Mockingjay






Acordei com um barulho vindo da porta da frente. É . Ela tem o hábito de sair bem cedo, acompanhada de seu arco e flechas. Assim como eu tinha, há alguns anos. Só que, diferente de mim, a minha filha não sai para caçar. Apenas se diverte, treinando a sua mira e acertando algumas frutas penduradas em árvores. Não se sente bem matando animais. Ela mesma me disse isso. Eu nunca havia seguido-a para ver como se portava com o arco, porém sempre tive vontade de fazer isso.
Mas um fato em especial me chamou a atenção. Na verdade, dois. O barulho dos passos de me alertou para o fato de ela estar correndo. E, em vez de sair silenciosamente, dessa vez bateu a porta com tudo. Desviei o olhar para Peeta, adormecido ao meu lado, mas ele não parecia ter sido afetado pelo barulho. Tirei cuidadosamente o seu braço de cima de mim e fui em direção à janela. A única coisa que consegui enxergar foi a marca dos passos da garota na terra recém-molhada pela chuva, que tinha ido em direção à antiga floresta onde eu costumava caçar com Gale. Agora havia algumas novas árvores ali, contudo não era tão povoada por animais. Era esse um dos motivos de eu evitar ir nessa direção.
Até hoje.
nunca ia para lá. Sei disso, pois sempre observava a direção que a garota tomava quando saía pela manhã. Foi isso o que me preocupou.
Fui até o outro quarto no final do corredor, andando silenciosamente, e vi que a porta estava aberta. Entrei e vi que o meu filho dormia tranqüilamente em sua cama. Em cima da cama de , havia um livro. Um livro não. O livro. Aquele que eu tinha escrito com a ajuda de Peeta e Haymitch. Aquele que contava tudo que havia acontecido nos Jogos. Aquele que eu mostraria a quando ela estivesse preparada.
Aproximei-me e vi que ele estava aberto em uma página – a página que contava sobre a morte de Prim. A terrível morte de Prim, que até hoje não fui capaz de esquecer. Buttercup se foi há alguns anos, mas tem vezes que ainda acordo esperando ver aquele gato estúpido encolhido no sofá da sala. Ele era a lembrança mais concreta de minha irmã e, por mais que eu odeie admitir, sentia um pouco de falta dele.
Saí da casa com cuidado e silenciosamente. Fui em direção à floresta para onde tinha ido. Chegando lá, precisei parar, pois as lembranças me invadiram violentamente. Apesar de o lugar ser diferente, esse era o lugar, afinal de contas. Fazia muito tempo que eu não via Gale e, naquele momento, percebi a saudade imensa que eu sentia dele. Sorri, lembrando-me de quando caçávamos juntos. Éramos realmente uma ótima equipe. Desejava saber como ele estava. Será que tinha encontrado alguém? Será que tinha filhos? Será que sentia a minha falta? Eu apostava em “sim”, para todas as respostas.
Respirei fundo e dei um passo à frente, varrendo os olhos pelo local para ver se achava algum sinal de . Nada. Estava deserto. Pelo silêncio poderia dizer que só tinha eu ali.
Andei mais um pouco, começando a distinguir uma melodia fraca, não muito longe de onde eu estava. Dei alguns passos para a direita e consegui ouvir mais claramente, reconhecendo a voz.

Just close your eyes.
(Apenas feche seus olhos.)
The sun is going down.
(O sol está se pondo.)
You’ll be alright.
(Você vai ficar bem.)
No one can hurt you now.
(Ninguém pode feri-lo agora.)


A voz melancólica e extremamente afinada pertencia à minha filha. Ouvindo com atenção, percebi que o som vinha de cima de uma árvore. Olhei para cima e conseguia observar apenas um pé balançando não muito no alto.
Comecei a subir uma árvore que tinha ao lado dessa, porém com dificuldade. Eu não era mais assim tão nova. Ainda assim, consegui chegar a um galho na altura de onde estava e me sentei nele, observando-a até que notasse a minha presença. Ela chorava. Quando finalmente tirou as mãos do rosto, encarou-me, arregalando os olhos. Obviamente não esperava me ver ali. Continuou a me encarar em silêncio, até que finalmente disse com a voz rouca por culpa do choro:
– Prim? – perguntou e balancei a cabeça afirmativamente. – Por que você nunca me contou?
– Eu... Ia contar quando estivesse pronta.
– Quando quem estivesse pronta, mãe? Eu ou você? – o seu tom era rude e mais uma lágrima escorreu por seu rosto.
...
– Há alguns dias na escola, estudamos sobre a penúltima edição dos Jogos e eu não conseguia conter o meu sorriso por saber que você e o papai tinham ganhado. Então a professora me perguntou o que eu achava do fato de minha mãe ter se voluntariado bravamente para ir no lugar da irmã. Irmã essa que morreu tragicamente. Todos os meus colegas tinham perguntado aos pais sobre isso e sabiam tudo sobre a morte Prim. Já eu não sabia nada. Nem um mísero detalhe, porque você simplesmente decidiu que não iria me contar.
– Eu ia lhe contar, filha! Claro que eu ia! Mas esse assunto é muito doloroso para mim e tinha combinado com o seu pai que seria eu quem contaria sobre a morte de Prim para vocês dois.
– Quando? No seu leito de morte? – a sua voz soou rude novamente e apenas a olhei sem expressão. Ela suspirou. – Desculpe – levou as mãos ao rosto, bagunçando um pouco os cabelos e depois olhando para o chão. – Achei o livro e comecei a lê-lo. Estava curiosa para saber tudo o que tinha nele, já que você só tinha me mostrado algumas partes. Achei sobre a morte de Prim e li tudo o que tinha lá. Acabei pegando no sono logo depois e tive um pesadelo terrível, em que era eu no lugar da Prim e... – mais uma lágrima escorreu por sua bochecha. – Acordei apavorada e não sabia o que fazer, já que, se eu a procurasse, teria que confessar ter pegado o livro. Só saí correndo sem direção e vim parar aqui.
Não sabia o que dizer. Peeta que era bom com palavras, então fiquei quieta. Depois de um tempo, ela suspirou, virando o rosto para mim.
– Mãe?
– Sim?
– Conta para mim? – soube que ela falava sobre a morte de Prim e assenti, pulando levemente para o galho em que ela estava e segurando a sua mão, quando pensava por onde começar.
E, finalmente, contei tudo a ela.

Voltávamos abraçadas para casa, mas no meio do caminho um dos garotos da sala de a chamou. Ele também tinha um arco e flechas e os dois costumavam se divertir juntos. A minha filha me olhou, pedindo permissão, e concordei, vendo-a sumir de minhas vistas.
Continuei andando até em casa e, quando cheguei perto, vi Peeta saindo pela porta.
– Katniss! – falou aliviado e correu em minha direção, abraçando-me. – Você quase me matou de preocupação.
– Contei à sobre Prim – falei simplesmente e ele me soltou para me olhar nos olhos. Abracei-o novamente, enterrando o meu rosto em seu pescoço. – Sinto falta dela.
– Eu sei – falou suavemente, enquanto fazia carinho em meu cabelo. Falou alguma coisa para me acalmar, porém não prestei atenção. Só o fato de tê-lo me abraçando já me acalmava.
– Ainda falta contar a ela algumas coisas... – soltei Peeta, entrelaçando as nossas mãos e indo em direção à casa. – Não podemos adiar muito. Contudo ainda tenho aqueles pesadelos. Você sabe...
– Sim... Mas vamos contar na hora certa.
Estremeci com a idéia de me relembrar de tudo e Peeta percebeu o meu receio.
– Vai dar tudo certo. Temos um ao outro. Certo?
– Sempre.


Fim



Nota da autora: Olá. =D
Aqui estou eu de novo, só que dessa vez fazendo algo diferente: escrevendo uma história baseada em uma já existente. Nunca tinha tentado fazer isso e foi uma experiência bastante prazerosa.
Eu já tinha lido os três livros e amava a história, mas a idéia de escrever uma fanfic sobre ela realmente nunca me veio. Quando estreou Jogos Vorazes nos cinemas, fui correndo assistir, na maior expectativa. Não era para menos. O filme é ótimo!
E, assim que saí da sala de cinema, a idéia para a mini-história me veio e simplesmente não saiu da minha cabeça até que eu finalmente a escrevesse!
Espero que vocês tenham curtido e, por favor, comentem. =)
E que a sorte esteja sempre a seu favor!

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