ou talvez não.'
'Eu acho que não.'
'Bom, talvez ele tenha falado isso só porque já não aguenta mais ficar assim ou sei lá. Você sabe que ele é esquisito.'
'Não sei não...' Eu tinha quase toda a certeza de que não foi assim por acaso.
', para de se preocupar com isso. Se foi proposital ou não, e daí?' me disse, dando de ombros.
'Como assim, e daí? Ele pode estar querendo alguma coisa, ou pod..'
', você está caindo direitinho no jogo dele.' me cortou.
'Como assim caindo no jogo dele?'
'Não está percebendo? Ele deve estar querendo que você se preocupe com isso, deve querer deixar você perturbada com esses detalhes.' O que tinha me dito fez de algum jeito ser considerável. Talvez ele quisesse mesmo me fazer ficar com essas coisas na cabeça para me deixar preocupada com cada coisa que ele fizesse ou dissesse.
'Putz, talvez você tenha razão.' Falei. 'Não posso cair no jogo dele. Você tem razão. Não posso dar a mínima pra isso.'
'Então mulher, esquece isso e aja naturalmente. Se ele vier conversar com você ou outra coisa similar, você tem que conversar normalmente com ele também.'
'Yeap! É isso que irei fazer então.'
Mais alguns dias se passaram e continuava indo até a minha casa para fazer o trabalho. Agora, ele estava tendo o costume de conversar comigo sobre o trabalho. Me perguntava se eu podia explicar a ele de uma maneira mais fácil algumas coisas que tinham no livro, fazia algumas anotações em um bloco de papel e às vezes, quando nos calávamos, eu podia ouvir ele cantar baixinho algumas músicas que eu conhecia. Mas eu estava fazendo aquilo que havia me dito antes, não estava me preocupando com aquilo e falava como aquilo não me surpreendesse em nada.
Como de costume, cheguei em casa depois da escola, tomei um banho, comi alguma coisa e fiquei na sala esperando chegar. Em alguns dias ele não aparecia, mas eu não perguntava e nem ele dava alguma explicação. Claro, não que eu quisesse, mas dá para ficar curiosa, não é? Então, quando a campainha tocou pelo horário das quatro horas da tarde, eu já sabia quem estaria do outro lado.
'Hey.' Ele disse assim que me viu.
'Oi. Entra aí.'
'Uhh, agora já sou convidado?' Ele me olhou com aquela sobrancelha arqueada de sempre.
'Err.., Entra logo, idiota.' Falei meio sem jeito e então ele sorriu e entrou.
'Então... Qual vai ser hoje?' Ele disse, se sentando no sofá como um largado, como sempre.
'Você vai procurar fotos que pareçam interessantes para por no trabalho.'
'Só isso? Então vou poder ir embora logo.'
'É... Vai.' Respondi, entregando o notebook para ele. Me sentei no outro sofá e fiquei lendo um livro que havia comprado há alguns dias.


Capítulo VII -


'Hey .' Ouvi a voz de e me virei para ele.
'Fala.'
'Terminei de pegar as fotos.'
'Tá bom.' Falei, já me levantando do sofá e pegando o notebook da mão dele.
'Hmm... Até mais.' falou, se levantando e indo até a porta da sala.
'Até mais.' Respondi sem olha-lo, enquanto estava vendo as fotos. Então ouvi a porta se fechar atrás de mim. Fechei o notebook e fitei o sofá a minha frente por um tempo. Senti o silêncio da casa cair sobre mim e meu estômago revirando.
'Hm, preciso de um banho.' falei pra mim mesma quando passei mais alguns minutos naquele vazio. Eu nunca me senti assim, ao contrário, eu adorava ficar sozinha em casa, no silêncio, já estava até acostumada. Mas, naquela hora, o silêncio estava sendo mortal pra mim.
Fui para o banheiro e tomei um banho, saí enrolada no roupão branco e fui para o quarto pegar alguma roupa quentinha. Coloquei a roupa e me deitei na cama. Novamente o silêncio me deixou com uma sensação esquisita, então peguei o celular na escrivaninha e liguei para .
'Heeeeey cabeçuda.' Ouvi falar depois de três toques.
'Oiii Julie. Tá tudo bem?'
'Tá sim, e com você?'
'Er, estou sim.'
'Está precisando de mim, ?'
'Hãm... Na verdade eu ia te per..'
'Ai! Pera, deixa eu terminar de falar no celular, garoto chato.' falou de repente, como se estivesse falando com outra pessoa. Bom, na verdade ela realmente estava falando com outra pessoa.
'?'
'Oi , estou aqui. Tem uma pessoa retardada que fica querendo me morder. Canibal.' Nessa hora ouvi risos de um garoto ao fundo.
'Hummm, morder né? Estou interrompendo alguma coisa?' Falei com voz sedutora.
'Que nada , pode continuar falando.'
'Tá, eu ia te perguntar se você poderia me dar uma carona pra escola amanhã.' Eu não queria carona, eu só falei isso porque vi que estava ocupada com outra coisa bem mais interessante do que jogar conversa fora comigo.
'Hãm? Aah, tá bom .' falou meio receosa.
'Ok então.' Eu já ia desligar quando falou do outro lado da linha.
'Era isso mesmo que você queria falar comigo ? Se quiser, eu passo aí na sua casa agora.' Não era justo. Não nos conhecíamos nem há um ano e ela já sabia quando eu tinha mentido.
'Era ué.' Falei indiferente.
'Rumm. Tem certeza né?'
'Claro que tenho. Agora vou desligar, vou ter que dar uma saída.'
'Tá bom cabeçuda, até amanhã.' E nisso ela desligou.
AH, qual é né? Eu não iria tirar ela dos amassos com o Jake só pra vir ficar conversando sobre qualquer coisa. Ela é minha amiga, não iria fazer isso com ela.
Já que eu estava ali sem nada pra fazer, fiquei jogando uns joguinhos no celular. Em uma hora assim, eles ajudam a tirar um pouco do tédio. Mas não por muito tempo.
Depois de uns minutos jogando os joguinhos dali, fiquei revirando as mensagens que eu tinha deixado guardadas ali e notei uma mensagem não enviada. Quando fui ver o que era, vi que era o endereço, junto com o nome da loja e do livro que eu tinha visto há alguns dias atrás na internet. Eu tinha ficado de ir até a livraria para comprar ele e acabei que nem tinha ido ainda. Já que eu precisava dar uma saída para não morrer naquele vazio, me arrumei, peguei a bolsa e o cartão de crédito e desci para a sala. Pensei em esperar minha mãe chegar do trabalho para chamar ela para ir junto comigo, mas ela estaria muito cansada então abandonei a ideia. Pensei em ir de ônibus, mas já estava quase escurecendo e não poderia voltar muito tarde. Como eu iria fazer pra ir? Eu ainda não tinha carro e minha mãe ainda não tinha chegado em casa.
'Não vou mais.' Falei, me jogando no sofá, já sem esperança.
'Mana!' Phill falou assim que me viu afundada no sofá quando entrou pela porta da sala.
'Hey Phill.' Falei, dando um sorriso frouxo.
'Que foi? te trocou pelo namorado?' Ele se jogou também no sofá em frente ao meu.
'Não. É que ia sair agora mas não vou ter como ir e...' olhei pra ele e alguma coisa estalou na minha cabeça. Dei um sorriso.
'Ihh, o que foi?' Phill arqueou a sobrancelha.
'Ôh Phillziiiiiiinho. Maniiiinho lindo demais.' Falei, me levantando e indo em direção a ele.
'Ahhh, o que você quer, ?' Ele se levantou e colocou uma almofada na sua frente, como se quisesse me impedir de chegar perto dele.
'Phillzinho, faz um favoooor pra sua mana, faz?' Levantei os braços e mexi os dedos na frente dele.
', sai de perto de mim. Tenho medo de você quando faz essa cara.' Ele tentou se esquivar de mim, mas dei um passo apressado pra frente e tirei a almofada da mão dele.
'Não é nada de demais, Phill.' fiz um bico.
'O que é?' ele continuava a se distanciar de mim.
'Me empresta o seu carro?' falei com voz de criança, batendo os dedos indicadores das mãos uns nos outros.
'O que? O MEU carro? Aquele que você quase estraçalhou?' ele falou, parecendo indignado.
'Ah, para de drama, Phill. Eu Q-U-A-S-E bati. E nem foi culpa minha. Foi daquele filha da puta do motorista do outro carro que freou do nada! Você sabe.' Cruzei os braços, olhando pra ele, que me olhava com um ar de ‘ah é mesmo’?'
'De um jeito ou de outro, não vou confiar o meu carro a você, sua destruidora.'
'Ah é? Vai me negar? Vai negar um pedido inocente da sua irmãzinha querida?' fiz bico de novo.
'Vou.' Phill disse.
'Então tá!' Nessa hora, corri. Phill se virou de costas para correr também, mas sentiu o impacto de quando eu pulei em suas costas e comecei dar soquinhos nos braços dele.
'SAAAAAAI DAQUI!' Ele gritou, tentando se equilibrar para não cair no chão junto comigo.
'NÃO! Até você me dar essas chaves!' Tentei agarrar uma das mãos dele que segurava as chaves do carro, mas ele mexia os braços muito rápido, fazendo com que eu não conseguisse pegar.
'! Assim você vai me matar sufocado!' ele disse e só então percebi que estava com um dos meus braços agarrados em volta do seu pescoço. Mas não desisti, continuei tentando pegar as chaves enquanto ele tentava me tirar de cima dele e também tentava fazer com que as chaves ficassem longe de mim.
'ME DÁ ESSA MERDA, PHILL!' eu ainda continuava esticando o máximo possível o meu braço para pegar as malditas chaves.
'Nunca!' Phill agora estava perto da porta, girando em torno de si mesmo tentando me derrubar, parecendo um maluco, enquanto eu alternava entre socos em seu braço e cosquinhas na sua cintura.
'Cosquinhas é golpe baixo, !' Phill gritava, já rindo por causa do efeito delas e eu rindo da cara dele.
'Ah é? Esse é o seu ponto fraco? YAAAAA!' Gritei, fazendo mais cosquinhas na cintura dele e ele ria e ria muito.
'Mas o que...?' Mamãe disse assim que entrou pela porta da sala e viu a mim e Phill, gritando e rindo,um em cima do outro. 'O que vocês estão fazendo?'
Eu e Phill ainda riamos muito, até que vi que ele relaxou a mão que tinha as chaves, e assim dei um impulso pra frente, na tentativa de conseguir tomar as chaves da mão dele.
'AAAAAAAH' Gritei assim que senti Phill perder o equilíbrio e cair pra frente, me levando junto. Nós dois caímos de cara no chão com toda a força.
'Ouch!.' Resmunguei, passando a mão na minha testa, que tinha ido direto no chão. 'Acho que quebrei a testa.'
'Deus! O que vocês dois estavam fazendo?' Minha mãe disse, me ajudando a levantar do chão. 'Vocês querem se matar?'
'Outch! Porra , quer me quebrar todo?' Phill disse, se virando e ficando de costas para o chão. 'Você caiu por cima de mim! Tive que aguentar a dor de cair de cara no chão e ainda por cima todo o seu peso em cima das minhas costas.'
'Todo o meu peso? Está me chamando de gorda?' Falei, já indo pra cima dele de novo.
', para com isso. Aliás, vocês ainda não me disseram o porquê estavam se atracando aqui.' Mamãe disse, olhando pra mim e Phill.
'Essa louca que trepou em cima de mim que nem uma macaca.' Phill disse, se levantando e passando as mãos na testa e nas costas.
'Trepou? Não tem outra palavra não, Phill?' eu disse, fazendo careta e ele também fez careta ao pensar na palavra.
'Mas por que diabos fez isso, dona ?'
'Porque eu queria as chaves do carro dele emprestado para eu ir até o outro bairro de carro.' falei, sentada no sofá com uma voz miúda.
'Ai Deus, olha os filhos que eu tenho.' Mamãe passou a mão entre os cabelos e deu um riso. 'Bom, se ajeitem aí e vê se não façam mais essa ruaça toda.'
'Tá, mãe.' Nos dois falamos juntos. Eu e Phill nos jogamos no sofá juntos e reclamamos um pouco por causa das partes doloridas que sentimos por causa do tombo.
'Não pensa que me venceu, Phill. Só não pego as chaves agora porque já está tarde e a livraria que eu queria ir já deve estar fechada.' Falei, olhando para a hora que aparecia no relógio da sala.
'Você não vai pegar o meu carro.' Phill disse, me mandando o dedo do meio.
'Perdi a batalha, mas não perdi a guerra.' falei e mandei um beijo pra ele, que riu.
Me levantei do sofá, peguei minha bolsa e fui para o quarto trocar de roupa. 'Ouch!'
resmunguei quando passei a mão pela testa. Me aproximei do espelho que tinha na parede e que vi tinha uma pequena área vermelha por causa da pancada com o chão. Procurei uma pomada dentro de uma das gavetas do armário e coloquei no local.
Quando senti minha barriga roncar, lembrei que não tinha comido nada, então desci para a cozinha para fazer um lanche.

'Bom dia, flor do dia!' falou assim que entrei no carro.
'Bom dia!' Falei, tentando parecer entusiasmada, apesar de ser sete da manhã e eu não estar nada animada. 'Como foi ontem, hem?'
'Foi ótimo!' ela falou, sorrindo enquanto saía com o carro.
'Hmmm. Tô sabendo.' Pisquei e ela me deu um leve empurrão no braço.
'Mas por que você gosta de ir tão cedo pro colégio?' perguntei, olhando pela janela e vendo algumas pessoas já saindo de casa.
'Não gosto de chegar cedo, ué. Estou aqui por sua causa, você não sai de casa às sete?'
'Sim, mas quando vou a pé, né. Demora um pouco mais, por isso saio cedo.' Falei, fazendo careta.
'Ahhh querida, me falasse isso antes.'
'Nhá. Chata.'
'Chata aqui é você.'
'Nem vem.' E depois de ficarmos mais alguns minutos nessa discussão e começamos uma nova conversa.
Chegamos no colégio e um pé d'água caiu assim, de repente.
'Droga!' falou, olhando pela janela. 'Só porque precisamos sair do carro.'
'Deixa disso, é só alguns metros até a entrada.'
'Deixa disso é o cacete, . Vou me molhar toda! E nem trouxe a porra do guarda-chuva.'
'Relaxa, dude.' falei com voz de "mano do gueto". 'Vamos sair no três e correr até a porta, ok?' falei, já me preparando.
'Pera.' colocou a bolsa em cima da cabeça. 'Agora estou pronta.'
Soltei um riso e falei '1...2...e...3!' Na mesma hora saímos do carro e começamos a correr com toda a nossa velocidade até a porta do prédio do colégio. Chegamos na porta e mais alguns alunos também chegavam correndo da chuva repentina. Em alguns minutos a entrada do colégio já estava lotada de alunos,uns molhados e outros encharcados. Fiquei parada ali por algum tempo com , rindo de algumas pessoas que, assim como nós, corriam pelo gramado com a mochila no alto da cabeça.
Senti alguém olhar pra mim e me virei para ver se realmente tinha alguém ou se era só impressão. estava vindo em minha direção, extremamente lindo, com os cabelos molhados, um casaco cinza e com o sorriso de lado mais lindo que eu já tinha visto. Tentei olhar para outra coisa ou outra pessoa, mas não conseguia desviar o olhar daquele garoto e fiquei com raiva de mim mesma por isso. O tempo passou tão rápido que nem vi ele chegando mais perto, só deu tempo de notar quando ele já estava bem na minha frente. Balbuciei alguma coisa parecida com um 'Oi' com um sorriso de lado, mas então ele passou direto. ISSO MESMO, ELE PASSOU DIRETO! Me deixou lá com cara de idiota tentando entender o que havia acontecido.
'O que foi, ? Por que está com essa cara?' me perguntou quando notou a minha cara de idiota.
'N-nada.' falei entre os dentes, morrendo de vontade de pular em cima do e enche-lo de porrada. Mas que idiota. Qual é a intensão de uma pessoa de vir até você e do nada, passar direto e nem sequer dar um 'oi' para não deixar a pessoa no vácuo?
Quando olhei, ele estava um pouco atrás de mim, conversando com duas garotas loiras de farmácia. Ainda bem que o sinal do inicio das aulas bateu, porque se não fosse por isso, eu juro que não responderia pelos meus atos.

'?' A voz de pareceu distante.
'???' O tom de voz pareceu ficar mais alto agora.
'O que foi?' perguntei, me virando pra ela, passando a mão no rosto.
'Você está dormindo ou o quê? Parece que você nem está aqui.' ela falou pra mim, fazendo uma careta.
'Ah, não estou com saco para assistir aula, só isso.' menti, abaixando a cabeça, virando de lado, ao mesmo tempo ainda olhando pra . Estava me odiando por isso, mas estava mal por ter me ignorado mais cedo. Minha cabeça estava rodando por conta da confusão que estava sentindo.
'.' me olhou, suspirando e logo depois passando a mão entre os meus cabelos. 'Eu falei pra você não dar bola pro .'
'Q-quê?' Levantei a cabeça tão rápido que cheguei a sentir uma pequena pontada na testa. 'E quem disse que estou assim por causa dele?' Tentei disfarçar.
'Deixa disso e admite. Eu sei que é por causa dele... Eu vi como você o olhou depois que ele passou direto.' Ela ainda passava a mão entre o meu cabelo.
'N-não.' dalei apenas e voltei a abaixar a cabeça. 'Esquece isso.' Não tinha como mentir pra ela.
'Acho melhor você terminar logo esse trabalho pra ele e se afastar.' falou depois de uma rápida olhada para trás.
'Eu sei.' Bufei. 'Não precisamos conversar sobre isso.' Falei, virando a cabeça pro outro lado.

A tarde já havia chegado e eu estava, como de costume, deitada no sofá vendo tv. A campainha tocou e me arrastei para ir atende-la.
tinha razão, eu teria que terminar logo esse trabalho. Não queria mais ter que vê-lo. Aliás, precisava não mais ter que vê-lo.
'Hey' falou assim que abri a porta. Apenas dei um sorriso desanimado, dando espaço para que ele entrasse.
'Então, o que tem pra hoje?' ele falou descontraído, sentando-se no sofá.
'Continua lendo algumas coisas nos livros e anotando aí.' Falei, me deitando no outro sofá.
'Ok dude.' E assim ele abriu um livro e começou a folheá-lo. Apenas continuei deitada no sofá com os olhos fechados. Toda vez em que respirava fundo, o cheiro das roupas e do corpo de iam para dentro dos meus pulmões, me fazendo sentir arrepios nos pelos da nuca e dos braços. Assim que o sentia, apertava com força os olhos, desejando que as horas passassem com rapidez, mas ao mesmo tempo, queria que ele permanecesse ali, com o seu cheiro delicioso. Não demorou muito para que me fizesse abrir os olhos.
'Hey, traduz isso aqui pra mim?' ele falou e eu tive que me levantar e me sentar ao seu lado. Li o trecho no qual ele apontava com o lápis e pensei em uma melhor forma de explicar. Passei os dedos em uma parte da minha testa para ajeitar a franja que caía um pouco nos meus olhos. 'Ouch!' falei quando senti que passei os dedos em uma área que estava dolorida. 'Merda.' Bufei, fazendo uma careta.
'Que foi?' perguntou, se virando pra mim. 'Nossa, tem uma coisa vermelha aí na sua testa.' Ele apontou para minha testa.
'É, eu sei..' Ainda passava os dedos em cima da área com leveza.
'Alguém te deu uma porrada, é?' falou, soltando um riso. Rolei os olhos.
'Haha. Não. Foi o idiota do Phill.'
'Briga de irmã e irmão?'
'Não. Quase. Ele me derrubou no chão quando eu tentava pegar uma coisa dele.'
'Hummm, uma coisa dele?' ele falou, arqueando a sobrancelha e dando um riso.
'Não!' Dei um soco no braço dele e ri.
'Ouch. Calma, só estava brincando.' Ele também riu.
'Ele é meu irmão!E também, estava querendo pegar as chaves do carro dele, só isso.' falei.
'Ah ta né.' ele falou. Ficamos um tempo em silêncio até eu voltar para a linha de raciocínio. 'Então, ér... Deixa eu ver como pos-' Fui cortada por .
'Acho que você deveria passar alguma coisa na sua testa. Parece que vai ficar roxo.' Olhei pra ele e vi que ele estava olhando pra mim.
'É... Ahm, vou fazer isso.' Falei, olhando em seus olhos que estavam a poucos centímetros dos meus.
'É, faz.' E agora, seus olhos estavam a muito poucos centímetros.
'Vou.' Agora estava a milímetros.
Em fração de segundos, a respiração quente dele estava batendo no meu rosto. Meu coração estava acelerado e eu pude sentir que, se eu estivesse de pé, minhas pernas iriam vacilar. Queria enxergar o que estava acontecendo ali, mas meus olhos se voltaram contra mim e as pálpebras eram suas cúmplices, não deixando que eu as levantasse e abrisse meus olhos. Todo o meu corpo, nesse instante, estava lutando contra mim, não deixando que eu executasse qualquer tipo de movimento, fazendo com que eu apenas ficasse imóvel, recebendo o beijo quente e macio que depositava em minha boca. Quando a língua de passeava entre meus lábios, pedindo para abrir caminho, tentei e não sei como consegui, reunir forças e afastar meu rosto do dele. Ele me olhou com um olhar confuso e então passei as costas da mão nos meus lábios. Me levantei e falei confiante, tentando não deixar que minha voz saísse tremula.
'Vai embora.' Apontei para porta. Não tive forças para poder gritar. Sentia meu estômago remexer.
'Foi impulso.' Agora sim, tive que me apoiar no braço do sofá para não cair. Minhas narinas arderam e logo senti as primeiras gotas de água se acumularem nos meus olhos.
'Vai.' Ainda assim falei, continuando apontando para a porta. Assim, ele apenas se levantou e se dirigiu até a porta, mas antes que ele saísse, soltei 'E o trabalho pode esperar para continuar.' não contestou e saiu.
Minhas pernas fizeram com que eu caísse sentada no braço do sofá, mas não deixei que as barreiras que continham minhas lágrimas caíssem. Passei a mão rosto e respirei fundo. O cheiro dele ali. Corri até o telefone da cozinha e disquei o número da casa de .
'Alô?' A voz da sr. surgiu depois de três toques.
'Alô? Hey sr. , é a .' Falei, tentando segurar a firmeza da minha voz. 'A está aí?'
'Ah, sim, está sim. Irei chamá-la.' ele falou, me deixando esperando na linha.
'! O que há de bom?' falou.
'Se arrume.' Não fiz rodeios.
'Nossa. Que violência.' Ela riu. 'Vamos para onde, moça?'
'Vamos para uma livraria que fica em um bairro um pouco longe daqui. Te explico no caminho.'
'Senti que tem história aí no meio. Daqui a vinte minutos estou buzinando aí.' ela falou e desligou o telefone.
Eu não podia ficar ali pensando no que havia acontecido. Não iria deixar que me fizesse como mais uma em sua lista. Não mesmo. Subi as escadas e dali a uns poucos minutos, já estava terminando de me arrumar e esperaria por já na porta de casa.


Capítulo VIII -


'Agora dá pra você me falar, ?' me perguntou, assim que estacionou o carro em uma vaga livre na calçada. Eu tinha dito a ela que, durante o caminho contaria, mas toda vez em que pensava em contar, me vinha na mente a imagem do bem próximo a mim, aquela sensação estonteante. Então o caminho todo eu desviei do assunto e fingi que estava mais interessada em ajudar ela a achar a tal livraria. O que era meio estúpido, já que tinha aquele GPS de bordo no carro.
'Tá bom, mas promeeeete que não vai fazer escândalo?' Falei, me vendo sem saída. então apenas cruzou os dedos da mão e deu dois beijinhos, em sinal de que prometia.
'Bom...o foi lá em casa e tal, do jeito de sempre.' Dei uma pausa e respirei fundo enquanto apenas me olhava vidrada. 'Estávamos normal, até que ele pediu para eu explicar uma coisa, daí me sentei ao lado dele e.-' Antes que eu terminasse a frase, já era tarde demais.
'ELE TE BEIJOOOOOOOOOOOOOU!!' gritou e ficou batendo as mãos umas nas outras rápido.
'É a mesma coisa que pedir porra nenhuma, né?' Me virei para a porta do carro, abri e saí. no mesmo momento, saiu também do carro e deu a volta para me agarrar.
'Owwn, desculpa amiga, é que não pude controlar.' Ela falou fazendo um biquinho, mas não me dei por convencida. Me soltei dela e fui andando em direção a uma livraria que ficava naquele lado da calçada.
'AMIGA!' correu em minha direção e me abraçando novamente de lado e depois acompanhando o meu ritmo.'Você sabe que a sua amiguinha aqui é histérica, né?'
'E como eu sei.' Rolei os olhos e continuei andando.
'Para vai, me conta logo então tudo, com os detalhes.'
'Pra quê? Você advinha tudo.' Falei com um tom sarcástico.
'Tá, eu prometo que vou ficar caladinha até você contar tudo.' Dessa vez, me deixou contar a história toda sem interrupções. Não entendi o porquê dos risinhos dela quando falei do beijo. Mesmo sendo minha amiga, as risadinhas dela fizeram parecer uma coisa boba... tipo primeiro beijo de criancinha. E aquilo não era bobo, era sério.
O me beijou! E sem me pedir. Tá, tudo bem, não vou dizer também que fui forçada, mas ele não podia ter feito aquilo. Agora ele poderia achar que podia me beijar a hora que quisesse, que nem as putas da vida. Ah não, isso ele não poderia mesmo.
Andamos um pouco e paramos em frente a uma livraria que tinha o nome "El libro." Um nome bem criativo para uma livraria, não é?
Entramos e fomos olhando como era por dentro. Parecia ser uma loja já antiga, mas podia sentir o aconchego vindo dela. Tinha as paredes meio amareladas, em um tom bem claro, o chão era de assoalho, o que fazia com que os passos que déssemos fizessem barulho. Havia também algumas poltronas com almofadas bem grandes, uma mesinha de centro com alguns livros em cima, e entre as grandes estantes abarrotadas de livros podíamos ver algumas pessoas caminhando.
'Bom, já que estou aqui, vou aproveitar e dar uma olhadinha. Irei ver se acho algum livro que eu ainda não tenha lido.' falou e logo em seguida saiu andando em direção a um corredor que ficava ao nosso lado. Fiquei olhando os livros que estavam em uma estante, que tinha a plaquinha dizendo "Terror". Eu gostava de filme de terror, mas ler livros de terror já não me agradava muito, pois não sentia a mesma emoção, digamos assim. Fui andando pelo corredor que havia em minha frente, olhando as outras estantes de livros. Parei em frente a uma que a plaquinha dizia "Drama", então comecei a procurar pelo livro que, na internet, havia dito que tinha ali. De vez enquanto eu parava e lia a contracapa de alguns que achava interessante, isso fez com que eu demorasse a achar o livro que exatamente queria. Peguei-o e fiquei foleando algumas páginas, passando os olhos nas letras pretas e digitadas. Enquanto eu me distraía com o livro, alguém parou em frente a mim e fez menção em falar algo, mas assim que percebi, falei mais rápido.
', não adianta tentar me dar um susto.'
'Não era essa minha intensão, e... bom, meu nome é Éric.' Uma voz grossa soou no meio e fez com que eu desse um pulo pequeno para trás, involuntariamente. Fechei o livro e olhei diretamente no rosto de um homem, que parecia ter uns 20 anos, com olhos castanhos claros. Fiquei meio segundo olhando ainda para seus olhos, que sustentaram o meu olhar durante o mesmo tempo. Quando percebi que eu ainda não havia falado nada, senti meu rosto arder de vergonha.
'Arrh, é. Você não é a .' Ah, sério ? O tal homem deu um riso e continuou olhando para mim. 'Er, desculpa. É que pensei que fosse minha amiga que estava comigo.' Falei meio sem graça.
'Ah sim. Não tem problema.' Assim que ele sorriu, não pude deixar de sorrir junto. Não sei, mas algo nele era convidativo para mim. Não sei se era o seu olhar nítido, ou seu sorriso lindo, ou seu corpo meio malhado, ou seu cabelo preto arrumado e ao mesmo tempo bagunçado na parte da frente. Eu podia sentir que se visse a imagem desse momento, ela descreveria que era a foto de uma menininha babando por um pirulito enorme. Quase implorei para que ele dissesse alguma coisa, para me tirar daquele... transe.
'Errr, bom, é que pareceu que você estava procurando um livro específico, então resolvi vir te ajudar. Ah, e eu sou funcionário daqui sabe, faço essas coisas.' Ele também pareceu meio envergonhado na explicação, o que apenas o fez ficar mais fofo.
'Ah ta. Não. Quer dizer, não tem problema.' Sorri, tentando ser o mais natural possível. Até então não tinha percebido a blusa social branca que ele usava, e que em cima do peito esquerdo havia o logotipo da livraria. Da blusa, podia notar seus braços meio malhados.
'Então, posso te ajudar em algo?' Ele sorriu angelicalmente.
'Ham... n-na verdade, eu já achei o que q-queria.' Mas o que? Nossa, pode falar como sou burra demais. Por que eu disse isso? Com um cara daquele pedindo pra me ajudar e eu recusar assim? É, não mereço viver.
'Ah, ok então.' Ainda sim ele sorria, mas seu sorriso já havia ficado mais fraco. Nos olhamos por mais uns instantes e assim ele se virou e caminhou de volta ao balcão onde estava. Fiquei encostada na estante passando as páginas do livro, mas estava lembrando do sorriso dele. Queria olha-lo, mas tive receio de que ele me flagrasse ou pensasse que eu estivesse o tarando. Sei lá, nos dias de hoje, tudo é possível. Decidi ir a procura de . Passei por mais algumas estantes e vi sentada em uma poltrona lendo algum livro qualquer.
'Hey amiga. Achou o tal livro?' falou assim que sentei ao lado dela.
'Achei sim.' Falei com um meio sorriso.
'Hum, acho um livro e o que mais?' Ela sorriu e me deu um tapinha de leve na perna.
'Como assim, o que mais?' Sorri mais abertamente. Ela sabia de tudo antes da hora. Que merda.
'Não se faça de idiota, me conta logo o que foi? Vai dizer que o te ligou pedindo mais um beijinho?'
Droga !
'Porra , você sempre me lembrando desse . Vê se me deixa esquecer que esse garoto existe!' Logo a lembrança do rosto dele invadiu minha mente e senti como se ele estivesse parado atrás de mim, pois senti borboletas no estomago. Dei uma leve olhada para trás e graças aos céus não havia ninguém ali.
'Ok, ok. Desculpa, é que eu gosto de irritar você.' falou, me mandando um beijinho no ar.
'Tá, tá. Vamos logo pagar o livro que já está de noite.' Lá fora já havia escurecido há muito tempo, mas só pude perceber agora, que estava perto da janela da frente. Deviam ser umas oito da noite, já que tínhamos saído de casa às seis.
'Ok, vamos.' Entramos na fila do caixa e então tive tempo para procurar Éric. Ele já não estava mais no outro balcão, então tentei localiza-lo por ali na frente, mas não tive sucesso. Me virei novamente
para e fingi prestar atenção na conversa animada dela. Fiquei desanimada por não poder mais ver ele. Assim que paguei meu livro, eu e fomos até a porta de saída, mas assim que íamos sair, senti alguém colocando a mão em cima do meu ombro, então, assim que me virei, dei de cara com o sorriso angelical de Éric.
'Er, já vai embora?' Ele passou uma mão no cabelo.
'Ah, sim. Já está tarde e eu vou de carona.' Sorri e vi que fez o mesmo.
'Ah sim, essa deve ser a tal , não é mesmo?' Ele riu.
'É, . Sou mesma.' sorriu. 'E como sabe meu nome?' Ela parecia meio confusa.
'Ah, é uma história engraçada, depois te conto.' Eu falei pra ela.
'História engraçada? Já vi que é mesmo.' Ela deu um leve riso pra mim.
'Ah, prazer então , sou Éric. Trabalho aqui.' Ele estendeu a mão e cumprimentou , que fez o mesmo. 'Então... sei o nome da sua amiga, mas não sei o seu.' Vi que suas bochechas ficaram ruborizadas e isso fez com que eu desse um risinho baixo.
'É, é... quer dizer, meu nome é .' sorri.
'Ah sim, .' ele sorriu também.
'É, .' também falou, mas dei um leve pisão em seu pé e vi seu olhar destruir pra mim.
'Bom, ... er... foi um prazer te conhecer.’ Ele sorriu e não tive como não retribuir.
‘Também foi um prazer te conhecer.’ Fiquei com medo de que ele percebesse que eu estava quase babando.
'Ah, ok. Então... até mais, né?'
'Sim, até mais.' Sorri. Então me virei novamente para a porta da saída e eu e saímos da livraria.
Andamos até o carro e entramos. Assim que sentei no assento do carona, já se virou para mim querendo respostas para o monte de perguntas delas.
'Então, me conta! O que foi que eu perdi?'
'Ah, foi meio estranho. Eu estava encostada na estante lendo uma parte do livro, daí ele parou na minha frente e eu pensei que fosse você querendo me dar um susto.'
'Ah, nossa, que fama essa a minha.' fingiu um bico.
'Você já sabe disso.' Rimos as duas juntas. Daí até o caminho de casa fomos conversando sobre a livraria e como ele tinha a absurda ideia de ter me notado ali.
me deixou em casa e assim que entrei, fui direto para a cozinha arrumar alguma coisa para comer, porque estava morta de fome. Assim que cheguei na cozinha, minha mãe estava lavando o pouco de louça que tinha na pia. Fui até ela e lhe dei um beijo na testa.
'Oi mãe.'
'Oi filha. Passou o dia todo na rua hoje?'
'Não, à tarde fiquei em casa, mas depois saí porque fui a uma livraria com a .'
'Ah ta. Já comeu alguma coisa?'
'Pior que não. Eu vim direto aqui pra isso mesmo, caçar alguma coisa.'
'Ok então, deixa que eu preparo alguma coisinha pra você, meu bem.'
Depois que comi, subi e fui para o banheiro tomar um banho. Depois do banho não tive coragem nem de abrir o computador, apaguei as luzes do quarto e me deitei logo.

Estava deitada na minha cama. Abri os olhos forçada, pois os raios de luz que entravam pela janela atingiram meus olhos em cheio. Coloquei a coberta por cima da cabeça para tentar afugentar toda aquela luz, mas sabia que não duraria tanto tempo, já que talvez dali a um tempo teria que me levantar para ir para o colégio. Me remexi no colchão me sentindo desconfortável naquela posição, então virei para o outro lado da cama. Assim que pus minha mão no espaço ao lado, pude sentir que ela alcançava alguma coisa sólida. Não tive coragem de abrir os olhos para desvendar o que era, então tentei descobrir o que era pelo sentindo do tato mesmo. Fui subindo a mão, tentando saber o que era exatamente. Era alguma coisa meio macia, mas ao mesmo tempo dura. Continuei o caminho com a mão até que cheguei em um lugar onde senti vários fios embolando em minha mão. Mexi meus dedos e quanto mais mexia e apertava, mais a sensação de fios aumentava. Desviei a mão para o lado e senti curvas estreitas, até que meus dedos tocaram alguma coisa carnuda, suave. Passei meus dedos mais algumas vezes nesse mesmo lugar suave, até que senti uma outra mão segurar a minha. Relutei um pouco em abrir minhas pálpebras pesadas, mas sabia que tinha que faze-lo.
Quando abri meus olhos, quase fiquei sem ar. O rosto de estava quase colado ao meu. Uma de suas mãos estava entrelaçada as minhas e ele sorria para mim. Tentei entender o que acontecia ali, mas meu cérebro relutava em ter que trabalhar tão bruscamente. Não tive muito tempo e logo senti outros lábios sobre os meus. Senti uma mão envolver minha cintura e me puxar mais pra perto. Senti o calor do corpo de junto ao meu, e quando dei por mim,também estava abraçando ele e devolvendo seu beijo quente e macio. Quando mais eu recebia o beijo, mais eu queria retribuir, até que, de alguma forma, minha mão se livrou da mão de e consegui tirar o cobertor de cima de mim.
Ouvi o barulho da minha coluna estalar por conta do movimento brusco. Percebi que estava sentada na cama, com os olhos em alerta. Olhei para o lado e passei a mão no espaço ao lado, tentando localizar alguma outra coisa ali. Mas não havia nada. Eu estava sozinha no meu quarto escuro. Passei as mãos pelo rosto, para tentar melhorar a visão e procurei pelo meu celular debaixo do travesseiro. Quando consegui olha-lo, a luz forte do visor me cegou por instante, mas quando meus olhos se habituaram, vi que o relógio digital marcava 3:37 da madrugada. Meu cérebro demorou um pouco para funcionar, mas era isso mesmo. Eu tinha sonhado com . Passei as mãos novamente pelo rosto. Joguei o celular de lado e me taquei no travesseiro. Ele tinha interrompido meu sono. Fechei os olhos com força, tendo uma tentativa frustrada, pedindo para que o rosto dele se apagasse de minha mente, mas o meu eu interior já sabia. Já sabia que era tarde demais.


Capítulo IX -


?’ A voz de pareceu longe. ‘AMIGA? Está me ouvindo?’
‘Que foi?’ Minha voz saiu mais baixa do que o normal.
‘O que houve? Está assim desde que chegou no colégio.’
‘Ah... é que hoje estou com muito sono.’ Menti, tentando não estender aquele assunto.
‘Ah ta. E minha vó é virgem.’ Não tive como não rir. Como ela era boboca. ‘Me diz, o que foi?’
Tentei pensar em uma desculpa convincente para que não chegasse ao assunto principal. Ela já sabia o que era.
‘Tem a ver com o ?’ Tarde demais, .
‘Hmmm.’ Menti novamente, não queria falar dele. ‘Não.’
me olhou com uma sobrancelha arqueada e depois rolou os olhos.
‘Ok, ok.’ Me dei por vencida. ‘Tem a ver um pouco com ele.’
‘Sabia.’ Ela soprou com ar de vencedora. ‘Mas me fala então. Ele não tem ido a sua casa desde o beijo?’
O beijo. Desde aquele dia ainda pensava naquele maldito beijo. Por que ele havia feito aquilo? Já não era o bastante ter que aturar sua presença em minha casa, agora tinha que me beijar? O que ele queria? Brincar comigo? AH, só podia. Eu estava esquecendo que estava se tratando de .
‘Não. E que continue não indo.’
‘Mas e o trabalho?’
‘Foda-se o trabalho, não é meu mesmo.’
’Hmmm. Se ficou tão brava assim é porque gostou.’ me jogou um riso.
‘NÃO GOSTEI NÃO!’ Falei com um tom raivoso, mas ao mesmo tempo tremulo. O que? Eu tinha gostado mesmo? Não, sem chance.
‘AAAAAH, GOSTOU SIM!’ começou a rir.
‘NÃO GOSTEI NADA!’ Dei um soco no braço dela, que ainda desabava a rir.
‘Eu sabia. Bastava apenas o primeiro beijo pra você ficar caidinha por ele. Já achava ele bonito, não é mesmo?’
Puta que pariu, . Sempre lembrando dos detalhes.
Depois de dois tempos arrastados da aula de matemática, finalmente o horário do intervalo chegou, então eu e fomos para o um gramado do colégio, que ficava mais afastado do campus. Nos sentamos em uma sombra qualquer de árvore e ficamos conversando sobre coisas alheias, só para passar o tempo. Ela me contou sobre como estava indo com Jake e como estavam se dando super bem. A cada palavra que ela falava, seus olhos brilhavam. Ela já o amava e eu achava isso lindo e engraçado ao mesmo tempo. Engraçado porque, como uma pessoa poderia já amar uma outra, em um espaço de tempo curto? Quer dizer... é possível alguém já desenvolver esse sentimento tão... grande, digamos assim, por uma outra pessoa só pelos momentos que passam juntas? Só pelas trocas de olhares. Só por respirar o mesmo ar. Só por se sentirem tranquilas na presença uma da outra.
'Olá, meninas!' Jake falou, assim que percebemos que estava se aproximando.
'Oi, Jake.' falou sorridente e se levantou, dando um selinho nele. (lê-se com um sorriso até as orelhas)
'Hey, Jake.' Falei, mas ainda continuei sentada. Preguiça à vista.
'Então, fazendo o que?' Ele perguntou, abraçando , que recostava a cabeça em seu ombro.
'Hm, nada. Só jogando papo fora.' Respondi.
'Quer dizer, eu que estava jogando papo fora literalmente, porque essa aí, morreu e não avisou ninguém.' falou com bico.
, você me parece um pouco chateada.' Jake falou, me olhando com cara de preocupação. Legal, todo mundo já sabe o que há comigo sem eu mesma falar.
'Nhá, que nada.' Dei um riso. 'É só sono. Sabe como que é, acordar cedo não é pra qualquer um.'
'Ahh, sei. Acordar cedo é só pros fortes.' Ele brincou. 'Tomara que seja só isso mesmo.'
'E é. Mas obrigada por se preocupar.' O agradeci.
'Tudo bem.' Então Jake se virou para . 'Então mô, eu vou comprar algo pra comer, depois volto.'
'Ok, mas eu vou com você.' se animou. 'Vou deixar a livre de mim por uns minutos.' E os dois se viraram em direção à cantina. 'MAAAS, você não vai se livrar de mim por mais que uns minutos, hem? Depois volto.'
'Tudo bem. Vão lá se pegar. Não tenham pressa.' Brinquei, fazendo com que ficasse com o rosto vermelho e tacasse o rosto no ombro de Jake, que riu.
'Você é foda, !' Ouvi ela gritar, enquanto se afastava. Mandei um beijo na direção dela e fiz um coração no ar.
Peguei o iPod e coloquei alguma música para tocar enquanto ficava ali, esperando voltar. O tempo estava agradável. Particularmente, preferia aquele céu nublado e um ventinho gelado, mas hoje o sol aparecia tímido, entre as nuvens, e a brisa corria livremente entre meus cabelos soltos. Recostei a cabeça no tronco da árvore e fitei os outros estudantes que estavam a uns metros a minha frente. Quando desviei minha visão para um outro montinho de estudantes, percebi que meus olhos procuravam alguém. 'Ah não. Qual é, .' Falei em voz alta, batendo com a palma da minha mão em minha própria testa. 'Por favor, não faz isso. Você já sabe no que vai dar.' Fechei os olhos por uns instantes. Vasculhei minha mente em busca de alguma para que ele não invadisse meus pensamentos. O beijo. O sonho. Abri rapidamente meus olhos e olhei novamente para os alunos a minha volta. Nenhum sinal dele. Então tentei me concentrar na letra da música que ouvia. Comecei a cantarolar baixinho o trecho da música que rolava.

(Big Bang – Make Love)

"I always see you when I close my eyes
Eu sempre te vejo quando fecho meus olhos
You're on my mind
Você está na minha cabeça
So can't you see
Você não pode ver
I need you right here with me, close by my side"
Que eu preciso de você aqui comigo, ao meu lado?

Alguém parou na minha frente, pois senti que a claridade nos meus olhos diminuiu. Queria muito que fosse quem estivesse parada ali. Quando tirei os fones de ouvido e abri meus olhos, o frio na espinha me invadiu com voracidade.
'Oi.' estava parado bem a minha frente. 'Preciso falar com você.'
'Não tem não.' Falei rapidamente, me atrapalhando um pouco quando me levantei sem jeito do chão. 'Pode ir.'
' , porra, para com isso.' deu uns passos até entrar por completo na minha frente, não me deixando andar. 'Foi só um beijo.' Ele falava como se não fosse nada. Só um beijo. Só um mísero e maldito beijo. 'Não me importa. Você não tinha o menor direito de fazer aquilo.' Implorei por dentro, para que minha voz saísse autoritária e não vacilasse.
'Eu já disse que foi por impulso, droga!' agora estava mais perto, com a respiração acelerada. 'Será que dá pra você esquecer?' Olhei ferozmente para dentro de seus olhos. Por que ele simplesmente não deixava isso pra lá e ia embora? Por que se preocupava com isso? Droga! Por que logo comigo?
'Me deixa ir.' Aí sim, minha voz saiu tremula. Toda minha raiva deu lugar para um sentimento terrível de dor. Minhas pernas pareciam bambear e meus olhos ardiam um pouco.
'...' Senti sua mão pousar sobre minha cintura. Sua respiração pairar sobre a minha.
De repente, um estalo, mais parecido com um baque. 'Mas o que??' falou assim que chegou.
'VOCÊ FICOU MALUCA, GAROTA?' gritou assim que recebeu minha mão em cheio em seu rosto.
'O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?' foi correndo para o meu lado. ', você está bem amiga?'
Eu olhava para e com olhos medrosos. Vi que tinha enfiado um tabefe na cara de , que flamejava raiva.
'NUNCA mais faça isso de novo!' Gritei para ele, que ainda olhava pra mim estático.
'VAI SE FODER, SUA MALUCA!" Ele agora apontava o dedo em minha direção.
'PUTA QUE O PARIU! MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO NESSA BAGAÇA?' agora gritava também.
'! Acorda! O que foi que ele fez com você?'
'Eu não fiz nada! Ela que me deu um tapa sem motivo!'
'Você tentou me beijar!' Meus olhos e meu nariz ardiam intensamente.
'E BEM QUE VOCÊ QUERIA!' falou com um ar de sarcasmo.
'HAHAHAHA. Nem que fosse o último beijo da minha vida!'
'E iria ser mesmo, porque duvido que alguém vai querer beijar você, sua nerd do caralho!'
'Parem de discutir e gritar, merda!' também gritava. 'Estamos na porra do colégio e vocês não vão querer que todo mundo saiba disso, né? ENTÃO CALEM A PORRA DA BOCA E SÓ QUEM PODE GRITAR AQUI SOU EU!'
passou as mãos nos cabelos, bagunçando-os e segundos depois inspirou e expirou. 'Não vou acabar com a minha reputação por sua causa.' Então ele se virou e saiu em direção ao bloco do colégio.
'Vai logo, seu merda!' falou e se voltou a mim. 'Amiga? Ôh amiga, não fica assim por causa desse garoto não.'
Percebi que estava soluçando por conta das milhares lágrimas que rolavam pelo meu rosto que queimava. me envolveu em um abraço apertado. Eu não conseguia dizer nada, apenas chorava todos os meus sentimentos.
'Vai ficar tudo bem amiga, pode deixar.' me abraçava e afagava o topo de minha cabeça. 'Vai ficar tudo bem.'
Eu a abraçava e soluçava. Não sabia se eram lágrimas de raiva ou de dor, mas apenas sabia que precisava me livrar logo delas antes que explodissem dentro do meu corpo.

____*____

A aula de filosofia estava passando se arrastando. Passei a metade da aula desenhando qualquer coisa no caderno e com uma sensação maldita de um olhar sobre mim. Torci para que a professora não perguntasse como iam os trabalhos. Principalmente, como ia o trabalho do comigo. Não iria conseguir fingir que estava tudo normal. Talvez seria melhor se eu me levantasse e acabasse com aquilo tudo. Pedisse a professora para deixar de fazer o trabalho com e eu ajudaria qualquer outra pessoa. Mas... eu tinha prometido a mim mesma antes que ele não iria me fazer mal, que quem iria sofrer ali era ele. Porém, não estava dando certo. Quem estava um caco na história era eu mesma. Se eu cancelasse o trabalho, estaria alegando ser fraca e que ele estava conseguindo o que, talvez, sempre quis; acabar comigo. Não, eu iria tentar mais uma vez e se não desse certo, eu trocaria de turma e acabaria com aquilo de uma vez por todas. Mas se eu conseguisse terminar, iria jogar na cara dele que sobre mim, não iria ter o controle, como tinha sobre todas as outras garotas.

'Professora, posso ir ao banheiro?' Pedi. Precisava respirar ar fresco.
'Ok , a vontade.' A srtª Lynn sorriu.
'Obrigada.'
Saí da sala e caminhei pelos corredores até chegar ao banheiro feminino. Molhei meu rosto com a água fria que jorrava da torneira da pia. Me olhei pelo espelho, imaginando como que pude deixar que tudo aquilo chegasse naquele ponto. Amarrei meu cabelo em um coque frouxo e fiquei mais um tempo ali, sozinha, refletindo. Um rangido alto soou no eco do banheiro vazio quando alguém abriu a porta. Agora eu teria que voltar para a sala, senão a professora mandaria alguém atrás de mim para ver se eu não tinha morrido afogada na privada. Joguei mais uma água no rosto e me olhei mais uma vez no espelho. Senti as batidas aceleradas do meu coração, que faziam com que meu sangue corresse a toda velocidade dentro das minhas veias e me virei para , que estava parado atrás de mim. Seus olhos cintilavam por conta da luz intensa do banheiro e sua respiração parecia estar na mesma intensidade que a minha. Me faltava o ar.
'O que...?'
'Cala a boca.' A voz dele cortou a minha e logo após, nós dois nos calamos. Ouvíamos apenas nossos corações acelerados batendo a todo vapor e o barulho de nossas línguas se entrelaçando. Estava sendo tudo muito rápido ali. Eu queria me soltar dele, mas minhas mãos estavam presas aos seus cabelos e meus pés estavam fixos ao chão. Suas mãos estavam agarrando minha cintura com toda a força e nossas bocas estavam totalmente tomadas pelo gosto um do outro. Com a mesma velocidade que tudo aquilo aconteceu, a minha relutância se desfez e eu apenas segui o desejo. Nos abraçávamos cada vez mais forte, como se fosse possível nos unir mais ainda. Nossas bocas não se desgrudavam nem um minuto e nesse momento respirar não era preciso. Com um impulso e uma ajudinha de , envolvi minhas pernas em sua cintura, e ele me levantou e me pôs sentada em cima da bancada da pia. Meus cabelos grudavam em meu rosto e eu podia sentir os pingos de suor escorrendo por minhas costas, mas não tinha a mínima intensão de parar, não agora. Nossas bocas se separaram por um momento, enquanto sentia as mãos de passarem pela minha cintura e levantarem minha blusa do colégio, logo em seguida, atirando-a para o lado. Voltamos a nos colar e agora minhas mãos passeavam por debaixo da blusa dele. Podia sentir seus músculos do abdômen se contraírem a cada centímetro que meus dedos percorriam. Suas mãos apertavam minhas coxas e agora ele beijava todo o meu colo, me fazendo soltar gemidos baixinhos. Sem paciência, tirei sua blusa e comecei a beijar seus ombros, sentindo arrepios a cada descoberta que fazia em seu corpo. Beijávamos um ao outro com urgência, como se o mundo estivesse se acabando naquele mesmo instante. Minhas mãos caíram até o botão de sua calça jeans e pude ver o sorriso que dava. Não tive como evitar e sorri também, mas então brinquei com o botão até abrir e depois, desci o zíper que tinha ali. Ele me puxou mais para ele, fazendo com que nossas bocas se encontrassem novamente. Minha língua explorava cada pedaço de sua boca e a cada centímetro eu queria mais. Minha mão desceu um pouco mais e pude sentir sinais de sua ereção. Ao sentir minha mão em sua área, levantou a cabeça para trás, soltando um suspiro alto, então beijando seu pescoço, brinquei passando levemente meus dedos naquela área, fazendo com que ele arfasse ferozmente. Quando voltamos a nos beijar, ouvimos vozes de meninas, no que parecia que estariam entrando no banheiro. Nos olhamos alarmados.
'Puta que pariu, essa não.' falou.
'Tá esperando o que? Vamos sair daqui.' Em um pulo, fiquei novamente de pé no chão e peguei minha blusa e a de .
'Vamos nos esconder aqui.' me puxou para um banheiro que ficava bem no canto. Trancamos a porta e ficamos atrás dela, sem nem respirar direito.
'E vocês acreditam? Ele foi na festa e ficou com aquela vadia!' Alguma garota falava com uma outra.
'Canalha. Já sabia.'
'E agora? Temos que voltar para a aula.' Falei, em um cochicho para .
'Só vamos poder sair quando essas daí saírem. Se elas nos virem, vai dar merda.'
'Puta merda. Tá bom.'
As duas garotas ficaram ali por mais uns minutos e logo depois, podemos ouvir suas vozes distantes. Assim que o banheiro voltou a ficar em silêncio, saí primeiro, para ver se estava tudo bem. Não tinha ninguém mesmo ali, então falei para que ele já podia sair. Coloquei minha blusa de volta e arrumei meu cabelo.
'Ei! O que você está fazendo?' perguntou surpreso.
'Ué, estou me arrumando. Tenho que voltar pra aula.'
'E vai me deixar assim?' Não entendi de primeira, mas quando olhei para o volume em sua calça, não pude deixar de rir.
'Desculpa, vai ter que deixar para a próxima.' Ri e terminei de arrumar o cabelo.
'AH, ótimo!' Ele falou, colocando a blusa. 'Isso que dá fazer tudo com pressa.'
'Deixa de ser dramático.' Falei. 'Vou ver se tem alguém lá fora. Daí eu vou primeiro e depois você sai também.'
'Você não acha que a professora já não deve ter dado por falta de nos dois há muito tempo?' perguntou com um ar de óbvio.
'Claro que já.' Falei.
'Então vamos terminar o que começamos.' Ele falou, me abraçando pela cintura.
'Não. Vamos dar uma desculpa.' Falei, empurrando ele. 'Eu passei mal e você.... ah, inventa alguma coisa aí.'
riu. 'Ei, eu invento alguma coisa? A esperta aqui é você!'
'Mas você é ótimo em dar desculpas.' Falei sarcástica. 'Agora estou indo.’ Apenas ouvi rindo no banheiro e fui andando com pressa pelos corredores até a sala de aula. Quando entrei na sala, a professora logo veio em minha direção.
'Srtª ! Oh meu Deus, já estava preocupada. Tudo bem com a senhoria?'
'Ah, sim... Quer dizer, um pouco. Passei um pouco mal no banheiro.' Menti, torcendo para que ela engolisse.
'Ah... Já está melhor?'
'Sim, um pouco.' Fiz uma cara de dor.
'Ok, sente-se, por favor. Agora vou tentar encontrar o sr. .' Nesse momento, dei uma leve risada, por saber onde ele estava. Tentei dar uma “ajudinha”.
'Srtª Lee, eu o vi indo em direção à porta da saída do colégio.'
'AAH, não acredito! O sr. que me aguarde!'
A professora sentou na cadeira à espera de .


Capítulo X -


'NÃO ACREDITO!' arregalou os olhos e pôs a mão na boca. 'E isso tudo no banheiro?'
'Hum... aham.' assenti com a cabeça.
'Sua... danadinha!' deu tapinha em meu ombro. 'E eu pensei que você não era assim.'
'Mas eu não sou! É que... bom, aconteceu né.' Tentei disfarça um sorriso no canto da boca. Mas não deu. Eu mesma ainda não tinha assimilado aquela situação. Ainda me parecia... mentira. Mas não era. Aconteceu.
'Agora vou desconfiar toda vez que você demorar no banheiro.' Agora ela ria. aceitou o fato mais rápido que eu. Estava tão na cara assim que isso iria acabar acontecendo?
'Relaxa amiga, só foi dessa vez.' Falei enquanto escolhia alguma coisa bem gordurosa e igualmente gostosa no cardápio.
Depois da escola, eu e decidimos vir comer em Ballantyne para eu poder contar melhor o porquê do meu atraso na aula. não tinha aparecido desde que voltei para a sala. Vai ver ele deve ter aproveitado e ido matar aula ou coisa assim. Típico dele.
'Dá próxima vez tenham mais discrição, por favor. Não seria muito bom eu entrar no banheiro e ver você em cima dele.'
'Já disse que não vai mais acontecer, . Não no banheiro. Prometo.'
'Mesmo assim, vou ter mais cautela quando entrar lá.' A garçonete veio e anotou nossos pedidos e em seguida foi até o balcão.
'E agora?' perguntou do nada.
'E agora o que?'
'Como vão ficar você e o ?'
Olhei para ela e vi que não tinha resposta. Verdade, e agora? Depois daquilo, eu não pensei nem um pouco no que iria acontecer depois. Aliás, eu não tinha a mínima ideia. Aquela ficada tinha que ter acontecido mesmo ou só aconteceu para dificultar mais as coisas pra mim?
Comecei a me achar uma burra. Isso que dá dar atenção ao coração. Bom, de qualquer forma, já foi. Só esperar no que vai dar. Eu acho.
'Não faço a menor ideia.' Admiti por fim.
'Hum.' Foi só disse. Também pareceu que ela estava procurando resposta para sua própria pergunta.
Mais uma vez a garçonete apareceu, mas desta dez com os nossos pedidos na bandeja. Comemos e conversamos um pouco mais antes de Jake ligar, então decidimos ir para casa.

Quando me deixou em casa, vi que marcavam três horas da tarde no relógio digital da sala. Deixei minha mochila em cima da mesinha de centro e subi para o quarto e decidi tomar um banho. Estava escolhendo uma roupa no momento em que a campainha tocou. Desci apressada e tentando arrumar os fios rebeldes do meu cabelo. Antes de abrir a porta, um suspiro saiu e percebi que estava um pouco nervosa. 'Let's go.' murmurei pra mim mesma.
'Oi.' disse em um sorriso de lado.
'Oi.' falei meio alto por causa do seu sorriso.
'Posso?' ele perguntou, ainda olhando pra mim.
'Hum... Sim.' Ainda tive que pensar?
Assim que fechei a porta, logo depois de entrar, pensei se não era melhor não falar nada sobre hoje de manhã. Não sabia se ele iria deixar aquilo de lado ou se...
'Podemos começar de onde paramos.' ele disse, tirando o casaco preto que vestia, mostrando um blusa também preta de manga curta que ficava um pouco justa em seu corpo.
'Ham...'Senti o velho frio na espinha fazer com que meus pelos dos braços e da nuca se eriçassem todos.
'Que foi?' ele perguntou, parecendo um pouco confuso com minha expressão. 'Vamos, já fizemos isso antes. Vem, senta aqui.' Ele fez menção ao lugar no sofá ao lado dele.
Minhas pernas não sabiam se andavam ou se continuavam paradas no mesmo lugar. Tentei controlar meu nervosismo e fiz com que minhas pernas se movessem. tinha razão, já tínhamos feito isso e não faz muito tempo. Me sentei ao seu lado e no instante que ele se virou na minha direção, minha respiração falhou. No esforço de puxar ar para dentro dos meus pulmões, inalei seu perfume, o que não melhorou muito a minha situação. Não sabia o que fazer e nem como fazer. De manhã tudo pareceu tão normal, tão natural, e agora eu tinha esquecido até como respirar. Quando chegou mais perto de mim, de repente, como se meus movimentos não precisassem da minha permissão, minha mão se apertou contra o braço de . Fiquei um pouco assustada como aconteceu, mas logo depois meu coração bateu mais forte contra o peito e minha mão queimava ao toque da pele dele. Nos olhamos com mais intensidade e ele riu.
Pera aí, riu?
'O que você tem, ?' ainda tinha um tom de riso.
Olhei confusa para ele e meu coração martelava. O que eu quero? O que ele queria?
'Não entendo.' falei.
'Não entende o que?'
'Você... nós não...' Meu cérebro trabalhava naquela confusão.
Mais uma risada. 'Você achou que eu ia te agarrar?' Ele falou como se fosse uma coisa ilógica. Ele o tinha feito essa manhã!
Eu ainda olhava meio confusa.
'Não sei o que você estava pensando, mas eu vim aqui com o intuito de terminar aquele maldito trabalho.' falou normalmente. 'E como tivemos aula de filosofia hoje, acho que os livros estão na sua mochila, não estão?' ele perguntou e se inclinou mais um pouco sobre mim e então vi que ele tinha pego com uma das mãos a minha mochila que estava na mesinha de centro, um pouco mais para trás de mim.
No mesmo instante, tirei minha mão que ainda estava em seu braço. Agora sentia meu rosto arder e meu coração martelar mais forte ainda sob meu peito. QUE BURRA! BURRA, BURRA, BURRA, BURRA! E eu achando que ele ia... que nós... AAAAAH! Quem deixou eu nascer?
'Sim.' falei um pouco perplexa ainda. Tentei obter o controle sobre toda a minha vergonha e tentei falar alguma coisa, sei lá, convincente, para que ele não me achasse idiota demais, embora eu já soubesse que era tarde demais. 'Mas... não v-vamos usar os livros. Vou pegar meu laptop.' E antes dele concordar, levantei e fui em direção à escada, já certa do meu papelão.
'Sua burra, idiota, panaca!' falei pra mim mesma assim que entrei no quarto. Eu, toda cheia de nervosismo, pensando que ele queria... Aff! Ninguém me merece. Peguei o laptop e saí bufando até as escadas. Me sentei novamente ao lado de e entreguei o computador a ele.
'Aqui. Bem melhor.' Tentei falar novamente, embora tivesse saído com um pouco de raiva no tom.
'Valeu.' Ele falou e colocou sua atenção no visor.
Fiquei ali observando o que ele fazia e de vez em quando ajudava ele a procurar algumas coisas boas para o trabalho.
Passou algum tempo até que fechou o laptop e foi colocando o casaco novamente. Eu já estava com a cabeça apoiada no sofá, com um pouco de sono. Esperei ele se levantar para eu também me levantar e esperar ele ir embora.
Pareceu que, de repente, não havia mais ninguém na sala comigo, porque eu continuava sentada no sofá, com a cabeça apoiada e fitando o teto. não tinha se levantado. Não tinha feito nada.
Resolvi olha-lo e vi que ele ainda estava sentado, com a cabeça apoiada no encosto do sofá, que nem a mim. Analisei a imagem por um tempo. Os olhos de vieram de encontro com os meus e então ele sorriu e começou a falar.
'Também acha engraçado?'
'Engraçado?'
'É. Tipo... o jeito que estão fluindo as coisas...'Pensei que ele falava sobre nós.Nós me parecia um pronome impossível de se referir a mim e a . Bom, pelo menos era isso que pensava antes de....
'Sim.' Concordei 'Como se... sei lá... esse enredo não me é estranho.' Falei um tanto pensativa e desviei meu olhar para a parede da sala, mas minha visão não fez foco nela. Meu olhar estava mais além.
ia falar alguma coisa, mas antes de faze-lo a minha voz saiu primeiro.
'É como em histórias que garotas adoram ler.' Ainda estava olhando para a parede da sala sem foco, só andando por meus pensamentos.
'A nerd e o popular se odeiam.' continuei falando 'Não suportam um ao outro.' Agora meu olhar caiu sobre , que ainda me olhava. Então ele também falou.
'Mas alguma coisa coloca eles juntos.' Seus olhos estavam pairando sobre os meus. 'A pior coisa, que para eles, podia acontecer.'
'Sendo que... eles descobrem que não é tão mal assim.' continuei 'Eles se acostumam um com o outro.'
'E, algum dia qualquer, por acaso, eles se...' se aproximou mais de mim e sua mão se ergueu sobre meus cabelos e os alisou suavemente. 'Eles se aproximam demais.' Agora sua respiração cálida pairava sobre meu rosto.
'Isso não é bom.' falei, fitando seu rosto e tentando concentrar meu movimento de respiração.
'Por momento, não.' disse , sua voz ficando cada vez mais leve...'Mas eles já estavam próximos demais.'
'Então...' falei quase que para mim mesma.
'Então...' , com outra mão, puxou meu corpo para mais perto dele. 'O pseudo-beijo aconteceu.' Nesse instante, a boca dele só pousou em cima da minha, sem movimentos, só sentidos.
'Fim.' Ainda falei, por cima de seus lábios.
'E a parte dos felizes para sempre?' perguntou, ainda sem deslocar a distância entre mim e ele.
'Isso só aconteceria se fosse uma história.' Separei nossos rostos e me levantei. 'E não estamos em uma história.'
me olhou inexpressivo. Então eu comecei a ir em direção à porta da sala. Ele achou que eu ia cair na conversa de historinhas bonitinhas com finais felizes? Isso era vida real, ele era , que só se importava com ele mesmo. Ele gostava de ficar com todas! Nunca iria querer ficar só com uma... nunca iria querer ficar só... comigo?
Não tive tempo de pensar em mais nada. se levantou e me pegou pelo braço, me fazendo parar e olhar para ele.
'Você tem razão. Isso não é uma história.' Seus olhos cintilavam e pareciam pesar sobre os meus. 'Não precisamos do "felizes para sempre".' Ele pareceu que iria continuar, mas parou e me olhou.
'Não.' Falei, um pouco surpresa com a atitude dele.
'Precisamos do "felizes enquanto durar".' Antes que eu pudesse falar algo, sua boca estava sobre forte pressão na minha e suas mãos presas a minha cintura. Não lutei para me libertar de suas mãos porque a reação dele me deixou surpresa e ao mesmo tempo confusa. Ele queria mesmo ficar comigo? Não quis pensar muito nisso e tratei de me fixar no que estava acontecendo.
A boca dele movia-se com força sobre a minha, minha cintura podia já estar quase roxa. Minhas mãos subiram até os seus cabelos e os apertaram com força, enquanto ele me suspendia e minhas pernas se fincaram em volta de sua cintura. Podia ouvir sua respiração acelerada e pesada. Ouvi um barulho oco aparecer atrás de mim e percebi que tinham sido minhas costas contra a parede da sala. As mãos de ainda sustentavam a minha cintura, então livrei uma das minhas mãos de seus cabelos e tentei, de um jeito desengonçado, tirar seu casaco. separou um pouco os nossos corpos para eu poder ter melhor sucesso com a peça. Assim que o casaco dele voou até o chão, ele me carregou até me colocar sentada em alguma coisa fria e dura. Meus olhos fugiram um pouco e pude ver que estávamos na cozinha. Já que agora não me sustentava, ele brincava com a barra da minha blusa enquanto traçava uma trilha de beijos em meu pescoço. Eu podia sentir todos os meus pelos o corpo se erguerem, uma sensação boa. Sem pressa nenhuma, arrancou minha blusa e meu sutiã preto rendado ficou a mostra. Então ouvi ele sussurrar ao pé do meu ouvido.
'Ou você já tinha previsto o que está acontecendo ou teve sorte de escolher a peça de sutiã hoje.'
Olhei-o e ergui uma sobrancelha. 'Só porque eu não saio com muitos caras, não quer dizer que não use pelas intimas bonitas.'
Ele deu um leve riso e disse 'Da próxima vez, quero ver uma lingerie.' Ri do pedido dele. 'E você sabe se vai ter próxima vez?' Ergui a sobrancelha de novo.
'Não vou desistir de ter a próxima, e depois da próxima, e depois depois da próxima...' Ele sorriu e passou uma das mãos na minha bochecha.
Impossível. Não estava acontecendo aquilo.
'E de preferência, lingerie vermelha, né? Típico dos homens.' Tentei desconversar.
'Isso mesmo. Já ficamos antes?' Ele perguntou.
'Não.' Ri.
'Então como você já sabe das coisas que eu gosto?' Ele riu também.
'Ora, você é . Igual a todos os outros homens canalhas.' Falei, passando a mão por seus cabelos.
'Vamos ver então.' ele disse, passando a mão por cima do fecho do meu sutiã. Paramos com a conversa e voltamos ao nos beijar apressadamente. Sem calma, arranquei sua blusa preta e deixei que minhas mãos andassem livremente por seu abdome. Com as minhas curtas unhas, fiz pequenas linhas retas verticais em suas costas, o que gostou, porque senti seus músculos se contraírem diante de minha ação. Agora ele apertava as minhas coxas e de vez em quando passava uma das mãos em minha cintura e outras vezes ameaçavam abrir o fecho do sutiã. Aquela nossa brincadeira era boa, mas já estávamos cansados de ficar naquilo, então me colocou no chão e novamente andamos para outro lugar. Não fomos longe, a mesa da cozinha parecia bem espaçosa sem nada em cima. Logo após de nós dois estarmos quase totalmente deitados nela, o barulho veio da sala. Chaves batiam na porta e a mesma fazia um barulho ao ser aberta. Ficamos sentados na mesa para tentarmos ouvir melhor. A TV ligou e os canais foram mudando.
'Ahhhh, que isso dude! Sempre na hora de...' Antes que terminasse, me levantei da mesa e recolhi a sua blusa preta que estava na bancada da cozinha e a minha e me vesti.
'Cala a boa, . Ninguém pode saber que estamos aqui.' Fui na ponta do pé ao final do corredor para ver quem tinha chegado. Era Phill. Legal, menos. Se fosse mamãe, ela iria nos encher de perguntas, tudo.
'O que vamos dizer?' perguntou logo atrás de mim, me dando um pequeno susto.
'Ora, vamos dizer a verdade.'
'Ham? Que estávamos nos pegando na cozinha?' Ele franziu o cenho, passando a mão nos cabelos úmidos.
'Claro que não, seu panaca. Vamos dizer que estávamos fazendo trabalho.'
'Ah ta... Ei! Que intimidades são essas de me chamar de panaca?'
Ri, mas logo falei 'Agora se arruma direito que eu vou na frente.' falei e logo após saí em frente, rumo ao sofá.
Chegando lá, me joguei no sofá como fazia de costume.
'Hey, mana.' Phill falou sem me olhar.
'Oi Phill.' Também falei sem olhar pra ele. Estava tranquila, mas mesmo assim minhas mãos insistiam em soar.
'HEY DUDE!' gritou entrando na sala.
'Hey mano!' Phill também falou com . 'O que você está fazendo aqui, seu bicha?'
'Estava fazendo aquele maldito trabalho de filosofia.' respondeu com uma careta. ' A é a minha, humm, dupla.'
'Ah, é. Tinha esquecido.' Eu não olhava para nenhum dos dois, apenas fingia interesse na TV. 'É por isso a cara fechada dela.' Phill falou, olhando pra mim.
'Rum.' murmurou. 'Sáparada Phill, estou indo.' ele disse, indo em direção à porta.
'Já dude?'
'Já. Estou cansado de... trabalho por hoje.'
'Ok então, né. Até!'
'Até!' Então saiu pela porta. Nesse instante meu corpo relaxou mais. Me levantei do sofá e alonguei um pouco as minhas pernas.
'Já vai dormir?' Phill me perguntou.
'Ainda não, só vou tomar um banho e levar as coisas lá pra cima.'
'Ah. O que tem pra comer?'
'Não sei, nem olhei no freezer. Vou tomar um banho e descansar, porque ninguém merece o seu amiguinho.' Phill riu.
'Nem sei como encontrei os dois vivos.'
'Foi sorte.' Brinquei. Phil continuou a prestar atenção no que passava na tv. Peguei minha mochila e o notebook e fui em direção à escada, mas quando olhei distraída para a porta, vi o casaco preto de caído ali. Disfarcei e tentei pegar o casaco sem que Phill percebesse, o que acho que funcionou.
Subi para o meu quarto e joguei as coisas em um canto qualquer. Arrumei uma roupa qualquer e fui para o banheiro. Debaixo da ducha quente, senti uma queimação em casa parte do meu corpo que tocara. Sorri a cada lembrança das horas passadas. Agora eu entendia por que todas as garotas gostavam de ficar com ele. Terminei e desci para comer alguma coisa. Minha mãe já tinha chegado do trabalho e estava esquentando algo com Phill na cozinha. Comi junto com eles e conversamos um pouco. Quando mamãe decidiu subir, me juntei a ela.
Meu corpo relaxou por completo quando sentiu o colchão macio sustentando ele. Ajeitei meu travesseiro e minha cabeça repousou de leve. Fiquei uns minutos de olhos fechados, então virei meu corpo para o outro lado da cama. Respirei fundo e um cheiro invadiu meus pulmões, o que instantaneamente fez com que meus pelos se eriçassem. O casaco de estava em cima da minha cômoda, ao lado da cama. O cheiro dele me fazia sentir arrepios e quando lembrei lentamente de nossas trocas de toque, minha boca se curvou em um sorriso e meu coração martelou forte. Era difícil aceitar, mas eu já estava envolvida com . Não importava o quanto ele parecesse idiota, panaca, filho da puta. Eu queria estar com ele. Queria seu peito no meu.
Filho da mãe. Ele tinha me ganhado.


Capítulo XI -


POV's

"(...) You, what do you own the world?
Você, o que você deve ao mundo?
how do you own disorder, disorder
Como você controla a desordem, desordem
Now, somewhere between the sacred silence
Agora, em algum lugar entre o silêncio sagrado
Sacred silence and sleep
Silêncio sagrado e o sono
somewhere, between the sacred silence and sleep
Em algum lugar, entre o silêncio sagrado e o sono
disorder, disorder, disorder
Desordem, desordem, desordem"

(Toxicity - System Of A Down)

Na minha opinião, essa era uma das bandas mais fodas que existiu no mundo do rock'n'roll. SOAD, dude, me dava inspiração a hora que tocasse, umas das razões para eu querer mandar muito, muito bem na bateria.
',temos que marcar o próximo ensaio da banda, dude.' Paul disse, me fazendo pausar a música que rolava no meu celular.
'Temos sim, faz tempo que não tocamos. Acho que desde a festinha que rolou lá na casa do Phill.' Ed falou 'Minha mulher está chateada por eu ter abandonado ela por esse tempo.'
'Mulher?' Ri alto. 'Que mulher? Já está chapado nessa hora da manhã, dude?' Perguntei ao guitarrista da minha banda, que estava largado no gramado do campus do colégio.
'HAHAHA. Muito engraçado . Não é só você que pega mulher não, ok? Mas, nesse caso, estou falando da minha guitarra. Quando estou sem pegar ninguém, ela me serve de consolo.' Que cara mais escroto ele era.
'Puta que paril. Essa foi terrível.' Paul disse. 'Quer dizer então que quando precisa aliviar, você pensa na guitarra? Ou ela de auxilia?'
'HAHAHAHAHA. Boa, Paul! Ed, seu bicha!' Falei, ainda rindo alto.
'E aí, seus bichas! Qual é a da vez?' Phill estava andando até nós com duas garotas ao seu lado. Mulheres, dádivas da vida.
'Fala aí, dude. Oi gatas.' Paul se levantou e foi falar com as duas garotas gostosas, que se apresentaram falando seus nomes, mas não ouvi.
'Oi meninos.' Uma falou, passando a mão nos cabelos pretos soltos.'Quanto tempo que não vejo vocês tocarem.'
'Pois é. Estamos vendo isso.' Ed falou 'Vamos marcar um dia desses aí para tocarmos pra vocês.' Ele sorriu pra ela, que também sorriu, mas um sorriu um sorriso safado. Típico.
'Vocês podem tocar lá em casa de novo.' Phill voltou a falar. 'Da última vez foi foda.'
'Boa ideia.' Falei depois de um tempo. Me lembrei quando entrei no quarto da .
'Ok então dude! Só falar o dia agora.' Phill falou. 'Me falem um dia certo, pra poder ver se não tem ninguém em casa.
'Ora, sua mãe trabalha o dia todo, quem seria esse 'ninguém em casa'?' Paul perguntou, mas logo depois lembrou. 'Ahh tá, sua querida irmã.'
Olhei além dos garotos e por um momento prendi minha atenção a um ponto. Sentada perto da mesma árvore daquele dia, com mais duas pessoas junto com ela. Quando se virou para olhar para mim, uma coisa loira entrou em minha frente, bloqueando a visão que tinha da .
', você vai tocar pra mim qualquer dia desses?' Sabrina, eu acho que esse era seu nome, sei lá, disse. A olhei 'Eu já "toco" pensando em você em algumas noites.' Falei, fazendo ela rir e vir se sentar ao meu lado. Passei o braço em volta de sua cintura e a puxei mais para perto de mim. Assim que gostava.
Os garotos continuaram conversando sobre o ensaio e as meninas fingindo que entendiam alguma coisa de música e de instrumentos. Eu também conversava, mas em algumas vezes meus olhos fugiam em direção àquela garota. Já tinha ficado com várias garotas, mas ter ficado com ela me fez sentir alguma coisa estranha. Tinha que me controlar, não podia fugir do objetivo.

O sinal da última aula tocou e eu finalmente podia sair daquela merda. Não que não pudesse sair a hora que eu quisesse, porque toda vez em que não tinha mais paciência para aturar aquilo, pegava minhas coisas e saía sem que ninguém percebesse. Ou não percebiam por alguns instantes.
Peguei minha mochila e meu companheiro skate e fui seguindo o fluxo de alunos para a porta da saída principal do prédio. Parei na porta por alguns minutos para poder falar com uns amigos, quando uma garota esbarrou em mim, fazendo com que seu iPod caísse de suas mãos e atingindo o chão em cheio.
'Mas que porra, !' falou, se abaixando para pegar o aparelho.
'O que que foi, eim garota?' Falei, olhando ela se abaixar. 'Não olha por onde anda não?'
'Você que fica parado na porta da saída que nem um lesado. Porra, não tá vendo que tem gente saindo?' E com isso ela saiu pela porta enfurecida. O que que ela tinha?
'Mas que garota sem noção.' Um dos garotos falou.
'É. Sem noção.' Falei e voltei a conversar com eles. Mais tarde eu a responderia cara a cara.

Fim POV's
_________________x_______________x________________x_______________


POV's

Cheguei em casa jogando a mochila encima do sofá e indo para a cozinha comer alguma coisa. Minhas pernas tremiam e o suor aparecia em meu rosto de tão de pressa que eu fui andando para casa. tinha me oferecido uma carona, mas eu preferira ir andando mesmo, para poder esclarecer um pouco e pensar racionalmente.
Coloquei no micro-ondas um Yakisoba e me sentei em cima da bancada da cozinha, esperando o tempo passar. Odiava me sentir assim. Por que raios eu tinha ficado com tanta raiva? Por que, depois do intervalo, não consegui prestar atenção em mais nada a não ser estar desejando a morte do e daquela maldita loira? AAAH, precisava de uma vodka.
Ouvi meu celular tocar lá da sala, então dei uma corridinha até lá e o peguei. "" brilhava na tela.
'Alô?' Falei ao atender.
'Alô. Oi sua cabeçuda, você tá bem?'
'Claro que estou. Por que tá perguntando?' Falei, mas da minha voz já dava para perceber que não.
'Claro que estou. Vai a merda, hem .' Ela zombou do outro lado.
', por favor.' Coloquei uma mão no rosto.
', vamos, me explica. O que houve? Você estava bem e depois do intervalo você simplesmente mudou seu humor.' Ela pediu mais uma vez. 'Vamos , me diz. O que aconteceu?' Oh Shit.
'Ok amiga. Desculpa.' Falei. 'É que... hm... vocêsabecomoeusouumaidiotacompletaesoumes-'
'OW! Calma . Respira e relaxa. Não estou entendendo nada.' Eu tinha juntado toda minha coragem para falar e saiu quase tudo de uma vez só. Tudo bem, acho que sou orgulhosa demais para admitir que eu estava... ham... estava. AH! Vocês entenderam.
'Droga ' Falei com minha voz já vacilando. 'Como eu pude deixar isso acontecer?'
'Ai, tudo bem amiga. Sem stress. Isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde, não é?' tentava me consolar por uma burrice que eu mesma fiz. Eu me deixei levar pelo . Não era justo que eu sentisse isso e ele não...
'Mas...'
', presta atenção. Não é sua culpa ter gostado dele..'
'Mas eu não gosto dele!' Adverti , mas ela pareceu não dar atenção.
'E nessas condições, é normal sentir ciúmes.' Ciúmes. A palavra ecoou por minha cabeça, me fazendo sentir um buraco no estômago. Não acreditava nisso. 'Então não se martirize por isso, ok?' sabia exatamente o meu jeito.
'Ok amiga.' Só afirmei, então ouvi o barulho do micro-ondas, avisando que o Yakisoba já estava pronto. 'Vou desligar agora, . Irei comer alguma coisa.'
'Tá bom, amiga. Qualquer coisa, já sabe, me liga.'
'Tudo bem, obrigada. Beijos.'
'Beijos, sua cabeçuda.' E desligou o celular.
Caminhei até a cozinha, peguei um prato e me servi do almoço. estava certa, não podia me martirizar por isso, mas não fugia a minha cabeça que eu podia sim ter evitado aquele sentimento qualquer de afeto pelo . O que tinha acontecido? Simples, uma resposta era a que mais me rondava, mas me negava a aceitar, uma vez que ele era .

Eram quatro horas da tarde e como de praxe a campainha soou. Antes de me levantar no sofá, me vi em um dilema, onde não sabia que me levantava e ia abrir a porta ou deixaria ele lá fora na chuva. Fui contrariada por minhas pernas e já me vi optando pela primeira opção. Passei uma mão por meus cabelos, soltei o ar de dentro de mim e abri a porta. O vento entrou cortante, fazendo com que meus cabelos soltos voassem para trás e eu me encolhesse atrás da porta. A figura de adentrou a sala e fechei a porta rapidamente, para que o frio não me congelasse ali mesmo.
'Então.' falou atrás de mim.
'Então o que?' falei, indo para o sofá.
'O trabalho, como está?'
'Quase acabando. Você tem se comportado e vindo todos os dias, então já está quase no final.' Olhei para ele e achei estranho que não tivesse já se esparramado pelo sofá.
'Que bom.' Ele apenas falou. Não sei porque, mas ficamos um pouco em silêncio. Aquele silêncio esmagador.
'Você não vai falar para me sentar?' Ele perguntou logo.
'Se você estiver se sentindo bem parado em pé aí, por mim tudo bem.' Não consegui ser indiferente. O olhei e ele me olhava também.
'O que aconteceu?' Enfim, ele perguntou. Não, não que eu estivesse esperando ele perguntar. Não mesmo.
'Nada.' Falei, voltando os olhos para minhas mãos em cima do colo.
'Não sei por que não acredito nesse nada.' Ele respondeu e veio se sentar ao meu lado. O olhei e então ele passou o braço em volta de minha cintura e me puxou para perto de si. 'Me fala, . Não faz assim. Já estávamos bem.' Por que ele estava agindo assim? Como se... importasse?
Fiquei calada ainda olhando para minhas mãos e sentindo a raiva crescer dentro de mim. , com uma das mãos, virou o meu rosto na direção do seu e penetrou seu olhar no meu. Tanto quanto uma cena de filme, ele chegou tão perto que pude sentir sua respiração na minha, então tudo o que pude fazer foi puxar seu rosto para mais perto até sentir sua boca na minha. Seus braços se envolveram em minha cintura e minhas mãos apertaram o seu cabelo. Ainda estava com raiva dele, mas sentir ele só para mim, fazia meus sentimentos se doparem e tudo o que realmente sentia era os toques deles. Como pude chegar ao ponto de precisar tanto do assim?
Ele me empurrou um pouco, fazendo com que eu me deitasse no sofá e ficou por cima de mim, ainda me beijando sem pressa. Dessa vez, não fizemos menção em tirar alguma peça de roupa, só ficamos ali deitados. Ele separou nossos lábios e me encarou por um minuto. 'Por que logo você tem que ser diferente?' Então vi a confusão se formar em seus olhos. 'Por que logo você?' E com isso, ele saiu de cima de mim e ficou de pé. Embora eu não tivesse dito, também perguntei a mim mesma o porquê de logo o .
'O que tem eu?' Perguntei, mas para mim mesma do que para ele.
parou o olhar em mim mas não respondeu nada. Nos encaramos por longos minutos.


Já eram seis da tarde quando encerramos o assunto do trabalho por aquele dia. Depois de nosso momento 'dramático', resolvi puxar o notebook e desviar o assunto para o trabalho. Não que eu não quisesse saber a resposta daquela pergunta, mas também não queria sentir a tensão do momento e nem dar ao o luxo de me ver acabada, dependendo da resposta. Mas também cheguei a um pensamento de que, talvez, ele estivesse sentindo a mesma coisa que eu. Se ele também estivesse com a mesma confusão? Se aquilo que estivesse acontecendo também o deixasse confuso? Eram perguntas difíceis para duas pessoas visivelmente confusas.
'Já vou.' disse ao se levantar e alongar as costas.
'Sua mãe nunca te ensinou que espreguiçar-se na frente das pessoas é feio?' Disse, também me levantando e me espreguiçando. Ele olhou para mim com sua famosa sobrancelha arqueada 'E isso que você está fazendo é o que?'
'Estou na minha casa.' Falei, dando de ombros e indo até a porta.
'Sei.' Ele caminhou até a porta e assim que a abri, dando passagem, ele se virou e me puxou pela cintura. 'Até amanhã, .'
'Até amanhã, .' Então selou nossos lábios com um gentil beijo, se virou e foi embora.
Fechei a porta e me recostei nela. Pensei nos momentos que passei com ele até ali. Meus pelos se eriçaram e senti meu habitual frio na espinha. Também pensei que ele fazia tudo aquilo com as outras garotas por aí afora. Meu coração martelou, não de raiva, mas com uma pontada de dor. A maioria das garotas querem alguém que queira só elas. Por que eu tinha que querer logo um garoto que queria todas? Passei as mãos uma na outra e subi para meu quarto. Phill não tinha chegado e nem minha mãe e não queria ficar em casa, porque com certeza teria tempo de sobra para pensar em .
Tomei um banho e, de roupão, escolhi alguma roupa boa e quente para sair. Penteei meu cabelo, peguei meu iPod, as chaves de casa, a carteira e desci as escadas. Olhei no relógio digital da sala, e lá marcava 06h40 da tarde. Calcei meu all star e saí de casa. Coloquei os fones de ouvido e fui caminhando até o ponto de ônibus na esquina da rua. Ainda estava decidindo se ia caminhar pelo bairro ou se ia para algum outro lugar. Em alguns minutos um ônibus estava se aproximando do ponto, então fiz sinal para que parasse.
'Boa noite, esse ônibus passa em Ballantyne?' Perguntei a um moço de uniforme azul, aparentando ter uns 40 anos.
'Boa noite, senhorita. Sim, é o destino final.' Ele respondeu simpático.
Subi a bordo do ônibus e me sentei nas últimas cadeiras, já que o transporte não estava tão vazio. Fui viajando nas músicas até chegar ao centro de Ballantyne. Segui o fluxo das pessoas e desci do ônibus. Segui em frente, caminhando calmamente, sentindo o vento frio bater em minhas bochechas. Fui olhando as vitrines das lojas, onde vendiam roupas de frio, calçados, brinquedos, jóias. Passei por um restaurante onde dava para ver o interior por causa de sua grande parede de vidro. Não me interessei por muito tempo no interior, mas notei um casal que conversava descontraidamente. Eles riam, e quando o rapaz se endireitou na cadeira, vi que vestia uma blusa de manga preta. Blusa da capa do CD do Metallica de 83. É, essa é a hora em que tudo me lembra o .
Parei na calçada, esperando o sinal verde se tornar vermelho para os carros da rua. "Por que logo você tem que ser diferente?" A voz de ecoou em minha vaga mente e encontrei seu rosto na minha cabeça. O sinal vermelho brilhou e os carros pararam. Andei juntamente com os outros para atravessar a rua. "Por que logo você tem que ser diferente?" "(...)Ele deu um leve riso e disse 'Da próxima vez, quero ver uma lingerie.' Ri do pedido dele. 'E você sabe se vai ter próxima vez?' Ergui a sobrancelha de novo.
'Não vou desistir de ter a próxima, e depois da próxima, e depois depois da próxima...'"
Afinal, o que ele queria?
Com um minuto afundada em meus pensamentos, me vi caída no meio da faixa de pedestres com vultos indo para lá e para cá, sem nem notarem eu ali, caída, de bunda no asfalto.
'A senhorita está bem?' Ouvi uma voz grossa se acentuando no espaço. Um homem estava agachado, olhando para mim. Não pude ver com clareza o seu rosto, pois com o baque, meu cabelo voou todo para frente e parou no meu rosto, bloqueando minha visão.
'Ah, sim. Estou sim.' Falei, tentando de uma forma desastrada arrumar meu cabelo. 'Eu não estava prestando atenção na rua, desculp-' Assim que levantei e olhei melhor o rosto do rapaz, senti que reconhecia seu rosto.
'Não, eu que estava correndo mesmo.' Ele falou, passando a mão no cabelo e assim que olhou meu rosto, sua boca se abriu em um lindo sorriso angelical. 'Hãm... ?'
O olhei com mais afinco e logo o reconheci. Sorriso angelical, cabelos pretos arrumados e ao mesmo tempo bagunçados. Não podia ter me esquecido dele. Sorri de volta. 'Oi Éric.'


Capítulo XII -



Os carros começaram a buzinar impacientes.
'Er... acho melhor sairmos logo da frente antes que eles passem por cima de nós.' Éric disse, estendendo a mão para mim, me auxiliando a levantar do chão gelado. Andamos até o outro meio fio.
'Você está bem?' Ele perguntou. ‘Eu estava andando com tanta pressa que nem olhei por onde andava.’
'Sim, estou. Obrigada.' Respondi, meio sem jeito ainda. Quando o conheci na livraria, tive o desejo de revê-lo, mas não achei que seria tão rápido assim e nem com um esbarrão que me levasse ao chão. Acho que não fazia nem duas semanas que eu havia ido lá com . Não estou reclamando, mas apenas admito que foi uma surpresa. Surpresa agradável.
'Que coincidência esbarrar com você por aqui.' Falei. 'Achei que a livraria fechasse cedo.'
'Ah, e fecha sim. É que hoje tive alguns livros extras para arrumar.' Respondeu. 'E você? Passeando sozinha ou está com aquela sua amiga?'
'Ah, não, estou sozinha.' Me lembrei vagamente do motivo no qual tinha me levado a dar uma saída. Éric me olhou e interpretou a expressão que se formou em meu rosto.
'Você está certa. Dar uma caminhada é o melhor jeito de dar uma esquecida em algumas coisas.' Acenei com a cabeça, concordando. 'Bom, já que estamos aqui, o que acha de tomarmos algo quente? Mas irei entender se não quiser.' Falou sincero, me olhando e aguardando a resposta.
Você sempre ouve sua mãe dizer para não sair com estranhos e muito menos para ir tomar um café com eles, mas Éric não parecia ser o tipo de cara que te pega pelas costas quando você não está olhando e te dá um boa-noite-Cinderela. Não parecia. Iria tirar a prova naquele instante.
'Se for aqui perto, tudo bem.' Disse, aceitando seu amigável convite.
Fomos juntos, andando até não muito longe dali e paramos em uma típica cafeteria. Assim que entramos na confortável loja, uma chuva fina começou a cair e a fazer com que pessoas andassem mais depressa lá fora. Nos sentamos no balcão e ficamos olhando as opções de cafés e outras bebidas quentes. Quando decidi minha bebida, a atendente veio até nós e anotou nossos pedidos.
'Rum, ahm, é.' Éric queria falar alguma coisa, mas parecia que tinha medo de falar ou não sabia como começar a falar. Achei aquilo um tanto quanto fofo. Ele parecia ser mais velho do que eu, logo isso, na maioria das vezes, nos faz ter a sensação de que ele já tem mais 'experiência', digamos assim, em puxar assunto. Mas Éric tinha um formoso charme de ficar sem graça ao me olhar nos olhos e sem jeito ao tentar falar. 'Você mora por aqui?' Perguntou, levando uma xícara de café até a boca.
'Não, eu moro em Myers Park.'
'É um pouco longe, não?'
'É sim, mas precisava sair de perto do... é, ram, de casa, sabe.' Tossi um pouco, tentando disfarçar. Ele não precisava saber que eu tinha saído por causa de alguém. Entretanto, ele me olhou por mais uns instantes antes de se voltar para o café. Era meio embaraçoso o silêncio que se instalava entre nós. Dava para sentir que tínhamos o que conversar, só que, estranhamente, não estávamos conseguindo. Vasculhei minha mente por alguma pergunta ou algo de bom para falar.
'Ham, você trabalha há muito tempo no El Libro?' Não sei se já contei que sou péssima para puxar assuntos.
'Faz um tempinho. Me mudei para cá em busca de, ham, um emprego que eu gostasse.' Não criticando quem trabalha em livrarias, mas ser atendente não é lá um trabalho no qual as pessoas procuram para exercer. Mas enfim, cada um é cada um.
'Não gostava do seu antigo?'
'Até gostava, mas... livros são a minha paixão.' Ele disse, mostrando aquele sorriso.
Devolvi o sorriso. 'Também amo livros. Nada melhor do que a sensação de viajar sem sair do lugar.'
'Sim. Nada melhor.' Olhei seus olhos, que me fitavam, mas logo foram desviados novamente para a xícara já quase vazia.
'E você? O que faz da vida?' Eric me perguntou, notavelmente tentando mudar o assunto.
'Eu? Ham... bom, no momento só estudo mesmo.'
'Ah, muito bom. O que, exatamente?' Franzi o cenho.
'Nada em específico... ainda tenho que terminar o ensino médio para escolher alguma coisa fixa.' Enquanto eu terminava a frase, Éric me olhou de uma forma estranha. Um olhar... confuso. Juntou as mãos, uma sobre a outra, e pigarreou um pouco.
'Pensou que eu estivesse na faculdade?'
'Não! Er, quer dizer, pensei que você já não fosse mais do colegial.' Ele falou, com um tom meio sem graça. 'Mas não importa. Nossa, desculpe-me.' Agora ele passava a mão no cabelo. 'Não queria que soasse desta forma.' Me apressei em alegar que não havia problema algum.
'Não, sem problemas.' Sorri. 'Ás vezes não me dou bem com as palavras também.' E nós dois rimos.
Passamos mais algum tempo sentados, conversando sobre livros, já que era um assunto em comum. Não percebi o espaço de tempo em que estava na companhia de Éric, então assim que conferi no celular as horas, vi que já eram 09:30 pm.
'09:30, tenho que ir.' Falei, já me levantando da cadeira.
'Nossa, tudo isso já? Também preciso ir. Amanhã tenho que chegar cedo no trabalho.' Ele também se levantou e fomos até a porta.
'Bom, até logo.' Falei, me despedindo.
'Ahmm, , você não quer que eu te acompanhe até em casa?'
'Como assim? Tipo, até Myers Park?' Não, até a terra do nunca, !
'Ham, sim né. Não é lá onde você mora?' Sorri por eu ser tão idiota.
'Ah, é sim. Mas é muito longe. Para você ir e voltar, ficará muito tarde, não acha? E amanhã você tem de acordar cedo.'
'Bom, é que já são quase dez horas da noite e uma moça bonita como você não deveria ir desacompanhada até em casa, ainda sendo um tanto quanto longe.'
Eu sei que era simpatia e generosidade dele querer me acompanhar até em casa, mas não me sentiria muito bem ir com ele até lá.
'Ah, sim, mas-' Antes que eu completasse, ele riu e passou a frente.
'Tudo bem. Eu entendo sua atitude. E acho que está certa, eu que não me dei conta do pedido que estava fazendo.'
'Não me entenda mal, é só que...'
'Não, ok. Mas pelo menos me deixe tranquilo e deixe que te acompanhe até o ponto de ônibus, ok?' Sorriu.
'Tudo bem.' Concordei. Quando fomos para fora da cafeteria, a chuva havia estiado. Então fomos caminhando até o ponto de ônibus mais próximo de onde nós nos encontramos.
Paramos debaixo da marquise do ponto e ficamos ali, esperando qualquer sinal de algum ônibus. A rua não estava deserta, mas também não estava tão cheia quanto antes.
'Quando chegar em casa, será que poderia me mandar uma mensagem?' Ele perguntou, ainda olhando para a outra esquina.
'Ham, claro. Me dê o seu número.' Peguei meu celular e dei para ele anotar o número. 'Ok então. Eu aviso sim.'
Mais alguns instantes e os faróis do ônibus brilharam, dobrando a esquina. Esperei para que se aproximasse e vi que o letreiro digital dizia que passava em meu destino e fiz o sinal de parada.
'Bom, é nesse que vou.' Me voltei a Éric, que tirava suas mãos dos bolsos do blazer que usava. 'Obrigada pelo café e pela companhia até aqui.'
'Ah, sem problemas. Foi muito bom revê-la, .' Suas bochechas coraram como da primeira vez.
Nos abraçamos para nos despedir. Sorrimos um para o outro e subi no transporte, mas antes que o motorista fechasse as portas, ouvi a voz de Éric. 'Essa não vai ser a última vez que nos encontramos, vai?'
A pergunta meio que me pegou de surpresa, mas mesmo repentina, já sabia da resposta. 'Não.' Então ele sorriu e as portas do ônibus foram fechadas. Paguei a passagem e fui me sentar no ônibus completamente vazio. Coloquei meus fones de ouvido e esperei o tempo e o caminho passarem.

• • • • • • • • •

Estava no meio do caminho de casa e eu já estava quase batendo a cabeça na janela com o sono que estava sentindo. Como ninguém pegou o ônibus em que eu estava, a viagem estava sendo rápida. Quando resolvi fechar os olhos por uns instantes, o transporte parou e ouvi vozes de garotos que falavam alto. Resolvi abrir os olhos e uns cinco garotos que usavam bonés e casacos longos adentraram o veículo, indo para o fundo do ônibus e conversando alto. Resolvi fechar os olhos novamente, mas ficou impossível de ouvir a música que rolava no iPod com aqueles garotos que quase gritavam. Aumentei o volume da música e continuei a olhar para fora.
Passado uns dez minutos percebi que o silêncio dentro do ônibus tinha voltado. Tirei os fones de ouvido para me certificar e me aliviei na paz que rolava. Recostei minha cabeça no apoio, na parte de trás da cadeira e de repente senti um ar quente roçar minha nuca. Ajeitei a coluna e olhei para trás. Um dos garotos estava sentado atrás de mim, me olhando com um sorriso, que me deu maus arrepios, enquanto os outros estavam agora rindo. Me virei novamente para frente, tentando fingir que aquilo não tinha acontecido. Senti uma ardência em minha cabeça e me virei novamente pra trás. O mesmo garoto ainda estava lá e ria. Percebi que ele brincava, entre os dedos, uns fios avermelhados. Não acreditava naquilo! Aquele cretino tinha arrancado fios do meu cabelo! Estava a um ponto de meter a mão na cara dele e xinga-lo de tudo, mas pensei que seria uma furada. Cinco garotos contra uma garota e um motorista, que parecia nem ver o que acontecia.
Me levantei e me sentei em um banco que estava mais a frente. Ouvi os outros garotos continuarem rindo. O mesmo garoto de antes, se sentou ao meu lado. Mas que porra!
"Mas que saco! Vai encher outro!" Explodi. Ele riu mais.
"Calma, linda. É só uma brincadeirinha." Ele falou com um riso.
"Ôh Sid! A gata tá arranhando, é?" Um outro falou.
Bufei, puxando todo o meu cabelo pra frente. O tal do Sid começou a chegar mais perto de mim e fui me esmagando contra a janela. Não aguentei mais aquilo e dei um empurrão nele, que o fez se afastar. Aquilo parecia um jogo divertido para ele.
"Por que você não curte também?" Ele perguntou, voltando a se aproximar. "Resistir só vai doer mais." Então ele elevou sua mão até a minha boca, a desenhando. Não consegui pensar, só desmontei um soco em seu nariz, que soltou uma fina camada de sangue. Seu olhar de raiva desmoronou sobre mim e senti minha espinha congelar. As palavras vinham em minha mente com voracidade. "Fudeu de vez, ."
"Acho que você gosta de carinho com dor, né?" Ele falou, passando a mão sobre o nariz e sorrindo. Agora os outros quatro amigos se levantaram e vieram em nossa direção. Olhei uma última vez lá para fora e reconheci o lugar. Sorte existe, enfim! Assim que mencionei em me levantar, o garoto tapou a passagem com o corpo. Tentei pensar em algo que pudesse me fazer sair dali. Pensei rápido e, com toda minha força, dei um empurrão no garoto, que cambaleou para trás. Me vi livre por um instante e assim que corri em direção ao motorista, os outros garotos me encurralaram.
"Não vai escapar assim, gata. Você tem que nos dar um agrado." Um dos meninos anunciou. Meu coração acelerado fez com que meu cérebro trabalhasse mais rápido. Então, o garoto que eu havia derrubado no chão, estava tentando se levantar, mas com o balanço do veículo, o deixava mais difícil de o fazer. Logo, assim que ele se pôs de pé, dei um impulso e empurrei novamente o menino, mas agora em cima dos outros. Na hora, estávamos dobrando em uma curva, assim todos eles se desequilibraram e desabaram contra os bancos e os ferros. Como um gato, e nem sei como fiz aquilo, pois sou péssima em esportes, pulei sobre eles, pisando em alguém quando passei. Corri novamente para o motorista. A catraca me impediu de chegar muito perto, então, enquanto eu dava um jeito de pulá-la também, gritei ao motorista.
"Para ali! Vai!" E com um susto, ele o fez. Quando passei por ele, percebi que era um senhor já de idade e que voltou seu olhar para trás do ônibus. Não fiquei ali para ver o que ele iria dizer. Soltei do ônibus e comecei a correr. Não olhei para trás com medo de que visse algum daqueles garotos atrás de mim. Cheguei em um quarteirão depois e tive que parar para respirar. Fazia um tempo que não corria assim e meu coração estava batendo em um ritmo descontrolado. Meus pulmões puxavam com brutalidade o ar para dentro e soltavam da mesma forma.
Não sabia que horas tinham, mas já sabia que estava muito tarde e onde eu estava também era vazio e escuro. As luzes das casas já estavam quase todas apagadas. Resolvi ir andando mais rápido para chegar logo em casa e tomar um banho. Minha casa não ficava longe dali, daria para ir andando, ainda mais se fosse no passo em que estava dando. Fui andando no canto das calçadas e cantarolando uma música qualquer do System of a Down para relaxar um pouco. Sabe aquela sensação que você sente, quando está sozinha, de estar sendo seguida? Aquelas paranoias todas do medo. Eu já estava ficando mesmo paranoica, apressando mais ainda o passo. Já estava quase que correndo novamente, olhando pra trás para me certificar, toda hora, de que não havia ninguém ali. Se alguém me visse, iriam pensar que eu estava fugindo de alguém, o que era verdade, ou da polícia. Continuei andando apressadamente e em um instante que olhei para trás, dei meu segundo esbarrão da noite. Não cheguei a cair no chão, mas não olhei para quem quer que fosse e me virei para continuar, mas a pessoa me pegou pelo braço, fazendo com que eu voltasse. Ah não, pela segunda vez não.
"Ei, ei, ei! O que foi, ?" Se meu coração batesse mais forte do que batia, seria capaz de sair para fora. Olhei o rosto de quem me chamava pelo nome e reconheci assim que seu rosto refletiu por causa da luz do poste.
"?" Perguntei, relaxando meu braço que ele segurava.
"Sou eu sim. O que foi, ? Você está pálida." Queria dizer que estava tudo bem e que eu só estava com pressa, mas o que meu corpo fez foi abraça-lo e sentir o peso do corpo ir diminuindo. Seus braços também me envolveram e ele pôs seu queixo apoiado no topo de minha cabeça. "Relaxa. Relaxa. Tá tudo bem." Meus olhos começaram a ficar úmidos, mas fiz força para que nenhuma lágrima escorresse.
"O que houve? Tem alguém te seguindo?" perguntou. Me afastei de seu corpo, me recompondo e me pus a contar a ele a parte do que acontecera no ônibus. Enquanto ia contando, fomos andando até chegarmos em minha casa, que estava com a luz da sala acesa.
"Pronto, aqui estamos." disse assim que paramos no jardim da frente.
"Obrigada, ." Falei, mas antes que me virasse para ir para a porta, me voltei a ele. "Por que você estava parado lá naquele lugar vazio?" Tinha me vindo essa pergunta ao longo do caminho que fomos conversando. Ele não estava com ninguém lá. Estava sozinho e acho que não morava por lá.
"Eu não estava parado. Estava voltando pra casa." Ele deu um riso de lado. "Por acaso, estava voltando daqui mesmo. Phill me chamou pra ver uma coisa, e como eu já estava por perto, resolvi vir." O olhei com uma certa surpresa. tinha acabado de voltar da minha casa e veio assim mesmo comigo, para depois voltar tudo de novo? Eu sei que ficamos e tal, mas, sei lá, ele não era do tipo cavalheiro. E ele também não gostava tanto de mim... não mesmo... não é? É?
"De nada, . E te perdoo por hoje a tarde. Se me dissesse que era apenas ciúmes, eu teria entendido." E com um sorriso de lado, saiu andando, fazendo o mesmo caminho de antes.
O que? Me perdoou? Ciúmes? O que ele achava? Que eu estava morrendo de amores por ele, como todas? Fiquei um tempo parada ali xingando ele. Como aquele garoto..."Aff." Bufei e fui em direção à porta. No entanto, as palavras dele me deixaram frustrada de certo modo. Querendo ou não, ele já estava sacando o que eu insistia em negar pra mim mesma, mesmo depois de todos os beijos e os momentos perdidos pensando se ele realmente teria se interessado por mim.
Entrei em casa e minha mãe veio ao meu encontro. Certamente por ter saído e demorado a chegar. Mas antes que esquecesse, peguei meu celular e procurei Éric em meus contatos.


Capítulo XIII -


Acordar atrasada já é uma merda, imagina quando seu tênis evapora e você fica que nem uma palhaça indo de um canto em outro procurando, pulando em um pé só, tentando calçar a meia, com o cabelo já todo pro alto e sua amiga buzinando igual a uma louca do lado de fora de casa às 7h da manhã? Meu humor caiu para -10.
"Mas que porra!" Revirei meu guarda roupa todo, meu quarto todo e até procurei na cozinha para ver se achava, e nada!
Perdi a conta de quantas vezes subi e desci as escadas só para depois perceber dois pontos vermelhos, meio encardidos, ao lado da escada. "Meu dia vai ser ótimo!" Falei alto, pegando minha mochila e indo de encontro com já do lado de fora, no carro.
"Ih, hoje vai ser seu dia, hem !"
disse ao me ver com a cara carrancuda, entrando no automóvel.
"Nem fala nada. Quando esses dias vêm, sempre dá merda pro meu lado."
riu, soltando o freio de mão e saindo com o carro. "Relaxa, que o dia só está começando." E assim fomos para o colégio. E realmente, só estava mesmo.
Assim que chegamos ao colégio, uma fina chuva começou a cair. Fui andando devagar até o prédio principal e me separei de , já que íamos ter aulas diferentes. Fui subindo os lances de escadas bem lerda, não estava com pressa de assistir aula e muito menos de olhar para . Por quê? Oras, óbvio! Ele era um fantasma que visitava a parte REM do meu sono. Torci para que ele matasse os primeiros tempos de aula. Mas como esse era o dia em que tudo e todos iriam contra mim, estava sentado bem em seu lugar de sempre e assim meus sonhos realistas fizeram uma rápida passagem por minha mente.
"Sai!" Falei, quase que um sussurro para mim mesma, tentando fazer com que as lembranças fossem para longe. Andei até meu rotineiro lugar na frente, me sentei, coloquei meus fones e deixei minha mente vagar entre as letras da música. Senti minha bunda vibrar e tomei um susto. Ok, calma, era o meu celular avisando que havia recebido uma mensagem. Peguei o telefone e o remetente era um número desconhecido. Assim mesmo abri a mensagem e li o que estava escrito:
'Lá fora, na sala de limpeza do andar.
2 minutos. xoxo'

Levantei uma sobrancelha e olhei para trás. Ninguém suspeito com celular na mão. Me voltei para frente e fiquei olhando para a tela do celular.
"Quem será?" Falei para mim mesma e me voltei para trás de novo. Dentre as pessoas da turma, faltava uma. Faltava a que mais falava alto.
"Não vou." Falei decidida.
Me ajeitei na cadeira.
Prendi meu cabelo em um coque.
Cruzei as pernas.
Desmanchei meu coque.
1...2...3..."Ah, foda-se" Levantei e fui em direção a tal sala. Como odiava ceder a essas coisas!
"Rápida, não?" falou, encostado na porta da sala que ficava ao fundo, quase que escondida, no corredor, rodando o celular na mão e levantando a boca em um meio sorriso. Droga! Por que tenho que achar esse sorriso tentador?
"Fala logo o que você quer." Falei, cruzando os braços, parando na frente dele.
"Nossa, já com esse mau humor pela manhã? Pensei que você fosse mais simpática." Ele riu.
"Se é só isso." Fiz menção em me virar para o corredor vazio e começar a andar, mas ele pegou em meu braço e me fez ficar de frente para ele novamente.
"Por que você cisma em tentar fugir de mim?" Eu ri de leve.
"E por que cisma em ser tão convencido assim?" Agora ele riu.
"Não estou sendo convencido. Não posso fazer nada se você já não pode me ver com outras garotas." Realmente, ele não é convencido.
"Eu já não...? HAHAHA me poupe." Revirei os olhos.
"E não é? O que foi ontem então? Estávamos bem e do nada você me odeia com todas as forças."
"Eu sempre te odiei com todas as minhas forças." Falei. "E além do mais, não estávamos bem nada."
"Estávamos sim." falou baixo, puxando meu braço de leve para mais perto.
"Dá pra você me soltar?" Falei, tentando não chegar mais perto, mas ele era mais forte que eu.
"Por que você não desiste de ser tão difícil?" Seu tom de voz foi caindo.
"Por que você não vai tentar agarrar outra?"
riu e com um puxão rápido e fácil, me fez encostar em seu peito. Nossos rostos estavam já tão próximos e eu sentia a respiração cálida de . Tentei desviar minha atenção de sua boca, mas era impossível. Meu coração saltava, fazendo meu sangue correr e pulsar forte em minhas veias. Sua outra mão deslizou sobre meus cabelos soltos e caminhou até meu rosto quente. Sentir seu toque era como levar milhares de pequenos choques elétricos, e isso me fazia arrepiar.
"Isso é torturante." Sussurrei.
"Você é torturante." falou ao pé do meu ouvido, me fazendo sentir um frenesi por todo corpo. Ele voltou seu rosto para o meu e por uns instantes seus olhos percorreram minha face. "Você não sabe o quanto eu odeio querer você."
Tudo desencadeou e colei minha boca na dele. Meus braços o envolveram e apertavam com força. Sua mão afastou meu cabelo do rosto e estacionou em minha nuca. Eu já não aguentava mais aquele jogo de ir e não ir. Cada vez em que nossas bocas se conectavam era como se o mundo fosse acabar a cada segundo que passasse. Eu queria ter todo ele pra mim, nem que fosse por pouco tempo. Precisava sanar aquela vontade de .
Talvez, se eu ficasse com ele, toda aquela vontade estaria acabada e eu estaria livre daquele garoto de uma vez por todas!
"Eu odeio muito mais você." Falei, separando nossas bocas. "E odeio mil vezes mais também querer você." me olhou firmemente e sorriu, me fazendo abrir um meio sorriso involuntariamente. Assim, o sinal da primeira aula tocou.

• • • • • • • •

Mesmo o sinal da primeira aula tendo tocado, anunciando o início da aula, eu e ficamos sentados encostados na porta da pequena sala de limpeza. Ficamos os dois tempos ali, conversando sobre coisas alheias. Não ficamos conversando, né. Enquanto ele falava sobre os planos de sua banda e as milhares de festas em que seus amigos pagaram micos, eu apenas focalizava seu rosto e tentava entender aquilo. Hoje de manhã eu mal podia pensar que ele existia e agora estava ali, conversando a casa duas horas com ele depois de praticamente ter me rendido ao maior pegador de toda a escola. Mas que filho da puta ele era. O mais fascinante era que ao mesmo tempo em que eu me sentia aliviada por não ter mais que ficar negando os meus desejos pelo , parte minha me fazia ficar apreensiva. Meu cérebro trabalhava em alguma forma de descobrir alguma razão por ele querer ficar comigo. Não porque eu não me considerava feia, até porque se eu mesma não me considerasse bonita, quem iria fazer isso? Minha mãe e não conta, já logo aviso. Mas eu não fazia o tipo de menina que sempre ficava. Acho que se não fosse pelo trabalho de filosofia, ele, talvez, nunca saberia que eu existia. Tinha que haver alguma razão para que aquilo tivesse acontecendo, mas só não conseguia saber o que era.
"Acho melhor irmos pegar nossas coisas lá na sala."
falou, se levantando. O sinal tinha tocado e eu nem me toquei.
"Ah ta, é verdade." Me levantei, mas antes que eu andasse, me abraçou por trás e depositou um beijo no meu pescoço.
"Nos vemos na hora da saída?"
"Sim." Falei e me virei para ele. Nos beijamos por uns segundos e começamos a andar pelo corredor.
Quando cheguei na porta da sala, o professor já havia saído e os alunos estavam parados conversando. Olhei para trás para localizar , mas não o vi. Entrei e peguei minha mochila, que não havia sido aberta, e fui para a lanchonete do campus.
"Hey, amiga!" gritou assim que me viu entrando na lanchonete.
"Oi, chata." Sorri e fui em direção a ela.
"Como foi a aula?" Ela perguntou, enquanto escolhia algum bolinho da vitrine do balcão.
"Hum, não tive aula." Falei e logo depois não consegui segurar um leve sorriso.
"Deu sorte do professor faltar?" Ela ainda tentava escolher algum bolinho. Mas é claro, todos pareciam deliciosos.
"Não. O professor veio." olhou pra mim com cara de confusa.
"Você matou aula, dona ?"
"Hummm, sim." Falei, escondendo o rosto com as mãos.
"Ah, que coisa feia. Por que não me chamou?" Ela fez bico.
"Ah, porque...." Tentei achar alguma coisa convincente. "Porque você é uma nerd e nunca iria matar aula, principalmente de química."
"Aaaah, que mentira." Fez beicinho. "Então, o que ficou fazendo nos dois tempos?" Finalmente escolheu algum e a atendente foi pegá-lo para ela.
"Eu, nada."
"Nada? Sei. Desembucha, mulher."
"Sério, nada."
"Ah, ta bom . Aposto que deve ter ficado se pegando com alguém por aí." falou brincando, mas, maldita hora, senti meu rosto corar. "Por favor, não tenha notado! Por favor, não tenha notado! Por favor..."
"Iá, ficou vermelha!" Ela riu e pegou o bolinho, mas logo fez uma cara de séria e se voltou para mim. "VOCÊ FICOU COM ALGUÉM?"
Balbuciei alguma coisa parecido com "Você está imaginando coisas." Mas eu mesma sabia que já era. Ela tinha percebido. Por que eu não sei disfarçar direito? Cruzes.
"Haam, digamos que sim." Falei, mas comecei a andar em direção ao gramado do lado de fora da lanchonete.
colou no meu braço, equilibrando o bolinho na mão. "Me conta isso direito, garota! Quem você andou pegando, hem?"
"Não é nada demais." Fiquei um pouco receosa de falar o nome dele. Eu sabia que ela iria falar, falar, falar muito! E ainda iria achar que eu estava escondendo as coisas dela. Do jeito que ela é meio (muito) dramática... vish.
"Aaah, vamos, me fala ! Quem foi o sortudo?"
"...."
"Vaaaaamos ! Você esconde tudo de mim." Viu, não disse?
"Tá, mas sem escândalos, ok?" Implorei.
"Ok ok, prometo. Vai, fala!" Suspirei e tomei fôlego. A puxei mais pra perto e falei perto do seu ouvido.
"." Falei, quase que com uma voz de derrotada. Imediatamente abriu a boca e fechou. Começou a abanar as mãos.
", calma! Você me prometeu!" Ali na lanchonete não, pelo amor!
"Aiiiiiii, você me conta uma coisa dessas e não quer que eu fique pasma?" Ela disse, quase derrubando o bolinho. "E, além disso, eu sabia! Esse ódio por ele era só uma fachada! Eu sabia que você queria dar uns pegas nele!"
"Ai, porra ." Coloquei uma mão no rosto. "Nós só ficamos!"
"Só ficaram? Pelo que eu saiba, essa não é a primeira vez."
"Eu sei, mas...ah." Desisti de tentar obter algum argumento. O que ela disse era verdade. Não era a primeira vez.
"Mas e aí! Vocês estão ficando, tal?" Ela perguntou, sentando no gramado.
"Bom... Não sei bem." Também me sentei e prendi o cabelo em um coque. "Acho que sim."
"Nossa, que coisa, hem!" deu uma mordida em seu bolinho. Acho que eu estava tão pasma quanto ela. Eu ainda não acreditava muito naquilo. "Você não sabe o quanto eu odeio querer você." É, acho que agora não adianta xingar.


Capítulo XIV -



Por incrível que pareça, passei todas as aulas do dia prestando atenção no professor. Sem desenhar na borda do caderno, sem mexer no cabelo e também sem olhar para trás. Parecia mesmo que eu tinha tirado um peso das costas. Ao contrário do que acontece com outras garotas que ficam com outros meninos, de pensarem a todo instante neles, meu cérebro apenas absorvia as informações passadas pelo professor de biologia.
O sinal soou e todos se levantaram.
"Não se esqueçam do resumo!" O professor disse, quase gritando após todos começarem a falar alto e sair da sala como tigres.
Com toda a calma que eu tinha, juntei todo meu material e fui até a porta, mas o professor me parou.
"E sem gracinha, ok ?" Disse sério, e eu apenas respondi com um leve sorriso. Por que ele ainda guardava mágoas? Já não era o bastante ter me mandando fazer um outro resumo com outras palavras e ainda entregar no dia seguinte? Vou falar, tem alguns professores que não tem ninguém para amar então ficam enchendo a paciência dos alunos.
Encontrei com e Jake no estacionamento e vale destacar que estavam se pegando encostados no carro.
"Hey, cabeçuda! Você vem com a gente?" parou quando cheguei perto, mas ainda não desgrudou de Jake, que soltou um riso para mim.
"Ah, hoje não." Respondi.
"Ué, mas por quê?"
"Porque... fiquei de passar em uma mercearia para comprar algumas coisas para minha mãe." Óbvio que era mentira, mas no clima em que e Jake estavam era meio chato ficar sobrando ali.
"Tem certeza?" Ela insistiu.
"Não , eu estou em dúvida sobre o que minha mãe falou." Ironizei.
"Ok, ok! Sem patadas, por favor."
"Awn, vem cá, sua chata." Dei um beijo em sua testa. "Você sabe que hoje o dia foi...daqueles."
"Ahá. Sei." Ela me deu uma piscadela. "Então nos falamos mais tarde, ok?"
"Ok."
Nos despedimos e fui andando em direção à rua. Coloquei meus fones e fui viajando na música e na voz da minha deusa Amy Lee. Já na metade do caminho, ia andando como se não tivesse mais nada além da música no mundo.

(Evanescence – Oceans)
(Chorus)
"With the whole world falling around me
Com o mundo inteiro caindo ao meu redor
"

Não conseguia passar ouvindo só o refrão. Tive que cantar baixinho.

"Cross the oceans in my mind
Atravessar os oceanos em minha mente
Find the strength to say goodbye
Buscando a força para dizer adeus
In the end
No fim
You never can wash the blood from your hands
Você nunca pode lavar o sangue de suas mãos
"

De repente aconteceu algo, como se tivessem me dado um soco de realidade. Um de meus fones saíram do meu ouvido. Com o susto, tropecei em qualquer coisa na minha frente, mas por sorte alguém me segurou.
"Opa! Vai com calma, cantora!" Ouvi dizer, me ajudando a recuperar o equilíbrio.
"Porra, Você quer me matar?" Reclamei, dando pause na música.
"Eu? Não. Você é que quer matar os seres humanos com essa linda voz." O olhei séria. "Ah, tá querendo dizer que você canta bem? Pelo amor!"
"Não! Quer dizer, eu estava cantando tão alto assim?" Recuei.
"Não, só o bastante para assustar quem passava." Ele sorriu.
"Eu achei que estava cantando baixinho." Corei e ele riu mais ainda.
"Vou te contar uma coisa: você não estava cantando baixinho nem aqui e nem na China."
"Tátátátátá. Já entendi." Ajeitei meu cabelo e continuei andando. fez o mesmo. Isso inclui ajeitar o cabelo também.
Andamos até uns dois metros.
"Por acaso você estava me seguindo?" Parei, perguntando a ele.
"Não." Ele respondeu e continuou andando.
"E por que diabos está andando junto comigo? Só porque ficamos não quer dizer que você pode ficar me seguindo por aí." Apressei o passo para ficar ao lado dele.
"Eu não faço do tipo 'perseguidor'."
"E então?"
"Então o que?"
"Então por que está me seguindo?"
"Já disse que não estou te seguindo."
"AAAH, vamos parar com isso." Disse, irritada já com aquele papinho. "Por que você está junto comigo?"
"Ah, agora sim. Bom, até o que sei, você ainda tem que me ajudar a terminar o trabalho de filosofia, lembra?"
"Ah é, verdade." Disse. "Mas você não vai geralmente às quatro horas?"
"Hoje quero ir mais cedo."
"É assim? Você vai a hora que quiser na minha casa sem ao menos me consultar?"
Estava esperando uma resposta, mas o que fez foi me parar e me dar um beijo demorado.
"Quando é que vamos parar com essa história toda?" Ele perguntou, laçando os braços em volta da minha cintura.
"Com essa história? Mas que história?" Me fiz de desentendida quando senti meu rosto corar. fez uma careta, mas foi paciente e logo em seguida riu.
"Com essa história clichê de ficar e brigar, ficar e brigar, ficar e brigar. Por que não vamos logo para a parte em que decidimos que já é hora de cedermos um ao outro?" Sabe quando você está cansada de lutar por alguma coisa e deixa as coisas irem pelo lado natural, mesmo que você se foda depois? Então, essa tão esperada hora estava chegando para mim.
"Odeio admitir, mas ok. Tudo bem." Me desvencilhei de seus braços. "Não acredito nisso. Nunca imaginei que um dia ia fazer isso. Nunca pensei que fosse capaz de uma coisa dessas. Nunca..."
"! Para de enrolar, porra! Mas que coisa! Você só faz enrolar!" disse, passando as mãos pelos cabelos.
"Eu enrolar? Mas porra nenhuma! E quem disse que você po-" Ele puxou com força minha cabeça para sua e praticamente sugou meus lábios. Segundos depois nos separou.
"Eu não aguento com você, !" Eu o olhei e a corrente elétrica passou por mim outra vez. Senti meu pequeno e fino fio de resistência se romper. Então, (finalmente, diga-se de passagem) me aproximei dele, coloquei minha mão em seu cabelo macio e olhei bem em seus olhos, com o coração a mil por hora.
", acho que estou começando a me apaixonar por você." Ele soltou um riso torto.
"Acha que está começando? Já não está?" Ele disse, me puxando para mais perto.
"Ok. Possivelmente eu já esteja apaixonada por você." Ri.
"Só apaixonada? Não está me amando não?" Ele fez bico.
"Vai com calma. Se contente com isso."
"Ok. Por enquanto, só." Sorriu e então me beijou. O alivio que eu sentia antes se intensificou mais ainda agora. Estava se concretizado o que possivelmente já estava para acontecer. De uma história com um garoto e uma garota que se odeiam, só podia sair paixão, não é? Afinal, o amor e o ódio caminham juntos.


• • • • • • • •

Chegamos em casa e, como de costume, não havia ninguém.
"Vou na cozinha esquentar meu almoço. Também vai querer?" Perguntei, tirando minha mochila e depositando em cima do sofá.
"O que tem de bom?" Arqueei uma sobrancelha e ele riu. "Ok. Pode me servir."
"Não sou sua serviçal." Disse, caminhando para a cozinha. "Trate de vir aqui me ajudar."
Retirei uma caixa de lasanha de vegetais (é, o que eu mais comia era lasanha.) do congelador e coloquei no microondas por dez minutos.
"E o que temos de sobremesa?" perguntou, quando me abraçou por trás.
"Você é um tanto abusado, né? Mas, enfim. Não tem nada pronto." Falei.
"Hum. Tem para fazer?"
"Bom, não sei. Só olhar na dispensa." Ele então foi abrindo os armários da cozinha.
"Você gosta de chocolate?" perguntou.
"Óbvio."
"Então teremos para sobremesa brigadeiro!" Falou, pegando um pote de achocolatado e um outro de leite condensado.
"Mas já vou logo avisando que sou péssima na cozinha." Falei, indo ajudar a pegar a manteiga na geladeira.
"E quem disse que é você quem vai fazer?"
"Ué, não diga que você está se habilitando a fazê-lo?" Saiu quase que um riso da minha boca.
"Vou. E você vai comer o melhor brigadeiro da sua vida!" Ele disse, convencido.
"Vou pagar para ver!" Disse, divertida.
"Então ta. Mas vou precisar de uma auxiliar aqui."
"Tudo bem. Para ver essa sua proeza, faço esse esforço." Brinquei.
"Então tá, pega uma colher." E assim, fez nossa sobremesa. Enquanto eu ia tirando a lasanha do microondas, ele ia pondo a mesa para nós dois. Depois de almoçarmos e comermos o chocolate, fui lavar a pequena louça que estava dentro da pia e ficou sentado à mesa. Ficamos por um tempo em silêncio, só ouvindo o barulho das louças batendo na pia e da água caindo. A sensação de um olhar sobre mim me fez ver pelo canto do olho e ele estava sério, com uma mão sobre a boca, os cotovelos apoiados sobre a mesa e com os olhos sobre mim. Senti um pequeno frio na barriga que me fez mal por um segundo. Virei totalmente para a frente da pia. O que eu sentia em relação a era bem intenso, digamos assim. Uma maior parte de mim quis ter somente ele, embora outra parte não gostasse daquele jeito sínico e arrogante de ser. E agora, de vez em quando, sentia frios e calafrios, mas daqueles que acontecem quando você se sente ameaçada. Essa era a parte em que me fazia sentir desconfortável ao seu lado. Não conheço há muito tempo, mas com tudo em tão pouco, sem muitas conversas, sem muitos contados, sentia um desejo muito significativo por ele. Talvez o medo fosse de depositar uma confiança na qual eu poderia me arrepender de ter depositado depois. Mas... mas ele estava querendo ficar comigo agora. Ele também queria a mim e eu não estava caindo de amor por ele. Eu não o amava. Isso! O importante era isso mesmo. Não o amar. Quem sabe se vivesse só um 'rolo' com ele, aquela vontade dele acabaria. Mas aí eu estaria sendo igual as outras! Não, não é possível. Abaixei minha cabeça e suspirei alto. Não aguentava aquela discussão comigo mesma. Quanto mais eu pensava em uma saída para aquilo, mais saía fumaça de mim.
"?" Ouvi a voz dele.
"O-oque foi?" Respondi, saindo do transe.
"Tá tudo bem?"
"Sim, por quê?"
"Porque você tá a mais de cinco minutos ensaboando o mesmo copo."
"Ah...é porque...estava muito sujo." Corei e voltei meu olhar para o copo.
Quando terminei de lavar tudo, fui para perto de , que ainda continuava um pouco calado.
"Não sabia que você era caladão." Brinquei.
"Ah, não. É que... estava pensando na nota de filosofia."
"Ué, se preocupando com nota da escola?" Ironizei.
"Nota que decide meu ano, né? Odeio estudar, mas sempre consigo passar." Ele riu.
"Sei. Então por que dessa vez ficou difícil?"
"É porque..." Ele me pegou pelo braço como sempre fazia e me fez sentar em seu colo. "Uma garota começou a tirar a minha atenção." Ele piscou.
"Ah ta. Vou fingir que acredito. Essa é a mais velha de todas!" Ri e passei a mão, bagunçando mais ainda seu cabelo. "Não esquenta. Vamos dar um jeito." Sorri.
"É totalmente idiota, mas gosto da entonação do nós." Sorriu, passando a mão também pelo meu cabelo.
"Quem diria." Sorri de volta.

(Se quiser ouvir a música, dê play aqui. Algumas partes não condizem com o capítulo.) (Lost in paradise – Evanescence)

"I've been believing
Eu estive acreditando
In something so distant
Em algo tão distante
As if I was human
Como se eu fosse humana
And I've been denying
E eu estive negando
This feeling of hopelessness
Esse sentimento de falta de esperança
In me, in me
Em mim, em mim."


Nos beijamos de forma delicada e doce. Fomos aprofundando os beijos à medida em que nosso desejo ia crescendo. Levantei do colo de e coloquei uma perna de cada lado de suas pernas e voltei a me sentar em seu colo. Continuamos a nos beijar e a cada minuto íamos com mais rapidez. Suas mãos caminhavam por minhas costas e as minhas estavam emaranhadas ainda em seus cabelos, dando pequenos puxões, expressando mais desejo.


"All the promises I made just to let you down
Todas as promessas que fiz apenas pra te deixar para baixo
You believed in me but I'm broken
Você acreditou em mim, mas eu estou machucada"

"I have nothing left
Eu não tenho nada sobrando
And all I feel is this cruel wanting
E tudo o que sinto é esse desejo cruel
We've been falling for all this time
Nós estivemos caindo por todo esse tempo
And now I'm lost in paradise
E agora estou perdida no paraíso"


me levantou e ficamos de pé. Suas mãos caminharam até os botões de meu casaco e o tiraram com facilidade, enquanto eu ia trabalhando uma de minhas mãos em seu zíper da calça jeans. Logo a minha blusa e a dele estavam fora de nossos corpos e eu pude sentir mais uma vez seu peito nu ofegando em cima do meu. As correntes elétricas avançavam por todo meu corpo com mais voracidade e me faziam um tremor passar em todos os meus membros. Não fiquei em pé por muito tempo. me levantou e cruzou minhas pernas em cima de sua cintura, onde as calças estavam frouxas, e foi me levando para a sala. Tive que parar um pouco respirar e para falar.
"Na sala não." Falei, ofegando.
"Phill?" Ele me olhou.
"Não sei quando ele vem. E hoje ele levou a chave."
"Correndo perigo de sermos pegos é bem mais excitante." Ele riu torto e ri junto.
"Vamos deixar essa parte para depois. Vamos subir." E assim subiu a escada comigo ainda colada em seu corpo.

"As much as I'd like
Tanto que eu gostaria
The past not to exist
Que o passado não existisse
It still does
Ele ainda existe
And as much as I'd like
E como eu gostaria
To feel like I belong here
De sentir como se eu pertencesse aqui
I'm just as scared as you
Eu estou apenas tão assustada quanto você."


Entramos em meu quarto e minhas costas foram encostadas na parte de trás da porta. Agora com meus pés no chão, pude livrar de suas calças e dos sapatos e nos colamos novamente. Era a vez dele abrir o zíper de minha saia pregada e ela indo parar em meus pés, que com habilidade se livravam fácil dos tênis e das meias. Minhas peças íntimas estavam expostas agora, fazendo com que parasse um segundo e encarasse meu corpo ofegante e suado.
"Já disse como você é... crescida?" Riu.
"Não precisa." O puxei com força e brinquei com a barra de sua cueca box branca. Fomos caminhando juntos até a minha cama, onde caí de costas com ele por cima de mim.

"Run away, run away
Fuja, fuja
One day we won't feel this pain anymore
Um dia nós não sentiremos mais essa dor
Take it all away shadows of you
Pegue todas essas sombras para longe de você
'Cause they won't let me go
Porque elas não vão me deixar"


Sem mais delongas, ele arrancou meu sutiã e acariciou meus seios a mostra. Isso fez com que meus pelos se arrepiassem e meus olhos fechassem, sentindo todo aquele desejo exalante. Senti seus lábios em meu pescoço e minhas curtas unhas agarraram seus braços, fazendo movimentos de subida e descida, deixando marcas para mais tarde. Suas mãos desceram até a minha calcinha e foram fazendo com que ela escorregasse entre minhas pernas. Com isso, também tirei de uma vez sua box. Ela já estava há muito tempo ali. Quando já não nos restava nada, senti meus músculos se contraírem ao sentir a presença de em mim. Seu movimento de vai-e-vem me fazia rolar os olhos. A cada vez eu queria mais rápido e com mais força. O desejo agarrado a mim e a ele desesperadamente. Nossos movimentos nos proporcionaram gritos abafados e suor escorrendo em nossas testas e troncos. Os ritmos mais rápidos e concentrados e não queríamos outra coisa a não ser aquilo. Senti minhas pernas tremerem de leve. Uma sensação terrivelmente extasiante e maravilhosa chegou e logo após, o cansaço. ainda estava se movimentando, mas não demorou muito até retirar-se de mim e depositar seu esperma em minha barriga. Com olhos fechados, repousou bem ao meu lado na cama. Busquei sua mão e entrelacei nossos dedos. Nos viramos um para o outro e o sorriso apareceu em ambos.

"Alone and lost in paradise.
Sozinha e perdida no paraíso."


Capítulo XV -



Eu e ficamos na cama por alguns minutos recuperando a força. Foi tudo tão intenso e tão rápido que consumiu toda a nossa energia. Nos levantamos, vestimos nossas roupas e descemos até a sala.
"Não está esquecendo nada lá em cima, né?" Perguntei.
"Não, acho que está tudo aqui comigo."
"Ok então." Falei. se aproximou de mim e me puxou para um selinho.
"Vou ter que ir embora agora." Ele disse logo após desgrudar nossos lábios.
"Já? Mas são quatro da tarde ainda." Franzi a testa.
"Eu sei , mas tenho algumas coisas a fazer."
"Hum, tá ok então." Fomos até a porta, mas antes que eu a fechasse, se virou.
"Ah, e como tá o trabalho? O prazo já está quase acabando." Para ser sincera, eu até tinha me esquecido do trabalho. Ultimamente não tínhamos nem comentado sobre isso.
"Ah, é. Bom, posso dar um jeito aqui." Falei.
"Certeza?"
"Tenho. Vou dar uma acelerada nele." sorriu e me beijou novamente.
"Valeu, ." Depois disso, se virou e seguiu andando até a rua. Fechei a porta e me espreguicei.
Subi para o meu quarto, mas antes de pegar o notebook, peguei o celular e chamei , que depois do quarto toque atendeu.
"Hey cabeçuda!" Ouvi ela dizer do outro lado.
"Oi !"
"Diga, chata."
"Tenho uma coisinha para te contar."
Falei, com um sorrisinho idiota na cara.
"O QUE FOI?" quase gritou quando reconheceu meu jeito de falar.
"Advinha!" Adorava fazer essa brincadeira com ela.
"Ah, porra !"
"Ah, vai . Você consegue."
Insisti.
"Tááá! Tem a ver com quem?"
"Comigo."
Respondi.
"Disso eu já sei, dona ." Ela riu. "Quero saber, você e MAIS quem?" Ela enfatizou.
"Ah, agora especificou melhor." Enrolei.
"Fala!" Um grito agudo quase me deixou surda.
"Tem a ver com o ." Soprei.
"Huuuuuuuum. Já sei que é coisa quente e boa!"
"Adivinha logo."
"Vocês deram outro amasso do babado?"
"Hum, também. Mas, amasso do babado? Em que tempo você vive, ?"
Ri.
"Ah, me deixa! Hum, também..." Ela parou um pouco. "Também..."
Ela ficou alguns segundos calada.
"Alô? ? Você ainda está aí?" Perguntei, estranhando a demora.
"ELE TE COMEEEEEEEEEEEEEEEU!" gritou que nem uma pessoa possuída.
"Porra! Quer me deixar surda?” Ralhei. “Mas, olha, uma pessoa normal diria que ele me pediu em namoro.” Falei.
"Séééério Lêh?" E quem disse que ela era uma pessoa normal, ?
"Ah... é." Sorri como uma babaca novamente.
"For God's sake! Ele te comeu!" Ela repetiu, pasma.
"Sim! E para de dizer "ele te comeu". Nós transamos. É melhor."
"AAAAH, SUA SAFADA! NÃO, EU SABIA! ISSO IA ACONTECER!"
Como era de se esperar, deu crise de louca como sempre.
"Ok , agora para de gritar, por favor." Pedi.
"CARACAAAAA!" Ela continua gritando, agora meio que se gabando.
"Se você continuar gritando vou desligar!" Gritei com ela.
"AAAAAAAAH" Ela continuava.
"OK ENTÃO!" Desliguei o celular e sentei na cama. "Mas que garota chata." Reclamei.
Meio minuto depois meu celular vibra com uma mensagem recebida.
" Adoro te irritar! HAHAHAHA
ps.: amanhã quero detalhes! xoxo "

Ela realmente sabia irritar alguém, principalmente eu. Com isso, joguei o celular na cama, peguei o computador e me recostei na cama. Abri o notepad e comecei a procurar algumas coisas sobre o trabalho do . Para mim, filosofia era uma matéria tão interessante e fácil que acabei me empolgando e fazendo algumas coisas a mais no trabalho. Um texto de duas folhas e meia não era tanta coisa assim, era? Depois de ter terminado o texto, consertei algumas coisas porque não poderia dar pistas de quem fez, pois a professora conhecia o meu jeito de dissertar. Troquei algumas palavras, algumas frases. Depois salvei tudo em uma pasta e fechei o notebook. Desci e jantei, conversei com a minha mãe e discuti um pouco com o Phill, como de praxe. Subi novamente para meu quarto e fiquei deitada na cama olhando para o teto. Agora aquela cama seria motivo de lembranças. E também, ela ainda tinha o cheiro do perfume de . Lembrando de tudo e sentindo aquele cheiro, dormir com todo o peso do dia.

• • • • • • • •


"FIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIRE! FIIIIIIIIIIIIIIIRE! AAAAAAAAAAAAAAAAAAH"
Acreditem, esse é o meu despertador. Acordei em um pulo quando o aparelho começou a gritar no último volume. Com a cara toda amassada, procurei o celular e parei o barulho. Sete horas em ponto. Mais um dia de aula, mais um dia de acordar cedo. A única coisa que me fazia um pouco mais feliz era que já era sexta-feira! Só de saber que no dia seguinte poderia dormir tranquila, sem ter que acordar de manhãzinha cedo, era muito bom.
Literalmente saí da cama me arrastando, indo direto ao banheiro. Logo depois de toda a rotina matinal, coloquei minha mochila nas costas, peguei meu iPod e segui rumo ao colégio. Estava caminhando ao som de Dream Theater mas aí meu celular tocou.
"Alô?" Falei ao atender.
"Oi, ." A voz do outro lado respondeu.
"Oi, Éric!" Respondi.
"E aí, tudo bem?"
"Tudo, e com você?" Aquela conversinha de sempre, né.
"Também. Mas e aí, diga." Falei.
"Ah, nada não." Arqueei minha sobrancelha. "Não, quer dizer, queria, talvez, te fazer um convite."
"Ah, qual?"
"Olha, é que hoje eu devo sair mais cedo aqui da livraria, então queria te chamar pra ir a um restaurante japonês."
"Bom..." Mas antes, ele falou.
"Ah, não, pera aí. Você gosta de comida japonesa?" Ri da enrolação da conversa.
"Olha, pra ser sincera, eu gosto mesmo é só de yakisoba, sabe?"
"Sei sim. Bom, eu também gosto. Que tal comermos juntos, então?" Pensei um pouco, mas tive vontade de não recusar, afinal, Éric era uma ótima pessoa. Tive um pouco de receio, mas, enfim aceitei.
"Ok, topo sim." Respondi.
"Ok então. Que tal hoje?"
"Hoje? Só se for à noite." Falei.
"Certo. Sete horas? Aqui em Ballantyne, em frente à cafeteria em que fomos da última vez?"
"Sim." Concordei. Nos despedimos e desliguei o celular. Não me tinha passado pela cabeça, mas só depois pensei que o que eu tinha acabado de fazer era ter marcado um encontro com o Éric. E encontros geralmente são para conhecer a pessoa, ou melhor, encontros são quando uma pessoa ou ambas estão afim um do outro. E acho que esse era o caso do Éric. Ele não teria marcado esse "encontro" só para conversar comigo. Ou não? Ou sim? Enfim. Tentei deixar isso pra lá, afinal, mesmo que se fosse um encontro? E aí? Não teria nada de demais. Éric poderia ser um ótimo amigo em vez de um ficante. E aliás, eu tinha o . Confesso que até aquele momento, eu não sabia o que o era meu. Talvez um ficante, certo? Anyway. O fato era que eu gostava muito dele. Estava realmente apaixonada. Tão rápido e fácil, que nem se pode acreditar nisso, não é? Mas, afinal, quem nunca se apaixonou tão rapidamente que nunca ficou boquiaberto?
Mais uns minutos caminhando e ouvindo música e discutindo mentalmente comigo mesma, e cheguei ao colégio. Atravessei a frente do colégio toda e cheguei ao prédio. Caminhei pelo corredor central em direção as escadas para ir pro segundo andar. Logo em frente a uma fileira de armários, estava, como sempre, conversando com seus amigos da banda e algumas daquelas vadi-, quer dizer, "meninas", de sempre que ficavam babando por ele. Eu iria passar direto, porque não gosto nem de chegar perto daquele tipo de gente, mas resolvi ir até lá só para dar um "oi" a ele. Que mal faria? Andei até a direção deles.
"Oi, ." Disse, dando um leve sorriso.
Todos eles pararam de conversar para olhar para mim. me olhou com um meio sorriso e colocou uma mão no bolso da calça jeans preta surrada.
"Hum... oi." Ficamos uns dois segundos, todos calados. Pensei em dizer mais alguma coisa, mas resolvi voltar para o meu caminho da sala. Fiquei um pouco sem graça. Fiquei mais sem graça porque me senti uma idiota. Até eu acharia uma coisa retardada, alguém vir falar comigo só um "oi", ficar parada que nem uma boboca e depois sair. Enquanto me afastava, ouvi uma das garotas perguntar "Por que ela falou com você, coração?" Coração? Na boa, que apelido é esse? Para ele, parece idiota demais. Mas enfim, não esperei pra ouvir a resposta. Subi até a minha sala, já esperando pelo longo dia pela frente.

• • • • • • • •


Depois do último tempo de aula ter acabado, todos saíram iguais a onças da sala, mas eu apenas peguei minhas coisas com toda a calma do mundo, esperando que a multidão diminuísse, para que eu pudesse passar pela porta. Depois de todos saírem, saí da sala e fui andando pelos corredores lotados de estudantes eufóricos. Parei em um bebedouro e encontrei com uma colega de outra classe. Ficamos conversando por uns minutos, então passou por mim rapidamente. O olhei, deixando de escutar uma leve frase do que dizia minha colega, mas logo voltei a minha atenção para a conversa.
" ?" Ela contestou. "Esse garoto não vale nada. É lindo. Mas não vale nada." Reforçou.
"É." Sorri amarelo.
"Admito que já tentei me aproximar dele e tal, mas depois que eu soube da garota da aula de matemática dele, resolvi ficar bem longe. Gente baixa essa."
"Garota da aula de matemática? O quê? Mais uma que era louca por ele, daí ele pegou e deixou?" Ri.
"Pior que não. Quer dizer, também. Se você não soube, ele levou ela pra cama."
"E daí? Todo garoto faz isso." Falei, dando de ombros.
"Sim, mas o incrível é que depois disso, ele tirou só A+ e A em matemática. Observação: ela era a melhor aluna da classe."
Senti um pequeno frio na barriga. Só por que no dia anterior tínhamos ido pra cama?
"Ah... Nossa." Ri um riso amarelo.
"É, . Coitada da garota. Além de todos saberem que foi com certeza usada, ele ainda ria junto com os outros. Dizia que ambos tinham se prestado um favor."
"Que... idiota." Falei com um tom de raiva. "Filho de uma puta!"
"Também acho." Ela respondeu. "Bom, tenho que ir, . Nos falamos, ok?"
"Ah, ok." Respondi. Nos despedimos e ela foi embora. Continuei meu caminho até o lado de fora do colégio.
"Mas que merda.", pensei. O frio na barriga aumentou e senti meu nariz arder. "Não, ele não pode fazer o mesmo comigo. Não...mesmo!". Minhas lágrimas começaram a querer descer, mas tentei conter elas. "Será que ele quer o mesmo comigo?". Me amaldiçoei de todas as formas possíveis. Agora me sentia um lixo. E eu que sempre dizia que não iria chegar nenhum pouco perto daquele garoto, me considerava esperta demais para isso. Inferno!
Cheguei em casa e fui tomar um banho. Aquela conversa ainda rondava minha mente. De baixo do chuveiro quente rezei para que aquilo tudo não acontecesse comigo. Depois do banho, me enrolei em uma toalha e me larguei na cama. "Tudo, menos isso." Fechei os olhos e respirei calmamente. Passei a mão entre meus cabelos e tentei esvaziar minha mente. Fiquei assim uns dez minutos, até que sentei na cama. Vi que ainda eram três e meia da tarde. "Mas quer saber? Vou arrumar minha roupa para sair mais tarde com Éric." Levantei e fui para o guarda roupa, atrás de alguma coisa. Com o eu me resolvia depois.

Sete horas e vinte minutos e eu ainda estava pegando o ônibus. Rezei para que Éric não tivesse ido embora.
Meu celular tocou e vi o nome de Éric no visor. "Oh, holy shit!" esbravejei.
"Alô?" Falei.
"Alô. Ei ." Éric falou.
"Oi Éric, diga."
"Então, você já chegou?"
"Ham, ainda...não." Falei, mordendo o lábio.
"Ah, que bom! É que vou demorar mais uns minutos." Ele riu.
"Ahhh, ok!" Ri também. "Mas se eu tivesse lá, acharia que você me daria um bolo." Ele riu também.
"Ah, não. Se eu não fosse eu te avisaria, né."
"E se não avisasse..." Falei.
"Sim, eu mereceria uma pequena surra."
"Pequena?"
"Ok, grande. Mas o que importa é que não estou."
"Sim." Sorri.
"Então, nos vemos daqui a pouco, beijos."
"Beijos." Falei e desliguei o celular. Bom, estava um pouco ansiosa para jantar com ele, afinal, precisava de uma distração.


Capítulo XVI-



Quando cheguei em frente à cafeteria, Éric ainda não havia chegado, então entrei no estabelecimento e pedi um café bem quente. Enquanto bebia, eu olhava o local com mais calma agora. O lugar era realmente aconchegante, com paredes cor marrom escuro com desenhos tipo abstratos detalhados em preto, o que dava uma aparência um pouco rústica. Havia também luminárias perto das paredes e no teto pequenas luzes coloridas, iguais as de um pisca-pisca. Em um canto, perto dos sanitários, havia um quadro que em cima tinha escrito ‘Nossa qualidade os clientes aprovam!’ e embaixo algumas fotos espalhadas de pessoas sentadas às mesas, algumas sorrindo para a foto e outras parecendo distraídas.
"Espero que eu não tenha demorado." Éric disse, aparecendo do meu lado.
"Demorou tanto que tive que comprar um café para ficar acordada." Eu disse, levantando o café e rindo.
"Mas se você quiser ficar acordada, nem vai precisar de café." Ele disse.
"E por quê?" Perguntei, dando mais um gole no café.
"Porque pra onde vamos ninguém consegue ficar com sono." Éric pegou a carteira e deixou dez dólares em cima do balcão."Vamos então?"
O olhei com uma sobrancelha arqueada.
"O restaurante japonês é tão agitado assim?" Disse, me levantando. "E deixe que eu pago o café." Mas ele me ignorou.
"Não vamos ao restaurante. Quer dizer, não nesse exato momento." Ele disse, rindo e se adiantando até a porta.
"Quê? E pra onde vamos?" Disse, indo até ele.
"Uma surpresa que duvido que você não vá gostar." Éric passou o braço por minha cintura, me fazendo andar junto com ele até a calçada.
"Acho que seria melhor você me falar." Falei.
"Calma. Surpresa é surpresa." Ele disse, tirando uma chave do bolso. Apertou um pequeno dispositivo embutido nela e logo um Chevrolet Cruze prateado ao nosso lado apitou, com os faróis dando uma piscada. Éric abriu a porta do motorista e entrou.
"Não vai entrar?" Ele me perguntou, me vendo parada na calçada.
O que ele tinha na cabeça? Mal nos conhecíamos e ele queria me fazer uma surpresa me levando a um lugar em que eu mal sabia onde era? Ou melhor, nem sabia onde era.
"Não acho uma boa ideia." Falei. Éric riu, ligando o carro.
"Relaxa. Ó, vou falar uma coisa pra você ficar mais calma. Onde nós vamos é aqui mesmo em Ballantyne, não fica nem afastado daqui do centro."
Olhei para ele e me pareceu que estava sendo sincero.
"Mas..." Hesitei.
"Ah, vamos! Ó, deixo até a porta destrancada, se quiser."
O olhei mais um pouco.
"Ah... ok então." Resolvi, dei a volta no carro e entrei.
"Bom, vamos lá." Éric disse. "E pra você ficar melhor, eu deixo você escolher o que quiser ouvir aí no radio."
"Tem certeza? Olha que algumas pessoas não gostam do tipo de música que ouço."
"Acho que vou arriscar." Riu.
"Já que é assim..." Abri minha bolsa e procurei um fio. Assim que o achei, conectei uma extremidade no iPod e a outra no radio. Éric olhou para mim e depois soltou uma linda risada alta.
"Que foi? Sou precavida." Eu disse, ligando o aparelho.
"Você é bem precavida mesmo." Disse, arrumando o retrovisor e assim que estava saindo com o carro, o clique das fechaduras automáticas das portas me fizeram olhar para ele.
"Ah é, verdade. Desculpe." Disse, destrancando as portas.
"Desculpa Éric, mas você me entende, certo?"
"Sim, claro. Eu mesmo propus... ok, agora sim vamos!"
"Vamos!" Eu disse, escolhendo alguma música.

• • • • • • • •


Passamos o tempo ouvindo música, conversando sobre o transito infernal da cidade nas noites do fim de semana, de livros, de nossos gostos e etc.
"Mas sabe que você não tem cara de quem gosta de rock?" Éric disse.
"Por quê? Você acha que todos que curtem rock andam só de preto, usam cruzes, maquiagem pesada e comem morcegos?" Falei.
"É que geralmente eles são assim... quer dizer, essa parte de comer morcegos eu não sabia." Ele fez uma cara de nojo, mas logo deu um riso.
"Ok, exagerei na parte de comerem morcego." Admiti. "Mas você deve ter visto mais os góticos ou aqueles que curtem death metal, mas as outras pessoas que gostam de outros subgêneros não parecem, ou melhor, não precisam parecer que gostam. Se vestem como gostam e querem."
"Então você gosta de que tipo de rock?"
"Ah, eu gosto de todos, na realidade. Mas ouço com mais frequência rock alternativo, heavy metal, metal, grunge..."
"Ah! Eu também gosto de grunge!"
Olhei para ele e sorri animada.
"Quais bandas você ouve?" Perguntei, entusiasmada.
"Nirvana." Ele disse, me olhando, quando paramos em um sinal.
"Essa é ótima. E qual mais?" Éric ficou me olhando com cara de paisagem.
"Ham... na verdade, só conheço essa..." Me falou, batendo os dedos no volante. Então virei a cabeça para trás e ri até a minha barriga doer.
"Mas o que foi?" Ele perguntou, rindo também. Tentei falar, mas já estava com lágrimas nos olhos.
"HAHAHAHAHA! Descul- HAHAHA! Desculpa!" Coloquei a mão na boca e respirei fundo para conter o riso. "Mas isso é hilário."
"Hilário? Ué, não entendi." Ele disse, andando com o carro depois que o sinal verde apareceu.
"É que..." Tomei um pouco de folego e passei as mãos nos olhos. "É que você disse que gostava de grunge, mas só conhece uma banda! Como isso é possível?"
"Bom, do mesmo jeito que acho os roqueiros legais agora só por ter te conhecido." Ele disse, sorrindo.
"Ah..." Sorri, sentindo meu rosto queimar um pouco. "Pois não devia.”
"Por quê?" Perguntou.
"Porque você devia conhecer mais outras pessoas assim para dizer se realmente gosta delas." Falei, olhando para ele.
"Mas você nunca gostou de alguém sem ao menos a ter conhecido há mais tempo?"
Desviei meu olhar para a janela e minha mente foi longe. Na realidade, nunca me tinha acontecido isso, mas os dias anteriores tinham me feito passar por isso pela primeira vez. Eu já tinha gostado de coisas antes sem conhecer, era simpática com as pessoas que conhecia, mas ser simpática não era sinônimo de gostar. Gostar de uma pessoa sem a conhecer muito, ainda ter a beijado, e até ido pra cama com ela, nunca. foi o primeiro quem me mostrou isso. Até das minhas melhores amigas de Los Angeles eu só fui gostar mesmo depois de um tempo, isso quando criança até. Mas o que o tinha pra me fazer sentir isso? Uma paixão que veio sem dar um pio sequer, ela apenas veio.
"Não, nunca." Respondi, voltando a olhar Éric.
"Pois bem, um dia você vai saber o que é." Ele sorriu.
Éric parou o carro em uma vaga livre em uma rua que estava super movimentada por pedestres.
"Chegamos!" Ele anunciou.
Olhei para fora, mas não notei nada em especial.
"Chegamos exatamente aonde?" Perguntei, tirando o cinto de segurança.
"Não é exatamente aqui. Só tive que estacionar aqui porque lá com certeza não deve ter mais lugar e se tiver, deve custar uma fortuna." Ele disse, desligando o carro e já abrindo a porta.
Saímos do carro e Éric fez menção para que andássemos para o final da calçada. Notei que muitas pessoas passavam pela gente super arrumadas. As garotas com saltos enormes e os garotos com roupas despojadas e alinhadas.
"Tem certeza de que não quer me dizer onde vamos?"
"Calma, já estamos chegando." Disse, animado.
Quando viramos a esquina, logo do outro lado da rua, uma pequena multidão formava uma fila em frente a uma porta que dava para uma casa enorme, com toda a fachada preta, e também tinha dois homens enormes de terno na porta. Olhei para Éric, que sorria como uma criança.
"Um pub?" Perguntei, pasma.
"Sim! Eu sei que joguei com a sorte para ver se você gostaria, mas esse é um dos melhores!"
"Um dos melhores? Mas eu não sabia que tinha esse pub aqui. Qual é o nome dele?" Perguntei, observando a multidão crescer.
"Esse é o melhor, não tem nome!" Ele disse, rindo.
"Não tem nome? Como assim?"
"É. Não tem nome, por isso é o melhor. É como se ele não existisse." Ele disse e piscou o olho. Não entendi muita coisa.
"Ok, mas Éric... não tenho grana pra bancar isso aí. E nem estou com uma roupa para a ocasião, né." Eu disse, olhando para meu par de tênis surrado, minha calça jeans rasgada na parte do joelho, minha blusa preta de manga comprida e uma pequena bolsa de lado.
"Sobre bancar, não se preocupe, porque fui eu quem te convidei e além disso, ganhei dois convites, então não se preocupa com a entrada. Também, você não precisa de roupas melhores, está linda assim."
"Mas Éric..." Ele nem me deu tempo para contestar. Me puxou pela mão e fomos até a casa.
Enfrentamos aquela multidão na porta, nos espremendo entre as pessoas que estavam eufóricas para entrar.
Quando conseguimos chegar lá na frente, ouvimos os seguranças gritarem para todos se acalmarem e só quem tinha convite poderia entrar. Então Éric tirou da carteira dois pequenos papeis brilhantes e entregou para um dos seguranças.
"Tudo ok, podem entrar." Ele nos disse, então conseguimos adentrar a casa de dança, que estava cheia. Lá dentro a música era ensurdecedora, mas todos dançavam sem se importarem. Em alguns pontos do pub haviam bancadas altas em que alguns dançarinos e dançarinas estavam embalados pelo ritmo da música (Dê play aqui, se quiser. ) e alguns faziam manobras com fogo e malabares. A iluminação era bem colorida, mas o local ainda conseguia se bem escuro.
"Vamos para o bar!" Éric disse, gritando por causa do som. Segui ele até um canto da boate onde algumas pessoas estavam sentadas e os barmans estavam fazendo seus drinks com piruetas.
"O que você vai querer?" Éric me perguntou assim que nos encaixamos em um lugar em frente ao balcão.
"Ham... Lagoa Azul." Gritei. Ele me olhou e sorriu. "O que foi? Uma jovem não pode pedir algo forte?" Perguntei.
"Que nada!" Ele se virou para um dos atendentes e pediu duas Lagoa Azul.
"Então, acertei?" Ele falou perto do meu ouvido.
"Não sou acostumada a vir nesses lugares, mas gosto de algumas músicas do tipo ." Respondi.
"Ótimo!" Ele sorriu largo.
"Mas Éric, são oito e pouca da noite, como esse pub pode estar cheio já?"
"É que hoje tem um show especial." Falou, me entregando a bebida que o atendente lhe entregou.
"Que show?" Perguntei, dando um gole na bebida, que desceu pela minha garganta como fogo, mas era uma das bebidas que eu mais gostava.
"Não sei, não me falaram ainda." Disse, rindo e também bebendo um pouco.
Ficamos bebendo mais uns copos e conversando ali, quase colados um ao outro, mas depois que terminamos as bebidas, Éric pegou na minha mão e me puxou na direção do centro do salão. Minha visão já estava meio turva, mas ainda conseguia andar entre as pessoas. Quando chegamos, ele se virou de frente para mim. (Outra música, dê play aqui. )
"Vamos dançar! Você não disse que gostava de algumas músicas assim?" Ele perguntou, já se mexendo com o ritmo.
"Sim, mas não disse que dançava em público."
"Não acredito que você tem vergonha! Para com essa merda e vamos dançar! Ninguém nem está olhando você, estão todos nas nuvens!" Ele disse, me puxando para mais perto dele e me fazendo dançar.
"Tá bom, mas não me responsabilizo pela desgraça." Disse, rindo e dançando de um jeito engraçado, mexendo o quadril e a cabeça.
"Relaxa! Você vai pegando o ritmo!" Éric disse, dançando com tamanho entusiasmo.
Passado um tempo de dança, eu estava mesmo pegando o ritmo, mas é claro que o álcool também já estava surtindo efeito no meu sangue.
A música era extasiante e ao mesmo tempo corrida. Todos ali pulavam e se mexiam como se tivessem tomado uma caixa inteira de energético. É claro que eu já sabia o que a maioria do pessoal tinha tomado para estarem assim. Como eu sabia que não era apenas bebida? Quando estava no bar bebendo, vi algumas pessoas colocando uma espécie de papelzinho na língua e indo para a pista. Nesses tipos de lugares, esse método é rotina.
Durante a música, Éric foi até o bar pegar mais bebidas para nós, mas daquela vez pegou duas latinhas de cerveja. Bebíamos e dançamos juntos com as outras pessoas. Me sentia uma pilha e cada vez em que a música ficava mais rápida, meus passos alcançavam ela até um ponto em que tive a sensação de que tudo se movia tão devagar. Eu e Éric dançávamos juntos, um rindo da cara do outro, a música nos tinha contagiado.
Depois que a música acabou, parei para respirar, assim como todos, mas logo outra música começou, mas não continuei a dançar.
"Éric, acho que vou ligar para minha mãe, já deve estar tarde." Falei ao lado de seu ouvido.
"Ok. Vá até o banheiro." Assenti e quando me virei para ir, ele me parou com o braço.
"Diga a ela que vai demorar, que a festa ainda nem começou." Disse, dando uma piscadela.
"Ok." Respondi. E fui tentando passar entre brechas das pessoas que estavam aglomeradas na pista. Depois de quase sufocar na pista, consegui chegar até o banheiro. Estava mais calmo que lá fora, óbvio, mas fui para a última cabine para poder ouvir e falar melhor. Peguei o celular na pequena bolsa que carregava.
"Shit!" Esbravejei para mim mesma. Haviam vinte e cinco ligações da minha mãe perdidas e quando olhei no relógio digital, já era meia-noite. "Ela vai me engolir viva." Disse para mim mesma. Digitei o número do celular dela e depois do primeiro toque ela já atendeu. Óbvio.
"! Onde a senhorita está?" Ela disse, quase gritando.
"Ai, calma mãe." Falei com a voz temerosa.
"Calma? Eu te liguei mais de mil vezes e você nada de atender! E nem pra dizer que ia sair, nem nada!"
"Ai mãe, desculpa. É que eu pensei que não iria demorar mais do que o normal. Mas estou bem."
"Ah, não faça mais isso, garota!"
Ela disse, mais calma. "Bom, e onde você está? E com quem?"
"Porra..."
Pensei. O que eu faria para ela não dar um chilique se soubesse que eu estava em uma boate e ainda em Ballantyne e ainda mais com alguém que não ela conhecia. "Pensa !"
"A senhora não ligou para a não?"
Iria tentar a sorte.
"Bom, no desespero até me esqueci dela..." GRAÇAS! GRAÇAS!
"Ah mãe! Então foi isso! Estou com ela..."
"Com esse barulho?"
Ela suspeitou.
"Estamos em uma festa de uma amiga da escola. Já está acabando e daqui a pouco estamos indo." Rezei para que ela engolisse pelo menos essa agora.
"Hum... Bom, ok então. Vocês querem que eu busque vocês ou..." Nem deixei ela terminar.
"Não! A está de carro. Ela me leva." Disse.
"Ok. Então, vê se não demora. Vou te esperar."
"Sim, mãe. Beijos."
E com isso desliguei. Eu precisava ir urgentemente para casa, mas antes mandei um SMS para avisando que a usei como minha cúmplice. Não sabia se minha mãe iria ligar para ela para confirmar a minha versão. Fui até a pia e me olhei no espelho, passei uma água no rosto e ajeitei o cabelo. Então, enfrentei aquela multidão novamente até encontrar Éric de novo.
"Éric, preciso ir para casa!" Falei perto do seu ouvido.
"Mas já? Não íamos ficar mais?" Ele falou com uma certa tristeza.
"Sim, mas eu preciso ir mesmo! Se não minha mãe me mata! Eu esqueci de avisar que ia sair."
"Ah. Ok então, vamos."
Fomos até a porta e saímos, e ainda havia muitas pessoas querendo entrar. Fomos até o carro de Éric e entramos.
"É uma pena que tivemos que sair mais cedo." Ele disse, ligando o carro.
"Sim, me desculpe. Mas eu também vim desprevenida." Tentei me desculpar com ele.
"Não, tudo bem. Não se preocupa, eu também não avisei nada." Ele disse, sorrindo, e eu retribui. "Bom, em que lugar de Myers Park você mora?"
"Ah, não precisa se preocupar, eu vou de ônibus mesmo."
"Você tá maluca? Ir sozinha há essa hora? Não e não."
"Ih, eu sei me virar sozinha, ok?" Falei, mas logo me lembrei do último episódio que vivi quando voltei do centro. Me dava arrepios, e olha que nem era tão tarde.
"Não, só que não é conveniente." Ele disse. "Vamos, me diz logo, você não estava com pressa?" Ele me olhava e vendo minhas atuais circunstâncias, resolvi aceitar.
"Ok, vai. Vamos logo." Éric riu e saiu com o carro.
Fomos conversando novamente todo caminho que agora era mais longo, e eu ensinando a ele o caminho até minha casa. Eu disse que iria mostrar a ele mais algumas bandas grunge além de Nirnava, como também tinha o Pearl Jam, Alice In Chains, Soudgarden e outras mais. E também iria apresentá-lo ao bom e velho metal.
A conversa foi tão boa que percebi que depois de um tempo já havíamos chegado, mas também Éric era um ligeirinho na pista.
"Chegamos e você está entregue, moça." Disse.
"Obrigada, Éric. E me desculpa de novo por ter saído cedo."
"Já disse para esquecer isso." Disse com aquele sorriso angelical.
"Bom, então é isso. Nos falamos."
"Sim, e não esqueci. Estou te devendo um yakisoba."
"Ah, é verdade!" Ri. "Boa noite." Disse, já saindo do carro.
"!" Ele chamou.
"Oi?" Falei, mas ele hesitou antes.
"Amanhã vou procurar sobre aquelas bandas."
"Ah, claro! Você não vai se arrepender." Disse, sorrindo. Então bati a porta do carro e ele saiu com uma buzina. Me virei para ir até a porta de casa e assim que comecei a andar, minha mãe apareceu na porta. Já sabia que iria escutar, não só dela como da também, que me faria um questionário pior.


Capítulo XVII -


Sábado, enfim! Apesar de ter acordado às 9 da manhã, só me levantei uma hora depois. Fiquei enrolando na cama, me virando de um lado para o outro, conseguia dormir por uns minutos, mas logo retornava a acordar. Vi que não iria conseguir pegar mais no sono, então me levantei. Fiz todo o procedimento matinal de sempre e desci para a sala, onde me taquei no sofá e liguei a tv. Procurei alguma coisa que prestasse para ver, mas as programações de finais de semana sempre são puro tédio, mas até que achei um canal em que estava passando videoclipes, então tive a sorte de cair ali logo na hora em que começou a passar Now do Paramore. Fiquei cantando junto até que Phill chegou à sala e se jogou em cima de mim, me esmagando toda.
"Porra Phil, será que não tem outro lugar pra você jogar a sua gordura não?" Falei, tentando empurrar ele pro chão. Inútil né.
"Ahhh, me deixa." Ele disse, fazendo mais força ainda contra mim.
Fiquei um tempo tentando tirar ele de cima de mim, até que as minhas energias foram acabando e fui tentando me convencer a morrer sufocada mesmo. Quando parei de relutar, Phill se levantou e se sentou ao meu lado, olhando para tv. Me endireitei, deixando mais espaço pra ele e continuei olhando a tv.
", o que tá acontecendo entre você e o ?" Phill disparou do nada, me deixando meio perdida.
"Acontecendo entre a gente?" Meu rosto corou um pouco. "Ah, nad-"
"Ok, vocês estão se pegando. Eu sabia." Ele disse, mas com um ar...diferente. Me pareceu estar um pouco decepcionado, talvez.
"O que foi, Phill?" Perguntei, me ajeitando melhor para olhá-lo.
Ele se virou para a tv e pareceu olhar para uma imagem que estava em sua mente. "Ah, nada mana, é só que... você sabe como é que é o ." Disse, voltando a olhar para mim.
"Canalha, eu sei." Baixei os olhos. "Mas, relaxa, estamos só ficando." Tentei animar não só a ele, como a mim também.
"O problema é esse, . Para ele, vocês estão só ficando, mas pra você, já virou alguma coisa a mais, não é?" Me olhou sério.
"Hã? Não Phill, eu... eu sei separar as coisas." Como eu era especialista em tentar mentir para mim mesma.
"Não, não sabe."
"Como é que você sabe disse? Como você pode ter certeza de que estou apaixonada por ele?" Phill não precisou nem responder. Mas é claro, eu mesma me entregaria.
Suspirei um ar pesado e virei meu olhar para a tv, que agora cantava uma música completamente desconhecida.
", por favor, toma cuidado. Não quero quebrar a cara do , ele é meu amigo."
"Isso era uma coisa que você deveria ter feito há muito tempo." Falei, com a visão hipnotizada pela tv.
"Mas você é a minha irmã. Ele que vá sacanear com as outras garotas." Ele disse. "Por favor, cuidado com ele."
Virei para olhá-lo e então ele e eu demos um sorriso.
"Obrigada, maninho." Phill se virou e me deu um beijo na testa.
"Agora deixa eu ir me arrumar." Ele disse, se levantando e indo em direção à escada.
"Ué, já?" Perguntei.
"Já. Tenho uma festinha na casa de um amigo e vai ter muita gostosa lá." Disse, piscando.
"Cadê o homem mais certo do mundo?" Perguntei, rindo. Então ele fez uma careta e subiu correndo as escadas.
Voltei a prestar atenção na tv, rindo. O Phill era o cara mais babaca e mais bacana de todo o mundo. Ninguém merece, né.
Passei a manhã toda largada naquele sofá, vendo tv. Depois do almoço, foi a mesma coisa.
"FIIIIILHA! TEU CELULAR ESTÁ TOCANDO AQUI EM CIMA!" Ouvi minha mãe gritar do quarto dela. Acho que sábado era o dia de nós duas ficarmos na inércia da preguiça.
"TÔ SUBINDO!" Gritei de volta, tentando andar o mais rápido possível para chegar no quarto, o que foi difícil, e ainda fui torcendo para que quando chegasse lá, não parasse de tocar, porque isso iria me deixar profundamente de mau humor.
"Alô?!" Atendi, com a respiração um pouco forte.
"Oi, ! Hã, estou te atrapalhando em alguma coisa?" Éric perguntou.
"Ah, oi Éric. Ah, não, é que, vim correndo atender o celular."
"Ah sim. É, sou muito importante." Ele riu.
"Babaca você, hem." Ri. "Mas então, o que há de novo? Ouviu as bandas que te falei?"
"Hã... ainda não." Ele respondeu. "Ainda vou procurar, mas fiquei com preguiça de abrir o notebook."
"Que preguiçoso que você é." Olha eu falando.
"Eu sei." E ele ainda soltou um riso debochado. "Mas então, queria saber se você está fazendo alguma coisa, tipo, agora?"
"Tipo, agora , agora? Nesse instante?" Perguntei.
"Sim."
"Falando com você." Falei, tentando segurar o riso pela piada mais idiota que eu.
"Oh, wow." Éric disse. "Não tinha reparado como você tem um senso de humor forte."
"Não sou sempre assim." Disse, sorrindo.
"Ok." Disse sério, mas riu logo em seguida. "Então, me responde direito, o que está fazendo agora?"
"Bom, nada especificamente. Estava morrendo, sendo engolida pelo sofá desde de manhã. Por quê?"
"Ah. Porque eu estou fazendo completamente nada aqui no meu apartamento, daí pensei em dar uma volta no parque, tal. Mas estou sem companhia. Topa ir comigo?"
"Nossa dude, você está tão interessando assim em mim?" Perguntei, rindo. "Não, porque nós nos vimos ontem mesmo. Pensei que você tivesse enjoado da minha cara já."
"Hã, você não é tão chata assim. E além do mais, você é convencida demais. E se for você quem está tão interessada em mim?"
Ri com a pergunta dele.
"Eu? Mas não sou eu quem fica te ligando e chamando da sair sempre."
"Mas se você não estivesse, não aceitaria toda vez."
Nossa, essa me quebrou. Fiquei calada, então ouvi Éric rir alto no celular.
"Venci. Agora você vai ter que vir comigo de qualquer maneira." Ele disse.
"E se eu disser não?" Perguntei.
"Você vai querer mesmo ficar em casa?" Ele me desafiou. Como sou fraca...
"Ah, ok vai. Que horas você passa aqui em casa?"

• • • • • • • •


Um tempo depois eu já estava pronta, esperando por Éric na sala. Estava usando um short jeans básico azul, uma regata branca, meus chinelos cor de abóbora e prendi a minha montoeira de cabelo em um coque. Passados mais uns vinte minutos, ouvi os três toques da buzina do carro do Éric do lado de fora da casa. Corri no quarto da minha mãe, lhe avisei que iria sair e que ligaria caso voltasse tarde. Ela apenas me deu um beijo na testa e sussurrou um "ahã" e caiu no sono novamente. Desci as escadas e fui ao encontro de Éric, que estava encostado ao lado de fora do carro. Ele estava vestindo um bermudão cinza com uma blusa branca e chinelos. Eu não o tinha visto tão à vontade assim... e vale a pena ressaltar que estava, bem... muito bonito.
"E aí, linda?" Ele me saudou, dando um beijo estalado na bochecha.
"Oi, coisa chata." Sorri.
"Vamos para onde?" Ele perguntou.
"Ué, para o parque que você disse."
"Eu disse que queria ir a um parque, e não em qual nós iríamos."
"Ai, você nunca sabe para onde quer ir." Cruzei os braços.
"Bom, se você quiser que eu escolha o lugar, podemos ir para..."
"NÃO! Vamos pro parque mesmo!" Éric me olhou com as sobrancelhas arqueadas.
"O que, garota? Eu ia dizer que podemos ir para a praia, mas tudo bem." Aí senti realmente eu rosto ficar vermelho feito uma maçã madura. "O que você achou que eu iria sugerir?"
"Ah, nada. Deixa pra lá." Desviei meu olhar do dele.
"Fala, . Pensou que eu fosse sugerir...?" Ele insistiu.
"Hã. AH, nada!" Fiquei mais nervosa e sem graça.
"Hum, vamos adivinhar. O que eu poderia sugerir de tão absurdo assim?" Ele parou e olhou para cima, fazendo pose de pensador, o que me fez rir um pouco. "Bom, pela sua cara, reação e a situação, acho que você pensou que eu iria dizer para irmos pra minha... casa?" Ele me olhou.
"Hã? Ah, não. Pensei... ah, foda-se. É." Falei meio embolado e tentei esconder o rosto com as mãos.
"Ahhhhh." Ele riu. "Calma, . Se você prefere isso, pode falar. Também posso concordar." Disse.
"NÃÃÃO!" Disse alto, batendo no braço dele. "Eu só, bom, reflexo. É que todos os homens falam isso."
"Eu não sou todos, ." Éric disse, sorrindo angelicalmente. Mas que idiota. Bancando o lindo, sexy e amoroso. Vai se danar, porque nenhum homem é assim, ok? Não são?
"Tatatatata. Foi mal." Tentei passar daquela situação.
"Bom, vamos para onde, afinal?" Éric, perguntou.
"Tem um parque que acho muito bom, é bem tranquilo. Freedom Park, conhece?"
"Ah sim, conheço. Belo pedido. Vamos, então?" Então, concordamos e entramos no carro. Fomos por um tempo em silêncio, mas Éric arrumou um jeito de conversarmos e descontrairmos. Fomos conversando sobre a noite passada, colocamos algumas músicas para rolar no celular, falamos sobre as bandas grunges que eu havia dito a ele.
Não demorou muito para chegarmos ao Freedom. Já estava quase anoitecendo, o céu estava um pouco alaranjado e o vento um pouco frio fazia arrepiar meus pelos da nuca e dos braços. Fomos andando até o lago principal e nos sentamos à beira dele, na grama. Colocamos no meu celular, My Heart do Paramore, para rolar.
Fiquei mirando o centro do lago, onde se via pequenas bolhas estourando na água, sinal de que pequenos peixinhos estariam ali, e Éric olhava distraído para um pequeno grupo de amigos que faziam uma pequena festinha em um campo mais afastado de nós. A energia do local me fazia respirar como uma leveza que me fez deitar no gramado. Encarei o céu, naquela mistura de cores e apenas deixei a letra da música invadir meus pensamentos. Éric se deitou ao meu lado e também olhou o céu.
"Aqui é tão bom." Ele disse, em um tom baixo.
"Sim. É tão bom para relaxar, mas tão ruim, que deixa pensamentos que você bloqueia, entrarem em sua cabeça." Respondi.
"Isso é fácil de resolver. Ocupe sua cabeça com outras coisas."
"Tipo o que?" Então vi o rosto em cima do meu, me olhando nos olhos. Nos encaramos por segundos, então Éric colocou sua mão sobre meu rosto e encontrou meus lábios com uma delicadeza sem fim. Logo depois, ele se afastou um pouco seu rosto, me encarando novamente. Nada pude fazer racionalmente, apenas puxei com uma mão, sua cabeça contra a minha e nos beijamos nitidamente. Éric rolou para o lado, me puxando junto, ficando nós dois deitados colados um a outro nos beijando, sob a música e sob o céu tranquilo. Depois de nos separarmos, não sabíamos o que falar, mas como sempre, Éric deu seu jeito.
"Viu como podemos nos livrar de um pensamento ruim?" Disse, dando um riso torto.
"Você é muito boboca." Ri.
"Mas foi bom e eficiente, não?"
"Sim, foi sim." Sorrimos e voltamos a olhar o céu. Nisso, Éric passou o braço por debaixo da minha nuca e posou sua mão em meu ombro, fazendo pequenos círculos nele. Não sabia se deixar isso rolar era certo, mas eu já estava ficando um pouco cansada de ficar negando as coisas, eu queria mais era me sentir querida, queria que alguém me abraçasse, me beijasse e dissesse o quanto eu era especial e não só mais uma como as outras. Mas, aquilo não estava só não certo, mas como também incompleto. O momento certo, mas não era a pessoa com quem eu queria que aquilo realmente acontecesse. Tentei afastar esse sentimento de fraqueza e talvez (com certeza) carência. Apoiei minha cabeça no ombro de Éric, e já reparei um céu de azul escuro e estrelas brilhantes. Éric começou a falar sobre outros assuntos e de vez em quando me fazia soltar um riso e eu, a burra como sempre, perdida em outro lugar.
"OLHA A CABEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEÇA!" De repente uma voz preencheu todo o silêncio do cair da noite e nem pude pensar direito, pois uma coisa dura bateu fortemente em minha cabeça, me fazendo sentir logo após uma grande ardência.
"! Ai caraca, , você está bem?" Éric perguntava, levantando minha cabeça e tentando tirar minha mão de cima da testa.
"Mas que porra! Quem foi o filha da puta! Eu vou matar!" Eu esbravejava, tentando levantar, mas com uma pequena tontura. "Ai, minha testa." Levantei, com as duas mãos sobre meu rosto.
"Foram uns caras daquela festa lá. Eles estavam jogando futebol, eu acho. Eles até gritaram, mas a bola já estava na sua cabeça." Éric disse, tentando não me deixar cair.
Tentei localizar os benditos e quando vi duas figuras meio embaçadas vindo na minha direção, tentei andar mais rápido para ir ao encontro deles também e dar dois socos nos dois.
"Ih, foi mal dude! A bola foi mais forte do que o previsto. Não pensei que meu amigo fosse fazer um ponto tão bonito." Um garoto alto e moreno disse, vindo até mim.
"Foi mal é o cacete a quatro! Acertou minha testa, que deve estar que nem um tomate!" Falei, querendo encarar o garoto muito mais alto que eu. O segundo garoto estava vindo até nós ainda, e Éric apareceu atrás de mim.
"Calma , foi sem querer. Foi mesmo, não é?" Ele perguntou para o garoto e o mesmo assentiu.
"Mas, aah, tá doendo pra caralho." Resmunguei.
Minha visão ainda estava turva, mas já estava passando.
"Desculpa..." O garoto falava pra mim, mas virei as costas e fui pegar meu celular que estava ainda na beira do lago.
"Vou levar ela para casa, e vê se vocês tomam mais cuidado. Da próxima, pode machucar mais." Ele falou para o garoto, e logo ouvi o outro, que estava vindo antes, dizer que não foi nada demais. Eu iria voltar para tacar a porra da bola na cara dele para ver se não foi nada demais, mas minha testa estava queimando, então continuei andando até o meu celular e o peguei.
"Tá doendo muito, ? Quer que eu te leve a um hospital?" Éric me perguntou, passando a mão pela minha cintura, me guiando até o seu carro.
"Não, deve ter um galo só. Me leva pra casa, lá eu coloco gelo e descanso. Depois vai melhorar."
"Tem certeza?"
"Sim, claro." Respondi, tentando sorrir.
"Bom, se você quer assim, vamos." Ele respondeu, com os braços em volta de mim e acariciando minha testa avermelhada e quente.

• • • • • • • •


POV's

"Porra cara, a menina ficou puta!" Jared disse para mim enquanto voltávamos para onde os outros garotos estavam esperando a gente com a bola.
"Não sei por que, não foi para acertar nela..." Respondi.
"Duuuude, mas que bola foi aquela? Você é um fraco em futebol! Do nada aquela bola voou uns... uns... 100 metros!"
"Ei, relaxa. Não é pra tanto. Nem estávamos tão longe daquele...casal."
"É, tudo bem. Estávamos perto o bastante para vermos até o climão entre eles." Jared disse, rindo. "Aquele cara é dos meus! Leva a menina pra um lugar legal e espera o momento 'cute' pra dar logo um beijo nela. Assim todas gamam!"
"Cala a porra da boca, Jared." Disse, tacando a bola de volta para os outros caras.
"Ih, relaxa cara. Eu sei que a sua maneira é diferente, com qualquer garota e em qualquer lugar."
Deixei Jared falando sozinho e voltei para minha posição do jogo. Então a também tem seu encontros românticos? Irônico, porque não parece ser do tipo que tenha muitos... Mas que porra de pensamento? Não tenho que ficar pensando se ela tem ou deixa de ter encontros. Não, aliás, preciso que ela foque em mim. Eu preciso. Mas... quem era aquele idiota?

Fim POV's

Capítulo XVIII -



POV's

Passei a noite toda com uma dor de cabeça infernal. A bolada que levei bem no meio da testa me fez mais mal do que eu previa. Fiquei com tanta dor de cabeça que nem consegui me concentrar em dormir. Fiquei a base de analgésicos e com minha mãe do lado, me perguntando de cinco em cinco minutos se eu não queria ir ao médico. Ah, médico não. Eles iriam fazer de tudo pra me internar e capazes de achar um tumor na minha cabeça. Eu sei, dramática demais, mas sou cabeçuda assim mesmo.
Enfim, depois de uma longa e interminável noite, tomei um banho gelado para ver se minha cara de múmia não sobressaísse tanto. No espelho refletia um ovo no meio da minha testa. "Ótimo, agora sim estou mais linda do que de costume." Disse para mim mesma.
Depois do banho, voltei ao meu quarto e fiquei deitada olhando para o teto, o que me levou a pensar no dia anterior, quando estava com Éric. Um sorriso se formou em meu rosto e fiquei repassando em minha mente a cena, quase que parecida de um filme, de Éric e eu nos beijando deitados no parque. Essas coisas assim parecem que nunca vão acontecer, porque são coisas que só acontecem em filmes e livros, certo? É, ainda há coisas que me surpreendem nessa vida.
Fiquei viajando nos pensamentos até que ouvi a campainha tocar e logo após umas vozes adentrando a casa. Poderia continuar deitada naquele mesmo estado, mas não pude o fazer até que ouvi a voz de . Me ergui da cama com meu coração já se preparando para correr uma maratona. Abri a porta do quarto e me preparei para ir até a sala, mas parei por um tempo. O que eu faria quando chegasse lá? Falar um "oi" com o igual ao outro dia no colégio, em que ele me ignorou? Então fiquei parada na porta do quarto, de pijama e com um puta galo na cabeça, decidindo se ia ou não até a sala, até que ouvi alguém subindo a escada. Para minha idiotice total, entrei para o quarto e fechei a porta, me tacando em seguida na cama. What that fuck? Me cobri com o lençol e fiquei tentando não fazer movimentos bruscos, como se alguém estivesse me procurando.
Fiquei assim por uns segundos até que a porta se abriu e senti a presença de alguém ali. Não consegui ver atrás do lençol, mas o cheiro do perfume já denunciava quem era.
"Tenho a certeza de que você está acordada." disse.
Fiquei imóvel. Não sabia se eu levantava e falava para ele tudo aquilo que estava engasgado na minha garganta ou se permanecia parada esperando alguma coisa acontecer para que ele fosse simplesmente embora. Então os passos de foram chegando mais perto da minha cama.
"Não quero falar com você." Eu disse. Mentira, é claro. Eu queria agarra-lo e dizer o quanto o odiava, mas queria ele só pra mim.
"Então fale que não quer falar comigo olhando pra mim."
"Não posso."
"Por quê?"
"Porque você não vai me deixar falar."
Senti um peso sobre a beirada da cama e uma mão sobre minhas pernas cobertas pelo lençol. Fechei meus olhos e mentalizei ali, olhando para mim. Seu perfume estava mais perto de mim, me persuadindo a abandonar minha carapaça de resistência e me entregar, uma vez que eu já sabia que estava tudo perdido. Fui abaixando o lençol da minha cabeça até ter a visão do rosto dele olhando para mim exatamente como tinha mentalizado antes.
"Fala o que você quer logo." Quase sussurrei.
sorriu e foi tirando sua jaqueta de couro preta, deixando no chão. Foi chegando mais perto de mim até que nossas respirações estavam paralelas uma a outra. Ele passou a mão sobre o ovo que estava em minha testa e riu.
"Ah, foi um idiota que me acertou em cheio no parque." Eu disse, lembrando da pancada.
"Acho que não foi para acertar em você." Ele disse.
"Hãm?" Perguntei, não entendo.
"Mas até que você ficou bonitinha com esse galo aí." disse, rindo.
"Não tem graça." Revirei os olhos.
"Ainda está doendo?" Ele perguntou.
"Está. Um pouco."
"Então vamos te fazer esquecer essa dor." Ele disse. Então beijou o topo da minha testa avermelhada e foi descendo até alcançar a minha boca, que já estava sedenta pela dele. Nos beijamos ardentemente, sem nem dar espaço a carícias românticas ou leves. Minhas mãos voaram até o seu cabelo e suas mãos estavam em minha perna e cintura. Senti aquela coisa dentro de mim que sempre sentia quando sua pele me tocava. A vontade de só fazia crescer e eu podia jurar que mesmo que alguém entrasse ali naquele momento, eu não pararia. Tiramos o lençol que nos separava e nos agarramos mais ainda um ao outro. Minha mão saiu de seu cabelo e foi para a barra de sua blusa, que ele me ajudou a tirar e exibiu seu tórax macio. Depois foi sua vez de tirar a blusa do pijama que eu vestia e jogar para algum lugar da cama. As coisas iam acelerando cada vez mais e nossos corpos começavam a suar mais ainda. rolou para de baixo de mim e fiquei curvada sobre seu corpo, fazendo movimentos sincronizados com as nossas cinturas. Eu o olhava diretamente e ele retribuía com um sorrisinho de lado, com os olhos brilhantes, mas com um brilho felino. Isso o deixava mais sexy, se é que poderia ser mais do que já era. Minhas mãos deslizaram até sua cintura e desabotoei sua calça, logo em seguida fazendo ela descer até seus pés. Depois de mais uns minutos nos beijando, as minhas partes de baixo da roupa rolaram até o chão e então nossos corpos se cruzaram de uma vez só. Encontramos-nos em um mesmo nível de esforços e empenhamos todas as nossas energias e forças em nossas cinturas. Meus olhos rolavam pelas órbitas pelo desejo invadindo meu corpo, uma das melhores sensações que eu sabia que iria sentir em toda a minha vida. A cada movimento, eu queria que viesse mais e mais, queria que uma explosão acontecesse dentro de mim. Trocamos de lugar várias vezes até que me fez perceber que tudo aquilo que ansiava na hora já estava perto. Não desaceleramos em nenhum momento, até que senti que impulsionou as suas últimas gotas de força para mim e então seu corpo finalmente relaxou mais. Não fiquei muito trás disso, mas ele continuou até que eu também ficasse satisfeita. Nossos corpos viraram dois trapos largados na minha cama toda revirada. O que se ouvia no ambiente eram apenas duas respirações fortíssimas, querendo puxar todo o ar oxigênio que estava por ali.
"É...por...isso...que eu não queria falar com você." Falei para ele.
"A culpa...não é...minha." Ele respondeu, mas olhando para o outro lado.
"O que...foi?" Perguntei, com a respiração falhada ainda.
"Nada." Ele disse.
Fiquei encarando seu rosto virado para o lado, sem olhar nos meus olhos.
"Acho melhor...a gente colocar a roupa." Ele disse. "Phill vai tentar me achar daqui a pouco."
"Ah, verdade." Concordei.
Levantamos-nos e começamos a vestir as roupas que estavam espalhadas pelo quarto. não olhou para mim em minuto algum enquanto estava se vestindo. Não, não estava sendo "chata", querendo que ele olhasse para mim a todo tempo, mas eu estava com uma sensação que algo estava estranho. Sabe quando uma hora o ar está mais leve, normal, mas de uma hora para outra fica como se fosse uma "tensão" no ar? Tinha alguma coisa esquisita com ele. Eu tinha certeza que tinha.
Terminei de colocar minhas roupas e me sentei na cama e caminhou até a porta.
"Você vai ficar por aqui?" Perguntei.
"Não...sei." Ele respondeu, mas sem olhar para mim ainda.
"Porra , diz o que tá acontecendo." Não aguentei e perguntei de uma vez. Ele se voltou a mim para me responder.
"Eu já disse que não é nada, porra."
Fiquei olhando para ele. Mas que diabos ele tinha?
"Então vai logo embora. Acho que é isso que você quer." Falei, com meu sangue vindo aos olhos já.
"Acho que quem quer ir embora aqui é você." Ele disse, com um tom sério.
"Sério, não estou te entendo." Falei com um pouco de indignação.
"Sabia que iria encontrar você aqui." A voz de Phill apareceu de repente na porta. Eu e olhamos para ele, meio assustados.
"Ah Phill..." Eu disse, tentando achar alguma coisa para falar.
"Eu devo estar interrompendo alguma coisa né." Phill perguntou.
"Não." Disse .
"Eu sei que estou , mas foda-se." Phill disse. "Mas tem alguém lá na sala querendo falar com você, ."
"Quem?" Perguntei, pasma. Nem tinha ouvido a campainha tocar.
"Não sei, nunca vi." Ele respondeu.
"Bom... então vou lá ver." Respondi levantando da cama e saindo pela porta, mas voltei a falar. "Vocês vão ficar aí mesmo no meu quarto?"
"Não, já vamos sair, aliás, o veio aqui para tocar com os caras, não é ?" Phill falou.
"É. A única coisa para que vim." Ele respondeu, lançando um olhar pesado sobre mim.
Não quis revidar, só dei as costas para eles e fui em direção à sala.
Da escada já dava para ver quem era, e quando vi, quase rolei escada abaixo.
"Éric???" Perguntei, ainda descendo a escada.
"Oi !" Ele respondeu, me olhando. "Hum, eu te acordei?"
Depois dessa pergunta, me lembrei que eu ainda estava de pijama. Um short e uma blusa de manga comprida pretas.
"Ah, não. É que eu fiquei no quarto desde que acordei." Falei, chegando mais perto dele, verificando se meus olhos e ouvidos não estavam pregando uma peça em mim, me fazendo acreditar que Éric estava ali mesmo.
"Ah ta." Ficamos nos olhando por um tempo. "Ah! Desculpa por aparecer sem avisar. É que fiquei preocupado com você por causa da pancada de ontem. Foi muito forte."
"Ah, sim. É, ainda dói. Foi uma porrada e tanto." Falei, passando a mão sobre a região da minha testa machucada.
"É. Mas então, está tomando remédio, tudo direitinho?"
"Sim, estou. Só não consegui dormir por causa da dor de cabeça que senti muito forte."
"Ah, tadinha de você." Ele disse rindo e eu respondi com um riso meio sem graça. "Mas você está linda assim mesmo com esse galo no meio da testa."
"AAAH, pára com o deboche, ok?" Ri, cruzando os braços.
"Mas quem disse que eu estou de deboche? Estou falando a verdade."
"Ahã, sei."
"Ah, pára. Vem cá, sua linda." Éric disse, me puxando pelo braço e passando as mãos em volta da minha cintura, nos fazendo ficar muito próximos. "Sabe que fiquei a noite toda pensando no dia de ontem? Tirando a parte da bolada, é claro."
"Ah é?" Eu disse, mas tentei não ficar muito próxima de seu rosto.
"Sim. Acho que foi bom para nós dois, certo?"
"Ah, ér..." Fiquei tentando arranjar um jeito delicado de me livrar dos seus braços, mas não tive como. Éric tinha sido tão fofo comigo no dia anterior e agora ele estava ali. Não tinha como simplesmente esquecer o que aconteceu, e de fato, eu realmente gostei do que aconteceu, gostei mesmo. Mas, eu tinha acabado de transar com o ! Me senti estranha. Como eu passei de uma garota carente para uma outra que tinha dois garotos?
"O que foi?" Éric perguntou. "Parece que você está desconfortável. Estou fazendo algo que você não queira?"
"Ah, não, nada. É só que... minha testa ainda dói." Falei.
"Awn, imagino." Ele disse, e beijou o topo da minha testa avermelhada. Logo após, ele desceu com seus lábios até os meus e nos beijamos daquele jeito delicado de antes. Não sei o que me deu, mas o envolvi com meus braços e correspondi seu beijo. Por um minuto, esqueci que estava naquela mesma casa. Mas não por muito tempo.
"Nem para me contar que estava com namorado, mana." Phill disse, rindo, enquanto descia as escadas.
Eu e Éric paramos de nos beijar e olhamos para Phill. Meus olhos correram para a pessoa que estava atrás dele.
"Hã, nã- não. Ele não é meu namorado." Falei, ainda olhando para .
"Ah, desculpa, dude. Estávamos só... conversando. Eu sou um amigo da ." Éric disse.
"Tudo bem, dude. Estava só de zoeira." Phill disse, vindo em direção a nós e estendendo a mão para Éric, que a apertou.
"Estou indo, Phill." disse, indo em direção à porta.
"Ei, pera aí, dude." Éric disse, me soltando e indo em direção ao .
parou e se virou para ele. Não sei por que me bateu um medo. Acho que era por causa do olhar que tinha nos rosto. Um olhar matador.
"O que foi?" Ele perguntou, se virando para Éric.
"Dude, foi você que estava no Freedom ontem, né? O que acertou a ."
Na mesma hora olhei para e meus olhos arregalaram.
"O que?" Perguntei.
me olhou, mas seu olhar continuou.
"Sim, por quê?"
"Foi você o filho da puta que quase rachou a minha cabeça ao meio? Foi você?" Perguntei, com todo o meu corpo formigando de raiva.
"Fui eu sim! Mas porra, eu já te disse que não foi pra acertar você!" Ele disse, já alterando seu tom de voz.
"Calma, dude. Ninguém está gritando aqui." Éric disse, pondo a mão no ombro de .
"Quem está gritando aqui?" Ele disse, tirando a mão de Éric do seu ombro. "Essa garota que é exagerada. Também não vou me desculpar de novo não."
"Você nem se desculpou!" Falei.
"Eu disse que não era pra acertar em você! Será que você ainda não entendeu isso?"
"Gente, calma. Eu acredito no . Ele não seria louco de fazer de propósito. Ele sabe que ela é minha irmã." Phill disse.
"Se não foi pra acertar nela, era para acertar em quem?" Éric perguntou, olhando nos olhos do .
"Phill, vou dar uma passada em um lugar. Mais tarde volto pra gente tocar." disse, abrindo a porta.
"Mas os caras já estão aqui." Phill disse, apontando para a parte dos fundos da casa.
"Eu volto, relaxa." Ele disse e saiu pela porta.
Ficamos todos olhando para a porta com cara de tacho. Eu mais ainda.
"Bom, eu vou lá com os caras." Phill disse, saindo da sala.
Fiquei olhando para a porta e tentando me lembrar se eu tinha visto o ontem, mas minha cabeça já estava doendo demais.
"Esse cara é muito cheio de marra." Éric disse, voltando para perto de mim.
"Esse garoto é detestável." Falei, me sentando no sofá. "Ai!" Falei ao sentir uma pontada forte na cabeça de repente.
"O que foi, ?!" Éric veio se sentando ao meu lado.
"Ai... minha cabeça... tá doendo... muito." Respondi. De uma hora para outra a minha cabeça começou a latejar, como se eu tivesse batido com ela em algum lugar muito forte.
"Acho que precisamos ir para o médico." Ele disse, me ajudando a levantar.
"Não... acho que não precisa..." Mas nessa hora a sala escureceu e parecia que eu tinha caído em um poço fundo. Uns segundos depois voltei a enxergar, mas via algumas bolinhas amarelas piscando na frente.
"! Shit! Você está desmaiando! Vamos pro hospital agora!" Éric disse, me pegando no colo, já que eu estava perdendo as forças para andar. "PHILL! PHILL!"
Acho que foi a última coisa que consegui ouvir. Éric gritando para meu irmão. Depois disso, mergulhei no poço fundo de novo.


Capítulo XIX -


Quando abri meus olhos ainda enxergava um pouco embaçado. Passei a mão em minha vista e tentei olhar novamente ao meu redor. Quase tudo ali era branco e cheirava a álcool etílico.
"Oh, fuck." Falei, percebendo que eu estava deitada em uma cama em um quarto de hospital.
"Ah, acordou!" Ouvi Phill falar do meu lado. "Se você quis chamar atenção, parabéns, conseguiu."
"Ah, claro. Isso é extremamente do meu feitio." Respondi, me levantando da cama.
"Ou, calma aí. Você está em observação ainda." Ele disse.
"Mas por quê? Foi só um desmaio." Falei, parando na mesma posição e encarando Phill.
"Só um desmaio do nada, né. O médico bateu umas chapas da sua cabeça e daqui a pouco vai trazer aqui."
"Ah, ótimo! Agora vão dizer que eu tenho um tumor na cabeça, que preciso de cuidados... Juro por Deus que se eu tiver que ficar internada, eu fujo para outro país!"
"Ei, ei, ei! Pára de falar merda, ! E além do mais, você é muito exagerada." Phill respondeu, cruzando os braços.
"Até parece." Bufei.
"O que você acha que vai fazer?" Éric entrou no quarto já falando.
"Ah não. Mais um pra ficar me atormentando não, dispenso." Falei, voltando a deitar na cama, bufando.
"Atormentando? Você desmaiou, garota!" Éric disse, chegando mais perto de mim. "E se você não gosta de estar sob cuidados de alguém, prepare-se porque sua mãe está lá na lanchonete pensando em mil e uma coisas para fazer você melhorar."
"Ah não." Bati a mão na testa.
"Ah sim. Coitada dela, ficou maluca quando te viu caída lá na sala. Quase que ela desmaiou também."
"Shit. Agora ferrou mesmo." Falei.
"Ela é bem bacana." Éric disse, sorrindo.
"Bacana? Você conversou com ela?" Perguntei, não acreditando.
"Sim. Ele já está mandando umas ideias na nossa mãe sobre você." Phill disse, se jogando em uma poltrona bege que tinha no canto do quarto.
"Como assim mandando umas ideias nela?" Perguntei, quase pulando da cama e voando no pescoço de Éric.
"Calma . Phill que está exagerando. Eu e ela só conversamos coisas tranquilas. Ela me perguntou da onde você me conhecia, meu nome, onde morava... essas coisas de mãe." Ele disse, se sentando ao meu lado.
"Ah..." Relaxei.
"Ela só ficou meio assustada quando falei sobre nossos planos de casamento e filhos."
"WHAAAAAAAAAAT? VOCÊ TÁ MALUCO ÉRIC??" Voei no pescoço dele.
"Aí! Pera aí! Calma , eu estou só brincando." Ele disse, tentando afastar minhas mãos do seu pescoço.
"Ah, acho muito bom! Não seja louco de fazer isso!" Falei, me acalmando um pouco.
"Ainda temos que passar dessa fase de namoro." Éric falou em um tom sério. De repente o ar ficou meio tenso. Phill olhou para minha cara e eu fiquei olhando pra Éric, que continuava sério. Aquilo era um pedido de namoro? Como assim?
"Ah...n-a-nã... Olha a brincadeira, Éric." Falei, rindo.
"Estou falando sério." Ele respondeu. Pensei que fosse desmaiar de novo. Ele só podia ser maluco. Nós tínhamos saído só duas ou três vezes! E também... eu e Éric? E o ...
"AHAHAHAHAHAHAHA SUA CARA FOI A MELHOR!" Éric gargalhou.
"SEU-FILHO-DE-UMA-PUTA" Falei entre os dentes. "EU-VOU-TE-MATAR."
"Calma ! Foi ótimo ver a sua cara. E foi bom pra descontrair, não é?"
"Descontrair? Eu quero é ver sua cabeça rolar!" Falei e avancei sobre ele, dando socos em seu braço.
"Será que dá pra você parar de me bater? Foi só uma brincadeira! Ai! Ai!" Ele disse, se levantando da cama e indo para perto da porta.
"Faça isso de novo e você verá a morte." Falei, ficando quieta na cama novamente.
"Ok, ok. Mas se ficou nervosa assim é porque você ainda pensou né?" Ele disse com uma carinha de diabinho. Como dizem, ele estava cutucando a onça com vara curta.
"Éric..." Disse, voltando a tentar me levantar da cama.
"Não! Ok, ok. Desculpa. Não resisti." Ele disse, mas ainda dando risadinhas.
"Cuidado quando ficar perto de mim, ok?" Falei, me ajeitando melhor na cama.
"Filha! Ah, meu amor, fiquei preocupada!" Minha mãe disse, entrando no quarto junto com o médico.
"Estou bem mãe, fica despreocupada."
"Nunca mais faça essa porra de novo, ok?" Minha mãe xingando? Nossa, a coisa foi séria.
"Ah... ok mãe. Pode deixar." Falei meio sem graça.
"Bom, vamos ver o que aconteceu pra você desmaiar, moça." Disse um médico, parecendo ter uns trinta anos e, diga-se de passagem, ele era lindo.
"Por favor, que não seja um tumor." Eu disse, cruzando os dedos. Todos olharam para mim. Minha mãe me fuzilou.
"Me responda algumas perguntas, ok?"
"Tudo bem."
"Você tem algum problema cardíaco ou algo do tipo?"
"Não."
"Você é diabética ou algo do tipo?"
"Também não."
"Você já desmaiou outras vezes?"
"Hã... também não."
"Você tem ficado muito estressada ultimamente?"
"Bom..."
"Ela estava discutindo feio um pouco antes de desmaiar, doutor." Phill disse.
"Ah, então tenho a ideia do que seja. Já que você não tem nenhuma doença desses tipos, pode ter ocorrido de, como você estava alterada, seus batimentos cardíacos e pressão arterial terem diminuído rapidamente e então você veio a desmaiar. Não é nada grave, acontece algumas vezes." O médio disse, colocando as mãos nos bolsos do jaleco branco.
"Ah..." Disse.
"Mas ela tomou uma bolada muito forte na cabeça ontem." Éric disse. "Isso não tem nada a ver?"
"Eu não sabia disso, mas acredito que não. Pela radiografia não vi nenhuma lesão no cérebro. O desmaio é apenas uma coincidência. Mas vamos continuar na observação, mas provavelmente ela irá pra casa logo."
"Quando?" Perguntei.
"Amanhã. Passe só um dia aqui."
"Ahhh, sério?"
"Sim, mas não fique chateada, amanhã logo chegará. E vocês irão me dar licença, tenho que visitar um outro paciente." Dito isso, ele saiu pela porta.
"Bom, ouviu, não é moça? Agora a senhora vá descansar. Eu e os meninos iremos para casa tomar um banho e deixar você dormir." Minha mãe disse.
"Mas eu não estou com sono." Rebati.
"É, ela não está com sono." Éric disse, vindo até a mim.
"Não, nada disso. Você vai dormir sim, faz uma força. E Éric, o senhor também tem uma vida, não é?"
"Ah, sim, mas e se ela precisar de alguma coisa?" Ele disse.
"Se ela precisar eu venho aqui. Vamos, vamos. Ela precisa descansar." Minha mãe disse, literalmente expulsando Éric, que fez cara de choro.
"Tudo bem." Ele disse. "Mas posso me despedir dela?"
Minha mãe o olhou e sorriu.
"Ok, pode. Vamos Phill."
"Tchau mana. Vê se não faz mais merda, ok? Preciso ir pra noitada despreocupado." Ele disse, rindo.
"Pode deixar." Sorri e ele me deu um beijo na testa e saiu.
"Qualquer coisa me liga, filha. Vou em casa e mais tarde estou aqui." Ela disse, também me dando um beijo e saindo.
Apenas Éric ficou no quarto e então ele ficou bem mais perto de mim, me fazendo um carinho na testa.
"Vai ficar bem, não é?"
"Claro. A não ser que eu pegue uma dessas infecções de hospitais."
"Nossa , você realmente é otimista." Ele disse, rindo.
"Sou realista." Respondi.
"Ok, ok. Mas sei que você não vai pegar. Então... nos falamos, não é?"
"Sim." Sorri.
"Amanhã passo aqui pra ir junto com você pra casa."
"Éric..." Hesitei antes de falar.
"O que, ?"
"Sabe, o que aconteceu no parque e hoje na minha casa... por favor, não leve tão a sério." Falei, olhando em seus olhos tão próximos dos meus.
"Você acha que eu estou sendo precipitado?"
"Bom... acho que você está querendo que as coisas aconteçam rápidas demais."
", vou te contar um segredo. Vai parecer um clichê, mas que se foda." Ele disse rindo de leve.
"É o que a minha vida tem parecido. Um clichê." Ri.
"Então. Lá da primeira vez, quando te vi na livraria escolhendo livros fiquei parado uns dois minutos só olhando pro seu rosto até que a senhora que estava do meu lado me xingou por eu não estar prestando atenção no que ela estava falando." Eu ri.
"Sério?" Perguntei ainda rindo.
"Sério. Isso me custou um desconto de vinte dólares do meu salário."
"Oh lord. Me desculpa, eu te pago os vinte dólares que te fiz perder."
"Acho bom mesmo." Ele respondeu, rindo. "Mas voltando ao assunto. Eu senti um impulso enorme de ir falar com você e então fui lá. Imaginei milhares de desculpas pra falar com você, mas aí lembrei que eu trabalhava em uma livraria e minha função era perguntar o que você estava precisando. Então quando ia falar alguma coisa você já saiu falando e aconteceu aquilo tudo que já sabemos. Quando você me dispensou..."
"Ah, eu não te dispensei. Eu só... tinha achado o livro." Falei, me explicando. Eu sei que tinha feito a maior burrice.
"Anyway." Éric disse, mas sorriu logo depois. "Quando você me dispensou pensei que já tinha namorado, que tinha me achado feio, me achado estranho ou qualquer coisa e me tentei me conformar, mas, dude, quando te vi saindo pela porta não pude deixar você sair sem ao menos saber seu nome. E daí por adiante, eu penso em você todos os dias. É loucura sim gostar tanto de uma pessoa em tão pouquíssimo tempo, mas quem disse que nós humanos não somos loucos?" Éric disse, ainda olhando em meus olhos. Seu olhar tão doce quanto suas palavras. Tive a enorme vontade de beija-lo.
"Mas eu não gost-"
"Não precisa me responder da mesma maneira agora, ." Éric disse, me cortando. "Eu espero você terminar o seu rolo com aquele garoto."
"Que garoto?" Perguntei, mas eu já sabia, claro.
"Eu já senti o clima entre vocês, . E eu sei que você não está totalmente apaixonada por ele, sabe por quê? Porque você está se apaixonando por mim também."
"O que?" Falei, indignada. Por que todo mundo sabia dos meus sentimentos antes de mim? "Éric, por favor, não pense assim, eu não sei se estou apaix-"
"Shiu, shiu. Eu disse que você não precisa responder agora. E eu sei disso porque é isso que vejo que está acontecendo. Olha, se você não estivesse gostando de mim, será que você iria sair comigo? Será que você iria me corresponder toda vezes que te beijo? Você pode não estar certa ainda do que está sentindo, mas com certeza, já está dividida entre mim e aquele outro tal garoto."
Éric disse aquilo com tanta certeza que tive medo de que ele estivesse lendo meus sentimentos sem eu perceber ou de que ele era um mutante que entrava nos corpos das pessoas e soubesse de tudo.
"Mas... só saímos umas três vezes." Tentei rebater.
"E você e o tal de saíram umas cem vezes?" Ele perguntou sério.
"Ah... não. Mas como você sabe?"
"Você não lembra? Quando estávamos no carro e eu te perguntei se já não tinha gostado de uma pessoa em pouquíssimo tempo e você ficou com aquela cara de paisagem? Então. Quando vi a cena de hoje entre vocês dois tive a confirmação."
"Você é bem... observador."
"Digamos que sim. Mas então... vamos deixar as coisas fluírem, mas você vai se dar conta de que também gosta de mim." Ele disse, sorrindo. "Bom, então estamos combinados. Amanhã venho aqui com a sua mãe e seu irmão, ok?"
"Ok." Respondi.
"Descanse bastante, viu?"
"Pode deixar." Sorri.
"Até amanhã." E nos beijamos até que minha mãe apareceu na porta rebocando Éric pela orelha.
Virei para o lado e tentei arranjar um sono que eu não tinha. Fiquei vários minutos concentrada em dormir e, pode acreditar, contei até carneirinhos, mas nada veio. Procurei o controle remoto da tv que estava sustentada pela parede e comecei a passear pelos canais a procura de algo legal ou chata o bastante para me fazer dormir. Nada. Parei em um canal onde passava um filme qualquer de terror e tentei prestar atenção nele.
Fiquei meia hora olhando para o filme e logo comecei a pensar no que Éric tinha dito para mim antes de ir embora. Não conseguia enxergar a situação como ele. Não achava que eu realmente estava gostando tanto assim dele. Estar dividida tudo bem, porque assim como gostava de ficar com eu também gostava muito de ficar com Éric, mas não achava nada assim tão forte a ponto dele achar que estava ficando apaixonada. Whatever. Procurei na cômoda que tinha ao meu lado, o meu celular, mas tinham esquecido de trazer ele. Então procurei algum relógio, que por acaso tinha na parede também, e vi que ainda eram cinco da tarde. Tentei novamente ver o tal filme e por um milagre caí no sono. Acho que foram as tantas emoções do dia me deixaram acabada.

• • • • • • • •

Acordei e senti como se um trator tivesse passado por cima de mim, isso me fez sentir mais saudades ainda da minha casa, da minha cama. Olhei melhor o quarto do hospital e ninguém estava ali. Pensei que estivesse cedo demais ou de madrugada ainda. Me sentei na cama e fui me levantar para ir ao banheiro mas então alguém bateu a porta.
"Pode entrar." Respondi.
E adentrou o quarto. Nos olhamos por uns minutos. Tentei processar o que estava acontecendo.
"? O que você está fazendo aqui?" Perguntei, me levantando totalmente da cama.
"Você está bem?" Ele perguntou.
"Estou. Me responde, o que você está fazendo aqui?" Persisti.
"Você não pode ficar com os dois." Ele falou diretamente, com um bloco de gelo nas palavras.
"Como assim não posso ficar com os dois?" Perguntei com a mente embaralhada.
"Ou eu ou o Éric." Ele continuava me olhando friamente.
"Eu... eu não tenho o que escolher." Falei, indo até ele. Nessa hora Éric também entrou no quarto.
"O que você está fazendo? Ela não vai escolher você." Ele disse.
"Você está enganado." disse.
"Ei, pera aí. O que diabos está acontecendo aqui?" Eu perguntei, assustada.
"Você não pode falar por ela. Ela é quem vai dizer." dizia para Éric, que estava de frente para ele.
"Ei porra! Eu não vou escolher droga nenhuma!" Falei, já alterando meu tom de voz.
"Você não pode ficar com os dois!" e Éric disseram juntos.
"Não! Parem agora!" Agora eu já gritava.
"Você não pode ficar com os dois!" Eles continuavam falando para mim. Tentei correr para fora do quarto mais meus pés não se mexiam.
"Você não pode ficar com os dois!" E as suas vozes continuavam a entrar na minha cabeça.
"Parem! Parem!" Eu já suplicava. O chão do quarto se desmanchou feito fumaça e me senti sendo engolida por ele.
Quando vi a claridade novamente eu estava ainda deitada na cama do hospital. Parecia que o tempo tinha voltado antes das vozes de e Éric. Minha respiração estava forte e meu coração acelerado.
"Puta. Foi um maldito sonho. Espero." Falei para mim mesma. Não estava acostumada a ser submetida a essas situações assim. Também, nunca fui "disputada" por dois garotos ao mesmo tempo.
Olhei o relógio da parede e ali marcava apenas oito e meia da noite. Me levantei da cama e fui até o banheiro do quarto. Passei uma água no rosto e no pescoço. O sonho foi tão real que meu corpo correspondeu fisicamente a ele. Voltei até a cama e deitei novamente. A tv ainda estava ligada e o filme já não passava mais, então novamente fui a procura de algo para assistir até cair novamente no sono.
Uma batida veio da porta do quarto.
"Entra." Falei. De repente, um dejavú veio a minha mente. Puta...
E para a minha maior surpresa ou maior medo, apareceu no quarto. Meu coração só acelerou cem vezes mais. Só.
"?" Falei pasma.
"Oi." Ele falou, fechando a porta do quarto.
"O que foi?" Perguntei com o medo de que viesse com o papo do sonho. Meio paranoico, eu sei.
"Ué. Soube que você veio parar no hospital por minha causa." Ele disse, indo se sentar na poltrona bege.
"Ah." Falei, aliviada até. "Mas, como você soube?"
"Phill." Ele simplesmente falou.
"Ah, sim." Falei.
"Está mais calma agora?"
"Estou, né."
"Não precisava ficar daquele jeito." Ele continuou falando com a mais calma possível.
"Não? Como não? Você me deu uma bolada na cabeça!" Falei, já querendo alterar o meu tom.
"Ei! Será que dá pra você falar mais baixo? Daqui a pouco alguém pode vir aqui ver o que está acontecendo." Ele disse.
"Tomara que venha mesmo, aí te levam embora." Cruzei os braços.
"É bem possível mesmo. Entrei sem ninguém saber." Ele disse, colocando as mãos nos bolsos do casaco.
"Quê? Você está aqui escondido?" Perguntei com um riso.
"Sim. O horário de visita já acabou faz tempo." Respondeu.
"E por que você veio? Amanhã eu já saio daqui. Finalmente."
"Porque ninguém me diz o que fazer." Ele respondeu, com um riso de lado. "Ah ta. Você é rebelde, esqueci." Disse, rindo.
"Como você é debochada."
"Nem sou." Sorri.
Ficamos calados por uns instantes.
"Então... você vai sair amanhã daqui?" perguntou.
"Sim, pelo menos foi o que o doutor disse." Respondi.
"Hum." Só o que ele falou.
Novamente o silêncio. Esse silêncio acaba comigo, acho que já disse isso.
"Você conhece Muse?" Ele perguntou.
"Claro. Muito boa banda. Não sabia que você gostava."
"É. Uma exceção na minha playlist."
"Então, o que que tem?" Perguntei.
"Fiquei sabendo por uma garota que eles vão se apresentar em um festival por aqui perto amanhã à noite."
"Ah." Falei. "Ótima oportunidade para pegar todas." Falei sem vontade.
"Você é tão ciumenta." Ele disse.
"O que?!" Falei.
"Fala mais alto, vai." Disse ironicamente. "Enfim, eles vão se apresentar amanhã e eu sei como entrar nesse festival. Você iria querer, tipo, ir comigo?"
Fiquei o olhando por uns segundos. ? Me chamando pra sair?
"Você quer ir comigo?" Perguntei, ainda meio pasma.
"Claro. Será porque estou te convidando?" Deboche deveria ser o sobrenome dele.
"Tátátá. Ok. Só me certifiquei, ok?" Falei, bufando.
Como estava pegando o jeito comigo, ele riu e veio até a mim. Se sentou na cama ao meu lado e apoiou a cabeça sobre a minha, passando o braço atrás da minha cintura.
"Isso é alguma tentativa frustrada de me fazer aceitar?" Perguntei, não resistindo ao seu cheiro e colocando meu rosto entre seu pescoço e ombro.
"Eu sei que você vai aceitar. Eu quero que você vá." Ele disse, pegando minha mão com a sua outra mão livre.
"Você não vale nada." Respondi, rindo.
"Você também não." Ele retrucou.
Ficamos ouvindo a respiração um do outro por uns instantes. Eu sentia a caricia que fazia em minha mão e o seu perfume invadia meus pulmões, fazendo com que meu corpo se relaxasse por completo em seu embalo. Meus olhos foram querendo fechar, mas eu não queria que eles fechassem, não queria que aquele possível sonho terminasse.
"Acho que você quer dormir e eu estou te atrapalhando, não é?" Ele perguntou.
"Não quero dormir." Eu respondi com uma voz bem oca pelo sono.
"Vou fingir que acredito." Ele disse.
Meus olhos já estavam fechados sem que eu percebesse, então me puxou junto com ele para deitar na cama. Nos deitamos juntos, colocou um braço acima da minha cabeça e o outro ele passou por cima da minha cintura, com sua mão acariciando parte de minhas costas, sua cabeça estava sobre o topo da minha. Me aconcheguei em seus braços que me rodeavam e finquei meu rosto novamente em seu pescoço para poder sentir seu perfume cítrico. Senti ele puxando o cobertor e me cobrindo. Achei que ele fosse embora.
"Não vou sair, pode deixar. Vou ficar até você dormir." Ele disse. Em sua voz estavam presentes a calma e a maciez, o que me fez me sentir melhor ainda e o sono ficar mais pesado.
"Você poderia ser assim todas as vezes." Falei bem baixinho.
"Vou tentar não te fazer mais mal." Ele respondeu.
"Acho bom." Repliquei.
Ficamos desse jeito não sei até quando porque teve um momento que não consegui mais manter a consciência. Não sonhei mais, nem com , nem com Éric. Ficou tudo tranquilo. E quando acordei, já não estava mais lá. Forcei minha mente para me certificar de que a noite passada não tivesse sito um outro sonho, mas o que não me deixou ter dúvidas foi o seu perfume em meu travesseiro e em minha roupa.


Capítulo XX-


(podem colocar esse vídeo para carregar até a hora da música aparecer)

Fiquei sentada na cama vendo tv até a enfermeira vir com o meu café da manhã de hospital. Um copo com suco de laranja, uma maçã e algumas torradas com geleia. Nada mal para um hospital e suas histórias horripilantes sobre comida ruim.
"Bom dia, filha!" Minha mãe ao entrar no quarto.
"Bom dia, mãe." Respondi, mastigando uma torrada.
"Como foi a noite?" Ela perguntou. Antes de responder soltei um riso.
"Boa. E a sua?"
"Boa também. Só fiquei ansiosa para vir te buscar logo. A ideia de você em um hospital é terrível."
"Tudo bem. Eu também estou horrorizada com isso aqui." Respondi. "Cade o Phill?"
"Mandei ele ir bem cedo ao supermercado. Quando você chegar vai comer uma ótima refeição." Ela disse, me dando um beijo na testa.
"Nossa, assim vou querer ficar internada mais vezes. Não... acho que não." Ri.
"Claro que não." Minha mãe riu de volta. "Vamos, vai se trocar. Só esperar o médico chegar com a sua alta e vamos pra casa."
"Opa, cheguei a tempo!" Éric disse, entrando no quarto.
"Isso aqui parece uma enfermaria. Todo mundo sai entrando, nem bate na porta." Reclamei.
"Ops. Desculpa, vou voltar e bater na porta." Éric disse, voltando para fora do quarto.
"Agora não precisa mais, Éric." Eu disse, mas não adiantou.
"Toc toc. Posso entrar?" Éric imitou o barulho da porta e eu ri na babaquice dele.
"Pode." Falei.
"Ah ta, muito obrigado." Ele disse e veio em minha direção, tentando me dar um beijo.
"Ei, ei. Ainda nem escovei os dentes!" Falei, empurrando ele.
"Argh! Vai logo então." Ele disse com cara de nojo, mas rindo.
"Isso que dá ser cara de pau." Falei, já pegando minhas coisas no sofá e indo para o banheiro.
"Nem sou." Ele disse.
Terminei de escovar meus dentes e fiquei sentada na cama esperando o médico chegar a qualquer momento para me libertar logo daquela prisão. Não foi uma espera muito longa, pois depois de uns vinte minutos ele apareceu no quarto fazendo as mesmas perguntas de antes, se eu estava me sentindo bem, nenhum enjoo, nenhuma dor de cabeça, toda aquela chatice. Depois de responder a todas suas perguntas, finalmente ele assinou o meu prontuário e me declarou uma pessoa livre para poder ir e vir. Estava indo para o banheiro trocar de roupa quando entra desesperada, o que me faz dar um pulo de susto.
"Amiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiga! Mas o que houve com você? Por que você está aqui?" As palavras saíram correndo de sua boca, me fazendo entender quase nada.
"Calma! Calma, . Respira." Falei, fazendo gestos com as mãos para que ela levasse ar para seus pulmões.
"Ai, que susto ." Ela disse mais calma. "Quando liguei para sua casa hoje de manhã e Phill me disse que você estava no hospital desde ontem quase caí pra trás."
"Imagino." Falei, me recuperando melhor do susto que a maluca me deu.
"Mas então, me fala. O que houve com você?" Ela perguntou, segurando minhas mãos entre as dela.
"Ah, nada demais. Só tive um pequeno desmaio e todos acharam que eu tinha morrido." Bufei.
"Acredito, . Você é a mulher de aço. Nunca fica doente, né." Disse ela rolando os olhos.
"Acredita em mim. Foi nada demais mesmo."
"Mas e esse galo aí na sua testa? Está parecendo que você enterrou a cabeça na parede."
"Ah, isso?" Falei, passando a mão na testa. "Foi um... um idiota aí." Lembrei da cara de pau do ao admitir que foi ele quem me deu uma puta bolada na testa.
"Hãm? Como assim?" Ela perguntou, confusa.
"Talvez você deva conhecer um tal de ." Éric disse enquanto estava encostado na parede ao lado do banheiro.
"O fez isso com você? Mas como assim?" perguntava sem entender nada. "E quem é você?"
"Ah, nós não nos conhecemos ainda." Éric disse dando um risinho e chegou perto de nós, estendendo a mão direita. "Sou Éric, um amigo da ."
apertou a mão dele, mas olhou para mim com uma sobrancelha meio alta e com um ar de 'quem diabos é esse cara e por que não estou sabendo de nada?'
"Sou e..." Ela hesitou um momento. "Pera aí... acho que te conheço de algum lugar..."
"Ah, sim. Deve ser da livraria em Ballantyne. Quando você e a foram lá, atendi ela."
Assim que se lembrou ela fez um longo 'aaaaaaaaaah' e sorriu para ele.
"Bom, agora que todos já se conhecem posso saber onde a senhorita estava todo esse tempo, que diz ser minha melhor amiga, mas desapareceu do mapa e é a última a saber que estou no hospital?" Perguntei fingindo uma raiva.
"AAAH amiga, desculpa." Ela disse, batendo um dedo no outro. "É que tive que ir correndo para Stalligs. Foi aniversário dos meus avós, então toda a família teve que passar o final de semana com eles, sabe."
"Entendo. Sua família é muito... família." Soltei um riso para ela. "Mas enfim, vamos logo! Não aguento mais esse ar com cheiro de álcool e doença." Disse e voltei para o banheiro para trocar de roupa.

Lar doce lar! Não acreditei quando pus os meus pés em casa. Realmente o último lugar que eu queria voltar era aquele hospital. Parecia que todas as doenças que tinha lá iriam se agrupar em mim. Sim, sou um pouco hipocondríaca.
"É bom estar em casa." Phill disse, entrando pela sala junto com minha mãe, e Éric.
"Você não tem noção." Falei, praticamente me jogando no sofá.
"Bom, já que está tudo bem, vou preparar um almoço para todo mundo." Minha mãe disse, indo para cozinha.
"Ah... eu pensei em levar a para almoçar, Srtª." Éric disse.
"Quê? Ah, não. Hoje não." Ela respondeu, cruzando os braços. "Ela acabou de chegar do hospital e o médico pediu repouso. É melhor ela comer e descansar um pouco."
"Descansar? Do quê? A única coisa que fiz naquele hospital era dormir." Falei.
"Descansar sim. Repouso. Sem papo." Ela disse e foi de uma vez para a cozinha.
Olhei para Éric com uma cara de 'deixa para a próxima'.
"Ok, não vamos hoje. Mas você não vai se livrar de mim tão rápido assim, ouviu?" Ele disse, chegando perto de mim.
"Bom, eu vou para o meu quarto. Qualquer coisa que precisarem... chamem a minha mãe. E vê se não morre de novo, ouviu?" Phill disse, olhando pra mim e em seguida piscando.
Ficamos na sala assistindo The Following enquanto minha mãe terminava o almoço. Éric ficou sentado ao meu lado o tempo todo e de vez em quando eu podia ver olhando pelo canto do olho o que ele queria chegando tão perto assim. Como é que as coisas foram acontecendo assim tão depressa que não consegui contar tudo para . Com certeza ela iria me comer viva pedindo explicações se ficássemos sozinhas. Aliás, o que eu diria a ela? Que nos encontramos do nada e assim começamos a ser amigos? Ah, e que outro dia fomos ao parque, tivemos um lindo momento romântico e depois nos beijamos? E ainda também tem a parte do , a parte em que nos pegamos loucamente. Seria muito para a cabecinha de vento dela, mas ainda sim teria que contar, até porque, uma hora ela iria ficar sabendo.
Depois de pronto o almoço, comemos e ficamos conversando por mais um tempo até que Éric decidiu ir porque tinha que fazer não sei o que. Assim que ele saiu, agarrei e a levei para o meu quarto para terminar logo com aquela curiosidade que tinha certeza que a estava consumindo.
"Ok, vou te contar tudo." Falei, me jogando na cama.
"Ah! Finalmente você está falando algo em consideração comigo." Ela disse. "Mas anda, sem enrolar."
"Tudo bem." Passei a mão no rosto, respirei fundo e comecei a falar tudo o que tinha acontecido nos últimos dias. Do encontro com Éric em Ballantyne, nosso segundo encontro na boate, depois meus amassos com o e assim até chegar na parte em que briguei com ele em casa.
"Porra, como você me deixa de fora de todos esses acontecimentos?" Ela perguntou, fingindo uma voz chorosa.
"Ah amiga... é que eu não sabia se realmente era algo se suma importância." Falei, tentando me explicar.
"Ah, nada disso! Você sabe muito bem que tem que me contar tudo! Assim não vale, ." Disse, cruzando os braços.
"Ôh amiga. Vem cá." Puxei ela para um abraço apertado. "Me perdoa?"
"Não sei... estou magoada." Respondeu. Mas logo sorriu. "Só te perdoo se você prometer que nunca nunca nunca mais vai me esconder nada!"
"Mas é claro! Eu prometo!" Falei, beijando os dois dedos indicadores que estavam fazendo um com o outro um formato de xis.
"Tá perdoada então. Mas só dessa vez. Da próxima me encarrego de te deserdar da minha amizade."
"Nossa, nem é pra tanto." Falei, rindo.
"Não é, sei. Mas enfim! , você saindo com os dois ao mesmo tempo? Nunca pensei!"
"Pois é... nem eu." Falei, deitando na cama.
"Mas você... gosta do Éric também?"
"Gostar dele? , o conheço deve fazer apenas umas semanas..."
"Isso não tem nada a ver. Você só falou com o por semanas também e já está aí toda apaixonada."
Pensei no que ela disse. Já estou apaixonada. Eu mesma já tinha admitido isso pra ele outro dia quando estávamos vindo pra minha casa. Custava a acreditar nisso.
"Olha, para ser sincera... quando estou com ele tenho mais vontade ainda de ficar perto. Adoro o jeito dele falar e de como tenta ter assunto comigo apesar que já percebi que ele não tem a menor vocação para um 'roqueiro'." Falei, soltando um riso.
"Sim amiga, mas a questão é: você gosta dele? Tem que saber, porque não dá pra ficar com os dois né? A não ser que não queira compromisso." Ela disse, rindo e colocando com os dedos um par de chifrinhos na minha cabeça.
"Não, !" Falei, tirando os dedos dela de cima e rindo. "Eu... sei que não o amo, mas talvez, goste dele sim."
"Goste a ponto de ficar com ele novamente?"
"Acho... talvez... sim." Respondi, meio confusa ainda.
"Goste a ponto de ficar com ele e com o ao mesmo tempo?"
"Talvez... sim." Respondi com um rubor no rosto.
"Goste a ponto de dispensar o ?" Dessa vez ela perguntou olhando bem no fundo dos meus olhos.
Procurei uma resposta na mente. Sabia que gostava dele e que queria continuar com ele, porém... se fazia necessário também. Eu poderia deixar-lo para ficar só com o Éric?
"Não está muito cedo pra essa pergunta, não? O Éric é tão recente..." Falei.
"Hum." disse. "O te conquistou mesmo, não é amiga?" Falou com um certo ar de... compreensão.
Suspirei levemente e fechei os olhos, os sentindo encher de água.
"O que foi, ?" perguntou quando viu uma solitária lágrima correr pelo meu rosto.
"Sinto que gosto mais do que deveria do ." Falei, tentando aliviar a sensação de mágoa.
", é normal alguém se apaixonar pela outra assim tão rápido. Eu sei que essa coisa de paixão, amor, é meio nova pra você." Ela disse, deitando e me aconchegando.
"Eu sei, mas é que... às vezes me bate tanto medo de acontecer alguma coisa que faça com que me arrependa de fazer todas essas coisas." Desabafei, limpando as lágrimas que desciam.
", você tem que ser consciente de uma coisa básica: todos os seres humanos erram e todos eles machucam alguém, mesmo sem querer. Não pode pedir ao que seja o príncipe encantado perfeito."
"Eu sei de todas essas coisas. Só tenho medo de me arrepender ao extremo." Falei, já tomando o controle sobre o choro.
e eu ficamos deitadas na cama por algumas horas conversando sobre Jake, colégio e coisas afins.

A noite chegou e teve que ir embora. Fui até a porta com ela e ficamos mais um tempo conversando até que vi um carro estacionando no meio fio. Estreitei os olhos para decifrar a silhueta do motorista, mas estava muito escuro lá dentro.
"Éric?" falou mais perguntando pra mim.
"Hã? Não, não. O carro dele não é assim." Falei continuando, tentando ver quem é que estava dentro do carro.
A pessoa ficou mais um tempo ainda dentro do carro, fazendo alguma coisa que obviamente também não consegui enxergar muito bem e depois abriu a porta do carro. Saindo como se fosse um artista, fechou a porta e caminhou em nossa direção.
"Ih amiga." disse, dando um sorriso.
Olhei para ela, dando um sorrisinho amarelo e voltei a atenção para a figura do que estava se aproximando de nós.
"E ai." Ele disse quando ficou de frente para nós.
"E aaai." falou com uma voz bem idiota, o que me pareceu que ela estava tentando fazer voz de descolada. Ri do jeito que ela disse.
"Oi, ." Falei, o olhando em seus olhos e sentindo seu perfume cítrico.
"Phill está?" Ele perguntou.
"Sim." Respondi.
"Posso entrar?"
"Ah, pode." Falei e dei espaço para que o fizesse.
"Ok amiga, vou nessa, amanhã nos falamos." falou.
"Mas a gente não estava..." Tentei falar.
"Tá, tá, tá. Amanhã nós terminamos. Vai curtir o ." Respondeu e sem ao menos esperar saiu andando, me mandando beijos pelo ar e indo em direção ao seu carro do outro lado da rua. Então me virei para a porta e adentrei a casa.
estava sentado no sofá conversando com Phill sobre alguma coisa de futebol e banda.
"Já viu quem está de volta, não é ?" Phill perguntou quando eu ia subir as escadas. apenas deu um sorriso com uma das sobrancelhas arqueadas.
"Ele já teve esse prazer." Soltei, mas acho que logo após isso fiquei ruborizada porque ele e meu irmão riram.
"Filha? Da onde você está vindo?" Minha mãe apareceu perguntando de repente no topo da escada.
"Credo mãe! Estou vindo da porta, a foi embora."
"Ah bom! Não quero você saindo. Depois desse susto tem mais é que ficar em casa."
"Ué, mas não foi o médico que me mandou ficar de repouso?" Perguntei.
"Ah... também!" Mamãe respondeu. "De qualquer forma, vá descansar. Não quero outros sustos." E assim voltou para o seu quarto.
"De castigo, ?" perguntou com um certo tom de humor.
"Sua culpa." Falei e subi para o meu quarto.
Sentei na cama e fiquei pensando no que fazer naquela hora da noite. Era cedo, já havia ido embora e eu não podia sair sem minha mãe dar um chilique. Olhei para a cabeceira da cama e localizei meu iPod. Peguei e coloquei os fones, indo em busca de algumas músicas para passar o tempo.
Acho que se passaram quase quinze músicas e eu não tinha sentido isso, só depois que olhei a hora no aparelho e vi que meia hora tinha se passado.
"Só isso?" Bufei e fechei os olhos. O tédio já estava me consumindo. Estava quase resolvendo ir apagar a luz para uma soneca quando achei ter ouvido algum barulho mínimo no ambiente. Primeiramente não dei muita importância, mas na segunda vez em que ouvi fiquei curiosa. Tirei um dos fones do ouvindo esperando que viesse novamente o tal barulho para ver se era isso mesmo ou só impressão minha.
Poc!...Poc!
Tive a impressão que vinha da janela e a fiquei olhando.
Poc!
Era ali mesmo. Me levantei e fui até lá para ver que diabos estava acontecendo ali. Olhei para fora e vi a sombra de alguém. Meu coração acelerou e pensei que talvez fosse algum sujeito sem ter o que fazer tentando chatear, mas aí vi o tal sair da escuridão e reparei no rosto do em meio a luz do meu quarto e a noite lá fora.
"Mas o que é que você tá fazendo? Ficou retardado?" Gritei para ele.
"Ou! Shhh!" Ele disse e eu quase nem ouvi. "Ninguém pode nos ouvir. Para de ser histérica!"
"Hã? Histérica? Mas é você quem tá jogando alguma coisa na minha janela. E que história é essa de que ninguém pode nos ouvir? Virou foragido na justiça?" Perguntei, tentando um tom de voz que desse para ele ouvir e ao mesmo tempo não fosse tão alto.
"Isso são pedras." Ele mostrou algumas na palma de sua mão. "E não podemos ser escutados, ninguém pode saber que você está prestes a fugir de casa."
"O quê? Fugir de casa? Você fumou alguma coisa garoto?" Falei, confusa.
"Fiz isso hoje de manhã, mas a onda já passou." Disse e deu um riso. "Calma nerd, irão ser só algumas horas. Pode deixar que você volta pra sua casa sã e salva."
"Será que dá pra parar com o deboche e me explicar o que você quer?" Perguntei.
"Se o desmaio não mexeu com a sua cabeça, você deve se lembrar que hoje temos um show pra ir."
Nessa hora lembrei de quando ele foi no hospital e me pediu para sair. Acho que fiquei tão incrédula que meu cérebro deve ter pensando que era uma ilusão.
"Ah! O Muse." Falei.
"Ah, pensei que tivesse ficado retardada de vez."
"Haha." Falei. "Mas você tá louco? Como vou sair sem ninguém me ver? E aliás, nem me arrumei ainda!"
"Relaxa, dude. Primeiro se arruma. E rápido! Não vou ficar mofando esperando aqui embaixo."
O olhei com as sobrancelhas altas, mas dei de ombros e fui caçar alguma coisa no meu armário. Procurei alguma calça jeans e qualquer blusa de mangas compridas. Achei e coloquei uma blusa da cor vinho lisa e um jeans meio surrado. Calcei um all star de cano médio e fui ajeitar o cabelo. Como não dava tempo de arrumar muito, fiz o possível para desembaraçar e amarrei tudo em um rabo de cavalo no alto da cabeça. De maquiagem apenas um rímel e uma base. Já estava pronta, mas antes coloquei um robe de banho e sai bem devagar do quarto. Fui até o topo da escada pedindo para que minha mãe já estivesse dormindo. Mas claro que àquela hora ela não estava. A vi deitada no sofá junto com Phill vendo novela na tv.
"Shit!" Bufei, mas logo coloquei a mão sobre a boca tentando abafar qualquer barulho desnecessário. Tentei maquinar alguma coisa para tentar sair, mas não consegui. Bom, o tinha dito que era para me arrumar primeiro então ele deve ter um plano, tinha que ter. Antes de sair dali, pensei em algo.
"Mãe?" Falei, tentando disfarçar uma voz cansada.
"Oi filha." Ela disse, mas não me olhou. E nem Phill.
"Me bateu um cansaço agora... já vou dormir, ok?" Falei, também pedindo para que ela não me olhasse.
"Mas tá tudo bem com você?" Perguntou, se virando para mim, mas antes que consumasse o ato, Phill inclinou a cabeça de um jeito que, pelo que pude perceber, só dava para ver metade do meu rosto.
"Tá sim, mãe. É só sono. Mas será que daria pra não entrar no meu quarto? É que se eu acordar não vou conseguir dormir de novo." Falei meio temerosa, mas acreditando na minha próxima mentira.
"Ah, tá ok então, filha, vai lá." Ela respondeu.
Já ia voltando para o quarto quando ela me chamou. "Ai, porra."
"Oi mãe." Tentei mais uma vez camuflar a voz.
"Boa noite. Durma bem." Ela disse.
"Ah, obrigada mãe. A senhora também." E assim que respondi, corri para o quarto logo.
Fui até a janela e olhei para baixo, onde estava sentado na grama.
"Pronto." Falei.
"Finalmente. Quase te larguei aqui." Ele disse, se levantando e limpando a parte de trás da calça.
"Até parece. Fui dar um jeito de que a minha mãe e nem o Phill viessem mais tarde aqui no quarto."
"Ok. Agora, senta aí na beirada da janela e depois dá um impulso para pular que eu te seguro aqui embaixo."
"O quê? Me jogar da janela? Você tá maluco." Falei, incrédula.
"Ah, para de ser medrosa! Só deve ter uns dois metros essa altura. Vamos logo! Daqui a pouco o show começa e ainda estamos aqui por causa dessa sua frescura." Ele disse, me apressando.
"Frescura? Passou pela sua cabeça que se você não me agarrar eu posso bater a cabeça e ter um traumatismo craniano?" Falei, quase desistindo de ir pro show.
"Porra, ! Ou pula daí agora ou juro que subo e eu mesmo te empurro daí de cima!" disse, passando a mão no cabelo.
"Se eu morrer, a culpa vai ser sua e vai ter que conviver com isso!" Falei. Olhei para onde ele estava e respirei fundo. Abri toda a janela e, me segurando nas paredes, consegui me sentar na beirada da janela. Olhei mais uma vez para , que estava de olho em mim e respirei mais duas vezes profundamente.
"É isso aí." Falei para mim mesma. Contei até três. No último algarismo dei um empurrão na parede e me lancei na direção de . Assim que ele recebeu o impacto do meu corpo, que de acordo com as leis da física aterrissou com quase o dobro do meu peso real, caímos os dois esparramados no gramado.
"Não sabia que era tão pesada." disse, tentando se levantar.
"Não sou pesada. É a lei da física. Não prestar atenção nas aulas dá nisso." Falei, também tentando me levantar e logo após sentindo o meu corpo ficar dolorido.
"Sermão seu agora não." Ele disse já de pé. "Agora vamos logo, o show deve estar pra começar."
"Não acredito que eu tive a sanidade mental de me jogar da janela do meu próprio quarto por sua causa." Falei, acompanhando ele e dando a volta na casa.
"É preciso fazer loucuras de vez em quando para a vida ter graça." Ele disse, rindo.
"Ah, ta bom." Falei. "Isso está parecendo mesmo é com cena de filme que a mocinha foge de casa para se encontrar com o mocinho em algum lugar ermo e escuro."
"Pra onde vamos vai estar escuro e prometo que da próxima vez vou fazer uma serenata pra você, ok?"
"O deboche não sai da sua voz, não?"
"Para de se fazer de difícil e vamos logo." Ele disse. Pegou na minha mão, fomos até o seu carro e quase mal entramos, deu a partida no veículo, mas antes de sairmos pensei ter visto alguém olhando pela janela na sala. Não deu tempo de ver se era verdade ou quem era, já estava voando com o carro.

Chegamos no local do festival e já estava tudo tomado por pessoas falando alto, andando pra lá e pra cá, bebendo litros de álcool e mais algumas que dançavam no ritmo das músicas eletrônicas que rolavam.
estacionou em algum lugar e fomos até a multidão. Procuramos alguma barraquinha de comida e fomos até ela.
"Vai querer alguma coisa?" perguntou, olhando o conteúdo do lugar.
"Não estou com fome." Falei.
"Nem vai querer uma bebida?"
"Hã... não."
"Ah, tem certeza? Depois não vou voltar aqui, hem." Me disse.
"Tá ok. Quero uma água." Falei. Ele riu e se virou para a moça da barraquinha.
"Me dá duas cervejas, por favor."
"! Eu disse água." Reclamei.
", fala sério! Deixa de ser certinha." Ele disse, rindo.
A moça trouxe as bebidas, pagou e fomos para o meio de toda aquela multidão. Segurando-o pela mão, fui o seguindo até ele parar em um lugar bom para ver o show. Ficamos bebendo a cerveja e curtindo as músicas que tocavam. Toda hora alguém esbarra na gente, fazendo com que praticamente ficássemos um com o rosto colado no outro. Mesmo assim ficamos dançando um pouco.
"Não sabia que você dançava assim!" disse, falando bastante alto no meu ouvido por causa do barulho.
"Você não sabe muita coisa sobre mim!" Falei.
"Pensei que sabia! Você parece ser o tipo de garota que não tem esse tipo de diversão!"
"E você não parece o tipo de garoto que chama garotas como eu para virem em um festival desse estilo!"
"Você não sabe nada sobre mim!" disse, olhando em meus olhos com um sorriso torto.
"Você não tem o jeito de uma pessoa legal de se conhecer!" Olhei em seus olhos.
"Você parece não querer conhecer ninguém!" Ele me respondeu. Ainda estávamos dançando e em um intervalo e outro da conversa, bebíamos um pouco.
"Não tenho interesse de conhecer pessoas com aparências tipo a sua!"
"As aparências enganam! Nunca escutou isso?" Perguntou e em seguida riu.
"É o que estou te provando nesse minuto!" Respondi. Nossos olhares estavam mais conectados mais do nunca, as nossas respirações estavam molhadas e fortes um no outro e minha vontade de beija-lo aumentava cada vez mais com o auxílio da bebida alcoólica.
"Admite, ! Está louca por mim! Diz estar só apaixonada, mas aposto que já passou disso! Não tem como ser outra coisa depois de tudo o que aconteceu!" disse, passando uma das mãos em volta do meu corpo.
"Eu admitir? Já não é você que está fazendo isso por si próprio? Como você pode ter tanta certeza dessas coisas se sou quem hipoteticamente está apaixonada?" Falei e isso foi fatal. Ele parou de dançar e seu sorriso desapareceu. "Vamos, ! Admite que também está apaixonado por mim! Está apaixonado por uma nerd que te ajuda a fazer o trabalho de filosofia para salvar o seu ano!" Falei com o meu maior e mais poderoso sorriso de vitória após a reação posterior dele.
"Você..." Não consegui ouvir o que disse, mas antes mesmo de querer ouvir melhor ele me beijou vorazmente. Seu lábio sugou o meu com tal potencia que me fez sentir faltar sangue ali. A partir daí nossos movimentos foram recíprocos. Nossas mãos envolveram um o corpo do outro e nossas bocas se dilaceravam em beijos carnívoros. Tudo estava tão forte e quente que mal podíamos recuperar nosso fôlego, mas a vontade de se desfazer um do outro era de nível zero. A multidão começou a se agitar mais ainda e ouvíamos os gritos ensandecidos deles. As luzes se apagaram rapidamente e somente luzes azuis permaneceram no palco. Os integrantes surgiam no grande palco e logo o som distorcido de uma guitarra soou. A voz do vocalista indicou a primeira música do setlist.

(Muse – Madness) (Dê play!)

Mad mad mad

Louco, louco, louco

I...
Eu
I can't get this memories out of my mind
Eu não consigo tirar estas memórias da minha mente
And some kind of madness
E algum tipo de loucura
Has started to evolve
Começou a evoluir

Com o início da música, todos começaram a se mover no ritmo dela, que era quase hipnótico. Apenas eu e estávamos grudados um no outro, nos beijando e sentindo toda a droga daquele desejo horripilante.

And I...
E eu...
I tried so hard to let you GO
Eu tentei tanto deixar você ir
But some kind of madness
Mas algum tipo de loucura
Is swallowing me whole
Está me envolvendo por completo
Yeah
Sim

I have finally seen the light
Eu finalmente vi a luz
And I have finally realized
E eu finalmente percebi
What you mean
O que você quer dizer

Ficamos por mais uns minutos assim até que se separou de mim e começou a me encarar daquela maneira que me faz ter arrepios na espinha, que faz com que todos os meus pelos se ericem. Nossos olhares não se desgrudavam e isso me fez querer ler o que se passava em sua mente nesse exato momento.

And now
E agora
I need to know is this real Love
Eu preciso saber se isso é amor verdadeiro
Or is it just madness
Ou é só loucura
Keeping us afloat
Nos mantendo a tona

Ele me puxou novamente para si e começamos a dançar lentamente em movimentos de balanços com nossos rostos vidrados no céu. Era como se aquela música estivesse guiando nossos movimentos.

And when I look back, at all the crazy fights we have
E quando eu lembro de todas as brigas malucas que tivemos
Like some kind of madness
Como se um tipo de loucura
Was taking control, yeah
Estivesse tomando o controle, sim


And now I have finally seen the light
E agora eu finalmente vi a luz
And I have finally realized
E eu finalmente percebi
What you need
O que você precisa

Nos movíamos bem lentamente, sentindo a energia no lugar, sintonizando nossos corpos. encaixava seu rosto no vão do meu pescoço e o beijava docemente, uma de suas mãos escorregava em minhas costas. Minhas mãos se fixavam em seus cabelos e minha garganta deixava escapar arquejos baixos.

Mad mad mad
Louco louco louco

And now I have finally seen the end (finally seen the end)
E agora eu finalmente vi o fim (finalmente eu vi o fim)
And I'm...
E eu...
Not expecting you to care
Não estou esperando que você se importe
(expecting you to care)
esperando que você se importe
But I have finally seen the light (have finally seen the light)
Mas eu finalmente vi a luz (finalmente vimos a luz)
And I have finally realized (realized)
E eu finalmente percebi (percebi)


I need to Love
Eu preciso amar
I need to Love
Eu preciso amar

Eu abaixava um pouco a cabeça e dava pequenos beijos em suas orelhas gélidas, minhas mãos se soltaram de seus cabelos e desceram até suas costas, apertando-as com um pouco de força. E eu podia sentir sua respiração já no meu colo molhado, suas mãos massageando minhas coxas.

Come to me
Venha até mim
Trust in your dream
Confie em seu sonho
Come on and rescue me
Venha e me resgate
Yes, I know
Sim, eu sei
I can be wrong
Eu posso estar errado
Maybe I'm too head-strong
Talvez eu seja muito teimoso
Our love is...
Nosso amor é

Quando olhei um instante para o rosto de percebi que estava cantando junto com a música, com seus lábios úmidos. Logo seus olhos miraram os meus e um sorriso apareceu. Senti pequenas correntes de energia passando por mim e então me juntei novamente ao seu corpo e me entreguei aos seus lábios apetitosos. Tudo aquilo era loucura.

Mad mad mad
Louco, louco, louco

parou por instantes e juntou sua boca ao meu ouvido para pronunciar a última palavra da música.

Madness
Loucura

A música terminou e todos aplaudiram a banda. Eu e ele ficamos ali, parados, um no outro. Outra música começou, mas nós não demos atenção. Naquele momento, naquela hora, só exista nós dois. Um cara e uma garota. e . Estávamos totalmente conectados por fios invisíveis que faziam com que nossas vontades fossem as mesmas, e também fossem as mesmas perguntas. separou nossas cabeças para me olhar e instantaneamente sorrimos. Aquilo tudo era tão mágico que mal podíamos acreditar que estávamos no planeta Terra. Ele pegou em minha mão e me puxou para fora da multidão.

Capítulo XXI-


Capítulo XXI
(Coloque a música para carregar e se quiser, coloque depois para ouvi-la com o cap.)

Atravessamos a multidão inteira. andava tão rápido e, por estar me puxando pela mão, eu esbarrava em todos, derramando suas bebidas ou qualquer outra coisa que estivesse em suas mãos. Não estava entendo para onde ele queria ir depois de passada a multidão, mas continuou a andar rapidamente passando por todos os carros estacionados até chegar ao último que estava ao lado de uma grande árvore. Era uma pickup preta, daquelas bem grandalhonas.
começou a escalar a parte traseira do automóvel até entrar na caçamba.
"Mas o que você está fazendo, garoto?" Perguntei, não entendendo nada daquilo.
"Vem, sobe." Ele disse, estendendo a mão para mim.
"Mas e se o dono dela nos pegar aqui?" Falei, olhando para o lado da multidão.
"Para de se preocupar com isso. Ele não vai voltar tão cedo." Ele respondeu. Pensei se era uma boa ideia mesmo, já que não conhecíamos o dono, ou pelo menos, eu não conhecia, porque parecia que sim.
"Ah, tudo bem." Respondi e peguei em sua mão estendida no ar.
Com alguma dificuldade consegui ir para dentro da caçamba também. Olhei para , perguntando com os olhos o porquê de estarmos ali.
"Assim temos mais privacidade." Disse. Chegou mais perto de mim e completou o espaço que faltava entre nós, me puxando pela cintura. O olhei e vi seu sorriso torto sobre os dentes, o sorriso que adora me fazer ter arrepios na espinha. Sua mão apareceu em meu rosto, fazendo seu contorno e assim foi descendo até parar no bolso de trás da minha calça. Esperei para ver o que ele estava pretendendo com isso e logo senti meu celular sendo puxado. Ele pegou o aparelho e começou a procurar por algo nele.
"O que você quer?" Perguntei, tentando ver no que estava mexendo, mas ele não deixou, fazendo com que o aparelho ficasse virado totalmente em sua direção.
"Muito curiosa." disse com um ar de mistério e ainda continuava com seu sorriso. Como ele era lindo. Tentei me conter, esperando ele terminar de mexer no celular. Depois de um breve momento pareceu que ele tinha achado o que queria. Assim, ele continuou segurando o aparelho e o início de uma música começou a tocar.

(Arctic Monkeys - Do I Wanna Know) (Dê play!)

Have you got colour in your cheeks?
Suas bochechas estão coradas?
Do you ever get that fear that you can’t shift the tide that sticks around like summat in your teeth?
Você já teve aquele medo de não poder mudar a maré que fica ao seu redor, como algo em seus dentes?
Hide some aces up your sleeve
Escondendo alguns ases na manga
Have you no idea that you’re in deep?
Você tem ideia de que está lá no fundo?
I dreamt about you nearly every night this week
Eu sonhei com você quase todas as noites esta semana
How many secrets can you keep?
Quantos segredos você pode guardar?
Cause there’s this tune I’ve found that makes me think of you somehow
Por que tem uma música que eu encontrei que me faz pensar em você de alguma forma
And I play it on repeat until I fall asleep
E eu a coloco pra repetir até eu dormir
Spilling drinks on my settee
Derramando bebidas em meu sofá

(Do I wanna know?)
(Eu quero saber?)
If this feeling flows both ways
Se este sentimento é recíproco
(Sad to see you go)
(Triste te ver ir)

Sorta hoping that you’d stay
Eu meio que esperava que você ficasse
(Baby we both know)
(Baby, nós dois sabemos)
That the nights were mainly made for saying things that you can’t say tomorrow day
Que as noites foram feitas principalmente para dizer coisas que você não poderá dizer amanhã

"Do I Wanna Know?" Falei, continuando a olhar seu lindo sorriso.
"É." Ele apenas disse, me puxando para perto e depositando um beijo em meu pescoço.
"E por que essa música?" Perguntei, encarando seu olhar sobre mim.
"Porque é tudo o que eu deveria dizer." Respondeu com um tom mais suave.
"Para mim?"
"Pra quem mais seria?" Um sorriso veio a minha boca.
"E por que você mesmo não diz?"
"Porque é mais sexy na música." Ele respondeu com ar de sapeca.
"Mas como sabia que tinha essa música no meu celular?"
"Sabia porque agora eu sei que você pode me surpreender a qualquer momento." Ele sorriu e me beijou docemente. Meus braços se envolveram em seu pescoço e suas mãos apertaram mais minha cintura.

Crawling back to you
Me rastejando de volta para você
Ever thought of calling when you’ve had a few?
Já pensou em ligar quando você tomou algumas?
Cause I always do
Porque eu sempre penso
Maybe I’m too busy being yours to fall for somebody new
Talvez eu esteja muito ocupado sendo seu pra me apaixonar por alguém novo
Now I’ve thought it through
Agora eu tenho pensado sobre isso
Crawling back to you
Me rastejando de volta para você


So have you got the guts?
Então você tem coragem?
Been wondering if your heart’s still open, and if so I wanna know what time it shuts
Está pensando se seu coração ainda está aberto, e se assim for, se eu quero saber que horas ele fecha
Simmer down and pucker up
Se acalme e feche a cara
I’m sorry to interrupt
Sinto muito interromper
It’s just I’m constantly on the cusp of trying to kiss you
É que eu estou constantemente na luta para tentar te beijar
But I dunno if you feel the same as I do
Mas eu não sei se você sente o mesmo que eu
But we could be together if you wanted to
Mas nós poderíamos estar juntos se você quisesse

"A quantas garotas você fez essa mesma coisa?" Perguntei em seu ouvido.
"Você não confia mesmo em mim, não é?"
"E deveria?"
"Então, você é a única que, a essa hora da música, eu não comecei a tirar a roupa. Quero que você escute toda a música agarrada a mim. Não quero sentir mais nada além da sua respiração no meu pescoço. Essa é a prova mais concreta e verdadeira que posso te dar para provar que é apenas você que quero." Ele disse, me abraçando com mais força e fazendo com que minha cabeça se apoiasse em seu pescoço. Não iria mais resistir a ele. A essa altura do campeonato era impossível.

(Do I wanna know?)
(Eu quero saber?)
If this feeling flows both ways
Se este sentimento é recíproco
(Sad to see you go)
(Triste te ver ir)
Was sorta hoping that you’d stay
Foi meio que esperando que você ia ficar
(Baby we both know)
(Baby, nós dois sabemos)
That the nights were mainly made for saying things that you can’t say tomorrow day
Que as noites foram feitas principalmente para dizer coisas que você não poderá dizer amanhã

Crawling back to you
Me rastejando de volta para você
Ever thought of calling when you’ve had a few?
Já pensou em chamar quando você tivesse pouco?
Cause I always do
Porque eu sempre chamo
Maybe I’m too busy being yours to fall for somebody new
Talvez eu esteja muito ocupado sendo seu pra me apaixonar por alguém novo
Now I’ve thought it through
Agora eu tenho pensado sobre isso
Crawling back to you
Me rastejando de volta para você

Ficamos tão embalados na melodia da música que quase não ouvíamos o som alto do show que estava rolando a poucos metros da gente. Nossos corpos colados se moviam conforme o som do celular e nossas mãos percorriam o corpo um do outro. levava sua mão até o topo de minha cabeça e fazia movimentos circulares com a ponta dos dedos. Também de vez em quando dava pequenos beijos nela. Eu apenas aceitava todas as suas carícias e beijava seu pescoço. Minhas mãos estavam ao seu redor e o apertavam com mais força. A noite começava a ficar com o ar mais pesado por conta do frio que se intensificava, mas isso fez com que o momento ficasse ainda mais perfeito. As luzes do show refletiam nos vidros do carro, fazendo com que o ambiente ficasse parcialmente iluminado.

(Do I wanna know?)
(Eu quero saber?)
If this feeling flows both ways
Se este sentimento flui em ambos os sentidos
(Sad to see you go)
(Triste te ver ir)
Was sorta hoping that you’d stay
Estava meio que torcendo que você fosse ficar
(Baby we both know)
(Baby, nós dois sabemos)
That the nights were mainly made for saying things that you can’t say tomorrow day
Que as noites foram feitas principalmente para dizer coisas que você não pode dizer amanhã

(Do I wanna know?)
(Eu quero saber?)
Too busy being yours to fall
Muito ocupado sendo seu pra me apaixonar
(Sad to see you go)
(Triste te ver ir)
Ever thought of calling darling?
Já pensou em ligar, querida?
(Do I wanna know?)
(Eu quero saber?)
Do you want me crawling back to you?
Você me quer rastejando de volta para você?

A música se desfez no ar e deixou uma vibe maravilhosa. Naquele momento eu tive tanta certeza quanto teve de que não daria mais para tentarmos esconder um do outro o quanto queríamos isso, o quanto queríamos nossos corpos colados. Não sabia ao certo como foi que esse sentimento foi aflorando. Eu jurava que nunca iria ver desse jeito como estava agora. Por um momento pude sentir que realmente era especial para ele.
"Agora você já sabe de tudo." disse, me fazendo olha-lo.
"A cada dia você me surpreende mais, ." Eu disse, passando as mãos em seus cabelos.
"Você me surpreendeu nessas semanas, ." Ele disse com, se possível, mais doçura ainda. "O meu sonho estava se disfarçando de nerd metida esse tempo todo." Disse com um riso.
"E esse cavalheiro estava debaixo dessa armadura de fodão." Falei, dando logo em seguida um rápido beijo em seus lábios gelados.
"Então já pode falar pra mim, ." Ele falou.
"Falar o que?" Perguntei.
"Falar que você me ama." Ele sorriu.
"Opa, não era você que tinha que me dizer isso?"
"Essa música, esse momento, já não quis dizer isso não?" Ele arqueou uma sobrancelha.
"Não sei..." Fiz manha.
"Ah, para de se fazer de difícil. Você já foi demais pro meu gosto." Ele disse, imitando uma expressão de cansaço.
"Aé, você está acostumado só com as fáceis. Mais fáceis do que aprender o abecedário." Eu disse, rindo.
"Já reparou que você adora mudar de assunto? Vamos, diz logo." Disse, cruzando os braços.
"Ai, porra. Chatão você." Falei, bufando. "Ok. Eu t- am-." Falei tão baixo que eu mesma nem ouvi.
". Para com essa merda. Diz alto e em bom tom." Falou.
"Tátátá." Falei. Respirei fundo e olhei em seus olhos. Senti minhas bochechas queimarem e o vi rir. "Nunca pensei que fosse dizer isso..."
"Acho que já ouvi isso antes..." Ele disse rindo, me cortando. Me lembrei que falei isso para ele há um tempo quando voltávamos do colégio. Mas era verdade. Nunca pensei em dizer isso, não para ele. "Mas, vamos, diz logo."
"... eu te amo." As palavras foram mais fortes para mim do que para ele. Ao dizer isso, não só admiti para ele, mas também como para mim mesma. Nunca tinha coragem de falar isso para mim mesma. O medo era tanto que preferia pensar que não era nada ou que não sentia nada, só uma leve queda. Olha no que essa leve queda me levou.
"Finalmente." disse, soltando seu sorriso. "E não precisa ficar corada por me dizer isso."
"É algo involuntário da minha parte." Falei, baixando um pouco o rosto.
"Vem cá." Ele disse e me puxou, ficando colado comigo. "Você foi ótima." Beijou o topo de minha cabeça e ficou acariciando com uma das mãos. "Mas talvez eu não seja merecedor de tanto esforço assim..." Disse em um tom baixo.
"O que?" Perguntei, não entendendo o que ele tinha dito.
"Nada." Sorriu. "Eu disse que..." Fez uma pequena pausa.
"Disse o que, ?" Perguntei. Seu olhar tinha ficado um pouco sério, mas logo seu rosto relaxou e então ouvi uma das melhores coisas que poderia ouvir aquele ano.
"Eu disse que te amo também, ."
Fiquei tão surpresa que pensei não ter ouvindo direito.
"Você...me ama?" Perguntei igual a uma idiota babona.
"Amo." Ele respondeu, olhando nos meus olhos. "Como pode?"
"Não sei." Tentando controlar o turbilhão de emoções que me vinham no momento.
"Então acho que isso responde a música. É recíproco." Ele disse, sorrindo. Aquele não era o . Não era o que esnobava todos, que se fazia de superior e que era um homem das cavernas com todas as garotas. Ele tinha se transformado. Ou talvez era a primeira vez que mostrava sua verdadeira feição.
"Ainda bem." Falei, soltando um riso. também riu e puxou minha boca para dele. Nos beijamos calorosamente, fazendo assim aquecer nossos corpos que já sentiam o peso do ar do ambiente gélido. fazia uma pequena força para que eu me movesse do lugar no qual estávamos parados há um tempo. Deixei que me conduzisse e percebi que ele me fez encostar na cabine da pick-up, fazendo assim com que ele me apertasse mais. Envolvi meus braços mais uma vez em seu pescoço e cariciei seus cabelos. Uma de suas mãos foi de encontro com a base de minhas costas e a outra ficou depositada em minha nuca. Nossos movimentos, como sempre, foram sincronizados, nos fazendo ficar assim por vários minutos.

O resto do tempo passamos juntos naquela caçamba do carro. Ficamos conversando, ouvindo músicas e tudo isso entre muitos beijos e carícias. Tínhamos esquecido que fomos até aquele lugar para ver o show do Muse, mas nenhum show seria perfeito o bastante para se comparar aquele momento que passamos juntos.
As horas se passaram feito um tufão e quando dei por mim já tinha que voltar para casa, pois no dia seguinte teria aula e se deitasse muito tarde com certeza não iria levantar tão cedo. Então, eu e descemos da pickup e fomos em direção ao nosso carro, depois indo direto para minha casa. No caminho fomos ouvindo Pantera quase no último volume. batia as mãos no volante imitando a bateria e eu, como sempre, fingia que estava tocando uma guitarra imaginária. Paramos em um sinal, cantando alto e junto com o vocalista o refrão até que, quando paramos para rir de nossa extravagância, um casal de senhores que estavam no carro ao lado nos olhava com cara de reprovação, e provavelmente dirigiram palavras de sermão. O sinal abriu e eles saíram. Nos olhamos com risos nos lábios e seguimos o caminho. Estávamos felizes demais para nos importar com qualquer coisa naquele momento.
estacionou em frente a minha casa, que estava com todas as luzes apagadas. Um bom sinal de que ninguém teria desconfiado de minha pequena fuga da quarentena. e eu saímos do carro e fomos até a porta da sala.
"Viu? Não morreu por sair escondida." Ele disse em tom de deboche.
"Seu idiota. Mas como irei entrar agora? Não trouxe minha chave."
"Já tentou abrir a porta?" Perguntou, levantando uma sobrancelha.
"Mas minha mãe sempre tranca a porta." Repliquei.
"Mas já tentou?" Bufei. Odiava a teimosia dele com aquela cara de deboche. E para a minha infelicidade, a porta estava destrancada.
"Ué... mas sempre está trancada." Falei, tentando entender. Olhei para e ele estava com um riso nos lábios. "Você sabia que estaria destrancada, não é?"
"Uma fuga sempre deve ser bem arquitetada." Respondeu, colocando uma das mãos no bolso.
"Aposto que foi com a ajuda de Phill..."
"Não posso evidenciar o nome dos meus cúmplices."
"E nem precisa." Falei, rindo. Ficamos uns segundos calados só nos encarando. "Bom... vou entrar."
"Depois de tudo o que aconteceu você ainda tenta fingir que não gosta de mim?" Ele perguntou.
"Eu finjo que não gosto de você? Por que isso agora?"
"Porque agora que vamos nos despedir, você iria entrar sem ao menos falar comigo." Respondeu.
"Não ia nada. Caramba, como você gosta que eu faça tudo o que quer." Falei, cruzando os braços.
"E como você é esquisita." Falou.
"Como você é idiota." Falei, mas sorri. "E como sempre consegue com que eu faça tudo."
Seu olhar veio até meus lábios e me puxou para um beijo. Seus braços me envolveram por completo e enquanto provava novamente de seus lábios, sentia seu perfume um pouco amadeirado enchendo meus pulmões. Passei minhas mãos em sua cintura e queria poder ficar assim para sempre.
"Amanhã nos vemos, certo?" Falei, separando nossas bocas.
"Sim." Ele apenas respondeu.
"Então... boa noite." Disse.
"Boa noite." Ele disse e logo após me deu um beijo no topo da cabeça. "Já sinto sua falta."
Meu coração deu mais pulos. Era maravilhoso ouvir aquilo da sua boca.
"Também já sinto a sua, não sabe o quanto." Respondi com um sorriso de orelha a orelha.
Assim ele se distanciou de mim até seu carro, que logo após arrancou pela escura rua. Entrei em casa e nas pontas dos pés fui subindo as escadas até chegar em meu quarto. Só quando sentei na cama me dei conta do quanto estava cansada. Agradeci por o sono já estar quase me devorando, pois se não estivesse assim, com certeza não conseguiria dormir essa noite. As lembranças dos momentos que aconteceram a pouco invadiram minha mente, fazendo com que a falta de fosse algo que me deixasse um pouco incomodada. Fui até o banheiro e joguei uma rápida água no corpo e assim me deitei. Foi um pouco difícil dormir, pois minha mente estava a mil trabalhando as memórias da noite, mas o cansaço do corpo falou mais rápido e assim adormeci.

POV

Mal cheguei em casa e já me taquei de baixo do chuveiro. Meus músculos estavam um pouco trêmulos. Não quis saber de água quente, estava precisando mesmo de água fria. Não estava entendo o que estava se passando. Não estava nos planos. Não era esse o combinado.
A água caiu sobre minha cabeça, fazendo com que meus músculos se enrijecessem por um momento, mas logo voltaram ao normal. Fiquei em pé recebendo o líquido gélido sobre mim. Mesmo assim, minha cabeça ainda estava queimando.
"Porra, ! Mas que diabos você está fazendo? Mas que porra você disse pra ela?" Perguntava para mim mesmo. Passei minhas mãos entre os cabelos na tentativa de que os pensamentos fossem lavados dali, mas não acontecia nada. Apenas continuavam ali, me torturando. Aquilo já tinha passado dos limites. Não podia estar sendo tão difícil assim para mim.
O banho não resolveu a minha dor de cabeça, então desliguei o chuveiro e com a toalha mesmo me deitei na cama, fitando o teto. Alguém apareceu na porta do meu quarto.
"Ah! É você, filho. Que bom que chegou cedo. Amanhã tem colégio." A voz doce de minha mãe preencheu o lugar.
"Não sei se irei amanhã." Falei.
", meu filho, você tem que ir a aula. Não pode repetir de ano." Sua voz ficou preocupada.
"Eu dou um jeito." Respondi, ainda concentrado no teto branco em cima de mim. Os passos da mulher em minha direção fizeram com que eu a olhasse.
"Aconteceu alguma coisa?" Ela perguntou, se sentando ao meu lado e passando a mão entre meus cabelos molhados.
"Não." Falei, fechando os olhos e sentindo sua carícia.
"Filho, por mais que você saiba se virar sozinho e provavelmente não queira saber do que sua pobre mãe ache, fala o que houve. Falar faz com que a pressão diminua." Sua voz entrou pelos meus ouvidos e senti como se meu coração estivesse se comprimindo. Mas que sensação era aquela?
"Já disse que não é nada, mãe. Só estou cansado." Falei, tirando sua mão do meu cabelo. Senti um olhar sobre mim.
"Bom, tudo bem, querido. Tenha uma boa noite. Se precisar é só chamar." Senti seus lábios na minha testa. "Lembre-se: por pior que tudo esteja sempre haverá a chance de melhorar. Só depende de sua vontade." E com essa palavras que pareciam ter isso preparadas sob encomenda para mim, ela saiu do local.
Pressionei minhas mãos contra minha cabeça. Aquelas palavras só afloraram mais o sentimento que, além de estar fazendo com que minha cabeça doesse, também estava fazendo com que alguma coisa corroesse as paredes do meu estômago. Mas que porra era aquela? Por que ela estava tendo o poder de fazer isso comigo? Por que a culpa estava se instalando dentro de mim?
Me apoiei sobre os cotovelos e busquei meu iPod no criado-mudo que estava ao lado da minha cama. Na melhor das hipóteses, a música iria fazer com que eu relaxasse um pouco e até trouxesse o sono. Liguei o aparelho, coloquei os fones e em um volume agradável dei play na primeira música que apareceu. Como o destino estava se virando contra mim. A música que começou a rolar era Do I Wanna Know. Minha primeira reação foi de querer mudar de música mas... meu cérebro ativou minhas memórias recentes e lembrei do lindo sorriso da garota que estava comigo há poucas horas. Seus lábios desenhados corretamente pronunciando as palavras que, com certeza, ela iria se arrepender de ter dito.
"Ah, . Como isso foi acontecer? O que você tem?" Falei em um tom baixo. Aquilo estava já me incomodando de um jeito insuportável. Estava tudo saindo dentro dos conformes mas aí... um dia a imagem de me veio a cabeça durante o sono, outro dia tinha me pegado esperando para vê-la, no dia seguinte queria beijá-la sem motivos. E agora... agora estava sentindo sua falta. Queria poder voltar até sua casa e dizer tudo o que estava acontecendo, tudo o que estava prestes a acontecer. Mas não podia. Teria que seguir com tudo, por mais que agora quisesse largar tudo de mão.
A música rolava e eu lembrava de nós dois juntos a ouvindo. Se a soubesse do poder que estava ganhando sobre mim...
"... eu te amo." Sua voz ecoou em minha mente.
"Eu disse que te amo também, ." Essa parte... essa parte não estava nos meus planos.
Aquela foi uma longa noite.

Fim Ian POV


Capítulo XXII-


Capítulo XXII

– Betado por Lara


POV

Acordei assustada com o barulho das trovoadas que soavam lá fora. Ainda lesada pelo efeito do sono fui até a janela e abri a cortina que a escondia. O céu estava um cinza escuro e eu via pessoas passando pela rua lá embaixo, todas enroladas em seus grandes casacos, luvas e afins. Voltei para a cama e vi no celular que faltavam apenas vinte minutos para a hora de começar a me arrumar pro colégio, então fui logo tomar um banho e começar o novo dia.
Fiz a mesma coisa de todos os outros dias: arrumei-me, tomei café da manhã, bati em Phill. Porém havia alguma coisa de diferente no meu caminho até o colégio. Meus passos estavam corridos e meu coração palpitava a cada vez que percebia que estava me aproximando do destino. Atravessei o campus até chegar ao corredor do grande prédio branco. Subi as escadas e cheguei até a minha habitual sala de segunda feira. Adentrei o local que tinham alguns poucos alunos e localizei , assim indo em sua direção.
"Bom dia!", ela disse assim que me sentei ao seu lado.
"Bom dia!", respondi, colocando a mochila no chão.
"Hum. Por que está com um sorriso estampado na cara?"
"Sorriso estampado? Não estou sorrindo", falei.
"Não? E esse bom dia cheio de vontade? Geralmente você não tem esse hábito de achar segunda feira tão empolgante."
"Ah... É que ontem aconteceu uma coisa...", falei, lembrando dos momentos da noite anterior.
"Aconteceu o que?!", perguntou, já com os olhos brilhando. "Foi o , né? Me diz!"
"Sim", falei e confesso, soltei um suspiro.
"Aiaiaiaiaiai.", batia as mãos uma na outra como uma criança. "O que aconteceu?"
"Eu e ele fomos para o show do Muse."
"Ué, sua mãe te deixou sair? Pensei que fosse ficar em casa de repouso", ela disse, erguendo uma sobrancelha.
"É, mas era para ficar de repouso. Só que foi a noite lá em casa e meio que... Me raptou. Eu pulei a janela e fomos pro show."
"Sério? Você pulando de uma janela por causa dele? O mundo dá voltas!", ela disse rindo.
"Não foi beeem por causa dele...", tentei disfarçar, mas já estava estampado no meu rosto que era sim.
"Tá bom, tá bom. Mas hem... Que romântico! Ele foi te resgatar em casa", ela disse de um jeito fofo.
"É! Mas o melhor não foi isso", disse, mordendo o canto da boca com a lembrança.
"O quê?! O quê?!", estava muito ansiosa.
"No meio do show ele me puxou para um lugar afastado. Subimos na caçamba de uma pickup e ficamos lá ouvindo uma música, tal... Daí ele me falou umas coisas..."
"Quais coisas?", ela perguntou. "Não vai me dizer que ele..."
" disse que me amava. Ainda não caiu a minha ficha", falei como se fosse uma garotinha falando sobre o seu primeiro amor.
"Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai", disse, batendo palmas. "Não acredito! Até que enfim!"
"Foi tão... Lindo e inesperado", falei.
"Não acredito que disse que amava alguém. Aquele garoto tem coração mesmo", zombou um pouco.
"E eu não credito que foi pra mim."
"Ai, . Você devia se ver agora", ela disse, sorrindo.
"Por quê?"
"Porque está tão fofa suspirando de paixão. Só falta agora sair uns corações estourando de você." Senti minhas bochechas corando.
"É, ... Acho que estou mesmo gostando dele. Gostando não. Amando" falei, sentindo uma extrema felicidade em finalmente conseguir admitir isso para mim mesma.
Sabe o ditado que diz que "quem é vivo sempre aparece"? Pois isso caiu perfeitamente na situação. apareceu na porta da sala, enchendo o local com seu perfume meio cítrico. Procurei seu olhar e o encontrei seus brilhantes olhos focalizando os meus. Seu sorriso torto brotou em seu rosto e ele seguiu em minha direção. Meu coração começou a palpitar e senti minhas mãos suarem frio.
"Bom dia" ele me disse, parando em minha frente.
"B-bom dia", respondi gaguejando um pouco pela surpresa.
Então a coisa mais inesperada do ano aconteceu. Não, não do ano, do século. se curvou em minha direção e depositou um beijo em minha boca na frente de todos os presentes. Senti seus lábios nos meus e no exato momento correspondi. Pude ouvir um espasmo espontâneo vindo de como um "woou!".
Quando nos separamos percebi que a sala que antes estava com barulhos de conversas naquele momento se tornou um vácuo. Atrevi-me a olhar para trás e vi todos os olhares concentrados em nós dois. As meninas olhavam como se estivesse presenciando um ato de crime e os meninos estavam com as bocas abertas. Aquela cena me causou certo desconforto.
"O que foi? Nunca viram?", falei espontaneamente.
Ninguém respondeu, apenas continuaram nos olhando fixamente.
"Relaxa. É algo novo para eles assim como é para nós", disse, rindo de leve.
"Quer dizer que agora vamos ser tratados como se tivéssemos uma anomalia?", perguntei, já pré visualizando as imagens que estariam por vir. Seríamos a novo "babado" do colégio.
"Mais ou menos", ele disse ainda com um riso no rosto e falou com um tom de voz que fez com que todos pudessem ouvir. "Mas daqui a pouco eles vão se acostumar a nos ver juntos, aliás, somos namorados agora."
Meu coração estava prestes a sair pela minha boca. Meu coração bateu muito acelerado, o que eu acho que era impossível, pois ele já estava mais do que acelerado.
"N-namorados. C-certo", confirmei, mais gélida do que estava antes. Já podiam me enterrar, pois parecia que não havia mais calor em meu corpo.
riu pela minha surpresa e seguiu pelo corredor de cadeiras, indo se sentar em seu lugar de sempre. Se o professor não tivesse entrado na sala e ido logo escrevendo no quadro, todos iriam continuar parados feitos estátuas nos olhando.

-*-


Assim que o professor deu por encerrada a aula, todos começaram a arrumar seus pertences e ficar conversando alto. Eu pensava logo em sair dali, pois tinha a plena certeza de que o assunto seria e eu. Joguei as coisas de qualquer jeito dentro da minha mochila e apressei .
, já era. Vai ser impossível ninguém saber agora”, ela disse de um jeito calmo.
“Mas não estou tão pronta assim para ser alvo das fofocas”, respondi, já roendo a unha do meu dedo indicador.
“Então vai ter que se acostumar. Quem mandou ficar com um dos garotos mais conhecidos do colégio?”, disse, com um tom de riso. Fiz uma careta para ela e fomos andando até a porta da sala.
“Você é bem sutil, não, ?”, uma voz terrivelmente fina soou para mim.
“O que você quer dizer, Lily?”, perguntei, não me dando o trabalho de olhar para o rosto da loira que falava atrás de mim.
“Você sabe. Pegar o sem que ninguém desconfiasse”, falou, com uma sobrancelha arqueada.
“É que prefiro manter minha vida íntima fora do alcance de terceiros”, respondi, apressando o passo para não ter que continuar aquele papo. “Não parece, né. Agora que você fez seu show beijando o na frente de todos hoje.” Mas como assim eu beijei ele? Foi ele quem veio até a mim! Como ela podia estar distorcendo as coisas assim? Só podia ser mesmo coisa para me provocar, já que os outros alunos estavam logo atrás, fingindo conversar, mas aposto que queriam escutar a tal conversa.
“Não devo explicações a você”, falei, já ficando puta com a situação.
“Ow, não fica brava”, ela disse com um tom de riso. “Metade do colégio já ficou com ele. Você só é mais uma. Lide com esse fato.”
A partir desse momento, pude me consagrar como uma pessoa extremamente equilibrada, porque não sei como não soquei a cara daquela puta loira.
“Tudo bem. Irei pegar você como exemplo de superação então”, soltei com toda a minha raiva, agora olhando para ela, que perdeu o tom de riso do rosto.
Puxei e parti em disparada pelas escadas abaixo do prédio.
“Não sabia que você era boa em dar fora nas pessoas, ”, disse quando chegamos no térreo.
“E não sou. Não sei como falei aquilo. Mas fiquei com vontade de socar aquela garota”, falei, bufando de raiva.
“Não querendo te deixar pior ainda, mas acho que você vai enfrentar mais como essas ainda”, ela falou, fazendo uma careta.
“Nem me lembre!”
Fomos andando até o refeitório e nos sentamos em alguma mesa desocupada. Lá fora, a chuva já castigava as folhagens e os carros estacionados.
retirou um pacote de biscoito de chocolate da bolsa e ficamos ali, comendo e conversando. Eu ficava observando as pessoas ao redor e, não sei se era paranóia ou verdade, mas sentia como se todos estivessem me encarando. Como disse, teria que começar a me acostumar com os olhares de todos. E, como se já não bastasse que soubessem que eu e estivéssemos nos pegando, agora ele vinha com história de namoro. Alias, foi um jeito inusitado de pedido de namoro. Ele nem chegou a perguntar se eu queria. Tudo bem que, depois de tudo, acho que já era meio óbvio qual seria a resposta.
Voltei minha atenção à conversa da minha amiga que falava há muito tempo, porém não percebia que eu estava avulsa a tudo o que tinha dito. Quando finalmente me interei no assunto, avistei entrando no local. Meus olhos ficaram presos em seus movimentos. Ele passava pelas mesas e cumprimentava a todos os que estavam sentados a ela. Continuei o seguindo com os olhos e assim ele cruzou seus olhos aos meus. Seu sorriso de praxe apareceu e ele continuou a conversar com os outros. Fiquei o observando, mas, quando percebi que dessa vez ele não viria até a mim, tentei novamente dar atenção a o que falava.
O sino do colégio, avisando o término do intervalo, tocou e todos começaram a se deslocar pelo recinto, indo direto para suas respectivas salas. Eu e fizemos o mesmo.
Quando estávamos quase perto da porta, vi um braço vestido por um casaco preto aparecer sobre meus ombros. Olhei para seu dono e vi o meu mais novo namorado.
“Que aula é agora?”, ele perguntou.
“Álgebra” , respondi.
“Ah, somos da mesma classe. Vamos juntos”, disse, envolvendo mais ainda o braço em meus ombros.
“Nos vemos mais tarde, . Agora temos aulas diferentes”, disse, afastando-se de nós.
Acenei com a mão e continuei meu caminho com .
Chegamos ao corredor central e todos já nos observavam. Já que não teria como evitar os comentários, decidi entrar na jogada. Com um dos braços livres, envolvi a cintura larga de e aproximei minha cabeça de seu pescoço. Vi que ele esboçou um sorriso e senti seus dedos se contraírem com mais força sobre meus ombros.
“Agora já sabe que não tem mais escapatória. Vamos ser o principal assunto do colégio”, ele disse perto do meu ouvido, enquanto andávamos.
Let’s play the gam”, respondi com um sorriso. Então ele depositou um pequeno e rápido beijo em meus lábios e subimos as escadas para os próximos tempos de aula.

-*-


As aulas passaram voando. Talvez fosse impressão minha, já que quase não prestei atenção nelas. Ficava imaginando como é que eu estava tendo a coragem de me entregar assim para esse relacionamento, ao ponto de não querer dar importância ao fato de que meu nome estaria na boca de todos os alunos do colégio.
Enquanto eu pensava e repensava em tudo, ficava lá trás, como sempre, conversando e atrapalhando as aulas, como se nada tivesse acontecendo, como se não tivesse nada fora do normal. O que mais me incomodava era o fato dos amigos dele não estarem pegando no pé dele. Ora, porque o , como tão popular que era, estar com uma garota que nem eu com certeza seria alvo de brincadeiras de mal gosto de seus amigos. Porém... Eles agiam normalmente. Continuavam a falar com . Talvez ele fosse tão popular que se o excluíssem do grupo, todos eles também ficariam excluídos. Era horrível sentir aquilo, mas alguma coisa não estava certa.
O último sinal tocou e, como de praxe, estávamos dispensados. Arrumei meu material e fiquei esperando . Assim que ele se juntou a mim, fomos mais uma vez, desfilando pelos corredores do colégio como o que parecia “o casal do ano.”
“E aí, o que vamos fazer?”, ele perguntou assim que chegamos do lado de fora.
“Eu vou para minha casa”, respondi.
“E como sou seu namorado, também vou”, disse, seguindo em frente.
“E como meu namorado, tem o dever de ser atirado, certo?”, falei em tom de brincadeira.
“Com toda a certeza” ele respondeu.
Fomos caminhando e, como sempre, tinha que tentar me fazer cair ou ficar implicando comigo. Tentei milhares de vezes lhe acertar um soco, mas ele era muito mais forte e ágil que eu. Sempre conseguia prever meus movimentos e segurar meus braços com força.
Nos momentos de pausas entre as brincadeiras idiotas pelo caminho, eu pensava como era viver uma nova situação agora. Estava descobrindo um “novo” . Um que fazia brincadeiras idiotas, mas legais, que falava coisas realmente engraçadas e que, principalmente, sabia demonstrar reais sentimentos. Porque, o garoto que antes eu conhecia, era apenas um que adorava fazer brincadeiras maldosas, se achava o tal (não que agora não o fazia, porém estava... Diferente) e que, para ele, amar alguém de verdade e assumir isso era impossível. Era incrível o garoto que descobri debaixo das várias camadas de um mané.
Quando chegamos em casa, fomos direto para a cozinha.
“Ok, vamos o que tem”, disse, já abrindo os armários.
“Tudo bem. A casa é sua mesmo”, falei ironicamente. “Vai fazer a comida hoje?”
“Ah, gostou do meu brigadeiro, não é?”
“Só um pouco”, pisquei um olho para ele.
“E ela disse ‘Só um pouco’. Comeu quase toda a panela”, disse, rindo.
“Não comi toda a panela. Não deu tempo”, respondi, lembrando que antes mesmo de comer a segunda colher, começamos uma pegação ali mesmo na cozinha.
“Ah é...”, disse, provavelmente lembrando também. “Poderíamos continuar o que estávamos fazendo, não é?”, levantou uma sobrancelha e, largando o pacote de frango que estava em sua mão, veio em minha direção.
“Mas o Phill pode chegar aqui e interromper novamente.”
“Não precisamos ficar aqui. Temos seu quarto”, respondeu, já colado em mim, passando a mão em minha cintura.
“Irá usá-lo como cena do crime?”, brinquei, colocando as mãos em seus cabelos.
“Um crime que não vou me arrepender de cometer”, ele disse com um riso e a voz baixa em meu pescoço. E como sempre, não me recusei.
Seus beijos em meu pescoço fizeram com que um calor subisse por minha blusa e virasse minha cabeça para trás. Suas mãos subiram por trás da minha blusa, fazendo com que meu troco ficasse mais colado ao seu. Deixei que ele me guiasse e só depois percebi que estava sentada na bancada da cozinha.
“É... Melhor... Subirmos”, falei, com a respiração forte.
me tomou nos braços e fomos nos esgueirando pelas paredes, entre beijos e arranhões, até meu quarto.
Chegando lá, apressamos as ações e nossas vestes voaram pelos ares. Jogamos-nos, literalmente, em minha cama e começamos um jogo de movimentos sincronizados. Minhas mãos apertavam com toda a força suas costas e ele suava gotas de prazer. Passaram-se dez minutos de muitos movimentos até que chegássemos ao ponto auge. Quando estava tudo terminado, viramos e fitamos o teto.
“Pelo visto... O... Phill não chegou”, falou com a respiração pesada ainda.
“Ainda... Bem”, respondi. “Dessa vez ele não empatou.”
“Se fizesse isso, iria socar aquela cara de cú.”
“É assim que você fala do meu irmão, pelas costas?”, brinquei.
“Ele é um gay”, respondeu, indiferente.
Soltei uma risada, dei um tapa em seu peito. Aconcheguei-me em seus braços e fechei os olhos, pensando em descansar mais um pouco, mas a música do meu celular arrancou o silêncio do quarto. Suspirei alto e levantei da cama, a fim de encontrá-lo. Procurei por minhas roupas jogadas no chão e o achei no bolso da calça jeans, que substituiu a saia rotineira. Olhei no visor e o nome Éric aparecia. Fiquei arrasada por lembrar que esqueci dele. Atendi. Era o mínimo que eu poderia ter feito.
“Alô”, respondi, sentando-me na cama ao lado de .
“Alô. Oim ! Sou eu. Éric.”
“Ah, oi Éric”, falei. me olhou com uma feição feia.
“E aí, como você está?”
“Estou melhor, obrigada.”
“Ótimo! Então, já pode sair de casa, não é?”
“Sim, já”, respondi. parecia estar incomodado com a conversa, pois não parava de me olhar de jeito feio.
“Ótimo! Já que sim, pode vir aqui fora, por favor?”
“O quê?”, perguntei, levando um susto. “Aí fora? Como assim?”
“Bom, me desculpe vir assim, mas é que queria muito te ver”, respondeu.
“T-tudo bem”, gaguejei um pouco. “Espera aí”, e desliguei. Andei até minha janela e pude localizar seu carro estacionado perto do meio fio.
“O que foi, ?”, perguntou me olhando.
“O Éric está aqui”, falei, voltando meu olhar a ele.
“E daí?”
“E daí que ele quer que eu desça”, respondi, caçando minhas roupas íntimas e as vestindo enquanto olhava.
“E você vai?!” Sua voz acusou indignação.
“Mas é claro. Ele veio do centro até aqui pra me ver. Não vou mandá-lo de volta.”
“Pois devia.”
“E por quê?”, perguntei.
“Porque você está comigo agora”, falou, sentando-se na cama.
“Isso não me impede de atender um amigo meu na minha casa”, falei, vestindo uma blusa e uma calça qualquer que achei em meu armário.
“Seu amigo?”, indagou, fazendo sinais de aspas. “Ele quer é ficar com você.” O olhei com um riso.
“Para de ciúme.” Ele passou as mãos no cabelo e riu.
“Ciúme? Quem tem isso aqui é você.”
“Não é o que me parece”, falei, me olhando no espelho e arrumando meu cabelo.
“Mas é sim”, falou.
“Ok. Vou descer.”
“E você vai mesmo?”, perguntou, mais indignado.
“Já disse que sim!”, respondi, cruzando os braços.
“Argh! Ok. Vou descer também”, ele disse, levantando-se da cama e colocando suas roupas.
“Para quê?”
“Como pra quê? Tenho que comer”, respondeu.
“Tudo bem. Vou indo na frente. Encontramos-nos na cozinha”, falei e saí no corredor até chegar a porta da sala. Abri a mesma e dei de cara com Éric.
“Oi!”, falei, sorrindo. Ele esboçou um lindo sorriso e veio ao meu encontro, depositando um beijo em minha testa.
“Oi, .”
“E aí, como você está?”, perguntei, encostando a porta atrás de mim. Ele não precisava saber que eu e estávamos em casa. Sozinhos.
“Eu estou bem. Queria saber é como você estava. Depois que voltou do hospital não pude te ligar.”
“Estou ótima, obrigada”, respondi.
, não querendo ser abusado ou coisa parecida, mas... Por que você está com o rosto molhado?”
“Molhado?” Passei a mão em minha testa e sentir ela úmida pelo suor. Senti minhas bochechas corarem depois que percebi que não tinha me recuperado muito bem do que tinha acontecido á pouco. “Ah, é que... Bem, eu estava... Malhando”, respondi com um sorriso amarelo e com a pior desculpa do mundo.
“Malhando?” Ele ergueu uma sobrancelha.
“É... Depois do hospital decidi me exercitar mais, sabe...”
“Sim... Mas de calça jeans?”, ele disse, olhando pra baixo.
“Ah... Gosto de jeans até pra malhar”, tentei rir, mas, se consegui, foi por nervosismo. Por que é que ele tinha que observar tudo?
“Assim. Você e suas manias”, ele riu, parecendo que tinha engolido minhas mentiras.
Porém, todo meu esforço logo foi jogado fora. Senti a porta sendo aberta atrás de mim e me virei.
“AH. ”, falei, não sabendo se continuava o olhando ou se me virava para Éric, que com certeza estaria com uma cara de susto misturada a algo desagradável.
“Você estava demorando demais...”, ele disse. Assim, me virou para frente e envolveu suas mãos em minha cintura. Éric o olhava com uma feição de não-muito-feliz.
“Não acredito que, depois de ter mandando ela pro hospital, tem a cara de pau de freqüentar a casa dela de novo”, ele disse, colocando as mãos nos bolsos.
“Eu não mandei ninguém para o hospital. Ela foi porque é fraquinha.”
“Obrigada.” Bufei.
“É o cúmulo você colocar a culpa nela. Admita que é um ignorante”, ele falou calmamente, mas olhando nos olhos de .
“Quem é ignorante?”, falou. Senti seu impulso de ir para frente, mas segurei em suas coxas, o impedindo.
“Ok, chega”, falei.
“Vamos voltar lá pra dentro, . Temos que terminar algo que alguém interrompeu”, disse, me puxando para trás.
“Não, ela não vai.” Éric segurou meu braço. “Ela abriu a porta pra mim porque quer falar comigo.”
“Ela não quer porra nenhuma. Estávamos ocupados.” me puxou novamente para trás.
“Você agora decide tudo por ela? Ela vai ficar aqui até eu terminar de dizer o que tenho pra dizer.” Ele puxou novamente meu braço para frente.
“Agora sou eu mesmo que decido e você não tem nada a ver com isso!”, disse.
“E por que você diz isso? Virou o pai dela, por acaso?” Éric retrucou.
“Meninos, vamos parar com essa porra” falei, me sentindo como um cabo de guerra.
“O pai não. O namorado.”, disse.
Éric olhou para ele com um ar de riso e me olhou.
“Por quanto tempo?”
“Como assim por quanto tempo?”, perguntou, segurando minha cintura com força.
“Por quanto tempo vai insistir nessa besteira? Ela não gosta tanto assim de você, man”, Éric disse isso como se estivesse dizendo para alguém que horas são.
“Éric...”, tentei dizer que era verdade, mas ele não me deixou concluir.
“Tudo bem, eu acredito nisso. Mas só estou alertando: ela não gosta tanto assim de você.”
não se segurou mais. Não tive reflexo o suficiente para segura-lo. Ele partiu para cima do Éric, que o imprensou na parede.
“Ai, porra! Parem agora!” Eu tentava separar os dois, mas eram fortes demais.
“Que foi? Não agüentar ouvir a verdade?” Éric zombava.
conseguiu se desvencilhar de seus braços e lançou um soco em seu rosto, que abriu um corte na hora. Eric, por si, sentiu mais fúria ao se ver ferido e tentou imobilizar novamente. Desferiu joelhadas na barriga de Ian, que se ajoelhou no chão. Corri para parar Éric, que estava com um lado do rosto sujo pelo sangue fresco que saía pelo ferimento.
“Parem agora! Vocês vão se matar!” Berrei, colando-me entre os dois.
Éric iria partir de novo para cima de , que já estava de pé querendo continuar aquela briga, quando Phill chegou e entrou no meio.
“Eita porra! Mas que merda está acontecendo?”, ele perguntou, segurando .
“Esse almofadinha acha que é fodão”, disse, querendo ir para cima de Éric.
“Quem se acha o tal aqui é você, que não passa de um garotinho querendo chamar atenção”, Éric rebateu.
“Foda-se vocês dois! Vocês estão na frente da minha casa e se minha mãe chegar e ver isso, vai sobrar pra mim, então parem com essa merda!”, Phill berrou com os dois.
“É verdade. Parem com isso, que os dois já estão machucados. Vamos, que eu vou passar alguma coisa nessa lambança no rosto de vocês”, falei, abrindo a porta e puxando Éric para dentro.
“Você vai cuidar desse cara?”, me perguntou, soltando-se das mãos de Phill.
“Vou! Olha o estado dele! O rosto está todo ensangüentado”, respondi, fazendo com que Éric se sentasse no sofá.
“Vamos, , vamos para a cozinha”, Phill disse, pegando-o pelo braço.
“Eu não quero nada não”, retrucou.
“Ah, pára de graça. Entra agora, que depois eu vou dar um jeito em você”, falei, indo em sua direção e o trazendo para dentro.
“Você fica aí com esse que eu levo o para a cozinha enquanto isso. Se não, vai dar outra briga”, Phill falou, levando-o quase que a força.
Assim, os dois foram. Corri para o banheiro, atrás da caixinha de curativos. Peguei e fui tentar dar um jeito no rosto de Éric.
“Desnecessária essa briga de vocês”, falei enquanto passava soro na área ferida para limpar um pouco do sangue já seco.
“Foi ele quem começou”, ele respondeu. O olhei e suspirei.
“Pareciam duas garotinhas mimadas brigando por barbie”, resmunguei.
“Pode até ser, mas viu que quem ganhou fui eu, né?”
“Cala a boca”, respondi. Ele me olhou com um riso e chegou mais perto do meu rosto.
“É bem clichê, mas você é linda brava.”
“Éric... O namoro...” E mais uma vez ele me interrompeu.
“Shiu. Eu sei que é verdade.”
“Então por que falou aquilo? Era só para implicar?”
“Também. Mas eu falei sério a respeito do tempo”, falou, passando a mão no meu queixo. “Sério mesmo que você acha que esse namoro vai dar certo?”
“Pode ser que dê”, respondi, não entendendo aonde ele queria chegar.
“Para dar certo, teria que gostar apenas dele. E você sabe que, também gosta de mim.”
“E você continua com essa idéia...” Bufei.
“Sim. Se não fosse verdade, não iria fazer o que fez agora.”
“Fiz o que?”, perguntei.
Éric, com a mão que estava em meu queixo, puxou minha boca para sua e a beijou docemente. Com mais uns segundos ali, deixei um espaço para que o beijo se prolongasse, mas logo o interrompi afastando meu rosto. “Isso.” Ele disse sorrindo.
“Isso não conta”, retruquei, passando a mão nos lábios.
“Você sabe que sim. Se não contasse, nem iria deixar que eu lhe beijasse”, disse, vitorioso.
“Com tantas garotas na cidade, por que logo eu?”, perguntei, mais para a vida do que o próprio Éric.
“Porque você é uma das poucas que são interessantes de verdade. Não vou deixar que esse idiota te use como bem quer e depois jogue fora. Eu sim, vou te proteger e amar como algo único e raro.”
“Mas eu estou com ele.” Suspirei.
“Vamos ver por quanto tempo.”

Capítulo XXIII


Assim que terminei de encher a cara de Éric de pomada, o deixei na sala e fui para a cozinha, a procura de . Chegando na soleira da porta pude ouvir os dois conversando. Curiosa, tentei me encostar na parede ao lado, o máximo possível para que eles não percebessem minha presença e para tentar adivinhar sobre o que estavam falando.
– Dude, escuta o que eu estou te falando. É melhor você parar com essa porra. – Dizia Phill.
– Eu não vou. – Dizia ele, com a voz decidida.
– E por que não?
– Porque não, ué. Tenho que ficar te dando satisfação?
– Se tratando da minha irmã e você sendo meu amigo, é óbvio. – Phill disse. Mas não falou mais nada. Então Phill suspirou e continuou. – Olha, não sei porque esse amor de repente pela , mas vou te avisando logo: se ela for parar no hospital de novo por sua causa, não vou pensar duas vezes em quebrar toda essa sua cara. – Ele sentenciou.
– Não antes de eu quebrar a sua. – Respondeu. Então um longo silencio se estendeu.
Vi que a conversa não continuava, então decidi entrar.
– Então. Como você está ? – Perguntei, me aproximando dele.
– Estou bem. – Disse.
– Vou deixar vocês aí, casal do ano.– Phill disse com um tom de risada.– O Éric já foi?
– Não, deixei ele na sala esperando.
– Esperando o que? – perguntou desviando o seu olhar da parede para mim.
– Esperando por mim. Vim ver como você está. – Respondi, sentando na cadeira onde Phill estava e puxei para bem perto de .
– Já disse que estou bem. – Falou, não olhando pra mim.
– Já sei onde isso vai dar. Fui! – Phill disse, saindo.
– Ele só veio ver como eu estava. Aliás, ele estava aqui quando desmaiei e aquela coisa toda.– Falei olhando para ele.
– Você é cínica, não é?– disse olhando pra mim. – Sabe muito bem que ele não quer ser só o seu amiguinho bonzinho.
O olhei sentindo uma culpa mais que merecida. É claro que ele iria ficar com raiva de mim. Mal começamos a ter um namoro e o cara no qual quer ficar comigo, vem até a minha casa bater um papo. E eu, ainda o deixei esperando por mim sala. Fora o beijo...
– Eu sei...– Passei a mão no cabelo. – Me desculpa? Eu...bom, eu não gosto dele e não tenho a intenção de ficar com ele. Estou com você, lembra?– Arrisquei um sorrisinho amarelo, que obviamente ignorou e continuou com os lábios cerrados.
– Você não vai me fazer de palhaço. – Ele disse. Ficou de pé, pondo as mãos em cima do balcão.
– Não! Não quero fazer isso. ... – Tentei argumentar. Meu coração batia rápido e acho que um possível medo do realmente não querer ficar mais comigo, me fez ficar com os dedos das mãos tremendo.
Fiquei de pé, o olhando, esperando que ele falasse mais alguma coisa ou que desistisse de tudo. passou as mãos no cabelo e ficou olhando estaticamente para a pia. Ficamos um tempo em silêncio. Eu segurava uma mão na outra tentando conter a ansiosidade e procurava alguma coisa que, talvez, falasse e funcionasse, mas nada de útil me vinha a cabeça.
Em um instante, se virou para mim e me olhou de cima a baixo. Sua expressão estava mais relaxada, mas ainda sim me deixou um pouco nervosa e até curiosa. O que ele tinha resolvido na sua cabeça?
Ele veio andando em minha direção a passos lentos, como se tomasse aquele tempo de chegar até a mim para pensar nas palavras que iria pronunciar. Quando chegou perto o bastante, suas mãos tocaram meus ombros e desceram até minhas mãos entrelaçadas. Olhei seu gesto e voei para seu rosto, que fixou a atenção no meu. Sua expressão era como de uma pessoa hesitante.
? – O chamei.
– Eu... não vou deixar esse cara ferrar meus planos.– Disse afirmando quase que para si mesmo.
– Seus planos? – Perguntei.
– Não vou deixar ele pegar você pra ele. Você vai ser minha. – Falou, olhando em meus olhos. Suas mãos passaram em volta da minha cintura.
– Fica tranquilo quanto a isso. – Falei sorrindo e o abraçando. – Eu sou sua. Infelizmente.
Ele colocou o queixo sobre a minha cabeça e também me abraçou por uns instantes. Mas logo se desvencilhou de mim, me dando um beijo na testa e seguindo para a porta da cozinha.
– Aonde você vai? – Perguntei, sem entender nada.
– Nos vemos depois. – Ele disse e prosseguiu.
Fui andando atrás dele e quando cheguei na sala o vi sair, batendo a porta.
– Ele não estava com cara de feliz.– Disse Éric, que estava recostado no sofá.
– Não era pra menos.– Falei, me sentando no sofá em frente a ele.
– Então, já podemos sair? – Éric disse, rodando a chave do carro no dedo indicador.
– Quem disse que vamos sair? – Falei, pousando a cabeça no braço do sofá.
– Eu disse. Estava só esperando você passar uma conversa naquele cara pra poder ficar livre.
O olhei com a sobrancelha arqueada.
– Não viaja, Éric. Eu já disse que estou com o . E quase ele me dá um chute na bunda.
– É claro que ele não faria isso. Você é que vai dar nele.
– Éric!
– Tudo bem. Já vi que não vai rolar. Vou embora então. – Ele falou, se levantando.
– Não é por mal, Éric, mas é que não vai poder ser assim. Estou namorando o e ficar com dois já é putaria.
– Opa! Ficar com dois? Quer dizer então... – Disse ele, com um sorriso.
– Ah, não! Não! Quer dizer... Porra! Me expressei mal. Eu quis dizer que namorar com o e ficar saindo você não seria legal, mesmo que fosse como amigo. – Tentei reformar a merda que tinha dito antes, mas, aparentemente já era tarde.
– Não! Você já disse. Não fica voltando atrás. – Ele disse.
– Olha, Éric, vê se para de...
– Tudo bem , relaxa.– Falou, não me deixando terminar de falar. – Não vou ficar forçando a barra pra você. Não precisa ficar se explicando.
– Ah, ótimo. Espero que você realmente tenha entendido. – Falei aliviada.
– Sim. Mas isso não quer dizer que vou largar assim rápido. Eu ainda aposto que esse namoro não vai durar muito. – Falou convencido.
– Também quero que você seja feliz, obrigada. – Bufei.
– É justamente por isso que aposto nisso. Porque quero que você seja feliz. – Falou, se agachando em frente ao meu rosto. – Não vai se livrar de mim assim, tão rápido.
– Éric, não vai dificultar as coisas. – Falei olhando em seus olhos.
– Não, não vou. Podemos ser, pelo menos, amigos, certo?
Fitei sua expressão e me perguntei se isso daria certo mesmo. Bom, pelo menos ele parecia ter aceitado o fato. E também, por mais que eu fizesse um escândalo, dizendo que nunca mais era pra ele me procurar, não acho que resolveria, tendo visto que ele fazia do tipo que insistia em tudo.
– Tudo bem. Mas, apenas AMIGO viu? – Entoei bastante a palavra.
– Tudo bem, tudo bem. Apenas AMIGOS.– Ele repetiu com um riso. – Então, te ligo. – Disse, se levantando.
O encarei.
– Te ligo como amigo. Pode deixar.
Assenti.
– Não vai nem levar seu amigo até a porta?
– Ah, claro.– Respondi. Me levantei preguiçosa do sofá e o levei até a porta. Nos despedimos e deixei ele seguindo até a porta de seu carro. Fechei a porta e fui para o meu quarto deitar um pouco. O resto do dia passei lá dentro, entre sonecas e pequenas distrações na internet.

-*-*-*-


POV Saí com o carro que estava estacionado junto ao meio fio. Precisava ir para algum lugar que me fizesse esfriar a cabeça. Não podia colocar tudo a perder agora. Não ela. Logo agora.
Fui passando pelas ruas enquanto vasculhava na cabeça algum lugar barulhento o bastante para não deixar que eu ouvisse meus próprios pensamentos. Uma opção acendeu em minha mente. Olhei para o relógio, que mostrou exatamente o que queria ver. Já estava quase anoitecendo. Havia um lugar perfeito. Até que chegasse lá, já estaria aberto e cheio.
Atravessei a cidade pacientemente, indo para a parte mais perigosa, logo, a melhor. Quando cheguei ao local, fui estacionar o carro. O estacionamento era um terreno abandonado, que já estava com vários carros preenchendo o local e outros chegando. Quantidades impressionantes de pessoas saindo de um único automóvel. Tinha escolhido o local perfeito. Mesmo em uma noite de segunda-feira, aquilo sempre ficava lotado de gente que não ligava para horários e dias convencionais. Saí do estacionamento e caminhei até a porta de um prédio desativado. A construção estava acabada. As paredes tinham as tintas descascadas e a maior parte da superfície dos andares estava pichado. Na porta, as pessoas entregavam uma nota de dinheiro a um cara que estava sentado, fumando um cigarro, que liberava a entrada. Não precisei chegar muito perto para reconhecê-lo.
– Você está muito trabalhador, Carl. – Falei, parando em sua frente.
! Fala aí, dude! – Ele respondeu, assim que me viu. – Quanto tempo! Não deu mais as caras por aqui... andam perguntando por você. – Falou, dando um sorriso de lado e fazendo um sinal com a cabeça, apontando o interior, da onde saía um som ensurdecedor.
– É... andei fazendo umas coisas do outro lado.
– Ata! Ainda andando com os mauricinhos? – Carl disse rindo.
– Os caras são legais. – Respondi, olhando a fila que esperava impacientemente, minha conversa acabar, para poderem entrar.
– Não se mistura não hem! Se não, vou ser obrigado a te encher de porrada, pra parar de ser marica! – Carl falou me dando uns socos no peito, que revidei rindo.
– Eu quebro a sua antes. Mas então, o que temos de bom hoje, aí?
– Hoje a música é boa! Tem uns caras que tem um som do inferno! Mas entra aí logo! Hoje é por conta da casa! Tem bebida, garota, uns cigarros... – Falou arqueando as sobrancelhas. Eu já havia entendido.
– Ta ok. – Respondi, lhe dando um tapa no ombro e entrando no prédio.
Lá dentro quase não dava para ver nada. O local estaria completamente escuro se não fosse pelas luzes vermelhas e azuis que pendiam no teto, bem fracas. Havia muita fumaça. Algumas eram de nicotina, mas havia também algo parecido com cheiro de mato queimado e canela. As pessoas conversavam, apesar do som alto de uma banda de metal que tocava em algum lugar do andar. Fui caminhando em direção ao que parecia ser um bar, onde se via garrafas e mais garrafas de todo tipo de bebida posta em madeiras, que improvisavam bancadas e prateleiras. Ao chegar, também reconheci o cara que estava atendendo aos pedidos. Trocamos saudações e logo recebi uma dose de vodka e uma garrafa de cerveja. Tomei a dose e comecei a cerveja. Fiquei ali mesmo, recostado na bancada improvisada, vasculhando o lugar.
– Olha quem apareceu. – Ouvi uma voz roçar meu ouvido. Me virei com um sorriso.
– Olha quem encontro aqui. – Respondi.
– Finalmente saiu de Myers Park. Pensei que estivesse esquecido da melhor parte da cidade. – Violet disse, afastando um pouco o rosto do meu, mas apenas para ter toda a visão de mim.
– Essa parte aqui está merecendo um pouco do meu cuidado também. – Respondi, encarando a garota que vestia uma saia junto com uma camiseta velha e surrada preta.
– Há também pessoas que precisam. – Ela disse, encurtando de novo, o espaço entre nós.
– Há muitas. – Devolvi, tomando um gole da cerveja.
– Espero que hoje você esteja caridoso, especialmente comigo, . – Sua mão deslizou sobre minha camisa, parando no cós de minha calça. – Sua Vi está com saudades. – Falou junto ao meu ouvido.
– Vai fazer o que para merecer? – Perguntei, quase sorrindo. Com uma de minhas mãos livres, peguei nas pontas de seu cabelo preto enrolado, e puxei levemente, fazendo com que seu rosto se elevasse. E ela sorriu deliciosamente. Aquela safada...
– É só me seguir. – Despejou. Se desvencilhou de mim, pegando em minha mão e me guiando por entre a multidão. Subimos escadas, que estavam ao fundo do salão, que davam para o segundo andar. Pelo caminho, encontramos com várias pessoas começando ou terminando o que estávamos prestes a fazer. Violet foi me levando, passando por várias áreas onde já poderiam ter sido salas, separadas por tapumes. Paramos em um lugar onde não havia ninguém. O lugar tinha apenas uma luz vermelha pálida emanando do teto. Ela logo tirou a blusa e tirou algo, que parecia ser um beck. O acendeu com um isqueiro e caminhou lentamente até mim. Tragou o cigarro por um longo momento e soltou a fumaça em minha direção. Sorri ao me sentir tanto excitado por aquele gesto. Peguei o objeto de sua mão, também dando um trago longo e depois soltar a fumaça pra cima. Vi sua língua passando entre os lábios, sob a luz. A puxei, fazendo com que todo seu corpo colasse no meu. Dei um último trago e começamos nossa pequena diversão. Aquela altura, não me incomodaria. Não por aquela noite.

Fim POV


Capítulo XXIV -


POV
Como sempre, os primeiros tempos de aula passaram lentamente. E passava mais lentamente, porque eu queria muito sair dali para procurar , que não estava assistindo a aula. Não sabia ao certo como ele estava depois que saiu da minha casa no dia anterior. Fiquei encarando o relógio como se pudesse, com o poder da minha mente, fazer com que os ponteiros corressem, mas não era possível. Óbvio.
“Por hoje é só.” O professor disse, fechando o livro.
Coloquei meu material na mochila e tentei sair da sala, já que todos já estavam saindo ao mesmo tempo pela porta. Quando fui praticamente cuspida para fora, tive a intenção de ir procurar logo, mas antes iria ao banheiro e aproveitaria para ver se o achava no caminho. Fui caminhando pelos corredores, imersa nos pensamentos sobre .
Entrei no banheiro, que já estava cheio de garotas conversando e rindo alto, fui fazer xixi aproveitando para amarrar o meu cabelo, que estava de mal comigo naquela manhã. Quando terminei de me arrumar, o local já estava vazio e a porta estava entre aberta.
“Essas garotas sempre deixam a porra da porta aberta. Devem adorar deixar os garotos olharem aqui dentro.” Esbravejei para mim mesma. Fui fechar a porta, mas antes que fizesse isso ouvi vozes familiares do outro lado. “São os amigos de .” Pensei.
Já estava prestes a sair, para perguntar de Ian quando mudaram de assunto.
“Dude, o está namorando mesmo a .” Um deles falou.
“Pois é. Até já pronunciou publicamente.” Outro falou aos risinhos.
Deixei a porta um pouco mais aberta para tentar ouvir melhor.
“Cara, ele está se superando dessa vez. Vamos ver até onde ele vai.”
“Melhor! Vamos ver o quanto de cash ele vai segurar.”
Ouvi aquilo e tentei pensar em uma resposta razoável para aquela conversa. Não estava entendendo nada. O que ele queria dizer com “o quanto de cash que ele vai segurar?”
Fechei a porta e fui para a bancada da pia. Minhas pernas começaram a vacilar e meu coração já batia forte. O que aquilo queria dizer? Que tipo de papo era aquele?
Peguei minha mochila e abri um pouco a porta. Eles ainda estavam lá. Pensei em como faria para sair dali sem que me vissem. Por pura sorte, um grupo de garotas estava vindo em direção ao banheiro. Fui para a pia e esperei que elas entrassem. Já estava ficando impaciente quando elas resolveram sair. Aproveitei que estavam entretidas com a conversa e passei pela porta junto com elas, tentando ao máximo esconder meu rosto. Caminhei perto delas até um ponto em que fosse seguro. Parei no canto da parede e olhei novamente para a porta do banheiro. Os meninos ainda estavam lá, mas agora com algumas garotas em volta também. Com isso, tive certeza que nem se quer tinham percebido esse grupo de garotas sair do banheiro. Pensei no que deveria fazer. Aquilo estava estranho, precisava esclarecer. Então, andei pelos corredores do colégio a procura de Ian e nem sinal dele. Fui para o refeitório e ele também não estava lá.
“Talvez ele não tenha vindo hoje.” Pensei.
Então aproveitei que estava ali e comprei alguns cookies. Fui até o gramado para me sentar e ligar pra e nos encontramos. Precisava de uma segunda opinião sobre aquela conversa estranha. Estava caminhando, procurando algum lugar mais afastado da multidão quando o avistei. Estava deitado sob o sol, com headphones. Estava sozinho. Fiquei olhando de longe e decidi ir até ele.
Parei em frente a sua cabeça bloqueando a luz solar sobre seu rosto. Seus olhos abriram assim que percebeu minha presença.
“Olá, sumido.” Falei. se apoiou sobre os cotovelos, retirou o fone e olhou para mim. Logo me lançou um sorriso.
“Oi, .”
“Desistiu da vida acadêmica? Não assiste mais as aulas.” Falei.
“Precisava descansar mais. Tive uma noite... mal dormida.” Respondeu. Assenti com cabeça e ele me puxou para baixo, me fazendo tombar no chão, ao seu lado.
“Agora você tem a mania de querer me machucar. O que eu fiz pra você?” Esbravejei, limpando a mão que bateu com tudo no gramado.
“Ow! Calma. Mal falou comigo e já está querendo me irritar?” Falou, mas com um tom de riso.
“Não!” Falei mais alto, porém tentei me conter. “Não.” Falei mais calma. “É só que de um tempo pra cá você só faz me deixar com hematoma.”
“E isso é ruim?” Perguntou, chegando mais perto de mim. “Pensei que você gostasse dos meus apertos.” E puxou completamente meu corpo para junto dele.
...” Resmunguei. Queria arranjar algum jeito de saber o que os amigos deles tinham falado, mas sem que ele suspeitasse de alguma coisa.
“Sinto sua falta, sabe?” falou ao pé do meu ouvido. Meus pêlos se eriçaram todos e uma leve tremedeira percorreu minha espinha como se um vento gelado tivesse entrado por debaixo de minhas roupas. “Agora que estamos juntos, não precisa mais ficar acanhada aqui.”
Não queria sucumbir a ele, queria perguntar sobre seus amigos, mas naquela altura do jogo, estava se tornando quase impossível resistir aos seus braços. Tentei me desvencilhar de seus braços mas ele os apertava cada vez mais ao meu redor. Por fim, seus lábios vieram de encontro aos meus e me rendi ao ataque. Estava com saudade de seus toques e beijos, por mais que no dia anterior tivéssemos passado uma tarde quase toda juntos. Mesmo a distância, podia sentir atenção sobre nós dois, mas não dei importância, tudo o que minha mente e meu corpo estavam atentos, era a . Passamos os vários minutos seguidos entre carinhos e pegadas mais fortes. Aproveitei para me aconchegar em seu peito e tentar a convencer ao meu cérebro que tudo aquilo que tinha ouvido antes era um mal entendido e que estava tudo certo, mas ao mesmo tempo em que minha mente se entorpecia com a presença dele, ela queria ter ao menos uma mínima explicação para acabar com meu desassossego.
“Posso te fazer uma pergunta?” indaguei, mas ainda colada ao seu tórax.
“Fala.” respondeu, por cima de minha cabeça.
“ Você já namorou antes? Digo, namorou sério?”
“Por quê?”
“Ué, porque... Porque queria saber se sou a única presenteada”, é claro que ele já tinha namorado antes. Bom, podia não ser tão óbvio, já que ele não era muito do tipo que namorava sério, mas arrisquei.
“Foram poucas vezes”, respondeu rapidamente, parecendo não querer entrar em detalhes. Mas eu não desisti tão fácil.
“Ata... Mas então você era mesmo o que pegava todas.” forcei uma risadinha ao final.
“Onde você quer chegar, ?” ele virou meu rosto para o dele. “Você não é do tipo que se preocupa com essas coisas.”
“Por nada, oras. Só que...” tentei pensar em algo rápido. “A Lily parou para ficar me enchendo de perguntas sobre nós dois. Parecia que ela era uma ex com dor de cotovelo”, arrisquei. revirou os olhos e soltou um riso.
“Aquela lá acha que tivemos alguma coisa de importante. Só ficamos em uma festa e porque eu estava muito bêbado. Ela é gata, mas não é o bastante para ter que ficar aguentando suas asneiras. “ respondeu. “As namoradas que tive tinham mais de cérebro que ela.”
Ri junto com ele, mas ainda precisava de algo mais exato.
“Então quer dizer que já namorou garotas nerds?”
“Algumas”, ele não estendia mesmo o assunto. Aquilo já estava se tornando um trabalho difícil.
“Mas para você namorar nerds, não foram desse colégio, né? Se não, como iria ficar com a reputação de namorar nerds?”, falei com tom de sarcasmo.
“Foram sim, umas novatas. E digamos que há um ano, eu não era o mesmo de hoje.”
Já estava chegando aonde queria. Quando estava preparando mais uma inocente pergunta, o sinal chegou ao lado de fora do campus, avisando que o intervalo tinha acabado e que todos deviam seguir para a próxima aula.
“Mas que merda!” , falei um pouco alto demais.
“O que foi?” perguntou, quando ia se levantar, me fazendo sair de perto dele.
“Ah. É que não estava afim de assistir aula.” Inventei.
“É melhor você ir, sim, senão vão acabar dizendo que sou uma má influencia pra você”, respondeu, me ajudando a levantar.
“E desde quando você não é uma má influencia para as pessoas?”, perguntei, arqueando as sobrancelhas.
Ele olhou para mim e rimos. Demos as mãos e fomos juntos para a próxima aula. Em minha mente, ia implorando para que não houvesse nada de errado.

-*-*-

No terceiro tempo, consegui me concentrar melhor na aula. Por incrível que pareça, se sentou ao meu lado e também assistiu. O tempo nos ajudou e logo a aula se encerrou.
, vou embora agora”, disse pegando sua mochila.
“Ok”, respondi. Não podia ter acontecido coisa melhor.
“Nos vemos amanhã, certo?”
“Por mim, sim. Não sei você, porque agora não vem mais quase para as aulas.”
, eu nunca venho”, falou, mostrando os dentes. “Até, então”, me puxou para um rápido beijo e sumiu entre o resto de alunos que saíam da sala.
Aquilo era bom. Sem por perto, poderia procurar saber melhor das suas antigas namoradas. Não tinha conseguido muitas informações, porém, com as últimas que tinha dito, consegui traçar um grupo. Ele tinha dito que um ano atrás tinha namorado garotas nerds. Logo, se este ano estamos no último ano do colegial e ele namorou novata, quer dizer que neste ano, a tal ou as tais meninas, deveriam estar no segundo ano. Bom, esse seria meu ponto de partida. Mas, uma coisa que também fiquei pensando era, o que ele quis dizer com ‘há um ano não era o mesmo de hoje.’
Desci as escadas e fui até o primeiro andar. Caminhei até a secretaria e parei em frente a um quadro, onde estavam listados a grade de aula de todas as séries. Procurei pelo segundo ano e vi que naquele dia as aulas iriam até 13:20h. E para minha sorte, ainda eram 12:10h, o que significava que estava na troca de professores e as turmas sempre ficavam sem fazer nada até o próximo professor chegar.
Corri pelos corredores até achar a sala com a numeração 1R-201. Parei em frente a sala e a porta estava aberta. Todos lá dentro estavam em pé e estava uma bagunça. Entrei na sala e procurei por garotas que ficavam destacadas de todos.
“Oi!”, um garoto que estava ao meu lado falou, sem que tivesse percebido sua presença.
“Ah, oi!”, respondi.
“Então, esta precisando de alguma coisa?”, falou, já colocando um braço em volta de meu pescoço.
“Na verdade, sim”, respondi.
“Pode dizer, tenho certeza que vou te ajudar”, disse, me lançando um olhar subjetivo. Fiz uma careta, mas prossegui.
“Sabe, é que eu estava procurando uma amiga que conheci uns anos atrás e me disseram que ela poderia ser dessa sala, mas faz tempo e quase não me lembro do rosto dela, com certeza deve ter mudado. Inclusive, soube que ela namorou o .”
“Ata! Você esta falando da Sidney”, ele respondeu e apontou para uma menina de vestido bege, na qual estava atrás de um grupo de garotas carregadas de maquiagem e com mini saias. “Ela era sua amiga? Nossa, nunca pensei que ela fosse ter alguma”, terminou, dando risada.
“Ah, sim, é ela.” Menti. “Obrigada.” Disse e tirei seu braço de cima de mim.
“Mas é só isso, gata? Eu tenho uma coisa que o não tem”, falou, com segundas intenções.
“Cala a sua boca, idiota!”, disparei e fui em direção a menina.
Ela estava sentada, lendo um livro grosso. Era bonita, mas o tipo de pessoa que nunca imaginaria que fosse namorar algum dia.
“Olá.” saudei com o sorriso mais simpático que poderia dar.
A menina levantou a cabeça. Ao me ver seus olhos se arregalaram e abaixou a cabeça novamente.
“Ah... oi? Me desculpe te interromper...”, tentei novamente puxar assunto.
“O que você quer?”, sSeu tom foi mais puxado para um sussurro.
“É que... meu nome é e...”
“Você é a nova namorada daquele garoto, eu já sei”, Sidney disparou, mas ainda sem me encarar. Supus que ‘aquele garoto’ deveria ser e isso não soava bem.
“Sim, mas, bom... é sobre ele que eu queria falar.”
Ouvi um soluçar e percebi que lágrimas caiam nas folhas abaixo do rosto.
“Ei! O que foi?”, perguntei assustada. “Falei algo de ruim?”, me agachei ao seu lado para tentar olhar em seu rosto, mas ela limpou suas lágrimas ligeiramente.
“O que você quer saber sobre ele? Já não deveria saber o bastante, já que é a namorada dele agora? Não posso te ajudar em nada se o assunto for esse”, Sidney falou, mas com um tom de melancolia.
“Hey, calma”, fiquei tensa com a situação, mas arrisquei mais. “Eu só queria saber sobre o seu namoro com o . Por que vocês terminaram?”
“Por favor, vá embora. Deus me ajudou a perdoar o , mas não quero mais falar sobre isso. Por favor, minha aula já vai começar.”
Fiquei olhando a pobre menina, que estava com os olhos avermelhados, e senti uma queimação no estômago. Olhei para frente da sala e o professor estava pondo suas coisas em cima da mesa, em meio aos alunos alvoroçados. Encarei mais uma vez Sidney e resolvi sair dali.
“Er, desculpa. Não queria incomodá-la”, falei.
Saí da sala e corri para casa. Tinha algo de errado. A cena da menina chorando, quando toquei no nome de não saia de minha cabeça. O que aquele garoto tinha feito?

Capítulo XXV -


Chegando em casa, joguei a mochila em um canto qualquer da sala e me sentei no sofá. Como se a televisão estivesse ligada, fiquei fitando-a. Frases de pensamentos nadavam em minha cabeça. A visão de Sidney e juntos aparecia como um borrão porque eu não conseguia imaginar os dois juntos. Milhares de perguntas se formavam e gritavam por respostas imediatas, querendo achar uma lógica para Sidney odiar tanto . Se antes a conversa que tinha ouvido dos amigos de não tinha cheirado bem, depois do acontecido no colégio, era como se um latão de lixo estivesse explodido em debaixo do meu nariz.
Ouvi ao longe uma música tocando. Demorei mais alguns segundos para perceber que meu celular estava chamando. Me levantei em um movimento lerdo e fui atende-lo. O nome 'Eric' aparecia na tela.
"Alô?"
"Oi, . É o Eric."
"Ah, oi."
"Está tudo bem?"
"Está sim. E com você?"
Não estava tudo tão bem, porém não queria entrar em detalhes com Eric. O que queria era achar algum jeito de esclarecer aquela história, mesmo sabendo que não iria gostar de saber.
", espero que seu maior sonho não seja ser atriz porque você é péssima em mentir. O tom de sua voz grita que não está tudo bem. Não vai me dizer o que houve?" Refleti sobre o como eu odiava ser tão óbvia até mesmo quando não queria.
"Ok. Não estou muito bem... eu acho. Mas não há nada que você possa fazer, caso esteja pensando em me ajudar." Minha resposta saiu mais áspera do que quis. Algo em meu estômago já estava revirando.
"Você nem me deu a chance de ouvir o que tem a dizer. Deixa de ser teimosa e me diga logo, sabe que não vou desistir até que me conte." E uma coisa que Eric sabia ser era insistente.
"É sobre alguém que você não gosta, logo, não irá ter interesse em ajudar."
", ok. Mas claramente isso não diz respeito somente a ele. Você quer fazer o favor de me dizer logo o que aconteceu? Ou o que aquele filho da puta fez?"
Não havia como omitir as coisas dele. Se eu tentasse mentir, forjar alguma situação, com certeza Éric iria saber. E se ele soubesse...bom, havia algum lado bom. Pensei que Eric, não gostando de iria querer saber o que ele tinha feito com Sidney se eu o pedisse para me ajudar. Sim, eu estava prestes a usa-lo porém era algo que precisava ser feito para acabar com a agonia que surgia em minha cabeça.
"Aconteceu algo no colégio mais cedo..." Comecei.
"E o que foi?"
"Fui saber de uma antiga namorada de o porquê do término deles e ela simplesmente..."
Pensei em como terminar a frase. "Ela...?" Eric perguntou do outro lado da linha.
"Ela ficou amedrontada. Disse que não tinha mais nado do que falar dele, que já tinha o perdoado e que se eu era a nova namorada dele, eu já sabia. Logo após, o professor entrou na sala e eu tive que sair."
"Estranho..."
Eric disse. "Ele deve ter feito algo de muito ruim para essa menina reagir dessa forma."
Disso eu já sabia mas aceitar tal fato estava sendo um tanto quanto difícil, porque... se ele fez com ela, talvez, comigo...
"Temos que saber mais a fundo sobre isso." Eric disse, interrompendo minha linha de raciocínio. "
"Eric, talvez fosse melhor..." Uma onda crescente de medo estava chegando em meu corpo, fazendo com que minhas pernas ficassem moles.
", o falou pra você o porquê do término?"
"N-não. Ele não quis falar muito sobre esse assunto."
"E por que você decidiu procurar por isso?"
"Porque ouvi uma conversa estranha dos amigos dele..."
Conforme ia falando, mais que a onda de medo invadindo aos poucos, um escudo foi se erguendo em minha cabeça. Já estava ciente de que agora, mais do que nunca, iria ter que ir a fundo nisso.
"Acho que agora você já consegue entender o porque de termos que saber mais. E se isso for te machucar..."
"N-não. Ele não pode..."
As palavras serviram mais para mim do que para responder a Eric.
"Vamos estar nessa juntos. Prometo." Minhas pernas mais bambas do que antes me fizeram ir ao braço do sofá para sentar. Meu coração já dava saltos de aflição.
"O-o que vamos fazer?" Perguntei.
"Primeiro, temos que tentar novamente falar com essa tal de Sidney. Vamos ver se conseguimos com que ela fale o que aconteceu. Amanhã, assim que sair, me encontre em frente ao colégio. Vamos procurá-la e tentar conversar, ok?"
"Ok."
"Então feito. Nos falamos amanhã. Beijos."
Eric desligando o telefone, fiquei ainda estática na mesma posição. Eu queria sim saber o que tinha acontecido, todavia meu coração dizia que boa coisa não vinha. Mas, uma vez já dado o primeiro passo, agora teria que seguir em frente. Criei coragem para levantar e fui para o quarto. A sensação de que a noite iria ser longa logo se abateu sobre mim.

-*-*-


As aulas passaram como um borrão. Em meu caderno estavam anotações que copiava do quadro mecanicamente. Não lembrava exatamente de nada do que havia escrito.
ficou ao meu lado desde que entrei na sala, posso me lembrar que de conversava comigo sobre o trabalho, festas, final de semana, de como a aula estava chata. Eu estava ligada no piloto automático. Lembro que o respondia, mas não estava propriamente atenta a conversa. A única coisa que preenchia o espaço da minha mente era o passado de . Sabia que tinha algo de ruim ali, mas uma força insistia em me convencer a parar com aquilo embora minha mente lutava a dizer que tinha que seguir em frente. Realmente estava em estado de choque.
"? Está me ouvindo?" Ouvi dizer.
"Oi. Estou." Respondi, piscando algumas vezes.
"Está estranha desde que chegou. Aconteceu alguma coisa?"
"N-não. Eu só estou... com sono." Enrolei uma resposta.
"A noite foi difícil?" Perguntou passando a mão em meu rosto. Senti meus pelos do pescoço se eriçarem. Seu toque me causava pequenos choques.
"E como foi..." Respondi.
"Ow, vem cá, pequena." Ele puxou minha cabeça para seu ombro. Automaticamente meus olhos se fecharam e respirei fundo seu perfume. Ele afagou minha cabeça e entrelaçou nossas mãos. A essa altura, o pouco de consciência que eu tinha já tinha ido pro espaço. Meu coração deu seus típicos pulos quando se aproximava de mim. A sensação de conformo se instalou dentro de mim e meus músculos relaxaram.
Não sei quanto tempo já tinha se passado quando ouvi o sinal tocar, anunciando o término da última aula do dia. O barulho de cadeiras se arrastando e vozes altas fez com que se afastasse de mim para pegar seu material. Foi sem aviso e fiquei quase que na mesma posição por segundos.
"Ow, você não está bem mesmo, né." Ouvi dizer já de pé com a mochila nas costas.
"Sono." Disse com um sorriso frouxo, me levantando para arrumar as coisas.
"Vamos, te levo pra casa para tirar um cochilo. Quem sabe não te faço um chocolate quente?" Falou dando um riso e estendendo a mão.
"Ok." Respondi, aceitando sua mão, que logo puxou para um abraço e fomos andando.
Do lado de fora do prédio já se instalava a multidão de alunos andando de um lado para outro ou parados em pequenos grupos. Assim que eu e colocamos os pés para fora, um grupo de garotos veio ao nosso encontro. Senti-me destacada do grupo, já que eles começaram a falar sobre futebol e outras coisas desnecessárias. Fiquei observando os outros indo embora quando avistei Eric encostado no carro no meio fio, do outro lado da rua.
"Puta merda." Rosnei alto.
"O quê?" me perguntou, e todos olhando para mim. Senti minhas bochechas queimarem.
"Ah, n-nada. É só que... esqueci que tinha que passar em um lugar antes de ir pra casa." Disfarcei.
"Já estamos terminando aqui." falou. "Já vamos."
"Agora você faz o que querem, ?" Um dos meninos falou, aos risos.
"Cala a boca." respondeu áspero.
"Ok, ok. Esqueci que temos que ficar calados." Olhei para o menino que ria. deu um suco em seu ombro.
"Ai! Ow!" Resmungou.
Fiquei observando por alguns segundos o garoto e os que estavam ao redor. A sensação ruim retornou.
"Não, ok . Fica. Eu devo demorar nesse... lugar. Além do que... do que... vou ter que ir ao centro também encontrar com minha mãe, então..."
"Hum. Tem certeza?" disse com uma das sobrancelhas arqueada.
"Tenho. Nos falamos depois." O dei um beijo rápido e saí em direção a rua.
Quando me afastei em uma distância significativa do colégio, peguei o celular para falar com Eric, mas assim que o peguei, senti uma mão em meu ombro. Quando me virei para ver quem era, dei de cara com Eric.
"Esqueceu que tinha marcado comigo?" Ele perguntou cruzando os braços.
"Desculpe. Hoje estou meio lerda." Falei passando a mão na testa.
"Percebi. E precisava do beijo na minha frente?"
"Descup-. Ei, eu não preciso me desculpar por isso. é meu namorado."
Eric fez mensão em falar, porém se manteve calado por um momento.
"Vem, vamos para dentro do meu carro. Paramos em frente ao colégio e vemos se a tal menina está pelo campus." Fomos andando em direção ao seu carro que estava na mesma calçada. Os vidros do carro de Eric eram fumês, logo não tinha perigo de me ver ali com ele.
Ficamos sentados alguns minutos esperando se a encontrávamos. Tinha falado para Eric como a Sidney era e assim ficamos. ficou no mesmo lugar com os meninos por mais alguns minutos também e depois foram se afastando, indo embora. Mais minutos se passaram e nada de vermos Sidney.
"Acho que ela foi embora ao meio tempo em que nos encontramos." Disse Eric.
"Não, foi pouco tempo. Além do mais, talvez ela tenha mais alguma aula. Fui burra de não ter olhado o quadro de aulas dela." Falei.
"Talvez seja melhor nós irmos lá e dar uma olhada."
"Talvez." Respondi.
Assim que saímos do carro e fomos andando em direção ao prédio escolar, Sidney passou pela porta principal com uma menina.
"É ela!" Falei.
"Vamos!" Começamos a andar mais rápido.
"Sidney!" A chamei, chegando mais perto da garota. Quando ela me viu, virou o rosto rapidamente e apertou o passo.
"Hey! Não, espere! Só quero conversar, por favor!" Gritei, já quase correndo em sua direção.
A garota não parava de jeito nenhum. Então eu e Eric corremos para alcança-la. Paramos em sua frente, não a deixando passar.
"Eu já disse que não tenho mais nada a falar." Ela disse em um tom abafado.
"Sidney, por favor, você tem que me ajudar." Falei, quase em súplica.
"Qual é o problema em me deixar em paz? Eu é que peço por favor." Tentou passar em minha frente, e suas amigas a acompanhavam não entendo a situação.
"O que esses dois querem?" Uma delas perguntou, fazendo careta.
"Sidney, escuta!" Eric a pegou pelo braço, fazendo-a parar imediatamente. Ela o olhou com lágrimas nos olhos já. "Olha, por favor, você tem que ajudar . Ela está sofrendo muito também por causa do !"
Logo ela parou de tentar se desvencilhar de seu braço. Me olhou com seus olhos avermelhados.
"Por favor. Me ajuda." Falei, concordando com o que Eric havia dito. Mesmo não tendo entendido.
"Ele j-já fez com você também?" Me perguntou ela. "Ele já pecou com você?"
A olhei estreitando a boca em resposta.
"Já... acho."
"Ele é um idiota, Sidney. Já descobrimos que ele está aprontando." Eric disse, já soltando o braço da menina. "Só precisamos que nos diga o porquê vocês terminaram. Assim vamos saber o que ele realmente está planejando."
Fitei Eric. Se ele estava blefando, estava fazendo isso muito bem, pois a pobre menina mudou de ideia sobre correr de nós.
"E-eu... não quero que aconteça aquilo com mais garotas..." Começou.
"Sid. Tem certeza que quer falar sobre isso novamente?" Uma das meninas falou.
"Se for pra ajudar. Além que... quem é que já não sabe?" Falou, com já lágrimas percorrendo suas maçãs do rosto.
"Por favor." Eric pediu. Ela nos olhou brevemente. Passou a mão no rosto, livrando-se do resto das lágrimas. Olhou para a amiga que lhe lançou um olhar compreensivo.
"Ok... se for para ajudar, irei falar pela última vez o que se passou entre mim e , e que todos já sabem, e é muito estranho vocês não saberem."
Eric olhou para mim com um meio sorriso.
"Vamos para um café, para você nos contar melhor." Ele disse. E assim, fomos todos andando em direção ao seu carro. Um bolo se formou em meu estomago. Não estava acreditando que aquilo era verdade mesmo. Sidney iria nos contar o outro lado de . Mas na verdade, o que realmente estava me matando era pensar em como eu reagiria depois da conversa. Uma quase certeza surgiu, sabendo que talvez, eu e estaríamos longe de ficar juntos de verdade.

-*-*-


Sentamos em uma mesa afastada da vitrine da pequena loja que tinha a alguns metros do colégio. Pedimos café e copos de suco. Quando recebemos nossos pedidos, beberiquei meu café, porém desceu muito mal. A ansiedade estava borbulhando em meu sangue, meus dedos tamborilando na mesa. Eric me olhava de lado, estávamos apenas esperando que Sidney começasse.
"Então..." Eric disse. Sidney suspirou fundo, ainda segurando o copo intocável de suco.
"Me dói lembrar de cada cena, de cada... palavra." Mais lágrimas surgiam em seu rosto, mesmo ela tentando impedi-las. "Porém..."
Eric olhou para ela, encorajando-a.
"Há um ano, entrei para o Myres Park Hight School. Comecei como todos, sem ser conhecida. A turma era bem grande, logo, todos iniciaram amizades. Sempre fui introvertida, o que me impediu de fazer tantas amizades quanto os outros, mas isso já não me incomodava mais. . Ele não começou já sendo tão popular como ele é hoje em dia. Ele era um cara normal, porém, as garotas já o notavam por sua aparência, inclusive, eu."
Ela o olhou para sua amiga que a olhava, parecendo ler sua mente, com um olhar acolhedor. Suas mãos se cruzaram e ela prosseguiu. "No início, o notava apenas por isso, mas, lembro-me que depois de alguns meses de aula, ele já andava com os garotos um pouco mais conhecidos, mas ainda sim não era O . Eu continuava na minha, estudando, não sendo notada por ninguém, aliás, era notada sim. Era a piada da sala, justamente por me vestir desse jeito." Ela fez menção ao longo vestido marrom claro, de alças largas, que vestia.
"Então... Lembro-me de um dia em que estava no intervalo da aula de química, estava sentada na grande árvore do campus, quando senti alguém atrás de mim. Quando olhei para trás, estava recostado no tronco. Pensei que estivesse ali por acaso, mas ele começou a puxar assuntos sobre como era ser novo no colégio, que ele não era de Myres Park, era de um lugar mais longe, estava tentando se adaptar. Estranhei de início, mas como não o conhecia, achei que não havia problema algum. Então... fomos aos falando. Inicialmente, fomos apenas falando nos intervalos, mas depois... ele foi se aproximando mais; Fazíamos aulas juntos, comíamos juntos, ele me levava em casa... ficou tão próximo a mim que... surgia em meus sonhos."
Dos meus dedos escorriam litros de suor. Meu coração estava pulando de bang jump. Minha garganta estava seca, porém estava trancada onde mal o ar passava para meus pulmões.
"Nós dois saímos final de semana, íamos ao cinema. Logo após, ele começou a ir a minha casa, fazer chocolate para mim... Enfim. e eu estávamos tão próximos que já não fazíamos nada separados. Estava tudo parecendo um sonho, mas aí... ele quis mais que ficar junto a mim. Quando estávamos sozinhos em casa, ele esquentava mais as coisas entre nós. Eu dizia que não queria, porque não era certo, mas insistia, dizia que não havia nada de errado se nós dois nos gostássemos. Não achava aquilo certo... Uma noite, meus pais tinham ido a uma festa na igreja e eu estava sozinha em casa. apareceu do nada. Não tinha como recusar ficar com ele. Fomos para meu quarto e ficamos ouvindo música deitados, daí nos beijamos... Eu ainda sabia que era errado, mas eu amava o . E... bom... dizia o mesmo. Então..." Sidney parou de falar e uma torrente de lágrimas invadiram seu rosto. A amiga a abraçou, fazendo com que seus soluços fossem abafados. Involuntariamente, pus minha mão sobre seu ombro. Lágrimas caíram de meus olhos também. Sem que ela precisasse terminar, já sabia o que tinha ocorrido depois.
"Eu sei que é doloroso dizer isso... novamente, Sid. Mas... você pode terminar?" Olhei para Eric o fuzilando com os olhos.
"Eric!" Disse.
"Tudo... tudo bem, . S-se eu comecei... vou terminar. Tem mais." Sidney disse, limpando o rosto. Olhei para ela e concordei.
"Como vocês já podem imaginar... minha primeira vez foi com o . Aquela noite foi inesquecível... ainda é. Logo depois, pensei que nosso relacionamento iria ficar melhor, pensei que ele iria me assumir. E... foi isso que ele fez. Assumiu." De repente, seu tom de voz passou de melancólico para áspero. Sua feição mudou, seu rosto era uma mistura de angústia e ódio. "Ele assumiu para todos no colégio... assumiu para todos que tirou minha virgindade."
No momento, senti como se o mundo parasse de rodar. Minhas mãos suavam muito mais que antes, meu coração bombeava muito mais sangue para minhas veias e artérias, que faziam com que eu sentisse todos meus batimentos em todos os lugares do corpo. Minha garganta e boca parecia um deserto, diferente de meus olhos, que transbordavam todo o líquido retido no meu organismo.
"! você está bem?" Eric me segurou assim que viu meu estado.
"Ele... ele..." As palavras não saiam de minha boca.
" contou a todos sobre nossa noite, e isso fez com que eu virasse a mais bela piada e coitada do colégio. Não sendo o bastante, descobri que ele apenas fez aquilo por uma aposta. Aposta que conseguiria passar uma noite com a novata. Os populares impuseram essa aposta para para ele conseguir status, e ele não recusou. não era nada do que tinha me mostrado, ele era, ele é um monstro, sem sentimentos. , por que você está com ele?”
“Dali por diante, começou a ser o que realmente era. Prepotente, orgulhoso, mesquinho... sem escrúpulos." Sidney jogava as palavras doloridas no ar. Meus ouvidos captavam, mas não conseguia entender o real sentido delas.
"Não..." Saiu de minha boca. "Ele não é assim." Olhei fixamente para Sidney, não acreditando naquela história. Não querendo acreditar. Uma cratera se abriu sob meus pés. "Não! errou, mas agora... está diferente! Eu sei que está! Ele... ele... mudou." Minha voz estava alterada, mais alta.
", olha pra mim. é um filho da puta! Você não pode continuar com ele!" Eric agora me segurava pelos braços.
"Por que não posso continuar com ele? Ele não está-"
"Sim, , ele está fazendo o mesmo com você!" Eric dizia olhando em meus olhos.
"Você não pode comprovar!" Falei.
"É só comparar os fatos." Sidney pronunciou. "Você não é popular. Ele não começou a se aproximar de você por acaso, não foi?" Seus olhos estavam rígidos.
"Ele..." Uma enxurrada de lembranças inundou meus pensamentos. Quando tudo começou. "Nossa parceria não foi forjada! A professora mesmo que me escolheu para ajuda-lo..." Ao longo dessa frase, mais imagens surgiam, aí... algumas coisas fizeram sentido. não gostava de ir na minha casa para fazer o trabalho porém depois de um tempo ele ficou mais próximo, ficava mais carinhoso... Eu fazia algumas partes para ele, ficamos juntos... transamos.
"Ele não pode..." Minha voz saiu mais como um sussurro.
"É bom ele não estar mesmo fazendo nada com você, porque se estiver, eu vou descobrir." Eric disse. ", vamos procurar isso. Vamos ver se ele está mesmo te enganando ou sei lá o que." Ele dizia, me olhando nos olhos, que já estavam queimando.
", é melhor você procurar as reais intenções do . Eu não fui a única 'vítima' dele. Procure por Ellen e Leah do terceiro ano B, Taylor do segundo ano A, elas iram confirmar a mesma história. Elas são conhecidas por todo colégio por causa de , a história não está esquecida, apenas adormecida porque eles estão esperando a próxima de . E você é a próxima." Sidney revelou. Minha cabeça rodopiava, já não conseguia mais distinguir minhas emoções.
Aquilo só podia ser mentira.


CONTINUA



Comentários antigos




comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.