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Prólogo

“Ternamente ele segura-lhe a mão pela primeira vez. A memória desse toque corre o infinito, transcende o tempo. Alardeia-se pelo universo. Ela olha-o nos olhos e instintivamente o reconhece de eras remotas. Ele pode não reconhecê-la de imediato, mas seus braços se arrepiam e tudo o mais além perde a importância...
Quando ambos se reconhecem nenhum vulcão poderá conter tanto furor, tanta paixão. Tamanha a energia que é liberada. Nada no mundo é empecilho para o eclodir de tantas emoções!
Um despertar da consciência à medida que o véu vai aos poucos levantando. Nem todos estão prontos pra ver imediatamente. Há um ritmo nisto tudo, e a paciência pode ser necessária àquele que percebe primeiro. Um olhar, um sonho, uma lembrança, uma sensação podem fazer com que despertemos para a sua presença.
O toque de suas mãos ou o beijo de seus lábios pode nos despertar e projetar-nos subitamente de volta à vida.”
Brian Weiss

Capítulo 1


“O destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha, não é algo para ser esperado, mas sim para ser alcançado”


Deitado ali naquela areia quente, com aquele sol batendo no meu corpo, eu nem podia acreditar na sorte que eu tinha. Minha banda finalmente estava começando a fazer sucesso e a minha vida estava como eu sempre pedi a Deus. Parecia que todos os meus sonhos, aos poucos, estavam se realizando.
- ! – escutei o me gritando – Vem pra água cara!
Levantei meio com preguiça e depois corri pra dar um mergulho. A água tava gelada quando entrei, mas como eu tava torrando ali no sol, foi uma delícia.
- – falei, sacudindo o cabelo molhado – Que horas é o ensaio amanhã?
- Só de tarde – ele falou, dando um mergulho em seguida.
Bom, então ainda dava pra aproveitar bastante. Vi quando e vieram correndo que nem uns alucinados e pularam na água.
- Matt e James estão vindo para encontrar com a gente – disse quase levando um caldo do – Porra ! Pára com isso!
- Calma amor, eu só queria te abraçar – falou fazendo uma voz tão fina, que todos riram – Não precisa ficar nervosa!
- Cara, vocês são muito Gays! – falei rindo dando um pedala em cada um.
Ficamos na praia até anoitecer e decidimos acender uma fogueira. Matt e James recolheram alguns galhos espalhados pela praia e nós fomos pegar as cervejas no carro.
Alguns amigos chegaram e se juntaram a nós, entre eles uma garota nova que eu não conhecia. O engraçado era que eu tinha a impressão que a conhecia de algum lugar, mas não sabia da onde. Nossos olhares se cruzavam de vez em quando e no momento em que eu ia me aproximar e me apresentar, senti alguém me abraçar por trás e beijar meu pescoço.
Olhei para o lado e vi quem era. Sorri um pouco irritado. Na verdade eu não queria sair dali agora, mas...
- Vamos dar uma volta? – ela perguntou com a voz cheia de segundas intenções e pegou minha mão, se levantando logo em seguida.
Eu fiz uma cara de paisagem, mas me levantei também, a acompanhando. Olhei para trás e vi que a garota estava nos seguindo com o olhar e depois se virou, continuando o papo com Matt.
Cara, se alguém me perguntasse o nome da garota que estava caminhando ao meu lado, eu não saberia. Eu sei que é horrível, mas era a realidade. Eu já tava saindo com ela fazia uma semana, mas nunca fui bom nessas coisas de guardar nomes e etc. E com ela não seria diferente.
Fomos até um lugar meio afastado onde ela tirou a canga e estendeu no chão para que nós pudéssemos sentar. Dude, ela era muito gostosa!
Nem preciso dizer que começamos a nos agarrar ali mesmo. Ela, que tava só de biquíni, não demorou muito tempo para que estivesse nua. Eu também tirei minha bermuda quase que instantaneamente.
- ... – ela sussurrou no meu ouvido – , você é especial... Eu te adoro sabia? – ela terminou a frase me beijando muito intensamente.
Não falei nada, apenas aproveitei o momento ali com aquela garota linda e cheirosa demais. Na mesma hora veio em minha cabeça a imagem da garota que eu não sabia quem era. Procurava não abrir meus olhos, para poder imaginá-la no lugar da que estava comigo. Ela alisou minha nuca por baixo dos meus cabelos e eu me arrepiei inteiro. Deitei por cima dela e beijei cada centímetro do seu corpo. A cada toque da minha boca, ela tremia e eu ficava mais e mais excitado também.
Chegamos ao clímax facilmente e quando nos deitamos de costas na areia, pra recuperar o fôlego, ficamos olhando a noite linda que tava fazendo. Parecia que todas as estrelas estavam no céu. Apesar disso, por mais estranho que pudesse parecer, eu tava me sentindo meio vazio, mesmo estando do lado de uma garota gostosa como ela e com todo aquele cenário perfeito. Eu tava vazio. Era uma sensação muito estranha.
Na verdade, eu nunca tinha me apaixonado de verdade e sentia cada vez mais que isso me fazia falta. Claro que eu ficava com inúmeras garotas, mas isso não era mais o suficiente. De uns tempos pra cá eu andava me sentindo assim. Não sabia o que era, mas definitivamente, era extremamente desconfortável. Eu não sabia o que era amar alguém de verdade e a cada dia ficava claro que isso nunca ia acontecer comigo.
Eu queria falar alguma coisa, fazer algum comentário, mas não conseguia pensar em nada pra dizer. Eu sabia que era grosseria da minha parte ficar simplesmente ali, calado, olhando pro céu depois de ter transado com ela. Mas eu nem precisei falar, ela falou primeiro.
- E então – ela disse deitando a cabeça no meu peito – Você vai ficar aí caladão? Não gostou?
- Desculpe... Eu... Claro que gostei! – eu disse, lembrando que eu não sabia o nome dela – É que o céu tá tão estrelado que eu me distraí – falei pra disfarçar. Muito gay, eu sei!
Para o meu alívio, ela não abriu mais a boca. Eu não saberia o que falar e já estava doído pra sair dali e voltar para onde estava a garota que eu queria conhecer.
Comecei calmamente a me levantar e vestir minha bermuda. Ela ficou deitada me olhando como se não tivesse acreditando no que tava vendo.
- Vamos ficar mais um pouco aqui – ela pediu me olhando e sorrindo.
Eu sentei novamente ao seu lado e fiquei pensando no deveria dizer, alisando os cabelos dela.
– Você esqueceu meu nome não é ? – ela perguntou sorrindo fraco.
O que eu poderia dizer? Tinha esquecido mesmo. Fiquei calado esperando ela falar.
- Meu nome é Jane – ela disse me olhando com raiva, mas quando dei meu sorriso infalível, ela sorriu também – Vamos ficar mais um pouco? Por favor?
- Não posso Jane – eu disse lembrando do ensaio e feliz por dizer o nome dela – Amanhã cedo temos ensaio da banda – menti, já que o ensaio seria somente à tarde.
Ela me olhou ainda por algum tempo, balançou a cabeça e começou a se vestir, sem dizer mais nada. Voltamos para perto do pessoal em silêncio e quando chegamos, ela pegou sua bolsa e foi embora. Passou por mim e me fuzilou com os olhos.
- O que aconteceu cara? – perguntou chegando perto de mim e me entregando uma lata de cerveja. abençoado!
- Não sei – menti – Acho que ela tava atrasada pra algum compromisso.
- Ela não tava com cara de estar atrasada – arqueou a sobrancelha – Ela tava com cara de quem tava puta da vida – ele adivinhou.
- Onde está a garota que veio com o Matt? – perguntei olhando em volta, a procurando.
- Que garota? Não reparei nenhuma garota com o Matt... – falou, sentando na areia e puxando uma garota para o seu lado.
Como assim não viu garota nenhuma? Ela estava ali sentada ao lado do Matt, eu vi! Decidi que ia ligar para o Matt depois para perguntar quem era essa garota.
Bebi mais algumas cervejas e decidi ir embora.
Quando cheguei em casa, fui direto pro chuveiro tirar o sal do corpo. Demorei mais do que o necessário no banho. A água tava quente e conforme o jato batia nas minhas costas, eu ia relaxando aos poucos. Saí, vesti minha boxer e me joguei na cama.
Ela voltou nos meus sonhos e eu dormi feito um bebê nessa noite.

* * *

Acordei depois das duas da tarde, como sempre atrasado pro ensaio. Saí de casa correndo e quando cheguei no estúdio, todos já estavam lá.
- Desculpe dudes! – falei sorrindo amarelo – Dormi demais! Vamos começar?
O ensaio foi, como sempre, maravilhoso e ficamos muito satisfeitos com os resultados. Quando já estávamos saindo, o celular do tocou e nós ficamos parados ouvindo.
- Sei – ele disse sorrindo e nos olhando – Que dia? Ótimo! – ele fez um sinal positivo com o polegar – Estaremos lá!
Ele desligou e ficou olhando com cara de idiota pra gente.
- Fala ! Porra! – gritou
- Quem era? – perguntou quase esganando .
- Porra ! Fala logo cara! – falei sacudido os ombros dele. Parecia que ele tava totalmente em off, olhando para o nada. Ainda tive que sacudi-lo mais umas duas vezes, até que ele conseguiu falar.
- Vamos ter um show pra fazer... – ele ainda tava meio lerdo.
- O QUÊ? – nós três falamos ao mesmo tempo nos entreolhando e sorrindo.
- É isso mesmo que vocês ouviram – ele disse abrindo um sorriso maior que o rosto – Temos um show marcado para daqui a uma semana em... - ele ficou olhando pro alto como se estivesse tentando lembrar o nome da cidade – Não lembro o nome... Tô muito nervoso e... – não o deixei terminar.
- Tá, mas e aí? – falei mais nervoso ainda – Como vai ser?
Ele me olhou sorrindo.
- Cara, vai ser pra no mínimo umas mil pessoas! – ele levantou os braços como se tivesse agradecendo – Parece que vai ser um Festival de música jovem e nossa banda foi convidada pelos organizadores!
Ficamos de boca aberta quando ele acabou de falar. Quase mil pessoas iriam nos assistir?
- Dudes, temos que voltar pro ensaio – falei indo de volta pro estúdio.
- Porra nenhuma ! – falou dando uma gargalhada e me puxando pela camisa – Vamos é comemorar cara!
Fomos direto para um Pub que tinha ali perto e tomamos TODAS e mais algumas.
- Cara, não acredito que vamos fazer o primeiro show! – falou totalmente bêbado – E para um público enorme... – ele colocou a mão na barriga – Acho que vou vomitar!
- Para de viadagem, ! – disse lhe dando um pedala.
- Eu também não estou acreditando! – falou , sem conseguir parar de rir.
- Então, vamos brindar a isso! – falei rindo também e batemos nossos copos e tomamos tudo de um gole só.

Capítulo 2


“Pode ser verdade que agimos como escolhemos. Mas, podemos escolher? Não é a nossa escolha determinada por causas que nos escapam?”


Levamos um susto quando ligamos o rádio e tava tocando uma música nossa. Sabíamos que nosso produtor ia levar o nosso CD demo até uma rádio, mas a gente sabia também que seria praticamente impossível que ela tocasse no primeiro dia. Mas tocou!
Mais uma vez saímos pra comemorar! Não podíamos acreditar na nossa sorte! Tudo tava indo pelo caminho que a gente sempre desejou!
Os caras estavam enlouquecidos com tudo que tava acontecendo, e eu mais ainda!
Durante toda a minha vida, eu sonhei em tocar numa banda e fazer sucesso com as músicas eu mesmo havia composto, e agora talvez, esse sonho virasse realidade.
O restante dos dias foi uma verdadeira loucura e eu nem sequer tive tempo de ligar para o Matt e perguntar sobre a garota, mas com certeza ele iria e eu poderia perguntar sobre ela. Ou melhor, talvez ela fosse ao show e eu poderia falar com ela pessoalmente.
Um dia antes do show, nós estávamos praticamente histéricos. Cada minuto que passava, nós nos lembrávamos de algo que havíamos esquecido.
- , você pegou os pedais? – perguntou mexendo numa bolsa – Pegou os cabos?
Ele tava mais nervoso do que eu.
- Peguei – respondi lembrando se eu tinha mesmo pego os cabos – Peguei tudo , relaxa! – devo ter falado mais pra mim do que pra ele.
- ! – gritei pela janela – A sua bolsa já tá pronta?
- Já! – ele me respondeu com uma voz abafada e eu supus que ele estava dentro da garagem.
Era uma responsabilidade muito grande pra gente, tocar pra quase mil pessoas. E se na hora me desse um branco? Se eu esquecesse as letras que eu mesmo havia composto?
- – falei olhando pra ele, que tava com a cara pior que a minha.
- Cara – ele disse colocando a cabeça entre as mãos – To com medo de não dar certo.
Parecia que ele tinha adivinhado meus pensamentos.
- Eu também – admiti – Mas vamos pensar positivo!
- Tá difícil – ele esfregava seu cabelo para frente e para trás – A gente nunca tocou pra tanta gente!
- Eu sei que não – falei sentando ao lado dele na cama – Mas olha só! A sorte tá do nosso lado agora!
entrou no meu quarto muito pálido e eu me assustei.
- O que foi dude? Tá passando mal? – perguntei me aproximando dele – Quer algum remédio?
- Não... – ele respondeu e se jogou na cama colocando os braços sobre os olhos – Cara, acho que vou amarelar...
- Não vai porra nenhuma! – falei tirando o braço dele de cima dos olhos – Olha aqui , a gente vai chegar lá e fazer exatamente o que fazemos de melhor.
Ele me olhou por um tempo e sorriu.
- Acho que vou desmaiar na hora... – ele disse rindo.
- Pára de ser gay, ! – falou dando um pedala nele – Vamos fazer o que o falou e só! Não pensa em mais nada, ok?
colocou a mão na barriga e saiu correndo do quarto.
- Porra, será que ele vai agüentar ? – parecia preocupado.
- , vai dar tudo certo! Tem que dar tudo certo! – falei rindo e ele riu também.
- Você sempre positivo né ! – disse me dando um tapa nas costas.
- Se eu não for positivo nessa banda – eu disse revidando o tapa – Quem vai ser?
Nós demos um abraço de irmão.
- Dude, eu sabia que a gente ia conseguir! – falou quase chorando.
- Eu também tinha certeza! – falei emocionado.
Muito gay... Tudo bem.
Uma van contratada pelo Flecth chegou exatamente na hora marcada e colocamos toda a nossa parafernália dentro da mala. Seguimos para a cidade onde seria o nosso grande primeiro show, muito nervosos e excitados.
Só quando a gente tava atrás das cortinas pra entrar no palco, foi que a gente viu o tamanho do evento e a multidão que nos aguardava. Com certeza tinham bem mais do que mil pessoas ali.
- Cara, eu não vou conseguir – falou mais branco que uma folha de papel.
- Calma ! – falei colocando as mãos em seus ombros – Vamos entrar e fazer o que a gente sabe ok? – olhei dentro de seus olhos e ele acenou com a cabeça.
- , e se a gente for vaiado? – a voz do tava tremendo quando ele falou.
- A gente não vai ser vaiado! – eu disse firme – Vamos fingir que a gente tá no ensaio! – falei olhando pra eles, sorrindo – Vamos nos divertir!
Eu não queria demonstrar, mas acho que o mais nervoso ali era eu! Minha cabeça estava a mil por hora e eu só conseguia pensar que esse show tinha que dar certo de qualquer jeito. Essa era a nossa chance de mostrar que éramos bons e talvez conseguir um contrato com alguma gravadora.
Num gesto de união, nós nos abraçamos formando um círculo e cada um pediu que tudo desse certo e que a nossa hora havia chegado. Finalmente!
Aos poucos eles foram se acalmando até que anunciaram o nome da nossa banda. Entramos meio sem jeito com a multidão aplaudindo e gritando sem parar. Depois da segunda música, começamos a relaxar e na última a gente já tava brincando como fazíamos nos ensaios. Todos tocamos como sabíamos e depois de um tempo, já estávamos no piloto automático.
Durante todo o show fiquei procurando o Matt e conseqüentemente a garota da praia, mas não os vi em lugar algum. Confesso que fiquei meio decepcionado.
Tocamos apenas seis músicas, mas deu pra sentir que a platéia gostou do nosso som e até pediram bis. Fomos ovacionados pela multidão que estava assistindo. Ficamos orgulhosos de a banda ter se dado tão bem em nosso primeiro show. Realmente, eu tinha que admitir que tinha sido um show e tanto!
- Conseguimos! – gritou , se jogando em cima de mim.
- Montinho! – gritou e ele e se jogaram em cima da gente.
Ficamos ali abraçados, os quatro.
- Agora, é só gravar o CD, tirar foto, dar autógrafos! – falou , levantando e colocando os óculos escuros fazendo pose de astro de cinema.
- Mulheres! Festas! – tava igual a uma criança que tinha acabado de ganhar seu doce favorito.
- Comida! – falou com os olhos brilhando.
- Cara! A gente fez sucesso no show e você fica pensando em comida? – falei rindo e dando um pedala nele.
- A gente vai embora agora? – perguntou , visivelmente ansioso – Vamos ficar mais um pouco, dudes?
- Vamos lá fora e ver a nossa popularidade? – propus de repente - Quem sabe alguém até pede um autógrafo pra gente!
- Até parece ! – falou fazendo careta – Vai sonhando! – ele disse rindo da minha cara.
- Tem que ser positivo cara! – falei sorrindo e indo na direção da saída do camarim.
Por mais que eu tivesse sonhado com alguma coisa, nada me preparou para o que estava a nossa espera. Simplesmente uma multidão nos aguardava. Garotas gritando, nos chamando pelo nome e pedindo pra tirar fotos e dar autógrafos. Uma verdadeira loucura! Nos olhamos e sorrimos satisfeitos.
Acho que tiramos umas cem fotos, cada um e demos uns duzentos autógrafos. Ficamos com a mão doendo de tanto escrever, mas foi maravilhoso saber que tanta gente tinha gostado do nosso trabalho.
Vimos o Fletch se aproximando de nós com um sorriso maior que a cara.
- Dudes! Vocês arrasaram! – ele nos abraçou e quando entramos novamente no camarim, a ficha ainda não tinha caído.
- Não acredito que todas aquelas pessoas sabiam meu nome! – sorria abobalhado.
- Tinha uma menina que sabia até o nome dos meus pais! – disse ainda saltando pelo camarim – Como ela sabia isso?
- Eu não sei – falei levantando do sofá – Mas o que eu sei é que agora a gente vai conseguir uma gravadora!
- Vão conseguir não! – Fletch disse entrando de repente e sorrindo de orelha a orelha – JÁ CONSEGUIRAM! Acabei de falar com um cara que assistiu ao show de vocês e quer que a gente vá até a gravadora na segunda pela manhã!
- MONTINHO! – gritou, pulando em cima do Fletch. Nós pulamos em seguida no chão por cima dele, gritando.
Estávamos exaustos e felizes ao mesmo tempo. Não queríamos ir embora, mas tivemos que ir, pois a van já estava a nossa espera e tínhamos muito para comemorar, pois na segunda-feira nossa vida ia mudar para melhor.

Capítulo 3


“Porque só quando não temos nada é que vemos a pouca importância que demos ao que tivemos? E para quem não tem nada, o pouco é muito. E para quem tem muito, nunca nada é suficiente...”

Fletch veio mais uma vez falar conosco e estava sorrindo de felicidade.
- Gente, eu não vou poder voltar com vocês, ok? – ele disse e vimos uma garota atrás dele sorrindo sem graça - Tenho algumas coisas ainda para resolver e depois eu volto de carona – ele gesticulava muito ao falar e nós rimos.
A gente sabia muito bem que ele tinha era se arrumado com alguma garota, para ser mais exato, com a garota que estava atrás dele.
- Tudo bem, Fletch – falei sorrindo e piscando pra ele – Vamos ficar mais um pouquinho e amanhã a gente se fala.
- Ok meninos! – ele disse já se afastando – Ah! E parabéns mais uma vez!
Rimos muito quando ele saiu e fomos procurar alguma coisa para beber.
- Tô com fome... – falou quase chorando quando chegamos num quiosque onde vendia bebida e comida – O que será que tem para comer?
Não acreditei quando ele pediu uma quantidade de comida que daria para alimentar um exército inteiro.
- Porra ! Você vai comer isso tudo? – falei olhando para a quantidade de coisas que a atendente havia colocado na nossa mesa.
- Podem comer também! – ele disse enfiando uma coisa que eu não consegui definir, na boca (n/a: sem segundas intenções meninas).
e atacaram a comida e pediram uma jarra de cerveja para acompanhar. Eu também comi um pedaço de pizza, mas eu estava mais preocupado em saber por que o Matt não havia aparecido, já que o havia ligado pra ele e avisado do show.
O que eu mais queria naquela hora era poder ver a garota novamente e conversar com ela, saber o seu nome, do que ela gostava... Dude, eu acho que tava apaixonado e nem sequer sabia o nome dela. Loucura!
- Tá procurando alguém, ? – me tirou do meu devaneio – O Fletch já deve estar longe uma hora dessas... Se é que você me entende...
Eles começaram a rir e eu ri também pra disfarçar. Eu não ia de jeito nenhum comentar com esses caras o que eu tava sentindo. Não que eles não fossem meus amigos, ou que eu não confiasse neles, mas eu não tava afim de zoação com relação a isso.
- , tá vendo aquela menina ali parada? – o cutucou e apontou discretamente para aonde a menina estava.
- Não estou vendo – cara, como é lerdo – Onde?
- Ali porra! – apontou mais descaradamente e a menina sorriu – Tá vendo agora?
- Ah... – ele forçou a vista – O que tem ela?
- Não se lembra dela? - perguntou como se fosse óbvio.
- Não – ele respondeu e tomou a cerveja inteira que estava no seu copo – Quem é?
- ! – fez uma cara afetada e eu ri – É a !
pensou por alguns instantes e depois se engasgou com a comida. Demos vários tapas nas costas dele pra ver se ele melhorava e parava de tossir.
- ... – ele olhava pra garota parada – ! – ele gritou e ela se aproximou de nós.
- Olá meninos... – disse sorrindo, corada – Ótimo show!
- Obrigado! – dissemos juntos e ela sorriu mais ainda.
Depois disso, sumiu com a tal e eu já estava achando muito tarde pra gente ir embora. Tava começando a ficar deserto e eu fiquei meio nervoso.
- Porra! Cadê o ? – falei pegando meu celular pra ver novamente as horas – Já tá muito tarde!
- Pára de ser chato falou ainda bebendo – Ele deve estar se agarrando com a por aí em algum lugar. Deixa a criança ser feliz!
Consegui relaxar um pouco, quando comecei a beber a segunda jarra de cerveja.
Quando finalmente deu o ar da graça, ele estava todo descabelado e com a camisa suja de terra. Rimos muito da cara dele.
- Onde está a ? – perguntou olhando em volta.
- Ela teve que ir embora, tava de carona com umas amigas – disse com um sorriso feliz no rosto.
Com certeza ele se deu bem.
Quando chegamos perto da van, percebemos que o motorista tava dormindo e deu um salto quando abrimos a porta pra entrar. A cara dele não estava nada boa, mas eu não queria preocupar ninguém e além do mais, eu estava muito cansado e queria dormir.
- Você tá legal pra dirigir, amigo? – perguntei meio preocupado.
- Claro que estou patrão! – ele falou em meio a um bocejo e esfregando os olhos.
percebeu e me olhou meio desconfiado.
- , será que esse cara vai dormir no volante? – me perguntou baixo e sua voz demonstrava um pouco de medo.
- Relaxa , não vai acontecer nada – falei sorrindo e indo pro último banco da van.
Durante boa parte da viagem, nós falamos besteiras e a Van teve que parar duas vezes pro ir no banheiro (que significa, na estrada mesmo).
- Dude, você tem que colocar uma sonda da próxima vez! – falou, zoando que só lhe deu o dedo do meio e fez cara de poucos amigos.
Depois o silêncio tomou conta do interior do carro e eu tentava não dormir, já que eu sabia que o motorista poderia fazer o mesmo.
- ? – chamei baixo – Tá acordado?
- Hum hum – ele respondeu – Fala...
- O Matt não veio né? – perguntei pensando na garota da praia – Ele te ligou?
- Não... Também achei estranho – levantou cabeça e me olhou curioso.
- , porque você tá tão interessado assim em falar com o Matt? – ele quis saber.
- É a garota da praia – falei sorrindo ao me lembrar novamente do seu rosto – Ela não sai da minha cabeça e eu tinha esperança que ele viesse com ela hoje no show.
- Quem diria hein... – ele riu da minha cara – Sr. apaixonado por uma garota que ele nem conhece!
- Eu não estou apaixonado – falei sem graça – Apenas queria saber quem ela é... Só isso!
- Sei... – ele disse bocejando alto – Até aparece...
Olhei para o motorista e depois para a estrada que agora estava muito escura, silenciosa e deserta.
- Só espero chegar inteiro em casa – eu disse rindo e olhando novamente para o motorista.
- Pára com isso ! Relaxa, não vai acontecer nada! – ele disse imitando a minha voz e eu dei o dedo do meio pra ele.
Depois disso, ficamos em silêncio e eu acabei pegando no sono, contra a vontade.

* * *

Acordei com um barulho muito alto e com som de gritos. Tentei abrir os olhos, mas não consegui. Parecia que eu estava preso, que tinha uma coisa me esmagando e não conseguia me mexer. Escutei alguém chamando meu nome, mas não consegui responder. Meu pescoço doía muito e eu não sabia por quê. Tentei me concentrar e consegui abrir um pouco os olhos, mas tudo estava muito embaçado e eu ouvi som de sirenes e muita gente falando e chamando pelo meu nome e pelos nomes dos meus amigos da banda.
Eu queria dizer que estava tudo bem, que eu tava ali escutando o que todo mundo tava dizendo, mas não consegui. Tentei mais uma vez me mexer e senti uma dor horrível nas costas e no pescoço novamente. Senti um gosto ruim na boca e percebi que era gosto de sangue misturado com terra. O que tinha acontecido? Me desesperei. Meus braços e minhas pernas estavam dormentes e eu não conseguia me levantar por mais que eu tentasse.
Fui levado para a escuridão e todos os sons e vozes que ouvia, desapareceram.
Realmente, parecia que eu tava num sonho. Eu podia flutuar por lugares que eu não conhecia. A sensação exata era que eu tinha tomado um calmante muito forte e tava grogue.
Quando consegui abrir os olhos novamente, vi muitas luzes e ouvi pessoas falando alto. De vez em quando eu escutava vozes chamando meu nome e dizendo que ia ficar tudo bem. Outras vezes, eu ouvia pessoas chorando. Mas não conseguia dizer de onde vinham e quem falava. O que ia ficar bem? Onde eu estava? Onde estavam os meus amigos? Eu queria gritar, chamar alguém, e não conseguia.
Mas a escuridão sempre me pegava nessas horas e eu flutuava novamente, dormente e sem saber o que estava acontecendo.

Capítulo 4


“É possível sonhar, apesar das feridas abertas. As pérolas são feridas cicatrizadas. Portanto, não perca a vontade de viver, pois, apesar de tudo é possível ser uma pérola.”

Um ano depois...

Acordei assustado e todo suado. Tinha tido mais um pesadelo. Mesmo depois de um ano após o acidente, eu ainda tinha pesadelos quase toda noite. E eram sempre iguais. Eu via uma luz muito forte se aproximando de mim e de repente algo se chocava contra meu corpo e eu ficava preso sem conseguir respirar. Tentava gritar e não conseguia e sempre acordava assim, ofegante, assustado e todo molhado de suor.
Olhei para o relógio na mesinha de cabeceira e vi que ainda eram quatro horas da manhã. Me recostei um pouco na cama e peguei o meu IPod.
Senti uma sede muito grande, olhei novamente pra mesinha e vi que o copo estava vazio. Só de pensar no trabalho que daria ir pegar um copo d’água, desisti. Liguei no volume máximo pra tentar me acalmar. Começou a tocar Beatles...

Yesterday
(Ontem)
All my troubles seemed so far away
(Todos os meus problemas pareciam tão distantes)
Now it looks as though they're here to stay
(Agora parece que eles vieram para ficar)
Oh, I believe
(Oh, eu acredito)
In yesterday
(No ontem)

Suddenly
(De repente)
I'm not half the man I used to be
(Não sou metade do homem que eu costumava ser)
There's a shadow hanging over me
(Há uma sombra sobre mim)
Oh, yesterday
(Oh, Ontem)
Came suddenly
(Veio de repente)

Arranquei os fones do meu ouvido com raiva, já sentindo o conhecido gosto salgado na minha boca. As lágrimas desciam pelo meu rosto e eu tentei mais uma vez me acalmar, já que música só fez piorar a minha situação.
Fechei os olhos com força e esfreguei as mãos no rosto, como se fosse possível apagar tudo o que havia acontecido. Tentei me concentrar na garota da praia. Sim, eu ainda pensava muito nela, mas depois do acidente não tive coragem de perguntar mais nada ao Matt. Não podia nem pensar na possibilidade de encontrar com ela. Na verdade, eu não queria que ela me visse no estado que eu estava agora. Não queria que ela sentisse pena de mim. Depois de um tempo, os caras pareciam ter esquecido também que eu estava tão interessado nela assim e não tocaram mais no assunto, para o meu alívio. Mas eu pensava nela diariamente e sempre me perguntava onde ela estaria, se era feliz, se tinha namorado... Claro que ela devia ter namorado! Uma garota como aquela não conseguiria ficar sozinha por muito tempo.
Mais uma vez fechei os olhos, colocando meus braços sobre o rosto e sentindo que ele estava encharcado.
Eu não queria, mas as palavras do médico no exato momento em que ele entrou no quarto, depois que eu acordei do coma de aproximadamente três meses, ecoaram na minha cabeça como se fossem facas em brasa entrando no meu cérebro. Coisas que eu não queria lembrar, que doíam demais em mim, mas que sempre vinham nos momentos de depressão...

Flashback on

- Bem ... – ele sentou ao lado da cama e me olhava um pouco ansioso. e minha mãe estavam abraçados ao pé da cama e me olhavam com lágrimas nos olhos.
- Você ficou em coma por três meses – o médico continuou – Mas agora que acordou, tem algumas coisas que você precisa saber... O acidente que você e seus amigos sofreram foi muito grave e eu estou surpreso que você tenha acordado – ele disse me olhando nos olhos – Seus amigos pensaram que você ia morrer.
Eu estava muito assustado ouvindo aquilo tudo. O que ele queria dizer com isso?
- Doutor... – minha voz era falha quando saiu – O que aconteceu comigo? Porque eu não consigo me mexer direito? – as perguntas saíam pela minha boca mas eu não sabia se queria realmente saber as respostas.
- Quando a van bateu – ele me olhou por um longo tempo antes de continuar – Você foi lançado para fora do carro, mas por alguma razão, um pedaço da van se soltou quando o carro capotou e caiu em cima de você...foi muita falta de sorte ter acontecido desse jeito...
Era por isso que sentia que tinha algo esmagando meu corpo. Minha cabeça começou a girar e eu fechei os olhos engolindo seco. Provavelmente o motorista havia dormido...
- E? – falei quase sem voz, ainda de olhos fechados, esperando pelo pior.
- Você teve uma grave lesão na coluna – ele me olhava muito sério agora – E... infelizmente, você perdeu os movimentos das pernas...eu sinto muito meu rapaz, mas é improvável que você volte a andar.
Minha cabeça que antes girava, agora martelava com uma dor insuportável.
- ... – o médico disse, provavelmente tentando me animar um pouco depois do baque – Pode ser que não seja permanente, mas de acordo com os seus exames é muito provável que...
- Eu não vou andar mais? – perguntei interrompendo o médico – É isso que o senhor está me dizendo? – eu disse tentando absorver a minhas próprias palavras, tentando acreditar que não era na verdade o que eu tinha acabado de ouvir.
- Bem ... infelizmente eu não posso dar um diagnóstico preciso, mas com os exames que eu tenho agora, é provável que sim...mas precisamos fazer mais alguns exames... Eu sinto muito Daniel – sua voz era séria e profunda ao dizer isso e eu olhei pra minha mãe, que chorava nos braços do meu melhor amigo.
O que eu poderia dizer naquele momento? Que minha vida tinha acabado ali? Que eu ia ser um inválido? Que eu nunca mais ia poder fazer as coisas que eu fazia antes? Que eu não ia mais poder... andar...
- Não pode ser... – eu disse baixo para mim mesmo – Não pode ser verdade...
- Você terá que se dedicar muito na sua recuperação - o médico continuou – Você precisa fortalecer a parte superior do seu corpo para poder compensar a parte inferior e...
Ele continuava a falar, mas eu não estava mais ouvindo. Tinha um zumbido muito alto nos meus ouvidos e eu achei que estava enlouquecendo. Talvez fosse somente um pesadelo e daqui a pouco eu iria acordar na minha casa, na minha cama e ia para a praia aproveitar o dia de sol que estava fazendo e encontrar com a garota dos meus sonhos. Era isso! Tinha que ser! Apertei os olhos com força até doerem e os abri novamente. Realmente era pior que um pesadelo, pois eu estava acordado e aquilo tudo estava realmente acontecendo.
Tentei reorganizar meus pensamentos por um instante. O silêncio que se fez no quarto foi torturante. Eu queria poder ouvir o médico dizer que era tudo uma brincadeira e que eu teria alta amanhã e sairia andando normalmente e voltaria para a minha vida, meus amigos, minha banda e procuraria a garota da praia. Mas não aconteceu. Eu não ouvi risada alguma e tornei a fechar os olhos, como se isso fosse suficiente para me fazer sair dali ou mudar a realidade.


Flashback off

* * *

Agora, um ano depois, ali estava eu. Deitado na minha cama, chorando, frustrado, sem vontade nenhuma de viver. A única coisa que me animava era pensar e lembrar dela. Seu rosto ficou gravado na minha mente como se fosse uma foto.
Fiquei pensando em tudo que tinha acontecido na minha vida desde o acidente. Foi inevitável que as lágrimas continuassem caindo pelo meu rosto, mas eu já tava mais do que acostumado. Procurava não chorar na frente de ninguém, principalmente da minha mãe e dos meus amigos. Como se já não bastasse a minha condição, eu não precisava que mais ninguém sentisse pena de mim, além de mim mesmo.
Comparando comigo, meus amigos não haviam se machucado muito. tinha quebrado o braço em dois lugares e vários arranhões pelo corpo. teve fratura exposta na perna e um corte na testa e deslocou a clavícula. Mas todos já estavam bem em menos de um mês depois do acidente, enquanto eu havia ficado em coma por quase três meses.
Quando saí do hospital, tive que voltar a morar na casa da minha mãe, já que o prédio que eu morava não tinha elevador e meu apartamento era no segundo andar, além de todos acharem que eu ficaria mais confortável aqui, sob os cuidados da “mamãe”. E realmente não tava sendo tão ruim assim, mas eu não tinha privacidade nenhuma e às vezes me sentia sufocado com tantos paparicos e mimos.
A minha recuperação foi lenta, muito dolorosa e extremamente estressante. Meus amigos e minha família tiveram que ser muito pacientes comigo. No começo, eu ficava bastante irritado quando eu ainda não tinha intimidade com a cadeira de rodas e às vezes eu não conseguia entrar ou sair de algum lugar. Eu despejava palavrões e insultos pra quem tivesse perto de mim, e nem pensava nas conseqüências dos meus atos. Eu tinha dores muito fortes nas costas e no pescoço. Se eu ficasse muito tempo na mesma posição, as dores vinham e massacravam meu corpo, me tirando totalmente do sério. A única coisa que eu conseguia pensar era que eu não merecia passar por tudo aquilo e me revoltava com o fato de não poder fazer as coisas que eu fazia antes.
Mas aos poucos, minha agressividade foi se transformando em descrença e depois de um tempo, eu já tinha parado de ir à fisioterapia, já que não via nenhum resultado acontecer, por mais que eu me esforçasse. Como meus braços estavam fortes o suficiente e eu já conseguia me movimentar com mais facilidade, eu parei de ir, apesar da insistência da minha mãe e dos caras da minha banda.
Isso era outra coisa que me deixava triste. Eu pensava na minha falta de sorte. Justamente quando a banda começou a fazer sucesso, nós sofremos o acidente e eu me transformei num homem pela metade. Como eu poderia fazer shows com eles? Não conseguia me imaginar num palco do jeito que eu estava agora. Seria mais do que ridículo se eu tentasse de alguma forma fazer parte do sonho deles. Insisti muito para que eles conseguissem outro integrante, mas foi em vão e eles insistiam que só iam continuar com a banda no dia que eu decidisse voltar. Eles vinham me visitar praticamente todos os dias e sempre me chamavam pra sair, mas eu na maioria das vezes recusava. Eu conhecia os caras muito bem e sabia que sempre tinha mulher envolvida nas “saídas” deles e eu não queria me envolver nem estava preparado para conhecer ninguém. Sem contar na mão de obra que era sair comigo, então eu preferia mesmo ficar em casa me exercitando um pouco, ouvindo música ou na internet.
Adormeci pensando numa música que eu queria tocar e sonhei que eu tava num palco enorme com todos os caras da banda tocando uma música que eu não conhecia. sorria pra mim e falava meu nome como se fosse a minha vez de fazer meu solo [n/a: Judd´s um pouco de imaginação nessa hora, ok? ?]. E quando eu olhava para a platéia, via nitidamente aquela garota da praia, acenando para mim e sorrindo do mesmo jeito que ela tinha aparecido enquanto eu estava em coma no hospital. Sei que ela me ajudou naquele período. Não sabia como, mas ela aparecia constantemente pra mim sentada num jardim muito bonito e ficávamos sentados nos olhando. Um dia ela tocou meu rosto e disse: “Volta!”. Nesse momento eu senti como se uma força muito forte me puxasse e eu abri meus olhos. ELA tinha me trazido de volta! Como eu poderia não pensar nela? Impossível, né?
Acordei sorrindo, mas logo percebi que tinha voltado pra minha realidade. Agora não havia mais banda e ela nunca seria minha, pensei com pesar.

Capítulo 5


“Um novo dia vem te buscar. Que seja um bom dia. Antes de fazer qualquer coisa, agradeça. Você ouve. Você vê. Você pensa. Você sente. Logo existe.”

Já eram quase duas da tarde e eu estava em meu quarto olhando para o violão que eu tinha tirado do armário. Resolvi pegá-lo e toquei algumas notas para ver se ele estava afinado. Desde o acidente eu não queria nem ouvir falar em tocar qualquer que fosse o instrumento, mas desde que tinha sonhado com a tal música, eu queria tocá-la no violão pra ver se eu lembrava as notas. Ouvi alguém bater na porta.
- Entra – falei sem me virar.
- E aí ! – falou animado por me ver com o violão depois de tanto tempo – Compondo música nova pra banda? – ele se jogou na minha cama.
Me virei e sorri.
era como se fosse meu irmão. Os outros caras da banda também, mas o era mais meu amigo do que os outros. A gente se conhecia desde pequeno e tal... Notei que ele tava com uma cara meio estranha, sei lá, parecia meio aéreo.
- Você tá estranho ... o que aconteceu? – falei com o violão no colo, rindo da cara que ele tava fazendo.
sentou na cama e suspirou. Muito gay!
- , acho que eu estou amando! – ele disse quase gritando – Cara, eu encontrei a mulher da minha vida!
- Eu sei... a não é? – perguntei como se fosse óbvio.
- Não é a , – ele disse sério e se aproximou de mim – Eu conheci uma garota ontem à noite numa festa que teve na casa do Matt – ele disse e voltou a se jogar na cama – Aquela festa que você não quis ir, lembra?
- Lembro, claro! – falei pensando na dificuldade que eu tinha tido para convencer esse cara que eu não ia de jeito nenhum.
- Mas vocês ficaram? – perguntei rindo da cara de babaca dele.
- Ficamos, trocamos telefone, e-mail, juras de amor... – ele disse e eu arqueei minha sobrancelha – Tá... essa parte de juras de amor é exagero! – ele riu.
Quem era eu pra condená-lo? Ele tava apaixonado por uma garota que tinha conhecido ontem e eu tava apaixonado por uma que eu nem mesmo conhecia, nem sabia o nome!
- O amor é lindo hein! – falei rindo dele, recebendo uma almofada na cara e o violão quase caiu no chão. Lembrei da música que eu tinha sonhado.
- Cara, eu sonhei com uma música muito boa! – falei terminando de afinar o violão e começando as primeiras notas – Eu sonhei que a gente tocava num show e... – parei de falar quando vi que eu não iria tocar em mais nenhum show e na hora ele percebeu o que eu estava pensando.
- , nós vamos tocar sim! – senti que ele tava mais animado que o normal – Você vai se recuperar, dude!
- – falei, empurrando a cadeira pra perto dele – Eu não vou tocar em show nenhum, cara.
- Claro que vai, porra! – ele sorriu otimista – Quem vai conseguir acalmar todo mundo antes de entrarmos no palco?
- Dude – falei olhando pra baixo – Esse tempo já foi, eu não posso mais fazer isso. Desculpe.
Ficamos nos olhando sérios sem falar nada. Eu já tava careca de saber o que ele pensava disso tudo e ele também sabia que eu achava um completo absurdo o fato deles insistirem tanto pra gente voltar a ensaiar pelo menos. Não que eu não quisesse voltar a tocar, mas eu não queria me dar falsas esperanças. De que adiantaria voltarmos a ensaiar se nunca ia sair disso?
O celular dele tocou, interrompendo aquele momento tenso [n/a: Bia sendo homenageada! u_u], e ele levantou para atender.
- Oi amor... Que saudade! – ele disse com a voz melosa e eu ri – Que horas? Tá bom – ele me olhou engraçado – Posso levar um amigo? Tá bom! Eu também. Beijo.
fechou o celular suspirando e o jogou na cama. Depois que ele se recuperou da ligação da garota, sentou na cama e ficou me olhando com uma cara que eu não gostei nem um pouco.
- Espero que esse amigo não seja eu! – falei com um sorriso nervoso.
- – ele me olhou sério – Quando foi a última vez que você foi numa festa?
Não consegui lembrar a última vez que eu tinha saído pra me divertir desde o acidente e percebi que não tinha ido a nenhuma festa desde que voltei para casa.
- Sei lá ! – virei de costas pra ele e continuei a tocar. Quem sabe ele não desistia e me deixava em paz?
- Pois então, hoje você vai sair! – ele falou decidido, para o meu desespero – Vamos numa festa, que tal? – ele sorriu da cara que eu fiz quando me virei.
- Sem chance cara! – balancei a cabeça, negando – Tenho umas coisas pra fazer hoje à noite e... – menti.
- É mesmo? – obviamente ele não acreditou, deitou na minha cama colocando as mãos na nuca e cruzou as pernas – O que, por exemplo?
Tive que pensar rápido, mas não consegui. Tava muito nervoso por saber que ele não ia desistir dessa vez. Larguei o violão na cama e fui para a janela, um pouco chateado. Ele não entendia que eu não queria sair.
Como eu não respondi, ele continuou.
- Vai ser uma festa super legal ! – falou, pegando o violão que eu tinha colocado na cama – Tenho certeza que você vai se divertir. Além do mais, quero que você conheça a mulher da minha vida cara!
Pensei por alguns instantes e concluí que não teria jeito de escapar dessa. Eu teria que ir. Acho que tava precisando mesmo sair um pouco. Afinal, eu tinha que começar a aceitar que agora eu estava sentado numa cadeira de rodas e que nada iria mudar isso. De repente percebi que eu queria ir, mas não entendia o motivo.
- Ok! Você venceu! – falei sorrindo, balançando a cabeça – Que horas é essa festa? De quem é a festa? Tem escada? Será que não tem problema se eu for? – despejei as perguntas, ainda um pouco nervoso pela nova experiência e ele soltou uma gargalhada.
- Bom, vamos pela ordem – ele disse rindo, contando nos dedos – Vou passar pra te pegar às nove da noite. A festa é de uma amiga da minha garota. Não sei se tem escada, mas se tiver, a gente dá um jeito. Não tem problema algum você ir, eu perguntei se poderia levar um amigo e ela disse que tudo bem – ele sorriu e arqueou a sobrancelha - Respondi na ordem?
Tive que rir do jeito como ele respondeu.
- Desculpa – falei sem graça – Mas é que eu tô meio nervoso. Faz tempo que eu não saio assim pra ver tanta gente – disse e olhei pras minhas pernas – Ainda me sinto um pouco constrangido com essa nova situação.
- Cara, você não vai estar lá sozinho – ele levantou e colocou as mãos nos meus ombros – Eu, o e o estaremos lá do seu lado. Não precisa ficar constrangido com nada.
Ainda tocamos mais algumas músicas e ele teve que ir, prometendo chegar as nove pra me pegar.
Continuei no quarto pensando em como seria essa festa. Pra dizer a verdade, eu tava até um pouco animado, mas o medo que eu tava sentindo fazia minha animação ir por água abaixo.
Nem preciso dizer que a minha mãe ficou quase em êxtase quando soube que eu ia sair.
Comecei a me arrumar às sete horas. Minha mãe já havia separado a roupa que eu pedi e eu já tinha tomado banho. Quanto mais a hora da festa se aproximava, mais eu ficava inseguro e nervoso. Não conseguia relaxar de jeito nenhum. Depois que a minha mãe me ajudou com as roupas e o tênis, empurrei a cadeira pra frente do espelho e vi meu reflexo pela primeira vez em muito tempo e fiz uma careta. Não gostava de me olhar no espelho de corpo inteiro, me deixava deprimido. Mas hoje era uma exceção e eu já estava nervoso o suficiente para pensar em ficar deprimido com o que quer que fosse.
Decidi por uma calça preta jeans, uma blusa branca social e um All Star branco. [n/a: obrigada pela idéia da roupa Bia! \o/]
- Até que não tá tão ruim, hein ! – falei sorrindo pro meu reflexo e passei as mãos no cabelo pra ver se ele melhorava um pouco. Desisti.

Capítulo 6


“O destino dita o encontro entre almas gêmeas. Mas o que decidimos fazer após esse encontro cai no campo da livre escolha. Uma escolha errada ou uma oportunidade desperdiçada pode conduzir a incrível solidão e sofrimento”

Já eram quase nove e quinze quando tocou a campainha. Minha mãe abriu a porta e ele entrou sorrindo de orelha a orelha quando me viu.
- Oi Tia! – ele deu dois beijinhos na minha mãe e se virou pra mim. - Tá pronto ? – ele entrou e veio na minha direção – Vamos? – disse extremamente empolgado.
Não consegui me mexer. Fiquei ali parado imóvel. Me bateu um pânico e na mesma hora eu me arrependi de ter aceitado ir nessa festa.
- , toma conta dele ta? – minha mãe falou abraçando-o – E, por favor, não voltem muito tarde e não bebam! – ela falou como se ele fosse um adolescente e eu fosse uma criança de dez anos.
- Sim senhora! – ele bateu continência e sorriu.
Minha mãe me deu um beijo na testa e me abraçou forte.
- Divirta-se meu amor – ela me olhou de um jeito tão protetor, que foi engraçado – Você está lindo demais!
- Obrigado, mãe – falei revirando os olhos.
Como eu ainda não tinha dado sinais de que iria me mexer, ele foi pra trás da cadeira e me empurrou pra fora da casa.
- , acho que não vou mais... – falei sério, olhando pra ele.
- Pára com essa porra ! – ele riu – Claro que vai! Você tá todo arrumado, lindo e tão cheiroso... – ele falou se inclinando pra mim, fechando os olhos com uma voz muito gay e eu tive que rir.
Mas no fundo, eu tinha plena consciência de que eu tava longe do garanhão que eu costumava ser e que o fato de eu estar “cheiroso” e “todo arrumado”, não significavam nada. Mas deixei passar essa. Ninguém merecia a minha auto-piedade.
me ajudou a entrar no carro e colocou a cadeira dobrada na mala.
No caminho pra festa, ele ligou pro e pediu que ele e o estivessem na porta quando chegássemos. Na mesma hora estranhei.
- Por que eles têm que estar na porta quando a gente chegar? – perguntei sentindo o vento bater no meu rosto.
demorou pra responder e eu percebi que havia algum problema.
- ? – falei preocupado. Eu sabia que coisa boa não vinha por aí.
- Não queria te falar, senão você não viria... – ele disse baixo fingindo olhar pro trânsito.
- O QUE?! – eu disse mais alto que o necessário – O que você não me contou?
- Quando a gente chegar, você vai ver... Agora relaxa! – falou com uma voz despreocupada, mas eu não relaxei. Pior, fiquei mais nervoso ainda.
- Fala porra! – eu já estava quase espumando de raiva. Não gostava de surpresas e ele sabia muito bem disso.
- Calma ! – ele se virou para me olhar, meio espantado com a minha atitude.
- É que o local da festa, bem... – ele demorou uns cinco anos pra continuar e eu quase soquei a cara dele - Tem uma escada na frente e... – não deixei que ele terminasse.
- TEM O QUE? – já tava muito puto a essa altura – E você pode me dizer o que eu vou fazer nessa festa então?
Ele ligou o rádio e não respondeu. Eu fiquei olhando pra fora da janela balançando a cabeça sem acreditar no que ele tinha falado. Se ele sabia que tinha escada, porque tava me levando? Caralho! Eu vou matar esse filho da puta do na primeira oportunidade! Sério mesmo!
- Bom, nós vamos te levar até lá em cima – ele falou calmamente como se estivesse me dizendo que hoje ia chover.
- Não acredito que vocês vão fazer isso! – falei sério, me virando pra ele – Vamos voltar pra casa agora! – falei irritado, fechando a cara.
- Agora que chegamos? – ele me olhou e sorriu.
Quando olhei pela janela, não pude acreditar no tamanho da escadaria que tinha na frente da casa onde seria a festa.
- Você só pode tá de brincadeira cara! – falei incrédulo ainda olhando pra frente da casa – Olha o tamanho dessa escada ! Vocês não vão conseguir me levantar e subir até lá! – falei apontando pro alto.
- Eu sozinho não. Por isso chamei os caras! – avistou e buzinou.
e correram pro nosso carro acenando.
- ! Até que enfim te tiraram da toca! – já tava abrindo a porta do carro e já tinha tirado a cadeira da mala.
- Amor, como você tá lindo! – falou suspirando de um jeito muito gay. Tive que rir, apesar do nervosismo – E cheiroso também! – ele finalizou dando uma fungada no meu pescoço. Muito gay...
- Pára de ser gay Dougie! – eu disse ainda cara amarrada, mas depois sorri vendo a cara de gay do .
Me coloquei na cadeira e fiquei parado olhando pra cima sem saber o que falar. Eu estava literalmente em pânico agora. Olhei para os lados e vi muita gente chegando. A sensação que eu tinha era de que todo mundo me olhava e isso me deixou mais nervoso ainda. Passei a mão pelos cabelos, sem realmente acreditar que eles iam mesmo fazer aquilo.
- Tá pronto ? – perguntou abaixando pra falar comigo.
- Acho que prefiro ir pra casa... Sério... – falei.
- Acho que não! – ele sorriu e se levantou.
- Vamos lá rapazes! – disse olhando pros outros dois – Não deixem o cair hein! – vi quando ele piscou e sorriu.
Eu confiava neles. Eu sabia que ele não iam me deixar cair, mesmo assim, fiquei nervoso.
pegou a cadeira por trás e e , cada um de um lado. É desnecessário dizer que foi extremamente embaraçosa pra mim essa situação. Parecia que todo mundo estava me olhando e eu me senti um verdadeiro E.T.
Felizmente, o “show” acabou e fomos em direção a casa. veio nos receber na porta e ficou animada quando me viu.
- Quando o me disse que você vinha eu não acreditei! – ela se abaixou e me deu dois beijinhos.
- insistiu muito, então eu vim... – eu disse envergonhado.
- E fez muito bem! – ela disse sorrindo – Você está precisando se divertir um pouco! – ela completou e eu presumi que o falava bastante de mim para ela.
- Obrigado, ... – agradeci ainda sem graça.
, que estava com se aproximou e me cumprimentou também, sempre muito simpática. - Ela já chegou? – perguntou pras meninas. - Já sim! Deve estar lá ajudando à aniversariante – falou, segurando a mão do . - Bom, a gente vai ficar parado aqui na porta, ou vamos entrar? – falou soltando uma gargalhada – Tô com fome! – ele disse com cara de cachorro que cai da mudança e levou um pedala do . olhou feio pra ele e deu o dedo do meio.
- Vamos entrar! – entrou na frente e nós a seguimos.
abraçado com a , com o braço por cima do ombro da falando alguma coisa no seu ouvido. Eu entrei com o

* * *

A festa estava lotada e eu me encolhi quando vi a quantidade de gente e a confusão que tava pra poder circular pelo salão. Resolvi ficar numa mesa num canto, onde não iria atrapalhar a passagem de ninguém e que me manteria fora dos olhares curiosos.
Vi algumas pessoas conhecidas e as cumprimentei, sempre notando aquele olhar de “Poxa, coitado dele...tão novo...”.
foi buscar uma cerveja pra mim e eu fiquei observando a movimentação na pista de dança.
Imediatamente, fiquei deprimido. Eu adorava dançar e agora não podia mais. me tirou dos meus devaneios.
- Toma ! – ele me entregou a garrafa – Não exagera hein!
- Deixa comigo cara! – falei, forçando um sorrindo – Você não vai dançar? Pode ir, eu vou ficar legal – falei sorrindo pra ele, percebendo que ele estava meio agitado. Percebi que ele estava doido pra ficar com a garota dele e eu estava empatando.
- Sério var ? – ele me olhou espantado, mas abrindo um sorriso – Você vai ficar bem?
- Vou ficar bem – levantei a mão – Prometo!
saiu depressa da mesa e como eu previa, foi procurar a
Logo depois, começou uma tocar uma música conhecida, e quase todos os casais foram pra pista. Vi procurando alguém e presumi que devia ser a tal garota que ele havia conhecido ontem e que estava perdidamente apaixonado.
Suspirei e balancei a cabeça. O que eu tava fazendo ali? Se pudesse sairia correndo dali e iria pra casa. Mas não podia.
Bebi a cerveja toda quase que num gole só e quando o garçom passou, peguei outra. O que mais eu poderia fazer? Tentei relaxar ao som daquela música que eu adorava e imediatamente pensei na minha garota da praia. Ela sempre vinha na minha mente como se fosse um bálsamo, para me acalmar. E por mais que eu tivesse nervoso, deprimido ou estressado, pensar nela me fazia bem, me deixava feliz.
Tirei meu celular do bolso para ver as horas e ele escorregou da minha mão. Soltei um palavrão me afastando da mesa pra pegar o telefone no chão e senti um baque na minha cadeira. Uma garota caiu sentada no meu colo, e se eu não a tivesse segurado, certamente ela teria caído. Ela tava segurando um copo e com a queda, derramou tudo em cima de mim. O que faltava mais pra me acontecer essa noite?
- Desculpe, eu... – ela falou se segurando em mim – Eu não te vi, me desculpe, por favor...
- Tudo bem – falei um pouco irritado – Sem problemas – disse secando meu rosto, ainda a segurando pela cintura com a outra mão.
Quando finalmente eu a olhei, não pude acreditar. A garota da praia e dos meus sonhos estava sentada no meu colo, sorrindo pra mim.
Ela se levantou rapidamente, percebendo onde estava sentada e pegou um guardanapo para poder secar a minha camisa.
- Tá tudo bem... pode deixar... – falei sorrindo, ainda sem acreditar que era ela! Uma felicidade sem precedentes me invadiu e parecia que meu coração ia sair pela boca. Eu não sabia o que falar... Tava desnorteado e surpreso demais pra pensar no que quer que fosse. O que ela tava fazendo ali?
- Ah, desculpe mesmo viu... Deixa eu tentar diminuir o estrago que eu fiz... – ela ainda tentava me secar, chegando muito perto de mim e eu pude sentir o seu perfume invadindo meus pulmões. Ela estava visivelmente sem graça e toda atrapalhada.
De repente, nossos olhos se encontraram e imediatamente eu me lembrei do sonho em que ela aparecia me pedindo pra voltar. Ela não havia me reconhecido, pelo que pude perceber. Continuamos nos olhando por algum tempo em silêncio e de alguma forma eu tive certeza que já a conhecia. Só não sabia de onde. Continuei sorrindo e me dei conta que eu devia estar com cara de babaca. Resolvi agir...
- Bom, já que você me deu um banho... – apontei pra minha camisa, sorrindo – deixa eu me apresentar – falei estendendo a mão – , muito prazer.
Ela sorria abertamente pra mim e seus olhos brilhavam. Ela estendeu a mão para pegar a minha, mas fomos interrompidos por uma pessoa me chamando. Ela se virou e viu se aproximando sorrindo. Finalmente eu ia apresentar a minha garota da praia pra ele! - Ah! ! – se aproximou de nós, impedindo a garota de falar o seu nome, mas nem precisou – Vejo que acabou de conhecer a , a mulher da minha vida! – ele a abraçou por trás e beijou seu pescoço, me deixando totalmente sem reação.

Capítulo 7


“Nós nos tornamos vulneráveis e podemos ser facilmente feridos quando os nossos sentimentos de segurança e felicidade dependem do comportamento e das ações de outras pessoas.”


Fiquei olhando aquela cena sem poder realmente acreditar. A garota por quem o estava apaixonado era a MINHA garota da praia? Dude pára o mundo que eu quero descer!
Aos poucos, toda a minha empolgação de minutos atrás se desfez, dando lugar a um sentimento que eu não tenho palavras para explicar. Ele a abraçou por trás, beijando seu lindo e perfumado pescoço e eu fiquei ali sentado olhando tudo sem saber como agir. Aliás, o que eu poderia fazer afinal de contas? Dizer pra ele quem era ela? Que essa garota fazia parte da minha vida diariamente? Que tinha sido por causa dela que eu havia saído do coma? Que ela aparecia quase toda noite nos meus sonhos e até acordado eu sonhava com ela? Eu não podia competir com ele, eu não tinha mais como competir.
- ? ? – me chamou, tocando em meu ombro, me sacudindo um pouco com uma cara preocupada e eu pisquei como se tivesse saindo de uma espécie de transe – Tá tudo bem dude?
- Claro! Tá sim... – menti, tentando parecer o mais natural possível.
- Essa é a ... a mulher da minha vida! – ele disse todo orgulhoso como se ela fosse um prêmio. E era mesmo! Pelo menos pra mim – esse é o meu melhor amigo, !
Sinceramente, eu evitei seu olhar e consegui fazer uma cara de paisagem.
- Prazer ! – por mais nervoso que eu estivesse não pude deixar de reparar que ela me chamou pelo nome, como eu havia me apresentado antes, e não pelo apelido. Apenas assenti com a cabeça e não ousei apertar a mão dela. Tinha medo da minha reação se a tocasse. não deu sinais de ter percebido a minha falta de educação. Ele a olhava em adoração e seu rosto era de uma pessoa extremamente apaixonada e feliz. Poderia ser diferente?
- Podemos sentar aqui com você? – ele perguntou despreocupadamente, sem olhar pra mim.
- Claro! Fiquem à vontade! – falei o mais simpático possível, tentando esconder a minha aflição e o conflito que estava sendo criado dentro de mim diante daqueles fatos.
- Por que você tá todo molhado? – ele perguntou de repente, observando minha camisa – O que aconteceu?
Ela sorriu pra mim e piscou o olho como se fosse explicar tudo. Fingi não ver.
- Eu dei um banho no seu amigo sem querer! – ela sorriu e virou pra ele, que quase caiu no chão de tanto rir – Pára de rir ! – ela explicou tudo que havia acontecido e ele não parava de rir. Já tava me irritando.
- Desculpa , mas é que eu estou visualizando a cena engraçada que deve ter sido! – parecia extremamente relaxado e contente. Se não fosse pelo simples fato dele estar agarrado com a MINHA garota da praia, eu também estaria achando graça junto com ele, mas não era o caso – Coitado – ele finalizou ainda sem parar de rir. Não gostei do “coitado”, mas tive que relevar. Ele não tinha falado por mal.
- Tudo bem – falei um pouco sério demais – Eu já disse que não tem problema.

* * *

Eu não via a hora de ir logo embora daquela festa. Tudo que poderia NÃO ter acontecido, aconteceu!
Eles sentaram junto comigo na mesma mesa. Ficaram abraçados e eu continuei igual a um vaso de planta ali parado assistindo o meu melhor amigo e a garota dos meus sonhos, se agarrando na minha frente sem a menor cerimônia. E o pior de tudo era que eu não conseguia tirar os olhos deles, ou melhor, dela. De vez em quando, perguntava alguma coisa que eu não conseguia entender. Eu só assentia e ele ria. Ele já tava acostumado com o meu mau humor e eu não teria que explicar o meu comportamento mais tarde.
- , será que você pode fazer companhia pra enquanto eu vou ao banheiro? – perguntou dando um selinho nela e se virando pra mim.
- Vai lá – falei sem vontade nenhuma. O que eu menos queria agora era ficar sozinho com ela.
- Amor, fica tranqüila que o é de toda a confiança! – ele disse dando mais um selinho nela e piscando pra mim.
Assim que o saiu, senti que ela se virou pra mim como se fosse pra puxar assunto, mas eu não a olhei. Eu tinha que conseguir resistir. Tentei disfarçar olhando pra pista de dança, mas não deu certo. Bebi minha cerveja quase toda num gole só, pensando que talvez isso fosse suficiente pra me acalmar. Mas não foi. Eu sentia seu olhar em mim e já não estava mais conseguindo me conter. Eu teria que olhá-la a qualquer momento e isso ia me fazer sofrer pelo simples fato de que ela nunca seria minha. Ficamos num silêncio constrangedor até que finalmente nossos olhos voltaram a se encontrar essa noite.
- Engraçado... – ela disse sem desviar o olhar – Não sei, mas parece que eu te conheço de algum lugar...
As palavras dela me desconcertaram totalmente. Eu não esperava que ela dissesse isso, mas devido à situação, resolvi desconversar e ocultar tudo que eu estava sentindo. Eu não poderia agir diferente com a garota do meu amigo. Mesmo sabendo que o que eu sentia por ela não mudaria nunca.
- Deve ser só impressão... Não me lembro de você... – falei e minha voz saiu mais rude do que eu queria.
Ela mordeu o lábio inferior como se tivesse se magoado com a minha resposta. Eu era um idiota mesmo!
- Desculpe – falei, sentindo meu coração disparar por dizer seu nome pela primeira vez – Eu não queria ser rude com você... – naquela hora ela pareceu tão frágil que a minha vontade foi de abraçá-la e beijá-la, mas é claro que eu me controlei.
- Tudo bem – não pude deixar de notar que meu coração acelerava mais ainda quando ela dizia meu nome – Você tem toda a razão de estar chateado comigo. E pode me chamar de , por favor...
- Eu não estou chateado com você, ! Sério! – falei, tentando esboçar um sorriso quando disse seu apelido – E você pode me chamar de – Tudo parecia tão mais fácil perto dela...
Ela não tinha a mínima idéia da luta que se travava dentro de mim. Ela não sabia dos meus sentimentos e se dependesse de mim, não saberia nunca. Dude, como ela era perfeita!
- O falou muito de você pra mim ontem – ela disse de repente me pegando novamente de surpresa – Já tava curiosa pra te conhecer! – ela sorriu e eu me derreti naquele sorriso. Tudo que eu estava sentindo agora era só felicidade diante daquele rosto tão familiar pra mim. De repente me senti tão relaxado, que até brinquei.
- Bem que eu senti minha orelha queimar ontem! – falei sorrindo junto com ela – Espero que ele tenha falado bem de mim pelo menos... – disse fazendo uma careta e consegui arrancar mais um sorriso daquele rosto lindo.
- Ele não falou mal de você, se é o que quer saber, viu! – ela falou de uma forma tão engraçada, que eu dei uma gargalhada como eu não fazia há muito tempo.
- Desculpa mais uma vez ... – ela tocou minha mão, que estava apoiada na mesa. No momento em que ela colocou sua mão sobre a minha, foi como se o mundo todo tivesse se transferido para aquele ponto em que nossos corpos se tocavam. Eu não estava preparado para o turbilhão de sentimentos que me atingiu. O toque da mão dela aqueceu meu corpo todo como se fosse uma corrente elétrica.
Começou a tocar Forever, do Kiss e as luzes diminuíram no salão para que os casais pudessem dançar. Parecia que tudo conspirava a nosso favor...

[n/a: http://www.youtube.com/watch?v=C8LSQNdkXPY Coloquem pra tocar essa música! Pra quem não conhece, vai ter uma agradável surpresa. Mas quem conhece, sabe exatamente do que eu estou falando! Essa música é muito FODA! Paul Stanley I Love Ya! U_U]

I gotta tell you what I'm feeling inside
I could lie to myself, but it's true
There's no denying when I look in your eyes
Girl, I'm out of my head over you


(Eu queria te contar o que estou sentindo
Eu poderia mentir para mim mesmo, mas é verdade.
Não há dúvidas quando olho nos seus olhos
Menina, estou com a cabeça em você)

I lived so alone believing all love is blind
But everything about you
Is telling me this time it's


(Eu vivi tanto tempo acreditando que todo amor é cego
Mas tudo em você
Está me dizendo que agora é...)

Forever, this time I know
And there's no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I'll be loving you forever

(Pra sempre, agora eu sei
E não tenho dúvidas em minha mente
Pra sempre, até que minha vida tenha terminado
Menina, eu te amarei pra sempre)


Parecia que aquela música continha exatamente tudo que eu queria dizer pra ela. Era incrível a conexão que estava se formando entre a gente. Minha mão ainda estava na dela e nossos olhos estavam igualmente conectados, como que por alguma magia que eu não conseguia explicar. Nunca imaginei me sentir assim perto de alguém. Meu coração batia num ritmo cada vez mais acelerado e senti como se em algum momento, ele fosse pular pela minha boca.

I hear the echo of the promise I made
When you're strong you can stand on your own
But those words grow distant as I look at your face
No, I don't wanna go it alone

(Eu ouço o eco da promessa que eu fiz
"Quando você é forte, pode seguir sozinho"
Mas estas palavras soam distante quando olho pra você
Não, eu não quero seguir sozinho.)

I never thought I'd lay my heart on the line
But everything about you
Is telling me this time it's


(Nunca pensei que colocaria meu coração na linha
Mas tudo em você
Está me dizendo que agora)

De repente, sem que percebêssemos, nossos dedos se entrelaçaram, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo, como se fosse a coisa certa a fazer. Ela me olhava como se pudesse desvendar todos os meus segredos e isso não me causou nenhum mal estar, muito pelo contrário. Eu queria que ela desvendasse. Eu queria que ela me conhecesse! Sorri e ela retribuiu o sorriso. Eu tinha a nítida sensação de já ter vivido alguma cena parecida como aquela em que estávamos.

Forever, this time I know
And there's no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I'll be loving you forever


(Pra sempre, agora eu sei
E não tenho dúvidas em minha mente
Pra sempre, até que minha vida tenha terminado
Menina, eu te amarei pra sempre)

Comecei a cantar junto com a música e ela apenas sorria e me olhava de um jeito que eu julgava ser apaixonado. Nosso toque se tornou mais intenso e eu nem me lembrava mais onde eu estava. De repente todos os meus problemas não existiam mais e eu sentia que ao lado dela eu poderia ser feliz. Eu estava feliz e absolutamente nada poderia me tirar aquele momento!

Ohhh, I see my future when I look in your eyes
It took your love to make my heart come alive
'Cause I lived my life believing all love is blind
But everything about you is telling me this time

(Eu vejo meu futuro quando olho em seus olhos
O seu amor faz meu coração viver
Porque eu vivi minha vida acreditando que todo amor é cego
Mas tudo em você, está me dizendo que agora é...)

Forever, this time I know
And there's no doubt in my mind
Forever, until my life is through
Girl, I'll be loving you forever

(Pra sempre, agora eu sei
E não tenho dúvidas em minha mente
Pra sempre, até que minha vida tenha terminado
Menina, eu te amarei pra sempre)

A música acabou e nós continuamos ali, com nossa mão entrelaçada, como se não existisse mais nada no mundo a não ser nós dois. Toquei em seus cabelos e depois em seu rosto, sentindo a maciez da sua pele. Ela acariciava de leve meu braço e depois subiu o toque até a minha nuca colocando os dedos entre meus cabelos, num toque gostoso, me deixando completamente arrepiado, sempre com os olhos nos meus e de vez em quando ela sorria. Nossos rostos estavam muito próximos e eu podia sentir sua respiração em minha pele. Nossas bocas estavam a milímetros de distância e eu estava quase selando nossos lábios. Era um momento único e eu não queria que tivesse um fim. Se eu pudesse viver eternamente daquela forma, eu viveria feliz. Quem nos visse naquele momento, certamente pensaria que éramos um casal super apaixonado.
Não entendi porque, mas ela pareceu acordar do transe e eu não via mais o seu sorriso, nem sentia mais sua mão em meus cabelos.
- ... eu... – ela disse com a voz fraca e fechou os olhos, se afastando de mim, deixando que a nossa conexão se quebrasse – Desculpe, eu não sei o que aconteceu... eu... – ela tirou suavemente a mão da minha. Na mesma hora aquilo doeu como se alguém tivesse arrancado meu coração do peito a sangue frio e eu também fechei meus olhos tentando me recuperar do golpe. Não senti-la passou a ser uma dor insuportável.
Quando abri meus olhos, ela não estava mais ali. Olhei em volta e vi o a segurando pelo braço e discutindo com ela gesticulando exageradamente. De vez em quando ele apontava pra mim e depois apontava o dedo na direção de seu rosto. Não gostei do jeito que ele falava com ela e quando estava indo ao encontro deles, parou na minha frente.
- Sai da minha frente ! – falei olhando pra ele, impaciente.
- O que foi aquilo ? – parecia perplexo – O que aconteceu cara?
- Depois eu explico. Agora me deixa passar! – falei meio puto.
- Não acho uma boa idéia você se meter – ele disse olhando por cima do ombro – Briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Além do mais o tá muito nervoso e você sabe muito bem o que acontece quando ele fica assim né? Não vou deixar você chegar perto dele agora ! – provavelmente ele estava se referindo ao fato de que não conseguia se controlar e dava socos e pontapés em quem estivesse na frente. É, eu sabia como era. Já tive que separar brigas horríveis dele, mas no momento eu não tava pensando muito nisso. Eu queria saber o que tava acontecendo e o que ele tava dizendo pra ela, que pelo jeito, não parecia ser nada bom e educado, visto a cara que ela tava fazendo. Eu precisava fazer alguma coisa antes que ele fizesse alguma besteira! Ela me olhava de vez em quando e eu não conseguia decifrar o seu olhar. Isso me deixou mais angustiado do que eu já estava.
- Não interessa ! Eu tenho que falar com ela agora! – falei muito irritado, tentando passar, mas ele mais uma vez bloqueou minha passagem.
Ele começou a empurrar minha cadeira no sentido contrário e eu não pude fazer nada. Eu sabia que ele tava fazendo isso pra minha própria proteção e eu não ia começar a fazer um escândalo ali na festa de uma garota que eu nem conhecia. Já bastava a cena que o estava fazendo. Resolvi esperar e ver o que ia acontecer.
Apesar de o esbravejar, tava difícil escutar o que ele dizia por causa da música e eu já estava mais do que impaciente. Passei as mãos pelos cabelos tentando me acalmar um pouco. Meu coração batia descompassado enquanto eu olhava pra ela, aparentemente tentando se justificar, mas como eu ainda estava sob o efeito de tudo que tinha acontecido, não conseguia raciocinar direito. As imagens que passavam pela minha cabeça eram somente o rosto e o sorriso dela. Voltei a fechar os olhos para lembrar o toque de suas mãos. Abri os olhos e suspirei pensando em como eu estava me sentindo apesar de toda a confusão formada. Ela me olhava como se tentasse me dizer alguma coisa e eu não consegui decifrar o que era. Baixei minha cabeça, passando as mãos pelo rosto e pelos cabelos, totalmente impotente. [n/a: Obrigada Mell, por sempre me ajudar a encontrar a palavra certa! ;)]
Vi quando ela foi embora chorando e o veio na minha direção com os punhos cerrados. Eu queria ir atrás dela, perguntar se ela estava bem, mas me impediu.
- O que você tá pensando que tá fazendo ? – falou se inclinando para mim e colocou o dedo na minha cara – Ela é a MINHA garota cara! Tá maluco?
- Cara, eu... – ele nem me deixou terminar. Colocou as mãos nos braços da cadeira e quase colou sua cara na minha, me sacudindo um pouco, devido a sua falta de controle e eu tive que me segurar pra não cair no chão ali no meio da festa.
- Eu não quero nunca mais te ver perto dela ! – ele disse e eu pude sentir a raiva que emanava dele – Você ouviu bem o que eu estou falando? – apenas assenti com a cabeça.
- Calma ! Não faz isso cara! – ouvi falando e levando um safanão logo em seguida.
- Sai daqui ! Não se mete porra! – falou exaltado – Esse assunto é entre o e eu!
Vi que havia se posicionado estrategicamente ao lado de , caso precisasse se meter entre nós.
- , eu preciso te falar uma coisa... – falei decidido a contar tudo pra ele e ignorando que ele tava praticamente espumando pela boca. Mas pela nossa amizade, ele precisava saber que eu não tinha feito aquilo de propósito e que eu não era um canalha que só queria sacanear meu melhor amigo. Ele tinha que saber o motivo da minha atitude, mesmo se não gostasse – Me desculpe pelo que aconteceu, mas ela...
- Ela é a MINHA garota ! – ele parecia não ter ouvido uma palavra do que eu havia dito – Como você pôde fazer isso cara? – ele parecia profundamente magoado e prestes a me dar uma porrada. Na verdade, eu acho que ele só não o fez por causa da minha condição e porque viu que e estavam ali pra me defender caso ele perdesse o controle e partisse pra cima de mim.
- , ela é a garota da praia... – falei e ele pareceu não entender – Desculpe... – foi o que consegui dizer naquele momento para o meu melhor amigo.
- Eu nunca faria uma coisa dessas com você dude! Nós somos amig... – ele de repente pareceu ter levado um soco na barriga e ficou me olhando com uma cara estranha – PERAÍ...O QUE? O QUE VOCÊ DISSE? – ele parecia desnorteado agora e ficava andando de um lado pro outro passando as mãos nos cabelos e no rosto - Você está me dizendo que a minha é a tal garota da praia? – ele se virou pra mim e me olhou como se fosse um lunático ou algo do tipo.
- É ela ... – eu o olhava como se quisesse que ele entendesse o tamanho do meu desespero e da minha felicidade também. Mas ele não viu nenhuma coisa nem outra.
Ele me olhou por alguns segundos como se fosse dizer alguma coisa, mas simplesmente se virou e saiu do salão.

Capítulo 8


“A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa, nem medir o que se diz.”


Eu estava muito confuso e as coisas passavam pela minha cabeça de uma forma muito estranha agora. Os sentimentos entravam em conflito, num misto de choque e felicidade. Entretanto, a felicidade não era completa e a tristeza tomava a maior parte do meu corpo. Finalmente eu a tinha encontrado, depois de tanto tempo. Eu sinceramente achei, quando a vi, ali sentada no meu colo, que eu tinha recebido um presente, uma compensação por tudo que tinha acontecido na minha vida até agora. Todas as dificuldades e superações que eu havia passado tinham um propósito! E esse propósito era encontrá-la. Eu sempre estive disposto, mesmo que inconscientemente, a pagar qualquer preço para tê-la e agora estava acontecendo. Na minha concepção, esse era o preço justo e eu não podia mais reclamar de nada. Como eu poderia reclamar diante do presente que eu havia recebido? Seria injusto da minha parte fazer qualquer tipo de reclamação.
Mas quando percebi que havia algo no meu caminho, primeiramente não quis acreditar. Eu fui tomado por uma surpresa tão grande que não consegui nem pensar. Parecia que eu tinha sido atingido por uma nuvem de flechas envenenadas e cada uma acertava num ponto vital do meu corpo, me fazendo aos poucos encarar a realidade por mais dura e cruel que ela fosse. Era meu melhor amigo que estava impedindo a minha felicidade? Era o meu irmão que estava me apresentando sua namorada? Mais uma vez eu não podia acreditar... eu sentia como se a minha vida tivesse escorrendo pelo ralo de novo. Eu me senti como quando descobri o que o futuro me aguardava depois do acidente. Mas, novamente, não havia nada que eu pudesse fazer.
Vendo se afastar e sair do salão depois que eu falei quem era a , confesso que me senti um pouco aliviado, mas ao mesmo tempo triste. Nossa amizade era muito importante pra mim. Desde o acidente ele era o cara que sempre esteve do meu lado, me apoiando, me estimulando, me dando forças pra continuar minha batalha diária. Ele sempre esteve presente durante todos os momentos da minha vida e eu o amava como se fosse um irmão. Eu não podia jogar fora uma amizade de tantos anos, mas por outro lado, eu não poderia simplesmente fingir que ela não existia. Eu sabia que não ia conseguir. Eu não ia ser forte o suficiente, apesar de saber que eu precisava.
Olhei em volta e todos ainda estavam se divertindo na festa e nem parecia que a minha vida tinha recomeçado e acabado naquela mesma hora. Eu tinha reencontrado a pessoa que durante aquele ano fez parte da minha vida, me ajudando e tinha acabado de magoar o meu melhor amigo. E sem que fosse culpa de ninguém, me magoado também. Eu não tenho palavras para descrever o que eu senti no momento em que o vi a abraçando por trás e beijando seu pescoço, com uma expressão no rosto de quem havia ganho na loteria sozinho. Depois da surpresa, veio a confusão e por fim, senti a inveja me invadir. A vontade de estar no lugar dele, a abraçando, sendo o cara que ela tinha conhecido no dia anterior tomou conta de mim... Um cara que poderia fazer coisas junto com ela, que poderia fazê-la feliz. Naquele momento em que ele estava saindo do salão, eu tomei uma decisão, talvez a mais difícil da minha vida. Eu percebi que nunca poderia ser esse cara pra ela, apesar da imensidão dos meus sentimentos.
Ninguém vive só de amor... existem outras coisas na vida que fazem falta e com certeza se um dia eu me atrevesse a tentar conquistá-la, e por um milagre eu conseguisse, em algum momento ela sentiria falta dessas coisas e chegaria o dia em que ela me deixaria. Pra que passar por tudo isso? Como eu poderia impor minha presença a ela e fazê-la sofrer quando meu amor era maior do que tudo? Ela merecia ser feliz e era isso que eu ia fazer... Deixá-la ser feliz, mesmo que eu não fosse a razão dessa felicidade, infelizmente.
- Você tá legal ? – tocou em meu ombro, me fazendo acordar e sentou do meu lado.
- Eu não sei ... – falei apoiando os cotovelos na mesa e colocando minha cabeça entre as mãos – O foi embora? – perguntei.
- Acho que foi, não sei... – disse e chamou que já estava se encaminhando para nossa mesa – , vai procurar o Matt pra gente ir embora.
- Vocês vieram de carro? – perguntei, agora um pouco preocupado em como eu ia fazer pra ir embora daquela festa. Percebi que eu não agüentaria ficar ali nem mais um minuto.
- Vim de carro com . Ele foi chamar o Matt pra ajudar a descer com você – , eu acho que vocês deveriam conversar quando ele se acalmar... - terminou sua cerveja e ficou pensando por alguns segundos – Cara, como o mundo é pequeno... E agora?
- Agora nada... ela está com o ... – falei tentando esboçar um sorriso, sem sucesso – E é assim que vai continuar...
só balançou a cabeça, querendo dizer que eu tava ferrado mesmo. e Matt estavam nos chamando do outro lado do salão e nos encaminhamos pra lá.
Como dizem que pra descer todo santo ajuda, descemos sem muita complicação e entramos no carro. Senti falta das meninas.
- Onde estão e , ? – perguntei ainda me ajeitando no banco e colocando o cinto de segurança – Elas já foram embora?
e se olharam sérios.
- Elas foram atrás da falou – Ela não tava muito legal...
Assenti e apoiei minha cabeça no encosto do banco, fechando os olhos. Ela não tava legal... era só o que eu pensava. O que será que o tinha falado pra ela? Concluí que eu tinha que falar com ele e que teria que ser agora.
- , será que você poderia me deixar na casa do , por favor? – falei já pensando no que eu ia dizer.
- , você não acha melhor esperar até amanhã? – perguntou , que estava sentado no banco de trás – Vamos te deixar em casa são e salvo, senão a sua mãe vai nos matar se acontecer alguma coisa com você!
- Não! Eu quero que vocês me deixem na casa do ! – falei mais alto que o necessário – Eu preciso falar com ele hoje ainda!
- Ok , você é quem sabe – deu de ombros.
- Eu vou ficar com você para o caso dele não ter chegado ainda, ok? – se ofereceu, preocupado – Qualquer coisa, a gente pega um táxi...
- Não precisa , obrigado – o interrompi antes que ele tivesse outra idéia.
Chegamos rapidamente na casa do e eles me ajudaram a sair e eu toquei na campainha. A mãe dele atendeu.
– Oi Tia! – falei, dando o melhor sorriso que eu consegui – O já chegou?
- Ainda não – ela me olhava de uma forma estranha, preocupada.
- Ah... – suspirei e pensei no que eu falaria pra ela não desconfiar de nada.
- Estranho... Ele disse que ia com você nessa festa e que depois ia te deixar em casa... – a mãe do se preocupou e de repente, eu também, mas disfarcei.
- É que eu tive que sair mais cedo, mas esqueci que minha mãe pediu um livro pra ele... então vim buscar – menti descaradamente. Percebi que ela não acreditou muito, mas teve que aceitar a minha versão.
- Entra ! Pode esperar por ele aqui dentro – ela disse abrindo mais a porta e me deixando entrar.
- Tia, você se incomoda se eu esperar no quarto dele? – perguntei, querendo ficar um pouco sozinho pra pensar – Assim eu já vou procurando o livro...
- Claro que não ! – ela sorriu – Fique à vontade querido! – ela se aproximou da porta do quarto e a abriu para que eu pudesse entrar. Ela sabia que eu e éramos muito amigos e não viu problema nenhum de me deixar sozinho no quarto dele.
Depois que ela fechou a porta, eu fiquei ali dentro pensando no que eu ia falar quando ele chegasse. Olhei para o quadro de fotos que havia em cima da mesa do computador e vi algumas fotos que eu já tinha até esquecido. Numa nós estávamos numa festa que a gente foi num barco. Estávamos visivelmente “trêbados” e sorríamos abraçados levantando uma lata de cerveja. Em outra estava a banda toda com as camisas que a gente tinha mandado fazer. Tive que rir de uma em que eu e o estávamos com uma fantasia de coelho rosa, e eu lembrei exatamente da farra que a gente fez naquele dia. Reparei que em todas as fotos, eu sempre estava sorrindo abertamente e que parecia muito feliz. Vi uma foto que estava meio escondida atrás das outras. Era do nosso último show e tinha sido tirada durante a nossa apresentação. Lentamente, retirei a foto do painel e fiquei segurando em minhas mãos, lembrando como aquele momento tinha sido especial e também como tinha sido o final daquela noite. Tantos sentimentos passaram por mim naquela hora e eu percebi que as lágrimas caíam sem que eu me incomodasse. Eu estava sozinho, ferido, triste e podia chorar à vontade.
- O que você está fazendo aqui? – levantei a cabeça com o susto, e vi que estava parado no batente da porta me encarando de braços cruzados. Felizmente ele parecia mais calmo.
- A gente precisa conversar... – falei, tentando esconder as lágrimas que eu havia derramado olhando a foto que ainda estava em minhas mãos – Eu preciso explicar o que aconteceu.
- Não precisa explicar nada... – ele disse secamente, entrando no quarto e fechando a porta com força – Eu vi o que aconteceu, ! – ele tirou a camisa e se jogou na cama fechando os olhos.
- Por isso mesmo eu resolvi vir aqui e te explic...
- Explicar o que? Fala! – ele me interrompeu e sentou na cama me olhando com raiva e mágoa – Explicar que você quase beijou a MINHA garota? Explicar que você esperou eu ir ao banheiro pra poder dar em cima dela? Que você se aproveitou do fato de estar sentado nessa cadeira pra que ela te desse mais atenção? Era isso que você queria ? – cada palavra que ele dizia era como se ele me desse um soco e eu não conseguisse me defender. Ele estava me machucando demais sem perceber e eu não sabia o que falar. Não tava esperando por essa atitude dele, mas continuou - Você não é meu amigo e hoje foi a prova disso! estava pegando pesado e eu estava completamente sem ação. Eu havia dado em cima da sim, mas foi involuntariamente. Mas eu não tinha me aproveitado do fato de estar sentado numa cadeira de rodas pra chamar a atenção de quem quer que fosse, muito menos dela! Eu não queria que ninguém sentisse pena de mim, muito menos a . Ele não entendia que o que eu menos queria é que ela tivesse me dado atenção por causa desse fato, mas sim porque havia gostado de mim... Lembrado de mim...
Ficamos em silêncio e ele deitou na cama novamente colocando os braços sobre o rosto. Me virei pra sair do quarto e coloquei a foto que ainda tava em minhas mãos em cima da mesa. Eu estava totalmente desolado com tudo que eu tinha acabado de ouvir. Como ele podia pensar tudo isso de mim?
- , você mais do que ninguém sabe que eu nunca faria isso – falei, colocando a mão na maçaneta pra abrir a porta.
- ... – me chamou, mas eu não me virei – Porra , desculpa cara!
Eu continuei onde estava e ele se levantou da cama, colocando as mãos nos meus ombros. Senti meus olhos arderem, mas eu não ia chorar.
- Tudo bem – falei com a voz controlada apesar da minha vontade de chorar.
- Desculpe... Eu tô muito nervoso... Eu não devia ter falado aquilo – estava agora parado na minha frente e percebi que ele chorava abertamente – Eu não queria ter falado isso pra você. Vamos tentar conversar, por favor? Me desculpe...
Achei melhor resolver logo tudo de uma vez por todas e tentar deixar de lado, por enquanto, tudo que ele havia dito. Pelo menos assim as coisas ficariam no seu devido lugar e eu poderia ir embora, deixando que eles vivessem a vida deles em paz.
- Olha , eu não queria que tivesse acontecido desse jeito... eu juro cara! – falei sem olhar pra ele – Mas eu não sei o que aconteceu comigo quando eu vi que ela era a garota da praia.
- , pára com isso! Como você pode ter tanta certeza assim que ela é a mesma garota de mais de um ano atrás? – ele me olhava como se eu fosse um louco – Você nunca mais falou nela... Só a viu uma vez, como pode afirmar que é realmente a mesma pessoa?
- É ela , eu tô te dizendo! – falei me lembrando do sorriso dela e dando um sorriso sem perceber - Eu sei que é!
Ele não respondeu e foi pra janela que dava pro jardim da casa. Eu tinha que continuar.
- , eu vim aqui pra te pedir desculpas pelo que aconteceu hoje... – falei me aproximando dele – Eu realmente não queria perder sua amizade, mas depois de escutar o que você realmente pensa de mim, eu não sei de mais nada... – uma coisa era abrir mão da mulher que eu amava pra ele, mas outra totalmente diferente era ouvir que eu tinha me aproveitado da minha condição pra me aproximar de alguma garota, quando ele sabia como eu me sentia com relação a isso.
Ele se virou e vi que ele estava chorando.
- Cara, eu não sei o que me deu pra falar tudo aquilo... desculpe, mas eu amo essa garota, entende? – disse e voltou a se virar para a janela.
- Mas você a conheceu ontem... – eu falei incrédulo com a impulsividade dos sentimentos dele e ignorando seu pedido de desculpas.
- E você a conheceu hoje! Qual a diferença? – ele questionou. Secou seu rosto com as costas da mão, voltando a olhar pela janela pra não me encarar. Acho que no fundo ele sabia que era verdade e só não queria acreditar.
- A diferença é que eu já a conhecia desde aquele dia na praia, não hoje como você está falando e você sabe muito bem disso! – falei um pouco mais alto que o necessário – Eu passei esse último ano da minha vida sonhando em um dia reencontrá-la. Eu não consegui parar de pensar nela nenhum segundo sequer desde que a vi pela primeira vez e reencontrá-la desse jeito foi... uma surpresa muito grande.
- Você não pode ter certeza ! – falou ainda de costas e dando uma risada forçada – Voce deve estar imaginando coisas dude... Só pode ser!
- Eu não estou imaginando nada ! Se voce não quer acreditar ou aceitar que a É a garota da praia eu não posso te obrigar.
Ele continuou virado pra janela, balançando a cabeça como se não acreditasse em mim.
- Acho melhor eu ir embora então... – falei, girando a cadeira e indo em direção à porta.
- Eu não acredito que isso tá acontecendo com a gente... – ele disse passando as mãos pelos cabelos – Não pode ser...
Parei na porta e me virei pra olhá-lo. estava sentado na cama e seu rosto estava coberto por suas mãos. Ele soluçava mais do que um bebê. Apesar da minha situação ser bem pior que a dele e de tudo que ele havia me dito, eu senti pena do meu amigo. Ele também não merecia o que tava acontecendo tanto quanto eu.
Percebi que tinha chegado a hora de falar o que tinha decidido. Coisas que iriam me machucar mais do que eu poderia suportar. Ela não poderia ser minha e isso já tinha ficado claro na minha cabeça antes. Eu não poderia deixar que ela se envolvesse com um cara como eu. Afinal, que futuro eu poderia dar a ela? Eu a amava mais do que tudo na vida, e exatamente por essa razão ela deveria ser feliz. E eu não conhecia ninguém mais apropriado que ele pra fazer isso. era o cara que a faria feliz e eu teria que aceitar. Só o que me importava naquele momento era ela e eu teria que esquecer de mim mesmo...pelo menos por enquanto.
- Olha , eu quero deixar bem claro que eu não penso em atrapalhar a vida de vocês... – falei e senti um peso no estômago, como se alguém tivesse me dado um soco – O que aconteceu essa noite foi uma coisa inesperada... eu não tava preparado pra reencontrá-la assim desse jeito, de surpresa – ele se virou novamente e ficou me olhando com cara de babaca. As palavras saíam da minha boca com muita dificuldade e eu sentia que a cada segundo, meu coração ia parando, como se quando eu chegasse ao final, ele fosse parar literalmente.
- Eu te respeito muito... Você é como se fosse um irmão pra mim cara... e o que aconteceu hoje nunca mais voltará a acontecer – eu continuei, sentindo meus músculos do rosto se contraírem um pouco – Do fundo do meu coração....eu desejo que vocês sejam felizes... – e nesse momento eu tive que lutar bravamente contra as lágrimas.
- Você tá dizendo que... – ele teve que sentar na cama pra não cair enquanto eu abria mão da mulher da minha vida. Isso não era típico de , mas na atual conjuntura eu não tinha outra opção. Meus braços formigavam um pouco e eu senti uma vontade imensa de ir sumir dali... do mundo...
- Eu quero que você só me prometa uma coisa... – reuni todas as forças que eu ainda tinha e respirei fundo.
Ele não conseguiu emitir nenhum som, acho que ainda estava processando as minhas palavras. Eu me aproximei ao máximo dele e coloquei a mão no seu braço, sentindo que as lágrimas poderiam cair a qualquer momento.
- Eu quero que você a faça feliz... – fechei meus olhos ao dizer isso e ele colocou a mão no meu ombro – Me prometa que aconteça o que acontecer, voce vai fazer a feliz.
- , eu... – ele começou a falar soluçando e balançou a cabeça, sem acreditar na minha “bondade” – Eu prometo... – ele se aproximou e me deu um abraço – Cara, eu não sei o que dizer... Me desculpe por tudo que eu disse antes e ...
- Tudo bem, ... – falei e dei um tapa no ombro dele – Não se preocupe, eu vou ficar bem – afinal, eu sempre “ficava bem”...
Não falamos mais nada e depois de algum tempo eu disse que ia embora. Ele insistiu em me levar em casa e como eu queria pegar um táxi, resolvi aceitar.
Continuamos em silêncio durante o percurso até a minha casa. O silêncio dentro do carro chegava a ser irritante, mas não havia mais nada a ser dito. Minha cabeça latejava e a única coisa que eu queria agora era deitar e dormir. Quando chegamos na minha casa, dei graças à Deus e ele me ajudou a entrar, indo embora em seguida, mas eu ainda senti que ele queria me dizer algo, porém não o fez. Se eu conhecia bem o , ele ia ficar a noite inteira acordado pensando nas barbaridades que havia falado pra mim e não ia me deixar em paz até que eu realmente o desculpasse pelas besteiras que ele tinha dito. Só que dessa vez ele tinha me magoado de verdade.
Minha mãe estava esperando acordada e quando eu entrei, ela começou a fazer milhares de perguntas de como tinha sido a festa, se tava legal, se eu tinha me divertido e etc. Tentei disfarçar o máximo que eu pude alegando que eu tinha bebido um pouco além da conta e que estava muito cansado. Ela não insistiu e saiu do meu quarto assim que me ajudou com as roupas. Depois de alguns minutos olhando meu reflexo no espelho, eu resolvi deitar.
Foi só nesse momento que eu consegui extravasar tudo que eu tava sentindo. Uma sensação de completo abandono e solidão se apoderou de mim e eu tive que colocar uma almofada no rosto pra poder abafar os soluços que saiam do fundo da minha alma.

Capítulo 9


“Quando você olhar nos olhos de outra pessoa e vir a sua própria alma retribuindo o olhar, então você saberá que atingiu um outro nível de consciência.”


´s POV

estava parado na minha frente, gesticulando e praticamente gritando comigo, mas eu não conseguia entender uma palavra do que ele estava dizendo e pra falar a verdade, eu não queria mesmo entender. Eu não queria que o meu momento com tivesse terminado. Mas, em meio ao meu transe, ouvi alguém me chamando e imediatamente reconheci a voz do . Naquele instante eu percebi o que estava fazendo... que nossas mãos estavam entrelaçadas e eu o tocava na nuca , sentindo toda a maciez de seus cabelos . Vi com certo espanto que nós estávamos quase nos beijando e o toque de sua mão em minha pele me causava sensações que eu não tenho palavras para descrever. Era como se fosse um toque conhecido, como se ele fosse praticamente parte de mim e eu me assustei com aquilo. Eu não sabia o que falar pra ele naquela hora, então me desculpei. Mas seus olhos me mostravam de alguma forma que não estávamos fazendo nada de errado.
Tive que tirar, sem vontade nenhuma, minha mão da dele pra poder pensar melhor, mas foi a pior sensação que eu já tive na vida e pelo jeito pra ele também.
fez uma cara de quem havia sofrido um golpe de uma espada no peito e fechou os olhos. Nesse momento, senti que alguém me puxava pelo braço e me levava pro meio do salão, pra longe de . Isso não era bom, eu não queria e não podia mais ficar longe dele.
Os imensos olhos de , que há pouco estavam me olhando com tanto amor, agora me olhavam com uma mistura de espanto, confusão e medo. Parecia que ele também não estava entendendo o que tinha acontecido e parecia muito assustado com a reação do . Eu o olhava, tentando dizer que estava tudo bem, mas sentia que ele não estava entendendo e baixou a cabeça, não me deixando mais ver seus olhos e eu não agüentei. As lágrimas caíam pelo meu rosto sem que eu me desse conta.
- ? Você tá me ouvindo? – falava comigo – ? Que porra foi aquela com o ? Ele tava dando em cima de você? ? Eu não conseguia responder e as lágrimas continuavam a cair pelo meu rosto. Eu não estava conseguindo me controlar. Certamente, pensou que as lágrimas eram de arrependimento por ter feito alguma coisa errada, mas não era e isso eu sabia melhor do que ninguém.
Não queria mais ficar ali, e estava tolamente confusa. Isso nunca tinha acontecido comigo e eu precisava sair dali pra conseguir pensar melhor. Ao mesmo tempo eu queria, eu precisava ficar com . Depois de mais algumas coisas que me disse, colocando o dedo na minha cara e depois apontando para , resolvi sair correndo antes de não conseguir mais me controlar e correr para os braços daquela pessoa que tinha despertado em mim coisas que eu nem sabia que existiam.
Desci as escadas rapidamente e rezei para que algum táxi passasse e eu pudesse ir pra minha casa o mais rápido possível.
- ! – escutei alguém correndo atrás de mim – ! Espera!
e estavam vindo na minha direção. Eu não queria falar com ninguém, mas elas foram tão legais que eu não pude ser mal educada. Sequei um pouco minhas lágrimas e elas me abraçaram em conjunto.
- , o que aconteceu lá dentro menina? - perguntou ainda me abraçando – Parecia cena de cinema!
- Cara, eu vi o jeito que você estava com o ... – se abanou e sorriu fraco, levando uma cotovelada da .
- Eu também não sei, mas agora a única coisa que eu quero é ir pra casa... – falei sentindo que as lágrimas poderiam voltar a qualquer minuto.
- Eu tô de carro – falou pegando uma chave e me mostrando – Vamos! Eu te levo!
Concordei, já que não parecia que ia passar nenhum táxi e eu queria ir logo embora. e seguiram até um carro vermelho que estava estacionado na esquina.
Expliquei rapidamente onde eu morava e a princípio fiquei calada, mas elas me faziam muitas perguntas e quando repararam que eu tinha voltado a chorar, pararam.
- Desculpa , eu não queria te fazer chorar novamente – falou sincera. - Tudo bem... – consegui dizer.
- Posso te perguntar uma coisa? – me olhou pelo retrovisor. Eu assenti e ela me deu um sorriso.
- Você já conhecia o ?
- Não – respondi ainda a olhando pelo retrovisor.
- , parecia que vocês já se conheciam a um tempão! A sintonia que vocês estavam era de dar inveja! – soltou um assovio.
Não respondi, mas devido ao rumo que a conversa estava tomando, resolvi arriscar algumas perguntas.
- , o está assim há quanto tempo? – eu precisava saber e aquele momento me pareceu ideal. Naturalmente ela sabia do que eu estava falando.
- Mais de um ano... é uma pena mesmo né? – respondeu triste.
- É mesmo... porque ele é muito gato! – concluiu.
- Mas ele tem namorada né? – perguntei só por perguntar.
- O ? Namorada? – e riram alto e eu não entendi – O nem sai de casa ! Não sei como ele veio nessa festa hoje! Acho que foi só pra te conhecer! – Elas riram mais ainda, mas aquelas palavras me tocaram muito fundo. Era realmente isso que eu estava pensando naquela hora!
- O falou que o teve que arrastar ele pra cá! - disse se virando pra olhar pra mim, que ainda estava surpresa por saber que ele não tava com ninguém. Era realmente inacreditável que um cara como ele estivesse sozinho.
- Coitado do ... desde o acidente ele não sai, não conhece, nem namora ninguém... E olha que ele era o maior garanhão antes hein... – suspirou – O disse que tava muito preocupado com ele porque nem nos ensaios ele quer ir mais.
- Ensaios? – eu fiquei curiosa.
- Eles têm uma banda, mas depois do acidente o não quis mais tocar – falou triste também – já tinha comentado comigo sobre ele ficar insistindo que eles deveriam procurar outro integrante pra banda e tal...
Durante um tempo o assunto ficou só na banda e depois eu fiquei sabendo como aconteceu o acidente detalhadamente, dos meses que ele permaneceu em coma e de como ele havia se tornado fechado e se sentia excluído de tudo e todos. Tudo sem motivo, segundo as meninas, pois ele sempre era convidado pra qualquer coisa que eles fossem fazer. Mas ele não ia e preferia se isolar. Eu ouvia tudo com muita atenção, tentando absorver o máximo de coisas sobre o que eu podia naquela conversa com as meninas.
Chegamos e elas desceram do carro junto comigo, me acompanhando até a porta.
- Tem certeza que você vai ficar bem, ? – parecia preocupada.
- Tenho sim ... Obrigada! – sorri fraco. Ela era legal essa menina.
- Pode me chamar de , viu? – ela piscou – Vou te dar meu telefone, ok? Se precisar conversar, se precisar de qualquer coisa, me liga!
Agradeci mais uma vez e elas foram embora.
Não acendi nenhuma luz ao entrar em casa e fui direto pra cozinha deixando meus sapatos pelo caminho. Estava um pouco enjoada e tomei apenas um copo de água, indo em seguida para o meu quarto. Tirei minha roupa e a cheirei profundamente pra ver se ainda tinha algum vestígio do delicioso perfume de ali.
E ele veio mais uma vez na minha mente... Seus olhos, sua voz e seu toque me invadiram como uma avalanche. Deitei em minha cama pensando em como ele em poucos minutos, tinha se tornado tão especial pra mim. Lembrei de tudo que as meninas me contaram no carro. Fiquei triste ao pensar que ele se sentia excluído e de como ele deveria se sentir muito solitário naquela situação. Meu coração chegou a doer quando eu imaginei a dor dele ao descobrir que não andaria mais.
Eu o tinha visto chegando na festa e seu rosto constrangido quando seus amigos o carregavam escada acima. No momento em que eu bati os olhos nele, tive a sensação de que o conhecia de algum lugar, mas quando vi o ao lado dele, presumi que esse era o tal que ele falou no dia anterior. Era impossível acreditar que um cara como aquele estava sentado numa cadeira de rodas. Ele era tão lindo e perfeito, mas tinha um olhar triste como se não quisesse estar ali, e a única coisa que eu pensei na hora foi “que pena... ele é tão lindo...”. Eu nunca fui uma pessoa preconceituosa, mas devia ser meio complicado se envolver com um cara assim. E de complicada, já bastava eu!
Agora, depois de tudo que tinha acontecido, esse fato não tinha mais a menor importância. Ele poderia ser de qualquer jeito, que eu tinha certeza que sentiria tudo igual.
Não acreditei quando vi que tinha caído sentada no seu colo e ainda por cima derramado minha bebida toda em cima dele. Eu era distraída por natureza e não sabia onde enfiar minha cara diante daquela situação embaraçosa. Percebi que ele tinha ficado extremamente irritado, o que me deixou mais nervosa ainda. Mas quando seus olhos se cruzaram com os meus, alguma coisa aconteceu. Eu não sabia o que tinha sido, mas ele mudou totalmente. Se apresentou, brincou, sorriu de uma forma encantadora e eu praticamente esqueci onde estava e principalmente que o existia. E depois quando viu o se aproximando, chamando por ele, abriu o sorriso mais lindo que eu já tinha visto e seus olhos brilhavam muito. Finalmente, quando me apresentou como “a mulher da sua vida”, eu pude perceber claramente que ele ficou chocado. Vi seus olhos sem foco por alguns instantes e depois ele mudou novamente, se tornando frio e de poucas palavras.
Finalmente, quando saiu e a música começou a tocar, parecia que estávamos em outro planeta. Éramos só nós dois ali, sem que ninguém pudesse interferir na conexão que se formou entre nós. Ele cantou uma parte da música e seus olhos me olhavam de uma maneira que eu senti que ultrapassava a barreira da pele. Era como se ele pudesse me ver por dentro, sentindo de alguma forma, tudo que eu sentia naquele momento. Ninguém mais pareceu perceber todas as mudanças que tinham acontecido, mas eu sim. A dúvida era: POR QUÊ? Eu não sabia, mas ia descobrir.
Tomei uma ducha e me deitei agarrada com a minha blusa que ainda continha um pouco de cheiro delicioso dele. Em vez de um comprimido, tomei dois e apaguei em menos de cinco minutos.

* * *

Eu estava numa fazenda e usava um vestido azul. Estava numa varanda e segurava meu chapéu para que ele não voasse com o vento. Alguém se aproximou de mim por trás, beijando meu pescoço.
- Vamos ou não à festa? – o homem perguntou e imediatamente reconheci sua voz. Era o homem que eu mais amava no mundo!
- Alan! Que saudades! – falei me virando e me jogando nos braços dele – Quando você chegou? – meus olhos brilhavam ao olhar pra ele.
- Cheguei ontem à noite e só agora pude vir te ver – ele dizia enquanto me olhava com aqueles olhos que eu tanto amava – Mas me diga, vamos ou não?
- Com você, eu vou à qualquer lugar – falei ainda sorrindo e ele me deu um selinho – Até mesmo numa festa na casa do Phillip – fiz uma careta ao dizer esse nome. - Deixa o Phillip pra lá... ele não vai mais nos aborrecer...
* * *

Acordei suada e assustada, sentando na cama. Olhei pro relógio e já eram 11:30h da manhã. Que sonho mais esquisito esse! Aquele cara do sonho era o e a mulher era eu... mas parecia muito real. Era como se eu tivesse vivido aquela cena e estava apenas recordando. Levantei e tomei uma ducha pra poder acordar. Meu dia seria cheio e eu já pensava no que diria quando encontrasse com . Senti as borboletas na minha barriga acordarem quando pensei nele e sorri. Mas junto com as borboletas vieram também a insegurança e o medo de reencontrá-lo pessoalmente de novo. Será que ele tinha sentido a mesma coisa que eu? Será que eu estava sonhando? Mas eu não queria pensar nisso e resolvi que a melhor maneira de acertar as coisas, seria primeiro conversar com o . Agora pensando em tudo que tinha acontecido, percebi que não tinha agido corretamente com ele. era um cara muito legal, precisava de uma explicação e eu ia esclarecer as coisas, além do fato de que eu não conseguiria mais namorar com ninguém que não fosse o . Se por acaso ele não tivesse sentido a mesma coisa que eu, não ficaria com ninguém. Senti uma pontada no peito ao pensar nessa possibilidade, mas a afastei rapidamente.
Peguei meu celular decidida e vi que haviam nove chamadas não atendidas do . Disquei o número dele, que atendeu no primeiro toque.
- ! Onde você estava? Por que não me atendeu ontem à noite? Você chegou bem? Quem te levou pra casa? – ele disparava as perguntas e nem me dava chance de responder.
- Desculpe, eu tomei um remédio pra dormir e não ouvi o telefone... – falei sem vontade de responder a nenhuma das outras perguntas dele.
- Tudo bem? – parecia que não tinha acontecido nada no da anterior, já que ele me tratava muito bem e sem nenhum vestígio de raiva.
- Precisamos conversar ... – falei e percebi que ele ficou mudo – ?
- Ah... Claro! - ele respondeu – Vamos almoçar juntos?
- Vamos sim... a que horas você passa aqui? – perguntei já separando uma roupa.
- Daqui à uma hora tá bom? – ele falava, mas eu sentia o medo na sua voz.
- Ótimo! Vou esperar – desligamos em seguida e eu fui me arrumar pra ter a conversa que mudaria o rumo da minha vida.

* * *

Eu estava parada na porta da casa de já fazia quase vinte minutos, esperando que a coragem chegasse e eu pudesse levantar meu braço e tocar a campanhinha. Quando finalmente o fiz, uma mulher abriu a porta e sorriu pra mim com os mesmos imensos olhos que e eu soube na hora que era sua mãe. Não tinha como não sorrir olhando pra ela.
- Boa tarde! Por favor, o está? – perguntei colocando meu melhor sorriso no rosto, tentando esconder o nervosismo. - Está sim querida... Você é amiguinha dele? – ela perguntou de uma forma muito engraçada, como se estivéssemos no jardim de infância. Não pude deixar de rir. - Sou amiga dele sim... Ele está? – perguntei e me senti mais nervosa ainda com tudo que poderia acontecer naquele encontro.
- Ele está sim... Qual o seu nome? – ela abriu um pouco mais a porta e eu entrei. Era uma casa grande e muito bonita.
- Desculpe, meu nome é ... Gusmão - estendi a mão e ela a apertou sorrindo de um jeito estranho. Parecia muito feliz em ter alguma “amiguinha” do ali.
- , fique à vontade que eu vou chamar o – ela disse apontando o sofá para que eu sentasse.
- Será que eu poderia fazer uma surpresa pra ele? – eu precisava arriscar. Estava em pânico com a possibilidade dele não querer me atender.
- Não sei... - ela pensou por alguns instantes, mas depois abriu seu sorriso e me olhou estreitando os olhos – Mas acho que ele vai gostar da surpresa né.... Vai lá... Ela me indicou a última porta do corredor e eu bati antes de entrar, mas ninguém respondeu e eu abri a porta devagar.
Nada que eu pudesse imaginar me preparou para a visão que eu tive quando entrei no quarto. Ele estava deitado na cama de olhos fechados, somente de bermuda, ouvindo uma música no IPOD, com um de seus braços atrás da nuca como se fosse para apoiar a cabeça e o outro estava apoiado na barriga. Seu quarto estava meio bagunçado e a cortina fechada, dando um aspecto de quase noite no ambiente.
Meu olhar foi diretamente para suas pernas, e elas não pareciam ter problema algum. Notei que ele esboçava um sorriso e suspirou alto, me fazendo sorrir imediatamente. Fui subindo pelas pernas até chegar à barriga e ao peito, que subia e descia conforme ele respirava. Entrei em pânico quando percebi que tinha me dado um branco total e que eu não sabia o que ia falar. E se ele me expulsasse do quarto? Finalmente, meu olhar se dirigiu para a parte que eu queria ver e analisei seu rosto minuciosamente, sem pressa, me deleitando em todos os detalhes. Seus cabelos estavam bagunçados de um modo extremamente sexy e como ele estava sem camisa, também pude ver o contorno dos músculos dos seus braços fortes. Tudo nele me atraía de um jeito que eu não sabia explicar. Esqueci onde eu estava só de olhar pra ele ali deitado, relaxado, parecendo estar dormindo. De vez em quando ele passava a mão sobre o peito, dando algumas batucadas como se fosse pra acompanhar o ritmo da música e eu cheguei mais perto da cama, sem conseguir entender tudo que eu estava sentindo e cada vez mais admirada com as minhas reações diante desse cara que eu tinha certeza de já conhecer. E não era somente da praia como havia me lembrado... Era de outro lugar...que eu não sabia...
Lentamente ele passou a mão pelos cabelos e sorriu mais uma vez. Estava perdida em meus pensamentos, analisando seu peito subindo e descendo, quando ele me pegou de surpresa.
- O que você está fazendo aqui ? – me olhava num misto de espanto e felicidade.

Capítulo 10


“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força consegue destruir.”

Acordei quase uma da tarde todo dolorido por conta da noite mal dormida. Tive uns sonhos muito estranhos, era como se eu vivesse em outra época com a . Eu já tinha sonhado com isso antes, mas dessa vez parecia muito real. Resolvi deixar pra lá esse negócio de sonho, afinal eu tinha muita coisa pra absorver daqui pra frente. Tomei um banho, fiz minha higiene matinal e fui tomar café da manhã. Minha mãe parecia extremamente curiosa pra saber o que tinha acontecido ontem à noite, mas eu falei que tinha sido ótima e tal. Ela perguntou sobre as garotas da festa e eu falei que tinha conhecido uma garota. Dude, se ela pudesse, teria soltado até fogos, mas falei pra ela se controlar [n/a: Só o Carlinhos vai entender gente! U_U], que a garota tinha namorado e ele era o .
Conversamos mais um pouco e resolvi voltar pro quarto, tava me sentindo cansado e com dores nas costas. Deitei pra ver se conseguia dormir mais, mas o sono não vinha e eu comecei a ficar irritado porque minhas costas continuavam me matando. Tomei um tylenol e aos poucos comecei a relaxar. Olhei pro relógio e já era quase três horas. Daqui a pouco os caras iam chegar pra nossa “reunião” semanal e eu tinha que estar melhor.
Não sabia se o ia vir também, mas se viesse eu o trataria como se nada tivesse acontecido. Eu ainda tava magoado com ele, mas tentaria superar mais essa e esquecer o que ele tinha me falado na hora de descontrole dele. Também teria que aprender a controlar meus sentimentos pela de qualquer jeito, pois daqui pra frente eu teria que conviver com ela, se por acaso o relacionamento deles desse certo. Tá, uma pequena parte de mim, tá legal, nem tão pequena assim, torcia para que não desse, mas... Eu tinha uma noção do que seria conviver com ela diariamente. Vê-la ao lado do seria uma verdadeira tortura pra mim, mas não via como pudesse ser diferente. Liguei meu IPOD e fechei os olhos. Meus pensamentos mais uma vez foram até a festa onde eu a toquei pela primeira vez. Sentir seu perfume e poder tocar em sua pele macia foi a coisa mais incrível que aconteceu na minha vida. Não tinha acontecido nenhum beijo ou algo mais quente, mas o simples toque de sua pele foi suficiente para que eu percebesse que eu ainda não estava morto. Eu ainda era capaz de sentir coisas que eu pensei que não pudesse mais. Sorri com esse pensamento e suspirei alto. É, ela tinha esse poder sobre mim, e de repente senti o seu perfume...era como se ela estivesse ali do meu lado e eu sorri novamente por ter esse pensamento tão absurdo. Ela aqui era uma coisa totalmente fora de cogitação. Passei a mão pelo cabelo, tentando absorver todo aquele perfume e toda aquela sensação gostosa que eu tava sentindo.
Meu IPOD tocava I Don´t Want To Miss A Thing do Aerosmith e eu tava viajando nessa música, relembrando todos os momentos que passamos juntos na festa, desde a hora que ela caiu no meu colo até a hora em que nossos corpos estavam muito próximos e eu estava prestes a beijá-la. Quando finalmente abri os olhos, não pude acreditar que ela estava ali, parada, me olhando deitado na cama.
Primeiro pensei que eu estivesse sonhando, mas ela sorria olhando pra minha mão que estava apoiada no meu peito. Não consegui me mexer e ela não percebeu que eu a estava olhando. Eu tava só de bermuda deitado na cama com o braço apoiando a cabeça e ouvindo música, totalmente à vontade. Ela me olhava de um jeito que eu me senti como se estivesse pelado. O que ela estava fazendo aqui? Depois de alguns segundos a observando, eu consegui falar.
- ... O que você tá fazendo aqui? – vi que ela foi pega de surpresa também, quase dando um pulo de susto.
- Desculpe ... mas eu precisava muito falar com você... – ela estava sem jeito - E a sua mãe falou que eu podia entrar... desculpe...
E agora? Recostei na cama, tentando me ajeitar da melhor maneira possível. Eu estava muito nervoso por ela me ver assim, desse jeito. Não queria que ela tivesse entrado assim no meu quarto, mas agora já era tarde e ela estava lá.
- Tudo b-bem... – sorri sem graça – Fica à vontade... – indiquei uma cadeira que tinha no quarto pra quando os caras vinham aqui. Imediatamente lembrei que o tava vindo pra cá e me preocupei. Se ele visse que ela estava aqui poderia pensar besteira ou começar outra discussão.
Mas quando meus olhos encontraram os dela, eu esqueci o , esqueci que eu tava todo desajeitado na cama, esqueci até do meu nome! Ficamos nos olhando por um tempo interminável, mas que nunca seria suficientemente grande pra mim.
- ... eu... – ela tentava falar, mas com nossos olhos em plena conexão ficava difícil até pensar – Eu conversei com o ... hoje na hora do almoço.
A simples menção do fez com que eu fechasse meus olhos e pensasse com mais clareza. Eu não podia fazer isso com ele, mas eu não estava conseguindo me controlar. A ali, dentro do meu quarto, tão perto...
- Então... – ela continuou – Ele me contou uma história muito interessante sobre você e eu tive que vir aqui... – ela disse em meio a um sorriso e eu abri meus olhos surpreso.
- História? Que história? – perguntei um pouco aflito. Eu sabia que no amor e na guerra valia tudo, mas...
- Era você naquele dia na praia... – ela disse calmamente – Eu me lembro de você... Eu vi quando você saiu com aquela garota e logo depois eu fui embora, mas ontem na festa eu tive certeza que te conhecia de algum lugar, e sinceramente... não era só daquele dia na praia e eu não sei de onde mais eu te conheço...
O que? Será que eu tava ouvindo direito? Ela se lembrava de mim naquele dia na praia? Senti que meu sorriso se abriu.
- Mas... eu pensei que... – eu não consegui organizar meus pensamentos a tempo de responder ou falar alguma coisa com nexo.
- Depois daquele dia eu tive que viajar para o Brasil e fiquei lá por quase um ano – ela continuava a falar e eu a tentar processar tudo que ela dizia – Minha família mora no Brasil e eu tive que voltar pra lá por causa da minha mãe... Eu voltei pra cá na semana passada e minhas amigas insistiram muito para que eu fosse numa festa... acabei conhecendo o – ela parou e me deu um sorriso lindo - e depois você ... – ela fechou os olhos por um momento antes de continuar – Foi por isso que eu tinha certeza que te conhecia de algum lugar...
Eu continuava observando enquanto ela falava e tinha medo do rumo que essa conversa estava tomando. Ela não era pra mim e eu tinha que tentar acertar as coisas da melhor forma possível, mesmo que não fosse o melhor pra mim. Com esse pensamento, meu sorriso desapareceu e eu a olhei sério.
- Olha , eu sei que você é a namorada do e queria que me desculpasse por ontem – falei com o coração apertado, mas tinha que ser assim – Já falei com ele ontem mesmo e me desculpei também pela minha atitude com você e o passado não import...
- Eu não estou mais com o , se é isso que você quer saber – ela disse meio irritada, me interrompendo e eu arregalei meus olhos.
- O que? O que aconteceu? – perguntei, tentando esconder um sorriso.
- Nós conversamos e eu expliquei toda a situação pra ele - ela sorriu e andou em direção da janela, ficando e costas pra mim.
Aproveitei a oportunidade pra me sentar na cama e depois na cadeira com rapidez. Quando ela se virou eu já estava fora da cama e olhava intensamente pra ela sem acreditar no que os meus ouvidos tinham acabado de escutar.
- , eu não sei o que dizer... eu... – eu disse me aproximando dela na janela – Eu não queria que as coisas tomassem esse rumo... – passei a mão nos cabelos, balançando a cabeça, nervoso.
Ela sentou na cadeira que estava antes, ficando de frente pra mim e segurou minhas mãos entre as dela. O choque foi imediato e eu senti meus braços formigarem com aquele simples toque.
- ... por favor...eu – falei desviando o olhar pra conseguir pensar e tentei tirar minhas mãos das dela, sem sucesso – É melhor você ir embora...eu..o está vindo pra cá e...
- Ele sabe o que realmente aconteceu ontem... ele entendeu... – ela disse calma passou a mão no meu rosto, me fazendo fechar os olhos imediatamente – Eu também estou um pouco confusa, mas eu sei que não quero, não posso e não vou mais ficar longe de você...
Não consegui me conter diante das palavras dela e segurei seu rosto entre minhas mãos e a beijei com toda a intensidade que estava guardada dentro de mim desde o dia em que eu a vi pela primeira vez. Ela também lembrava mim...
Nem nos meus melhores sonhos eu pude imaginar como seria beijar seus lábios, mas aquela sensação maravilhosa me invadiu de uma forma que era melhor do que tudo que eu tinha experimentado até hoje. Puxei a pelos braços, a levantando um pouco para que ela sentasse no meu colo, tentando diminuir ao máximo o espaço entre nossos corpos. Deixei me levar por aquele desejo reprimido por tanto tempo e quando me dei conta, nós estávamos nos agarrando dentro do quarto. Nossas línguas estavam em perfeita sintonia e minhas mãos estavam ora em suas costas, ora em seus cabelos, a tocando com intensidade. Ela apertava minha nuca e arranhava meu pescoço, me fazendo entrar numa espécie de transe. Ela me excitava como nenhuma outra garota havia feito até hoje e isso me deixava totalmente fora de controle. Coloquei uma das minhas mãos por baixo da camisa dela, tocando em sua barriga, e depois em suas costas e já estava com vontade de abrir seu sutiã, mas me contive. Não queria ser muito afobado, até porque eu não sabia o que eu era capaz de fazer. Depois do acidente eu não tinha mais saído com nenhuma garota e só agora isso me preocupou. Ela sussurrava meu nome em meu ouvido, me deixando totalmente extasiado e mais uma vez eu me perguntei se estava sonhando. Era a sensação mais incrível do mundo estar com ela em meus braços e sentindo que ela se excitava a cada toque meu em seu corpo. Quando eu a tocava em algum ponto mais sensível, ela gemia em meu ouvido me levando à beira da loucura. Eu não queria pensar nisso, mas como eu poderia um dia fazê-la feliz? Ela era uma garota muito especial e isso eu já sabia, mas como eu poderia corresponder a todas as expectativas que ela devia ter? Eu não era mais um cara normal e ela parecia não se importar. Parecia... Ela me tocava de um jeito que me fazia estremecer por dentro e eu não sabia como agir diante de tudo que eu tava sentindo. Suas mãos passeavam pelo meu peito, costas, braços e rosto de uma forma tão familiar que parecia que eu já conhecia cada carinho.
- ... eu... – tentei falar quebrando nosso beijo, mas ela selou nossos lábios novamente não me deixando pensar em outra coisa que não fosse ela ou aquele momento. Eu queria dizer que não podia ficar com ela, mas não encontrava forças. A proximidade dela era algo que eu não tenho como explicar com palavras e em determinado momento eu era somente parte dela e nada mais. Minha vida já não me pertencia mais... eu era só dela...inteiramente dela.
me abraçou, colocando o rosto de lado em meu ombro e eu sentia a respiração ofegante dela toda em meu pescoço me fazendo arrepiar. Seus dedos estavam entrelaçados em meus cabelos e faziam carinhos circulares na minha nuca. Eu a abraçava com força como se ela pudesse desaparecer a qualquer minuto e fechei meus olhos, me deixando levar pelo perfume dos seus cabelos e a maciez da sua pele. O único som que ouvíamos era a nossa própria respiração, que aos pouco foi ficando mais normal, menos ofegante.
- Sabia que você beija muito bem? – ela disse, me fazendo abrir os olhos e sorrir. Peguei seu rosto entre minhas mãos e sorri.
- Acho que alguém já me disse isso um dia! – falei dando um selinho nela – mas não lembro mais quem foi – brinquei.
- Foram tantas assim é? – ela estreitou os olhos de forma engraçada e eu tive que rir da cara que ela fez.
- Não foram tantas...
- Sei... – ela disse me pegando pelo pescoço e me beijando novamente.
O nosso contato tava muito intenso, e de repente eu comecei a tirar a blusa dela, que não reclamou. Ela alisava meu peito e sua boca passava pelo meu pescoço pra depois voltar a se colar em minha boca novamente. Suas mãos deslizavam pelas minhas costas e pela cicatriz que tinha na minha coluna. Por um instante, pensei que ela fosse me perguntar alguma coisa, mas depois desistiu. Ela sentou de frente pra mim, ainda no meu colo e eu pude tocar seu corpo com mais intensidade.
Segurei seu rosto entre minhas mãos e a olhei sem realmente acreditar que ela estivesse ali.
- O que foi? – ela me perguntou meio ofegante.
- Você é linda, sabia? – falei com a voz rouca.
- Acho que alguém já me disse isso um dia – ela disse me imitando – Mas não lembro mais quem foi – ela falou rindo.
- Foram tantos assim é? – agora era a minha vez de imitá-la.
Ela sorriu e beijou a palma da minha mão.
- Não foram tantos...
- Sei... - falei sem conseguir prender o riso.
Voltamos a nos beijar e cada minuto que passava ele ficava mais profundo.
Quando finalmente eu ia sugerir que deitássemos na cama pra ficar mais confortável, alguém bateu na porta e levamos um susto, fazendo com que ela levantasse do meu colo imediatamente.
- Quem é? – perguntei ainda ofegante e passei as mãos pelos cabelos, denunciando meu nervosismo. pegou sua camisa e vi que ela estava um pouco envergonhada.
- Sou eu porra! – reconheci a voz do e suspirei aliviado – Posso entrar amor ou você tá peladinho? – O era um idiota e eu olhei pra , que agora sorria e eu só balancei a cabeça, me desculpando com ela pelo que ele tinha falado.
- Entra! – falei com vontade de esganar esse cara por ter atrapalhado um momento como esse. Vi pelo canto do olho que a ria do jeito muito gay do .
Ele entrou saltitante igual a uma gazela e quando viu a , deu um pulo pra trás.
- Opa! Desculpe ! – ele sorriu amarelo – Não queria atrapalhar...
- Mas já atrapalhou! – falei irritado – Fala logo seu gay.
- Err... oi ... tudo bem? – perguntou sem graça, foi até ela e deu dois beijinhos.
- Tudo bem ? – ela sorriu e foi pra janela.
- O veio com vocês? – perguntei pra ele com medo da resposta.
- Ele está estacionando o carro dude – respondeu e depois ficou fazendo caretas e apontando pra , que não podia ver os gestos engraçados que ele fazia – Pelo jeito não vai ter reunião hoje né... – ele disse sorrindo.
- Acho melhor eu ir então ... eu não quero atrapalhar... – ela disse se virando e pegando sua bolsa.
- ? – estava parado na porta e a olhava nos olhos – Você aqui... – ele disse olhando dela pra mim, com uma cara meio estranha.
- , eu não queria que fosse assim cara... – falei preocupado e um pouco assustado com a reação que ele poderia ter, mas ele me olhava com uma cara muito triste.
- Não tem problema – ele me olhava sério – A me disse tudo que eu precisava ouvir e eu espero sinceramente que vocês se entendam...
- ... - ela chegou perto dele – Desculpe... eu...
- Melhor eu ir embora... – ele deu meia volta e saiu do quarto, deixando um clima super estranho. deu uma desculpa qualquer, que eu não lembro, e foi embora de fininho.
se sentou na minha cama e colocou a cabeça entre as mãos.
- Vou falar com ele ... - ela disse com a voz abafada – Essa situação não pode ficar assim.
Eu não queria que ela fosse, mas não podia impedir. Se ela achava que tinha que conversar com ele, o que eu poderia fazer?
- Você acha que vai ser melhor assim? – perguntei me preocupando com a reação do . Ele não era a pessoa mais controlada que eu conhecia.
- Acho! E tem que ser agora! – ela levantou e me deu um selinho – Me espera que eu volto, ok?
- Toma cuidado e qualquer coisa, me liga ok? – falei muito aflito. Ela assentiu, me deu outro selinho e saiu do quarto me deixando com o coração na mão.

Capítulo 11


“É possível repousar sobre qualquer dor de qualquer desventura, menos sobre o arrependimento. No arrependimento não há descanso nem paz, e por isso é a maior ou a mais amarga das desgraças.”

´S POV

Eu estava parado encostado no meu carro, vendo o entrar em casa e meu pensamento estava a mil por hora. As coisas tinham saído completamente do meu controle mais uma vez. Eu tinha dito e feito coisas que eu não queria e principalmente, tinha magoado meu melhor amigo. Enquanto eu estava parado ali, vendo ele entrar, me dei conta de que EU é que tinha que desistir dela e não ele. Se ela fosse mesmo a tal garota da praia que ele venerava, eu não podia ficar no caminho. Ele merecia, mais do que ninguém, ser feliz, mas eu ainda estava confuso com tanta informação em tão pouco tempo.
Eu tinha me apaixonado por uma garota que eu nem conhecia direito, tinha ido com numa festa e nessa mesma festa eu tinha visto os dois quase se beijando. Era isso mesmo? Depois eu descontei toda a minha raiva e frustração nela e em seguida, nele.
Quando cheguei em casa, depois de rodar sem rumo pela cidade, fiquei surpreso quando o encontrei lá. Ele queria se desculpar, mas eu fui grosso e totalmente escroto quando insinuei que ele tinha se aproveitado da condição dele pra dar em cima da . Eu era realmente esse babaca? De todas as coisas que eu poderia ter falado, eu escolhi a pior e a mais insensível. Eu fui cruel demais, impulsionado por um ciúme exagerado e totalmente desnecessário.
, mesmo depois de tudo que eu falei, ainda se desculpou e para o meu completo espanto, disse que eu poderia ficar com ela. Ele abriu mão dela por mim! Mas eu sabia o porquê dele fazer isso e não era porque ele era bonzinho ou porque ele era meu amigo. Ele estava com medo e eu sabia o motivo. Ele não tinha se envolvido com ninguém depois do acidente. Ele tinha vergonha de não ser o mesmo cara e antes... o garanhão que pegava todas.
Não vou negar que eu fiquei realmente balançado pela , mas eu sabia que no fundo eu tava fugindo de uma situação que eu não havia contado pra ninguém. Nem pro , que era meu melhor amigo. Eu precisava me apaixonar por outra pessoa que não fosse a . Ela sim, eu amava de verdade, mas o nosso relacionamento não estava dando mais certo e eu sentia que ela me sufocava a cada dia. E quando eu conheci a na festa do Matt, me senti automaticamente atraído por ela, afinal ela era uma garota linda, simpática, aparentemente sem neuras e principalmente não parecia ter um ciúme descontrolado. Eu precisava disso e me agarrei nela desse jeito, apesar do pouquíssimo tempo que nos conhecíamos. Mas eu sabia que no fundo, eu não era apaixonado por ela de verdade. Eu amava a .
Por que eu tinha feito isso com o ? Ele estava tão certo de que ela era a tal garota dos sonhos dele... e eu acabei com tudo...
Voltei pra casa e me joguei na cama de roupa e tudo. Peguei meu celular e tentei ligar pra várias vezes, mas ela não atendeu. Devia estar puta comigo, com toda a razão.
Que merda! Eu tinha que resolver essa situação. Eu tinha que descobrir se ela era realmente a garota do .
Eu não poderia contar a verdade pra ninguém, eu não queria que ninguém soubesse do meu problema com a , não queria que ninguém se metesse na minha vida.
Resolvi que ia conversar com a e colocar um ponto final nisso tudo pra que ela pudesse ser feliz com o , caso fosse isso que ela quisesse.
Passei a madrugada inteira em claro, sem conseguir me perdoar por tudo que tinha feito e dito. Eu tava muito preocupado com a , em como ela tinha voltado pra casa e quando já eram mais ou menos 11:30h da manhã, resolvi ligar de novo e ela finalmente atendeu.
- ! Onde você estava? Por que não me atendeu ontem à noite? Você chegou bem? Quem te levou pra casa? – eu tava muito ansioso e disparei descontroladamente as perguntas sem esperar por uma resposta.
- Desculpe, eu tomei um remédio pra dormir e não ouvi... – a voz dela estava completamente desanimada.
- Tudo bem? – perguntei preocupado.
- Precisamos conversar ... – ela disse de repente e eu já sabia o que ela queria falar – ?
- Ah... Claro! - respondi, disfarçando – Vamos almoçar juntos?
- Vamos sim... a que horas você passa aqui?
- Daqui à uma hora tá bom? – perguntei meio nervoso.
- Ótimo! Vou esperar – ela nem esperou que eu falasse alguma coisa e desligou praticamente na minha cara.
Fiquei olhando o celular por um tempo e depois levantei, ficando de frente pras fotos que tinham num quadro no meu quarto. Eu e o estávamos em praticamente todas elas e eu sorri vendo como ele tava feliz naquela época. Lembrei do nosso primeiro e último grande show e em como ele nos acalmou e ficou feliz quando vimos a multidão que nos esperava fora do camarim. Ele sempre foi um cara positivo e mesmo depois de tudo que tinha acontecido no acidente, ele continuava sendo meu herói. Eu não conseguiria passar por tudo que ele passou e ainda sorrir e continuar vivendo. Eu era fraco.
Tomei um banho, me vesti e saí pra buscar a .
Quando cheguei, ela já estava pronta na porta me esperando.
- Oi ... – ela disse, entrando no carro.
- Oi ... tudo bem? – perguntei sem graça. Eu estava com vergonha depois de tudo que eu tinha falado pra ela ontem – Eu queria que você me perdoasse por tudo que eu falei ontem... eu não podia ter feito aquilo, mas...
Ela não falou nada e apenas assentiu, sem me olhar. O clima tava um pouco pesado e eu sabia que ela ia terminar comigo, mas sinceramente não estava chateado.
Chegamos ao restaurante, nos sentamos e pedimos um vinho. Ela ainda continuava calada e eu resolvi começar.
- , eu quero te fazer uma pergunta, posso? – falei calmamente.
- Fala... – ela me olhava nervosa e quando bebeu um gole do vinho, reparei que sua mão tremia.
- O que realmente aconteceu ontem? – eu a olhava nos olhos e notei que ela desviou o olhar com a minha pergunta.
- Eu não sei... – ela falou fechando os olhos – Eu não sei ... foi muito estranho... eu senti coisas que nunca tinha sentido antes...e o ... - ela parou de falar e voltou a me encarar.
- Parecia que vocês já se conheciam... – falei sério.
- Eu sinto como se já o conhecesse, é estranho isso, mas eu acho que já vi o em algum lugar... – ela sorria agora e eu por mais que não quisesse, não gostei.
- Deve ter sido na praia no ano passado... – falei e fiquei observando a reação dela – Ele pelo menos acha que você é essa garota que ele viu na praia naquele dia... – falei dando de ombros.
Vi que ela ficou me encarando como se não tivesse me vendo e depois seu rosto se abriu num sorriso.
- É claro! Eu lembro agora! – ela falou e em seguida riu – É ele o cara que eu vi na praia! Eu sabia que já tinha visto o em algum lugar!
Então ela era realmente a garota da praia. Certo. E agora?
- Então é mesmo você – eu falei com uma cara triste – Ele ficou me falando isso o tempo todo ontem e eu não quis acreditar.
- , eu queria me desculpar por tudo que aconteceu ontem – ela disse me olhando com carinho – Você é um cara muito especial, mas...
- Mas não sou o ? – falei abaixando a cabeça e sorrindo.
- Não é isso... – ela disse sem graça – É só que... a gente nunca ia dar certo .
- Eu sei que não ... desculpe – segurei suas mãos – Você também é muito especial... – mas não é a ... eu quis dizer mas me contive.
- Eu não queria te magoar... me desculpe... – ela falou e notei que ela estava chorando. Estendi meu braço e sequei a lágrima que escorria pelo seu rosto.
- Não quero que você chore, por favor – falei sorrindo – Eu não estou chateado, eu juro!
Ficamos conversando por um tempo ainda e saímos assim que eu paguei a conta.
Ela achava que eu tinha ficado chateado e concluí que seria melhor assim, senão eu teria que explicar sobre a e eu não queria isso.
Parei o carro na frente da casa dela e ficamos em silêncio nos olhando.
- , eu não queria que você pensasse que eu quis te sacanear ontem – ela finalmente falou.
- Eu não estou pensando isso – falei tocando em seu rosto – Não se preocupe.
- Não quero que você fique triste...
- Isso eu não posso prometer... mas o te merece muito mais do que eu – falei e a beijei no rosto. Ela sorriu e assentiu – Só não o magoe , ele é meu melhor amigo e um cara muito legal.
- Eu não vou magoá-lo... – ela sorriu.
- O depois do acidente se tornou um cara muito inseguro e pela primeira vez depois de tudo que aconteceu, eu o vejo realmente interessado por alguém... então, tenha um pouco de paciência com ele.
- Eu sei ... – ela disse como se já o conhecesse há muito tempo e eu estranhei. Ela falava dele do mesmo jeito que ele falava dela.
Confesso que fiquei muito triste, mas ao mesmo tempo feliz. Era difícil de explicar, mas eu gostava da e não queria terminar com ela. Ao mesmo tempo, me senti aliviado por saber que ela agora estava livre pra viver a sua história com o e do fundo do coração, eu queria que eles fossem felizes.
Nos despedimos e eu fui direto pra casa do , pra depois irmos pra casa do .

* * *

- Mas e aí dude? – voltava da cozinha com duas latas de cerveja – O que ela falou?
- Que não queria mais continuar comigo – falei bebendo um gole da cerveja.
ficou me olhando esperando que eu continuasse a falar.
- E o ? Ele falou com você ontem?
- Falou. Ele tava na minha casa ontem quando eu cheguei.
- Eu e o deixamos ele lá depois da festa – levantou pra pegar mais duas latinhas e voltou pra sala se jogando no sofá – E como foi a conversa?
- Uma merda! Eu falei um monte de besteiras pra ele e acho que ele deve estar muito puto comigo – eu sorri fraco.
- Você e a sua boca né !
Eu não queria mais falar sobre isso e resolvi cortar o assunto.
- Mas agora vai ficar tudo bem e eles vão se acertar – peguei meu telefone pra ver as horas – O vai encontrar com a gente lá na casa do ?
- Você ainda vai lá hoje? – me olhou espantado.
- E porque eu não iria?
- Sei lá porra! Por causa do clima que ficou entre vocês ontem e que você quase saiu no tapa com ele? – disse como se fosse óbvio.
- Cala a boca ! – eu ri e ele me deu o dedo do meio.
Eu queria que a minha amizade com o voltasse a ser como antes e nada melhor do que ir pra casa dele como a gente sempre fazia aos domingos à tarde.
- O vai ou não? – perguntei levantando pra colocar as latinhas vazias na cozinha.
- Acho que não, ele dormiu na casa da Roberta e sabe como ele é... – fez uma cara de tarado.
- Então vamos embora – falei, pegando a chave do carro.
Chegamos em menos de dez minutos na casa do e desceu enquanto eu fui estacionar o carro. Eu estava um pouco nervoso e demorei mais que o necessário pra colocar o carro na vaga. Na verdade eu estava com medo da reação do quando me visse, mas eu queria contar pra ele toda a conversa que eu tinha tido com a e dizer que ele estava certo e que ela era mesmo a garota da praia.
O que eu não esperava era que ela já estivesse ali.
- Acho melhor eu ir então ... eu não quero atrapalhar... – escutei a voz dela quando me aproximei da porta do quarto dele.
- ? – perguntei com cara de babaca – Você aqui... – eu olhava pra ela e depois pro .
- , eu não queria que fosse assim cara... – se antecipou e eu vi que ele tava com medo da minha reação. também estava sério e me olhava como se eu fosse um doido que ia pular no pescoço do a qualquer momento. Imediatamente fiquei triste.
- Não tem problema . A me disse tudo que eu precisava ouvir e eu espero sinceramente que vocês se entendam... – falei do fundo do meu coração.
- ... – ela se aproximou de mim – Desculpe... eu... – notei que ela estava preocupada comigo.
- Melhor eu ir embora... – resolvi sair dali e não atrapalhar mais ainda a vida deles.
Ok, eu não esperava que ela fosse correndo pros braços dele logo depois da nossa conversa. Eu fui pego de surpresa e fiquei sem ação, mas agora eu precisava somente ficar sozinho.

Capítulo 12


“Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.”


Eu já estava enlouquecendo de tanto esperar. Olhei no relógio pela milésima vez, já eram 7:30h da noite e ela ainda não tinha voltado. Nem ele. Eu já havia ligado pro e pro , mas eles não sabiam onde eles poderiam estar. O celular do estava dando caixa postal e o dela eu não sabia o número. Comecei a entrar em pânico quando pensei que talvez eles tivessem se acertado e ela finalmente tivesse percebido que ele era melhor do que eu. Os pensamentos invadiam minha mente me torturando.
No meu desespero, eu vi cenas deles se beijando e se acertando, vi os dois rindo da minha cara, vi os dois entrando no meu quarto abraçados me dizendo que tudo não havia passado de um engano e que ela realmente amava o . As cenas passavam na minha cabeça como se fossem um filme de terror e eu não estava mais agüentando aquela tortura psicológica. Eu ficava de um lado pro outro tentando me acalmar, mas tava ficando cada vez mais difícil. Olhei meu celular pra ver se tinha alguma mensagem, alguma ligação e nada. A minha vontade era de gritar, de sair correndo daquele quarto, pegar o carro e procurá-los, mas nem isso eu podia fazer. Constatei, depois de algum tempo, que realmente eu era um inútil. Onde eu estava com a minha cabeça pra pensar que ela voltaria? Que ela resolveria tudo com ele e voltaria pra mim? Estúpido! Toda a nossa intimidade de horas atrás não havia significado absolutamente nada pra ela e a cada minuto que passava mais certeza eu tinha disso.
Quando minhas costas começaram a doer, devido ao estresse e à tensão, eu tive vontade de morrer, dude. Sinceramente, ninguém merecia passar pelo que eu estava passando. Tanta angústia e desespero juntos dentro de uma mesma pessoa. Resolvi tomar dois comprimidos de uma vez pra ver se melhorava.
Peguei meu celular e tentei ligar novamente pro . Nada... só caixa postal. Merda! Liguei pro .
- Fala – ele atendeu meio entediado e com voz de sono.
- Eles deram sinal de vida? – perguntei aflito demais pra me chatear com ele.
- Não dude... ainda não – ele disse bocejando – , você quer que eu vá pra aí?
- Não precisa , valeu – falei já pensando em desligar pra deixar o aparelho desocupado – Mas qualquer notícia me liga, ok?
- Fica tranqüilo , se eu souber de algo te ligo – ele disse e desligou logo em seguida.
Quando deu 9:00h eu já estava pensando na possibilidade de ligar pra polícia. Mas entrou no quarto naquele momento e estava com o rosto vermelho, como se tivesse chorado muito.
- O que aconteceu dude? – falei me aproximando rapidamente dele, extremamente preocupado – Tentei te ligar mais de mil vezes !
Ele não respondeu e sentou na minha cama sem me olhar e depois fechou os olhos colocando as mãos no rosto.
- Pelo amor de Deus ! O que aconteceu? – eu estava a ponto de ter um infarto.
- Eu menti... – ele disse e sua voz estava embargada – Ela é sua ...
- Como assim você mentiu? – falei tocando no braço dele – Me conta o que aconteceu... – tentei manter minha voz tão controlada quanto era possível.
- Eu menti... Eu não sou apaixonado por ela... – ele desatou a chorar e seu corpo balançava freneticamente.
- Calma ! – eu não estava entendendo nada e já estava em pânico porque a não voltou com ele – Vamos conversar... Onde está a ?
Ele levantou o rosto inchado e vermelho, me encarando.
- Conversar? O que você quer conversar ? Ela é sua e não há mais nada pra conversar! – ele estava ficando um pouco alterado e eu tentei manter a calma.
- E onde ela está agora? – perguntei mais uma vez tentando controlar a minha voz.
- Foi pra casa... – ele respondeu mais calmo e eu suspirei aliviado.
- Como ela está? – eu tinha que saber.
- Ela parecia bem... disse que estava cansada... – ele falou e sorriu da minha cara de alívio. Mas mesmo assim eu estranhei ela não ter ligado. Depois lembrei que provavelmente era porque ela não tinha o meu número.
- , eu não estou entendendo... Você não é apaixonado por ela? – eu estava confuso demais.
- , eu quero te perguntar uma coisa... – ele secou o rosto com as costas da mão e fungou mais uma vez – Você realmente ama a ?
- Amo mais do que você pode imaginar – nem precisei pensar pra responder – Ela é a minha vida ! – falei e meus olhos se encheram de lágrimas sem que eu quisesse. Eu sei... muito gay...
Ele sorriu e também estava chorando. Dois gays!
- Então eu quero apenas uma coisa de você!
- O que? – ele estava muito estranho e eu me preocupei mais uma vez.
- , quero que você a faça feliz... lembra quando você me pediu isso? – claro que eu lembrava – Ela é uma pessoa muito especial e ela precisa ser feliz, entende?
Claro que eu entendia! Mas esse era o problema. Eu seria capaz de fazê-la feliz da forma como ela merecia?
- Não posso prometer isso... não sei se serei capaz de dar tudo que ela precisa pra ser feliz... – falei sinceramente.
- Ela precisa de você ! – ele disse segurando meus ombros – Ela quer você cara!
- Eu não estou entendendo dude... O que exatamente você está querendo dizer com isso? – perguntei extremamente preocupado com o rumo daquela conversa.
- Escuta o que eu vou te dizer – ele segurou meus ombros – A passou por muita coisa complicada na vida... e bem, ela precisa que você a faça feliz...
Eu sabia que ele estava me escondendo alguma coisa e eu tinha que saber o que era.
- , agora você vai me contar essa história direito... – falei o encarando sério.
Ele ficou calado por alguns instantes e depois me encarou.
- , eu tive uma conversa muito séria com ela e fiquei sabendo de umas coisas muito desagradáveis... – ele parou de falar quando viu a minha expressão de espanto.
- Coisas desagradáveis? – falei muito baixo e não sei se ele conseguiu escutar – Como o que?
- Ela teve um namorado que... – ele não tava conseguindo falar e eu me irritei.
- Porra ! Fala logo! – falei mais alto que o necessário e ele deu um pulo na cama – Você quer que eu tenha um ataque do coração?
- Escuta – ele suspirou – O negócio é o seguinte... a teve um relacionamento que não deu certo e não acabou muito bem... ele era muito ciumento e... – ele parou de falar e eu bufei impaciente – Ela ficou muito abalada com tudo e depois disso não se envolveu sério com mais com ninguém...
Eu não estava conseguindo pensar com clareza. Tinha mais coisa nessa história e eu podia sentir que ele não havia me contado tudo. Eu me afastei dele, empurrando a cadeira para a janela, sentindo a brisa bater em meu rosto. Então ela tinha passado por um relacionamento difícil e agora queria se envolver comigo... Ela pensava que ter um relacionamento comigo não seria difícil? Eu ia ter que descobrir o que tinha acontecido com ela... Mas não sabia se conseguiria me envolver...
Vi que ele se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro.
- , ela te ama de verdade... – ele falou e eu senti meus olhos encherem de lágrimas.
- Ah ... eu não sei... eu não me envolvi com ninguém desde... – não precisei terminar a frase e ele entendeu.
- Mas porque não tentar agora? Dude, ela te ama e vocês têm tudo pra serem felizes... – ele disse me encarando agora – Chegou a sua vez !
- Será? – consegui dizer – Mesmo assim, obrigado por tudo ... e desculpe por ter acontecido assim – falei sinceramente e nos abraçamos.
- Nós estamos parecendo dois gays assim sabia? – falei rindo e ele riu também.
- Eu já desconfiava que você era gay! – falou rindo.
- Mas você ainda não me explicou uma coisa ... Você tinha falado que amava a e agora disse que não é apaixonado por ela...não entendi – falei intrigado.
- É uma história longa...
Conforme ia me contando sobre ele e a , mais eu ficava abismado. Eu nem desconfiava que o relacionamento deles fosse assim tão agitado.
- Dude, eu não sabia que as coisas estavam desse jeito! – falei perplexo – E o que você vai fazer agora?
- Eu amo a mais do que tudo e não sei o que fazer...
- Mas , você tem que conversar com ela e esclarecer as coisas – falei tentando aconselhar meu amigo.
- Conversar com a é uma das coisas mais difíceis do mundo! – ele disse triste – Ela é uma pessoa muito difícil...
Ficamos conversando até quase duas da manhã e quando ele foi embora eu me senti o cara mais feliz da face da terra. Eu não tinha mais que me preocupar com o fato de que ele a amava, eu não precisava mais ficar preocupado em ter que esconder meus sentimentos. Eu sabia que apesar de todos os problemas que ele e a tinham, eles iam acabar se acertando.
Mas, mesmo com toda a felicidade que estava dentro de mim, ainda tinha espaço pra uma coisa. A minha maldita insegurança. O que eu ia fazer daqui pra frente? Assumir um relacionamento com a ? Que tipo de relacionamento seria? Eu não sabia direito o que tinha acontecido entre ela e o outro cara. O desespero ou conta de mim nessa hora e eu de repente eu não estava mais tão feliz. O que eu poderia oferecer? Eu não era mais um homem completo e isso me deixou arrasado quando eu pensei em como ela era linda e poderia ter qualquer cara que quisesse. Mas ela parecia gostar muito de mim e não parecia se importar com o meu problema, pelo menos não demonstrava. E se ela se cansasse de ficar ao meu lado? Ela me deixaria por um cara que pudesse fazer com ela coisas que eu nunca poderia? Não queria pensar nisso, mas era inevitável quando eu visualizava minha vida ao lado da . Novamente um filme passou pela minha cabeça e eu me vi ao lado dela, sempre precisando de ajuda pra alguma coisa, nunca conseguindo ser o cara que a protegeria se ela precisasse de proteção. Vi nitidamente nós dois deitados numa cama e ela chorando sem que eu pudesse ver. Me vi triste num canto enquanto eu a observava conversando com um cara, sorrindo e dizendo que já não agüentava mais ficar comigo. As cenas apareciam do nada na minha mente e eu fechei os olhos, como se fosse possível fazer com que aquela tortura acabasse, mas não era tão simples e elas me acertavam como facas. Por último eu vi o exato momento em que ela dizia que não me amava mais e que tinha encontrado uma pessoa que poderia fazê-la feliz.
Balancei a cabeça e tentei afastar esses pensamentos da minha mente. Não ia adiantar nada ficar pensando essas coisas agora e resolvi deitar. Minhas costas estavam começando a doer novamente eu precisava descansar um pouco.
Quando deitei, reparei um papel na mesa ao lado da cama e o peguei pra ver o que era.
havia deixado o número do telefone da .

Capítulo 13


“Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.”


Não sei por quanto tempo fiquei segurando aquele papel em minhas mãos. A incerteza martelava em minha cabeça. Ligava logo pra ela? Esperava até amanhã? Esperava ela me procurar? Droga! Eu nunca tinha ficado com tantas dúvidas com relação a uma garota. Peguei meu celular e gravei o número, no caso de perder o papel ou da minha mãe jogar fora, mas não apertei aquele botão verdinho que parecia bastante convidativo. Vi que já eram quase três da manhã e já era muito tarde pra ligar pra alguém. Mesmo assim, a vontade de ouvir aquela voz tão doce me tentava a cada minuto. Por fim, decidi ligar quando eu acordasse.
Pensei no que o havia me falado e fiquei imaginando o que tinha acontecido, mas não consegui pensar em nada que parecesse plausível. Talvez o cara fosse um chato e ciumento que não largava do pé dela, mas o estava muito estranho e eu cheguei à conclusão que era mais do que isso. Tentei estender os braços pra conseguir esticar um pouco a coluna e a dor foi insuportável. Passei a mão nos cabelos me perguntando se aquela dor poderia ficar pior do que já estava. Ela estava tão forte que não me deixava pensar em mais nada e pela primeira vez, eu agradeci por isso.
Infelizmente tive que recorrer a um remédio pra dormir, pois sem ele seria mais uma noite em claro e no dia seguinte eu estaria pior do que hoje. Eu não gostava muito de tomar esses remédios, mas realmente não tive alternativa. Apaguei em menos de dez minutos e os meus sonhos foram os mesmos de sempre, mas dessa vez eu via nitidamente uma pessoa apontando uma arma pra mim e atirando. Via também a gritando e o enquanto me segurava. Meu peito estava encharcado de sangue e eu me via morrer.

* * *

Quando acordei já eram quase meio dia e minha mãe havia deixado um bilhete ao lado da minha cama dizendo que tinha ido ao salão e que depois ia ao supermercado. Se eu precisasse de alguma coisa, era só ligar pra ela.
Por mais que as coisas estivessem confusas, surpreendentemente eu acordei extremamente bem. Não sei o que aconteceu, mas mesmo tendo aquele sonho ruim, eu cheguei à conclusão de que eu merecia uma chance. Na mesma hora pensei em ligar pra ela, mas não sabia o que ia dizer. Então resolvi esperar um pouco, pois talvez ela ainda estivesse dormindo.
As dores tinham sumido e eu estava muito bem disposto. Me espreguicei na cama e logo em seguida fui fazer minha higiene matinal. Aproveitei pra tomar uma ducha e vesti uma bermuda. Liguei o som do meu quarto e estava tocando IS This Love, do Whitesnake... Dude, eu adorava essa música e até cantei junto. É, realmente eu estava mais animado do que nos outros dias. Todos aqueles pensamentos que eu tinha tido não estavam mais me incomodando tanto e eu tinha decidido tentar ser feliz.
Fui pra cozinha e vi que minha mãe tinha deixado um prato pra mim no forno. Depois de satisfeito, voltei pro quarto e meu celular tocou. Eu estava tão ansioso, que atendi no segundo toque sem nem ver quem era.
- Alô! – falei prendendo a respiração.
- Oi amor... Já acordou? – minha mãe falava do outro lado toda empolgada.
- Oi mãe... já sim... – esperava que ela não percebesse a decepção na minha voz.
- Já comeu? Deixei um prato dentro do forno, você viu?
- Vi sim, mãe... tava uma delícia, obrigado..
- Melhorou da dor nas costas?
- Melhorei, obrigado mãe.
- Eu ainda estou no salão e depois vou ao supermercado. Você viu meu bilhete?
- Vi sim... fica tranqüila. Eu estou bem e pode ir sem pressa, ok?
- Tá bom, meu amor... se precisar de alguma coisa, me liga! Te amo meu bebê...
- Tá mãe... eu também. Tchau!
Tive que rir da minha mãe. Do jeito que ela falava, parecia que eu tinha cinco anos de idade. Meu celular ainda estava em minhas mãos quando eu pensei em ligar pra ela, mas a campainha tocou e eu fechei o celular, colocando ele no meu colo. Não me preocupei em colocar uma camisa e fui atender a porta. Devia ser um dos caras. Quando abri, dei de cara com a . Quando ela me viu, sorriu abertamente.
- Oi – ela disse me olhando de um jeito muito lindo.
- Oi! – eu disse surpreso – Eu ia te ligar agora!
- É mesmo? – ela fez uma cara de quem não tinha acreditado e eu sorri.
- Entra ! – falei, abrindo passagem pra ela.
Entramos e ficamos um tempo em silêncio, nos olhando intensamente. Ela usava um vestido lilás e estava mais bonita do que eu conseguia me lembrar
- Er... você não quer sentar? – falei meio sem graça – Quer beber alguma coisa? Água?
- Não, obrigada ... – ela sentou e ficou me olhando, mas agora ela parecia um pouco triste eu tive vontade de abraçá-la. Me aproximei dela e peguei suas mãos.
- , o que aconteceu ontem? Eu fiquei tão preocupado.
- Seu amigo é uma pessoa muito legal ... mas ele é meio estranho... – ela disse rindo e eu assenti. Eu, melhor do que ninguém sabia disso. Sorri e ela me acompanhou.
- Eu sei, ele esteve aqui ontem à noite...
- Então você já sabe tudo que eu disse pra ele né?
Tudo não, mas eu ia descobrir.
- Já sim... – de repente, eu fiquei muito consciente da presença dela tão perto de mim e lembrei que estávamos sozinhos em casa – ... nós precisamos conversar...
Ela me olhou um pouco surpresa e assentiu. Tudo bem. Eu ia ter que expor toda a minha insegurança com relação a gente e queria descobrir o que pudesse sobre o outro namorado dela.
Ela estava tão próxima de mim que eu quase podia sentir a sua respiração no meu rosto. De repente eu peguei seu rosto entre minhas mãos e num impulso a beijei. O beijo começou calmo, apaixonado, suave. Mas depois ele foi se tornando mais poderoso e nossas línguas começaram a abrir mais espaço em nossas bocas, tornando impossível lutar contra. Mesmo assim eu consegui e a afastei um pouco para poder olhar em seus olhos. Vi que seu olhar era mais apaixonado do que eu esperava e aquilo fez com que meus medos voltassem com força total sem que eu pudesse controlar. E se eu não conseguisse corresponder a toda aquela paixão? E se eu não fosse o homem que ela esperava que eu fosse? Será que ela sabia que devido ao meu problema, as coisas ali não funcionavam normalmente? A vergonha me dominou e eu tentei disfarçar. Ela levantou do sofá e sentou no meu colo, me abraçando forte pelo pescoço. Apoiei minha cabeça no seu ombro e a abracei também sentindo todo o perfume que emanava dela. Me senti anestesiado com aquele cheiro entrando em meus pulmões. Minhas mãos passeavam pelas suas costas e ela tocava de leve em meu peito, me causando sensações que eu tinha esquecido que existiam. Gemi baixo e ela mordeu o lóbulo da minha orelha. Dude, vou dizer que nessa hora a minha vontade foi levantar daquela cadeira, pegá-la no colo, colocá-la na cama e fazer amor com ela. Se eu pudesse ter direito a um desejo nesse momento, eu não pensaria duas vezes em realizar o que eu estava pensando em fazer.
- Eu te amo... – ela sussurrou no meu ouvido, deslizando seus dedos em minha nuca, me causando arrepios pelo corpo. Como ela conseguia isso?
Eu não respondi de imediato, tentando assimilar o que ela havia dito. Apenas a apertei mais forte e beijei seu ombro. Eu queria dizer que a amava também, mas não consegui. Não porque eu não a amasse, mas por medo de expor meus sentimentos. Eu era um babaca...um covarde. Ficamos ali abraçados por algum tempo até que ela se afastou e me encarou. Vi que seus olhos estavam cheios de lágrimas. Levantei meu braço e as sequei com minha mão.
- Não gosto de te ver chorando... me faz mal... – falei com um sorriso fraco no rosto.
- Eu não estou chorando de tristeza, . Eu estou chorando porque a sensação que eu tenho é de que encontrei alguém de quem eu tinha muita saudade e que me fazia muita falta, sabe – ela disse e mais lágrimas escorreram pelo seu rosto.
- Eu pensei que era só eu que tinha essa sensação... – falei sorrindo e a beijando nos lábios – pensei que eu tava ficando maluco...
Rimos um pouco e voltamos a nos abraçar. A felicidade me invadiu de uma forma que eu não sabia existir. Ela se sentia exatamente como eu!
Ouvi a barriga dela roncar alto e ela ficou muito vermelha.
- Tá com fome? – perguntei sorrindo e beijei seu ombro.
- Um pouco... não deu tempo de tomar café... desculpe... – ela ainda estava vermelha que nem um pimentão.
- Você nunca tem que me pedir desculpas por nada... Não esquece nunca disso, ta? – falei, segurando seu rosto entre minhas mãos e voltando a beijar aquela boca que eu tanto amava – Vamos almoçar? – falei em seu ouvido, já pensando no que eu poderia preparar pra gente comer.
- Vamos! – ela riu e levantou do meu colo, mas com sua mão ainda segurando a minha. Fomos em direção à cozinha e eu abri a geladeira, tentando achar alguma coisa pra esquentar. Não tinha nada e lembrei que minha mãe tinha ido ao supermercado – Acho que teremos que pedir pizza, não tem nada aqui! – falei voltando meu olhar pra ela.
- Pizza pra mim ta ótimo!
Depois que pedimos, ficamos ainda conversando por um tempo. Soube que ela era brasileira e que morava aqui desde os sete anos de idade. Seus pais eram separados e ela tinha vindo pra estudar. Seu pai havia falecido quando ela ainda era criança e ela tinha ido ao Brasil no ano passado visitar a mãe que estava um pouco doente e depois acabou por fazer um curso de moda por lá. Eu ouvia extasiado as histórias que ela me contava sobre a sua família e amigos do Brasil.
- Eu sempre quis conhecer o Brasil – falei de repente tocando em seus cabelos – Deve ser lindo! Eu vi fotos de umas praias lindas...
- Quem sabe nós não vamos pra lá nas minhas próximas férias? – ela riu e piscou o olho – Minha mãe vai adorar te conhecer !
Quando eu ia responder, a campainha tocou. Devia ser a pizza. Salvo pelo gongo!
- Deixa que eu atendo... – ela levantou do sofá, me deu um estalinho e foi atender a porta.
Comemos tudo e tomamos uma garrafa Pet de 2 litros de coca-cola. Ela lavou a louça que sujamos e eu sequei. Depois que guardamos tudo, voltamos pra sala.
- Caramba... acho que comi demais! – ela sorriu e se jogou no sofá, colocando a mão sobre a barriga.
- Eu também! E olha que eu já tinha almoçado... – falei me sentindo realmente cheio. Ela bocejou e eu tive uma idéia. Uma má idéia, diga-se de passagem..
. - , você quer descansar um pouco? Deita lá na minha cama... – falei sorrindo e me aproximando dela no sofá.
- Só se você deitar comigo! – ela disse levantando e segurando minha mão, me puxando.
Tremi com a possibilidade de ficar na mesma cama que ela. Cara, eu tava muito gay! Parecia um adolescente virgem que ia comer uma gostosona.
- Tudo que você quiser! – falei sem pensar, me arrependendo depois.
- Tudo mesmo? – ela perguntou com cara de safada e eu tive certeza que tinha falado besteira. É lógico que eu queria ficar na mesma cama que ela. Aliás, eu queria fazer várias outras coisas com ela na minha cama, mas não sabia como fazer isso.
- Vamos ... – falei rolando os olhos e sorrindo.
Fomos até o meu quarto e ela entrou primeiro. Entrei em seguida e fechei a porta. Senti que minhas mãos estavam suadas e as passei pela bermuda e depois pelos cabelos pra disfarçar, no caso dela querer me dar a mão novamente. Ela sentou na cama e pegou meu travesseiro, o abraçando em seguida.
- Você tem um cheiro tão bom – ela fechou os olhos inspirando profundamente. Lembrei aliviado, lembrando que minha mãe tinha trocado a fronha ontem e que eu não tinha tido pesadelos e suado a fronha toda. Então devia estar com o cheiro do meu shampoo ou do meu perfume. Sorri e me aproximei dela, sem coragem de tocá-la de tão tenso que eu estava.
- Você não vai deitar? – ela disse tirando o tênis e deitando de lado batendo a mão espalmada no colchão – Vem...

Capítulo 14


“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”

Eram momentos como esse que eu queria realmente voltar no tempo e poder mudar o passado. Queria estar ali naquele quarto com a garota mais perfeita do mundo e poder me entregar a tudo que eu estava sentindo. Fiquei sorrindo pra ela com cara de babaca e não me mexi enquanto ela continuava a me chamar pra deitar ao lado dela.
- Vem ! Prometo que eu não vou abusar de você! – ela disse sorrindo e beijando os dedos como se estivesse fazendo uma promessa.
- , não é isso... – falei totalmente sem graça e senti que tinha ficado com meu rosto corado. Que merda! Parecia que eu nunca tinha deitado na mesma cama que uma mulher! A minha vergonha era tão grande que eu quase falei que era melhor se ela fosse embora. Quase.
- Olha, eu não sei, mas acho que você vai ficar muito mais confortável aqui... – ela fez uma careta – E eu estou com muito frio! – ela sorriu e piscou.
Não ia ter escapatória. Como eu poderia resistir a isso? Eu teria realmente que me deitar ali com ela e ver o que ia acontecer. Passei da cadeira pra cama sem maiores dificuldades e deitei ao lado dela, me recostando pra não ficar muito desajeitado. Imediatamente ela colocou sua cabeça em meu peito fazendo com que eu passasse meus braços ao seu redor.
- Não está melhor assim? – ela perguntou levantando um pouco o rosto pra me olhar.
- Bem melhor! – respondi e beijei sua testa.
Ficamos em silêncio por algum tempo e eu não sabia o que dizer. Ela por sua vez, parecia pensativa e fazia movimentos circulares no meu peito com o dedo.
- Posso te perguntar uma coisa? – ela falou depois de um tempo e apoiou o queixo no meu peito pra poder me olhar.
- Claro que pode! – eu disse sorrindo, tentando disfarçar o nervosismo.
- Deixa pra lá... – ela disse baixo – Acho que você não vai gostar...
- Você sabe que pode me perguntar qualquer coisa, não sabe? – falei sinceramente e segurando seu rosto – Pode perguntar... por favor...
Ela ficou em silêncio por alguns segundos como se estivesse formulando a pergunta de uma forma que ficasse melhor pra mim.
- Eu percebi que você ficou diferente quando te chamei pra deitar aqui... Do que você tem medo ? – ela olhava dentro dos meus olhos e era incrível como parecia que eu era transparente. Apenas sorri e acariciei seus cabelos.
- De não conseguir fazer o que você espera que eu faça... – respondi sinceramente.
E era verdade. Eu não podia decepcionar essa garota e eu sabia que havia uma grande possibilidade de que isso acontecesse. E o pior, eu tinha medo de me decepcionar...
- Eu não espero que você faça nada! – ela falou levantando mais a cabeça e ficando muito próxima de mim, quase encostando sua boca na minha – Nós vamos fazer acontecer! Nós dois juntos! – eu sentia a respiração dela bater no meu rosto.
- ... eu... não sei se... – falei tocando em seu rosto – Não quero te decepcionar.
Mas eu sabia que já tava decepcionando deixando transparecer toda a minha insegurança naquele momento. Eu tinha muito medo do que ela ia pensar quando percebesse que eu era um homem que não poderia fazer sexo normalmente. Eu tinha medo que ela me deixasse.
Começamos a nos beijar e senti que não tinha mais volta. Não queria parecer mais covarde do que eu já estava parecendo. Eu tinha que tentar por ela, por mim...
Eu estava recostado na cama e ela sentou em cima de mim. Tirei seu vestido e ela ficou só de calcinha. Dude, eu ficava maravilhado só de olhar para ela!
De repente, ela se levantou e foi até a porta do quarto pra passar a chave, no caso da minha mãe sem querer entrar, ou o inconveniente do ... Eu sorri pra ela, que sorriu de volta. Devo ter ficado olhando com cara de tarado enquanto ela andava de volta pra cama, por que ela riu e me devolveu o olhar de forma maliciosa.
Ela se jogou em cima de mim e começamos a nos beijar novamente e dessa vez não paramos. Conforme foi esquentando, achei que estava enlouquecendo de verdade. O que eu tava fazendo ali com aquela garota maravilhosa? Eu tinha vergonha da minha impotência e ela percebeu, já que hesitei muito pra tirar a minha bermuda. Mas ela era insistente e acabou tirando tudo.
Dude, o que era aquilo? Ela se mexia por cima de mim e eu podia sentir seu corpo quente encostando-se em meu peito e em meus braços. Sua boca me tocando de um jeito tão carinhoso que eu me senti o cara mais amado do mundo e queria retribuir da mesma forma.
Uma revolta me invadiu porque eu queria poder fazer amor com ela de um jeito normal, como eu sempre fiz com outras garotas que não significavam nada além de sexo pra mim. Mas com ela era diferente, eu queria sentir, eu queria que ela sentisse prazer. Mas eu não era mais capaz disso e por um momento, que deve ter durado apenas dois segundos, eu pensei em parar e dizer que era melhor se ela fosse embora. Tentei afastar esses pensamentos pessimistas e me concentrar somente nela. Ela merecia que eu tentasse.
Ela não podia nem imaginar o conflito que estava acontecendo dentro de mim naqueles minutos. E por um lado, eu não queria que ela soubesse, pois poderia estragar todo o clima.
Queria muito que ela sentisse prazer e fiz tudo que eu sabia e podia pra ela perceber o tamanho do amor que transbordava em mim e finalmente quando ela chegou ao clímax, senti seu corpo inteiro tremendo em minhas mãos. Foi uma experiência incrível, eu tenho que confessar... tinha sido tão profundo...novo...diferente...
Eu tinha que admitir que era melhor do que eu pensava. Claro que eu não tive as mesmas sensações de antes, mas não foi tão ruim assim. Sentir o quanto ela estava entregue naquele momento único, foi quase melhor do que ter um orgasmo.
Pude perceber que durante todo o tempo em que nos amávamos, ela estava muito preocupada comigo, se eu estava gostando, se eu estava conseguido sentir prazer e etc., mas não disse nada.
Estávamos agora deitados, abraçados, suados e principalmente felizes. A respiração dela estava muito ofegante e eu me preocupei.
- Tudo bem? – perguntei tentando ver seu rosto.
- O que você acha? – ela respondeu ainda ofegante, mas sorrindo e me abraçando forte – ... eu nunca senti isso...assim desse jeito... – ela colocou seu rosto no meu pescoço e senti sua respiração quente na minha pele.
- Foi estranho pra mim... – falei beijando seus cabelos e depois sua boca – Estranho, mas bom!- eu sorri ao falar e a abracei forte também. Ela me beijou delicadamente e percebi que não poderia mais ficar longe dela. Fiquei acariciando seus cabelos, imaginando se ela estava se sentindo tão feliz quanto eu.
Naquele momento eu gostaria de ter dito muitas coisas, mas fiquei com medo de falar algo que estragasse o clima maravilhoso que se formou entre nós. Não queria parecer apaixonado demais, bobo demais, ansioso demais, deslumbrado demais e acabar por assustá-la. Ela era perfeita demais e percebi com um sorriso imenso no rosto que ela era perfeita pra mim! Ela era minha e uma onda de alívio tão grande me invadiu que eu poderia explodir a qualquer momento.
- Daria um milhão de beijos pelos seus pensamentos... – ela disse de repente, me tirando dos meus devaneios.
- Estava pensando em você... – eu disse sorrindo e beijando o alto da sua cabeça – Eu só penso em você desde o dia em que te conheci... há um ano atrás – confessei a abraçando forte enquanto eu falava.
Ela ficou em silêncio, processando minhas palavras e depois ouvi seu riso.
- Naquele dia lá na praia eu ia pedir pro Matt nos apresentar, mas aquela garota chegou e você levantou e saiu com ela... Parecia ser sua namorada, mas quando eu perguntei pro Matt, ele disse que era só mais uma “” – ela riu de novo e passou o braço por cima da minha barriga, ficando com o rosto virado pra mim.
- O Matt disse isso? – filho da puta...
- Eu achei engraçado, não entendi na hora e ele me explicou que seu sobrenome era e ela era mais uma das suas inúmeras conquistas.
- Ou seja, ele denegriu totalmente a minha imagem... – falei meio puto.
- Totalmente não... – ela passou a mão pelo meu braço – Eu sabia que você não era do jeito que ele falava... não me pergunte como, mas eu sabia...
Lembrei daquele dia como se tivesse acontecido ontem. Ela estava sentada ao lado de Matt e eu queria conhecê-la também, mas depois uma garota me chamou e eu levantei, me afastando dela. Fiquei com raiva de mim nessa hora. Podia tê-la conhecido enquanto eu era normal, mas agora...
- Fico feliz que você tenha me visto antes do acidente... Pelo menos me viu como eu era... – falei e minha voz mudou – Agora eu sou... – não consegui terminar e fechei os olhos. Eu não queria pensar nisso... não agora com ela em meus braços.
Eu estava me sentindo feliz e não queria que nada atrapalhasse aquele momento que pelo menos pra mim, estava se tornando inesquecível.
Ela não falou nada e eu me senti mal por ter tocado nesse assunto.
- Não fale desse jeito, por favor... – ela disse depois de um tempo.
- Desculpe ... – falei a abraçando um pouco mais forte – Eu não devia ter falado isso...
- , eu queria que você soubesse que isso não importa... – vi quando ela passou a mão em uma das minhas pernas – E o me contou que o médico disse que você ainda pode voltar a andar um dia... – ela parou, percebendo que tinha falado demais.
Eu me recostei na cama e fiquei olhando pra ela sem acreditar no que ela tinha dito.
- O que? – perguntei ainda atônito.
- Desculpe... eu... – ela estava visivelmente nervosa e surpresa com a minha reação.
- O que aquele idiota do falou? – eu estava um pouco irritado agora, mas procurei me controlar.
- Olha , desculpe por ter falado isso... o falou que você não gosta de falar sobre esse assunto... desculpe... – ela ficou se desculpando, mas eu nem ouvi.
- ... o que o falou pra você à respeito disso? – eu estava muito puto com o ! Ele não tinha o direito de ter falado sobre essa história com ela. Eu não me permitia mais ter esperanças com relação a isso e não precisava de ninguém me dizendo pra voltar a acreditar naquelas palavras que o médico disse. Se fosse mesmo verdade, eu já teria visto algum resultado não é? Mas ela continuou calada como se estivesse com medo de falar.
Peguei seu rosto entre minhas mãos e ficamos nos olhando por um tempo.
- Desculpe , eu não sabia que isso ia te chatear tanto, mas... – seus olhos ficaram cheios de lágrimas e eu senti um aperto no peito.
- Por favor, não chore... – falei secando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e me sentindo péssimo por fazê-la sofrer num momento que deveria ser tão especial – ... não estou zangado com você, mas é que não gosto de falar sobre esse assunto... – olhei pra cima, tentando disfarçar a minha emoção – Me deixa um pouco deprimido.
Ela ficou calada me olhando.
- É verdade o que o falou, mas eu não posso ficar com esperanças infundadas e...
- Mas ainda existe esperança então? – ela me interrompeu e sentou na cama, me olhando com um sorriso fraco.
Eu não respondi. Aquela conversa estava me incomodando mais do que eu queria.
- Você não pode perder a esperança ! – ela disse sorrindo como se tivesse certeza que eu me recuperaria totalmente.
Eu a olhei sério e depois fechei os olhos, colocando as mãos no rosto. Ela esperou em silêncio.
Eu não queria ter falsas esperanças, esperar por uma coisa que eu sabia que nunca ia acontecer realmente.
- , eu queria que você entendesse que não é que eu não tenha esperança... – falei depois de um tempo tentando me acalmar e procurei parecer o mais tranqüilo possível – O que eu não posso e não vou fazer, é me deixar levar por uma coisa que “talvez” aconteça, sabe? Eu não vou agüentar acordar todo dia e pensar se esse é o dia em que eu voltarei a andar... Isso já é tão difícil pra mim e eu pensar desse jeito só piora tudo, entende? – me inclinei um pouco e beijei seus lábios.
Ela ficou me olhando séria e depois relaxou. Ficou fazendo carinho no meu rosto enquanto me olhava. Tive a nítida sensação de que ela queria me falar alguma coisa, mas hesitava.
- Acho que você está me devendo um milhão de beijos! – falei, acabando com aquele clima pesado que um momento como esse não merecia – Vai me pagar agora?
- Hum... não sei... – ela disse sorrindo, relaxando o rosto e deitou ao meu lado, me abraçando pelo pescoço encostando a boca no meu ouvido, me deixando anestesiado – Será que você merece que eu te pague tudo de uma vez ou parcelado? – ela brincou.
- Do jeito que você preferir... – dei um beijo no seu ombro – Pode ser parcelado... Ela levantou a cabeça e me olhou dentro dos olhos.
- Já te falei que te amo hoje? – ela disse me beijando na boca e depois sorrindo.
- Hum... Acho que hoje ainda não... – falei pensativo, brincando com ela.
- Eu te amo... – ela disse de um jeito tão doce que senti todos os meus medos evaporarem e achei que já estava na hora de retribuir.
- Não mais do que eu... – falei finalmente a abraçando – , eu te amo mais do que tudo...
Nós ficamos em silêncio aproveitando aquele momento tão especial e quando reparei, ela tinha dormido nos meus braços. Fiquei observando seu rosto com a boca levemente aberta e sua mão apoiada no meu peito. Ela parecia um anjo dormindo. Dude, o que eu sentia por ela era tão especial, tão sem palavras, que eu suspirei alto e depois sorri.
Eu sempre tinha reclamado na minha vida que nunca havia conhecido o amor, e aquilo que eu estava sentindo naquele momento era definitivamente amor. Ela não tinha se incomodado com a minha condição e se mostrara bastante compreensiva com as minhas limitações. Eu tinha noção que nem chegava aos pés de antes, mas daqui pra frente eu teria que aceitar que era a única maneira que eu conseguiria fazer amor e eu já estava pensado em procurar um especialista pra melhorar o meu desempenho sexual. Na época do acidente, o médico me aconselhou a procurar por um, mas eu me recusei e agora me arrependia amargamente disso.
Depois de algum tempo, acho que também peguei no sono.
Eu estava num lugar muito bonito. Parecia uma casa antiga e eu via a na varanda com umas roupas de época acenando pra mim. Eu chegava montado num cavalo preto e acenava de volta. Quando desci do cavalo, ela veio correndo ao meu encontro e nos abraçávamos e nos beijávamos apaixonadamente. - Alan, meu amor! Que saudade de você! – ela dizia e segurava meu rosto entre as mãos, me beijando. - Minha princesa, pensei que nunca mais eu ia te ver... – eu falava e reparei que minhas roupas também eram esquisitas. Eu a pegava nos braços e entrávamos na casa, onde eu a deitava numa cama imensa e nos amávamos com muita paixão.
Acordei um pouco suado e reparei que ela ainda dormia profundamente. Que sonho mais esquisito foi esse? O quarto estava escuro e peguei meu celular na mesinha. Já eram 8:45h da noite. Eu não queria acordá-la, o que certamente ia acontecer se eu fosse tentar sair da cama. Então fiquei ali deitado abraçado a ela, sentindo o cheiro dos seus cabelos. Aproveitando cada minuto que eu estava do lado da pessoa que eu tanto amava.
Ela se mexeu um pouco e eu ouvi claramente quando ela disse meu nome. - Eu estou aqui... – eu disse colando minha boca em seu ouvido – Dorme amor... eu estou aqui, eu sempre estarei aqui...
Capítulo 15


“O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam e muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o tempo é eterno”.


Ela se olhava no espelho do meu quarto enquanto eu terminava de me arrumar. Já fazia três meses que estávamos juntos, namorando. Eu me sentia o cara mais feliz e sortudo do mundo por ter a ao meu lado.
- Não sei por que você se olha tanto... Voce não sabe que é linda? – falei abrindo meu armário pra pegar uma camisa.
- Você só fala isso porque me ama... – ela me abraçou por trás do pescoço e me beijou na boca.
- Falo isso porque é a pura verdade! – eu sorri e a beijei intensamente, puxando-a para sentar em meu colo.
- Assim eu vou perder a vontade de sair, amor... – ela disse com a boca colada em meu ouvido, segurando meus cabelos pela nuca e eu me arrepiei.
- Quer ficar? Podemos ver um filme ou... fazer coisa melhor... – olhei pra ela maliciosamente. Ela entendeu e me abraçou, mordendo o lóbulo da minha orelha. Dude, não vou nem tentar explicar as coisas que eu senti nessa hora.
- O vai ficar chateado se a gente não for... Além do mais, vocês prometeram dar uma canja, lembra? – ela piscou pra mim e eu sorri fraco – ... por favor... por mim...
Nós estávamos indo a uma festinha na casa do pra comemorar o aniversário da , eles tinham voltado e estavam “apaixonadamente apaixonados”, segundo as palavras dele. Nossa amizade voltou a ser como era antes e ele e a viraram grandes amigos também. Ia ser uma reunião para poucas pessoas, mas mesmo assim, tocar novamente ainda era difícil pra mim. Mas eu havia prometido que ia tentar e agora teria que cumprir.
Minha vida mudou bastante depois que eu conheci a . Voltei a fazer fisioterapia e voltei a ensaiar também. Nossa vida sexual tinha melhorado bastante com as minhas idas ao terapeuta sexual e sentia que a cada dia podia melhorar mais. Eu estava muito mais independente e já estávamos até pensando em nos mudar para um apartamento que havíamos visitado, que tinha elevador. Ela me incentivava muito em tudo que eu fazia e sempre que podia me acompanhava nos ensaios ou na fisioterapia. Era uma verdadeira companheira.
- Vamos? – falei estendendo a mão pra segurar a dela – O já deve estar chegando.
Pra variar, o idiota do chegou com mais de meia hora de atraso e eu já estava irritado. Eu já tinha pensado em começar uma auto-escola e comprar um carro adaptado, e isso só me fez mais no assunto. Era muito desagradável ficar dependendo da boa vontade do outros.
- Acho melhor a gente pedir um táxi! – falei irritado.
A campainha tocou nesse exato momento e Douguie entrou todo sorridente com Fabiana. - Porra ! Já tava desistindo da carona! – falei bufando.
- Calma amor... – ele disse rindo - , você tem que controlar seu namorado...
deu dois beijos na e um abraço. Não gostava dessas intimidades com ela, mas no fundo eu achava que ele era gay mesmo.
Fabiana e se abraçaram rindo do .

Chegamos na casa do e vi que a “reuniãozinha” que ele tinha falado, na verdade era uma festa. Balancei a cabeça sorrindo enquanto nos aproximávamos da casa.
- ! – saiu da casa com uma lata de cerveja na mão e correu pra nos receber – Cara, eu pensei que vocês não viessem mais!
- O idiota do demorou muito cara! – falei sorrindo e nos abraçamos. deu um pedala no , que saiu correndo fazendo com que tivéssemos um ataque de risos.
Entramos e vi muitos rostos conhecidos, que vieram logo nos cumprimentar. estava com a num canto se agarrando e quando nos viu também veio falar conosco.
- ! ! – ele se aproximou, apertando minha mão e dando um beijo na – Dude, nós temos que resolver a música que a gente vai abrir a apresentação.
Na mesma hora fiquei nervoso. Já tinha até esquecido que íamos nos apresentar. Merda!
- Depois a gente vê isso ! – falei impaciente e doido pra beber uma cerveja – Onde está a bebida?
- Lá na cozinha – respondeu – Quer que eu pegue alguma coisa pra você?
- Não precisa – falei, me afastando dele – Vamos lá na cozinha amor? – me virei pra falar com a . Ela assentiu e me deu a mão.
já estava na cozinha com a Fabiana e ela veio conversar com a .
- Eu não canso de dizer pro bebê que vocês dois juntos é a minha idéia de felicidade! – me deu um beijo e um abraço tão apertado que me fez rir.
- Valeu ! Mas quem é bebê? – perguntei pra sacanear o . Ele detestava aquele apelido.
- Bebê é o meu ! – ela disse apertando as bochechas dele, que estava derretido – Não é bebê? – ela disse olhando pra ele.
Eu e a rimos da cara dele e pegamos nossas bebidas, voltando pra sala.
Depois de várias latinhas, conversas e piadas sem graça do , eu já estava meio tonto.
- , me conta como vai ser esse show que vocês vão fazer hoje – falou colocando a mão no meu braço – pedi pro cantar uma música só pra mim – ela disse piscando o olho e depois dando um beijo estilo “desentupidor de pia” nele.
- Ah ... ainda não sei como vai ser – falei desanimado depois que eles terminaram o beijo e mudei de assunto – Mas eu to muito feliz por você e pelo ! E mais uma vez, parabéns!
- Você sempre tão fofo! – ela disse apertando minha bochecha – Obrigado !
me deu um beijo e foi ao banheiro. Na volta encontrou o Matt e ficaram conversando na porta da cozinha. Ainda não tinha esquecido o que aquele puto tinha falado de mim. Me incomodava vê-la conversando com outro homem. Eu sei que é besteira, mas eu não gostava.
Reparei num cara parado ao lado da escada e achei que o conhecia de algum lugar. Fiquei olhando para ele e cada vez mais eu sentia que o conhecia, mas não me lembrava de onde. Com espanto, notei que ele não tirava os olhos da e isso me incomodou de uma forma que eu não sei explicar. Ele a seguia com o olhar e parecia que ia falar com ela a qualquer minuto. Na mesma hora fiquei prestando atenção nos movimentos dele, porque se ele se aproximasse dela, eu teria que tomar uma atitude. Mas qual?
- Fica tranqüilo ! – colocou a mão no meu ombro ao perceber que eu não parava de olhar a conversando com o Matt – Deixa ela conversar com ele! Eles são amigos!
- Eu sei... – falei e senti uma pontada de angústia vendo como ela estava descontraída ali, conversando com ele e de vez em quando ela falava alguma coisa muito perto dele, como se quisesse que ninguém ouvisse. Procurei pelo cara e ele havia sumido. Que neurose porra! Resolvi me virar e continuar conversando com os caras enquanto ela não voltava.
- Vamos embora? – ela disse de repente, falando em meu ouvido fazendo com que eu me virasse.
- Agora? – eu a olhei e ela estava mais branca que uma folha de papel – O que houve? Tá sentindo alguma coisa? – perguntei preocupado, colocando a mão no rosto dela percebendo que estava gelado.
- Nada amor... só quero ir embora...por favor... – ela disse sorrindo nervosa e eu percebi que ela estava tremendo. Não entendi até que alguém se aproximou de onde estávamos.
- ... Que surpresa! – um cara parado atrás dela falou sorrindo. Ela fechou os olhos e apertou minha mão, e virando. Era o cara que estava olhando para ela antes.
- James... – a voz dela era seca – O que você está fazendo aqui?
- Nossa, mas que delicadeza! Vejo que não perdeu o jeito hein – ele sorria debochadamente – Um amigo meu é amigo do Matt e me chamou. Algum problema?
Ela não respondeu e apertou minha mão mais forte.
Não tenho certeza, mas acho que ele nem tinha reparado que eu estava ali segurando a mão dela. Mas agora olhando o rosto de perto eu tinha certeza absoluta que o conhecia. Senti um mal estar de repente e fechei os olhos. Devia ser da cerveja.
- Não vai me apresentar seu amigo? – o tal James falou com o sarcasmo estampado no rosto.
- Vamos embora ? – ela se virou pra mim, ignorando o cara e vi que estava quase chorando.
Quem era esse cara? Resolvi descobrir.
- Não sou amigo dela – falei estendendo a mão – Sou , namorado da .
Ele me olhou por alguns segundos como se não acreditasse que ela estava namorando comigo e depois abriu um sorriso debochado. E a sensação de que eu o conhecia de algum lugar veio com força total agora que ele estava apertando minha mão.
- Ah! Você que é o namorado dela? – ele ainda sorria e eu fiquei muito puto com a atitude dele – Sou James... o ex-namorado dela.
Então esse James era o tal ex- namorado ciumento? Por isso ele não tirava os olhos dela...
Vi que o na mesma hora levantou e ficou do meu lado. Olhei pra ele e também estava muito pálido como se tivesse visto um fantasma.
- Meu nome é e sou o dono da casa – ele falou sem estender a mão – Desculpe a indelicadeza, mas não te conheço.
- Eu sei que não – James sorriu com desprezo – Eu sou amigo de um amigo do Matt.
- Vamos amor? – falou tão baixo que eu quase não consegui entender.
Fiquei encarando aquele cara e vi que ele olhava pra como se ela ainda fosse namorada dele. Não gostei nem um pouco dessa atitude e me virei pro , que ainda estava do meu lado e o encarava como se esperasse que ele fizesse alguma coisa a qualquer momento.
- Vamos embora , a não está se sentindo bem – falei sério e vi pelo canto do olho que James ria abertamente. Dude, a vontade que eu tive foi de perguntar qual o motivo da graça. Mas a estava tão pálida e nervosa que achei melhor ir embora antes de começar alguma confusão.
- Eu levo vocês – falou e se virou pra – Vamos amor?
- Porra , mas e o show? – parecia chocado – Não vamos mais tocar?
- Hoje não falou pegando sua carteira, chaves e celular – Na próxima vez a gente toca.
Eu estava estranhando a atitude do , mas depois eu perguntaria sobre isso.
- Vocês têm uma bandinha então? – James perguntou – Que interessante... e tocam o que? – a pergunta dele transbordava cinismo e deboche.
Não respondi, já que ele olhava pra mim enquanto falava. Em vez disso, peguei a mão da e beijei sua palma.
- Vamos? – perguntei sorrindo pra ela, que somente assentiu.
- A gente se esbarra por aí... – James falou olhando intensamente pra ela.
- Espero que não – ela disse e me puxou pela mão.
Vi quando ela foi se despedir da , do , da e do . Quando ela estava voltando, passou por ele, que disse alguma coisa no seu ouvido e ao segurar novamente minha mão, ela estava tremendo muito e mais pálida do que antes.
- Amor, tem certeza que está tudo bem? – perguntei muito preocupado.
- Tenho – ela disse com um fio de voz.

Seguimos em silêncio no carro e quando chegamos, ela disse que não estava se sentindo bem.
- Posso dormir aqui hoje? - ela sentou no meu colo e me abraçou pelo pescoço.
- Claro que pode meu amor! – eu disse a apertando forte em meus braços.
Eu amava muito essa garota, pra deixar que um cara qualquer a tirasse de mim.
Deixei que ela me ajudasse com as roupas e fomos pra cama. Senti que ela estava muito agitada e não conseguia relaxar. Comecei beijando de leve seus cabelos e depois seu pescoço. Minhas mãos passeavam pelo seu corpo, fazendo com que ela gemesse a cada toque meu. De repente ela estava por cima de mim e me beijava com muita intensidade.
Nos amamos de um jeito diferente, agressivo, de uma forma que nunca tínhamos feito até hoje. Ela estava nervosa, queria mais e quando chegou ao orgasmo, ela chorou.
Primeiro não consegui dizer nada diante daquele fato tão inusitado. Depois me preocupei com tudo que tinha acontecido naquela noite. Ela estava muito estranha.
- O que aconteceu ? – perguntei um pouco ofegante, vendo que ela tinha enterrado a cabeça em meu pescoço. Mas ela não respondeu.
- É por causa do James? – senti que ela teve um calafrio ao ouvir o nome dele – Eu preciso saber o que aconteceu entre vocês... por favor...
Ela pensou por alguns minutos, como se tentasse se acalmar ou buscasse uma maneira de me contar a verdade.
Pelo jeito que ela ficou quando encontrou com ele, deve ter acontecido algo muito sério. Eu precisava saber.
- Então o James foi seu namorado? – perguntei a abraçando forte e beijando seus cabelos. Ela não sabia que o havia me contado sobre ele – Como o conheceu?
Ela demorou muito pra responder. Não gostei da demora porque significava que ela estava com medo ou que pretendia me esconder alguma coisa, e quando falou sua voz estava trêmula.
- Eu conheci o James numa danceteria. Ele era amigo de uns amigos – ela falou fraco.
- Sei... – continuei tentando parecer calmo – E vocês namoraram muito tempo?
- Porque você tá me fazendo essas perguntas? – ela sentou na cama e ficou de frente pra mim visivelmente irritada.
- Por nada amor! – tentei parecer o mais tranqüilo possível – Não gostei da atitude dele quando veio falar com você... e do jeito que você ficou ao encontrar com ele. Fiquei preocupado... só isso.
Ela me encarou e depois desviou o olhar.
- Desculpe – ela segurou minhas mãos – Vou te contar a minha história com o James – ela suspirou e fechou os olhos.
Eu assenti e peguei suas mãos, as beijando em seguida.
- Eu conheci o James deve ter uns cinco anos mais ou menos – ela não me olhava enquanto falava – Bom, nós começamos a namorar depois de alguns meses. Ele era muito ciumento e inseguro demais. Não demorou pra que a gente começasse a brigar – ela se afastou de mim na cama, soltando-se de minhas mãos – Foi muito difícil quando finalmente eu decidi por um ponto final no nosso relacionamento – ela tornou a fechar os olhos – Ele me perseguia por toda parte, não deixava que nenhum cara se aproximasse de mim. – agora ela me olhava nos olhos – Quando nos encontramos na festa hoje, foi uma surpresa bastante desagradável. A última vez que eu soube dele era que estava morando em outro país...
Eu não falei nada, apenas a puxei pra mim e a embalei nos meus braços como se ela fosse um bebê.
- Quero te pedir uma coisa, – ela disse levantando um pouco pra me olhar – Quero que você me prometa que nunca, mas nunca vai se aproximar dele sozinho – ela passou a mão no meu rosto – Promete?
- , não fica assim amor – eu disse a embalando novamente – Não vai acontecer nada comigo – de repente ela ficou muito perturbada.
- Promete ! – ela se sentou e segurou minhas mãos – Por favor! Promete!
- Tá bom! Eu prometo! – falei sorrindo.
- , você não sabe do que esse cara é capaz – ela teve um calafrio.
- Mas eu ainda tenho uma pergunta – falei beijando seus cabelos – Eu vi que ele te falou alguma coisa quando você foi se despedir do e da ...
Ela não respondeu.
- Por favor.. Fala... – eu já tava meio nervoso – O que ele te disse? Ele te ameaçou?
- Ele... – ela enterrou a cabeça no meu pescoço – Ele... – ela não conseguiu terminar e quando vi, ela estava soluçando.
- O que esse cara te disse ? – falei a afastando pra poder olhar em seus olhos.
- Ele... ele... d-disse que não gostava de me ver perto de nenhum homem... e que eu sabia disso... – ela voltou a chorar. Fiquei preocupado.
- E o que você falou? – perguntei tentando acalmá-la.
- Eu disse que era pra ele me deixar em paz! – ela tava chorando muito.
- Calma amor – falei para acalmá-la – Agora tá tudo bem. Não pensa mais nisso tá bom?
- Eu te amo tanto – ela falou me beijando intensamente – Não quero te perder nunca!
- Você não vai me perder – falei baixinho no seu ouvido – Agora tenta dormir um pouco.
Aos poucos ela foi se acalmando e depois pegou no sono. Eu não consegui dormir. Só pensava no que esse idiota tinha feito com ela. A abracei mais forte e ela suspirou.
Eu queria poder procurar esse cara e dizer que ela agora tinha um homem do lado dela, mas nem isso eu podia fazer. Mas eu prometi a mim mesmo que se esse cara se aproximasse dela novamente, eu ia dar um jeito, não sabia como, mas ia dar um jeito de fazer alguma coisa.
O sono dela estava muito agitado depois do encontro com o James, e eu não consegui pregar o olho.
Às vezes ela acordava assustada ou acordava gritando. Eu a abraçava forte e falava no seu ouvido que estava tudo bem e que eu estava ali. Aos poucos ela ia se acalmando, mas depois que ela pegava no sono novamente, começava tudo de novo.
Eu estava numa posição desconfortável na cama e minhas costas começaram a doer de uma maneira que eu não tive outra alternativa senão tomar um remédio pra conseguir dormir.
Peguei no sono depois de alguns minutos ainda sentindo ela ao meu lado.
Acordei com a claridade entrando e batendo em meu rosto. Abri os olhos e ela não estava ao meu lado na cama. Por alguns segundo pensei que talvez ela tivesse no banheiro ou na cozinha, mas quando estiquei o braço pra pegar seu travesseiro, minha mão tocou um pequeno pedaço de papel.

, me desculpe.
Por favor, não me procure mais.
Eu sempre vou te amar.
Sua


Capítulo 16


“O ódio, tal como o amor, alimenta-se com as menores coisas, tudo lhe cai bem. Assim como a pessoa amada não pode fazer nenhum mal, a pessoa odiada não pode fazer nenhum bem.”

´s POV

Minha vida ao lado de era algo que eu nunca imaginei, nem nos meus melhores sonhos, viver. Ele era “o cara” sabe? A pessoa que me completava totalmente e se pudesse escolher, viveria eternamente sentindo suas mãos em meu corpo, seus carinhos, seus beijos, seu amor...
Ele tinha voltado a fazer fisioterapia e voltado a ensaiar depois de eu tanto insistir. Eu sabia que no fundo ele tinha esperanças de voltar a andar e fui conversar com o medico dele escondido com . Ele nos disse que as chances de voltar a andar eram grandes e que poderia acontecer de repente, quando ele menos esperasse. Mas que poderia ser daqui a uma semana ou daqui a alguns anos. Era imprescindível que ele continuasse indo à fisioterapia para que seus músculos não atrofiassem pela falta de movimento.
Eu estava me sentindo feliz e amada como nunca me senti antes. Nossa vida estava ótima e estávamos pensando em morar junto. Eu nem conseguia imaginar ter uma casa só minha e dele! Era muita felicidade junta.
Mas a vida não é assim, e no fundo eu sempre soube disso. Talvez eu estivesse iludida, pensando que um dia poderia viver livre de todo aquele pesadelo do passado. Mas a realidade às vezes é dura e nos mostra a verdade de uma forma que não podemos nos esconder. Nem fugir. E foi assim no dia em que reencontrei James na casa do .
Ele estava lá e eu não sabia o que fazer no momento em que o vi. Estava conversando com Matt e ele estava parado me olhando. Tentei disfarçar e fui imediatamente para o lado de . Mas me arrependi na mesma hora. Eu sabia muito bem do que James era capaz e eu não queria de jeito nenhum que ele machucasse aquele cara que eu amava mais do que a minha própria vida.
Eu tinha que sair dali o mais rápido possível, antes que ele viesse falar comigo e certamente ele viria. ficou desconfiado e sabia que tinha alguma coisa errada, mas não questionou.
Quando escutei sua voz atrás de mim, quase desmaiei.
- ... Que surpresa! – a voz dele parecia me cortar ao meio, tamanha era a dor que eu sentia ao ouvi-la. Fechei os olhos, sentindo o olhar de em mim sem entender nada.
- James... O que você está fazendo aqui? – perguntei séria e ele sorriu debochado, como sempre.
- Nossa, mas que delicadeza hein... vejo que não perdeu o jeito! – ele parecia se deliciar vendo o meu medo – Um amigo meu é amigo do Jared e me chamou. Algum problema? – Lembrei que esse Jared era amigo do Matt.
Apertei a mão de , que me fez um carinho como se dissesse para me acalmar. Ah, se ele soubesse...
- Não vai me apresentar seu amigo? – senti meu corpo inteiro tremer quando ele olhava pra mim e depois pro .
Olhei pro , que percebeu na mesma hora quem era o James e o do que ele era capaz. Eu tinha contado toda a minha história pro , mas ele não tinha tido coragem de falar pro as piores partes e pelo que eu sabia, o pensava que o James era apenas um namorado ciumento que eu tive e nada mais. Pela cara do , deu pra perceber que ele estava em pânico também.
- Vamos embora ? – falei suplicando com olhar pra sairmos dali de uma vez. Ele me olhou e depois se virou pro James.
- Não sou amigo dela – falou estendendo a mão – Sou , namorado da .
Senti meu estômago revirar e por um minuto achei que fosse vomitar ali no meio da sala. James olhava para como se dissesse “Não acredito que voce está saindo com um cara desses!”. Eu já sabia o que ele pensava e gelei ao imaginar o que ele poderia fazer com . Ele não poderia se defender de James e aquilo me levou a sentir um medo maior do que eu imaginava que poderia sentir. E se ele machucasse ? E se ele o encontrasse sozinho em casa ou arrombasse a porta? Ele era maluco e eu não poderia facilitar. Não com !
- Ah! Você que é o namorado dela? – ele continuava com aquele sorriso irritante na cara – Sou James... o ex-namorado dela.
Acho que o viu a minha cara de pânico e decidiu se meter. Ainda bem.
- Meu nome é e sou o dono da casa – ele estava muito sério ao falar – Desculpe a indelicadeza, mas não te conheço.
- Eu sei que não – James olhou de cima a baixo com desprezo – Eu sou amigo de um amigo do Jared.
- Vamos amor? – consegui falar bem baixinho com , que ainda encarava James.
- Vamos embora , a não está se sentindo bem – falou para o meu alívio.
- Eu levo vocês – se ofereceu e olhou para – Vamos amor?
- Porra , mas e o show? – falou se aproximando de nós – Não vamos mais tocar?
- Hoje não disse pegando suas coisas – Na próxima vez a gente toca.
- Vocês têm uma bandinha então? – a voz de James era irritante e debochada – Que interessante... e tocam o que? – ele olhava pro , mas ele não respondeu.
olhava diretamente pra mim.
- Vamos? – perguntou sorrindo e beijando minha mão.
- A gente se esbarra por aí... – James me olhava e seu olhar queria dizer que logo, logo ele me encontraria. Sozinha ou com .
- Espero que não – eu disse, tentando parecer forte e James apenas riu de lado.
Fui me despedir da Roberta e da Fabiana e quando eu saí da cozinha, James estava parado na porta e me segurou.
- Não vou tolerar nenhum cara do seu lado, voce sabe disso não é? – ele falou sério e seu olhar me assustou – Se voce gosta tanto do seu namoradinho, a cuidado... – ele ameaçou, me fazendo gelar.
- Me deixa em paz! – falei saindo rápido dali.
Quando me aproximei de , ele me olhava preocupado.
- Amor, tem certeza que está tudo bem? – ele pegou minha mão.
- Tenho... – consegui dizer.
Durante o caminho pra casa do , não consegui emitir nenhum som. Eu sa o que tinha que fazer, mas não queria. me olhava de vez em quando pelo retrovisor e eu podia ver seu olhar de reprovação em mim como se me dissesse que se alguma coisa acontecesse com , a culpa seria minha. E era verdade. Eu não podia arriscar a vida de dessa maneira.
Enquanto saía do carro, se aproximou de mim.
- , você não pode deixar nada acontecer com ele – colocou a mão no meu braço e depois me deu dois beijinhos e um abraço como se fosse se despedir normalmente – Desculpe, mas não podemos arriscar a vida dele.
- Eu sei ... – falei, me afastando dele e dando um beijo em .
Então, essa seria a minha última noite com e eu me sentia péssima. Não queria ir embora, não queria que fosse a última, mas precisava ser. Para o bem dele.
Fizemos amor de um jeito que nunca havíamos feito antes. Eu precisava de mais, precisava senti-lo em mim como se fosse pra lembrar o seu gosto, seu cheiro, da sua pele, sua boca. Nada disso seria suficiente, eu sabia, mas era melhor do que nada. Eu sabia que ele ia sofrer, mas se um dia me perdoasse, ele saberia que era para o seu próprio bem, pra sua segurança.
Quando o prazer maior me invadiu, a vontade de chorar veio com força total e eu não consegui segurar as lágrimas. Eu o amava demais e saber que precisava deixá-lo estava me matando lentamente por dentro.
me olhava cheio de dúvidas e eu contei pra ele sobre o James somente o que ele precisava saber. Não entrei em muitos detalhes. Ele não precisava saber de tudo e quanto menos ele soubesse, mais seguro ele estaria. Pelo menos eu achava isso. Fiz prometer que evitaria qualquer tipo de contato com ele, mas eu sabia que não era bem assim. Não dependeria somente de . James ia conseguir encontrá-lo sozinho. Em casa ou em outro lugar e o que aconteceria nesse encontro eu não conseguia nem pensar.
Meu sono foi super agitado e eu acordava quase que toda hora sentindo os braços de me apertando, dizendo que estava ali e que me amava. As lágrimas teimavam em cair e eu fazia de tudo para que ele não percebesse. O cheiro dele era tão bom e sua voz tão confiante que por um minuto pensei em desistir do meu plano e contar toda a verdade. Mas ouvi se mexendo um pouco na cama e seu gemido baixo. Devia estar com dor nas costas devido à posição na cama, mas não consegui me mexer. Eu sabia que quando ele sentia muita dor, tomava um remédio para dormir. E depois que ele adormecesse seria a hora de ir... De sair da vida dele para sempre. Não tinha como ele enfrentar isso tudo comigo e eu voltei pra realidade.
Quando eu percebi que ele finalmente tinha conseguido dormir, lentamente tirei seu braço de cima do meu corpo e sentei na cama olhando para ele totalmente relaxado. Ele era a pessoa que eu mais amava no mundo e não conseguia ver minha vida sem que ele estivesse presente. Passei a mão por seus cabelos e seu rosto, fazendo o contorno de seus lábios, já sentindo falta deles.
Ali eu chorei por quase uma hora inteira, antes de me decidir se deveria mesmo ir embora. E foi justamente nessa hora que eu ouvi meu celular vibrando na mesa ao lado da cama. Era um número privado e eu pensei que pudesse ser engano, mas mesmo assim atendi. Era o incentivo que faltava...
- Alô? – falei baixo.
- Que bom que você ainda está acordada! – James ria do outro lado.
Senti meu corpo gelar, levantei devagar e fui pro banheiro de , fechando a porta.
- O que você quer James? – perguntei com a voz trêmula.
- O que eu quero sempre... – ele de repente ficou sério – Você!
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu tentava pensar em alguma coisa pra dizer, mas estava apavorada demais.
- Então... – ele continuou – Seu namoradinho está dormindo?
Eu não respondi.
- Bem, levando em consideração o estado físico dele né... – ele riu alto – Como você pode querer um cara assim ? Sério, não consigo imaginar vocês dois fazendo...
- Pára James! – falei interrompendo o que ele ia dizer – Quem é você pra falar qualquer coisa do ? Seu nojento!
- Olha a falta de educação garota! – ele falou alto e eu me encolhi.
- Agora quero que você preste bem atenção ... – sua voz era dura e eu senti um medo maior pensando no que ele ia falar – Eu estou aqui do lado de fora da casa do seu namoradinho e quero que você saiba que se eu quisesse entraria aí pra dizer quem manda ok?
- O que? – tive que sentar no chão pra não cair.
- Se você insistir em me trair com esse cara eu... – ele riu novamente – eu não sei o que pode acontecer se eu por acaso resolver ter uma conversinha com ele...
- Não! – consegui dizer em pânico.
- Até que seria engraçado não acha ? – James não parava de rir – Imagina a cena... eu o seu namoradinho conversando num lugar onde ninguém poderia nos interromper...
Eu não queria imaginar o que o James faria caso estivesse sozinho com o . Ele ia matar o !
- O que você quer? – perguntei com um fio de voz.
- Eu te dou até amanhã pra terminar com ele... – James riu – Até amanhã, ouviu? Senão eu terei que conversar em particular com ele... se é que você me entende...
- Se eu fizer isso você promete deixá-lo em paz? – consegui controlar a minha voz, não sei como. A segurança de estava acima de tudo pra mim, e eu não podia arriscar.
- Claro que sim meu amor! – ele riu debochado - Te vejo amanhã ok?
Desligou o telefone antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.
Saí do banheiro sentindo meu corpo inteiro dormente.
dormia tranquilamente e me sentei ao seu lado na cama, tomando o máximo cuidado pra que ele não acordasse.
- Eu te amo... – sussurrei e beijei levemente seus lábios, passando a mão em seus cabelos – Me perdoa...
Levantei e procurei um papel e uma caneta. Escrevi um bilhete com as mãos trêmulas. Eu não poderia sair assim, sem deixar um bilhete, qualquer coisa que fosse. Eu não queria nem pensar no que ia sentir quando lesse o bilhete.
Deixei o papel no travesseiro, me vesti e saí do quarto não me permitindo olhar novamente para ele. Eu sentia que poderia cair a qualquer momento e me apoiei na mesa da sala, sentindo uma tontura que eu não conseguia controlar. As lágrimas pareciam cair sem controle pelo meu rosto.
Quando saí da casa de não vi nenhum carro ali por perto e pensei que talvez James tivesse mentindo dizendo que estava ali, mas eu não podia arriscar, não quando era a vida de que estava em jogo.
Não lembro como cheguei em casa, mas quando acordei no dia seguinte, James estava deitado na cama do meu lado.
- Bom dia meu amor! – ele disse sorrindo e me pegando forte pelos cabelos.

Capítulo 17

“O amor calcula as horas por meses, e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade.”


Fiquei olhando aquele papel sem conseguir pensar. Era muito incoerente o que dizia naquele bilhete. Ela me amava, mas não queria ficar comigo? Tive um estalo. Só podia ser alguma coisa que aquele imbecil tinha falado pra ela, e ela não tinha me contado. Com certeza, ele devia ter a ameaçado e dito que ia fazer algo com ela e se eu estivesse junto, ia ser pior. Será que ele tinha tido essa coragem mesmo?
Não sabia o que pensar nem o que fazer.
Decidi ligar para ela, mas foi inútil. O telefone só caía na caixa postal. Acho que deixei umas dez mensagens, mas sem retorno.
Liguei pro e expliquei toda a situação. Ele não acreditou no que tinha acontecido e meia hora depois já estava lá em casa.
- Quem é esse cara, ? – falei nervoso – Por que ele estava na sua casa ontem?
- Eu não sei dude! – coçou a cabeça – Acho que ele é amigo de um amigo do Matt, se não me engano.
- Você tem que descobrir quem é esse cara! – Passei as mãos pelo cabelo – A não atende o celular! – agora eu já estava desesperado e muito preocupado – Não sei o que esse cara pode fazer se encontrar ela sozinha. Eu achei muito estranho o jeito que ele ficou olhando para ela na festa ontem. Não gostei nem um pouco, !
Omiti o fato de ter tido a impressão de conhecer o cara de algum lugar. Eu já estava preocupado demais para pensar nisso agora.
- Calma ! – ele pensou por alguns instantes – Preciso te contar uma coisa, dude... - ele disse nervoso.
- O que foi? – perguntei mais aflito ainda com a fisionomia dele.
- Olha, a não queria que você soubesse, mas esse cara é muito perigoso... Ele...
- O que, ? – perguntei quase tendo um colapso.
- No tempo em que eles namoraram, ele sempre a espancava e depois voltava como se nada tivesse acontecido – suspirou fechando os olhos.
- O q-que? – falei com dificuldade, sem acreditar no que eu estava ouvindo.
- Ela tinha vergonha de que você soubesse e me pediu para não contar nada sobre isso – agora estava em pé na janela e estava de costas pra mim – Ela tinha medo que você não a amasse se soubesse disso...
Eu não conseguia falar. Ele espancava a minha ? A minha ? Filho da puta!
- ? – me chamava – ? Tudo bem?
- Não... não está tudo bem... – eu tentava pensar, mas estava difícil demais e eu não sabia o que fazer.
Escutei o celular do tocar e ele atendeu.
Minha cabeça doía tanto que eu mal conseguia abrir os olhos. Eu estava tão nervoso e tão estressado que não demorou pras minhas costas começarem a doer também. Puta merda! Aproveitei que o estava no telefone e tomei meu remédio pra dor.
- Quem era? – perguntei quando ele desligou.
- A conseguiu falar com ela e tá tudo bem. Fica tranqüilo, ela está em casa, mas não quer ver ninguém... – ele finalizou.
- Como eu posso ficar tranqüilo? E se ele a procurar? – agora eu já estava mesmo tendo um colapso.
- Vou falar para e a ficarem com ela e... – não esperei nem ele terminar.
- Vamos pra casa da agora, ! – falei pegando meu celular e meu casaco. Eu estava com um pressentimento horrível.
- Vamos passar e pegar a , depois vamos para lá... – de repente ele parou e ficou pensando.
- O que? – olhei arregalando os olhos pra ele, imaginando se ele ainda iria me contar algo pior.
- É que... - ele hesitou – No prédio dela não tem elevador.
- Que droga! – dessa vez, esmurrei o armário – E agora? – olhei pra ele como se eu quisesse que ele me desse uma solução.
Ele não respondeu e ficou andando de um lado pro outro no meu quarto.
Nessa hora, eu desejei com todas as minhas forças poder me levantar e sair dali. Correr pro prédio dela, abraçá-la e protegê-la. Mas não podia e me senti a criatura mais inútil do mundo. Não podia defender nem a mulher que eu amava. Tive que ficar ali e esperar que a solução milagrosa aparecesse. Finalmente o teve uma idéia!
Ele pegou o celular e ligou pro , mas eu nem consegui prestar atenção no que ele falou. Só conseguia pensar na minha pequena.
- Tá bom! Nos encontre lá então! – ele disse desligando e voltando a me olhar.
- Vamos? – falou já indo na direção da porta.
No caminho ele me disse que os dois iam estar na porta do prédio da e que me ajudariam a subir.
Deprimente, mas tive que aceitar, afinal a era o mais importante agora. Passamos e pegamos a .
- , o que você sabe sobre esse cara? – perguntei assim que o carro andou.
- Só o que a me contou... – ela disse me olhando.
- E? – falei impaciente.
- Olha , se você soubesse o que esse cara fez com a ... – ela disse nervosa.
- O que ele fez com ela? – perguntei irritado.
- Pelo que ela me contou, a pior delas foi no dia que ele bateu nela porque ela insistiu em sair com uma roupa que ele não aprovava e... – tive que interromper.
- O que? – falei gritando – Ele bateu nela assim? – eu estava sufocando.
- Ela foi até parar no hospital – ela desviou o olhar – Ele quebrou o braço dela e a deixou inconsciente no chão do apartamento cheia de hematomas.
Fiquei mudo. Eu nunca senti uma raiva tão grande na minha vida, nem quando descobri que nunca mais ia andar eu fiquei assim. Ele tinha batido nela com essa violência? Deixado a inconsciente e toda machucada? Como ele teve coragem de encostar nela desse jeito? Ela parecia tão frágil! Esse cara merecia morrer! Fui tirado dos meus devaneios.
- , você tem que ter muito cuidado com ele – ela disse colocando a mão no meu braço – Se ele encontrar vocês dois juntos, não sei o que pode acontecer.
- Eu não tenho medo dele, ! – falei e minha voz estava diferente. Eu estava diferente.
- Acho que você não entendeu ! – ela tava visivelmente nervosa – Ele é perigoso e psicopata! Você tem que tomar cuidado mesmo. A estava muito assustada quando me contou sobre ele e o maior medo dela era que ele pudesse fazer alguma coisa com você.
Ela tinha ido embora para me proteger. Para ela eu era o fraco que não podia se defender. Mas o que ela não entendia era que se alguma coisa acontecesse com ela, automaticamente aconteceria comigo também.
Fiquei pensando no que eu podia fazer pra poder ajudar a . Não consegui pensar em nada plausível. Coloquei a cabeça entre as mãos e não conseguia me acalmar. Não sem antes vê-la e saber que ela estava bem e segura.
Chegamos à porta do prédio dela e o e o já estavam lá. Subimos rapidamente e tocamos a campainha. Ninguém atendeu. Fiquei muito nervoso e o viu o meu desespero. Tocamos umas mil vezes, chamamos por ela e nada! Parecia que tinha alguém chorando dentro do apartamento. Entrei em desespero.
- Vamos ter que arrombar, ! – eu disse quase gritando – E se ela estiver lá dentro machucada? – agora eu já tava pensando no pior depois do que a tinha me contado no carro.
Eles começaram a dar pontapés na porta, até que conseguiram arrombar. Ela estava lá, no chão, sentada escondendo o rosto, encolhida num canto. Ela se balançava pra frente e pra trás, tremendo muito. Entrei rápido e me coloquei ao lado dela.
- ? Tá me ouvindo amor? – falei tocando seu braço – ? Sou eu, . O que aconteceu amor?
Ela não respondeu e eu me desesperei. Olhei pra , que agora tava sentada ao lado dela no chão.
- , o que aconteceu? – disse perguntando a mão nos cabelos dela. Quando ela sentiu o toque das mãos de , levantou o rosto.
Não posso descrever o que eu senti naquela hora. Meu corpo inteiro formigava de tanto ódio. Ela parecia que tinha saído de uma luta de boxe. Tinha os dois olhos roxos, o nariz e a boca sangrando. Ela tremia muito e chorava me olhando. tapou a boca pra não gritar.
- ... – ela disse baixo – Você tem que ir embora... ... Você... – ela não conseguiu terminar e as lágrimas escorriam pelo seu rosto machucado.
Eu não sabia o que fazer e o que dizer. Queria poder pegá-la em meus braços e fazer sumir todo aquele sofrimento.
a ajudou a se levantar e ela sentou no meu colo. Quando a abracei, ela gemeu de dor. Ele a tinha machucado mais uma vez e eu não podia fazer nada.
- Vou levar você pra cama amor – falei indo pro quarto, tentando parecer o mais calmo possível – O que houve?
- ... Você tem que ir embora... Você não pode ficar aqui... – ela se agarrava tanto em mim e tremia muito, que foi quase impossível empurrar a cadeira na direção do quarto.
A casa estava toda revirada e parecia que havia passado um furacão por ali.
- , eu acho melhor a gente te levar pro hospital – falei a abraçando – Pode ser que você tenha alguma fratura – falei preocupado.
- Não, eu não quero ir a lugar nenhum... – ela falou com a voz abafada – Eu não posso mais ficar com você, mas... – ela não conseguiu terminar.
Chegamos e quando foi ajudá-la a deitar, ela teve um ataque.
- Não! – ela gritou se debatendo – Quero ficar aqui com ele! – ela tava totalmente fora de si, falando coisas contraditórias.
- Calma ! – ele falou suavemente – Deite aqui na cama. O vai ficar aqui com você!
Ela não respondeu, nem me largou.
- Amor, deite um pouco pra descansar – eu disse baixo no seu ouvido, soltando seus braços do meu pescoço – Eu vou ficar com você!
- Não! – ela tornou a gritar e me olhou espantada – Você tem que ir embora agora! – ela se virou para o – Tira ele daqui agora ! Ele vai voltar e o não pode estar aqui! – ela tava chorando descontroladamente.
- ... – falei calmamente – Não se preocupe com nada agora. Deite e deixe que a te ajude a limpar esses machucados.
- Você não está entendendo? – ela me olhava totalmente transtornada - Ele falou que se ver você do meu lado, ele vai te machucar também! – ela se agarrou de novo no meu pescoço. Eu a afastei mais uma vez.
- Você me ama? – perguntei olhando em seus olhos. Ela me olhou confusa e assentiu com a cabeça.
- Então eu quero que você deite e descanse. Deixa que eu cuido de tudo,ok? – falei tocando seu rosto de leve – Por favor? Por mim?
Ficamos nos olhando durante algum tempo e a mágica aconteceu. Eu a enxergava por dentro e parecia que o mesmo acontecia com ela. Nos entendíamos apenas pelo olhar e ela aos poucos foi se soltando de mim se deitando na cama. Seus olhos nunca deixando os meus. voltou com uma toalha molhada e limpou os machucados no rosto dela.
voltou da cozinha com uma xícara e um comprimido.
Passei pra cama ao lado dela e fiquei segurando sua mão. Ela tomou o comprimido e voltou a deitar. As lágrimas caíam pelo seu rosto e depois de uns quinze minutos, ela adormeceu. Fiquei alisando seus cabelos e às vezes pegava sua mão e a beijava.
- , nós temos que fazer alguma coisa! – falei me endireitando na cama – Isso não pode continuar, cara!
- Eu sei – ele suspirou e passou a mão pelos cabelos – Vamos pensar em algo ok?
- Vamos até a polícia denunciar o que ele fez com ela – falei nervoso – E ela não pode mais ficar sozinha de jeito nenhum!
- Tem razão! – levantou da cama e foi para o lado do – Mas a gente tem que ter cuidado, eu falei que esse cara é maluco.
- É covarde, isso sim! – falei um pouco alto demais ela se mexeu na cama – Como ele pôde fazer isso? – baixei um pouco a voz apontando pro rosto dela.
Decidimos que mais tarde íamos até a polícia e que tudo ia ficar bem. Todos se prontificaram à dormir lá naquela noite, e eu fiquei mais tranqüilo.
e chegaram logo depois e deram um jeito na bagunça que estava a casa.
Todos foram pra sala e eu fiquei sozinho com ela no quarto. Fiquei olhando seu rosto enquanto ela dormia e não podia acreditar que tinha acontecido isso. Toquei seu rosto de leve e ela gemeu. Doía mais em mim ver o quanto ela estava machucada. Com certeza, as feridas visíveis iam sumir, mas as interiores, eu tinha plena noção que não iam se curar tão facilmente.

Capítulo 18


“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto...”


“Eu estava parado com uma espada nas mãos. Sentia o suor escorrer pelo meu rosto e meu coração bater acelerado. Olhava em volta e via a mulher da minha vida correndo ao meu encontro.
- Não! – eu gritava para que ela se afastasse como se eu soubesse o que ia acontecer.
- ! – ela gritava e corria na minha direção ignorando meus apelos.
Pelo canto do olho eu via Phillip a segurar pelos cabelos e ela se debater em seus braços.
- Solta ela, seu animal! – eu gritava, tentando me aproximar deles, mas quando eu olhava para baixo, eu via minha blusa suja de sangue.”



Acordei agitado e um pouco assustado, estava escuro ainda e a casa estava silenciosa. Provavelmente todos ainda estavam dormindo. Me ajeitei na cama, tentando não acordá-la, mas a posição que eu estava não era nada confortável e pra variar, a porra das minhas costas começaram a doer de novo. Me amaldiçoei internamente por ter esquecido o remédio, mas agora era tarde e não devia mais ter nenhuma farmácia aberta. dormia profundamente e de repente eu ouvi um barulho fora do quarto. Na mesma hora fiquei alerta. Sentei na cama e tentei escutar melhor. O barulho estava um pouco mais alto agora. Não consegui identificar o que era então resolvi checar. Saí do quarto o mais silencioso que pude para ela não acordar. Quando cheguei à sala, todos dormiam jogados no sofá e no chão. Me dirigi pra cozinha e pelo cheiro, identifiquei que o estava fazendo café. Ele se assustou quando me viu.
- Porra , que susto! – ele falou dando um pulo.
- Não conseguiu dormir também? – falei entrando na cozinha.
- Não cara, e você?
- Eu peguei no sono, mas ouvi um barulho e vim ver o que era – falei abrindo a geladeira e pegando uma água.
- Como está a ? – ele sentou e pegou uma xícara.
- Está dormindo mais tranquila agora – falei, passando a mão pelos cabelos – Mas ela está muito machucada, . Eu tenho que fazer alguma coisa.
Eu tava desesperado e não via nenhuma solução na minha frente.
- Calma ! A gente tem que pensar direito no que vai fazer – ele tomou um gole do café – Esse cara é perigoso demais. Você viu o que ele fez com ela e não podemos facilitar.
estava certo, mas como eu poderia ficar parado sem fazer nada? Ela era a mulher que eu amava!
- Eu estou me sentindo a pessoa mais inútil desse planeta, dude! – falei olhando pro chão – Eu nem posso defender a ! Imagina se a gente encontra com ele na rua, ou em qualquer lugar? Como vou defendê-la desse jeito? Como?
Eu estava deprimido, desesperado, inseguro, com medo e todas as coisas que eu estava pensando, me deixavam mais angustiado ainda.
- Você não pode mais sair com ela sozinho – agora ele me olhava sério – Não vou deixar isso acontecer, ok? Pelo menos enquanto esse cara estiver por aí, você tem que ter cuidado.
As palavras do me invadiram de uma forma tão esmagadora que toda a minha frustração transbordou nesse momento. - Era só o que me faltava, ! – falei olhando pra ele sem acreditar – Se já não bastasse tudo que me aconteceu – bati com força nas minhas pernas – Ainda tenho que me esconder agora, porra?
- Não é se esconder . É tomar cuidado! Não quero nem pensar no que pode acontecer se esse cara te encontrar! – ele balançou a cabeça como se quisesse espantar algum pensamento ruim.
Não respondi, apoiei os cotovelos na mesa e fechei os olhos, segurando minha cabeça com as mãos. O desespero que eu sentia era maior do que qualquer coisa que eu já tivesse experimentado. Eu me sentia inútil, fraco e covarde. Não sabia o que fazer para poder defendê-la desse maluco e o pior de tudo era saber que mesmo se eu soubesse, não poderia fazer nada.
Eu sabia que no fundo o tinha razão e que não ia ser nada bom se esse cara me encontrasse sozinho e principalmente com ela, mas não podia e não queria aceitar isso. Se esse cara tivesse me encontrado um ano atrás, ele ia ver o que era brigar com um homem, mas agora...
- Eu sei , desculpe – falei olhando pra ele – Não se preocupe, eu não vou dar bobeira por aí, ok? – falei pra tranqüilizá-lo, ele estava muito nervoso e preocupado comigo.
Ficamos mais um pouco na cozinha e resolvi voltar pro quarto. Quando entrei, estava exatamente na mesma posição que eu a vi quando entrei no apartamento.
- , o que houve? – cheguei perto dela – Amor, fala comigo. Vem cá...
Ela levantou o rosto e arregalou os olhos como se não me reconhecesse, mas um segundo depois, levantou e se jogou nos meus braços.
- O que aconteceu? Porque você levantou? Está com dor? – falei preocupado. Ela não respondeu e começou a chorar. Nunca pensei que um dia pudesse me sentir assim vendo alguém chorar, mas acho que parecia que meu coração era lentamente cortado em pedaços bem pequenos. A levei até a cama e ela se deitou novamente, toda encolhida. Sentei ao seu lado e me recostei na cama para poder consolá-la, afinal era a única coisa que eu podia fazer naquele momento.
- , você sabe que é arriscado demais ficar aqui comigo, não sabe? – ela perguntou com uma voz tão fraca, que mal dava pra ouvir.
- Eu sei... mas não vou te deixar – falei encostando a boca no seu ouvido – Aconteça o que acontecer, eu vou estar do seu lado. Sempre!
- Mas é perigoso...
- Eu sei que é, mas não vou te deixar sozinha – afaguei seus cabelos – Você pode contar comigo sempre, meu amor – olhei em seus olhos quando falei, mas nem eu sabia se era verdade mesmo. Não porque eu não a amasse, mas porque não sabia se eu poderia mesmo protegê-la desse animal.
- Desculpe não ter te contado antes... – ela falava tão baixo que mal dava pra escutar.
- Não pensa nisso agora – falei beijando seu rosto – Tenta descansar e depois a gente fala sobre isso, ok?
- Eu te amo – ela disse beijando meu pescoço.
- Eu sei. Eu também te amo – a abracei e beijei sua boca com cuidado – Você está muito dolorida? Quer que te faça uma massagem?
- Não precisa amor, não estou com dor – ela disse meio grogue – Vou tentar dormir mais um pouco.
- Dorme, descansa, minha pequena – disse beijando seus cabelos – Eu estou aqui! Fica tranqüila...
- Tá... – ela respondeu fraco e depois de alguns minutos pegou no sono.
A noite foi agitada e ela teve vários pesadelos enquanto dormia. Cada vez que ela acordava gritando ou se debatendo, eu a apertava contra o meu corpo e murmurava algumas palavras em seu ouvido para acalmá-la.
Quando amanheceu, eu ainda estava acordado. Minhas costas estavam me matando por eu ter ficado recostado na cama a noite toda. Mas nada era comparado com o que eu estava sentindo por vê-la naquele estado.
Ela acordou nos meus braços e disse que estava um pouco dolorida, com certeza o efeito do remédio tinha passado. O rosto dela estava pior do que ontem. Muito inchado e as marcas roxas estavam mais visíveis.
- Vamos até o hospital, – eu disse tentando disfarçar a dor que estava sentindo.
- Não quero... Tenho vergonha – ela disse sentando na cama – O que vou dizer? Que eu caí da escada?
- Mas eu estou preocupado com você, amor! – falei escondendo minha cara de dor.
- Não precisa se preocupar... Acho que vou tomar um banho para ver se eu melhoro um pouco... – ela me olhou desconfiada – Está tudo bem?
- Claro! Vai tomar uma ducha enquanto eu preparo um café pra você – eu disse forçando um sorriso.
Ela levantou, me deu um beijo e foi para o banheiro. Assim que ela saiu do quarto, não precisei mais disfarçar. Parecia que tinham facas em brasa entrando nas minhas costas e lembrei de novo que tinha esquecido meu remédio. Puta merda! Consegui me ajeitar na cama e estiquei a coluna, colocando os braços atrás da cabeça. Melhorou um pouco. Não consegui me mexer direito durante um tempo, meus braços estavam formigando e quando ela voltou para o quarto, eu ainda estava na cama com os braços cobrindo os olhos.
- O que foi ? – a voz dela era de preocupação – Está sentindo alguma coisa?
- Não... - eu a olhei, mas fui incapaz de me mexer – Mais ou menos... – falei.
Ela sentou na cama e colocou a mão no meu peito. - O que foi amor? – ela agora me olhava meio assustada – O que aconteceu?
Eu não queria que ela se preocupasse comigo! Eu é que tinha que me preocupar com ela depois de tudo que tinha acontecido, porra!
- É que eu estou com muita dor nas costas – falei sem graça – Não é nada...
- Você dormiu mal né? – ela passou a mão no meu rosto – Desculpe – pediu.
- Não foi sua culpa – falei pegando sua mão – É que eu tenho esse problema... Essa merda de dor nas costas sempre que eu fico muito tempo na mesma posição e... – eu estava me sentindo péssimo por ter que demonstrar que ela tinha razão em pensar que eu era fraco... Merda!
- Desculpe meu amor, porque você não me acordou? – ela parecia muito preocupada e eu me senti pior do que um rato.
- Nem está doendo tanto assim – menti – Daqui a pouco vai passar. Não se preocupe – acho que falei mais pra mim do que pra ela. Eu sabia que não ia passar.
- Você trouxe seu remédio? – ela perguntou olhando em volta.
- Não... eu saí com tanta pressa que nem lembrei disso... – falei tentando me controlar, porque a minha vontade era de gritar de tanta dor.
- Quer que eu te faça uma massagem? – ela disse já se ajeitando – Tenta ficar de bruços, vai.
Eu me virei com a ajuda dela e ela sentou na minha bunda.
- Nossa! Tinha até esquecido como a sua bunda é enorme! – ela falou rindo.
Mesmo com dor, eu tive que rir do comentário dela. Lembrei que as garotas sempre falavam da minha bunda e eu ficava sem graça.
- Parece até uma almofada! – ela riu de uma forma tão gostosa, que eu quase esqueci que estava com tanta dor.
Ela começou a massagear a minha coluna, a esticar meus braços e a dor aos poucos foi melhorando.
Depois que ela terminou, deitou por cima de mim e colocou a cabeça no espaço entre o meu ombro e a cama, ficando com o rosto colado no meu. Fechei os olhos pra não ver o estrago que aquele covarde tinha feito.
- Está tão ruim assim? – ela perguntou me abraçando forte.
- Não amor... Claro que não! – falei abrindo os olhos e sorrindo para ela.
Ela beijou o canto da minha orelha e eu me arrepiei.
- Você tá parecendo uma galinha depenada, sabia? – ela riu, vendo meu corpo todo arrepiado e me beijou de novo.
- Não me provoca ! – eu disse sentindo uma vontade imensa de tocar seu corpo inteiro.
- Posso fazer um comentário? – ela falou sorrindo no meu ouvido.
- Depende! – respondi, olhando para ela pelo canto do olho.
- De que? – ela falou com tom desafiador, mas brincando.
- Você vai fazer mais algum comentário sobre a minha bunda? – agora eu estava rindo também, mas ela não respondeu – Pode fazer o seu comentário!
- Apesar de a sua bunda ser muito interessante, não é sobre ela – ela estava se divertindo falando desse assunto: a minha bunda!
- É sobre o que então? – fiquei sério na mesma hora.
- Sobre o que aconteceu ontem... – a voz dela sumiu ao falar.
Fiquei em silêncio e segurei sua mão, a beijando em seguida.
- , eu queria que você soubesse que eu não pretendia te magoar saindo daquele jeito e deixando um bilhete...
- Eu sei... – falei fechando os olhos – Eu sei que não... Mas o que aconteceu?
- Ele me ligou enquanto você dormia... E ameaçou te machucar se eu não terminasse tudo com você, ...
- O que? – eu quase engasguei – Esse filho da puta teve coragem de fazer isso? - Eu não conseguia acreditar que enquanto eu dormia feito um babaca, ela passava por tudo isso!
- Por isso eu fui embora... Mas quando acordei hoje de manhã... Ele estava aqui em casa e ... - ela parou de falar e enterrou a cabeça no meu pescoço.
- Você devia ter me contado, ... – falei delicadamente, mas a repreendendo – Eu não sabia de nada e fui pego totalmente de surpresa!
- Me desculpa... eu só queria te proteger... – ela disse me encarando.
- Eu não sou tão delicado assim, ! – falei sorrindo fraco – Eu é que tenho que te defender... não o contrário!
Eu queria acreditar nas minhas palavras. Eu precisava acreditar. Não era justo que ela se sacrificasse tanto por minha causa porque ela achava que eu era fraco e não podia me defender. Vi que ela tinha começado a chorar e me senti triste porque eu não podia fazer nada pra mudar o que já tinha acontecido.
- Não pensa mais nisso, amor – falei, tentando me virar e ela me ajudou – Agora eu quero que você descanse e tente se acalmar, ok?
- , você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida... – ela disse me beijando na boca e depois deitando a cabeça no meu peito, me abraçando.
Eu queria muito acreditar que era verdade, mas não dava. Não naquele momento.
- Não sou – disse pegando seu rosto – Olha só o que fizeram com você! E eu não estava aqui pra te defender e mesmo se eu tivesse, acho que teria levado uma surra pior do que a sua – sorri sarcasticamente.
- Não fala assim... Por favor... – ela deitou a cabeça no meu peito e me abraçou mais forte – Não gosto quando você fala desse jeito.
- Desculpe... – consegui dizer.
Ficamos deitados ali e levamos um susto quando o entrou com uma bandeja nas mãos. A estava só de calcinha e se cobriu rapidamente quando ele entrou.
- Desculpe gente! – ele disse fechando os olhos – Não queria atrapalhar o momento íntimo de vocês...
- Não tem problema – ela falou sorrindo e se enrolou com o lençol.
- Como você está? – ele chegou perto dela e tocou seu rosto – Acho que está melhor do que ontem.
- Está doendo um pouco, mas eu vou sobreviver! – ela disse sorrindo e o abraçou.
Tenho que dizer que fiquei com um pouco de ciúmes. Eu sabia que era o , que não havia mais nada entre eles, mas fiquei com uma pontinha de inveja dele. Besteira da minha cabeça. Ele só estava querendo ajudar.
- Claro que vai! – ele piscou pra mim – Só você atura esse aí!
- Eu não aturo, ! – ela sorriu e me olhou em seguida – Eu amo!

Capítulo 19

“O amor é uma condição em que a felicidade de outra pessoa é imprescindível para a sua própria felicidade.”

Depois do incidente com o James, demos queixa na delegacia e só nos restava esperar que ele fosse preso. Mas o tempo foi passando e a polícia não conseguiu nenhuma pista, parecia que o cara tinha evaporado do mapa.
Aos poucos, comecei a achar que ele tinha mesmo ido embora e nos deixado em paz.
Depois de mais ou menos seis meses sem notícias do James, decidimos nos mudar para o apartamento que tínhamos visto. A mudança foi uma verdadeira farra para todo mundo. Nossos amigos eram muito engraçados e fizeram com que a mudança se tornasse muito mais fácil para mim. Eu ajudei bastante, mas não podia fazer muita coisa.
Também tivemos que fazer algumas mudanças no apartamento, como alargar um pouco as portas, colocar barras no banheiro e deixar tudo acessível na cozinha. Finalmente quando ele ficou perfeito, decidimos nos mudar e agora eu podia me movimentar com muita facilidade por todos os lugares. Eu estava me sentindo muito satisfeito com a vida que me esperava daqui para frente. Minha mãe ficou muito feliz vendo que eu estava bem, junto da mulher que eu amava, me exercitando, ensaiando, trabalhando nas minhas músicas para a gravadora... enfim, eu tinha voltado finalmente a viver a minha vida e principalmente, tinha voltado a ganhar o meu dinheiro.
tinha retomado a faculdade e se formaria no final do ano. Ela já estava trabalhando como estagiária numa revista e eu sempre ficava meio inseguro quando ela me contava sobre os amigos, mas era o sonho dela e eu tinha que entender e principalmente aceitar. Eu não podia ficar com ciúmes porque no fundo eu sabia que ela me amava demais, mas não mais do que eu a amava, claro.
Eu estava na cozinha tentando preparar um almoço decente para a gente.
ainda não tinha chegado da faculdade e eu queria preparar uma surpresa para ela, já que eu sabia que ela não tinha que ir à revista de tarde.
Hoje fazia exatamente um mês que estávamos morando no apartamento novo e pensei que seria legal se a gente comemorasse de um jeito especial.
Tive que ligar para a minha mãe umas cinco vezes porque achei que estava fazendo alguma coisa errada com a receita que ela tinha me dado do macarrão que a amava. Finalmente, quando eu estava provando o molho para ver se eu tinha colocado muito sal, escutei a chegando.
- ? – ouvi quando ela jogou a chave na mesinha.
- Aqui na cozinha amor! – respondi.
Ela entrou na cozinha e me abraçou por trás do pescoço, me dando um beijo estalado na bochecha.
- Estamos comemorando alguma coisa? – ela disse sorrindo, olhando pra bagunça na cozinha e pegando uma garrafa de água na geladeira – Você está cozinhando?
- Yep! – respondi ainda de costas para ela – Hoje eu tenho algumas surpresinhas para você!
- Surpresinhas é? – ela me olhava curiosa e veio na minha direção – Que tipo de surpresinhas, hein, Sr. ? – ela perguntou fazendo uma cara de tarada e eu ri.
- Bom, em primeiro lugar, hoje está fazendo um mês que estamos morando aqui – ela arregalou os olhos e colocou a mão na testa.
- Só um mês? A sensação que eu tenho é que moramos aqui a pelo menos dez anos! – ela sentou no meu colo sorrindo e me beijou.
- Depois, é a primeira vez que você vai provar a minha comida... E espero que sobreviva à isso! – eu dei uma gargalhada e ela fez uma careta engraçada.
- O cheiro está ótimo! O que é? – ela ia levantar do meu colo para ver o que tinha na panela e eu a segurei.
- É surpresa... Esqueceu? – falei dando um beijo na ponta do seu nariz – Por que você não vai tomar uma ducha enquanto eu termino aqui?
Nos beijamos e ela foi para o quarto me olhando meio desconfiada. Ouvi quando ela ligou o chuveiro e aproveitei para colocar a mesa. Arrumei tudo e deixei o violão num lugar estratégico. Abri a gaveta da mesinha ao lado do sofá olhando para a maior surpresa da noite e sorri nervoso.
- Nossa ! Isso tudo é pra mim? – ela perguntou quando voltou para a sala.
- Tudo isso é muito pouco ... Eu queria poder te oferecer muito mais... – falei sorrindo e ela se aproximou com lágrimas nos olhos.
- Você me dá o seu amor e eu não preciso de mais nada – ela me abraçou e me beijou com tanta paixão que quase me esqueci do jantar e a levei direto para o quarto. Mas lembrei do restante das surpresas que eu havia preparado e me controlei.
- Feliz? – perguntei depois que terminamos o jantar, que à propósito, ela já tinha elogiado mais de mil vezes. Mas tenho que confessar, sem falsa modéstia, que tinha ficado bom mesmo!
- O que você acha? – ela se aproximou de mim e me beijou – Eu acho que sou a pessoa mais feliz do mundo!
Deixamos a mesa e servi mais uma taça de vinho para nós. Ela foi sentar no sofá e eu me preparava para as últimas surpresas do dia.
- Eu tenho mais algumas surpresas pra você, amor! – falei, pegando o violão que estava ao lado do sofá.
Ela me olhou espantada e sorriu.
- Não acredito! É o que eu estou pensando mesmo? – ela estava espantada, pois sempre que me pedia pra tocar alguma música eu dava uma desculpa. Mas agora eu ia realizar esse desejo dela – Mas primeiro eu queria te perguntar uma coisa – falei colocando o violão no sofá, pensando na caixinha que estava na gaveta da mesinha ao meu lado.
- O que? – ela me olhava ainda sorrindo com o olhar curioso.
Abri a gaveta e tirei a caixinha.
- Eu queria fazer isso da forma tradicional, ficando ajoelhado e tal, mas... – ela me olhou espantada – , você quer casar comigo?
Ela parecia mais branca que papel. Seus olhos estavam fora de foco e eu me preocupei.
- Amor? ? – eu a chamei e ela parecia não escutar – Amor, assim você está me assustando... Tudo bem?
Ela abriu um sorriso maior que o rosto e de repente pulou em cima de mim, quase nos fazendo cair.
- Claro que quero! É só que eu não estava esperando... Ah, ! Eu te amo tanto! – ela ria tão abertamente que meu coração batia aliviado. Confesso que no fundo eu ainda tinha receio de ser rejeitado por ela. Peguei o anel e coloquei em sua mão direita beijando a pedra e em seguida sua mão.
- Eu te amo, minha pequena! – falei entre um beijo e outro – Eu sempre vou te amar...
- Eu também te amo, meu ! – ela disse me abraçando. Depois ela saiu do meu colo e sentou no sofá enquanto eu pegava o violão.
Resolvi tocar I Don´t Wanna Miss A Thing do Aerosmith que eu achei absolutamente perfeita para esse momento. Lembrei que eu estava ouvindo essa música quando ela entrou no meu quarto pela primeira vez e sorri.
Olhei diretamente nos seus olhos e comecei os primeiros acordes.
[n/a: Coloquem pra tocar! Essa música é muito linda!]

I could stay awake just to hear you breathing (Eu poderia ficar acordado só para ouvir você respirando)
Watch you smile while you are sleeping (Observar você sorrir enquanto está dormindo)
While you're far away and dreaming (Enquanto você está longe e sonhando)
I could spend my life in this sweet surrender (Eu poderia passar minha vida nessa doce rendição)
I could stay lost in this moment forever (Eu poderia continuar perdido neste momento para sempre)
Every moment spent with you (Todo momento que eu passo com você)
Is a moment I treasure (É um momento que eu valorizo)

Eu cantava com tanta emoção, que nem senti que as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Mas eram lágrimas de felicidade. A alegria que eu sentia naquele momento era tanta que eu tinha certeza que a qualquer momento meu coração explodiria. Ela me olhava de um jeito tão apaixonado, entregue, que ficava difícil me concentrar para lembrar a letra.

Don't wanna close my eyes (Não quero fechar meus olhos)
I don't wanna fall asleep (Eu não quero pegar no sono)
'Cause I'd miss you baby (Porque eu sentiria a sua falta, baby)
And I don't wanna miss a thing (E eu não quero perder nada)
'Cause even when I dream of you (Porque mesmo quando eu sonho com você)
The sweetest dream would never do (O sonho mais doce nunca vai ser suficiente)
I'd still miss you baby (E eu ainda sentiria a sua falta, baby)
And I don't wanna miss a thing (E eu não quero perder nada)

Eu não conseguia parar de olhar em seus olhos. Eles me hipnotizavam de uma maneira que eu não conseguia explicar com palavras. Meu coração batia fora de controle agora, e eu vi o sorriso que eu mais amava no mundo. O sorriso dela.

Laying close to you (Repousando perto de você)
Feeling your heart beating (Sentindo o seu coração bater)
And I'm wondering what you're dreaming (E imaginando o que você está sonhando)
Wondering if it's me you're seeing (Imaginando se sou eu quem você está vendo)

Ela se levantou do sofá e sentou mais perto de mim, passando a mão nos meus cabelos, me olhando nos olhos e depois passou a mão no meu rosto, secando minhas lágrimas de felicidade. Eu nunca tinha me sentido tão completo em minha vida. Era como se eu não precisasse de mais nada... só dela. E ela era completamente minha agora que tinha aceitado meu pedido de casamento.

Then I kiss your eyes and thank God we're together (Então eu beijo seus olhos e agradeço a Deus por estarmos juntos)
I just want to stay with you (Eu só quero ficar com você)
In this moment forever, forever and ever (Neste momento para sempre, para sempre e sempre)

Eu parei de tocar a música e nos beijamos, sentindo todas as emoções que aquele momento permitia. Ela tinha aceitado ser minha esposa e eu não conseguia conter a minha alegria diante disso. Era realmente um momento único, como eram todos quando eu estava com ela.
Ela me puxou delicadamente para o sofá e continuamos a nos beijar intensamente.
- A música não acabou ainda... – falei brincando depois de um tempo, quando ainda estávamos abraçados e eu acariciava seu corpo lentamente.
- Eu já ouvi tudo que eu precisava... – ela disse tirando a blusa, ficando de sutiã. - Você é tão linda, ! – falei cortando nosso beijo somente para admirá-la e aproveitei para tirar a minha camisa. Nossos corpos se encontraram e nos amamos ali mesmo no sofá... do nosso jeito.
- Você é tão importante para mim ... – ela falou beijando meu pescoço, quando estávamos deitados no sofá, ofegantes. Beijei sua testa, afagando seus cabelos.
- Você também é muito importante... não sei se você tem idéia de como é especial para mim – ela se virou e eu pude ver nos seus olhos que ela sabia. Nos beijamos novamente, e era um beijo calmo, sem pressa, cheio de carinho, compreensão, respeito, admiração e tudo mais que um grande amor merecia ter.

* * *

Na semana seguinte, estávamos vendo um filme que estava passando na televisão, esperando que o pessoal chegasse. Resolvemos fazer uma tarde de cinema na nossa casa e eles já deviam estar chegando.
A campainha tocou e ela levantou para atender. Ouvi uma gritaria e percebi que eram os caras.
- Fala ! – entrou com a de um lado e um engradado de cerveja na outra mão.
- Tudo bem dude? – falei me ajeitando no sofá e apertando a mão dele.
- Porra! Já começaram a ver o filme? – se jogou no sofá com a , que me deu um beijo em seguida – Vocês são foda!
- Calma bebê! – disse e eu tive um acesso de riso.
me deu língua. Muito gay! Eu nem acreditava que ele tinha namorada.
- Não é esse filme que a gente vai ver, ! – falei ainda rindo e jogando uma almofada nele.
- E aí ! – me deu um pedala e se jogou no outro sofá, puxando a pela cintura – O que tem pra comer?
- Porra Judd! Você só pensa em comida! – falou rindo e deu o dedo do meio para ele.
- Eu não almocei, porra! – falou como se fosse óbvio que o soubesse disso.
- Meninos! Não briguem! – falou e chamou , e para a cozinha.
levantou e voltou com quatro latinhas.
- Alguma novidade? – falou baixo para que a não escutasse. Obviamente, ele se referia ao traste do James.
- Até agora não, e eu espero que a gente não saiba dele nunca mais! – falei abrindo a lata e tomando um gole grande da cerveja.
Elas voltaram com um monte de coisas para a gente comer enquanto víamos o filme.
- Qual o filme que vamos ver? – perguntou colocando a pipoca na mesa de centro.
- Qual o filme mesmo, amor? – perguntei para a .
- Hum... Acho que é Star Wars – ela falou indo na direção dos filmes que estavam em cima da televisão – Isso mesmo! Star Wars III – A Vingança dos Sith! (n/a: Gente, não resisti... eu AMO esse filme!)
- Eu queria ter visto esse filme quando estava no cinema, mas não deu... – falou e levantou para colocar o dvd do aparelho e depois sentou ao lado da .
Depois que terminou de colocar as coisas em cima da mesinha, foi fechar a cortina e veio sentar ao meu lado no sofá, colocando as pernas por cima das minhas.
Senti uma coisa estranha, como se eu pudesse sentir o peso que as pernas dela faziam sobre as minhas. Ela percebeu que eu me assustei.
- O que foi amor? – ela tocou em meu rosto, preocupada.
- Nada... – menti. Eu não queria que ela soubesse que eu estava com mais essa sensação. Já fazia alguns dias que eu estava sentindo umas coisas estranhas, mas não falei nada. Primeiro foi no dia em fui tomar banho e senti nitidamente quando bati meu joelho na parede do box sem querer. No primeiro momento eu levei um susto por ter sentido aquela dor e não sabia o que pensar direito, mas quando eu bati com a minha perna novamente durante o banho, eu vi que não estava sonhando. Depois foi na hora em que estávamos fazendo amor e eu tive uma sensação diferente... quase normal enquanto ela me tocava e por último quando eu estava colocando o tênis e consegui mexer meu dedo. Mas eu não queria que ninguém soubesse o que estava acontecendo. As sensações vinham de repente e do mesmo jeito iam embora. Não suportaria ver o rosto dela de decepção caso fosse somente um alarme falso.
Eu tinha marcado uma consulta e ia aproveitar o horário que a estivesse no estágio, para ir sozinho. Se alguém tivesse que se decepcionar, que esse alguém fosse eu, e não ela.
Enquanto víamos o filme, eu tentei ver se sentia mais alguma coisa, mas a sensação passou.
- Dude, como esse filme é bom! – falou enquanto os créditos subiam – O Darth Vader é o meu ídolo! (n/a:o meu também! \0/)
- ! I AM YOUR FATHER! – falou com uma voz grossa numa pose Jedi, fazendo todos rirem.
Depois que eles foram embora, eu passei para a cadeira e fui ajudá-la a levar as coisas para a cozinha. Fiquei pensando na sensação que eu tinha acabado de ter e eu não queria ter esperanças, mas estava difícil. Eu sorri e fiquei imaginando se isso pudesse ser realmente verdade. Se as sensações iriam aumentar e que chegaria o dia que eu ia acordar e simplesmente me levantar da cama.
- Está tudo bem ? - ela me perguntou enquanto eu secava os copos.
- Tudo sim amor, por quê? – falei distraído, ainda sorrindo com o meu pensamento.
- Não sei... Você está esquisito... – ela disse desconfiada e eu me aproximei dela segurando sua mão.
- É impressão sua – falei a puxando para o meu colo e aconteceu novamente. Eu sentia o peso dela completamente em cima de mim e como ela estava de vestido e eu de bermuda, pude sentir sua pele encostando na minha. Não pude conter o meu sorriso diante daquela sensação maravilhosa.
- Eu te amo, sabia? – falei no seu ouvido acariciando seus cabelos e beijando seu pescoço lentamente, fazendo com que ela se arrepiasse.
- E eu mais ainda... – ela disse respirando forte e colocando as mãos atrás do meu pescoço, acariciando minha nuca.
- Duvido! – falei e a beijei intensamente, me permitindo sentir aquele toque que eu sempre sonhei desde o dia em que a conheci.



Capítulo 20


“Há momentos na vida em que se deveria calar... E deixar que o silêncio falasse ao coração; Pois há sentimentos que a linguagem não expressa... E há emoções que as palavras não sabem traduzir..."



Depois daquele dia, a minha sensibilidade aumentou, e muito. Eu estava exultante e não via a hora de ir logo ao médico e saber o que significava tudo aquilo. A estava me achando muito estranho nos últimos dias, mas eu tentava disfarçar e desconversava. Claro que ela não acreditava nas minhas respostas evasivas e ficava cada vez mais desconfiada.
Na verdade, eu queria mesmo era fazer uma surpresa para ela se tudo acontecesse como eu esperava, mas eu só ia ter coragem de contar depois que falasse com o médico e soubesse que tudo realmente voltaria a ser como antes.
Depois que ela saiu para o estágio, eu fui me arrumar e senti claramente quando meu pé entrou no tênis. Eu tirei e coloquei meu pé no tênis umas dez vezes e fiquei rindo igual a um babaca enquanto fazia isso.
Resolvi pegar um táxi para ir até a clínica e no caminho, mil pensamentos passavam pela minha cabeça e cada vez mais eu ficava confiante de que tudo ia dar certo no final das contas.
Mas quando cheguei na frente da clínica, o medo me travou. Eu queria entrar, mas a insegurança me prendia do lado de fora. Depois de vários minutos num conflito interno muito grande, resolvi que era melhor saber toda a verdade logo de uma vez. A pergunta era muito simples: eu ia voltar a ser um cara normal ou não?
Eu estava agora na sala de espera aguardando para falar com o médico. Dude, eu estava muito, mas muito nervoso e não conseguia disfarçar.
Tentei pensar em outras coisas, olhei revistas, mas nada me acalmava. A hora da consulta estava demorando muito e quando eu já tinha decidido que iria embora e voltar outro dia, a recepcionista me chamou.
- Sr. ? – eu não consegui sair do lugar – Sr. ? – ela insistiu me olhando.
- Sim... – falei muito baixo e fiquei na dúvida se ela ouviu.
- Por aqui, por favor – ela estendeu o braço, indicando por onde eu teria que segui-la.
Fui em direção à sala do médico, que me aguardava sorridente no corredor. Era o mesmo médico que havia me atendido na época do acidente. Seu nome era Dr. Jerry Kellerman [n/a: Alguém assiste Raising The Bar? Sorry... não resisti! :D]. Entrei na sala, agradeci a atendente e apertei a mão do Dr. Kellerman.
Ele sentou e ficou me olhando por alguns segundos antes de falar.
- Que surpresa ! O que o traz aqui? – ele parecia mexer em uns papéis que eu presumi como sendo o meu histórico médico – Tudo bem? – ele me olhou e ficou esperando a minha resposta.
Respirei fundo e expliquei tudo que estava acontecendo desde o dia em que eu bati com o joelho durante o banho, até a sensação que eu tive hoje pela manhã quando fazia amor com a .
- E com que freqüência você vem sentindo tudo isso? – ele estava sorridente e aparentemente otimista.
- Primeiro, elas eram mais espaçadas, mas de uns dias pra cá eu comecei a sentir toda hora – respondi apertando minhas mãos nervosamente e sorri esperançoso.
Ele ficou pensando por alguns minutos, analisando meu histórico e me olhando de vez em quando com uma expressão que eu não consegui definir. Por pouco não tive um ataque do coração ali na frente dele.
- E a dor nas costas? Melhorou também desde que você começou a ter essas sensações? – ele perguntou sem me olhar.
- Melhorou um pouco, mas às vezes a dor é tão insuportável que eu tenho que tomar aquele remédio que o senhor me receitou – respondi automaticamente. Não era isso que eu queria saber.
- Sei... E você está indo regularmente à fisioterapia?
- Todos os dias pela manhã... E me exercito em casa também – falei nervoso passando as mãos pelos cabelos – Doutor, eu preciso saber se tudo isso que eu estou sentindo quer dizer o que estou pensando...
Ele me olhou e sorriu. Puta merda! Ele só sabia sorrir?
- , eu vou precisar que você faça alguns exames primeiro, mas diante de tudo que você relatou... É bem provável que não falte muito para você se levantar dessa cadeira, meu rapaz! - ele sorriu mais uma vez e senti que as lágrimas começavam a cair pelo meu rosto. Será que eu poderia finalmente ter essa esperança?
Eu não conseguia falar. Parecia que tinha um nó na minha garganta que impedia que eu pronunciasse qualquer palavra.
- Agora eu preciso fazer alguns testes com você, ok? – ele se levantou da cadeira e colocou as mãos no meu ombro.
Assenti sem ter o que falar.
Dr. Kallerman fez vários testes de reflexo nas minhas pernas e para a minha felicidade, ele disse que meus reflexos estavam 100%. Fiz mais alguns exames e fui para casa com a esperança de que tudo daria certo e de que finalmente eu poderia ter uma vida normal ao lado da mulher que eu amava. A vida que ela merecia ter ao meu lado.
O resultado ficaria pronto em três semanas e eu estava mais do que ansioso. Voltei de táxi pra casa com um motorista que eu tinha feito amizade e assim que entrei na sala, tive uma vontade incrível de gritar. Era muita felicidade para uma pessoa só e eu não via a hora de pegar os exames e constatar que daqui pra frente era só uma questão de tempo para que tudo voltasse ao normal.
Meu celular tocou e eu vi que era o . Eu queria muito contar para ele o que estava acontecendo, mas não queria ninguém me pressionando, nem decepcionado caso fosse somente um alarme falso.
- Fala dude! – falei animado.
- Tá preparado pra grande notícia que eu vou te dar agora? – falava alto demais, quase gritando.
- Fala logo, porra! – eu disse sorrindo.
- Fomos convidados pra tocar na inauguração de um Pub daqui a dois dias! – falou e o sorriso sumiu do meu rosto. Dois dias?
Lógico que eu tinha ficado feliz, mas a imagem de me ver tocando num show não era nada agradável para mim.
- ? – falou do outro lado e sua voz parecia preocupada – Tudo bem, dude?
- Tudo... – consegui responder.
- Então ! Falei com o cara do Pub e disse que íamos fazer um show acústico! – ele parecia muito animado e falava muito rápido – O que você acha?
- Legal, mas eu não vou tocar , desculpe... – falei decidido.
- Uma ova que não vai! – ele ficou sério – Você vai tocar nem que eu tenha que te levar amarrado, escutou?
- ...
- Porra nenhuma ! Não me vem com essa agora dude! – ele parecia mais decidido do que antes e eu sabia que se eu dissesse que não iria, ele ia falar com a e aí iam ser dois para infernizar a minha vida... Até eu aceitar. Então porque não aceitar logo e me poupar de todo esse estresse?
- Ok dude! – falei rindo – Quando vamos decidir o repertório do show?
Escutei os gritos do e do e dei uma gargalhada. Com certeza devia estar no viva voz. Filhos da puta!


* * *


No dia do show, eu era o mais agitado de todos. Eu estava muito empolgado e queria que saísse tudo perfeito.
Eu já tinha comprado um carro adaptado e agora estava a caminho do Pub com a do meu lado.
- Muito nervoso amor? – ela perguntou me olhando ansiosa.
- Um pouco – menti, eu estava muito ansioso, nervoso e inseguro. Seria o primeiro show que faria depois do acidente – Mas sei que vai dar tudo certo sim!
- Claro que vai! – ela piscou o olho – Eu vou estar lá na frente gritando e pulando tanto, que vou empolgar a galera!
- Você vai é me dar vontade de rir! – falei sorrindo e olhando pra ela.
- Você fica lindo sorrindo amor, então não tem problema! – ela colocou a mão atrás do meu pescoço, fazendo carinho na minha nuca.
- Você é suspeita pra falar, né! – eu pisquei pra ela.
- É verdade, sou mesmo! – ela parou e pensou um pouco antes de continuar – Pensando bem, é melhor você não ficar sorrindo muito.
- Por quê? – perguntei curioso.
- Bom, não quero que ninguém saiba o quanto você fica lindo sorrindo – ela deu de ombros – Mas acho que não vai dar, já que você é lindo de qualquer jeito!
- Só você ! – eu tive que rir da imaginação dela – Só você pra me deixar tranqüilo antes desse show!
- É... Eu acho que essas garotas vão ter que saber que você já tem dona! EU! – ela pegou minha mão e beijou. Depois tirou de dentro da bolsa uma camiseta preta e estava escrito TEAM com letras prateadas atrás e na frente um coração escrito dentro EU TE AMO. Não acreditei que ela tinha feito isso! Fiquei totalmente sem palavras.
- Amor! Não acredito! – falei soltando uma gargalhada alta – Você vai mesmo usar essa camisa?
- Mas é claro que vou, Sr. ! – ela piscou para mim – Para todo mundo saber que você é meu!
- Você é dona do meu coração, do meu corpo e da minha alma – eu disse me virando pra ela, quando paramos num sinal, e coloquei sua mão no meu peito, em cima do meu coração – Pensei que já soubesse disso...
Ela balançou a cabeça e beijou minha mão novamente.
- Eu sei ! – ela disse com a voz embargada – Você também é tudo pra mim!
Quando chegamos, já estava nos esperando.
Entramos e fomos para o cubículo que era o nosso “camarim”. Era muito apertado e eu tive que ficar do lado de fora.
- , como você está? – Jason Perry, nosso produtor, me perguntou colocando as mãos nos meus ombros. [n/a: OK Meninas, tenho que confessar que eu pegava o Jason! \o/]
- Um pouco nervoso, mas estou bem – falei o mais calmo que consegui – Acho que vai dar tudo certo e que a gente vai arrebentar!
- Tudo bem, garoto! – ele apertou minha mão – Boa sorte!
O Show começou e na hora que as luzes se acenderam, o público começou a aplaudir e gritar o nome da nossa banda. Fiquei gelado quando começou a tocar e eu sabia que logo em seguida, eu teria que entrar. O Pub estava lotado e não havia mais espaço nem para uma mosca ali dentro. Consegui entrar no palco, e quando isso aconteceu, não era mais eu. O que eu sabia que ainda existia, entrou no palco e tocou como ninguém! Cantamos todas as músicas com uma empolgação muito forte e apesar do show ser acústico, foi muito bom ver a platéia gritando o nosso nome e aplaudindo sem parar. Vi que as meninas estavam na frente do palco e pulavam e gritavam sem parar. Mas tenho que confessar que meu olhar só estava numa garota de camiseta preta e num par de olhos lindos que me faziam sorrir mesmo sem saber o motivo. Ela cantou todas as músicas do nosso repertório e se empolgou demais.
Por mais que eu não quisesse, eu tive que notar os olhares dos caras em cima dela enquanto ela cantava e dançava as nossas músicas. Claro que eu não gostei, mas ela estava comigo! Ela me amava, ia se casar comigo e eu não tinha motivos para ter ciúmes. Além do mais, logo eu seria igual a eles e aí não teria mais que ficar inseguro com relação a nada!
Quando o show acabou, veio correndo e me abraçou forte.
- Parabéns amor! Foi lindo demais! – ela falou quase chorando.
- Obrigado! – eu disse a beijando na boca – Mas eu estou todo suado, vai te molhar! – eu disse fazendo uma careta.
- Mas suado é melhor ainda – ela piscou e me beijou – Tô doida pra gente chegar em casa e comemorar!
Ela me olhou com cara de safada e eu a beijei intensamente.
Fomos interrompidos pelos caras, que estavam comemorando tomando champagne. Brindamos empolgados ao nosso sucesso!
Foi apenas um segundo, mas podia jurar que tinha visto o James nos olhando de longe e sorrindo de um jeito estranho. Quando voltei a olhar, ele não estava mais lá.

Capítulo 21

“Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.”


Acordei assustado e sentindo uma dor muito forte no peito. As cenas do pesadelo que eu tinha acabado de ter não saíam da minha mente. Eu via claramente um cara igual ao James torturar a e depois me matar na frente dela, enfiando uma espada no meu peito. A sensação de impotência e perda eram fortes demais e eu percebi que estava chorando. Tentei acalmar minha respiração antes que a acordasse e se preocupasse comigo.
Eu estava molhado de suor e quando ela jogou o braço sobre a minha barriga para me abraçar, imediatamente acordou.
- O que foi amor? Tudo bem? – ela perguntou se inclinando sobre mim, um pouco assustada – Você está chorando? O que aconteceu? – ela passava a mão no meu rosto.
- Nada... Só tive um pesadelo – falei acariciando seu rosto, tentando acalmá-la – Calma , eu já estou bem, ok?
Ela me abraçou e sentiu que eu estava ensopado.
- Vou pegar uma toalha - ela me beijou e levantou indo na direção do armário que tinha no nosso quarto.
- Não precisa amor... – falei, mas ela se virou para mim e jogou a toalha na minha direção, sorrindo.
- Quer água? – perguntou se sentando na cama ao meu lado.
- Não quero te dar trabalho – falei beijando sua mão.
- Mas eu também estou com sede e aí pego pra você também! – ela piscou o olho, mordeu minha bochecha e levantou saindo do quarto.
Quando ela agia assim, eu ficava sem palavras. Ela me tratava com tanto amor, carinho e atenção, que eu me sentia o cara mais amado e sortudo do mundo. Não se chateava em ter que fazer algumas coisas para mim e me ajudar. Eu não me sentia muito bem nessas situações, mas no momento em que decidi morar na mesma casa que ela, tive que compartilhar todas as minhas dificuldades diárias, como tomar banho, ir ao banheiro, me vestir e etc. Tive que deixar a vergonha e o orgulho de lado e me mostrar exatamente como eu era. No começo eu achei que ela ia desistir na primeira semana, mas o tempo foi passando e ela se mostrou uma mulher bem mais forte e madura do que eu pensava que ela fosse. Ela realmente me amava e isso me dava uma sensação de segurança muito grande. Não é toda mulher, ainda mais uma mulher linda como ela, que ia se sujeitar a viver ao lado de um cara como eu. Não estou me depreciando, só estou sendo realista!
Mal sabia ela que daqui a algumas semanas eu estaria dando meus primeiros passos. Sorri pensando na expressão dela quando eu levantasse e andasse na sua direção. Todos os dias eu ia à fisioterapia e cada vez mais eu melhorava. A minha sensibilidade estava praticamente completa e eu tinha que tomar cuidado para que ela não percebesse, mas estava difícil, principalmente na hora do sexo. As coisas que eu sentia nos momentos em que ela me tocava eram tão maravilhosas, que eu quase dava bandeira.
Mas segundo o Dr. Kellerman, ainda tinha uma possibilidade mínima de eu não conseguir voltar a andar novamente e que continuasse somente com as sensações.
Eu tinha ficado muito tempo sem ir à fisioterapia e isso dificultava tudo, infelizmente. Eu não podia arriscar deixar que ela soubesse antes de eu ter certeza de que tudo daria certo. Eu não podia nem queria decepcionar uma pessoa tão maravilhosa quanto a .
- Tá com dor, amor? – ela perguntou me entregando o copo e eu recostei na cama – Quer que eu pegue seu remédio?
Eu tomei um gole da água e depois coloquei o copo na mesinha ao lado da cama.
- Vem cá... – a puxei pra mim e a abracei forte contra meu peito, sentindo o calor do seu corpo aquecer o meu – Não se preocupe comigo... Eu estou bem...
Eu queria dizer que estava sentindo o corpo dela encostar-se ao meu, suas pernas por cima das minhas, que a dor que eu sentia antes quase não existia mais, mas não podia. O medo me impedia de revelar a verdade. Eu era um covarde de marca maior, não é?
Ela deitou ao meu lado novamente me abraçando e colocando a cabeça no meu ombro. Quando vi, ela tinha adormecido novamente.


* * *


O nosso show havia sido um sucesso e eu estava feliz, mas não tinha como não pensar no momento em que achei que tinha visto James parado nos olhando de longe. Mas como nos dias que se seguiram não aconteceu nada, achei que era mesmo fruto da minha imaginação como havia sugerido.
Soube pelo alguns dias depois que já tínhamos vários shows marcados e minha vida estava finalmente entrando nos eixos. Logo eu voltaria a ser um cara normal, estava com a mulher que eu amava e que me amava também, minha banda estava decolando, o James tinha sumido finalmente de nossas vidas. O que mais eu poderia desejar?
Acordamos cedo, pois eu tinha uma reunião no estúdio com os caras para acertar os preparativos dos shows, decidir repertórios e etc. Enquanto a fazia o café, tomei uma ducha rápida, tomando cuidado de trancar a porta do banheiro para poder não dar nenhuma bandeira. Depois que terminei toda a minha higiene matinal, fui tomar café.
- Que cheiro gostoso amor! – falei, entrando na sala e a puxando para o meu colo. Beijei longamente seus lábios e a abracei com força, sentindo o perfume de seus cabelos e de seu pescoço macio.
- Fiz aquela panqueca que você ama – ela disse entre um beijo e outro – Amor, daqui a pouco o vai ligar e você nem saiu ainda! – ela me deu um beijo, arrumando (leia-se: bagunçando) meus cabelos.
- Eu sei... – dei outro beijo nela. Aliás, eu nunca cansava de beijá-la.
Ela se levantou do meu colo e colocou café na minha xícara. As panquecas estavam divinas, como sempre, e eu, como um animal, comi quase tudo.
- Estou com preguiça de ir ao mercado, amor – falou bocejando – Acho que vou deixar para ir no fim de semana porque você vai poder ir comigo.
- Quer que eu passe em algum lugar na volta e traga alguma coisa? – perguntei enfiando uma panqueca inteira na boca.
Ela pensou por alguns instantes.
- Se der, vê se você consegue trazer um chocolate pra mim... – ela colocou a mão na cabeça e parecia um pouco abatida. Me preocupei.
- Tudo bem amor? – falei me aproximando dela e tocando em seu rosto. Ela estava um pouco pálida e suava frio – Vou ligar para o estúdio e dizer para fazerem a reunião sem a minha presença. Eu não preciso ir...
- ! Não seja bobo! – ela falou sorrindo – Foi só um mal estar... Já vai passar...
Não gostei nada disso, dude. Vi claramente que ela não estava passando bem, mas se eu insistisse ficar, ela ia se chatear comigo.
- Ok, eu vou! – falei beijando a mão dela – Mas qualquer coisa, me liga! Promete?
- Prometo! – ela disse sorrindo e me levando até a porta – Vou tentar dormir mais um pouco e se eu sentir alguma coisa te ligo, ok?
Parei na porta e a olhei. Ela sorriu mais uma vez para mim e eu segurei em suas mãos.
- Prometo que volto logo! – eu disse com um aperto no peito.
- Espero que sim! Quero comer chocolate! – ela sorriu, mas em seguida colocou a mão na cabeça novamente como se estivesse com dor.
- Eu não quero sair, ! – falei sentindo uma necessidade incrível de ficar e protegê-la de alguma coisa que eu não sabia o que era.
- Deixa de besteira ! – ela disse “arrumando” novamente meu cabelo – Vai para a sua reunião tranqüilo e eu vou deitar e ficar quietinha, ok?
Sem ter mais como argumentar, eu saí.
Eu estava sentindo uma coisa estranha, uma sensação ruim. Quando entrei no carro, senti um arrepio esquisito, mas não era do frio que estava fazendo naqueles dias, era outra coisa.
Quando cheguei no estúdio, fui direto falar com o , mas ele ainda não havia chegado. Estava uma confusão danada e os caras estavam tomando café.
- Bom dia! – falei entrando na sala e pegando um donut´s em cima da mesa – Sabem se o vai demorar?
- Ele não avisou nada – falou de boca cheia – Daqui a pouco ele aparece!
Ficamos conversando, esperando pelo e resolvendo o repertório dos shows. Entramos no estúdio e começamos a tocar algumas músicas, mesmo sem ele. O telefone do tocou e ele fez um sinal para que parássemos.
- É o idiota do ! – falou rindo – Fala dude!
Percebi que ficou fazendo uma cara preocupada enquanto falava com ele.
- Entendo – ele disse e me olhou. Não entendi.
saiu da sala e eu imediatamente me preocupei.
- O que será que aconteceu? – me fitou preocupado.
- Não sei, mas ele estava estranho – dei de ombros – Vamos esperar o voltar e aí saberemos.
Não sei explicar, mas as cenas do pesadelo da noite passada vieram imediatamente na minha cabeça e eu não conseguia afastá-las. Merda!
demorou a voltar e eu e já estávamos impacientes. Quando finalmente ele entrou no estúdio, estava com uma cara muito, mas muito estranha.
- O que houve ? – perguntei, me aproximando dele – Aconteceu alguma coisa com o ?
- Dude, você está pálido! – falou assustado.
- Eu? Pálido? – sorriu – você é um idiota!
- Cadê o ? – perguntei ainda preocupado.
- Ah... Ele não vai poder vir... – foi beber um copo de água e eu percebi que ele estava tremendo – Parece que ele passou mal... Deve ter comido alguma coisa ontem que não... Não caiu bem... – bebeu a água toda de uma vez e voltou a encher o copo.
- Melhor a gente ir até a casa dele então... – falei já pegando meu casaco - Ele pode estar precisando de ajuda e...
- Não! – me interrompeu de uma forma esquisita, parando na minha frente – Quer dizer... Ele disse que não precisa e pediu que a gente ensaiasse normalmente... Depois a gente liga pra ele...
- O que ele disse, ? – perguntei desconfiado. Obviamente tinha alguma coisa errada.
- Nada ! – ele riu nervoso – Só que estava passando mal...
Não acreditei em nenhuma palavra que ele disse. Não sei por que, mas alguma coisa estava me dizendo que o não estava doente porra nenhuma e que o estava mentindo.
Meu celular tocou e era a .
- Oi amor, tudo bem? – falei preocupado, lembrando que ele estava passando mal quando saí.
- Oi amor... Não... Tá tudo bem... – ela disse para o meu completo alívio.
- O que foi então? Saudades? – falei rindo. – Também... Estou ligando pra te avisar que vou ao mercado. Você quer alguma coisa?
- Não amor... Mas você tem certeza que não é melhor esperar para ir no fim de semana comigo?
- Mas eu melhorei e resolvi ir... – ela disse, mas senti que sua voz estava estranha.
- Tá bom, mas qualquer coisa, me liga! – falei preocupado e já pensando em ir pra casa.
- Ok amor! – ela disse – A gente se vê à noite então! Eu te amo... Nunca esquece disso, ok?
- Eu nunca esqueço... Eu também te amo minha pequena! – falei e ela desligou o telefone.
Depois daquele telefonema fiquei com a pulga atrás da orelha e quando olhei em volta, não vi nem nem . Eles tinham saído do estúdio.
Fiquei olhando para o celular em minhas mãos, sentindo a boca seca e meu coração bater mais rápido que o normal.
Decidi ir para casa. O não viria e eu não queria deixar a sozinha.
Peguei minhas coisas e saí do estúdio antes que eles voltassem.
Eu não sabia o que era, mas tinha alguma coisa errada nessa história toda e eu estava disposto a descobrir.



Capítulo 22

“Purifica teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda em um recipiente sujo.”

Tentei chegar em casa o mais rápido que pude e no caminho tentei ligar várias vezes para o seu celular, mas ela não atendeu. Achei muito estranho e quando entrei em casa logo notei que havia algo de errado. A mesa do café da manhã ainda estava posta e eu tive a sensação de que ela tinha saído apressada, pois havia algumas roupas jogadas no chão e algumas luzes acesas.
Imediatamente peguei o telefone e liguei para o celular dela, que para o meu completo desespero, pela milésima vez, caiu na caixa postal.
Será que eu estava neurótico à toa, porra? Vai ver não estava acontecendo nada e eu estava nervoso sem motivo nenhum, mas que alguma coisa estava acontecendo, isso estava! Ela estava estranha e um pouco distante já fazia um tempo, mas eu fingia que não estava percebendo.
Já passava das quatro da tarde quando ela finalmente chegou e quando me viu em casa, levou um susto.
- ! Chegou cedo? – ela me olhava de um jeito estranho e notei que seu rosto estava extremamente vermelho como se tivesse chorado.
- Você chorou? – falei chegando mais perto dela – O que aconteceu, ?
- Claro que não! Não aconteceu nada amor! – se esquivou do meu braço – Acho que estou gripada, só isso!
Reparei que ela estava sem nenhuma sacola de compra nas mãos e na mesma hora fiquei desconfiado.
- Onde você estava? Eu tentei ligar mais de um milhão de vezes para o seu celular! – falei meio nervoso.
- No caminho para o mercado eu resolvi não ir mais... – ela colocou a bolsa no sofá e foi na direção da cozinha – Resolvi passar no shopping e encontrei uma amiga por lá.
Ela estava mentindo descaradamente e eu não sabia o motivo.
- É mesmo? – falei sentindo o ciúme tomar conta de mim. Será que ela estava me traindo? – E porque será que eu acho que você está mentindo?
- , eu estou cansada... – ela voltou para a sala e sentou no sofá me encarando – Por favor...
- , o que está havendo? – perguntei me aproximando dela e pegando suas mãos – Você está me escondendo alguma coisa? Você sabe que pode me contar tudo, não sabe? – falei olhando em seus olhos.
Ela levantou do sofá e foi até a janela. Não entendi a reação dela.
- Não é nada... – ela disse sem se virar – Só estou com um pouco de dor de cabeça.
- Tem certeza? – insisti, desconfiado.
A princípio ela não respondeu e eu me aproximei dela na janela e segurei seu braço para que ela se virasse na minha direção.
- O que aconteceu amor? Você está estranha... – falei olhando em seus olhos.
- Não é nada, ! – ela disse se soltando do meu toque – Eu só estou cansada! Só isso!
Toda vez que ela me chamava de , era porque estava irritada comigo e percebi que na última semana isso vinha acontecendo com mais freqüência do que eu gostaria.
- , vamos conversar... – falei a seguindo mais uma vez.
Ela fechou os olhos como se estivesse se controlando para não chorar, passou a mão pelos cabelos e respirou fundo antes de voltar a abrir os olhos.
- Vem cá... deixa eu te levar para a cama – a puxei pelo braço até que ela caísse no meu colo e a levei até o quarto – Você está um pouco pálida.
Ela afundou o rosto no meu pescoço e me abraçou forte. Senti que ela estava chorando e segurei seu rosto entre as mãos.
- O que foi amor? Porque você está chorando? – perguntei aflito.
- Acho que é TPM... – ela riu fraco e passou a mão pelo meu rosto, como e quisesse memorizar os meus traços.
- Tem certeza? – voltei a abraçá-la e ela deitou logo depois na nossa cama – Vou fazer um chá pra você. Ela assentiu e se encolheu na cama, abraçando os joelhos.
Saí do quarto extremamente preocupado e sentindo que alguma coisa estava errada, mas eu não sabia o que era e aquilo estava me deixando louco. Entrei na cozinha e coloquei a água para ferver enquanto tentava imaginar o que estava acontecendo para que ela agisse dessa forma. Peguei meu celular no bolso e liguei para o , mas caiu na caixa postal.
Várias opções passavam pela minha cabeça, mas tinha uma que estava martelando dolorosamente. Será que ela estava cansada de mim? Da nossa vida? Do meu amor? Eu não queria pensar essas coisas, mas estava difícil ultimamente. Ela andava meio distante e sempre se afastava de mim. Voltei para o quarto e coloquei a caneca com o chá na mesinha de cabeceira quando percebi que ela estava dormindo. Puxei o edredom para cima e deitei ao seu lado, observando seu sono. Seus cabelos estavam espalhados pela fronha clara e suas mãos estavam juntas embaixo no seu rosto. Passei delicadamente a mão em seus cabelos, tirando alguns fios que caíam sobre seu rosto e me inclinei para beijá-la. Imediatamente ela me abraçou, colocando seu rosto no vão entre meu ombro e meu pescoço, me causando um arrepio quando ela respirou forte.
- Eu te amo... – ela sussurrou no meu ouvido – Nunca se esqueça disso...
- E você é a minha vida... [n/a: Edward Cullen Forever! \o/] – falei, mesmo estranhando o modo como ela disse isso. Lógico que ela sempre dizia que me amava, mas de uns tempos para cá estava se tornando freqüente ela fazer esse tipo de observação, para que eu nunca esquecesse o quanto ela me amava.
Acabei pegando no sono também e quando acordei, ela não estava mais comigo na cama. Passei as mãos pelo rosto e olhei para o relógio. Eram 8:30h da noite.
- Amor? – chamei, não ouvindo a resposta – ?
Ela não respondeu e eu saí da cama, indo direto para a sala. Encontrei a deitada no sofá encolhida. Ela estava tendo algum tipo de pesadelo, falava meu nome e balançava a cabeça de um lado para o outro. Me aproximei dela e toquei em seu rosto.
- Amor, acorda! – falei baixinho e ela deu um pulo do sofá, se jogando no meu colo em seguida – O que houve? Porque você não me acordou? – perguntei calmamente afagando seus cabelos.
- Tive um pesadelo horrível, – ela falou soluçando e me apertando forte contra o corpo dela, que tremia descontroladamente.
- Calma... Foi só um pesadelo, meu amor – falei beijando seu pescoço – Está tudo bem agora...
Ela não respondeu e continuamos ali abraçados. De repente ela se virou para mim e me beijou violentamente, passando as mãos por baixo da minha camisa, me deixando com muito tesão. Coloquei minha mão por baixo dos seus cabelos segurando diretamente em seu pescoço macio e ela se arrepiou. Sorri durante o beijo e ela se afastou para poder tirar a minha camisa, colando nossos lábios logo em seguida e senti que o beijo que ela me dava estava diferente. Minhas mãos passeavam por seu corpo, fazendo com que ela soltasse gemidos que cada vez me deixavam mais excitado. Passei para o sofá e ela se deitou em cima de mim, fazendo com que eu a segurasse pela cintura dos dois lados do corpo. Ela parecia em transe quando eu a toquei mais intimamente. Parecia tão entregue que eu não pude deixar de me lembrar da última vez que isso aconteceu. Foi quando ela me deixou por causa do James.
- ... – ela sussurrava e passava as mãos no meu peito descendo até a altura da minha boxer. Ela não sabia, mas eu estava sentindo absolutamente tudo, o que me deixava mais excitado ainda. Nos amamos de uma forma meio desesperada e novamente lembrei do dia em que isso aconteceu, mas eu era covarde demais para perguntar alguma coisa. No fundo eu tinha medo que ela me deixasse novamente, mas não queria questionar a atitude dela e receber uma resposta que não me agradaria.
Ficamos deitados no sofá e ela deitou a cabeça no meu peito. Senti que ela tremia um pouco e puxei a manta do sofá para nos cobrirmos.
- Posso te perguntar uma coisa? – ela falou depois de um tempo enquanto eu fazia carinho em seus cabelos. Eu até tinha achado que ela já tinha dormido.
- Claro amor... Qualquer coisa! – falei a abraçando forte e beijando o alto de sua cabeça.
- Você está feliz? – ela perguntou num tom muito baixo.
- Não – respondi e ela se virou para mim meio espantada – Eu sou feliz, eu não estou feliz! – falei sorrindo.
Ela sorriu também, mas percebi que era um sorriso triste. O que estava acontecendo?
- Eu sou a pessoa mais feliz desse mundo! – falei levantando os braços – Você me faz o homem mais feliz do mundo! Ter você ao meu lado, me amando me faz sentir o cara mais sortudo do universo! – falei bem alto e dei uma gargalhada para depois abraçá-la.
A reação dela não foi a que eu esperava. Ela ficou me olhando e seu sorriso tinha desaparecido de seu rosto.
- ... – ela disse – Queria que você soubesse que eu te respeito e admiro demais...
Não entendi direito. Como assim me respeita e admira demais?
- Não queria te fazer sofrer... – ela disse e eu vi seus olhos se encherem de lágrimas.
- , o que está acontecendo? – perguntei muito sério, já duvidando se ela ia me responder sinceramente – Você não me faz sofrer amor... Você só me faz feliz.
- Não está acontecendo nada, ... – ela falou e as lágrimas escorreram pelo seu rosto. Passei a ponta dos dedos sobre seus olhos molhados e enxuguei as lágrimas – Desculpe...
- Não gosto de te ver assim... Me sinto muito impotente de não poder fazer nada para te ajudar – falei com sinceridade.
- Você não pode fazer nada... – ela disse com o meio sorriso voltando ao rosto – É coisa de mulher... TPM... Lembra?
Não acreditei, mas tive que engolir.
Consegui convencê-la a voltar para a cama, pois dormiríamos muito mais confortáveis.
Depois que ela dormiu, eu não conseguia parar de pensar em tudo que ela tinha me dito e na forma como ela estava agindo ultimamente. Eu a amava mais do que a mim mesmo e eu sabia que isso não era o certo, mas eu não conseguia evitar. Eu seria capaz de qualquer coisa por ela e somente por essa razão eu me dei mais uma oportunidade de ter esperança e estava seguindo com o meu tratamento em segredo e já estava doido com a surpresa que eu ia preparar para ela. Quando não consegui chegar a nenhuma conclusão, o sono acabou se apoderando do meu corpo e eu dormi abraçado à mulher da minha vida.

Capítulo 23

“Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.”

's POV

Saí de casa cedo e estava indo direto para o estúdio. O show tinha sido maravilhoso e por conta dele, já tínhamos mais dois convites para nos apresentarmos. Fiquei impressionado com a performance do naquele dia do show. Sinceramente, eu estava com medo que na hora ele amarelasse ou que não tocasse bem, mesmo a gente sabendo que ele era o melhor. Mas, como sempre, ele surpreendeu a todos.
Realmente a vida dele tinha dado uma guinada inesperada com a chegada da . Ela estava fazendo muito bem a ele e dava pra ver em seu rosto que ele estava muito satisfeito e feliz. Era incrível a energia que eles emanavam quando estavam juntos. Parecia que já estavam juntos há pelo menos trinta anos, tamanho era o entrosamento deles dois. Na verdade, às vezes eu tinha a impressão que eles já se conheciam de outras vidas.
Parei o carro na frente do estúdio e me preparava pra sair quando meu celular tocou e eu vi que era da casa do . Provavelmente era a pra avisar que o se atrasaria.
- Fala ! – eu já disse rindo e saindo do carro – Já sei! O seu amor vai se atrasar um pouquinh...
- ! – a voz dela estava tremendo e eu na mesma hora parei de rir.
- O que foi ? – perguntei preocupado – O está bem?
- Ele está bem . Ele já deve estar no estúdio agora – ela suspirou – Preciso conversar com você agora... Eu não tenho mais ninguém, ... – agora ela estava chorando compulsivamente.
- Calma ! – falei entrando novamente no carro – O que aconteceu?
- O James... – ela soluçava e mal conseguia falar – Ele tem me procurado e ameaçado matar o se eu não terminar com ele e... - ela não conseguiu continuar e eu me desesperei.
- Eu estou chegando na sua casa, mas se acalma, ok? – falei me despedindo e acelerando o mais rápido que podia.
O tinha comentado comigo que achava que tinha visto o James no show, mas depois não o viu mais e que devia ter sido só uma impressão. Fiquei meio cismado quando ele falou isso, e deixei os outros em alerta para que se acontecesse alguma coisa estranha, eles me avisassem e vice versa. Peguei o celular e liguei para o .
- Fala dude! – atendeu no segundo toque e sua voz parecia animada.
- , presta atenção mas não deixa o perceber – falei parando num sinal – Estou indo agora para a casa da ... o James anda ligando para ela e ameaçando a vida do ...
- Entendo – fez uma voz muito séria e o falatório que eu estava ouvindo antes tinha sumido. Provavelmente ele tinha saído para um lugar reservado – O que a gente deve fazer?
- Vocês não podem de jeito nenhum deixar o sair daí antes que eu ligue novamente, entendeu? – falei estacionando o carro na porta do prédio da .
- E qual a desculpa que a gente vai dar? – falou preocupado – Você sabe que ele vai desconfiar, dude!
- Não interessa, ! Faça o que for preciso para que ele fique aí no estúdio! – falei nervoso – Esse James está por aí e não quero o saindo sozinho de carro pela cidade.
ficou em silêncio por um minuto.
- Vou falar com o e inventar alguma coisa, ok? – falou finalmente.
- Ok dude! Assim que eu tiver mais notícias, eu ligo novamente – falei desligando o celular e entrei no prédio.
Assim que toquei na campainha, ela abriu a porta e me abraçou chorando.
- Eu não acredito que esse animal está me perseguindo de novo, ... – ela disse sentando no sofá e colocando a cabeça entre as mãos – O que eu vou fazer agora?
Eu não sabia o que responder e apenas a abracei novamente. Aliás, eu sabia o que tinha que ser feito, mas não conseguia dizer. Não depois de ver a felicidade deles, o amor que ela tinha por ele, o cuidado, o entusiasmo dele ao sair da fisioterapia todos os dias e vê-la esperando por ele. Não dava pra dizer que ela tinha que ir embora...
- Calma pequena... – falei e me afastei dela – Vou pegar água com açúcar...
- ! – ela me seguiu até a cozinha – Não posso abandonar o ...
- Eu sei que não, ... – segurei seus ombros e a olhei nos olhos – Mas o que você vai fazer se ele se aproximar de você e o estiver perto?
Ela fechou os olhos e as lágrimas pareciam transbordar por seus olhos. Ela estava desesperada, mas precisava entender o que poderia acontecer se o James chegasse perto do ... Por mais que fosse difícil, doloroso, ela precisava entender.
- O James quer que eu vá encontrar com ele agora – ela falou de olhos fechados e eu tremi.
- Mas você não pode se encontrar com ele sozinha, ! – falei em pânico.
- ... – ela me olhou demoradamente antes de continuar – Eu venho me encontrando com ele já tem mais de um mês.
- O que? – eu estava estupefato agora – Como assim?
- Ele me ameaçou, ... – ela começou a chorar novamente – Se eu não fizer o que ele quer, ele mata o ...
- Meu Deus! – falei passando as mãos pelos cabelos. Nem queria imaginar o que esse animal fazia com ela quando se encontravam e nem o que o pensaria se soubesse de uma coisa dessas. Ele tratava a como se fosse uma princesa.
- ... Eu não sei o que fazer... Se eu deixar o , ele vai sofrer muito... E se eu continuar com ele...- ela não conseguiu terminar e colocou as mãos no rosto.
Ela estava muito nervosa e de repente foi em direção ao quarto e começou a mexer na parte de cima do armário. Parecia procurar alguma coisa e quando eu vi, ela estava com uma arma nas mãos.
- O que é isso, ? – ela segurava a arma e voltou a me olhar.
- Isso vai acabar, ... Eu prometo que vai... – o olhar dela estava distante.
- , me dá essa arma agora! – eu estendi minha mão, mas ela olhou se estava carregada e a colocou na bolsa.
- , isso precisa acabar! Eu não vou deixar o James me machucar nunca mais! – ela seguiu em direção à porta, mas eu a segurei.
- , se você matar o James, irá presa! Já pensou o que o vai pensar sobre isso? – eu tive que apelar.
- Ele não vai saber de nada e ninguém vai me acusar de nada porque eu vou alegar legítima defesa! – ela estava muito segura, mas eu não estava gostando nada disso.
- Isso é loucura! – falei passando a mão no cabelo – Você não pode estar falando sério! É muito perigoso!
Ela se aproximou de mim e segurou no meu braço.
- , eu nunca amei ninguém como eu amo o ... Eu não posso deixar nada acontecer com ele, entende? – ela estava muito séria ao falar – Eu nunca estive tão feliz em toda a minha vida e eu não quero me separar dele.
Ela soltou meu braço e se dirigiu para a porta.
- Espera ! – falei e coloquei as mãos nos seus ombros – Me deixa pelo menos ajudar, então?
- Desculpe , mas não quero que você se envolva nisso... – ela disse segurando meus braços – Se alguma coisa der errado, por favor, cuida do pra mim...
Fechei os olhos quando ela disse isso. Eu não queria nem pensar na reação do se acontecesse alguma coisa com a .
- Não faz isso... – implorei – O que eu vou dizer ao ?
- Não vai dizer nada, porque você não sabia de nada – pegou o celular e ligou para alguém.
- Oi amor! – ela disse sorrindo – Não...Tá tudo bem.
– Estou ligando pra te avisar que vou ao mercado. Você quer alguma coisa?
Ela estava falando com o . Puta merda!
- Mas eu melhorei e resolvi ir... – falava de cabeça baixa para não me encarar.
- Ok amor! – ela me olhou – A gente se vê à noite então! Eu te amo... Nunca esquece disso, ok?
Ela desligou e uma lágrima caiu de seus olhos nesse momento.
- Pensa melhor ... O não merece isso! – falei dando a última cartada.
- O que o não merece é ter que ficar com alguém que tem que viver se escondendo... Ou morrer pelas mãos de um psicopata como o James!
Ela estava decidida e eu não podia mais fazer nada.
- Por favor, não me siga... – ela disse, me dando um abraço.
Saímos do apartamento e ela entrou no carro, sem me olhar. Fiquei parado parecendo um babaca.
A ia encontrar o James e talvez não voltasse. E eu? O que eu ia falar para o caso acontecesse alguma coisa com ela? Ele não ia agüentar perdê-la. Eu tinha certeza que se acontecesse alguma coisa com a , o ia morrer também.
Meu celular vibrou e vi que era o .
- ! O sumiu, cara! – falava rápido e nervoso.
- Como assim sumiu, porra? Eu não falei que não era pra ele sair? – falei puto.
- Mas eu saí pra falar com o e contar o que estava acontecendo – se justificou – E quando voltamos ele tinha ido embora.
Desliguei na cara do . E agora? Puta merda!

Capítulo 24

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade."

's POV

Os meus dias de felicidade ao lado de estavam chegando ao fim. Tudo que eu imaginei que uma pessoa pudesse oferecer à outra, me dava em dobro, ele me amava com uma intensidade fora do normal e eu tentava retribuir à altura. A alegria em seus olhos era uma coisa maravilhosa de ver, e quando nos amávamos, eu sentia que o mundo poderia acabar, pois nunca antes em minha vida eu havia sentido um amor assim com tanta intensidade.
Como pode de um dia para o outro, uma coisa perfeita se transformar numa coisa que pode destruir a pessoa que você mais ama no mundo, mais até que você mesma?
Imaginar acordar todos os dias e não sentir seus beijos, seu cheiro inebriante, suas carícias, era praticamente inconcebível. O nosso amor preenchia todas as lacunas das nossas vidas e até mesmo o fato de se sentir inseguro por ter certeza que não se recuperaria mais, já não era assim tão presente em nosso cotidiano.
Estávamos adaptados à nossa realidade e a felicidade que sentíamos era mais forte do que tudo. Ou quase tudo.
Desde que o James havia começado a me ligar, eu não consegui mais ter paz na vida. Eu tentava, em vão, disfarçar, mas a cada dia estava mais difícil agüentar a presença constante dele. James me fazia muitas ameaças e me obrigava a ter encontros com ele, sem que soubesse, claro. Ele dizia que se eu fizesse alguma coisa que o desagradasse, ele machucaria o meu . Eu não podia suportar a idéia de vê-lo machucado, ou até coisa pior.
Então eu cedia.
Eu sempre pensava em contar tudo ao , mas na hora desistia. Ele não podia se defender do monstro que James era, e eu tinha muito medo do descontrole dele se soubesse o que realmente estava acontecendo. Com certeza ia querer tomar satisfação com James e só Deus sabe como poderia acabar essa história. E isso era tudo o que eu queria evitar!
No meu último encontro com James, eu havia levado a arma e estava decidida a matá-lo para poder salvar a vida de e a minha felicidade. Mas nada deu certo e ele ficou com mais raiva ainda quando viu que a minha intenção era matá-lo, deixando claro que não ia mais tolerar o meu relacionamento com e praticamente me deu um prazo para que eu terminasse definitivamente com ele. Eu relutei, tentei fazer com que ele enxergasse que não poderia exigir isso, mas foi tudo em vão... Ele disse que se eu não o fizesse dentro de duas semanas, ele mataria sem piedade.
Pensei em ir até a polícia, mas James era influente o suficiente para sair livre sem qualquer problema. Eu não sabia se era mesmo verdade isso, mas como eu poderia arriscar quando o que estava em risco era a coisa mais preciosa do meu mundo?
Quando menti para ele que iria ao supermercado, fui me encontrar com James e foi exatamente nesse encontro que eu soube que só teria duas semanas com . Não esperava encontrá-lo em casa e me surpreendi quando abri a porta e dei de cara com ele. Eu havia chorado durante todo o caminho de volta e ele percebeu, mas consegui disfarçar dizendo que talvez estivesse ficando gripada. Eu não queria brigar. Durante essas duas semanas que nos restavam eu queria poder desfrutar do seu amor sem ter que me preocupar com nada, mas era impossível. O simples fato de que eu teria que magoá-lo para poder fazê-lo entender que não podíamos ficar juntos, me dilacerava por dentro.
Eu tinha certeza que lutaria e não entregaria os pontos facilmente, e diante disso eu sabia que teria que pegar pesado para poder afastá-lo de mim. Teria que ser cruel com ele, mas o que mais eu poderia fazer? Eu o amava mais do que tudo na vida e mesmo que ele acabasse por me odiar, eu teria que fazê-lo acreditar que eu não o queria mais. Esses pensamentos me atormentavam dia a dia e eu não sabia mais o que fazer.
Decidi contar para o sobre o prazo que tinha para acabar tudo com o e como eu esperava, ele também ficou possesso, mas viu que no fundo não poderia fazer nada.
- , por favor, cuide do quando eu for embora – falei no dia que nos encontramos, nos braços dele chorando – Não deixe que ele fique sozinho... Tome conta dele pra mim...
- Ah ! – disse ainda abraçado a mim, com a mão em meus cabelos – Temos que reverter essa situação! Esse cara não pode chegar e dar ordens assim...
- Eu não vou arriscar a vida de com suposições, ! – falei decidida - Ele foi muito claro no nosso último encontro... – falei lembrando do James e sentindo um calafrio na espinha.
não conhecia o James como eu. Não sabia do que ele realmente era capaz de fazer quando se sentia contrariado. Além do fato de James ter amigos influentes e poder acabar com a carreira da banda que estava decolando. Mas o pior era a ameaça constante da vida de . Eu poderia agüentar qualquer coisa, menos isso.
- Quero que você saiba que poderá sempre contar comigo, ! – falou com lágrimas nos olhos.
- Você sabe que eu vou ter que magoar muito o para que ele se afaste de mim, não sabe ? – perguntei em meio a um soluço dolorido.
- Eu sei... – respondeu voltando a me abraçar – Eu não sei o que te dizer, mas quero que saiba que eu vou cuidar dele... Não se preocupe.
Como eu poderia não me preocupar? Eu sabia que iria sofrer mais do que ele seria capaz de agüentar e tinha medo das conseqüências que a minha atitude poderia trazer para a vida dele. Mas eu confiava no e sabia que ele me manteria informada de tudo.
As duas semanas passaram como se fossem dois dias. Quando percebi já estávamos no último dia e eu teria que tomar uma atitude. Durante essas duas semanas eu procurei ficar estranha, desligada, sem paciência, mas tudo fazia parte do plano que eu havia criado na minha cabeça. Seria hoje quando eu chegasse do estágio. Provavelmente ele já estaria em casa e eu teria que vestir minha máscara para magoar a única pessoa que eu amei de verdade em toda a minha vida.
Durante o caminho de volta do trabalho, recebi uma ligação do , perguntando onde eu estava. Achei estranho, mas respondi que já estava chegando. Mas para acabar com a minha alegria, James me ligou logo em seguida para saber se eu cumpriria com o combinado ou se ele teria que fazer uma “visitinha” ao . Respondi secamente que hoje eu iria terminar com ele e que quando eu tivesse saindo, ligaria para ele. O xinguei de todos os nomes mentalmente e desliguei bufando contrariada. Eu queria que acontecesse um milagre e que isso tudo fosse somente um pesadelo e eu pudesse viver minha vida e meu amor em paz com a pessoa certa e perfeita para mim.
Cheguei ao prédio, entrei, e vi pelo espelho do elevador enquanto subia que meu rosto estava horrível, mas dessa vez eu não precisaria fingir que estava bem, porque eu NÃO estava. Eu só pensava no que eu teria que dizer para e o quanto eu teria que magoá-lo. E isso estava me matando por dentro, aliás, eu já estava morta. Pelo menos essa era a sensação.
Quando abri a porta do apartamento, reparei que estava tudo escuro, com exceção de algumas velas espalhadas. Coloquei as chaves na mesinha e chamei por , sem obter resposta. O que estava acontecendo? Caminhei até a primeira vela e embaixo havia um bilhete e uma rosa vermelha. Abri o bilhete e estava escrito: “Boa noite meu amor! Por favor, siga até a próxima vela”. Sorri e fui em direção à próxima vela que estava perto da televisão. Assim como na primeira vela, havia uma rosa vermelha e outro bilhete, que imediatamente li: “Espero que esteja preparada para a grande surpresa da noite!”. Surpresa? Logo hoje? Não podia acreditar que tinha escolhido o dia em que eu terminaria com ele para me fazer as surpresas que eu sempre amava. Parecia até que ele estava adivinhando o que aconteceria. Merda!
Olhei para a última vela que estava no corredor e me aproximei com as duas rosas na mão. Nessa vela não havia rosa, somente um bilhete e um pano escuro dobrado que parecia uma venda para os olhos. Abri o último bilhete e li: “Venha até o nosso quarto e prepare-se. Te amo mais que tudo! P.S. Coloque a venda”. Minha vontade foi sair correndo daquele apartamento. Eu não queria que ele me fizesse surpresas hoje, porque ficaria muito mais difícil fazer o inevitável.
Sabendo que eu não poderia recuar, fui o mais devagar possível até o quarto, onde amarrei a venda em meus olhos e esperei.
- ? Você está ai? – perguntei quase sem emoção na voz, já prevendo que devia ser uma surpresa e tanto. Uma surpresa que eu não merecia e nem poderia aproveitar.
- Já falei que te amo hoje? – falou no meu ouvido. Como assim falou no meu ouvido?
Ele tirou a venda dos meus olhos e eu não pude acreditar no que eu vi. parado, em pé na minha frente, com um sorriso lindo no rosto e uma rosa vermelha nas mãos. Seus olhos azuis estavam brilhando tanto que pareciam iluminar o ambiente.
Coloquei a mão na boca para abafar um grito. Não podia acreditar que ele estava de pé na minha frente.
- ... Eu... O que... – me afastei dele uns quatro passos para poder olhá-lo por inteiro, sem conseguir falar e meus olhos transbordaram nesse instante – Como... ... – eu ria e chorava ao mesmo tempo.
Por alguns instantes eu me esqueci de tudo, vendo somente o homem que eu amava na minha frente e sentindo toda a felicidade que ele estampava no rosto.
- Gostou da surpresa, amor? – ele se aproximou de mim com passos lentos e cuidadosos, se apoiando na estante do quarto e se segurou em meus ombros me olhando profundamente – Eu esperei até conseguir ficar sozinho em pé para poder te mostrar...
Toquei seu rosto com as duas mãos e meu sorriso se alargou mais. Ele me olhava em adoração e nesse momento eu percebi que não ia conseguir deixá-lo. Mas eu precisava. Infelizmente. Por mais que ele se recuperasse, ele nunca seria páreo para o psicopata do James. E eu não podia arriscar...
Nos abraçamos e eu tomei o máximo de cuidado para que ele não se desequilibrasse.
- Eu não mereço um abraço mais apaixonado não? – riu e me apertou com força.
- Desculpe... – falei o apertando também e reparando em como ele era mais alto do que parecia.
- Eu te amo, sabia? – ele sussurrou no meu ouvido – E isso tudo só está acontecendo por causa desse amor... Por causa de você ...
Não consegui dizer nada e chorei mais ainda. E agora? Diante do que eu tinha acabado de ouvir o que eu poderia fazer? Como agir?
- Não vai dizer nada? – pude perceber a decepção na sua voz diante do meu silêncio.
Me afastei dele com muita dificuldade, pois eu sabia que esse seria o nosso último abraço e então olhei diretamente em seus olhos. Eles estavam curiosos com a minha reação. Tentei me controlar ao máximo para começar o que tinha que ser feito. Se antes eu achava que seria difícil, imagina agora.
- , eu estou muito feliz... Você não imagina o quanto... – falei sorrindo, mas sentindo que as lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto – Mas como isso aconteceu? – perguntei tentando conseguir mais tempo.
Ele sorriu abertamente agora e seus olhos acompanharam o sorriso. Ele estava verdadeiramente feliz.
- Eu percebi que a minha sensibilidade estava voltando aos poucos e resolvi consultar o Dr. Kellerman – ele sorriu e deu mais um passo na minha direção, segurando na janela – Quando ele confirmou as minhas suspeitas, eu comecei o tratamento...
- E porque não me contou? – perguntei um pouco tensa – Eu poderia ter te ajudado... Sei lá...
- Ah! Amor, não fica brava... Queria te fazer uma surpresa... – ele sorriu e se inclinou para me beijar, mas eu me afastei. Ele imediatamente percebeu que alguma coisa estava errada.
- O que foi ? Você não ficou feliz? – me olhava aflito.
- Claro que fiquei feliz! – falei me afastando ainda mais – Era tudo que você queria...
- Errado! – ele disse e sorriu novamente – Tudo que eu QUERO é você! Isso é apenas um bônus – falou apontando para as pernas, se referindo ao fato de estar de pé.
Assim eu não ia agüentar. Se ele continuasse a se declarar dessa forma eu ia perder a cabeça e agarrá-lo ali mesmo. Era o que eu mais queria... O que meu coração, alma e corpo pediam.
Imediatamente a imagem de James veio na minha cabeça e eu o ouvi como se estivesse falando do meu lado: “Se você não terminar com ele, eu vou matá-lo!”.
Respirei fundo e me virei de costas para . Como eu iria suportar magoá-lo daquela forma? Eu não sabia, mas teria que ser assim.
continuava em pé, e eu sentia seu olhar nas minhas costas. Quase podia ouvir o que ele estava pensando. Ele queria saber por que eu estava agindo daquela forma? Por que eu não estava tão feliz quanto ele? Ele tinha razão. Alguma coisa estava errada mesmo.
Como eu já tinha previsto não ia desistir nem aceitar qualquer desculpa esfarrapada. Teria que ser uma coisa que o afetasse profundamente e eu já sabia o que usar. Eu evitaria ao máximo tocar nesse assunto, mas se eu não visse outra saída, teria que ser isso. A nossa vida sexual era maravilhosa, mas eu sabia que ele sempre ficava inseguro e achava que não me satisfazia totalmente. Mesmo que eu sempre dissesse que nunca havia sentido nada tão intenso e profundo como quando ele apenas me tocava, nunca acreditava nisso e essa era a minha melhor e pior arma contra ele. Ele ia sofrer e se fechar quando eu mencionasse que a nossa vida sexual era insatisfatória e iria recuar, com certeza. Mas se eu pudesse evitar usar essa arma tão suja, mentirosa e cruel, eu evitaria. Respirei fundo tentando me controlar para começar a dizer mentiras e magoar aquele homem incrível que era a única razão da minha existência.

Capítulo 25

“O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor.”

Senti minhas pernas falharem um pouco e desejei com todas as minhas forças que eu tivesse deixado minha cadeira um pouco mais perto. A reação da não foi exatamente a que eu esperava depois da surpresa que eu havia preparado durante semanas. Ela estava muito estranha e dolorosamente distante. Não parecia ser a mesma pessoa. Algo estava acontecendo.
Ela estava de costas para mim, evitando me olhar nos olhos e eu lentamente me aproximei dela, tomando todo o cuidado para não cair. Coloquei as duas mãos em seus ombros para me equilibrar e beijei o alto de sua cabeça, tentando entender tudo aquilo.
- Amor, o que está acontecendo? – perguntei junto ao seu ouvido, a sentindo estremecer – Estou confuso com a sua atitude... Eu...
Ela se virou bruscamente quase me fazendo perder o equilíbrio e me olhou de uma forma como ela nunca havia feito antes.
- , precisamos conversar – ela disse muito séria.
Essas palavras, as mais temidas de qualquer relação, tinham sido ditas pela mulher que eu amava. Ela continuava me encarando e eu não conseguia definir o seu olhar.
- Assim você está me deixando assustado! – falei meio que entrando em pânico – O que aconteceu ... – ela disse simplesmente.
- O que? – falei meio tonto – O que acabou?
- O amor acabou... – disse e se virou novamente de costas para mim.
Eu precisava me sentar e vi que estava muito longe da cadeira e da cama também. Não tinha conseguido digerir o que tinha acabado de escutar e me apoiei no armário do quarto. Tudo havia saído muito diferente do que eu tinha imaginado e se eu tentasse chegar a qualquer um desses dois lugares, com certeza eu ia cair. Fiquei imóvel, tentando manter o equilíbrio e a lucidez.
- Eu não estou entendendo... – falei e passei uma das mãos pelo rosto e depois pelos cabelos. O amor acabou? O nosso amor acabou? Vi tudo rodar pelo quarto e apertei os olhos. Eu não queria dar sinal de fraqueza, mas estava além das minhas forças. Tudo começou a ficar embaçado e minha boca estava muito seca. Vi que ia cair e não tive mais alternativa, olhei suplicante para ela.
- Desculpe, eu não estou me sentindo bem... ... – falei passando a mão na testa sentindo-a gelada e vendo que ela imediatamente correu para pegar a cadeira de rodas. Ela me ajudou a sentar em silêncio, mas senti que suas mãos tremiam. Coloquei as mãos no rosto e aos poucos comecei a melhorar. Eu me sentia exausto.
- Vou pegar uma água pra você – ela nem esperou pela minha resposta e saiu do quarto.
O que estava acontecendo? Ela estava me dando o fora?
Ela voltou e me entregou um copo com água gelada.
- Obrigado, desculpe... Fiquei um pouco tonto... – falei pegando o copo e bebendo tudo de uma vez só.
Ela sentou na cama perto de mim e pegou minha mão, me encarando de uma forma estranha.
- Está se sentindo melhor? – ela perguntou e de repente sua voz tinha voltado ao que era antes, assim como seu olhar. Era aquele olhar que eu conhecia. Aquela era a mulher que me amava. Mas ela estava me colocando para fora da sua vida e eu tinha que saber a razão.
- , você está terminando comigo? É isso? – perguntei sem conseguir esconder o meu medo.
Mas ela não respondeu e somente assentiu.
- Porquê? O que aconteceu? O que eu fiz de errado? – as perguntas saíam da minha boca sem controle.
- , eu não posso mais continuar com isso... Desculpe – ela disse e se levantou da cama. Mas antes que ela pudesse se afastar, eu a segurei pelo pulso e a raiva tomou conta de mim.
- Você está me dando o fora por outro cara? - a dor que essa pergunta me causou foi totalmente inesperada.
- Claro que não ! – ela falou e parecia sincera – Não tem nada a ver com isso...
Dude, isso não podia estar acontecendo! Nem hoje, nem nunca! Eu não podia acreditar que quando eu relaxei, pensei que tudo estava indo bem, ela estava terminando comigo e dizendo que o nosso amor tinha acabado. O meu amor não tinha acabado, porra! O desespero que eu sentia era tão grande que eu me aproximei dela, tocando em seus cabelos.
- Por favor, ... Me explique o que está acontecendo... – supliquei olhando em seus olhos – Eu estou confuso... Como você pode chegar agora e dizer simplesmente que acabou? – eu não ia aceitar isso! Que porra era essa?
levantou da cama e foi para a janela.
- , por favor... – sua voz era apenas um sussurro – Não vamos tornar isso mais difícil...
- Mais difícil? – eu praticamente sufoquei – Quer dizer que você chega aqui na minha cara, diz que o seu amor acabou da noite para o dia e quer que eu não torne as coisas difíceis? – fui para a janela e segurei forte em seu braço – Difícil para quem?
- Para nós dois... – ela disse evitando me olhar. Eu estava com muito medo do que estava prestes a acontecer, mas ao mesmo tempo eu estava furioso. Como ela tinha dito que me amava de manhã? E agora ela chegava do nada e dizia que não amava mais? Que porra de amor era esse que ela dizia que sentia por mim?
- Eu não acredito... – falei passando as mãos nos cabelos – Sinceramente, eu não acredito que você está me dizendo essas coisas...
- Desculpe ... Eu sei que esse não foi o melhor momento, mas acredite, será melhor assim – ela se soltou da minha mão.
Pensei por alguns instantes tentando colocar a cabeça em ordem, mas não conseguia entender como o dia que eu pensei que seria perfeito fosse ter um final como esse. Mas eu não ia ceder até que ela me desse uma explicação plausível.
- ... Por favor... Vamos conversar – falei entrelaçando minhas mãos nas dela – Você não pode estar falando sério! Hoje de manhã você disse que me amava mais que tudo... – o desespero era visível na minha voz.
De repente ela me olhou e deu um sorriso cínico, se soltando das minhas mãos como se estivesse com nojo.
- Qual parte você não entendeu ? – ela disse friamente – Eu não quero mais! Eu não posso mais continuar nessa relação!
Ela agora andava de um lado para o outro gesticulando muito e evitando me olhar nos olhos. Mas eu não ia desistir. Ainda.
- E você chegou a essa conclusão de uma hora para outra? – perguntei sorrindo nervoso – Porque hoje de manhã você disse que me amava e que era para eu nunca esquecer isso, lembra? – falei passando as mãos nos cabelos.
Ela não respondeu e em vez disso, suspirou alto, fechando os olhos.
- Vamos colocar as cartas na mesa então? É isso mesmo que você quer? – ela perguntou ainda de olhos fechados como se estivesse sentindo uma dor muito grande. Depois de alguns segundos, ela veio na minha direção e me olhou diretamente nos olhos.
- Eu não posso mais viver ao seu lado ! – ela disse calmamente – Eu não agüento mais viver ao seu lado! Eu não suporto nem mais olhar para você!
Nesse momento foi como se um buraco se abrisse embaixo de mim e me sugasse com força total. Minha cabeça girou e eu fiquei mudo, sem saber o que dizer para ela. Eu não conseguia me mexer e fiquei olhando para ela espantado. Como ela tinha coragem de me dizer essas coisas? Depois de tudo que a gente tinha passado junto, eu achei que ela me amasse de verdade. Mas eu ainda ia lutar mais um pouco.
- Amor, se acalma... – falei tentando ponderar – Você está nervosa... vamos convers...
- Pára com isso ! Pára de me chamar de amor, porra! Eu nunca te amei! – ela gritou – Não dá mais! Acabou! – ela disse abrindo o armário e pegando uma mala para colocar suas roupas, para o meu completo desespero.
Ela não me amava? Ela nunca me amou? Puta merda!
- O que você está dizendo? – a fúria tomou novamente conta de mim – Você nunca me amou? Que porra é essa agora?
Não era possível! Tinha que ter acontecido alguma coisa! Ninguém deixava de amar de um dia para o outro... A não ser que nunca tivesse amado de verdade. Era isso então? Ela nunca tinha me amado de verdade? Não... Não podia ser isso... Eu tinha ouvido errado.
- Desculpe , mas eu preciso ter uma vida normal – ela disse sem me olhar – Eu não agüento mais isso...
Mas eu estava me recuperando. Ela não podia me dar o fora por causa disso.
- Mas , eu estou me recuperando e quando a gente menos esperar eu já vou ter voltado a ser o que eu era antes! – falei sorrindo buscando desesperadamente seus olhos.
- Não dá mais... Eu estou me sentindo sufocada! – ela falou colocando a mão no pescoço – Eu não consigo mais fingir... Desculpe...
Parecia que eu havia levado um soco na boca do estômago. Do que ela estava falando?
- Fingir? – perguntei me aproximando dela sentindo meu corpo formigar – Do que exatamente você está falando?
- Já faz um tempo que eu resolvi te contar a verdade , mas não tive coragem de falar e... – ela parou e colocou as mãos no rosto – Fiquei com pena de te magoar...
- Pena de me magoar? – eu repetia o que ela dizia sem sentir. Eu estava muito surpreso e um ressentimento começou a surgir descontroladamente – E do que mais você teve pena, hein?
Ela me olhou surpresa e depois sorriu de um jeito sarcástico.
- Pára com isso ... Você não vai querer ouvir... – ela disse se afastando de mim, mas eu a segurei pelo braço com mais força que o necessário e ela me olhou espantada.
- Fala... Eu quero ouvir para poder acreditar realmente que você me enganou durante todos esses meses – falei entre os dentes.
- Do que você acha que eu estou falando? – ela ainda sorria, mas eu podia notar que estava machucando seu braço.
- Não sei... Me diga você! – estreitei os olhos e eu quase podia sentir a raiva saltando deles – Vamos! Pode dizer na minha cara.
- Depois não diga que eu não avisei... – ela tentou soltar o braço, mas foi inútil – Quer mesmo saber, ?
Dude, eu detestava quando ela me chamava de , mas se ela estava a fim de me irritar, o caminho era esse!
- Fala, porra! – eu disse alto intensificando a força no seu braço.
- Você não me satisfaz na cama... – ela falou muito baixo e as lágrimas começaram a cair pelo seu rosto, mas eu não conseguia mais sentir nada – E você é sempre tão inseguro, tão chato... Eu não posso mais agüentar isso ... Eu quero coisas que você não pode me dar... Eu quero mais, entende?
O mundo parou naquele momento. Eu queria dizer que não seria mais assim, que eu estava me recuperando, mas não tive forças. Eu sabia que isso poderia acontecer, mas não pensei que seria assim dessa forma. Diante desse fato, eu recuei. Perdi meu escudo. Meu coração. Minha vida. Ela estava coberta de razão e eu não podia rebater. Melhor do que ninguém eu sabia que a nossa vida sexual deixava a desejar, ainda mais para uma mulher como ela. Eu não a satisfazia... Foi tudo uma grande mentira o que nós havíamos vivido. Ela não me amava e pelo que parecia, nunca amou de verdade. A vergonha, o medo, a decepção, a mágoa e a raiva vieram juntas e eu finalmente entendi qual era a razão disso tudo. Eu não era, nem nunca seria bom o suficiente para ela. Toda a alegria que eu havia sentido nesses últimos meses e especialmente hoje desapareceram como se nunca tivessem existido e eu senti um vazio tão grande dentro de mim como se eu fosse oco.
- Entendo perfeitamente – minha voz parecia ser de outra pessoa.
- Eu estava carente, , e por isso eu achei que te amava... Mas nunca foi verdade – ela ainda sorria me matando aos poucos – Desculpe pelo engano...
- Chega ! – falei alto demais e ela deu um pulo – Chega! Eu já entendi...
Ela havia me enganado, se divertido às minhas custas, rido de mim pelas costas e agora me descartava como se eu fosse uma roupa que ela se cansou e estava jogando fora. Como eu pude ser tão ingênuo? Como eu pude acreditar que ela realmente me amava? Eu era um imbecil mesmo! Idiota!
- Você está me machucando, ... – ela se contorcia tentando se soltar, mas apesar de tudo eu ainda era mais forte - Me solta... Está me machucando... Olhei no fundo dos olhos dela e a soltei com força, quase a fazendo cair.
- Não mais do que você... – me virei e saí do quarto.



Capítulo 26

“É incrível como alguém pode romper teu coração e, no entanto segues amando-lhe com cada um dos pedaços.”

Fui para a sala sentindo que meu coração ia parar a qualquer momento. A sensação era de que eu iria sufocar, mesmo inspirando oxigênio. Sentia meus braços dormentes e minha cabeça girava. Deve ser exatamente isso que uma pessoa sente quando está prestes a morrer. Todas as lembranças vieram de uma vez na minha cabeça como se fosse um filme. Eu nos vi felizes, nos amando, sorrindo... Mas era tudo mentira e por mais que eu tentasse entender, não conseguia. Como eu pude acreditar em tudo que ela havia me dito? Por mais que parecesse, eu não era idiota a ponto de acreditar por tanto tempo em tantas mentiras... Eu não podia perdê-la... Não agora... Não desse jeito... Alguma coisa estava errada.
Minhas mãos tremiam, mas mesmo assim abri uma garrafa de vodca e bebi um copo, me servindo de outra dose em seguida, e depois de mais uma. Eu precisava me acalmar para quando ela saísse do quarto. Eu não queria parecer frágil, ridículo, desequilibrado, mesmo me sentindo exatamente assim. Eu tinha que ser forte e tentar me manter sob controle. Sendo assim, coloquei minha cabeça para funcionar e tentei imaginar o que eu poderia dizer ou fazer para que ela não me deixasse, mas as palavras dela me atingiram novamente e eu vi que não poderia reverter porra nenhuma! Qualquer coisa que eu dissesse seria ridículo demais, pareceria sem sentido. Eu não poderia dizer que tudo ia melhorar, porque eu não tinha certeza se iam mesmo. Ou seja, eu estava mais do que fodido e mal pago. Eu estava muito confuso, com medo, sentindo meu coração ser despedaçado e meu orgulho de homem ser pisoteado por ela. Entrei em desespero.
Ela havia me enganado e mentido o tempo todo. Isso ecoava na minha cabeça como facas em brasa. Ela havia mentido... Ela não me amava...
- ... eu queria dizer que apesar de tudo, o tempo que passamos juntos foi muito especial – ela disse saindo do quarto e colocando as mãos nos meus ombros. Eu não consegui me controlar nesse momento. Toda a mágoa que eu estava sentindo saiu de mim como se eu estivesse explodindo. Ela ia me deixar mesmo. Ela tinha me enganado. Mentido descaradamente. Se divertido às minhas custas e eu não agüentei... Mais uma vez. Eu não merecia isso...
- Some daqui, porra! – falei tirando as mãos dela dos meus ombros – Você não acha que já falou coisas demais não, garota? O que mais você quer? – eu estava muito descontrolado e minha cabeça latejava – Me humilhar mais ainda? Já não basta tudo que eu ouvi?
Ela me olhou espantada e as lágrimas escorriam copiosamente pelo seu rosto.
- Relaxa ! – falei rindo sarcasticamente – Não precisa mais chorar... Não precisa mais fingir que está chateada por me dar o fora! – me afastei dela e me servi de mais uma dose de vodca, bebendo tudo de um gole só – Afinal, eu só fui um passatempo. Um babaca que você achou para enganar enquanto não achava coisa melhor, não é?
- ... Por favor... – estava soluçando – Não me odeie...
- Fica tranqüila – cheguei bem perto dela e segurei forte em seu queixo para que ela me olhasse – Você acabou com qualquer tipo de sentimento dentro de mim... Não consigo sentir mais nada... Nem ódio por você...
Soltei seu rosto brutalmente e me servi de outra dose. Dude, eu precisava beber para poder suportar tudo aquilo.
- Você sabe que não pode beber assim, – ela disse me reprovando e eu tié que rir.
- Como é que é? – quase engasguei e dei uma gargalhada alta – Vamos ver se eu entendi... Você me engana, me magoa, me dá o fora e Deus sabe mais o que você fez sem eu saber... – sorri para ela - , você está preocupada com o que exatamente? – bebi outro copo e comecei a me sentir mais leve.
- Você sabe que não pode beber por causa dos reméd...
- CALA ESSA BOCA, SUA VADIA! – gritei a interrompendo e joguei o copo na parede, colocando a cabeça entre as mãos em seguida – Cala a boca, porra!
- ... Eu... – a voz dela falhou e ela se aproximou de mim como se fosse me abraçar – Eu queria que fosse diferente... Me perdoa... – ela segurou minha mão e colocou o anel que eu havia dado no dia em que eu a pedi em casamento.
Apertei o anel em minha mão e olhei para ela, que estava parada ao lado do sofá.
- Por que? – minha voz estava embargada quando eu perguntei – Por que? Só me responde isso... Por favor...
Ela ficou em silêncio e senti que ela se esforçava para não chorar. Meu coração estava morrendo e eu não podia fazer nada.
- ... Me desculpa amor, por ter te chamado de vadia... – falei arrependido – Por favor, não me deixa... – implorei, me humilhando mesmo depois de tudo que ela havia dito. Eu não podia perdê-la... Eu não ia suportar...
- Adeus ... Me perdoa... – ela pegou a bolsa e saiu, me deixando sozinho.
A minha vontade era quebrar a casa toda de raiva, frustração e tristeza, mas em vez disso eu peguei a garrafa de vodca e bebi todo o seu conteúdo no gargalo mesmo. O líquido queimava minha garganta e eu joguei a garrafa longe como se ela fosse a culpada pelo meu sofrimento.
Fui até a janela da sala e observei a noite estrelada que estava fazendo. Era a noite perfeita para tudo que eu tinha preparado. O restaurante que eu tinha reservado, os brincos que eu havia comprado, a noite maravilhosa que íamos ter quando voltássemos para casa... Como eu era idiota! Que diabos eu estava pensando quando me envolvi com ela? Alguém pode me dizer? Como eu ia viver sem ela agora? O que eu faria da minha vida? Eu não conseguia pensar direito... Peguei o telefone e liguei para o . Contei mais ou menos tudo que havia acontecido e em menos de quinze minutos ele já estava batendo na campainha. Ele entrou em silêncio e sentou no sofá, esperando que eu falasse alguma coisa, mas eu só conseguia chorar. Eu era um babaca!
- , o que aconteceu? – perguntou finalmente – Desabafa dude!
- Ela me deu o fora... – falei colocando o rosto entre as mãos – Ela me deixou...
- Mas ela explicou o motivo? – ele colocando a mão no meu braço para me confortar.
- Ela disse que nunca me amou... Que não agüentava mais me olhar... Que nunca foi feliz ao meu lado – falei sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
- Calma ... As coisas vão se acertar entre vocês... – levantou e se serviu de uma dose de vodca – Eu tenho certeza que vocês vão se entender.
- Ela não me ama, ! Ela nunca me amou porra! – falei passando a mãos pelos cabelos, nervoso – Ela disse que nunca... – parei, mas foi de vergonha.
- Nunca? – sentou de frente para mim e ficou me olhando. Eu não queria falar o que ela havia dito, mas achei melhor desabafar.
- Ela disse que nossa vida sexual era uma merda... – falei olhando para o alto sem coragem para encarar meu amigo.
- Ela chegou a falar isso, dude? – parecia arrasado.
Eu assenti e coloquei novamente a cabeça entre as mãos, como se fosse possível me esconder de toda vergonha que eu havia passado.
- Mas não era o que parecia sorriu fraco – Ela sempre me dizia o quanto era feliz ao seu lado e o quanto vocês combinavam em todos os sentidos...
- Tudo mentira! – falei indo me servir de outra dose de vodca e trouxe a garrafa para a mesinha ao lado do sofá – Ela mentiu todo esse tempo... sobre tudo...
Quando a garrafa acabou eu peguei outra e abri, já enchendo meu copo.
- Vai com calma, ! – me repreendeu – Você sabe que não pode beber assim, dude.
- Vai se foder, ! – falei com raiva – A mulher que eu amo me abandonou! Eu posso fazer o que eu quiser!
- Tem razão... Mas eu vou dormir aqui – falou e se serviu de mais uma dose também.
Bebemos a garrafa toda e eu não conseguia parar de chorar e de me lamentar. Coitado do . Ele foi um grande amigo e ouviu tudo, falando de vez em quando, me dando conselhos que nem me lembro mais.
- Acho melhor você ir deitar, - falou e foi me ajudar.
- Nem te contei ! – falei rindo – Sabia que o dia era muito especial hoje?
Ele não respondeu e continuou me empurrando na direção do quarto.
- Hoje quando ela entrou aqui em casa eu estava esperando no quarto para fazer uma surpresa – falei sorrindo, me lembrando do exato momento em que ela me viu de pé.
- É mesmo? – falou e colocou a cadeira ao lado da cama.
- É mesmo... Eu a esperava fora dessa maldita cadeira! – falei batendo as mãos nas rodas – Eu estava em pé, dude!
- Não delira, ... – me levantou e me colocou na cama.
- É verdade, porra! – falei com raiva – Eu estava fazendo tudo escondido de todo mundo... Eu ia conseguir andar novamente, ... Ela ia ter um cara normal ao lado dela... Ela não precisava me deixar...
- Calma dude... Você está bêbado... – apagou o abajur – Amanhã a gente conversa mais... Vou ficar no sofá da sala. Tenta dormir.
- Você não acredita em mim? – perguntei incrédulo – Eu posso te mostrar agora como eu posso ficar em pé!
- Claro que eu acredito em você, ! – sorriu, mas eu vi que ele não estava acreditando porra nenhuma – Mas agora você precisa descansar um pouco... Amanhã você me mostra, ok?
saiu do quarto, me deixando com meus pensamentos. Se nem ele que era meu melhor amigo confiava no que eu dizia, como eu queria que a confiasse? Chorei durante praticamente a noite toda, abraçado ao travesseiro dela, lembrando todos os nossos momentos. Fiquei pensando em como ela podia ser tão dissimulada, porque ela parecia sincera quando dizia que me amava, que queria passar o resto da vida comigo. Lembrei também de quando ela me dizia que eu era o melhor homem do mundo, que ela nunca havia sentido tanto prazer em toda a sua vida... Tudo mentira... Ela havia mentido sobre tudo...


* * *


Não sei se passaram dias, semanas, meses ou anos desde que ela havia me deixado. Para mim a dor era sempre recente, como se tudo tivesse acabado de acontecer. As pessoas entravam no meu apartamento, saíam e eu continuava lá, inerte, estático, como se o mundo tivesse parado naquele instante em que ela disse que não me queria mais. Que não agüentava mais olhar para mim... Que eu não a satisfazia na cama.
Acho que a pior coisa que uma mulher pode dizer para um homem é exatamente isso, que ele não dá prazer para ela. E foi o que ela fez.
Não consegui mais me levantar e mostrar ao que eu não havia mentido. Minha sensibilidade foi desaparecendo aos poucos e por fim sumiu completamente, me deixando mais deprimido ainda. Eu voltei a ser o mesmo inútil de antes. Até isso ela tinha levado embora junto com o meu coração.
, , , , e sempre ficavam comigo, mas acabavam por piorar a situação. Eu era o único sozinho, sem par e eles estavam sempre tão apaixonados que isso me fazia sofrer. Nesses momentos eu tentava me afastar de tudo e todos, me transportando para outro lugar, mesmo que fosse só em pensamento. Eu sabia que eles não faziam por mal, só queriam me ajudar.
Mas por mais que eu quisesse, não conseguia afastar a tristeza, a solidão e a sensação que a única pessoa que eu amei verdadeiramente havia me abandonado.
Como ela pôde fazer isso comigo? Ela tinha rido na minha cara, dizendo que nunca tinha me amado realmente. Eu acreditei. Eu amei. Eu me entreguei. Só eu, não ela. Ela tinha me enganado e chorado tantas vezes nos meus braços. Eu tinha tanta confiança no amor que ela sentia por mim, que mesmo depois de tudo, eu ainda não acreditava que ela tinha ido embora. Parecia que a qualquer momento ela entraria pela porta sorrindo, se jogando nos meus braços, dizendo que me amava e que estava com saudades, como havia acontecido tantas vezes. Mas não aconteceria de novo e eu tinha que me conformar.
Quando o James bateu nela, eu estava lá, eu a consolei e sofri junto com ela, ou até mais. E agora? Provavelmente ela nem lembrava mais da minha existência. O que eu tinha significado para ela? Nada. Eu era um nada. Como eu pude acreditar nas palavras dela e sentir que eram verdadeiras? Eu era um estúpido e idiota. Eu sabia que ela não agüentaria uma vida cheia de limitações e privações. Mas isso não importava mais. Ela não me amava e tinha deixado isso bem claro.
Mesmo assim eu ainda a amava mais do que a mim mesmo e esperava que ela estivesse feliz apesar de tudo que ela tinha feito e dito. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia desejar nenhum mal a ela. Como eu poderia desejar mal a mim mesmo? Ela era parte de mim e sem ela eu não era ninguém.
Por ela eu tinha me permitido ter esperança novamente e tinha voltado a acreditar que poderia ser feliz, mas foi tudo em vão e mais uma vez eu percebia que essa coisa chamada de felicidade não era para mim.
Não ia mais à fisioterapia, não comia, não tomava banho, enfim, eu estava num estado deplorável.
perecia estar sofrendo junto comigo e sempre estava ao meu lado. Era estranho, mas eu sentia que ele estava diferente, com uma preocupação exagerada. Eu não sabia explicar e nem queria na verdade, mas ele perecia muito triste.
Para piorar a situação, as dores nas costas que eu sentia antes, voltaram com força total, me fazendo entrar em desespero quase sempre. Eu já estava até cogitando a possibilidade de tomar morfina, porque os remédios já não estavam mais fazendo efeito e eu sempre estava com dor. Nunca mais apareci no consultório do Dr. Kellerman, mas se as dores continuassem assim, eu ligaria para ele.
Os caras vinham quase que diariamente me visitar, mas eu ficava apático, não respondia, não sorria, não me interessava por nada do que eles dissessem ou fizessem. Eu não sentia mais vontade de viver e parecia que o que restava da minha vida, tinha ido embora junto com ela.
Eu não sabia quanto tempo havia se passado, se era noite ou se era dia. As palavras dela haviam me ferido tanto que tinha dias que eu sequer saía da cama. Meu celular já não tinha mais bateria e eu não me interessava em colocá-lo para carregar, o telefone de casa tocava insistentemente e eu acabei desligando ele da tomada. Não queria falar com ninguém.
Meu estado de depressão foi piorando cada vez mais, até que um dia eu acabei desmaiando ao tentar tomar banho. Durante o período em que eu fiquei desacordado, vi claramente a dizendo que me amava e que não era para eu desistir dela, mas depois ela ria de uma forma sarcástica e ia embora sem olhar para trás.
Acordei não sei quanto tempo depois e percebi que minha cabeça sangrava. Eu não podia mais continuar daquela forma! Eu tinha que esquecê-la de qualquer jeito. Naquele momento, decidi que ia tentar superar tudo aquilo. Ela não merecia mais nenhuma lágrima minha, nem que eu ficasse em casa definhando e sofrendo por causa dela.
Depois de tomar banho e fazer a barba, dei uma arrumada na casa, coloquei meu celular para carregar, preparei uma comida e resolvi sair. Me arrumei e antes de sair fiquei um tempo olhando meu reflexo no espelho, reparando que eu estava parecendo um fantasma, que estava muito magro e com olheiras profundas. Na verdade, aquele cara no reflexo não era mais o . Era o que havia restado dele.
Acabei indo até a fisioterapia e fiquei lá quase a tarde inteira. Infelizmente não consegui nenhum progresso e resolvi voltar para casa.
No caminho de volta, eu vi a andando abraçada com o James pela rua. Ele sorria e ela estava apática. Parecia estar triste e eu me preocupei. O que ela estava fazendo com ele? Será que eles haviam voltado? Era com ele que ela estava me traindo então? Fiquei muito abalado com a cena. Percebi, com tristeza, que ela nunca tinha deixado de gostar dele... E tive a certeza que eu fui somente um passatempo enquanto eles resolviam seus problemas. Fiquei em estado de choque por alguns instantes, antes de perceber que eu mesmo havia me enganado. Ela nunca me amou e eu não quis enxergar, agora ela tinha voltado para quem ela realmente amava. É... eles se mereciam.
Já estava entrando em casa quando meu celular tocou. Era o .
- Fala, – falei tentando parecer animado. Resolvi que não ia contar para ninguém o que eu tinha visto.
- Porra ! Finalmente você colocou esse celular pra carregar! falou rindo.
- É... Resolvi reagir – falei tentado sorrir.
- Isso é o que eu chamo de uma boa notícia! – ele disse empolgado – Vamos ensaiar amanhã?
Pensei um pouco e vi que tinha que voltar para a minha vida, ou pelo menos para o que tinha restado dela. Pelo que eu pude perceber, ela já tinha voltado a viver normalmente como ela sempre quis.
- Tudo bem... A gente se vê no estúdio amanhã – falei, desligando logo em seguida.
Peguei meu violão e comecei a compor uma música que já estava na minha cabeça há alguns dias. Tudo que estava engasgado na minha garganta saiu através daquela melodia.
Passei a ensaiar exaustivamente e só parava quando eu não conseguia mais me mexer de tanta dor nas costas. Eu estava levando meu corpo ao limite máximo, pois quando eu sentia dores muito fortes, eu esquecia a .
Minha vida se tornou uma constante. Ensaio no estúdio de manhã, almoço, fisioterapia a tarde toda e mais ensaio em casa até quando eu agüentasse ficar sentado na mesma posição. Quando eu percebia que meus braços começavam a ficar dormentes, era porque eu tinha conseguido ultrapassar todos os limites do meu corpo. Depois disso, eu tomava os comprimidos e ia para a cama com dores suficientes para que eu não conseguisse pensar em absolutamente nada. Depois de um tempo, eu praticamente desmaiava, de tão dopado que eu estava. E então, outro dia começava...

Capítulo 27

“O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo.”

Três meses depois...

Estávamos no estúdio ensaiando exaustivamente para um show que faríamos na inauguração do Pub mais famoso da cidade e já estava quase tudo pronto. - Vamos tocar aquela sua música, falou procurando alguma coisa na mochila – Ficou muito boa.
- Sinceramente, não sei, – falei pegando meu IPOD – Não sei se vai ser legal.
- Todos nós concordamos que essa música é foda demais, dude! – falou olhando para e – Não tem motivo nenhum para ela não entrar no repertório.
- É verdade falou me dando um pedala – A gente tem que tocar essa música, porra!
- Concordo plenamente – concluiu .
Depois de muita discussão, decidi não incluir a música e eles ficaram muito putos da vida com a minha atitude, mas tiveram que aceitar.
Esses últimos três meses tinham sido extremamente difíceis para mim, pois além do fato da ter me deixado e de eu não ter voltado a andar como eu tinha previsto, para piorar a situação, eu sempre a via com o James. Já tínhamos nos encontrado sem querer no supermercado, num restaurante e num barzinho na semana passada. Era muito complicado para mim ter que ficar no mesmo ambiente que eles, mas eu não dava o braço a torcer e seguia com a minha vida. Notei que quando nos encontrávamos, ela estava sempre abatida, e algumas vezes com marcas roxas nos braços. Eu não queria nem pensar nas coisas que estavam acontecendo, pois ela mesma tinha escolhido esse caminho e eu não queria, nem podia, ficar me preocupando com isso. Eu tinha que seguir a minha vida, que já estava bem melhor levando em consideração tudo que tinha acontecido.
Resolvemos ir até um pub para podermos conversar sobre o show que seria na semana seguinte. As meninas já estavam nos aguardando quando chegamos e notei que havia uma garota que eu ainda não conhecia com elas.
Todos sentaram e pedimos bebidas e alguma coisa para comer. A tal garota me olhava de uma forma estranha e eu comecei a ficar incomodado com isso. Porra, era só o que me faltava!
- , queria te apresentar a Sofia – falou, piscando o olho para mim em seguida.
Sorri para a menina chamada Sofia e estendi minha mão para ela. Sofia não se intimidou e levantou, me dando dois beijos estalados no rosto me fazendo ficar sem graça. Ela era incrivelmente bonita. Seus cabelos eram claros e na altura dos ombros, meio cacheados. Seus olhos eram verdes e sua pele era muito clara. Usava um vestido preto e notei a tatuagem em forma de uma borboleta em um de seus ombros. Seu sorriso transbordava toda a sensualidade dela.
- Muito prazer ! – ela disse sorrindo depois de me beijar e sentar ao meu lado – As meninas falam muito de você e eu já estava curiosa!
Lancei um olhar mortal para as três garotas que me observavam sorrindo e voltei a olhar para Sofia.
- É mesmo? Bom, espero que elas tenham falado só as minhas qualidades – sorri abertamente, sentindo que meu rosto devia estar igual a um pimentão.
- Você nem imagina quanta coisa boa elas falaram de você – Sofia me encarou e piscou – E sinceramente... Acho que elas não exageraram nem um pouco...
- Bem... Eu... Quer dizer... Obrigado – falei sorrindo sem jeito, passando mão pelos cabelos.
Eu não sabia mais o que falar. Já devia estar parecendo um babaca ali e o melhor seria ficar calado mesmo. Deus sabe o que elas deviam ter falado de mim e xinguei as três em pensamento, fazendo uma anotação mental para voltar a conversar principalmente com a sobre essa história de querer ficar me apresentando para alguém. Elas sabiam que eu não estava a fim de conhecer ninguém, eu mal havia me recuperado do último golpe e elas já queriam me jogar na fogueira novamente. Que merda!
Para o meu alívio, as bebidas e a comida chegaram e a conversa foi para outro lado. Eu tive que rir com a idéia que elas tiveram de fazer umas camisetas com os nossos nomes para colocarem no dia seguinte durante o show. Depois me lembrei da camiseta que a tinha usado no nosso show e fiquei meio deprimido.
- Como é a camisa? – perguntou de boca cheia.
- É surpresa, bebê! – abraçou o namorado – Mas tenho certeza que você vai amar.
- Eu amo tudo que você faz... – falou todo meloso e levou uma chuva de palitos, bolinhas de guardanapo e outras coisas que achamos na mesa para jogar nele.
- Deixem o meu bebê em paz, tá! – disse beijando na boca, que depois deu a língua para nós e levou o dedo do meio de todos.
Olhei para o lado e e deviam estar num papo super tenso, já que eles estavam praticamente discutindo. e agora estavam no famoso “desentupidor de pia” que estavam acostumados.
- Você vai ao show semana que vem? – perguntei para Sofia, que me olhava atentamente enquanto eu bebia minha cerveja.
- Não sei... Ninguém me convidou ainda – ela disse sorrindo.
- Não seja por isso! Estou te convidando! – falei olhando em seus olhos.
Já estava mais do que na hora de ficar com alguém, não é? E a Sofia era muito gostosa e estava me dando mole! Por que não? Quanto tempo mais eu ia ficar pensando na ou sofrendo por ela?
- Agora que eu fui convidada – ela parou de falar e chegou mais perto de mim – Estarei lá...
- Que bom... Fico feliz... – falei sem conseguir desviar os olhos de sua boca. Aproximei meu rosto do dela, sentindo um cheiro muito gostoso de morango com champanhe e fechei os olhos, sentindo nossos lábios se tocarem. Imediatamente, minha mão foi parar atrás de seu pescoço por baixo dos seus cabelos. Ela, por sua vez, colocou uma das mãos em meu rosto e a outra em meu braço.
A mesa estava num silêncio mortal e eu percebi que todos nos olhavam com um sorriso idiota no rosto. O beijo terminou e voltamos calmamente a conversar. Descobri que ela era formada em arquitetura e que estava prestes a trabalhar num escritório famoso. Tinha 24 anos e morava sozinha. Não tinha namorado e seus pais moravam em outra cidade. Dude, ela praticamente me contou a vida dela toda e por incrível que pareça, eu estava adorando conhecê-la melhor.
Ela também fez várias perguntas a meu respeito e eu respondi a todas com a maior sinceridade possível. Ela era realmente uma pessoa encantadora e me fez sentir muito bem.
Acabamos ficando e depois de um tempo ela foi ao banheiro com as garotas. Assim que ela saiu da mesa, o interrogatório começou.
- E aí dude? – foi o primeiro – Ela é muito gostosa, hein...
- Ela é legal – falei sem dar muita atenção e bebendo minha cerveja.
- Legal? – quase gritou – Porra ! Ela é gostosa pra caralho!
- Eu nem sabia que a tinha amigas assim... – soltou um assovio.
- Será que dá pra vocês se controlarem um pouco? – falei olhando feio para eles – Porra! Eu só fiquei com ela... Não vai acontecer mais nada!
- Não vai acontecer só se você não quiser né dude! – fez um gesto obsceno para mim e eu caí na gargalhada. O que poderia acontecer? Porra, será que eles não viam o óbvio?
- , meu amigo... – chegou perto e colocou a mão no meu ombro – Se você não transar com essa garota, vou achar que mudou de lado!
- Vai se foder, ! – falei ainda rindo.
- Depois eu que sou o gay... – falou rindo e levando um pedala do .
- Cala a boca, ! – falei rindo nervoso.
Eu não queria ter a obrigação de transar com ninguém, nem de mostrar que eu não era gay. Eles sabiam que eu não era viado, mas eu não estava preparado para isso sabe? Eu não queria transar com ninguém... Ainda. Não depois da . Eu tinha certeza que se isso acontecesse, eu ia acabar me magoando novamente, ou pior, magoando alguém... Elas voltaram do banheiro, onde deviam ter fofocado mais que a gente.
Sofia sentou novamente ao meu lado e segurou minha mão.
- Acho que bebi demais... – ela disse colocando a cabeça no meu ombro.
- Tudo bem? – falei passando a mão em seus cabelos e depois segurando seu rosto para que me olhasse – Você veio de carro?
- Não... Eu vou pegar um táxi... – ela disse fechando os olhos.
- Posso te levar se você quiser – me ofereci.
Ela levantou a cabeça e me beijou longamente. Seus dedos estavam na minha nuca e puxavam levemente meus cabelos. Senti um arrepio e passei a mão por seu rosto, sentindo que ela sorria durante o beijo.
- Que foi? – perguntei sorrindo também.
- Seu beijo é tão gostoso que eu poderia ficar a noite inteira só te beijando... – ela sussurrou e voltou a me beijar.
Dude, vou ter que falar que realmente o tinha razão. Ela era muito gostosa e me deu uma vontade incrível de transar com ela, mas eu ainda não podia. Não queria que fosse assim... Eu ainda estava com a na mente e não queria transar com outra pessoa. Os momentos com a ainda estavam muito vivos na minha cabeça, no meu corpo e eu não estava preparado para me livrar dessas lembranças... Ainda. Por mais que eu soubesse que ela não me amava, que ela tinha me enganado esse tempo todo, eu não conseguia me ver com outra pessoa.
Porra, que coisa de viado né?

Vi quando ela entrou no pub, acompanhada pelo James. Puta merda! Imediatamente ela me viu e me olhou espantada como se tivesse levado um tapa na cara. Seus olhos seguiram para a minha mão que estava entrelaçada com a mão da Sofia e seus olhos se encheram de lágrimas. Será que eu estava sonhando? Ela estava chorando porque me viu com outra? Virei o rosto e continuei a conversar como se nada tivesse acontecido. Para o meu alívio, James pareceu não notar que eu estava ali. Não queria confusão.
Eles sentaram numa mesa muito próxima à nossa e eu pude notar as marcas roxas que ela tinha nos braços e no pescoço. Ela também estava muito magra e abatida. Seus cabelos não tinham mais o brilho de antigamente e ela quase não sorria. Ela estava irreconhecível. Tentei não ficar olhando na direção deles, mas era praticamente impossível, pois eles estavam numa mesa em nossa frente. Sofia, que não havia notado nada, fazia carinho nos meus cabelos, falava coisas no meu ouvido e me beijava sempre que sentia vontade.
Fiquei com vontade de ir ao banheiro e pedi licença. Quando estava saindo do banheiro, dei de cara com ela. estava parada na porta, como se me esperasse. Minha surpresa foi tanta, que não consegui dizer nada.
- Como vai, ? – perguntou e sua voz me trouxe muitas lembranças boas e ruins também.
- Bem... E você? – consegui dizer, sem deixar de notar as marcas nos seus braços, sua magreza e seus olhos fundos.
- Você está muito bem... Fico feliz que tenha conseguido recomeçar a sua vida... Sua namorada é muito bonita – ela me olhava de um jeito tão triste, que me deu vontade de puxá-la para o meu colo e abraçá-la bem forte. Ela parecia extremamente frágil e cansada.
- Eu tinha que recomeçar, ... E ela não é minha namorada – falei sorrindo fraco – E você? Não sabia que tinha voltado com esse idiot... Quer dizer, com o James...
- É... Cada um com a sua cruz... – foi o que ela disse.
Nos olhamos durante um tempo e ela balançou a cabeça olhando para minha cadeira.
- Fiquei triste em te ver nessa cadeira, ... Pensei que depois daquele dia – ela parou respirando fundo – Bom... Pensei que você ia realizar seu maior sonho...
- Você era meu maior sonho... – falei emocionado, querendo tocar em sua mão – Qualquer coisa diferente disso, não tem mais a mínima importância...
- ... Eu - ela começou a falar, mas depois parou fechando os olhos por alguns instantes e depois abrindo-os novamente. Seu olhar tinha o mesmo brilho de antes e ela sorria para mim. Senti nitidamente que ela ia segurar a minha mão quando alguém por trás dela a puxou violentamente pelo braço.
- Posso saber o que está acontecendo, docinho? – James falou bruscamente.
- N-nada... – ficou pálida e gaguejou – Só encontrei com ele aqui p-porque fui ao banheiro, m-mas ele já está indo embora...
- Olha aqui seu imbecil – James se inclinou para falar comigo – Ela agora é minha, e não quero que você chegue perto dela novamente, escutou?
- Eu não estava perto dela! – falei mais alto que o necessário – Nos esbarramos aqui na saída do banheiro...
- Acho bom mesmo, porque se for diferente... Eu te arrebento, seu inútil! – James sorriu e puxou a pelo braço com mais força, fazendo com que ela quase caísse. Ela me olhou e vi o medo estampado em seu rosto enquanto ela era puxada com violência por James.
Eu fiquei vendo aquela cena e um turbilhão de coisas passaram pela minha cabeça. A forma como ela havia terminado comigo... O jeito que ela ficou quando me viu de pé... Quando ela sempre me dizia para não esquecer o quanto ela me amava... O jeito como ela me olhou quando me viu com a Sofia... A forma como ela falou comigo agora... A atitude do James... O pânico visível no seu rosto quando ele me ameaçou... Seu jeito abatido, as marcas roxas no seu corpo...
Será que seria possível? Será que tudo que tinha acontecido era por causa das ameaças do James? Não. Eu estava sonhando. Ela não me amava e eu lembrava disso muito bem.
Voltei para a mesa e continuei a observar as atitudes dela. Ela estava encolhida na mesa, enquanto James ria alto com alguns amigos.
me olhava de vez em quando e vi as lágrimas rolarem por sua face. Ela automaticamente as secava como se James não pudesse ver que ela estava chorando.
- ? – ouvi a voz de me chamando – ?
- Hã? O que? – me virei para ele que fez um sinal com a cabeça indicando que a Sofia ainda estava ao meu lado – Desculpe...
- Aconteceu alguma coisa, ? – Sofia passou a mão pelos meus cabelos e me beijou – Você está estranho...
- Desculpe... Não é nada... – tentei disfarçar, mas olhava agora diretamente para e provavelmente havia notado o estado abatido dela – Acho que bebi demais também.
- Dude, enquanto você foi ao banheiro, o dono do Pub veio até aqui e perguntou se a gente podia dar uma canja – falou sorrindo.
- Melhor não, – falei imediatamente – O dono do Pub que contratou a gente pode não gostar e...
- É o mesmo dono, porra! – falou me interrompendo.
- Vamos ! Vai ser legal! – falou animado – A gente dá uma amostra do que vai ser na semana que vem... O que você acha?
- Mas , a gente não trouxe os instrumentos – falei incrédulo.
- O e a foram no estúdio buscar o que a gente precisa – falou rindo e piscando o olho para a e eu notei que e não estavam na mesa.
Eles ficaram insistindo tanto que eu tive que ceder. Puta merda!
- Nem acredito que eu te conheci hoje e já vou te ver tocar! – Sofia falou no meu ouvido e eu senti que aquela frase foi dita com duplo sentido e sorri.
- Tudo bem... – falei dando um selinho nela – Me deseje boa sorte...
- Como se você precisasse, não é ! – Sofia sorriu e me deu um beijo tipo desentupidor de pia. Fiquei meio sem graça e vi que a nos olhava.
Fiquei com vontade de tocar a música que eu havia composto para ela, mas não sabia se ela ia gostar muito.


Capítulo 28

“Chega um ponto que o amor fica obcecado e a pessoa deixa a sua vida para viver a do outro ou não permite que o parceiro tenha vida própria.”

JAMES´S POV

A minha obsessão pela era uma coisa incontrolável. Era uma paixão sem limites e uma necessidade extrema de violência toda vez que eu me sentia rejeitado por ela. Eu não gostava quando precisava agir dessa forma e me sentia muito mal quando acontecia. Nesses momentos parecia que eu saía do meu corpo e não era mais eu, e sim uma pessoa que eu desconhecia. Quando eu voltava a mim, ela já estava machucada e eu não podia fazer mais nada. Ela era como uma droga para mim, e cada vez que eu ficava sem ela era como se entrasse numa crise de abstinência.
Nossa relação sempre foi conturbada por causa do meu ciúme excessivo e da minha falta de controle nesses momentos. Eu queria mudar, mas não conseguia.
Até que chegou o dia que ela finalmente me largou e eu entrei em desespero, mas aceitei naquele momento que ela não me queria mais depois de tudo que eu já havia feito. Eu sabia que fazia muito mal para ela, mas mesmo assim não conseguia me ver longe de sua vida.
Eu tinha acabado de chegar de uma viagem de trabalho extremamente cansativa e estressante quando aceitei ir a uma festinha de um amigo do Jared. Pensei que seria bom para relaxar, mas a última pessoa que eu esperava encontrar era ela, e ainda por cima acompanhada de um cara... Digamos... Não muito atraente fisicamente. Fiquei chocado quando vi que o cara estava numa cadeira de rodas e surtei completamente vendo o quanto ela estava envolvida com ele e o modo como ele a tratava. Parecia que já estavam juntos há anos, tamanha era a intimidade deles, apesar do... Problema dele. Eu a conhecia muito bem para saber que ela estava completamente apaixonada por aquele inútil. Eu não ia falar com ela e resolvi ficar olhando de longe, mas acabei me descontrolando e estraguei tudo.
Imediatamente chamei o Jared e descobri que o cara era super gente boa e querido por todos. Tinha sofrido um acidente de carro com os caras da banda dele e ficado nesse estado deplorável. Porra, só me faltava essa agora! Será que ela estava mesmo apaixonada por ele? Mesmo com ele assim? O que ela tinha visto nele? Quase vomitei nessa hora, mas eu tinha que tirar isso a limpo. Quem era esse babaca para tomar conta dela? Ele não parecia nem tomar conta de si mesmo, porra! Como um cara desses poderia um dia fazer a minha garota feliz? Ele não poderia nunca fazê-la feliz. Somente eu tinha esse poder.

* * *

Agora, mais de um ano depois, eu finalmente a tinha só para mim. Ela finalmente tinha se separado daquele “encosto” e eu vivia a vida que pedi a Deus, ou mais ou menos isso.
Foi bem difícil tentar convencê-la a ficar comigo, mas depois de muito jogo de cintura, eu tinha conseguido fazê-la entender que ficar com aquele inútil não era um bom negócio para ela. O cara era um incapaz e um babaca. Dependia dela para tudo. Ele não tinha nem um emprego decente e eles estavam morando num apartamentozinho que tinham alugado. Vai ver que eles nem transavam, mas eu nem queria pensar nisso.
Tudo bem que eu tive que ameaçar a vida do babaca do namoradinho dela para conseguir que ela se afastasse dele, mas como diz o ditado, no amor e na guerra vale tudo! E foi exatamente o que fiz. Usei a única arma que eu tinha para conseguir a coisa mais preciosa da minha vida, a .
No dia combinado, ela me ligou dizendo que tinha terminado com ele. Notei que ela chorava muito no telefone e fui buscá-la.
Quando ela entrou no carro, parecia uma morta-viva. Tinha olheiras muito profundas e tremia violentamente.
- Calma, meu amor... Eu vou cuidar de você agora... – falei passando carinhosamente a mão nos seus cabelos, tentando consolá-la.
- Tira a mão de mim, seu porco imundo! – ela gritou e afastou minha mão.
Pronto. Foi o suficiente. Não consegui me controlar e dei um tapa no rosto dela.
- Cala essa boca, sua piranha! – falei entre os dentes – Quem você pensa que é pra falar comigo desse jeito? Eu te trato com todo amor e carinho e é assim que você me retribui?
Ela não respondeu e recomeçou a chorar me fazendo ficar mais irritado do que eu já estava.
- Vamos combinar uma coisa? – olhei para ela, tentando manter o pouco controle que me restava – Daqui pra frente não quero mais ver você chorando, ok?
Depois daquele dia, eu passei realmente a me preocupar com ela. A garota não comia, não queria tomar banho, tinha pesadelos toda a noite e não chorava mais. Estava apática e tinha emagrecido muito, ficando com olheiras horríveis no rosto.
- Assim não dá, ! – falei um dia quando cheguei do trabalho e a encontrei sentada no mesmo lugar que estava quando saí – Você vai ter que mudar o seu comportamento... ? ? – eu a chamei várias vezes, mas ela não respondeu. Então eu apelei.
- Se você não voltar ao normal, eu vou ter que fazer uma visitinha ao nosso amigo ... – notei que quando falei o nome daquele inútil, ela imediatamente virou o rosto para mim.
- Então... – continuei – Nós vamos sair hoje à noite, ok?
Eu já estava cansado de sair com ela parecendo que estava saindo sozinho, porra! Tínhamos encontrado com o tal do em vários lugares, mas ela nunca fazia nenhum comentário e eu ficava muito irritado com a forma que ela ainda olhava pra ele. Quando isso acontecia, a ira tomava conta de mim e assim que chegávamos em casa eu descontava minha raiva toda nela. Eu a surrava com violência e depois me arrependia, mas já era tarde demais... Como sempre.
Na verdade, eu não gostava de ser assim, mas ela não me dava outra alternativa. A gota d água foi quando decidi que ela ia sair comigo e se comportar como uma pessoa normal. Fomos até um Pub e assim que chegamos, notei que o inválido estava lá. Puta merda! Porra, parecia que esse cara estava nos seguindo! Mas ele estava acompanhado de uma loira muito gostosa e ela notou na mesma hora.
- O que foi, amor? – perguntei debochadamente, notando o choque no rosto dela ao vê-lo com outra – Viu? O seu amado já tem outra... Nem deve lembrar que você existe! Olha só a loira gostosa que está com ele! – concluí rindo alto.
- Pára com isso James... Por favor... – ela falou baixo.
Notei que ela olhava para a mesa onde ele estava quase que toda hora e eu comecei a ficar irritado.
- Será que dá pra você parar de olhar pra ele, porra? – segurei seu braço com muita força, fazendo com que ela soltasse um gemido.
Ela parou de olhar naquela direção e eu relaxei um pouco, continuando a conversa com meus amigos.
- Vou ao banheiro... – ela disse e eu assenti. Já estava meio alto e entretido numa conversa com meus amigos que nem notei que o cara também não estava na mesa. Na mesma hora levantei e encontrei os dois conversando na saída do banheiro. Minha vontade foi jogar aquele aleijado filho da puta pra fora do Pub aos socos e pontapés, mas me controlei.
Cheguei a tempo de escutar o cara falando.
– Qualquer coisa diferente disso, não tem mais a mínima importância...
Nessa hora, minha visão ficou meio turva de raiva e eu imediatamente segurei com força no braço dela, a puxando para longe dele.
- Posso saber o que está acontecendo, docinho? – consegui perguntar.
- N-nada... – ela ficou branca e começou a gaguejar, me deixando mais irritado – Só encontrei com ele aqui p-porque fui ao banheiro, m-mas ele já está indo embora...
- Olha aqui, seu imbecil – me virei para ele – Ela agora é minha e não quero que você chegue perto dela novamente, escutou?
- Eu não estava perto dela! – ele me olhava nos olhos, me desafiando – Nos esbarramos aqui na saída do banheiro...
Esse cara estava com vontade de apanhar, só podia ser! Porra, como esse idiota tinha a cara de pau de falar comigo desse jeito? Mas resolvi relevar. Só mais essa vez.
- Acho bom mesmo, porque se for diferente... Eu te arrebento, seu inútil! – dei um sorriso cínico para ele e saí puxando a pelo braço com uma força mais do que necessária.
Voltamos para a mesa e ela perdeu o equilíbrio quando a empurrei para sentar.
- Eu não posso mesmo confiar em você... – falei balançando a cabeça e bebendo minha cerveja – Foi só eu dar as costas e você já foi atrás dele, não é? Sua vadia!
- Não foi nada disso James! Eu juro! – ela falava entre lágrimas e soluços – A gente se encontrou por acaso no banheir...
- Chega, porra! – falei a olhando com desprezo – Em casa a gente vai ter uma conversinha ouviu?
Vi que ela se encolheu e sorri. Ela tinha que aprender quem mandava e saber que não podia me fazer de babaca, principalmente na frente dos meus amigos.
Só para piorar a situação, ele e aqueles amiguinhos sem graça dele foram convidados para darem uma canja lá no bar em que a gente estava. Eu merecia isso né? Falta de artista decente é uma merda mesmo! Os caras pegam qualquer bosta pra tocar!
Aquele imbecil ainda teve o desplante de tocar uma música e oferecer para ela. Porra! O que esse idiota estava pensando? Acho que esse inútil estava precisando mesmo era sentir o peso da minha mão naquela cara de babaca dele. Se bem que eu tenho que dizer que ela não ficou nem um pouco satisfeita com a letra que ele estava cantando. Quando olhei para o lado, ela estava chorando igual a uma idiota.
- Se você não parar de chorar agora, eu vou conversar com o seu amiguinho depois que eles acabarem de poluir os ouvidos de todo mundo... – falei segurando seu braço com força.
- Pára, James! Eu não estou chorando! – ela tentou disfarçar, mas eu sabia que ela estava chorando e era por causa dele. Merda!
Quando chegamos em casa, ela foi imediatamente para o banheiro e eu sentei no sofá esperando pacientemente. Me servi de uma dose de uísque e liguei a televisão. Meia hora depois ela saiu do banheiro e foi na direção do quarto.
- Aonde você pensa que vai, sua vadia? – perguntei sério.
- V-vou dormir... – ela respondeu tão baixo que mal deu para ouvir.
- Não senhora! Vem aqui agora! – ordenei.
- Mas James... Eu estou tão cansada... Por favor...
- Porra nenhuma! – joguei o copo na parede e me levantei – Você quer é ficar lá no quarto chorando por causa dele, não é?
Ela não respondeu e eu notei que ela tremia demais. Comecei a rir alto e ela não se controlou, começando a chorar e eu continuei.
- Espero que você tenha ouvido com atenção a música que ele cantou... Ou tentou cantar, já que ele canta mal pra caralho! – eu ri – Ele não quer mais nada com você garota! Ele já tem até outra, porra! Acorda!
Ela fechou os olhos e depois me encarou com raiva.
- Eu estou aqui, James! – ela falava descontroladamente e abriu os braços – O que mais você quer?
- Eu quero que você se comporte... Que você me ame... Que você faça tudo que eu mandar – falei rindo mais ainda.
- A única coisa dessa lista que eu não posso e não vou fazer é te amar... – ela disse secando os olhos com as costas da mão – Isso você não vai ter nunca!
- E por que não? Por causa daquele inútil? No que ele é melhor do que eu? – eu já estava a ponto de apertar o pescoço dela – Aposto que ele nem podia transar com você... – falei debochado.
- Cala a sua boca! – ela gritou – Não fala mais do ! Ele é muito melhor do que você em tudo!
- É mesmo? Aposto que é... – debochei mais ainda e dei uma gargalhada alta – Imagino o que vocês faziam... Devia ser realmente emocionante.
- Nem que você nasça novamente, nunca vai chegar aos pés dele, James – ela sorria com raiva – Ele sempre será muito melhor que você...
- Mas agora você é minha e espero que isso fique claro na sua cabeça daqui pra frente! – Falei pegando seu braço – Você decide o que deve acontecer com aquele inútil... Não eu...- ri novamente olhando em seus olhos – Você decide se ele fica vivo ou não!
- Eu nunca vou ser sua, James! Acorda! – ela falou e riu na minha cara. Eu não consegui me controlar mais.
- Isso nós vamos ver... – falei e dei um tapa no seu rosto fazendo com que ela caísse e batesse a cabeça na mesa de centro da sala.
Fiquei ali olhando para ela, imóvel no chão e resolvi pegar uma cerveja na cozinha. Não que eu não me importasse, mas ela tinha que aprender a se comportar direito. Ela tinha que entender que agora estava comigo e de uma vez por todas esquecer o “encosto”.
Depois que eu tomei minha cerveja e voltei para a sala, ela ainda estava deitada no chão. Bufei pesadamente e a peguei no colo para levá-la para o quarto. Praticamente a joguei na cama e ela gemeu.
Mesmo com toda a raiva que ainda estava dentro de mim, não pude deixar de sentir uma pontada de pena diante daquela situação. Mas ela era minha e nada no mundo ia mudar isso!
Voltei para a sala e peguei no sono. Acordei assustado uns quarenta minutos depois e resolvi deitar. Quando cheguei no quarto, ela não estava na cama.


Capítulo 29

“Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.”

Inacreditável como a simples presença de uma pessoa pode desestruturar alguém e foi exatamente isso que aconteceu quando encontrei a no Pub. Toda a mágoa, tristeza e frustração que eu senti quando ela me deixou foram por água a baixo. Naquele instante em que a vi chorando durante a música, foi como se nada tivesse acontecido, como se ela não tivesse me magoado mais do que eu poderia suportar. Desde que eu havia levado um pé na bunda da , eu me vi completamente perdido e sem razão nenhuma para continuar vivendo. Mas isso agora era passado e finalmente eu havia conhecido uma garota interessante.
Com certeza não tinha sido uma boa idéia cantar aquela música. Era uma canção cheia de mágoa, de palavras fortes que eu sabia que iriam machucá-la, mas mesmo assim eu cantei e agora não tinha mais como voltar atrás.
Todas as dúvidas que eu tive quando James nos pegou na porta do banheiro apenas conversando, ficaram mais intensas enquanto eu tocava a música que havia feito para ela. As reações dela foram devastadoras para mim e me fizeram acreditar que havia alguma coisa errada nessa história toda. Depois de mais de três meses, eu podia pensar com um pouco mais de clareza e conseguia ver coisas que na época que nos separamos daquela forma tão dolorosa, eu não conseguia enxergar.
Vi quando eles foram embora do Pub, confesso que senti uma dor no coração quando ela me olhou antes de sair. Era um olhar de pedido de socorro, misturado com um pouco de decepção. Será que era porque eu estava com a Sofia? Mas o que ela queria que eu fizesse depois de tudo que ela tinha me dito? Que lutasse por ela? Que a esperasse? Diante de tudo que tinha acontecido eu não podia mais lutar. Eu não queria e nem podia mais sofrer. Eu tinha me envolvido de uma forma tão intensa no nosso relacionamento, que me esqueci de mim mesmo e isso não ia mais acontecer. Um sentimento de perda muito grande me invadiu e a vontade que eu tive nessa hora foi de ir atrás dela, mesmo depois de tudo. Confesso que fiquei balançado, mas o que eu poderia fazer?
- Vamos embora? – falou, pegando a carteira – Estou cansado e com sono... – ele disse e parecia extremamente desanimado.
- Vamos sim, amor – deu um beijo no namorado e sorriu para mim, piscando o olho - , você leva a Sofia em casa? - Levo sim, – falei sorrindo para ela – A Sofia está segura comigo, pode deixar!
Antes de sairmos, Sofia foi ao banheiro com as meninas e eu já sabia, novamente, o que ia acontecer. E não demorou.
- Vai levar a Sofia para casa, hein dude? – disse me dando um pedala e rindo alto.
- Você é um babaca, ! – falei balançando a cabeça.
- Eu? – fingiu estar ofendido e depois riu – Só quero que você se divirta, porra!
- , você viu a ? – perguntou muito sério, ignorando totalmente o .
- Vi sim, dude... O que será que está acontecendo? Ela estava toda roxa... – falei olhando para , que me encarava como se quisesse me contar alguma coisa.
Eu estava verdadeiramente preocupado e sem saber o que fazer. Meu amigo me olhava de forma angustiada, o que me deixou mais nervoso ainda.
- Eu vi, ... – ele me olhou de forma estranha, sem falar mais nada.>br> Depois, colocou a cabeça entre as mãos e esfregou o rosto. Notei que estava com os olhos cheios de lágrimas.
- Você está sabendo de alguma coisa? O que foi, ? – perguntei e ele balançou a cabeça, mas notei que ele mentia.
- O que você sabe que eu não sei, ? – perguntei perplexo.
- Nada, ... só fiquei preocupado... – falou e levantou quando percebeu a chegada das garotas – Vamos logo, ... Eu tô cansado.
não se despediu de ninguém que estava na mesa e saiu com atrás dele. Sinceramente não entendi o comportamento do . Parecia que ele sabia de alguma coisa e não queria me contar. Porra, o que estava acontecendo? Que o James estava batendo nela, eu já tinha notado. Me doía fundo pensar na minha pequena apanhando daquele imbecil, mas foi ela quem terminou comigo, não foi? Ela sabia o quanto eu a amava e mesmo assim me deu o fora.
Será que eu tinha mesmo que ficar pensando nisso? Será que eu não tinha o direito de ser feliz com outra pessoa? Percebi que não tinha outra alternativa senão esquecer o que tinha acontecido hoje. Até quando eu ficaria me torturando? Já estava mais do que na hora de partir para outra e tentar retomar a minha vida. E era exatamente o que eu pretendia fazer.
Mas naquele momento eu não queria mais pensar sobre isso. Havia uma garota super gostosa sorrindo para mim e eu tinha que aproveitar essa oportunidade de tirar de uma vez por todas a da minha cabeça e principalmente do meu coração.
Paguei a minha parte na divisão da conta e Sofia chegou bem perto de mim, me dando um longo beijo. Logo depois ela levantou e fomos para a saída do bar. Nos despedimos dos nossos amigos e meu carro estava parado no estacionamento ali perto. Confesso que fiquei um pouco constrangido na hora de entrar no carro, pois Sofia teve que me ajudar com a cadeira, mas ela parecia não se importar com isso.
Depois, quando já estávamos dentro do carro, ela começou a me beijar de uma forma que me levou a loucura. Dude, essa garota beijava muito bem!
- ... Eu não queria ir para casa... – Sofia falou entre um beijo e outro, passando as unhas de leve na minha nuca, me fazendo ir até a lua e voltar.
- E para onde você quer ir? – perguntei com a mão por baixo de seus cabelos e depois a beijando intensamente. Foi nesse momento que eu tive uma idéia.
- Não sei... Para onde você gostaria de me levar? – ela perguntou e piscou o olho, sorrindo.
- Vamos lá para a minha casa...Qque tal? – perguntei soltando um gemido quando ela passou a língua na minha orelha. Porra, eu queria transar com ela! Eu queria me sentir desejado, amado, mesmo que não fosse de verdade, sabe. Depois da , eu me senti muito deprimido, sem utilidade para nada e agora essa garota linda estava me dando bola e querendo ficar comigo. Eu podia me negar isso?
- Vamos sim... – Sofia segurou meu rosto e sorriu indicando que tinha adorado minha idéia.
Seguimos para o meu apartamento e ainda ficamos parados na porta do prédio nos agarrando descaradamente dentro do carro.
- Vamos subir? – falei ofegante, passando a mãos por seus cabelos. Não teve como evitar o sentimento que me invadiu. A imagem de sorrindo, dizendo que me amava me acertou em cheio e eu fechei os olhos. Porra, eu não podia ficar pensando nisso agora!
- O que foi, ? Tudo bem? – Sofia parecia preocupada e se afastou de mim.
- Não. Está tudo bem. Vamos subir? – perguntei sorrindo, tentando afastar aquelas imagens dolorosas que estavam tão recentes ainda na minha mente.
Saímos do carro e entramos no prédio. Eu estava um pouco nervoso ao pensar que ficaria sozinho com uma garota que não fosse a , mas resolvi que precisava relaxar um pouco e começar a viver a minha vida. Ela estava vivendo a dela, não estava?
Enquanto subíamos pelo elevador, me bateu uma insegurança do cacete. Ao mesmo tempo em que eu queria estar ali com a Sofia, eu não queria, entende? Nem eu. Mas e se não desse certo? E se ela visse que eu não era normal? Mas ela tinha visto que eu estava numa cadeira de rodas e mesmo assim quis ficar comigo, o que queria dizer que ela não se incomodava com isso. Ou não? As dúvidas estavam me deixando totalmente desesperado.
- Que cara é essa, ? – Sofia perguntou, provavelmente percebendo que eu estava nervoso.
- Só estou um pouco cansado... – menti descaradamente, pegando sua mão e beijando em seguida.
- Você não me parece cansado... Parece nervoso... – Sofia falava de maneira muito gentil, mas com certeza já imaginava a razão da minha angústia.
Eu queria transar com ela, mas se com a que eu amava mais do que tudo, já era complicado... Imagina com ela, que eu mal conhecia. A já sabia de todo o meu histórico, de todas as dificuldades que eu tinha e eu não me sentia mais envergonhado quando íamos para a cama. Mas com essa garota era totalmente diferente. Insegurança é foda mesmo!
Saímos do elevador, com Sofia ao meu lado segurando minha mão, e parei quando vi a sentada no chão ao lado da porta do meu apartamento.
A cena era deprimente e eu engoli seco. me olhou lentamente e vi que ela, além de estar chorando, estava com uma marca roxa enorme do lado esquerdo do rosto. Senti náusea nessa hora e lembrei do dia em que cheguei no apartamento dela quando James a tinha surrado. Passei as mãos pelos cabelos e senti as mãos de Sofia nos meus ombros.
- , acho que é a garota que estava no Pub... , não é? – Sofia falava baixo, praticamente no meu ouvido. – Ouvi os meninos falando sobre ela.
- É ela sim... – falei me aproximando da porta do apartamento.
- Acho melhor eu ir embora, – Sofia parou e eu me virei para ela.
- Espere aqui para eu ver o que ela quer – falei segurando a mão de Sofia e sorri para ela. Me aproximei de .
O que ela estava querendo? Que direito ela tinha de aparecer na porta da minha casa desse jeito?
- , desculpa aparecer assim aqui na sua casa, mas...
- O que aconteceu, ? – perguntei olhando para ela. Ela parecia muito machucada e seu rosto estava sangrando muito, agora que eu estava olhando mais de perto. Como aquele filho da puta teve a coragem de bater nela assim? Desgraçado dos infernos!
- , eu queria falar com você... – ela disse e olhou para Sofia, que estava parada um pouco atrás de mim – Em particular...
E agora? Puta merda! O que eu ia fazer? Mandar a Sofia embora? Mandar a voltar outro dia? Se eu pudesse, desapareceria...
- Foi aquele imbecil do James que te machucou assim? – perguntei enquanto ela tentava esconder as marcas roxas dos braços puxando a manga da camisa, mas depois assentiu. Coloquei a cabeça entre as mãos – E agora você veio aqui para fugir dele? As palavras saíam com certa mágoa de mim e eu não conseguia me controlar. Será que toda vez que ele batesse nela, eu teria que socorrê-la, para depois ela voltar para os braços dele? Para a cama dele? Porra, eu não tinha sangue de barata!
- Por favor... ... É muito importante – ela tentou levantar do chão e quase se desequilibrou. Nessa hora eu notei as marcas escuras no seu pescoço.
- Eu acho melhor você ir embora agora, – falei sem ter coragem de olhar para ela – Acho que não temos mais nada para conversar... Ela ficou me olhando durante um tempo em silêncio parecendo não acreditar nas minhas palavras e depois deu um sorriso forçado.
- Acho que não tenho nada para falar mesmo... Desculpa por ter vindo e atrapalhar seus planos... – falou olhando nesse momento para Sofia, pegou sua bolsa que ainda estava no chão e caminhou cambaleante para o elevador.
Entrei em pânico nessa hora. Era foda porque meu coração queria uma coisa, mas minha cabeça sabia que era errado. Nessa hora eu não pude mais negar. Eu ainda a amava. Ela ainda era a minha garota da praia!
- Espera, ! – falei, mas ela já tinha ido embora. Senti um vazio muito grande, como se a minha vida tivesse sido tirada de mim... Mais uma vez...
- , você tem que ir atrás dela! - Sofia colocou as mãos nos meus ombros me acordando do transe – Ela não parecia nada bem... Ela está muito machucada.
- Desculpa, Sofia... – falei beijando sua mão e ela me deu um abraço.
- Não se preocupa comigo... Eu pego um táxi – Sofia sorriu. Ela era uma garota e tanto mesmo! – Desce rápido antes que ela vá embora!
Nem precisou que ela falasse mais uma vez. Chamei o elevador e desci imediatamente. Saí do prédio e a rua estava vazia. Olhei para um lado e depois para o outro e a vi sentada na calçada abraçando as próprias pernas. Ela se balançava e tremia como se estivesse com frio. Me aproximei devagar para não assustá-la.
- ? – a chamei e ela me olhou por alguns instantes, como se não me reconhecesse – Calma. Sou eu.
Ela me olhou profundamente e depois começou a chorar. Abri os braços num impulso e ela se jogou no meu colo, me abraçando com tanta força que tive a impressão que ela ia me enforcar.
- Vamos subir... Você está tremendo – falei afastando seu corpo um pouco para poder olhá-la.
- ... Desculpe... Sua namorada... Não sabia que ela estaria aqui na sua casa... – ela falou muito baixo e eu sorri.
- Eu já te disse que ela não é minha namorada – passei a mão por seus cabelos e ela sorriu – A Sofia é só uma amiga...
Dude, como eu sentia falta daquele sorriso lindo!
- Mas... – ela começou a falar e eu coloquei os dedos na sua boca.
- Vamos subir... Não é muito seguro ficar aqui no meio da rua essa hora da noite – falei e ela levantou rápido do meu colo, olhando para os lados como se tivesse com medo de alguém. Do James, logicamente.
Entramos no prédio e subimos num silêncio desconfortável. A verdade era que eu me sentia estranho. Tudo que eu tinha pensado que não existia mais, tudo que eu pensava sentir, a raiva, a mágoa, não era verdade. Eu ainda a amava mais do que tudo na vida. Eu estava nervoso com a presença dela do meu lado, sabendo que eu a tinha abraçado novamente depois de tanto tempo. Eu estava fodido... De novo. Entramos e ela olhava maravilhada para tudo. Parecia lembrar de algumas coisas e as lágrimas logo voltaram a cair.
- Senta que eu vou pegar um copo de água com açúcar – indiquei o sofá e fui para a cozinha. Enchi um copo com água gelada e percebi que tremia também, mas não era de frio. Coloquei uma colher de açúcar e mexi. Passei as mãos no rosto, tentando me preparar para o que viria em seguida, e imaginei que não seria nada agradável, tendo em vista o estado que ela se encontrava. Bebi um gole da água, depois coloquei o copo entre as pernas e fui para a sala.

Capítulo 30

“O amor só é amor, se não se dobra a obstáculos e não se curva a vicissitudes... É uma marca eterna... Que sofre tempestades sem nunca se abalar.”

Entrei na sala e ela estava sentada no sofá e olhava tudo sorrindo, parecendo surpresa. Me aproximei dela, mantendo uma distância segura, claro.
- Toma um pouco para você se acalmar – entreguei o copo nas mãos dela e me afastei. Ela bebeu uns dois goles e colocou o copo na mesinha ao lado do sofá.
- Você não mudou nada na decoração – ela falou olhando em volta e ainda sorrindo.
Não consegui falar nada. Minha cabeça estava a mil por hora e eu estava me sentido cada vez mais ansioso e desconfortável ao mesmo tempo.
- O que aconteceu, ? – perguntei de repente e ela parou de sorrir na mesma hora. Fiquei olhando seu rosto e seus braços. Ela parecia muito cansada e triste – Por que ele fez isso com você?
- , eu vim hoje aqui porque eu não sei o que pode acontecer – ela começou a falar sem responder minhas perguntas e me deixando intrigado – Eu preciso te contar algumas coisas que aconteceram...
- Que coisas? Eu não estou entendendo – falei, e, sem perceber, me aproximei dela. pegou o copo na mesinha e bebeu seu conteúdo de uma vez só. Voltou a me olhar e segurou minha mão. Estremeci nessa hora. Com aquele simples toque que para mim era como reviver o passado.
- ... – ela começou – Eu resolvi vir aqui hoje porque preciso falar uma coisa muito importante...
- Você me magoou muito, ... – consegui dizer, mesmo sentindo minha garganta se fechar.
- Eu sei que te magoei e peço perdão por isso... - Ela ficou calada como se procurasse as palavras ideais para me contar o que queria e eu fiquei mais nervoso ainda – Mas não tinha outro jeito, ... Naquele dia que nós terminamos...
- Você quer dizer o dia em que você terminou comigo e disse que nunca tinha me amado realmente, não é? – falei, a interrompendo, sem conseguir controlar o sarcasmo exagerado que aquele momento não pedia.
- Desculpe, aquele dia em que eu terminei com você – ela corrigiu – , eu queria dizer que fui forçada a fazer aquilo, fui forçada a te magoar mais do que eu era capaz de suportar... Mas agora eu não agüento mais...
O que? Que porra era essa? Como assim, foi forçada?
- Como é que é? – falei praticamente sufocando – Você o quê?
- Agora não importa mais nada, , mas eu queria que você soubesse que eu sempre te amei, e sempre vou te amar... – falou, me deixando sem reação. Eu não conseguia me mover – Eu queria te dizer que nenhum homem me deu tanto prazer quanto você e que te conhecer foi a melhor coisa que aconteceu na vida.
Ela agora sorria abertamente, misturando seu sorriso com as lágrimas que caíam de seus olhos.
- O que? – eu simplesmente olhava para ela atônito demais com tudo que ouvia. Será que eu estava louco ou ela que queria em enlouquecer?
- , eu não tenho muito tempo... – ela continuou a falar – Eu preciso que você saiba que eu não queria te magoar e que o James ameaçou sua vida se eu não terminasse com você, entende? Ele é um psicopata maluco e a melhor coisa que você pode fazer é ficar o mais longe dele possível... O mais longe de mim...
- ... – falei olhando para ela sem entender direito – Não estou entendendo... Você quer que eu acredite que tudo que aconteceu foi porque o James ameaçou a minha vida? Você só pode estar brincando comigo... De novo.
- , por favor... – ela falou se aproximando de mim para pegar minha mão, mas eu a tirei com rapidez e ela me olhou espantada.
- O que você quer, ? Me deixar maluco? – falei me afastando dela – Primeiro você me magoa muito, me deixa sem chão, vai embora de uma hora para outra. Depois você aparece com o seu ex-namorado maluco nos mesmos lugares que eu freqüento e agora aparece na minha casa toda machucada querendo que eu acredite nessa história?
Dude, eu não era idiota para acreditar nisso, era? Eu tinha certeza que ela só tinha aparecido aqui porque o James devia ter batido nela mais do que o normal e ela não sabia o que fazer. E o babaca aqui podia ajudar.
- Não, ... – a expressão dela me deixou preocupado. Parecia que ela ia desmaiar a qualquer momento – Você não entendeu nada... ... Você... Desculpe ter vindo aqui... Eu... Vou embora agora... Desculpe...
Ela parecia fora se si e levantou do sofá, pegando sua bolsa. Eu fiquei olhando aquilo extremamente chocado. Aquilo tudo não podia ser verdade, podia? Era loucura demais para a minha cabeça.
- ... – chamei, mas ela não me olhou e foi em direção a porta.
- Eu pensei que você um dia tivesse realmente me amado, ... – ela me olhou com lágrimas escorrendo pelo rosto.
- Mas eu amei... Você que não. Esqueceu? – falei olhando sério para ela, que sorriu diante das minhas palavras – Eu te amei tanto... Eu morreria por você...
- Será que você seria mesmo capaz de qualquer coisa por mim? Será que morreria mesmo por mim? – ela perguntou chorando.
Aquelas palavras me tocaram fundo na alma e quando percebi, as lágrimas escorriam pelo meu rosto também.
- Como você pode me dizer uma coisa dessas agora? – perguntei sentindo meu coração despedaçado – Como você tem a coragem de duvidar que eu te amei? - Eu não estou duvidando que você um dia me amou... Só disse que você não merece o que sinto por você, nem o que fiz... – ela foi andando na direção da porta, mas eu a alcancei.
- Se tudo que você me disse é verdade, porque não me contou na época? Porque me deixou pensar que você não me amava? Você tem idéia do quanto eu sofri? – as perguntas saíam da minha boca e tinham um gosto muito amargo.
- É verdade... Eu devia ter te contado tudo mesmo – ela falou encostando na porta e fechando os olhos – Mas eu não sabia o que fazer e estava sendo muito pressionada e ameaçada pelo James e...
parou de falar e colocou as mãos na cabeça como se estivesse desesperada, mas depois voltou a se acalmar voltando a me olhar.
- , eu fiz o que achei que era o certo e o que era o mais seguro para você – ela falou e eu balancei a cabeça. Mais uma vez ela queria me defender. - Eu não preciso que ninguém me defenda de nada, – falei muito sério e parei na frente dela – Eu queria que você me amasse, que confiasse em mim... Só isso.
- E foi exatamente isso que eu fiz... Eu te amei – ela disse – Mas acho que você não entendeu nada.
- Então me faça entender... – supliquei e ela contou detalhadamente tudo o que havia acontecido.
Eu ouvi tudo sem conseguir emitir uma palavra sequer. Era tudo tão inacreditável que estava difícil processar aquelas informações todas de uma vez. Aos poucos minha mente foi clareando e as coisas começaram a se encaixar, para o meu total espanto. Tantos sentimentos entraram em conflito dentro de mim naqueles instantes e eu me senti muito mal. Era uma mistura de raiva, frustração, desespero, aflição, vergonha e medo. Como tudo isso aconteceu na minha cara e eu não havia percebido absolutamente nada? Todos os sinais estavam lá e eu não soube identificar nenhum deles. Eu deixei que ela passasse por tudo sozinha. Como eu era egoísta! Eu só estava pensando em mim, tão focado na minha recuperação que não via mais nada na minha frente. Ela não merecia sofrer tanto por minha causa, não tinha que passar por tudo que ela estava passando para me proteger... De novo. James havia ameaçado a minha vida, feito chantagem para que ela terminasse comigo daquele jeito. Era isso então? Eu era o inútil que não podia se defender? Mais uma vez... Eu tinha que ser sempre protegido por alguém não importando as conseqüências que isso pudesse trazer? Ela tinha se sacrificado por mim? Eu era uma criatura deplorável mesmo! A mulher que eu amava estava se submetendo a coisas que eu não podia nem imaginar porque eu não podia me defender das ameaças do ex-namorado dela? Porra, que tipo de homem eu era? Ela não se sentia segura ao meu lado? Ela me amava a ponto de me deixar para que ele não fizesse nada comigo... Minha cabeça girava e eu olhei para baixo encarando as rodas da minha cadeira com uma vontade imensa de morrer. A vergonha e a sensação de impotência me invadiram tão bruscamente que meus pulmões não conseguiam puxar o oxigênio do ambiente.
Todo o amor que eu sentia por ela veio à tona e eu sem pensar em mais nada, me declarei.
- Me desculpe... Eu te amo... Eu sempre te amei, e nesse tempo em que ficamos separados não teve um só dia em que eu não pensasse em você, em tudo que nós vivemos, nos planos que fizemos... – falei sentindo meu rosto molhado – , você é a razão da minha vida desde aquele dia em que te vi naquela praia...
O que mais eu poderia dizer? Não dava mais para esconder meus sentimentos. Eu a amava e eu a queria de volta. Ela sempre foi minha e eu não ia deixar que ela fosse embora agora que eu sabia tudo o que tinha acontecido. Ela tinha sofrido tanto por mim e eu tinha tão pouco à retribuir...
- Não quero que você se sinta culpado por nada... A escolha foi minha, – ela falou passando a mão no meu rosto molhado – Por favor... Entenda...
- O que você quer que eu entenda? Que você não confiou em mim? Que você deixou que ele a usasse para me defender? – eu perguntava para ela em meio aos soluços – Que eu sou uma merda de homem que não pode se defender e que a mulher que eu amo teve que se sacrificar para que eu pudesse ficar seguro? Como você acha que eu estou me sentindo agora? – eu olhava para ela me sentindo a pior das criaturas.
- Se sentindo o homem mais amado do mundo... – ela falou e segurou minhas mãos – Você é o homem mais amado do mundo... Eu te amo mais do que qualquer coisa na vida, ... - Ah... .. Como eu queria que fosse diferente... – falei a abraçando e enterrando meu rosto em seus cabelos. - , eu... – vi que ela tremia ao falar – Deixei o James dormindo e saí escondida...
- Não vou deixar você ir embora, – falei a puxando novamente para junto de mim – Nunca mais vou te deixar ir embora, meu amor.
Ela continuou no meu colo e nos beijamos. O beijo foi ficando cada vez mais intenso e ela tirou a blusa. Pude ver novamente as manchas roxas em suas costelas e como ela estava magra. Tive que me controlar para não chorar naquele instante.
- Eu te amo, ... – ela falou entre um beijo e outro e eu a levei para o quarto. Para o nosso quarto.
Tudo que eu sonhei durante o tempo em que estivemos separados, estava acontecendo naquele momento. Ela em meus braços, dizendo que me amava, parecia um sonho, mas era a pura realidade.
De repente, ouvimos um estrondo na porta e imediatamente paramos de nos beijar.
- Que barulho foi esse? – ela perguntou e me abraçou, fechando os olhos, apavorada.
- Eu não sei... , quero que você se acalme... Não vou deixar nada acontecer contigo. Confie em mim – falei olhando em seus olhos e a abraçando, mas no fundo eu já imaginava. Só podia ser uma pessoa, depois de tudo que eu havia descoberto hoje. Peguei meu celular e mandei uma mensagem de alerta para o . Não deu outra.
James encostou na porta do quarto e acendeu um cigarro. Tragou profundamente e nos olhou sorrindo.
- O amor é lindo mesmo, vocês não acham? Pena que dura pouco...


Capítulo 31

“Ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente.”

's POV



A única certeza que eu tinha diante daquela cena era que James ia matá-lo.
, por impulso, eu creio, me abraçou forte, enquanto James tragava seu cigarro e nos observava com um sorriso debochado no rosto, como se esse simples gesto pudesse nos salvar daquele psicopata. Entrei em pânico, tentei pensar em alguma coisa, mas minha cabeça estava vazia. Meu desespero era tão grande que eu não conseguia sequer imaginar as coisas terríveis que poderiam acontecer caso eu não tomasse uma atitude.
- James... – falou e eu apertei sua mão para que se calasse. Ele me olhou confuso e eu me afastei dele, sem falar nada.
- Eu tive uma visão! – James falou sorrindo e tragou mais uma vez seu cigarro – Eu sabia que ia te encontrar aqui, sua vadia!
- Olha como fala com ela, seu filho da puta! – esbravejou e sentou, colocando as pernas para fora da cama. Com certeza ele ia tentar sentar em sua cadeira, mas notei que ela não estava ao lado da cama como de costume. Lembrei que na empolgação do nosso momento, eu a empurrei, sem querer com a perna, para longe na hora que ele deitou e agora eu via a expressão de desapontamento no rosto de . Ele sabia que não conseguiria alcançá-la.
- Eu falo com ela do jeito que eu quiser, seu idiota! – James sorriu e se aproximou do lado que estava, e o empurrou para trás, fazendo com que ele caísse de costas na cama – Ela é minha mulher, porra!>br> James estava descontrolado e eu temia pelo pior. Olhei para que tentava se levantar novamente e nossos olhares se cruzaram nesse momento. Os olhos muito de não transpareciam medo ou insegurança. Muito pelo contrário, eles me passavam confiança e calma apesar de tudo que estava prestes a acontecer.
- Quando eu acordei e não te vi mais em casa, eu pensei que talvez você pudesse estar com esse inútil... – James apontou na direção de e deu a volta na cama, ficando ao meu lado. Me encolhi instintivamente e , que já se sentara novamente, me abraçou tentando me acalmar mais uma vez – Mas até o último minuto eu ainda tive esperança de que você não estivesse aqui, sabia?
Como se fosse uma coisa muito normal, James passou os dedos pelo armário, vendo se estava com poeira e depois riu nos olhando. Me apavorei mais uma vez. Eu sabia o que ele fazia quando estava com aquela expressão no rosto.
- James, vamos conversar como pessoas civilizadas... – falou olhando diretamente para ele e depois para a cadeira – Vou me sentar e aí a gente conversa lá na sala e...
- Por acaso eu tenho cara de idiota? – James se aproximou e puxou a cadeira de para mais longe ainda e deu uma gargalhada – E além do mais... Você já está sentado...
Tudo que eu mais temia e tinha a todo custo tentado evitar estava acontecendo diante dos meus olhos. estava indefeso e sem poder sair da cama. Eu tinha que fazer alguma coisa e rápido, antes que as coisas piorassem. Eu sabia que tinha pavio curto e mesmo estando em desvantagem, ia acabar provocando mais ainda aquele imbecil do James na tentativa de me defender.
Olhei longamente para o homem que eu amava mais do que a minha própria vida e apertei sua mão entre as minhas.
- Desculpe... – falei muito baixo e levantei da cama.
- Espera, ! Não faz isso! – me segurou pelo braço e eu tive vontade de chorar – Por favor amor... Não...
- ... Por favor... Me solte... – falei puxando meu braço delicadamente e ele me olhou como se não acreditasse no que ouvia.
James nos observava sorrindo, sabendo que eu faria qualquer coisa para que ele não machucasse .
- Agora seja uma boa menina e vem aqui comigo... – James estendeu a mão e eu andei até onde ele estava. Me virei para , que me olhava com os olhos arregalados e balançava a cabeça negativamente. De repente, toda a força que eu tinha visto em seus olhos havia desaparecido e agora eu via somente medo e desespero.
Segurei a mão de James e fechei os olhos como se o sonho vivido nas últimas horas fosse se transformar em um terrível pesadelo. Ele me puxou com muita força e meu corpo se chocou violentamente contra o dele, me fazendo soltar um gemido de dor. Eu tinha que ser forte para não chorar e nem gritar, para que não tentasse fazer nada. Nós iríamos embora, eu e o James, e tudo ficaria bem.
- Por que você fez isso? – James me olhou depois que me afastei dele um pouco – Eu te dou tudo e é assim que você me trata?
- Desculpe James... Vamos embora? Por favor... – pedi, falando muito baixo.
- Agora que a diversão vai começar? – James sorriu e olhou para , que continuava sentado na cama, nos observando com cara de pavor – Eu não gosto de te machucar e você sabe muito bem, mas isso é por você ter saído sem me avisar e ainda por cima ter vindo até a casa desse inútil filho da puta!
James sorriu mais uma e sem que eu pudesse me esquivar, apagou seu cigarro no meu braço, me fazendo soltar um grito de dor.
- Seu filho da puta desgraçado! Solta ela! – gritava desesperado tentando alcançar sua cadeira e acabou caindo no chão batendo com a boca que imediatamente começou a sangrar. Mas ele não desistiu e limpou a boca suja de sangue, sentando em seguida.
- ! – falei quando ele fez uma careta de dor e vi o que ele pretendia – , não!
James observava se arrastando até onde estava a cadeira e foi mais rápido.
- Pensando em fugir, ? – James sorriu e chutou a cadeira de , que virou e foi parar na porta do quarto – Acho que não...
- Filho da puta! O que você quer? – encostou no armário e olhou para James – O que você quer de nós? Ela não te ama, porra! Quando você vai entender isso?
- Isso é o que você pensa... – James se aproximou e tirou a arma que estava até agora escondida embaixo da sua camisa, apontando-a para – Sabia que a gente transava todos os dias? Ela é muito boa na cama... E sabe a posição preferida dela?
- Eu vou te matar, seu filho da puta! – estava com os punhos cerrados, ouvindo aquelas barbaridades.
- Ela gosta de transar no chuveiro, em pé! – James balançava a arma nas mãos e eu tremia tanto que não conseguia falar nem me mexer – E com você? Qual era a posição que ela mais gostava?
- Pára, James... – consegui dizer, mas ele nem olhou para mim. Estava completamente cego de ciúme e ódio.
- Ah, esqueci que com você só tem uma posição, não é? – James soltou uma gargalhada – Aliás, acho que nem nessa posição você consegue... Segundo ela mesma me contou...
Notei que olhava perplexo para James e depois para mim.
- É sério! Ela contava para mim detalhadamente tudo que acontecia quando vocês... Digamos... Hum... Tentavam transar? É isso? – James abaixou perto de e encostou a arma em sua cabeça. Me desesperei.
- Pára com isso, James! – falei alto e dessa vez James me olhou – Vamos embora agora!
James me olhou com desprezo, se levantou e depois sorriu.
- Por que ele não pode saber que você me falava que ele era péssimo na cama? Que você só sentia prazer quando transava comigo? – James se afastou e acendeu mais um cigarro, segurando a arma apenas com o polegar. Nessa hora tive vontade de voar em cima dele e tirar a arma, mas pensei que se não desse certo, com certeza ele mataria . E, diante disso, eu não podia arriscar.
Olhei para e ele parecia tão indefeso ali no chão. Ele parecia olhar para o nada e vi que ele havia acreditado nas palavras de James.
- , é mentira... Eu nunca falei isso! – tentei ir para o lado dele, mas James me segurou pelo braço.
- Muita calma nessa hora, ! – ele me puxou novamente e eu quase caí no chão dessa vez – Acho que agora esse inútil entendeu quem é o melhor homem para você, não entendeu?
James apontou a arma para a minha cabeça e ficou olhando para .
- Você entendeu? – James perguntou, me apertando contra ele, forçando a responder.
- Entendi... – respondeu secamente.
- Que bom! Agora que estamos nos entendendo... Podemos conversar como você queria... – James me soltou com força e eu caí batendo com meu braço no chão – Vou te ajudar a sentar na cama e a gente conversa... James andou na direção de para poder levantá-lo.
- Não encosta em mim, seu filho da puta! – falou se esquivando dos braços de James, mas foi inútil. Ele jogou na cama de qualquer maneira e se afastou, sentando numa poltrona perto do armário, que ficava de frente para a cama. Meu braço latejava muito e eu achei que ele estava quebrado. A dor era tão grande que eu não conseguia me mexer, qualquer movimento que eu fazia, parecia que meu braço estava se desgrudando do ombro. Gemi baixo, mas ouviu.
- ... Você está bem? – ele perguntou, me olhando sem poder me ajudar. Como não consegui responder, somente assenti - Ela está machucada, seu animal!
- Ela está bem... Fica tranqüilo – James falou rindo muito alto e depois se virou para mim – Levanta logo daí e pega uma bebida pra gente, porra!
- Não quero beber nada... Eu quero que você vá embora da minha casa e nos deixe em paz! – falou ainda me olhando, preocupado.
James olhou para com um sorriso sarcástico no rosto e tirou mais uma vez a arma da cintura.
- Achei que a gente estava se entendendo, – ele falou e apontou a arma para mim – Vai logo buscar a porra da bebida!
Reuni toda a minha força e levantei do chão, sentindo meu braço doer mais do que eu podia agüentar.
- Pelo amor de Deus! Ela está machucada! – falava olhando para James, que parecia não notar o desespero em sua voz – Ela machucou o braço... Deixe que ela venha até aqui para que eu possa ver o braço dela... Por favor...
- Relaxa... Ela já levou tombos bem piores do que esse... – James falou e se virou para mim – Vai buscar a bebida e não faça nenhuma gracinha que você possa se arrepender depois, ok? – ele sorriu e apontou a arma para . Logicamente eu sabia que se tentasse fugir ou chamar alguém, ele não pensaria duas vezes e atiraria em .
Andei até a sala, peguei a primeira garrafa que eu vi e dois copos, depois fiquei escutando a conversa deles.
- James, seja razoável. Vá embora e nos deixe em paz! – começou a falar.
- Você não entende nada, não é mesmo? Eu não vou deixar a nunca! Ela é minha e se eu não puder ficar com ela, ninguém vai ficar! – James falou e eu vi a hora que ele apontou a arma novamente para .
- Então é isso? Você vai matá-la e depois me matar? – perguntou olhando James nos olhos.
- Claro que não, seu idiota! – James riu alto – Eu não vou matar ninguém se não for obrigado.
Entrei no quarto e entreguei a garrafa e os copos para James.
- Agora eu quero que você entregue esse copo para ele – James falou enquanto servia a bebida. Obedeci e andei até , que me olhava angustiado – Sem gracinhas, não quero machucar ninguém.
- Você está bem? – perguntou quando lhe entreguei o copo.
- Acho que meu braço está quebrado – falei com lágrimas nos olhos – Mas estou bem, não se preocupe.
- Nós vamos sair dessa, eu prometo – ele falou e piscou o olho para mim.
- Venha sentar aqui, – James falou e eu andei até ele – Vamos esclarecer de uma vez por todas a nossa situação.
- Não existe “nossa” situação! – falou e bebeu o conteúdo do copo de uma só vez – O que você não entende ou não quer entender é que ela não quer nada com você, porra! Você pode me matar, mas ela nunca vai te amar como ela me ama.
- Mas é exatamente aí que você se engana - James bebeu um gole do seu copo e sorriu – Eu não vou te matar e é somente por essa razão que ela será minha!
- Você é maluco, porra! – passou a mãos pelos cabelos e depois me olhou – Você vai querer viver para sempre com uma mulher que te odeia e ama outro cara?
- Mas um dia esse amor vai acabar e eu vou esperar. Eu sou paciente – James falava se servindo de outra dose. Ele levantou, andando na direção de para encher o copo dele e foi nessa hora que tudo aconteceu.
Sem que James esperasse, o segurou pelos braços e os dois caíram no chão. A garrafa quebrou e eu pude ver que havia sangue no chão. Eu gritava desesperada enquanto eles se socavam.
- ! – gritei tentando separar os dois – Pára, James!
- Sai daqui ! – falou antes de levar um soco de James – Liga pro ! Rápido!
Corri para a sala e quando eu discava o número do , ouvi o tiro.


Capítulo 32
“Nem todas as palavras do mundo conseguiram expressar o que sinto por você; Nem todos os segundos de inúmeras horas serão suficientes para estar ao teu lado...”

Parecia mais um pesadelo, só que dessa vez eu estava acordado.
Tentava controlar o medo e o desespero diante daquela situação inesperada, mas nada adiantava. James me humilhava a cada palavra que dizia e me fazia sentir pior do que eu já me sentia normalmente. Não posso descrever o que senti quando aquele animal jogou a minha pequena no chão, machucando o braço dela e nem se importou. E eu estava ali, encostado no armário, depois da minha tentativa frustrada de alcançar minha cadeira e nada pude fazer. Ainda tive que agüentar o deboche e o sarcasmo daquele filho da puta falando sobre sexo, em como transava com ela e quais posições ela mais gostava. Foi realmente humilhante ouvir tudo aquilo e não poder rebater, mas o que eu poderia dizer? Que o sexo entre nós era maravilhoso? Que eu sempre conseguia dar prazer a ela? Não. Eu não podia e ele com certeza sabia disso. Naquele momento, não acreditei, sinceramente, que ela tenha contado nada sobre a nossa relação íntima para ele. Com certeza ele devia ter deduzido, devido ao meu estado físico.
Mas independente de qualquer coisa, o que eu mais queria era proteger a e poder impedir aquele imbecil de machucá-la mais uma vez. E quando esse momento chegou, eu não pensei duas vezes.
Quando eu vi que James se aproximava de mim, para encher meu copo, não hesitei nem um minuto e esperei a hora certa para dar o bote. Eu tinha que levar em consideração a minha desvantagem, mas eu só precisava que ele se aproximasse o suficiente para que eu o segurasse e aí ele ia ver quem era o inútil.
Ainda pude ver a expressão de surpresa em seu rosto no exato momento em que eu o segurei e caímos no chão. A cada soco que ele me dava eu me sentia mais forte e devolvia na mesma moeda. Ouvi a gritando nossos nomes e pedindo para que parássemos, mas era em vão e sinceramente, acho que nada seria capaz de nos afastar naquele instante. Quase nada.
- Sai daqui, ! – gritei antes de levar um soco em cheio na boca – Liga pro ! Rápido! – senti o sangue na boca e cuspi de lado.
O que eu mais queria era que ela saísse dali, pois percebi nesse instante que James estava tentando pegar a arma que tinha caído de sua camisa e agora estava no chão ao nosso lado. Segurei seu braço, mas ele estava por cima de mim e tinha vantagem de ter as pernas como apoio. James segurou meu pescoço e colocou seu peso por cima do meu corpo, de uma forma que eu não conseguisse me mexer e com a outra mão ele tentava alcançar a arma. Entrei em desespero porque se ele conseguisse, certamente atiraria em mim.
Para o meu alívio, saiu do quarto correndo e percebi que não estava mais conseguindo respirar direito e vi o exato momento que James pegou o revólver e apontou para minha cabeça. Não sei de onde tirei forças nessa hora, mas consegui afastar seu braço para longe.
- Seu filho da puta... Agora você vai morrer! – James sorriu falando entre os dentes enquanto tentava apontar novamente a arma na minha direção. Eu já me sentia tonto por não conseguir respirar e segurava o braço dele, mas sabia que em algum instante eu ia ter que desistir.
Naquele instante em que eu vi que não agüentaria mais, eu de alguma forma sentia que já tinha vivido aquilo tudo e que não era a primeira e nem a última vez que James apareceria em minha vida. Se por acaso eu morresse, tinha plena certeza que em alguma outra vida, nós nos encontraríamos novamente. Não me perguntem como eu sabia disso. Eu apenas sentia.
Também não sei de onde tirei forças novamente para me soltar de James dando um soco em seu rosto e quando percebi, ele havia soltado a arma. James balançava a cabeça e naquele momento eu consegui alcançar a arma, me encostei no armário do jeito que deu e imediatamente apontei para ele. Tudo aconteceu em somente alguns segundos.
- Vai, seu inútil! Atira, porra! – James falou baixo, batendo no peito, sorrindo e se aproximando de mim – Qual o problema? Não tem coragem?
- Não me provoque, James... – falei com a arma apontada na direção dele – Eu não quero atirar.
Era mentira. Eu queria atirar. Só assim ele sairia das nossas vidas de uma vez por todas. Pelo menos dessa vida, né...
- Eu não tenho medo de você! Eu sei que você é um fraco e covarde! – James falou rindo e ainda mais perto de mim.
Eu tinha alternativa? Não.
Quando James chegou mais perto para tentar pegar a arma das minhas mãos, eu atirei na perna dele, que na mesma hora caiu para trás com a força do impacto. Eu continuei apontando a arma para ele até ter certeza de que ele não ia levantar.
- ! – entrou correndo no quarto e viu James deitado de costas no chão e colocou a mão na boca para não gritar – !
Mas no momento em que ela passava por ele para vir ao meu encontro, James a agarrou pelo tornozelo, fazendo-a cair no chão. Logo em seguida, ele a puxou e passou o braço no seu pescoço, me fazendo entrar em pânico total.
- Você não pode ficar com ele, ! – James falou se levantando um pouco e eu pude notar que o seu olhar era de ódio – Você vai ficar comigo... Nem que seja no inferno!
- Me solta, seu filho da puta desgraçado! Vai pro inferno você, que é o seu lugar! – falou se debatendo nos braços de James e ele apertou seu braço para que ela parasse – Ai... Meu braço!
- Agora... – James fez uma careta de dor olhando para sua calça, de onde escorria sangue de sua perna e em seguida me olhou sorrindo com cara de maluco – Seu filho da puta...
- Solta ela, James! – falei ainda apontando a arma na direção dele – Solta ela agora, porra!
- Do jeito que a sua pontaria é ruim, é capaz de você matar a se tentar me acertar novamente, seu inútil! – James soltou uma gargalhada e apertou o braço machucado dela. na mesma hora soltou um grito de dor e em seguida caiu desmaiada nos braço dele.
- Eu vou te matar, seu filho da puta... – falei apontando a arma para ele e pensando se seria uma boa idéia atirar dali. O medo de acertar a era maior do que o ódio que eu sentia por aquele animal, mas eu tinha que fazer alguma coisa, porra!
James se protegia com o corpo desacordado dela. Filho da puta covarde!
– James... Solta ela, porra! – falei mais uma vez sem desviar a arma dele.
- Vamos, ! Atira! – James falou rindo e andou de costas para a porta do quarto, mantendo sempre a como escudo. Ele era um filho da puta mesmo!
E agora? Eu não podia deixar que ele saísse dali com ela de jeito nenhum, mas ao mesmo tempo, não podia correr o risco de acertá-la com um tiro.
Quando ele estava de costas na porta do quarto, parou atrás dele e em seguida um homem, que parecia ser um policial, apontou uma arma para a cabeça de James.
- Solta a garota agora! – o homem falou, fazendo com que James levasse um susto. Na mesma hora ele soltou a , que, desmaiada, caiu no chão.
- ! A tá machucada! – falei desesperado para que meu amigo a acudisse – Ela desmaiou quando esse filho da puta apertou o braço quebrado dela!
- Calma, ! – falou se aproximando e segurando a cabeça dela no seu colo – ... ... – a chamou.
O homem já estava algemando James e eu suspirei aliviado, mas no segundo seguinte, não sei como, James conseguiu se livrar do homem e pegou sua arma. Vi que a arma que eu segurara até aquele momento estava ao meu lado e que James se aproximava novamente da . Não deu nem tempo de pensar.
Atirei nele e dessa vez o acertei em cheio no peito.
James colocou a mão no peito como se não acreditasse que havia realmente levado um tiro. Olhou sua mão ensangüentada e depois me olhou sorrindo.
- Então... – ele falou, cambaleando – Você teve coragem... Seu inútil... Filho da... Puta...
E com isso, ele caiu no chão, mas o sorriso não deixou seu rosto no momento que morreu. Parecia cena de filme de terror e eu continuei estático com a arma na mão.
- ! ! – falava comigo e tentava tirar a arma das minhas mãos – , solta a arma...
Olhei para como se não o reconhecesse e ele se afastou de mim, com medo. Lógico que eu não ia atirar nele, mas estava em estado de choque diante de tudo que tinha acontecido. Lentamente abaixei o braço e soltei a arma. Os soluços vieram em seguida quando olhei para a deitada no chão ainda desmaiada.
- ... Minha ... – falei olhando para ela e se aproximou de mim novamente, dessa vez pegando a arma e a entregando ao homem que já verificava se James estava realmente morto. me olhou em seguida foi para onde estava, colocando a cabeça dela em seu colo novamente. Ela começou a acordar e fez uma careta. Consegui ir para perto dela, que quando me viu sorriu abertamente, me fazendo ter outra crise de choro.
- ... – ela me chamou e eu sorri no meio do choro.
- Estou aqui, amor... – falei passando a mão pelo rosto dela. Quando ela tentou me abraçar, soltou um gemido de dor.
- , melhor chamar uma ambulância! – falei olhando para meu amigo, que observava a cena com os olhos marejados.
pegou o telefone e imediatamente ligou para a emergência.
- Amor, tenta não se mexer, tá bom? – falei tentando ajudar de alguma forma – O já está chamando a ambulância e eles vão cuidar de você...
- Acho melhor a gente colocar a na cama, ... – falei depois que ele desligou o telefone e me virei para a – Amor, o vai te colocar na cama pra gente esperar o médico chegar.
na mesma hora pegou a com todo o cuidado e a colocou na cama, ajeitando o travesseiro e depois pegou minha cadeira que estava jogada num canto e a desvirou, me ajudando a sentar.
- ... – falei segurando a mão dele – Muito obrigado, dude!
- Quando recebi sua mensagem, liguei para o detetive Johnson e viemos o mais rápido possível – ele passou a mão pelos cabelos – Não ia me perdoar nunca se não tivesse chegado a tempo, !
- Mas você chegou e isso é o que importa agora! – vi que as lágrimas caíam do rosto de e o abracei, agradecendo pela milésima vez tudo que ele havia feito não só por mim, mas pela também.
Me aproximei da cama e passei mão nos cabelos da minha pequena, que estava de olhos fechados e de vez em quando fazia uma careta de dor. Assim que a toquei, ela abriu os olhos e mesmo com muita dor, sorriu para mim.
- Agora podemos ser felizes de verdade, – ela disse e eu me inclinei para beijá-la – , você está muito machucado...
- Eu te amo – falei entre um selinho e outro – Não se preocupe comigo, por favor...
Agora que a adrenalina tinha baixado, senti as fisgadas pelo corpo e minha boca latejando, mas isso não era o mais importante no momento. O que eu mais queria era que o médico chegasse logo e cuidasse dela. Ela era o que mais importava agora para mim. Aliás, ela sempre foi prioridade na minha vida.
A ambulância finalmente chegou e ela foi levada para o hospital depois de ser examinada pelo médico, que constatou que além de uma suposta fratura no braço, não havia nada de grave com ela e eu suspirei aliviado.
- , vamos no meu carro, seguindo a ambulância – falou e eu notei que estava só de cueca.
Felizmente o corpo de James já havia sido levado do meu quarto e agora que tinham levado a , eu precisava me trocar.
- Vou me trocar em cinco minutos e a gente vai – falei, pegando uma roupa qualquer e saiu do quarto para me dar mais privacidade.
Foi incrível, mas no momento em que eu sentei na cama para poder colocar a calça jeans, senti minhas pernas formigando, mas acho que estava tão nervoso e ansioso para ir logo para o hospital que nem me dei ao trabalho de pensar sobre isso. A única coisa que eu queria era estar perto dela. A minha .


Capítulo 33

"Quando se ama, não é preciso entender o que acontece lá fora, porque tudo passa a acontecer dentro de nós."

Durante todo o percurso até o hospital eu fui em completo silêncio. Na verdade eu ainda estava em estado de choque diante de todos os acontecimentos. Era mesmo inacreditável pensar que dois dias antes eu ainda estivesse sofrendo, internamente, claro, pela , pensando que ela não me amava e que a minha vida estava uma verdadeira merda, mas eu nem podia imaginar que em menos de quarenta e oito horas tudo ia mudar.
, por sua vez, falava com Deus e o mundo no celular e avisava nossos amigos de tudo que tinha ocorrido e tentava tranqüilizar a todos dizendo que estávamos bem, apesar de tudo. Ficou combinado que eles nos encontrariam no hospital.
As imagens das últimas horas estavam atormentando minha cabeça e eu ainda tentava entender o motivo daquilo tudo. Lembrei de quando minha mãe falou comigo sobre vidas passadas e eu fiz uma anotação mental para estudar mais sobre esse assunto, já que tinha visto a cena toda como se ela já tivesse acontecido e achado muito estranho.
Fechei os olhos, encostando minha cabeça no banco do carro e pude sentir meus pés dentro do tênis. Sem perceber, coloquei a mão em cima das minhas pernas e apertei um pouco, levando um susto quando senti a pressão dos meus dedos. Dei um leve sorriso e suspirei pensando que James nunca mais estaria nas nossas vidas. Eu tinha tirado aquele monstro da vida da minha pequena para sempre. Era um verdadeiro alívio pensar assim, mesmo que uma vida tenha sido perdida para que tivéssemos paz.
Assim que estacionou, passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos parecendo muito cansado. Ele se virou para mim em seguida e eu pude ver seus olhos cheios de lágrimas.
- Vamos, ... Temos que ver como ela está – falei abrindo a porta do carro e esperei que meu amigo me ajudasse. Entramos no hospital e imediatamente falamos com algumas enfermeiras, que nos acalmaram dizendo que iriam ver o estado da e voltariam em seguida para nos contar.
Fomos para uma pequena sala esperar notícias e também nossos amigos que iam chegar a qualquer instante. Notei que chorava, quieto num canto e fui até ele. Eu tinha que ser forte e agora que eu sabia que ela me amava de verdade, eu agüentaria tudo em nome do nosso amor, mas a minha vontade era chorar sem parar, lamentar tudo que tinha acontecido. Percebi que James não merecia isso e que ela seria minha para sempre agora que ele não estava mais ali.
- Ela vai ficar bem... – falei para meu amigo – Ela é mais forte do que a gente pensa, .
- Eu sei... – balançou a cabeça e secou as lágrimas com as costas da mão, me olhando em seguida – , como você consegue ser assim?
- Assim como? – perguntei confuso.
- Assim, dude! – respondeu, com o rosto muito vermelho – Você é sempre tão seguro de tudo! Mesmo depois de todas as coisas que aconteceram com você... Mesmo depois de pensar que tinha perdido a mulher que você amava... Depois de tudo que aquele filho da puta deve ter feito você passar... Você ainda está aí... Com a cabeça erguida... – não conseguiu se controlar mais e caiu no choro.
- Eu não sou forte, ... Eu sou fraco e você sabe disso! – falei tentando me controlar para não chorar - Você sabe o que a teve que passar por minha causa? Ela teve que suportar coisas que eu nem posso imaginar... – não consegui mais conter as lágrimas e elas caíram pelo meu rosto. Acho que nessa hora chorei por tudo que tinha acontecido, por todas as coisas que eu só podia imaginar que a minha pequena havia passado, por me sentir tão incapaz de defendê-la e principalmente por ter matado uma pessoa, mesmo que essa pessoa tivesse sido o James. Eu havia matado uma pessoa! – Mas agora o que importa é a ... – falei depois que consegui me controlar um pouco.
- , você é a melhor pessoa que eu já conheci em toda a minha vida – falou e sorriu – Eu tenho muito orgulho de ser seu amigo, dude!
Nos abraçamos e eu senti que tinha que falar para o tudo que estava acontecendo.
- , eu preciso te contar uma coisa... – falei sorrindo abertamente.
- O que foi? – me olhou estranho, como se eu fosse louco por estar sorrindo diante daquela situação toda – Você está me assustando, dude.
- , eu estou sentindo minhas pernas... – falei rindo e as lágrimas voltaram a cair – Eu estou sentindo meus pés dentro do tênis agora.
- Sério? Mas quando começou a sentir? – ria junto comigo – Lembra de quando eu fui na sua casa logo depois da terminar com você?
- Claro que lembro... Como eu ia esquecer uma coisa dessas? – falei sorrindo – Mas o que tem isso?
- Você me falou que podia ficar em pé... Que quando a chegou em casa você a esperava no quarto em pé para fazer uma surpresa...
- Ah... E você não acreditou em mim, lembra? – ri junto com – Mas o que tem isso?
- Depois, quando a me contou, eu não pude acredit...
- Quando a te contou isso? – parecia que eu tinha levado um soco na boca do estômago. De repente eu nem lembrava mais que estava feliz por ter a esperança de voltar a andar novamente.
- Não... Quer dizer... – começou a gaguejar e eu fiquei nervoso.
- Que história é essa, ? Fala logo, porra! – falei irritado.
Ficamos nos encarando durante algum tempo e depois ele passou as mãos pelo rosto, olhando para cima em vez de me encarar.
- , depois a gente conversa sobre isso – falou e eu vi que suas mãos tremiam.
- , se você não começar a falar agora, eu... – fechei os olhos e cerrei os punhos, tentando me controlar.
- Tudo bem, falou dando um suspiro – Antes de qualquer coisa eu quero que você saiba que eu sou seu amigo – demorou mais tempo para continuar a falar do que a minha paciência podia agüentar, mas depois de alguns minutos ele começou – , durante todo o tempo que você ficou afastado da , eu sempre mantive contato com ela... Mas eu ia te contar, dude...
- O quê? Você falava com ela e não me disse nada? – perguntei atônito.
- A me pediu que não te contasse que eu sabia de tudo e...
- Como é que é, ? – me afastei um pouco dele – Do que você sabia?
engoliu seco e passou a mão pelos cabelos nervosamente, mas no momento em que ele ia continuar, a enfermeira veio falar conosco.
- E então? Como ela está? – perguntei me aproximando dela – Ela está bem?
- Sim, podem ficar tranqüilos! Ela está bem e vai ter alta daqui a pouco – a enfermeira disse e eu suspirei aliviado.
- Posso vê-la? – perguntei ansioso.
- Daqui a pouco. Agora ela está terminando de fazer os curativos – ela disse amável – Assim que terminarem, eu aviso e os senhores poderão entrar, está bem?
- Tudo bem. Muito obrigado! – apertei a mão da enfermeira e as palavras de ecoaram na minha cabeça.
- Mas agora, quem precisa de cuidados é você, meu rapaz! – ela disse sorrindo olhando para os cortes no meu rosto.
- Não precisa... Foi só um arranhão – falei sorrindo um pouco – Mesmo assim, obrigado.
- Tudo bem. Se quiser, é só chamar para nós podermos limpar esses machucados e fazermos os curativos, ok? – a enfermeira falou e eu assenti.
- Graças a Deus, ela vai ficar bem! – sorria aliviado, vendo a enfermeira se afastar de nós. Me voltei para ele, querendo respostas.
- , ainda não consegui entender direito... – falei o encarando – Do que exatamente você sabia?
- ... – engoliu seco mais uma vez – A me contou que o James a estava chantageando e me disse que teria que terminar tudo com você senão ele ia matá-lo...
Fiquei olhando para ele sem acreditar no que eu estava ouvindo. Esse filho da puta sabia de tudo e não tinha me falado nada? Ele tinha visto o estado deplorável que eu fiquei e mesmo assim não me contou que era tudo mentira? Que ela me amava e que estava só tentando me proteger? Filho da puta desgraçado!
- ... Eu não queria que fosse assim, mas a me obrigou a prometer que não te contaria nada! – falou desesperado – Muitas vezes eu pensei em te contar, mas lembrava dela me dizendo que ia sumir se eu fizesse isso e eu ficava sem coragem e...
Olhei para ele mais uma vez e dei as costas, indo na direção da porta do hospital. Que porra era aquilo tudo? Meu melhor amigo, ou melhor, quem eu pensava ser meu melhor amigo, acabava de me enfiar uma faca pelas costas?
- ! – veio atrás de mim, me chamando, mas eu não virei e continuei indo na direção da porta. O ar frio bateu no meu rosto e eu senti um certo alívio. Estava me sentindo sufocado, meu peito doía e minha cabeça latejava. O que eu mais queria era ficar sozinho, mas estava do meu lado quando percebi.
- , por favor... A não me deixou te contar nada... Falou que se eu te contasse alguma coisa, ia sumir e não me dar mais notícias... Eu fiquei com medo, eu não sabia o que fazer... Eu... Pelo menos desse jeito, eu podia ficar de olho nela... Cuidar dela dentro do possível... Eu...
Continuei calado. O que eu poderia falar? Agradecer por tudo que ele fez? Filho da puta! Se eu estivesse em condições, daria uma surra nele.
- , fala alguma coisa... Por favor... – implorava e eu fechei os olhos, sentindo-os arder quando as lágrimas desceram pelo meu rosto – , eu... – encostou a mão no meu ombro e eu a segurei com toda a força que eu tinha, fazendo com que ele se curvasse, gemendo.
- O que você quer que eu fale? Que você é o melhor amigo do mundo? Que você também fez isso para nos proteger? Quer que eu te agradeça por me ver naquele estado e não me dizer uma única palavra? Saber que eu estava sofrendo, quase morrendo e não me falar absolutamente nada? – eu praticamente cuspia as palavras em cima dele – Pois bem, muito obrigado! Você realmente é o melhor amigo que alguém pode ter! – falei dando um sorriso debochado.
Soltei a mão dele e entrei novamente no hospital. A enfermeira veio em seguida e disse que eu podia ver a minha pequena. Esqueci totalmente do nessa hora. Eu queria ver como ela estava e para mim isso era tudo que importava naquele momento.
Entrei na enfermaria e vi que ela estava deitada e tinha o braço esquerdo engessado. Me aproximei da cama e peguei sua mão direita com carinho. Ela abriu os olhos e se virou para mim com um sorriso fraco nos lábios.
- ... – ela disse e as lágrimas escorreram pelo seu rosto – Me desculpe por tudo isso, meu amor...
- Não tem nada para desculpar, minha pequena – falei beijando sua mão – Falei com a enfermeira e nós vamos embora daqui a pouco...
Ela assentiu e fechou os olhos deixando mais lágrimas escorrerem por seu rosto.
- Amor, agora acabou... Ele nunca mais vai nos perturbar... – falei tentando acalmar o clima tenso – De agora em diante vamos ser somente nós dois... Para sempre.
- Eu sei, mas queria apagar da minha cabeça tudo que aconteceu, – ela disse ainda chorando – Tudo que aconteceu naquele quarto foi tão horrível... Me perdoa...
- Não vamos mais pensar nisso, hein? – falei piscando para ela, tentando parecer tranqüilo – Daqui a pouco você vai ter alta e nós vamos para casa...
- Será que algum dia você poderá me perdoar por tudo que eu fiz, ? – ela perguntou com a voz embargada – Eu não queria te fazer sofrer... Eu...
- Não fala nada, amor – falei acariciando seus cabelos – O importante é que nós estamos aqui e que você está sã e salva...
- Mas, ... Por minha causa você ainda está nessa cadeira... – ela soluçou, trazendo à tona todo o sofrimento e a culpa que sentia – Naquele dia... Você estava em pé... E eu estraguei tudo... Eu... Desculpe... Não sei se algum dia eu vou poder me perdoar pelo que eu te fiz.
- Não pensa mais nisso, amor... – falei sinceramente. Se eu tivesse que escolher entre andar novamente ou tê-la comigo, nos meus braços, eu já sabia que a escolha era simples. Eu não poderia viver sem ela – A única coisa que me importa é que você está aqui comigo e me ama... O resto não tem mais a mínima importância.
Depois, lembrei que eu podia sentir minhas pernas e fiquei tentado para contar, mas me contive. Dessa vez, minha surpresa ia dar certo!
conseguiu se acalmar um pouco e ficamos nos olhando por um tempo. Ela fazia carinho no meu braço e eu nos seus cabelos. De vez em quando sorríamos como se adivinhássemos os pensamentos um do outro.
- Eu queria ir embora logo, ! – ela falou aflita – Detesto hospital!
- Nós já vamos, meu amor – sorri e beijei novamente sua mão.
- Mas onde está o ? – ela perguntou e meu sorriso sumiu imediatamente – Queria agradecer por tudo que ele fez por nós.
- Ele está lá fora – falei secamente e ela percebeu.
- Aconteceu alguma coisa com o ? – percebi a aflição na voz dela e fiquei irritado na mesma hora.
- Não aconteceu nada com ele! – falei de forma rude, soltando sua mão e me arrependi em seguida quando ela se encolheu na cama.
- Desculpa, amor... Desculpa por falar assim com você – falei pegando sua mão novamente e a beijando inúmeras vezes – Eu sou um idiota, por favor, me perdoa...
Depois de tudo que ela havia passado por minha causa eu não poderia magoá-la nunca!
- Desculpa, mas é que o acabou de me contar que sabia de tudo desde o começo e eu fiquei com muita raiva dele... D nós discutimos.
- Discutiram? Como assim, discutiram? – ela arregalou os olhos, respirando muito forte – , vocês não podem brigar, entendeu? O é o melhor amigo que alguém poderia desejar na vida! Ele me ajudou muito e hoje, ele salvou nossas vidas...
começou a chorar muito e eu fiquei sem ação. Como eu poderia negar qualquer coisa que fosse para ela?
- Calma, amor... Mas já está tudo bem... – menti – Quer que eu vá chamar o para que você veja que ele está bem?
Ela assentiu, ainda chorando e eu fui até lá fora para chamá-lo. Quando me viu saindo da enfermaria, na mesma hora ele veio na minha direção.
- Como ela está? – ele perguntou ansioso.
- Ela está preocupada com a gente, ... – falei me afastando um pouco da porta da enfermaria e me seguiu.
- Preocupada? – parou do meu lado e se sentou no sofá da sala de espera.
- Olha, vamos esquecer tudo isso... – falei passando as mãos no rosto – Ela me pediu para que não brigasse com você e é exatamente isso que eu vou fazer.
- , eu queria que você soubesse que toda vez que eu te via chorando ou sofrendo, eu sofria também... Foram meses de muita agonia para mim, dude – falou e deixou que mais algumas lágrimas caíssem por seu rosto.
Fiquei pensando por alguns instantes e percebi que por mais que eu não aceitasse, eu não podia mudar nada e se tentasse fazer alguma coisa, eu iria magoá-la.
- , eu sei que você não fez por mal – falei sinceramente – Me desculpa por ter machucado sua mão e ter agido igual a um idiota.
Nos abraçamos e ficamos chorando parecendo dois gays.
- Ai meu Deus! O que aconteceu com a ? – ouvimos a voz de e nos viramos para ver a expressão de pânico no rosto dele.
- Ela está bem, ! – falei e ele praticamente se jogou no meu colo. Porra, esse cara era muito boiola!
- Porra, ! Levanta do meu colo! Nesse colo só tem uma pessoa que pode sentar! – falei rindo e se aproximou de mim, me abraçando também.
- As meninas estão vindo também? – perguntou levantando e abraçando e .
- Achei melhor elas não virem antes de saber como a estava – respondeu, sério – Como ela está, ?
- Vai ter alta daqui a pouco – falei, sentindo meu rosto doer ao sorrir.
- Aquele filho da puta fez um estrago aí hein, dude! – sorriu observando meu rosto inchado.
- Mas o fez melhor... Acabou com a raça daquele desgraçado! – falou, sorrindo e depois contou para eles detalhadamente como tinha acontecido a morte do James.
Fiquei calado imaginando que eu tinha acabado de matar uma pessoa e por mais que eu quisesse, não estava me sentindo mal.
- Vocês estão acompanhando a Srta. ? – ouvimos o médico perguntar sorridente.
- Eu estou com ela. Algum problema, doutor? – perguntei. Por mais que a expressão do médico fosse ótima, entrei em pânico.
- Problema nenhum, a não ser a fratura no braço, claro – o médico continuou com um sorriso irritante no rosto – Ela e o bebê estão ótimos e vão ter alta daqui a pouco.
- Bebê? – perguntamos todos ao mesmo tempo.
- Sim, ela está grávida. Acabei de pegar o resultado do exame de sangue dela – o médico pareceu confuso com a nossa surpresa – Qual de vocês é o pai do bebê?

Capítulo 34

“A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que se é; ou, mais corretamente, de ser amado apesar daquilo que se é.”

Ela estava grávida.
Esperava um filho do James.
- Algum problema, meu rapaz? – o sorriso sumiu do rosto sorridente do médico – Espera... Você não é o pai do bebê, então? Nenhum de vocês?
Somente balancei minha cabeça negativamente e esfreguei meu rosto com as mãos, tentando controlar o turbilhão de sentimentos que comprimiam meu peito naquele instante. Minha pequena, grávida daquele monstro... Que eu tinha acabado de matar... O que eu havia feito, porra? Mas o que eu poderia ter feito? Se eu não tivesse matado aquele imbecil, ele teria me matado, ou pior, teria matado a e isso eu não ia permitir nunca!
- De quanto tempo ela está, doutor? – perguntou, interrompendo meu devaneio e me olhou em seguida apreensivo.
- De acordo com o exame... – o médico olhou nervosamente a prancheta que trazia nas mãos antes de falar, nos deixando nervosos e ansiosos – Ela está com quase vinte e duas semanas de gestação.
- 22 semanas... – falou e depois me olhou sorrindo – São quase quatro meses...
- Isso mesmo – o médico disse e me olhou com pesar – Desculpe por dar essa notícia assim... Bem, ela está ótima e daqui a pouco poderá ir para casa.
- Já sabe o sexo do bebê? – perguntou sorrindo.
- Cala essa boca, ! Porra! – falou dando um “pedala” em e depois olhou para o médico – Desculpe, doutor.
- Tudo bem... Sem problemas – o médico estava visivelmente desconfortável.
- Eu posso vê-la novamente? – perguntei para o médico, que me olhava totalmente em graça.
- Claro que pode! – ele respondeu – Espere só mais alguns minutos e pode entrar na enfermaria novamente.
- Ela já sabe... Da gravidez? – perguntei.
- Ainda não... Estava indo agora mesmo contar a ela – ele disse ainda sem graça.
- Doutor, eu gostaria de pedir que o senhor não contasse nada. Eu gostaria de dar essa notícia pra ela, se o senhor não se importar – falei de forma controlada.
- Mas é claro! – o médico sorriu – Vou deixar que você fale com ela, pode ficar tranqüilo.
- Muito obrigado, doutor.– falei pensando na reação dela quando soubesse da gravidez e senti uma tontura.
Lembrei que tinha saído para chamar o e que ela deveria estar preocupada com a gente, achando que estávamos brigando ou coisa do gênero.
O médico apertou minha mão, depois a do , e saiu da sala de espera. Eu estava desnorteado e passei as mãos pelos cabelos, querendo desaparecer dali. Por que tudo isso estava acontecendo? Será que nem depois de morto, James ia nos dar sossego?
- Puta merda... – eu falei baixo, desejando que eu pudesse sair correndo dali e me esconder em qualquer lugar que fosse. Eu não queria conversar com ninguém, mas meus amigos me olhavam desolados e somente me olhava com cara de felicidade.
- ... – abaixou do meu lado com um sorriso idiota nos lábios.
- Ela está grávida... Eu sei... – falei e uma lágrima rolou pelo meu rosto – De um filho dele.
- Não! – segurou meu braço e me sacudiu de leve – Ela está de quase quatro meses, dude! Pensa!
Acho que o estalo na minha mente foi tão alto, que tive a sensação de que ecoou naquela sala. Se ela estava de quase quatro meses, então poderia ser que...
- ! Você é o pai do bebê! - ele disse quase chorando - Dude... Você vai ser pai!
Será que isso era mesmo possível? Eu poderia realmente ser o pai daquela criança que ela esperava?
- Mas... – falei esboçando um sorriso, fazendo mentalmente todos os cálculos – Será?
- Claro que sim! – sorriu e bateu nas minhas costas – Parabéns!
- Eu quero ser o padrinho! – falou e me abraçou.
- De jeito nenhum! Esse posto já tem dono! – riu e me abraçou em seguida – Dude, que felicidade!
Eu ainda não tinha conseguido digerir a notícia. Eu também poderia ser o pai da criança? Meus amigos falavam sem parar e todos ao mesmo tempo, me deixando tonto.
- Peraí... Antes de qualquer coisa, tenho que conversar com a sobre isso – falei colocando minha cabeça em ordem e os decepcionando com a minha atitude. Não queria comemorar antes do tempo. Eu não sabia há quanto tempo James a estava chantageando. De repente, o filho não era meu. Mas e se fosse? Se isso fosse realmente verdade, eu seria o homem mais feliz da face da terra.
- , pensa comigo, dude! – falou me encorajando – O filho só pode ser seu!
- Quando a te contou que James a estava chantageando? – perguntei para e ele fechou os olhos como se estivesse pensando.
- Acho que mais ou menos umas duas semanas antes dela terminar com você... Eu acho.
- Duas semanas antes dela terminar comigo... – repeti o que havia falado para fazer novamente meus cálculos – Então, temos aí.... uns três meses e pouco, mais ou menos.
- Exatamente o tempo de gravidez que ela está... – falou, agora com certo desânimo.
- O que significa que o filho pode ser dele também... – concluí.
- Minha intuição diz que o filho é seu, ! – falou e depois olhou para indignado, colocando as mãos na cintura – O filho da puta estava chantageando a ? Quando?
- É uma longa história, ... Depois a gente te conta – falou e depois se virou para mim – E agora, ?
- Eu não sei... – falei e minha cabeça rodou, como se eu estivesse numa montanha russa – Eu preciso conversar com ela e tem que ser agora.
- Não é melhor esperar a gente ir para casa, dude? – falou sério – Em casa, com calma, vocês conversam sobre isso com mais tranquilidade.
- É melhor, disse também.
- Sr. ? – um homem de terno e gravata se aproximou de mim estendendo a mão, me cumprimentando – Sou o detetive Taylor e gostaria de saber se poderia fazer algumas perguntas sobre os acontecimentos em seu apartamento, pode ser?.
O tal detetive parecia extremamente simpático e então eu resolvi falar logo com ele, aproveitando que o ia até o quarto conversar com a .
- , a quer falar com você... – falei sentindo minha vista escurecer um pouco – Vai lá e depois eu entro para conversar com ela.
- Tudo bem, dude – falou e chegou mais perto de mim – Não precisa falar com esse detetive agora, . Se você quiser, eu falo com aquele meu amigo e depois você vai até a delegacia.
- Não... Tudo bem, . Eu falo com ele agora – falei tranqüilizando-o – Vai lá falar com a enquanto eu falo com ele. E, por favor, não fale nada sobre a gravidez. Eu quero dar a notícia a ela.
- Claro, . Você quem manda! – falou e se despediu, entrando na enfermaria.
Eu me virei para o detetive e nesse momento minha cabeça girou novamente, me fazendo ficar enjoado e com vontade de vomitar. Fechei os olhos por alguns segundos e a sensação passou.
- Em que posso ajudá-lo, detetive? – perguntei cauteloso. Eu não queria parecer nervoso, mas também não queria parecer frio diante de tudo. Por mais que eu não me sentisse culpado por matar uma pessoa, eu tinha tirado uma vida diante da lei, mesmo que tivesse agido em legítima defesa.
- Gostaria de saber a história por trás de tudo e também qual o envolvimento da Stra... – ele virou a folha do bloco que estava em suas mãos – Stra. .
- A não tem envolvimento nenhum, detetive... Ela é apenas uma vítima daquele animal! – falei irritado – Ele a espancava e a mantinha junto dele com chantagem.
- E como o senhor entra nessa história, Sr. ? – o detetive Taylor tirou os olhos do bloco e me encarou de forma simpática.
- Eu sou o namorado da e o James era o ex-namorado ciumento – falei passando as mãos no cabelo, me sentindo mal novamente – O que aconteceu foi que ele não aceitava que ela tivesse um novo relacionamento e por causa disso me ameaçou. E ela, para me defender, aceitou as chantagens dele sem eu saber – fechei os olhos ao falar, lembrando dolorosamente tudo que ela tinha passado nas mãos daquele monstro – Ela fugiu dele e foi me procurar. Ele arrombou a porta do meu apartamento e nos manteve reféns... E o resto o senhor já sabe.
O detetive anotava tudo que eu falava. e ouviam tudo atentamente e de vez em quando me davam tapinhas nas costas, para me apoiar.
De repente, me senti extremamente cansado, como se o peso de uma tonelada estivesse sobre meus ombros. Todo o estresse daquelas últimas horas veio à tona e eu baixei minha cabeça, apoiando-a nas mãos e os cotovelos na perna. Levei um susto quando senti o peso dos meus braços sobre minhas pernas e mesmo me sentindo extremamente mal, não pude deixar de sorrir. Me senti tonto e lembrei que desde que havia saído do pub na noite anterior, não tinha comido nada, e a vontade de vomitar veio com tudo. Comecei a suar frio e minha respiração ficou ofegante de repente. Minha vista ficou turva e vi James na minha frente com a arma apontada para a minha cabeça. Vi a desmaiada no chão e depois, a ouvi gritando meu nome. Me vi com uma espada nas mãos e depois a enfiando no coração de James. Uma criança chorava sentada numa manta, sozinha, chamando pelo pai que eu acabara de matar.
As imagens eram tão reais que eu comecei a chorar e não conseguia controlar os tremores do meu corpo.
- , você está bem? – perguntou ao meu lado – Você está meio verde, dude!
- Quer que a gente chame um médico? – perguntou desesperado colocando a mão na minha testa e depois no meu pescoço – Você está gelado! Está sentindo alguma coisa, dude? Fala comigo!
- , chama uma enfermeira – falou e eu segurei o braço dele – Rápido, porra!
saiu correndo igual a um maluco. e o detetive Taylor se tornaram um borrão na minha frente e eu tentava lutar com todas as minhas forças para resistir e não desmaiar.
- Não... Estou... Me... Sentindo... Bem... – falei, sentindo minha língua dormente dentro da boca e imediatamente a sensação de fraqueza se tornou insuportável. Depois disso, eu não vi mais nada.


Capítulo 35

“Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis.”

`s Pov

Deixei conversando com o tal detetive e fui falar com a na enfermaria. Estava me sentindo, de certa forma, aliviado por não precisar esconder mais nada do meu amigo. Aquela situação estava me sufocando de tal maneira que eu não sabia mais por quanto tempo iria agüentar.
Entrei na enfermaria e a estava de olhos fechados. Dude, ela estava grávida! Tremi só de pensar qual seria a reação dela quando soubesse, mas tinha prometido ao meu amigo que ele seria o portador da notícia. Rezava para que fosse o pai e não aquele filho da puta do James, mas nada que um exame de DNA não pudesse resolver essa dúvida.
Cheguei perto da cama e fiquei olhando para ela, que parecia dormir.
- ? É você? – ela falou ainda com os olhos fechados. Peguei sua mão e beijei.
- Como você sabia que era eu? – perguntei sorrindo.
- Conheço seu perfume de longe – ela disse abrindo os olhos e me dando um sorriso lindo.
- Como você está? – perguntei com lágrimas nos olhos – O braço está doendo muito?
- Agora, estou bem... – ela sorriu e ficou fazendo carinho na minha mão com seu polegar – Você e o fizeram as pazes?
- Mas a gente nem brigou! – menti – Nós só discutimos, mas agora está tudo bem. Fica tranqüila, tá?
- Onde ele está? – perguntou olhando para a porta – Ele foi fazer os curativos no rosto? Ele estava tão machucado...
começou a chorar e eu apertei sua mão, tentando acalmá-la.
- Ele está bem, . Está lá fora conversando com um detetive da polícia para contar o que aconteceu no apartamento...
- E você acha que ele pode ser preso? – ficou pálida de repente.
- Não, ... Se acalma – falei sorrindo – Ele não pode ser acusado de nada. Foi legítima defesa e ele só está respondendo algumas perguntas para a polícia... Só isso.
- Ah... ... Foi tudo tão horrível. Você não imagina as coisas terríveis que o James falou e fez com o ... - ela chorava muito agora – Ele o humilhou tanto e eu não pude fazer nada... Coitado do ...
- Ele vai ficar bem. Se você ficar com ele, ele vai superar tudo e voltar a ser feliz, ! – falei beijando sua mão – Eu tenho certeza que agora vocês serão felizes de verdade e sem ninguém para atrapalhar.
- Eu sei, . É o que mais quero agora – ela falou sorrindo e depois fechou os olhos, dando um suspiro – Eu amo tanto o que chega a doer dentro do peito, . Acho que nunca vou poder esquecer o que aconteceu dentro daquele quarto...
Senti uma fisgada no peito imaginando tudo que meu amigo devia ter passado, indefeso, diante daquele escroto do James. Coitado do meu amigo, puta merda!
- Mas agora você só precisa pensar em como será a vida de vocês... – me calei antes de deixar escapar alguma coisa sobre a gravidez.
fechou os olhos e sorriu.
De repente, ouvimos uma gritaria do lado de fora e eu corri para ver o que era.
- , o que está acontecendo? – ela perguntou, sentando na cama.
Não consegui falar. estava sendo socorrido por médicos e enfermeiros. Como eu ia falar isso para ela?
- Acho que alguém passou mal – falei, me controlando ao máximo – Espera aqui que eu vou ver o que é, ok?
Ela assentiu e eu saí da enfermaria tomando todo o cuidado de fechar a porta. A última coisa que a precisava era ver o passando mal. Ela se sentiria mais culpada ainda.
- O que aconteceu? – perguntei para , que estava com as mãos na cabeça, olhando a cena desesperado. chorava copiosamente e só balançava a cabeça negativamente.
- Eu não sei, dude! Ele estava falando com o detetive e de repente começou a tremer e falar umas coisas sem nexo – falava olhando para mim, gesticulando exageradamente – Depois eu mandei o chamar um médico e aí ele desmaiou.
Deitaram numa maca e estavam prestes a levá-lo para a mesma enfermaria que a , quando eu segurei o braço do médico.
- Por favor... Atendam ele em outro lugar – falei quase sufocando – A namorada dele está ali e está grávida. Não seria bom para ela ver o namorado desse jeito. Por favor?
- Claro, meu rapaz... Você tem toda razão. – o médico falou alguma coisa com os enfermeiros e eles foram na direção contrária à enfermaria comigo na cola.
- Obrigado, doutor. Mas o que ele teve? – perguntei preocupado, olhando meu amigo deitado inconsciente na maca.
- Acho que ele teve uma queda de pressão muito forte e todo esse estresse contribuiu para que o organismo dele reagisse dessa forma, mas acho que não é nada grave – o médico me tranqüilizou – Vamos colocá-lo no soro e dar a medicação indicada. Daqui a algumas horas ele estará bem.
- Estaremos ali na sala de espera. Mais uma vez, obrigado por tudo. – apertei a mão do médico e acompanhei com o olhar ser levado por um corredor.
Coloquei minha cabeça entre as mãos, pensando em tudo que meu amigo estava passando e tentando entender o que ele tinha feito para merecer todo esse sofrimento.
- Não contou pra , né? – falou do meu lado, me fazendo dar um pulo de susto.
- Claro que não, porra! – falei e passei as mãos pelos cabelos – Tenho que voltar lá pra a enfermaria onde ela está... Se eu não voltar, ela vai desconfiar que tem alguma coisa errada.
- Fala pra ela que o teve que ir até a delegacia... Assim vai explicar o fato de ele não entrar mais no quarto para vê-la – deu a idéia do século e eu assenti.
- Ótima idéia, dude! Fiquem aqui e qualquer notícia do , me mandem uma mensagem pelo celular – falei olhando para os dois – Vou ficar com a .
- Pode deixar... Mas o que o médico falou do ? – perguntou chorando.
- Fica tranqüilo, ! O médico disse que ele teve uma queda de pressão e que está muito estressado... Também não é pra menos, depois de tudo que ele passou – balancei a cabeça pesaroso – Fico aliviado pensando que tudo finalmente acabou... Porra, coitado do !
Eles concordaram comigo e eu segui para onde a estava. Ela me aguardava, inquieta, querendo saber o que tinha acontecido.
- O que aconteceu, ? – ela perguntou aflita.
- Acho que um senhor passou mal e teve que ser internado – falei despreocupadamente – Coitado...
- E onde está o ? – ela quis saber e eu fingi que estava tudo bem.
- Ah... Ele teve que ir até a delegacia assinar uma papelada sobre a morte do James. – vi que ela estremeceu quando falei o nome do filho da puta – Mas pediu para te avisar que se não der tempo dele chegar até que você tenha alta, eu posso te levar para casa e esperaremos por ele lá.
- Ah... Que pena... – ela falou triste – Mas estou preocupada... Será que vão prender o ?
- Não tem perigo nenhum de que isso aconteça... Fica tranqüila que eu já falei com aquele meu amigo que é da polícia e ele vai acompanhá-lo – menti descaradamente.
- Bom, então agora é só esperarmos – ela deu um sorriso – Não vejo a hora de irmos para casa. Finalmente poderemos ser felizes!
- É tudo que o mais quer e precisa no momento, ! – falei com lágrimas nos olhos, rezando para que meu amigo ficasse bem e que tudo não tivesse passado apenas de um susto.

Capítulo 36

“Amar outro ser humano é talvez a tarefa mais difícil que a nós foi confiada, a tarefa definitiva, a prova final; a obra para a qual todas as outras não passam de mera preparação."

Onde eu estava? Que lugar estranho era esse? Quem eram essas pessoas que passavam por mim como se não me vissem?
Eu andava descalço por um campo muito verde e cheio de árvores e flores de diversas cores. Pessoas vestidas de branco passavam por mim muito animadas, sorrindo e conversando umas com as outras. Notei que eu também estava de branco e que me sentia extremamente bem e relaxado, mesmo que ninguém visse que eu também estava ali. Acenei para um grupo, mesmo sem conhecer ninguém, mas nenhuma das pessoas pareceu me notar. Afinal, onde eu estava?
- Que surpresa encontrar você por aqui! – um homem de aproximadamente 40 anos falou do meu lado, me dando um baita susto – Mas não era para você estar aqui, !
- Como sabe meu nome? – me afastei dele, com medo – E por que ninguém consegue me ver? Onde eu estou? Que lugar estranho é esse?
- Já respondi sua pergunta, – ele sorriu amigavelmente – Não era para você estar aqui. Por isso ninguém consegue te ver. E eu sei o seu nome porque te conheço há muito tempo.
- Você consegue me ver... – falei olhando em volta – Por que? Que lugar é esse? Que história é essa que você me conhece? Eu nunca te vi na vida!
O homem sorriu e balançou a cabeça.
- Você não se lembra de mim, mas nos conhecemos. Meu nome é John. – ele falou indicando que era para que andássemos – Não se preocupe, um dia você vai lembrar.
Imediatamente, lembrei da e entrei em pânico. Parei de andar e o tal John se virou para mim com um sorriso no rosto.
- Onde está a ? – perguntei olhando em volta, procurando-a – Onde ela está? - Ela está te esperando, . – John falou colocando as mãos nos meus ombros – E é por isso que você não pode ficar aqui.
Só nesse momento notei que eu estava em pé, andando normalmente e ri abertamente.
- Eu posso andar... – falei olhando para meus pés descalços, mexendo meus dedos – Que lugar é esse? Eu não quero ir embora... Eu quero a aqui comigo...
- Ainda não, – ele disse me encarando e depois ficou sério – Você deve voltar agora... É lá que você tem que ficar, com a e criar o filho de vocês.
Como esse cara sabia que a estava grávida? O filho era meu?
- Você sabe que não foi certo matá-lo, não sabe? – John colocou as duas mãos para trás das costas – Não era isso que você disse que faria quando decidiu voltar...
- Quem é você? Como sabe tanto da minha vida? – perguntei espantado por ele saber dessas coisas que tinham acontecido há tão pouco tempo.
- Em vidas passadas vocês já foram irmãos, ... Você e o James – John parou em frente um lago e sentou-se – Vocês viraram inimigos ao longo os anos e acabaram se odiando mais ainda quando se apaixonaram pela mesma mulher.
- A ... – falei quando vagas lembranças vieram em minha mente.
- Até vocês conseguirem resolver toda essa situação, voltarão a se encontrar em cada vida. – ele falou e jogou uma pedrinha no lago.
Fiquei olhando aquele lago imenso e azul, pensando no que ele havia me falado. Eu tinha alguns conhecimentos sobre vida após a morte e imediatamente percebi o que era aquele lugar, mas não fiquei com medo.
- É tudo muito estranho... – sentei ao lado dele – Onde James está agora?
- Ele não está num lugar muito bom agora. – John soltou um suspiro – Mas em breve ele estará aqui conosco novamente.
- O filho que ela está esperando é meu? – perguntei num impulso.
- Isso faria alguma diferença para você? – ele me olhou e sorriu – Você amaria menos essa criança se não fosse sua? Você amaria menos a mulher que o está gerando?
Pensei por alguns instantes e percebi que eu amaria qualquer criança que viesse da .
- Não... Não faria diferença. – falei abraçando minhas pernas e apoiando o queixo em meus joelhos – Eu a amaria de qualquer jeito. Tem razão.
- , agora você precisa ir – John se levantou e me estendeu a mão – Ainda não está na hora de você vir para cá...
- Mas eu não quero ir embora... – falei me sentindo feliz por estar ali conversando com ele. Parecia que meu corpo todo fluía em energia e alegria. Eu não queria sair dali.
- , você tem que ir agora. – ele falou mais uma vez e eu suspirei resignado – A está te esperando e precisa muito de você. Ela precisa do seu amor.
O simples nome dela me fez levantar no mesmo instante e eu sorri olhando para aquele homem que me parecia familiar agora.
- Está bem... O que eu devo fazer? – perguntei me sentindo extremamente feliz – Como faço para voltar?
- Somente feche os olhos e deseje voltar. – John colocou as mãos nos meus ombros novamente – Mesmo sendo errado, foi muito bom poder te ver, .
John me abraçou, eu desejei com todas as minhas forças estar ao lado da mulher que eu amava.
Quando abri meus olhos novamente, ainda podia sentir o calor do abraço de John e sua energia, mas ele não estava mais comigo. Eu estava agora deitado e já não me sentia tão bem assim.
- Está melhor, Sr. ? – uma voz feminina perguntou e eu voltei meu olhara para a enfermeira parada ao meu lado – Que bom que o senhor acordou.
- Onde eu estou? – perguntei meio confuso ainda – Onde está a ?
- O senhor teve uma queda de pressão muito forte, mas já está tudo bem. – ela respondeu de forma muito calma – E a sua namorada terá alta daqui a pouco. Quer que avise seus amigos que o senhor acordou?
Entrei em pânico de pensar na preocupada comigo e assenti para a enfermeira.
- Vou chamá-los agora mesmo. – ela disse e saiu do que parecia ser um quarto.
Notei que eu estava com uma agulha enfiada no braço e não vi minha cadeira em lugar nenhum. Entrei em pânico. Tirei a agulha do meu braço e recostei na cama, olhando para a porta apreensivo. Depois de tudo que tinha acontecido, eu nunca mais ia deixar minha cadeira longe de mim. Ao mesmo tempo, percebi que estava sentindo minhas pernas e que talvez não fosse precisar mais de uma cadeira de rodas para me locomover. Sorri abertamente com esse pensamento e relaxei um pouco.
Lembrei de tudo que tinha acabado de acontecer e pensei que talvez pudesse ser um sonho enquanto eu estava desacordado. Talvez não. E principalmente lembrei que John havia me dito sobre vidas passadas e sorri pensando que eu não tinha ficado maluco quando achei que já conhecia a minha pequena de algum lugar... E o James também.
- ! – entrou no quarto e praticamente se jogou em cima de mim – Como você está, dude? Eu quase morri!
- Estou bem. – falei sorrindo com o jeito de gay do – Se acalma, por favor!
- , seu filho da puta! Quase matou a gente se susto! – falou sorrindo e me dando um tapa de leve na cabeça.
- Onde está o ? – perguntei, querendo saber da .
- Ele está com a . – falou fungando – Ele ficou o tempo todo com ela.
- Ela sabe que eu passei mal? – perguntei aflito.
- Não. falou pra ela que você tinha ido até a delegacia assinar alguns papéis sobre a morte do James – falou e eu suspirei aliviado.
- Melhor assim... – falei e vi nesse instante entrar no quarto.
- Porra, ! Você quer me matar, dude? – falou sorrindo e me dando um abraço.
- Como ela está? Ela não sabe de nada, né? – perguntei, tentando sentar na cama.
- Não, claro que não. Eu falei que você tinha ido na delegacia e ela acreditou. – falou e sentou na cadeira ao lado da cama – Mas ela ficou muito aflita pensando que eles poderiam te prender.
- Eu preciso vê-la, . – falei angustiado.
- Ela vai ter alta daqui a pouco, dude. – falou olhando em volta, certamente procurando por minha cadeira – Vou chamar alguém, espera aí.
saiu do quarto e eu fechei os olhos, passando a mão pelo rosto.
- Vai acabar tudo bem... – falou ao meu lado sorrindo – Eu tenho certeza disso.
- Obrigado, ! – falei colocando a mão no ombro dele – Eu não vejo a hora de levar a minha pequena para casa.
entrou no quarto empurrando minha cadeira e me sentei na cama.
- Pega a minha camisa, ? – apontei para a poltrona perto da janela onde minha camisa estava dobrada.
jogou a roupa na minha direção e eu a peguei no ar. Tirei aquele avental azul do hospital e coloquei minha camisa, me ajeitando para sentar na cadeira que já havia colocado ao lado da cama.
Quando saímos do quarto, as meninas vieram na nossa direção. , e quase se jogaram em cima de mim, perguntando todas ao mesmo tempo se eu estava bem, se a estava bem, o que tinha acontecido, quase me deixando zonzo.
- Calma, meninas! – falou e elas ficaram quietas – Já está tudo bem, a vai ter alta daqui a pouco, o está ótimo e tudo que aconteceu depois a gente conta.
- ! Nós ficamos tão preocupadas com vocês! – falou me abraçando novamente. – Sinto muito pelo que aconteceu...
- Agora está tudo bem, – falei, tranqüilizando-a – mas foi realmente uma barra.
- Onde está a ? – perguntou aflita.
- Estamos indo pra lá agora, amorzinho. – falou abraçando a namorada.
Cada uma abraçou seu namorado e fomos para a enfermaria onde a estava.
Estranhamos a correria no corredor e imediatamente eu senti um frio percorrer minha espinha.
- ... – falei olhando para eles, que me olhavam espantados.
Imediatamente correu até a enfermaria e voltou branco igual a um papel.
- Pelo amor de Deus, o que houve ? – perguntei angustiado, quase gritando.
- A ... – ele disse se aproximando de mim com os olhos arregalados.
- O que tem ela? – não sei quem perguntou, pois não consegui abrir a boca, olhando para a expressão de horror de meu amigo.
- Ela está perdendo o bebê...


Capítulo 37

“Amar é uma mistura de alegria e medo; de paz por um lado e ameaça de guerra pelo outro. É pensar que a felicidade tem nome e endereço. É temer não estar à altura. É sofrer tanto quanto querer”

Senti a fisgada em minhas costas quase no mesmo momento em que ouvi que ela estava perdendo o bebê. Devo ter entrado em estado de choque, porque não conseguia falar nada nem me mexer. Eles falavam ao mesmo tempo e eu fiquei ali, sentado, olhando para o nada. Por algum motivo eu não conseguia entender direito o que estava acontecendo, mas quando o médico saiu de dentro da enfermaria e eu vi que seu jaleco branco estava manchado de sangue, as lágrimas vieram sem que eu percebesse.
- Não pode ser... Meu Deus! – Falei cobrindo meu rosto com as mãos, desesperado. O que mais faltava acontecer?
- Fica calmo, dude... Vai dar tudo certo. – Ouvi alguém falar perto de mim e apertar meu ombro enquanto o médico se aproximava de nós lentamente.
Por mais que eu tentasse ou quisesse ter esperanças, diante de tudo que tinha acontecido, eu não conseguia mais pensar que tudo daria certo... Que um dia aquilo tudo ia acabar e nós voltaríamos a ser felizes. Eu não tinha mais forças para lutar.
Olhei para meus amigos e eles choravam também. O médico agora estava parado em minha frente e eu fechei os olhos, desejando estar em outro lugar.
- O que aconteceu, doutor? Ela está bem? O bebê está bem? – A voz de ecoava nos meus ouvidos me fazendo abrir os olhos e vi que o médico me encarava com uma expressão aflita. Ele esperou um pouco antes de falar e deu um longo suspiro seguido de um pigarro, passando a mão pelo rosto.
- Como todos sabem, ela sofreu muitas contusões e o organismo dela está fraco... – Ele começou sem desviar seus olhos de mim. – Pelo exame de sangue, constatei que ela está desnutrida e anêmica também. A situação dela se complicou por conta desse histórico e...
Ele falava, mas eu não queria ouvir. Eu era covarde demais para saber o estado real dela, o que James foi capaz de fazer, todas as humilhações, torturas físicas e psicológicas pelas quais ela havia passado... Mas eu precisava.
- Meu Deus! – tapou a boca com a mão, ainda chorando. – Mas como ela está agora? Podemos vê-la?
Olhei para o médico que provavelmente deve ter achado que eu era idiota, pois não consegui fazer uma única pergunta sequer até aquele momento.
- Ela teve uma hemorragia muito forte, mas conseguimos conter e agora ela terá que ficar em observação – ele disse ignorando a pergunta do e me olhou novamente – Mas felizmente conseguimos salvar o bebê.
A alegria me invadiu e eu fechei novamente os olhos, agradecendo por ela ainda estar carregando nosso filho. Mas a minha alegria durou pouco.
- Mas quero que entendam que o risco ainda é muito grande e se ela conseguir manter o bebê, será uma gravidez de alto risco. Tanto para ela quanto para a criança.
- Posso vê-la? – consegui perguntar e notei que minha voz estava muito rouca.
- Ela está sedada, mas se o senhor quiser, posso deixá-lo entrar por alguns minutos. – o médico concordou e chamou uma enfermeira, falou alguma coisa e ela assentiu. – Por favor, acompanhe o Sr. .
Todos me deram tapinhas no ombro enquanto eu passava por eles.
- Eu vou ficar rezando aqui por ela. – falou, pegando pela mão e sentaram-se no pequeno sofá da sala de espera.
Todos fizeram o mesmo e somente ficou na minha frente, me olhando com lágrimas nos olhos.
- ... Eu tenho certeza que um dia a gente vai lembrar disso tudo e nesse dia nós estaremos felizes, com nossos filhos e nossas mulheres. – Ele falou passando a mão no rosto para enxugar as lágrimas. – Ela vai sair dessa... Eu tenho certeza, dude.
Eu fiquei tão emocionado com as palavras dele que não consegui dizer nada e fui em direção à enfermeira que já me aguardava.
Entrei na mesma enfermaria que eu havia entrado antes, mas agora ela não sorriria para mim...
Me aproximei da cama e a enfermeira nos deixou à sós, falando baixinho que eu só poderia ficar alguns minutos. Assenti e segurei a mão dela. Estava fria e parecia sem vida. E agora? Lembrei das palavras do médico dizendo que ela correria risco de vida caso conseguisse manter a gravidez.
E nessa hora eu desabei. Chorei copiosamente por tudo. Por ela, por mim, por nosso filho, por James, pelo acidente que havia me deixado naquela cadeira e principalmente por tudo que ela havia passado naqueles últimos meses sem que eu pudesse fazer nada.
- ... Acorda pra gente ir pra casa... Eu te amo tanto... Eu não posso te perder de novo... – falei entre os soluços que saíam da minha garganta.
Mais uma vez senti a fisgada em minhas costas e tentei me controlar. Fiz uma careta de dor tentei me ajeitar na cadeira, sem sucesso. Eu estava travado e se não tomasse algum remédio logo não agüentaria ficar sentado por muito tempo.
Nessa hora lembrei de John e pedi que nos ajudasse de alguma forma. Fechei os olhos e segurei a mão de , fazendo uma prece.
Imediatamente ouvi a voz de John bem longe e senti uma onda de paz me invadir.
- Confia, ! – John dizia e eu sentia o sorriso em sua voz – Confia!
Abri os olhos e olhei para ela, tentando me sentir um pouco mais confiante, mas no íntimo ainda sabia que isso seria impossível.
- Nós vamos sair dessa. – falei, lembrando das palavras de . – Nós vamos ser felizes, meu amor. Mas você precisa acordar logo pra gente poder ir embora daqui... Eu te amo tanto, ...
Senti alguém tocar em meu ombro e vi que era a enfermeira.
- Vamos deixá-la descansar agora. – ela disse sorrindo para mim – Mais tarde o senhor fica mais um pouco com ela.
Eu não queria sair dali, mas não tinha outro jeito. Eu também precisava tomar algum remédio, senão não ia agüentar. me esperava na porta quando saí e passou as mãos pelos cabelos.
- Dude, isso tudo parece um pesadelo! – ele falou enquanto eu passava por ele sem dizer nada. Eu estava tão deprimido que não conseguia nem falar, mas a dor me atacou mais uma vez e eu senti meus braços ficarem dormentes. Fechei os olhos e fiz uma careta que chamou a atenção do .
- O que foi, ? – ele perguntou vendo a minha expressão.
- Dude, arranja um comprimido pra dor, senão eu não vou agüentar. – falei sem abrir os olhos, tentando respirar calmamente. Senti que não conseguiria empurrar nem minha cadeira e fechei os olhos. Fazia tempo que eu não sentia uma dor tão forte. A sensação era a de que enfiavam facas em brasa nas minhas costas. Em determinado momento, até respirar doía e eu senti que tinha chegado no meu limite. Em outros tempos isso era um verdadeiro bálsamo para mim, mas agora...
- Vou chamar o pra ficar com você enquanto eu acho um médico. – ele disse e saiu. Em menos de dez segundos, senti a mão do no meu ombro e abri os olhos, mas não consegui levantar a cabeça para olhá-lo. Meu pescoço estava travado.
- Vamos, – ele foi para trás da cadeira e foi na direção onde todos estavam.
- Não quero ir pra lá, . – consegui dizer – Eu tô com muita dor... Eu preciso de algum remédio... Por favor...
- Tudo bem. – ele deu meia volta e fomos na direção oposta – Vamos procurar o .
Avistei o conversando com o médico que havia atendido a e assim que ele me viu, acenou para que fôssemos ao encontro dele.
O médico, vendo meu estado, imediatamente receitou uma injeção de algum remédio que eu não lembro agora e me levou para o ambulatório.
- , eu entendo a sua situação. – o médico sentou na minha frente enquanto um enfermeiro tentava achar minha veia. – Mas diante do seu estado, eu o aconselharia descansar um pouco.
- Eu sei, doutor. – Assenti enquanto a dor me atacava novamente e apertei os olhos com força. – Mas... Eu preciso ficar com ela...
- Olha, meu rapaz, ela está em boas mãos, e se houver qualquer mudança no quadro dela, eu mesmo ligo para você. – Ele disse me olhando com pesar. – Vá para casa, tome um banho, durma um pouco e volte amanhã. Quando ela acordar, vai precisar de você.
O médico tinha razão. Quando ela acordasse, eu tinha que estar bem, ou pelo menos parecer bem aos olhos dela. Não podia estar do jeito que eu estava agora, sem conseguir nem me mexer direito. A última coisa que eu queria era que ela se preocupasse comigo. - Acho que o senhor tem razão. – falei fechando os olhos, sentindo o agradável alívio do remédio em minha corrente sanguínea. – Quando ela acordar eu preciso estar bem.
- Eu prometo que qualquer alteração no quadro dela, ligo para você. – ele se levantou e tocou em meu ombro – Assim que terminar de tomar o remédio, quero que vá para casa e procure descansar, está bem?
- Tudo bem, doutor. Eu vou, mas quero que me prometa que se ela acordar, o senhor vai me ligar. – Falei sério, olhando para ele.
- Prometo! – Ele sorriu de forma simpática e saiu do ambulatório.
Fomos embora do hospital e eu fui no carro do e da . , e as meninas foram até o estúdio e combinaram de passar no hospital no dia seguinte. Todos me abraçaram, disseram palavras confortantes e saíram com uma expressão desolada.



- , você não acha melhor dormir lá em casa hoje? – virou para falar comigo quando estávamos quase chegando no meu prédio. – Não é uma boa você ficar naquele apartamento sozinho, dude.
- Eu também acho, . – falou segurando meu braço – Não quero você sozinho lá.
- Eu quero ir pra minha casa. – falei baixo, fechando os olhos, sentindo o cansaço tomar conta de mim. – Lá tem tudo preparado pra mim, entende... Eu posso me virar sozinho.
- Mas, ... – falou aflita. – Você não está legal pra ficar sozinho... Vamos lá pra casa do ... Por favor?
- Eu agradeço por tudo, mas preciso ficar sozinho hoje. Aconteceu muita coisa e eu preciso pensar. – falei encerrando o assunto.
Eles não tiveram outra alternativa e me deixaram em casa, mas me fizeram prometer mais de mil vezes que se qualquer coisa acontecesse, eu ligaria imediatamente e eles viriam me buscar.
me ajudou a sair do carro e insistiu para subir comigo.
- Não precisa, dude. Vai descansar também. – falei e ele me olhou desolado – Não se preocupe. Minha dor já passou e eu estou bem. Só estou um pouco cansado.
Quem eu estava tentando enganar? A mim mesmo? Eu não estava bem porra nenhuma! Minha mulher estava no hospital! Minhas dores estavam voltando e minha sensibilidade havia sumido. PORRA!
- Dude, eu mandei consertar a porta. – falou de dentro do carro e eu me aproximei para pegar a nova chave. – Fiquei com medo de alguém entrar e roubar as suas coisas.
- Valeu, . – agradeci e me afastei. - Qualquer coisa liga, ! – gritou e eu acenei para eles.
Eu estava muito, mas muito cansado. Mesmo assim, quando cheguei na porta do meu apartamento, senti vontade de ir embora. Me arrependi um pouco de não ter deixado subir comigo. Notei que na porta ainda havia partes da fita amarela da polícia e senti um mal estar. Eu tinha matado uma pessoa ali... Enfiei a chave e a porta deu um estalo. Estava um pouco empenada e eu entrei. Estava tudo escuro e silencioso. Acendi a luz e tranquei a porta por dentro.
Levei um susto quando meu celular tocou. Era minha mãe.
- ? – ouvi a voz de minha mãe e sorri – Já estava dormindo meu amor?
- Não, mãe. – respondi ainda sorrindo, tentando disfarçar a tensão na minha voz - Tá tudo bem aí?
- Está tudo maravilhoso, e com você? Você está bem? Sua voz está estranha... – minha mãe era foda. Ela sabia que tinha alguma coisa errada.
- Tudo bem também – menti. Não queria preocupá-la. Ela estava praticamente em lua-de-mel com o namorado e eu não queria estragar isso. Ela já tinha sofrido muito por minha causa.
- Eu tive um sonho horrível com você, meu filho. – sua voz agora estava aflita – Tem certeza que está tudo bem mesmo?
- Claro que tenho, mãe. – sorri ao falar – Não quero que se preocupe com nada, ouviu? Aproveite suas férias! Você merece!
- Não sei, ... Coração de mãe não se engana... Eu te conheço e sua voz está estranha, filho – ela falou preocupada.
- Mãe, eu estou bem. Fica tranqüila. – falei e bocejei alto, indicando que estava com sono.
- Vou deixar você dormir, mas semana que vem eu estou de volta e a gente vai conversar, ok? – ela falou sorrindo e eu ouvi a voz de Charlie, o namorado dela, a chamando.
- Vai lá, mãe. Depois a gente se fala. – falei e ela ficou uns segundos em silêncio, como se estivesse pensando ou esperando que dissesse mais alguma coisa.
- Tá bom, filho! – ela suspirou – Mas me promete uma coisa?
- Mãe... – falei bufando.
- Promete que vai se cuidar... , o pesadelo foi horrível! – ela falou baixo.
- Prometo que vou me cuidar e além do mais você sabe que o está sempre do meu lado... - Eu te amo, ! – ela falou e sua voz estava embargada – Se cuida, filho!
- Também te amo, mãe... – falei com um nó na garganta. Eu queria que ela estivesse aqui agora, mas não seria egoísta a ponto de pedir que ela voltasse.
Desliguei o celular e fiquei imaginando o que minha mãe diria quando descobrisse que seria avó. Mas esse pensamento logo me levou a outro.
...
Eu não conseguia ter um pensamento coerente a não ser o fato de que eu poderia perdê-la... Para sempre.
Coloquei as mãos no rosto e novamente chorei. De repente entrei num estado de desespero tão grande que eu não conseguia parar de tremer. Imediatamente lembrei dos meus comprimidos que estavam na mesinha ao lado da cama. Só eles me fariam dormir. Além do mais, eu precisava entrar no quarto e não adiantava fugir. Eu precisava descansar e dormir, nem que fosse só por algumas horas
. - Vamos, ! – falei para mim mesmo – Entra naquele quarto e acaba logo com isso!
Lentamente fui em direção ao meu quarto e abri a porta. Acendi a luz e tive uma surpresa. Não havia mais nenhuma marca de sangue no chão. A cama estava arrumada e os lençóis trocados. Nem parecia que tinha acontecido tudo aquilo ali.
Só tinha uma pessoa que poderia ter pensado em limpar tudo, e essa pessoa era a . Provavelmente enquanto cuidava da porta, ela arrumou tudo, limpou e trocou os lençóis. O quarto tinha um cheiro suave de sândalo e em nada parecia com a cena de terror que eu tinha vivido.
Fui direto para a mesinha ao lado da cama e meus comprimidos estavam lá na gaveta. Coloquei o frasco no meu colo e entrei no banheiro.
Depois que liguei o chuveiro e tirei a roupa, me senti extremamente dolorido e me olhei no espelho. Dude, não tenho palavras para expressar o meu espanto quando vi meu reflexo. Meu olho esquerdo estava muito inchado e eu tinha cortes na boca, na testa e no queixo. Meu ombro estava roxo e meu peito tinha um corte que, apesar de grande, era superficial, provavelmente de quando caí em cima do copo quebrado enquanto lutava com James. Levantei os braços e vi as marcas roxas, quase pretas, em quase toda a extensão que ia do pulso até as axilas. Olhei novamente meu rosto e meus olhos estavam tristes, minha expressão desolada, mas não poderia ser diferente.
Peguei o copo na pia e o enchi, sem me preocupar de pensar que talvez não fosse seguro eu tomar aqueles comprimidos depois do remédio que eu havia tomado no hospital. Peguei dois comprimidos e em seguida os coloquei na boca, bebendo o copo inteiro de água.
Quando terminei o banho, voltei para o quarto e peguei umas fotos que estavam há muito tempo guardadas numa gaveta dentro do meu armário. Eram as mesmas fotos que eu sempre via quando estava deprimido ou quando a falta dela se tornava insuportável. Deitei na cama e as lágrimas vieram mais uma vez. A cada foto que eu via, uma lembrança boa passava pela minha cabeça e eu chorava mais ainda. Dentro de mim só havia uma única pergunta... Por quê? Por que eu não podia ser feliz ao lado da mulher que eu amava? Será que sempre aconteceria alguma coisa para nos separar?
Eu nunca fui um cara do mal, eu sempre cumpri com as minhas obrigações desde menino, eu sempre ajudei minha mãe, meus amigos e quem mais precisasse... Por quê estava acontecendo tanta coisa ruim na minha vida? Não havia explicação para tudo isso e eu não conseguia mais ter esperanças ou forças para lutar. Eu estava literalmente no meu limite máximo e temia que o pior acontecesse. O que eu faria nesse caso?
Senti minhas costas realmente pararem de doer pela primeira vez e suspirei. Fiquei olhando durante muito tempo para minhas pernas esticadas na cama e pensei que tudo poderia ter sido diferente. Mas não era.


Capítulo 38

"Não importa o quanto essa nossa vida nos obriga a ser sérios... Todos nós procuramos alguém para sonhar... Amar... E tudo o que precisamos, é de uma mão para segurar, e um coração para nos entender."

's POV


O que acontece quando uma pessoa morre? Será que ela vê uma luz? Alguém a puxa para cima? Ouve alguém chamando seu nome?
Eu andava sem rumo por um lugar que nunca tinha estado antes e que parecia não ter fim. Era um caminho, parecia uma estrada de terra, com muitas árvores e eu podia ouvir os pássaros ao longe. Era realmente uma paisagem incrível, mas nem tive tempo de olhar direito, pois quando dei por mim, tudo virou noite de repente e o vento era tão forte que eu procurei o abrigo de uma árvore. Os pássaros haviam sumido e vi que alguém se aproximava devagar, vindo diretamente na minha direção.
Eu não conseguia identificar quem era e pensei em .
- ? – falei, tremendo um pouco – ? É você, amor?
A pessoa não respondeu, mas deu uma gargalhada muito alta, que eu reconheci na hora.
Não era . Era James.
Comecei a correr o mais rápido que conseguia. De vez em quando, tropeçava em alguma coisa e caía. Eu olhava constantemente para trás e via que James se aproximava cada vez mais de mim, não importando o quanto eu corresse. Até que alcancei uma casa que parecia abandonada e entrei, fechando a porta com força, procurando em volta alguma coisa que pudesse colocar para impedir a entrada dele. A casa estava vazia, então eu me escondi em um armário que havia embaixo da pia da cozinha.
Ouvi o chute na porta e ele entrou, deixando o vento levantar as folhas espalhadas pelo chão da sala.
- Onde você está, ? – ele perguntou e eu fechei os olhos, rezando para que ele fosse embora – Eu sei que você está aí!
De repente, ouvi a voz de , dizendo que me amava e que logo iríamos para casa. Mas onde estava ele?
- ... – ouvi alguém bem perto do meu ouvido – Não se preocupe. Eu vou levar o James embora, mas agora você deve acordar e ficar com . Ele precisa de você...
Procurei em volta, mas não havia ninguém e eu me encolhi no escuro, ainda embaixo da pia e perdi a consciência.
Abri os olhos e estava deitada num lugar estranho, mas aos poucos fui lembrando que era o hospital que havia me trazido. Eu apenas havia tido um pesadelo, mas agora ia ficar tudo bem. E ele estava ali, ao meu lado. Seus olhos estavam fechados e sua mão estava entrelaçada a minha. Não me mexi e percebi que ele estava dormindo, sentado ao lado da minha cama.
Imediatamente lembrei que estava grávida. Este pensamento me fez tremer, o que acordou .
- ... Tudo bem, amor? – ele se ajeitou na cadeira e se curvou em minha direção, beijando minha mão – Está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame o médico?
- Não... – falei sorrindo para ele e imaginando se ele já sabia da gravidez.
Ele me olhava em adoração e eu me senti pior com isso. Eu provavelmente estava grávida de outro homem e ele ainda estava ali, me chamando de amor.
- Eu fiquei tão preocupado com você... – ele disse e vi que seus olhos estavam cheios de lágrimas – Cheguei a pensar que ia te perder... Mais uma vez.
- Você nunca me perdeu... – coloquei a mão em seu peito – Aqui... Você nunca me perdeu. Eu sempre estive aqui.
- Eu sei... – ele disse e sorriu chorando para mim – Eu te amo tanto.
Olhei instintivamente para a minha barriga e ele lentamente colocou a mão sobre ela.
- ... Eu não... – falei sem conseguir terminar a frase.
- Nós não perdemos o nosso filho – ele disse sorrindo abertamente e vi que seus olhos brilhavam – Ele ainda está aí.
- Mas, ! E se o filho for do Jam...
- Preste atenção no que vou dizer. – ele me interrompeu, colocando os dedos sobre meus lábios – Este filho não é dele. É meu.
Olhei para ele sem entender e vi mais uma vez seu sorriso. Será que haviam feito algum exame e sabia que o filho era dele? Fiquei confusa.
- Seu? Tem certeza? – perguntei sorrindo também.
- Absoluta! – ele disse com um sorriso maior que o rosto.
- Mas fizeram algum exame? – eu ainda não estava convencida.
- Claro! – ele respondeu tocando em meus cabelos me olhando tão apaixonadamente que eu fiquei sem ar – O exame disse que eu sou o pai.
Me senti aliviada agora que sabia que o filho que esperava não era do James, e sim de . Eu finalmente estava livre para ser feliz.




Tive alta do hospital duas semanas depois. O médico recomendou repouso absoluto por, no mínimo, um mês, para que eu me recuperasse de tudo.
A mãe de ficou muito feliz quando soube da notícia que seria avó e imediatamente se prontificou a ir todos os dias a nossa casa para me fazer companhia enquanto ele estivesse no estúdio. Ela era uma pessoa extremamente agradável. Eu gostava muito dela.
Naturalmente, me enchia o tempo todo de cuidados, carinho, amor, atenção e tudo que um homem apaixonado poderia fazer.
Quando cheguei em casa, tinha uma festa preparada para me receber. Nossos amigos estavam lá e eu me senti muito feliz e amada.
estava radiante. Ele parecia muito feliz. O sorriso nunca deixava seus lábios. Era extremamente reconfortante ver como ele estava bem.
Mas o fato de ele ainda estar naquela cadeira sempre me deixava um pouco deprimida. Eu sabia que no íntimo ele ainda pensava sobre isso, mesmo que nunca comentasse nada ou se queixasse. Vê-lo daquele jeito era torturante e quando eu tocava no assunto, ele sempre se esquivava.
Numa noite, eu o esperava no quarto enquanto ele trancava a porta da sala e apagava as luzes, depois que foi embora. Eu estava nervosa, tenho que admitir. Este assunto sempre me deixava assim. Principalmente porque eu sabia que ele não gostava de falar sobre isso. Mas a gente precisava conversar. Ele precisava, e eu sentia isso. Eu sabia que ele não queria tocar em assuntos desagradáveis comigo e que fazia tudo para me agradar. Mas a vida não é assim. Eu apenas queria ajudá-lo. Era o mínimo eu poderia fazer por ele depois de todas as provas de amor que ele havia me dado.
havia conversado com o médico antes de sairmos do hospital e ele havia dito que teríamos que ter muito cuidado na hora do sexo. Qualquer esforço a mais seria suficiente para acontecer algum sangramento e isso foi suficiente para que não se empolgasse nos nossos amassos. Ele tinha um auto controle incrível e parava sempre quando estava ficando bom. Já havíamos discutido esse assunto um milhão de vezes e ele sempre ganhava a batalha.
Troquei de roupa e deitei, ouvindo os barulhos que ele fazia. Ouvi quando ele abriu a porta do quarto e entrou sorrindo.
- Sabe o que o me contou? – ele abriu a gaveta e pegou uma boxer, se virando para mim depois – Você não vai acreditar, amor!
- O quê? – sentei na cama e ele se aproximou de mim.
- Ele vai pedir a em casamento amanhã! – deu uma gargalhada e depois balançou a cabeça – Ele esperou você vir deitar para me contar e me mostrou até o anel que ele comprou. Ele quer fazer surpresa para ela e não quer que ninguém saiba!
- Eu fico muito feliz por eles! – falei me inclinando para beijar seus lábios – Espero que eles nos chamem para ser padrinhos!
- Ele já chamou... – ele me beijou novamente – E eu os chamei para serem nossos padrinhos também.
Sorri e passei a mão pelos cabelos bagunçados dele.
- Tudo bem com vocês? – ele perguntou olhando diretamente para a minha barriga e depois para mim.
- Tudo! – respondi sorrindo com a cara de preocupação dele e sua expressão se suavizou.
- Vou tomar uma ducha e já volto. – ele disse, me deu um selinho e foi na direção do banheiro.
Voltei a deitar e alisei minha barriga de quase seis meses, imaginando como eu começaria a falar. Eu não queria estragar a nossa felicidade, mas eu sabia que a felicidade dele nunca estaria completa. Passei dois meses analisando a situação e tentando imaginar uma forma de abordar o assunto de uma forma que ele não se esquivasse, mas acabei chegando à conclusão que não importava. Ele se chatearia de qualquer forma com isso e eu não conseguia pensar em um jeito de falar sem que isso acontecesse. Mas eu precisava e seria hoje! Ele não ia desconversar e eu ia resolver isso de uma vez por todas.
saiu do banheiro com o cabelo pingando e passou para a cama.
- Amor... Vai molhar a cama toda! – falei rindo.
sacudiu a cabeça na minha direção, me fazendo pegar o lençol para me cobrir. Ele riu de uma maneira tão linda que meu coração doeu. Como eu amava aquele homem!
Depois ele pegou um comprimido que guardava na gaveta da mesinha ao lado da cama e o tomou com um gole de água.
- Com dor? – perguntei me apoiando no cotovelo e ele olhou para mim sorrindo e balançou a cabeça dizendo que não, mas eu sabia que era mentira. Ele não conseguia mentir quando estava com dor, mas tentava disfarçar.
Depois que ele deitou, eu me aconcheguei em seu peito e ali era o lugar mais gostoso do mundo. Sentir sua pele macia, quente, cheirosa era como um bálsamo para mim. Eu me sentia segura, amada, feliz, protegida...
me enlaçou com seus braços e eu beijei seu pescoço úmido. Ele vivia fazendo carinho na minha barriga e sempre que me abraçava assim, sua mão sempre estava lá em cima do seu filho. Não preciso dizer que todos os dias eu agradecia à Deus por esse filho não ser do James.
- Eu te amo... – falei fechando os olhos e sorrindo, sentindo uma onda de amor me invadir.
- Eu também... – ele disse e beijou o alto da minha cabeça, depois fazendo carinho em meus cabelos.
Ele pegou o livro que estava lendo e, como sempre, começou a folhear para encontrar onde tinha parado. definitivamente não conseguia ter um marcador de livros.
Deitei de lado, bem perto dele e fiquei olhando seu perfil enquanto ele lia. De vez em quando ele me olhava de rabo de olho e piscava para mim sorrindo. Eu estava nervosa e não sabia como começar a falar.
Acho que ele percebeu meu nervosismo ou que não era normal eu ficar olhando assim para ele sem dizer nada.
- O que foi? – ele perguntou colocando o livro sobre o peito – Por quê está me olhando assim?
- Amor... Vamos conversar? – perguntei e ele imediatamente fechou o livro, me olhando de forma apreensiva.
- Tudo bem, amor? Está se sentindo mal? Está com dor? – ele parecia em pânico e se preparava para sair da cama e eu segurei seu braço.
- Calma, . Está tudo bem comigo e com nosso filho. – falei rapidamente, pois ele estava a ponto de ter um troço – Fica calmo, que não é nada disso.
Me recostei na cama ao lado dele e vi sua respiração acelerada voltar ao normal.
- Mas o que foi então, amor? – ele perguntou depois que viu que eu não ia falar mais nada e afagou meus cabelos com uma expressão aflita no rosto – Você está me assustando...
- É que gostaria de conversar sobre um assunto que você não gosta – eu disse analisando cada traço de seu rosto.
- Tudo bem, amor... – ele disse colocando o livro em cima da mesinha e se virando para mim, me dando um selinho – Sobre o que nós vamos conversar?
- Você não tem ido mais à fisioterapia... – comecei e ele fechou os olhos, certamente prevendo qual seria o teor da conversa – Por quê?
- Não quero falar sobre isso, ... Por favor... – ele disse segurando minha mão e a beijando em seguida – Não tem mais nada para ser dito com relação a isso.
- Tem sim, – falei e coloquei a mão em seu rosto, fazendo com que ele abrisse os olhos e me encarasse – Amor, você precisa voltar a fazer exercícios, tem que ir ao médico que você foi daquela vez...
- Pra quê? – ele falou de repente e tinha tanta tristeza na sua voz que meu coração ficou muito apertado – A minha sensibilidade foi embora... Muito raramente eu sinto alguma coisa diferente. Fora que a dor nas costas piorou de uns tempos pra cá.
- Mas a sensibilidade ainda aparece de vez em quando, não aparece? – perguntei sorrindo para ele, tentando animá-lo.
- Mas não como da outra vez... – ele disse passando a mão pelos cabelos, visivelmente nervoso – Por favor, amor... Não vamos falar sobre isso...
- Mas, , você tem que tentar mais uma vez! – falei sentando na cama de frente para ele.
- Desculpe, ... Não dá mais... – falou e olhou para cima antes de falar – Me desculpe... Eu acho que não vou voltar a andar mais...
Me arrependi de ter tocado naquele assunto. Ele nunca havia dito isso com todas as letras e também eu nunca o havia visto tão triste, desolado, que me senti mais culpada ainda. Ele estava de pé naquele dia, me esperando, dizendo que era por minha causa que aquilo estava acontecendo. E agora ele estava ali, sentindo que não tinha mais chances de se recuperar. Era realmente torturante.
- ... Eu sinto muito... Eu... – as lágrimas caíam sem que eu pudesse impedir.
- , eu quero que você saiba de uma coisa – ele disse e segurou meu queixo com a ponta dos dedos – Não quero que você pense que eu não sou feliz... Eu sou feliz porque você está ao meu lado, porque você está esperando um filho meu...
Ele sorriu e colocou a mão sobre a minha barriga, me olhando sério em seguida.
- Eu estaria mentindo se dissesse que o fato de não poder andar não me incomoda... Mas eu só tenho duas opções – ele passou os dedos pelo meu rosto e sorriu – Ou eu passo o resto da vida me lamentando por isso e deixo de ser feliz ao lado da mulher que eu amo, ou eu deleto isso e vivo intensamente cada momento.
Eu não conseguia falar. Ele me olhava de uma forma tão apaixonada que eu não conseguia nem pensar direito.
- Eu sei que não vai ser uma vida fácil, mas estou disposto a enfrentar tudo e todos para ser feliz ao seu lado e criar nosso filho da melhor maneira possível.
- Ah, ... – falei chorando e sorrindo ao mesmo tempo – Eu te amo tanto...
- Ouvir isso de você é o suficiente para que eu seja feliz, sem me importar com mais nada, ... – ele disse e me beijou intensamente.
- Você tem mais uma opção, – falei enquanto o abraçava e sentia o cheiro maravilhoso que vinha dele – Pensa nisso...
- E qual é a terceira opção? – ele se afastou um pouco e analisou meu rosto – Eu não vejo mais nenhuma opção.
- A opção três é você tentar mais uma vez. Não desistir. Ir todos os dias à fisioterapia, se exercitar, fortalecer os músculos – falei tocando em seu rosto.
- Por acaso você está arrependida de ter voltado? – ele perguntou desconfiado – Você achou que eu fosse voltar a andar?
- Não é isso, ... – falei rapidamente – Eu quero te ver completamente feliz e não pela metade.
- Eu não sou feliz pela metade! Você é minha felicidade inteira – ele falou e eu sorri.
- Eu não quero ser a sua felicidade inteira. Eu quero compartilhá-la com você! Ser feliz junto com você! Sentir que você é feliz por estar comigo e não fazer disso a sua razão de viver. Existem outras coisas que eu sei que você gostaria de fazer e não pode.
Ele ficou me olhando, como se estivesse processando todas aquelas palavras que tinha acabado de dizer.
- Eu sou um covarde... – ele finalmente disse.
- Não! Você é o homem mais corajoso que eu conheço! – falei segurando seu rosto entre minhas mãos – E essa é só uma das inúmeras razões pelas quais eu sou perdidamente apaixonada por você.
- Não, ... Eu sou um covarde – ele repetiu e sentou na cama – Eu tenho medo de tentar... Eu tenho medo de me decepcionar, de te decepcionar... Não sei...
- Mas se você não tentar, nunca vai saber, amor! – falei segurando a mão dele entre as minhas – Se não der certo, a gente esquece esse assunto e tenta viver da melhor maneira possível...
- Você acha que isso é indispensável para que a gente seja feliz? – ele soltou a mão das minhas de repente – O fato de eu não andar te incomoda?
- Você sabe que eu não me importo. Eu só acho que é importante pra você e você não quer aceitar isso! – falei e ele balançou a cabeça fechando os olhos.
- Olha, eu entendi tudo que você falou, mas preciso pensar um pouco sobre isso – falou sério e voltou a deitar – Agora vamos dormir porque amanhã eu tenho que estar no estúdio cedo.
- Você ficou zangado comigo? – perguntei fazendo uma cara triste e ele deu aquele sorriso irresistível que me deixou mole.
- Claro que não! – ele me puxou com cuidado e eu deitei no peito dele – Eu te amo e nunca fico zangado com nada. Pensei que você já soubesse disso.
- Eu te amo, meu ... – falei fechando os olhos e me aconchegando mais ao corpo dele.
- Eu te amo, minha – ele disse antes de apagar a luz.


Capítulo betado por Francy Strack



Capítulo 39


“O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes”


As palavras dela me pegaram totalmente de surpresa. Eu não esperava que ela me dissesse para tentar novamente. Na verdade, eu nem imaginava que ela sofria tanto por causa disso e agora eu precisava pensar, refletir sobre tudo.
Sempre que ela tentava tocar nesse assunto, eu disfarçava e mudava o rumo da conversa para fugir, mas não sabia que ela se sentia assim e eu tenho que confessar que isso mexeu e muito comigo.
Quando finalmente ela dormiu, eu saí da cama, fazendo o mínimo de barulho possível e fui para a sala. Tomei uma dose de vodca e fechei os olhos, tentando imaginar uma forma de não decepcioná-la mais.
Ela queria que eu tentasse. E agora? Ela acreditava que eu conseguiria. Ela acreditava em mim quando nem eu mesmo acreditava mais.
Olhei para minhas pernas durante algum tempo e resolvi fazer um teste. Usei toda a minha força e consegui mexer o pé um pouco. Será que era tudo uma questão de prática e exercícios para que meus movimentos finalmente voltassem? Não tive como não sorrir diante desse pensamento.
Tentei novamente, dessa vez com os dedos, e tive sucesso, mas era muito pouco e eu não sabia se seria suficiente para ficar de pé novamente. Lembrei de quando ela saiu do hospital e em como eu me senti feliz e realizado vendo que ela e meu filho estavam bem.
Eu sei.
Eu menti sobre o filho ser meu. Mas eu TIVE que mentir. Não tinha outro jeito.
Fiquei sabendo pelo médico que o filho não podia ser meu enquanto ela estava no hospital e se recuperava. Segundo ele, eu não podia ter filhos devido ao meu problema e isso foi o suficiente para que eu nem quisesse fazer o exame de DNA, mesmo eu tendo consciência de que o médico não sabia nada sobre o “meu problema”. O filho que ela esperava era do James e eu não queria que ela soubesse. E, para ser bem sincero, eu não queria saber.
Então menti.
Mas para dizer a verdade, eu não me importava com isso. Eu queria ser o pai dessa criança que eu amava mesmo antes de nascer e a cada dia que passava eu me sentia mais responsável, como se eu fosse realmente o pai. Acima de tudo, eu sabia que ela não agüentaria saber que o pai era o James, então era muito melhor vê-la feliz e tranqüila por saber que ele nunca mais faria parte das nossas vidas e se dependesse de mim, esse fato morreria comigo. Somente o conhecia a verdade, mas eu confiava plenamente nele e, além do mais, eu precisava dividir com alguém esse segredo.
Eu não sou, de forma alguma, um herói ou nada parecido, mas a idéia de vê-la sofrer por qualquer coisa que fosse me deixava desesperado. Já bastava tudo que ela havia passado.
Mas agora eu precisava pensar... Eu precisava tentar... Por ela, por nosso filho, por mim. Eu queria poder jogar bola com ele, eu queria poder correr, brincar no parque, pegá-lo no colo... Protegê-lo. E eu tinha consciência de que se continuasse nessa cadeira, isso seria praticamente impossível. Será que ela me deixaria? Será que com o tempo eu me tornaria um peso na vida dela? Ela teria sempre que cuidar de mim e do nosso filho? Eu não queria isso de jeito nenhum!
Com esses pensamentos fervilhando em minha cabeça, decidi que no dia seguinte iria ver o Dr. Jerry e começaria a fisioterapia em seguida.
Eu tinha que tentar, pela última vez.
Silenciosamente, voltei para a cama e ela parecia um anjo. Deitei ao seu lado e ela imediatamente se aconchegou ao meu corpo, me fazendo sentir o homem mais feliz do mundo.


Três Meses Depois...


Estava saindo da fisioterapia e tinha conseguido vários pregressos durante esses últimos dois meses. Eu já ficava de pé nas barras paralelas e conseguia dar alguns passos. Minha sensibilidade ainda não estava completa, mas eu já conseguia mexer as pernas sozinho e passar da cadeira para a cama ficando de pé, me apoiando em alguma coisa.
Ver o brilho nos olhos dela quando isso acontecia era a coisa mais incrível do mundo. Ela sorria e eu via como ela estava feliz. Eu também estava feliz.
Soubemos pelo último ultrassom que ela esperava uma menina e eu fiquei mais do que feliz com a notícia. O nome que ela escolheu foi em homenagem à bisavó dela, que era descendente de italianos e morava no Brasil e eu tenho que confessar que adorei. O nome da nossa filha seria Nina.
A cesariana já estava marcada para o dia seguinte e eu me sentia um pouco aflito. Por mais que os médicos garantissem que tudo estava bem, que eu não precisava me preocupar, era inevitável pensar em certas coisas.
O medo que eu tinha de perdê-la era devastador e me corroía por dentro, mas eu procurava parecer calmo, tranqüilo e confiante. Pelo menos na frente dela.
Cheguei em casa e ela estava na sala deitada, falando no telefone, com uma bacia de pipoca maior do que a imensa barriga que ela tinha agora. Sorri com aquela visão e ela se virou para mim, me dando um sorriso que me fez perder o fôlego. De uns tempos para cá ela reclamava que estava gorda, feia, parecendo um monstro, mas para mim ela estava sempre linda, gostosa e perfeita. Ela era a minha vida e muito mais...
Ela sempre tinha esse efeito sobre mim e como já fazia um tempo que a gente não fazia amor, devido ao estado dela, eu me sentia cada vez mais excitado e meu desejo por ela aumentava cada vez mais. E agora mais ainda, por minha sensibilidade estar quase completa, mas eu precisava me controlar.
- Tenho que desligar, . O acabou de chegar! – ela disse sorrindo para mim e seus olhos apesar de cansados, brilharam – Depois a gente se fala. Beijo.
- Oi, amor da minha vida! – ela disse colocando o telefone no chão e se sentando no sofá com dificuldade – Tudo bem? Como foi na fisioterapia?
Eu sabia que ela ficava triste por não me acompanhar, mas nas últimas semanas o médico havia dito que era melhor ela ficar de repouso e não exagerar.
- Tudo ótimo! Hoje fiquei o tempo todo nas barras paralelas e me senti muito mais seguro. – falei me aproximando dela e a beijando nos lábios – E vocês? – perguntei beijando em seguida sua enorme barriga.
- Querendo que chegue logo amanhã... Eu não aguento mais! – ela falou sorrindo mais uma vez passando a mão na barriga – Eu não consigo ficar deitada, sentada, em pé...
Realmente, devia ser muito desconfortável carregar aquele peso todo. Eu sempre tinha que massagear seus pés, que na última semana estavam muito inchados.
- Vai ficar tudo bem... – falei segurando sua mão – Quer que eu faça uma massagem?
- Uhum... – ela assentiu, eu passei para o sofá e ela colocou as pernas por cima das minhas, me fazendo sentir totalmente o peso delas e me fazendo sorrir com essa sensação. Ela fechou os olhos enquanto eu massageava seus pés. Ela estava com uma aparência cansada e de repente me pareceu tão frágil que meu coração ficou apertado.
- Já falei que eu te amo hoje? – falei, tentando afastar as imagens que se formaram em minha mente.
- Hoje? – ela abriu os olhos ao responder e colocou a mão no queixo como se estivesse pensando – Acho que hoje ainda não... Não sei...
Ela sorriu em seguida e piscou para mim de forma brincalhona, ou seja, linda demais.
- Eu te amo! Você e a Nina são a razão da minha vida. – me declarei como sempre fazia e ela ficou séria.
- , eu queria te pedir uma coisa... – ela beijou minha mão e me olhou de um jeito que me fez ficar apreensivo.
- O que foi? – falei olhando-a intensamente.
- Se alguma coisa acontecer comigo, eu queria que você cuidasse da Nina com muito amor... – ela começou a falar e as lágrimas encheram meus olhos.
- Não fala assim, ... Por favor... – fechei os olhos deixando que eles transbordassem livremente. Eu não queria ouvir essas coisas – Não vai acontecer nada... Vai dar tudo certo, eu prometo.
- Eu sei, amor... Não fica assim. – ela falou tocando em meu braço, me fazendo abrir os olhos - Mas se acontecer, eu quero que você me prometa que vai seguir em frente, que vai criar nossa filha como a gente sempre sonhou... – ela falava e eu ouvia, não conseguindo imaginar minha vida se ela não estivesse presente.
Assenti, pois o nó em minha garganta me impedia de falar e ela tirou as pernas de cima das minhas, sentando no sofá e em seguida no meu colo.
- Não quero te ouvir falando essas coisas. – falei acariciando seus cabelos – Nós vamos ser muito felizes. Nós três juntos!
- Eu te amo tanto, . – ela falou e deu aquele sorriso que eu tanto amava.
Ela me abraçou do jeito que conseguiu e eu a segurei como se fosse um bebê em meu colo, beijando seu rosto, seus cabelos e seus lábios inúmeras vezes.
De repente, senti algo molhado em minha calça e me assustei.
- O que foi? – ela perguntou quando eu a afastei um pouco para ver não só minha calça molhada, mas o sofá também. Quando ela levantou do meu colo, vi que sua roupa estava molhada e ela colocou as mãos nas costas como se sentisse dor – , não se assuste, mas eu acho que minha bolsa arrebentou.
- O QUÊ? – fiquei olhando para ela assustado sem saber o que fazer.

Capítulo 40


“Amar cria raiz, sim. Cria, independentemente de ser verbalizado. Basta sentir o amor para que fiquemos dependentes dele, uma dependência boa, daquilo que nos faz sentir vivos."

Nossa filha nasceu às 03:40 da manhã.
Estávamos todos espalhados pela sala de espera e pelo corredor do hospital quando ouvimos o choro de Nina. Dude, foi uma emoção tão grande ouvir o choro da minha filha que eu não tenho palavras para expressar o que eu senti naquele momento. Eu não conseguia falar, eu só chorava.
- Parabéns, papai! – me abraçou, chorando junto comigo – Dude! Minha afilhada acabou de nascer!
Assenti sorrindo, secando meu rosto com as costas das mãos.
Minha filha tinha nascido.
Mas junto com a emoção, veio também o medo. Eu tinha que saber se a minha pequena estava bem, se tinha corrido tudo bem no parto. Eu precisava vê-la, saber que ela estava bem e naqueles instantes que eu esperei por alguma notícia, todas as palavras do médico vieram na minha cabeça.
“É uma gravidez de alto risco...” “É um risco para ela e o bebê...” “Pode não correr como planejamos...”
Era impossível não pensar naquelas palavras.
Mas, de repente, uma enfermeira saiu de dentro da sala de cirurgia com um embrulhinho nos braços, vindo na nossa direção. Era Nina.
Ela se aproximou de mim e levantou o lençol para que eu pudesse ver o rosto da minha filha.
Fiquei embasbacado olhando para ela, que estava de olhinhos fechados e esticou o pequeno braço, como se fosse para mim. Não consegui me controlar nesse momento e chorei feito criança. Segurei sua minúscula mão e ela apertou meu dedo com uma força muito grande, me fazendo sorrir em meio ao choro.
- Oi, Nina... – falei ainda segurando sua mão – Sou seu pai!
- Agora eu vou tomar um banho, ficar bem bonita e cheirosa! – a enfermeira falou como se fosse a Nina e me olhou sorrindo – Depois o papai vai poder me ver.
se aproximou e ficou olhando para a Nina com lágrimas nos olhos.
- Dude, ela é muito linda! – falou sorrindo e tocou em seu rostinho – Oi, Nina! Sou o tio , tudo bem? Como você é linda!
- Como está a minha mulher? Está tudo bem? – perguntei quando Nina soltou meu dedo. - Correu tudo bem e daqui a pouco o médico virá para falar com o senhor. – a enfermeira disse e se despediu de nós segurando o braçinho de Nina para que ela nos desse um “tchau”.
Não posso expressar o alívio que eu senti quando ela me disse que estava tudo bem com a . Mesmo assim, eu só ficaria satisfeito depois de conversar com o médico e, principalmente, depois que eu pudesse vê-la.
Notei que todos os meus amigos estavam parados me olhando com lágrimas nos olhos.
- , ela é uma gracinha! - falou me abraçando em seguida – Parabéns!
- Por acaso você lembrou de trazer os charutos? – falou sorrindo e me deu um “pedala” – Parabéns, dude! Ela é muito linda!
Olhei para e ele estava com as mãos cobrindo o rosto. estava consolando o namorado, que com certeza, tinha se emocionado muito.
- Calma, bebê... Agora já está tudo bem... – falou e piscou para mim sorrindo – Ele é muito emotivo...
- Porra, ele é viado! Isso que ele é! – falou e todos rimos.
Eu não via a hora de ver a e ter certeza que estava mesmo tudo bem.
Depois que todos me parabenizaram, eu me afastei um pouco de onde meus amigos estavam. Eu estava muito nervoso e enquanto eu não visse a , não conseguiria relaxar.
Senti uma mão em meu ombro e vi que era o . Ele sentou ao meu lado e as lágrimas ainda caíam dos seus olhos. Sorri e balancei a cabeça.
- Mais uma vez, obrigado. – falei olhando para meu amigo – Não sei o que teria acontecido se você não tivesse chegado.
- Pára com isso, ! Porra, eu fiz o que qualquer pessoa faria. – ele disse.
E era a pura verdade. Eu não sabia o que teria acontecido se o não tivesse chegado na hora que a bolsa da estourou.
- Será que correu tudo bem mesmo? – franzi a testa e o olhei. parecia preocupado também – Será que ela já saiu da sala de cirurgia?
- Não sei, dude. Mas assim que ela puder receber visita, você será o primeiro. – falou sorrindo, mas dava para perceber a angústia em seus olhos.
Eu ficava de um lado para outro, tentando me acalmar.
Minha mãe chegou ao hospital assim que amanheceu e fez um milhão de perguntas que eu nem lembro direito.
Esperamos até quase dez da manhã, quando finalmente o médico veio falar comigo. Tremi na base enquanto ele se aproximava.
- Parabéns, ! – ele falou sorrindo – Sua filha é linda e saudável!
- A minha mulher está bem, doutor? – perguntei depois de assentir sobre a Nina – Quando vou poder vê-la?
- Agora mesmo. – ele disse esticando o braço na direção do corredor onde ficava o elevador – Vamos?
- Mas ela está bem, doutor? – perguntei depois que me despedi dos meus amigos e o segui até o elevador – Ela está acordada? Ela já viu a Nina?
- Ela está ótima, correu tudo bem, se acalme. – ele disse, vendo o meu estado de nervos.
- Tudo bem... – falei entrando no elevador que demorou mais de mil anos para chegar.
- Foi um parto muito difícil, ela perdeu muito líquido e demorou demais para chegar ao hospital. – ele disse enquanto subíamos – Mas no final deu tudo certo.
Fechei os olhos lembrando do meu desespero na hora que ela me disse que a bolsa havia estourado e eu não consegui fazer nada. Fiquei impotente, sentado naquele sofá, sem saber o que fazer. Se o não tivesse chegado, eu não queria nem imaginar o que poderia acontecer.
Chegamos à porta do quarto e eu fiquei com medo de entrar.
Eu era um babaca mesmo!
Entrei e ela estava acordada, com nossa filha nos braços, sorrindo para mim e o alívio que eu senti vendo aquela cena foi sem precedentes.
Parecia aquelas cenas de filme romântico, sabe?
Me aproximei devagar da cama e senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Elas duas eram a visão do paraíso e eu poderia passar o resto da vida ali olhando para elas.
- Olha só quem chegou, Nina! – olhou para o embrulhinho em seu colo e depois sorriu para mim – O papai chegou para te ver, meu amor...
Eu me sentia tão feliz naquele momento que parecia que ia explodir a qualquer instante.
- Amor... – falei olhando para a mulher da minha vida e as lágrimas voltaram – Você está bem?
- Nós estamos ótimas! – ela respondeu sorrindo e com o braço livre, segurou minha mão – Agora que você está aqui com a gente, tudo está perfeito.
- Já falei que eu te amo hoje? – perguntei sorrindo, tocando em seus cabelos.
- Hoje ainda não... – ela respondeu, dando aquele sorriso que me deixava sem ar.
- Eu te amo mais do que tudo na vida. – falei sinceramente – E queria te agradecer por você ter me dado o maior presente que alguém poderia ganhar.
- Ah... ... – ela disse e as lágrimas desceram por seu rosto – Eu te amo tanto... Se tem alguém que tem que agradecer alguma coisa, esse alguém sou eu... Mesmo depois de tudo que aconteceu, você ainda está aqui... Você ainda me ama... Você... – ela não conseguiu mais falar e eu já estava chorando nesse momento.
Nesse momento, somente beijei sua mão. Eu simplesmente não sabia o que dizer. Estava tão emocionado que só conseguia ficar olhando para elas, imaginando nossa vida daqui para frente e torcendo para que fôssemos finalmente felizes.

Capítulo 41


“Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida”

Um Ano Depois...

Eu estava indo para casa depois de passar mais um dia no estúdio e me sentia um pouco cansado, mas, mesmo assim, a alegria de pensar que eu veria os dois maiores amores da minha vida me fazia o homem mais feliz do mundo.
Minha recuperação já estava completa e eu cada vez me sentia mais confiante. Eu já andava sozinho e minhas dores haviam sumido por completo.
Nina ia completar um ano e estávamos preparando uma festa cujo tema seria Baby Disney, pois ela era apaixonada por esses personagens. Seu quarto era inteiro decorado com Minnies, Patetas, Plutos e todos os outros personagens quando ainda eram bebês. O que eu posso dizer sobre a Nina? Acho que simplesmente ela superou todas as minhas expectativas. Ela era maravilhosa, perfeita, linda, carinhosa... Enfim, tudo que um pai pode sonhar em ter numa filha, a Nina tinha.
Nossa vida estava tão perfeita que às vezes dava até medo de pensar que algo aconteceria para estragar tudo isso, mas conforme o tempo foi passando, eu fui relaxando e aos poucos todos os acontecimentos do passado foram se tornando apenas uma desagradável recordação.
Às vezes eu tinha pesadelos com o James invadindo nossa casa, levando Nina embora, me matando e acordava suado e desesperado. Olhava para o lado e via a dormindo tranquilamente e isso me acalmava um pouco. Nesses momentos, eu levantava e ia até o quarto da Nina só para ter certeza que estava realmente tudo bem. E eu ficava lá, observando enquanto ela dormia parecendo um anjo e cada vez mais eu tinha plena certeza que ela era minha filha mesmo.
Nina tinha os olhos iguais aos meus, da mesma cor e quando ela sorria, se parecia comigo quando eu era pequeno.
Tenho que dizer que fiquei muito tentado a fazer o exame de DNA, mas o medo da decepção me impedia. Não era bem de uma decepção que eu tinha medo. Na verdade, eu não queria me importar com isso, eu queria amá-la sem me preocupar se ela era minha filha biológica ou não, sabe?
Estacionei o carro e já me esperava na porta com a Nina no colo. Tínhamos combinado de deixá-la na casa do e da , pois íamos sair. Vê-las assim me deixava sem ar e, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda me impressionava com os sentimentos que me invadiam sempre que eu as via.
abriu a porta, colocou Nina na cadeirinha do banco de trás e depois entrou ao meu lado.
- Oi, meu amor... – falei me virando e peguei aquela mãozinha esticada na minha direção – Tudo bem?
- Papá... – ela sorriu ao falar daquele jeitinho lindo que era só dela, me fazendo sorrir junto – Papá!
- Vamos para a casa do tio ? – perguntei enquanto a colocava o cinto de segurança.
- Titi! – Nina falou levantando os braçinhos e sorrindo, me fazendo soltar uma gargalhada. Ela era muito fofa mesmo.
- Oi, amor! – se inclinou e me beijou – Vamos?
- Vamos... Tudo bem? – perguntei quando ela me olhou esquisito.
- Tudo... – ela respondeu – Só estou curiosa para saber o lugar onde você vai me levar.
- Ah... – sorri ligando o carro e peguei sua mão, beijando-a em seguida – Confie em mim, ok?
- OK! – ela levantou os braços e fomos na direção da casa do .

* * *


- Eu não acredito! – olhou em volta para aquele lugar mágico em que estávamos.
- Gostou da surpresa? – perguntei olhando diretamente em seus olhos, segurando seu rosto entre minhas mãos.
- ! – ela me abraçou, encaixando o rosto no meu pescoço, me fazendo ficar com o corpo inteiro arrepiado.
Era incrível acreditar que estávamos ali no mesmo lugar onde eu a tinha visto pela primeira vez.
A “Nossa Praia”.
Nunca tínhamos voltado àquele lugar e eu achei que seria uma coisa boa para nós dois. Andamos devagar, abraçados até um ponto da areia e ela esticou a manta para que sentássemos.
- Amor... – falei e ela imediatamente desviou seus olhos do mar para mim – Foi aqui nesse lugar que eu me apaixonei por você, sabia?
- Você não se apaixonou por mim aqui! – ela disse sorrindo – Foi naquela festa, lembra?
- Naquela festa em que você me deu um banho? – lembrei da cena rindo e depois fiquei sério – Não foi naquele dia...
- ... – ela disse e eu amava quando ela me chamava pelo meu nome e não pelo apelido.
- Vou te contar uma coisa que eu nunca contei pra ninguém. – falei sério e me virei para ela.
- O que é? – ela perguntou curiosa, como sempre.
- Quando eu estava em coma... Logo depois do acidente... – falei sem tirar os olhos dos dela – Você apareceu para mim e me pediu para voltar.
Ela ficou os olhos cheios de lágrimas e eu os beijei delicadamente.
- Foi por você que eu voltei... Para você... – falei afastando uma mexa de seu cabelo do rosto – Eu estava perdido, me sentindo fraco e você apareceu, me pedindo para voltar... Para ter força. E eu acordei.
- Eu não sei o que dizer, ... Eu... – ela parecia confusa e surpresa por ouvir aquelas coisas que somente agora eu me sentia à vontade para contar.
- Não precisa dizer nada, amor... Eu só queria que você soubesse disso. – falei – E durante todo aquele ano antes de nos encontrarmos naquela festa, não teve um único dia em eu não pensasse em você... Que eu não sonhasse com você... Que eu não imaginasse o momento em que eu te encontraria novamente...
- Ah... ... – ela agora estava chorando e eu sequei suas lágrimas, a beijando em seguida nos lábios e continuei... Eu precisava falar.
- E quando você caiu sentada no meu colo eu não podia acreditar na minha sorte! Parecia que você tinha caído de céu... Mas aí o apareceu e acabou com todos os meus sonhos. E quando você apareceu na minha casa dizendo que sentia o mesmo por mim, eu quase não acreditei... Eu estava tão inseguro... Tão frágil, que não podia crer que uma mulher como você podia estar interessada em alguém como eu.
- ! Eu não gosto quando você fala assim... Por favor... – ela disse fazendo um bico muito lindo, como se estivesse brigando comigo e eu a beijei longa e intensamente antes de continuar.
- Mas você me amava, do jeito que eu era... – falei e senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto – Você me amava e não se importava com o fato de eu não poder andar e isso me fez o cara mais feliz do mundo!
- Eu te amo... Sempre te amei e sempre te amarei... – ela disse encostando a cabeça em meu peito, me fazendo abraçá-la e sentir aquele aroma incrível que seus cabelos exalavam e que me deixavam inebriado.
- Depois aconteceram tantas coisas, que eu não quero lembrar e não quero falar. E finalmente quando você voltou para mim, me tirando da escuridão... Me salvando novamente... E eu vi que tinha uma chance de ser feliz... De fazer alguém feliz...
Ela estava chorando muito agora e eu também. Acho que depois de tudo que nós passamos, precisávamos daquele momento... Só nós dois, exatamente naquele lugar.
- ... Você me deu o maior presente que alguém poderia receber... – falei com a voz embargada novamente – A Nina...
- Amor... Tenho uma coisa para te contar – ela disse e sorriu para mim.
- O que foi? – perguntei preocupado apesar da expressão dela estar bem tranqüila.
- Acho que a Nina vai ganhar um irmãozinho... – ela disse e colocou minha mão em sua barriga.
- O quê? – eu perguntei perplexo e sorri abertamente – Você está grávida?
- Sim, amor... – ela disse e me beijou em seguida – Vamos ter mais um bebê... Você está preparado? – ela quis saber sorrindo e piscou o olho para mim.
- O que você acha? – respondi com uma pergunta óbvia e a beijei apaixonadamente – Eu te amo... Casa comigo? – perguntei de repente.
- Sim! – ela respondeu sorrindo e me beijou de um jeito que fiquei sem ar.
Senti a presença de John e sorri. Uma paz muito grande me invadiu, me fazendo sentir a pessoa mais feliz do mundo. Não precisávamos adivinhar o pensamento um do outro. Apenas queríamos a mesma coisa.
Ser feliz.
Para sempre.
- Eu te amo, minha garota da praia... Eu sempre vou te amar... – falei me sentindo o homem mais sortudo do mundo.



THE END



Nota da Autora: Olá meninas! Como vocês estão?
Sei que demorei muito para fazer a última att de OLIR e peço mil perdões por isso. A vida anda muito corrida e complicada, sem tirar a falta total de inspiração. Não sei se eu não queria que acabasse e por causa disso fiquei protelando mais que o necessário...é...pode ser.
Gostaria de agradecer todas a meninas fofas e lindas que sempre estiveram comigo durante essa história e quero que todas, sem exceção, se considerem beijadas e abraçadas pela Tia Luh.
O final não ficou como eu queria, mas acho que deu pro gasto, né? Afinal, fiz o que todo mundo pediu, e principalmente o que a minha filha Bia exigiu... Ela disse que uma história como essa não podia ter um final que não fosse feliz... então....
Gostaria de agradecer especialmente à Lara, que sempre me tratou muito bem, teve muuuuuuita paciência com meus e-mails malucos e minhas chatices (sou velha,tá...e daí? AUSHAUHSAUSAUHSUAHS). Espero que ela continue aceitando ser minha Beta depois de OLIR, pois ainda tenho fics no FFOBS e mais algumas prontas pra mandar pro site... coitada da Lara, gente! UASHUAHSUAHSUAHSUAHSUA
Beijo Grande pro Daniel Jones, que é minha fonte contínua de inspiração...aiai...
Enfim, espero que todas tenham gostado, obrigada por todos os comentários (e eu nem esperava que tivesse mais do que 50 comentários até o final!) e fiquem com Deus!
Beijo no coração!
Tia Luh
Minhas outras fics:


Amores (Im)Possíveis
Seeing With The Heart
The Girl Who Turned My Life Around
Nota da Beta: Chorei. OLIR não podia acabar, ok? Aposto que todas as leitoras concordam comigo! IAHAUHIAUHIUA enfim, eu REALMENTE espero que eu continue sendo sua beta, Lu. Se você me trocar eu choro ): IUAHIUAHIUAHIUHAIUA DAQUELAS! Enfim, parabéns por essa fic LINDA, Lu!
Enfim, qualquer erro, é culpa minha. Então, por favor, mandem um email diretamente para mim, em scheffer.lara@gmail.com. Obrigada. Xx

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