Insanity
Escrita por Julia S.


Capítulo 1

Insana. Essa era a palavra que melhor definiria meu estado.
4 anos de espera, 10 anos de diferença, alguns minutos ou segundos para o grande momento. Se eu estava nervosa? Mais do que certamente. Se eu já havia pensado em sair correndo dali? Uma vez. Mas me dei conta de que eu estaria desperdiçando 4 anos.
4 anos! Por tanto tempo eu fiquei alimentando essa idéia louca e agora estou a alguns instantes de finalmente realizá-la.
Doida. Era disso que minhas amigas me chamavam, mas eu não me importava. De fato, eu era uma doida.
Senti meu celular vibrar e o atendi, sentindo meu estômago revirar.
- ? – aquela voz me chamou.
- O-oi. – gaguejei. Droga, não havia jeito de parecer mais patética do que agora.
- Onde você está?
- Em frente à Starbucks. E você?
- Chegando aí. Acho que já te vi. Cachecol branco? – tremi. Pronto, agora era a hora. Que Deus me protegesse.
- Sim. – senti uma mão tocar meu ombro e virei, me deparando com um lindo par de olhos azuis [n/a:desculpem, Fletcher's]. Desliguei a ligação sem ao menos olhar para o telefone. – ? - o rapaz assentiu com a cabeça. Não pude deixar de notar seus perfeitos dentes brancos. Também não pude controlar um suspiro de escapar.
- Aliviada por eu não ser um serial killer? – ele brincou. Eu ri, confirmando com a cabeça.
- Surpreso por eu ser mais feia do que nas fotos? – perguntei com um sorriso brincando em meus lábios.
- Se você fosse feia, eu, definitivamente, estaria surpreso. – eu sorri, nervosa demais para negar que eu era bonita. Na verdade, eu não estava “fazendo doce”, eu realmente não me acho bonita. – Vamos entrar? – propôs, indicando a Starbucks com o olhar. Concordei com a cabeça, deixando-o ir à frente.
Assim que chegamos mais perto da loja, abriu a porta, me deixando passar. Sorri para ele, agradecida. Nos dirigimos ao balcão, onde fizemos o pedido e nos dirigimos para um sofá que estava vago. Sentei-me e tirei meu cachecol. Sim, lá fora estava frio a ponto de todos usarmos cachecóis, luvas e gorros.

- Eu realmente acho que frapuccinos são ótimos no inverno. – ele comentou. Tínhamos entrado em uma conversa sobre bebidas.
- Refrescam o cérebro se você beber rápido. – eu acrescentei. - Como raspadinha de gelo.
- Nós realmente devíamos tentar um dia desses. – , novamente, me lançou um sorriso, me fazendo ficar hipnotizada. Fiz um gesto com a cabeça, concordando. – Sabe o que devíamos tentar também?
- O quê? – dei um gole em meu chocolate quente.
- Patinar no gelo.
- Patinar no gelo? Parece uma ótima idéia, mas, para falar a verdade, eu nunca tentei.
- Eu te ensino. É fácil.
- Eu sou descoordenada, te aviso logo. – eu ri.
- Perfeita do jeito que você é, vai aprender rápido. – piscou para mim, me fazendo ficar corada.
- Não sou perfeita, pare com isso.
- Ok, eu paro. Mas não mudo minha idéia.
- Mudando de assunto... – falei antes que ele pudesse comentar qualquer outra coisa que me deixasse mais vermelha do que eu já estava. – Eu já te contei que passei em Cambridge? – ele negou com a cabeça enquanto bebia seu expresso, parecendo interessado. – Pois então, eu passei em quinto lugar. Eu sei que não é tão bom assim, mas eu consegui.
- Eu não consegui ficar nem em décimo, então pare de se cobrar tanto, menina. – eu ri, lembrando de quando ele me chamava de “minha menina”.
- Não estou cobrando, só encarando os fatos. Afinal, primeiro lugar seria incrivelmente melhor.
- Você passou, certo? – acenei com a cabeça. – Então pronto.
- Mas, e você? Já acertou onde vai morar? – tirei meu sobretudo, o deixando junto de minha bolsa e cachecol.
- Eu aluguei um apartamento por aqui. Nada muito grande, mas como sou um rapaz solitário, está ótimo.– murmurei um ‘hum’. – Você tá trabalhando em algum lugar?
- Na verdade, eu estou procurando. Não procuro nada muito estressante, só quero algo para sustentar meus gastos da faculdade.
- Entendo. E seus pais concordaram com a idéia de você ir morar com as suas amigas?
- Eles apoiaram meu “desejo pela liberdade” – fiz as aspas no ar. - e falaram que eu podia contar com eles. Já até consegui alugar um apartamento.
- Começaram a decorá-lo com os globos de prata e o piso preto e branco? – riu. Há um tempo eu disse a ele que, quando me mudasse, eu faria uma decoração meio retrô.
- Minhas amigas não concordaram. – fiz uma expressão de tristeza e depois ri.
- Se quiser, pode decorar meu apartamento. – ele manteve um sorriso, mas não riu, como eu fiz.
- Depois que eu terminar de decorar o meu, eu penso no seu caso. – pisquei e sorri, terminando de beber meu chocolate quente. Notei que ele também havia terminado a bebida dele. Senti seu olhar pesar sobre o meu rosto e mirei o seu, fazendo nossos olhares se encontrarem. Sorri, demonstrando vergonha.
- Pare de me encarar! – eu ri, virando meu rosto e o cobrindo com meu cabelo. Senti sua mão colocar uma parte do meu cabelo para trás. Encarei seus olhos mais hipnotizantes do que seu sorriso.
- Não tem porquê. – sorriu. Droga, isso era covardia! Mordi meu lábio inferior. Ele estava perto o suficiente para eu sentir o cheiro de café que exalava de sua boca. Já disse que eu amo café?
Encerrei a conexão de olhares, desviando meu rosto para a porta e observando a neve que caía do lado de fora do estabelecimento.
- Neve. – falei, me recompondo.
- Vamos procurar uma pista de patinação? – ele propôs com um sorriso infantil.
- Já quer eliminar nossos planos para não ter que se encontrar comigo novamente, não é? – brinquei, levantando para colocar meu casaco, sob o olhar atento de .
- Quem sabe eu não tenha outros planos no estoque? – Então ele, novamente, piscou. Deus, por que esse menino era tão hipnotizante?
- Devo admitir que estou curiosa para saber quais são. – pisquei de volta, ajeitando minha bolsa em meu ombro. Ele deu um sorriso “torto”, seguindo para a porta. O segui, feliz por ter conseguido deixá-lo sem resposta.

- Se lembre de que eu sou descoordenada. – falei assim que entramos no rinque da Somerset House. estava atrás de mim, me segurando pelo braço.
- Se lembre de que você é perfeita. – ele sussurrou próximo ao meu ouvido. Senti meu joelho estremecer e me segurei forte na barra. – Pode soltar a barra. Eu não vou te deixar cair, confie em mim. – disse com a voz serena. Murmurei um ‘ok’ e soltei a barra, tentando me manter firme. – Agora desliza o pé direito conforme minha canela se encostar a sua panturrilha. – senti minha panturrilha ser levemente empurrada e, como impulso, deslizei meu pé. – Agora faça isso com o pé esquerdo. – novamente ele encostou sua canela minha panturrilha e, novamente, eu deslizei. – Consegue fazer isso sem minhas canelas? – ele riu.
- Acho que sim, mas não se solte de mim.
- Pode deixar, senhorita. – se guiou para meu lado, segurando meu braço direito enquanto eu tomava coragem para andar. Respirei fundo e olhei para ele, que me lançou um olhar encorajador, porém, hipnotizante. Balancei minha cabeça, olhando para meus pés. Fiz como eu tinha feito antes, deslizei levemente meu pé direito e depois o esquerdo. E novamente o fiz; e novamente; e novamente, até que eu já conseguia o acompanhar sendo segurada pela mão. – Eu disse que você ia aprender rápido. – ele sorriu, parando e se virando para mim.
- Acho que agora você pode se candidatar ao cargo de vidente, o que acha? – brinquei.
- Engraçadinha. – ele riu e ameaçou soltar minha mão. Eu deixei um gritinho escapar, apertando meus dedos contra os dele.
- Não faça isso. – falei de uma forma imperativa.
- Mandona. – voltou a ficar ao meu lado e, novamente, passamos a patinar, observando algumas pessoas levarem tombos.
- Agradeço por não ter levado nenhum tombo. Acho que um hematoma em minha região traseira não seria agradável. – disse depois de ver uma criança cair com tudo no duro e frio rinque.
- Você nunca vai levar um tombo.
- Ah é, por quê? – arqueei uma sobrancelha. Novamente, ele parou e se virou para mim.
- Primeiro, porque você é perfeita; - revirei os olhos. – segundo, porque eu não vou deixar, e, terceiro, porque eu vou te trazer todas as semanas no inverno aqui, até você conseguir soltar minha mão, embora eu não ache que isso seja ruim. – Alguém me diz se eu mereço esse homem? Por favor, digam que eu mereço.
- Não concordo com o primeiro, mas topo vir aqui toda semana. – eu sorri. Escutei um sinal tocar, avisando que deveríamos nos retirar da pista.
- Já? – resmungamos os mesmo tempo e depois rimos.
- Nós voltamos na semana que vem.
- E o que faremos durante a semana? – ele me lançou um olhar tarado que me fez rir. – Tem tantos planos assim?
- Prefiro não comentar.
-Tarado! – eu ri e inclinei meu quadril rapidamente, a fim de fazê-lo balançar.
- Meus planos são os mais puros, você que é pervertida.
- Não sou.
- É sim. – então começamos uma “briga” até sairmos do rinque.

- Obrigada por tudo. – sorri sincera assim que chegamos à portaria do meu prédio.
- Foi um prazer. – devolveu o sorriso e se inclinou para um abraço. O abracei, sentindo seu perfume invadir meu nariz. Engraçado, o abraço dele era tão confortável, tão...seguro.
- Me ligue. – saí do abraço e pisquei.
- Pode ter certeza de que ligarei. – entrei no prédio, com um enorme sorriso.

Passei por meus pais e entrei no meu quarto lotado por caixas de papelão. Joguei a bolsa em cima do colchão que agora eu chamava de cama. Lembrei que , minha melhor (e fresca) amiga, havia pedido para que eu ligasse para ela assim que chegasse, só para dizer que estava viva. Peguei meu celular e disquei o número dela.
- Alô?
- ?
- É, tô viva, filha.
- Conta tudo! Ele é alto, moreno, charmoso, lindo, maravilhoso? – ri ao notar a empolgação na voz dela. Comecei a descrevê-lo para ela, contando sobre o encontro logo depois. - Se antes eu te chamava de doida varrida, agora eu dou total apoio para você continuar se encontrando com ele.
riu do outro lado da linha. – Agora, quem diria que por trás de um nickname ‘geek_007’ , estaria um homem desses? Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, hein.
- Cruz credo, parece que eu tô desesperada por homem.
- Não digo desesperada, só tô dizendo pra você tomar cuidado para não ser difícil demais com ele, afinal, foram 4 anos esperando para conhecê-lo em carne e osso.
- Eu sei. – suspirei. – Sinceramente, eu não esperava que ele fosse ser tão... charmoso assim. Dizem que fotos enganam, né? Nesse caso, não enganaram.
- Ainda bem. Imagina se chega um velho falando que nem menininho contigo. – caímos na risada.
- Fala, gatinha. – eu imitava a voz de um idoso, ou tentava.
- Mas, falando sério agora, amiga. Ele pode ter sido aquele doce de pessoa durante esses 4 anos, mas nunca se sabe como as pessoas são de verdade.
- Eu duvido que ele seja perigoso ou qualquer coisa do tipo. Ele falou exatamente como no MSN e me tratou exatamente como eu esperava que fosse tratar.
- Se você diz...
- Vamos mudar de assunto. Ok? – ela murmurou um ‘ok’. – Eu já disse como ele é extremamente cheiroso? E como o abraço dele é bom? – eu suspirei. passou a rir do outro lado.
- É paixonite aguda, sem dúvida.
- Vai se catar, vaquinha. – senti meu celular vibrar e o tirei do ouvido para ver o que estava havendo. No visor aparecia a mensagem “nova mensagem SMS”. – Amiga, me mandaram uma mensagem. Vou desligar e amanhã te ligo.
- Ok, pegadora, vai lá. – nós duas rimos e nos despedimos.
Rapidamente, abri a mensagem, me deparando com a seguinte frase: “ ‘If I was a flower growing wild and free, all I'd want is you to be my sweet honey bee.’* Boa noite, meu copo-de-leite. - ”. Eu sorri, pensando no que responder. Odiava essa sensação de dúvida.
Minha mente vagueava por todas as nossas conversas a fim de achar algo que me ajudasse. Mas acabei por nada responder, pois acabei adormecendo com o pequeno aparelho em mãos e o doce sorriso de em meu pensamento.
*'Se eu fosse uma flor nascendo selvagem e livre, tudo que eu gostaria é que você fosse minha doce abelha'

Capítulo 2

Acordei assustada com o pesadelo que tive. Digo, eu não lembrava ao certo o que eu havia sonhado, mas eu senti que era ruim, por isso acordei. Só lembro que envolvia gravidez e frutas. Sentei, fazendo um rabo-de-cavalo. Suspirei pesadamente, rindo com o que eu lembrava do meu “pesadelo”. Voltei meu olhar na direção do relógio e constatei que não passava das 5 da manhã, logo, ainda teria umas 7 longas horas de sono pela frente. Bocejei, pegando meu celular por entre as cobertas e o colocando na mesa de cabeceira, voltando a dormir minutos depois.

- Filha, telefone para você! – escutei uma voz ecoar no meu sonho com o Robert Pattinson. Dei-me conta de que não se passava de um sonho assim que senti um cutucão no meu ombro e escutei a voz aguda de minha mãe em meu ouvido. Droga, logo agora que ele iria me dar aquele beijo suave no pescoço! Bufei, me sentando na cama e arrancando o telefone das mãos de minha mãe.
- Alô? – atendi de um jeito mau-humorado. Olhei para o relógio, 10:30. Por Deus, quem seria o inútil?
- Bom dia para você também. – senti meu corpo estremecer e agradeci por estar apoiada na cama.
- Erm...Desculpa, não era com você. – escutei a risada dele e lembrei de seu sorriso.
- Tudo bem. Liguei só para encher o saco mesmo – ia xingá-lo, quando ele terminou. – e falar com a sogrinha, claro. – alguém recolhe meu queixo, por favor? Obrigada.
- O que você falou com a minha mãe? – perguntei após recobrar a consciência.
- Nada demais, só disse que você tinha me conhecido pela Internet há 4 anos e que, durante esse tempo, eu disse que queria me casar com você e ter um time de futebol. Ah sim, também falei que eu te encontrei ontem e que eu queria passar a me encontrar com você, se ela permitisse. E acrescentei que ela teria que aceitar, já que eu iria me casar com você em dois meses, e que, se ela não aceitasse, eu te seqüestraria e te levaria para Las Vegas, onde casaríamos bêbados em uma capela com uma cópia do Elvis Presley abençoando nosso matrimônio. – o tom casual dele me fez pensar se ele realmente estava brincando.
- E o que te faz pensar que nós iremos nos casar em dois meses? – eu repousei minha cabeça no travesseiro e sorri, colando o telefone no ouvido.
- Eu sei que você me quer, baby. – eu ri pela tentativa frustrada de imitar a voz do Elvis. - Te quero tanto quanto você me quer.
- Uau! Incendiaremos todos os motéis dessa cidade, então. – nós dois gargalhamos.
- Já te disse o quanto você é besta hoje? – mordi meu lábio inferior, ainda sorrindo. Ouvi negar com um murmúrio.
- Já te falei, hoje, o quanto você é linda? – bufei, revirando os olhos.
- Você ainda não mentiu hoje, .
- Um dia você vai ver como eu não estou mentindo. – pude ter certeza de que ele estaria com um sorriso meigo. Não pude conter um suspiro. – Que foi, ?
- Nada, só ‘tô pensando em um cara aqui.
- Quem é o bundão? – sua voz demonstrava seriedade, o que me fez ficar preocupada.
- Um cara que entrou na minha vida há um tempo e vive falando que vai casar comigo, sabe? – escutei-o murmurar um ‘hum’.
- E o que você estava pensando sobre ele?
- Pensava no quão besta ele é, em como o sorriso dele é bonito, em como ele me faz rir. Mas no sorriso, principalmente. – eu sorria como uma idiota apaixonada. Não que eu estivesse, já que não tinha nem dois dias que eu havia saído com ele, mas o sorriso passava essa impressão.
- Droga, queria tanto estar aí. – resmungou em um tom de voz quase inaudível.
- Você podia estar. – falei em um impulso.
- Sua mãe me mataria. – ele riu. – Era mais fácil você vir pra cá. – eu me perguntava se ele estava com um sorriso malicioso ou sem nenhuma expressão.
- Tô toda descabelada, desarrumada, feia... – eu iria prosseguir minha lista se ele não tivesse me atrapalhado. - Pára com isso agora, . – ele disse em um tom firme. – Mas, falando sério, venha pra cá. – eu mordi meu lábio, pensando se iria ou não. Eu não tinha nada a perder, certo? Ele, provavelmente, não ia me atacar, afinal, estávamos sob a intensa luz do sol. Ok, isso não afetaria em nada. Mas, de fato, eu tinha confiança nele. Eu sentia que nada de ruim iria acontecer se eu fosse pra lá. – Por favor? – imaginei que ele estivesse fazendo biquinho com os lábios e soltei uma risada fraca.
- Ok, , você venceu. Eu vou. Me passa o endereço daí. – ele riu do outro lado, me dizendo o endereço depois e se despedindo de mim.

- , você é uma mulher corajosa. , você é uma mulher corajosa. – eu repetia isso para mim, como um mantra, enquanto tomava banho e me arrumava.
Assim que saí do quarto, rumei para a cozinha, me deparando com meu pai e minha mãe trocando selinhos. Eu sorri meigamente, me encostando à parede. Após mais de 20 anos de relacionamento, eles continuavam se amando. Amor, era isso que valia no fim das contas.
- Querida, não notei que você estava aí. – ambos me lançaram um sorriso amarelo. E após 18 anos, eles ainda ficam envergonhados quando eu os flagro nesses momentos. – O que quer comer?
- Estou sem fome, mãe. Só vim aqui para avisar que eu vou sair e volto mais tarde.
- Tudo bem, filha. Cuidado. E coma alguma coisa!
- Eu passo em algum lugar daqui a pouco. – me virei, indo em direção à porta.

- ? – perguntei enquanto entrava na sala de estar da casa de .
- ! – ele apareceu, vestindo uma blusa branca. Não pude deixar de notar o abdômen definido que ele possuía. Acho que passei tempo demais olhando para região, já que quando ele terminou de colocar a blusa, ele deu um sorriso torto. Ai, Deus, esse homem ainda me mata!
Aproximei-me para cumprimentá-lo com o famoso beijo na bochecha. Assim que ia me afastar, me puxou para um abraço. Sorri extremamente abobalhada enquanto o abraçava, disfarçando o sorriso assim que nos afastamos.
- Então... por que fez tanta questão de que eu viesse para cá? – indaguei enquanto deixava minha bolsa no assoalho de madeira.
- Preciso de ajuda para pintar as paredes e arrumar a casa. – riu. Encarei-o com uma expressão séria, não conseguindo deixar de rir depois, já que o sorriso dele era extremamente contagioso.
- Eu não vim preparada. – olhei para mim mesma, mais precisamente, para minhas roupas.
- Eu te empresto uma blusa velha e uma boxer. – dei de ombros e o segui até seu quarto, que possuía uma arara em um canto e um colchão de casal no outro.
- Os móveis ainda não chegaram? – perguntei de forma curiosa.
- Chegaram, mas eu tava sem tempo de montá-los. – ele me entregou as peças de roupa e eu segui para o banheiro, a fim de me trocar.
O banheiro, por sua vez, estava totalmente arrumado. Para quem não tinha colocado o sofá na sala, ter colocado a cortina ao redor da banheira, e produtos de higiene pessoal na pequena cômoda era um avanço e tanto.
Saí do banheiro e segui para sala, onde repousei minhas roupas por cima da minha bolsa. Coloquei as mãos na cintura e suspirei.
- Por onde começamos? – mirei , que estava mais desnorteado, se isso era possível, do que eu. – Talvez devêssemos forrar o chão com jornal. Eu já vi isso em programas de TV. – ri com a minha própria ignorância. Observei pegar alguns jornais velhos e me dar parte deles. Então começamos o que nós, mais tarde, apelidamos de “Operação vida nova”.

18:00. Devo constatar que meu cansaço era tanto, que tinha preguiça até para pensar. devia beijar meus pés e me agradecer por tê-lo ajudado a arrumar, praticamente, o apartamento inteiro em menos de um dia.
Joguei-me no sofá recém-colocado, sentindo meu corpo agradecer por ter feito tal ação. Passados alguns segundos, senti o corpo de se afundar ao lado do meu naquele sofá de couro branco.
- Eu vou morrer por inanição. – resmunguei após sentir meu estômago roncar pela milésima vez naquele dia. De fato, eu era doida por ter ficado tanto tempo sem comer, porém, tínhamos tantas coisas a fazer, que comer se tornou um lazer o qual não podíamos fazer.
- Te chamaria de resmungona, mas você tem razão. – ele se apoiou no braço do sofá e se esticou para pegar o telefone. – Pizza? – eu concordei com a cabeça, fazendo movimentos afirmativos freneticamente. discou os números enquanto ria de mim.
Levantei-me e fui em direção à cozinha enquanto fazia o pedido, a fim de verificar se ele tinha, ao menos, um refrigerante. Abri a geladeira e me deparei com, no mínimo, 15 latas de cerveja e uma garrafa de Coca-cola. Ri baixo ao pensar que não havia mudado nada desde o tempo em que ele tinha uma banda. Banda a qual nunca decolou de verdade, somente um show aqui e outros acolá, porém, os caras eram bons. Deviam ter investido mais e procurado um agente.
- Rindo do quê? – fechei a geladeira e me virei para o , que me encarava encostado à porta.
- Lembrando de umas coisas aqui que você me contou. Nada de importante. – respondi, dando um sorriso e indo em direção a ele, para passar para a sala.
- Certo... O que faremos agora? - ignorei a pergunta, voltando para o sofá e ligando a TV. – Isso responde à minha pergunta, creio.
- Tô com preguiça de falar. – eu ri. se sentou ao meu lado.
- Preguiça, é? – ele se virou para mim e em uma fração de segundo, passou a fazer cócegas em mim. Como estava muito ocupada rindo, eu não me dei conta da posição que havíamos tomado. Só me dei conta quando ele, finalmente, parou as cócegas e suas mãos descansaram ao lado do meu corpo. Explicando, eu estava entre as pernas e os braços dele.
Firmado o silêncio, eu não conseguia fazer outra coisa a não ser me perder na imensidão de seus olhos. Notei um sorriso se formar no canto de seus lábios. Aquele mesmo sorriso provocante. Acho que qualquer um que estivesse em minha situação, faria o mesmo, se aproximar para um beijo.
Fui correspondida, me envolvendo em um beijo inocente, sem segundas intenções, por mais que a posição de nossos corpos fosse favorável a essas intenções.
Posso dizer que seus lábios eram extremamente gentis, assim como suas mãos. Impressionante era ele “me respeitar” devido às circunstâncias em que nos encontrávamos. Dizem que o primeiro beijo diz como será a relação, pelo menos foi o que eu li em uma reportagem, e se nossa relação for tão...harmônica como esse beijo, é com ele que eu me casarei.
Escutamos a campainha tocar e rompemos o beijo. Sorri timidamente enquanto nos ajeitávamos. se guiou para atender à porta e eu fui em direção à cozinha, para pegar os pratos.
- Não precisa dos pratos, . – disse enquanto se aproximava da geladeira e pegava duas garrafas de cerveja. – Você bebe cerveja, certo? – ele me perguntou, passando as mãos, timidamente, pela parte de trás dos cabelos.
- Bebo sim. – sorri meigamente e voltei a caçar os talheres. – Em que lugar você guarda os talheres?
- Na terceira gaveta. – ele respondeu. – Mas, , eu disse que não precisamos de pratos. Vamos usar o guardanapo mesmo.
- Eu tenho essa mania. Eu disse que não era perfeita. – ri, levando os pratos para a sala e os apoiando na mesa de centro, onde estava a caixa de pizza.
- Todo mundo tem suas manias, meu amor. – ele sentou ao meu lado e deu uma leve mordida em minha bochecha. Ri baixinho, inclinando o rosto e passando meu ombro pela região.
- Qual filme? – perguntei, mudando de assunto.
- Diário de uma paixão? – deu a opção. – E não me ache gay por ter pensado nesse filme! – ele exclamou assim que percebeu que eu ia rir.
- Ok. Diário de uma paixão, meu macho. - ri ao ver a expressão séria que fez.
- Vai zoando, menina-que-toma-cerveja. – arqueei a sobrancelha.
– Algum problema com mulheres consumindo álcool?
- Algum problema com homens querendo ver filmes de drama? – ele me imitou. Nós dois rimos.
- Nenhum, nenhum. – respondi, dando de ombros. Até agora eu não me sentia nem um pouco desconfortável, somente nervosa. Aquele nervosismo que vem do medo de passar uma má impressão.
Apesar de tudo, éramos normais.

- Se eu não tivesse visto o filme antes, era capaz de eu nem saber o nome das personagens. – ri na companhia de ao telefone.
- Eu ainda te interno, cara.
- Interna nada. Na minha situação, você faria o mesmo.
- Nem sei, amiga. Eu não seria doida de trocar telefone com um cara que há 4 anos vem falando que um dia ia me conhecer pessoalmente e iria se casar comigo.
- Se fosse com o , te garanto que você faria. – bocejei, notando como eu estava cansada. – Amiga, eu vou desligar. O sono bateu agora.
- Ok, vai lá. Depois a gente se fala. Beijos.
- Beijos. – desliguei o aparelho, deixando-o, novamente, em minha cômoda e me aninhando para, com sorte, sonhar com ele.


Capítulo 3

Natal. Uma boa época, deve-se ressaltar. Encontrar os parentes que há tempos não vemos, falar sobre a sua vida, escutar como você está linda e mais magra, embora tenha engordado dois quilos só de olhar para a ceia, tudo isso faz parte.
Porém, também é uma época de planejamentos, onde você faz promessas e mais promessas, como: emagrecer, arranjar um namorado, passar a acordar todos os dias às 6 da manhã para dar uma caminhada, etc.

- , coloca uma coisa na sua cabeça, ele não vai me pedir em namoro! – exclamei, fechando o zíper lateral do meu vestido e calçando meus sapatos.
Estávamos nos arrumando para a ceia. Sim, nos arrumando. passava todos os Natais comigo, já que sua mãe havia casado com um judeu, que a converteu. preferiu continuar no cristianismo, logo, comemorava tal data na sua segunda casa, a minha.
- , cala a boca! É óbvio que ele vai! Vocês estão saindo há mais de um mês. Ele sempre é extremamente romântico e fala coisas lindas para você todos os dias.
- , meu amor... Já pensou no fato de ele poder estar saindo com outra ao mesmo tempo?
- Aposto 30 libras que até semana que vem ele te pede em namoro. – ela propôs, com um sorriso.
- Fechado. Acho bom você já ir juntando dinheiro. – eu ri. Saímos do nosso recém-mobiliado apartamento e pegamos um táxi até o apartamento dos meus pais, onde a ceia seria realizada.

- Filha, o que houve? – minha mãe me perguntou assim que me viu encher a segunda taça de vinho tinto. Eu não estava bêbada, nem alegre, eu só queria beber. Estava sozinha e com frio, já que meu vestido era tomara-que-caia.
Eu necessitava de e isso era um fato. Ele era como uma droga, a qual eu havia me viciado. Pode parecer precipitado, mas, acredite, não é. Foram quatro anos alimentando a esperança de um dia sentir o toque dele. E cá estou eu, pensando nas duas últimas semanas em que eu estive com ele.
- Nada. – dei um sorriso frouxo e voltei a beber. Escutei o barulho de seus saltos, que batiam no piso, diminuir.
Observei meus parentes mais novos. Jolie, uma menina de 4 anos que possuía cabelos loiros e cacheados; Marcus, o jovem comportado de 17 anos, que, provavelmente, usa drogas às escondidas; e Joanne, irmã de Marcus, a típica adolescente de 15 anos revoltada com a vida.
Se me perguntassem com qual deles eu mais me identificava, eu responderia rapidamente que com Joanne. Eu costumava tingir meu cabelo de vermelho, andar com roupas largas e passar muito lápis nos olhos. E justamente nessa época, eu conheci por um Chat on-line.
Mesmo que eu tivesse mudado meu estilo de uma forma extrema, não havia mudado, nem um pouco. Ele continuava aquele lindo e charmoso rapaz dez anos mais velho que eu, que sempre me contava do seu dia-a-dia e trocava idéias sobre tudo.
Creio que minha mãe nem desconfie do que eu fiz, e faço. Se hoje eu me arriscaria assim? Talvez. Quem sabe. Mas de uma coisa eu sei, o destino nos reserva coisas totalmente contrárias aos nossos princípios.
Após muito vaguear em pensamento, eu peguei meu celular. Eu queria escutar a voz dele. Se não fosse pedir muito, sentir seu cheiro também.
Mirei a tela, na esperança de que meu celular fosse começar a tocar em instantes. Nada feito. Eu continuava como uma otária olhando para a tela do aparelho.
Novamente observei minha família. Nesse momento, brincava com a mais nova. Eu deveria estar lá brincando com elas, como em todos os anos. Mas dessa vez, eu não tinha ânimo.
Certamente, eu deveria estar animada. Afinal, eu estava há um mês saindo com ele. Porém, de forma surpreendente, eu não me sentia assim. Novamente me peguei pensando em como eu queria estar o abraçando naquele momento. Por Deus, eu precisava deixá-lo de lado!
- , por que essa cara de enterro? – se sentou ao meu lado no sofá.
- Eu preciso do . – confessei, mirando um ponto fixo no chão.
- Amanhã vocês vão se ver. Eu acho.
- Esse “eu acho” que me mata.
- Não seja tola. Você dramatiza demais, amiga! – a encarei.
- Eu sei. – suspirei, me dando por vencida. Eu não tinha motivos para ficar triste, tinha?
- Vamos. Largue essa taça e venha brincar com os mais novos. Não queremos o mesmo para eles, queremos?
- Eu não... Eu só... – pensei em uma resposta para evitar sair dali. Mirei meu celular pela última vez e respirei fundo, me levantando do sofá. – Vamos. – dei um sorriso amigável.
- Ele vai ligar, eu garanto. – passou meu braço por meu ombro enquanto nos guiávamos para a saleta onde os mais novos estavam.
- Vai, ô adivinha! – ri, recebendo um empurrão de leve.

- Feliz Natal, amiga! – me abraçou. Era exatamente meia-noite.
- Feliz Natal! – sorri e saí do abraço. Senti meu celular vibrar. – Alô? – perguntei, saindo do barulho que meus familiares faziam e indo para a cozinha, onde não tinha ninguém.
- Você está na casa dos seus pais? – perguntou do outro lado da linha. Arqueei a sobrancelha. Eu esperava um “Feliz Natal”.
- Ahn... tô. Por quê? – sem dúvida, eu não sabia se isso era bom ou ruim.
- Vai pra portaria agora. – ele falou em um tom sério e desligou. Voltei para a sala, passando por .
- Aonde você vai? – ela me perguntou assim que me viu girar a chave da porta de entrada.
- mandou eu ir pra portaria agora. – respondi de forma séria.
- Tudo bem... – foi o que eu escutei antes de bater a porta. Desci os 14 andares do prédio pelo elevador, me ajeitando no espelho do mesmo durante o “percurso”.
Assim que pisei no térreo, vi encostado no balcão onde ficava o porteiro. Sorri levemente ao sentir um arrepio passar por minha coluna.
- Hey. – murmurei, me aproximando dele. Ele me olhou, dando aquele sorriso maravilhoso que só ele tinha. se desencostou do balcão e se aproximou mais ainda de mim, me dando um beijo suave.
- Feliz Natal. – ele sussurrou com os lábios colados aos meus. Por mais bobo que parecesse, eu me sentia totalmente feliz agora. Aquela preocupação que tomava minha cabeça há minutos se foi e eu só pensava em como eu era sortuda por estar ali.
- Para você também. – murmurei de volta e o dei um selinho. – Ei! Não era pra você estar na casa dos seus pais, em Sheffield? - indaguei assim que me lembrei de que ele havia comentado sobre ir para casa no Natal.
- Não, desisti de ir. Minha mãe, provavelmente, iria me forçar a ficar mais uns dias lá. – ele riu.
- E por que não me avisou antes? Eu teria te convidado para vir para cá.
- Natal é uma coisa muito íntima, não acha? – dei de ombros. Eu queria que ele se tornasse íntimo, de fato. – Eu só vim aqui mesmo para te entregar seu presente e te desejar um “Feliz Natal”. – gelei. Eu não tinha comprado nada pra ele.
- Não me dê nada. Eu não comprei nada pra você. – escondi meu rosto entre as mãos, envergonhada por ter cometido essa gafe.
- Não tem problema. Nós não temos compromisso... ainda. – ele falou a última parte em um volume baixo. – E se tivéssemos, eu ainda não me importaria. – sorriu sincero. – Eu só quero te ver feliz. Isso é o que importa. – ele passou o polegar por minha bochecha, ainda sorrindo. Preciso falar que eu estava derretida feito uma manteiga? – A propósito... Deixe-me entregar seu presente. – após pegar um embrulho atrás dele mesmo no balcão, ele se ajoelhou na minha frente. Meu coração parou por, creio eu, alguns minutos. Então recobrei a consciência e voltei a respirar. me entregou o embrulho. Com as mãos trêmulas, abri o pacote, me deparando com um ursinho que segurava um coração. No coração, estava a frase “Namora comigo?” bordada em letras brancas. Se isso era possível, sorri mais abertamente ainda.
- Então...? – perguntou, ainda ajoelhado, mordendo o lábio inferior.
- Eu aceito. – ele se levantou e eu pude abraçá-lo fortemente. Assim que o abraço foi desfeito, deslizei minhas mãos para sua nuca e aproximei nossos lábios. O ursinho foi, sem querer, largado no chão. Nos beijamos até sentirmos falta de ar, o que, bem, demorava bastante. - Eu não queria ter feito isso na sua portaria, mas não tinha outra opção. – ele falou próximo ao meu ouvido, já que eu havia enterrado meu nariz na curva de seu pescoço. Rimos fracamente.
- Acho que demos ao porteiro um Pay-Per-View de filme romântico. – sussurrei.
- Fica como presente de Natal. – ambos rimos novamente. – Acho que é melhor você subir. Seus pais devem ter reparado o seu sumiço. – fiz um careta e me afastei dele.
- Tem certeza de que não quer subir?
- Tenho. Ainda não estou pronto para conhecer o sogrinho e a sogrinha ainda. – estirei minha língua para ele, que riu.
- Tudo bem. Eu passo o Natal sozinha, com frio e com fome... – dramatizei.
- A deve estar aí. – respondeu.
- Ela não é você. – eu estava começando a ficar dramática e isso não era bom.
- Amanhã eu venho te seqüestrar, pode deixar. – ele piscou.
- Ok. – eu sorri, sendo puxada para mais um beijo “tira-fôlego”. – Acho melhor eu subir mesmo. – falei assim que rompemos o beijo. Dei um selinho demorado e tirei minhas mãos de sua nuca, deslizando-as por seu peito à medida que eu ia me afastando. Ele murmurou um “te vejo amanhã” e ficou me observando. Antes de entrar no elevador, mandei um beijo pelo ar. Virei para o espelho do elevador e observei minha cara de apaixonada. Sacudi a cabeça, espantando esses pensamentos. Entrei discretamente no apartamento, com receio de que alguém tivesse dado por minha falta, mas, com sorte, só uma pessoa havia notado minha ausência, , que veio rapidamente ao meu encontro.
- Conta tudo! – eu estava de costas para a porta e ela, de frente. – Ou podemos deixar para mais tarde. – ela apontou com a cabeça para a porta, dando um sorriso envergonhado. Virei-me, arqueando uma sobrancelha. Então eu vi , somente com a cabeça para dentro do apartamento. Creio que estava com medo de entrar ou coisa parecida. Sorri meigamente, saindo do apartamento e me aproximando dele.
- Você se esqueceu do nosso filho. – ele me estendeu o ursinho.
- Deus! – exclamei, tocando minha testa com a palma da mão que estava livre. – Ele acabou caindo e eu, como estava fazendo coisa melhor, acabei o deixando por lá. – comentei com um sorriso malicioso, mordendo meu lábio inferior depois. despertava o lado mais sedutor que eu possuía. Embora, ele, por muitas vezes, não desse certo. Mas com isso, eu não me importava. Se desse certo com ele, eu já estava contente.
- Não devemos ensinar esse tipo de coisa pro nosso filho. Acho melhor o deixarmos na casa dos seus pais, ou ele vai ensinar coisas totalmente novas pros amiguinhos ursinhos dele. – riu. Fiquei corada e dei um leve tapa em seu braço.
- Desse jeito, eu acabo ficando constrangida. – afirmei, olhando para meus pés. Ele soltou uma risada e me abraçou, depositando um beijo em minha testa. Sorri, sentindo seu cheiro invadir minhas narinas. Espalmei minhas mãos em seu peitoral. Era certo, eu perdia a noção do tempo e do espaço quando estava com ele. – Tem algum compromisso marcado para amanhã pela manhã? – perguntei, não me movendo. Estava muito bem ali, com a cabeça encostada em seu peito, escutando seu coração bater de um jeito ligeiramente acelerado, o que me fazia sorrir. Pelo menos eu não estava sozinha no que dizia respeito ao disparar dos corações.
- Pela manhã não. Mas pela tarde, eu vou buscar uma linda moça em sua casa e levá-la para patinar. – mesmo não olhando para seu rosto, pude imaginar que ele sorria de um jeito carinhoso. Soltei uma risada leve e me afastei dele.
- Fique aqui. Eu já volto. – falei rapidamente. Entrei no apartamento e chamei . – Eu vou sair com o . Você vem comigo e eu vou pro apartamento dele. Ok? – ela concordou e me lançou um sorriso malicioso. Eu ri, disfarçando a vergonha.
Passamos rapidamente por todos até chegar no quarto de minha mãe, onde estavam os casacos e as bolsas. Assim que passava pela sala, fui parada por minha mãe. Droga, a idéia de sair à francesa sem ter que atuar um pouco, não daria certo.
- Já vão?
- Vamos sim, mãe. Não tô me sentindo muito bem. – menti, fazendo uma careta.
- Oh, tudo bem. Melhoras então, minha filha. Amanhã nos falamos. – ela me deu um beijo na testa e depois deu outro em . – Passei pelo resto da família, sorrindo timidamente. Assim que passei pela porta de entrada, encontrei encostado na parede. Notei que não havia apresentado ele à .
- , . , . – os apresentei rapidamente e chamei o elevador. Passamos alguns segundos em silêncio. Na verdade, só até chegar na portaria e ir para nossa casa.
- Para onde iremos? – ele perguntou, passando o braço por minha cintura.
- Para sua casa. – eu ri e o dei um selinho.

Natal, Natal, Natal, era a magia do Natal. Ou não?



Capítulo 4

Acordei ao sentir os lábios de tocarem meu ombro. Sorri, ainda de olhos fechados. Ele fez uma trilha até alcançar meu pescoço. Arrepiei-me e abri os olhos.
- Bom dia. – ele sussurrou com um enorme sorriso estampado em seu rosto. Senti seu hálito fresco e dei-lhe um rápido selinho, me levantando em seguida. Procurei por minhas roupas e as encontrei jogadas ao redor da cama. Enquanto estava me vestindo, senti o olhar atento de a cada movimento que eu fazia, o que me fez corar e ficar de costas para ele.
Escutei-o gargalhar. Era comum eu fazer isso. Se eu não gostava que me olhassem vestida, imagine sem nada. Certo, não é que eu não gostasse, eu só não me sentia confortável.
Entrei no banheiro, escovei meus dentes e passei uma água no rosto, lembrando de que eu teria que ir a um almoço de família.
Assim que saí, me deparei com uma bandeja de café-da-manhã na cama. Sorri me aproximando da cama.
estava sentado com as pernas cruzadas em forma de borboleta e me encarava.
- Gostou? – ele pareceu inseguro.
- Se for pra mim, eu digo que sim. – brinquei, me sentando ao seu lado. – Brincadeira. Está lindo, meu amor. – sorri abertamente.
- Quem disse que isso é pra você? – ele perguntou com um tom brincalhão ao me ver pegar um dos muffins da bandeja. Dei de ombros, rindo.
- Não aprendeu a dividir? – falei depois de dar uma mordida no muffin.
- Não. – riu.
- Vai ter que aprender. – fiz uma expressão de “mandona”.
- E se eu não quiser?
- Aí, vai ficar na vontade. – dei de ombros e me levantei, levando o muffin comigo. Eu sabia que ele viria atrás.
- Ei! – passei a apressar meus passos em direção à sala, chegando lá rapidamente, já que o apartamento era pequeno. me alcançou e me abraçou por trás, tentando pegar o muffin, que eu, com muito esforço, afastava do meu corpo.
Como nós dois ríamos, acabamos nos desequilibrando e caindo no sofá. O disputado muffin acabou caindo no chão.
- Veja o que você fez! – me virei para ele, que estava em cima de mim, e exclamei em tom de indignação. continuou rindo e apoiou suas mãos no sofá. Vi seu lindo sorriso se aproximar e fechei os olhos, esperando que seus lábios se encostassem aos meus. Mas eles tomaram outro rumo, o meu pescoço. Suspirei pesadamente, me arrepiando a cada vez que seus lábios encostavam em minha pele. subiu os beijos até meu queixo e murmurou “eu limpo depois” antes de iniciar um beijo.
Acho que ninguém se importaria se eu chegasse atrasada no almoço, certo?

- Se você tem amor à sua vida, venha para cá agora! – falou rapidamente ao telefone. Eu ri. Estava feliz demais para me preocupar com qualquer drama que minha mãe fosse fazer porque eu faltei o almoço. Uma vez, eu cheguei 10 minutos atrasada e ela começou a falar que eu não ligava para a família, que eu estava cometendo uma barbaridade, que isso, que aquilo. Ok, mas dessa vez, nós podemos considerar o fato de que eu tenho 18 anos e um namorado. Por falar em namorado...
- Pensei em chamar para ir comigo. Será que minha mãe vai surtar? – ignorei o recado de .
- Não só ela, como seu pai também. Na certa vão começar a interrogá-lo. Mas o risco, quem corre é você. Então... arrisque, se quiser. – mordi meu lábio inferior. Era verdade, meus pais não eram as pessoas mais compreensíveis do mundo.
- Eu vou ver o que eu vou fazer... E continue dizendo a ela que eu estou passando mal, mesmo que isso não funcione.
- Ok, amiga. Beijos.
- Beijos. – desliguei o telefone e suspirei, deixando o celular sobre a bancada do banheiro.
Entrei no chuveiro e girei a torneira, sentindo a água cair sobre mim. Pensei se realmente valia a pena. Se eu não iria assustá-lo. Droga! Como eu odiava ser ansiosa, precipitada, preocupada, tudo ao mesmo tempo.
- ? – a voz de ecoou pelo banheiro. Coloquei a cabeça para fora da cortina.
- Fale.
- Você prefere azul ou vermelho? – arqueei uma sobrancelha.
- Por quê?
- Por nada... Só responda. – observei suas mãos e notei que ele segurava o telefone.
- Hum. – pensei por alguns segundos. – Azul. – sorri meigamente.
- Ok, amor. – ele fechou a porta do banheiro.
- Eu, hein. – murmurei para mim mesma, voltando a tomar meu banho.

- ... – o chamei enquanto secava o cabelo com a toalha, de frente para o espelho.
- O que foi, ?
- Você tem planos para agora? Digo, agora mesmo? – mordi meu lábio inferior. Depois de muito pensar, eu havia chegado à conclusão de que não faria mal eu arriscar. Pelo menos ele saberia que era querido por mim.
- Não, nenhum. Por quê? – ele perguntou, se aproximando de mim. Observei seu reflexo no espelho. Deus, ele era demais para mim!
- Erm... não gostaria de me acompanhar para o almoço de hoje? Sei lá, se não quiser, é só falar. – me virei para ele e falei rapidamente. sorriu.
- Eu adoraria. – se aproximou e me deu um breve beijo. Sorri aliviada. – Será que seus pais vão gostar da idéia?
- Tô nem aí para eles. – dei de ombros.
- Uau, minha menina agressiva voltou. – ele riu.
- Só de noite. – pisquei. Ele me deu um olhar malicioso e eu corei levemente. O problema de fazer esse tipo de brincadeira com ele, é que eu sempre acabava ficando envergonhada. Já falei isso,certo?
- Almoço! – eu exclamei, rindo, e me virei para o espelho, voltando a me arrumar.
- , onde você estava? – minha querida mãe exclamou, furiosa. estava atrás de mim, segurando minha mão fortemente. Assim que ela o viu, desceu sua voz em meio tom e perguntou calmamente quem era o rapaz.
- , meu namorado. Sue, minha mãe. – fiz as apresentações.
- Por que não me contou que estava namorando? – Sue sorria de forma maternal. Talvez estivesse aliviada por eu estar namorando. Digo, menos uma preocupação, uma filha encalhada.
- Não achei um momento apropriado para te falar. – dei um sorriso fraco. – Mas mudando de assunto, vocês já almoçaram?
- Estávamos por sua espera.
- Desculpe, não fiz por mal.
- Tudo bem, querida. – passamos pelo portal da sala e entramos na sala de jantar, ainda decorada como na noite passada.
Cumprimentei meu pai e o apresentei a , que engoliu seco assim que meu pai falou que estaria de olho nele. Constrangida, falei que era brincadeira do meu pai. Pelo menos eu espero que seja. Sentei-me ao lado de , que não acreditava que eu havia tomado coragem de convidá-lo.
- Então, , o que você faz da vida? – meu pai perguntou assim que começamos a comer.
- Eu sou Analista de Sistemas da Apple. É um bom emprego, até.
- Hum. – meu pai exalou e começou a fazer outras perguntas. Eu ria toda vez que se enrolava para responder. Minha mãe encarava meu pai com uma expressão séria a cada pergunta indelicada que ele fazia. Engraçado também, era sentir a mão de na minha coxa durante, praticamente, toda a refeição. Discretamente, desci minha mão até a sua e a acariciei.
- Quais são suas intenções com a minha filha? – meu pai perguntou em um tom mafioso, que me faria rir se eu não estivesse na situação. Olhei para com o canto dos olhos.
- As melhores, senhor. – ele deu um sorriso convincente. Não pude conter que um sorriso se formasse em meus lábios. Seu olhar se encontrou com o meu e eu o desviei, envergonhada.
- Minha filha quando está com vergonha não é uma gracinha? – minha mãe riu. Revirei os olhos. se aproximou para um selinho rápido. Sorri demonstrando vergonha e mirei meu pai, cujo rosto assumira uma expressão séria.
O almoçou transcorreu nesse clima, até que todos estávamos satisfeitos e o pote de sorvete de passas ao rum molhava a toalha da mesa, já que estava derretendo.
- Acho melhor tirarmos a mesa. – minha mãe afirmou, me olhando, como se dissesse para eu ajudá-la. Soltei a mão de e levantei, a fim de ajudar.
- Depois você podia tocar uma música no piano, filha. Tem tanto tempo que você não o toca. – meu pai comentou. Vi fazer impulso para se levantar e toquei seu peito, demonstrando que não era preciso.
- Até parece, pai. Faz um mês só! – respondi, pegando a travessa de pudim e levando para a cozinha. Ao entrar na cozinha, vi minha mãe balbuciar: “Quero falar com você depois”. Murmurei “Ok” e voltei para a sala.
- Um mês é muito tempo para a freqüência com que você tocava.
- É verdade. – admiti. Suspirei, lembrando de quantas horas eu passava praticando. Praticava tanto que, talvez, tivesse atingido a perfeição.
- Você devia tocar, . Eu nunca vi.– pediu com os olhos.
- Tá vendo, filha, seu namorado sabe das coisas. – meu pai falou, lançando um sorriso simpático para .
- Tá bom! – me dei por vencida e fui em direção ao piano. Sentei-me naquele velho banquinho e pensei em alguma música. Comecei a tocar “Noite Feliz”.
- Músicas de Natal? – eu ri.
- Toca aquela que eu pedi para você tentar uma vez e que você gostou tanto que não parou. - Ok. – fechei os olhos e tentei lembrar da partitura. Meus dedos, então, recriaram a melodia da música. Minha mãe cantava os versos e eu a acompanhava somente em um. Todos estavam prestando atenção e isso gerava um certo desconforto da minha parte.

“I close my eyes and see tomorrow
"(Eu fecho meus olhos e vejo o amanhã)
My dreams begin and end with you.”
(Meus sonhos começam e terminam com você.")

O que eu imaginava do meu futuro? Eu tinha uma certa sensação de que ele teria envolvido. Pode ser aquela falsa sensação causada pelo amor. Mas, de alguma forma, eu sentia que era mais forte que isso.
E meus sonhos? Meus sonhos estavam lá, se tornando realidade. E não só eles, como brincadeiras que eu nunca pensei que fossem virar realidade.

“I hear you say you'll be there”
("Eu escuto você dizer que sempre)
Always for me there.”
(Estará lá para mim.")

Nessa hora, eu sorri, lembrando de , que me fitava, sorrindo também. Eu esperava que esse “sempre” fosse verdadeiro, e não, da boca para fora.

“I must believe it's true.”
("Eu devo acreditar que isso é verdade.")

De fato, eu não tinha do que descordar. Eu era devota de suas palavras e as repassava volta e meia em minha mente. Era impossível não querer revivê-las. É como em um filme ao qual você fica viciado, deseja decorar todas as falas e entrar na vida da personagem. Ele era meu herói, e eu, a mocinha. Só queria poder dizer com toda a certeza que viveríamos um “felizes para sempre”.
Ao final do último verso, todos aplaudiram.
- Já podem ir pro “Britain’s got talent”! – meu tio brincou. Ri e saí do piano, me aproximando do sofá onde estava sentado.
Sentei ao seu lado e ele passou seu braço por cima do meu ombro. Virei minha cabeça para ele.
- Foi lindo, . – ele sorriu sinceramente e me deu um beijo breve. Sorri timidamente e agradeci.
- Vamos, toque outra, ! – minha tia implorou. Fiz uma careta.
- Meus agentes não permitem mais de uma apresentação por dia sem receber cachê. – brinquei e fiz todos riram.
- Nossa, já temos uma super-estrela na família! No lanche de amanhã, você poderia tocar outra o que acha? – concordei com a cabeça e sorri.

- Gente, vou ao banheiro. – comuniquei e subi as escadas do duplex, indo para o banheiro de visitas. Olhei para meu reflexo. Nada mal, de verdade. Minha felicidade era tão evidente que chegava a ser contagiosa. Ri dos meus próprios pensamentos.Fitei minha imagem refletida novamente e achei melhor prender meu cabelo.
Assim que eu levantei meus braços para fazer um rabo-de-cavalo, eu escutei a porta do banheiro abrir rapidamente e alguém me agarrar pela cintura. Eu soltei um gritinho, que foi abafado pelas mãos dele.
- Você é doido. – eu sussurrei, abaixando meus braços e os deixando na altura de seus ombros.
- Por você, gatinha. – ele falou imitando um galã. Eu ri baixinho e fui surpreendida por seus lábios, que procuravam os meus de forma urgente. Soltei um gemido baixo e apertei meus braços ao redor de seu pescoço.
Suas mãos desceram para as costas de minhas coxas e as suspenderam rapidamente, me fazendo sentar na bancada de mármore. Apertei minhas pernas ao redor dele e senti suas mãos apertarem minha cintura. Deslizei uma das minhas para suas costas, e, com a outra, eu puxava, amassava e bagunçava seus cabelos.
Do nada, escutamos uma voz masculina do lado de fora do banheiro. Separamos nossos lábios rapidamente. Mirei seu rosto e notei que seus lábios estavam vermelhos. De fato, os meus não deveriam estar tão diferentes assim.
- Filha? – eu, que estava ofegante, controlei minha respiração para responder.
- Oi.
- Tá tudo bem? – ele pareceu preocupado.
- Tá, só estou me sentindo meio mal. Acho que tive uma recaída de ontem. – menti, tapando a boca de , que estava quase rindo, com as mãos.
- Ok. Seu namorado está no banheiro do seu quarto, só para avisar. Estou descendo. – ficamos em silêncio por alguns segundos, até que minhas mãos pararam de pressionar a boca dele.
- Louco. – falei de forma brava. Ele riu e mordeu meu lábio inferior. Bufei e tentei o afastar de mim. Novamente, ele riu e se aproximou.
Depois de um rápido beijo, o empurrei com um pouco mais de força e desci da bancada, ficando de frente para o espelho e com atrás de mim.
- Você é louca! – ele falou de um jeito afetado e apontou para seu próprio cabelo. Eu ri. Realmente, eu havia bagunçando demais.
- Louca por você. – o imitei e mostrei minha língua. Ele travou seus braços ao meu redor enquanto eu tentava arrumar meu cabelo e sua boca se guiou para meu pescoço. – , pára. – tentei me manter séria, mas era quase impossível resistir a ele. – , pára. – repeti, tomando consciência de que meus pais estavam no andar de baixo.
- Ok. – ele resmungou. Eu sorri de canto e me virei para ele.
- Depois tem mais. – joguei um beijinho no ar e saí do banheiro. Enquanto descia as escadas, escutei minha tia comentar com minha mãe que talvez eu tivesse passado a virose para o meu namorado.
Sentei-me no sofá, agora vazio, e, segundos depois, se juntou a mim. Mordi meu lábio inferior para não deixar a risada escapar. Senti que ele estava se esforçando também.
- Estão se sentindo melhor? – minha tia perguntou, olhando para nós dois.
- Estamos sim. – sorri de forma agradecida. – Mas estou um pouco cansada. Talvez fosse melhor eu irmos para casa, não é, amor? – olhei para ele.
- É. Estou com dor de cabeça.
- Eita. É melhor vocês irem mesmo. – concordou, piscando discretamente. Engraçado, ela já era da família, já que convivia com a minha família até sem a minha presença. Devolvi a piscada e me levantei, pegando minha bolsa e meu casaco.
- Vamos, então? – perguntei ao . Olhei para meus tios e meus pais. Fui até cada um e me despedi deles, desejando, novamente, um Feliz Natal.
Fomos guiados até a porta por , que comentava em um baixíssimo tom de voz que nós éramos sortudos por eu ter uma família tão tapada.
Assim que o elevador chegou, eu falei para ela que ligava mais tarde. olhou para , cuja expressão eu não pude captar a tempo, e resmungou “Ih, duvido!”. Escutei gargalhar.
- Que foi? Quero saber! – perguntei quando entramos no elevador. Ele me puxou para mais perto.
- Esquece isso. – respondeu com um sorriso e me deu um breve beijo. Sorri e torci minha boca em uma careta.
- Tá... – resmunguei e começamos a conversar sobre outro assunto.
Capítulo 5

- Gracinha! – me zoava pela quinta vez naquela manhã. Estávamos fazendo o café e, nesse momento, ele ria, colocando o pão na torradeira. Passei por ele e bati com o pano de prato em suas costas.
- Vou chamar meu pai, hein. – ele mostrou a língua e parou de rir. O meu celular tocou e eu corri para atendê-lo.
- Fala, .
- Vocês vão ao lanche de hoje, né?
- Creio que sim, por quê?
- Eu não perderia por nada o suando frio com as perguntas do seu pai. – ela deu uma gargalhada, me fazendo rir baixo. se aproximou de mim, a fim de escutar a conversa. Dei um leve empurrão em seu peito e ele voltou a arrumar a mesa.
- Tadinho. – ri fraco. - Meu pai tem esse poder.
- Ele tá do seu lado, não tá? Digo, o .
- Tá.
- Então eu vou perguntar e você responde com “sim” ou “não”. Ok? – emiti um som afirmativo. – Vocês, quando sumiram, boa coisa não foram fazer. E eu sei o que era. Mas, curiosidade minha...Chegou nos “finalmente”? – eu corei bruscamente e soltei uma risada. percebeu isso e passou a me encarar.
- Não.
- Porque seu pai chegou, certo?
- Sim. – escutei uma gargalhada escandalosa vinda de .
- SEU PAI É UM BROCHA-MACHO! – ela falava, ou tentava, entre risadas. Eu comecei a rir, mais pelo fato da risada dela ser contagiante, do que por ter sido engraçado. Do nada, escutei o som que me lembrava panelas caindo no chão. parou de rir na hora. – Caralho, eu vou ter que desligar. Nos falamos depois. Beijos. – ela desligou sem, ao menos, esperar eu me despedir.
- Já? – pareceu surpreso com a rapidez da ligação.
- É, ela teve que desligar. Acho que a desastrada deixou alguma panela com comida cair no chão. – ele riu junto comigo.
- ... – murmuramos ao mesmo tempo e voltamos a rir depois.
Sentei-me à mesa e começamos a conversar sobre o que faríamos.
- Hoje tem o lanche de comemoração do aniversário da Jolie. É meio chato, você não precisa ir. - Não, eu vou se você quiser. Eu gostei dos seus parentes, eles são simpáticos. Até seu pai. – eu olhei para ele e soltei uma risada.
- Por falar em pai...a tava conversando comigo sobre ontem, e ela comentou sobre o caso do banheiro – novamente minhas bochechas coraram. – e ela deu um apelido pro meu pai, brocha-macho. – começou a rir, fazendo um sinal de positivo com o dedo.
- Descobri por que vocês tanto riam! – ele exclamou depois de recuperar o fôlego.
- Achou que fosse do quê?
- Sei lá. Qualquer coisa, menos isso. – ele deu de ombros e começou a falar de alguma coisa do emprego dele.

- ! – minha pequena prima me abraçou.
- Feliz aniversário, Jolie! – eu sorri sincera.
- Obrigada. – ela sorriu e pude ver que seus dois dentes da frente haviam caído.
- O que aconteceu com seus dentes? – perguntou com uma entonação preocupada.
- A fada dos dentes levou. – Jolie respondeu, fazendo um biquinho.
- Mas ela deixou dinheiro pra você? – a garotinha concordou com a cabeça e nos mostrou 3 moedas de 1 Pound.
- Depois eu vou pedir dinheiro emprestado para você. Ok? – brinquei, a pegando pela mão e indo em direção à sala. – Mamãe! – a abracei assim que a vi.
- Filha, como está? – Sue me perguntou assim que saí do abraço. – E você, ?
- , por favor. E, sim, estamos bem. – ele respondeu e sorriu.
- Que bom. – minha mãe afirmou. Virei-me e cumprimentei meus outros parentes, apresentando aos meus primos.
Nos afastamos um pouco das pessoas, o que me fez notar que o cabelo de Joanne havia mudado radicalmente. Agora estava roxo. pareceu se surpreender com a cor do cabelo dela.
- Roxo? Lembrei-me de quando você tinha o cabelo vermelho.
- Eu tinha 15 anos, era doida. – rolei os olhos.
- Creio que Joanne tenha mais ou menos essa idade e seja doida igual a você. – confirmei com a cabeça. – Só imagino se ela não tem conversado com algum tarado pela Internet. – ele riu.
- Se for tarado, eu mando ela se afastar. Mas se valer à pena, eu a aconselho a esperar. – pisquei. sorriu abertamente e me deu um selinho. Passei meus braços por seus ombros e encostei meu nariz ao seu, dando início a um beijo. Ouvimos alguém pigarrear e nos afastamos. Corei instantaneamente e peguei na mão de .
- Olá, Marcus. – disse em um tom amigável.
- Desculpe interromper, mas eu queria perguntar uma coisa... você seria , de uma banda chamada McFly? – arqueei uma sobrancelha e encarei . Eu sabia que ele teve uma banda, mas como meu primo sabia da existência deles?
- Sim... – respondeu desconfiado. – Mas como você sabe? – ele estava em um misto de espanto e felicidade.
- Meus amigos ouvem as músicas da sua ex-banda. São boas, cara! Não sei por quê vocês acabaram. – Marcus aparentou tristeza. Os olhos de brilharam, me fazendo sorrir que nem uma boba.
- Obrigado, mas existem bandas muito melhores, tanto que a minha nem chegou a evoluir.
- Porque vocês não foram ousados o suficiente para contatar um agente, nem se promover.
- Ah, rapaz, esqueça isso. Foi há mais de quatro anos.
- É, vou esquecer. Mas ainda acho que deveriam voltar. – Marcus apresentou desapontamento. Senti pena dele. De fato, a banda de era boa o suficiente para fazer sucesso, mas agora era tarde demais para falar qualquer coisa. Todos os integrantes haviam seguido com suas vidas, não havia mais nada a se fazer.
Assim que Marcus se afastou, se virou, novamente, para mim.
- Onde estávamos? – ele passou os braços por minha cintura e se aproximou.
- Na casa dos meus pais com a sala cheia de gente da família. Inclusive meu pai. – eu ri e murchou seu sorriso.
- O brocha-macho. – rimos alto e trocamos um selinho, nos afastando depois. veio até nós.
- O brocha-macho não pára de olhar para vocês. – ela comentou com uma expressão aterrorizada.
- Estávamos falando dele agora.
- Sua mãe fica falando “Pare de olhar, Christopher”, mas ele não tira os olhos. Acho que qualquer movimento brusco que o fizer, ele vem atacar. – nós rimos.
- É, tá sério o negócio. É melhor nos aproximarmos. – os dois assentiram com a cabeça. – Só tome cuidado para não fazer movimentos bruscos! – brinquei e deu uma risada sarcástica para mim. Eu sorri e apertei sua bochecha com a mão que não estava segurando a sua.
- , a Jolie está te chamando para brincar com ela. – minha tia disse, cortando meu papo com .
- Ok, tia, vou lá. – levantei do sofá e o puxei pela mão. Subimos as escadas até o quarto dos meus pais. Jolie estava jogada na cama king size, vendo Hannah Montana, que estava passando na TV.
- Jojozinha. – a chamei, me jogando ao lado dela na cama.
- Tira os sapatos, . – ela falou com sua voz meiga. Eu tirei meus sapatos e falei para fazer o mesmo.
- Tirei. E agora?
- Nada. – ela riu.
- Nada? – perguntei com um sorriso brincalhão. Aproximei-me dela ao vê-la negar com a cabeça. Comecei a fazer cócegas em sua barriga. Ela se contorcia, rindo. Parei por uns instantes, deixando-a respirar e depois voltei.
- E agora, nada? – perguntei, com as mãos paradas em sua barriga. Ela respirava aceleradamente. - A gente pode brincar de... casinha.
- Tá certo. – tirei minhas mãos dela. – Mas você vai ter que me explicar como joga isso, porque eu não sei mais.
- É fácil. – Jolie se levantou e pôs a mão na cintura. Minha tia tinha essa mania. Soltei uma risada frouxa e passei a escutar a explicação dela. – Você e o são meus pais. – eu ri e olhei para ele, que sorria. – Aí eu vou passar mal. E vocês vão cuidar de mim, me dar sopinha, essas coisas. Só que a sopinha é feita de sorvete, que nem aquele que tem aqui em casa. – ela sorriu, sapeca.
- Entendi. Então vamos começar? – perguntei olhando para os dois. Ambos concordaram. Jolie se jogou na cama e pôs a mão na cabeça. Eu e nos levantamos.
- Mamãe! Papai! Tô passando mal! – ela falou. Eu me ajoelhei perto da cama e pus a mão sobre a testa dela, tentando disfarçar o riso.
- Meu Deus, , o que daremos pra essa menina? – olhei para ele.
- Eu já sei. Vou pegar e já volto! – saiu do quarto. Fitei o rosto de Jolie.
- O que será que o papai vai pegar?
- Não sei. Espero que seja meu remédiozinho. - minutos depois voltou ao quarto com três tigelas em mãos.
- Você consegue sentar, filhinha? – ele perguntou, parecendo preocupado. Jolie acenou com a cabeça e se sentou, fingindo ter dificuldade ao fazer isso. estendeu uma tigela a ela, e ela a pegou. Depois, ele me estendeu uma e eu vi uma mistura de sorvete derretido com M&M’s.
- Isso é o quê, papai? – Jolie perguntou.
- É uma poção para curar. Mas só funciona se toda a família tomar junta. Então, no três, nós tomamos. Ok? – concordamos com cabeça. – Um, dois, três. – levamos os potes à boca, mastigando os confeitos de chocolate.
- Está se sentindo melhor? – perguntou à Jolie, que concordou com a cabeça. Ele sorriu, deu um beijo na testa dela e passou a mão por seus cabelos.
- Sabe, eu sinto que a gente devia dormir um pouco. Até porque você precisa descansar, já que acabou de se curar de uma doença terrível. – dramatizei.
- É, eu também acho. – concordou. Nós três deitamos na cama. Jolie estava no meio de nós dois. Fiquei acariciando seu rosto até que ela adormeceu. Assim que ela fechou os olhos, olhei para e notei que ele me fitava.
- O que foi? – perguntei de forma tímida.
- Você vai ser uma ótima mãe. – ele deu um sorriso enorme.
- Assim como você será um ótimo pai. – retribuí o sorriso. De fato, ele será um ótimo pai.
Passamos mais alguns minutos na cama, até que resolvemos ir para o meu quarto.
- Você toca violão também? – perguntou assim que viu o instrumento perto da cadeira da escrivaninha.
- Meu tio me ensinou uma música, que é a única que eu sei tocar.
- Eu quero escutar. – ele sorriu.
- Ok, mas se eu errar, leve em conta que tem tempo que eu não a toco. - murmurou um “ok”.
Peguei o violão e sentei na cadeira. Comecei a tocar, encarando o chão para não rir. Eu detestava ser o centro das atenções, mesmo que fosse de somente uma pessoa.

If I fell in love with you
Would you promise to be true
And help me understand
Cause I've been in love before
And I found that love was more
Than just holding hands

If I give my heart to you
I must be sure
From the very start
That you would love me more than her

If I trust in you oh please
Dont run and hide
If I love you too oh please
Dont hurt my pride like her

Cause I couldn't stand the pain
And I would be sad if our new love was in vain
So I hope you see that I
Would love to love you
And that she will cry
When she learns we are two

If I fell in love with you
"
(tradução)

sorriu e me aplaudiu. Ri demonstrando vergonha e deixei o violão de lado assim que notei que se aproximava. Levantei-me da cadeira e fiquei de frente para ele. Senti suas mãos envolverem minha cintura e me puxarem. Coloquei minhas mãos em seus ombros e deixei minha consciência de lado no instante em que seus lábios tocaram os meus e seu perfume me intoxicou novamente. Subi minhas mãos para a parte de trás do seu cabelo e as deixei por lá, brincando com seus macios fios.
pressionava seu corpo contra o meu, que agora estava encostado na escrivaninha. Suas mãos seguiam as laterais do meu corpo, às vezes parando em minha cintura para apertá-la de uma forma não-bruta.
Estava descendo minhas mãos por suas costas quando ouvi a porta ser escancarada. Rompi o beijo e, dessa vez, não me afastei. Haja saco para agüentar esse povo mal educado. Eu, que estava de frente para a porta, abri os olhos e constatei que tivemos, mais uma vez, sorte. Era Joanne, que, no momento, estava mais vermelha que um pimentão.
- Erm... Desculpem atrapalhar. Mandaram eu chamar vocês, não sei por quê. – ela fez uma careta, olhando para o chão. Certamente ela estava constrangida a ponto de não querer olhar.
- Já vamos descer. – sorri e olhei para , que estava de olhos fechados. Assim que Joanne fechou a porta, ele murmurou:
- Pelo menos não era seu pai. – riu e me deu um selinho.
- Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, eu acho. – brinquei e saí dos braços dele, o que era extremamente difícil para mim, devo afirmar. Peguei em sua mão e saímos do quarto. Assim que chegamos na sala, notei que Joanne, e Marcus tentavam disfarçar as risadas, colocando a mão na boca. Os repreendi, discretamente, com o olhar e me sentei no sofá com .
- , vem na cozinha comigo? – falou. Concordei com a cabeça e a segui depois de sussurrar “já volto” para . Assim que entramos no cômodo, ela encostou a porta.
- Vocês são doidos de, novamente, se trancarem em um cômodo. Você devia ver a cara do seu pai quando a Joanne, sem querer, falou que vocês estavam no teu antigo quarto. Ele faltou ir lá em cima. – deixei uma risada escapar. – Não ria! Imagina se ele chega lá e vocês tão se pegando! – parecia aterrorizada.
- Meu pai deve saber que eu não sou mais BV, amiga. E se não souber, nada que uma dose de realidade não resolva. Digo, eu já passei do estágio dos beijos há um tempo... – falei a última frase em um tom mais baixo.
- Eu preferiria não arriscar. – ela me aconselhou. Dei um sorriso amigável e saímos da cozinha. É, eu teria que aprender a controlar meus hormônios.

Capítulo 6

- ...
- Que foi? – já era a 9308423094ª vez que ele me chamava naquela tarde.
- DÁ PRA SAIR DESSE BANHEIRO? – ele gritou, batendo na porta do cômodo. Eu abri e a porta e passei por ele.
- Calma, estressado. Já saí.
- Depois de te chamar milhões de vezes, tinha que sair uma hora. – ele resmungou e entrou no banheiro. Era véspera de ano novo e eu estava na casa dele, onde seria a reunião para nossos amigos.
Fui até o quarto e coloquei a lingerie que eu havia comprado para a ocasião. Olhei-me no espelho e ri, constrangida. Balancei a cabeça, ainda com um sorriso e coloquei meu hiper-curto vestido branco. Fui até o espelho, passei uma maquiagem básica e depois liguei o secador, começando a arrumar meus cabelos.
- ... – ameaçou entrar no quarto, mas eu fui mais rápida e prendi a porta.
- Que foi? – gritei, ainda fazendo força contra a porta.
- Nossos amigos chegaram e eu já tô pronto, só falta você, amor. – ele usava um tom de voz calmo. Sorri que nem uma abestalhada.
- Já tô indo.
- Ok. – ele murmurou. Voltei até o espelho e terminei de secar meu cabelo, pondo uma sandália alta depois. Olhei para a cama, que estava totalmente bagunçada, e dei de ombros. “Mais tarde eu arrumo.” Pensei antes de sair do quarto e fechar a porta do mesmo, seguindo para a sala. Cumprimentei os amigos de e cheguei aos meus, mais especificamente, , seu namorado, e dois amigos de faculdade.
- Você está linda, amiga. – ela me elogiou.
- Obrigada. – dei um sorriso. – Você também, amor! – sorriu. chegou perto e passou a mão por minha cintura. Richard e se viraram para cumprimentar outras pessoas.
- Você está maravilhosa. – sussurrou ao pé do meu ouvido e mordeu meu lóbulo. Sorri, me arrepiando.
- Espere e verá. – disse no mesmo tom de voz que ele havia usado e saí, indo cumprimentar as pessoas que estavam chegando. Antes de chegar até as pessoas com quem eu falaria, eu olhei para trás e pude notar um sorriso malicioso brotar nos lábios dele. Mordi meu lábio inferior, disfarçando um sorriso igualmente malicioso, e me virei para falar com as pessoas.

- Gente, falta um minuto! – uma prima de , Emma, gritou e começou a servir o champagne para os poucos convidados.
Assim que ela terminou de encher minha taça, me virei para procurar o . Faltavam 20 segundos apenas!
Encontrei-o na varanda, apoiado no parapeito e com a taça em mãos. O envolvi em um de meus braços e encostei minha cabeça em suas costas. Ele virou para mim e, com um lindo sorriso, murmurou:
- Feliz Ano Novo, minha gatinha. – deslizou suas mãos para a minha cintura e passei as minhas ao redor de seu pescoço.
- Feliz Ano Novo, meu amor. – falei antes de beijá-lo. Fomos atrapalhados por uma saltitante. Se não fosse um dia “especial”, eu a mandaria para um lugar não muito legal.
- FELIZ ANO NOVO! – nos abraçamos e começamos a pular, rindo. Richard e trocaram um singelo “Feliz Ano Novo” e ficaram nos encarando com caras sérias.
Assim que saímos do abraço, notei que a taça de champagne ainda estava intacta. Olhei para e estendi a taça até a dele, sorrindo.
- Que tudo dê certo para nós. – ele falou. Concordei com um sorriso e tomei um gole da bebida. Os convidados dele vieram falar conosco. Ele me abraçou por trás enquanto falávamos com todos. Eu amava o jeito dele ser igualmente carinhoso comigo na frente dos outros. Parecia que ele não tinha medo de me exibir para os outros. Ah, o amor.

- A gente pode ficar aqui até amanhã de manhã, cara! Pensa, existem países que ainda não chegaram na meia-noite. Vamos ter compaixão com a lerdeza deles e comemorar à distância! – exclamou o namorado de Emma. Eu sei que ele já tava bêbado, mas tá achando que a casa do meu namorado é o quê? Eu preciso de privacidade. P-R-I-V-A-C-I-D-A-D-E. Certo, eu já estava doida com aquelas pessoas que insistiam em ficar lá. se tocou do que eu queria no primeiro olhar mortal que eu lancei à ela após a meia-noite.
- Acho melhor não, amor. – Emma respondeu, ligeiramente envergonhada. Em outra ocasião, eu falaria “Ah, que nada, a casa é de vocês!” Mas dessa vez era diferente. Além de não ser nem minha casa e nem deles, eu queria ficar sozinha com o meu namorado. É tão difícil entender?
- Por que, amor? A vida é tão linda! – arqueei a sobrancelha e olhei para , que murmurou:
- Ele sempre fica assim em festas. – eu soltei uma risada.
O meu desejo pela privacidade estava prestes a ser realizado, só havia mais 4 pessoas para me livrar, Emma, o namorado dela e dois amigos meus da faculdade.
- , nós estamos indo. – olhei para Carmen e Rudolph, meus amigos da faculdade, que se despediam de mim.
- Obrigada por terem vindo! – sorri e me despedi dos dois, que saíram da casa minutos depois. Encarei , suplicando para que ele fosse falar com a prima e o namorado dela.
- Tô indo, senhorita. – ele bateu continência, fazendo-me rir e foi em direção aos dois. Fingi que estava arrumando alguma coisa na mesa e depois segui o mesmo rumo de .
- Obrigado, zão! Vocês são demais! – o bêbado se despediu. Soltei uma risada discreta e me despedi de Emma, que estava completamente sem graça pelas atitudes do namorado.
Segundos depois, me aproximei da porta da sala e a tranquei, ouvindo os sinos de aleluia no meu ouvido. Fui até o , que punha uma música no rádio. Reconheci a música de primeira, já que meus pais viviam a escutando.
ia se aproximando de mim fazendo uma dança engraçada. Prendi minha risada e olhei em seus olhos. Ele sorria abertamente enquanto passava uma mão por minha cintura e a outra pegava uma das minhas.

Bésame, bésame mucho
Como si fuera esta noche
La última vez

Bésame, bésame mucho
Que tengo miedo a perderte
Perderte después

Que tengo miedo a perderte
Perderte después


cantarolava em um espanhol enrolado, o que fazia eu me segurar para não rir. Nos movíamos lentamente, enquanto ele ainda cantava próximo ao meu ouvido. Assim que a música acabou, fitei seu rosto e sorri abertamente.
- Foi lindo, mas eu ainda prefiro que você cante em inglês. – dei uma risadinha. Ele fez uma careta.
- Eu dou a mão e você quer logo o pé. – fez biquinho.
- Eu quero você inteiro, é diferente. – dei um selinho e pisquei para , que logo me puxou para mais perto, como se isso fosse humanamente possível.
- Seus desejos são recíprocos. – ele sussurrou. Sua voz rouca me deixava arrepiada. Sempre. Deus, Deus, Deus... um dia eu ainda infarto com esse homem. Procurei seus lábios urgentemente e logo nos envolvemos em um beijo.
Se me perguntassem de quem era o melhor beijo do universo? O dele. O sorriso mais bonito? O dele. A risada mais gostosa? A dele. Ele, ele, ele, tudo se ligava a ele.
Deslizei uma das minhas mãos para sua nuca, passando a arranhar suavemente com minhas unhas. Senti estremecer e apertar minha cintura com um pouco mais de força. Ri com isso e continuei a arranhá-lo, o provocando. me conduziu até a parede do corredor. Suas mãos logo desceram para meus quadris e uma delas puxou minha perna, praticamente descoberta, já que o vestido era mínimo.
Pressionando seu corpo contra o meu, acariciava minha coxa. Dei impulso e passei minhas pernas ao redor de sua cintura. Ele passou a me pressionar mais ainda contra a parede, deixando suas mãos passearem por minha bunda, costas e cintura, enquanto as minhas deslizavam por uma pequena extensão de suas costas, ombros e braços.
Lentamente fomos deixando a parede, passando pelo pequeno corredor e logo chegando ao quarto, onde ele deitou por cima de mim sobre a cama. Rapidamente inverti as posições, sem deixar de beijá-lo.
Em poucos minutos, revelei minha lingerie, comprada para a ocasião, deixando com o sorriso mais tarado do mundo. Sorri de uma maneira sexy e voltei a aproximar meu rosto do dele. Brinquei de passar meus lábios sobre os dele e mordiscá-los, até que, com uma certa urgência, passou a ficar por cima de mim e me beijou, tomando o controle.
Eu simplesmente amava despertar o lado mais... “selvagem” dele. Embora eu gostasse de me sentir no controle, estar sob o controle dele, , era muito melhor.
Tudo o que eu preciso falar a partir daqui é que eu me sentia nas nuvens quando estava com ele, já que tudo fluía tão naturalmente. Nessas horas era como se existisse somente eu, ele e nada mais.


Capítulo 7

Primeiro mês de namoro. De fato, eu sentia que iríamos durar. Digo, talvez fosse porque eu estava perdidamente apaixonada por ele. Talvez. Mas sabe quando você tem a sensação de que algo vai, com plena certeza, acontecer? Então, eu me sentia assim.
Esse pensamento percorria por minha cabeça. Eu me sentia estranha em relação a isso. Quer dizer, nunca havia me sentido assim antes. NUNCA.
Já cheguei perto, mas nunca foi sincero. Com o é diferente. É verdadeiro.
- Bom dia, amor! – entrei no apartamento dele, sendo recebida com um breve beijo.
- Bom dia. – ele falou assim que nos afastamos um pouco. Espero que ele não tenha esquecido do dia.
Deixei minha bolsa em cima do sofá e fui até a cozinha, onde deixei os muffins que eu tinha acabado de comprar em cima do balcão. veio em meu encalço e me abraçou por trás enquanto eu colocava os muffins em um prato.
- O que faremos para comemorar o dia, madame? – sorri e tentei olhá-lo, notando que ele possuía um sorriso também. – Não achou que eu fosse lembrar, achou?
- Sinceramente, não. – fiz uma careta. Ele riu e deixou um leve beijo em meu pescoço.
- Eu sou maravilhoso, admita. – me virei para ele.
- E convencido. – soltou uma risada e me beijou. Incrível como eu perdia a noção do tempo e do espaço quando estava com ele.
- Então, o que faremos hoje? – me perguntou assim que partimos o beijo.
- A gente vai tomar café e... não sei.
- Uau! Pela primeira vez você não tem tudo planejado. – brincou e me deu um selinho.
- E você tem? – mordi a bochecha dele. Ele negou com a cabeça.
- Mas eu acabei de ter uma idéia. – achei que um sorriso malicioso seria formado em seu rosto, mas me enganei.
- É? Qual? – indaguei, curiosa.
- Eu e você debaixo das cobertas o dia inteirinho. – ele fez uma cara fofa. Novamente, o dei um selinho.
- Sabia que eu gostei da idéia?
- É? – ele mordeu meu lábio inferior. – Safadinha. – riu.
- Idiota. Você que deu a idéia, tarado-mór. – estirei a língua.
- Formamos um belo casal, Safadinha e Taradão. – gargalhei.
- Eu te amo, sabia? - ele concordou silenciosamente com a cabeça.
- Você sabe que eu também te amo, . – sorri abobalhada e voltamos a fazer planos para o dia.

As mãos de acariciavam meus cabelos, me fazendo sorrir. Estávamos na cama dele, assistindo a algum filme. Eu estava quase pegando no sono, já que eu sempre ficava mais cansada que ele, se é que me entendem.
Meu braço esquerdo estava ao redor da cintura dele, o abraçando fortemente. Minha cabeça estava encostada em seu peitoral, que agora subia e descia lentamente. Era engraçado estar ali, com o mesmo que eu havia conhecido há 4 anos e que me fazia todas aquelas promessas.
Senti minhas pálpebras pesarem e mexi minha cabeça lentamente. Eu me perguntava o que um cara de 28 anos queria com uma menina de 18. Eram 10 anos de diferença. Ele, com certeza, já deveria ter pegado melhores. Eu não devia chegar aos pés das mulheres de 28.
- Você pensa demais, sabia? – ele riu.
- Achei que estivesse vendo o filme. – me sentei na cama e olhei para ele.
- Estava, mas seu silêncio me fez estranhar. – sempre falava que eu era o tipo de pessoa mais irritante para ver um filme, porque eu falava o filme inteiro. – Tá tudo bem, amor?
- Tá... eu só tava pensando em umas coisas. – sorri fraco. Ele murmurou um “hum” e me puxou pelos braços, me fazendo voltar à posição anterior.
- E que tipo de coisas? – mantinha um sorriso em seus lábios.
- Você não vai querer saber.
- É tão pervertido assim? – abriu a boca, fingindo indignação. Eu ri e dei um leve tapa em seu braço.
- Você acha que eu só penso nisso o dia todo? – me ajeitei até ficar na altura do pescoço dele e dei uma mordida lá.
- Não, meu amorzinho. Mas fale, o que passava por sua cabeça?
- Promete não ficar chateado? – mordi meu lábio inferior. Apoiei-me em meu cotovelo direito e olhei em seus olhos.
- Prometo. – seu olhar transmitia preocupação.
- Então... eu tava pensando no que te fazia ficar com uma inexperiente menina de 18, quando você podia ter outras melhores... – forcei meus lábios e desviei meu olhar.
- Podem existir outras mulheres, mas a melhor, pra mim, é você. E é por isso que é com você que eu quero ficar, entendeu? - ele, rapidamente, girou seu corpo contra o meu. Espalmei minhas mãos em suas costas e nossos olhares se encontraram. estava, como sempre, com uma expressão serena em seu rosto. Sorri e concordei com a cabeça. – E nunca mais se questione a respeito disso. – mordeu meu lábio inferior e nós encerramos a conversa com um beijo.

- Ei, aonde você pensa que vai? – me puxou pela cintura assim que eu ameacei sair da cama. Ri, voltando para o lado dele.
- Eu preciso ir para casa e me trocar. Esqueceu que a gente marcou de ir à boate com a ? – ele resmungou alguma coisa no meu pescoço. Soltei uma risadinha.
- Não tem como marcar pra outro dia? – perguntou com a cabeça encostada no meu pescoço.
- ! – me fiz de brava.
- Tá bom, dona. Já entendi. – ele resmungou, ficando com o rosto à altura do meu. - Mas a senhorita vai me esperar, porque eu vou tomar banho e te levar em casa.
- Não precisa, amor, é sério. – disse, dando-o um selinho.
- Precisa. É nosso aniversário de um mês e eu quero passar o dia todo colado em você. – mordeu meu queixo levemente e deu um sorriso encantador.
- Como você demora mais do que eu, você toma banho lá em casa. A falou que ia se arrumar na casa do Richard.
- Eu não demoro mais que você, tá? – ele fez biquinho. Eu gargalhei.
- Vou te iludir só hoje, tá, amor? Só porque é nosso primeiro mês juntos. – brinquei. mordeu meu pescoço com um pouco de força. – Ai, seu canibal! – eu ia massagear a região quando ele segurou minha mão e começou a dar leves beijos no local, me deixando arrepiada.
- Desculpa. – ele sussurrou com os lábios próximos aos meus. Cara, alguém tem que avisá-lo de que um dia ele perderá a namorada. Motivo? Ataque cardíaco.
- Uhum. – murmurei, puxando o lábio superior dele. Sorri ao sentir a língua de traçar o contorno dos meus lábios, pedindo “permissão” pra aprofundar o beijo. Começamos a nos beijar lentamente, até que desceu suas mãos até minha cintura, brincando com a barra da minha blusa. Parti o beijo e dei uma leve mordida em seu queixo.
- Coloca uma roupa, , a gente tem que ir. – tentei tirá-lo de cima de mim. Ele ria das minhas tentativas inúteis.
- Só mais um beijinho, vai. - rolei os olhos e suspirei.
- Só mais um e a gente vai! – exclamei. sussurrou um “uhum” de forma irônica e me beijou. Rompi o beijo com um selinho.
- Anda, . – ele não se moveu e continuava me olhando com aquele mesmo sorriso. – Anda, amor. – falei de forma arrastada. Ele suspirou e resmungou um “tá”. rolou para o meu lado e eu dei um selinho nele, saindo rapidamente da cama, antes que ele me puxasse de novo.

Passamos pela porta do meu apartamento.
- , apartamento; apartamento, . – fiz as apresentações e ri. Fomos até o meu quarto, onde eu joguei minha bolsa em cima da cama e sentei na mesma. – O apartamento não é lá grandes coisas, mas dá pra viver.
- É bem aconchegante aqui, . – ele sorriu. – Eu notei que tem um quarto vazio, pra que seria?
- Eu disse que eu dividiria apartamento com amigas, no plural, logo, a gente tá esperando uma amiga voltar da França. Ela foi passar as férias lá.
- Entendi...
- Se com duas já é essa zona, imagina com três! – eu brinquei. riu.
- Amor, que horas que a gente tinha que estar lá mesmo? – ele perguntou.
- 20:45, por quê? – indicou com o relógio com o olhar. Olhei. Já era 20:00. – Eu vou pro meu banheiro e você vai pro banheiro da . - levantei da cama e fui procurar uma toalha. Assim que achei, entreguei uma a e indiquei o quarto.
Tirei minha calça e ia tirar a blusa quando escutei alguém bater na porta do banheiro. Abri e o vi entrar.
- O que você tá fazendo aqui? – perguntei, rindo.
- A gente pode tomar banho no mesmo chuveiro, dá no mesmo... – ele sugeriu, fazendo uma carinha angelical. Eu soltei uma risada, negando com a cabeça e empurrando-o pra fora do banheiro. Tranquei a porta e, finalmente, me despi, indo tomar banho.

- , onde você está? – me perguntava, impaciente. Olhei para , que tentava controlar uma risada, com uma expressão de “Agora ferrou!”.
- No caminho... – falei, incerta.
- No caminho? Especifique. – mordi meu lábio inferior. odiava mais do que tudo ficar esperando os outros.
- Passando pela esquina do nosso prédio. – eu sentia que ela iria me matar quando eu chegasse lá.
- Se o não quiser perder a namorada, acho bom ele pisar no acelerador. – é, ela me mataria. desligou na minha cara.
- Ih, tá estressada! – comentei, fazendo gargalhar. – Ela falou que se você não acelerar, você vai perder a namorada. – vi aumentar a velocidade, soltando uma risada.
- O problema maior é se ela quiser me matar! – brincou. Arqueei uma sobrancelha e lhe lancei um olhar sério.
- Vai brincando, , vai brincando. – o carro parou, já que o sinal estava fechado. Ele passou o braço por meu ombro, me deu um beijo na bochecha e voltou a atenção para a rua. Mirei seu semblante, notando que ele ainda possuía um sorriso brincalhão em seu rosto. O que eu havia feito para merecer um homem daquele mesmo?

- Não nos mate! – escondia meu corpo atrás das costas largas de , que estava com as mãos erguidas pro alto. Richard riu e soltou uma risada debochada.
- Como é o primeiro mês de vocês, não os mato. – saí de trás de e fui cumprimentá-la.
- Desculpas. – falei e me inclinei para falar com Richard.

Entramos na boate após esperar 10 minutos na fila. Assim que entramos, fomos para a pista. Uma música com uma batida animada tocava. Nós dançávamos no canto mais vazio da pista, ou seja, próximo ao bar. Eu e dançávamos colados, assim como e Richard.

“You want me to move closer, get closer
(Você quer eu chegue perto, mais perto)
If you wanna go gotta let me know
(Se você quiser ir, me diga)
Closer, get closer
(Perto, mais perto)
To your luvin, uh I think I'm fallin'"
(Por seu amor, uh eu acho que estou caindo de amores.”)

Eu, que nunca havia escutado aquela música, passei a aprender a letra, já que gritava do meu lado. Acho que ela estava tentando falar isso para Richard. Nota mental: lembrá-la de que declarações são feitas com calma e em lugares silenciosos, onde o seu par possa entender o que você está falando.
Olhei para eles e agora os dois berravam os versos. É, minha nota mental pode ser apagada. Voltei a mirar os olhos encantadores de .

"I'm in love with you and every little thing you do
(“Estou apaixonada por você, e por cada coisinha que você faz)
I'm in love with you
(Estou apaixonada por você)
I'm in love with you can't take my eyes off you
(Estou apaixonada por você, não consigo parar de te olhar)
I'm in love with you.”
(Estou apaixonada por você.”)

Ainda escutava e Richard gritarem essa estrofe um para o outro, o que fez com que eu e ríssemos e entrássemos pra brincadeira.

“When the feeling gets right into ya
(“Quando o sentimento te invade)
and there's something bout tonight
(e tem algo sobre essa noite)
and we can make it ours yeah
(que a gente pode transformar na nossa! Yeah)
Baby it’s just an ilusion
(Baby, é só uma ilusão)
It's something that I like
(É uma coisa que eu gosto)
Boy I think I'm fallin'
(Menino, acho que estou caindo de amores!)
Could it be?”
(Poderia ser?”)

Então o refrão voltou a ser tocado. Eu ria mais do que cantava, mas eu sabia que nenhum de nós estava mentindo quanto ao refrão.
Após mais algumas músicas, resolvemos procurar uma mesa. Assim que achamos, nos sentamos e eu resolvi ir ao banheiro. veio comigo.
Passamos pela multidão até chegar à porta do banheiro, que estava vazio. Ajeitamos nossas maquiagens e cabelos, o que demorou uns 10 minutos.

- Amiga, tenta não fazer cena. – interrompeu nossa conversa, olhando diretamente pra nossa mesa. estava conversando com uma mulher loira, peituda e com cara de... 28 anos. Senti meu sangue subir até a cabeça. Me mantive afastada da mesa, tentando prestar atenção na conversa deles. A loira jogava os cabelos de 5 em 5 minutos, exibindo também seu imenso decote. Perguntava-me se estaria imaginando como seria encostar lá. Franzi minha testa, tentando ler os lábios de , mas não consegui.
- Amiga, vou procurar o Richard. – falou para mim e saiu. Murmurei um “ok” e voltei a encará-los. A mulher entregou um papel a ele e saiu da mesa, despedindo-se dele com um beijo na bochecha. estava com o mesmo sorriso simpático de sempre.
Como, assim que eu voltei à realidade e comecei a caminhar para a mesa, um grupo passou por mim, me deixando sem a visão dele, não pude ver o que ele fez com o papel.
- Quem era a loira? – perguntei sem fazer rodeios.
- Uma amiga da faculdade. – ele respondeu sem piscar.
- Hum... – murmurei.
- Vem cá, vai... – me puxou pela mão, me fazendo sentar ao lado dele no banco acolchoado. – Pára com esse ciúme, lembra do que eu te falei hoje à tarde... – eu ainda estava com a cara fechada. Ok, eles só estavam conversando. Respira, , não chora.
- Promete que o que você disse mais cedo é a mais pura verdade? – eu tentava controlar as lágrimas. Eu tava na TPM, só podia.
- Nunca mentirei pra você. – me beijou. Retribuí o beijo, passando meus braços ao redor do pescoço dele. As mãos dele alisavam minha cintura e minhas costas. Ouvimos um pigarro vindo dos dois seres que estavam conosco. Rompi o beijo e os encarei seriamente.
- Vão pra um quarto! – gritou, rindo. Richard colocou as bebidas na mesa. Dry Martini para as mulheres, e cerveja para os homens.
- Vocês não enjoam de cerveja, não? – perguntou, dando um gole no seu drink em seguida. e Richard se olharam.
- Não! – os dois falaram em uníssono.

Perdi a conta de quantos drink’s pedimos durante a conversa, que se estendeu até as 4 da manhã. Meus pés estavam moídos de tanto que havíamos dançado, e minha cabeça girava, devido ao álcool.
- Acho melhor irmos. – falou. Todos concordamos e nos levantamos. Fomos até o balcão, onde pagamos a conta, e depois cada casal seguiu seu caminho.
- Relaaax, take it eaaaaaaaaaaaaaaaasyyy! – eu berrava/cantava dentro do carro. Ele ria de mim, tapando os ouvidos sempre que o sinal fechava. Assim que entramos na garagem, desligou o rádio do carro. Resmunguei, e ele falou que eu já havia cantado demais. Saímos do carro e seguimos para o apartamento dele.
Comentávamos da noite. Eu já havia esquecido totalmente da loira com quem ele havia conversado. De fato, eu estava mais interessada em “aproveitar” o resto da noite do que qualquer outra coisa. Acho que também, já que assim que entramos no apartamento, ele me pôs contra a parede, me beijando urgentemente.
Joguei minha bolsa em algum canto, não me importando com o celular, nem com nada que pudesse quebrar. Se eu estava consciente do que estava fazendo? Claro que estava. Assim como ele.
Então, pouco a pouco nossas roupas e sapatos tomaram o mesmo destino da minha bolsa e, novamente, nós “celebramos” nosso primeiro mês juntos.

Capítulo 8

Meu celular tocava incessantemente. Bufei e abri os olhos.
Notei que eu estava na sala, debaixo de uma coberta que eu não fazia a mínima idéia de como havia chegado ali. Levantei do sofá, o qual eu dividia com , e catei uma blusa e minha calcinha. Como meu querido celular não parava de tocar, peguei a primeira blusa que achei, ou seja, a dele.
Rapidamente, atendi ao aparelho irritante.
- Espero que seja importante. – resmunguei para quem estava na linha.
- Porra, se não fosse importante, eu não estaria te ligando às duas da tarde, e, sim, às seis. – retrucou. – O fato é que você precisa ligar pra casa urgentemente. Sua mãe ligou pra cá te procurando e eu falei que você tava na casa do . Ela não te ligou?
- Deve ter ligado... – falei, sonolenta. Passei a mão por meus olhos e quando a olhei novamente, estava preta. Droga de rímel. – Vou ligar pra ela. Boa tarde.
- Tarde. – murmurou e desligou o telefone. Olhei para meu celular. 20 chamadas não atendidas. O que era tão urgente, meu Deus? Fui até o banheiro e tirei a maquiagem, voltando para sala instantes depois. Peguei meu celular novamente e disquei o número da minha mãe, indo para a varanda, a fim de não acordar .
- Filha! – minha mãe atendeu, chorosa.
- Que aconteceu? – me preocupei.
- Sua vó foi para o hospital. – senti meu coração apertar.
- O que ela tem?
- Ela teve um AVC pela madrugada e foi internada. Eu tô aqui no hospital com seu pai, mas não venha pra cá hoje, até porque ela não tá num quarto só dela... – senti meus olhos encherem d’água e murmurei um “ok”. Desliguei o telefone e escorreguei pela parede até minha bunda tocar o chão. Voltei alguns anos e senti tudo o que eu havia sentido. Um soluço surgiu e eu não fui capaz de controlá-lo. Meu choro incontrolável deve ter acordado , já que ele veio até mim e se sentou ao meu lado.
- O que houve, meu amor? – me perguntou.
- Minha vó... – eu falei entre soluços. Ele simplesmente me abraçou e me deixou chorar no ombro dele.
Chorei até sentir o ar escapar de meus pulmões e não voltar mais. Passei a respirar profundamente, tentando não chorar mais. passou a alisar meu cabelo, não dizendo nada. Ele sabia que eu não conseguiria explicar. O que me confortava era saber que ele estava ali, e, mesmo que não falasse nada, eu sabia que ele estava me apoiando.
Saí do abraço e o encarei. Dessa vez, não estava com um sorriso encantador, nem simpático, no rosto, e, sim, uma expressão preocupada. Ele enxugou minhas lágrimas e eu tentei falar algo.
- Calma, depois você explica... – balancei minha cabeça de forma afirmativa. se levantou e me puxou com ele. Fomos até o quarto abraçados. Digo, eu encolhida entre um dos braços dele.
Deitamos na cama e nos limitamos a ficar perdidos em pensamentos. Eu pensava se realmente havia razão para eu ficar daquele jeito. Quero dizer, eu não estava fazendo drama à toa, mas, ao mesmo tempo, não era como se minha avó tivesse falecido ou algo do tipo.
Adormeci em meio aos carinhos de e em meio aos meus pensamentos.

Abri os olhos, sendo momentaneamente cegada pela luz que atravessava o vidro. Olhei ao redor, nada de . Eu odiava acordar e não vê-lo ao meu lado. Chame-me de desesperada, eu não ligo.
Cambaleei até a cozinha, onde ele estava. se virou para mim.
- Melhor, amor? – ele me deu um selinho e eu tentei sorrir, concordando. Sentei-me à mesa e ele voltou a fazer qualquer coisa que ele estivesse fazendo no fogão. Olhei para o nada até que estalou os dedos na minha frente, parecendo preocupado. Fitei seu rosto.
- Fale, baby. – falei em um tom meio desanimado.
- Vamos comer. Eu pus as coisas na mesinha da sala. – Quanto tempo eu fiquei em estado alfa, cara? Que namorado prendado esse que eu tenho. Concordei com a cabeça e me levantei da cadeira, indo para a sala com ele.
Sentamos em umas almofadas, usando a mesa de centro como mesa para refeição. havia feito algumas torradas. Comecei a comer, não conversando em momento algum. Eu fitava o nada.
Acho que isso era o que mais preocupava , meu silêncio. Mas eu era assim... sempre que ficava triste, eu ficava calada, perdida.
Suspirei pesadamente e terminei de beber meu suco de laranja. Fui até e sentei ao seu lado. Ele me encarava com seus perfeitos olhos azuis.
- Desculpa. – franziu a testa.
- Pelo quê?
- Por te preocupar. Eu sei que isso não tem nada a ver com você, e voc... – ele estendeu o indicador próximo aos meus lábios, fazendo “Sh!” .
- Se eu me preocupo, é porque eu gosto de você, e isso tem a ver comigo, só. – me inclinei e o dei um selinho demorado. – Mas, sempre que você quiser, pode me contar tudo. – novamente, o dei um selinho demorado. – E eu acho que eu vou começar a ser bonitinho de frase em frase. Gostei dessa idéia do selinho a cada fim de frase. – nós rimos e eu aproximei para dar, novamente, um selinho nele.
- Eu conto o que aconteceu. – ele fez um gesto com a cabeça, como se me mandasse prosseguir. – Hoje, eu acordei com meu celular chato. Quando eu atendi, era a , pedindo para eu ligar para minha mãe urgentemente. Liguei para ela, e ela me contou que minha vó tinha tido um AVC e estava no hospital. E então eu fiquei daquele jeito. – suspirei pesadamente e continuei. - Eu tenho medo, ... – murmurei antes de ser abraçada por ele.
- Aconteça o que acontecer, eu estarei aqui pra te consolar, mesmo não sabendo o que falar. – soltou uma risada fraca. Afastei-me dele e o olhei nos olhos.
- Acredite, você estar do meu lado já é o suficiente. – foi a vez dele se inclinar e me dar um selinho. – Eu já disse que te amo? – ele fez uma cara de dúvida, mas mantendo um sorriso torto. Eu sorri levemente e, novamente, trocamos um selinho. – Eu te amo, meu amor. – colei meus lábios aos dele, passei meus braços ao redor do pescoço dele e entrelacei minhas mãos. Aprofundamos o beijo, até que eu me lembrei que havia esquecido de entregar o presente dele no dia anterior. Rompi o beijo.
- Vamos para o quarto. – arregalou os olhos e depois deu um sorriso tarado. Eu ri e me expliquei. – Eu tenho que te dar uma coisa. – então o sorriso dele aumentou. Desisti de explicar e me levantei. me seguiu até o quarto. – Sente e espere. – ele fez o que eu mandei, ainda com aquele sorriso. Revirei os olhos e fui até minha bolsa. Peguei um pacote e o escondi atrás do meu corpo, até chegar perto dele.
- Calma, eu tenho que pegar uma coisa. – ele levantou rapidamente e abriu o armário, pegando algo que eu não identifiquei o que era. – Senta na cama e fecha os olhos.
- Ok... – me sentei e fechei os olhos, como ele havia pedido, ainda mantendo o presente colado às minhas costas.
- Pode abrir. – ele sussurrou, estendendo um embrulho para mim. Sorri abertamente e peguei o embrulho, deixando-o do meu lado.
- Não vai abrir? – me perguntou com um olhar desapontado.
- Vou, mas é sua vez de fechar os olhos. – ele murmurou um “ok” e fechou os olhos. – Abra. – entreguei-lhe o presente, que foi aberto ao mesmo tempo em que eu abria o meu. Ri assim que vi um ursinho vestido com uma roupa que eu falei que ficava bem nele. Abracei o ursinho, podendo sentir o cheiro dele. Era o mesmo perfume de .
Levantei meu olhar e o vi se divertir com o ursinho que eu havia dado para ele, vestida igual a mim no Natal, com um vestido preto tomara-que-caia e um sapato alto. Ele sorriu para mim.
- Quanta originalidade a nossa, não? – nós rimos.
- Eu amei o meu. – falei e me aproximei para lhe dar um beijo rápido.
- Amei o meu também. – ele sorriu. – Mas eu ainda tenho mais um para te dar.
- Não, , eu não comprei outra coisa. Ai, como eu sou muito desleixada como namorada, desculpa... – eu gesticulava, fazendo-o rir.
- Pára, não é sua obrigação me dar presentes. E eu não quero que você pense que eu sou um namorado que só dá ursinhos de pelúcia. – ele me interrompeu, risonho. Então ele puxou uma caixa de trás das costas e a abriu, revelando um lindo colar prateado com um pingente em forma de estrela. Levei minhas mãos à boca. Alguma vez eu contei que tenho um fascínio por estrelas? E que se eu não fosse estudante de medicina, seria de Astrologia? - Gostou? – puxava o próprio lábio inferior com os dentes, demonstrando insegurança. Sorri sincera e concordei com a cabeça, muda. – Um certo passarinho me contou que você gostava de estrelas... – ele sorriu galanteador. Estendi meus braços até ele e o agarrei, dando vários selinhos. Nós dois ríamos entre os beijos. - Você não vai colocar? – perguntou assim que nos afastamos. Concordei silenciosamente e me virei para ele, tirando meus cabelos do meu pescoço. colocou o colar e veio até a direção que eu olhava, sorrindo.
- Como está? – perguntei, ajeitando o cabelo e olhando para como se ele fosse uma câmera.
- Tá perfeita, como sempre. – se inclinou, ainda com aquele sorriso lindo que ele tinha, e nos beijamos brevemente.

- Alô? Mãe? – perguntei.
- Oi, filha.
- O que aconteceu? – sentia meu coração disparar a cada segundo.
- Ela já está consciente, mas vai ficar em observação até semana que vem. – murmurei um “uhum”. – Você pode vir visitá-la amanhã. Traga o , se quiser. Acho que ela... – minha mãe fungou. – vai gostar de ter a presença dele. – Se estivéssemos cara a cara, ela, provavelmente, estaria com aquele lindo sorriso maternal, fazendo as coisas parecerem melhores do que, de fato, elas são.
- Pode deixar. Vou desligar agora. Beijos. – desliguei a ligação e me virei para . – Eu acho que vou pro meu apartamento, pra curtir minha tristeza. – soltei uma risada frouxa. veio até mim e me abraçou. Encostei minha cabeça em seu peito.
- Não vá. Eu não quero que você fique sozinha. – ele disse, preocupado.
- Mas... – ia falar, quando ele me interrompeu.
- Você não está me incomodando. – deu um sorriso e nossos olhares se encontraram. Selei nossos lábios e dei um sorriso singelo.

A noite passava e eu me encontrava pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Eu estava encolhida, com as mãos juntas e sob minha cabeça. Escutava a respiração de bater em meu pescoço e era engraçado o fato de que, às vezes, a mão dele que estava ao redor da minha cintura, se mexia e voltava para o mesmo lugar.
Comecei a planejar meu dia, já que não havia mais no que pensar. Primeiro, eu levantaria, tomaria café com ele. Depois, tomaria um banho, demoraria uns 30 minutos pra me arrumar e ligaria pra minha mãe. Então eu parei por uns segundos o planejamento. Lembrei de quando falou que iria começar a empacotar minhas coisas, já que eu passava mais tempo na casa dele do que em qualquer outro lugar.
Acho que ela não entende como é bom estar com ele. E tomara que não entenda mesmo. Se pudesse ouvir a última frase, começaria a me chamar de ciumentinha. Segundo ele, eu pego “pilha” muito fácil e eu fico linda quando estou brava. O amor é cego e tem demência.
Voltando ao planejamento...Depois de ligar para minha mãe, eu vou com ele até o hospital. De fato, eu queria que ele fosse. Eu iria propor isso a , deixando claro que eu não me incomodaria se ele declinasse o convite, já que a atmosfera não seria das melhores. Mas, o conhecendo como eu conheço, eu sei que ele vai falar que está comigo para tudo e que vai comigo até lá.
Minha barriga roncou e eu me toquei de que estava sem comer desde a tarde passada. tentou me empurrar um sanduíche de presunto e queijo que ele mesmo havia feito “com todo o amor e carinho que eu sinto por você” - palavras dele - mas eu não quis, estava sem fome alguma. E agora eu daria tudo por um daqueles.
Fiz um certo esforço para olhar para o relógio. 5:12. Nada como um lanche da madrugada. Gentilmente, tirei uma das mãos de da minha cintura e me levantei vagarosamente, a fim de não mexer na outra mão dele, que estava acima da minha cabeça.
Rumei até a cozinha no breu da sala, quase tropeçando na mesinha de centro. Assim que acendi a luz, fechei meus olhos, devido à claridade, e os abri segundos depois.
Esquentei uma caneca de leite e me sentei no sofá da sala, sorvendo o líquido lentamente. Senti, por fim, minhas pálpebras pesarem, e repousei minha caneca na mesa de centro. Deitei meu corpo no sofá e minha cabeça, na almofada.
Alguns passarinhos irritantes “piavam” na varanda, mas, após algum tempo, seu “piado” se tornou relaxante e eu deixei o sono me vencer.

Capítulo 9

Acordei ao ouvir a porta bater. Abri os olhos, assustada. Notei que uma coberta cobria meu corpo e que em cima de minhas pernas havia um papel.

“Fui à padaria. Volto em instantes.
xx .”


Coloquei o bilhete na mesa de centro e senti meus olhos ainda pesarem. Sacudi minha cabeça.
- Você não vai voltar a dormir, . – falei de forma séria para mim mesma. Levantei do sofá e fui para o banheiro, escovar os dentes e lavar o rosto. abria a porta assim que voltei à sala.
- Hey, babe. – ele abriu um sorriso assim que fechou a porta atrás de si. Sorri de volta, indo em sua direção. Dei-lhe um selinho e peguei uma das sacolas de suas mãos.
- Bom dia. – falei antes de me virar e ir para a cozinha. Pus a caixa de ovos na geladeira e os pães, na cesta. Assim que ia pegar a frigideira, corri até ele e o empurrei para a mesa. riu e brincou:
- Era só me falar que hoje eu vou morrer de intoxicação alimentar, que eu me sentava. Não precisava me empurrar, sabe? – apontei a espátula para ele, rindo, e fez cara de espanto. – Meu Deus, minha namorada vai me matar com uma espátula. Socorro! – ele dramatizou, levantando os braços, ainda com uma cara aterrorizada.
- Eu posso fazer muitas coisas com uma espátula. – brinquei, mantendo uma expressão séria.
- Pode, é? – ameaçou vir na minha direção com um sorriso pervertido. Empunhei a espátula na direção dele e ele recuou.
- Bom garoto. – eu ri e comecei a fazer o café.

deu dois toques na porta do banheiro.
- Pode entrar. – disse depois de me cobrir com uma toalha.
- Telefone. – ele murmurou e me entregou o aparelho. Atendi e apoiei minhas costas na bancada da pia.
- ?
- Oi, .
- Como você tá? – ela perguntou simplesmente.
- Bem. E você?
- Também... – um silêncio se formou. Pigarreei.
- Há algo que você queira me contar?
- Quero. – fez uma voz manhosa.
- Conte, então. – ri levemente e me virei para o espelho.
- Eu e o Richard brigamos. O James me ligou um pouco depois e...- ela fez uma pausa. - eutenhoumencontro. – falou de forma apressada.
- Calma, garota! Você e o Richard brigaram por quê? – indaguei enquanto analisava minha pele, à procura de espinhas e cravos.
- Porque eu meio que expulsei ele de casa... – respondeu baixinho.
- , VOCÊ TEM PROBLEMAS MENTAIS? – perguntei em um alto tom de voz.
- Não. Eu queria ficar sozinha, poxa. – ela continuou com a voz manhosa. - Mas, sei lá, eu acho que ele aproveitou a deixa pra terminar. E, de qualquer jeito, eu tenho um encontro com o James. – terminou a frase, e eu não duvidava de que ela estivesse com uma expressão orgulhosa. Ri e balancei minha cabeça lentamente para os lados.
- Você é anormal, cara.
- Sou prática, é diferente. – ela riu. – Mudando de assunto... Já foi visitar sua vó?
- Ainda não. O horário de visitas é a partir das três da tarde.
- Ah sim. – suspirei lentamente. – Tá sendo uma barra, não?
- Tá... O que me conforta é ter o do meu lado.
- E eu, amiga? – perguntou com uma voz chorosa, o que me fez gargalhar.
- Você também me conforta, amor. – ambas rimos.
- Bom saber. Amiga, alguém tá batendo na porta aqui. Depois te ligo.
- Ok. Beijos.
- Beijos. – desliguei o telefone e saí do banheiro, passando por , que estava estirado na cama, olhando para a televisão com um agradável sorriso. Arqueei uma sobrancelha e fui até minha bolsa. Peguei um vestido de malha e uma calcinha. Fui até o banheiro e me troquei. Quando voltei à cama, me sentei ao lado de , que ainda estava sorridente. Tirei a toalha, que agora estava como um turbante em minha cabeça, e a joguei nele.
- Tá todo alegrinho por quê? – perguntei assim que ele tirou a toalha do rosto.
- Nada não... – respondeu em tom de descaso.
- Tá bom. – dei de ombros. Estiquei-me sobre ele para pegar o pente, que estava na mesa de cabeceira, e comecei a pentear meu cabelo.
Passados alguns minutos, ele ainda exibia aquele sorriso. Encarei-o.
- Que é? – ele perguntou, virando a cabeça na minha direção.
- Nada não. – respondi com um sorriso sarcástico. Virei minha cabeça para a TV e passei a assistir o filme que passava.
Não passou 10 minutos até que eu sentisse seus lábios no meu ombro, subindo para meu pescoço.
- Eu tô tentando assistir o filme, . – resmunguei, aproximando meu ombro do meu maxilar, a fim de tentar tirá-lo de lá. Em resposta, ele murmurou um “uhum” e continuou.
- Você fica tão bonitinha quando tá séria. – sussurrou ao pé do meu ouvido e soltou uma risadinha. Arrepiei-me até o último fio de cabelo.
- Você é um... – eu tentava não exibir um sorriso.
- Um...? – ele indagou, irônico.
- Um chato. – terminei a frase, não contendo uma risada ao ver a expressão ofendida que ele fez.
- Agora você me magoou de verdade. – sentou, cruzou os braços e fez biquinho. Ri, passei meus braços ao redor de seu pescoço e me apoiei em seu peito, fazendo-o deitar. Sorríamos feito dois bobos. – Eu não sou chato, sou? – revirei os olhos.
- , eu tava brincando.
- Eu sei, só tava enchendo o ego. – ele soltou uma risada. Ficamos em silêncio por uns segundos. – Eu tava rindo porque escutei o que você falou para a . – corei imediatamente e enterrei minha cabeça em seu peito. – Não precisa ficar envergonhada. É bom ouvir que você fica feliz por me ter ao seu lado.
- Como se você não soubesse disso... – falei, ainda com o rosto escondido.
- Eu gosto de escutar minha namorada falando isso, dá licença? – ele brincou. – Ainda mais quando eu também sinto o mesmo por ela. – movi meu rosto em direção ao dele lentamente. Sorri de uma forma “abestada”.
- Repete? – pedi com uma voz de bebê. riu.
- Eu gosto de ter você ao meu lado, . – Abri, ainda mais, meu sorriso. Dei um selinho demorado nele e me afastei assim que me lembrei do horário. O relógio digital marcava 14:58.
- Melhor irmos, né? - perguntou, mirando-me com uma expressão preocupada.
- Você quer mesmo ir? Eu já falei que não precis... – me interrompeu.
- E eu já falei que eu quero estar com você lá. – ele sorriu gentilmente. Concordei com a cabeça e me levantei, indo procurar meus sapatos e meu sobretudo.

Passeamos pelo imenso corredor branco e com um cheiro que me lembrava Éter até encontrar o quarto 2016. Dei duas leves batidas na porta até que minha mãe veio abri-la.
- Oi, filha. Oi, . – ela nos cumprimentou com um beijo na bochecha e um abraço. – Ela acabou de dormir, mas se quiserem entrar mesmo assim, lavem as mãos naquele banheiro. – minha mãe apontou para um lavabo próximo à porta do quarto propriamente dito. Depois de murmurar um “ok”, olhei para . Quando ia falar que ele não precisava me acompanhar, ele falou:
- A menos que você não queira que eu vá, eu vou com você. - sorri sincera. Com em meu encalço, fui até o banheiro, lavar as mãos. Adentramos o quarto, que era composto por uma cama hospitalar, uma pequena televisão e um sofá. Minha mãe estava à beira da cama, alisando a mão de minha vó.
Vovó estava pálida e, sem dúvida, mais magra. Em seu rosto, as olheiras imensas e roxas eram visíveis. De fato, me assustei. Senti a mão de apertar a minha, me encorajando. Respirei fundo e deslizei até minha mãe, largando a mão dele por uns instantes.
- Vai tudo ficar bem... – encostei minha cabeça no ombro dela. Ela assentiu com a cabeça e deu aquele típico sorriso de mãe. Olhei para , que estava nos observando do sofá. Fui até ele e me sentei ao seu lado. passou um dos seus braços por minhas costas e me aninhou em seu peito, ficando com o queixo em cima da minha cabeça.
É, eu tenho tudo para tudo ficar bem.

Cruzei minhas pernas naquele banco alcochoado que ficava próximo às máquinas de comida e café. Esperava voltar com nossos capuccino’s. O vi se aproximar com um copo em cada mão e um pequeno pacote de Skitles enfiado – não sei como - no bolso de trás.
- Tira os Skitles, por favor? – pediu. Puxei o pacote, notando que um pequeno pedaço de papel havia caído no banco. Franzi minha testa e peguei o papelzinho antes que sentasse.
Vi um número escrito e mais abaixo “Me ligue a qualquer hora. xx Bridget” escrito em caligrafia feminina.
- O que é isso? – perguntei e entreguei o bilhete a .
- Aonde você achou esse papel? - ele perguntou rapidamente.
- Caiu do bolso da SUA calça quando eu fui tirar os Skitles. E não venha me dizer que ela é só amiga. Amigas não pedem para ligar a qualquer hora. Amigas não enrolam o cabelo quando estão conversando sem intenções! – exclamei, sentindo meus olhos começarem a ficar molhados.
- , fala baixo. Estamos em um hospital. – ele falou calmamente olhando ao redor.
- Que seja. Vamos para fora, então. – levantei grosseiramente e me dirigi à cantina do hospital, que era longe dos quartos e consultórios. Virei-me para e encarei seus olhos azuis com uma expressão triste.
- Quem é ela, . Me diz! – esbravejei cruzando os braços e dando ligeiros tapas com a sola de um dos meus pés no chão.
- Uma amiga, . – ia protestar, quando ele voltou a falar. – Eu nunca disse que ela não tinha segundas intenções comigo. Eu nunca disse que nunca tive nada com ela. – novamente, eu ia falar, mas ele me cortou. – ANTES da gente se conhecer, claro. – embora tenha explicado, minha testa continuava franzida. Porém, meus pés pararam de estapear o chão e meus braços estavam colados às laterais do meu corpo.
- E desde quando vocês não têm mais nada? – perguntei com o tom de voz normal, quase sereno.
- Desde que eu me mudei para cá. – soltei uma risada desesperada, sarcástica, e passei as mãos por meu rosto.
- E aí quando você chegou aqui ficou com a primeira idiota que apareceu. – completei a história, pressionando meus lábios um contra o outro em seguida. - Não bote palavras na minha boca. Eu sempre tive interesse em te conhecer, mas eu morava há mais de 200 km de distância! E quando você encontrou comigo, eu percebi que os quatro anos esperando valeram a pena.
- Me sinto num filme clichê. – revirei os olhos.
- Esse clichê é a verdade, . Acredite em mim. – ele pediu. – Ela não faz diferença.
- Me dá seu celular. – me passou o iPhone. Fui até a agenda e procurei por alguma Bridget. Nenhuma. Contrariada, devolvi o celular a ele, que me olhava curiosamente.
- Se ela não faz diferença, eu posso rasgar o papel e você não vai sentir falta. Certo?
- Certo. – respondeu sem hesitar. Em um movimento rápido, rasguei o papel. – Vai parar com os ciúmes sem motivo, agora?
- Olha aqui, ciúmes sem mot... – fui calada por , que pressionou seus lábios nos meus. Estapeei seus ombros por alguns segundos, e, vendo que isso não surtia efeito, parei. Ele criou um pequeno espaço entre nossas bocas. – sem motivo... – tentei continuar, mas, novamente, ele me calou. Desisti de brigar com ele e entreabri meus lábios.
- Ué, não vai mais falar? – perguntou em um tom brincalhão, se afastando um pouco. Revirei os olhos, neguei e, com um sorriso de soslaio, o puxei para um beijo.

Despedi-me de e segui para o elevador. Enquanto este subia, eu catava minhas chaves na minha bolsa de colo. Assim que achei, a porta do elevador abriu. Chutei minha pequena e pesada mala de mão para fora do elevador e a arrastei com o pé até a porta do meu apartamento. Destranquei a porta e me virei para pegar a mala de mão.
Assim que fechei a porta e me virei, alguém pulou no meu pescoço. Mais precisamente um ser de estatura mediana e cabelos loiros e cacheados.
- Emily! – berrei ao mesmo tempo em que ela berrava meu nome.
- Conta tudo! Eu soube que você tá namorando o .
- ! – exclamei de um jeito alterado.
- Desculpa, não consegui me controlar. – falou piscando os olhos freneticamente.
- Pois é, se a dona não tivesse contado por seus e-mails, eu não estaria sabendo, já que você não responde aos meus, srta. .
- Seus e-mails? Eu não vi nenhum e-mail seu na minha caixa de entrada.
- Mentirosa! – Emy brincou, bagunçando meu cabelo.
- Certo, saindo do assunto “ e ”... Conta como foi lá. Conta T-U-D-O.
- Eu já se-e-i. – falou igual a uma criança, mostrando a língua, inclusive. Aproximei-me dela e dei um leve e ligeiro tapa em sua nuca. - Sabe porque você é uma inútil que passa o dia todo em casa. – retruquei, rindo ao ver a expressão de indignação dela.
- O que é seu tá guardado, meu bem! – me ameaçou de brincadeira.
- ALÔ-OU! – Emily gritou com a cabeça para fora do quarto dela. Paramos de “brigar” e olhamos para ela. – Tenho presentes. – Emy falou com uma voz afetada e fazendo uma cara de doida. Eu e nos entreolhamos e saímos correndo para o quarto dela, rindo.

- Vai fazer o que hoje, babe? – estava apoiando o celular no meu ombro e estendendo duas camisetas a minha frente, tentando decidir entre elas.
- Acho que vou ficar em casa mesmo. – respondeu simplesmente. – E você? – ele indagou.
- A Emy queria sair para algum lugar, então nós vamos. Não agüento mais escutá-la dizendo “Já faz uma semana que eu voltei de Paris e a gente ainda não saiu!”. – ri junto a .
- Boa saída, então.
- Não quer ir com a gente? – ofereci.
- Não, amor. Vou deixar vocês fazerem a saída das meninas. – falou de uma serena e bocejou em seguida. – Mas juízo, hein! – ele brincou.
- Pode deixar. Eu ligo para perguntar o que eu posso ou não fazer. Ok? – eu ri.
- Isso mesmo. – escutei uma das meninas espancar a porta e gritei “Já vou!”. – Acho melhor você desligar, né?
- Também acho. Se eu não voltar muito tarde, eu te ligo. Amo-te. – falei de maneira apressada.
- Não se preocupe. Também te amo. – disse com a voz serena. Não tenho dúvida de que ele estaria sorrindo de forma sincera. Desliguei o telefone e joguei em cima da cama.
Peguei minha nova blusa, cuja estampa era “I love France”, e a vesti. Coloquei meu bom e velho jeans, uma echarpe quadriculada, meu Wayfarer vermelho e meus All Star de couro branco.
Saí do meu quarto e fui para a sala, onde as meninas me esperavam, prontas. estava com uma baby-look cuja estampa era “I love my boyfriend, but Alex Turner makes me crazy” (Eu amo meu namorado, mas Alex Turner me leva à loucura). - Sim, ela era mais do que viciada em Arctic Monkeys. – E Emy vestia uma T-shirt com a Torre Eiffel estampada.
- Vamos, meninas? – perguntei pegando a chave de casa e a minha bolsa, que estava jogada no sofá. As duas concordaram e, então, saímos do apartamento.

Estávamos no carro, cantando “I bet you look good on the dance floor”, quando chegamos à garagem do shopping. Todas olhávamos atentamente para qualquer sinal de vaga. Os shoppings eram insuportáveis nesse quesito aos fins de semana.
Passei meu olho por uma Range Rover igual à de e vi alguém muito parecido com ele. Franzi a testa e lembrei-me de que ele me disse que ficaria em casa.
Demos outra volta naquela pequena garagem e passamos novamente pela Range Rover. As pessoas ainda estavam lá, inclusive o suposto , que estava usando um casaco preto parecido com o que o próprio possuía, porém, ele estava de costas. Balancei a cabeça discretamente. Por Deus, ele está em casa!
- Achei! – berrou, apontando para a única vaga disponível. Emy acelerou o carro e conseguimos estacionar. Soltamos um “Yey!” em conjunto e saímos do carro.


Capítulo 10

Saímos do cinema após 3 maçantes horas de filme. Se não fosse pelo Brad Pitt...
Emy disse que queria ir, urgentemente, ao banheiro, mas como este estava com uma fila gigante, a deixamos sozinha. Enquanto conversava comigo, avistei uma das pessoas que estava perto daquela Range Rover. Reconheci pelo casaco e pelo cabelo bagunçado. Fiquei esperando que ele virasse. Mas, depois de alguns segundos, desisti de tentar vê-lo e me virei para , que acabava de esbarrar em um menino. Nos afastamos mais um pouco das portas dos banheiros e eu olhei na direção do “”.
- Cara, a Emily tá botando tudo pra for... – dizia enquanto eu ficava estática com a visão que eu estava tendo.
- Me tira daqui. – pedi com voz de choro, ainda mirando .
- O que foi, ? – perguntou.
- Me tira daqui, amiga. – olhei para seu rosto por dois segundos e voltei a olhar para ele. Senti meus olhos marejarem. Não, ele não podia estar me traindo!
- Filho-da-puta. – falou pausadamente, entendendo o porquê de eu estar daquele jeito. – Vai andando pro carro, que eu vou arrancar a Emily da privada. – ela disse de forme apressada, entrando no banheiro em seguida. Andei rapidamente e com a cabeça abaixada por aquele corredor, até escutá-lo me chamar.
- ! – ignorei e continuei andando.
- ! – ele falou enquanto tocava meu ombro. Virei-me pra ele bruscamente, fazendo com que sua mão caísse de meu ombro.
- O que foi, ? – perguntei rispidamente.
- O que aconteceu? Por que você tá chorand...
- QUEM É ELA, ? OUTRA AMIGA QUE VOCÊ ABANDONOU ANTES DE VIR PARA CÁ? – me exaltei, fazendo uma boa parte das pessoas que estavam por lá me olharem.
- Ela? Quem? – ele olhou para trás rapidamente e se virou. – Não tire conclusões precipitadas, ela é só a namorada do , meu ex-companheiro de banda. Já até falei dele pra você.
- E por que diabos você está saindo com a namorada dele?
- Porque ele está no banheiro. – ele falou de uma maneira séria. Olhei por cima do ombro de para onde ele estava, e, de fato, estava lá. Ele estava abraçado à menina, olhando para nós dois. De imediato, me senti ridícula. – Olha, , eu tentei te avisar, mas seu celular está, aparentemente, desligado. – merda, eu tinha deixado em cima da cama.
- Eu... – ok, , tenta explicar agora que você é uma babaca que desconfia do namorado sem ter motivos algum. Tirando que ele é lindo, charmoso, gentil, etc. – Me desculpa, vai. Você sabe que eu sou ciumenta. – mordi meu lábio inferior enquanto fitava seus olhos azuis, que agora demonstravam tristeza.
- Eu sei que você é. Mas você sabia que eu me sinto ofendido a cada vez que você desconfia de mim? Eu nunca te dei motivos. Ou dei? – estava sério demais. Talvez tivesse desapontado. E eu não tiro a razão dele.
- Nunca deu. – sussurrei com a cabeça baixa, levantando-a depois. – Eu... eu só... tenho medo de te perder, . Você é tão gentil, tão bonito, que eu me sinto nada perto de você. Eu temo pelo dia que você vai perceber que merece algo melhor... – continuei com meu tom baixo de voz e desviei meu olhar dos hipnotizantes olhos dele. Senti seus braços fortes me envolverem e algumas lágrimas saltarem de meus olhos.
- Entenda uma coisa, se eu estou com você, é porque, além de ser com você que eu quero estar, é você quem me completa, é que você quem é melhor pra mim. – ele terminou a frase me dando um beijo no topo da cabeça. Sorri por baixo de seus braços e levantei minha cabeça para o olhar. – Me promete que nunca mais vai achar que eu estou te traindo? – perguntou com um olhar ainda triste.
- Eu prometo. Me desculpe por aquilo. – pedi desculpas novamente, firmando meus lábios um contra o outro.
- Esqueça que aquilo aconteceu. Ok? – ele propôs e eu sorri, concordando com a cabeça.
- Man... – Alguém, provavelmente , chamou . Ele direcionou sua cabeça para trás. – Tá tudo bem aí? – saí do abraço de para ver a pessoa. Era com sua namorada.
- Tudo ótimo. – ele respondeu com um sorriso. – A propósito, , ; , . – nos apresentou. Sorri para o menino, e chamei e Emy para perto. Depois que todas as apresentações foram feitas, decidimos ir para algum restaurante.

- O mais engraçado foi que o abriu a porta só de boxers e com a escova de dente na mão, e, quando ele me viu, ele se engasgou com a espuma que tava na boca. – contava nos intervalos das risadas. Todos gargalhávamos, até , que era quem estava sendo zoado.
- Faz tempo que eu não te vejo pessoalmente, me assustei, né... – ele tentou se justificar, ligeiramente envergonhado.
- Posso contar uma história? – pediu com um sorriso ainda presente. lançou um olhar sério para ele.
- Que história? – ele arqueou a sobrancelha esquerda.
- Quando eu contar, você vai lembrar.
- Ok, então.
- Bom... na nossa época de colégio, depois da educação física, nós tomávamos banho no vestiário. Eis que um dia, resolveram zoar a gente. Pegaram nossas roupas e só deixaram uma toalha. – começava a rir, fazendo-me ter vontade de rir também. – Saímos, eu e , enrolados numa toalha até a sala da diretora. – Nesse ponto, o menino que contava a história já estava gargalhando junto com . – Chegando lá, encontramos a diretora sentada na mesa e virada em direção à janela. Depois de alguns segundos, nós vimos que havia alguém... hum... entre as pernas dela. Foi tão chocante que a nossa toalha caiu. Assim que o tal homem levantou, a gente pode ver que era o Sr. Colins, professor de filosofia. De fato, eu imaginava que fosse ele, já que sala de filosofia ganhava melhoramentos a cada ano. Voltando, à história... – ele pigarreou. – Nós ajeitamos a toalha rapidamente e quando o professor passou por nós, apressado, nós vimos que ao redor da boca dele... – apoiou a cabeça na mesa e colocou as mãos na barriga, rindo muito alto. gargalhava enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.
- A boca dele...? – Lucy, a namorada de , indagou.
- Tava cheia de... – mais uma pausa para gargalhadas. – pêlos, se é que me entendem. – comecei a rir descontroladamente.
- Que nojo! – disse, ainda rindo.
- E o que aconteceu com vocês? – perguntou.
- A diretora falou com uma voz ríspida: “ Vocês não viram nada.” – imitou. – Mas, claro, nós não iríamos sair de mãos abanando. Pedi nossas roupas de volta e que nós ficássemos livres de qualquer advertência até o fim dos nossos anos escolares. Tudo em troca do nosso silêncio.
- E claro que nós demos a ela o apelido de Floresta Amazônica, mas ela nunca soube disso. – acrescentou. Continuamos rindo até que o celular de começou a tocar. Ela atendeu e me passou. Pedi licença e fui até o banheiro, onde havia menos barulho.
- Alô? – atendi.
- Filha. – era a voz de meu pai. Gelei até o último fio de cabelo.
- O que aconteceu? – franzi a testa.
- Tem como você vir amanhã aqui em casa? Sem o nem a , por favor.
- Tem. Alguma coisa importante? – comecei a roer a unha do indicador direito.
- Um pouco. Nos falamos melhor amanhã. Boa noite. Te amo, filha. – ele desligou rapidamente. Entrei em estado de pânico. E se algo tivesse ocorrido a minha vó?
Ainda com essa preocupação, retornei à mesa. O olhar de encontrou com o meu, e seu rosto assumiu uma expressão preocupada assim que viu minha testa franzida. Tentei disfarçar, dei um sorriso fraco e me sentei na cadeira ao seu lado.
- Quem era? – perguntou. Seus olhos fitavam meu rosto e eu, repentinamente, senti vontade de desabar em lágrimas. Acho que ele me passava uma sensação de segurança tão grande que me fazia ficar sensível ao extremo.
- Meu pai. – continuou me olhando. – Ele quer que eu vá lá amanhã. Sozinha. – mordi meu lábio inferior, voltando a franzir o cenho.
- Torço pra que não seja nada demais. – disse sinceramente passando um de seus braços por cima do encosto da minha cadeira.
- Também, babe. – tentei sorrir e o dei um selinho.
- Ô, casal 20! – exclamou. Rimos e olhamos pra ele. – Semana que vem nós podíamos ir a algum pub ou boate no Soho. – Soho me lembrava pornografia, mas eu sabia que as coisas por lá haviam mudado.
- Vamos, vai ser divertido. – Lucy nos incentivou, visto que eu e ficamos calados.
- Vamos, sim. – respondi e me virei para as meninas, que concordavam também.

- Não, pode pegar o último pedaço. – empurrou o prato pra Lucy.
- Não, amor! – a menina empurrou o prato de volta.
- Amor, eu sei que você ama esse bolo! – olhei para , que dividia um pedaço de bolo comigo também. Chegamos ao último pedaço. Para evitar aquela discussão besta, dividi o pedaço ao meio.
- Pronto. – ri.
- Você sabe que eu iria forçar você a comer, não sabe? – ele perguntou depois de rir. Concordei com a cabeça.
- Por isso mesmo que eu dividi. – falei enquanto deixava meu garfo sobre o prato. fez o mesmo.
- Espertinha. – ele se aproximou e selou nossos lábios rapidamente.

Pagamos a conta e nos dirigimos ao estacionamento. e Lucy dariam carona para até seu apartamento. Eu descobri que o carro de era igual ao de .
- Vai lá pra casa? Amanhã eu te dou carona até a casa do seu pai... – pedia com uma voz arrastada.
- Eu não tenho roupa lá, amor. – observei.
- Desde quando roupa é problema? Pegue qualquer coisa minha. – seus olhos continuavam implorando.
- Ok, mas você vai me dar carona até em casa.
- E da sua casa pra casa dos seus pais. Já sei. – ele riu.
- Isso. – sorri e me virei em direção ao carro de Emily. - Meninas, vou pra casa do hoje. – elas murmuraram um “ok”. Voltei até o carro de , onde entrei no banco traseiro, ficando ao lado de .

- Fiz uma descoberta hoje. – falei enquanto entrávamos no apartamento dele. fechou a porta atrás de si e jogou o chaveiro em cima do balcão que separava a cozinha da sala. Deixei minha bolsa em cima do sofá e tirei meus sapatos, os deixando próximos ao sofá.
- Qual? – Ele perguntou, interessado, depois de tirar o casaco e deixá-lo por cima de um dos bancos do balcão.
- Que é bem melhor quando você não tá dirigindo. – ele abriu a boca, em sinal de indignação.
- Eu sou tão mau motorista assim?
- Não! É melhor porque eu posso ficar abraçada a você. – tentei explicar. Ele murmurou um “ah” e abriu um sorriso imenso, se jogando no sofá e me puxando consigo. Soltei um gritinho devido ao susto e depois ri.
- Não seja por isso, vamos ficar abraçados o dia inteiro. Ok? – ele riu enquanto eu deslizava para seu lado e me aninhava em seu peito. Concordei com a cabeça, que estava sobre seu braço direito.
pegou o controle remoto e ligou a imensa TV de plasma. Estava passando “Two and a Half man”. Como sabia que eu amava aquele programa, ele deixou, mesmo vendo no mosaico que estava passando uma partida do Arsenal contra o Spurs. Levantei os olhos até conseguir ver seu rosto, que apresentava uma ligeira tristeza. Me estiquei até alcançar o controle na mesa de centro e mudei para o canal do jogo.
- Eu sei que você quer ver isso, amor. – sorri amigável e voltei a repousar minha cabeça em seu peito.
- Já disse que você é perfeita? – ele disse antes de me dar um beijo no topo da cabeça.
- Tudo pelo futebol. – soltei uma risada baixinha.
- Também... – falou. Ergui a cabeça e me apoiei em um dos braços, que estava em cima do peito dele. Fiz uma expressão indignada. – Que foi? – ele arqueou uma sobrancelha.
- Nada. – bufei e fiz menção de me levantar, quando ele me puxou para si.
- Você sabe que não é pelo futebol. – sussurrou próximo aos meus lábios. Sorri involuntariamente e o beijei.

- Amor... – murmurei. Ainda estávamos vendo a partida de futebol. Devo ressaltar que eu não suportava futebol, mas isso era relevante, pelo menos quando eu estava com ele. Eu me distraía com a forma como ele franzia o cenho toda vez que o artilheiro, ou qualquer que seja o nome do cara que tenta fazer gol, se aproximava da trave e ameaçava fazer um gol. Também me distraía com a forma como seu peito se inflava quando isso acontecia, e com a forma que ele descia rapidamente quando a bola saía de campo.
- Hum. – ele resmungou, compenetrado nos pênaltis. Revirei os olhos. Homens.
- Vou tomar banho. – anunciei e me levantei, rumando para o banheiro. Eu já possuía intimidade o suficiente para pegar a toalha no armário e escolher uma roupa dele. Ele assentiu com um simples “ok” e eu rumei para o quarto.
Observei o closet dele. parecia uma mulher, deixava todas as roupas arrumadinhas, só faltava arrumar por cores. Dei uma leve risadinha com o meu pensamento e me atrevi a pegar a menor boxer que estava na prateleira e uma blusa branca lisa. Prendi meu cabelo em um coque frouxo enquanto entrava no banheiro, me despi e entrei no chuveiro. Cantarolei alguma música velha durante o banho, que não demorou muito. Fiz um sol com uma carinha feliz no espelho, que estava embaçado, e me enxuguei. Coloquei as roupas de , conseguindo sentir o forte cheiro de amaciante. Torci o nariz. Gostava mais quando era o cheiro dele.
Dobrei minhas roupas e saí do banheiro, soltando meu cabelo. Senti alguns fios se prenderem ao meu rosto, que ainda estava meio úmido, e outros caírem para um lado só, formando uma pseudo-franja.
Assim que levantei o olhar, pude ver com um pedaço de pano azul dobrado e jogado por cima de um dos ombros. Arqueei a sobrancelha.
- Resolveu dar uma de dona-de-casa e andar com um pano de prato sobre um dos ombros? – ri da minha própria piada. soltou uma risada sarcástica e se aproximou de mim com um sorriso misterioso. Juro que tremi ao olhar em seus olhos.
- ... – o chamei com um certo temor. Ele ignorou e continuou se aproximando de mim.
- Você não tem idéia de como eu gosto que você use minha blusa, embora ela fique imensa em você. – sussurrou, brincando com os dedos na barra da “minha” blusa e soltando uma risada fraca. Sorri pensando no que falar, mas ele voltou a falar antes que eu pudesse emitir qualquer som. – Mas acho que você podia usar essa aqui. – o tal pedaço de pano azul escorregou de seu ombro e ele o pegou, entregando-o a mim depois. fez menção de tirar a blusa, mas eu o impedi, virando de costas para ele, para, assim, tirar a blusa dele e colocar a que ele havia me dado.
Tirei a parte do meu cabelo que havia ficado colada às minhas costas e olhei para baixo, tentando ler o que estava escrito.
Deixei a outra blusa em cima da cama, junto às minhas coisas e fui em direção ao espelho. Mesmo que invertido, pude ler ’s little girl” estampado em branco. Um sorriso imenso e bobo rasgou meu rosto. Soltei uma risada e senti as mãos de envolverem minha cintura. Ele encostou o queixo no meu ombro e deu um beijo atrás da minha orelha. Novamente, soltei uma risada.
- Gostou? – ele perguntou com sua usual voz rouca. Assenti com a cabeça, ainda sorrindo feito uma tola, e me virei, me deparando com seu lindo e hipnotizante sorriso. – Era pra eu ter te entregado antes, mas eu sempre esquecia de entregar... – ele comentou.
- Por isso você tinha me perguntado naquele dia se eu preferia azul ou vermelho? – questionei, estampando um sorriso de soslaio. afirmou com a cabeça.
- Errei na escolha? – ele perguntou parecendo preocupado.
- De jeito nenhum. – sorri verdadeiramente e me aproximei para selar nossos lábios. Lembrei-me de estender a toalha e murmurei um “um segundo” para ele. Rapidamente, peguei a toalha e as minhas coisas. No caminho para a cozinha, deixei minhas coisas em cima da minha bolsa, e, na área de serviço, estendi minha toalha.
Antes de entrar no quarto, dobrei o elástico da boxer, transformando-a em um short. Entrei no cômodo, me deparando com um de peito nu jogado na cama. Parei em frente à cama e dei uma voltinha.
- Como estou? – joguei o cabelo pro lado, tentando fazer uma cara sexy. Ele riu e respondeu com um sorriso:
- Sexy, sem dúvida alguma. – sorri e subi na cama, “engatinhando” até chegar ao lado dele e me aninhar, novamente, em seus braços. Nos cobrimos e ele apagou a luz.
- Amor, me promete uma coisa? – perguntei de olhos fechados.
- O quê? – ele questionou movendo a cabeça lentamente. Por mais que estivéssemos no escuro, eu podia sentir seu olhar sobre mim.
- Promete que essa camisa vai ficar com o seu cheiro? – ajeitei minha cabeça, de modo que eu ficasse mais confortável ainda.
- Prometo. – ele falou com a voz serena, e passou seu outro braço ao redor da minha cintura, me aproximando mais ainda dele. Sorri singelamente enquanto ele depositava um beijo no topo da minha cabeça.
Definitivamente, era meu porto-seguro, meu abrigo.


Capítulo 11

Entrei no meu antigo apartamento e me deparei com uma mala de viagem. Arqueei uma das minhas sobrancelhas e corri pelo extenso corredor.
- MÃE? PAI? – gritei. Meu pai desceu as escadas com uma mala gigante enquanto minha mãe descia atrás dele com uma expressão séria.
- Filha. – os dois falaram simultaneamente.
- O que está acontecendo? – senti meu ar escapar. Não, eu não queria que eles se separassem. Eles não podiam se separar!
- Seu pai vai passar uns meses na França, na casa do seu tio Paul. – minha mãe informou.
- Por quê? – questionei em tom de descrença.
- Ele está precisando da minha ajuda na empresa dele. – papai disse simplesmente. Não acreditava que fosse só isso.
- Vocês sabem que eu não tenho 5 anos, não? – indaguei cruzando os braços em fronte ao peito.
- Essa é a verdade, querida. – mamãe falou docemente. – Só estou tensa por sua vó. Tudo isso é muito novo para todos nós.
- E por que me pediram para vir hoje aqui? – perguntei simplesmente.
- Porque queríamos avisá-la disso e queríamos conversar sobre umas mudanças. – fiz um sinal com a cabeça para que ele prosseguisse. – É sobre sua vó... – meu coração apertou e eu me sentei no sofá.
- Bom, você sabe o que é Alzheimer? – acenei com a cabeça.
- É isso que ela tem? – papai concordou.
- Olha, desde que ela saiu do hospital, ela tem ficado na casa da sua tia. Tem sido duro para todos. Quando você encontrar com ela, é capaz de que você fique chocada, mas com o tempo você se acostuma. No Natal nós já suspeitávamos que isso fosse vir a ocorrer porque ela apresentava alguns sintomas, mas não imaginávamos que fosse ocorrer por agora. É uma doença comum na idade em que ela está e não há nada que nós possamos fazer. – mamãe me confortou, colocando a mão no meu ombro. Concordei, mesmo sem saber do que se tratava direito. Eu li que Alzheimer é um tipo de demência. Quando chegasse em casa, eu pesquisaria sobre o assunto. - Os médicos acreditam que o AVC só acelerou isso.
- Eu... tem mais alguma coisa que eu precise saber? – perguntei. Eu queria ir para casa. Queria ligar para , queria conversar com ele sobre isso. Ultimamente eu não tinha mais paciência de conversar meus problemas, minhas incertezas, com ninguém mais que não fosse ele.
- Por enquanto não. – murmurei um “ok” e me levantei. Despedi-me de meus pais e fui porta a fora. Com as mãos trêmulas, disquei o número de assim que saí do elevador.
- Amor, me encontra na minha casa? – supliquei enquanto a ficha de que eu estava perdendo uma das minhas inspirações caía.
- O que aconteceu? – ele pareceu preocupado.
- Eu preciso conversar. – respirei fundo, sentindo o vento gelado bater em meu rosto. Apertei um dos meus braços ao redor da minha cintura numa tentativa de fazer o frio ir embora.
- Ok. Estou indo pra lá. – desligou e eu fiz o mesmo, jogando meu celular na bolsa depois. Cruzei meus dois braços abaixo do busto e andei em passos apressados até chegar ao ponto de ônibus.

Abri a porta do meu quarto com uma certa urgência, esperando encontrá-lo lá. Eu possuía uma cópia da chave da casa dele, e ele, da minha.
estava parado em frente às prateleiras, provavelmente observando as fotos. Assim que entrei, ele se virou para mim, esboçando um sorriso.
Abracei-o fortemente por alguns segundos.
- Sobre o que você quer conversar? – ele perguntou enquanto passava as mãos gentilmente por meus cabelos. Fui até a cama e me sentei na beirada dela. me seguiu e fez o mesmo. Tirei meus sapatos e deslizei até o topo da cama, repousando minha cabeça nos travesseiros.
Alguns segundos depois, seu corpo repousou ao lado do meu. Confortei-me em seus braços e comecei a tirar todas as preocupações e medos de minha cabeça.

xx

Estávamos a dois dias do dias dos namorados. Eu estava pesquisando na Internet alguma receita para fazer. Queria algo diferente de macarrão com queijo, que era o que nós sempre cozinhávamos. Mas também queria algo simples e fácil de fazer. Ok, eu estava querendo demais. Talvez fosse melhor se nós fossemos a algum restaurante. Fechei todas as janelas que eu havia aberto e bufei.
Minha vó não poderia me dar receita alguma. Minha mãe me diria para procurar na Internet, já que ela é um zero a esquerda na cozinha. A empregada de que ia arrumar a casa dele duas vezes na semana, fazia uma comida...hum... ruim, para não falar muito mal.
A campainha tocou e eu corri para abri-la, me recordando se havia chamado alguém. Olhei pelo olho mágico e vi um encharcado. Abri a porta com um sorriso e recebi um triste de volta.
Minhas sobrancelhas se juntaram e eu perguntei o que havia acontecido. Ele me abraçou sem nada falar e eu me preocupei mais ainda.
- Me conta o que aconteceu. – implorei.
- Meu pai sofreu um acidente de carro. Minha mãe acabou de ligar para me falar isso. Ela está arrasada. – permaneci calada. Não sabia o que falar nessas horas, eu era péssima como conselheira.
- Vá para Sheffield, vê-los. – disse, ignorando o fato de que ele viajaria dia 16 e só voltaria na madrugada do dia 26.
- Eu odeio ter que fazer escolhas. – ele disse com uma expressão triste.
- Não faça, então. Eu tô mandando você ir para lá. É a coisa mais sensata a se fazer, você sabe disso. – falei. Apertei meus olhos, impedindo-os de derramar uma lágrima sequer. Eu não poderia ser egoísta a esse ponto.
O celular dele tocou e ele o atendeu. Do nada, ele ficou rígido. Fitei-o atentamente, até que ele desligou.
- Eu realmente preciso ir. Minha mãe está desabando em lágrimas. – sua expressão era uma mistura de incerteza, tristeza e agonia.
- Pode ir, amor. Eu entendo. – sorri amigavelmente, embora eu compartilhasse um pouco de sua incerteza, de sua tristeza e de sua agonia. Ele tentou sorrir e me deu um beijo de despedida antes de sair pela porta e fechá-la atrás de si.
Fui até meu quarto, joguei a sacola da Victoria’s Secret com uma certa raiva no canto do closet e me joguei na cama. Tudo tinha que acontecer comigo!

Acordei ao sentir um peso a mais na minha cama.
- ? – sussurrei de olhos fechados.
- Eu. – alguém, que não , tentava imitar sua voz. Abri os olhos e os semicerrei para a criatura que estava na minha frente, Priscila. Escutei a risada de Emily ao fundo. Peguei o travesseiro do lado e tapei minha cabeça com ele. Eu queria dormir até dia 26. Estava sendo insuportável falar com uma vez ao dia e saber que ele não estava bem. E o pior de tudo, não poder abraçá-lo.
- Vá até a sala, senhorita Soares. – Emy pulou na minha cama. Lancei um olhar furioso à ela e me livrei rapidamente do meu edredom. Andei até a sala em passos firmes e fiquei estática ao ver a quantidade de flores que havia no local.
Me aproximei da mesa de jantar, que estava repleta delas, e peguei um buquê de rosas azuis. Vi o cartão: “Rosas são vermelhas, mas também podem ser azuis.”
Priscila, que se esgueirava em meu ombro, tentando ler, ao conseguir, exclamou um “awn”. Sorri de forma boba e peguei o único buquê vermelho. Li o cartão: “Só para manter a tradição. Feliz dia dos namorados. Amo você. xx .”. Dei um pulinho e corri até meu quarto com o intuito de pegar meu celular e ligar para ele.
- Recebeu minhas flores? – ele perguntou. Tinha certeza de que ele estava sorrindo.
- Sim, e amei. – meu sorriso era grande demais para meu rosto, sentia que rasgaria minhas bochechas a qualquer momento. – Feliz dia dos namorados, amor. – falei com uma voz arrastada.
- Pra você também. Queria estar aí, me desculpe. – disse e soltou um suspiro.
- Você vai estar dia 26. – tentei consolá-lo. O mais engraçado era que eu estava igual a ele, e agora estava tentando animá-lo.
- Daqui a 12 dias. – ele murmurou com uma voz triste.
- Eu sei. – suspirei lentamente. – Como estão as coisas aí?
- Melhores, graças a Deus. Meu pai já acordou e, felizmente, não foi nada demais. Ele só fraturou uma costela. – um alívio tomou conta de mim. Pelo menos ele não sofreria nenhuma perda.
- Que bom. – escutei alguém falar com ele, deveria ser a mãe ou alguma enfermeira.
- Amor, vou ter desligar. Nos falamos depois. - falou apressadamente.
- Ok. Te amo.
- Também, minha menina. – ele disse e desligou. Abri um sorriso bobo e voltei à sala, onde as meninas estavam.
- , temos um problema... – murmurou.
- O quê? – indaguei.
- Aonde nós vamos pôr tantas flores? – nós três rimos.

e Emily passavam por mim com diferentes combinações de roupas. Elas teriam encontros e eu ficaria em casa. Ótimo.
- Acho que você não deveria exagerar no vermelho. Tá que vermelho é o fogo da paixão, mas...
- Te deixa parecendo uma puta se usar demais. – terminou minha frase. Eu e Emy gargalhamos. Amava o jeito escrachado de .
- E você não pode falar nada, esse scarpin amarelo parece marcador de texto. Faz meus olhos doerem! – Emy exclamou.
- Se você não quiser que James fique cego, troque. – ri. ia protestar, mas analisou o calçado e acabou se dando por vencida.
Passamos umas boas horas criticando as roupas até acharmos A roupa.
- Bom, eu sei que vocês vão ficar a tarde inteira no banheiro, então eu vou tomar meu banho agora. – anunciei e peguei minha toalha.

Saí do chuveiro e passei batida até o closet. Abri a porta dele e iria entrar quando olhei para a sacola rosa e me lembrei de que eu não iria comemorar o dia apropriadamente. Recuei uns 10 passos até que senti a parte de trás do meu joelho encostar na cama e me afundei nela, não me importando em estar ligeiramente molhada.
Sentei e olhei para a mancha deixada no lençol por meu cabelo molhado. Levantei-me e comecei a me arrumar vagarosamente. Eu iria sair de casa nem que fosse para ir à esquina!

Observar todos aqueles corações que estavam nas portas das lojas, me deixava deprimida. Era, de fato, a centésima vez que eu me deparava com um cartaz de “Happy Valentine’s” naquele dia. Eu estava odiando o fato de não tê-lo ao meu lado.
Suspirei pesadamente enquanto jogava minha bolsa sobre o chão da cafeteria. Peguei meu Mocha e dei o primeiro gole, sorrindo satisfeita ao sentir o gosto da melhor mistura com café que poderiam ter inventado.
Mirei as pessoas ao meu redor, um casal; outro casal; outro casal. E adivinha? Outro casal! Parei meu olhar entediado sobre a entrada.
Eu mentalizava entrando por aquela porta, com um sorriso confortante no rosto, mas tudo o que eu vi foi 3 amigas - para não dizer senhoras gordas - passando pela porta, aparentemente felizes com suas vidas.
Amigas, nem isso eu tinha nesse dia. estava se arrumando para sair com James, e Emy, para sair com um garoto que ela havia conhecido em uma boate.
Peguei meu celular e apertei qualquer tecla, a fim de que eu pudesse ver, mais uma vez, a foto do plano de fundo, mordendo minha bochecha e eu fazendo uma careta. Sorri e passei o polegar sobre a tela.

Passamos pela porta da sorveteria e escutamos os sininhos baterem. era doido de me fazer tomar sorvete naquele frio. Sem dúvida, eu contrairia uma gripe.
Assim que pegamos as casquinhas, ele pegou um pouco do seu próprio sorvete e passou na minha bochecha. Eu fiz uma careta de imediato e ele se aproximou para “limpar”. Escutei um som de “click” e ri.
- , você é tão clichê! – exclamei para ele, que riu.
- Você desperta esse meu lado. – então piscou e deu aquele sorriso.

- Senhorita? – despertei das minhas lembranças ao escutar a garçonete me chamar.
- Sim. – sorri amigavelmente.
- Deseja mais alguma coisa? – a atendente me perguntou. Neguei com a cabeça e voltei a pensar nele, como sempre.

Comia meu pacote de Doritos em tamanho econômico quando as duas entraram no meu quarto. Ambas extremamente arrumadas e perfumadas.
- , estamos indo. – elas anunciaram. - E não nos espere pela noite. - riram.
- Ok. Mas juízo! – as duas murmuram um “tá” e saíram do quarto. – NÃO FAÇAM NADA QUE EU NÃO FARIA! – escutei-as gargalharem e depois a porta da sala ser batida.
- É, Doritos, somos somente eu e você. – murmurei para o saco do biscoito e ajeitei meus óculos no meu nariz, voltando a prestar atenção no filme “Desejo e Reparação”, que passava na TV.

Acordei com um barulho de explosão. Botei a mão no peito e constatei que era de algum filme que passava. Olhei para meu lado e encontrei um pacote vazio de Doritos e um pacote imenso de Kit-Kat consumido pela metade.
Peguei os dois pacotes, levantei-me e fui até a cozinha. Sim, eu tinha medo de que aquilo atraísse ratos e baratas para o meu quarto. Uma mania que eu guardo desde minha infância.
Guardei o pacote de Kit-Kat e joguei fora o outro. Olhei no relógio digital e vi que era 4 da manhã. Voltei até minha cama e deixei meus óculos em cima da mesa de cabeceira. Afundei minha cabeça no travesseiro e tentei dormir, até que lá pelas 5 da manhã, eu desisti e resolvi mandar uma mensagem para ele.
”Não consigo dormir. xx .”
Deixei o celular do meu lado e encarei o teto, tentando pegar no sono. Escutei um barulho vindo do aparelho e o peguei. “1 nova mensagem SMS”.Sorri feito uma tola, desejando que não fosse nenhuma promoção de operadora.
“Nem eu. Estou com saudades, acredite. xx .”
Apressadamente, respondi.
“Queria que você estivesse aqui. xx .”
Depois de alguns minutos, escutei outro barulho.
“Eu também. Estou cansado, mas não consigo dormir. Sinto que falta algo. xx Você já sabe de quem é a mensagem.”
Gargalhei com a última frase. Ele sempre falava que não havia necessidade de se identificar após cada frase, já que o número estava gravado.
“Eu não fiz nada o dia inteiro, mas gostaria de dormir. Porém meu calmante não está na cidade, sabe? xx aquela que não deve ser nomeada muahaha”.
Admito que demorei bastante para digitar essa.
”O meu está longe também. xx Harry Potter.”
Ri e respondi.
”Você devia tentar dormir, Potter. xx Hermione.”
“Por que estamos falando das personagens mesmo? HAHAHA Vou tentar, meu anjo. Amo você. Boa noite xx seu .”
Eu odiava ler a risada dele, preferia quando estávamos cara a cara e eu conseguia escutar risada gostosa que ele dava.
“Durma bem. Também te amo. xx sua .”
Enviei a mensagem e deixei meu celular em cima da mesa de cabeceira.
“Seu ”. E, lembrando dessa parte da mensagem e de outras também, eu consegui, finalmente, pegar no sono.

Capítulo 12

Dia 25 de fevereiro. 00:01. Sinto que os dias até agora haviam se arrastado. Todas as aulas da faculdade, todos os dias de trabalho, – agora eu era atendente da minha lanchonete preferida, a Fish & Chips – tudo o que eu fazia parecia acontecer em câmera lenta.
estava em Tóquio a trabalho. Meio mundo de distância. Eu não havia falado direito com ele nesse tempo todo, já que cinco minutos de uma ligação Londres – Tóquio, me custaria, no mínimo, um terço do meu salário.
Nesse meio tempo, minha mãe começou a surtar falando que queria separar do meu pai – eu sabia que havia algo errado com a temporária mudança dele para a casa do tio Paul -, minha vó começou a morar com minha mãe, e outras coisas familiares que não importam muito.
Peguei meu MacBook Air e o abri. Acessei a pasta de fotos e comecei a olhar uma por uma. O plano de fundo da minha área de trabalho era uma foto nossa que foi tirada no Ano Novo por . Foi no momento em que nós trocamos o “Feliz Ano Novo!”. Eu o abraçava pelo pescoço e ele passava os braços por minha cintura. Sorri ao lembrar dessa noite.
Estiquei meus dedos delicados e toquei a tela, com a finalidade de conseguir tocá-lo. Obviamente só consegui sentir alguns leves choques causados pela estática e murchei meu sorriso.
Continuei com aquela tortura por mais alguns minutos e desejei que chegássemos logo ao dia 26. O vôo dele estava previsto para chegar às 7:30 da manhã e eu iria buscá-lo no aeroporto.
Afundei minha cabeça no travesseiro e deixei o notebook de lado. Fechei os olhos e senti a ansiedade ser vencida pelo cansaço.
Por fim, dormi.

- Feliz “aniversário”, amor. – desejei, encarando minhas meias surradas. Estava deitada com os braços cruzados sob a cabeça e com o telefone colocado no Viva-voz repousado sobre meu peito.
- Feliz dois meses, . – ele falou de um jeito fofo. Queria estar perto dele para apertar suas bochechas e ver a careta que ele faria. Soltei um suspiro sonhador ao pensar que no dia seguinte ele estaria de volta à cidade.
- Seu vôo chega que horas amanhã? – perguntei enquanto descruzava meus braços e me virava de bruços, apoiando meu peso em meus cotovelos e deixando o telefone, ainda no Viva-voz, por cima da coberta branca.
- Sete e meia. Mas eu já disse...
- “Que você não precisa me buscar, porque eu vou direto praí.” – o imitei e ri fracamente. – Eu sei disso, amor. Mas eu quero te buscar. Ok? – escutei-o resmungar algo como “Ô menina teimosa!” e sorri.
- Ok. – disse contrariado. – O que fez hoje? – alguma coisa caiu próximo a ele, o fazendo xingar baixinho.
- O que caiu? – perguntei, ignorando sem querer a pergunta que ele havia feito. - Eu fui tentar pôr minhas pernas sobre a mesa, mas derrubei um desses negócios onde ficam as canetas. E agora todas as pessoas estão olhando torto para mim. – gargalhei imaginando a cena. – Não é legal compartilhar uma sala.
- Desculpa, Sr. Eu-sou-o-maioral-da-Apple-da-Inglaterra. – brinquei.
- Falou certo. Da Inglaterra. – ele frisou a última palavra.
- Pra mim você é o maioral sempre, tá? – disse de uma forma fofa e depois ri.
- Sinto tanta falta de ver você rindo.– resmungou tristonho. - Pelo telefone não é a mesma coisa. – ele observou antes que eu completasse sua resposta.
- Você sabe que eu também sinto a sua, amor. Mas para quê ficar se torturando? Em menos de um dia eu vou poder estar te abraçando. – um sorriso brincou em meus lábios.
- Como faz para acelerar o tempo mesmo? – perguntou com uma voz manhosa e meu sorriso aumentou ainda mais.
- Sem fazer um rombo no bolso por gastar demais com o telefone? – fiz um “hum”, fingindo que estava pensando. – Bom, é só fazer algo que você goste.
- Como olhar nossas fotos. – ele comentou. Então ele também passava horas vendo as fotos e relembrando os momentos? - Eu gosto de fotos, você sabe. – falou e depois completou: - Mas a pessoa que aparece em todas elas me faz ter mais vontade ainda de vê-las. Estranho, não? – murmurei um “uhum”.
- Acho que você vai gastar seu salário falando comigo. – comentei assustada quando vi no visor do telefone.
- Gasto o seu também. – ele riu.
- Você vai gastar o telefone de uma pobre estudante? – indaguei indignada.
- Vou, porque eu sou mal. – tentou fazer uma risada maléfica, mas no final acabou se transformando em uma gargalhada. Ri junto.
- Ok, naugthy boy*.Te amo. – desliguei antes que aquele papo se prolongasse mais e acabássemos REALMENTE pagando com todo o salário.
“Te amo, menina.”
Recebi essa mensagem enquanto me perguntava se ele estava chateado por eu ter desligado sem me despedir. É, não estava.

Passei a tarde estudando para as provas que começariam na semana seguinte. Era dez horas da noite e eu estava observando a rua pela minha janela. Era engraçado como, ao longo do dia, o movimento ia se tornando menos intenso.
Apertei a caneca quente contra minhas mãos e sorri com a sensação boa que aquilo provocava. Dei mais um gole no meu chá de camomila e escutei a campainha tocar. Na sala, deixei minha caneca em cima da mesa de jantar e fui até a porta. Estranhei, já que e Emy passariam a noite fora.
Olhei pelo olho mágico e não consegui ver nada, o vidro estava sendo tapado. Com cautela, abri a porta e permiti-me colocar somente o rosto para o lado de fora.
Larguei a porta e a escancarei quando vi parado com seu lindo sorriso e com as mãos dentro do bolso da calça. Imediatamente, pulei em seu colo e distribui beijos por todos o seu rosto, rindo. sorria enquanto me segurava e andava para dentro do apartamento.
Empurrei a porta, fazendo-a bater, desci do colo dele e procurei por seus lábios urgentemente. Eu o apertava contra meu corpo e ele fazia o mesmo.
Enquanto desabotoava a camisa social dele, ele distribuía mordidas por meu pescoço.
Deslizei o tecido por seus braços e pude ver a musculatura perfeita de seus ombros.
, em um impulso, me pegou no colo e me carregou até o quarto, onde nós... hum... recuperamos o tempo perdido.

Palavras não eram suficientes para descrever o que eu sentia. Era como se uma parte de mim tivesse voltado a viver. Por só termos 2 meses de relacionamento, eu me assustava por me sentir assim. diria que foi porque nós passamos 4 anos sem ter um ao outro em carne e osso, e por isso tratávamos de aproveitar quando estávamos por perto, com medo de que algo fosse nos separar novamente. Eu concordava.
Sentia a respiração descompassada dele enquanto ele acariciava meu rosto, e eu tentava controlar a minha. Fechei os olhos ao sentir seu polegar acariciar minhas bochechas e quando os abri novamente, encarei seus perfeitos e hipnotizantes olhos.
- Senti saudades. – ele murmurou. Concordei lentamente com a cabeça e me aproximei mais, entrelaçando nossas pernas e sentindo sua respiração bater em minha boca. Selei nossos lábios sem a intenção de aprofundar o beijo. Deslizei-os até seu queixo, onde dei uma leve mordida.
- Por que não me avisou que voltava antes? – perguntei simplesmente.
- Queria fazer surpresa. – respondeu e depois exibiu mais um de seus sorrisos.
- Podia ter dado uma dica, pelo menos. Assim, eu não apareceria com uma camiseta velha para abrir a porta. – resmunguei, me sentei na cama e puxei um lençol para me cobrir.
- Não teria graça. Você não pularia em mim. – ele riu. Deixei uma risada escapar e fiquei sem graça.
- Você ama quando eu pulo em você, admita. – falei de um jeito convencido.
- Aham, aham. – concordou de um jeito divertido antes de se levantar.
- Para onde você está indo? – perguntei, curiosa, enquanto ele fechava o zíper da calça e pegava o blusão que eu vestia mais cedo, que antes pertencia a ele. – Ei! – protestei quando o vi vestir a blusa.
- Vou pegar uma coisa no meu carro e volto. 5 minutos. – puxei-o pela mão e ele sorriu. – Juro que não demoro. – prometeu com um sorriso fofo.
- Ok. Mas um beijinho antes. – pedi, me ajoelhando na cama e ficando na altura do peito dele. riu e me deu um breve beijo. - Volta logo! – falei antes que ele saísse do quarto. Levantei da cama e fui ao banheiro. Joguei água no corpo, no intuito de me lavar e vesti outra roupa.
Quando colocava uma camiseta, agora minha, eu escutei falar que tinha voltado. Fui até a sala, onde o encontrei com uma sacola da Starbucks na mão.
Caminhei até o sofá e me sentei ao seu lado.
- Que é isso? – perguntei de um jeito infantil.
- “Xoriço”. – ele riu. [n/a: eu sei que essa brincadeira não existe lá, mas eu tinha que fazer, porque eu imaginei a cena, e aaaah, esquece... ‘-‘]
- Nhé. – fiz uma careta.
- Fecha os olhos e abre as mãos. – fiz o que ele mandou, sentindo algo ser colocado em minha mão direita. Assim que os abri e vi o muffin de chocolate, meus olhos brilharam e eu soltei um gritinho de felicidade. – Comprei no caminho daqui. Sabia que você ia gostar. – ele sorriu sincero, e eu dei um selinho nele. Dei a primeira mordida e fiz um som de “hum” enquanto mastigava. riu e deu uma mordida também.
Minutos depois, estávamos com chocolate até na ponta do nariz.
Sabe quando você gostaria de ter dito algo mais para uma pessoa? Eu queria ter dito a ele que só o fato dele estar comigo em carne e osso, já me satisfazia mais do que qualquer muffin, mas, com medo de soar muito brega, apaixonada e boba, me calei.
E só para constar, agradeço por não ter esperado na cama. Seria totalmente não-sexy sujar meus lençóis com pedaços “kamikaze” de massa.
Ele largou a sacola na mesinha, repousou o tronco no encosto de braço e depois me chamou com o dedinho. Soltei uma risada e fui até ele, apoiando minha cabeça na curva do seu pescoço. Inalei seu perfume mais uma vez e sorri com a sensação de que tudo estava bem.
- Fly away, watch the night turn into day. – ele cantarolava. Arqueei a sobrancelha e tentei reconhecer a música. – Dance on the milky away... – encarei seu rosto e notei que ele exibia um sorrisinho. Ele estava compondo agora? Pra mim? Também pensei na possibilidade de ser uma das músicas da ex-banda dele. – Melt me with your eyes, my star girl rules the sky. – sorri abestalhadamente. Eu era a “star girl” dele? – Escrevi no avião enquanto não conseguia pegar no sono e estava pensando em você... – continuei sorrindo e o abracei fortemente. – Ainda resta um poeta dentro de mim, viu? – ele riu baixo.
- Eu sei que eu desperto esse seu lado. – brinquei. Minha voz saiu abafada, já que eu ainda o abraçava.
- Quem tá te iludindo, meu amor? – entrou na minha brincadeira e agora apertava minha cintura. Ele gostava de apertá-la. Vai entender...
- Não preciso que alguém me diga as coisas que eu já sei. – retruquei, desenterrando meu nariz de seu pescoço, e descendo meu rosto para seu peito. Levantei o olhar e o vi sorrir.
- Ainda bem que sabe... – ele falou baixinho. Sorri abertamente com isso. - E se ocorrer outra viagem, me lembre de levar alguma coisa com seu perfume, por favor. - completou depois de respirar profundamente perto do meu cabelo.
- Você tem que começar a deixar roupas suas aqui em casa. Eu não tinha como conseguir meus pijamas, você levou todos! – protestei, encarando a expressão indignada dele.
- Seus pijamas? Você diz minhas roupas. – concordei com a cabeça e ele gargalhou. – Vou ver o que posso fazer quanto a isso. – acrescentou enquanto colocava as pernas sobre o sofá. Aninhei-me mais ainda em seu peito e senti o sono começar a chegar. Fechei os olhos, que já estavam pesados, e respirei fundo.

- Sem sono? – indaguei com um pouco de vergonha assim que abri os olhos e vi seus olhos analisarem meu rosto. Notei que havia adormecido no colo dele e passei meus dedos por minhas pálpebras. Ele concordou silenciosa e serenamente. – Não sabia que você gostava de ver os outros dormirem. – ri. – Você podia ter me deixado aqui e ter ido tomar um banho, ou assistido TV, não sei... – comentei.
- Os outros não, você. – minhas bochechas coraram e ele passou seu nariz pela esquerda delicadamente, depositando um beijinho nela. – E eu não queria... Você parecia tão confortável quanto eu. – riu baixo. Sorri, desconsertada.
- Eu gosto de dormir nos seus braços. – corei novamente. – Achei que você já soubesse disso. – afirmei e o encarei.
- Disso eu não sabia. – suas mãos procuraram pelas minhas e eu as encarei, tentando fugir de seu olhar maravilhado com a minha sinceridade. Nossos dedos se entrelaçaram e eu pude notar como a mão dele era grande comparada à minha. – Eu sabia que você gostava do meu cheiro - separou nossas mãos e começou a acariciar as costas de uma das minhas com o polegar. - , da minha voz... – ele riu brevemente e eu o interrompi.
- Eu gosto, tá? – resmunguei.
- Das minhas costas – continuou a lista. Uma vez eu disse a ele que casaria com as costas dele na hora que ele quisesse. -, e não sei do que mais...
- Vou encher seu ego só porque eu te amo. Ok? – falei em um tom brincalhão. Ele riu. – Eu gosto de t-u-d-o – disse pausadamente. – em você. Até do jeito como você mexe o braço à noite. – soltei uma risadinha.
- Eu mexo o braço? – parecia surpreso.
- Mexe. Descobri isso durante uma noite de insônia. – contei. – E eu? Faço alguma coisa? – questionei, curiosa.
- Às vezes você resmunga algumas palavras soltas, como “casa”, “faculdade”, “” – ele riu. -, etc. – fiquei ruborizada de imediato, o que fez com que suas risadas aumentassem.
- Não tem graça rir da vergonha dos outros. – protestei, escondendo meu rosto entre as mãos.
- Quando é de você, tem. E eu achei bonitinho quando você falou meu nome, achei até que tinha te acordado porque eu... – então, ele parou de falar. Levantei o olhar e notei que suas bochechas estavam um pouco mais vermelhas.
- Você? – arqueei uma sobrancelha. Um sorriso começava a brotar.
- Nada. – disse rapidamente.
- Fala, vai. – pedi com uma voz manhosa.
- Porque eu estava te acariciando. Satisfeita? – um sorriso se formou e eu senti imensa vontade de rir. Consegui controlá-la e somente soltar uma risadinha.
- Olha o que eu perco quando estou dormindo! – exclamei, rindo.
- Fala como se não tivesse nada disso quando tá acordada. – ele retrucou. Mostrei a língua.
- Do mesmo jeito... Um pouco a mais não faz mal. - respondi ligeiramente.
- Ai que menina carente essa, meu Deus. – brincou, afundando o rosto no pescoço e dando vários beijinhos por lá. Comecei a rir.
- Duas semanas, né! Tem que tirar o atraso. – entrei na brincadeira.
- Tirar o atraso? – perguntou de uma maneira pervertida, trazendo-me para mais perto dele. Gargalhei.
- Você nunca cansa? – indaguei com um sorriso. Ele murmurou algo como “u-um” – entendi isso como “não” – e me beijou.

*Naughty boy = menino safado, travesso.
Capítulo 13
(n/a: se quiser, coloque pra carregar : Mardy bum – Arctic Monkeys)

O mês passou de uma forma tão rápida, que, quando eu me toquei, já estávamos próximo ao dia 25. Era um fim de semana e nós havíamos combinado, pela quinta vez, de sair com para a tal boate. Nas últimas quatro vezes ocorreu um imprevisto e tivemos que cancelar nossos planos.
Eu estava em casa, checando a maquiagem no espelho junto à e Emily. namorava James há duas semanas, e Emy continuava na mesma, mas não ligava. O cara com quem ela passou o dia dos namorados foi rejeitado quatro dias depois por ser “chiclete”.
O som campainha soou. Devia ser , que daria carona para nós. James e o casal nos encontrariam lá.
- Let’s go, girls. – fiz uma voz anasalada e elas riram. Abri a porta, me deparando com um com as mãos nos bolsos dianteiros da calça jeans.
- Hey, babe. – o cumprimentei com um selinho.
- Vocês estão lindas. – ele falou assim que as outras duas surgiram atrás de mim. Elas agradeceram, fechando a porta do apartamento, e eu fiz uma careta. Olhei para , esperando um comentário “exclusivo”, mas não obtive nada.
Seguimos para o elevador, onde ele passou um dos braços ao redor dos meus ombros.

Passamos pela entrada direto, já que tínhamos o nome na lista da área VIP, que foi colocado por , que era sócio dessa boate. Passamos pelas pessoas até encontrarmos um solitário numa das mesas.
- O que aconteceu com a Lucy? – perguntou.
- Terminamos. – o outro respondeu sem mostrar emoção.
- Sinto muito. - Eu, incerta, falei. deu de ombros e sorriu amigável.
- Não ligue, ele fica assim sempre. – me informou. Foi a minha vez de dar de ombros, murmurando um “tudo bem”. Logo James chegou. O cumprimentamos e sentamos, a fim de conversar um pouco.

Minha visão estava focada na agilidade do barman, que estava próximo a nossa mesa. Sem dúvida, era alucinante o jeito como ele movia as mãos e o líquido não escorria.
- Ham, ham. – pigarreou do meu lado.
- Hum. – murmurei, sem tirar os olhos das mãos do barman. Uau, ele fez dois Sex on the beachi em menos de 5 minutos. Quando me toquei que ele queria atenção, sorri de soslaio e continuei não olhando para ele de propósito.
Então o barman me olhou e piscou. Virei o rosto, pensando na merda que eu havia feito.
- Qual é a sua, ? – perguntou seco. O olhei.
- Hein? – fiquei séria e juntei minhas sobrancelhas.
- Você me entendeu. – ele afirmou.
- Ah, você tá falando do barman. – seu rosto assumiu uma expressão irônica. – Eu estava brincando de te ignorar, pra ver o que você fazia, mas ele deve ter entendido errado. Só isso.
- Nossa, que brincadeira mais madura, hein? “Brincar de te ignorar”. – soltou uma risada sarcástica, o que me deixou com uma imensa raiva. Desviei o olhar dele e percebi que todos na nossa mesa nos olhavam, assustados.
- Não vou discutir com você. – fui fria e me levantei, pegando minha bolsa. Lancei a ele um último olhar antes de sair da mesa e fui em direção à saída.
Saí da boate e cruzei os braços ao sentir o vento gelado bater contra minha pele aquecida pela raiva.
- Isso que dá usar pouca roupa. - pensei alto, irritada.
Andei rapidamente até a esquina, onde eu esperaria por um táxi. Enquanto eu esperava, vi aquela mesma loira que havia falando com na última vez entrar. E se eles se encontrassem? E se ele me traísse? E se nossa vida virasse um daqueles clichês?
Ok, , sai do surto.
Mirei minha bolsa, na ilusão dela ter vibrado. Abri rapidamente o seu zíper e procurei por meu celular. Meus dedos deslizaram pela tela. Nenhuma ligação nem mensagem. Bufei em frustração.
não fazia o tipo clichê sempre, eu deveria saber disso.
Fiz sinal para o primeiro táxi que apareceu e fui para casa.

Sentei no sofá com um algodão melado por demaquilante em mãos. Comecei a esfregar o algodão por meu rosto. Delicadeza e raiva eram duas coisas que não combinavam.
Depois de tirar a maquiagem por completo e enxaguar meu rosto, procurei por meu celular. Novamente, nada. Desisti daquele jogo e liguei para . Se ela estivesse na boate, ele estaria também. Quando ela atendeu, eu escutei a batida eletrônica ao fundo e suspirei, desligando sem falar nada. Ela deveria entender o que eu estava fazendo.
Então o desespero bateu e eu entendi que uma brincadeira mal interpretada podia arruinar tudo.
- , pára de ser dramática! Vocês não terminaram. E nem vão. E ele não vai se agarrar com nenhuma loira da idade dele. – repeti isso algumas vezes.
Resolvi ligar a televisão para acalmar os ânimos. Ia começar a ver “Bonequinha de Luxo” quando a campainha tocou. Deveria ser Emily cansada por estar de salto há tanto tempo.
- Eu falei pra voc... – parei de falar quando vi que não era Emy.
- Você é tão boba quando quer. – ele falou com uma expressão amigável.
- Pelo quê? Ah é, por “brincar de te ignorar”. Desculpa, , mas você já falou isso hoje. – sorri cinicamente, fazendo menção de fechar a porta. Ele impediu a porta de ser fechada e entrou no apartamento. Cheguei para trás, ainda observando seu rosto.
- Me desculpa, , não quis te ofender, nem brigar com você. – se aproximou e tocou meu rosto. Senti que ia desabar. Cruzes, eu andava tão sentimental ultimamente. – Você sabe disso... – fechei os olhos, sentindo suas carícias em minha bochecha. Assim que tornei a abrir os olhos e percebi que eles estavam marejados.
- Eu... – é, eu não sabia o que falar. Novidade.
- Eu sei que exagerei. E eu tenho andado muito estressado com o trabalho... – ele confessou, cortando minha fala. Coloquei meu indicador em frente aos seus lábios e o abracei fortemente.
- Vamos esquecer isso. – murmurei, apoiando minhas mãos em seus ombros. Senti-o concordar com a cabeça e depositar um beijinho em meu pescoço. Sorri simplesmente e me afastei para olhá-lo.
- Te amo. – murmuramos juntos e depois rimos ao notar a coincidência. Então , em um ato divertido, me pegou no colo e me carregou até o quarto, onde aproveitamos o resto da noite.

xx

Olhei para a planilha de provas que eu havia montado. Soltei um muxoxo ao constatar que a partir do dia 27 eu não teria tempo nem para respirar.
Estava no primeiro minuto do dia 25, mas eu não ligaria para ele agora. Eu sabia que ele teria uma reunião importante no dia seguinte, e provavelmente estaria dormindo, assim como eu deveria estar fazendo, já que teria de ir à faculdade.
Fechei a planilha e mirei a nossa primeira foto, que estava como protetor de tela. Sorri involuntariamente e fechei o laptop, me contentando com a idéia de ligar para ele pela tarde, antes de ir para o trabalho.

Acordei ligeiramente feliz, o que era raro. Peguei o celular rapidamente e disquei o número dele. Quando ia efetuar a ligação, me dei conta do horário e apaguei os números da tela.
Eu esperaria até o fim das minhas aulas.

O sinal que indicava o término das aulas soara e eu fechei meu caderno, jogando o de qualquer jeito dentro da bolsa junto com a caneta. Saí da sala, encontrando alguns colegas próximo à saída. Cumprimentei-os e passei pelos imensos portões da instituição. Admito que perdi alguns segundos na esperança de encontrar a Range Rover dele encostada à calçada oposta, como algumas vezes acontecia. Mas nada dele.
Tudo bem, isso é normal.
Andei algumas quadras até chegar à estação do metrô e peguei o meu celular, agora não cogitando a idéia de efetuar a chamada.
- Amor! – chamei-o, feliz. Algumas pessoas me olharam torto.
A chamada foi encerrada antes que alguma voz se manifestasse do outro lado. Tirei o celular do ouvido e fiquei olhando para sua tela com a testa franzida. Tentei ligar novamente, e caiu na caixa postal todas as outras 20 vezes. Bufei, jogando o telefone na bolsa e cruzando os braços sobre minha barriga.

Antes de começar o expediente, mandei uma mensagem:

“Estou no trabalho agora. Hoje às 22:00 lá em casa, lembra? Feliz 3 meses por falar nisso. Te amo. Xx .”

Eu esperava que ele lesse e me respondesse, mesmo que eu só fosse ver a resposta no fim da tarde.

Mesmo que ele não tivesse me respondido até agora, eu sabia que ele iria aparecer.

Arrumei a sala e pus o jantar na mesa, já que era 21:45. Fui ao meu quarto e coloquei um tubinho preto básico. Deixei meu cabelo solto e pus um salto não muito alto. Voltei à sala e abri uma garrafa de vinho, deixando-a próxima à travessa de lasagna.
22:00, anunciou o relógio. Estranhei que ele não estivesse aqui ainda. Ele costumava ser pontual. Resolvi esperar mais meia-hora.

- Ok, chega. – falei para mim mesma depois de meia-hora. Liguei para seu celular.
- Alô? – uma mulher atendeu. Mudei minha expressão totalmente.
- O está? – perguntei disfarçando a raiva.
- Ele não pode falar agora. Mais tarde ele retornará para esse número. Boa noite. – então a mulher desligou. Senti todo o sangue existente no meu corpo subir à minha cabeça.
Ele não podia estar me traindo. Respirei fundo umas trinta vezes, tentando espantar qualquer imagem dele com outra de minha cabeça.
Peguei a garrafa de vinho e enchi uma taça. Sim, enchi. Pensei em chamar as meninas, a quem eu tinha expulsado do apartamento por uma noite, mas deixei de lado essa idéia. Não queria estragar a noite de ninguém. Deixei o CD do Arctic Monkeys tocando e cruzei os pés em cima da mesinha de centro, saboreando a garrafa de vinho aos poucos.

(n/a: ponham pra tocar agora.)
A campainha tocou e eu despertei do cochilo que eu havia tirado. Era 00:30, vi no relógio de parede assim que abri os olhos. Deixei a taça de vinho, que repousava entre minhas mãos, em cima da mesa de jantar enquanto me dirigia à porta.
Escancarei a porta, me deparando com um cansado.

Oh there's a very pleasant side to you
Oh, há um lado muito agradável para você
A side I much prefer
Um lado que eu prefiro muito
It's one that laughs and jokes around
Que ri e faz brincadeiras
Remember cuddles in the kitchen
Lembra dos abraços na cozinha
Yeah, to get things off the ground
Para relaxar as coisas
And it was up, up and away
E era tão excitante
Oh, but it's right hard to remember
Oh, mas agora é meio difícil de lembrar isso
That on a day like today when you're all argumentative
Em um dia como hoje quando você está toda argumentativa
And you've got the face on
E está com uma cara ruim

- Veio aqui só para desencargo de consciência? – perguntei de um jeito acusador.
- Desculpa pelo atraso. – ele exibiu um buquê e eu suspirei, exausta. entrou no apartamento, fechando a porta atrás de si.

Well now then Mardy Bum
Bem, e agora sua mimada
Oh I'm in trouble again, aren't I
Oh, eu estou enrascado novamente, não estou?
I thought as much
Imagino que sim
Cause you turned over there
Porque você se virou de costas
Pulling that silent disappointment face
Fazendo aquela cara de decepção silenciosa
The one that I can't bear
Aquela que eu não suporto

- Onde você esteve o dia inteiro? – comecei as perguntas. - Quem que atendeu a porra do seu celular? A namorada do seu chefe? Ou foi mais uma amiga de faculdade? – questionei. Cruzei os braços abaixo do busto.
- Eu trabalhei o dia inteiro, estava na reunião que eu te falei. E quem atendeu foi a Susan, minha secretária. – respondeu tranqüilamente. Arqueei uma das sobrancelhas.
- Não sabia que o pessoal do seu departamento tinha secretárias. – argumentei com uma expressão duvidosa.
- Eu já comentei que eu havia ganhado uma assistente com você uma vez. E nem venha com esse seu ciúme estúpido, você sabe que eu não gosto de coisas desnecessárias. Às vezes parece que você não me conhece, . – ele se queixou, começando a perder a expressão amigável que seu rosto abrigava.
- Ciúme estúpido? – gargalhei ironicamente. – Engraçado você dizer isso, sabe... Eu estava prestes a te falar o mesmo. Às vezes parece que você é a pessoa que mais me conhece nesse mundo, mas em algumas horas parece que você ou esquece ou finge que esquece do que eu gosto ou não. – droga, eu sentia meu olho lacrimejar. - Eu... não sei o que fazer, . – confessei, passando as mãos pelo cabelo em uma atitude nervosa, e suspirei. – Talvez seja melhor nós... – engoli em seco, pensando duas vezes antes de falar. - darmos um tempo... – sugeri. - Eu vou precisar de espaço essa semana com as coisas da faculdade, e eu acho que vai ser bom ficar sozinha. – concluí, encarando, finalmente, os olhos dele.
- É, eu também acho melhor. – afirmou depois de alguns segundos, me lançando um olhar triste. – Nos falamos depois. – e então ele saiu cabisbaixo pela porta, segurando o buquê de cabeça para baixo. Assim que ele bateu a porta, eu a encarei, absorvendo o que havia acontecido.

Yeah I'm sorry I was late
É, me desculpe por estar atrasado
Well I missed the train
Bem eu perdi o trem
And then the traffic was a state
E o trânsito estava engarrafado
But I can't be arsed to carry on in this debate
E eu não quero ser forçado a continuar essa discussão
That reoccurs ,oh when you say I don't care
Que sempre ocorre, oh quando você diz que eu não me preocupo
Well of course I do, yeah I clearly do!
Bem, é claro que me preocupo, óbvio que me preocupo!

Desliguei o som, impaciente. Não queria nenhuma música, eu precisava de um pouco de silêncio, de paz.
Desabei sobre o sofá. A imagem dele virando as costas para mim com o buquê em mãos passava constantemente por minha cabeça. Apertei os olhos no intuito de fazer essa imagem sair de minha mente, e depois os abri.
Permaneci deitada até que Emy me mandou um SMS. Peguei o celular e exibi a mensagem.

acabou de falar com o . Espero que você esteja bem. Xx Emy.”

Esqueci que Emily estava na casa de - eles estavam tendo um rolo desde o dia da boate. Afundei minha cabeça ainda mais na almofada e adormeci, tentando me convencer de que aquilo havia sido o melhor a ser feito.

Capítulo 14


Acordei com uma enorme dor-de-cabeça, como se alguém estivesse a espremendo em todas as direções.
Droga! Vinho em jejum não fazia bem...
Levantei-me do sofá sem vontade alguma e me arrastei até meu quarto, onde dois pares de olhos me analisavam.
- Que foi? – levantei uma sobrancelha ao notar que elas me seguiam com o olhar.
- Você tá bem? – perguntou. Semicerrei meus olhos e a fitei.
- Estou ótima. – falei, sarcástica. Ao que passei pela parede espelhada do meu quarto, vi o estado deplorável em que me encontrava: meu cabelo estava desarrumado, meus olhos tristes estavam borrados pelo rímel que havia escorrido, e no canto de meus lábios havia resto de batom, que estava associado a gotículas de vinho tinto.
- Você quer alguma coisa, ? – Emy amaciou a voz o máximo que pôde. Provavelmente, elas estariam pensando que eu estava querendo me matar. E, bom, eu não estava nesse estado... ainda.
Continuei mirando meu reflexo no espelho e proferi sem muita emoção:
- Só me deixem sozinha. – por fim, suspirei. Rumei ao meu banheiro, onde eu tomaria um banho para seguir com a minha vida.

Nota mental: Seguir com a vida depois de “dar um tempo” com o único cara que me fez gostar de coisas melosas, não rola.
Esfreguei meus pés cobertos por meias de algodão grosso uns nos outros e ajeitei meus óculos. O filme passava e eu devo admitir que consegui me prender a ele por alguns minutos. Eu havia faltado às aulas e pedi dispensa por hoje no trabalho, o que seria bom para organizar meus planos. Mas quando eu me deparei com uma mesa lotada de papéis, senti que a “tarde para organizar planos” seria trocada por “tarde para ver filmes antigos e analisar minha situação de fossa”.
Ok, eu havia pedido pelo tempo, eu estava tendo o tempo. Mas por que será que eu sentia uma vontade imensa de ligar para ele? Ah, porque eu o amo, talvez. Sim, eu o AMO e admito. Eu AMO , mas eu me amo mais, por isso não vou dar o braço a torcer.
Tirei meus óculos e os coloquei na mesa de cabeceira. Levantei da cama e resolvi colocar alguma roupa para passear por aí. Acho que uma ida ao Regent’s Park me faria bem. Ou não. Eu sou tão estranha que, talvez, o cheiro de grama molhada me fizesse ficar pior.

Coloquei as mãos no bolso dianteiro único do casaco e saí do prédio. Andei alguns quarteirões até que atingi a estação de metrô. Meu celular vibrou e eu bufei, decepcionada. Eu deveria aprender a andar com a menor quantidade de tecnologia que eu pudesse. Atendi.
- Pronto. – falei depois de uma breve dança envolvendo fones de iPod, botões “Pausa” e “Bloqueio”, e, claro, o celular.
- Filha? – a voz de minha mãe ecoou pelo fino aparelho.
- Tudo bem, mãe? – perguntei, incerta.
- Tudo. O que está fazendo? – mamãe indagou com o usual tom sereno.
- Hum... Dando uma volta só. – se eu explicasse que havia dado um tempo, ela, com certeza, falaria que quem dá tempo é relógio e mulher que quer pagar de otária.
- Pode vir ao apartamento da sua tia? – ela perguntou. – Sua vó tem chamado por você ultimamente. Achamos que seria bom que você viesse visitá-la... – adicionou. Concordei com um simples “aham”.
- Te vejo em 20 minutos. – a casa de minha tia não era exatamente perto. Desliguei o telefone e o encaixei novamente no bolso de minha calça. Aproveitei que estava a poucos metros do metrô e resolvi não pegar táxi.

Adentrei o edifício monumental onde minha tia morava e passei despercebida pelo porteiro. Cheguei ao apartamento em pouco tempo e me deparei com uma porta semi-aberta. Empurrei-a lentamente e entrei no local sorrateiramente. Então entrei em choque.
Olhando minhas memórias, eu só via um rosto angelical, o qual, agora, parecia irritado. Seus olhos azuis sempre muito cintilantes, estavam sem vida, opacos. Seu cabelo liso, branco e fino, sempre arrumado para trás, agora estava desgrenhado.
- Oh! – deixei-me exclamar sem querer, fazendo todos voltarem a atenção para mim.
Vovó estava sentada à velha poltrona onde seu gato, Charles, costumava passar as tardes, ronronando.
- ! – sua voz levemente grogue me gritou. Apertei o ar com a mão direita, que era justamente a que segurava a esquerda de . - Sim. – respondi docemente, tentando esconder meu espanto e fazer com que as lágrimas voltassem para onde vieram.
- Venha cá. – me aproximei dela, com um certo receio. Não que eu esperasse que ela fosse me atacar, eu só estava... assustada. Ela tocou meu rosto gentilmente. Minha tia e minha mãe, visivelmente exaustas, permaneceram caladas, observando a cena. Eu encarava os olhos de minha pequena e idosa heroína, na procura de algum sinal de lucidez. Então ela gritou, e eu, por instinto, recuei alguns passos com os batimentos cardíacos a mil por hora. Minha mãe se aproximou ligeiramente, acalmando-a e perguntando o que ela queria. Permiti-me voltar a respirar normalmente, e aquelas lágrimas retornaram aos meus olhos, escorrendo por minhas bochechas sem permissão alguma.
Saí do apartamento, me trancando no corredor. Respirei fundo por diversas vezes. Eu era crescida o suficiente para entender que doenças assim mascaram o velho ser. Eu era crescida o suficiente para entender que eu deveria manter o controle e agir como uma adulta madura.
Retornei ao apartamento com o pensamento de que eu deveria começar a tratá-la como uma paciente.
- Me desculpe por isso, . – minha tia murmurou em um canto afastado das outras duas mulheres. – Eu e sua mãe estávamos tentando te proteger disso, e não conseguimos evitar. – eu sentia um pequeno desapontamento na voz dela. E junto ao desapontamento, a tristeza e a angústia.
- Mais cedo ou mais tarde, eu teria que lidar com isso. Não se preocupe, eu vou me acostumar. – sorri forçadamente, encarando meus próprios pés.
- É tudo uma questão de adaptação. Tanto nossa, quanto dela. Nós nos adaptamos a um novo estilo de vida enquanto ela se adapta aos remédios e à ligeira idéia de estar perdendo a consciência de seus atos. – titia suspirou. Passei um dos meus braços por cima de seus ombros e encostei minha cabeça próxima à dela, tentando confortá-la.

Passei o resto do dia tentando me acostumar com a nova realidade, o que, diga-se de passagem, não era fácil de fazer. E cheguei em casa esgotada, não só fisicamente, como emocionalmente. Eu sentia que precisava de alguém para conversar, mas eu não tinha ninguém. Na verdade, eu não tinha quem eu queria. Mas é o que dizem: o que não mata, só fortalece.

Duas semanas haviam passado e eu não havia tido um sinal de , o que me fez pensar se ele já havia desistido de mim. Essas duas semanas, sem dúvidas, foram as piores que eu já tive. E o pior é que mesmo sem vestígios dele, eu ainda me sentia sem uma parte, como se eu estivesse precisando de um conserto.
me recomendou entrar em um site de relacionamentos para ver se eu arranjava alguém, e cá estou eu, na frente do laptop, realizando o cadastro em um desses sites.
Embora eu não concordasse com a idéia de que só se cura um amor com outro, eu devo admitir que seria uma experiência memorável ver as fotos dos solteirões dos arredores.
Comecei a rodar pelos perfis, só encontrando velhos barbudos. Eu gargalhava mais ainda a cada página, o que fez e Emily entrarem no meu quarto.
- Vocês... têm que... – tentei falar entre risadas, apontando para a tela.
- Que...? – Emy perguntou com uma das sobrancelhas levantadas.
- Ver isso. – falei, respirando fundo e enxugando as lágrimas que caíam. se deitou ao meu lado direito na cama, e Emy, ao meu esquerdo. Ao ver a foto, as duas começaram a rir.
- Desculpa, amiga, não queria te expor a isso. – se desculpou depois que parou com as risadas.
- Tudo bem... mas eu acho que deveria me retirar desse site, só tem velho. Ora, eu tenho 18 anos, arranjo melhores indo a boates, certo? – confirmei com elas. As duas fizeram que sim com a cabeça. – Ainda bem que eu tenho minhas amigas. – falei e elas me sufocaram em um abraço. - O LAPTOP! – gritei quando eu senti que as duas iriam começar a fazer cócegas em mim.

Era início de noite, eu e – ok, foi idéia dela - decidimos ir a uma boate, enquanto Emy iria para a casa de . Nosso nome estava na lista, já que possuía contatos lá dentro, o que nos fez não ter pressa.
- Amiga, tá boa essa roupa? – perguntei insegura, observando-a se maquiar.
- Ahn... tá. – ela confirmou sem dar muita certeza. Olhei minha imagem no espelho novamente enquanto ia atender o telefone.
- Foda-se. Vou assim mesmo. – murmurei para mim mesma. Eu não estava no pique para sair, mas não queria desapontar , que estava empolgada. - O táxi tá aqui embaixo já. – peguei minha bolsa em cima da mesa e segui para a porta.

Chegamos à boate quando era 22:30, e passamos direto pela fila imensa, o que me frustrou um pouco. Eu queria ficar me preparando psicologicamente para qualquer cena que eu não quisesse ver.
- Se anima, ! – ela chacoalhou meus ombros. Soltei uma risada e comecei a seguí-la até a pista, desejando estar em casa. Pedimos Gin Tônicas e fomos procurar uma mesa, o que não seria fácil.

- Finalmente! – exclamei assim que achei dois assentos disponíveis no balcão. Nos sentamos e ficamos bebericando nossos drinks. - As gatinhas tão sozinhas? – duas vozes graves indagaram. Meu olhar se encontrou com o de , que estava feliz.
- Sim... – ela se precipitou. Um deles se aproximou dela e o outro continuou atrás de mim, ousando colocar uma das mãos em minha cintura. - Johnny e Lucas. – eles se apresentaram. Reparei que eram extremamente bonitos.
- e . – tentei sorrir, mas eu estava incomodada demais com a mão de Lucas em minha cintura.
- Então, nós estávamos observando vocês passarem, e vocês realmente chamaram atenção, se é que me entendem. – Johnny começou. Acho que Lucas era o tipo de capacho, que fica atrás só apoiando o maioral. Revirei os olhos.
- E decidimos vir conhecer vocês... – Lucas completou, agora largando a minha cintura e indo para um ângulo onde eu pudesse o ver sem ter que me virar.
Permiti-me encarar , que estava perguntando alguma coisa a Johnny, a quem ela deu o apelido carinhoso de John. Ela se tornava íntima muito fácil, não?
- Tem namorado? – Lucas me perguntou, virando-se inteiramente para mim. Encarei-o com um olhar confuso. Eu ainda estava namorando ? Quero dizer, eu tinha dado um tempo, não significa que eu tenha acabado o namoro... Ok, mas então o que eu tô fazendo numa boate? - Te-tenho. – respondi, não muito certa. Lucas deu uma risadinha.
- Safadinha você, não? – lembrei-me do dia em que se apelidou de “taradão” e me chamou de safadinha. Um sorriso involuntário se formou, o que fez Lucas me interpretar de forma errada. - Eu gosto disso... – ele se aproximou bruscamente, mordendo meu lóbulo de um jeito nojento. Empurrei-o com as duas mãos, olhando para o lado e constatando de não me ajudaria.
- Eu não vou contar pra ninguém... – Lucas disse com um sorriso pervertido. Empurrei-o novamente, mas com mais força, e consegui levantar, me esgueirando rapidamente entre as pessoas até achar a saída da boate.
Porcentagem de adrenalina no sangue: 100 %
Porcentagem de alegria: 0,1 %
Porcentagem de frio: 75 %
É, eu não deveria ter saído de casa.
Permaneci congelando no meio-fio por um bom tempo até que olhei meu relógio de pulso, que marcava 23:45. Ótimo, é quase meia-noite e eu estou sozinha numa rua praticamente deserta.
Abri minha bolsa e analisei o seu conteúdo: um celular, 50 libras e um batom, que não era o meu preferido. Resolvi ir andando, uma vez que se eu fosse assaltada, nada ali faria falta, a não ser pelo celular, mas seria um bom pretexto para não reler as mensagens de texto noturnas.

Cheguei à portaria com os sapatos na mão - eu havia desistido deles no meio do caminho – e só notei como minha aparência estava horrível quando olhei meu reflexo no espelho do elevador.
- Maravilhoso, . – resmunguei para mim mesma quando constatei que estava sem a chave de casa. Sentei-me no corredor, sentindo uma tristeza imensa me invadir. Dei um pequeno berro histérico e comecei a chorar furiosamente, sem me importar de estar sentada no chão do corredor.
Assim que a histeria passou, peguei meu celular e disquei os números de Emy, torcendo para que ela tivesse voltado.
- Alô? – sua voz suave falou.
- Emy? – indaguei com uma voz arrastada, fungando depois.
- , o que aconteceu? – ela me perguntou, demonstrando preocupação.
- Você não tá em casa, né? – ri sozinha da minha própria desgraça.
- Eu falei que ia ficar no ... – bati com a minha mão em minha testa. Anta!
- Ah, esquece então.
- O que foi? – ela insistiu.
- É que eu fiquei presa do lado de fora do apartamento, sabe... – comecei a falar e escutei Emily gargalhar. gritou ao fundo algo como “mande-a vir para cá, então”.
- Vem pra cá, . – Emy me deu o endereço e eu murmurei um “Ok” constrangido, calçando meus sapatos e indo pegar um táxi para ir pra lá depois.

Capítulo 15
(n/a: se quiserem, coloquem http://www.youtube.com/watch?v=PvgjxaMMP2E pra carregar)

Era um sábado ensolarado – para os padrões de Londres – quando Emily adentrou meu quarto, onde estava conversando comigo na cama, com um sorriso rasgando seu rosto.
- Ganhou na loteria? – arrisquei. riu.
- TÔ NAMORANDO! TÔ NAMORANDO! – Emy começou a fazer uma dancinha ridícula em cima da minha cama.
- Desencalhou! VAI CHOVER! – zoou e eu gargalhei.
- Se chover, vocês não vão ao churrasco. – Emily comunicou de um jeito esnobe.
- Churrasco? – perguntamos simultaneamente.
- vai dar um churrasco hoje na casa dele. E eu queria que vocês fossem. Tem mais de um mês que a não sai de casa direito, e você, , fica aí, reclamando que o James poderia ter sido mais tolerante em relação ao adultério. – Emy se queixou. Pensei por alguns segundos. Era verdade, ultimamente eu andava tão ocupada com trabalhos e seminários que eu mal tinha tempo para respirar.
“Mais de um mês.” Essas palavras ecoavam por minha cabeça. Um mês. Quanto tempo eu passei sem ele. Quantas saudades eu sentia, embora continuasse repetindo a mim mesma que aquilo estava me servindo de lição.
- ! – exclamou enquanto estalava os dedos na frente do meu rosto.
- Eu! – exclamei de volta.
- Se troca e vamos, mulher. – murmurei um “ok” e fui até meu closet.

Não sei muito bem como aquele vestido azul e branco foi parar em meu corpo, já que eu só conseguia pensar em como eu ansiava para ter notícias de . Será que ele estava sofrendo? Será que ele estava com outra? Será que ele havia sentido minha falta?
Fiquei me interrogando até chegarmos ao quintal de , onde estavam reunidos , , e mais alguns amigos que eu não sabia o nome. Engoli seco e senti meu estômago revirar. Analisei de longe seu rosto liso, sem nenhum vestígio de barba - seu sorriso continuava hipnotizante -, mas não tive coragem de procurar por seus olhos. Então era assim, perfeito, que ele ficava sem mim. Ótimo, estava me sentindo como “aquela que só foi mais uma”.
me cumprimentou ligeiramente sério – devo ressaltar –, e indicou a mesa com o olhar. Sentei-me ao lado de , que cumprimentava . Não fiz menção de levantar o olhar para ele pois eu sentia que seu olhar queimava sobre mim. Preferi manter distância, para ver se, agora que eu sabia que ele estava bem se mim, eu conseguiria esquecê-lo de uma vez por todas.

Observei espetar a lingüiça na churrasqueira, contendo uma garrafa de cerveja em uma das mãos e uma Emily apaixonada ao seu lado. Sorri solitariamente enquanto fitava o casal. Eu havia me esquecido como era bom estar com os amigos, ainda que eu não estivesse inteiramente ali.
Comecei a olhar ao meu redor e notei que todos estavam entrosados em alguma conversa enquanto eu mirava meu prato, ainda cheio e meu copo vazio. Resolvi levantar e ir até a cozinha achar algum suco, visto que eu havia feito uma promessa de parar com os refrigerantes.
Entrei na cozinha e comecei a abrir os armários, na esperança de achar algum suco em pó que eu pudesse fazer. Mas, ao constatar que não era fã de sucos em pó, eu comecei a vasculhar sua geladeira de porta-dupla, porém tudo o que eu consegui foi um refrigerante sem gás.
Hum... estava sem gás. Não era considerado refrigerante, era?
Enchi meu copo com aquele líquido sem “vida” e me virei para deixar a garrafa no lugar de onde a tirei.
- Não é muito respeitoso entrar na casa do anfitrião e roubar coisas de sua geladeira. – fechei a porta da geladeira e direcionei meu olhar para a voz, gelada por dentro.
- Você quebrou as regras também, mr. . – tentei não transparecer minha rigidez e encarei seus olhos pela primeira vez em muito tempo, podendo constatar que, embora tudo parecesse normal, seus olhos não eram exatamente os mesmo de antes.
Notando que eu o analisava, se aproximou sem dizer uma palavra, creio que me analisando também. Pressionei meus lábios em uma linha fina, tentando me impedir de falar as palavras que eu queria.
- Quem liga pras essas regras estúpidas... – ele sussurrou dando um sorriso torto.
Seus dedos levemente calejados deslizaram por minhas bochechas, me fazendo sentir arrepios. Ri baixinho com a sensação e abri os olhos novamente, me deparando com seus originais olhos, aqueles que me prendiam. Seu sorriso me contagiou e eu abri um tímido, escorregando minha mão, com cautela, até seus ombros. Dedilhei um caminho até seu pescoço e encaixei meus finos dedos por seus fios de cabelo. A mão de , que a essa hora já estava em minha cintura, me trouxe mais pra perto, e eu pude lembrar de seu cheiro. Trouxe seu rosto para perto do meu e eu senti seu hálito quente. Meus lábios tocaram os dele e eu pude sentir os tais “choques”. Começamos a nos beijar lentamente, com a intenção de refrescar a memória, mas parece que saudade não combinava com lentidão...
- Senti... tanta... saudade... – murmurou entre os extremamente ligeiros intervalos entre os beijos.
- Não... mais... que eu... – tentei falar por baixo do fôlego quando dava, mas resolvi que palavras não iriam ajudar agora.
Larguei seu cabelo por alguns milésimos de segundo, o que foi suficiente para me impulsionar balcão a cima, e depois voltei a agarrá-los e pressionar seu corpo contra o meu. Envolvi sua cintura entre minhas coxas e sentia sua mão explorar meu corpo com avidez. Passei a não me limitar mais nas áreas “seguras” e escorreguei minhas mãos até alcançar a barra de sua blusa. Assim que o fiz, deslizei minhas unhas pelo comprimento de sua coluna, fazendo-o se enrijecer. Sua respiração falhou e ele desceu sua boca até o meu pescoço. Sorri com isso e permaneci de olhos fechados enquanto sentia seus lábios voltarem aos meus.
O som de portas batendo ecoou pelo cômodo, sendo seguido por um grito vindo do lado de fora:
- PUTA QUE PARIU! – era , com certeza. Me separei de de imediato.
- Estraga prazeres. – murmuramos ao mesmo tempo, sorrindo um para o outro depois. Permanecemos ali, nos encarando com sorrisos abestalhados até que meu olhar se voltou para seu cabelo. Espantada com a desarrumação do mesmo, não contive uma risada.
- Deixe-me adivinhar... – pôs a mão no queixo. – Você, vândala como sempre, fez um desastre no meu cabelo? – concordei com um sorrisinho, o que o fez rir.
- Eu ajeito, eu ajeito. – retruquei. Deslizei minhas mãos por seu cabelo, ajeitando-o do jeito que ele sempre usava. – Pronto. – estirei a língua, fazendo menção de descer do balcão, mas me prendeu. O encarei com uma expressão confusa.
- Só depois de me responder uma coisa. – suas mãos estavam apoiadas em minhas coxas.
- O quê? – perguntei interessada, apoiando minhas mãos em seus ombros e mexendo delicadamente em seu cabelo.
- Estamos bem, não estamos? – parei os movimentos com minhas mãos e fiquei séria, o olhando nos olhos.
- E-eu acho que sim... não sei, se voc... – me interrompeu com um selinho.
- Ótimo, estamos bem. – então ele exibiu um sorriso meigo e me ajudou a descer da bancada.
Voltamos ao ambiente externo de mãos dadas. Eu exibia um sorriso imenso, e não estava diferente. Pude notar que assim que passamos pela porta, todos começaram a fingir que estavam fazendo alguma coisa que não prestando atenção em nós.
- Eu sei que vocês já sabem, seus gays. – riu quando nos sentamos à mesa. Dessa vez, lado-a-lado.
- E como vocês disfarçam mal! – observei, rindo.
- Ah, gente... – falou sem graça. – Não deu pra não olhar.
- Fofoqueira! – disse e ela estirou o dedo médio em resposta.
- A gente já sabia que isso ia acontecer, os dois não estavam bem... – começou, sendo repreendido por com o olhar.
- E foi bom vocês terem voltado. – Emy concluiu, sorrindo meigamente. Olhei para , que sorria para mim, e voltei a almoçar. Depois de um tempo, sussurrei perto de seu rosto:
- Não foi só você que não conseguiu ficar normal... – confessei e depois sorri, voltando a atenção para a fala de , e ignorando seu olhar singelamente contente sobre meu rosto.

xx

Era nosso aniversário de 5 meses - decidimos ignorar o fato de que passamos quase um mês sem nos falarmos e continuamos contando.– e eu estava indo trabalhar após os últimos exames do período na faculdade.
Desde que nós voltamos, estávamos mais grudados do que nunca. Creio que a falta nos fez dar valor à relação maravilhosa que nós tínhamos.
- Cara, ainda bem que o verão vai começar essa semana! – Angie, uma das garçonetes da lanchonete, estava se queixando sobre o frio do último inverno comigo. – E aquele não é o seu namorado, falando com a Sra Marty? - olhei para o canto onde o suposto conversava com minha chefe e confirmei as especulações de Ang. Que diabos ele estaria fazendo lá?
Com uma expressão curiosa, me aproximei dos dois. Não, eu não sentia ciúmes. A Sra Marty era uma velha bipolar a quem eu chamava de chefe. - Tudo bem, Sr. , eu a libero do serviço. – escutei-a falar, recebendo um sorriso contagiante de .
- Me liberar pra quê? – perguntei, dando um leve susto em , o que me fez rir.
- Pra ir a um lugar comigo e estragar minha surpresa. – ele murmurou, frustrado. Exclamei um “Ai” e falei rapidamente:
- Finge que eu não sei de nada. Vou servir a mesa nº 07. – saí em direção ao balcão, onde peguei a bandeja com os pedidos da mesa 07. Angie ria da cena, o que me fez perder a expressão indiferente que eu tinha assumido.
Depois de deixar os pedidos na mesa, retornei ao balcão, onde me esperava.
- Amor, você por aqui? – fiz uma expressão de espanto. Ele gargalhou.
- Pois é... Agora, vamos. – olhei para Ang, que, curiosamente, nos observava.
- Você lembra da parte onde meu namorado falou pra onde vai me raptar ou ele não falou? – indaguei. A menina riu e saiu do local.
- Pare de perguntar! – ele ordenou em tom de brincadeira.
- Ok, chefia. – bati continência e fui para área atrás do balcão, tirando meu avental e deixando-o pendurado no armário dos funcionários. Peguei minha bolsa e retornei ao salão. – Eu só quero saber como você fez para a velha lá me liberar. – murmurei para , que riu.
- Tenho meus métodos... – ele falou, galanteador.
- Preciso me preocupar com a concorrência? – perguntei, fingindo preocupação.
- Ela é uma forte candidata, né... – passou um dos braços ao redor do meu pescoço, nos guiando para fora do restaurante.
- Idiota. – resmunguei, fazendo uma careta. parou e se virou para mim, envolvendo meu rosto entre as palmas de suas mãos.
- A propósito... feliz 5 meses, amor. – ele sorriu meigamente e me beijou.



Summertime, summertime
(Verão, verão.)
brought me back to thinking you were mine all those times.
(Me trouxe de volta a pensar que você foi minha todas as vezes.)
We laid it down and left it all behind, we were blind.
(Nós colocamos isso abaixo e deixamos isso tudo para trás, nós fomos cegos.)

- Posso saber para onde estamos indo? – perguntei pela quinta vez desde que entramos no carro dele após eu ter passado em casa e trocado de roupa. O sinal estava favorecendo aos pedestres e eu sei que isso o deixava nervoso. Ele era apressado, que nem eu.
- Não, , você não pode. – ele murmurou, parecendo impaciente. Ri e deslizei minha mão esquerda por uma de suas coxas.
- Você pega “pilha” muito fácil. – o imitei. – Há! – começou a rir.
- Você é uma figura mesmo... – ele me deu um selinho antes de voltar a dirigir.


Oh, the summertime.
(Oh, verão.)
We could ride, we could ride.
(Nós poderíamos dirigir, nós poderíamos dirigir.)
Take my hand and watch the world go by.
(Pegue minha mão e veja o mundo passando.)
Laugh or cry, well we need to try, get off the line, time to fly.
(Rir ou chorar, bem nós temos que tentar, saia da fila, tempo de voar.)
Oh, the summertime.
(Oh, verão.)

pôs sua mão esquerda sobre minha coxa direita e eu apoiei minha mão sobre a sua.
A estrada estava deserta como sempre e o crepúsculo estava lindo. Nuances de azul se misturavam com um laranja que sumia por trás das montanhas, como em uma pintura.
Apertei a mão de , que me olhou.
- O céu. – expliquei, fazendo-o desviar os olhos para a janela. Permiti-me observar seu semblante enquanto ele mirava o lindo pôr-do-sol. Devo admitir que passei alguns bons segundos fitando-o, abobada, como eu sempre ficava quando percebia quão boa a vida estava sendo para mim.

Go on ahead and let it fade away.
(Continue em frente e deixe isso apagar-se longe.)
No looking back you know the past will stay.
(Não olhando pra trás você sabe que o passado irá ficar.)
It's you and me, we could get out of here.
(Isso, somos eu e você, nós poderíamos sair daqui.)
Jump in and go and we could drive for years.
(Pule dentro e venha e nós poderíamos dirigir por anos.)
We could feel alive...
(Nós poderíamos nos sentir vivos...)

Eu acho que, de todas as escolhas que eu fiz em minha vida, essa é a de que eu menos me arrependo. Se eu sabia que nada durava pra sempre? Claro que eu sabia. E, por isso, às vezes eu achava que seria melhor evitar me envolver demais para não sofrer depois, mas eu tinha outro lado que me falava que eu devia aproveitar e não me preocupar com o depois. Um lado inconseqüente, devo admitir.

Here we are, here we are,
(Aqui estamos, aqui estamos,)
windows down we see a falling star.
(Janelas abertas nós vemos uma estrela caindo.)
Stop the car.
(Pare o carro.)
Waiting for nothing but our beating hearts, going far.
(Esperando por nada mas nossos corações batendo, indo longe.)



Depois de alguns minutos, notei que o céu havia adquirido uma coloração mais escura. No alto, onde as estrelas apareciam, o céu estava púrpura, e, à medida em que ia descendo ao nível da Terra, ia ficando avermelhado. Lindo.
Catei minha câmera na bolsa, clicando rapidamente e apreendendo pedaços da linda paisagem. Olhei para e, depois, para a câmera. Sorri comigo mesma e alterei as configurações da máquina rapidamente. Comecei a fotografá-lo, o que fê-lo rir e mandar-me parar, o que foi ignorado.
- Anda, . – ele resmungava. – Sou muito feio, vou queimar seu cartão de memória. – encarei-o com uma expressão séria.
- Horrível, você. – brinquei. Em um movimento rápido, pegou a câmera de minhas mãos e a apoiou em seu colo, olhando para a estrada por alguns segundos, provavelmente vendo se ninguém estava por perto.
- Meu amor, como você acha que vai tirar fotos minhas enquanto dirige? – indaguei com uma expressão sarcástica. Então o carro parou e ele pôs a alça da câmera ao redor do pescoço.
- Vamos descer do carro. – afirmou com um sorriso vitorioso e saiu do automóvel, indo em direção a um campo na margem da estrada. - ! Vão roubar seu carro! – gritei, vendo-o correr pelos campos.
- Não tem ninguém na estrada, , e a chave tá comigo! – dei de ombros e fui em direção a ele, que segurava a câmera, tirando fotos minhas à distância.

Oh, the summertime.
(Oh, verão.)
So feel the air, feel the air,
(Então sinta o ar, sinta o ar,)
take the map and point to anywhere.
(pegue o mapa e aponte para algum lugar.)
I don't care. Fingers through your hair,
(Eu não importo. Dedos pelos seus cabelos,)
the sky I've seen, blue and green.
(O céu que eu tenho visto é azul e verde.)
Oh, the summertime.
(Oh, verão.)

Girei com meu vestido branco, rindo das coisas que falava enquanto tirava fotos.
- Esplêndido! – ele passou o indicador e o polegar pelos lábios, fazendo um sotaque italiano ao falar.
- Como você é besta. – me aproximei dele, afastando a câmera de seu rosto e o envolvendo em meus braços, beijando-o.
Enquanto nossos lábios brincavam de se tocar em movimentos fracos, lentos e sem malícia, deslizava seus dedos por meus cabelos e costas.
- Eu ainda quero saber para onde estamos indo. – sussurrei entre um selinho e outro, com os lábios rentes aos dele, que soltou uma leve gargalhada. – E, não, eu não vou parar enquanto você não me disse nosso destino.
- Minha namorada é tão insistente. Não dá para fazer surpresa pra você! – ele reclamou, mordendo meu lábio inferior.
- Tá bom, coisinha, eu paro... – me dei por vencida, obtendo um sorriso satisfeito da parte dele.

Capítulo 16

Avistei a primeira placa depois de duas horas de percurso.

“Sheffield – 1.5 miles”

- Sheffield? – pensei em voz alta.
- Sim, Sheffield. – ele confirmou, sorrindo meigamente.
- Por quanto tempo? – perguntei, desnorteada. Eu iria conhecer os pais dele? A família dele?
- Pelo fim de semana. Vamos ficar na antiga casa dos meus pais. – engoli a seco.
- Aquela que eles estão alugando? – indaguei, me endireitando no assento para poder olhar melhor para ele, que respondia enquanto estava concentrado na estrada, que agora estava cheia. - E não tem problema? Quer dizer, eu... a gente podia ir pra uma pousada, pra não dar trabalho... – riu.
- Por que será que eu já sabia que você falaria isso? – fiz uma careta e encarei minhas unhas. – Amor, minha mãe foi quem ofereceu a casa quando eu falei que queria que eles te conhecessem. – levantei o olhar.
- Eu não tenho roupas aqui além das do meu corpo... – comentei.
- Eu pedi para a e a Emily fazerem sua mala. - então um flashback veio à minha cabeça.

Estava com as pernas entrelaçadas com as de , minha cabeça estava próxima ao seu ombro e nossos dedos estavam travando uma pequena e divertida batalha sobre o peito dele, o que me fazia rir de um jeito bobo.
- ? – ele me chamou.
- Hum. – murmurei, parando de movimentar meus dedos.
- Se você tivesse que ir para uma casa num lugar de clima igual ao daqui, que roupas você levaria? Sendo que seria somente um fim de semana.– apoiei-me em minhas mãos, ficando um pouco mais alta que ele.
- Que tipo de perguntar é essa, amor? – arquei uma das sobrancelhas em meio a um sorriso brincalhão.
- Responde... – ele pediu.
- Ok... deixa-me ver. – pensei por alguns minutos e comecei a listar muitas algumas roupas.
- Eu mencionei que é só por um fim de semana, certo? – fingiu estar espantado.
- Sou prevenida. Ok? – retruquei, fazendo-o rir. – E o que você levaria, Sr. Só-o-necessário?
- Eu levaria uma boxer e uma outra combinação de roupa.
- Então você só tomaria um banho durante todo o fim de semana? Porquinho! – apertei meu nariz entre meu indicador e meu polegar. gargalhou.
- E ainda te obrigaria a sentir meu fedorzinho. – ele se sentou, me abraçando em seguida.
- Sai, porquinho. – brinquei. As mãos dele desceram pelas minhas costelas até minha cintura. – Não! Cócegas não! – protestei, mas foi inevitável; no segundo seguinte escutei-o gargalhar e seus dedos começaram a dedilhar minha barriga de um jeito frenético, fazendo-me contorcer em meio a gargalhadas.

- Safado! – falei de um jeito descontraído.
- Taradão. – ele me corrigiu, fazendo-me gargalhar e desviar o olhar para a estrada que começava a ganhar pessoas, não só carros.

- Chegamos. – observei a casa pintada em tons pastéis a minha frente. Era simples, porém, arrumadinha – pelo menos por fora.
O sorriso feliz dele contrastava com minha preocupação. Seria a primeira família de algum namorado que eu conheceria.
Sorri amigavelmente e guiei-me para fora do carro, indo até o porta-malas e ajudando com minha mala. Minha testa estava levemente franzida devido ao nervosismo.
Fiz menção de pegar a mala, mas ele deu um tapinha em minha mão e eu me encostei à lateral do carro. Assim que fechou a mala do carro, veio até mim, me encostando ao mesmo.
- Por que essa testa franzida? – ele perguntou passando o dedo rapidamente pela região. Soltei uma risada fraca.
- Nada, amor. – murmurei.
- Você não quer que eu te apresente ao pessoal, é isso? – desviei o olhar por alguns segundos, permanecendo calada. – Se não quiser, tudo bem, a gen... – notei que seu rosto exibia uma expressão ligeiramente decepcionada.
- Não, você tá entendendo errado. – o interrompi.
- O que é então? Eu não posso adivinhar, sabe...
- Eu, sei lá, tô nervosa. – admiti, torcendo minha boca. pareceu se deliciar com meu medo e colocou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.
- Eles não vão te atacar e vão gostar de você, eu garanto. – as costas de seus dedos passaram lentamente por minha bochecha, mas isso não me tranqüilizou muito.
- O que te garante? – questionei, prendendo meu lábio inferior entre meus dentes.
- Hm... – ele pareceu pensar. – Talvez o fato deles verem que o filho deles está mais feliz do que nunca? – um sorriso tímido dominou meus lábios. Conformei-me com a idéia de que tudo correria bem e subi minhas mãos, antes em meus bolsos dianteiros, para seus ombros largos. me deu um selinho e sorriu meigamente.
- Agora, vamos levar as malas pra dentro. – assenti com a cabeça e o ajudei a subir com a minha mala, porque a dele era uma bolsa de alça transversal.

Assim que entramos na casa, pude notar que estava tudo arrumado, não parecendo uma casa que estava “sobrando”. Em frente à porta havia uma escada; ao lado havia um portal separando o que seria a sala de jantar da sala de estar; e no canto oposto à sala de jantar, havia um sofá de três lugares posto em frente à parede da lareira, onde estava a TV de plasma.
Enquanto colocava a mala no segundo andar, eu permaneci observando a decoração. Não eram muitas coisas, mas o suficiente para um casal se manter por um fim-de-semana, ou mais até.
Notei que havia um bilhete sobre a mesa da sala. Não quis ler para não dar uma de curiosa, então deixei que o lesse antes.
- Gostou da casa, amor? – ele me abraçou por trás. Me virei pra ele.
- É ótima, super aconchegante. – sorri sincera.
- Que bom que gostou. Pedi pra minha mãe dar uma geral nela antes de nós virmos. – deu mais um de seus hipnotizantes sorrisos, e eu me lembrei do bilhete.
- Por falar nela, acho que ela deixou um recado em cima da mesa de jantar. – apontei a mesa com a cabeça, sentindo suas mãos saírem de minha cintura e seu corpo tomar a direção a qual eu apontava.
pegou o tal pedaço de papel e o leu em voz alta:

“Querido, espero que esteja do jeito que você queria.
Mandei Wanda pôr o colchão ao sol para espantar a poeira e agora ele já está coberto por lençóis novos, não se preocupe com ácaros nem nada do tipo...
Estamos ansiosos para conhecer a tal menina da sua vida.
Com carinho,
Mamãe.”

- Menina da sua vida? Você tem contado mentira aos seus pais? – o provoquei, recebendo uma careta em resposta. – Ficou vermelhinho, é? – zoei, apertando suas bochechas.
- Como você é bestinha... – ele retrucou. Soltei uma risada e roubei um selinho.

me mostrou alguns cantos da casa, como o quintal extremamente verde, que deveria ser lindo pelo dia.
Acho que uma das coisas mais belas da natureza é que ela não tem a intenção de ser bela nem de nos encantar, mas consegue o fazer.

Nos encontrávamos deitados na cama. Eu devo admitir que ainda estava impressionada com o fato de que conseguiu me surpreender totalmente. E meu coração ainda disparava só em pensar em conhecer a família dele.
- Amor? – murmurei. Levantei meu olhar, vendo se ele se movia. Eu estava agitada demais para dormir.
- Hum... – comprovando minha hipótese, ele realmente estava quase dormindo.
- Esquece, esquece. – sussurrei, voltando a fitar o quarto escuro.
- Fala. – se ajeitou, ficando praticamente de frente para mim.
- Era só pra saber o que a gente ia fazer amanhã... – uma de suas mãos passou a acariciar meu rosto, o que me fez sorrir.
- Amanhã... – ele deu um curto suspiro, como se tivesse feito uma pausa para pensar. – Amanhã eu vou te acordar com meu beijinho no pescoço, nós vamos levantar, você vai reclamar que tá com fome porque é esfomeada... – riu e eu dei um leve tapa em seu braço. – Ok, você vai reclamar que tá com fome porque é a coisa mais lindinha do mundo quando pega “pilha”...
- Conquistador barato. – murmurei de olhos fechados, ainda sorrindo por sentir o toque dele em minha bochecha. riu fraco.
- Depois de tomarmos café você vai falar que está obesa e não poderia ter comido tanto, e eu vou rir como sempre e falar que adoro apertar suas gordurinhas. Então você vai ficar chateada porque eu afirmei que você é gorda, e eu vou atrás de você e te encher de beijinhos e falar que nenhuma Alessandra Ambrósio te supera. - rimos.
- Como nós somos previsíveis! – comentei, ainda sorrindo. – E sintetiza porque se não eu vou dormir!
- Ô mulher exigente. – bufou. – Nós vamos almoçar na casa dos meus pais e, se der tempo, eu vou te levar para conhecer meus lugares favoritos daqui e comer a melhor comida da região. Se incomoda? – neguei com a cabeça e pressionei meus lábios em uma linha, tentando imaginar como seria o dia de amanhã.
No meio desse silêncio, acabamos por adormecer.

Capítulo 17

Tateei a cama à procura dele, como sempre fazia após acordar, e percebi que estava vazia. Desconfiada, olhei ao meu redor para ver se tinha algum bilhete. Nada.
Levantei-me e fui ao banheiro, a fim de realizar minha higiene pessoal. Feito isso, voltei para o quarto, escutando uma movimentação vinda da varanda que possuía conexão com o quarto. E com uma sobrancelha erguida, caminhei até lá sorrateiramente, já que estava com medo de ser algum bicho ou ladrão.
Passei somente o rosto pelo pequeno vão entre a porta de vidro e a parede. Sorri com a cena de arrumando a mesa com um pano de prato sobre um dos ombros e preferi me manter em silêncio, voltando para a cama.
- Droga. – murmurei quando chutei minha mala, que estava jogada no chão, torcendo para que ele não tivesse escutado.
Escutei passos.
- Eu sei que você tá acordada. E eu declaro que desisto de fazer surpresas pra você. – fingia estar sério e cruzava um dos braços sobre o peito.
- Descuuuulpa. – me ajoelhei sobre a cama e pus minhas mãos entrelaçadas, como se suplicasse. – Eu juro que achei que fosse um bicho ou um ladrão. – juntei meus lábios em um biquinho, o que fez dar de ombros e soltar uma de suas gargalhadas gostosas. – Na próxima vez que eu acordar e não tiver ninguém, eu volto a dormir sem me levantar. – dei um selinho nele, que havia sentado na cama, ficando praticamente na minha altura.
Aproveitei que estava ajoelhada e atravessei uma das minhas pernas por suas coxas, ficando de frente pra ele e sentando em seu colo. Apoiei meus braços em seus ombros e entrelacei minhas mãos. Com um sorriso levemente desnorteado, ele perguntou:
- Mudou o cardápio do café da manhã? – riu, apoiando as mãos em minha cintura.
- Adoro quando você corta o clima. – revirei os olhos e ri.
- Oh, desculpe, senhorita. – então me roubou um selinho.
Ia sair de seu colo quando ele me puxou rapidamente, e, em um impulso, passou um de seus braços pela parte traseira dos meus joelhos, enquanto o outro estava nas minhas costas.
- Quer mostrar que tá malhando? – zoei, me apoiando em seus ombros.
- Adoro quando você corta o clima. – ele me imitou e mostrou a língua depois. Gargalhei.
Chegamos à varanda e eu desci de seu colo, agradecendo com um selinho.
- Então, madame... temos pães, frios, café, leite, sucos e bolo. – olhei para a mesa lotada de comida, e admito que fiquei espantada.
- Amor, tem com... – percebendo que eu iria o zoar, ele fez um “Shiu!” rápido e riu depois. – Não ia falar nada demais! – levantei os braços como se provasse minha inocência.
- Sei. – falou em tom debochado. – Só porque você ia implicar, eu não serei mais seu garçom. – ri e mordi seu queixo levemente.
- Tá ofendidinho? – mordi seu queixo levemente, recebendo uma careta em resposta. Rimos e fomos em direção à mesa onde estava o café-da-manhã. O dia claro e a companhia fizeram com que meu humor ficasse impecável e com que eu esquecesse o encontro que teríamos mais tarde.

Enquanto nos arrumávamos para ir, pedia desculpas antecipadas por qualquer coisa constrangedora que ocorresse. E reafirmava que era pra eu ficar tranqüila, que os gostariam de mim. E eu estava passando a acreditar nisso.
- Se você levar em conta que seu pai é da pesada, eu acho que vai ser pouco provável algo constrangedor acontecer. Eu acho.- ele falou, descendo do carro com um sorrisinho bem humorado.
- Não sei não... Os pais dos meus amigos sempre gostaram de mim. – estufei o peito, trajando um sorriso convencido. – Acho que tenho mel. – brinquei, não controlando uma gargalhada depois. Bati a porta.
- É, vai, abelhinha. - riu, mordendo minha bochecha antes de nos aproximarmos da porta.
Meus dedos estavam entrelaçados com os dele quando ele tocou a campainha da enorme casa de seus pais. Do lado de fora era possível escutar vozes.
Uma mulher aparentando seus 50 anos abriu a porta com um sorriso amigável.
- Meu bebê! Quanto tempo! – então ela envolveu em um abraço apertado que o fez largar minha mão.
- Menos, mãe. – ele riu, constrangido. Há! Agora eu sabia do que eu devia chamá-lo quando quisesse o zoar. – A propósito, essa é a . – então a mulher veio me abraçar. Seu perfume extremamente doce me deixou ligeiramente enjoada, mas consegui disfarçar.
- Oh, sua namorada é linda. Boa escolha. – ela piscou para mim. Ruborizei e sorri, me aproximando de novamente e pegando em sua mão.
- É, eu sei. – ele olhou para mim com um sorriso um tanto quanto orgulhoso. Olhei pra baixo, a fim de não exibir minhas bochechas e adentrei a casa depois.

O almoço sucedeu tranqüilamente. A família dele era extremamente educada e discreta, ao contrário da minha. Como ele havia dito, seus tios estavam lá. Todos aparentando ter 60 anos, mas com alma de garotos.
- Então eu falei pro cara: Você acha que eu sou velho demais para resistir ao Bungee Jumping? Ah, meu filho, se você soubesse as coisas que eu já fiz! – Ronald narrava sua viagem à Nova Zelândia. Dos três irmãos, ele era o mais aventureiro. me contou que ele era quem o levava para pescar, já que seu pai era ausente.
- E você pulou no final das contas? – indaguei após dar um gole curto em minha Soda.
Estávamos no jardim sentados à beira da piscina em algumas espreguiçadeiras. Eu estava dividindo uma com , que estava deitado enquanto eu estava sentada com as pernas cruzadas e com os braços em meu colo, mas constantemente mudava de posição já que os dedos de acariciavam minhas costas descobertas pelo vestido de frente única e me causavam arrepios.
- Mas é claro! Ronald é louco por aventuras. – Margareth, a sra. , respondeu com um sorriso simpático.
- Isso porque vocês não conhecem as aventuras de dona Marg! – Marcus, o outro irmão, riu.
- E você também não vai contar. – ela o repreendeu.
- Por que não, mãe? Conta, tio, ela era quem pegava os brotos e caía na estrada? – gargalhamos enquanto Margareth fingia que não ouvia e pegava os pratos de sobremesa para levá-los à cozinha.
- Eu ajudo. – sorri amigavelmente e peguei os copos que repousavam sobre a mesa de plástico.
- Obrigada, querida. – a segui e deixei os copos sobre o balcão da pia. Prendi meu cabelo em um coque frouxo e abri o registro.
- , se é que posso te chamar assim – assenti com a cabeça, recebendo um sorriso em resposta. -, deixe que eu lavo. – Margareth gentilmente se pôs ao meu lado e pegou um prato de minhas mãos.
- Mesmo? Não tenho problemas em lavar louça... – cheguei um pouco mais para o lado e encostei minhas costas ao balcão.
- Relaxe, querida. Agora me conte, como você e se conheceram? Quando perguntei a ele, tudo o que ele falou foi que foi de um jeito totalmente insano. – eu ri levemente.
- Nós nos conhecemos há uns bons anos atrás... – comecei, mas fui interrompida por .
- O que as senhoritas tanto tagarelam aí? – ele riu e me abraçou pela cintura.
- ia me contar de quando vocês se conheceram. Eu fiquei curiosa, porque você, misterioso como sempre, não me contou direito. – Marg fez uma expressão ofendida. se aproximou dela e a abraçou por trás.
- Ah, minha velhinha, você sabe que se eu te contar, você vai falar pra família inteira. – ele gargalhou e deu um beijo estalado na bochecha dela, se afastando depois. Sem graça, Margareth comentou:
- Ia comentar só... – riu sarcasticamente - E você acabou de me chamar de fofoqueira. É assim que você demonstra seu amor por mim? Espero que com a sua namorada você seja doce, pelo menos. – seu olhar se virou para mim. – Ele é gentil com você, querida? – então outro par de olhos se virou para mim.
- Sou? – ele indagou.
- É sim. – respondi, levemente envergonhada por ser o foco das atenções. voltou a me abraçar.
- Imagino que seja, porque, se eu não me engano, nunca conheci nenhuma namorada dele. Estou certa, filho? – levantei meu olhar para encontrar um sem jeito.
- Certo, mãe. – sorri de maneira involuntária. Isso significa que eu sou especial, certo?

Saímos da casa dos quando era por volta de nove horas. Margareth tinha insistido para que nós ficássemos para o jantar, mas queria me levar para comer a melhor comida da região, ou algo do tipo.
- Foi tão ruim quanto você esperava? – ele perguntou enquanto entrávamos no carro.
- O que te levou a pensar que eu esperava algo ruim? – questionei, passando o cinto de fronte ao meu peito.
- Você é transparente...- comentou. - Às vezes. – ele completou quando eu ia perguntar se ele estava me chamando de previsível.
- Eu não estava esperando nada ruim. Só estava nervosa. – dei de ombros.
- Ok, então. Mudando minha pergunta... foi constrangedor? Ou desagradável? – olhei para ele com uma sobrancelha arqueada.
- Amor da minha vida, depois de ter crescido na minha família, nada é constrangedor.– riu, provavelmente lembrando dos almoços em que ele foi. - Nem desagradável. Já tinha te falado isso antes. – torci a boca em uma careta.
- Pois eu adoro sua família. – disse com um sorriso um tanto quanto sincero. O fitei com os cantos dos olhos, numa expressão duvidosa.
- Adora? – repeti, quase maravilhada por ele não achar que meu pai o mataria durante o sono. – Digo, minha família é toda problemática e...
- Eu os adoro. Ponto. - me interrompeu. – Toda família tem seus problemas, amor. Sem contar, que o seu não foi o primeiro pai que me interrogou durante alguma refeição. – fiz uma carranca e ele percebeu. – Que foi?
- Nada. – exalei, cruzando os braços bem abaixo do busto.
Pode parecer ridículo eu estar com ciúmes de qualquer antiga namorada, mas eu não gosto de pensar que alguém já fez os mesmos programas que estamos fazendo com ele. Definitivamente, não gosto.
- Não acho que não tenha sido nada. – , aproveitando que o sinal tinha fechado, virou seu olhar para mim. – Anda, o que eu falei dessa vez? – revirei os olhos e respirei fundo.
- Eu não gosto de saber que você já passou pelas coisas que nós estamos passando. – confessei, não dando atenção à procura dele por meu olhar.
O sinal abriu e voltou a dirigir.
- Mas eu não passei! A única coisa que eu comentei foi do pai de uma namorada de anos atrás. Só. – seu semblante, que estava sério há segundos, começou a relaxar.
- Eu sou muito dramática, não sou? – um nó se formou em minha garganta. O arrependimento que sempre aparecia depois de uma crise idiota de ciúmes minha tornou a mim. Outro sinal.
- Só um pouquinho – posicionou seu indicador e o polegar a uma curta distância – ciumenta. – ri fraco, sentindo o nó desmanchar. – Mas, quer saber? – ele se virou pra mim e eu me permiti me perder em seu rosto.
- Hum? – murmurei.
- Eu gosto. – soltei uma risada incrédula. – Tô falando sério! Faz eu me sentir desejado. – completou com um sorriso brincalhão, o que me fez rir novamente.
- Como se eu já não te desejasse muito... – retruquei, fazendo uma careta.
- Deseja, é? – ele indagou. Revirei os olhos.
- Vai dirigir, . – ri e dei um leve tapa em sua coxa.

Eu esperava que nós fôssemos a algum restaurante, mas não, fomos diretamente para casa.
- Mudança de planos? – perguntei casualmente. riu.
- Não... Por quê? – tirei o cinto e saí do carro.
- Ahn...Nada. – fiz um simples e ligeiro gesto com a cabeça. Acho que estava escutando demais.
- Eu falei que te mostraria a melhor comida italiana da região, só não disse quem faria. - mirei seu sorriso convencido, porém, brincalhão.
- E desde quando você cozinha bem? – questionei com uma das sobrancelhas arqueadas, tentando não rir. fez uma careta.
- Aguarde e verá, mocinha. – então ele entrou na casa, rumando diretamente para a cozinha.
- Oui, chef. - brinquei, fazendo um sotaque francês.



Tive que dar o braço a torcer depois de dar a primeira garfada, o que fê-lo fazer uma dancinha da vitória. Ele conseguia ser tão bobo.
- Um dia eu ainda vou fazer meu famoso brownie, que, modéstia à parte, é maravilhoso. – sorvi um pouco do cabernet sauvignon que preenchia minha taça. Eu não era muito fã de vinho, principalmente dos tintos, mas a ocasião pedia.
- Famoso, é? Fiquei curioso agora. – ele falou simplesmente com o mesmo sorriso sincero de antes.
- Pois vai ficar na curiosidade. – disse de forma séria e fiz uma careta depois.
- Você é tão má! – comentou, seu rosto trajando uma expressão quase pervertida. Ele deixou sua taça em cima da mesa de centro, ação que foi repetida por mim, e me puxou pela cintura.
- Sou? – perguntei com um sorriso de soslaio. Ao vê-lo concordar, mordi-lhe o lábio inferior e recuei, ajeitando-me no canto do sofá.
- É, sou mesmo. – chamei-o com o dedo indicador, o que o fez se aproximar de mim rapidamente. O puxei pela gola da camisa, deixando a ligeira timidez que eu sentia nesses momentos para trás, e colando nossos lábios de forma urgente. Seu corpo se encaixou entre minhas pernas e seus braços deslizaram pelas laterais do meu corpo de forma marcante, o que me fez delirar. Minhas costas se apoiavam no braço do sofá, sendo pressionadas contra o mesmo pela pressão que fazia com eu e quase barrássemos as Leis da Física.
Escorreguei suavemente, conseguindo deitar por completo. Minha blusa havia ido para algum canto da sala e eu estava prestes a fazer o mesmo com a dele, se não fosse por minhas mãos, que estavam agarradas aos seus cabelos e os puxava quando conseguia me fazer perder os sentidos, fosse apertando minha cintura, minhas coxas, ou, até mesmo, mordendo meus lábios com um quê de brutalidade.
A última peça, a boxer de , foi tirada na velocidade da luz, assim como todas as outras peças. Ele tateou sua calça, deixada estrategicamente no encosto do sofá, e pegou o preservativo, colocando-o agilmente.
Nossos quadris se alisavam com rapidez e aposto que se colocassem um fósforo perto da zona de atrito, ele acenderia facilmente. Sem brincadeira. Minhas unhas não se importavam em deixar marcas nas largas costas de , enquanto isso os dentes do próprio não se incomodavam em marcar a área que compreendia desde a base do meu pescoço até meu maxilar.
Estava deixando minhas marcas em seu ombro quando chegamos ao clímax, juntos. Minhas unhas, que apertavam a pele da parte superior de suas costas, escorregaram ligeiramente até o fim da mesma, causando um arrepio em . Eu sentia o sangue correr por minhas veias no mesmo compasso da minha respiração, acelerado. também estava tentando recuperar o fôlego e descansava a cabeça na curva do meu pescoço.
Senti seus lábios distribuírem beijinhos por meu ombro, chegando próximo à orelha, cujo lóbulo foi mordido depois. Ri fracamente. Ele sussurrou:
- Eu já disse que te amo hoje? – sorri feito boba e olhei o relógio da sala. 2:30.
- Hoje ainda não. – frisei a primeira palavra. se apoiou em um dos cotovelos, erguendo, assim, a cabeça e me fitando nos olhos.
- Pois é, eu te amo, . – ele sorriu de uma forma hipnotizante.
- Eu também. – roubei-lhe um selinho e sorri sinceramente.

Mais tarde, como havíamos decidido fazer algo para comer, fomos até a cozinha. Abri a geladeira e peguei um copo d’água, que foi roubado instantes depois por ele.
- Ei! – protestei de forma infantil. riu e terminou com o conteúdo do copo, deixando-o na pia. O reprovei com o olhar e cruzei os braços, encostando minhas costas à bancada.
- A água tava tão boa. A melhor água que eu já provei na vida. – ele me cercou com seus braços.
- Ótimo pra você. – fiz cara de deboche.
- Tá vendo como você pega “pilha” fácil? – falou enquanto descruzava os meus braços, deslizava suas mãos para minha cintura e me prensava contra o móvel. Ele direcionou seus lábios para meu maxilar e desceu até o pescoço.
- Nhé. – retruquei. riu contra meu pescoço, fazendo cócegas.
- Faz isso de novo. – ele afastou a cabeça e mirou meu rosto. O reprovei com o olhar.
- Não. – falei simplesmente.
- Faz! Foi muito bonitinho. – ele continuava com um ar brincalhão.
– Você é muito irritante, . – resmunguei, revirando os olhos. Suas mãos desceram para meus quadris.
- Muito, é? – concordei com a cabeça, sentindo seus dedos levantando a barra da blusa, como sempre dele, que eu usava. – E você não gosta nem um pouquinho? – ele fez biquinho. Tentei evitar que um sorriso bobo rasgasse meu rosto. Neguei com a cabeça. – Oh, Deus! Me apaixonei por uma partidora de pobres e inocentes corações. – dramatizou, o que me fez rir.
- Exatamente. E que ainda é malvada. – completei, dando uma piscadela depois. riu e moveu seus dedos por baixo de minha blusa pela extensão de minha barriga e cintura, fazendo-me contrair o abdômen.
- Muito malvada. – ele reafirmou, dando um sorriso tarado.
Apertei minhas unhas gentilmente em seu dorso e guiei minha boca para seu maxilar, dando pequenas mordidas por lá. Em resposta, desceu suas mãos até meus quadris novamente e me impulsionou para sentar na bancada da ilha. Apoiei meus braços em seus ombros e encaixei meus dedos em seus cabelos.
se ocupou em marcar – ainda mais – meu pescoço e em apertar minhas coxas.
- Você tá tentando me matar, não tá? – tentei falar, mas o som saiu quase como um grunhido.
- De amor, sim. – ele se afastou e, me olhando, riu suavemente, parecendo ignorar toda a tensão presente ali. Sorri com sua brincadeira e selei nossos lábios não tão delicadamente como de costume.
- Me lembre de... comprar uma bancada... para nossa casa... ok? – falou entre beijos, me fazendo sorrir contra seus lábios e concordar silenciosamente, sem romper nosso contato.

Capítulo 18

Acordei antes de , embora já fosse 14:47, e resolvi o surpreender dessa vez.
Levantei sorrateiramente, calcei meus chinelos, fiz minha higiene pessoal e desci até a cozinha, tentando fazer o menor barulho possível.
Não tínhamos muito o que cozinhar para o café, mas consegui improvisar uma bandeja clássica e levar até o quarto, o que não foi muito fácil, diga-se de passagem.
Abri a porta do quarto e, ao não ver a boxer dele jogada aos pés da cama, constatei que ele não estava mais dormindo. Murchei e entrei de vez no cômodo, me deparando com um sem camisa se espreguiçando na varanda.
Deixei a bandeja em cima da cama e me aproximei dele, o abraçando por trás.
- Não gostei de acordar e não te ver. – , com o rosto virado na minha direção, disse, manhoso. Afrouxei meus braços e deslizei até sua frente.
- É? Por quê? – questionei com um sorriso tímido de soslaio. respondeu prontamente:
- Me senti usado. – ele torceu os lábios em uma expressão triste.
- Oun, tadinho do meu bebê. – ri simplesmente e uni nossos lábios em um breve beijo. – Te abandonei por uma boa causa. Fui fazer comida. – sorriu, empolgado. – Era pra ser surpresa, mas acho que as surpresas não são nosso forte. – acrescentei.
- Na próxima vez em que você me deixar exausto desse jeito – corei imediatamente, recebendo uma risada da parte dele. – e me abandonar, eu enrolo na cama até você aparecer. Ok? – assenti com a cabeça, sorrindo timidamente. – Agora, vamos à comida? Aposto que você está tão faminta quanto eu. - concordei novamente e fomos até a cama.
- Olha, não sabia muito bem o que fazer, então foi o clássico que saiu. Mas acho que como a fome é o melhor tempero, a minha falta de habilidades culinárias não vai interferir muito. – ri fracamente e sozinha, já que pareceu não prestar atenção pois beliscava uma torrada.
- Sabe que eu bloqueei sem querer sua voz a partir do “foi o clássico que saiu”? – sorriu como criança que aprontou alguma.
- É, eu percebi. – fingi decepção em minha voz e ri na companhia de depois.

O fim de semana passou tão rápido quanto um piscar de olhos e eu ainda não acreditava como a vida estava sendo maravilhosa para mim.
Eu e ajeitávamos nossas coisas para irmos embora. Na verdade, eu ajeitava, pois as coisas dele já estavam dentro do carro.
Terminei de me vestir e guardar tudo, então resolvi andar pela casa com uma câmera, para registrar todos os cantos e ter o que mostrar para as meninas além de fotos minhas com ele. Comecei pela varanda do nosso quarto, tratando de fotografar a vista para o parque também; desci e tirei fotos, deixando um sorriso um tanto quanto tarado escapar quando lembrei da noite passada; me guiei até a cozinha, ainda com o tal sorriso, e fotografei enquanto pensava se contaria sobre a bancada ou não. Então, lembrei-me da fala dele: “Me lembre de... comprar uma bancada... para nossa casa... ok?”
Meu coração palpitou e eu sorri, bestificada. Será que ele pensava em morarmos juntos? Digo, eu já tinha uma cópia da chave da casa dele e vivia sempre lá, mas não era como se nós morássemos juntos.
Despertei dos pensamentos quando a porta foi aberta por um de feições um tanto sérias.
- Que se passa? – indaguei, estranhando seu olhar ligeiramente perdido.
- Nada. – ele balançou de forma rápida e gentil sua cabeça e sorriu sincero. Desfiz meu olhar preocupado e me aproximei, desligando a câmera.
- Vamos, então? – perguntei simplesmente enquanto entrelaçava nossos dedos.
- Só vamos dar uma passada no shopping antes para almoçar. Tudo bem por você? – indagou.
- Sem problemas. – disse, sorridente. Passamos pela porta de entrada e eu dei uma última olhada na sala.
É, aquela casa deixaria lembranças.

Chegamos à entrada do Meadowhall, onde, sem saber aonde nem o que comer, nos guiamos pelos corredores, sem rumo.
- À rotineira Starbucks ou ao Costa? – indaguei enquanto via no pequeno mapa do shopping as opções de lanchonete.
- Tô enjoado de Starbucks. – ele riu. Concordei com um aceno de cabeça e ri também.
- Mas o Costa não é tão bom assim... – argumentei.
- Tá de brincadeira? Eu acho até melhor que Starbucks! – abri minha boca em indignação.
- Sou Team Starbucks para sempre. – brinquei, fazendo-o gargalhar.
- Ok, então para não gerar a discórdia... – ele começou a desenhar figuras invisíveis no pequeno mapa do shopping com a ponta dos dedos. – Vamos ao... – parou o dedo em um ponto. – Wonder Chicken. – me permiti rir.
- Você não está falando sério, tá? – indaguei com uma das sobrancelhas arqueadas. me olhou com incerteza.
- A gente não sabe aonde ir... – ele justificou. – E também nunca fomos lá, como vamos saber se é bom ou não? Além do mais, o nome é bem... – pareceu pensar. – Interessante. – soltei uma risada.
- Ok, vamos lá então... – balancei a cabeça negativamente, ainda sorrindo. – Só aviso, se eu tiver uma infecção alimentar, a culpa é sua! – apontei meu indicador para o nariz dele em uma expressão ameaçadora.
- Tudo bem, tudo bem. Eu assumo o risco. – ele riu e entrelaçou seus dedos nos meus, nos guiando na direção do tal restaurante.

- Oh darlin', I dream about you often my pretty darlin'. I love the way you soften my life with your love. Your precious love.- cantava enquanto dirigia.
- Uh huh oh – tentei fazer o backing vocal, mas tudo que saiu foi uma gargalhada. - I was living like half a man. Then I couldn't love but now I can... – ele continuou, começando a gesticular com a mão livre.
- Nós vamos acabar batendo, amor. – comentei, meio receosa. concordou com a cabeça e parou com a coreografia, mas não parou de cantar. Tapei sua boca com as mãos, recebendo uma mordida não muito carinhosa em uma delas.
- Eu sei que a comida do restaurante não era tão boa, mas não precisa comer minha mão. – protestei. riu e pediu desculpas.
Mudei de estação e foi a vez dele de protestar.
- É Beach Boys, ! – pareceu uma criança manhosa.
- É Beyoncé, ! – o imitei, gargalhando depois.
- Besta. – ele resmungou e continuou fazendo biquinho.
- Baby, I can see your halo! – olhando fixamente para ele, cantei o verso.
- Nem adianta vir com declaração. É tarde demais. – seu rosto se contraiu em uma expressão de raiva muito bonitinha, me fazendo rir por dentro.
- Vai dar uma de difícil agora? – prendi uma risada. deu de ombros sem falar nada. – Ai que criancinha mais birrenta. – brinquei, cutucando seu braço. Percebi que ele estava prestes a rir e me aproximei ligeiramente, mordendo sua bochecha suavemente.
Uma risada quebrou sua expressão séria.
- Eu sou difícil, ok? Não se deixe levar pelas aparências. – retrucou, tentando esconder o sorriso brincalhão.
- Oh, senhor durão, mil perdões. – zombei dele, recebendo uma leve apertada próximo ao joelho, onde repousava sua mão direita quando não estava mudando a marcha.

Desci do carro com um sorriso bobo e pedi para Juan, o porteiro, me ajudar a carregar a mala.
- Se cuida. – sussurrei antes de me separar de e recuar até a portaria, onde o porteiro já me esperava.
- Pode deixar, , são só algumas quadras. – ele riu brevemente, voltando a entrar no carro. Mandei um beijo no ar e virei, já que antes andava de costas, para continuar a andar até o elevador.
Agradeci Juan com um sorriso simpático e apertei o botão do meu andar, sendo recepcionada por uma Emy extremamente agitada e uma mais agitada ainda.
- Conta tudo! CONTA, CONTA, CONTA! – as vozes das duas ora se misturavam e ora se refletiam enquanto nós nos dirigíamos até o meu quarto.
- Calma! – falei alto, causando um silêncio imediato. Assim que ia falar, senti meu estômago me nocautear em cheio, provocando uma sensação de ânsia de vômito.
Levei as mãos à boca e corri para o banheiro por precaução, esperando que aquilo fosse passar, mas me enganei, pois, assim que cheguei perto do vaso sanitário, a infeliz vontade chegou mais forte ainda e não consegui evitar o vômito.
- ?! – as duas me socorreram enquanto eu vomitava. amarrou meu cabelo rapidamente em rabo de cavalo alto enquanto Emy pegava uma toalha.
Assim que parei de vomitar, me limpei com uma toalha de rosto e a joguei num canto do chão em seguida.
- Acho melhor você tomar um banho. – Emily colocou uma toalha nova pendurada na maçaneta da porta. Fiz que sim com a cabeça e elas saíram do banheiro, me deixando sozinha para tomar banho.

Assim que acabei de me lavar, coloquei um pijama velho e me joguei na cama, onde as duas me esperavam.
- Tá grávida, é? – brincou. Fiz uma cruz com os dedos.
- CLARO QUE NÃO. VIRA ESSA BOCA PRA LÁ! – falei alto.
- Aposto que essa viagem rendeu, no mínimo, trigêmeos. – gargalhei, ruborizando de imediato.
- Calada, ! – gritei, tentando abafar a situação.
- Ah, mas vai dizer que não! – ela insistiu. Fechei meu sorriso em uma expressão séria.
- Não comento. – disse antes que elas comentassem mais alguma coisa. – Mudando de assunto... Como foi o fim de semana de vocês? – amaciei a voz ao perguntar e me ajeitei na cama, me preparando para ouvir alguma história de e Emily.
era um exíminio cavalheiro e Emy estava mais encantada por ele a cada dia que se passava, ao passo em que desistia de reatar com James.

Capítulo 19

O sol havia se vestido em nuances de cinza e preto, dando um ar mais triste ainda ao dia.
Mamãe havia me ligado durante a madrugada avisando que vovó não duraria mais do que algumas horas.
Eu não quis me despedir, e, agora, olhando para seu corpo gelado, porém, impecável, eu vejo como me arrependo.
Fui extremamente boba ao pensar que evitaria sofrer se não a visse falecer de fato, mas me enganei. Como me enganei. A dor de sussurrar próximo ao seu caixão palavras que eu sempre quis dizer enquanto ela estava viva, conseguiu superar minhas expectativas.
Porém, o pior de tudo foi ver minha família inteira chorar; exceto por Jolie, que ainda não sabe da notícia e nem sei se tão cedo saberá.
O enterro seria ao meio-dia e no momento não passava de nove horas. Alguns amigos da família apareceram, como o Dr. Paterson, que havia feito o meu parto e cujo pai, já falecido, havia feito o parto de minha mãe.
Seu filho, um ano mais velho do que eu, também trilhava o caminho da obstetrícia. Mamãe havia me empurrado descaradamente para ele em um coquetel na casa dos Paterson no período em que eu e havíamos rompido.
Devo admitir que Jack não era ruim. Não mesmo. Mas ele era muito o que minha mãe queria – rapaz com família conhecida, portador de um sorriso convincente e um carro de preço exorbitante -, não o que eu queria – rapaz com sorriso encantador, não necessariamente um Deus-grego e humilde acima de tudo; como , exceto pela parte de não ser um Deus-grego, porque ele é.
Comuniquei a e às meninas durante a manhã, não queria acordar ninguém, e todos os três me disseram a mesma coisa quando contei o horário: “Podia ter me acordado, não me importava”. Mas eu, sim.
Papai estava voltando da casa do tio Paul com o mesmo, eles chegariam às onze horas no aeroporto de Heathrow, mas, pelo trânsito, só deveriam chegar ao velório lá pelas onze e meia, por isso marcamos tão tarde o enterro.
chegaria com as meninas perto do meio-dia. Ele alegou que esse era um momento familiar – mesmo que triste – e que, por mais que ele quisesse estar comigo, não era correto se intrometer. e Emy disseram o mesmo, por isso pediram carona pra ele.

Estava encostada à parede quando uma corrente de ar vindo contra minhas costas trouxe o perfume de às minhas narinas e eu me virei instintivamente, me deparando com seu sorriso triste mais sincero.
Usei um sorriso parecido e o abracei com toda a força do mundo, sentindo meus olhos se preencherem de água novamente.
- Meus pêsames, amor. – ele falou baixinho ao pé do meu ouvido e eu esperei que a vontade de soluçar passasse para responder alguma coisa.
- Brigada. – minha voz saiu quase como um grunhido.
- Sei que eu deveria perguntar como você está, mas já vi que não está bem. – parou de acariciar minhas costas e pegou em minha mão, me guiando para fora do salão onde estavam todos. – Vamos lá para fora? – concordei silenciosamente com a cabeça e andamos até uma cafeteria na esquina da rua da capela.
Pedi um café expresso para me manter acordada. Se eu dormi duas horas, foi muito.
- Depois do enterro você quer ir pra minha casa? Eu t... – perguntou depois de uns minutos de silêncio.
- Não quero ser grossa, mas eu preferiria ficar sozinha, amor. – interrompi-o, pressionei meus lábios em uma linha fina e encarei o nada.
- Tudo bem, eu te entendo. – deu um sorriso triste e olhou no relógio. – Já é meio-dia, vamos? – fiz que sim com a cabeça e voltamos à capela.

Segui as pessoas cemitério a dentro. Papai havia acabado de chegar com meu tio, que veio me abraçar fortemente.
O choro dos meus familiares formava uma sinfonia desarmônica, mas eu já havia controlado minhas lágrimas e agora estava incomodada com o cheiro extremamente desagradável do lugar.
Olhei para o lado e vi Emy, e . Sorri com a sensação de que eu não estava sozinha. A sensação de felicidade passou e eu voltei a olhar para frente, a fim de me concentrar para não esbarrar em nenhum túmulo ou estátua.
No percurso até o corredor onde ela seria enterrada, fomos rezando, já que ela era extremamente devota ao cristianismo. Vovó estava no reino dos céus e eu tinha certeza disso. Ela ia à missa todos os dias da semana às 18:00 e todos os domingos às 8:00. Além disso, era uma senhora de alta educação e generosidade. Definitivamente, um exemplo.
Quando chegamos ao exato local de enterro, peguei as flores favoritas dela, tulipas, e repousei-as sobre o caixão.
- Descanse em paz, vó. Nos vemos numa próxima, velhinha. – ri tristemente em meio ao gosto salgado das lágrimas e passei a prestar atenção no que minha mãe falava. O último discurso com o corpo dela presente.
Logo algumas gotas de chuva passaram a escorrer sobre minha pele e, no momento, em que a cova foi fechada, um temporal se deu início, nos apressando a nos retirar de lá.

- Tem certeza de que não quer minha companhia? – perguntou mais uma vez, fazendo um biquinho, o que me fez rir suavemente.
- Desculpa, amor. – dei-lhe um último selinho antes de sair do carro. Olhei para Emy e para , que me fitavam com um olhar penoso. Escutei uma buzina e me virei. – Cuidem bem da minha garota. Ok? – as duas riram e fizeram um “ok” com o polegar, me abraçando em seguida. mandou um beijo no ar pra mim, e fechou o vidro, seguindo seu caminho depois. Soltei um suspiro fraco e nós entramos no prédio.

Estava jogada na poltrona do meu quarto quando o toque do meu celular me despertou de meus melancólicos pensamentos.
- Alô? – atendi sem emoção alguma.
- , minha filha. – a voz de meu pai ecoou macia. – Venha para cá, a família está reunida e só falta você. – eu estava tão desesperada para sair do cemitério que aceitei a carona de sem pensar na reunião. Espero que ninguém tenha interpretado isso de forma errada.
- Estou indo, pai. – disse calmamente. Desliguei o telefone e o joguei em minha bolsa preta. Calcei minhas sandálias novamente e agradeci por não ter trocado de roupa novamente, já que não tinha cabeça para pensar em uma combinação que ficasse boa.
Passei pela sala, onde as duas viam TV. Pedi a elas que não tentassem me consolar, mas elas já me conheciam para saber que isso era sério, e, não, um charminho.
- Emy, me empresta seu carro? – ela fez que sim com a cabeça e catou a chave na bolsa, jogando-a para mim depois. – Mais tarde estarei de volta. Tô indo para a casa dos meus pais. Qualquer coisa, me liguem. – joguei dois beijos no ar e saí do apartamento.

Coloquei meus óculos escuros assim que saí do carro e rumei ao prédio.
- Meus pêsames, senhorita . – Christian, o porteiro, falou ao me notar. Agradeci com um sorriso amigável e um aceno de cabeça, e continuei a caminhar até o elevador, suspirando ao entrar no mesmo e me deparar com imensas bolsas abaixo dos olhos, causadas não só pelo constante choro de mais cedo, como pela exaustão.
Entrei no apartamento, cuja porta estava aberta, e cumprimentei a todos, percebendo a presença de Jolie.
- ! – a pequena veio correndo ao meu encontro e me abraçou as pernas. Sorri e me abaixei para abraçá-la.
- Jolie estava falando a pouco que queria ficar do seu tamanho. – minha tia falou rindo e eu soltei uma leve gargalhada.
- Mesmo? – perguntei à criança. Jolie riu, envergonhada, e concordou. Não pude conter meu sorriso e lhe dei um beijo estalado na bochecha. Levantei-me e peguei em sua mão, nos guiando para o sofá onde estavam Joanne e Marcus.
- , e o ? Como está com ele? Já deu um pé na bunda dele? – Marcus perguntou.
- Marcus! Olha o tipo de pergunta. – Joanne o repreendeu.
- Desculpe. – Marc sussurrou.
- Tudo bem. – respondi, bem humorada. – Ainda estou com ele. Estamos bem. Daqui a uma semana faremos sete meses. – comentei, empolgada.
- Sete? Uau. Quanto tempo. - Joanne pareceu estar abismada. – O máximo que eu já consegui foi uma semana. E olhe lá! – rimos.
- está sendo meu primeiro relacionamento duradouro. Espero não me decepcionar. – disse a última frase em um tom mais baixo, como uma reflexão. – Mas acho que se fosse para me decepcionar, isso já teria ocorrido. Certo? – perguntei de forma retórica com uma das sobrancelhas levemente arqueadas.
- É. – Marcus afirmou, mas depois adicionou: - Eu acho...
- me pareceu uma boa pessoa. Une o útil ao agradável. – Joanne comentou simplesmente, me fazendo abrir um enorme sorriso.
- Estou gostando dos elogios. – brinquei e depois voltei a sorrir.
- Só digo a verdade. – Jô afirmou com um sorriso sincero. – Agora, se me permitem, meu metabolismo de pessoa em fase de crescimento quer pegar uns pãezinhos. – então ela se levantou e rumou à mesa de frios.
- E como está com as meninas? – perguntei simplesmente a Marcus.
- Tudo indo... Estou prestes a pedir uma menina aí em namoro. É, tá tudo bem... – ele sorriu consigo mesmo, provavelmente ao pensar no rosto da menina.
- E como você pretende fazer o pedido? – me interessei. Nunca tive um irmão ou um primo mais velho para me ajudar nessas coisas, então eu gostava de ser o alguém que eu nunca tive.
- Tô pensando em uma caixa de bombons e uma tarde no shopping. Mas não sei... – Marc torceu a boca em uma expressão um tanto quanto frustrada.
- Troque a tarde no shopping por um piquenique no Hyde Park ou no Regent Park. Aproveite que não estamos no outono ainda! E você podia trocar a caixa pelos sanduíches favoritos dela. Se quiser, te passo algumas receitas que vovó deixou comigo bem antes do Natal. – sorri ao ver a feição iluminada de Marcus.
- Ah, , você é foda! Toca aqui. – ele estendeu a mão para mim.
- Marcus falou uma palavra feia, mãe! – Jolie denunciou. Eu havia esquecido de que ela estava do meu lado. – toquei a mão de Marcus e ri em seguida.
- Filho, não pode falar palavrão perto da sua irmã! – minha tia gritou da mesa.
Contive minha risada e voltei a conversar com Joanne, que havia se juntado novamente a nós, e Marc.
Capítulo 20

7 meses. Como diria Joanne, uau. Nosso aniversário caiu num domingo, mas resolvemos tirar o sábado para passar o dia juntos, mesmo que isso significasse ficarmos dentro do apartamento de o fim de semana inteiro.
Eu repousava minhas costas no braço esquerdo do sofá, enquanto fazia o mesmo no braço direito. Nossas pernas estavam entrelaçadas e nossos pés travavam pequenas batalhas quando o que estávamos fazendo – eu estava lendo um livro no laptop ao tempo em que resolvia um problema nos computadores do prédio do trabalho dele pelo celular – se tornava muito chato.
- Conseguiu? Graças a Deus. Nos vemos segunda-feira, Will. – levantei o olhar do livro, que há algum tempo já não fazia sentido para mim, e notei que as feições dele estavam relaxadas e que ele sorria, aliviado.
Tornei a olhar para o computador e reli, pela décima quinta vez, uma frase.
- O que está lendo? – perguntou mexendo os pés contra os meus, tentando chamar a atenção.
- Sobre o funcionamento do Sistema Reprodutor. – respondi sem tirar os olhos da tela. - Ou algo do tipo. – comentei quando comecei a ler uma frase que falava de neurônios.
- Falta muito pra acabar? – ele parou de mexer os pés para tentar puxar minhas pernas, que estavam flexionadas, com os mesmos.
Rolei meus olhos para o marcador de páginas. 6 de 289. Como alguém pode escrever tanto sobre o Sistema Reprodutor?!
Olhei para , que aguardava minha resposta.
- Sim. 283 páginas, pra ser exata. – falei calmamente e, depois de ver a expressão de incredulidade dele, comecei a gargalhar.
- Acho então que você deveria fazer uma pausa pra aula prática. Sabe, pra fixar bem o conteúdo. – prendi meu lábio inferior com os dentes enquanto ele me puxava para mais perto pelas pernas. - Sistema Reprodutor, certo? – perguntou casualmente. Concordei com a cabeça em silêncio, sorrindo de um jeito um tanto quanto tarado e deixando meu laptop no chão.
- Eu faço o sacrifício de ensinar na prática. – ele disse de maneira dramatizada, o que me fez rir. Me apoiei nos joelhos, fazendo com que nossas pernas se encaixassem.
- Só não prometo aprender de primeira. – afirmei enquanto passava os braços ao redor de seu pescoço.
- Tudo bem... Tô aqui pra isso. – riu suavemente, me fazendo sorrir, e me puxou delicadamente pela cintura para um beijo.

Abri os olhos, cegados pela intensa claridade do cômodo. Por que eu nunca lembrava de fechar as cortinas?
Estava acompanhada de um bilhete na cama.

Quebrei nosso pacto de sermos anti-sociais pelo fim de semana, desculpe. Tive que ir ao trabalho para resolver eu mesmo o problema de ontem. Explico melhor quando voltar.
Te amo.
Feliz 7 meses.
Xx
.


Bufei e me levantei, colocando uma roupa e indo ao banheiro para realizar minha higiene pessoal matinal.
Enquanto escovava os dentes, olhei para meu pacote de absorventes, ainda fechado, deixado lá para casos de emergência. Gelei ao pensar no meu ciclo e na sensibilidade extrema que eu vinha sentindo nos seios.
- Puta que pariu. – fechei os olhos e apoiei meus braços sobre a bancada de mármore da pia. Deixei minha escova de dente no vidro onde ficavam as pastas e as escovas, e saí correndo para a sala, a fim de pegar minha agenda.
- Cadê, cadê, cadê? – vasculhei todos os dias dos dois meses anteriores e nenhuma marcação - eu fazia isso para tentar controlar meu ciclo, que era extremamente irregular.
- Você tá pirando, . Isso não é nada. Só deve ser uma brincadeira de mau gosto do seu corpo. Só isso. – tentei me tranqüilizar repetindo essas palavras para mim mesma durante um tempo. Então, depois de alguns minutos, parei de repeti-las e voltei a surtar, ligando para a farmácia e pedindo três testes de gravidez, cada um de uma marca diferente.

Andava de um lado pro outro da sala, aguardando ansiosamente a entrega. O interfone tocou, anunciando a chegada do entregador, e eu corri para atendê-lo, mandando o tal rapaz subir. E enquanto ele subia, peguei meu dinheiro na carteira para evitar maiores constrangimentos.
A campainha tocou e eu abri a porta um tanto quanto rápido demais, fazendo o entregador me olhar com uma expressão duvidosa.
- Aqui. Pode ficar com o troco. – puxei praticamente o embrulho de suas mãos e deixei uma grande e gorda nota de 50 libras no lugar, batendo a porta com pressa e correndo na direção do banheiro.
- Como é que faz essa porra? – pensei alto quando vi um aparelho parecido com um termômetro digital. Peguei a bula e comecei a ler as instruções.
- Ótimo, vou ter que mijar nisso. – resmunguei ao terminar de ler, rindo da minha desgraça depois.

Fiz o que os exames pediam – todos os copos de água ajudaram muito – e passei a aguardar, sentada em cima da tampa do vaso sanitário.
Olhei para o relógio da parede. Ainda faltava 2 minutos.
Tic-tac.
Comecei a roer minhas unhas recém-pintadas.
Tic-tac.
Droga de tempo que não passava.
Tic-tac.
Acabei de roer as duas mãos e devo admitir que nunca roí tão rápido. Meus dentes pareciam serras elétricas famintas por esmalte, ou algo do tipo.
Tic-tac.
Uma parte de mim queria que já tivesse passado os dois minutos, mas outra, não. Queria saber logo qual era minha condição: grávida ou louca. Porém, se a primeira opção fosse a certa, eu não queria ter que enfrentar uma gravidez. Não mesmo. Dentro do meu planejamento de vida, uma gravidez aos 18 anos não estava inclusa, definitivamente.
Tic-tac.
Apertei meu celular e decidi que era a hora de encarar os fatos. Olhei para o visor e lá estava: 14:56. 3 minutos cronometrados.
Movi meu olhar para cima e o primeiro teste marcava uma linha rosa bem forte... que eu não sabia o que significava. Ok, cadê a bula?
Peguei o manual e lá estava:

Linha azul – Não está grávida.

Linha rosa – Coloração fraca: 50% de chance de gravidez.
Coloração forte: 99% de chance de gravidez.



Espantada, joguei o teste dentro da pia. 99% não é 100%. “Desespero” era a única palavra que me vinha à cabeça quando eu tentava descobrir o que sentia no momento.
Respirei lentamente e peguei o segundo, mas de olhos fechados.
- Linha azul, linha azul... – implorei enquanto abria os olhos. Linha rosa forte de novo. Não se desespere, .
NÃO SE DESESPERE.
Eu gritava comigo mesma ao notar que estava prestes a chorar.
- Deus, se você fizer essa linha ficar azul, eu paro de comer chocolate e nunca mais ponho uma gota de refrigerante na boca. – cruzei os dedos da mão direita, e, com a esquerda, peguei o terceiro, e último, teste.
- NÃO ACREDITO! EU-NÃO-ACREDITO. – berrei, atirando os testes dentro da pia. Uma súbita onda de lágrimas tomou conta de mim e nada fiz para controlá-la. O desespero havia tomado imensas proporções e agora podia senti-lo em meus ossos.
Sentei no chão e abracei minhas pernas, enterrando meu rosto no círculo que meus braços haviam formado.
O que aconteceria com a minha vida? Com minha faculdade? Com meus sonhos? Como eu iria contar para meus pais? Como eu iria me virar com uma criança para cuidar se eu havia acabado de aprender a cuidar do meu próprio nariz? Como meus amigos reagiriam? Como reagiria?
. Ah, mas eu aposto que aquele infeliz resolveu me engravidar só para me zoar e agora deve estar rindo com a amante de vinte e oito anos dele que se passou pela secretária dele na noite em que brigamos. Certo, sem exageros, !
- NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO COMIGO. NÃO PODE, PORRA. – eu gritava no meio dos meus soluços, que já duravam há uns bons minutos. Eu queria sumir, queria morrer, queria virar freira, queria voltar no tempo.
Fui tomada pelo pensamento do aborto, mas não sabia se conseguiria. Tinha medo.
- ? – a voz de , com um tom preocupado, se aproximava.
Droga, não tinha escutado a porta abrir. Porém, eu estava tão chocada com a gravidez que não fiz menção de guardar nada, só continuei lá, chorando. - Você está...
- Grávida. – completei a frase, continuando meu berreiro. , que deixara o meu porta CD, que estava no carro, cair aos seus pés, agora parecia tão chocado quanto eu e estava sentado ao meu lado.
- C-como isso veio a acontecer? Eu usei camisinha todas as vezes e em nenhuma delas estourou. – me encarava, perplexo.
- E EU SEI, PORRA?! – berrei em meio a um soluço e depois percebi o quão grossa eu havia sido. – Desculpe. – sussurrei, tentando enxugar minhas lágrimas.
- Nós vamos ter... um bebê. – ele falou de um jeito calmo e lento enquanto encarava o nada, parecendo pensar alto. E, ao escutar, voltei a chorar.
me abraçou e eu não devolvi o abraço, só continuei fazendo o que eu fazia de melhor: chorar quando a situação estava ruim. Patético. Melhor, patética.

- Eu não acredito que isso tá acontecendo com a gente. – murmurei depois que minha crise de choro cessou. Ainda estávamos sentados no chão gelado do banheiro.
- Muito menos eu. – , que agora era abraçado por mim, se encostou à parede.
- O que nós vamos fazer? – levantei o olhar para fitar seu rosto. pareceu pensar por alguns segundos.
- A gente vai ter esse filho, eu vou assumir e vou ajudar a criar. Não vou dizer que não há nada para você se preocupar, porque daqui a alguns meses você vai estar meio inchadinha, sabe? – ele brincou, me fazendo esboçar um sorriso.
- Pára. – disse de um jeito manhoso.
- Tô falando sério! Gravidez faz as mulheres ficarem redondinhas. – continuou com a brincadeira e eu fiquei séria novamente. – Ok, parei com a brincadeira... Só tava tentando arrancar um sorriso seu. Mas falando sério agora – ele pigarreou -, a gente realmente vai ter esse filho, eu vou assumir a paternidade e vou ajudar em tudo que eu puder. Você pode contar comigo, . Você sabe disso, não sabe? – deu um beijo suave em minha testa e apertou o abraço. Concordei com a cabeça em silêncio, pensando no que ele havia dito.
- Eu... não sei se eu quero ter esse filho. – admiti em um sussurro. Me afastei para poder olhar seu rosto por completo. – Eu não sei se vou ser uma boa mãe. – franziu o cenho. – Quero dizer, eu não estou pronta. Não foi isso que eu tinha planejado, entende? – expliquei, não contendo uma lágrima abusada de escorrer por minha bochecha. apagou os vestígios deixados pela mesma com seu polegar.
- Eu também não estou pronto. Na verdade, ninguém está, meu amor. Mas a gente vai se preparando aos poucos. Além do mais, metade dos pais desse mundo não tiveram filhos na hora planejada. Os meus não tiveram. – a certeza em sua voz me fez sentir confiança e perder parte do medo que estava presente.
Enterrei minha cabeça em seu peito novamente, sentindo seus dedos fazerem um cafuné em minha cabeça, causando uma sensação de serenidade.
- Diz que vai dar tudo certo? – pedi calmamente em um murmuro amendrontado.
- Vai dar tudo certo, . – esbocei um sorriso torto e inalei mais uma vez o perfume dele, me sentindo um tanto quanto relaxada. – Vai dar tudo certo. - ele afirmou, dando outro beijo em minha testa. – A propósito... Feliz sétimo mês. – utilizou o melhor sorriso de seu arsenal: aquele que passava conforto e felicidade ao mesmo tempo.

No tem que sucedeu as horas seguintes ao grande fato que fora a descoberta, eu e havíamos sentado para pensar. Eu estava completamente encolhida na cama e estava cautelosamente posto atrás de mim, traçando constantemente uma trilha com seus dedos, que se moviam lentamente, desde meu ombros esquerdo até a cintura.
- Está com fome? – ele quebrou o silêncio de poucas horas. Demorei alguns segundos para sair de meus pensamentos, que estavam sobrecarregados.
- Não. – eu sentia meu estômago protestar, mas eu sabia que não conseguiria passar nada pela minha garganta.
- Vamos, , você não deve comer nada desde que acordou. Eu te conheço. – tentava me convencer, mantendo um tom calmo. - Aliás, você, agora, tem que começar a comer por dois.
- Não, , eu não quero comer nada. – usei um tom firme para demonstrar minha opinião e desabei em um choro afetado depois. Droga de hormônios.
Escutei-o suspirar de forma lenta e cansada atrás de mim. Parei de chorar e enxuguei minhas lágrimas na manga da camisa que eu usava.
- Tem certeza? – ele insistiu no assunto. Grande erro. Voltei a chorar ao me imaginar obesa no mês seguinte quando a gravidez começasse a dar o ar de sua graça.
- Mas que saco! – esbravejei em meio a um soluço. - Tenho certeza sim. – completei minha resposta, passando meus braços ao redor do meu tronco, como se me abraçasse, numa tentativa inútil de me acalmar.
levantou sem dizer uma palavra e foi até a sala com o celular em mãos. Provavelmente ligaria para Dougie. Merda, eu tinha que contar para as meninas.
Cambaleei até o banheiro e recolhi os testes, enfiando-os na sacola plástica da farmácia. Coloquei uma roupa rapidamente e prendi meu cabelo num rabo de cavalo alto e mal feito, porém não estava me importando muito com aparência.
Assim que saí do quarto, me deparei com um visivelmente derrotado no sofá, encarando os próprios pés. Droga, olha o que eu havia feito.
- Ahn... – não sabia se pedia desculpas, então resolvi não pedi-las. - Eu vou pra casa. – ele se levantou rapidamente e se pôs na minha frente.
- Eu te levo. – respondeu prontamente, pegando as chaves do carro de cima da mesa da sala.
- Prefiro ir andando. – murmurei. - Espairecer um pouco. – expliquei e o vi fazer menção de falar algo. – Sozinha. – finalizei, deixando-o com uma feição tristonha. Ele concordou com um aceno de cabeça e um sorriso falso. Passei pela porta e ia a fechar quando me chamou.
- Ei... – encarei seus, ineditamente, opacos olhos e senti meu coração ser apertado. – A gente não vai deixar essa situação acabar com a nossa relação, vai? – me aproximei dele alguns passos e neguei silenciosamente com a cabeça.
- Eu só preciso pôr as coisas em seu devido lugar aqui dentro. – apontei para minha cabeça. sorriu cordialmente enquanto concordava, e me deu um selinho demorado. Tentei sorrir de igual forma e virei as costas, seguindo para o elevador do prédio.

Suspirei lentamente quando cheguei em casa, sendo observada curiosamente por minhas companheiras de apartamento enquanto atravessava a sala e me jogava no sofá desocupado.
No percurso até minha casa todo e qualquer tipo de pensamento e plano passou por minha cabeça. Um turbilhão de imagens chegou até meu cérebro, e todas elas eram representações da minha vida futura.
Pensei em meus pais ao ouvirem a notícia, na feição de cada um deles; minha mãe, com certeza, levaria as mãos à boca e olharia para meu pai, que estaria fuzilando com olhos. Depois da quinta ameaça de morte vinda de papai, desistiria de assumir o filho e iria sumir da minha vida, me largando aos, até lá, dezenove anos com um filho e contas para pagar.
- Tá tudo bem? – indagou, deixando o sorvete de lado.
- Não. – choraminguei, levando as mãos aos olhos e balançando minha cabeça negativamente. – Eu fiz uma merda. Uma merda enorme. - minha voz não voltava ao tom normal.
- Terminou com o ? Só não me diga que está grávida. – brincou. Tirei as mãos dos olhos e a fitei com um olhar culposo. e Emily arregalaram os olhos ao mesmo tempo.
- Não a-cre-di-to. – as duas falaram em uníssono.
- Então era por isso que... – ia começar, mas Emy a cutucou com o cotovelo. – você estava com uma mudança de humor tão repentina. – ela parecia ter modificado a frase na hora, mas eu não me importei com o fato. Eu só queria que elas dissessem para mim que tudo ficaria bem e que elas ficariam ao meu lado acima de tudo.
- , como isso veio a acontecer? Não tô querendo falar de suas relações sexuais, mas como... – levantei meus olhos. Emily me questionava com o olhar. – Quero dizer, vocês usavam preservativos, certo? – concordei com a cabeça. Então umas cenas da viagem retornaram à minha cabeça.
- Só se estava furada e ele não viu... – concluiu antes de mim. Um silêncio se formou, todas pensávamos em algo que havia nos tomado da realidade por segundos. – O que importa, no momento, é que você saiba que nós estaremos te apoiando seja qual for a sua decisão. – e Emily se entreolharam e me deram um abraço em conjunto, caindo por cima de mim no sofá.
- Brigada, meninas. – permiti-me ficar alegre com o apoio delas. – Amo vocês. – sussurrei.
- Também te amamos, . Mesmo que você vá vomitar a casa inteira daqui a um mês. – gargalhou.
- Você sabe mesmo como cortar o clima! – zombei, rindo também. – E eu não vou vomitar a casa inteira! – observei com uma vez ligeiramente afetada e assustada.
- Se no primeiro mês já foi assim... – Emily ia brincar, mas, de repente, mudou o tom da voz. – Você já marcou algum exame? – neguei com a cabeça.
- Eu não tive tempo. Só tive tempo para chorar, fazer o ficar triste e chorar mais por me sentir uma vaca destruidora de vidas. – suspirei lentamente ao fim da frase.
- Pára com isso! Grávida eu suporto, mas grávida emo, não! – dei uma risadinha triste.
- Já disse como eu amo vocês? – perguntei, fazendo uma voz manhosa.
- agora tem Alzheimer também. – gargalhou. Admito que eu riria se não fosse a lembrança que a frase me trouxe.

O quarto estava quente devido à calefação. Por razões desconhecidas, fazia quase 0 graus em plena primavera. Droga de aquecimento globa ou o que quer que fosse issol.
- Filha, sua vó está gritando por você. – mamãe apareceu na sala, me despertando de meus devaneios em relação a .
Estávamos brigados fazia uma semana. Engraçado era que eu não saberia dizer quem era o mais infantil da relação. Emily havia comentado por alto que Dougie reclamava por não conseguir mais manter uma conversa com . Agora, se ele estava tão mal assim, por que diabos não dava o braço a torcer e me ligava? Talvez porque nós fôssemos dois idiotas orgulhosos...
Entrei no quarto sorrateiramente, querendo causar o mínimo de barulho possível.
- . – sua voz grogue me chamou.
- Sim, vó. – respondi serenamente enquanto me sentava no braço de sua poltrona e lhe acariciava de um jeito delicado e gentil a testa.
- Por que todo mundo parece estar irritado comigo? – então me dei conta de que ela estava num momento de lucidez.
- Ninguém está irritado com você, vó. Só estão... cansados. – expliquei calmamente, não deixando de acariciar-lhe, agora, os finos e esbranquiçados fios de cabelo.
- Cansados de mim, isso sim. – ela murmurou em um choramingo.
- Claro que não! Cansados só de não conseguir descançar direito. – beijei-lhe a bochecha. – Mas nós te amamos, vó. – sussurrei próximo ao seu ouvido a última sentença. Então ela nada respondeu, ficou encarando a televisão sem expressar nada e depois voltou a gritar por minha mãe.Suspirei de um jeito cansado enquanto a deixava no quarto.


- , me desculpa, eu não tive intenção! – tentava consertar o erro enquanto eu respirava fundo de um jeito triste.
- Não, tá tudo bem... – murmurei ao que tentava manter as lágrimas traidoras longe de minha pele. Levantei-me e fui até o quarto, onde me atirei debaixo das cobertas, pretendendo passar o resto do dia naquela posição.


Capítulo 21

Prendi meu cabelo em um nó alto e desajeitado, escovando meus dentes. Já se passava das dez da noite e eu havia decidido adiar por mais um dia a conversa que eu queria ter com .
Todos os dias, a toda hora eu pensava na gravidez, pensava na merda em que minha vida iria se transformar, pensava na minha – e na de também - irresponsabilidade, ou seja, nada de muito diferente do que estava pensando no momento em que descobrira. Contudo, não sentia mais vontade de chorar.
O que eu havia esquecido era que o bebê crescia a cada segundo, independente de eu ter aquela conversa ou não com .
Suspirei de forma lenta e cansada ao escutar a campainha tocar. Já estava em minha cama, assim como as outras duas meninas. Esperei que uma delas fosse abrir a porta, já que seus quartos eram mais próximos da porta de entrada. E assim o fizeram, pois a campainha cessou segundos depois. Porém, a visita – ou o que quer que fosse – não era para elas, e, sim, para mim.
entrou e me deixou sem um álibi para adiar a conversa em que eu lhe contaria que não tiraria o filho, definitivamente. Era a hora.
Tirei o lençol de cima do corpo e me sentei na cama, observando-o vir até mim e se sentar virado para mim.
- Hey, por que está me evitando? – sua voz era serena, mas apresentava um quê de ressentimento.
- Eu precisava pensar. – murmurei em um fio de voz. meneou a cabeça, parecendo entender minha situação.
- E já pensou o suficiente? – ele indagou simplesmente. Levantei os olhos, que antes observavam suas formas dentro daquele terno. Ele tinha vindo do trabalho, eu tinha certeza.
- Sim. – respirei fundo. – Eu não vou tirar, mesmo que um filho vá desandar toda minha vida. – falei em um fôlego só, observando meu closet enquanto o fazia. Depois tornei a encarar , que, estranhamente, sorria.
- Você sabe que eu vou dar meu apoio, e que vou fazer das tripas coração para te dar suporte, não sabe? – indagou de forma carinhosa enquanto se aproximava e me puxava para um abraço reconfortante. Assenti com a cabeça e inspirei profundamente. – Mesmo que isso signifique ir até a casa dos seus pais e contar para eles, sabendo que seu pai vai me arrancar a cabeça. – ele riu suavemente, o que me fez sorrir, com um pouco de medo da reação deles, porém.
- Fica aqui pela noite? – indaguei em um murmúrio após alguns segundos em silêncio. Pareci despertar de alguns pensamentos.
- Fico. – sorri sinceramente e me deitei, voltando a me cobrir. Observei-o tirar o paletó e colocá-lo na poltrona do meu quarto. Depois tirou a blusa social e a repousou junto ao casaco, ficando somente com uma regata branca e a calça social.
Bati levemente no pedaço da cama ao meu lado e ele entrou de baixo dos lençóis, me envolvendo em seus braços bem torneados e quentes. Fechei os olhos e me aninhei, depois de apagar a luz do abajur.
Permanecemos em silêncio por minutos.
- ? – chamei-o com a voz baixa, quase sussurrando. Pensei que estivesse dormindo, pois havia parado de roçar seus dedos lentamente contra a pele do meu braço esquerdo.
- Sim. – ele respondeu simplesmente, voltando a acariciar-me.
- Eu te amo. – disse, apertando meus braços ainda mais ao redor do seu peito, como se não quisesse que ele escapasse.
- Eu também. – então ele depositou um beijo em minha testa, voltando a ficar em silêncio depois.

Acordei com o cheiro de panquecas invadindo o meu quarto. Emily estava de joelhos perto da minha cama, pegando alguma coisa debaixo da mesma. Esfreguei meus olhos, fazendo minha vista ficar menos turva.
- Que você tá fazendo? – perguntei, com a voz grogue. Emy pareceu levar um susto e bateu a cabeça na madeira da cama, parando de procurar o que quer fosse e passando a me olhar. Ri baixinho e a observei massagear a parte de trás da cabeça. Senti se movimentar atrás de mim.
- Só vim pegar as sapatilhas que eu tinha te emprestado ontem. – ela apontou para os sapatos em seu colo. - Tenho que correr para a faculdade. Beijo, beijo. – Emy soltou dois beijos no ar e saiu apressadamente do quarto, voltando a cabeça para dentro do cômodo instantes depois. – À propósito, bom dia pra vocês.
- Pra você também. – eu e respondemos, rindo em seguida.
- Dia, amor. – ele murmurou contra o meu pescoço, me abraçando por trás. – Que horas são? – olhei para o relógio digital da mesa de cabeceira.
- Quase nove e meia. – respondi, fechando os olhos e pensando em voltar a dormir, embora tivesse a impressão de ter algo marcado. Abri os olhos de súbito e saltei da cama, saindo bruscamente dos braços de . - Puta merda, puta merda. – me xingava enquanto corria pelo quarto, escolhendo algumas peças de roupa e as jogando sobre meu ombro.
- O que aconteceu? – indagou com uma expressão assustada, sentando na cama. Perdi meu olhar em seu cabelo bagunçado e seu rosto levemente marcado de um lado por causa dos lençóis. Tão lindo.
- Eu tenho/tinha uma consulta no ginecologista. – respondi enquanto entrava no banheiro e ligava o chuveiro. veio até a porta do banheiro e se encostou à mesma.
- Quer que eu te acompanhe? – perguntou, me fazendo para e olhar para ele com uma expressão feliz.
- Eu só vou pra ela me prescrever o exame de sangue, pra confirmar a taxa de hormônios ou o que seja... Li na Internet. – respondi simplesmente. – Mas se quiser ir comigo... – continuei. – Quero dizer, se você não tiver que trabalhar. – emendei quando lembrei que ainda era dia de semana.
- Hoje eu posso tirar o dia de folga... – ele se aproximou, sorrindo sinceramente. Dei um selinho rápido nele, esperando que ele saísse para eu me despir, mas não o fez. Invés disso, me abraçou por trás e distribuiu beijos suaves pela curva do meu pescoço.
- Eu tenho que tomar banho, amor. Estamos atrasados. – grunhi, levemente arrepiada, me virando para ele, que mantinha o mesmo sorriso nos lábios.
- Eu faço ela encaixar a gente em outro horário. - senti seus dedos procurarem pela barra da minha blusa enquanto falava isso com os lábios próximos ao meu ouvido, mordendo a região carinhosamente.
Acho que a consulta podia esperar...

Cheguei à clínica uma hora depois da hora marcada. A recepcionista conseguiu me encaixar em um horário em uma hora, fazendo com que eu e sentássemos em um banco na sala de espera.
Assim que entrei na mesma, vi várias mulheres desacompanhadas e várias acompanhadas. Mas uma em especial chamou minha atenção. Devia ter menos de 15 anos. Será que foi estupro ou descuido, que nem no meu caso?
Pelo modo triste com o qual ela encarava o chão, podia ser ambos, mas, por estar sem a mãe, eu acreditava ser descuido. Talvez estivesse fazendo o exame sem o parceiro e sem alguma amiga ou mãe porque não queria levar um sermão. Todos temíamos os sermões.
Então comecei a montar um sistema em minha cabeça, começando a pensar em todas as possibilidades que a fizeram chegar até lá, triste e sozinha. Cheguei a imaginar como seria o parceiro dela, se ele era realmente namorado dela. E se ela fosse amante? E se o cara nunca mais quisesse vê-la? E se ela foi abandonada pelos pais e não tivesse amigos porque se empenhou muito numa relação que acabou gerando esse filho, e por isso tinha sido largada pelo pai da criança?
- ? – me despertou dos pensamentos tocando minha mão. Meu olhar, que antes pesava sobre a menina, agora estava focado em seus olhos. – Você tá bem? Parecia tão distante...
- Não, tá tudo bem. Eu só viajei pensando em umas teorias aqui. – ri suavemente. pareceu interessado.
- Teorias sobre o quê? – ele questionou, girando o tronco em minha direção.
- Olha discretamente praquela menina ali... – apontei a mesma com a cabeça. Não demorou muito para que eu e estivéssemos bolando teorias sobre a vida de todas as mulheres ali. Definimos desde o estado civil até o sexo do bebê.
- Eu li que quando o rosto fica mais cheio nas bochechas, é mulher. Mas quando ele afina, é homem. – comentou.
- Você leu? – indaguei com um sorriso de soslaio.
- É, li... – ele confirmou, ficando levemente avermelhado. – Eu pesquisei umas coisas sobre maternidade na Internet. É certo que ainda é ced... – calei-o ao pôr meu dedo indicador rente aos seus lábios.
- Você é lindo. – murmurei, roubando-lhe um selinho logo depois.

Vimos mulheres e mais mulheres entrarem na sala. Umas desacompanhadas, outras acompanhadas; umas que saíram com expressões desesperadas, outras com expressões felizes. Nem todas ali estavam grávidas, afinal, era só uma clínica de ginecologia, e eu parecia saber diferenciar as normais das “especiais”. Um sexto sentido, talvez?
E então foi a nossa vez.
Eu entrei naquela sala sentindo que dali em diante minha vida estaria em um processo de mudança. Pra pior ou melhor, eu não sabia.
- E então... o que os trás aqui? – a Dra. Morgan indagou enquanto fazia algumas anotações num pedaço de papel, que eu deduzi ser um ficha.
- Uma possível gravidez. – falei em um tom um tanto quanto vacilante. Era a primeira vez que eu murmurava aquelas palavras com tanta clareza para alguém que estivesse tão fora da situação.
- Desejada? – ela pôs as mãos unidas em cima da mesa em uma expressão maternal. Fiz que não com a cabeça, notando que suas feições se ajustaram a algo mais maternal ainda. – Não é raro... Quantos anos a Srta. tem?
- Dezoito. – minha voz saiu falha. Contar tudo a alguém era como analisar a situação sem querer, de fato, o fazer.
- Certo. Tem sentido alguma coisa?
- Antes de eu suspeitar, eu vomitei uma vez, mas só uma vez. Fora isso, meus seios estão doloridos.Também fiz uns testes de farmácia, que deram positivo. – uma coisa que me irritava nos médicos era o fato de que eles passavam o tempo todo anotando coisas em fichas.
- Bom, as informações nos levam a crer que sim, mas para concluir mesmo, eu vou te pedir que faça esse exame de sangue aqui. E com base na quantidade de hormônios, a gente vai ver. – ela sorriu de forma simpática, e me entregou a prescrição do tal exame. Agradeci com um aceno de cabeça e peguei o papel, me levantando.
veio em meu encalço enquanto a médica nos conduzia até a porta do consultório. Nos despedimos com um aceno de cabeça. E assim, com uma pontinha de esperança, passei confiante por aquela saleta repleta por mulheres de diversos estados de espírito.

Capítulo 22
(n/a: bota pra carregar Time Of Your Life – Green Day)

- Eu sou uma completa idiota por achar que tudo ainda pode ser só uma brincadeira de mau gosto do meu organismo? – indaguei, olhando minhas mãos, repousadas em meu colo.
- Não é. – continuou depois de uma pausa. - Eu vou ser sincero com você: ter um filho aos 28 não é algo que eu queria. Assim, como você, aos 18, também não queria. Mas se é algo que nos foi imposto, só o que nos resta é fazer o melhor pra tudo acabar bem, certo? – ele desviou o olhar do trânsito e me lançou um olhar enriquecido com confiança. (n/a: bota pra tocar!)
Concordei com um aceno de cabeça e olhei pela janela, soltando um suspiro cansado.

Another turning point
Outro momento decisivo
a fork stuck in the road
Uma bifurcação cravada na estrada

Eu tinha ciência de que estava a meia-hora de saber a noticia que mudaria minha vida dali pra frente. Sim, eu já tinha pensado em várias atitudes como as “decisivas” antes, mas nada era certo como seria agora.

Time grabs you by the wrist
O tempo te agarra pelo pulso e
directs you where to go
te mostra aonde ir

Também pensei nas possibilidades de tudo ir pelo ralo, de se mostrar um completo egocêntrico e me deixar na mão. Olhei pro lado e lá estava ele, mordendo o indicador da mão esquerda, cujo braço estava apoiado na porta. Sorri e voltei a olhar pela janela, ficando ligeiramente enjoada com a velocidade com a qual os carros, as ruas, as pessoas e as árvores passavam por mim.

So make the best of this test
Então, dê o seu melhor nesse teste e não
and don't ask why
Pergunte por que
It's not a question
Essa não é uma pergunta,
but a lesson learned in time
Mas sim uma lição que se aprende na hora certa.

Reparei que as melhores coisas na minha vida vieram de forma inusitada, como as meninas e . Assim como as piores também vieram.

It's something unpredictable
É algo imprevisível
but in the end it's right
mas no final é certo
I hope you had the time of your life
Espero que você tenha curtido o tempo de sua vida

Mas do que valeria minha vida se tudo fosse milimetricamente planejado, não é mesmo? Do que adiantaria levantar toda manhã sem a incerteza do amanhã e do agora? O que me motivaria a fazer as coisas se não fosse a tentativa de progredir porque queria tentar fazer um rumo para o meu futuro? Se eu soubesse que tudo daria certo, talvez achasse que as minhas ações não fossem surtir efeito e ficaria parada, vendo minha vida passar.

So take the photographs
Então pegue as fotografias e as imagens
and still frames in your mind
Dispersas em sua mente
Hang it on a shelf
Coloque-as na prateleira da boa saúde
of good health and good time
E dos bons tempos

Seria bom saber o que aconteceria dali pra frente, mas, por mais louco que isso pareça, talvez fosse melhor desconhecer o futuro, pra não acabar adiando demais as coisas, e fazê-las desandar.

Tattoos of memories
Tatuagens de memórias
and dead skin on trial
e pele morta em julgamento
For what it's worth
O que vale a pena
it was worth all the while
Valeu durante todo o tempo

Sim, ainda estamos falando de um filho inesperado e indesejado, mas como disse: o que nos resta é fazer o melhor pra tudo acabar bem.

It's something unpredictable
É algo imprevisível
but in the end it's right
mas no final é certo

Chegamos ao laboratório, indo ao balcão pegar o resultado. Olhei para o envelope. Lá estava o meu destino.
- Não quero abrir aqui. – falei em um fio de voz, sentindo meu coração começar a bater de forma acelerada.
- Como quiser... – murmurou, tomando o envelope das mãos da recepcionista e me guiando até o carro pela mão, que estava fria e trêmula.
Sentei no estofado de couro do banco do passageiro e vi fazer o mesmo no banco do motorista. Sentia nossas respirações aceleradas ora se contrastarem ora ficarem sincronizadas.
- Vamos pro meu apartamento? – ele me perguntou depois de alguns minutos em silêncio. Concordei com a cabeça.

Tentei fechar os olhos, mas estava difícil me concentrar em qualquer coisa que não fosse o envelope no colo de .
Avistei a garagem do prédio se aproximar e câmera lenta. Era impressionante como quando você está à espera de algo, leva-se 5 vezes mais tempo para acontecer.
Em um movimento ligeiro e incerto, estendi meu braço, peguei o envelope branco com letras vermelhas garrafais e o trouxe ao meu colo. Rasguei em um movimento rápido a lateral do envelope, parando subitamente meus movimentos.
- Você tem certeza? – ele me perguntou com uma voz serena enquanto tentava entrar numa vaga. Mordi meu lábio inferior e respirei fundo.
- Sim. – respondi de forma confiante. Abri o envelope, fazendo toda a minha confiança se esvair.
Apertei o papel na palma da minha mão, trazendo meus joelhos a altura dos meus olhos e abraçando minhas pernas, como uma criança desconsolada que se achava madura demais para chorar.
Não gritei, não berrei e nem urrei, como pretendia algumas horas atrás. Eu simplesmente fiquei encolhida até o carro parar num vaga e eu sentir um par de braços me envolver.
Movi minha cabeça lentamente até conseguir olhar em seus olhos, que me confortavam.
- Eu quero subir. – falei serenamente, deslizando para fora do carro.

Observei algumas gotas de chuva competirem na janela imensa da sala, enquanto preenchia o espaço entre o sofá e o corpo relaxado de . Estávamos calados desde que chegamos ao apartamento. Na realidade, eu estava absorta em pensamentos, quase que em estado Alfa, o que deixava sem muitas opções que não fossem pensar ou ficar em silêncio.
O silêncio não era uma coisa assustadora pra mim, que não era muito fã de falar sobre coisas que não importassem, como a vida dos outros e etc. De fato, o silêncio me reconfortava porque ele não exclamava a realidade.
Mas também não me impedia de pensar na mesma.
Pensando bem, o que me reconfortava mesmo era a paz dos carinhos de ; O jeito meigo com o qual ele alisava meus cabelos e respirava de forma serena até nas piores situações.
- Você quer que seja menino ou menina? – indagou do nada. Parei com minhas teorias pessimistas e deixei um sorrisinho enviesado se formar em meus lábios. Levantei a cabeça, apoiando-a em minha mão. Senti parte do meu cabelo cair sobre meu rosto, como uma franja formada por acaso.
- Menina. Na verdade, qualquer um dos dois tá ótimo. – respondi. – E você? – notei que ele possuía um certo brilho no olhar.
- Menino. Aquele velho sonho de poder levar ao primeiro jogo de futebol, de ensinar a ganhar as garotinhas, e etc. – ri, sendo acompanhada por ele.
- Então terei dois garanhões em casa? – não contive o “em casa”. Quer dizer, eu nem sabia se nós iríamos casar ou morar sob o mesmo teto.
- Dois homens suados entrando pela porta dos fundos com os tênis cheios de terra e grama, reclamando que estão com fome. Como numa propaganda de sabão em pó. – gargalhei, reproduzindo a cena em minha cabeça.
- Só não podemos deixar que ele esqueça dos estudos, porque jogador de futebol ou é milionário ou é um fracassado. - observei.
- Dinheiro não é tudo. Do que adianta ele trabalhar numa empresa, ganhando 10.000 por mês se não gosta do que faz? - rebateu, mudando o tom de voz ligeiramente.
- Garanto que se esse mesmo cara tivesse seguido o sonho de ser astronauta e não tivesse capacidade pra ter conseguido, ele estaria debaixo da ponte pedindo dinheiro. – arqueei as sobrancelhas, deixando para trás minha expressão maravilhada.
- Certo, a gente vê isso no futuro. – contornou a situação. – E se a gente se mudasse pra um lugar menos tumultuado o bebê crescer? Dizem que bebês criados em cidades pequenas são mais espertos e calmos. – torci os lábios em uma careta.
- A gente vê isso no futuro. – repeti a frase dele, soltando uma risadinha depois. – E se forem gêmeos? – pensei na possibilidade do desastre ser maior ainda. Ok, desastre não é palavra muito legal para se referir a um bebê, mas encarando os fatos...
- Nós podemos colocá-los numa aula de canto, e se eles forem bons a gente faz uma dupla. Eu produzo o disco, e ensino os dois a tocarem algum instrumento de base, como o violão. Então paramos de trabalhar, lucramos em cima deles e tudo fica bem. – acrescentou um sorriso ao fim da sentença, me fazendo rir mais uma vez.
- Acho que deve ser muito bom ser pais de famosos, porque você não lida com a fama diretamente, mas de uma forma ou de outra sempre acaba aparecendo em algum programa ou entrevista. E também não ganha o dinheiro diretamente, mas tá sempre ganhando agrados. – imaginei-me aos 40 num resort em Bora-Bora. – Deve ser bom...
- Ele, ela, eles ou elas serão artistas. Está decidido. – após um tempo pensando, afirmou de forma brincalhona, repousando a cabeça sobre as palmas das mãos. – A propósito, feliz 8 meses. – roubei-lhe um selinho, desmanchando nossos sorrisos por um momento. Voltei a aninhar-me em seu peito e respirei fundo, com um sorriso suavemente posto em meus lábios.
Tudo iria dar certo.

Capítulo 23

Acordei naquele fim de semana com a missão de ir à casa dos meus pais. Já tinha acertado com que ele iria comigo, mas que não seria nada como nos filmes onde os pais sentam no sofá da frente e o casal mais novo começa a disparar as notícias. Até porque, na maioria dos filmes, a cena acabava mal, e isso significava má sorte.
O meu plano era falar primeiro com minha mãe, e depois deixaria com ela a bomba e a missão de comunicar ao meu pai. Eu não queria imaginar a cena dele ao receber a notícia, por mais amoroso que ele fosse comigo quando tudo estava bem.
Marquei de almoçar com eles sob o pretexto de que eu estava com saudades e que sentia falta de comida caseira de verdade, não daqueles congelados que eu e as meninas vivíamos comendo.
- Essa roupa tá boa? – pela primeira vez em quase 8 meses de namoro estava me pedindo opinião sobre a roupa. Ele costumava ser mais seguro quanto a essas superficialidades.
- Tá ótima, amor. – sorri, chegando perto do espelho para roubar-lhe um selinho. Desde o dia em que a gravidez foi confirmada, nós passamos a olhar todo o caso pelo lado positivo, assim eu não piraria mais e não o faria pirar comigo. Como em um tratado. Obviamente, algumas cláusulas do nosso acordo permitiam que eu chorasse de vez em quando.
Abracei-o pelas costas, ficando na ponta dos pés para apoiar o queixo em seu ombro. Ele sorriu assim que reparou o que eu fazia e agarrou minhas mãos, observando o espelho por um tempo.
pegou ar, como se fosse falar alguma coisa, mas tornou a sorrir, girando seus calcanhares, ainda pegando em minhas mãos. Nossos corpos foram aproximados, se separando apenas por nossas mãos unidas.
- Eu acho que... – iniciou a sentença, mas meu querido celular me atrapalhou. Ele fez um sinal com a cabeça como se dissesse para atender, então o fiz.
- Oi, mãe. – falei. – Estamos no caminho já. Aham. Tô dentro do carro exatamente, saindo da garagem. Aham. Tá, mãe. Bota a comida no forno pra não esfriar. Já chegaremos aí. Beijos. Também. – finalmente desliguei, esperando que continuasse com sua fala. Não que eu achasse que fosse algo importante, senão ele já teria falado.
- Vamos? – perguntou, se dirigindo à porta da sala. Fiz que sim com a cabeça e o segui até o carro.

Ao chegar à casa dos meus pais sempre era possível sentir o cheiro de comida fresca, de diversos temperos. Era isso que você ganhava quando sua mãe fazia curso de gastronomia, o que meu pai julgava como perda de dinheiro, “porque com a tecnologia de hoje ela poderia fazer um curso em duas semanas na Internet e obteria o mesmo efeito”, como ele dizia. Mas ela se opunha, dizia que era muito velha pra entender essas coisas de Internet e preferia do jeito tradicional de aprender as coisas: com um professor ao vivo e a cores.
Toquei a campainha, podendo inalar o cheiro do tempero de maracujá. Provavelmente era pato ou dourado ao molho de maracujá.
- Sogrinha tá caprichando na comida. – comentei com uma risada, olhando rapidamente para , que sorria. Ouvi a porta ser destrancada e virei o rosto na direção da mesma, me deparando com papai.
- Pai! – sorri, dando-lhe um abraço demorado e um beijo no rosto. Saí do abraço, me recompus e fui cumprimentar minha mãe, que havia acabado de chegar à sala com um pano de prato sobre um dos ombros.
- Mãe, tem um pano no seu ombro. – comentei enquanto dava um abraço apertado nela, que riu ao escutar meu comentário.
- Minha memória tem andado péssima ultimamente. Leva pra cozinha, por favor? – concordei com um “uhum” e segui até a cozinha, constatando que eu estava certa quando ao molho e quanto à carne: dourado.
Voltei à sala, prendendo uma risada ao ver a cena: minha mãe apertando as bochechas de .
- Que abuso é esse com meu namorado, mãe? – gargalhei, me aproximando mais.
- Tava vendo se ele tem a pele resistente. Meu neto não pode ter pele frágil se quiser ser jogador de futebol. – um emoticon que me representaria à imagem e semelhança era: O_O. Meus olhos se arregalaram e eu olhei para o rosto de , sentindo minha face empalidecer.
- Eu não... – ele começou, mas minha mãe o interrompeu.
- Ninguém me contou. Filhos, por mais carinhosos que sejam, nunca ligam falando que estão comendo mal na própria casa porque tem um certo orgulho de ter conseguido superar a barreira do “eu moro com meus pais”. E também reparei que seu rosto está mais fino nas bochechas e pontudo, então usei a sabedoria popular e deduzi que era um menino. – meu coração palpitava. Bateu. Parou. Bateu. Parou. Eu não sabia se ficava feliz por ela não ter se estressado ou se chorava por não ter mais como voltar atrás na minha decisão de contar hoje. Eu podia esperar até os 5 meses e deixar que meu corpo falasse por si só, não podia?
- Eu não estou brava, nós... – então meu pai voltou ao cômodo com um álbum em mãos.
- Com o que não está brava? – sorriu, olhando de rosto em rosto.
- Com o fato de que eu tô meio enjoada e não quero comer peixe. – me espantei com a minha própria agilidade em fabricar mentiras. – Mas pode deixar que eu faço um esforço, mãe. – sorri da maneira mais convincente que pude e rumei até a cozinha. – Me ajuda a tirar as coisas, amor? – um certo desespero transparecia em minha voz.
Andei em passos largos e duros até a cozinha, com em meu encalço.
- Você acha que meu pai vai me matar agora ou depois da sobremesa? – indaguei em um murmúrio. Estava com as palmas das mãos apoiadas na bancada de mármore onde estava a travessa com os peixes.
- Eu acho que a sua mãe não vai contar agora. – ele murmurou de volta, em um tom sereno. Respirei fundo, sussurrando um “espero” em resposta.

O almoço transcorreu bem, tanto que acabamos ficando para o chá das cinco. Depois das três primeiras garfadas, minhas preocupações em relação ao meu pai se esvaíram. Só a comida da minha mãe tinha esse efeito.
Deixei que e meu pai conversassem sobre os selos colecionáveis do álbum, e aproveitei para me trancar no quarto com minha mãe.
Respirei fundo, aprofundando o silêncio. O quarto era espaçoso, tinha uma cama king-size – onde estávamos sentadas -, um armário de madeira escura que preenchia uma parede inteira, uma porta para o banheiro, e outra mesa com as maquiagens de mamãe.
Estaria ela envergonhada de mim? Eu tinha estragado o plano de vida perfeita, me fazendo virar uma filha aberração, da qual ela não poderia se orgulhar mais. Afinal, que tipo de filha-prêmio tem um namorado 10 anos mais velho e fica grávida do mesmo?
Ela se aproximou de mim, abrindo os braços, e me escaneando com aqueles olhos maternais carregados de preocupação. Agarrei-me ao seu tronco, ouvindo seus batimentos cardíacos. Fechei os olhos, sentindo seu perfume tão familiar me preencher e me acalmar.
- Me descul... – fui interrompida por um “Sh!” vindo dela. Respirei fundo, deixando que as lágrimas dessem meia volta, voltando para qualquer canto que não fosse nos meus olhos. Ou fora deles.
- Você não tem que se desculpar. Já deve estar sendo difícil o suficiente pra vocês dois. – concordei em silêncio. – Eu estarei do seu lado, filha. E seu pai também, eu vou conversar com ele direito. – senti minha cabeça acompanhar sua respiração profunda e calma. Suas mãos afagavam meus cabelos lentamente em um cafuné.
- Eu não sei como isso foi acontecer. – admiti, olhando fixamente para a janela. – Nós sempre nos prevenimos, e... – parei subitamente minha fala, pensando ter ouvido passos do lado de fora. Levantei-me e abri a porta vagarosamente, me deparando com um envergonhado.
- Tá tudo bem? Seu pai me mandou aqui para verificar. – esbocei um sorriso, deixando que minha mãe falasse.
- Tudo sim. Entra aqui rapidinho, querido. – arqueei minhas sobrancelhas, assim como . Fechei a porta cuidadosamente atrás de mim. – E o que vocês decidiram? Vão ficar com o bebê ou vão doar para uma mãe solteira?
- A gente vai ficar com a criança. – ele afirmou. – E eu já falei pra Ju que eu vou ser o melhor pai desse universo. – entrelacei meus dedos aos dele, sorrindo singelamente. Minha mãe aliviou a expressão séria. Parecia que nós já tínhamos pensado em tudo.
- E vocês vão morar juntos? – taí algo que eu não sabia. Olhei para , que suspirou.
- Bom, eu ia falar disso quando chegássemos em casa. – nossos olhares se cruzaram e se mantiveram assim. – Você quer morar comigo? – pela primeira vez, eu não consegui dizer “sim” imediatamente a um pedido dele.
- E-eu não sei. – minha voz falhou. Desviei meu olhar, começando a gesticular. – Quer dizer, eu tenho que ver com as meninas o aluguel, e tem minhas coisas, e eu sei que eu fico mais no seu apartamento do que no meu, mas isso é definitivo , e isso me assusta, e... – parei de cuspir as palavras para respirar, com os olhos mais abertos do que o normal, depois finalmente tornei a procurar por seus olhos, que, admiravelmente, expressavam compreensão.
- Você tem o tempo que quiser. – proferiu enquanto me puxava para um abraço. Relaxei meus músculos e me permiti respirar.
Ouvimos batidas na porta e meu pai entrou, estranhando a cena.
- O que tá havendo que eu não sei? Primeiro sobem as duas e ficam mais de 10 minutos, agora sobe o e fica mais 5 minutos. Quando eu chego, estão os dois abraçados. – sua face estava ligeiramente contraída. Senti meu coração e o de pararem ao mesmo tempo.
- Calma, querido. Não é nada. – minha mãe cruzou o cômodo, parando atrás de meu pai, apertando seus ombros. – Como está tenso! Só estava tendo um papo de mulher para mulher. – ele relaxou, parecendo ter acreditado.
Olhei o relógio da mesa de cabeceira, inventando um compromisso qualquer.
- Nossa, já é sete e meia! – exclamei, fingindo surpresa. – Eu tenho que ir arrumar umas apresentações pra faculdade. – adicionei a primeira coisa que me veio à cabeça.
- Eu te acompanho então, querida. – ela veio em meu encalço enquanto descia as escadas de mãos dadas com , e me dirigia à porta. Peguei minha bolsa de cima do sofá, me virando para me despedir. Sussurrei um “te ligo” antes de sair do abraço, indo falar com meu pai.

Abri a porta de casa, atravessando a sala em passos largos, e me jogando no sofá perpendicular ao que as meninas estavam sentadas. O som da TV foi diminuído e eu sentia os olhares queimarem sobre mim, esperando minha confissão.
- me chamou pra morar com ele. – proferi lentamente, tentando compreender o significado daquelas palavras. Morar com ele era tão forte, tão... definitivo. Quase como casar.
As outras duas demoraram para responder, o que me fez virar a cabeça na direção delas.
- O quê? – indaguei, curiosa por saber o que suas expressões receosas significavam.
- Acho que você precisa saber de uma coisa... – começou, se ajeitando no sofá.

Capítulo 24
(N/a: Bota pra carregar: If you don't wanna love me - James Morrison)

- A gente acha que o tem outro filho. – sabem qual é a sensação de ter uma faca cravada em seu peito? Eu não sabia, mas tinha uma vaga idéia. Minha respiração mudou seu ritmo, assim como a freqüência cardíaca.
- O QUÊ? – ouvi minha voz gritar. Minha mente estava lenta de tantos pensamentos que eu estava deixando meu subconsciente me guiar. Notei que meus pés me guiavam de um lado para o outro da sala. – POR QUE ELE NUNCA ME FALOU NADA? FILHO DE UMA PUTA! – esbravejei, não sabendo se chorava ou se gritava, se punha minhas mãos na cintura, no rosto ou as circulava no ar em gestos enquanto falava.
- Calma, . – Emy tentou me acalmar. – Eu escutei o falando ao telefone algo como “Outro filho?” no dia que você falou pra gente que tava grávida, mas a voz tava muito séria pra ter sido brincadeira. Só que pode ter sido... Nunca se sabe, né? – respirei fundo o suficiente para sentir uma certa pressão na testa. No entanto, isso não foi suficiente para me impedir de pegar o telefone. Disquei os números tão bem conhecidos por mim, escutando as meninas ao fundo falarem “o que você vai fazer?”.
- Ser feita de boba é que não vai ser. – proferi de forma fria, batendo a porta do meu quarto com o telefone ao ouvido. Assim que tranquei a porta, para não ser atrapalhada pelas outras duas, atendeu.
- Oi, amor. – sua voz melodiosa não conseguiu causar o costumeiro efeito calmante. A ira subiu por minha garganta, se transformando em berros.
- Responda sem hesitar: você engravidou outra mulher? – com os olhos cintilando de raiva, eu encarava o espelho. Escutei sua respiração pesar do outro lado da linha.
- Como você descobriu? – depois de alguns segundos ele questionou.
- Como você foi capaz de ocultar durante 8 meses que tinha outro filho? COMO? E não me venha com aquele papo de “eu ia te contar na hora certa”, porque você não ia! Mais de um mês que essa maldição me foi lançada e você pretendia manter tudo em segredo? QUAL PARTE DE SER HONESTO NA RELAÇÃO VOCÊ NÃO ENTENDEU? – fiz uma pausa pra respirar. Sentia meus pulmões e garganta latejarem tamanho era o volume da minha voz.
- Eu sei que não fui honesto, mas deixa eu me... – então o interrompi. Sorte a dele não estar na minha frente!
- EXPLICAR? AH, VOCÊ QUER EXPLICAR AGORA? E QUANDO VOCÊ PRETENDIA ME CONTAR? QUANDO EU TIVESSE EM TRABALHO DE PARTO? “AH, SABE, MEU AMOR, ESSE NÃO É MEU PRIMOGÊNITO. EU TE TRAÍA NO PRIMEIRO MÊS E NÃO QUIS TE CONTAR.” VAI ARRANJAR OUTRA PRA ENGANAR, VAI! – pressionei o botão para finalizar a ligação e destranquei a porta, correndo pra sala pra tirar o telefone da linha. Se eu escutasse a voz dele, era capaz de eu explodir em chamas. E desta vez elas não eram de paixão, mas de ódio.
Eu podia estar sendo precipitada, podia estar sendo infantil, podia estar fazendo “n” coisas que não a certa, mas eu acreditava que um raio não caía duas vezes no mesmo lugar, e esse raio se chamava mal entendido. Até porque dessa vez foi a namorada do melhor amigo dele, que, por coincidência, é uma das minhas duas melhores amigas, que escutou a informação.
- Acho que vocês não se importam de passar a noite sem telefone, né? – indaguei em um fio de voz, sentindo o calor ser substituído por uma onda de realidade. Sentei-me no sofá, com os cotovelos apoiados em minhas coxas. Repousei minha testa sobre a palma das minhas mãos, soprando o ar de forma ligeira, passando a fechar os olhos.
Senti o sofá afundar dos dois lados, denunciando minhas amigas, que até então estavam caladas.
- Por que tem que acontecer comigo? – perguntei com a voz embargada. Um soluço emergiu, trazendo junto mais lágrimas. Braços se apertaram ao redor do meu tronco, em apoio. Respirei fundo - ou tentei - e levantei.
- Vou dormir. – minha voz abatida murmurou, e feito isso meus pés me levaram até meu quarto.

A noite que se sucedeu ao conflito não foi das melhores. Perdi a conta de quanto tempo passei encarando meu teto, atônita, porque as minhas lágrimas tinham secado por si só e eu estava me afogando em perguntas que não tinham resposta. E o pior era que, quando conseguia embalar no sono, tinha pesadelos, então voltava a encarar as sombras e escutar os sons que vinham do mundo afora.
Cambaleei até a porta do meu quarto, completamente alheia ao horário, já que minha dor de cabeça e o céu constantemente nublado, dificultavam. Mas podia dizer que ou era muito cedo ou muito tarde porque ou estava sozinha em casa ou então todas as duas estavam dormindo.
Procurando apoio na parede da cozinha, direcionei meu olhar para o relógio e notei que estava muito cedo, me dando conta também de que elas não iriam a lugar nenhum num domingo de manhã, não antes das 9 horas, pelo menos.
Soprei o ar lentamente em um suspiro cansado, movimentando meu corpo até a cafeteira elétrica e ligando-a. Sentei-me à bancada da pia e balancei meus pés enquanto os encarava. Minhas mãos, que antes se apoiavam relaxadas em minhas coxas, se guiaram para a cafeteira, derramando o café, agora quente, numa xícara. Sorvi um gole do líquido antes mesmo de adoçá-lo, não me importava com o sabor desde que me livrasse daquela sonolência. Fiz uma careta ao constatar que estava muito amargo e desci da bancada, deixando a xícara na pia antes de sair cozinha afora.
Repousei-me no sofá, encarando o branco do teto e escutando as buzinas que começavam a se manifestar na rua. Apoiei minhas mãos abaixo do meu busto, sobre meu diafragma, parando de tentar evitar pensar sobre a noite passada.
Então ele tinha um filho? Uau, olha a que ponto cheguei: grávida e enganada. Não conseguia parar de pensar de quem era, quando eles se encontravam – já que vivia comigo -, qual era o nome, se era menino ou menina, onde morava, e se ele ainda tinha alguma relação com a mãe da criança. Não que isso realmente fosse mudar alguma coisa a partir de agora, mas fazia parte do contexto do que tinha virado minha vida de cabeça pra baixo do dia pra noite, literalmente.
O que eu faria agora sem do meu lado? Não que as meninas nem minha mãe não pudessem fazer o que ele fazia, mas eu queria uma figura paterna na relação. E, pensando bem, não podiam mesmo... Nenhuma delas tinha o olhar sonolento mais lindo, o sorriso mais cativante e a risada mais tranqüilizante. Nenhuma sabia dizer que tudo estava bem do jeito que ele fazia.
Mas, voltando ao ponto, o que eu faria sem ele? Sem o pai do meu filho, sem o exemplo masculino em casa, sem alguém pra me suportar durante os próximos 6 ou 7 meses, sem o meu porto seguro? Eu não sabia nem se iria suportar não ter aquelas mãos pra apertar quando me sentisse insegura, me sentiria nua, indefesa. era a parte forte de mim, o meu melhor. Aquela peça sem a qual eu não conseguia me sentir completa. E sim, eu pareço uma boba apaixonada e precipitada falando isso, mas, mesmo que nossa relação não tivesse durado tanto tempo, meu sentimento era tão intenso quanto o de um casal devidamente casado de papel passado.
Escutei o interfone soar a todo volume e, de forma letárgica, me impulsionei para fora do sofá. Protestando mentalmente contra o barulho, atendi ao bendito aparelho.
- Sim? – escutei, pela primeira vez no dia, minha voz. Imaginei o que seria tão importante para ser tratado às oito e quarenta e cinco da manhã.
- Tem uma encomenda para a senhorita aqui embaixo, mas o entregador não pode subir porque está apressado. E precisa da sua assinatura. – arqueei as sobrancelhas. Entregador abusado!
- Ok, vou descer. – resmunguei, finalizando a ligação em um instante. Fui até meu quarto, entrando rapidamente em uma calça jeans e colocando um suéter por cima da blusa do pijama. Coloquei um sapato fechado, já que a essa hora devia estar fazendo um frio do capeta na rua.
Simplesmente odiava o período entre o outono e o inverno, porque as árvores já estavam nuas e o frio se manifestava esporadicamente, invés de denunciar logo a sua presença.
Peguei um cachecol atrás da porta do banheiro após escovar meus dentes. Bati a porta do apartamento, me xingando por ter esquecido da chave. Enquanto esperava o elevador decidi que sairia para uma caminhada em direção à Starbucks e lá ficaria até 10 horas, quando voltaria pra casa sem me preocupar de tocar a campainha.
A porta do elevador se abriu e eu me guiei até a ilha onde o porteiro ficava. Notei que não tinha nenhum entregador, só um rapaz de costas e toca. Também notei que fazia mais frio do que eu esperava para uma manhã de outubro.
- E o entregador, cadê? – indaguei ao porteiro, vendo-o sorrir. E então olhei de novo pro homem de costas, que se virava. Idiota! Rolei meus olhos e girei meus calcanhares, em direção ao elevador. Meu coração batia forte e rápido em meu peito, parecia que eu teria um enfarte ali mesmo. Senti minha mão ser tocada e me arrepiei pelo contato de sua pele quente contra minha pele resfriada pelo vento. (n/a: bota pra tocar)
- O que você quer? – indaguei de forma ríspida, não fazendo menção de olhar em seus olhos. Puxei minha mão, guardando-a em meu bolso da calça. Merda de elevador que não chega nunca!
- Que você me escute. – sua voz rouca murmurou. Olhei em seus olhos, não murchando minha expressão raivosa ao ver seu olhar caído, entristecido.
- Mas eu não quero. – rebati, vendo a porta do elevador se abrir à minha frente. – Adeus, . – murmurei, dando um passo à frente. Passo esse que foi eliminado no momento em que ele passou seus braços ao redor de minhas pernas e me jogou em seus ombros. Comecei a berrar e estapear suas costas ao ver o chão se movimentar. Logo meu corpo foi jogado no banco do carro. Minha respiração estava acelerada e eu tentei abrir a porta, mas esta estava trancada.
- PORRA, ME DEIXA SAIR! EU NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ! EU NÃO QUERO NADA DE VOCÊ! DEIXE-ME EM PAZ! – berrei com toda a minha força ao vê-lo se sentar no banco do motorista, começando a chorar e soluçar em seguida. Levei minhas mãos quase congeladas aos olhos, enxugando a enxurrada de lágrimas extrovertidas que praticamente saltavam olhos afora.
- A gente conversa quando chegar no meu apartamento. – ele murmurou calmamente, acelerando o carro, que até então estava estacionado na calçada em frente ao meu prédio.
Uma música começou a preencher o ambiente em meio ao silêncio no qual nós dois estávamos imersos.

If you don't want me to leave
Se você não quer que eu parta
Then don't push me away
Então não me mande pra longe
Rather blow out the lights
Melhor você estourar outras luzes
You can watch it all fade
Você pode observar todas elas apagarem
But I'm going nowhere
Mas eu não vou a lugar nenhum
I'm gonna stay
Eu vou ficar!
When you just wanna fight
Quando você simplesmente quiser brigar
When you're closing your eyes
Quando você estiver fechando seus olhos
'Cause you don't wanna love me
Porque você não quer me amar
I'm gonna stay
Eu vou ficar!

Meus olhos começaram a ficar marejados, e logo eu estava chorando baixinho, com o rosto escondido discretamente por minha mão. Eu fingia que observava a vida dos outros, mas eu estava completamente alheia a isso. Não só estava alheia, como não ligava.

You can't push me to far
Você não pode me mandar para tão longe
There's no space in my heart
Não há espaço no meu coração,
Where I don't wanna love you
Onde eu não queira te amar
And when there's no stone
E quando não há nenhuma pedra
Then how can I feel the corn
Então como eu posso sentir o milho
If there's nothing, nothing, nothing left to lose
Se não há nada, nada, nada a perder
Then what is this feeling
Então o que é esse sentimento
That keeps on bringing me back to you
Que continua me trazendo de volta para você
So I'm gonna stay
Então eu vou ficar!
When you just wanna fight
Quando você simplesmente quiser brigar
And you're closing your eyes
E quando você estiver fechando seus olhos
'Cause you don't wanna love me
Por que você não quer me amar
So I'm gonna stay, yes I will
Então eu vou ficar, Sim eu vou
You can't push me to far
Você não pode me mandar para tão longe
There's no space in my heart
Não há espaço no meu coração,
Where I don't wanna love you
Onde eu não queira te amar
And if you ask me to leave
E se você me mandasse embora
And I walked away
E eu fosse e eu te deixasse
We'd still be alone
Nós ainda estaríamos sozinhos
And we'd still be afraid
E ainda estaríamos com medo

Senti o olhar dele queimar sobre meu rosto, mas eu continuei olhando as gotas de chuva disputarem espaço no vidro da janela e do retrovisor. Era possível escutar seus suspiros nitidamente, tanto que vez ou outra nossos sopros se confundiam.

I'm going nowhere
Eu não vou a lugar algum
I'm going nowhere
Eu não vou a lugar nenhum
'Cause I'm gonna stay
Por que eu vou ficar!
When you just wanna fight
Quando você simplesmente quiser brigar
And there's tears in your eyes
E tiverem lágrimas nos seus olhos

Avistei nosso destino e fingi que coçava o olho para limpar as lágrimas, mas meus olhos vermelhos denunciavam meu choro. Não que ele fosse se importar em me ver chorar porque já vira tantas outras vezes, mas se importaria por saber que ele era o causador das mesmas.
- Chegamos. – falou em um fio de voz, desligando o carro após estacionar. Respirei fundo e continuamos mergulhados em um silêncio profundo até adentrarmos o apartamento.

- Isso é ridículo. – murmurei, vendo-o tirar o casaco e jogar sobre o sofá. Sua atenção voltou a mim, que estava com os braços cruzados abaixo do busto, e eu adicionei: - O que há pra falar, ? Vai me mostrar uma foto e me dizer que é a segunda mais importante da sua vida, mas que a primeira sou eu e o projeto de criança que eu tô carregando? – acrescentei um quê de sarcasmo na frase, seguindo , que sentava próximo ao casaco.
- Você é a coisa mais importante da minha vida. – ele falou de forma suave. Soltei uma risada anasalada, rolando meus olhos. – E não tem criança nenhuma. – abri os olhos, que até então se focavam na parte desfiada do tapete, em espanto. – Lembra-se de quando fomos a Sheffield visitar meus pais? – fiz que sim com a cabeça. – Uma amiga antiga, com quem eu saí umas semanas antes de vir pra Londres, contatou minha mãe e disse que precisava falar urgentemente comigo. Então, antes de irmos embora, eu passei na casa dela e ela me falou que estava grávida de quase 6 meses, o que me faria o pai. Só que ela estava namorando na época em que saímos, então ficou na dúvida. E aí eu falei que íamos esperar o bebê nascer pra fazer um teste de paternidade. O bebê nasceu, e alguns dias depois eu fui lá para fazer o tal exame. O resultado chegou semana passada e deu negativo para mim. - concluiu, respirando fundo.
- E quando você pretendia me contar isso? Ou achou que não tendo filho extra nenhum não era necessário me contar porque, afinal, eu sou só sua namorada com quem você passa uma boa parte do tempo? - percebi que ele media as palavras, então concluí: - Muito bom saber que você acha que eu não mereço saber de nada que envolve o seu passado, nem preciso saber sobre o que te preocupa. Ótimo! Só prova que eu não tenho significado pra você. – comecei a despejar as palavras sem me preocupar com os efeitos que elas causariam e a coerência. Eu estava completamente irada por dentro. Como ele conseguiu esconder isso de mim por mais de 2 meses?! Eu merecia saber, ainda mais agora que estava grávida dele!
- SABE POR QUE EU NÃO TE FALEI? – se levantou do sofá, erguendo o tom de voz em alguns tons. – Porque eu sabia que você brigaria comigo! É sempre assim, qualquer deslize mínimo que eu dê, você arranja mil e um motivos pra me jogar um bilhão de pedras! – frustrado, ele tornou a se sentar no sofá.
- E você deveria saber que seria pior ainda se eu descobrisse por outra pessoa, como foi. – continuei em pé e com a voz firme, vendo-o suspirar, cansado.
- Sei que devia ter te contado, mas preferi pensar que minha sorte não deixaria você descobrir e, assim, evitaríamos uma briga. Me desculpe, mas eu não sou perfeito, porra! Esse que você vê e ama é o que consegue ser melhor com você, que faz de tudo para nunca perder a paciência, que zela pelo seu bem-estar e que quer o melhor para você. Então não venha me dizer que você, , não significa nada pra mim, porque você significa! Eu devo a minha felicidade a você, e reconheço que seria só mais uma pessoa amarga no mundo se não tivesse provado do seu amor. – então ele parou de falar, me olhando nos olhos de forma profunda. Sentia meu coração bater mais acelerado do que sempre que estava em sua companhia. Mordi meu lábio inferior, encarando sua expressão indecifrável à minha frente. Puxei uma grande quantidade de ar e a soprei. Eu sabia que era ciumenta e implicante, mas isso não podia ser usado como álibi para ele não me contar algo importante. Contudo, também sabia que realmente teria feito uma tempestade em um copo d’água do mesmo jeito, e isso me fazia reconhecer que ele não tinha feito por mal. Fui me aproximando vagarosamente, ainda incerta de minha ação e apoiei meus joelhos no sofá, deixando-o entre minhas pernas.
- Me perdoa? – ele indagou em um sussurro. Vi seus globos incrivelmente azuis analisarem minha boca, que passou a sorrir em concordância. Balancei minha cabeça positivamente, envolvendo seu pescoço com meus braços e o puxando para um beijo, admitindo, sem orgulho algum, que eu era uma fraca totalmente dependente do amor dele.


Capítulo 25
[n/a: bota pra carregar: Love me tender – Norah Jones]

Acordei ao sentir as costas de se movimentarem. Soltei uma risada ao notar que ele tentava sair sem fazer barulho e dei um beijinho em seu ombro direito, fazendo-o se virar pra mim com o rosto ainda amassado.
- Bom dia. – murmurei com a voz grogue, vendo-o se aproximar e me dar um selinho.
- Pode voltar a dormir, amor. Eu tenho que ir pro trabalho mais cedo, ou seja, sua faculdade é só daqui a duas horas ainda. – se levantando, ele me informou. Soltei um “nah”, sentando-me na cama.
Após se esticar, como sempre fazia de manhã, sorriu em minha direção, vendo que eu o fitava. Retribuí o sorriso, percebendo que ele me olhava agora. Levantei e me pus em frente a ele.
- Que é? – indaguei baixinho, ligeiramente envergonhada. De fato, estava me acostumando a ser observada com mais freqüência por ele.
- Quero memorizar o jeito como você fica corada hoje pra comparar se vai ficar mais bonita ainda quando formos velhinhos. – proferiu de forma calma. Sorri, ainda mais corada, me aproximando dele e o abraçando.
- Você que é lindo. – dei um beijinho em sua clavícula. – Agora, vá pro banho antes que se atrase. – e foi falando isso que nos separamos e pude dar um tapinha em sua bunda, ouvindo-o rir ao fechar a porta do banheiro. Ri comigo mesma e rumei pra cozinha, surpreendentemente sem sono.

- Ora, ora, o que temos aqui? – respirou profundamente ao entrar na cozinha, como se quisesse inalar o cheiro da comida que pairava no ar.
- Torradas com manteiga e café feito na hora. – falei, rindo em seguida. – O cheiro só te iludiu, desculpa. – brinquei.
- Tá ótimo. Desde que tenha fartura! – falou com um sotaque estranho, passando a mão na barriga e sorrindo de forma psicopata para o prato de torradas. Gargalhei, fazendo-o me acompanhar nas risadas.
- Já posso casar? – brinquei ao vê-lo tomar o café.
- Sim. E comigo. – ele riu. – Ah sim, por falar em casamento... Uma prima minha, que mora em Brighton, vai se casar. E estou te convidando pra ir comigo e conhecer o resto da máfia. – eu sorri, confirmando com a cabeça.
- Quando vai ser? – perguntei, dando um gole no café amargo que eu tinha feito e fazendo uma careta. Bondade dele ter falado que estava bom. riu e falou que seria em uma semana, olhando rapidamente o relógio e constatando que tinha de ir.
- Te ligo quando chegar do trabalho. – murmurei depois de dar um beijo breve nele, que respondeu “ok”. Ouvi a porta da sala bater e suspirei, terminando de comer.

Entrei no banheiro inteiramente branco, ligando o chuveiro no máximo. Deixei que o vapor dominasse o cômodo enquanto eu me despia, vergonhosamente me olhando no espelho de peça em peça. Queria analisar o que tinha mudado de um mês pra cá, desde que brigamos.
Felizmente, a barriga ainda não era visível, o que me fez me perguntar se estava tudo bem. Então meu lado lógico me informou de que só fica evidente mesmo depois do quinto mês.
Alisei minha barriga, tentando sentir algum movimento, mas nada aconteceu. E eu permaneci ali, parada diante o meu reflexo, observando aquela pequena elevação no centro do meu abdômen. Logo o vapor da água quente embaçou minha visão e eu percebi que era hora de ir para o banho.
E então, quando eu estava abrindo a porta do Box, senti um pequeno movimento no pé da barriga, um pouco abaixo do umbigo. Senti lágrimas virem aos meus olhos e eu não evitei um sorriso aberto. Botei a mão sobre o local onde sentira o movimento e fiquei esperando sentir outro.
Impressionante, mas eu não me sentia mais uma aberração, e sim, uma mãe. Passei a aceitar que minha vida estava mudada e que cada momento a partir de agora seria em função de uma nova vida, uma pessoa que dependeria do meu amor e do meu carinho, e que me amaria igualmente. Então, de forma inconsciente, eu passei a nutrir sentimentos por aquele mísero fio de vida que se alojava em meu ventre.

xx

O vestido estava impecável, a maquiagem estava impecável, o cabelo estava impecável, mas, mesmo assim, não me sentia bem.
Escutei assoviar dentro do banheiro enquanto se trocava. Ri suavemente enquanto ajeitava o decote do vestido. Ainda estava me achando horrorosa. E se eu estivesse muito maquiada? Iam falar mal com toda a certeza do mundo de mim!
Nosso quarto no hotel era maravilhoso. Uma cama king-size forrada com lençóis branquíssimos preenchia a parede oposta à porta do quarto; nessa havia uma televisão de plasma de 42” e abaixo da mesma, uma mesa pequena com duas cadeiras forradas de tecido salmão. Na parede oposta à porta do banheiro, à qual eu estava virada em direção, jazia uma grande janela que dava para o píer de Brighton e para as gaivotas que perambulavam para oeste no céu, que, embora estivesse acinzentado, ainda era bonito de ser apreciado. Não muito distante do vidro, estava o espelho pelo qual eu me avaliava milimetricamente.
Já no lado oposto, se encontrava um armário embutido com portas de treliça branca. Me perguntei se alguém usava armários de hotel pra guardar mais de duas ou três roupas importantes.
Soprei o ar por meus lábios enquanto ouvia a porta do banheiro ser destrancada. Virei-me gentilmente para encontrar um vestido em uma blusa social branca, calça social preta meticulosamente passada e presa por um cinto preto envernizado, assim como o sapato.
- Fiu fiu. - tentei assoviar, mas foi em vão porque não tenho essa habilidade. riu da minha tentativa frustrada e deu uma voltinha, parando com os braços arqueados e forçando os músculos.
- Tô gato? - ele riu. Concordei com um aceno de cabeça.
- E eu? - botei uma mão na cintura, fazendo uma expressão sexy.
- Irresistível. - veio até mim, encaixando sua mão em minha cintura. - Acho que vou te bagunçar um pouquinho pra ninguém te olhar. Essa família é cheia de homens, não gosto disso. - ele fez uma careta extremamente fofa e enciumada, me fazendo soltar uma risadinha.
- Mas eu só tenho olhos pro mais gato deles. - dei uma piscadela, mordendo sua bochecha. Ouvi-o protestar.
- Então você só tem olhos pro meu primo Carter? - entreabriu os lábios em indignação. Fiquei séria.
- Pára de fazer doce, amor. - riu e me roubou um selinho.
- Sempre soube que meus cabelos eram mais sedosos e atraentes do que os dele. - então abriu um sorriso convencido, me arrancando uma risada.
- Você é bobo demais. - comentei, me afastando e indo em direção ao espelho, murchando um sorriso ao olhar para o reflexo.
- E você é linda demais. - ele se pôs atrás de mim, encaixando seu queixo na curva do meu pescoço e tapando minha barriga com suas mãos. Dei um sorrisinho meia-boca e me virei em sua direção, colando meus lábios gentilmente aos dele.

A noiva desfilava pelo imenso corredor da igreja de construção rústica. Observava a grinalda cair por seus ombros feito uma luva enquanto seu peito subia e descia constantemente devido ao nervosismo. Sorri por ela, sentindo os pêlos do meu braço se levantarem enquanto o fazia. Como eu estava mais próximo do corredor que , não pude ver sua expressão.
Nunca me emocionava em casamentos, mas eu sempre gostei deles, e de ficar olhando para o noivo no altar. Não sei era pelo fato da expectativa que o precedia, ou pelo fato de que todos nos arrumávamos e tínhamos um motivo pra comemorar. Ou simplesmente pelo fato de poder avaliar os pontos positivos e negativos do mesmo depois.
No entanto, esse estava mexendo com meu interior, não sabia ao certo por quê. Perdi meu olhar nos olhos emocionados dos pais da noiva, e, quando me dei conta, estava com os olhos marejados.
- Você aceita Pauline Geere como esposa para amá-la e respeitá-la? - o padre indagou ao noivo, que, veemente, confirmou enquanto deslizava a aliança pelo dedo da, então, mulher. Olhei para e notei que ele estava com o olhar perdido em algum lugar do altar, que não na cerimônia. Perguntei a mim mesma se algum dia ele estaria lá por mim, acenando com a cabeça e me tomando como sua "até que a morte os separe".
- Então pode beijar a noiva.- todos dentro da igreja aplaudiram enquanto o casal se beijava, me fazendo derramar algumas lágrimas de emoção, que foram enxugadas com pressa. Senti um braço de envolver minha cintura e me trazer para mais perto, fazendo com que eu me encostasse a ele. Mais algumas lágrimas emergiram, mas consegui contê-las.
Os noivos desapareceram no corredor, me fazendo suspirar. Saímos do banco e fomos andando lentamente para fora.
- Foi linda a cerimônia, não foi? - Bridget, a mãe da noiva, veio falar conosco.
- Lindíssima. - afirmei com um sorriso. Observei-a limpar as lágrimas com um lencinho, que já estava manchado de base e sombra negra.
- Vai comigo, tia? - perguntou, me tomando pela mão e me guiando até o carro.
- Eu vou com o seu tio. Nos encontramos lá. - sorriu em concordância, pegando as chaves do carro e destravando-o.

Tranquei-me na cabine do banheiro mais afastada da porta do mesmo. Sentia-me nauseada ao extremo, como se fosse botar toda a comida do mês pra fora.
Prendi meu cabelo em um nó alto, me sentando no vaso com a cabeça abaixada entre os joelhos. Respirei fundo duas ou três vezes, mas não foi o suficiente para me impedir de liberar todo o bolo de comida que estava no meu estômago.
Apoiei minhas mãos no assento sanitário e afastei meu corpo ao máximo para não sujar o vestido, ouvindo uma voz anasalada chamar meu nome.
- Estou bem. – murmurei, ouvindo meu estômago remexer em contradição. – Estarei lá daqui a 10 minutos. – escutei Anne, uma prima de , concordar e, logo depois, uma porta ser batida.
Fechei a tampa do sanitário e pressionei a descarga, me apoiando nas paredes do cubículo enquanto recobrava o fôlego. Saí da cabine e olhei meu reflexo no espelho. Uma palavra: terrível.
Peguei a escova de dentes retrátil que carrego pra qualquer lugar e escovei os dentes, tentando me livrar daquele gosto terrível. Logo depois limpei meus olhos, que haviam lacrimejado e, conseqüentemente, borrado a maquiagem de novo. Borrifei um pouco de perfume perto do meu pescoço e pulsos, tentando me livrar de qualquer resquício de vômito.
Fui banheiro afora com um falso sorriso confortante nos lábios, prevendo que estaria à porta, se mordendo para entrar e me ajudar. Pensado e feito. Lá estava ele, encostado à parede entre as portas dos banheiros masculinos e femininos com as mãos nos bolsos dianteiros da calça.
- Tô bem. – falei ao vê-lo tomar ar para dizer algo.
- Que bom. – ele me roubou um selinho. – Quer ir pro hotel? – neguei com a cabeça.
- Se eu me sentir mal de novo, a gente vai. Mas, agora, quero dançar. – sorri feito uma criança. Observei-o rir suavemente, me guiando até a mesa, onde deixei minha bolsa antes de ir para a pista. (n/a: bota pra tocar!)
O ambiente de piso xadrez começou a ser preenchido por uma batida calma. O DJ fez uma pausa e falou:
- Peço que todos os casais apaixonados venham pra pista fazer companhia aos noivos. – e então soltou a música novamente.
- Casal apaixonado, nós? – parou de andar subitamente, fazendo uma careta desdenhosa. Ri e dei um tapinha em seu peito, fazendo-o continuar a andar.
pousou suas mãos em minha cintura e encaixou seus pés aos meus. Enlacei seu pescoço com meus braços, mantendo a cabeça erguida para olhá-lo ternamente.

Love me tender, love me sweet
Ama-me com ternura, ama-me docemente
Never let me go
Nunca me deixe partir
You have made my life complete
Você faz minha vida completa
And I love you so
E eu te amo muito

Mantendo um ritmo “de um lado pro outro”, nós acompanhávamos a batida ao mesmo tempo em que os outros casais faziam o mesmo. Por cima do ombro de , eu podia ver os noivos transbordarem amor em seus olhares, o que me fez ficar ligeiramente emocionada. Para disfarçar a expressão chorosa que meus olhos abrigavam, me recostei em seu peito.

Love me tender, love me true
Ama-me, com ternura, ama-me de verdade
All my dreams fulfill
Realize todos os meus sonhos
For, my darling I love you
Pois, minha querida, eu te amo
And I always will.
E sempre vou te amar

Por tantos momentos me imaginei naquele lugar, seguindo a ordem namoro-morar juntos-noivado-casamento-filhos. Senti inveja deles. Observei o anel ser exibido na mão da moça, que estava apoiada no braço do então marido. Contraí meus lábios com a pergunta “será que um dia meus dedos virão a abrigar um anel de compromisso?”.
começou a acariciar meus fios de cabelo, transformando minha tristeza em conforto. Abri os olhos, que haviam sido fechados para evitar lágrimas, e reparei que a mãe dele nos fitava com um olhar maravilhado.

Love me tender, love me dear
Ama-me com ternura, ama-me com carinho
Tell me you are mine
Diga que você é minha
I'll be yours through all the years
Eu serei seu por toda a vida
'Till the end of time
Até o final dos tempos

Mas então pensei: será que um dia virei a chamá-la de sogra? Como será que ela reagiria quando soubesse da gravidez? Eu e optamos por contar em alguma ocasião familiar, o que nos remeteria a hoje, se não fosse pelo meu discurso hoje de manhã de “como nós roubaríamos a cena no casamento da prima dele, e como isso não seria legal”.

Love me tender, love me true
Ama-me, com ternura, ama-me da verdade
All my dreams fulfill
Realize todos os meus sonhos
For, my darling I love you
Pois, minha querida, eu te amo
And I always will
E sempre te amarei

Cansada do meu próprio sofrimento, suspirei, fazendo-o notar meu estado. se afastou um pouco, dando espaço para sua mão erguer meu queixo, o que me permitiu notar seu olhar inquisidor, preocupado. O que eu falaria? “Estou triste porque você me engravidou mas não se casou comigo?” ou “Queria casar antes de ter um filho, como as coisas são ensinadas às meninas desde criança?”. O que quer que fosse soaria como uma indireta. E isso o faria se sentir na obrigação de pedir minha mão.

Love me tender, love me true
Ama-me, com ternura, ama-me da verdade
All my dreams fulfill
Realize todos os meus sonhos
For, my darling I love you
Pois, minha querida, eu te amo
And I always will
E sempre te amarei
Always will
Sempre te amarei

- Sempre te amarei. – as palavras dele ecoaram em meus ouvidos. “Isso não basta, não acaba com minha agonia.” Pensei em dizer, mas notei o quão egoísta e mimada eu estaria sendo.
- Eu também. – murmurei com o rosto entre suas mãos, forçando um sorriso ao final da frase. Movi meu corpo para um abraço, envolvendo seu pescoço com meus braços e inalando seu perfume único. – Não estou me sentindo bem, amor. Quero ir pro hotel. – ouvi meu lado egoísta murmurar em seu ouvido.

Após meia-hora de despedida, mais 10 minutos à espera do manobrista, e mais 20 até o hotel, chegamos ao nosso destino. Joguei meu casaco sobre a cama enquanto fechava a porta do quarto.
- Tira aqui? – indaguei, tirando o cabelo das costas e deixando o zíper do vestido à mostra. Alguns segundos depois, suas mãos firmes e delicadas passeavam por minhas costas ao passo em que o tecidos escorregava por meu corpo. Senti seus lábios distribuírem beijos por meus ombros, me fazendo sorrir e mexê-los ligeiramente em protesto às cócegas que senti.
- O que houve lá? – ele mordeu meu lóbulo após falar. Murchei meu sorriso instantaneamente.
- Nada de mais, só não estava me sentindo bem. - marchei até o banheiro, completamente broxada. Embebi um algodão em demaquilante, ouvindo se aproximar e se apoiar na pia, ao meu lado. Olhei para o espelho começando a apagar a maquiagem feita em meus olhos.
- Por que não estava se sentindo bem? – bufei, impaciente com tantas perguntas.
- Enjôo repentino. Tão repentino que passou no caminho. – dei um sorriso impaciente e terminei de remover os últimos resquícios de rímel.
- Seja honesta comigo. – se pôs atrás de mim, o que me fez virar para ele, deixando o algodão em cima da bancada. tomou minhas mãos, acariciando ambas com seus polegares.
- Não posso. – murmurei, abaixando a cabeça para olhar meus dedos nus, sem anéis e sem felicidade.
- Você tem e pode. – se aproximando, ele moveu nossas mãos para ao redor do seu pescoço, colando seu nariz ao meu. Sentia sua barriga fazer uma pequena pressão na minha devido à proximidade dos corpos.
- Não posso. – grunhi, sentindo meus olhos marejarem.
- Fala pra mim, . – insistiu. Sentia seu olhar profundo pesar sobre mim.
- Não queria ser mãe antes de casar. E ver a sua prima casando me fez perceber o quanto eu queria que as coisas tivessem sido na ordem “ideal”. – contrariada, revelei o motivo. Censurei-me em pensamento ao vê-lo sem palavras. – Não foi uma indireta, não se preocupe. – informei, dando um sorriso triste e voltando para o quarto. Desliguei a luz e acendi o abajur na mesinha de cabeceira do lado dele da cama. Entrei debaixo do edredom do meu lado e repousei meu corpo para o lado oposto ao da porta do banheiro, ouvindo sua respiração pesar do outro lado do cômodo.
Fechei meus olhos numa tentativa inútil de dormir. Não estava com o menor sono, ainda mais agora que tinha provocado o lado fácil de ser comovido dele. Senti uma claridade forte à minha frente, então abri os olhos, constatando que o abajur tinha sido ligado.
estava à minha frente, ajoelhado e com algo entre as mãos. Surpresa, me sentei, ouvindo-o pigarrear.
- Bom, você ainda não me deu uma resposta à proposta de morarmos juntos, o que me fez pensar se você só quer oficialmente juntar os trapos quando estiver noiva... Quero dizer, não que você tenha trapos... – ri da enrolação dele. - Er, eu não tive muito tempo pra ensaiar coisas bonitas, mas eu queria te dizer que você é muito mais que “uma namorada que eu tive”, e eu queria que você fosse, oficialmente, a mulher da minha vida. Então, você aceita se casar comigo? – então ele me estendeu uma rosquinha de leite. Fiz uma careta, vendo a merda que tinha feito. – Eu sei não é o ideal pra fazer um pedido, e sei que não vai sair na rua com um biscoito preso ao dedo, mas a intenção é o que conta na maioria das vezes. – riu, nervoso. Eu sorri, com os olhos levemente marejados. Passei minhas mãos por seu rosto, em um gesto carinhoso.
- Eu não ligo pro fato de ser uma rosquinha, mas pro fato de que você não quer fazer isso. Não foi algo pensado, tanto que você nem comprou uma aliança, não pensou num discurso, não... – parei e peguei fôlego, vendo-o murchar o sorriso. – Eu não posso aceitar. Você falou certo, o que vale é a intenção. Muito obrigada por tentar me fazer mais feliz, mas, desse jeito, eu não quero. - vi que ele protestaria, então adicionei: - Chega desse assunto, ok? – inclinei-me para um selinho e apaguei a luz ao retornar à posição normal. - Boa noite, . Eu te amo.


Capítulo 26

O pensamento de ter minha família e a de ao meu lado parecia antes mais que utópico, mas agora eu tinha conseguido transformar fantasia em realidade.
Há uma semana ligou para a mãe, informando a notícia. Eu teria mandado-o esperar, mas ele alegou que era injusto os meus pais saberem e os dele não, até porque eu não tinha mais como esconder: minha barriga de 4 meses denunciaria tudo, já que nenhuma mulher engorda no centro da barriga e só.
Contudo, não me arrependo de ter cedido à súplica dele, os gritos de emoção da Sra. Jones foram impagáveis, e sua felicidade foi tanta que ela combinou um almoço em família para a celebração da minha gravidez.
- Minha mãe disse que estava se sentindo péssima por não ter dado um jantar em família. – ri, avistando a conhecida rua da casa onde ficamos da última vez. Faríamos o mesmo nesse fim de semana.
- Sério? – a risada incrédula de ecoou pelo carro. – Minha mãe adora comemorar as coisas em família, coisa de caipira. Então, não se espante se quando completarmos um ano eles resolvam tratar como se fossem bodas de platina. – encostei minha cabeça no banco e fiquei admirando seu semblante.
- 1 ano, hein? Falta pouco. – sorri carinhosamente. virou seu rosto para mim, sorrindo. – Será que até lá a Celle resolve nascer? – botei minhas mãos sobre minha quase imperceptível barriga, ainda sorrindo.
- Celle? Você descobriu o sexo e não me contou? – pareceu assustado. Soltei uma risadinha.
- Agora eu quero que seja uma menina, e se for menina nós a chamaremos de Marcelle. – expliquei. – E nem venha querer botar nomes bizarros na nossa filha pra homenagear as famosas pelas quais você baba.
- Ah, poxa... – ri, vendo-o bater as mãos no volante em reclamação. – Só porque eu ia botar o nome de Salma... Salma Hayek. Ela lavando a minha louça, trazendo cerveja pra mim... – então soltou um “hum” com conotação de prazer.
- É, só se for mesmo lavando sua louça e te levando cerveja, porque isso eu não vou fazer. – comentei em um tom afetado. riu ao meu lado de um jeito que me fez prender o riso.
- Não se preocupa, ela só entra na cama se for pra fazer um ménage. De resto, eu fico com você. – soltou uma piscada de olho na minha direção. Dei-lhe um tapa na coxa, protestando:
- De jeito nenhum! Se ela entrar na cama, eu saio. E não é pra ficar revezando, tem que escolher: Ou a Salma ou eu. – ele me olhou de um jeito extremamente fofo.
- E se eu trocar a Salma pela Megan Fox? – revirei os olhos, bufando.
- Idiota. – gargalhou.
- É você sempre, não se esqueça. – tornei a olhá-lo, e, ao ver seu sorriso tão sincero ao meu lado, dei o assunto por encerrado. Aproximei-me para um selinho e liguei o rádio, que havia sido desligado por um conflito de gostos.
- Deixa o Bruce Springsteen cantar, menina! – eu ri de forma sapeca, trocando a estação para uma de música eletrônica. Comecei a mexer a cabeça no ritmo da batida. riu alto da minha coreografia.
- Como se dança esse tipo de música? – indaguei enquanto trocava a estação de novo. A voz da Pixie Lott surgiu e eu parei de trocar. – A desgraçada tem voz e corpo. – comentei, me recostando ao banco.
- Ela no meu chuveiro cantando... – começou a brincadeira de novo. – Imagina acordar com essa voz...Ai ai.
- Vou te ignorar. – informei, tapando os ouvidos e cantando os “ooh” da música totalmente fora do ritmo e do tom.
- Eu paro com a brincadeira, juro! – ele suplicou. Parei de “cantar”.
- Só pra te informar novamente, você me deu uma brilhante idéia pra te acordar quando estivermos brigados. – sorri de forma cínica e comecei a cantarolar a música que sucedeu à da Pixie.
- Pois saiba que eu levanto e te calo com imenso prazer. – com uma expressão surpresa, fitei-o.
- Gostei da idéia, vou tentar então pra sentir o seu “perigo matinal”. – fiz aspas com os dedos no ar, observando sua feição mudar de convencida para libidinosa.
- Anota pra não esquecer, hein. – outra piscada lançada.
- Você é tão safadinho. – brinquei, aproveitando que o sinal havia fechado para morder sua bochecha rapidamente.
- Só eu, né? – riu. – Eu tenho pena da Celle.
- Gostou do nome, hein. - comentei com um sorriso.
- Nunca disse que não tinha gostado, só que eu não conheço nenhuma famosa gata com o nome Marcelle, só isso. – revirei os olhos. – Mas nem ligo... Já tenho uma musa ao meu lado mesmo. – ele sorriu, se inclinando para um selinho. Encostei nossos lábios ligeiramente, devolvi o sorriso, carinhosa, e observei-o voltar os olhos à rua.

Logo avistamos a mesma casa de alguns meses atrás. Estacionamos e pomos nossas malas para dentro. Quer dizer, a minha mala extremamente exagerada para menos de dois dias, que constava de praticamente o meu armário, e a mochila mais que suficiente de , que continha nada mais que duas mudas de roupa e itens de nécessaire.
Desci do segundo andar e olhei ao meu redor; a residência continuava a mesma por fora e por dentro desde a última vez que viemos, nada mais que o suficiente para o fim de semana de um casal que não pararia muito em casa.
Aproximei-me da área do sofá e sorri com as recordações da noite que tivemos ali, quando, provavelmente, Celle foi concebida. surgiu do nada, me abraçando por trás e apoiando seu queixo em meu ombro.
- Foi ali, não foi? – ele perguntou e eu pude ter certeza de que estava sorrindo.
- Não sei, não foi só uma vez... – comentei, sentindo minhas bochechas ficarem rubras. Fiz um esforço para olhá-lo.
- Somos duas máquinas de amor, babe. – gargalhei com o jeito Springsteen com o qual ele pronunciou a palavra “babe”. Virei-me para , murmurando um “yeah” cômico antes de beijá-lo.
– Bom, temos que ir. A águia-mãe já sabe que seu filhotinho chegou à cidade. Odeio esses vizinhos fofoqueiros. – fez uma careta quando nos separamos, me provocando uma risadinha curta.
- Não seja dramático, não é como se nós fôssemos fazer grandes coisas se tivéssemos em anonimato. – tentei amaciar as coisas.
- Fale isso por você. – em um tom desdenhoso, ele afirmou. – Eu tinha planos praquela banheira.
- Aguarde até mais tarde, garotão. – roubei um selinho e apressei os passos até o carro antes que ele me puxasse para casa e acabássemos nos atrasando.

Algumas coisas não tinham preço, tal como o abraço que recebi da sra. Jones. Não que eu esteja reclamando que minha mãe não tenho me dado um abraço desse quando contei da gravidez, até porque ela reagiu de forma totalmente inesperada às minhas expectativas.
Respirei seu perfume de jasmim enquanto ela me soltava e começava a perguntar se já sabíamos o sexo, o nome, se já tínhamos os móveis, etc. pediu que ela fosse com calma e então podemos entrar na casa para rever os tios e outros parentes deles.
Cumprimentei a todos com um sorriso simpático, e notei que eu não conhecia algumas pessoas, como as primas dele que, coincidentemente, estavam em Sheffield para a Ação de Graças.
O almoço já estava quase pronto, e eu aproveitei pra mostrar gratidão indo à cozinha e ajudando a pegar os pratos e talheres com Heidi, uma das primas de .
- Então, de quantos meses você está grávida? – seus olhos curiosos analisavam minha barriga quando parei com as mãos firmemente postas à minha cintura.
- 4 meses e meio. – falei com um sorriso tímido.
- Você não tem um certo medo do parto? Eu sempre tive um receio em relação ao toque e à peridural. Deve doer tipo... muito. – ela arregalou os olhos ao pronunciar o “muito”, o que me fez rir. Heidi não devia ter mais que 16 anos.
- Quando eu descobri, eu fiquei muito grilada com tudo. E, honestamente, a última coisa na qual eu penso em me preocupar é com o parto. Eu não me importo de sentir dor, porque o amor que eu tenho pelo bebê já é tão grande que a única coisa que eu quero é que ele seja saudável. – ela soltou um “aw”, me fazendo sorrir novamente.
- Tenho certeza que o Omirp também sente tudo isso. – então ela balançou a cabeça negativamente, desencostando da bancada e se esticando para pegar alguns pratos.
- Omirp? – indaguei, ajudando-a a pegar o resto dos pratos.
- É primo ao contrário. Quando eu era menor a gente brincava de falar tudo ao contrário. Ele me ensinou a xingar todo mundo ao contrário, e desde então nos chamamos de Amirp e Omirp. – explicou, passando pela porta da cozinha em direção à sala comigo em seu encalço. Soltei uma risadinha.
- Esse ... – disse, deixando os pratos na mesa e rindo para o nada.
- Que que tem eu? – o próprio me deu um susto ao falar no meu ouvido. Virei-me pra ele, o repreendendo com o olhar.
- Você ficava ensinando besteira pra sua prima. Má influência... tsc tsc. – brinquei, tornando a pôr as mãos na cintura.
- É ciúmes? Quer que eu te ensine alguma besteirinha? – começou a fazer cócegas em mim, provocando gargalhadas.
- Eu faço 16 mês que vem, dá pra maneirar na safadeza? – novamente foi repreendido, mas dessa vez por Heidi.
- Chata. – ele murmurou, me roubando um selinho e voltando à sala de estar.

Saí do banho e sentei na cama enrolada em minha toalha felpuda e macia. Estiquei minhas pernas à minha frente, notando que meus pés estavam incrivelmente inchados por ter ficado boa parte do dia em pé. Levantei-me rapidamente para me trocar e começar a fazer o jantar antes que eu ficasse realmente mau-humorada de fome.
Vesti um blusão cinza e um short curto rosa com estampa de patinhas de cachorro. falava que esse short me fazia ficar com cara de 13 anos, e que ele se sentia meu avô quando eu o usava com ele. Sorri involuntariamente ao me lembrar do dia em que ele me falou isso, e então comecei a me vestir.
Olhei para meu reflexo no espelho e desamarrei meu cabelo, que até então estava preso em um coque. Nunca gostei de lavar o cabelo à noite. Notei que algumas ondas se formaram nele, dando a impressão de que havia as manipulado com um babyliss. Ah, se ele ficasse assim quando eu tinha que sair...
Desci as escadas para encontrá-lo na cozinha imitando a voz extremamente fina do cantor do AC/DC. Não contive uma gargalhada e me apoiei nas pontas dos pés para abraçá-lo por trás e dar uma espiada no que estava sendo cozinhado.
- Uuuh, o que temos aqui, chef? – sorri, distribuindo beijinhos por seu pescoço com cheiro de pós-barba.
- , o que você está fazendo aqui? Anda, sobe. E finge que não desceu as escadas. Deixe-me fazer surpresas quando estamos aqui! – em um tom de brincadeira, ele me enxotou com o pano de prato. Ri com tal ato e fui até o andar de cima novamente, me perfumando. Estava indo trocar a lingerie quando ele entrou no cômodo.
- Desce aqui! – falou, tentando parecer sério.
- A gente precisa de algo para jantar. – tentei entrar na brincadeira e encenar. Descemos as escadas e então eu me deparei com uma mesa posta para dois e duas velas iluminando a mesma. O som ambiente era a trilha sonora de “O amor não tira férias”, um dos meus filmes preferidos, e a luz estava praticamente apagada para que as velas surtissem efeito. Sorri, ligeiramente emocionada com a surpresa.
- Você é tão lindo. – murmurei contra seu pescoço. Roubei-lhe um selinho e então nos aproximamos da mesa. Ele me interrompeu antes que eu puxasse a cadeira e fez questão de dar uma de cavalheiro, me deixando sentar para assim iniciarmos a refeição.

Capítulo 27
(n/a: bota pra carregar Norah Jones – Lover Man)

As luzes de Natal pouco a pouco preenchiam as ruas de Camdem Town. Tinha virado minha rotina ir lá para ajudar com seu trabalho sobre os jovens de hoje em dia e seus grupos. Ela acreditava que ir direto onde os góticos compravam roupa e acessórios estranhos nos levaria para a essência da vida deles. Ou algo assim.
Eu estava muito entretida vendo uns móveis velhos na loja do lado enquanto ela entrevistava um grupo de jovens rebeldes de cabelos vermelhos. Meu celular veio para me salvar da solidão. Abri minha bolsa imensa para acabar achando-o no meu bolso dianteiro da calça.
- Oi, oi, oi. – falei rapidamente, antes que a pessoa pudesse desligar.
- Você tá bem? – riu. Saí da loja para ter melhor sinal, e fiquei em frente à loja onde e seu questionário se encontravam.
- Tô, só me atrapalhei um pouco pra achar o celular. – ri, sem muito humor.
- Só pra te avisar que deixei uma coisa no seu apartamento, então é importante que você vá direto para o seu apartamento, não pro meu. Siga as instruções de Emily. Vou desligar meu celular pelo resto da tarde porque vou estar em reunião, ok? E nada de subornar a pobre da Emily pra que ela solte informações. Eu já fiz um trato com ela. – podia ver um sorrisinho presunçoso em seu rosto. Revirei os olhos.
- Tá. – disse, seca.
- Te amo. – falou após uma risada.
- Eu não. – desliguei. Odiava ficar curiosa, odiava surpresas, e ainda mais quando alguém, além da pessoa que preparava a surpresa, sabia.
- Que foi? – veio ao meu encontro depois de agradecer aos jovens. Bufei.
- me fazendo ficar curiosa, como sempre. – gargalhou perante minha impaciência.
– Você devia agradecer por ele ainda te fazer surpresas.
- Alguma hora eles param? – esperançosa, perguntei.
- Os homens comuns, sim. , duvido muito. – murmurei um “droga”, escutando outra risada vinda de minha amiga.
- Vem, vamos comer alguma coisa. – então ela me puxou para entrar em uma lanchonete.

- Sabe, eu tô ficando muito entediada agora que tranquei o semestre na faculdade. Sei lá, eu não sei ficar sem fazer nada, além de ir ao banheiro e comer. – me queixava enquanto entrávamos na garagem do edifício.
- Mas daqui a 2 meses você vai ter muito o que fazer, amiga. Aproveita enquanto pode. E aproveita também enquanto você pode ter noites apimentadas sem um choro ao fundo. Uma menina da faculdade tem filho e disse que o sexo nunca mais foi o mesmo, e que, quando ela pensa em que horas o marido vai chegar, pensa porque quer que ele cuide da criança, e não para ficar com ele. – o carro parou o movimento. Tirei o cinto e saí do automóvel.
- Isso eu já sei que vai acontecer, mas você me conhece; eu penso mais no presente do que no futuro. – fiz uma careta. – E sabe qual é a pior coisa? – ela murmurou um “hum”. – Eu e não somos casados. – pressionei o botão do elevador.
- Porque você não quis. Ele propôs, mas você foi curta e grossa. – seu tom era ríspido.
- Não foi porque eu não quis, foi porque eu sabia que ele só tava fazendo aquilo pra se sentir menos culpado. – retruquei. O elevador parou no nosso andar, saí na frente.
- Então engula a tristeza e admita que você e ele vão ter um filho sem serem noivos ou casados. E, na minha opinião, isso não é um pecado, Julia. – dei de ombros e abri a porta do apartamento, encontrando lá duas caixas e uma Emy jogada no sofá.
- Tem nada pra fazer não, vagal? – perguntou a Emily, que desligou a TV.
- Agora tenho: seguir as instruções de Mr. . – ela riu. – Vocês chegaram tarde, são 18:00 já. Vamos, que às 19:30 ele vai vir te pegar.

Saí do banho, encontrando um lindo vestido preso à porta do armário e uma caixa fechada ao pé da minha cama. Emy tinha botado uma música de fundo e agora estava sentada na poltrona perto do banheiro.
- Essa música foi ele quem pediu pra botar também? – ela concordou com um aceno de cabeça.
- Assim como as velas no banheiro e... eu não tô sentindo o cheiro dos sais de banho. – então ela botou o rosto pra dentro do banheiro. – Por que você não usou a banheira? – sua expressão era séria, o que provou que ela estava levando à sério o trabalho de ajudante do . Soltei uma risadinha, vendo-a cruzar os braços. – A intenção era fazer você relaxar, não só tomar uma chuveirada e ficar na banheira durante cinco minutos. – ri ainda mais. Ela respirou fundo. – Teimosa.
- Ok, Srta. Certinha, qual é o próximo passo? – Emily revirou os olhos.
– Bota a roupa íntima e senta na poltrona que eu vou te maquiar. – fiz uma careta.
- Você me maquiando? – sim, minha intenção era irritá-la pra ela desistir de me mimar. Não que eu não gostasse disso, mas estava de saco cheio de ter largado de tudo e ter sempre alguém pra fazer as coisas por mim. E por “alguém”, eu me refiro a , que estava na minha cola sempre que podia e não me deixava nem carregar a minha bolsa de colo mais.
- Já saquei seu jogo. Não vou desistir, eu me comprometi com o seu homem. – ela piscou, saindo do quarto ligeiramente. Abri meu armário e peguei um conjunto de lingerie preta. Seria sexy, se a calcinha não fosse quase um "calçolão".
Chamei Emy quando terminei, indo até a cadeira e me sentando na mesma. Começamos a conversar enquanto ela me maquiava, o que fazia com que ela constantemente borrasse alguma coisa ou me ameaçasse. E, quando menos vi, já estava pondo o vestido lindo que havia comprado.
Meus podiam estar um pouco inchados, e eu já podia estar viciada em pôr as mãos nas costas para agüentar o peso da minha barriga de quase 6 meses, mas nada me faria ficar irritada ou triste naquela noite, porque eu estava me sentindo bem comigo mesma e com o bebê.
Ao pensar nisso, senti um curto chute e pus a mão sobre o lugar, sorrindo de forma boba. Suspirei. Eu estava realmente feliz no meu aniversário.

10 minutos depois, chegou. Ele estava usando um smoking preto e uma gravata rosa que eu dei como presente há alguns aniversários. Sorri para ele, e nesse momento as meninas nos deixaram a sós na sala.
- Juízo! – Emy gritou do quarto. Eu e rimos.
- Ficou melhor do que eu esperava. Na verdade, eu não tenho lá um bom gosto, então a vendedora praticamente me mandou levar esse. – soltei uma risadinha.
- Eu amei. – o abracei fortemente, inalando mais uma vez seu perfume amadeirado. Depositei um beijinho no queixo de antes de beijá-lo brevemente.
- Vamos? – ele indagou assim que nos soltamos. Acenei com a cabeça, pegando minha bolsa e meu sobretudo sobre o sofá e o acompanhando porta afora.

O restaurante tinha uma área mais reservada, onde as mesas eram bem afastadas das outras e um piano tocava gentilmente ao fundo. Vez ou outra alguns casais dançavam ali. Nos acomodamos em uma mesa.
- Há quanto tempo você tinha feito as reservas? Eu soube que demora mais de 3 semanas a lista de espera. E como você sabia que eu gostaria de vir aqui? – falei, surpreendida. soltou uma risadinha.
- Você é muito curiosa, menina. – dei de ombros, rindo. - Eu ganhei convites há um tempo, que nunca foram usados. E, esses dias, eu tava vasculhando minha mesa no escritório e achei. Então pensei em você e resolvi fazer isso. – ele sorriu, pegando na minha mão por cima da mesa. Eu sorri de volta. – Ah! – largou minha mão para pegar um embrulho no bolso interno do terno. Prendi meu lábio inferior entre os dentes enquanto pegava o pequeno pacote. Abri rapidamente, encontrando um par de sapatinhos de crochê. Meus olhos foram preenchidos por lágrimas e eu me debrucei, praticamente, na mesa para abraçá-lo.
- Eu te amo. – murmurei no pé do seu ouvido. – E eu acho que você já deve estar enjoado de tanto que eu falo isso. – acrescentei enquanto voltava ao meu lugar, limpando algumas gotinhas que teimaram em sair pelo canto dos olhos. Funguei ligeiramente, ainda sorrindo. Levantei o olhar e encontrei um sorridente, que estendeu uma das mãos e enxugou uma das lágrimas, que descia perto da minha boca.
- Nunca vou me cansar de te escutar. – ele falou de forma terna.

O garçom se aproximou da mesa, pedindo licença. Eu e fizemos nossos pedidos, que rapidamente foram trazidos e devorados. E, logo após isso, eu notei que uma das músicas que eu mais gostava estava sendo tocada e cantada pela pianista. (n/a: Põe pra tocar)
notou o olhar maravilhado que eu possuía e se levantou, me estendendo a mão para dançar com ele.
- Tem muita gente olhando. – o censurei. revirou os olhos e sorriu.
- Vamos... – ele pediu. Suspirei, levantando e o acompanhando até um espaço que havia perto da pianista.

I've heard it said
That the thrill of romance
Can be like a heavenly dream

Embalamos um ritmo suave. Minhas mãos ao redor de seu pescoço; suas mãos na minha cintura. Meu rosto colado ao seu peito, acompanhando os batimentos do seu coração; seu queixo apoiado no topo da minha cabeça. E aí estava o lugar onde eu não poria defeito: os braços dele.

I go to bed with a prayer
That you'll make love to me
Strange as it seems

Motivados por nós, dois casais se juntaram ao nosso romantismo. riu suavemente e eu me afastei, contemplando seu rosto risonho, o modo como seus olhos ficavam espremidos e como seus dentes incrivelmente brancos se exibiam num sorriso largo. Ele parou de sorrir e falou:
- Ei, esse é o meu papel. – eu esbocei um sorriso e me inclinei para um beijo.

Someday we'll meet
And you'll dry all my tears
Then whisper sweet
Little things in my ear
Hugging and a-kissing
Oh, what I've been missing
Lover man, oh, where can you be?


Então, meu “Lover Man” estava na minha frente... E até agora eu não tinha me decidido sobre morar ou não com ele. Quer dizer, eu realmente estava desperdiçando uma chance de estar mais perto de ter a vida que eu queria?
- Eu quero morar com você. – disse sem hesitar, olhando em seus olhos. abriu outro dos seus sorrisos largos.
- Mesmo? – acenei com a cabeça.
- Eu vou ver com as meninas sobre o aluguel e tudo isso. Mas o que importa é que eu quero ficar com você. – aproximei-me para um beijo rápido, sentindo Celle chutar quando saí das pontinhas dos pés. Ri suavemente, observando as mãos de deslizarem ligeiramente para a barriga. Mais cedo ele tinha comentado que ela estava enorme e que não agüentava mais não saber o sexo. Em resposta muito educada, eu mandei-o calar a boca e respeitar as vontades da mãe.
Assim que a música acabou, nos separamos e voltamos para a mesa. Minhas mãos só se soltaram das dele quando nos sentamos um de frente pro outro.
- Vamos? – perguntou. Acenei com a cabeça, vendo o garçom se aproximar. o chamou e eu guardei os sapatinhos, que estavam sobre o banco.
E logo estávamos seguindo para a minha futura casa e a de Celle: a dele.

Capítulo 28

Um pássaro solitário voava em direção ao bando. Era apenas 5 da manhã e o céu, mais acinzentado do que nunca, era o meu entretenimento. acordaria em 2 horas para uma reunião importante e eu tinha perdido o sono no lugar dele. Na verdade, eu vinha perdendo o sono há um tempo, principalmente porque eu não conseguia achar uma posição pra dormir e vivia levantando para ir ao banheiro.
As luzes que restavam acesas piscavam ao fundo, fazendo com que meus olhos constantemente se perdessem nelas. Entediada, levantei da poltrona extremamente grande e confortável que tinha comprado para minhas dores nas costas. Ela era preta, reclinável e fazia uma ótima massagem. No dia que ele chegou em casa com ela, eu até brinquei e falei que estava o trocando pela poltrona.
Desliguei a TV, na qual só passavam propagandas de espremedores de fruta disfarçados de máquinas caras, e resolvi encher a banheira para passar o tempo.
Enchi a esponja com o sabonete líquido mais cheiroso que tinha, esfregando cada parte do meu corpo alcançável. Um aroma doce foi preenchendo o ambiente, deixando-o quente, cheiroso e confortável.
Encostei minha cabeça na almofadinha da banheira e deixei o tempo passar enquanto meus pensamentos fluíam lentamente. Sentia meus dedos, pouco a pouco, adquirirem uma aparência enrugada, mas não me importei em sair da banheira.

Acordei com um barulho estridente ao fundo. Abri os olhos e contei até 10 para ver se não levantaria primeiro.
1.
2.
3.
4.
5. Porra, homem, levanta.
6.
7.
8.
9.
10.
Bufei e peguei a toalha, me levantando e saindo o mais rápido que minha barriga me permitia. Alcancei o telefone e o atendi:
- Alô? – falei um pouco áspera. Meu humor oscilava todos os dias entre o deprimida, o ansiosa, o alegre, o calma e o irritada.
- Srta. , estou ligando do consultório da Doutora Marshall para confirmar a consulta de nove e meia. – a voz anasalada da secretária demonstrou uma ligeira impaciência na voz dela. Não a culpo, eu ficaria puta se trabalhasse ligando pros outros pra perguntar se eles vão a algum lugar.
Olhei para o relógio e vi que ainda era 8 horas. Eu teria xingado-a até a morte se ela tivesse me acordado.
- Vou sim. – “só eu, sem o Sr. , como de costume”. Pensei em completar, mas ela não tinha culpa se meu namorado preferia trabalhar a ir comigo em UMA consulta.
- Ok. Bom dia. – pude imaginar seus olhos revirando em impaciência e me pus no lugar dela. Certamente, eu já estaria com um lugar no céu por ligar para os outros de manhã, sendo xingada eventualmente.
Pensei em acordá-lo com uma surpresinha, no sentido mais pervertido da palavra. Verdade seja dita, sexo na gravidez é igual a orgasmos múltiplos. Nos primeiros 5 meses, claro, porque depois a barriga vai incomodar e você vai se sentir gorda.
Joguei minha toalha no chão da sala e fui até o quarto para encontrar uma cama parcialmente arrumada e nenhum . Fiz uma careta e voltei até a sala para pegar minha toalha.
Ele podia ter me acordado pra me tirar da banheira e me pôr na cama ou simplesmente ter deixado um bilhetinho na mesa de cabeceira. Mas não, ele tinha que descontar o estresse do trabalho na nossa relação.
Retornei ao banheiro para esvaziar a banheira e fazer a minha rotina de hidratação da pele antes de me arrumar.

A fila de espera estava imensa. A secretária podia ter me avisado do atraso, não? Imprestável. Olhei no meu celular as horas de novo e constatei que eu estava mais impaciente do que há quatro minutos, quando eu olhei e tinha tido um intervalo de 23 minutos desde a última olhada. Levantei para pegar um café e reparei que havia três mulheres sozinhas – excluindo a mim -, o resto estava com seus respectivos maridos.
Quando voltei para o meu lugar, uma mulher grávida entrou com uma criança de colo e se sentou ao meu lado. Abaixei o volume da minha música e fiquei escutando os barulhinhos que o bebê fazia ao meu lado. Sorri involuntariamente com isso e virei meu rosto para vê-lo. Seus imensos olhos azuis passaram a me fitar e eu tirei meus fones de ouvido para brincar com ele, que estendia suas mãozinhas para mexer no meu cabelo.
A mãe pediu para que eu o segurasse justamente quando fui chamada para entrar na sala. Pedi desculpas e entrei na sala da obstetra.

Fechei a porta de vidro da clínica, respirando fundo enquanto pensava para onde ir. Pensei em passar na casa das meninas, mas provavelmente elas estariam na faculdade. Então tive a idéia de ir para a casa da minha mãe.
“Bitch”, da Meredith Brooks, ecoava nos meus ouvidos e eu cantarolava de acordo com a cantora. Meu celular começou a tocar e vi uma mensagem de :
“Como foi na consulta?”
“Não é como se você fosse poder fazer algo...Mas foi tudo bem.” Respondi, mau-humorada.
“Que bom.”
“Tá vendo... Você nem liga mais.” Resmunguei. Logo o telefone começou a tocar e eu atendi:
- Que é? - rispidamente, perguntei.
- Não quero brigar com você. – falou serenamente do outro lado da linha.
- Por que não? Só porque eu tô grávida? Eu não sou deficiente não, . – esbravejei, ouvindo-o bufar do outro lado.
- Não quero brigar porque eu te amo demais pra ficar discutindo por telefone. – expirei, sorrindo suavemente. Escutei sua respiração bater no fone e causar um ruído.
– Você atrapalhou o melhor verso da música. – falei depois de um tempo.
- I’m a bitch, I’m a lover, I’m a child, I’m a mother? – tentou imitar a cantora e eu escutei algumas risadas ao fundo. Provavelmente algum colega de trabalho.
- Seus amigos vão pensar que você tá trocando de time. – ri, sem tempo de escutar a resposta dele porque a última coisa que eu pude escutar e sentir foi o gelado e molhado asfalto beijar meu corpo enquanto buzinas soavam ao fundo.

Capítulo 29

Um ano e meio depois


Homem. Clínica. Celular. Portão. Buzina. Clarão. Chão.

Abri os olhos, assustada, sendo contemplada por minha mãe instantes depois.
- Por quanto tempo fiquei desacordada? – perguntei, sentindo o carinho de minha mãe em minhas mãos. Eu tinha plena ciência de que tinha sido atropelada.
- 2 anos, quase. – ela respondeu com o sorriso quase não cabendo no rosto.
- Uau, 2 anos. – me espantei e murmurei aquelas palavras para mim mesma. Fechei os olhos e mirei meu pai, que entrava sorridente no quarto com o médico em seu encalço.
- Bom dia, senhorita . Como se sente? Cansada? Tonta? Enjoada? – ele perguntou, fazendo aquela mesma “checagem”. Nesse momento ele me cegava com uma lanterna.
- Cansada? Passei 2 anos deitada! – tentei brincar, mas minha voz parecia sonolenta, não espontânea.
Então me lembrei de que uma moto havia me pegado na saída de uma clínica. Clínica onde eu tinha tido uma consulta. Uma gestação dura 9 meses... Não, não!
Minha visão, ainda que um pouco turva, me permitiu constatar que minha barriga estava lisa. Sem aquela curva imensa que não me deixava nem ver as unhas dos dedões dos pés. Meu espanto fez meus olhos saltarem e meus batimentos cardíacos dispararem.
Eu respirava fundo enquanto meus olhos se inundavam em lágrimas, que caíam por meus ombros sem minha permissão. Um nó imenso se formou em minha garganta e eu queria soluçar. Meu abdômen se contraiu por diversas vezes num choro reprimido. Eu não gostava de chorar na frente de ninguém.
As mãos quentes e macias de minha mãe alisavam meu braço, e eu levei minhas mãos ao rosto, embora não conseguisse os sustentar por muito tempo no ar, devido aos sedativos ainda um pouco presentes no soro.
Um soluço alto escapou de meus pulmões, e eu havia conseguido me virar, me postando em posição fetal. Eu escondia meu rosto entre as mãos.
- Cadê o ? – perguntei, desesperada. Eu precisava saber como ele estava, precisava dele ali, me consolando, precisava dele.
Continuei com minha lamentação por minutos, não obtendo nada em resposta.
- Cadê o ? – indaguei novamente, com um pouco mais de desespero em meu tom de voz.
Ouvi a porta do quarto ser aberta, mas não fiz menção de olhar.
- ? – supliquei, praticamente. O médico, ao fundo, avisou que voltaria instantes depois.
- Sou eu, amiga. – respondeu, se colocando na minha frente e me abraçando fortemente.
- Amiga, eu perdi a Celle. – funguei, tentando parar o choro. Inalei a maior quantidade de ar que eu podia e exalei.
- Eu sei, eu sei. – deu um beijo na minha testa, saindo do abraço.
- Cadê o ? – perguntei, acompanhando com o olhar virar e olhar para o rosto da minha mãe, que fez um não com a cabeça.
- Mais tarde a gente conversa sobre isso, ok? O médico precisa fazer exames em você. – pensei em protestar, mas não tinha força nem pra levantar, quanto mais pra aumentar a voz. Não esbocei reação alguma, só escutei coisas como “já voltamos” e os passos do médico preencherem o cômodo enquanto ele me cutucava para ver se estava tudo no lugar.

Então tinha me deixado. Simples assim.
Ele tinha partido para morar na França por dois meses porque eu não tinha previsão para sair do coma. Grande covarde. E eu que achava que ele ia ficar comigo até os meus batimentos cardíacos pararem. Idiota. Estúpido.
Estúpida.
Como eu podia acreditar em “amor até que morte nos separe” e em toda essa baboseira de romantismo? Grande jogador, ele foi. Grande merda, ele foi. Fez-me passar por sofrimentos desnecessários.
Suas promessas eram falsas. Quem diria...
Eu estava irada. Se ele entrasse na minha vista, eu provavelmente o partiria em pedacinhos.
Se ele entrasse em minha frente. Ri dos meus próprios pensamentos. devia bem estar com uma ruiva francesa louca por filmes antigos e três vezes mais inteligente que eu.

Engraçado como a vida me surpreendia cada vez mais. Quando minha mãe me dizia que eu deveria estar mais que feliz porque estava a salvo, porque as sequelas do acidente tinham sido mínimas, eu estava mais infeliz do que nunca. Perdi quem eu amava e perdi aquilo que esse “amor” gerou.
Enxuguei as lágrimas e rodei a maçaneta do banheiro, soltando um gemido ao bater minha mão nela. Uma mancha roxa a dominava por conta do soro que vinha sendo aplicado ali há algum tempo. Levantei a cabeça e encarei o cômodo a minha frente, totalmente diferente do que eu imaginaria em um caso de emergência antes do acidente. Quer dizer, não que alguém fosse me perguntar no meio de um jantar de amigos “E aí, se um dia você bater a cabeça e ficar inconsciente por uns dois anos, quem você imagina que ficaria ali do teu lado no hospital?”, mas deu pra entender o que eu quis dizer.
O fato é: não se pode confiar em depositar em um companheiro de relacionamento uma confiança maior que aquela que você deposita em si mesmo. E isso eu aprendi dando a cara a tapa, por mais que não esperasse por esse.
Reclinei a cama o suficiente pra poder sentar e fiquei folheando uma revista que trouxe. Percebi que algumas modas estranhas surgiram, assim como novos cantores. Certamente demoraria um tempo pra me acostumar àquilo tudo, mas nosso amigo tempo taí pra isso, né? Pra curar as feridas, pra nos fazer rir de coisas que no presente acreditamos que não possam ser superadas, pra nos fazer ver o quão tolos somos ao pensar que o futuro pode ser controlado, quando, na verdade, num piscar de olhos, tudo pode acontecer.

Acordei com outra visita do médico, cujo nome eu tinha esquecido – efeito do remédio, segundo ele. Mais uma bateria de exames, mais um coquetel de remédios, mais visitas de parentes, mais tudo. Menos .
Parece que quando o tédio ataca, sua cabeça se redireciona pro que mais está lhe afligindo no momento. E era justamente esse tipo de reflexão que eu estava tentando evitar. Comecei a perguntar à minha mãe o que tinha acontecido de importante nesse período, e ela começou a tagarelar sobre as fofocas da família, coisas aquelas que não prendem a atenção. Então, atrapalhei sua brilhante história de como minha priminha tinha passado para um colégio extremamente difícil e perguntei sobre o que tinha acontecido com meu emprego, minha faculdade etc. Eu teria que reorganizar minha vida alguma hora, né?
Infelizmente, esse papo de reorganizar a vida foi por água abaixo, já que estava cuidando disso tudo desde ontem, quando acordei. Não demoraria muito até que eu voltasse a cursar a faculdade no período em que parei e muito menos a ter a vida de antes. Não exatamente a de antes, mas similar. Talvez até melhor.
Essa coisa de que o amor supera tudo e que é melhor estar apaixonado que sozinho é tudo bobagem, cheguei a essa conclusão. Com o amor, você tem que se preocupar por dois, pensar por dois, viver por dois. Não é muito melhor fazer as coisas sozinho? Ter a liberdade de mudar o rumo quando você quiser?
Não, não é. Pare de tentar se conformar com a sua vida miserável, .
Olhei para o relógio e fiz as contas: mais 37 horas e eu estaria longe daquele inferno.

Capítulo 30
(n/a: Bota pra carregar: #1 Possession – Sarah McLachlan ; #2 Marry Me – Train; #3 Baby I’m Yours – Arctic Monkeys)

Voltar ao meu apartamento foi como ser transportada pras memórias mais doces do relacionamento que eu tinha. Por mais que os móveis tivessem sido mudados de lugar na casa inteira, meu quarto permanecia o mesmo. Os mesmos pertences – até aqueles que não tinha ido buscar sabe-se lá Deus por quê -, a mesma luz que entra pela janela toda vez que o sol começa a nascer. Igual nas aparências, mas as essências nunca mais seriam as mesmas.
Mesmo depois de uma semana, minha mãe, cuidadosa como sempre, me ajeitou na cama e ficou no pé da mesma por minutos a fio, sem entender que, na verdade, eu só queria ficar sozinha e chorar o que tinha que chorar. Não aguentava mais aquela agonia de ter de chorar escondida, de ter que negar qualquer sentimento pra não levar outro sermão no estilo “Deus foi maravilhoso com você, relacionamentos vêm e vão, blábláblá”.
- Mãe, eu tô cansada. Você pode ir pra casa descansar também. Eu vou ficar bem. Qualquer coisa, o telefone tá aqui do lado. – sorri cordialmente, e ela concordou com a cabeça, repetindo que era pra eu ligar se sentisse qualquer coisa diferente.
Não demorou muito pra que eu visse adentrar meu quarto e ocupar a posição de minha mãe.
- Você quer ficar sozinha, eu entendo. Só tô aqui pra te avisar que eu vou sair pra ir ao salão e depois ao mercado. Hoje eu vou cozinhar macarrão com queijo, nós vamos ver filmes românticos e chorar juntas, ok? – eu ri pela empolgação com a qual ela proferiu a frase e concordei com a cabeça. Observei suas costas sumirem pela porta do meu quarto e aí levantei, puxando a cadeira da escrivaninha pra perto da janela. Sentei com um pé apoiado ao chão e a outra perna curvada perto do meu tronco. Apoiei meu queixo no meu joelho e respirei fundo. Como era bom observar a batalha de táxis e ônibus na rua, eventualmente escutando algumas buzinas...
Entretanto, no momento tudo o que eu podia escutar era as gotas de chuva caírem do céu em massa, batucando contra na janela de acordo com a direção vento, querendo entrar. Mas eu não estava para ninguém, nem pra mim mesma.

xx

Acordei de ressaca de tanto doce e tanta fofoca. Tanta coisa tinha acontecido com nesse tempo, tantos relacionamentos. Pelo menos ela teve Emy pra fofocar. Por falar nela, tinha ido viajar com pra Austrália, mas estaria de volta na semana seguinte.
Fui até a cozinha e ela estava uma zona. Voltei para a sala, onde eu e dormimos, e constatei que ela não acordaria tão cedo, já que meu cutucão com o pé não a fez nem ressonar um “hã?”.
Botei uma roupa, escovei os dentes e passei uma água no rosto, determinada a tomar um café decente na padaria aqui embaixo. O café de lá não era tão bom quanto o da Starbucks, mas serviria, já que a própria era longe pra quem tinha acabado de acordar. Escrevi um bilhetinho avisando aonde ia e peguei as chaves de casa, descendo para comer.
O outono estava me castigando com falsos dias ensolarados. Tinha esquecido como as brisas geladas me pegavam de surpresa. Por sorte, não precisei andar mais que 20 passos para entrar na padaria.
Fui até o balcão e pedi um café completo, indo me sentar à mesa ao lado da janela. Enquanto esperava pelo meu pedido, perdi meu olhar na rua. Tinha se tornado um hábito ficar observando as pessoas que passavam, os carros etc. Uma sequela do acidente, talvez.
Reconheci a pessoa que atravessava, apressada, a rua. Meu coração palpitou e minhas mãos tremeram. Era ele. A voz de me acordou do transe, e quando voltei a olhar pela janela, já tinha ido. Era ele, eu tinha certeza.
- Você tá bem? – tinha franzido a testa e parecia muito preocupada.
- E-eu o vi. – falei, ainda encarando a janela no mesmo ângulo que fazia quando o vi.
- Acho que é coisa da sua cabeça, amiga. – tornei meu rosto para frente, notando que o pedido tinha sido entregue, e tinha se apoderado do suco de laranja e das torradas. Perdi a fome em meio ao nervosismo e tomei somente o café com leite; depois eu comeria bem. – A propósito, esqueci que marquei uma reunião com um grupo de trabalho da faculdade. Até as quatro eu volto. Fique bem. – ela se levantou e me deu um beijo na testa antes de sair.
Eu estava tão distraída que nem tinha reparado que ela tinha mudado de roupa extremamente rápido. Na verdade, acho que chocolates com remédio e muito refrigerante não foi uma boa pedida, eu estava mais lenta que o normal. Forcei-me a comer um pedaço de pão e a terminar o café antes de voltar pra casa.

Minhas mãos tremiam levemente, o que eu acreditava ser efeito do exagero que eu cometi ao botar cinco saquinhos de açúcar no café. Contudo, consegui girar a maçaneta, abrir a porta e entrar em casa. Joguei as chaves no criado mudo e fiz o mesmo com o meu corpo no sofá. Sentia cada parte de mim vibrar com a lembrança de agora há pouco.
Os cabelos mal penteados, a barba por fazer, o andar apressado e o rosto franzido em preocupação. Como eu sentia falta desse inútil. Idiota. Imbecil. I... ok, sem mais xingamentos com “i”.
Por mais que eu pudesse fazer uma lista de xingamentos em ordem alfabética, ainda sim queria saber o que ele estava fazendo aqui, na minha rua. Se é que era ele. Talvez eu esteja alucinando.
Certo. Foco, . Foco.
Levantei do sofá e fui até o banheiro. Liguei o chuveiro e comecei a me despir em frente ao espelho. Observava as marcas, ainda um pouco roxas, causadas pelos aparelhos enquanto o espelho ficava embaçado por conta da fumaça. Até que então não conseguia ver mais nada e resolvi tomar meu rumo.
Deixei que a água quente massageasse minhas costas enquanto eu encarava meus pés, mais precisamente minhas unhas, que suplicavam por uma pedicure. Ri com as minhas futilidades e tornei a me lavar propriamente, o que não durou mais de 10 minutos.
Saí do chuveiro e peguei minha toalha felpuda, agarrando-a contra meu corpo quando abri a porta do quarto e senti a diferença de temperatura. Não que eu não tivesse aquecedor, mas o banheiro estava realmente quente. Já mencionei que eu gosto de tomar banho com água fervendo? Pois é.
Enrolei meu tronco na toalha e fui até o closet, abrindo uma das portas com calma e sentindo uma caixa cair sobre minha cabeça. Caí com o impacto e abri o tal recipiente. Tinha algumas coisas que tinham a ver com o , como a entrada do cinema do primeiro filme que nós fomos ver. Respirei fundo, sentindo as lágrimas se alojarem abaixo das minhas pupilas. Fechei a caixa e a afastei de mim como o diabo afasta a cruz. Rastejei para trás até que minhas costas tocaram a parede interna do closet.
Abraçando meus joelhos, daquele canto, eu podia observar ao máximo o meu quarto. Ele parecia incompleto e mais espaçoso sem as meias de aos pés da cama, sem seu blazer extremamente bem passado na cadeira e sem sua maleta do escritório jogada sobre minha escrivaninha. Se fôssemos comparar meu interior ao meu quarto, ele estava idêntico. Algumas coisas foram mudadas de lugar, mas continuava incompleto, espaçoso. Entretanto, espaçoso não significava o desejo de que algo viesse e tomasse conta do lugar que sobrava. Não... esse lugar ficaria vazio por tempo indeterminado, até que, por força maior que qualquer vontade minha, um móvel viesse e se instalasse lá dentro sem que eu o tivesse comprado.
Escutei a campainha tocar ao fundo e deduzi que fosse . Levantei nos meus trajes inapropriados e fui até a porta. Olhei pelo olho mágico para ter certeza de que não teria nenhuma surpresa. E, adivinhem, eu tive. Meus joelhos tentaram ceder, mas eu me apoiei na maçaneta a tempo de não cair.
Ele-estava-na-minha-porta.
Respirei fundo trinta vezes, até que a campainha tocou de novo. Olhei para o teto. O que fazer, Deus? Antes que eu pudesse raciocinar um diálogo com Deus, vi minha mão girar a maçaneta e meus olhos se juntarem aos dele.
- ! – ele exclamou e me abraçou fortemente antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Permaneci imóvel, tentando me lembrar de todos os motivos para eu não agarrá-lo. Ele tinha traído minhas esperanças e minhas expectativas! Quem ele pensava que era pra chegar e me abraçar sem antes se explicar?
Afastei-o com o pouco de força que eu ainda tinha. Não posso negar que sua presença tinha me desestabilizado.
- Vou trocar de roupa. – foi o que saiu dos meus lábios antes que qualquer outra coisa pudesse ser dita por mim ou por ele. Fugi para o meu quarto como um gato foge de desconhecidos. Coloquei uma calça de moletom antiga e uma blusa larga e antiga dos Rolling Stones. Retornei à sala para encontrar um quieto.
- O que você quer? – perguntei sem o menor ânimo no meu tom de voz. E, quer saber? Eu nem me importava se pareceria rude. Eu tinha esse direito.
- Explicar as coisas. Eu sei que você deve estar muito chateada comigo e sei que o que eu fiz foi uma tremenda falta de companheirismo, mas você precisa entender meu lado... – ele se levantou e veio se aproximando de mim enquanto suplicava com seus olhos pelo meu perdão. – E-eu tava assustado e meu emprego me ofereceu esse estágio na França, que foi perfeito para me desligar do sofrimento que você estar em coma estava me fazendo passar, e...
- Eu não tô “chateada” – marquei as aspas com as mãos. – Eu tô muito puta com você! E o que você fez foi covardia! Seu estágio durou dois meses, por que você não voltou antes? POR QUÊ? Agora que eu tô pensando, andando e falando, você simplesmente aparece? BROTA DO NADA?! – meu rosto estava ficando vermelho e eu queria muito chorar. (n/a: pode botar!)
- EU FIQUEI COM MEDO DE TE PERDER. EU NÃO QUERIA ACEITAR QUE A QUALQUER HORA VOCÊ PODIA NÃO FAZER MAIS PARTE DE NADA, COMO JÁ NÃO ESTAVA FAZENDO HÁ UM ANO. – então ele parou de gritar e limpou os olhos com as costas das mãos. Fiz o mesmo, pois algumas lágrimas saltavam sem meu consentimento. – Eu fui hoje ao hospital te ver e explicar pra sua família que eu ia ficar lá até o pior ou o melhor acontecer. E aí a enfermeira me falou que você tinha sido dispensada há uma semana. E agora eu estou aqui tentando me redimir. Eu sei que o que eu fiz foi totalmente errado e nada que eu fale vai fazer as coisas mudarem. – respirou fundo e me olhou nos olhos. Novamente eu me perdia naquela imensidão azul. – Se eu soubesse que ter te deixado ir sozinha na clínica fosse fazer isso acontecer... – ele parou de falar e virou o rosto, tentando disfarçar o choro. A essa altura, eu não me importava mais de esconder as minhas próprias lágrimas. limpou novamente a face e se aproximou um pouco mais, o suficiente para que eu esquecesse o quão irada eu fiquei quando acordei e ele não estava lá.
Agarrei-o com toda a minha força sem dizer uma palavra, e fui praticamente esmagada com os braços de me envolvendo. Ficamos cerca de 5 minutos ali, na frente do sofá, sem falar nada. Às vezes meus soluços faziam a trilha sonora, às vezes nossas respirações cumpriam esse papel. Separei meu corpo do dele para enxugar minha face molhada e, só então, beijá-lo. Nos beijávamos com intensidade, com desejo. Não era um beijo qualquer, era um beijo repleto de significados, tais como “eu te amo” e “eu senti saudades”. Palavras são para os fracos, como diria uma amiga.
Algumas peças de roupa foram deixadas no caminho do meu quarto e, quando menos esperei, já me encontrava passando uma perna de cada lado do seu corpo. Parei de beijá-lo e comecei a fitar seu rosto. Seus olhos me analisavam curiosamente enquanto eu me lembrava de cada detalhe de sua face. Estendi meus dedos gentilmente e toquei suas bochechas. Meu polegar traçou vagarosamente o contorno de seus lábios, ligeiramente avermelhados e molhados. Algumas lágrimas preencheram meus olhos, e eu contraí meus lábios para não derramá-las. Eu temia tanto não poder tocá-lo novamente...
fechou seus olhos, e eu o imitei, me aproximando sem cautela alguma. Então me permiti lembrar como era estar com ele, e só com ele, como se minha alma saísse de mim e tudo o que houvesse no meu interior gritasse seu nome.

- Você promete que nunca mais vai me deixar? – perguntei, apoiando meu queixo em seu peito.
- Prometeria pela minha vida, mas você já a é. Então, prometo por tudo que me cerca, tudo que sou, tudo, tudo, tudo. – ele abriu um sorriso largo, se aproximando para me beijar. Sorri de igual forma e voltei a curtir o nosso momento de paz.

xx

1 ano e 7 meses depois...

Emy jogou o buquê de flores, e, acreditem ou não, fui eu quem pegou! Ri e olhei para , que, assim como os homens da festa, se refugiou em um canto enquanto as mulheres histéricas se reuniam para tal momento. deu um tapinha nas costas de , como se dissesse “Se prepara”. Fui até os dois e o noivo me falou:
- Só não cisme de chamar parentes muito distantes. Dá muita dor de cabeça. – ele riu, e eu fiz o mesmo. Voltamos para a nossa mesa, que era dividida com e seu caso do momento, Raoul. Ele era um rapaz simpático e estava conseguindo prendê-la: um ano de namoro! Começamos a conversar sobre o desespero das mulheres para casarem e, do nada, se levantou da mesa. (n/a: pode botar a #2!)
Observei sua imagem sumir por entre as mesas e voltei a conversar com Raoul.
- Ei, não é o ali na pista de dança? – olhei assustada para ele, que estava com um violão em mãos e conversava algo com o DJ.
- Senhoras e senhores, o gentleman aqui quer fazer uma proposta quase indecente – o DJ, com voz de locutor de rádio, começou a rir em meio a sua fala – à sua linda . – corei da cabeça aos pés, sentindo todos os olhares vindo em minha direção. então pegou o microfone e começou a dedilhar uma música que eu já conhecia das rádios.

Forever can never be long enough for me Feels like I've had long enough with you Forget the world now we won't let them see
But there's one thing left to do,
Now that the weight has lifted Love has surely shifted my way Marry Me Today and every day Marry Me


Ele vinha andando em minha direção, cantando sem o microfone, e parou nesse verso, começando a falar enquanto tirava o violão e entregava para Raoul:
- Eu, como aconteceria com muitos, me apaixonei por uma garota que consegue ser delicada como acordes dedilhados, mas, ao mesmo tempo, intensa como uma chuva de verão. E talvez isso não faça muito sentindo, mas o que importa é que...- então ele se aproximou de mim com aquele mesmo sorriso de sempre. – Eu sou seu, e isso é um fato. Você quer ser minha? Para sempre? – se ajoelhou e fitou meu rosto corado e assustado. Meu coração batia a mil por hora.
- Eu já sou sua. – um sorriso imenso moldou meus lábios, e eu me atirei em seus braços. Todos os convidados aplaudiram, e eu afastei meu rosto alguns centímetros para beijar .
Escutamos palmas explodirem ao nosso redor e, quando paramos de nos beijar, ele abriu a caixinha com duas alianças simples. Ambos as colocamos e sorrimos um para o outro.
- E que tal uma dança para comemorar? – o DJ pôs uma música e me puxou com ele até a pista. (n/a: pode botar a #3!)
Passei meu braço ao redor de seu pescoço e comecei a dançar no ritmo da música, olhando nos olhos dele. Sorri novamente e fechei meus olhos, deixando meu rosto próximo ao dele o suficiente para sentir sua respiração calma e seu hálito mentolado.
Definitivamente, eu estava no paraíso, o lugar onde minha insanidade encontrava a felicidade.

Fim



N/a: COEEEEEEEEEEEEE, GALERINHAAAAAAA! Alguém aí ainda lê? Hehehehhhe
Então, sei que demorei um longo tempo pra vir aqui atualizar, mas vida de vestibulanda de medicina é foda. E esse ano tem mais cursinho pra mim aparentemente. :/ De qualquer jeito, espero que vocês gostem do final... Tava com ele pronto há um tempo, mas fiquei revisando e tal porque tava achando a escrita bem pobrinha. Só que aí eu percebi que vocês já leram quantidade suficiente de parágrafos pobrinhos e já estavam acostumadas. Além do mais, não sou nenhum Machado de Assis AHAHAH Então é isso... Me adicionem ou me sigam: @ju_soares e Facebook (https://www.facebook.com/jusgdm) Obrigada pela paciência e pelo carinho – principalmente de quem, caham Abby C., ficou insistindo um bom tempo para que eu voltasse. Beeeijos N/b: ENCHI O SACO MESMO, TO NEI AI BEIBE RS

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