Faltavam exatamente três dias para o natal. As férias só haviam começado há duas semanas e eu já morria de tédio. Uma de minhas séries favoritas, “Gossip Girl”, estava de férias até dia vinte e quatro de janeiro. Eu estava cansada de tentar inventar passatempos.
Deitada no sofá, comecei a rodar os canais atrás de algo interessante para assistir. Como uma TV com mais de duzentos canais poderia não ter nenhum programa que me atraísse? Foi então que parei na HBO. “Os Fantasmas de Scrooge” tinha acabado de começar. Sorri. Já tinha assistido a esse filme mais de dez vezes, porém nunca me cansara. Este sempre fora meu conto de natal favorito desde criança. Decidi então deixar no canal e ver o filme mais de onze vezes.
Ebenezer Scrooge , personagem principal da história, já estava recebendo a visita do terceiro fantasma quando bocejei, espreguiçando-me, e comecei a me imaginar em seu lugar.

, a garota rebelde que reclamava de sua vida monótona, frustrada por não ver a quarta temporada de Gossip Girl, ingrata, que tinha uma TV com mais de duzentos canais e achava todos chatos enquanto crianças pobres passavam frio e fome lá fora.
andava por sua mansão impaciente. Onde estavam os seus criados? Fazia mais de quinze minutos que tinha enviado uma mensagem, mandando trazer o seu café. Pelo visto, eles ainda não sabiam do que ela era capaz. Ou melhor, do que o dinheiro dela era capaz. Indignada, pegou o telefone e apertou discagem rápida. Dorota atendeu após o quinto toque.
– Dorota? Está doente? Como se atreve a não me atender no primeiro toque?Aliás, por que você e o meu café da manhã não estão aqui agora na minha frente?
– Senhorita ... É véspera de natal. Os seus criados tiraram folga.
– Por acaso perguntei que dia era hoje? Quem deu a eles folga?
– Eu... Desculpe-me – Dorota disse após hesitar por meio minuto. – Achei que não haveria problema...
– Você? Com que direito fez isso? Quer saber, esqueça. Venha para cá em vinte minutos. Você vai cobri-los hoje. Estou esperando-a.
– Não posso. Minha irmã ficou doente e vim cuidar de meus sobrinhos que nasceram há poucos dias...
– Então está demitida.
– Por favor, não, senhorita ! É véspera de Natal – apelou a criada.
– Problema seu! Não mandei dispensar os meus criados.
– Preciso desse emprego. O pai dos meus sobrinhos está desempregado e a minha irmã...
– Passe aqui na segunda para retirar as suas coisas – cortou , desligando o telefone. – Ora! Como ela se atreve? – a garota falou incrédula. – Véspera de natal? Só mais um dia do calendário para fazer os otários consumirem mais e dar lucro ao mercado. Que se danem todos os empregados. Não me importo. Vou demitir todos. TODOS! Eles deviam agradecer por trabalharem para alguém como eu. Contratarei novos e melhores e que receberão menos. Eles não merecem o meu dinheiro.
olhou para seu quarto e suspirou inconformada em ter que fazer ela mesma o próprio café. Atravessou a sala, perguntando-se por que o mundo todo parava naquela data. Era tão insignificante como qualquer outra. Apenas mais um dia do calendário.
Ela já ia pegar a xícara quando a campainha tocou. Com certeza era Dorota. Devia ter tomado juízo. Afinal, a mulher sabia o que era melhor para ela e perder aquele emprego definitivamente não era.
– Até que enfim che... – paralisou ao abrir a porta e perceber que não era Dorota na sua porta. Por mais incrível que parecesse, à sua frente estava uma cópia exata de Blair Waldorf. Não era possível!
– Não vai me convidar para entrar? – a voz da moça também era exatamente igual à da personagem... E sua roupa, impecável.
– Bla... Blair? – gaguejou.
– Sim – a menina revirou os olhos. – Escute. Está frio e tenho mais o que fazer. Então, se me permite...
Falando isso, Blair Waldorf entrou em minha sala. Fiquei olhando espantada. Eu devia estar louca.
– Acho que estou vendo Gossip Girl demais!
Blair sorriu.
– No momento, acho que há outras coisas para você se preocupar. Já reparou em como essa casa está uma bagunça?
– Já. Dorota deu folga aos meus funcionários. Dá para acreditar?!
Blair deu um de seus sorrisinhos meigos e cínicos.
– Queridinha, é véspera de natal e a Dorota só trabalha vinte e quatro horas para mim. Acorde.
– Você diz isso porque não precisa fazer o seu café.
– Claro que não. É para isso que tenho a Dorota. Mas não desvie do assunto. Não vim aqui para discutir sobre isso.
– Então para que veio?
– Vim avisá-la que essa noite você receberá a visita de três fantasmas.
– Você só pode estar de brincadeira!
– Não mesmo. É véspera de natal. Eu poderia estar escolhendo o meu vestido! Aliás... Estou atrasada para isso.
– Espere! Quero um...
– Tenho que ir! – Blair Waldorf desapareceu da minha frente, tão rápido e inesperadamente quanto surgira.
– Autógrafo – completou com cara de tacho. Estava delirando de fome. Fato.

***


Estava na hora do almoço. Sem ninguém para fazer comida para ela e sem saber cozinhar, saiu pela rua à procura de um restaurante.
– Será que não tem uma merda de lugar aberto? Pago o dobro – já fazia mais de meia hora que a garota estava caminhando e não conseguia encontrar nenhum restaurante que estivesse aberto quando olhou para frente e viu um lugar em que nunca reparara antes.
Era grande e bonito. Era um restaurante japonês. Havia árvores nanicas, cadeiras e mesas baixas do lado de fora e uma pequena ponte que levava até o restaurante de bambu. Dentro, era bem iluminado por lanternas japonesas. Era um lugar bonito e espaçoso.
– Esse lugar é novo. Não é? – perguntou para ninguém específico.
– Sim – uma voz aveludada que lhe parecia familiar respondeu.
– Ótimo. Estou com fome. Andem logo.
– O que gostaria de comer? – disse a voz, entregando-lhe o cardápio, e pela primeira vez a menina olhou para o seu interlocutor.
– Só pode ser brincadeira! É pegadinha do malandro, não? Podem aparecer as câmeras. Peguei vocês.
Como ninguém apareceu e estava morrendo faminta, ela se convenceu de que estava tendo alucinações e precisava assistir menos a Gossip Girl.
– Será que estou louca? – perguntou-se, levando uma das mãos à testa.
Chuck levou a mão da menina até os lábios e a beijou.
Ainda não – falou, chegando ainda mais perto e a olhando com seu olhar profundo e sua voz sexy. – Mas tenha certeza de que, quando estiver, estarei aqui.
– Diga que você não é o Chuck Bass... – a menina estava dividida entre o medo da “profecia” de Blair se realizar e o encanto de ter diante de seus olhos um cara tão lindo.
– Não sou Chuck Bass – o garoto sussurrou em seu ouvindo, olhando-a com desprezo.
suspirou. Em parte por alívio e em parte pela atração exercida pelo comportamento do menino.
– Sou o fantasma dele. O seu fantasma do passado – ele disse, passando o braço atrás das costas da menina e a puxando para mais perto, sentindo-a se arrepiar.
sentia o corpo gelado de fantasma encostando-se ao seu. Seus corpos estavam lado a lado, havendo apenas um palmo de distância entre os seus olhos. Ele a olhava com um olhar frio, superior, sedutor, com olhos escuros em que ela se perdeu. Sem que ela percebesse, sua boca já estava encostada à dele. Porém, para sua surpresa, ao abrirem a boca, ao invés de um beijo, ela sentiu o seu corpo flutuar e cair em um labirinto.
– O que é isso? É o que acontece quando se tenta beijar um fantasma?
Chuck deu um meio sorriso de lado.
– Estamos viajando para o seu passado.
– O quê? Esse negócio de missão de natal não podia esperar mais um pouco?
– Pareceu-me o momento certo.
– Espere. Está dizendo que não pretendia me beijar?
– Se eu lhe dissesse que iríamos viajar pelo tempo, não teria graça... – ele disse, sorrindo e arqueando uma de suas sobrancelhas.
– Você me usou!
– Qual é o problema? Não é isso que você vive fazendo com as pessoas?
já estava pronta para protestar quando Chuck colocou o dedo em sua boca.
– Tire a mão de mim!
– Chegamos. Conhece esse lugar?
olhou à sua volta e viu um quartinho escuro e pequeno.
– Não.
– Tem certeza? Olhe direito...
A garota observou com atenção e percebeu que havia uma cama naquele quarto, onde uma garotinha de uns quatro anos estava sentada.
– Sou eu! Esse é o quarto da Dorota!
– Exatamente.
– Mas... Por que estou chorando? E o que estou fazendo no quartinho da empregada?
– Você não se lembra? Vamos assistir.
Dorota chegou e abraçou a de quatro anos por um longo tempo antes de dizer:
– Não fique assim, senhorita . Tudo irá se ajeitar.
– Papai não quer mais viver comigo.
– Isso não é verdade, docinho. Você sabe que não.
– Então por que ele foi embora na noite de natal?
– Não sei... Mas com certeza não foi por sua causa. Ele lhe deixou uma cartinha. Lembra-se? Dizendo que vai vir visitá-la sempre...
– Não quero que ele me visite. Quero que viva comigo.
Dorota fez uma cara triste. Abraçou novamente a menina.
– Meu anjinho, há coisas que não tem explicação.
Ficaram mais um tempo abraçadas até que a babá disse:
– Enxugue essas lágrimas e sorria. Vamos voltar para a festa. Logo, logo, Papai Noel vai chegar e, se você não estiver na sala, ele não irá encontrá-la.
– Papai Noel não existe. O que eu pedi ele não trouxe.
– Como não trouxe? – a mulher perguntou perplexa. – Todos os anos, ele lhe traz milhares de brinquedos e roupas novas! O que falta ainda?
– Meu pai.
sentiu uma lágrima descer por seu rosto e se virou para Chuck.
– Satisfeito?
– Foi a partir desse dia que você passou a odiar o natal – o menino falou, ignorando o seu comentário. – Desde então, começou a ser mimada, ingrata e mandona.
– Desculpe-me. Achei que estivéssemos falando sobre mim...
– E em que momento você não estava falando sobre si?
– Sempre fui uma criança doce. Não importa como me tornei hoje – afirmou peremptória.
– Então veja – e dizendo isso, os dois foram transportados para a sala da mansão.
Dessa vez, tinha oito anos e estava no centro de um círculo de criados.
– Dorota, traga os meus presentes de aniversário.
A babá fez o que a garota pediu e os deixou na frente da garota.
– Vocês chamam isso de presentes? Respondam! – gritou ela quando não ouviu resposta.
– Si... Sim, senhorita – atreveu-se a responder um dos criados.
– Pois eu os chamo de lembrancinhas. Passagens para a Disney? Como se eu não fosse para lá todo feriado! A casa nova da Barbie? Ridículo! Já tenho cem dessas. Pedi uma em tamanho real.
– Já lhe pedimos desculpas por esse engano, senhorita , e dissemos que mandaríamos fazer uma...
– Quieto! Não terminei ainda.
A menina continuou com uma lista enorme de presentes caros, os quais ela alegava não serem bons o suficiente.
– Já chega! Deu para entender que não fui nenhum anjinho.
– Você passou toda a sua vida sendo mimada, dando ordens, vivendo do luxo e esbanjando dinheiro, como eu. Usando as pessoas e se aproveitando delas por ter maior condição financeira.
– O que aconteceu com “o roto não poder falar mal do esfarrapado”?
– É desconsiderado quando o roto é fictício – Chuck Bass disse, dando outro sorriso pela metade e a olhando de rabo de olho. – Vamos. Minha missão acabou por aqui.
– Podemos continuar de onde paramos... – mal a garota concluiu a frase e se percebeu sentada sozinha em sua cama com uma bandeja de sushis à sua frente.
– Que ótimo! E nem ao menos deixou talher ou saquê. Terei que ir buscar eu mesma. A ineficiência parece estar dominando a humanidade – falou, suspirando e levantando-se de sua cama para ir até a cozinha.

***


olhou impaciente para seu relógio. Eram três da tarde. O fantasma estava atrasado. Talvez ele tivesse se perdido. A garota pegou o sininho que usava para chamar Dorota e saiu tocando pela casa, decidida a encontrar o seu próximo fantasma gostosão.
– Aqui! Fantasma, fantasma! – ela chamava, passeando de cômodo em cômodo, sem parar de tocar o sino. – Sobrenatural! Força do além! Aqui! Lorde Marcus, Nate Archibald, Eric Van Der Woodsen, Aaron Rose... Fantasma do presente!
Após algumas voltas pela casa, a menina suspirou, desistindo de chamá-los. “Talvez devesse atraí-los”, pensou, sorrindo. Era isso. Ligaria para Dorota e ela lhe ensinaria como atrair um fantasma. Sempre fazia coisas estranhas para afastar os espíritos. Então fazer o contrário devia trazê-los para perto.
A garota pegou o telefone e apertou o botão para ligar, mas desistiu, lembrando-se de que demitira a governanta. “Quem precisa dela? Posso fazer isso sozinha”, pensou.
– Alô – uma voz masculina saiu do outro lado da linha, sem que tivesse ligado ou que o telefone tivesse tocado, e a garota deu um berro de susto.
– Isso, sim, é uma recepção convencional de um fantasma – a garota escutou a voz familiar masculina falando atrás de si e virou-se. – Dan Humphrey...
– Se eu não soubesse que sou um fantasma, estranharia esse desapontamento na sua voz.
– É que eu não estava o esperando.
– Ah, não. Ninguém em sã consciência espera um fantasma.
– É... Claro... Quem seria tolo suficiente? – deu um sorriso amarelo e Dan entortou a cabeça, olhando-a de rabo de olho.
– Creio que você sabe que não há nada de errado em sua vida. Estamos a visitando porque o natal no submundo é muito chato e monótono – o garoto falou, sorrindo.
– Tenho certeza disso... É o fantasma do presente?
– Não. O do futuro. O do presente se perdeu no caminho.
– Você estava me observando? – a garota perguntou incrédula.
– Sim.
– E por que me deixou o procurando que nem uma boba?
– Pela ciência.
– O quê?
– Nunca antes no mundo um fantasma havia fugido de um humano. Sabe como é... Geralmente somos nós quem o procuramos.
– Exceto dos caça-fantasmas.
– Exceto dos caça-fantasmas – concordou o garoto.
– Certo... Mas acho que você se enganou. Não pode ser o meu fantasma do presente!
– Por quê? Só por que sou tão sexy quanto o Chuck? – ele perguntou, sorrindo.
– Se fosse do futuro, eu até entenderia... Seria alguma liçãozinha de moral, dizendo que, se eu não mudasse, seria pobre e miserável como as pessoas de classe média. Agora... O fantasma do presente? Só pode estar havendo algum equívoco.
– No final de minha visita, você verá que tenho mais a ver com seu presente do que pode imaginar. Ou não.
– E se você não fosse pobre e contra o bom uso desnecessário do dinheiro, eu poderia até achá-lo fofo.
– Você sabe que sempre teve uma queda por mim – Dan sorriu. – No entanto, para você, admitir isso é assumir que algo como a beleza pode estar presente nos lugares onde a carteira não é lotada. E isso para você é inaceitável.
– Nossa, como você me conhece bem – a menina falou, erguendo uma sobrancelha irônica.
– Claro. Sou seu fantasma do presente. Conheço-a melhor que todos os outros. Sei exatamente como você é porque faço parte de você, do momento em que vive.
– Que profundo – virou os olhos.
– Venha cá.
– Algo que preciso ver... Já sei, Já sei.
– Nossa, mas até parece que você já escutou isso antes... – Dan falou de sobrancelhas erguidas, com um sorriso divertido e um olhar irônico.
Mais uma vez, ela entrou naquele túnel em que estivera naquela manhã mais cedo e sentiu o seu corpo flutuar. Só que, dessa vez, a viagem fora rápida. Aterrissaram em sua mansão. Dessa vez, na cozinha. Um grupo de funcionários estava reunido em volta de uma mesa.
– Hoje de manhã, eu disse a ela que a limusine estava lavando e a menina me perguntou desesperada como iria para o shopping. Pediu para alugar outra – uma mulher de roupa branca confidenciava ao resto do grupo.
– Aposto a minha vida que ela não sabe que há um ônibus que passa aqui praticamente na porta de sua casa e pára em frente ao shopping – zombou um cara.
– Transporte público? Ela nem mesmo conhece essas palavras! – completou outro e todos os funcionários riram.
gargalhava junto.
– Que otária! – disse, virando-se para Dan. – De quem eles estão falando?
– Voltem aos seus afazeres e parem de falar mal da patroa. Já é quase natal – Dorota falou, entrando na cozinha.
– Deixe de ser boba! Junte-se a nós. Entre todos, você é quem mais sabe que nos trata como cachorros – falou o cozinheiro.
Dorota fez cara de brava e disse:
– Tenho certeza de que está enganado. Ela trata os cachorros melhor.
Todos riram.
– Os cachorros ela ainda respeita. Leva-os à manicure, ao cabeleireiro, shopping... – acrescentou uma ajudante do cozinheiro. – Aposto que o que ela gasta com eles é três vezes maior que o seu salário.
– Quatro – disse baixinho.
– Lógico que sim! Do jeito que ela é miserável, uma pestinha mimada desde o berço – falou uma das funcionárias mais antigas.
– Insuportável! – concordou outro.
– Aquela lá é capaz de acreditar que o dinheiro nasce em árvores – caçoou outro e todos riram, inclusive Dorota.
– Como se atrevem...? – observava indignada. – Vou demiti-los... Todos!
– Você já fez isso – lembrou Dan.
– E faria de novo, se fosse possível – a garota disse após algum tempo. – Já vi o suficiente. Leve-me daqui.
– Ainda não terminamos por aqui.
– Chega, pessoal. Sei que a patroa extrapola às vezes... Muitas vezes... Mas precisamos ver o lado dela também. O seu pai abandou a família quando ela tinha quatro anos e a sua mãe sempre esteve muito preocupada com o trabalho para estar ao lado dela.
– Lá vem você com essa história de novo... – comentou o jardineiro, virando os olhos.
– Apesar desse jeito dela, tenho certeza de que no fundo, bem no fundo, ela é uma boa garota de bom coração.
– Tão boa que nos faz trabalhar no natal! – comentou uma das criadas sob a aprovação dos outros.
Dorota hesitou e então disse:
– Não esse ano. A senhorita pediu para que liberassem todos no dia vinte e quatro e vinte e cinco de dezembro.
– Você não pode estar falando sério.
– Estou... – disse a mulher, forçando um sorriso, e todos os funcionários saíram animados.
– Ela não falou isso. Falou? – depois que todos já haviam ido embora, a governanta que estava na casa desde que nascera cochichou para a amiga.
– Não exatamente...
– Dorota, Dorota... Cuidado! Não se comprometa com o que não pode cumprir.
– Não se preocupe! Pedi a ela.
– E ela concedeu?
– Ela disse que estava ocupada. Quando falei que era muito importante, disse qualquer coisa como: “faça o que quiser, contanto que não me perturbe”.
– Ela me enganou! – reclamou a garota inconformada.
– Pobrezinha – disse Dan, fazendo cara de pena.
– Podemos voltar agora?
– Quanta impaciência! Fique tranqüila. Faremos apenas mais uma visita e depois voltaremos.
Novamente, eles mergulharam em um labirinto e seu corpo flutuou. De repente, pousaram. Dessa vez, estavam em um lugar diferente. Um local pequeno, humilde... Que com certeza não era a sua mansão.
– Que lugar é esse? – perguntou, franzindo a testa.
– Estamos na casa da irmã de Dorota.
– Como está se sentindo? – Dorota perguntava, olhando o termômetro que tirara do braço da irmã.
– Melhor.
– Bem... A sua febre abaixou.
– Preciso lhe agradecer por tudo que tem feito por mim esses dias...
– Besteira! Não foi nada de mais. O que é feito pelo coração dispensa agradecimentos.
– Você deve ter se metido em encrenca por estar aqui.
– Imagine! Senhorita é a pessoa mais compreensível que conheço – mentiu Dorota, sem coragem de contar à irmã que fora demitida e ainda fizera outras pessoas serem também.
– Sou? – perguntou , sorrindo presunçosamente.
– Não. O contrário é mais provável.
Os bebês começaram a chorar.
– É melhor eu me levantar... – a irmã de Dorota fazia esforço para se erguer.
– Não seja boba. Você ainda está fraca demais. Deixe. Eu vejo o que elas têm.
Dorota se levantou e, carregando os bebês em seus braços, cantou uma canção de ninar.
– Espero que o meu marido consiga um emprego logo... – comentou a doente.
– Tenho certeza de que ele voltará com boas notícias.
Nesse momento, a porta da casa se abriu e entrou um homem com vestes simples, carregando um peru. Ele entrou e cumprimento cada um que estava presente.
– Trago boas novas!
– Conseguiu o emprego? – perguntou Dorota contente
– Ainda não sei. Eles responderão depois do natal. Mas antes de vir para casa, encontrei um cachorrinho perdido e dei um de nossos pães a ele. O dono, que estava preocupado com o seu animalzinho, chegou e não ficou satisfeito até que eu aceitasse o peru como agradecimento. Falou que não lhe faria falta. Pelo contrário, que estava sobrando.
– Isso é ótimo! Teremos então algo para ceia de natal além dos pães – disse Dorota.
– Está me dizendo que eles não têm o que comer na ceia? – perguntou intrigada.
– Sim – respondeu Dan com um suspiro triste.
– Mas por que ela nunca me falou nada?
– Porque não é problema seu.
– Quem disse isso?
– Você. Hoje de manhã.
– Já está na hora – o homem falou, colocando o peru já assado na mesa e depois indo pegar os filhos no carrinho, enquanto Dorota ajudava a irmã a se levantar.
Eles se reuniram em volta da mesa e deram as mãos. O homem puxou uma oração, agradecendo por tudo o que eles tinham: os filhos, a comida, a alegria e a presença de todos.
– Você só pode estar de brincadeira! Olhe como eles vivem! O que eles têm para agradecer? – mais uma vez demonstrava-se indignada.
– Quer que eu repita as intenções?
– Não. Obrigada. Eu ouvi, mas... Tanta coisa faltando. Eles tinham era que pedir.
– Quando não se tem muita coisa, aquilo que se tem é muito. É mais fácil de enxergar.
– E o que eles têm?
– Algo muito mais valioso do que tudo aquilo que você tem junto com o que não tem: amor, união.
E dizendo isso, apareceu em sua sala sozinha.

***


– Estou pouco me lixando para se são fantasmas sexies! Não vou mais deixar nenhum entrar na minha casa – a garota estava determinada a bloquear a entrada de qualquer espírito em sua casa. Ela passeava pela casa, jogando sal grosso e água benta em todos os quartos. – Já chega de visitas sobrenaturais para um único dia. Tenho mais o que fazer! Ainda mais o fantasma do futuro... Quem disse que quero conhecer o meu futuro?
A menina parou em seu quarto, acendendo velas em sua cômoda. Fez um círculo de sal grosso em volta de sua cama, colocou um colar com uma pimenta vermelha que pegara de sua geladeira e despejou o resto da água benta em sua cama.
Satisfeita, se deitou em sua cama e olhou o relógio. Já eram onze e meia da noite. Ela tinha passado a tarde pesquisando na internet como afastar fantasmas e preparando amuletos contra espíritos. Aparentemente, conseguira o seu objetivo: manteve as almas sem corpo longe de sua mansão. Faltava só mais meia hora para o dia acabar e, se nenhum fantasma aparecesse, era porque ela tinha cumprido bem a sua missão.
Após algum tempo de observação, se deu por satisfeita e deitou a cabeça no travesseiro. Faltavam só quinze minutos. Ninguém apareceria. Ela estava a salvo. Podia descansar em paz. Deu um suspiro demorado e fechou os olhos.
Já estava sonhando quando ouviu um barulho forte e intenso. Parecia o de um sino... Ela chegou a pensar que fazia parte do seu sonho. No entanto, quando o estrondo se repetiu, percebeu que o som vinha de sua casa, mais especificamente de seu quarto, e abriu os olhos.
Ela deu um berro ao perceber que não estava mais no seu quarto. Encontrava-se em um lugar escuro, pequeno, um pouco maior que ela, abafado e fechado. Horrorizou-se ao perceber o que aquilo era.
– Tirem-me daqui! SOCORRO! – ela se debatia contra o caixão, batendo forte contra suas paredes. – TIREM-ME DAQUI! Ainda estou viva! Por favor! Sou jovem demais para morrer!
A garota já estava quase sem fôlego quando viu a tampa do caixão se mover. Alguém teria ouvido os seus gritos e estava salvando-a! Não podia acreditar. Por um minuto, achou que iria morrer ali!
A tampa foi erguida e uma mão estendeu para ajudá-la a sair. Ela a agarrou e se apoiou para conseguir se levantar. Sentia-se aliviada por ter sido tirada dali. Contudo, ainda tremia de medo.
– Obrigada por ter me salv... – a menina estava agradecendo quando reparou no físico de seu herói. Não era nenhum personagem de Gossip Girl para o seu desespero.
Apavorada, ela se arrependia profundamente de reclamar de seus antigos fantasmas. Esse trajava uma capa preta longa e tinha um capuz que cobria sua cabeça e impedia a visão de seu rosto.
– De nada – respondeu uma voz aveludada, tirando o capuz e revelando o seu belo rosto.
– Nate Archibald! Não acredito... Você me deu o maior susto. Não poderia tocar a campainha, ligar ou me fazer entrar em um restaurante como os outros?
O garoto sorriu.
– Desculpe-me. Não foi minha intenção assustá-la – olhou para ele, arqueando uma sobrancelha, e ele acrescentou, rindo. – Certo. Talvez tenha sido. Mas achei que queria mais espíritos em sua casa...
– Está me dizendo que as minhas precauções não funcionaram?
– Não mesmo – o garoto disse, rindo.
– Então, por favor, leve-nos até lá – a menina pediu de cara fechada, porém aliviada.
– Como quiser – e dizendo isso, os dois apareceram no quarto da garota.
Ela suspirou aliviada, abraçando o seu travesseiro. Depois olhou o relógio e disse brava:
– Onze e cinqüenta e nove. Um minuto e eu me livrava de você.
– Ei, calma. Não mordo. Você já recebeu três visitas. Que diferença faz mais uma?
– Exatamente. Três fantasmas em um único dia não é o suficiente para você? Além do mais, nenhum deles me prendeu dentro de um caixão!
Nate riu de novo e abraçou a garota que estremeceu com o gesto inesperado. Ele passou a mão por seu cabelo e perguntou com sua voz aveludada:
– Sou o fantasma do futuro. Você já deve ter ouvido que esse é o pior e mais assustador dos quatro espíritos.
– Sim – respondi mais baixo, agora que estava mais calma. – Por isso tentei impedir a sua entrada. Eu sabia que queria me assustar.
– Não quero assustá-la – ele disse, sorrindo e pegando o seu rosto, sem tirar os olhos dos seus.
– De todos os fantasmas, você é o mais cruel. É você quem preciso temer. Os outros me mostraram apenas aquilo que já sei. Você me mostrará as minhas conseqüências, o que temo saber.
– Tem medo de mim? – Nate falou, ainda encarando-a, enquanto passava um dos polegares por seu rosto.
– Não. Tenho medo do que vai me mostrar.
Ele a olhou intensamente e rosto dele foi se aproximando do seu, parando com a testa gelada, encostando-se à sua. Ela via seus olhos azuis a olhando intensamente. Seus narizes se encostaram e, ao toque de seus lábios, ela sentiu o seu corpo se desprender e mais uma vez mergulhar naquele túnel.
– Se o Dan não tivesse me levado para ver o presente sem me assediar, eu diria que a chave para viajar no tempo é beijar um fantasma – falou mal-humorada.
– Não me leve a mal. Estou em horário de trabalho – desculpou-se um Nate doce.
– Tudo bem. Eu já deveria ter aprendido a lição mesmo. Fantasmas não se misturam com humanos.
– Bem, na verdade... – o garoto começou a falar, mas parou ao chegarem a um jardim enorme. – Chegamos.
Estava chovendo, entretanto não sentia a água e nem mesmo se molhava. Era um jardim enorme e uma mulher gorda estava parada, olhando para o chão. Ao se aproximarem, a menina percebeu que era Dorota – só que algumas dezenas de anos mais velha. A mulher estava parada diante de um caixão. O mesmo caixão no qual a menina tinha acordado há pouco antes de encontrar o seu último fantasma.
– É o que estou pensando?
O menino apenas afirmou com um gesto de cabeça breve.
– O meu enterro...? – ela sentiu necessidade em confirmar em voz alta para se certificar de que realmente havia entendido bem.
– Sim.
– Onde estão as pessoas? Minha família? Meus amigos? Meus criados?
– Seus pais partiram para o outro mundo antes de você e todos os outros estão aqui.
A garota parou, observando. Não havia mais ninguém no jardim além de Dorota e um padre que rezava por sua alma.
– Eles já foram embora?
– Não. Todo mundo que se importa está aqui.
– Está me dizendo que...?
– Sim.
– Apenas a Dorota se importa – esperou para ver se Nate negava. Todavia, ele não disse nada.
– Você não criou laços com ninguém. Sempre manteve as pessoas ao seu lado pelo seu dinheiro. Ninguém gostava de você, com exceção de Dorota que a criou desde pequena, mesmo que tenha a demitido e que os sobrinhos dela tenham passado um bom tempo passando fome. Foi ela quem cuidou de tudo: da sepultura, do caixão, da lápide. Você não tinha mais ninguém.
sentiu seus olhos se umedecerem. Esse com certeza não era um fim digno para ninguém. Alguém que estivera a vida toda rodeada por milhares de pessoas e agora terminava em um caixão sozinha, onde a única pessoa que lamentava de sua morte o fazia por pena.
Dorota deixava que as lágrimas caíssem. Ela se abaixou e colocou uma flor no caixão, dizendo as seguintes palavras:
– No fundo, bem no fundo mesmo, eu sempre soube que ela era uma boa menina.
agora tinha os olhos vermelhos e as lágrimas rolavam por seu rosto. Nate tentou enxugá-las com o polegar, porém, como eram muitas, ele acabou desistindo. Pegou a sua mão e os dois apareceram em outro lugar.
Dessa vez, estava lotado. Todos que ela conhecia estavam lá.
– Até que enfim. Contei os dias para esse momento – falou uma de suas antigas criadas.
– Essa sempre foi a maior qualidade dela – afirmou outro.
– Você quer dizer a única – disse o que estava ao seu lado.
– Onde estamos? – a menina perguntou ao garoto, intrigada.
– Silêncio. Vão começar a ler o testamento.
– Você está me dizendo que vieram mais pessoas para a leitura de meu testamento do que a meu enterro?
Nate apenas lhe deu um olhar condescendente.
–“Eu declaro que todos os meus bens devem permanecer intocados em minha memória.”
– Miserável! – reclamou um dos homens.
– Mesquinha até depois de morta.
– Por isso a infeliz não tinha ninguém ao seu lado!
– Interesseiros! – disse , chorando. – Todos eles! Leve-me daqui.
– Isso foi o que você construiu. Só tem mais uma coisa que precisa ver... – falou o garoto e, abraçando-a, levou-a para a casa agora vazia e abandonada.
O lugar estava infestado de bichos, sujo, imundo e sozinho. Era como se a sua história também estivesse em decomposição. Havia uma mulher parada lá. Parecia ser uma de suas primas – uma que ela quase nunca via.
– O corretor disse que isso aqui não vale mais nada. Como ela não deixou os bens para ninguém, esse lixo me pertence – a mulher se dirigia ao marido.
– O que pretende fazer com isso? – perguntou o marido com cara de nojo.
– Mandarei tirarem todas as jóias e objetos de valor para mim e depois podemos demolir e construir um hotel. O terreno é grande. Dá para aproveitar.
– CHEGA! – gritou. – Quero ir embora! Não preciso ver tudo isso.
Ela sentia o seu rosto quente enquanto as lágrimas não cessavam. Nate a levou de volta para sua casa. A menina sentou-se na sua cama, segurando o seu rosto. O fantasma apenas sentou-se ao seu lado e ficou passando a mão em seus cabelos, sem dizer nada.
– Esse é o meu futuro? É assim que as coisas têm que ser?
– Não. Isso é uma possibilidade para seu futuro. É como as coisas vão terminar, se você continuar assim.
– Quer dizer que ainda pode mudar?
– Sim. Essa é a minha diferença dos outros fantasmas. Não sou certo. Como você mesma disse, sou as suas conseqüências. É o seu presente que determinar meu rumo. O futuro depende do presente.
– Então... Tudo está em minhas mãos...
– Exatamente – disse Nate, dando-lhe um beijo na testa. – A escolha é sua.
E dizendo isso o garoto desapareceu. suspirou, olhando para seu quarto grande e vazio como o resto do natal. Milhares de pessoas agora estavam reunidas com as suas famílias, rindo e se divertindo, e lá estava ela, sentada sozinha em sua cama. Levantou-se, vestiu um casaco e pegou um champanhe em sua geladeira e um panettone. Tinha certeza de que Dorota não lhe negaria um lugar à mesa.

***


Na manhã seguinte, era natal. acordou com o som de sua campainha. Espantada a menina se levantou, perguntando-se quem seria. Estavam todos os criados dispensados e ela não estava esperando ninguém.
– Mãe! – disse a menina surpresa. – Achei que estivesse viajando!
– E estava, mas resolvi dar uma passadinha aqui. Não se importa. Importa?
– Claro que não! Você é bem-vinda aqui a qualquer hora. Especialmente no natal...
A mulher sorriu e as duas se abraçaram.
– Incomoda-se se eu convidar mais gente para o dia de hoje?
– De jeito nenhum. A casa é sua, . Quem pretende chamar?
– A todos. Nossa família, meus funcionários... É natal, é dia de união. Quero todos presentes. Irei dar uma festa...

***


já se preparava para dormir. Todos os seus convidados já haviam ido embora quando mais uma vez ouviu sua campainha tocar. Ela enrugou a testa, imaginando quem poderia ser. Talvez alguém tivesse se esquecido do casaco ou coisa assim.
A menina desceu para atender a porta de pijama mesmo e seu queixo caiu ao ver quem estava do outro lado da porta.
– Feliz Natal! – Chuck Bass, Daniel Humphrey e Nate Archibald estavam de pé, os três usando gorros de papai Noel.
– Não vai nos convidar para entrar? – perguntou Nate, sorrindo.
– Claro... Podem entrar.
– Talvez você esteja se perguntando por que viemos – disse Dan.
– Mas caso você tenha se esquecido... – falou Chuck, chegando mais perto com o seu olhar profundo e meio sorriso. – Fantasmas são seres que ficaram na Terra por terem tarefas inacabadas.
– E algo me diz que ainda há algo que estamos devendo a você – completou Nate com o seu sorriso doce.

Abri os olhos e vi os créditos de “Os Fantasmas de Scrooge” rolando. Decepcionada por ter perdido o filme e tudo aquilo não ter passado de um sonho, desliguei a TV. A campainha tocou e sorri, lembrando-me dos últimos momentos de meu sonho. Seria ótimo, se aquilo tudo fosse real...
A menina abriu a porta e se espantou com quem encontrou ali parado.
– Nate? – ela falou, sorrindo.
– Erm... Não. Sou Aaron. Seu novo vizinho... – falou o garoto que era extremamente parecido com Nate Archibald.


Fim!



Nota da autora: Oi, pessoas! =) Em primeiro lugar: feliz natal e um ótimo ano novo!
Fic baseada na série Gossip Girl e na história Os Fantasmas de Scrooge. Espero que tenham gostado. ^^





comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.