It's Nothing But a Lie

I fall asleep by the telephone.
(Eu adormeço perto do telefone)

estava deitado no sofá de sua sala, no seu aconchegante apartamento em Montreal, Québec. Canadá. O sofá era especialmente macio, de acentos largos, bom o suficiente para dormir tranquilamente a noite inteira. Sua namorada, , o escolhera, pensando em possíveis visitas inesperadas. Os dois moravam juntos há quase um ano, e namoravam há dois anos e meio. era brasileira e havia se mudado para Montreal seguindo o sonho de morar no Canadá. Entrara no país por intermédio do próprio governo, que há alguns anos adotara a política de convidar pessoas intelectuais para viver no país como cidadão canadense, enriquecendo sua cultura e economia.
era e, apesar dos 24 anos, fazia seu doutorado na McGill University, melhor universidade da província de Québec, se não de toda a costa leste do país. Alguns anos mais nova que , mas tão madura quanto, ela era inteligente, prática, divertida, e linda. Seus cabelos emolduravam seu rosto de porcelana, seus olhos amendoados brilhavam tanto quanto seu sorriso. Ela era brilhante.
acabaram de acordar, e ainda estava semi-consciente. Lembrava-se de quando conhecera , por acaso, numa lanchonete. Depois, a coincidência de se reencontrarem em uma festa, e depois no show de sua banda, que era a favorita dela. Ele achou que não podia haver mais razões para não chamá-la para sair e começaram a se encontrar. De início, hesitou. Ela era bem mais jovem, brasileira, fã da banda. Era estranho.
Mas como não se apaixonar? Como não poder querer beijá-la a cada sorriso? E como não querer abraçá-la e sentir seu calor e aquele seu cheiro doce? Depois se sentiu idiota, mas beijou-a na primeira vez que saíram. Eles estavam juntos há uma semana quando ele chamou-a para conhecer seus amigos, num churrasco de Domingo no quintal. Absolutamente todos a adoraram. Todos riam com ela, e não parava de lançar a olhares aprovadores.
Um mês juntos, fizeram amor. Não sexo, mas amor. O jeito que ela sorria para ele, e o jeito que ele a olhava. Amor. Só podia ser isso. Após, ele a pediu em namoro. Ela aceitou. Ele nunca se sentira tão realizado. Tão certo de algo. Tão feliz.
Mas então, por que agora estava tão solitário, deitado no sofá, esperando por ela?

It's two o'clock and I'm waiting up alone. (São duas da manhã e estou esperando acordado sozinho)

Com um suspiro cansado, ele ergueu o pulso, coçando os olhos para afastar o sono. Duas horas da manhã. E ele teria ouvido se ela tivesse chegado em casa.
Caminhou até o quarto. A cama estava vazia e arrumada. O resto dos cômodos estava com suas luzes apagadas.
“Ótimo. Cadê ela?”
Antes que pudesse chegar até seu celular, ao lado do sofá, ouviu a chave da porta balançando. Caminhou devagar até lá, tentando manter a cabeça vazia e no lugar.

Tell me where have you been? (where have you been)
(Me diga onde você esteve? (onde você esteve))

- Oh, hey. – exclamou indiferente, enquanto punha chave na mesa de centro da sala. – Achei que estaria dormindo.
- Eu estaria. Se soubesse onde você estava.
- O quê? Eu disse que estaria na Louise. – ela se sentou no sofá com o mesmo olhar de indiferença, tirando as botas que usava. Parou um segundo para reparar que o tecido do mesmo estava abarrotado. – Você estava dormindo no sofá?
- Estava. Achei que o sofá servisse pra isso. – atirou da forma mais fria que pôde, se arrependendo em seguida.
- Você estava me esperando chegar, dormindo no sofá, apesar de saber que eu ia pra Louise? – estreitou os olhos, fazendo uma expressão insultada.
- Acontece que ligou pra cá nos chamando pra sair com ele e Louise. – sentiu seu rosto arder.
- Olha, , o dia foi longo, eu não quero ficar discutindo isso no meio da sala às duas da manhã, tá? Deve ter havido um engano e ser outra pessoa, aí você já entendeu o que queria. – ela apontou, com a voz afetada, levantando depressa.
- Então você acha que eu ando errando nomes? – ele entrou entre ela e o corredor, impedindo-a de passar. Apesar de se sentir com o estômago doendo de raiva, ficar perto dela ainda estava lhe dando aquela vontade de abraçá-la, como um magnetismo. – E este nome?

I found a note with another name. (Encontrei um bilhete com outro nome)

Ele puxou do bolso um bilhete de papel, já amassado de tantas vezes que ele puxou para ler e dobrou de volta. Virou o bilhete para o roto de Clara, que se afastou para reconhecê-lo com uma expressão pálida. Os olhos de se encheram de lágrimas ao discernir que ela sabia do bilhete e queria escondê-lo dele.
Um segundo se passou e se recompôs. Com um ar arrogante, ela o olhou no rosto como se ele tivesse acabado de bater nela.
- Que eu me lembre, isto estava na minha bolsa de projetos do doutorado. Por que mexeu nas minhas coisas? – ela cruzou os braços – Eu não mexo nas suas, achei que respeitávamos a intimidade um do outro.
- , por favor, me explica isso.
- É só um cara lá da McGill, . Sabe como é essa gente, vê carne nova e se atira em cima.

You blow a kiss but it just don't feel the same. (Você atira um beijo, mas simplesmente não parece a mesma coisa)

o segurou pela mão em que segurava o bilhete, apertando-a. Com um sorriso de lado, ela estalou um beijo em cada bochecha dele, fechando o espaço entre os dois entrelaçando seus braços no pescoço dele.
Ela o beija suavemente no lóbulo da orelha, enquanto ele a abraça pela cintura, como fazia todos os dias. Mas pela primeira vez, ele se sentiu estranho.
- Vamos dormir?
enterrou o rosto no pescoço dela, concordando com a cabeça.
Ela tocou o rosto dela com o nariz, tentando fazê-lo olhar para ela. Com um olhar triste, ele levantou o rosto. Ela beijou-o com força, apertando-o contra o corpo.
riu melancolicamente contra os lábios dela, e se deixou levar pelos carinhos dela contra sua nuca. Em poucos minutos, as unhas dela corriam pela pele de suas costas e seguravam seu cabelo com força. Ele caminhou com ela até o quarto, ainda se beijando, e deitou-a na cama. puxou a camiseta dele, rindo forçado:
- Você ainda quer dormir?
- Hm, acho que você me deu uma idéia melhor. – murmurou contra o pescoço dela, beijando-o. Ela o excitava como sempre, e nada mudara

Cause I can feel that you're gone. (feel that you're gone) (Porque posso sentir que você se foi (sentir que você se foi))

Mas respirava quase normalmente e se remexia inquieta sobre ele.
- , seu quadril está me machucando. – ela sussurrou quase indiferente.
- Desculpe. – ele se ajeitou, mudando de posição. – Quer ficar por cima?
- Estou cansada pra isso. – ela pousou os braços no colchão, tranqüila como se eles não estivessem fazendo nada há um minuto.
a olhou no rosto, cada centímetro, e não achou o brilho no olhar dela ou o sorriso sincero. Ele deitou ao seu lado, sabendo que sua não existia mais. Era somente a de novo. Desinteressada nele. Fingindo que ainda o amava. Com idéias maiores e melhores do que ficar ali com ele.

I can't bite my tongue forever, while you try to play it cool. (Não posso morder minha língua pra sempre, enquanto você tenta fingir que está tudo bem)

- Então acho que vamos dormir. – ela riu, falsamente. Começou a tirar sua roupa deitada mesmo, jogando-a para o lado da cama. – Amanhã eu dobro. – ela disse mais pra si do que para ele.
a acompanhou, tirando a bermuda. Sentiu o peso do papel em seu bolso, como se pesasse uma tonelada. Ele virou de lado, para poder vê-la, e ela virou para ele.
- Como foi o dia? – ela deu um sorriso tranqüilo, se cobrindo com um lençol.
- Foi... normal. – ele falou baixo. – E o seu?
- Chato. – ela riu, com uma careta. – Encomendaram um projeto todo louco, aí até descobrirmos o que o cara queria, já tinha ido o dia todo.
- Hm... – ele ficou em silêncio uns segundos, sem olhá-la. – E esse Gavin? Você nunca me falou dele.
- Não queria que você tivesse essa reação. – ela fechou os olhos, se aproximando dele até encostar seu nariz contra sua bochecha.
- Qual?
- Dormir no sofá pra me esperar chegar só para saber onde estive.
- Acho justo, já que você mentiu para mim.

You can hide behind your stories, but don't take me for a fool! (Você pode se esconder atrás de suas histórias, mas não me tire para tolo)

- , isso não é nada.
- Onde você esteve?
- Eu ia sair com a Louise, mas ela me deu bolo. Por sorte, encontrei umas meninas da McGill e ficamos juntas.
- , não mente pra mim. Eu sei que você está com outro. Só me diz, por favor. Pelo menos, me dá a verdade.

You can tell me that there's nobody else (but I feel it!) (Você pode me dizer que não há mais ninguém (mas eu sinto))

pára para observá-lo no rosto por uns momentos, depois se afasta um pouco.
- Não estou com ‘outro’, .
- Não, está com Gavin. – sentiu os olhos marejarem ao pronunciar o nome da pessoa que fizera sua namorada não querê-lo mais. Sentiu nojo na voz, e sua garganta doía.
- Não, não estou com Gavin, ele só está...
- , por que você só não me conta? Eu já sei, eu sinto que você não está nem aí pro nosso relacionamento, que você achou algo melhor, mas não quer se desfazer de mim. – ele disse, alteando a voz para que as lágrimas não soassem nela.

You can tell me that you're home by yourself (but I see it!) (Você pode me dizer que está sozinha em casa (mas eu vejo))

- , você está criando toda uma história pra nada, pára de exagerar! – ela disse, curvando as sobrancelhas, e virou-se de costas, irritada.
- Há duas semanas, quando estávamos em tour por Vancouver... Eu liguei pra cá e você estava... rindo, feliz. Ele estava aqui, não estava?
- O quê? – ela virou-se depressa, com o rosto vermelho – Claro que não! Quê?... Por que você fica com essa certeza de que eu estou te traindo?
- Porque eu fiquei sentado no restaurante aqui da frente e vi você sair com ele.

You can look into my eyes and pretend all you want, but I know, I know (Você pode olhar dentro de meus olhos e fingir o que quiser, mas eu sei, eu sei)

ficou em silêncio, observando-o uns instantes. Depois, virou-se de costas novamente.
- É, aquele era Gavin. Veio buscar as planillhas da minha pesquisa.
- Por que você só não me diz?! – ele se equilibra num braço, tentando olhá-la – Eu já sei, eu já vi, só me diz a verdade!
- A verdade... – ela se vira e olha-o de frente - ...é que você não tem confiança nenhuma em mim, e mesmo eu te explicando tudo, você continua desconfiado. Se eu ao menos estivesse te traindo...
- Ta, ta. Deixa isso pra lá. – ele suspira forte, deitando, virando de costas para ela. – Amanhã a gente vê isso.
Ela ainda bufou, mas ficou em silêncio, desligando o abajur.

Your love is just a lie! (Lie! Lie!) It's nothing but a lie! (Lie! Lie!) (Seu amor é só uma mentira! (Mentira! Mentira!) Não é nada a não ser uma mentira! (Mentira! Mentira!))

- Eu amo você. – sussurrou.
- Eu também te amo.
não evitou chorar no travesseiro, porque sabia que era mentira.

You look so innocent (Você parece tão inocente)

O dia já estava alto quando acordou sozinho na cama. Ouviu cantarolando na cozinha e foi até lá após ir ao banheiro.
- Bom dia, amor. – sorriu ao vê-lo entrar. Ela fritava omeletes enquanto o observou vir até ela e dar-lhe um beijo na testa.
- Bom dia. – ele respondeu com um sussurro rouco, pegando café na cafeteira em cima da bancada e se sentando.
Eles tomaram o café em silêncio. mal conseguia engolir a comida, pois tudo o que vinha a sua cabeça, lembrava-o da traição. Será que ela fizera omelete para ele? Será que ela deixara ele tomar café em sua caneca favorita?
- ligou. – ela disse após o café, pondo a louça no lava-louças. – Queria saber se podia marcar uma reunião hoje à tarde para resolver a capa do álbum novo. Como você não tinha compromissos na agenda, - ela apontou para uma folha na geladeira – eu disse que sim. Vai ser às 2.
- E você?
- Eu o quê? – ela virou-se para ele, puxando pelas mãos ao encontro dela.
- O que vai fazer de tarde?
- Não sei. Talvez adiantar meu projeto. Talvez ir até downtown com Louise, se ela não me der outro bolo. – ela riu, fazendo uma careta.

But the guilt in your voice gives you away. Yeah, you know what I mean (know what I mean) (Mas a culpa na sua voz te entrega. Sim, você sabe do que estou falando (do que estou falando))

- Você não quer ir comigo?
- Olha, você sabe o quanto adoro essas reuniões. – ela riu, irônica, saindo de perto dele. – Mas tenho muita coisa pra fazer.
- Você vai sair com ele?
- O quê?
- É, você vai sair com ele, e fica arrumando desculpas, mas eu não sou idiota assim, .
- Você ainda está falando daquilo? Oh, por favor, , é só o Gavin! – mas a voz dela tremeu ao citar o nome dele.

How does it feel when you kiss when you know that I trust you (Como é beijá-lo quando você sabe que confio em você?)

- Me diz, como você se sente?
- Quando...? – ela disse, ignorando-o, saindo para o quarto.
- Quando você o beija, sabendo que estou esperando você em casa? – ele segue-a, pelo corredor, pelo quarto.
- , pára de falar besteira.

And do you think about me when he fucks you? (E você pensa em quando faz sexo com ele?)

- E quando vocês fazem sexo, possivelmente aqui em casa, na nossa cama, você pensa em mim, hein?
- , pára... – ela tenta passar por ele, mas ele a impede, alterado, com os olhos vermelhos e cedendo às lágrimas de raiva e decepção.
- Você pensa no quanto eu te amo? No quanto eu confio em você? No quanto eu te respeito?
Ele a segue enquanto ela pega suas roupas, tentando ignorá-lo.
- Passa pela sua cabeça que eu nunca faria isso com você? Que você é a única pra mim?
- , pára, você está me incomodando. – ela tenta entrar no banheiro, mas ele a impede.

Could you be more obscene? (be more obscene) (Você consegue ser mais obscena? (ser mais obscena?)

- É por que esse cara é mais famoso que eu? Porque sei que ele é famoso, né? Como você se suporta tendo me feito todo aquele discurso de respeito?? Como você pode ter se tornado tão vulgar? E nem ao menos tem coragem de me dizer...
- Tá! Tá bom! Que inferno, ! – grita contra o rosto dele. – Sim, eu te traí, sim! Está feliz agora? Eu penso em você, sim, penso que você não consegue mais me satisfazer, que não consigo mais ser tão feliz com você!
fica em silêncio por alguns instantes, olhando o chão.

So don't try to say you're sorry, or try to make it right. (Então não tente dizer que sente muito, ou tente fazer isso funcionar)

Ele caminha de cabeça baixa até a cama, sentando-se, e começa a soluçar logo em seguida.
caminha até ele, largando as roupas aos seus pés.
- Me desculpa.
- Desculpa? – ele ri, abafado pelas lágrimas – Você já fez, já me traiu, você não é feliz. Não tem que pedir desculpas, não vai mudar nada.
- Tantas vezes eu tentei consertar a gente pra que isso não acontecesse...
- , eu... eu não vejo nada de errado com a gente. Não sei o que fiz que te deixou infeliz! Não sei, eu sempre dei o melhor de mim!

And don't waste your breath because it's too late, it's too late! (E não desperdice sua respiração porque é tarde demais, é tarde demais!)

- Me perdoa, . Eu acabei me deixando levar porque eu era mais feliz lá do que...
- Não... Não precisa tentar. Agora eu já errei, você já errou. Ta tudo um inferno.
- A gente pode consertar. Como consertamos desde o início. – ela tocou o joelho dele, mas ele se afastou.
- Mas parece que não deu muito certo, não é? – ele disse, esfregando as lágrimas do rosto. – Para você ter procurado outra pessoa... , é tarde demais para tentar qualquer coisa. O que sobrou do nosso relacionamento? O amor?

Your Love is Just a lie. (Seu amor é só uma mentira.)

o observou em silêncio por alguns instantes.
- Ainda sobra o amor, não? – sussurrou, quase implorando.
baixou os olhos, pesarosa. Após alguns instantes, ergueu a cabeça, tocando o rosto dele, banhado em lágrimas. Acariciou-o por alguns segundos, dizendo baixo e séria logo após:
- Eu já não te amo mais, .

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