Only The Strong Survive

Beta Reader: Lara Scheffer


Prólogo

- Você não entende? Quero você fora disso! – Toddy gritava pelas escadas do prédio, indo em direção ao piso térreo e eu indo atrás dele.
- Eu vou com você. Não vou deixar você ir lá sozinho. – Ele descia as escadas rapidamente e eu tentava alcançá-lo.
- Eu não vou deixar você ir.
- Você não pode escolher isso, eu vou você querendo ou não.
- Não tem medo de morrer ? Deveria.
- Não! Eu quero ficar do teu lado.
- Você não pode, eles vão te matar se você for. Você sabe demais , e quem sabe demais, morre.
- É o único jeito de acabar com isso! – Ele parou na escada, então o alcancei.
- Quer fazer uma coisa? Arranje dinheiro então. Não pode acabar com isso, terá sempre alguém por trás, tem muita coisa por trás. Então... Vai lá pro Stage 10 (n/a: não existe, mas é como se fosse um fliperama abandonado que usam como esconderijo) e faça mais alguns Green Cards, comprei mais papel especial. Venda aquilo para os clandestinos que estão hospedados no quarto ao lado do meu. Não pense em vir atrás de mim, não vou suportar se alguma coisa acontecer com você, quero evitar isso ao máximo.
- Mas...
- E não se fala mais nisso. – ele desceu mais um lance de escada, mas deu meia volta e subiu de novo onde eu estava. – , eu te amo.
- Eu também te amo. – respondi e ele selou nossos lábios. Deu um último aceno e um olhar doloroso, com o branco dos olhos avermelhados devido ao seu vício. Toddy abriu a porta de acesso ao térreo do prédio barato em que ele residia e saiu.
Desci vagarosamente, sem vontade de ir ao Stage 10. Andei os dois quarteirões até lá, entrei pelo lugar de sempre: a madeira solta ao lado da entrada lateral. Esperava encontrar aquilo abandonado e vazio, só esperando eu chegar ao meu cantinho e fazer os malditos Green Cards.
Mas eu estava enganada quanto a isso nesse dia.
Escutei vozes alteradas vindo de uma sala. Cheguei perto da porta toda quebrada e dei meia volta, com medo que me vissem.
Encostei-me a uma parede próxima. Lá havia uma pequena perfuração, na qual me permitia ver tudo o que acontecia naquela sala.
Não perdi tempo e comecei a olhar e escutar atentamente:
- Eu quero a grana! Você pensa que vai me fazer de otário até quando? – Um homem alto, forte e mal-encarado perguntou a um homem sentado, de terno, aparentemente um executivo que visivelmente estava um pouco tenso.
- Eu te darei o dinheiro assim que me mostrar os resultados. – O suposto executivo disse num tom calmo e cauteloso.
- Eles já estão sendo feitos, se continuar de frescura você morre, aqui mesmo.
- Sem resultados, sem dinheiro.
- Sem grana, sem vida. Qual vai ser? – O homem sacou uma arma apontando na testa do executivo, que por mais incrível que pareça não mostrou sinais maiores de tensão do que já estava, mas era claro que estava assustado.
- O caso é que... – O executivo respirou fundo e fechou os olhos, provavelmente para soltar uma notícia desagradável. – A minha multinacional está falindo, preciso de seus serviços para reerguê-la. Só que eu não me dei conta, que o dinheiro é muito, então... Não tenho o dinheiro.
- Você é dono de uma multinacional, como me diz que não tem dinheiro?
- Ela está falindo, ações despencaram, dinheiro não entra, funcionários despedidos, empresa fechada. Sem empresa, sem dinheiro.
- Foi o que eu falei... – O bandido andou em volta do executivo, olhando fixamente para ele. – Sem o dinheiro, sem vida. – Sua frase foi terminada ao som de sete tiros em disparada. O homem caiu ao chão ensangüentado, pelo que pude perceber ele havia recebido os sete tiros certeiros: cinco no peito e barriga, dois na cabeça. Tampei meu grito de horror com a boca, difícil de conter, tão difícil que ficou audível a ponto do atirador ter percebido. Ele olhou em volta da sala e depois olhou diretamente na perfuração da parede em que eu espionava. Assim que o percebi olhando, saí correndo ouvindo os passos dele saindo daquela sala. Saí pela madeira solta, correndo entre as pessoas na calçada, rezando para que aquele monstro não tenha conseguido me seguir.
Se for depender de mim, ninguém irá ficar sabendo disso, vida de testemunhas é um caos. Esse acontecimento morreu aqui, assim como aquele homem.

Capítulo 1 – Chance

Deixar o passado para trás, pra mim, não é a melhor maneira de recomeçar. Eu estava deixando tudo para trás: Amigos, namorado - agora, ex-namorado, a causa dos meus problemas - Miami, meus pais. Meus pais decidiram me mandar para um internato, não poderiam ser mais absurdos, categóricos, mas, por fim, clichês: Inglaterra. Poderia ser pelo menos na capital, mas meus pais fizeram questão de não escolher Londres, eu não sabia o porquê. O Internato ficava em North Yorkshire, o maior condado da Inglaterra, ao nordeste, bem longe de Londres. Pelo menos não era o fim do mundo, lá havia pubs, grandes universidades e o Queen’s Shire College, meu mais novo lar, que ficava entre Harrogate e York.
Meu ‘Adeus’ era dado à Miami em algumas poucas lágrimas, dificultando ainda mais a minha visão dos coqueiros, das casas de arquitetura arrojada, do mar azul. Apesar de não gostar do sol, eu amava a praia. Costumava surfar quando eu saía da escola. Só pegava minha prancha no meu apartamento de frente para a praia e ia curtir.
Eu ia sentir falta da praia, do sol nem tanto, mas sim da praia...
A caminho do aeroporto de Miami, tudo o que eu havia passado virara um filme em minha mente. O dia em que conheci Toddy... Eu estava prestes a me afogar e ele me salvou. Tenho uma terrível queda por heróis, nunca escondi isso. Eu e Todd namoramos por um ano e meio, chegou uma hora que ele não era mais meu herói, era o vilão. Ele era perfeito, até ele andar com as pessoas erradas e eu me envolver com toda a confusão feita.
No começo ele tinha as melhores intenções: Ajudar clandestinos a entrarem no país, para levarem uma vida melhor. Ele foi enganado, por Aaron e Marvin, dois vermes da pior espécie. Aqueles dois ajudavam clandestinos a entrarem no país, mas os usavam para transportar drogas pela fronteira. Eu comecei a me envolver a pedido de Todd, eu ajudava os clandestinos que vinham por mar e os levava até um lugar seguro. Depois comecei a falsificar Green Cards, então eu e Todd ganhávamos o lucro com os Green Cards sozinhos, sem dividir com aqueles dois. Todd se acabava em drogas, e conseqüentemente se tornou violento. Mas eu o amava, sabia que ele também sentia isso por mim e que tudo de ruim que aconteceu, foram em conseqüência das drogas.
Apesar de não ser uma viciada, com todo esse envolvimento, minhas notas relativamente boas caíram drasticamente, meus verdadeiros amigos se afastaram e eu tinha problemas com meus pais. Não avisava aonde ia e ficava semanas fora de casa.
Juan era o único amigo que eu tive nessa época, agora ele está bem melhor que no começo. Ele era desesperado, inocente, seu sonho era dar qualidade de vida para a família no México. Ele era um rapaz bonito, achou uma esposa americana aos 20 anos de idade, já ela tinha 38, mas era bonita e uma boa pessoa. O nome dela era Catherine, me ajudou muito de uns tempos pra cá, quando descobri que eu ia embora. Eles eram os únicos em que eu podia confiar, já que apesar de ainda namorar Todd, mal falava com ele. Às vezes ele se mostrava deprimido e dizia que queria voltar a ser o que era antes, mas às vezes era um monstro. Meus pais não sabiam mais o que fazer comigo, - meu pai, John, e minha mãe, Stela - me encaminharam a psicólogos, terapeutas, todo o tipo de médico, só faltavam curandeiros. Nunca deram resultado algum, eu estava cega. Apesar de tudo, eu era muito ingênua. Ganhava dinheiro à custa do desespero dos outros e eu ainda achava que estava ajudando... Eu era, no mínimo, muito tola.
A gota d’água foi quando eu fui presa, por tráfico de drogas e falsificação de documentos. Aconteceu que Todd foi preso, então entregou Aaron e Marvin, mas eles me envolveram na história. Todd prestou depoimento, dizendo que eu não tinha nada a ver com aquilo, que eu era inocente. Sou grata a ele por isso. Nesse momento eu tive a certeza que, apesar de tudo, ele gostava de mim.
Mesmo assim, fui condenada à falsificação de documentos. Eu não ia ficar presa, meus pais pagaram fiança e além de tudo eu era menor de idade. Aaron e Marvin queriam matar Todd por ele ter os entregado e eu já havia recebido ameaças pelo telefone. Eu já sabia que eu ia embora de Miami, mas depois dessa minha mãe decidiu me levar para um internato fora do país, sem querer me manter nos Estados Unidos. Enfim, estava aqui, em frente ao aeroporto e o horror que eu passei todo esse tempo em Miami vinha como num filme em minha memória atordoada. Já havia me despedido de Juan e Catherine. Eu odeio despedidas. Achava que tinha chorado tudo o que tinha que chorar ontem, mas minhas lágrimas voltavam sempre, chorar era rotina pra mim nessas épocas atormentadas da minha vida.
Eu, com meus tumultuados dezesseis anos, prestes a fazer dezessete, andava entre Stela e John, no aeroporto. Já havia feito check-in, minhas malas já haviam sido despachadas e eu só esperava o meu embarque.
Meus pais estavam sérios, calados. A voz que chamava os vôos ecoava dando a primeira chamada para York, de lá eu ia de táxi para o internato. Me levantei vagarosamente e minha mãe me abraçou forte, chorando. Tentei me segurar, mas chorei também.
- Se cuida minha filha, lá com certeza você vai ter uma chance de voltar a ser o que era, mesmo sem Miami, ouviu ? – Minha mãe falava docilmente e ao mesmo tempo séria, nas raras vezes que não usava meu apelido. Ela foi quebrando todo o gelo que havia se instalado há tempos na nossa vida, era um iceberg. Quando ela me soltou, meu pai me deu um abraço duro e rápido, virando-se para esconder que estava chorando. Eu disse simplesmente as palavras que eu não me lembrava da última vez que havia falado a eles:
- Eu amo vocês. Desculpe, por tudo – Disse enxugando as lágrimas e me virei indo para o portão de embarque, sem olhar para trás. Talvez seja bom para mim essa experiência de estudar num internato, ou talvez piore minha situação.
Do avião, Miami ficava pequena. Me dava uma angústia, sendo assim, abaixei o tampão da pequena janela bruscamente. A viagem seria longa e tudo o que precisava era esquecer as coisas ruins, visualizar coisas positivas, programar meu futuro, convencer o meu destino de que não seria nada mal eu ser feliz num lugar diferente. Coloquei os fones de ouvido, dentre todas as músicas alegres que eu tinha, aleatoriamente, uma melodia lenta foi me invadindo assim que as primeiras notas foram tocadas: Close to You, The Carpenters. Era uma música linda, romântica, apesar de eu não querer pensar em romance por um longo tempo.

Já estava em uma viagem de 13h30min, depois de passar por Plymouth e Cardiff, o avião estava em Londres, eu desembarcaria no próximo. A vontade de descer e ficar por lá era imensa, como se desse mesmo pra fazer isso. Mas não ia ser tão ruim em York, havia pubs lá, talvez eu pudesse conhecer um nas férias do internato.
O avião decolou novamente, já havia me acostumado com isso, eu estava realmente confortável. A comida do avião não era ruim como naquela vez que eu tinha ido para Nova York.

Depois de duas horas, eu desembarcava no aeroporto de York. O ar britânico invadindo meus pulmões tinha cheiro de vida nova. Estava bem frio, tinha saído de Miami com uns 77ºF (25ºC) e cheguei a York com 41ºF (5ºC). Coloquei meu casaco branco de lã, fino. Ainda sentia frio, mas melhorou minha sensação térmica.
Minhas três malas vermelhas - cheias de desenhos, letras de músicas e adesivos - era fácil de se enxergar na imensidão de malas comuns na esteira. Coloquei-as no carrinho, passei por mais alguns balcões, carimbos, vistos, até que eu pude finalmente sair do aeroporto. A brisa gelada parecia se divertir com meus cabelos que ficavam de fora da touca da blusa de lã. Podia ter 41ºF, mas para mim, era como se estivesse com uns 32ºF, eu estava congelando. Tinha vários táxis na porta do aeroporto, fui para o primeiro livre que vi. O taxista gentilmente colocou minhas malas no porta-malas. O táxi mais parecia uma van, de tão grande que era.
- Não quer pegar uma blusa mais quente na mala? – Ele percebeu que eu estava tremendo, eu apenas afirmei com a cabeça e cheguei perto do porta-malas em que eu caberia dentro sem problemas. Abri qualquer mala e achei uma blusa quente. Ela era bege e por dentro era forrada com lã espessa. Coloquei por cima da blusa fina, fechei a mala e o taxista fechou o porta-malas. Entrei no banco de trás e quando ele entrou, ligou o aquecedor.
- Para aonde?
- Queen’s Shire College.
- Certo. – Ele disse ligando o rádio.
Não desgrudei os olhos da janela, olhava as pessoas, as construções, os carros - eu tinha que me acostumar com o banco do volante de outro lado -, os campos, tudo muito bonito. Das praias badaladas de Miami para o campo, apesar de York ser mais urbano que rural e ser uma cidade grande. O taxista estava numa estrada no meio do nada, a cada dois quilômetros é que se via uma construção, era tudo um tapete verde, muito bonito. Não sabia se ainda estava em York e também não perguntei. Ao longe se via uma construção majestosa e tradicional. Quando chegamos perto, o taxista diminuiu a velocidade e parou na guarita. Um porteiro foi até lá.
- Pode deixá-la aqui, nós a levamos para dentro. – O taxista assentiu saindo do carro. Eu saí em seguida.
Um carrinho de pequeno porte ia chegando enquanto o taxista tirava minhas malas do carro. O motorista daquele carro saiu as pegando. Paguei ao taxista que foi embora logo depois me dizendo um ‘até mais’.
- Você deve ser a senhorita , de Miami, certo? – O porteiro perguntou segurando uma prancheta e uma caneta.
- Sim, sou eu.
- Assine aqui – Ele me entregou a prancheta e a caneta. Assinei ao lado do meu nome, indicado com um rabisco discreto da caneta dele. Entreguei em seguida. – Obrigado, Anthony te levará até dentro dos portões da escola. Seja bem-vinda! – Ele abriu um sorriso apontando o carrinho, onde minhas malas já estavam todas atrás.
- Obrigada. – Sorri de volta e sentei ao lado do motorista, o tal do Anthony, deveria ter seus vinte e poucos anos. O carrinho só tinha lugar para duas pessoas, lembrava aqueles carrinhos de golfe, pelo jeito essa escola deve ser imensa.
- Preparada para as aulas? – Anthony perguntou simpático. Ele era bonito, tinha um sorriso de dentes brancos, olhos e cabelos castanhos e um físico aparentemente impecável (n/a: sim, eu imaginei o Ant, e daí? –qq).
- Na verdade não. É estranho se mudar para um internato. – Disse despreocupada. Adoro pessoas simpáticas conversando comigo, porque eu geralmente não inicio uma conversa.
- Por que então está se mudando para cá?
- É uma longa história. – Eu sorri fraco, não querendo lembrar dessa história.
- Hum... Miami é quente, tomara que tenha trago muitos agasalhos e comprado uns dois kits de agasalhos dessa escola. – Ele percebeu que não queria falar de Miami.
- Acho que tenho agasalhos suficientes, duas malas são só de agasalhos. – Eu sorri.
O carrinho se posicionava em frente ao portão clássico da escola, era de uns cinco metros. Anthony saiu e apertou um interfone ao lado esquerdo daquele portão gigante. O portão era todo em barras de ferro e com o brasão da escola forjado no centro. Anthony se afastou do interfone para pegar minhas malas. De fora dava para ver o pátio da escola, estava vazio, eram 06h30min da manhã e não deve ser esse horário que os alunos acordam. Um dos lados do portão foi se abrindo, com aquele efeito de filme de terror, mas não era nada assustador. Não abriu inteiro, mas a passagem era tranqüila. Eu puxava uma mala e levava minha bolsa de mão, enquanto Anthony puxava minhas outras duas. Eu olhava deslumbrada, só o pátio era o tamanho da minha escola em Miami. Uma funcionária tinha saído da porta daquela construção linda e tradicional à minha frente e veio em nossa direção.

Capítulo 2 – Queen’s Shire College

- Bem-Vinda ao Queen’s Shire College. – ela sorriu e fez um gesto exagerado com as mãos. – Pode ir Ant, eu levo Mrs. ao seu dormitório, ainda tem alguns alunos pra buscar hoje, não é mesmo? - Anthony assentiu e deixou minhas malas lá. Ele acenou para mim e acenei de volta.
- Prazer Mrs. . Sou Fiona Fisher, do grupo de recepção. – nos cumprimentamos com um aperto de mãos.
- O prazer é todo meu Mrs. Fisher. – ela era uma mulher de cabelos ruivos na altura do ombro, seus olhos por trás das lentes dos óculos modernos eram azuis e haviam algumas sardas espalhadas pelo seu rosto, parecia ser tão jovem quanto Anthony.
- Você ficará no alojamento das meninas, Queen Multiplex. Sua parceira de dormitório ainda não chegou, assim você pode ter tempo para arrumar melhor as suas coisas. – ela sorriu e pegou minhas duas malas que Anthony carregava para puxar. Andamos um pouco em silêncio, então Fiona se dirigiu à um daqueles carrinhos de golfe. Ajudei a colocar minhas malas atrás e seguimos para o lugar que ela tinha falado, mas que eu realmente esqueci o nome. Não era longe, não ficamos nem 2 minutos no carrinho, parando em frente à residência das meninas. Então a ajudei a tirar as malas e ela foi falando da política da escola, de algumas regras, restrições e vantagens. Havia um laguinho perto da residência.
- Você ficará na divisão Sixth Form, para meninas de 16 a 20 anos, é o último prédio. – ela tirou um papelzinho do bolso do blazer que usava e me entregou. Nele havia tudo o que tinha nessa área feminina:

Queen Multiplex - Residência das Meninas
8 salas de estar com confortáveis móveis e cozinhas inteiramente equipadas com lava-louças;
  Playstations da Sony e Computadores;
Área de fumantes para alunas do Sixth Form (apenas com autorização dos pais);
  Área privativa para tomar sol;
Sauna; 
Academia de ginástica;
  Máquinas de lavar, secadoras, ferro elétrico e etc;
Aparelho de DVD para todas as regiões, TV com tela grande;
Suíte;
Na parte externa: unicamente para as meninas do Queen Multiplex - playground iluminado, área para treino de basquete totalmente iluminada, churrasqueira e área para tomar sol.


Estava espantada, surpresa, parecia ser um ótimo lugar. Enquanto eu olhava o papelzinho, ela falava:
- No seu dormitório terá o mapa da escola, claro que não terá que ficar andando com o carrinho pra lá e pra cá, só usei agora por causa das malas. Deixamos o seu horário lá também, as aulas começam às 9h, portanto, tente acordar no máximo às 8h. Aqui há várias quadras: tênis, basquete, rugby, futebol, campos de críquete, piscinas olímpicas, hípica e muito mais, veja tudo no mapa, está tudo lá, desde os prédios com as salas de aula até opções de lazer. – ela caminhava junto comigo até o último prédio, eu só a escutava falar, precisava armazenar todas as informações possíveis sobre aquele colégio. Eu me esquecia dos problemas deixados em Miami só de olhar para a construção magnífica e a paisagem.
- O seu dormitório é uma suíte, tem telefone, TV, secador de cabelos, porta-toalhas com aquecimento, assoalho acarpetado, cortinas, colchões de mola, área de estudo pessoal, geladeira, quadro para cartazes individual, enfim, quando chegar você vê. – cada vez mais eu me surpreendia, estou começando a gostar da idéia do internato. Ela entrou comigo dentro do prédio, passamos por algumas salas, portas, até que chegamos à uma escada.
- Eu subo com suas malas, querida. Fique aqui que eu subo com uma de cada vez. – ela sorriu e pegou uma para levar até lá em cima. Quando veio pegar a outra eu me ofereci para pegar a última.
- Pode levar e essa aqui eu levo – ela assentiu e fui subindo logo atrás dela. A mala não estava leve. Era um corredor com seis portas de cada lado. Ela me levou até a penúltima porta do lado esquerdo e a destrancou. A porta se abriu e entrei no quarto, olhando em tudo.
O quarto era claro, amplo. Móveis de madeira, mesas de estudo, prateleiras, armários, banheiro... Tudo muito bom. O mapa e meus materiais estavam na mesa de estudo do lado direito, à frente do beliche. No começo não havia gostado nada da idéia de me mudar para um internato, mas mudei essa idéia totalmente.
- Bom, em cada aparelho doméstico e eletrônico daqui tem as instruções de uso. O controle da TV está na gaveta de uma das mesas de estudos. Qualquer problema ligue para um dos telefones que estão escritos no quadrinho acima da mesinha do telefone. Tenha um bom-dia Mrs. , espero que goste daqui.
- Obrigada Mrs. Fisher, parece que vou gostar sim... – sorri sincera, agora tinha tudo pra esquecer da minha vida tumultuada de Miami, esquecer o passado e tentar viver decentemente. Não queria dormir meia hora, então comecei a arrumar minhas coisas no armário.
Organizei todo meu uniforme no armário e deixei as roupas comuns na mala mesmo, embaixo da cama inferior. Decidi ficar na cama de cima, eu não tenho medo de altura e não costumo ser sonâmbula. Coloquei produtos de higiene pessoal no banheiro, organizadamente, visando ter espaço para as coisas da minha colega de quarto no armário do banheiro. As minhas maquiagens, bijuterias, jóias e coisas de cabelo eu deixei tudo separado em caixinhas dentro do armário do quarto. Eram quase 8h e já ouvia o barulho de meninas fazendo qualquer coisa no térreo. Fui tomar banho. A água quente me relaxava da viagem, já tinha dormido muito no avião e estava ansiosa para o meu primeiro dia, na verdade, estava nervosa. Saí do banheiro já de uniforme: meia calça branca, sapatos boneca preto, saia azul escuro até o joelho com pregas, camisa social branca, suéter azul e gravata amarela listrada de azul. Tinha secado rapidamente meus cabelos, também dei um jeito na minha franja, mudei o lado que ela estava. Ao voltar para o quarto, vi uma menina sentada na cama de baixo, já uniformizada. Ela era uma menina bonita, tinha cabelo ondulado e castanho. Ela tinha um tom de pele bonito, um pouco mais morena que eu e seus olhos cor de mel me fitavam curiosos. Espero que seja simpática, se for tímida como eu, não saímos do zero.
- Oi. – ela disse tímida. Eu sorri para não intimidar.
- Oi.
- Você deve ser ... – ela se levantou da cama, estendendo a mão para mim. Eu peguei a mão dela cumprimentando. – Sou . – estranhei o nome, ela deve ser da Espanha ou algum outro lugar cuja língua tem origem latina.
- Prazer , você é de onde? Ah, se preferir me chamar de , está ótimo.
- Ok, sou do Brasil. Ah... Me chame de , se preferir. – ela sorriu aflita quando disse o país, deveria estar com medo de algum tipo de estereótipo que poderia sofrer. Eu já havia conhecido brasileiros em Miami, são pessoas muito amistosas e otimistas, não gosto de nenhum tipo de preconceito com nacionalidades.
- Brasil! Eu amo o Brasil, conheci alguns brasileiros em Miami, eu sou de lá. Morro de vontade de conhecer seu país! – eu sorri e ela sorriu mais aliviada, a senti mais confortável.
- Conheça mesmo, apesar de todos os problemas, é um país lindo. Eu já fui pra Miami uma vez, adorei. – agora nós duas estávamos bem mais confortáveis – ... Posso ver seu horário rapidinho? Quero ver se tem algumas aulas comigo, é que... Você sabe né, vai ser difícil pra mim aqui. – eu dei meu horário pra ela e aproveitei para pegar todo meu material e colocá-lo na mochila, para deixá-lo no armário da escola de uma vez. A chave do meu armário estava junto com a minha chave do dormitório, no chaveiro que é o brasão da escola.
– Hum... Temos algumas aulas juntas, isso é bom. Hoje só não temos química e artes juntas.
- Ah, você vai ter ciência da comutação ao invés de química hoje. E ao invés de artes hoje você tem educação física. – observei o horário dela. – Já tem o mapa, ?
- Aham – ela confirmou e eu olhei no relógio, eram 08h30min e eu não queria me atrasar, aposto que nem a queria.
- Então, melhor a gente ir logo, nossa primeira aula é biologia e eu ainda tenho que achar onde é meu armário.
- Vamos... – ela saiu junto comigo. Eu via as meninas saindo, conversando e principalmente, olhando. Eu era diferente, apesar de não ser tão bronzeada quanto a época em que eu surfava mais, eu tinha uma cor mais saudável do que a maioria das garotas. Eu era um pouco mais clara que , as outras meninas eram muito brancas, ou negras ou com pele bronzeada artificialmente. Algumas meninas apenas nos olhavam curiosas, outras olhavam torto. Pelo menos eu não me importava, não sei se tinha algum receio.
Comentávamos sobre o Brasil. Achamos nosso armário que pra nossa alegria, era lado a lado e conseguimos achar a sala de Biologia. Eu queria que ela se distraísse um pouco das pessoas, por isso eu conversava animadamente com ela. A sala era ampla, com uma lousa branca, alguns cartazes informativos na parede e tinha carteiras duplas. Com três fileiras de quatro carteiras. Sentamos na terceira do canto direito e os alunos começavam a chegar.
Parecia que todos se conheciam, exceto alguns novos e que não fizeram uma amizade de cara assim como eu e . A professora se apresentou para os que não a conheciam.
- Bom dia a todos, para quem não me conhece, sou a Mrs. Patel, Amber Patel. Levante a mão quem entrou esse ano. – eu e levantamos com receio, havia mais 3 meninos que levantaram a mão também. A professora apontou para mim primeiramente.
- .
- Prazer Mrs. . É da Inglaterra, mesmo? – ela perguntou gentilmente.
- Não, sou dos Estados Unidos, Miami, na Flórida. – ela confirmou com a cabeça e deu um sorriso, alguns alunos olhavam para mim, o que me deixava envergonhada. Em seguida a professora apontou para .
- , Brasil. – ela disse sem olhar para os lados, mas eu vi alguns olhares curiosos, outros indiferentes, outros de deboche. Mrs. Patel fez a mesma coisa que fez para mim e apontou para um menino, alto, magro, de cabelos escuros um pouco compridos com franja e olhos bem esverdeados, era muito bonito.
- David Mason. Sou de Montreal, Canadá – a professora assentiu e apontou para uma dupla de mãos levantadas.
- , daqui da Inglaterra mesmo.
- , também da Inglaterra.
- Sejam todos bem-vindos, espero que gostem daqui. Depois das devidas apresentações, vamos começar a aula, porque aqui o negócio é sério pessoal. Abram o livro na página 8, quero que leiam o texto silenciosamente para depois eu dar uns presentinhos para vocês, queridos... – ela mostrou as folhas de perguntas em suas mãos, mostrando nosso “presentinho”. Eu tinha gostado dessa professora, parecia ser muito relax. A próxima aula seria de Artes, não estaria comigo, eu me sentiria mais perdida, porque no final das contas, ela era a única amiga que eu tinha aqui. Talvez seja pior pra ela em vista disso, o jeito que algumas meninas olharam para ela não foi muito amigável.

O “presentinho” não foi difícil resolver, afinal era sobre o texto. Eu e fomos juntas para os armários num dos corredores centrais do prédio de aulas. Eu iria seguir para o Estúdio Artístico I e iria para a Educação Física.
- , eu estou com medo. – ela disse de repente enquanto pegava o material.
- Não precisa ter, . Se falarem alguma coisa que não goste, apenas ignore. – isso tinha uma boa probabilidade de funcionar, mas não daria certo esse conselho comigo. - É melhor a gente ir antes que a gente leve alguma coisa se nos atrasarmos, te encontro no intervalo em frente à cafeteria. – ela concordou com a cabeça e cada uma foi para um lado.
Eu estava me confundindo pelos corredores, mas finalmente conseguir chegar a tempo, só que a sala estava cheia, só restava um lugar ao lado de David Mason. Cheguei perto da carteira e ele olhou para mim, ele realmente era muito bonito, seus olhos claros e esverdeados chegavam a me cegar.
- Senta... – ele olhou de mim para a cadeira, dando um sorrisinho de lado, quase tive um troço. Assim que eu sentei, ele se debruçou na carteira, mas virado para mim. – Olá .
- Oi.
- Prefere , , o quê?
- Tanto faz, costumam me chamar de .
- Hum... Legal. . – ele assentiu com uma certa indiferença momentânea.
- Erm... Do quer que eu te chame? Mason, David?
- David, Dave... Você quem sabe. – ele sorriu e se sentou ereto, pois a professora acabara de chegar. – Ter boa postura deixa professores contentes e não pegam tanto no seu pé. – eu sorri para ele, ele deveria ter razão, eu acho.
- Bom dia classe, sou Mrs. Hunt. Meu nome é Jasmine Bennett Hunt pra quem chegou esse ano. Quem é novo aqui? – apenas eu e o David levantamos a mão, odiava essas apresentações. Ela só olhou para o David e ele se apresentou como na aula de Biologia. Também me apresentei como havia feito na aula anterior. – Sejam bem-vindos! Bom, hoje a gente vai começar o ano com aplicação de cores em diversas superfícies – ela pausou e olhou para mim sugestivamente – Mrs. e Mr. Mason, porque não distribuem as tintas para seus colegas de sala? – nós apenas concordamos e fomos até uma prateleira cheia de tintas das mais diversas cores – Distribuam 3 cores aleatórias a cada um, sim? – ela perguntou e apenas concordamos com a cabeça novamente, já estávamos virados para a prateleira e alguns alunos formavam fila perto da gente para pegar as tintas.
Eu e David entregávamos em silêncio, as pessoas se dirigiam até nós e também não falavam nada, deveria ser normal isso nas aulas de Artes que tinham. Fui tentar pegar algumas tintas que estavam numa prateleira mais alta, David não chegara a perceber a minha tentativa. Quando eu estava quase conseguindo puxar para mim, uma das tintas por pouco não virou em todo o meu cabelo. David havia colocado a mão e segurado o potinho de tinta, sujando a mão inteira de um amarelo que parecia catarro, alguns alunos que estavam mais próximos da confusão riram. Eu coloquei as duas mãos na boca, me sentindo culpada por sujar as mãos grandes e atraentes de David, enquanto ele ria com cara de nojo.
- Argh! Que cor horrível, parece catarro... – ele disse rindo e ao mesmo tempo com nojo.
- Desculpa Dave! Nossa, eu sou uma pata, desculpa mesmo. Olha só sua mão, vai lavar... – ele ria ainda mais com meu desespero, não era engraçado...
- Calma , foi um acidente. E antes minha mão do que o seu cabelo não acha? Eu salvei o seu cabelo, um obrigado seria melhor que desculpa... – ele olhava para mim, mas desviou a atenção para sua mão, subitamente.
- Tá, obrigada. Agora melhor ir lavar antes que essa cor de catarro seque na sua mão. – ele riu ainda olhando para a mão e foi andando perto da pia de lavar pincéis. Distribuí eu mesma os poucos que faltavam. Ele tinha salvado meu cabelo, o herói do meu cabelo.
Eu sei bem que tenho uma queda por heróis, mas isso não vai acontecer novamente, eu não vim parar tão longe para ferrar minha vida de novo. Não acredito mais em heróis, eles se tornam vilões. Ele era bonito e legal, mas não podia me apaixonar por ele, eu não posso me apaixonar por ninguém aqui. Primeiro: eu o conheci hoje. Segundo: Não quero passar por tudo que passei, ele podia não ser um futuro vilão, mas só o fato de me apaixonar é arriscado.
Eu já tinha voltado para minha carteira, estava pensando em tudo isso, Dave ainda não tinha voltado e agora eu tinha que tentar agir naturalmente, espantar esses pensamentos e lembranças que me assombram.
- Vamos trabalhar mocinha? Você ainda nem começou a pintar o tecido... – Mrs. Hunt passou pela minha mesa, nem falei nada, quando a vi já estava do outro lado do estúdio.
- Aquele catarro demorou pra sair. – David apareceu e sentou na cadeira. Não tive uma reação imediata, só olhei parada. – Que foi ?
- Nada não... Nada. Só estava pensando em umas coisas de Miami – eu disse o que era relativamente a verdade, e comecei a pintar o tecido com um azul estranho que eu tinha pegado na prateleira.
- Dá um exemplo e, erm... Bem, desculpa eu parecer intrometido
. - Normal, relaxa.É só um ex-namorado meu, nada de mais. – peguei o preto e comecei a pintar a melhor coisa para quem não sabe pintar: pintura abstrata.
- Ainda gosta dele? – finalmente ele pegou uma cor amarela comum e começou a pintar a madeira apenas lixada. Tentei ao máximo parecer convincente na resposta que iria dar e falei apenas a verdade.
- Não sei. Espero que não. Ele tinha acabado com a minha vida e... Deixa pra lá – não, eu não ia falar das coisas que me assombram assim, para qualquer um, eu tenho princípios, às vezes...
- Eu sei que você me conheceu há exatamente... – ele olhou em seu relógio – 32 minutos. Mas você é nova aqui, eu também... Enfim, acho que vai precisar de um amigo, assim como eu preciso de um. Quando precisar de alguma coisa, eu estou aqui. – ele olhou para mim e sorriu, ele nem precisava se esforçar para dar um sorriso lindo como aquele. Claro que eu não iria falar nada do meu passado obscuro, vou acabar o assustando.
- Obrigada Dave. – sorri para ele e nós dois voltamos a pintar nossa arte abstrata.

Capítulo 3 – Conhecer

A aula de Artes passou, eu e Dave fomos juntos até a cafeteria, disse a ele que estaria lá me esperando e disse também que ela era do Brasil. Dave pareceu gostar dela de imediato quando falei do Brasil, ele já tinha ido para lá duas vezes.
- A segunda vez que eu fui lá, fui assaltado. Mas eu também já fui assaltado nos Estados Unidos quando eu estava de férias, já consegui ser assaltado no Canadá que não tem assalto. Eu sou um ímã para assaltos e afins, eu tenho tanta cara de menininho frágil assim? – enquanto ele falava eu ria, ele era uma ótima distração para mim.
- Sinceramente, tem. – nós dois rimos e ele fez uma falsa cara de ofendido, que me fez rir mais ainda. A gente chegou na cafeteria rindo, estava sentada numa mesa com dois meninos. Ela estava numa conversa empolgada, acho que ela ficou bem numa sala separada da minha.
- Aquela ali não é a tal ? – Dave apontou com os olhos para a mesa.
- A própria... Vou lá pegar o café e a gente senta lá... – eu disse me dirigindo à fila, pegando uma bandeja. Dave fez o mesmo.
Peguei uma caneca de café e um sanduíche de rosbife que tinha lá. Dave pegou um suco à base de soja e uma salada de frutas.
- Você é vegetariano?
- Aham, mas não sou dos muito radicais não... – já estávamos em frente da mesa que estava sentada, foi só aí que ela viu nossa chegada.
- Oi , nem vi você. – ela me cumprimentou enquanto eu me sentava, os outros dois meninos me olhavam curiosos. Havia um com cabelo bicolor preto e loiro, de olhos azuis e um sorriso encantador, lindo. O outro era muito bonito também, tinha um cabelo castanho mais longo que o do outro menino e jogado para o lado, com olhos claros difíceis de se identificar uma cor, só que ele usava... Erm... Blush. – Deixa eu te apresentar aos meninos, esses são James Bourne e ele é Jean Leclerc. Meninos essa é a , minha colega de quarto. – eu sorri para eles com um ‘oi oi’ básico e eles fizeram o mesmo.
- Erm... Ele é o Dave. – eu apresentei o Dave que nem se importou em tirar os olhos da salada de frutas, acho que estava empolgado nela.
- querida, estava falando de você, soube que é de Miami. Adoro Miami!– o loiro que me apresentava como Jean, falou com sua voz bem afeminada. É, foi o que eu pensei, era gay.
- Sou sim, você e o James já estudavam aqui? – só faltava o bonitinho do lado também ser gay...
- Eu já, mas a biba é nova. Eu estudo aqui há muito tempo, conheço essa escola como a palma da minha mão e conheço as pessoas daqui também, a maioria chatas, previsíveis e hipócritas. Eu sou o mais legal daqui! – A voz de James era de um garoto normal, menos mal. Nada contra gays, mas ele seria um desperdício, já não bastava o Jean. Se bem que não pretendo me relacionar com ninguém aqui, quero me manter longe de problemas. – Aqui é como toda a escola, rótulos ridículos. Mesmo assim sou feliz – ele deu um sorriso enorme e forçado, bem engraçado digamos.
- Percebi isso assim que cheguei – Dave já tinha terminado a sua salada de frutas, eu estava na metade do sanduíche ainda.
- O quê? Que eu sou feliz?
- Não, os rótulos... – Dave explicou escondendo o riso e Jean abriu a boca para falar com sua voz afeminada:
- Tem uns meninos daqui, super desagradáveis. Só o James que foi legal comigo, pena que ele é hetero... – eu não consegui ficar séria, a cara que o James fez foi a melhor: Ele riu e começou a olhar com desdém para Jean, e este nem se importou.
- Então... Ali naquela mesa estão os clássicos nerds, depois têm as pattys, logo atrás têm as líderes de torcida com os jogadores de algum esporte mais repercutido, ali está o pessoal do hipismo junto com o do críquete conversando com os tenistas, na outra mesa o pessoal da natação, na outra estão os filhos e filhas de gente famosa e mais ali estão os hackers, ali tem pessoal do teatro e dança, e ali são os drogados, depois vem a galera que só arranja encrenca, e mais pra frente estão os engomadinhos que agora estão indo falar com as pattys, ali tem os tarados e por fim... Nós que somos pessoas diferentes e legais. – todos na mesa estavam perdendo os olhos nos grupos em que ele apontava, a gente tinha achado que já tinha acabado... Que engano o nosso. – Ahh, estava me esquecendo! Ali tem os anti-sociais e mais ali no fundo tem os músicos da orquestra e do outro lado tem os pseudo-músicos legais e estranhos. Antigamente me encaixaram nesse aí, hoje em dia fico rodando pelas mesas conhecidas, mas sempre paro lá. Eles são bem legais, já se enturmaram com aqueles quatro novatos que já estão por lá.
- Ah, aqueles dois novatos da mesa dos pseudo-músicos têm aula de biologia comigo e com a . Ainda não conheci os outros dois – fiz uma observação olhando para e ou algo parecido. Estava meio longe, não deu para ver direito os outros dois meninos – Então... – fui voltando ao assunto – Odeio rótulos, achava que aqui ia ser diferente, mas tem até mais do que a minha antiga escola.
- Quanto mais inutilidade, mais rótulos igualmente inúteis. – ele olhou para todos na mesa que só acompanhavam suas observações, querendo aprender sobre a escola em que iam habitar. – Eu tenho medo de aranha, mas aqui nunca vi aranhas, isso é bom.. – ele mudou de assunto completamente e radicalmente, o que o deixou parecer mais estranho ainda.
- Chegou à essa conclusão como, Jimmy? – perguntou, deixando a caneca vazia de volta na bandeja.
- O quê? Que eu tenho medo de aranha? – eu já estava achando que esse menino tinha sérios problemas.
- Erm... Não. Essa questão toda dos rótulos.
-Ahhh, bem... Anos de experiência e falta do que fazer. – olhamos todos espantados para James, aquele lugar tinha tudo o que imaginávamos. Ele captou nossa ideia. – É, aqui tem tudo, mas chega uma hora que enjoa.
- Quero ir pra piscina depois, vamos pessoas? – Jean perguntou. Sempre que ele abria a boca eu tinha um ataque de riso, não só eu, como o Dave também.
- Eu vou jogar videogame – Dave já foi tirando o dele da reta.
- E eu vou conhecer a escola. – eu disse dando um último gole no café.
- Aiii seus fedidos ultrapassados! , vem amiga? – ele não se esforçava para disfarçar sua opção sexual.
- Tá Jean, eu vou com você, pequena borboleta... – confirmou e Jean abriu um sorriso todo feliz. Ele parece não se importar com palavras como as que usou para se referir a ele, deve ser muito assumido, ou melhor, descarado. me saía melhor que a encomenda. Se mostrava bem mais extrovertida, deve ser a pouca convivência que teve com Jean que a afetou desse jeito. Gosto de encontrar amigos extrovertidos, de preferência menos esquisitos que eu, mas nesse ponto, não obtive tanto sucesso.
- Quanto tempo ainda temos de intervalo, James? – Dave perguntou brincando com a caixinha de suco.
- Não muito, mas o intervalo daqui até que é longo...
- Reparei nisso. Erm, você tem que aula de quê agora, ? – ele rapidamente se dirigiu a mim.
- Sociologia, me diz que tem também? – estava torcendo para que Dave tivesse, assim eu teria um amigo pelo menos perto de mim.
- Não, estava torcendo para que você tivesse inglês. - ele olhou desapontado para o relógio. – É uma hora cada aula?
- Depende da aula. – James o informou.
- Quanta frescura aqui... – reclamou antes de sair com todas as bandejas que usamos. Ela voltou e sentou ao lado de Jean.
- Mais ou menos quanto de duração? – Dave continuou perguntando.
- Uma hora, mas tem as extras, que são mais longas. Vamos escolher as nossas essa semana. A gente escolhe a mesma, que tal?
- Não acho a melhor idéia, acho que todos aqui têm gostos diferentes, habilidades diferentes... – as palavras de Dave foram dignas de ser concordada por mim.
- Isso é verdade.
- Que tal a gente ver isso depois? – sugeriu
. - É, aposto que o Dave não ia concordar em fazer moda e eu não ia concordar em fazer rugby. – Jean disse e se retirou da mesa – Já volto bebês! – uma crise de riso passou por mim e . Dave e James balançavam a cabeça negativamente, mas dando risada.

O sinal tocou e eu tive que procurar a sala de Sociologia junto com a . Nos saímos bem, achei a sala como se já estudasse aqui há anos. Na verdade, fui pela lógica. Já havia percebido que as salas eram divididas em categorias: Humanas, Exatas, Idiomas, Científicas, Artísticas, Tecnológicas, Esportivas. Haviam placas indicativas para os blocos, e eu apenas segui as placas para o bloco de Humanas. Aquele colégio era gigantesco, mas as placas ajudavam bastante, pareciam aquelas placas de trânsito ou aquelas de Shopping Center. A aula de Sociologia foi a primeira aula que eu não tive que me apresentar para ninguém, o professor apenas entrou dizendo bom dia e se apresentou para quem não o conhecia. O nome dele era Justin Sullen. Eu tentei prestar atenção na aula, mas não deu. Fiquei rabiscando qualquer outra coisa e mantendo acordada, iria pegar mal dormir no primeiro dia de aula.

As próximas duas aulas foram de inglês, fiquei feliz por não ter me apresentado, Mr. Paul Evans, explicou o que faria nas aulas de inglês desse ano e passou uma atividade de entrevistar o colega do lado, foi bem divertido com . Eu tinha que me preparar psicologicamente para enfrentar a aula de Química sozinha, a não ser que James ou Jean tivessem comigo.
Perdi a noção do tempo conversando com a em frente ao armário, tive que correr para não chegar atrasada na aula de Química. Quando cheguei, a sala estava cheia e me sentei no único lugar vazio que tinha, sem nem reparar de imediato na pessoa sentada ao meu lado. Quando me sentei, olhei pelo canto do olho o menino sentado junto comigo: seus cabelos estavam bagunçados, sua gravata já estava afrouxada e tinha olhos olhando para mim. Não consegui evitar os olhos dele, virei um pouco a cabeça para olhar diretamente para aquele par de olhos cativantes. Não dissemos nada, eu nunca inicio uma conversa e, pelo jeito, ele também não.
Mr. Scott Lee se apresentou e aconteceu o que eu mais temia naquela aula, ele pediu para os novos alunos se apresentarem. Eu e o menino ao meu lado levantamos as mãos e ele foi apontando para os alunos, até chegar a mim.
- , de Miami. – eu disse e Mr. Lee assentiu apontando para quem estava ao meu lado.
- , daqui da Inglaterra. – ele assentiu novamente e o professor começou a falar da programação de Química para esse ano. Eu não prestei muita atenção, não sei ao certo a causa disso, mas me distraía a um ponto de eu só ficar olhando para ele. Eu não me sentia incomodada, até porque ele fazia o mesmo. Se ele pode, por que eu não posso? Quando eu finalmente me virei para pegar o livro embaixo da carteira, fui surpreendida pela voz dele.
- Meu livro ainda não chegou. – confesso que fiquei sem reação no começo, então deixei o livro no meio de nós dois, até conseguir falar alguma coisa.
- Eu... Eu deixo o livro no meio – eu sorri fraco, sem parecer empolgada com as poucas palavras que trocamos. Ele deu um sorriso de lado agradecendo:
- Obrigado.
Fiquei meio paralisada a aula inteira, eu estava no piloto automático: lia, anotava alguma coisa ou outra e encarava os olhos dele, sempre me hipnotizando facilmente. Ele não facilitava de jeito nenhum, ficava sustentando meu olhar enquanto eu fazia de tudo para prestar atenção em outra coisa, mas não conseguia. O sinal tocou para meu alívio, ele segurava o meu livro, parado e me olhando, enquanto todos iam embora. - Ainda está vendo? – perguntei mesmo sabendo que não estava.
- Não... Não, desculpe. – ele se atrapalhou nas palavras e foi pegou seu estojo e caderno de cima da carteira.
- Ah tudo bem, apesar de eu não ter visto motivo aparente para você se desculpar – eu disse me levantando na carteira. Ele também saiu da carteira e continuou a me fitar.
- Nada não, é porque eu fiquei segurando seu livro enquanto você queria guardar. Uma distração.
- Ah, não foi nada. – eu disse me virando em direção à saída da sala, que estava vazia.
- Tchau, . – eu escutei a voz dele e paralisei. Virei meu rosto para ele novamente que estava parado próximo de mim.
- Tchau – sorri timidamente e finalmente meus pés me obedeceram para que eu pudesse sair da sala.
Minha cabeça estava à milhão naquele momento. Eu simplesmente não entendi toda a minha reação perto dele. Só de me lembrar da voz dele dirigindo-se a mim me dava uma sensação estranha por todo o meu corpo. Eu nunca havia sentindo algo como aquilo, será que a mudança climática que eu sofri afetou um pouco meu cérebro e estava agindo estranhamente, mais precisamente quando eu me encontrei com aquele garoto? Eu estava confusa.
Provavelmente, estaria com a pequena borboleta Jean. Era meio óbvio que eu não poderia entrar no alojamento dos meninos para encontrar Dave e jogar videogame com ele. Portanto, eu estava disposta a ir conhecer a escola sozinha.
Deixei meu material no armário e segui para qualquer lado, andando sem destino pela escola, sem nem me importar com olhares ou placas indicando caminhos. Segui apenas meu instinto.
Eu tinha esquecido que todas as vezes que segui meu instinto, eu encontrava problemas. Foi assim com Todd, apenas segui meu instinto de querer ajudá-lo numa história que eu não tinha nada a ver, ele deveria se arrebentar sozinho, mas não... Eu segui meu instinto protetor de homem que não presta e me ferrei legal. Eu não podia me pegar pensando em Miami de novo, eu estava em York, bem longe de tudo. Porque eu simplesmente não esquecia tudo? Era mais difícil do que eu pensava.
Acho que meu conceito mudou um pouco sobre meus instintos, eles só me levaram pra perto das quadras de tênis, sem nenhum perigo. Eu caminhava sozinha, pela beirada, apesar de não ter ninguém jogando nada para eu atrapalhar. Fui passando pela quadra, até chegar ao campo de rugby, era imenso. Percebi que eu estava nos fundos da escola, onde tinha as quadras, mas não havia nenhuma alma viva.
Mas eu não estava sozinha como eu havia pensado.
Senti passos atrás de mim, quando me virei já era tarde. Um menino alto, com cabelos loiros arrepiados e olhos castanhos, já havia tampado minha boca e me arrastado para um canto bem isolado, com muita vegetação em volta. Havia mais um menino lá, com um sorriso malicioso para mim. Ele era mais baixo que o outro, com cabelos e olhos castanhos escuros, fugindo dos padrões daquele colégio. Quando o mais alto finalmente me soltou, eu caí no chão, já tentando fugir daquele canto.
- Ei, aonde você pensa que vai novata? Vamos só conversar... – o mais baixo me segurou pelo braço, me apertando forte.
- Eu vou gritar! – ameacei em vão.
- Grite! Será que alguém vai te ouvir de dentro dos alojamentos entretidos num computador? – o mais alto falou quase gritando mesmo e me pegou pelos dois braços, me machucando. Ele me ergueu a ponto de meu rosto estar frente a frente com o dele, que mostrava ansiedade, raiva e machismo. – Você só é mais uma aluna novata de muitas outras que nós já demos as nossas boas vindas. E nós só somos alunos experientes querendo se divertir um pouco... – sem pensar, cuspi na cara dele e dei uma joelhada bem naquele lugar, que o fez me soltar no chão. Tentei ser rápida o bastante para o outro não conseguir me segurar, mas ele já tinha me pegado pelo braço novamente e me derrubado no chão. Podia sentir que eu tinha alguns hematomas. Eu gritava, mas ninguém me ouvia. O menino selou meus lábios com uma força brutal, que me machucou. Eu não pretendia ceder nada, nem morta. Ele tentava tirar meu suéter enquanto eu me rebatia. O mais alto ainda se remoia de dor no chão. Foi quando eu mordi com força o lábio do menino que me xingou de tudo quanto é nome. Ele estava sangrando e deu um tapa em meu rosto. Senti meu rosto latejar, eu estava chorando pela primeira vez ali.
- Vagabunda! Preciso lhe dar uma lição. – eu fechei meus olhos me preparando para o outro tapa, porque ele segurava minhas mãos usando uma só e estava sobre minhas pernas impedindo minha locomoção. Eu só mexia a cabeça como se pudesse me esquivar de outro tapa. Ouvi o barulho de alguém sendo golpeado e não era eu.
Eu já estava solta no chão, abri meus olhos e vi o menino que há poucos segundos me estapeara no chão, se remoendo de dor também. Os dois meninos estavam daquele jeito na grama. Meus olhos foram em um par de pernas sob uma calça que se movia em direção a mim deitada. Eu estava tremendo de tão nervosa e minha respiração estava falha. O dono do par de pernas se abaixou e virou meu rosto para eu olhar o dele.
- ... – a voz quase de dor que saiu da boca de proporcionou um alivio em toda a extensão do meu corpo. Eu olhei bem para os olhos dele, estavam preocupados, horrorizados, aflitos – Fala comigo , o que fizeram com você? – ele perguntou e eu ouvia os dois se afastarem correndo dali, covardes. Ainda não fui capaz de responder. Ele me segurou delicadamente pelos meus braços, me ajudando a levantar. Eu ainda estava chorando e tremendo. Também estava meio tonta e me sustentava olhando para os olhos de , que queriam minhas palavras, mas elas não saíam. Seus olhos eram dolorosos demais e ele estava presenciando meu choro descontrolado. Eu nem percebi, já estava abraçada a ele, chorando em seu ombro. Ele me abraçava forte, nunca me senti tão confortável em toda minha vida nos braços de alguém. Enquanto eu molhava o suéter dele, ele passava as mãos em meu cabelo, me tranquilizando.
- Passou , passou. Posso te chamar assim não posso? – eu apenas assenti com a cabeça, ainda enfiada em seu ombro. me abraçava passando a mão em meus cabelos pacientemente até eu me acalmar um pouco mais para olhar para ele sem que as lágrimas embaçassem tanto. Eu me soltei dele e olhei para seus olhos reconfortantes.
- Eles te machucaram muito? Acho que precisamos achar uma enfermaria.
- Não precisa se preocupar comigo , eu agradeço muito a você. Não sei o que seria de mim sem você agora. Obrigada, pode ir, já tomei muito do seu tempo.
- De forma alguma. Não está tomando meu tempo e não vou deixar você aqui. – ele estava frente a frente comigo, segurando minhas duas mãos, como se eu fosse sair correndo dali.
- Eu estou bem, eu só quis vir conhecer a escola, seguindo meus instintos sem o menor senso de orientação espacial. Meus instintos não me levam a coisas boas. - Já não posso dizer o mesmo sobre os meus...
- Sorte a sua.
- Não só minha. – eu não tinha entendido o que ele quis dizer, até porque ele não me deu tempo para entender, pois ele mudou de assunto – Eu também estava querendo conhecer a escola. Vamos? Assim a gente conhece a escola, conversa e acha uma enfermaria. – ele disse puxando as mangas do meu suéter, revelando meus hematomas e abaixando logo em seguida.
- Tudo bem, mas a enfermaria não é realmente necessária, não precisa se preocupar, , de verdade. Obrigada mesmo, mas eu estou bem, eu juro. Foi só um susto. – eu disse querendo aparentar estar forte e despreocupada, mas eu estava realmente com dores. Ele continuou olhando de relance para meu braço, com uma expressão dolorosa, como se pudesse ver meus hematomas mesmo por cima das mangas.
Espero que ele se convença com o meu ‘Foi só um susto’.

Capítulo 4 – Não são apenas heróis.

Eu não sei o que há de errado comigo.
Simplesmente, acho que está escrito ‘Donzela em Perigo’ na minha testa, o que não deixa de ser verdade. Eu tenho uma queda por heróis sim, mas aí já está virando perseguição. Primeiro veio Toddy, me salvando de dormir com os peixes. Depois Dave, salvando o meu cabelo, e agora veio , me salvando de dois garotos que não tem a capacidade de conquistar uma menina sem ser à força. Ou as pessoas gostam de me salvar por aí - principalmente garotos bonitos -, ou sou eu que procuro problema para ser salva.
Eu achando que dessa vez quando fui passear pela escola nova inocentemente, o meu instinto não ia me levar a problemas, no fim, me levou a dois: a um quase estupro e a quase me apaixonar por mais um garoto com seus atos heróicos. Mas eu tinha que manter a minha cabeça no lugar, ele só era um menino bonito, heróico e diferente. Eu não ia me apaixonar por ele, só o conheci hoje.
Nem se eu o conhecesse há anos, depois do que aconteceu comigo em Miami, namorar só quando eu tiver certeza de que eu não vou me meter em encrenca. E se for que nem Toddy? E se Dave for que nem Toddy? Toddy era incrível no começo, mas e depois? Estragou minha vida.
Mais um problema: eu também achava Dave uma graça. O que há de errado comigo? Por que a minha queda-tombo-catástrofe-desgraça por heróis não acaba de uma vez? Acho que estou surtando e eu nem fiquei um dia inteiro no internato.
Eu me apaixono fácil, infelizmente. Mas dessa vez ia ser diferente.
Ou não.
Eu estava pensando em tudo isso enquanto olhava calado para mim de vez em quando, enquanto a gente andava. Ele também não ajudava, em vez de ser chato e patético comigo, ele ficava me olhando com aqueles olhos dele.
- Você tem certeza que está tudo bem? Você está tão distante. – ele finalmente falou alguma coisa. Ele parou de andar e eu parei junto com ele, em frente a um prédio da escola.
- Tenho sim. Eu só estou... Pensando.
- Hum... Pelo jeito você está pensando em coisas meio perturbadoras... – estava tão na cara assim? Ele olhava para meus olhos enquanto eu falava. Aposto que dava para ver minha alma do jeito que ele olhava.
- É, um pouco.
- Vou te ajudar a esquecer então – ele se aproximou mais do meu rosto, junto com sua mão. Eu queria que ele me beijasse ao mesmo tempo em que eu não queria. era muito lindo e tinha me salvado. Só que eu queria ficar longe de relacionamentos nessa escola. O estranho foi que: ele não me beijou. tirou uma moeda de trás da minha orelha. Ele não precisava chegar tão perto do meu rosto assim, só pra fazer um truquezinho barato, ele fez uma provocação, no meu ponto de vista. Afinal, ele chegou muito perto, eu podia sentir sua respiração batendo no meu rosto. Tanto atrevimento pra nada. Que ridículo.
Eu realmente odeio essas provocações. Quem ele pensa que é?
Acho que percebeu a cara que eu fiz e minha respiração descompassada. Sabe o que ele fez? Riu. Isso mesmo, o desgraçado riu. Deve ser divertido para ele seduzir donzelas em perigo.
- Erm... Procurar uma máquina de refrigerante é uma ótima maneira de esquecer enquanto esse internato não tem máquina de vodka. – ele parou de rir um pouco e começamos a andar novamente.
- Tá. E o que é tão engraçado? – perguntei como se já não soubesse.
- Você. – ele riu mais.
- Como assim?
- Se eu falar você vai ficar sem graça.
- Mas eu estou curiosa.
- Acho que você sabe bem do que eu estou falando. – ele parou um pouco e segurou meus ombros de leve, me virando para ele, só para eu ficar frente a frente com o rosto lindo dele outra vez. – Sabe , não que eu não quisesse... Te beijar, é que você não queria que eu te beijasse e eu te conheci hoje sem nem ter falado com você direito.
- Mas eu não estava pensando nisso. – coloquei um pouco mais de incompreensão no tom da minha voz, mas não funcionou. Como ele sabia disso? Eu não sou tão transparente assim, sou?
- Estava. Você não consegue esconder as coisas muito bem assim. Você deixa o que sente muito à vista, até o que não quer mostrar. – ele soltou meus ombros e colocou a mão nos bolsos.
- Desde quando você virou meu psicólogo? – ele já estava conseguindo me tirar do sério. Ele acha que sabe mais sobre mim do que eu mesma.
- Eu não sou seu psicólogo, só sou observador.
- É, tenho que concordar, observador até demais. Me responde uma coisa: você olha todas as pessoas do mesmo jeito que fica olhando horas para mim? – eu tive que me vingar. Vi que ele olhou para o chão e suas bochechas coraram também.
- Eu observo mais você. Eu gosto de observar você, é um ótimo passatempo. – ele não pareceu tão constrangido.
- Você viu onde eu estava indo depois que eu saí da aula?
- Vi.
- Você tem o livro de química?
- Tenho. E o que mais quer me perguntar? Se eu já tinha te visto na escola? Já, eu já tinha. Eu já sabia seu nome, já sabia de onde você vinha. Já sabia com quem você conversava. Eu só quero saber mais do que já sei sobre você. – ele tinha se alterado um pouco, mas bem pouco – Eu só queria uma aproximação meio indiferente, não tente me entender. – nessa última frase ele abaixou um pouco o tom de voz, já se percebia algumas pessoas em volta fingindo que não estavam prestando a atenção em nós.
- Por que quer se aproximar de mim?
- Vamos, você é esperta. Você sabe... Por que mais um garoto quer ser aproximar de uma garota? – ele falou de um jeito meio engraçado, eu não estava gostando dessa conversa. Eu pretendia deixá-lo falando sozinho e sair, só que ele segurou meu braço
- Eu... Eu vou para o meu quarto. – eu falei tentando me soltar, mas ele continuou segurando e foi pra mais perto de mim.
- Por que você é tão insegura e indecisa desse jeito? Não seja tão criancinha, eu só quero conversar, saber de você, mas eu só me precipitei, só isso. Esquece aquilo.
- Não foi você que quis me beijar e se arrependeu? Em seguida usou um truquezinho barato pra disfarçar? Eu que sou insegura, indecisa e criancinha? Me poupe. – agora eu estava de igual para igual.
- Você mal sabe o significado da palavra "insegura". Eu só gosto de fazer as coisas bem feitas e espero o tempo que for para isso. E eu nem sei por que eu tinha feito aquilo, eu estava, digamos que, indo rápido demais... Não era pra eu ter feito aquilo, não foi minha intenção. – ele pareceu soltar um pouco meu braço, mas depois continuou a apertar.
- Você percebeu isso tarde demais. Eu nem te conheço...
- Tá, não conhece, mas eu te salvei... – o olhar dele era forte sobre o meu, se olhar arrancasse pedaço, eu estaria desmembrada. Senti alguém se aproximar. – E essa conversa está bem idiota pro meu gosto. A gente não tem o que discutir.
- Algum problema ? – Era James, me salvando do olhar extremamente assassino de ? – eu não sabia que James o conhecia. ainda não tinha tirado os olhos de mim, mesmo que agora eu estivesse olhando para James.
- Ah, James! Não está acontecendo nada, eu já estava de saída, estou a caminho do alojamento. – olhei para por um instante, mas olhei de um jeito para ele entender que eu tinha que ir embora. Ele me soltou aos poucos e finalmente olhou para James.
- Oi meio-a-meio! – sorriu fraco com aquela piadinha interna sobre o cabelo de James e ele o fitava um pouco nervoso, mas não por causa da piadinha.
- Erm... Oi . Eu vou com a para a entrada do alojamento dela. Te vejo por aí. – ele falou meio indiferente com ele. assentiu e saiu meio apressado, com passos duros e largos, passando a mão nos cabelos, deixando-os mais bagunçados do que já estavam.
- Agora fala... Aconteceu alguma coisa?
- Não, não aconteceu nada. – a minha mentira pareceu convencê-lo. Pelo menos ele fingiu estar convencido.
- É que a conversa estava meio tensa. – nós começamos a caminhar em direção ao meu alojamento, não estava muito longe.
- Impressão sua...
- Hum... Viu a escola direito?
- Na verdade, não. Fiquei muito tempo conversando com .
- Sobre o quê?
- Erm, nada de importante James... Só estava conseguindo mais uma amizade nessa escola, sabe como é né? – pausei e não disfarcei a minha mentira, eu estava olhando pro chão, evitando o olhar de James ao máximo. Decidi mudar o assunto. – Eu preciso conhecer a escola com alguém que já tenha estudado aqui antes.
- Quer que eu te mostre um dia desses?
- Seria bom. – depois da minha resposta, caminhamos mais um pouco em silêncio. Até que ele voltou a falar em de novo. Preciso dar uns tapas em James.
- Pelo menos você está formando uma amizade com uma pessoa das menos nojentinhas daqui. Acho que idiotas, bobos, estranhos e pentelhos te cercam, não há como fugir. é um deles. Ele senta na mesa dos pseudo-músicos, a minha antiga mesa. - Porque você não senta mais lá?
- Era só mais um rótulo, um rótulo que eu até gostava, mas era um rótulo. Eu vou todos os dias até aquela mesa, mas não fico muito por lá, conheço algumas pessoas e fico circulando por aí. É legal! Em qual mesa você acha que se encaixaria?
- Não faço a menor ideia.
- Você gosta de música?
- Bastante...
- É, acho que você se encaixaria naquela mesa. São só os novos e eu que sentam em mesas aleatoriamente. Espero que continue assim. Não quero perder mais ninguém para um rótulo miserável.
- Perder? O que quis dizer?
- Nada não. Você vai saber dessa história um dia... – ele disse por fim, já estávamos em frente à entrada do meu alojamento. – É melhor entrar, prepare alguma coisa na cozinha, se não tiver nada para comer. Tchau . – ele se despediu de mim com um beijo no rosto. Por um rápido momento, me senti bem com os lábios quentes de James em minhas bochechas vermelhas. Correspondi com um beijo no rosto dele também, mas foi mais como uma representação de um beijo no rosto, afinal, quando ele beijou o meu, não dava para os meus lábios alcançarem sua bochecha.
- Tchau Jimmy, obrigada por me acompanhar até o alojamento.
- Foi um prazer. – ele acenou e saiu andando. Sorri sozinha do jeito desengonçado e despreocupado que ele andava, observando James até ele sumir de vista. O pior é que: eu também achei James bem interessante... Se é que me entende.

Eu estou muito nervosa comigo mesma, mal começou minhas aulas aqui e já fui salva por Dave, por e agora James acabou de me salvar de . Não que ele seja realmente um perigo, mas eu precisava sair de perto dele, se não fosse James, eu bateria no ali mesmo. Ele era tão prepotente, não acredito que ele tinha feito aquilo e eu o achando um herói por ter me salvado, ou vai ver que ele pagou aqueles meninos para ficar se achando depois, dele eu não duvido mais nada.
Não que eu esteja gostando, me apaixonando, mas esses três garotos foram muito legais comigo e eu me apaixono fácil, principalmente por atos heróicos. , independente de ter sido um idiota depois, não posso deixar de ser grata a ele.
Fui caminhando até a porta do meu alojamento, senti um cheiro ótimo vindo da cozinha, como eu estava com fome, segui o cheiro.
Estava uma falação lá dentro da cozinha, haviam umas 6 meninas lá, esperando alguma coisa assando nos dois fornos, cheguei perto para ver o que estavam assando, parecia tão bom.
- Oi, a lasanha já está quase pronta. – uma menina simpática me informou do prato, ela sorriu para mim e eu retribui o seu sorriso. – Vai ficar para comer não vai?
- Ah sim... Estou com fome e está cheirando tão bem.
- Que ótimo, coma a vontade, fizemos bastante para todas. – ela sorriu e voltou a falar com as amigas.
Fui até a sala de estar e assisti um pouco de televisão, não queria ir para o quarto agora. Uma das meninas me chamou para comer. A lasanha estava deliciosa, só perdia para a da minha mãe e as meninas eram muito legais. Eram as meninas da hípica com duas tenistas. Apesar de ser tímida, conversei e ri um pouco com elas. Lavei meu prato e fui para meu quarto, na esperança que já estivesse lá, mas ela ainda não tinha chegado e estava quase na hora do toque de recolher. Já estava ficando preocupada.
Pelo menos isso de bom no meu dia, não havia acontecido nada com , ela só conheceu mais algumas pessoas na piscina, disse que ia me apresentar. Eu realmente precisava de amizades, não queria ficar isolada apesar de isso ser típico meu. me contou dos amigos que arranjou na piscina quando estava com Jean, ela me disse que eram super legais e começaram a contar piadas sobre o James. É impressão minha, ou piadas internas do James são comuns por aqui?
Eu estava sentindo falta de uma amiga nesses últimos tempos. era a típica amiga companheira de tudo, parecia que eu a conhecia há anos. Acabei contando para ela o que aconteceu comigo em Miami. Ela me abraçou e eu acabei chorando em seu ombro, fazia tempo que eu precisava chorar no ombro de alguém. Ficamos até tarde conversando, ela estava sendo uma ótima psicóloga, apesar de eu ainda não ter falado de uns acontecimentos recentes. Acabamos dormindo esparramadas na cama de baixo.
Acordei com a me cutucando, ela já tinha tomado banho e se trocado. Minha visão estava embaçada e eu estava morrendo de sono.
- Acorda Bela Adormecida! – ela me puxou devagar da cama e beijou minha testa. – Você está péssima amiga, a gente não deveria ter dormido tão tarde, vai tomar banho... - eu sorri para ela e fui tomar banho. A água quente relaxou meus músculos e me fez acordar direito. O cheiro dos meus cremes, xampus, sabonetes e meu perfume, invadiram todo o banheiro. Quando eu saí pronta de lá, já estava me esperando. - Temos psicologia juntas...
- Pra que diabos uma escola tem psicologia? – eu bufei e ela deu risada, nunca tinha visto uma menina tão feliz que nem ela.
Passaram-se a Psicologia e a Matemática com a até o esperado intervalo. Psicologia superou minhas expectativas, foi uma aula interessante. Já a velha e boa – tá, de boa não tem nada - Matemática, foi um caos para mim, eu não entendo de números, definitivamente.
-Antes de a gente pegar comida para ganhar calorias, vou te apresentar meus novos amigos. São lindos, você vai gostar deles. Precisa desencanar dessa história de Miami, sério. – eu não respondi e só a segui em direção a uma mesa mais no fundo. Eu não lembrava que rótulo ela tinha. Quando chegamos só tinha três meninos lá.
- Hey gente. – ela deu um oi geral para eles. Reconheci os dois do meu primeiro dia de aula, e . Percebi que aquela era a mesa dos pseudo-músicos que James havia me falado. Já havia reparado neles ontem. James tinha me falado que sentava aqui, um frio na espinha me percorreu quando me lembrei disso.
- Olha a , dando o ar de sua graça. Onde está a pequena borboleta? – perguntou espontaneamente.
- E eu é que sei?
- Por mim aquilo já deveria ter virado purpurina – riu da sua própria fala meio boba, e o menino do lado também riu meio estranho.
- Pára ! Ele é legal! Ah, essa é a , a minha amiga que eu falei ontem pra vocês. , esses são , e . – ela apontou um a um.
- Prazer... – eu respondi meio intimidada, odeio apresentações.
- O prazer é todo meu! – se levantou do banco e beijou minha mão, fazendo os outros darem risada. – , ao seu dispor. – ele riu e voltou ao lugar
- Liga não, ele é idiota mesmo. – deu uns tapas na cabeça de , sorriu para mim e eu quase desmaiei com aquele sorriso lindo. Estava sentindo falta de pessoas como eles nesse colégio.
- Será que aquele gay vai acabar com a comida da escola? – perguntou olhando na direção do refeitório.
- Jean deve estar caçando o Dave por aí, mas acho que o Dave deve estar por aí com o James – respondeu a pergunta de .
- Não era da pequena borboleta que eu estava falando.
- Ele já está vindo. – falou olhando na direção do refeitório, eu não me virei para ver quem eu tinha certeza de quem era. Senti a aproximação dele, eu sentia o seu perfume.
- Eu sei que vocês não vivem sem mim. – ele não pareceu notar que eu estava ali. Quando ele se sentou e me viu do lado, seu sorriso murchou no mesmo instante. – Oi ... – ele deu um sorriso meio fraco e entortado.
- Oi - eu não me esforcei para sorrir meio torto.
- traíra! Por que você não me falou que a conhecia? Na hora de apresentar menina você não apresenta! – se fingiu aborrecido e deu os ombros, mas vi que ele olhou meio feio para . Tirando , os outros perceberam o clima meio tenso. Foi chegando mais gente na mesa, cumprimentando os que já estavam. Eu e estávamos de pé, os meninos estavam sentados na minha frente e sentado no banco do meu lado.
- Erm... Eu vou procurar o Dave, não o vi hoje. Você vem comigo ?
- Ah, vou sim, preciso encontrar o Jean. Vi o James hoje e ele estava te procurando.
- Ótimo, também quero ver o James. Tchau gente!
- Não! Fiquem aqui as duas, o James sempre aparece por aqui. – insistiu e assentiu com a cabeça, concordando. Na verdade, não queria ficar com o , ele estava fingindo que eu não existia.
- É, vamos esperar pelo James aqui. – me senti vencida por e me sentei. Tive que me sentar no canto da mesa ao lado de , me senti meio mal ao lado dele, ele estava me ignorando e comendo calmamente algum lanche. Eu estava fingindo que prestava atenção na conversa de com os meninos, mas eu não estava. estava me incomodando só pelo fato de olhar para mim e depois tentar disfarçar.
Quando ele terminou de comer, ele finalmente se dirigiu a mim, já era muita coisa, vindo dele...
- Desculpa por ontem, eu fui estúpido. – ele disse olhando nos meus olhos. Odeio quando ele faz isso, me hipnotizava.
- É, foi. Mas tudo bem agora.
- Eu não queria um clima chato que nem está agora. – ele entortou a boca e encostou uma das mãos no meu ombro.
- Eu também não.
- Esquece aquilo, tá bom? – ele deu uma batidinha no meu ombro dando um meio sorriso.
- Tá, mais uma coisa para a minha lista de coisas que eu tenho que esquecer... – eu disse antes de dar mais um gole no meu suco.
- Que coisas?
- Uma longa história, coisas de Miami, que eu tenho que esquecer o quanto antes. - ah, tá bom que eu vou deixar ele ficar pagando uma de amiguinho.
- Gosto de histórias longas.
- Mas o intervalo já está acabando. – eu informei e olhou acima de mim. Senti mãos geladas tampando meus olhos. – Quem é? , fala quem é...
- Se eu soubesse... – ele disse meio desanimado. Já tinha certeza que não era James, porque o conhecia e o perfume era deliciosamente familiar, então só poderia ser...
- Dave?! – eu perguntei entusiasmada.
- Acertou... – Dave confirmou minha suspeita e beijou a minha cabeça, sua primeira demonstração de carinho desde que a gente se conheceu. Foi estranho da parte dele, mas não posso dizer que não gostei. – Desviando de potes de tinta catarrenta por aí? – ele parecia animado ao contrário de , que agora estava fingindo estar concentrado na outra conversa, mas eu sabia que ele tinha olhos lá e ouvidos aqui.
- Muitos. Você não sabe o tanto de potes catarrentos estragadores de cabelos que tem por aí. – ele deu uma risada e logo depois surgiu James dando um tapa de leve em na minha cabeça.
- Hey ... Oi todo mundo – ele disse entusiasmado. A maioria deu um ‘oi’ igualmente entusiasmado, mas o ‘oi’ de foi bem seco e desanimado, eu preferia que ele nem tivesse respondido.
- Então, ... Vem comigo, eu e o Dave vamos te levar pra passear até esse intervalo acabar, que vai ser logo. Então, tira essa bunda da cadeira e vamos! – ele pareceu não se importar com , estava animado demais para isso e eu ri sendo puxada por ele. Nem vi a cara que o fez, mas só de imaginar, eu ria por dentro, sem saber um motivo ao certo.

Nós três ficamos rodando o pátio, o jardim e mais alguns lugares até o dar o sinal. James me apresentou para um monte de gente, que pareciam legais e me deixavam confortável. Eu estava rindo muito com aqueles dois, estavam sendo muito legais comigo, até andei de cadeirinha com eles. As pessoas que nos viam achavam a gente feliz demais para um segundo dia de aula. Quem se importa?
O sinal tocou, eles se despediram de mim com um beijo e um abraço, estilo aqueles de despedida de aeroporto, mas não reclamo, eu adoro abraços, adoro receber atenção.
A próxima aula seria de Geografia. Entrei na sala e só reconheci o Jean.
- , que bom que você tem essa aula comigo. Não sei o que seria de mim sem você – Jean exagerando como sempre, mas gosto disso.
- Eu digo o mesmo... – dei uma risadinha e me sentei ao seu lado.
Mrs. Swatsen era uma professora dinâmica e meio doida. Já gostei dela de cara, porque ela não pediu apresentações.
- Ela não tem nenhuma noção de estilo... Onde já se viu: Bota branca camurça, jeans azul meio desbotado acima do umbigo e por cima um blusão de moletom amarelo gema que dá pra ver a gola da blusa ‘toalha de mesa’ que ela está por baixo. Morri aqui... – enquanto Jean falava, eu tentava rir discretamente.
- Ah para! Ela parece ser legal...
- Só se for pra você querida! Porque pra mim pessoa legal é bonita, rica, elegante, na moda, simpática e... Cheirosa. Essa professora deve feder... – novamente, estava eu rindo das palavras de Jean. A voz meio afeminada dele não me ajudava a ficar séria.
- Ai, tá bom, chega. Ela está olhando para cá. Não vai ser nada legal ela vir dar sermão na gente... – eu disse um pouco mais controlada. Ele apenas deu os ombros e continuou a olhar com cara de nojo pra professora, sem disfarçar nada.
A aula passou, eu me diverti muito com o Jean, ele não parava de falar um segundo do cabelo dos outros, dos acessórios, de como o uniforme é brega e de como a professora é cafona. Além de comentar, ele dava adjetivos cômicos a essas coisas que ele não conseguia ignorar. Me despedi dele, e fui em direção à sala de Música, eu sabia que Dave e teriam essa aula.
Por mais incrível que pareça, consegui chegar antes de , mas Dave já estava lá. A sala estava quase vazia, o resto dos alunos estava a caminho. Na verdade, a sala é que é muito grande e parecia vazia, mas ainda assim tinham muitos alunos pra chegar.
A sala era acústica. No centro dela havia um lindo piano de cauda, ao redor havia umas arquibancadas e no fundo da sala havia o espaço da orquestra. Com exceção do piano, não tinha nenhum instrumento na sala. Eu fiquei observando a sala em silêncio, não tinha percebido que Dave me fitava.
- Também achei a sala legal. – ele percebeu meu interesse na sala. Me virei para ele sorrindo.
- Leu meus pensamentos...
- Não foi difícil. – ele deu um sorriso meio convencido, propositalmente. Eu abri mais o sorriso, sem saber o motivo. Me sentia bem. Ele se sentou num lugar da arquibancada e eu sentei ao seu lado. Ele apontou para a porta dando risada.
entrava na sala junto com , rindo histericamente. A risada deles me fez rir, não só eu como Dave também.
- Dave e , docinhos... – sim, ela disse essa cafonisse. Ainda bem que Jean não está aqui para ouvir isso. – Olha quem tá aqui também: e suas piadas. Conta aquela última pra eles, !
- Tá, vou contar! – ele pausou rindo antes de contar a piada, deve ser boa. – Porque um anão estava correndo na hora de atravessar a rua?
- Não sei – dissemos eu e Dave, enquanto ria.
- Pra pegar impulso e subir na calçada!- ele e morreram de rir. Eu e Dave nos entreolhamos sérios, sem nenhum sorrisinho. O professor tinha acabado de chegar e eles ainda estavam rindo.
- Ai ai... Não é ótima? – perguntou com lágrimas escorrendo no canto dos olhos.
- Muito. Ha ha! – forcei uma risada desanimada e forçada. Ela pareceu ignorar ou não entender o que eu quis dizer. – Melhor você parar de rir, antes que você saia da sala. O professor não está com cara de quem está achando graça.
- É que ele está como a gente , ele está rindo muito, mas por dentro, sabe? – eu ri do Dave e observei que tinha um povinho entrando na sala ainda. – Essa aula é com todos os alunos da nossa série, achava que era como as outras. – então Dave também percebeu a quantidade de alunos que estava na grande sala acústica.
Vi James entrar pela porta, eu acenei como uma idiota até ele ver. Compensou o mico, ele me deu um sorriso lindo assim que me viu, até paralisei. Ele veio me cumprimentar normalmente, virei para olhar as pessoas que entravam meio atrasados: , e .
Lá fui eu acenar idiotamente. Eles viram mais rápido que James, sorriram também e então Dave tocou no meu ombro pra falar alguma coisa que o fez com James – que por sinal, eu ri muito - e chegou de cara fechada. Ele viu que olhei pra ele e forçou um fraco sorriso, que não me convenceu. Cumprimentei os meninos normalmente, inclusive . Depois eu pergunto para ele o que tinha acontecido, vai que ele tava com um rasgo na calça – rasgos na calça não deixam ninguém alegre - e eu não tinha percebido, eu poderia costurar pra ele se ele não soubesse, usando com o kit que tem lá no quarto e... Ok, eu não estou muito bem das ideias e nem sei costurar.
O professor pediu silêncio, que foi se estabelecendo aos poucos, cortando o meu ritmo de pensamentos alheios.
- Bom dia a todos! Sou Mr. Harrinson, professor de música e maestro da escola. Os alunos que se interessarem pela orquestra, alistem-se nessa ficha que está em minhas mãos – ele levantou a folha amarela e em seguida continuou explicando – que ficará em cima da mesa – ele apontou com a folha para uma mesa meio isolada. – Eu tenho alguns assistentes que virão semana que vem: Uma professora de canto e outra professora de música, para as aulas que não para usaremos ensinamentos de música clássica. Creio que teremos muitas aulas assim no decorrer do ano, a maioria dos jovens de hoje em dia não apreciam a música clássica. – ele acabou e se dirigiu mais a frente, onde tinha uma enorme lousa. Escreveu seu nome, notas musicais, essas coisas. Não pediu que pegássemos nossas pastas de música nem nada.
- Esse professor é um dos melhores desse colégio. Ele não é muito próximo do aluno, mas é daqueles caras que você tem o maior respeito sabe? Ele sabe muito de música, não só clássica, a outra professora só dá uma mão porque é mais jovem... – James começou a falar comigo do nada – Hum... E mais gostosa.– ele e Dave deram uma risada sapeca, que me fez rir também. Eu queria pegar logo nos instrumentos, mas acho que esse não seria o dia, acho que é por ser o primeiro.
Olhei aqueles quatro: , , e . Estavam rindo de alguma coisa bem idiota, do jeito que imagino que sejam as coisas que geralmente fala.
também dava uma risada espontânea, eu sorri vendo a risada dele que era tão gostosa. Não percebi quando ele parou de rir e começou a me encarar, sorrindo timidamente. Tinha uma corrente que me puxava para os olhos dele e estava nítida no espaço entre a gente. Só parei quando me deu um cutucão, percebendo aquilo, olhando de mim para .
- Erm... Eu estava te chamando... – ela disse cautelosamente. Olhei pelo canto dos olhos, e vi me olhando e voltando alheio na conversa em que ele estava tão animado.
- Eu não reparei, desculpa. O que era?
- Uma piada do , mas agora eu esqueci... – ela falou pensativa, mas acho que não estava tão interessada na piada agora.
Fiquei calada a aula inteira, querendo que acabasse logo. Eu só observava o comportamento de meus amigos, que conheci há um dia atrás e me sinto tão próxima deles. Acho que tenho sérios problemas de carência afetiva.
Dave e James ficavam tentando puxar assunto comigo, para ver se eu falasse mais que ‘aham’ e balançasse a cabeça. conversava com e com os outros meninos, só estava distante. Eu evitava olhar para ele, pra que ele não olhasse para mim e ficasse sustentando o olhar, então decidi ficar junto com Dave e James. Eles falaram algumas besteiras que me fizeram rir, bem pouco.
- Mas agora é sério , o que aconteceu? – James perguntou saindo da aula comigo e Dave.
- Nada Jimmy... Só estou com sono e um pouco de dor de cabeça.
- Isso se chama alergia à escola. Também tenho isso! – Dave me fez dar um sorriso fraco, pelo menos eu dei. – Que aula tem agora? Se sente em condições de assistir? – ele me abraçou de lado, envolvendo meus ombros com seu braço, dando uma chacoalhada básica. Me senti muito bem neste momento. Não tinha como eu não me sentir bem do lado de dois dos meus três heróis nessa escola, três porque Jimmy tinha me salvado do , o herói que eu estava sentindo falta. Tá, James não é exatamente um herói, enfim... Despistei alguns pensamentos e me concentrei em responder a pergunta de Dave, mesmo com seus braços em volta de mim e seu perfume, tirando toda a minha atenção.
- Fotografia. E eu estou bem, não é nada com que tem que se preocupar. Obrigada! – dessa vez abri um sorriso maior e mais convincente. Ele retribuiu meu sorriso. James estava estranho do nosso lado. Estava com mãos nos bolsos, olhando para o chão, um pouco pra baixo, não estava que nem há um minuto atrás. Ainda envolvida por Dave, perguntei a James:
- Você não me parece tão bem assim, o que está havendo?
- Nada não. Erm.. Tenho que ir se não vou me atrasar. Tchau! – ele saiu sem olhar pra mim ou para Dave, que nem percebeu que a saída de James.
Quando chegamos à frente da sala que ele ia ter aula, foi quando ele me soltou.
- Tchau ! Ah, você tem planos pra depois da aula?
- Ela tem sim, ela vai ficar um pouquinho comigo Dave, depois eu devolvo ela pra você, encontre a às 14h00min no nosso alojamento, estará lá! – veio do nada falando com Dave, que concordou assustado e se despediu de mim com o típico beijo no rosto, em mim e na . Ela tinha aula de fotografia comigo.
Quando estávamos em direção ao Estúdio de Fotografia, não resisti e perguntei:
- O que quer tanto falar comigo?
- Pensa que eu não percebi você e o ? – eu gelei nessa hora, tentei responder naturalmente.
- Ele ficou olhando para mim e eu só fiquei olhando se ele não ia parar de olhar... – tá, essa foi péssima.
- Sei. – ela disse irônica e entramos no estúdio. – Vai me contar tudo, ouviu ? – ela sorriu vitoriosa quando eu concordei em silêncio.
Mrs. Philips se apresentou e começou a explicar brevemente o que teremos que fazer para esse ano:
- Este ano, eu tenho um projeto pra vocês: O Yearbook! O livro onde tem fotos de todos os alunos e no final do ano eles escrevem uma legenda e assinam nas últimas folhas. Vocês terão que montá-lo, tirando fotos dos alunos da escola. Como são muitos, tirem fotos dos alunos só da sua série. Vocês montarão o Yearbook, vão ter que colocar o nome das pessoas em baixo, vão digitar a legenda e vão encadernar tudo bonitinho. Valerá nota de 0 a 10 e os melhores vão servir de inspiração para o oficial.
Eu até gostei desse trabalho, mas ele poderia demorar um pouquinho pra passar. Me assustou logo de cara. Como eu tirarei fotos do nada das pessoas? E as pessoas tirando fotos minhas? Medo!
Na aula inteira fiquei fazendo planos para o Yearbook, adorava tirar foto dos outros. estava distante, pensativa e estranha. Às vezes ela ria sozinha. Eu arranjei uma amiga louca. Todos os amigos que eu arranjei são loucos, mas parece que eu os conheço há anos. Só sei que os quatro ‘amigos pra sempre’ – , e companhia -, estudavam na mesma escola antes.
Eu estava sentindo falta do Jean na aula de fotografia, será que ele estava bem? Ele não tinha vindo comigo, muito menos comparecido à aula, por isso eu tinha achado que não era para todos os alunos da minha série. Essa borboleta me pareceu estranha, estou intrigada com ele agora... Não vejo motivos dele não ter vindo.
Estavam distribuindo as câmeras, ficaremos com elas a partir de agora. São câmeras profissionais que recebemos para as aulas de Fotografia – a gente paga uma pequena grande taxa na matrícula para recebê-las de fato.
- Cuidado com essas câmeras, são muito boas para saírem quebrando – Mrs. Phillips deu a advertência e começou a falar de táticas para tirar fotos. Ela escreveu alguma coisa sobre o movimento no quadro branco. Copiei em silêncio, eu estava com medo dessa pensativa ao meu lado, ela pode me fazer perguntas nada agradáveis sobre .
Bateu o sinal. Eu e saímos lado a lado. Ela pareceu bem espontânea agora, falando das piadas do sobre James. Algumas realmente eram engraçadas. Mas ela mudou de assunto de repente, o assunto que eu não queria falar tão cedo.
- Então... O que realmente há com esse , hein? Não me esconda nada! – apesar de que pra mim ela estava totalmente maligna e ameaçadora, estava tranquila e ainda por cima, sorria docilmente.
- O que há com ele, eu realmente não sei...
- O que há com você?
- Absolutamente nada. – menti, eu não sabia o que havia comigo depois que eu entrei nessa escola. Mas com certeza, havia alguma coisa.
- O que há com você em relação à ele? – ela me encarou, mesmo em movimento contínuo junto a mim. Eu pensei mais para responder, eu não sabia como fazer isso e nem mesmo sabia a resposta.
- Erm... Eu não sei.
- Como conheceu ? Obviamente não foi no refeitório, lá você já se conheciam... – já estávamos perto do alojamento nesse ponto da conversa.
- Eu tive aula de Química com ele. – dito isso ela me olhou sugestivamente, entendi que ela queria os detalhes. Contei a ela o que aconteceu naquela aula.
- Isso não é motivo de estarem agindo tão estranho um com o outro. Tem mais? – ela perguntou e eu confirmei com a cabeça. Contei os detalhes de quando fui conhecer a escola, como ele me salvou e o que ele disse depois. Nesse meio tempo dessa longa história, já conversávamos subindo as escadas para ir para o quarto. Quando entramos, ela sentou na cama e eu sentei na cadeira.
- Nossa que horror o que tentaram fazer com você! Foi bom ele ter te salvado, mas ele foi meio... Estúpido. Apesar de você ter arranjado uma discussãozinha meio boba com o garoto, sem necessidade – ela fez uma careta engraçada que me fez rir.
- Foi, mas ele pediu desculpas, hoje no refeitório. Eu sei que foi bem desnecessário, acho que eu estava meio estressada, nervosa.
- Mas ainda está estranho! Se olhar arrancasse pedaço... Os dois estariam desmembrados.
- Pensei exatamente isso algum tempo atrás.
- Mas você gosta dele? Assim... Como você gostava do Toddy?
- Não, não é isso. É diferente. Ele é bonito, assim como Dave e James. Considero os três muito próximos de mim, meus heróis.
- Não são apenas heróis, né ? – ela me pareceu um pouco mais cabisbaixa agora.
- Não entendi.
- Você se sente, erm... Atraída pelos três, não percebeu?
- Não, claro que não. James é um bom amigo, Dave... bem, também é um ótimo amigo. E , um amigo meio distante ainda, mas é especial. Atraída? Todos são lindos e tudo mais. Contudo, não posso ferrar minha vida de novo.
- Nenhum deles é capaz de te fazer algum mal.
- Eu pensava isso de Toddy.
- Você ainda ama o Toddy? – ela perguntou e eu não respondi, deixei uma lágrima cair relembrando tudo o que passei. Ela interpretou mal. – É por isso! Você ama o Toddy apesar de tudo o que ele te fez!
- Não! Ele só marcou muito a minha vida, eu tive momentos felizes com ele, apesar de tudo. Não consigo esquecer o que sofri e não consigo me esquecer dos momentos que eu estava feliz ao lado dele, antes do inferno começar. Ele costumava ser... Perfeito, sabe? – eu agora chorava, discretamente. Parecia que Toddy tinha morrido até.
- Você está feliz agora?
- Estou, estou bem aqui.
- Porque não dá uma chance pra você mesma? – ela se aproximou de mim e enxugou minhas lágrimas. - Você tem que sair dessa. Todo muito tem direito de ser o mais feliz possível. Você não está o mais feliz possível, eu sei disso. Escute o que eu estou te dizendo. Está na cara que esses três adoram você, alguns deles até mais do que outros, mas sei que adoram sua companhia, não sei se em te ter como amiga ou algo mais. Mas se solte. Quem vive de passado é museu! – ela abriu um sorriso largo que irradiou todo o quarto.
- Você é minha psicóloga preferida, sabia? – eu sorri e me abraçou forte. Eu já não estava mais chorando. Eu nunca tinha encontrado uma amiga como ela. Em dois dias, a ajuda dela vai valer por uma vida inteira.
- Não contava com a minha astúcia? – ela me fez rir com sua frase estranha. – Acho que você tem que lavar o rosto e retocar a maquiagem. Daqui a 15 minutos você tem que estar na entrada do alojamento. Vamos ao primeiro candidato do ‘Quem vai ficar com !’ – novamente ela me fez rir.
- Ai , não é bem assim.
- É assim sim! Ele é lindo, simpático e está com tudo em cima. – gargalhei com a piscadinha da , ela estava andando muito com Jean. – Eu acho que eu estou andando muito com Jean! – não disse?
- Pensei a mesma coisa... – eu me levantei sorrindo e fui para o banheiro. Dei um beijo estalado na bochecha da , em gratidão pela “consulta”. Eu estava outra pessoa na entrada do alojamento, me sentia mais leve e estava sorrindo. Vou tentar escutar e deixar as coisas seguirem seu rumo naturalmente. Eu tenho três heróis à minha disposição pelo o que a me disse. Isso se eu não encontrar mais uns por aí. Apesar de eu realmente torcer para que os três só sejam meus amigos. Não sei o que eu ainda sinto por Toddy, ele não vai sair da minha cabeça tão facilmente, mas não custa tentar.

Capítulo 5 – Candidatos
Avistei Dave se aproximando, com um sorriso lindo. Comecei a reparar mais no quanto ele é bonito e cheguei a conclusão que: é, ele não é de se jogar fora. Mesmo com aqueles uniformes cafonas, como já dizia o bom e velho – tá, nem tão velho - Jean.
- Hey – ele sorriu e me cumprimentou.
- Oi Dave. Para onde a gente vai?
- Surpresa... – ele sorriu e começamos a caminhar lado a lado. Não gosto de surpresas.
- Ah, qual é? Você nem sabe andar por esse colégio sem um mapa.
- Calma, não é nada demais e não é muito longe daqui. Acho até que você já veio aqui.
- Ah, não é a piscina não né? Ontem a foi à piscina, o tempo estava frio como hoje e ela disse que é estranho mesmo com a piscina aquecida e...
- Não, não é nenhuma piscina. – ele me interrompeu e continuou caminhando. Seu sorriso aumentava a cada passo. – Estamos praticamente chegando.
- Mas já? – eu olhava para frente e não via nada.
- É, eu disse que não era longe. É do lado do seu alojamento. Agora pare com as perguntas sobre o lugar.
- Tá bom. – fiquei em silêncio observando o caminho, quando viramos na curva, avistei o lago. É realmente do lado do alojamento.
- Você já pode até ver... – ele disse e eu concordei sorrindo.
- Nunca tinha vindo no lago.
- Então você vai ter sua primeira experiência de alimentar os patos, gansos, ou sei lá que bicho tem lá dentro. – eu dei risada dele e logo já estávamos em frente ao lago. Ele me guiou para um banquinho de pedra, não muito próximo do lago, embaixo de uma árvore.
- Como a gente vai alimentar os patos daqui?
- A gente se aproxima depois. E eu nem sei se tem pato aí, falei por falar. – ele deu uma risada estranha que me fez rir. Ficamos em silêncio ouvindo o vento batendo nas árvores, observando a paisagem e algumas pessoas do outro lado do lago.
- ?
- Diga...
- O que aconteceu com você, em Miami? Eu quero saber, percebi que isso te deixa meio tensa, mas eu posso ajudar talvez. – ele se virou pra mim e me olhou. É impressão minha ou gostam de me hipnotizar? Eu respirei fundo e contei até três – mentalmente, claro.
- Foi assim... – eu contei bem resumidamente o que aconteceu comigo em Miami, para ver se o efeito dessa história não fosse tão grande e me fizesse chorar como todas as outras vezes que eu pensei nisso. Lutei contra as lágrimas nos meus olhos, mesmo contando resumidamente, algumas lágrimas escorreram pela minha face, não mais do que três ou quatro lágrimas ressentidas.
- Mas tudo isso já passou , não tem porquê ficar assim. Você conquistou amigos aqui, isso em apenas dois dias. Você conquistou muita gente em dois dias, muita gente gosta de você. Você não precisa se apegar a esse passado. – ele aproximou meu rosto com as mãos, enxugando minhas lágrimas com os polegares.
- Eu até já conversei com a , ela me ajudou muito, falou para eu seguir em frente, tentar esquecer e curtir aqui. Você está me ajudando agora, assim como a . Obrigada Dave, de verdade!
- Você pode sempre contar comigo. Eu estarei aqui sempre. E o que a disse é tudo verdade. Você tem que conhecer outras pessoas, outros caras... – ele pausou e olhou para mim, ficando corado. Eu sorri vendo a cara dele vermelha, ele era tão bonito. Ele continuou o que estava dizendo - E assim vai. Não chore mais por isso, imagino o quanto seja difícil pra você, mas você tem a mim, a , todo mundo! – ele sorriu e eu o abracei.
Ultimamente eu ando carente, acho que toda essa depressão pós-Miami, tentando esquecer do meu passado, me deixou muito carente. Eu gosto de ser abraçada, me sinto protegida. Principalmente nos braços de David. O calor do corpo quente dele aquecia o meu ligeiramente frio. Eu tinha sentido ele respirar o meu perfume, não que eu não tenha feito isso para sentir o perfume dele já.
Ele me soltou devagar, mantendo suas mãos nos meus braços, segurando de leve. A distância era mínima e as batidas em meu peito começavam a ficar desreguladas. Ele me perguntou, praticamente sussurrando:
- Você ainda gosta daquele cara? – eu demorei um pouco pra responder.
- Eu não... Eu não sei bem. Eu tenho certo carinho por ele, ele já fez algumas coisas boas por mim. Ele era um cara legal, só que infelizmente, se envolveu com as pessoas erradas. O que ele fez depois disso foi traumático. Eu estou tentando me esquecer disso. - Mas você ainda gosta?
- Não vou conseguir responder essa pergunta. Desculpe.- eu olhei pra baixo e ele levantou meu rosto com um dedo no meu queixo.
- Não tem que se desculpar de nada. Eu só quero te ajudar. – a aproximação estava perigosa e eu já não raciocinava direito. Não cheguei a pensar em nada, apenas senti a aproximação dele e fechei meus olhos. Seus lábios encostaram-se nos meus, delicadamente. Uma mão permaneceu em meu rosto e outra passou por meu braço até chegar à cintura. Cedi a abertura de meus lábios para o beijo delicado de David. Não hesitei em nenhum momento, apesar de não saber se eu queria aquilo. Eu estava confusa. Então apenas segui com o ritmo dele, enquanto eu enroscava meus dedos em seus cabelos e minha outra mão ficava espalmada em seu peito. O beijo acabou em meio a frustração de Dave achando que o que ele fez não estava certo.
- Me desculpe. Eu... Eu... Eu não deveria ter feito isso, talvez você não queria e eu...
- Não se desculpe... – tapei os lábios dele com o dedo indicador – Eu gostei, eu só estou um pouco confusa, entende? – eu tirei meu dedo vagarosamente.
- Vou tentar ver o seu lado, mas é difícil resistir à você. Você conquista todos à sua volta e a mim, você mostrou ser mais que uma menina cativante. Não sei explicar.
- Não se explique. Eu também estou tentando entender o que há comigo, porque eu não sei. – ele sorriu fraco, concordando com a cabeça. Ele se levantou e deu a mão para eu me levantar.
- Quer ir já?
- Tanto faz. – eu me levantei e soltei sua mão para voltarmos lado a lado de novo. O curto caminho foi bem silencioso, mas não um silêncio agradável, foi daqueles que pede para ser quebrado. Tive que quebrar o silêncio, quando estávamos quase em frente ao alojamento:
- No fim, nem alimentamos os patos. – vi o sorriso dele.
- É, pobres patos... Vão ficar com fome. – nós dois sorrimos e olhamos um para o outro.
Eu estava realmente gostando da ideia de . Mas era cedo para tirar conclusões. Andamos até o alojamento e ele foi se despedir de mim meio sem jeito, sem muita aproximação.
- Tchau ! Até amanhã... – ele acenou e então fui mais pra perto dele, segurei seu rosto e dei um beijo no nariz e um selinho. Acho que ele se assustou um pouco com a minha reação, acho que ele não tinha acreditado que eu não tinha me incomodado. Ele sorriu pousando as mãos na minha cintura e me beijou, sem cerimônias. Era um beijo um pouco mais quente do que o outro, um ritmo mais rápido. Ele parou o beijo e deu um sorriso de orelha a orelha. – Tchau! – Dave saiu em direção ao seu alojamento e eu entrei no meu.
Eu estava com fome, nenhuma menina tinha preparado nada. Resolvi comer comida congelada mesmo.
Subi para o quarto e estava no laptop. O meu laptop só chegaria daqui a algumas semanas. Assim que ela percebeu a minha presença, começou a se despedir das pessoas no MSN e foi correndo sentar na cama junto de mim.
- E então?
- É, você tinha razão. Segui seu conselho... – contei para ela os detalhes, até o selinho inesperado. – Mas eu estou um pouco confusa. E se eu... Magoar ele? Eu não quero.
- Eu já tinha percebido que ele era a fim de você. Imagino que esteja confusa. E o ? – no instante que ela falou no nome dele, senti uma coisa apertando meu coração. Senti um arrependimento nessa hora. De certa forma, eu achava o muito convidativo e atraente, mas beijei Dave, estou dando esperanças para ele de uma coisa que não é certa. Eu não podia descartar a hipótese de . O James era mais um amigo, muito convidativo também, mas ? Eu acho que gostaria de tê-lo também. Estou me sentindo uma... Piranha.
- Eu não sei aonde você quer chegar com isso, . – menti, ela com certeza ia falar de toda a nossa insistente troca de olhares significativos.
- Vocês dois são estranhos um com o outro, mas sei que não quer tocar nesse assunto. – ela pausou e eu respirei aliviada por um momento. – E o James? Nunca reparou o jeito que ele te olha? – percebi a voz dela murchando.
- Não, eu não reparo muito. Ele é um ótimo amigo, assim como , Dave...
- Você está confundindo as coisas, . chega a ser seu amigo e Dave já não é bem isso. Se não existisse Dave e ... Você poderia ter alguma coisa com James, não poderia? – ela olhou para o chão, ainda com a voz fraca nessa pergunta.
- Não sei, acho que sim, ele me trata muito bem. A aproximação dele de mim me faz muito bem também.
- Hum... – ela respirou fundo e olhou para mim de novo. – Você não quer diminuir essa disputa para dois candidatos? – isso me fez entender o que ela queria com aquilo tudo.
- Não há nenhuma disputa aqui, ninguém está disputando nada, eu só estou testando algumas possibilidades. – eu parei por um instante e percebi que ela esperava algum veredicto meu. – E James não está nessa lista de possibilidades, ok? Ele é um grande amigo. – dessa vez ela abriu um sorriso um pouco maior.
- Mas ele nem sequer olha pra mim, estou me sentindo uma boba. Onde já se viu? , correndo atrás de homem, implorando homem por aí – ela bufou – Ele só tem olhos pra você.
- Pare com isso . Vocês dois vivem por aí juntos. E o também adora a sua companhia – dei uma piscadinha sapeca para , que deu risada.
- É... O é um fofo. também, também...
- Então vá com calma, veja bem suas possibilidades também.
- Obrigada. – ela deu um sorriso sincero pela primeira vez hoje. A gente se abraçou mais uma vez e eu fui fuçar no laptop dela.
A gente não saiu mais do quarto naquele dia. Ficamos revezando a internet, tirando fotos uma da outra. Se dependesse de mim, meu Yearbook iria ser só da , ela é muito fotogênica. falou a mesma coisa de mim, mas ela só quis agradar, eu não consigo me soltar na hora da foto. Eu acabei adormecendo na cama de baixo, dessa vez tinha ido para a cama de cima.
Eu acordei no meio da noite com um barulho, eu tenho sono leve. Levantei da cama e fui observar a janela. Embaixo de cada janela do alojamento tinha uma sacadinha. Só a minha estava meio vazia, não tive tempo de colocar mais flores. Abri a janela com cuidado para não fazer barulho, apesar de não ser do tipo que acorda fácil e estava toda largada na cama de cima. Um vento gelado bateu em meu rosto, contracenando com o céu estrelado. Amanhã fará calor, eu já estava achando que na primavera seria frio todos os dias. Ouvi novamente o barulho que me acordou, olhei para baixo e não vi nada. Era como se alguém estivesse batendo na parede. Sem pensar duas vezes, fui trancar a porta do meu quarto. Quando me virei de novo para a janela, abafei meu grito com as minhas mãos, vendo que estava de pé na sacadinha, entrando pela minha janela.
- Não grite, por favor. – ele falou sussurrando assim que colocou seu corpo inteiro dentro do quarto. Só consegui ouvir o barulho do aquecedor, seus passos eram silenciosos no meu quarto.
- O que está fazendo aqui? – sussurrei, o observando olhar meu quarto.
- Vim conversar.
- Não poderia esperar até amanhã?
- Eu sou um pouco ansioso. – ele sorriu tímido, me fitando de cima à baixo. Olhei para mim mesma e vi que só estava de camisola. Corei na hora, ainda bem que estava meio escuro. A cortina não estava encolhida e um só pouco de claridade da lua a atravessava.
- Como soube que este era meu quarto?
- Foi o segundo que tentei. Tive sorte que comecei do fim, se não eu teria que olhar todas as janelas até subir na penúltima, que é a sua.
- Tudo isso, só pra conversar?
- É importante. – ele foi se aproximando de mim com cautela, respirou fundo e começou a falar. – Eu sei que já te pedi desculpas por aquilo que eu falei e fiz no primeiro dia e sei que você ainda tá meio nervosa com aquilo. Eu queria que você esquecesse daquilo, mesmo. Eu te imploro.
- Mas isso já passou, . E você já me salvou daqueles trogloditas, você não tem que ficar falando nada desse assunto. Não foi só culpa sua, eu estava estressada naquela hora e provoquei uma discussão idiota. Foi só pra me dizer isso que veio até aqui? – eu cruzei os braços esperando sua resposta. se mexeu na cama, o que assustou um pouco , que achava que ela ia acordar. Eu tinha certeza que ela só acordaria quando o despertador tocasse.
- Tem um lugar melhor pra conversar?
- Tem... O banheiro. – eu falei e segui na frente. entrou no banheiro e fechou a porta atrás de si. – Fale, agora.
- Mas o banheiro não faz muito barulho, por causa do eco?
- Não. Tem tanta coisa socada aqui dentro, um eco seria difícil. Eu nem escuto o barulho do chuveiro quando a está tomando banho e eu estou do lado de fora. – eu dei os ombros.
- Eu quero que você me conte o que aconteceu em Miami. Eu sei que não é nada bom, por isso está aqui. Parece que é o principal motivo que você tem para ter ficado nervosa comigo naquele dia. Eu não vou dormir tranquilo se não souber disso.
- Mas porque quer tanto saber disso? Eu tento esquecer essa história e todo mundo fica ressuscitando...
- Quem?
- A , Dave. Eles também quiseram saber dessa história.
- Ah sim... Dave. – ele sorriu um pouco nervoso. – Você parece gostar dele. Talvez porque ele não foi um estúpido com você. – ele passou as mãos no cabelo, dando uma bagunçada do cabelo. O que o deixa mais bonito ainda. Ele com certeza viu o beijo, por isso está agindo assim e veio ao meu quarto no meio da noite.
- Você viu? – como se eu já não soubesse...
- Vi. No lago e aqui em frente ao alojamento. – ele disse sem emoção.
- Não quer saber o que aconteceu comigo? – eu perguntei desviando do assunto tenso, por um igualmente tenso.
- Por favor. – ele disse rápido. Contei a ele com um pouco mais de detalhes sobre Toddy, não sei por que queria falar mais nele. Mas também falei da parte da pesada, as drogas e tudo mais. Ele não tinha emoção no rosto, até o momento que uma lágrima teimosa rolou em meu rosto e seus olhos ficaram dolorosos assim como no dia em que ele tinha me salvado.
- Isso mexe muito com você. Me desculpe por isso. - ele se aproximou de mim, não oferecendo perigo algum.
- Se você se desculpar mais uma vez... Eu te afogo no vaso – nós rimos para quebrar o gelo. – Não está encrencado por estar aqui?
- Não. Ninguém vai ficar sabendo. E valeu a pena, sei agora dos seus motivos pra ter ficado nervosa comigo.
- Motivos? Nervosa? Não, eu só estava confusa. Por que isso agora?
- Não vou tocar no assunto. Você não reage bem a ele, pelo menos não reagia. Já vi que está bem melhor. Dave é um bom psicólogo? – ele usou um sarcasmo irritante. - Eu não vou brigar como você. O Dave não tem nada a ver com isso. – eu respondi ríspida, olhando bem para os olhos dele. Era a primeira vez naquela noite que nós nos fitávamos intensamente, eu podia sentir aquela corrente entre a gente. assentiu com a cabeça sorrindo de lado, como se fosse prazeroso conseguir me irritar do jeito que ele estava conseguindo, mais uma vez. – Não posso saber mais sobre você? Você já teve a informação que precisava, não é justo eu não saber nada sobre você.
- Ok. O que quer saber?
- Por que você é assim?
- Assim como? – estávamos frente a frente, mantendo nosso contato visual com muita intensidade.
- Presunçoso, prepotente, estúpido, metido, insensível, inseguro... – dei ênfase no inseguro, que antes, ele havia usado contra mim. Ok, talvez eu tenha exagerado, não sei de onde eu tirei o insensível.
- Só tem elogios para mim... Achei que tivesse pedido pra esquecer aquilo.
- Só com uma lavagem cerebral...
- Ah sim, eu sou tudo isso e você é a perfeita vítima de tudo e todos? – o percebi meio nervoso – Você não é a única que sofreu aqui, pode ter certeza! Eu perdi meus pais quando eu tinha 3 anos. Foram assassinados. Todos abafavam o caso pra mim, dizendo que foi acidente de carro, mas eu sei que eles foram assassinados. Eram políticos importantes. O máximo de tempo que eu fiquei com o mesmo tutor foram uns 2 anos. O meu tutor de agora decidiu pagar esse internato, pedi por isso, porque todos os meus amigos se mudariam para cá. Ele nem hesitou ao meu pedido, queria se ver livre de mim o quanto antes, ele quer que eu fique aqui até completar a maior idade e não precisar voltar pra casa dele. E então chego à conclusão: Tudo o que realmente importava pra mim se foi quando eu tinha 3 anos. Eu sentia que ninguém mais gostava de mim de verdade. Eu nunca tive um pai e uma mãe de verdade, só quando os meus eram vivos. Enquanto você foi mimada e estragou sua vida por causa de um namoradinho, eu não tive culpa do estrago que foi feito na minha. – ele parou de me olhar pra bagunçar os cabelos de novo. Ele pode ter sido infeliz por toda uma vida, mas ele não tinha mais problemas do que eu, não mesmo. Ele não escutou minha história inteira.
- É, isso é péssimo pra você , eu sinto muito mesmo. Mas eu não estraguei minha vida por que sou mimada e por causa de um namoradinho. Eu realmente achava que eu ajudava aqueles clandestinos, eu queria que eles tivessem uma vida melhor, eu me sacrificava para ajudá-los a atravessar a fronteira. Eu não sabia que eu estava sendo usada. A única parte em que eu errei, foi quando eu não me importei com os riscos e comecei a falsificar. E mesmo assim, eu ainda acreditava que eu ajudava alguns clandestinos, mesmo com aqueles dois trastes envolvidos com tráfico de drogas. Você não pode sair por aí falando que sou mimada, eu posso ter errado, mas eu estou tentando melhorar e... – eu falava com tanta empolgação, mas fui surpreendida pelo beijo de . Eu não sabia mais do que eu estava falando naquele momento, já não pensava muito, meu coração foi à milhão. Minha mente pedia pra eu hesitar, mas no fundo era a última coisa que eu queria. A sua língua já tinha invadido minha boca sem delongas, ele estava com as mãos em minha cintura e eu com uma mão em seu cabelo e a outra segurando firmemente em seu ombro. As nossas línguas estavam harmoniosas num beijo meio afobado e urgente. Aquele beijo roubado estava me causando choques de 220, mas eu não me importava. Quando veio em minha mente a imagem de Dave, eu separei o beijo, um pouco constrangida.
- Eu tinha que calar a sua boca. Desculpe – disse coçando a nuca.
- Eu já disse para não se desculpar mais. Quer parar com a cabeça no vaso? – eu sorri de lado, mas esse sorriso logo sumiu. A sessão de olhares começou novamente – Por que me beijou sendo que eu beijei Dave?
- Isso não quer dizer nada. Você não está com ele.
- Não, mas ele deve achar que eu estou. – ele não me olhava mais apenas nos olhos, ele olhava toda a extensão do meu corpo. – E pára de me olhar desse jeito, ! Está me deixando sem graça.
- Gosto de te ver sem graça.
- Mas eu não.
- Acho que tenho que te visitar mais vezes à noite, você só usa camisola pra dormir? – ele tinha um sorriso pervertido no rosto.
- Eu pedi pra parar. – minha respiração descompassada não me ajudava a ter a autoridade que eu precisava. – O que está pensando? Me chama de mimada, conta sua história traumática, me beija sabendo que eu beijei outro garoto que pode realmente achar que eu tenho alguma coisa com ele, além de ter uma pessoa dormindo aqui do lado... – cada coisa que eu ia listando, ele se aproximava mais de mim. O que fez eu me virar de costas para ele. Não queria sustentar aquele olhar.
Minha respiração descompassada e meus batimentos irregulares estavam nítidos. O seu perfume me intoxicava. Eu não tinha mais controle de nada. Ele me abraçou por trás e colou seus lábios em meu ouvido, apertando minha cintura:
- Eu não me importo. Você também não deveria se importar. Eu sei que no fundo você também não se importa. – dito esse sussurro, ele mordiscou o lóbulo da minha orelha e distribuiu beijos no meu pescoço, meus olhos já estavam até fechados. Me virei para ele e segurei seu rosto, olhando fixamente em seus olhos imensamente . - Eu me importo sim. Mas não vou pensar em me importar agora. – selei seus lábios nos meus urgentemente. Entreabri a boca deixando a língua dele passar. Eu não pensei duas vezes em colocar minhas mãos em seus cabelos e começar a bagunçar e puxar sem dó.
O beijo passava longe da calmaria, estava quente e agitado demais. Ele puxava minha cintura contra a si mesmo e apertava também. sorria durante o beijo e mordeu levemente meu lábio inferior separando nossas bocas sorrindo. Mal tive tempo de respirar ele já me beijou de novo, me encostando na parede e explorando toda a lateral do meu corpo. colocou as mãos no interior das minhas coxas e subiu minhas pernas. Imediatamente entrelacei minhas pernas no tronco dele, que me desencostou da parede e me colocou sentada na bancada no banheiro, ao lado da pia, apertando minhas coxas por debaixo da minha camisola e eu tirando sua camisa amassada. Ele sorriu com o toque gelado das pontas dos meus dedos em seu peitoral nu e começou a subir minha camisola. beijava meu pescoço enquanto eu desabotoava o botão de sua calça larga que caiu facilmente. Eu ainda me mantinha com uma das mãos arranhando suas costas para deixar marcas das minhas unhas, enquanto a outra mão brincava com o elástico de suas boxers. Ele distribuía marcas em meu pescoço abrindo o feixe do meu sutiã, que foi parar um pouco longe. Eu estava sentindo um calor imenso e estava bem animadinho com meus gemidos abafados em seu ouvido e enquanto ele estava beijando meu pescoço e ombro. Então escutei a voz de e seu pulso firme batendo na porta. Voltei em mim, percebi que eu estava indo longe demais. - ! Você tá demorando no banheiro, eu quero tomar banho! – eu nem tinha escutado o despertador, eu estava entretida em outras coisas.
- Ah não, agora não! – ouvi reclamando.
- Já to indo! – berrei bem alto para ele conseguir escutar e me desgrudei de pra pegar minhas roupas.
- Não! Faz ela esperar mais um pouco só. Você não vai me deixar desse jeito vai? – ele segurou meu braço e sussurrou no meu ouvido.
- Vou, a gente já foi longe demais.
- Vamos ... Nem vai demorar... – ele sussurrou e beijou meu pescoço e meus ombros novamente. Ele não facilitava nada a minha tentativa de botar meus pensamentos no lugar.
- Já chega ! Ainda tenho que arranjar um jeito de te tirar daqui. – falei saindo de perto dele pegando minha roupa no chão. Eu podia escutar reclamar pra si mesmo enquanto procurava minha roupa.
- Eu tenho que trocar de calça e boxers ainda. – ele disse colocando a calça. Eu olhei e dei risada. Nem tinha percebido isso antes.
- Então anda logo pra você ir ao seu alojamento antes – eu disse vestindo o uniforme que eu encontrei no cesto de roupa suja. Eu não coloquei a meia calça dessa vez, estava sem tempo. Ajudei com a gravata e ele selou meus lábios como agradecimento. Não deixei que ele se aprofundasse.
- Temos que dar um jeito de te tirar daqui... – eu disse calçando meu sapato.
- Distraia , dê um jeito de desviar a atenção dela pra tábua de passar, eu não sei o que você pode fazer... – eu concordei e empurrei para o cantinho. Tirei minha camisa e ele olhou sem entender, já suando frio. Ri comigo mesma e abri a porta, tampando atrás dela.
- Menina, você ainda tá assim? – perguntou sentada na cama.
- Me ajuda a passar a camisa, ela tá toda amassada. – olhei para ela com cara de pidona. concordou dando risada.
- Como você é inútil, não sabe nem passar uma roupa, vem cá... E esse chuveiro tava quente, você até parece meio suada. – congelei na hora que ela disse isso. Eu estava com sérios problemas agora, mesmo ela se fazendo de desentendida. se levantou e foi comigo até a tábua, que ficava num cantinho isolado e meio escondido do quarto.
Olhei para trás e me olhou saindo do esconderijo. Dei permissão para ele sair. Quando ele estava saindo pela janela, ouviu o barulho dele tentando sair. Ela se virou para olhar e eu tentei desviar sua atenção.
- Deixa , vem comigo, deve ter uma no banheiro. – entrei na frente dela, tampando sua visão e fui a empurrando para dentro do banheiro. conseguiu sair.
- Que isso ? O que tá acontecendo? Por que está me empurrando? – ela me perguntou.
- Nada, estamos atrasadas, vou com aquela camisa mesmo. Vou indo na frente para guardar lugar pra você na aula. – vesti a camisa e sai correndo do alojamento. Se eu tiver sorte, ainda encontraria com o indo para a aula.
Eu realmente não sei o que deu em mim. Foi insano, irresponsável. Agora sim estou me sentindo uma piranha.
Por incrível que pareça, não surpreendi vendo na entrada para os alojamentos. Ele estava parado e sorrindo, com um suéter enorme com as mangas arregaçadas que tampava o que ele queria tampar da sua calça.
- Onde arranjou esse suéter? – perguntei assim que estava perto o suficiente para ele me escutar.
- Eu entrei na janela de um quarto e por sorte era de uma menina meio acima do peso. Peguei emprestado. – ele deu uma risadinha sapeca. – E a senhorita? Sem suéter, sem meia calça... Melhor se manter distante de mim o resto do dia. – não sei por que corei com a fitada dele em mim, ele já me viu com bem menos.
- Cala a boca , essa saia bate no meu joelho. E eu estou com a camisa social e a gravata. – me aproximei mais dele para sussurrar em seu ouvido – e você já me viu com muito menos.
- Mas os outros não.
- , preciso deixar bem claro que não tenho nada com você. – o sorriso dele murchou um pouco, mas ele ainda tinha seu ar presunçoso.
- Ainda. – ele alargou seu sorriso ao dizer isso e mudou de assunto de imediato. – Você tem a primeira aula com a né? – concordei em silêncio e andamos o caminho inteiro assim até o prédio que eu teria aula.
- Tchau , eu tenho que guardar lugar pra , já vai bater o sinal e eu nem entrei nesse prédio. – ele concordou com a cabeça e eu dei um beijo no canto dos lábios dele. Ele sussurrou um tchau com um sorriso e saiu andando sem olhar para trás.
Agora pensando melhor, se eu pudesse voltar atrás, nunca teria tido aquele ‘quase’ com ele.
Digamos que ele não foi muito cavalheiro nas conversas que ele teve comigo e usou suas táticas infalíveis de conquista contra mim. O Dave era lindo e fofo, eu não poderia magoar ele. E era... Incrível. Não sei por que eu achava isso dele, a sensação que ele causa em mim eu nunca tinha sentido e isso me deixou fascinada de certa forma. Embora eu ainda achasse ele meio presunçoso, metido... Ele me surpreende cada vez mais com o jeito dele, que eu não encontraria palavras para explicar tão facilmente.
O vento batia gelado lá fora, mas eu não sentia frio. Havia sol e havia calor em mim, só de pensar no nome dele. O que está havendo comigo?
Bateu o sinal da primeira aula, seria História. Guardei o lugar de , esperando a presença dela para espantar meus pensamentos.

Capítulo 6 – Indecisão

chegou um pouco antes de Mr. Jhonston fechar a porta. Ela chegou irradiando a sala com seu sorriso. Sim, eu tenho uma amiga muito alegre. O mais estranho dela, é que eu sei que ela está descontente e ela faz de tudo para não aparentar isso.
- Fique sabendo, , que eu não engoli aquela ladainha de manhã. – ela disse com um sorriso doce e ao mesmo tempo ameaçador.
- Não teve ladainha nenhuma. Só fiquei meio perdida porque eu estava atrasada. – eu tenho certeza que ela não se convenceu com isso.
- Tá bom. Quem tava lá naquele banheiro com você? - meus olhos se arregalaram e eu percebi que sorriu vitoriosa. Eu dei uma risadinha nervosa.
- Como alguém no banheiro comigo? Não dá pra ninguém entrar no nosso quarto, você bebeu? – se eu fosse atriz, morreria de fome.
- De acordo com esse horário que estava no chão do banheiro... – ela mostrou o papelzinho do horário de aulas do . – Educação Física é na primeira aula. Não é seu, porque pelo o que eu saiba, estamos na aula de História. – ela falava sorrindo, só para aumentar seu sarcasmo.
- Deve ser de alguém, eu devo ter trocado de horário com um dos meninos. Depois eu pergunto se eles estão com o meu. – eu dei os ombros.
- Tudo bem, se você não quer falar, eu descubro. – ela sorriu e começou a anotar em seu caderno o que Mr. Jhonston colocava no quadro branco.
era muito esperta. Na verdade, deu bobeira, como ele deixa um horário no bolso?
Eu tinha que dar um alerta para ele. Mas como?
- Mr. Jhonston, eu posso ir ao banheiro? – perguntei tendo uma ideia em mente. Mr. Jhonston assentiu com a cabeça, nem fiz questão de olhar para , não queria ver sua cara de desconfiada.
Saí daquele prédio o mais rápido que pude, em direção as quadras. Avistei uma movimentação grande na quadra de basquete. Quando me aproximei, vi rindo com James. Agachei atrás de uma mureta e esperei que me visse ali. Foi uma questão de tempo, ele não estava entretido no jogo como os outros. Ele veio discretamente até mim atrás da mureta.
- Estava com saudade? – ele perguntou se agachando.
- Você deixou seu horário cair.
- Ah obrigado! Me dê ele aqui que vou precisar.
- Não seu imbecil! achou no banheiro e quer saber quem esteve lá.
- O que há de errado dela saber que eu estive lá. Aposto que você conta tudo pra ela.
- É , mas o que ela vai pensar de mim? – ele deu os ombros. Não tinha um problema aparente de contar para , mas eu beijei Dave e o me amassei com no banheiro. Ela vai pensar horrores de mim, com certeza.
- Deixa isso pra lá . – ele pegou minhas mãos – Relaxa. O pior que pode acontecer é ela saber que eu estive lá. E pelo que eu saiba, ela não é daquelas certinhas que vai ir correndo contar para a diretora que um menino esteve no seu quarto. – ele deu um sorriso de lado.
- Tem razão, se ela descobrir, não vai acontecer nada.
- Isso, agora vem cá – ele me puxou para um beijo, sem outras intenções, só um beijo. Ele segurou o meu rosto e me beijava carinhosamente. Eu dei um selinho nele e me levantei um pouco.
- Eu tenho que ir, estou na aula de História. – eu disse e ele me puxou para baixo novamente e me beijou exatamente como o último beijo, carinhoso. O beijo dele me dava sensações estranhas. Um imenso formigamento no estômago. Ele me soltou e em seguida partiu o beijo, com um sorriso bobo. Ele começou a fitar meu rosto sorrindo, colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e ficou acariciando meu rosto. Eu não fiz outra coisa a não ser sorrir e segurar as mãos dele.
- Você tem mesmo que ir?
- Tenho. E não pense que eu não esqueci o que você falou, a gente tem que ter uma conversa séria. Preciso te ensinar a como falar comigo. Sem palavras como‘mimada’, ‘insegura’ e ‘criança’ no meio.
- Eu já disse descul... – ele ia dizendo desculpas, de novo. Pena que não tem nenhum vaso por perto.
- E não é porque não tem um vaso sanitário aqui que eu não arranjo um só pra te afogar se me pedir desculpas mais uma vez. Você já pediu , só quero te botar na linha. – ele sorriu com isso, mas não sorriu meigo como estava sorrindo há alguns segundos atrás. Ele se aproximou de mim para sussurrar algo em meu ouvido. Esse negócio de ficar falando no meu ouvido enche o saco e me causa arrepios.
- Me bota na linha então. – ele disse com uma risadinha. Eu finalmente me levantei para ir embora e disse:
- Agora não. – fiz o sorriso dele aumentar por um instante e fui embora, apressada.
Fui para a sala o mais rápido que pude. Daria tempo de fabricar um banheiro, com toda a minha demora.
Abri a porta da sala, Mr. Jhonston estava entretido escrevendo no quadro negro. Eu sentei e começou a me bombardear.
- Demorou hein ... – ela comentou com seu típico sorriso. – O banheiro desse prédio tá quebrado e você foi ao banheiro da quadra?
- Já chega ! Eu só tive um problema no banheiro, nada de mais. Você já está me irritando com essa historinha... – eu explodi com ela, discretamente, claro. Eu estava no meio da aula.
- Tá, eu parei. Eu só achei que você confiasse em mim o suficiente pra me contar. – ela fechou a cara. Não era bem assim que eu pensava, mas agora eu não ia falar mesmo, ela me irritou demais em menos de uma hora.
Depois disso não nos falamos mais. A aula acabou e eu não tinha a próxima aula com ela. Eu ainda tinha que conversar com o Dave.
A próxima aula seria Educação Física, se eu fosse rápida, eu chegaria lá um pouco antes de bater o segundo sinal e teria tempo de falar com Dave.
Andei o mais rápido que pude. Cheguei à quadra mais movimentada, a de basquete.
Dave não estava em me campo de visão.
Mas eu estava no campo de visão dele.
Ele surgiu tapando meus olhos, eu tinha certeza que era Dave, o perfume inconfundível. Eu me virei com um sorriso fraco, que ele percebeu obviamente. - Oi , tive que correr para te alcançar, o que foi? – o sorriso que ele tinha, já havia murchado.
- É que eu precisava conversar com você sobre ontem. –esperei pela reação dele. Dave apenas assentiu com a cabeça. – É que, eu estou muito confusa. Você é lindo, divertido, compreensivo, carinhoso... Mas eu não quero nada, além da sua amizade. Você me entende? Eu não quero te magoar Dave. – suas feições do rosto estavam ficando cada vez mais dolorosas para mim. Ele pode dizer que não, mas eu o havia magoado.
- Tudo bem . Você ainda pode mudar de ideia, enquanto isso, eu quero ser o seu amigo, mesmo. Eu imagino que esteja confusa depois de tudo o que aconteceu – ele sorriu fraco para me tranqüilizar, eu sabia que ele estava triste.
- Eu sei que está triste, mas não fique.
- Não estou. – ele me garantiu. Eu já não tinha nada pra dizer.
- Obrigada. – eu sorri fraco para ele, que tinha seu sorriso murcho pra mim também. O sinal já havia tocado e a quadra já estava ficando com mais gente. Mr. Simpson já estava começando a aula, assoprando aquele apito infernal na orelha de todos. Eu realmente tinha me informado sobre os professores dessa vez. Fiquei sabendo que esse Mr. Simpson adora apitar na orelha dos pobres alunos.
- Não gosto de moleza nessa aula! Todo mundo, correndo em volta da quadra. Vamos aquecer! – ele falou e apitou mais uma vez. Eu dei os ombros e comecei a correr junto com Dave. Ele ficou meio estranho a aula inteira. Jogamos basquete no mesmo time, não que eu jogue bem, mas ele estava muito desatento.
Eu parei no meio do jogo e aleguei para Mr. Simpson que estava passando mal. Ele me mandou ir para a enfermaria. Eu só não queria ficar toda vermelha e suada depois do jogo. Com sorte, consegui sair despercebida por Dave.
Eu não gostava daquilo, nem um pouco. Eu gostava muito de David, só que não do jeito que ele gostava de mim. Entrei num prédio de salas de aula, nem sei qual era.
Eu andei pelos corredores, meus olhos estavam cheios de lágrimas, acho que estou meio sensível ultimamente. Passei em frente a uma porta escrito ‘enfermaria’, mas não entrei. Pelo menos eu já sabia onde ficava.
Neste momento me lembrei de .
Tentei me lembrar do horário dele. A primeira aula era de Educação Física. Se minhas suposições estiverem certas, ele estaria na segunda aula neste momento que seria a minha primeira, a de História. Minha memória não era muito boa. Passei no corredor em frente ao meu armário, decidi abrir e pegar minha câmera. Quando fui pegar, caiu uma foto de dentro de uma pasta. Era uma foto minha e de Toddy. Olhei por um instante e a joguei no armário de novo, respirando fundo pra que eu não tenha uma recaída para aquela foto e me dirigi à sala de História. Eu ainda não sabia como eu ia tirá-lo daquela sala.
Mas uma ideia passou pela minha cabeça.
Tomei coragem e fui bater à porta da sala de história. Dei dois toques sutis na porta e ela foi aberta. Olhei para a sala e vi e sentados na carteira dupla do fundo, conversando e rindo. arregalou os olhos assim que me viu.
- Pois não? – Mrs. Jhonston quis dizer ‘o que está fazendo parada na porta da minha sala atrapalhando minha aula?’
- Eu vim perguntar se alguém perdeu essa câmera que eu achei quando eu estava INDO PARA O BANHEIRO FEMININO. – eu destaquei bem a mensagem que eu queria passar para , falei olhando para os olhos dele. A sala fez silêncio e o professor fez menção de fechar a porta na minha cara, mas se segurou.
- Erm... ninguém perdeu. Pode se retirar agora. – dito isso, ele fechou a porta.
Eu fui em direção ao banheiro feminino e fiquei encostada na parede do lado de fora, próximo a porta. Não deu nem cinco minutos e o apareceu sorridente.
- Então... O que tem pra me dizer?
- Vamos pro jardim, não deve ter ninguém lá. – eu falei e fui à frente. apressou o passo e ficou andando comigo lado a lado.
- O que é tão importante que você teve que me tirar daquela aula produtiva? – seu sarcasmo não me irritou, até me fez rir.
- É, eu vi que você e o estavam produzindo muito lá. – eu respondi e ele deu aquela típica risada de denis-o-pimentinha. Ele parou de rir e começou a me fitar com o canto dos olhos.
- Agora é sério, o que quer falar? - ele me perguntou e eu comecei a achar o chão algo muito interessante para ficar olhando.
- Na verdade , qualquer coisa. Precisava de alguém, só isso. Não consigo ficar naquela aula com o Dave e...
- Ele fez alguma coisa com você? – me interrompeu.
- Eu que fiz , ele só ficou chateado comigo, apesar de falar que não. – desviei meus olhos do chão – E eu também tive uma briguinha com a . – eu e passamos embaixo do arco que era a entrada do jardim e sentamos num banquinho de pedra embaixo de uma árvore frondosa, com algumas flores alaranjadas.
- Você vai se resolver logo com ela, eu tenho certeza disso. – ele bateu nas suas coxas me convidando para apoiar minha cabeça nelas. Aceitei o convite e apoiei minha cabeça nas pernas de com minhas pernas jogadas no banco e ele começou a aninhar suas mãos em meu cabelo, passando pelo comprimento dos fios me causando uma sensação boa.
- Desculpe por te tirar da sua aula, eu precisava de um amigo para conversar.
- Eu tenho que te agradecer por isso, não te desculpar. Você está é meio carente, precisando de um... Amigo, eu estarei aqui. – ele enroscou na hora de falar ‘amigo’. Não virei para ele para ver sua expressão descontente, não era difícil adivinhar.
- Você tinha razão quando falou aquelas coisas pra mim, pelo menos uma parte dela. Eu ainda tenho mais problemas que você, mas eu fico aumentando meus problemas.
- Não me leve a sério. E a propósito, eu não deveria ter ido ao seu quarto de madrugada, eu estou fazendo tudo errado. Aqui não tem um vaso sanitário por perto, por isso eu vou aproveitar e me desculpar por aquilo de madrugada. Agora que você falou, eu não posso ficar fazendo isso com você. Ser seu amigo seria a melhor solução, mas eu não consigo mais ficar perto de você sem querer ter você. Eu não entendi isso ainda. – ele parou um pouco de falar, mas ainda mexia no meu cabelo. – Você viu como eu fui um idiota no primeiro dia que a gente se conheceu? Acho que vou praticar autoflagelação, vou me punir severamente por todos os meus erros cometidos. – ele até riu no final de sua frase, mas eu não estava gostando do que ele me dizia. Virei a minha cabeça para encarar o rosto dele. Seus olhos olharam para os meus. Em minha interpretação, ele estava um pouco aflito.
- Não , não é assim. Eu sou uma imprestável, na primeira semana de aula já me meti aonde não deveria. Eu é que cometo erros aqui, sempre cometi.
- Você não pode se culpar de tudo o que acontece que não te agrada. Quando eu disse que gostava de fazer as coisas bem feitas, eu falei sério e eu não estou seguindo isso. Melhor parar com essa conversa aqui né ? – ele me olhou sugestivamente. Eu não demonstrei nada. Me levantei devagar e sentei ao lado dele, bem próxima.
- É melhor deixar as coisas se ajeitarem sozinhas. – eu falei por fim e ele concordou olhando pro chão. Ergui seu rosto para mim, para poder ler seu olhar, mesmo isso sendo uma coisa quase impossível.
- Isso não está certo, não está. – ele disse baixo, olhando dos meus olhos para minha boca. – Eu não posso ficar perto de você.
- Você disse que iria estar aqui quando eu precisasse.
- Eu sou a última coisa que você precisa – sua voz era um sussurro, devido a nossa aproximação.
- Está errado, sabe disso.
- Você não está facilitando muito as coisas . Eu também estou confuso.
- Não está diferente de mim, mas você disse que não se importava.
- Mudei de ideia. Estou começando a me importar com você bem mais do que eu deveria.
- Isso é bom ou ruim? – estávamos mantendo o contato visual até agora, mas isso o fez desviar os olhos por um instante.
- Quer parar com isso? Você não está me escutando... Primeiro, eu tinha te alertado sobre seu uniforme hoje de mais cedo, não sabe o quanto está sendo difícil me segurar sendo que tenho que ser seu ‘amigo’ e estamos no jardim da escola. Segundo, eu estou te falando para ficar longe de mim, mas você faz ao contrário, está se aproximando...
- Cala a boca . Na próxima vez que eu precisar de alguém pra conversar, eu vou a um psicólogo. Você consegue ficar pior que eu. E hoje não está tão frio, não preciso da meia calça, não sou só eu que estou assim.
- Mas é só você que faz isso comigo. – ele disse por fim e já não ouvi ou senti mais nada ao meu redor a não ser a respiração dele se misturando com a minha e encostou seu nariz no meu. Ele enrolou um pouco na hora de selar meus lábios, mas toda a espera valeu à pena. Ele me deu um beijo terno, suave. No começo ele apenas selava meus lábios várias vezes, passando o polegar na minha bochecha. O beijo era calmo, nossas línguas se interagiam sem a afobação que tinha nos beijos com maiores intenções. Eu apenas curti o momento acariciando sua nuca. Por fim ele selou mais uma vez meus lábios e então pude ver seus olhos inexpressíveis.
- Amigos não se beijam – ele disse coçando a nuca.
- É. – eu apenas concordei olhando confusa.
- Não dá pra ficar desse jeito. – ele se levantou do banco e eu continuei olhando confusa.
- – segurei seu braço antes que ele saísse. – Qual é o problema?
- Você é um grande problema. Você me disse que eu era um amigo, mas você não sabe. Eu não sou seu amigo. Acho que eu pulei está parte. – ele me fez levantar puxando um pouco seu braço. – Amigos não se amassam na maior cara de pau no banheiro. – cada palavra que ele dizia me deixava mais confusa comigo mesma, não estava ajudando olhando fixamente em meus olhos, me impedido de reagir. – Mas pra falar a verdade, o problema sou eu. Se eu não fosse ao seu quarto, se eu não te quisesse tanto, você não estaria assim. Sua indecisão iria se resumir entre ficar ou não com Dave. – ele me soltou e fez menção de sair andando e me deixar lá. Mas ele voltou e me fitou novamente. Mal sabia ele que não era só o Dave, enfim, eu realmente queira deixar o caminho livre pra ...
- Mas você não é só meu amigo, o Dave sim.
- Não, o David não é só seu amigo, você não me entendeu: Você tem dois caras no mesmo patamar.
- Eu não tenho nada com ele, já está esclarecido, não vai acontecer mais.
- David não vai ser mais o mesmo com você, ele gosta de você. – ele ia dizendo segurando meus pulsos firmemente mantendo seu olhar intenso sobre o meu. - , eu queria que as coisas fossem mais fáceis, mas não é. Se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria ido ao teu quarto, até porque eu sabia que aquilo não acabaria numa conversa, no fundo eu desejava aquilo. Se você quer que eu seja seu amigo, desista, porque não vai dar certo. Eu tenho que ficar longe de você.
- , é tarde demais pra isso.
- Infelizmente é tarde sim, estou falando isso porque eu quero você, mas não posso. Aposto que você também não pode porque ainda está abalada com a história de Miami. É tarde demais pra eu tentar não gostar de você do jeito que eu gosto. Não é só você que está indecisa nessa história - o sinal tocou e ele não se moveu, ainda me fitava.
- Eu preciso de alguém pra me ajudar a esquecer e eu não quero que o Dave faça esse papel.
- Esse jardim vai encher daqui a pouco.
- Você não vai levar essa. Agora, sou eu que não me importo.
- Mas devia. Custava ter concordado comigo e me chutado pra fora da sua vida?
- Eu não quero isso. E você também não.
- Sinto que eu matei a aula de história em vão, porque tudo o que eu te falei não adiantou em nada.
- Nada que você fale vai mudar minha opinião. – eu disse com um sorriso vitorioso ele bufou olhando pro nada e olhou pra mim novamente – E fui eu que te tirei daquela aula, não matei a aula de educação física em vão, porque você não resiste ao meu poder de persuasão.
- Não, não resisto. Eu sou um fraco, porque eu sei que não vamos sair ilesos dessa.
- ‘Dessa’ o que? – eu perguntei curiosa. Estava mais tranquila, agora que persuadi o .
- Esquece. Quer saber de uma coisa ? Você não facilitou em nada, eu me importo demais com você, mas o que eu posso fazer se você não se importa consigo mesma? Eu não quero mais saber, eu quero você. Satisfeita?
- Muito. – trouxe o rosto de até o meu puxando pela gravata e o beijei ali mesmo, sem me importar com as pessoas do intervalo que estavam no jardim. Ele cedeu os lábios para a passagem da minha língua urgente em sua boca. Nós sorriamos durante o beijo afobado. Eu ainda o segurava pela gravata e as mãos dele estavam em minha cintura. A falta de fôlego resultou a separação de nossas bocas, que logo estavam ocupadas abrindo um sorriso de orelha a orelha.
- Depois não diga que eu não te avisei das conseqüências. – disse tentando esconder o sorriso.
- Ficou o tempo todo me falando disso.
- Já que é você quem faz suas escolhas, quem sou eu pra contrariar? – ele deu os ombros.
- Estou com fome.
- Somos dois. Pegar um lanche seria bom né? – eu apenas concordei e nós fomos lado a lado para o refeitório.

Capítulo 7 – Planos Nem eu nem pegamos bandeja, só pegamos um lanche e fomos para a mesa que ele costumava se sentar.
Estavam todos lá, até o Jean – meio quieto, achei estranho – estava lá.
Só não encontrei .
Será que ela está muito chateada comigo, por não querer contar?
- Quem é vivo sempre aparece... – apareceu na frente cumprimentando o e depois me deu um abraço, daqueles que giram.
- Ai !
- Você é legal de girar. – só uma coisa: doente mental.
- , ... – berrou sentado no outro lado da mesa, eu sorri.
- Pensa rápido! – ouvi a voz de ao lado de , tacando uma bolinha pequena de papel toalha em mim. Óbvio que não fui rápida.
- Oi pra você ... – eu dei risada e já estava dando risada com James no outro lado. Dave estava quieto junto com o Jean em outro canto da mesa. Cumprimentei Jean com um beijo estalado na bochecha e depois cumprimentei Dave da mesma forma, só que sem o estalo.
- Mocréia... – pelo visto Jean estava bem, mas não nos melhores dias.
- Oi . – Dave fez um esforço pra sorrir.
- Oi, sabe onde está a ? preciso muito falar com ela.
- Está no banheiro, desde a hora que o sinal tocou...
- Obrigada. – saí em direção ao banheiro, já tinha esquecido meu lanche em cima da mesa, minha fome tinha ido embora só de olhar para a face triste que Dave tentava esconder, não gostava de ficar perto dele desse jeito sabendo que a culpa era minha.
O banheiro estava vazio, apenas uma porta sendo usada. Não precisei ser muito esperta para saber que estava lá e pelo ruído que fazia, estava chorando.
Bati na porta de leve.
- Vai embora!
- Eu quero falar com você, se for pelo que aconteceu hoje de manhã, não foi por mal.
- Vai lá com o James, .
- Porque eu iria falar com o James? Eu quero falar com você. – depois de uma longa pausa, ela abriu a porta do banheiro de cara fechada e avermelhada pelo choro.
- Não acredito que você fez isso comigo, mas espero que tenha se divertido com o James naquela noite.
- O quê? James? Do que você está falando?
- Deixa de ser cínica! Eu sei que era ele que estava lá. O mais estranho é que você gostava dele só como um amigo. Como você pôde fazer isso comigo?
- James não estava no quarto, eu nunca faria isso.
- Eu sei que estava, descobri por contra própria já que não quis me contar. Eu fui tão idiota de confiar em você!
- Não, ele não estava lá, não tenho nada com ele, eu juro.
- Ah é? Que estranho, porque ele tinha Educação Física na primeira aula, como consta o horário. Eu perguntei pra ele.
- Você entendeu tudo errado . Não era só ele que tinha Educação Física na primeira aula. O horário não era o dele.
- Era de quem então? – ela já me pareceu um pouco mais calma nessa hora.
- Eu vim aqui pra te contar, mas o banheiro não é o melhor lugar. – eu pude respirar aliviada com mais calma. Ela assentiu enxugando o rosto molhado e seguiu comigo pra fora do banheiro.
Paramos para conversar no corredor onde ficavam nossos armários.
- Me conta tudo. Eu quero saber o que aconteceu. Aliás, isso eu até já sei, mas com quem? – cruzou os braços esperando minha resposta.
- Primeiro: Não chegou a acontecer realmente o que você está pensando. Segundo: quem estava lá era o . – dito isso, o queixo de foi ao chão, ficou muito surpresa, eu achava que não era pra tanto.
- Mas como assim? Do nada? – ela perguntou interessada. Resumi bem o que aconteceu naquela noite, contei parte da conversa e só contei que teve uma certa pegação no banheiro devido à toda a provocação dele. já estava até sorrindo, com certeza já tinha esquecido que estava brava comigo, era só contar alguma coisa interessante que ela fica toda feliz.
O sinal bateu, eu estava perdoada – apesar de nem ter o que se perdoar. Eu tinha aula de Literatura com a agora, nada que alguns bilhetes não resolvam a questão de terminar a conversa. Eu pretendia contar resumidamente tudo que me aconteceu nesse dia.
Bilhetes, bilhetes e mais bilhetes.
Eu não prestava atenção na aula, tanto é que eu nem sabia o nome do professor, só reparei que ele era um quarentão até que bonitinho para a sua idade [n/a: a gente que o diga né emiiily? Hahaha].
Quando se sentiu atualizada, a aula já estava no fim, e aquele professor ainda estava tentando fazer o menino do fundo declamar o poema sem as brincadeiras idiotas que estragavam tudo, o que ele insistia em repetir para ser o palhaço da sala.
Assim que o sinal tocou, eu e fomos como de costume até nosso armário, ela pegou uma foto do armário dela e me mostrou. Era uma foto nossa que ela tinha revelado daquele dia que ficamos tirando fotos.
- Essa é sua. – ela disse entregando pra mim. – E a minha é essa aqui. – ela abriu a porta do armário dela onde na parte de dentro havia uma foto nossa mostrando careta. Na que ela tinha me dado nós duas estamos sorrindo para a foto.
- Ah, que linda você! Onde conseguiu revelar? – disse virada para o meu armário. Abri depois de seqüenciar o segredo na fechadura e tirei uma fita adesiva pra colar minha foto assim como ela fez.
- conseguiu um jeito de eu entrar na salinha dentro do estúdio de fotografia. Eu coloquei o memory card na mega impressora que tinha lá, apertei um botão legal e saíram todas as fotos. – ela disse enquanto eu grudava a foto na minha porta.
- Apertou um botão legal? – eu ri quando fiz essa pergunta mais para destacar o jeito que ela falou. Como se as funções certas para um botão fossem designadas por ele ser mais legal ou menos legal.
- É, ele pareceu um bom botão para apertar. – ela disse me fazendo rir de novo. Eu arranjei uma amiga muito estranha.
- Ele sorriu para você dizendo ‘aperte-me’? – perguntei fechando o armário.
- É foi mais ou menos isso...
- E você está andando muito com o , quais são suas intenções com esta pobre criatura autista? – fiz rir e corar. Começamos a caminhar em direção à próxima aula, já com as coisas que íamos precisar. Ela ia para a aula de Artes e eu para a aula de Ciência da Computação – sim, nós tínhamos aula disso.
- As melhores. – ela fez uma cara maliciosa e riu vendo minha cara temporária de espanto. – Calma, estou brincando. Ele é meu amigo.
- Sei, por enquanto.
- Tá, vamos dizer que você não é a única que está dividida. James conversa bastante comigo, mas acho que ele me vê mais como amiga, assim como você vê Dave. Ele vive falando comigo e fazendo brincadeirinhas, mas não é como o autista divo. parece se importar mais comigo e é bem engraçado.
- Então você está dividida entre dois também?
- É, mais ou menos. Gosto muito do Jimmy, mas ele não parece que sente a mesma coisa. E o está ganhando cada vez mais território.
- Não fala desse jeito, é estranho. Território... – rolei os olhos sobre modo que ela disse.
- Tá, eu parei. – ela riu sem jeito.
- Por que você não toma a iniciativa? Vai ver que você acha isso do James porque ele é lento e ainda não tomou nenhuma atitude. E você é linda, James do jeito que ele é, qualquer atitude é bem vinda.
- É você pode ter razão. Talvez isso possa dar certo. – paramos em frente à sala de Artes. Me despedi de e segui para a sala de Ciência da Computação.
Entrei na sala e abri um sorriso assim que vi sozinho numa carteira dupla, ele me chamou assim que me viu.
- Hey ! Se não fosse você, teria que ir me sentar ao lado daquele garoto catarrento...
- Coitado, você nem sabe se ele é... – eu disse e me apontou um menino que estava no momento limpando o nariz no suéter. – Ok, que bom que eu estou aqui.
- É melhor você saber mexer nisso. – ele disse fitando o computador.
- , isso é um computador.
- Por isso mesmo... Não que eu não saiba mexer, é que eu não tenho paciência, jogaria um desses longe na primeira vez que travar. O meu lá de casa trava muito
- Já pensou em fazer Yoga? – eu perguntei e o professor já estava na sala reclamando da conversa. apenas riu e então achei melhor dar fim naquela conversinha boba.
Naquela aula pude fazer várias anotações mentais sobre .
A primeira é: manter longe de qualquer coisa lenta que o estresse, exemplo: computador. A segunda é: ele é lindo quando está nervoso. E a terceira: É difícil, mas tente manter o foco em outra coisa quando ele está propício a seduzir. nervoso é lindo, sorrindo é lindo, espirrando é lindo, então, como eu já estou enroscada demais, seria bem mais prudente eu parar de pensar como ele é lindo.
Ele me fez rir naquela aula, deu cada ataque com o computador. Ele teve que sair da sala antes de bater o sinal, Mr. Harp já estava intolerante com ele e já estava intolerante com o computador.
Saí da sala e estava lá fora me esperando.
- Você vai me ensinar a ter paciência com aquilo.
- Só o nosso estava demorando, porque você clicou um monte de vezes...
- Ok, primeira coisa: não clicar um monte de vezes.
- , vai pastar.
- Só eu posso ser ansioso e sem paciência. Você pode ficando calminha aí...
- Tá , me deixa. – bufei. – Que aula tem agora?
- Fotografia. Você?
- Natação...
- Uhh, zinha de maiô...
- , porque não vai procurar sua sala hein?
- Ouun coisa fofa, ficou vermelhinha – ele afinou a voz e riu de mim. Odeio ficar vermelha.
- Ai, Tchau ! – saí andando e deixei rindo. Fui até meu armário, não tinha chegado ou já tinha ido. Abri e peguei a sacola de Natação.
Meus passos largos caminhavam em direção à piscina aquecida, estava torcendo para que fosse que teria aulas de Natação comigo. Chegando lá não vi ninguém que eu conhecia, reconheci só uma menina que estava na cozinha fazendo lasanha uns dias atrás.
Entrei no vestiário e me tranquei em uma cabine pra vestir o maiô azul. O vestiário era todo azulejado, branco, com armários em toda parte. Havia bancos entre uma fileira de armários e outra. As cabines não eram muito apertadas, tinham chuveiros instalados. Saí daquele vestiário comum, já com a touca de natação e a tolha nas costas. Eu estava ligeiramente com frio.
Entrei na piscina antes que eu congelasse. Apesar de não estar tão frio, o ginásio era frio. Nem vi quem estava dentro da piscina, já tinha muita gente, mas a piscina era enorme. Piscina Olímpica.
Quando senti a água até o pescoço e meus pés se movimentando e mantendo minha cabeça fora d’água, senti que estava em casa. Lembrei das sensações de quando eu estava no mar de Miami, com a minha boa e velha prancha de surf. Mas meus pensamentos foram interrompidos.
- Bú! – fui surpreendida pela voz e o cutucão de em minha cintura. – Te assustei? – me virei pra ele. Estava próximo de mim, só de sunga, com touquinha e cara sapeca.
- Você vive me surpreendendo.
- Isso é bom ou ruim?
- Ainda não sei. – disse séria, o deixando um pouco mais sério também, apesar de ainda conter um sorriso nos lábios – Só você que eu conheço está aqui?
- Acho que sim.
- Eu, fazendo aula de Natação com você, ironia do destino.
- Pois é, mas maiôs são feios, preferia você de biquíni...
- Cala a boca... – senti as maçãs de meu rosto arderem. abriu um sorriso em resposta.
- Você fica tão bonitinha vermelha.
- Não é o primeiro que diz isso. – acho que falei demais, vi o rosto dele ficar sério completamente.
- Que coisa não? Você é bem tímida pelo jeito. – senti um ponto de sarcasmo bem discreto em seu tom de voz.
- É, sou. – eu falei olhando para a água abaixo de mim, que pareceu muito interessante para eu fugir dos olhos de . – O que foi? – perguntei antes de tomar coragem para olhá-los de novo.
- Nada. Só tenho que parar de reagir estranho, afinal, já sei que não tem só eu na jogada. Muito pelo contrário...
- Eu não gosto quando falam assim: Território, jogada, disputa, candidatos...
- Ficam falando isso pra você?
- Falam em questões diferentes a esta, mas parecidas.
- Não entendi...
- Melhor assim. Nem eu mesma me entendo. – eu sorri para quebrar o gelo e escutei um apito ecoando pelo ginásio. Aquela professora que eu nem sei o nome já estava jogando bóias ‘espaguete’ para os alunos na piscina.
- Você é uma coisa que não é fácil de entender... – sussurrou. Estávamos meio longe da aglomeração de alunos no meio da piscina. – Parecia tão determinada no jardim e agora parece muito confusa.
- Ah é? – nisso ele tem razão. Na verdade fui impulsiva, diferente de determinada.
- É, você é muito bipolar pro meu gosto.
- Ah, pro seu gosto? Isso quer dizer o quê?
- Nada, eu só estava brincando... – ele riu nervoso – Mas que você é bipolar, é.
- Tá bom , eu concordo que antes eu estava mais impulsiva, mas nesse instante eu estou mais racional. Nem queira saber o que aconteceria aqui se eu ainda estivesse impulsiva. – ele brincou com a água dando uma risadinha maliciosa. mergulhou com tudo e subiu à superfície com uma distancia mínima entre mim e ele. Abriu os olhos, ainda um pouco incomodado e olhou para os meus.
- Então, o que aconteceria? – ele deu um sorriso malicioso e eu dei um igual em resposta.
- Ia te agarrar de sunguinha... Você tá muito sexy. – eu ri e ele aumentou aquele sorrisinho dele. Senti a mão dele sobre a minha e em segundos já estava de baixo d’água. Abri os olhos e encontrei a visão embaçada de em minha frente, que me puxou para si e me beijou. Enquanto a gente se beijava, eu sentia algo invadindo a minha boca além da língua dele. Era só a água, que ia e voltava, isso deixava o beijo diferentemente bom, não tinha provado nada igual. me ajudava a me manter submersa, segurando na minha cintura fortemente impulsionando para baixo, eu estava gostando disso. Ele encolhia a barriga quando eu a arranhava, o que nos fez sorrir durante o beijo. Precisávamos respirar, então, voltamos à superfície até meio distantes para disfarçar o ocorrido debaixo d’água. Estávamos no meio da aula de natação e aquele ocorrido certamente não fazia parte desta aula.
O que me parecia é que ninguém tinha notado, até acho que esqueceram da gente naquela aula, estavam todos concentrados do outro lado daquela piscina gigantesca. Mais cedo ou mais tarde iriam dar conta da nossa ausência.
surgiu do meu lado, com se nada estivesse acontecido, mas seu sorriso entregava.
- Gostei disso. – ele falou entre o sorriso. Não pude deixar de sorrir também.
- Eu também gostei.
- Já tinha feito isso?
- Não, você já?
- Também não, mas sempre quis saber como que era. – o vi mudando a direção de seu olhar, para a professora de natação que apitava fazendo gestos para entendermos como um ‘vem logo’. – Melhor a gente ir né? – eu apenas concordei rindo. Eu ainda não acredito que ninguém tenha visto o ocorrido entre mim e . Melhor assim.
Fomos pro meio da aglomeração, aquela professora chatinha jogou duas bóias pra gente e fomos fazer o exercício que todos estavam fazendo: Bater os pés segurando na bóia.
Eu achei isso muito fácil, simples. A professora deve ter se sujeitado a isso devido a alguns alunos não saberem nadar.
Quinze minutos antes de bater o sinal, ela apitou e mandou todo mundo ir para o vestiário. A piscina estava tão boa quentinha, eu não estava com a mínima vontade de sair de lá. é muito legal, saiu tão rápido que eu nem vi. Deixa ele...
Fiz um esforço para sair da piscina por aquela maldita escadinha que eu mal conseguia colocar o pé naqueles degraus minúsculos. Peguei minha toalha que estava jogada num canto e fui em direção ao vestiário. Graças à minha lerdeza e falta de capacidade mental, consegui me perder pra achar o vestiário. O mais incrível é que era só fazer o caminho de volta que eu fiz para chegar à piscina. Quando eu finalmente cheguei naquela merda de vestiário, a maioria já tinha tomado banho e estava saindo. Eu não demorei tanto assim pra achar. Que seja...
Decidi apenas trocar de roupa, tomar banho ia me atrasar demais. Me tranquei num box, tirei minha roupa de banho e coloquei o uniforme. Como eu cheirava a cloro, apenas borrifei um pouco do meu perfume pra disfarçar. Sai do box com minha sacola, procurando o armário que foi destinado à mim para as aulas de natação. Era o último do vestiário, bem no canto.
Coloquei as coisas e saí de lá antes que o sinal batesse e eu tivesse que correr para chegar a tempo da próxima aula, mas sinto que o não gosta de colaborar comigo, pois me parou na saída do ginásio da piscina aquecida.
-Ei, demorou. – ele disse me abraçando com um dos braços, pra andar lado a lado comigo.
- É que eu me perdi, aquilo não é só um ginásio com uma piscina dentro... Tem um monte de outros repartimentos e eu acabei me perdendo.
- Não acredito que você conseguiu se perder.
- Acredite. Eu tenho essa capacidade.
- Senso de direção, zero?
- Senso de direção zero. – concordei meio que achando graça em toda aquela situação.
Um silêncio se acomodou entre a gente enquanto caminhávamos em direção ao prédio de salas de aula. Não era um silêncio ruim, era um silêncio apenas para curtir o momento de andar abraçados, com o pátio um pouco vazio e com a incrível paisagem que aquela escola tinha de testemunha.
- Já tem planos para o fim de semana? – quebrou esse silêncio, mas não achei ruim da parte dele.
- Pode sair da escola aos fins de semana?
- Se seus pais assinaram na matrícula que sim, pode.
- Eu não sei se assinaram. Mas isso aqui não é um internato?
- Sim, é um internato. Mas não é uma prisão. Porque você acha que tem um ponto de ônibus perto da guarita?
- Ah, vai saber. – eu dei de ombros. – Ok, mas como que faz para eu saber se meus pais assinaram ou não?
- Você está com a carteirinha aí?
- Está no armário.
- Se eles assinaram, sua carteirinha tem um carimbo amarelo no verso - ele tirou a carteirinha do bolso, mostrando para mim o verso dela carimbado. O sinal tocou e eu me dei conta que ficar andando abraçada a ele não é muito rápido a ponto de eu chegar a tempo para a aula de Espanhol.
- Eu tenho que ir rápido, eu tenho Espanhol e eu nem peguei minhas coisas no armário.
- É eu também tenho que ir, aula de Artes agora. Te vejo mais tarde?
- Pode ser... – eu sorri acenando, nem vi se ele sorriu ou acenou também. Eu já estava correndo para entrar no prédio.
Nem peguei minhas coisas no armário, eu estava atrasada. Entrei na sala sem nada nas mãos. estava lá guardando lugar pra mim.
Eu realmente não prestei atenção na aula, conversar com era bem mais interessante. Se eu for mal nessa matéria eu peço para ela me ajudar, acho que ela deve saber um pouco de Espanhol, ou pelo menos, mais do que eu.
A professora era meio lenta e nem notou que eu estava sem o material. A aula passou e ela não disse nada. Eu contei à como foi a aula de natação, com o pouco que conheço sobre ela, sei que gosta de ser atualizada sobre tudo e todos.
- E então, vai sair com ele agora? – me perguntou quando estávamos indo em direção ao armário. Pelo menos ela tinha que guardar o material de Espanhol.
- Acho que sim... Pelo menos acho que foi o que ele quis dizer com o ‘te vejo depois’.
- Contou pra mais alguém que vocês estão juntos?
- Da minha parte, só você. E eu não sei se a gente tá, junto... sabe?
- Separados é que não estão. Você gosta dele?
- Gosto. É, eu gosto. Estar junto com ele é tão bom... – lembrei do que ele disse sobre a carteirinha. Abri o meu armário de repente, fazendo estranhar essa atitude.
- O que foi?
- Nada, preciso ver uma coisa na minha carteirinha. – peguei a carteirinha que estava jogada num canto do armário. Virei no verso e ela estava carimbada, para meu alívio. Nunca pensei que meus pais assinariam.
- E o que tem a carteirinha? – ela perguntou, então mostrei o verso carimbado da carteirinha. – Ah, pra que serve esse carimbo? Também tem na minha e eu não sei o que isso significa.
- Significa que aos fins de semana podemos sair da escola. – eu sorri vitoriosa e pelo jeito adorou a notícia, porque sorriu também. Percebi uma movimentação atrás dela, vi que era fazendo ‘shiu’ para eu não o denunciar. Ele bateu a mão com tudo no armário ao lado o que fez pular de susto. Eu apenas dei risada assim como .
- Ai que susto ! – agora também ria e distribuía tapinhas nele.
- Ei, calma, um sustinho é bom de vez em quando. – ele disse rindo – Mas mudando de assunto... – ele respirou fundo e parou de rir. – Eu e os caras estávamos pensando em mostrar um autêntico pub inglês no fim de semana para as senhoritas. E então... O que me dizem?
- Hum... Isso é ótimo, vamos ? – virou-se esperando uma resposta minha.
- Por mim tudo bem, parece legal.
- Ótimo então, só precisamos de uns documentos falsos para entrar, todos nós somos menores de idade. – fez um olhar cúmplice para mim. Não sei se eu devia fazer isso, era errado. Fazer documentos era minha especialidade, mas não sei se devo...
- Eu posso dar um jeito nisso. – o que eu estou fazendo é errado, mas acho que posso abrir uma exceção só dessa vez.
- Ah é, como? Conhece alguém que faz? – pareceu entusiasmado.
- Eu. Digamos que isso é minha... Especialidade.
- Perfeito, do que precisa?
- Documento verdadeiro de todo mundo, fotos 3x4 e um tipo especial de papel.
- E como consigo esse papel?
- Quando eu não tinha dinheiro pra comprar, eu pegava do armário da Secretaria da minha escola. Escolas sempre têm todo o tipo de papel. O plano é: você enrola a secretária enquanto eu procuro esse papel em algum armário.
- Mas você nem ao menos já foi para aquela Secretaria.
- Secretarias são todas iguais. Só faz o que eu digo, ok? – concordou e olhava meio receosa para mim.
veio com a gente, ela e seriam as iscas para a secretária. Enquanto ela se distraía com eles, eu pegava o papel.
Eu estava me sentindo como nos velhos tempos. Estratégias, planos, fugas. Eu não vou mentir, eu gostava disso, eu gostava da adrenalina correndo nas minhas veias.

Capítulo 8 – Plano em prática

Nós seguimos as placas que indicavam a Secretaria. Chegamos à frente e eu pedi para esperarem no canto, enquanto eu inspecionava o local. Passei uma, duas, três vezes em frente à Secretaria. Não tinha porta, era tudo aberto para qualquer um entrar. A única secretária que havia lá era uma senhora que lia alguma coisa com dificuldade, estava lendo com os óculos fora do rosto, quase entrando no papel. Essa senhora se encontrava atrás de um balcão, e atrás deste haviam prateleiras, máquina de Xerox, mesa de computador, armários de arquivos e mais três armários onde poderiam estar guardados os papéis que são utilizados naquela sala. Fiquei parada do lado de fora olhando apenas.
A senhora saiu do balcão e foi para trás. Abriu o armário do canto esquerdo e de dentro dele tirou um pacote de folha sulfite. Ela abriu o pacote, colocou algumas folhas na impressora ao lado da mesa do computador e voltou a ler o que estava lendo. Não podia ser mais perfeito para o plano dar certo. Agora eu sabia exatamente o armário que eu iria abrir.
Fui até e , que esperavam por mim no canto perto do bebedouro, estavam nervosos e eu estava bem tranquila, tinha tudo para o plano dar certo.
- Vai dar tudo certo, a secretária é velha, nem enxerga direito. Eu sei exatamente qual armário abrir. Vocês fazem a parte de vocês e eu faço a minha. – eles assentiram e foram na frente, de acordo com o plano. Olhei de fora execução dele.
e chegaram à Secretaria discutindo como o combinado.
- Some daqui garoto, já disse pra me deixar em paz. – berrou chamando a atenção da secretária.
- Só quero conversar, foi um acidente.
- O que está havendo aqui? – a secretária perguntou.
- Eu não agüento mais esse projeto de ser humano tendo as mesmas aulas que eu, eu quero trocar de horário. Ele jogou tinta no meu cabelo, quase me afogou na piscina, quebrou a minha câmera e eu estou muito nervosa.
- É mentira dela! Foi tudo um pequeno acidente.
- Sai daqui, se não eu fico mais nervosa e quando eu estou nervosa eu desm... – como o combinado, fingiu um desmaio. e a secretária estavam socorrendo, era a minha hora de entrar em ação.
Entrei na Secretaria vagarosamente, para a secretária não perceber a minha presença. Mas quando eu estava passando ao lado, quase indo para o outro lado do balcão, ela se virou e me viu.
- Ei você! – eu gelei nessa hora. Mas uma ideia me veio na cabeça.
- Senhora, onde eu posso conseguir água pra ela?
- Ah sim, entre aí que tem um filtro. Traga um copo de água rápido. – eu concordei com a cabeça mais aliviada. Fui ao armário que eu queria e o abri sem fazer barulho. No canto reconheci um pacote do papel que eu costumo usar para fazer os documentos, reconheço aquele papel à distância. Peguei o pacote e fechei o armário silenciosamente. E então peguei a água que a secretária havia pedido.
Passei pelo balcão e entreguei a água para a senhora, que como eu pensei, nem notou que eu estava com um pacote, estava preocupada demais com o falso desmaio de .
- ‘Atchim’ – fingi um espirro bem alto. Era a senha para eles pararem com o fingimento que eu já havia conseguido. Saí de lá e fui para o meu armário, esperá-los.
Cada segundo de espera parecia uma eternidade, eu temia por eles. E se eles não conseguissem despistá-la para sair? E se a senhora secretária não caísse naquilo?
Mas essa angústia passou quando os vi virando o corredor, rindo. correu até mim todo saltitante e me deu um abraço de tirar do chão.
- Haha, conseguimos! – praticamente berrou em meu ouvido. Ele me soltou e foi a vez de me agarrar. Ela, por sua vez, me manteve no chão.
- você é genial! – em compensação, também berrou em meu ouvido.
- Que isso, vocês fizeram tudo, eu só peguei o papel. Como conseguiram sair de lá? – eu acho que eu não devia fazer essa pergunta, pois ambos coraram e tentaram disfarçar alguma coisa. batia ritmado no armário enquanto coçava a cabeça fazendo uns ‘erm’ ‘ahn’ ‘então’ ‘bem’ mas não chegou a falar o que eu queria. Percebi que além de corados, os dois estavam sorrindo. – Que é? Falem logo, o que estão escondendo?
- Bom, a velha não ia acreditar se saísse andando normalmente... – parou de batucar e começou a explicar. – Aí eu falei que ela não estava respirando. A velha pirou lá e aí eu fiz uma “respiração boca a boca” – ele fez aspas com as mãos e deu risada – Só que eu não sei fazer respiração boca a boca, então meio que a gente, como posso dizer, erm.... Se beijou. Mas a velha acreditou que eu fiz respiração boca a boca e que já estava melhor e saímos andando normalmente, falando que íamos para a enfermaria. – explicada a história, os dois pareciam dois tomates de tão vermelhos que estavam e eu não tinha o que falar.
- Ah, erm... Convincente, bom trabalho. – eles respiraram aliviados porque não fiz nenhum comentário referente ao beijo.
- É, é isso. Eu vou pro alojamento agora... Você vem ?
- Aham, eu tenho alguns documentos pra fazer. ... Me dá os documentos do pessoal hoje. Aperta o interfone lá da entrada do alojamento que eu vou pegar lá. – pisquei cúmplice para ele que sorriu.
- Tchau! – falou meio distante de , apenas acenou e ele fez o mesmo. Estávamos indo em direção ao alojamento, agora senti que era a minha chance de perguntar alguma coisa pra ela.
- E então, como foi?
- Como foi o quê?
- Como “o quê”? Vai, me fala! Você estava esperando por isso? Ele que quis ou foi um acidente? Sentiu alguma coisa? Faria de novo? Acha que pode haver alguma coisa? O que você...
- Calma! Calma, tá bom? Calma. Eu te conto tudo, mas tenha calma... – acho que consegui tirá-la do sério, pelo menos por um instante.
- Então conta.
- Quando a gente chegar ao quarto eu te conto. Essas coisas não se contam andando.
- Tá bom. – concordei de má vontade. Ela faz isso comigo, por que eu não posso fazer o mesmo com ela?
Chegando à entrada, meus planos de saber de tudo o que houve teriam que ser adiados. estava na entrada me esperando. me lançou um olhar engraçado que eu não decifrei e foi na frente, dando um ‘oizinho’ de longe para .
- Faz tempo que está aqui? – perguntei chegando perto dele.
- Não... Faz uns 5 minutos.
- Estava com saudade? – usei as palavras dele contra ele, que sorriu.
- O que você acha? – ele arqueou uma das sobrancelhas.
- Hum, não sei. Eu acho que... Sim. – ele sorriu e segurou meu braço me puxando para si.
- Acertou. – ele sussurrou e em seguida selou meus lábios. Os entreabri para nossas línguas se encontrarem. Meus braços estavam envoltos em seu pescoço e os braços de estavam envoltos em minha cintura. Eu não sabia como explicar exatamente o que o beijo dele me fazia sentir, possivelmente eu não tenha criado uma metáfora ainda. Metáforas prontas não são capazes de descrever, só sei que é bom. Todas as sensações que aquele beijo trazia eram ótimas, não havia coisa melhor. Ele segurou meu rosto e separou nossas bocas, mas ainda muito próximo. Sua testa com a minha, nariz com o meu e nossos olhos dizendo o que palavras não podiam dizer. Naquele momento era só eu e ele. Sem escola, sem problemas, sem Miami ou qualquer outra coisa. A respiração quente dele se misturava com a minha. Ele apenas selou meus lábios mais uma vez e me abraçou de um jeito protetor. Eu me sentia segura nos braços dele, como eu nunca estive. Como se nada pudesse me atingir. Até que finalmente ele disse alguma coisa.
- Hey , o que está acontecendo? – ele perguntou sem parar de me abraçar, passando os dedos ao longo do comprimento do meu cabelo. Ele deixou implícito, mas eu sabia exatamente do que se tratava. Na verdade, era isso o que eu não sabia.
- Eu não sei o que está acontecendo. Só sei que você me faz bem. – ele me soltou para olhar dentro dos meus olhos e me hipnotizar, como sempre faz com seus olhos .
- , você me faz bem. Muito bem. Como ninguém nunca me fez. – ele sorriu e eu sorri em resposta.
se endireitou, estava meio encurvado pelo fato de eu ser menor que ele. Respirou fundo e deu um sorriso mais leve, pra mudar o assunto.
- Ficou sabendo do pub?
- Ah sim, eu tenho que fazer os documentos, se não a gente não entra.
- Não pensei que estaria disposta a isto...
- É, infelizmente eu acho que gosto disso. vai vir aqui daqui a pouco pra deixar os documentos verdadeiros de vocês, para eu copiar. Eu sou acostumada a fazer Green Cards... Não sei como que é aqui na Inglaterra.
- Falando em , olha ele lá... Eu avisto um autista à distância. – me fez rir e virei para onde ele estava apontando. vinha sorrindo com uma pasta plástica azul fosca em mãos.
- Hey, se não é o analfabeto do ... – se aproximou tirando o documento do da pasta. Eu olhei e tive que dar risada. estava sem os dois dentes da frente, sorrindo numa foto 3x4, com um cabelo engraçado. Um carimbo estava no lugar de sua assinatura ‘analfabeto’.
- Me dê isso aqui. – tomou das mãos de .
- Que bonitinho... Mas a foto que você trouxe é igual a essa? – eu perguntei e ele afirmou que sim – Tá, agora é melhor me entregar para eu fazer o seu “documentinho” falso. Eu preciso de uma câmera, sua foto é muito antiga. E também preciso da sua assinatura. – apenas concordou com tudo que eu disse, me entregou o bilhete e a câmera que estava em seu bolso.
ficou apenas olhando o que eu estava fazendo, assim como . Tirei uma folha do bloco em que eu carregava e coloquei atrás da cabeça dele.
- , segura essa folha pra mim. – ele fez o que eu pedi e eu me distanciei para tirar foto. – , não sorria dessa vez tá? Fique sério e olhe para a câmera. – ele revirou os olhos, mas fez o que eu pedi. Bati a foto e entreguei a câmera pra .
- Saí bonito? – ele perguntou.
- Com certeza – pisquei. – Erm... Vocês dois, podem fazer um favor pra mim?
- Sim, mestre – brincou e eu dei a língua.
- Dêem um jeito de imprimir essa foto, pode ser em papel comum mesmo. Sei que pode fazer isso pra mim . – pisquei pra ele – Ah, , assina seu nome completo nessa folha que está segurando. – ele concordou tirando uma caneta do outro bolso. Eu fico imaginando, o que não tem no bolso de ?
- Ótimo! Estarei esperando vocês com a foto às... 14h30min, certo?
- Sim, senhor – disse batendo continência, sendo imitado por dando risada. Virei às costas para entrar no alojamento, rindo.
Eu tinha muito o que fazer.
Eu carregava a pasta com os documentos até chegar ao meu alojamento, que era o último. Algumas meninas menores se dirigiam para a aula e algumas meninas da minha série andavam falando da vida alheia, como se fossem as coisas mais importantes do mundo.
Entrei no meu alojamento e subi as escadas até o meu quarto. estava na mesa de estudos da direita, escrevendo em seu caderno. Ela parou o que estava fazendo imediatamente e olhou para mim, sorrindo e me olhando com aquele olhar divertido que ela estava antes.
- Você e o ... Parece que a coisa é mais séria do que eu pensava... – ela disse sorrindo de uma forma engraçada.
- Eu não sei, na verdade. – confesso que me senti meio envergonhada, mas isso é bobagem. – Eu tenho muita coisa pra fazer. – disse indo para a mesa de estudos da esquerda. Coloquei a pasta em cima da mesa e fui pegar minha mala debaixo da cama.
- O que é isso? – perguntou, provavelmente indo xeretar na minha mesa. Eu estava de costas.
- Documentos dos meninos. Ah, preciso do seu tá ? – eu disse abrindo minha mala pegando uma caixa e colocando em cima da cama de baixo. havia concordado fazendo um barulho estranho com a boca.
“Eu sabia que eu ainda podia precisar disso” pensei sorrindo para a caixa. Ela era encapada com veludo roxo e na sua fechadura havia um cadeado dourado, bem pequeno. Coloquei minhas mãos na caixa e deixei que elas deslizassem sobre ela. Eu não podia ficar perdendo tempo, então tirei minha correntinha do pescoço, onde estava a chave e em seguida destranquei a caixa.
Tudo o que eu precisaria estava lá. Eu não faço outra coisa melhor que esses documentos. Senti se aproximando de mim.
- E o que são essas coisas? Borras de café, esse tubinho, esses pincéis fininhos, esses carimbos, esses ‘plastiquinhos’ e esse outro pote? Ah, e o que é isso aí do lado e... – ela já ia pegando alguns tubos de cola transparente, eu segurei a mão dela, tentando ser delicada, mas acho que não funcionou, pela cara dela...
- Desculpe. Mas por favor, não mexa. São coisas que eu costumo usar pra fazer os documentos, erm... Desculpa de novo, não queria ser bruta. – eu disse preocupada com sua reação. Ela respirou fundo e esboçou um sorriso fraco.
- Tudo bem, eu tenho que pedir desculpas, eu não deveria ter ido mexer. – ela passou os cabelos para trás da orelha. – Eu vou lá para a cozinha ver se tem alguma coisa pra gente comer. – ela deu mais um sorrisinho forçado e saiu pela porta.
Eu realmente preciso ser mais delicada, se não vou perder a única amiga que eu fiz aqui. Os meninos são meus amigos e o Jean é meu amigo gay, mas quem divide o quarto comigo é , eu não posso magoá-la.
Ela vai entender, eu presumo. Agora eu tenho mais coisas para fazer, vou deixar para me preocupar com isso quando eu acabar.
Peguei a caixa e sentei na cadeira da mesa de estudos em que eu ia usar. Peguei o documento do da pasta. Ele consegue ser bonito até em foto 3x4, além de ter uma letra bem mais legível que a do . Puxei uma folha do bloco que eu tinha pegado da secretaria e fiz como de costume. Peguei minha régua que já tinha as medidas de um documento retangular comum. Só por precaução, comparei o tamanho com o documento de e os números batiam. Risquei com o lápis fraco e tirei meu estilete de inox com corte preciso da caixa. Fiz um corte perfeito, já havia me acostumado a fazer isso.
Tive que tirar um estêncil frente e verso do documento do , já que o estêncil que eu tinha era de Green Card. Estêncil feito, agora era só passar para o papel. Feito isso, peguei meu pincel mais fino e meu potinho de tinta cinza escura. Reforcei as letras – inclusive o carimbo de validação - fazendo pontinhos de cinza, muito pequenos e próximos. O meu pincel era tão fino e com uma ponta tão precisa e rígida, que parecia uma agulha, daquelas que se usam em impressora. Eu apenas tinha modificado a data de nascimento dele. Deixei o documento de canto e fiz o mesmo com o de , que ficou bem mais fácil, agora que eu já havia feito o estêncil. Deixando o do do mesmo jeito que o de , fui fazer o de , que ficou do mesmo jeito que o dos outros dois.
- , eu fiz macarrão ao alho e óleo, não sei se você gosta, mas está aqui. – disse entrando pela porta. Me virei para ela, que estava com um pote de alumínio com uma tampa de plástico e por cima desse poste havia dois pratos e com talheres dentro deles. Ela colocou em cima da mesa de canto, próxima à tábua de passar.
- Eu já vou, eu não posso engordurar minhas mãos. – ela balançou a cabeça afirmativamente e se virou para colocar macarrão em seu prato. – . – ela se virou para mim quando eu disse seu nome. – Obrigada. – sorri recebendo um sorriso dela em resposta e senti que não era um sorriso falso.
Voltei ao meu trabalho artesanal. Sei que existem métodos mais modernos de se falsificar um documento, mais nada supera um artesanal bem feito. Modéstia à parte, os que eu faço ficam muito próximos à perfeição, já que nunca fui pega, só fui pega em Miami porque me entregaram. Eu faço um trabalho muito bem feito.
O de já estava seco, o cinza estava fosco. Os de e ainda tinham que esperar. Tirei um copo da caixa e fui até a pia do banheiro e enchi até a metade de água. comia na cama olhando para a televisão, passei por ela que desviou os olhos da tela para ver o que eu carregava. Não se impressionou, era só água, então voltou a prestar atenção na televisão.
Voltei à mesa. Coloquei um pouco de borra de café na água e misturei com uma colher. Depois coloquei uma quantidade de tinta verde. Essa quantidade tinha que ser menor do que eu costumava usar para fazer um Green Card, pois tinha que ser misturada com tinta azul. A carteira de identidade britânica é um pouco mais azulada. Misturei as duas tintas na água com borra de café. Apanhei um pincel mais comum, mergulhei as cerdas na água e passei no papel que seria o documento de . Passei na frente e no verso e deixei de lado pra secar. Fiz o mesmo com o de e .
Olhei para o relógio, faltavam 5 minutos para a hora que eu marquei com e .
- , eu vou ir pegar a foto do e já volto. – eu disse colocando um moletom velho do Frajola que estava no armário, havia esfriado um pouco.
- Tá bom.
Eu saí sem saber se podia ficar com aquele moletom.
Cheguei à entrada e ao longe avistei e vindo para a entrada. Quando chegaram perto, vi o sorriso vitorioso que estampavam em seus rostos.
- Conseguimos. – disse sem muita empolgação
- Mais fácil do que imaginávamos. – disse me entregando a foto, impressa num papel apropriado para fotos. – Gostei da blusa. – sorri com o comentário de dele.
- Perfeito. Como conseguiram imprimir nesse papel?
- A gente imprimiu no estúdio de fotografia. A gente simplesmente pediu para a professora imprimir pra gente. Ela concordou e imprimiu nessa folha sem que a gente pedisse. Ela só perguntou se queríamos 3x4. – explicou.
- E eu realmente fiquei bonito nisso. Vou sair por aí seduzindo, não sabia que eu era tão sexy, até em uma foto 3x4. – piscou para mim, me fazendo rir.
- Você só pode seduzir a mim ... – fez uma voz afeminada.
- Vou chamar o Jean pra ver isso e... – eu fui dizendo e cortou minha fala desesperadamente.
- Não, não! Parei com a viadice. – ele disse fazendo gestos com a mão para que eu parasse. Eu e só ríamos. – , erm... A tá aonde? – não contive um sorriso diante dessa pergunta. Eu tinha até me esquecido de tirar algumas informações de .
- Ela está lá dentro, quer que eu a chame pra você? Eu só aperto o interfone e ela desce...
- Não, não precisa não. Era só pra saber.
- Certo. Então, eu vou indo. Preciso fazer a carteira de identidade do . As outras estão adiantadas já. Tchau! – dei um beijo na bochecha de e dei um selinho em . Eu sabia que ele não estava esperando, por isso eu dei. Ele sorriu meio sem entender e olhava bem confuso. Sorri com isso.
Cheguei ao alojamento e estava jogada na cama de baixo dormindo, como uma criança que havia brincado o dia inteiro. Decidi comer um pouco, o macarrão estava um pouco morno, quase frio. Comi rápido, praticamente engoli aquele prato de macarrão em três ou quatro boas garfadas. Lavei as mãos e voltei ao trabalho.
Fiz todo aquele mesmo processo com o de . Aproveitei e peguei o documento de e o meu que estava em cima da outra mesa e fiz aquele processo com o meu e o dela.
Acho que só vai secar bem mais tarde, o de ainda estava molhado.
Fiquei um pouco no computador de . Quando desliguei decidi acelerar o processo.
Peguei o secador para fazer com que as novas carteiras de identidade secassem mais rápido. nem se mexeu na cama. Não existe nada mais pesado que o sono daquela criatura.
Fiquei um tempinho com aquele secador, apesar de não ter demorado muito para secar o de , e , esperei até secar o de , e o meu.
Organizei um pouco a mesa. Joguei aquela água fora e coloquei de volta o que eu já usei na caixa. Tirei de lá os meus carimbos caseiros, mas nenhum que eu já tinha servia para aquele tipo de documento. Peguei um pedacinho de madeira que estava jogado lá dentro e o meu estilete. Medi cada centímetro do desenho que fazia o contorno daquele documento e marquei no pedaço de madeira. A minha sorte é que aquele estilete é bom, paguei muito caro nele justamente para não me deixar na mão nessas horas. Aquele estilete era uma arma, acho que cortaria um osso em pedacinhos. Tá, eu exagerei.
Assim que eu fiz aqueles cortes na madeira, eu lixei para que não saísse nada que eu não queira carimbado no papel. Peguei a almofada para o carimbo, pelo menos a cor do contorno era a mesma tanto no Green Card quanto nesse documento britânico. Testei primeiro em outro papel. Um bom resultado, mas se o carimbo fosse emborrachado ficaria melhor.
Carimbei o contorno de cada identidade falsa com o auxílio da régua, para nenhum ficar fora do lugar. Agora só restavam os toques finais. Peguei a cola transparente da caixa e colei a foto 3x4 de cada um. Como o documento é falso, a assinatura é o de menos. Treinava uma vez no papel e passava pro documento, deixando bem parecida com a letra do dono. Não me esforcei para isso, já estava acostumada a falsificar assinaturas. Cortei com o estilete o plástico duro que se usava para plastificar. Eu já tinha um molde para isso, que podia ser usado para aquele documento britânico também. Usei a cola transparente para colar dos dois lados, em pouca quantidade para não aparecer. Fiz isso em todos. Estava pronto.
Comparei o falso com o original e fiquei satisfeita com o resultado.
- , você está aí? – escutei a voz de sonolenta. – Que horas são? – olhei para o relógio para respondê-la.
- 22h45min. Nossa, está tarde, perdi a noção da hora fazendo isso aqui. Quer ver?
- Aham.
Fui até a cama mostrar o meu trabalho a ela e pela a cara que ela fez, acho que ficou satisfeita com o resultado também.
- Confesso que fiquei impressionada. Valeu a pena todo esse tempo fazendo, não vejo nenhuma diferença entre a original e a sua, tirando a data de nascimento. – ela me devolveu as duas carteiras de identidade que eu usei para comparar. Guardei-as na pasta, junto com as outras. Guardei também as coisas que eu usei dentro da caixa e a tranquei novamente. Conferi em meu pescoço se eu estava com o colar. Não têm apenas as coisas que eu uso para falsificar dentro daquela caixa. Mas isso não vem ao caso.
- Pensou que ia escapar de mim hoje dona ?
- Escapar? Do que você está falando?
- perguntou de você quando eu fui pegar a foto do . – vi que corou.
- Ah sim. Não foi nada demais. Ele só não sabia fazer respiração boca a boca e me beijou...
- Então ele que te beijou?
- Isso.
- E você gostou? – ela ficou ainda mais corada, se isso for possível.
- Óbvio né, !
- Vai dar uma chance para o divo? – ela riu com o que eu disse.
- Não sei. Provavelmente. Acho que eu não preciso gostar de quem não gosta de mim. James nunca demonstrou nada. Já , ele realmente me surpreende a cada minuto.
- , como pode um garoto mexer com a gente em menos de uma semana?
- Você está falando de mim e ou de você?
- De nós duas! – saí de perto da mesa de estudos e sentei com ela na cama de baixo. Agora conversávamos frente a frente. Era a hora de desabafar. – Olha , eu não sei você, mas eu estou diferente, eu sinto isso. mexeu muito comigo, desde o dia em que eu pus meus olhos nele.
- Ouun... Eu tenho uma amiga apaixonada!
- Eu não sei mais o que é isso. Me recuso a estar apaixonada.
- Mas você está!
- Não, acho que não. Com Toddy talvez eu estava, eu namorei mais de um ano com ele. Eu conheço não faz nem uma semana. – tá, eu achava que eu amava Toddy, mas isso era antes, bem antes. As complicações vieram e o amor se foi.
- Então o que você está falando pra mim agora é o quê? Ódio? Para com esse negócio de negar o que você está sentindo.
- E se eu só estiver... Carente?
- Aaah minha filha, toda essa sua carência foi embora naquele dia no banheiro... – não pude deixar de rir e corar um pouco com esse comentário. – Você está apaixonada sim, que mal há nisso?
- Ainda não sei.
- Ah , vai dormir vai!
- Chata! – joguei um travesseiro nela e fui colocar uma roupa de dormir.
Peguei a minha camisola que estava jogada no cesto de roupas, sorri me lembrando daquela madrugada no banheiro.
Vesti a camisola e fui para a cama de cima, estava no computador.
- Não vem dormir não?
- Sabe quantas horas eu dormi só hoje? – ela olhou para mim – Não quero nem contar, eu só sei que eu dormi muito... Depois eu vou dormir, agora não.
Desde que ela não fique escutando música, por mim que ela passe a noite no computador. Falsificar documentos me deixa com sono.

#Flashback on

- Marvin, Aaron. – Toddy os cumprimentou e se sentou no sofá velho. Eu fiquei na mesa, fazendo o que eu tinha que fazer: Green Cards.
- Toma! Faz o processo aí que eu já venho. – Marvin jogou alguma coisa para Toddy, eu não vi porque eu estava de costas, apenas atenta escutando tudo. Provavelmente aquilo era a cocaína. Era quinta-feira, normalmente é toda quinta que Marvin e Aaron trazem cocaína pra Toddy, a maioria das vezes eles o fazem companhia. Idiotas.
- E a zinha? Não quer se juntar a nós? – Aaron perguntou e eu nem fiz questão de responder.
- É ... Fica aqui comigo! Se junte a nós... – dessa vez foi Toddy, isso já está passando dos limites. Não é a primeira vez que eles insistem nisso.
- Me deixem fazer essa merda em paz! Porque vocês não morrem de uma vez e me dão sossego? Desgraçados. – me virei para eles, que riram.
- Ui Toddy, deixamos a sua garota nervosa.
- Eu sei como deixá-la mansinha... – Toddy riu e continuou a mexer com aquele pó.
- Cala a boca Toddy, ou vou fazer você engolir esse estilete.
- Uh... – ele largou o que estava fazendo e veio até mim – Vai me fazer engolir o que ? Vai ficar dando uma de nervosinha? – ele tentava segurar meu braço enquanto eu desviava.
- Mostra pra ela quem é que manda! – Aaron gritou do outro lado. Toddy estava tentando me segurar, eu não tive outra escolha a não ser tentar me livrar dele. Cortei sua mão, mas minha intenção não era um corte profundo como foi.
- Vadia! Segura ela Aaron! – ele disse quando eu saí correndo. Aaron era muito inútil, já estava meio chapado, não conseguiu me pegar. Saí do Stage 10, sem saber para onde eu estava indo. Minhas pernas me levaram automaticamente à praia. Estava anoitecendo, sentei na areia e abracei meus joelhos. Comecei a chorar sem motivos, ou com todos os motivos existentes.
O tempo passava e eu olhava o movimento do mar, cada vez ficava mais tarde. Eu não voltaria para o apartamento de Toddy tão cedo e nem voltaria para o meu. Meus pais irão me prender lá dentro, com certeza. Eu já ia para um internato mesmo.
- . – levantei a cabeça para Toddy. Olhei para sua mão enfaixada.
- Como está a sua mão?
- Bem fudida, obrigado. – ele riu agradecendo ironicamente.
- Não tive a intenção, foi um reflexo. Você estava me irritando.
- Eu nunca encostei um dedo em você garota!
- Quando estava lúcido. – confessei e ele bufou se sentando ao meu lado.
- Desculpa, eu estava meio chapado.
- Grande novidade.
- Ei, eu não quero ser assim. Mas eu não consigo largar. E você só está viva porque está comigo! Acho melhor pegar leve com isso. Não acho que queira morrer tão jovem.
- Eu ajudo os clandestinos e falsifico os Green Cards, é por isso que eu estou viva.
- E porque eu não deixaria ninguém fazer mal a você. Eu te amo .
- Não acredito nisso. Você deixou de ser o Toddy faz tempo.
- Acredite. Eu posso estar meio chapado ainda, mas eu sei que é você que eu quero, eu nunca mais vou fazer isso.
- Você sempre fala isso. Eu cansei Toddy. – eu me levantei e saí andando.
- Por favor, por tudo que a gente já viveu. – ele me alcançou segurando meu braço.
- Já chega!
- Eu sei que você ainda me ama. – ele foi aproximando seu rosto cada vez mais perto do meu. Ele me beijou, mas seu beijo já não tinha mais o mesmo efeito que antes, para mim não tinha mais gosto, não tinha mais o calor, perdeu todo o encanto do primeiro amor. Agora era o beijo do primeiro canalha. Separei o beijo e olhei bem fundo nos olhos dele.
- Eu vou embora de Miami semana que vem. Obrigada por estragar minha vida. – ele ainda me segurava. Não sei se era efeito das drogas, seus olhos eram naturalmente vermelhos no lugar do branco, mas realmente estavam marejados.
- Então é isso? Eu estraguei sua vida? – ele fungou e seu nariz começou a sangrar. Ele sentou na areia de novo e eu sentei com ele, tirando um saquinho de lenços de papel do bolso. Peguei um deles e limpei seu nariz.
Toddy estava chorando. Mas eu não sei se era sincero, ou se era por causa do que ele usou.
- Eles vão me levar para um internato.
- Fica comigo, eu preciso de você. – ele implorava. Meus olhos começaram a encher de água também. – Eu preciso contar, eu preciso te contar...
- O quê?
- Marvin e Aaron foram presos, hoje. Eu fugi, mas eles vão me entregar com certeza. Fuja ! Antes que eles te peguem.
Eu não sabia o que fazer nessa hora. Apenas me levantei e saí correndo pela areia da praia. Eu estava com medo, eu não podia ser presa. Nunca.
Eu já estava longe de Toddy, mas mesmo assim eu me virei para ver seu rosto de longe uma última vez. Estava muito longe para eu poder ver seus olhos, mas eu conseguia ver. Não estavam da mesma cor de sempre.

Flasback off#

Em minha mente, os olhos de Toddy não eram os mesmos. Os olhos dele, os quais eu nunca identifiquei uma cor, iam e vinham em minha mente brilhando. Olhos intensamente , que hipnotizam. Eu reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar no mundo, em qualquer lugar no meu subconsciente. Os olhos de tomaram o lugar dos olhos de Toddy. Assustadoramente, real.
- , Você está bem? – abri os olhos e vi me cutucando, com um olhar preocupado.
- Estou, estou. Só foi um pesadelo, horrível. – tirei o cobertor de cima de mim, eu estava suando frio.
- Quer falar sobre isso? Ainda faltam dez pras 8h. Está se sentindo bem para enfrentar a sexta-feira?
- Aham... E eu quero falar sobre isso sim... – eu respirei fundo e me sentei na cama, pronta para pular do beliche. Pulei do beliche e sentei na cama de baixo com . - Estou pronta para ouvir. Sonhou com quê?
- Toddy. Miami. – contei o que eu sonhei para ela. – Só que quando deixei Toddy no sonho e olhei para trás, não era mais ele. Era .
- Mas como assim?
- Ou talvez só os olhos fossem de . No sonho, eu via de longe os olhos de , só que no lugar dos olhos de Toddy.
- Você acredita em sonhos com significados?
- Não. Foi apenas um sonho, assustador.
- Porque não toma um banho e esfria sua cabeça? Você suou durante a noite. – concordei e fui ao banheiro.
Abri o chuveiro e joguei a camisola no cesto de roupas. Entrei dentro do box e deixei que a água morna me revigorasse.
Era a primeira vez que eu sonhava com Toddy desde que eu vim embora.
Agora eu me sentia perdida.
Toddy.
.
Eu fiquei com medo que fosse se tornar Toddy um dia.
Quando eu estou começando a esquecer esse garoto, eu tenho esse sonho. Eu taquei pedra na cruz, não é possível.
Saí do chuveiro me sentindo bem melhor. Saí de lá de dentro com uma toalha envolta ao meu corpo. entrou no banheiro em seguida.
Fui colocando meu uniforme. Hoje eu teria que por a meia calça, mas o suéter não era necessário. Antes de calçar meus sapatos, dei uma lustrada neles.
saiu do banheiro e eu entrei para secar meu cabelo e dar um jeito na franja, que estava um pouco grande, até mesmo para uma franja que eu costumo usar de lado. Eu tinha que cortá-la, mas não agora. A maquiagem leve de manhã, para esconder as olheiras, foi indispensável.
Peguei a pasta com os documentos e esperei por , para que pudéssemos ir juntas para o armário, apesar de não termos a primeira aula juntas.
Nós comentávamos de tudo até chegar ao armário, estávamos fazendo mais planos pra o fim de semana, falando das nossas ideias de como é um autêntico pub inglês.
- No carro cabe até quantas pessoas, mais ou menos? – perguntei abrindo meu armário.
- Não sei, depende do carro. Quem vai?
- , , , , você e eu. Mas acho não vamos usar carros, acho que só ônibus. Me precipitei
- Que estranho... E o David, James e o Jean? – ela respondeu. Isso realmente foi estranho. Tirei a minha apostila de Informática, juntamente com meu estojo. Fechei o armário e percebi que continha uma expressão confusa em seu rosto, eu não deveria estar diferente.
- Eu não fiz documentos deles... – falei para , mas ela estava prestando atenção em uma coisa, que pelo seu olhar, estava atrás de mim. – O que é que está olhando? - Disfarçadamente, olhe para trás.
Eu não entendo o significado da palavra ‘disfarçadamente’, virei para trás no mesmo instante, sem me esforçar para disfarçar alguma coisa, apenas olhei.
James estava discutindo com uma menina, porém não era qualquer discussão, era feia a coisa mesmo. Estavam alterados, mas estávamos um pouco longe para escutar.
- Porque a gente não chega mais perto? Jimmy com certeza não vai falar nada, o máximo que ele vai fazer é parar de discutir com a menina. – eu disse esperando uma reação positiva de , mas ela bufou negando com a cabeça.
- Não. Vamos chegar atrasadas, melhor a gente ir antes que o sinal bata. – ela fechou o armário dela e ouvimos o sinal tocar. – To indo. – ela deu um ‘tchauzinho’ e foi para a sala dela. Eu segui rumo a minha, que era naquele corredor.

Capítulo 9 – Preparação

Entrei na sala e sentei numa carteira dupla da última fileira, pelo menos ninguém que eu conhecia tinha chegado.
Olhei para a porta com a finalidade de observar os que entravam. A menina que James tinha discutido entrou com umas cinco meninas consolando ela, que estava chorando. A menina era bonita, na minha opinião. Tinha um cabelo um pouco comprido que oscilava entre o loiro e o castanho. Seu rosto estava vermelho de tanto chorar, eu não pude ver seus olhos, mas de longe pareciam claros. As amigas dela também eram bonitas que nem ela, parecia que não sentiam frio, pois todas estavam de saia sem meia-calça, um pouco mais curtas do que o normal. Só uma menina sentou com ela na última carteira da fileira ao lado da minha, as outras amigas foram embora da sala.
Para a minha alegria, chegou à sala e ficou procurando alguém conhecido, logo me viu.
- Oi , salvadora da pátria. – ele disse se sentando.
- Oi . Eu trouxe os documentos.
- Deixa eu ver? – ele perguntou e eu afirmei com a cabeça. Eu tinha levado comigo a pasta azul junto com as coisas de informática. Entreguei a ele a pasta, que não chegou a tirar nenhum de dentro para ninguém ver. pegou em suas mãos sem levantar o seu documento. – Você é boa. Ficou perfeito.
- Obrigada. – perfeito eu sei que não ficou, se eu for olhar com certeza notarei alguma coisa, mas confesso que ficou muito bom.
colocou de volta na pasta e me entregou. O professor já estava falando na sala e eu nem tinha notado. A maioria dos alunos estava ligando o monitor do computador e abrindo a apostila na primeira página.
- Você sabe o que aconteceu aqui do lado? – me perguntou se referindo a menina.
- Eu a vi discutindo com James, já que você está desse lado, porque não escuta um pouco a conversa, só pra tirar a curiosidade... – pisquei para , que sorriu e entrou em ação fingindo estar concentrado na apostila, escutando o que elas falavam.
Decidi prestar atenção na aula um pouco, estava falando sobre as partes do computador e teríamos que completar na apostila. O nome do professor pelo menos agora eu já sabia: Mr. Michael Goldenberg. Completei a página da apostila e fui ver se tinha descoberto alguma coisa.
- E aí, o que descobriu?
- Descobri que ela é líder de torcida e a chamam de Kim. Ela já conhecia James há muito tempo, antes de virar uma líder de torcida. Parece que eles tinham alguma coisa no passado.
- E o que você entendeu por “eles tinham alguma coisa no passado”?
- O mesmo que você. – ele olhou para a apostila e me encarou. – Estou me sentindo uma menina fofoqueira sem o que fazer. Ser menina está na moda, assim como usar pochete. – me fez rir.
passou a aula toda me contando sobre líderes de torcida da escola que ele estudava antes, eu contei algumas coisas da minha antiga escola, inclusive alguns podres de líderes de torcida de lá.
Aquela aula havia chegado ao fim e por incrível que pareça a tal de Kim ainda estava chorando.
se despediu de mim, ele ia para Natação e eu iria para o Francês. Eu nunca tive aula de Francês na vida, desnecessário.
não estava no armário, eu apenas peguei minhas coisas de Francês e fui para a aula.
Cheguei à sala e não havia muita gente, sentei no mesmo lugar que eu tinha sentado na aula de Informática e fiquei observando as pessoas chegarem. Não sei se era o uniforme, mas pra mim pareciam iguais. Acho que era o sono, estudar de manhã não é fácil. Dave chegou à sala, por um momento me senti aliviada, mas esse momento logo passou quando ele me viu e depois fingiu que não. Sentou em outra carteira. Me senti um lixo, eu acho que não merecia isso.
James chegou à sala também, esse realmente não me viu. Sentou-se com Dave. Ele parecia com raiva, acho que era a tal de Kim de manhã. Dessa vez acho que farei uma aula sozinha, se pelo menos Jean estivesse por aqui na aula de Francês, seria conveniente, mas ele não estava. Sozinha eu não ficaria, pois cada sala tem lotação completa. Uma cadeira por aluno. Uma menina veio praticamente desfilando até a minha carteira, ela parecia uma Barbie em tamanho real de uniforme. Se fizessem uma boneca inspirada nessa garota, seria “Barbie colegial”, “Barbie vai para a escola” ou alguma coisa assim. Ela dispensa descrições adicionais. Uma Barbie. Olhos, cabelo, corpo, tudo nela lembra uma.
- Oi, eu sou Britany. – ela estendeu a mão pra mim antes de se sentar. Eu a cumprimentei num aperto de mãos formal. – Posso sentar aqui? – olhei por toda a sala e o único lugar que sobrava era ao meu lado.
- É o único lugar que sobrou. Se você tem certeza que sua aula agora é Francês, acho que você não tem escolha. – assim que terminei a frase, me arrependi, eu não deveria ter falado assim com a menina. Ela pode ser legal. Britany ficou um pouco constrangida... Um pouco não, muito. – Desculpe, eu não acordei bem hoje, estou meio estressada. Por favor, sente-se... – apontei para a cadeira ao meu lado e esbocei um sorrisinho medíocre. Ela sorriu da mesma forma e sentou.
Me peguei olhando para Dave na mesa da frente, sem perceber. Eu tinha que falar com ele, não pode simplesmente me ignorar a troco de nada.
- É por causa daquele menino?
- Hã? O que tem ele? – confesso que me assustei com Britany puxando assunto do nada, depois de eu ter sido grossa com ela gratuitamente.
- Que você está um pouco estressada... Ou você está com TPM? Cólica? Eu tenho um remédio aqui no meu estojo que é ótimo e...
- Não, não... Não é nada de TPM ou cólica. Mas estou um pouco nervosa com ele mesmo, nada de importante – Britany já ia mexendo no estojo rosa dela, eu tive que interrompê-la. Não sei o porquê de eu estar falando do Dave pra ela, nem a conheço. - O que ele fez?
- Nada demais, só me ignorou. Eu falo com ele depois.
- Certo. – ela pegou seu caderno, hum... Adivinha que cor que é? E começou a escrever o que a professora passava na lousa. Eu tenho problemas em detectar a presença dos professores na sala de aula. Peguei o meu caderno e comecei a copiar também – É nova aqui?
- Sou, vim de Miami. Desculpa eu não ter me apresentado, sou . Você é nova aqui também?
- Não. Apenas cheguei atrasada na aula hoje e as pessoas que eu conhecia já estavam com pares. O menino da frente que você estava falando é novo?
- Sim, ele é do Canadá.
- Ah sim, soube do babado do James hoje? O que está do lado... – estou começando a gostar dessa menina. Até parei de copiar e larguei minhas costas no encosto da cadeira. - Mais ou menos, você sabe a história inteira?
- Claro, sei T-U-D-O. Desde o comecinho. – ela também largou a lição e parou de prestar atenção na professora falando com aquele biquinho gay de falar francês. – Kim era da turminha dele, alguns anos atrás. Eles namoravam e tal... Viviam andando juntos para cima e para baixo, eram tão fofinhos. Os dois tinham cabelos estranhos, o James tem até hoje. Eles eram o casalzinho estranho perfeito, ninguém botava defeito. Num belo dia de se inscrever para atividades extras, Kim foi ser líder de torcida, hoje em dia ela é a capitã. No começo ninguém achava que isso tinha muito a ver com ela, mas ela mostrou que era a melhor. Como nem tudo é fofo e rosa... – não contive um risinho nessa parte – Kim acabou se tornando igual às outras líderes de torcida. Abandonando os amigos estranhos para abraçar a popularidade tão cobiçada, no qual eu já tenho sem ser líder de torcida. Inclusive terminou com o James. Mas nessa parte há vários boatos diferentes.
- Ah, então me fala.
- Ok. O primeiro deles é que ela traiu James com o capitão do time de Rugby. O segundo é que ela terminou antes com James para depois ficar o capitão do time de Rugby. O terceiro é que James terminou com ela porque ela não era mais a Kim do tempo que eram realmente um casal feliz.
- Hum, essa última é a mais aceitável.
- Vai saber... Mas no fim, ela ficou com o capitão do time de Rugby.
- Tá, continua.
- A coisa estava tão feia que eles nem se falavam mais. Muitos dizem que eles ainda se gostam. Hoje de manhã parece que um encontrou com o outro e começaram a se alfinetar com indiretas, depois para as ofensas e terminou com desabafos. James chegou a dizer que ainda não conseguiu esquecê-la, mas está fazendo de tudo para isso acontecer e que depois de tudo, ele prefere esquecer que ela existe. Disse que ela não chega aos pés da menina que ela tinha sido antes. James também disse que ele está preso no passado com uma menina que deixou de existir para ele ou alguma coisa assim. Essa foi a parte que eu ouvi e a parte que ela saiu correndo e chorando.
- Ele tem estilo para deixar uma menina no chão, não posso negar. – Isso é que é fofoca, contou tudo! Enfim... Britany me olhou perplexa, resolvi contornar com que tinha dito um pouco antes – Calma... Ele foi um pouco cruel também, mas foi profundo, teve estilo.
- Hoje só estão comentando nisso.
- Eu estou surpresa que tenha essas intrigas típicas de escolas comuns americanas, num internato britânico.
- Escola é tudo igual. Menos as de freiras, eu acho.
Ela começou a copiar novamente e eu fiquei pensando no quanto que James deve ter sofrido na mão dessa garota, ela ter virado líder de torcida não era um problema, mas ter mudado para alcançar popularidade, só mostra que ela é fútil e não tem autenticidade. - James deve ter sofrido, muito. – falei mais para mim mesma do que falando com Britany.
- Sim, muito. Ele chegou a comentar isso para ela hoje. Que passou muito tempo morto e derrotado, mas que agora ele vai viver. Falou que estava afim de uma menina, que o faria esquecer Kim em um só dia, o que nenhuma garota fez ele achava que essa tal menina podia. Kim surtou nessa hora. E eu estou morta de curiosidade pra saber quem é essa garota.
- Eu também. – falei automaticamente, pois eu estava com algum receio. havia me falado que James não tirava os olhos de mim. Tomara que seja só impressão de , tomara. – Parece que essa Kim ainda gosta dele.
- E como gosta, mas ela é orgulhosa e nega até a morte. – o sinal tocou e as amigas vieram lá na mesa e começaram a conversar do nada com ela, sem ao menos notar a minha presença. Eu não conseguia nem sair da minha carteira, as amigas bloqueavam minha passagem.
- Gente, essa é , de Miami. – Britany me apresentou e só assim as amigas delas me notaram, não que eu realmente me importasse. Começaram a falar ao mesmo tempo coisas como praia, compras, meninos, compras, shopping, compras. Elas devem ser muito legais com esses assuntos tão variados. Ironia é uma aliada para todas as horas.
- Oi, oi. – dei o sorrisinho mais simpático que pude naquela hora. – Vou indo... Tchau, a gente se... Esbarra, por aí. – dei um ‘tchauzinho’ e consegui passar. Escutei de longe o tchau que elas falaram, digno de reunião dos alcoólicos anônimos, quando respondem em coro. Assim que Dave me viu saindo da confusão das amiguinhas da Britany, ele deu as costas e saiu pela porta. Tentei ir atrás dele, mas James veio falar comigo antes. - Não sabia que estava nessa sala, não te vi. – ele apenas comentou saindo junto comigo da sala.
- Dave está me ignorando, sabe de alguma coisa?
- Ele não me disse nada.
Andávamos em direção ao refeitório, onde encontraríamos a trupe. Não sei se devia falar alguma coisa com ele, mas a curiosidade de saber alguma coisa vinda dele era muito forte.
- Sabe James... – comecei, mas não tive coragem de continuar, pela expressão que ele fez. – Erm... Você ficou sabendo do pub?
- Ah, sim... Está de pé ainda não está?
- Claro, só achei estranho que não me deu nenhum documento seu pra fazer, você já tem um falso?
- Não, eu já sou maior de idade. Fiquei retido no 1º ano do Ensino Médio. Não sabia que você era uma marginalzinha.
- Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe. – mais uma vez eu me arrependia do que eu falava. Ele pode entender mal. Mas era verdade, ele não sabe de praticamente nada sobre mim e meu passado frustrante.
- Confesso que fiquei curioso. – corei levemente com sua fitada em mim. Ele realmente entendeu mal. Fiquei muito aliviada ao ver e vindo até nós na entrada do refeitório.
- James, você vai para o pub? – perguntou assim que ficou perto o bastante para nós a escutarmos e interagirmos.
- Claro, a estava me falando disso agora. Ela por sinal é uma criminosa. – ele falou num tom brincalhão, qualquer um que falasse isso eu me sentiria ofendida, mas vindo dele ou de qualquer um dos meus amigos eu não acharia nada.
- E das boas. me mostrou o trabalho dela, ficou perfeito. Ela pode dizer que não, mas é modesta. Ficou ótimo. Fiquei realmente sexy na carteira de identidade. – destacou, piscando pra mim. Eu sorri e pisquei pra ele disfarçadamente.
- Eu estou com fome, se não se importam... – eu disse, sentindo minhas bochechas ganharem mais cor. Odeio quando puxam meu saco.
- Ouun, ela fica toda sem jeito quando começam a elogiar. – se referiu a mim apertando minhas bochechas.
- Eu estou com fome, parem de ladainha. A gente se vê depois que eu estiver devidamente alimentada... – puxei comigo dando risada. Eu estava me sentindo mal em ficar perto de James, acho que é pela pressão de perguntar o que houve e não saber de sua reação.
Fui com até a fila pra pegar o café da manhã. estava no fim dela e bloqueou nossa passagem.
- Hã, hã. Nós te poupamos de pegar fila hoje. Nossa forma de agradecimento, talvez. Eu e pegamos o café da manhã pra você já, está naquela mesa lá. – ele apontou para a mesa onde só estava, com a bandeja dele e mais uma, provavelmente a minha.
- Vou ficar mal acostumada.
- Estamos todos duros, mas tínhamos que te pagar de alguma forma. Sei que ninguém gosta de filas, poupamos você da fila então...
- Ei, pra mim ninguém pega? – se manifestou.
- Olha o lá! Trazendo duas bandejas. – apontou saindo da fila equilibrando duas bandejas. Eu sabia que isso não ia acabar bem, ele podia ter usado uma só, mas isso não passou pela cabeça de vento do rapaz. derrubou uma bandeja e em seguida a outra caiu. Não bastando apenas isso, escorregou no café que havia caído e foi de encontro ao chão, causando um estrondo e muitas risadas.
- Ai meu Deus! – saiu correndo em direção a ele. Eu e fomos atrás. era um ótimo amigo, rindo que nem uma hiena. escondia o riso, mas foi ajudar.
- , você está bem? – se ajoelhou onde ele tinha caído, ele se levantou devagar, passando a mão no ombro, fazendo cara de dor. O refeitório inteiro estava dando risada.
- seu idiota! Quer morrer? – foi ajudando ele a se levantar e também foi, ainda rindo.
- , fala alguma coisa, se está bem ou não. Quantos dedos têm aqui? – perguntei mostrando quatro dos meus dedos colocando quase dentro do rosto dele.
- Quatro. Eu só caí, não fiquei demente. – parece que está bem.
- Claro. Você só sabe contar até quatro. Queria ver se ela mostrasse mais. – brincou tentando puxar o braço de por cima dos ombros. mostrou o dedo e se largou dos amigos.
- Eu posso me virar sozinho. – ele riu.
- Ingrato. – riu junto.
- Sozinho você não vai a lugar nenhum. Aposto que você machucou o ombro... Vem, vamos pra enfermaria. – puxou o braço dele com cuidado.
- Tá bom, você venceu... – ele bufou e sorriu vitoriosa. James e apareceram depois.
- O que aconteceu? – Jimmy perguntou não conseguindo ver por causa do tumulto.
- O que eu perdi dessa vez? – pôs os olhos em e só assim caiu sua ficha do que havia acontecido. – Não perdi nada, só a mula do de novo. – ele riu.
- Pelo menos ele não se saiu tão mal nessa, tem ajuda de uma enfermeirinha pra cuidar dele. – James disse rindo se referindo a , que ignorou trazendo consigo, olhando feio pra James.
- Valeu ! – falou mudando de assunto, sendo irônico e saindo do tumulto com .
- Estava brincando zinho, você sabe que eu te amo...
- Viadice no intervalo não... – não se segurou e riu. Procurei com os olhos por James, mas este já não estava mais em meu campo de visão.
- Vai lá tratar o dodói vai... – disse rindo. – Hey , você não estava com fome? Logo hoje que não tem que pegar fila.
- Pois é, vou me alimentar, o tombo do me deixou com mais fome. – Falei rindo e indo com , e pra mesa.
- Essa é a sua, espero que goste de presunto e queijo... – se manifestou sentando e apontando com a cabeça a bandeja ao seu lado.
- Eu como o que tiver pela frente. – disse me sentando.
Os outros riram e começaram a comer assim como eu. Não me lembro da última vez que eu comi com tanto prazer. Eu estava realmente faminta. Minha mãe me diria: ‘Tenha modos!’ Essa é uma das melhores coisas de estar longe de casa, comer o que quiser e como quiser.
Provavelmente teve alguns momentos de me ver comer, devo o ter assustado, mas eu não me importo. Aposto que ele também era meio ogro pra comer e só estava disfarçando.
- Vamos ter que começar as preparações pro fim de semana... – comentou dando um último gole no suco. Eu concordei bebendo o meu. – Pub e o que mais?
- O ficou de ver o lugar pra gente ficar, pra gente só vir pra escola domingo à noite e ficar o sábado fora. – falou e deu mais uma mordida no sanduíche de sabe Deus o quê que ele tava comendo.
- É, já ia me esquecendo de avisar... Eu tenho um apartamento em York, que meus pais deixaram pra quando eu fosse maior de idade.
- Ótimo, mas você pode entrar? – perguntou.
- Se você for ver, não posso. Mas eu sou o dono daquilo e tenho a chave, só não sou maior de idade, quem me impede? – disse se levantando pra pegar a bandeja. Também pegou a minha e levou pra mesa onde ficavam as bandejas usadas. Quando voltou o assunto continuou.
- Tem certeza que você pode mesmo, ? – perguntou visivelmente preocupado.
- Absoluta. (n/a: eu sou linda, absoluta, eu sou stéfanny (8), tá parei.)
- Onde é então?
- Num bairro de classe média, não muito longe do centro de York. O prédio é perto de um pub famoso de lá, vi no Google Maps ontem. A parte do pub está tranquila: Saímos hoje da escola, mais ou menos às 4h. Levamos uma ou duas trocas de roupa, vamos ao apartamento e depois vamos causar lá no pub.
- Hum, começamos a causar já na sexta-feira! E no sábado? - perguntei.
- Dia de descansar da ressaca. Achamos melhor o pub na sexta.
- E no Domingo ficamos de bobeira, sem fazer nada. Saindo por York a fora! – completou com uma carinha de criança quando começa os Backyardigans.
- Parece divertido. – concordei sorrindo. Tem tudo pra ser um ótimo fim de semana.
O sinal tocou e eu fui para a enfermaria, ver como o estava e cabular aula.
Cheguei lá e estava com , conversando animadamente, era até bonito os ver conversando daquele jeito. era lindo, era linda, os dois juntos então... Minha tia avó Marie falaria que era uma ‘fofurinha’. Eu só digo que formam um casal bonito. Meus amigos são lindos. Dá licença?
Pelo jeito, o estava bem. Muito bem.
- , está bem? – perguntei como se já não soubesse. Só assim sentiram minha presença.
- Ah, sim, não foi nada.
- Ótimo! Hoje a gente dá o fora daqui e só volta domingo de noite! – contei toda a boa nova pra eles, que por sinal adoraram saber que vão ficar longe da escola o final de semana inteiro.
O enfermeiro veio até mim e eu fiz uma cara de dor instantaneamente.
- O que você esta sentindo? – ele perguntou pra mim e segurou o riso.
- Erm... enjôo, muito enjôo.
- Se sente em condições de assistir às aulas?
- Pode até ser, mas eu realmente não queria vomitar na cabeça de ninguém... – eu estava fazendo meu teatrinho básico de cada dia.
- É melhor você vir comigo tomar um remédio. Assina seu nome e está dispensada por hoje. – Ele virou as costas, deixando subentendido para eu o seguir enfermaria adentro. Olhei para trás e sorri para os dois que também sorriam cúmplices.
O enfermeiro deu para eu tomar aquele remédio que eu não me lembrava do nome, aquele que tomam quando vai viajar de avião, de ônibus. Assinei numa folha lá e ele me dispensou.
Passei por e e dei uma leve piscadinha.
Seria bom de cabular o resto das aulas, tenho que arrumar as coisas. Gosto de sempre estar bem preparada. Ou eu só sou muito ansiosa.
Fiz um chá pra mim lá na cozinha do alojamento – chá era o que não faltava. Estava vazio, todas as meninas estavam em aula.
Segui para o meu quarto, tirando a mala de baixo da cama. De dentro dela escolhi uma muda de roupas suficientes para o fim de semana. No fundo da mala, havia uma maxi-bolsa, meio dobrada. Aquelas bolsas que cabe Deus e o mundo dentro. Eu sabia que eu não ia ficar no internato até acabarem as aulas e eu me formar. O internato é moderno e mesmo se fosse obrigado a ficar dentro dele sem sair de forma alguma, eu arranjaria um jeito de sair, com certeza. Eu não nasci pra ser presa, sou indomesticável.
Coloquei dentro da minha “pequena” bolsa de zebra coisas como higiene pessoal e as roupas. Coube até um par de sapatilhas.
Tomei banho e coloquei um jeans e uma camiseta. Aquele uniforme realmente era irritante. Eu não gostava de saia.
Não sabia o que queria levar, eu até pensei em arrumar a bolsa dela, mas eu mal sei o que ela gosta de vestir. O jeito era esperar o período acabar. Eu estava bem adiantada.
Resolvi passar o tempo no notebook da , checar meu Facebook, Twitter, Myspace, Blog, Fotolog e em tudo quanto é site de relacionamento que eu me cadastrei. Eu nem sei a senha de todos. Internet é uma praga.
A maçaneta girou fazendo o barulho típico e entrara sorrindo, ela sempre está sorrindo.
- Já está pronta? – ela perguntou meio espantada.
- Sim, sou meio afobada.
- Ah, então me ajuda aqui, porque eu sou uma porta em matéria de organização... – rimos e quando paramos, ela me fitou séria.
- Acho que James foi só aquela atração do momento.
- Ahn? Tá falando do quê? – a espantei falando disso agora. - De mim. Eu estava a fim do James, apesar de saber que ele está a fim de você. Mas o sei lá... Ele me dá uma coisa... – os olhos dela brilharam. É, o é lindo mesmo, era de se esperar que estivesse rolando alguma coisa.
- boba apaixonada... Acertei? – dei um sorrisinho a encorajando.
- Calma, vamos mais devagar. – ela riu – Talvez... – ouvi o seu “Talvez” mais como um “sim, com certeza” – Acha que devo pegar um short? – resolvi entrar na mudança de assunto.
- Acho, você fica bem de short. – Fui pra perto dela a ajudar com as coisas. Demorou um pouco porque a gente escolhia roupas, conversava, mudava de ideia. Escolhia outra, conversava mais. Quando ela foi tomar banho, eram umas 3h30min. Em compensação ela não demorou no banho. Fomos para a entrada do colégio adiantadas. Resolvemos andar um pouco e ficar na guarita.
Logo vieram os meninos com uma mala normal, aquelas de carrinho. Devem ter colocado tudo embolado lá dentro.
Reconheci Antony na guarita, não avistei o porteiro que me recebeu quando cheguei.
- , né? – ele mostrou seu sorriso lindo e eu confirmei. – Onde você e toda essa trupe vão?
- Curtir o final de semana longe da escola.
- Tá certo. Também não gostava muito da escola... Mas vocês têm autorização né? – ele dirigiu seu olhar para o grupo inteiro. Todos nós afirmamos que sim e Antony foi conferir as carteirinhas, uma a uma. Depois disso, ele abriu um sorriso e foi pra guarita abrir a cancela.
- Juízo crianças! – ele acenou e acenamos de volta. Como se ele fosse muito mais velho...
Caminhamos rindo e comentando nossos planos e tudo mais. E não podiam faltar a piadas sobre James. O ponto de ônibus estava vazio e ficamos lá até o ônibus para o centro de York chegar.
Eu mal conversei com nesse tempo de sair da escola e seguir para o centro. Estávamos apenas rindo das palhaçadas um dos outros, estávamos todos muito agitados. Descemos na estação. Acho que os meninos já conheciam York, mas eu e não sabíamos o que olhávamos. Era tão empolgante estar numa cidade diferente. berrou para que todos escutassem. Éramos um grupo grande, de sete amigos.
- Então criançada, daqui vamos caminhando. Não é longe não, dá alguns quarteirões.
- Você sabe mesmo onde que é? – perguntou desconfiado.
- Sei sim, eu já vim aqui uma vez, é sem erro.
Chamávamos atenção por onde passássemos. Sete adolescentes falando e rindo muito alto. A distância parecia mais curta com todos entretidos numa conversa sem noção. Entramos num prédio. Não era ralé, era um prédio bonito de apartamentos. apertou o interfone e o porteiro atrás de uma guarita de vidro escuro o atendeu.
- Pois não?
- Eu sou dono de um apartamento. O 52.
- Nome?
- .
- Sim, ele está no seu nome. Pode entrar Mr. .
agradeceu e a cambada entrou no prédio dando um oi pro porteiro.
Chegando à recepção, todos cumprimentaram a recepcionista que se assustou com a quantidade de gente, mais sorriu dando um ‘Boa Tarde’.
Entramos todos no elevador. Para o 13º andar. O prédio ao todo tinha 18 andares. Era muito grande. Dois apartamentos por andar.
destrancou a porta e toda a cambada entrou. Eu não tinha em minha mente um apartamento mobiliado. Estava tudo coberto por lençóis, mas mesmo assim, eu estava achando muito incrível. Eu achava que estava completamente vazio. Aposto que nem sabia disso, pela cara de surpresa que ele fez.


Capítulo 10 – Viva la vida loca


Todos, sem exceção, olhavam meio espantados pelo apartamento. Frases inteiras não saiam da boca de ninguém, até que conseguiu fazer uma inteira.
- Erm, eu... Melhor eu trancar a porta. – ele disso ainda meio bobo, trancando a porta.
foi a primeira a largar a bolsa no chão e andar pelo apartamento. Os outros começavam a andar timidamente pelo espaço, nem sabia bem o que fazer, estava olhando pra sala coberta por lençóis, coçando a nuca.
Eu ouvia dizer coisas como ‘Isso aqui é muito grande’ ‘Olha só o tamanho desse quarto’ ‘Eu vou ficar nesse aqui que tem suíte’ E os outros meninos olhavam a cozinha. - Tinha ideia que esse apartamento não estava vazio? – perguntei me aproximando de .
- Isso até tinha passado pela minha cabeça... – ele continha um sorriso e olhou pra mim depois. – Não quer me ajudar a puxar os lençóis?
- Hum... Acho que posso fazer isso. – concordei sorrindo cúmplice indo puxar com os lençóis da sala.
Depois que começamos a puxar, todo mundo começou também, facilitando nosso trabalho. Depois tive tempo de observar o apartamento por inteiro, todos os detalhes.
Por incrível que pareça, ele não cheirava mal – só um pouco de cheiro de lugar fechado, nada que um odorizador de ambientes não resolvesse - e estava bem limpo. Pelo fato de todos os móveis e objetos do apartamento estarem cobertos por lençóis, não havia nada empoeirado. Além de mobiliado, era decorado. Tinha quadros, vasos e adereços. As paredes, em algumas deles havia um pouco de tinta descascada, mas em geral era muito bem conservado. Ouvi me chamar - lê-se: berrar -, de algum dos quartos.
Provavelmente, os outros estavam muito ocupados enchendo a geladeira da cozinha. Era um quarto de bebê, todo decorado em azul e branco. Ela olhou com um olhar que não consegui tirar uma interpretação dele, mas me assustou um pouco. Ela abriu um bauzinho de brinquedos e dele tirou um álbum de fotos.
- Achei que quisesse ver. – ela o deu pra mim e o abri.
A primeira folha em branco só havia uma coisa escrita: “Primeiro Aniversário .” Virei a outra e vi uma foto dele bebê, uma gracinha por sinal. Ia virando uma por uma. Fotos com a família e fotos com os pais. Ele era a cara da mãe.
- Ele te contou que morou aqui? – perguntou.
- Eu... Eu acho que ele não lembrava.
- Hey meninas, achei vocês. abasteceu a geladeira com algumas coisas que trouxemos de lá e... - Virei para , que havia parado de falar quando entrou no quarto. Seu olhar visivelmente confuso passava por todos os cantos do quarto e depois parou em mim e no que eu estava vendo com . – Eu já... Não! Não pode ser, isso é impossível. Eu morava em Londres, eu fui para o centro de adoção de Londres, não de York.
- Então se você acha que morava em Londres, esse quarto seu de bebê, essas fotos... Querem dizer o quê? – eu perguntei.
- Eu não sei, eu não entendo. York também tem um centro de adoção. Não posso falar que eu lembro que morava em Londres, porque eu perdi meus pais com 3 anos de idade.
- Eu acho que você deveria olhar para as fotos, elas ajudariam a lembrar. Pra isso que servem fotos, para ter de recordação. – aconselhou, eu achava que ela estava boiando na conversa, mas ela entendia as coisas muito rápido.
- Não! Eu não vou olhar. Seja o que for, passou. Estamos aqui pra nos divertir e não adianta mexer nessas coisas, é inútil. Inútil! – ele falou nervoso e saiu do quarto. Até senti um ventinho com o jeito que ele saiu: rápido e com passos que quebrariam o chão a qualquer momento. Sim, eu exagerei.
Coloquei o álbum dentro do baú e saí do quarto com a . Aquele apartamento tinha pelo menos duas suítes e um dormitório. Passei pela sala e vi o vidro que dava pra varanda aberto. Não era tão difícil saber que estava lá.
Decidi deixá-lo um pouco sozinho, pensar vai ser bom pra ele.
Segui com para a cozinha, onde os meninos faziam sabe Deus o quê. Na verdade, eles beliscavam tudo e só o estava realmente fazendo alguma coisa.
beliscou a cintura dele e ele deu um pulo, que fez rolar de rir.
- Quer me ver morrer? – ele se virou pra ela, inicialmente nervoso, mas depois começou a rir também. – Eu aqui de muita boa vontade cozinhando para as donzelas e você vêm e faz isso...
- Desculpa zinho, só quis brincar. Não brinco mais então... – fingiu bico. – O que você está fazendo aí de bom? – demorou um pouco pra responder...
- Erm... Risotto? – soou exatamente como uma pergunta.
- É um arroz ‘unidos venceremos’ que o fez e não deu certo, então ele começou a colocar um monte de coisa dentro e chamar isso de Risotto. – o entregou, comendo mais uma fatia de queijo. – A intenção dele era fazer arroz e Strogonoff de camarão que tinha no freezer do alojamento deles. A clássica comida congelada. Só que ele colocou muita água no arroz e decidiu esquentar um pouco o Strogonoff e jogar aí dentro da panela junto. – Depois da explicação do , eu virei para o fingindo indignação.
- E você pretendia dar essa gororoba pra gente comer?
- O que vale é a intenção... – ele se justificou.
- Mas a gente não vai comer a intenção vai? – eu dei risada pra descontrair, eu achava que ele estava ficando realmente chateado.
- Então não come. – é, ele ficou meio bravo sim. foi até o fogão e colocou um pouco da gororoba na mão pra provar.
- Ficou bom sim ! – limpou a mão no paninho e em seguida bateu no ombro dele. – Gostei! Tá pronto? – ele concordou sorrindo – Ok, vou pegar um prato. Tem prato limpo aqui?
- O James lavou, eu acho... – ele olhou para James que estava tendo uma conversa meio tensa com o no cantinho da cozinha.- James!
- Que é? – ele chegou perto dele meio desanimado. – Ah sim! Os pratos... – chegou perto da pia e começou a lavar alguns que estavam cobertos por um lençol.
Olhei para que me chamou naquele canto.
Deixei lá com , James e e fui com .
- O que aconteceu?
- Eu estava conversando com ele, sobre a líder de torcida. Ele não pareceu gostar muito de conversar sobre isso, mas contou sobre a discussão.
- Ah, e o que ele falou?
- Falou que o negócio é tenso. Eles não podem mais se cruzar sem soltar farpas um no outro. Acho que é melhor esquecer isso, ele não ficou bem, nega até a morte que gosta dela. Ele disse que está interessado em outra menina.
- Foi o que a Britanny me disse...
- Britanny? A frescurinha? Barbie? – eu concordei e ele negou rindo. – Não sabia que conversava com ela.
- Não converso, só falei uma vez com ela, quando eu fui para a aula de Francês e o Dave e o James sentaram juntos e eu tive que sentar com ela.
- Hey, não vão comer vocês dois? Está comível... – falou da mesa da cozinha.
- Vamos lá com eles. Antes que o jogue um garfo na gente. – concordei e damos uns passos até a mesa.
- Eu vou lá, chamar o . – Disse parando na mesa e olhou pra mim com um sorrisinho de lado e uma piscadinha discreta. Eu tinha me esquecido que ele sabia de nós. Com certeza deve ter contado pra ele, pela cara que fez.
ainda estava na varanda, sentado no chão, olhando pra vista que tinha da cidade.
Ele olhou pra mim quando eu cheguei.
- Hey...
- Hum. – foi tudo o que saiu da sua boca.
- Os meninos estão chamando pra comer a gororoba que o fez...
- ? Passo.
- Está tudo bem ? – ah como eu sou idiota, é claro que não estava.
- Tá sim...
- Não minta.
- Por favor, não fala mais nada sobre isso tá bom? Eu não quero falar, eu enterrei esse assunto. Definitivamente. – ele desviou os olhos para a paisagem da sacada e olhou pra mim de volta. – Só fica aqui... – ele deu uns tapinhas no espaço ao seu lado e eu sentei sem pensar duas vezes. Não tinha como negar. Ele estava mal, não sei se ele vai conseguir se divertir hoje, como foi intencionado.
Ele passou um dos braços em meu ombro e fez com que minha cabeça se apoiasse no seu. Sua mão subiu do meu ombro para minha cabeça, entrelaçando-se pelo meu cabelo, passando pelo todo comprimento.
Um silêncio agradável se instalou. Era bom ouvir a respiração dele, sentir o movimento contínuo de seu peito subindo e descendo. Ele quebrou seu silêncio, presumo de reflexão.
- Sabe, eu estava aqui pensando... De que adiantou a gente arranjar esse esquema todo pro fim de semana, se um de nós não curtir tudo isso? E o motivo dessa pessoa é uma coisa que aconteceu há anos e um assunto que já cessou... Vou levantar daqui e me esquecer desse assunto, tentar curtir esse final de semana longe da escola! – ele sorriu um pouco mais animado e se levantou, me puxando com ele. Com o puxão que ele deu, eu fiquei frente a frente com ele, podia sentir a respiração batendo no meu nariz.
Então falou baixo, num sussurro:
- E vou curtir tudo isso, com você do meu lado... – meus olhos viram um último sorriso antes de eu fechá-los e sentir o gosto do beijo do pela primeira vez naquele dia. E aquela sensação que só ele me causa, o simples toque de suas mãos em meu rosto me arrepiava da cabeça aos pés. Meu estômago então parecia que ficava pulando e se contorcendo como um artista de circo dentro do meu corpo. Seu beijo delicado, sem outras intenções, era apenas o que ele precisava pra se acalmar e esquecer. E era apenas o que eu precisava para ter um ataque cardíaco e uma explosão de fogos de artifício em mim.
Quando nós estávamos sem condições de nos beijar mais, totalmente se fôlego, ele selou meus lábios e separou nossas bocas de vez, mas sem tirar as mãos do meu rosto e eu sem tirar meus braços do seu pescoço. Minha testa permanecia encostada com a dele e nós nos olhávamos, rindo. Isso mesmo, dando risada. Depois percebi que não era só a minha risada e a dele.
- Erm, desculpa atrapalhar, estou indo... – falou assim que eu e nos viramos para ele e os outros que estavam junto. Estavam todos rindo, dizendo ‘que bonitinho’ ou ‘eu sabia’. Mas não vi o James incluído nisso, nem tinha visto se ele estava lá cuidando da minha vida que nem todo mundo.
Eu e saímos da varanda e sentamos no sofá rindo de como temos amigos idiotas.
- Ai ai, eu mereço... – comentei olhando para ele rindo.
- É, merecemos. Vamos colocar uma música, tem um rádio aí do lado. – ele apontou para um rádio meio velho, assim como todos os eletrônicos e eletrodomésticos da casa. Peguei o porta CDs, tinha muita coisa interessante: Bob Dylan, Bon Jovi, Queen, The Beatles, Rolling Stones, U2, Michael Jackson... Isso sem contar rock pesadão que tinha lá também, além de também ter um cd de música clássica contemporânea – contemporânea nos anos 80 né.
- Vamos dançar! – botou um CD que eu não tinha visto qual que era. Ele se levantou rindo e a música começou a soar. Logo o povo que estava na cozinha veio para a sala, animando-se com o som de Michael Jackson (n/a: RIP D: )
Não sei por quanto tempo ficamos dançando e rindo ao som do Michael Jackson, até cochilarmos um em cada canto da sala. Eu não sei em quem me esparramei, acho que deitei em cima da barriga de James, ou do . Aliás, James estava estranho, estava rindo e tudo mais, só que comigo ele conversava diferente, era como estivesse falando forçado, como se ele quisesse aparentar que estava bem, mas não estava.
Que seja...
Eu estava normal com ele.
Tirei a conclusão que eu estava com a cabeça na barriga do e o braço na cara do , eu acordei porque ele levantou tirando meu braço do lugar.
- Desculpe ter te acordado. – ele sussurrou assim que levantou e viu que tinha me acordado.
- Não foi nada... – me levantei devagar. – Nossa... Isso porque a gente nem começou a beber. – falei arrancando risos abafados de . – Que horas são?
- Hum... – ele foi para a cozinha e voltou – são 7h. É melhor acordar o pessoal, se a gente quiser pegar lugar bom no pub, a gente tem que chegar lá umas 8h30min.
- Certo. Vai acordando o povo aí, vou trocar de roupa. – eu disse indo para uma suíte que eu tinha jogado minhas coisas lá dentro.
Peguei a roupa que havia separado para a ocasião e a vesti. Era uma coisa bem básica, jeans, camiseta branca com vários desenhos coloridos e uma sapatilha vermelha.
Não podia me esquecer da maquiagem, essa seria nada básica. Só pelo meu kit de sombras fluorescentes já dá pra se ter uma noção.
Eu nunca usava aquele kit, nem sabia por que eu tinha. Eu nunca me arrumava pra sair, eu nunca saía. Sim, eu morava em Miami, que era a cidade mais badalada da Flórida, mas minha vida lá era um lixo depois que comecei com aquele negócio de Green cards, imigrantes ilegais e o Toddy nas drogas. Falar disso? De novo não.
estava se vestindo enquanto eu passava minha sombra verde ‘marca texto’ e apenas um brilho nos lábios. Ela estava vestindo um short de cós alto e uma blusa toda branca, larga e caída nos ombros. Destaque para seu all star amarelo combinando com um cinto um pouco abaixo do busto de vinil amarelo, bem fininho. O cinto marcava sua silhueta na blusa larga. Ela ficou muito linda, eu nunca ficaria bem nessas roupas como ficou nela, não que eu saiba.
- , você vai seduzir muito lá. – falei assim que acabei a maquiagem e me virei para ela.
- Obrigada, mas NÓS vamos seduzir muito, ok? Só que no seu caso só o vai desfrutar disso... – ela deu uma piscadinha marota que me fez rir.
Saí do quarto antes de e fui indo em direção a sala.
Mas alguma coisa me chamou a atenção quando eu estava nesse caminho.
A porta do quarto em que tinha ido se trocar estava entreaberta e ele estava conversando com alguém no celular.
- Não, hoje não. – ele estava visivelmente tenso falando ao telefone – Se eu disse que vou fazer isso é porque eu vou... É claro que eu não estou me envolvendo... Eu tenho que desligar, amanhã a gente conversa. – assim que disse isso, desligou e eu saí de perto da porta.
Em minha opinião, não tinha sido uma conversa comum ao celular, o tom de voz dele era tenso demais para uma simples conversa com alguém ao telefone. Parecia ser alguma coisa importante, que eu não deveria me meter nisso.
Sentei no sofá da sala e James já estava lá sentado, brincando com os próprios dedos. Bati na perna dele e sorri. Ele até tentou dar um sorriso, mas deu um meio sorriso não muito convincente.
- Ei, o que foi James? Você está estranho...
- Eu? Não estou não... – ele continuou a fitar os próprios dedos.
- Claro que está. Está sentindo falta do Jean? – perguntei e James parecia rir sincero pela primeira vez quando esteve comigo hoje.
- Acho que ele arranjou um macho pra ele já, eu tenho orgulho e não preciso mais dele... – ele começou a rir de novo quando arregalei os olhos. – Acho que você tem que me levar menos a sério. – ri um pouco mais aliviada, não pelo fato de ele não ser gay, mas pelo fato dele ter ficado mais solto comigo.
- Ok, agora é sério. O que aconteceu? É a tal... Kim? – quando falei nela a expressão solta dele ficou fechada imediatamente, tive até medo dele.
- Acho melhor você não me falar dela. – ele se levantou do sofá e foi para a cozinha. Não fui atrás, eu não tinha feito nada. Esperei pelos outros no sofá.
- Vamos? – chegou sorrindo, seguido dos outros que vinham atrás.
- Vamos! – respondi me levantando animada. – Cadê a ?
- Acabou de sair do quarto. – falou, já que estava mais perto do quarto que a gente estava.
James surgiu da cozinha, como se nada tivesse acontecido.
Fomos todos animados para o pub, indo a pé mesmo, não era longe.
Mais uma vez chamamos a atenção das pessoas que passavam, rindo e conversando alto. Chegamos ao pub e o segurança nos barrou na entrada:
- Vocês têm idade?
- Sim, todos somos maiores de idade. Quer a identidade? – perguntou, ele estava à frente da trupe. O segurança assentiu e demos nossas identidades falsas para ele ver. Ele nos devolveu e deixou a gente entrar. Eu não disse que eu era boa nisso?
- Bom divertimento.
Fomos logo para o andar de cima, assim que chegamos pedimos uma rodada de cerveja. A decoração do lugar não poderia passar despercebida. Tudo em cores vibrantes, em tudo tinha neon: mesas, cadeiras, janelas, paredes, teto, piso, copos... Tudo brilhava numa intensidade fora do normal.
A música alta invadia meus ouvidos, eu estava achando aquele lugar muito incrível.
- Gostou? – perguntou. Ele estava sentado ao meu lado, com os braços por trás das costas da cadeira iluminada.
- É incrível...
- Totalmente. - ele olhou para os lados e voltou a falar – Acho que o tomou posse da rodada inteira de cerveja. Ele sempre faz isso... - ele deu risada e se dirigiu ao . – Ei, ainda não chegou cerveja aqui...
- Calma, não chegou em você! – falou e foi passando as cervejas até chegar a nós. se levantou um pouco e falou alto, para que todo mundo da mesa escutassem:
- Um brinde à nossa escapada desse fim de semana! Que isso se repita muitas outras vezes... – todos concordaram animados e dirigiram suas respectivas garrafas ao centro para brindar.
Em meio à “uhuls” e “woows”, todos brindaram. pegou a sua cerveja e foi à caça, não foi muito diferente.
Foi uma questão de tempo até e saírem em direção à pista de dança, que já naquela hora estava bem cheia.
Só ficou na mesa James, e eu. James olhava para o lado, pedia cerveja, mas não conversava. Eu estava começando a ficar sem graça com ele ali parado comigo e trocando sorrisinhos e carinhos. até tentava falar com ele, que falava, mas não esticava a conversa.
- Vamos pra pista, ? – perguntei e ele assentiu.
- Ok, vamos lá. – ele concordou de imediato, saindo comigo da mesa. - Erm, Jimmy, a gente vai lá pra pista, tá? – James apenas assentiu, sem olhar.
Fomos nos aproximando da pista, devagar, sentindo o clima do lugar.
- Não agüentava mais ficar naquela mesa com o James, eu sei que é chato deixá-lo sozinho, mas eu não vim aqui pra ficar sentada. – falei alto no ouvido dele, devido à música alta.
- Também pensei que seria chato deixá-lo lá, eu queria te beijar direito, mas não dava... Jimmy ficava lá com uma cara de bunda. Corno é foda... – nós rimos e entramos bem no meio da pista.
A batida nos envolvia e dançávamos no ritmo contagiante de Viva la vida loca. dançava de um jeito bem... peculiar, digamos. Era até engraçado. Naquele momento, eu apenas me divertia com ele.
A música trocou e os garçons-alegra-multidão estavam na pista com as bandejas de cerveja.
A música era mais sensual que a outra, então dancei de acordo com ela. Eu já não preferia continuar dançando estranho com , agora eu já preferia curtir mais ele, do melhor jeito. Acho que ele me entendeu perfeitamente e colou nossos corpos, dançando comigo assim como a música estava sugerindo. Ele começou a beijar meu pescoço. O que eram beijos viraram mordidas, depois chupões. Levei minha mão até os cabelos de sua nuca e puxei, fazendo com que ele levantasse sua cabeça na direção do meu rosto. Olhei para e sorri, selando nossas bocas urgentemente, logo virando um beijo quente, embalado pela música do pub. O beijo, junto com o movimento de nossos corpos a favor daquela música, me arrepiou por inteiro. Não sei por quanto tempo ficamos nos beijando intensamente, paramos quando realmente precisamos respirar. A música ainda soava e eu dançava de uma forma sexy com , que segurava minha cintura, a qual se mexia constantemente de acordo com as vibrações do som, cada vez mais contagiante.
Nossas pernas se encaixavam em movimentos repetitivos. Eu virei meu corpo opostamente ao dele, então pude sentir a respiração dele no meu pescoço. Não demorou muito para começar a beijar o meu pescoço novamente.
Ficamos até a música acabar daquele jeito, quase tentando fundir nossos corpos em um só. Eu podia ver nos olhos de desejo e controle ao mesmo tempo.
Nos meus, o controle estava bem mais escasso.
Os garçons com cerveja chegavam até nós mais freqüentemente, cada vez que eles vinham, era uma garrafa de cerveja, ou vodka que eu adquiria. Na pista, eu e dançávamos com uma conexão incrível e de vez em quando nos atracávamos no meio da pista, que ficava cada vez mais cheia de gente.
Um garoto, mais ou menos da nossa idade, chegou perto de nós dois – o que achei muito estranho.
- Hey casal. – o menino berrou para que nós escutássemos.
- O que você quer? – não fez questão de ser educado.
- Nada... Só percebi que vocês estão animados aqui no pub. Não querem ficar nessa animação a noite toda?
- Eu pego Red Bull no bar... – berrou.
- Red Bull? Tenho uma coisa melhor – o garoto tirou do bolso um envelopinho de comprimidos.
- O que é isso? – eu perguntei, gritando e naturalmente alterada por causa da bebida.
- Isso, gracinha? É o que você vai querer pra aproveitar a noite toda, sem parar de dançar com seu namoradinho. – eu havia perguntado só pra ter certeza... Eu sabia o que era. Eu estava meio alegrinha, mas estava sóbria.
- Quanto você cobra? – perguntou e o garoto abriu um sorriso.
- Vou fazer barato pra você amigo. Por 30 libras, você tem pra você e pra sua garota. - , não! Não compra essa porcaria. –berrei e o garoto fechou a cara, mas logo abriu um sorriso.
- Você acha que isso é ecstasy? Isso não é droga, é energético. – ele falou e , olhou sério, mesmo sem estar tão sóbrio, pareceu estar mais racional. Mas foi momentâneo, ele logo deu uma risada escandalosa, que deixou bem claro que ele realmente não estava muito sóbrio. Eu estava.
- Se der pra misturar na cerveja eu compro. – foi tirando do bolso da calça a quantia de libras. O garoto praticamente tomou o dinheiro e depositou quatro comprimidos na mão de .
- Eu não vou tomar isso. – falei para .
- Ahhh, não é nada. – ele falou daquele jeito despreocupado. Não que ele estivesse bêbado, mas se estivesse totalmente sóbrio, acho que ele não compraria aquilo.
- Eu reconheço droga quando vejo uma. – eu falei.
- Claro, você é ex-drogada! –depois que ele disse isso, o deixei na pista.
Nunca poderia imaginar que ele pensava isso de mim. A bebida entra, a verdade sai. Eu já usei droga sim, mas não fiz dela um vício. Sempre fui muito racional e respeito meus limites. Nunca fui drogada.
Quem ele pensa que é?
E olha com quem estou me envolvendo de novo. Não estou lá muito sóbria, mas deu um choque de realidade em mim. comprou drogas. Drogas de laboratório, mas eram drogas.
Começa assim.
Fui perto do banheiro e fiquei lá encostada na parede. Não sabia mais o que fazer naquela noite.
Peguei uma garrafa de qualquer coisa de um garçom que passava. Fui bebendo tudo o que garçons ofereciam lá naquele canto. Se eu voltasse para mesa, encontraria me procurando.
Então fui virando tudo o que garçons ofereciam, refrigerante, batida, vodka, cerveja. Meu estômago foi ficando pesado, mas parecia que a minha preocupação com havia sido tirada com a mão. Eu não estava mais me importando. Eu queria ele lá comigo.
A música foi perdendo o volume quando vi saindo da pista lotada e vindo até mim. Eu já estava sentada no chão, com uma garrafa – não me pergunte do quê – do lado.
- Você tá bem? – De início ele me pareceu preocupado comigo. Eu dei risada de sua preocupação.
- Estou ótima! – ele deu risada junto e eu levantei com a ajuda dele, quase derrubando em seguida. Eu via tudo rodando.
- Eu também estou. – ele continuou rindo.
- . – gritei seu nome. – Me dá um beijo?
- O que você quiser. – ele sorriu ainda mais, me prensando contra a parede.
não chegou a encontrar seus lábios com os meus primeiro. Foi com língua e tudo. Nós riamos muito durante aquele beijo intenso. Eu puxava o cabelo dele, sem me importar se puxava forte ou não. Eu queria o . Dez minutos sem ele me deixou saudade. Sentir o beijo dele, mesmo se eu já tivesse sentido antes, era uma coisa totalmente nova. Era como se o beijo dele se renovasse, me renovando também.
Na hora não estava doendo, mas amanhã com certeza eu teria a marca dos dedos de apertando a minha cintura.
Quando ele me desencostou da parede, ainda me beijando, eu já imaginava onde estaríamos indo. Não segurei o riso e finalmente ele desgrudou nossas bocas rindo também. Entramos num box do banheiro, já que estávamos na parede que dava direto para a porta dos banheiros. Não me pergunte se era o masculino ou feminino, eu estava torcendo para que fosse um unissex.
sentou na tampa do vaso sanitário, me puxando para o colo dele. Comecei a distribuir beijos e mordidas no seu maxilar e no seu pescoço. Ele apertava minha cintura por debaixo da blusa, até a hora que eu já me via sem ela. Ele mesmo tirou a sua camiseta, mostrando cada vez mais sua impaciência.
- Não sei porque você veio para um pub de jeans e camiseta... – ele sussurrou no meu ouvido, mordendo o lóbulo em seguida.
- Eu também não sei. – ele foi descendo seus beijos para meu pescoço, depois para meu colo.
Passei a minha unha arranhando seu peitoral, depois abdômen até abrir o zíper de sua calça. deu risada e me fez sair de seu colo para acabar de tirar. Feito isso, me puxou ainda mais para perto de si e sentou novamente, dessa vez comigo em pé, para abrir o zíper da minha calça. levou algo à sua boca e me fez sentar em seu colo de novo. Voltamos a nos beijar ardentemente, tinha alguma coisa a mais naquele beijo, que passou direto para a minha garganta. O que eu fiz foi rir, aquilo fez cócegas.
Eu senti que estava ficando cada vez menos sóbria e cada vez menos paciente. Eu estava beijando cada pedacinho do corpo de , enquanto ele tentava desabotoar o feixe do meu sutiã, eu mesma tirei no final das contas, apressada. Tirei de cima da tampa do vaso, deixando ele em pé e eu sentada lá.
Abaixei de uma vez as boxers dele – que estava bem volumosa por sinal – e fiz o que eu sabia que ele queria, o fazendo chamar meu nome enquanto minha boca o estimulava. Ele não quis mais esperar e me levantou, puxando minha calcinha para baixo quase rasgando de tão apressado. Me encostou na parede e ergueu minhas pernas, para que eu envolvesse sua cintura com elas e foi o que eu fiz.
Senti pela primeira vez, investindo com tudo. Ele calou meu grito com um beijo, que eu podia até dizer que doía, se eu não estivesse tendo tanto prazer naquele momento. Meu corpo e o dele estavam em sintonia, uma sintonia enérgica. A cada investida, eu tinha vontade de gritar, mas minha boca estava ocupada com a de .
Ele descia os beijos para os meus seios e quando sentia necessidade de calar os seus gemidos e os meus, voltava a me beijar. Ele já havia chegado ao seu ápice mas continuou em mim até eu chegar ao meu, logo depois.
Unimos nossas testas, permanecendo colados um no outro com nossos corpos suados. Naquela hora não existia mundo para mim, só existia e a minha vontade já realizada de tê-lo para mim naquele dia.
Ele voltou a me beijar, ainda eletricamente. Eu ainda estava elétrica também. Nunca havia acontecido isso comigo. Eu sempre ficava cansada quando estava com Toddy. Foi tão bom com , eu não fiquei cansada, fiquei ainda mais enérgica. Não sei por quê... Talvez seja porque eu estava meio bêbada e ele também.
- Cansada? – ele perguntou assim que separou nossas bocas.
- Nem um pouco. Quero dançar com você . – falei sorrindo abertamente. Ele me beijou mais uma vez e começou a pegar as minhas roupas e as dele do chão.
Saímos devidamente vestidos e dando gargalhadas, nem vimos se o banheiro estava vazio. Talvez tivesse gente, mas eu não me importava nem um pouco.
Eu estava bem tonta, talvez eu estivesse mesmo bêbada. Parecia que na pista havia vários s lindos, prontos para eu atacar. Senti a vontade de dançar incontrolável e pelo jeito se sentia assim também. Dançávamos nos atracando. Eu estava flutuando com naquele momento. Cada vez eu estava mais leve e parecia que a energia vinha enquanto o peso ia embora.
A sensação que eu tinha era que o beijo dele tirava meu peso fora. O contato do meu corpo o tempo todo com o dele me davam choques e a selva em pleno estômago se remexia por dentro.
Eu estava feliz e sem preocupações.
Já havia percebido sangue na minha boca, devido aos beijos, que sempre acabavam e começava de novo.
A euforia foi se acabando, como se nunca estivesse lá. Separei-me de que também olhou estranho para mim. Senti meu estômago revirar e um sabor horrível pairar na minha garganta.
Virei meu rosto para o chão e vomitei. Quem estava perto tomou distância e me senti sendo puxada por . Talvez devo ter vomitado em alguém, mas eu não vi. Ele me deixou sentada numa cadeira e quando virei meu olhar percebi que todos os meus amigos estavam em volta preocupados. As vozes pareciam vozes de fundo na minha cabeça:
- O que aconteceu com ela?
- Ela está bem?
- Virou todas?
- Eu vi vocês se comendo na pista.
- Pelo jeito ela está mal.
Não me peça para falar quem falou o quê, na minha cabeça parecia tudo igual. Meus olhos se encheram de lágrimas e chorei sem saber o porquê. De novo as vozes na minha cabeça vieram:
- Por que você tá chorando?
- Sabia que eu deveria falar para o não deixar você beber.
- Mas o tá estranho também, olha para ele, não sei quem tá pior.
- Melhor levá-los para o apartamento.
- , o que você tem?
- Fala com a gente.
Me senti envolvida por mãos e ouvi falarem comigo, mas não respondi.
Meu corpo ainda estava longe, eu estava leve, mas agora eu não estava feliz, estava com uma vontade de chorar.
Não estava percebendo tanta coisa em minha volta. Me senti sendo carregada apenas, até não sentir realmente mais nada, apenas um apoio macio para meu corpo inteiro.


Abri meus olhos, mas fechei com força por causa da claridade que ardia.
Minha cabeça estava latejando, junto com o resto do meu corpo, que estava todo mole. Eu ainda senti que estava dolorida por dentro.
Alguns flashes da noite passada me ocorreram, como o ocorrido com o no banheiro - me fez sorrir, mesmo sem vontade -, lembrei da dança elétrica juntamente com os amassos e como eu fiquei “down” depois de algum tempo.
Lembrei de ser carregada pelos meus amigos de até um táxi. Após isso não me lembrei de mais nada.
Depois me veio na cabeça que eu estava muito, muito aborrecida com , antes de tudo isso.
Veio a raiva de novo, veio tristeza, veio moleza, veio tudo junto.
Me virei do outro lado da cama, só aí percebi que tinha alguma coisa que me impedia de virar: O braço de jogado na minha cintura.
Olhei para baixo e percebi que estava apenas envolta com o lençol, assim como . Então isso quer dizer que não foi só aquela hora no banheiro. Mesmo eu estando “down” rolou um “after party” do “after party”.
Pelo menos dessa vez não foi no banheiro de novo.
Não sabia que eu tinha tanto fogo assim.
Resolvi continuar naquela posição mesmo, sentindo a respiração de no meu pescoço. Comecei a tentar lembrar mais daquela noite, mesmo com aquela sensação que o mundo estava caindo da minha cabeça.
Estava relembrando tudo, até os detalhes. Lembrei do garoto oferecendo ecstasy. Ah, mais uma coisa para eu brigar com o depois, ele comprou aquilo.
Mas uma coisa me intrigava.
Ele usou?
Sim, usou. O que me dá a conclusão que eu usei também. Sei disso pelo simples fato de que cheguei a engolir alguma coisa que consegui através do beijo de .
Viado! Ele me forçou a usar aquilo. Agora é óbvio porque eu estou assim.
Energético, aham... Só se for lá na terra daquele garoto. No começo é só euforia e depois fica quase morto de tão lento que fica. São efeitos que vão e passam. Talvez me deitaram aqui com o e a euforia voltou em nós dois, deve ser essa a explicação da falta de roupa no nosso corpo. Toddy tomava às vezes, eu sei desses efeitos mais do que ninguém. Como eu fui tão burra?
Ok, eu estava meio bêbada, mas eu não sou tão fraca pra bebida.
Eu fui burra de não perceber.
não estava tão sóbrio quando comprou, mas não estava fora de si.
Ele sabia.
Senti se mexer ao meu lado, me virei e vi que estava acordando. Ele levou as mãos à cabeça e ficava olhando para o teto, fechando e abrindo os olhos. Quando viu que eu estava ao seu lado ele abriu um sorriso fraco.
- Erm... O que aconteceu? Eu estava bêbado e não lembro.
- Não, você não estava bêbado.
- Não? – sua expressão estava confusa.
- Você estava drogado. – ele me olhou bem mais confuso ainda, mas depois foi mudando para um olhar de arrependimento. Ele voltou a prestar atenção no teto e fugiu dos meus olhos.
O silêncio se instalou. parecia cada vez menos contente. Eu estava esperando que ele falasse alguma coisa. Eu não tinha mais nada pra falar agora. Ele que deve explicações.
- Acho que te devo desculpas. – ele falou, mas continuei em silêncio. – Eu sabia que era ecstasy, eu havia tomado e dei pra você tomar propositalmente, já que você estava meio bêbada. Queria que você ficasse tão eufórica quanto eu. Depois só lembro que eu fiquei muito lento.
Levantei em silêncio e comecei a vestir minhas roupas espalhadas. Quando percebi a calcinha no chão, vi que estava rasgada.
- Você drogado não é nada cuidadoso. – falei sarcástica.
Eu estava no quarto que era para eu estar dividindo com a , não com o . Passei pelo suposto guarda-roupa coberto por um lençol e peguei uma calcinha na bolsa, sem deixar de perceber que os olhos de ainda estavam em mim.
Quando estava vestida, me dirigi até a porta.
- Eu quero que fale alguma coisa. – falou antes de eu encostar a mão na maçaneta. Parei e me virei novamente para ele. A minha dor de cabeça ajudava a ficar cada vez mais nervosa, mas me controlei.
- Eu queria que você não tivesse comprado aquilo.
- Eu não tinha total noção do efeito.
- Eu falei para não comprar, eu sabia do efeito, afinal, pra você eu sou uma ex-drogada... – me virei novamente para sair do quarto e começou a falar novamente.
- Eu não quis dizer aquilo, me desculpa. Eu deveria ter te escutado. Eu errei, todo mundo erra. – ele levantou trazendo o lençol consigo, em volta da cintura.
- Você faz um discurso idêntico ao do Toddy.
- Não me compare. Eu estou te pedindo desculpas, não complica.
- Eu, eu vou... Falar com a . Depois a gente conversa. No momento eu não posso conversar, estou com muita raiva. – abri a porta e deixei no quarto. Fui procurar em algum lugar da casa.
Fui para a cozinha e me deparei com a cena: misturando alguma coisa no fogão e a abraçando por trás beijando seu pescoço. Os dois entre risinhos. Pigarreei com força para ser notada. a soltou rapidamente, coçando a nuca e deu risada, corando.
- Boa tarde, . Tá tudo bem? – perguntou entre risos.
- Na medida do possível. – sorri fraco.
- Eita! Bebeu o bar inteiro? – perguntou com seu jeito de ser. Normalmente eu riria, mas hoje, não.
- Antes fosse...
- Erm... Já são 2h, é melhor você comer alguma coisa. – eu apenas concordei sentando na bancada, onde tinha uns biscoitinhos.
chegou logo depois, só com a calça.
Eu estava muito nervosa, mas não podia deixar de notar a saúde do garoto, mais uma vez.
- O outro bêbado acordou. – dirigiu-se a , mas este não se esforçou nem para dar meio sorriso. – Xiii, de ressaca é pior do que quando está de TPM...
caiu na gargalhada e eu até consegui dar uma risadinha. permaneceu com cara fechada e sentou do outro lado da bancada, pra comer os mesmos biscoitinhos que eu.
Escutei a porta da entrada sendo aberta e vi James entrar na cozinha.
- A já acor... Ah, acordou... – ele chegou parecendo meio preocupado, mas depois sua voz ganhou um tom amargo e de desprezo. Não me importei com isso.
Ele deixou uma sacola da farmácia em cima da bancada. – Remédio pra dor de cabeça. – e deixou o local.
- Onde estão os outros? – perguntei fuçando a sacola de remédio.
- não voltou com a gente. Só espero que ele se lembre que a gente volta para a escola amanhã à noite. está no quarto.
serviu o macarrão que ela fez, que estava bom por sinal.
e eu comemos em silêncio, nos encarando de vez em quando. falava o tempo todo e dava algumas risadas. James e chegaram conversando. perguntou se eu estava bem e perguntou para também.
Começaram a comentar da menina com quem o saiu do pub, falava que era gorda, discordava, James falava qualquer outra coisa e concordava com . Aliás, ele concordava com ela em quase tudo agora.
Me retirei e fui para o quarto. Me joguei na cama e voltei a encarar o teto.
Sabia que o não demoraria em vir me encher o saco.
- A gente precisa conversar. – ele chegou sentando na cama.
- Estou com vontade de te socar.
- Então você só está considerando meus erros? Tem certeza que nada naquela noite foi boa? – eu me levantei e me sentei em frente a ele.
- Não é isso. É que eu estou realmente nervosa, você cometeu um erro grande. Ou talvez o nervosismo seria próprio efeito do ecstasy.
- Eu costumo ser orgulhoso, mas eu não estou sendo e estou pedindo desculpas pra você. Custa alguma coisa você aceitar? – ele pegou minhas mãos. Eu não olhava para seus olhos, até ele pedir. – Olha para mim. – levantei meus olhos e encontrei os seus olhos que sempre me hipnotizam. Estavam mais do que transparentes, transmitiam sinceridade apesar de tudo. Ele tomou meu rosto em suas mãos e olhou bem no fundo dos meus olhos:
- Confia em mim. Isso não vai mais acontecer e eu falo a verdade. Me desculpa? – minhas lágrimas começaram a cair enquanto eu balançava a cabeça afirmamente. Ele selou meus lábios, apenas selou e me abraçou forte.
Ele errou e eu perdoei. Eu não sabia se eu estava fazendo certo em perdoar, mas eu sabia que era o que eu queria. Minha razão dizia para não perdoá-lo, mas alguma coisa mais forte que minha razão me fez perdoar. Eu queria e alguma coisa me fazia sentir, que eu não iria me decepcionar.
Outra coisa me fazia sentir que iria.

Capítulo 11 – Telefonema

Eu e estávamos abraçados na cama. Eu recostava em seu peito e ele aninhava suas mãos em meus cabelos.
- Obrigado. – disse depois do longo silêncio. – Por confiar em mim. – ele beijou o topo da minha cabeça.
- Só não faça mais isso. Eu não quero passar por tudo de novo.
- Não vai, eu prometo. Eu não quero te perder, agora quero fazer as coisas direito. – ele puxou o ar e continuou. – Eu vou ir com mais calma. Ok?
- Tudo bem. – eu afirmei. Parece que as coisas vão começar a andar por aqui.
- Eu te machuquei, ontem?
- Um pouco. – não menti. – Mas não se preocupe, não foi nada de mais.
- Aonde?
- Tenho só algumas marcas na cintura, um cortezinho na boca...
- Desculpa. – ele falou beijando o topo da minha cabeça.
- E uma dor um pouco mais... Interna, vamos dizer assim. – ele virou a minha cabeça em direção ao seu rosto. Parece que ele não gostou de ficar sabendo dessa parte.
- Me desculpa, me desculpa. – tinha um desespero no seu tom de voz. – Eu sou um troglodita, me desculpa. Eu não tive consciência da minha força, eu estava fora de mim, com certeza... Quer ir ao médico? Eu te levo e...
- Aqui na sua casa tem vaso pra eu te afogar dentro, não tem? – eu disse rindo. – não foi tanto assim, eu estou bem.
- Jura?
- Juro. Agora tenta se acalmar um pouco. Tenta ver se passa o efeito.
- Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo sabia? – ele me abraçou mais forte e eu sorri comigo mesma.
- Você só disse isso porque eu ia dizer a mesma coisa. – eu me levantei um pouco o bastante para inclinar meu rosto de encontro ao de . Selei seus lábios que se abriram instantaneamente. Ele repousou suas mãos em minha cintura e meus braços recostados suportavam meu peso na cama. Os arrepios vieram, as sensações estranhas nunca antes descobertas vieram também. Eu me senti no direito de intensificar o beijo, aumentando sua velocidade cada vez mais. Eu estava cansada de me apoiar nos meus braços e não tocar , então levei meu corpo para cima do dele, sem cortar o beijo, com as pernas dele entre as minhas.
Finalmente pude tocá-lo, toquei seus ombros largos, já que ele não vestia sua camisa. Me amaldiçoei por precisar de oxigênio e de não respirar muito bem só pelo nariz. Sendo assim, fui para seu pescoço, maltratá-lo, beijando languidamente.
- Por favor, para. – ele disse com o pouco da sua voz que conseguia sair. Parei um pouco de beijar seu pescoço e sorri para ele.
- Eu sei que você não quer que eu pare. - selei seus lábios e comecei um beijo quente novamente. Mordi seu lábio inferior e continuei a beijá-lo.
- Não faz isso. – ele disse entre o beijo. – Eu disse para irmos com calma. – ele separou o beijo ofegante.
- Você não falou nada sobre eu ir com calma. Só falou de você. – eu pisquei e comecei a beijar seus ombros, seu peitoral...
- Você não está em condições. – ele entrelaçou suas mãos em meus cabelos e puxou levemente para trás, me fazendo voltar meu rosto para o rosto dele. – Não me provoque. – disse tentando se manter controlado, mas seu amiguinho ali de baixo reagia às minhas provocações muito bem. – Melhor não brincar com perigo. Você pode se machucar mais.
- Adoro um perigo. – me aproximei de seus lábios devagar e fiz com que minha língua percorresse sua boca sem permissão nenhuma. reagia cada vez mais. Minha unha arranhando seu abdômen fez com que ele se contraísse e logo depois veio sua desistência. Suas mãos afundadas em meu cabelo o puxaram de uma vez e em segundos ele já estava por cima de mim deslizando suas mãos por baixo da minha blusa, até tirá-la de vez. Ele separou o beijo indo cuidar do meu pescoço e colo. Sorri vitoriosa com sua desistência.
Tratei de abrir o botão e abaixar o zíper de sua calça, que o próprio chutou pra fora. levou os lábios ao meu ouvido.
- Você não vai para o céu. – tinha certeza que ele estava sorrindo com isso. – Conseguiu o que queria? – dito isso mordeu o lóbulo da minha orelha.
- Se eu não for pro céu, muito menos você. – passei a unha pelas suas costas arqueadas, sorrindo ainda mais com o arrepio que eu causava nele. – E eu sempre consigo o que eu quero. – enquanto eu fazia meu discurso triunfante, ele abria meu zíper sorrindo.
Tudo estava indo bem até eu ouvir batidas na porta e entrando. Eu juro que um dia eu soco aquele autista, se a deixar. Ok, eu bato nela também.
- Erm... Ops... Quer dizer... Desculpa, acho que eu deveria ter batido e... Esperado alguém abrir. Foi mal... Pode continuar de onde pararam. – ele saiu rapidamente, muito constrangido.
Não mais do que eu e .
- e foram nomeados o casalzinho “empata-foda”. – saiu de cima de mim e deitou ao meu lado. Eu tive que rir, não segurei. Ele riu também.
- Nasceram um pro outro.
- Só pode ser castigo.
- Só pode ser...
- Agora eu não quero mais... Vou tomar banho. – disse me levantando e indo pro banheiro.
- Sua torturadora... – ele bufou - Tá, cortou o clima mesmo... Eu te espero lá fora.
Eu ando muito descontrolada. Não posso mais botar a culpa no , eu que o descontrolei hoje.
Malditos hormônios.
Agora é só torcer para que o chuveiro desse apartamento esteja usável. O resto da casa está em perfeito estado, meio velho, mas está. Por que com o chuveiro deveria ser diferente?
Estava funcionando e tinha água morna, só não saía muito.
Acho que acalmei meus ânimos com o banho e acho que o efeito do ecstasy já havia passado.
Desliguei o chuveiro. Me sequei e coloquei minhas roupas. Já que eu não iria sair hoje mesmo, coloquei um shorts e uma camiseta dos ursinhos carinhosos. Meus cabelos penteados e molhados caíam sobre meus ombros e costas.
Passei pela sala onde e estavam se esmurrando abobadamente –homens...tsc tsc - e fui para a cozinha, já estava quase anoitecendo.
havia chegado são e salvo e estava esquentando o macarrão de mais cedo no microondas.
- , por onde andou? – coloquei meus braços na cintura, fingindo surpresa.
- Perdido na vida louca. – ele riu e eu ri junto – Eu estava com uma garota que conheci lá.
- Safadinho. – pisquei – Quero macarrão também, estou com muita fome.
Peguei um prato de macarrão e esquentei também.
Sentei com e ficamos conversando coisas alheias. Eu estava bem melhor, nem parecia que eu estava quase morrendo de dor de cabeça algum tempo atrás.
- Nunca mais beba, ouviu? Você passou mal, fiquei preocupado. – ele chegou a esse assunto.
- Ah, pode deixar... – dei um sorriso fraco. Mal sabia ele que eu não estava só bêbada. Lavei meu prato depois de acabar e fui sentar na sala entre e .
A TV de lá não pegava, então eu fiquei conversando com os dois mesmo. já havia feito as perguntas típicas se eu estava bem.
Depois começou as piadas de bêbado.
- Aí ele riscou o carro: Agora tá certo... – encenava sua piada de bêbado cambaleante em frente a mim e , que ríamos no sofá.
- , acho que é o seu celular... – escutei me chamar no quarto e eu fui correndo atender.
Ela me deu o telefone e saiu do quarto, fechando a porta de madeira maciça.
- Alô?
- Você não pode fugir. - uma voz masculina e lenta disse do outro lado, me deixando amedrontada.
- Quem está falando? – juntei o pouco da minha voz que conseguia sair.
- Você não precisa saber. Ir pra Inglaterra não foi sua melhor saída... – eu estava paralisada ouvindo aquilo tudo.
- Eu... Eu não estou com brincadeira... - tentei supor que era um trote.
- E quem disse que eu estou, ? Foi tão ingênuo da sua parte pensar que você ia ficar em paz indo pra York, para o Queen’s Shire College. Uma vez que você entra, você não sai mais. - minhas mãos ficavam geladas e trêmulas a cada instante, senti minha pressão abaixar só de ouvir aquela voz e aquilo que o homem estava dizendo.
Juntei minhas forças e tentei fazer mais uma pergunta.
- Do... Do que vo-você está falando?
- Você não sabe, ? Você não sabe que é maior e muito pior do que você imaginava? - a voz riu do outro lado e então eu desliguei o telefone.
O número era restrito e mais uma vez eu estava perdida.
Encostei minhas costas na porta e fui descendo até ficar sentada ao chão, entre soluços e lágrimas que queimavam minha pele.
Eu estava com medo.
A voz sabia meu nome, pelo jeito sabia dos meus envolvimentos em Miami, agora, me acharam.
Quando tudo está melhorando para mim, de repente tudo desaba.
Eu não mereço isso.
Senti a porta sendo empurrada e então eu saí da frente dela, com minhas mãos no rosto. Não tinha percebido quem era até o momento que tocou suas mãos grandes no meu pulso, tentando tirá-los da frente do meu rosto.
- O que aconteceu? – ele perguntou e eu não respondi. – , me fala... – e eu continuei chorando até que ele usou um pouco mais de força, tirou as minhas mãos do meu rosto e falou olhando no meus olhos:
- , o que aconteceu? – ele disse pausadamente.
¬- O telefone... O telefone... – não falei mais e o abracei com todas as minhas forças. Ele me abraçou, bem forte.
- Quem te ligou? – perguntou sussurrando no meu ouvido enquanto me abraçava.
- Eu... Eu não sei. – disse entre meus soluços agoniados.
- O que disseram?
- Que eu não podia fugir. Falava... Falava sobre Miami. Não podia ser trote, sabia meu nome, tudo. – continuei chorando e permaneceu em silêncio, passando a mão em meu cabelo, tentando me acalmar. – Eles me acharam.
- Impossível... – ele sussurrou e se afastou pegando meu rosto com as mãos e olhando bem fundo nos meus olhos. – Seja o que for, nada vai acontecer com você enquanto eu estiver do seu lado. Eu vou te proteger, de tudo. – ele beijou minha testa e em seguida me deu um selinho longo, me tranquilizando.
- Obrigada por estar aqui comigo, eu não sei o que faria sem você. – eu engoli o choro e me abraçou de volta, me reconfortando.
- Eu não sei o que faria sem você também... Por favor, tente esquecer isso ok? Eu estou aqui. – ele beijou mais uma vez o topo da minha cabeça e eu fiz que sim, disposta a esquecer a ligação de hoje.
- Dorme aqui comigo?
- Faço tudo o que você quiser. – ele sorriu pra mim. - Mas agora você não quer ir beber uma água, comer alguma coisa? – eu apenas concordei sendo puxada pela mão por ele. Passei pela sala sem ao menos ser notada por , e , que estavam numa entretida competição de piadas.
Cheguei à cozinha e sentei-me à mesa. esquentou o macarrão que ainda tinha e colocou um pouco de refrigerante num copo para mim, depois ele se serviu, sentando à minha frente.
Achei estranho que colocou o espaguete em um prato só e deu dois garfos.
- Vamos comer juntos? – eu perguntei, o que era meio óbvio.
- Já assistiu a Dama e o Vagabundo? – eu ri já prevendo aonde ele queria chegar. – Então, esse só não tem as almôndegas...
não tendo muita habilidade de usar o garfo para fazer o que era pretendido com o espaguete, usou as mãos colocando uma ponta do espaguete na boca e eu fiz o mesmo com a outra ponta. Nada original, cada um puxou de um lado e o resultado foi um selinho meio sujo de molho. Clássico, mas arrancou risadas de minha parte e dele.
- Sempre quis fazer isso com alguém... – ele revelou rindo e comendo o macarrão direito agora.
- Me senti honrada de ter sido a escolhida. – dei uma garfada no espaguete. Já me sentia bem melhor, me fazia esquecer dos problemas, como ninguém nunca fez.
Eu e lavamos o que sujamos e saímos em direção ao quarto que a gente ia dormir. No caminho, ao passar pela sala, conseqüentemente pela varanda, vi , e James tendo uma pequena reunião lá fora, parecia um assunto mais sério. Me joguei na cama, que fez um barulho chato.
- Essa cama é velha, não esqueça... – riu e pulou na cama, fazendo o mesmo barulho. Ele levantou correndo de volta e trancou a porta, voltando a deitar na cama. Eu estava deitada de frente para ele, que envolveu minha cintura com um dos seus braços protetores. – O que você acha de fazer as coisas direito? Sem banheiro, sem afobação, sóbrios, sem ou ... Quando a gente voltar pro internato, eu não vou ter outra oportunidade como essa... – ele sorriu malicioso e eu sorri da mesma forma em resposta. – Se você quiser é claro, você tá meio em trauma, mas acho que posso te tranqüilizar...
- Você está ficando mais inteligente, estou sentindo orgulho... – eu disse o fazendo rir e ele selou meus lábios, pedindo passagem que eu cedi, obviamente.
Começou como ele disse, sem afobação. O beijo terno e carinhoso, que me arrepiava por inteiro e me fazia sentir de novo aquelas coisas chatas no corpo. Era sempre a mesma coisa com o , as sensações estranhas não paravam, pelo contrário, aumentavam.
Ele virou em cima de mim, bem lentamente e ficou sustentando seu próprio peso com um dos braços. Ele me beijava calmamente, puxando meu lábio inferior com os dentes de vez em quando. com uma mão se sustentava e com a outra explorava meu corpo por debaixo da camiseta dos ursinhos carinhosos. Eu estava gostando de toda essa calmaria, estava bom. Eu já me sentia levemente satisfeita em apenas ficar entre beijos e carícias. Eu bagunçava os cabelos de , era mais um carinho do que o reflexo.
Então ele decidiu avançar, ainda bem calmo, subindo minha camiseta fofíssima dos ursinhos carinhosos, que passou pelos meus braços, atingindo alguma parte do quarto. Eu continuei em seus cabelos enquanto ia beijando meu maxilar, seguindo pela orelha, onde lá sussurrou:
- Ursinhos Carinhosos, não é muito a sua cara... – ele fez essa observação e riu junto comigo.
- E você não foi feito para usar camiseta... – aproveitando a deixa, tirei a dele sem delongas. Eu estava bem mais apressada que ele, visivelmente.
Eu puxei o rosto dele mais perto e fui mordendo seu maxilar, pescoço, peitoral... As peças de roupa agora eram incômodas, pois o calor era imenso. A calma inicial já tinha se esvaído.
apertava minhas coxas enquanto eu estava inclinada na cama, focada em enchê-lo de beijos, chupões e mordidas em seu pescoço inundado com aquele perfume no qual eu não conseguia me controlar quando eu inalava. abriu o feixe do meu short amarelo e o puxou para baixo, revelando minha calcinha das meninas super poderosas.
- Sempre achei as meninas super poderosas sexy. – ele disse meio em meio a respiração falha. Eu sorri maliciosamente com o comentário.
Abri o feixe e abaixei o zíper da calça larga de , que se mexeu no intuito de fazer a mesma escorregar por suas pernas e caíssem da cama. Assim que se desfez da calça, revelou por inteiro suas boxers do Mickey.
- Mickey é muito mais sexy que as meninas super poderosas. – eu e rimos. A que ponto nós chegamos? Mickey e meninas super poderosas...
Eu tive que me afastar de seu tórax que agora era que queria tirar uma casquinha de mim. Não reclamo, de forma alguma. A forma que ele beijava meu pescoço languidamente me deixava arrepiada e eu gemia baixinho em seu ouvido, como um incentivo. Ele ia descendo os beijos e suas mãos que apertavam minha cintura subiram até o feixe do meu sutiã, que não ficava nas costas e sim na parte frontal. Aposto que agradeceu mentalmente por isso. Ele abriu e abaixou as alças até saíram completamente dos meus braços e voltou a me beijar indo do pescoço até meus seios e ficou por ali, me provocando abaixando e subindo a tira da minha calcinha das meninas super poderosas. Eu já não tinha níveis de sanidade aceitáveis e não quis saber de suspense e abaixei logo as boxers do Mickey, revelando a ‘animação’ do garoto, que parou de me provocar para rir baixinho da minha pressa. me beijou com força agora e tirou minha calcinha de vez, jogando em algum canto.
Pobres Florzinha, Lindinha e Docinho.
Pelo menos dessa vez ele não rasgou. parou um pouco para alcançar o bolso da calça que estava ao lado da cama e retirou de lá um preservativo. O ajudei a colocar e ele voltou a me beijar com a mesma empolgação de antes. A sensação do beijo ardente deu lugar a sensação de me invadindo devagar, talvez com medo que me machucasse. O beijo cessou para que houvéssemos um pouco de fôlego e eu gemia para que ele aumentasse um pouco o ritmo. Ele foi aumentando o ritmo e eu estava sentindo cada vez mais prazer, quase perfurando as costas e ombros de com minha unha. Naquela hora não existia mais nada em minha volta, só eu e . Ele agora dava investidas mais fortes e me beijava para eu não gemer alto. A cada investia eu sentia que eu ia até a lua e voltava. não controlava seus próprios gemidos no beijo, e muito menos eu. Minha vontade era de gritar, mas eu me segurei porque eu não estava sozinha naquele apartamento. deu mais algumas investidas e eu cheguei ao meu clímax, praticamente ao mesmo tempo em que ele chegou.
Ele jogou seu peso ao meu lado da cama, que não tinha parado de fazer barulho em nenhum momento. Ele virou meu corpo de lado, na direção do dele e uniu nossas testas, me dando um beijo delicado em seguida. Eu sentia meus cabelos grudados nas minhas costas. tirou um pouco de cabelo grudado na minha testa e acariciou meu rosto. Seus olhos estavam transparentes como nunca e formou um sorriso em seu rosto escultural.
- Isso foi... – ele pausou tentando encontrar a palavra certa. – Incrível...
- Foi. – eu sorri de volta. saiu da cama e voltou em segundos, para a mesma posição. Acho que ele tinha ido dar fim ao preservativo usado.
Ele puxou o lençol para cima de nós dois e ficou acariciando minha cintura por debaixo dele. A sua outra mão estava acariciando meu couro cabeludo e minha cabeça estava recostada em seu peito.
- Talvez um dia você pode até duvidar disso, mas eu quero que acredite em mim, quero que só acredite no que eu sinto por você e não precisa acreditar em mais nada. Aconteça o que acontecer, não deixe de acreditar em mim. Eu te amo. – ele beijou o topo da minha cabeça e eu me senti realizada e ao mesmo tempo confusa com o que ele disse.
- Eu acredito em você. Eu também te amo, . – foi a última coisa que eu falei antes de pegar num sono profundo.

#Flashback on

Cheguei ao apartamento de Toddy, depois de passar dois dias na fronteira por mar. Eu havia quase sido pega pela guarda americana. Eles são burros e idiotas demais para me pegar.
Toddy estava na pequena sala. Ele separou as fileiras de cocaína, em três bem grossas. Pegou uma notinha enrolada e aspirou a primeira delas. Doía em mim presenciar aquilo. Seus olhos vermelhos e caídos. Os olhos que me atraíram na primeira vez que os vi, os olhos sem uma cor específica. Às vezes estava esverdeado, às vezes acinzentado, às vezes mel, às vezes uma cor inominável. Naquele momento, o que menos se via era a íris de seus olhos, só se via o vermelho no lugar onde deveria ser branco.
Toddy tomou forças novamente e aspirou as outras fileiras. Eu sabia que estava sofrendo. Ele jogou as costas no sofá velho e ficou abrindo e fechando os olhos. Então notou minha presença.
Não queria que ele tivesse notado.
Ele caminhou até mim com dificuldade e apertou meus dois braços me chocando contra a parede e me beijando com ferocidade, estava me machucando.
Eu estava ganhando hematomas e mais hematomas. Eu tentava pará-lo, mas Toddy era muito mais forte que eu. Minhas roupas foram rasgadas, ele estava me machucando a cada segundo que se passava.
E a cada segundo que se passava, meu ódio crescia.
Ele fez o que queria usando a força. Depois que conseguiu, me deixou lá no sofá velho, toda machucada, vestiu suas roupas e saiu.
As dores por todo corpo e a dificuldade de andar estavam insuportáveis.
Não foi bom, foi horrível, doentio.
Toddy ganhava meu ódio, mas eu era fraca demais para concretizá-lo.

Flashback off#


Toddy foi saindo da minha cabeça dando lugar a uma sombra com a voz do homem do outro lado da linha. A sombra estava no Stage 10, um barulho de tiro ao fundo e a risada que ele dera ao telefone veio novamente.
Acordei atordoada, respirando rápido. Fui me acalmando quase instantaneamente ao perceber respirando tranquilo num sono profundo ao meu lado. Minha cabeça subia e descia, pois estava em seu peito. Fiquei com medo de ele acordar por causa do jeito em que acordei do meu pesadelo, mas ele continuou dormindo, que nem um bebê, onde seus lábios se curvavam, parecendo um sorriso.
Me levantei devagar e vesti minhas roupas jogadas pelo quarto. Passei pela sala, onde e dormiam agarrados no sofá, só pensei no quanto eles estavam fofinhos juntos. Dois autistas... Nasceram um para o outro.
Fui para a cozinha preparar alguma coisa para eu e comermos. Café na cama: mais clichê impossível.
Na verdade, eu queria alguma coisa para ocupar minha mente, aquele pesadelo não saía de lá. O que a voz do telefone tinha a ver com Toddy? Ok, ela me deixou com medo porque se referiu a minha saída de Miami, mas não falou mais nada do tipo. Talvez eu esteja exagerando.
Ou talvez eu esteja muito confiante, de uma coisa que não merecia toda essa confiança. Não tinha muita coisa na geladeira, a minha imagem de café da manhã na cama era com aquela bandejinha cheia de coisa gostosa, mas nem bandeja tinha...
Achei uma torradeira de baixo de algum lençol, coloquei o pão que alguém tinha comprado ontem na torradeira. Ela não era muito moderna, mas se torrar o pão eu já saio no lucro.
Peguei na geladeira a manteiga, provavelmente furtada da geladeira do dormitório dos meninos. Como eu não era muito boa em fazer café, resolvi pegar um suco de caixinha que também teve origem do dormitório dos meninos. Quando as torradas subiram,as retirei de lá e passei a manteiga, colocando num prato. Levei as torradas para o quarto juntamente com um suco de caixinha e sentei na ponta da cama, olhando dormir.
Fiquei um bom tempo lá, o observando. Por mim, ficaria lá até a eternidade. Me acalmava, me dava segurança, me lembrava de ontem quando ele disse que ia me proteger. Eu sabia que iria.
abriu os olhos devagar, os fechou novamente e depois os abriu de novo, sorrindo para mim.
Cheguei mais perto apoiando o prato na sua perna e me aproximei lhe dando um selinho demorado.
- Huum... Café na cama? – ele falou um pouco lento, sentando-se na cama.
- Não é que nem nos filmes, porque aqui não tem comida e muito menos bandeja. – eu disse enquanto ele experimentava a torrada.
- É bfem mefeflhor que aquepfles disse mastigando a torrada.
- Mentiroso... Só tem torrada e um suco de caixinha...
- Mas foi você que fez. – é, agora ele engoliu a torrada.
Dei um beijo em seu nariz e sorri fraco. Eu estava um pouco abalada por causa do pesadelo, por mais que eu tentasse me tranqüilizar.
- Aconteceu alguma coisa? – me perguntou depois de dar uns goles no suco. Ele percebeu...
- Não é nada com que se preocupar.
- Pode falar, você pode contar tudo pra mim... – ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- É só um pesadelo...
- O que aconteceu?
- Ah... Só um episódio não muito bom de quando eu morava em Miami e uma sombra dando a mesma risada que o cara do telefone deu ao som de um tiro no fundo, me lembrando de um episódio pior ainda.
- Eu estou todo a ouvidos.
- Melhor não, não vou ocupar sua cabeça com os meus pesadelos ridículos... Come a outra torrada. Depois eu como outra coisa na cozinha.
- Não vou te forçar a falar, mas eu quero que você saiba que quando estiver disposta a isso, eu vou ouvir e tentar te ajudar.
- Obrigada, é que é difícil eu falar agora... – sorri sincera, o fazendo abrir outro sorriso. comeu a última torrada e deixou o prato e a caixinha vazia no criado-mudo. Ele levantou da cama e vestiu suas boxers e calça.
- Porque você não vem comigo naquele quarto que, pelo jeito, era meu? Quero sua ajuda.
- Vamos, uma hora você ia ter que ver aquele quarto direito... – levantei e segui com ele até o quarto de bebê que era dele.
O azul e branco do quarto foi dominando meus olhos. Tomei o álbum de fotografias em minhas mãos rapidamente e sentei no chão, com sentando ao meu lado.
No começo eram fotos de com 1 ano, muito fofo por sinal. Ele continuava em silêncio, olhando para as fotos que eu virava.
Comecei a passar por fotos do aniversário, a família de .
Aparentemente, ele era filho único, o aniversário dele não tinha muitas crianças, no máximo umas 15 numa festa não muito grande de 50 convidados.
A decoração era das Tartarugas Ninja e ainda não havia sido fotografado chorando, eram risadinhas por todo o lado. Minhas fotos de criança eu sempre saía chorando.
era a cara da mãe, os olhos eram exatamente iguais, mas acho que o formato do rosto era exatamente igual ao do pai.
- Eles eram políticos. Não sei muito bem o que eram, meus pais tinham ligações com o Primeiro-Ministro. – disse depois de ver a foto em que ele estava apenas com os pais.
E fui passando as fotos, até chegar à última. estava fazendo um esforço para se manter forte, ele se mantinha sério.
Começou a tocar American Idiot, era meu toque de celular.
olhou para mim parecendo que estava com mais pavor que eu.
- Atendo ou não? – perguntei.
- Atende.
Então tirei o celular do bolso: Número Restrito.
segurou a minha mão e as apertou. Ele queria me proteger, mas acho que ele também estava com medo.
- Coloca no viva-voz. – ele aconselhou.
Eu atendi o telefone e fiz o que ele pediu.
- A-alô?
- Bom dia . - aquela mesma voz de antes soou no quarto inteiro pelo viva-voz. - Espero que esteja arrumando as malas para voltar para o internato. Eu a atrapalhei?
- O que você quer?
- Eu? Eu só não quero me dar mal. E você é uma ameaça, você viu algumas coisas que a senhorita não deveria ter visto.
- Eu não sei de nada.
- Os noticiários de Miami não devem passar na terra da Rainha. Achavam que um certo executivo estava seqüestrado, depois descobriram que ele foi morto um bom tempo atrás. Num antigo fliperama abandonado. Como eles ficaram sabendo disso... Sem uma testemunha?
- Eu já disse que não sei de nada, me deixa em paz! – eu disse nervosa, estava apertando minha mão, estático.
- Espero que esteja aproveitando a estadia no apartamento de com seus amiguinhos nojentos. E aproveite seus últimos momentos com eles. - eu fiquei gélida com essa parte, percebi que também estava com medo.
- Mas eu não fiz nada, eu guardei segredo.
- Entenda meu raciocínio, querida. Você não esta mais do nosso lado, você viu e ouviu muita coisa. Quando você estava com o viciadinho, até que você era útil. Agora, você não é mais útil para mim e quem não está ao nosso favor, está contra nós. Você achava mesmo que estava envolvida em um comércio de drogas tosquinho feito na fronteira? - ele deixou a pergunta no ar, eu já estava chorando. - Engano seu minha jovem, para você ter uma ideia, eu controlo o tráfico até em Tóquio, muito rentável por sinal.
- Eu juro que não falo nada. Minha boca é um túmulo.
- Eu prefiro não arriscar. É pro túmulo que certas coisas têm que ser levadas... E isso não pode demorar muito. - ele desligou, só ouvi o ‘tu tu tu’ do telefone.
Abracei e desabei em seu ombro. Ele me abraçou forte dizendo coisas que eu não consegui entender, porque eu estava chorando muito nessa hora.
- Por que ? Por que justo eu? Por que tudo tem que acontecer comigo? – falei entre meus soluços, minhas lamentações.
- Calma, eu não vou deixar que nada aconteça com você.
- Ele vai me matar, vai me matar.
- Eu não vou deixar.
- Ele vai matar você também...
- Não vai. Vamos fugir.
- Pra onde ? Eles vão me encontrar.
- Confia em mim... – parou de me abraçar e segurou meu rosto com as mãos, olhando fixamente em meus olhos.
- E a , , , ...?
- A gente dá um jeito. Fica aqui que eu vou trazer um copo d’água pra você. – ele saiu pela porta e eu fiquei parada no meio do quarto de bebê azul e branco.
Eu estava desesperada. Eu iria morrer. morreria também se tentasse me ajudar. Eu não queria ficar longe dele, eu queria que ele me protegesse.
Como sou egoísta, se ele me proteger, ele morre. Eu sei desse tipo de gente, só quer ver sangue, sangue, sangue...
Como aquele cara sabe que eu vi aquele assassinato? Eu não testemunhei, não comentei sobre ele para ninguém.
voltou trazendo um copo com água, que eu bebi praticamente inteiro em uma só golada.
O meu medo era evidente e mais uma vez eu não tinha coragem de enfrentá-lo.
Eu iria fugir, de novo.

Capítulo 12 – Verdade?

Fui com até o quarto e troquei de roupa, colocando uma calça jeans e uma camiseta enquanto ele colocava sua camiseta preta da Volcom. Joguei minha bolsa nos ombros e saí com do quarto.
Ele abraçou minha cintura e foi indo comigo até a sala, onde e estavam lá já acordados.
- Onde vocês vão? – perguntou quase pulando do sofá.
- A gente vai... Na sorveteria. – disse qualquer coisa, imagino. Sorveteria? Essa foi péssima.
- Vocês fizeram muito barulho, quase nem consegui dormir. – corei com o comentário de , nada discreto. Normalmente eu riria, mas eu estava apavorada demais. mandou um dedo e saiu comigo pela porta.
Ele estava com as chaves de um carro na mão.
- Você tem carro?
- Erm... É de um amigo. – achei estranho, mas não falei mais nada.
Assim que chegamos à garagem do prédio, desalarmou o suposto carro do amigo. Não engoli essa, desde quando um amigo empresta uma BMW?
Que seja, o importante é fugir daqui.
Entrei na BMW, colocando o cinto. ligou e saiu da garagem, dirigindo bem rápido.
- Onde a gente está indo? – perguntei.
- Não se preocupe, é um lugar seguro. – ele tirou os olhos da estrada por um momento e olhou para mim. – Só preciso que você confie em mim. – ele parou no farol vermelho e me deu um beijo. Nele tinha medo, era um beijo intenso parecido com beijo de saudade, me deixou atordoada e confusa. – Eu te amo. – disse voltando a dirigir no sinal verde.
- Eu também te amo.
Encostei minha cabeça no banco de couro e comecei a olhar a janela. Os carros, as árvores, as pessoas, os prédios, as casas... Iam me deixando com sono, eu estava com os olhos pesados. Eles foram se fechando, num sono que eu tentava, mas não conseguia evitar. Eu dormi a noite inteira, porque eu deveria dormir agora?
Foi inevitável.

Eu não tinha vontade de abrir os olhos. Nenhuma vontade. Parecia que eu estava dormindo há uma semana. Mas uma hora eu tinha que acordar, ou era agora ou eu ia dormir até o final do ano.
Maldita hora.
Maldita hora em que eu abri os olhos, em um lugar totalmente desconhecido. Não era um lugar feio, muito pelo contrário. Eu estava deitada em uma cama absurdamente confortável e da janela dava pra ver o céu quase escuro. O quarto todo mobiliado em mogno, com um quadro de Van Gogh na parede me trazia muito desconforto, principalmente porque não estava ali comigo. Onde ele estava? E onde eu estou?
Sentei na cama, meio tonta. Esperei um pouco essa tontura passar e finalmente me levantei, descalça, sentindo a textura do pelo do tapete persa sob a cama.
Meus sapatos estavam ao lado da cama, eu os calcei e fui em direção à porta de madeira talhada.
Antes mesmo de eu encostar a mão na maçaneta dourada, a abriu entrando no quarto e fechando em seguida.
Eu podia sentir a respiração apressada dele a distância e seu olhar era totalmente cheio do vazio.
- ? – eu falei meio mole, deve ser porque levantei agora.
- Vem comigo. – ele pegou meu pulso.
- Não sem antes você me disser o que está acontecendo e onde eu estou.
- Vem CO-MI-GO. – ele disse olhando nervoso para meus olhos. Eu nem estava tão apavorada pelo fato de estar em um lugar estranho, eu fiquei com medo do jeito que ele falou comigo. Ele soltou o ar e continuou. – Desculpa. Por favor, vem comigo, eu te conto quando a gente chegar. É surpresa... – assim ele entrelaçou suas mãos nas minhas e sorriu um pouco duro, saindo comigo do quarto.
Caminhávamos por um corredor cheio de quadros caros, esculturas caras, até chegarmos a um elevador no fim do corredor. me deixou ir primeiro, pensei que era cavalheirismo.
- Eu... Te vejo mais tarde. – apertou algum botão e o elevador fechou antes mesmo de eu tentar impedir, mas não antes de eu ver a face de completamente estranha para mim.
havia me deixado sozinha, eu estava indo para um lugar que eu não fazia ideia de onde era. Meu coração acelerava a cada instante e então o elevador abriu.
Era uma sala com um ar aconchegante, dava para se observar uma lareira no final dela e uma poltrona enorme de costas pra mim. Ao lado tinha uma mesa com alguns computadores e do outro lado havia outra mesa com alguns aparelhos e alguns telefones também.
Saí do elevador adentrando aquela sala. O calor da lareira acesa já fazia efeito sob minha pele.
Eu me perguntava se esse lugar seria o lugar seguro que teria me prometido. Cheguei um pouco mais perto da lareira, me aproximando da grande poltrona. A poltrona era tão grande que eu nem notara que havia alguém nela, que se levantou me dando um susto, me deixando gélida mesmo perto da lareira.
Era um homem, já maduro, com seus quase 60 anos, eu podia dizer, meio careca com alguns cabelos grisalhos. Ele usava um terno risca de giz e tinha um anel grande no dedo, provavelmente de outro com uma pedra enorme de rubi. O homem pegou uma caixa ao lado da poltrona e abriu para me oferecer, revelando charutos. Fiz que não, assustada, e ele começou a rir, botando a caixa de volta no lugar.
Logo que ele começou a dar risada, meu corpo se arrepiou inteiro, meu coração não batia regularmente em o pânico começava a invadir minha mente.
Era a mesma risada do telefone, o mesmo pânico e desespero começou a me percorrer.
- Finalmente pude te conhecer pessoalmente, . – o homem pegou minha mão numa tentativa de beijá-la cordialmente, mas eu as retirei, me afastando. – Parece que já reconheceu minha voz aveludada. – ele tinha um sorriso cínico e minha garganta não saía voz nenhuma enquanto meus olhos ficavam marejados. – Permita-me apresentar-me melhor....
O homem deu as costas a mim e começou a dar voltas pela sala, com as mãos nas costas.
- Meu nome é Cornelio. Eu sou um dos homens mais ricos do mundo segundo a revista Money, também um dos mais influentes. Você não deve ter ouvido falar de mim porque duvido que um dia da sua vida você parou para ler uma revista de economia. Tenho tabacarias famosíssimas pelo mundo, negócios completamente legais e honestos, mas tenho também o controle de um tráfico de drogas mundial que vai desde Colômbia e Brasil, até Tóquio. Sua querida cidade praiana Miami está inclusa. Tráfico de fronteira triplica meus negócios. – Cornelio virou-se para mim sorrindo. – Não vai falar nada?- juntei toda a minha força para sair pelo menos um sussurro como minha voz.
- Você é um grande... Filho da puta. – juntei todo meu ódio e minha coragem de desafiar alguém que podia me destruir em um piscar de olhos.
- Continue... Você deve ter explicações interessantes, para uma simples namoradinha de um viciadinho de Miami, até que você foi útil. – ele aumentou minha raiva, porque eu não o atingia.
- Você acabou com minha vida! – eu agora gritava, chorava, tirando todo o ódio do peito.
- Não, ainda não. Daqui a pouco... – ele pausou e continuou, um pouco mais sério. – Um dos meus homens matou um importante executivo de lá, não tão importante por que ele estava falido... Mas enfim... Com alguns pequenos subornos, as imagens das câmeras do Stage 10 foram todas para mim, eu nem sabia que elas funcionavam. Nessas imagens, você é a única testemunha do assassinato. Você testemunhou e alguns detetives estão no meu pé. , você quase acabou com a minha vida, eu preciso acabar com a sua, antes.
- Mas eu não testemunhei nada!
- Não minta! – ele gritou e bateu na mesa.
- Eu não falei nada! Eu nunca falei nada com ninguém sobre isso! – eu também gritei.
- Que seja, testemunhas tem que morrer. Não foi só isso não. Você sabe todo um esquema de tráfico pela fronteira. Aaron... Marvin. Você fazia Green Cards! É como eu disse no telefone: Se você não está a nosso favor, está contra nós! – com cada palavra, Cornelio fazia minha sentença de morte. Eu iria morrer.

’s P.O.V OFF.
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’s P.O.V ON


Assim que subiu ao elevador, fui para a sala de munição. Eu tinha meu plano, só o MEU plano.
As mentiras que vieram à tona, iam ter fim.

#’s Flashback on

Cada vez mais eu me amaldiçoava por sonhar com ela todas as noites desde que a conheci – mesmo sendo minha obrigação conhecer a drogadinha -, por querer sorrir toda vez que ela sorri, por ter a necessidade de seus beijos, a necessidade de ter o corpo dela junto ao meu, por ter ciúmes daquele imbecil do David. Eu não poderia gostar dela. São só negócios, só negócios. Eu prometi pro meu pai que não iria me envolver com negócios dele e ela só faz parte do negócio. Ela seria a sentença de prisão do meu pai e meu dever seria detê-la. O único favor que meu pai me pediu, eu não conseguiria cumprir. Eu estava gostando dessa maldita garota. Eu tinha apenas que atraí-la, não ela me atrair. Eu não podia decepcioná-lo. Ele me criou desde que meus pais biológicos morreram.
O meu celular tocava, era ele.
- ?
- Diga...
- Hoje saia da escola e vai procurar o apartamento que está no seu nome, herança de seus pais. Estava comigo, mas nunca nem mexi nele. Um dos meus funcionários deixou sua BMW estacionada a uns 2 quilômetros da escola, é só andar um pouco. Mande seus amiguinhos pra lá, manda pra algum pub, tanto faz. Quanto aos documentos, sua amiguinha mexerá seus pauzinhos, eu não preciso me preocupar. Quero essa menina aqui em casa nesse final de semana, entendido?
- Tudo bem, vou fazer isso.
- Te ligo mais tarde
Desliguei o celular e me joguei na cama.
Eu tinha uma vida normal, amigos legais, a menina que eu quisesse... Porque eu tinha que gostar justamente dessa menina? Ela já tem até prazo de validade.
Saí normalmente pelo Anthony no portão. Ele só dorme.
Andei bastante, aquilo não eram 2 quilômetros não, eram no mínimo uns 4.
Dirigi até o apartamento, inspecionar o local.
È, realmente parece que ninguém entrava nesse apartamento há anos, tudo cheirando mofo e coberto por lençóis. Mas era grande, até o idiota do James podia vir aqui. Entrei no último quarto, era de bebê. Uma coisa foi apertando meu peito e eu tinha uma sensação de que eu estivesse tendo um dejavú nesse momento.
O quarto não tinha cheiro de mofo, nem de bebê. Tinha o cheiro que eu achava que nunca mais na minha vida eu iria sentir: O cheiro da minha mãe.
Tirei um lençol apenas, o lençol da cômoda. Tinha um chocalho com um bilhete junto.
Era um chocalho bem legal, só pra constar.
Abri o bilhete.

Eu não sei o que dar para crianças, mas acho que um chocalho alegra qualquer uma. Queria ter a sorte de você minha irmã, em ter dado a luz a um filho que com certeza terá um futuro brilhante pela frente – não que eu queria dar a luz, você me entendeu -, quem sabe ele não estará comandando toda a Grã-Bretanha? Quem me dera ter sua sorte minha irmã... Um herdeiro. Torça para que ele vá para o lado da política.
Prometo lhe ver e ver o meu sobrinho em breve.
Saudades de seu irmão.
Cornelio.

Eu não estava entendendo nada. Cornelio é meu tio? Irmão da minha mãe? Por que ele nunca me disse isso? Por que ele omitiu isso?
Alguma coisa me incitava a procurar mais naquele quarto. Puxei a primeira gaveta da cômoda: Roupas de bebê em geral, a menos por um papel no fundo de todas elas. Abri o papel, com medo do que fosse aparecer. Eram letras formadas por recortes de revistas.
Ou o casal renuncia o cargo, retira as denuncias que ameaçam meu capital... Ou as conseqüências serão severas.
Mais uma omissão.
Esse bilhete só comprovava o que eu já suspeitava: meus pais não morreram em um acidente de carro.
Eu tentava juntar os pedaços, eu não sabia por que eu estava desconfiando do meu pai, que é meu tio. Mas tudo levava a ele numa lógica arriscada.
Primeiro: ele manda matar quem está no seu caminho, eu sei disso mais do que ninguém.
Segundo: O seu maior medo é perder todo seu dinheiro, seu império construído.
Terceiro: Um fato ocorrido há um mês atrás, juntava tudo. Eu estava lendo um jornal na mesa do café da manhã, parei na matéria sobre políticos e nela falava sobre o aniversário da morte dos meus pais e reviveram o assunto dessa morte que foi logo depois que denunciaram um esquema de tráfico, logo depois da importante reunião com o Primeiro-Ministro. Cornelio simplesmente arrancou o jornal de minhas mãos, rasgando e colocando no lixo, sem dizer nada.
Se não fosse esse caso, qualquer um poderia ter envolvimento com a morte dos meus pais.
Observei a folha usada no bilhete do chocalho e a da ameaça. Iguais.
Tentei procurar mais evidências por aquela cômoda, mas não encontrei mais nada, nenhuma prova das minhas suspeitas.
Eu temia que elas fossem verdadeiras.
Ele estaria mentindo para mim toda uma vida e eu aqui mentindo para .
Eu estava apegado a , mas mentia descaradamente, desde o momento em que a gente se conheceu.
Os trogloditas que eu paguei para tentarem abusar dela e eu ser o herói, a minha história que eu contei a ela falando dos tutores que eu já tive, absorvi as informações do tráfico de Miami que ela continha... Eu sou um monstro e eu estava enganando e sendo enganado o tempo todo. Tudo por causa de Cornelio. Eu menti e fiz mal para a menina que eu, ao certo, não sabia se amava, ou não queria amar.
O meu celular tocou, era Cornelio.
-Ainda está aí?
- Estou.
- Eu quero que largue o que estiver fazendo aí imediatamente e venha para cá. Não quero você aí.
- Algum problema?
-Por quê? Você tem? - a minha vontade era dizer que meu problema era ele.
- Nenhum.
- Eu quero você aqui em 5 minutos entrando na garagem. - ele desligou.
Peguei as únicas evidencias que achei ali, nem tive tempo de olhar o baú de brinquedos. Corri para casa com a BMW e os papeis no bolso. Corri para o escritório de Cornelio, ele não estava presente lá.
Corri para a mesa onde ele fazia suas pequenas anotações e peguei o bloco de folhas de lá.
Igual ao bilhete do chocalho.
Igual ao bilhete da ameaça.
E a partir desse minuto, comecei a arquitetar planos.
Não precisava de evidência nenhuma, eu já tinha tudo o que precisava, foi fácil.
Todos esses anos vivendo uma mentira... Me pergunto o que poderia ser verdade?
A verdade é que Cornelio mandou matar a própria irmã e o cunhado por dinheiro. Não satisfeito, pegou o filho deles pra ser herdeiro, de um império, que eu não vou fazer questão nenhuma de ser o imperador.

’s Flashback off #

Um dos capangas do Cornelio estava na porta da sala de munições.
- E aí ? Vai começar a brincar com fogo? – ele disse me cumprimentando de leve com a cabeça.
- Não, só vim pegar um brinquedinho pro meu pai. Ele está com visita. – o capanga, se não me engano de nome Spencer, deu risada do que eu disse e abriu a porta pra mim.
- Pega o silenciador, temos vizinhos pacatos em York.
Passei por ele e escolhi qualquer uma, eu não estava a fim de ficar em silêncio, quando a qualquer hora uma desgraça pode acontecer lá em cima. Peguei o silenciador e deixei a sala.
No circulo de visão de Spencer, eu andava tranquilamente, mas foi só eu virar o corredor que comecei a correr, correr contra o tempo.
Se alguma coisa acontecesse com a , eu não sei o que faria, eu me mutilaria ou algo assim.
Entrei no elevador, meu coração batia mais rápido a todo instante. Eu ainda tinha que encenar.
não faz uma coisa mal feita.

’s P.O.V OFF

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’s P.O.V ON


Só agora passou pela minha cabeça: .
Ele me trouxe aqui.
Eu não entendia, não entendia como fui chegar nisso.
me entregou à minha própria morte.
Não é possível.
Ele disse que era para eu confiar nele, eu estava tentando este feito.
Mas era difícil com Cornelio pegando um revólver na gaveta.
- Sabe, uma menina tão bonita não merecia esse fim. – ele conferiu a bala que tinha no revólver, uma única bala. Cornelio desviou sua atenção para o elevador se abrindo.
adentrou a sala, friamente, assim como o jeito que ele havia me deixado no elevador. – A não ser que queira fazer as honras. – Cornelio sorriu largo, eu estava com tanto desespero entalado que o choro nem saía mais.
tinha uma arma com um silenciador em mãos. Deu um sorriso duro e olhou de volta para Cornelio. Tive a sensação que o chão sob meus pés não existia mais, estava na minha frente, agora apontando uma arma para mim. O meu , o homem que eu amava. O que me fez esquecer de tudo que era ruim em uma semana. O cara com quem eu fazia questão de perdoar sempre que pedia desculpas, o cara que eu queria tanto junto a mim.
O cara que mentiu, muito mais que qualquer outro, muito mais que Toddy.
Agora meu choro saía facilmente, mas parecia que o olhar de voltava a ganhar vida, a sua imensidão nos olhos ganhava a dor quando ele me via chorar.
- ... Me diz que é uma brincadeira. – eu chorava descontroladamente, jogando meus cabelos para trás.
- Essa arma não é de brincadeira. – seus olhos vazios voltaram e os olhos de Cornelio expressavam o orgulho que ele estava sentindo de .
- Por que ? Por que você está fazendo isso? Você disse que eu podia confiar em você. Eu confiei.
- Essa era intenção. Desde o início. – ele começou a explicar – Paguei aqueles meninos da escola para eu sair de herói. Eu menti quase tudo que você achava que você sabia sobre mim. Cornelio é meu único tutor desde que meus pais morreram, ele me criou, eu faço qualquer favor a ele. Você faz parte de um negócio. Eu menti, te usei, te dopei. Coloquei sonífero na sua água pra conseguir te trazer pra cá. Nada foi de verdade. – cada palavra era uma facada em meu peito. Eu amei um monstro. A minha vontade era de dar um tiro de bazuca naquela cara lavada dele.
- Ordinário! Você é um canalha! Eu confiei em você, eu amei você! – eu falava, mas ele não dava atenção. Ele olhava de rabo de olho a todo momento para Cornelio. Que aos poucos ia abaixando a arma, satisfeito. – Me mata! Quero ver se você tem coragem. Não quer agradar o papaizinho?- agora ele olhou para mim, assustado. Não sei o porquê dessa reação. Não sei se foi da minha audácia, ou se foi do medo que ele tinha. Mas no fim, ele soltou uma risada.
- Você faz todo esse papinho de garota forte, determinada. Nem parece que estava aos prantos porque foi enganada e iludida e agora vai ser morta. – ele pausou tentando passar um ar de confiança, mas ele estava nervoso. – Sabe, uma vez me disseram... Que só os fortes sobrevivem. – dizendo isso, percebi pela cara de Cornelio, que foi ele quem disse isso a . – Não acho que uma pessoa covarde a ponto de matar a própria irmã e cunhado por medo de perder tudo que o que tem seja uma pessoa forte. É uma pessoa covarde e sem escrúpulos. – eu não entendia mais o que ele estava falando. Cornelio endureceu do outro lado da sala, arregalando os olhos. – Não é? Tio Cornelio?- , que mantinha a arma em mim, olhou de novo de canto de olho para Cornelio. – Ou você acha que mata meus pais, e fica por isso mesmo? Meus pais não eram fortes segundo a sua teoria... E muito menos você. – dizendo isso, ele mudou a sua direção da arma para Cornelio que levantou os braços, com medo.
travou, sua mão tremia. Mesmo que disparasse, o tiro não ia ser certo. Percebendo que não tinha coragem de disparar, Cornelio começou a rir. Rir, não gargalhar...
Ele não podia fazer isso, não era um assassino.
não era um ordinário, nem um canalha e definitivamente não ia conseguir matar Cornelio. Se ele não matasse, nós dois íamos morrer.
Eu só precisava do momento certo, para salvar a nós dois.


Capítulo 13 – Assassin
(n/a:Bota essa música pra carregar: http://www.youtube.com/watch?v=btjVnTLn6og Muse – Assassin)

- Cala a boca. Cala a boca! Para de rir!– gritou nervoso.
- Vai me matar, ? Vá em frente. Devo dizer que você deveria fazer um teste para ator, adorei a encenação. Mas acho que assassino não é seu forte. – Cornelio abriu mais os braços e jogou a arma no chão. – Atire , vingue a morte da sua mãe, do seu pai. Eu os matei mesmo! Eles começaram a se meter demais aonde não eram chamados, que nem sua namoradinha... Que, aliás, adora um homem problema.
O ódio subia no meu peito. Ou o matava esse verme, ou eu matava.
Percebi os olhos de ganharem um brilho, marejados. Ele pressionava os lábios um contra o outro com tanta força que dava pra fundir em um só.

’s P.O.V ON
(n/a: pode colocar o play na música)

O assassino dos meus pais estava na minha frente, a pessoa que destruiu a vida da estava na minha frente, desarmada.
Eu tinha que atirar, mas não conseguia, eu não tinha coragem... Era só puxar o gatilho. Só puxar o gatilho.
Era mais difícil do que eu pensava. Apesar de eu ter crescido sem minha mãe e meu pai por causa dele, de eu ter sido influenciado a ser um assassino, um mafioso, um narcotraficante internacional... Eu estava aqui, apontando uma arma para o homem que além de ter destruído a minha vida, destruiu parte da vida da única menina que significava alguma coisa pra mim. Ou eu acabava com ele, aqui e agora... Ou ele acabava com a minha vida e com o resto das pessoas que eu me importo.
, , , , Jimmy... Nem passam por suas cabeças tudo isso aqui que está acontecendo. Eu não vou ser fraco a ponto de deixá-los morrer. Não sei o que Cornelio seria capaz de fazer se saísse ileso.
Mas meu dedo indicador não se movia sobre o gatilho. Minha mão estava tremendo, ele estava rindo da minha fraqueza. Eu não ia conseguir.
Me perguntei se meus pai quisessem que algum dia o filho deles virasse um assassino. Nem médico, nem advogado, arquiteto... Assassino.
Meus olhos já um pouco marejados derramaram uma lágrima solitária quando eu chegava à conclusão de que não me lembrava do rosto dos meus pais, só em fotos. E tudo isso é por causa deste homem em minha frente, o qual nem que eu quisesse eu iria matar, minha mão estava tremendo tanto que eu podia acertar a e eu não me perdoaria se alguma coisa de ruim acontecesse com ela.
Eu tinha que protegê-la, eu fiz uma promessa.
Preciso me redimir de todas as mentiras, de todo mal que eu fiz a ela.
Eu estava sem escolha, carregaria um assassinato pelo resto da vida ou acabaria com minha vida aqui mesmo.
Se eu o matasse, como eu e íamos passar pelos capangas? Nessa mansão tem um exército, praticamente.
Eu não conseguia pensar em nenhum plano melhor enquanto Cornelio gargalhava de mim e ia dizendo milhares de coisas para me tirar ainda mais do sério, mas estas eu já não escutava.
Meu raciocínio não formava nada, talvez eu conseguisse usar uma das mil saídas secretas que tem aqui, ou talvez eu estivesse nervoso demais para escapar por uma. E nisso... Um disparo.
Não era meu disparo, se fosse, o estrondo sairia mais silencioso.
Me virei imediatamente para , que estava com a arma que Cornelio segurava antes de derrubá-la e rir de mim. Ela chorava enlouquecidamente e o disparo foi certeiro em Cornelio, que já estava no chão, baleado no peito, não necessariamente no coração, se é que Cornelio tinha um.
Vi se ajoelhar no chão em prantos, cruzei a sala até ela.

’s P.O.V OFF

Eu havia matado um homem. Eu, além de tudo, agora era assassina. Sentia o peso do mundo sobre meus ombros. Minhas lágrimas saíam em quantidade absurda, eu estava fria por dentro. Deve ser essa sensação de nojo de si mesmo, de vazio, que alguém que teve a coragem e a covardia de matar alguém sente.
veio até mim, me abraçando e me levantando. Ele me abraçou muito forte e molhei todo seu ombro com minhas lágrimas.
Eu pensei de início que fosse fácil, afinal, ou eu morria ou ele. Mas agora eu me sinto um lixo, ele poderia ser o demônio em pessoa, mas eu tirei uma vida.
Eu estava sem controle, o ódio formado em mim foi maior do que eu podia controlar. Se eu fosse menos impulsiva, eu não faria isso nunca. Se eu soubesse que eu ia sentir tudo isso depois.
Cornelio estava morto.
- A gente tem que sair daqui... Daqui a pouco algum cara entra aqui por causa do som do disparo. – passava a mão em meus cabelos, tentando me tranqüilizar, mas eu tinha certeza que ele estava tão mal quanto eu. Apesar de tudo, pelo o que eu entendi, Cornelio o havia criado desde pequeno.
Eu apenas balancei a cabeça, eu estava tremendo, estava nervosa, estava em choque. Fui até Cornelio e seu peito já não subia e descia visivelmente, não tive coragem de verificar se estava mesmo morto. me puxou pela mão, chamando o elevador.
- Não olhe pra nada, só ande. Quando eu correr você corre, mas sem soltar da minha mão. – escutei as instruções de e respirei fundo, o sentindo apertar a minha mão. – E, por favor, não chore, vai chamar a atenção. – disse isso, mas ele mesmo estava praticamente chorando, sua voz era fraca e seu nariz estava vermelho.
O elevador parou e descemos dele, indo até o final do corredor vazio. olhou para o quadro enorme ao lado e foi em direção a este, puxando para o lado esquerdo. Deu a mão para mim novamente e entrou comigo empurrando o quadro novamente. - Sabia que eu ia me lembrar de algum túnel, esse leva ao jardim do fundo. – ele sussurrou, pegando o celular para iluminar o caminho estreito e muito escuro. – É melhor irmos logo, eles já devem ter encontrado o corpo.
- ...
- Hum?
- Desculpe por eu ter falado tudo aquilo na sala, eu fiquei com medo. Eu não quis te xingar nem nada, no fundo eu sabia que você não ia fazer nada de mal comigo.
- Esquece isso.. – ele continuou andando sem olhar pra mim.
- Você ficou chateado, por eu não ter confiado cem por cento em você? – depois de uma longa pausa, ele respirou fundo e respondeu:
- Eu fiquei. – finalmente ele parou de andar e olhou pra mim, mesmo no escuro, eu podia ver seus olhos iluminados pela fraca luz do celular. – Eu tinha pedido pra você acreditar em mim, acima de qualquer coisa. – ele pegou minhas duas mãos, mesmo com o celular em uma delas. – E eu disse uma coisa pra você que eu nunca falei pra ninguém. Eu disse ‘Eu te amo’, disse a verdade, porque eu nunca senti por ninguém o que eu sinto por você. Eu te amo , você é a menina mais incrível, mais forte, mais sincera, mais doce, mais determinada que eu já conheci. Doeu quando você não acreditou em mim, mas eu te entendo. – eu liberava o que restava das minhas lágrimas, e passou os polegares enxugando. – Eu te entendo, eu apontei uma arma pra você. Me desculpe, por todo o mal que eu já te fiz, todas as mentiras, tudo que eu fiz de errado.
- Eu te amo , eu não sei mais viver sem você. Eu não teria força nenhuma pra seguir em frente sem você do meu lado. Sem você eu não seria nem metade do que eu sou hoje. Eu não tenho que te desculpar de nada. – dizendo isso, eu segurei o rosto de e selei seus lábios, num beijo simples e longo.
- Agora é melhor a gente ir logo, se a gente quiser ficar vivo. A arma tá com você? – afirmei com a cabeça. – Não a tire da onde está, a gente se livra dela depois.
Nisso, saímos correndo túnel adentro, até chegar ao fim, bloqueado por alguma coisa. empurrou assim como fez com o quadro. Percebi que era mais pesado.
Era uma pedra, que ele havia empurrado até ter espaço suficiente para sairmos do túnel. A luz da lua à pino clareou por um momento meus olhos e empurrou a pedra novamente assim que terminou de me ajudar a sair.
Nossas mãos se uniram novamente e corríamos pelo jardim. Estávamos indo muito bem até ouvirmos um disparo.
Olhamos para trás ao mesmo tempo e cinco homens armados estavam correndo atrás de nós, um pouco longe para terem uma pontaria certeira em nós. Eu nunca corri tão rápido em toda a minha vida.
entrou na garagem em minha frente, mesmo segurando a minha mão. Ouvi um estrondo e sua mão pesar. Um homem havia o acertado com uma barra de ferro assim que entrou.
O desespero subiu de novo pela minha garganta, eu não perderia assim tão fácil. O homem parecia não ter coragem de me bater, apesar de sacudir a barra para me atingir, ele não atingia de propósito. Sentia que os homens armados chegariam logo e estava com a testa sangrando no chão.
Num ato totalmente impulsivo e involuntário, meus braços agarraram e jogaram a primeira coisa estava ao meu alcance: um motor.
Acertou o homem, não vi aonde, pois joguei de olhos fechados. Apenas me permiti pegar com certa dificuldade e colocar um de seus braços no meu ombro, indo em direção a BMW.
O deixei deitado no banco traseiro e me posicionei no bando do motorista, a chave já estava na ignição. Liguei o carro e pisei no acelerador saindo da garagem, quase atropelando um dos homens armados que chegou à frente. Ouvia os disparos dos outros, mas felizmente não acertaram o carro.
Eu não sei como consegui invalidar aquele cara com a barra, salvar e estar em concentração para dirigir.
Só esperava que não demorasse a acordar, pois pelo retrovisor eu via o carro dos capangas sendo acionado na garagem que ficou para trás.
Resolvi correr, a estrada era reta, eu não sabia onde eu estava, era um lugar no meio do nada, com algumas fazendas.
foi acordando devagar, passando a mão no sangue da testa. Eu queria tanto poder cuidar dele, mas eu precisava chegar a algum lugar seguro. Eu não sabia que lugar seria este. Estava de noite, os faróis da BMW estavam acesos e eu não via nenhum sinal de outro carro na estrada.
- Onde a gente está? – ele perguntou meio mole.
- Eu não sei, eu queria que você acordasse logo pra me ajudar a sair dessa estrada sem fim.
- No final disso, dá pra você ir pra direita ou esquerda, vá pela direita.
- Como está sua testa?
- Não foi nada, eu nem desmaiei, foi só o choque. Nada profundo.
- Tem certeza? – perguntei enquanto se dirigia para o banco do carona, ao meu lado.
- Tenho. Nada que uns dois pontos não resolvam. – ele abriu o porta-luvas e tirou de lá um rolo de papel higiênico, que usou para limpar um pouco do sangue que escorria pela testa. – Você foi incrível! Deixou o cara no chão e me colocou no carro, agora está dirigindo à noite na estrada deserta. Eu te admiro.
- Foi a adrenalina.
- O pessoal deve estar preocupado com a gente.
- É, pega o meu celular, tenta ligar pra eles. – eu não tirava os olhos da estrada interminável. pegou meu celular que estava na minha bolsa, provavelmente ele nem tinha tirado do lugar depois que eu dormi na ida.
O escutei falando ao telefone. ‘Alô?... Tá tudo bem... É que a gente perdeu a noção do tempo, a gente passou em vários lugares, além da sorveteria... Erm, foi isso... A gente vai pra escola amanhã de manhã, a gente acorda bem cedo. Não precisam se preocupar... Tchau, Beijo .’
desligou, tinha conseguido contornar ou não...
A estrada terminava... Mas não do jeito que eu esperava.
Três carros bloqueavam a passagem, com faróis muito altos. olhou pra mim em desespero.
- São eles! Sai da estrada, tenta ir pela beirada. Quer que eu dirija?
- Não, você está machucado.
Segui o que ele falou, tinha alguns homens já dentro do carro, na hora ‘H’ eu saí da estrada, e cortei caminho pela grama alta na beirada. Não saí muito, o suficiente para conseguir atravessar a barreira e ir para a direita. respirava aliviado no banco do carona, segurando na alça que tinha em cima do vidro do carro, devido a forma bruta com que o carro fez a curva.
Agora eu realmente eu estava sendo seguida.
Os três carros começaram a me seguir e não estavam muito atrás, eu sentia o olhar de sobre mim.
- ?
- Isso aqui tem algum nitro? Tipo, Velozes e Furiosos? – perguntei meio alterada, eu estava nervosa, mal conseguia olhar pelo retrovisor e ver três carros se aproximando.
- Não. – ele respirou e soltou o ar pesadamente. – Eu sei que não tem hora mais imprópria pra pedir isso pra você. Você... Talvez... Não queria... Erm... Deixa eu ver...
- Fala logo! – disse nervosa.
- Vocêquernamorarcomigo?
- Ãhn? – eu entendi direito. Ele me pede isso quando eu to sendo seguida por três carros lotados de homens querendo a minha cabeça e a dele?
- Isso que você ouviu...
- Você não tá me perguntando isso né? - tinha um cruzamento bem à frente. – Direita, esquerda ou reto?
- Reto. E só me responde sim ou não... Eu sou um pouco ansioso.
- E insano também. Um monte de homem querendo nos matar e você pergunta isso do nada? Você já sabe minha resposta.
- Hum.. Sim? – eu não podia desviar o olhar um segundo pra ele.
- É óbvio, Eu te amo idiota! Agora, pra onde eu vou?
- Esquerda. E aí já está na cidade... Ai, Deus... - virei meus olhos para ele e um carro havia encostado em seu lado. Num ato desesperador e sem medir os riscos, joguei o carro que eu dirigia pro lado do outro carro, onde um homem armado ameaçava . O carro foi jogado para o acostamento ficando pra trás. Pude ouvir respirar aliviado e eu finalmente virar a esquerda.
- Obrigado. – jogou a cabeça pra trás e voltou para a posição inicial. Olhei para o retrovisor e os outros carros não estavam mais em meu campo de visão. – Entra a próxima à direita depois à esquerda. Aí eles nos perdem de vez. – Fiz o que o falou e senti que podia respirar normalmente agora. Ele havia me tranqüilizado.
- Não foi um pedido de namoro muito romântico. – eu disse séria e desviei meus olhos da pista, já bem iluminada de lojas, carros, e olhei pra que sorriu de lado.
- Pensa bem, vamos contar para nossos filhos, netos, bisnetos, que começamos a namorar quando estávamos sendo perseguidos pelos bandidos do... Cornelio. – a voz fraquejou em dizer o nome de Cornelio.
- Eu sinto muito por Cornelio. Ele te criou.
- Não, você não tem que sentir muito. Ele ia te matar. Eu que sinto muito por você ter que encostar numa arma, eu tinha que te proteger. No fim, acho que eu fui a donzela em perigo.
- Você só não era um assassino.
- E você é?
- Agora eu sou. – depois que eu disse isso, fez um breve silêncio.
- Foi em legítima defesa.
- Não importa, eu matei uma pessoa. – senti uma lágrima rolar pelo meu rosto.
- Vira a próxima esquerda e a gente tá na rua do prédio. – ele respirou fundo e continuou. – Ele com certeza não se sentiria mal por ter te matado. Ele é um assassino, ele é frio, sem coração, ele te mataria sem dó. Você não é como ele, você agiu para salvar a nós dois. Promete pra mim que nunca mais vai tornar a repetir isso, ou pensar em Cornelio?
Pensei um pouco na resposta, pensar em Cornelio seria inevitável, mas eu não faria mais isso, por .
- Eu prometo. – assim, o porteiro do prédio abriu o portão e estacionei na garagem, desligando o carro.
- É isso aí. Você é forte . Me disseram que só os fortes sobrevivem, Cornelio disse isso, pelo menos nessa parte ele tinha razão. – ele virou o corpo pra mim, passando o polegar no meu rosto, que deveria estar branco de tão apavorada que eu fiquei nesse dia. Talvez a cor só voltasse daqui a alguns dias.
Ele pressionou seus lábios contra os meus, pedindo uma passagem – já cedida - para um beijo calmo e reconfortante. Eu já havia me esquecido de tudo o que passei, com um só beijo dele. Separei o beijo, puxando seu cabelo até ele afastar seu rosto do meu.
- Eu te amo, meu herói.
- Não, eu não sou um herói. Você é minha heroína, meu vício. Eu te amo. – ele disse sussurrando.
- Heroína... Vício.. Isso soou meio mal. Você agora usa drogas? – sorri de lado e ele riu baixinho.
- Não fala isso nem de brincadeira. – ele selou mais uma vez meus lábios e saímos do carro, indo para o elevador.
Chegamos ao apartamento e a primeira coisa que eu fiz foi me jogar no sofá.
- Eu não acredito que eu to viva! – disse sorrindo, já aliviada do fardo de hoje.
- Nem me fale! – chegou e deu um tapa espontâneo na televisão que começou a pegar do nada. – Eita, televisão do capeta! – ele riu sentando ao meu lado, passando um dos braços sobre meus ombros.
Prestei atenção na imagem destorcida da TV e o som vindo dela estava nítido.

"Acaba de ser encontrado morto, baleado em seu casarão, o milionário Cornelio Spud, dono da maior rede de Tabacaria no mundo. Ele estava sendo investigado, suspeito de controlar também um forte tráfico de drogas em todo mundo. O policial que não quis se identificar, afirmou que foi subornado e deu as imagens gravadas de um assassinato em Miami, o qual tudo indica que Cornelio era o mandante do crime, já que subornou o policial. A arma do crime não foi encontrada e homens fortemente armados foram encontrados vigiando o casarão. O tiro foi reconhecido por um vizinho que chamou a policia, e esta prendeu os homens armados do local. Tudo indica que o crime foi feito por um deles. Nenhum dos homens deu depoimento. Agora vamos com esportes... ’
- Acabou , acabou. – beijou o topo da minha cabeça. Eu nunca respirei tão aliviada em toda minha vida. Eu estava livre de qualquer ameaça. Sorri e me virei para ele.
- Obrigada por estar do meu lado, obrigada por me ajudar a superar esse fardo de ter matado um homem, não me sinto culpada. Me sinto aliviada de ter salvado a sua, e a minha vida. – selei rapidamente seus lábios. – Meu namorado.
- Vamos aproveitar que a gente tá aqui... O banheiro do seu dormitório é meio apertado. - Ele sorriu marotamente e eu sorri de volta. – Temos que comemorar a vitória. Passou , agora somos eu e você.
se jogou em cima de mim no sofá e começou a beijar meu pescoço.
A ideia de comemorar nunca foi tão boa em minha mente. Foi um dia cheio, eu precisava de uma recompensa.
- Ops, primeiro vamos cuidar desse seu machucado na testa? – eu disse empurrando ele pra trás. Ele virou os olhos indo comigo até a cozinha, pegar a caixinha de primeiros-socorros. Quero ver se ele fizer um escândalo.


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E passou...

Halloween: foi de Harry Potter... Ele tava meio cômico. Eu fui de Noiva Cadáver. A Festa da escola foi divertida, o casal autista, e foram combinando: Ele de Jack e ela de Sally. Não me pergunte qual era a fantasia do , e o foi fantasiado de hambúrguer e perdeu o prêmio de fantasia idiota só para a do Dave, que se fantasiou de Ketchup.
Dave havia começado a falar comigo de novo, pra quem gostava de mim antes, ele está bem mudado. Digamos que, ele mudou de time... E Jean adorou isso. – ele estava de Edward Mãos de Tesoura.
Nunca, nunca mesmo, eu ia imaginar Dave gay. Pelo menos agora o Jean tem uma companhia.
tinha razão quando disse que James olhava muito pra mim, mas então ele viu que eu estava feliz com e meio que começou a procurar outras garotas. Hoje na festa de Halloween ele se reconciliou com Kim, que foi fantasiada de enfermeira. Todo mundo viu o vexame da Kim, que ficou bêbada e ficou chorando pelo Jimmy, falando juras de amor e pedindo perdão. Ele – que estava de esqueleto - no começo se manteve firme, mas depois fraquejou e até chorou com ela, pedindo desculpas e dizendo que nunca conseguiu esquecê-la. Foi lindo isso. Vi muita menininha mal amada chorando vendo a cena. A bebida entra e a verdade sai, então Kim havia sido sincera e Jimmy finalmente deu uma chance pra ela de novo. Isso tudo foi um show à parte, teve até aplausos.
Então nessa mesma noite tive uma visão desagradável quando fui ao banheiro e peguei quase sem a sua fantasia estranha se atracando com a Britanny, vestida - ou quase vestida - de Mulher Gato.
A decoração estava linda e as pessoas animadas como nunca. Rolou de tudo na festa, estava sem inspetores. E eu de quebra devo ter engordado dez quilos comendo doces.

Mas então veio o...

Natal: Eu voltei para Miami com . Meus pais já sabiam dele, pois quando eu ligava de York eu contava dele e do meu namoro. Apesar de eu ter uma relação ruim com meus pais, eu tinha que ligar. No início ficaram com medo, mas eu os amansava a cada ligação, eles já estavam se acostumando com a ideia de um genro. Quando cheguei à Miami, fui bem recebida pelos meus pais, fiz as pazes com eles. também foi bem recebido, até participou do Amigo Secreto da família, com todos os meus tios e aqueles primos idiotas.
Visitei Juan e Catherine, estavam muito bem de vida e a filhinha deles é a coisa mais linda: Angela, que era muito parecida com Catherine. Eles também adoraram conhecer , que estava sendo muito simpático com cada pessoa que eu apresentava. Juan disse que Toddy estava preso numa clínica psiquiátrica, já Marvin e Aaron foram mortos por dividas que fizeram com presos na cadeia. Toddy havia ficado mais pirado que não sei o quê, fiquei meio triste em saber que ele estava nesse estado.
Fui guia turística de por Miami. Estava frio pra ir à praia.
A noite de véspera de Natal foi linda, o céu estrelado, minha mãe ao piano cantando músicas de Natal. tirou foto com a família e a ceia estava deliciosa, meu pai que havia preparado, porque minha mãe não cozinha nada.
Ganhei um vestido lindo do meu pai na manhã de Natal, da minha mãe ganhei um violão sensacional, do meu namorado eu ganhei o colar mais lindo que eu já vi na minha vida. Ele era de prata com um pingente - era uma pedrinha de brilhante, bem pequena. sabia do meu gosto por coisas simples e singelas.
Eu não vi que ele tinha passado no Miami Ink. Na manhã de Natal, ele mostrou, até para os meus pais a tatuagem que ele havia feito.
Uma árvore com flores alaranjadas, tatuada bem no meio das costas, entre a nuca e os ombros. Meus olhos se encheram de lágrimas e meus pais não entenderam nada na hora. Foi a árvore do jardim da escola, do dia em que eu havia conversado com ele mais abertamente pela primeira vez. A árvore com flores alaranjadas, que caía sobre o banco no qual eu estava deitada em seu colo. disse que foi quando ele sentiu que estava se apaixonando.
E mais: Todo processo de tatuar a árvore e o motivo da tatuagem, foi tudo gravado para ir ao ar em alguma temporada do reality show Miami Ink.
Eu sou péssima em dar presentes, para a minha mãe eu dei um chapéu de praia, era bonito, mas eu podia dar algo melhor - ela tem centenas desses. Pro meu pai eu dei uma camisa e uma gravata, faz três anos que eu só dou isso pra ele. Para o eu dei uma jaqueta do time de baseball de Miami. Me sinto como a pessoa que dá os piores presentes do mundo e ganho as coisas mais lindas. Eu não mereço tudo isso.
Ficamos para o Ano Novo, eu acho meio chato porque não ganho presente, mas eu como muito. Já que meu apartamento é de frente pro mar, ficamos vendo os fogos que as pessoas soltavam na areia da praia.
Viajamos de volta com meus pais porque a formatura seria dia 15 de janeiro.
No aeroporto, vi minha mãe chamando de canto.
Depois que a gente chegou ao apartamento – aquele lá, lembra? - ele me falou o que era: Minha mãe havia o agradecido por me fazer feliz, dizendo que ele foi a melhor coisa que já aconteceu pra mim.
É, tenho que concordar com minha mãe.


Capítulo 14 – The End

- ! Cadê a minha gravata que eu comprei lá em Miami? – berrou do quarto, eu tinha acabado de sair do banho.
- Não sei, já procurou na mala? – adentrei o quarto e estava de costas, apenas de calça jeans e all star observando a mala no chão quase vazia, pois já tínhamos colocado as roupas no guarda-roupa. Toda vez que via a árvore de flores alaranjadas em sua nuca eu me sentia a garota mais sortuda do mundo.
Eu nunca fui feliz assim em toda a minha vida.
- Não achei. – ele disse se virando para mim, me observando de cima a baixo. podia tirar a toalha de meu corpo com os olhos desse jeito. – Melhor ir se vestir logo, não quero ter que me atrasar no dia da formatura... – ele sorriu e eu fiquei levemente envergonhada. Ele se aproximou de mim selando meus lábios levemente. – Promete que vai ficar corada quando eu falo alguma coisa desse tipo pro resto da vida?
- Você gosta de me ver envergonhada, né ?
- Você não sabe o quanto. – selou meus lábios novamente, segurando meus braços, transformando o selinho num beijo calmo e embriagante. Ele separou antes que pudesse se aprofundar. – Melhor ficar por aqui.
Sorri para ele e fui me vestir para a formatura.
Eu iria com o vestido que meu pai me deu: prateado, até os joelhos, num tecido não muito maleável, que tinha um ar amassado. Para marcar a cintura, o vestido tomara que caia tinha um laço verde claro cintilante. Um vestido delicado e ousado ao mesmo tempo.
veio até mim, dando uma voltinha.
Ele estava absurdamente lindo: tinha um all star preto no pé, uma calça jeans um pouco escura e meio larga que ficava um pouco caída, usava uma camisa vinho e um blazer preto por cima, com seus cabelos bagunçados dando um ar despojado e sem gravata.
- Nossa, como meu namorado é lindo! – falei me aproximando dando um selinho de leve.
- Como minha namorada é maravilhosa, vou ser o cara mais invejado da formatura.
- E o mais cobiçado pelas garotas, me fazendo ser a menina mais ciumenta da festa. Ai de você se sair de perto de mim um segundo!
- Eu não vou querer fazer isso... – ele sorriu. – Você está linda.
- Ah, nem to de maquiagem.
- Não precisa...
- Precisa sim! Vou ajeitar o meu cabelo, porque não vou com ele molhado, e vou me maquiar. Se você quiser esperar na sala... – disse indo para o banheiro.
Não acredito até hoje que meus pais me deixaram morar com em York. Acho que depois que eles viram como o me fazia bem, que era um cara responsável e bom caráter, eles deram esse voto de confiança. Sinto que eles confiam mais nele do que em mim.
Eles estavam em York, num Hotel. Eu insisti para eles ficaram no apartamento, mas eles quiseram gastar dinheiro... Meus pais são retardados. Eles disseram que não queriam atrapalhar, tirando nossa privacidade. Quem vê pensa que eu e somos selvagens, sexo o dia inteiro... Mas não é bem assim, a gente vê um filme, fica conversando até tarde, ficamos um pouco no computador, discutimos coisas bobas, temos momentos melosos, momentos divertidos e no fim das contas, temos muitos momentos de safadeza. Mas isso não vem ao caso...
Eu me sinto tão bem em ter uma casa para chamar de minha. O apartamento de estava diferente. Trocamos todos os móveis e eletrodomésticos velhos por novos, doamos quase tudo do quarto de bebê para a caridade, pintamos as paredes de outras cores... O apartamento estava a nossa cara e o melhor: sem cheiro de coisa velha. Ficamos com os CDs e Vinis pra gente, os pais de tinham um bom gosto e os vinis não davam pra escutar, mas eu pelo menos acho um charme colocar os discos como quadros por todo o apartamento.
Naquela hora no banheiro, eu já tinha secado meu cabelo e dado jeito na minha franja – eu precisava cortar –, minha maquiagem leve já estava quase pronta e eu pretendia fazer uns cachos largos nas pontas do meu cabelo.
Eu queria ser digna de namorar um cara tão bonito e inteligente que nem . Ok, não tão inteligente.
Calcei um scarpin prata, peguei uma bolsa de mão e fui até a sala, verificar se já estava pronto.
Assim que eu cruzei o batente ligando o corredor dos quartos e a sala, desviou sua atenção da televisão e deu um sorriso de orelha a orelha.
- Você não tem dó de mim não, ?
- Não, te maltratar é divertido...
- Ah, eu não acho... – ele suspirou e sorriu. – Você é linda só pra me provocar... Vamos logo antes que eu desista de me formar. – ele desligou a televisão, pegou as chaves e me abraçou pela cintura, dando um beijo em mim perto da orelha e aproveitou pra absorver meu perfume. Sorri com a sensação que ele me dava só de sentir o meu cheiro no pescoço.
- Foi o que você me deu...
- Eu sei... Eu escolhi o perfume certo. – ele se afastou do meu pescoço e sorriu. – Agora vamos nos livrar da escola.
Saí primeiro pela porta e ele trancou a porta atrás de si. Andou com sua mão entrelaçada na minha até chegarmos ao carro na garagem do estacionamento.
Não era mais a BMW, disse que trazia más recordações... Agora era um Audi. , , James, Dave e Jean já estavam lá à nossa espera em frente ao portão da escola. Eles acenaram feito idiotas, como se já não tivéssemos os visto antes.
Dei um beijo no rosto de cada um.
Era incrível como Dave não perdeu o jeito de homem ainda, mesmo com toda essa convivência com Jean. Já este, nem se ele tentasse parecer homem ele ia conseguir. É, ainda não caiu a ficha que Dave era gay.
Jimmy estava cada vez mais radiante a cada dia que se passava. Kim havia chegado, nos cumprimentando e selou os lábios dele. Os dois pareciam muito felizes. O menino esquisito do cabelo bicolor, todo alternativo junto com a líder de torcida – ex-alternativa - dos cabelos longos e loiros com seu vestido vermelho que parava no meio das coxas. Aparentemente, não combinavam, mas você via em cada gesto que eles foram feitos pra ficarem juntos.
Os meninos estavam todos propícios a seduzir, até Jean – estava bem gay, mas ainda sim bonito.
- Tá ficando sério o negócio aí hein? Já estão morando juntos... – comentou com um sorrisinho. Eu sorri abertamente, assentindo com a cabeça, agarrada no braço de .
- Quem diria... – Dave comentou depois. – Vai dar casamento...
- Calma, eu nem me formei ainda – disse rindo.
- É, a gente sai daqui e vai direto pra igreja – riu e todos os outros olharam espantados. – Eu to brincando, calma.
- Eu adoro casamentos – Jean começou a falar com seu jeito Jean de ser. – É tudo tão lindo... Flores, vestidos, música, velas, homens de terno... – tive que rir.
- Ai Jean, só você...
- Vai dizer que você não gosta de homens de terno?
- Também... Mas prefiro sem. – ri alto e olhou pra mim dando risada também. Os outros riram meio assustados com minha taradisse, mas o que importa é que riram.
- O e a ainda não chegaram... Talvez ela goste do sem terno. –
finalmente falou alguma coisa, que também gerou risinhos. Hoje todo mundo ri de tudo.
- Não, ela já tá entrando... Olha ela ali... – James apontou para a entrada e vimos o casal de autistas entrando dando risadinhas.
- ! – meu lado histérico floresceu e eu berrei minha amiga que veio correndo me dar um abraço, deixando para trás.
- Ai , que saudade. Como passou de Natal e Ano Novo?
- Correu tudo ótimo, meus pais adoraram . Eles querem te conhecer, vão chegar daqui a pouco. Como foi o seu?
- Um pouco ruim, porque eu não voltei pro Brasil, mas eu fiquei na casa do . – falando em , ele apareceu ao lado de , fingindo indignação.
- Eu te dou carinho, atenção, te dou casa, comida e roupa lavada, e você me abandona assim?
- Ai, releva zinho, tava matando a saudade da . Pensa pelo lado bom: você está sendo uma ótima dona de casa. – piscou e o todos em volta riram, até que ainda estava fingindo toda sua indignação. – Brincadeira, você sabe que eu te amo. – apertou a bochecha dele e selou seus lábios.
- Não conhecem mais os velhos amigos não? – cruzou os braços.
- , acho que você não anda dando muito carinho pro não, seu namorado tá carente... – disse dando um abraço típico de amigos em , aqueles com tapinhas nas costas. Depois foi cumprimentar os outros e fez o mesmo.
Ficamos mais um tempo na frente do portão, rindo, falando futilidades. Até Anthony passar falando que todos deveriam estar no auditório I.
Ant saiu de lá e fomos indo ao auditório, meus pais entraram na escola e os recebi com um abraço apertado. Fiz uma apresentação rápida dos meus amigos, porque já devíamos estar no auditório.
Meus pais se sentaram em alguma poltrona e meus amigos e eu fomos vestir as becas. Teve todo aquele negócio típico de formaturas. foi o orador da turma, apesar de ele ter se saído muito bem, eu não segurei o riso. A senhora chorava na platéia. Homenagens, choros, alegrias... Teve de tudo. Eu entreguei flores para Mrs. Phillips, a professora de Fotografia.
Recebemos os canudos. É tão bom ouvir o seu nome e ir pegar seu diploma, abraçar os professores que te ajudaram ao longo do ano e berrar quando seus amigos recebem os seus devidos diplomas suados.
A cerimônia de premiação foi muito linda, no final jogamos os chapéus de formatura e fui correndo abraçar meus pais, para me despedir. Eu iria fazer provas para as universidades da Inglaterra, eu não iria voltar para Miami tão cedo.
Eles foram embora, o vôo não ia demorar a sair e fui comemorar com meus amigos, ainda tinha o baile de formatura.
Corri de volta onde meus amigos se encontravam. ainda estava com os pais, sendo mimado, mas os outros estavam todos tirando as becas atrás do palco do auditório e entregando para funcionários da empresa contratada para a formatura.
me viu primeiro e ganhei um abraço apertado dele.
- Hey , fiquei sabendo que não vai voltar pra Miami pra estudar por lá, na América. – ele disse antes de me soltar.
- É, amanhã eu tenho duas provas pra fazer. Clássico, mas vou tentar fazer Oxford, Cambridge...
- Você é inteligente, você passa fácil, pode escolher qual você vai querer. – ele sorriu e jogou sua beca numa cadeira. – Vou ver minha mãe e meu pai, a gente se vê na festa.
estava contando piadas que só ela e o riam para os pais dele, estava sendo paparicado pela mãe, que tinha o rosto inchado de tanto chorar. entregava uma flor para sua mãe orgulhosa e seu pai o olhava com imenso orgulho também. O pai de James o abraçava coletivamente com sua mãe. Dave estava com Jean conversando com os pais dele e os seus. Por um momento senti que também merecia um abraço, um olhar orgulhoso para receber, que ele nunca mais receberia de uma mãe ou um pai.
Ele estava como eu: olhando os amigos com seus respectivos pais e mães orgulhosos. Todos os formandos estavam nessa condição. estava encostado na parede, sem a beca e seus olhos tinham um leve brilho, revelando que queria chorar nesse momento, mas seus lábios prensados um no outro revelavam que não queria chorar em público. Percebi que se ele não tinha o abraço de pai e mãe que ele queria, eu tentaria dar um com todo o amor que existe em mim, mesmo insuficiente em comparação ao abraço dos seus falecidos pais.
Me aproximei dele, chamando sua atenção para mim. Imediatamente ele desencostou da parede e arrumou sua postura, então o abracei com toda a força que eu tinha que dar para ele. ficou meio surpreso, mas me abraçou exatamente como eu esperava que ele abraçasse sua mãe ou pai. Me abraçou forte, enterrando seu rosto nos meus ombros enquanto eu fazia carinho no cabelo dele.
- Eu tenho muito orgulho de você. Parabéns pela formatura , você vai ser grande na vida. – falei o que seus pais com certeza diriam para ele assim que vissem seu filho se formando.
- Obrigado, mesmo. – percebi sua voz fraquejando. Ele sabia que não precisava me retornar as mesmas palavras, ele sabia por que eu tinha dito aquilo. Pode parecer estranho para qualquer um essas palavras vindo de uma pessoa da mesma idade que a sua, mas para não era estranho, ele precisava ouvir essas palavras de alguém nem que esse alguém fosse eu.
- Aonde quer que estejam, estão muito orgulhosos do filho deles, assim como eu estou. – eu disse isso e senti ele me abraçar mais forte e beijar meu rosto antes de me soltar.
Seus olhos estavam bem marejados, esfregou a mão nos mesmos para tirar as lágrimas dos olhos e sorriu tentando passar segurança.
- Aonde quer que estejam, eles vão estar muito orgulhosos de mim, eu tenho certeza disso. – entrelaçou sua mão na minha e foi comigo até a saída do auditório, a caminho do salão de festas do Queen’s Shire College.
Sentamos numa mesa grande para guardar lugar para todo mundo. Não tinha muita gente ainda, uma música tocava, ainda ninguém na pista.
segurou meu queixo e me fez olhar bem nos seus olhos , os olhos que me hipnotizaram desde a primeira vez que eu os vi. Ele não disse nada, só mexeu os lábios lentamente para eu lê-los: ‘ Eu amo você’. Sorri envolvendo num beijo singelo e carinhoso, perfeito para o momento.
A única coisa chata nos meus amigos, é que eles sempre acabam com um momento como esse. Mal acabei de beijar o meu namorado e chegou a cambada fazendo arruaça assim que colocaram o pé no salão. Ri junto com .
Eu fiquei com um pouco de trauma de beber. Bebi bem pouco, eu bebi mais refrigerante, um coquetelzinho ou outro. também ficou nisso.
Todo mundo dançou, se divertiu, conversou, colocou o papo em dia... Já que nas férias só falei com . Tocou de tudo na festa, até salsa e samba. Pedi para me ensinar a sambar, mas ela não sabia, o que ela fez foi rir de todo mundo que arriscou a sambar na pista. É, era realmente tenso o jeito que dançavam.
Eu e resolvemos ir embora porque Jean e Dave estavam bêbados e começaram com umas coisinhas não muito agradáveis de se assistir. Não me incomodava muito, mas estava quase vomitando.
Estávamos cansados quando chegamos ao apartamento, deitei na cama de vestido e tudo.
- Vai dormir com esse vestido mesmo? – perguntou tirando o tênis.
- Ah, não sei. – levantei devagar e olhei para ele. – Como se sente livre da escola?
- Muito bem. – ele foi tirando o blazer e depois desabotoou a camisa.
- Bom, agora começa as faculdades... Minha prova é amanhã. – tirei o scarpin e joguei num canto do quarto.
- Também vou fazer prova pra Oxford e Cambridge, eu só não sei se eu passo. – finalmente tirou a calça e deitou de boxers de cogumelos do joguinho do Mario. É, ele tem uma assim, mas a da Hello Kitty é mais excitante, confesso.
- Eu vou para a faculdade que você passar – decidi tirar o vestido. Coloquei um baby doll azul que eu tinha no armário. Sem joguinho do Mario nem Hello Kitty.
- Não sei se passo em Direito... É concorrido. – puxou o lençol para si.
- Acredito em você. Você vai passar em Direito e eu em Jornalismo. – eu disse indo apagar a luz e indo me deitar.
- Bom, a gente estudou desde que a gente estava em Miami, não passar seria muito azar.
- É. – eu concordei e depois se fez um longo silêncio.
- Boa noite . – me abraçou por trás e depositou um beijo em meu ombro descoberto.
- Boa noite – eu já disse que adoro dormir de conchinha? Ok, disse agora. No momento estou cansada demais para refletir sobre isso. Meus olhos foram pesando até se fecharem completamente e eu mergulhar em algo no meu subconsciente. No dia seguinte fiz as provas. Não foi fácil, espero ter conseguido os acertos necessários. não falou nelas um dia sequer até chegar as cartas de confirmação.
Ele parecia aflito.
As cartas chegaram um mês depois que fizemos as provas para as duas Universidades. pegou em mãos e sentou comigo no sofá, iríamos ler juntos.
Tudo combinado: abrimos ao mesmo tempo a de Oxford. Li que tinha passado e um sorriso estendeu em meus lábios. Procurei esse sorriso no rosto de , mas não encontrei.
- Não passei em Oxford. – disse em tom derrotado.
- Vamos abrir a de Cambridge.
E assim abrimos o de Cambridge. Eu também tinha passado, nem quis sorrir e olhei imediatamente para um sério ao meu lado. Um sorriso discreto se fez nos lábios dele e ele olhou para mim.
- Acho que você vai ter que desistir de Oxford. Passei em Cambridge... – ele disse e eu o abracei.
- Eu sabia que você ia passar.
- Porque a gente não vai comemorar, hein? – eu conhecia aquele sorriso dele, muito bem. Eu sabia exatamente cada detalhe sórdido escondido nos pensamentos dele atrás daquele sorriso.
- Leu meus pensamentos. – eu tinha esses mesmos pensamentos sórdidos.
Nada melhor do que uma ótima comemoração depois de passar em uma grande universidade. E eu e sabemos comemorar muito bem.
Então era isso: O fim de um começo.
Nada poderia atrapalhar meus planos de ser feliz. Minha felicidade estava escondida nas menores coisas, como o jeito que os olhos de fecham quando o vento bate nele, o jeito maleável de seus cabelos submissos às minhas mãos, o jeito com que ele abre um sorriso mais para o lado direito do rosto quando ele faz alguma coisa certa, o jeito com que ele cruza os braços para dar risada de alguma coisa sem noção que o fez, o jeito que ele enterra o rosto em meu pescoço quando sente falta do meu perfume, o jeito que eu fico quando me drogo no perfume dele, o jeito que ele passa a mão nos cabelos levando-os para trás quando temos uma discussão pequena, o jeito com que ele segura meus ombros e pede desculpas, o jeito com que seus olhos pegam fogo quando me deseja, o jeito que seus olhos brilham quando diz que me ama... E então eu sei que o melhor jeito de ser feliz, é amar como eu amo cada detalhe de . O cara me fez esquecer de cada buraco de tristeza em meu peito, enchendo de amor para eu colher felicidade.
Nada pode me abalar quando está do meu lado, nem um tiro e nem o medo. Ele me ajudou a enterrar os problemas e deixar o que passou para trás. Se antes eu pensava que nunca poderia escapar dos erros do passado, hoje eu sei que os erros são um aprendizado, por maior que eles sejam. é a prova viva que qualquer coisa que tenha acontecido não é motivo para não tentar ser feliz.
Posso encontrar milhões de fatores que levam alguém a amar, mas só escolho um: Superar.
E ninguém supera nada sozinho, ninguém ama sozinho, ninguém é feliz sozinho.


The End


AGRADECIMENTOS: AA acabou.. D:
Vou sentir tanta falta dessa fic *-* Mas não fiquem aí pensando que vão se livrar de mim tão cedo MUAHAHAHA, tem uma fic a caminho.. só que essa não tem aventurazinha, vai ser um romancinho melodramático (mais um –Q)
Obrigada a todas vocês meninas que leram (ou perderam seu preciso tempo –Q), as que deixaram comentários, as que não deixaram... Obrigada mesmo *-*
Uns dias atrás eu fui no group do FFOBS e por acaso as duas meninas que estavam lá eram leitoras da minha fic.. muito legal conversar com vocês Miin Jones e a Ana (acho que é Borges, não tenho certeza u_u) nunca tinha conversado com alguém que acompanhava, adorei ter falado com elas.
Vou então deixar um contato aqui, pra quem quiser adicionar, seguir, etc...
Twitter: www.twitter.com/nicolevenuto
MSN (não entro muito): nick_fvenuto@hotmail.com (não riam dele, eu fiz quando tinha 10 anos)
Orkut: www.orkut.com.br/Main#Profile?rl=mp&uid=15226721308478593659
MySpace: www.myspace.com/nicolevenuto
Facebook: www.facebook.com/nicole.venuto

Ok, só falta dar meu CEP, RG, -Q

Quero agradecer a Emily, ela não vai ler esse agradecimento, mas eu to agradecendo a ela, minha musa inspiradora.
Agora, acho que vocês querem saber de algumas curiosidades, certo?
Vamos lá:
- O nome da principal é Kadence Hall, eu não uso meu nome nas fics, me sinto estranha..
- Eu sou Judd, mas na fic o McGuy principal é o Poynter.
- O trecho de falsificar o documento foi totalmente inventado, eu não tenho ideia como falsificar um documento.
- A ideia da fic surgiu primeiramente de uma colega de sala que estava dividida entre dois meninos, (mas a fic tomou um rumo completamente diferente -sss)
- O James é o nosso querido e amado James Bourne
- O nome da escola é Queen Ethelburga’s College, eu mudei porque tinha uma fic desse nome e não quis deixar igual. A escola existe mesmo e eu vi no Google Earth pra fazer a fic, tem o laguinho e tudo... *-*
- Eu me inspirei na minha prima Gabi para fazer a amiga brasileira na fic
- Essas curiosidades são bestas –SS
Então.. estamos perto do natal, Quero desejar a todas vocês um Feliz natal, um Feliz Ano Novo e que venha 2010.
Aproveitem que daqui a pouco vem 2012 e bye bye –QQQQNNNN
Olha, se eu falar que não dá pra fazer parte dois eu estaria mentindo, Dá pra fazer, mas não sei se conseguiria... Eu até tive uma ideia, mas é melhor deixar como está. Vou tocar o romancinho melodramático pra frente.
Obrigada mais uma vez, vocês são lindas e absolutas, amo vocês ?
E é claro... Obrigada por tudo Lara, beta mais diva <3
xx
Ni.
Nota da Beta: É agora que eu digo que a Ni é do mau por ter terminado essa fic, né? ;; TIPO, NUM POOOOOOOOOODI ): é tão tão tão ): Sei lá, eu amo muito OTSS e e e quero ela atualizando FOREVER, comofas que nunca mais vou abrir meu email e vai ter um capítulo dela lá? QQQQQ AIHAUHAIUIUAHIUAH aí óh, a Ni fica inflando meu ego com essas coisas aí, depois fico me achando e reclamam, aff.... QQ PAREI! To falando nada com nada. Mas enfim, se tiver algum erro nesse último capítulo (NÃO ACREDITO AINDA QUE ACABOU, ME DEIXA CHORAR! Mimimimi.), me avisem, ok? Mandem emails (scheffer.lara@gmail.com) ou me twittem (@LaraBouvier). Obrigada! Xx, Lara.
E NICOLE, QUERO SUA NOVA FIC NO MEU EMAIL, JÁ! AGORA! Q

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