'E desde quando você se foi, me pego pensando em nós dois'
Cada dia que se passava, a dor diminuia. A banda me distraia, levando para longe dos meus pensamentos.
Segui o conselho de meus amigos para seguir meu rumo, sabendo que ela jamais voltaria depois da carta que deixou. E, claro, ela não fazia ideia de onde eu morava.
Continuamos a morar no mesmo lugar. Dividiamos as contas de casa, até eu conhecer em um pub. Por um tempo, achei que eu estivesse apaixonado, mas aquela que eu conheci há seis meses ainda não tinha saído do meu pensamento. Mas, mesmo assim, eu convidei minha nova namorada para morar lá em casa, transformando-se numa espécie de república - mas ninguém estudava naquele lugar. ajudava a pagar as contas também, já que ela trabalhava e era independente.
Mas de uns meses para cá, eu sentia um calor esquisito, um pressentimento bom, mas ruim ao mesmo tempo. Uma felicidade triste e estranha tomava conta de meu corpo, fazendo-me ficar em alerta em relação a tudo.
______________________________________ 6 meses depois...
As frestas da cortina aberta deixavam passar um pouco da luz do sol, fazendo-me acordar. Era um sábado de manhã e eu sentia meu corpo molenga, sem a mínima vontade de levantar. Mas caso eu não o fizesse, eu tenho certeza de que me acordaria à força e me tiraria da cama de forma brutal - sem se importar com dormindo ao meu lado -, já que era dia de ensaio.
Espreguicei-me e levantei sem vontade, calçando meus chinelos e bagunçando os cabelos, como eu fazia toda manhã. Desci as escadas, indo em direção à cozinha. O cheiro de omelete atiçou minha fome.
- E ai, galera - saudei aos caras com a voz embargada, indo direto à geladeira. Cada um respondeu de uma forma, menos o , que estava concentrado na sua revista feminina. Ele soltou um simples 'hm', sem nem tirar os olhos de onde estavam. Peguei um jarro de suco e levei para mesa.
- Dudes, tive uma mega ideia para a música nova! - dizia enquanto eu sentava ao seu lado na bancada. Olhei-o, colocando um pouco de bebida em meu copo.
- Você? Tendo ideias? - suspendeu a sobrancelha, dando uma mordida em sua omelete em seguida. rolou os olhos e continuou:
- No estúdio eu mostro a vocês! Acho que a gente podia contar até com o James para continuar... - os olhos do cara ao meu lado brilhavam, enquanto ainda estava desacreditado.
- Em falar em estúdio, - finalmente deu o ar da graça - você acordou bem atrasadinho hoje... - ele me olhava em reprovação. Eu me limitei a mostrar minha melhor cara de poucos amigos, dando um último gole do suco e roubando o omelete de . Ele reclamou, é claro:
- Por que não fez um pra você?! - ele fechou a cara, enquanto eu soltava uma risada baixa.
- Preguiça... - disse, após enfiar tudo na boca. Os caras fizeram cara de nojo, levantando com um monte de palavras sujas na boca. Levantei também e os segui, sabendo que iriam para o estúdio. Mas a campanhia tocando me fez mudar o rumo. - Eu encontro com vocês, vou ver quem é - disse-lhes, vendo-os sumir pelo corredor.
A campanhia tocou mais uma vez e eu fui breve em atender, sabendo que detestava quando a acordavam de manhã.
Mesmo estranhando uma visita a essa hora, eu abri a porta. E eu não fazia ideia de qual era minha cara naquele momento. Eu também não saberia definir quais meus sentimentos, mas meu coração batia rápido, e muito rápido.
estava ali, bem na minha frente, encarando-me com os olhos brilhantes de sempre, com as mãos na frente do corpo e visivelmente tímida. Só quando seus olhos foram descendo por meu corpo e sua sobrancelha suspendendo sutilmente, eu percebi que estava sem camisa, com os cabelos bagunçados e usando meias, com uma provável cara de sono. Quando eu dei por mim, eu estava sussurrando:
- ... ?! - eu pisquei os olhos algumas vezes, a fim de saber se era real. Minhas mãos e minha nuca suavam.
- Oi... - ela sussurrou também, dando um sorriso discreto e voltando seu olhar aos meus olhos.
- Como... Por que... O que... - eu tinha tantas perguntas a fazer, que eu não tinha ideia por qual começar. Que tal convidá-la para entrar, besta? - En-entra... - disse, quase inaudível. E eu não acredito que eu gaguejei. Ela assentiu, entrando com timidez. Cocei a nuca, eu não sabia o que fazer, eu apenas a encarava após fechar a porta.
- Que tal sentarmos? - ela apontou para o sofá próximo a entrada, reparando na minha expressão confusa. Concordei com um aceno de cabeça e me virei, indo em direção ao sofá, sentindo seu olhar em minhas costas. Tirei todas as almofadas de lá e sentei, fazendo um gesto para que ela fizesse o mesmo. E assim ela fez, sorrindo como agradecimento. - Então, - ela suspirou, desviando o olhar do meu, que permanecia nela - eu sei que você deve estar estranhando minha presença, e eu pensei muito, mas muito antes de vir aqui... - ela entortou os lábios, parecia escolher palavras. Mas me vi a interrompendo.
- Por que fez isso comigo? - ela me olhou, piscando os olhos algumas vezes. Eu não sei o que a sua expressão significava, mas logo eu entendi.
- Eu deveria te perguntar a mesma coisa... - sua voz saiu tão baixa que não consegui entender se tinha raiva ou não contida nela. não conseguia manter os olhos em mim. - Mas não vou. Eu só vim porque eu... Bom, como eu disse, eu pensei bastante, e acho que você deveria saber que... - entortou os lábios novamente, voltando a me olhar nos olhos - Eu... Fiquei grávida.
Só então eu notei suas feições corporais: seu busto havia aumentado e sua barriga estava maior - apesar de ela estar usando um vestido largo.
- Então é isso? - ela me olhou com rapidez, enquanto o sangue subia por minha cabeça aos poucos. - Já tenho até uma hipótese: aposto que você terminou com o Brandon, e como não tinha condições de sustentar a criança, você veio me procurar e...
- Perai, perai! - ela estendeu a palma da mão na minha cara. Seu semblante me mostrava incredulabilidade. - Você está louco? - suas sobracelhas se formaram uma só, franzindo a testa. Ela se levantou. - Olha pra mim, ! - e deu uma volta. - Eu to parecendo gestante de dois, três meses? - ela ia aumentando o tom de voz aos poucos. Não tive reação, afinal, eu não tinha ideia do tamanho da barriga de uma mulher grávida. Ao perceber que eu não responderia, ela continuou: - Estou grávida de seis meses, - e finalizou com a voz calma, sentando-se novamente.
Eu fiz as contas, e puts! A informação demorou a digerir, parecia que minha cabeça girava. Eu esqueci até que poderia aparecer a qualquer momento, e se ela escutasse o que acabou de dizer, te dou a certeza de que não iria dar certo.
- Mas vou deixar bem claro uma coisa... - ela me tirou do transe, ainda com a voz calma. - Na verdade, duas: eu não vim porque eu não tenho condições de cuidar de uma criança. Eu tenho, e mesmo se eu não tivesse, eu daria meu jeito, mesmo sendo mãe solteira. E segundo, você querendo ou não assumir ou aceitar essa criança, você é o pai... - ela abaixou os olhos, mas pude perceber o quanto eles brilhavam.
- C-como você sabe que ele é meu? - minha voz saiu tão baixa que achei que ela não tivesse escutado. Ela me olhou com descrença.
- Como tem coragem de me perguntar isso? - e novamente ela franzia o cenho. - , seis meses atrás eu estava com você! - suas palavras saiam num sussurro desesperado.
- Só fizemos sexo oral! - as palavras simplesmente saiam, sem meu controle. Parecia que lá no fundo, eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo.
- Não da primeira vez - mordeu o lábio, esperando minha reação. Mas dessa vez fiquei sem resposta, lembrando-me da primeira vez.
Flashback
Quando estávamos no corredor, de frente a uma porta branca, ela se aproximou e voltou a colar seus lábios aos meus, soltando a gola da minha camisa e suas mãos voltaram a tomar o caminho de meus cabelos. O beijo estava se intensificando, novamente, e eu a abracei, com as mãos em torno de seu corpo, sem cessar o beijo, claro. Ela arranhou levemente os meus cabelos e os puxava, fazendo um movimento vai e vem lentamente. Ela fez um movimento brusco, fazendo-me querer soltá-la, mas ela não quis soltar meus lábios e com uma das mãos que soltou meu cabelo, ela abriu a porta e me puxou para dentro do cômodo, que quando abri os olhos, notei que era seu próprio quarto.
Com muita vontade visível, ela me puxou pela nuca até sua cama espaçosa e se jogou sobre ela, levando-me junto. Pude senti-la sorrir enquanto suas mãos percorriam minhas costas, suspendendo minha blusa lentamente. Eu me surpreendi um pouco, que menina rápida!
Cessei o beijo pra tirar logo minha camisa e olhei para ela, que estava ofegante, com um sorriso nos lábios. Voltei a beijá-la, ainda por cima, e minhas mãos tomaram o caminho da bainha de sua blusa, que suspendi. E novamente cortamos o beijo.
- Uau! - eu sorri ao ver seu biquíni vermelho com detalhes azuis, lembrando a bandeira da Inglaterra. Ela riu fraco e eu rolei meus olhos do seu biquíni parando no cós de seu short jeans, bem curto, por sinal. Olhei pra ela e ela assentiu ainda com um sorriso nos lábios.
Em questão de segundos, ela estava sem short e sem a parte de cima do biquíni. Eu beijei seu pescoço, fazendo-a gemer e suspirar em meu ouvido, deixando-me mais excitado. Desci meus beijos lentamente até chegar em seus seios, onde beijei enquanto ela fazia cafuné em minha cabeça, gemendo e arfando.
Desci meus beijos pela sua barriga, que contorceu um pouco e, quando cheguei na parte de baixo, novamente, olhei para ela. sorriu com a respiração falha.
Tirei a parte de baixo de seu biquíni e senti meu pênis latejar ao abrir suas pernas. Inclinei-me até ficar de frente a sua intimidade e ela gemeu - bem alto, por sinal - quando toquei minha língua em sua vagina. Ela revirou os olhos quando eu a penetrei com a língua, chupava e sugava sua intimidade. Ela gemia alto e mordia o lábio inferior enquanto eu a masturbava, alternando a velocidade da língua. Quando mais rápido, ela mordia o lábio; quando mais lento, ela gemia alto.
Coloquei um dedo nela e ela gritou de prazer, contorcendo-se sobre a cama. Enquanto eu estocava rapidamente meus dedos, eu beijava seus seios, o que a fez gemer mais alto e voltar a fazer cafuné em meus cabelos.
Tirei o dedo e a masturbei com as mãos, dando-lhe um beijo suave, causando suspiros quando toquei em seus lábios. Aumentei a velocidade de meus dedos, fazendo-a se contorcer mais sobre a cama, obrigando-me a cessar o beijo.
Eu a via se contorcer cada vez mais sobre a cama de olhos fechados, gemendo alto e mordendo o lábio, deixando-me cada vez mais excitado. Ela agarrou com força o lençol da cama quando eu a senti gozar. Ela me puxou pela nuca, relaxando levemente e me dando um beijo longo.
Ainda com os lábios nos meus, ela se pôs em cima de mim. Ela sentou - cortando o beijo - sobre meu pênis, mesmo por cima de minha bermuda, e rebolou sobre ele, dando um sorriso tarado quando sentiu meu pênis enrijecido.
Sorri também e, sem cerimônias, ela arrancou minhas calças e levou junto minha cueca. Relaxei a cabeça pra trás fechando os olhos e gemendo ao senti-la tocar meu membro. Ela o abocanhou com o mesmo sorriso tarado e fazia movimentos rápidos. Ou meu pênis é pequeno, ou ela tem a boca grande, porque cara, ela colocava meu membro todo dentro da boca, e isso me deixava mais excitado.
Coloquei a mão na testa, louco de tesão, e gemia cada vez que ela lambia a cabeça de meu pênis. Ela começou a me masturbar com as mãos enquanto me encarava firmemente alargando seu sorriso a cada suspiro que eu dava. Quando avisei que eu ia gozar, ela parou de me masturbar e veio de encontro aos meus lábios. Ela estava deitada ao meu lado com os lábios aos meus, mas sua intimidade não tocava a cama, então eu coloquei a mão em seu órgão e ela gemeu abafado. Eu voltei a mexer meus dedos ali e ela se sentou rapidamente em meu membro, cortando o beijo em seguida.
Eu fiquei surpreso quando ela mesma enfiou meu pênis em sua intimidade, inclinando-se para trás e apoiando as mãos em minhas pernas. Sentindo meu pênis dentro dela, ela fechou os olhos, gemendo alto de prazer. Ela se inclinou pra frente e alisou meu abdômen, enquanto eu estocava com mais velocidade meu pênis em sua vagina. Ela beijava meu peito e lambia o mesmo, fazendo-me suspirar e gemer junto a ela.
Quando estávamos prestes a gozar, ela tirou rapidamente meu pênis de dentro dela, mas eu acho que eu já havia gozado. Mas ela não.
Ela sorriu maliciosa e deitou ao meu lado, enquanto eu fechei os olhos, sentindo o êxtase que o orgasmo me proporcionava. Coloquei uma mão em sua vagina novamente, masturbando-a rapidamente. Eu só a ouvia arfar ao meu lado, pois eu ainda estava de olhos fechados. Quando senti que ela gozou, eu diminui a velocidade de meus dedos até pararem totalmente e eu a senti se calar.
Ficamos alguns minutos arfando sobre a cama, sem dizer nada.
Fim do Flashback
Após esse filme todo ter passado por minha mente, eu lembrei que ela ainda estava ali, provavelmente esperando que eu dissesse alguma coisa.
- Pode... Ficar tranquila, porque eu vou assumir essa criança, eu só... - engoli em seco só de pensar - Preciso falar com a .
- Quem? - sua expressão era confusa. Não sei se ela não entendeu o nome, ou se ela queria saber quem era essa.
- , minha namorada - repeti, mas com o tom de voz baixo.
- Ah, claro... Fique à vontade, faça como quiser - ela sorriu, mas era visível que era forçado. - Então eu vou indo - ela ia se levantando, mas eu fui mais rápido e peguei em seu braço, fazendo-a olhar para mim.
- Eu posso falar tudo o que eu sinto agora? - ela relaxou o braço, fazendo-me soltá-la.
- , isso não vai lev...
- Você não me deixou falar há seis meses... Eu preciso falar! - levantei também, olhando-a nos olhos. Ela cruzou os braços, assentindo. Senti minhas bochechas corarem, coisa que eu não sentia faz tempo. - Tudo bem, olha... Sei que tudo que aconteceu há meses atrás, parte foi... A coisa mais incrível, e parte foi a atitude mais estúpida que já tomei - ela me olhava atenta, nem piscava. - Eu já te falei, mas não sei se você me escutou: você fez parte da aposta sim, mas não por completo. Desde o momento que eu te vi, eu queria tocar em você, eu queria te beijar, eu queria sentir você. Mas... Achei que depois que... Depois de duas horas que nos encontramos, nunca mais nós iríamos nos ver, e então passei a pensar em você a cada segundo da viagem que fiz para casa – ela ainda me encarava, imóvel, e eu não sabia ao certo se ela estava me ouvindo, parecia tão distante. – E então eu encalhei e não beijei menina alguma, e meus amigos decidiram fazer uma aposta que seria beijar as cinco meninas que eu encontraria. E você foi a última delas - finalizei e ela demorou um pouco para dar sinal de que tinha me escutado.
- E você não podia desistir dessa aposta? - perguntou, após pensar e suspirar.
- Eu não desistiria, sabendo que eu tinha a oportunidade de realizar o que eu desejava – sussurrei, sendo sincero. Ela descruzou os braços, desviando o olhar.
- E... Por que... Por que eu precisei ver aquela cena na boate? - sussurrou, ainda sem me olhar nos olhos. Engoliu a seco.
- Aquela garota era sexy igual a você, ela me surpreendia como você, ela me provocava do mesmo jeito que você, mas... Ela não era você – mordi o lábio, receando a reação dela. Eu não estava mentindo, mas a garota a minha frente era imprevisível. fechou os olhos. - Por favor... Me perdoa – comecei, finalmente tocando-a pela primeira vez depois de tempos sem fazê–lo. Passei a não por seu cabelo, próximo à orelha, fazendo um vai e vem com as mãos. – Eu não quis magoar você, nunca foi minha intenção. Eu sempre quis seu bem, então... Eu escondi isso de você. Mas, eu... Eu acho que... Ainda te amo – sussurrei e ela abriu os olhos rapidamente. Mordi o lábio, falei merda? – Me desculpa – tirei rapidamente minha mão de seus cabelos e passei a fitar o tapete bege abaixo de nossos pés.
- Tudo bem - ela deu de ombros. - Me... Perdoa por... Te abandonar – sua voz saiu embargada e vagarosamente olhou pra mim, fazendo-me olhá-la também. Eu sorri, aquilo era a melhor coisa que eu podia ouvir dela. Como impulso interno, aproximei-me lentamente dela e ela fechou os olhos, fazendo-me fechar os meus.
- ÔH ! – ouvi alguém berrar e me afastei dela rapidamente, caindo na real.
- JÁ VOU, ! – meu Deus, eu estava prestes a “cornar” a !
Passei a mão pelo rosto, confuso, e pude ouvir a risada gostosa dela bem baixo, fazendo-me olhá-la rapidamente.
– Não me provoca mais – sussurrei, antes de dar um beijo em sua testa. - Vem – eu a puxei pelo braço, ouvindo-a resmungar:
- Pra onde está me levando?
- Cara, você ainda não trocou de... – perdeu a fala ao ver sair por detrás de mim. Estavam todos no estúdio. Os outros dois ficaram boquiabertos, largando as baquetas no chão.
- Ér... Oi... - ela acenou timidamente, voltando seu olhar para o chão. Suas bochechas coravam.
- Dude, o que... Ela... Como ela... Descobriu... Nossa casa?! – estava incrédulo, ainda a fitando. Eu não tinha pensado nisso. Me virei para ela.
- Boa pergunta - ela me olhou, ainda envergonhada. - Como você descobriu nossa casa? - cruzei os braços, realmente curioso.
- Bom, você tem o seu endereço e o endereço da sua mãe no seu celular... - ela disse simplesmente e era notável que ela segurava o riso. - Emergência, sabe como é... - ela embalançava as mãos no ar, eu já havia escutado isso antes. Sorri de lado e me virei para os caras, que a encaravam com cara de paisagem:
- Como você queria que fosse... Esse é , o que está no sofá é o e o de boné é o - apresentei, coçando a nuca e sentindo o olhar dela em mim.
- ! – ouvi uma voz fina me berrar do andar de cima e lembrei que estava em casa. Mas, poxa, ela já acordou?
- JÁ VOU! – gritei, e pude ouvir os gemidos e reclamações dos meus amigos.
- Eu já vou... – ouvi a voz dela e me virei. Ela já ia saindo, acenando para meus amigos mesmo de costas. – Tchau – olhei para eles e estes fizeram sinal para que eu fosse atrás dela.
- Ei, ei! Espera! – fui andando rápido atrás, tentando alcançá-la.
- Sim? – se virou para mim, sem parar de caminhar para entrada da casa.
- Onde você mora? - perguntei, acompanhando-a, sem tirar meus olhos dela.
- Umas três quadras daqui. Por quê? - e ela parou diante da porta, cruzando as mãos na frente do corpo.
- Como conseguiu isso? – arregalei meus olhos. Colocando a mão na maçaneta e abrindo a porta, querendo mais que tudo que ela ficasse.
- Tenho meus contatos – piscou antes de se virar para a porta. Continuei a encarando com cara de nada.
- Depois eu quero falar com você, hum, sobre uma coisa – avisei enquanto ela passava pela porta.
- Tudo bem, agora eu preciso ir - acenou com um sorriso. - Até mais.
- Espera! – sussurrei e ela se virou, rolando os olhos.
- ! – a voz fina me berrou de novo e eu ri fraco.
- Não esquece que... Eu acho que ainda te amo – falei, um pouco mais baixo. Ela sorriu, balançando a cabeça negativamente, e me deu as costas.
'Sei que eu fui muito rápido, você chegou hoje e eu nem tive tempo de pensar sobre isso, mas esse sou eu, gosto de agir por impulso sem pensar nas consequencias (...).'
- ! - exclamou com sua voz fina insuportável de raiva quando me viu adentrar o banheiro. Ela segurava minha cueca na ponta dos dedos. - Quantas vezes eu vou precisar te falar que eu não quero cuecas espalhadas por aqui?! - ela balançava o que tinha nas mãos, enquanto eu tinha os braços cruzados. Eu sabia que eu tinha uma expressão de desdém. - É nojento, é falta de higiene! - ela jogou aquele treco em cima de mim, fazendo-me descruzar os braços e me encolher. - Coloca direto na caixa! - ela ralhou, por fim, passando por mim e dando o fora do banheiro. Peguei minha cueca e fiz o que ela falou, resmungando para mim mesmo:
- Bom dia para você também, amor - rolei os olhos, indo em direção ao meu quarto em seguida.
Fazia um frio condenado naquela manhã, mas ela insistia em deixar as cortinas e janelas abertas 'para entrar fluídos bons', de acordo com ela. Mas, para mim, aquilo estava mais para 'entrar início de pneumonia'. Fui em direção a janela e a fechei, sentindo um alívio por não mais ter de sentir aquele vento frio bater em meu peito. Sentei em minha cama, tirando as meias em seguida e trocando de roupa. Os caras surtariam se eu não voltasse já para o estúdio. Mas gritou novamente, fazendo-me bufar enquanto colocava minha camisa.
- O que ela quer, agora? - me perguntei, relaxando a cabeça para trás e saindo quarto afora, ouvindo-a me chamar de novo. Fui em direção às escadas, já que sua voz vinha do andar de baixo, e no caminho para a cozinha, encontrei subindo as escadas.
- Manda sua mulher parar de gritar, porque não existe ouvido que ature - ele continuou a subir, fazendo-me rir fraco da sua reclamação.
Fui rápido à cozinha, evitando que ela gritasse novamente e lá estava ela, abrindo os armários feito esfomeada.
- O que é, ? - parei no batente, cruzando os braços e esperando a próxima bronca. Ela se virou para mim, colocando as mãos na cintura.
- Você não fez compras, não? - franziu a testa, irritada.
- É hoje o dia fazer compras, não?! - eu continuava imóvel, enquanto ela bufava alto.
- E o que você está esperando para ir logo? - ela se virou para pia e meus olhos desceram por suas costas. Que corpo. Se controla.
- Se você me deixar trocar de roupa - respondi baixo, dando às costas para a cozinha, mas ela me chamou novamente.
- Escuta aqui... - virei-me, rolando os olhos. Ela me encarava.
- Quem foi que tocou a campanhia? Me acordou! - reclamou com gestos exagerados. Dei as costas, mas respondi.
- Depois a gente fala sobre isso - e continuei andando para a saída, ouvindo-a dizer, histérica:
- EU NÃO TERMINEI DE FALAR, ! VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO?! – a cada palavra, a voz dela era mais distante.
Passei pela mesa no hall de entrada e peguei minhas chaves, indo em direção a garagem em seguida.
Sai com o carro, preparando-me psicologicamente para ir ao supermercado. Eu odiava, mas essa tarefa sobrou para mim. Esqueci completamente do ensaio, e antes que me ligasse para me xingar, eu liguei, avisando que precisei sair para as compras, já que eu havia esquecido que o dia era hoje.
Foi um inferno para achar uma vaga e encontrar um carrinho. Mas, quando achei, entrei direto no mercado, já que estava louco para ir embora, apesar de ter acabado de entrar. Mas bati com a mão na testa quando pus a mão no bolso e lembrei que havia esquecido a lista de compras em casa. Eu não acredito que vim à toa!
Estava tão distraido com meus pensamentos, dando a volta com o carrinho em direção a saída, que acabei esbarrando no carrinho de outra mulher.
Meus olhos brilhavam, era ela novamente.
- Me desculpa! - disse-lhe, e ela me deu um sorriso.
- Não, tudo bem... Imagino que esteja louco para sair daqui - disse num tom risonho.
- Estou, mas preciso voltar em casa - entortei os lábios em tédio, e ela sussurrou um 'por que?'. - Esqueci a lista de compras em casa - ela riu baixo, ajeitando seu carrinho na mesma direção do meu.
- Relaxa. Compra o que você está acostumado a comprar só para não perder a viagem - ela sorriu de lado. Até que não era má ideia. - Vamos, eu te ajudo - e ela empurrou seu carrinho, fazendo-me empurrar o meu.
Os gestos simples que ela fazia ao escolher as coisas, faziam com que eu quisesse fitá-la o tempo todo. Eu sentia um sentimento impossível de definir, mas era semelhante a desejo. Eu tinha meus pensamentos completamente fixados nela, que por um bom tempo eu esqueci que eu tinha uma namorada, que me esperava em casa com as compras.
Quando terminamos nossas compras, fomos em direção do caixa.
- Ela não vai brigar com você pela quantidade de bebidas, não? - quis saber, dando uma olhada em meu carrinho enquanto aguardávamos nossa vez na fila do caixa.
- Ela... Quem? - perguntei confuso.
- Sua namorada, esposa, sei lá - ela deu de ombros, virando-se para pegar uma revista que estava pendurada próximo a nós.
- Ela sabe que sou movido a álcool - ela tirou seus olhos da revista para me olhar com cara de poucos amigos. Sorri amarelo.
Aquele silêncio ficou no ar e eu pensei em colocar meu plano em prática. Acho que este era o momento certo. Eu a chamei num sussurro, mas ela me olhou.
- Então... O que... Sei lá, o que... Você acha de morar... Comigo? - sorri amarelo novamente, entortando os lábios. Eu esperava qualquer reação dela, menos a que ela teve: riu. Suspendi a sobracelha, sem entender.
- , você está louco?! - ela ainda ria bem baixo, mas aquela risada não me fazia rir. Só me deixava mais confuso.
- Não, eu só...
- E sua mulher? - ela balançava a cabeça negativamente, me reprovando com o olhar.
- Bom, eu pretendo terminar com ela - eu disse, sincero, sem ao menos ter pensado realmente em terminar com .
- É o quê?! - seu tom risonho sumiu completamente, dando lugar a um semblante assustado e confuso. - , não é possível... Como assim?
- Achei que... - eu comecei, mas quando vi seu olhar incrédulo, eu desisti. - Esqueça - achei que, no mínimo, ela fosse ficar feliz.
- Agora fala - ela pediu cruzando os braços, olhando-me desafiadora.
- Eu só achei que você pudesse me dar uma chance - as palavras saiam sem minha permissão. Ela abaixou os olhos, eu não conseguia entender sua expressão. Ela colocou a revista no lugar e aquele silêncio estava me torturando.
Passado alguns minutos, não ousei dizer mais nada. Ela fez um barulho estranho com a boca, descruzou os braços e me olhou após morder o canto do lábio:
- Eu posso pensar? - quis saber, e eu assenti, ouvindo o barulho do caixa apitar. Era a nossa vez.
- Primeiro as caixas, depois os frios, ! - ela instruia enquanto eu enfiava tudo de qualquer maneira na mala do meu carro.
- Agora já foi - falei com desdém, fechando a mala enquanto ouvia seu riso baixo. - Obrigado - sorri para ela, que retribuiu da mesma forma. Voltei meu olhar ao seu carrinho: só havia cereais. - Só vai levar isso? - suspendi a sobracelha.
- Só me sustento disso - sorriu amarelo. - Vou indo nessa, tenho algumas coisas para resolver e...
- Eu te levo em casa - disse-lhe prontamente. Ela negou com a cabeça.
- Eu vim de carro - sorriu, agradecendo em seguida. - Até mais, . Te dou notícias - e ela me deu às costas, andando pelos corredores do estacionamento.
Desde quando ela tinha a bunda deste tamanho?
Cheguei em casa com os pensamentos a mil. Minha nuca ainda suava e eu sentia uma coisa estranha no estômago ao pensar no suspense da resposta que ela me daria.
Fui tirado do transe por , novamente falando alto:
- Por que você não me ouviu quando falei com você? - eu arrumava as compras na despensa, não me dei ao trabalho de responder. Nem de me virar para ela. Joguei as sacolas no lixo e bufei, jogando as chaves no sofá. Fui para meu quarto e ela vinha atrás, dizendo umas coisas que eu não tinha interesse em saber. Quando ela acordava estressada, ela sabia que eu sempre a ignorava.
Quando ouvi a porta se fechando, abri meu armário e fui avisando:
- Preciso conversar com você - escolhi uma camiseta fresca. Se ela disse alguma coisa antes disso, eu não faço a mínima ideia.
- Ótimo, eu também tenho uma coisa para te contar - sua voz agora era calma e receosa. Eu a olhei, segurando minha camiseta. Ela mordia o lábio, parecia ter medo.
- Pode contar - dei um sorriso de lado.
- Bem, - ela desviou o olhar para o chão - eu... Eu estou grávida - e ela juntou as mãos na frente do corpo, fechando os olhos e os apertando com força, realmente receosa.
Eu fiquei sem chão. Soltei a camisa, eu não sabia o que dizer. Nem o que pensar. Eu estava num leve transe, e ela me tirou deste:
- Não... Não gostou da notícia? - perguntou baixo, olhando-me nos olhos, agora. Eles brilhavam.
- Eu... - suspirei. Eu não podia magoá-la. Ela podia ser chata às vezes, mas foi quem esteve aqui quando eu tive meus dias de fossa. Não seria justo com ela agora. Eu tentei um sorriso. - Eu gostei - e ela veio me abraçar. Eu retribui o abraço, meu corpo estava ali, sentindo o calor do corpo dela. Mas meus pensamentos estavam em outro lugar.
Ela me soltou, olhando-me com um sorriso fraco.
- E o que você tinha para conversar comigo? - perguntou, mas agora eu não tinha coragem para dizer nada do que planejei. Eu não tinha coragem de abandoná-la agora. Ela tinha uma parte de mim na barriga neste exato momento.
- Não, não era nada - sorri forçado, abaixando-me para pegar minha camisa. Decidi falar por partes: - Na verdade, eu tenho uma outra coisa para te contar - mordi o lábio, esperando sua reação. Mas ela apenas continuou me encarando. Preferi continuar: - Uma amiga também vai morar aqui, tudo bem? - ela deu de ombros, assentindo com a cabeça e me deu um selinho. me deu as costas e foi em direção ao banheiro.
Não achei que fosse tão fácil de convencê-la de tal coisa.
Fui para a cozinha perdido em pensamentos. Sentei na banqueta da bancada, e coisas como 'onde ela mora?' e 'será que ela mudou o número do celular?' rondavam minha mente. Mesmo sem saber sua resposta, eu precisava conversar com ela sobre o que havia acontecido. E eu torcia para que tudo desse certo.
- ! - a voz de me despertou, fazendo-me virar para olhá-lo. Ele entrava na cozinha com chaves em mãos. Resmunguei um 'hm', o vendo caminhar em direção ao armário. - Daqui a duas horas vamos nos encontrar com Fletch! - ele dizia animado, revirando o armário.
- E o que ele quer? - perguntei, curioso, pegando uma maçã sobre a bancada.
- Ele quer conversar sobre aquela gravadora que ele entregou nosso CD - ele vinha em minha direção com um pacote de biscoito nas mãos.
- Puts, é verdade! - bati com a mõa na testa, eu havia esquecido disso. - Mas vocês vão sair agora? - suspendi a sobracelha ao vir indo em direção a saída da cozinha.
- Claro - se virou para me olhar. - Vamos sair, essa casa está com muita carga negativa - ele deu uma risada, e eu fiz cara de poucos amigos, entendendo o que ele quis dizer.
- Posso ir contigo? Tenho que conversar - sorri amarelo, vendo-o assentir em seguida. Levantei e o segui. - Os outros boiolas vão como?
- Carro do - respondeu, rodando as chaves no dedos.
Eu dirigia, tendo de ouvir cantar da pior forma possível uma música que tocava na rádio. Até que interrompi sua cantoria, o fazendo murchar:
- Tenho que te contar uma coisa - o disse, agradecendo aos céus por ele ter parado de cantar. Senti seu olhar em mim.
- O que foi dessa vez?
- Eu não sei se você reparou... Mas a está grávida - suspirei, aguardando a bronca. Mas ele ficou em silêncio. Olhei-o rapidamente, e meu amigo me olhava confuso.
- Quem é o pai, dude? - sua voz tinha desespero.
- Eu - soltei um riso, nervoso. E, novamente, ele ficou calado. - Não vai dizer nada? - eu estava um pouco confuso, a opnião de outra pessoa seria importante para mim.
- Cara... Isso é demais! - ele disse radiante e eu me assustei. Eu não esperava isso dele. Olhei-o rapidamente: ele tinha os olhos brilhando, um sorriso que mal cabia no próprio rosto.
- É?! - eu estava ficando cada vez mais perplexo.
- É! - concordou animado. - Só assim a sai lá de casa, eu acho! - ele completou, me fazendo rir fraco. E, porém...
- Mas, bom, ela está grávida também - falei logo, sentindo-o me fuzilar.
- COMO É QUE É?! - ele gritou, fazendo-me encolher.
- Dude, eu não sei como aconteceu, eu nunca deixei de...
- ! - exclamou, me interrompendo. - Nossa casa vai virar uma creche! Você tem noção disso?! E se for gêmeos? E se as duas tiverem gêmeos?! Pior: e se as duas tiverem trigêmeos?! - ele dizia, visivelmente desesperado.
- Cala a boca, cara. Eu fico mais calmo - disse-lhe, realmente ficando intrigado com essa possibilidade. Ficamos alguns segundos sem falar nada, ele apenas resmungava algumas coisas que eu não conseguia entender. Mas eu precisava conversar. - Eu não sei o que eu faço, . Eu acho que ainda amo a , mas é injusto deixar a ... E agora? - perguntei sincero, sem pensar em nenhuma saída. Ele suspirou.
- Eu no seu lugar, faria o seguinte: eu deixaria a morando lá em casa até ela ter o filho. Aí eu me separaria, mas ajudaria com a criança. E a a mesma coisa, mas ao contrário: quando eu me separasse da , eu voltaria com a , que eu sei que é isso que você quer - ele disse tão convicto, que eu cheguei a estranhar. Sabendo que eu não tinha outra ideia no momento, essa seria a melhor saída, apesar de não ter certeza se isso daria certo. Eu tentaria, pelo menos. - Mas você vai ter de convencer a - ele comentou e eu assenti, vendo uma mulher caminhar pela calçada com um vestido branco e largo, com os cabelos voando e uma caixinha de cereal nas mãos.
- E eu posso começar a fazer isso agora - eu sussurrei para mim mesmo, ouvindo soltar um 'hãn?'. Não me dei ao trabalho de responder, e acelerei um pouco, vendo virar para entrar numa das casas. Encostei rápido, vendo-a entrar e bater com a porta.
- O que está fazendo? - ele perguntava enquanto eu descia.
- Lerdo - resmunguei, indo em direção a porta da casa dela, e toquei a campanhia. Não demorou dois segundos e ela atendeu, com a sobrancelha suspensa. Deve ter me visto pelo olho mágico.
- Estava me seguindo ou eu estou ficando louca? - quis saber, cruzando os braços. Ela já não tinha mais uma caixa de cereal nas mãos.
- Não digo que você esteja ficando louca, mas eu não estava te seguindo - sorri amarelo, coçando a nuca. Ela assentiu, ainda com os braços cruzados. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia decifrar sua expressão.
- E então... Como achou minha casa? - levantou a sobracelha, desafiadora.
- Acontece que eu tenho uma coisa para te contar, e estava indo para o Starbucks. Aí te vi de longe e aproveitei a oportunidade para dizer o que eu preciso - eu disse tudo rápido demais, mas ela conseguiu me entender.
- Se for para pergun...
- Não, não. Eu disse que vou deixar você pensar, mas aconteceu uma coisa que não estava em meus planos - disse-lhe, vendo-a arquear a sobrancelha. Ela descruzou os braços, esperando que eu dissesse, mas uma buzina me fez desvencilhar dos pensamentos. Virei, sussurrando um 'já volto' e indo em direção do carro com vidros escuros. Fui em direção ao lado do carona, e bati inúmeras vezes no vidro do carro. E, aos poucos, a cara de idiota do ia aparecendo, já que ele se tocou e abaixou o vidro.
- Você quer parar?!
- Vai demorar muito? - ele tinha uma cara de poucos amigos, fazendo-me bufar.
- Não sei... - eu, realmente, não tinha ideia. Pus a mão no bolso e peguei as chaves. - Toma. Encontro com vocês em uma hora - e entreguei as chaves a ele, dando a volta e indo de encontro a novamente, mas antes eu gritei:
- CUIDADO COM MEU CARRO! - o carro partiu desgovernado.
Voltei à companhia de e ela me esperava de braços cruzados.
- Podemos entrar? - perguntei sem graça, vendo-a assentir em seguida. Ela entrou e eu a segui, sentindo minha nuca começar a suar ao pensar no assunto.
Ela fechou a porta e foi em direção ao sofá, sentando-se. Sentei ao seu lado, olhando-a de frente.
- Olha, aconteceu uma coisa que eu não esperava - eu tinha sinceridade nas palavras e, embora ela continuasse a me fitar com a expressão curiosa, eu continuei: - Mas eu não quero mudar meus planos por isso. Minha proposta de você morar comigo está de pé. Sei que eu fui muito rápido, você chegou hoje e eu nem tive tempo de pensar sobre isso, mas esse sou eu, gosto de agir por impulso sem pensar nas consequencias, só q...
- , - ela suspirou - você quer parar de enrolar e me contar logo o que aconteceu? - sorriu de lado enquanto eu mordia o lábio. Eu não tinha a mínima ideia da reação dela.
- Então, eu descobri hoje que a também está grávida - eu aguardei alguma resposta, mas ela continuava me encarando. Seus olhos passaram a brilhar ainda mais. Peguei em suas mãos. - Mas, olha... - ela as soltou. Que sinal era aquele? Tentei de novo - Por favor... - sussurrei, e dessa vez ela cedeu. - Eu não sei como aconteceu, eu sempre usei camisinha com ela, eu tenho certeza disso, mas quem eu quero perto de mim, pelo menos por um tempo, é você - sussurrei as últimas palavras.
- , eu não... - tentou dizer, mas eu a calei com um dedo em sua boca. Ela fechou seus olhos ao sentir meu toque, e pude sentir estremecer. - Eu estou sendo sincero, você me faz bem, eu senti sua falta todos esses meses, e queria ter a certeza de que é isso que eu quero - ela abriu os olhos, confusa. Eu voltei a segurar suas mãos.
- Como? - quis saber.
- Sim, eu quero que você more comigo, pelo menos como amiga. Quando ela tiver o filho dela, vou me separar e vou ajudar a cuidar do bebê. Mas... Se eu me separo agora, eu não sei do que ela é capaz, tenho medo de ela sumir com o bebê ou...
- , isso não é certo e você sabe.
- O coração fala mais alto nessa horas, - dei um sorriso franco, vendo-a abaixar os olhos e pensar. - Eu te quero perto, muito perto - as palavras sairam num sussurro, e seus olhos brilhavam demais.
- Você mora a três quarteirões da minha casa, - ela disse, rindo sem humor.
- Mais perto - eu ainda sussurrava, aproximando-me impulsivamente. Sua respiração estava próxima ao meu nariz, trazendo-me um arrepio que eu estava sentindo falta. Eu estava num transe, fitando seus lábios, certo do que eu faria. Mas quando eu me aproximei ainda mais, ela virou o rosto, fazendo-me beijar-lhe a bochecha.
- Ainda não, - ela disse, num tom baixo e calmo. Assenti, respirando fundo, mas concordando.
- Mas, aceita morar comigo? - quis saber receoso. - Já avisei a - mordi o lábio, com certo medo da resposta. Ela suspirou e desviou o olhar, ficando quieta por alguns segundos.
- Estou sendo boazinha demais - ela disse num tom risonho, mas parecia pensar alto. Ela não chegou a me olhar.
- Espero sua resposta pacientemente - virei-me e encostei no encosto do sofá, fechando os olhos e aguardando.
Mas os segundos foram se passando e, quando abri meus olhos, somente a TV estava ligada. não estava mais ali.
'Vamos viver como amigos, até termos certeza do que sentimos, ok?'
- ?! - chamei por ela num tom baixo, temendo que o que aconteceu segundos atrás era apenas coisa da minha cabeça. Mas quando cai em mim, tudo era real, já que eu estava na casa dela. Suspirei, levantando-me e dei uma volta em torno do meu próprio corpo à procura dela, mas nenhum sinal de que ela estivesse ali, apenas seu cheiro permanecia. - ? - chamei de novo, fitando as escadas de madeira ao meu lado esquerdo, de frente à entrada. E, finalmente, pude ouvir sua voz.
- Oi! - ela respondeu do segundo andar da casa, fazendo-me guiar meu corpo até às escadas e subir de dois em dois. Ao chegar no segundo andar bem iluminado, pude ver a primeira porta branca à direita aberta. Aproximei-me, e bati de leve na porta.
- Posso entrar?
- Pode, entra - sua voz saiu abafada lá de dentro e eu empurrei a porta com cautela.
Havia caixas e mais caixas espalhadas por todo o quarto branco, enquanto ela pegava alguma coisa enfiada em seu armário.
- Por que saiu de lá? - questionei-a com a mão na cintura, ainda querendo entender o motivo de tantas caixas pelo quarto.
Ela pôs a cabeça para fora do armário e me olhou com a sobrancelha suspensa.
- Você não me chamou para morar com você? - eu me limitei a assentir, vendo-a voltar para dentro do armário com um sorriso. - Então, vim arrumar minhas coisas. Não vai ajudar, não?
- Claro, desculpe - ri baixo por minha distração e fui em direção a cama, a fim de dobrar as roupas que ali estavam.
- Por que tudo entre a gente é muito rápido? - ouvi sua voz dizer com uma naturalidade absurda, fazendo-me virar para olhá-la. Ela continuava dentro do armário, de costas para mim, provavelmente escolhendo alguma roupa.
- Acho que é porque um deseja o outro - eu respondi ainda a olhando, mas engoli a seco ao processar o que eu havia acabado de dizer.
- E quem garante que eu te desejo? - sua voz continuava natural e eu queria poder olhá-la nos olhos para checar se ela estava falando sério.
- Não? - eu tinha um súbito desâmino dentro de mim, agora. Eu tinha um pouco de medo do que ela diria.
- Tô brincando, bobo! - pude ouvir sua risada baixa, fazendo-me suspirar aliviado e voltar minha atenção às roupas sobre a cama.
Passado alguns minutos em silêncio absoluto, se pôs ao meu lado, fazendo-me olhá-la de canto de olho.
- , eu te amo, - por ouvir isso, eu parei o que etava fazendo e a olhei confuso. Ela me encarava, com os olhos grandes e brilhantes - mas eu não tenho certeza se o sentimento agora é tão forte quando antes - ela deu um sorriso triste, e só então eu parei para pensar na possibilidade de meu amor por ela não ser tão excitante quanto eu penso. - Na verdade, eu não vim para te procurar nem para te pedir segunda chance. Só achei que você precisava saber que tem um filho - e voltou a sorrir daquela maneira tristonha.
- Então... Vamos viver como amigos, até termos certeza do que sentimos, ok? - eu praticamente sussurrei, dando um sorriso amarelo e colocando uma mecha de cabelo para trás de sua orelha. Ela fechou os olhos com meu toque, limitando-se a assentir. Dei um beijo em sua testa, começando a criar disposição para recuperar parte do que perdi seis meses atrás.
Terminamos de arrumar o resto do que faltava, e até que não era muita coisa, já que ela havia acabado de chegar na cidade e não tinha tirado quase nada das caixas de papelão. Quando olhei o relógio, eu surtei, já que eu deveria estar na Starbucks há dez minutos. Apressei-me a sair, perguntando se ela pretendia ir para minha casa hoje. Ela deu de ombros, deixando por minha conta e então eu me despedi com um beijo na testa, combinando de passar em sua casa para pegá-la mais tarde.
Andei com pressa pelas ruas frias e quando me aproximei do destino, pude ver meu carro parado próximo a entrada. E o do de Fletch também.
Suspirei e andei mais depressa ainda, sabendo que se eu demorasse mais um pouco, um mal humorado começaria com seus discursos.
Adentrei o lugar e pude sentir o ambiente mais frio ainda, arrependendo-me por não ter trazido minha touca, e de longe eu avistei os caras, indo em direção a eles com os braços cruzados.
- Ôh, cara! - Fletch perdeu a fala ao me ver e se levantou quando eu estava próximo, dando-me um tapinha nas costas. - Senta aí! - dizia animado, apontando para uma cadeira ao seu lado.
- E ai, galera - saudei os outros, que, como sempre, responderam cada um de uma maneira. Sentei-me onde Fletch propôs e chamei a garçonete com um aceno de mão, ouvindo a voz de Fletch bem ao meu lado:
- Temos uma novidade, uma ótima notícia! - olhei o cidadão e seus olhos brilhavam. Soltei um 'hm' com a boca, em sinal para que ele continuasse: - Conseguimos a gravadora! Vocês gravarão o CD em algumas semanas! - ele dizia numa animação contagiante, mas eu fiquei estático. Eu podia ouvir meus amigos praticamente berrando, mas em mim a ficha ainda não tinha caido. Eu me sentia sortudo novamente, essa era a segunda melhor notícia que eu podia receber!
- Não está feliz? - sai de meu transe com Fletch me cutucando desesperadamente.
- Tô... Eu estou! Só não consigo acreditar! - eu dizia-lhes radiante. Vendo, finalmente, a garçonete se aproximar, fiz meu pedido e me virei vagarosamente para Fletch: - E como vai ser isso? Digo, os detalhes e tudo mais... - eu fazia gestos exagerados, coisa de quando eu estou um pouco nervoso.
- Bom, vocês precisam escrever ou selecionar as músicas que vão para o CD. Depois tem as fotos, e várias coisas mais... Com o tempo eu vou explicando - parecia que ele estava mais animado do que a gente.
- , - chamou-nos a atenção - coloca aquela música, que você fez para... - e ele arregalou os olhos, parecendo ter se tocado para o que ia dizer. Mas ele continuou: - .
- Falling In Love? - perguntei confuso, vendo-o negar com a cabeça.
- Não! - ele agora tinha uma expressão de alívio. - A outra...
- Hm, - pensei bem, mas rápido - melhor não... E, , não fale mais sobre essa outra música, tá legal? - dei um sorriso, mostrando que eu estava falando na boa. Eu apenas queria esquecer por enquanto que aquela música existia, já que ela me trazia lembranças ruins.
- Tudo bem, me desculpe - ele respondeu baixando os olhos, tomando um gole do que havia em seu copo.
- Sem problemas.
Dentre vários assuntos sobre sonhos impossíveis para uma banda que estava começando agora, decidiu falar sobre um assunto que eu havia esquecido, mas que eu não queria que fosse discutido sobre a mesa de uma lanchonete.
- Tem certeza disso, ? - tinha desconfiança na voz e dúvida na expressão. Ele entortou os lábios ao me ver assentir.
- Na verdade, eu nem parei para pensar se isso vai dar certo ou não, mas... Bom, eu acho que ela nunca mentiria para mim se o pai não fosse eu - eu queria acreditar nas minhas próprias palavras, enquanto eles me olhavam com descrença. - E ela vai morar lá em casa - joguei logo a bomba, vendo olhares confusos e desesperados sobre mim.
- C-como assim?! - engoliu em seco e aquela pergunta me fez bufar.
- A moradia dela vai ser na nossa casa a partir de hoje - tentei ser o mais explícito possível. Nenhum deles desgrudava seus olhos de mim, incluse Fletch, apesar de não ter nada a ver com o assunto.
- Cara, você tá louco?! - apontou para a própria cabeça, com seu rosto começando a ficar vermelho. - Você mal conhece essa garota! - acrescentou irritado, dando um leve tapa na mesa. Mas eu não me importei com sua ira.
- Conheço o suficiente para colocá-la lá em casa, - meu tom de voz ainda era normal, mas meus olhos o encaravam, impacientes.
- Isso, você conhece da mesma forma que conhecia a , não é? - ele decidiu usar seu tom debochado, irritando-me aos poucos por sua ousadia.
- Ela foi um erro.
- O erro que você e todos nós - girou o dedo indicador sobre a mesa - pagamos até hoje!
- Você quem deu a ideia de procurar outra pessoa.
- Mas não dei a ideia de ela morar lá em casa!
- Então q...
- Tudo bem, chega - Fletch colocou um braço na minha frente, acabando com o pouco espaço que já havia entre eu e . Ele via que eu avançava cada vez mais.
- Fletch, - virei-me para este que ainda me fitava - leva eles no seu carro? - tentei controlar o tom de voz, me levantando. Fletch assentiu e então eu sorri, vendo estender as mãos para me entregar as chaves de meu carro. Sorri de lado como resposta e pus uma nota qualquer sobre a mesa, saindo de lá sem sequer olhar para trás.
Eu ainda estava furioso com , mas ali, sozinho, indo para meu carro, eu pensei na possibilidade de ele estar certo. Eu conhecia apenas parte de .
Estava confuso, meu dia havia sido corrido e cheio de imprevistos, ainda não tive tempo de pensar.
Eu estava diante da porta da casa de , prestes a tocar a campanhia. Mas será que era a coisa certa a se fazer?
É, meu amigo, nessas horas o coração fala muito mais alto. Era tarde demais para desistir, eu havia tocado a campanhia.
- Oi, - ela sorriu ao abrir a porta. Fui descendo meu olhar sem perceber, já que ela usava um roupão branco entreaberto, com os cabelos molhados e soltos. - ? - sai de meu transe ao ouvir sua voz me chamar, e logo voltei meu olhar a seus olhos.
- Oi, me desculpa - ri pelo nariz ao notar minha provável expressão idiota. Ela ainda tinha aquele sorriso, fazendo-me fitá-lo.
- Tudo bem, entra - ela me deu passagem para entrar e então eu senti seu cheiro novamente, deixando-me levemente tonto. Sacudi a cabeça, querendo afastar alguns pensamentos e logo ouvi sua voz, após a porta bater-se de leve:
- Acho que vamos precisar de um caminhão de mudanças - ela coçava a nuca, com um sorriso amarelo. Arregalei meus olhos. Era tanta coisa assim?
Eu cocei o queixo, não achando uma boa ideia ela levar tudo que tinha para a nova casa. Pela conversa que tivemos na lanchonete, o e os caras podem surtar e ela precisar voltar. E aí ela voltaria com praticamente a casa toda.
- Não acha melhor deixar os móveis por aqui? - eu ainda estava pensativo, mas sorri ao ver dar de ombros. Continuei: - Leva só roupas... Sei lá, quando a criança nascer, a gente podia vir pra cá.
- Não é má ideia - e, com isso, aumentei meu sorriso, vendo-a se aproximar. - Vou arrumar minhas coisas - mas ela passou por mim, deixando seu perfume novamente. Suspirei sem nenhum motivo aparente e fui em direção ao sofá, jogando-me lá com os pensamentos a mil.
Fitando o nada, eu me assustei com gritando meu nome do andar de cima. Não tinha urgência em sua voz, mas me apressei em levantar e subir às escadas, abrindo a porta do quarto. E, bom, eu dei de cara com uma de calça rosa, short jeans por cima, blusa verde florescente e um casaco roxo, com cinco malas ao seu lado. Suspendi a sobrancelha, aproximando-me.
- Você está tão sexy assim... - comentei, controlando a vontade de rir.
- Obrigada, você também é muito sexy - ela sorriu de forma canalha, fazendo-me soltar a risada. - Agora me ajuda com isso aqui, vai - desfez o sorriso e pegou na alça de duas malas e as puxou, guiando seu corpo para fora do quarto. Peguei as outras para descer com elas, mas que porra pesada!
Ela deu um suspiro quando parei o carro na calçada em frente à casa, e com a mesma dificuldade de entrar, ela teve para sair. Eu me apressei em dar a volta, ajudando-a a descer com um sorriso, recebendo outro como agradecimento. Fomos até a entrada em silêncio, e quando abri a porta, pude ver sentada sobre o sofá com uma revista feminina na mão. Bom, era a mesma que lia hoje de manhã, vale citar.
Estranhamente, senti um arrepio percorrer meu corpo quando ela me olhou de onde estava, e logo me virei, dando passagem para entrar. Não vi a reação de , apenas fechei a porta e suspirei pesado antes de ir de encontro a minha namorada, com atrás.
Eu evitava ao máximo de olhar minha namorada nos olhos, mas eu sabia que ela me observava se aproximar. Mordi o lábio, parando diante do sofá o qual ela estava.
- Hm, ela é sua amiga? - antes mesmo de eu tomar fôlego para falar algo, já havia questionado.
- Sim, é ela - e eu a olhei pela primeira vez agora. Mas, ao contrário do que eu imaginava, estava de pé e sorria, olhando sobre meu ombro. Dei um passo para o lado para que elas pudessem se olhar e então me virei para : - Essa é a - disse o que era praticamente óbvio. As duas ainda se encaravam, mas com um sorriso.
- Prazer - ergueu a mão e eu mordi o lábio, com medo de que minha namorada não correspondesse. Mas seus olhos, que estavam na barriga de , voltaram a fitar o rosto desta que esperava uma reação. E ela apertou a mão de , deixando-me levemente aliviado.
- Venha, irei te mostrar seu quarto - eu disse, já puxando o braço de , querendo acabar logo com aquela cerimônia.
Subimos as escadas ainda em silêncio, e não hesitei em olhar para de rabo de olho: ela olhava radiante cada detalhe da casa.
Paramos no segundo andar, diante de uma porta branca, e eu me pus na frente de , fazendo-a suspender a sobrancelha.
- Pronta? - e eu suspendia as minhas freneticamente, numa terrível tentativa de fazer suspense. Ela rolou os olhos.
- Anda logo, - ela fez pouco caso, ignorando-me completamente e encarando a porta com os olhos brilhando. Soltei uma risada baixa, virando-me e tocando a maçaneta lentamente. Até que abri a porta, e uma foquinha deu ataque ao meu lado.
- Ah, que lindo! - eu a olhei, e ela estava com as mãos juntas, adentrando mais o quarto dando uma volta em torno do próprio corpo, analisando cada detalhe.
O quarto não tinha nada de mais, era um quarto de hóspedes. Possuia um sofá branco próximo a janela, um armário médio e uma cama espaçosa, com uma TV na parede oposta.
- Que bom que gostou - eu lhe disse sinceramente, dando de ombros e não entendendo muito sua felicidade por um quarto todo branco e simples. - Vou pegar suas malas - ela assentiu e continuou me ignorando. Acho que o quarto novo era muito mais importante para ela.
Saindo do quarto, dei de cara com um apreensivo, com chaves nas mãos.
- Ér, - ele começou, fazendo-me parar no meio do caminho. - Bom, me desculpa pelo o que aconteceu, eu não devia ter me metido na sua vida e, bem, eu não a conheço o suficiente para dizer alguma coisa... Desculpa novamente - e ele sorriu amarelo, coçando a nuca com a expressão receosa.
Entortei os lábios, pensativo. Mas me aproximei, dando-lhe um abraço machista, daqueles cheio de brutalidade. E o que eu tinha em mente, eu me vi dizendo-lhe:
- Não se preocupa, tu é meu melhor amigo - me soltei do abraço, podendo sentir que eu abria um sorriso involuntariamente, e o vi sorrir de lado. Dei as costas, indo, sem escalas, para meu carro para pegar as malas de .
Eu deixei as malas em seu quarto e, enquanto ela tomava banho, decidi ir à cozinha, finalmente comer qualquer porcaria. Eu cantava qualquer coisa, quando adentrei o lugar e pude ver e sentado sobre banquetas da ilha da cozinha. dizia alguma, mas se calou ao me ver entrar.
- O que foi? - tentei ignorar as expressões assustadas, indo em direção aos armários.
- Nada... - ouvi a voz de , mas eu preferi insistir, procurando qualquer biscoito no armário ao lado da geladeira.
- Fala - até que eu achei um pacote. O último, por sinal.
- Acho que o assunto não vai te agradar - ouvi a voz de , mas eu ainda estava de costas para eles. Escancarei um sorriso, abrindo o pacote de biscoito.
- Por que não? - quis saber, finalmente me virando para eles sentindo o cheiro do biscoito exalar pela cozinha. Fui em direção a ilha, vendo os dois se entreolharem, e me sentei na banqueta de frente a eles.
- ... Casa nova... - finalmente disse, mas me olhando com receio.
Ele entortou os lábios, enquanto nem se deu o trabalho de me olhar.
- Mas sobre o que diziam? - e eu continuava, colocando um biscoito na boca. Sim, sou insistente. E abusado.
- Acontece que estávamos conversando hoje pela manhã sobre a chegada repentina dela. Só que... - ele deu tanta ênfase nessas duas palavras que eu senti um arrepio percorrer meu corpo, por temer o que estava por vir - Achamos que ouvia metade da conversa - e, por fim, ele mordeu o canto do lábio novamente, ainda com aquela expressão medrosa. Minhas sobrancelhas se formaram numa só, enquanto eu tentava digerir a informação. me olhava com cara de cu.
- Mas sobre o que vocês falavam? - dessa vez minha voz saiu baixa, a fim de só eles me escutarem.
- Estávamos num "debate" - riscou aspas no ar - sobre esse amor esquisito de vocês, quando do nada a apareceu na cozinha. Mas parecia que ela já estava aqui antes. Mas pode ter sido coisa da minha cabeça... - meu rosto ainda demonstrava confusão, enquanto desviei meu olhar para o nada e pensei em bilhões de coisas.
- Bom, ela não deu nenhum ataque quando conheceu a - eu voltei a olhá-los e continuava com aquela cara de nada.
- Ela já chegou? - ambos tinham surpresa na voz, com os olhos arregalados enquanto eu soltava uma risada baixa.
- Faz uns vinte minutos - dei de ombros, voltando a me deliciar com meu biscoito.
- Ela aceitou na boa? - quis saber, estendendo a mão para meu biscoito.
- Aceitou... Na verdade, não achei que fosse tão fácil convencer as duas - eu servia , vendo que também estendeu sua mão.
- Ok, mundo injusto, este... - começou com a voz melodramatica, ainda com as mãos estendidas para mim, enquanto enfiava tudo de uma vez só na boca. - Enquanto estou na seca, meu amigo está pegando duas - ele disse enquanto eu lhe dava biscoito e eu quase quis lhe jogar o pacote na cabeça.
- Fala isso baixo, cara - tentei ser firme no que eu dizia, mas não pude deixar de rir. Eles riram também, e logo vimos uma adentrar a cozinha.
- , eu... - ela tinha o olhar no chão, mas quando nos viu a fitando, ela ficou estática.
- Que foi? - perguntamos os três ao mesmo tempo, com a sobrancelha suspensa. Ela tentava dizer alguma coisa, mas o som não saia.
Até que entrou na cozinha. Também. O circo estava formado.
- Já jantou, meu xuxu? - ela vinha em direção a mim, mas meus olhos permaneceram em , que agora ria baixo, provavelmente por causa do 'xuxu'.
- Eu nem almocei, - disse-lhe num tom cansado e me virei para ela, que pôs as mãos em torno do meu pescoço, de frente para mim.
- Quer que eu faça um jantar gostoso para você? - ela fazia biquinho e eu pude ouvir uma voz masculina dizer 'ninguém merece...', seguida de risadas baixas. Olhei para o lado e ria sozinha, já que e haviam saido neste exato momento.
- Não, obrigado - voltei meu olhar a , levando meus dedos às suas mãos que permaneciam em meu pescoço. - Perdi a fome - e tentei desentrelaçar suas mãos.
Ouvi pigarrear, chamando a atenção para ela.
- Vou dormir, galera - ela ia se virando.
- Não vai comer nada? - perguntei, sentindo o olhar de me fuzilar.
- Não, perdi a fome.
Comendo a gororoba que eu fiz na cozinha, eu estava assistindo TV com babando em meu colo. O filme estava até engraçado, mas eu estava morrendo de sono. Estava querendo ir logo para a cama, mas antes eu necessitava tirar aquele peso de cima de mim.
- , acorda, vai... - eu dava leves tapas em seu rosto e ela estava realmente babando em mim.
- Hm, fala, - ela sussurrou com a voz embargada, ainda de olhos fechados.
- Eu quero dormir - disse-lhe num tom impaciente, querendo ser atendido às pressas.
- Me leva, então - ela praticamente me ordenou, fazendo-me bufar e rolar os olhos. Eu sabia que não adiantaria estourar uma bomba, porque ela não levantaria.
Ela fez uma barulho estranho com a boca e eu me levantei com dificuldade, desligando a TV. Peguei-a no colo e subi as escadas com cautela. Se a deixasse cair... Hm, deixa quieto.
Ao passar pelo quarto de , a porta estava entreaberta e me deu uma súbita vontade de adentrar o quarto. Mas seria bizarro eu entrar com em meu colo. Balancei a cabeça negativamente para afastar os pensamentos, mas a vontade continuou em mim.
Deixei minha namorada na cama e lhe dei um beijo na testa de boa noite como de costume, e voltei para a fechar a porta. Minhas mãos continuaram na maçaneta enquanto eu decidia se atendia ao desejo do meu corpo de ir lá. E eu fui, fechando a porta sem ao menos olhar para trás.
A porta do quarto dela continuava entreaberta e então eu me aproximei devagar. Coloquei a cabeça para dentro do quarto e soltei uma risada baixa pelo nariz ao ver que ela estava dormindo, mas de uma forma que, com certeza, daria torcicolo nela. A TV estava ligada e havia uma caixa de cereais sobre sua barriga, que estava coberta até a metade por um lençol branco. Entrei totalmente no quarto, indo em direção a TV e desligando-a. Virei-me para a cama e caminhei sem fazer barulho, tirando devagar o cereal de cima dela e a cobri totalmente. Após ajeitar seu travesseiro, eu me agachei bem próximo e a olhei, sentindo-me um idiota por sorrir só por olhá-la dormindo. Aproximei-me mais de seu rosto, sem pensar em nada e logo eu pude sentir seus lábios frios. Rocei os meus nos dela e então eu senti aquela sensação estranha no estômago. Mas eu não me importava com isso, mesmo sabendo que poderia aparecer do nada na porta do quarto de hóspedes.
- Boa noite - sussurrei, levantando e saindo de fininho. Bom, eu sentia um olhar em minhas costas, mas eu achei muito mais conveniente ignorar.
'Acho que ela se decepcionaria agora, já que ela vai ficar gorda, inchada e se achar feia.'
A melhor coisa do mundo é acordar naturalmente, sem ter uma voz estridente te servindo de despertador. Olhei para o lado e não vi , fazendo-me contorcer o rosto, um pouco confuso. Mesmo sem saber que horas eram, sempre me esperava para levantar. Não que fizesse extrema importância, mas era estranho.
Ainda encabulado, levantei, espreguiçando-me, e pus meus chinelos, passando as mãos pelos cabelos. Eu ainda estava com um pouco de sono, e, cambaleando, eu fui até a saída do quarto, sem me importar com o quê eu vestia. Dei mais uma espreguiçada e fui andando pelo corredor, coçando os olhos. Ao passar pelo quarto de , me bateu uma vontade imensa de entrar, mas me controlei: eu podia acordá-la.
Continuei a andar feito ET pela casa, até chegar à cozinha, onde encontrei uma de vestido, mexendo em algo virada para a pia. Sorri involuntariamente e me encostei no batente da porta, com os braços cruzados. Eu a observei por alguns minutos, até ela se virar e se assustar com minha presença.
- Oi, - ela sorriu após desfazer a expressão assustada. - Está aí há quanto tempo? - ela quis saber com a voz rouca, indo em direção à ilha da cozinha com uma jarra de suco na mão.
- Alguns minutos - desencostei do batente da porta. Caminhei até ela, sorrindo feito um idiota.
- Você dorme, hein? - ela ria fraco, arrumando alguns copos sobre a ilha. Cheguei próximo o suficiente para sentir seu cheiro.
- Não é tão tarde - eu me defendi, soltando uma risada pelo nariz enquanto eu me sentava na banqueta próximo a ela. Ela desviou sua atenção para o relógio sobre a porta da cozinha, atrás de mim. Voltou a me olhar.
- Vai dar onze da manhã - e sorriu.
- Não é tão tarde - repeti no mesmo tom que antes e ela continuou sorrindo.
- Sua mulher disse qu...
- Minha mulher é você - eu a interrompi, puxando-a pela cintura, a fim de provocá-la e saber sua reação, mas ela me ignorou e continou:
- A sua mulher disse que - ela se soltou de minhas mãos - não é para você se preocupar com ela, porque ela foi à casa de uma amiga - concluiu com um sorriso no canto de boca. Suspirei, enquanto ela voltava sua atenção aos copos.
- ... - chamei, e ela fez um 'hm' com a boca, mas sem me olhar - Você quer que eu termine com ela? - eu, realmente, ainda tinhas minhas dúvidas, e saber o que ela pensava sobre isso talvez pudesse me ajudar.
Ela, rapidamente, olhou-me com os olhos arregalados.
- Por que essa pergunta fora de hora? - ela ainda estava um pouco assustada, mas tinha um tom brigão.
- Essa pergunta não tem hora, - tentei ser o menos grosso possível, mas insisti: - Você quer?
- ... - ela se aproximou e eu precisei me controlar um pouco mais - Pode ser burrice o que vou te dizer, mas não quero que você a abandone agora. Ela é sua mulher, até então. Ela está esperando um filho seu, ela tem um pouco de você dentro dela. Você não pode decepcioná-la - ela sussurrou as palavras, mas seus olhos já brilhavam.
- E você não acha que vou decepcioná-la quando a criança nascer e eu disser que quero me separar? - ela molhou os lábios, suspirando em seguida.
- Acho que ela se decepcionaria agora, já que ela vai ficar gorda, inchada e se achar feia - ela disse com uma careta, fazendo-me rir fraco, mas eu pensaria sobre isso. Por enquanto, eu tinha mais perguntas a fazer:
- E você não acha idiota eu demonstrar amor a ela quando, provavelmente, eu amo outra pessoa? - minhas palavras sairam num sussurro, e mesmo assim, ela respondeu parecia já ter uma resposta.
- Aqui, - ela mordeu o canto do lábio, provavelmente escolhendo palavras. - Você deve estar confuso, ainda... Nem sabe o que você sente. Você pode estar iludindo a , mas agora, quem ela mais precisa é de você. Não a abandone, não agora - e sorriu por fim, com os olhos brilhando. Sua expressão era tão frágil, que eu diria que ela derramaria aquelas lágrimas em qualquer momento. E eu ainda não entendo como ela consegue ser assim, quando tinha que sentir raiva por eu estar praticamente com as duas e as duas estarem grávidas.
Dei um sorriso sem mostrar os dentes e então ela pôs sua testa encostada na minha. me olhou nos olhos, e sua respiração em meus lábios me davam leves tonturas.
- Eu nunca... Nunca vou te abandonar - falei, certo de mim, colocando uma de minhas mãos em sua nuca e pude sentir seu corpo estremecer.
Ela fechou seus olhos e então eu vi uma lágrima escorrer.
- O que foi? - perguntei preocupado, mas baixo. Ela abriu os olhos lentamente, se afastando e tocando o rosto com a ponta dos dedos.
- Não é nada - tinha a voz falha, mas ainda mostrava os dentes. - Não se preocupe, tome seu café - e ela ia tentando passar por mim, mas segurei seu braço, ainda um pouco confuso.
- Me fala, por favor - ela me olhou, seus olhos implorando para que eu lhe soltasse.
- É o coração, . Quando alguma coisa não consegue ficar aqui, - ela apontou para o peito - escorre por aqui - e apontou para sua bochecha, soltando-se discretamente e me dando as costas, saindo da cozinha com meu olhar sobre ela.
Tomei meu café encabulado. Algo martelava em minha cabeça. Uma parte de mim dizia que eu precisava dar um jeito nisso. Isso tudo era errado, de alguma maneira ela estava certa. Eu não podia abandonar agora, quando ela mais precisa de mim.
Mas a outra parte pedia por , era por ela que meu corpo pedia, que eu sentia um desejo quase incontrolável. Mas não estava sendo bem da forma que eu queria. E da forma que eu preferia, eu estaria deixando aquela que, por cinco meses, esteve comigo me ajudando a superar a saudade. Traição já se passou por minha cabeça, claro. Aliás, eu já a trai. Sim, eu a trai ontem à noite. Apesar de ser um leve toque nos lábios de , foi uma traição. E se isso existe, estou a traindo por pensamento. Mas o mais engraçado é que não me sinto culpado por isso, coisa que deveria acontecer. Talvez porque não a amo, talvez porque agora não me importo tanto com os sentimentos dela. É egoísta da minha parte, me sinto o cara mais estúpido pensando nisso.
E, bom, acho que o me restava a fazer, era deixar o tempo passar.
***
Alguns dias depois.
Eu lia o jornal sentado na banqueta da cozinha, enquanto me servia de café. Quando a ouvi me chamar. Olhei para a porta da cozinha, de onde partiu a voz, e entrava com uma bolsa laranja sobre os ombros, uma leve maquiagem e os cabelos presos num rabo de cavalo, deixando a franja cair sobre o rosto. Ela procurava alguma coisa em sua bolsa e não percebeu que eu estava esperando pacientemente por ela.
- Eu vou dar uma saída - disse-me, parando diante de mim, enfim olhando-me nos olhos com um sorriso. - Vocês vão ficar em casa o dia todo? - quis saber com uma súbita duvida na expressão.
- Acho que sim - soltei meu jornal, vendo seu sorriso voltar a aparecer. - Mas aonde você vai? - eu estava curioso, então me levantei e me aproximei mais.
- Resolver algumas coisas - ela respondeu, descendo seus olhos por meu corpo. Lembrei que eu estava apenas de samba-canção.
- Quer que eu te acompanhe? - sorri malicioso, enquanto ela esboçava um sorriso canto de boca, voltando a me olhar nos olhos. Ela se virou, ainda sorrindo de canto, e ouvi sua voz:
- Não, - sua voz era risonha, atravessando a porta da cozinha - não precisa. - Eu fui atrás, e de repente ela parou. E, bom, meu corpo agarrou ao dela acidentalmente. - Se sair, deixa a chave debaixo do tapete - ela disse com a voz baixa e falha, ainda com o corpo grudado ao meu. Aproveitei que ela não teve nenhuma reação negativa e passei meus braços em torno de seu corpo, abraçando-a pela cintura. - Mantenha distância, - ela dizia, mas ainda com a voz falha. Eu fingi que não entendi e a apertei contra mim, sentindo meu corpo esquentar, mas, antes que eu fizesse qualquer coisa, ela pôs a mão em sua cintura e tirou minhas mãos de lá, como se soubesse o que eu faria em seguida. - Tchau - e ela se afastou, deixando-me ali com um desejo quase incontrolável de agarrá-la de novo.
Tentei me controlar e voltei para a ilha da cozinha, perdendo completamente a vontade de ler o jornal. Peguei minha caneca e levei para a pia, lavando-a em seguida. Ouvi a risada de adentrar a cozinha, mas antes mesmo que pudéssemos nos comunicar, o telefone tocou. Não me dei ao trabalho de atender, já que o fizera por mim. Eu não entendi metade da conversa, já que o cidadão arrastava a voz, apesar de parecer muito animado com a conversa.
E quando desligou, eu já estava com a cabeça dentro dos armários, procurando por comida.
- Quem era? - eu quis saber, ainda procurando alguma coisa boa para devorar.
- Bom dia - disse ironicamente, e eu pude ouvir a banqueta sendo arrastada. Dei de ombros e o ouvi continuar: - Era o James... Ele quer que a gente vá buscá-lo no aeroporto - virei-me para olhá-lo, estranhando o comentário, já que James havia dito que não voltaria agora.
- Que horas? - olhei para a parede com o relógio: marcava 9h45.
- Duas horas - ele disse simplesmente, encarando-me após morder uma maçã que eu não sei de onde surgiu. Fiquei pensando se daria tempo de chegar e, distraído, fui em direção ao telefone sem fio. Disquei o número dela com certa pressa. - Vai ligar para quem? - ele quis saber, mas não me dei ao trabalho de respondê–lo, já que atendera rapidamente.
- ? - eu quis me certificar por ouvir uma voz rouca do outro lado.
- Hm... Oi, - ela disse simplesmente, mas sua voz continuava rouca. Estava silêncio ao fundo.
- Está tudo bem ai? - perguntei preocupado, fitando qualquer ponto da cozinha que não fosse o . Eu sabia que ele me imitaria caso eu o olhasse. - Onde você está?
- Está tudo bem e eu estou no táxi - ela abafou uma risada, mas mudou seu tom de voz na pergunta seguinte: - Aconteceu alguma coisa?
- Não... Eu e os caras vamos sair e está trabalhando - expliquei, pensativo. - Me encontra no aeroporto? - propus, voltando meu olhar para porta, já que eu havia visto entrar pelo campo de visão. Ele sentou ao lado de e pude o vir perguntando baixinho 'quem é?'
- Tá ok - eu quase não ouvi sua voz e desviei meu olhar dos dois que me sacaneavam agora.
- O vôo dele é às duas. Me espera próximo ao painel, tá? - e eu ouvia risadas baixas vindas dos babacas próximos a mim.
- Tudo bem, acho que dá tempo...
- Tá. Fica bem, qualquer coisa me liga - na boa, eu me sentia um idiota, mas as palavras simplesmente saiam. Pude ouvir sua risada baixa, fazendo-me sentir mais tolo ainda.
- Tá legal, . Beijos, beijos - e pude ouvir o 'tututu' do outro lado da linha.
Tirei o aparelho da orelha e pus o telefone no lugar, ovuindo a voz de :
- Pelo visto o negócio é sério, né? - virei-me para ele e, ao contrário do que imaginei, ele tinha o semblante sério. se deliciava com outra maçã, mas tinha sua atenção voltada para nós.
- Sei lá, cara - eu disse sinceramente, mas com a voz um pouco cansada. Sentei próximo a eles, na bancada, e eles esperavam que eu dissesse mais alguma coisa. - Eu ainda gosto dela, e sinto que ela também gosta de mim. Só que ela não quer que eu abandone a agora só porque ela está grávida - entortei os lábios, esquecendo que quem havia me dado a ideia. Mas não liguei para isso, eu estava sendo sincero. Não que o bebê de não me importasse, claro que não.
- Eu acho que ela está certa - os dois disseram ao mesmo tempo, fazendo-me olhá-los, incrédulo.
- Quê?! - soltei por impulso, vendo-os rolarem os olhos e bufarem. - Eu vou ficar nove meses com a dentro de casa, sem sentir mais nada por ela e depois dizer que eu quero me divorciar? Está sendo ridículo! - minha voz saia em sussurros desesperados, eu detestava ficar confuso.
- Aí você tem razão - concordou, coçando o queixo. - Mas antes de chegar, você amava - ele disse, quase querendo me provocar.
- Acho que eu tentava me enganar, acho até que eu gostava dela, mas agora com a aqui de volta, acho que o que eu sentia por ela está voltando, não sei explicar...
- E o que pretende fazer? - mordeu o último pedaço da maçã.
- Realmente, eu não sei. Vou deixar o tempo passar - e sorri, tentando encontrar algo bom nas minhas próprias palavras.
- Bem, eu apoio a ideia de um amor proibido - se levantou, sorrindo canalha para mim. - Agora vou tomar banho para ficar cheirosinho para o Jamesinho - ele gargalhou da própria piada ridícula e saiu pela porta cantando algo indecifrável. Eu ri fraco, enquanto ouvia a voz assustada de :
- James? - ele suspendeu a sobrancelha, olhando-me com desespero.
- Ele ligou dizendo que volta hoje e que é para irmos ao aeroporto buscá-lo - expliquei, vendo-o arregalar mais os olhos e me deixando confuso.
- Não me diga que esse mangol vem morar aqui também?! Nossa casa está virando uma repu...
- Não, cara! - eu o interrompi, rindo de seu surto. - Ele ainda tem a casa dele, só foi tirar umas férias - disse-lhe e então ele abriu um sorriso que mal cabia no próprio rosto.
- Então, - se levantou - vou ficar cheirosinho para o nosso bebê, também - e me deu as costas.
Chegamos ao aeroporto com no volante.
Olhamos para o painel que apontavam os horários de pouso e decolagem dos aviões, e o de James estava atrasado. Discretamente, dei uma olhada pelo lugar à procura de , mas, por enquanto, nenhum sinal dela, então sugeri que fôssemos a qualquer lanchonete para esperarmos e o avião de James. Eles concordaram, claro. Quando se fala em comida, nenhum deles se recusa.
Enquanto fazíamos nossos pedidos, o sininho da entrada da loja anunciou que alguém acabava de adentrar o lugar e então me virei instantaneamente. Senti minha nuca suar a cada passo que dava em nossa direção.
- Demorei? - ela perguntou sorrindo, dando-me um beijo na testa.
- Não - eu sorri também, enquanto ela acenava para os outros.
- Então, - a garçonete, que continuva ali, esperando nossos pedidos, pigarreou - vão querer o que?
- Quer comer alguma coisa? - virei-me para , que se sentava na cadeira ao meu lado.
- Ér, não - ela fez uma careta e soltou um gemido baixinho.
- O... Que foi?! - perguntamos os quatro ao mesmo tempo, sem entender muito bem o que aquela expressão significava.
Nota da autora: Aw, gente! Obrigada por lembrarem dela e essa vontade de acompanhar de novo! Obrigada mesmo :D
Escrevi algumas coisas sobre essas e outras fics no blog.
Não demoro para atualizar, e só não mando cinco capítulos de uma vez porque se não a Lara me mata! :p