Dia dos namorados. O dia mais patético do ano. É quando os idiotas querem se tornar príncipes na frente de suas namoradas, moças solteiras mandam flores a si mesmas para causar inveja nas amigas – também solteiras - fingindo que têm um admirador secreto. E é quando, por mais que você fuja, esbarra em toda esquina com um casal se beijando (lê-se: se comendo) em plena praça pública, sem medo de ser feliz. Flores, presentes, chocolates, declarações de amor. Nada disso passa de uma tentativa inútil de salvar o relacionamento. Isso só vai adiar o término por, no máximo, dois meses. No momento que a magia começa a sumir e percebe-se que ele não é o que você pensava, tudo acaba. Na verdade, foi criada uma projeção perfeita do parceiro na sua mente, e só depois de passar o fogo do começo da relação você percebe que ela não existia. E os humanos não querem conviver com pessoas de verdade, onde tenham que as aceitar com seus defeitos e qualidades. Eles querem o mais fácil, o que exija menos trabalho. Sim, eu odeio o dia dos namorados. E agora você sabe o porquê.
O único motivo da minha alegria – profissionalmente falando - é que as vendas nessa época do ano na minha confeitaria aumentam consideravelmente. Ela fica no centro de Nova York, e é famosa pelos chocolates produzidos exclusivamente para o dia dos namorados. Depois de uma grande reforma ocorrida no começo do ano, a decoração está magnífica. As paredes têm um tom rosa bebê belíssimo, com armários de madeira brancos que possuem prateleiras de vidro, onde são colocados os produtos para exposição. O piso é de madeira clara, e há um balcão no meio da loja, onde se localiza o caixa e uma caixa de vidro com cupcakes de variados temas. Pequenas mesas dentro e fora do local dão um ar descontraído. O local estava lotado, e ainda faltavam dois dias para o dia dos namorados. Sentada em uma cadeira, observando o desempenho dos funcionários e esperando uma noiva que viria escolher seu bolo de casamento, avistei um casal de namorados. Observei a cena ridícula, os dois brigando na decisão de quem iria pagar a conta. Logo depois, eles saíram da loja, o rapaz carregando a moça nos braços. Voltei à realidade quando uma das atendentes disse que estava muito doente e pediu para ir para casa. Levantei e fui assumir seu lugar.
- Moça? Moça? – ouvi um homem falar ao fundo. Saí do transe quando ele me cutucou e percebi que era um cliente. Lindo, diga-se de passagem.
- Perdoe-me. O que deseja? – tentei ser simpática. Não tinha a capacidade de atender clientes. Eu era a pessoa mais antipática e desagradável nessa época do ano.
- O melhor chocolate que você tiver. É para minha namorada. – sorriu. Droga, aquele homem estava louco por uma menina. E não parecia fingimento, o que ele sentia era puro. Alguma coisa vai acontecer, nada está completamente certo nessa época.
- Então você deve comprar uma cesta de trufas em forma de coração. Apaixonado, é? – disse ironicamente. – Ela deve ser uma garota e tanto.
- Ela é tudo que eu sempre quis. – pegou a cesta que eu acabara de colocar em cima do balcão e fez um sinal com a cabeça, agradecendo.
Em todos esses anos, eu nunca havia visto um homem como aquele. Sim, existem muitos como ele por aí. Mas eu só conhecia idiotas, tipinhos que trocariam amor verdadeiro por uma noite de sexo com uma mulher gostosa. E todos os homens que eu namorei, partiram meu coração. Sempre achava que eles eram príncipes, quando na verdade eram sapos. Aquele homem estava realmente apaixonado. E, no fundo, apesar de odiar casais melosos, era isso que eu queria. Paixão.
Capítulo Dois
Olhei para o relógio e vi que já eram dez horas. Ainda havia dois casais dentro da loja, esperei que eles terminassem de comer para fechar. Nunca fiquei até tão tarde naquele local. As vendas estavam indo muito bem esse ano. Após conferir o dinheiro no caixa, guardar no cofre, colocar as mesas que ficam no lado de fora para dentro da confeitaria, saí em direção ao bar que ficava na esquina. Devia ser apenas duzentos metros de distância, mas a rua estava tão deserta que pareceram ser duzentas milhas. Ao entrar, logo encontrei , minha melhor amiga, conversando com um homem. Aproximando-me da mesa, percebi que ela estava um pouco bêbada. Ah, não tem jeito. Ela soltou um gritinho ao dizer meu nome, eu apenas sorri para os dois homens e puxei-a para perto do banheiro.
- Não foi você quem disse depois do término com o Zac que não queria mais saber de homens? – Zac era o ex-namorado dela. No verão passado, logo após do noivado, pegou-o na cama com sua colega de trabalho. Jurou que não iria olhar para homens enquanto não tivesse chegado ao topo de sua carreira. Tinha certeza que essa não era o tipo de promessa que ela iria cumprir. Afinal, eu a conhecia muito bem a ponto de saber que, se tratando de amor, era muito fraca. Bastava um sorriso vindo de um homem lindo pra ela falar dele o resto da semana. Se apaixonava muito fácil. Em consequência, também quebrava a cara muito fácil.
- Eu disse que não iria mais me apaixonar. – disse e eu senti o cheiro forte de gin na sua boca. – Isso é apenas casual. Se você não quer se apaixonar, eu entendo. Mas nós duas precisamos de algo casual. E eu estou bêbada o bastante para não lembrar o nome daquele bonitão amanhã, nem ir atrás dele. Por isso, relaxe e consiga alguém hoje à noite. – ela tinha razão. Eu odiava casais melosos, mas também nunca tentei algo casual. Sempre achei uma babaquice. Talvez aquela fosse a hora de experimentar coisas novas.
- Quem? – perguntei pedindo sua ajuda. olhou rapidamente todos os homens do local, e apontou.
- Aquele ali. Divirta-se. – depois de ditas essas palavras, saiu e voltou a se divertir com o homem.
O rapaz que ela apontou estava de costas. Era alto, tinha o cabelo castanho e vestia um terno Armani. Eu não tinha a mínima ideia do que eu faria. Eu não podia simplesmente chegar e dar em cima dele. Dane-se. O propósito disso é não pensar. Agir, ir pra cama e no outro dia ir embora com a culpa de ter dormido com um desconhecido, mas ao mesmo tempo com a satisfação sexual. Simples. Claro, eu não faria aquilo de novo. Minha reputação estava em jogo. Apesar de NY ser imensa, as pessoas que frequentam esse bar são as mesmas da confeitaria, e eu não queria dar um motivo para as pessoas fofocarem sobre a minha vida. Teria que ser muito discreta. Aproximei-me da mesa onde ele estava, e sentei-me em sua frente.
- Olá, boni... – Não. Não podia ser. Justo ele? foi escolher justo um homem compromissado? – Desculpa, eu o confundi com outra pessoa. – O rapaz que estava sentado na minha frente era o mesmo que tinha comprado a cesta de trufas mais cedo na confeitaria. Levantei para sair, mas ele segurou minha mão.
- Fique. – ele disse, num tom que eu julguei ser implorativo. – Você é a dona da Peggy Bakery, estou certo?
- Sim. . – cumprimentei-o. – O que aconteceu? Você não parece tão feliz como hoje à tarde. - Ele não estava com o sorriso de antes. Parecia abatido, destruído. Como se tivesse acabado de levar uma surra, mas sem manchas vermelhas no corpo. Arrisco dizer que ele chorou há pouco tempo.
- . Eu e Sara... Terminamos.
E então ele disse tudo, nos mínimos detalhes. Como ele chegou em sua casa alegre com uma cesta de trufas na mão e um anel de casamento. Ajoelhou-se e viu Sara com uma expressão estranha. Como ele se sentiu um idiota quando ela disse que nunca casaria com ele, que não queria compromisso sério. Como sentiu seu coração se partindo ao som de cada palavra que sua ex dizia. E, acima de tudo, como ele queria esquecer aquela vadia. Disse que havia lhe dado tudo, e não foi o bastante. Percebeu que ela só se interessava pelo dinheiro. Ele tinha uma fortuna imensa devido a ações em uma construtora famosa e à empresa ’s, uma famosa empresa de tecnologia que seu pai lhe deixou como herança. Eles eram a nova Apple. Ficamos horas conversando sobre empresas e relacionamentos que não deram certo. E lá se foi uma garrafa de vodka. Quando dei por mim, já estava completamente bêbada e conversando besteiras com um homem que eu não lembrava mais o nome.
Capítulo Três
Acordei com uma dor de cabeça infernal. Abrir os olhos parecia um trabalho árduo naquele momento. Tateei a mesinha ao lado da cama a procura do meu celular, mas não o encontrei. Abri os olhos com bastante dificuldade e me deparei com um teto bege e me assustei. Onde eu estava? Se eu me lembro bem, as paredes do meu quarto eram de um branco puríssimo. Eu não tinha a mínima noção do que tinha acontecido na noite passada. Observei o local à procura de alguém. Nenhum sinal de vida. Uma pintura de dois navios ao mar estava pendurada na parede, e eu me impressionei com tamanho bom gosto. De uma coisa eu tinha certeza: eu não estava em um hotel. Nenhum proprietário gastaria tanto dinheiro numa pintura para colocar num quarto qualquer. Aliás, não gastaria tanto dinheiro para mobiliar este quarto. Sua mobília aparentava ser comprada em leilões. Era rústica, sofisticada e tinha um toque antigo. Um cômodo exótico, tenho que dizer. Levantei da cama sentindo minha cabeça pesar uma tonelada. Desci as escadas e avistei um homem deitado no sofá assistindo uma partida legendária de beisebol dos Yankees contra os Red Sox. Ao chegar mais perto, percebi que era . Ele estava deitado no sofá sem blusa, mostrando o abdômen definido. Sua calça de moletom estava sugestivamente baixa. Seu cabelo estava bagunçado e o cheiro do seu perfume Dolce and Gabbana estava intenso. Mordi meu lábio involuntariamente. Era o ser mais perfeito que eu já tinha visto. Mas... O que eu estaria fazendo em sua casa? Ah, merda.
- ! Você me assustou. – ele disse levantando do sofá.
- Eu... Nós... – tentava encontrar palavras para fazer essa pergunta. Ele era o homem mais incrível que eu já havia conhecido, e eu nem lembrava se acontecera alguma coisa? Não se pode dizer o quanto eu estava envergonhada naquele momento. Arrisco dizer que eu estava roxa de vergonha.
- Não. Nada aconteceu. – respondeu, percebendo o que eu queria perguntar. – Você acha que eu iria me aproveitar de uma moça bêbada? – riu de uma maneira tão perfeita que eu tentei não desmaiar. – Quando eu perguntei onde era sua casa você não respondeu, então te trouxe para dormir aqui.
- Obrigada, você é um amor. Eu... – parei quando olhei no relógio que já eram nove horas. Eu estava atrasada, e era véspera do dia dos namorados. As funcionárias devem estar enlouquecendo com a minha ausência. – Estou atrasada! Desculpe, mas eu já devia estar na confeitaria há muito tempo! – Peguei minha bolsa em cima da mesa da cozinha e saí correndo. Ao passar pela porta, senti alguém me puxando.
- Almoce comigo hoje. – falou em um tom irresistível. Estávamos a poucos milímetros de distância. Sentia minha respiração falhar gradativamente.
- Esteja na Bendel’s às doze e meia. Não se atrase. – falei e o afastei com a mão, pegando em seu abdômen. Saí e ele continuou parado, me olhando ir embora, até eu sumir de seu campo de visão.
Entrei na Peggy Bakery e senti os olhares fuzilantes das funcionárias. Audácia. Eu as pagava para quê? Elas querem ficar sentadas o dia todo me olhando fazer o que era tarefa delas? Preguiçosas. Estava quente, e o ar condicionado estava ligado. Foi nessa hora que eu percebi quão lotado estava aquele lugar. Agora sabia que as atendentes tinham motivo para estar com raiva. Diminuí a temperatura do ar condicionado e liguei os ventiladores de teto. Clientes furiosos e impacientes estavam na fila. Teríamos que ser mais eficientes. Mandei as pessoas se dividirem em quatro filas, e cada uma de nós atendeu uma fila. Tudo ficou mais rápido e calmo. Quando parei um instante para descansar, percebi que as prateleiras estavam esvaziando. Teria que ligar para a cozinha da confeitaria urgentemente para serem feitos mais doces e entregarem ainda hoje. O tempo passou tão rápido dentro da loja que, ao chegar o carro com os doces, me assustei. Como já podia ser meio dia? Dei as ordens ao vigia para ele acompanhar os homens e eles colocarem os doces nos seus respectivos lugares, e saí correndo em direção ao meu carro. Precisava pegar o caminho mais curto e menos engarrafado até em casa, tomar banho, escolher uma roupa, voltar para a loja e ver se tudo estava correndo bem, ir à Bendel’s. Calculei o tempo que levaria. Droga, chegaria vinte minutos atrasada. Decidi não passar em casa, iria daquele jeito mesmo.
Cheguei perto do vidro transparente do restaurante para olhar se já estava lá. Já havia chegado, e estava lindo. Vestia uma blusa azul social que realçava a cor de seus olhos, uma calça preta e estava usando o relógio Louis Magistralis Moinetm, e o olhava impaciente. Parei por um segundo para analisar o que eu acabara de ver. O que ele estava fazendo com um relógio de quase 900 mil dólares? Deveriam ter vinte seguranças ao redor do restaurante o protegendo de qualquer tentativa de roubo. Olhei em volta, mas não havia ninguém. Entrei no local e ele sorriu largamente ao me ver. Seus dentes eram idênticos ao daqueles modelos de pasta de dente. Se nada tivesse dado certo em sua vida, ele poderia ser modelo. O modo com que nós nos abraçamos foi tão intenso, eu não sabia descrever o que eu havia sentido. Sabia que eu estava completamente atraída por ele. Era o homem mais cavalheiro e fofo que eu já conhecera. Afastou a cadeira e fez um gesto para sentar-me.
- Obrigada por vir. – sorriu timidamente.
- Você me chamou, não foi? Não costumo deixar as pessoas esperando.
- Vamos sair daqui. – levantou e eu permaneci sentada, sem entender nada. Para onde iríamos? – Confie em mim. – ele estendeu a mão e eu me levantei. Fomos até seu carro e ele abriu a porta para mim. Perguntei se podia ligar o som do carro e ele balançou a cabeça afirmativamente. Uma música do Michael Bublé começou a tocar. Nunca me surpreendi tanto com alguém. Que homem escutaria as músicas fofas e românticas do Sr.Bublé?
- Do my foolish alibis bore you? Well I’m not too clever I just adore you. – o ouvi cantarolar em um tom quase inaudível enquanto tamborilava os dedos no volante. O encarei com uma expressão tão ridícula que, se eu estivesse me observando, riria de mim mesma. – O que foi? – falou sem entender o porquê de estar olhando para ele daquela forma.
- Você é muito mais maravilhoso do que parece ser. Mas não infle seu ego por causa disso. – ele riu convencido. – Para onde estamos indo? – perguntei, não obtendo resposta. Olhei para a estrada sem saber onde estávamos. Nunca estive ali antes. Avistei algumas montanhas rochosas logo a frente, mas nenhum lugar onde nós pudéssemos ficar. Com o passar do tempo, ficávamos cada vez mais perto das rochas. O que ele queria fazer num lugar tão horrível como aquele?
- Chegamos. – disse parando o carro. – Eu sei o que está pensando. Isso aqui por fora é horrível. Mas você ainda não viu o que há dentro dessas rochas. Puxou-me pela mão e subimos pela montanha. Ao chegar ao topo, ele apontou para um pequeno buraco e me mandou pular. Só poderia ser algum tipo de brincadeira. Como ele queria que eu pulasse? Neguei-me a ir, e ele pulou primeiro. Fiquei desesperada, sem saber o que fazer. Eu pularia ou ficaria ali, esperando o dia em que ele voltasse? SE ele voltasse. Ele soltou um grito de alegria lá de baixo, e eu decidi que pularia. Não sabia o que havia lá dentro, mas só poderia ser algo muito bom. Pulei e estava com muito medo, mas, quando dei por mim, estava mergulhando. Havia água dentro da rocha. Subi para respirar, e vi a linda paisagem ao meu redor. Havia um feixe de luz vindo do buraco que eu acabara de pular refletindo sobre a água de um tom azulado tão puro como eu nunca tinha visto antes. Era divino. Encontrei-me nos braços de olhando admirada o local. Sussurrei um “obrigada” e ele balançou a cabeça em resposta. Tudo era tão perfeito... e eu ficávamos cada vez mais perto. Senti sua respiração em minha bochecha. Estávamos a poucos milímetros de distância.
- Você traz todas as mulheres pra cá? – sussurrei em seu ouvido. Sua nuca arrepiou.
- Você é a primeira. E eu espero que a única. – ele disse e me beijou suavemente. Eu queria mais. Ele se apoiou com o braço em uma pedra que estava fora da água, para não se afogar, e eu encaixei minhas pernas ao redor de sua cintura. Beijamo-nos intensamente, até o momento que já estávamos cansados, sem fôlego.
subiu na pedra e estendeu a mão para eu me levantar. Minha roupa, obviamente, estava encharcada. Ficamos sentados ali conversando sobre todos os assuntos possíveis. Contou sobre como ele matou sua tartaruga de estimação, Carmelita, na sétima série. Dos problemas com seu irmão mais velho, que não aceitava a escolha de seu pai sobre quem tomaria posse das empresas, mas ele acabou se contentando ficando com parte das ações. Falou também sobre o relógio caríssimo que possuía, seu avô tinha o dado. Disse a ele o quanto eu queria um Golden Retriever. Quando vimos, já eram cinco horas. Levantamos assustados, não poderíamos sair dali já à noite. Conduziu-me até uma fenda que nos direcionava até o meio externo, e fomos de volta para o carro. Chegando lá, peguei um moletom de no porta-malas, tirei minha calça e amarrei o moletom ao redor da minha cintura, conseguindo transformá-lo em uma saia.
A viagem de volta foi tão divertida, os minutos passavam como se fossem horas. No meio da estrada, recebeu uma ligação e saiu do carro para atendê-la. Ao voltar, seu humor estava completamente diferente e ele permaneceu sério e calado até chegarmos em minha casa. Pensei em perguntar o que acontecera e quem era no telefone, mas não encontrei momento apropriado no meio da quietude dentro do carro.
- Tchau, . Te ligo depois. – disse friamente. Ele me deixaria sair dali sem falar comigo direito? Nem ao menos um beijo? Depois do dia perfeito que passamos? Resolvi agir indiferente. Dei um “tchau” com a mão e saí do carro.
Entrei no prédio e ia pegar o elevador, mas decidi subir mesmo pelas escadas. Descontei toda a minha raiva pisando com toda força ao subir na escada. Tinha esquecido porque eu não me apaixonava. Eu sempre tinha o coração partido, ou ficava com raiva, ou era usada como caso de um dia. Precisava parar de ser tão idiota. Cheguei em meu apartamento, peguei as chaves dentro da minha bolsa e abri a porta. Deparei-me com uma esparramada em meu sofá se deleitando com minha vodka Absolut e assistindo ao filme “Ele não está tão afim de você”. Logo entendi o que havia acontecido. Ela tinha ido buscar meu carro no restaurante, fechou a loja em meu lugar e veio dormir aqui em casa, já que essa noite não teria uma companhia masculina. Nesses últimos dias, tinha se dedicado à poligamia, já que estava de férias do seu emprego na revista Forbes. Subi as escadas e entrei em meu quarto. Não queria ficar bêbada. A bebida não iria resolver meus problemas nem agora, nem nunca. Eu iria fugir dos meus problemas por algumas horas, mas fugir nunca é a melhor solução. Tomei banho, coloquei uma blusa preta muito velha dos Beatles e deitei na cama. Olhei para o relógio da televisão: já eram dez horas. Estava adormecendo quando o telefone tocou. Meu coração bateu aceleradamente. Era . Estava em dúvida se eu atenderia ou não. Atendi e disse um inaudível “alô!?”. Ouvi sua voz trêmula no outro lado da linha dizer:
- Sinto muito por ter sido um babaca no final da viagem. Eu não deveria ter agido daquela forma. É que... Quem ligou naquela hora foi a Sara. Ela quer voltar. – encolhi-me na cama em posição fetal, tentando negar o que acabara de ouvir.
Capítulo Quatro
Chorei até dormir depois de desligar a ligação. Eu senti algo tão forte em tão pouco tempo. Nunca havia visto uma conexão tão grande quanto a minha e de antes. Como ele poderia ser tão idiota? Sara riu quando ele a pediu em casamento, partiu seu coração, e basta uma ligação dela dizendo que quer voltar que tudo fica bem? E eu, como sempre, fico sozinha e volto a minha vida dedicada ao trabalho. Estava enganada quando disse que há homens diferentes. Não há. Todos são iguais. Até quando estão apaixonados. A mulher é uma vadia e eles ainda a perdoam. Eles gostam de sofrer. Acordei e fui até o banheiro para fazer minha higiene matinal. Eu estava com a face inchada. Droga. Odiava chorar e logo depois dormir, meu rosto ficava inchado o dia inteiro. Estava o retrato da morte. Algo me deixou mais irritada: hoje era dia dos namorados. Imaginei todos os casais melosos que teriam hoje na rua e vomitei no vaso sanitário. Desci e fui fazer algo para comer. Encontrei uma de ressaca gemendo de dor no sofá. Me pergunto se ela saiu por algum minuto daquele cômodo desde ontem. Estava fazendo waffles quando escutei alguém caindo no chão. Era que havia acabado de acordar. Saiu cambaleando até a cozinha, e me entregou um bilhete.
- Um gostosão veio deixar isso hoje de manhã cedo. – peguei o bilhete e reconheci o perfume que estava nele.
“Feliz dia dos namorados. Eu queria estar aí pra te desejar isso pessoalmente. Me encontre no bar perto da sua confeitaria hoje às duas horas. Esteja lá, por favor. Me dê uma chance.”
Assim que acabei de ler, o amassei. Quem ele achava que era? Andava por aí machucando os outros, coletando uma jarra de corações partidos, pra depois tentar juntá-los novamente? Comi waffles, subi para trocar de roupa e saí disparadamente para a loja. Dizer que lá estava um inferno é eufemismo. Vi vários casais irem e virem, passarem rapidamente pela loja, assim como as horas. Quando olhei para o relógio, já eram seis horas da tarde. Quase não havia mais movimento na confeitaria, e eu resolvi que era hora de ir para casa. Peguei minha bolsa e saí pela porta da frente. Vi dois casais sentados no banco do lado esquerdo, e do lado direito... Estava , com um buquê de begônias na mão.
- Você não apareceu. – ele disse, levantando.
- Realmente achava que eu iria? – tentei soar o mais fria possível. Ele balançou a cabeça negativamente.
- Eu sei que eu fui um idiota, eu não devia ter feito isso. Eu nunca deveria ter trocado o que eu realmente sentia por uma utopia. A Sara e eu nunca iríamos dar certo e...
- Então é isso? Eu sou sua reserva? Se com a Sara desse certo você nem se importaria comigo? – o interrompi.
- Claro que não. – ele chegou mais perto. – Quando eu desliguei, eu chorei até dormir pensando em você, e Sara não entendia o porquê. Disse que não iria dar certo, que eu já estava gostando de outra pessoa. É você quem eu quero, . Você é quem eu esperei toda a minha vida. Eu sei que é exagero, porque nós mal nos conhecemos. Mas o que nós temos é tão... – encostou a testa na minha e sorriu. – Intenso que parece que nos conhecemos há séculos.
- Quem sabe em outras vidas? – sorri, sendo irônica.
- Não brinque com isso, eu estou falando sério. – o silêncio se instalou depois disso. Pensei se realmente valia a pena ficar com ele. Mas não precisava pensar, eu já sabia a resposta.
- Se você me machucar, , ou mentir pra mim... Eu te mato, eu juro que te mato. – o abracei fortemente.
- Eu juro, eu juro! – Me rodou no ar e me beijou. – Tenho uma surpresa pra você. – Tirou do bolso do paletó um envelope branco e me entregou.
- Duas passagens para Paris? – dei um gritinho, surpresa.
- Feliz dia dos namorados. – ele disse, me entregando o buquê de begônias e me levando no colo até seu carro. Quem diria que o dia dos namorados pudesse se tornar tão divertido assim, até mesmo para mim. Então eu recomeçaria uma nova vida, mas dessa vez não seria uma vida que odiasse amor. Seria uma vida que deixasse o amor tomar conta do meu ser. Porque no final, eu acabei me tornando aquilo que eu mais odiava: uma namorada em um relacionamento meloso. Meloso não é ridículo, é estar apaixonado.
FIM
n/a: GENTE! Eu escrevi essa fic em quatro dias, se estiver uma droga por favor me perdoem! Haha
Quero agradecer primeiramente a beta linda que é a Mel, por ser um amor e sempre estar aqui quando eu preciso.
À todos que leram a fic, muito obrigada por ler! Comentem, se puderem. Isso me fará muito feliz.
A minha amiga Patrícia, que sempre esteve aqui por mim. Paula, Bruna, Camila, Carla e Clarinha também estão inclusas. Obrigadas por serem as melhores pessoas ao entrar na minha vida. Twitter
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