Helper

Autora: Giovanna
Beta: Lara Scheffer(até o capítulo 33) | Adriele Cavalcante (Capítulo 34 em diante.)

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XXI - Helper.




Acordei com o barulho irritante da campainha. Demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo, a campainha não me deixava raciocinar direito. Preguiçosamente levantei da cama e sai do quarto de Phoebe, estranhando por estar dormindo ali, descendo a escada correndo e indo em direção à porta. Quem quer que fosse deveria estar com muita pressa.
Fui surpreendida ao abrir a porta e ver July e Joseph me encarando. De primeira eu estranhei July estar ali, já que havíamos brigado e me perguntei por que Joseph estava com ela. Mas as lembranças da noite passada vieram à tona e me fez lembrar do que havia acontecido no dia anterior.
- O que aconteceu? - Dei espaço para que minha amiga e meu irmão entrassem na minha casa. Sem hesitar, July entrou com Joseph ao seu lado. Ela sentou-se no sofá e Joseph veio até a mim, eu o peguei no colo e beijei carinhosamente seu cabelo. July me encarava seriamente. Ela parecia preocupada e com pena. Não estava entendo a sua reação, não estava entendo mais nada. Como sempre.
- , sente aqui, por favor. - Ela deu duas batidas ao seu lado. Eu arqueei a sobrancelha, desconfiada. Fui até o sofá, ainda com Joseph em meu colo, e sentei ao seu lado. Joe aconchegou-se no meu colo e eu o aninhei em meus braços. Por alguns segundos fechei meus olhos aproveitando aquele momento, eu estava com medo de que nunca mais pudesse tê-lo. Tornei a abrir os meus olhos, July me encarava atentamente, ainda com a mesma expressão.
- O que está acontecendo, July? - Por algum motivo eu temia a resposta.
- Joe, o que você acha de brincar um pouquinho no quarto? A titia precisa ter uma conversa de adulto com a irmã, está bem, meu anjo? - Ele balançou a cabeça em sinal de afirmação. Saiu do meu colo e seguiu até o seu quarto, em silêncio. - Onde está ? - July perguntou, passando os seus olhos pelo local. Ela parecia já saber a resposta.
- Ele foi embora. - Abaixei meus olhos evitando encarar os dela. Não precisava de ninguém me dizendo que sabia que isso iria acontecer, que sabia que as minhas atitudes iriam afastar as pessoas de mim.
- Eu sinto muito. - July falou docemente, pegou em minhas mãos e as acariciou. Levantei os meus olhos e a encarei, ela me olhava com ternura.
- Não sinta, eu sabia que isso um dia iria acontecer. - Mostrei-lhe um sorriso tristonho.
- Não se culpe, , não presta. - Eu a encarei surpresa. Como July poderia dizer isso? sempre fora tão bom comigo, sempre me amou verdadeiramente, ele era um homem bom, honesto. Eu era culpada, ele não! Ele nunca me fez nada.
- Não ouse dizer isso, July! Você o conheceu e sabe que não é isso que você disse, ele é maravilhoso. Se alguém tem culpa aqui sou eu. - Minha voz saiu firme, demonstrando a certeza de minhas palavras.
- Então por que ele foi embora, ? - Seu tom de voz era desafiador. Tirei minhas mãos de baixo da sua e comecei a mexer no meu cabelo, eu estava nervosa.
- Por que ele cansou dos meus segredos.
- Isso não é motivo para alguém sumir da sua vida, , você bem sabe disso. Pare de se contentar com migalhas! - Seu tom de voz elevou-se. Ela acalmou-se um pouco, respirou fundo e continuou a falar, agora num tom mais baixo. - Ontem foi até a minha casa com Joseph.
- O que ele foi fazer lá? - Agora si2m as coisas pareciam se encaixar.
- Ele me disse que havia saído de casa porque viu algo horrível. , ele me disse que viu você batendo no Joe. - Sua voz era cautelosa e seu olhar era triste.
Eu a olhei sem reação, mas por dentro tudo parecia desmoronar. Eu vi todas as minhas esperanças, todos os meus sentimentos mais bonitos, serem destruídos. Eu vi a decepção e a tristeza tomar o lugar de todos eles. Eu não escutava mais nada, nada além da voz de July ecoando em minha cabeça.'' , ele me disse que viu você batendo no Joe. '' Como pode ser tão cruel em inventar uma barbaridade daquelas? Como ele pôde falar isso de mim? Eu poderia admitir qualquer coisa, menos isso. Isso não. Era demais pra mim. Se ele quisesse me deixar, se ele quisesse ir embora porque estava cansado de mim, cansado desses segredos idiotas, tudo bem, ele poderia ir. Ele estava livre para me deixar. Mas inventar uma coisa dessas, tentar tirar umas das pessoas que eu mais amava no mundo, era crueldade demais. Era demais para mim. Eu não iria suportar, eu não iria superar aquilo.
Eu estava começando a me sentir tonta devido à quantidade de coisas que passavam na minha cabeça. Meus olhos encheram-se de lágrimas e logo elas começaram a escorrer pelo meu rosto sem que eu percebesse. July ainda me encarava, ela não dizia nenhuma palavra.
- Por que ele fez isso, July? - Minha voz saiu trêmula. Eu não sabia como havia tirado forças para dizer algo.
- Eu não sei, . Tudo o que eu sei é que ele não é essa pessoa boa que achávamos que era, ele é ruim. - Repeti o mesmo gesto que Joseph havia feito antes, balancei a cabeça em sinal de afirmação.
- Eu acho que vou deitar um pouco, estou me sentindo tonta. - Levantei-me do sofá e subi a escada sobre os olhos atentos de July. Entrei no meu quarto e sem pensar duas vezes eu atirei-me na cama. Não demorou muito para que eu começasse a chorar e soluçar. Eu encharcava minha cama com minhas lágrimas. Tantos sentimentos estavam sendo derramados ali.


- . - Ouvi alguém me chamar, sua voz era baixa e doce. - . - A pessoa tornou a repetir e dessa vez começou a me balançar. Abri os olhos lentamente e vi July sentada na cama. - Eu fiz janta, vamos comer.
- Não quero comer, estou sem fome. - Disse mal humorada. Virei-me para o lado e cobri meu rosto com o edredom. Ouvi July soltar um suspiro, ela levantou-se da cama e foi para o outro lado, deitando ao meu lado na cama.
- ? - Ela me chamou novamente, em resposta eu resmunguei. - Olhe para mim. - Pediu docemente. Eu tirei o edredom do meu rosto e a encarei. - Eu sei que tudo isso que você está passando é bem complicado e sei o quão triste você está, mas saiba que você não está sozinha. Eu e Joe estamos aqui para cuidar de você. - Eu sorri agradecida. Era bom saber que nem tudo estava perdido.
- Mais uma vez, né?
- Mais uma vez. - Nós duas rimos. - Agora vamos comer, estou morrendo de fome. - Eu concordei e levantei da cama indo até a cozinha abraçada com July, minha irmã.


’s POV ON


Havia passado o dia inteiro pensando no que deveria fazer. Eu deveria ou não ir até Phoebe? Ainda estava incerto sobre isso. Eu nunca havia a conhecido, mas havia me dito coisas tão horríveis dela que eu não sabia ao certo se Phoebe poderia realmente me ajudar em algo. Mas como poderia acreditar em ? Ela sempre fora uma farsa.
Suspirei pesadamente e coloquei o copo de vidro em cima da mesa de centro da sala. Olhei para o porta retrato ao lado do copo. Era uma foto minha com e Joseph. Ambos sorriam, parecíamos uma família. Um nó formou-se na minha garganta. Era estranho ter convivido com uma pessoa que não era o que demonstrava ser, era estranho amar um monstro. Tantos planos haviam sido feitos, tantas expectativas criadas. Eu idealizei um futuro maravilhoso para nós dois, eu depositei todas as minhas esperanças nela, na que eu amava. Na amável. A que eu namorei por tanto tempo. Minha . Mas ela havia me mostrado que não existia mais a minha , no lugar dela existia um monstro. Aquela que eu vi batendo em Joseph para mim não existia, aquilo era um monstro. E eu queria esquecer esse monstro.
Balancei a cabeça levemente tentando afastar aqueles pensamentos da minha cabeça. Ficar me lamentando não iria ajudar Joseph. Eu precisava fazer algo o mais rápido possível, ele precisava de mim. Joe era uma pessoa digna de pena, infelizmente. Sua mãe era alcóolatra e viciada, sua irmã era má e a amiga de sua irmã era manipulada pela mesma. O que seria daquela criança? Ele precisava que eu fizesse algo por ele, sabe lá o que poderia estar acontecendo com ele.
Levantei-me do sofá e fui até o banheiro. Tirei minha roupa e entrei no Box, liguei o chuveiro e senti a água quente entrar em contato com a minha pele causando-me alguns choques. Phoebe era minha única salvação. Ela sendo boa ou não, era a única que poderia me esclarecer algumas coisas, e assim eu poderia ajudar Joseph.
Entrei no carro e o liguei, saindo de casa. As casas passavam como um borrão aos meus olhos, naquele momento elas eram inúteis para mim. Meus pensamentos só focalizavam na conversa que eu teria com Phoebe, em menos de uma hora. Eu dirigia apressado, estava ansioso demais para chegar logo na clínica em que Phoebe estava. Mas uma angústia me consumia. Eu precisava da ajuda dela, mas tinha medo de me decepcionar ao constatar que ela não iria me ajudar, ou então o que ela poderia falar a respeito de . Se é que ainda haveria algo que pudesse me surpreender nela.
Sem perceber eu já estava estacionando o carro no estacionamento da clínica, parecia que eu estava no modo automático. Ou realmente estava. Desliguei o carro, sai e em seguida o tranquei. Atravessei o estacionamento indo em direção à recepção da clínica. Um arrepio percorreu no meu corpo ao entrar naquele ambiente extremamente branco onde a maioria das pessoas eram pálidas e com olheiras, com um aspecto doentio. Perguntei-me mentalmente se havia sentido a mesma coisa que eu senti quando entrei ali. Por um segundo eu senti pena dela. Mas foi somente por um segundo, porque logo depois eu passei a sentir o mesmo sentimento de antes, desprezo.
Parei em frente ao balcão onde estava escrito em uma placa de metal Recepção. Atrás do balcão havia uma mulher morena, baixa, magra e com a mesma aparência de todos ali. Ela me olhou e sorriu amigavelmente, mas seus olhos entregavam o seu cansaço.
- Boa noite. – Falei educadamente, sorrindo da mesma forma que a mulher havia feito. Mas eu sabia que minhas testa enrugada entregava o meu nervosismo.
- Boa noite. O que o senhor deseja? – Ela perguntou da mesma forma educada.
- Eu gostaria de saber aonde é o quarto da Phoebe Arendi, por favor. – Ela arqueou a sobrancelha e olhou-me surpresa. Perguntei-me se sua atitude era devido ao comportamento da mãe da minha ex-namorada ou então era porque quase ninguém a visitava, pelo o que havia me dito. A mulher voltou a sorrir, não querendo deixar transparecer ainda mais sua atitude.
- É o quarto número seis.
- Obrigado. – Sorri forçadamente e retirei-me da recepção, segui o corredor a procura do quarto da Phoebe. No final do corredor, do lado esquerdo, eu vi uma porta de madeira com o número seis pregado nela com a cor prata. A porta estava fechada. Meu coração começou a bater rapidamente alertando-me que não estava mais no modo robô. Dei duas batidas na porta, esperei impacientemente que alguém respondesse, mas foi em vão. Com cautela eu abri a porta. Entrei no quarto extremamente silencioso. Imaginei se alguém poderia ouvir os batimentos acelerados do meu coração, já que o mesmo parecia querer rasgar o meu peito e o quarto parecia estar em um silêncio profundo. Então eu a vi. Ela estava sentada na cadeira de frente para a janela, parecia observar a escuridão que estava lá fora. Seu cabelo era longo e batia mais ou menos até sua cintura. De costas ela lembrava . Ela não moveu um músculo sequer quando entrei no quarto. Eu tinha absoluta certeza que ela havia escutado os meus passos, mas parecia que minha presença não era importante para ela, parecia que a presença de ninguém era importante para ela. Phoebe parecia viver no seu próprio mundo, ignorava tudo que acontecia à sua volta.
Sentei-me na cama e esperei que ela se movimentasse ou falasse algo. Mas ela não fez nada.
- Phoebe? – Eu a chamei, receoso. Lentamente ela virou-se para mim. Ao olhar sua face pude ver que não era parecida com ela. Phoebe era extremamente pálida, seu rosto era inexpressivo, abaixo dos seus olhos havia olheiras extremamente escuras. Não havia brilho no seu olhar, eles eram sem vida. Sua boca não era rosada como a da , a boca da Phoebe era ressecada e branca. Imaginei se um dia ficaria igual a sua mãe. O meu peito apertou em imaginá-la daquele jeito. Por mais que eu tivesse muita raiva dela, por mais que eu a desprezasse e sentisse ódio dela, ainda assim eu não conseguia desejar o mal a ela. Agora eu entendi porque nunca queria ver sua mãe. Era uma cena um tanto perturbadora só de olhá-la.
Ela me olhou confusa e arqueou a sobrancelha, como se pedisse alguma explicação sobre quem eu era e o quê eu estava fazendo ali. Antes que eu pudesse responder algo ela foi mais rápida e cortou meus pensamentos, questionando-me rudemente:
- Quem é você? – Espantei-me com a sua voz grossa, parecia como a de um homem. Até nisso ela e eram diferentes, a voz da sua filha era doce. Só tinha minhas dúvidas em relação ao caráter da . Será que era mesmo tão diferente do da mãe?
- Eu sou , ex-namorado da . – Senti-me estranho ao falar ex-namorado. Ainda era tão recente. Phoebe, ao contrário de mim, não parecia estar estranha ou surpresa. Era estranho porque parecia que ela já sabia disso.
- Eu imaginei que você não aguentaria tanto tempo assim com a . – Ela soltou uma risada quase diabólica. – Mas pra você ter vindo me procurar é porque, com certeza, algum problema aconteceu com ela.
- Sim, eu ando muito preocupado com a , e principalmente com o Joe.
- O que o capetinha fez dessa vez? – Referiu-se a Joe. Ela não demonstrou nenhum tipo de amor ao falar do seu filho, lembrei-me de todas as vezes que falava da relação da sua mãe com o irmão. - Ele não fez nada. – Ignorei completamente a forma que ela havia perguntado dele. Não poderia deixar que esses problemas me abalassem, eu estava ali por um motivo. – Quem fez foi , as atitudes dela ultimamente andam me preocupando.
- Pelo visto a minha querida filha tirou as máscaras e mostrou quem ela realmente é para você. – Phoebe sorriu triunfante, como se mostrasse que ela sempre sabia que um dia isso iria acontecer, mesmo não tendo escutado toda a verdade. Ela parecia saber de tudo.
- Eu não sei quem ela realmente é. A que eu namorei e convivi por um tempo não é a mesma que eu vi recentemente. – Phoebe levantou-se da cadeira e foi até a mesinha que ficava ao lado da sua cama, abriu a gaveta e tirou de lá um cigarro e um isqueiro. Ela colocou o cigarro na boca, acendeu o isqueiro e tragou o cigarro, seus olhos estavam voltados para a janela, novamente. Perguntei-me como Phoebe tinha conseguido fumar ali dentro, já que ali era uma clínica de reabilitação e na parede do corredor havia placas avisando que era proibido fumar.
- Eu conheço minha filha melhor do que ninguém, mesmo que ninguém acredite nisso. Sei que nunca fui uma boa mãe e uma boa esposa, sempre bebi e me droguei demais, mas eu não sou cega, . Eu sei quem é a minha filha e sei que ela tem sérios problemas, mas ninguém nunca acreditou em mim. E se você veio até a mim pedindo ajuda é porque ninguém acreditou em você também. – Phoebe parecia certa do que falava, e ela realmente estava. Ela continuava a tragar, observando a janela, e eu continuava a observá-la.
- Exatamente. mostrava ser uma pessoa gentil, doce, insegura e amável. Mas minha opinião a respeito dela foi mudada assim que eu a vi batendo em Joe. A senhora imagina como está minha cabeça? Em um dia eu estou namorando e planejando casar com uma garota que diz amar o irmão como se fosse seu filho, que o trata como seu filho, no outro dia eu a vejo batendo no mesmo irmão. Afinal, quem é essa pessoa com quem eu convivi por tanto tempo? Eu tiro Joseph da casa e vou até a casa da melhor amiga dela, conto o que aconteceu e peço ajuda, mas a outra nega me ajudar dizendo que nunca faria isso e que eu não prestava. Eu não sei mais o que fazer! Desculpe pela sinceridade, mas você era minha última opção, Phoebe. – Admiti, um pouco envergonhado por ter dito tal coisa, talvez aquelas palavras pudessem magoá-la. Mas Phoebe continuava com a sua mesma expressão.
- Eu sei como é. Passei pela mesma coisa. Eu sempre via batendo em Joseph, mas ela nunca assumia que era ela mesmo, sempre dizia que seu nome era Summer, e Joseph ainda confirmava. – Summer, aquele nome não me era estranho. - E ninguém nunca acreditava em mim, porque como você sabe, eu sou alcóolatra e viciada. Mas como eu disse antes, não sou cega. Eu sabia muito bem o que estava acontecendo. sempre foi manipuladora e eu tinha certeza que ela havia manipulado Joseph para que acreditasse na existência dessa tal Summer e havia manipulado os outros para que duvidassem de mim. sempre quis as coisas no tempo dela, sempre foi uma criança complicada e problemática, já frequentou diversos psicólogos e todos falavam que ela só iria melhorar de acordo com a minha mudança. Ou seja, eu deveria parar de beber e usar drogas, me tornar uma mãe mais presente. O problema é que eu nunca me interessei muito para que ela melhorasse, para mim era tudo invenção dela para chamar minha atenção. Eu nunca quis ser mãe, acho que cada um nasce com essa vocação, e eu definitivamente não a tinha. – Phoebe apagou o cigarro na mesinha e deixou a guimba ali mesmo. Ela olhou para mim e eu podia jurar ter visto arrependimento nos seus olhos. Talvez fosse ilusão minha. Phoebe sentou-se na cadeira e virou-se para mim, ficando frente a frente e encarando-me profundamente nos olhos. – Olha, , eu nunca fui muito próxima da e nunca gostei do Joseph. Pode me jogar pedras, me amaldiçoar, fazer o que quiser, mas eu nunca gostei dele. Se já era difícil ser mãe de alguém como , imagina ser mãe de uma criança com síndrome de down? Eu não queria ter filhos, principalmente um filho como o Joseph. Eu batia nele sim, e nunca menti sobre isso. Mas eu detestava quando fazia o papel de boa irmã na frente de todo mundo e depois descontava suas frustações de adolescente no menino. Por isso eu sempre quis que a máscara dela caísse.
Estava enganado em pensar que havia algum arrependimento em Phoebe. Ela realmente era tudo aquilo que havia dito, talvez até pior. Phoebe era maléfica, não havia sentimentos nela. Ela nunca quis ajudar ninguém, nunca quis ajudar Joe, ela só queria prejudicar .
Eu senti todas as minhas esperanças sumirem de mim. Phoebe não iria me ajudar sem que prejudicasse . E eu não queria isso. Eu só queria ajudar Joe, sem prejudicar ninguém.
Frustrado, levantei-me da cama e fui em direção à porta, com o objetivo de sair daquele quarto que já me causava náuseas. Abri a porta e antes que pudesse sair dali, ouvi a voz grossa de Phoebe me impedindo.
- A tem problemas, , problemas sérios. Hoje eu consigo entender isso. Mas infelizmente não sou eu quem pode ajudá-lo, desculpa. - Ela parecia sincera, mas aquilo não me tranquilizou.
- Então você não me serve de nada. – Disse entre os dentes. Ouvi o barulho da cadeira sendo arrastada e Phoebe levantando-se, virei-me para olhá-la. Ela abriu aquela mesma gaveta onde havia pegado o cigarro, remexeu em algumas coisas ali dentro e tirou um papel pequeno e branco, fechou a gaveta e veio até mim com o papel em mãos.
- Talvez ele sirva para algo. Ligue para ele. – Ela estendeu-me o papel e eu o peguei. Dr. Smith estava escrito no papel junto com alguns números. Arqueei a sobrancelha e a olhei curioso.
- Quem é Dr. Smith?
- É o psicólogo de , ele vai te ajudar a tirar todas as suas dúvidas. – Eu dei um leve aceno com a cabeça e um sorriso agradecido, saindo do quarto. Minha visita não havia sido tão inútil assim. Phoebe poderia ter me ajudado bastante.


’s POV OFF


XXII - Please let me know that my one bad day will end.




Remexi-me por diversas vezes na cama, tentava achar uma posição confortável, uma posição que não me fizesse sentir tão sozinha, mas era impossível. Virei-me para o meu lado esquerdo e encarei com dor no peito o espaço vazio ao meu lado. Suspirei pesadamente e fechei os olhos com força, tentava inutilmente ignorar a falta que fazia.
Levantei-me da cama, derrotada por não conseguir achar uma posição confortável para dormir, e saí do quarto com dificuldade. Era de madrugada e a casa encontrava-se em um breu. Cuidadosamente segui até o quarto de Joe, era o único cômodo que se encontrava um pouco mais iluminado devido à fraca luz do abajur. Parei no batente da porta do seu quarto e o observei dormir tranquilamente. Um sorriso doce surgiu em meus lábios ao ver o meu irmão dormir de uma forma tão... Angelical. Aproximei-me da sua cama, ainda com o mesmo cuidado de quando cheguei ao seu quarto, e deitei ao seu lado. Joe remexeu-se na cama e não demorou muito para que despertasse ao sentir o peso do meu corpo afundar ao seu lado no colchão.
- Irmã? - Ele perguntou com a voz sonolenta esfregando os olhos. Abriu os olhos com dificuldade, tentando me enxergar.
- Oi, meu anjo. - Acariciei o seu cabelo carinhosamente. Joseph sorriu ao sentir o meu carinho e então abraçou minha cintura, acomodando-se nos meus braços. Apertei com delicadeza o seu pequeno corpo contra o meu.
- Você vai dormir aqui? - Joe perguntou, levantou a cabeça para me olhar, com dificuldade tentava manter os olhos abertos.
- Vou, meu amor, eu vou. Agora durma. - Ele sorriu pela última vez antes de fechar os olhos e voltar a dormir. Fechei os meus olhos e acariciei o seu cabelo, o sorriso doce ainda permanecia nos meus lábios. Era bom saber que tinha Joe ali comigo naquela madrugada solitária. Eu nunca deveria pensar que ele era um problema para mim. Joseph sempre foi e sempre será a solução para os meus problemas.


Estava terminando de arrumar Joseph para ir à escola quando o meu celular tocou. Deixei Joseph em cima da cama e corri até o meu quarto pegando o celular em cima da cama. O nome de July piscava no visor.
- Fala, meu grude. - Atendi a sua ligação e voltei para o quarto de Joseph.
- Até parece, né? - Ouvi a risada estridente da minha amiga do outro lado da linha. - Já está saindo de casa?- Equilibrei o celular entre minha orelha e meu ombro e comecei a pentear o cabelo do meu irmão.
- Estou terminando de arrumar Joe e já vou sair. – Assim que acabei de pentear o cabelo de Joe, ele saiu da cama, eu peguei sua mochila e minha bolsa e descemos a escada indo até a cozinha. July permaneceu em silêncio por um tempo.
- Você tem certeza que não quer que eu o leve? - July perguntou, quebrando silêncio que havia se instalado. Seu tom de voz cauteloso me fez lembrar o motivo de July não querer que eu levasse Joe. Mas eu tinha que ser forte, uma hora ou outra eu teria que encará-lo, não adiantaria ficar se escondendo.
- Absoluta. Eu tenho que fazer isso, July. E tem que ser hoje. – Coloquei o cereal na minha vasilha e na de Joe e enchi de leite também.
- Bom, nesse caso eu só posso lhe desejar boa sorte. – July disse enquanto eu me sentava na cadeira ao lado do meu irmão. Escutei July soltar uma risada sem graça. Eu sabia que sua atitude demonstrava que não sabia como agir diante dessa situação. Mas eu não poderia culpá-la, eu mesma não sabia como agir.
- Obrigada. Preciso desligar agora, depois eu te ligo. Beijos.
- Beijos. – Desliguei o celular e o coloquei dentro da minha bolsa, que estava em cima da mesa. Joe, que até então permanecia em silêncio, sorriu para mim com a boca suja de leite. Eu ri ao ver o seu sorriso o achando tão adorável.
- Come rapidinho, Joe, se não vamos nos atrasar. – Meu irmão assentiu freneticamente com a cabeça enquanto comia.
Assim que terminamos de comer, eu coloquei as vasilhas na pia, fui até o banheiro escovar os meus dentes e os de Joe. Saímos de casa às pressas e entramos no carro da mesma forma que saímos de casa.
- Irmã? – Joe me chamou quando eu havia dado partida no carro e estava a caminho de sua escola.
- Oi ,meu anjo. – Eu respondi, com os olhos na estrada.
- Por que a Summer me odeia? – Sua pergunta me surpreendeu. Eu tive que focar toda minha atenção na estrada para que não acontecesse algum acidente. Minhas mãos agarram com força o volante, ouvir aquele nome causava-me calafrios. - Joe, esqueça a Summer, está bem? – Eu lhe pedi, ainda sem olhá-lo. O que mais eu poderia falar? Eu não tinha respostas para sua pergunta. Eu não sabia quem era essa Summer, não sabia se ela existia mesmo ou se era tudo fruto da imaginação do meu irmão. Não tinha o que falar.
- Eu queria que ela me amasse como você e o me amam. – Outro calafrio percorreu minha espinha. Dessa vez era ao ouvir o nome do meu ex-namorado. Eu não sei ao certo o que senti ao ouvir o seu nome. Fui invadida por uma mistura de sentimentos. Eu sentia raiva, saudade, mágoa. Eu ainda não sabia como me sentia em relação à .
- Chegamos! Vamos estudar? – Disse com uma falsa animação quando estacionei o carro na rua da escola de Joseph. Parecendo esquecer completamente o assunto de antes, Joseph abriu um largo sorriso e os braços mostrando que ele realmente estava animado. Sai do carro e tirei Joseph do carro. Tranquei o carro e seguimos de mãos dadas até sua sala. Tive que certificar-me se não estava apertando com força as mãos de Joseph. Meu nervosismo era grande. Eu queria dizer tantas coisas para , queria xingá-lo e falar que ele havia sido baixo demais, que ele não merecia estar trabalhando na escola porque ele era uma farsa. Tantas palavras estavam entaladas. Mas tive que as engolir quando vi parado no batente da porta da sala de Joseph sorrindo para as crianças. Eu não poderia causar um tumulto ali, se eu queria resolver as coisas com , teria que ser entre mim e ele. Meu irmão não precisa presenciar uma cena horrível e muito menos as outras crianças e suas mães.
Quando notei, já estávamos em frente à sala de Joe. Meu coração disparou ao ver tão próximo de mim. Joseph soltou minha mão e abraçou a coxa de , que se abaixou um pouco e pegou Joseph no colo. Observei os dois abraçados na minha frente. Senti-me como uma intrusa. e Joseph estavam ali, abraçando-se e compartilhando seus sentimentos, enquanto eu estava de fora só observando. Quando foi que tudo mudou tão rápido? e Joseph conversavam sobre alguma coisa, mas eu não conseguia prestar atenção. Eu não conseguia acreditar que havia feito algo do tipo comigo e com Joseph. Não fazia sentido. Ele parecia se importar tanto com Joseph, ele parecia me amar verdadeiramente. Ele era realmente uma farsa? colocou Joseph no chão que entrou na sua sala. Esperei que me olhasse para assim lhe mostrar o meu olhar magoado. Mas ele não me olhou. não me olhou. Ele me ignorou, simplesmente virou o rosto para o outro lado e conversou com um pai. Ele sequer se importou com a minha presença ali. Agiu como se eu não fosse ninguém. Como se minha presença não fosse mais importante para ele. Ou talvez nunca tenha sido.


Desliguei o computador e levantei-me da cadeira. Saí da minha sala e fui até a sala do meu chefe. Bati levemente na porta e, quando ouvi sua voz permitindo a minha entrada, eu abri a porta e coloquei somente a cabeça para dentro.
- Sr. Sandford, eu estou indo almoçar. Precisa de mais alguma coisa? – Meu chefe apenas levantou os olhos da papelada que se encontrava em sua mão e olhou para mim.
- Não, querida, pode ir. Está liberada por hoje. – Arqueei a sobrancelha, um pouco confusa por ele ter me liberado mais cedo. Ultimamente meu chefe andava tão gentil. Parei de questionar mentalmente o seu comportamento e sorri agradecida, fechei a porta e com passos apressados retirei-me do cômodo.


Entrei no restaurante passando meus olhos sobre o local, à procura de July. Sorri ao vê-la sentada a mesa que ficava no canto. Fui até a sua mesa, onde me sentei ao seu lado.
- Já fez os pedidos? – Perguntei, enquanto colocava minha bolsa na cadeira ao meu lado.
- Estava esperando você. – Ela pegou dois cardápios que estavam em cima da mesa e estendeu-me um, peguei e procurei alguma comida que pudesse me satisfazer.
O garçom chegou alguns minutos depois e então fizemos o nosso pedido.
- E então... Como foi hoje? – Ela perguntou cautelosamente. Entendendo aonde ela queria chegar, eu suspirei pesadamente. Abaixei meus olhos para minha calça e comecei a mexer no botão da calça.
- Ele... Bem, ele... – Pigarreei, evitando demonstrar que minha voz havia falhado. Ainda sem coragem de olhar para minha amiga eu terminei minha frase: - Ele me ignorou. – Levantei os olhos, tomando coragem para olhá-la. Eu tinha medo do que ela pudesse falar ou do que eu pudesse ver. Meu peito doeu ao ver minha amiga me olhar com pena. É horrível sua amiga sentir pena de você. É horrível saber que você é digna de pena.
- Ele é um idiota. – Minha amiga disse, furiosa, parecendo perceber que eu havia ficado chateada com sua forma de me olhar. Um sorriso de gratidão surgiu em meus lábios ao vê-la agir daquela forma protetora.
- É assim que as coisas têm que ser, July. Eu e não vamos ficar juntos, acabou, era pra ser. – Disse firmemente, tentava demonstrar não somente para July, como para mim mesma, que havia acabado. Eu ainda o amava, mas havia me magoado de uma forma que ninguém nunca havia feito. Nem mesmo Phoebe. E agora eu não via mais motivos para voltar com ele, principalmente porque ele ainda se achava certo. Eu tinha que enfiar dentro da minha cabeça que havia acabado. Era isso. Acabou. – Vamos esquecê-lo, está bem? – July assentiu, observando o garçom colocar o nosso pedido na mesa. – Eu queria falar com você sobre Joseph... – July levantou seus olhos e fitou-me curiosa ao notar a preocupação na minha voz.
- O que houve com ele? – Sua voz saiu esganiçada, pude notar com clareza o desespero contido ali. Eu sabia que ela se preocupa com Joe tanto quanto eu.
- Ele comentou sobre aquela Summer, novamente... – Suspirei cansada. Eu estava cansada de todo aquele assunto. Ultimamente parecia que minha vida girava em torno de Summer. – Eu não sei mais o que eu faço, July! – Foi a minha vez de falar com a voz esganiçada.
- , fique calma. Crianças tem a imaginação muito fértil, você sabe disso. – Ela pegou minha mão por cima da mesa e gentilmente acariciou.
Foi necessário esse simples gesto para fazer com que tudo que estava guardado dentro de mim explodisse. Estar ao lado da minha melhor amiga que sempre me transmitia confiança fez com que eu percebesse que eu precisava desabafar. Eu não iria aguentar por mais tempo todas aquelas indecisões na minha cabeça. Eu não iria suportar guardar todos aqueles sentimentos dentro de mim. Eu precisava conversar com July, precisava que ela me ajudasse a entender o que se passava dentro de mim. Eu sabia que ela não iria me julgar, independente do que eu falasse para ela.
- Eu me odeio, July. Eu me odeio por ser tão egoísta e dramática, por sempre achar que todos têm que estar a minha disposição e concordar com tudo que eu digo. – Meus olhos encheram-se de lágrimas. July, ao ver meu desespero, apertou minha mão levemente tentando me transmitir forças para que eu pudesse continuar a desabafar. Uma lágrima escorreu dos meus olhos, logo em seguida várias outras escorreram e então meu rosto já estava completamente molhado. – Eu me odeio por afastar as pessoas de mim, por ser uma farsa. – Um soluço escapou dos meus lábios. As atenções de todas as pessoas do restaurante estavam focadas em mim. Mas eu não me importei, eu não estava dando a mínima para o que elas poderiam pensar de mim. Aquele era o meu momento, era o momento que eu estava guardando por muito tempo e eu precisava daquilo. Eu precisava desabafar. Eu já não conseguia mais falar algo, meus soluços me impediam de falar qualquer coisa. Eu chorava compulsivamente, meu corpo tremia e eu já não enxergava direito devido à quantidade de lágrimas que escorriam dos meus olhos. July soltou minha mão e levantou-se da cadeira, escutei-a arrastar a cadeira do meu lado e então July sentou-se na cadeira. Ela puxou com delicadeza o meu ombro, eu encostei a cabeça no seu peito, ela me abraçou e começou a acariciar o meu cabelo. O restaurante só não estava em completo silêncio devido à altura dos meus soluços e o barulho dos talheres. Eu era o centro das atenções ali. – E eu me odeio ainda mais por culpar Joseph pela vida de merda que eu levo. – E então reuni toda a força e coragem que ainda me restavam e disse o que tanto temia falar em voz alta. Confessei para July o real motivo por me odiar tanto. Confessei para ela o que tanto me machucava por todos esses anos.


’s POV ON
Estacionei meu carro na calçada em frente a uma casa amarela de dois andares com um jardim extremamente florido. Desliguei o som, dando fim na voz do cantor John Mayer, saí do carro e o tranquei. Atravessei o jardim florido e parei em frente à porta de madeira. Toquei a campainha e esperei pacientemente até que alguém atendesse a porta. Enfiei minhas mãos no bolso da calça jeans, sentindo-as geladas. Eu estava ansioso por aquele encontro. No mesmo dia que Phoebe havia me dado o número do Dr. Smith eu liguei para ele explicando que precisava me encontrar com ele para conversar a respeito de . Não deixei de notar o quão tensa sua voz havia se tornado quando me respondeu que deveríamos nos encontrar na casa dele, segunda feira, às 15h00min. E agora eu estava tenso.
Quando abriram a porta, pude vez um homem um pouco mais alto do que eu, com a barba mal feita, pele extremamente clara, olhos azuis escuros, cabelos escuros. Ele sorriu largamente para mim, mostrando todos os seus dentes perfeitos e brancos.
- Você é o , certo? – Ele perguntou animadamente. Eu assenti e então ele estendeu sua mão para mim, apertei a mão dele por alguns segundos e soltei, voltando a enfiá-la no bolso da calça jeans. – Eu sou o Dr. Smith. Entre, por favor. – Ele chegou um pouco para o lado para me dar espaço. Sorri agradecido para ele e entrei na casa um pouco tímido. Dr. Smith fechou a porta da casa e apontou com o queixo o sofá da sala de visitas. A casa era aconchegante. Não era muito simples e também não era extravagante. A parede da sala de visitas era de tijolos, dois sofás de couro, uma mesinha de centro marrom que fazia parte da decoração e alguns quadros na parede. Do lado esquerdo da sala tinha uma escada de madeira e embaixo da escada uma pequena salinha com um sofá também de couro e uma TV de plasma. E então um corredor que dava para os banheiros e a cozinha. Dr. Smith sentou-se em um dos sofás e eu sentei-me ao seu lado. Senti minhas mãos suarem frio e xinguei-me mentalmente por essa reação. – Você quer alguma coisa? Água, café, suco? – Ele perguntou simpaticamente. Provavelmente havia percebido o meu nervosismo e queria me deixar mais à vontade.
- Não, obrigado. Eu estou bem. – Disse, tentando soar o mais convincente possível. Tirei minhas mãos do bolso da calça jeans e as coloquei em cima do meu joelho, entrelaçando-as.
- Você veio aqui para falar sobre , não é mesmo? – Ele perguntou, fazendo com que eu me lembrasse do real motivo por estar ali.
- Exatamente isso. Aconteceram alguns problemas com ela, eu fui procurar ajuda de Phoebe e ela disse para eu te ligar que você iria me ajudar.
- Quais problemas? – Eu engoli minha saliva e logo depois suspirei pesadamente. Abaixei meus olhos e fitei minha mão. Não era uma atitude infantil, é que eu ainda me sentia magoado demais para ficar relembrando tudo que havia acontecido naquele dia. – , você tem que ser o mais sincero possível comigo em relação à . Ou eu não vou conseguir ajudá-la. – Levantei os meus e o encarei, as recordações daquele dia vieram e era de se esperar que a dor no peito também viesse. Eu me sentia traído.
- Eu namoro há algum tempo, e ela sempre demonstrou ser tão amável com o Joe. Incapaz de machucá-lo... – Um nó formou-se na minha garganta me impedindo que eu continuasse a falar. Dr. Smith olhou-me compreensivamente, como se ele soubesse o que eu estivesse passando. – Mas então eu a vi batendo no Joe, machucando-o. E então eu vi que ela não era amável assim com ele. A forma como ela batia nele e as coisas que ela disse só mostravam que ela é o contrário de tudo o que eu achei. – Meu peito parecia apertar e então respirar tornou-se algo tão complicado de se fazer. Eu sabia que meus olhos estavam magoados. Era dessa forma como eu sentia e os meus olhos apenas demonstrava isso. O nó voltou a se formar na minha garganta e com muito custo eu segurei as lágrimas que já ameaçavam encher meus olhos.
- É isso que você lembra? Não consegue lembrar-se de mais nada importante ou estranho? Algo que ela tenha dito ou até o próprio Joseph. – Forcei-me a tentar lembrar-se de algo naquele dia. Foi então que consegui lembrar-me de uma coisa, ou um nome para ser mais exato.
- Eu me lembro de algo estranho. Quando eu peguei Joseph e saí de casa, ela veio atrás falando várias coisas horríveis e então ela gritou algo como "Meu nome é Summer" antes que eu saísse da casa. Mas esse nome não me é estranho. Desculpe, é a única coisa estranha que eu notei. - Dr. Smith tinha expressão vaga. Ele olhava para um ponto fixo qualquer além de mim. Sua testa formou um pequeno vinco enquanto aos poucos ele mudava sua expressão. Parecia estar lembrando-se de algo.
- Não precisa se desculpar, , você me ajudou bastante. – Ele sorriu agradecido e dessa vez fui eu que formei um pequeno vinco na testa. – , a tem transtorno dissociativo de identidade. – Arqueei a sobrancelha, demonstrando a confusão que estava a minha cabeça. – No popular: dupla personalidade.
- Como assim, doutor? – Eu perguntei, ainda mais confuso. Ou talvez incrédulo? Surpreso?
- Bom, eu vou explicar com calma pra você. A Phoebe provavelmente deve ter dito que frequentou muitos psicólogos, não é mesmo? – Eu assenti concordando. – Bom, uma amiga do pai de me indicou para ele e então nós conversamos e ele explicou sobre o comportamento de . Disse que ela andava meio depressiva, ansiosa. Ele havia até cogitado a ideia de ter sido por causa das provas, mas ela havia entrado de férias e continuava tendo os mesmos sintomas. Ele começou a achar estranho quando algumas vezes via quebrando suas coisas no quarto e então ele brigava com ela falando que não deveria fazer aquilo, mas ela sempre gritava falando que ele não deveria chamá-la de e sim de Valentina, que para ela era seu verdadeiro nome. Várias vezes ele a ouvia falar que se odiava. Muitas das vezes ela esquecia-se de algumas coisas e sempre quando ele entrava no assunto sobre a tal "Valentina" ela dizia que não sabia quem era e muito menos do que estava falando. E então ele veio conversar comigo, marcamos uma consulta para . Na sua primeira consulta ela havia me dito coisas sobre como sua mãe era má, maltratava ela e como seu pai era incrível e tudo mais. Nós trabalhamos por anos juntos. E então, pelo que seu pai havia dito, a Valentina, que é a sua outra personalidade, havia sumido. Sua mãe engravidou do Joseph. E estava radiante com a ideia de ter um irmão, era tudo o que ela mais queria. Meses depois, bem perto de Phoebe ter Joseph, seu pai faleceu. ficou arrasada, seu pai era tudo para ela, o único que era amável com ela, depois da sua melhor amiga July. Phoebe teve Joseph e, como você sabe, ele nasceu com síndrome de down. no início me dizia que não se importava com isso, ela o amava do mesmo jeito. Mas como Phoebe nunca estava em casa, sempre estava bebendo e se drogando, era que cuidava de Joseph, ela havia virado a mãe dele. Depois de um tempo sempre reclamava que estava cansada de ter a responsabilidade de cuidar de Joseph, estava cansada de dizer não todas as vezes que alguém a chamava para sair. Ela dizia que era nova demais para ter toda essa responsabilidade, que sentia vontade de sair com seus amigos. Então eu me preocupei, eu sabia que a morte do seu pai, o descuido da sua mãe e a responsabilidade de cuidar de Joseph não iriam fazer bem a ela. Sua mãe veio me procurar meses depois dizendo que ninguém acreditava nela quando ela dizia que batia em Joseph. E me disse também que dizia que era Summer, e não . Mas sempre se esquecia das coisas e sempre negava quando Phoebe afirmava que ela batia em Joseph. Foi aí que eu percebi que ela havia construído outra personalidade. Mas nunca mais voltou a se consultar comigo, eu ligava para ela, mas ela não atendia mais minhas ligações. – Dr. Smith finalizou, com um suspiro cansado. Eu o encarei inexpressível. Estava sem reação, sentia-me baleado com todas aquelas informações. Minha namorada, minha ex-namorada, tinha dupla personalidade? Aquilo era demais para minha cabeça, eu não conseguia compreender mais nada.
- Como isso? – Surpreendi-me ao me ouvir vomitar tais palavras.
- , o transtorno dissociativo de identidade é causado por diversas coisas. Estresse intensivo, falta de compreensão e compaixão na infância, falta de proteção na infância, entre outras causas. No caso de foi falta de compreensão, compaixão e proteção na infância. Phoebe nunca havia sido uma boa mãe, sempre maltratava e dizia coisas horríveis. E então criou essa personalidade, a Valentina, que era agressiva. Mas com os tratamentos que fizemos com ela, excluiu a Valentina da sua vida. Porém, a morte do seu pai, que era uma das poucas pessoas amáveis com ela, como eu havia dito, e a responsabilidade de cuidar do seu irmão, fez com que ela criasse outra personalidade, a Summer. Que também é agressiva, faz e diz coisas que a própria não teria coragem de fazer e dizer. A não odeia o Joseph, ela realmente o ama como diz amá-lo. Mas a morte do seu pai fez com que ela não soubesse lidar com essa situação, e então recorrer a Summer. Querendo ou não, ela culpa Joseph por prendê-la, mas veja bem, ela o ama. Ela poderia fazer isso com qualquer pessoa, até mesmo com você. Mas é com Joseph que ela passa mais tempo, é ele que indiretamente não a permite fazer algumas coisas. Entende o que eu digo? – Eu assenti, afirmando, ainda estava chocado demais para falar alguma coisa. – O que precisamos fazer para ajudar é fazer com que ela volte a se consultar. Não precisa ser comigo, ela só precisa se consultar com alguém.
Meus olhos encheram-se de lágrimas e dessa vez eu não consegui controlá-las. Saber o quanto havia sofrido e o quão injusto eu havia sido com ela me machucava. Ela precisava de mim e eu virei as costas para ela. Como ela suportava viver naquela situação? Tudo bem que ela não sabia, mas era horrível para ela e para o próprio Joseph, que também era inocente. Eles eram inocentes nas armadilhas do destino. Não tinham culpa por terem esses problemas. Agora eu tinha certeza que nada havia sido em vão. Não foi em vão que eu fui trabalhar naquela escola e dar aula para Joseph, me apaixonar por , namorá-la. Eu entrei na vida deles para ajudá-los. Eu não quero bancar o super-herói ou algo do tipo. Mas eu sabia que eles precisavam de mim e eu era a pessoa que poderia ajudá-los. não era um monstro como eu pensava, ela era uma vítima, vítima do destino, vítima das crueldades de Phoebe, vítima da confusão da sua cabeça. E eu queria ter a minha amável de volta, eu iria lutar por isso. Não poderia deixar que Summer a controlasse, ela seria minha , minha única . Eu a amava demais para perdê-la.
- Eu estou disposto a ajudá-la, doutor. – Falei decidido. As lágrimas rolavam livremente pelo meu rosto, não me senti envergonhado por chorar na frente do Dr. Smith. Se algo me envergonhava no momento, era o fato de eu ter virado as costas para a mulher da minha vida. As minhas lágrimas só demonstravam o quão sincero eu estava sendo, o quão homem eu estava sendo por permitir que elas escorressem.
- Então seremos uma ótima equipe. – Ele sorriu cúmplice para mim e automaticamente eu repeti seu gesto. Levantei-me do sofá e enxuguei minhas lágrimas, Dr. Smith também se levantou e parou a minha frente. Ele puxou-me para um abraço consolador e deu dois tapinhas no meu ombro antes de quebrar o abraço. – , por favor, não comente com ninguém sobre o que eu te disse a respeito da minha consulta com a , está bem? Eu posso perder o meu emprego se alguém souber disso. Eu só te disse por que sei o quão desesperado você estava. – Seus olhos, que até então brilhavam, agora estavam preocupados.
- Pode deixar, doutor, não direi nada que pudesse lhe prejudicar. – Ele sorriu mais uma vez cúmplice para mim. E eu retribui mais uma vez.


Estava deitado no sofá assistindo TV quando escutei a campainha tocar. Um pouco surpreso por receber visita àquela hora da noite, eu levantei-me do sofá e fui em direção à porta. Quando abri a porta espantei-me ao ver July parada do outro lado com Joseph no seu colo. O rosto de Joseph estava vermelho, assim como seus braços. July estava com os olhos arregalados, a boca entreaberta, o rosto molhado e vermelho. Algo estava errado.
- Precisamos da sua ajuda.


’s POV OFF




XXIII – Oh baby, it’s a wild world.

’s POV ON


Deixei July sentada no sofá da sala com Joe ao seu lado enquanto eu estava na cozinha, preparando um chá para acalmá-la. Ela ainda estava nervosa, suas mãos tremiam e ela não conseguia formar frases coerentes. Joseph não dizia nada, chorava silenciosamente - por incrível que pareça, para uma criança de seis anos - abraçado a ela. Desliguei o fogão quando vi que água estava fervendo, tirei o bule do fogão e derramei um pouco da água nas duas xícaras em cima da mesa. Coloquei um saquinho de chá de camomila em cada xícara e duas colheres de açúcar. Peguei as xícaras com cuidado e fui até a sala. July ainda permanecia na mesma posição de antes, Joseph estava entretido com um desenho animado que passava na TV. Entreguei uma das xícaras para July, que sorriu agradecida ao pegá-la. Sentei-me ao seu lado e beberiquei um pouco do líquido.
- Está maravilhoso, obrigada. - July disse, após ter bebericado um pouco do chá. Sorri satisfeito ao ouvir o seu elogio.
- É para acalmar. - Ela olhou para mim com seus olhos carregados de dor. E aquilo me fez lembrar quando eu havia ido até a sua casa com Joseph, eu encontrava-me no mesmo estado que ela estava agora. July sabia o que eu havia passado naquele dia, agora ela sabia.
- Eu estava precisando mesmo. - Ela sorriu sem graça e voltou a bebericar o chá. Eu a observei atentamente, esperando que ela começasse o assunto que a havia levado até a minha casa. Percebendo que July não iria tomar a iniciativa de começar falar, já que ela fazia questão de ignorar os meus olhares, eu comecei a falar.
- Então, o que aconteceu? - Virei todo o líquido na minha boca, sentindo minha garganta queimar devido à temperatura do chá. Coloquei a xícara em cima da mesa de centro e voltei a olhar para July. Nossos olhares se encontraram e nos seus olhos estava estampada a dor, ela mordeu o lábio inferior, demonstrando o seu nervosismo. July colocou a xícara em cima da mesa de centro, mas, ao contrário da minha, a sua ainda estava pela metade.
- Você estava certo, . - Ela disse, envergonhada. Envergonhada por admitir que eu estava certo, envergonhada por não ter acreditado em mim. Mas eu não estava ali para julgá-la e sim para ajudá-la.
- O que aconteceu, July? - Tornei a perguntar, ignorando o que ela havia dito. Do que me adiantava estar certo se não estava bem? July olhou discretamente para Joe, vendo que ele estava concentrado no desenho que passava na TV, ela voltou a olhar para mim e suspirou pesadamente, mexendo na barra da blusa.
- A , ela... - Observei seus olhos encherem-se de lágrimas, sua boca começar a tremer. July não conseguiu terminar a frase e então fui obrigado a terminar por ela.
- Ela bateu no Joe, é isso? - Eu perguntei a ela, que não conseguiu responder nada, apenas assentiu com a cabeça. Meu peito doeu ao vê-la confirmar. Eu sabia dos problemas de , sabia que nada daquilo era culpa dela, mas ainda assim doía vê-la fazendo aquilo, mesmo sem saber, mesmo sem ter consciência. Lágrimas desciam dos olhos de July e eu pude ver o quanto ela lutava para não soluçar, para não fazer com que seu choro chamasse a atenção de Joseph. Aquilo doeu em mim também. Doeu porque eu sabia o quanto July estava sofrendo, eu imaginava a confusão que estava em sua cabeça. Ela era amiga de há anos e nunca havia presenciado um comportamento daquele tipo. Eu não sabia o que dizer para acalmá-la, não havia nada que pudesse acalmá-la. Sem jeito, eu a puxei pelo ombro, ainda estava incerto sobre o que fazer. July afundou sua cabeça no meu pescoço e eu abracei fortemente. Senti suas lágrimas quentes molharem meu pescoço, mas aquilo não me incomodou. Meus olhos encheram-se lágrimas, mas eu me controlei para que não chorasse desesperadamente. Eu deveria ser forte o suficiente para ajudá-los. Nunca havia sido tão próximo assim de July, mas ali estávamos nós, abraçados e chorando silenciosamente. Compartilhando a nossa dor, aquele sentimento mútuo. Aos poucos fui sentindo July ceder ao desespero e então seu corpo começou a tremer, seu choro deixou de ser silencioso e isso acabou chamando a atenção de Joseph. Ele nos encarou confuso, veio até nós dois e nos abraçou, sem saber o que fazer. July soluçou e me abraçou mais forte. Lágrimas já desciam pelo meu rosto. Desesperado e confuso com a nossa reação, Joseph também começou a chorar. E então estávamos nós três chorando compulsivamente e abraçados.
- Por que ela faz isso, ? Por quê? - Com muito custo ouvi a voz embargada de July perguntar, inconformada. Seu corpo tremeu ainda mais, parecendo lembrar-se de algo. Provavelmente de batendo em Joseph. Automaticamente lembrei-me do dia que eu havia visto minha ex-namorada batendo no irmãozinho dela, lembrei-me da raiva que havia sentido dela. Mas logo me recordei da conversa com o Dr. Smith, não poderia ter raiva dela, ela era uma vítima.
- July... - Disse calmamente e baixo, para que só ela escutasse. Afaguei o seu cabelo, tentando acalmá-la. Eu sabia que o que eu iria lhe contar não era fácil, sabia que iria confundi-la ainda mais, mas era preciso ser dito. - A tem dupla personalidade. - Senti seu corpo ficar rígido, seus braços, que me abraçavam fortemente, soltaram do abraço. Ela levantou-se sem delicadeza alguma desfazendo também do abraço de Joseph, que a olhou confuso, e encarou-me também confusa.
- Como assim? - Ela perguntou, arqueando a sobrancelha. Suspirei pesadamente e passei as mãos pelo cabelo. Olhei para Joseph, que agora estava deitado no sofá assistindo novamente ao desenho.
- Não é a que faz essas coisas, é a Summer. - Tentei ser o mais claro possível, mas July estava cada vez mais confusa. - Eu procurei Phoebe e ela me passou o número de um psicólogo, disse que ele poderia me ajudar. Então eu liguei para ele e marcamos de nos encontrar, expliquei para ele a situação da e ele me disse que ela tinha dupla personalidade. - Não entrei em muitos detalhes devido ao pedido do Dr. Smith para não contar a ninguém sobre a nossa conversa.
- O que isso quer dizer? - Ela perguntou, receosa. Imaginei que, assim como eu, ela não sabia se isso era bom ou ruim. Talvez fosse melhor acreditar que era uma má pessoa.
- Isso quer dizer que ela precisa de ajuda, da nossa ajuda.


’s POV OFF


Olhei meu reflexo no espelho. Não era de se espantar que meu estado estivesse deplorável. Pálida, com profundas olheiras abaixo dos olhos, olhar sem brilho, cabelo ressecado. Como tinha o poder de fazer isso comigo? Como uma pessoa que lhe faz tão bem poderia ao mesmo tempo lhe fazer tão mal? Não fazia tanto tempo assim que havíamos terminado e eu já aparentava estar doente.
Suspirei, cansada de tentar achar alguma resposta para o meu estado deplorável. Abri a torneira e enchi minha mão, em forma de concha, de água. Molhei meu rosto e desliguei a torneira, secando meu rosto em seguida. Olhei pela última vez meu reflexo no espelho. Aquilo seria mais difícil suportar do que eu pensava. Abri a porta do banheiro e saí do cômodo, indo até a sala.
Estranhei quando vi que a TV estava ligada, porém não havia ninguém a assistindo, não havia ninguém na sala.
- July? Joe? – Chamei pela minha amiga e meu irmão, mas não obtive respostas. Estremeci ao pensar na possibilidade de que talvez eles estivessem ido embora, assim como . – JULY? JOE? – Gritei, chamando-os novamente. Mas tudo que pude ouvir foi o silêncio. E então eu entendi, não eram apenas possiblidades, July e Joseph haviam ido embora. Assim como havia feito. Sem se despedir. E aquilo doeu, doeu como nunca havia doído em toda minha vida. Eu pensava que não existiam mais maneiras de ser machucada, eu pensava que não existia algo que pudesse doer ainda mais, mas eu me enganei. Ser abandonada novamente, sem despedida, sem saber o que eu havia feito de tão ruim para ser largada pela segunda vez, me machucou. Doeu mais do que a morte do meu pai.
Sem forças para sustentar meu corpo, eu desabei no sofá. Eu não conseguia chorar, meus olhos estavam secos, incrédulos. Então meus olhos pararam na porta entreaberta. Senti meu estômago doer e uma súbita vontade de vomitar. Mas eu não consegui vomitar, minha garganta também estava seca. Meu coração parecia ter diminuído, eu quase não o sentia. E minha cabeça parecia que ia explodir em milhares de pedacinhos. Minha melhor amiga havia ido embora, meu irmão havia ido embora. Nada mais fazia sentido. Eu não tinha pai, minha mãe não se importava comigo, meu namorado, meu irmão e minha melhor amiga haviam ido embora. Então por que eu ainda insistia em viver? Por que eu era tão teimosa a esse ponto? Eu poderia simplesmente dar um fim nesse sofrimento, mas não, eu tinha que ser cabeça dura a ponto de permitir que meu coração continuasse batendo. Mesmo que bem fraco, mesmo que doendo. Eu fazia questão de deixá-lo batendo. E tudo isso pra quê? Sofrer cada dia mais? Sim, eu estava sendo dramática. Mas era o meu direito! Eu tinha o direito de ser dramática, eu tinha o direito de viver a minha dor. Porque eu não tinha mais ninguém e era justo que eu passasse por isso. Mas não era justo que eu sofresse tanto.


’s POV ON
O barulho do toque do celular de July atrapalhou a nossa conversa. July retirou o celular que estava dentro da bolsa e sorriu sem graça. Mas seu sorriso desapareceu quando seus olhos pousarem no visor do celular. Eu a olhei curioso, esperando alguma explicação. Não que ela devesse uma explicação, mas eu sentia que ela queria explicar. July levantou os seus olhos e como se lesse os meus pensamentos ela disse:
- É a . – Sua voz saiu em um sussurro. O celular ainda tocava. Ela olhava para mim, pedindo ajuda; estava incerta sobre atender ou não a ligação.
- Atende e diga que precisou sair com o Joseph para comprar algo. Inventa alguma desculpa. – Expliquei rápido, olhando para o celular nas mãos trêmulas de July.
- Mas por quê? – Ela questionou, arqueando a sobrancelha e enrugando a testa. Suspirei impaciente e disse:
- Porque precisamos ajudá-la, então temos que fingir que nada aconteceu. – July deu de ombros, ignorando o que eu havia dito. Com certeza ela só havia se preocupado no início da frase. Ela atendeu a ligação de tentando ser o mais firme possível, mas suas mordidas no lábio inferior e suas pernas balançando só demonstravam outra coisa.
- Oi, . – Sua voz saiu tão doce que eu poderia jurar que acharia que ela estivesse sorrindo, quando na verdade July quase chorava de desespero. July tirou o celular de perto do ouvido e ligou viva voz a tempo de eu escutar a voz da minha ex-namorada.
- July, o que aconteceu? Onde você e Joe estão? – Ela perguntou, preocupada. Não pude deixar de notar como sua voz estava falha e embargada. Imagens de chorando sozinha no seu quarto invadiram a minha mente, minha garganta se fechou e minha cabeça começou a doer, avisando que não demoraria muito para que eu chorasse ao imaginá-la daquele jeito. Tentei pensar em outra coisa que não me fizesse chorar.
- Eu fui ao mercado com Joe comprar refrigerante, lembra que eu te avisei? – July olhou para mim, receosa sobre o que havia dito. Sorri afirmando que o que ela havia dito estava correto.
- Não me lembro disso, eu deveria estar no banheiro na hora. disse, em um tom de voz menos preocupado, porém confuso.
- Foi sim, você estava no banheiro na hora. – July sorriu para mim por ter achado uma boa desculpa, retribuí o seu sorriso e voltei minha atenção para a conversa das duas.
- Você já está chegando? - July olhou para mim, esperando alguma resposta, apenas assenti.
- Sim, daqui a pouco estou chegando. – Ouvimos suspirar aliviada do outro lado. – O que houve, , está tudo bem? – Sua amiga perguntou, visivelmente preocupada. Não era de se surpreender que eu também estivesse. Meus sentimentos por ainda eram muito fortes, apesar dos pesares.
- Nada, é só que... – não terminou sua frase. Suspirou novamente, mas dessa vez não foi de alívio, e sim de coragem. – Eu pensei que vocês estivessem indo embora. – Era possível notar a dor na sua voz. July olhou para mim magoada, eu retribui o seu olhar. permaneceu em silêncio, mas ainda era possível escutar sua respiração acelerada.
- Nós não vamos embora, , não tem porque se preocupar. – Percebi que as palavras de July não soaram tão sinceras. Sua expressão estava magoada.
- Eu... Enfim, estarei te esperando. Beijos. – disse, sem perceber ou se importar com a falsidade nas palavras da amiga. Antes de esperar alguma despedida da parte de July, ela desligou o celular. July ainda permanecia segurando o celular e o encarando. Imaginei que ela estivesse mal por não ter sido completamente sincera com , mas eu não a culpava. Em uma situação daquelas, era normal que você quisesse fugir e abandonar a pessoa que passasse por esse problema, mesmo que essa pessoa fosse sua melhor amiga. Mas isso acontecia porque você simplesmente não sabia o que fazer para ajudá-la. E também porque te magoava vê-la vivendo daquela forma, vê-la fazendo aquilo. Magoava também você inconscientemente odiá-la, odiá-la pelas coisas que ela faz, mesmo que não seja "ela" e sim a sua outra "personalidade". Era muito difícil de entender, porém mais difícil ainda de sentir. Assim como eu nunca imaginaria passar por uma situação daquelas, imagino que July também não. Na verdade, ninguém imaginaria. Nem a própria , que era vítima de tudo o que acontecia. Mas eu simplesmente não poderia culpar July por sentir-se assim. Principalmente porque muitas das vezes eu também me sentia do mesmo jeito.
- Você fez o que é certo, July. – Disse, tentando lhe transmitir confiança. Peguei uma de suas mãos, a que não segurava o celular, e a acariciei com o polegar, segurando-a firmemente. Ela levantou o seu olhar e pousou seus olhos sobre mim, sorriu fraco, sem vida. Mas através do seu sorriso eu pude perceber a batalha dento de si para manter a sua fé.


’s POV OFF


Despertei do meu sono ao ouvir o barulho de alguém mexendo no guarda roupa. Abri os olhos rapidamente e levantei-me assustada. Tranquilizei-me ao ver que era July que mexia no meu guarda roupa. Estranhei quando a vi colocando minhas roupas dentro de uma mala grande. Estava tão concentrada no que fazia que sequer tinha notado que eu já estava acordada.
- July? – Chamei pela minha amiga, que olhou para mim assustada. Ela sorriu constrangida e voltou a tirar as roupas do guarda roupa.
- Bom dia. – Percebi que July não me encarava. Na verdade, desde ontem ela não me encarava. Quando voltou do mercado, nós jantamos na maior parte em silêncio, só trocávamos algumas palavras, mas July sempre mantinha os olhos no prato. Estranhei sua atitude, não era algo que eu estava acostumada a presenciar. July sempre foi falante e sempre me olhava.
- O que você está fazendo? – Perguntei curiosamente. Esfreguei, sem delicadeza alguma, meus olhos, a fim de espantar o sono.
- Separando algumas roupas suas. Nós vamos viajar. – Ela sorriu, mas havia algo de errado naquele sorriso. Não era caloroso e verdadeiro, muito menos irônico. Não havia vida naquele sorriso, não era verdadeiro. Seus olhos não sorriam acompanhando a curva dos seus lábios, seus olhos permaneceram duros, sem brilho. Aquela não parecia ser minha amiga. Algo de muito errado estava acontecendo ali.
- Como assim? Não me lembro de termos combinado isso. – Arqueei a sobrancelha e disse rapidamente. July ignorou minhas palavras e continuou a arrumar minha mala.
- Você precisa viajar, , nós precisamos. Aconteceu muita coisa ultimamente e você precisa tirar férias disso tudo. – Percebi que suas palavras não eram somente para mim, mas também para ela. Não entendi o porquê daquilo.
- Mas eu tenho um emprego, July, não é assim de uma hora pra outra que posso viajar. Eu preciso conversar com o meu chefe. – Levantei-me esbaforida da cama e parei ao seu lado. July fechou a mala e olhou-me seriamente.
- Eu já liguei para o Sr. Sandford e ele concordou que você precisava mesmo de uma viagem. Notou o quanto você tem trabalhado e como aparenta estar cansada. – Mordi meu lábio inferior. Não havia mais desculpas para dar a July, ela já havia resolvido tudo. Sem que eu ao menos soubesse. Sentei-me na cama, derrotada. Pensei sobre essa viagem repentina. Não existia nada que pudesse me impedir de viajar. Meu chefe havia concordado, não iria prejudicar o rendimento de Joseph na escola. E eu precisava mesmo de um tempo só para mim. Precisava pensar, organizar as ideias na minha cabeça. Ainda sofria muito pelo término com , não podeira negar. Talvez uma viagem fosse uma boa ideia agora.
- Tudo bem. – Sorri agradecida para minha amiga, que ao contrário de mim sorriu forçadamente. Ignorei este fato. – Quer que eu arrume as coisas de Joe?
- Não precisa, elas já estão no carro. – Sorri ao pensar na eficiência de July. Ela havia arrumado tudo em tão pouco tempo.


Minhas mãos, que estavam geladas, agarram com força a bolsa que estava no meu colo. Olhei pelo canto do olho minha amiga, que estacionava o carro. Decidimos que July iria dirigir, já que eu que não sabia onde era o lugar. Quando July estacionou o carro em frente a uma casa grande e branca, com um jardim florido e algumas pessoas usando roupas brancas, meu coração disparou e minhas mãos tremeram. Eu nunca tinha ido ali, mas algo me dizia que eu não iria gostar nenhum um pouco daquele lugar. July não me encarava, percebi o receio na sua face, mas não entendi muito bem. Joseph dormia tranquilamente no banco de trás. Minha amiga desligou o carro e virou-se para mim. Ela ainda tinha aquele sorriso forçado no rosto.
- Vamos? – Ela perguntou, mas saiu do carro antes de esperar alguma resposta. Provavelmente havia notado a confusão e o medo na minha face.
Abri a porta do carro e saí, completamente confusa. Pude ver com clareza algumas pessoas que andavam por ali. Pareciam pacientes e médicos. Arqueei a sobrancelha, ainda mais confusa, fui até July, que abria a mala do carro e retirava minha mala.
- July, que lugar é esse? – Finalmente perguntei. Ela não me olhou, continuou a olhar a mala do carro que estava vazia. Olhei para a minha mala na sua mão e com os olhos procurei a sua mala e a de Joseph pelo chão. Desesperei-me ainda mais quando não as encontrei. – July, cadê a sua mala e a de Joseph? – Minha voz estava falha, denunciando meu medo do que poderia vir. Virei-me para trás quando percebi que July olhava algo por cima dos meus ombros. Um homem alto, branco, com o cabelo curto e preto, olhos azuis, vestido com um jaleco branco estava atrás de mim. Olhei confusa para ele, mas não pude deixar de notar o outro homem parado atrás dele. estava ali. Seus olhos me olhavam seriamente. Suas mãos estavam no bolso da calça e sua face era dura, eu sabia que ele estava nervoso. Ainda o conhecia muito bem. Meu estômago revirou e meu coração disparou ainda mais, senti meu sangue ficar quente. Mas essas reações não eram porque eu estava nervosa com a presença de ali, era porque eu estava nervosa com o que poderia acontecer ali. Virei-me para minha amiga e a encarei. July não sorria, ela desculpava-se silenciosamente através do olhar. – O que está acontecendo aqui, July? – Sussurrei, já sem forças. O homem que vestia o jaleco branco dirigiu-se a mim.
- Vamos, senhorita Arendi? – Como ele sabia o meu sobrenome? Ele pegou a mala que estava na mão de July e encarou-me pacientemente.
- Como assim, vamos? – Minha voz, que antes estava falha, saiu alta e estridente. Olhei para trás ao perceber a presença de uma mulher loira, um pouco mais baixa do que eu, branca e com os olhos castanhos, e de um homem negro com os olhos cor de mel. Ambos vestiam um jaleco branco.
- , você vai passar uns tempos aqui, até se recuperar. – Olhei para minha amiga assim que ouvi suas palavras. O que ela estava falando? Como assim me recuperar? Percebi que todos os olhares das pessoas estavam fixos em mim. A mulher e os dois homens olhavam-me pacientemente, July olhava-me amargurada e tinha os olhos receosos. Cada um com um tipo de emoção. E eu continuava confusa.
- Do que você está falando, July? – Ouvi minha voz esganiçada lhe perguntar. Ela suspirou pesadamente e olhou para o homem que segurava minha mala, era um olhar cheio de significados, todos ali pareciam entender, menos eu. Ele assentiu com a cabeça e virou-se para o outro homem e a mulher, quebrando o contanto visual entre ele e minha amiga. Senti uma mão segurar com delicadeza o meu braço e então outra mão segurou o meu outro braço. Rapidamente olhei para trás, vi a mulher loira e o homem negro, cada um segurava meus braços. – ME SOLTEM! – Gritei e tentei puxar o meu braço, mas eles apertaram com força, impedindo que eu me desvencilhasse das suas mãos. July não disse nada, continuou a me olhar amargurada. Aquilo fez com o que o ódio dentro de mim crescesse. Os donos daquelas mãos me puxaram, indo em direção à casa. O homem que segurava minha mala os seguiu. July permaneceu no mesmo lugar, vi uma lágrima grossa escorrer dos seus olhos. Não demorou muito para que outra também escorresse. Quando passei por , nós nos olhamos intensamente. Eu não via raiva nos seus olhos, eu via dor e pena. não se desculpava como July, apenas me olhava dolorosamente. Ele não sorria forçado, seus lábios não fizeram nenhuma curva. Não fizeram aquela curva tão bonita que eu amava. Eu o olhava com raiva, mas aquilo não o intimidou. Quebrei o nosso contato visual quando senti a grama fofa roçar nos dedos dos meus pés. O desespero aumentou ao notar o quão perto eu estava da casa. – ME SOLTEM! – Gritei novamente, mas eles não me obedeceram. Debati-me, tentando me livrar das suas mãos, mas nada aconteceu. Meus olhos encheram-se de lágrimas ao ver Joseph encarando-me através do vidro do carro. Ele chorava ao me ver. Aquilo doeu em mim, meu irmão não precisava presenciar outra cena igual àquela. Meus lábios tremeram e então não tive mais forças para lutar contra aquelas mãos. Eu havia desistido de tentar. Olhei para July e , que agora estava ao lado da minha amiga, abraçando-a pelo ombro enquanto a mesma chorava compulsivamente, que me encaravam. – Eu nunca vou perdoar vocês! – Eu gritei, sentindo meu sangue borbulhar de raiva. Ao ouvir minhas palavras, July soluçou alto e seu corpo tremeu. Aquilo não me comoveu. Aquilo me enojou.


XXIII - And please don't stand so close to me.




Eu me sentia traída. Traída por July e por . Somente ao lembrar o nome dos dois eu já sentia a repulsa crescer dentro de mim. Eu esperaria qualquer coisa, menos isso. Qual era o objetivo daquilo? O que eles queriam me vendo trancada em uma casa com um bando de loucos? Qual era graça de me ver sofrer? Soquei com raiva o travesseiro ao meu lado. Soquei novamente imaginando o rosto de e July ali. Eu adoraria destruí-los.
Levantei-me da minha nova cama e olhei o jardim através da janela do meu novo quarto, da minha nova casa. Sorri sem humor. Abaixei meus olhos para a roupa branca que eu vestia. Incrível como a cada dia que passava eu estava cada vez mais parecida com Phoebe. A língua é realmente o chicote do rabo.
Meus olhos encheram-se de lágrimas ao lembrar-se da imagem do meu irmão chorando no carro ao me ver sendo arrastada. Senti meu coração ser esmagado por uma mão. Uma mão de July e . Eu suportaria qualquer coisa, menos isso. Menos ficar longe do meu irmão, menos ter uma vida igual de Phoebe. Isso não. Uma lágrima grossa escorreu dos meus olhos e rapidamente eu a sequei com o braço, sem delicadeza alguma. Eu não iria chorar, não iria me permitir chorar. Se eles achavam que eu era uma pessoa ruim a ponto de ficar longe deles, então eu seria realmente uma pessoa ruim. Não existia mais nada que pudesse me impedir de ser assim. Eu não tinha mais Joseph, ele não iria mais olhar para mim orgulhoso. Por qual motivo então eu deveria ser boa? Nenhum.


Eu estava sentada no banco de madeira que ficava no jardim da casa. Eu olhava fixamente para a roseira um pouco mais a frente. Estar naquela casa, usando aquela roupa, sentada naquele jardim, tomando remédio, sempre me fazia lembrar de Phoebe. Provavelmente ela encontrava-se na mesma situação que eu, ou talvez pior. Mas Phoebe não havia sido injustiçada, ela realmente precisava ser tratada. Eu não. Não havia motivos para que eu estivesse naquele lugar, eu não era louca, não era alcóolatra e muito menos viciada. Nada fazia sentindo. Por que eu estava sendo tão injustiçada? Talvez eu estivesse pagando meus pecados por algumas vezes pensar algo ruim de Joe... Ah, Joe! Como eu sentia sua falta. Da sua risada, dos seus abraços, das suas palavras gentis, das vezes em que eu não conseguia dormir sozinha e dormíamos juntos. Eu sei que não sou perfeita, sei que errei muito com ele e estou longe de ser a irmã que ele pediu para Deus. Mas eu o amava. Sim, eu o amava. Eu queria o seu bem, eu queria cuidar dele, queria estar ao seu lado. Mas minha cabeça sempre me confundia, sempre me pregava peças. Eu era sempre tão indecisa. E agora me odiava ainda mais, se é que isso era possível. Odiava-me pelo simples fato de muitas das vezes desejar que meu irmão estivesse longe de mim, achar que ele atrapalhava meus planos, e agora querê-lo por perto. Como era possível alguém me entender se nem eu ao menos entendia?
Fui retirada dos meus pensamentos ao ouvir passos aproximarem-se de mim. Não me dei ao trabalho de olhar para ver quem era, provavelmente era algum enfermeiro trazendo comida para mim. Eu sabia que ninguém iria me visitar, havia se passado uma semana e sequer uma carta havia recebido de July ou . Eles nem mesmo trouxeram Joseph para me ver. Nem um pedido de desculpas eu recebi. Nada. Apenas solidão. Irônico, não é mesmo? Eu estava cercada de pessoas, mas ainda assim me sentia sozinha.
- Senhorita Arendi? – Ouvi a voz grossa de um dos enfermeiros me chamar. Eu não sabia o seu nome e não fazia questão de saber. Não me dei ao trabalho de olhá-lo. – Visita para a senhorita. – Meu coração acelerou e minhas mãos agarram com força a barra da minha blusa branca. Quem poderia ser? Não tive coragem de responder ou olhar para ver quem era, continuei em silêncio, ainda olhando para a roseira. Ela já não me parecia tão interessante assim.
Pude escutar o enfermeiro se retirar. Não ouvi barulho de passos se aproximando, a pessoa ainda permanecia parada. Não disse nada, continuou em silêncio, assim como eu. Senti seus olhos estavam me observando curiosamente. Mordi com força meus lábios, reprimi um gemido ao sentir uma pontada de dor. Eu estava curiosa demais, queria saber quem era, mas eu era covarde demais para encarar a pessoa. Um vento gélido passou por nós e então eu pude sentir o seu perfume forte. Eu conhecia aquele perfume. Inspirei o seu perfume delicioso e fechei os olhos ao senti-lo. Eu amava aquele cheiro, amava acordar sentindo aquele perfume. Era viciante. Somente ao sentir o seu perfume eu já sabia quem estava ali. Era . Como se adivinhasse que eu já sabia que era ele ali, aproximou-se de mim cautelosamente e sentou ao meu lado. Abri meus olhos ao sentir o seu perfume ainda mais próximo de mim. Meus olhos encontraram-se com os seus. Os olhos de olhavam-me receosos. Aqueles olhos que eu tanto amava, que tanto me acalmavam, que me faziam me perder nos meus pensamentos somente ao olhá-los. Mas eles não me acalmaram, eu não amei olhar para eles. Eu só senti a repulsa crescer dentro de mim.
- O que você quer? – Perguntei grosseiramente. Ele não merecia que eu fosse gentil com ele. olhou-me ressentido, mas aquilo não me comoveu.
- Eu vim te ver. – Soltei uma risada sarcástica ao ouvir suas palavras.
- Por quê? Foram vocês que me colocaram aqui. – Assustei-me ao ouvir minha voz sádica. Eu queria feri-los de diversas maneiras, queria que eles sentissem na pele metade do que eu senti. Metade não! O dobro. Eles mereciam isso.
- , você está passando por momentos complicados, você precisa se recuperar. – Senti a raiva crescer dentro de mim ao ouvi-lo falar gentilmente comigo e ainda me chamar pelo meu apelido. Virei-me bruscamente, ficando de frente para ele, e o encarei. Eu sabia que meus olhos transbordavam ira, mas eu não me importei. Eu queria gritar com ele, queria que ele visse o quanto eu estava sofrendo e que tudo aquilo era culpa dele e de July.
- Cala a sua boca! Você não sabe o que está dizendo. – Disse entre os dentes. Eu jurava que iria quebrá-los a qualquer momento. arregalou os olhos ao ver minha atitude. – Eu não preciso me recuperar de absolutamente nada. Eu estou muito bem!
- , você é que não sabe o que está dizendo! Você não tem ideia das coisas que estão acontecendo com você. – Ele disse, com veemência. Engoli minhas palavras, eu sabia que não tinha mais nada o que falar. Não por estar derrotada, mas sim porque não iria entender. Não importava o que eu dissesse, ele nunca entenderia. E eu estava farta de brigas, eu só queria ficar em paz. Se eles me queriam naquele lugar, então era ali que eu ficaria. Sozinha.
- , vai embora, por favor. – Meu tom de voz era baixo, quase em um sussurro. A postura de ficou ereta e ele me olhava confuso.
- Mas, , eu quero estar com você, quero te acompanhar nessa nova fase da sua vida. – Eu balancei a cabeça, negando. Senti as lágrimas acumularem em meus olhos, mas eu as mantive ali.
- Não, , você já me magoou demais. Eu não vou conseguir te perdoar. Deixe-me em paz. – Ele me olhou magoado ao ouvir minhas palavras. Seus olhos buscaram nos meus algo que o fizesse desacreditar nas minhas palavras, mas ele viu que eu estava sendo sincera.
- Mas, ... – Ele tentou dizer algo ao seu favor, mas não conseguiu terminar frase. Talvez soubesse que não existia nada a seu favor.
- Vai embora, por favor. – Supliquei e fechei os olhos, não tinha coragem de encará-lo. Ainda de olhos fechados, eu sabia que ele havia levantando e ido embora. O homem que eu tanto almejava estava ido embora, ao meu pedido.


XXIV - I'm falling to pieces.




Eu estava caindo em um abismo. Não sorria mais, não comia direito. Nada mais me fazia feliz. Eu morria aos poucos. E dessa vez não eram meus dramas, não era birra, eu realmente estava infeliz. Aquela casa me sufocava, as pessoas me sufocavam. Eu não conseguia mais chorar, minhas lágrimas haviam secado. Eu não conversava com ninguém, quando não estava no quarto, eu estava no jardim. E assim seguia minha vida nessa rotina. Meus pensamentos eram divididos entre odiar July e e odiar a mim mesma. Eu já havia planejado milhares de vinganças para eles, mas eu não havia colocado nenhuma em prática. Eu já havia imaginado minha morte milhares de vezes. Mas eu ainda continuava viva. Eu era covarde, sabia disso. Mas algo me dizia que não seria covarde por muito tempo. Eu estava cansada de apanhar da vida. Se elas me achavam má ou louca, eu seria. Estava na hora de dar a eles o que eles mereciam; esquecer a gentil, amável, boa irmã e passar a ser quem eles mereciam. Estava na hora de fazer o que eu queria. Cansei de ser traída.


Olhava fixamente para a parede branca. Eu estava me sentindo solitária, mas isso não me entristecia. Não mais. Já havia me acostumado com a solidão. Já estava naquela casa há um mês e ainda me sentia assim. nunca mais voltou. July e Joseph não apareceram. Era melhor assim. Eu repetia essa frase para mim mesma todos os dias, tentando me convencer. Eu não queria ver de novo, eu sabia que vê-lo novamente faria com o que eu me sentisse frágil e vulnerável, eu não queria me sentir assim. Eu queria mudar, ser outra pessoa, uma pessoa mais forte. Ter , July e Joseph por perto não iriam me ajudar.
Virei-me para o lado esquerdo, tentando achar uma posição confortável, mas não importa em qual lado da cama eu fique, sempre estava desconfortável. Instantaneamente lembrei-me das vezes em que me sentia assim em casa. Eu ia para o quarto de Joseph, deitava ao seu lado na cama e então me sentia confortável e aquecida. Eu me sentia bem ao lado do meu irmão, ele tinha aquele jeito alegre e espontâneo que curava qualquer mal humor. Não posso negar que ainda me culpava por me querer ver longe dele algumas vezes. Eu ainda me odiava por isso. Quando eu queria sair com July ou quando queria ter o meu momento a sós com , eu desejava secretamente que Joseph não existisse, assim ele não me impediria de realizar essas coisas. Irônico, eu não tenho mais o meu irmão, mas ainda assim estou impedida de realizar essas coisas.
Fechei meus olhos com força, tentando me livrar desses pensamentos, mas não consegui. Minha consciência ainda gritava dizendo que eu merecia passar por aquilo. Eu estava vivendo um verdadeiro inferno na minha vida. Eu merecia aquilo. Eu era tão ruim quanto Phoebe, talvez até mais.
Escutei o barulho da porta sendo aberta e então os passos aproximaram-se de mim. Não precisei virar o rosto para ver quem era. Eu sabia que era um dos enfermeiros. Eles e os médicos eram as únicas pessoas que entravam no quarto.
- Senhorita Arendi, seus remédios. - Ouvi uma voz gentil falar. O quarto estava tão silencioso que fez eco. Abri os olhos e levantei-me da cama. Era a mesma enfermeira do dia em que eu cheguei ali. Eu ainda não sabia o seu nome, ela já havia me dito, mas não fiz questão de guardá-lo. Era inútil. A enfermeira estendeu uma de suas mãos para mim para que eu pegasse três comprimidos brancos. Peguei os comprimidos da sua mão e o copo d'água que ela havia me dado. Engoli os comprimidos junto com a água. Como de costume, abri a boca para que ela checasse que eu realmente havia os engolido. Depois de levantar minha língua e observá-la checar a minha boca, eu a fechei e esperei que ela saísse do quarto. Assim que ela saiu eu voltei a deitar na mesma posição que eu estava antes. Ainda com os mesmos pensamentos.


Dois meses haviam se passado. Parecia uma eternidade para mim. Eu continuava solitária, sem falar com ninguém e sem receber visitas. Mas eu não sofria mais, havia me acostumado com isso. Não sentia mais falta. Não sentia mais vontade de vê-los. Eles não mereciam.
Eu estava sentada no banco de madeira do jardim. Quando não estava no quarto ou no banheiro, eu ficava ali. Algumas pessoas estavam ali conversando, outras brincando, mas nenhuma delas parecia importar-se com a minha presença. Eu pensava no rumo que minha vida havia tomado. Nesses dois meses eu tinha mudado muito, não era mais aquela . Eu não era mais amável. Para falar a verdade, custava a acreditar que ainda existisse amor dentro de mim. Ou qualquer outro sentimento bom.


’s POV ON
Ela estava ali. Sentada no banco de madeira do jardim, como da última vez que eu a vira, mas sua expressão não era amargurada como da última vez; dessa vez ela estava inexpressiva. Ela não olhava fixamente para a roseira à sua frente como da última vez, ela observava todos no jardim. Mesmo de longe, ela não se parecia com a minha .
Senti Joseph puxar minha mão, chamando minha atenção. Abaixei meus olhos para olhá-lo. Seu cabelo negro e sua pele extremamente branca pareciam realçar na luz do dia.
- Cadê a irmã, ? – Joseph perguntou ansioso, lembrando-me do motivo de estar naquele lugar. Eu não sabia se aquilo era o certo a se fazer, talvez não estivesse preparada para nos ver. Pelo o que o médico havia me dito, seu comportamento estava cada dia pior, ela não colaborava com o tratamento. Mas eu não aguentava mais ter que mentir para Joseph, vê-lo chorando com saudades da irmã. Eu sabia que July não teria forças suficientes para levar Joe para ver a irmã, ela sofria muito com isso, então eu decidi levá-lo. Eu sei o quanto o amava e então ela ficaria feliz em vê-lo.
Apontei discretamente para a mulher sentada no banco. Joe sorriu ao ver a irmã, mesmo de longe. Instantaneamente eu sorri, coloquei meu dedo sobre meus lábios como se estivesse pedindo segredo. Ele sorriu sapeca e repetiu o meu gesto.
Atravessamos o jardim de mãos dadas. A cada passo que eu dava, sentia meu coração disparar contra o meu peito e meus passos vacilarem. Algo me dizia que aquilo não estava certo. Talvez seja apenas uma insegurança. Talvez sejam as emoções que eu sinto ao estar perto dela. Talvez seja só uma impensada saudade. Talvez minha intuição estivesse certa.
Paramos ao seu lado no banco, mas não se mexeu. Eu tinha certeza que ela tinha nos escutado, mas ela preferiu ignorar. Joseph não ignorou, como era de esperar de uma criança de seis anos.
- Irmã! – Ele gritou soltando a minha mão e atirando-se nos braços de , sem ao menos esperar um convite. Percebi o seu corpo ficar rígido, ela não abraçou Joseph, continuou imóvel. Engoli minha saliva e enfiei minhas mãos no bolso da calça jeans, elas estavam suando frio. Eu estava nervoso, temendo o que poderia acontecer dali pra frente.
Observei virar-se para mim, seus olhos demonstravam a maldade ali. Ela tirou Joseph dos seus braços e ele a encarou confuso, o menino afastou-se parando ao meu lado, como se tivesse entendido tudo. Abracei-o pelos ombros e ele abraçou minha perna. Toda essa cena passava em câmera lenta nos meus olhos. nos encarava, mas seus olhos mostravam que não era a ali. Joseph parecia achar a mesma coisa que eu, já que apertava minha perna, demonstrando o seu medo. Como uma criança de seis anos conseguia entender tudo aquilo? Como ele sabia quando era e Summer se as duas estavam na mesma pessoa? Como ele poderia suportar toda aquela situação sem nenhum trauma? Joseph era a criança mais forte que eu já havia conhecido em toda minha vida. Mais forte do que qualquer pessoa, mais forte que eu.
- O que vocês tão fazendo aqui? – Sua voz era sádica. Eu conhecia aquela voz. Era Summer. Eu sabia.
- Viemos te visitar, mas vejo que é uma péssima hora. – Eu respondi firme. Não poderia dar o braço a torcer a ela.
- Qualquer hora é uma péssima hora pra vocês. – Ela levantou-se e parou a nossa frente. Joseph agarrou com força minha perna, senti seu pequeno corpo estremecer. Apertei seu corpo com delicadeza, tentando protegê-lo. – Principalmente quando você estiver com esse retardado. – Ela sorriu de uma forma maléfica. Eu senti meu corpo estremecer. Não por medo, mas por raiva. Raiva por ela ter dito aquilo de uma criança incrível como Joseph. Raiva por ela ser tão má, tão amarga. Raiva por ser ela ali e não a minha . Fechei meus olhos com força, tentando controlar a minha raiva. Eu sabia que não poderia ter raiva dela, era uma vítima. Não tinha culpa das emboscadas do destino, dos seus sofrimentos que tinha passado, das armadilhas da nossa mente. Ela sequer sabia o que acontecia com ela.
Abaixei para pegar Joe no colo. Ele abraçou-me pelo pescoço e encostou sua cabeça. Senti meu pescoço molhar com as suas lágrimas. Controlei-me para não chorar também. Mesmo forte, ele ainda era uma criança.
, ou Summer, riu, debochando ao nos ver daquela forma. Ela parecia realmente divertir-se com a cena, mas seus olhos não brilhavam e muito menos sorriam da mesma forma, eles estavam vazios, sem vida. No fundo ela estava infeliz, eu sabia disso. Uma parte minha me culpava por vê-la daquela forma, mas eu sabia que era o melhor para ela. Para Joseph. Para July. Para mim. Para nós dois.
- Suma da minha vida, ! Eu não quero nunca mais olhar para essa sua cara nojenta. – Ela disse entre os dentes, quase cuspindo as palavras. Aquilo doeu em mim. Doeu porque eu sabia que mesmo sendo Summer ali dizendo aquelas palavras, no fundo desejava aquilo. - Eu vou acabar com a vida de vocês. Vocês vão se arrepender de me colocarem aqui. – Ela me olhava de forma vingativa. Antes que falasse algo do qual pudesse me arrepender, eu lhe dei as costas e sai de lá. Eu esperava que nada de ruim acontecesse com ela ou com Joseph e July. Eu os considerava como minha família e não me perdoaria se algo de ruim acontecesse a eles. Eu estava com medo das palavras de . Medo do que poderia acontecer dali pra frente. E eu sabia que ela havia percebido isso.


XXV - You make me wanna die.




Eu sentia a morte se aproximando. Cada dia que se passava naquele lugar, que eu sempre julgava como o inferno, eu sentia a morte mais próxima de mim. E toda vez que eu pensava nisso, um frio percorria a minha espinha. Eu ia morrer, não tinha dúvidas disso. E no dia da minha morte, estarei sozinha, exatamente da forma como eu temia. Não lutei contra esses pensamentos, eu só continuava seguindo os meus dias esperando pacientemente pela morte. Mesmo que ela me causasse medo, mesmo que uma parte minha não quisesse vê-la, mas ainda assim eu esperava por ela. Talvez ela não fosse tão ruim como todos dizem. Talvez ela fosse uma solução para os meus problemas. Uma parte minha estava curiosa para conhecê-la, outra torcia para que esse dia nunca chegasse. Eu sabia que um dia ela chegaria. Você não pode lutar contra isso, é a lei da vida. Mas algo me dizia naqueles últimos dias que ela estava mais próxima do que eu poderia esperar. Como ela viria? Doce, calma, tranquila? Ou fria e dolorosa? Como seria a morte? Como seria a minha morte? Eu fecharia os olhos e então estaria morta? Sem sentir absolutamente nada? Ou eu iria levar um tiro e morreria de dor? Não poderia negar, eu estava curiosa demais para saber como seria a minha morte.

’s POV ON
Sentia-me sufocado com aquela angústia que estava sentindo. Sentia vontade de chorar, mas não conseguia. Passei o dia inteiro com um aperto no peito, como se alguém estivesse o esmagando com as mãos. Não entendia por que me sentia daquela forma, por que estava me preparando para algo ruim. Ri ironicamente com os meus pensamentos. Preparando-me para algo ruim? O que mais poderia acontecer? Minha ex-namorada, a mulher que eu amo, tem dupla personalidade, está internada em um hospício e me odeia, seu irmão sente a sua falta e não entende o que acontece, sua melhor amiga sempre está com o olho inchado denunciando suas noites de choro pela ausência da amiga, sua mãe estava internada em uma clínica de reabilitação e odiava os filhos, seu pai estava morto. A vida de era uma novela mexicana. Será mesmo que ainda poderia acontecer algo ruim? Já não bastava todo o sofrimento que ela estava passando? E que eu estava passando? Eu sentia falta dela, meus dias eram solitários, mas as noites pareciam ser piores. Eu sentia-me vazio, com a estranha sensação de que algo estava faltando. E eu sabia que algo estava faltando, ou melhor, alguém. Não conseguia imaginar um futuro sem ao meu lado. Vê-la naquele lugar horrível me matava aos poucos, eu sabia que ela estava sofrendo, mas eu precisava ser forte, era para o bem dela. Eu não via a hora de tê-la em meus braços novamente, de ver a minha verdadeira de volta. Eu queria que ela me perdoasse, que entendesse que eu fiz aquilo para o seu próprio bem. É pedir demais para que as coisas voltassem a ser como eram antes? Hoje eu vejo o quão dependente me tornei dela.
Não tive coragem de voltar até aquele lugar. As suas palavras ainda ecoavam em minha cabeça acabando com o restante da minha coragem. Seu rosto pálido, cheio de olheiras, seus olhos sem vida, a tristeza na sua face, eu não tinha coragem de encarar aquilo novamente. Não teria coragem de olhar para aquele rosto que tanto amo e ver uma aparência doentia nele, não teria coragem de escutá-la dizer novamente tudo aquilo. Seria masoquismo voltar naquele lugar. Mas eu sabia que precisava voltar, precisava de mim, não poderia abandoná-la agora. Depois do nosso último reencontro, eu liguei desesperadamente para o Dr. Smith e contei a ele tudo o que tinha acontecido. Ele me disse que já era de se esperar que isso acontecesse, que eu precisava ter paciência e calma porque isso poderia acontecer outras vezes, mas que eu não poderia abandoná-la, ela precisava de mim. Disse-me também que poderia não suportar outro abandono, explicou-me novamente que o motivo dela ter dupla personalidade era o abandono que sofrera e que nesse momento eu deveria estar ao seu lado para que ela não se sinta abandonada. Aconselhou-me a não levar Joseph, já que ele era apenas uma criança e não seria bom para ele enfrentar situações desse tipo. Eu concordei com tudo o que ele havia me dito e disse que iria visitá-la. Eu realmente concordava com tudo aquilo e não queria abandonar . Mas eu não tinha coragem de voltar lá, a dor me consumia por dentro e eu acabava me acovardando. Sei que ela precisa de mim, eu queria realmente voltar lá e ignorar todas as palavras frias e dizer que jamais iria abandoná-la. Cenas do tipo rondavam em minha cabeça como um filme. Eu diria tudo aquilo a , ela iria me xingar e tentar me bater, eu iria segurá-la e então a beijaria. Iria dizer que a amava e então ela diria que sempre me amou. E seríamos felizes para sempre. Mas meu lado racional sempre me dizia que aquilo era apenas um desejo meu, que nada daquilo iria acontecer. não iria me beijar e muito menos dizer que me amava, ela só iria continuar a gritar e me xingar. E não seríamos felizes para sempre. Meu lado racional sempre me fazia desistir de ir vê-la.
Sentei-me no sofá esfregando o rosto insistentemente. Bufei irritado. Não poderia me acovardar agora. Já tinha passado por maus bocados com , com situações até piores do que essa e mesmo assim não desisti dela. Não seriam palavras idiotas da boca dela que me fariam desistir. Está certo que eu estava cansado de toda essa situação, mas quem disse que a vida seria fácil? Quem disse que se apaixonar seria fácil? Se fosse fácil, obviamente, todos iriam enjoar. O amor seria mais banalizado do que já é. Ninguém iria realmente valorizar o real significado dele. Levantei-me do sofá, decidido a lutar pelo o amor da minha vida. Não seriam palavras idiotas, situações complicadas, mentes complicadas, cansaço, covardia ou qualquer outro motivo que me faria desistir da minha felicidade. Era só um momento complicado que estávamos passando, logo passaria e seria apenas uma lembrança ruim que tivemos como aprendizado. Eu amava demais para desistir assim tão fácil dela. Se passei por momentos difíceis com ela, também passei por momentos maravilhosos, que valeram muito mais a pena. Eu nunca iria amar outra mulher como eu a amo. Sempre acreditei que iríamos encontrar uma pessoa na nossa vida que nos ensinaria a amar verdadeiramente e que seria única para nós. era essa pessoa para mim. Não tinha dúvidas disso.


- Bom dia, July! – Eu disse assim que July atendeu a ligação.
- Bom dia, . Como vai? - Era perceptível o cansaço na voz dela.
- Estou indo... – Admiti, soltando logo em seguida um suspiro cansado. – Eu estou indo visitar a , você quer ir comigo? – Perguntei, mesmo já sabendo a resposta. Eu sabia que July não ia. Todas as vezes que eu perguntava isso ela sempre dizia que não estava preparada o suficiente para encarar a amiga. Eu não a culpava, deixei de visitar muitas vezes por simplesmente não ter coragem de vê-la naquele estado.
- Eu não consigo, você sabe disso... – Respondeu em um tom de voz como se pedisse desculpas. Eu sabia que era importante para nesse momento a companhia da melhor amiga, sabia que July poderia ajudá-la muito no tratamento. Mas eu não poderia obrigá-la, se July não se sentia bem em visitar , talvez fosse melhor que ela ficasse em casa com o Joseph.
- Tudo bem, mas saiba que se quiser ir estarei pronto para te levar. Diga ao Joe que mandei beijos e mais tarde vou aparecer aí para falar com ele.
- Eu digo. Beijo, .
- Beijos, July. – Desliguei o celular e entrei no carro. Tentei ignorar o aperto no peito que eu estava sentindo desde quando acordei. Não é nada de mais, nada de mais. Repetia para mim mesmo mentalmente. Eu não tinha tanta certeza assim se não era nada de mais.


Meu coração disparou quando eu estacionei o carro em frente à casa em que ficava. Desliguei o carro e sai de lá rapidamente quando vi uma ambulância parada em frente à casa e um carro da polícia. Médicos e enfermeiros conversavam com os policiais, pessoas estavam paradas olhando para o chão. Prendi a respiração por alguns segundos e enfiei minhas mãos trêmulas dentro do bolso da minha calça jeans clara. Por favor, ela não, Deus. Não deixe nada acontecer a . Eu repetia essas palavras mentalmente. A angústia ainda estava presente em mim como se estivesse me alertando de algo. Mas eu tentava convencer a mim mesmo que nada de ruim tinha acontecido a , eu entraria ali e a veria com vida. Desesperadamente eu corri até o jardim da casa que estava abarrotado de pessoas, tentei esquivar-me de algumas pessoas para tentar ver o que estava acontecendo, mas uma mão segurou meu braço. Atordoado, eu virei-me rapidamente para a pessoa que estava me segurando, puxei meu braço com força e encarei confuso o médico que me segurava.
- Senhor , eu gostaria de conversar com o senhor. – O médico disse educadamente, mas por trás de toda aquela educação eu percebi a aflição escondida ali. O que estava acontecendo?
- O que está acontecendo aqui? – Perguntei, ignorando completamente o que ele havia dito, apontei com a cabeça para o abarrotado de pessoas que estavam mais a frente. O médico respirou fundo, olhou para o lado, mexeu no cabelo e finalmente me encarou. Eu preferia que ele não tivesse me encarado. Olhar para aqueles olhos castanhos e ver o sentimento de pena e culpa ali me fez estremecer, aumentou minha angústia.
- Uma paciente se jogou da sacada, parece que o estado dela é grave. – Eu tive a impressão de que meu coração havia parado de bater. De repente o ar me faltou, minhas pernas tremeram e cheguei a pensar que fosse desmoronar ali. Tudo ao me redor parecia estar girando. Uma paciente se jogou da sacada, parece que o estado dela é grave. As palavras dele ecoavam em minha cabeça tirando toda a minha força. Não era ela, não podia ser ela. está bem, eu sei que está. Eu tentava me convencer disso, em vão. Disposto a acabar com toda aquela angústia eu corri em direção àquelas pessoas. Ouvi o médico gritar algo, até pensei em voltar e perguntar quem era a paciente, mas eu queria ver com os meus próprios olhos. Fui empurrando algumas pessoas que estavam na minha frente sem delicadeza alguma, ouvi alguns xingamentos, mas ignorei. E foi então que eu vi o que mais temia ver. estava desmaiada no chão do jardim, seu corpo estava sujo de sangue, seu cabelo estava jogado sobre seu rosto, mas eu ainda podia ver seus olhos fechados. Paramédicos estavam ao seu lado a socorrendo. Eu não tive reação, eu não conseguia me mexer. Continuei parado a encarando, algumas pessoas me olhavam curiosas, eu podia sentir. Meu coração começou a bater desesperadamente, um grito de terror ficou entalado na minha garganta, meus olhos encheram-se de lágrimas e, sem força de vontade para segurá-las, eu deixei que caíssem livremente pelo meu rosto. Eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo. Não queria acreditar que a tal paciente era a minha . Por que ela tinha feito isso? Se suicidar? Por quê? Minha vista ficou embaçada devido ao acúmulo de lágrimas. Naquele momento eu quis morrer. Eu nunca desejei tanto isso em minha vida como eu estava desejando agora. Eu estava desnorteado. Minhas pernas cederam e eu acabei desmoronando, como o previsto. Caí de joelhos no chão, não suportando o peso do meu corpo, não suportando o peso da minha dor. Senti alguém me puxar pelo braço e me levar para longe daquela cena massacrante para mim. As pessoas falavam algo, mas eu não conseguia entender. Eu só fechei os olhos e desejei que aquilo fosse um pesadelo. Clichê.


Levaram-me até uma pequena sala branca, sentei-me em uma cadeira que tinha ali. O mesmo médico que havia conversado comigo antes estava parado na minha frente, do seu lado estava uma enfermeira. Ela era baixinha e gorda, branca, cabelo curto e preto, seus olhos eram grandes e negros, sua boca era fina. Ela também me olhava com pena, assim como o tal médico.
- Eu sinto muito. – O médico disse, encarando-me. Não diga isso, por favor, não diga isso. Isso quer dizer que eu a perdi, eu não quero perdê-la! Pensei, sem coragem ou vontade de lhe dizer aquilo em voz alta. Eu os encarava sem expressão alguma no rosto. – lhe deixou isso. - Ele tirou do bolso um papel e me entregou, eu peguei o papel e o segurei com força. O médico virou-se para sair, mas parou na porta e esperou a enfermeira segui-lo.
- Eu encontrei no quarto dela quando... – Ela pigarreou. – Bom, você sabe... – Disse um pouco sem graça e saiu da sala, seguindo o médico. Encarei o papel que estava em minhas mãos. O que seria aquilo? O vazio da sala e todo aquele silêncio deixavam-me agoniado. Aquele papel e a curiosidade em lê-lo deixavam-me agoniado. Cansado de toda aquela tortura, eu abri o papel rapidamente e comecei a ler o que estava escrito ali.


Eu espero que quando você estiver lendo isso, tenha me visto morta no chão do jardim. Eu espero que você esteja chorando, sentindo-se triste e culpado. Isso mesmo, culpado! Saiba que tudo isso é culpa sua. Eu lhe avisei que você iria se arrepender de ter me colocado nesse lugar. Se eu me suicidei foi porque eu não aguentei passar mais um dia nesse lugar e a culpa é sua por ter me colocado aqui. Eu espero que Joseph e July nunca te perdoem pelo o que você me fez, mas eu espero sinceramente que você nunca se perdoe pelo o que me fez. Acredite, eu não te perdoei e nunca vou perdoar. Você acabou com a minha vida! Eu desejo de todo o meu coração que seus dias sejam sombrios e solitários, exatamente como os meus eram nesse lugar. As pessoas me abandonaram e me magoaram. Minhas palavras estão te magoando? Que pena. Agora você sabe como eu me sinto, não é mesmo? Eu te odeio, . Odeio-te com todas as minhas forças. Eu juro por Deus que se você aparecesse na minha frente agora, seria você que estaria morto no chão daquele jardim. E eu estaria rindo, eu estaria feliz por ver você morto, por saber que fui eu que te matei! Uma pena que não posso realizar esse desejo. Já que não posso te matar, então eu me mato. Apenas com o prazer de vê-lo abandonado, sentindo-se culpado e arrependido. Parabéns, , você me matou!
Summer.



XXVI - There's really no way to reach me 'cause I'm already gone.




's POV ON

Aquele lugar extremamente branco estava me deixando sufocado. Eu queria gritar, queria sair correndo dali, mas não conseguia sequer me movimentar, continuava sentado na cadeira branca da sala de espera do Hospital que foi atendida. A cada segundo que se passava eu me torturava com a ideia de ter acontecido algo ruim com ela. Ainda não tinha recebido nenhuma notícia e aquilo me deixava cada vez mais nervoso. Minhas mãos estavam trêmulas e suadas, minhas pernas balançavam rapidamente, meus olhos estavam fixos no corredor branco esperando alguém vir me atender. Mas ninguém nunca vinha e meu desespero aumentava a cada segundo. O sentimento de culpa aumentava cada vez mais quando eu pensava que poderia estar morta naquela hora. Eu nunca iria me perdoar por isso. , ou melhor, Summer estava certa. Eu iria me culpar pelo resto da vida com que aconteceu com ela.
Fui tirado dos meus devaneios quando ouvi passos apressados se aproximando, virei o rosto e encarei July. Engoli em seco quando a vi ali com Joe. A situação dela não era das melhores, seu rosto estava inchado e vermelho, denunciando seu choro recente, sua respiração estava acelerada e seu cabelo estava desgrenhado. Joseph estava ao seu lado, segurando firmemente sua mão, ele nos olhava curiosamente esperando por alguma explicação. Ele soltou a mão de July e correu até a mim, eu o peguei no colo e ele aninhou-se nos meus braços. Fechei os olhos, sem coragem de dizer alguma coisa ou encarar algum dos dois. Eu sabia que assim que July soubesse o que aconteceu com ela começar a gritaria e dizer que a culpa era minha. E eu sabia que a culpa era minha.
- O que aconteceu, ? - Ela perguntou, com a voz embargada, justamente aquilo que eu temia que ela perguntasse. Suspirei e abri os olhos, July sentou-se do meu lado e passou a olhar fixamente para a parede branca esperando alguma resposta. Respirei fundo como se estivesse enchendo-me de coragem e comecei a contar tudo o que tinha acontecido. A angústia que eu estava sentindo antes de visitar , o que eu vi quando cheguei lá, a carta que ''Summer'' tinha me deixado. Eu não a encarava, mas sabia que ela também não me encarava.
- Eu sinto muito, July. Tudo isso é culpa minha... - Deixei que algumas lágrimas, que até então eu estava segurando, caíssem. Senti a mão pequena e macia de Joseph secar delicadamente a lágrima. Fechei os olhos e sorri ao sentir o seu toque, definitivamente eu queria ter um filho como Joe.
- Não se culpe! Nada disso é culpa sua. Você não foi até o quarto dela e mandou que ela se jogasse. - July finalmente disse após alguns minutos em silêncio.
- Mas eu a coloquei naquele lugar! Se eu não tivesse a colocado ali, nada disso teria acontecido. - Eu disse, inconformado com a minha própria atitude estúpida. July aproximou-se ainda mais de mim e abraçou-me pelo ombro, um abraço desajeitado, porém acolhedor.
- Você fez o que era melhor para ela, , e eu sou muito grata a você por isso. Você é um homem maravilhoso, tem sorte de ter alguém como você. Eu sei que no fundo ela não te culpa por nada. É só uma fase ruim, logo isso vai passar e estaremos todos juntos e felizes. - Percebi que sua última frase era mais para ela do que para mim. Assim como eu, July também queria acreditar que todo aquele pesadelo iria acabar e então as coisas voltariam a ser como antes, ou talvez melhores. Ela encostou sua cabeça no meu ombro e eu encostei a minha na sua. Joseph aconchegou-se ainda mais em meus braços, procurando uma posição confortável. Tudo que eu mais desejei naquele momento foi ao nosso lado nos abraçando.


Não sei ao certo quanto tempo ficamos sentados ali esperando alguma resposta. Para mim pareciam dias. July levantou-se rapidamente quando viu um médico vindo em nossa direção. Repeti sua ação, ficando ao lado dela. O homem, que aparentava ter uns 40 anos, parou na nossa frente. Ele usava um jaleco branco, seu cabelo era grisalho, ele era branco com olhos azuis escuros, suas olheiras denunciavam as noites mal dormidas.
- Vocês são parentes de Arendi? – Ele perguntou, olhando de July para mim e parando em Joseph, foi na criança que seus olhos permaneceram. Eu poderia adivinhar seus pensamentos. Provavelmente era algo como: Coitado deles, cuidam de uma criança com síndrome de down e ainda uma menina louca.
- Eu sou amiga dela, ele é o namorado e o pequeno é irmão. – O homem assentiu com a cabeça e voltou sua atenção a nós dois.
- Eu sinto muito... – Bastou eu escutar essa frase para meu coração bater fortemente contra o meu peito, meus olhos encherem-se de lágrimas, minhas mãos começarem a tremer e suarem frio. O homem continuou a explicar o que tinha acontecido com , mas eu não conseguia ouvir. Eu só conseguia escutar as batidas do meu coração e um zunido horrível no meu ouvido. Eu queria gritar para aquele zunido parar, mas eu sabia que essa era uma atitude inútil. O homem não parava de falar, eu tentei me esforçar para escutá-lo, mas eu não conseguia. Ele finalmente parou de falar, sorriu um sorriso forçado para July e retirou-se do cômodo. A mulher ao meu lado virou-se para mim com o rosto encharcado de lágrimas, os lábios trêmulos, e me abraçou fortemente. Afundou a cabeça na curvatura do meu pescoço e deixou que suas lágrimas o molhassem. Confuso sobre o que fazer, eu abracei sua cintura e deixei que ela chorasse. Joseph abraçou minha perna e se permitiu chorar. Meu mundo desabou naquele momento. Nada mais fazia sentido.


XXVII - I wish you were here.




's POV ON



Eu sentia-me triste e feliz ao mesmo tempo. Estava feliz porque estava viva, o que para mim era um milagre. E triste porque fazia uma semana que ela estava em coma. Eu queria que ela estivesse viva e ao meu lado e de July e Joseph. Minha vida se resumia a trabalhar, cuidar de Joseph quando July não podia, visitar no hospital. Era cansativo, mas não conseguia ficar um dia sem visitá-la. Eu precisava vê-la, saber como estava, se havia progresso. Eu agradecia a Deus todos os dias por ela estar viva, mas também lhe pedia todos os dias para que ela se recuperasse logo. Eu sabia que a amava, mas não sabia que a amava tanto. Meus dias sem ela pareciam negros, eu não estava vivendo, e sim sobrevivendo. Era difícil sorrir verdadeiramente sem ao meu lado, era difícil ser feliz.


- Você ainda está aqui! , você precisa descansar. – July disse, assim que me viu sentado na cantina do Hospital tomando um café forte. Tirei meus olhos do café e os levantei para olhá-la. July estava mais branca que o normal, abaixo dos seus olhos tinha profundas olheiras, sua expressão era cansada. Provavelmente eu encontrava-me no mesmo estado que ela.
- Eu quis esperar um pouco para vê-la. – Admiti. July sorriu admirada com a minha atitude, puxou uma cadeira e sentou-se de frente para mim.
- Joe está no fonoaudiólogo, passei rapidinho para vê-la e depois vou buscá-lo. – Assenti com a cabeça e beberiquei um pouco do meu café. – Alguma notícia sobre o estado dela? – Ela fez sua habitual pergunta.
- Na mesma. – Dei de ombros e voltei minha atenção a ela. July suspirou pesadamente e passou a mão sobre o cabelo ressecado e sem brilho.
- Tudo vai ficar bem, , você vai ver. – Pegou minha mão que estava repousada em cima da mesa ao lado do café e apertou levemente, tentando me passar confiança. Sorri sem mostrar os dentes e assenti novamente com a cabeça. – Vem, vamos ver a nossa . – Levantou-se da cadeira e me puxou delicadamente, levantei-me também, deixando o café em cima da mesa, segurei sua mão macia e fria e seguimos até o quarto em que estava. Ultimamente July e eu nos tornamos grandes amigos, talvez até melhores. Eu sempre tentava passar segurança a ela e ela o mesmo. Nós dois sabíamos da dor do outro, compreendíamos, por isso era mais fácil compartilhá-la. Eu era grato por ter July e Joseph em minha vida. Agora eu entendia o amor que sentia por eles, era difícil não amar alguém como eles.
July girou a maçaneta da porta do quarto trezentos e cinquenta e cautelosamente adentrou no cômodo, eu a segui ainda segurando a sua mão. O quarto era todo branco e cheirava a éter, eu me sentia tonto somente ao entrar ali e sentir aquele cheiro. No meio do quarto estava deitada em cima da cama, ao lado dela tinham vários aparelhos a mantendo viva. Como era previsto, estava desacordada. A palidez da sua pele era assustadora, você poderia até achar que ela estava morta. Fiquei ao seu lado na cama, July ficou do outro lado. Segurei sua mão nas minhas, July fez o mesmo com a outra mão dela. Acariciei a mão dela e inclinei-me para beijar delicadamente sua testa. Fechei os olhos e pedi mentalmente a Deus que ela melhorasse, que acordasse. Eu a amo muito, não a deixe ir. Disse mentalmente, para que somente Deus pudesse me ouvir.
- Ela vai acordar, eu sei que vai. – July disse, como se estivesse escutado a minha prece. Ainda de olhos fechados e com a boca sobre a testa de , eu assenti com a cabeça. – Joe sempre pergunta por ela, ele sente muita a falta da irmã. – Disse, após alguns minutos em silêncio.
- Todos nós sentimos. – Abri os olhos e a encarei, ela olhou-me com compreensão. Vi seus olhos encherem-se de lágrimas e ela se esforçar para que as lágrimas não rolassem, mas foi em vão, pois em uma piscada uma lágrima desceu e outra e mais outra. Senti um gosto salgado na minha boca e então notei que também chorava, sem perceber.


Abri a porta do quarto e entrei no cômodo me arrastando, tirei meus sapatos com o pé e joguei-me na cama de bruços, ainda com a roupa. Eu estava tão exausto que tudo o que eu queria era fechar os olhos e adormecer, esquecer por um momento todos aqueles problemas que me cercavam. Fechei os olhos e relaxei o meu corpo.
Acordei com uma voz fina me chamando. Abri os olhos lentamente e me surpreendi ao notar que ainda estava escuro, rolei os olhos para o meu lado na cama e vi Joseph sentado ao meu lado e July em pé. Levantei-me assustado e sentei na cama, encarei-os surpresos, perguntando-me o que eles estavam fazendo dentro da minha casa àquela hora?
- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei, com a voz rouca. Joseph aproximou-se mais de mim e ficou no meu colo. Atitudes assim eram comuns vindas dele ultimamente, ele estava cada vez mais apegado a mim e eu a ele.
- Joe não estava conseguindo dormir e praticamente me implorou para vir até aqui, tentei te ligar, mas você não me atendia. Resolvi vir até aqui mesmo assim, chamei, mas você não me atendeu e como a porta da sala estava aberta resolvi entrar. Desculpe. – Ri internamente. Eu estava tão cansado que sequer tinha fechado a porta da sala.
- Não tem problemas, July. O Joe pode dormir aqui comigo, não é mesmo, garotão? – Ele assentiu com a cabeça e abriu um sorriso largo demonstrando o quanto tinha gostado da ideia. – Você pode dormir no quarto de hóspedes.
- Não, , eu vou pra casa. Estou exausta e tudo o que eu quero é a minha cama. – July sorriu amarelo, como se estivesse se desculpando.
- Tudo bem, nesse caso eu te acompanho até a porta. – Coloquei Joseph sentado ao meu lado e quando estava me preparando para levantar-me as mãos de July me impediram.
- Não precisa, , eu sei que você também está exausto. E a porta já está aberta mesmo. – Nós rimos e mesmo sem achar muita graça Joseph riu para nos acompanhar. – Boa noite.
- Boa noite, July. – Ela saiu do quarto e fechou a porta. Eu voltei a deitar na cama, ainda estava muito cansado para tirar minha roupa, e Joseph deitou ao meu lado. Beijei o topo da cabeça dele e lhe desejei uma boa noite, fechei os olhos e permanecemos em silêncio.
- Eu sinto falta da . Ela era a minha mãe. – Joseph disse com a voz sonolenta, quebrando os minutos de silêncio que haviam se instalado no quarto. Abri os olhos e encarei os seus, que olhavam fixamente para os meus. Eram tristonhos e carregados de saudades.
- Ela também sente a sua falta, Joe, pode ter certeza disso. Ela te ama muito! – Puxei seu corpo delicadamente para mais perto do meu, Joe deitou a sua cabeça no meu peito e eu afaguei o seu cabelo.
- A é a minha mãe e você é o meu pai. – Disse aquilo tão naturalmente que provavelmente não imaginou o impacto que aquelas palavras causaram em mim. Meus olhos encherem-se de lágrimas, meu peito parecia explodir de felicidade, uma sensação tão boa me invadiu. A sensação de ser amado, querido e aceito por ser quem você é. Joseph me causava essa sensação. Ele era apenas uma criança que sequer tinha dez anos, mas mesmo assim sempre me dizia coisas que poderiam melhorar o meu dia. Naquela noite, depois do acidente de , eu dormi sorrindo e com o peito explodindo de felicidade. Eu tinha a certeza que era amado. E naquela noite eu me enchi de esperanças. Daqui pra frente tudo iria dar certo, as coisas iriam se ajeitar, eu tinha certeza disso!


XXVIII - Stay Strong.



's POV ON

- Vamos, ! - Joseph gritou do quarto ao lado. Ouvi seus passos aproximando-se do banheiro, então ele abriu a porta e adentrou o cômodo. Continuei a escovar os dentes enquanto ele estava parado no batente da porta com os braços cruzados, batendo o pé no chão, sua expressão era emburrada e eu me controlei para não rir.
- Eu quero ver a irmã logo! - Esse era o motivo para tanta ansiedade vindo da parte dele. Terminei de escovar os meus dentes e virei-me para ele. Surpreendi-me ao notar o quão crescido ele já estava. Imediatamente, senti-me entristecido por saber que não estava acompanhando o crescimento do irmão, eu sabia o quanto ela desejava isso.
- Vamos então! - Segurei sua pequena mão e desci a escada de mãos dadas com ele. Desde aquela noite, há três semanas, que Joseph havia dormido aqui, ele passou a ficar mais tempo comigo. Nessas três semanas tinha pedido a July para ele ficar na minha casa, então eu o levava para escola e para o fonoaudiólogo. Ele estava morando comigo nessas semanas. July sempre que podia vinha visitá-lo. Para mim, foi muito bom ter Joseph por perto, a presença dele me fazia bem e não deixava que eu me entristecesse ou me sentisse culpado pela situação em que a irmã dele se encontrava. E ele não precisava me dizer nada, apenas estar ao meu lado já melhorava tudo. Estávamos cada vez mais próximos, arrisco a dizer que éramos como pai e filho, já que eu tratava como um filho e ele me tratava como um pai.
Saímos de casa, ainda de mãos dadas, e entramos no carro. Joseph estava sentado no banco de trás, o cinto de segurança limitava a sua movimentação. Sentei-me no banco do motorista, coloquei o cinto e liguei o carro. Pela primeira vez, depois de muito tempo, eu estava indo visitar com um sorriso no rosto e com a certeza de que algo de bom iria acontecer.

Assim que saímos do elevador, Joseph soltou da minha mão e saiu correndo em direção ao quarto da irmã.
- Joe, não corre! Ainda estamos em um hospital. – Eu disse assim que corri para alcançá-lo e segurei firmemente sua mão. Ele resmungou algo incompreensível, mas ainda assim me obedeceu. Entramos no quarto em silêncio, assim que ele viu a irmã deitada na cama, soltou a minha mão e cautelosamente foi até ela, ficou parado ao seu lado na cama. Aproximei-me dele também de forma cautelosa, fiquei ao seu lado e assim como ele eu a observei com atenção. Como era de esperar, ela estava dormindo. Sua pele ainda estava pálida, sua boca não tinha mais aquele tom rosado de antes, agora era branca. Seu cabelo não brilhava, ele estava ressecado e sem vida. ainda parecia estar morta.
Joseph segurou a mão da irmã de uma forma tão cuidadosa que parecia que estava segurando um recém-nascido, ou algo que pudesse quebrar. Mas ainda assim, ele segurava a mão da irmã carinhosamente. Sorri com a cena e permiti maravilhar-me com aquela atitude. Os olhos dele ainda olhavam fixamente para ela, como se por um momento que desgrudasse seus olhos dela, pudesse perder algo de maravilhoso. Qualquer pessoa de fora notaria o carinho que ele tinha pela irmã.
- Eu queria que você voltasse, não ela. Eu amo você, irmã. Volta logo pra mim, por favor. – Ele disse com a voz embargada quando se aproximou mais ainda da irmã para que ela pudesse escutá-lo. Ficamos em silêncio, eu porque não queria interrompê-lo, ele porque esperava alguma resposta vindo dela. Ou de Deus. Mas não veio.
continuou deitada na cama com os olhos fechados. Meu peito apertou ao ver Joseph chorando. Eu quis chorar e gritar naquele momento, mas não pude. Engoli o choro e tentei ser forte o bastante para reconfortar a criança ao meu lado. Frustrado, ele soltou a mão da irmã e virou-se para mim com o rosto molhado, os lábios trêmulos e olhos brilhando com a quantidade de lágrimas acumuladas ali. Prendi a respiração por um momento e depois respirei fundo, como se aquilo fosse me dar força o suficiente para enfrentar aquela situação. Abaixei para ficar a sua altura e o puxei para um abraço. Sem hesitar, ele abraçou o meu pescoço com os seus braços pequenininhos e enterrou a cabeça no meu pescoço. Suas lágrimas molhavam o meu pescoço, mas não me importei com aquilo. Apenas acariciei seu cabelo, tentando reconfortá-lo. A quem eu estava querendo enganar? Na verdade eu estava buscando um conforto no abraço do pequeno Joe.
- Não vou chorar mais, eu sou um homenzinho, não posso chorar! – Separou do nosso abraço, secou o rosto com as pequenas mãozinhas e colocou a mão na cintura fazendo um bico. Olhei para ele com toda aquela pose de "homenzinho" e me permiti rir. Levantei-me e passei a mão no seu cabelo, bagunçando-os.
- Está bem, homenzinho... O que você acha de irmos ao zoológico hoje? – E como se tivesse esquecido que estava chorando ou o motivo, Joseph abriu um sorriso largo e começou a dar pulinhos de felicidade.

Estávamos sentados no banco de madeira do zoológico. Eu chupava um picolé de uva e Joseph chupava um picolé de morango, apesar do frio, Joseph me convenceu a comprar picolés. Estávamos em silêncio, apenas apreciando o sabor maravilhoso do picolé. A boca e a mão de Joe estavam sujas do picolé, ele não parecia se importar com aquilo, continuava a maravilhar-se com o picolé e balançar os pés. Meu corpo estava exausto, tinha a impressão de que se eu fechasse os olhos por um segundo eu iria adormecer ali mesmo, sentado no banco de madeira do zoológico. Joseph, diferente de mim, estava ainda mais elétrico. Ele só ficou quieto depois que comprei o picolé para ele, mas algo me dizia que assim que acabasse, ele ficaria ainda mais elétrico. Desde que chegamos ao zoológico ele só sabia falar como os bichos eram fofinhos, rir de alguns animais e sair correndo para ver outros. Admito que vê-lo tão feliz me fez bem, mas ele ainda me cansava.
- Quando a irmã acordar vocês vão se casar? – Ele me perguntou inocentemente após terminar de chupar o seu picolé. Sem esperar resposta, ele levantou-se e foi até a lixeira, onde jogou o palito. Sua pergunta deixou-me surpreso e sem ação, o picolé permanecia a centímetros de distância da minha boca e meus olhos ainda estavam onde Joseph estava sentado.
– E então? Vão se casar? – Ele perguntou novamente quando voltou, sentou-se ao meu lado e olhou-me esperando alguma resposta. Dei uma pequena mordida no picolé e deixei o pedaço na boca, enrolando para engolir e ganhar tempo para alguma resposta. Finalmente o engoli quando começava a sentir a minha língua ficar dormente. Respirei fundo e encarei Joseph. Procurei alguma resposta dentro de mim e então disse lhe disse a verdade:
- É o que eu mais quero, Joe. – Joseph sorriu para mim e eu retribui o sorriso.
- Então você tem que me prometer que quando ela acordar, vocês vão se casar! – Ele estendeu o seu dedo mindinho para mim.
- Eu prometo. – Entrelacei o meu dedo mindinho no dele e sorrimos um para o outro, mais uma vez.
- É promessa de homem! – Joseph disse com aquele seu ar "homenzinho". Reprimi uma risada tentando ficar sério.
- Pode deixar, eu vou cumprir.
- Eu quero outro picolé. – Joseph sorriu de uma forma sapeca. Eu gargalhei e o puxei para um abraço. Aquele garoto estava virando um filho para mim, e eu estava começando a ficar com medo de que tirassem ele de mim.

Aquele dia, em especial, eu me sentia feliz e confiante. Após aquele passeio com Joseph no zoológico, eu percebi que estava cada vez mais esperançoso sobre o estado de . Joseph continuava a passar os dias em minha casa, o que para mim era muito bom, já que ele me fazia companhia e estávamos cada vez mais unidos. July estava muito enrolada com o trabalho e nós nos víamos pouco, – na maioria das vezes em que nos encontrávamos, era no corredor do hospital e quando ela vinha na minha casa ver Joseph -, mas mesmo que eu me enchesse de esperança nesses últimos cinco dias, o estado de ainda continuava o mesmo. Ela não acordava, não tínhamos nenhuma notícia emocionante. Teve uma noite em que me flagrei chorando silenciosamente com medo do futuro. Sequei meu rosto e olhei para Joseph dormindo tranquilamente ao meu lado e logo me enchi de esperança. Era ele que me mantinha vivo e feliz. Foi Joseph que me ensinou a ter fé na vida.

Estava dirigindo em direção ao Hospital. Quando terminei de dar aula, saí com Joseph para almoçarmos como tínhamos combinado no dia anterior. Joseph estava mais animado do que o normal para ver a irmã. Comeu rapidamente e quando saímos do restaurante ele já foi entrando no carro. Eu estava tão ansioso para chegar logo que não tinha notado que já estava estacionando o carro, eu realmente estava dirigindo no modo automático. Desliguei o carro e sai, abri a porta, tirei Joseph do banco de trás colocando-o no chão do estacionamento. Fechei a porta e tranquei o veículo. Segurei a mão de Joseph e saímos do estacionamento. Não demorou muito para que entrassemos no Hospital e pegassemos o elevador que parou no terceiro andar, onde era o nosso destino. Como de costume, Joseph soltou minha mão e saiu correndo em direção ao quarto da irmã. Não me dei o trabalho de correr atrás dele como da última vez, apenas me permiti rir da atitude dele. Em frente à porta do quarto de , que estava fechada, estava July conversando com um médico. Joseph parou de correr e esperou que eu o alcançasse, ele olhava curiosamente para as duas pessoas a sua frente. Segurei a sua mão, aproximando-me de July e do médico. O rosto dela estava molhado de lágrimas e ela olhava atentamente para o médico escutando com atenção o que ele dizia.
- O que está acontecendo aqui? – Perguntei, já não aguentando de tanta curiosidade. July finalmente olhou para mim. E mesmo com os olhos cheios de lágrimas, ela sorriu. Sorriu de uma forma tão verdadeira que eu não tinha visto desde quando ela soube do problema de . Seus olhos pareciam sorrir juntos com os seus lábios.
- A acordou, !

Capítulo betado por Thaiza Sotelo


's POV OFF
XIX - All I wanted to say. All I wanted to do is fall apart now. All I wanted to feel. I wanted to love. It's all my fault now.




Ouvi um barulho de algo quebrando vindo do lado de fora. Olhei pela janela da cozinha e vi Joseph parado em frente ao jarro de flores que estava quebrado. Eu amava aquele jarro. Senti meu sangue esquentar e comecei a xingá-lo baixo por ele ter quebrado o meu jarro favorito. Saí da cozinha e fui até o jardim, onde estava Joseph. Quando me viu, ele arregalou os olhos e, com as duas, mãos tampou a boca. Eu estava com tanta raiva dele por ter feito aquilo que tudo que eu imaginava era eu socando o rosto dele.
- Seu desgraçado! - Disse, entre os dentes. Fechei os punhos e tentei controlar a minha raiva. Aquela criança estava me irritando cada dia mais. Dei um tapa forte no seu braço; ele gritou de dor e começou a chorar. Seu choro me irritava cada vez mais e a vontade de bater mais nele só aumentava.
- , me desculpe! - Ele disse, com a voz embargada.
- Eu não me chamo ! Eu sou a Summer, seu idiota. - Segurei seu braço com força e lhe dei outro tapa no braço. Ele tentava se desvencilhar dos meus braços, mas era inútil, eu segurava com muita força. Joseph gritava e chorava implorando que eu parecesse de bater nele, mas aquilo estava me fazendo bem. Eu estava conseguindo descontar toda a minha raiva reprimida nele.


- Irmã! Olha o desenho que eu fiz pra você. - Joseph entrou gritando no meu quarto, segurando um papel nas mãos. Bufei e virei para o lado oposto dele. Não queria conversar com ele, não queria vê-lo, estava cansada de ter que bancar a mãe dele.
- Sai daqui! - Gritei, mas não virei para olhá-lo. Eu já conseguia vê-lo com os lábios trêmulos e os olhos cheios de lágrimas. Tão previsível...
- Mas irmã, eu quero te mostrar o desenho... - Sua voz estava falha, como eu imaginei. Já completamente irritada, eu virei para o lado e levantei-me da cama. Joseph olhava receoso as minhas ações. Segurei seu braço com força, trazendo o para perto de mim.
- Quando você vai entender que eu não quero ver? - Disse, próximo do seu rosto. Ele estava com medo e vê-lo dessa forma me divertia. Eu soltei o seu braço e o empurrei para longe. Joseph caiu no chão e começou a chorar. Phoebe apareceu na porta do quarto com um copo de whisky na mão direita e um cigarro na mão esquerda. Ela olhou para Joseph, que estava chorando no canto do quarto, e depois olhou para mim, sorrindo maquiavelicamente. Eu sabia que aquilo era a sua aprovação para minha atitude.
- A nossa queridinha não está sendo uma boa irmã? - Perguntou para Joseph, em um tom de voz doce. Ele balançou a cabeça, negando.
- Eu não me chamo , idiota! Meu nome é Summer.


- Eu queria que você voltasse, não ela. Eu amo você, irmã. Volta logo pra mim, por favor.



Abri os olhos com dificuldade, mas a claridade fez com que eu fechasse rapidamente. Lentamente tornei a abri-los, a primeira coisa que eu vi foi o teto branco. A segunda coisa que eu vi foi o rosto de um homem que parecia ser um médico, já que ele usava um jaleco branco. Ele me olhava com preocupação e aquilo me deixou confusa.
- Onde estou? – Perguntei, com a voz embolada. O médico suspirou aliviado e aproximou-se mais de mim.
- Você está em um hospital, recuperando-se. – Ele respondeu, com toda paciência e calculadamente.
- O que aconteceu comigo? – Olhei para o quarto em que eu estava e conclui que eu realmente estava em um hospital. Olhei para minha roupa e para minha perna engessada, arregalei os olhos.
- Você sofreu um acidente. – Ele não estava sendo sincero, eu sabia disso. Um acidente... É claro que não foi um acidente. Imagens passavam pela minha cabeça, deixando-me cada vez mais confusa. Imagens minhas batendo em Joseph, dizendo que eu era a Summer, eu gritando com os médicos na casa em que eu estava e então a última imagem... Minha tentativa de suicídio. Eu estava começando a entender as coisas, começando a compreender o que realmente estava acontecendo todo esse tempo, o que o , minha mãe e meu psicólogo estavam tentando me dizer.
- Eu quero descansar um pouco. – Virei meu rosto para o lado, sem coragem de encarar o médico. Eu não sabia se ele estava ciente da situação, mas eu estava envergonhada.
- Sim, é claro. – Ele disse, um pouco sem graça, e retirou-se do quarto, deixando-me sozinha. Fechei meus olhos e deixei que uma lágrima escapasse. Apertei meus lábios e impedi que o soluço escapasse. Aquelas malditas imagens não saiam da minha cabeça. Meu Deus! Eu realmente era um monstro.


Eu havia acordado tinha alguns minutos, mas estava começando a ficar entediada de ficar deitada naquele quarto de hospital o tempo todo. Escutei o barulho da porta sendo aberta e rapidamente olhei para aquela direção. estava entrando silenciosamente no cômodo com Joseph ao seu lado. Meu coração disparou e eu pensei que ele iria pular a qualquer momento. Mesmo com um semblante cansado e um pouco mais magro, continuava lindo.
- Shhh, não faça muito barulho, Joe, sua irmã ainda está descansando. – disse em um sussurro e colocou um dedo sobre os lábios, pedindo silêncio. Joseph balançou a cabeça e repetiu a atitude do homem. Permiti-me sorrir boba com aquela cena.
- Ela está acordada! – Joseph elevou o tom de voz ao me ver acordada. Abriu um sorriso imenso e saiu correndo em direção a mim, eu abri os braços para que ele pulasse nos meus braços. E foi exatamente o que ele fez, subiu na minha cama e me abraçou fortemente, sem se preocupar se iria me machucar ou não. A saudade dele era maior no momento. E pelo visto, a minha também. Não pude controlar as lágrimas. Fechei os olhos e respirei seu cheiro doce, acariciei seu cabelo macio e beijei carinhosamente.
- Eu senti tanta a sua falta, meu amor. – Eu disse, ainda de olhos fechados e abraçada a Joseph. Mesmo sem ver, eu podia sentir nos observando.
- Eu senti muito mais, irmã! – Ele saiu dos meus braços e sentou direito na cama. Ainda tinha o mesmo sorriso doce nos lábios. Olhei para , que estava encostado no canto da parede com as mãos no bolso. Ele nos admirava silenciosamente, sem interromper o nosso momento. Estava agindo como se fosse um estranho e eu me senti mal por isso.
- Não vai vir me dar um abraço também não? – Perguntei, em um tom de voz brincalhão. sorriu relaxado e aproximou-se mais de mim. Ao contrário de Joseph, ele me abraçou cautelosamente. E depois de tanto tempo sem sentir aqueles braços, aquele perfume, a sensação de ser abraçada por ele, de me sentir protegida, eu pude ter a certeza que nada mudou. Eu ainda o amava da mesma forma, ou talvez até mais. Não sabia como tinha conseguido ficar tanto tempo sem aquilo.
- Eu estou feliz por ter acordado. – Ele sussurrou no meu ouvido, fazendo meus pelos arrepiaram-se. sempre causará esse efeito em Arendi.
- Obrigada por tudo que você fez por mim. – Sussurrei no seu ouvido. Reprimi uma risada quando eu o vi estremecer. Algumas coisas nunca mudam.


XXX - Oh broken angel Inside you're dying 'cause you can't believe.




Fechei os olhos e cantei o refrão de Stone do Stereophonics. Eu amava aquela música. Sentia que ela me acalmava, que parecia dizer exatamente o que eu estava sentindo. Parecia que me explicava, que dizia as coisas que eu não conseguia entender ou dizer. No momento eu precisava daquilo, algo para me explicar. Antes eu tinha certeza de quem era e quais seriam as minhas atitudes. Mas depois de tudo que aconteceu, eu já não me conhecia mais, já não sabia quais seriam as minhas atitudes daqui pra frente. Isso me assustava demais, pois eu não queria causar mais nenhum dano a ninguém. Joseph, July e não mereciam sofrer mais ainda por minha causa.
Abri os olhos e vi estacionando o carro em frente a minha casa. Respirei fundo e desejei estar novamente no hospital. Não estava preparada para voltar para casa. Eu sei que casa é o lugar que deveríamos chamar de lar, o lugar onde deveríamos nos sentir bem. Mas no momento eu sentia que aquela casa não era o meu lugar. Não estava preparada para voltar para casa, minha rotina, e ignorar tudo aquilo que aconteceu. Ignorar os meus problemas e o que causei às pessoas que eu amava, ignorar Summer. Não poderia simplesmente ignorar. Era algo muito grave para simplesmente fingir que nada aconteceu. Mas eu também não estava preparada o suficiente para encarar os problemas.
- Pronta? - disse, colocando a mão sobre o meu joelho. Meu coração acelerou, meu sangue esquentou e eu poderia jurar que estava vermelha. Aquela parecia ser a primeira vez que ele me tocou. A sensação da pele dele tocando na minha era tão maravilhosa que eu não queria deixar de sentir nunca mais. Mas retirou a mão rapidamente, fazendo justamente aquilo que eu não queria. Um silêncio constrangedor seguiu e ninguém tinha coragem de falar mais nada.
- Estou. - Menti, querendo acabar imediatamente com aquele silêncio. A verdade era que eu queria dizer que não estava nada pronta e que talvez nunca estivesse. Que eu não sabia mais o que fazer com a minha vida e me odiava. Que eu precisava dele, da segurança que somente ele conseguia me dar. Que eu queria voltar para o hospital e ficar ali até que eu tivesse coragem o suficiente para encarar os meus problemas, que eu estava cansada de causar tanto sofrimento às pessoas que eu amo e me amam. Mas eu não disse nada daquilo. Apenas menti descaradamente e saí do carro. Eu não aguentaria olhar para aqueles olhos e mentir mais uma vez.
pegou minhas coisas que estavam na mala do carro, trancou-o e me ajudou a entrar em casa. Ainda me sentia um pouco fraca, talvez porque ainda estivesse me recuperando, ou talvez fosse a situação. Ele abriu a porta da sala e colocou as coisas no canto; um pouco acanhada, eu entrei na minha casa. Era engraçado que eu tivesse vergonha de entrar na minha própria casa, mas eu sentia que aquela casa era mais de July e do que minha. Aqueles móveis, os cômodos, a pintura, parecia que nada daquilo era característica minha. July saiu da cozinha com Joseph atrás, assim que me viu, a minha melhor amiga sorriu sinceramente e correu para me abraçar. Seu abraço forte me surpreendeu e fez com que eu cambaleasse um pouco para trás, mas July fez questão de me segurar. Soltou-se do abraçou e encarou-me com os olhos brilhando e sorridentes. Sorri timidamente e permaneci em silêncio, sem saber o que dizer ou fazer. Joseph abraçou desajeitadamente minha cintura, abaixei para pegá-lo no colo e o aninhei em meus braços. Ele tinha crescido tanto que eu me espantava como o tempo passava tão rápido. Há pouco tempo ele só conseguia abraçar minha coxa e agora já abraçava minha cintura. Entrar naquela casa e ver July emocionada ao me ver, Joseph crescendo, deixou-me angustiada. Eu tinha a sensação de que algo estava me sufocando. Queria gritar, chorar, abraçar. Meu peito doía e uma nostalgia me consumia. Eu não conseguia dizer nada porque não sabia mais de que maneira agir diante deles. Continuei parada em frente a July e e com Joseph em meus braços.
- Eu passei todo o tempo esperando ansiosamente que esse dia chegasse. Sentia tanto a sua falta. Nós sentimos. – July olhou para e sorriu cúmplice e ao mesmo tempo tristemente. Eu olhava toda aquela cena e continuava me sentindo uma intrusa. Eu sabia que aquela era a minha casa, que aquele era meu ex-namorado, aquela era minha melhor amiga, aquele era meu irmão e aquela recepção calorosa era para mim. Mas ainda assim, eu sentia que não fazia parte daquilo. Eu não conseguia mais me sentir completa naquele lugar e ao lado deles.
- Fiz a sua comida favorita, vamos comer que eu estou faminta! - July me puxou pela mão, mas eu não a segui. Continuei parada olhando para eles. Parecia que a qualquer momento eu iria entrar em pânico. - , está tudo bem? - Perguntou, preocupada. Coloquei Joseph no chão com cuidado, ele começou a reclamar e pediu colo novamente, mas eu não atendi o seu pedido.
- Eu só quero me deitar. - Respondi mecanicamente. Joseph agarrou a minha cintura, mas com delicadeza eu o soltei. Saí da sala e segui até meu quarto com os olhares preocupados de e July sobre mim.


As lágrimas molhavam o meu rosto e o travesseiro. Eu soluçava baixinho com medo de alguém escutar. Não sabia o que estava acontecendo comigo. Eu deveria estar feliz por finalmente ter voltado para casa, mas a dor que eu sentia ao lembrar-me das coisas que eu fiz não me deixava ser feliz ao estar na minha casa. Não era justo que eu voltasse para lá e fingisse que nada aconteceu ou dissesse o quanto amava Joseph e o abraçasse. Eu estaria sendo falsa ignorando tudo aquilo. Como Joseph conseguia superar tudo aquilo? Ele ainda era uma criança e ainda assim era mais forte que eu. Como ele podia me amar sabendo de todas as coisas que eu fiz a ele? Eu queria tanto não ter todos esses problemas. Eu não iria me importar mais se minha mãe era uma viciada que não se importava com a família e estava internada, se meu pai estava morto e meu irmão tinha síndrome de down e eu era responsável por ele. Tudo isso parecia ser problemas bobos para mim. Eu preferia mil vezes ter a minha vida de volta do que viver sem ter a certeza de quem eu sou e do que sou capaz de fazer. De saber que sou uma pessoa ruim e que posso machucar as pessoas mais próximas de mim. Eu não tinha mais forças para encarar outros problemas, principalmente esses problemas. Eu tinha que me afastar de Joseph, July, . De todos eles, parar de machucá-los e causar problemas a eles. Eu tinha que ser forte o suficiente para abandoná-los e seguir a minha vida longe daquele lugar e deles. Mas eu não era forte. Pelo contrário, era fraca o bastante para não ir embora abandoná-los. Era egoísta demais para pensar somente em mim e não perceber o estrago que estava causando na vida de todos eles. Da mesma forma que eu não conseguia fingir que não sabia a existência de Summer, também não iria conseguir ir embora e fingir que eles não significaram nada para mim. Eu cresci com July e ela era a minha irmã, a única amiga que me restou. Foi com a ajuda dela que eu criei Joseph. foi o único homem que amei verdadeiramente e me entreguei de corpo e alma a ele. O único homem que me amou tão intensamente e verdadeiramente a ponto de cuidar da minha loucura e da minha família. Como posso abandonar isso? O laço que criei com eles? As pessoas que sempre estiveram ali para mim? Aonde irei encontrar pessoas tão maravilhosas como eles?
Solucei alto e imediatamente tampei minha boca, preocupada que alguém tivesse escutado meu choro desesperador. Eu não tinha mais a quem recorrer, a quem pedir ajuda. Não sabia o que fazer. Só sabia chorar, me odiar e desejar que nada daquilo tivesse acontecido. Mas não poderia passar o resto da minha vida daquela forma, naquela angústia. Eu tinha que decidir algo, mudar a minha vida! Eu sabia que precisava de ajuda, mas quem poderia me ajudar?


Acordei com uma batida na porta do quarto. Sem perceber, tinha pegado no sono. Sentia meu rosto inchado e meu pescoço doía pela posição desconfortável em que dormi. Levantei-me cambaleando e um pouco grogue e abri a porta do quarto, estava parado ali esperando que eu abrisse. Segurava uma bandeja com um prato de lasanha e refrigerante. Sorriu timidamente para mim e adentrou no quarto, eu sentei-me na cama e o observei colocar a bandeja em cima da mesinha.
- Eu imaginei que você tivesse pegado no sono, já que estava muito cansada e demorou a descer, então eu trouxe o seu almoço. – Era perceptível o nervosismo na sua voz. Enfiou as mãos no bolso da calça jeans, como sempre fazia quando estava nervoso.
- Obrigada, ! – Sorri agradecida. permaneceu parado, parecia inseguro sobre o que fazer ou falar na minha frente. Era estranho como a nossa relação tinha mudado tanto. Éramos tão íntimos, sabíamos exatamente como agir na frente do outro, nos sentíamos bem, e agora parecíamos dois estranhos. – Como July e Joe estão? – Perguntei, lembrando que tinha sido grosseira com eles. July teve todo o trabalho para fazer a minha comida favorita e eu fui grossa e ingrata subindo para o meu quarto e chorando até dormir.
- July está preocupada e Joe um pouco chateado por você não ter almoçado com ele. – Essa era uma das coisas que eu admirava em . Ele sempre era sincero, não se importava se a sua sinceridade poderia magoar ou não alguém, ele sempre a escolhia. Independente das consequências.
- Desculpe-me por tudo isso, , parece que eu atraio problemas. – Olhei para minha calça jeans e a alisei, como se fazer aquilo fosse a coisa mais importante no momento. aproximou-se de mim e sentou ao meu lado na cama, segurou a minha mão e entrelaçou nossos dedos. Novamente eu senti aquela sensação maravilhosa de ter a pele dele encostando-se à minha. Correntes elétricas passaram pelo meu corpo e naquele momento tudo o que eu mais desejei era beijá-lo com toda a vontade, todo o desejo reprimido por todo esse tempo longe dele. Eu precisava senti-lo, tocá-lo, ter novamente os lábios dele colados ao meu.
- Ei, você não causou nada, ok? E todo mundo tem problema. – Tentou, em vão, me reconfortar.
- Eu sei de tudo, . Quando eu acordei, comecei a lembrar de tudo e então tudo fez sentido. O que você disse, minha mãe, meu psicólogo... Agora eu compreendo as coisas. – Ao tocar naquele assunto meus olhos começaram a encher de lágrimas, lembrar-me daquelas cenas me trazia muitos sofrimentos e arrependimento. – Eu sinto muito por tudo, eu queria tanto ter escutado vocês. Ter mudado tudo isso! Desculpe-me. – Ele me olhava com compreensão, ainda segurava firmemente minha mão. Era estranho, mas naquele momento eu me senti segura com ele. Eu me senti à vontade para desabafar sobre o que eu sabia e o que eu sentia. Eu percebi que afinal não estava sozinha, estava ali e sempre esteve. Esteve ali quando eu mais precisei, deu-me forças quando eu não tinha mais ninguém e me ajudou a levantar quando eu cai. Ele era a melhor pessoa para conversar sobre isso.
Soltou minha mão e me puxou para mais perto dele, abraçando-me. Encostei a cabeça no seu peito e escutei os batimentos acelerados do seu corpo. Era bom saber que eu ainda tinha algum efeito sobre ele, que assim como eu, ele também sentia falta da nossa relação. Alisou meu cabelo e beijou o topo da minha cabeça. Aquele abraço me trazia uma paz que eu pensei que nunca fosse sentir.
- Você não precisa pedir desculpas por isso. Eu tenho certeza que você nunca quis que isso acontecesse com você e sei também que isso não é intencional. Eu te amo, , com todos os seus problemas. – Eu fiquei sem reação após a declaração de . Claro que ele já me disse que me amava diversas vezes, mas depois de tudo que passamos, depois de tudo que ele descobriu de mim, o meu lado negro, eu não acreditava que esse amor que ainda existisse. Como alguém poderia amar uma pessoa que assume outra personalidade e machuca os outros? Uma suicida? Meu coração batia tão forte contra o meu peito, eu sentia o meu rosto queimar. De repente aquele quarto parecia pequeno demais e quente. Eu não sabia o que falar. Queria gritar para ele que também o amava, que ele era uma das pessoas que – mesmo sem saber – era o motivo para que eu quisesse mudar.
- Eu queria tanto me afastar de vocês, ir embora e parar de causar tantos problemas a vocês. Mas eu não consigo, não me vejo sem você, Joe e July. – Admiti, sem receio. Eu sentia que tinha a liberdade de contar a tudo que eu estava guardando dentro de mim. Ele afastou-se um pouco para trás e segurou meu rosto, forçando-me a olhar dentro dos olhos dele. Eu me perderia facilmente naqueles olhos. continuava tão lindo. Mesmo com um aspecto mais velho e cansado, com a barba por fazer, olheiras, ainda assim ele era lindo aos meus olhos.
- Você não vai fazer isso, ok? Nós estamos aqui para te ajudar, estamos aqui porque te amamos. Mas só podemos te ajudar se você quiser, , e fugir não é a melhor opção. Você só trará mais sofrimento a mim, Joseph e July. – Ele dizia tudo tão seriamente, mas ao mesmo tempo parecia tão inseguro que eu realmente pudesse tomar a decisão de ir embora.
- Eu quero ajuda, . – Saiu como um pedido, mas por dentro eu estava implorando. me olhou profundamente e então sorriu, fazendo-me sorrir também. Meu pedido foi aceito, eu tinha alguém para me ajudar e me orientar, alguém para recorrer quando tudo estivesse ruim e perdido. Eu sabia que não existia uma pessoa melhor que para me ajudar, cuidar de mim e me amar.


XXXI - Come back when you can. Let go, you'll understand. You've done nothing at all to make me love you less. So come back when you can.




- Você está pronta? - perguntou-me quando estacionou o carro em frente à casa do Dr. Smith. Eu suspirei e observei a casa antes de sair do carro. Fazia tanto tempo desde a última vez em que eu estivera ali. Eu amava aquela casa, considerava a minha segunda casa. Dr. Smith e sua mulher sempre foram gentis comigo e me trataram bem, eu me sentia segura naquele lugar.
- Estou. - Respondi a pergunta de . Saímos do carro e entrelaçou a sua mão na minha. Os últimos dois dias seguiram assim: Eu em casa me sentindo uma estranha e sempre ao meu lado. Aonde eu ia ele fazia questão de ir comigo e segurar a minha mão. Parecia que ele sabia que aquilo me transmitia uma força.
Atravessamos o jardim da casa do Dr. Smith de mãos dadas. Paramos em frente à porta e tocamos a campainha. Meu coração batia aceleradamente e minhas mãos tremiam e suavam de nervosismo. Notando o estado em que eu me encontrava, apertou minha mão e acariciou a palma dela. Aquilo, por incrível que pareça, me acalmou. Eu sentia que poderia suportar todas as coisas, enfrentar qualquer tipo de problema que viesse, se eu estivesse com tudo ficaria bem.
A esposa do Dr. Smith abriu a porta, olhou-me com surpresa quando me viu parada ali. Sorriu simpaticamente e nos convidou para entrar. Um pouco envergonhada, eu entrei.
- Vocês desejam alguma coisa? - Não consegui dizer nada, apenas balancei a cabeça, negando. Toda aquela situação era estranha demais para mim e eu não tinha reação.
- Estamos bem, obrigado. - , ao contrário de mim, foi bem mais educado e gentil. Eu só conseguia ouvir os batimentos acelerados do meu coração e sentir o meu corpo tremer.
- Arendi! - Ouvi a voz do Dr. Smith cantarolar o meu nome. Virei-me para a escada e o vi descendo. Ele sorriu alegremente para mim e aproximou-se, permitindo que eu sentisse o seu cheiro de sabonete e loção masculina. - Como você está? - Perguntou, avaliando-me dos pés a cabeça. Aquilo me deixou desconfortável.
- Bem. - Sussurrei; se aquela sala não estivesse silenciosa, provavelmente eles não iriam escutar.
- Eu quero que você saiba que esta não é uma consulta, está bem? Será apenas uma tarde entre amigos. Lembra-se dessas tardes? - Era óbvio que eu me lembrava. Quando eu tinha problemas com a minha mãe, estava cansada de tudo e precisava espairecer, eu recorria ao Dr. Smith e à esposa dele. Ia até a casa deles e perguntava se tinha algum problema ficar ali, eles me animavam e então eu esquecia tudo que me entristecia. Nós sabíamos que não era muito legal que eu tivesse esse relacionamento com o Dr. Smith, mas ele tinha se tornado tão importante para mim que acabou tornando-se da família.
- É claro que eu lembro. - Sorri fracamente. Tentei ao máximo ser espontânea, mas no momento eu estava tão nervosa que não conseguia mais que isso. Ele me olhou com compreensão e sorriu. - Eu irei ficar bem, pode ficar tranquilo. - Sussurrei para que somente escutasse. Ele assentiu e beijou o topo da minha cabeça, automaticamente eu fechei os olhos, esquecendo-me que tinha outras pessoas no lugar. despediu-se de mim, do Dr. Smith e da sua esposa.
- Pronta para relembrar os velhos tempos? - Dr. Smith perguntou em um tom de voz brincalhão. Aquilo me deixou mais relaxada e eu me permiti soltar uma risada. Não era das melhores, mas ainda assim era um começo. Algo me dizia que aquela tarde iria mudar a minha vida. Que esse reencontro com o Dr. Smith iria me ajudar a resolver o meu problema. A esperança é a última que morre.


Eu me sentia melhor após aquela tarde com o Dr. Smith e a sua esposa. Ele realmente me ajudou e disse que se eu quisesse eu poderia melhorar e que ele iria me ajudar. Eu estava feliz por saber que ainda existia alguma esperança. Que as coisas poderiam mudar.
Sentei-me no meio fio da minha rua. Não queria ir para casa agora, eu só queria sentar um pouco e pensar no que eu estava sentindo. Depois de tanto tempo, eu estava me sentindo bem. Eu não me recordava mais como era a sensação de se sentir bem, feliz. Fazia tanto tempo que eu me sentia assim que tinha me esquecido do quão maravilhosa era essa sensação. Eu estava cheia de esperanças. Acreditava fielmente que as coisas iriam mudar, que tudo daria certo, que eu teria a minha vida de volta, sem problemas. Mas no fundo, bem no fundo, eu tinha um medo bobo. Um medo de ser feliz. Um medo de pagar pra ver e quebrar a cara. De encher-me de expectativas e me frustrar. Já tinha passado por tantos problemas que eu estava cansada de enfrentá-los, não tinha mais forças. Eu não queria mais nada, só queria ter a minha vida de volta. Aceitaria de volta até os problemas de Phoebe com as drogas, desde que eu ficasse bem. Hoje eu percebo que eu realmente reclamava sem necessidade. Eu tinha o Joe, que é como um filho para mim e não me trazia problemas, July, que estava sempre ao meu lado me ajudando, e , o homem maravilhoso que me amava. Agora eu enxergava o quão ingrata eu estava sendo. Eu estava disposta a mudar toda aquela situação. Não por mim, mas por essas pessoas que não mereciam passar por todo esse sofrimento. Eu poderia sim me frustrar, mas pelo menos eu iria saber que eu tentei. Eu iria saber que não fiquei sentada choramingando e esperando as coisas se resolverem. Eu iria saber que eu me levantei e enfrentei os problemas, busquei uma solução. Eu devia isso a Joe, July e . Devia isso ao meu pai. Estava passando da hora de amadurecer, parar de ser ingrata e reclamar de barriga cheia. July e já haviam feito o possível e impossível por mim, agora era minha vez.


Abri a porta de casa e entrei cautelosamente quando vi que as luzes estavam apagadas, a sala só era iluminada pela TV ligada. Com dificuldade, vi July e Joseph dormindo tranquilamente no sofá, eles não pareciam estar em uma posição confortável, mas ainda assim estavam abraçados. Virei-me para subir a escada, mas parei quando vi saindo da cozinha com uma caneca de leite queimado em mãos. Assim que me viu ele sorriu torto. Senti meu coração acelerar, mas controlei para não parecer uma adolescente boba.
- Chegou agora? – Ele perguntou em um tom de voz baixo, aproximando-se de mim.
- Nesse instante. – Rimos baixinho, como se aquela resposta fosse realmente engraçada. Mas nós não ríamos porque aquilo era engraçado ou não, mas sim porque estávamos nervosos. O que para mim era estranho, já que eu me sentia tão à vontade em estar perto dele. Eu sabia que a distância poderia mudar muita coisa, mas não sabia que eram tantas.
- Aceita? – Ofereceu-me o leite queimado, mas eu balancei a cabeça negando. – Vamos sentar lá fora? – Assenti com a cabeça e saímos de casa. Nos sentamos na varanda da frente, um do lado do outro. Eu fechei os olhos e sorri, lembrando-me de um dia em que nós dois nos sentamos naquela mesma varanda, no mesmo lugar, tomando leite queimado e conversando. Entre nós dois as coisas eram tão mais fáceis. Estávamos no início de tudo, um pouco inseguros sobre o que sentíamos, mas ainda assim eram coisas bobas comparadas com as de agora. – O quê? – Perguntou, curiosamente, notando o meu sorriso. Abri os olhos e o encarei. Ele ainda parecia o mesmo para mim. Os mesmos olhos apaixonantes, o mesmo sorriso. Mesmo com toda essa distância entre nós dois, eu ainda sentia que era o mesmo comigo, assim como os seus sentimentos.
- Estava me lembrando do dia em que você veio até aqui e nos sentamos nesse mesmo lugar e ficamos conversando. – Ele sorriu, como se estivesse lembrando-se da mesma coisa que eu. Dirigi meu olhar para a rua. Senti segurar a minha mão, aquela atitude já havia se tornado comum entre nós dois. Constantemente eu o flagrava segurando a minha mão, admito, em segredo, que eu adorava aquilo.
- Bons tempos... – Concordei silenciosamente. Os minutos seguiram-se assim: segurando a minha mão e bebendo silenciosamente o seu leite queimado, eu encarando a rua e também em silêncio. Pela primeira vez desde o nosso término, aquele não era um silêncio perturbador. Era algo mais nostálgico, parecia que nós dois estávamos revivendo o início do nosso namoro. – Você está bem? – Perguntou, quebrando o nosso silêncio nostálgico. Eu respirei fundo e pensei na sua pergunta. Eu estava realmente bem? Eu estava feliz ou apenas sobrevivendo? Eu estava suportando a vida apenas porque tinha uma esperança de que as coisas dariam certo ou encontrava-me satisfeita com as coisas? Bom, acho que não estou tão bem assim.
- Não estou mal, mas também não estou bem. Estou ao poucos aprendendo a lidar com esses problemas, suportando mais um dia e enchendo-me de esperança. – Respondi sinceramente, mas ainda sem encará-lo. Era tão bom estar ao lado dele, não só porque ele me fazia bem, mas porque eu sentia vontade de me abrir com ele, de desabafar e colocar pra fora tudo que me sufoca.
- Já sabe como vai enfrentar tudo isso? – Colocou a caneca já vazia ao seu lado e bateu no seu colo, chamando-me para deitar minha cabeça ali. Hesitei por um momento, perguntando-me se aquilo realmente era o certo, mas logo tratei de deitar minha cabeça ali. Minha vida já estava uma bagunça de qualquer forma, e no fundo eu sabia que era mais uma solução do que uma bagunça. Fechei os olhos automaticamente quando ele começou a acariciar meu cabelo.
- Sei, mas eu tenho medo de não conseguir sozinha. – Admiti. Senti aproximar seu rosto do meu e pude ouvir sua respiração. Meus pelos arrepiaram-se e instantaneamente eu fiquei arrepiada.
- Não precisa ter medo, você não vai estar sozinha, eu estarei sempre ao seu lado. – Ele sussurrou no meu ouvido, fazendo as batidas do meu coração acelerar. Eu pensei se aquilo realmente era real. Se tudo aquilo que eu estava vivendo com não passava de uma imaginação. Ou se na verdade era um anjo que Deus colocou na minha vida para me ajudar, para me salvar da bagunça da minha vida e da minha mente. Porque aquilo parecia surreal demais para mim. Eu nunca tinha visto um amor tão puro e verdadeiro igual o dele.


XXXII - I won't give up on us. Even if the skies get rough. I'm giving you all my love. I'm still looking up.


Parei em frente à sala de Joseph e sorri quando vi entregar seus alunos às mães. Ele era tão carinhoso com todos eles, as crianças pareciam adorá-lo. Quem não adorava? Assim que me viu, ele me olhou com surpresa, mas depois sorriu alegremente. Era realmente uma surpresa eu estar ali. Mas depois da conversa que tive com o Dr. Smith e com ele, eu decidi que iria recomeçar do zero.
- Que surpresa boa te ver aqui! – Disse sinceramente após entregar o último aluno à mãe. Por cima dos ombros dele eu pude ver Joseph sentado na cadeira desenhando silenciosamente e muito concentrado. Eu sentia falta de ter perdido momentos como aqueles. Acompanhar o crescimento do meu irmão, buscá-lo na escola, ter momentos com ele. Momentos que eu tinha antes.
- Resolvi vir buscar Joe, aproveitar meus últimos dias de férias. – parecia realmente orgulhoso da minha atitude. Era como se seus olhos me dissessem o quão feliz ele estava por me ver recomeçando.
- Está decidida a voltar trabalhar mesmo?
- É claro, a vida não para! - Ele riu do meu entusiasmo e só de vê-lo rir eu também tive vontade. Joseph nos olhou assim que ouviu a nossa gargalhada, abriu um sorriso doce que ele sempre usava quando me via e saiu correndo em minha direção. Abraçou a minha coxa e eu ajoelhei para abraçá-lo. Fechei os olhos apreciando aquele momento. Como não amar uma criança como aquela? Com um coração tão puro. Como não ser feliz ao ver aquele sorriso pra você? Joseph me dava forças para tentar mudar, ser uma pessoa melhor. Principalmente para ele. Joseph merecia aquilo. Merecia tudo de melhor que a vida poderia lhe oferecer.
- Irmã, você veio! - Disse alegremente. Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu abracei um pouco mais forte. Era bom saber que alguém ainda me amava mesmo eu não sendo merecedora desse amor.
- Eu vim, meu amor. E hoje vamos almoçar fora e depois ir ao parque, o que acha? - Joseph começou a pular, ainda abraçado comigo, quando ouviu a palavra parque. Mesmo de olhos fechados eu poderia ver nos olhando com admiração.
- Eba! Mas o tem que ir. – Ele disse, afastando-se do meu abraço para me encarar. Abri os olhos e olhei para que tentava segurar uma risada ao me ver arquear a sobrancelha para ele. Ele parecia estar amando tudo aquilo. Joseph ainda me encarava esperando uma resposta, cruzou os braços e fez biquinho quando viu que eu não tinha respondido. Provavelmente se preparando para uma chantagem emocional caso eu não deixasse. Era óbvio que eu deixaria.
- Tudo bem então, o também vai. – Ele voltou a pular e levantar os bracinhos comemorando a sua vitória. Eu e rimos da sua felicidade.
- Podem ir à frente que eu vou pegar as minhas coisas. – Assenti com a cabeça, peguei Joseph no colo e fomos em direção ao meu carro. Joseph encostou a cabeça no meu ombro e começou a alisar minhas costas, como sempre fazia quando estava no meu colo. Eu estava me sentindo tão bem, tão feliz. Com a certeza de que tudo iria ficar bem. Eu nunca tinha me sentindo daquela forma, sempre fui dramática, sombria por dentro e por fora. Mas agora não, era como se eu estivesse iluminada, como se meu interior tivesse sido restaurado.
- Você e o vão se casar? – Joseph perguntou-me assim que chegamos ao carro. Eu o coloquei no chão e abri a porta, o coloquei na sua cadeira e sentei-me no banco do motorista. Não tinha respondido a sua pergunta ainda porque não sabia o que dizer a ele. Era óbvio que eu o amava e gostaria sim de me casar com ele, construir uma família. Mas, depois de todas as coisas que aconteceram, acho que perdemos a nossa chance. Eu tinha certeza que ele ainda nutria algum sentimento por mim, mas só isso não era o suficiente. Ainda existiam marcas em mim e eu sabia que nele também. Não poderíamos simplesmente ignorar tudo o que aconteceu e nos casarmos. Como eu poderia explicar isso a uma criança?
- Eu e somos somente amigos. – Respondi da melhor maneira que consegui, talvez ele entendesse. Vi parar em frente ao carro com sua mochila. Ele me olhou seriamente como se pela minha expressão já pudesse entender que algo de errado teria acontecido. Ele me conhecia tão bem que às vezes eu me assustava. Eu era tão transparente assim? Ou ele que me notava demais?
- Vamos? – perguntou assim que entrou no carro. Eu assenti com a cabeça, liguei o carro e dei partida.

- Mas você come demais mesmo, não é, Joe?
- É sim, o come um tantão assim. – Abriu os braços demonstrando a quantidade de comida que tinha comido. abaixou os olhos e tentou fazer uma cara sofrida.
- Ah é, Joe? Eu como muito? Bom saber, então não vou pagar sorvete pra ninguém, vou comer tudo sozinho. – saiu andando apressadamente indo em direção à sorveteria do parque. Joseph correu atrás dele e começou a gritar pelo seu nome. Eu ri vendo os dois correrem até a sorveteria do parque. Eles se davam tão bem. Era tão difícil encontrar um homem que ame e cuide tanto do seu irmão com síndrome de Down, que assuma responsabilidades que um pai assumiria.
Entrei na sorveteria e sentei-me na mesinha esperando até que eles pegassem o sorvete. Observei ajudar Joseph a escolher o melhor sorvete e a melhor calda. Joseph seguia fielmente o conselho dele e acabou optando por um sorvete de napolitano com calda de chocolate. , como eu imaginava, escolheu de flocos com calda de chocolate. Ele pagou o sorvete e foi com Joseph até a mesa em que eu estava sentada. Joe se sujava tomando o sorvete, mas parecia não se importar com aquilo.
- Você não vai querer nada? – perguntou-me, sentando na minha frente enquanto Joseph sentava-se ao meu lado.
- Não, obrigada.
- Quando eu terminar de tomar o meu sorvete eu quero ir no aviãozinho. – Joseph disse, embolado por causa do sorvete na sua boca. Peguei um guardanapo e limpei sua boca suja de sorvete.
- Tá bom, meu anjo. Mas tem que comer tudinho pra irmos no aviãozinho. – Ele assentiu com a cabeça e continuou a tomar o seu sorvete. Ficamos em silêncio, e Joseph tomando os seus sorvetes, e eu olhava para a minha mão tentando ignorar o fato de me olhar a cada cinco segundos. Como sempre, ele me deixava nervosa, e depois de tanto tempo separados eu não sabia mais como agir perto dele.
Saímos da sorveteria de mãos dadas com Joseph, que parecia ainda mais feliz por estar no parque. Quando viu o aviãozinho ele começou a pular feliz da vida, soltou a nossa mão e correu até o brinquedo. e eu fomos atrás dele. O parque estava vazio e por isso não tinha fila, o que animou Joseph ainda mais, pois ele iria entrar no brinquedo sem precisar esperar. Vi o instrutor colocá-lo no aviãozinho com o cinto de segurança.
- Ele parece realmente feliz. – me perguntou.
- Sim, ele ama essas coisas. Você sabe, é muito difícil Joe não ficar feliz com algo.
- Acho que estou tendo um Déjà vu. – Abaixou a cabeça e riu envergonhadamente. Virei-me para encará-lo e o olhei com curiosidade.
- O quê?
- Estou me lembrando de quando nós dois levamos Joseph ao parque. – Pelo sorriso de a intenção dele era me deixar feliz ao lembrar-se daquele dia, mas não foi isso que aconteceu. Aquele dia para mim não tinha sido tão maravilhoso assim. As coisas entre mim e ele estavam estranhas e eu estava com problemas, mentia para ele. Não era a nossa melhor fase. Eu não queria ter essas lembranças, só queria recordar-me das coisas boas em que vivi com ele.
- É, aquele foi um dia agradável. – Tentei ao máximo ser convincente na minha mentira, mas acho que não foi o suficiente para , pois o seu sorriso sumiu. Ele me olhou como se tivesse entendido o porquê de eu não estar feliz ao lembrar-me daquele dia.
- Então... – Parecia desesperado para mudar de assunto. – O que aconteceu no carro? Você não parecia estar muito bem. – Péssima pergunta, .
- Ah nada, demais. Você sabe, perguntas do Joe, coisas de criança.
- E o que ele perguntou? – Suspirei e desviei meus olhos do dele.
- Se nós dois iríamos nos casar. – Pelo canto dos olhos eu vi o sorriso dele aparecer. Mordi meu lábio inferior ainda sem encará-lo. Ele aproximou-se ainda mais de mim, eu podia sentir o seu perfume maravilhoso me deixando entorpecida. Ele colocou a mão na minha cintura e meu corpo todo estremeceu, tudo parecia passar em câmera lenta e no momento não existia mais ninguém para mim, somente eu e ele. virou-me para ficar de frente pra ele. Tinha um sorriso malicioso nos lábios e um olhar de criança que estava aprontando algo. Eu estava parada, sem reação, apenas anestesiada com o toque dele. Os sentimentos eram tão fortes que me deixavam tonta.
- Para mim seria maravilhoso se isso acontecesse. – Meu coração acelerou e minha respiração pesou. Ele estava praticamente me pedindo em casamento e eu não sabia o que falar. Não sabia o que pensar. Uma parte de mim amava tudo aquilo que acontecia, outra dizia que aquilo era errado. Mas eu não conseguia achar um bom motivo para que aquilo fosse errado. Vi-o aproximar-se de mim, sua respiração quente batia nos meus lábios. Eu estava nervosa com o que ia acontecer. Quando seus lábios encostaram-se com os meus foi como um choque de realidade. A parte que me alertava que aquilo era errado assumiu o controle da minha mente e me fez empurrá-lo para longe de mim. me olhou assustado, eu coloquei a mão sobre meus lábios e o encarei confusa. Minha respiração estava ofegante e eu sentia que a qualquer momento iria desmoronar.
- Isso não é certo. – Ele voltou aproximar-se de mim e juntou as sobrancelhas.
- Por que não? Nós nos amamos, queremos ficar juntos. Você não namora e nem eu. O que nos impede?
- Eu, ! Você não percebe que não estou bem? Eu preciso melhorar, não é justo ficar com você desse jeito. – Ele ficou sem reação por um momento. Depois recompôs a sua postura.
- Tudo bem, você é quem sabe. Mas não se esqueça de que eu não desisto fácil, nós ainda vamos ficar juntos novamente, . – Ele não brincava com o que dizia. Falava seriamente e parecia certo do que estava falando. Eu sabia que era isso que ele queria, e sabia que ele não iria desistir fácil. Mas a verdade era que no fundo eu não queria que ele desistisse. Ter lutando por mim me incentivava a continuar. Algo me dizia que daqui pra frente as coisas ficariam mais interessantes.
Em silêncio, fomos buscar Joseph que saia do brinquedo. Não era um silêncio constrangedor ou pesado, simplesmente estávamos pensando no que tinha acabado de acontecer e no que poderia acontecer.

Estacionei o carro em frente à casa de e esperei que ele se despedisse de mim e Joseph e saísse do carro. Ele demorou um pouco para se despedir, ficou encarando a rua, pensativo. Como se tivesse despertado dos seus pensamentos, ele despediu-se de Joseph avisando que amanhã iria vê-lo na escola e virou-se para mim.
- Bom, já vou indo, né? – Agora o clima era estranho entre nós dois. Eu não queria que ele ficasse em casa, queria que ele passasse a noite na minha casa, mas seria injusto se eu lhe pedisse isso depois de ter dito tudo aquilo no parque.
- É... Nos vemos amanhã quando eu for buscar Joseph na escola. – assentiu com a cabeça. Suspirou fundo e encarou-me seriamente, olhava dentro dos meus olhos.
- Não se esqueça do que eu lhe disse hoje, . Eu não vou desistir de você por nada nesse mundo. – Beijou meu rosto demorada e carinhosamente, saiu do carro e correu até a sua casa. Eu ainda estava sem reação, minha mão estava sobre aonde ele tinha beijado. Eu ainda conseguia sentir seus lábios tocarem com carinho a minha pele, o arrepio que eu senti, meu coração acelerado, minha respiração pesada.
- Irmã, vamos! – Joseph reclamou do banco de trás. Tirei a mão do meu rosto e dei partida. Eu estava feliz com o que tinha me dito. Eu não poderia admitir isso para July e muito menos para ele, mas eu estava feliz porque ele não iria desistir de mim. Eu estava me sentindo amada. Alguém me amava com todos os meus defeitos horríveis, alguém me queria a ponto de ignorar esses defeitos e insistir em mim. Como isso não poderia ser maravilhoso? Como alguém poderia não estar feliz com isso? Eu não iria conseguir ser tão insensível a ponto de ignorar isso. Eu tinha um sorriso rasgando o meu rosto demonstrando o quão feliz eu estava, e eu não estava nem um pouco a fim de ignorar isso. Eu queria gritar para todos que eu estava muito feliz e que o homem que eu amo também me ama. Eu nunca tinha encontrado um amor assim. Eu já tinha visto nos filmes, nos livros, mas na vida real eu nunca vi ninguém ter tanto amor como tinha por mim. Ninguém. Eu estava mais corajosa ainda para continuar nessa batalha. Eu quero voltar para . Eu quero construir a minha vida com ele, a minha felicidade está com ele. Eu poderia ter July e Joseph na minha vida, mas ainda assim ela seria incompleta, a completava. Porque ele era o único que me deixava feliz com algumas palavras, o único que mexia com os meus sentidos quando me beijava ou só me olhava, o único que mesmo sem saber me dava forças e coragem, o único com quem eu planejava um futuro. Eu sabia que nunca iria encontrar alguém como ele. E eu não queria. As pessoas sempre diziam que um dia iríamos encontrar a pessoa certa. Eu nunca entendia isso, não entendia o que era encontrar uma pessoa certa. Mas hoje eu entendia, era a minha pessoa certa. Hoje eu sabia que a pessoa certa não era aquela que nunca te magoava, isso não existe. Somos humanos e erramos, decepcionamos as pessoas que amamos. A pessoa certa é aquela que não desiste de você por nada, é aquela que aceita os seus defeitos e te ama mesmo assim. Eu quero ser a pessoa certa de .

Cheguei em casa e logo escutei o barulho da TV e senti o cheiro de pipoca doce. Joseph me olhou e sorriu feliz por saber que July estava fazendo pipoca doce, a nossa pipoca preferida. Ele saiu correndo em direção a cozinha, eu coloquei a sua mochila no canto da sala e o segui rindo. A cozinha toda tinha um cheiro delicioso de pipoca doce, July despejava a pipoca em uma imensa bacia verde. Assim que nos viu entrar ela nos olhou e sorriu.
- Estou fazendo a pipoca preferida de vocês dois para passarmos o dia assistindo filme. – Ela dava pulinhos de alegria. Parecia realmente animada com tudo aquilo, no final, eu acabei me sentindo animada também. Fui até a geladeira e tirei de lá três latas de refrigerantes.
- Que delícia, ficar em casa a tarde toda sem fazer nada. – Disse, enquanto íamos para a sala.
- Eu fui ao parque, sabia? – Joe disse para July. A mulher fez uma cara surpresa e logo depois fingiu estar triste.
- E ninguém me levou? – Fez bico e colocou a pipoca em cima da mesinha, cruzou os braços e sentou-se no sofá, Joe e eu nos sentamos também.
- Awn, tadinha! Na próxima nós te levamos, tá bom? – Apertei a bochecha dela e depois beijei. July riu, fazendo Joseph rir também. Acomodei-me no sofá entre Joe e July. Joseph deitou a cabeça no meu colo e July no meu ombro, dei play no filme e começamos a assisti-lo silenciosamente. Aquele estava sendo um dos melhores dias para mim. Depois de tudo que aconteceu com e agora chegar em casa e estar ao lado da minha família assistindo filme tornava tudo aquilo incrível. Eu ainda tinha um sorriso idiota no rosto, mas não tinha a menor vontade de tirá-lo. Tudo estava bem eu só queria que as coisas permanecessem assim. Eu estava feliz.

XXXIII - She loves you yeah, yeah, yeah...






Acordei com o meu celular tocando. Abri os olhos com dificuldade e tateei a cama em buscar do meu celular, ainda estava escuro e eu não conseguia enxergar.
- Alô? – Atendi a ligação ainda grogue de sono e sem ver quem era.
- ? Acordei-te?– Ri, achando idiota a pergunta de , mas eu estava feliz por ele ter me ligado na madrugada.
- Bom, são três horas da manhã, não é mesmo? Acho que isso responde a sua pergunta. – Ouvi sua risada envergonhada do outro lado da linha, como se eu estivesse o vendo rir acabei sorrindo encantada com a imaginação que eu tinha da cena.
- Desculpe. Eu preciso que você se arrume e me espere daqui a 15 minutos em frente a sua casa. – Arquei a sobrancelha estranhando a sua pergunta. Ele não parecia brincar, disse tudo rapidamente e seriamente.
- Pra que isso, ?
- , só faça isso, por favor. Estou indo para sua casa. – E sem esperar uma outra pergunta ou até mesmo uma despedida, ele desligou. Coloquei o celular ao lado do meu travesseiro e levantei-me. Aquilo tudo estava muito estranho, mas eu estava excitada com aquela situação. Queria saber o que estava planejando para aquela madrugada. Peguei uma calça jeans, uma regata, jaqueta preta e um all star branco, vesti a roupa apressadamente e fui até o banheiro lavar meu rosto, pentear meu cabelo e escovar os meus dentes. Eu fazia tudo apressadamente e tentando imaginar que surpresa estaria planejando para mim. Será que aquilo fazia parte do seu plano de tentar me reconquistar? Eu não conseguia tirar o sorriso idiota do meu rosto, mesmo sem saber o que iria fazer eu já estava feliz. O que estava acontecendo comigo? Eu sentia que cada vez mais o meu amor por se fortalecia. Eu o estava amando de uma forma tão intensa que eu nunca tinha sentido antes por ninguém, nem mesmo por ele.


Eu sentia que poderia congelar esperando do lado de fora. Meus dentes batiam uns nos outros causando um barulho irritante aos meus ouvidos, eu tremia dos pés a cabeça, abraçava meu corpo numa tentativa inútil de me aquecer. Quando parou o carro em frente a minha casa eu agradeci mentalmente a Deus por ele ter chegado, corri em direção ao carro e imediatamente abri a porta do carona e sentei-me, fechando com força a porta do carro. riu do meu desespero.
- Está muito frio. – Justifiquei minha atitude idiota. pegou uma manta que estava no banco de trás do carro e me deu, agradeci a ele e enrolei-me na manta, sentindo-me aos poucos mais aquecida. Ele aproximou seu rosto do meu, eu sentia o seu hálito batendo no meu rosto, tinha um cheiro de hortelã e parecia delicioso. Eu o vi lamber os lábios e olhar para minha boca, repeti sua atitude, mas continuei parada, sem reação. beijou meu rosto carinhosamente, seu beijo era quente, fazia o meu rosto pegar fogo. Aos poucos o meu corpo também. Eu não sabia se ficava feliz por ele ter beijado o meu rosto ou decepcionada por não ter sido nos meus lábios.
- Pronta para a surpresa? – Ele sussurrou no meu ouvido. Meus pelos arrepiaram-se e meu corpo estremeceu, riu baixinho no meu ouvido. Fechei os olhos, tentando me controlar. Ele queria me torturar, só podia ser isso. Iria usar golpes baixos para me fazer desistir da minha decisão. Se ele continuasse fazendo isso, eu provavelmente iria ficar insana.
- Estou. – Minha voz saiu falha, abri meus olhos e tentei me focar em outra coisa que não fosse , mas era difícil com ele tão perto de mim. Ele afastou-se de mim e endireitou-se no banco, ligou o carro e deu partida. Suspirei aliviada, pelo sorriso que tinha no rosto ele havia percebido. – Posso ligar o som?
- À vontade. – Liguei o som tentando acabar com aquele silêncio constrangedor. Crash And Burn Girl tocava na rádio. Tudo que eu conseguia pensar ouvindo aquela música era eu e dançando sensualmente. Aquilo não estava me ajudando a acalmar meus hormônios, era necessário muito autocontrole.
- Então... Para onde estamos indo? – Tentava buscar algum assunto para não ter que demonstrar a ele o quão vulnerável eu estava. Seria vergonhoso demais.
- É surpresa! – sorriu malicioso. Dei um tapa fraco no seu braço o fazendo gemer. – Se continuar malcriada eu não vou te mostrar surpresa nenhuma.
- Não! Eu estou brincando, zinho... – Alisei seu braço e o beijei. enrijeceu o corpo, eu fiquei paralisada quando percebi o que fiz. Tudo bem que éramos namorados e já tivemos momentos bem mais íntimos do que aqueles, mas depois do nosso término nunca estivemos tão próximos assim, o máximo foi um beijo no rosto e carinho na mão por parte de . Mas eu não. Eu não tive atitudes assim com desde o nosso término. A minha atitude nos deixou surpresos. Imediatamente eu recuei e sentei-me direito no banco. Encostei a minha cabeça na janela e fechei os olhos. Xingava-me mentalmente por ter criado um clima desconfortável entre nós dois. Eu não deveria ter agido daquela forma, não quando já tinha dito que no momento não queria nada com ele. Não parecia certo agir daquela forma com .


- ? – Abri os olhos assim que ouvi a voz de me chamar. Espreguicei-me e esfreguei meus olhos, tentando me manter mais acordada. – Já chegamos. – Eu não conseguia identificar o lugar com clareza, por estar escuro e também por estar sonolenta.
- Dormi muito?
- Não, só alguns minutinhos. Vamos? – Assenti com a cabeça. Abri a porta do carro e sai, o frio era torturante, imediatamente me enrolei na manta. trancou o carro e me abraçou pelos ombros, andávamos lentamente.
- Aonde nós estamos?
- Você não reconhece esse lugar? – Ele parou e apontou para um lago que estava na nossa frente. Imediatamente eu reconheci o lugar. Meu sorriso parecia rasgar o meu rosto. Ele ainda lembrava, ele ainda se importava. Se alguma vez eu tinha dúvida disso, hoje eu tenho certeza. – Nós viemos aqui no nosso primeiro encontro, lembra? – Concordei silenciosamente, meus olhos enchiam de lágrimas. – Naquela época você não gostava de mim, achava que eu era uma pessoa ruim... – Nós rimos recordando daquele tempo.
- Por que você me trouxe aqui? – Minha voz estava embargada, eu segurava as lágrimas. Sabia que a qualquer momento eu iria desabafar e começar a chorar copiosamente.
- Porque foi aqui que nos apaixonamos, foi aqui que eu conheci a verdadeira Arendi e você conheceu o verdadeiro . E eu acho que esse é o lugar ideal para nós recomeçarmos. Eu não vou desistir de você, . Nós não podemos desistir do amor da nossa vida só porque algumas vezes a vida foi difícil para nós. Eu te perdi uma vez e não quero te perder de novo! Saber que você está aqui na minha frente, viva e com saúde, me faz valorizar cada momento ao seu lado e lutar pra te ter de volta, como minha namorada. Eu não posso deixar você escapar de novo. Eu sei que passamos por momentos difíceis, sei que esse não é o melhor momento, mas sei também que somos maiores que isso! Sei que podemos enfrentar qualquer tipo de problema se quisermos. Eu estou do seu lado, , eu quero te ajudar, eu quero te dar forças. Não posso desperdiçar a chance de te ter de volta. Então por favor, me deixa tentar! Me deixa te ajudar. – Lágrimas já rolavam pelo meu rosto, eu chorava copiosamente, como era o esperado. Chorava tanto que soluçava. Eu não estava mais dividida sobre qual decisão tomar. Eu não me importava mais com o que era certo ou errado, ou só sabia que queria beijá-lo, eu precisava sentir novamente o gosto do seu beijo, a sensação que ele me causava quando tocava meu corpo. Não poderia mentir mais, eu o queria. Queria voltar para ele, eu queria a sua ajuda. Ele estava parado na minha frente, no lugar aonde nos apaixonamos, implorando para que eu volte para ele. Como eu poderia ignorar isso? Como eu poderia ignorar o meu sentimento? Como não nos dar uma chance de recomeçar quando eu sabia o quanto nos amávamos? Seria injusto comigo e com ele. E por isso eu fiz o que eu sempre quis desde quando o vi naquele hospital após o meu acidente. Eu abracei a sua cintura e lhe beijei. colocou as mãos na minha costa e no meu cabelo, colou seu corpo no meu e abriu a boca dando passagem para a minha língua. Era exatamente como eu me lembrava, ou talvez melhor. O nosso beijo era quente e lento, não tinha pressa, só queria matar as saudades aos poucos. Nós tínhamos química. Estava frio, mas nos esquentávamos. Eu não conseguia escutar mais nada, apenas as batidas do nosso coração e o barulho do nosso beijo. O que para mim era a melhor música. Era a nossa trilha sonora. E ninguém além de mim e tinham.
- Isso responde a sua pergunta? – Perguntei assim que separamos as nossas bocas.
- É a melhor resposta que você me deu. – Rimos e logo depois voltamos a nos beijar. Dessa vez eu me sentia completa.


Ele estacionou o carro em frente a minha casa. Sua mão ainda acariciava minha coxa debaixo da manta, era um carinho tão gostoso que eu não tive vontade de me levantar, eu só queria continuar sentada ali sentindo seu carinho.
- ? – Virei meu rosto para olhá-lo. Ele não parecia feliz, mas também não parecia triste, só estava apreensivo.
- O que houve? – Perguntei preocupada. retirou sua mão da minha coxa e alisou o meu rosto, eu fechei os olhos e descansei minha cabeça na palma da sua mão.
- Por favor, não se esqueça de hoje. Não mude ideia amanhã, não desista da gente. – Abri meus olhos e encarei os dele. Estavam carregados de medo. Pela primeira eu vi inseguro sobre a minha decisão em relação a nós dois. Aproximei meu rosto do dele e com delicadeza eu beijei seus lábios. Não passamos disso, foi apenas um selinho, nossas bocas se encostando.
- Não precisa ter medo, eu tenho certeza do que eu quero. O que eu quero é estar com você. – Disse, ainda com os lábios colados nos deles. Ele sorriu aliviado e ao mesmo tempo feliz. Beijei a ponta do seu nariz me despedindo dele e sai do carro enrolada na manta. Antes de entrar em casa eu parei na porta e fiquei o observando me olhar, ele sorriu quando viu que foi flagrado, despediu-se de mim e deu partida. Eu estava me sentindo uma adolescente que tinha o seu primeiro encontro com o garoto dos seus sonhos. Meu coração batia fortemente de felicidade, eu estava me sentindo viva, sorria para o nada. Era tão leve aquele sentimento, uma felicidade tão pura que não fazia mal a ninguém e não era errado sentir-se daquela forma. Uma vez meu avô me disse que o amor sempre nos torna adolescentes, independentes da nossa idade, ele tinha o poder de nos tornar mais jovem. O amor nos levava a nossa melhor idade. Agora eu entendia o que o meu avô havia me dito. Eu entendia porque era dessa forma que eu estava me sentindo. O meu recomeço com parecia ser melhor do que o nosso começo, os sentimentos pareciam ser mais fortes. Para mim dessa vez iria dar certo. Eu estava mais madura em relação a mim, em relação a nós dois, à vida.


Deitei na cama ainda enrolada à manta. O perfume de estava impregnado ali e eu não queria tirar, eu queria dormir sentindo o cheiro dele e me lembrando da maravilhosa madrugada que passei ao seu lado. Fechei meus olhos lentamente, o sorriso ainda continuava no meu rosto. A imagem de era nítida na minha mente, os nossos momentos passavam como um filme de romance na minha cabeça. Aqueles filmes que nos deixavam com vontade de encontrar um amor pra vida toda. E agora eu fazia parte desse filme, era minha vida que estava passando ao lado do meu amor pra vida toda.
Eu não estava com medo do dia de amanhã, dessa vez eu estava me sentindo segura. Eu sabia que amanhã estaria ao meu lado. E se ele estivesse ao meu lado tudo iria ficar bem. Eu poderia passar por qualquer dificuldade, ele estando comigo eu tinha forças suficiente para enfrentá-las. E se nada desse certo no final, eu o tinha como meu porto seguro, como meu ponto de equilíbrio. para mim era isso: meu ponto de equilíbrio. O mundo poderia estar caindo aos pedaços, mas ele estava ali me ajudando a ficar calma, me dando forças. Ele me conhecia melhor do que ninguém, eu me sentia à vontade para conversar sobre tudo com ele, para desabafar. Eu não tinha vergonha de desabar na frente dele, sempre viu o meu lado bonito e o feio e sempre soube lidar com isso. Ele não era perfeito, e eu melhor do que ninguém sabia disso. já havia me magoado antes. Mas ainda assim ele mostrou pra mim que mudou e que mesmo tendo me magoado, ele ainda me amava e estava disposto a me ter de volta. Ele poderia ter todos os defeitos do mundo, mas ainda assim era o homem que me amava, me salvava, me entendia. O homem que eu amava.



XXXIV - I know someday you'll have a beautiful life. I know you'll be a star In somebody else's sky. But why, why, why can't it be, oh can't it be mine?






Eu acordei com um sorriso no rosto. Estava tão feliz e empolgada com o dia que estava começando que não me importei com o despertador me acordando às oito horas da manhã, mesmo eu tendo ido dormir às cinco e meia. Estava tão exausta que sequer tinha visto July sair com Joseph para levá-lo a escola. Espreguicei-me e levantei da cama. Ainda tinha o mesmo sorriso no rosto. Peguei no guarda roupa uma calça jeans, blazer roxo, uma blusa branca e uma bota preta. O dia não estava muito frio, mas também não era ensolarado. Entrei no banheiro e lentamente tirei minha roupa. Meu corpo estremeceu de imediato assim que fiquei nua, entrei no box e liguei o chuveiro. Deixei que a água quente caísse no meu corpo e me esquentasse.
A minha vida estava só começando. Eu sabia que teria muitos problemas pela frente, mas também teria muitas partes boas. E como eu imaginava, eu não desisti do . Eu estava decidida a continuar com ele e permitir que ele me ajudasse.
Tomei meu banho rapidamente com medo de perder a hora. Estava ansiosa para minha primeira consulta com o Dr. Smith.


A minha primeira consulta com o Dr. Smith havia sido muito boa, eu estava empolgada pela próxima e com os resultados. Sei que não deveria criar expectativas, mas não via a hora das coisas darem certo. July e me disseram que nunca mais aconteceu o problema com ‘’Summer’’ e isso me dava ainda mais motivação.
Estacionei o carro na garagem da minha casa, desliguei e sai do carro trancando-o em seguida. Ao aproximar-me da entrada da minha casa eu pude escutar a risada gostosa do meu irmão, como se fosse algo contagiante eu comecei a rir imediatamente. A sua alegria era algo contagiante para mim. Abri a porta da sala e entrei em casa, vi uma adorável cena, July e Joseph brincando no sofá de fazer cosquinha. Era incrível como Joseph tinha o poder de nos tornar crianças quando estávamos com ele, de nos fazer esquecer qualquer tipo de problema. Assim que me viram eles pararam de fazer o que estavam fazendo, levantaram-se do sofá com sorrisos no rosto. Como era de se esperar Joseph gritou pelo meu nome e correu para me abraçar.
- , ainda bem que você chegou! Tenho uma reunião urgente agora. – Olhou-me como se estivesse pedindo desculpa.
- Tudo bem July, não precisa se preocupar. – Sorri agradecida.
- Então eu vou indo. Beijos, até mais tarde. – Nos despedimos com dois beijinhos no rosto e um abraço. July beijou o topo da cabeça de Joseph despedindo-se e foi embora. Joseph e eu nos sentamos no sofá, ele logo veio aconchegando-se no meu colo. O aninhei no meu colo, estava me sentindo bem por ter um momento como aquele com meu irmão. Fazia tempo em que não ficávamos sozinhos.
- Então, o que você quer fazer? – Rapidamente Joseph saiu do meu colo e correu até a estante onde ficavam os eletrônicos e DVDS, pegou um DVD e voltou correndo.
- Vamos assistir Meu Malvado Favorito? – Juntou as duas mãozinhas como se estivesse implorando. – Por favor, por favorzinho. – Ri do seu drama e o puxei para um abraço. Enchi seu rosto de beijo fazendo o gargalhar e tentar afastar-se de mim.
- Tudo bem, vamos assistir meu Malvado Favorito. Mas com uma condição. – Levantei o meu dedo o deixando ansioso. – Só se você ficar agarrado comigo. – Joseph riu e me abraçou.
- Feito! – Disse em um tom de voz elevado. Levantei-me para colocar o DVD, assim que coloquei deitei no sofá com Joseph ao meu lado. Sentir o seu corpo tão pequeno comparado ao meu aquecia o meu coração. Depois de tanta coisa que tinha acontecido comigo eu me sentia tão sortuda por saber que tenho um lugar aonde posso chamar de lar, por saber que sempre que eu voltar pra casa terei pessoas que me amam esperando por mim e por ter momentos como aquele. Eu não era digna de nada, mas era muito sortuda por ter tudo aquilo. Quando algumas pessoas dizem que felicidade não se compra, eu entendo que é verdade. Dinheiro nenhum poderia comprar um momento como aquele, um momento entre eu e meu irmão que para mim era mais como um filho. Nada nesse mundo poderia comprar o sentimento que eu tinha por ele e ele por mim. Depois de tudo o que passei, todo o sofrimento, dinheiro nenhum poderia comprar a sensação de ter uma lar. Não é uma casa que faz um lar, são as pessoas. Eu poderia ter todas as coisas materiais que sempre desejei na vida, mas não teria sentido se não tivesse Joseph, July e . Mentalmente eu agradeci a Deus. Agradeci a ele por ter saúde, por tudo que fez por mim, e principalmente por ter aquelas pessoas na minha vida e pelo amor que tinham por mim. Eu estava em paz comigo mesma, sendo grata e feliz por tudo que tenho. Eu não precisava de mais nada.

- ! – Ouvi a voz da minha amiga gritar empolgada. Logo pude ver July correr até o quintal com um buquê de rosas em mãos, ela tinha um sorriso nos lábios e seus olhos brilhavam. Rapidamente Joseph e eu paramos de colocar as flores no vaso e nos levantamos curiosos.
- O que houve? Por que me gritou? – Perguntei curiosa. July parecia explodir de felicidade, ela estendeu-me o buquê de rosas e eu a olhei sem entender.
- Segura, é seu! – Ela dizia tudo aquilo rindo, parecia algo mágico. Joseph e eu ainda estávamos confusos. Receosa eu peguei o buquê de rosas, o perfume que exalava delas era maravilhoso.
- Como assim? Não é seu? Não estou entendendo nada. – Franzi a testa como eu sempre fazia quando estava confusa.
- Olha o bilhete. – Peguei o bilhete que estava pregado no buquê, cuidadosamente o abri e li o que estava escrito ali.


’’Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.’’
Um pequeno presente para lembra-la do quão especial você é para mim.
Com carinho, .


Não sei se foi a atitude gentil de ou se eu estava sensível demais especialmente naquele dia, mas meus olhos encheram-se de lágrimas e não demorou muito para que elas começassem a escorrer. Um turbilhão de sentimentos me invadiu, fiquei confusa com a intensidade delas e com a quantidade de coisas que passavam na minha cabeça. Coisas como era um homem maravilhoso e perfeito e quão sortuda eu era por tê-lo em minha vida. Coisas também como eu não era merecedora de tudo o que ele fez e ainda faz por mim. Um pouco tonta com todas aquelas coisas, eu sentei-me na grama do jardim e coloquei o buquê no meu colo. Joseph e July estavam atentos a cada atitude minha, tentavam definir o que eu estava sentindo e pensando. Mas nem eu mesma sabia. Eram tantas coisas, tantos pensamentos e sentimentos que eu não conseguia dar ouvido a sequer um deles.
Foi então que um deles ganhou força, e foi justamente o que eu não queria ouvir. ‘’Você não merece , você merece ficar sozinha. Olhe tudo o que você fez com essas pessoas, acha mesmo que é certo agir como se estivesse tudo bem?’’ A quem eu estava querendo enganar? Era óbvio que todo esse tempo eu estava fingindo que tudo estava bem, eu estava ignorando tudo que acontecia a minha volta, todos os meus pensamentos realistas. Eu estava dizendo para mim mesma que não estava sendo egoísta, quando na verdade eu estava mais uma vez sendo egoísta. Era óbvio que seria muito mais feliz com uma pessoa que não fosse eu. Uma pessoa com menos problemas, menos egoísta e digna do amor dele. Eu não poderia ignorar tudo aquilo. Minha cabeça parecia que ia explodir de tantas acusações que eu mesma me fazia. Eu realmente cheguei acreditar que tudo ficaria bem, que meu tratamento daria certo, que eu e poderíamos construir uma família e dar um lar de verdade a Joseph. Mas e se meu tratamento não desse certo? E se tudo fosse apenas uma ilusão? Mais uma falsa expectativa? Eu não poderia arriscar mais uma vez, não era justo colocar nessa jogada quando eu mesma não sabia se poderia dar certo. Isso iria magoá-lo mais uma vez. Só eu sei o quanto eu magoei ele, o quanto eu o destruí. Eu não iria suportar vê-lo novamente daquela forma sabendo que a culpa é minha. Não era justo enchê-lo de esperanças e depois destruí-la. Eu não posso garanti-lo de nada.
- , você está bem? – July ajoelhou-se na minha frente e colocou a mão no meu joelho. Levantei meus olhos para encará-la, eu enxergava um pouco embaçado devido às lágrimas. Meus lábios tremiam, sem pensar em mais nada apenas joguei-me nos seus braços e a abracei fortemente. July sussurrava palavras de consolo sem ao menos saber o porquê de eu estar assim, ela acariciava o meu cabelo e escutava o meu soluço baixinho.
- Não dá mais, eu não aguento isso July... – Disse com a voz embargada. Ela afastou-se de mim e secou o meu rosto delicadamente com a sua mão.
- O que não dá mais, meu anjo? – Dizia com ternura e paciência, sentou-se ao meu lado e colocou Joseph – que até então assistia tudo em silêncio – no seu colo.
- Eu não posso continuar com o e ignorar tudo de ruim que fiz a ele, todas as vezes que o magoei. Não posso enchê-lo de esperanças de algo que eu não sei se vai dar certo, July! – Ouvi July suspirar pesadamente. Eu podia ouvir os seus pensamentos, provavelmente algo como: ‘’Lá vem ela com os seus dramas.’’
- Já percebeu que você sempre tem que dizer não a alguma coisa? Caramba , quando você vai parar de fugir de tudo?! Essa é a sua vida, pare de se fazer de vitima e comece a vivê-la. Você já está perdendo tempo. – Eu havia me esquecido do quão dura July poderia ser algumas vezes, mas eu não poderia culpa-la, essa é a sua maneira de pensar. E se ela pensava assim é porque em algum momento dei motivos.
- Não estou me fazendo de vitima July, não dessa vez. Só não quero mais trazer problemas pra vida de ninguém, não merece isso.
- é um homem maravilhoso! Eu espero que você não perceba isso antes que ele se canse disso tudo e vá embora de vez. – July levantou-se com Joseph no colo e olhou-me friamente. – Vou dar banho no Joseph, pense a respeito antes de fazer qualquer burrada. – Entrou em casa com passos duros, estava furiosa. Fechei os olhos e deitei na grama. Estava frio, mas eu não me importava. Não tinha mais nada para pensar, eu já tinha tomado a minha decisão. Não iria me enganar mais, eu realmente seria altruísta dessa vez. Chega de tornar a vida das pessoas uma confusão.


Fui para o meu quarto batendo o pé, me tranquei ali dentro e liguei o rádio. Sentia-me uma adolescente que acabava de brigar com os pais e por isso se trancava no quarto e ouvia músicas melancólicas. Eu não era mais uma adolescente e não tinha brigado com os meus pais, mas a briga que tive com July me fazia sentir exatamente daquela forma. Sentei na cama e abracei minhas pernas. Que minha cabeça era uma confusão isso já não era mais novidade para mim, assim como meus sentimentos também eram. Dessa vez eu não me senti como se estivesse fazendo um drama, eu sabia exatamente o que eu estava fazendo e sabia que a atitude que iria tomar dali pra frente seria a melhor para todos. Eu só não sabia como olhar para e dizer tudo aquilo a ele, terminar mais uma vez com nós. Eu sabia o quão magoado ele iria ficar, eu havia lhe dito que não iria voltar atrás com a minha a palavra, não era justo, eu sabia disso. Mas também não era justo causar-lhe mais sofrimento. Ele tinha o direito de viver uma vida normal, de conhecer uma garota normal que lhe tratasse bem e o amasse. Ter encontros com ela, formar uma família com ela. Ter brigas normais como qualquer outro casal. Não era certo ele ter que preocupar-se com Joseph e como estava o meu estado.
Eu amava , eu amava como nunca amei nenhum homem em toda a minha vida. Ele me fazia sentir que tudo iria dar certo, que tudo valia a pena. Eu me sentia bem somente ao estar ao lado dele. me proporcionava momentos maravilhosos ao seu lado. Eu tinha vontade de fazer coisas que nunca havia feito na minha vida, agir como uma adolescente, gritar para todos o quanto eu o amo e o quão feliz eu sou ao seu lado. Ele me fazia amar viver, amar a minha vida. Eu não queria nunca perder essa sensação, mas eu sabia também que assim que terminasse com ele eu a perderia para sempre. Eu nunca poderia lhe proporcionar coisas assim. E isso me matava. Matava-me porque eu recebia, mas nunca lhe dava nada. Eu queria tanto fazê-lo feliz, fazê-lo sentir da mesma forma como ele me faz sentir. Mas eu não era assim, eu não era como . E por isso eu estava o libertando do caos que é a minha vida.


Duas batidas na porta me despertaram. Eu sequer tinha percebido que estava caindo no sono, provavelmente fiquei exausta de tanto chorar. Patética. Esfreguei meu rosto e sentei na cama.
- Pode entrar. – Gritei para a pessoa que estava do outro lado. Lentamente abriu a porta, entrou timidamente no meu quarto. Rapidamente eu me endireitei e fiz um coque frouxo tentando disfarçar a bagunça que estava o meu cabelo. Ele fechou a porta, deu um meio sorriso para mim e sentou na beirada da cama.
- Passei aqui para ver como você e Joe estavam, July me disse que você passou o dia inteiro aqui. Está tudo bem? – Mordi meu lábio inferior pensando no quão difícil seria começar aquela conversa.
- Eu precisava mesmo conversar com você. – me olhou apreensivo e aproximou-se mais de mim.
- O que houve? – Ele me olhava como se já soubesse o que eu iria dizer. Eu não sei se eu era previsível demais ou ele que me conhecia bem demais. Seus olhos pareciam implorar para que não seguisse adiante com aquela conversa. E por um segundo eu pensei em realmente desistir, mas logo abandonei essa ideia egoísta.
- , você é um homem maravilhoso. Com certeza é alguém que eu nunca vou encontrar na minha vida. É uma pessoa honesta, do bem, apaixonante, carinhoso. O que você fez por mim e pelo Joseph eu nunca irei encontrar formas de lhe agradecer, seria eternamente grata. Você tem um coração enorme, é tão cheio de amor, tão altruísta. Você sabe ser feliz, sabe como ser bom. E isso é uma característica sua, não é algo que você força, é algo simplesmente seu. E isso me faz amá-lo cada vez mais. Você não tem noção do quanto eu te amo, eu te admiro tanto. E me culpo também por não ser a mulher ideal pra você, por não ser metade da mulher que você merece...
- , aonde você quer chegar com isso? – Ele me interrompeu parecendo desesperado. Abaixei meus olhos e encarei minhas mãos, eu não tinha coragem de olhar dentro dos olhos dele e acabar com toda a esperança que ele tinha.
- Estou terminando com você, . – Eu o ouvi suspirar pesadamente. Ele levantou-se da cama e andou de um lado para o outro, eu ainda não tinha coragem de olhá-lo.
- Por que isso? – Aproximou-se de mim, meus olhos encheram-se de lágrimas e eu me controlei ao máximo para que elas não descessem.
- Porque eu não mereço você! Você é bom demais pra mim, merece alguém como você. , vamos ser racionais! Eu nunca vou melhorar, eu sempre vou ser a garota com problemas mentais que cuida do irmão e recebe ajuda da amiga. Que futuro você vai ter comigo? – As lágrimas já rolavam, meu tom de voz estava elevado, mas eu ainda não o encarava.
- , é você quem eu amo, é com você que eu quero passar minha vida. Você vai melhorar, tudo vai ficar bem, você vai ver. – Sentou-se de frente para mim, segurou minha mão e deu um fraco aperto.
- Não posso te encher de esperanças com algo que não vai acontecer . Não posso mais continuar com isso, me desculpe. – levantou o meu rosto e me forçou a encará-lo.
- Diga que não me ama mais. – Tirei meu rosto das suas mãos. – Olhando nos meus olhos. – Eu encarei os seus olhos e como era de esperar eu desisti de tudo, eu só imaginava passar a noite ao seu lado, o resto da minha vida ao seu lado. Por incrível que possa parecer o meu lado racional falou mais alto e então eu me recompus.
- Eu te amo demais, mas amor não é suficiente. Não posso conviver com a ideia de que a qualquer momento posso te machucar, eu desisto. Desculpe-me, mas não há nada que você possa fazer. – Levantei-me da cama e abri a porta do quarto. A minha expressão era dura, meu queixo estava erguido me passando uma imagem de decidida. O que não era verdade. levantou-se e lentamente e aproximou-se de mim, me permiti inspirar o seu perfume como se aquela fosse a última vez que eu faria aquilo.
- Você tem certeza disso?
- Sim. Nós terminamos . – Ele me olhou tão friamente, como se estivesse decepcionado, ou talvez pior... Como se sentisse nojo de mim. Aquilo foi como uma facada me deixou sem reação. não disse mais nada, apenas me deu as costas e foi embora. Fechei a porta e encostei-me a ela, aos poucos fui descendo até encostar no chão. Fechei os olhos, a imagem de me olhando com nojo estava na minha cabeça. Eu tentava pensar em qualquer coisa para tentar esquecer aquilo, mas nada conseguia tirar aquilo da minha cabeça. Esperei que minhas lágrimas viessem para me fazer companhia, mas elas não vieram. Vi então que eu estava sozinha, eu não tinha mais e também não poderia contar com July já que ela era contra isso. Joseph era apenas uma criança, não iria entender e também não poderia sobrecarrega-lo com aquilo. Abracei o meu corpo e escondi minha cabeça entre minhas pernas. Eu estava perdida e completamente solitária. Não tinha passado nem 24 horas e eu já estava arrependida da minha decisão. Não imaginava que seria tão difícil.


XXXV - How am I supposed to tell you how I feel? I need oxygen.






Deitada na cama eu pensava em tudo que estava me acontecendo. Deveriam ser cinco horas da manhã, o dia estava começando a clarear e eu sequer tinha fechado os olhos. Meus olhos estavam inchados e pesados, mas não conseguia dormir. Minha mente não se desligava de . Eu pensava na dependência que havia criado dele. Isso não era normal. Tínhamos terminado há uma semana e eu vivia minha vida como um zumbi. Os únicos momentos em que eu realmente vivia minha vida era quando estava com July, Joseph e o Dr. Smith. Fora isso, eu continuava fazendo as coisas no modo aleatório. Trabalho, casa, tomar banho, comer, dormir. Não conseguia mais buscar Joseph na escola, não tinha coragem para encarar novamente. Tinha medo de ter uma recaída e acabar voltando para ele. Eu não queria magoá-lo novamente, ele não merecia isso. Eu estava decidida a não magoar mais ninguém. Chega de causar problemas. merecia ter uma vida feliz. Um casamento, quem sabe. Uma mulher que possa ajuda-lo e não atrapalhar ainda mais a sua vida. Uma mulher para lhe dar suporte. Eu não era essa mulher, eu precisava de suporte. Não poderia ajuda-lo quando na verdade era eu quem precisava de ajuda.
Foram os setes dias mais difíceis da minha vida. Quando conseguia dormir por alguns minutos acordava desesperada chorando e chamando por ele. Graças a Deus July e Joseph nunca escutaram meus lamentos, não queria preocupa-los ainda mais. Não tinha comentado nada daquilo com July e Joseph ainda era uma criança para lidar com problemas de adultos. A única pessoa com quem eu tinha comentado era o Dr. Smith. É claro que eu queria conversar com a minha melhor amiga, eu só não sabia como conversar. Eu sabia que July iria brigar comigo e falar que era maior burrada que eu estava cometendo, porque ela não via as coisas da maneira que eu via. Eu não a culpava. E por isso não dizia nada. Seguia minha vida da melhor maneira que conseguia. Erguia a minha cabeça e mostrava para eles que estava bem, arrisco a dizer que estava sendo bem convincente. Mas ainda assim era difícil. Machucava. Nunca senti uma dor como aquela, algo que quase me sufocava. Havia momentos em que eu achava que iria morrer. A dor nunca passava. Eu desejei a morte, eu implorei pela morte pelo simples fato de não conseguir lidar com aquela dor. Ela nunca passava. Parecia um bicho que lentamente me comia por dentro, até não restar mais nada, até destruir tudo por dentro. Era essa a sensação que eu sentia quando não tinha . Quando tudo estava mal era ele quem me abraçava e me acalmava, mas eu não o tinha mais. Eu tinha que suportar tudo aquilo sozinha. Eu achava que era independente, que sabia lidar com qualquer problema, mas a verdade é que eu sempre fui dependente das pessoas. Quando perdi meu pai surtei. Quando quase perdi July e Joseph também surtei. E agora estou surtando por ter perdido . Eu precisava dele, mas eu odiava essa dependência dele. Eu não conseguia mais dormir porque eu sabia que eu não o tinha mais, eu não sabia fechar os olhos sabendo que eu o tinha perdido. Ele nunca mais me ligou. Eu nunca mais o vi. Uma parte minha queria que ele lutasse, me procurasse, fizesse um escândalo. Outra dizia que era melhor assim, sem tumulto, sem brigas, somente a certeza do adeus. O que eu poderia fazer? A decisão foi minha, ele foi maduro o suficiente para aceita-la. Eu também precisava ser.


Toquei a campainha da casa do Dr. Smith. Demorou apenas dois minutos para que ele atendesse a porta. Quando me viu ele sorriu amável, como era de se esperar.
- Entre querida, hoje está um frio danado! – Ele disse enquanto me dava espaço para entrar. Sorri agradecida e fui para sala, sentei-me no sofá e esperei por ele. – Estou fazendo um chocolate quente, aceita?
- Sim, por favor. – Ele foi para a cozinha e eu esperei pacientemente na sala. O dia realmente estava muito frio, eu esfregava minhas mãos tentando espantar o frio. Minutos depois o Dr. Smith apareceu na sala com duas canecas de chocolates quentes.
- Está muito quente, é melhor deixar esfriar um pouco mais. – Disse enquanto me entregava a caneca. Concordei com a cabeça e coloquei a caneca em cima da mesa de centro, Dr. Smith repetiu minha ação.
- Obrigada.
- E então, como estamos hoje? – Dei um meio sorriso e voltei a esfregar as mãos.
- Não muito bem, mas estou decidida.
- É mesmo? E está decidida sobre o que?
- Não vou mais me lamentar, vou levantar a cabeça e seguir em frente. De verdade. A escolha foi minha não é mesmo? Então pronto.
- E como você se sente sobre essa sua escolha?
- Péssima. Há dias não consigo dormir direito porque acordo chorando e chamando por ele, vivo minha vida como um robô, eu sinto dor no estômago. Eu estou péssima.
- E por que você escolheu isso se lhe faz mal?
- Porque é o melhor para ele, eu não quero magoá-lo mais. não merece isso. – Somente ao falar o nome dele eu sentia vidros cortando a minha garganta. Eu queria vomitar. Eu sentia todos os piores sentimentos.
- , as pessoas se magoam e magoam os outros. Isso é normal, é a vida. Somos seres humanos e estamos sujeitos a magoar e sermos magoados. Não há nada que possamos fazer em relação a isso.
- Mas eu posso fazer. Eu posso evitar que isso aconteça.
- Sim, é claro. Mas você não pode também tirar o direito dele de escolher o que ele quer. E você tirou esse direito. Você o ama?
- É claro que sim.
- Ele te ama?
- Sim.
- Então o que impede de vocês ficarem juntos?
- Eu, Dr. Smith. Eu sou o problema.
- Não , você não é o problema, você está causando problema, essa é a diferença. Já conversamos a respeito do seu problema e você sabe que com o tratamento tudo pode seguir normalmente. Mas terminando com o e causando sofrimento a vocês dois é só mais um problema que você está causando para ele e para você. Inclusive para o seu tratamento. Isso está te fazendo mal, você não percebe? O relacionamento de vocês nunca será um problema, a não ser que você queira isso. – Eu escutava tudo em silêncio. Não sabia o que dizer. As palavras dele me deixaram ainda mais confusa sobre o que pensar. Ele tinha razão, mas eu também estava certa sobre a minha escolha. Queria chorar, mas sabia que aquela atitude seria muito infantil e não iria resolver em nada.
- Eu preciso ir, Dr. Smith. Eu tenho que trabalhar. – Inventei qualquer desculpa fingindo olhar no relógio. Ele não parecia estar convencido, mas ainda assim levantou-se e me levou até a porta. – Obrigada por tudo, até quarta.
- , pense no que eu disse. Você não pode decidir por ele. – Assenti com a cabeça e me despedi dele. Sai da casa dele o mais rápido possível. Tinha medo de continuar ali e acabar mudando de opinião e fazendo algo que no futuro pudesse me arrepender.


Enquanto dirigia até o trabalho eu pensava na minha conversa com o Dr. Smith. Eu não poderia negar que estava começando a mudar de opinião após a nossa conversa. Antes eu tinha certeza da minha escolha, acreditava que era a melhor decisão. Agora eu estava confusa. Os argumentos dele foram muito convincentes e acabou me confundindo. Estava ainda muito indecisa sobre o que fazer. Eu queria , meu corpo implorava por ele, eu não sabia mais viver sem ele. Mas ainda acreditava que essa decisão não era a melhor para ele. Porém ficava muito indecisa a respeito do que o Dr. Smith havia me dito. Eu estava mesmo tirando o direito de decidir sobre o que ele queria da vida? Eu o estava privando do direito de escolher entre ficar comigo ou não? Estava realmente causando problemas ao invés de solucioná-los? Tudo indicava que sim, mas também tudo indicava que não. Não queria ser impulsiva e agir sem pensar, poderia trazer ainda mais danos. Mas pensar demais não estava resolvendo nada e estava me dando ainda mais dor de cabeça. Sem saber qual atitude tomar acabei recorrendo a Deus. Pedi a ele uma solução para aquilo. Pedi a ele para que se fosse da vontade dele, se fosse o certo voltar com , então que ele me procurasse hoje. Poderia ser apenas uma ligação ou uma mensagem, qualquer coisa, mas que ele me procurasse. E se essa fosse a vontade de Deus, então eu seguiria. Muitos iriam me achar tola por recorrer a Deus e pedir isso a ele. Mas eu acreditava cegamente que ele iria me escutar e que então os meus problemas iriam se resolver. Não me sentia tola, na verdade me sentia bem. Cheia de esperança.
Estacionei o carro no estacionamento do meu trabalho, desliguei o carro e sai o trancando em seguida. Pela primeira vez, após voltar ao trabalho, eu estava me sentindo animada para ir trabalhar. Estava com vontade de fazer tudo da melhor forma. Eu não sabia ao certo o que tinha acontecido, mas aos poucos eu estava me sentindo bem. Sem dores e tristeza. Talvez tenha sido a minha conversa com o Dr. Smith ou talvez tenha sido minha conversa com Deus. Eu não sabia o que era, só sabia que estava feliz e eu amava me sentir assim. Porque quando eu me sentia assim, as coisas começavam a dar certo.


Ajeitei a bolsa no ombro esquerdo e andei apressadamente até o carro. O estacionamento estava vazio, havia sido a última a sair do trabalho. Já estava escuro e assustei-me quando vi um homem encostado no meu carro. Não consegui ver o rosto dele e aquilo acabou a deixando-me com medo. Apertei o passo e parei um pouco distante do homem.
- Com licença. – Pedi educadamente, mas estava receosa. O homem virou-se para olhar-me e então eu o reconheci. Era . Não pude deixar de sorrir. Aquela era a resposta que eu havia pedido a Deus. Só não imaginava que seria tão rápido.
- Oi . – Ele deu um meio sorriso. Aproximei-me dele com o coração acelerado. Eu estava tão feliz. Não sabia o que dizer.
- ? O que você faz aqui? – Perguntei quando fiquei frente a frente com ele.
- Eu vim conversar com você.
- Algum problema com Joseph? – Eu torcia mentalmente para que a conversa entre a gente fosse sobre nós dois e que terminasse com ele dizendo que queria voltar para mim.
- Não, está tudo bem com ele. – Notei que ele estava nervoso, achei fofo. Ele colocou a mão no bolso da calça e ficou em silêncio.
- E então... É sobre o que? – Ele finalmente olhou-me nos olhos. Seu olhar era vazio, ele tinha uma expressão desesperada na face. Não parecia bem.
- Eu não aguento mais viver assim, ! Eu não consigo viver sem você. Todos os dias acordo pensando em você e todos os dias durmo pensando em você. Isso tem me feito mal, não é assim que as coisas deveriam ser. Por favor, volta para mim. Nós podemos dar um jeito nisso juntos. Nada me magoa mais do que viver sem você. – Eu sorri. Não sabia se era alívio ou felicidade. Talvez os dois. Ele me olhou confuso ao ver o meu sorriso, mas eu não conseguia não deixar de sorrir. Estava feliz. me amava e ainda insistia em ficar comigo. Eu também o amava. Eu tinha a minha resposta. Havia pedido a Deus um sinal e ele me deu, eu não poderia mudar isso. É pra ser. Não posso mudar os planos de Deus.
Lentamente aproximei-me dele e o abracei com força. retribui o abraço e suspirou no meu ouvido. Parecia ser alívio ou felicidade. Talvez os dois. Assim como eu.
- Não diga que eu não te avisei. Eu sou encrenca. – Sussurrei no seu ouvido. Ele soltou uma gargalhada gostosa, uma gargalhada que me fez rir também.
- Eu sou apaixonada por você Arendi. – Ele sussurrou no meu ouvido fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.
- Não mais que eu , não mais que eu. – Beijei o seu pescoço e sorri satisfeita quando ele estremeceu. Começou a chover, mas aquilo não nos incomodou. Continuamos abraçados e nos acariciando. Tudo aquilo que estava acontecendo era muito bom, não queríamos mudar nada. Eu não queria mudar nada. Agora mais do que nunca eu tinha certeza que eu e fomos feitos para ficar juntos.


XXXVI - You make me feel like I'm livin' a teenage dream.




Enquanto sentia acariciar minha cintura, eu pensava na beleza que é amar e ser amada. Um sentimento tão puro que nos fazia ir além, que nos fazia sentir-se bem com pequenos gestos. Dividindo aquela cama com e o sentindo acariciar meu corpo eu vi o quão sortuda era por ter encontrado o amor. O verdadeiro amor. Eu seria uma tola se deixasse isso escapar das minhas mãos. Talvez nunca mais tivesse essa chance. E aí minha vida seria sem sentido, monótona. Viver sem amor é desesperador.
- No que você está pensando? – perguntou sussurrando no meu ouvido fazendo os meus pelos se arrepiarem. Ri baixinho e virei-me para olhá-lo.
- Eu estou pensando no quanto te amo... – Respondi, acariciando o rosto dele. Ele fechou os olhos ao sentir meu toque.
- Eu estou muito feliz, sabia? – Ele disse quando abriu os olhos, que brilharam para mim.
- Mesmo?
- Você não tem noção da felicidade que me proporciona . Você e Joe são as coisas mais importantes na minha vida.
Sem palavras, eu apenas o abracei e encostei minha cabeça no peito dele. Escutei os batimentos do seu coração. Estavam acelerados. Imaginei que o meu também estivesse. Eu não desejei mais nada da vida, nada além de na minha vida. Não queria estar em outro lugar. Era ali que eu pertencia, nos seus braços. O meu futuro estava com ele, eu sabia disso. E eu iria conquista-lo. Iríamos nos casar, construir uma casa juntos, ter um filho. Como qualquer casal bobo. E era isso. Eu não me importava de ser julgada como boba. Eu estava feliz e era isso que importava para mim.

- PANQUECAS SAINDO! – Gritou July colocando panquecas sobre a mesa. Sentei-me a mesa ao lado de Joseph e sentou a minha frente. July colocou o café na mesa e sentou-se ao lado de .
- Está maravilhosa, July. – Disse após comer um pedaço da panqueca.
- Muito gostoso. – Disse Joe com a boca cheia.
- Está de parabéns, July! – Elogiou .
- Nossa gente! Me senti “A” cozinheira agora! Obrigada.
- É, mas não podemos demorar né Joe? – Apressei Joseph que passou a comer mais rápido. - Não se preocupe , eu o deixo lá. Pode ir direto para o trabalho.
- Ah! Que cabeça a minha. – Bati levemente na minha testa. – É claro. Obrigada . – Ele assentiu com a cabeça e continuou a comer. Observei minha família sentada à mesa saboreando a panqueca que minha melhor amiga quase irmã havia feito. Eles estavam felizes. Não precisavam sorrir para saber que estavam felizes. Os olhos deles me diziam isso. Eles brilhavam de satisfação. Eles se olhavam com carinho e respeito. Pela primeira vez eu senti que tinha uma família. Uma família de verdade, uma família que tem amor. Sorri disfarçadamente e voltei a comer. Secretamente meu peito explodia de felicidade. Eles sequer imaginavam a imensa alegria que me proporcionavam.


O meu dia no trabalho estava sendo entediante. Não havia nada para fazer e aquilo me dava ainda mais vontade de ir embora, porém era preciso ficar ali até dar a minha hora de ir embora. Consultei o relógio mais uma vez e sorri ao ver que faltavam quinze minutos. Comecei a desligar o meu computador e arrumar minhas coisas, ansiosa para ir embora e ver minha família. Meu celular apitou anunciando que havia uma nova mensagem. O peguei e vi que a mensagem era de . Mesmo sem saber o conteúdo, eu sorri.
“Acredita que já estou morrendo de saudades? Te amo
O meu sorriso alargou, como se fosse possível.
“Acredito, pois eu também estou morrendo de saudades. Te amo mais. P.S.: Já estou chegando em casa.”
Respondi apressadamente a mensagem e peguei minha bolsa. Sai da sala, me despedi também de forma apressada dos meus amigos de trabalho e corri até o estacionamento. Não sabia ao certo o que estava acontecendo comigo, mas eu estava ansiosa demais para chegar em casa. Algo dentro de mim dizia que eu deveria sair daquele lugar o mais rápido.
Entrei no elevador e fiquei esperando impacientemente até que chegasse ao estacionamento. Quando a porta abriu, sai rapidamente do elevador, mas foi só eu dar alguns passos e então parar imediatamente. Fiquei boquiaberta e completamente surpresa e sem reação quando vi . Ele segurava um imenso buquê de rosas coloridas e um urso gigante no outro braço. No chão estava escrito com rosas vermelhas um “Casa comigo, Arendi?”. Meu corpo começou a tremer e isso era apenas um sinal de que daqui a pouco eu iria começar a chorar. Lentamente aproximei de , ainda de boquiaberta.
- ... Eu sei que você já sabe disso, mas eu amo você! Eu amo dormir e acordar com você, eu amo a maneira carinhosa como você me trata e trata as pessoas que são próximas de você, eu amo o jeito protetor que você tem, eu amo essa sua força, eu amo o seu altruísmo. Eu amo quando você me abraça, me beija, me acaricia. Eu amo passar meus dias com você. Eu amo os seus olhos, o seu sorriso, eu amo quando seus olhos sorriam junto com seus lábios, eu amo o seu cabelo sempre tão macio e cheiroso, eu amo o seu cheiro tão viciante, eu amo os seus lábios, eu amo a forma como me olhar. , eu me imagino casando com você, tendo filhos com você e uma casa grande pra mim, pra você, para o Joe, os nossos filhos, os nossos cachorros. Eu não consigo imaginar um futuro em que você não está. Eu não me imagino sem você. Eu sei que você acredita que não devemos ficar juntos, que você tem muitos problemas e que isso só irá nos prejudicar, mas eu não vejo dessa forma. Eu acho que isso irá nos fortalecer. Eu quero te ajudar a superar tudo isso. – Ele aproximou-se de mim e me deu o buquê e o urso. Com as mãos trêmulas eu os peguei. Já sentia lágrimas rolando pelo meu rosto e o meu coração acelerado. – Eu quero mostrar que eu posso ser seu namorado, marido, amante, mas também o seu amigo. O cara que te apoia, que te ajuda, que cuida e ama. Me deixa cuidar de você? Deixa eu te amar? Deixa eu te mostrar que viver uma vida a dois é muito melhor do que viver uma vida sozinho? Eu preciso de você, eu quero você. – Ele tirou do bolso uma caixinha de veludo vermelha, ajoelhou-se a minha frente e abriu a caixinha mostrando um anel com uma pedra brilhante. – Você quer se casar comigo, Arendi? – Meu coração disparou. Eu parecia não entender muito bem o que acontecia a minha volta, meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu já não enxergava muito bem. Minhas mãos tremiam tanto que acabei deixando cair o buquê e o urso, estava tão sem força que sequer havia abaixado para pegá-los. me olhava esperando por uma resposta. Eu podia ver o medo nos olhos dele. O medo do não.
Mesmo sem forças, forcei-me para ajoelhar a frente dele. Ele me olhou sem entender e eu apenas sorri.
- Eu aceito, meu amor. Eu aceito. – Disse baixinho para que somente ele escutasse. Pude ver seus olhos brilharem e o sorriso mais bonito que já tinha visto em toda minha vida aparecer na face do homem mais belo que mais amei em toda minha vida. Ele colocou o anel no meu dedo e percebei que ele também tremia. Guardou a caixinha no bolso, segurou meu rosto com todo carinho e beijou-me. Não era um beijo caloroso, nem rápido. Era apenas os nossos lábios se encostando e selando aquele belo pedido. Era apenas a vontade de nos sentir, sem pressa, sem malícia. Apenas amor.


O champanhe estourou e nós comemoramos. colocou champanhe nas nossas taças. Todos riam, todos estavam felizes. Erguemos nossas taças e fizemos um brinde.
- A e ! – Gritou July, e então nós brindamos. pegou Joseph no colo para que ele também pudesse brindar com o seu copo de refrigerante.
- Este dia ficará na memória!
- Disse - Com certeza! – Concordei e pisquei para ele, o abracei pela cintura e encostei minha cabeça no peito dele. Joe sorriu para mim.
- Então é verdade? Vocês vão mesmo se casar? – Joe perguntou pela quinta vez, ainda sem acreditar que era realmente verdade.
- Sim, Joe. Eles vão. Não é maravilhoso, meu amor? – July respondeu por mim e por . Ela estava elétrica, tinha um sorriso imenso nos lábios. Fiquei tão feliz por saber que eu tinha pessoas que me amavam a ponto de estarem felizes por eu estar feliz.
- Ebaaa! – Joe comemorou levantando os bracinhos. Nós rimos realmente achando graça da felicidade dele. Olhei carinhosamente para o meu futuro marido e mentalmente o agradeci pelos maravilhosos momentos que ele me proporcionava. Antes de minha vida era cinza, monótona, triste. Quando ele chegou pôs cor na minha vida, deu um sentido, transformou a minha casa em um lar, um lar de tranquilidade. Trouxe amor, harmonia. Ele veio e fez a diferença na minha vida e nas vidas das pessoas que eu amo. Ele me transformou, me tornou uma pessoa melhor. Eu não só amava aquele homem, mas também o admirava. Ele era o meu príncipe, o meu futuro marido. Não havia sido um erro ter me entregado a ele, ter escolhido ficar com ele e, principalmente, ter aceitado me casar com ele.


XXXVII – I want you stay with me.


- Já decidiu como vai ser o vestido? - July perguntou enquanto anotava no bloco de anotações coisas que eu já havia decidido sobre o casamento e coisas que eu ainda iria decidir.
- Eu pensei em usar um vestido simples, tomara que caia. Ainda não tenho muita certeza. - Passei geleia na torrada e me preparei para outra pergunta de July.
- Ok, vestido simples, tomara que caia acho bacana. Mas como você quer o seu casamento? Se fizer ''A Festa'' não vale a pena usar um vestido simples, né? - Balancei a cabeça negativamente e engoli a torrada para falar.
- Não quero nada glamoroso July. Primeiro porque não conheço tanta gente assim para fazer algo glamoroso, segundo que não tenho dinheiro o suficiente. Eu pensei mesmo em algo mais simples e íntimo. Eu quero fazer a cerimônia à tarde num lugar bem bonito e florido! Algo simples, porém encantador. Consegue imaginar?
- Eu acho que sim! Você já tem algum lugar em mente?
- Não... Aqui em casa o jardim é acabado, não ficaria bom. Não tenho a mínima ideia. - Fiz bico, exatamente como uma criança de cinco anos faz quando não consegue o que quer.
- Não se preocupe querida, eu tenho o lugar perfeito pra você. - Ela segurou minha mão e piscou sorridente.
- Sério? E onde seria esse lugar perfeito? - Perguntei ansiosa.
- Não irei te falar agora, pois será uma surpresa. Não quero que se preocupe com nada, só me diga como você quer o seu casamento e eu, e Joseph iremos fazer o casamento dos seus sonhos. - Sorri emocionada com toda a preocupação que minha amiga estava tendo para fazer o casamento perfeito para mim.
- Eu não sei como te agradecer, você é a melhor amiga do mundo.
- Amigos são para isso! Agora me conte como se está se sentindo em saber que logo irá casar?
- Ansiosa. Não me sinto assustada como imaginei que iria me sentir, eu só estou ansiosa. Quero casar logo, ter o casamento dos meus sonhos com as pessoas que eu mais amo. Ter uma vida com , ter filhos. Meu Deus! Como eu quero ter filhos. Eu quero ter a minha vida com ele, uma família. Eu me sinto tão sortuda, tão feliz. - A cada palavra July sorria. Saber que a sua felicidade era também motivo de felicidade para outra pessoa e não de inveja, era muito bom.
- Eu estou tão orgulhosa de você, querida. Eu quero mais que tudo no mundo que você seja feliz. Você merece isso.
- Você também merece isso. E tenho certeza que logo será a sua vez e ficarei muito feliz por estar lá. E também vou te ajudar, exatamente como você me ajudou.
Não dissemos mais nada, apenas sorrimos. Aquela era uma amizade de anos. Nada destruiu aquele laço, July não era só minha amiga, mas também minha irmã. Foi também minha mãe. Era a amizade mais verdadeira que alguém poderia ter. Eu não precisava dizer muitas coisas, ela me conhecia apenas com um olhar. Ela era o meu braço direito. Sem ela eu estava incompleta.

Quando cheguei a casa estranhei ao ver a casa toda apagada. Eu tinha acabado de chegar do trabalho, então era óbvio que Joseph e estariam em casa. Era provável que July também estivesse, porém ela poderia ter saído ou algo do tipo. Entrei em casa desconfiada e acendi a luz da sala. Surpreendi-me ao ver caminhos de rosas coloridas me guiando até a escada. Tinha um bilhete no início do caminho. Sorri ao imaginar quem seria o responsável por aquilo, coloquei minha bolsa em cima do sofá e abaixei-me para pegar o bilhete. Ele era rosa e tinha o formato de um coração, consegui definir a letra de dentro do bilhete. Nele dizia:
“Sei que estamos noivos e vivendo a loucura de preparar um casamento, mas nada me impede de preparar uma surpresa para minha futura esposa linda. Não é mesmo?
Ri baixinho e corri para buscar o outro bilhete que estava no primeiro degrau da escada. Esse era da cor vermelha.
“Já disse o quão linda você está hoje? Na verdade, você está sempre linda, mas hoje em especial está mais.”
Sentimental do jeito que eu era, lágrimas já começavam a acumular nos meus olhos. Subi os degraus coberto por rosas coloridas. Como eu já imaginava, eles me guiavam até o meu quarto. Tinha um bilhete na porta do meu quarto, a cor era roxa. A minha cor favorita. Abaixei e peguei com as minhas mãos trêmulas o bilhete.
, eu estou muito orgulhoso de você. Pela mulher que você é e pela mulher que está se tornando. Você é a mulher que eu quero para ser mãe dos meus filhos. Eu te amo muito. Obrigada por aceitar ser minha para sempre. Nem sempre é fácil, meu amor, mas eu estou aqui para sempre.”
Eu já chorava copiosamente. Aquele homem tinha o poder de me emocionar com poucas palavras. Lentamente eu abri a porta do meu quarto. Surpreendi-me com o que vi e cobri minha boca que provavelmente estava escancarada. havia colocada pisca-pisca no meu quarto todo. As paredes estavam cobertas de fotos nossas e frases. Na cama tinha escrito um “Eu te amo” com rosas e pequenos corações com rosas vermelhas. No chão tinha algumas velas decoradas. estava no canto do quarto com as mãos no bolso da calça jeans, ele usava uma blusa social rosa e tênis preto. Minha roupa favorita. Aproximei-me dele ficando a centímetros de distância. Ainda não tinha conseguido parar de chorar. Ele me olhava carinhosamente.
- Você gostou? – Ele sussurrou a pergunta. Colocou suas mãos no meu quadril e colou o seu corpo no meu.
- Isso... Tudo... É... Para... Mim? – Não consegui falar uma frase inteira, pois chorava copiosamente. Ele riu baixinho e assentiu com a cabeça. – Eu amei! – Ele me envolveu nos seus braços e começamos a dançar, sem música.
- Você merece, meu amor. – E então ele cantou ‘’Band aid’’ da Pixie Lott no meu ouvido. sabia que eu amava aquela música e que eu dizia que era minha música para ele. Fiquei feliz por saber que ele ainda se lembrava e se importava. Sua voz não era de um cantor famoso, mas ainda assim era o meu tom de voz favorito. A cada palavra eu me arrepiava. Dançávamos lentamente, sendo apenas guiados pelo som da voz de . Ele acariciava meu quadril e eu, completamente extasiada pelo momento, não conseguia fazer nada a não ser deixar que ele me guiasse. Aquele era o melhor dia da minha vida.


No dia seguinte havia acordado bem mais cedo que . Após o sonho que eu tivera com o Dr.Smith estava decidida a ir até a casa dele. Meu coração acelerado já demonstrava a minha ansiedade. Levantei da cama com cautela para não acordar e vesti minha roupa. Fui até o banheiro na ponta do pé e lavei, escovei meus dentes e penteei meu cabelo. Quando finalmente estava pronta, desci a escada e peguei minha bolsa. Tirei de lá a chave do meu carro e sai de casa. Entrei no carro, o liguei e dei partida. Não liguei o som, pois tinha pressa. Eu queria fazer aquele pedido a ele antes que eu me arrependesse.
Quando parei em frente à sua casa, desliguei o carro e sai apressadamente. Toquei a campainha da sua casa sem me importar com a hora e se ele estaria ou não acordado. Eu tinha um pedido importante para lhe fazer. Ouvi passos arrastados se aproximando e então abriram a porta. Para minha felicidade era o Dr.Smith, que já estava vestido e também parecia estar acordado há um tempo. Assim que me viu ele sorriu e olhou-me com curiosidade.
- Bom dia, Dr. Smith! Desculpe vir tão cedo, mas eu precisava mesmo falar com o senhor.
- Bom dia, querida. Não precisa se preocupar, eu sempre acordo cedo. Entre, por favor.
- Eu estou com pressa, está lá em casa.
- Ah, tudo bem. – Ele sorriu gentilmente. – Então, o que você tem de tão importante para me contar?
- Dr. Smith... – Comecei a falar de forma hesitante. Eu estava envergonhada e receosa. E se talvez ele não aceitasse o meu pedido? – O senhor aceita entrar comigo na igreja? – Disse de uma vez, ainda sem coragem para olhá-lo. Ele não disse nada e aquilo me deixou ainda mais nervosa. – O senhor tem me ajudado muito. Graças ao senhor eu e iremos nos casar, e como o senhor sabe, eu não tenho pai. Então seria muito importante entrar na igreja com o senhor. – Justifiquei-me tentando mostrar a ele que aquele não era um pedido de todo louco. Levantei os olhos para olhá-lo. Os olhos dele brilhavam e ele sorria emocionado.
- Será um prazer, minha querida.


XXVIII - If it wasn't for you I'd be alone.


Parada em frente ao quarto da minha mãe eu pensava se aquela era a minha melhor decisão. Será mesmo que eu não estaria cometendo um erro em ir visitá-la? Não sei o que tinha acontecido comigo naquele dia, mas estava decidida em visita-la e contá-la que irei casar com . Mas agora, estando tão próxima dela, eu não estava mais tão decidida assim. Eu não sei qual seria a sua reação. E se fosse ruim? Talvez eu não estivesse tão preparada para enfrentar aquilo. Visitá-la poderia trazer sentimentos ruins à tona e eu não queria estragar tudo agora. Não mesmo!
- Você não vai entrar? – A enfermeira perguntou após notar que eu estava há mais de um minuto parada em frente à porta do quarto da minha mãe. Olhei para ela e pensei na resposta que daria a ela. Sim ou não?
- Sim. – Sorri educadamente e ainda hesitante abri a porta. Era a hora de enfrentar os meus demônios.
Ela estava sentada na cadeira de madeira em frente a uma escrivaninha lendo um livro. Não consegui ler o nome, mas fiquei surpresa só por vê-la lendo. Poucas foram às vezes em que a vi lendo algum livro. Quando escutou o barulho da porta ela virou-se para me olhar. Estava tão diferente da última vez em que a tinha visto. Ela não tinha uma aparência sombria, ela não me fez sentir mal somente a olhá-la. Phoebe tinha um semblante tranquilo, parecia estar em paz. Ela sorriu minimamente para mim. E aquele pequeno gesto acendeu um sentimento tão bom dentro de mim.
- Oi. – Disse timidamente. Fechei a porta do quarto e cautelosamente me aproximei.
- Oi , sente-se, por favor. – Ela disse de forma doce. Fazia muito tempo que eu não a escutava falar daquela forma e me chamar pelo apelido. Sentei na beirada da cama e a olhei. Ela tinha fechado o livro e o colocado em cima da escrivaninha, deixando claro que estava me dando total atenção.
- Como você está?
- Eu estou bem e você?
- Também. – A nossa conversa era mecânica. Estava claro que nós duas estávamos desconfortáveis.
- E o Joe, como está? – Percebi que ela não perguntou por educação, ela realmente parecia estar interessada.
- Está bem, crescendo muito rápido. Muito animado com a escola também.
- Ah que bom! – Um silêncio se seguiu. Eu não sabia como dizer a ela sobre o casamento, tinha medo da sua reação, tinha medo de estragar tudo.
- Phoebe... – Ainda não conseguia chama-la de mãe. – Você sabe que não venho aqui há algum tempo, mas é porque tive alguns problemas pessoais.
- Mas está tudo bem agora? – Ela me interrompeu demonstrando preocupação.
- Sim, agora está tudo bem. Enfim, eu vim aqui por um motivo. Eu queria te dar uma notícia.
- E qual notícia seria?
- Em alguns dias irei me casar com o , o professor do Joseph. – Mais uma vez um silêncio instalou-se entre nós duas. A princípio ela me olhava sem reação, o que me preocupou, mas depois um sorriso foi aparecendo nos seus lábios e então eu vi seus olhos encherem-se de lágrimas. Para mim aquela havia sido a cena mais emocionante e chocante da minha vida. Phoebe, a mulher que é a minha mãe, mas que nunca fez papel de uma, estava emocionada porque eu iria me casar.
Ela levantou-se da cadeira, ajoelhou-se na minha frente, segurou minhas mãos, olhou dentro dos meus olhos e me abraçou. Eu jurava que poderia sentir um amor naquele abraço, algo que eu nunca senti com ela, algo que eu nunca senti com ninguém. Um amor de mãe. Meus olhos encheram-se de lágrimas e não demorou muito para que elas caíssem. Meu coração acelerado parecia que iria explodir de felicidade.
- Eu estou tão feliz por você, minha filha. – Sussurrou no meu ouvido enquanto alisava o meu cabelo. Eu a abraçava com tanta força, estava com medo de que esse momento acabasse, eu não queria perder aquilo por nada naquele mundo. – Por favor, me deixe ir ao seu casamento. - Ela implorou ainda abraçada a mim. Sorri com o seu pedido. Como negar após tudo o que aconteceu?
- É claro que sim, é claro que sim. – Continuamos abraçadas por um tempo. Depois me despedi dela avisando que ainda teria umas coisas para resolver. Abraçamo-nos novamente e eu fui embora. Algo dentro de mim crescia cada vez mais rápido, um sentimento bom, uma esperança, fé na vida.


Quando cheguei a casa de July, e Joseph já estavam colocando a comida na mesa. Joguei minha bolsa em cima do sofá e fui até a cozinha. O cheiro do macarrão à bolonhesa entrou nas minhas narinas fazendo meu estômago roncar. Eles me olharam com curiosidade quando eu me sentei na cadeira ao lado de e Joseph e beijei Joe no rosto. Dei um selinho em .
- Posso saber onde a senhorita estava? – Perguntou July fingindo-se de brava e colocando as duas mãos na cintura. Eu ri baixinho e ela sentou-se na cadeira a minha frente.
- Eu fui resolver umas coisas. – Disse enquanto dava meu prato a para que ele pudesse me servir.
- E que coisas são essas? Podemos saber? Desde cedo que a senhorita anda misteriosa, não é porque vai casar que vai ficar assim não, viu?! – A princípio eu só ri, não respondi a sua pergunta. Mas pude notar que enquanto me servia que ele me olhava pelo canto do olho. Hesitei em contar a verdade, pensava se seria uma boa ideia.
- Eu fui visitar minha mãe. – Esperei que servisse todo mundo para dizer, pois tinha medo que ele pudesse deixar o prato cair no chão. Como imaginei, todos, exceto Joseph que parecia muito concentrado na sua comida, olhavam-me surpresos e nada diziam.
- Sua mãe? – Perguntou July.
- Sim, minha mãe. Phoebe.
- E como foi? – perguntou. Mais uma vez hesitei na resposta. Tinha medo que eles não pudessem entender o que realmente tinha acontecido hoje e que pudessem estragar esse momento.
- Foi... Incrível. Ela estava tão diferente, com um aspecto mais tranquilo. Tratou-me bem, me chamou de filha, perguntou pelo Joe. Parecia estar realmente preocupada com nós dois. Eu falei para ela sobre o casamento e ela chorou, disse que queria muito ir.
- E o que você disse?
- Eu disse que sim, que a queria no meu casamento. – July e me olhavam e eu não conseguia definir a expressão deles, e isso estava me deixando cada vez mais agoniada.
- Eu estou tão feliz por você. – July disse colocando a mão em cima da minha.
- Eu sei o quão importante isso é pra você e estou muito feliz por isso, você merece! – colocou a mão em cima da minha outra mão. Sorri emocionada para os dois e sem ter como agradecê-los, apenas levantei da cadeira e beijei cada um dos dois.


- E como você quer que seja a sua vida comigo? – Perguntou acariciando minha cintura. Tentei me concentrar na sua pergunta e não nos arrepios que ele estava me causando.
- Eu quero que seja tranquila, não imagino nada muito glamoroso. Imagino eu, você, Joseph e nossos filhos numa casa confortável, uma casa em que possamos chamar de lar. Que possamos nos amar e nos respeitar. Sei que haverá conflitos, como em todo lugar, em toda casa, em toda família. Mas sei que o nosso amor e o respeito que teremos um pelo outro será maior do que qualquer problema. Eu só quero ser feliz ao lado de vocês. E tenho certeza que irei. – Disse tudo olhando nos seus olhos. Ele sorriu docemente para mim e colocou um fio de cabelo atrás da minha orelha, acariciou o meu rosto e fixou seus olhos nos meus.
- Eu me imagino sentado no sofá assistindo filme com você, Joseph e nossos filhos. Eu me imagino acordando todos os dias ao seu lado, sentindo o seu cheiro, beijando a sua pele. Eu me imagino passando finais de semanas em família com você. Eu me imagino indo dormir todos os dias feliz por ter a certeza de que no dia seguinte você estará ao meu lado e será para sempre minha. – Após ouvir com atenção cada palavra dele, eu colei meu corpo no dele.
- Logo o nosso grande dia chegará e ele será perfeito.
- Como você merece.
- Como nós merecemos. – Nós sorrimos compartilhando a nossa felicidade. Passei a perna pela cintura dele e fiquei por cima de . Ele sorriu maliciosamente e me beijou. Abri os olhos no meio do beijo e o observei. Ele era tão lindo que me tirava o fôlego. Mas não era o seu físico em si que me atraia, mas também o seu interior, a bondade que ele tinha. Fechei os olhos e sorri entre o beijo. Eu tinha certeza que passar o resto da minha vida ao lado dele foi a melhor decisão que eu tomei, ele definitivamente era o amor da minha vida, o melhor homem que algum dia eu sonharia em conhecer. Quando sua língua entrou em contato com a minha e eu pude sentir o maravilhoso gosto de hortelã, eu decidi que era aquele o meu sabor favorito no mundo e que eu queria senti-lo para sempre. Sua mão tocou a minha pele e lentamente arrancou minha camisola e eu descobri que aquela era a melhor sensação do mundo. Quando ele me jogou para o lado e ficou por cima de mim, prensando o seu corpo no meu, eu tive a certeza que aquele era o melhor lugar do mundo. Nos seus braços.


XXXIX - You’ll always be a part of me.


- Meu Deus! Você está linda. – July disse quando eu sai do vestuário. Olhei para o meu vestido de tomara que caia branco e fiquei feliz por saber que havia feito uma ótima escolha. O vestido era uma das coisas mais importantes e eu não poderia errar.
- Obrigada. – Alisei o vestido e o admirei mais uma vez. Ele era justo até a minha cintura e tinha um bordado muito delicado que ia do meio do meu decote até o meu quadril. O decote valorizava os meus seios. Não tinha cauda, mas era acompanhado por luvas brancas. Era realmente encantador, toda vez que eu olhava para ele eu me imaginava casando com .
- Não, sério! Você precisa ficar com ele, é perfeito pra você. – Sorri grata para minha amiga e voltei para o vestuário. Com cuidado tirei o vestido e vesti minha roupa. Sai do vestuário e entreguei o vestido perfeito para a vendedora.
- Então é esse?
- Sim, esse mesmo. Quanto está?
- Hm, ele está saindo por cinco mil. – Quando a mulher disse o preço do meu vestido não tão perfeito assim, eu me engasguei com a minha saliva e olhei decepcionada para July. Estava pronta para recusar, quando July foi mais rápida e me interrompeu.
- Tudo bem, nós levaremos. – A vendedora sorriu animada e foi até o caixa. Virei-me para July e a encarei surpresa.
- July, você está doida? Eu não tenho dinheiro para isso.
- Não se preocupe com isso, querida. Eu irei lhe dar.
- Não, July, é muito caro. Você não pode fazer isso!
- Você merece, . Eu nunca iria me perdoar se você não se casasse com usando aquele vestido. – Sem saber como lhe agradecer, eu a abracei apertado. July me abraçou também.
- Muito obrigada, você é maravilhosa. – Disse quando me separei dela.
- Não precisa me agradecer por isso. Agora vamos pagar o seu vestido perfeito se não iremos perdê-lo. – July disse quando viu que outra menina já olhava admirada pelo vestido. Ri e cruzei meu braço no dela, indo em direção ao caixa.


Joseph e eu assistíamos TV. Estava apenas nós dois. havia ido visitar a família e July havia saído com as amigas. Apenas eu e o meu pequeno. Tinha sentido falta de passar um momento a sós com ele, fazia tempo em que não fazíamos isso.
Olhei para o ele que parecia muito concentrado no filme do Madagascar, e meu peito encheu-se de orgulho. Estava crescendo tão rápido e conseguindo superar todas as dificuldades de sua doença. Cada dia mais me surpreendia com a sua força de vontade. Quando notou que estava sendo observado, ele virou-se para mim e sorriu quando me flagrou.
- O que foi?
- Nada, só estou vendo o quão lindo você é. – O agarrei e o enchi de beijos. Joseph gargalhava gostosamente nos meus braços.
- Irmã, quando você se casar eu vou morar com quem?
- Comigo, meu amor.
- Mesmo?
- É claro que sim. O que você acha disso? – O coloquei no meu colo e só então percebi que ele realmente estava muito grande. Ele me olhava sorridente com um brilho intenso nos olhos. Sempre acreditei que Joseph carregava uma luz, alguma energia boa, pois sempre que eu estava perto dele eu me sentia bem.
- Eu acho muito bom. Eu amo você e amo o . Quero morar numa casa grandona com vocês e ter um cachorro e irmãos! – Ele disse os seus desejos sem saber que aqueles eram os meus desejos e os de . Quando ele disse que queria ter irmãos eu me arrepiei. Joseph estava cada dia mais me vendo como a mãe dele e aquilo era bom para mim. Eu sempre o vi como meu filho. Ele era uma criança tão adorável, tão doce. Mesmo sendo tão novo ele parecia saber demais das coisas.
- Eu prometo que te darei tudo isso, meu anjo. Você terá uma vida feliz.
- Eu irei ver Phoebe no seu casamento? – Ele me perguntou seriamente. Pensei na sua pergunta e no que seria melhor respondê-lo. Eu estava bem com a minha situação com Phoebe, mas será que Joseph estaria? Ele havia sofrido muito mais que eu e ainda era uma criança para assimilar tudo.
- Você quer vê-la? – Ele pensou um pouco antes de responder.
- Sim, eu quero.
- Então você a verá.
- Mas ela não vai fazer nada comigo né?
- Eu prometo que nem ela e nem ninguém irá fazer nada com você, meu bem. – Ele assentiu com a cabeça e me abraçou. E nem a Summer. Disse mentalmente. Prometi a mim mesma que não iria fazer nada para destruir a felicidade das pessoas que eu amo. Eu iria proporcionar a eles os melhores momentos, pois eles também me proporcionaram momentos maravilhosos.
Abraçada ao meu irmão e acariciando seu cabelo, eu via o quanto o amor pode transformar as coisas. Sozinha não iria conseguir lidar com nada disso. Sem amor eu não iria enfrentar dias tão complicados pelos quais eu passei. Mas eles eram o motivo da minha força, eles que me faziam querer lutar todos os dias. Era por eles que eu vivia. Era por eles que eu era feliz.


Era o meu grande dia. O meu coração batia desesperadamente enquanto me olhava no espelho. Eu estava usando o meu vestido perfeito do casamento. Meu cabelo estava preso num coque que deixava alguns fios soltos, pequenas flores estavam no meu cabelo o enfeitando. A maquiagem não era pesada justamente para combinar com o tema do casamento. O perfume era o favorito de . Estava tão ansiosa que me sentia enjoada. Ainda não sabia como estava a decoração do meu casamento, July não permitiu que eu visse, apenas me disse para lhe contar exatamente como era o meu casamento dos sonhos e providenciou tudo. Pegou o sítio da avó dela emprestado com a mãe, me levou pra lá e me trancou no imenso quarto que era da avó dela e depois sumiu. Passei dois dias sendo cuidada naquele quarto. Mulheres iam levar a minha comida, fazer massagem, limpeza de pele, minhas unhas, cuidar do meu cabelo, maquiagem. July havia providenciado tudo junto com . Ela dizia que eu não poderia me estressar com os preparativos do meu casamento e eu tinha confiança nela o suficiente para saber que seria perfeito. Mas ainda assim me olhando no espelhando e me vendo já pronta para descer e casar, eu me sentia insegura. Uma vozinha chata falava na minha cabeça que eu não estava preparada para casar, que eu iria destruir a minha vida com , que eu não seria boa o suficiente como esposa. E essa maldita voz me assustava, me deixava com vontade de chorar e abrir mão de tudo. Porém outra voz na minha cabeça dizia que eu não precisava me preocupar, que tudo iria dar certo, que eu e seriamos felizes. E essa voz me prendia naquele quarto.
Pela primeira vez observei o quarto e vi o quão aconchegante e bonito era. Tinha um papel de parede de flores, uma cama de casal com uma roupa de cama clara e muitos travesseiros. Uma penteadeira com muitas fotos. Uma janela que dava vista para a montanha e uma cadeira de balanço. Aproximei-me da penteadeira e peguei um porta retrato. Era uma foto da avó da July com o falecido marido dela. Eles estavam abraçados e se beijando, em frente a eles havia uma mesa com um enorme bolo confeitado com o número 50. Imaginei que fosse a boda de ouro deles. Eles pareciam tão felizes, olhando aquela foto era possível notar o amor e respeito que tinham um pelo outro. E então imaginei se algum dia eu e iríamos completar cinquenta anos juntos. Se o nosso casamento será igual ao deles. Eu desejei que sim. Fiz um pedido para Deus. Pedi a ele que eu tivesse um casamento feliz, onde houvesse amor e respeito. Era isso que eu mais queria. Não gostaria de ter um casamento como os dos meus pais ou uma vida que minha mãe teve. Eu merecia mais, sentia que sim.
Assustei-me quando a porta se abriu. Estava tão absorta em pensamentos que havia me esquecido de tudo. July entrou no quarto, desesperada e fechou a porta.
- O que você está fazendo? Desça logo, pelo amor de Deus! está quase tendo um infarto ali em baixo. – Não respondi nada, pois não sabia o que dizer. Mas assim que ela viu que eu segurava o porta-retratos dos avôs dela, ela sorriu tristemente e aproximou-se de mim. Pegou o porta-retratos que estava em minhas mãos e olhou. – Eles eram tão gentis um com o outro. Era o tipo de casal que víamos que nasceram para ficar juntos. – Com delicadeza ela passou os dedos sobre a foto, depois colocou no peito, fechou os olhos e apertou. Suspirou e colocou o porta-retratos no mesmo lugar de onde eu havia tirado.
- Eu estou com medo, July. – Disse com a voz trêmula. Ela olhou-me desconfiada e disse:
- Medo de que?
- Medo de não dar certo, medo de não ter uma vida feliz, de estragar tudo, de não ser boa o suficiente. Medo de ter uma vida que a minha mãe tem. Medo de ter um casamento igual o dela. – Ela me olhou compreensiva e sorriu. A princípio não entendia o porquê de ela estar sorrindo. Ela acariciou meu rosto gentilmente e olhou dentro dos meus olhos.
- Minha querida, você não precisa ter medo. Eu tenho certeza que você terá uma vida linda ao lado de , tenho certeza que o seu casamento será como os dos meus avós. Você merece isso e tenho certeza que terá.
- É o que eu mais quero, July.
- Então desça e vá atrás do que deseja. O casamento dos seus sonhos está lá embaixo te esperando. – Dei um abraço rápido na minha amiga, nos olhamos rapidamente e sorrimos.


Quando desci a escada eu vi o Dr. Smith me esperando. Sorrimos cúmplices um para o outro e entrelacei o meu braço no dele, enquanto a outra mão segurava o buquê. Saímos da casa e seguimos para o jardim. O sítio era lindo e bem cuidado. Tinham árvores e flores em todos os lugares. Quando chegamos ao jardim meus olhos encheram-se lágrimas quando eu vi a decoração do lugar. Um tapete vermelho seguia até o altar que era de madeira e todo decorado com flores. Os bancos eram também de madeiras e tinha um pano de seda lilás em cada banco decorando. As árvores repletas de flores davam um toque romântico ao lugar. Passarinhos cantavam e ainda tínhamos uma linda vista das montanhas. Quando a priminha de entrou vestida com um lindo vestido lilás e jogando rosas, as pessoas levantaram-se e os músicos começaram a tocar. Eram poucas pessoas, apenas as mais importantes. Primeiro vi Phoebe usando um vestido azul claro longo, seu cabelo estava solto e ela usava uma maquiagem leve. Assim que me viu ela sorriu feliz. Percebi que lágrimas escorriam dos seus olhos, controlei-me para não chorar também. Depois vi July usando o seu vestido de madrinha lilás, assim que me viu ela piscou sorridente. Sorri de volta. Ao lado de July estava a esposa do Dr.Smith, usando o vestido parecido com o de July. Vi Christian usando um smoking, ao lado do seu tio. Os dois sorriam para mim. Eles eram os meus padrinhos. E eu estava tão feliz pela minha escolha. Aquelas são as pessoas mais importantes da minha vida, foram elas que fizeram parte da minha história com . E até mesmo antes dele.
E por último eu o vi. Ele estava ainda mais lindo. Não tirava o sorriso do rosto e tinha uma aparência tão tranquila, diferente do que July havia me dito. Nós sorrimos um para o outro. Diferente de todos os sorrisos que eu havia mostrado para todas as pessoas ali. Aquele era o nosso sorriso e ninguém tinha e eu não tinha com mais ninguém, além dele. Suas mãos estavam no bolso da calça e eu vi que mesmo com todo esse ar de tranquilidade, ele estava na verdade nervoso. A cada passo que eu dava meu coração disparava de ansiedade para estar logo nos braços dele. Olhávamo-nos fixamente um para o outro. Parecia não existir mais ninguém além de nós dois. Quando cheguei ao altar o Dr. Smith me entregou a ele, que sorriu agradecendo. Com toda delicadeza do mundo, ele beijou a minha testa e então entrelaçamos nossas mãos e nos viramos para o pastor.
- É muito difícil encontrar um verdadeiro amor. Um amor para a vida toda. Muitas pessoas passam a vida inteira procurando alguém para amar e ser amado, cuidar e ser cuidado, respeitar e ser respeitado, mas nunca encontram. Alguns encontram no fim da vida, outros morrem procurando. Poucos são os que acham o amor verdadeiro. Poucos são os que preservam. Ninguém consegue viver sozinho, ninguém consegue viver sem amor. Ninguém quer passar o resto da vida sem ninguém para dividir as dificuldades do dia a dia, sem ninguém para dividir a cama, as preocupações, a felicidade. Ninguém quer. Todos nós queremos um amor. Sortudos são vocês, e , que encontraram o verdadeiro amor. Espertos são vocês que preservaram esse amor. Muitos queriam ter essa sorte. Muitos queriam estar aqui hoje. Deus presenteou vocês com esse amor. E é um dos presentes mais lindos da vida. E é por isso que vocês devem se respeitar, se amar, serem gentis uns com o outro. Que você , possa ter paciência com a e possa entender que ela é uma mulher e por ser uma mulher, precisa ser cuidada. Que você nunca levante a voz com ela, que você seja além de marido, também namorado e amigo. Nunca deixe o romance acabar, conquiste-a todos os dias. Sejam com pequenos ou grandes gestos. Mas que você esteja disposto a conquista-la todos os dias. E que você possa respeitá-lo e jamais agredi-lo com palavras. Que você possa entendê-lo e também cuidar dele. Que além de esposa, possa ser namorada e amiga. E claro, a mãe dos filhos dele. – Ele sorriu gentilmente. apertou minha mão e piscou para mim. Escutamos risadinhas e olhamos para trás. Joseph vinha trazendo a aliança mandando beijo para todo mundo. Rimos achando adorável a atitude do meu irmãozinho. pegou a aliança e repetiu seus votos enquanto colocava no meu dedo. Vi que na hora em que fazíamos os nossos votos o sol estava se pondo. Eu achei aquilo tão admirável. Eu estava me casando exatamente na hora em que o sol estava se pondo. Senti-me tão sortuda e tão cheia de fé. Lágrimas rolavam dos meus olhos, eu sentia meu peito explodir de felicidade. Era o dia mais feliz da minha vida. Sentia-me realizada. Eu estava me casando, eu estava melhorando, minha melhor amiga era a minha madrinha e preparou todo o meu casamento, meu irmão estava bem, e eu tinha a minha mãe do meu lado. Como não se sentir feliz? Como não se sentir sortuda?
Olhei dentro dos olhos de e me senti em paz. Aqueles olhos me acalmavam, me davam a certeza que eu queria. Eram aqueles olhos que eu iria ver pelo resto da minha vida, era aquela boca que eu iria beijar pelo resto da minha vida e era aquele homem que eu iria amar pelo resto da minha vida. Ele era a minha certeza, ele era a minha felicidade, o meu ajudante. Foi que me presenteou com o seu amor, foi ele que me ajudou a ser forte e passar por tudo aquilo, foi ele que amou o meu irmão como se fosse do seu sangue. Ele foi o homem que nunca desistiu de mim.
Quando terminamos de falar os nossos votos e nos preparamos para nos beijar, eu recuei um pouquinho e sussurrei para que somente ele escutasse:
-Eu te amo. - sorriu e me puxou para um beijo. Ele não precisava dizer mais nada, eu sabia que ele também me amava. Escutamos os gritos de comemoração das pessoas e rimos entre o beijo. Quando nos paramos de nos beijar, ele acariciou o meu rosto e olhou dentro dos meus olhos. Todo o meu corpo estremeceu. Nada daquilo iria mudar, eu tinha certeza que daqui há cinquenta anos eu ainda iria me sentir uma menininha perto dele. Nós erámos para sempre.




Nota da Autora: 26/03/2015 “É só isso, não tem mais jeito... Acabou, boa sorte!’’ É galera, finalmente Helper acabou. Muito triste finalizar essa fanfic que foi o meu xodó desde sempre, foi a segunda fanfic que escrevi. Foram cinco anos escrevendo isso aqui! Essa história já mudou de rumo tantas vezes... E o final então? Nem se fala! Tantas amizades fiz através de Helper, tantas leitoras lindas que conheci. Eu espero que você tenham gostado do que eu escrevi e principalmente desse final, eu me inspirei no casamento de uma grande amiga que foi realmente desse jeito. Lindo né? Pois é, depois desse casamento tive ainda mais fé no amor. E acho que Helper nos mostra isso: ter fé no amor. Que eu e nem vocês percamos a nossa fé. Porque o amor é a coisa mais linda e libertadora que existe, nós só precisamos aprender a amar!
Eu quero agradecer a vocês que acompanharam isso aqui desde o início e tiveram paciência de esperar por uma atualização que de às vezes demorava meses, quase ano! E a você também que surgiu no meio ou no final! Obrigada pelos comentários, pelas críticas construtivas, pelos elogios. Por não desistirem de Helper, pela paciência e pelo carinho. Obrigada de coração! Agradeço também a minha família por ficar horas me escutando sobre as minhas histórias hahaha Também aos meus amigos e o meu ex namorado (mas eterno na minha vida) Raphael! Por ter me aturado quatro anos falando sobre minhas fanfics, por ficar horas me ouvindo falar sobre um capítulo, por aguentar minhas crises de inseguranças sobre o que eu escrevo, por me incentivar e acreditar em mim. OBRIGADA POR TUDO. Eu não teria terminado isso se não fosse por vocês. E novas fanfics virão galera, é isso. AMO VOCÊS! <3
Por favor, comentem!
Xx, Gio.
AVISO:
Criei um grupo para discutir sobre minhas fanfics. Quem estiver interessado, pode entrar: http://www.facebook.com/groups/569482759742538/?fref=ts (Fics da Gio)
Gostam da minha escrita? Então leiam outras fanfics minhas:
Silence Scarys Me (McFLY/Finalizada)
Salvation Of Your Soul (Restritas/Andamento)
Your Love Is My Drug (McFLY/Andamento)
E se quiserem conversar comigo sobre as fanfics e etc, podem falar por aqui:
http://www.facebook.com/giovanna.hgn (Facebook)
https://twitter.com/cole_gio (Twitter)

Nota da Beta: NOSSA, HELPER ACABOU, COMO ASSIM? Acompanhei essa fic quase do inicio e tenho um carinho tão grande por ela. Fiquei mega feliz e honrada quando a Gi me pediu para ser a beta da fic.
Uma história linda, envolvente, inspiradora e M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A. Amo todas as fics dela, mas Helper é meu xodó <3
Vou lembrar para sempre, e com um carinho enorme, dessa fic.
Muito obrigada, Gi. Por nos ter permitido ler essa história fantástica.


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