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Capítulo um


’s POV

Minha mãe me jogou para fora do carro e fui obrigada a encarar os portões da escola. O pior: estava muito frio e chovendo. Apertei o meu casaco em mim e coloquei o fichário em cima da minha cabeça para não molhar o meu cabelo - até que algum aluno solidário dividiu seu guarda chuva comigo. Assim que chegamos à cobertura da fachada da escola, sorri para ele em agradecimento e o mesmo acenou, se mandando. Tudo bem. Nem era tão bonito assim...
Segunda-feira, alguns dias depois do perfeito show do McFLY, e eu ainda estava meio extasiada, meio em depressão, meio tudo, e, além do mais, com sono. É, vida de estudante não é fácil, não. Dei um aceno baixo com a mão para o homem que fica de porteiro e ele acenou de volta. Fui entrando com a cara de todos os dias: a de morta. Mesmo com as pessoas me olhando assustadas enquanto eu caminhava pelo corredor para poder subir umas escadinhas e me sentar nos bancos de concreto, eu não deixava a cara de “morri e fui ressuscitada” de lado. Olhei uma amiga minha, Josey, dar um aceno engraçadinho e segui até ela.
Finalmente, depois de quase ter um infarto subindo as escadinhas, achei o banco e joguei minha mochila lá mesmo de qualquer jeito, me deitando em cima dela. Josey tirou minha mochila do lugar e colocou minha cabeça em suas pernas macias. É, as pernocas da Josey são gostosas. Já provei (not) e recomendo. Fechei os olhos, tentando me concentrar em dormir mais um pouco, enquanto o sinal não batia às sete e quinze.
Pouco tempo depois, fui acordada por um ser quase alienígena sorrindo na minha frente, totalmente elétrico e feliz, repetindo “ei, bom dia!”, enquanto ninguém o respondia.
- Bom dia? Você é louca? Hoje é segunda-feira, está chovendo e frio – encolhi-me mais no colo de Josey e a mesma me cobriu com um casaco rosa quentinho e semi-tirado do próprio corpo. Josey não sentia tanto frio; o que me rendia ótimos momentos embalada em um quentinho inigualável que os casacos maravilhosos dela emanavam para mim. Sorri agradecia e voltei meus ouvidos ao ser estranho parado ao meu lado, cantando algo como “olho para o céu e vou... Pintando o céu de azul. Esse é meu sonho azul. Quero ver o seu”. Isso lá é música, gente?
- O que é isso, menina? - Josey perguntou, enquanto dava uma risada nasalada. Ela estava resfriada e sua risada saía mil vezes mais engraçada. Acabei rindo também.
- Uma música, ué - o ser estranho deu de ombros, como se fosse super normal ouvirmos uma música sobre o céu, azul, pintando e... Enfim - E antes que perguntem, é da Drive, uma banda gaúcha.
- Só você ouve essas bandas perdidas pelo mundo. Onde as encontra? - perguntei ainda meio sonolenta, esfregando os olhos.
- Encontra o quê? - ouvimos uma quarta voz. Virei o rosto e girei, já sabendo que teria que dar explicação para mais uma sobre o que semi-conversávamos. Cutuquei Josey e ela sorriu, indicando o ser estranho com o dedo para Ella, a quarta integrante do nosso grupo, que tinha acabado de chegar.
- Ah, bem-vinda à conversa sobre as bandas brasileiras perdidas que só ela ouve - o ser estranho mandou dedo e rimos. Levantei-me, me sentando ao lado de Josey, e bati de leve no cabelo só para ter certeza de que tinha colocado direito a mousse. Enfim.
- Ei, são bandas perdidas, mas legais... E Drive não é tão perdido! - o ser estranho bateu o pé no chão de concreto e rimos de novo.
- Diga-me: quantas pessoas foram ao show? - levantei uma sobrancelha e Ella se sentou ao meu lado e riu baixo, já praticamente sabendo a resposta.
- Bom, na apresentação em que fui... - ri alto e tive que interromper.
- Viu, nem é show. É apresentação. Você se identifica. Não é possível!
- Para o seu governo, eles começaram agora. Têm umas musiquinhas legais, ok? Para de discriminar banda, pô! - era engraçado ver o ser estranho irritado, então Josey atiçou.
- Ah, claro. Na próxima vez em que eles forem gravar uma demo, você nos chama. Pode ser? - rimos mais alto ainda, recebendo outro dedo do ser estranho. A vida de estudante era cansativa, mas engraçada, vá.
O sinal bateu e suspiramos, já nos lembrando das aulas. Que droga, tudo que é bom sempre acaba cedo demais e nunca nos dá o tempo certo para curtir o momento. Saco...
- Legal... Aula - Josey rolou os olhos e imitei-a, já pensando em que desculpa eu daria para poder sair de sala, enrolar a enfermeira do colégio e ficar dormindo no sofazinho quentinho da enfermaria. O sofá era todo preto acolchoado e me deixava no delírio quando eu me deitava lá. Nada melhor em uma manhã de segundas como aquela, hã? Dor de cabeça não ia rolar. Vomitar também não... Dor de barriga talvez, mas todos ficariam sabendo e meninas bonitas não podem ter dor de barriga, ainda mais deixando o colégio todo saber. Fingir que tinha um músculo com nó também não, porque eu acabaria quebrada no final da manhã. Se eu chegasse a ela, né? Ai Deus, pense, pense, pense... Torcer o pé. É!
- Estou animada. Hoje vai ser legal. A quadra maior é das meninas na educação física - não preciso dizer quem disse isso, né? Educação física é para nerds e esportistas. Não para meninas lindas e com mousse no cabelo, como eu. Fale sério, puf.
Ella resmungou que não fazia aula e deu de ombros. Concordei, entortando a boca. Batemos a mão em um Hi-Five torto e rimos.
- Quero ir para Londres logo. Imagine quem posso encontrar por lá, o que posso fazer, o que e quem posso conhecer! - ser estranho dando o ar da graça da sua voz mais uma vez na conversa, rs.
- Você é muito sonhadora. Aterrisse! - eu quebrando sonhos. Sou fofa, he.
- O mundo é feito de sonhos. A gente só precisa acreditar - paramos de andar e ficamos olhando para ela. Mas hein?
- Você por acaso virou poeta? - Josey olhou estranho para o ser mais estranho ainda.
- Não, mas solto frases boas de vez em quando - o ser olhou à sua frente as imensas escadas, sendo seguida por nós.- Voto por um elevador ou escadas rolantes - levantei a mão, indicando que comigo eram dois votos. Josey e Ella levantaram as mãos juntas, indicando o terceiro e quarto voto, e rimos. Acabamos por nos empurrar para cima das escadas no meio daquela multidão zumbi de alunos.

PS: Caso você não saiba, o ser estranho é a . Nós a apelidamos assim, carinhosamente, porque achamos que ela veio de longe e até hoje não voltaram para pegá-la. Ainda mantemos a nossa esperança, mas, enquanto isso, temos que cuidar dela. É...

Saí da sala com as peruas loucas atrás de mim. Ella, Josey e cantavam Backstreet Boys e, juro, eu agradecia todo dia por ter amigas como elas. Ninguém merece BSB, mas, cara, nada era mais engraçado do que vê-las rebolando em plena hora do intervalo no meio de todo mundo. Isso quando não faziam as coreografias que ficavam aprendendo no YouTube. É sério. Elas faziam isso. O pior: às vezes, eu estava junto e tinha que ir na onda, aprender também. Sei até alguns passinhos de “I Want It That Way”, mas e aí, né?!
Encostei a cara às costas de Josey e ouvi o ser estranho reclamar que achava o recreio uma hora chata da manhã.
- Eu não. Adoro – comentei, olhando sorrir meio abobalhada e mexer freneticamente no iTouch. Para que serve aquela porra de iTouch, se a gente não pode clicar que já abre alguma merdinha? Ai, saco.
- Fale sério. Lógico que não. Tem coisa melhor do que trocar bilhete na aula, com aquela adrenalina de passá-lo sem ser pego por alguém, e esperar loucamente pela resposta?
- É. Está aí uma vantagem de aulas - Josey concordou e andou na fila da cantina, me fazendo desprender dela e quase tombar para frente. Vaquinha do brejo. Ela riu e logo voltei a me encostar a ela.
- Vocês são muito negativas. Temos que ser positivas - Ella concordou, enquanto agora se mexia felizmente, dançando alguma droga de música estilo axé, pelo que saía dos fones não baixos dela.
- Você ficou mais dopada do que o normal depois do show do McFLY ou é só impressão minha? – perguntei, assim, só para ter a certeza. Sabe? Nada melhor do que saber o estado de saúde das suas amigas, né?
- É que eles despertaram em mim um lado que estava em standby. O lado de que se você pensar positivo e acreditar, vai conseguir, uma hora ou outra, independente de tudo e todos. A parada é só você e seu sonho.
- O lado da fé você quer dizer, né? - entortei a boca, joguei o dinheiro no balcão e indiquei uns salgadinhos para a mulher mal humorada que ganhava de mim da cantina - O lado religioso - continuei e Ella e Josey riram. Retardadas. Religião é coisa séria, porra.
- Vocês são muito chatinhas. Estou falando sério. Tudo tem sido tão melhor depois do show. Até lá em casa. Ando tão fora de mim que nem ligo para as implicações do meu irmão - ok, o ser estranho estava conseguindo ficar e ser mais estranho do que nunca e isso preocupou tanto minha pessoa quanto as meninas, que me olharam na mesma hora. Concordamos as três com a cabeça. Pensaríamos em algum plano mais tarde. Somos diabólicas, rs.
- Para o mundo que vou descer. Ok, qual deles a levou para o beco e a drogou? – perguntei, segurando os ombros dela, ainda pensando no meu plano de mais tarde, e Josey e Ella me seguiram, olhando para o ser.
- Qual deles o quê? - ela perguntou, enfiando um chiclete de melancia na boca. A menina riu desajeitadamente e deu um tapa na própria testa - Ah, sim! Qual dos meninos do McFLY?! - concordei com a cabeça, fazendo uma cara estranha - Nenhum, ué.
- Acho que você pôs o seu plano de como entrar no camarim em prática e não quer nos falar que um deles a drogou. Juro que não conto - parei por uns instantes para pensar no que eu estava falando; se era sério mesmo - Olhe, drogar eu não sei, mas provavelmente o a embebedaria. Ele é uma máquina de cerveja. Não tem uma foto sem fã que eu veja que ele não está com uma na mão.
- Ele é pinguço. Só isso - assim que ela disse isso, paramos onde estávamos e seguramos a risada. Josey tinha acabado de apoiar a lata de Coca-Cola no branco de concreto em que estávamos sentadas de manhã. Eu tinha deixado meus salgadinhos ainda embalados no meio de Josey e Ella. A segunda estava indo apoiar a Pepsi quando começamos a rir muito mais alto do que sempre ríamos. É, até que a depressão do show estava sendo fácil de se lidar. Também, com aquelas meninas, tudo ficava fácil.
- Pingo, o quê? - Josey teve a coragem de perguntar e arregalei os olhos. Ela repetiu a palavra e continuamos com cara de merda - Cara, crie um dicionário e depois me venda, . Você está drogada até demais mesmo – levantamo-nos, ouvindo de novo o sinal. Nunca dava tempo para comer. Que saco.
Seguimos pelas escadas, ainda comendo, comentando das merdas que o ser dizia e rindo, claro. Assim que chegamos à sala, o ser deu de ombros e se sentou, abrindo o seu livro felizmente. Nerd.

tinha acabado de voltar do banheiro. Ela tinha demorado minutos lá fora e vamos combinar que ninguém defeca no banheiro da escola. Certo? Ela poderia estar conversando com alguém. Sei lá. Ela se sentou e tirou o celular do bolso. Ah, minha garota!
Arranquei um pedaço de papel do meu caderno e escrevi rápido, jogando o papelzinho para ela.

Banheiro + Celular = ?
.


Nada. Só fui ligar para a minha mãe.

- Algum problema? - sussurrei para ela. Queria que fosse algum babado para poder saber, poxa vida.
- Só pedi para ela pegar uma coisa para mim - ela sussurrou de volta e fiz uma cara de tipo “ah”, balançando a cabeça para trás.
- Meninas, silêncio. Não percebem que estamos lendo o texto da página vinte e nove? - a professora de alguma matéria... História, na verdade, interrompeu nossa conversa via sussurros no meio da aula. “Chatonilda” - Aliás, cadê os livros das duas abertos? - abaixamos a cabeça, rindo um pouco baixo. Nenhuma das duas sabia o livro que era daquela matéria - Pode você mesma, , ler o parágrafo... O segundo, o último lá embaixo do quadro amarelo.
- Isso parece verde. Acho que eu sou daltônica - todos na sala explodiram em risadas e a professora ficou meio putinha. A puta, digo, professora, apontou para o quadro sem cor definida até o momento e ela leu – Muito antes de explodir a revolta de 1905, vários grupos políticos organizados criticavam o governo e propunham alternativas para a sociedade russa - quem precisava saber daquilo? Nunca gostei muito de história mesmo...
A aula continuou chata, tediosa e cheia de adrenalina com os bilhetinhos, como sempre.

’s POV

Desci as escadas da escola, dando uns petelecos nos meninos e um pulinho nas costas de Ella. O dia estava sendo ótimo e ótimo mesmo seria o final das aulas que, aliás, já tinham acabado. Desde o show, eu estava meio voada, elétrica e mais apaixonada a cada dia. estava meio cabisbaixa, mas tudo bem, junto com Josey e Ella. Iria fazer de tudo para animá-la. Afinal, acabamos por ir ao show e ficar no melhor lugar. Não era todo mundo que tinha a sorte que nós tínhamos. Só podíamos agradecer mesmo. O show foi F*DA, se você quer saber. O primeiro show de muitos deles no Brasil. É, nada mais seria como antes e todas nós sabíamos. O impacto de ver seu ídolo, que você só via por fotos ou vídeos, ao vivo é imenso. É tão grande que chega a doer e talvez minha amiga estivesse assim; com essa dor. Mas acontecia. Logo, logo ia passar, e esse “logo, logo” nem ela imaginaria o quanto...
Avistei as lindas das minhas amigas e dei um pulo no meio delas depois de dar mais um peteleco em um menino que me devolveu e ficamos nos implicando via petelecos. Mais adultos, impossível, rs. Cheguei perto delas e gritei que as aulas tinham acabado. Nada melhor, hã.
- Não era você a... - fez aspas enquanto falava – “Gosto das aulas, adrenalina dos bilhetinhos, blá blá blá”?
- Gosto da saída também. Está bem? - rolei os olhos e ela mandou língua. Josey e Ella riram. Meu celular tocou e atendi, só concordando baixinho. Não podia ficar falando alto, ainda mais perto delas. Talvez em outro idioma. Quem diria? Fechei o celular e sorri para elas - Estou indo. Beijos para vocês três. Cuidem-se e até amanhã! - saí acenando, enquanto corria um pouco atrasada já. Passei por algumas (muitas) pessoas que estavam, como sempre, parada nas na porta da escola morgando. Porra, quer morgar? Vá morgar do outro lado da rua, onde não tem gente. Não na porta, na minha frente, na frente da PORTA!
Consegui sair do meio da multidão e ajeitei a mochila no ombro direito. Olhei para os lados e nada. Quando bati o olho a pouco metros na minha frente, sorri. Lá estava ele, ali, parado, encostado à porta do carro... De novo. Pela terceira ou quarta vez desde que nos conhecemos. Óculos escuros e falava ao telefone. Assim que me avistou, sorriu, desligando o telefone, e se aproximou. Passou um braço pelo meu ombro e beijou minha testa. Pegou minha mochila, abrindo a porta traseira do carro e jogando-a ali atrás. Ferrou-se para saber se tinha alguma coisa de vidro ali, né? Ele abriu a porta esquerda da frente e olhei meio confusa, mas entrei. Ele deu a volta no carro e logo estava no meu lado, no banco que, na verdade, deveria ser o do passageiro.
- Ei, por que o volante é na direita?
- Porque não vivo sem o meu carro. Mandei trazerem.
- Que humilde você. Poderia ter alugado um modelo igual aqui. Sabia? - ele deu de ombros - Agora as pessoas do colégio vão beijar meus pés. Vou virar rainha - ele riu e eu só conseguia pensar em quanto ele tinha pagado na mão do presidente para um carro inglês estar rodando livremente pelas ruas brasileiras... - Eles são todos puxa-sacos. Só ligam para essas coisas caras... Tipo carrões. Convenhamos que o seu Audi é nenhum carrinho. Esse modelo nem chegou aqui ainda.
- Como eu iria alugar um carro do mesmo modelo que o meu, se ele nem chegou aqui ainda, mocinha? Brasil é um país atrasado - levantei uma sobrancelha e ele riu, dando, finalmente, a partida. O motor deu uma roncada tão alta que chegou a assustar o pessoal que estava ali fora. Ri alto dentro do carro e ele deu uma batidinha no volante como quem diz “é isso aí”. Logo, estávamos bem longe do território do colégio e sorri, já que queria que ninguém me visse naquele carro - Então, como foi a aula? – perguntou, ainda concentrado na rua. Era tudo diferente. Devia estar perdido, coitado - Tediosa e chata como sempre. Acertei? – concordei, dando de ombros E mexendo no porta-luvas - É, como sempre... - ele se virou e sorriu, parando no sinal. Concordei com a cabeça e sorri de volta - E seu irmão, como vai?
- Vai bem - cutuquei alguns papéis e apenas fingi que estava entendendo tudo o que estava escrito ali realmente. Tinha coisa até em chinês. Quem vai achar que algum chinês vai ficar lendo aquilo? Eles têm mais com o que se preocupar. Não é mesmo? Coisas como fazer novas tecnologias. Convenhamos que só eles produzem coisas maravilhosas e... Simplesmente AMO-OS! Cada nova tecnologia que sai... Fico boba, imaginando o quanto eles são inteligentes e empenhados. Até porque para algum brasileiro construir coisas como aquelas demora. Não que não sejamos capazes. Pelo contrário! Mas somos focados em outras coisas e, tirando que a mão-de-obra lá é mais barata e... Ah, vá estudar geografia, que tenho mais o que comentar sobre a minha vida, ok? - Minha mãe também vai bem, antes que pergunte - eu sabia que ele faria aquela pergunta, então apenas respondi antes. Ele acelerou o carro aos poucos, assim que o sinal abriu. Foi rasgando o caminho entre os outros carros e eu já estava com medo, achando que ele ia bater o carrinho baratinho que nem era do mesmo país que o meu em algum poste ou sei lá - Sabe, me sinto culpada por estar enganando a minha mãe, dizendo que vou estudar com as meninas e que depois volto para casa com alguém... Estar enganando as meninas. Acho tão chato o fato de que eu não consiga falar para elas que conheço vocês... Sei lá.
- Mas do mesmo jeito, você estuda e volta com alguém no final do dia. Quanto às suas amigas, fale quando se sentir confortável.
- É, mas não estudo com as meninas - ele me olhou confuso e me mexi meio nervosa - É que é... Complicado - sorri fraco e cruzei as pernas no banco, mudando de assunto - Então, como está sendo sua passagem por aqui?
- Maravilhosa. Tivemos muita sorte. Conseguimos mais dez shows em outros estados.
- Nossa, isso é muito legal. Quer dizer, mais do que legal. Vocês nunca vieram e do nada já têm mais shows marcados. O seu empresário deve ter dado uma volta séria na agenda. Imagine o que ele não desmarcou para vocês ficarem mais tempo por aqui – vi-o concordar - Mas é bom. Assim, vocês conhecem outros lugares, gente nova... - sorri fraco mais uma vez e apoiei o cotovelo na janela, olhando o movimento das pessoas passando.
- Ei, isso não quer dizer que eu não vá ver você - ele apertou meu queixo, desviando um pouco o olhar da rua para mim. Sussurrei um “eu sei” e o senti soltar meu queixo - Parece não saber.
- Mas eu sei - tentei terminar o assunto e abri um pouco a janela. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Estava um super calor e eu já estava quase derretendo. Olhei um relógio da rua. Trinta e cinco graus. QUÊ? Porra! Brasil, mais quente quase, impossível. Eu estava viajando de olhos fechados, só sentindo a brisa, quando fui acordada pela voz dele.
- Gosto daqui. Gosto mesmo – virei-me e sorri como um agradecimento. Poxa, moro onde ele quer estar todos os dias. Tinha que ter um reconhecimento e tal - Não falo por causa dos fatos, mas porque aqui é realmente magnífico. Penso seriamente em me mudar para cá - ele queria deixar sua vida em Londres? Deixar , sua família? Arregalei os olhos. Ele não poderia cometer uma burrice tão grande quanto aquela - Quer dizer, não exatamente, mas eu... Sei lá. Moraria meio ano lá e meio ano aqui. Quando lá é inverno, que é muito forte, eu fugiria para cá e traria . Claro. Ele simplesmente vai adorar passear por lugares como esses daqui. Imagine! Ele vai se perder com tantas cadelas bonitas como essas – deu-me uma cotovelada de brincadeira e ri. Não tinha como.
- é um de sorte - ele piscou para mim e ri de novo.
- Talvez eu seja uma pessoa de sorte - ele olhou o GPS que indicava “virar à direita” e obedeceu - Vamos almoçar - ele suspirou e resolvi que teria que tocar em um assunto que, na verdade, eu não estava nem um pouco a fim de tocar, mas era a realidade e eu tinha que encará-la de frente, independente de qual fosse o resultado no final. Queria perguntar sobre o namoro dele, mas não queria ao mesmo tempo. Eu ficava indecisa e, quando resolvi que iria perguntar, ele mesmo me respondeu - Sabe... - ficamos naquele um minuto de silêncio que parece que morreu alguém e o jogo de futebol não começa. Ele suspirou fundo e eu sabia que lá vinha bomba. Três, dois, um... - Ela ligou ontem - BUM! Olhei para ele, como se quisesse dizer para ele continuar - Falei de você e ela não pareceu gostar muito - ele deu uma risadinha. Não era uma situação engraçada e ele tinha que ficar rindo daquele jeito? Eu queria rir, mas não podia. Não ia, é.
- O que exatamente você falou? - duvidei um pouco de se eu deveria ter feito MESMO aquela pergunta.
- Que acabei por acaso conhecendo uma fã depois do show e que ela havia ficado um tempo conversando com a banda, tiramos algumas fotos, que tinham feito algumas gravações e que ela é muito legal e mente aberta para a idade dela - soltei um barulho com a boca e ele continuou a falar, enquanto eu só imaginava a cara da guria do outro lado do telefone - E que talvez fôssemos buscá-la no colégio para uma entrevista com uma revista - a última parte era pura mentira. Óbvio. Cerrei os olhos para ele, fazendo-o rir de leve - Sei que é mentira - ele sorriu brincalhão e se remexeu no banco - Essa é a parte mais legal. Não acha?
- Não, não acho. E ainda mentiu duplamente. Primeiro porque você veio me buscar. Não a banda. Segundo, não existe entrevista com uma revista e, sim, um almoço que eu nem sabia que ia acontecer.
- Mas do mesmo jeito, eu ainda não entendo o porquê da ceninha que ela fez. Foi ridículo. Ela é sempre tão madura e compreensiva – ah, não. Ele não estava falando sério. Cara, garotos têm uma mente tão... Fértil. Independente de tudo, de qualquer coisa, de qualquer assunto. Como eles não juntam os fatos e chegam à conclusão?
- Talvez não quando você está com a sua fã, saindo de um shopping caro do Rio de Janeiro e a foto está em todos os sites de fofocas possíveis. Ela está absolutamente certa em ficar chateada.
- Mas se ela sabe que gosto dela e estou com a mesma por isso, por que a do showzinho que dispenso? – comprovado. Eles são lerdos mesmo e não tem palavra e nem alguém que mude isso.
- Porque talvez ela seja sua NAMORADA. Entendeu? Se eu fosse sua namorada e visse a foto que vi, também não ficaria feliz.
- Quer me dizer qual o problema da foto?
- Vou lhe mostrar o problema da foto - passei por cima do encosto de braço do banco, alcançando minha mochila nos bancos de trás, e peguei meu iPhone. Cliquei nas fotos e procurei a maldita. Achei e entreguei a ele. Ele pegou o celular e ultrapassou rápido um carro, seguindo ainda as instruções do GPS. Uma rua do restaurante. Olhou novamente a tela. Olhou a rua e a tela. Entregou-me de volta o celular e levantei as sobrancelhas, esperando a resposta dele - Então? Vai me dizer que você vê nada?! - ele deu de ombros. Na foto, apesar de eu estar andando um pouco na frente dele, uma mão dele pareceu estar segurando a minha e isso causou o maior “auê”. Ele deu de ombros e acabei bufando - Olhe só, se fosse ela saindo do restaurante com um garoto desconhecido e de mãozinhas dadas, o que você faria?
- Ficaria bem puto.
- Então pronto. Não reclame dela - o carro foi parado na vaga certa e subi a janela, já ficando com calor ali dentro.
- Dessa vez, vai acontecer nada - ele me olhou sério e tentei acreditar naquilo. Apontou o porta-luvas e o abri, pegando os meus óculos. O meu lindo Wayfare preto - Você deixou comigo sem querer e guardei.
- Ah, meu bebê. Estava louca atrás dele! - beijei os óculos e o coloquei felizmente. Não queria ser reconhecida e ficava me achando quando colocava aqueles óculos. Super cheio de estilo. Atravessei a rua meio a uma corridinha estranha e esperei-o na porta - Boa tarde - sorri para a moça que estava ali parada e, assim que ele parou do meu lado, entrei, me sentando em uma mesa mais do fundo.


Capítulo dois


Quinta-feira da semana seguinte.

Estava andando pelos corredores já vazios do colégio. Tinha demorado de propósito para descer e... Estava sendo ótimo. Ninguém no meu caminho. Só o silêncio e algumas crianças que estava entrando em suas respectivas salas para terem aulas, já que o período dos adolescentes tinha acabado e todos já tinham saído feitos animais famintos de suas salas. Só ouvia o barulho do meu sapato batendo contra o chão. Passei pela porta do banheiro, ainda parando para pensar se eu entrava ou não. Decidi que não e virei, voltando ao meu caminho para o final do corredor para descer as escadas e ir embora. Eu procurava o C no teclado do iPhone e senti duas mãos em meus ombros. Levei um susto e, no impulso, coloquei o celular dentro do bolso do casaco. me olhou estranha e sabia que eu estava escondendo alguma coisa. Levantou uma sobrancelha, esperando a resposta para aquilo, e dei de ombros. Ela não ia esquecer, mas mudou de feição no rosto. Era sinal de que iria mudar de assunto. Agradeci mentalmente e ela me olhou séria. Ops.
- Quer me dizer com quem é que você sai agora três vezes por semana que não é a sua mãe?
- Como assim? – fiz-me de desentendida, tentando ganhar tempo para pensar em alguma resposta, mas ela sempre foi rápida e me respondeu quase que na velocidade da luz. Ela já tinha pensado em tudo o que ia falar. Era injustiça. Eu tinha todo o direito de pensar também, de ensaiar, de repensar...
- Bom, desde segunda passada, tenho que mentir para a sua mãe de que você vai estudar lá em casa.
- Não estou traficando, nem nada do tipo - dei de ombros - Fique na boa.
- Não é ficar na boa. É outra história. Entende? - neguei e ela mexeu as mãos impaciente - Então lhe explico. Conte-me AGORA o que está acontecendo e com quem você sai - ela apontou um dedo na minha cara e nunca tinha visto-a tão chateada na vida. Ela queria MESMO saber? Eu não podia dizer... E aí? O que eu ia falar? Que não podia dizer? Eu queria, mas não podia. Só tinha vontade de dizer a verdade... - Estou preocupada. Você parece mais no mundo da lua a cada dia. Essa pessoa está a drogando e você não quer nos contar. Não é?
- Estou saindo com ninguém. Que saco! – levantei-me irritada assim que senti meu celular vibrar no bolso. Afastei-me um pouco dela e o peguei. Vi o nome na tela e me desesperei quando a senti perto de mim. Apertei o botão para rejeitar a ligação e guardei de novo o celular no bolso. Tenso, tenso, tenso. Eu não era 007. Alguém poderia me salvar. Seria legal. Josey e Ella... Onde estavam? Puf, amigas da onça, hã.
Assim que pensei, elas apareceram como raios ao meu lado e apontou para mim, chamando a atenção das duas moçoilas.
- É a segunda, tipo, fase de quando você usa muitas drogas. Primeiro, os dependentes ficam alegres demais. Depois ficam muito irritados e muito para baixo. Se ela ficar para baixo, está confirmado. Ela está usando - de que buraco dos infernos ela tinha tirado aquela droga de teoria? Na boa, nem quero saber.
- Que droga! Não uso drogas! Que cacete, vocês três sempre desconfiando de mim. - revirei os olhos e arregacei as mangas do casaco, já de saco cheio e precisando de verdade ir embora.
- Não estamos desconfiando. Pelo contrário. Estamos tomando conta - olhei para Josey e concordei debochadamente. Aham, Cláudia, sente-se gostoso lá - Ele vem buscá-la hoje? - ela perguntou como se fosse algo normal para o assunto ou sei lá.
- Não sei. Por quê? Vão lá bater na janela dele e fazer um interrogatório ou ameaçá-lo? - o celular vibrou de novo e olhei a tela. Puta que pariu. Alguém iria arrancar a minha cabeça e não iria ser a Rainha de Copas.
- Pelo menos sabemos que é homem. Pior - , meio neurótica, respondeu e arregalou os olhos.
- É, mulher não levaria a outra tão profundamente para as... Você sabe - Josey respondeu, olhando para as outras duas, me ignorando TOTALMENTE.
- Que droga, parem de falar disso, por favor - joguei os braços para cima e saí, pisando fundo e bufando. Quando queriam, elas eram chatas para caralho. Sério mesmo.
Assim que pus os pés para fora do colégio, vi o monstro parado perto da porta e logo entrei, jogando minha mochila no chão mesmo, nem ligando para pensar em se lembrar de se poderia ter alguma coisa de vidro ali. Aliás, o que eu levaria de vidro para o colégio? Perfume? Poupe-me!
Cruzei os braços e ele se virou, sorrindo para mim.
- Acelere - falei dura e ele apenas obedeceu, porque pude ouvir o motor do carro ranger. Logo estávamos de novo fora do alcance do território do colégio.
- Nem preciso perguntar, mas o que houve?
- As meninas - encostei a cabeça ao banco, soltando um longo suspiro. É, eu queria contar. Queria de verdade - Ficam me interrogando o dia todo, querendo saber quem é a pessoa que vem me buscar que elas nunca vêem. No caso, você. Estão achando que estou usando drogas e que o parceiro, sei lá, “drogal”, é você. No caso, a pessoa que vem me pegar há quase duas semanas no colégio três vezes a cada semana.
- Então diga quem sou e pronto. Elas param de encher o saco.
- Mas você não entende que vai ser pior? É arriscado demais. Se eu pudesse, já teria falado desde que conheci vocês. O problema é que só uma pessoa sabe que conheci vocês e nem ela sabe que você me busca às vezes.
- O que tem de errado em elas saberem? Assim, vão parar de encher seu saco pelo menos.
- Claro que não. Aí é que piora o mundo. Elas vão querer ficar falando com você o dia todo, pegar o meu celular, tentar pela milionésima vez acertar a minha senha, ficar loucas até demais. Elas, como eu, são viciadas em vocês, mas acontece que sou controlada - rimos e eu já estava menos irritada. O perfume dele dentro do carro estava acabando comigo - Eu queria que elas soubessem. Não é que eu não confie. É que a adrenalina sobe mais quando ninguém sabe. Entende?
- Entendo. Tipo, agora sua mãe está atrás da gente - não sei que cara fiz, mas, sério, eu nunca deveria ter feito. Ele riu tão alto que fiquei com medo de alguém na rua ouvir e olhar para o carro. Se minha mãe visse, ia ferrar tudo. Encolhi-me no banco, ficando fora da área da janela que ainda dava para ver alguma coisa, mesmo com o vidro preto - Fique tranqüila, ela virou para a esquerda.
- Será que ela me viu?
- Com certeza não. Senão, tinha ligado. Quando vi o carro dela atrás do meu, fiz questão de parar longe de onde ela pudesse vê-la saindo. Ela vai ficar orgulhosa quando você tirar dez em tudo e vai deixá-la sair comigo.
- Acontece que a minha mãe até deixaria. Só que ela não fala inglês, então fica difícil.
- Tudo bem, quem sabe um dia a gente chega lá - algum tempo depois, olhei em volta e estávamos no estacionamento do hotel. Algumas (MILHARES) fãs estavam lá paradas. Ok, paradas nada. Você me entendeu. Colocamos os óculos e ele olhou para mim - Então, antes de subirmos para o quarto... - os seguranças o interromperam, fazendo uma barreira gigante em volta do carro, batendo na janela para avisar que podíamos sair. Saímos do carro e abaixei minha cabeça o máximo que pude. Andamos rápido até a porta do hotel e corremos até o elevador. Dois dos seguranças entraram primeiro, para se certificarem de que tinha ninguém lá. Esperamos um pouco, ouvindo a gritaria lá de fora. Entramos no elevador e assim que ele se fechou, suspirei aliviada. Caramba, que sufoco.
- O que você precisava dizer antes de subirmos para o quarto? - saímos do elevador, no andar do restaurante do hotel. Uma e meia. Horário do almoço. Os outros deviam estar no quarto. Ele mandou uma mensagem e se sentou em uma mesa afastada, me esperando. Eu, óbvio, estava olhando BOBA para aquilo tudo, né?! Nossa, gente pobre é outra coisa. Sentei-me na frente dele e indiquei que ele podia continuar.
- Que vou para Londres amanhã. Acontece que a coisa ficou feia com a... - interrompi-o com a mão, indicando que sabia quem era e ele continuou - E achei melhor ir até lá para resolver. Devo ficar dois dias; o tempo limite de um show para outro.

Dois dias depois

Bati o pé no chão pela tal vez naquele dia. Já tinha perdido as contas. Minhas pernas tinham vida própria e de vez em quando se mexiam, ficavam se debatendo, me faziam me levantar e andar em círculos. Estava em uma área reservada do aeroporto. Não agüentava mais esperar. Eu queria saber de tudo, saber o que tinha acontecido, saber das notícias, se eram boas ou ruins e... Matar a saudade. Eu disse isso? Sei lá. Nunca nem toquei no menino direito, mas estava com saudades do jeito dele, de conversar com ele, de passear... Acho que estava começando a gostar de uma pessoa que eu nem conhecia direito e isso era errado. Ele tinha alguém e eu também tinha um sentimento bom por esse outro alguém. Eu gostava desse outro alguém, apesar de ele não gostar de mim... Não sei. Eu não queria acabar e ser a bruxa má da história, mas é tudo tão confuso e complicado que as vezes só percebemos que não queremos ser a razão do término quando já somos. - Ai, caramba. Que saco - ouvi uma risada alta e rolei os olhos. Ele poderia parar de rir de mim. Não é? - Estou nervosa - mordi meu dedo e tentei roer as minhas unhas. Fail. Ele tentou segurar o riso e fiz careta.- Ah, não me pergunte o porquê – desviei-me dos olhos dele e fiquei observando tudo em volta - Amo aeroportos.
- Não acredito que estou ouvindo isso - bateu na própria testa.
- Ei , deixe-me lhe contar uma coisa! - sorri e pulei freneticamente.
- Pode contar - ele cruzou os braços, sentado em uma confortável cadeira dos “VIPs” do aeroporto. Gente pobre é outra coisa, de novo.
- Minha amiga acha que conheci vocês. Ok, disso ela já tem certeza por causa das fotos. Mas a menina acha que ando com vocês e que você me embebeda - ele riu o mais alto que já o ouvi rindo.
- Que imaginação das suas amigas. Se bem que seria divertido e engraçado embebedar uma brasileira menor de idade - ele colocou a mão no queixo, indicando que estava pensando. “Pensando”...
- Sabia que isso dá cadeia aqui, né? E não é porque você é estrangeiro que vai se safar, não! - disse séria, já não gostando muito da idéia. Se quiser beber, beba. Só não venha oferecendo sua bebida alcoólica para mim, não, ok?!
- Tudo bem. Tomo cuidado.
- Acho bom - virei a cara e fiz um bico. Ouvimos uns barulhos estranhos e vi uma movimentação. Pessoas saindo do avião. Nervoso. Saímos daquela sala, onde só nós dois e mais uma pessoa estávamos, e fomos ao encontro de quem eu estava com saudades.


Capítulo três


Uma semana depois.

Fazíamos a fotossíntese (leia-se: pegávamos sol) na piscina do hotel. Eu estava me sentindo já. Eu fazia de tudo naquele hotel. Até dormia. Quer dizer, só de vez em quando, de tarde, depois do almoço, quando bate aquele soninho... E de graça. Quer dizer, acho, né. O empresário deles deveria estar pagando e me odiando por tudo, hihihi. Deliciava uma limonada suíça muito da bem feita e escutava Rebolation. É, isso aí. Rebolation. Super clima de piscina. Eu estava em pé e dava uns passinhos. Não tinha muitas pessoas na piscina mesmo, então... MÃO NA CABEÇA QUE VAI COMEÇAR! Ri alto e continuei viajando na música. Fui acordada do meu maravilhoso (hm, não) som com meu, ok, “meu” lindinho tirando um dos fones do meu ouvindo, indicando que queria falar comigo. Concordei e parei a música a contragosto. Ele se sentou na espreguiçadeira e me sentei de pernas cruzadas na borda da piscina, mas virada de lado para ele. Coloquei uma mão na frente do rosto por causa do Sol, mas ainda sim fechei um pouco os olhos.
- A gente deu um tempo – liguei-me no assunto e sorri por dentro, quase me deixando sorrir por fora também. Fiz uma cara meio triste, apenas para dar um apoio moral para ele. Lógico - Pare de fazer essa cara, sua falsa - rimos. Droga, não engano nem ele. Que saco, devo ser ruim mesmo - Quero aproveitar ao máximo o Brasil.
- Isso inclui umas rapidinhas com as putas daqui? Não sei se faz diferença das de lá, mas acho engraçada sua decisão.
- Isso não inclui putas - ele riu baixo - Inclui você.
- Ah, pare com isso - ri sem graça e fiquei um pouco vermelha. O sol tinha ajudado, mas fiquei quase que um pimentão.
- Não diga isso, como se você não soubesse que é verdade - fiquei mais vermelha ainda e joguei um pouco de água nele, talvez querendo cortar um pouco aquele clima. Tudo bem. Eu podia saber que tinha dedo meu no meio, mas, pô, não precisava me deixar sem graça, né? Sacana.
- Fale sério. Só o conheço há um mês. Apesar de eu sempre ter sonhado com você falando algo do tipo para mim - ele riu e rolou os olhos, querendo passar algo do tipo “não acredito nisso”.
- Hm, sou o seu preferido da banda. É? - ele levantou as sobrancelhas e fez uma cara engraçada. Ri e tampei o rosto dele com as minhas mãos. Ele as tirou um tempo depois e continuou me olhando, esperando a resposta.
- Não o escolhi tipo “uni-duni-tê”, não. Ok? Realmente comecei a gostar de você pelo que via em vídeos, fotos, entrevistas... Essas coisas aí. Você sabe - dei de ombros, tentando não passar a imagem de fã louca dentro de mim para ele - Não sei, mas algo me puxou... E podemos parar de falar disso? Deixa-me sem graça. Obrigada.
- Pelo menos temos uma coisa em comum - ele olhou para o lado, mirando o mar. Vi umas gaivotas passando e resolvi tirar fotos, he. Concentrei-me em tirar a foto delas parada no meio de um poste super fininho e ouvi a voz dele interromper o silêncio - Gostamos um do outro - parei na hora, apertando o botão e depois me esquecendo da câmera. Fiquei boba. Beijos, me liguem.
Preferi não responder e continuei a fazer a minha fotossíntese calada. O sol estava bom.
- Sabe do que mais gosto no Brasil? - respondi com um murmuro - A fome. Sinto fome o dia inteiro. Acho que já comi tudo o que podia do cardápio de vocês. Mas isso por um lado é ruim. Vou acabar me acostumando e, quando voltar, não vou gostar - ele me entregou um cardápio que estava em cima da mesa. Um garçom parou ao nosso lado e fiquei um tempo o olhando para ver o que iria comer - Londres não conhece a palavra variedade.
- Quando eu for para lá, levo um livro de receitas. Vou quando eu puder e quando meus pais resolverem me enviar com uma passagem só de ia. Aviso logo.
- Se quiser, a ponho na minha mala e fica tudo certo.
- Então está ótimo - fechei o cardápio e voltei a dar atenção para o garçom - Vou querer aquele Victoria’s filet. Vocês têm mesmo. Não é só ilustração, né? - ele riu e concordou - Então vou querer um. Quer dizer, três na verdade. Ele come dois - o garçom anotou e saiu. Sentei-me na cadeira, analisando minha barriga. Fiquei brincando com uma pinta.
- Combinado. Conheço seus pais e falo que levo você comigo no final do mês. O que você acha?
- É. Acho válido.

Eu realmente estava achando engraçado quando saía na rua com o “meu” lindinho. Quase se tornando sem aspas. Eu tinha que me vestir toda, colocar óculos e toda uma produção só para ir, sei lá, à esquina. As fãs ficavam aos montes na porta do hotel, então de vez em quando fugíamos pela porta dos fundos ou saíamos com o carro direto da garagem. Aquele dia foi apenas mais um em que iríamos sair. Ele resolveu que queria ir ao cinema; um cinema brasileiro. Turista é foda. Com isso, veio o resto da cambada junto a tira colo. Tirando os brutamontes, lógico. Iríamos àqueles cinemas de shopping fantasma que NINGUÉM vai. E fomos na segunda. Ou seja, mais fantasma ainda.
Saltamos todos de uma van prata toda louca e já fomos cercados pelos seguranças. Os gracinhas dos brutamontes eram brasileiros e outros, ingleses. Ficou uma mistura de línguas naquele bolo onde estávamos que foi uma coisa linda de se ouvir. Ou não. Enfim, eles acabaram por nos levar até o caixa do cinema para comprarmos as entradas. Como eu iria pagar nada, mesmo que quisesse, levei apenas a identidade e a carteira de estudante para a mulher do caixa não achar que eu era uma vagabunda e não estudava. Aliás, para que mesmo? Está na cara que estudo. Olhe a minha cara de tédio, porra!
Ouvia os garotos murmurarem, tentando entender o que estava escrito nos cartazes. Traduzi para eles e riu, apontando para o cartaz do filme do Harry Potter. É, também escolho esse.
- O que foi? Esse filme ainda não passou lá? - olhei estranho para ele. Era tipo, meio, totalmente óbvio que já, mas pela cara de apaixonado dele, eu estava começando a achar que não - O Brasil que é atrasado.
- Lógico que já passou. É que vocês são atrasados até demais. Lá já está quase passando o Harry Potter cinco mil e aqui mal saiu de cartaz “O Enigma Do Príncipe” - dei língua para ele. Engraçadinho. Vá. Fale mesmo, jogue na cara que só vou ver o Harry Potter cinco mil quando ele já estiver cansado de ver lá na terrinha cretina deles. Nem queria ver antes mesmo. O legal é esperar, hunf.
- Vamos ver... - coçou o queixo – “Se Beber, Não Case” - e concordaram.
- Saw it - ele rolou os olhos e bagunçou o meu cabelo, como se eu fosse uma criança de cinco anos gritando o pai e ele estivesse no meio de uma conversa com os sócios dele. Puf.
- Eu também. Ou acha que não? Acontece que, como estou pagando, eu escolho - vi os outros meninos já com os ingressos na mão e apenas alguns adultos não interessados na banda deles passeando por ali, escolhendo filmes e comprando os ingressos.
Os boys pagaram tudo, até a pipoca, e apenas segui para o lugar onde a mulher pega o ticket para você mostrar que gastou dinheiro para ver alguma coisa durante duas horas, sentado naquelas cadeiras no ar condicionado. Recebi um pacote médio de pipoca, algumas balas e uma água.
- Quer mais alguma coisa ou só isso aí já é o bastante para sufocar seu estômago? - e perguntaram, olhando para a vitrine de bala, esperando para ver se eu queria mais alguma coisa. Apontei o Alpino e sorri feito criança boba. Eu nunca gastaria tudo aquilo de comida só para ver um filme, mas como eu não estava gastando mesmo... Eu só como, dando uma de malandra, aproveitando, rs - Vou ficar pobre - ri e peguei o chocolate felizona.
Entramos e nos sentamos nas nossas respectivas cadeiras.
- E aí, animada?
- É... Gosto de rir de filmes bobos e frouxos.
- Esse filme não é frouxo. É engraçado - ele se balançava na cadeira reclinável para frente e para trás - Que cadeira engraçada. Ela inclina e faz barulho. Parece até parque de diversões. Ei , olhe isso! - não acreditei no que estava vendo e bati na minha própria testa.
- É porque está quebrada, mulona. Saia daí! - empurrei-o e ele riu alto. e que subiam as escadinhas riram dele e deu um tapa no ombro do mesmo. Ele se levantou e acabou por metade da pipoca dele cair. Ri alto e reparei que o cinema não estava cheio. Deviam ter vinte pessoas no máximo. Agradeci mentalmente e continuei rindo alto quando ele voltou a se sentar ao meu lado, mas o oposto do que estava antes. Jogou a mão dentro do meu pacote e pegou milhares de pipocas.
- Vai começar o trailer! - olhava atento para a grande tela à nossa frente.
- Claro. Não posso perder. Trailers são realmente imperdíveis. Vinte minutos olhando propaganda.
- Ei, o que essa aí diz? Gostei dessas pipocas pulando e rindo. Olhe, tem até um bebê pipoca! – ah, não, cara!
- Dizem que no escuro os sentidos ficam mais aguçados. Tudo fica melhor no escuro.
- Que subliminar. Vocês são tarados.
- Nós? Quem fez um shoot com uma puta no cano? Ah, ’ta. Quem fez um shoot para a Atitude, pelado? Ah, ‘ta.
- Ei, aquilo era a propaganda para promover aquela casa noturna. E lá é legal. Já fui uma vez. A Atitude foi marketing - respondeu por que ainda se fingia de ofendido e eu ria.
- Teve sorte na boate? - sussurrei e ele riu concordando.
- Claro. Quase engravidei sete - que mentiroso. Cerrei os olhos para ele e o mesmo riu. As luzes abaixaram completamente, nos deixando no escuro, apenas com a luz da tela nos iluminando - Minha namorada caiu nessa. Brigamos e ficamos uma semana sem nos falar. Na verdade, ela não falou comigo. Nem liguei. Uma hora ou outra ela ia falar mesmo - ele deu de ombros e comecei a me irritar.
- Pare de falar nela. Quando você resolve dar um tempo, a mulher não sai da sua cabeça. Cadê o efeito Brasil? Foi embora?
- Não sei. Tem como resgatar? - fiz uma careta - Você acha que consigo?
- Sei lá. Se você tentar, quem sabe - imitei-o, dando de ombros, e indiquei a tela com o rosto. Eu realmente estava querendo ver o filme depois de ter que lembrar que infelizmente ele ainda tinha uma namorada. Homens são tão indecisos, argh.
- É, quem sabe... - ele passou um braço pelo meu ombro. Deitei um pouco na cadeira, tentando cortar por uns segundos algum clima que estivesse se instalando. Eu já disse, é loucura, mas nunca quis ser a vilã da história e eu não iria ser.
Ríamos feito idiotas do filme. Na verdade, era o que mais ria. Acho que ele não estava entendendo muito, mas convenhamos que fazê-lo rir não era tão difícil assim. e eu nem sei. Só sei que ouvia risadas gerais e conheço o timbre de voz deles. Eles riam e muito também.
- Adoro momento tenso – sussurrei, ainda rindo.
- Esse filme é tenso.

O filme já tinha acabado. Estávamos indo comer alguma coisa. Barril 8000 talvez? Outback? Koni? Burger King? AppleBee’s? Sei lá. Qualquer coisa, contanto que comêssemos. Eu estava morrendo de fome, por incrível que pareça. Não me assustei nem um pouco assim que ouvi algumas barrigas roncando perto de mim. Eles optaram pelo AppleBee’s mesmo, se animando com o estilo e as cadeiras ao ar livre. Sentamos-nos e tentei enxergar algum paparazzi ou sei lá. Meu celular tocou. Minha mãe. Droga, eu tinha dito que tinha ido até a casa da e que iria voltar só às oito. Nove horas. O que será que ela queria?
Levantei-me, ainda encarando o celular. Nenhuma desculpa vinha à minha cabeça e ele parou. Fiquei meio tensa. Ele voltou a tocar alto e vibrar na minha mão. Melhor seria atender e, no calor da mentira, soltar mais uma, né?!
- Oi mãe - falei meio baixo. Ela deu uma risada assim que ouviu a minha voz e falou que tinha ligado errado. Suspirei aliviada e, quando eu ia desligar, ela voltou a falar e me perguntou como estava tudo; os estudos e tal. Droga! - Estamos estudando história. Estou meio bombada na matéria nova e ela está me ajudando. Nada de mais. Não atendi antes porque fomos até a cozinha comer alguma coisa. Aliás, o misto quente ficou pronto. Vou lá. Beijos - desliguei felizona por ter conseguido mentir super bem e voltei a me sentar entre e . Eles sorriram, me indicando o cardápio. Dei de ombros e percebi que eles comentavam sobre o filme, já que , mesmo com a minha presença, não parou de falar.
- Eles perderam o amigo no meio de Las Vegas. Que tipo de amigos eles são?
- Do tipo amigos para sempre - comentou e negou com a cabeça.
- Só até chegar a Vegas. Depois, tchau - todos rimos, concordando. O filme era meio retardado, mas mesmo assim era divertido ficar relembrando das cenas, das caras dos atores, sei lá... Era tudo tão fora do normal que chegava a ser engraçado se pegar rindo por estar se lembrando daquilo.
- Mas no final, o Doug é recuperado - fez um joinha com a mão e sorriu.
- Com insolação - respondi rápido, fazendo-os rir.
- Mas pelo menos é recuperado. E rico! Aquela mala do japa rendeu o filme todo.
- Ele era gay. Falei - jogou as mãos para cima, como se estivesse se tirando da jogada, e ri, concordando. O cara tem cara de gay, vá. Nada contra, mas, poxa vida... Ele ainda se fazia de machão. Quer dizer, tentava.
- Gay sou eu perto dele - soltou essa pérola que, óbvio, nos fez rir alto - Vamos comer.
- Você não se cansa? Minha boca se cansou de mastigar por hoje. Minha boca não. Meu maxilar - colocou a mão no maxilar e o mexeu, como se estivesse comendo mesmo, fazendo uma cara feia logo depois.
- Não se reprima - passou a mão pelo cabelo dele - AppleBee’s, aí vamos nós!
- Já estamos aqui, inteligente - rolei os olhos e fez bico - AppleBee’s é a versão furreca do Outback. Sabia? – virei-me para , querendo dar uma de inteligente.
- Enquanto eu me deliciava nos dois em Londres, você esperava um deles pelo menos abrir aqui. Sabia? - mandei língua e ele sorriu - Não se reprima - piscou e mandou um beijinho para mim. Mandei dedo. Sacana.
Esperamos mais alguns minutos até que a comida chegasse e todos, menos , enchessem mais o estômago sem fundo. Papai Noel que tem um saco sem fundo assim. Compramos dele. Quer dizer, pedimos de Natal. Segredinho, hehehe.

Já eram sete e meia quando pude ver pela janela da van prata bolada as grades do condomínio onde morava. As grades verdes, as quadras de futebol e tênis, a piscina, a sauna, os bares, a academia, as guaritas... Não sei por que mas eu sentia que tinha que aproveitar muito aquilo ali, porque eu não mais iria tê-los ao meu favor. Um sentimento estranho e um tanto quanto perturbador, mas enfim... Saltei da van assim que abriram a porta, dando tchau para os demais. já dormia, quase embalava e estava provavelmente twitando alguma coisa, óbvio. veio ao meu encontro. Cruzei os braços e parei encostada à mureta junto à grade verde. Agradeci baixinho e ele mexeu a cabeça, como se concordasse. Ficamos um tempo calados, enquanto ele observava o lugar onde eu morava.
- Sua mãe não vai brigar, né?
- Não. Avisei que ia chegar por essa hora. Acho que tudo bem.
- Se ela brigar, venho aqui amanhã e falo que a culpa foi nossa - ele apontou para a van e neguei para ele - Por que não? - ele levantou uma sobrancelha - Já arranjou outro, é? - ri baixo e empurrei um ombro dele, negando com a cabeça. Olhei para baixo, riscando o chão com a ponta da minha sapatilha.
- Amanhã vocês embarcam para o sul do país.
- Ih, é mesmo! - ele bateu na própria testa e soltou uma risadinha que me fez acabar por rir junto, sem optar - Por isso que ensaiamos anteontem. Você me deixa confuso. Viu? Nem me lembro mais dos meus afazeres. Você sabe a minha agenda, mas eu não. Quer ser minha agente?
- Não – ri, vendo a cara de tristeza falsa dele - Ter que agüentá-lo vinte e quatro horas? Que merda.
- Ih, seu ego está muito alto. Vamos abaixando.
- Claro. Em uma escala, você tem que se rebaixar. Certo? Então me dou três, para ficar um ponto acima de você - respirei pesadamente, enquanto tentava observar algum movimento vindo de dentro da minha casa - Preciso entrar - apontei para a porta e ele concordou, sem me olhar. Uma mulher passeando com um cachorro passou por nós e deu um aceno de cabeça para mim. Imitei-a. Devia ser alguma vizinha minha. Só torcia para não conhecer a minha mãe e/ou não for fofoqueira, não querer saber e muito menos comentar sobre a minha vida com ninguém.
- Volto semana que vem para cá - assenti com a cabeça. Até parece que eu não sabia - Até parece que você não sabe - ele riu, decifrando os meus pensamentos - Vou querer vê-la.
- Vai poder quando quiser – sorri, abrindo a porta do prédio - Boa viagem - passei pela porta e fechei a mesma. Olhei de longe o segurança do condomínio em sua guarita e dei um aceno com a mão para ele que me respondeu. Sorri fraco e acenei para .
- Ei - ele abriu a porta e correu. Virei-me e vi-o a centímetros de mim - Espere - continuei olhando-o, esperando uma resposta – Dê-me um abraço - ele abriu um pouco os braços. Desarmou-me, poxa. Sorri e dei um passo, abraçando-o forte - Você está chorando? - ele riu baixo. Neguei em meio a um soluço baixo. Droga, fiquei fraca – Está, sim - ele me afastou de si, olhando em meus olhos. Sorri (fraco), querendo passar que estava tudo sob controle, e ele rolou os olhos, pouco acreditando. Ok, nem eu acreditaria, mas e daí? - Ei – puxou-me de volta, abraçando-me o mais forte que pôde.- Você é a brasileira mais legal de todas que já conheci.
- E que você teve um contato direto, convenhamos.
- Claro, você é a primeira brasileira que abraço dessa forma - pousou o seu queixo sobre a minha cabeça que permanecia encostada ao seu peito fortemente - E sabe... Eu gosto. Gosto muito.- apertei fraco o nariz dele, que o enrugou - Nunca fiz isso com alguém, na verdade, a não ser com a minha mãe - ri. Tive que rir - Nem com a . E gosto dela.
- Por que fica falando esse tipo de coisa? Para me torturar? – afastei-me dele, passando a mão levemente pelo rosto. As lágrimas não podiam ficar ali para sempre e eu não iria deixar transparecer que eu estava tão triste do jeito que realmente estava - Isso é cruel.
- Talvez eu fale dela porque, não sei, mas de alguma maneira quero lhe mostrar que tudo com você é diferente.
- Inclusive ser feita de palhaça. Adorei. Vou ver se entro no Cirque du Solei e se eles me aceitam lá. Na verdade, vão aceitar fácil.
- Não faça assim. Sabe que gosto de você.
- Não o suficiente - voltei a apontar para o apartamento do primeiro andar, onde eu morava - Olhe, realmente preciso entrar. Boa viagem e bom show - mandei um beijo para ele e achei mesmo que ia conseguir sair andando. Não consegui porque ele segurou meu braço.
- Talvez eu ainda não tenha terminado com ela porque ainda não criei coragem para fazer outras coisas e nem achei as palavras certas para não magoá-la ao ponto de ser uma catástrofe, como sei que vai ser.
- Então quando criar coragem, me avise. Deixe-me ir, por favor. É sério. Também estou cansada - fiz cara de derrotada e ele afrouxou a mão no meu braço. Porém ainda não tinha o soltado por inteiro.
- Só posso pedir um favor? - indiquei que sim, fechando os olhos, e ele continuou - Não fique chateada comigo. Eu me sentirei culpado pela sua mágoa, horrível, de verdade - levantei as sobrancelhas devagar e entortei a boca – Promete-me?
- Não posso prometer. Senão, me sentirei uma traidora, caso falhe.
- Então só tente não ficar chateada.
- Dê o melhor de si no show. Eles esperam você. Vá - empurrei-o e sorri – Vá, ande - empurrei-o de novo. Ele precisava dormir e eu também. Que droga. Eram oito da noite, mas eu estava cansada, caramba! Ele não estudava, mas eu sim! Eu acordava cedo para estudar. Diferentemente dele que acordava cedo para conhecer o mundo e tocar. Puf, vida chata.
- Você é tão incentivadora - ele sorriu e me puxou forte, grudando nossos corpos. Senti o perigo bater e tentei me afastar, mas ele não deixou. Eu via a catástrofe acontecendo - Adoro isso - ele me beijou e correspondi. Então, eu tinha tomado um lugar que eu não queria ter tomado: o de vilã.


Capítulo quatro


Sexta da outra semana.

’s POV

A aula tinha terminado e eu estava em alguns dos pátios do colégio, na presença de Josey e Ella. A primeira, na verdade, tinha acabado de se ausentar para ir comprar alguma pipoca na cantina da escola. É, eles vendem pipoca no colégio. Essas pessoas querem que fiquemos obesos no futuro. Não é possível.
A mochila de estava jogada de qualquer maneira ao lado da minha. Há alguns dias eu tinha ficado meio estranha e não falava direito com ela, porque sabia que ela estava mentindo para a mãe, me colocando no meio, e o pior: não me contava o que estava acontecendo. Comecei a achar de verdade que a situação estava ficando muito séria. Não que precisamente ela estivesse usando drogas, ou sei lá, mas a garota escondia algo, muito bem escondido, e eu não conseguia descobrir o que era. Talvez ainda fosse o efeito do show, mas nunca se sabe o que se passa na cabeça de uma adolescente. Apesar de que éramos quase adultas. Dezessete é quase adulta, vá.
Ella falava alguma coisa, enquanto digitava rápido no teclado do celular. Eu não entendia como ela conseguia escrever tão rápido. Tem que clicar mil vezes para escrever o T, mil vezes para escrever o R... Nossa, o S e o W, Y, Z... Puta que pariu! Eu nunca conseguia escrever. Lerdona. Josey voltou e se jogou com tudo em cima de nós duas. Reclamei, ainda de mau humor por não descobrir o que escondia, e ela riu, me dando um beijinho melado de queijo na bochecha. Nojenta! Ficamos um tempinho caladas até que Josey resolveu dar o ar da graça de sua voz.
- Vocês viram as fotos do show deles do sul? O que foi aquilo, Senhor? - ela colocou a mão na testa e logo me liguei de que ela falava sobre o show do McFLY no sul do país. Ella fingiu que tinha desmaiado e rimos.
- Cara, morri com todas, salvei tudo e imprimi algumas. Grudei na parede e fico a tarde toda babando. Meu Deus, muito gostosos - Ella era maluca. Só podia ser, mas tudo bem. Pior se os quatro fossem mulheres sem camisa fazendo um show e estivessem estampadas na parede dela. Imaginei e ri alto, me jogando na conversa.
- Eles estavam tão... Empolgados - sorri orgulhosa dos meus quatro lindinhos.
- Todos, menos um - Josey coçou o queixo, como se estivesse fazendo uma super observação, e concordamos.
- Ah, sempre o . Qual é o problema com os s? OK, o NOSSO não é estranho.
- Talvez seja... E pode ser que o jeito estranho dele o faça genial, amável e desigual - todas ouvimos a voz soltar aquela frase filosófica e só poderia ser de uma pessoa: . Olhamos todas meio assustadas para ela. De que poço tinha saído? Mas nem para dizer um oi, sei lá. Gente mal educada. Eu, hein... Gente fantasma.
- Você está bem? Você tem estado quieta toda essa semana... Nem parece drogada - Josey olhou para ela com os olhos arregalados - O que foi? O que fizeram com você? - Josey a sacudiu um pouco - Isso é efeito colateral de alguma delas?
- Eu disse! É a terceira fase! – pulei, apontando na direção das duas. Eu estava certa, ha!
- Você brigou com o cara do carro importado? - Ella disse, ainda digitando algo no celular. Ela adorava fingir que o celular era computador e as mensagens, janelinhas do MSN - Não tenho a visto mais entrando no carro dele. Só vejo você com a sua mãe saindo do colégio agora - concordei e Ella sorriu para mim.
- Briguei com ninguém - rolou os olhos, de saco cheio. É, talvez eu também ficasse, caso alguém não parasse de encher o meu saco, perguntando coisas e dizendo que ando me drogando com o cara do carro importando. Mas nada seria naquele jeito, se ela contasse. Já que a menina não contava, seria do modo mais difícil... Para ela.
A garota deu meia volta com os calcanhares.
- Vou à recepção pegar uma coisa e já venho - então saiu, nos deixando sozinhas novamente.
- OK... Nunca pretendo usar drogas - Josey comentou (sabiamente) e concordamos. Será que já seria a hora de todas nós nos juntarmos e irmos falar com a mãe dela? Com os pais? Com a família? Conversar com a coordenação? Avisar a escola? Tínhamos que fazer alguma coisa. Estava tudo ficando muito estranho. Eu não agüentava mais ver minha amiga bipolar toda hora, mal, quase morrendo em uma semana e super voada na outra... Não era só a curiosidade que fazia com que eu quisesse libertar toda a agonia de dentro de mim. Eu queria ajudá-la. Para isso servem as amigas. Certo?
Fui tirada dos meus pensamentos com Ella me cutucando e Josey me empurrando, apontando para a mochila de .
- Ei, o celular dela está tocando - finalmente ouvi aquele iPhone tocar alto. As duas pegaram e olharam o visor. Mostraram-me então e reparei que não tinha nome. Só um monte de números. Elas deram de ombros e a Josey mesma atendeu - Celular da .
- ?
- É a amiga dela. Quem é? - ficamos Ella e eu esperando para ver se conseguia alguma pista. De vez em quando, eu desviava o olhar de Josey só para ver se nossa alien preferida estava voltando.
- QUÊ?
- Ih - ela fechou a entrada do fone com as mãos e riu - Fala inglês. Acho que é daquela... British School. Ela tem uns amigos de lá. Sempre achei que eles falassem português também... Sei lá. Gente louca - ela riu alto e jogou o celular para mim. Olhei meio torto para aquele bicho grande e o peguei, ainda olhando para Josey desconfiada - Fale aí. Sou quadrada em inglês. Você sabe - rolei os olhos e coloquei o celular na orelha, atendendo o fulaninho do outro lado.
- Oi - atendi em inglês só para dar uma sacaneadinha com a cara de Josey, que já saiu do meu lado, me mandando um dedo bem lindo.
- Alguém que fala inglês. Ufa. está?
- Não. Ela foi pegar alguma coisa. Quem é?
- Um amigo dela. Preciso falar com ela com urgência. Não tem como chamar, por favor?
- Olhe, fica difícil. Onde ela foi é meio longe de onde estou - falei meio sem paciência. Eu só queria saber se ela se drogava e se essa pessoa era parceiro ou parceira dela. Era difícil? Será que eu deveria perguntar? Como é parceiro de crime em inglês? Fiquei tentando buscar várias palavras no meu dicionário mental, mas não achei, já que ele me interrompeu no meio da operação. Af.
- Por favor, é urgente.
- Ei, quem é você? Quero saber quem É. É você que droga minha amiga? - falei mesmo. que se dane. Minha amiga e a saúde e vida dela são mais importantes do que o papo que ele queria bater com ela. Muito mais. Pode apostar. O lero deles deveria ser nada de mais.
- Não! Só quero falar com ela. Não posso demorar. Estou ocupado em uma reunião.
- Então por que ligou? - eu toda paciente - não tenho como passar para ela. Digo que você, sei lá quem, ligou. Serve? - se ele iria ser mal educado comigo, eu iria ser mal educada com ele. Estava nem aí. Quer ser bem tratado? Trate bem. Não faça aos outros o que não quer que façam com você. Use um espelho... Ok, parei.
- Diga então que... - ele pareceu parar para pensar. Vá, bandido! Invente logo uma desculpa, porque estou nem um pouquinho a fim de ficar levando um lero contigo. Ok? Entendido? FALE LOGO, PORRA! - Diga que o número dois da escala ligou para ela. Certo? - mas que porra era aquela? Número dois da escala? Eles tinham uma escala? Que escala era aquela? Ai, porra, será que era a escala de quem consumia mais? De quem estava no melhor lugar no ranking? Será que... PARE! SAIA, NEURA!
- Sim, sim, senhor dois da escala. Falo, sim - ele agradeceu e rolei os olhos - De nada. Tchau - desliguei, acho que na cara do sujeito, e joguei o celular de na mochila dela. Fechei o zíper e voltei e olhar Josey e Ella, que me olhavam curiosas. Eu não ia ficar narrando o que tinha falado com o menino que falava inglês. Ia? É, eu teria - Gente estranha.
Fiquei um tempo contando para elas tudo o que o garoto tinha dito e começamos a jogar todas as idéias que tínhamos para finalmente tentarmos colocar em prática. Assim que chegasse, iríamos de uma vez por todas lavar a roupa suja. Ela TERIA que nos contar. Iríamos obrigá-la. Ela não ia embora enquanto não dissesse a verdade. Eu disse que iria ser do jeito mais difícil e realmente seria. Ela que escolheu o jeito. Só seguimos como fiéis e leais seguidoras. Não de Twitter. Claro, rs.
Enquanto discutíamos, Ella fez um barulho, avisando que , o alvo, estava chegando. Para disfarçar, então, começamos a rir alto e ela pegou a mochila assim que parou ao nosso lado. No que se virou, Josey falou:
- O senhor número dois da escala ligou - rolou os olhos.
- Não quero falar com ele. Aliás, por que anda atendendo o meu celular?
- Ele disse que era urgente. Ficou insistindo até não poder mais. Não fui eu que atendi. Foi ela - Josey apontou para mim. Filha da puta. Sorri meio sem jeito. Eu sabia que não gostava que atendêssemos ao celular dela, mas, cara, depois de ver aquele mundaréu de número e saber que a pessoa falava inglês, que poderia ser o parceiro dela, ainda fingindo falar outra língua, não me contive em atender.
- Ótimo. Que ele insista - ela se virou para mim e apontou o dedo na minha cara - Que isso não se repita - eu queria a minha amiga voada e cantando músicas de bandas que ninguém conhece de novo.
Ela abriu o zíper da parte frente da mochila e olhou o celular.
- Venha cá. De onde ele é? - Ella perguntou, lambendo um dedo. Tinha acabado de voltar da cantina com um brigadeiro e tinha devorado-o por inteiro de uma vez só. Eu disse que o povo quer que sejamos obesos, cara! - Da British? - negou - De onde então?
- Interrogatório de novo, não, por favor - ela se sentou, colocando as mãos no rosto e apertou os olhos. Devia estar mesmo de saco cheio.
- Cara, que irritação. Só fiz uma pergunta - Ella deu de ombros e voltou à cantina. Em questão de segundos, já estava ao meu lado de novo, deliciando-se com um Cheetos sabor queijo parmesão. Que é isso, cara? Agora falta Cheetos de salame, vá.
- Eu disse que ela estava envolvida com drogas – sussurrei, tentando fazer realmente não ouvir, mas ela acabou por escutar. Óbvio. Porém ignorou. Eu sabia que se ela não ignorasse, da próxima vez eu iria levar um soco, hehehe.
- É mesmo. O tal inglês devia ser para disfarçar.Disse que estava em reunião e não podia falar, mas ligou e tinha que ser rápido. Já até sei que tipo de reunião é... - Josey entrou na jogada do nosso plano de tentar fazer falar o que estava acontecendo. De repente, a mesma se levantou toda irritada e, como só havia nós e umas criancinhas jogando bola em uma quadra perto da gente, ela deu um berro e jogou a mochila no banco de concreto.
- OK! OLHE, CHEGA! EU CANSEI! - ela ficou muito, muito, muito vermelha e alguma de nós com certeza ia ser arrebentada. Fiquei com medo e disse mais nada. Vi de relance que Ella ia falar, mas logo colocou um dedo no meio da cara dela, impedindo-a. Ela engoliu em seco e voltamos a olhar o nosso alvo voltar a fala - Estou mesmo usando drogas. Envolvi-me com uma agora que é MUITO forte.
- Es... - dei uma gaguejada - Espere. Você... - ela concordou de braços cruzados e o rosto foi ficado da cor normal. Poxa, eu falava de brincadeira, achando que era verdade ou não, mas querendo achar que não, e... Ah, não sei o que eu achava. Mas era sério?
- É - ela falou tão séria que deu medo - MUITO sério.
- Ai meu Deus, e é forte mesmo? - Josey arregalou os olhos.
- É... É a pior de todas. Vocês NUNCA vão querer provar dela. Vai entrando por você, sugando, puxando. Intoxica você e fecha os seus pulmões. Aquele cheiro, aquele gosto, aquele abraço que lhe dá, aquela força que tem em você, vai o possuindo cada vez mais e você vai se deixando levar. Uma hora, não se dá mais conta de nada e, quando vê, está nas mãos dela. É viciante, é deliciosa, é prazerosa. Trás sentimentos maravilhosos, você fica no mundo da lua, o deixa sem ar, sem vontade de dormir, sem nada. A única coisa que deixa é a vontade de querer se drogar mais e mais, cada vez mais, a cada momento que passa, a cada passo que você dá, a cada respiração, a cada segundo, cada instante, cada momento. É tudo do que você precisa... É a sua outra metade.
- Ai meu Deus, e você fica tão dependente assim? - Ella estava com os olhos marejados. Tudo bem. Ela sempre foi a mais sensível e tal.
- Fico. Totalmente. Olhe meu estado - apontou para o próprio corpo e concordamos caladas.
- Ai meu Deus do céu, ! Com o que você se meteu?! – perguntei, já não agüentando mais. Puta que pariu, fodeu tudo. Ai Deus, dê uma luz, ajuda!
- Com QUEM eu me meti – ai, merda. Quem era? Era o menino do telefone. Só podia ser. Ela fodeu a vida. Ai Jesus, o que faço?! Aciono a polícia? A família dela? O garoto? Faço chantagem? Falo com a diretora?
- Não tem graça. Qual é o nome? - Josey perguntou, com as mãos tremendo. O celular que estava na mão dela caiu, fazendo um barulho alto e todas piscamos, acho que pela primeira vez desde que tinha assumido tudo, de uma vez só.
- Do quê? - ela perguntou, levantando uma sobrancelha.
- Da droga - sorriu e foi alargando aquela droga de sorriso para nós. Olhou-nos com um olhar fatal. A cara e o sorriso sarcásticos dela estavam matando a todas nós. Ela então, de repente, se abaixou a nossa altura. Estávamos sentadas. Olhou cada uma de nós e levantou o lado direito do lábio, querendo colocar mais sarcasmo naquela cara que já estava absurdamente sarcástica, e engoli seco. Finalmente saberíamos a droga e teríamos que acionar a família. Parecia um caso sério de verdade. Vá, fale logo.
Ela então sussurrou para nós o nome no mesmo momento em que, com um movimento rápido, arrancou a mochila debaixo da minha no banco. Colocou-a nas costas e saiu sem nem olhar para trás, nos deixando estáticas.
- .


Capítulo cinco


’s POV

Eu estava puta. PUTA! PÊ, U, TÊ, A! Que saco. Não agüentava mais as meninas no meu pé, não agüentava mais minha mãe no meu pé, não agüentava mais estudar, não agüentava mais a escola, não agüentava mais... O homem por quem eu estava apaixonada. A vida sempre quer dar uma de espertinha e acaba ferrando com tudo. Pronto. Tive que contar de uma vez por todas para as três quem era a pessoa e agora só pioraria para o meu lado. Porque além de mentir para a minha mãe, mentiríamos para todas as mães, uma vez que APOSTO que elas iriam querer conhecê-los também. Pode ter sido egoísta de minha parte privá-las de tudo isso, porém elas se esquecem de que eu estou metida no meio e isso complica. Se a minha mãe descobrisse, nunca que iria deixar uma coisa daquelas acontecer. Estudo em primeiro lugar. Só pode sair sexta-feira e final de semana. O pior: tem que estudar no final de semana também. Ah, vá! Eu não privaria ninguém de saber de nada, se minha vida não fosse controlada. Tirando a minha sorte com os paparazzis. Tenho que reconhecer. Os seguranças deles eram os caras. Só não batiam o segurança careca da Madonna, mas e daí?
Fui puxada por alguma coisa, ou melhor, por alguém (Josey), e em questão de segundos eu estava tentando passar no meio da multidão que estava formada na porta do colégio. Estavam dando dinheiro? Uhul, deixe-me passar! Também quero ser ric. Nnão perco a oportunidade, hehe. Lingüinha para fora. Fui empurrada e quase caí, gerando risadas vindas de Josey e Ella. A terceira não vi. Josey me parou e reclamei, finalmente podendo mexer na minha mochila. Peguei o celular e minha mãe não tinha ligado. Yeah, sinal de que eu poderia voltar para casa sozinha.
- Alguém pode me explicar o porquê dessa multidão parada em frente a esse vidro? – perguntei, já sem saco para mais porra nenhuma, e Josey ficou na ponta dos pés – Cara, que desgraça. Que povo sem o que fazer... Ficar olhando vidro. É quinta-feira. Ainda se fosse sexta... Sabe? - tanto Josey quanto Ella me olharam estranhamente e tive que me explicar - É porque sexta deixa as pessoas meio totalmente alteradas. Vocês sabem... Fica todo mundo meio fora de si porque é sexta... - elas riram. Fiquei parada em frente àquelas pessoas que não saíam do lugar. Ella trocava mensagens de texto, só para variar um pouco, e Josey encontrava-se falando ao celular. Uma menina olhava meio triste para o chão e me aproximei dela. Minutos depois, ouvi algo berrando.
- Venha aqui A-G-O-R-A! - apareceu do meio da multidão e me puxou bruscamente. Dei de cara na mochila de um guri super alto (e muito gato) e me desculpei super sem graça. Olhei feio para .
- Ei, eu estava conversando com a menina! Ela está apaixonada, mas o amor dela não é correspondido. Eu queria ajudar! - protestei super chateada. Adorava ajudar e dar uma de cupido - E, ei, largue a minha mochila! Que saco! - senti outra mão me segurando, que antes eu não tinha sentido. Josey – Largue-me você também – soltei-me delas duas e apenas as segui para fora do colégio às pressas - Credo, mas a multidão parece que só aumenta. O que é? Estão mesmo distribuindo dinheiro, é? - sorri feliz, já com a ponta da língua no meio dos dentes.
- Estão distribuindo nada. O que tem ali é bem melhor.
- O que é bem melhor? - esfreguei as mãos, já pensando. Hm, gogo boys super gatos estariam esperando para dar dinheiro para nós, comida na boca, levar-nos-iam ao shopping, seriam nossos amantes, escravos por um bilhão de dias e... Nossa, um silêncio se instalou e ouvi um berro.
- Amor verdadeiro! - Ella apontou sonhadora para o vidro do portão do colégio. Ela sempre foi a mais conto de fadas de nós quatro, então nem liguei para o que disse. Mas só até Josey virar meu rosto para o vidro e eu ver o que estava escrito em inglês e vermelho:

“Sei que errei e que você não merece sofrer. Desculpe-me, mas você é uma palhaça tão ruim que nem o Cirque di Solei ia a empregar. Queria apenas me desculpar por fazer de você a minha escrava brasileira, obrigando-a a sair comigo quase todos os dias, a comer comigo as comidas mais típicas, a dividir comigo o que eu não tinha há muito tempo. Você é melhor do que ela e sabe que não são de segundas intenções que falo. Liguei, mas você não atendeu. Você me recusou. Não quis me ouvir. E sabe por quê? Porque você é AQUELA garota. Obrigado por tudo, minha droga, meu vício.

Número dois da escala.
PS: Londres não é mais tão longe. Ainda está de pé?”

- O número dois da escala seria a sua droga ou é só impressão minha? - Josey me olhou meio confusa, apaixonada, e... Sei lá mais o quê. Só sei que eu estava tão petrificada que jurei que tinha um menino metido a Harry Potter jogando feitiços por aí de caô - Ei, dá para responder?
- Seria - respondi sem ar. Um barulho de porta de carro batida quebrou todo o silêncio que tinha se instalado desde que eu tinha chegado. Alguns se viraram para olhar quem era, uns ficaram olhando enquanto outros apenas voltavam a sua atenção a outra coisa e voltavam a falar. Ele se aproximou, abrindo caminho entre as pessoas e tocou um ombro meu calmamente. Virei-me e o vi, mais lindo do que nunca, iluminado pelo sol quente de meio dia e quinze.
- Desculpe-me não ter tido coragem antes - ele disse baixo. Entreolhamo-nos e suspiramos quase juntos. Rimos baixo por causa do ato e continuamos quietos. Apontei para o vidro e depois para ele, só para ter a certeza absoluta e concreta de que fora o dito cujo - Sim, pessoalmente - ele disse calmo e quase pirei. Ele tinha escrito no vidro do portão do colégio. Era maluco?! Quando abri a boca para dar uma bronca daquelas nele, na frente de todo mundo, interrompeu-me - Pedi permissão. Fique tranqüila - sorri e dei um passo incerto para frente.
- É lindo.
- Obrigado - ele sorriu e, quando vi, eu estava com o rosto grudado no peito dele. Tinham me empurrado. , filha de uma... Ele passou o braço pelas minhas costas e fechou os olhos.
- Desculpe. Minha amigas não gostam de “enrolação” amorosa - falei baixo e ele riu de leve.
- Elas a empurraram? - sinalizei que sim - Que coisa... Um dia pegamos todas elas no empurrão, então - ri alto. Ele viajava. Sério.
- Podemos sair daqui? Sinto-me encabulada com todo mundo olhando - escondi o rosto no peito dele e ri de um jeito fofinho.
- Com todo o prazer - ele passou braço pelo meu ombro e me deu um selinho. Abriu a porta esquerda da frente e entrei, jogando a mochila na parte de trás do carro. Abaixei o vidro quando ele ligou o carro e sorri para as meninas, acenando. Elas ainda me olhavam incrédulas. Fechei o vidro e peguei o GPS, mexendo rapidamente no mesmo. Depositei-o no seu lugar e mexi na mochila, procurando o meu querido iPhone de capa verde limão. Sorri e digitei rápido uma mensagem. Vi o envio concluído e coloquei o celular entre as pernas - Para onde vamos?
- Para onde você quiser, príncipe.

Alguns dias tinham se passado desde o acontecimento no colégio. Eu tinha semi virado popular e até que era legalzinho. As pessoas me deixavam furar a fila da cantina, pediam para tirar algumas fotos, meu orkut e meu twitter subiram os números, o meu formspring ficou com a inbox lotada e... Eu quase tinha seguranças pessoais atrás de mim. Era até que engraçado por um lado. Faltei no colégio para passar o dia com o mais lindo do mundo na praia e rodando loucamente pelo Rio de Janeiro. Falei. Minha mãe nunca soube e também nunca vai saber. Subornei um dos seguranças brasileiros até eles ligarem para o colégio, fingirem ser o meu pai e dizerem que eu estava com trinta e oito graus de febre. Sou danadinha, hehehe.
Peguei o GPS do carro dele e brinquei com o aparelho.
- Então... Mais algum lugar que gostaria de ir antes do almoço? - ele parou no sinal e sorriu para mim. Apertei uma bochecha dele.
- Na verdade... Eu gostaria de buscar algumas amigas minhas. Quero que elas o conheçam - retribuí o sorriso.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Então está bem - ele pegou no me queixo e me beijou. É, beijou. E beijou legal, porque correspondi. Porra, virei vilã assinado agora - Terminei com a - arregalei os olhos e quase dei um beijo desentupidor de pia no menino - Semana passada, quando me dei conta de uma coisa.
- Do quê? - continuei com os olhos arregalados e me afastei de leve dele.
- De que não é ao lado dela que eu me sinto livre, preso e feliz ao mesmo tempo - apertei forte as bochechas dele - Falando nisso, volto semana que vem para Londres – olhei-o triste. Nada era perfeito e o maravilhoso nunca dura para sempre. Droga de vida - Que cara é essa? Você acha mesmo que eu falaria isso sem motivos? Os meninos vão no domingo e tenho duas passagens para segunda de manhã.
- E o que pretende com elas? - arqueei uma sobrancelha, segurando o riso e já entendendo as intenções dele, porque nunca fui otária.
- Quantos anos você tem mesmo? - ele mudou de assunto. Peguei uma caneta e escrevi o número dezessete na mão dele. Eu via as ruas conhecidas que davam para o colégio passarem pela janela do carro e me sentia nervosa - Acabei de perceber que sou cinco anos mais velho do que você - ele sorriu debochado.
- E do que isso importa?
- Na verdade, em nada. Só que nunca pensei que eu iria me apaixonar por alguém cinco anos mais nova do que eu e de outro PAÍS.
- Olhe pelo lado bom: eu podia ser de algum dos pólos e ter trinta anos de diferença.
- Só se fosse de você para mim. Vamos com calma - nós dois rimos, pensando, lógico, nas várias possibilidades - Tenho uma proposta a lhe fazer. É coisa séria - olhei para ele com cara de “lá vem...” e o mesmo riu - Ei, não me olhe assim. Falo sério! Pense comigo: estamos em julho e você entra de férias. Não é mesmo?
- Sim, semana que vem. Nem acredito - sorri boba. Caraca, nem tinha me tocado ainda. A felicidade estava a poucas semanas de distância. Ai, ai, ai, mal podia esperar - FÉRIAS! E aí ano que vem acabo o colégio.
- Você, eu e Londres. Por um mês inteiro - ele me olhou sério e quase voei no pescoço dele - Com tudo pago - coloquei as mãos no rosto e levantei as sobrancelhas – Responsabilizo-me por qualquer dano. Até por unha quebrada, se precisar.
- Não pode ser verdade – sentei-me direito no banco e cruzei os braços.
- Abra o porta-luvas e veja se estou brincando. As passagens já paguei e é só o começo.
- Você não existe - abracei-o pelo pescoço o mais forte que eu conseguia. Ele riu, tentando se concentrar na direção e não perder a mesma. Eu estava feliz demais para pensar em qualquer outra coisa. Dei um beijo longo na bochecha dele.

virou o volante e o carro se mexeu para virar à direita. Olhei para frente e pude ver o portão do colégio. Do colégio que eu tinha faltado à aula, hehehe. Algumas pessoas já estavam saindo, então me mexi, tirando o cinto. Peguei o celular e dei um selinho nele. Eu podia, convenhamos.
- As meninas devem estar descendo. Já venho. Não demoro.
- Vou ficar observando você - ele piscou e revirei os meus olhos. Como se ele fizesse aquilo nunca...
Saí do carro, rindo baixo. Olhei para os lados e atravessei a rua calmamente. Algumas pessoas ficavam me olhando. Deviam estar pensando besteiras, porque faltei à aula e apareci no final dela no carro do gringo bonitão. Só podiam. Parei em frente ao portão e disquei o número da minha mãe, colocando o celular logo em seguida no ouvido. Avisei que iria almoçar fora com as meninas e que talvez fosse me deixar em casa. Senão, eu ligaria para ela. Ela se animou e concordou. Desliguei o telefone, já avistando as abobadas das três meninas descerem as escadas. Assim que me viram, aceleraram os passos e quase derrubaram sete e mataram um, que ainda por cima era bonito, diga-se de passagem. As três pararam na minha frente e apenas as puxei para fora dali antes que a diretora me visse, rs.
- Falem, putinhas - sorri. gritou o mais alto que podia, abraçando-me (leia-se: enforcando-me). Josey e Ella apenas me abraçaram sem muito escândalo e as levei para fora do alcance do portão do colégio - Quero apresentar uma pessoa a vocês - elas rolaram os olhos, já sabendo quem era - Uma não. Acho que na verdade são quatro, mas no momento vocês só merecem conhecer uma - Josey me deu um pedala - Vocês vão para onde agora?
- Vou para casa. Sei lá. Tínhamos combinado de nos juntar hoje e bolar um plano para desmascarar você com essa parada, mas como o problema já foi resolvido... Faremos nada, a não ser que Josey e Ella tenham marcado outra coisa - olhamos para as duas e elas negaram - Então vamos almoçar fora? - ela me perguntou e concordei. A três se animaram e Blink tocou alto no meu bolso.
- Esperem por um segundo. Sou pop e tem alguém me ligando - recebi línguas e atendi ao telefone enquanto elas ligavam para as mães - Oi.
- Er, eu me enrolei. Pode vir me ajudar? - rolei os olhos. Não era possível que o retardado tinha se enrolado no próprio carro -Não foi no carro se você estiver pensando isso - acabei rindo. Era exatamente o que eu tinha pensado. - Saí para ir atrás de você porque eu estava impaciente lá dentro sozinho. Estou no Brasil. Quero sair! Não a encontrei na porta do colégio e, quando vi, umas fãs loucas já estavam me cercando e agora estão quase me engolindo. Salve-me.
- E cadê você? - olhei em volta, recebendo os olhares curiosos das meninas. Apontei o carro para elas – Esperem-me ali que já volto. Ok?
- Aqui na esquina, final da rua. Vire a cabeça para a direita... Isso! Estou vendo você. Olhe-me aqui. Estou acenando - ele sorriu idiota e acenei baixo para ele, indicando que já estava indo. Era só o que faltava... Ter que salvar o rockstar no meio da rua. Cadê os brutamontes dele nessas horas?
Corri até ele. O moço sorriu, vendo-me perto da roda de meninas que se formava em volta dele. Umas tentavam tirar fotos de si mesmas com ele, outras pediam autógrafo, umas gritavam até não poder mais... Uma loucura. Cada vez juntava mais menina louca por ele e gente para ver o que estava acontecendo. Pedi licença. Adiantou nada. Eu era apenas uma contra mil fãs bem maiores e mais peitudas do que eu. Ele passou a mão por cima de algumas delas e pegou no meu braço. Levou-me para perto, pondo-me na sua frente, como se eu pudesse protegê-lo. Tive que rir. A imaginação dele era ótima. Querido, hello. Não sou um dos seus brutamontes, dã. Tinha que fazer alguma coisa, então acabei por abanar os braços, tentando não acertar alguma delas e ser levada à justiça por agressão a menores, e falei – Ok, meninas. Por favor, tentem fazer uma fila organizada, porque ele tem que ir embora! - elas não obedeciam muito e fui perdendo a paciência. Alguns minutos depois ele pegou no meu braço, agradecendo às fãs e deixando algumas ali. Correu para o outro lado da rua, entrando rápido no carro pelo banco do carona, o esquerdo, já que seu carro viera da Inglaterra com ele (gente humilde). Parei perto das meninas e elas sorriram para mim. Abri a porta para elas.
- Entrem aí! - as três quase caíram para trás e eu teria ficado rindo da cara de boba delas, mas uma multidão de meninas loucas pelo meu, veja bem, meu homem, estava vindo e eu precisava entrar no carro também. Fui a última a entrar. Bati a porta e ele arrancou com o carro o mais rápido que pôde. Alguns metros depois, já longe das fãs, paramos em um sinal.
- Caramba, que tenso – o cara ajeitava o cabelo e passava rápido as mãos no rosto. Dei um tapão na mão dele e ele parou, analisando a roupa e tentando ver se suas costas ainda estavam inteiras e a blusa, sem cortes ou, sei lá o que ele procurava - Nossa, nem acredito que estou vivo - rimos e me virei para as três, mandando-as ficarem um pouco para frente. Cutuquei e ele entendeu que era para ver as gurias. Virou para trás e sorriu – Olá. Bem-vindas ao meu carro. Desculpe a falta de educação. É que o negócio ficou tenso lá trás - ele acelerou, vendo o sinal verde. - Nunca mais saio do carro. Nem quando for buscá-la agora - apontou para mim e apenas ri. Até parece que eu tinha culpa de alguma coisa - Ei estou com fome. Onde vamos comer?
- Onde vocês querem comer? - elas deram de ombros - Escolham aí, que vamos esperar - o carro subiu em uma calçada e ele desligou o motor. Meu celular apitou uma nova mensagem e o peguei para ler. Acabei por mexer freneticamente nele enquanto respondia. Ele pegou meu celular e olhou feio - Quer devolver? - ele balançou o celular, querendo saber quem era - Meu amigo. Agora devolva, que preciso acabar de responder.
- O que está escrito aqui? - ele tentava ler a mensagem. Até parece que ia entender. Ele ficou puto e deletou a mesma. Dei de ombros. Era nada muito importante mesmo - As vezes odeio o fato de você ser brasileira e falar duas línguas.
- Mas eu podia ser inglesa e aprender outra língua do mesmo jeito - peguei o celular de volta e reescrevi a mensagem. Ele o pegou de novo e bati os pés. Apertou o botão de cancelar o envio - Ei! Que direito você tem de fazer isso?
- Todo o direito. Não gosto dos seus amigos - batucou alguma música coisa no volante, ainda com o meu celular na mão, ignorando o que eu dizia. Dei um soco nele e então me olhou.
- Dá para parar de me ignorar? Estou falando com você! Está parecendo aquelas criancinhas de cinco anos bobinhas - ele riu e cruzei os braços, olhando para a frente. Ele virou para olhar as meninas.
- Imaturo eu ou ela?
- Os dois - respondeu e elas riram - Já decidimos. Vamos ao Gula Gula.
- Como se pronuncia isso? - ele perguntou inocente e elas caíram na gargalhada. Cutucou a minha perna e tirei a mão dele dali - Vamos ao lugar que as suas amigas querem. Pode? - concordei. Senti outra cutucada e bati no braço dele.
- Pare de cutucar, demônio.
- Você me ama - ele riu e ligou o carro. Entregou o GPS para mim - Veja aí o mais próximo. Você sabe que não posso ficar no mesmo lugar por muito tempo, a não ser que seja no hotel.
- Venha cá – disse, mexendo no GPS - Cadê os seus trogloditas? Digo, seguranças? - ele apontou para trás e fez cara de “você se drogou?” - E por qual motivo não estavam o cercando quando você saiu do carro?
- Eles ficaram presos em um pequeno trânsito.
’s POV
Eu ainda estava meio na lua pelo que tinha acontecido. Primeiro descobrimos que felizmente nossa amiga não se drogava de verdade. A droga dela na verdade era uma pessoa. A mesma pessoa que tinha ligado e com quem eu tinha conversado. Essa pessoa era o número dois da escala e era um dos meus ídolos. Uma pessoa que eu amava, que eu idolatrava. Ninguém mais, ninguém menos que . Ai Deus. E ainda entramos no carro dele sem nem pedir licença. Ele deve ter nos achado umas sem educação. Credo, precisávamos nos desculpar.
Fomos apresentados e logo a decisão de onde iríamos almoçar ficou para as três do banco de trás. Eu, Ella e Josey. Acabamos por decidir, no meio da briguinha imatura dos dois por uma mensagem de celular, que seria no Gula Gula. Não deviam ir muitas fãs para lá e quase ninguém passaria lá ou mesmo pensaria: “aposto que o do McFLY estará no Gula Gula”.
Ele estacionou o carrinho humilde dele. Humilde tirando que mandou trazer o carro porque no Brasil não fabricam tipos com o volante na direita. Aviso logo. Saltamos do monstrinho, deixando as mochilas lá dentro mesmo. Ninguém mandou levar... Seguimos os imaturos até a porta. Mega levei um susto quando vi não sei quantos homens de preto nos cercando. Eu não fazia idéia de há quanto tempo estava saindo com , mas provavelmente era bastante, uma vez que ela nem se ligou nos caras. Se a conheço, ela seria a primeira a tomar um susto e a puxar meu braço. Medrosa. O imaturo-mor tentou se comunicar com a mulher da porta e rimos. Ele fingiu que nos olhou feio e disse que, se ríssemos de novo, pagava nada. Demos de ombros, mas só porque tínhamos dinheiro. Falo mesmo. Se não tivéssemos, não iríamos rir dele mesmo!
Entramos depois de Josey se adiantar e falar com a mulher. Se não me engano, ela comia sempre lá e já se conheciam, então acompanhamos a mocinha da porta até uma mesa para seis pessoas mais no fundo e pegamos os cardápios.
Depois de decidirmos o que iríamos comer, o rockstar foi ao banheiro e não perdemos tempo. Fui a primeira a falar.
- Cara, como assim é ele?
- Vai me perguntar? Nem eu mais me lembro de como acabei me envolvendo com ele. Só sei de um babado fortíssimo que vou contar, mas vocês vão ficar de bico calado - olhamos para , famintas por um babado fortíssimo. Pelo visto, era dos grandes, já que ela se abaixou e fizemos o mesmo.
- Ai meu Deus, o que vocês fizeram? - Josey arregalou os olhos, já pensando besteira. Ella deu um pedala em Josey e rimos.
- Eu nada. Ele que fez - arregalamos os olhos. OMG, o que vinha pela frente? Ela não podia estar grávida, Jesus! Se bem que, faltando três ou quatro meses para terminarem as aulas, ela podia acabar o ano e a barriga ainda ia ficar pequena e... Ouvi-a interrompendo meus pensamentos com um pigarro.
- Terminou com a - abrimos as nossas bocas, espantadas. GOD! - Semana passada.
- AMARROTE-ME PORQUE ESTOU PASSADA! COMO ASSIM? - dei um pedala em Josey e ela balançou a cabeça, ficando abaixada com a cara quase na mesa que nem as nossas, de novo, e sussurrou - Como assim?! - nossa amiguinha deu de ombros e arregalei os olhos. Josey voltou a falar - E você fica nessa calma? Depois dessa eu dava para ele - Ella bateu na própria testa e rimos - O que é, Ella? Dava mesmo e até parece que não faria isso também, se fosse o seu preferido. Ok?
- É mesmo. Até eu que sou dava para o . Fale sério... Ele terminou o namoro de dois anos com uma pela qual ele era de quatro desde os quinze anos por sua causa! SUA!
- E sabe o melhor? Sei que foi por minha causa e tal, mas não quero me gabar. Sempre achei que ia, caso ele fizesse isso – vimos o homem de longe parado, dando autógrafo para uma menininha e depois tirando foto com ela - Tenho outra notícia. Ouçam rápido – viramo-nos para ela, mas não me contive.
- Já ficou grávida?
- Engraçadona você - recebi um dedo - Fizemos nada. Só nos beijamos algumas vezes - antes que eu precisasse perguntar quantas, elas respondeu sem demoras - Garanto que foram menos de dez.
- Que devagar, uf - rolei os olhos e foi a vez de Josey de me dar um pedala dos bem dados.
- Então... Qual é a big novidade, tirando essas de agora? - Ella sorriu.
- Ele me chamou para ir com ele para Londres agora em julho. Vai pagar absolutamente TUDO que eu gastar lá. Responsabiliza-se até por unha quebrada. Até as passagens ele já comprou - apontei o dedo para frente e para trás, querendo indicar que eu estava perguntando se era de ida e volta as passagens - Só de ida, por enquanto - ela sorriu e eu e as outras duas gritamos, tentando abafar o grito um tempo depois.
- Cara, vai nascer virada para a lua assim lá na PQP! - bati fraco na mesa e fiquei com vontade de bater nela, hehehe - Vai me apresentar para o , né? - fiz cara de cachorro que cai do caminhão e ela rolou os olhos, indicando que sim. Quase dei outro berro, mas ela colocou as mãos na minha boca.
- Fui com ele pegar o no aeroporto semana retrasada - eu dei um tapão nela. Filha da mãe, nem tinha me contado! O bonitão voltou e nos endireitamos na mesa.
- Gosto daqui. Gosto mesmo - ele se sentou e ficou observando em volta - Conversei com um cara aí legal; o da loja de imóveis ali do final da rua. Ele me deu uns catálogos e vi uns apartamentos muito bons aqui. Nem são tão caros. Penso seriamente em comprar um e trazer para cá - babei assim como as outras duas, não acreditando, e deu de ombros. Posso bater nela?
- Você já me disse isso uma vez.
- Mas as suas amigas não sabiam - ele nos olhou - Né? - concordamos e ele sorriu... Para nós! Awn - O que acham da idéia?
- Acho legal - Ella respondeu rápido.
- É boa, mas sei lá... Tudo seu é lá, né - Josey mandou a real e nem tive coragem de responder, porque senão eu sabia que ia sair um “fala isso e convença o seu amigo a fazer o mesmo!”. Rs.
- Elas querem que eu fique lá só para eu não poder vê-la mais. Viu que tipo de amigas você tem? - ele olhou para , fingindo estar sério, e ela riu enquanto o garçom colocava os nossos pedidos na mesa - Você só devia andar comigo.
- Claro. Com você e o seu ego - rimos e começamos a comer. Nada melhor e mais normal do que você almoçar com o seu ídolo. Ah, a vida é linda!


Capítulo seis


Sábado, 17:00. - Dougie’s POV

Ajeitei-me, a fim de ver melhor o pôr do sol. Encontrava-me sentado na areia com entre as minhas pernas. O mar estava baixo, ajudando na visão o sol se pondo. A praia estava sem muita gente, até porque fomos a um lugar mais deserto para não sermos perturbados. Abracei-a e apoiei meu queixo no ombro direito dela.
Depois da proposta da viagem, resolvi que iria fazer tudo certo. Então disse que queria marcar um almoço para conversar com os pais dela. O almoço foi na verdade na casa dela, já que sua mãe insistiu para que eu fosse lá. Conversei com os pais dela, fui totalmente aberto com os dois. Contei sobre as minhas intenções e tudo mais. Deixei com eles todos os meus dados. Todos os possíveis: da gravadora, da casa de minha mãe, da casa dos outros três, da minha casa e até do meu empresário. Basicamente minha vida estava entregue a pessoas que, na real, eu nem conhecia (apenas a filha deles). Eles poderiam espalhar informações, acabar com a minha paz e paciência... Fazer o que quiserem. E quer saber? Correr o risco de vez em quando vale a pena.
A decisão ficou apenas com eles e eu rezava para ser positiva. Afinal, tinha duas passagens e eu realmente queria que a segunda fosse usada. Eles iriam avisar à quando a decisão fosse tomada, então agradeci e saí da casa deles naquele dia.
Dois dias da minha conversa com eles e um dia para a viagem.
- Falou com os seus pais?
- Falei. Quanto tempo mesmo de viagem que você falou?
- Um mês. Só para eles irem acostumando - rimos e ouvi as ondas pequenas quebrando na beira da praia. Ah, como eu queria que Londres tivesse dias como aqueles. Queria muito, de verdade. Ia ser o paraíso. Ou talvez não, porque nenhum lugar se compara ao Brasil.
- É. Eles deram a resposta - ela falou um tempo depois e eu já estava nervoso para saber se eu tinha convencido os pais da menina ou não. Eu era um garoto legal. Não ia seqüestrá-la e nem nada do tipo. Esperava que tivesse passado essa mensagem a eles.
- Então você vai comigo ou vai ficar?
- Passamos na minha casa que horas para pegar as malas? - ela me olhou, sorrindo, e a abracei forte.
- Não acredito! – beijei-a estalado e me levantei, vendo que o sol se tinha ido quase por inteiro - Não acredito! Não acredito! Vou levar você para conhecer a Inglaterra inteira! Vamos à London Eye, que sei que é seu sonho.
- Ai meu Deus - ela escondeu seu rosto entre o meu ombro e o meu pescoço - Vou MESMO para Londres!
- Vai e com o melhor guia de todos - dei meu braço a ela - Agora vamos para a sua casa arrumar as malas. Partimos em um dia.
- Mal posso esperar.

Eu estava elétrico, animado e nervoso ao mesmo tempo... Tudo. Mal conseguia dirigir, então fui seguindo os passos que a mulher do GPS falava. Eu seria nada no Brasil, se não fosse por aquele aparelho. Se bem que ele de vez em quando dava umas erradinhas básicas... Mas para a minha felicidade, eu estava reconhecendo as coisas, os lugares, os prédios, então conseguia chegar sem nem notar em poucos minutos depois. Passava mentalmente tudo o que eu precisava fazer naquele dia e no dia seguinte. Os outros deveriam estar no aeroporto naquela hora, então aproveitei e fui curtir o meu último dia naquele maravilhoso país. A nossa estadia foi a maior de uma banda em um país. Acho que em todo o mundo. Não é toda banda que é abençoada como a minha foi e ficou por quase um mês em um país maravilhoso e glorioso como aquele.
Parei o meu Audi prateado modelo novo com placa diferente um pouco distante da porta do prédio dela. Dei um toque para o celular de e desliguei o carro, esperando-a. Um tempo depois ela bateu na porta do vidro do motorista e desapareceu, abrindo a porta do carona. Entrou sem cerimônia alguma e se sentou, já se acomodando.
- Ei - dissemos juntos e acabamos por rir. Puxei-a para um selinho e me ajeitei no banco, brincando com o celular na mão - Tudo pronto? - ela indicou que sim e sorri - Estou tão feliz por você ir comigo.
- Eu também. Não consigo dormir direito desde que meus pais disseram que sim - ela mexeu no rádio e encontrou nenhum sinal - Então... O que vai fazer com esse carro?
- Ele vai ser levado daqui a pouco - passei minha mão pelo volante - Por isso quis vê-la. Tenho que deixá-lo no porto e não sei voltar depois.
- Por que não pediu para o Fletch ou alguém da produção ir com você? Eles mesmos poderiam ter deixado seu carro lá.
- Eles devem estar embarcando agora. Os únicos da produção que sobraram são um cara da iluminação e um que embarca os nossos materiais, como a bateria, guitarra, baixo... Essas coisas. Aposto que eles não sabem onde é o porto também. - rimos e olhei as horas. Acabei por ligar o carro e ela me olhou confusa - Vamos voltar em uma hora. Prometo - ela fez sinal para que eu esperasse e obedeci.
- Não sei - entreguei meu celular a ela, que rejeitou e pegou o próprio, discando o número de casa, esperando - Mãe, oi. Não, não, não. Estou dentro do carro aqui na nossa rua. Estamos conversando mesmo. Vamos dar uma saída, mas voltamos em uma hora. Ok? Uma hora. Juro. OK. Ligo quando eu estiver chegando. Tchau - ela desligou e sorriu para mim, enquanto colocava o cinto. Acelerei aos poucos e manobrei o carro.
- Sabe... Essa viagem vai ser o máximo – comentei, acenando para o guardinha na guarita.
- Se vai... - ela sorriu, olhando as árvores e capturando tudo o que podia. Não é como se ela estivesse se mudando, mas é que era um mês, do nada, para outro país. Eu faria o mesmo também. É.

Segunda-feira, 9:30. Aeroporto.

Saí do táxi com os óculos escuros no rosto e a mochila nas costas. Paguei o homem e peguei meu celular, já o colocando no ouvido. Entrei no aeroporto e fiquei com as passagens na mão, procurando onde era para eu ir. não atendia e comecei a suspeitar de que ela ia desistir. Não, não, não. Ela não ia. Liguei mais uma vez e deu desligado ou fora da área. Ai meu Deus! Não estava acontecendo aquilo.
Enquanto eu tentava me encontrar naquele aeroporto gigante, tentando pensar positivo, uma garotinha veio até mim e pediu um autógrafo. Mas, porra, nem de óculos estou disfarçado? Caramba! Autografei o celular dela, um papel, sua blusa, e coloquei o celular no ouvido de novo. Chamou. Yeah, ela não tinha desligado o celular. A menina não atendeu de novo, então fui até uma mulher, mostrando as passagens. Ela sorriu e me indicou o setor. Fui até lá e meu celular tocou. Eu jurando que era ela. Nada. Era meu empresário perguntando que horas eu ia embarcar. Quase o mandei para a PQP e desliguei depois de lhe passar as informações. Minha mochila começou a pesar e resolvi me virar para trás para ver se tinham aberto e enfiado um elefante ali. Quase tive um treco quando vi que estava segurando a mochila com uma cara de cansada.
- Porra, que susto! – abracei-a - Por que você não atendeu ao celular? Liguei umas mil vezes já.
- Estou há um tempão ligando também! - ela riu - Acho que ligamos na mesma hora. Acontece.
- Estava começando a achar que você tinha desistido.
- Nunca! - ela arregalou os olhos e então a abracei. Não pude fazer o que eu queria, infelizmente. Se bobear, tinha alguma fã minha lá, tirando aquela em miniatura. A notícia do término do meu namoro nem tinha saído ainda. Não queria pagar de infiel pelo mundo, não - Cadê a sua mala?
- Já foi ontem - ela sorriu e nos sentamos em uns bancos, esperando. , a amiga meio escandalosa e emotiva de , chegou, brotando do nada com Josey e Ella (é, tive que decorar o nome das criaturas) e fazendo a maior cena. Achei engraçadão. Parecia que a menina estava indo embora para sempre.
- Ai cara, não acredito que você está me deixando por um mês! A gente tinha combinado de ir à praia nas férias. Eu ia quebrar o seu ritual de um ano e meio sem praia! - Ella disse toda meio chorosa. Rolei os olhos, rindo dela.
- Ah, não fique assim. Vou voltar mais branca e aí quem sabe, né...? - as duas riram, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. PQP, brasileiro é tudo meio assim mesmo? Jesus...
- Vou sentir saudades. Muitas, muitas, muitas, mesmo - Josey, a menina do cabelo ruivo, abraçou-a forte e passou o braço pelas costas dela, sorrindo. Eu olhava para o relógio e rezava para não nos atrasarmos. Meu empresário me mataria caso algo acontecesse e eu me atrasasse.
- Nunca achei que diria isso, mas também vou.
- Ah cara, você não vive sem mim!
- Ou não, né?
- Veja se traz alguma coisa para mim! - (interesseira) sorriu - Pode me trazer a cueca do ? Ele vai nem perceber... - ela sussurrou e riu alto. Fingi que ouvi nada e continuei na minha. Eu teria que contar aquilo ao . Era hilário e íamos nos divertir muito. Tirando que ter algo a mais para sacaneá-lo nunca foi tão bom. E uma coisa daquele nível... Hm, melhor ainda.
- Que maníaca! – concordo, hein - Não prometo, mas faço o possível - ela se virou para a mãe e olhei o relógio de novo. Senti um cutucão e sorria para mim. Balancei a cabeça meio baixa e dei um abraço nela. Educação falando alto, né?
- Cuide-se. Ouviu bem? Dê notícias, por favor, e olhe lá o que você vai fazer, hein! - a mãe dela olhou dela para mim e de mim para ela. Acho que ela estava achando mesmo que eu ia desvirtuar a filha. É, quem sabe não fosse uma má idéia... Brincadeira. Prometi cuidar da menina e zelar por ela. Tenho que cumprir as minhas promessas, senão perco a confiança da quem sabe futura sogrinha, né? Hehehe – Quero você inteira em um mês. Sem atrasos!
- A passagem de volta já está paga. Não está? Então pronto. Vou sentir a sua falta, mãe. Vou ligar sempre que der.
- Divirta-se - falando isso, as duas se abraçaram e percebi que Josey me olhava meio sem graça. Chamei-a com o dedo e a empurrou para perto de mim. Abracei-a e ela sorriu. apareceu com uma câmera e começou a tirar várias fotos. Comecei a achar chato.
- Pai, obrigada. A vocês dois, pela confiança. Volto em um mês mais feliz do que nunca. Prometo.
- Espero não me arrepender de ter autorizado essa loucura - o pai dela olhou de rabo de olho para mim e fiquei duro. Ele era mais linha dura. Estava começando a me sentir intimidado com os olhares dele.
- Ele vai cuidar de mim. Pode deixar - balancei a cabeça, afirmando, porque ela falou em inglês, então pude entender. Depois sorriu e abraçou forte o pai.
- Ah cara, vá se ferrar. Você vai para Londres com um rockstar e eu vou ficar aqui no Brasil com os meus pais - continuava a tirar várias fotos e, em uma dessas, ela grudou em mim e tirou a foto. Peguei a máquina da mão dela e tirei uma foto dela toda torta, recebendo um tapão e uma cara feia - Já disse que você nasceu virada para a lua hoje?
- Não, mas obrigada - acabei por abraçar Ella e olhei de novo o relógio. Meu celular apitou e cutuquei-a, indicando que tínhamos que ir – Deixe-me só dar um último abraço nelas? - acenei que sim com a cabeça e, enquanto ela abraçava as amigas e falava coisas que eu não entendia, estiquei a mão para o pai dela e ele a apertou. Fiz o mesmo com a mãe dela, mas ela acabou por me puxar para um abraço. Fiquei meio estático, mas retribuí. chegou perto, rindo um pouco, e peguei sua bolsa e sua mala enquanto ela terminava de abraçar os pais. Os brasileiros gostam muito de contato. Er...
Quando realmente precisávamos ir, puxei-a devagar enquanto ela proferia as últimas palavras antes de embarcar comigo para a melhor viagem da vida dela.
- Tchau gente. Amo muito, muito, muito vocês. Quero todas ligadas no MSN vinte e quatro horas por dia. Webcams e microfones. Mãe, o telefone nunca ocupado, hein?!
- Pode deixar - todas responderam juntas e ela mandou um beijo com a mão.
- Boa viagem. Nós amamos você! - , sempre muito emotiva, disse, segurando-se para não chorar e a cara dela foi hilária. Sério.
acenou e parou ao meu lado. Pousei minha mão direita nas costas dela, empurrando-a até uma mulher que estava parada em um canto. Assim que mostrei as passagens para a mulher, ela me indicou um corredor vazio, onde outra mulher nos esperava, então indiquei à minha acompanhante que devíamos mesmo ir. Ela fez um último coração com as mãos e depois se virou, segurando forte o meu braço e me seguindo. Eu seguia a outra mulher pelo corredor.
- Você está bem? - entreguei a bolsa de volta para ela, mas continuei com sua mala.
- Vou ficar. Não se preocupe - ela sorriu super forçado e não gostei daquilo. Entramos na pista de vôo e já estávamos precisando falar mais alto.
- Não vai se arrepender. Vai? - parei no meio do caminho, olhando-a sério. Eu não podia simplesmente viajar com alguém e essa pessoa se arrepender de tudo. Eu não estava fazendo aquilo apenas por mim e queria que o sentimento fosse recíproco. Queria sentir a gratidão, queria ao menos poder perceber esse sentimento da forma que fosse. Nem com um brilho no olhar só de ver a terra inglesa pela janela.
- Nunca - ela sorriu e me senti um pouco mais confiante. É, eu estava fazendo a coisa certa e não iria me arrepender.
A outra mulher me indicou a escada e deixei a mala com ela. Ela era bonita. Deixava até mais se precisasse, hehehe. OK, parei. Sou um homem fiel. Ou quase isso. Vá... Estou tentando.
- Não vou deixá-la se arrepender - passei um braço pelas costas dela e olhei a escada - Pronta? - ela sorriu, confirmando freneticamente com a cabeça - Londres, aí vamos nós! - ri retardado e dei um passo para trás, a fim de deixá-la entrar primeiro.
- Você primeiro - ela imitou o meu gesto - Quero dar o meu último adeus por um mês do meu país - ela sorriu, subindo a escada atrás de mim, já que eu realmente não podia perder mais tempo. Ela parou na porta, onde uma aeromoça bonitinha sorria. Quando achei mesmo que ela ia entrar, fui enganado. Ela abriu os braços e gritou - TCHAU BRASIL! VOLTO EM UM MÊS! CUIDE DE TODO MUNDO POR MIM! - não agüentei e comecei a rir do que ela estava fazendo. Não que eu tivesse entendido o que ela disse, mas era engraçado. Ela devia estar dando tchau... Sei lá.
Levantei-me da poltrona e a puxei, já que a aeromoça estava super sem graça de fazer aquilo. Ela reclamou, dando um tapa na minha mão e me fazendo largar o seu braço - Podia ser mais gentil? Estou saindo do meu porto seguro por um mês.
- Você é muito dramática – vi-a se sentar, olhando o braço para ver se eu tinha machucado. Pela primeira vez, vi-a olhando ao redor e sorriu logo que notou onde estava.
- Uh, primeira classe. Desculpe aí, humildade.
- Isso não é a primeira classe de um avião - ri da ingenuidade dela. Coitadinha - Isso é um jatinho, lerda - bati na testa dela e ela riu.
- Nossa, olhem para mim. , o humilde.
- Cale a boca - tampei a boca dela com a minha mão e ela falou meio embolado.
- Ei, posso fazer uma pergunta chata?
- Pode, mas, se eu não gostar, jogo-a pela janelinha - apontei e a janela e ela arregalou os olhos, sentando-se firme no banco e colocando o cinto. Não. Ela não acreditou. Pare - Foi brincadeira. Não precisava levar a sério. Ande, fale.
- É que assim... - ela me olhou, tentando fazer com que eu a entendesse, mas na verdade entendi droga nenhuma - A ...
- Ah, sim - acendeu uma luz na minha cabeça, he - Já comuniquei a ela tudo e a essa hora as coisas dela devem estar longe da minha casa. Em falar nisso, você ficará hospedada lá. Mandei o mandar um pessoal arrumar a casa para a sua chegada. Sabe como é... Minha casa é arrumadinha - resolvi mudar de assunto, porque tanto eu quanto ela não ficávamos confortáveis com o assunto “minha atual ex-namorada” - Olhe para fora e veja – vi-a olhar pela janela e sorri - Você acaba de sair oficialmente do Brasil - levantei uma mão, super querendo brincar de Hi-Five - Toque aí.
- Yeah! - bateu sua mão contra a minha, animada - Está realizando o meu sonho. Sabe o que você é para mim? - indiquei com a cabeça para ela continuar. Eu queria saber - Um nada. Não consigo acreditar que você exista mesmo. Só posso estar sonhando.
- Você não está - peguei na mão dela - Essa é a melhor parte. Agora, se não se importa, vou dormir um pouco. Estou cansadão - ela confirmou. Deitei a cabeça e fechei os olhos, ainda com a mão na dela. Em questão de segundos, ouvi meu nome ser chamado, acordando-me do meu sono. Ai meu Deus, eu queria dormir - O que foi? – perguntei, ainda de olhos fechados.
- Fique acordado - fiz um barulho com a boca e ela continuou falando - Não quero ficar acordada sozinha.
- Mas tem o piloto, co-piloto e a aeromoça – respondi, “lerdando”. Estava morto de sono.
- Mas eles não são você - ela sacudiu a minha mão - Vá, acorde.
- , durma também. São doze horas de viagem. Por favor - ela continuou inquieta na cadeira e eu não estava a fim de cuidar de criança. Então dei uma bufada mental e comecei a revirar a mente atrás de coisas que ela pudesse fazer para passar o tempo e não me acordar mais - Faça um desenho - sou um gênio. Admita aí.
- Não tenho cinco anos - eu sabia que ela tinha rolado os olhos e abri apenas um olho para ver se ela estava na posição que sempre ficava depois de rolar os olhos. Confirmado. Ela estava. Ri baixo e voltei a fazer os olhos.
- tem vinte e três e faz desenhos toda hora. E são bons.
- Mas sabe desenhar. Eu não.
- Então... Sei lá. Escute música.
- Mas não posso ligar o celular.
- Pode, sim. Você está em um jatinho. Fique tranqüila. A barreira é menor - ela apertou minha mão toda feliz e a senti se mexer na cadeira dela. Quer dizer, na verdade não podia, mas, cara, eu queria dormir. Ou seja, se algo acontecesse, seria culpa minha. Eu quebrando minha promessa, rs. Os pais não deviam confiar em pessoas tipo eu.
- Senhora, não pode ligar o celular - a aeromoça estraga-prazeres tirou toda a graça do meu plano para voltar a dormir e ao mesmo tempo salvou nossas vidas. desligou o celular e bufou.
- Por que estamos sentados separados?
- Porque esse jatinho não tem dois acentos juntos - falei o que era óbvio e ela fez cara de quem tinha entendido Bhaskara de primeira.
- Gente atrasada - passou uma mão no meu cabelo - Volta a dormir. Quando chegar, acordo você - apenas obedeci à idéia que ela tinha proposto e fiquei felizão.

Acordei no nada e olhei o relógio. Apenas cinco horas haviam se passado. Ela desenhava alguma coisa e a cutuquei. Sorriu e fechou o caderno em que desenhava, indicando a tela que a aeromoça estava acabando de abaixar. Concordei e ficamos olhando a lista de filmes que haviam para serem vistos. Ela clicou em “PS: I Love You” e se deitou, enquanto o filme começava. Um tempo depois de o filme começar, senti o sono de volta e ela colocou a mão na minha testa. Não sei para que, mas colocou. Abri os olhos e ela trocava o filme. Madagascar, A Órfã, Bambi... Tinha filme de tudo ali, menos pornô. Aposto. Voltei a dormir.

Sentindo que eu tinha entrado em coma e dormido por anos, abri meus olhos e vi o teto do jatinho. Espreguicei-me e quase esbarrei no copo de suco de laranja ao meu lado. Bebi-o, ainda ficando com sede. Eu podia ouvir que a minha acompanhante estava toda animada na cadeira de luxo perto de mim. Virei-me, piscando os olhos lentamente, e ela me cutucou várias vezes. - Que bagunça é essa? – cutuquei-a de volta e ela riu.
- Dez minutos e chegamos. Chegamos! Chegamos a Londres!
- Devemos então estar passando por Bolton. O que aparece aí pela janela? Mato, fazenda, poucas casas? - ela confirmou com a cabeça. Baguncei meu cabelo e esfreguei meus olhos - É, estamos em Bolton.
- Nossa, quero conhecer a Inglaterra INTEIRA!
- Amanhã vejo o que podemos fazer quanto ao seu desejo maior sobre isso. Certo? - ela sorriu e balançou a cabeça freneticamente. Eu estava perdido.
Não demorou muito para o jatinho estar correndo pela pista e dar uma pirada básica. Eu estava voltando do banheiro e ela forçou um grito para dentro. Joguei-me com tudo na poltrona, colando minhas mãos no rosto. Eu adorava aquela garota, cara.
Assim que o jatinho aterrissou, peguei a minha mochila e coloquei os meus óculos. Liguei o celular e tinha várias chamadas não atendidas e mensagens. Mandei uma mensagem rápida para o meu empresário, avisando que tinha chegado. Ele não iria mais parir. saiu atrás de mim, agradecendo a todas as gerações do piloto, co-piloto e da aeromoça. Dei um aceno rápido para os três e peguei a mala da minha acompanhante mais linda. Assim que ela terminou de descer do jatinho, tentando acertar a alça da bolsa no ombro, passei um braço pelo pescoço dela e sorri, abrindo o outro braço.
- Bem-vinda à Londres, !
- AI! MEU! DEUS! - ela gritou, arregalando os olhos. Abraçou-me forte e beijou uma bochecha minha por uns segundos - Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada.
- Nem sei o que responder - ri meio sem jeito e ela fez uma careta – Então... Trouxe câmera?
- Não tenho uma, mas pretendo comprar aqui. Tenho o meu celular - ela pegou o iPhone e o balançou, como se ele fosse o prêmio de noventa milhões da mega-sena. Apontou a câmera para mim e fiz uma careta - Primeira foto de Londres e é sua.
- Dê-me isso aqui - peguei o aparelho dela e vi a foto, enquanto ela olhava abobada para tudo à sua volta. Tirei uma foto dela. Lembrei-me de que tinha uma câmera e a peguei de dentro da mochila, ligando-a. Comecei a filmar e a chamei - Ei, como está se sentindo? Diga para a câmera. Vou gravar tudo.
- Estou me sentindo dopada. Agora as meninas podem achar que uso drogas. Ok, brincadeira.
- Em falar nisso, acho que elas já estão com saudades - entreguei o celular para ela porque ele não parava de vibrar na minha mão e não sou o tipo de pessoa que gosta de coisas vibrando em mim, não. Nada contra - Tem mensagem chegando que é uma beleza.
- Awn, fofas - ela sorriu e mostrou a tela do celular para a câmera - Essa é da . Diz assim: “já estou com saudades. Volte logo”. Curta muito Londres por mim. Ok? PS: não se esqueça do que pedi! - começamos a rir e ela nem sabia porque eu estava rindo. Hm... Eu sabia do segredinho, do que ela tinha pedido. Yeah. Voltou a mostrar de novo a tela de mensagens para a minha câmera - Essa é da Josey e da Ella; as que achavam que o me embebedava e você me drogava - rimos alto e fomos andando devagar para sair da área dos aviões e jatinhos - Tem outra. Só da de novo. “Fale, nascida para a lua. Já chegou? Dê um oi em todos aí por mim. Viu?”.
- Que impossíveis essas suas amigas.
- Meus pais mandaram uma também. “Cuide-se e divirta-se. Já estamos com muitas saudades” - guardou o telefone no bolso e me olhou com os olhos meio vermelhos. Ah, não... Ela não podia chorar. Nunca soube cuidar de gente que chora - Lindos.
- Então... Mais alguma coisa para dizer?
- Por quê? A bateria está fraca? - ela sorriu, tentando esconder que estava quase chorando.
- Não. É porque eu não sabia o que dizer mesmo - rolou os olhos e me deu um pedala. Reclamei e ela pegou a câmera de mim, filmando-me.
- Quero saber aonde vamos agora. É minha vez de ser como você no Brasil.
- é brasileiro agora. Já sou daquelas terras.
- Podíamos mudar, então. Eu londrina e você brasileiro. Ei, são... Sete e meia da noite. Que cedo.
- Chegamos rápido - ela filmou, enquanto eu andava com os óculos escuros pelo aeroporto, mochila da Hurley nas costas e puxando a mala dela. Entrei no aeroporto com ela atrás de mim. Eu ficava olhando para trás para conferir se ela não tinha parado em algum lugar para ficar babando. Avistei a salvadora de todas as pátrias: a Starbucks. Meu celular começou a tocar e ela estava com o cardápio de cafés nas mãos. Cutuquei-a, já com o celular na orelha - Peça o que quiser. Quero um frapuccino.
- Aff, que “imitão” - ela olhou, sorrindo para a mulher do caixa - Dois Java Frappuccinos com calda. Um com creme e outro sem, por favor - a balconista sorriu e olhou para ela com uma caneta e um copo na mão - o sem creme e o com - olhei-a de longe e me lembrei de algo muito importante: o dinheiro. Parei ao seu lado, vendo o valor na maquininha, e joguei as vinte libras no balcão, virando de costas, ainda ao telefone. Assim que o desliguei, ela me olhava com os cafés na mão. Peguei o que tinha o meu nome, que era o que ela não estava bebendo, e voltei a puxar a mala dela.
- Então... Como vamos embora daqui? Digo, aonde vamos agora? - ela estava rodando a cabeça, vendo todas as lojas do aeroporto, e colocou os óculos.
- Meu carro nos espera no estacionamento.- balancei as chaves e ela cerrou os olhos para mim - Acabei de receber. Fizeram o serviço completo. Até limpeza interna - procurei o setor do estacionamento, onde tinham deixado o meu carro, e tive que pedir ajuda para uma mulher. Ela indicou o lugar e tivemos que descer duas escadas rolantes.
Quando eu estava prestes a jogar no lixo o copo do meu café (que já estava na minha barriga), pude ver flashes e xinguei todos os nomes que conhecia mentalmente. Os merdas tinham me visto. Esses retardados que ficam de plantão, esperando algum famoso ou celebridade das boas chegar ou sair de aviões e jatinhos, não tinha nada melhor para fazer, não? Caralho! Empurrei-a para trás de uma pilastra e só vi uma das sobrancelhas dela levantar.
- Paparazzis. Escute-me: vamos ter que correr um pouco. Nada mais do que uma adrenalinazinha nas veias - olhei-a, tentando ainda bolar um super plano de ação, já que eu tinha dispensado os seguranças - De acordo?
- De acordo - comecei então a correr, segurando firme a mala dela. Eu não queria quebrar as rodas da coitada, mas com as manobras que eu fazia era capaz da mala dar trezentos e sessenta graus e acabar aberta no meio do aeroporto.
A porta de vidro se abriu e alguns paparazzis me reconheceram. Ô, gentinha de merda! Correram atrás de nós dois, já tirando fotos. Achei meu carro no final do terminal cinco e cliquei no botão do alarme. Abri rápido o porta-malas do carro, jogando a mala dela lá dentro junto com a minha mochila de qualquer jeito, e olhei para trás, procurando-a. Ela se aproximava, então abri a porta do carona para ela e entrei lá mesmo, contorcendo-me todo para me sentar e ligar o carro. Assim que ela bateu a porta, pisei no acelerador, saindo rápido dali, mas tomando cuidado para não atropelar alguém. Quando havia mais nenhum paparazzi na minha frente, acelerei com tudo.
- Esse tipo de adrenalina é trinta vezes melhor do que a dos bilhetinhos na sala de aula - ela falou acho que alto e começou a rir, finalmente colocando o cinto e arrumando a bolsa no colo. Tirou os óculos e acabei por tirar os meus também. Baguncei meu cabelo e tentei colocar o cinto do jeito que dava. Nem tinha o colocado ainda. Eu querendo morrer.
- Você é maluca. Essas fotos vão para o The Sun amanhã e quero ver só se você vai achar graça.
- Que rebelde. Fique relaxado. Não ligo para isso. Eles não sabem quem sou eu, o que quero aqui e muito menos por que estou aqui. Eles sabem nada.
- É aí que você se engana. Espere até alguém se tocar de que você é a menina dos restaurantes do Brasil. Só espere - olhei-a, achando-me o inteligente e conhecedor do mundo dos paparazzis, e finalmente saí dos arredores do aeroporto.
- Vou esperar sentada. Onde você mora?
- Um pouco longe daqui.
- Ahn, e são... Oito horas. Vamos para a sua casa. Certo?
- Errado - sorri e mandei língua para ela - Vou levá-la a um lugar antes. É meio longe. É em outra cidade, mas muito importante que eu passe lá. Devemos chegar em duas horas e depois voltaremos às dez para casa. Prometo - sorri e entreguei o meu celular para ela - Preciso pegar uma coisa de muito valor para mim e não posso ir para casa sem isso. Aproveite e ligue para a sua casa, para avisar que chegou - ela obedeceu e começou a discar os números – Empreste-me aqui - peguei-o de volta, colocando os números necessários para ela poder completar a ligação para outro país, e devolvi o celular à ela.
- Mas então... O que é tão importante que você não pode ir para casa sem? – olhou-me confusa e sorri. Não iria estragar a surpresa.


Capítulo sete


se animava com as músicas do rádio, já que no meu país o rádio do meu carro funcionava. Ela trocava as estações toda hora. Estava de pernas cruzadas no meu banco de couro, mas nem liguei. Ela batucava no painel e fazia o celular de microfone. Os óculos dela foram parar nos bancos de trás e acabou que não consegui e me rendi ao poder da música. The power of music. Não Madonna. Se você gosta de Glee, vai entender ou já entendeu essa, he.
A viagem ainda iria demorar mais alguns minutos. Não muitos, já que era terça-feira à noite e a estrada estava livre. Eu não corria muito, mas andava mais acelerado do que o normal. Talvez por causa do nervosismo. Não sei explicar.
Eu estava animado. Iria apresentar para a minha mãe e, se ela aprovasse, seria uma das melhores coisas do mundo. Minha mãe sempre foi tudo para mim. Se eu achasse uma mulher e ela não aprovasse, jurava para mim que iria ter nada com ela. Terminaria assim que desse. Essa mulher sempre me apoiou em tudo, sempre cuidou de mim, sempre soube o que era melhor para mim. Então, se ela não aprovasse, é porque sabia que não era a certa. Não importava se o destino colocasse aquela pessoa na minha vida até eu morrer. Eu ia ter nada com ela.
Lógico que a minha mãe não sabia desse juramento interno. Então sempre fingia o contrário para ela. Que mesmo que não aprovasse, eu iria continuar. Ela tinha aprovado a minha ex e tinha ocorrido tudo bem com ela. Até eu ir para o Brasil e...
Acordei assim que estacionei o carro perto do portão da casa dela. Saltei do carro, trancando-o e segurando a mão de , que parecia meio nervosa, até porque nem sabia aonde estava indo. Quer dizer, no que pude perceber, pareceu que ela ligou os pontos e na verdade sabia exatamente onde estávamos. Não aparentava gostar muito da idéia, mas e daí? Eu faria o que quisesse. Não deixá-la-ia se arrepender e aposto que conhecer minha mãe seria uma idéia ruim que a faria se arrepender.
Toquei a campainha e esperei. arregalou os olhos e ri. Assim que a porta foi aberta, quase fui jogado para trás. Fomos recebidos pelo meu que me lambia todo feliz.
- ! – sorri, brincando com ele. Ficou um tempo cheirando e depois a lambeu. Ela soltou uma risada baixa e o acariciou. Ele balançou o rabo e entrei em casa, puxando-a comigo, ainda brincando com as orelhas dele – Fale, garoto - ele se sentou e me olhou - Que saudades, monstrinho!
- Ele deu trabalho - ouvi a voz de minha mãe e sorri involuntariamente - E bastante. Entendo que você tem uma banda, mas tem as suas responsabilidades. Não sou babá dele - ri das broncas dela e a abracei forte, fazendo com que ela falasse mais nada.
- Eu sei, eu sei. Juro que, da próxima vez, aviso antes de ele chegar aqui do nada - ela me olhou feio e deu um tapinha.
- Acho bom. Eu não estava preparada para receber esse gigante aqui de novo. Achei que tinha arrumado alguém para cuidar dele enquanto estivesse fora.
- Vou arrumar. Calma. Fique tranqüila – sorri, enquanto pensava que eu realmente precisava arrumar uma pessoa para cuidar do meu pedaço de monstro quase domesticado. Olhei de relance que minha mãe tentava enxergar atrás de mim e saí da sua frente para que ela pudesse analisar a minha acompanhante - . É minha amiga brasileira. Vai ficar um mês aqui, hospedada lá em casa - as duas se cumprimentaram com apertos de mão e, pela cara de minha mãe, ela não tinha gostado muito da idéia.
- Brasileira? - ela fez uma careta, mas, assim que a olhou, ela tentou desfazer. Sinalizei que sim com a cabeça, então ela continuou com as caretas (agora discretas) e olhou para - Interessante. Seja bem-vinda à Londres - minha acompanhante agradeceu e sorriu toda sem graça. Fiquei com vontade de apertar as bochechas dela. Isso foi gay. Que engraçado - Espero que goste daqui. Londres é uma cidade muito boa - minha mãe nos puxou para nos sentar nos sofás que eu tinha certeza de que eram novos por causa do cheiro e porque os antigos não eram beges. Eram de cor vermelho claro - Querem comer alguma coisa?
- Eu quero, claro - passei a mão na barriga de forma mal educada e ela bateu em mim, repreendendo-me. Que saudades daquilo. Ri sozinho e ela indicou que iria até a cozinha. Concordei e olhei para , que fez sinal positivo. É, ela tinha achado minha mãe legal. Que bom. Pontinhos para mim. se sentou na minha frente e ficou nos observando. Depois passou o nariz por meu joelho e me lambeu. Brinquei com as orelhas dele. Voltei a olhar - Quer comer algo? Pode pedir qualquer coisa. Não precisa ficar com vergonha - ela piscou com o olho direito e negou - Vou à cozinha pegar as coisas do . Já voltamos para Londres. Ok? - ela concordou, ainda quieta, e me levantei, sendo seguido por .
Assim que adentrei a cozinha, minha mãe me chamou e, do jeito que ela chamou, eu sabia que tinha bomba vindo pelo caminho. Eu teria que andar na ponta dos pés. Estava em território inimigo. Inimigo?
- Oi? - pronunciei meio incerto e ela apareceu com um copo na mão, sorrindo.
- Amiga? - ri e concordei com a cabeça. Ela não ia acreditar. Não mesmo - Não me enrole, . De onde você traria uma brasileira para cá, sendo só amiga? Conheço-o bem demais - ela cerrou os olhos e mandei um beijo - Falei com quando ela veio deixar .
- Ela e aquela boca - rolei os olhos. Só podia! Abri um armário embaixo da pia, onde eu guardava as coisas do meu monstrinho quando ele ia para lá. Peguei tudo, juntei e coloquei em uma sacola.
- Ela contou nada mais do que a verdade. Acredito nela – porra, mãe. Você acredita em qualquer pessoa. Até no carteiro. Brincadeira. Amo você, mãezinha. Espero que não leia isso.
- Olhe, mãe. Sei que você gosta da , mas acontece que eu me apaixonei por outra pessoa. Dá para entender? - fui meio grosso com ela porque perdi a paciência. Foi cedo, mas aquilo ia ser pior. Então...
- Claro que não dá para entender! Até ontem você tinha quinze anos e babava quando ela passava na televisão. Hoje tem vinte e dois e, quando a tinha nas mãos, jogou fora. Ficou óbvio que não dá para compreender uma coisa dessas?
- Ficamos juntos mais de dois anos. É bastante tempo - tentei contornar a situação, mas quando ela queria, era teimosa. E eu não podia deixar a visita esperando demais. Ela devia estar desconfiada.
- Isso não é justificativa. O que essa menina fez para você se apaixonar por ela? Quer dizer, bem sei o que ela fez - ela se virou, abrindo a geladeira. Arregalei os olhos e abri minha boca. Como ela poderia pensar em uma coisa daquelas? Não era possível. Minha mãe não estava com a cabeça boa. Não mesmo.
- Se você quer saber, não foi dessas intenções que veio o que sinto por ela. Está bem? A magia entre nós dois é maior do que era com a . Ela não é realmente tudo aquilo que eu achava que era. Compreende agora? Acabou. Não tinha mais química. Eu não conseguia continuar com aquilo e enganar a nós dois. Seria pior e mais doloroso.
- Compreendo - ela suspirou derrotada. Pelo menos acreditava no que eu falava. Em alguém ela tinha que acreditar. Alguém que não fosse o carteiro. Brincadeira.
Entregou-me um copo e bebi o conteúdo.
- Quantos anos ela tem?
- Você não vai querer saber - deixei o copo na pia e ela alterou a voz e o volume, já meio... Sei lá. Irritada, com medo, cautelosa?!
- Quantos anos, ?
- Dezessete - cuspi logo e ela repetiu, só que gritando. Tampei a boca dela e arregalei os olhos - Mãe! Shiu! - ela se soltou e então falou, sussurrando.
- Dezessete, ? Você é pedófilo ou é só impressão minha?
- Mãe, não sou pedófilo. Quanta gente por aí casa com trinta anos de diferença? Nós só temos cinco. Isso é nada. Outra: ela é totalmente madura e mente aberta para a idade dela. Ou seja, mentalmente mais avançada.
- Só espero que vocês não façam besteiras - ela balançou a cabeça e limpou o copo, colocando-o no escorredor. Depois se virou e me encarou toda séria, como se fosse me dar uma bronca. Secou a mão, colocou o pano em algum lugar e voltou a me olhar - Principalmente você.
- Eu não vou - saí da cozinha emburrado, deixando minha mãe para trás, sem nem olhá-la. Droga.
Voltei à sala, ainda com a cara emburrada, e me olhou meio chateada. Cruzou os braços e se levantou. Joguei as coisas que tinha pegado na cozinha na porta e procurei pela coleira do monstro.
Depois de dar um tchau super chato e sem graça para a minha mãe, voltamos ao carro, já com tudo que precisávamos e tudo que era importante. Acelerei e disse que precisava dormir um pouco. Concordei com ela e logo ela estava dormindo super mal posicionada no banco do carona. Acordei-a, mandando-a ir dormir nos bancos traseiros. Parei o carro no meio da estrada. Sei que foi arriscado. Passei meu monstrinho para o banco de carona. Ele se deitou, também cansado, e os dois dormiram.
Cheguei rápido demais até minha casa e, assim que estacionei, meu monstro fez barulhos que acordaram minha hóspede. Ela se levantou e abriu a porta, saindo. Espreguiçou-se e admirou tudo. Não que tivessem muitas coisas para admirar, uma vez que já era quase uma da manhã. Peguei a mala dela e minha mochila. Tranquei o carro e abri a porta de casa. Meu monstro logo saiu correndo para o espaço dele e ela ficou parada na porta, depois que a fechei e tranquei. Deixei a mala e minha mochila paradas no meio da sala e abri as cortinas. Depois de voltar da cozinha, encontrei-a no mesmo lugar e ri baixo, chamando-a. Ela me olhou e me aproximei, pegando minha mochila e entregando para ela. Peguei sua mala e subi as escadas, já a mandando me seguir. me obedeceu e deixei-a no quarto de hóspedes. Acendi a luz, apoiei a mala no chão e abri o armário. Abri as cortinas e um pouco da janela.
- Todo seu. Chuveiro quente é o da esquerda. Vou tomar meu banho e já volto. Prometo não demorar - ela concordou e pegou a mala. Alcancei minha mochila perto dela e joguei nas costas - Qualquer coisa, meu quarto é no final do corredor.
Passei pelo meu monstro e ele me seguiu. Acendi a luz do meu quarto e eu me via o chão. Uau. O pessoal que meu amigo tinha contratado era mesmo bom. É bom chamar toda semana. Yeah. Tomei meu banho, arrumei o que tinha na minha mochila, no armário, coloquei uma boxer e uma blusa branca lisa. Baguncei o cabelo, coloquei ração e água para meu monstrinho que, na verdade, já era quase um monstrão, e liguei para a minha mãe. Fiquei um tempo com ela no telefone e depois voltei ao andar de cima. Bati na porta do quarto de hóspedes, que estava entreaberta. Ninguém disse nada, então eu mesmo entrei, devagar, com apenas um olho aberto. Assim que entrei, pude vê-la chorando em um canto da cama. Ai Deus. Aproximei-me, sentando-me perto.
- Ei, o que aconteceu? - ela não respondia. Apenas continuava soluçando, abraçando as pernas. Por que os brasileiros tinham que ser tão emotivos? Eu queria entender o motivo do choro e dos soluços, mas ela não falava – Arrependeu-se? Não diga que se arrependeu, por favor.
- Não me arrependi. Nunca vou me arrepender - ela pronunciou baixo e tive que me esforçar para entender o que ela tinha dito.
- Então por que está chorando? - deu de ombros e ri - Não venha me dizer que é choro de saudade, porque conheço muito bem choro de saudade e ele não é igual a esse - cutuquei-a, a fim de vê-la sorrindo ou batendo na minha mão, reclamando de estar chateando-a - Sou muito esperto nisso. Ou se esqueceu de que viajo o ano todo? Também tenho sentimentos - ela riu baixo e sorri sozinho - Já a animei. Diga-me: o que aconteceu?
- Aconteceu que senti que a sua mãe não gostou de mim. Ouvi os berros dela. Sou de outro país, mas não sou surda e muito menos burra. Não preciso saber inglês para saber que ela deu um ataque por causa da minha idade. Aposto.
- Minha mãe só está assustada. Ela gostava muito da e os fatos bateram muito forte nela. Entende? Ela vai se acostumar. Só vai levar um tempo. A culpa não é sua.
- Entendo – levantou-se, indo até o banheiro e lavando o rosto. Voltou e ficou parada na minha frente com a mesma cara que estava antes - Entendo perfeitamente.
- Venha cá – chamei-a e ela se sentou ao meu lado - Esse não foi um bom jeito de começar. Já briguei com a minha mãe pelo comportamento dela e ela disse que quer marcar outro encontro. Vai ser uma boa oportunidade para começar a conhecer toda a Inglaterra. O que acha?
- Acho que pode ser - ela sorriu fraco e a abracei.
- Desculpe-me. u já devia saber que isso ia acontecer hora ou outra. Acabamos indo lá por causa de e aconteceu de primeira. Amanhã recomeçaremos. Está bem?
- Está bem. E o desculpo - minha hóspede/acompanhante sorriu e se levantou. Vi minha câmera jogada na cama e a liguei, já a filmando.
- Primeiro choro da em Londres. Como se sente?
- Hm, não sei. Normal? - riu e tampou a câmera - , estou com fome. Não comi na casa da sua mãe porque tenho educação e, antes que pergunte, como qualquer coisa - desliguei a câmera.
- Então vai comer vento. Tenho nada. Vamos ter que ir ao supermercado amanhã cedo.
- Vou fazer esse esforço por você.
- Acordo amanhã bem cedo e compro várias coisas. Anote aí o que você gosta de comer e, quando acordar, já vou estar de volta e cheio de compras.
- Quero ir com você - ela abriu a mala e pegou uma toalha e dois frascos. Xampu e creme. Entrou no banheiro e os deixou lá. Rolei os olhos para ela.
- Nada disso. Imagine. Trouxe-a para passear e você vai fazer a coisa mais normal do mundo comigo?
- Gosto, adoro supermercados. Quero conhecer tudo daqui. Até os bueiros.
- Isso eu não garanto - ri meio enojado - Come queijo? - não a deixei responder e sorri – Troque-se rápido. Domino’s é aqui perto.
- Não é meio perigoso irmos agora? São quase três horas - baguncei o cabelo dela e ri – OK. Só vou tomar um banho. É rapidinho. Juro.
- Que tomar banho o quê?! Ficou maluca?! Está linda assim. Não podemos perder tempo. Venha - puxei-a, fechando a porta, ao mesmo tempo em que ouvia as patas de pelo corredor - Já volto, garoto - gritei e saí porta afora, já ligando a câmera de novo.

Deixei a caixa da pizza média na mesa e ela sorriu, já com os olhos tamanho big master. Minha barriga roncou e percebi que só aquela pizza ia dar em nada. Nós dois mortos de fome. Mandei uma mensagem para os três, que deviam estar dormindo àquela hora, e comecei a cortar o primeiro pedaço. Domino’s rocks! Liguei a câmera só para encher o saco e comecei a filmar comendo.
- Primeira pizza em Londres. E aí? Comente alguma coisa - ela mastigava bem devagar e parecia pensar – Vá, que a bateria vai acabar.
- Bom, são exatamente três e vinte e três no horário daqui. Estou comendo uma pizza na Domino’s perto da casa do e me sinto ótima.
- E como é o gosto da pizza?
- Diferente - chegou perto da câmera e sussurrou - Aqui é menos saborosa. Tenho que ser sincera.
- Que gentil. Mais alguma coisa?
- Ah, as bebidas daqui não são servidas em copos. Eles são tão atrasados que não conhecem o copo ainda. Servem em baldes - apontou o copão de quase um litro e meio de coca que estava na minha frente e filmei - Achei que só existia isso nos Estados Unidos.
- Somos atrasados? - protestei e desliguei a câmera. Ela riu mais alto. Tinha ninguém lá mesmo. Começamos a discutir sobre quem era mais atrasado e o porquê. A discussão foi legal. Arrependo-me até hoje de ter desligado a câmera.

Tranquei o carro, abri a porta de casa, acendi a luz e tranquei-a por dentro, colocando o fecho contra ladrões. Liguei o alarme anti-roubo e fechei um pouco as cortinas das janelas da sala. filmava tudo desde que saímos do carro e eu achava engraçado as paradas meio sem sentido que ela dizia. Ela começou a filmar a sala.
- Estamos chegando a casa. São três e cinqüenta e oito e às seis temos que acordar para irmos ao supermercado - entrei na cozinha e ela me seguiu. acordou e ela não resistiu em o filmar também - Esse é o . Ele é um amor - passou a mão na cabeça dele, que se sacudiu. Abri alguns armários apenas para ter certeza de que tinha nada que prestasse lá dentro. Ela chegou por trás de mim e filmou o armário por inteiro - Como podem ver, não é um bom dono de casa. Só tem coisas inúteis aqui. Tipo... Salgadinhos - pegou um e o analisou - E ainda por cima vencidos! Ai, que horror. Ainda bem que fomos ao Domino’s - tirei todos os salgadinhos do armário e ela me ajudou. estava ao lado dela e cheirava tudo que caía no chão, todo feliz, achando que era coisa para ele - , quer comer os salgadinhos estragados? - ele a olhou assim que ouviu seu nome e ela sorriu - Não pode. ia me matar se lhe desse isso.
- O que está falando aí com ele? Não o leve para o mau caminho. Ele é um anjo.
- Claro - deixou a câmera na bancada, onde tinha uma visão ampla da cozinha, e pegou um pacote. Colocou na minha cara - Quer me dizer o que é isso?
- Salgadinhos?
- Digo a data de validade. Venceu há três meses! Deve estar podre aqui dentro.
- Por isso a levei ao Domino’s. Sabia que o que tinha aqui não devia estar na validade. E isso não alimenta. Estamos em fase de crescimento.
- Só eu. Desculpe-me por jogá-lo na realidade - apertei a cintura dela e olhei o resto dos salgadinhos, todos no chão - Vamos abrir para ver como é que está a situação aqui dentro? - balançou um pacote e sorri, concordando. dava pequenos pulos, tentando alcançar as nossas mãos. Abrimos um e cheiramos. Ela gritou e ri alto.
- Argh, que nojo!
- Pegue tudo que tiver. Vou pegar um saco e jogamos isso fora – vi-a tampar o nariz e jogar o pacote na pia.


Capítulo oito


Acordei no dia seguinte com alguns poucos raios de sol batendo no meu rosto. Meu despertador tocou segundos depois e enrolei um pouco na cama. Mas só até eu receber uma lambida na cara e me sentir necessitado de lavar o rosto. Estiquei-me e olhei o relógio. Sete e vinte. Hora do banho. Estava todo torto, doído e com sono. Só tinha dormido duas horas. Aquilo não era justo. Eu precisava dormir mais!
Entrei no banheiro quase sendo acompanhado. Tomei um banho rápido e logo me vesti. Fiz a cama, abri as cortinas e um pouco a janela. Peguei a câmera e a liguei. Virei-a para mim e acariciei as orelhas do monstrinho.
- Olá. Sou e são exatamente... - apontei a câmera para o relógio digital do lado de minha cama - Sete e cinqüenta. Já me arrumei e estou indo acordar a . Vamos ao supermercado. Ontem fomos dormir as cinco porque ficamos vendo filmes engraçados - fui explicando, enquanto andava pelo corredor, ainda com a câmera apontada para mim. Virei-a e mostrei uma porta - Aqui é o quarto onde ela fica - bati na porta e ninguém me atendeu. Fui abrindo devagar e estava tudo escuro. Fui até a janela e a abri um pouco, fazendo as cortinas se balançarem, deixando uma pequena claridade entrar. Parei ao lado da cama e a sacudi de leve - Acorde - enfiei a câmera na cara dela e a cutuquei - Acorde, caramba. Vamos para o supermercado. A essa hora é vazio - ela fez um barulho com a boca e abriu devagar os olhos, espreguiçando-se – Levante-se. Temos que ir. Já são oito e pouco.
- Mãe, hoje é sábado.
- Não sou sua mãe. Hoje não é sábado. É terça. E você não está no Brasil. Está em Londres. Vou ter que lembrá-la disso toda hora? - dei um tapinha na testa dela - Ei, é seu primeiro dia em Londres! Primeira acordada da - afastei-me e filmei a cama toda - Como está se sentindo?
- Muito bem - ela se levantou. Vestia uma calça de pijama de lã preta com sapos verdes e uma blusa branca de algodão - Estou com fome.
- Então se arrume que vamos aproveitar e comer fora - saí do quarto, desligando a câmera e fechando a porta. Encostei-me ao batente e fiquei falando, enquanto ela se trocava - Sabe o que vou fazer? Contratar um tipo paparazzi pessoal - ri sozinho da minha brilhante ou não idéia. Eu tinha idéias legais, vá - Vou contratar um fotógrafo para tirar fotos nossas vinte e quatro horas por dia. O que você acha?
- Acho duas coisas. Maravilhoso e exagerado. Temos a sua câmera e a minha que vou comprar. Para que mais do que isso?
- Não são o suficiente. Usaremos as nossas e ele tirará aquelas fotos que todo mundo quer ter, mas ninguém tem porque são as próprias pessoas que tiram fotos.
- Faça o que quiser - ela abriu a porta e deu de ombros - Bom dia - passei meus olhos pela roupa dela. Usava uma calça skinny clara, havaianas de fitas finas bege, blusa branca com uma guitarra em preto estampada e o cabelo preso em um rabo normal.
- Está linda - dei um selinho nela - Linda - liguei a câmera - Primeira roupa que você veste em Londres. Como se sente?
- Estou sentindo que se continuar com isso, vou bater em você - rimos e ela tampou a câmera de novo - Pare, vá.
- Então vou contratar o fotógrafo.
- Contrate logo um fotógrafo e um cameraman. Assim não perdemos exatamente e absolutamente nada - ela rolou os olhos, descendo até a sala, falando meio sem paciência. Acariciou e ele pareceu gostar.
- Ótima idéia. Vou ligar para o meu empresário. Ele é o cara dos telefonemas - peguei meu celular, já discando o Fletch - Podemos ir?
- Podemos - me seguiu para fora de casa - vem junto? - vi o meu monstrinho sair atrás de nós.
- Claro que vai. Ele é meu filho. Vai aonde eu for. Não que sejam permitidos s no supermercado por aqui. No que a gente vai, acho que não. Mas nem estou ligando. Sou famoso - coloquei os óculos e ri. A vida era mesmo bela.
- Modesto e metido - ela rolou os olhos e abriu a porta para o meu monstrinho poder entrar, entregando-me a coleira.

Chegamos ao supermercado só como chamando a atenção. Éramos bonitos demais. Eu sempre soube. Peguei um carrinho e segurei a coleira do monstrinho, enquanto levava o carrinho para passear pelo supermercado.
- Trouxe a lista de casa? - perguntei como quem não quer nada porque eu tinha me esquecido, rs.
- Não - ela sorriu e eu já estava pensando em uma desculpa que fosse aceitável (essa palavra existe?) quando ela me interrompeu - Anotei na minha lista de compras do celular - olhei interessado para o aparelho e ela sorriu, mostrando-me - É um aplicativo. Chama-se iList. Tem até o preço dos supermercados a que vou. Viva a tecnologia.
- Genial. Quero um desses aplicativos quando chegarmos a casa.
- São oito e cinqüenta e estou no supermercado com o - ela me filmou, sorriu e abaixou a câmera - E com o . disse que queria trazê-lo e nesse supermercado pode animais. Estamos fazendo compras com a minha lista de compras do celular, que ele ficou com inveja e quer uma igual. Vamos fazer as compras do mês e não vou deixá-lo pegar nada que a validade não seja para mais de dois anos - desligou a câmera - Então vamos às compras. Estou animada - percebe-se. Ela sorriu e passou o braço por um meu que segurava o carrinho - A primeira coisa da lista é... Biscoitos.
- Adoro fazer compras. Não sei onde tem nada aqui – bufei, já pensando no inferno que seria. Ajeitei os óculos no rosto e me abaixei, empurrando o carrinho mais com o corpo do que com as mãos.
- Vamos por sessões. Ali tem frios. Devem ser os últimos da lista. Tipo sorvete - olhamos algumas placas - Ali deve ter coisas como pão, leite...
- Difícil não ter quando a placa diz o que TEM - recebi um tapão e me arrependi de ter dito aquilo. Tapa de mulher dói e arde mais que tapa de homem. Falo logo.
- Fique quietinho porque nem moro aqui e sei onde tem as coisas.
- Desculpe se sempre venho no supermercado, então. É meu programa preferido. Também porque não faço as compras por internet.
- Então por que não fez as compras por internet? Era muito mais prático – segui-a, enquanto ela pegava coisas saudáveis como pão preto, arroz integral, leite desnatado...
- Queria fazer bonito para você - rimos - Acho que é realmente a primeira vez que venho fazer compras do mês desde que me mudei para cá.
- não vinha com você?
- Ela tem uma banda. Acha mesmo que tínhamos tempo? Era ou eu em turnê ou ela. Nunca tínhamos tempo para algo. Nesses dois anos e pouco de namoro, nem férias conseguimos passar juntos direito. Foram só uns dez ou quinze dias, e isso porque fomos a um cruzeiro.
- Nossa. Deve ser difícil namorar alguém que também trabalha com música.
- É complicado, mas a gente vai levando - fomos seguindo e fazendo as compras. No final, nunca achei que fosse tão legal e tão chato ao mesmo tempo. Paramos no caixa com dois carrinhos e o meu monstrinho cheirando tudo e todos, “felizão” por estar saindo de casa uma vez em sua vida que, na real, não dura muito.
Começamos a colocar as coisas na esteira e a mulher ia passando. Prendi a coleira do meu monstrinho no segundo carrinho e ele acabou por se deitar. passou para o outro lado do caixa. Eu colocava os produtos na esteira, a mulher passava na máquina e minha acompanhante colocava nos sacos plásticos e depois no carrinho. Quase dez minutos depois, fomos acabar de fazer todo aquele processo e eu sentia que nunca tinha malhado tanto os braços. Peguei o cartão e olhei o valor na tela, fazendo careta para minha hóspede mais careira do mundo.
- Fazer compras do mês com você está me saindo muito caro. Está me saindo não. Saiu-me muito caro. Se continuar assim, mando você de volta - entreguei o cartão para a mulher do caixa - Já estou me arrependendo de ter a trazido comigo.
- De casa ou do Brasil? - mostrei o número dois com os dedos, colocando a senha na maquininha. Ela riu - Nem foi tanto assim, vá.
- Claro, não. Quase mil libras.
- Com o necessário para quase quatro meses e produtos que a validade é grande. Por isso, não reclame – peguei o meu cartão de volta e o guardei. Deixei a coleira com ela e peguei o carrinho mais pesado, empurrando-o para fora do supermercado. Onde mesmo eu tinha parado o meu carro? Droga, nunca me lembrava.
- Claro. Xampu para cabelos lisos. Extremamente importante na lista. Esmalte verde, roxo, preto, branco, azul, arco-íris... Como eu podia me esquecer? Morreria, se não levasse de todas as cores. Ah, e sem me esquecer da maquiagem... - olhei-a sério - Você é muito consumista. Não quero mais me responsabilizar nem por suas unhas quebradas. Já vi que o preço vai ser caro. Vai não. Já está sendo.
- No Brasil não se vendem coisas como essas e desses preços nos supermercados. Tenho que aproveitar.
- O que eles vendem então? Nada? - rodei o estacionamento pela segunda vez, ainda procurando pelo meu carro.
- Não, bobinho. Essas coisas se vendem em lojas separadas, dã.
- Ai, que gente chata. Consumistas que nem você preferem abrir outras lojas, gastar mais com obra, espaço, energia, tempo, dinheiro, tudo, em vez de venderem tudo em um lugar só - ela ia abrir a boca para falar algo, mas a interrompi - Não adianta falar nada. Vou continuar a achando consumista.
- Deixe de ser manhoso e me ajude - ela riu, empurrando o carrinho sem muito sucesso. Cheguei perto e empurrei com uma facilidade tremenda. Ela ficou com a cara no chão e comecei a rir.
Porra, cadê o meu carro? Olhei para o estacionamento debaixo e ele estava lá. AH! Indiquei o carro e ela disse que sabia que ele estava lá, mas queria me ver rodando com os carrinhos pesados. Engraçada para caramba. Fomos até o carro. Abri a mala, já pegando as sacolas e pondo as compras lá dentro. Ela abriu a porta e deixou entrar. Fechou a mesma e me ajudou com o resto das compras. Quando estávamos terminando o segundo carrinho, ela resolveu se pronunciar.
- Posso perguntar uma coisa? - indiquei que sim e ela continuou - Fui só eu que reparei naqueles paparazzis ali ou é só impressão minha mesmo e você está disfarçando?
- Disfarçando... Desde agora. Ainda não tinha percebido. Estava pensando em outras coisas... Futilidades - fechei a mala e sorri para ela - Entre no carro antes que tirem fotos com zoom do seu rosto - me obedeceu. Levei os dois carrinhos até onde os outros estavam e voltei até o carro. Entrei e liguei-o, já ouvindo o motor roncar. É disso que gosto, baby. Limpei o vidro da frente e abri um pouco a janela. Acelerei aos poucos e a olhei de canto de olho, com algo nas mãos.
- Qual o problema em tirarem fotos?
- Não há problemas. Só não quero que tirem fotos suas. Quero preservá-la, que nem as famosas fazem com os filhos.
- Kate Holmes não esconde a Suri.
- Porque já não tem o que esconder. Mas enquanto pôde, ela escondeu o rosto da menina, e quero fazer o mesmo com você - indiquei seta para a direita, mas acabei virando para a esquerda e levando várias buzinadas. Eu dirigindo super bem nas ruas - Não estava incluído seu rosto em todas as revistas e sites de fofocas do mundo quando falei com os seus pais.
- Mas acontece. Eles sabem que ocorre. Afinal, você é famoso. Eu já tinha avisado que eles poderiam me ver em uma revista ou outra.
- Acontece que, agora que eles sabem que você é a menina do Brasil, vão nos farejar.
- Ninguém descobriu ainda.
- Não mesmo? - apontei uma revista que estava no painel do carro – Comprei. Quando vi, não resisti - a capa era de nós dois em duas fotos. A foto do restaurante no Brasil e outra no aeroporto. O título dizia “ de novo affair?”. Ela abriu e folheou, achando a matéria sobre nós - Leia em voz alta. Quero saber.
- “Mal ficamos sabendo do término do namoro de (McFLY) com (The Saturdays) e já vimos que ele não é nem um pouco do tipo que perde tempo. aparenta estar de affair com uma menina desconhecida há algum tempo” - rolou os olhos e fechou a revista, deixando um dedo segurando a página - Que idiotice! Que raiva que estou sentindo!
- Leia o resto. Estou interessado - ela bufou e reabriu a revista.
- “Aparenta ser a mesma menina de que foi fotografado ao lado saindo de um restaurante no Brasil, o que não foi só uma vez. As idas a restaurantes eram constantes. Tão constantes que acabaram levando ao término o seu namoro com a cantora. parece não ligar muito para o que aconteceu. Nos dias que foi fotografado, parecia feliz.”
- Mas eu estava mesmo feliz.
- Futilidade em papel essa revista, hein - indiquei o final da matéria para ela para que continuasse – “Ao que tudo indica, a menina seria brasileira e estaria de passagem por Londres.”
- Eles até que acertam nos palpites - meu celular tocou e atendi, pondo-o no viva-voz – Fale, Fletch. Li, sim. Quer dizer, ela acabou de ler para mim. Fale sério, que bando de sem nada para fazer. Otários... Então, conseguiu o fotógrafo? Cara, não posso falar agora. Estou dirigindo. Passo aí mais tarde. Umas três. Pode ser? - olhei para , desligando o celular - O que está fazendo?
- Anotando. Encontro com o Fletch às três - sorri para ela, bagunçando o seu cabelo.
- Você é genial - beijei-a, estacionando o carro no jardim.
- Sabe, você devia ter um carrinho em casa só para levar as compras da mala até a cozinha. Sua casa é grande demais.
- Obrigado pela dica. Vou utilizá-la - tirei as compras, deixando-as na grama - Solta o para mim, por favor? - abriu a porta e saiu de lá sem a coleira. Correu pelo gramado um pouco e começou a cheirar as sacolas - Ei, saia daí, ! - corri até o meu , pegando-o pela coleira. Abri a porta dos fundos da casa e deixei-o lá - Sempre esqueço que ele não tem educação - fechei a mala, já com todas as compras na grama. Fui até a porta da frente e a abri, colocando algumas compras para dentro. foi me ajudando e logo elas já estavam todas quase na cozinha - Quer ir aonde?
- Você que sabe.
- Então já sei o lugar perfeito. Mas vai ter que mudar de roupa. Lá é mais frio do que aqui - ela concordou e liguei a minha câmera - Então, essa é a primeira manhã da em Londres - filmei-a saindo de casa - Voltamos agora do supermercado e estamos descarregando as compras. Compramos quase tudo que tinha lá como se pode reparar. Compramos também uma revista de fofocas. Não nego. Nós estamos na capa - virei a câmera para mim e fiz uma careta - está lá trás para não pegar e rasgar tudo que compramos.
- Ei, pare de gravar e venha ajudar! - ela me gritou da porta e rolei os olhos.
- Viram? Mal saiu do Brasil e já está reclamando de novo. Nunca satisfeita.
- Eu ouvi isso! - apontou para mim e ri, negando.
- Eu disse nenhuma mentira - ela se escondeu atrás do carro e olhei-a estranho - O que foi? - apontou com a cabeça e me virei, ainda filmando. Ri sozinho e andei até a porta do jardim - Olá - sorri e comecei a filmar todas as pessoas que estavam ali - Esses são os paparazzis; os famosos paparazzis - filmei um por um bem devagar. - Ei amigo, abaixe o flash. Está muito forte e é de manhã! Querem capturar o quê? Minha espinha? Deixo vocês verem de perto, se quiserem - cheguei perto deles e voltei, divertindo-me.
- Quem é ela? - um se arriscou quando eu voltava para casa de costas, filmando-os. Apenas sorri e acenei.
- Alguém - filmei-a atrás do carro. Posicionei-me na frente dela - Venha atrás de mim. Vou andando devagar. Entre em casa e fecho a porta. Mas vá rápido, por favor - obedeceu e andou agachada atrás de mim, enquanto eu andava de lado, acenando para os paparazzis. Sorri e dei um último aceno, já da porta de casa. Fechei-a e me virei para ela – Arrume-se que vamos sair em quinze minutos. Ok? Já chamei os seguranças quando estava pagando a conta dos seus consumos “mercadais” – espere. Essa palavra existe? Man, preciso de um dicionário urgente!
- Tchau - ela subiu as escadas e fiquei rindo sozinho, até que resolvi arrumar as compras nos armários.

Acabei de arrumar a última coisa na dispensa. Eu nunca tinha visto minha casa tão bem abastecida como naquele mês. Aquilo tudo duraria por meses e o melhor é que, mesmo que eu saísse para fazer shows e voltasse, ainda estariam na validade. É, comecei a perceber que eu precisava de uma secretária ou alguém que fizesse aquele tipo de coisa por mim.
Deixei as sacolas plásticas todas uma dentro das outras em um canto da bancada da cozinha e lavei as mãos. Conferi o relógio. Nove e meia. Eu estava super a fim de tomar um banho e me preparar para mais uma aventura. Fui subindo as escadas devagar. Sono, cansaço e alegria... Tudo junto desgastava até demais. Assim que cheguei ao andar de cima, por inteiro, ouvi Telephone tocando. Aproximei-me do quarto de hóspedes e tive certeza de que minha hóspede estava se banhando ouvindo Lady Gaga featuring Beyoncé. A música me animou um pouco, então acabei por me pegar dançando e cantando no meio do corredor. Super constrangedor, mas felizmente o único ser vivo que estava me encarando e gostando era o meu monstrinho, então nem liguei. Fiz um carinho nele e fui até meu quarto. Fechei a porta, entrei no banheiro, fechando também a porta desse, e liguei o chuveiro quente. Nem ferrando que eu ia tomar banho frio.
A água quente logo deixou o banheiro todo cheio de fumaça e embaçado. Fiz uns desenhos abstratos no vidro do espelho e tirei minha roupa, entrando no box. Saí do banheiro uns minutos depois, com a toalha enrolada na cintura, e abri o meu armário. Peguei uma calça jeans, blusa azul lisa, casaco preto, All Star preto e me vesti. Passei um perfume só para me fazer de conquistador e sequei meu cabelo, bagunçando-o logo depois. Pendurei a toalha na porta do box e abri a porta do quarto. Andei pelo corredor, ouvindo as patas do meu monstrinho quase tamanho família, e bati na porta do quarto de hóspedes. Ninguém atendeu, então desci as escadas até a sala. Sentei-me no sofá e liguei a TV. Eu estava viajando, enquanto via algum programa da MTV sobre carros e gente famosa (no qual não apareci, hunf), quando um fantasma passou pelo meu rosto. Levei o maior susto e me levantei rápido. Ouvi uma risada alta e logo depois me virei, vendo uma câmera me gravar. Dei um pedala nela, enquanto ela ainda ria da desgraça e do susto que os outros levam. Peguei a câmera da mão dela e a filmei de cima a baixo. Ela vestia uma calça skinny escura, All Star de cano médio verde limão e uma blusa branca com um microfone em preto.
- Eu já disse que você está linda hoje? - ela rolou os olhos e indicou que sim - Mas é sério. Você está. Está não. Você é.
- Onde penduro essa toalha, bonitão? - peguei a toalha da mão dela e segui até a cozinha, pendurando-a no varal. Voltei à sala e esperei até que ela descesse. Abri a porta e ela rolou os olhos assim que viu um cameraman e um fotógrafo parados, esperando-nos - Você vai pagar um absurdo de caro por isso. Não precisa. Você sabe - dei de ombros e cumprimentei os dois. Indiquei onde iríamos e abri o carro. Ela entrou já colocando o cinto.
- Nunca vou me arrepender de estar realizando os seus sonhos - manobrei o carro até sair do jardim de casa e parei na rua, entregando-lhe uma venda. Ela me olhou estranho e sorri - Confie em mim - meu pedido foi obedecido e acelerei devagar, procurando o caminho com menos trânsito para chegar até o meu destino. Não que eu tivesse muita pressa, até porque era apenas o primeiro dia de comigo no meu país. Ainda faltavam mais vinte e nove, mas o tempo passa muito rápido e muito mais rápido quando o que estamos fazendo nos agrada. É lei. Então eu tentava de todos os jeitos manobrar, pegar atalhos, chegar o quanto antes à surpresa possível.
Vinte minutos haviam se passado quando vi que estava muito perto do que eu queria mostrar à minha hóspede. Sinalizei que iria virar para a esquerda e parei na rua de um parque que nem me lembro do nome. Só sei que era bem perto.
- Fique onde está que vou abrir a porta para você - saí do carro, batendo a porta e logo abrindo a do carona. Tirei-a com um pouco de dificuldade de lá e tranquei o carro. Fui guiando-a devagar pelo caminho - Olhe, você vai ter que subir um degrau. Vou colocar o seu pé nele e você sobe o outro pé para outro. Ok? - ela murmurou e subimos a escada. Sentei-me, puxando-a junto, e fechei a porta - Já estamos no lugar, mas por enquanto você não pode tirar a venda. Vai demorar um pouco. Uns vinte minutos. Por isso vamos conversar.
- Estou ficando “nervansiosa” - ela batia os pés no chão e eu ria - Nervosa com ansiosa, antes que você pergunte.
- Se você não gostar da surpresa, pode gastar o que quiser com o meu cartão - ela riu alto e bateu palmas - É para eu ter me arrependido de ter dito isso?
- Quem sabe - vi uma sobrancelha dela levantada e ri - Arranje algum assunto para conversarmos, já que vai demorar tanto assim. Não estamos fazendo um passeio pelo rio, né? - neguei e ela bufou - Já se passaram quantos minutos desde que entramos? Dois? - concordei e a vi bufar de novo - Já arranjou um assunto? Estou ficando sem paciência. Não quero mais ficar de venda.
- Vai ter valido a pena - consegui depois de alguns minutos fazer com que ela conversasse comigo sobre qualquer tipo de coisa. Desde que cor seria a cor do chão da casa dela quando ela tivesse uma própria até o doce preferido dela, raças de cachorros, gatos, peixes... Acabamos por descobrir mais coisas sobre nós mesmos naqueles minutos do que sabíamos em todo o quase um mês que passamos juntos na América do Sul. Assim que conseguimos chegar aonde eu queria, onde tudo era mais bonito, sorri e a cutuquei - Já pode tirar a venda.
- Depois de todo esse tempo com essa venda, aprendi a ter mais respeito pelas pessoas cegas - sorri e ela abriu os olhos, deixando a venda no meu colo - Ai meu Deus, não consigo acreditar.

’s POV

Uma grande bola de metal com quatro pessoas dentro. Eu, o meu ídolo, aquele cameraman e o fotógrafo desnecessários. Fora, Londres inteira estava ali. Londres inteira estava ao meu alcance, ao alcance da minha visão: London Bridge, o Castelo, as ruas, as pessoas, o Big Ben, os carros, as casas, TUDO! Londres era minha!
Sorri, mais feliz impossível por estar no lugar de onde sempre quis ver aquela cidade por inteira. Estiquei meu braço para trás e senti minha mão ser envolvida por outra, apertando-a.
- London Eye! - ele sorriu bobo e se aproximou. Eu ainda estava meio abobalhada por estar tendo a visão que tantas pessoas querem ter. Ai de quando as meninas soubessem daquilo... - Eu tinha pensado que você me traria aqui, mas, sei lá... Você poderia me levar a qualquer outro lugar, então preferi nem arriscar.
- Desculpa pela demora. Eu queria que estivéssemos bem aqui em cima para você ver tudo de uma vez só. Aos poucos é sem graça. Mas diga aí: valeu a pena. Não valeu?
- Como valeu - abracei-o de lado e continuei observando uma das vistas mais lindas do mundo na minha humilde opinião - Preciso da sua câmera emprestada - ele tirou do bolso e me deu. Liguei-a e tirei várias e várias fotos.
- Antes que a gente desça... - ele tocou no meu braço e o comuniquei de que estava ouvindo, ainda me perdendo em toda a vista. Virei-me para ele, tirando uma foto. Ele riu e depois tirou algumas fotos minhas - Não a trouxe aqui com o propósito de apenas a fazer vir aqui na London Eye e ver tudo aqui de cima e de realizar um dos seus sonhos - ele desligou a câmera e a guardou – Trouxe-a aqui também porque quero sair daqui sabendo que, da próxima vez que perguntarem quem é você, vou poder dizer sem medo que é minha namorada - parei na mesma hora de piscar e fiquei encarando aquele homem na minha frente. Eu não sabia o que responder. Eu não TINHA o que responder. Foi tão inusitado, tão de surpresa, tão... Bonito - E então... Vou poder? - sorri e rolei os olhos. Estava um pouco nervosa. Não era tão errado ele mal terminar um namoro e já começar outro. Era? Era errado eu ter sido a outra e agora não ser mais? Eu fui a traíra de tudo?
Voltei a olhar para fora e já estávamos andando de novo. Tudo bem. Ainda havia muitos pontos turísticos para visitar e eu não iria perder um só.
- Vou tirar uma última foto antes que desçamos de vez - ele mirou a câmera para mim e me virei, ficando perto da janela - Repita comigo: “eu amo o e sou a nova namorada dele”.
- Eu não gosto do - fiz o símbolo do paz e amor e sorri. Ele tirou a foto e riu.
- Muito amável você - ele mudou a câmera de foto para gravar e começou a se gravar sozinho - Acabei de pedir a em namoro aqui em cima. Não obtive resposta até agora. Ela parece muito atenta a qualquer coisa que não seja eu. E aí, será que ela vai aceitar? - senti um cutucão e voltei a olhá-lo. Tinha uma câmera na frente do meu rosto. Sorri e tampei a câmera, esquecendo-me que tinha um cara do outro lado da cabine filmando também e outro fotografando. Ô, exagero... - Que antipática. Aposto que se estivéssemos no Brasil você não faria isso. Você está muito mau criada.
- Ah, eu faria, sim - ele ficou me cutucando e eu apenas ria. Alguns minutos depois, uma mulher abriu a porta para nós e ele saiu antes de mim, depois dos outros dois que contratou, e me filmou.
- Então é isso. London Eye, missão cumprida – sorri, mandando língua para a câmera e ele a desligou. Passou um braço pelo meu ombro e passei um braço pelas costas dele. Olhei para trás, captando a visão da roda gigante por inteira – O melhor de todos os lugares.
- Foi o único que você foi até agora - ele sussurrou, cortando o meu barato, e dei um pedala dele.


Capítulo nove


Paramos em um posto de gasolina e saltei do carro, indo até a lojinha do posto. Finalmente o cameraman e o fotógrafo tinham sido dispensados até segunda ordem, então pude andar como uma pessoa normal e não com uma câmera atrás de mim, filmando até a poeira de que passo perto. Na lojinha, havia milhares de besteiras para comer e me diverti comprando vários chicletes e balas. Voltei para o carro com uma sacola cheia de alegria para o dentista. Se você não entendeu, é porque tinha tanta besteira, tanto açúcar, que era capaz de termos cáries e o dentista ia ficar feliz da vida.
Ele me olhou, abriu a sacola e logo depois negou com a cabeça. A culpa não era minha. Eu não era consumista. P problema é que as coisas lá eram muito maravilhosas e, apesar de serem mais caras para o meu bolso, eu não conseguia resistir. Tirando que eu teria que voltar para o Brasil com quase o quíntuplo daquilo, já que eu tinha encomendas, se é que você me entende. Ter amigas folgadas é o que há... Ou não.
Saímos do posto e eu não fazia idéia de aonde iríamos. Fiquei viajando enquanto pensava em outro ponto turístico e, quando dei conta de mim, ele me chamava, batendo no vidro do carona. Ouvi o alarme do carro e eu já mascava um chiclete de menta mint dos fortes. Yeah. Entramos em um prédio todo do chique e achei que iríamos almoçar naqueles restaurantes de gente granfina em que o ele fica no último andar do prédio que tem a melhor vista e o caraca a quatro. Enganei-me. tocou a campainha de um apartamento e eu ainda me divertia fazendo bolas com o meu chiclete extra forte. A porta se abriu e pude ouvir alguma coisa falando. Não entendi “bulhunfas” do que era e apenas segui meu anfitrião para dentro do apartamento, sem nem saber de quem era, o que eu fazia ali e sem nem ser convidada. Se minha mãe soubesse, ia me dar uma bronca. Mas como ela não estava... Hehehe.
- Então você veio - ouvi uma voz saindo da cozinha e indo ao nosso encontro na sala - Achei que não viria - já tinha andado feliz pelo apartamento super confortável, super em casa. Sentou-se em um sofá e me chamou. Continuei parada na porta e ele assobiou. Neguei com a cabeça e continuei parada ao lado da porta ainda aberta, super sem graça. Um homem alto, moreno e meio forte apareceu na sala e deu um tapa no ombro de .
- Ela anotou para eu não me esquecer. Então... O que quer de mim?
- Na verdade, era para saber se você tem algumas idéias para músicas novas e tal. Eu ia juntar o resto da banda aqui, mas e não poderiam vir por uns compromissos com as famílias. Então cancelei e não consegui falar com você - o moreno alto riu e veio para perto de mim, fechando a porta e trocando a cerveja de mão. Secou uma das mãos na calça e esticou para mim – Prazer. Matthew Fletcher - apertei a mão dele e sorri.
- . Desculpe-me por estar invadindo a sua casa. Nem o conheço - ele riu. Já estava meio alto. Eu sabia.
- Que é isso. Fique à vontade. já é de casa - o tal Matthew apontou para , que saía da cozinha com uma cara feia - Ih cara, a cerveja que você deixou aí antes de ir para o Brasil eu bebi. Quer dizer, eu não. tomou. Ele chegou aqui há algumas horas, dizendo que as da casa dele tinham saído de validade, e aproveitou a sua dando mole.
- Ih , um companheiro! - ele entendeu a minha piadinha por causa das coisas fora de validade da casa dele e me mandou uma careta muito da retardatária - Ei, como faço para ligar para a minha casa? - eu remexia o meu celular e ele foi tomado de minha mão por uma pessoa que falava de boca cheia.
- Peguei sem permissão. Foi mal - Matthew sorriu e sorri de volta. Ele colocou a mão no bolso de (que deu um gritinho dispensável) e discou vários números - É esse número aqui da tela que você quer ligar? - concordei e ele me deu o celular do bonitão que deu gritinho de menininha.
- Ligo do meu. Só me diga os códigos - negou, empurrando o celular dele para mim.
- Você vai pagar localidade. Eu não - suspirei e coloquei o celular dele no ouvido - Espere um pouco porque demora para chamar - esperei por alguns segundos até chamar e minha mãe atender do outro lado da linha. Contei tudo o que tinha acontecido desde que tinha chegado animada. Ela escutava e de vez em quando eu tinha que falar mais de uma vez porque a ligação estava um pouco ruim. Também... O tal do Matthew resolveu morar em um prédio chique, mas no meio de um monte de árvore e mato, pô! E eu nem sabia onde nós estávamos. Minha mãe se animava enquanto eu contava e ela fazia várias perguntas. Avisei que mandaria um e-mail com algumas fotos logo, logo e que tinha que desligar, já que o telefone não era o meu. Pedi para avisar às meninas e desliguei, devolvendo-o a seu respectivo dono - Nossa, o que você falou? Entendi nada. Você fala muito rápido. E eu achando que falava só o inglês rápido...
- Conversando apenas. Amo a minha mãe.
- É, eu também - juntei as sobrancelhas e ele sorriu - Você não entendeu. Eu disse que amo a sua mãe assim como amo o seu pai - fiz uma careta e ele rolou os olhos.
- Você é bi? - perguntei meio enojada e Matthew riu muito alto. O que tinha de tão engraçado em uma pessoa perguntar para outra se essa outra era bi? Sério. As pessoas nascem mais sem noção a cada dia. Vou me prevenir disso e rezar muito para os meus filhos serem sensatos.
- Não, lerdeza! Eu disse que amo os seus pais, certo, mas é porque eles a fizeram! - entendi o sentido da coisa e sorri, apertando uma bochecha dele. Fiquei na ponta dos pés e cutuquei o ombro do moço. Ele se abaixou um pouco e me deu um selinho.
- Vocês são ótimos. Já pensaram em montar um programa de TV? - me olhou estranho e o olhei do mesmo jeito.
- O circo está desmontando. Já está na hora de irmos. Obrigado pela cerveja de cada dia, Fletch - os dois levantaram as garrafas e eu estava apenas captando toda a visão possível do apartamento dele. Que designer de interiores tinha feito aquilo? A pessoa era um gênio.
Depois de sairmos da casa de Matthew, fomos dar uns outros passeios pela cidade. Fomos a algumas ruas famosas como a Abbey Road e entre outras. Fomos na B Famous, que fica na 25 Pembridge Road, e aproveitei para conhecer a estação Notting Hill Gate, já que é em frente. Passamos também na Rough Trade, uma loja de CDs onde eu fiz a festa, que por acaso também é perto da estação NHG.
Voltamos para casa (eu me achando a moradora, rs) por volta de onze horas. Como eu não podia sair para bares nem boates por causa da idade e pela política ser rigorosa, preferimos passar a noite em casa, apenas vendo alguns filmes e ouvindo músicas.
Quando deu por volta de duas da manhã, resolvi que iria descansar. Fui tomar um banho e depois coloquei o meu pijama. Deitei na cama e fiquei lendo um dos livros que comprei. Fui interrompida por batidinhas na porta. colocou a cabeça para dentro do quarto e sorriu meio sem graça.
- Você ainda não respondeu - ele se referia ao pedido na London Eye.
- Achei que já tivesse deixado claro a resposta.
- Não deixou para mim. E então... Vou poder ou não?
- Vai - ele sorriu e saiu do quarto. Voltei a deitar a cabeça no travesseiro e ler. Segundos depois a porta foi aberta de novo e ele apareceu com a cara mais inocente do mundo - O que você quer? - ele se aproximou e se sentou na minha frente, pegando o meu livro. Leu algumas linhas, rolou os olhos como quem dissesse “pf, livro de menina” e o jogou para trás. Antes que eu pudesse reclamar, ele se aproximou mais e não mais me importei com o livro quando tinha os lábios dele nos meus. Um tempo depois ele me levantou no colo e dei um gritinho assustado.
- Você dorme comigo a partir de hoje - ri alto e ele apagou o abajur, indo em direção ao corredor.

Acordei na manhã seguinte e ele dormia todo torto e com a boca aberta ao meu lado. Soltei um riso baixo e fiquei alguns minutos espantando a preguiça de levantar. Fui até o banheiro do quarto de hóspedes, onde estavam minhas coisas. Escovei os dentes, penteei o cabelo, lavei o rosto e coloquei uma calça azul de moletom um pouco mais justa junto com uma blusa branca e um casaco da mesma cor da calça. Calcei os chinelos e prendi o cabelo em um coque. Desci as escadas e estava deitado no tapete. Assim que me viu, levantou-se e me seguiu. Abri um dos armários embaixo da pia da cozinha e peguei a ração dele, colocando no pote e trocando a água da cumbuca de água. Lavei as mãos e coloquei pratos, copos e talheres na mesa. Deixei o monstrinho lá embaixo sozinho comendo e foi só então que percebi que não sabia que horas eram. Olhei o relógio. Oito e meia. Ainda não era hora de acordar o resto da casa. Fui até a janela e havia ninguém lá fora. Apenas um jornal. Aproveitei a calmaria da rua sem paparazzis e abri a porta para pegar o jornal. Peguei-o rápido e fechei a porta. Sentei-me no sofá para folhear as notícias de outro país e ver a previsão do tempo. Junto do jornal estava uma revista e adivinha quem estava lá?

aparentemente tem sido vista abatida e abalada, enquanto aparece feliz ao lado de sua nova companhia, a já identificada , com quem o estaria tendo um caso desde que foi ao país de onde ela é nascida (Brasil) para fazer shows.
Uma amiga pessoal de chegou a dizer que a amiga não parece aceitar ainda muito bem a troca do ex-namorado. A brasileira aparenta ter menos de dezoito anos e é transparente que o faz mais feliz do que .
Não temos muitas notícias sobre a nova escolhida de , mas não apostamos que a relação irá durar muito. Ainda mais porque preferem esconder tudo dos holofotes e moram absurdamente longe um do outro.
Anteontem, os dois foram vistos em um supermercado na companhia do do . Partiram dali ainda cedo e retornaram para casa. No jardim, ele gravava o que ela fazia e, quando se deram conta de que estavam sendo fotografados, a menina se escondeu atrás do carro, enquanto ele (ainda filmando) foi falar com os paparazzis.
Agora a pergunta que não quer calar: será que ela teria MESMO sido o grande motivo do término do namoro entre os dois músicos? Alguns desmentem e outros não comentam, mas qual será a verdade
?”

Saber que era confirmado que eu era a outra e que eu teria sido o motivo para uma separação me deixava muito mau e fazia eu me sentir a pior pessoa do mundo. Sempre pensei que era um ato terrível e desumano esse de separar pessoas. Nunca quis separar alguém e não queria que as pessoas pensassem isso de mim. Até porque não é legal fazer aos os outros o que não quer que façam com você. Eu estava sendo atingida por aquelas revistas e só estava no meu segundo dia na cidade. Fiquei um tempão pensando em como seria até os próximos vinte e oito dias. E se eu não conseguisse suportar? Eu não estava acostumada àquele tipo de coisa, àquele tipo de gente, àquelas pessoas me seguindo, querendo saber quem eu era, o que eu fazia e porque destruí uma relação de dois anos ou mais. Eu estava me tornando a vilã que nunca quis ser e aquilo me deixava chateada.
Acabei por sem querer deixar algumas lágrimas caírem. Não tinha problema. Não teria ninguém para me olhar. Senti um peso ao meu lado e achei que era apenas .
- Não acredito - a voz me acordou, fazendo-me secar o que não tinha secado ainda nos olhos, e me endireitei no sofá - Isso aqui estava na porta junto com o jornal? - concordei e ele bateu a revista na mesa de centro - Alguém fez de propósito - ele arremessou a revista longe e trouxe de volta para ele - Faça o que quiser com isso, monstrinho - ele passou um braço pelo meu ombro e me puxou para perto - Deixe que pensem o que quiserem. Só nós importamos agora - sorriu e pegou no meu queixo - Capisce?
- Capisce.

Como prometido, a mãe dele marcou um almoço para nos “reconhecermos”. Algo que eu diria que era, na real, só para me conhecer melhor, porque ela ainda continuava com cara de quem não gostava da idéia. Mas ao mesmo tempo em que mantinha essa cara de “não gosto de você” para mim, ela também estava com expressão de que era o tipo de pessoa que, por mais que não gostasse, faria de tudo pela felicidade dos filhos. Então ela me engoliria, querendo ou não.
Ouvi batidinhas na porta e murmurei que estava saindo. Uns segundos depois, pude ouvir o ronco do motor do carro dele e as patas de pararem de fazer barulho pelo chão. Dei uma última olhada em mim no espelho. Calça jeans skinny, bota de cano alto preta, uma blusa branca com o escrito “Let It Be” em azul bebê, casaco preto com um botão fechado abaixo do peito, base e gloss. É, eu não estava tão ruim. Peguei minha bolsa azul escuro, já ouvindo buzinas, e desci. Ele buzinou de novo, apontando para o relógio, e bati a porta de casa, trancando-a com pressa e correndo um pouco até chegar ao meio-fio.
- Vamos chegar amanhã agora. Nem adianta se apressar - entrei no carro, joguei as chaves de casa para ele e abaixei o espelho do teto para continuar a me olhar - Vai conhecer a Rainha? - ri debochadamente e ele continuou - Vestida desse jeito... Relaxe. É só a minha mãe.
- É a sua mãe. Não a minha - ele se calou, ligando o rádio e mudando a freqüência - Tirando que ela não vai lá muito com a minha cara... – vi-o rolar os olhos apenas para ele mesmo e se irritou, desligando o rádio e indicando o porta-luvas. Abri-o, pegando um monte de CDs, e ele indicou o “Yellow Submarine” dos Beatles. Coloquei-o e a música começou a tocar, distraindo-nos.
Assim que passamos por algumas ruas, algo chamou muito a minha atenção e o mandei parar. Ele obedeceu. Coloquei a mão dentro do bolso esquerdo de trás da calça dele e peguei a sua carteira. Saí do carro, batendo a porta, e sorri para a senhora à minha frente. Indiquei algumas flores coloridas e ela sorriu, pegando-as. Peguei o ramo e abri a carteira. Entreguei doze libras e fechei a carteira. Voltei ao carro e sorri.
- Espero que sua mãe goste de flores coloridas. Tem de todos os tipos aqui - ele não respondeu. Apenas voltou às ruas e pegou a carteira de volta, colocando-a no bolso.
Chegamos à casa da mãe dele mais ou menos duas horas e meia depois. Ele estacionou o carro na boca do portão e saiu do mesmo, abrindo a porta para . Pegou-o pela coleira e esperou que eu saísse do carro para o trancar. Abriu o portãozinho e me deixou passar primeiro. estava cheirando tudo e já marcava território. Ele tocou a campainha e esperamos um pouco. Eu estava meio tensa, mas fingia que não só para passar uma imagem mais durona e legal de que ela não podia ter controle algum sobre minhas emoções enquanto eu estivesse sob o teto do recinto dela. Hunf.
A mãe dele abriu a porta e sorriu, esperando que entrássemos. Sentamo-nos no sofá e ela trancou a entrada. se levantou assim que ela se aproximou e deu um beijo nela. Levantei-me também e dei um beijinho nela, entregando-lhe as flores. Ela sorriu, mas logo voltou a ficar um pouco mais séria. Deixou-nos sozinhos na sala. sorriu para mim e levei aquilo como se ele dissesse “gostei do que você fez”. Ela voltou com um vaso com água, já com as flores dentro, e o deixou na mesa de centro.
A mesa estava posta alguns minutos depois e, apesar de na Inglaterra eles não terem tanta opção no cardápio assim, a comida parecia ser diferente de todas as outras que ouvi falar e cheirava bem. Esperei-a servir todos nós e só então, com o sinal dela, começamos a comer. Não era um hábito muito legal conversar enquanto comia lá, então ficamos a maior parte do tempo calados. Eu queria perguntar onde estava a irmã dele ou algo sobre o pai, mas, sei lá... Não me sentia nem confortável para aquilo e, se fizesse algum tipo de pergunta daquelas, era capaz de ser expulsa de vez de lá.
Acabamos de comer depois de dez minutos. Ajudamo-la a tirar a mesa e fomos para a sobremesa. Algum doce estranho e gosmento. Não estava com a melhor das caras, mas eu teria que provar. Provei aquela coisa estranha e não. Era nada bom. Pelo contrário. Era uma coisa estranha. Não se tinha doces como aqueles no Brasil com a graça de Deus.
Assim que ela me olhou, sorri, indicando que tinha gostado e ela me ofereceu mais. Por pura educação, aceitei um pouco mais e tentei engolir aquilo sem nem sentir o gosto. Fail.
Voltamos à sala depois de ajudar com a mesa, pratos e a travessa de doce da sobremesa, e nos sentamos no sofá para conversar. Eu tentava me manter quieta. Não queria falar besteiras e ela me crucificaria, se eu falasse alguma.
- Então... Está gostando daqui? - indiquei que “sim” com a cabeça, sorrindo amigável e ela sorriu de volta - É muito diferente do Brasil?
- É muito diferente. Saí de um lugar muito quente e vim para um muito frio. Ainda tenho que me acostumar - parou ao meu lado e deitou a cabeça no meu joelho. Fiz carinho nele.
- o carrega para todos os cantos, não é? - arregalei os olhos, concordando, e ela riu de leve - Ele gosta muito desse - fiquei calada, observando algumas coisas pela sala, como fotos, móveis, cheiro, e ela quebrou o silêncio, perguntando-me algo que em sã consciência eu nunca me lembraria de perguntar - Seus pais não se importam de você viajar com um desconhecido?
- Para falar a verdade, sim. Mas eles sabem que vai acontecer nada e eles têm que depositar alguma confiança em mim.
- É... Se não depositarmos, não sei como vai ser. Se eu não tivesse depositado tanta confiança no , acho que ele ainda estaria morando comigo. Acho não. Tenho quase certeza.
- Às vezes vale a pena arriscar, né? - ela sorriu.

Assim que chegamos a casa, a primeira coisa que fiz foi ir ao banheiro. Minha bexiga estava mais apertada que a calça de couro que o Ross tentou colocar em um dos episódios de Friends. Enfim... Depois de ter feito o meu xixi e aliviado a minha bexiga, corri para qualquer notebook que aparecesse na minha frente. Rodei minha cabeça atrás do que escrever para o pessoal do outro lado do mundo e finalmente algo saiu. Quer dizer, algo que preste não sei. Só sei que o e-mail ficou mais ou menos assim:

To: , A Melhor Da Lista.
Subject: Não Pire.

Ok. Antes que vocês comecem a gritar aí na frente dessa tela por causa das fotos e fofocas que já devem estar disponíveis para leitura nos sites, sim, estamos nos relacionando. Não. Nada totalmente sério. Verdade. Fomos ao supermercado com o , sabendo que é contra a lei. Sim, ele contratou um cameraman e um fotógrafo pessoais. Não, não andamos fazendo nada de ilegal. Com certeza, estou AMANDO tudo isso. Por enquanto, só fiquei em Londres, conhecendo alguns lugares, e comprei algumas coisas. Yes, . Suas roupas e CDs já estão na mala e... Bem, AQUILO que você pediu ainda não tive a oportunidade de pegar, mas não volto sem! Palavra de escoteira (ou não). Estou levando lembrancinhas estranhas para todas. Elas são estranhas, porém são legais. Prometo. Oi mãe, oi pai! Estou com saudades. Juro. Estou bem e ando com seguranças pela rua. Podem ficar tranqüilos.
vai me levar para Bolton (estou louca para ir para lá), Liverpool (morri quando ele disse que me levaria para lá sem problemas), entre outros. Qualquer coisa que aparecer em revistas, não fui eu que disse, HAHAHA. Aqui, eles seguem a gente até no jardim de casa. É um horror.
Bem, acabei de voltar de um lugar que fica a duas horas daqui porque fomos almoçar com a mãe do dele (viu, mãe?) e estou cansada. São quase meia noite aqui e o está tentando cozinhar panquecas sem muito sucesso. Melhor eu descer para ver o futuro estrago. está aqui ao meu lado, dormindo. Se pudesse, eu até mandava umas fotos dele, mas logo, logo vão ter alguns vídeos caseiros rolando pela internet. está filmando por si próprio o que fazemos dentro de casa (acho que ele nunca teve um hóspede aqui dentro). Bom, acho que fico por aqui. O barulho da panela caindo no andar de baixo foi alto e provavelmente chegou. É, acabou de chegar aqui. É, é quase meia noite. E, é, as panquecas devem estar todas no chão ou no teto da cozinha. Vou descendo. Amo demais vocês. Cuidem-se. Dou notícias assim que puder.
PS: Por favor, imprimam isso e mandem para os meus pais.
PS 2: Fotos pessoais da viagem já estão disponíveis no meu orkut, facebook e twitter.

Beijinhos xxx

É, parecia nada de mais. Não contava todos os passos que eu dava, mas estava apresentável para um primeiro e-mail. Também... Nunca fui de ficar trocando mil e um e-mails com ninguém, então... É, serviu.
Cliquei no “send” e lá se foi o e-mail.
Resolvi trocar de roupa, já que estava com a mesma do almoço. Tirei as que vestia e coloquei uma calça de moletom mais colada, preta, uma blusa de manga comprida verde e um casaco fino por cima. Calcei as minhas meias e as pantufas do Bob Esponja. Desci as escadas e a movimentação e falação da cozinha já podia ser ouvida. Adentrei a cozinha com as mãos juntas perto da boca e eles riram. Engraçadinhos... Qnquanto eu morria de frio, estava um de boxer e blusa e o outro de calça jeans e blusa de manga fina. “Foguentos”... Sentei-me em uma das cadeiras da bancada de INOX preta da cozinha de e ele me passou um prato com um pouco de Yakisoba. Yummy!
- As panquecas não deram certo. Acertei? - eles riram e concordaram - Pelo menos isso aqui está bom - pude ver sacolas e caixinhas de comida chinesa perto da pia e rolei os olhos - Podemos ir ao museu de cera amanhã? Quero tirar uma foto com a Amy Winehouse.
- Gosto dela - apontou para mim com os palitinhos que comia, enquanto eu tentava pegar o Yakisoba, mesmo com aquela borrachinha presa no meio. Ê, lerdeza.
Vendo que eu iria passar mais vinte e sete dias ali e que ninguém da casa cozinhava, apenas comprava comida pronta ou pedia em casa, resolvi me oferecer para cozinhar algo. Eu morava no Brasil. Deveria saber fazer alguma coisa, por mais básica que fosse, né?!
- Posso cozinhar alguma coisa decente? Comida de verdade? - eles me olharam com olhares duvidosos e sorri - Comida brasileira. Conhecem brigadeiro?
- Mas “briuiga” o quê?
- “Deiro”. Brigadeiro - eles continuaram a me olhar confusos e suspirei. Peguei duas latas de leite condensado que eu tinha comprado, porque não sou burra, abri-as e joguei em uma panela recém-pega debaixo da pia, ligando o fogo depois de passar um pouco de manteiga dentro. Esperei um pouco e joguei o chocolate lá dentro. Eles levantaram curiosos e ficaram observando. Esperando que o doce ficasse pronto, eu ia mexendo, deixando os dois loucos para comer, já que começava a cheirar. Quando estava no ponto certo, que não sei explicar qual é, mas sei ver (risos), desliguei o fogo, peguei um pano, segurei nas laterais da panela e passei por eles, abrindo espaço - Sentem-se e apreciem alguma coisa melhor do que o Yakisoba do chinês - eles se animaram e ficaram olhando a fumaça sair da panela. Esperamos um tempo e a fumaça começava a desaparecer. Peguei duas colheres e entreguei aos dois. Eles enfiaram-na por inteiro e pegaram o brigadeiro – Cuidado que está quente.
- Não vai comer? - parou com a colher a centímetros da boca, olhando-me. fez o mesmo, esperando a minha resposta. O que se passava na cabeça deles?
- Não sou fã.
- Está envenenado, . Não coma - ele abaixou a colher e rolei os olhos. Peguei na mão dele, levando a colher até minha boca. Comi o brigadeiro e sorri.
- Se estiver envenenado, morro antes de vocês - eles deram de ombros e caíram dentro do doce, ficando loucos por mais, depois que a panela inteira já tinha ido embora.
Mais tarde, por volta de duas da manhã, eles queriam sair para comprar mais ingredientes porque os que tinham em casa tinham acabado por causa dos esfomeados. Impedi os dois, pegando as chaves das portas depois de trancá-las, e acabou que teve que dividir a cama com no final da noite.


Capítulo dez


e fizeram o favor de me acordar no dia seguinte porque tinha que ir para casa antes que a namorada dele pirasse e achasse que ele tinha ido dormir em outra cama, se é que vocês me entendem. Acabei por ligar para a casa dele e falar com a menina, que, aliás, era um amor de pessoa. Expliquei a situação do dia anterior, ainda coçando os olhos e com cara e voz de sono. Ela disse que pela situação a coisa era tão boa que, se eu não fizesse um pouco para ela, iria me acorrentar até que eu fizesse. Depois disso, fiquei meio sem graça e com medinho da menina. Apenas terminei a ligação, dizendo que o meu boy estava levando o dela para casa.
Não consegui entender onde o carro de estava estacionado, mas parecia super longe. Ele sabia para onde estava indo na noite anterior? Não me parecia nem um pouco bêbado. Enfim... Anos depois, finalmente conseguiu chegar a casa e eu já tinha comido e estava acabando de me vestir. Olhei-me no espelho. Vestido branco com leggin preta e sapatilha branca. É, estava apresentável. Bati na porta do quarto de e ele apareceu com a cara toda amassada. Olhou-me estranho e rolei os olhos.
- Se disser que se esqueceu de que eu vou ao museu de cera hoje, bato em você aqui e agora - ele arregalou os olhos e fechou a porta na minha cara. Desci e fiquei um tempo brincando com de jogar uma bola de meias de .
Cerca de vinte minutos depois, o boy que fechou a porta na minha cara já estava devidamente vestido na minha frente. Pegou a bolinha babada da minha mão, examinando-a e fazendo careta. Subi, indo lavar minha mão e pegar o mais importante: o casaco.
Ele estacionou e desci, já me sentindo menor do que nunca perto só da porta daquele museu. Jesus do céu, como aquilo é gigantesco. Sem comentários. Entramos. Ele pagou (caro) para nós dois e me vi naquele salão enorme. Fomos sala por sala, conhecendo tudo. Acho que nem ele tinha ido lá ainda, porque realmente parecia prestar atenção nas coisas. Ele até tirou fotos com alguns bonecos como o cara que fez Homem de Ferro, o Will Smith, Jim Carey (esse ele gostou), Angelina Jolie, Britney Speares e até com a Amy. O tempo passou tão rápido que já tinha passado quase uma hora apenas no primeiro andar. Andamos mais um pouco. Não pensei duas vezes antes de puxá-lo pelo pulso para o segundo andar depois que vi uma coisa muito linda escrita na plaquinha.
- PAUL! - corri até ele, abraçando-o forte.
- , isso é de cera, por favor - chegou perto de mim, pegando-me pelos braços e tirando-me dali. Poxa vida, era o Paul McCartney.
- Vá, . Não seja mau. Tire uma foto minha com o Paul - sorri, abraçando mais ainda a estátua, enquanto ele ria. Desculpe-me se isso rimou obscenidades, caso você leia “Paul” errado. É, eu sei que agora você está aí, rindo feito idiota e relendo a frase.
- Você já tirou fotos, deu milhares de berros e fez cena em quase todas as salas que passamos. Até de jogador de futebol. Satisfeita? - peguei a câmera da mão dele, olhando todas as fotos. Noventa e cinco por cento das fotos eram minhas quase babando em todos os bonecos. Nossa, Elvis era sensual até em cera. Amy parecia drogada até em cera. Will Smith era mesmo alto até em cera. E o Obama? E o Brad Pitt? Fiz uma careta. Backham ganhava. Mais lindo, impossível. Aqueles olhos...
- Quase. Minha foto com a Amy ficou estranha - não o deixei falar nada - Sabe quais são as únicas estátuas com que ainda não tirei foto? – vi-o balançar a cabeça e cruzar os braços, esperando por uma resposta minha. Um grupo de meninas tão histéricas quanto eu passou por nós, quase o derrubando perto da estátua do Johnny Depp. Dei um berro e um pulo - JOHN! - joguei para o outro lado e ele me olhou meio estranho e puto ao mesmo tempo - Caramba, foi quase. Olha por onde cai, . Quase matou o Johnny - ele ia responder, mas ri, fazendo-o entender que eu estava de brincadeira - Então voltando... As únicas estátuas com que não tirei foto ainda... Não conseguiu descobrir qual é? - ele negou e ri. Era tão fácil de desvendar - Vocês - apontei para o McFLY de cera no final da sala. Ele rolou os olhos e, antes que pudesse me pegar pelo braço e me tirar de lá, saí correndo, esperando umas meninas tirarem fotos com ele, e me coloquei entre os quatro. Fiz uma careta e riu alto.
- Nunca imaginei isso. Você tem dois de mim agora - mandei língua para ele enquanto via o flash vir na minha cara.

Esgotamo-nos visitando o museu. Saímos de lá, compramos um cachorro quente no meio da rua mesmo e voltamos para casa, não antes de acabar de comer. Senão, teria um filho, caso o carro dele sujasse. Meninos...
Entrei no carro e acabei rindo quando vi um sapato meu que eu havia procurado de manhã. Peguei-o, gritando um “ahá!” e ele rolou os olhos. Ligamos o rádio e me animei com a programação da estação. Era muito melhor do que a do Brasil, devo comentar. Só tinha música boa. Falo logo. Sem funk, sem baixarias... Nada contra. Ouça funk o quanto quiser. Só não ouça perto de mim e nem espere que queira ouvir algum dia com você. Seja quem você for. Até John Lennon. Ok, com ele talvez, porque eu ficaria babando nele enquanto a música toca e eu nem perceberia o que estava acontecendo.
Chegamos a casa, sendo recebidos pelo “monstrinho” que prefiro chamar de “anjinho”, e pegou o telefone. Avisei que iria usar o computador e ele concordou. Sentei-me na cama e abri o notebook. Logo entrei na internet e fui abrindo o meu amado e-mail. Não tinha nenhum novo vindo do Brasil, então excluí os spams e descarreguei a máquina. As fotos passaram por um photoshop básico antes, claro, e depois foram direto para as minhas redes sociais privadas. Não coloquei no twitter, já que muitas pessoas começaram a me seguir do nada e ele foi de duzentos e cinqüenta seguidores para cinco mil em poucas horas. Acho que alguém deu uma mãozinha... Eu não queria minha vida exposta para essas pessoas que eu nem sabia quem eram.
Voltei à sala e disse que a namorada de estava super a fim de me conhecer. Acabei por aceitar então o convite que ela tinha feito para irmos ao teatro.
foi comigo até a casa de e (a namorada dele). Ficamos conversando por um tempão até que ela olhou o relógio e viu que precisávamos sair. O tempo tinha super virado. Estava ventando para caramba e ameaçava chover. Como morava lá, nem ligou e continuou na mesma. Não pude pegar o casaco dele, já que ele não levou um. Foi apenas com uma boina na cabeça como acessório. me emprestou um casaco estilo “vovó que fez”. Era até que bonitinho. Fomos os quatro no carro de para o teatro.
A peça era Hamlet e super me animei porque sempre gostei muito de Shakespeare. ficou feliz por ter acertado na escolha da peça. Depois que ela acabou, ficamos um tempo esperando para falar com os atores que eram amigos dela. Conversamos com todos eles e ela acabou por contar que eu era do Brasil. Eles então ficaram fazendo mil e uma perguntas. Fomos expulsos do teatro porque já estava na hora de fechar. Acabamos que nós quatro em conjunto com a galera do teatro fomos comer em um restaurante de comidas naturais perto de lá.
Quando já era quase meia noite, deixou o casal e em casa e nos despedimos, indo para a dele.
Cheguei, tomei banho e caí dura na cama. Estava super cansada.

’s POV

acordou no dia seguinte super fora de si e achei engraçadão. Avisei que iria até o estúdio, mas voltaria rápido. Qualquer coisa, ela poderia ligar para o meu celular que deixei anotado em uma mesa perto da porta onde tinha o telefone. Depois saí. Eram exatamente nove e meia da manhã quando fui embora e ela estava se sentando para ver TV.
Cheguei lá, arrumamos os instrumentos, finalizamos algumas músicas novas, começamos a tentar escrever outras, arrumamos os ajustes de umas que já tínhamos gravado e... Estávamos trabalhando em um novo CD.
Exatamente às duas da tarde fomos liberados por termos trabalhado demais (aham) e os meninos estavam me olhando muito estranho, principalmente . Ele balançou uma sacola branca nas mãos e consegui ver o que tinha dentro. Balancei a cabeça em negação e ele riu, fazendo que sim com a cabeça dele. Neguei de novo e dessa vez enfatizou o sim. Logo depois foi e neguei de novo.
- Gente, fale sério - eles pularam em cima de mim e começaram a tirar a minha roupa, dar-me murros, e ficava passando altos gelos em mim. Comecei a gritar e a me remexer todo. Eles riam da minha desgraça. Nosso empresário entrou na sala, achando que alguém estava morrendo, e assim que o vi, sorri como se estivesse vendo Deus - Pelo amor de tudo, tire essas bichas de cima de mim. Eles vão me comer vivo.
- Ei, ei, ei, se vocês estão ou não comendo o , isso não sei e nem é problema meu. Agora, por favor, dêem um tempo porque o menino não agüenta o tranco - eles saíram na hora de cima de mim e começaram a rolar no chão, rindo todas. Mandei um dedo bem bonito e lindo para o meu empresário e saí batendo em cada um deles.
Corri, pegando a chave do carro no bolso. Abri a porta da gravadora e vi meu carro no estacionamento. Liguei o alarme dele, já o ouvindo destrancar. Fui correndo até o meu filho. Entrei e, assim que tranquei a porta por dentro e liguei o carro, pude ver os três saindo pela porta grossa da gravadora e olhando em volta. Olhei para baixo por segundos e, quando voltei a observá-los, estava apontando para o meu carro. Vi-os correr feito leões famintos e vinha com a sacolinha dele atrás. abraçou o capô do carro, tentava abrir a porta e finalmente estava chegando perto e começou a bater no vidro. Pisei no acelerador e eles tomaram um mega susto com o ronco do motor. e pularam para o lado e soltou o capô, indo para longe. Abri o vidro, mandando o dedo do meio enquanto colocava os meus óculos, e ri deles, já acelerando. Vi-os pelo retrovisor reclamando e chutando o ar. deu um tapão na cabeça dos outros dois e apontou os próprios carros. Gente lerda é uma beleza.

Entrei em casa correndo e tranquei a porta com cara de quem estava sendo perseguido pela polícia. Fechei todas as janelas e estava atrás de mim. De vez em quando, atrapalhava-me. Corri até o andar de cima e saí fechando todas as cortinas. Entrei no quarto de hóspedes. saía do banho e tomou um susto, gritando e pulando para dentro do banheiro de novo. Bati na porta e ela a abriu, um pouco vermelha. Peguei no queixo dela e a beijei por uns segundos - só até eu me lembrar de que estava sendo perseguido. Saí pulando pela casa, a fim de ver se eu era mais rápido correndo ou pulando. Não deu outra. Meu celular começou a vibrar e uma mensagem de “ Quase Assumindo” dizia: “vocês não escapam”. Ah, vá. Até parece.
Dei a devida atenção a e fui até a cozinha. Peguei uma garrafa de água e engoli como se estivesse no deserto há anos. Perseguição cansa, manolo. Adrenalina na veia. Quando você vê, percebe que já está super envolvido e só se dá por cansado quando faz a mesma coisa que eu: senta-se, ligando a TV. Rachel Ray passava no Discovery Home & Health e fiquei observando, enquanto aquela mulher baixinha e rechonchudinha (porra, eu sou gay. Sério) fazia altas coisas na cozinha. Comida, comida... Não altas coisas de outras coisas, se é que você me entende.
se sentou do meu lado, vendo a casa toda fechada. Expliquei a situação para ela e ela riu. Meia hora havia se passado desde que eu tinha voltado do estúdio e nenhum deles ainda tinha batido na porta. Talvez tivessem desistido. Sou ótimo. Já posso roubar altos bancos e nunca ser pego. Não. Parei para refletir sobre algumas coisas da vida e dava atenção a enquanto isso. Senti-me meio carente e enciumado pelo meu estar recebendo carinho e eu não - ainda mais porque era vindo dela. Puxei-a pelo braço para o meu colo e... Não sou ferro. Minutos depois já estava me aproveitando da boa alma brasileira. Viva a mulher que originou aquelas curvas. Benza Deus.
Ficamos nos amassando por horas pelo que eu pude notar, já que quando precisei tomar ar resolvi olhar que horas eram. Cinco horas. Avisei que iria tomar banho e a beijei por mais uns minutos. Levantei-me à força. Se eu continuasse ali, sabia que não iria agüentar e faria coisas que não estavam no roteiro que entreguei aos pais dela. Meu celular apitava loucamente no bolso da minha calça que estava no chão e o peguei, atendendo sem nem olhar o visor. Quando ouvi a risada maléfica... Ok, “maléfica” de , desliguei na hora e a adrenalina voltou. Comecei a rir. Sentia-me um menino de sete anos brincando de polícia e ladrão de novo.
Desci as escadas com a câmera ligada e a campainha tocou. Fodeu. Ri meio nervoso. Passei por trás de que estava calma no sofá, jogando Mario Kart no DS branco que ela tinha achado no meu armário. Eu tinha altos jogos. Só queria saber onde estavam. Se bem que tinha meses que eu nem sabia mais que tinha esse DS. Sabia muito menos onde estava. Bastou a menina chegar para o bicho aparecer. Aê. Muitas saudades das tardes em que eu ficava tentando zerar os joguinhos que eu comprava. E a parada ainda estava com bateria. É isso aí!
Abri a porta e entrou feito um furacão com a sacolinha na mão. Apontou o dedo na cara de depois de deixar a sacola na mesa de centro. já estava indo cheirá-la. Tirei-o dali e e entraram atrás de , imitando-o.
- Você! - tomou um susto e largou o DS do lado dela no sofá - Queremos mais - ela olhou meio retardatária para eles e os caras riram - Quero mais daquele negócio que você fez. Eu disse para eles... - apontou para e atrás dele - Como que era e os seres querem provar também. Até compramos os ingredientes - ela continuava parada intacta. Aproximei a câmera dela e ri alto.
- Primeiro susto dado pelo . Como se sente?
- Intimidada - afastei-me dela e rimos. Eles se sentaram no sofá e logo estava passando por todos, “a finzão” de ganhar algo para comer ou atenção, já que há alguns dias eu não lhe dava a devida atenção. desligou o DS e se levantou - Ok, estou indo fazer - ela pegou a sacola da minha mão e se dirigiu à cozinha.
- Nossa, que boazinha. Se fosse eu, mandava aprender e fazer sozinho - disse maravilhado - Não é toda mulher que se deixa ser mandada.
- Ela é legal - eu disse, colocando a mão na barriga - Estou com sono e fome - deitei a cabeça no encosto do sofá e me olhou sugestivo.
- Você anda muito cansado e tem tido uma fome anormal ultimamente. Quer compartilhar algo conosco? - os outros dois imitaram o olhar de , mas acrescentou as sobrancelhas para cima e para baixo loucamente. Rolei os olhos e mandei dedo para eles. Pervertidos.
- Primeiro, fale baixo, sua bicha - dei um tapão em - Virou homem sério? - perguntou, jogando em mim uma almofada. correu para pegá-la e acabei por levar uma cabeçada de no queixo. Coloquei a mão ali, enquanto os outros riam.
- , chame o - eles continuaram rindo e ela o chamou. foi até a cozinha e a menina fechou a porta - Os pais dela confiaram em mim para trazer a garota para passar um mês comigo - joguei a almofada de volta em - Acha que vou enganá-los? - a porta da cozinha foi aberta e ela saiu de lá, tendo que se concentrar em carregar a bandeja com o doce e se desviar de que a seguia e pulava, tentando pegar algo. Ela não era lá muito alta, então... Ficava difícil. E difícil estava para mim. Tudo passou em câmera lenta. Ela levantando a bandeja enquanto pulava. Ela ria, tentando levantar o mais alto que conseguia. Sua blusa seguia para cima e parte da sua barriga ficava à mostra. Ela andou até nós e parou ao meu lado, deixando a bandeja na mesa de centro, enquanto eu segurava o monstrinho pela coleira. Ainda em câmera lenta, ela se abaixou com o micro short que usava e depois segurou a coleira de , indicando que eu deveria comer e que a menina controlaria a fera. Vi-a voltar para a cozinha com o e fechar a porta. Provavelmente iria deixá-lo no jardim. Balancei a cabeça e ouvi os meninos rindo.
- Feio é enganar as suas vontades - sussurrou, apontando para baixo, e entendi. Ou eu estava muito necessitado ou sei lá. O efeito Brasil estava voltando. Eu tinha ficado excitado só de ter visto aquilo. Puta que pariu, eu estava perdido - Em que buraco você foi se meter, hein... - ouvi continuar a se achar o engraçado, tirando uma com a minha cara por causa da minha situação meio que seriamente precária, e mandei logo dois dedos.
Eles já estavam atacando o brigadeiro. Ela abriu a porta da cozinha e deixou-a como estava. Ouvi latir lá de fora e a garota sorriu satisfeita. Sentou-se ao meu lado e apontou o pote com o brigadeiro para ela.
- Não vai comer?
- Coloquei veneno e quero ver quem morre primeiro. Estou apostando minhas as fichas no - comecei a rir ao ver que ele já tinha comido quase tudo desesperadamente. e deixaram o pote na mesa e ela riu alto junto comigo - É brincadeira. Podem comer.
- Já que você insiste, dê licença - pegou o pote de novo e comeu como se não comesse há anos.
Deitei-me no colo de depois de comer brigadeiro pela vida toda e ele não me jogou para o lado. É, tinha droga naquela porra. Só podia. Meio que dei uma dormida e acordei com chutando o meu braço e dando tapinhas nele. Foi engraçado. estava deitado com as mãos na barriga e estava mexendo no celular.
- Já ficaram sabendo do Fletch? - olhamos para ele, esperando que continuasse. Apelidamos de “RDF”, que significa “Rainha Das Fofocas”.
Entreolhamo-nos, rindo, e ele mandou dedo, entendendo a piadinha.
- Ele vai se casar - eu ia comentar um “que avanço”, mas não pude, já que ele me cortou antes de tudo - E a melhor parte: fomos convidados para o casamento - e jogaram almofadas nele. Dei uns soquinhos na perna dele. Óbvio que seríamos convidados, porra! Ai dele, se não convidasse – Ei, porra, não terminei ainda! - ele jogou as almofadas de volta e me olhou torto e estranho - E você, o que faz aqui no meu colo? Veadinho mesmo... - fui jogado para fora do meu próprio sofá e meu companheiro de chão, , veio logo me cheirar. Fiz carinho na cabeça dele e me levantei, sentando-me no sofá. estava ao lado de e eu não parecia gostar muito daquela aproximação de corpos, já que o sofá em que eles estavam não era dos maiores e nem dos mais largos - Vamos tocar lá, seus palermas. Ele quer que toquemos “Falling In Love” e “Help”. “Falling In Love” o noivo dele que escolheu e “Help” foi ele - é, caso você ainda não tenha entendido, nosso empresário é gay - Imagine que louco. Vai ser foda.
- Vou beber muito... - abriu um mega sorriso.
- Vai é ficar quieto - o telefone estava tocando e eu olhei para todos eles - Quem vai atender? - me olhou como se eu fosse o Obama e gritou um “você. A casa é sua” - ... - falei com uma voz manhosa e ela riu, negando com os dedos e logo soltando um “no way, baby”. Bufei e me levantei, sendo seguido pelo monstrinho - O que é? - atendi na maior animação e educação. - Caraca, QUÊ? Alô? Quem é que está falando? Não entendo! Que língua você fala? – toquei-me que só poderiam ser as amigas de e fui até ela, cobrindo o telefone com as mãos - Suas amigas alopradas - entreguei o telefone para ela e a mesma riu - Não quero nem saber como elas conseguiram o telefone daqui – olhei-a feio e ela puxou o meu queixo, dando-me um selinho.
Ela atendeu, falando português, o que me deixou meio puto porque eu obviamente não consegui entender bulhufas do que ela estava falando. Ficaram uns cinco minutos no telefone e ela o desligou, colocando-o na base. Observei-a, assim como os outros três tarados, e ela estava com o olhar meio vermelho. Ai, merda. Detesto menina chorando.
- O que foi? - ela negou com a cabeça e fez um movimento com a mão, indicando que era nada, e se aproximou do sofá. Puxei-a para o meu colo e os meninos fingiam estar dando atenção para outra coisa, e não para nós dois - Brigou com elas? – vi-a negar e se encolher, ainda sentada de lado no meu colo - É saudade, não é? - riu um pouco e a abracei - Logo passa. Agora, sim, você entende o que sinto quando estou fora daqui.
- Ela disse que respondeu o meu e-mail e tem algo sobre você – cutuquei-a, tentando fazê-la dizer o que era - É melhor que você leia. Ela disse que é relacionado à Hannah Montana - os meninos explodiram em risadas e acabei rindo também. Baguncei do cabelo dela e a vi fazer cara de ofendida - O que faremos amanhã?
- Não sei. Ei, o que vamos fazer amanhã? - eles deram de ombros. disse que ia sair com para fazer compras, ia sair com a da vez e ia visitar a mãe por três dias. Hum, visitar a mãe por três dias? Era a boa - , o quarto de hóspedes da sua mãe está vazio? - ele concordou, mexendo no celular, e me virei para - Está a fim de visitar o norte da Inglaterra? - ela riu alto e acenou que sim.
- Vocês só vão se ela me ensinar a fazer isso - ele apontou o pote de brigadeiro e ela riu, concordando - E tem que deixar uma receita com a minha mãe.
- Isso é fato. Vou ensiná-lo e quero ver se você é melhor na cozinha do que o - olhei-a, fingindo-me de ofendido, e sorriu, soltando um “eu sou bom”. Ela sussurrou e piscou para ele - Ele é terrível - belisquei a perna dela e ela riu alto, tirando minha mão dali. Eu, hein. Eu cozinho super... Bem mal.
Os meninos já tinham ido embora e eu estava na companhia da minha hóspede e do meu mascote monstro na cozinha, lavando toda a louça e sujeira que deixamos. Eu ensaboava e enxaguava e ela ia colocando as coisas na secadora, arrumando-as. Depois do trabalho feito, lavamos as mãos, colocamos comida e água nova para o monstrinho e nos secamos. Prensei-a na bancada e ela riu, afastando-me. Neguei com a cabeça e beijei o pescoço dela. Eu tinha que começar a descobrir os pontos fracos dela. Ainda não tinha achado nenhum. Ela foi cedendo e nos beijamos até nos interromper, latindo. Ele era meio ciumento, é.
Subimos e ligamos o notebook para ver o tal e-mail de . Eu estava animado porque ele falava de mim em uma parte. Ajeitei-me na cama e trouxe para perto. Ela colocou o notebook entre as nossas pernas e abriu o e-mail. Como estava em português e eu não entendia, ela lia e ia traduzindo para mim. deitou nos nossos pés e ela sorriu, fazendo carinho nele. O e-mail dizia:

To:
Subject: RE: Não Pire.

Cara alien nascida para a lua, já vou logo avisando que virei sua advogada pessoal e cobro caro. Principalmente pelo que falo, ok? Agora todo mundo no colégio e na rua vem me perguntar de você, do que é ou não verdade. Ai, essa vida de pop é dura... HAHAHA. Olhe só, é bom você voltar com o que pedi mesmo. Senão, você vai ver só! Melhor nem voltar. OK, volte, sim (estou meio sad hoje).
Sobre o material que está disponível em sites, li todos e salvei alguns. Adorei. Até aprovei alguns e, caso você não saiba, quanto ao caso do jardim, relaxe, você ficou linda abaixada atrás do carro dele e com as compras do lado de fora da casa (eu a fim de zoar um pouquinho). Isso... Meta inveja que você vai conhecer a Inglaterra inteira... Cachorra.
Querida, primeiro que você NÃO é escoteira, NÃO vai ser escoteira e NUNCA FOI escoteira por isso. Você mentiu. Nossa amiga, já conheceu até a mãe, é? Que chique. O negócio aí anda rápido, hein (relaxe. Seus pais não vão ler essa parte). Para quando é o casamento? Quero ser madrinha. Vou logo avisando.
Ok, entre em alerta. na cozinha não é um bom sinal. Vá ajudar (se bem que acho que já ajudou. Estou respondendo uns dois dias depois). Foi por pura preguiça de digitar. Sério.
QUÊ? Colocou cameraman e fotógrafo atrás de vocês? Ele não tem com que mais gastar dinheiro, não? Ah, dê licença. Estou indo embora depois dessa. Vai nascer virada assim lá no raio que a parta, Nossa Senhora!
Ah, ? Jura? Que legal... Aquele meu vizinho? HAHAHA, mentira.
PS: Mandei. Eles leram e mandaram mil beijos, abraços, aqueles “cuide-se, blá, blá, blá” que estamos carecas de saber. Nada de especial. Ponto.
PS 2: Adorei as fotos - principalmente a do museu de cera com a Britney. Muito diva.
PS 3: We miss you so much, little star.
PS 4: Ainda quero conhecer o e quero os vídeos caseiros. Quero não. DESEJO, HAHAHA.
PS 5: Oi, . Aqui é a melhor amiga da , a . Espero que você trate o meu bebê bem e a alimente (sei que isso pode sair caro, mas como já dizia Hannah Montana: “essa é a vida”), Ok? Não a deixe fazer besteiras. Tchau.

- Essa sua amiga regula das idéias? - riu alto e fechou o notebook – Não. É sério - arregalei os olhos quando ela concordou - Cara, ela é fora de si. O que ela lhe pediu que, se você não voltar com, a menina a esgana? - não recebi resposta e continuei - Quem disse que sou um perigo na cozinha? A garota nem me conhece e já vai falando... Ai, essa não pisa aqui. É, pelo menos concordo com ela em muitas coisas. Uma que você come muito e vou ficar pobre com você do meu lado. Outra é que também quero saber quando é o casamento. Não que ela vá ser madrinha, mas quero saber quando sai - ela tampou a minha cara e fomos arrumar as nossas malas para a casa da mamãe .


Capítulo onze


’s POV

estacionou o carro em frente a uma porteira meio velha e nos mandou esperar. Bateu umas palmas fortes e um homem apareceu, logo sorrindo para ele. Abriu a porteira e voltou ao carro, acelerando para dentro do terreno. Saltamos do automóvel e levei um leve susto com umas galinhas que estavam ciscando perto de nós. Elas eram seguidas por pintinhos amarelinhos e uns pretos. abriu a mala do carro e pegamos as nossas malas. Um homem apareceu junto com o que tinha aberto a porteira e nos ajudaram com a bagagem que, apesar de não ser muita, era pesada.
Passamos por uns porquinhos, coelhos, mais galinhas, galos e pintinhos, uns carneiros, passarinhos, e finalmente chegamos à casinha simples e aconchegante da mãe dele. Fomos recebidos pela mesma, que estava nos esperando na porta e secava as mãos. Abriu os braços assim que viu o filho e o abraçou. a levantou do chão e recebeu um tapinha depois vindo com risadas. Acho que fazia muito tempo que não se viam. apontou para e eu e a mãe dele logo nos chamou com as mãos. me puxou pela mão e abriu os braços, abraçando-a e me apresentando. Ela já sabia o meu nome e tive a certeza de que falara de mim para ela.
Entramos na, sim, aconchegante e bem decorada casa da senhora e não nos sentamos no sofá. Fomos levados direto para uma sala onde tinha uma mesa imensa com várias coisas para comer - desde pães até frutas e iogurtes derivados. Tudo natural, óbvio. Sentamo-nos e os meninos atacaram a comida. Eu ainda estava meio sem graça, então só tomei suco de goiaba. Estava bem gelado, o que era uma delícia.
- Amo você, mãe - disse em meio a uma mordida num pão recheado com requeijão, presunto e alface, se não me engano.
- De boca cheia não, - ela fez cara de nojo, entregando um guardanapo a ele e nós rimos - Mas eu também o amo.
- É costume - ela arregalou os olhos e balançou a cabeça em negação - Não faço na frente de todos. OK, só às vezes. Ah, você sabe. Sou uma estrela do rock. Não penso nos bons modos - ele levou um puxão de orelha - Quer dizer, penso, mas nem sempre - vi que o menino ia sair sem órgãos genitais e queria poder ajudar. foi mais rápido e o ajudou. Ou pelo menos tentou, né...
- Qualquer coisa que a gente faça é motivo para um berrinho histérico e de emoção. Até soltar pum ao vivo. Mesmo que feda pra valer e todo mundo morra sufocado depois... Mas antes elas, batem palma e exalam o quanto conseguem - dei um tapão nele e a mãe de sorriu para mim como quem agradecesse.
- Esse é o seu plano para nosso próximo show em Liverpool, ?
- Eu não tinha pensado na possibilidade, mas... - riu e arregalei os olhos - O que você acha? - fez joinha - Se bem que os primeiros a morrer seremos nós...
- Não sei como você ainda não explodiu. Deve ser podre por dentro - a mãe de bateu na mesa e ele riu. O cara não levava a mãe a sério, não? Que menino louco! – Ah, mãe. Relaxe. É o ... - deu de ombros e apontou para o garoto e depois para mim - E a - wow. me tratando como uma “igual”. Deixe a saber disso, hum.
- Desculpe-me, viu, ? Juro que eduquei. É que esse negócio de banda acaba com eles - dei de ombros, fazendo-a entender que estava tudo bem. Eu realmente não me importava e já tinha os visto fazer coisas piores em vídeos caseiros ou vídeos de turnê. Então... - O que você disse sobre Liverpool, ?
- Ah, sim - ele limpou a boca depois de tomar o suco e olhou para ela como se estivesse esperando o “parabéns!” pelos bons modos. Senhora rolou os olhos e fez um movimento com a mão, mandando-m prosseguir - Vamos fazer um show lá na semana que vem. Iremos no domingo. Por isso eles adiantaram a BBC com o Paramore para sábado - vi coçar o queixo e ficar uns segundos calado. Depois jogou um pedaço de pão em que reclamou, jogando de volta.
- E por que ninguém me avisou isso?
- Porque essa tarefa ficou para mim. Eu disse que não era legal contarem comigo para dar o recado, mas eles insistiram. Mas, cara, relaxe. São só dois dias. Chegamos lá, damos uma rodada pela cidade, passamos o som, fazemos o show e no dia seguinte vamos embora - se virou para mim, sorrindo maroto.
- Sua volta pela Inglaterra até que está me saindo bem baratinha, diante do que você me fez gastar no supermercado... - dei um tapão nele e ele riu alto com .
- Pare de reclamar. Você que quis me trazer para cá.
- O QUÊ?! Mentirosa! - ele apontou um pão bengala para mim e ri, mordendo um pedaço - Você me seduziu até eu dizer que sim - fiz um joinha, acompanhado de um rolamento de olhos exemplar, e cruzei os braços. Seduzi. Essa é boa - Você me cansa – segurei-me para não rir tão alto e ele fez cara de bravo.
- Você me necessita.

Tirei a roupa e entrei no banho. Esperei um pouco até que o meu cabelo estivesse totalmente molhado e passei o xampu, seguido do creme, e o sabonete pelo corpo. Saí do banho enrolada na toalha. Sequei-me por inteira e espremi o cabelo. Enrolei-os e os deixei de um lado. Saí do quarto, ainda enrolada na toalha, e peguei o meu pijama. Voltei ao banheiro e o vesti. Estiquei a toalha pelo vidro do box e abri a porta, penteando o cabelo. Sentei-me na cama, observando dormir um pouco encostado ao travesseiro. Ri baixo e fechei a porta. Sentei-me ao lado dele e o balancei um pouco. Ele acordou meio que em um susto, mas logo sorriu, limpando os olhos. Deu-me um selinho e me observou de pijama. Aproximou-se e cheirou o meu cabelo. Desceu devagar até o meu pescoço. Depois, depositou um beijo no meu braço e o mordeu de leve. Dei um tapinha nele, rindo, e ele se levantou.
- O que acha da minha idéia sobre o pum explosivo no palco? - perguntou indiferente, afastando a coberta da cama. Comecei a rir e a me perguntar se ele estava mesmo me fazendo aquela pergunta. Não era possível, meu Deus! Ele viajava sério.
- Trágica.
- Mas por quê? É tão genialmente genial! - ele apagou a luz e se sentou na cama ao meu lado, cruzando as pernas - Claro que pode dar certo. Afinal, a Lady Gaga no show dela conseguiu fazer com que saísse fogo dos peitos dela e isso foi altamente legal.
- Mas ela é a Lady Gaga - ele me mandou língua e se levantou de novo, pegando uma blusa e vestindo-a.
- Estou com inveja - acendeu a luz do banheiro.
- Eu sei. Você vai morrer com essa inveja.
- Obrigado pelo conselho de como conseguir tornar real a minha idéia do pum infalivelmente infalível no show - recebi um joinha dele enquanto o mesmo escovava os dentes. Ele me chamou com o dedo. Neguei com a cabeça e ele mostrou a minha escova já com a pasta nela. Levantei-me devagar e escovei os dentes. Recebi um tapinha no quadril.
- Conte sempre comigo - pisquei para ele que riu, saindo do banheiro e se deitando na cama. Indicou-me a luz e neguei com o dedo. Ele riu e continuou indicando a luz do banheiro - Você acendeu, você apaga – sentei-me na cama, indicando a luz do banheiro para ele.
- Você é mais nova. Tem mais saúde e energia - ele me empurrou e me levantei a contragosto, bufando.
- Falou o velho - apaguei a luz do banheiro, voltando até a cama – Senti-me uma de dezessete com um de setenta agora... Ou de trinta.
- Olhe pelo lado bom: quando eu tiver trinta, você vai ter vinte e seis. Ou quando eu tiver setenta, você vai ter sessenta e seis. Ainda será novinha - rimos alto - Vai fazer faculdade de quê?
- Publicidade. Quero trabalhar tirando fotos, montando eventos... Essas coisas para revistas de moda.
- Achei que queria ser advogada. Você tem cara.
- Já quis, mas aqui não sei... Acho que posso fazer faculdade de duas coisas e usar a que estiver em alta no momento – sorri, deitando-me ao lado dele. Ele passou o braço por baixo do meu pescoço, levando-me para mais perto dele.
- Mudando de assunto... me disse que amanhã vamos acordar cedo, já que agora a mãe dele mora nessa fazenda. Vamos interagir com os animais e... Ele estava lá embaixo, comentando sobre o tal doce que você fez - ri. Eles não iam desistir nunca - Você me ensina a falar o nome? – concordei, fechando um pouco os olhos, e ele se mexeu por inteiro, fazendo-me bater com a cabeça no travesseiro. Sentou-se na cama e me cutucou – Vá, ensine-me - olhei-o, querendo passar que estava cansada, mas ele não iria desistir. É... - Agora - fechei os olhos e ele me cutucou de novo - Ande.
- Está ficando muito mandão, hein - ele me mandou língua e me cutucou de novo. Sentei-me na cama - Trouxe a câmera? - ele confirmou - Quero gravar você tentando dizer brigadeiro – ri, já imaginando, e peguei a câmera, ligando-a junto com um abajur - Olá - deixei a câmera em cima dos travesseiros, fazendo-os de apoio - Sou a e estou aqui com o na casa do quarto de hóspedes da mãe do . quer aprender uma palavra nova em português que não seja “oi” - eu ri alto, recebendo um beliscão dele – Bem... Atualizando os fatos, ele e os outros três ficaram viciados em brigadeiro - ouvi tentando dizer a palavra baixo várias vezes e ri baixo - Ok, let’s go – olhei-o e ele ainda tentava baixo.
- Repita para eu falar - repeti e ele sorriu confuso - Espere, vamos por partes, né - falei apenas o “bri”, esperando-o repetir – “Brui”.
- Não. “Bri”. “BRI”!
- “BRI”! - ele falou e nós dois sorrimos. Fizemos um high five e repeti o “ga” super difícil... – “Ga”.
- Essa foi fácil. Terceira: “dei” - ele me olhou mais confuso do que antes e ri – “Dei”.
- “Dwrei” - neguei com a cabeça, fazendo uma careta, e ele riu, mexendo as mãos - Espere, é muito complexo - esperei um pouco enquanto ele se concentrava para falar – “Dei”? - fiz joinha e ele fez uma dancinha estranha. Falei “ro” – “Rwo”?
- “RO”! - repeti - É com a língua no céu da boca e a mexendo como se fosse uma máquina - mostrei como se fazia e ele riu alto. Vi-o tentar e se enrolar. Tentou de novo mais algumas vezes – Acalme-se e tente falar direto. “Ro” - ele repetiu de maneira certa e sorri alegre.- ISSO! Agora vai tudo junto. Brigadeiro.
- Bri... - ele sorriu como se estivesse aprendendo a falar - Ga... - mordi o lábio, esperando-o terminar – Dei... - fechei os olhos, só esperando pela última sílaba ser dita perfeitamente - Ro - ele falou tudo tão lindo que acabei gritando de felicidade e bati palmas – Brigadeiro - apertei as bochechas dele, não agüentando a fofura do jeito com que ele tinha dito, como um neném aprendendo a falar. Tão lindo.
- Ah, gracinha. Falou certinho - ele começou a repetir “brigadeiro, brigadeiro, brigadeiro” e comecei a enjoar só de pensar - Ok, eu já entendi.
- Brigadeiro. Agora que eu sei falar brigadeiro vou falar o dia todo brigadeiro e matar todo mundo de inveja.
- Faça uma placa - rolei os olhos e ele me abraçou, fazendo-se cair de lado na cama. Ele caiu um pouco por cima de mim e acabamos por rir.
- Ih, você é boa de idéias - ele me soltou e repetiu a palavra uma última vez antes de desligar a câmera – Agora quero ensiná-la alguma coisa. O que você quer aprender? - fiquei pensando em coisas que garotas iriam querer aprender - Quer aprender a tocar “help!” no violão? Vai ser legal... - antes que eu pudesse responder, ele negou - Mas é melhor não. Isso é muito fácil – abanei as minhas mãos na cara dele e neguei com a cabeça.
- A minha capacidade para o violão não me deixa passar dos primeiros acordes – vi-o fazer uma cara frustrada e fiz careta, enrugando o nariz.
- Ok, fechado. Agora venha cá - ele me puxou para si e me abraçou forte - Estou com saudades - sorri perto dele, entendendo o que ele queria, e o beijei. Depois de um tempo, ele pareceu acordar de alguma viagem longa e me afastou um pouco, olhando sério para mim - Você já reparou que essa é a primeira vez que dormimos juntos? - parei para pensar e era verdade. Desde que eu tinha chegado, só havia dormido sozinha na cama do quarto de hóspedes porque prometi aos meus pais, óbvio. Se bem que tínhamos dormido só uma vez... Mas nem foi por muito tempo, já que fomos dormir super tarde no dia e acordei super cedo. Então não conta - Vou aproveitar esses três dias que não temos como ficar em quartos separados. Vou querer dormir o dia todo - sorri enquanto ele fazia uma cara fofa e beijei o nariz dele.

’s POV

Eu dormia tranquilamente, respirando basicamente o mesmo ar que , já que eu respirava o que ela expirava por estarmos muito juntos. Meu celular começou a apitar e me acordou. Fiquei meio puto. Fechei os olhos de novo para tentar dormir e apertei um pouco mais em mim. Eu tinha que aproveitar. O celular voltou a apitar e tirei um braço da cintura dela para pegá-lo atrás de mim. Uma nova mensagem de “, O Quase Mais Gay” dizia: “corra aqui embaixo”. Fechei o celular e voltei a dormir. Ele apitou de novo minutos depois. Outra mensagem de “ O Quase Mais Gay”: “é sério”. Respondi que já estava indo e esperei uns segundos para poder acordar direito e sair do quentinho que o meu corpo estava fazendo junto com o de . Fui me retirando da cama devagar, desenrolando-me da minha hóspede e finalmente, depois de muito esforço, consegui sair. Lavei o rosto, escovei os dentes, fiz xixi, lavei a mão e coloquei uma bermuda e uma blusa.
Desci devagar as escadas, bocejando. Encontrei sentado no sofá, olhando atento para um papel à sua frente na mesa de centro. Ele estava com uma caneta na boca e de vez em quando riscava o papel e escrevia coisas. Assobiei e ele me olhou. Sorriu involuntariamente, o que foi meio gay, mas deixo passar, e bateu no lugar ao seu lado do sofá. Sentei-me ali e ele me mostrou a folha.

I want to touch you
(And fuck you).
I want to touch you
(And fuck you).
I want to touch you
(Yes, that’s I want to do).
I want to touch you.

Yesterday I told you something I thought you knew.
Yes, I told you in other words
“I want to fuck you”.
Then I wish you whispered in my ear and told me too
“Get lost. You make me sick”.
I wouldn’t touch you.

But I will touch you in all the right places,
If you want me too.
But if you denied me one of your kisses,
will do.
So hold me close and say those three words,
Groping on the studio floor:
“I want to fuck you”.


- Escrevi ontem, enquanto tentava ser você - olhei-o sem entender muita coisa e ele rolou os olhos, explicando-me - Desde que disse na sua casa que feio é segurar as suas vontades, fiquei pensando em como era ser você. Coloquei-me no seu lugar, tentei pensar o que você pensaria, sentir o que você está sentindo. Fiquei pensando em como seria ter uma menina que eu queira tocar, mas não poderia. É o que você está passando. Fiquei até tarde escrevendo, mas ainda acho que está meio... Sem sal.
- Acho que está forte demais... Sei lá. Não é o que a nossa banda tocaria nem gosta de tocar. Temos que amenizar um pouco. Não sei em que eu você pensou quando escreveu isso, mas eu nunca escreveria algo forte assim. É meio grosseiro e, se for para a mulher que gosto, eu escreveria algo mais... Bonito. Elas gostam de coisas assim - fiquei um tempo examinando a folha, lendo e relendo a letra. Fechei os olhos. Não para dormir e nem nada, mas para refletir e fazer a mesma coisa que : pensar em como eu me sentia. Por que ele pensara naquilo e não eu? Sou meio lerdo.
Abri os olhos quando as idéias vieram a mil e peguei a caneta na mão/boca dele. Olhei com nojo para o objeto e o limpei na blusa de antes de começar a escrever.
- Posso? - apontei o papel com a caneta. Ele acenou que sim e comecei a me divertir - Temos que trocar isso por isso... Não, não, não. Foder é grosseiro. Fazer amor seria melhor, mas não combina... O que eu poderia...? AH! - trabalhei por uns minutos na música e apenas abria sorrisos enquanto tentava espiar. Assim que terminei, mostrei para ele - É exatamente como me sinto.

I want to touch you
(And sleep with you).
I want to touch you, baby
(It’s all about).
I want to touch you.
(Yes, that’s you).
I want to touch you.

Yesterday I told you something I thought you knew.
Yes, I told you with a smile
“I want to touch you”.
Then you whispered in my ear and you told me too
“Get lost. You make me sick”
I wouldn’t touch you.

But I will touch you in all the right places,
If you want me too.
But if you denied me one of your kisses,
Sarah Cox will do.
So hold me close and say three words like you used to do,
Groping on the studio floor:
“I want to touch you”.

And if I had only one of these wishes,
I would wish for you
Dressed in a tight nurses outfit.
And I know what to do.
So give it up, ‘cause you know full well that you want me too.
I’ll dress up as Sandy Lyle
And I’ll win the jackpot.
And I’ll take you with a smile.
I want to touch you

I want to touch you
(And sleep with you).
I want to touch you, baby
(It’s all about).
I want to touch you
(Yes, that’s you).
I want to touch you, baby
(It’s all about).
I want to touch you
(Sleep with you).
I want to touch you
(It’s all about).
I want to touch you
(Yes, that’s you).
I want to touch you,
I want to touch you.


- Wow, cara - abriu um super sorriso - Não sabia que era tão ruim assim. E qual o problema em colocar o nome da sua ex? - olhei feio para ele e ele se calou - AH! Ok, a Sarah é bem mais legal. Também acho - falou como se fosse um cachorrinho com os rabos entre as pernas. Ri um pouco e ele continuou estudando a música - Você quer tocar nela, dormir com ela... Em que sentido foi esse dormir, seu safadinho? É no que eu estou pensando? - assenti e ele arregalou os olhos - Vocês ainda... Não? - vi-o abrir a boca.
- Se eu nem toco nela direito, como é que vou...? Você sabe. Quer dizer, no dia lá que vocês invadiram a minha casa depois do estúdio, ficamos nos conhecendo melhor, se é que você entende. Foram umas duas vezes só na real - dei de ombros - Acho que o mais perto dela que cheguei foi ontem, quando dormimos juntos. E dormimos de dormir mesmo, sabe? Deitar e fechar os olhos. Foi a primeira vez que dormimos juntos, para falar a verdade - entortou a boca e falou nada – É, cara. Estou lhe falando... Pare de fazer essa cara de babaca - dei um tapinha na bochecha direita dele e ele começou a rir - Você acha que ela dorme onde na minha casa? No quarto de hóspedes, lógico.
- Qual é? Você não a pediu em namoro?
- É, pedi, mas acontece que... Sei lá. Eu me sinto meio mal porque os pais dela confiaram em mim e pá. Aí eu trago a menina para cá e fico a comendo? É meio feio... E foi ela quem quis dormir no quarto de hóspedes.
- Você está perdido, cara. Acho que você devia ouvir o .
- Não vai adiantar de nada que vocês digam alguma coisa. Gosto dela. Não adianta mais. Se vocês tivessem me alertado no Brasil, talvez eu estivesse me conformando agora.
- Nós tentamos, cara, toda vez que dizia que ia ligar para ela, sair, fazer alguma coisa, mas você não escutou os seus amigos - ele me deu uns tapinhas nas costas e riu - Mas aproveite. Não é todo inglês que tira a sorte grande de pegar uma brasileira dessas, não, cara. Geralmente, elas nem pensam em sair do paraíso tropical para vir para o paraíso do gelo – é... estava certo - Agora que você já está todo de quatro e apaixonadinho aí... - ele bagunçou o meu cabelo e rimos - Só temos que ajudá-lo.
- Valeu - levantei e deixei a caneta na mesa. Peguei o papel, dobrei e coloquei no bolso - Não confio em você. Se essa folha some, como-o vivo. Ande. Vamos acordar a garota brasileira - ele riu alto, concordando, e fomos até o quarto.
Abri a porta lentamente, tentando não fazer muito barulho. tentava espiar por cima de mim e eu lhe dava cotoveladas. Ele reclamava e ficava gemendo de dor atrás de mim. Ai, situação... Vi-a enrolada nos cobertores e entrei, mandando entrar atrás. Ele veio todo maroto, achando que ela ia estar de baby doll, e nos sentamos na cama. Ai, que pena que eu estava de acordar a menina.
- ... Acorde aí - balancei-a de leve. Ela estava tão quentinha que quase expulsei dali e voltei a dormir. ficou uns segundos esperando que ela acordasse, mas foi em vão, porque eu era meio coração mole e fiquei com dó dela. Ele pegou um travesseiro e jogou na cara dela, berrando.
- ACORDE! - ela levantou o rosto com o cabelo todo embaraçado e a cara de susto. Nós dois rimos. Ela fechou a cara e jogou o travesseiro em - Bom dia, bela adormecida. Viemos buscá-la.
- Buscar para que, Jesus?
- Vamos tirar o leite da vaca! - eu disse animado. Ela arregalou os olhos e pegou o cobertor, cobrindo-se até a cabeça - Vamos, vamos, vamos, senhorita. Nada de dormir até de tarde. Não estamos em casa - ela pegou o meu celular e conferiu as horas. Dez e cinqüenta - Já está tarde demais para tirar leite da vaca, mas tem umazinha a esperando - riu e ela me deu um tapinha - Vamos, . Vai ser legal - fiz cócegas fracas na cintura dela e ela nem se mexeu. Broxei. Falo logo - está trazendo um carneiro para berrar no seu ouvido. Se eu fosse você, seria mais esperta e acordava logo - ela levantou mal-humorada e foi até o banheiro. Saiu de lá com uma cara bem mais saudável e a abracei forte, enquanto ela resmungava – Isso. Resmungue mesmo - ri e recebi um tapa na bunda - Assim você me deixa excitado - ela fez uma cara de nojo e me largou, indo até e o agarrando pelo braço.
- Leve-me daqui - ele se levantou, rindo, e descemos todos para tomar café da manhã.

- Não acredito que estou tirando leite de uma vaca - rolou os olhos, apertando a teta da vaca que mugia. Eu e rimos alto. Nenhum de nós dois conseguia parar de rir desde que ela tinha saído da casa da senhora com uma bota preta de borracha e pisado na lama, fazendo o calçado prender e ela pisar logo depois com a meia branquinha na lama.
Ela nos olhou feio e mirou a teta. Fiz que não com a cabeça e ela sorriu, espirrando leite em nós dois. Calamo-nos. Peguei a filmadora e deixei com . Liguei a câmera fotográfica e mirei para ela.
- Você está linda. Dê um sorriso - ri, apertando o botão para tirar a foto. Ri alto da foto e veio ver, ainda filmando. Esticou o pescoço para o meu lado e mostrei a foto para ele.
- Nossa, como você saiu linda - ria escandalosamente e levou mais jato de leite de vaca na cara - Quero essa foto para mim. Vou colocar no espantalho ali da horta - nós dois rimos alto de novo. Enquanto eu ria, recebia o segundo jato de leite na cara e o terceiro - Abuso!
- Está quentinho. Não reclame, - ele fez careta e ela sorriu convencida - Vaqueiro - ele se sentou ao lado dela com outro banquinho. Pegou duas tetas e tirou rápido o leite – Nossa, hein. Que habilidade... - ri o mais alto que conseguia. Cheguei a espantar as galinhas e algumas vacas mugiram. Encostei-me a algum lugar, já que não estava mais me agüentando de tanto rir.
- O que você quis dizer com isso? - lerdeza mil perguntou meio confuso.
- Não vou dizer - riu e o premiou com o quarto jato de leite quente. A vaca mugiu e eles começaram uma “guerra de jato de leite quente”. Comecei a filmar aquilo. Sério, tem coisa mais adulta? – Ah, não. Não acredito! - se levantou com os braços de lado. Ela vestia uma calça jeans mais velha, pelo que percebi, botas de borracha, uma regata branca e uma blusa quadriculada amarelo com preto amarrada na frente. Fez duas trancinhas. Deixou-as caídas e colocou um chapéu de palha na cabeça - Estou imunda. Não!
- Está quentinho. Não reclame, - ele a imitou e ela fez careta - É leite. Relaxe aí. Você bebe isso.
- Não como nenhum laticínio e nem derivados do leite, mongol - ela rolou os olhos e eu continuava filmando aquela discussão mais adulta impossível.
- Fresca - ele jogou outro jato nela e ela berrou, saindo dali e batendo o pé. Meninas...

Eu e estávamos sentados em um tronco de árvore enquanto estava se abaixando para pegar um coelho. Um deles pulou e outro saiu correndo. Ela correu atrás de um todo marrom que ela dizia que amou e o coelho ficou com medo dela. Eles apostavam corrida no espaço em que os coelhos ficavam e eu e , lógico, divertíamo-nos muito. Ela se sentou esgotada e logo um coelhinho branco pulou para o lado dela. A menina sorriu maravilhada e ficou fazendo carinho nele. Depois deu algumas folhas para ele comer e logo o mutirão todo de coelhos estava até por cima dela. Ai, se fosse eu... Er... Voltando... Ela pegou um no colo e veio até nós dois.
- Olhe que gracinha. Acho que ele gostou de mim - ela sorriu, grudando o seu nariz com o do coelho.
- Eles gostam de quem os alimenta - quebrou a alegria dela e dei um cutucão nele. Ela fez careta para ele e apertou o pobre coelho - Mas esse aí tem mesmo cara de quem gostou de você - ele tentou consertar e sorri um pouco.
- Ele não é lindo? - ela colocou o coelho no meu colo e fiz carinho nele - Que lindinho. Vocês se parecem - tentei fazer cara de coelho e ela riu, tirando uma foto.
Vi-a pegar o bichinho do meu colo e deixar onde estava antes. Ela fechou a portinha e se sentou ao meu lado. Ficamos um tempo de olhos fechados, apenas ouvindo o barulho do nada. Ela me cutucou freneticamente e abri os olhos.
- Olhe só, um burrinho!
- Identificou-se? - tive que rir. Cara, o era ótimo.
- Dormiu com o Bozo, foi? - ele fez cara de demente (a natural dele, óbvio) e ela rolou os olhos - O que quis dizer foi que você está engraçadinho demais hoje. Muito cheio da graça.
- Ah, sou um cara engraçado - concordamos só para não perder a amizade e estadia (risos), mas logo o contestou e rolei os olhos, já não agüentando mais as discussões adultas deles.
- Vocês são tão adultos, tão maduros...

’s POV

Eu estava na cozinha, ensinando a senhora a fazer o doce: o brigadeiro. Isso foi depois, ÓBVIO, de tomar um banho do BEM tomado, claro, e colocar roupas lindas, limpas e novas em folha. Prendi o cabelo em um coque firme e passei o avental pelo meu pescoço. Aproximei-me da pia e lavei as mãos. Peguei a panela que estava ali e joguei um pouco de água, mexendo-a dentro da panela e jogando fora depois.
e tinham sumido. Deviam se encontrar pegando inspiração para escrever, estar no meio do mato ou fazendo coisas de garotos.
Coloquei a manteiga na panela e a levei ao fogo. Tudo que eu fazia a senhora anotava em um caderno, como havíamos combinado. Depois, ela repetia tudo em uma panela menor que estava do meu outro lado do fogão.
- Então, ... De que cidade você é? - ela tentou puxar assunto, já que nem nos conhecíamos. Eu estava na casa dela e não tínhamos contato algum. Eu era uma total intrusa e mal-educada ainda por cima. Que droga.
Tentei ser simpática e respondi que era do Rio de Janeiro, no Brasil. Ela sorriu maravilhada só de ouvir a primeira sílaba.
- disse que lá é maravilhoso.
- É bem legal – ri, ainda um pouco tímida, cortando pedaços de chocolate - está apaixonado. Quer comprar um apartamento lá.
- Faz bem investir em coisas boas - ela sorriu e retribuí - O que fazemos agora? - fui explicando. Pegamos as latas do leite condensado e abrimos. Jogamos tudo dentro das panelas e depois colocamos os chocolates de uma vez.
Esperamos, enquanto o chocolate derretia e se misturava ao leite condensado, conversando mais um pouco, sentadas nas cadeiras e com os braços encostados à mesa. De vez em quando, íamos lá para ver se estava no ponto e/ou mexer mais um pouco. Eu não tinha achado achocolatado no mercado que tinha lá perto, então serviu o chocolate mesmo. Os meninos chegaram meio sujos na porta da cozinha e já cheiraram o ar, deliciados.
- Ei, o que estão fazendo? - perguntou com a cara de quem não comia há anos.
- Você sabe - pisquei para ele que sorriu grande antes de falar. O mesmo puxou todo o ar que podia e sorriu metido.
- Brigadeiro - arregalou os olhos e abriu a boca, apontando para ele. Ri e fui até a panela. Sinalizei para a senhora de que estava pronto e desligamos o fogo, colocando as panelas na pia e esperando esfriar um pouco.
- Como você aprendeu a falar isso?
- Sozinho, mas é segredo - sorriu “todo, todo” e dei um tapinha na bunda dele. Mentiroso...
- Ah, cara. Nem venha com essa. Ela o ensinou, né? - neguei para e ele apontou para nós dois, enquanto ríamos cúmplices – Mentirosos. Não dá para aprender a falar palavras na outra língua só beijando o outro - ele ficou pensando e refletindo. Sorriu - Ou dá? - a senhora deu um tapinha na testa dele e negou. pareceu desapontando. Eu tinha entendido bem...? Ele queria me beijar? Hahaha. Boa piada.
Acabei por contar a verdade e pareceu chateado.
- Droga, . Eu ia enrolar o - empurrei e para fora da cozinha – Ok, já entendi: tomar banho... Já voltamos - sorri satisfeita por ele ter entendido e fiquei na paz com a senhora , esperando os meninos voltarem e o brigadeiro esfriar.
- O que vão fazer amanhã? - acordei do transe com ela falando e parei para pensar no que tínhamos combinado. Eu não me lembrava de nada, para falar a verdade...
- Acho que coisas de homem. Eles vão caminhar por aí e eu devo ficar lá embaixo, vendo os animais - respondi a primeira coisa que veio à minha cabeça, já que estava difícil de verdade de lembrar.
- Não pode ficar aqui sozinha! Que tipo de namorado é o ? - ri um pouco, sendo seguida por ela.
- Ainda me pergunto isso. Sério - levantei as sobrancelhas e ela continuou rindo um pouco.
- Então vamos comigo até a cidade, onde fica o salão. Tenho um salão de beleza. Precisarei passar lá amanhã. Aproveito e lhe mostro a cidade. Lá tem um cyber, caso você queira usar, já que aqui a internet fica meio lerda porque moramos meio longe da cidade.
- Claro - sorri toda feliz por poder conhecer mais um pouco da Inglaterra - Vou adorar.

A seqüência era: , eu, e a senhora - todos jogados no sofá depois de comer brigadeiro pela vida toda. A tarde foi calma. Ficamos vendo alguns filmes enquanto os três se deliciavam com o doce. Vimos “Um Amor Para Recordar”, “ABC Do Amor” e “Letra & Música”. Senhora chorou em todos eles, quase dormiu no meu colo e parecia meio alheio.
- Vou engordar tudo que emagreci - pousava a mão na barriga e mantinha os pés na mesa de centro com as pernas esticadas. Comecei a rir e ele apontou o dedo para mim - Você não é santa. Fica aí, mostrando-nos essas comidas brasileiras... Hunf. Tudo culpa sua.
- Preciso ver o que mais de bom eu sei cozinhar - cocei o queixo, correndo meu cérebro atrás de algo que eu soubesse fazer que poderia agradar a todos eles.
- Nada - mexeu na minha mão - Você é a maior negação feminina na cozinha que já vi – olhei-o indignada. Eu tinha feito a mais nova droga deles e ele dizia que eu era uma negação na cozinha? Ok que eu era, mas ele nem sabia disso - Já fiquei sabendo dos seus podres na cozinha. Você não tem muitos dotes culinários. Admita.
- Andou trocando e-mails com a . Não foi? - olhei desconfiada e ele fez cara de criança que apronta.
- De leve. Vi o e-mail dela no envio do seu e resolvi fuxicar. Você deixa tudo que é janela de internet aberta. Quem mandou? Sou um perigo.
- Cuidado da próxima vez, hein - se pronunciou e nós rimos. Concordei, pensando no que e a minha melhor amiga sem noção poderiam estar falando às escondidas.

’s POV

Olhei para o meu amigo todas as horas e parecia que tinha passado um caminhão, uma boiada e uns cavalos correndo por cima dele. Tirando a cara de bêbado de ontem e hoje. Não agüentei e ri internamente, já pensando no que falaria para sacaneá-lo.
- Cara, vá dormir. Você já comeu BRIGADEIRO demais. Isso tem um efeito pior do que a bebida em você. Está dopado - empurrei-o para fora do sofá – Tchau. Boa noite - ele se levantou, quase tropeçando em nós dois, e acenou de costas. Depositou um beijo na testa de e passou a mão na minha cara.
- Até amanhã. Estarei preparado para a nossa caminhada.
- Quero só ver, fracote - saiu da sala rindo, mandando-me um dedo do meio. A senhora tinha subido e só sobramos eu e ali.
- Sabe que você vai perder qualquer aposta que fizer com ele. Não sabe? - ela me olhou desafiadora.
- Pus bebida no brigadeiro dele. Amanhã farei o mesmo - ela me bateu, dizendo que aquilo era trapaça, mas nem liguei. O que está feito está feio. Hehehe - Sei que é feio fazer isso, mas é que ele é bom em caminhadas. Treinou com o na África. Não ficou sabendo? Ele gosta desse tipo de coisa - ela me ignorou por uns minutos, até que a cutuquei e ela riu - Vai fazer o que enquanto estivermos fora pela manhã? Se bem que é capaz de chegarmos e você ainda estar dormindo...
- Vou até a cidade com a senhora . Ela vai me mostrar um pouco da urbanização daqui e vamos ao salão dela ver o pessoal. Talvez leve um bom tempo da manhã.
- Provavelmente o dia todo. Daqui para a cidade são quase duas horas de carro - ela ficou me encarando e comecei a rir do nada porque não estava entendendo bulhufas do que a menina estava tentando fazer. Seduzir-me talvez? Não... Eu estava com sono. Precisava dormir. Conferi o relógio. Quase onze horas e eu com sono. Sacanagem.
- Você também colocou bebida no seu brigadeiro?
- Não. Coloquei no seu - ri, tampando a boca para não rir tão alto, achando-me um super gênio engraçado - E você parece normal - cutuquei-a, só a fim de encher o saco mesmo - Resiste bem às bebidas, não?
- Troquei o meu pote com o seu quando o vi mexendo no meu antes que eu voltasse para a sala - ela piscou para mim e fiquei com a boca lá no chão. Nunca achei que ela perceberia. Droga - Boa noite, - ela me beijou por um tempo e subiu, rindo baixo da cara de bobo que fiz.
Algum tempo depois, acordei do transe e corri escadas acima atrás dela, que já estava dormindo. Talvez eu tivesse ficado muito tempo no transe e nem percebi os minutos passando. Tirei o casaco e a calça, ficando apenas de boxer e blusa. Escovei os dentes, fiz xixi, lavei a mão e apaguei as luzes. Deitei-me ao lado dela, cobrindo-me e a abraçando. Talvez arriscar o relacionamento com uma pessoa de outro país me faria bem. Bem até demais. Só eu que não sabia disso.


Capítulo doze


Meses depois.

Os dias se passavam. Realmente não sei até hoje o porquê, mas um dia acordei e apenas me lembrei do dia em que pedi para dar um tempo com a minha ex-namorada enquanto estava no País das Maravilhas.

Flahsback on

Cheguei a casa meio (totalmente) cansado. Os shows estavam me matando, a estadia no Brasil estava me matando, as fãs, alguns problemas, a minha namorada... Estava tudo acumulado e me matando. chegou felizinho e já meio me cheirando e pulando em mim. Abaixei para brincar um pouco com ele. Como eu sentia falta daquele animal. Na boa.
Passei a minha mão por todo o corpo dele e ele latiu alto. Ok, desse latido eu não estava com saudade. Recebi lambidas por todo o corpo e fui me lavar. Voltei do banheiro do hall e encontrei sentada no maior sofá da sala com a cara toda inchada e amassada. Ela estava meio mal, é.
- Então... Vai me explicar as suas saídas com ela ou não? - falou dura e me pegando de jeito. Pô, sacanagem. Que esperasse eu me sentar, né?! Eu “cansadão”...
Tentei pensar em alguma coisa, alguma desculpa, sei lá, mas nada me veio à cabeça. Apenas a verdade. Cocei a nuca e baguncei o cabelo. Vi-a morder de leve o lábio e fiz o mesmo. É, eu sabia que ela gostava daquilo, mas eu estava nervoso. Não foi para seduzi-la nem nada do tipo. Eu estava achando que aquela conversa não ia terminar bem... Ou mesmo que não ia terminar ali na sala, sei lá.
- Nem eu sei como explicar.
- Você sabe que não tenho ciúme, mas a coisa passou dos limites. Tem fotos que não sei como a família dela ainda não viu - ela me entregou alguns papéis que estavam na mão dela, algumas fotos. É, tinha umas desnecessárias, mas, cara, não posso fazer nada. É a imprensa. E, olhe, até que formamos um casal bonito, hein. Passei a foto. Nossa, como sou lindo. Passei outra foto e sorri. Pude ver de relance que ela fechou a cara e aposto que não gostou do meu sorriso. Tentei consertar as coisas.
- Ela contou para a mãe dela algumas coisas.
- Como? – ai, porra. Não sei!
- Que de vez em quando eu ia à casa da amiga dela, levava-a para almoçar e depois a deixava lá a tarde toda estudando. Sei lá - dei de ombros. Sou um merda para mentir, mas eu não tinha achado uma melhor e aposto que muito menos. Nem sei pronunciar o nome dela direito. Acho isso engraçado, hehehe.
- Vocês são dois mentirosos. Qual mentira a mais tem para me contar? - ela me olhou com o olhar mortal de desafiadora e quase que pedi desculpas ali mesmo.
- Nenhuma em particular. Tenho que lhe dizer uma coisa - falei merda, droga. Agora ajoelhou tem que rezar.
- O quê? - ela continuou me olhando daquele jeito e, cara, eu estava ficando com medo. Sério. Ela tem poderes. Eu, homem, macho, másculo, com “eme” maiúsculo, com medo... Assim não dá!
- Vamos continuar no Brasil por mais pelo menos três semanas por causa dos shows.
- Três semanas? - ela se levantou e foi até a cozinha. Fiquei em um silêncio sozinho. Apenas com alguns barulhos que fazia, mas enfim...
Ela voltou com um copo na mão e pude jurar que naquela água tinha alguma coisa a mais. Açúcar?
- É muito tempo! Você volta ainda hoje. Não vai dar nem para ficar com você direito, matar a saudade.
- Eu sei. Desculpe-me, mas... - mas eu, por enquanto, estou preferindo uma brasileira... - Mas semana retrasada vim e você que não pôde.
- Sinto muito, mas a banda não me deixa ser tão livre quanto a sua. Afinal, tenho um chefe. Você, não. Você é quase que o seu próprio chefe.
- É tipo isso na verdade... Mas é relativamente bom - ri – Sente-se. Quero ser sincero - ela obedeceu e senti o poder reinar de novo. Isso aí. Homens no comando, yeah - Você sabe que realmente gosto de você. Não sabe?
- Sei - ou acha que sabe...
Ela sorriu e retribuí.
- E sabe que gosto que me prendam e que me deixem livre ao mesmo tempo. Não é?
- Na ponta da língua.
- O que acontece, ... - suspirei e olhei sério para ela - É que de uns tempos para cá não estamos tendo isso. Sou eu lá e você aqui.
- Mas há mais de um ano é assim e você nunca reclamou.
- Eu era apaixonado por você.
- Era? Não é mais? - eu sentindo o medo na voz dela. Hum... Homens no comando.
- Sou. Quer dizer, sinto algo forte por você. Só que... Lá estou descobrindo um eu que não conheço e estou pensando em comprar uma casa ali... Passar metade do ano lá e a outra aqui.
- Mas isso é loucura!
- Eu sei, mas estou apaixonado pelo o que aquele país é. Enquanto essa minha paixão repentina não passar, vou atender a todos os meus desejos que lá se libertam.
- Isso quer dizer que então...?
- Não, eu não estou terminando. Só estou... Dando um tempo... Para nós dois. Vou curtir tudo do Brasil até o máximo e, quando eu voltar, a gente resolve.
- Se você quer assim...
- Eu quero.
- Vou esperar por você - sorri e ela saiu. Precisava pegar outro vôo em algumas horas e queria tomar um banho, dar uma relaxada e pegar outras roupas. Ouvi a porta bater e pude ter a certeza de que ficaria sozinho com o meu até o próximo vôo. É, era tudo o que eu precisava.

Flashback off

Eu tinha um pressentimento ruim quanto a esse flashback que ficava cutucando na minha cabeça como um martelo. Se eu soubesse o que viria a seguir, teria feito de tudo para mudar os meus sentimentos, entender o cérebro, controlar as coisas dentro de mim, para evitar tudo o que aconteceu, o que senti, para não ferir, não machucar, não errar com uma mulher mais uma vez.

Eu tentava entender, assimilar e digerir tudo que tinha ouvido. Eu não tinha voado por doze horas, fugindo do meu trabalho, para ouvir uma coisa daquelas. Não mesmo. Eu não podia acreditar no que ela tinha dito. Apesar de que os meninos disseram para eu me afastar, eu não conseguia mais. Ela era a droga mais viciante de todas. Não que eu tenha provado drogas, mas aposto que era o mesmo efeito. Deixa-o doidão, você fica dependente, sempre quer mais, faz de tudo para ter, ignora o que tiver que ser ignorado só para poder tê-la com você. É, eu me sentia assim diante de : dependente, como um viciado.
- O que você pretende, dizendo isso? - eu disse nervoso. Não queria explodir mais do que eu estava explodindo aos poucos. O hotel inteiro ouviria, mas eu estava pouco me lixando. Era a minha vida correndo risco, a vida de quem eu amava correndo risco. Éramos nós dois correndo o risco.
- Nem eu sei. Só sei que é errado o que eu vou fazer... E nós dois - ela sabia que eu iria querer uma resposta, da melhor que fosse, então fiquei calado tentando me concentrar em respirar e expirar ou sei lá como chamam essa parada. Sentei-me na cama com as mãos na cabeça. Puta que pariu, eu estava ferrado - Porque você é homem - PORQUE EU SOU HOMEM? Ah, não! Virou lésbica? Era só o que faltava! - Não, não virei lésbica antes que você pense isso. O problema é que fomos muito burros. Sei que você vai querer saber em que sentido, mas não existe sentido. Fomos burros. Só isso - olhei confuso para ela. O que a garota estava querendo passar para mim? Eu não conseguia entender droga nenhuma e estava começando a me sentir fraco - Se você não percebeu... - ela suspirou, levantando-se e andando impacientemente - Só tenho dezessete anos. Ok, isso não é nada que nos atrapalhe, mas olhe... Ter um namorado morando em um estado diferente já é difícil. Experiência própria. Agora ter um namorado morando em outro PAÍS... Isso é loucura!
- E eu não sei? – levantei-me irritado. Porra! - Já me toquei dos rios de dinheiro que gasto vindo até aqui para passar no máximo uma semana com você. Sei que você não quer que eu faça isso, mas é uma coisa minha. Eu quero - fiquei parado na janela, observando o mar. O dia estava lindo, ensolarado e quente - Não ligo. Enquanto eu puder, vou fazer isso - apontei para fora da janela e ela me acompanhou com o olhar para onde eu estava realmente olhando - Até porque amo tudo isso.
- Você não pode pensar assim.
- Claro que posso. Por que tenho que ser igual a todo mundo? Quando os meninos voltam de algum lugar em que tocamos, vão para casa descansar e ficar com as namoradas. Por que não posso fazer o mesmo?
- Acontece que você não volta para casa. Pega outro avião para ir tomar um rumo TOTALMENTE diferente, para ficar mais uma vez em um hotel e esperar que eu possa vê-lo, pois ainda estou terminando a escola.
- Já disse que não ligo, . Tem quanto tempo que tenho feito isso? - parei para pensar - Cinco meses. Não é? - ela concordou - Eu gasto tanto dinheiro assim.
- Porque você está esbanjando dinheiro – ah, não. Falar que eu cagava dinheiro era sacanagem.
Olhei sério para ela.
- Ganho dinheiro porque trabalho. Não estou roubando ninguém – ela se sentou em uma poltrona porque sabia que não dava para eu me sentar junto. Voltei à cama e a fitei por alguns minutos - Quem a ameaçou? - ela negou - Quem a ameaçou? - ela negou outra vez e eu estava começando a perder a paciência – Responda-me agora quem a ameaçou. Senão, saio daqui direto para o aeroporto – apontei para a porta. Ela então me olhou séria e desatou a falar.
- Passaram a me seguir, a fazerem perguntas ofensivas, estou aparecendo em várias revistas, não posso mais sair direito nem para ir para uma padaria porque tem sempre algum paparazzi de merda plantado na porta do meu prédio, mal posso ir para a escola, meus pais estão estressados até não poderem mais! Estão estressados por gastarem dinheiro com um segurança desde que me ameaçaram de morte pelo telefone. Mesmo sendo um trote, meus pais ficaram em alerta, estressados por toda fofoca que dizem, por tudo. E eu também estou. Não quero mais me sentir assim. Nem celebridade eu sou. Isso é injusto.
- Você está me dizendo que quer desistir de mim por causa de estresse? - eu não queria acreditar que era verdade. Ela negou, voltando a me olhar, e me levantei, cerrando os olhos - Pago todas as coisas que eles tiverem que pagar para você se proteger. Eu já disse: faço de tudo pelo seu bem-estar aqui ou lá - ela ficou ao meu lado e depois foi até a outra janela.
- Você não entende. Nunca tive essa vida.
- E eu? Nasci em berço de ouro por acaso? - ela negou baixo e me sentei no sofá - Então quer me dizer o porquê da sua questão de querer terminar e de eu ser homem que ainda não entendi, por favor? Porque até onde sei, homem e mulher foram feitos para se completarem e eu sou homem e você, mulher - ela suspirou e foi até a bolsa pegar uma revista, abrindo em uma página que estava marcada com um papel colorido. Olhei a revista, já sabendo o que estaria escrito ali, e fiquei com vontade de me bater. Ai, não, droga. Não podia ser verdade. Eu era muito azarado mesmo. Merda, merda, merda.
Amassei a revista, tacando-a longe, e olhei para ela.
- Você não sabe o que aconteceu - ela confirmou com a cabeça e eu queria bater nela, mas ainda, sim, queria me bater muito mais - Não sabe. Você não estava lá - ela caçou aquele monte de folhas destruidoras de relacionamentos e, assim que a achou, abriu-a, apontando para uma parte em que ela tinha circulado. Era uma para da matéria e eles tinham destacado. Estava escrito: “‘Ele estava muito animado’, disse , amigo de banda de ” - Animação é motivo para traição agora?
- Eu que quero saber. Por que ficou com ela? - eu teria que dizer a verdade antes de perder de vez quem eu gostava. Verdade ou não? É, a verdade é sempre melhor.
- Eu estava carente - olhei-a suplicante – Desculpe-me. Eu já estava meio alterado. Você sabe... Eu não levei ninguém para a cama - ela virou a cara e peguei em seu rosto - Entenda uma coisa: eu amo você - ela tirou os olhos dos meus, desviando-os para qualquer outro lugar - Se gosto de você, quero ficar com você, e não com uma que conheci quando já tinha bebido umas – soltei-a e ficamos por um tempo gigante calados, cada um ouvindo o próprio grito dentro de si querendo sair.
O silêncio do quarto estava me deixando louco e eu queria logo acertar as coisas e sair com ela para almoçar, já que pelo visto tínhamos perdido o horário de almoço do hotel.
- A turnê de vocês está chegando e vão praticamente viajar o mundo em um ano. Sabe, por que não damos tempo ao tempo? Vai ser melhor. Daqui a pouco, termino o colégio, vou ser maior de idade, poder fazer o que quiser, poder viajar sem precisar da autorização dos meus pais... É melhor esperar - fiquei calado, digerindo aquele fora educado que estava tomando - Acredito que você não tenha levado ninguém à sua cama nesses tempos que você ficou em Londres, mas sei que é homem e tem as suas vontades como qualquer um. Só não quero ser motivo de risinhos de fãs suas na rua, fazendo chifrinhos para mim, e muito menos quero que elas passam a odiá-lo por minha causa e que você fique com vontades.- lembrei-me do que tinha dito e apenas assenti com a cabeça.
Fiquei clicando no celular por uns segundos e mostrei a tela, onde tinha acabado de postar uma coisa no Twitter, a ela: “Fiquei sabendo do comportamento de algumas fãs diante uma pessoa que gosto muito. Gostaria que parassem, porque essa não faz o mesmo com vocês”. Talvez não resultasse em nada e elas ficassem com mais raiva, mas sei lá. Comecei a escrever de novo e logo lhe mostrei. “Estou com vergonha de vocês. xxx”.
- Elas vão ficar mais iradas ainda lendo isso. Vão achar que estou escrevendo essas coisas ou usando você ou sei lá. Elas têm uma imaginação tão fértil...
- Mas você nunca fica satisfeita com nada! - joguei o celular na cama e ele quicou. Jogue a mãe para ver se quica.
- , olhe, por favor... - ela me segurou pelos braços e me fez sentar na cama com ela ao lado - Vamos estabelecer um acordo. OK?
- Depende. Qual acordo?
- A gente dá um tempo no nosso namoro. Daremos tempo ao tempo. Nada mais justo. Daqui a alguns meses, quando você voltar de turnê e eu estiver formada, quem sabe nós podemos tomar um rumo juntos... Não sei - fiquei pensando naquele acordo que ela queria fazer. Será que era melhor terminar tudo logo, deixar a vida tomar o próprio rumo e talvez nos levar para caminhos diferentes, fazendo-me perder quem eu gostava de verdade, ou era melhor eu aceitar o acordo, cumpri-lo à risca e esperá-la? Porque, da minha parte, sei que teria comprometimento. Eu esperava que da dela também.
- Vou esperá-la - olhei para baixo, meio chateado com o rumo que as coisas tinham finalmente tomado. Eu não queria daquele jeito, mas de que outro eu conseguiria tê-la? - Você espera?
- Espero - ela me abraçou forte e retribuí - Não quero que se prenda a mim. Está bem? Se sentir vontade de ficar, de se comer com qualquer uma, por favor, faça. Não recue. Se quiser namorar outra pessoa nesse meio tempo, namore. Só não se esqueça de mim - ela deixou uma lágrima cair no meu ombro e a apertei mais forte contra mim. Eu tinha que guardar as coisas na memória, já que passaria algum tempo sem ela, sem a minha vitalidade, sem a minha droga.
- Quero que faça o mesmo. Principalmente que deixe ativa a parte de não me esquecer - eu disse meio fraco. Que merda, eu preferia que brigássemos, terminássemos e nunca mais quiséssemos nos ver. Assim seria muito mais fácil. Mas quem manda deixar tudo nas mãos desse órgão que bate aqui dentro?
- Não tem como. Você está em fotos no meu quarto, no meu computador, na minha memória, em revistas, na boca das fãs nas ruas, nos colégios, nos sites... Em todo lugar possível - rimos um pouco – Eu, não. Vou parar de aparecer em revistas e sites de fofocas daqui a um mês.
- Se precisar de alguma coisa, vai me ligar?
- Só se for MUITO sem saída. Quero tentar me acertar sozinha.
- Vai conseguir - beijei a testa dela - Podemos comer? Estou com muita fome mesmo - ela riu e me deu um pedala. É, eu teria que me acostumar com a idéia de que provavelmente ela seria de outro durante alguns meses e, cara, pensar nisso era duro.

’s POV

Eu andava com pela rua. Eu ainda era fotografada. se divertia no começo, mas depois começou a se incomodar com os caras atrás de nós. Estávamos tentando nos esconder e esquivar de dois deles. Acabamos por entrar em um restaurante e só então percebemos que estávamos com fome. Sentamo-nos para almoçar em uma mesa mais escondida e contei tudo para ela - tudo com direito a todos os detalhes, do jeitinho que ela gostava. Também... Com tudo fresco na memória, ficava difícil de enrolar alguma coisa. Só havia se passado dois dias.
- Então foi isso... Vocês terminaram? - semi gritou e tive que colocar a minha mão na boca dela para impedi-la de falar. Vá. Fale mais, safada.
- Abafe, por favor. Ok? - ela concordou e a soltei. Começou a conversar comigo sussurrando.
- Vocês... Mesmo? - concordei. Por mais que doesse tanto em mim quanto nele, sabia que era a coisa certa a fazer. Se fosse o nosso destino, se fosse para ficarmos juntos, ficaríamos independentemente do tempo que passaria, do que aconteceria, de por quais caminhos a vida nos levasse.
- Demos um tempo. Não dá para ser ele lá e eu aqui. Já é difícil quando se mora no mesmo país. Em países diferentes é muito pior.
- Acho que entendo. Então o que vai fazer agora? - era uma ótima pergunta. Ainda não tinha parado para pensar. Eu estava me acostumando a viver em função das vindas dele e de repente tudo acabou. Foi como poeira varrida para debaixo do tapete. Uma coisa louca. O que eu faria, então?
- Não sei. Já cansei de chorar, mas tenho que manter a pose por pelo menos um mês. É o tempo da imprensa saber que meio que não estamos mais juntos, de virem atrás de nós, querendo explicações, de se esquecerem de mim e nem se tocarem mais de que existo.
- Se precisar de ajuda, pode contar comigo. Você sabe - ela segurou a minha mão e a garçonete veio nos atender. Apontamos os pratos e ela saiu para fazer o pedido ao chef.
- Vou precisar... E de muita - sorri fraco, recebendo um abraço apertado de que fez o favor de mudar de lugar só para completar o ato. Fofona.
- Eu vou ajudá-la.

’s POV

Os canais da televisão nunca pareceram tão chatos quanto naquele dia. Eu estava mudando-os de cinco em cinco segundos ou até o tempo da propaganda durar. estava ao meu lado. Tínhamos ido até a minha casa para fazê-la sair da sua, onde ainda tinha coisas dele e tal, para esvair um pouco. Ela andava com uma cara péssima e nem a maquiagem estava ajudando tanto. Olhe que consegui arranjar uma MAC só para a situação dela. Ai, ai, ai. O que melhores amigas não fazem...
Ela pegou o controle da minha mão e foi colocando nos últimos canais, aqueles que ninguém vê ou nem sabe que existem (pessoas tipo eu). Parou em um onde uma moça loura e toda fofa começava a soltar a nova notícia bomba.

andou sendo visto abatido nos últimos dias. Será que algo teria acontecido entre ele e a brasileira ?

- Que futilidade - ela trocou o canal e peguei o controle da sua mão. Gosto de saber das fofocas. Licença?! Hunf.
- Nada disso. Quero saber o que anda acontecendo com o seu meio ex.
- Vocês ainda trocam e-mails? – a menina perguntou meio insegura e sorri maternalmente para ela, mexendo em seu cabelo.
- Você pediu para eu não comentar sobre isso amiga. Desculpe-me - ela sorriu como quem agradecia por eu ser uma amiga fiel e fiz uma mega besteira. Tudo bem. Eu tinha me esquecido - Brigadeiro? - ofereci para ela e bati na minha testa logo depois - Perdão - Ok, ninguém é perfeito, vá.
- Estou no Brasil. Quer besteira mais típica do que essa? - ela olhou-me, tentando me passar que era forte, e eu sabia que ela era. Só que estava fragilizada. Então por enquanto era bom evitar algumas coisas.
Voltei minha atenção à TV assim que ela pegou o pote e caiu dentro, literalmente falando.

Pelo que aparenta, os dois estariam em uma crise. Ontem ele postou em sua página de relacionamentos do Twitter a seguinte mensagem: ‘Sinto a sua falta’.”

- Quer mesmo ver isso, ? - ela revirou os olhos enquanto eu olhava atenta para a TV. Nossa, eu necessitada ver aquilo. Acabei por não responder, já que sabia que ela sabia a resposta - Urgh - ela rolou os olhos e ri apenas, sabendo o que ela tinha feito, visto que não desgrudava os olhos da TV. Era tortura para ela, mas a garota teria que agüentar.

Já ela não postou nada que poderia ser levado como uma resposta para ele. Teria a menina feito alguma coisa?

- OK, eu me cansei disso - desligou a TV e só então fui perceber que ela estava chateada de verdade com aquela fofoca toda - , preciso sair, preciso ver coisas novas. Vamos ao cinema – sorri, concordando, e peguei uma bolsa, avisando à minha mãe que estava de saída. É, as coisas seriam mais difíceis do que eu pensava.

Depois de chegarmos a casa, cismou que queria entrar no Twitter. Não que eu achasse errado. Eu só... Achava arriscado. Não queria que ela se sentisse pior do que estava se sentindo, não queria ver a home dela cheia de gente falando poucas e boas, pessoas comentando sobre o que elas não sabiam. Queria protegê-la enquanto a ferida estava muito aberta. As reply, dela deveria estar bombando de fãs de McFLY até agradecendo ou seja lá o que elas fazem quando um deles termina o namoro. Principalmente quando é o seu preferido. Nunca fomos fãs desse tipo. Então...
Ligamos o notebook e ela se sentou no meu colo enquanto digitava o site do Twitter. Não que não estivesse em rápidos ou favoritos, mas vá dizer isso para ela, né... Assim que entramos, a primeira coisa que estava na home era:

@ Miles away...

Ela me olhou como se fosse chorar. Entortou a boca e fez uma cara triste.
- Ah, ele só está um pouco machucado - ela sorriu fraco, concordando.
- Respondo?
- Responda, ué. Vocês não podem ser amigos? Têm que ser inimigos porque deram um tempo?
- É... - ela pensou e digitou rápido. Ficamos analisando a tela enquanto ela não mandava - Não preciso mandar diretamente para ele. Preciso? Posso colocar uma subliminar - sorri do jeito com que ela estava pensando. Aquela era a minha !
Concordei na hora com ela e ela apertou o tweet.

@ Slowly… Is the way time’s passing.

- É, melhorou – sorri, sendo acompanhada dela - Vai apagar o outro post? - perguntei curiosa. Não queria e nem achava certo que ela apagasse.
- Não. Vamos até a padaria. Minha mãe pediu para eu sair um pouco mais de casa. Disse que ando depressiva demais - concordei plenamente com ela e logo desligamos o notebook, arrumamo-nos e fomos dar uma volta pelo nosso lindo estado. É, era bom para esvaziar a cabeça. Principalmente a dela que precisava e bastante.

’s POV

Eu estava com os caras, enfiado no camarim, tentando pensar em alguma coisa que não fosse ela. Levar um fora era uma merda mesmo. Ainda mais da garota que você mais gosta. Mas tudo bem. Tínhamos um acordo e talvez não demorasse tanto assim para o tempo passar e eu tê-la de volta para mim.
Mas e se ela mudasse? E se ela conhecesse alguém? E se ela tivesse cansado de mim e não quisesse mais voltar comigo? E se ela engravidasse no meio tempo? E se alguém melhor que eu aparecesse e...
Fui interrompido por me dando um pedala e todos do camarim atentos ao que a TV de plasma de sessenta polegadas presa na parede produzia com som e imagem.

Parece que resolveu voltar a falar com a imprensa. Foi vista acenando para alguns paparazzis enquanto saía de casa e ia até uma padaria perto dali. Também foi relatado que postou no Twitter essa semana. Não foi só uma coisa. Foram duas! A primeira ela apenas copiou o que o talvez ex-namorado, , havia escrito. Já na segunda, disse que: “devagar. É o jeito com que o tempo está passando”. O que seria isso? Um código? Uma mensagem subliminar?

- É, ela parece estar bem - arrancou da minha mão a revista que eu estava vendo. Algumas fotos dela estavam lá e, apesar de ser tortura eu ver aquilo, era bom porque via como ela estava. A garota estava melhor do que eu. Pelo menos parecia.
- Ela vai ficar bem. Eles vão.- comentou e fingi que estava escutando todos eles. Na verdade, eu estava voando pelas minhas memórias enquanto eles falavam. Ficava me lembrando e relembrando dos momentos que tínhamos passado juntos - De qualquer forma.
- Eu gostaria que eles tivessem brigado feio - comentou e acabei por escutar essa parte. Eu também preferia - Porque aí ele não ficaria com essa cara de cu apaixonado de coração partido que ele fica. Ficaria com raiva e não ligaria para mais nada a não ser para a banda. Escrevia mil músicas e faríamos mil CDs novos.
- Você está sendo egoísta, - meio que descordou, sendo um pouco “boiola” e sensível - Até parece que nunca se apaixonou.
- Nunca no passado e muito menos no futuro - eles terminaram a discussão e acabei por dormir no sofá de tão cansado que estava.
’s POV

Eu tinha a revista nas mãos e a olhava com a pior cara do mundo. Ela não podia, não ia chorar. Não pelo menos no meio da rua, não na frente de todo mundo, não para as pessoas se tocarem que ela era a ex e quererem tirar algo dela. Peguei-a pelo braço e a levei para a sua casa. Ficamos trancadas no quarto dela enquanto a menina chorava por causa da notícia de merda. de merda. Um merda mesmo.
Joguei a revista fora.

é visto há alguns dias andando ao lado de uma mulher. Quem seria ela? Nada mais nada menos que a sua ex e atual namorada, . Parece que reataram o namoro depois de recaídas que o teve, assim que terminou a relação de sete meses com a brasileira .”

- É, eles voltaram - me olhou derrotada e coloquei a sua cabeça em meu colo, fazendo cafuné nela.
- Ele pode ter voltado com ela, mas a ama bem mais. Pense pelo lado bom: o cara pode estar feliz. Você não ficaria feliz se ele estivesse feliz, independente de qualquer coisa? - ela sorriu fraco e concordou. Fechou os olhos e ficou quieta, apenas me ouvindo - Então só pense que você está feliz por ele. Não importa com quem ele esteja. Só fique feliz e reze pelo melhor dele todos os dias.
- Afinal, fui eu quem propôs a idéia de fazer o que tivesse vontade. Não é? – vi-a sorrir um pouco mais, talvez tentando se convencer de que era melhor daquele jeito mesmo e melhor aceitar as coisas como eu falava para ela aceitar.
- Claro! Ele também não disse que estaria esperando por você? Ele pode namorá-la só por pouco tempo. Afinal, só mais alguns meses de inferno e tchau, escola! - arregalamos os nossos olhos e gritamos juntos – AI, MEU DEUS, ALGUNS MESES! Vou sentir tanto a sua falta – abracei-a do jeito que dava e acabamos rindo da posição louca em que estávamos, desesperadas por um abraço eterno. Uma melodia começou a vir do notebook e paramos para ouvir.

Sei que é difícil arriscar. Amanhã quem sabe o que será? Mas pode confiar em mim. Por que você tem tanto medo assim?

- É, está vendo só?! – sacudi-a, brincando com ela - Por que você tem tanto medo assim?!
- Tão fácil - ela concluiu e rimos - Ai, Marjorie Estiano...
- Ai, Marjorie “Ano-Que-Vem”... - fiz graça e recebi um tapinha e um “cale a boca” que me fizeram rir mais ainda. Ela não tinha moral alguma comigo.

’s POV

A turnê ia de vento em polpa e já tinham se passado, pelo que eu me lembrava de ter contado, uns sete ou oito meses. Sete ou oito meses fora de casa, fora do meu eu, longe de quem eu gostava de verdade.
Eu estava com , pegando um sol no terraço do hotel em que estávamos, enquanto os outros estavam lá embaixo, pegando mais comida para suprir a nossa fome de leão de todos os dias.
- Quer um conselho, cara? - ele falou de repente e apenas murmurei para ele - Não Volte com ela – levantei-me da cadeira na mesma hora, abrindo os olhos e olhando sério para ele. Não tinha sido o próprio que tinha dito que, apesar de que não era para ter começado, deveria aproveitar porque uma igual era raro? Nunca entendi o . Sério - Você não está feliz com a ? - mexi as sobrancelhas, ainda pensando, e ele me cortou logo, antes que eu falasse que não - Então por que deixar a menina mal quando a outra deve bem estar namorando outro feliz da vida também lá no outro lado do mundo?
- Ela não está - bufei. Por que tinha que ser tão persistente em coisas como aquelas algumas vezes? Aquilo me deixava louco. Odiava ser contrariado. Ainda mais quando envolvia a minha vida pessoal. Principalmente a amorosa.
- E como você sabe? Ligou para ela? - ele me olhou desafiador. Que porra era aquela? Eu não conhecia aquele . Não mesmo.
- me contou - me olhou confuso e fui logo me explicando. Odiava demorar - Melhor amiga dela. Troco e-mails com ela uma vez ou duas no mês - ele murmurou para que eu continuasse e voltei a me deitar na cadeira, fechando os olhos para pegar sol e tentar ficar negão. Not - Diz que ela chora quando se lembra, fica mal, mas logo passa. Logo agora, porque antes estava foda. Ela se recupera rápido às vezes. E ela não ousou ficar com mais de dois nesse meio tempo.
- Enquanto você já tinha pegado quase a Inglaterra inteira e voltado com a ex.
- Sou homem. Ela mesma disse que não era para eu impor limites nas minhas vontades.
- Sei. Pretende fazer o que quando voltarmos dessa turnê que parece que não acaba mais? Aliás, quero a minha cama - rimos. Eu também precisava da minha. As dos hotéis estavam acabando comigo. Cada dia uma diferente. Chegava a cansar. Minhas costas pediam por minha cama macia.
- Vou esperá-la me ligar e dizer que passou para alguma faculdade de Londres - ele riu e perguntou se ela faria mesmo aquilo - Não. Mas posso sonhar também. Não posso?
- Pode. Não estou impedindo. Só que... Apenas temos mais dois meses até que ela se forme, pelo que você disse outro dia.
- E sei que ela está me esperando, assim como eu – falei, tentando relaxar e pensar que ela estava mesmo me esperando, e não fazendo as mesmas coisas que eu fazia: comer a cidade toda.
- Você não se toca? Tem uma namorada irada que mora na mesma casa que você, que tem uma banda, entende perfeitamente as necessidades que você passa e...
- E prefiro uma que mora em outro país, que se fode para entender ou não o meu lado de banda, não me entende perfeitamente e muito menos completamente e que não mora comigo? - ele concordou calado e suspirei - E talvez seja isso que me atrai nela. O jeito com que ela fica puta quando os paparazzis tiram fotos dela quando está na rua de casa, do jeito com que ela brigava comigo pelo dinheiro que eu gastava para ir vê-la, por ela morar longe, pela saudade, por não me entender, por tudo.
- Você é louco.
- Não sou louco. Sou decidido.
- E aí, senhor “eu-sou-decidido”. Vai fazer o quê? - apontou para a porta do terraço onde brotava entrava com uma amiga.
- É, meu caro . Algo que nunca fiz, que você vai ver e que eu já devia ter feito há séculos.

’s POV

Não sei se fiz certo em mostrar o e-mail para , até porque ela ainda estava “de ressaca” por causa do término do namoro e tal, mas eu me sentiria a pior pessoa do mundo se não o fizesse. Também porque ele pediu para mostrar e tal... E quer saber? Acho que foi uma das melhores coisas que pude fazer por ela.
Imprimi o e-mail e entreguei a folha para ela, esperando que a mesma lesse e eu pudesse presenciar a sua reação. Quer dizer, já tinha passado bastante tempo e a garota provavelmente não ficaria chateada do mesmo jeito que ficaria há meses atrás, quando tudo ainda era muito recente.

“Nem sempre todas decisões são certas. Às vezes, sinto-me tão infeliz. Mas tudo deve ter o seu motivo. Os sonhos nunca vão embora assim. Já sabe que é em você que penso. Foi o destino que escolheu assim. Estou distante, num lugar perdido, e só você vai me tirar daqui. Estou perdido nesse mundo tão escuro de se ver . Os sonhos nunca duram o tempo que sempre quis ter, mas sei. O sonho não acabou. Depende de nós, só eu e você. Esqueça-se dos outros. Só escute a minha voz. O sonho não acabou. Depende de nós, só eu e você. Apague a luz e fiquemos a sós. Nem sempre quando sorri foi sério. Minha vontade era de chorar ao ver que o nosso amor era tão grande, mas que não iria continuar. Quando me lembro de tudo que passou, do nosso jeito de falar de amor... Sei que não estamos mais unidos, mas o nosso amor enfim se eternizou.”

- , se você não voltar com ele, vou socá-la muito forte - disse porque ela não falava nada e aquilo estava me preocupando seriamente.
- Não posso - ela fungou baixo - É tão surreal.
- É tão real quanto você sempre sonhou - joguei uma almofada nela - Olhe, depois de meses, ele se arrependeu de tudo, mandou-lhe esse e-mail de me fazer chorar, e você, pedra como sempre cagou e andou? - ela não respondeu de novo - Você não precisa responder. É só mandar uma mensagem do tipo... Deixe-me pensar. Espere um pouco - pensei na melhor coisa que consegui, fazendo uma cara safada antes – “Venha cá” - rimos. Recebi uma almofadada na cara - E enviar. Em segundos, ele voa para cá.
- Você não presta, .
- Só sou verdadeira, amiga. Desculpinha - acabamos por abafar o assunto e na maior guerra de travesseiros da década. Dezessete anos na cara brincando de guerra de travesseiros. Éramos umas coisas loucas. Só podíamos mesmo.

Alguns dias e meses tinham se passado e finalmente nós iríamos nos formar. Nesses dias e meses, além do e-mail, eu tinha trocado mais informações com o ex-caso dela, feito coisas que eu não devia, mas que toda amiga um dia tem que fazer. Não. Não me comi com o menino, se é que você com certeza já pensou nisso. Enfim, a pulginha atrás da minha orelha coçava por causa da culpa. Se chorasse por dor e não felicidade, eu nunca mais me perdoaria.
Estávamos acabando de nos vestir para podermos ir receber os nossos diplomas de que estávamos livres do colégio. Ligamos a TV para distrair enquanto terminávamos as make ups. Estava no tão famoso canal de fofocas e ele não parava de soltar bombas de todos os tipos. Até que a maior veio e em boa hora:

foi vista na saída de uma boate, totalmente fora de si. Ela não andava direito e por isso precisava de ajuda. Não falava nada com nada, cheirava à bebida, tinha o rosto vermelho e inchado, os sapatos na mão e um cigarro aceso entre dois dedos. Tirando a lata de cerveja que uma amiga arrancou da mão dela assim que chegou à porta do local depois de receber chamados de ajuda de conhecidos da banda”.

- Ai, meu Deus - arregalei os olhos - , corra aqui - ela entrou no meu quarto, rindo. Olhei-a e ri o mais alto que pude. Ela tentava acertar o zíper lateral do vestido, porém ele tinha prendido e estava um nó/negócio só - Quer ajuda? – vi-a fazer cara de cachorro perdido e rolei os olhos, já pegando o zíper e o desembolando - O que seria de você sem a aqui, hein? - rimos e mostrei a TV para ela - Take a look.- ela arregalou os olhos com a imagem e então desliguei o aparelho, gritando para a minha mãe que estávamos prontas.
- GOD!

Saímos do carro de minha mãe e ela foi estacionar. Fomos andando por um tapete improvisado até a porta do colégio e o moço que ficava na portaria sorriu assim que nos viu e brincou conosco.
- As meninas têm telefone? - rimos.
O colégio estava todo decorado para a formatura - a entrega dos diplomas, na verdade. Eu estava com um vestido de uma alça só roxo e acima do joelho, cabelo preso em um coque fino com mechas caídas e um scarpin de bico redondo preto. usava um vestido preto tomara-que-caia balonê acima do joelho. Tinha alguns detalhes pequenos na barra em verde e azul. Usava um scarpin verde-limão de bico redondo também. Sorrimos e passamos pelo inspetor que tanto adorávamos, entrando no salão e quase desmaiando. Havia fitas espalhadas pelo enorme salão, cadeiras decoradas, a mesa com os diplomas, pessoas chegando, sentando-se, cumprimentando-se, etc.
A tensão era muita e, logo, todos os formandos estavam juntos em um grupo atrás de todas as cadeiras. O diretor se levantou de um dos assentos, anunciando que começariam a chamar os nomes por ordem alfabética. Cada professor falava um pouco sobre o aluno que seria chamado e o diretor fazia o seu comentário e entregava o diploma. Os alunos eram fotografados com o diretor, com os professores e s pais. De um e um, iam passando pelo meio das cadeiras onde estava estendido um tapete vermelho. Enquanto o aluno caminhava, era tocada uma música. Depois de receber o diploma, subiam em um palco. Fui chamada e dei um beijinho na bochecha de . Rimos muito alto assim que ouvimos a música que colocaram para mim: “Mulher Marmita”, da Gaiola Das Popozudas. Eu merecia, vai. Brincadeirinha, hihihi.
- Essa deu trabalho - o professor de matemática disse após alguns outros nomes.
- Como deu - o professor de história completou, rindo com alguns outros professores.
Eu apenas estava tentando entender o que provavelmente se passava na cabeça de , que parecia inquieta. “Eu tentava me concentrar em ouvir, mas algo em mim não deixava. Talvez fosse porque eu sabia que o trato, combinado, o tempo que e eu demos, ou sei lá, estivesse acabado. E o que eu faria dali para frente? Voltaria com ele e faria faculdade lá? Não voltaríamos e eu continuaria no meu país?”. É, talvez fosse algo do tipo ou até aquilo. Sei lá. Mas a pulguinha ainda estava atrás da minha orelha e... Caramba, que saco! Que, de qualquer maneira, desse certo.
- E, apesar do trabalho, foi sempre um orgulho - a professora de inglês disse em inglês, depois em português e sorriu ao ouvir os outros professores restantes concordarem e fazerem comentários positivos.
- Olhe, perdi a conta de quantas vezes lhe dei colo, menina - a coordenadora riu e sorriu - Vou sentir TANTO a sua falta. Ligue para mim. Viu? Mantenha contato no orkut também - todos nós rimos - Você sabe que adoramos você, apesar das grosserias de vez em quando, das escapadas das aulas, das duras que tivemos que dar... QUANTAS vezes tivemos que acobertá-la para sair do colégio, quantos choros de amor já ouvimos... Quantas coisas, né? Mas valeu tudo a pena.
- Claro que valeu - o diretor disse contente com o diploma na mão - Mais uma que, com orgulho, foi nossa aluna e mostrou potencial - ele sorriu e entregou o microfone à coordenadora. Eu estava louca para que subisse, acabasse tudo logo e a pulguinha saísse de trás da minha orelha.
- Nossa MAIOR viciada em McFly - sussurrou no microfone depois de alguns segundos, olhando para mim - Pronunciei certo? - concordei atrás de todo mundo com o dedão - Que não nos deixava em paz por causa deles, que nos fazia ouvi-los todas as vezes que possível - todos olhamos para que meio que ficou corada na hora – SEMPRE! - rimos e ela nos acompanhou - - ela veio caminhando pelo tapete, meio tímida, ao som de Star Girl. Ela sorriu e levantou os braços no meio da música, dançando um pouco. Eu a imitava e nós duas caímos na risada com o resto do pessoal.
- Desculpe e obrigada - ela sorriu, abraçando todos os professores, a coordenadora e o diretor, pegando o diploma e sorrindo sem graça para a foto. Os pais se aproximaram. A mãe com lágrimas nos olhos, assim como ela. As duas secaram os olhos e se juntaram para uma foto.
Mais alguns alunos foram apresentados. Todos morriam de rir com as músicas avacalhadas que colocavam e que o pessoal cantava e dançava feliz da vida. Lá no fundo, apareceu uma pessoa que parecia meio perdida e atrasada. Encostou-se à parede de lado e observou tudo. apontou a pessoa discretamente para mim e rimos. As outras meninas também riram assim que entenderam o que estávamos rindo. Josey e Ella estavam onde mesmo? Argh, safadas. Sumiram!
- Quem é você aí atrás? - o diretor olhou a pessoa, esperando uma resposta - Algum aluno? - eles procuravam algum aluno esquecido na lista e então não acharam nada - Não nos esquecemos de ninguém. Esquecemos?
- Tenho quase certeza de que não - a coordenadora disse, procurando rapidamente nomes e diplomas entregues de novo na lista.
- Diretor – chamei, sorrindo e sussurrando entre os dentes para ele. Ele me deu atenção e então sorri meio sem graça - Er... Nós o conhecemos - apontei a pessoa do final do corredor e parecia estática ao meu lado.
- OH! - a coordenadora gritou após assimilar tudo, assim como quem sabia da história tinha assimilado. Sussurrou algo para o diretor que sussurrou algo para a professora de inglês que pegou o microfone à sua frente. Alguns parentes dos formandos olhavam para trás. E a vergonha?
- Por favor, pode chegar mais perto? - a professora sorriu, apontando para a pessoa. Algumas meninas já gritavam e faziam menção de que iriam se levantar das suas cadeiras. Pois é. Para que ficar sentada em uma cadeira desconfortável, olhando a sua irmã ou irmão ou mesmo primo recebendo um papel, enquanto se podia pular, gritar e pedir uma foto ou um autógrafo de que estava parado ali na frente delas? Realmente, muito mais legal.
Olhei para que continuava estática. Cutuquei-a e a empurrei um pouco para frente, a fim de fazê-la andar ou tirá-la do transe. Sei lá. Ela quase caiu do palco, causando risadas gerais. Resmungou alguma coisa e andou um pouco pelo tapete devagar. Morta de vergonha e mais tímida impossível. Ele sorriu sem graça com as mãos no bolso. A pulga na orelha estava finalmente sumindo aos poucos.

’s POV

Ela vinha, linda, maravilhosa, perfeita, na minha direção. Com a graça do bom Deus e de , pude chegar a tempo. É. tinha me dito a hora, data e local da formatura. Não que fosse difícil de achar. Só era... Complicado demais. Ainda mais depois de uma viagem turbulenta, tanto dentro da cabine quanto dentro da minha cabeça.
se pôs na minha frente e mexi no cabelo, ainda meio sem graça. Estava todo mundo olhando.
- O que faz aqui?
- Você disse “até o final da turnê”. Eu esperei - ela me olhou meio confusa e eu sabia que me perguntaria sobre a e o nosso namoro - Você não leu. Não é mesmo? - ela sorriu fraco e ri - Ah, leu, sim - concordou com a cabeça e focou algum lugar atrás de mim, apenas para não precisar me olhar nos olhos e cair no meu feitiço. Sou conhecedor dos meus poderes. Licença - Só depende de nós. Apenas eu e você – vi-a suspirar e a imitei. Rimos. Peguei o rosto dela com todo o cuidado do mundo - Faltam alguns meses para você ser maior de idade, mas... Volte para Londres comigo, por favor - olhei-a o mais profundo que consegui e, da forma mais sincera, implorei - Eu imploro.
- O que você quiser - ela sorriu e não consegui conter a minha felicidade. Olhamo-nos por alguns segundos e, em um único movimento, juntos, na mesma hora, abraçamo-nos forte. Ela mantinha os braços no meu pescoço e eu, na cintura dela. Não queria soltá-la nunca mais. Abaixei um pouco e encostei os lábios aos dela. Que puta saudade.
gritou, batendo palmas e rindo. Alguns meninos assobiaram e o resto sorriu, batendo palmas fracas. Separamo-nos, porque não podíamos dar um beijão de novela ali, e fiz uma careta.
- Como estou? - ela sorriu com o rosto perto do meu. Essa distância... Muito convidativa.
- Mais vermelha impossível - ri e veio correndo até nós. Cutuquei e a olhei feio - Mandei você parar de andar com ela, caramba! Essa menina não lhe faz bem. Olhe só para essa garota – fingi-me de bravo, vendo parar perto e colocar as mãos na cintura.
- Desculpe. É inevitável. Ela gruda - fez uma cara estranha e suspirou.
- AH, SEUS FEIOSOS! - nos abraçou e me senti meio... Apertado demais - Olhe só, . Não vá achando que é propriedade sua, não, porque cheguei antes na vida dela.
- Desculpe, se o meu impacto é maior - pisquei e abriu a boca indignada.
- Agora vai ter que me levar para visitá-la - sorriu, olhando as unhas, e rolei os olhos.
- Ih, . Melhor eu ir embora sem você. Se ela tiver que ir lá em casa, acho melhor deixá-la aqui mesmo.
- Idiota - disseram as duas juntas e estas deram soquinhos nos meus braços. O pessoal já estava se levantando para cumprimentar todo mundo, tirar foto, comer no salão de baixo, etc. Eu estava super a fim de encontrar os pais de .
- Ei, pode me dar um autógrafo? - uma menina de uns doze anos sorriu ao meu lado e não entendi o que ela disse. Só sei que tinha um papel e uma caneta na mão. Então... Assinei os papéis e ela saiu.
estava conversando com uma menininha do tamanho de um amendoim quase e se virou para mim, apontando a menina e a câmera. Peguei-a no colo e tirou a foto. Ela saiu toda sorridente ao nosso lado. foi embora, indo falar com algumas pessoas.

Há um tempo eu estava sentado com os pais de no salão de baixo. Tínhamos descido para lá para comer, beber e conversar, e o clima da nossa mesa estava tenso. Eu não queria sair dali zangado, nem um pouco. Sairia dali com a minha garota brasileira, custasse o que tivesse que custar. Eu não voltava mais para Londres sem ela. Não mesmo.
- Quero que ela vá comigo - disse firme, encarando o pai dela.
- Mas não é simples assim. Vocês são novos demais - antes que a mãe contestasse qualquer coisa sobre a idade de , já que faltavam alguns meses ou dias para o aniversário de dezoito anos dela, falei logo minhas intenções... De novo.
- Faremos assim: ela vai comigo, faz provas para as faculdades de lá e depois volta. O resultado sai em alguns meses. Por isso a mesma fica aqui. Quando receber as respostas, escolhe a que quer e resolvemos o resto. Posso ajudar em qualquer coisa. Estou disposto.
- Mas você tem uma banda. Fica difícil - a mãe dela não estava sendo tão legal quanto tinha sido na primeira vez em que nem me conhecia direito. Eu não entendia. Antes, nem me conhecia e deixara a filha ir comigo. Quando conhece, não deixa. Gente estranha. Mas só tinha um motivo para a mulher estar sendo tão protetora e eu sabia qual era: o nosso término. Nós dois ficamos arrasados, mas infelizmente ela só pôde ver o lado da filha, já que eu não estava presente.
- Sim, possuo, mas também tenho tempo para mim. Meu empresário é super gente boa. Quando ela se estabilizar, aí nos ajeitamos.
- Vocês não estão vendo que vai ser tudo igual? - a mãe dela finalmente falou aquilo que eu sabia que falaria: o medo de acabar tudo como antes.
- Mãe, confie na gente. Sei o que quero e ele também.
- Não vou machucar a sua filha. Já provei e não quero repetir a dose. Não mais - os pais dela me olharam meio desconfiados.


Capítulo treze


Um ano depois

Abri a porta de casa, já sabendo o que ouviria. Era sempre a mesma coisa, independentemente de onde estivéssemos antes.
- Posso bater em você agora ou depois? - sorriu, deixando-me escolher a melhor opção como sempre.
- Tem a opção “nunca”? - ri e baguncei o seu cabelo.
- Não - ela sorriu – Definitivamente, não - voltamos a rir e o meu monstrinho particular veio nos receber - ! - ela sorriu enquanto ele a lambia. Hum, se fosse eu... - Que saudades, meu amorzinho - ela se abaixou e ele se sentou, deixando-se abraçar por ela - Nunca mais viajamos por tanto tempo. Prometo. Foi a última vez que o deixamos sozinho.
- MEU DEUS DO CÉU! É ele mesmo? - ouvi a histeria em pessoa, desde que tínhamos chegado do aeroporto, gritar. latiu e foi logo cheirá-la.
- É, sim - riu e assistimos a se sentar e começar a interagir com o animal.
Fui até a cozinha depois de deixar as malas todas em um canto da sala. Peguei suco de uva e fechei a geladeira. Coloquei em um copo e bebi um pouco. estava parada, perto da porta da cozinha, apenas observando a cena. e pareciam se dar muito bem. Um novo casal estaria vindo? Ok, brincadeirinha. Abracei por trás e encostei meu queixo ao ombro dela.
- Trazê-la foi uma boa idéia? – ri, tentando formar uma boa resposta para aquela ótima pergunta. Tudo bem que eu tinha perguntado, mas enfim.
- Não sei... Ainda vamos ter que descobrir - ri depois de beber todo o suco. Coloquei o copo na boca, ainda rindo, mas logo o tirei para dar atenção ao pescoço da minha não mais hóspede, minha parte da família, minha deusa, minha namorada, minha droga oficial.


Fim



Nota da autora: Ei, ei, ei, estrelinhas!
Queria dizer que estou muito feliz com os comentários! Apesar de aqui não ter muitos, no meu twitter e formspring tem sempre alguém comentando e eu adoro. Obrigada pelo carinho.
Desculpe a demora, mas é porque estou atolada com mais cinco ou seis fics. Então, de pouco em pouco, nós chegamos lá. Certo?
Bom, infelizmente, DA acaba por aqui. Mas não fiquem tristes, meninas. Tenho outras fics, então corram para lê-las!
Para ter algum contato comigo, é só falar pelo twitter, formspring ou Tumblr. Demoro um pouco, mas respondo.
Aproveite para ler as minhas outras criações e boa leitura.





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