‘Por que motivo(s) você deseja ganhar o concurso e ter a chance escrever seu próprio livro? Faça sua resposta em formato de texto. A quantidade de linhas e palavras cabe à preferência de cada um.’
Colocou o lápis na boca, que há alguns instantes arranhava frases soltas pela folha, enquanto ela pensava sobre o que escrever. Algo sobre sua vida pessoal passava por sua cabeça. Decidiu. Era exatamente sobre aquilo que escreveria.
Os dois habitavam o condado de West Yorkshire, mais precisamente, Leeds. Nunca tinham se visto, nem sequer sabiam da existência de seus nomes.Digo, ele o dela, e ela, o dele.
A menina ajudava a mãe todos os anos com o orfanato local e para isso trabalhava na barraca de beijos de uma quermesse que ocorria todos os anos na cidade.
Já o rapaz tinha sido suspenso da escola e por isso se vira obrigado pelos pais a ajudar nesse evento. Rotulou a barraca de tiro ao alvo como a menos árdua de se auxiliar.
O primeiro ‘encontro’ não foi o que podemos definir como “encontro amoroso”, quando os dois percebem que são tudo aquilo que precisavam para viver. Isso não acontece na vida real.
, agora introduzimos nomes aos personagens, não queria a visita dos amigos, sabia que eles acabariam o atrapalhando. Não que eles fossem infantis a ponto de não saber o limite entre responsabilidade e brincadeira, só não queriam amadurecer tão rápido e mascaravam isso com brincadeiras.
, nossa segunda personagem principal, não pensava tão diferente. Pensou em chamar as amigas, mas estas, caso comparecessem, não lhe ajudariam em grande coisa.Melhor deixá-las se divertirem no shopping a virem a essa obrigação que nem as pertencia.
Auxiliar em uma barraca implica em ajudar a montá-la e em organizar os turnos de cada um. Na idade em que nossos dois jovens se encontravam, isso iria exigir muito empenho, já que não é a coisa mais interessante do mundo para se fazer.

O sol não tardou a esquentar. Era hora de começar a montar o espaço. Ambos suspiraram ao mesmo tempo.Os dois se encontravam em lados opostos. Ah,como desejavam estar no conforto de suas camas, ou então na piscina, conversando sobre coisas alheias. Desejos da juventude.

Ouviram-se gritos femininos. Qualquer um que não soubesse o fato patético, o qual narrarei daqui a algumas linhas, certamente pensaria que a menina estava sendo estuprada ou coisa parecida.
'Garota, pára de gritar!' exclamou a uma menina de cabelos louros como a luz do sol e olhos verdes como o iluminador de texto que usava na aula de história, como ele pensara há alguns instantes. O mesmo riu de sua tentativa de poesia. Seus ouvidos pediam clemência. Maldita hora que o colocaram para trabalhar com aquela garota histérica. Confessou a si mesmo que na primeira vez que a viu pensou em "conhecê-la" melhor, mas agora isso nem passava por sua cabeça. A maldita ainda gritava. Talvez gritasse até que desmaiasse por falta de ar.
se aproximou da cena e chegou mais perto ainda do protagonista. Ainda se perguntava o porquê da gritaria.
‘O que aconteceu?’ o perguntou assustada.
‘Eu só derramei um pouco de refrigerante na blusa dela.’ respondeu com uma voz de descaso. Não tinha visto essa menina por lá. Era certo que seus cabelos não brilhavam tanto como os da histérica, mas não deixavam de ser bonitos por isso. E seus olhos podiam não ser ‘verdes como o marcador de texto que usava na aula de história’, mas pareciam muito mais sinceros.
‘Já pediu desculpas?’
‘Já, mas ela ‘tá dizendo que era de marca.’ Seu rosto assumiu uma expressão sarcástica. gargalhou, o que o fez rir junto. Ela possuía uma das risadas mais engraçadas que ele já tinha escutado.
‘Então o aconselho a sair de perto.Ela pode tentar te sujar de suco de laranja, achando que não vai sair igual o suco de uva.’ Ambos riram novamente.
‘Verdade.’ colocou as mãos no bolso em um ato de vergonha e fitou o chão por alguns segundos, pensando em um assunto para iniciar com . Ela também tinha pensado nisso, mas precisava arrumar a barraca. Mais tarde o procuraria.
‘Bom, tenho que arrumar as coisas do outro lado.Qualquer coisa, ‘tô na barraca do beijo.’ , apelidando nossa personagem principal do gênero feminino, o lançou um sorriso tímido e seguiu seu caminho. Talvez o dia não estivesse perdido.

A festa já tinha se iniciado. Naquela tarde tudo se contrastava e se combinava ao mesmo tempo: o som das pipocas estourando com a música de tema country; o doce com o salgado; tapas com gargalhadas; as crianças e os ‘pernas-de-pau’; as bolas e os fogos de artifício.
Todos já tinham assumido seus postos há um certo tempo, desde a faxineira dos banheiros até a cigana da barraca de “Vejo o seu futuro nas cartas”. Isso inclui , agora apelidando nosso outro principal, e .
Convenhamos que ser beijada por mais de 100 homens no mesmo dia não é ruim, mas quando os mesmos não possuem dentes, e são portadores de mau hálito e derivados, o que era bom cai para o nível “pesadelo”.
Vejamos também pelo ponto do rapaz. Ficar horas ajudando crianças sem mira a acertar o alvo com bolas de tênis também não é bom. Não para o nível “pesadelo”, mas para “noite de insônia”.

Dada a hora de revezar, resolveu circular pelo espaço. Mais precisamente perto da fila da barraca de beijos, onde comprou uma ficha. Ele nem se lembrava de que estava por lá.
A fila foi diminuindo e de repente era sua vez. o olhou, espantada. O que ele estaria fazendo ali? Sim, todos sabemos que lá era uma barraca de beijos,e que obviamente ele a beijaria, mas ele poderia ter esperado o turno da menina acabar, não?
‘Menino sem nome, você por aqui?’ perguntou em um misto de espanto e felicidade. soltou uma pequena risada e passou a mão pelos cabelos, nervosamente.
‘Erm... você disse que eu poderia ter encontrar aqui. Então eu notei que nem tinha me apresentado a você.’
‘Ahn, claro. , mas chame de .’ Estendeu a mão.
, mas chame de . ‘ Apertaram as mãos. Um silêncio se formou, novamente. Um garotinho, que se encontrava no fim da fila falou para ele “agilizar a parada”.
‘Eu paguei pela ficha... então acho que eu tinha que te beijar, né?’ encarou a interrogativa como se ele não quisesse fazer aquilo.
‘Se você quiser.’ Ele se aproximou e encostou seus lábios na bochecha da menina.
‘Beijo dado.’ sorriu e saiu da tenda. sorriu frouxo, virou-se e atendeu ao próximo “cliente”.
‘ “Beijo dado”.Que lesado! Não podia ter dado logo um beijo decente nela ou ter inventado frase melhor?’ Saiu falando sozinho.Era nessas horas que ele agradecia por não ter chamado os amigos. Sabia que iria ser zoado.
O menino se sentou em um banco entre algumas árvores, afastado dos demais, onde a música alta e as vozes pareciam sussurros, murmúrios. Já estava escurecendo, era possível ver no céu o esboço do que seriam as estrelas e a lua.
‘Esperando alguém?’ tapou os olhos do menino com as mãos e perguntou ao pé de seu ouvido. O menino estremeceu com o toque dela.
‘Só uma gatinha que ‘tá me devendo um beijo decente.’ sorriu sedutoramente. sentou-se ao seu lado, corando ao escutar o que ele dissera.
‘E quem seria essa?’ perguntou falsamente desentendida.
‘Uma que já beijou mais de cem hoje.’
‘Não beija essa menina hoje, então.’
‘Por quê?’ Ele franziu a testa. Era óbvio que ela tinha entendido a indireta.
‘Porque senão vai estragar, vai ser o único feio da lista dessa garota.’ A mais nova afirmou em um tom brincalhão. mostrou a língua.
‘Espera um segundo aqui.’ Ele saiu correndo e pegou, de um homem que pintava rostos, dois pequenos potes de tinta. , que permanecera no banco, não sabia o que se passava.
Então o mais velho voltou com um sorriso maléfico no rosto. Já imaginando que seria algo contra ela, se levantou do banco e se escondeu atrás de uma árvore. O menino chegou sorrateiramente onde ela estava e pressionou sua cintura contra a dela, a prensando na árvore.
‘Agora você vai ver quem é a pessoa feia.’ Ele gargalhou como uma daquelas bruxas de desenho animado, o que fez rir, depois molhou o indicador em tinta vermelha e passou no nariz da menina, fazendo-a soltar um pequeno grito. riu. repetiu o ato anterior do menino e passou seu dedo na bochecha do mesmo, dando a ele a aparência de um indígena. Foi a vez dele de reclamar e posteriormente, a dela de rir. Sorriam um para o outro. Os rostos iam se tornando mais próximos.
Eis que um anônimo surge e grita aos dois que teriam que retornar à suas barracas.
Na volta para a área mais movimentada, enquanto tentavam, inutilmente, tirar a tinta de seus rostos pintados, devolveu os potes ao homem com quem tinha as pegado.
‘Ótimo, agora todo mundo vai querer beijar uma menina de nariz vermelho!’ reclamou depois de esfregar seu rosto e mirar a ponta dos dedos, notando que nada havia saído.
‘Eu quero.’ sorriu, mordendo o lábio inferior. não esperava uma resposta desse tipo, logo não soube o que responder e encarou seus próprios pés. Notando que a menina não responderia, ele avisou que iria para sua barraca e pediu para ela o encontrar no mesmo lugar, daqui a uma hora, quando seu turno acabasse. , por sua vez, concordou com a cabeça e lhe lançou um sorriso tímido.

sentiu algo forçar seu ombro para baixo e gritar como se fosse um fantasma. Era . Ele riu e se virou. Notou que o nariz da menina não estava mais pintado, enquanto sua bochecha continuava a mesma de uma hora atrás.
‘Como você conseguiu tirar a tinta?’
‘A Mary, da barraca de doces e salgados, me emprestou um removedor de maquiagem. Mas nem adiantou muito. De tanto que eu esfreguei, a tinta saiu, mas tá doendo agora. Culpa sua.’ cruzou os braços, se fazendo de emburrada. aproximou seu rosto do dela, não para beijar-lhe a boca, e, sim, o nariz. estremeceu com o toque do menino e sorriu, bobamente.
‘Por que isso?’
‘Porque eu não quero que você fique com o nariz machucado. Dizem que beijo melhora. Minha mãe me dizia isso quando eu me ralava todo.’ Os dois riram. Alguns segundos de silêncio bastaram para que , pela milésima vez naquela noite tentasse beijar a menina.
Não, ele não era santo, mas ela também não. Estavam na idade em que isso é mais do que comum, chega quase a ser necessário.
Como alguém que sabe o que está fazendo, aproximou seu rosto em resposta. Mas como às vezes a vida é sacana... dois projetos de gente jogaram ‘estalinhos’ próximo ao casal, o que fez a menina morder o próprio lábio para não gritar, enquanto soltou um suspiro de frustração. Os dois sorriram, sem graça.
‘Vamos fazer uma aposta?’ a menina fez que sim com a cabeça, então ele prosseguiu. ‘Eu aposto 10 libras que eu consigo te beijar sem te encostar e sem ninguém atrapalhar.’ riu.
‘Se eu ganhar a aposta eu ganho o dinheiro?’ o menino concordou.
‘Então, ‘tá fechado.Aposta feita.’ Ela estendeu a mão ao menino e este a apertou, puxando a menina para perto. Ele manteve uma distancia mínima entre os corpos, aproximou somente seu rosto e o inclinou. sentiu a respiração do menino em sua boca e se aproximou um pouco, colando os lábios. Ele passou a língua no contorno deles, pedindo passagem. Percebendo isso, a menina abriu um pouco sua boca, permitindo que as línguas se encontrassem e isso causasse arrepio em ambos. , alguns segundos depois, partiu o beijo e sorriu, recebendo outro de volta.
‘Agora minhas 10 libras.’ estendeu a mão, como se pedisse a quantia.
‘Valeu cada centavo.’ O rapaz entregou o dinheiro à menina, que aproximou os lábios de seu ouvido e a mão, com a nota, do bolso traseiro.
‘Fica pra próxima.’ Ela recuou um pouco, deu uma piscadela e sorriu marotamente. entendeu o recado e se aproximou dela, colocando as mãos em sua cintura e a beijando novamente. pôs suas mãos ao redor do pescoço do mais alto, acariciando a região. Alguns minutos depois, quebrou o beijo, olhando-o.
‘Ninguém atrapalhou, finalmente!’ os dois riram.
‘Mais um só por garantia.’ Suas bocas já estavam a ponto de se encontrar novamente quando...
‘Pra barraca. Os dois, agora!’ o mesmo anônimo gritou.
‘Falamos cedo demais.’ ia dar um selinho em quando a pessoa novamente os chamou.
‘ESTAMOS INDO!’ gritou, irritado. riu baixinho da reação do menino e o puxou pela mão indo para a direção das barracas.

‘Acabou por hoje!’ gritou assim que viu chegar perto de sua barraca.
‘Ainda bem. Agora vou te raptar pra minha caverna do mal.’ Houve gargalhadas de ambas as partes.Ele pegou a mão dela e a deu um selinho, sob os olhares atentos de Madame Margot, aquela que prevê o futuro nas cartas.
Tal mulher os chamou à sua tenda, o que gerou certa desconfiança do casal. Pediu aos dois que tirassem, cada um, uma carta, só para esclarecimento de uma dúvida.
‘As cartas estão me dizendo que existe uma força maior do que vocês que não os deixará seguir em frente...juntos.’ A cigana murmurou a última palavra. não acreditava em previsões, nem .
‘Vamos, . Ela não sabe o que está falando.’ proferiu a última frase em tom de desprezo. Esse era só o começo de algo novo para ambos.

1 ano e alguns meses mais tarde.

Estavam sentados na parte mais alta da cidade, da onde era possível ver as estrelas nitidamente. O ambiente seria perfeito ao casal, mas como já disse, o destino é sacana.
Os dois estavam sentados. estava entre as pernas de e com a cabeça encostada em seu peitoral. Enquanto eles apreciavam a vista, fazia movimentos circulares com as pontas dos dedos no braço da namorada. Sim, namorada. O vento frio e cortante fazia com que seus cabelos ficassem desarrumados e suas bochechas e narizes adquirissem um tom avermelhado.
estava preocupada, ele não fazia o tipo romântico. Não que ele fosse um ‘brutamontes’, mas não era do tipo que dava flores todos os dias. De fato, ela gostava disso, também não era de mandar mensagens a cada 5 segundos e dizer ‘te amo’ a cada olhar que desse para ele.
Aquele silêncio estava a incomodando profundamente.
‘Amor...’ a menina virou a cabeça um pouco para o encarar. Este se encontrava com os olhos marejados.Ao notar isso, ela se ajoelhou e virou de frente para o namorado.
‘O que houve?’ não disse nada, apenas a abraçou fortemente e sussurrou algumas palavras que não pôde compreender muito bem. A menina estava mais preocupada ainda.
‘Me conta o que aconteceu que eu tento te ajudar.’ Ela o encarava, seus olhos transmitiam preocupação verdadeira. Era isso que ele mais admirava nela, seus olhos. Podia identificar o que ela estava sentindo através do olhar.Não que fosse previsível, talvez só ele conseguisse a entender tão bem.
‘Eu não acho que você vá poder me ajudar.’ A menina se encontrava mais aflita do que nunca.
‘Fala logo, amor.’ Ele encarou o céu, como se procurasse algo.
‘Antes de eu te contar, me promete uma coisa?’ Ela concordou silenciosamente.‘‘Tá vendo aquela estrela?’ apontou para a mais brilhante de todas. ‘Promete que aquela vai ser a estrela que nos manterá unidos? Que essa estrela acredita que nosso amor é maior que tudo e todos? Que ela acredita em nós dois? Você é capaz de prometer isso e manter essa promessa?’ A esse ponto algumas lágrimas escorriam dos olhos da menina, sem que ela pudesse controlá-las. Talvez ela já esperasse o que estava por vir. concordou com a cabeça, olhando em seus olhos.
‘Me conta logo o por quê disso tudo.’ O menino se afastou da namorada e abraçou os joelhos, olhando fixamente para as luzes da cidade.
‘Eu tenho câncer cerebral, . Minhas chances de sobreviver são 1 em 100.’ Falou entre o silencioso choro. teve seu coração esmagado. Imediatamente seus olhos, que antes já estavam cheios de lágrimas, agora se encontravam inundados nelas. A namorada enxugou-as e limpou a garganta, para a manter a voz firme, embora tivesse dificuldade nisso.
‘Você vai ser esse 1 em 100.’ se posicionou atrás do namorado e o envolveu em seus braços, encostando a cabeça em seu ombro.Passaram alguns minutos assim. percebera que ela continuava a chorar.Ele se virou de frente para ela e esta, imediatamente, afundou a cabeça em seu pescoço, chorando abertamente.
‘Eu tenho tanto medo de perder.Você não sabe o quanto.’ falou entre soluços.O namorado a envolveu em seus braços e pôs sua cabeça ao lado da dela, permitindo-se chorar também.
Vários minutos depois, ergueu sua cabeça, olhando fixamente nos olhos do namorado.
‘Saiba que eu estou nessa com você, não importa o que aconteça. E eu depositarei nessa estrela, que chamarei de ‘Hope’, toda a esperança e certeza que eu tenho, mesmo que já saiba que você vai se curar disso.’ estava convencida de que ele alcançaria a cura.
‘Meus tratamentos começarão semana que vem, talvez eu faça uma cirurgia. Então você ainda tem tempo de se separar de mim antes que eu fique fraco e magrelo.’ Ele riu fraco e o reprovou com o olhar.
‘Você escutou o que eu falei?’ Deu um tapa no braço do rapaz, que protestou. ‘Você só vai ficar fraco na semana que vem.E de qualquer jeito, será o magrelo-fraco mais bonito de todos.’ Ela sorriu para . Às vezes era difícil esconder a tristeza, ainda mais quando você encontra alguém que consegue te decifrar, assim como os dois.
A moça, aquela a ser decifrada, e o rapaz, aquele que sabia a ‘ler’ perfeitamente. a puxou para mais perto, colocando uma das mãos apoiada no chão e a outra nas costas da menina. Esta, por sua vez, o envolveu pelo pescoço. O menino passou seus lábios sobre os dela. mordeu o lábio inferior do menino. O último deu espaço para que suas línguas se encontrassem, massageando uma a outra lentamente.
À medida que o ritmo do beijo ia aumentando, ia a puxando para mais perto, fazendo com que ela passasse suas pernas ao redor de sua cintura.
Então as mãos se tornaram ágeis e bobas. deu impulso e, com a namorada no colo, se guiou para o banco traseiro do Jaguar do pai.
Ambos sabiam o que estavam fazendo. Ambos queriam.
Quando deram por si, já estava jogando corpo exausto e suado por cima do da menina, que não se encontrava em diferente estado.
travava uma batalha interna de emoções. Era sua primeira vez em 16 anos. Ela não se arrependia de ter se “entregado” ao namorado, só não queria que isso tivesse ocorrido em tais circunstâncias. Sabia que sentiria falta de suas carícias. Não que ela fosse tarada ou ninfomaníaca, só estava se iniciando em uma vida mais ‘adulta’.
A garota se aconchegou nos braços do namorado, repousando a cabeça em seu peito. Permaneceram sem trocar palavra alguma, por falta do que dizer. Ele sorria bobamente enquanto acariciava as costas da menina com o polegar e sentia a respiração da mesma se acalmar. Achou que ela estivesse dormindo.
‘Te amo.’ Sussurrou ao pé do ouvido da namorada. Ela, que ainda não tinha se entregado ao sono, quis murmurar o mesmo, mas se contentou em deixar uma lágrima solitária escapar por seu rosto e morrer em seu seio esquerdo, próximo ao coração, que era de onde esta viera. Ele permaneceu alguns segundos contemplando as estrelas, a lua e a bela menina desnuda que se encontrava ao seu lado. Perdeu a conta de quantas vezes pediu para que aquele momento nunca acabasse. Queria ter aquela sensação para sempre instalada em seu coração, mas o sono o venceu.

1 semana depois.

‘Srta. , por favor. Temos um telefonema urgente para você.’ anunciou o inspetor do colégio assim que pôs a cabeça para dentro da sala de aula. O professor deu permissão para ela se retirar.Não sabia o que estava acontecendo, mas se ligaram para o colégio, era importante. Pegou seu material e se dirigiu à coordenação, onde atendeu ao telefone com o coração na boca. ‘Alô?’ sua voz estava trêmula. Ultimamente possuía receio de toda e qualquer urgência.Ainda mais neste determinado dia, que tinha iniciado uma cirurgia. ‘Querida?’ reconhecera a voz. ‘Quem fala é a mãe do .Eu...Nós o perdemos, minha querida.Os médicos disseram que houve uma parada cardíaca durante a cirurgia e eles tentaram o reanimar, mas...’ A Sra. desabou em lágrimas do outro lado da linha. , que estava branca como neve, deixou o telefone cair no chão e correu para seu domicílio.

Entrou no Box do banheiro e se sentou no canto, embaixo das torneiras. Chorava abertamente, como se expurgasse toda a tristeza que tinha guardado. Não controlava os soluços nem o volume de seus gritos.
Durante esse pequeno tempo ela observou e acompanhou às consultas. A cada exame que ele fazia; cada vez que ele passava mal; cada vez que ele não conseguia se levantar de tão tonto; cada vez que ele não escutava direito; cada vez que sua visão ficava turva, ficava mais preocupada. Mas tentava não exibir isso, alguém tinha que ser forte. Pedir que ela bancasse a forte agora, seria pedir demais. Queria que o mundo se explodisse, nada mais importava. Tinha perdido toda a confiança que depositara na cura de seu namorado. Tinha perdido a fé. E o mais importante, tinha perdido seu .
Girou a torneira de água fria, deixando que ela molhasse suas roupas e se chocasse com a quentura de suas bochechas e nariz. Desejava como nunca que aquilo tudo fosse um pesadelo. Se fosse, logo iria acordar e se dirigiria ao telefone, para ligar para o hospital onde estava internado.
Infelizmente, ela ainda se encontrava em seu banheiro, tremendo de frio, desespero e tristeza. Mas, como já disse antes, nada importava mais a ela.Tinha perdido seu primeiro e grande amor.
Creio que se passaram algumas horas até que sua mãe chegasse em casa, já que encontrou uma adormecida em meio ao choro.
A Sra. desligou o chuveiro e pegou, com um certo esforço, a filha no colo. Secou-a, trocou suas roupas e a colocou em sua cama, onde a menina permaneceu até o dia seguinte. O desgaste não tinha sido somente emocional. chorou tanto que não possuía mais forças nem para falar.

Um novo dia nasceu, trazendo consigo mais um dia de tristeza para a garota. Esta acordou sob os olhares preocupados da mãe. Sua cabeça girava e, só agora, ela percebia que não tinha se alimentado. Mirou a mãe por alguns segundos, que, sem nada dizer, a abraçou fortemente. Aquela que a deu a luz entendia perfeitamente a situação. Pensava que aquele momento fosse demorar mais a chegar. Nunca acreditou na cura do menino. Não por falta de fé, mas por saber que tais coisas não dizem respeito ao amor e sim à condição do corpo humano.
‘Você quer que eu ligue para a mãe dele e pergunte em quantos dias será o enterro?’ concordou silenciosamente com a cabeça e a mãe se retirou. Suspirou pesadamente e mirou um canto qualquer do quarto, se perguntando se alguma vez tinha imaginado que ia ser tão doloroso assim.
A mãe a tirou de seus pensamentos assim que apareceu no quarto com uma pequena bandeja contendo o café da manhã da menina e a colocou sobre as pernas da mesma.
‘Come alguma coisa, filha.’ esta resmungou um "não".
‘Você vai passar mal se não comer.’ a mais velha insistiu, recebendo a mesma resposta de antes. ‘Certo, então faz isso por mim. Ou pelo .’ a menina contraiu seus lábios, segurando o choro e pegando uma torrada, mastigando-a sem vontade. Seus olhos não possuíam mais o brilho de antes e não expressavam nada, só tristeza. Doía nela mesma ver a filha sofrer assim, mas não havia nada que ela pudesse fazer.Olhou para o papel que deixara à e pensou em não o mostrar, talvez fosse melhor.Ela sabia que era errado esconder tal coisa, então entregou silenciosamente o papel à e saiu do ambiente. A última, por sua vez abriu o médio e amassado bilhete.

“Olá, minha pequena.
Pedi este pedaço de papel ao Doutor Hooligans enquanto o anestesista não chega.A cirurgia vai começar dentro de uma hora.Pelo menos foi o que eu escutei. Estou mais nervoso do que nunca.Espero que tudo dê certo e que você não precise ler isto.
Bem, sei que agora, quando você estive olhando para este projeto de carta, já não estarei mais aqui.Sei que não há mais nada que possa fazer, mas saiba que te deixar foi pior do que o tratamento em si.
Agora quero te pedir uma coisa. Lembra de quando eu te contei da doença, lembra da promessa? Então...Queria que você não a esquecesse, mas também não a desse elevado valor, afinal, não quero que você perca sua vida, que ainda está se iniciando, pensando em um cara que já está em decomposição. Se possível, lembre de mim apenas como uma pessoa que se foi e deixou boas lembranças.
E, como você é teimosa, sei que agora está pensando que eu sou louco por te pedir isso. Mas faça tal coisa por mim.
Então, minha garota (ah, como é bom falar isso, mesmo que essa talvez seja a última vez), eu te agradeço por todos os momentos e peço desculpas por cada singela palavra que proferi e que te magoou.Nunca foi minha intenção.E me desculpa por nunca ter sido aquele namorado que manda flores e cartas todos os dias. E sim, obrigado por ter ficado ao meu lado durante esses dias.
Por você ser essa garota maravilhosa (nem adianta negar, porque você é.), que eu desejo que você viva sua vida intensamente, como se não houvesse o amanhã. Porque quando você parar pra pensar, você já estará idosa, casada e com vários filhos, netos e bisnetos.
Além de tudo, viva por mim. Digo, faça, diga, experimente tudo o que eu não tive chance. Atribua à sua vida máximo valor acima de tudo.
Com todo o amor do mundo,
.”


Enquanto lia, a pequena de deixava que lágrimas escorressem de seus olhos sem fazer esforço algum. Notou que atrás do mesmo papel havia algo mais escrito.

Now turn away
(Agora vire-se)
'Cause I'm awful just to see
(Pois eu estou terrível apenas em ver)
'Cause all my hairs abandoned all my body
(Todo meu cabelo abandonou todo o meu corpo)
Oh, my agony
(Oh, minha agonia)
Know that I will never marry
(Saber que eu nunca me casarei)
Baby I'm just soggy from the chemo
(E baby, eu só estou agonizando da quimioterapia)
But counting down the days to go
(Mas contando os dias para ir para baixo)
It just ain't living
(Isso não é apenas estar vivendo)
And I just hope you know
(E eu só quero que você saiba)

That if you say
(Que se você disser)
Goodbye today
(Adeus hoje)
I'd ask you to be true
(Eu pediria que você fosse verdadeira)
'Cause the hardest part of this
(Pois a parte mais difícil disto)
Is leaving you.
(É deixar você.)
"

Em um ato desesperado, a menina apertou aquela folha contra si, desejando que fosse ele. Sussurrou pra si mesma entre lágrimas versos da canção que compôs:'‘Cause the hardest part of this is leaving you.’
adormeceu novamente com o gosto salgado das lágrimas em seus lábios e com a doce voz do namorado, que sussurrava ao seu ouvido tal canção. (n/a: sim, são alucinações.)

Poucos dias depois.

Era uma manhã chuvosa e fria de inverno. Naquele dia todas as lembranças vieram à tona na cabeça, não só de , mas como na de todos os familiares e amigos.
se posicionou próximo ao túmulo, onde realizou uma pequena homenagem ao rapaz.
não foi só um menino que mexeu comigo. Ele foi aquele que deu sentido àquelas três palavras que às vezes pronunciamos sem nem ao menos saber seu significado.
Este rapaz que, por muitas vezes, chamei de amor, namorado ou , agora se encontra nos céus, onde está olhando por cada um de nós.Sei que ele não gostaria de nos ver nesse estado, mas, convenhamos, sua falta é tamanha.
Com quase dois anos de convívio e pouco mais de 1 ano de namoro, gostaria de citar um trecho da carta que ele me entregou entre árvores e beijos.’ A garota sorriu levemente, se lembrando daquele dia e prosseguiu. ‘
Sei que não precisamos de vaga-lumes para iluminar o ambiente. Nosso amor, por si só, já faz isso.
Não precisamos trocar carícias todos os dias para provar que nos amamos e que quando estamos juntos somos um só.Basta um olhar para dizermos tudo, afinal, os olhos são a janela da alma, ou melhor dizendo, do coração.
E por mais clichê que isso soe, eu digo isso com todo o amor que eu sinto por você.
” Com essas palavras encerro minha homenagem a ele.' Todos os familiares e amigos, que assistiam ao discurso aplaudiram, enquanto isso, a menina era consolada pela “ex-sogra” com um abraço.

2 semanas depois.

‘Filha, você vai se atrasar para o concurso.’ A mãe disse calmamente enquanto abria as cortinas do quarto de sua pequena.
‘Que droga.’ Resmungou a filha enquanto levantava da cama.
‘O café já ‘tá na mesa.’ A mais velha saiu do recinto, deixando a mais nova em seus pensamentos.
Como queria que estivesse ali. Esse era um dos dias mais importantes para ela, se não aquele que decidiria seu futuro. Queria ter conhecido muitos anos antes. Queria que algumas coisas tivessem sido diferentes. Queria poder dar um abraço nele quando se sentisse insegura, ou nervosa, como agora.
Terminou de se vestir e pegou sua mochila, se guiando para deixar a sala de estar.
‘Querida, come alguma coisa.’
‘Não quero, mãe. Não ‘tô com vontade.’
‘Você quer o quê? Acabar no caixão como o ? A sete palmos do chão?’ exclamou irritada.
‘Talvez eu quisesse!’ A menina sentiu seus olhos marejarem e respondeu seriamente, fitando a mãe.
, você tem que entender uma coisa: Não há nada que você possa fazer. Ele se foi e sua vida tem que continuar.’ Dizem que nada é pior do que a perda de alguém. E era justamente isso que a mãe não queria: deixar que sua filha arruinasse sua própria vida e ela não pudesse fazer nada em relação a isso.
nada disse, apenas se retirou da casa e foi para o local da prova, pensando no que lhe disseram há alguns minutos atrás e na carta de .
Não sei ao certo por que vias a vida desta menina se desviará, só sei que ainda há muita coisa para acontecer.

Com um certo receio, afirmo que contei parte da minha vida nesta redação. Porém, cada ponto, cada vírgula e cada palavra justificam a pergunta principal.Então... ‘Por quê?’ Porque eu descobri que posso não ser a melhor escritora do mundo, mas ponho emoção em tudo que escrevo e, de fato, o que me motiva é minha vida, meu destino. Desta vez, minha motivação foi fazer algo em memória dos bons momentos que passei com o menino maravilhoso da história, uma vez que me disseram que não havia nada que eu pudesse fazer.Então cá estou eu.
Não me utilizo disto como apelo, só explico tudo o que aconteceu para que chegasse aqui e espero estar ao nível dos outros desta mesma sala.

A menina dos cabelos não tão brilhantes quanto os da menina loira dos olhos que lembravam o marcador de texto de entregou as folhas ao fiscal.
saiu do local do concurso de literatura.J á estava escurecendo. Uma suave brisa passava por ela, mexendo em seus cabelos e lhe causando um arrepio na espinha. Sorriu como nunca mais tinha feito em meses. Sentia que , de onde quer que estivesse, estava olhando por ela.

Sentou-se no canto mais deserto da praia e dedilhou alguns acordes, querendo entrar na melodia.
Sua voz estava falha, devido à vontade de chorar.

Well, this is not your fault
(Bem, isto não é sua culpa)
But if I'm without you
(Mas se eu estou sem você)
Then I will feel so small
(Eu me sinto tão pequena)
And if you have to go
(E se você tem que ir)
Always know that you shine brighter
(Sempre saiba que você brilha mais)
Than anyone does.
(Que qualquer outro.)


As lembranças ainda estavam frescas em sua memória. Era de se imaginar que a “ferida” estava mais profunda do que nunca.Mas não há nada melhor que o tempo para cicatrizá-la. Ou não.
‘Eu te amo. Para sempre, .’ Sentiu novamente aquela brisa de outrora passar por ela. Sabia que era mesma, porque só essa possuía o perfume do menino.Sorriu, sentindo que ele estava por perto.

Às vezes desafiamos o destino, mas isto acontece para provar que quando queremos algo, mesmo que não aconteça do nosso jeito, vale a pena arriscar. Talvez esses dois jovens um dia voltem a se encontrar. Afinal, aquela estrela pra sempre brilhará.

The End.


N/a(2008): Fic feita pro 2º Challenge, então boa sorte pra mim (?).

N/a: Quanto tempo :'D E eu ganhei, nem acredito! Muito obrigada às meninas que leram/comentaram. Só resolvi atualizar a n/a mesmo.
Enfim, comentem! Espero que tenham gostado.
xx
Ju S.



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