Escrita por: Jih Jones || Betada por: Paah Souza




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Capítulo um – Ser animadora de torcida ou não ser? Eis a questão!


- VAI, LOSERS, VAAAAI!
Eu sempre quis ser uma delas, sabe; uma animadora de torcida. Para falar a verdade, eu sempre quis ser a líder, a pãn, aquela que quando anda parece que tudo está em câmera lenta. Nossa isso soa ainda mais clichê do que eu pensava que soaria. Uma vez eu tentei entrar para a equipe. Tá, vamos falar a verdade, todo ano eu tentava entrar para a equipe, mas eu nunca fui aceita. Sério, elas me deixaram com trauma, comecei até fazer aula de dança por causa disso. Wow, minha vida parece “O outro conto da nova Cinderela”, mas sem a Selena Gomez nem a escravidão. Mas eu perdi a vontade de tentar entrar de novo quando eu descobri que toda líder de torcida tem cabeça de minhoca e não come torta de morango.
Agora, em toda aula de ginástica eu sento na arquibancada e fico observando elas darem as piruetas e repetirem “VAI LOSERS” umas 50 vezes, e tento entender como elas conseguem viver sem torta de morango. Losers, eu queria saber quem foi o esperto que colocou esse nome no time. Acho que é por isso que eles sempre perdem para os Winners. Irônico, não? Talvez seja o destino, quem nasce para ser perdedor, será sempre um perdedor.
Será que cada time nasce com o seu “destino”? Tipo... Se tivesse um time chamado Vampires, todos seriam vampiros; se tivesse um time chamado Balls, todos seriam bolas; se tivesse um time chamado Doors, todos seriam portas.
Mas... Portas não jogam futebol!
- Sabe, você poderia parar de blefar e fazer alguns exercícios. – cheio de graça falou, sentando do meu lado.
- Exercícios são para a gente gorda! E como você sabe que eu estava blefando?
- Você fez sua cara de blefe. – Ele falou indiferente. Eu tenho cara de blefe? Legal!
- Ah, e como é? – Eu perguntei curiosa, e ele fez uma cara lezada, estilo Ashton Kutcher em “Cara, cadê meu carro?” – E a minha cara de quero-ir-ao-banheiro, como é? – Eu perguntei mais eufórica e ele continuou com a cara lezada. – É isso?
- É! – Ele falou dando de ombros.
- Mas você fez uma cara de lezado nas duas situações! – Eu falei indignada.
- Jiih, você é lezada, encare os fatos. – Ele falou em tom de consolo, colocando a mão no meu ombro, e eu o belisquei. Só não mordi porque ele não é torta de morango.
O sinal tocou e eu me levantei, indo em direção à porta.
- Hoje começam as aulas de teatro. – disse enquanto a gente fazia força para passar juntos pela porta. É sempre assim, nenhum dos dois se rende e dá a passagem para o outro passar. Nós sempre acabamos entalados.
- Legal... – Eu falei sem animação nenhuma. Porque o quer falar de teatro logo agora, pleno intervalo. É hora de comer torta de morango, não de falar de teatro.
- Desde quando é legal ter que ficar depois da aula para “desabrochar” e ficar “leve como uma pena”? – Ele disse revoltado e parando de frente para mim.
- Sem ofensas, mas isso não me importa, já que eu não faço as aulas. – Falei entrando na fila para pegar o lanche.
- Quem disse que não?
- Excuse-me? – Eu perguntei encarando-o, que mascava um chiclete de uma forma bem nojenta e tinha um sorriso maligno no rosto.



Capítulo dois – Amor à vida.


bezerro desmamado filho da mãe armou uma cilada para mim. Como ele foi capaz? Sou uma menina tão humilde e sincera!
Cá estou eu, plena terça-feira, depois do período de aula, caminhando sozinha até o teatro. Oh, como a vida é injusta! Ok, de filme clichê minha vida passou para novela mexicana. Eu gosto muito de teatro, sabe? Mas ele no lugar dele e eu no meu. O grande problema é que eu não faço contatos com outras pessoas que não sejam o , o tio da padaria, mamãe e vovó. Às vezes eu falo com o porteiro da escola, mas ele é um super caso à parte. está na minha lista negra, que por sinal eu não tenho, mas depois eu compro um caderninho e pinto com tinta guache. Existe um jeito para tudo!
E, para variar, cheguei atrasada. Estava todo mundo sentado igual indiozinho no chão, e a professora falava alguma coisa. Desci os degraus devagar e olhando para o chão. A professora parou de falar quando me viu.
- Pois não? – Ela perguntou, e eu senti todos os olhares caindo sobre mim. Vergonha, vergonha.
- O que, o que? – Eu respondi olhando de um lado para o outro e alguém prendeu a risada. Obrigada pelo apoio, tenho certeza que foi o .
- Quem é você? – Ela perguntou com um pouquinho de irritação na voz, típico de professora.
- Ah, eu sou ! Mais meu apelido é . O meu amigo me chama de brisa eterna, eu particularmente não gosto, mas a gente acostuma, né? Ah, e minha mãe me chama de biruta, e tem outros amigos do meu amigo que me chamam de nerd, nem sei por que, já que as minhas notas não passam de 7, e...
- Bem-vinda, . – Um menino doido chegou do nada e atrapalhou a minha explicação sobre mim mesma. Povo sem educação. – Eu sou , o ajudante. – Pau-mandado da professora que eu sei. – Bom, agora que já te conhecemos, pode se sentar ali ao lado do .
COMÉQUIÉ? EXCUSE-ME, REPETE NA MINHA CARA. Sentar ao lado do ? Eu passo, obrigada!
- Posso me sentar ao lado do meu amigo? – Eu pedi, apontando para o . – Sabe como é, meu amigo, eu já conheço ele, isso tudo vai ficar mais confortável.
- As aulas de teatro servem também para fazerem novos amigos, . – falou, sorrindo no final. Ele quer me ferrar eu sei.
Nem tentei protestar, já que a batalha estava totalmente perdida. Fui indo devagar e calmamente até o lugarzinho vago ao lado do .
Quem é ? Meu vizinho por quem eu tenho uma queda. É bem estranho, porque eu nunca falei com ele e eu tenho toda a certeza do mundo que ele nem sabe meu nome. E também nem sabe que eu sou a vizinha dele. E também nem sabe que eu espiono ele se vestir para ir para a escola todas as manhãs. Wow, como isso soou safado. Mas eu nunca vejo coisas que eu não deveria ver. Só o lindo corpo definido do .
- Vamos começar pelas apresentações. – A professora falou olhando na prancheta. – Vocês levantam, dizem seus nomes e por que estão aqui. Começando pela aquela ali.
- Ah, er, ok. – A menina se levantou desengolçadamente e pigarreou alto. Depois eu que sou a estranha. – Bem, eu sou a , sou intercambista, e eu estou aqui porque achei que seria legal conhecer mais o estilo de vida de vocês. – Ela terminou e se sentou.
- Próxima. – A professora berrou, anotando alguma coisa na prancheta.
- Meu nome é , e eu estou aqui porque a vaca da diretora me pegou fumando.
- Próxima. – A professora berrou de novo depois de anotar mais alguma coisa na prancheta e quase matar o com os olhos. Nisso, eu me controlava para não olhar pro garoto que estava sentado ao meu lado. Controle , controle!
Umas duas meninas e mais uns dois meninos se apresentaram, mas eu acabei nem prestando a atenção. Meu Deus, eu estou do lado de . Eu nunca cheguei tão perto dele desse jeito, isso é tão emocionante!
- , sou líder da torcida e estou aqui porque eu acho teatro bem legal. – Parabéns, uhul.
- , minha mãe me obrigou a vir para cá. – disse logo depois que a garota se sentou.
- Chagas, o conselheiro da escola falou que eu deveria tentar fazer outras coisas ao invés de compras. – Uma menina que estava sentada entre o e o falou, rolando os olhos no final.
Aqui só tem gente problemática, que medo. Me alegra saber que eu sou a mais normal.
- Meu nome é – Nem sabia. Finge. – E eu vim para cá para ganhar uns pontos extras para que eu possa entrar na faculdade com louvor e glória. – falou, soltando uma risada engraçada que me fez abrir um sorriso. Ele se sentou e eu me levantei, fazendo muito mais força ainda para não dar uma espiadinha no ser sentado do meu lado.
- É, eu sou a . – Sem pressão , concentra. – E eu estou aqui porque meu amigo não tem amor próprio e sempre tem que achar um jeito de eu perder o amor pela minha também. Daí, ele me colocou em aulas de teatro, sabendo que eu morro de vergonha de falar em público, e que quando eu começo a falar, não paro mais! – Eu falei tomando fôlego no final e soltando um suspiro aliviado, fazendo todos rir. E me deixando vermelha, claro.



Capítulo três - Banda secreta.


A aula da tortura acabou e todos se levantaram para ir embora. Eu não conseguia para de encarar as costas do , que nem ligou para mim. Ele deve me achar uma lezada. Vou me afogar em um copo de suco de uva. Adoro suco de uva, e já que eu vou morrer por ser ignorada pelo , que seja de uma forma prazerosa.
Eu e o fomos andando até a saída da escola e o passou por nós e deu uma espécie de sorrisinho pro . Estranho, o nunca sorri. Eu achava que ele não sorria, porque não tinha dente ou usava aparelhos, ou coisa assim. Mas eu descobri na aula de teatro que é porque ele não tem motivos. MEU DEUS, ele é gay e está dando em cima do meu melhor amigo. Triste tudo isso, porque, venhamos e convenhamos, o , eu pegava.
- , quer comer torta lá em casa? – Eu perguntei quando a gente chegou ao portão da escola.
- Ah , hoje não dá. É que eu tenho que fazer outras coisas. – Ele falou coçando a nuca. É sempre assim, vira e mexe ele tem que fazer outras coisas. Estou sendo traída pelo meu melhor e único amigo, Oh.
- Ah é? O quê? – Eu perguntei, arqueando a sobrancelha. pensa que eu sou burra. Posso ser um desastre, uma mula, e chega de me insultar, mas burra? Não, burra eu não sou!
- Er... Bem... – Pigarreio. – Ler pros cegos? É, tchau! – Ele terminou e depois praticamente saiu correndo.
Espiã, ativar.
Esperei ele virar a esquina para o seguir. O bichinho é tão burro, que nem se tocou que tava indo à direção oposta à casa dele.
Continuamos assim: ele virava a esquina, eu virava depois. Uns 6 quarteirões depois, ele dirigiu seu corpo magrelo - mentira, até que ele é meio gostosinho. Credo , ele é seu amigo, que horror! - até uma casa que me parecia familiar. Fiquei olhando escondida atrás do poste, e ele tocou a campainha. E para minha surpresa bonita, quem abre a porta? ! Isso mesmo, o do teatro. Não estou blefando. Meu queixo foi lá no chão e voltou como um iô-iô faz.
Isso é tão estranho quanto ver o sorrir. deu espaço e o entrou. Aproveitei e fui andando devagar até lá. Fui para os fundos da casa, tentando achar uma janela. Bingo! A janela era um tantinho maior que eu, e para minha sorte, tinha um caixote lá. Arrastei para baixo da janela e subi nele. Há, sou a rainha do mundo.
E para minha segunda surpresa em menos de 5 minutos, o que eu vi? Uma banda! Composta por quem? , , meu querido e mentiroso amigo , e, adivinha? Gato ! Porque a bicha do meu amigo não me contou isso? Magoou!
Fique ali uns 10 minutos vendo eles tocarem. Minha perna começou a doer, então eu resolvi balançá-la. Não sei como, eu bati minha testa na janela. Mas foi uma batida tão forte que até os japoneses ouviram. Levantei a cabeça e pus a mão na testa. Vi o apontando para mim e todo mundo olhando na minha direção. Quando o me viu, ele disparou pela porta e apareceu do meu lado, me fazendo cair do caixote.
- Ai, meu bumbum! – Eu falei, levantando. Mal tive tempo de respirar e ele tava me puxando pelo braço. O bichinho estava nervoso, tão nervoso que até bufava. Ele foi me arrastando para dentro. NÃO, POR FAVOR, POR FAVOR. O está ai, eu não posso entrar. Tarde demais, já estou dentro.
- O que você está fazendo aqui? – Ele falou, me empurrando para dentro do porão. – Sua bisbilhoteira.
- Olha quem fala, mentiroso! – Eu disse, cruzando os braços. – Oi, caras. – Eu falei e acenei, e eles acenaram de volta, com a maior cara confusa, nossa, como o fica lindo confuso. – Porque você não me disse que tinha uma banda?
- Porque era para ser segredo, DÃÃH! – Ele disse com uma voz irritada.
- Fica tranks, eu não vou contar para ninguém. – Eu falei calma. – MAS VOCÊ DEVERIA TER ME CONTADO, SEU FEIO! – Eu comecei a gritar.
- Calma . Fica tranks. – O disse, quase dando risada. Ih, que intimidade é essa, ?
- Eles pediram para não contar para ninguém. – falou apontando para o resto, que fez cara de anjo. Anjo do inferno, esses daí. - E você? – Tosse - Não poderia falar – Tosse – para – tosse – sua – tosse – melhor amiga?
- , você tomou seu xarope? – perguntou, mudando de assunto, com uma cara desconfiada.
- Ah não , ele é horrível e faz minha boca ficar amarga, não quero tomar! – Eu falei, fazendo manha. - Ah dude, o xarope é muito ruim mesmo, ele tem gosto de óleo de batata! Seja lá qual for o gosto disso. Se é que isso existe...
- , você tem que tomar! – Ele falou e foi segurar meu braço, mas eu fui muito mais ninja e desviei, correndo para trás do .
- Eu não vou tomar aquele treco. – Falei, agarrando a camisa do garoto e enfiando a cara nas costas dele. Cadê minha vergonha?
Cadê a minha dignidade?
- , você parece uma criança! – falou, rindo.
- Minha dignidade já está lá no chão, e a minha vergonha na cara foi dar um passeio com a verdade do . Não tenho nada a perder. – Falei dando de ombros, ainda agarrada na blusa do , que ria junto com o meu namorado. , .
- , vai tomar o seu xarope. – falou depois que parou de rir. ELE SABE MEU NOME, ELE SABE MEU NOME! Melhor... ELE SABE MEU APELIDINHO, ELE SABE! Eu dançaria macarena ali mesmo, mas, por pura sorte, eu ainda tenho bom senso.
Cara, meu apelido nunca foi dito de uma forma tão bela como ele disse. Deveria ter gravado isso.
- Sabe o que é? – Eu falei olhando para ele, que me encarava esperando resposta. Soltei a blusa do e fui andando de costas até a porta. – É que eu tenho aula de dança, e o xarope me deixa mole. – Mentira. – Então, é melhor deixar para depois, sabe? Tchau, gente! – Eu falei me virando rapidamente, e... Quem foi que apagou a luz?
Abri os olhos – que não deveriam estar fechados – e quase levei um susto quando eu vi quatro cabeções tampando minha visão.
- Que aconteceu? – Perguntei me sentando, ainda meio tonta.
- Você desmaiou quando bateu a cabeça. – falou, apontando para minha testa.
- Ah, que lixo, eu sou pior que um saco de batatas. – Ok, isso era para ser um pensamento. – Que vergonha, que vergonha! – Falei tampando meu rosto com uma almofada.
- Calma , isso acontece com todo mundo. – O falou e eu tirei a almofada da cara com medo de morrer sufocada. Coisa que eu não posso fazer antes de ouvir o repetindo meu apelido de novo.
Levantei e quase cai para trás. Bem que eu poderia cair nos braços do , aí ele ficaria caído de amores por mim. Eca, que brega!
- Opa, tenho que ir. – Falei depois de olhar pro relógio e peguei minha bolsa que estava no sofá. – Leva eu, ?
- Ih , prometi para o que ia ajudar ele. – Ele falou coçando o cabelo. – Mas o pode ir com você, não é?
- É, sem problemas. – Ele disse sorrindo. Morri.
- Não quero incomodar, sério. – Falei, sabendo que aquilo não era nem um pouco verdade. Claro que eu quero incomodar, I born for this!
- Não é incômodo, já que a gente mora um do lado do outro. – NÃO ACREDITO QUE ELE SABE QUE É MEU VIZINHO.
Com me surpreendendo desse jeito, impossível parar em pé.



Capítulo quatro – Brócolis.


Eu e o deixamos a casa em silêncio. É tudo muito tenso para mim. A cada rua que a gente atravessava, eu tinha que tomar cuidado pra não morrer atropelada. Confesso que eu já sou meio desligada, ainda mais com o do meu lado, é pedir pra morrer mesmo.
Eu não falava uma palavra, um “a” um “b” ou qualquer letrinha do alfabeto. Do jeito que eu sou, é capaz de eu abrir a boca e sair uma coisa nada a ver com o assunto. Se bem que entre nós não tem nenhum assunto até agora...
E agora? Como eu puxo o assunto?
Pensa , pensa.
- Vocêgostadebrócolis? – Eu perguntei rápido demais. Sabia que ia dar tudo errado. Droga, , Droga!
- Se eu gosto de quem? – Ele perguntou com um olhar confuso.
Ah cara, não tinha coisa mais legal pra falar não, ? Brócolis... Me poupe, vai! Mas eu acho brócolis super interessantes, já percebeu como eles parecem mini-árvores?
- Brócolis, você sabe... – Eu comecei, sem graça. – Aquele negócio que parece uma arvorezinha, super gostoso, azedinho, que quando a gente come fica super feliz. – Eu acho que sou a única pessoa que quando come brócolis fica super feliz, mas tudo bem, isso é um caso à parte.
- Ah, sei! – Ele respondeu rindo. Vai ver que brócolis deixa ele super feliz também. – Gosto sim, brócolis é fantástico.
- Intergalaticamente bom, né? – Alguém cala a minha boca, por favor?
- É, muito bom! – Ele falou se virando pra mim. Porque justamente hoje tem que estar esse tempo feio, com essa neblina horrorosa? E porque eu não peguei uma blusa?
- Está frio, né? – Ele perguntou quando eu assoprei minhas mãos pra tentar esquentar um pouquinho.
- É... – Quando eu não falo de mais, eu falo de menos. Sou uma burra. AAAAH!
- Se você quiser, eu te empresto meu casaco... – Ele falou e já foi tirando.
Ah, que fofo! Eu tenho um futuro namorado perfeito.
- Não, precisa. Sério! – Eu disse e ele colocou o casaco nas minhas costas. Senti o cheiro dele entrar pelo meu nariz. Alguém me segura? – Obrigada.
- De nada, eu não ia deixar a amiguinha do morrer de frio. – Ele disse e depois passou a mão no meu cabelo. Agora eu sou o que? Um cachorro? “Amiguinha do ”. Bom saber qual é a minha reputação por ai. Alem de ser conhecida por ser a amiga do , ainda por cima é no diminutivo. Amiguinha.
Eu sorri fraco e nós continuamos a andar. Quando eu ia abrir a boca pra falar alguma coisa, o celular dele tocou. Que bom, só Deus sabe o que eu ia falar agora. Já até imagino: Eae , e de cenoura, tu gosta?
- Quem era? Sua mãe? Sua irmã? Sua prima? Sua tia? – Eu disparei a perguntar quando ele desligou o celular. Horas, ele é meu futuro namorado, e pra que ele seja meu namorado no futuro, eu preciso me informar, certo?
- Não, era só minha namorada. – Ele respondeu naturalmente. O QUE? NAMORADA? Mentira sua , olhei no seu facebook semana passada e seu status era SOLTEIRO. Solteiro com todas as letras.
Depois dessa, broxei. Nem quero mais conversar, to de mal.
- Quer que eu te leve até a porta? – Ele perguntou quando a gente chegou na frente da casa dele.
- Não precisa, eu acho que sei o caminho. – Eu falei irônica e ele deu de ombros e sorriu depois.
E agora, como eu me despeço? Se eu abraçar ele, ele vai pensar que eu sou uma maluca apaixonada por ele. Não que eu não seja.
Se eu der um beijo na bochecha, é capaz de na hora que eu for ficar na ponta dos pés, o vento tenha desamarrado meu cadarço, fazendo que de algum jeito misterioso eu perca o equilíbrio e bata minha testa na dele. Ou seja, essa opção está fora de cogitação.
Se eu der um aperto de mão, vai ser muito nerd. Melhor não.
- É, obrigada. – Eu disse e acenei, me virando e indo embora.
- Te vejo na escola? – Ele gritou do jardim dele quando eu tava praticamente na porta.
- Provavelmente eu vou estar com uma máscara horrível ou com um chapéu estranho pra esconder esse galo gigante na minha cabeça. – Eu respondi, gritando e fazendo sinais com as mãos. Ele sorriu e eu entrei em casa, indo direto pro meu querido quarto. Me joguei na cama pra tentar absorver todas as informações. É muita coisa pra acontecer num dia só.



Capítulo cinco – Desafio.


Cheguei à escola e fiquei esperando aquela coisa que eu chamo de amigo. As horas passavam e ele nem chegava.
Até que o chegou, no carro dele, que eu não faço a mínima idéia de qual marca é, e isso realmente não importa. Ele desceu, deu a volta e abriu a porta. E de lá saiu meu pesadelo: Uma loira com um uniforme que não é da nossa escola, com um sorriso tão falso quanto seus peitos siliconados. Eles foram em direção à um grupo e pararam lá. Ele a exibia como um troféu, e ela se sentia a medalha de ouro dele. Coitada. Para mim, ela não passa de medalha de participação e olhe lá.
- O que ela tem que eu não tenho? – Eu perguntei alto, entortando a cabeça para ter um ângulo melhor de tudo aquilo.
- Peitos. – falou parando do meu lado. – E altura também. E ela também tem o , e...
- Entendi , entendi!
- Mas eu não acabei, ela também tem... – Ele continuou, agora numerando os fatos na mão.
Dei um tapa na cabeça dele, que fez questão de devolver. Nossa, que sensível. De onde eu tirei o mesmo?
Suspeito que eu tenha achado na lata de lixo.
O sinal bateu e eu pulei nas costas dele, fazendo-o me levar de cavalinho até a porta da minha sala.

Eu cutucava a minha torta de morango com uma colher, enquanto a minha outra mão segurava a minha cabeça, para ela não soltar do pescoço e sair rolando refeitório a baixo.
Bem, nunca se sabe...
Virei um pouco a minha cabeça para ver o que se passava na selva. estava sentado na mesa ao lado, na mesa atrás dele e na mesa de frente para a minha.
- , se os meninos são seus amigos, por que vocês não andam juntos? – Eu perguntei e ele levantou a cabeça com os olhos semi-abertos. Tanta coisa para se fazer no intervalo e ele vem dormir.
- É óbvio. – Ele começou coçando os olhos – Eles têm os amigos deles, e eu... Bem, eu tenho você.
Olhei para a mesa do , ele brincava com uma moeda enquanto uma menina falava rapidamente. O sorria fraco na outra mesa, enquanto os amigos riam de alguma palhaçada. O tava meio distante dos outros, coberto pela nuvem rotineira que ronda ele.
- Eles não parecem felizes.
- E desde quando você virou psicóloga dos sinais? Se é que isso existe... – Ele perguntou, colocando um pedaço da MINHA torta na boca.
- Não precisa ser formada para ler um bagulho desses! – Respondi e ele fez aquela típica cara de WTF? – Vai sentar na mesa com um deles, tonto!
- Está maluca de cajuzinho, é? – Ele gritou, inconformado. Cajuzinho? – Se eu chegar lá, certeza que eles vão me tratar igual lixo.
- Frouxo. – Provoquei tomando um gole do meu suco de uva.
- Aposto que você não teria coragem de fazer isso com as líderes. – Ok, ele acabou de duvidar da minha capacidade.
Sinto o cheiro de desafio no ar. Olhei para ele daquele jeito, segurei forte minha bandeja e me levantei, indo em direção à mesa das torcedoras.
Que saco, o que eu estou fazendo aqui? Se eu sair correndo agora, vou parecer idiota. O jeito é seguir em frente.
- Hey, girls! – Falei quando cheguei à mesa. Todas me olharam de um jeito estranho, menos uma, que fez questão de sorrir largo. – Posso sentar aqui? – Perguntei fazendo menção de me sentar, mais uma delas se arrastou, cobrindo o espaço. Obrigada!
- Não. – Uma morena falou com uma cara estranha. – Não aceitamos losers na nossa mesa, e se não te contaram ainda, você é a rainha delas.
Caraca, isso doeu! Dei meia volta eu fui saindo, enquanto ouvia os risinhos. Ê vontade de chorar.
- Ei, espera, espera! – Ouvi alguém falar e parei de andar. Me virei e vi uma maluca correndo até mim, com uma bandeja na mão. – Posso sentar com você?
- Comigo? – Perguntei só para ter certeza, e ela fez que sim com a cabeça. Pude ver os olhares de reprovação das outras torcedoras, e... Aquilo me deixou tão feliz! – Claro!
- Eba, eba. – Ela falou, feliz. – Mas antes, a gente pode passar no lixo e jogar isso fora? – Ela perguntou apontando para um negócio nojento que tinha na bandeja dela, que parecia papinha. Ou sopa que acabara de ser vomitada por algum neném com problemas estomacais. ECAAA!
- Não pode, deve! – Falei em um tom assustado e ela riu. A gente saiu em direção à lata de lixo mais próxima. – A propósito, eu sou , mas para os íntimos e pessoais, .
- . – Ela respondeu enquanto a gente ia em direção à mesa. – Hey, você é da aula de teatro, né?
- Eu mesma! – Falei e ela sorriu umas 50 vezes mais, se é que isso é possível. O sorriso dela tava quase saindo do rosto, como alguém pode sorrir tanto assim?
Chegamos à mesa e o me olhou de um jeito ultra-engraçado, e eu sorri, vitoriosa. - , ... , . – Apresentei um para o outro enquanto me sentava. ainda me olhava de um jeito lezado.
HAHA moleque, comigo ninguém pode. - Posso pegar um pouco? – A menina da papinha perguntou vinda com um garfinho em direção à minha torta.
- UÉ, achava que esse povo assim que nem você não comia torta de morango – sem-educação-nem-senso falou cheio de torta na boca.
- Aquele povo não come. – Ela falou apontando para as meninas – Eu sou diferente. – Agora ela falava apontando para ela.
- Percebe-se! – Eu falei e ela sorriu.
Agora quero ver quem vai me dar outra torta.

Cheguei em casa desolada, porque no intervalo ninguém me deu outra torta, e isso é super triste. Joguei minha bolsa no chão e me sentei no sofá.
- Oi . – Minha irmãzinha falou entrando na sala com uma fantasia de fada muito estranha. - Quem você é hoje, o Potter? – Perguntei enquanto ela arrumava a varinha de estrela dela.
- Não – Ela rolou os olhos. – Eu sou a Tinker Bell!
- Tinker Bell? – Perguntei olhando para ela. – Que coisa mais chata! Porque você não se veste igual o Power Ranger vermelho? Ele é bem mais legal.
- Power Rangers? , isso é tão last week! – Ela respondeu rolando os olhos. Meldels, daqui a uns dias os olhos dela saem rolando por ai. Eu é que não vou correr atrás. – Sem contar que eu sou uma MENINA.
Por que eu não tenho um menino como irmão? Ia ser bem mais legal. Pelo menos ele se vestiria de Power Ranger.
- Juuura? – Falei levando a mão até a boca e ela me atacou uma almofada.
- Samy, hora da escola. – Mamãe gritou da cozinha e ela foi correndo até lá. Tirei meus tênis e coloquei os pés em cima da mesinha de centro. Wow, agora que eu fui reparar no buraco gigante que tem na minha meia. E olha que essa é a minha melhor meia.
- Tira os pés da mesa, bebê. – Mamãe falou, procurando alguma coisa em cima da estante.
- Mama, preciso de meias. – Falei analisando minha unha do pé. – E de uma manicure.
- Para isso que seu pai te deu um cartão. – Ela disse, ainda procurando alguma coisa.
- Um cartão? Desde quando eu tenho um cartão? – Perguntei olhando para ela, que se virou com o meu novo bebê na mão.
- Coma; arrume a casa e não faça bagunça. – Ela falou me dando um beijo na testa.
- Não conte com isso. – Disse, ainda analisando meu presente. Tenho certeza que ela me olhou com aquele olhar de mãe que só as mães sabem fazer.
Oi cartão, vamos ser felizes para sempre e sempre!
Ouvi a mochila de rodinhas da minha irmã e logo depois a porta batendo. Comecei a revirar o sofá tentando achar o telefone. E dizem que telefones sem-fio são super lindos.
Achei o Benedito e comecei a discar o numero da única pessoa que eu sei.
- Hey, fedido. – Eu falei, feliz quando ele atendeu.
- Fala, amiga. – respondeu, feliz. Não tão feliz quanto eu, porque em matéria de felicidade, eu sou a campeã.
- Borá lá no shopping comigo? – Perguntei indo até a cozinha e abrindo a geladeira.
- Fazer o que, doida?
- Usar o Joe.
- Quem é Joe? – Ele perguntou com um tom assustado.
- Meu cartão sem limites que meu pai ausente me deu.
- Ih, agora não dá. – Ele respondeu naquele mesmo tom de voz de quando ele não queria sair comigo.
- Que foi agora? – Me revoltei e bati a porta da geladeira.
- É que eu estou com os dudes aqui em casa, e a gente está ensaiando.
Nunca pensei que o meu melhor amigo iria me trocar por quatro pessoas ao mesmo tempo. E QUATRO PESSOAS DE CUECA!
- Ah, é assim, é? – Eu disse num tom indignado.
- É... – Ele falou com um pouco de medo na voz.
- Então tá. Fala para o que eu mandei um beijo. – Falei maior feliz subindo as escadas.
- Outro para você também. – Ouvi a voz do meio distante.
Aaaah não acredito que o fez isso!!! Parece que ele adivinhou que eu ia falar merda.
Droga! E agora eu vou ter que me mudar para a Índia, aprender Hindu, ou qualquer coisa do tipo e mudar meu nome para a Shiuriama.
Deus, que vergonha.
- Viva-voz. – Ele disse, dando risada, e o resto entrou na brincadeira de deixar a idiota da sem um pingo de graça.
- Te odeio, seu gordo! – Gritei e desliguei o telefone na cara dele. Bem feito, agora ele que fale com o tu.



Capítulo seis – Hey, quer ser minha amiga?


Cheguei no Shopping e fui direto comprar um super sorvete com tudo que eu tenho direito. A culpa não é minha se fazer compras dá fome, mesmo que sejam compras de meias. Tá, eu sei que eu ainda nem pus um dedinho dentro de nenhuma loja, mas eu quero tomar um sorvete! Isso é crime agora?
Eu estava praticamente saltitando pelo shopping tomando meu sorvetão. O mais legal é que eu saltitava, tomava meu sorvetão e cantarolava. Quem passava devia pensar que eu estava fazendo uma serenata para o sorvete ou alguma coisa do tipo. Bem idiota a pessoa que pensou isso, porque todo mundo sabe que para se fazer uma serenata precisa de uma sacada, um homem ajoelhado e música mexicana.
Entrei em uma loja qualquer, ainda desligada do mundo, e fui andando pela loja. Eu acho que estou andando em círculos, não tenho muita certeza. Anyway, o que eu to fazendo aqui mesmo? MEIAS!
Vi a sessão de meias e me desviei para a sessão de vestidos. Não sei por que eu mudei de trajeto, foi uma coisa espontânea.
Eu estava indo feliz até um vestido super lindo - detalhe que eu estava saltitando, e uma mula entrou na minha frente. Meu sorvete foi bem na roupa da pessoa e eu direto para o chão. - MEU SORVEEETE! – Eu gritei quando vi o destino que o pobrezinho tinha tomado.
- Seu sorvete? SEU SORVETE? – A garota esperneava enquanto eu levantava. - OLHA A MINHA ROUPA!
- Ô colega, não sei se a senhorita percebeu. – Falei chegando perto e tentando tirar o sorvete da blusa da garota. – Mas você está em uma loja de roupas, e você pode comprar qualquer blusa, trocar e pronto. Mas o meu sorvete... Ele não vai renascer das cinzas, porque ele não é uma fênix. – Olhei para as minhas mãos e vi o resto do sorvete. Era um belo sorvete... Limpei na blusa dela e dei um sorrisinho. Ela vai trocar de blusa, não vai? Então não tem problema nenhum.
- Você tem razão... – Ela falou, coçando o queixo. – Vou trocar de blusa, espera ai. A louca saiu correndo e eu acabei perdendo ela de vista. O que será que ela foi fazer? Chamar a trupe dela para me bater?
Ah para, foi só um sorvetinho. Para falar a verdade, era O sorvete da , mas eu supero.
Ouvi uma música que me lembrou da banda do . Que amiga de merda eu sou, ainda nem sei nem o nome da banda do meu melhor amigo. Que vergonha. O que será que eles tocam? Metal? Hardcore? Quando eu os ouvi no porão, eles estavam fazendo cover. Nem teve graça. E pior que além de ser cover, nem dava para ouvir direito. Puts, além de ser uma péssima espiã, sou uma péssima espiã surda!
- Ok, vamos pagar. – A menina falou chegando do nada e me puxando.
- Se você quiser, o Joe paga. Aliás, eu pago com o Joe. – Falei quando a gente chegou ao caixa. Ela deu o código de barras e a moça passou. A menina se curvou para ver o preço e depois voltou, abrindo a carteira.
- Paga você. – Ela falou, me encarando.
Safada, só porque a blusa é absurda de cara.
- O caramba, paga você. – Falei, cruzando os braços.
- Você tem um cartão. – Ela disse, fazendo uma cara de sebo.
- Você tem um monte de verdinhas na carteira. – Retruquei, fazendo a melhor cara de vencedora que eu achei.
- Eu pago, mais você me deve uma. – Ela disse pagando a mulher e a gente foi caminhando para fora da loja.
- Sugiro uma aposta. – Falei pensativa. – Se você ganhar, eu pago a blusa, se eu ganhar, você paga um sorvete para mim e finge que nada aconteceu. Topa?
- Topo, topo. Topo, claro, porque não? – Ela disse sorrindo no final.
- Então siga me! – Gritei e fui correndo para o meu lugar favorito: Playtown.
Parei de correr quando cheguei à frente daquela pista de dança.
- No way, eu não sei jogar isso aí. – Ela falou, parando do meu lado.
Subi na “pista” e selecionei a música.
- Vamos logo, é fácil! – Eu disse dando uma força e ela subiu. A música começou a tocar e eu comecei a entrar no clima.
- E agora, o que eu faço? – Ela perguntou, super desesperada.
- Dance. – Falei prestando atenção na tela. – Dance e não se canse.
- Vamos admitir você me arrebentou. – – Sim, eu descobri o nome da garota da blusa. Também descobri que ela é da aula de teatro. Descobri também que já sabia de tudo isso. – Falou depois de engolir o sorvete que ela pôs na boca.
- Ah, foi só uma vitória esmagadora, nada que você não supere até os 50 anos de idade. – Eu disse limpando o sorvete e ela fez uma cara estranha.
- Tudo isso para esquecer uma coisinha dessas? – Ela perguntou, indignada, e eu fiz que sim com a cabeça. – Fala sério, que coisa trágica.
- Pensa pelo lado bom. Isso significa que antes dos 50, você não morre. – Eu comecei a falar num tom sábio - Eita, e se morrer antes, nem vai ter superado isso tudo.
- Acho que isso entra na lista de “desvantagens”. – disse, fazendo outra careta estranha. Ual, ela é boa mesmo nisso!
O celular dela tocou e ela se levantou para atender. Minutos depois, ela voltou.
- Hey, eu preciso sair do shopping, antes que meu pai mande alguém vim me puxar pelos cabelos. – Ela falou, pegando a bolsa. – Você vem?
- Opa, carona grátis, estou dentro! – Quase gritei, me levantando desengonçadamente e ela riu.
Chegamos ao carro super lindo dela e entramos.
- Qual seu destino? – perguntou, fazendo uma voz de homem.
- Casa dos ’s, please! – Falei tentando imitar uma madame e ela sorriu de lado, quebrando totalmente a figura do personagem homem que ela tava tentando fazer.
- MEU DEUS! – Ela gritou quando foi ligar o carro me fazendo dar um pulo e olhar para ela, curiosa – Óculos de sol.
Meu Deus, que escândalo por causa de um óculos. Pensei que ela tivesse visto uma barata. Ou pior, uma formiga.
Até parece que ia ter um bicho nesse carro. deve ser uma daquelas pessoas que têm sua própria criancinha chinesa para lavar o carro. Não que isso seja legal. - Pode ligar o rádio? – Eu perguntei e ela concordou com a cabeça. Fui passeado pelas estações de rádio, que não é novidade para ninguém, não tocavam nada de bom. Quando eu crescer vou montar uma rádio só para mim. Vai ser a mais ouvida da Califórnia! Sim, eu vou morar na Califórnia, faz parte do meu plano de dominar o mundo sendo uma garota independente.
- AH, deixa ai! – Ela gritou quando eu parei em uma música do High School Musical.
- EU SOU O TROY. – Foi a minha vez de gritar enquanto ela aumentava o rádio.
- Começa! – Ela disse feliz batucando no volante.
- Living in my own world, didn't understand, that anything can happen, when you take a chance. – Eu cantei com emoção e com a melhor voz de menino que eu consegui fazer.
- I never believed, in what I couldn't see. I never opened my heart, to all the possibilities. – cantou com uma voz esganiçada que eu tenho certeza que ela fez de propósito. - I know... That something has changed, never felt this way, and right here tonight.
- This could be the start of something new, If feels so right , to be here with you - Agora a gente não cantava mais. A gente berrava com toda a nossa voz. - ooh, and now looking in your eyes – Eu lancei um olhar sedutor para ela, que deu uma piscadinha para mim e nós começamos a rir muito. - I feel in my heart . The start of something new.
parou o carro na frente da casa do , enquanto nós duas riamos de alguma babaquice que a outra disse.
- Quer entrar? – Eu perguntei depois de me recuperar. Ual, nunca pensei que a ia me fazer rir tanto!
- Ah, se você insistir... – Ela falou jogando o cabelo e olhando para mim como quem quer seduzir. - Não mesmo. – Falei fazendo cara de nojo e ela riu.
Descemos do carro e ela parou na minha frente.
- Me concede essa dança? – Ela perguntou esticando a mão e se curvando.
- É claro, gato. Com você eu danço até o dia amanhecer. – Falei pegando a mão dela e a gente foi dançando até a porta.
Na verdade, acho que aquilo que a gente fez não era bem uma dança. Parecíamos duas éguas galopantes galopando.
Paramos em frente á porta e ela esticou a roupa. Eu repeti o resto, porque eu quero ser uma mocinha chique e feliz igual a . Hihi.
Ouvi uma gargalhada super inconfundível e um monte de vozes mais inconfundíveis.
- Oou... – Eu falei meio que em pânico e a me encarou confusa – Mudei de idéia, vamos para a minha casa. – Falei puxando o braço dela, que puxou de volta me fazendo desequilibrar. - Ah, qual é, vamos entrar logo. – Ela disse rindo e fez o que não era pra ela fazer: tocou a droga da campainha.



Capítulo sete – Coisas que não devem ser conversadas com o garoto dos seus sonhos.


Sabe por que essas coisas acontecem comigo?
Eu sei.
Porque eu não rezo antes de dormir. Simples assim. Aposto que a reza antes de dormir, por isso que a vida dela é cor-de-rosa e a minha é preta com bolinhas vermelhas. Agora você deve estar pensando “Antes de dormir, comece a rezar, oras!”.
Não é tão fácil assim, porque Deus vai pensar: “AGORA que ela precisa de um pouco de sorte na vida, ela vem rezar, né?” Ele vai achar que eu estou o usando, igual seguro de carro. Deus sabe de tudo, até quando a gente vai fazer uma chantagem para ele. Já está tudo ruim demais, ficaria pior ainda se Deus me virasse à cara.
- Por favor, Deus do céu, não. Não, Não – Eu falava baixinho com os dedos cruzados.
Não sou formada em macumbaria e nem em nada do tipo, nunca estudei em Hogwarts e nem sou Jedi pra mudar os planos das pessoas com algumas frases, mas, por favor, que ninguém abra essa porta.
Ouvi as risadas e, a essa altura, a tinha apertado a campainha umas 50 vezes. Tive que dar uns tabefes na mão dela para que ela parasse de apertar a praga do botão. Não repare, mas quando eu estou nervosa ou com dor, eu saio xingando o universo inteiro.
Uma gargalhada foi ficando mais próxima e eu tava morrendo de vontade de fazer xixi.
Sim, quando estão nervosas, as pessoas normais suam na mão, tremem, tem uns que até soltam uns puns sem cheiro – isso foi nojento –, mas eu tenho que ficar com vontade de fazer xixi. Por quê? Porque sou uma aberração da natureza. E aberrações da natureza não são normais. E pensar que é tudo isso por que eu não rezo para dormir.
Eu comecei a rebolar e remexer toda, numa tentativa de não fazer xixi nas calças.
- Que é isso? , você quer dançar? – perguntou me olhando como se eu fosse uma estranha com 7 olhos e 4 braços. Dois nos lugares das pernas. - Não, é que eu estou – A porta se abriu. Droga! Que diacho de Jedi eu sou?
Um Jedi bem azarado e ruim, porque foi justo ele que abriu a porta. POR QUE ELE? POR QUÊ?
Simples, porque eu não rezo para dormir.
- ! – Ele – – Falou, olhando para mim e eu desviei o olhar.
- Hmm, é... ? – Eu perguntei, coçando a cabeça. – Não, não estou perguntando se você é o , eu sei que você é o . Eu não sou tão débil a ponto de confundir vocês dois. Podemos entrar? Mas se a gente for incomodar, relaxa, que eu vou embora e daí eu levo a minha amiga comigo, porque que raio de amiga vai embora e deixa a outra na porta da casa de alguém que ela nem conhece? – Cala a boca , cala a boca. – Eu sei, eu sei, blábláblá, você nem tem amigos, ! Mas eu sei cuidar dos meus amigos, sabe? – Eu falava, fazendo todos os sinais do mundo com as mãos, e o e a prestavam a atenção em cada palavra. – Eu cuido do , certo? Se não fosse por mim, ele já tinha se enfiado em vários buracos. Apesar de que, ultimamente, ele tem andado meio mau comigo. Acho que o ciclo menstrual dele já está chegando. Sabe, TPM e coisas do tipo. Isso é da natureza de garotas, eu sei, mas o não deve ser bem um garoto... Desde a pré-história. a melhor amiga dele é uma menina que usa sutiã - se bem que, para usar sutiã, só basta querer. Será que o ciclo menstrual do vem pelo nariz? Imagina para colocar... – NÃO ACREDITO QUE EU FALEI SOBRE CICLO MESTRUAL PARA ELE! Justo para o . Todo mundo, TODO MUNDO sabe que garotos não menstruam. Isso foi tão idiota! Agora, eu estou mergulhando em um mar de vergonha, e nesse momento, vou me afogar nele.
Não sei como a minha mais nova amiga não saiu correndo de medo e como meu deus grego não bateu a porta na minha cara.
- Me deixa – engoli seco e respirei fundo, me fazendo ficar oito vezes mais constrangida - Usar o banheiro? – Eu perguntei, virando um pouco a cabeça e ele sorriu, me dando espaço. Sorriu, claro. Depois de uma menina ficar falando besteiras no seu ouvido, a única coisa que você pode fazer é sorrir. Eu sou uma negação para a natureza. Daqui a pouco o mundo me chuta para fora dele.
Droga, . DROGA!

Depois de eu ficar uns 15 minutinhos bonitos dentro do banheiro do pensando em como eu sou uma aberração da natureza, resolvi sair do casulo e virar uma borboleta.
Fui descendo, descendo, perdendo a linha devagar até o porão. Cheguei lá e entrei devagarzinho. O povo estava conversando entre eles, e até a estava falando. O que não é novidade. Ela é pior que eu, fala que parece que tem um motor na boca, e a gasolina dela é chiclete.
- Oi, ! – falou, acenando dementemente para mim, e eu acenei de volta, para ele e para o resto do pessoal, que me olhava com cara de pamonha caseira.
- O que vocês vão tocar agora? – perguntou e eu me sentei ao lado dela, no chão mesmo porque sentar no chão é demonstrar humildade e integração com a natureza.

Seven weeks untill the Summer
(Sete semanas até o verão)
My nights are long and sober
(Minhas noites são longas e sóbrias)
Everybody's going out and I'm left all alone
(Todo o mundo está saindo e eu estou sendo deixado de lado)
Is something wrong? Am I contagious?
(Tem algo errado? Eu sou contagioso?)
Working for minimum wages,
(Trabalhando por salários mínimos)
Been flippin' burgers now for ages while my friends are home
(Tenho virado hambúrgueres por eras enquanto meus amigos estão em casa)

Sim, eu pensei nisso sozinha. Viu? Não é porque uma pessoa como eu não sabe abrir uma lata de ervilhas que ela é totalmente burra, vai ver ela só não gosta de usar latas porque elas não são boas para a natureza, ué. Aprenderam a lição?
Er, qual é a lição mesmo? A lição é: Latas de ervilhas são do mal, elas vão fazer uma rebelião do demônio e vão dominar a terra.

Hello, can I take your order please?
(Olá, posso anotar seu pedido?)
Yes, I'm a loser
(Sim, eu sou um perdedor)
Seven weeks of fries with extra cheese, then I'm all done
(Sete semanas de fritas com queijo extra, e então, acabou)

Só de ouvir essa música eu já fiquei uns 4 quilos mais gorda.
Nem queria emagrecer mesmo.
Corrigindo: nem precisava emagrecer mesmo.

It won't be long
(Não será por muito tempo)
Sunglasses on
(Com seus óculos de sol)
It feels so wrong
(Parece tão errado)
When summer's gone
(Quando o verão se for)
We'll sing this song
(Nós cantaremos essa canção)
Dance all night long
(E dançaremos a noite toda)

Não me importaria de dançar a noite toda uma canção que me engorda 4 quilos se eu estiver com o .



Capítulo oito – Chuva: a melhor amiga de uma garota.


- Os fodões.
- Não mesmo! – disse, indignado.
- Tem que ser um nome mais... Mais... – falou, gesticulando bastante – Pow Pow.
Mais Pow Pow do que fodões não existe. Mas tudo bem...
- Os gatinhos entram em cena? – Falei com uma cara enigmática, olhando para os meninos da banda - cuja a banda não tem nome, e é isso que estamos tentando fazer agora, jogados na sala do e tomando suco de uva: Arranjar um nome para a banda.
- NÃO! – Eles gritaram com um tom de medo na voz.
- Ah, vocês pediram um nome sensual, eu mandei um nome sensual. – Falei, dando de ombros.
- A gente não pediu isso. – falou, levantando a sobrancelha.
- Fica quieto você. – Eu disse, fazendo cara de poker. Sabe, papapa poker face. Igual Lady GaGa, aquela menina perdida sem Deus no coração.
Prefiro a Britney.
Sempre preferi e vou preferir até o último cabelo da minha cabeça cair.
Falando em cair, acho que vai cair o mundo.
- Dude, vai chover. – Eu falei, coçando o queixo, e o me encarou que eu senti. Tá, para falar a verdade, eu vi. Mas eu queria fingir que entre eu e o temos um lance de conexão e todas essas coisas dignas de horóscopo.
- “Dude”? – Ele perguntou meio que indignado, como se eu tivesse falado o pior palavrão impronunciável do universo. – Achava que garotas não falavam dude.
Legal, agora ele acha que eu sou meio moleque.
GREAT! - Bem... Todas as garotas não falam. – Eu disse, me pondo de pé e o percebi me acompanhar com os olhos. – Mas eu sou diferente.
Uma palavra: ARRASEI!
Peguei minha bolsa que estava no sofá, antes tive que desviar do menino , que estava deitado no chão, olhando para o teto.
- Aonde vai? – Ele perguntou, se sentando.
- Embora para a minha casa, porque vai cair o mundo, a foi embora, e eu tenho que chegar em casa sem ser de barco. E antes das sete. – Expliquei, olhando para ele, que fez um bico enorme.
- Mas vai chover. – disse com tom de “tenha piedade, sou pobre miserável e moro de baixo da ponte”.
- Acho que a gente já sabe disso, . – falou, mudando o canal da TV.
- Deixa, deixa, é Back to the future! – , a bicha louca, gritou, dando um tapa na mão do outro menino.
- Você sabe o que significa, ... Chuva, , Back to the future... – Ele falou, fazendo mistério, e o encarava tudo aquilo como um filme de suspense que você não pisca nem se uma mosca pousar no seu olho.
- Não, ; não vou fazer bolinhos de chuva para que você coma enquanto assiste Back to the future. Se fosse Star Wars, até ia.
- Ual, , você cozinha? - perguntou, se pondo de pé. Ele deve ser uns quatro dedos maiores que eu. Como soa bonito meu apelido na boca dele. Derreti toda, até esqueci os momentos vergonhosos que eu passei ao lado e no telefone com ele.
- E ainda assiste Star Wars. – falou com um ar de apaixonado. O que Star Wars não faz com essas pessoas?
- Mais ou menos, sabe... O básico. – Falei, ficando um pouquinho vermelha que eu sei.
- O caramba, ela sabe cozinhar tipo tudo, melhor que minha mãe, se duvidar. Cozinha, dança e toca violão. Tem como ficar melhor? – falou na maior empolgação 3000, me deixando azul. ia falar alguma coisa, mas um trovão fez com que ele fosse impedido.
- Gente, que medo. Estou indo. – Falei, saindo da sala antes que percebessem minha cor de tomate. Sim, agora azul virou cor de tomate. Se preto é o novo rosa, porque tomates não podem ser azuis?
Peguei meu celular de pobre e coloquei uma musica qualquer.
Mentira, qualquer música do Plain White T’s NUNCA vai ser uma música qualquer.
- Tem certeza que vai? – gritou e eu gritei um “Yes, man” de volta.
Ok, força na peruca.
Abri a porta e me arrependi na hora de não ter aceitado a carona da .
Fui andando pelo jardim me abraçando para que eu não voasse. Um vento infernal, e o céu fechado, bem estilo comensais da morte chegando para te pegar.
Apertei o passo para que eu conseguisse chegar mais rápido. Vi uma espécie de furacãozinho com alguns papéis que estavam jogados na rua e fiquei impressionada com aquilo.
Vou morrer em um furacão de papel, que lindo.
Quando eu cheguei na primeira esquina, a chuva caiu.
- Ok, agora é só pegar o guarda chuva. – Falei com calma e tirei o meu umbrella, ela, ê, ê, ê da bolsa e o abri. No mesmo segundo, bateu um vento da Malásia, me fazendo ficar molhada dos pés até o último pelo da minha sobrancelha.
O guarda chuva queria voar, e eu estava quase indo junto. Dei dois passos para frente e desisti.
Joguei o pára-raios que o meu guarda chuva acabara de virar no lixo mais próximo e corri de volta à casa do .
Bati igual uma besta na porta, enquanto o mundo caía bem em cima da minha cabeça.
abriu a porta e me olhou dos pés a cabeça.
- E você acha que alguém chega a algum lugar nesse temporal? – Falei e ele me deu espaço para que eu pudesse entrar.
- , você está mais molhada que água. – falou quando eu entrei na sala, e todos me encararam.
Até o .
Isso é um grande passo para quem nem sabia que eu habitava esse planeta. Para falar a verdade, nesses últimos dias, eu tenho tido sucesso com o .
Super orgulho de mim.
- É eu sei. – Falei, olhando para o meu All Star azul. – Droga, e olha que eu ia comprar só meias e voltar para casa.
- Relaxa, , toma um banho e depois faz bolinho de chuva, que, mais tarde, o te leva para casa. – falou com os olhos fixos na TV.
- Claro, não seria incomodo algum. – sorriu para mim, e eu morri. Fim.
Talvez eu não seja a pessoa mais azarada do mundo.

Desci as escadas pulante. Tem coisa mais divertida do que tomar banho na casa do ?
Claro que não! É que no banheiro do quarto dos pais dele tem uma banheira super incrível, todos os sais de banho do mundo e ainda no quarto têm uma poltrona massageadora.
É tipo: Uau!
Cheguei ao pé da escada e ouvi uma super gargalhada e alguns gritinhos.
Detalhe mortal: Eles vinham da cozinha.
Fui até lá com o rabo entre as pernas, porque eu sou medrosa mesmo, nem ligo.
Coloquei a cara para dentro da porta e vi a cena: sacudindo uma panela com o pano, de avental e uma colher na mão, tomando suco sentado no balcão e o ria e comia algumas bolachas.
- Mas o que...? – Eu falei e todos olharam para mim.
- Surpresa. – falou sem emoção e sorriu.
- Vocês querem colocar fogo na casa? – Eu perguntei olhando para o , que sorriu.
- Para falar a verdade, a gente ia fazer um bolo pra você. Para nós. – falou, coçando a cabeça.
- Um bolo para mim? Ah, que lindo. – Falei, dando pulinhos felizes.
Morra de inveja, quatro gatos bem gatos, um deles o mais gato do mundo ia preparar um bolo para mim. PARA MIM!
- Mas, por quê? – Perguntei, indo até a pia, que tinha mais ovo do que concreto.
- Porque você é muito legal. – falou, me dando um beijo na bochecha.
Ah, que fofo!
- Era para ser um bolo. – esticou uma forma com um projeto de bolo e chantilly em cima.
- Parece delicioso. – Falei e eles me olharam de um jeito estranho.
- Eu é que não vou deixar você comer isso ai. – pegou o bolo e jogou na lata de lixo.
- Ah, dude, era o nosso filho! – disse, meio triste.
- Quer dizer que não tem bolo? – perguntou triste e fez que não com a cabeça.
- Calma, amigo, a gente compra uma pizza e está tudo ótimo! – Eu disse, colocando meu braço em volta do ombro dele e ele sorriu.
- Vou ligar para a pizzaria. – se levantou e foi até a sala.
- E eu vou joga guitar hero. – falou indo até a porta e eu pulei nas costas dele.
- Eu também quero! – Falei feliz e ele me sacudiu.
- Mas você é horrível! – Ele disse com cara de nojo.
- Pelo menos não sou eu que choro quando perco no Street Fighter. Há. – Eu disse, dando um soquinho no braço dele e saí correndo. veio logo atrás de mim, por isso que eu saí correndo.
Entrei na sala e comecei a rodear o sofá. Parece impossível, mas o tem os piores dedos cocegântes que eu já senti em toda a minha vida. Ele faz cócegas como ninguém!
- Olha a pizza. – entrou com os pacotes na mão.
- Uau, essas pizzas vieram voando, é? – Falei parando com as mãos na cintura.
- É que, ao contrário de certas pessoas, eu moro no CENTRO, perto de qualquer civilização, e não no interior da cidade. – disse bem perto da minha orelha, só para irritar, sabe?
- E quem disse que eu morro no interior? – Perguntei olhando bem para a cara dele, sabe, para intimidar. – Para o seu governo, eu moro perto do , e ele mora perto de mim. Já é alguma coisa.
- Isso deveria valer alguma coisa. – falou, se sentando no chão.
- Copos e coca. – entrou com os copos na mão e os colocou na mesinha de centro.
- Valeria alguma coisa se um dos dois fosse alguma celebridade. – disse, sentando-se no chão e eu sentei ao lado dele.
- Eu sou quase uma super star – Falei, pegando um pedaço de pizza. – Só faltam 99% para eu chegar lá.
- Chegar lá aonde? – , meio burro, perguntou, encarando.
- No topo do mundo. – Respondi sorrindo, porque eu sou perigosa.
Não. Acho que eu sou a pessoa menos perigosa do mundo, sou um amor. Quase tão doce quanto caramelo.
- Acho que cada um vai ter seu momento super star no musical da escola – falou depois de dar um gole na sua coca.
Musical? Vou ter que achar um jeito de não entrar nessa.

(n/a: yeey htas, ponham para carregar se quiserem entrar no clima;)

Meus olhos não se agüentavam mais. Minha cabeça estava mole e eu bocejava cinco vezes a cada dois minutos.
- Ei, me cutucou e eu acordei para o mundo. – Quer ir embora?
Eu fiz que sim com a cabeça e esfreguei os olhos.
10h30min da noite. Minha mãe vai me matar, ah vai!
Levantei-me e procurei minha bolsa. me esticou ela e eu sorri em agradecimento. Sou uma menina educadinha, por isso eu ia ganhar um bolo.
- Vocês vão ficar aqui? – Perguntei para o , que estava brisando no nada.
- Acho que sim. Talvez. Quem sabe. – Uau, esse menino sabe fazer um suspense.
- Vamos? – perguntou e eu fiz que sim, de novo.
- Tchau , tchau , até amanhã. – gritou da porta da entrada enquanto a gente corria até o carro.
Caía uma garoa fina e meio chatinha, boa para dormir.
Entrei no carro e bati a porta.
Carro bonito. Não sei que marca é, porque carro, para mim, é tudo igual. Sério, a diferença de um navio para uma canoa eu sei, mas de um carro para o outro, eu não faço a mínima idéia.
Sei que muda a cor. E sei que o dele parece mais sério do que o da .
- Posso...? – Falei, apontando para o rádio e ele sorriu.
Naveguei pelas estações de rádio, que você sabe né, nunca passam nada de divertido.
- Olha... (n/a: ponha plaay no vídeo *-*) – Falei, parando em uma rádio, que começou a tocar If I Fell. me lançou aquele olhar do “dude” sabe, como se eu fosse um meteoro. – É Beatles... – Falei, meio que com medo da cara dele.
- Nossa, estava aqui esperando por Spice Girls. – Ele falou, meio confuso.
- Ah, tem problema não, eu mudo. – Falei, indo em direção ao botão, mas ele... Ele bateu na minha mão. Na minha mão!
Essa sensação é bem melhor do que rodar, rodar e rodar até ficar super tonta.
- Não, eu gosto dessa. – Ele falou, meigo e começou a cantar.

If I give my heart
Se eu der meu coração
To you
para você
I must be sure
Eu tenho que ter certeza
From the very start
Desde o Inicio>
That you
De que você
Would love me more than her.
Me amaria mais que ela.


Correção: começou a me encantar.

If I trust in you
Se eu confiar em você,
Oh, please,
Oh, por favor,
Don't run and hide.
Não corra e se esconda
If I love you too
Se eu te amar também
Oh, please,
Oh, por favor
Don't hurt my pride like her
Não fira meu orgulho como ela


Encostei a cabeça no vidro, fechei meus olhos e me concentrei naquela voz perfeita que me causava arrepios na espinha a cada palavra.

'Cause I couldn't stand the pain
Porque eu não agüentaria esta dor
And I
E eu
Would be sad if our new Love
ficaria triste se nosso novo amor
Was in vain.
Fosse em vão

So I hope you see
Então eu espero que você veja
That I
Que eu
Would love to love you
Amaria te amar
And that she
E que ela
Will cry
vai chorar
When she learns we are two
Quando aprender que nós somos dois


Essa última frase eu cantei e sorri no final, porque eu sou uma criancinha feliz que gosta de sonhar. Virei a cabeça para perguntar para o se ele ia à escola amanhã, porque eu queria encarar o belo par de olhos que Deus concedeu para ele, mas quando eu vi aquele perfil cantando a nossa música – ok, acho que eu já estou exagerando, mas, me deixa ser um pouquinho romântica e boba, só um pouquinho – Desisti no mesmo segundo.
continuou cantando e, depois de o admirar um pouco ele, voltei à minha posição inicial. Cabeça no vidro, olhos fechados e ouvidos abertos. Envolvida pela melodia e pelo cheiro de gente que toma banho e passa perfume do futuro namorado, fui para longe. Bem longe.

If I fell in love with you.



Capítulo nove – Trágico.


Peguei meu celular e apertei o botão que eu acho ser o que desliga o alarme.
Continuei com os olhos fechados e com a mão em cima deles. Acordar é difícil. Principalmente se a claridade insiste em invadir seu quarto e perturbar seus olhos.
Abri os olhos devagar e dei de cara com o Orlando Bloom no meu teto. Mandei um beijo e dei uma piscadinha, só para seduzir meu Orlandinho de papel. Levantei-me meio desnorteada e fui até o banheiro.
Ficar de pé é fácil, acordar é difícil.
Tomei um banho e me troquei para ir para a selva, coisa rápida. Não sei por que, mas eu estava com fantasia de .
- Dia, mama. – Murmurei, entrando na cozinha e indo me sentar.
- Bom dia, bela adormecida. – Ela falou, me olhando de um jeito estranho.
Peguei uma torrada e passei geléia de uva para dar um contraste charmoso. Mentira, é porque é bom mesmo, morreria comendo essa geléia e essas torradas.
- E como foi ontem? – Ela falou debruçando sobre a mesa, quase que entrando na minha cara. Parecia um filme 3D.
- Mãe, sem mistérios. O que você quer me dizer? – Perguntei, extremamente confusa e curiosa.
- Quando um dos seus sonhos se realiza, você está dormindo. Feito pedra. – Ela falou balançando a cabeça em sinal de desaprovação. – Trágico. Trágico! – Terminou e saiu da cozinha, assim, sem mais nem menos.
Ok, isso já está me assustando.
O que aconteceu que eu não sei? E como eu cheguei ao meu quarto ontem à noite? AH, não!
Foi uma daquelas situações embaraçosas que eu acordo, mas não estou acordada e digo: QUEM ESTOU? ONDE SOU?
Isso é realmente trágico.
TRÁGICO!

--

Fui andando bem rápido, rápido mesmo até à escola, meio distraída e tentando lembrar os fatos, numerando-os na mão. - Um, a gente estava no sofá, daí eu apareci em casa. Não, isso seria aparatar. – Falei para mim mesma, tentando descobrir o meu passado na noite passada. Abanei as idéias no ar, para que elas fossem embora. Ah, isso é confuso, como uma pessoa não se lembra nem como chegou ao próprio quarto? – Legal, vamos retomar. Dois, o disse para a gente ir para casa. – Encarei meus dedos, tentando lembrar a cena nítida na minha cabeça. – A gente correu para o carro dele. Estava chovendo? Sei lá, mas será que isso vai ter importância? Ou sim? Ou não? E se eu derreti no caminho? São em momentos como esse que você descobre que...
Senti meu corpo bater contra outro e fiquei mais tonta do que eu já estava.
Esse não é o melhor jeito de começar o dia. Eu acordei sem saber como raios eu fui acordar e ainda tenho um baque com , meu passado-presente-futuro. Realmente trágico.
- Você é uma garota um tanto quanto distraída. – Ele disse, sorrindo e segurando meus braços.
- , isso não é nada simpático, mocinho. – Falei, ignorando o formigamento no estômago e dando um tapa de leve no ombro dele.
- Mas afinal, qual o motivo para tanta distração? – Ele perguntou enquanto a gente se punha a andar no caminho de volta até a escola.
- Eu estava brincando de Sherlock Holmes. – Falei, pensativa, e ele me lançou um olhar estranho. – E o que você fazia parado na esquina, moscando?
- Acabei de discutir com a minha – Pequeno pigarreio – namorada. – Ele falou, meio encabulado.
Estranho, não?
Até uns tempinhos atrás, eles eram “o” casal feliz e tudo mais, na frente da escola, com a grana do papai, no carrinho do papai, cheio de tchutchutchu tchururutchutchu. [n/a on: momento mongo da autora, não reparem delícias ;D :n/a of.]
- Uau, logo de manhã? Isso sim é muito trágico. – Falei meio que sem pensar e ele riu do meu modo de me expressar.
- Ela não gostou por eu ter passado a noite com você. – Ele disse normalmente, como alguém diz: “Comi feijão, mas sem arroz.”
Eu passei a noite com . U-a-u.
- Huum? – Eu parei e perguntei meio lesada, super perdida no que ele disse.
- Eu perguntei se dormiu bem. – Ele falou, meio debochado. – Acho que você ainda está dormindo. – Ele deu uma risadinha - não gay, mas sim divertida - e eu ri junto. – Vai ficar aí?
Ele esticou a mão para mim, e eu observei que a gente estava na frente do portão da escola.
Hesitei um pouco, mas peguei na mão dele e, tipo, nossa; nunca mais vou ter essa sensação.
Mas como alegria de pobre infeliz dura pouco, adivinha quem estava encostada na parede, um pouquinho mais à frente de nós?
A demônia siliconada. Realmente muito trágico.
Quantas vezes eu já ouvi falar e falei essa palavra hoje? Não sei, mas se continuar assim vamos ouvi-la muitas vezes.
- Então é ela a garota da noite passada? – A coisa disse, me olhando como se eu fosse um lixo.
Ah, que desaforada! Além de vir na minha parada, zoar o meu barraco, mexer com o meu macho (que ainda não é meu, mas em breve, se continuar desse jeito, será), e ainda me olha assim.
Vou espancar ela, ah vou.
Acho que apertei a mão do pobre , porque ele me lançou um olhar significativo.
- Vou procurar a minha turma. – Falei soltando a mão dele, que suava junto com a minha de um jeito surpreendente. – Bom dia para você.
E eu cuspi na cara dela.
Tá, eu não fiz isso.
Mas eu pensei.

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Entrei na sala meio ofegante. Corri à beça para chegar até aqui.
Me dirigi até o meu lugar, mas ele estava ocupado por uma garota estranha da aula de teatro.
Legal, agora eu sento no chão. Fiquei parada, olhando para ela. Nunca tinha reparado nesse ser na minha aula.
- Desculpa, estou no seu lugar? – A menina perguntou, meio confusa.
- Sem problemas, eu sento no fundo. – Falei despreocupada e me dirigi até o fundo da sala.
Nossa, quanta gente diferente.
O professor entrou e pôs as coisas em cima da mesa.
- Ei, esse não é meu professor! – Falei mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa da sala.
O professor escreveu Biologia no grande quadro.
Droga, agora eu tenho aula de matemática. Não acredito que confundi meus horários. Não pensei duas vezes e me levantei, andando rápido até a porta.
Certo, ou eu sou burra, ou eu sou idiota.
Como pode confundir uma sala com a outra? Que babaquice. Ai, que burra!
Andei o mais rápido que pude, mas vi que não ia dar tempo.
Então eu corri.
Bad Idea, Bad Idea.
- Ei, mocinha... – Ouvi uma voz se aproximando e meus passos ficaram mais fracos. – Mocinha, ei.
- Inspetora Burkings. – Falei ofegante, me virando para a senhora com uma verruga bem estranha perto do nariz.
- Fora do período da aula, e ainda por cima correndo nos corredores. – Ela pegou sua caderneta e fez aqueles relatórios idiotas que eu tanto amo. – Vá falar com a coordenadora.
- Por um atraso? Qual é! Tem gente se pegando no banheiro, tem uns pobres aí se batendo e eu vou pra coordenação por um atraso? Maior patifaria essas suas questões de princípio! – Ok, eu deveria ter mantido minha boca cheia de dentes bem fechada. Coordenação. Isso sim é muito trágico.
- Desculpe. Mas a senhora poderia retirar só dessa vez? – Pedi fazendo cara de cão sem dono. Já fui umas quatro vezes para a coordenação por coisinhas bobas, não posso voltar lá de novo. – Eu te imploro, Senhorita Burkings.
- , essa é a primeira e ultima vez que eu salvo sua pele. – Ela disse, guardando a folha e se virando. – O que eu faço para você tomar juízo?
Em uma atitude impensada, eu respondi:
- Sai do meu pé, chulé!
Saí correndo antes que ela se ligasse no que eu disse.

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Já estava cansada de encarar o grande relógio na parede do pátio. Estralei todos os meus dedos - só não estralei os dos pés, porque eles habitam dentro do meu tênis. Meu tênis, desgastado e velho, com um pequeno rasguinho.
Mentira, o coitado já está falando, coisa típica de all star bem-usado.
Pois bem, não trocaria esse tênis por nenhum Nike, nenhuma sandália e por nenhum adidas. Nós temos uma história juntos, e histórias não são jogadas fora pela beleza! É a mesma coisa que jogar um livro legal fora só porque a capa dele caiu. Injusto, certo?
- O que faz aqui? – disse no pé do meu ouvido e eu quase tive um enfarte ali mesmo.
- Jesus Cristo! O que eu faço aqui? Bem... Eu estou fugindo da Inspetora. – Expliquei meio cochichando e ele ergueu a sobrancelha. - Não seria mais fácil ir para a sala ou para o banheiro? – falou como se ele fosse o Einstein.
- Não, lá seriam os primeiros lugares que ela ia me procurar, porque aparentam ser ótimos lugares para camuflagem. – Expliquei para ele num tom baixo, porque não quero morrer hoje. Bom, não sem saber direito o que se passou no meu quarto.
- Ah, e você está aí desde quando? – Ele perguntou, me encarando.
- Ah, desde a hora da entrada. – Falei, meio envergonhada, e ele me olhou, barbarizado.
- , isso é matar aula! – Ele disse, perplexo. – Uau, você nunca fez isso antes, que divertido.
- Não , isso é errado. – Falei, me levantando. – Vou voltar para a sala e explicar para a professora o que aconteceu. Provavelmente vou levar uma suspensão, mas não custa tentar. Prefiro ser honesta do que escapar com a cara limpa e...
Meu momento de heroína acabou sendo interrompido pelo sinal barulhento que anunciou o início do intervalo.
- Vem, vamos pegar o lanche. – disse, rindo, e me puxou pelo braço.
Pegamos o lanche e escolhemos uma mesa onde estava sentada , que lia um livro atentamente.
- Bela adormecida. – Ela disse, abaixando o livro quando nós nos sentamos. – Acordastes do seu sono profundo?
- Ok, o que realmente aconteceu ontem à noite? – Eu perguntei, revoltada.
- Você dormiu no carro do . – sentou-se ao lado da com um potinho de sei lá o que. – Só isso.
- E tuuudo isso – eu falei com um tom de irritação – por isso?
- Deixe que o te explique. – falou e logo depois assoviou bem alto. Segundos depois, , e já ocupavam nossa mesa. – Hey, , quer dar o prazer de contar a história da noite passada para sua querida... – Com certeza ele não achou a palavra certa.
olhou pra cada um da mesa com um olhar meio confuso e todo mundo retribuiu com um olhar eufórico. - Tá, eu e a ... – Ele começou a falar com indiferença. , que estava ao lado dele, deu um cutucão e ele olhou para ela, confuso.
- Conta na terceira pessoa que dá mais emoção! – Ela disse e bateu palmas.
Essa galera é muito estranha mesmo.
- Flashback on! – disse e bateu uma palma bem forte.

estava cantarolando Beatles, uma banda que ele realmente gosta e olhando fixamente para a rua. Não queria matar a garota sentada ao lado dele.
{: ount, ele não queria que eu morresse, ah que fofo}
olhou discretamente para e viu que ela estava com os olhos fechados. Desejou poder fazer a mesma coisa, porque tinha acordado cedo e talvez bebido um copo de cerveja. Estava exausto.

- Bebeu e dirigiu? – protestou e deu um tapa na cabeça dela.
- Calma, foi no almoço, só um gole. – se explicou, com calma. – Continuando...

Continuou cantarolando e concentrado na rua. Como dito antes, não queria matar ninguém. Olhou de lado para e viu que ela estava sorrindo. {: Ah droga, como ele percebeu?} , sem querer, sorriu junto.

- Nossa, isso foi meio gay. – disse, coçando a cabeça. – Ok, seguindo em frente...

A garota se virou para , que continuou com seu objetivo: seguir reto e chegar em casa. Com certeza, ela tinha alguma coisa a dizer, mas alguma outra coisa a impediu. Depois de alguns curtos minutos, eles estavam parados na frente da casa de . - Está entregue! – disse, animado, e virou-se para ver a menina. Mas ela estava dormindo, em um sono profundo, com uma expressão de tranqüilidade estampada na cara.

- Falei bonito. – disse, se interrompendo de novo.

O garoto se perguntou o que raios faria agora. Chamaria ela? Deixava-a lá? Não fazia nada?

- Suspense barato? Adoro! – falou, animado.

Abriu a porta e saiu do carro. Abriu a porta de e, por pouco, ela não caiu no chão. foi muito Jedi e, com seus braços musculosos e sarados, pegou ela antes que entrasse em contato com o solo.
- Peguei. – Ele falou, animado pela conquista que acabava de conquistar.
Com todo o cuidado que poderia ter, retirou ela do banco e a pegou no colo. agarrou o pescoço dele e respirou fundo, como se fosse para a guerra; foi em direção à porta da frente e, fazendo mais uma de suas manobras Jedi, tocou a campainha com o queixo, uma coisa incrível que deveria ser aplaudida.
Uma moça bonita com uma xícara na mão abriu a porta e sorriu a me ver. Por quê? Pelo simples fato de ser simplesmente gato demais para ser verdade.


- , você está exagerando. – falou com um ar de ódio, ou sei lá o quê.
- Ah, vou maneirar, prometo. – falou com a mão erguida.

- Acho que ela te pertence. – falou, um pouco sem graça, e a bela moça sorriu.
- Pode pôr ela na cama por favor, ? – A gentil moça falou, sorrindo no final.
- Certo. – Ele concordou com a cabeça e ela apontou para as escadas.
- Segunda porta à direita. – Ela disse e subiu as escadas.
Uma tarefa fácil para ele, já que tem os bíceps mais duros e potentes da face da terra.
Ao chegar no quarto, empurrou com o pé a porta e entrou no simpático quarto de Lady . Acendeu a luz e reparou que suas janelas eram exatamente uma de frente para a outra. Uma coisa bem legal que ele nunca tinha reparado. Talvez ele nunca tivesse olhado pela janela, ou saído na pequena área que ali tinha. Colocou a garota na cama e a cobriu. Viu um urso branco jogado no chão e colocou ao lado dela, que rapidamente o abraçou. deu mais uma olhada no quarto, para que sua memória fotográfica guardasse as imagens direitinho no seu cérebro. Jogou sua cabeça para trás, viu um pôster do cara dos piratas do caribe no teto e deu risada. Ele deveria fazer o mesmo com um pôster da Lindsay Lohan. Olhou para a garota, depositou um beijo na testa dela e se retirou do grande quarto, apagando a luz.
Desceu as escadas e, ao passar pela cozinha, deu um passo atrás para falar com aquela que ele palpita ser a mãe de .
- Com licença, mas como a senhorita sabe o meu nome? – perguntou, meio confuso.
- Nessa casa, você é mais famoso que qualquer astro de Hollywood. – A moça disse em um tom divertido.
E assim seguiu para a sua casa, com as mãos nos bolsos por causa do frio e tendo certeza que deixou Brad Pitt no chinelo.


- Fim. – falou e sorriu.
- Meio gay, mas divertido. – disse, pensativo, e os meninos concordaram com a cabeça. mostrou o dedo para eles.
Ok, EU NÃO ACREDITO QUE ME LEVOU ATÉ MEU QUARTO! E me deu um beijo na testa, e pôs meu Kinderlin para dormir comigo. Ah, com certeza esses foram os minutos mais felizes da minha vida.
Bom, agora não vou conseguir olhar para a cara do meu príncipe, pelo fato de ele saber que eu durmo feito uma pedra. Isso é muito trágico, mas essas são só as conseqüências trágicas de um momento feliz, né?
- . – Eu falei, séria, e todos pararam de conversar no exato momento. – Como você pôde me deixar dormir no escuro? Cara, que cruel! – Falei, fingindo que estava toda sentida. Decidi seguir em frente, ou sei lá o que. Não vou morrer de vergonha só porque ele foi um eterno príncipe e... Nossa, isso foi brega!
- Oh, farei certo da próxima vez. – Ele falou bem teatral e as meninas riram.
Fazendo certo ou errado, desde que faça. gosta!



Capítulo dez – Como os caras do All time low já dizem: 'Cause I'm damned if I do ya, Damned if I don't!

(T: Porque eu estou ferrado se eu fizer, Ferrado se eu não fizer)


Passei o resto do intervalo vendo tudo em câmera lenta e brisando em todo mundo.
Ok, confesso, foi só em uma pessoa, e você sabe quem é.
O sinal estrondoso e maligno (ou não) que anuncia o fim do intervalo bateu, dando fim aos meus sonhos silenciosos que eu montava na minha própria cabeça.
Ah, estava tão feliz no meu próprio Wonderland, onde tinha muito suco de uva e um que me abraçava forte nos campos de morango.
- Certo, vejo vocês depois. – falou, se levantando junto com todo mundo. – Ah, esqueci do detalhe. Todos devem ficar para a aula de teatro depois do período.
- Oh, Deus. – rolou os olhos. – Mais um dia que vai, sem eu no shopping.
- Eita, agora eu entendo o porquê da terapia intensiva que seu pai te deu. – Falei meio assustada e ela mostrou a língua para mim. Quem mostra a língua é cobra.
- Então vejo vocês daqui a pouco... Ah, que droga. – disse bem desanimado MESMO e todo mundo se atreveu a dar um tapa nele.
Claro mano, somos do gueto! E não se fala assim dos seus parceiros, tá ligado?
- , vou te levar até a sala para evitar que você banque a Madonna e saia por aí... – Ele falou do meu lado, dando uma grande pausa. – E saia por aí, ponto.
- , o que você quer dizer? – Eu perguntei, revoltada.
- Prefiro a Cindy Lauper. – disse, dando de ombros.
- Sou mais a Britney. – falou, sorrindo meigamente.
- Se fosse para ter uma, desejaria a KATY. – falou, dando um “tchan” no nome da moça.
- Lady G A G A. – falou, fazendo com que o nome da moça virasse um poema.
- Eca! – Todo mundo disse junto.
- Ah, vamos logo. – disse, batendo na cabeça, e a gente se movimentou para fora do grande pátio. Entrando no corredor, vimos uma garota saltitante de peitos pulantes vindo em nossa direção. Mais na direção do , para ser exata.
Quem adivinhar quem é ganha um doce.
Bingo, isso mesmo, é a demônia siliconada.
- , você tem visitas. – disse, sorrindo, e eu é que não me atrevi a ficar olhando para os dois ali juntos.
É muito para a minha cabeça.

Fiquei meio tonta ao ser empurrada para fora da sala de aula.
Cada um parecia um feijãozinho de primeira série que a gente põe no algodão e rega para ele crescer e brotar. O meu nunca deu certo, disse que era porque eu o regava com suco de uva.
Ah, é que eu queria feijões bebíveis e gostosos, achava que não ia ter nenhum problema.
Tá, o objetivo dessa comparação inútil é:
( ) mostrar como a população está louca devido ao suco de uva.
( ) mostrar como feijões e pessoas são iguais. A única diferença é que nós, as pessoas, comemos o feijão, e eles não podem comer de volta a gente, pelo fato de já estarem comidos.
( ) mostrar que os alunos brotam para fora e não para dentro, porque daí seria um desbrotamento.
( ) não tem um objetivo fixo, só foi a primeira coisa que a autora deste teste imaginário pode descrever para explicar como ela foi arremessada para fora da sala de aula.

Rum; acho que eu deveria por um “x” em todas as questões, porque elas são semi-verdadeiras, de algum jeito.
Fui cantarolando e saltitando até o teatro. Ou auditório. Sei lá, é a mesma coisa.
Duas coisas que são realmente distintas: Arroz e feijão.
Ok, chega desse papo de bêbado.
Entrei e fui me sentar perto da , que conversava com rapidamente, pareciam duas brocas. Brocas são aqueles negócios que furam o chão até chegar ao Japão, eu acho... Anyway.
- Vocês falam tão rápido que nem o Flash entende o que vocês dizem. – Disse, jogando a bolsa no colo do e me afundando na cadeira. – Tive um dia difícil. – Falei quando ele me olhou com aquele olhar mortal.
Depois de um tempo, minha cabeça já estava martelando por causa desses dois falando tão rápido!
Aos poucos a galera foi chegando, e o misteriosamente brotou do meu lado. Igual um feijão.
Não adianta, feijões estão por todas as partes. Se pá, eles fizeram um pacto com ervilhas. Um pacto demoníaco para dominar o mundo.
- Dia... – Ele falou, olhando para o palco.
- Nossa, , para de ser tão... Fúnebre! Ponha mais cores na sua vida, fale pelo menos umas 150 palavras por dia. Grite quando estiver feliz com alguma coisa. – Disse empolgadamente, mexendo as mãos. – Larga o cigarro, faça exercícios, coma torta de morango!
- Nossa, você é estranha. – O filho da mãe se levantou, rindo debochadamente, e pulou duas cadeiras para longe de mim.
- SIGA OS MEUS CONSELHOS, ! – Gritei só para fazê-lo passar vergonha mesmo, porque eu conheço o , ele é todo acuado.
Sou observadora, gosto de observar as pessoas. e sempre atraíram meus olhos. Um por ser incrível em cada coisa que faz. O outro pelo simples fato de ser do mal. Acabo entendendo essa galera mais do que a família deles.
- Quem é a garota da frente? – perguntou, me dando um cutucão.
- Humm, a do intercâmbio? – Falei, meio em dúvida.
- Vamos tentar fazer contato com ela. – disse, batendo palmas.
- Eu começo. – , que estava na fileira de trás - com o meu - falou, se pondo para frente, praticamente se jogando entre mim e o . Ela cutucou a garota, que virou para trás calmamente, exibindo seus belos olhos. – Aloha, eu sou . – falava fazendo, mão de E.t. Dei um tapa na minha própria testa e deu uma gargalhada.
- , isso é uma intercambista. Não um E.t. – falou, tentando ser inteligente, e virou para encarar a menina, que a fitava com um olhar confuso. – Olá, mim ser ... Mim ser ! – Ela falou debilmente e eu quis me matar.
- Caraca, ela não é nativa, muito menos um Índio! – falou, calmo. – Ela veio do Brasil. Ela fala brasileirês, ou alguma coisa assim.
- Eu falo Inglês. – A garota disse, mandando um positivo e todo mundo ficou quieto.
Eu sabia que ela falava Inglês, eu prestei a atenção nela quando ela se apresentou no dia do “Quem sou eu”. Só não falei para eles que eu sabia porque a cara de tacho deles é realmente impagável!
- Todos quietos, a professora quer falar – estava no centro do palco com uma papelada, ao lado da professora.
- Mexam-se e desçam até aqui. – A professora falou, olhando de um para o outro, mas ninguém se mexeu.
- Eu prefiro... – falava, fazendo gestos.
- Pode falar daí. – disse, mandando um positivo.
- Todos, AGORA! – Ela gritou e todo mundo deu um pulo da cadeira no mesmo instante.
- Certo, o que vocês vão fazer nesse palco agora – começou a falar atentamente, enquanto todo mundo subia para o palco. – é dançar.
Não decidi ainda o quão aterrorizante é dançar na frente de alguns colegas de escola. Em uma escala de 0 a 10, é meio que 9,9. Subimos, um olhando para o outro com um olhar tenso, e o e a Professora arrumavam a gente nos nossos devidos lugares.
Então a música começou. (n/a: essa, para as pessoas iguais a quem vos fala, curiosos!) Reconheci de cara, reconheceria essa música até em coreano! E tinha que ser uma música country? Fala sério! E tinha que ser uma música que eu adoro? Sério, eu realmente adoro essa música, ela me deixa feliz.
Sabe quando anunciam que a sua banda favorita vai fazer uma tarde de autógrafos e num piscar de olhos você está lá, abraçando o vocalista? E quando você abraça o vocalista, o mundo pára, seus batimentos cardíacos estão mais altos do que qualquer som omitido pela sociedade, suas pernas somem e você fica gelada o suficiente para derreter? Não sei se fez muito sentido, mas é assim que eu me sinto agora.
Vi todos se mexendo. Alguns dançavam esquisito, alguns faziam passos de torcida, outros davam um passo para lá e outro para cá.
E a única coisa que eu quis fazer é: Fugir.
Automaticamente, meus pés frágeis e com vida própria me mandaram até a saída, mas eu não consegui sair.
- Quem sair por aquela porta está suspenso pelo resto do ano da Equipe de teatro! – A professora gritou enquanto eu me dirigia para lá.
Mas antes que eu chegasse à porta, senti duas mãos na minha cintura e meu corpo sendo puxado para trás.
Ah meu Deus, que susto!
Virei de frente para o ser humano que me puxou da minha grande escapada e meus olhos trombaram com os de . Sim. . . Não estou alucinando, não é mais um dos meus sonhos.
- Você não vai querer perder a oportunidade de ficar ao meu lado após as aulas alguns dias por semana pelo resto do ano, vai? – Ele disse meio perto do meu ouvido com a voz meio alta, mas não gritando. E as suas mãos ainda estavam na minha cintura.
Abri a boca, mas antes que eu pensasse em dizer um: É; ele se afastou, sorrindo, na direção da e foi até lá para brincar de imitar ela e seus passos de Cherio.
- Acho que não estou respirando. – Falei para mim mesma e sorri, colocando a mão no lugar onde meu coração berrava com a batida da música.
A música penetrou na minha mente e, do nada, eu estava dançando alguns passinhos divertidos que eu e Samy dançávamos na sala quando a mamãe a deixava faltar na escola. Tá, eram passinhos meio ridículos, mas qual é! Eu não consigo nem respirar, quanto mais pensar e dançar e fazer tudo ao mesmo tempo.
Do nada estava todo mundo ao meu lado.
Do nada estava todo mundo tentando me imitar.
Não sabia desse poder que eu tenho. Vou começar a dançar mais. Vou dançar para a minha loja de roupa me dar desconto. Vou dançar para o fazer massagem nos meus pés. Vou dançar para a minha mãe liberar mais dinheiro de mesada.
Vou dançar para seduzir o .
Acho que não vou precisar de dança para conseguir isso.

And I don't even know his last name.
E eu nem mesmo sei o sobrenome dele.
Oh, my momma would be so ashamed.
Oh, minha mãe ficaria com tanta vergonha.
It started off, "Hey cutie, where you're from?"
Tudo começou com, "Ei linda, de onde você é?"
And it turned into, "Oh no, what have I done?"
E depois virou, "Oh não, o que eu fiz?"
And I don't even know his last name.
E eu nem mesmo sei o sobrenome dele.



Capítulo onze – A gelatina bisbilhoteira.


Peguei um suco e me dirigi à sala de estar. Foi um dia cansativo na escola: dançar, morrer pelo e todas essas coisas.
Me sentei e coloquei os pés em cima da mesa.
- Acho que sua mãe não gosta de que você ponha os pés na mesa. – falou, se jogando ao meu lado.
- O que raios você está fazendo aqui? – Eu perguntei, respirando fundo para me livrar do susto. – Você por acaso aparatou?
- Senti saudades. – Ele disse, dando de ombros. – Nerd de Harry Potter.
- Que seja, mas nós acabamos de sair da escola! – Eu falei, fazendo careta.
é uma criatura estranha. Ele faz as coisas quando quer e ninguém reclama disso. Uma coisa que ele faz freqüentemente: Entrar no meu quarto e dormir. Tipo mendigo.
“Lá tem os meus pais”, ele responde quando eu o pergunto por que raios ele não dorme na própria casa.
- A propósito, eu tenho que trabalhar hoje. – Ele falou, remexendo na sua bolsa.
- E desde quando você trabalha? – Eu perguntei, fazendo mais careta ainda.
Está aí uma coisa que você precisa saber sobre o : Ele não faz esforços. Uma vez a mãe dele pediu para que aparasse a grama e ele falou que seria mais fácil comprar um cavalo.
Um cavalo!
“E quem cuidaria do cavalo?”, a senhora perguntou, rolando os olhos. “Depois a gente fala sobre isso”, disse e simplesmente fechou os olhos e dormiu. Simples assim. Eu sei, ele é a criatura mais esquisita que você já ouviu falar.
Então, se um dia você cruzar com ele na rua, não cruze realmente, atravesse. Não faça a burrada de continuar na mesma calçada que ele, porque provavelmente ele vai querer ser seu amigo, e você vai ter que emprestar a sua cama para ele quando ele quiser.
- Surpresa! – Ele falou, estendendo uma camiseta do ‘Come One, Come All’.
- Vai ter desconto para funcionários? – Eu perguntei, virando para ele.
- Sempre. – Ele falou, piscando e eu bati palmas.
‘Come One, Come All’ é a melhor sorveteria do mundo. Sem brincadeira. Ela é grande, tem até uma piscina de bolinhas para as crianças.
- Mas essa blusa está super amassada, parece que foi achada... No seu guarda-roupa. – Eu falei, analisando a blusa.
- E onde mais eu guardaria? – Ele perguntou, tomando o meu suco.
- Pega mais suco que eu vou passar esse trapo. – Não quero perder o desconto de funcionário por causa de uma blusa. Não mesmo!
- Obrigado, meu amorzinho. – Ele deu um beijo na minha testa antes que eu me levantasse.
- Obrigada o caramba, vai ter que ralar muito para retribuir tudo o que eu faço por você. – Falei enquanto subia as escadas.
Entrei no meu quarto e fui atrás do ferro de passar. Tenho meu próprio ferro, que comprei com meu próprio dinheiro.
Isso que eu chamo de ser independente.
Joguei a camiseta na cama e procurei o ferro em volta de mim.
- Onde, onde eu coloquei... – Falei dando voltas. – Ali!
O ferro estava parado na frente da porta que dava para a pequena área. Ele nunca sai dali, porque eu nunca passo as minhas roupas. Só quando elas realmente precisam. Me abaixei para pegar e, sem querer, espirrei, dando um pulo que fez com que eu batesse a cabeça na maçaneta.
Já disse que eu sou um desastre ambulante?
- Mas que droga! – Falei, passando a mão na minha cabeça. Olhei para a frente e vi o entrando no quarto e a loira vindo logo atrás.
- Por favor, aquilo agora não, agora não. – Eu falava para mim mesma,enquanto observava os dois.
Ele sentou na cama e ela sentou na cadeira de frente para ele. Ele começou a falar e ela ouvia atentamente.
Está falando que me ama, certeza.
Eu sei, não é legal bisbilhotar, mas ele é meu futuro namorado! Qual o problema? Todo mundo já bisbilhotou alguém algum dia, seja no banheiro da escola ou em qualquer outro lugar.
Mais ação. Ela se levantou e eu vi claramente ele dando de ombros. Então ela se sentou de frente para ele, no colo dele.
- Mas que... – Eu comecei a falar, mas a cena a seguir me impediu de terminar.
Ela avançou e ele simplesmente a empurrou, fazendo-a ir direto de encontro com a cama.
- Aê! – Gritei, levantando e erguendo as mãos, fazendo a dancinha da vitória. - Ele deu um toco na Feia! Ah há há! – Eu cantarolei, ainda dançando.
E quando voltei meus olhos para a frente, quatro olhos se chocaram com os meus.
Uh ou.
A loira olhou para o , que estava rindo da minha dança, provavelmente, e então saiu trotando do quarto, batendo a porta.
Ele olhou para a porta e depois olhou para mim. Sustentei seu olhar, apavorada. A-B-E-R-R-A-Ç-Ã-O, eu disse pra mim mesma. Então ele acenou para mim, dando um sorriso divertido. Acenei de volta. Certo, eu pago de idiota e ainda consigo um aceno? Mas que sorte!

--

Depois de ir embora e eu tirar uma soneca, tomei um banho e fui para as minhas gloriosas aulas de dança.
Hoje dançaremos Country.
Irônico.
Não estava prestando atenção na aula, mas sim no que aconteceu no meu quarto. Ou melhor, no quarto vizinho.
acenou para mim. Ele deu um fora na namorada. Bem, isso realmente não pode estar acontecendo.
Até alguns dias atrás eu era invisível, da ponta dos pés até o último fio de cabelo da minha cabeça.
Agora eu tenho três novos amigos e duas novas amigas. Isso é realmente um grande passo, a julgar que, no mundo inteiro, eu só falava com umas cinco pessoas. E você sabe quantas pessoas tem no mundo? Mais de 4 bilhões de habitantes, eu acho. E eu só falava com CINCO!
Isso é o cúmulo da exclusão social, não é possível!
E, do nada, eu sento na mesma mesa de almoço que uma Cherio. Como aconteceu isso? Meu Deus!
- E dois, três... – A professora contava os passos que nós fazíamos.
Acho que tudo começou por causa das aulas de teatro, de algum jeito, não sei...
Eu acho que eu comecei a ter um pouco de sorte.
Finalmente!

- Pirralha. – Falei enquanto limpava meus pés no tapete de entrada que diz: Bem vindo seja! Qual a necessidade de ter um tapete de entrada que diga que somos bem vindos?
A gente poderia colocar a Samy para cantar toda vez que alguém entrasse. Não, péssima idéia.
- Oi, coisa tosca. – Samy falou, prestando a atenção na TV.
- E a mamãe? – Perguntei, jogando a minha bolsa no sofá.
- Saiu.
- Com quem?
- Sei não. – Ela respondeu, ainda olhando para a TV.
- Ah. Vou subir. – Falei indo para a escada, mas ela me gritou.
- Leva a bolsa. – Ela disse e eu voltei para pegar as minhas coisas. Subi para o meu quarto e me derrubei na cama.
- Mas ela te ama! – Uma voz gritou não tão longe.
- É, ela até chorou. – Outra voz disse.
Fui seguindo o som e deu direto na janela. Abri um pouco a cortina e vi o olhando para baixo e duas garotas embaixo da sacada dele.
- Eu não volto para ela. É isso. - Ele falou e saiu. Ou melhor, entrou. Entrou para dentro, de volta para o quarto. Ah, você entendeu!
Que coisa mais feia! Mandar as amigas para mandar o ex-namorado voltar para amiga.
Ex-namorado? Isso é tão...
- Que feio! – Samy disse, sentada na minha cama, e eu levei um susto. – Espiando a vida alheia.
- Jesus! – Eu falei, pondo a mão no coração. – Sua maluca, quer me matar?
- Não, é que eu só queria... – Ela começou a falar, mas eu mandei que ela se calasse.
As amigas agora estavam atirando pedras na janela.
- ! – A mais feia gritou, batendo os pés.
- Cadeirinha. – A mais feia ainda falou, juntando as mãos e fazendo a famosa cadeirinha.
- Estúpida. – A mais feia falou depois de bater os pés. – Vamos embora, vai chover. – Ela falou e saiu batendo os pés, com a outra logo atrás.
Olhei para a frente e estava na mesma situação que eu. Só com um pouquinho da cortina aberta.
Ele olhou para mim e eu fechei bem rápido.
- Droga.
Olhei para baixo da cama como uma rota de fuga, mas desisti da idéia.
Será que eu olho? Ou melhor não?
Eu deveria ir comer gelatina, isso sim. Mas que raios a gelatina tem a ver com isso? Que agora eu estou mole igual uma.
Vou me comer. Não.
Chega de pensar em gelatina, droga!
- Mas eu gosto de gelatina! – Eu falei meio alto. Certo, eu falo sozinha. Que droga.
- Eu também gosto. – disse e eu quis morrer. Meu Deus, eu só pago mico na frente dele. Nesse momento eu não estou na frente dele, mas ainda paguei mico com ele e para ele – Cadê?
- A gelatina? – Eu falei sem pensar ainda sem olhar através da cortina.
- Não. Você. – Ele disse e eu quase caí para trás. – Eu não mordo. Sério.
Abri a cortina devagar e fui até a ponta, no mesmo lugar onde ele estava. Olhando para o chão, claro.
- Apareceu. – Ele falou, batendo palmas.
- Sem exageros. – Falei olhando pra ele e cruzando os braços.
- Ok, senhorita bisbilhoteira. – Ele falou, parando as palmas e pondo as mãos no bolso.
- Enquanto isso, eu... Não na intenção. – Eu coloquei a minha mão na boca, depois dei um peteleco no meu nariz, cocei meu olho e minha cabeça freneticamente, mas parei antes que ele achasse que eu tenho piolho. E as palavras ainda tentavam formar uma frase. – Era... Tava. Eu realmente. Foi um acidente. – Eu consegui falar. – Desculpa.
Ele não disse nada. Só ficou me fitando com um sorriso divertido. Acho que alguém está gostando de se divertir com o meu embaraço.
- Não se divirta às minhas custas! – Eu falei meio que sem pensar e ele escondeu o sorriso.
- Nossa, eu sou a pura discrição do milho verde. – Ele disse e depois fez uma cara de confuso, e cochichou um WTF olhando para o lado. Viu? Não sou só eu que pago mico falando coisas estranhas por aqui. – Se você não quer que eu me divirta às suas custas, então eu acho... - “Que a gente não pode se falar mais, ou que você tem que sumir.” Tramei todas as respostas na minha mente, mas ele disse isso: - Acho que você vai ter que parar de ser tão divertida.
- Vou tomar um comprimido para ver se esse divertimento todo some. – Eu sei que é uma coisa idiota de se dizer, mas eu não consegui pensar em outra coisa. Tanto faz, disse que eu, eu, , sou divertida.
- Não, eu gosto do ‘seu divertimento’. – Ele falou, dando de ombros, e eu sorri espontaneamente. – E o seu sorriso também é bem legal.
- Ah. – Eu senti minhas bochechas corarem tão rápido quanto um carro de fórmula um. – O seu também não é nada mal.
- , admita. – Ele falou, se apoiando na grade que o impedia de cair. – Meu sorriso é o maior e melhor do mundo.
- É, ele combina com o seu ego. – Respondi, fazendo o mesmo movimento que ele e me curvando para a frente.
- Outch! – Ele falou colocando a mão no peito.
- Touché. – Eu disse, apontando para ele, como se tivesse alguma arma na mão.
Gotinhas leves tocaram o meu braço, e eu olhei para cima.
- Chuva. – Falei, abrindo a mão para sentir mais gotinhas.
- É hora de dar tchau. – Ele disse, fazendo bico.
- Bom te ver. E desculpa. – Eu disse, indo em direção a porta.
- . – Ele disse e eu me virei. – Aparece aí na janela de vez em quando. – falou com um sorriso envergonhado.
Eu fiz o parecer envergonhado. Eu. Uau.
- Claro. – Eu falei, mandando um positivo. – Sempre vou estar na janela ao lado, bisbilhotando o meu vizinho favorito.



Capítulo doze – Um dia você acorda e as pessoas te querem com limão.


Cheguei à escola me arrastando. Segunda-feira, sete da manhã. Poxa, por que eu não posso ter nascido sabendo? Ou então ter aulas uma vez por semana?
Não que eu tenha alguma coisa bem melhor para fazer, mas essa escola me desgasta!
Só como nota mental, nunca mais eu passo um final de semana inteiro ajudando a minha mãe a ajudar a Samy com projetos escolares. Nunca mais.
- Hey, ! – parou do meu lado em um pulo. – Bom dia, bom dia, bom dia!
- Tudo e com você? – Respondi sem perceber. Minha massa cinzenta precisa de óleo.
- Você sumiu esse fim de semana. Mas anyway, tenho good news! – Ela disse, batendo palmas animadas. Diga-se de passagem que essa é uma conversa bem normal.
- Por que você está usando o uniforme de ensaio da torcida? – Perguntei, a olhando de cima a baixo enquanto a gente andava. – Que desnecessário! E você não sente frio nas pernas? Não me diga que te obrigam a usar isso o dia inteiro. Porque se eles obrigam, eu os processaria, só para você saber.
- É que, com esse uniforme, nós podemos sair da sala quando precisar ensaiar sem ter um passe. – Ela disse com um sorriso vitorioso na face.
- Me descola um? – Perguntei, muito alegre. Eu não entendo o meu humor.
Antes de me chamarem de todos os derivados de louca, é segunda-feira. Eu sou extremamente mal-humorada nas segundas.
- Já é seu. – Ela disse e saiu do meu lado.
Senti cada braço meu ser envolvido em alguma espécie de abraço e levei um breve susto.
- Bom dia, querida ! – A garota da esquerda falou no pé do meu ouvido.
- Vocês vão me seqüestrar? – Perguntei, claramente confusa – Posso começar a gritar?
- Não e não, sua bobinha! – A do lado direito falou – Sou Claire, e ela é a Abby.
- E nós somos Capitã e Vice Capitã do time de torcida da escola, as Luckiest Losers! – Abby esclareceu como uma daquelas pessoas que ensaiam na frente do espelho as palavras que vão dizer.
- E o que a capitã e a vice-capitã das LL querem comigo? – Perguntei, tentando afrouxar o braço delas do meu. Essas garotas são fortes! – Só para deixar claro como água.
- Queremos que você... – Claire começou a falar com empolgação.
- Seja... – A Abby completou. Nós realmente precisamos disso tudo?
- A coreógrafa das Luckiest! – Elas falaram juntas e eu levei um pequeno tropicão. COREÓGRAFA? Assim, do nada?
- Eu? Coreógrafa de todas as Luckiest? – Perguntei, em choque.
- Isso! Nós vimos a sua apresentação e o jeito como você dançou na aula de teatro! – Claire disse, bem animada.
- Nós estávamos procurando uma coreógrafa nova, porque a nossa coreografia já está muito passada. – Abby disse, parando na minha frente.
Realmente, há uns tempinhos, todos os jogos de futebol tem a mesma coreografia.
- Então, entramos no clube de Teatro e vimos você lá. No começo te achamos meio idiota. – Claire falava, tentando ser fofa. – Não leve para o lado pessoal.
- Não levei. – Falei e sorri.
- Mas quando você dançou aquela música e liderou todo mundo, nós pensamos: Hey, ela é uma estrela. – Ela continuou mexendo muito no cabelo.
- Assim como nós. – Abby completou e elas fizeram um High-5 fresco. MÃE! Não quero ser igual a elas. Me tira desse mundo? – Então, o que você diz?
- Eu digo: Estou atrasada. – Falei finalmente, me soltando delas. – Por que não me dão um tempinho para esclarecer as coisas na cabeça? Aí depois vocês passam na minha mesa no intervalo e nós, bem, vemos o que fazemos.
E eu me virei, as deixando para trás, e apertei o passo para chegar à sala.

--

- Como disse? – perguntou depois de eu ter contado toda a história para ele.
- Você realmente prestou atenção? – Eu falei com um pouco de bolo na boca e senti um cutucão na barriga vindo da parte da . – Desculpe.
- Prestei, mas é inacreditável! Você, a coreógrafa de todas aquelas garotas estranhas. – disse, meio incrédulo, jogando o corpo para trás.
- Eu sei, soa bem clichê. A maluca anônima quase mandando na torcida inteira. – Falei, olhando para ele. – E ainda é pior quando eu falo. Ai. Mas eu pensei que você as achava gostosas.
- Achava, não acho mais. Não quando eles querem induzir a minha garotinha ao crime. – Senhoras e senhores, Papai . - E o que você vai fazer? – Ele perguntou e, nesse momento, o resto da nossa turminha chegou à mesa e se sentou.
- Eu acho que eu vou aceitar. Não é como se eu fosse entrar para a máfia. – Respondi, pensativa.
- Eba! – , recém-chegada na mesa, disse, batendo palmas.
- Pompom, você acabou de chegar, como sabe do que se trata o assunto? – perguntou, levantado de leve com o dedo indicador os seus óculos escuros. Óculos escuros? Enfim.
- Eu sou uma Cherio, tudo que acontecerá na torcida passa por mim. – Ela respondeu com um olhar de piedade. – Não me chama mais de pompom, ok?
- Ou isso, ou Giro triplo. – Ele respondeu, fazendo-a bufar.
- , você vai ser uma delas? perguntou e todos nós nos viramos para olhar a mesa das torcedoras. – Não, você não conseguiria.
- Por que não? – Perguntei confusa, voltando atenção para a nossa mesa.
- Você é moleca demais para ser daquele jeito. – Ele respondeu e todo mundo prendeu o riso. – Sem ofensas.
- Não ofendeu. E eu não quero ficar igual a elas, acho todas estranhas. – Disse meio despercebida e todo mundo ficou me olhando – Oh, sem ofensas, Pompom.
- Não me chamem mais assim. – falou, olhando para mim com nojo.
- Anyway, mas eu que não vou assistir você ser corrompida por aquelas estranhas. Sem ofensas, Pompom. – terminou de falar e se levantou da mesa. – Encontro vocês no teatro.
- Teatro? Hoje? – perguntou, chorosa.
- Reunião de negócios, nada de mais. – respondeu, dando de ombros.
- Ei, e o ? – perguntou, olhando pelo pátio.
- Não sei. A deve saber. – falou, puxando um cigarro.
- E o que eu tenho a ver com isso? – Perguntei, me levantando um pouco e tirando o cigarro dos seus dedos.
- Você não tem noção do perigo, é? – Ele perguntou, se curvando para frente – Senhorita Cherio moleca .
- está impossível com apelidos hoje. – falou para a , que rolou os olhos.
- Não me chama mais assim, tá? – Falei apontando o cigarro para ele.
- Você e o são os novos BFF do colégio, você deveria saber onde ele está. – terminou, sorrindo. – Não deixe que te peguem com esse cigarro, vai pegar mal para você. – E se levantou, indo em direção ao banheiro.
Me apressei a jogar o cigarro embaixo da mesa.
Eu não sou a nova BFF do . Eu nem gosto dessa sigla!
Wait a minute... Acho que isso significa que o fala de mim para os amigos dele.

--

- Ur so gay and you don’t evening like boys. – Eu entrei no teatro cantarolando e fui em direção do pessoal. – No, you don’t evening like, no, you don’t evening... Oi, gente! – Terminei sentando no fim da primeira fileira, onde todos estavam.
Antes que eles pudessem responder alguma coisa, a professora entrou com logo atrás, como de costume.
- Silêncio, temos que adiantar as coisas. – Ela começou a falar, se posicionando no centro do palco, bem na frente de todo mundo. – Estamos todos aqui?
Nesse momento, a porta do teatro se abriu e todos viraram para olhar. entrou cambaleando pela porta.
- Alguém precisa por óleo nessa coisa. – Ele disse, apontando para a porta enquanto vinha em nossa direção.
- Sr , está atrasado. – A professora falou, o encarando.
- Problemas familiares, Srta Courin. – falou, dando uma leve piscada seguida de um sorriso.
- Sente-se logo, . – Ela rolou os olhos e voltou ao papel.
depositou seu corpo na cadeira vaga ao lado de minha.
- Bom dia, . – Falou acenando para mim e depois voltando sua atenção para o resto da fileira. – Oi, dudes.
- Quando o mocinho terminar os cumprimentos, nós começamos. – Srta Courin falou, dobrando os braços e se ajeitou na cadeira. – Pronto? – Ele fez um aceno com a mão e ela rolou os olhos. – Pode falar, .
Eu ainda não entendo por que o faz tanta questão de ajudar tanto a professora. Ela nem é bonita, para você ter noção do perigo. Ela deve ser tão velha quanto o Rolling Stones.
- Todo ano, o clube de teatro proporciona alguma coisa diferente no fim do ano. Juntamente com a festa de fim de ano. – falava, olhando para cada um de nós. – Mas esse ano, resolvemos fazer diferente. A escola resolveu fazer diferente.
Diferente? Mas é sempre a mesma coisa: Peça Infantil, Baile de Despedida, comemoração da torcida. Fim, beijos, cada um para a sua casa, te vejo no ano que vem.
- Esse ano terá uma festa antes das férias de Dezembro, junto com o musical que vocês vão criar. – Ele terminou e todos começaram a cochichar.
- Eu vou ter que participar de um musical? – Eu falei, perplexa. – Esse é o fim. – Escorreguei na poltrona e , do meu lado, deu uma risadinha. – Você sabia, né, cachorro?
- Por que você acha que eu te trouxe para cá comigo? – Ele perguntou, me olhando com um sorriso enorme.
- Eu ainda te pego, . – Falei ameaçadoramente enquanto se divertia com aquela situação toda.
- E eu e a senhorita C. nos demos ao luxo de separar as funções de vocês. – voltou a falar e a professora se pôs na sua frente.
- Quando eu falar os seus nomes, vocês se colocarão de pé e subirão até o palco. – Ela disse, sorrindo no fim. – Começamos por e .
subiu até o palco lerdamente e o olhou para a professora, em dúvida.
- Mas eu achei que não ia precisar fazer nada! – Ele protestou, a encarando.
- Você e vão escrever a peça.
- Escrever a peça? – Ela falou, confusa. – Escrever uma peça?
- Achei que faríamos Cinderela. – coçou a cabeça.
- Vocês que decidirão o que fazer. Uma coisa bem original, por favor! – Ela disse e os espantou para o canto do palco. – Agora, Betsy, Arnold, Livy, Dylan, Abby, Claire, Chloe, Mattie e o restinho. Vocês cuidarão do cenário, figurino e ajustes.
- Que coisa mais chata. – Claire cochichou para Mattie, que concordou.
- Fundo do palco, por favor. – Srta C. indicou quando eles subiam ao palco. – Vocês. , , , . O histórico de vocês diz que gostam de farra. Então, vocês cuidarão para que a peça se torne uma ‘farra’, se é que me entendem. – Nós fizemos que não com a cabeça e ela olhou para cima, murmurando algo para Deus. – Música e Dança.
olhou para mim, que olhei para , que olhou para .
- É impressão minha ou ela nos chamou de arruaceiros? – Ela disse pensativa e lhe deu um pequeno empurrão.
Nos dirigimos à parte esquerda do palco, que ainda não era habitada.
- O trabalho tem que ser em grupo. Os escritores escreverão a peça, passarão para os Arruaceiros, que farão a escolha das músicas e vão coreografar, depois vão passar a lista das músicas para os Escritores, que colocarão na história e depois mostrarão tudo ao pessoal dos ajustes, que cuidará de fazer um belo cenário, que dará vida á peça. Uma semana para um esboço dos personagens, Senhor e Senhorita , para que assim nós possamos fazer os testes.
- E quanto aos testes, TODOS terão que fazer. Todos estrelarão a peça. TODOS. – falou lentamente e eu suspirei.
Vou ter que pagar mico na frente de todo mundo. AH!
Eu não sei se isso é sorte, azar, destino, futuro e essas coisas todas, mas eu sei que não é normal.
Vamos analisar. NUNCA, desde que eu entrei nessa escola, tiveram uma coisa tão grande. Eram peças com 15 minutos, simples e rápidas. Mas agora, um MUSICAL, bem no ano que eu entrei nisso tudo.
- Professora, mas por que justo com a gente e esse ano? – Eu perguntei, confusa, e ela me olhou nos olhos.
- Porque eu sei que vocês são capazes. – Ela respondeu e saiu andando. – Fim da reunião.

Segui para a porta do Ginásio e fui obrigada a ser apresentada para as outras Luckiest.
- Mas eu estou de Jeans! – Tentei arranjar uma desculpa enquanto Abby e Claire me arrastavam porta afora do teatro.
- Eu te empresto um short. – disse logo atrás.
- Mas ela ia sair com a gente. – e disseram logo a seguir.
- Vocês e o resto podem ver a cerimônia de iniciação. – Claire disse, olhando para trás, e meu queixo foi ao chão.
Sim, queridos amantes de suco de uva e torta de morango. Eu vou ter que dançar na frente do , , , e mais um monte de malucas com roupas mínimas.
Tudo isso porque eu decidi mostrar meus dotes de dança naquela bendita aula.
Poxa, eu gosto muito de dançar, cantar e tudo mais, mas sou extremamente tímida, se você quer saber.
Mandei eles me esperarem no ginásio, que antes eu passaria no vestiário com . O short dela era mínimo e eu decidi que não ia usar. Jeans nunca foi problema para mim.
Ao entrar no ginásio, pude ver um miolinho de pessoas na arquibancada e mais outro miolinho de pessoas no meio da quadra, todas usando as mesmas roupas. Fui andando devagar até elas e vi quando a maioria revirou os olhos quando me viu.
Eu achava que eu não era tão feia assim. Será que tem alguma coisa nos meus dentes? Mas eu cuido deles como se fossem meus filhos. Cada um tem até um nome. Eu sou uma boa mãe, nunca deixaria um pedaço de carne entre eles. Eca.
- Pessoal esta é a , a nova coreógrafa. – Claire disse, abrindo espaço e se pondo à frente das garotas.
- Não sabemos se ela realmente é a nossa nova coreógrafa, ainda não a vimos dançar. – Uma ruiva disse e todas concordaram.
- Se vocês quiserem, eu danço. – Sua puta ruiva, tá duvidando do meu talento?
, de onde você tirou tanta fúria? Sempre fomos uma menina pacífica que não gosta de dançar em público, esqueceu? – Minha consciência disse para mim e eu balancei a cabeça, na esperança de que ela se calasse e deixasse eu me concentrar na dança que ia ter que fazer.
As meninas cochicharam entre si e formaram uma fileira, de costas para a arquibancada que tinha a minha galera, ou seja, eu vou ter que dançar na frente de todos. Simplesmente fantástico.
Da próxima vez, eu calo essa droga de boca.
- Vai, ! – gritou e as meninas bateram palmas. Deus, eu preferia quando era só eu e o , era mais fácil cuidar de um sem noção só.
- Play. – Uma das meninas gritou, ligando a música, e depois correu para a fileira, onde todas estavam com os braços cruzados.

(n/a aqui, só pra você ter uma noção do que é)

Opa, aí sim, essa eu conheço.
Comecei a rir sozinha enquanto meus pés começavam a se mexer. Burras. Se elas realmente queriam que eu não entrasse para esse negócio todo, não deveriam ter colocado uma música tão contagiantemente fácil de dançar. Viu? Isso que dá não comer torta de morango. Se todo mundo comesse torta de morango, o mundo seria um lugar trilhões de vezes melhor.
Anota isso aí, que um dia você verá que é muita verdade.
“Ok, mantenha sua boca fechada e dance”, a tal da minha consciência falou, acalmando os meus sentidos. Bom bom bom, I need my medicine.
Fui dançando conforme a música, mexendo os ombros e cabelos, fazendo tudo que eu tinha direito.
Ouvi uns gritinhos meio gays na arquibancada e me lembrei daquelas criaturas que também me assistiam.
- Sem pânico, você já está nisso, todo mundo já te viu, agora termina. – Droga de consciência. Por que você não vai dormir? Hã, hã? Tem que ficar no meu pé e tudo mais. E esses idiotas da arquibancada, por que querem sair comigo logo hoje?
Balancei a cabeça, mas não parei de dançar. Nem sabia mais o que eu estava fazendo. É, é esse o efeito que a música & dança plantam em mim.
É como se eu fosse o óleo e elas a água, me jogam num copo junto com as mesmas e eu apenas bóio.
Comecei a rir dos gritos eufóricos do meu fã clube e ri mais ainda quando terminei de dar uma volta em torno de mim mesma e apreciei os olhares revoltados das Líderes. Ok, isso tudo está ficando divertido!
- Tá, você venceu! – Uma maluca disse, desligando o rádio.
E quem disse que eu não venceria?
- Bem-Vinda à Torcida, . – Eu falei calmamente, encarando todas elas, que faziam cara de interrogação. – É isso que vocês devem fazer. – Falei rolando os olhos.
- Tá, bem-vinda, tanto faz. – Outra maluca falou e eu pisquei para ela. Muahaha, sou extremamente má e pá.
- Depois a te passa o horário dos ensaios. – Claire falou e eu assenti com a cabeça. – E não se esqueça de nos fazer uma nova coreografia em breve. Vamos, garotas!
E elas saíram.
E eu pude, enfim, respirar calmamente.



Capítulo treze – Um, dois, três, testando vocês.


Entrei no teatro correndo. Já disse que eu vivo atrasada?
Não posso chamar o relógio de BFF, porque eu não posso mentir, sabe como é. Já faço coisas más o bastante, como dizer para minha mãe que eu arrumo a cama da Samy todos os dias, sendo que o que eu faço é jogar tudo pela janela, ao invés de realmente arrumar.
Joguei minhas coisas em uma poltrona qualquer e corri para o palco, parando ao lado do .
- Está atrasada. – Ele cochichou para mim.
- Eu meio que sei disso. – Retruquei, ofegante.
- Primeiramente, quero falar para vocês que pedi reforços para algumas pessoas. – A professora entrou, com e logo atrás. É incrível como eles parecem cachorrinhos. Será que eu consigo adestrar alguém desse jeito? – Já que faremos um espetáculo, precisaremos de mais alunos.
- Que bom, assim não pesa para a gente – disse, mais calma.
- Bem, quero que todos aplaudam a genialidade dos nossos escritores, que conseguiram fazer um esboço de uma peça em uma semana e meia. – Ela continuou e nós aplaudimos.
Bem, não é para qualquer uma fazer um rascunho de uma peça assim, em uma semana e meia. Eu faria em menos.
Mentira, não consigo nem grampear uma folha sem grampear meu dedo. A propósito, isso dói horrores, não te aconselho a fazer.
- E agora, nós vamos fazer os testes.
- Calma, o teste, hoje, agora? – Eu perguntei, assustada.
- Nós não estamos preparados, a gente nem escolheu música e tudo mais! – disse, me dando um apoio.
- Então, vocês têm... – Analisando o relógio – 30 minutos para arranjar uma música.

--

- Meu Deus, Deus meu! – Eu repetia direto andando de uma ponta á outra no laboratório de química.
O que eu canto? O que? EU NÃO SEI!
Eu poderia cantar a música do telettubies, sabe,... Di, zem, oi. OOOOI.
- Cara, eu estou ferrada!
Não é como se eu quisesse ganhar algum papel bom nessa peça. Não queria nem estar dentro, para dizer a verdade.
Mas é meio tenso virar para seus filhos e falar: Na peça da escola, EU fui a ÁRVORE.
O que eu não acho nada mal. Claro, o que seria de nós sem as lindas e verdes árvores, que filtram o nosso ar e nos dão frutos, por sua vez denominados frutas?
Eu não acho nada tenso ser a árvore, mas as pessoas tem um certo preconceito com árvores e bananas.
Não teve uma pessoa na história que foi de banana para uma festa à fantasia e não foi chacota até o fim da festa.
Qual o problema de ser uma banana? Elas são legais. São frutos.
Ou frutas, se você preferir.
Mas que coisa! Eu aqui com um dilema sobre uma música e a única coisa que eu consigo pensar acaba sendo em árvores e frutas.
- Uma música, uma música... – Eu chamava, contando que do nada aparecesse uma na minha frente.
Ouvi a porta se abrindo.
Não, não era minha música.
Nem uma banana.
Era o , em carne, osso e banana.
Trocadilho desnecessário, eu sei. Mas eu não resisti. Você sabe como eu sou: Falar demais e agir sem pensar.
- Toc toc. – Ele falou, colocando apenas a cabeça para dentro da sala – Posso?
- Sim, pode. – Falei, parando de andar.
- Problemas com a música? – Ele disse vindo até mim. - Um problemão. Uma avalanche, para ser mais exata. – Eu disse, fazendo um gesto meio exagerado com as mãos. – Poxa, tinha que ser simples, só chegar e cantar, não é?
- Se fosse simples não ia ter graça. – disse, me olhando profundamente.
Tá, foi só um olhar simples, mas eu gosto de dar certo ênfase nas coisas. Não me culpe.
Apoiei meus cotovelos na bancada e dei um pulo, sentando nela.
- Estava pensando em cantar Jingle Bells... – Falei pensativa, enquanto repetia a cena que eu havia feito agora pouco.
- Bem original. – Ele falou, se arrumando na bancada. – Mas ainda acho que você tem potencial para cantar alguma coisa melhor.
- Sério? – Falei, o encarando, que fez que sim com a cabeça. – Como o quê?
- Noite feliz. – Ele respondeu, rindo, e eu dei um empurrão nele com o ombro.
Ele devolveu o empurrão.
Eu fiquei uma bagunça particular.
Por um minuto tinha esquecido que ele não é normal. Não, normal ele é, mas não normal para mim.
Eita, agora eu sou uma bagunça em palavras.
Empurrei de volta e ele fez uma careta engraçada.
- Você é uma garota muito abusada. – Ele disse, me dando alguns cutucões na barriga. Isso é uma covardia, já que eu sinto cócegas só por falarem a palavra cócegas.
- Você que é um besta. – Falei, esfregando meu dedo no seu nariz de um modo irritante.
E ele começou a rir. Eu ri junto.
- Acho melhor eu ir. – Ele disse, parando com aquela agitação.
Ir? Para quê? Pode ficar, eu não ligo.
- Ok. – Falei, dando um meio sorriso enquanto ele se virava e caminhava até a porta.
Se eu tivesse conversado, ele tava aqui ainda. Eu sou uma burra, uma burra.
Abaixei minha cabeça e balancei meus pés. , sua lerda.
- ... – Ouvi-o falar e levantei meu rosto.
estava apenas a alguns centímetros de mim, me olhando curioso.
- Hm? – Falei, tentando não me perder nos seus olhos.
E então, ele se aproximou de mim. E foi chegando mais perto.
E a cada centímetro comido, era mais um passo para a parada cardíaca que eu provavelmente teria se ele chegasse mais perto.
E assim eu senti um formigamento desconfortável em cada músculo meu quando senti sua boca pressionada contra a minha. Ele segurou meus ombros e afastou seu rosto do meu.
- Só para dar sorte. – Ele falou calmamente e depois se virou, indo embora.
Entrei no palco meio perdida, com a cabeça doendo e sem direção.
Isso é uma doença. Como se chama? -site!
- Comece. – A professora disse, me observando.
Éramos eu, ela, e a menina do Intercâmbio. E a minha música. E o . E o beijo dele.
Quase beijo, eu diria.
Mas, que incrível, eu beijei !
Quase beijei. Foi um selinho, mas...
I (quase) kissed the , and I like it!
Ok, chega de brisa e comece a cantar, vai , vai!
- You can change... – Eu comecei a cantar com uma voz extremamente baixa.
Eu queria dizer que eu arrasei, mas não foi bem isso.
A Srta C. disse para eu cantar mais alto. Eu tentei, mas minha voz falhou. Então ela me mandou pegar o microfone.
E a minha voz saiu tipo um cacarejo. Sabe, pó pó pó póóó!
- Ai, meus ouvidos! – Eu disse, jogando o microfone no chão, fazendo com que desse uma microfonia lascada.
- Vem aqui. – Do nada, o me puxou pelo braço e me levou para trás do palco.
Bem, acho que vou ser estuprada.
- Ah, meu Deus, você vai me estuprar? – Eu perguntei quase gritando e ele fez sinal para que eu abaixasse a voz.
- Eles não podem ouvir nosso plano. – Ele cochichou para mim. – Agora, por que você está cantando tão horrivelmente?
- Oi, delicadeza em pessoa. Prazer, . – Falei, esticando a mão, e ele rolou os olhos. – Não sei! Aquilo que você fez comigo no laboratório de química me deixou bagunçada.
- Aquilo, foi um selinho. – Ele me corrigiu baixo – Se você quiser, eu te dou outro para desbagunçar.
- Cala a boca, ! – Falei, abaixando a cabeça e dando um empurrão no ombro dele. Vergonha, vergonha, vergonha!
- Então, acho que deveria cantar aquela música que você canta depois do seu banho noturno. – sugeriu com a mão no meu ombro. – E por que você sai do banheiro tão feliz?
- Sais de banho de maracujá, uma maravilha! – Eu disse, empolgada, me controlando para não aumentar a voz. – E, ainda por cima, deixa com a pele macia e cheirosa! E... EI! Você me espionou saindo do banho?
- Como se você não me bisbilhotasse toda vez que eu vou mudar de camisa. – respondeu, rolando os olhos. – Mas esse é um assunto para outra hora, em outro lugar. Canta aquela. Vai! – Ele disse, me empurrando de volta para o palco. (n/a: por para carregar) Entrei no palco cambaleando. Foi uma entrada com classe. Tudo o que eu faço tem classe. Sou linda demais. Não.
Ouvi uma tossidinha básica ecoar pelo teatro.
Acho que é agora.
(n/a: por pra tocar)

Senti o chão tremer quando a música começou.

And I'm up down spinning around
E estou em cima, baixo girando em volta
I'm high and dry and kicked to the ground Estou alto e seco, e não consigo sentir o chão
I'm lost and I’ll never be found Estou perdido e nunca serei encontrado
My lips were much too shy
Meus lábios são muito tímidos
The lines about you they never rhymed
As linhas sobre você, eles nunca rimam
And you said I'd never get things right
E você disse que eu nunca faço as coisas direito
(I never said it was the best thing for you)
(Eu nunca disse que isso é a melhor coisa pra você)


Puta merda, e se tiverem jogado outro cometa lá nas Gêmeas? Você sabe, a torre. Mas elas não existem mais. Ah, acho que esse tremor no chão é tudo fruto dessa imaginação fértil que Alá me deu. Melhor voltar a pensar na letra da música antes que eu comece a cantar tudo errado.
Mas só para você ficar esperta: Errar é humano, acertar o alvo é mulçumano.

Singing myself to sleep
Cantando para eu dormir
And you're haunting every memory
E você assombrando cada memória.
Get out, or goodbye, get out, of my life
Sai fora, ou Adeus. Sai fora da minha vida.
Goodnight
Boa noite.

And you're hot cold
E você é quente fria
You're bad around the bones
Você é má até os ossos
You run while I lose control
Você corre enquanto eu perco o controle
I miss you forever you'll stay gold
Eu sinto sua falta pra sempre você estará ouro
And girl you know I'm not getting by
E, menina, você sabe que eu não estou superando
I've lost it you're in my mind
Eu perdi, você está em minha mente
And everyday's the darkest day of my life
E todo dia é o pior dia da minha vida
(I never said it was the best thing for you)
(Eu nunca disse que isso seria a melhor coisa pra você)

But baby where do you go?
Mas amor, para onde você foi?
I need you here tonight
Eu preciso de você esta noite.

Cara, que fome. Não comi nada direito hoje. Ih, caramba, e se eu desmaiar aqui na frente de todo mundo?
Canta, , canta.
Daria tudo por um potinho de ração de gato. Eca, mentira. Um potinho de azeitonas verdes. Eu gosto, é bom.
Por que eu estou pensando em azeitonas verdes mesmo? Ah, é a fome. Eu faço as coisas melhor quando estou pensando em outras coisas, é como se fosse tudo automático, espontâneo.
Melhor eu ir para a frente do palco.

Get out, or goodbye, get out, of my life
Sai fora, ou Adeus. Sai fora da minha vida.


Cause I'm drowning when I close my eyes
Porque eu estou me afogando quando eu fecho os olhos
And I'm falling can't breathe tonight
E estou caindo, não consigo respirar essa noite
and our story has fade to black inside (inside)
e nossa história se transformou em vazio aqui dentro (aqui dentro)

Singing myself to sleep
Cantando para eu dormir
And you're still my favorite melody
E você ainda é minha melodia favorita
It's been three weeks
Tem três semanas
How long can this go on
Até onde isso pode ir?
Singing myself to sleep
Cantando para eu dormir
And you're haunting every memory
E você assombrando cada memória.
Goodbye, get out, of my life
Sai fora, ou Adeus. Sai fora da minha vida.
Goodnight
Boa noite.

Cause I'm drowning when I close my eyes
Porque eu estou me afogando quando eu fecho os olhos
And I'm falling can't breathe tonight
E estou caindo, não consigo respirar essa noite
and our story has fade to black inside (inside)
e nossa história se transformou em vazio aqui dentro (aqui dentro)




Capítulo quatorze - Mostrando para elas o nosso poder.


A vida é uma piada. Tá, e daí? E daí que, se a gente for levar a vida tão a sério quanto nossos pais querem, tudo vai dar errado.
Sabe, cobrar muito da gente é cobrar muito da nossa vida. Essa paranoia de estudar, de ser alguém... Bem, isso tudo não importa se você está mais ocupado pensando nisso do que em que vai comer no jantar, porque isso sim é viver a vida.
Jantar é viver a vida. Se mover é viver, viver é viver a vida.
Entendeu, bicho?
Ok, chega de protelar e voltemos para o que realmente interessa. Vamos parar de pensar e vamos lá viver.
Dois para lá, dois para cá, abre e fecha, fecha e abre, e... Não, não está dando certo.
Me joguei na cama e desliguei o rádio. Não sabia que era tão difícil assim fazer uma coreografia. Sim, eu achava que, só porque eu sou boa na dança, iria chegar e puf, um passo para lá, um para cá, bam! Temos uma coreografia tão boa quanto aquelas dos clipes da Destiny Child.
Mas não é simples assim, sabe? Tudo requer esforço, tudo tem que ter uma gotinha - pelo menos uma gota - do nosso suor.
Impressão minha ou nessa tarde de sol estou meio hippie?
Quer saber, eu quero um sorvetão, é. Dane-se a coreografia, eu que mando naquela escola. Mentirinha.
Se eu enrolei até agora, ninguém vai reclamar se eu enrolar mais um pouco.
Já sei. Nesses últimos dias tenho pensado demais e, como já tinha esclarecido, eu faço as coisas melhores quando não estou pensando. Ou seja, a solução é esfriar a cabeça! E eu sei como.
Abri a porta e logo ouvi aquele barulho de sinos que sempre toca quando algum corpo move-se para dentro da loja. Não tão povoada quanto sempre é, ainda continuava com aquele cheiro de chocolate derretido.
- Adorável.
Fui até o balcão e me sentei em um banquinho.
- Baby, you’ve got the keys, so shut up and drive, drive, drive, barulho de carro. – Comecei a cantar e batucar em cima do balcão, em um ritmo totalmente desritmado.
- Você não tem noção de ritmo. – disse, saindo de trás do balcão – Boa tarde, o que vai querer?
- Tanto faz. Só porque você tem uma banda se acha o dono do mundo. – Retruquei meio sem-noção e peguei um cardápio – Banana split. Sem banana e com muita calda.
- Ainda não entendi porque tirar a banana da banana split. – falou pensativo. – É como tirar o algodão do algodão doce.
- Banana é horrível, mas ela deixa o sorvete com um aroma bem legal. – falou, pregando-me um susto. – Alou, .
- Alou, margarida. – Falei acenando e reparei na cara de Q dele. – Você brotou do nada, tipo flor. Ah, esquece... O que veio fazer aqui? - COMER SORVETE! – Ele disse, esticando os braços e se sentando ao meu lado. – , quero um de pistache com cereja. E vai logo que eu tenho mais o que fazer. - saiu batendo o pé e reclamando alguma coisa sobre não ser a vadia de ninguém. Ué, achava que ele ganhava para isso. Enfim...
- Estava na casa da Intercâmbio, terminando a peça. - voltou a falar (mesmo sem eu ter perguntado NADA) – Cara, eu estou exausto. Não é assim fácil escrever uma peça em pouco menos de um mês.
- Compreendo. – Falei, aproveitando a pequena pausa que ele fez.
- QUER OUVIR O ENREDO? – Ele gritou, erguendo as mãos.
- Opá, pode mandar. – Falei, esfregando as mãos.
- É de uma menina que se apaixona por um vampiro. – Ele dizia com os olhos arregalados – E um lobo.
- Sério? – Falei sem um pingo de emoção.
Não me leve a mal, mas eu não faço o tipo de menina que tem milhares de posters do Edward por todo o quarto.
Não mesmo.
- Não, estava só te zuando. – disse, se virando no momento em que colocava nossos sorvetes à nossa frente. – É uma história baseada em ‘Cinderela’.
- Nossa. – Falei, revirando os olhos com emoção dessa vez. – Eu adoro esse conto, um dos melhores na minha opnião.
- Eu sei. Aliás, a Intercâmbio sabe. – falou com muito sorvete na boca.
- Tome. – Eu disse, estendendo alguns guardanapos. – Você vai precisar.
se apoiou no balcão e passou o dedo no meu sorvete. Olhei para ele com um olhar tenso e ele deu de ombros.
- E o seu negócio de torcida lá? – Ele perguntou após lamber os dedos.
- Vai de mal a pior. – Eu disse, apoiando minha cabeça na mão. – Não consigo achar uma coreografia que combine com qualquer música da Britney Spears.
- Achava que você não dançava coisas assim. – falou, avançando no meu sorvete de novo.
- E eu não danço, elas dançam. É por isso que eu tenho que fazer uma desse jeito. Com esse tipo de música. – Falei, puxando meu sorvete mais para perto.
- Achei que a coreógrafa era você. – disse, pensativo – E eu acho que você deve dançar o que você sabe, não o que elas querem. - Eu sei disso. – Falei pensativa.
- Então, para quê tanto drama? – falou, colocando mais sorvete na boca. – Preciso de uma coca.

--

Saí da sala de aula trotando igual louca. Missão: Chegar no ginásio em um minuto.
Fui correndo, esbarrando nas pessoas que provavelmente vão colocar meu nome na boca do sapo. Ou pelo menos no caderno negro delas. Ai, que medo.
- Desculpa! – Gritei, olhando para trás, quando uma menina soltou um grunido na hora que pisei no seu pé. Senti um corpo contra o meu, e dei um passo para trás.
- ! – falou, animado, me segurando pelos braços.
- Hey, , tudo bem? Tudo, tudo. Eu estou super atrasada para chegar ao ginásio, seria muito incômodo se você me soltar? – Falei, ofegante por ter corrido demais e por estar sendo segurada por ele. Sabe, é muita coisa para dois pulmões só. Deveria carregar uma maletinha com dois pulmões extras, aí, quando o aparecesse, eu abria um zíper no meio do meu peito e enfiava os pulmões lá dentro.
Não, acho melhor não.
- Ah, desculpa. É que você sumiu. – Ele disse, me soltando.
- É, tenho andado ocupada. – Falei, voltando a andar. – Tipo agora. Depois eu te vejo. Te falo, tanto faz. Tchau, tchau!
- E a sua bolsa? – Ele gritou antes que eu estivesse longe demais.
Desviei o meu caminho e fui voltando para onde o estava.
– Droga, droga, droga!
- Pode ir, eu levo ela para você. – Ele disse fazendo uns movimentos com as mãos.
Ele me fez voltar até aqui para falar que não precisava voltar? Cara de tédio pra ele.
- Obrigada, obrigada. – E voltei a correr corredor adentro.
Cheguei ao ginásio quase morrendo do coração. Ele não costuma fazer tantos exercícios assim, então você sabe, é um baque para o próprio. Olha que digno, meu coração vai parar de tanto correr. Adorei, é uma morte com classe, do jeito que só os corações de divas como o meu poderiam fazer.
Acho que eu estou me amando demais ultimamente. É isso que os garotos causam em mim, o poder de me dar poder.
Ouvistes?
- Oba, chegamos! – Abby disse, se levantando da arquibancada.
- Yeap, e viemos com a coreografia nova! – Gritou Claire, um tanto quanto animada. – Assim espero. – Tom assustador nessa última parte.
- É, verdade. Verdade. – Falei, usando o último pouquinho de fôlego que me sobrou.
Fiquei ali olhando todas as cheers juntas. Pequenos pontinhos vermelhos no meio da arquibancada amarela. Assemelho essa visão a uma goiaba.
Não tem nada a ver, mas que mal faço eu ao amar goiabas? Rosas, cheirosas, verdes. Goiabas.
- Então? – Uma das vermelinhas falou, me tirando do meu transe goiabal.
Ou seria goiabês?
- Uh? – Fiz uma careta que ela não gostou.
- Escuta aqui, faz dias que a gente não treina esperando essa sua coreografia aí. Você acha isso pouco? – Outra vermelinha disse, meio estressada.
Ih, qual é, cadê a paz na vida dessas pessoas?
- Não... Sim. – Comecei a falar no mais calmo estado de espírito. Seja lá como isso for. – Tanto faz. Era para achar alguma coisa? Pois bem, não tenho opinião formada sobre isso.
Se tivessemos tomates aqui, eu tinha virado uma macarronada.
parou ao meu lado, meio ofegante.
- Aqui, . – Falou, estendendo a minha bolsa – Boa sorte. Senhoritas. – E se retirou. Ao chegar à porta, virou e deu uma piscadinha para mim.
São em momentos como esse que a teoria dos quatro pulmões ganha um poder a mais.
Peguei meu Mp4 e me dirigi ao rádio. Selecionei a música. Tenho certeza que ninguém vai gostar dela.
Mas eu gosto, então... E daí? EU sou a diva aqui.
Desculpa, meu ego está muito inflado. Mesmo. Esse negócio de lider de torcida e teatro está me corrompendo! Preciso resgatar a doce igual caramelo que começou tudo isso.
Mas todos deveriam gostar dessa música, eu a amo. Ela é legal. Ladys and Getleman, show time!
Vou resumir: Cheguei lá, elas acharam que eu não ia dar conta. Dancei, arrasei, babaram! Provavelmente, elas farão um casaco com o meu nome atrás.
Acho digno.



Capítulo quinze – Quando tudo dá certo, alguma coisa está errada.


Você já evitou alguma coisa? Sabe, cada um evita o que pode, ou então, o que não pode suportar.
Pessoas comprometidas evitam namorados. Pessoas solteiras evitam casos. Pessoas limpas evitam piolhos.
E eu, nessa manhã de sol, evito entrar na escola. E se eu entrar, evitarei olhar a lista.
Sim, a lista. Aquela que falará se eu serei a árvore ou o sol.
Aquela lista que aponta se eu fico presa no chão ou brilho mais que o normal.
Cheguei à frente da escola, mas meus pés não fizeram aquilo que deveriam. Então, eu passei reto.
- ! – disse me abraçando. Caramba, da onde ela saiu?
- Oi, , oi! – Falei, animada.
- Estava indo para onde? – Ela falou me soltando.
- Te buscar. – Respondi rapidamente sorrindo no final.
- Ai, como você é fofa. – Ai, como você é boba!
- ! – gritou da grama e ela acenou.
- Vamos? – disse, esticando sua mão pra mim. Rolei os olhos e fiz que sim.
- Oi, douçuras! – Falei, dando um aceno geral para o , , – que eu não sei o que faz aqui – e, senhoras e senhores, . Fui retribuida com alguns beijos no ar e acenos de cabeça. Dei um beijo bem estralado na bochecha do , que fez uma careta estranha. – Relaxa, não estou usando batom.
- Assim espero! – Ele falou, me puxando para que eu sentasse. Na verdade, eu estava agachada e ele me puxou para baixo, então eu meio que acabei caindo sentada de um jeito nada sexy e nem atraente.
Não que eu quisesse bancar a sedutiva, mas o jeito que eu caí parecia mais um pokemón saindo da pokebola. Uma coisa realmente nada sexy e nem atraente.
- Estamos todos apreensivos? – falou e a maioria levantou a mão.
- Eu não. – disse – Acho que vou descolar um papel bom.
sorriu de lado e fez uma careta discreta, mas ninguém pareceu perceber.
Mas eu percebi. Porque meu nome é Holmes. Há! Ou seria melhor Poirot?
Poirot, sem dúvida!
O sinal tocou e todos soltamos alguns murmúrios.
- Vamos que vamos, direto para a lista! – falou, se levantando e puxando a junto. – Mademoissele.
Como esses garotos são cordiais. Quem diria, astros do rock podem ser civilizados.

--

Entramos no pátio da escola todos de mãos dadas. Uma cena engraçada, eu diria.
Eu apertava a mão do tão forte, tão forte, que parecia que eu estava impedindo ele de uma certa fuga.
- Vai com calma, . – Ele falou ao pé do meu ouvido. Se é que ouvido tem pé. Acho que eles nem tem, porque, senão, já tinham corrido faz um tempinho.
- Me respeita, banana. Eu estou nervosa. – Retruquei com o tom mais calmo que consegui mostrar.
- Acho que eu percebi isso. – Ele disse, fazendo cara de dor.
Havia umas três pessoas na frente da lista, que se retiraram em menos de 5 segundos.
- Certo, , você primeiro. – disse, a empurrando para a frente.
- E se ela ler o de todos, em voz alta? – sugeriu calmamente.
- Boa, Brasil. Faça isso. – falou, apontando para a lista.
- Ok, vejamos. – Ela falou, passando o dedo pela folha. – Começamos por .
- Eu! – gritou animada.
- Marie, melhor amiga de Eliza, a menina estrangeira. – começou a ler calmamente. – Eliza é a , menina vinda do Rio de Janeiro que quer achar a grande banda chamada “Taking Back”.
- Rio de Janeiro, ? – falou, dando um cutucão no mesmo.
- Taking Back são – falou dando uma grande pausa. – , , e... Dylan?
- Dylan? – Todos os garotos falaram juntos.
- Não, não, era para ser todos nós. Comigo junto! – falou, nervoso. – Tá, e quem eu sou?
- O garoto da voz legal, JB. Melhor amigo de Dylan, o ajuda a tentar conquistar a grande personagem, Joanna.
E eu sou a árvore, ou a baconista. Merda, é isso que eu vou contar para os meus filhos?
- Parabéns, , é você. – falou, ainda concentrada na lista. – E, para finalizar, eu, como a apresentadora Ariks, do programa de TV. Ariks, mas que raio de nome é esse?
- Joanna! – gritou animada e veio pular em mim.
- Eu consegui o papel principal. Eu. – Falei, me sentindo sufocada por tanta emoção dela.
Isso é chocante. Bem vocês sabem quem eu sou, certo?
Acho que vocês não sabem quem eu sou, nem eu sei quem sou nessa altura do jogo! Pois bem, acho que, nesse exato momento, eu sou a estrela de um musical.
Depois dessa, acho que vou começar a acreditar em milagres.
Ou seja, é agora que começa a minha dominação mundial. Agora eu vou ser lembrada, vou ser alguém. Vou sair da toca.
Wooho, finalmente!

--

- Estrela, o que fará agora? – disse, colocando um microfone imaginário na frente da minha boca na hora que eu coloquei o pé para dentro do refeitório.
- Vou comer uma torta de morango, eu acho. – Falei, meio acolhida (ou seria encolhida?). Essas pessoas ficam fazendo tanto drama por pouca coisa, poxa, não é como se eu fosse a próxima estrela da Bródyway. (Brody, Adam Brody, Brodyway. Entendeu?)
- Só isso? – Ela falou, deixando o microfone cair, e eu fiz que sim com a cabeça. – Francamente, tem gente que não sabe ser um astro. – E saiu, batendo os pés.
Dei de ombros e fui em direção à cantina.
Essas pessoas vêm ficando cada dia mais loucas! Não consigo compreender o que há de errado com a nação.
E se existe um lugar errado nesse mundo, esse lugar é a cantina.
Havia um bolo de gente tentando comprar alguma coisa, e eu respirei sete vezes antes de conseguir entrar lá.
Coloquei meus braços para a frente para tentar me guiar, e quando senti que minha mão chegou no balcão, empurrei meu corpo.
Vai tirando, estou ficando fera nisso.
Tentei estufar o peito para parecer melhor, sabe, mas a impressão não deve ter sido passada direito, pois a atendente me olhou como se eu fosse de cor azul.
- Torta de morango. – Pedi sorrindo e ela fez um sinal negativo com a cabeça.
- Só temos de banana. – What The Fuck? Banana? Mas que raios, ninguém come torta de banana logo de manhã! Acho que ninguém em santa consciência come torta alguma de manhã, mas isso a gente junta tudo e releva.
- Nem umazinha? – Perguntei afinando a voz e ela ainda continuou com aquele olhar de peixe morto. – Certo, me vê o que tem.
Depois de pagar – O que, a propósito, foi uma fortuna por ser uma tortinha de BANANA –, peguei a torta e fui saindo daquela muvuca.
Mas, como hoje deve ser uma sexta-feira 13 - ou algum dia tão malígno quanto -, algum idiota qualquer esbarrou nas minhas costas, fazendo com que a mesma torta tivesse um lindo encontro nada romântico com o chão.
Eu gastei dinheiro nisso ai!
Resolvi não chorar pela banana derramada e saí da zona de perigo antes que a amada Burkings aparecesse naquele quadrado e me mandasse para a coordenação.
Fui rapidamente para a mesa onde todos se encontravam (Isso inclui a garota do intercâmbio. Como é o nome dela mesmo?). Eles discutiam alguma coisa sobre romances e carros. Como se ambos fossem compatíveis.
Me sentei ao lado do e de frente para o , que se encontrava meio distante. Estralei os dedos na frente de seus olhos e ele piscou algumas vezes. Sorriu ao reparar que eu estava ali.
Oh, God.
- E você, , o que acha dos carros? – falou, acabando com a discussão versus .
- Releve a opnião da baixinha, ela não sabe a diferença de um fusca para uma Mercedes. – disse sem ânimo.
- Claro que sei. A cor e o dono. – Respondi batendo na mesa, fazendo com que acordasse para a vida. – Porque isso varia de acordo com o comprador.
- Entendeu o que eu disse? – falou para o , que assentiu com tanta calma e decepção que foi até meio estranho.
- Certo, partindo desse assunto... – começou a falar e nós escorregamos um pouco na cadeira. – Vamos falar do teatro.
- Certo. – A garota do intercâmbio se pronunciou uma vez na vida. Como é o nome dela mesmo?
- Caras, vocês precisam mexer seus tacos. – disse, batendo na mesa. – Nós precisamos das músicas para poder começar os ensaios.
- Ok, mas primeiro a gente precisa do esboço da peça para saber onde vocês querem música e tudo mais. – falou no seu mais calmo tom de voz.
- Tem uma cópia em cada armário de cada um. Francamente, aonde vocês andam com a cabeça? – falou, extremamente impaciente.
- Graças a Deus, a nossa parte é a mais fácil, ogrão. – disse, fazendo um High Five com o .
- Boa sorte com a iluminação, fumaça e esses troços, como a mesa de som, aparelhos e tudo mais. – disse animadoramente e eles fizeram a melhor cara de peixe que puderam.
- Certo. E depois disso ainda tem os ensaios e blá blá. – disse, mexendo o líquido do seu copo. – Chato.
- Quero ver para conciliar todos os nossos horários, não vai dar muito certo. – disse, séria.
- Ei, só Good Thoughts aqui, tá? – a repreendeu com força. – Tudo tem que dar certo, a gente está vivendo por isso. - Eu não. – Falei rindo despercebida e todos me olharam com cara de tacho. – Gente, temos que aliviar a tensão, sabe. Deixar fluir. - Amém. – Disse , erguendo as mãos e fechando os olhos. – Esse é o nosso lema. Deixe fluir e evite problemas.
- Se alguma coisa der errado, a gente já sabe de quem é a culpa. – Almira, Carmina, ou seja lá qual é o nome da menina de fora, disse, me fuzilando com os olhos.
Uh-oh, acho que temos problemas.
Impressão minha ou essa garota não faz parte do meu fã-clube?
- Fica tranquila, eu não vou ferrar com a sua peça – Falei, me levantando –, .
E o sinal bateu.



Capítulo dezesseis – Desvio de conduta.


- Eu não gosto dela.
- Mas você vai ter que lidar com isso! – disse pela milésima vez, levantando os braços. – Ela escreveu a peça, ela pode reescrever e te tirar quando quiser, isso é fatão. – E por que essa mania de aumentar as palavras? Que coisa mais estranha.
- Mas e o -Molenga? Por que não faz nada? – Falei, me abraçando devido ao frio. É sério. Vou falar um negócio para vocês, lá de onde eu venho não era tão frio assim não! A gente não precisava se enrolar em mil cobertores para dormir; e tomar banho antes de puxar um ronco, menina, era fácil como tirar leite de vaca. Eu sei que o ditado popular é “como tirar doce de uma criança”, mas, francamente, isso é uma crueldade sem fim. O que a criança te fez, afinal? Deixe ela comer os doces em paz, quem vai ter cáries é ela, não você. Não que tirar leite de vaca seja lá legal. Pode ser legal pra quem tira, mas para a coitada da vaca, que tem seus mamilos puxados e apertados, puxados e apertados, não é nenhuma viagem à Disneylândia. É a mesma coisa que comer ovo. Para mim, ovo sempre foi e sempre será aborto de galinha. Esse é meu veredito final. – Hein? Silêncio. Mais silêncio. – AI, MEU DEUS. – Gritei e o fez sinal pra que eu calasse minha boca. – Mas já?
- tem um coração mole. – Ele respondeu jogando as mãos para o alto.
Mais intenso do que aborto de galinha é essa informação que eu peguei agora. Ah, não, o é um carinha tão maneiro, com um cabelo bacana e roupas fofas, por que desenvolver uma queda por ela? Pra quê? Só eu não vejo vantagem nenhuma nisso?
Senti um leve tapa na minha bunda e dei um pulo.
- Por que raios não nasci mulher? – Perguntou aos céus.
- E aí, lindona, como tá? – perguntou, tentando me seduzir.
- Melhor agora. – Respondi, entrando no espírito de pedreiro total enquanto nos dirigiamos até a parte verde da escola.
Ah, como eu gosto desse momento Green. Sentar na grama molhada, comer uma torta de maçã, olhar essa galera correndo com as calças arriadas até o joelho. Lindo demais.
- Qual a fofoca? – não fez cerimônia; logo que sentamos na grama ela perguntou, na lata.
- Não tem fofoca nenhuma. – falou, abrindo um pacote de bolachas.
- táamandoacaradecuica. – Falei rápido em uma tentativa de fazer o não perceber que eu tava dizendo isso.
- ! – Ele me repreendeu, fazendo um barulho estranho com a boca. – Sua fofoqueira.
- Eh, biene, achava que ele tinha uma queda por você, . – disse, olhando fixamente para a árvore. – Garotos, vivem passando para a gente os sinais errados.
- Garotas, sempre vendo coisa onde não tem. – falou, cutucando a , que rolou os olhos.
Bem, se teve uma coisa que eu aprendi com o filme “Ele não está tão afim de você” – o número um na minha lista de filmes, que é realmente extensa – é que, se um garoto quer alguma coisa com você, ele vai te dizer, mais cedo ou mais tarde.
E o grupo das calças arriadas voltou, mas agora só de cueca e meias.
E adivinha quem estava na frente do bando, rindo como uma hiena bêbada?
Acertou quem disse .
- Ele vai se meter em problemas de novo. – -a-margarida-que-nasce-do-nada disse ao meu lado.
- Cara, ele só ferra com o histórico dele! – falou realmente bravo. – E o pior é que ele sempre tem um motivo brilhante para fazer uma idiotisse.
- Vamos. – disse, pondo sua mochila nas costas e se levantando.
- Para onde? – Perguntei toda inofensiva.
- Para a segunda House. A Direção.

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Alguns minutos depois, na sala de justiça.
Como eu gosto de um draminha, eita nóis.
Eu me sentei entre o e o , de frente para um grande aquário que sempre esteve na sala de espera.
- Acho que o peixe laranja deveria se chamar Pésh. – Falei para o , apontando para o aquário. - E o azul, Pochete.
assentiu com a cabeça, como ele sempre faz quando eu digo alguma coisa que não o interessa, ou quando ele não presta atenção.
- Por que o laranja não se chama laranja e o azul, azul? – perguntou, despreocupado.
- , sua vez. – Disse a secretária, saindo da sala da diretora.
- , vem comigo. – Ele falou indo em direção à porta.
- E eu? – Perguntou .
- Continua aí, passando a imagem de que garotos do nosso tipo são quietos e bonitos. – disse já abrindo a porta e entrando. Entrei logo depois e fechei a porta delicadamente, fazendo um barulho que fez a diretora pular da cadeira.
- Perdão. – Falei, coçando a cabeça quando me lançou um olhar tenso.
- E aí, cara! – disse feliz, acenando para o , que se sentou ao lado dele.
- Você não cansou de se meter em problemas, seu imbecil? – tentou cochichar, mas, à medida que a frase ia acabando, a voz dele aumentava.
- Calma, dude, só tava mostrando para os outros o lado engraçado da escola! – Ele respondeu, se jogando na cadeira.
- Você poderia contar piadas, já que queria ouvir alguns risos. – falou, rolando os olhos, indignado.
O mais legal de tudo é que ninguém dava merda nenhuma para o fato de eu estar ali.
- Olha quem diz, o garoto castidade. – zombou, fazendo uma voz fina.
- Como eu estava dizendo – O diretor Bouvier disse, interrompendo a troca de gentilezas –, não tem jeito. Já o colocamos nas aulas de teatro, demos suspensão, chamamos os pais e colocamos você como supervisor dele. Apesar de você ser um tanto quanto problemático, todos os professores te acham um garoto responsável. – Ele continuou, despreocupadamente. – Mas acho que sua responsabilidade não foi párea para a rebeldia do .
- Acho que estamos nos equivocando, senhor. – disse, indo mais à frente. - Todos concordam com a evolução do nosso pequeno desde que começou o teatro e a andar comigo. Ele tem andado mais calmo - prova disso é que ele tem vindo à diretoria em casos extremamente raros. Então, eu acho que nesse caso de rebeldia de hoje, deve pegar apenas uma pena razoável, como apagar todos os quadros da escola e recolher o lixo da grama.
- E que seja a última vez. – Bouvier falou firme – A próxima, é expulsão e B.O, seu fanfarrão.
- Prometo mudar minha conduta. – Falou , se levantando e pondo a mão no coração. – Pelo o bem da humanidade e...
- Caiam fora daqui. – Sr. Bouvier disse sem um pingo de paciência e eu não esperei ele reptir.
Saímos da sala em silêncio, se levantou quando nos viu.
- E aí, o que pegou? – Perguntou, muito curioso.
- Trabalho voluntário. – respondeu, desanimado.
- Sorte sua, . Por pouco você não dá hasta la vista à escola, e ainda mais – falou, nervoso – à peça de teatro.
- Ou você se esqueceu de que a grande ascensão da nossa banda vai acontecer nela? – continuou, cruzando os braços.
- Não vai rolar, eu não consegui o papel. – disse, desanimado – O sonho acabou.
- Não mesmo. – disse, andando em direção à porta e nós três fomos logo atrás. – Primeiro, você vai começar a se comportar como um cara, não um menino de doze anos. Segundo, vai aprender a dançar e controlar sua voz e ainda atuar, tudo ao mesmo tempo.
- Um trabalho e tanto. – falou, se pondo do meu lado, e eu assenti com a cabeça. Dançar cantar e atuar ao mesmo tempo é muito difícil, até pra mim. O que não é estranho, já que eu sinto dificuldade até em andar e respirar ao mesmo tempo.
- Exato. Assim, você continua na banda, na escola, no teatro e, aí, tudo vai dar certo. – completou com calma.
- E quem vai me trasformar nesse “wonder boy”? – perguntou, rindo.
- . – Eles falaram juntos.
- O que tem eu? – Perguntei estupefata. Oi, eu sei usar palavras legais. Viu, não é só o que se passa na minha mente.
- Você vai ajudar o com a performance dele, e nós marcamos outra apresentação para ele conseguir o papel de quarto cara da banda. – explicou rapidamente.
- Depois do castigo, você começa a sua tarefa de mudar esse prego. – falou, pegando um cigarro. – Agora eu vou cair fora, porque eu não sou só babá de marmanjo, eu tenho uma vida, uma vadia e alguns cigarros para fumar.

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Ninguém nasce perfeito, geral tem um defeito. Yo, sou a mano , se não sabia disso, o problema é seu, e a culpa é do Tadeu. Fic, fic, uá. Desculpa, me perdi na minha brisa. Enfim, como eu dizia, ninguém é perfeito, e eu acho que todos sabemos disso.
Cada um tem dois pacotes dentro de si: um com as qualidades e outro com os defeitos que, ao decorrer da vida, temos que mexer e sacudir para o saco destruir. No meu saco de “Defeitos”, um que se destaca bastante – e não, não é a gula, e nem a timidez ou a tagarelice – é a ansiedade. Sou muito ansiosa, mesmo. As minhas unhas que lhe digam!
Nessa altura do campeonato, eu já bebi três Pepsi’s e comi dois Doritos.
Em 20 minutos.
Eu sei, só não sou obesa porque Deus não permite. E também porque eu não vivo nos EUA, onde as crianças com 16 anos já são feras automobilísticas. Sentei no último degrau da escada, perto da porta, e fiquei mirando a própria fixamente. Era da porta para o relógio, do relógio para a porta. Tik tok on the clock. Sabe.
2:40, 3:00, 3:35. Mais dois Doritos, umas duas Cocas.
- Esquece, , ele não vem. – Eu disse para mim mesma no momento em que abria porta do armário para ver o que mais tinhamos para matar minha ansiedade. Um pequeno pacote de cookies me chamava lá no fundo do armário. Estiquei a mão, mas meus dedos não chegaram. Enfiei minha cabeça lá dentro para conseguir pegar. Dei um pulo quando a campainha tocou e bati minha testa, causando uma dor que me fez ver estrelinhas rodando como uma auréola em cima de mim.
- Caralho. – Cochichei pra mim mesma, mesmo sabendo que usar palavrões não é nada legal, quando o telefone começou a tocar.
E então era minha cabeça doendo, a campainha gritando e o telefone tocando. God!
Coloquei uma mão na testa e a outra na maçaneta, abri a porta, dando de cara com o .
E eu com a mão natesta. Merda.
- Ei, ! – Ele falou sorrindo grande.
- Alou, , desculpa pela demora. – Consegui dizer com a voz rouca, só Deus sabe por quê.
E então estabeleceu um silêncio entre nós. Ai, minha cabeça.
- ENTRA. – Quase gritei, saindo do meu transe e dando espaço para que ele passasse. – Pode ir para a sala enquanto eu pego alguma coisa para a gente beber e uma aspirina pra mim. – Bati a porta atrás de nós e, nesse momento, quase que a minha cabeça explodiu. – Ou talvez cinco.
Voltei para a sala com duas latas de Coca e com a cabeça razoavelmente melhor.
Tomei um daqueles remédios grandes da minha mãe para enchaqueca, tomara que funcione.
- Toma – Falei, entregando a latinha de Coca, e ele sorriu. Sentei ao seu lado, sem saber se era isso mesmo que eu tinha que fazer.
- Sabe, a nossa escola parece um chiqueiro. – disse depois de dar um gole na sua Coca. – Agora que eu mudo mesmo, nunca mais quero varrer aquele pátio.
- Vai por mim, eu te entendo. – Falei, pondo a mão no seu ombro como se estivesse o consolando.
- , me explica? – Ele perguntou, colocando o copo na mesa e se virando para mim.
E eu olhei bem no fundo dos seus olhos.
- Explicar? – Perguntei de volta meio sem fôlego.
- É, tipo, por que eu tenho que mudar? – Ele falou, mexendo as mãos. – Sempre achei que estava bom assim.
- Não é que tá ruim, , querido. – O querido saiu sozinho, juro. Coloquei meu copo junto ao dele e sentei de borboletinha. – É que pode melhorar o que é ruim.
- E o que é ruim? – Ele perguntou, virando um pouco a cabeça.
Nada! Cai em mim A-G-O-R-A. Seu rebelde sem causa e nem salvação fofo até o último.
- Seus momentos de rebeldia. – Respondi respirando fundo e ele fez uma cara de confusão. – Bem, vou explicar. - Corri para a cozinha e peguei uma cadeira. Na sala, afastei a mesa de centro e coloquei a cadeira ali. Me sentei e cruzei as pernas.
- Oi, sou . – Falei, imitando voz de homem, e ele riu.
- , você não pode ser um cara com voz de homem e jeito de sentar de garota. – Ele falou, cruzando os braços – E não é . É . cortado na metade.
- É para incorporar o personagem então? – Falei, ameaçadoramente me levantando. - Então espera aí.
Subi para o meu quarto correndo e abri a porta do guarda-roupas.
Achei um boné, uma calça de garoto e uma camiseta da Hurley. Coisas de . Vesti tudo, coloquei um All Star, enfiei o cabelo dentro do boné e pintei um bigode ralo com lápis de olho.
Eu estava parecendo um cara do Texas recém-chegado na cidade, mas enfim.
Desci as escadas segurando a calça, que insistia em cair. Na hora em que eu entrei na sala, abriu um sorriso e jogou a cabeça para trás.
- Você é uma comédia.
- Obrigada. – Falei com um ar apaixonado e pigarreei logo em seguida – Valeu. – Ele fez um sinal de paz e amor e riu.
Sentei na cadeira e me esparramei, como um daqueles garotos que são bem garotos mesmo.
- Coé, sou , a elite da cidade. – Ao dizer isso, fez uma careta e eu ri. – Toco em uma banda, mas é segredo.
- Guardaremos seu segredo, ! – disse, fazendo voz de garota.
- O negócio é o seguinte, . – Falei, sentando direito na cadeira. – Eu posso sentar aqui e falar coisas como quantas garotas eu já peguei e qual é meu saldo de encrencas na escola. Mas, por outro lado, eu posso sentar aqui e falar minhas ambições, meus gostos musicais e até cantar um pouquinho. O que você prefere?
- A segunda opção, claro. – Ele falou, apoiando seus cotovelos em seus joelhos.
- Certo. Digamos que, na escola, é a mesma coisa. Você, o show. Os alunos, o público. O que o público quer? Informações úteis, para poder se identificar com o programa e, assim, assistir sempre. Mas se o programa só mostra comerciais, quantos alunos vão realmente querer assistir o programa?
- Poucos? – Ele disse com dúvida.
- Exato. E você, nos seus momentos de rebeldia, mostra pra todo mundo que você só quer atenção. Sendo que você pode ganhar atenção mostrando para todo mundo as coisas legais que você pode fazer e sendo um carinha legal.
- Então, eu não tenho que mudar quem eu sou. Só tenho que mudar o jeito de me expressar. – Ele falou, se jogando no sofá.
- Yo, Brow. – Falei, fechando o punho e erguendo o braço. – Viu? O primeiro passo para mudar é aceitar.
- É bem mais fácil olhando pelo seu ponto de vista.
- É porque eu sou simples, não faço tanta questão de maquiar as coisas. – Falei, tirando o boné e tacando nele.
- Legal, posso pegar para mim? – falou, analisando bem o boné.
- Pega esse boné que o pega a sua vida. – Falei, rindo, enquanto tirava a blusa.
- Você e o são bem amigos, né? – Ele falou despercebido pondo o boné ao seu lado.
- Mais do que isso, bem mais que isso!

*Enquanto isso, nos ’s toughts*
Eu sabia, eu sabia! Quando eu sei de uma coisa, eu nunca me engano. Eu bem que perguntei para o se ele tinha um lance, um romance, um caso ou algum parente desses ditos com a . E o que ele disse? “Não, , eu e a somos bons amigos. Bons amigos.”
Bons amigos o caramba.
Não acredito que eu vou roubar a garota do . Mas, você sabe, é que momentos difíceis precisam de medidas drásticas. Tá, não é extamente isso. Ter a pra mim não vai ser nenhum passatempo, e não vai ser nada ruim. Eu preciso dela. Nenhum sacrifício.
- Eu e o , bem... Ele foi a primeira pessoa a me aceitar nessa cidade. – Ela continuou, agora tirando as calças. – Ele me fez companhia na escola enquanto todos tiravam sarro de mim por causa do meu sotaque.
- De onde você é de verdade? – Perguntei curioso.
- Se eu te contar, te mato em seguida. Pode ser? – disse, mandando um positivo, e eu fiz que não com a cabeça.
- Mas então, você e o são quase irmãos. Melhores amigos, só isso. – Resolvi fazer que nem machos que são machos mesmo fazem, jogar na lata.
- Vai dizer que você pensou que a gente tinha algo a mais. – Ela falou, rindo e colocando as roupas em cima de uma poltrona. Eu fiquei quieto. – CRUZ CREDO! Eu e o ? Ah não, ele cheira a parmesão com Axe chocolate, não mesmo.
- Desculpa, eu deveria saber que você nunca beijaria um garoto com cheiro de queijo e desodorante.
- Não, misturinha agridoce não cola comigo. – Ela falou, sentando ao meu lado, mas não muito perto. Meio estranho, ela sempre mantém uma distância confortável. Será que eu tenho cheiro agridoce? Respirei fundo para tentar sentir o que ela sentia, mas não deu certo. No mínimo, pareceu que eu tava assoando meleca de volta para o nariz.
- Então, o que faremos? – perguntou, balançando as pernas. – Sabe, a gente tem tanta coisa pra fazer, como trabalhar sua técnica vocal, seus passos de dança, seu comportamento, seu cabelo quase indomável.
- Meu cabelo é tão ruim assim? – Perguntei assustado. Sempre achei meu cabelo maneiro, como assim?
- Não, não, ele é bacana. – Ela falou, despercebida – E também a gente tem que ler o roteiro, fazer a lista das músicas...
- Acho que eu tenho coisa melhor pra gente fazer. – Falei pensativo, a cortando.
- Ah, tem? – perguntou, finalmente respirando. Ela deve ter um motor na boca.
Então, mexeu os peões. Fui chegando mais perto bem devagar, olhando nos grandes olhos que a tem. Tão grandes que me fazem esquecer de tudo o que eu sei. Não sei muito coisa, mas tudo bem. Coloquei minha mão na sua bochecha quente e vermelha demais. Ela veio um pouco mais para a frente, pra eu não ter que fazer o trabalho de aproximação sozinho, e eu fechei meus olhos. E espero que ela tenha feito o mesmo.
*Over ’s toughts*



Capítulo dezessete – Você(s) me deixa(m) louca!


Eu ia beijar, eu juro que ia beijar! Era eu, o gol, a bola e nenhum goleiro! Eu tava tão perto! Até fechei os olhos, se isso lhe interessa.
- AIMEUDEUS, JIH! – Samy gritou, me fazendo empurrar o e perder a única oportunidade que eu já tive de beijá-lo. Eu sei, isso tá ficando bem High School Musical.
Minha única oportunidade de ganhar um -kiss foi embora. Vou deitar em meu leito e chorar todas as lágrimas que meu canal lacrimoso puder fabricar.
- Que é, Samenta? – Falei, nervosa e envergonhada ao mesmo tempo.
- Porta copos, já ouviu falar? – Ela disse, apontando para o meu copo em cima da mesa de centro.
Para. Eu. Não. Acredito. Nisso.
Meu primeiro beijo perfeito não aconteceu por causa da mania de limpeza desgraçada da minha irmã? Oh, chão, me engula agora e me leve para bem far far from here.
- Depois eu limpo. – Sua pirralha catarrenta chata mal educada filha de um mendigo pobre e sujo.
- Acho bom. – E foi embora da sala com sua mochila da Barbie Malibu.
- Deveríamos continuar amanhã – falou, se pondo de pé. Ah, já vai? Fica ai, toma um chá, me pega de jeito! Brincadeira.
- Certo, depois da aula a gente faz algum progresso então. – Falei me dirigindo até a porta e a abrindo. – Te vejo amanhã, .
- Não se eu te vir primeiro. – Ele falou passando por mim e eu ri da piadinha péssima dele. – Péssimo trocadilho.
- Total. – Falei, prestes a fechar a porta.
- Hey. – Ele falou antes que eu pudesse fechá-la – Obrigado. – E veio chegando pertinho, pertinho, pertinho... E me deu um beijo na testa.
Se a gente tivesse no msn...

rock with diz: ¬¬’

Subi trotando em direção ao meu templo. Cara, isso é trágico ao quadrado. Estou brava.
Desviei da minha rota e fui bater no quarto da Samy-titica-de-galinha.
- Samy, Samy, Samy! – Falei, batendo freneticamente na porta do quarto dela.
- Sim? – Ela perguntou, abrindo a porta meio hesitante.
- Você viu o que você fez? – Ela fez que não com a cabeça. – Matou minha oportunidade de ganhar um beijão do , Samy!
- Aff. – Ela falou, rodopiando os olhos. – E essa é você , implorando por um beijo. RECOMPONHA-SE, MULHER! – E bateu a porta na minha cara.
E claro, meu queixo foi ao chão e voltou, em um belo momento io-io.
Certo, nada de chorar pelo laticínio derramado no piso branco da cozinha da minha mãe. O negócio é seguir em frente.
Se bem que beijar o coisa não melhoraria coisíssima nenhuma, mas sim pioraria. Enfim, está me deixando completamente lost.
Entrei no meu anexo, me jogando na cama. Olhei para o lado e vi a peça de teatro.
“D.A.N.C.E.”
Comecei a ler com toda a atenção do mundo. E o enredo é bom, mas existem coisas que não me satisfazem em nada, mesmo! Eu vou matar o . Vou estraçalhá-lo. Esse desgramado.
O meu celular tocou e eu corri para apanhá-lo.
- Diga .– Falei sem animação quando atendi.
- , meu amor, desce pra casa do . – A voz dele soou do outro lado da linha.
- Pra quê? E por que você se pôs em terceira pessoa?
- Tem ensaio hoje e tem música nova. Vem logo. – Ele disse, desligando. E precisa se por em terceira pessoa por conta disso?
Coloquei meu tênis e desci as escadas como um furacão. Se bem que furacões não dessem escadas. Eles destroem tudo por onde passam. Por que, então, eles iam descer escadas ao invés de colocá-las chão abaixo?
Ok... Desci as escadas igual o Flash, realmente rápido, e, ao chegar na porta, dei de cara com a mamãe.
- Oi, gatinha. – Falei, dando um beijo em sua bochecha. – Tchau, gatinha. – Falei, saindo pela porta.
Peguei minha bicicleta e fui rumo à casa do .

Joguei minha querida bike no jardim dos ’s e entrei com tudo na casa dele, porque eu já sou praticamente uma .
- Oi, tia! – Falei para a mãe do quando entrei na cozinha.
- Oi, ! – Ela disse, vindo me dar um abraço. – Quanto tempo! Como anda o teatro, estrela? – E me deu um tapinha nas costas.
- Eu sei! Nunca achei que seria estrela de alguma coisa! – Respondi, bem animada. – É um baque chocante.
- E você e o... – Antes que ela pudesse terminar, entrou na cozinha. – Olá, -Querido. Procura alguma coisa? – Ei, achei que só eu tinha a intimidade necessária para ser chamada de querida. Que papo é esse, senhora ?
- quer aquele suco de cor vibrante. – Ele falou, abrindo a geladeira.
- Frizz-Em. – Falei, sorrindo. – Na última prateleira, atrás das cebolas.
- Opá, você realmente é a melhor amiga do . – Ele falou, chegando perto de mim com o suco cor Laranja Fúcsia.
- Acho que está bem explícito, . – Falei, pegando a garrafa e dando um gole, mesmo sabendo que o odeia isso. – Vamos?
- Claro. Tchau, tia. – Ele falou saindo da cozinha e eu fui logo atrás, dando uma breve acenada para ela.
- Então, , quer que eu te mate agora ou depois? – Falei, segurando no braço dele com carinho quando chegamos ao início da escada.
- Você não vai me empurrar escada abaixo, vai? – me olhou com medo nos olhos. – O que eu fiz?
- Não se faça de bobo. – Eu disse um pouco mais grossa.
- É por causa da peça? – Ele perguntou e dei um tapa na testa dele, que disparou correndo escada abaixo. Corri atrás dele e nós entramos no porão.
- , me salva! – Ele falou, se escondendo atrás do depois de lhe entregar a garrafa.
- ! – disse quando eu cheguei bufando um pouco depois. – Eu já te disse que eu odeio quando você bebe meu Frizz! – Eu o empurrei pra longe e o correu para o lado do .
- Pega ela, . – Ele falou, empurrando o bem na minha cara e fazendo com que eu paralisasse. Eu nunca, na minha vida inteira, fiquei tão cara a cara com o . E vou confessar, ele é tão lindo. E ele está me olhando no fundo dos olhos, tão colado na minha cara.
- O que tá acontecendo aqui? – disse da porta.
- quer matar o . – falou ainda me olhando e apontou pro , que estava ao lado das meninas que haviam acabado de chegar. E você, , é tão lindo que deveria fazer comercial de cuecas.
- Chega, . – falou, me puxando pelo braço. – Você não vai matar ninguém. Porque um: é um marica. Dois: você assiste a luta livre. Então, se você pegar ele pra bater, você vai matá-lo. E eu não quero uma dezena de policiais na minha casa, minha amiga presa e nem um cara estranho com roupas feias pra substituir o na nossa banda.
- Certo. – falou ao lado do . – E a idéia foi de todo mundo.
- Eu disse que ela não ia ficar feliz. – cochichou para e .
Ótimo, todo mundo nesse porão sabe do meu passado trágico. E agora a escola inteira também vai saber.
Very Nice.
- Mas vocês poderiam ter me perguntado – Falei olhando pra todos. Não necessariamente para todos. estava excluído do meu “todos”. Como você acha que eu vou olhar para o cara que eu gosto depois dessa muvuca toda. Ainda por cima sabendo que ele sabe de tudo.
- disse que você já tinha superado. E outra, nós mudamos o fato mais importante, que foi o... – começou a falar e desviou o olhar. – Você sabe.
- É, eu sei. O sabe. E já era o suficiente. – Falei, indo pra saída, e subi as escadas.
Eu realmente achei que tinha superado aquela história. Mas tem alguma coisa mal resolvida aqui.

Entrei no quarto do e me joguei no puff que tinha a aparência de uma melancia. Gay.
- Toc toc. – Ele falou, abrindo a porta.
- Sai daqui, . – Falei brava.
- Não saio mesmo. – Ele disse, sentando-se ao meu lado. –Embarazada?
- “Embarazada” é grávida em Espanhol. – Disse, rolando os olhos. – E isso é a última coisa que eu estou.
- Como você é dramática. Uma verdadeira rainha do Drama. – Ele falou, bravo.
- Você e seus amigos colírios me envergonharam naquele script. Vão contar a M-I-N-H-A história para todo mundo. Não é um motivo grande o suficiente pra ficar meio down?
- Ninguém vai saber que é “você” no script. – Ele disse, se arrumando no chão.
- Mas o , o , o , a e a sabem... – Retruquei, brava. – E tudo que eu queria era esquecer aqueles dias. – Falei sem animação na voz.
- Ok, nós esqueceremos a história, o garoto, o script. Vamos fazer tudo de novo. – disse, agora me olhando nos olhos. – Tudo por você, . Tudo pra você.
Então, vale a pena acabar com a peça de teatro maravilhosa da escola porque eu ainda não superei o que passou?
Não , não mesmo.
Me levantei e coloquei minha mão na frente do .
- Recomponha-se, mulher, It’s not the end of the world. – Ele segurou minha mão e eu puxei pra cima. – Vamos arrasar com aquela escola contando a nossa história e vamos nos tornar as maiores lendas que nossos pais já viram! – Ergui minha mão, fizemos um High-5 e eu contemplei o sorriso do brilhar no seu rosto. – Gatinho, enquanto eu tiver você do meu lado, o resto é resto. – Coloquei meu braço em volta do seu ombro e nós fomos porta afora, em direção ao porão.
- Eu sei disso. – falou, sorrindo – Somos Luke e a força. Você sabe disso.
- Sei. Sei também que você tem tomado muito sorvete. Você tá pesado pra caramba!
- Ei, é você que tem braços iguais a pernas de galinha e não consegue me levantar do chão. – Ele retrucou, fazendo uma careta, e eu ri, tendo a sensação de que realmente não precisava de mais nada nesse mundo.
Só do meu melhor amigo com cheirinho agridoce.

- Ok, mãos à obra. – Falei, batendo palmas quando entrei no porão. – Suas vacas gordas.
- Uau. – disse pro quando ele chegou perto. – Ela é uma fênix.
- Não, é só a minha garota. – falou, despreocupado, enquanto se posicionava.
Me sentei no chão ao lado das garotas, que sorriram quando me viram.
- E aê, Little ? – disse, me dando um empurrão.
- Não é porque a maioria de vocês nessa sala tem um ano a mais do que eu que vão colocar diminutivos antes do meu nome. – Falei, brava.
- Ah. – disse, desanimada. – E baby , pode ser?
- Pode. – Falei sorrindo enquanto elas riam.
1,2,3,4!
As baquetas contaram quatro tempos, a música começou a soar e, então, eu ouvi o que seria o primeiro sucesso dos meus amigos.



Capítulo dezoito – Você foi concreto e simplesmente rato comigo demais.


Senhoras e senhores, por meio desta eu venho lhes informar que: EU TENTEI. Eu juro para todos vocês aqui presente que eu, euzinha da silva, tentei. Fiz o melhor que pude, fui legal, engraçada, descontraída e o que recebi em troca? Resposta: Nada. Nadica de nada. N A D A.
Acho que os senhores não estão entendendo... Pois bem, essas olheiras aqui presentes no rosto de quem vos fala tem nome e se chamam: . Acreditem se quiser, o moço sumiu. SU MI U. Como pode depois de um selinho, um quase beijo e um pseudo romance alguém te dar bolo durante uma semana inteira? Me digam vocês. Eu sou tão feia assim? Eu tenho mau cheiro? Bafo? QUAL É MEU PROBLEMA? Bom, nesse caso, meu problema é ele – de novo.
- Hoje? Hoje eu não posso – Ele disse no primeiro dia, quando eu simpaticamente o parei para perguntar se eu passaria na sua casa ou ele iria à minha para começarmos o treinamento e escolher as músicas para o musical.
- Hoje eu tenho que ir... Almoçar... Com minha tia... Doente. – Falou no segundo dia após eu perguntar “Ei , é hoje?”
E assim correu a semana toda, eu “Hey” ele “Ah...”, eu em casa escolhendo músicas, inventando coreografias e ele em qualquer outro lugar que não fosse comigo.
Agora eu deixo essa perguntinha aqui para vocês: Eu mereço? Não. Não mereço MESMO! Sabe o que eu mereço? Um amor pra vida toda, mãos dadas nos corredores da escola, beijo gelado depois do sorvete, sorriso de canto de boca, abraço depois de uma DR feia, dormir de conchinha mesmo sem ter feito sexo algum, dividir uma música com alguém que, ao pensar em mim, sorri.
Talvez eu tenha levado tudo muito para o lado pessoal, não é mesmo? Mas a culpa não é minha se tenho 16 anos e mereço/quero ser amada.
- Terra para . – Eu ouvi no canto do meu ouvido e dei um pulo, fechando meu armário do jeito mais escandaloso que consegui.
- Ah... - Murmurei depois de me virar e descobrir que quem me atormentava era ele, o próprio, meu pesadelo. – Não.
- Não? – Ele perguntou confuso quando eu dei as costas e sai andando. - Não. – Afirmei enquanto me mantinha andando. Querido, eu posso não ter um pai ou um namorado, mas eu tenho uma coisa que não abro mão: Amor próprio.
- Não o que? Eu não entendi! – falou parando na minha frente, me impedindo de andar.
- Não, , eu não vou, de jeito nenhum te tratar normalmente pelo simples fato de você ter me deixado esperando durante uma semana. – E eu perdi o controle, eu explodi. Quer saber? Dane-se! Me larguem, pois esse senhor vai ouvir poucas e boas, e é agora mesmo. – Não vou te encobertar encobrir sei lá como se fala, durante mais uma semana, não vou ser legal com você, não vou te desculpar, não vou continuar te achando lindo e genial sendo que você é só um garoto besta que não sabe cumprir seus compromissos e faz questão de se aproveitar de uma bobona de coração mole e talento gigante como eu. Não, eu não quero ver você na minha frente! – Parei de falar, nervosa, respirando fundo enquanto sentia as minhas bochechas vermelhas e todos os olhares do corredor em cima de mim. tinha uma cara confusa, um olhar preocupado como quem diz “quem deixou essa maluca sair do hospício?”. Boas novas, amigo, você liberou meu lado maluco, você que fez isso comigo, você!
Achei que ele ia fugir chorando, também achei que eu ia fugir chorando. Mas não, apenas ficamos ali, eu sentindo a raiva do mundo e ele a confusão de 70 adolescentes que não sabem escolher entre coca cola e Pepsi.
- E aí, vai ficar me olhando com essa cara de peixe palhaço? – Finalmente falei, cruzando os braços.
- Não, vou fazer coisa melhor.
- Vai aparecer nos compromissos que marcar? – Perguntei sendo mais ácida que pude. - Não. – Ele respondeu segurando meus braços e se aproximando com aquela cara linda pra bem perto da minha e eu não conseguia tirar os olhos daquela boca bem desenhada, feita especialmente para mim.
- E não. – Falei me chacoalhando para que ele me soltasse – Você não vai me reconquistar com um ou trezentos beijos – Continuei assim que consegui me livrar daquelas mãos – Porque, nesse exato momento, eu te digo: gostava mais de você quando não te conhecia.
Me virei e apertei o passo, arrependida por não ter conseguido meu tão sonhado -Kiss e ao mesmo tempo orgulhosa de mim, por ter mostrado meu valor a quem menos me valoriza.

--

Joguei minha bandeja na mesa e me sentei, aliás, me esparramei do lado do .
- Uau, tem um rosto nas suas olheiras. – gritou da outra ponta da mesa.
- Há há, panacóide. – Respondi em tom de desprezo. Qual é moleque, quem você pensa que eu sou? Eu tô é sem moral nesse grupo de amigos.
- Ai, não liga pra ele não, amiga. – disse se escorando na mesa – Depois passa no meu armário que a gente vai pro banheiro dar um jeito nisso.
- Mas nossa gente, tá tão ruim assim? – perguntei, olhando para os lados.
- CRUZ CREDO, O QUE FIZERAM COM VOCÊ? – sem noção gritou quando chegou à mesa com vários papeis a tira colo.
- É, , digamos que seja nota 10 em uma escala de 11. – se manifestou ainda com os olhos no catálogo que lia.
- Eita, pode deixar que esse fim de semana eu vou dormir bem pra compensar isso – Disse meio despercebida antes de abocanhar meu sanduiche.
- Não, não! – bateu com a revista na mesa – Não mesmo.
- Opa, quem fizeram isso com ela? – Falei assustada formando uma das frases mais erradas que já falei na vida.
- Quem fez. – me corrigiu fitando a embalagem do seu refrigerante.
- Amiga, você esqueceu? – perguntou com aquele charme cheers, numa voz meio sussurrada.
- Se eu não me lembro... – Falei dando risada e mordendo meu sanduíche – Acho que talvez tenha esquecido.
- E AÍ, GALERA, TUDO EM CIMA PRO GNO? – , a internacional, gritou, sentando ao lado do , que fez questão de arrumar sua postura.
- O que diabos é GNO? – resolveu se pronunciar, saindo do transe que estava desde que eu me sentei do seu lado.
- Girls night out, bobinho! – disse entre risinhos no melhor tom de flerte que conseguiu. Querida, se você pensa que vai arranjar algo com esse garoto aqui do meu lado, não não. Não neste lar. assentiu com a cabeça e voltou a olhar pra frente, perdido.
- Isso significa... Festa do pijama? – Perguntei dando um tapa na minha testa logo em seguida. – Minhas sinceras desculpas, , eu tinha esqueciiido! Mas calma, nada está perdido, pode deixar que eu vou sim pra sua festa!
- Espero que vá mesmo! – Ela decretou em um tom bravo, voltando os olhos pra revista. Eu hein, tudo por uma mísera festa do pijama em uma mansão.
- . – sussurrou discretamente pra mim, encerrando a sessão morte dele. – A gente precisa conversar.
- A gente tá conversando. – Cochichei de volta rindo discretamente – Seu maníaco.
- , esse é um assunto sério – Ele falou num tom frio – Eu acho que você gostaria de saber por mim.
- Quê? Você tá grávido? – Me assustei. Ué, assunto sério... Saber por mim... Isso não me soa bem! Tá com jeito que ai vem coisa feia pela frente. Virei minha cabeça para encarar o e, no horizonte, vi o se aproximando da nossa mesa. Me levantei desesperada e recolhi minha bandeja sem nenhuma descrição – Vejo você no ensaio das Cheers, . Vejo o resto depois.
- Hoje tem ensaio na casa do pós-expediente, e vocês estão cordialmente convidadas. – disse antes que eu me afastasse da mesa.
- Eu passo, preciso descansar – Falei acelerada e na hora que chegou à mesa, eu me virei e sai andando.
Ok, sejamos francos, eu só não voei porque não sou uma pomba ou qualquer animal com asas que frequente a escola.

--

Me espreguicei, sentindo a luz do sol intrometido entrar pela fresta que eu insisto em deixar na cortina bater bem nos meus pés descobertos. É sábado! Graças a Deus é sábado. Isso significa sem escola, sem líderes de torcida, sem aula de dança, sem , sem ninguém. Apenas eu, eu e... Uma droga de festa do pijama. Ah, que tortura! Gente, eu sou uma adolescente da terceira idade, que horror. Só reclamo, mal saio de casa e ainda ando mais cansada que catador de lixo.
Respirei fundo e sorri, pois acreditem, é a primeira festa do pijama que vou! Dormir na casa do não conta, já que eu fico assistindo Project Runaway enquanto ele faz questão de babar em cada centímetro do sofá. Ok, hora do café.
Me levantei num pulo e procurei minhas pantufas. Sapateei em direção do meu querido banheiro e fiz meu ritual matinal que inclui gargarejar no ritmo de “Black Horse And The Cherry Tree”.
- I said, "No, no You're not the one for me" – Desci as escadas cantarolando – Fala Samelenta. – Falei, me jogando no sofá e pegando o controle da TV.
- Nem pense nisso – A mocinha me repreendeu com a boca cheia de leite e cereal.
- Qual é, eu que mando aqui, pirralha. – Respondi em tom de desprezo.
- EU cheguei primeiro, então, tecnicamente, EU que mando aqui. – Minha nada adorável irmã mais nova respondeu, deixando a tigela de cereal na mesa de centro e vindo em minha direção com a fúria de 3 leões.
- Na verdade, como quem paga as contas das mocinhas sou eu, então por mérito quem manda nessa casa, nessa TV e em vocês. – Minha adorável mãe abriu a matraca, sentando perto da Sammy – Sou eu.
- Chata. – Murmurei o mais baixo que consegui. – Mãe, posso dormir fora?
- Com dormir fora você quer dizer dormir no ?
- Não – Revirei os olhos – Eu tenho algumas amigas.
- Desde quando? – Sammy melequenta se intrometeu, me deixando brava. Humor matinal de fim de semana não dura aqui nesta casa.
- Posso ou não? – Voltei pra mãe, ignorando a coisinha.
- Deixando endereço, telefone, não bebendo e nem usando qualquer tipo de droga, tá liberado. – Ela respondeu com os olhos na televisão – Que horas são?
- Em torno do meio dia, creio eu. – Respondi ainda meio mole devido ao sono. Ih, aqui o processo é lento, levo em média 30 minutos pra acordar.
- Opa! – A mãe levantou num pulo – Corre Sams, estamos atrasadas!
- Pra que? – Perguntei confusa quando a criaturinha saiu correndo da sala. - Almoço com as minhas amigas de trabalho. – Mamãe disse, pegando sua bolsa e colocando óculos escuros. – Volto antes de escurecer, querida – Me deu um beijo na testa e disparou até a porta. – Vamos Sams! – Minha irmã reapareceu do lado da minha mãe, deu um breve aceno de mão pra mim e assim se foram as duas, me deixando sozinha em pleno sabadão.
- Alô. – Obviamente que nem pude curtir minha tão sonhada solidão, já que o telefone insistiu em tocar logo que levantei do sofá e me dirigi até a cozinha.
- Ei, . – Uma voz familiar cochichava do outro lado da linha.
- ? – Perguntei meio em dúvida enquanto bisbilhotava dentro da geladeira. Hm, acho melhor tomar um iogurte e comer alguma fruta só. Na verdade, eu queria comer agora um pedaço bem grande e gordo da maior pizza que existe nessa cidade. Porem, impossibilitada. Só me restam iogurte e banana mesmo.
- Claro quem mais seria; o Adam Brody? – Ele cochichou em tom sarcástico.
- Quem me dera, meu amigo, quem me dera. – Falei sonhadora imaginando ele, Adam Brody discando meu número em um sábado de sol, me convidando para tomar um suco de uva e comer um pedaço de pizza em uma padaria qualquer. – Está preso, moço? – perguntei enquanto subia a escada de volta aos meus aposentos reais.
- Quê? – Ele falou um pouco mais alto. – Não! Tô no trabalho, por isso cochicho. Preciso URGENTEMENTE falar com você, .
- Ih, chamou de eu já levo para uma fase a mais. – Falei sentindo uma leve preocupação na boca do estômago. – Preciso sentar pra receber a bronca?
- Acho melhor deitar. – Ele sussurrou no momento que eu me joguei na cama.
- Pronta pra receber a notícia. – Falei, abocanhando um pedaço da banana.
- Certo. Primeiro de tudo, eu preciso que você saiba que eu juro por Deus, não tive NADA a ver com isso. Antes que eu soubesse – Acabei me desligando do que ele dizia, já que uma música soava distante. Me levantei da cama, ignorando todo e qualquer bla bla bla do , e fui seguindo o som que dava – pasmem – do outro lado da minha sacada.
(n/a a música é essa, velha conhecida de todas nós)

Well I met this girl, just the other day,
I hope i don't regret, the things that i said now
And when we're laughing, joking with each other now,
I'm glad I met this girl


Meu deus grego meu astro de TV, de cinema, aquele que dominou as passarelas do meu coração cantava diretamente pra minha janela, ou seja, ele cantava exatamente pra mim! Fui até a pequena área e me apoiei no beiral ainda com o telefone e, bem, me pareceu que ele ficou um pouco feliz em me ver.

When she walks in the room my heart goes boom!
Ba ba ba ba ba da ba
I tried to take her home but she said:
"You're no good for me!"
She's got a pretty face, such a lovely name,
I don't want my friends to see,
They might take her away from me,


Ai, eu acho que vou morrer. Não, aliás, eu acho que estou morta e vocês não me avisaram, acho que isso aqui é o céu. Ou só pode ser um sonho. Bom, mas eu acordei, certo? Eu não posso ter comido uma banana inteira dormindo, seria muito surreal, até mesmo para mim que sou a senhora rainha da bizarrice. Gente, que momento mais lindo, eu já posso morrer.
- Por que diabos eu ouço a voz do cantando? – gritou e eu afastei o telefone de mim, estragando minha serenata.
- , te odeio. – Falei com dentes serrados enquanto coçava a cabeça, olhando para baixo, claramente embaraçado por eu e o termos interrompido a serenata mais fofa da história.
- Então você não ouviu NADA do que eu disse, é isso? – Ele continuava nervoso. – Você não ouviu NADA?
- Ahn, na verdade não. Mas tudo bem, eu te perdoo. Passa aqui mais tarde, ou não. Depois a gente se fala, tchau. – Falei enfim desligando o telefone. Droga, ! – Então, o que foi isso?
- Isso? – perguntou fazendo um sinal exagerado com a mão. – Ah, esse foi meu jeito de pedir desculpas por tudo que eu fiz e por tudo aquilo que eu vou deixar de fazer.



Capítulo dezenove – O término.


- Calma lá. – eu precisei pedir um tempo fazendo sinal com a mão para que o se calasse. Vocês também não estão entendendo coisa alguma ou toda a torta de morango que comi durante esses anos subiu pra minha cabeça e eu tive uma overdose cerebral sabor morango? – Você tá terminando comigo?
- Quê? – Foi a sua vez de ficar confuso. – Não! A gente nem tava junto.
- Ah, isso é verdade! – Comecei a rir que nem uma hiena bêbada (porém, nesse caso, bêbada de amor).
Ok, ingleses, vocês perceberam que fez uma declaração de amor via música fofa para a gatinha aqui conhecida também como eu? Isso é apaixonante, é meigo, é um sonho bom... Até a parte que ele pede desculpas por tudo que vai fazer. Essa parte me atormentou.
- O que eu quero dizer, na verdade – Ele voltou a falar quando percebeu que eu já estava em outro mundo amando outra pessoa. – Me desculpa, , por ter te deixado na mão, por não ter honrado meus compromissos. A partir de hoje nós vamos trabalhar naquele musical e nas danças. Eu vou te ajudar do jeito que devo.
- E? – Perguntei numa forma de incentivo logo depois de sentir um cheiro de reticências no ar. Pode ter parecido rude ao julgar pelo meu tom de voz, minha cara de assustada e etc, mas tem coisa aí, eu sei que tem.
- Me desculpa por ter flertado com você indevidamente nesse último mês. – Viu, aí está – Eu não deveria ter te passado essa impressão, fingir que estava interessado. – Ele continuou falando sem nem saber que tinha me dado um tiro de canhão, mas em vez de usar aquela bola preta gigante, ele usou palavras certeiras – Quando, na verdade... - Uma pequena oscilada – Você tá chorando?
- Quem? – Falei, olhando para os lados numa forma meio estúpida de tentar disfarçar meus olhinhos marejados. – Eu? – Apontei pra mim mesma, sorrindo. – Claro que não, . Eu sou uma dançarina perdedora desconhecida na tão temida high school, você é um rebelde sem causa, conhecido pelas peripécias feitas no ramo escolar. Garotos como você não se apaixonam pelo meu tipo de garota.
- E eu voltei com a minha ex. – Ok, , isso é tipo matar uma barata com o tênis e depois esmagá-la até sair aquela gosma gosmenta que se espalha para todos os lados. Infelizmente, eu sou a barata. A barata mais infeliz dessa cidade toda.
Talvez desse país.
- Eu ainda vou ter que te dar aulas? – Perguntei depois de engolir seco.
- Não, percebi que o meu papel acaba sendo bem legal quando se chega no último ato. – Ele sorriu de um jeito misterioso pra mim. Não fiz questão de sorrir. Fiquei olhando aqueles cabelos jogados na frente do seu rosto, aquele nariz bem desenhado, aquela boca pintada no tom perfeito e me achando meio idiota por ter acreditado um dia nessa vida que ele poderia ter ficado comigo.
Eu sou a maior idiota do mundo.
Dei as costas para ele e entrei, deixando-o murmurar alguma coisa inaudível do outro lado da sacada.

Acho que se passaram quatro horas que eu me revezei em dormir, dormir e chorar, comer, cantar músicas tristes até pegar no sono. Vocês já levaram um soco no estômago que fez com que você tivesse a sensação de que todo o ar do mundo, de alguma forma, desapareceu? Como se você tivesse sido posta numa garrafa de vidro e tampada...
Eu sinto como se tivesse sido embalada a vácuo.
Levei um soco na boca do coração e eu mal tinha começado a usá-lo.
- Now that I've lost everything to you, you say you wanna start something new. – Eu cantei enquanto mudava os canais da tv e mordia um pedaço de chocolate.
O mundo tá meio confuso pra mim. Primeiro eu era eu, a mesma de sempre, com o mesmo amigo de sempre, fazendo as mesmas coisas de sempre ate que PÁ! Eu entro no teatro, meu amigo tem uma banda com os caras mais legais da escola, eu arranjo amigas, entro para as líderes de torcida, viro protagonista de um musical, consigo quase ter alguma coisa com o garoto que gosto... Muita coisa em pouco tempo, eu sinto que meu corpo não assimilou basicamente nada do que aconteceu.
Assimilou que eu tenho uma pancada de coisas para fazer, me revezar entre ensaios disso ensaios daquilo, estudar pra aquilo outro...
Tá, mas isso eu resolvo com o tempo, aliás, eu não estou sozinha nisso tudo. Pra me ajudar com a torcida eu tenho a e a , pro resto eu tenho o resto da galera.
Quando começa a temporada de futebol mesmo?
Ai meu coração! O que vocês fariam no meu lugar? O que eu faria?
Bom, a última vez que eu inventei gostar de alguém e obviamente não deu certo, passei mais de meses chorando feito trouxa, um bebê que não via um peito há séculos...
Dessa vez eu vou ser mulher. Bom, eu completo 17 anos daqui alguns meses e eu não posso ser a mesma de alguns anos atrás. Eu não vou ficar chorando por aí parando minha vida e esquecendo de todo mundo, me trancando em casa porque um garoto lindo maravilhoso perfeito rockstar, o último pirocudo... Calma, o que eu dizia? Ah sim, eu NÃO VOU CHORAR E PARAR MINHA VIDA PELO JONES, NÃO!

Mas antes... Eu tenho que dar a minha cartada final.
Pigarreei na varanda com o violão em punho e a canção memorizada. Bom, agora é minha vez de fazer uma serenata.
- Hey, . – Eu gritei quando ele passou pela janela. Esperei alguns segundos, ele voltou, abriu a porta e veio até o fim da sacada pra presenciar de perto o show do meu desapego.
Nossa, mas e essa mania que eu tenho de achar que sou poetisa quando estou triste? Mas enfim, espero que vocês me deem licença poética para a desilusão amorosa. - Essa é pra você.
- , não... - Ele começou a falar, mas eu o interrompi com os primeiros acordes da minha canção gran finale.
(n/a: solta o som, dj)

I almost got drunk at school at fourteen (Eu quase fiquei bêbado na escola aos 14 anos) where I almost made out with the homecoming queen (quando eu quase fiquei com a rainha do baile) who almost went on to be miss texas (que quase foi a miss texas) but lost to a slut, with much bigger breastes (mas perdeu para uma vadia com peitos maiores)
I almouts dropped down to move to L.A (eu quase desisti de me mudar pra L.A)
Where I was almout famous for almost a day (Onde eu fui quase famoso por quase um dia)

And I almost had you
(e eu quase tive você)
But i guess that doesn't count it (Mas eu acho que isso não conta)
Almost loved you (Eu quase amei você)
I almost wished you would`ve loved me too
(eu quase desejei que você tivesse me amado também)

Sabiam que fica muito mais difícil cantar uma canção do desapego quando o objeto de desapegamento está sem camisa na sua frente? Eu deveria ter ensaiado mais, deveria ter melhorado nessa voz trêmula, nesse refrão cheio de ódio. Posso parar no meio e voltar pro meu quarto? Acho que não, fica feio. Pois bem, sigo cantando como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

And I almost had you (E eu quase tive você) but I guess that doesn't count it
(mas eu acho que isso não conta)
Almost had you
(quase tive você)
And I didn't even know it
(e eu nem mesmo sabia disso)
You kept me guessin
(você me deixou supondo)
and now I'm destinated to spend my time missing you
(e agora eu estou destinado a passar meu tempo sentindo sua falta)
I almost wish you would`ve loved me too
(eu quase desejei que você tivesse me amado também)

Parei de tocar na hora em que vi uma ruiva saindo do quarto e vindo em nossa direção. O sangue me correu como uma maratona por todo o meu corpo e eu juro pra vocês que se eu tivesse alguns neurônios a menos eu pularia dessa sacada para aquela em um minuto.
Então é isso, o “terminou” comigo faz algumas horas, voltou com a namorada peituda loira e está traindo a mesma com uma ruiva linda. A minha vida é ridícula. RI DI CU LA. Que papel que eu desempenhei agora, hein? Fazendo uma serenata pro senhor logo depois dele ter transado com uma ruiva qualquer.
- Você é um ser desprezível, . - Eu consegui falar antes de entrar no meu quarto.
E ele não tentou me impedir. E essa foi a parte que mais doeu.

Pedalei durante uns trinta minutos até chegar na casa da . Tinha em mim uma cara de choro e um pacote de Doritos numa bolsa cheia de DVD'S.
- Calma, segura firme que uma hora passa. – Eu vim dizendo pra mim mesma após a quinta vez que quase fui atropelada porque não consiga ver os carros devido aos olhos marejados.
Toquei a campainha e pude ouvir alguns risos histéricos de fundo, enquanto uma voz conhecida chegava perto da porta.
- EI, COISA. – começou a falar extremamente feliz, até ver minha cara – Feia. Muito feia. Que aconteceu, querida?
- Ah, aquilo que acontece a 10 em cada 10 garotas. – Falei me pondo pra dentro da casa mesmo sem ser convidada. - A vida.
- Vida boba! - Disse emburrada de um jeito fofo – Vem, vamos nos afogar em pizza pra esquecer as dores da vida.
Se tem uma coisa que eu manjo muito é: preencher vazio existencial com comida gordurosa. Isso é muito a minha cara. Eu sou a rainha nesse negócio.
Segui a líder escada a cima, onde chegamos no gigante quarto da .
- Só faltava você! - Ela me recebeu num abraço apertado – Pizza?
- Obviamente – Falei sorrindo.
Assim passamos algum tempo, rindo de qualquer coisa, cantando músicas feliz e comendo fast food. Devo confessar para vocês, queridos leitores desse diário imaginário, essas garotas aqui presentes são as melhores pessoas que já conheci. Quem diria que por trás de tanta francesinha e pom pom era uma voluntária que ajudava crianças com problemas na escola?
E , uma eterna compradora compulsiva, servia comida para os pobres de madrugada?
, apesar de ainda me olhar torto, também era uma ótima garota, tinha mais de sete cachorros, não podia ver um bicho na rua que já o mandava pra dentro de casa.
- Mas então – começou em tom misterioso – E os namoradinhos?
- Vou pegar uma soda. – Falei me levantando com pressa, descendo escada abaixo com o coração na boca.
Garotos? Blé.
Entrei na maravilhosa cozinha da e uau, a felicidade bateu em minha porta. Olha quantos armários, quantas comidas devem morar em cada uma dessas portas... Sorri só de imaginar quanta coisa boa eu poderia comer.
Vi um pote de doce em cima da mesa e sem pensar duas vezes, apanhei o pote, uma colher e fui me sentar no balcão que dava de frente pra uma janela onde era possível ver o jardim e os portões da casa.
Vocês já repararam quanto tempo nós passamos chorando e sofrendo por garotos e esquecemos de ver as coisas boas da vida? Como por exemplo hoje, eu estou aqui, sentada numa cozinha cheia de comida, alguns metros de mim tem três garotas maravilhosas que nunca pensei que um dia seriam minhas amigas e, por fim, olhem esse céu, essa lua gigante, esse infinito azul estrelado.
Nada pode me deixar triste enquanto eu tiver amigos e um mundo inteiro para descobrir.
Nesse momento um carro parou na frente dos portões de entrada. Não tinha muita luz, mas pelo barulho aposto que é a carroça do .
Ah não, não, não.
Meu coração deu um pulo. Ainda não to pronta pra encarar qualquer que me aparecer. Não, Não.
Desceram as quatro figuras e ficaram paradas na frente do carro. Desci do balcão e cheguei mais perto da janela. Eles falavam sobre qualquer coisa entre si e ficaram nessa por uns minutos.
- O que tanto eles esperam? - Me perguntei, remoída de curiosidade.
Até que um segundo carro parou atrás do dos meninos. Ué, não sabia que tinha virado festinha pro público, achava que era uma coisa mais reservada e tudo mais.
Uma figura desceu do carro e foi em direção dos meninos e, droga, como eu deveria usar óculos – ou um binóculo.
De repente minha garganta deu um nó, minhas mãos começaram a suar e eu juro que suicídio foi a primeira coisa que me passou pela cabeça. Senti uma tontura, minhas pernas tremeram e eu só queria arranjar um jeito de sair dali e ir pra longe, pra bem longe.
Pra qualquer lugar que não fosse aqui, ou Southend-on-Sea.
É isso, depois de levar um pé do menino dos meus sonhos essa tarde, eu vou ter um encontro desagradável com o menino dos meus pesadelos essa noite.
Adivinhem quem está de volta na cidade?



Capítulo vinte – Um morto muito louco.


Você demora uma eternidade pra construir uma reputação, começa tijolinho por tijolinho, pra, na hora que chega ao décimo andar, jogarem um boeing na tua torre e tudo ir chão abaixo. Senhoras e senhores, minha vida.
Ok, sejamos francos e paremos de bobeira: quem eu quero enganar?
Eu sempre fui meio zé.
Ok, eu sempre fui muito zé.
Tá, tá, eu sempre fui a maior zé de todas, mas enfim, o que eu dizia mesmo? Ah sim, Muffins. Eu os amo.
Acabei de traçar uma semelhança entre muffins e torta de morango: eu amo essas coisas mais do que eu amo a mim mesma. Ou o . Ou aquele babaca do falecido, que agora nem é tão falecido assim. Será que aquele diabo é um fantasma? UM FANTASMA DO DIABO? QUE DIABOS EU TO FALANDO?
Ai, me deu taquicardia, vou morrer, vou virar fantasma. Se eu for um fantasma eu não quero ser tipo o gasparzinho, que sobe pra terra e se apaixona por uma humana. Bitch, please. Também não vou ser igual àquele cara em AHS que se apaixona pela menina suicida. Quando eu for fantasma vou tocar o terror! Vou ao camarim de várias bandas de rock, comer muitas coisas sem pagar, vou viajar para vários países... Morrer me parece uma boa ideia neste momento.
Minha vida acabou, literalmente. Tá, não minha vida, mas juro que minha reputação acabou. virou lenda. Lenda também não, porque, convenhamos, eu nunca fui assim tão incrível pra entrar pra história da humanidade...
Qual a gravidade do problema? Pois bem, recapitulemos.
Eu estava em casa tranquila, o terminou (terminou?) comigo, eu o vi com uma ruiva semidespida no seu quarto, vim pra casa da curtir uma party, desci pra comer qualquer coisa só para fugir do assunto “relacionamentos”, vi que o e a gangue chegaram com ele – sim, ele – logo atrás, me desesperei e quando vi que eles estavam vindo em direção à porta – sim, ele vinha junto – saí correndo pela sala que nem trouxa, voltei pra cozinha peguei um pacote de chips, continuei correndo até achar uma portinha e aqui estou eu. Eu aqui estou, trancada no sótão, fugindo de dois caras que quebraram a porcaria do meu coração.
Mas também, né, valei-me Deus, quem mandou ter esse coração “casa-da-mãe-joana”, lugar onde qualquer um pode entrar?
- , você é uma estúpida. - Falei olhando pra lua que brilhava, toda linda e inocente no céu, presenciando a minha desgraça.
Então, desabei em prantos. Tá, eu sei, prometi nunca mais chorar por ninguém, mas estou de TPM, muitos hormônios e tudo mais.
O que eu pretendo fazer? O que? Ó lua no céu, pode me ajudar?
Eu posso:
a) fazer barraco perguntando quem o convidou, o que ele faz aqui.
b) enfrentar como uma pessoa normal.
c) entrar naquele quarto fingindo que nada aconteceu.
d) fugir.
Adivinhem quem ganhou?
Saí do sótão limpando minhas lágrimas e pisando leve na esperança de ninguém me notar. Já passou uma hora desde que eu fugi de dentro da casa, acho que alguém deve estar me procurando por aí.
Recuei um passo quando cheguei na sala. tinha uma conversa com o , e ambos pareciam bravíssimos.
- Dude, como você não conversou com ela? – disse em tom preocupado.
- Eu tentei, você sabe que eu tentei, mas não tive oportunidade. - respondeu em tom dramático.
- Você... Ela... - gaguejava – , você é o melhor amigo dela! Você deveria ter contado TU-DO. O também, aquele viado, não fez o que foi combinado.
Quer dizer então que eu fui usada? Que tinha todo um plano? O que? Não entendo mais nada. E o ... Como ele deixou isso acontecer?
- Calma, eu vou procurar por ela e a gente vai resolver isso tudo, eu sei que ela vai entender. - O filho da puta continuou. - Vamos continuar procurando, vai.
- Não achei em lugar nenhum. – entrou pela porta da frente, ofegante.
- Nem nós. – e disseram, chegando de qualquer lugar.
- Nem eu. – falou, mastigando chips. Que bundão, ao invés de me procurar ficou comendo chips, ah, mas eu fiquei muito brava.
Mas deixa pra depois – ou pra nunca. Preciso sair daqui, preciso ir pra minha casinha, fazer minhas malas e nunca mais olhar pra cara de nenhum santo que esteja nessa casa.
Mas como? Como?
-... já sei onde ela está. - disse saindo da sala e dando de cara comigo.
Droga. Inferno. Raios!
Implorei piedade com meus olhos como quem diz “por favor, não chame ninguém, me deixe ir embora antes que eu caia em prantos” mas acho que ainda não temos toda essa conexão porque logo após ela gritou um “achei” e me puxou pelo braço, rumo à humilhação pública.

- Eu já vou entrar na sala falando o quanto estou brava – Falei, entrando na sala, puta. - Estou IMENSAMENTE puta. – Finalizei quando a me jogou no meio da sala, enquanto todos me olhavam. - Estou puta do tamanho do universo, porque o que vocês fizeram comigo... - Continuei falando quando o se colocou de pé. - Não se faz com ninguém, principalmente com uma amiga. Sabe, eu to me sentindo usada, parece que ninguém ligou pro bem-estar do meu pobre coração. – Se segura nessa poltrona que agora rolarão lágrimas – Eu odeio vocês.
- Tá, não exagera. – falou entre risos.
- Você acha que eu tô exagerando? – Perguntei, indo em direção a ela – Você acha que se basear na história da virgenzinha que foi abandonada depois da primeira transa pelo rapaz que jurou o mundo pra ela é exagero? Você acha que escrever uma peça sobre isso é normal? É tranquilo? É de boa, ? Você acha que aparecer com esse cara depois de não sei quanto tempo na noite do dia em que o cara que você gosta termina com você sem aparente motivo é legal, é suave, é fácil de entender?
A sala ficou em completo silêncio, o peso da minha respiração era de sei lá, uma tonelada.
- A gente não sabia dos detalhes. – falou depois de uns dez minutos de silêncio.
- Agora eu me sinto mal de tê-lo na minha casa. - soltou em tom de nojo.
- E eu me sinto mal, muito mais do que merecia. - Falei com a voz embargada no fim da frase, saindo da sala. Ouvi alguém se levantar e vir atrás de mim. - E você não me procure nunca mais, .

Subi até o quarto da , sentindo meu coração apertado e pequenininho, como a mão fechada de um bebê.
Eu estava gostando mais da minha vida agora.
Por que justo o tinha que fazer isso comigo? Ele tinha a chave da minha casa, sabe? A nossa amizade não era pouca coisa.
Abri a porta e lá estava ele, fumando na sacada do quarto, olhando pra cima e pensando: Como vou estragar a dessa vez?
Ele direcionou seu olhar pra mim e deu um meio sorriso, que eu não retribui.
- . - Ele disse, caminhando lentamente até mim, com aquele olhar de quem tem tudo sob controle.
- James Bourne, que desprazer formidável olhar pra essa sua cara de bosta. – Falei com um tom de ódio que guardei no meu coração durante dois longos anos.



Capítulo vinte e um – Um clichê adolescente.


Um príncipe. Ele era um príncipe quando o conheci. Lembro que sempre quis namorar alguém que fosse meu vizinho, coisa típica dos filmes adolescentes que eu assistia a tarde depois da aula. Eu sonhava que, um dia, eu seria alguém desconhecida, como um quase nada, uma fatia do infinito jogado aleatoriamente no meio dos multiversos, e mesmo assim, com tanta e tamanha insignificância empregada somente em uma pessoa, eu seria escolhida. Ao lado da minha casa, exatamente na minha rua, aquela outra fatia de infinito que fecha com a minha fatia – o que faz de nós um pedaço – iria morar. E, assim como nos filmes, na hora certa, a gente ia se conhecer e se admirar, como se estivéssemos predestinados a ser alguma coisa maior (eu sei, isso tudo é brega. This is the life, people). Mas, eu nunca havia pensado no fim. O que sabia da palavra fim, é que ela subia até o centro da tela quando dava tudo certo. O final era sempre como a gente queria. Mas, tão rápida quanto sua chegada, foi sua partida, e o fim foi me ver boiando em um mar de decepções... Droga, eu nunca mais conseguiria uma história assim!
- Desprazer, tortinha? Você é realmente...
Idiota. Depois de sumir por tanto tempo, ele ousa aparecer aqui, com aquele mesmo rosto, aquele mesmo sorriso e par de olhos que te fazem sentir um calafrio toda vez que ele os aponta para ti.
- Eu sei quem eu sou, Bourne – falei sem o deixar terminar.
Direcionei meus olhos aos olhos dele, e se eu não estiver sobre efeitos de drogas ilícitas, ficamos quietinhos por quase um milênio. O cigarro chegou no filtro e, sem tirar os olhos de mim, ele atirou a bituca pela janela (e por mais poético que isso tudo seja, se ele tivesse feito isso pela janela do meu quarto, provavelmente minha mãe encontraria e acharia que eu estava me drogando das maneiras mais cruéis, o que me colocaria em um problemão e, antes que meu cérebro dê tilt, queria dizer que espero que a mãe da não seja muito como a minha) e veio bem lentamente em minha direção. Não consegui ver, mas acho que ele ficou um pouco chocado quando eu quebrei todo o clima e me direcionei até minha bolsa, passando rapidamente por ele.
Agarrei minhas coisas e minha direção voltou para fora do quarto, tentando novamente passar da maneira mais rápida por aquele que, bem... Vocês sabem.
- Ei... - Ele me puxou pelo braço no instante que passei – Eu voltei.
- Como se eu estivesse te esperando. – Retruquei, me soltando das suas mãos.
- Você sempre dizia ia me amar para sempre. Pelo que eu me lembro, você nunca foi de mentir. Ou seja, você ainda é minha. - Ele falou, colocando as mãos no bolso, mas não do jeito que faz, juntando os ombros para o corpo e sorrindo largo. Bourne colocava as mãos no bolso e erguia o queixo instantaneamente, balançava a cabeça para afastar o cabelo do rosto e olhava pra você, te pegando no flagra em um profundo momento de admiração involuntária. Quando James coloca as mãos nos bolsos, ele não faz que nem , que te convida para brincar com um pouquinho de vergonha, de uma maneira fofa.
- Nossa, James, você me prometeu o mundo e eu não tô aqui reclamando por não ter nem uma tatuagem com meu nome nos seus pulsos. - Cruzei os braços pra não dar uma de direita nesse bocó.
- E eu que achava que você me amava – Ainda com a mão nos bolsos ele chacoalhou a cabeça e soltou um riso frouxo. Eu segurei o ar, me preparando para explodir, quando vi o perfil dele que, agora, olhava para o corredor.
- Só que você não entendeu – Eu falei calmamente, chegando mais perto dele. Engoli seco e ele aproveitou para voltar seus olhos pra mim, e foi nesse momento que eu descobri que não importava o que eu dissesse, ele jamais entenderia. Eles nunca entendem (levem isso para a vida de vocês). - Você não merece.
- , você não entende... Eu fui pelo meu futuro. - James começou, me olhando sincero.
- James... - Murmurei baixinho antes que ele pudesse voltar a falar. - Você não vai ganhar essa.
Me dirigi até a porta, procurando o jeito mais rápido de sair dessa casa. Eu nem estou preocupada em fazer uma saída triunfal... Mas, e se nunca mais rolar a oportunidade de criar minha própria saída dramática e histórica? Do jeito que anda meu barco no mar da vida, o que me resta é viver como se o mundo fosse acabar em dez minutos.
- Ah... - Eu dei um passo de volta para trás e James me encarou sorrindo. - Frankly, my dear... I don't give a damn.

Quando cheguei ao topo da escada, ouvi algumas pegadas fracas na sala seguidas de um silêncio. Claro, sendo meus amigos, eles estavam fazendo o que qualquer um faria: pegaram um copo bem bonito, colocaram com a boca para a porta, encostaram a orelha na “bunda” do copo e, assim, ouviram tudo sobre a novela mexicana e particular que era a vida dela, ela mesma, . Se bem que, pelo jeito que foi, pareceu mais um filme francês do que uma novela mexicana. Mas enfim, eu estou caindo fora do drama, pra mim já deu. Vou sair do teatro, apagar essa parte da minha vida, sair da cherios também (aliás, vou começar a chamar aquelas fedidas de “Cheetos”. Vocês entendem a piada?), voltar às aulas de dança e seguir sendo apenas eu, a menina que ninguém sabe o nome, a menina que não tira nota boa em matemática, a melhor amiga do... Ah, o que se dane. Aquele Judas maneiro. Eu deveria saber que por trás de tanta roupa da Hurley e tanto saber sobre Star Wars, aquele corpo era receptáculo direto do mal.
Desci as escadas e, antes que eu chegasse ao fim – escada essa que mais parece dos castelos Disney –, ouvi alguns passos apressados, então me virei pra ver quem chamava meu nome.
- – Bourne apareceu no topo da escada e, antes que eu piscasse, ele resolveu escolher um jeito mais inovador para descê-las: de cabeça. E assim ele foi, em uma fração de segundos desceu toda a escadaria da Disney de cabeça, e costas, e rosto, e costelas... Acho que ouvi algo se quebrando... Cara, isso deve ter doido muito.
- Que merda. - E quando a gente acha que não pode ficar pior, volta o nosso ex e sofre de traumatismo craniano. Puta merda.



Capítulo vinte e dois – Fora de si.


Eu sinto como se eu não fosse mais eu. Vocês entendem que eu não posso ser ninguém se eu não souber exatamente quem eu sou, o que eu gosto, o que eu faço... Eu não me lembro mais de mim. A única coisa que eu sei é que o meu amor por torta de morango ainda prevalece. De resto, estou desgostosa da vida. Aqui, nessa sala de espera, olhando para todos esses traíras, eu chego a conclusão de que sou uma ilha. Eu vivo por mim mesma, e por mim devo seguir. Eu sou uma loba.
Eu sou uma droga de livro de autoajuda, isso sim. Que papo mais idiota, fala sério! Essas pessoas estão me estragando.
- Ok, preciso tomar um ar – Falei, saindo da salinha de espera e deixando todos os meus amiguinhos para trás. Bem, nem todos, já que o decidiu ser mais do que um figurante na minha trágica história. Quem é Grécia Antiga perto da Senhora Eu? - Eu posso fazer isso sozinha, . - Falei quando entramos no elevador.
- Eu nunca disse que não podia. – Ele retrucou – Acontece que quero te acompanhar.
- Não pedi – Respondi seca que nem uva passa. Claro, ele fingiu que não ouviu.
Não conheço muito o , mas sei que seu ego atinge o peso máximo desse elevador. Vocês por acaso já ouviram falar em “10 coisas que eu odeio em você”? O é uma espécie de Patrick Verona um pouco menos punk e um pouco mais modelo de cuecas. Eu sempre fui devota de , mas Sir sempre será um colírio para os olhos. E, além do mais, toda garota adora um cara com ar de misterioso. Não que nem o James, aquele lá tem ar de pau no cu. Ainda tem essa, esse Bourne...
- Eu não posso segurar a porta para você o dia todo – delicadamente me tirou de uma viagem mental. – Obrigada. – Ele agradeceu quando passei pela porta.
Avistei uma máquina de petiscos no fim do corredor e no mesmo momento minha barriga imitou uma cantora de ópera.
- Eu vou... - Comecei a falar apontando para a máquina e se limitou a concordar com a cabeça – Você... - Ele concordou mais uma vez, então eu só virei e fui. veio atrás de mim, ainda sem abrir a boca.
Parei em frente à máquina e senti meu estômago fazer a festa. Quantas coisas gostosinhas pra comer! Eu gosto tanto de batata, mas eu gosto tanto de Snickers... E Doritos! Doritos é tão bom. Na casa da tinham pacotes e pacotes. Pensando agora, é uma droga saber que eu estou aqui PAGANDO em um HOSPITAL para comer uma coisa que eu teria DE GRAÇA numa casa que vale mais que um dinossauro vivo encontrado em qualquer lugar neste ano. Não sei se vocês acompanharam, mas eu estou tentando dizer que se alguém achasse um dinossauro hoje em dia, neste século, seria esquisito e a pessoa ganharia muito dinheiro, mas esse dinheiro não seria o suficiente para comprar a casa da . Espero que tenha ficado claro o que estou tentando dizer, não quero deixar todos nós confusos.
- COF – pronunciou – COF.
- Você poderia ter dado a entonação certa na expressão, para, no mínimo, eu pensar que você estava se esforçando para tossir. – Falei, apertando um dos botões da máquina.
- Suco? - Ele perguntou quando a máquina lançou meu pedido. NÃO! MAS EU TENHO TAAANTA FOME! EU NÃO QUERIA SUCO!
- Droga! - Eu reclamei baixinho e o virou para me olhar – Eu achei que tinha pedido Coca-cola. - Falei retirando meu suquinho da máquina e começando uma canção, simultaneamente - I met her in a club down in old soho, where you drink champagne and it tastes just like coca cola, C-O-L-A cola.
- Eu tinha a certeza que eles cantavam “cherry cola” - falou enquanto caminhava atrás de mim.
- Estou cantando a outra versão – Falei parando de supetão para encará-lo – A versão do LP.
- Então agora você é especialista em The Kinks. – Ele falou, colocando as mãos para trás e me encarando de muito, muito perto. Prendi a respiração por umas duas horas, enquanto ele começava a sorrir de canto de boca. - Legal. - Passou à minha frente e continuou andando.
Eu não quero ser tachada de exibida, mas aí na casa de vocês também rolou um clima?
Passei a mão pela minha roupa e me obriguei a voltar a minha postura de moça poderosa e atrevida. continuou andando na minha frente, e antes que eu percebesse tive que correr para alcançá-lo.

Ele deu mais um trago no cigarro e assoprou a fumaça, que veio diretamente pro meu rosto. Tossi duas vezes, abanando minha mão para espantar a fumaça.
- Mal. - pediu desculpas sutilmente, enquanto soltava mais fumaça pela boca.
- Você é muito escroto, rapaz. - Lancei um olhar fulminante para ele enquanto me abraçava para fugir do frio.
- A gente podia ir para o meu carro. – Ele propôs depois de dar o último trago no doce da morte.
Eu não pude me conter em segurar o riso. Escapou, mas foi inevitável. me olhou diretamente com um olhar um pouco confuso.
- É que a primeira coisa que me passou pela cabeça foi que iríamos dar uns amassos no seu carro. - Continuei rindo enquanto me abraçava – Estúpida.
- Cala a boca – Ele falou de um jeito que me senti infantil. - Eu só queria que você ficasse num lugar mais quente.
- Veremos. - Decidi entrar na brincadeirinha do . Se é que existe brincadeirinha. Essa fome toda está me causando sociopatia. Eu passei de High School Musical para Psicopata Americano em segundos. Ai, meu Deus, alguém me salva de mim? Eu acho que estou cada segundo mais louca. Mas eu também não sei qual ser humano manter ia-se são depois de ter um dia como o meu. Garotos... Seduzem-te até que fique bobona e louca, então viram e vão embora, pensando “no futuro deles”. Ou ainda melhor, te deixam e voltam para a ex-namorada loira peituda, e ainda colocam uns chifres nela bem na tua frente. Essa vida não é justa, gente. Eu não mereço nada disso.
Parei de supetão quando as imagens do e outras garotas e do Bourne indo embora bombardearam a minha cabeça. Respirei fundo quando o vento passou correndo pelas minhas bochechas, que gelaram no mesmo instante. parou quando me ouviu soltar o ar, mas não virou a cabeça para me olhar. Caminhamos na neblina até o final da quadra. Entramos no carro e deu play no rádio e ligou o aquecedor. Obrigada, vida. Pelo menos uma, né?
- Uh, Beatles – Eu não me contive no banco - Eu adoro!
- Todos nós adoramos. – Ele respondeu, aumentando o rádio.
Encostei minha cabeça na janela e fui me encolhendo no banco. Meu corpo foi amolecendo enquanto a música dançava nos meus ouvidos. De supetão me sentei e mudei a música. Quem lembra daquela vez que eu adormeci no carro do enquanto tocava Beatles?
- Sim. - Concordei quando uma música famíliar começou a tocar no rádio.
- Por que... - perguntou virou seu corpo para mim, me encarando.
- Simplesmente pelo fato de – aumentei o volume e comecei a dublar o vocalista.

It's been a long long time
(faz muito, muito tempo)
Since everything was cool
(desde que tudo estava bem)
I should have seen it coming
(Eu deveria ter previsto)
But I guess I'm not the only fool
(Mas acho que não sou o único bobo)

There's something
(Tem algo)
Growing on the outside
(Crescendo lá fora)
Too much

(E muito)
Missing on the inside
(Faltando lá dentro)
Should I waste my time and let you lead me on and on and on and on

Dublei com todo meu coração cada palavra, dançando da forma mais teatral que eu conseguia. acendeu um cigarro e continuou me olhando, se segurando para não rir de mim.

Nothing
(nada)
Showing on the outside
(aparecendo por fora)
Something
(algo)
Dying on the inside
(morrendo por fora)
I'm still broken
(eu continuo quebrado)
But I'm free
(mas estou livre)
I'll see you on the flipside
(eu te vejo na próxima vida)

Fui diminuindo com o ritmo da música e chegando um pouco mais perto dele, que continuou me olhando enquanto eu descarregava meus sentimentos em música – daquele jeito que eu sempre faço.

I'm still broken but I'm free
(Eu continuo quebrado mas sou livre)
I'll see you on the flipside
(te vejo na próxima vida)

Balancei meus cabelos enquanto batia as mãos nos joelhos e acompanhava a melodia da música. continuou fumando enquanto eu fazia minha performance.
- Espera – Eu parei de repente. - Isso aí não é cigarro.
- O que mais seria? - Ele me perguntou sem nenhuma expressão facial.
- Wathever. É sua opção enfiar esses lixos para dentro. – Me sentei direito no banco – Eu mal consigo ter um diálogo com você.
- Você mal consegue ter um diálogo com qualquer um. - Outch, . Não precisava ofender.
- Obrigada. - Agradeci sem muita empolgação – Você é um ótimo amigo.
- Eu sei que eu não sou. - Ele respondeu dando mais um trago no cigarro. - Mas eu sempre achei que poderia ser. - Ele então abaixou o volume do som e virou seu corpo na direção do meu. O que é isso, ? - Eu sei que você deve estar se perguntando o que é isso. – Bingo.
- Eu estou, ok. – Respondi abrindo os braços.
- Permaneça calada. - Ele me cortou indelicadamente – Eu sei que o que o pessoal fez com você foi cagada, mas eu queria te deixar claro que eu não tive a ver com toda aquela merda que aconteceu. - Nossa, por que tantas fezes em uma frase só? - Sabe, eu nem cheguei a ler todo o roteiro, só li as partes que tinham o meu nome.
Olhei meio de canto pro , me afastando um pouquinho. Eu ainda não queria entrar nessa parte de ter que julgar quem continua sendo meu amigo e quem vai pro limbo do meu coração (ah, que poético!). Eu ainda não pensei em como as coisas serão agora que eu odeio meus amigos, amantes e melhor amigo. É bastante coisa para pensar, e eu ainda nem tive tempo de comer. Vocês realmente acham que eu PENSEI nessa coisa. – não vou adotar o termo merda porque deixa a frase mais feia – toda que me aconteceu.
- , você pode falar comigo quando quiser. – Ele me acordou do transe – Aliás, você pode falar comigo quando quiser MESMO.
- Eu acho que te entendi, . – Sorri agradecidamente. - Você pode falar comigo quando quiser também, sabe?
- Fale menos – Ele se debruçou sobre o meu colo para alcançar o porta-luvas – e coma mais. - Puxou seu corpo para a posição inicial e arremessou para o meu colo um pacote de chips e outro de jujubas. É, definitivamente não vai pro limbo do meu coração.

- Você está pronta? - Ele me perguntou quando parei um pouco ofegante na ponta do corredor.
- Acho que sim. - Respondi prendendo a respiração. parou na nossa frente, de braços cruzados e uma cara de brava que deixa a minha mãe no último lugar da lista de “Gente que sabe assustar outras pessoas fazendo cara de brava”. - Onde vocês estavam? - Ela perguntou num tom furioso enquanto dava cutucões no peito do .
- Ai. – Foi o que restou para ele dizer, enquanto esfregava os lugares afetados pela fúria da .
- Comendo. - Respondi ignorando toda a cena e indo na direção do quarto de Bourne. O resto dos traíras estavam de prontidão na porta, enquanto estava sentado em uma cadeira um pouco depois do quarto, e não fez questão de direcionar o olhar para a minha direção.
Eu sei que eu tenho 1001 motivos para odiar esse cara, mas toda a torta de morango e cada célula do meu corpo queriam vê-lo correndo atrás de mim, me ajudando a ser feliz e todas essas... Merdas.
- Ele quer te ver. – falou quando passei por ele, fazendo questão de ignorá-lo.
Segurei forte a maçaneta e entrei no quarto, onde me dirigi até o fundo, onde Bourne estava sentado, com o médico em pé ao seu lado.
- Oi. - Parei do lado do médico, e o moribundo abriu um sorriso.
- Amor. - Ele disse alegremente. - Eu estou vivo!
- Que legal, James. - Respondi nem um pouco entusiasmada e sem por cento confusa. Eu não sou amor de ninguém – chorei por dentro –, o que raios está acontecendo – Doutor? - Olhei para o médico e fiz um gesto com a cabeça, o convidando para conversar.
- Entendo... Você quer ficar sozinha com ele, estou saindo. - O médico deu as costas e caminhou em direção da porta, exatamente o que eu NÃO queria que acontecesse.
- A gente pode dar o fora daqui? - James continuou sem perceber meu estado de retardo mental. - Essa coisa de cair da escada me deu uma fome!
- James, do que você se lembra? - Perguntei delicadamente me aproximando dele, no mesmo momento em que o entrou pela porta, apressado.
- E aí, cara – falou de uma maneira muito tensa, parando - Tudo bem?
- Relaxa aí, dude. - Bourne respondeu ainda muito feliz, como quem cai de um balão direto em uma piscina de chocolate. - Esse crânio ainda se mantém firme. Eu poderia escrever uma música sobre isso.
- É, tá, isso aí. Vamos embora – Falei indo em direção da porta quando os dois deram um soquinho. Nesse momento eu percebi que estava tudo bem. Eles ainda estão cagando pra mim.
Eita, uma conversa rápida com realmente destruiu meu vocabulário, que já não era dos mais lindos...
Saí do quarto sem olhar para os lados, caminhando de braços cruzados até a única pessoa que ainda desfrutava de simpatia por mim.
- Me leva pra casa? - Pedi no momento em que parei de frente para o . - Por favor, me leva para casa?
- Eu levo – Ouvi alguém falando atrás de mim e eu desejei pela milésima vez só nessa noite que o solo que eu piso fosse areia movediça e me sugasse para não-sei-lá-onde.
- Agradeço a disponibilidade, mas meu convite é restrito. - Não me dei ao trabalho de me virar para encarar aquele rosto lindo da pessoa que não merece que eu pense nada positivo sobre ela. Foco, ! Para de ser besta. - ?
- Tem certeza? - Ele me perguntou, olhando para o .
- Ela vai comigo, . - se enfiou entre o e eu, olhando diretamente para o meu rosto. - Vamos, .
- Como você é estúpido. - Soltei um riso frouxo e me virei, caminhando em direção oposta aos dois. - Te espero no carro, .


Já faz horrorosos 15 minutos que estou aqui feito uma galinha chocando ovo, no frio, sozinha. Tudo por culpa daquele cabaço do . Quando aquele projeto de James Dean aparecer na minha frente, eu juro que acabo com a raça dele, vocês vão ver!
- Por favor, cara, por favor! - Eu dei uma volta sobre meu próprio corpo e me apoiei no carro – Droga de vida! - Antes que eu pudesse perceber, dei um soco no carro, que não aguentou e começou a chorar pra todo mundo ouvir.
Fala sério, esse carro é uma lata velha, por que alguém iria roubá-lo? Por que diabos isso tem alarme?
- Carro estúpido – Me agachei atrás da lata velha, que fazia um barulho estridente por todo estacionamento. A única coisa que me falta é alguém pensar que eu tinha más intenções em cima deste carro. Por favor, eu não sou ladra. E também se eu fosse, eu roubaria bancos ou peças de arte de museus famosos. Imagina eu na França, roubando a Monalisa?
- ? - A voz do ressoou por cima do som estridente do alarme, que cessou alguns segundos depois de ele me encontrar sentada no chão com as mãos nos ouvidos.
- E tinha que ser você, . - Me levantei desanimadamente, sentindo o peso que é não ter nenhuma dignidade. - Eu nunca vou conseguir o que eu quero, né?
- Por favor. – Ele ignorou minha pergunta, abrindo a porta do passageiro. - Me deixa te levar para casa.
Se esse cara acha que me olhar com esse belo par de olhos, sorrir de canto de boca com esse belo par de lábios de cor Matisseana vai me fazer entrar nesse carro com ele, está completamente...
- Errado. - Bourne apareceu ao lado da porta do motorista. - Eu que vou te levar para casa.
- Vocês estão me achando palhaça? - Soltei uma frase mal formulada, num tom de voz que beirava a loucura – Vocês estão brincando com a minha cara? - continuei ofegante.
- Eu não. – Bourne tentou se explicar.
- Cala a boca, Bourne,.. - Cortei a frase dele no meio enquanto entrava no banco de trás do carro. - E vê se some da minha frente. - Fechei a porta e fiquei observando o ir até a frente do James para entrar no carro. Bourne se limitou a me lançar um olhar choroso – obviamente encenado, atuação nota 9 – e eu juro que vi uma lágrima escorrer do olho dele quando deu a ré e tirou o carro da vaga.
Tá, não tiveram lágrimas, mas eu juro que vi o dar um sorriso quando olhou para o seu arquirrival (se minha vida é uma novela, que pelo menos eu possa brincar com isso) abandonado na calada da noite do estacionamento do Hospital...
- E você tira esse sorriso do rosto, seu idiota. Não é como se eu ainda não quisesse que você ganhasse uma passagem só de ida para o fundo do mar. – Falei, encarando pelo retrovisor. Ele parou de sorrir imediatamente. Encostei minha cabeça na janela e torci para chegar em casa o mais rápido possível.
Como eu queria não ter acordado hoje.



To Be Continued.



Nota da autora:Sim, eu demorei! Mas não, eu não vou parar! Continuem comigo porque a meta é escrever sempre, mais e mais. Aliás, prometo pra vocês que não vou fazer nada para chateá-las. Agora em Agosto eu faço aniversário, um ano a mais na minha vida, 5 anos de DENSC <3 Isso é tão lindo! Enfim, se alguém precisar de mim, manda e-mail: Kajila.grint@hotmail.com. Eu vou adorar ouvir (ler?) o que vocês tem para me dizer (escrever?). Um beijão do tamanho do universo pra vocês, e continuem dançando comigo xxx
J.J. (aliás, beijo minha beta queridíssima <3)


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