How I Met Your Father
Autora: Bea Peres
Beta-Reader: Vick



O dia amanhecia. Olhei para o lado e ele ainda dormia feito um anjo. Apesar de já ter seus trinta e cinco anos, eu ainda conseguia enxergar aquele menino travesso, brincalhão e que precisava estar em cima de um palco para se sentir realizado. A idade não atingiu em nenhum aspecto , por incrível que pareça só o fez se tornar um homem mais maduro, completo. E se é que isso pudesse ser possível, ficou até mais bonito. Levantei-me, fui ao quarto de que dormia calmamente, apesar da respiração pesada. era nossa primeira filha, a princesa da casa e extremamente apegada a mim. Tinha onze anos, era uma mistura quase igual de nós dois: possuía os olhos e o nariz do pai, enquanto a boca e as expressões faciais eram completamente minhas. Era esperta, atenta e, apesar da pouca idade, adorava a fantasia, os livros eram seus fiéis escudeiros e mostrava um interesse impressionante pelo romantismo. Eu poderia apostar que a carreira de escritora seria uma boa escolha. Sentei na beirada de sua cama e verifiquei sua temperatura, a febre finalmente tinha abaixado um pouco. Segui para o quarto ao lado onde se encontrava , o pequeno de cinco anos era a copia exata de . Para não dizer que não possuía nenhum traço meu, a cor de seus cabelos eram escuros, apenas isso, de resto era como se fosse meu próprio marido na infância. sempre fora muito apegado a e o seu padrinho . Era quase um feto quando começou a demonstrar sua enorme fixação pela carreira do pai. Aqueles olhos profundos tão azuis que chegavam a ofuscar a tonalidade do céu brevemente estariam arrancando suspiros de muitas meninas na plateia. Fechei a porta com calma e fui para o banho, para mim nunca existiu algo mais relaxante que um bom banho quente pela manhã, a àgua que escorre pelo meu corpo leva todas as impressas ali presentes. Meu dia só poderia começar depois de um banho revigorante. Prestes a sair do box, entra murmurando um bom dia e qualquer pessoa que visse sua cara naquele instante presumia que apenas seu corpo estava ali, sua alma provavelmente ainda estava deitada na cama, sonhando com um ilha deserta no meio do caribe.
- A vai para escola? – perguntou, assim que terminou de lavar o rosto.
- Acho melhor não, ela ainda tem um pouco de febre, prefiro não correr o risco de ter que buscá-la às pressas na escola... – Sai do box me enrolando na toalha, me aproximei de e beijei levemente seus lábios – A propósito, vai precisar sair de casa pela manhã?
- Não, só tenho uma reunião às 17h, por que?
- Não quero que a fique apenas com a baba e eu preciso trabalhar, tenho umas pesquisas importantes para entregar. Se importa de ficar aqui?
- Sem problemas! – Sorri para ele, que retribuiu. Corri para o closet, já estava atrasada, o caminho até o oceanário de Londres era curto, porém com alguns minutinhos de atraso estaria sujeita a um trânsito caótico. Passei pela cozinha onde se encontrava preparando algo que eu poderia julgar que fossem panquecas. Roubei uma maçã da fruteira e senti que ele me encarava.
- Minhas panquecas já causaram mais respeito nessa casa.
- Eu juro que poderia passar a vida as comendo, porém estou muito atrasada. Bom dia, meu amor, não esquece de levar o para a escola às 8h, acordar a às 9h30 para o remédio! - Selei nossos lábios com um selinho que logo transformou em um beijo rápido.
- Te amo, bom trabalho – desejou, assim que nos separamos.
- Te amo, obrigada! – Sai rumo a coisa que eu mais amava depois de minha família. Eu era uma bióloga marinha, louca pela minha profissão, trabalhava no oceanário de Londres desde que me formei na faculdade. Dedicava todo meu esforço na defesa daqueles seres e gastava horas para decifrá-los. Logo que cheguei, apresentei algumas pesquisas finalizadas sobre uma nova espécie de peixe recém encontrada. Trabalhei até as 2h da tarde em um projeto para a nova reforma da ala das baleias. Voltando para casa, parei em uma Starbucks, comprei alguns cookies para as crianças, crianças sim, isso incluía o quando se tratava de cookies. Meu marido chega a ser pior do que os próprios filhos. Assim que cheguei, a babá estava na sala vendo desenho com , enquanto mexia em alguma coisa no notebook. correu para meu colo, me dando os beijos mais gostosos que eu poderia receber.
- Oi, mamãe, olha, ta dando Phineas e Ferb na tv.
- É, filho? Mamãe já vem assistir com você, cadê seu pai?
- Banho – respondeu dando ombros e descendo do meu colo, voltando para frente da tv. Fui até que parecia procurar algo no Google.
- Se sente melhor, filha?
- To sim, mãe. Pior do que a febre, é essa pesquisa que a professora de literatura inglesa passou e eu não encontro nada – resmungou.
- Eu te ajudo, não se preocupa – pisquei – agora vou tomar um banho e já desço.
- É, você ta com cheiro de peixe! – Riu da minha cara de indignada.
- Muito engraçadinha você, dona ! - Sorri e subi as escadas. Entrei no quarto encontrando saindo apressado, ele avisou que ia para a reunião e que não voltaria muito tarde. Apenas assenti e fui para meu banho. Quando sai, a babá avisou que havia insistido para ir com o pai, e que o tinha levado. Concordei e a dispensei. Sentei do lado de e começamos a fazer a tal pesquisa. Quando finalmente terminamos, já era noite, pedimos comida italiana e fomos para o meu quarto ver algum filme. escolheu ‘Um Amor Para Recordar’.
- Quando eu era adolescente, perdidamente apaixonada pelo seu pai, eu costumava chorar uma cachoeira com esse filme.
- Sem essa, mãe, você ainda chora toda vez que assistimos ele – zombou da minha emotividade – Mãe, posso te perguntar uma coisa?
- Claro que sim.
- Eu sei que você já contou isso, mas como foi que você e o papai ficaram juntos? Vocês moravam tão longe, não existiam chances de vocês um dia casarem e eu e o meu irmão virmos ao mundo... – Ela mantinha um olhar curioso, um tanto fofo. Meus olhos brilharam com as recordações que eu iria compartilhar com minha filha. Recordações de uma adolescência à base de um amor platônico que nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginaria que se tornaria real.
- Vou te contar! – Pausei, respirei e deixei que as memórias invadissem minha mente – Logo que seu pai começou com a banda, eu gostava muito das músicas deles, mas não era o que podemos chamar de fã alucinada. Os anos foram passando e cada vez eu me surpreendia mais com o talento dos meninos, até que quando dei por mim, eu tinha um quarto carregado de pôster, cds e dvds na estante e passava horas ouvindo aquelas músicas que me faziam um bem enorme. Logo de cara eu me identifiquei muito mais com o seu pai, ele se tornou meu preferido e era como se eu precisasse da voz para me sentir bem, aquilo era um calmante para mim.
- Mãe, você ainda pede para ele cantar toda noite para você – constatou com um sorrisinho nos lábios. Era verdade, eu ainda tinha aquele vício mesmo depois de tantos anos juntos.
- Posso continuar, ? – Ela apenas assentiu – Então, como eu estava dizendo, eu tinha me tornado uma fã obcecada e logo eles começaram a ir para o meu país. Eles amavam estar no Brasil. Aliás. quem não ama? Aquele público era surreal, e eu sempre estava lá no meio de outras mil garotas histéricas que desejavam a mesma coisa que eu: casar com um McGuy – e eu rimos um pouco e eu prossegui - Eu ia em aeroporto, ficava na porta de hotel, chegava de madrugada nas filas, mas nada dava certo, nenhum encontro por acaso acontecia. Mas eu não desistia, até que um dia eles anunciaram uma turnê pela América do Sul e nessa turnê poderíamos conhecê-los através de um meet and great. O dia do show chegou e eu estava mais nervosa do que nunca, parecia que era meu casamento, olha, aconteceu de tudo daquele dia, engarrafamento, febre, dor de cabeça, desmaio, crise de choro, perda de identidade, dinheiro, enfim, uma tragédia total. Mas no final de tudo eu consegui conhecê-los. Aquilo era um sonho, um sonho que estava prestes a mudar minha vida. Tiramos uma foto, conversamos por breves minutos e quando fui me despedir dele, ele disse “acho que você ganhou o premio de fã mais bonita da América do Sul” eu ri e, é claro, me segurei para não desmaiar ali mesmo.
- E o que você respondeu?
- Agradeci e disse que se ele fosse um bom garoto, o destino se encarregaria de colocar a gente frente a frente outra vez. É claro que nem eu levei fé naquelas palavras, mal sabia que um ano depois eu estaria dentro de um avião com uma vaga na faculdade dos meus sonhos. Mas existia outro problema, ele sempre morou em Londres e eu estava a quilômetros dele. Mas parecia que o destino realmente queria nos juntar. Novamente uma turnê, dessa vez por toda a Inglaterra com direito a meet. E foi ali que tudo realmente começou.
- Ok, mãe, até ai eu sei. Eu quero saber o que rolou depois desse reencontro. Vocês não casaram logo de cara.
- Nesse dia, quando fui falar com ele, disse “eu te disse a um ano atrás que se fosse um bom menino, o destino ia colocar a gente frente e frente outra vez” e, então, ele sorriu como nunca, me abraçou e disse “a garota mais bonita do Brasil perdida no Reino Unido?” Então, eu expliquei que estava fazendo faculdade e que pretendia ficar por aqui mesmo. Mais uma vez o tempo de encontro se esgotou, mas dessa vez ele foi mais rápido. Assim que eu sai, um segurança veio até mim e disse que o Senhor tinha pedido meu número. Obviamente, eu dei e fui curtir o show.
- Então, ele te ligou?
- Sim, conversamos por um bom tempo, nos conhecendo um pouco melhor. Não que eu já não soubesse quase toda a vida dele, mas ele precisava saber um pouco da minha. Ele pediu para que eu fosse até o hotel que eles estavam e...
- Você foi, né?
- Na verdade, não!
- Mãe! Mas por quê?
- Simples! Eu não queria que ele pensasse que eu era uma groupie qualquer. Mas mesmo não indo, ele deu o jeito dele.
- Apareceu na sua casa?
- Não... Foi na faculdade mesmo.
- Que fofo, mas ninguém o viu lá?
- Ele parou a uma certa distância dentro de um carro com os vidros completamente pretos. Conforme eu fui andando, ele foi seguindo, quando eu cheguei a uma distância razoável, ele buzinou e abriu o vidro e “carona até a Starbucks mais próxima e eu não aceito não como resposta” foi a única frase que ele disse antes de arrancar um sorriso bobo meu e conseguir me levar para um café. Conversamos por um bom tempo, ele disse que estaria indo embora da cidade pela noite, mas que no fim de semana teria uma festa privada em Londres e que gostaria que eu o acompanhasse. Dessa vez, eu disse sim. Ele me deixou no meu antigo apartamento e foi embora.
- E até o tal final de semana vocês não se falaram?
- Menina, mas você pergunta muito, sabia? – rimos - Ele me ligava sempre que dava. Enfim... Chegou a sexta e eu viajei para Londres. No sábado pela manhã, ele me ligou confirmando a festa de noite e nesse sábado à noite, em meio a uma festa cheia de milhares de garotas bem mais bonitas que eu, demos nosso primeiro beijo. E assim demos o segundo, o terceiro, o quarto e acabamos ficando a noite toda. Eu mal podia acreditar que aquilo era real. No final da festa, ele me deixou na casa de uma amiga que eu estava hospedada e disse que ligaria antes que eu voltasse para Cambridge. Mas ele não ligou, então, eu voltei para minha vida normal, tentando me conformar que aquilo foi um sonho lindo que simplesmente tinha acabado tão rápido quanto começou. Quatro meses se passaram, eu já estava me acostumando com a ideia de que tinha sido só uma diversão para . Mas, então, uma ligação no meio da noite pedindo para que eu olhasse pela janela. E lá estava ele, apoiado em seu carro, vestido em uma jaqueta de couro preta que contrastava com o jeans claro de sua calça. Abri para que ele subisse e, então, ele se explicou por nunca mais ter dado sinal de vida, mas que ele não me tirava da cabeça e que queria recomeçar, assim nós nos beijamos... – Me peguei rindo e lembrando que naquela noite não foram só beijos que aconteceram. Ah, nossa primeira vez ainda me arrepia só de lembrar. Pulando essa parte, minha filha não precisava saber desse detalhe – Depois desse dia, sempre que dava nó nos víamos, até que no final do ano, na festa de aniversário do tio , ele me puxou para um canto e disse que estava apaixonado por mim e que não ia se sentir completo enquanto não dissesse que eu pertencia a ele.
- Ah, eu quero um igual a meu pai para mim, mãe, onde eu acho? – sorria feito menina apaixonada e eu não ficava para trás.
- Na hora certa você encontrar, filha. Mas voltando... Nós namoramos um bom tempo e estávamos cada vez mais apaixonados. No meu último ano de faculdade, ele me levou para uma viagem a Paris e foi lá, em meio a sotaques com biquinhos, luzes encantadoras, Torre Eiffel e Museu do Louvre que ele disse que queria ser meu para sempre. Dentro da cidade do amor aceitei o pedido de casamento. E assim, um ano depois, me mudei para Londres formada. Nos casamos e logo você veio para perturbar nosso juízo - terminei rindo.
- Hahaha engraçadinha você hein, mãe! – mostrou língua e percebemos que o filme estava no final. Cinco minutos depois, a porta se abriu revelando um e um rindo escandalosamente, se jogando em cima de nós. Depois de muito empurra empurra, todos nos ajeitamos na cama.
- Ei, filho, fala se não temos muita sorte de ter duas mulheres lindas só pra a gente? – perguntou para , enquanto o ajeitava em seus braços.
- A mamãe é linda, já a nem tanto, podia ser melhor.
- EU OUVI ISSO, ! – se exaltou.
- Ei, sem brigar, crianças!
- Mãe, a gente pode assistir Phineas e Ferb até dormir? – perguntou .
- Ah, só sabe ver isso essa criança - reclamou.
- Podemos, filho. , tem um livro que você vai amar ai na mesa, pega enquanto não dorme! - Menos de meia hora depois os dois dormiam tranquilamente, em meu braço e no de .
- Eu podia ser mais sortudo? – perguntou mais para ele do que para mim – Eu tenho os dois filhos mais lindos do mundo, tenho o melhor emprego, os melhores amigos e, acima de tudo, tenho a mulher mais perfeita deitada na minha cama todos os dias – terminou dando o sorriso pelo qual eu sempre fui apaixonada.
- Você é o melhor marido do mundo e me deu as duas coisas que eu mais amo nessa vida!
- Eu te amo – ele disse baixinho, quase me obrigando a fazer leitura labial. Segurou minha mão de uma forma gentil e me olhou com doçura. Eu sabia que naquele olhar possuía apenas uma coisa: amor, amor verdadeiro.
- Eu te amo, sempre amei e sempre vou amar... – Sorrimos juntos e assim adormecemos. Juntos, com nossos bens maiores e com nosso amor mais vivo a cada dia.

Hoje sou aposentada, tenho meus sessenta, com nossos filhos muito bem casados, com três netos maravilhosos e nossos amigos sempre por perto. Quanto a banda que nos uniu, ela sim continua firme e forte com um bando de vovôs babões ainda arrastando multidões por onde passam. Eu me dedico a cuidar de ONG’s de proteção aos animais marinhos. realmente seguiu a carreira do pai e aos quinze anos já tinha sua própria banda. Hoje é pai de uma linda menina, Valentina, que possui o mesmo olhar marcante de pai e avô. Quanto a , eu errei feio em apostar na carreira de escritora, ela seguiu a advocacia e é uma advogada de sucesso, casada com um juiz e mãe de dois meninos, John e Chris. Somos uma família muito unida, e eu, principalmente, nunca perdemos a essência de nosso casamento, o amor sempre esteve e sempre vai estar em primeiro lugar por aqui e acho que assim será até o fim de nossas vidas.


FIM



n/a: Oi Oi coisinhas lindas da bea. Bem, eu particularmente tenho um carinho enorme por essa fic. Foi a minha primeira short e eu resolvi escreve-la depois de um sonho louco daqueles que só as mcfans tem. Espero que vocês gostem e me façam feliz comentando hehe. Qualquer coisa me encontrem no @beamcfly. Até a próxima dudes. Xx



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