One Drink Away
História por Ale Santarosa | Revisão por Gabriella


But the alcohol made its way down
She was the last thing that I saw last night
before I hit the ground.


12:45am. Festa do time de futebol.

As pessoas não perceberam quando o garoto mais bêbado da festa passou pelos amigos, dançando e gritando coisas sem sentido depois de tomar quase duas garrafas de vodka e sabe-se lá mais o que sozinho. Não perceberam quando, sem ajuda de ninguém, ele subiu na mesa de sinuca atrapalhando uma partida e tentou falar algo ininteligível enquanto tropeçava em si mesmo e tentava administrar o sono com a confusão que invadia sua cabeça. Só sabia que tinha uma coisa a fazer. Na verdade, ninguém estava prestando muita atenção nele. A festa do ano estava acontecendo e um vexame de bêbado era mais do que normal para uma festa de colegial.
O grupo que estava jogando reclamou e tentou tirar ele de cima, mas um deles pediu silêncio para saber o que era tão importante para o garoto conhecido como “daquela banda lá” subir numa mesa de sinuca na festa do time de futebol.
O garoto “daquela banda lá” era . Não tinha um histórico de vexames alcóolicos, mas nunca tinha sido o sóbrio da festa. Ultimamente, as pessoas comentavam que ele estava diferente. Colocavam a culpa até nas drogas que ele não usava – além do cigarro de sempre –, quando não sabiam mais o que inventar.
- Eu... Tenho algo a dizer! – Ele gritou tão alto de cima da mesa onde estava, que as pessoas pararam de dançar e ficaram observando. Algumas rindo da cena, outras preocupadas com seu estado e outras curiosas com o que ele tinha a dizer. No final eram todos um bando de urubus procurando a mais nova carniça.
Ele cambaleou mais uma vez e esperou o silêncio, tentando se manter em pé, apoiado em um taco de sinuca fornecido por um jogador.
Os amigos de banda e de escola se aproximaram da mesa. ria descontroladamente da cena junto com , e estavam bêbadas demais para perceber que a música tinha parado de tocar, por isso dançavam sozinhas em slow motion. não parecia muito seguro do que ia acontecer, por isso tinha tentado se manter sóbrio a noite inteira. Sabia que serviria para alguma coisa no final. Abrindo caminho no meio das pessoas, apareceu bem na frente dele.
- Que merda você está fazendo, ? – Ela se aproximou e gritou para ele, já arrependida de ter aceitado o tal convite.
No dia anterior, tinha aparecido no armário de na escola, o que a deixou bem surpresa, e disse que ia ter uma festa no fim de semana. Disse que todos iriam e que seria a festa do ano. Ela não viu problema nisso, sabia disso há tempos por .
Até que ele a chamou para ir com ele.
Tudo o que ela conseguiu pensar foi “Por que diabos está me chamando para ir à festa do time de futebol com ele se a gente só começou a se falar há alguns meses só porque temos amigos em comum?”. E tudo o que ela conseguiu dizer foi “Claro, vai ser legal”.
E ali estava o resultado. Ele bêbado em cima da mesa de sinuca e ela sozinha na festa, já que suas amigas estavam ocupadas ficando tão bêbadas quanto ele.
Naquelas condições, ele não deveria dizer algo muito são, mas ela quis ouvir mesmo assim.
- ! Eu... Quero falar uma coisa! – Ele engasgou com a mão levantada, querendo chamar atenção para si mesmo. – Eu... – Antes de terminar o que tinha a dizer, se abaixou e vomitou sobre seus próprios sapatos.


12:50am. Festa do time de futebol.

- Sai da frente, sai da frente! – Ela gritou para as pessoas enquanto arrastava ele para fora da festa e ajudava do outro lado. falava coisas emboladas que ninguém entendia e quando chegaram à calçada, vomitou de novo.
suspirou, sabendo que aquilo iria acontecer. Desde que ele tinha falado que ia naquela festa e a ideia idiota que teve, ele sabia que não ia dar certo.
- O que vamos fazer com ele? – perguntou, segurando o braço do amigo.
- Vou levar ele pra minha casa. Aqui ele não pode ficar e levar pro hospital é maluquice. E eu não sei mais pra onde podemos ir. – Ela suspirou. – Meu irmão está com a namorada e minha mãe está na casa da minha avó até o fim da semana, logo, ele vai pra minha casa. – respondeu, tentando evitar que pisasse no próprio vômito.
Aquilo embrulhava seu estômago, mas não fraquejaria agora. Se ela vomitasse também, aí tudo estaria perdido.
Ela sabia que metade da festa estava ali do lado de fora assistindo o papelão do ano estrelado por . E ela de coadjuvante, fazendo o papel da amiga idiota enquanto o resto das suas amigas estavam do lado de dentro dançando sem se importar com o resto. Por que ela tinha sempre que bancar a idiota preocupada?
- Você mora longe daqui, . É melhor levar ele pra casa dele, é mais perto e dá pra irmos a pé. – sugeriu.
- E os pais dele? Eles não podem ver ele assim nem pintado de ouro. – Ela argumentou.
- Eles tão... – tentou responder, mas cambaleou e teve que ser segurado.
- Eles estão viajando. Só a irmã dele está em casa e ela certamente pode ajudar.
- É o jeito então. – Suspirou sem opções e os dois começaram a arrastar o garoto rua abaixo.


1:25am. Casa do .

- , você tem certeza que ela está em casa? Está tudo escuro e ela não responde. – apertou a campainha mais três vezes, impaciente. – Às vezes ela saiu escondida pra aprontar uma. – Murmurou.
- A última pessoa que faria isso é a . – ajudou a sentar na calçada e respirou o ar frio da madrugada, imaginando que irônico seria ver a irmã de doze anos mais certinha da face da terra fugindo de casa à noite. tinha vomitado mais uma vez no caminho e seus olhos estavam vermelhos agora.
- Ele não parece muito bem, será que ele vai ter um ataque ou alguma coisa assim? – Ela perguntou parando na frente dele e batendo a mão no rosto dele. reclamou e ela decidiu afrouxar suas roupas, conforme tinha aprendido na aula de primeiros socorros.
Eram três da manhã e estava do lado de fora da casa da porra do bêbado, com a super impaciente, esperando uma garota de 12 anos abrir a porta naquele frio desgraçado.
O que ele tinha feito pra merecer isso? Podia estar na festa neste exato momento com , mas não, ali estava ele.
Ouviram um barulho de porta abrindo e uma menina pequena e delicada saiu de pijamas para o jardim com um taco de golfe em mãos. Ela cerrou os olhos na escuridão, quando viu os três abaixou o taco e correu para abrir o portão.
- O que diabos estão fazendo aqui? Não era pra essa peste dormir na sua casa, ? – Ela perguntou confusa.
- Erros de percurso. , essa é a e ela tá aqui pra ajudar porque a peste tá passando mais mal do que eu quando comi aquele balde de frango frito sem fritar. – Ele murmurou.
- Porra. – Ela arregalou os olhos. – Entrem logo. – Ela deixou os dois passarem carregando meio inconsciente já. – A próxima vez que essa peste aparecer assim aqui em casa, vou deixar morrendo na calçada! – Ela advertiu.
Eles entraram na casa juntos e, assim que a porta bateu, caiu no chão, inerte e sem respirar.


2:37am. London Bridge Hospital.

’s POV

- Bom, agora ele está fora de perigo porque estamos colocando glicose nele, via intravenosa. – O médico falou assim que entrou na sala de espera onde , eu e uma ainda de pijama esperávamos. – Esse garoto tomou um belo de um porre, hein? Sorte que não foi dos piores. Poderia ter parado na UTI em coma alcóolico e aí a coisa teria ficado feia. – Ele murmurou, checando a ficha em mãos. – Vamos deixá-lo em observação até hoje a tarde no mínimo. Ele só deve acordar mesmo depois das três da tarde, até porque temos que eliminar todo o álcool do sangue dele. Sorte que vocês trouxeram ele a tempo, ou teria morrido por insuficiência respiratória ou sofrido algum dano cerebral. – Discursou e arregalou os olhos. – Ele está no soro e na glicose agora, e dormindo igual uma pedra. – Ele riu sozinho, porque ninguém mais achou graça. – Me acompanhem até o quarto dele e verão. – Ele saiu andando e nós três tivemos que o acompanhar até a porta do quarto no fim do corredor. O médico se despediu e saiu do quarto, nos deixando sozinhos.
rolou os olhos quando viu na cama, cheio de tubos e fios colados em si, e suspirou. Nenhum deles queria estar ali tanto quanto eu. Se eu fosse ou , teria largado ele em cima da mesa de sinuca e ido embora sem olhar para trás. Mas parece que eu tinha um fraco por tragédias. parecia péssimo. - Bom, se virem com ele depois, porque eu já cansei. – resmungou e saiu do quarto em direção à cafeteria. suspirou e concordou.
- Agora que ele está bem, vamos voltar pra festa? Aposto que tem gente igual a ele neste exato momento e ninguém se importa muito. – sugeriu e eu sabia que ele estava louco para voltar por outro motivo.
Olhei para o garoto cheio de fios e mordi o lábio inferior.
O mundo inteiro sabia que eu ficaria. Menos ele.
- Se você quiser voltar... Eu acho que vou ficar. – Murmurei. – Não sei se é uma boa ideia deixar ele sozinho no hospital... Se puder avisar e , elas nem devem ter me visto saindo de lá.
- Se acha melhor... – Ele começou a andar para a porta e eu o segui. Andamos pelo corredor e encontramos com dois copos de café na mão.
- Aceitam café? – Ela perguntou meio entediada.
- Não. Estou voltando pra festa agora, mas obrigado mesmo assim. – Ele deu um beijo em sua testa e se dirigiu ao elevador.
Eu fiquei parada no mesmo lugar.
- Voltando? – Ela perguntou meio assustada. – Vocês vão mesmo me deixar sozinha com aquele monte de bosta? – Ela reclamou.
- Sim. Mas a vai ficar por perto. – piscou para ela.
- Não, assim fica melhor. – Ela sorriu e foi até a porta do elevador.
- Boa sorte, . – Ele piscou de novo e saiu.
se virou para mim assim que fechou a porta e sorriu.
- Eu espero não estar incomodando, sério mesmo. Se quiser que eu vá... Eu posso ir e... – Comecei a falar, mas ela me interrompeu com gestos com as mãos.
- Nem pensar, não acho seguro eu ficar sozinha com aquela anta em um hospital desse tamanho... Olha, se quiser ficar aqui na sala de espera vendo TV, pode ficar a vontade. Tem um monte de coisa na cafeteria se tiver com fome porque eu já chequei... Mas se quiser ir pro quarto do também, ele nem vai perceber. Ah. Eu vou pro sofá do quarto dele porque estou morrendo de sono. Qualquer coisa me chama. – acenou e andou de volta para o quarto dele.
Ótimo. E agora?


2:59am. London Bridge Hospital.

suspirou e ficou observando o corredor. Decidiu ir para o quarto, se jogar na poltrona que tinha do outro lado do quarto e ficar observando os dois irmãos dormirem até que pudesse ter certeza que podia ir embora. Mesmo achando que só acordaria à tarde. Estava metida na pior confusão que havia visto e estava perdendo a festa do ano pra cuidar de um bêbado.
Não ligava de qualquer forma.
- Sou mesmo uma idiota. – Suspirou.
Tirou os sapatos de salto alto, que estavam doendo seus pés já, apagou a luz do quarto e acendeu a luminária na mesinha ao lado da cama. Foi até a janela e abriu as cortinas pela metade, da onde podia ter uma vista para a cidade bem bacana. Abriu uma fresta da janela e sentiu um vento ótimo. Sentiu o sono bater. Tudo o que queria fazer era cair na sua cama e dormir até o dia seguinte e esquecer que algum dia aquilo tinha acontecido. Mas se dormisse, qual seria o sentido de estar ali?
Se jogou na poltrona do outro lado e com um livro encontrado no meio de uma pilha de revistas velhas, ficou esperando.


7:48am. London Bridge Hospital.

- ! – Ele gritou horas depois.
Ela largou o livro, assustada, e olhou para . Ele virou para o lado e voltou a dormir, enroscado nos fios.
- Você sabe que ele não vai acordar tão cedo, né? – falou da porta. se assustou de novo quando a garota apareceu na porta do quarto. – Antes de meio-dia ele não volta. É sempre assim. – Ela murmurou. – Por acaso, tem uma sacola ali com roupas, se quiser trocar. Acho que tem um casaco do que serve em você, já que as minhas não dão.
tinha acordado e nem tinha percebido. Que perceptiva ela.
- É, acho que sim. – Ela respondeu meio envergonhada ao perceber que sua presença ali era inútil. – Obrigada mesmo assim.
As duas se entreolharam por um tempo e depois pousaram seus olhos em .
- Você não está aqui porque está preocupada com a gente. – disse. E aquilo não era uma pergunta.
- Acho que não tem como mentir para você. – sorriu tristemente.
- Engraçado como nunca ouvi falar de você. – falou, pensativa.
- Talvez não tivesse nada para falar de mim. – Ela murmurou, pensando que talvez só a tivesse chamado para a festa para rir da cara dela.
- Ah, se ele nunca falou, é porque certamente tem. – A irmã piscou para ela e saiu da porta do quarto.
se enrolou na poltrona depois de vestir o casaco de e ficou pensando sobre o que falou, até que caiu no sono sem querer.


5:10am. London Bridge Hospital.

acordou, tonto e com a maior dor de cabeça que já teve. Segundo seu pai, essa era a lição básica para tomar um porre: a dor de cabeça. Devia ter ouvido o sábio papai , porque agora se encontrava na pior ressaca da história e tudo por causa de uma garota e uma festa idiota.
Olhou ao redor e viu que não estava em casa, como pensou. Estava num hospital, cheio de fios ligados ao seu corpo e parecia respirar por um tubo. Que porra tinha acontecido ali? Ele tinha morrido ou algo do tipo? Coçou os olhos, sentindo a dor de cabeça aumentar; tentou se sentar, mas os fios não permitiam a posição se tornar confortável. Tinha até um monitor cardíaco ali. Será que ele tinha quase morrido mesmo?
Quando olhou para o lado, deu de cara com , enrolada em si mesma na poltrona ao lado de sua cama com o livro fechado no colo, adormecida. estava ali? Por quê? Onde estava ? Aquele veado de merda tinha prometido que ia ficar de olho nele caso algo desse errado.
Não sabia como podia estar ali, mas gostava da ideia. Ia chamá-la, mas não quis estragar o momento. Ela era a coisa mais bonita que ele tinha visto nas últimas vinte e quatro horas. E ela pareceu perceber que ele tinha retomado consciência, pois abriu os olhos algum tempo depois e pareceu surpresa ao vê-lo de olhos abertos.
Ela levantou da poltrona na hora e foi se sentar na beirada da cama, ficando mais perto dele.
- Hey. – Ele disse com um sorriso maroto para ela.
Sua voz saiu rouca pela recente falta de uso. Não sabia nem como conseguia falar. Decidiu arrancar aquele tubo do nariz dele e foi uma sábia escolha. Agora não parecia um retardado falando.
- Hey? – Ela ergueu a sobrancelha para ele, com uma expressão de desdém. – Hey?
- Ahn, é. Hey. – Ele murmurou ainda com o sorriso travesso no rosto, como se fosse normal acordar num quarto de hospital.
- É isso que você fala para mim depois que eu passei vinte e quatro horas aqui enquanto você estava em COMA ALCÓOLICO? – Ela ergueu o tom de voz e pareceu ameaçadora para quem olhava de baixo. Ele arregalou os olhos, assustado com a reação da garota.
- , eu acabei de acordar. – Ele respondeu confuso. – Eu não...
- Foda-se! – Ela o interrompeu. – Seu filho da puta! – Ela socou o ombro dele, querendo por pra fora a raiva que sentia dele naquele momento. – Você achou bonito tomar um porre estilo Lindsay Lohan? Achou legal como você me deixou desesperada quando desmaiou no meio da sua sala na frente da sua irmã de doze anos?! – Ela ergueu as mãos e o empurrou, praticamente espumando de raiva.
- , calma! – Ele pediu, surpreso com o ataque dela.
– Você é um filho da puta desgraçado que acha que, só porque eu sou uma boba, você pode me fazer de idiota! – Ela gritou e ele notou que os olhos dela cintilavam, com lágrimas se formando, mesmo que ela continuasse gritando. – Você acha que só porque eu gosto de você pode me tratar igual uma tola? VOCÊ ACHA, ? – Continuou socando o ombro dele até que ele agarrou os pulsos dela, tentando se defender dos ataques.
- , se acalma!
- ME SOLTA, ! – Ela gritou e as lágrimas finalmente escorreram dos seus olhos pelo seu rosto, mostrando o quanto ela estava indefesa por dentro. – Você achou bonito beber duas garrafas de vodka e me deixar sozinha naquela festa e ainda vomitar nos sapatos do ?! – Ela berrou. Provavelmente as pessoas do corredor já estavam ouvindo o escândalo dela, isso causou risos em e ele não aguentou a imagem dele vomitando nos sapatos do metido do . Começou a gargalhar e ficou mais irritada ainda, continuando socando ele sem obter resultados.
- Para de rir, ! – Ela chorou.
Ele percebeu que não tinha outra forma de acalmá-la e de fazê-la parar de gritar. Ignorando os fios se soltando de seu abdômen e o barulho do monitor cardíaco, puxou pelos pulsos e a beijou.


5:20am. London Bridge Hospital.


O Dr. Conrad já estava acostumado com adolescentes em pré-estado de coma dando entrada na sua ala do hospital. Ele sabia que, infelizmente, os tempos haviam mudado e os jovens não entendiam que se bebessem além da cota – que deveria ser nada – podiam correr risco de vida. Mas apesar disso, o médico tinha orgulho de dizer que todos que passaram por ele, se recuperaram em um período de menos de quarenta e oito horas e nunca tiveram uma sequela sequer, graças ao trabalho dedicado dele e de sua equipe bem treinada. Por isso, quando estava na recepção do hospital com mais duas enfermeiras e o alarme de emergência do quarto 8219 começou a disparar, ele ficou sem entender como um rapagão daquele que tinha dado entrada, pudesse ter tido um ataque cardíaco ou algo do tipo para o seu monitor cardíaco atingir o número zero de batimentos. Ele e as enfermeiras se entreolharam e dispararam em direção do quarto. Quando chegaram lá, ele pode constatar o barulho contínuo do monitor, dizendo que o paciente estava morto.
- Enfermeira Julie, corra e pegue o desfibrilador! Vamos tentar reanimá-lo! – Ele gritou para a mulher e entrou no quarto. Viu que a namorada do garoto estava ajoelhada ao seu lado na cama, provavelmente tentando trazer ele de volta.
Ele deu outro passo em direção à cama e então percebeu que algo estava errado. A garota não estava tentando reanimar o namorado.
Ela estava beijando ele.
E ele não estava morto. Ele estava beijando ela de volta.
E nenhum dos dois parecia perceber a presença deles ali, porque continuaram se beijando sem nem parar para respirar.
A enfermeira Julie invadiu o quarto com o desfibrilador no mesmo instante e bateu de frente com o médico e com a outra enfermeira, fazendo os três caírem no chão com o carrinho por cima. O casal se separou e olhou para o médico quando estava se levantando do chão, ainda surpreso com a cena. Então reparou que o fio que ligava o rapaz ao monitor cardíaco estava solto de seu peito e ele sabia muito bem por que.
Os dois olharam para ele, sem jeito.
- Wow. Dr. Conrad. – A garota disse, se ajeitando.
- Bem. – Ele disse. – Acho que esse paciente já pode ir para casa. – Ele suspirou para as enfermeiras.


6:00am. Casa do .

’s POV


- está em casa? – perguntou quando entramos na sala escura da sua casa, me fazendo lembrar da noite passada. Fechei a porta atrás de mim e, mesmo querendo ajudá-lo a ir até o sofá, ele parecia tão bem que recusou minha ajuda.
- Não. Mandei ela para a casa da , que tem uma irmã da mesma idade. – Respondi, acendendo as luzes e o seguindo até o sofá, onde nos jogamos, cansados. Ele ficou me fitando por um bom tempo, até que virei para ele e rolei os olhos. – O que foi, ? – Perguntei entediada.
- Você disse que gostava de mim. – Ele comentou com um sorriso nos lábios. Senti meu estômago embrulhar ao me lembrar do escândalo que eu fiz no hospital e a vergonha que passamos ao sermos pegos no flagra pelo médico, depois que eu tinha jurado que não era nada meu.
- E você disse que não ia beber demais. – Rebati, sem querer ir para o assunto em que eu era encurralada e admitia gostar dele. Além do mais, acho que isso já estava óbvio depois do que tinha acontecido no hospital e no táxi de volta para a casa dele, onde ele não tirava as mãos de mim – e a boca da minha.
Ele me puxou para mais perto pelas pernas e se aproximou de mim.
- Vamos assistir TV. – Avisei, apontando para o controle perto dele.
- Ótimo. Quer ver o quê? Porque a essa hora, só vai ter filme pornô e desenho repetido. – Ele murmurou me provocando.
- Apesar de ser tentador, desenho, por favor. – Sorri para ele e ele me olhou do jeito mais pervertido possível.
Deus, tínhamos 17 anos, como era possível sermos tão pervertidos?
- Tem certeza? – Ele insistiu e eu rolei os olhos.
- Cala a boca, . – Resmunguei.
- Só se você vier calar. – Ele rebateu e eu fiz dedo para ele, causando risos.
- Pode se afastar, você ainda está em recuperação. – Murmurei, ignorando os arrepios que ele deixava na minha pele.
- Não ligo mais. Não vou morrer mesmo. – Ele riu, mordendo a minha orelha.
- Eu devia ter te deixado caído no meio da festa pra ver se aprendia. – Disse orgulhosa, virando o rosto para longe dele.
- Você não faria. – Ele disse contra o meu pescoço.
- Faria. – Ergui o nariz, mantendo a pose.
- Deixaria o time de futebol me pisotear? – Ele perguntou.
- Sim. Principalmente o quarterback. – Ergui uma sobrancelha para sua cara indignada.
- Ouch. Isso iria doer. – Ele brincou.
- Vai à merda, vai. – Respondi, me encolhendo quando ele me puxou para o colo dele.
- Você é incrível. – Ele disse com um sorriso, quebrando a parede que eu tinha construído entre nós e mantendo seus olhos maravilhosos na mesma reta dos meus. Ele encostou nossas testas, mantendo o contato visual, enquanto corria seus dedos pelo meu braço, passando pelo meu ombro e parando no meu rosto. Acabei fechando os olhos e deixando ele me beijar com calma e simplicidade.
O beijo foi se tornando mais intenso com o tempo e ele foi se inclinando cada vez mais sobre mim, encaixando seu corpo sobre o meu no sofá da mãe dele.
- ... – Reclamei, separando nossos lábios e buscando ar onde não havia.
- Shiu. – Ele ignorou meus protestos e me beijou de novo.
Tá, admito que eu estava louca pra fazer isso, mas não imaginava que seria tão fácil. Eu não imaginava que sofria de atração por mim tanto quanto eu sofria por ele, afinal, a gente mal se falava até pouco tempo atrás e até dois dias atrás éramos bons amigos que conversavam sobre a banda dele e o meu clube de culinária. E agora estávamos no sofá da casa dele, sozinhos, num momento mais quente do que os meus sonhos eróticos com o Chris Evans usando aquela roupa do Avengers e eu sentia que as coisas só iriam esquentar. Pelo menos Deus foi bom comigo e eu estava usando uma lingerie aceitável.
Ele passou as mãos pela minha cintura, desvendando meu corpo, me fazendo respirar em lufadas de ar. Coloquei as mãos por baixo de sua camisa, fazendo seu abdômen se contrair ao meu toque e eu mordi o lábio ao perceber o quanto ele era gostoso. Senti que, diferente dele, eu estava indecisa sobre o que fazer, por isso decidi agir de vez. Puxei a barra da sua camiseta para cima e nos livrei da primeira peça de roupa. Enrosquei minhas pernas em sua cintura e rolei por cima dele até ficar sentada, facilitando a sua vez de tirar minha blusa. Ele continuou me explorando com as mãos enquanto misturávamos nossos gostos e eu sentia meu corpo se contrair a cada toque dele, aumentando a onda de calor entre nós.
- Ainda quer falar alguma coisa? – Ele sussurrou no meu ouvido, certo de que meus protestos estariam dissipados àquela altura do campeonato.
Errado.
- Sim. – Respondi. – A gente não pode transar no sofá da sua mãe, é estranho. – Murmurei no ouvido dele e ele gargalhou.
- Quem disse que a gente iria? – Ele falou e me fez erguer a sobrancelha.
- O que você quer dizer? – Perguntei, sem querer parecer chocada com a informação. Depois de tanto calor ele queria parar? Meu filho, quando eu começo, eu não paro não!
- Se segura. – Ele sussurrou de novo e segurou minha bunda propositalmente – aproveitando para tirar uma casquinha –, me levantando do sofá e grudando nossas bocas de novo. Enrosquei minhas pernas em sua cintura e me perguntei se ele me levaria pro quarto dele, mas fiquei mais confusa ainda quando ele nos direcionou para a cozinha e me sentou na bancada de granito no centro do ambiente. Ergui a sobrancelha de novo para ele. – Estou com fome. – Ele brincou e eu bufei, incrédula.
- Tá falando sério, ? – Resmunguei quando ele me soltou e foi para a geladeira. Ele acenou com a cabeça, rindo, e tirou um pedaço de torta de lá, colocou na bancada e sentou para comer. – Ótimo, então. Aproveite sua torta que eu vou para casa. – Avisei descendo do balcão e ele abriu a boca, em protesto. E então uma ideia brotou em minha cabeça. – Vou... Sem sutiã. – Cantarolei abrindo o fecho nas minhas costas e jogando a peça nele antes de sair da cozinha só de calça jeans.
Vi de relance seus olhos se erguerem para as minhas costas nuas. Sorri satisfeita e voltei para a sala, procurando minha blusa. Não demorou muito e ele apareceu atrás de mim, me pegando pelas pernas e me jogando nas suas costas.
- Você fica. – Ele falou indo em direção às escadas.
- E a sua torta? – Perguntei em um tom divertido.
- Não estou mais com fome. – Ele respondeu e eu gargalhei. Ele entrou no corredor do quartos e, empurrando a porta do seu com o pé, me colocou no chão e me jogou contra a parede.
- Belo truque. – Ele murmurou, colando seu corpo contra o meu, contornando minha cintura com as mãos e a minha orelha com a língua.
- Eu tenho umas cartas na manga. – Respondi com um sorriso nos lábios. Sem ele perceber, desabotoei o cinto da sua calça e fiz ela cair aos seus pés.
- Aposto. – Ele riu, abrindo minha calça.
Você ainda não viu nada, pensei.

12:15am. Casa do .

- ? – Ele a chamou pelo apelido quando acordou, tateando a cama em busca da pele quente dela e encontrando apenas lençóis gelados. Suspirou, desejando mentalmente que ela não tivesse ido embora, porque ficar sozinho não era mais uma opção considerável depois do que aconteceu aquela manhã.
Saboreando cada lembrança que lhe vinha à cabeça, teve uma certeza: era a garota certa. E ele teria que trabalhar duro para mantê-la por perto. Sabia disso. Mas faria isso se fosse necessário.
Sentou na cama, coçando os olhos e sentindo, mais uma vez, outra dor de cabeça. Não era para essa merda ter passado?
Olhou para frente e ela estava sentada na poltrona que tinha em seu quarto, usando apenas uma camiseta sua, com um sorriso cansado de fim do dia.
- Hey. – Ele falou, contente em vê-la.
Ela sorriu para ele e apontou com a cabeça para o banheiro. Ele entendeu e depois de vestir sua boxer, entrou para escovar os dentes. O espelho denunciava sua cara de mendigo de esquina depois de três dias enrolado no jornal. Um bêbado pervertido, mas de uma forma menos pedófila. Lavou o rosto e bagunçou o cabelo, depois saiu do banheiro. Ela não estava na poltrona, estava entrando no quarto com um copo d’água na mão. Ele se sentiu desapontado por ela estar usando uma camiseta. Mas era uma camiseta sua, aquilo tornava tudo melhor e mais sexy.
- Tem uma cartela de remédio para dor de cabeça ali se quiser... – Ela começou a falar, entregando o copo d’água pra ele enquanto encarava seu abdômen sem camisa.
- Acho que preciso de uns dois. – Ele pegou o copo e bebeu um pouco, indeciso sobre o que fazer ou o que falar.
Quer dizer, será que as coisas estavam as mesmas desde seis horas atrás, quando ela jogou um sutiã nele na cozinha? E, por acaso, aquilo foi sexy ao extremo. Ele nunca tinha ficado tão excitado por qualquer outra garota daquela forma. tinha um controle sobre ele.
Mas ela não podia saber disso.
Ela sentou na cama ao lado dele e ficou olhando para o teto.
- Você não lembra o que aconteceu né? – Ela perguntou rindo, depois de um tempo.
- O quê? De hoje de manhã? – Ele olhou confuso para ela. – Claro que eu lembro. Eu só... – Ele se engasgou, nervoso, e ela riu.
- Não. Estou falando da festa. Você se lembra de alguma coisa? – Perguntou para ele, pegando sua mão de lado e entrelaçando seus dedos.
Assim que ela fez isso, ele sentiu que sim, as coisas estavam as mesmas desde seis horas atrás quando ela jogou um sutiã nele na cozinha.
- Não. – Ele mentiu. – Só espero que não tenha sido muito vergonhoso... – Murmurou.
- Você bebeu umas duas garrafas de vodka, subiu numa mesa, começou a gritar coisas, vomitou nos seus próprios sapatos, eu e te tiramos de lá e você continuou assim até chegar aqui e entrar em pré-estado de coma. E ai? – Ela comentou divertida.
- Eu imaginava pior. Algo como strip tease. – Ele respondeu.
- Eu e salvamos os convidados disso. – zombou e ele rolou os olhos.
- Onde está ? – Se perguntou se alguém tinha alimentado a garota ao menos. Seus pais deveriam estar chegando e ele nem sabia onde sua irmã mais nova estava. Que exemplo de irmão ele era.
- No quarto dela, dormindo. – Ela murmurou. – A trouxe ela enquanto dormíamos. Só espero que ela não tenha reparado nas... Roupas... Jogadas por aí. – Ela corou de vergonha e ele riu do jeito dela.
- Então, que tal darmos um pulinho na cozinha? Estou com fome desde ontem. – Ele frisou, levantando da cama e a puxando junto com ele.
- Realmente, o álcool não alimenta, apesar de crescer barrigas. – Ela respondeu sarcástica, vestindo a calça jeans às pressas.
- Vocês salvaram os convidados ou os privaram disto? – Ele apontou para seu abdômen definido e ela rolou os olhos, saindo na frente, mas sendo impedida pelos braços dele que a agarraram por trás e por seus lábios que depositavam beijos no pescoço dela enquanto eles tropeçavam escadas abaixo.

12:25am. Casa do .

’s POV


- Me passa mais maionese. – Ele pediu, montando um sanduíche monstruoso no prato, que incluía Oreos, mostarda, maionese, Doritos e Gummy Bear.
- Isso é nojento, você sabe, né? – Comentei, sentada na bancada, agora usando meus jeans, meu sutiã de volta – achado no chão – e a sua camiseta favorita dos Beatles.
- Não é não. – Ele sorriu, enfiando o sanduíche na boca e mastigando na minha frente só para me provocar.
- Eca, sai daqui. – Reclamei e ele riu, engolindo o resto e chegando perto de mim. – Não, sai, você não vai me beijar depois de ter comido isso. – Virei o rosto para evitar seus lábios e ele beijou meu pescoço. E então vi que sua irmã estava parada no batente da porta.
Senti meu rosto ficar vermelho e quis esconder minha cabeça num buraco cavado por mim mesma no mesmo instante. Graças a Deus,, tinha colocado seu jeans também ou as coisas estariam mais estranhas do que já estavam.
- Vejo que melhorou, né. – Ela entrou na cozinha falando com ele. Enquanto isso, eu me encolhia mais ainda.
Que vergonha. Que vergonha. Uma hora eu estava conversando com a menina no hospital sobre uma suposta paixão platônica e na outra eu estava pegando o irmão dela na cozinha da casa dela – depois de ter transado com ele!
Antes de ele responder, ela pegou uma lata de Coca-Cola e saiu da cozinha, piscando de leve para mim em tom de cumplicidade.
- Que vergonha. – Murmurei me encolhendo.
- Lógico que não. – Ele respondeu virando para mim.
- Lógico que sim. – Sussurrei para ele, com medo da garota nos ouvir. – Ela deve me odiar agora.
- Lógico que não. – Ele insistiu.
- Sua irmã está acostumada a ver garotas passando a noite aqui e usando suas roupas pela casa? – Resmunguei, cruzando os braços e erguendo a sobrancelha para ele.
- Na verdade... – Ele falou, fazendo cara de despreocupado e deu de ombros.
Parei de brincar na hora e entendi o que ele quis dizer.
- Ah. Já entendi. – Desci da bancada. – Ela está acostumada. – Rolei os olhos e virei as costas para ele, saindo da cozinha.
Como eu não percebi antes? Era bem típico dele fazer isso e bem da minha natureza ser a idiota para cair nesse joguinho mais velho de todos os tempos. A amiga que se apaixona pelo garoto mais galinha da escola e no primeiro momento que eles tem a sós, ela abaixa a guarda e ele ataca. Porra. Eu deveria ter desconfiado. Era óbvio que eu fui a escolhida da noite pra cuidar de um bêbado em coma alcóolico e depois servir de banquete para ele. Depois de conseguir o que eu queria, levei um belo balde de água fria na cara. Não era à toa que o tom de ao meu redor era tão zombeteiro.
- Perai, você tá indo aonde? – Ele largou o sanduíche no prato e me seguiu, quando percebeu que eu estava me afastando.
- Buscar minha bolsa e meus sapatos. Vou embora. – Falei entrando na sala e encontrando sentada no sofá assistindo TV.
- Ahn, eu vou subir. – Ela murmurou e subiu as escadas correndo depois de desligar a TV. Ignorei a vergonha e peguei minha blusa no chão, minha bolsa do outro lado e os sapatos jogados.
- Por quê? – Ele perguntou parado da porta.
- Porque eu quero. – Respondi sem olhar para trás.
- Você ficou brava? – Ele andou até o sofá. Por dentro eu sabia que não estava lá em cima e, sim, no topo das escadas. ouvindo tudo o que se passava e rindo de mim.
- Não. – Respondi parada no meio da sala e virei para ele. - Mas como você não corre mais risco de coma alcoólico, eu vou embora agora.
- Espera, você ficou chateada com isso? – Ele perguntou confuso.
Homens sempre serão homens. Essa é a explicação para a lerdeza deles de entenderem o que se passa em nossas mentes.
O ignorei e coloquei os sapatos, segurando a vontade de gritar o mais alto que pudesse para ele.
- . Qual foi a última coisa que eu fiz antes de você me tirar da festa? – Ele perguntou sério e eu parei perto da porta.
- Vomitou. – Murmurei.
- Não, antes disso. – Ele pediu.
- Subiu em uma mesa. – Virei para ele.
- Depois. – Ele insistiu com a cabeça.
- Eu... Eu não lembro. – Evitei seus olhos, apenas querendo sair dali.
- Lembra sim. – Ele forçou,, sem tirar os olhos de mim, me fazendo desconfortável de propósito.
Ele esperou.
- Você disse que tinha algo pra falar, para mim. Foi o que eu entendi. – Dei de ombros.
- Sim. Eu tinha. – Ele disse sério.
- Como lembra disso? – Perguntei, sem entender como ele podia se lembrar de um mínimo detalhe como aquele e não se lembrava do resto da noite.
- Porque eu lembro. É a única coisa que lembro. – Ele permaneceu sério. – Agora, o que acha que eu queria falar?
- Não faço ideia. – Não olhei pra ele de novo. Preferia encarar meus pés.
- ...
Ele nem terminou de falar, dei as costas e saí da casa dele em direção à rua.

12:34am. No meio da rua.

- , me escuta! – Ele pediu, saindo da casa atrás dela. Ela não respondeu. Continuou andando rua abaixo sem nem se importar de ir para a calçada.
- Eu achei que estando bêbado era a única maneira de falar o que eu queria falar! – Ele continuou, andando atrás dela. – ! – Ele gritou.
- Menina, escuta ele! – Uma velhinha que passava na calçada falou para ela e quase riu da cena.
Ela fingiu não ouvir. Continuou andando no meio da pista.
- , as coisas não são bem assim! – Ele gritou, andando mais rápido quando ela apressou o próprio passo. – Me escuta antes de me dar as costas! Eu quero conversar com você! – Ele pediu de novo.
- Antes tivesse conversado comigo ontem, antes de transar comigo! – Ela gritou bem alto e as pessoas que passavam na rua ouviram.
- UHHH! – Um bando de homens fazendo churrasco no jardim da frente de uma casa se manifestou, se divertindo com a cena.
- Você não pode ter ficado chateada por uma coisa que já sabia! – argumentou. – Você sabia do meu passado! Mas isso não quer dizer que é a mesma coisa agora!
Ela parou de andar e virou de frente para ele, com uma distância de seis metros entre os dois.
- É, infelizmente eu sabia que você era um galinha filho da puta que só queria dormir comigo porque eu era, provavelmente, a única garota que faltava pra sua lista idiota! E EU FUI MAIS IDIOTA AINDA PORQUE CAÍ NA SUA MESMO SABENDO DISSO! ACHANDO QUE VOCÊ GOSTAVA DE MIM! – Ela gritou mais alto ainda e os homens assoviaram.
- Essa aí vai buscar vingança. – Um comentou.
- Quer uma carninha aí? – O outro ofereceu.
- Opa. Claro. – Aceitou, com os olhos vidrados nos dois jovens.
- É claro que não, ! – insistiu.
A verdade é que estava com medo de perder a melhor pessoa que já tinha aparecido na sua vida. era diferente de todas as outras garotas que ele já tinha namorado ou ficado. Ela era honesta, verdadeira, engraçada, dedicada. Não era boba como afirmava ser. E desde aquele dia em que ele a viu na mesma coisa com seus melhores amigos, ele soube que ela estava ali para ficar.
E perdeu tudo isso porque não soube falar a verdade para ela.
Ela suspirou e balançou a cabeça, o interrompendo.
- Sabe de uma coisa? Eu me esqueci de algo. – Ela falou mais baixo e ele esperou que ela fosse falar algo importante.
jogou a bolsa no chão e tirou a camiseta dele que usava, ficando apenas de sutiã no meio da rua. Jogou a camiseta nele com força e vestiu sua própria blusa, sem se incomodar com a presença dele e de mais vinte pessoas que ora assoviavam ou ficavam totalmente chocadas e de olhos arregalados.
Um garoto que passava de skate na rua, acabou virando para olhar e bateu de frente numa árvore. suspirou e pegou sua bolsa no chão, ignorando a plateia.
- Eu ganhei na mega sena e não estou sabendo, só pode ser! – Um velhinho presente no churrasco comentou.
Ela deu um sorrisinho para e continuou andando, sem querer mais saber dele ou de qualquer outro homem fazendo churrasco naquela rua.
Não demorou muito para ele se manifestar.
- , espera! Por favor! – Ele pediu.
Ela ignorou, segurando as lágrimas se formando em seus olhos.
- PORRA, GAROTA. PARA POR UM SEGUNDO E VÊ SE ME ESCUTA! – Ele gritou da onde estava parado e ela parou de andar na hora, com as lágrimas escorrendo. – DÁ PRA VOCÊ ENTENDER, QUE NAQUELA FESTA IDIOTA, O QUE EU ESTAVA TENTANDO DIZER É QUE EU ESTOU APAIXONADO POR VOCÊ?! – Ele gritou o mais alto que pôde e a quadra inteira deve ter ouvido.
- Uhul, time do garoto apaixonado! – A velhinha da calçada gritou.
- Completamente apaixonado por você! Você entendeu?! Estou no meio da rua, em Londres, com um bando de velhos assistindo a gente – Um “Wow, calma aí meu jovem” foi ouvido da cerca do churrasco –, e estou dizendo que tudo o que eu fiz é porque eu sou louco por você! – Ele gritou o mais alto que pôde e era provável a participação até de e dos vizinhos no diálogo naquele momento.
Houve um silêncio, onde ninguém ousou falar, nem mesmo a velhinha. Ambos só podiam ouvir seus corações batendo desesperadamente.
E alguns latidos de cachorros.
- Mas parece que nem precisei falar, porque você me ajudou nisso. – Ele falou mais baixo e ela quase se assustou quando percebeu que ele tinha se aproximado dela sem ela notar.
- Desde quando? – apenas perguntou, rolando os olhos, tentando disfarçar sua surpresa e tentando secar as lágrimas.
Se virou para ele e encontrou seus olhos. Parecia frágil novamente.
Uma plateia se formava para assistir a cena final. A carne estava queimando porque ninguém ousava tirar os olhos dos dois para checar o churrasco e a velhinha agora fazia o caminho contrário só para chegar mais perto deles.
- Faz algum tempo. Desde que as garotas começaram a chamar você para sair com a gente. Mas nunca consegui admitir porque acabamos virando amigos. E talvez porque você não fosse aceitar ser mais que isso. – Ele respondeu, mais tranquilo com suas palavras, olhando nos olhos dela. – Eu não sou o tipo de cara que faz isso, mas eu achei que, estando fora de mim, eu conseguiria dizer melhor. Bêbados falam a verdade, certo? Eles se expressam melhor. E acabei exagerando na dose porque sou idiota e ao invés de ter simplesmente ficado com você na festa, pus tudo a perder para tentar perder o medo de te falar a verdade. – Ele falou baixo.
- Alguém aí quer mais torta?! – A mulher de um dos homens do churrasco entrou no jardim com uma bandeja de torta holandesa quando foi brutalmente interrompida pelo pedido de silêncio dos homens que queriam tentavam ouvir o que eles falavam.
Apenas silêncio de novo da parte de .
- É sério, , eu tô aqui abrindo meu coração e você fica me olhando com essa cara de assassina mesmo depois de tudo o que eu falei. – pediu, cansado de esperar por uma resposta.
- , eu... – Ela falou meio indecisa se era a coisa certa perdoá-lo ali mesmo, naquele instante, sem pensar antes.
Quer dizer, tanta coisa tinha acontecido nas últimas vinte e quatro horas. Ela nem tinha contado para as amigas, seus pais nem deviam saber onde ela estava e agora um garoto que ela sempre julgou ser “aquele daquela banda” estava ali, na frente dela, no meio da rua, declarando que era completamente apaixonado por ela.
Como ela nunca tinha reparado isso antes? Ela também era apaixonada por ele! Como eles nunca perceberam isso antes?! Será que ele era mesmo tudo isso que dizia? Será que ela não iria cair de novo em outra mentira sem fundo?
- Eu não sei o que dizer. – Ela falou para ele.
- Fala que também ama ele! – A velhinha gritou.
- Escute a velha! Perdoa ele! – Um homem com um garfo na mão gritou também, apontando o talher para os dois.
acabou rindo da cena e chegou mais perto.
- Anda logo, garota, a carne está queimando!
riu dessa vez e buscou a mão de .
- O que acha? Devemos ouvir os mais velhos, certo? – Ele murmurou para ela.
Ela encarou os dedos entrelaçados e olhou em seus olhos de novo.
- Ok, vai. Cala a boca e me beija. – Ela soltou um suspiro vencido.
Sob uma salva de aplausos, jogou sua camiseta no chão e puxou para perto, selando seus lábios nos dela.
- A carne já era, pessoal! – O churrasqueiro avisou ao resto dos homens.
Os dois se abraçaram, ainda parados no meio da rua, e todos comemoraram.
Pelo menos ainda tinha a tal torta holandesa.

Capítulo betado por Larissa Console



Fim.


PS: Dr. Conrad adverte: Não beba se estiver morrendo de amores, pois você pode acabar morrendo de qualquer jeito.

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