Eu acho que a minha vida não poderia estar pior. Não, não é exagero da minha parte, antes fosse... Tenho uma família que não dá a mínima pra mim, a única namorada que eu tive me traiu e por isso nunca mais consegui ter algo sério com alguém... Sou um cara totalmente traumatizado. Tudo bem, eu assumo: eu não sou uma pessoa fácil de se lidar, por isso eu acho que os meus pais desistiram de mim. Não é fácil aturar um adolescente sem amigos, com um gênio difícil e ainda por cima com um par (ou mais) de chifres na testa! Eu até entendo o lado deles e não os culpo por isso, logicamente, eu sou o culpado de toda essa nuvem-negra na minha vida. O único momento que eu esqueço de todos os meus problemas é quando eu vou para o hospital. Não, eu não sou retardado e nem tenho doença nenhuma, vou lá duas vezes na semana para fazer uma visita às crianças e adolescentes que têm câncer. O nome do hospital é Royal Maddie, o melhor aqui de Cambrigde. Já que a única coisa que eu faço da minha vida é tocar violão, resolvi compartilhar esse meu dom com os que precisam de alguma distração. Sabe, sempre que eu saio de lá, eu me sinto bem. Eu levo todos os sorrisos daquelas crianças entubadas e cheias de agulhas pelo corpo comigo. Err... Vamos pular essa parte, pois eu tenho nervoso. Enfim, eu carrego comigo todos aqueles sorrisos sinceros com certeza de que fiz a coisa certa. Eu acho que todos os músicos deveriam fazer isso... Faz um bem enorme pra alma. Mas, de todas aquelas pessoas, uma me chamou atenção da última vez em que eu fui lá... O nome dela é e tem quase 17 anos e, sabe... Ela parece uma cópia minha, só que de saia e cabelos compridos. Isso me chamou atenção. Os pais dela, segundo o que ela me contou, estão quase desmoronando, ou seja, a própria está mais forte do os pais... Deveria ser o contrário, é a ordem das coisas, mas não, não era. E a força diária daquela menina me deixava maluco! Eu entrava no quarto dela todo o dia e era recebido com o sorriso mais encantador que você possa imaginar. Eu podia jurar que estava vendo uma menina perfeita ali na minha frente. Nem eu, que sempre tive problemas desde que eu me entendo por gente, tinha aquela força toda. Eu acreditava que, quanto mais uma pessoa passava por momentos difíceis, mais forte ela ficava para encarar qualquer outro que pudesse surgir, isso tudo se você tivesse o apoio das pessoas que deveriam estar ali pra você. Bom, não era meu caso. E era o caso dela. Era isso que me deixava intrigado e ao mesmo tempo orgulhoso... orgulhoso por saber que existem pessoas mais fortes do que eu... E sabe de uma coisa? Aquela menininha me fazia sorrir de todas as formas! A forma de como ela tentava passar a perna nos médicos que viam lhe dar os remédios, fingindo que estava em um sono muito pesado, nos enfermeiros que tiravam sua temperatura a cada cinco minutos... Eu juro que estava vendo a hora dela mandar qualquer um deles enfiar aquele termômetro em um lugar bem feio, se é que me entendem. Era isso todo dia... eu digo isso por que passei a ir lá sete dias por semana, a toda hora que podia... já era conhecido por todos naquele hospital e olha que ele não era nenhum pouco pequeno, viu... O que significava que eu estava realmente indo demais aquele lugar. E quem ligava? Tenho certeza que a não se importava... pelo contrário, ela sentia a minha falta quando eu não podia ir, por algum empecilho escolar ou qualquer ela estava em suas sessões de quimioterapia... pelo menos era o que a minha informante me dizia. Sim, eu já tratei de fazer amizade com uma daquelas médicas estagiárias que faz muito tentando acertar e no fim das contas acaba levando uma patada em troca. Era ela que me mantinha informado quando eu não podia ir. O nome dela era , coitada, até era legal... mas dava pena assistir o quanto ela batalhava e com o que ela tinha que lidar para, no final, ser menosprezada e destratada. A minha vontade era socar a cara daqueles médicos imbecis! Porra, tudo bem... eles não deviam ser nem um pouco desocupados para prestar atenção no que eles falam para pessoas que não tem tanta importância assim no hospital, mas, isso não lhes dava o direito de descontar todo o estresse que carregavam em pessoas que estudam para, um dia, ocupar o lugar deles ali. O que a iria pensar? "Ah, que legal, quando eu for médica, também vou poder descontar a minha raiva nos outros, assim como fazem comigo..." Se é que ela já não pensa assim... Enfim.
Mais um dia estava acabando e eu tinha que me despedir dela A cada dia que passava aquilo se tornava mais difícil para mim. E para ela também, eu podia sentia isso. Mas, hoje, de alguma forma, estava sendo diferente. Digo, eu estava sentindo algo diferente... que parecia estar adormecido em mim há muito tempo, só precisava de alguém para acordá-lo. Mas tinha que ser alguém que não tem muito tempo de vida? Eu sabia que aquilo era errado... E quem disse que a gente consegue controlar esse tipo de coisa? Se bem que se eu pudesse controlar, eu a escolheria, de olhos fechados... Por mais que ela tivesse toda a força do mundo e tivesse a mim, ninguém sabia se ela conseguiria passar por isso. A minha vontade e a vontade dela de sobreviver era maior do que a dúvida de todos aqueles médicos imbecis e da própria , eu diria. Por mais que doesse muito fazer aquilo, eu tinha que fazer. Infelizmente, não poderia ficar ali com ela a noite toda.
- Tchau, ... A gente se vê amanhã. - dei um beijo no topo da cabeça dela.
- , espera! Não vai agora... Eu tenho uma surpresa pra você. Fecha os olhos.
- Ah, não, ... Deixa eu ver! Você sabe o quão curioso eu sou!
- Anda, . Fecha logo! E senta aqui, do meu lado.
- Outch! - eu bati com o joelho na quina da cama.
- Ai, sua poia! Abre os olhos, SENTA e depois fecha de novo. - ela riu do meu acesso de lerdeza.
- Ok.
De repente, eu senti um calor em meus lábios. Sim, era ela que tinha causado tal sensação. Digo, ela estava me beijando... Imediatamente, encostei a minha língua em seus lábios, como se estivesse avisando que queria participar da surpresa também. E ela logo atendeu ao pedido e abriu um pouco a boca... o suficiente para a minha língua pudesse explorar todos os cantos daquela boquinha linda. Sim, meus caros, ela tinha uma boquinha de boneca. E eu adorava isso. Não só o fato de ela ter uma boquinha de boneca e sim porque ela me fazia sentir coisas que eu jamais imaginava que poderia sentir. Quando eu menos esperava, ela passava a mão pelos meus cabelos e aquilo me fazia sentir calafrios. Mas, eram calafrios diferentes, sabe? Não, nem eu sei. Era uma coisa tão nova pra mim que eu não sabia nem o que fazer... Passo a mão no cabelo dela também? Ou pego em sua mão? Será que devo acariciar suas bochechas? Meu Deus, eternize esse momento, por favor. - Sabia que eu queria fazer isso desde o dia em que te vi pela primeira vez? - ela disse, parando o beijo e me deixando com cara de bobo.
- Ah, é?
- É. Só que eu estava esperando a hora certa... Eu queria guardar uma ótima lembrança sua. De nós dois.
- Mas você não vai me deixar, ! Onde está aquela menina forte que eu conheço?
- Não sei, ... Os meus pais, os médicos... Eles me fizeram pensar e chegar a conclusão de que não vale a pena esse otimismo todo... Eu vou morrer e isso é um fato.
- PÁRA COM ISSO, !
- Não, , é verdade... E eles até cogitaram a possibilidade de acabar com as suas visitas diárias por aqui... Logicamente que eu não concordei com essa parte, mas, eu não pude fazer nada. A gente não vai poder mais se ver.
A medida que ela terminava a frase, meu ouvido e meu coração eram simultaneamente invadidos por uma mistura de sentimentos que eu jamais havia presenciado antes. Desespero por pensar na idéia de nunca mais vê-la, tristeza por vê-la desistindo assim, tão facilmente. E um pouco de egoísmo. É, isso mesmo. Egoísmo. Como eu ia viver sem ela? Não, eu não consigo nem pensar nessa hipótese. Não exite sem ! Eu preciso dela... A única pessoa que me entende! Deus não pode fazer isso comigo! Eu não fiz nada de errado para receber uma punição tão grave assim. Logo ela! O meu único e mais precioso bem... Não, eu não vou deixar isso acontecer.
A partir daquele dia, tudo acontecia às escondidas. A era uma parte crucial dessa coisa toda. Ela que armava tudo... Enrolava os pais de , para que pudéssemos ter um pouco de tempo a sós. Como eu sentia falta dos meus dias com aquela menina... Até quando eu ficava observando ela dormir... Eu adorava, aliás... Lembrava-me um anjo... Ok, eu nunca tinha visto um anjo antes, mas, qualquer coisa que seja linda, fofa... perfeita, servia para defini-lá. Eu nunca pensei que uma pessoa pudesse fazer isso comigo, juro. A minha vida pode ser dividida em “antes da ” e “depois da ”. Foi por ela que eu parei tudo que eu fazia, pois eu sabia, que, mais do que nunca ela precisava de mim ali, por mais que não quisesse demonstrar. Tá, outra confissão: eu não fazia nada da vida, só freqüentava a escola e sobrevivia de bicos que eu arrumava ali perto de casa, já que o dinheiro que os meus pais deixavam para eu passar a semana não dava nem pra sobreviver por dois dias. Ok, não é para tanto... mas eu não posso negar que é pouco. Mas, depois que eu conheci ela, não fazia mais nada disso. Não via sentido, sabe? Pra quê eu tentar melhorar a minha vida se o meu remédio estava deitado em uma cama de hospital? O meu objetivo principal era recuperar o meu remédio e não eram pais pessimistas e médicos imbecis que iriam me impedir, não mesmo.

Era uma quinta-feira normal, tirando o fato que de chovia e fazia muito frio... Em pleno verão. Seria isso um aviso? Bom, acho melhor me apressar.
- E ai, ? Posso ver a minha pequena?
- Err... . Sente-se, por favor.
- O que houve? Aconteceu alguma coisa com ela? Fala logo, pelo amor de Deus!
- CALMA! - respirei fundo e deixei-a falar.
- Bom... Quando fui ver a hoje de manhã... Ela... Ela...
- Ela o que, Quando fui ver a ???
- Ela havia desmaiado. Chamei o Dr. Ross e nesse momento ela está na sala de cirurgia, pois o Dr. e a sua equipe descobriram que o tumor no cérebro da regrediu... e que estava em um tamanho considerável para ser totalmente removido.
- Isso quer dizer que...
- É, . Ela vai ser curada do câncer. - não me contive, tinha que abraçar alguém.
- Você acabou de me dar a melhor notícia! Obrigada, ! Eu sou o homem mais feliz do mundooooo! - por um momento eu esqueci que estava em um hospital... pude sentir muitos olhares de reprovação pousados sobre mim. E daí? A pessoa que eu amava finalmente iria se livrar dessa doença! Posso comemorar? Muito obrigado.
- Ei, ei, . Calma... Ela ainda está na sala de cirurgia, temos que esperar ainda... E você pode parar de fazer escândalo, por favor? Se não quiser ser linchado, é claro.
- Já parei, já parei... - consegui conter a minha alegria. Não sei como, mas, consegui. Ainda tínhamos que esperar ela sair da tal sala, né.
- Você não quer ir tomar um café, comer alguma coisa?
- Não, Quando fui ver a , vai você! Aliás... um café ia cair bem pra você, hein! Dê uma olhada nessas olheiras! Estão horríveis!
- Ah, ... E você acha que eu não sei? Esse hospital tem exigido muito de mim... Ainda mais com toda essa história entre você e a ...
- Ai, meu Deus, como eu pude me esquecer? Muito obrigado por tudo, querida. Você foi uma parte crucial em toda a nossa história e eu nunca vou me esquecer disso. Vou ser eternamente grato! De verdade.
- Que isso, ! Não precisa agradecer... Vocês dois são muito especiais pra mim, pode ter certeza. - Sabe de uma coisa? Vamos, eu te pago um café... - Não, . Obrigada, mesmo. Mas, é que o meu chefe não vai gostar nada de me ver andando pelo hospital, enquanto o trabalho me espera...
- Eu juro que, se um dia eu encontrar algum médico daqui na rua, tirando você, é claro, eu encho a cara do infeliz de socos. Quem eles pensam que são para fazerem isso com você?
- É, ... Todos que me conhecem falam isso... Mas, sabe de uma coisa? Eu escolhi isso pra mim. Digo, escolhi ser médica... E se eu tenho que passar por isso tudo para ser o que eu mais quero, eu vou passar.
É... Eu estou começando a achar que tenho que ter uma aula com essas duas. Uma está passando por um momento muito difícil e tem plena certeza de que vai sobreviver. Tudo bem que os seus pais e os médicos fizeram uma lavagem cerebral nela, e agora ela acha que vai morrer e fim. Eu acho que ela não vai morrer, já que ela é jovem e tem muito o que brilhar aqui entre nós. E a também... Vai ser uma grande médica se continuar pensando assim. Graças a Deus ela não pensa da maneira que eu achava. E a cada dia que passa, os meus problemas ficam menores em relação aos delas...
- ??? ?? - sem perceber, eu tinha entrando em transe.
- Oi, Quando fui ver a . Desculpe-me, é que eu tenho essa mania de fic... - ela não me deixou terminar.
- SHHH! Cala a boca e corre. Acabei de receber uma mensagem no meu pager de um dos enfermeiros. A já está no quarto.
"A já está no quarto." "A já está no quarto." Você tem noção de quantas vezes essa frase ecoou na minha cabeça? Não, nem eu tenho. Era a notícia que eu mais esperava naquele dia, por isso, fiquei realmente sem saber o que fazer... Saia e comprava flores pra ela? Não, seu idiota, ela é alérgica. Faço uma serenata com a música que ela mais ama? Não, seu idiota, esse não é o momento de dizer que você a ama mais que tudo. Calma, respira e pensa. O que você acabou de concluir? "Eu amo ela mais que tudo" É por isso! O amor que deixa as pessoas assim, sem saber o que fazer! Outra coisa que eu acabei de concluir é que eu devo ter cara de palhaço ou uma casca de feijão no dente... Olha lá! Aqueles, que há uns quinze minutos atrás me fuzilavam com olhares de reprovação, agora riem feito crianças de mim. Por que será? Ah, sim, o amor. Eles devem estar rindo da cena patética que acabaram de presenciar. Ah, vai, me deixa! Eu sou o homem mais feliz do mundo, se esqueceram?
- Você vai lá no quarto ou vai ficar ai com essa cara de lerdo? - mais uma vez, eu estava em transe.
- Me leva até lá! Pelo amor de Deus!
- Como se você não conhecesse esse hospital... Enfim... Vamos logo!
- Vamos!
Corri o mais rápido que pude. Oh, Deus, como pude me esquecer? Foi aqui... Foi aqui que tudo começou. A noite mais feliz de nossas vidas, onde demos o nosso primeiro beijo... As nossas tardes felizes, como as tristes também... As sessões de música... Só eu sei como que era a carinha que ela fazia quando eu tocava as músicas que ela mais gostava. Especialmente uma chamada "Not Alone"... Ela dizia que o gênio que escreveu essa letra estava pensando em nós dois, quando eu entrei na vida dela. Bom, era fato que nós dois não tínhamos segredos, mas... Uma coisa eu não contei à ela. Eu tinha uma banda. Era passado, mas eu tinha. Ninguém me entendia, certo? Certo... E foi por isso que a banda acabou. Por desentendimentos bobos... Tá ai, é uma coisa que eu vou sentir falta pro resto da minha vida. Quer coisa melhor do que trabalhar com aquilo que você tem como hobby? Talvez essa seja a hora de contar pra ela... Afinal, aquela música era da minha banda. E eu que tinha escrito a letra, bem no começo de tudo. Eu finalmente entrei naquele quarto... Eu podia sentir o cheirinho dela e das nossas lembranças ali... Aquilo me deixava mais apaixonado ainda, como se isso fosse possível. A minha vontade era de pular nos braços dela e ali ficar... Até ela começar a me fazer cosquinha só pra ouvir a minha risada, que, segundo ela, era a mais gostosa, contagiante e linda que ela havia visto em seus quase 17 anos de existência. Preciso dizer que eu amava quando ela dizia isso? Não, né?
- Minha ... Eu já estava morrendo de saudade, sabia? - a cada palavra que eu dizia, me dava mais vontade de chorar. Ela estava muito fraca e aquilo estava me matando por dentro.
- Oh, ... Eu também... Mais do que você imagina... - a voz dela estava rouca... Era como se ela fizesse um esforço enorme para falar.
- Shhh, ... Não fala nada, agora eu tô aqui com você... - me deitei com ela na cama do quarto e ali fiquei durante um bom tempo. Até ela adormecer em meu peito com os carinhos que eu fazia nos fios de cabelos que ainda restavam em sua cabeça. Se meus olhos tirassem fotos, essa cena iria ser a foto principal do meu álbum. Olha que linda, parece um bebezinho indefeso. Meu bebezinho, aliás. Que não era mais indefeso, graças a mim. Como maioria das coisas boas e que você mais espera duram pouco, aquela cena apaixonante tinha que ser interrompida por aquele imbecil do Dr. Ross... Tudo bem, ele livrou a pessoa que eu mais amo dessa doença, mas eu não vou me esquecer da lavagem cerebral que ele, juntos com os pais da , fizeram na mesma.
- Desculpe atrapalhar, ... Mas, nós precisamos ter uma conversa. - ele abriu um pouco a porta e botou a cabeça na fresta.
- Tem que ser agora? - olhei pra ele e, em seguida, pra ela, adormecida em meu peito, pra ver se ele se tocava que eu não queria sair dali.
- Os pais dela que me pediram, meu jovem... Depois de uma longa conversa que tivemos...
- Então tudo bem, eu já vou. - Merda, deveria ser importante. Tinha que ser importante, eu não ia acordá-la a toa.
- ... Acorda... Seus pais e o Dr. Ross querem conversar comigo...
- Ah, , tá tão bom aqui... Tem que ser agora? - O meu peito é bom, ok.
- Tem, querida... Pelo o que eu vi, deve ser importante... - eu disse, quase morrendo por ter que deixá-la ali sozinha.
- Eu já volto, prometo. Fica bem, tá?
- Eu vou tentar, né... Não demora?
- Tudo bem, . - dei um beijo em sua testa e sai.
O Dr. Ross provavelmente estava me esperando em sua sala. Era lá que tudo era resolvido, já que além de médico, ele era diretor daquele hospital. Respirei fundo e fui até lá. Quando me aproximei da porta e estava pronto para bater na porta, ouvi as vozes dos pais dela. De certa forma, fiquei mais nervoso. O que eles achariam de mim? Será que já tem alguma opinião formada? Bom, se eu ficar igual a um idiota indeciso parado em frente a porta, eu nunca vou descobrir. Enfim bati na porta.
- Com licença... - eu disse ao Dr. Ross, que estava entretido em um papo com os pais de .
- Entre, meu jovem...
- Bom dia...
- Bom dia, . - os pais dela me disseram, em um uníssono, com um sorriso amigável. Legal, parece que eu agradei.
- Sente-se... - eu o fiz.
- Eu sei. Você deve estar se perguntando o porquê de nós termos te chamado aqui... A questão é: nós cometemos um grande erro. É, nós. Eu falo em nome de nós três. - O senhor pode falar logo, por favor? Eu estou ficando nervoso! - ele riu.
- Vamos direto ao ponto, então: nós queremos lhe pedir desculpas.
- Mas... Desculpas pelo o quê?
- Simples. A gente não acreditou em você... E nem na ... Nós nunca poderíamos ter falado aquilo... que ela iria morrer logo, que não havia mais nada a fazer, que aquele era o fim e pronto. - de repente, o pai dela tomou a palavra.
- Eu e a minha mulher só falamos isso, pois nós estávamos muito assustados e desesperados com a possibilidade de perder a nossa filha, sabe? Ela é pessoa que a gente mais ama nesse mundo. E ele acabaria se ela morresse.
- Eu entendo perfeitamente... Mas... err... Eu posso falar agora? - arrisquei, foda-se, eles tinham que me ouvir.
- Pode.
- Vocês são pais e eu imagino que é isso que os pais sentem quando seus filhos passam por situações como essa, mas, vocês demonstraram isso de uma forma errada e egoísta. Vocês só pensaram na vida de vocês sem ela e não na vida dela sem vocês! Ela não é a coisa mais valiosa no mundo pra vocês? Pois é, pra mim também! Mas, graças a Deus, eu mostrei isso pra ela. Apoiando-a nesse momento difícil e fazendo-a sorrir com as coisas mais simples, sabe? Como uma música que ela mais gosta ou o fato de eu dormir com um macaco de pelúcia desde os meus 3 anos de idade. Eu acho que não é a mim que vocês devem desculpas e, sim, à ela... Afinal, não foram as minhas esperanças ou meu otimismo que foram abalados... - nunca viu um desabafo? Morra feliz, acabou de presenciar um.
- Eu sei, , você está certo... - os dois choravam ali, na minha frente.
- A gente será eternamente grato à você... Foi você que trouxe alegria pra vida da , na verdade... Antes disso, ela era só um corpo semi-destruído por sessões de quimioterapia, assistindo a pais desastrosos chorarem sem ao menos dar o apoio que ela sempre precisou. Digo, essa parte não mudou porque a gente estava cego de desespero, como eu já disse... Quando você apareceu, a gente via sorrisos no rosto dela... A gente via uma alma ali. E ainda vemos isso, graças a você, meu jovem. E nós não tínhamos o direito de simplesmente não deixar mais vocês se verem. - eu realmente fazia bem à ela. Eu sou o homem mais feliz do mundo, pode escrever.
- Porque, quando ela se recuperar da operação vocês não conversam com ela? Falando tudo o que sentiram, pensaram, falaram desde o começo disso tudo?
- Bom, não é uma má idéia...
- Então façam isso... Acreditem, ela e vocês vão se sentir infinitamente melhores, assim como eu estou me sentindo agora. - eu disse, já me levantando da cadeira.
- ! Calma... Eu posso fazer uma coisa? - finalmente ouvia a mãe dela falar algo.
- Pode sim... - de repente, eu senti ela me abraçar, sem falar nada. Mas eu pude sentir que ela me agradecia... O abraço dela me disse tudo o que ela não disse. A tem pais maravilhosos e não sabia disso. Eu, no lugar dela, também não os acharia maravilhosos, mas, tudo bem. - ela me soltou e me olhou com um sorriso e olhos marejados, fazendo com que os meus também ficassem.
- Já vou indo, ok?
- Vai com Deus, meu filho.
Saí de lá mais leve, como se um lutador de sumô tivesse cansado de ficar em minhas costas. Às vezes, é bom expor o que se passa pelo coração. Passei no quarto dela para me despedir. Ela ainda dormia. Eu não conseguia parar de olhá-la dormindo ali naquela cama, como um anjo. Qualquer adjetivo que eu tentasse usar para caracterizar essa situação passaria longe da felicidade que eu estou sentindo de finalmente vê-la curada. Seria um crime se eu saísse e deixasse de ficar observando-a. E se ela sentisse frio? E se, por causa desse frio, ela pegasse uma gripe? Não, tudo que eu pudesse fazer para que ela não ficasse doente de novo, eu faria.
- Você vai ficar ai me olhando até quando? - ela disse, de repente.
- Oh, querida, eu não vi que você estava acordada... Está tudo bem?
- Eu estou acordada há um bom tempo... Mas, não queria fazer você sair daí, essa sua cara de bobo é linda. - já disse que eu sinto uma moleza nas pernas quando ela sorri? - Vem cá... - não pude evitar. Fui até ela e me deitei ali de novo, trazendo a sua cabeça para cima do meu peito de novo.
- Você não tem idéia de como isso me faz bem... - ela disse, aninhando-se ao meu peito, como um bebê.
- Escuta... eu falei com seus pais.
- Pra quê?
- Eles queriam me pedir desculpas por toda aquela situação que você já sabe... Mas, eu disse que eles não me devem desculpas nenhuma e, sim, a você, que foi a vítima disso tudo.
- Eu quero só ver onde isso vai dar, ... O que eles vão fazer, afinal de contas?
- Vão conversar com você, esclarecendo tudo. Entenda o lado deles, amor. - que lindo, eu a chamei de amor. E pelo visto ela gostou, porque não fala nada, só fica me olhando com uma cara estranhamente feliz.
- Adorei ser chamada de amor! - de repente, ela me dá um abraço. Não, não era um abraço normal. Era um abraço dela. E tudo que vinha dela, me fazia ficar com moleza nas pernas, coração quase saindo pela boca... Essas coisas que pessoas apaixonadas costumam sentir.
- Amor... Eu tenho que ir agora. Promete que vai ficar bem? - gostei dessa coisa de chamar de amor, vejam bem.
- Já?!
- É... Hoje é aniversário do meu pai. E, como nós fazemos todo ano, vamos sair para almoçar no mesmo restaurante. Enfim, eu só vou pra não arrumar mais problemas com eles, se bem que eu nem sei mais se eles fazem realmente questão da minha presença. - , não seja bobo! Apesar de tudo, eles ainda são seus pais. Queira você ou não. Promete que não vai fazer besteira?
- Acho que não pode ficar pior, ...
- Tenta pelo menos, amor... Tenta! - oi? Você pode repetir, por favor? Amor? Depois dessa, eu tento até me jogar da ponte. Menos, criatura, menos. Guarde seus ataques de emo para depois.
- Ok... Eu vou tentar.
- Quando a gente vai se ver de novo?
- Amanhã, é claro! Achou que eu fosse te largar por muito tempo?! - ela riu quando eu terminei a frase.
- Você não muda né, seu bobo! É lógico que não! Você vai passar aqui amanhã?
- Assim que eu acordar. Um beijo, , agora eu tenho que ir.
- Beijo, . E fala que eu mandei um beijo pro seu pai pelo dia de hoje.
- Ok, lindinha.
Aquela palavrinha ficou ecoando por um bom tempo na minha cabeça... "Amor", "Amor"... Essa palavra me deu a certeza que eu precisava. Sei lá, sabe... Eu não sabia se ela gostava de mim da mesma maneira que eu gosto dela. Eu achava que ela tinha me beijado em forma de agradecimento, por eu sempre estar do lado dela nas horas em que ela mais precisou. Mas, não. Eu era mais do que um simples amigo pra ela. E, você deve estar se perguntando... Como uma simples palavra pode trazer tanta confiança? Simples: porque eu vi um brilho especial nos olhos dela assim que ela disse aquilo. Eu nem preciso dizer que eu quase explodi de felicidade quando cheguei a essa conclusão, né? Enfim, deixa eu me concentrar nesse cabelo infeliz porque se não eu não saio desse banheiro hoje! E é melhor eu realmente me apressar porque eu já vi a minha mãe com caras melhores. Ou menos piores, sei lá.
- , você ainda vai demorar muito? - ela berrou do quarto dela, que é ao lado do meu.
- Não, mãe! Mais cinco minutos. - eu berrei de volta.
- Ok!
- Você vai à um baile ou a um simples almoço? Vamos logo com isso! - é, meus caros. Essa é a minha mãe. Um doce de pessoa.
- Eu já acabei, satisfeita? - abri a porta do quarto e disse.
- Sim. Vamos logo com isso.
Não, nenhuma palavra ecoou na minha cabeça dessa vez. É uma frase que a sempre me dizia... “Os pais nunca desistem dos filhos.” A cada dia que passava eu acreditava menos nisso. No começo eu não ligava, sabe? Tava tudo uma merda mesmo... Mas, agora? Agora que eu pude perceber como o apoio dos pais faz falta. Não que eu não sentisse isso antes, mas, vendo tudo o que passou sem um apoio concreto dos pais dela me fez parar pra pensar se essa coisa toda tivesse acontecido comigo. Sei lá, eu acho que já estaria comendo grama pela raiz há muito tempo.
- Eu não reconheço esse lugar...
- Você gostava muito de vir aqui quando era menor... - meu pai disse, enquanto dirigia. - Ah, é?
- Aham, você dizia que aqui nenhum monstro ou qualquer outra coisa ruim conseguiria te machucar porque as estrelas sempre iam cuidar de você. - eu ri, fazendo-o rir também.
- Err... Pai?
- O quê?
- Você pode parar aqui um pouquinho?
- Tá, mas vê se não demora porque não podemos chegar tarde lá!
- Tudo bem.
Assim que sai do carro, pude ouvir o som da discussão dos meus pais. Deve ser porque a imbecil da minha mãe não queria deixar meu pai parar o carro e fazer com que eu lembrasse desse lugar e, conseqüentemente, atrasasse o compromisso. Sabe de uma coisa? Eu me lembro. De cada coisinha que eu fiz aqui com eles... Dos piqueniques, dos acampamentos e até do dia em que eu aprendi a andar de bicicleta sem rodinha. É disso que eu sinto falta, pronto, assumi. Sinto falta de me sentir amado, sabe? Tá, eu tenho a e ela é tudo pra mim, mas, ela nunca vai conseguir me dar um colo de mãe ou um conselho sábio de pai. E o mais estranho nisso tudo é eu senti isso dentro do carro, quando o meu pai falava comigo. Eu não me lembrava de como era bom saber que, pelo menos, um daqueles que sempre esteve ali pra você, está de novo. A minha mãe sempre foi meio fechada, nunca demonstrou algum afeto por mim ou pelo meu pai. E quando eu falava que tudo estava uma merda, eu me referia, em parte, a esse bloqueio que sempre existiu entre nós. Eu acho que é porque nós dois temos o mesmo temperamento... Sendo assim, a gente sempre vai bater de frente. E o meu pai era imparcial... Mas, tudo o que a minha mãe falava, ele concordava, para evitar discussões “desnecessárias”. Ou seja, ele meio que estava do lado da minha mãe.
- Até que enfim! Achei que você fosse armar uma barraca ali e tirar um cochilo... Enquanto eu e seu pai esp... - eu a interrompi no meio da frase.
- Dá pra você, uma vez na sua vida, fingir que importa comigo?? - Depois que eu disse isso, ela ficou calada, assim como eu. Aquela sensação de leveza voltou... Eu finalmente consegui falar tudo o que eu sentia pra ela, mesmo que em poucas palavras.
- Finalmente chegamos! Não agüento mais ficar sentada nessa lata velha, sentido esse cheiro de carro que não vai pro lava jato há meses!
- E eu já estou de saco cheio de ouvir você reclamar... - ok, não era pra ela ter ouvido.
- Eu ouvi isso.
- Foda-se.
- Os dois, parem, por favor! Hoje é meu aniversário, eu gostaria de 24 horas de paz, vocês podem me dar isso? - vamos ignorar o fato que de o meu pai parecia estar dando sermão em duas crianças mimadas e, não, em uma mulher que já beirava seus 40 anos e um adolescente de 17.
- Por mim, tudo bem. - eu disse e, logo em seguida, ela fez um gesto de afirmação com a cabeça.
- Agradeço.
Entramos no restaurante... E, pra minha surpresa, ele estava muito diferente. Digo, fazia exatamente um ano que eu não ia lá! Estava com uma cara meio psicodélica, sei lá, me agradou.
- Gostou da cara nova, filho? - disse o meu pai, como se o restaurante fosse dele.
- Gostei sim, pai... - sorri da forma mais amigável que pude.
- Vamos, sentem-se aqui... - uma garçonete nos apontou uma mesa vaga. Por favor, não pensem que eu sou maluco ou coisa parecida, mas a primeira coisa que eu reparei foi o nome da garçonete, e, adivinhem qual era? É, . Isso mesmo, . Essa menininha me persegue... E eu adoro isso. Mesmo sem querer, eu me lembrava de tudo que nós tínhamos passado até agora... Enfim, é muito bom pensar nela.
- , o que você vai querer? - perguntou a minha mãe. Olha que milagre, esqueceu as garras em casa e está falando direito comigo.
- O de sempre, mãe. Fish and chips.
- Hm, ótima pedida. Vou acompanhar você. - vamos ignorar o fato que eu e a minha mãe nunca concordávamos na hora de fazer os pedidos, ok.
- E você, querido, o que vai querer? - oi? Querido? Definitivamente tinha algo errado ali.
- Vou pedir o mesmo que vocês.
- , você pode chamar a garçonete, por favor?
- É claro, mãe. - fiz um sinal qualquer e a moça atendeu assim que viu um idiota balançando a mão como quem quer dizer um tchau caloroso. Pera ai, é um sinal qualquer ou tchau caloroso? Vamos lá, me dê um desconto! A idéia de essa moça ter o mesmo nome que o meu bebezinho mexeu com a minha pobre cabeça.
- Gostaríamos de três fish and chips, por favor.
- Algo para beber?
- Por enquanto, não. - disse meu pai, finalmente.
- Ok, qualquer coisa que vocês precisarem, meu nome é . - Como se eu já não soubesse... Enfim, vamos fingir que eu não conheço nenhuma , porque se não a coitada vai pensar que eu estou caindo de amores por ela, sendo que não espaço pra outra pessoa no meu amado coração.
- , meu filho, em que mundo você está??? - disse meu pai, arrancando-me do meu transe.
- Ah, não é nada, pai, só estava pensando em alguém... Ninguém em especial. - ah tá, a quem eu quero enganar mesmo? Poxa, Bozo, nem você acredita mais em mim?
- Com esse brilho nos olhos... A quem você quer enganar, meu filho?
- É, querido... não precisa esconder esse tipo de coisa de nós, pode se abrir numa boa, estamos aqui pra te ouvir. - é impressão minha ou aquela barreira que, até então, existia entre mim e a minha mãe, está se dissolvendo? De certa forma, isto estava me dando uma felicidadezinha por dentro. Tá, tá bem, agora eu finalmente estava ficando completo. Pelo menos eu achava que sim, tudo pode mudar, né. Mas, ok, nada de pessimismo por aqui.
- Então tá... o nome dela é e tem 17 anos...
- Então era por isso que você estava que nem um desesperado dando tchau pra garçonete? Por causa do nome dela... - Poxa, pai. Um prêmio nobel por sua descoberta um pouco óbvia.
- Pera, Edward! Deixe-o terminar... - PÁRA. Minha cabeça tá, tipo assim, super confusa! A minha mãe interessada em alguma coisa da minha vida? Hm, isso é estranho!
- E está se recuperando de uma cirurgia para a tirada de um tumor maligno do cérebro... Ela é linda, em todos os sentidos. - percebi que consegui tocar meus pais mesmo que essa não fosse a minha intenção, tipo usufruir de problemas que não me pertencem para melhorar a minha situação com pessoas que também não tem nada a ver com isso, sabe? Não, eu não sou assim. Ainda mais quando estamos falando dela. Percebendo o clima que pairou ali naquela mesa, papai resolveu nos deixar sozinhos, inventou uma desculpa qualquer e saiu. Agora era eu e ela. Ela e eu. Quem sabe, essa seria a conversa que eu esperava ter desde o tempo em que eu era pior do que eu sou hoje. Vai, a entrada da na minha vida conseguiu “eliminar” boa parte da minha revolta. Às vezes (leia-se sempre) eu me pego sorrindo por causa dela ou me lembrando de uma piada sem-graça que só eu conseguia fazer para arrancar um sorriso daquela menininha. Na verdade, nós três sabíamos que algum dia essa conversa teria que acontecer, e pelas circunstâncias que nos encontrávamos, ela estava realmente prestes a acontecer.
- Errr... , meu filho... Eu não sei nem por onde começar... - ela disse, mexendo em um guardanapo, digo, quase rasgando o pobre em mil pedaços.
- Não comece, mãe. Deixe-me falar primeiro, ok?
- Tudo bem.
- Sabe... Desde aquele tempo em que eu era um completo rebelde, que eu não queria nada com a vida, não ligava pra porra nenhuma... Eu percebi o que causava essa minha revolta toda: eu não me sentia amado por vocês, sabe? Quantos aniversários eu passei sem nenhum “parabéns”? E quantas noites eu chorei e vocês cagaram solenemente para mim? Essas e outras coisas que eu não preciso falar foram formando uma bola de neve, que acabou se transformando em uma avalanche. Sendo mais claro: esses problemas todos que eu tive e que vocês não deram a mínima atenção fizeram com que eu me transformasse nesse merdinha que vos fala. E, graças a , eu me sinto melhor, por me sentir amado, sabe? Ela é meu mundo e tudo mais, mas ela nunca conseguiria me dar um colo de mãe ou então um conselho de pai nas horas em que eu precisasse... Esses anos todos eu fui oco por dentro... não via mais graça em nada que tivesse relação com sentimentos... cultivei um medo das pessoas, ou seja, virei uma ameba completa. E eu sabia que as pessoas que estavam ao meu redor sentiam pena de mim, eu podia ver em seus olhos... Pena? Pra que porra eu vou querer isso? Eu queria é me sentir amado! Poder gritar ao mundo todo que eu tinha uma família linda e uma namorada perfeita! Mas, infelizmente, isso demorou a acontecer. Ah, e se você não sabe... Lembra da Giovanna? Aquela vaca? Pois bem, ela me traiu com um babaca lá do colégio. Isso ai, eu era um adolescente corneado pela primeira namorada, ignorado pelos pais e que tinha medo de pessoas... Que beleza, hein? Enfim... Eu só queria te dizer, mãe, que eu estou disposto a tentar me entender com você, com o papai... com o mundo! Sabe, eu cansei de ficar me torturando por uma coisa, que se eu me esforçasse, poderia melhorar. - eu falei por todos esses anos e mais um pouco, fato.
- Eu sinceramente não sei o que te falar agora, além do óbvio, é claro. Esses anos que a gente estava totalmente distante, eu via você se afundando a cada dia que passava, e aquilo, ao contrário do que você pensa, meu filho, me matava por dentro. Só que eu não sabia como expressar isso pra você... Eu sei, eu fui uma péssima mãe esses anos todos, eu tenho pela consciência disso. Mas, eu peço pelo amor de Deus pra você tentar me entender... A minha intenção nunca foi te magoar... Eu estaria sendo uma idiota se falasse pra você que eu fiz isso pro seu bem... é lógico que não foi. Quando eu tinha a sua idade, , meus pais faziam o mesmo comigo... Até pior, eu diria. Já que eu tinha um primo bem velho que, sempre que podia, abusava sexualmente de mim. E eu tentava, de todas as formas, contar isso pros seus avós, mas, quem disse que eles me ouviam? Naquela época, era praticamente impossível conversar sobre sexo com os pais. Por isso, o número de jovens grávidas era alto. Enfim, esse não é o ponto que eu quero chegar.
- Pára de me enrolar e vá direto ao ponto, por favor. - aquilo já estava me dando nos nervos.
- Tudo bem... é que é difícil, sabe? Contar tudo isso de uma vez só...
- Tudo isso o que?
- Bom... é que vocênãoéfilhodoEdward! - ela falou, sem respirar.
- Oi?
- Você não é filho do Edward! - repetiu ela com os olhos marejados.
Vai soar muito clichê o que eu vou falar agora, mas é o que todas as pessoas costumam sentir quando recebem uma notícia dessas. Na verdade, foram várias coisas misturadas, que me fizeram sair correndo dali o mais rápido possível. Corri. Pude sentir as pessoas comentando, me olhando... Fodam-se todos vocês. É foda, né... quando a gente acha que tudo está melhorando, ficando um pouco mais próximo do normal, vem uma onda e leva tudo isso embora. Corri mais rápido.
- Eu contei pra ele, Ed. - minha mãe disse à ele, assim que chegou do banheiro.
- Ai, meu Deus.
- É, pois é. Eu não agüentava mais esconder isso dele.
- Bom, vamos dar um tempo à ele. Já sabemos aonde provavelmente ele foi, portanto, não devemos nos preocupar.
- Ai, Ed... eu espero que ele consiga me ouvir. Você sabe que não foi minha culpa! Eu só não suportava olhar pra ele e lembrar daqueles anos horríveis! - minha mãe disse, aos prantos.
- Não se preocupe, meu bem. Tenho certeza que ele vai te ouvir. Vamos, me dê um abraço. Eu sei que é disso que você precisa agora. - ela prontamente colou seu corpo ao de meu pai.
Essa coisa de me conhecerem é nova pra mim... De uma forma ou de outra, eles sabiam onde eu estava. Parabéns, seu idiota. Eu juro que não sei o que pensar... Porra! Por que ela não contou antes? Talvez porque nós nunca não entendemos direito e ela não queria piorar... Ok, vamos ignorar o fato que eu fui um imbecil com ela, podia ter ficado lá no restaurante e escutado... Mas, qual é! Eu tinha meus direitos! Eu não ia ficar lá comemorando o aniversário do meu pai, que, na verdade, nem meu pai é. Também vamos ignorar que eu não conheço o meu pai. Respira e pensa. Boa idéia, vou ligar pra . Ela certamente me ajudaria a acertar os ponteiros comigo mesmo. Afinal, o que essa coisinha não faz certo? Quando eu digo que ela é perfeita, ninguém acredita... Enfim. Passaram-se uns cinco minutos até que eu resolvi esperar um pouco... Ela não estava atendendo a nenhum dos telefones que eu tinha na agenda do meu celular! Nem preciso citar que eu já estava ficando puto com aquilo, né? E também não preciso nem comentar que altas hipóteses estavam rodando a minha cabecinha linda... e, não, elas não eram boas. Bom, o que me resta é esperar. Deite-me na grama e ali fiquei por uns bons 15 minutos. Se tem uma coisa que eu adoro é o cheirinho da grama bem perto de mim... Isso estranhamente me lembra a . Não pensem que, pra mim, ela parece uma vaca ou coisa parecida... é que ela sempre me disse que adorava fazer piqueniques no dia seguinte de uma tempestade. Ela adorava o cheiro de grama molhada. E eu passei a gostar só porque me lembrava ela. Sério, às vezes até eu fico cansado dos meus acesos de homem-apaixonado. Enfim, é a única forma que eu encontrei de me lembrar dos momentos que eu passei com ela. Bom... vou tentar de novo. Glória ao pai, tá chamando!
- ?
- Oi, . - olha essa voz, cara.
- Graças a Deus, estava quase tacando essa trolha longe! Tá ocupada?
- Pode falar.
- ... a minha cabeça tá uma confusão só! Eu não sei que porra eu faço da minha vida e eu preciso de você aqui!
- O que aconteceu, ? Fala logo!
- A minha mãe me contou que, aquele que eu pensava ser meu pai, não é. Eu simplesmente não sei quem é meu pai!
- Como assim, ? Ela não te contou?
- Não! Eu saí de lá do restaurante antes que acontecesse alguma coisa ruim.
- E aonde você tá, seu louco?!
- Calma, ! Eu estou bem. Só não sei te explicar exatamente aonde eu estou. Só sei que esse lugar me conforta.
- Vem pra cá pro hospital? Agora eu fiquei preocupada com você!
- Eu preciso conversar com você... To indo! Beijo.
- Beijo, meu lindo. Não demora, ok?
- Tá, eu vou dar um jeito aqui.
- Tudo bem, desde que seja rápido e que você chegue inteiro...
- Eu prometo chegar inteirinho pra você me encher de beijinhos!
- Assim espero. Vem logo!
- Ok, . Beijo.
- Beijo.
Mais uma vez eu vou utilizar um desses clichês baratos que todos dizem quando estão apaixonados... mas, porra! O que eu posso fazer que, muitas vezes, eles traduzem exatamente o que eu sinto pela ? Se eu disser que essa ligação de, no máximo, cinco minutos que eu tive com ela, me fez sentir 50% melhor, você acreditaria? Pois eu acho melhor fazê-lo, porque é assim que eu to me sentindo agora, 50% leve, 50% sem problemas. Mas, e a outra metade? Bom, essa eu vou resolver só Deus sabe quando. Agora eu acho melhor eu parar de filosofar e tentar achar um táxi se não aquela menininha é capaz de arrumar um jeito de vir aqui onde eu estou me dar uma bronca por ter demorado tanto e, depois, é claro, me dar os beijinhos que eu estou precisando mais do nunca.
- Finalmente, ! Achei que eu fosse esperar até amanhã. - me deparei com ela de pé, com a mão na cintura e batendo um dos pés no chão. Não pude deixar de rir.
- Ah, ! Não fica brava! Eu demorei pra achar um táxi porque o lugar onde estava era meio longe da cidade e tal... - ela fica tão linda brava, meu Deus.
- Sei, sei... Você só pode estar querendo me matar do coração, né, ? Eu aqui toda preocupada com vo... - já disse que não sei me controlar quando estou com saudades de alguém? Pois bem, não a deixei terminar a frase e dei um senhor beijo nela. Percebam o quanto eu sou bom nisso, deixando a modéstia de lado, é claro. Quando a gente beija alguém “a força”, a pessoa tenta fugir, né? Mas a nunca fazia isso, era impressionante, nem quando ela estava de birra comigo. Isso era muito, muito fofo.
- Então... senta aqui e me conta tudo. - ela disse, se recuperando do beijo-susto e apontando pra famosa maca.
Assim que ela falou isso, sei lá, me deu uma vontade de chorar. Parecia que a frase mexeu na ferida, sabe? Vamos encarar os fatos... mexeu sim... e muito, por sinal! Mas eu não poderia chorar, não na frente dela! Sabe, esse tempo todo eu vim acumulando problemas e nunca tive uma “explosão” de fato. Bom, vejo que essa tal explosão está vindo nesse exato momento. Se fosse pra acontecer, que fosse com uma pessoa que me entenderia perfeitamente. Deixei as lágrimas caírem como se cada uma delas representasse os problemas que eu tive até hoje. Apenas deixei que caíssem. Eu precisava daquilo, convenhamos.
- Calma, ... Vem cá, deita aqui no meu colo. Tudo vai ficar bem, você vai ver. Agora me conta... - disse ela com a sua voz mais doce do que o normal.
- Ai, , pelo amor de Deus, me abraça. Eu não sei o que fazer! To confuso, to puto, to triste... Me ajuda, ! Eu preciso de você!
- Você sabe que eu sempre estive aqui pra você, querido. Não é justamente nesse momento que eu vou te largar. Eu vou estar sempre aqui pra você, querendo você ou não. Mas... O que você quer fazer?
- Eu não sei, ... Eu queria saber o que fazer agora. Juro. Sei lá... Eu posso dormir aqui com você? Só essa noite? Por favor? O clima lá em casa certamente está horrível... Bom, eu nem sei se eles já estão em casa... Espero que sim, né. - por favor, olha o que ela falou pra mim! Aham, aham, eu mereço essa garotinha.
- Pode sim, amor. Amanhã você vai estar com a cabeça melhor e pode ouvir o que a sua mãe tem a dizer. Afinal, você nem deu uma chance a ela!
- Mas, ... Eu nem pensei nisso na hora! Você me entende, né? Não tinha como...
- Entendo, . Mas, ainda dá tempo de você dar essa oportunidade a ela... Se ela te contou isso, é porque, provavelmente ela estava cansada de não ter o afeto. - assim que ela acabou a frase, fiquei olhando pro seu rostinho... Por que ela sempre acertava? Por que sempre me fazia sentir melhor? Definitivamente, eu não seria o mesmo sem ela.
- ... Você falou pro seu pai que eu mandei um beijo de parabéns pra ele?
- Ops, esqueci...
- Você não muda, né, seu bobo! - só ela pra me fazer rir nessas horas mesmo.
Eu passei o resto do dia com ela, naquela maca. Às vezes, conversávamos, outras vezes o silêncio falava por si só. Cada vez mais eu achava que o clássico “eu te amo” estava longe de definir o que eu sentia por ela. Até porque o amor não foi feito pra ser definido. Aliás, um prêmio pro primeiro ser humano que amou e propagou tal sentimento maravilhoso. Simplesmente obrigada.
- Sabia que eu acho que os seus dedinhos têm algum tipo de magia? Sei lá, toda vez que eu olho pra eles, quando estão entrelaçados entre os meus, dá uma estranha vontade de beijá-los eternamente... As nossas mãos parecem mais bonitas juntas. - olhei pra ela, e vi que estava com um sorriso tímido no cantinho do rosto.
- Foi a coisa mais fofa que você já me disse, sabia? - pude perceber um tom rosadinho em suas bochechas.
- Viu, eu posso ser fofo. Mas só com você. Sinta-se privilegiada, viu?
- Até parece que eu preciso me sentir privilegiada... Você é só meu mesmo. Nenhuma outra putinha vai chegar perto. Aliás, aquela sua ex-namorada foi exterminada, né? Porque se não eu faço isso com um sorriso no rosto...
- , eu agora eu fiquei com medo de você. - eu devo ter feito uma cara muito engraçada, porque ela quase morreu de rir quando eu disse a frase.
- Que cara foi essa, ? Eu só revelei o meio de cuidar do que é meu, oras...
Opa. Cuidar do que é meu? Fui ali morrer e já volto... Pronto, voltei. Esse acesso de possessividade da me vez pensar uma coisa... Desde o dia em que demos o nosso primeiro beijo, nunca houve um pedido oficial de namoro de ambas as partes, ou qualquer coisa que significasse que o que a gente tinha era sério, sabe? Mas, a gente demonstra a nossa importância um para o outro com os menores gestos, como um carinho na hora certa ou aquela palavra que faz uma massagem boa no coração. Não que “pedir em namoro” não seja importante, pelo contrário, é mais um passo até o casamento. Tá ai, acho que essa é a hora certa em pedí-la em namoro... Quem sabe.
- Bom dia, ! Dormiu bem? - ela disse, com o seu melhor sorriso estampado no rosto.
- Melhor impossível. Mas... Que sorrisão é esse ai? Bom, se foi por causa da minha presença, eu fico muito grato. É sério... Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, ! Aconteceu! Eu finalmente vou poder ir pra casa! - de repente, eu senti... Tá, eu não descrever o que eu senti naquele momento. Só sei que eu poderia explodir de alegria, se não controlasse. E quem disse que eu quero?
- Você tem certeza, ? - não, . Ela é uma porta e você não sabia disso. - É lógico, né, ! Pode perguntar pra , se quiser... - 1, 2, 3... Explodi! Adeus, Terráqueos!
- Ai, , eu não acredito!
- Aham! Eu também não acreditei quando o Dr. Ross veio aqui junto com a para me contar!
- Por que você não me acordou pra me contar?!
- Fiquei com pena... Você estava tão lindo... E babado. - olha, que beleza, amigos. Dessa eu não sabia. Eu babo ok. Bom, eu devia estar sonhando com certo alguém. - Ai, ! Assim você me deixa envergonhado! - É bom eu já ir me acostumando, sabe... Quando a gente se casar e tiver que dormir na mesma cama, eu vou ter que olhar pra sua cara babada todo dia mesmo. Não que isso seja um sacrifício, muito pelo contrário. Até babado você fica lindo, pode acreditar. - Quer dizer então que você pretende se casar comigo?
- Mais do que nunca, acredite.
- Vamos comemorar?
- O que? O nosso casamento?
- Não ainda, lerdinha. A sua saída do hospital.
- Porque você sempre lê meus pensamentos?
- Esse é um segredo que eu nunca direi... Xoxo, Gossip Girl. - eu disse, tirando sarro da obsessão dela por essa série.
- Muito engraçadinho você. - deus, como eu amo deixá-la com tromba.
- Ora, vamos, ... Tira essa tromba desse rostinho de boneca! Cadê o sorrisinho mais ti lindo? Cadê, hein? Cadêêê? Achooooou! - ... Você anda mais retardado que o normal, sabia?
- Eu também te amo. - eu disse, pegando-a pela cintura.
- Bom, aonde vamos?
- Primeiro passo: avisar aos seus pais que estamos de saída. Segundo passo: falar alguma coisa que eu acabei de me esquecer. Terceiro passo...
- Anda, , qual é o terceiro?
- GUERRA DE COSQUINHAAAA! - eu disse, tipo assim, em um berro.
- Não, , isso não! Você sabe que eu não agüento! Pára! - nada como uma guerra de cosquinha para arrancar um sorriso dela.
- Tá todo mundo olhando para a gente, sabia?
- É?
- Uhum.
- Então, calma aí. - Subi em uma cadeira vazia que estava jogada em um canto qualquer, parecia até que ela estava esperando por mim.
- Não se atreva...
- Tarde demais. - eu dei um pigarro para que todos que estavam perto olhassem pra mim. Imagine um político em cima de um palanque. Era o que parecia. Só parecia, por favor.
- Se você tem amor a sua vida, desça já daí, ! - ela disse, parecendo realmente brava. - Espera, . Eu preciso falar umas coisas pra eles.
- Mas você nem os conhece!
- Shhh, . Me deixa falar.
- Aff, tá bom. Mas, anda logo, porque eu quero sair daqui o quanto antes. - ela falou, quando viu que eu não iria sair dali.
- Ok.
- Bom... Hoje é um dia especial pra mim. Ou melhor, hoje é um dia especial pra nós dois. - eu a puxei para que ficasse junto comigo em cima da cadeira.
- Essa menininha aqui tinha um tumor no cérebro, que muitos achavam que iria derrotá-la. Mas, pelo contrário, ela foi mais forte do que ele e conseguiu vencê-lo! O fato é que... Ela é muito mais forte do que vocês imaginam, meus caros. Afinal, conseguir superar uma doença dessas sem o apoio dos pais não é uma coisa muito fácil... Mas, eu estava lá para apoiá-la. Querem saber de uma coisa? A cada dia que passávamos nesse hospital, eu me sentia um merda. Sabe aquele tipo de pessoa que vive reclamando da vida sem motivos? Bom, eu não reclamava sem motivos, porque eu também tinha os meus problemas, mas em alguma etapa da minha vida eu devo ter feito isso e acredito que cada um de vocês também tenha. Até ela. Mas, quando você passa por uma situação dessas, acaba percebendo que isso não vale a pena. Não vale a pena ficar se lamentando por uma coisa pequena, como um cocô de cachorro que você pisa ou um semáforo que teima em não ficar verde pra você finalmente chegar ao trabalho. Se essas coisas acontecem, é porque era pra acontecer. A solução é simplesmente aceitar e tentar arrumar uma maneira de superar essas dificuldades pequenas, como passar seu pé sujo em uma árvore ou pegar um caminho mais curto. Eu conclui isso no primeiro dia em que eu vim aqui e consegui botar um sorriso no rostinho das crianças que são tratadas aqui.
- É verdade... Meu filho fala o dia inteiro de você. Ele me disse que, assim que sair daqui, vai querer tocar violão e ter uma banda. - uma senhora disse.
- Como é seu nome, senhora?
- Deanne.
- Deanne, nunca deixe seu filho desistir! Fale à ele que fico muito feliz em ser seu exemplo.
- Viu, gente? São coisas assim que me fazem nunca querer parar de fazer o que eu faço... É muito bom proporcionar isso a uma criança. Bom, eu falei isso tudo para chegar a um ponto: a . - ouvi risos abafados. Eu sou tão idiota assim? Mas, percebi que olhavam pra ela... Que estava mais vermelha que um pimentão. Ótimo, eu não sou tão idiota assim.
- Eu conheci a aqui, no primeiro dia em que eu fui tocar violão para o leito dos adolescentes. A primeira pessoa que eu vi foi ela. Depois de longas horas de conversa, percebi que tínhamos tantas coisas em comum, que parecia que eu estava vendo um reflexo meu, só que de saias e traços femininos. Eu saí de lá mais feliz do que o normal. Demorei pra perceber que eu estava totalmente apaixonado por ela. A partir desse dia, a minha vida resumiu-se a esse hospital, mais precisamente ao quarto 303. Eu estive em um carrossel de emoções, fiquei entorpecido por saber que eu sempre a teria comigo, e fiquei desesperado em pensar que eu poderia perdê-la. Também fiquei muito puto quando os pais dela proibiram as minhas visitas. “Ele enche a vida dela de esperanças falsas” - foi o que eles disseram ao médico - E, hoje, eu estou explodindo de felicidade porque finalmente ela se curou do câncer e está indo pra casa! Sempre que vocês, parentes dessas pessoas que têm essa doença, pensarem em desistir, lembrem-se da . Desistir foi uma palavra que nunca esteve no dicionário dela, nem quando os pais dela pareciam ter jogado a toalha. Eu a amo por ser essa fortaleza, eu a amo por sempre me entender, eu a amo por sempre dizer as coisas certas nas horas certas, eu a amo por nunca ter desistido de vencer... Eu a amo por ter certeza de que ela vai ser a mãe dos meus filhos. - parei de falar, pra que exatamente eu não sei. Olhei para aquelas pessoas todas e pude ver que a maioria chorava... Não sei se elas se identificaram com tudo o que eu tinha falado, não sei se estavam felizes ou se estavam tristes. Só sei que, de alguma forma, eu tinha tocado o coração delas. Olhei pra ... Ela estava chorando... Muito. Assim que eu olhei pro rosto dela, ela pulou em meus braços, num abraço forte. Ela sussurava vários "eu te amo" no meu ouvido... Vale dizer que eu estava um pouco mais feliz a cada vez que ela falava isso pra mim. Eu podia ouvir aplausos das pessoas que assistiram aquela cena, que transbordava amor para todos os lados. Antigamente, eu diria que isso era uma completa melação e que eu não acreditava no amor. Mas esse seria o na fase “antes da ” falando. Porque o outro ... Bom, vocês já sabem, né?
- Antes de eu ir embora, eu queria deixar os meus agradecimentos. Aliás, não só os meus, mas como os da também. Pois sem ela, a gente não teria conseguido se ver quando os pais dela proibiram. , cadê você? A gente sabe que você está ai...
Quando eu terminei de falar, pude ver uma pessoa de branco, meio descabelada, se aproximando, no meio da pequena multidão que se formou em frente ao lugar em que eu falava. Era ela.
- Oi gente! Eu não posso ficar por muito tempo. O que vocês querem?
- Só pra constar: você já sabe da novidade, né?
- Aham. Fico muito feliz por vocês dois, mas, vou sentir saudades.
- E é por isso que nós estamos aqui pra agradecê-la, . Por sempre estar nos ajudando a passar por cima da ordem dos pais dela. Você colocou o seu estágio em risco por nós, e isso a gente nunca vai esquecer. Muito obrigado por tudo.
- Eu é que agradeço por vocês me deixarem participar da história de vocês, mesmo que não fosse da forma mais agradável. - ela disse.
- Fica mais um pouco. Ou melhor, saia com a gente pra comemorar.
- Eu não posso, você sabe. E sabe também que eu desejo tudo de bom pro casal mais fofo que eu já conheci! Passem aqui um dia desses pra me ver. Eu realmente vou sentir falta dessa sua cara de lerdo, .
- Pode deixar, . Assim que der, a gente passa. Ah, e obrigado pela parte que me toca.
- Beijo, casal, eu tenho que ir antes que o meu chefe corte meu pescoço pra fazer macumba.
- Tchau, . - dissemos em um uníssono.
Assim que a saiu, as pessoas ficavam olhando pra minha cara, como se dissesem "hey, meu filho, não vai continuar não?" Isso significa que eu posso ser político um dia! Credo. Enfim, eu não poderia ficar falando ali o tempo todo, por mais que eu tenha me sentido aliviado e tudo mais. Eu tinha coisa muito melhor pra fazer hoje.
- Você é perfeito, sabia? Eu nunca imaginei que fosse dizer aquilo tudo!
- Nem eu sabia que era capaz. Ainda mais com toda aquela platéia ali.
- Ai, que bom que você é meu. - ela me puxou para um beijo.
- Sabia que eu adoro seus ataques de possessividade? - eu falei entre um estalinho e outro.
- Sabia. E, acredite, eu não faço de propósito. É bom zelar pelo o que me pertence, sabe... Ainda mais quando a gente não pode confiar em todo mundo que encontra na rua.
- Bom, nesse ponto você está certa...
- Neste ponto? Por quê?
- Aaaai, ! Não começa com os biquinhos. Aliás, começa sim. Você fica mais linda ainda quando fica brava.
- Humpft, então só por causa disso eu não vou fazer!
- Então tá, não faz ué. - quer ver? Ela vai vir cheia de meiguisse pra cima de mim. E eu não vou conseguir resistir. Idiota.
- Own! Ficou bravinho!
- Fiquei nada, tá!
- Own, você sabe que me ama!
- O pior é que eu sei.
- Vamos comer algo na rua e depois vamos pra casa.
- ... Eu preciso ir pra minha casa... Meus pais devem estar preocupados.
- Ai, ... Vamos comer comigo e depois eu te deixo em casa, ok? Eu quero que você me veja comendo algo que não seja aquela comida nojenta do hospital!
- Ok então. Vamos, mocinha?
- É pra já.
Paramos em uma padaria qualquer e tomamos um bom chá com torradas. Eu não comia tão bem assim faz um bom tempo. Talvez seja a companhia, ou sei lá. A quem eu queria enganar afinal? É claro que é por causa dela! Tudo fica mais azul com ela por perto.
- ?
- Oi.
- Vamos?
- Ah... Vamos.
A minha casa não era distante dali, portanto, uns 10 minutos de caminhada e já estávamos em frente à minha casa. O que não seria nenhum sacrifício, adorava a sensação do sol entrando na minha pele. Era parecido com o que eu sentia quando a me abraçava.
- Poxa... Eu não queria que você fosse.
- Eu também não queria, . Mas eu tenho que resolver essa situação com os meus pais, você sabe...
- Então vai lá. Qualquer coisa, já sabe né?
- Ligo pra todos os seus telefones impossíveis e imagináveis.
- Menino inteligente!
- Menina linda! - eu não podia deixar de ficar derretido quando ela se preocupava comigo.
- E o meu beij... - quando se trata de beijo, meu amor, eu sou bem rápido.
- Adoro quando você lê meus pensamentos, .
- E eu te digo o mesmo. Agora, eu tenho que ir.
- Se cuida e não esquece de me ligar!
- Ok.
Por mais que eu soubesse que eu poderia ligar pra ela ou que a gente pudesse se ver a qualquer momento, eu não podia deixar de sentir meu coração apertado vendo ela se distanciando de mim cada vez mais. Acho que é o costume de pensar assim. Acorda, imbecil. Ela não vai mais morrer e vai ficar com você pra sempre, por sinal. Eu tenho cada idéia às vezes, que só Deus sabe. Enfim, entrei com um pouco de receio em casa, vai que os meus pais estão me esperando com armas na mão pra me matar? Eu e a minha imaginação fértil. Andei, andei mais um pouco... E nenhum sinal de armas, bombas... Ninguém por perto. Subi as escadas e ouvi alguns (muitos) risos abafados. Ora porra, estaria eu atrapalhando uma comparecida dos meus pais, se é que me entendem? Bom, quando as pessoas fazem esse tipo de coisa, não costumam rir tanto, eu acho. Bati na porta.
- O que vocês estão fazendo, eu posso saber?
- Ah, querido... Nós estávamos vendo umas fotos suas aqui e lembrando de como você era gordinho! (n/a: own *-*) - ótimo, nem passou perto do que eu estava pensando. - Pode entrar, filho! - disse Edwar... meu pai... err... Sei lá.
Era a última cena que eu esperava ver, juro. Eu esperava entrar em casa e sentir aquele clima pesado, sabe? Não ouvir risadas e mais risadas. Mas, sabe o que isso me parecia? Que os meus pais estavam finalmente começando a me compreender. Nem me ligaram desesperados ou colocaram um batalhão de choque atrás de mim. Me deram o tempo que eu precisava pra por as idéias no lugar. E um sinal que veio da minha parte, mas que é meio difícil, sei lá porque, falar, é que eu senti uma vontade enorme de me juntar a eles. E foi isso que eu fiz.
- Eu gostava de jogar bola, mãe?
- Gostava é pouco, ! A bola foi uma irmã que você não teve!
- Sério?
- Sério! Você tem noção de quantas festinhas de aniversários você teve com o tema “futebol”?
- Err... não.
- Até você descobrir uma coisa chamada violão! Uns doze anos tendo festas com o mesmo tema. E o engraçado que você abria o berreiro se a gente ousasse em dar outra opção, não é, Ed?
- Aham. Lembra daquela que a gente fazer? Do Ursinho Pooh? - ele disse, prendendo o riso.
- Lembro! Você só aceitou usar a roupa do ursinho porque iria ganhar uma bola nova. Ainda bem que existiam máquinas fotográficas naquela época!
- Aqui a foto. Você com um sorriso de orelha a orelha, no dia da festa, só porque ganhou a bola de presente.
- Pelo visto, eu era bem viciado mesmo... - eu disse, sentindo que o assunto iria acabar e aquele silêncio desconfortável iria pairar pelo quarto.
- Err... . Você sabe que a gente precisa ter uma conversa, né? - ótimo, eu não estava certo. Mas, não sei se estou preparado para o que vem a seguir.
- Sei.
- Então...
- Mãe, eu posso falar, tipo assim, tudo? - eu disse, meio que ansioso.
- É claro, filho.
- Bom... Ontem, quando você me contou a verdade sobre o meu pai, eu simplesmente perdi a cabeça. Odeio mentiras como qualquer ser humano normal costuma fazer. Mas, eu não pensei no seu lado. Eu não pensei em como você sofreu todos esses anos, guardando esse segredo entre você e o Edward. Eu não pensei também que quem a gente deve considerar como pai é aquele que nos cria. É muito fácil na hora de fazer... mas, na hora de assumir todas as responsabilidades que um bebê tem, só quem ama de verdade consegue fazer. Eu me esqueci disso, de perceber que vocês dois só queriam o meu bem o tempo todo. Eu fui um completo idiota, eu sei disso. E, por isso, eu queria me desculpar. Me desculpar por todos esses anos que eu não dei a mínima pra vocês dois e, por ontem, por não ter ouvido você, mãe.
- Filho... Eu demonstrei meu amor da forma mais errada possível, ou melhor, eu não demonstrei o amor que eu sentia e sempre senti por você. Afinal de contas, não tem como você não amar uma pessoa tão indefesa, que depende única e exclusivamente de você o tempo todo. Nós dois temos culpa nesse afastamento, você sabe disso. Eu não agüentava olhar pra você e lembrar daquele monstro. Eu estou disposta a recomeçar... Estou disposta a recuperar todos esses anos que nós perdemos. Eu, você e Ed. - eu também choro ok, com licença.
- Eu também, mãe. Eu estou totalmente disposto a recomeçar... Eu quero ter uma família de novo! Eu quero sentir aquele cafuné de novo em meus cabelos, eu quero me sentir amado outra vez... Amor que só vocês, meus pais, podem me dar... Como eu senti falta disso, mãe. Você não faz idéia.
- Eu também, ... Eu meio que não queria me aproximar de você, porque eu sabia que iríamos acabar brigando! Era como se existisse um muro entre nós dois.
- Um muro que vai ser demolido daqui a pouco.
- Com certeza!
- Err... Pai? Você está chorando? Mãe? Você também?
- Meu filho... Você não sabe o que eu passei esses anos todos. No meio desse muro, tinha uma ponte. E essa ponte era eu. Eu não sabia a quem dar razão, a quem dar carinho... Eu não sabia de nada. Eu só sabia que qualquer coisa que eu fizesse poderia gerar alguma briga. E, acredite, era a última coisa que eu queria ver. Sabe... Eu não fiquei chateado quando você descobriu a verdade sobre o seu pai. Eu já esperava por isso... Foi totalmente normal a sua reação. Eu sabia que você me amava, só estava confuso com a informação nova. Era o que qualquer pessoa normal faria. Por isso, nós demos o tempo que você precisava pra pensar... E, veja só, funcionou! Você está aqui, expondo todos os sentimentos pra nós. A partir de agora, filho, tudo o que você não gostar ou gostar, fale com a gente. E, nós vamos fazer o mesmo com você, porque, só assim, a nossa família vai voltar a ser o que foi há muito tempo atrás.
- Eu não tenho o que falar. Mesmo você falando que não ficou chateado, me desculpa? Me desculpa por ter ao menos pensado que eu não te amava? - não, eu ainda não parei de chorar.
- Eu te desculpo, . Não tenha dúvidas disso.
- Abraço em grupo? - propôs a minha mãe, após enxugar as lágrimas.
- Agora sim, o muro pode ser demolido. - eu disse, ainda abraçando-os.
- Pra sempre. - meus pais disseram em um uníssono.
Agora sim, eu sabia o que era ser completamente feliz. A cada palavra que os meus pais diziam, meu coração se enchia de alegria, mas era tanta, que eu achava que era um sonho. Por favor, se isso tudo for um sonho, eu não quero acordar jamais. Eu tenho uma menina linda ao meu lado, pais que eu descobri serem maravilhosos... O que mais eu posso querer? Eu sempre tive vontade de, quando eu me sentisse feliz de novo, gritar. Gritar, às vezes, faz bem. E, agora, eu finalmente poderia gritar pra quem quisesse ouvir que eu era o homem mais feliz do mundo. Eu recomendo esse tipo de sensação. É tipo assim, a melhor coisa que eu poderia estar sentindo no momento.
- E como é que está a , ? - meu pai perguntou, após o tempo em que passamos tentando nos recompor.
- Ela saiu do hospital hoje, pai! - eu disse em uma voz empolgada.
- Ai, meu filho, que bom! Mesmo sem conhecê-la ainda, já a adoro. Olha só o brilho no seu olhar quando você fala dela! - minha mãe disse. A essa altura do campeonato, eu já não me importava se estava na cara ou não que ela era tudo pra mim.
- Falando nisso... Quando vamos conhecê-la? - meu pai perguntou.
- O mais rápido possível... Até por que... - eu falei, atiçando a curiosidade dos dois.
- Até porque o que, ?? - não disse, sou ótimo nisso. (piscadela)
- Eu pretendo pedir ela em namoro oficialmente.
- Ai, ! Que lindo! Eu, aliás, nós, adoramos saber que você gosta dela tanto assim.
- Eu sei, mãe. Depois de tudo o que nós passamos, eu não me imagino fazendo outra coisa. E muito menos com outra pessoa que não seja ela!
- Eu só quero que você tenha certeza do que está fazendo.
- Eu tenho, mãe. Pode deixar. Vocês vão ver! Ela é a coisa mais linda desse mundo. - Não quer chamá-la pra almoçar aqui em casa hoje? Já está mais do que na hora de nós conhecermos ela...
- Por mim, tudo bem.
- Então tá, você liga pra ela e combina tudo.
- Ok.
Isso é novo demais pra mim... Minha mãe realmente interessada em minha vida, meu pai manifestando seus sentimentos... Mas, é uma novidade que eu estou amando de verdade. Ter uma família de novo, é ótimo, vale citar. Aqueles que eu sempre quis ter do meu lado me apoiando, mesmo que nunca demonstrasse, estavam ali de novo e para sempre. É simplesmente mágico saber que, se você chorar ou sorrir, tem alguém pra compartilhar ambos os sentimentos com você. É claro que tinha a pra compartilhar também, mas, é diferente. Aliás, vou ligar pra ela antes que a mesma me mate via pensamento. Ótimo, a fofura esqueceu de ligar o celular. Não sei pra que cargas d’água ela tem isso mesmo. Eu tenho boa grande da porra, só porque eu falei isso ela atendeu. Aliás, isso sempre acontece.
- ! Finalmente consegui te achar! Tá ocupada?
- Não. Pode falar.
- Acabou, , acabou! Eu tenho uma família de novo! Você não pode nem imaginar o quão feliz eu estou!
- Ai, ! Eu fico muito feliz por você, de verdade.
- Eu sei que você está. A gente, tipo assim, acabou de conversar. Parece que eu abri, literalmente, meu coração, sabe? E deixei sair tudo que tinha lá dentro.
- Assim que é bom, amorzinho. Assim, vocês vão não errar mais. Digo, vão saber como se entenderem melhor.
- ... Porque você sempre diz as coisas certas?! Eu já estou ficando encucado com isso. Talvez você seja uma pessoa anormal e eu não sei!
- Muito engraçadinho. Eu só te conheço como ninguém, modéstia a parte, é claro. - E você sabe que é recíproco, né?
- Com toda a certeza. Se não você não saberia que eu sempre vou dizer as coisas certas pra te confortar. - Meu Deus, olha como ela é linda!
- Bom, vamos parando, porque se não eu vou chorar de novo e... eu não quero. - ela riu.
- Ai, seu bobo! Eu não vejo problema nenhum em chorar.
- Acontece que eu não fazia isso há muito tempo, não por um motivo aparente ou sei lá. - Você quer me dizer alguma coisa. - ela disse em um tom convicto.
- Ah não, ! Depois dessa eu paro ok. Quer parar de adivinhar o que eu vou falar, por favor? Muito grato.
- Tudo bem, chato da minha vida. Prossiga.
- Bom... Eu contei tudo o que aconteceu hoje pros meus pais e a minha mãe propôs um almoço aqui em casa hoje.
- Tá, e pra que você está me falando isso?
- Ai meu Deus... É pra eles te conhecerem, né, !
- Nossa mãe! É o convívio com você, . Meus neurônios estão diferentes... Estão mais lerdos!
- Muita engraçadinha você. Então, você vem?
- É claro!
- Ah... Pode trazer seus pais se quiser. É bom eles já irem se familiarizando com os meus.
- Tudo bem. Ah, e por falar neles... Eles me disseram tudo hoje.
- Tudo o que, ?
- Tudo o que estavam sentindo.
- E...
- Já está tudo bem. Eu entendi o lado deles. Entendi, não. Aceitei, porque isso não se faz, mas, eu entendi que foi a forma achada por eles de demonstrar o sentimento deles, também disseram que nunca mais vão deixar quando eu precisar e sempre que eu tiver me sentindo mal, a primeira coisa que eu devo fazer é falar, pois eles não querem cometer o mesmo erro duas vezes. Não é a coisa mais linda?
- Aaaah, ! Que feliz! Eu disse que tudo iria se resolver! Sério, estou muito, muito feliz por você!
- Ai, , que bom que eu tenho você na minha vida! - ela disse, aos prantos.
- Ai, ! Não chora. Tá tudo bem, eu to aqui. Você também é tudo na minha vida, não precisa chorar. Calma, pelo amor de Deus.
- Ok, eu já vou parar. - ela disse, rindo da minha preocupação um pouco exagerada. - Você vai ficar bem?
- Vou, . Eu estou chorando de felicidade, não precisa se preocupar!
- Ufa. - eu susperei de alívio.
- Já disse que eu amo esse seu jeito lerdo?
- Milhares de vezes, amorzinho!
- Que bom.
- Posso desligar? Há muito pra se fazer aqui em casa...
- Eu posso ir mais cedo? Já estou morrendo de saudades...
- Ah, é claro que pode. Vai ser ótimo, estou com saudade do seu cheirinho de maçã.
- Só do meu cheirinho? - provavelmente ela está fazendo biquinho no outro lado da linha. Quer apostar quanto?
- Do seu cheirinho, das suas bochechas, das suas adivinhações constantes e, principalmente da sua boquinha de boneca...
- Assim está bem melhor. Vou tomar banho e vou. - pronto, agora ela deve estar com um sorriso de orelha a orelha, aposta quanto?
- Ok. Te amo, minha bolinha.
- Também te amo, .
Acho que é hoje que eu vou fazer uma surpresa pra ela. Acho, não. Tenho certeza. Fato que vai ser o dia mais perfeito de nossas vidas. Eu já posso ver a carinha fofa que ela vai fazer... Não, eu não sou retardado. Tá, eu admito. Só um pouquinho. Se você estiver na mesma situação que eu, provavelmente irá me entender. Ora bolas, o que eu posso fazer se ela é a coisa mais gracinha que já vi? Tá bom, parei.
- , o que a gosta de comer?
- Empadão de queijo.
- Ótimo.
- Ah! Mãe, se ela chegar, fala pra ela que eu já volto, ok?
- Mas, aonde você vai, homem de Deus?
- Fazer uma última coisa.
- Tudo bem.
- Tchau, mãe.
- Tchau, meu bem.
Será que ela gosta de dourado? Ou de prata? Meu Deus, pra quê tantas opções? É só um anel, oras! Tudo bem que esse anel vai mudar a minha vida, mas, eu não sabia que seria assim tão difícil. Bom, tirando o fato de que eu nunca a vi usando uma jóia, está sendo mais complicado ainda. Enfim, vamos lá, não é o fim do mundo.
- Boa tarde, meu nome é Molly... Posso ajudar em alguma coisa?
- Definitivamente.
- O que você procura?
- Bom, eu pretendo pedir a minha menina em namoro em algumas horas. E não sei qual anel eu levo pra ela! - eu meio que berrei.
- Que lindo! Calma, calma. Eu acho que tenho a coisa certa.
- Ótimo.
- Vou pegar lá no estoque e já desço.
- Ok.
O que será que essa criatura de meio metro de altura foi pegar lá em cima? Digo, ela bate na minha cintura, veja bem! Eu realmente espero gostar do que ela vai trazer. Coitada, eu to nervoso, mas ela não tem culpa disso. Nem o nanismo dela. Controle-se, .
- Olha... Qual é o seu nome mesmo?
- .
- ... Eu trouxe esses aqui. Tem esse prata com um diamante no meio, chama-se solitário. E tem esse aqui sem nada, normal, mas também muito bonito.
- Deixa eu ver.
- Bom... Eu acho que ela gostaria desse mais simples. Eu acho que ela não combina com uma pedra desse tamanho no dedo. Ela é muito moleca pra isso. Mas, eu não sei, estou meio confuso. Pode ser que ela goste dos dois. - eu suspirei.
- Você gosta muito dela, né?
- Eu não poderia expressar em palavras o quanto. - fofoqueira.
- Bom... Você vai levar esse mesmo?
- Acho que vou levar o mais simples.
- Então eu vou pegar outro desse pra você... Já volto.
- Ok.
Eu estava realmente me sentindo confuso. Digo isso porque estava nervoso, irritado e feliz ao mesmo tempo. Ah, e como eu consigo? Nem eu sei. Aliás, eu sei sim e acho que vocês já estão carecas de saber também. A ! Sim, meus caros, ela tem poderes tão fortes sobre mim que até eu mesmo fico me perguntando como isso pode acontecer. Não, ela não me deixa irritado. Essa parte fica com essa chata da Molly. Conheço essa nanica há 5 minutos e já concluí que ela é uma pessoa efusiva demais, o que me deixa deveras irritado. Só faltava a criatura me dar um beijo na hora em que ela chegou com os anéis. Eu definitivamente tenho dificuldade em entender esse tipo de pessoa.
Enfim.
- Aqui, ! O outro anel. - tá vendo? Mal me conhece e já está me chamando pelo apelido.
- Ótimo... Aonde fica o caixa?
- Por aqui. Vem.
- Ok.
- Foi ótimo te conhecer, . Espero que a sua namorada goste do anel. Eu adoraria se alguém o desse pra mim. - vou socar essa nanica, pára de me chamar de !!!
- Err... Tchau. - corri pra fora da loja.
Fala sério! Você faria o mesmo que eu nessa situação, né? Pelo amor de Deus, que mulherzinha! Enfim, vamos pensar em coisas melhores. Pense pelo lado bom: você nunca mais vai olhar pra fuça dela! Tá, agora pense pelo lado ruim: existem milhares de pessoas exatamente iguais à ela. Eu e a minha mania pessimista. Tá.
- Mãe, a já chegou?
- Ainda não, querido!
- Ok, se o interfone pede pra ela ir direto pro meu quarto, ok?
- Tudo bem.
- E cadê o meu pai?
- Deu uma saída... Já deve estar de volta.
- Tá. Ô mãe, você terminou de fazer o empadão?
- Ainda não. Por quê?
- Porque eu quero pôr uma coisa especial no pedaço da ...
- E o que seria?
- Nada demais... Vou subir pra me arrumar, ok?
- Ok.
De repente, quando estou colocando meu perfume...
- Mas que menino mais cheiroso da mamãe! A está subindo, ok?
- Tudo bem, mãe. Obrigado.
- De nada. Ah, e seu pai também já chegou... Está no banho.
- Ok. Mãe?
- Oi.
- Essa roupa está boa?
- O quê não fica bem no meu gatinho?! Tá lindo!
- Tá, mãe, obrigado. - eu disse em um tom de “menos, por favor, você está me envergonhando”. - E você está com uma casca de cebola na bochecha, só pra constar.
- Ai, meu Deus! Como que isso veio parar aqui?! Não quero que a me veja toda imunda! Vou tomar um banho rápido!
- Ok.
Fui fazer alguma coisa para me distrair. A ansiedade estava quase me matando, sério. Será que eles iriam se dar bem? Será que os pais da iriam gostar dos meus? Será? Eu e a minha insegurança querida. De repente, eu senti um perfume familiar, o que me fez parar imediatamente o que eu estava fazendo. Era ela.
- Oi, ... Posso entrar?
- Claro, ! Entra! Só não repara na bagunça... - Já era, ... - ela disse, num de brincadeira. Rimos.
- Onde estão os seus pais?
- Eles não puderam vir. Problemas de trabalho.
- Ah sim...
- Hey, Amor... O que é isso?
- Não é nada, pequena... É só um CD com algumas músicas...
- Posso ouvir? - ela disse, sem delongas.
- Err... Se você quiser, vá em frente. - eu disse, meio assustado com a rapidez dela.
Assim que ela botou o CD, aquelas músicas mais do que familiares foram entrando em meus ouvidos e me fazendo lembrar de como eu fui um idiota com os meninos. Eles foram os únicos amigos verdadeiros que eu já tive na vida. Nós passamos ótimos momentos juntos. E eu fiz o favor de acabar com isso. Burro. Quase todos os meus problemas estão resolvidos... , e ainda não. Eu não falo com eles desde o dia em que resolvi sair da banda. Eu me lembro que foi por um motivo tão estúpido! Alguma coisa que eu queria fazer em alguma música e eles não concordaram. Eu ameacei sair caso eles não concordassem e eles não disseram nada. Então, eu saí. E como eu os conhecia muito bem, sabia que eles não viriam atrás de mim, pois eles também me conheciam melhor do que qualquer um. Eles sabiam que eu não ia voltar por causa do meu orgulho idiota.
- ! Elas são lindas! - ela parecia sincera.
- Ah, que bom que você gostou...
- De quem são?
- Você não reconhece a voz? Eu que estou cantando!
- Mas... Quem é o outro?
- Tá. Eu tive uma banda há uns tempos atrás e esse CD que estava tocando era a nossa demo.
- Como eu não sabia disso?! Eu sei de tudo da sua vida!! - ela parecia bem irritada.
- Calma, ! Eu só esqueci de te contar! Não se preocupe, você, de qualquer forma, é a primeira a saber. Nós não contamos pra ninguém.
- Hm. Melhor assim. Não consigo imaginar a cena dessas groupies imbecis gritando seu nome, falando que te amam... Arg! - ela fez uma careta de nojo e eu ri. Já disse que amo os ataques de ciúme dela, né?
- Que besteira, ! - eu a envolvi com meus braços. - Você não confia em mim?
- Confio.
- Então?
- Mas eu não confio nas pessoas, amor. Você é lindo e perfeito! Qualquer uma pode gostar de você. - vejam como é linda, por favor.
- Eu não gosto de qualquer uma! Eu gosto de você!
- Depois dessa eu calo a minha boca. - ela disse depois de pular em cima de mim e me dar um beijo.
Nós ficamos nessa do beijo por um bom tempo. Não que eu estivesse cansado ou coisa parecida. Ela nunca me cansa. A cada beijo que a gente dá, eu me impressiono com a maneira que o nosso beijo simplesmente encaixa. Isso me lembra o modelo chave-fechadura de biologia. Podem falar que a minha comparação é bizarra, mas é verdade! A gente só funciona quando estamos juntos. E isso é lindo.
Quando as coisas finalmente estavam esquentando, eis que um imbecil bate na porta, fazendo com que tomássemos um susto enorme.
- Oi, casal. - disse a minha mãe - Atrapalho alguma coisa?
- Não, imagina, tia. Nós já estávamos descendo, né, ? - ela me cutucou para eu dar uma desculpa suficientemente convincente.
- É, pois é. - valeu, mamãe..
- Então vamos rápido porque a comida já está na mesa!
- Ok, mãe, falta só eu pentear o cabelo - que a fez o favor de desarrumar. Não que eu esteja ligando.
- Por que você não vem comigo, ?
- Você se importa, ?
- Ora, mas que pergunta! É claro que não!
- Ok, mas não demora, tá?
- Tudo bem. - eu lancei um olhar malicioso pra ela, que imediatamente corou.
Eu já disse que isso ainda soa muito estranho pra mim, certo? Certo. Só pra constatar. Daqui a pouco as duas vão fazer programas típicos de mãe e filha, olha que lindo. Eu estou descobrindo uma pessoa muito simpática na minha querida mãe. Eu nunca poderia imaginar que ela pudesse ser tão amável! E o melhor disso é saber que não tem nenhum pingo de falsidade ali. É tudo puro e verdadeiro, como deve ser.
- ! Você vai ficar quando tempo deitado ai? - minha mãe entrou no quarto. Juro que nem percebi.
- Oi, mãe! Eu estou há muito tempo aqui?
- Filho, você está bem? - ela, num pulo, veio até mim e começou a me apertar.
- Estou, mãe. Meio aéreo, mas estou bem.
- Ótimo. - ela respirou aliviada e eu ri.
- Vamos descer, por favor? A está indócil lá embaixo!
- Pode ir na frente, eu já vou.
- ... - ela disse, batendo o pé.
- Eu já vou, prometo. Não vou dormir. Vou procurar uma coisa e já desço. - eu ri.
- Assim espero. - ela riu também.
A hora é agora. Eu não sei qual vai ser a reação dela, pra falar a verdade. Era pra eu saber, já que eu conheço as carinhas dela melhor do que ninguém, mas, ela é um mistério. E isso é bom. Há muito mais dessa menininha pra eu conhecer. E o que eu conheço até agora, me deixa bem feliz. Mas, ainda não é o suficiente.
Eu finalmente desci.
- Amor! Você demorou tanto! - ela disse, vindo até a cozinha.
- Acabei dormindo, bebê, desculpa.
- Tudo bem. Agora que você já está aqui, as coisas ficaram melhores ainda!
- Vejo que já está amando meus pais, não é?
- Exatamente! Eles são uns fofinhos! Não teria como você nascer de outro jeito, .
- É, pois é. - eu disse em um tom convencido.
- Ei! Modéstia mandou lembranças!
- Eu sei. - rimos.
- Você quer voltar pra mesa que eu sei...
- Pior que quero mesmo. Estávamos conversando sobre as suas peripécias quando pequeno.
- Eu imaginei. Eles têm a mania de lembrar a todos familiares de como eu era gordinho e que gostava muito de futebol. Não seria diferente com você. - eu disse de uma forma fofa. Foi o que a carinha dela deu a entender.
- Eu só não pulo em você agora porque eu não quero que seus pais pensem mal de mim. - merda!, pensei.
- Eles não iriam se importar... - eu disse, chegando mais perto dela.
- . - ela disse, me empurrando e se afastando.
- Está bem, parei. - eu disse, recuando.
- Eu vou voltar pra mesa, ok? Antes que eu não consiga me conter! - eu ri.
- Tudo bem. Eu vou pegar algo pra beber e já estou indo.
- Ok.
Tirei um dos anéis da caixinha e botei ao lado do prato onde o pedaço de empadão estava. Espero que ela não tenha reparado que ela é a única sem comida na mesa. É, eu acho que ela está muito ocupada com as minhas histórias.
- Ai, bê, você demorou!
- Demorei nada, bonitinha. Estava preparando o seu prato.
- Ih! Nem tinha percebido que estava sem.
- Enfim, aqui está ele.
- Hm, cheira muito bem, por sinal.
- Meus dotes culinários estão à flor da pele! - minha mãe disse, fazendo meu pai e a rirem.
- Mãe! - eu disse, reprimindo-a.
- Deixa de ser bobo, ! Deve estar uma delícia mesmo, tia Janett.
- Viu, filho! Ela me elogia...
- Tá, mãe. Guarde seus ataques de emo pra depois.
- Emo?
- Não queira saber o que isso.
- Tudo bem. Vamos comer?
- Sim.
Eu espero que nada de mal aconteça. Um acidente, sei lá. Ela confundir o anel com um biscoito. Opa, sinais de nervosismo vindo à tona. Quando eu começo a imaginar situações meio bizarras, é que já estou no auge. E falar demais também é um dos sintomas, portanto é melhor eu calar a minha boca antes que eu comece a da relação dos discos voadores com os acordes da minha querida guitarra. Já disse que eu sou um pouquinho sem noção? Mas, é só um pouquinho, ouviu?
- Ai! - todos pararam de comer.
- O que houve, ? - meu pai perguntou.
- O que é isso? - ela disse, pegando o anel que estava ao lado do seu pedaço.
- Mas os nossos não têm! - a minha mãe disse, com uma voz de medo. E eu prendendo o riso. - O que é, ? - ela perguntou.
- É um anel!!! - ela berrou, indignada.
- Um anel?! - meus pais disseram em um uníssono. Eu não pude me conter. Ri.
- Ei! Calma! Isso é culpa minha. - eu disse.
- Acho que já liguei os pontos... - ela disse, fazendo a sua típica carinha de choro. - ... Como você pode?! Foi a coisa mais linda e romântica que já fizeram por mim! Seu lindo! - ela disse, já aos prantos.
- Eu achei que já era hora de todos saberem que nós somos namorados. - eu disse, com o meu melhor sorriso.
- Ai, meu Deus! Eu tenho um namorado!
- Como se você não soubesse disso, bobinha... - eu disse, pegando em sua delicada mãozinha.
- Eu te amo, . Tanto...
- Eu também, bonitinha. Muito!
- Acho melhor deixarmos o casal a sós... Vem, Ed, vamos lá pra cima. - minha mãe disse, sorrindo, com uma cara pervertida. Meu pai sorriu da mesma forma, e a seguiu.
- Mãe!
- Desculpa, filho. - ela berrou, já nos últimos degraus da escada.
- Sabia que eu já imagina? A sua reação... Eu só estava um pouco inseguro.
- Como inseguro?! Você duvidou algum segundo do meu amor por você?! - ela disse, meio que com raiva.
- Não, não foi isso, - Eu também te amo, . Pode ter certeza disso, ouviu? - ela disse, aos prantos novamente.
- Eu não gosto de te ver chorando, ... - eu disse, passando a mão em sua bochecha gordinha.
- É de felicidade, ! Agora eu tenho uma vida perfeita! E posso me orgulhar disso! - ela disse, saindo da cadeira e pulando em cima de mim.
Em todas as vezes que eu citei qualquer palavra relacionada com felicidade, acho que, agora, nesse exato momento, se alguém resolvesse tirar uma foto, ela iria sair bem colorida, pois é assim que eu estou me sentindo agora. Feliz. E só de pensar que eu consegui sobreviver sem esse abraço tão gostoso, tão macio... Não. É uma cena que eu não posso e nem consigo imaginar.
- Hey, você ainda não colocou o anel em mim... - eu disse, em um sussurro em seu ouvido.
- E nem você em mim. - ela disse.
- Então me dá o seu aqui... - ela o fez.
- Eu juro nunca mais te deixar sozinha. Se depender de mim, você está protegida pra sempre. Eu nunca me canso de você. E isso vai ser pra sempre... - à medida que eu ia falando, ia colocando o anel em seu dedo também gordinho. Ela toda gordinha, que fofo. Que gay.
- Eu também, minha bolinha. Você é meu tudo, eu simplesmente dependo de você. Meu maior presente. Você é lindo. - ela disse, colocando o anel em meu dedo, chorando mais uma vez. - E como está gravado aqui no anel, “Com você, eu não estou mais sozinha”.
- Ai, vem , gordinha, eu já disse pra você parar de chorar! - eu disse, abraçando-a novamente.
- Isso tudo é muito lindo! Às vezes eu fico me perguntando se você existe ou se é mais uma invenção da minha mente criativa...
- É lógico que eu existo! E eu existo pra amar você. - assim que eu falei, ela intensificou o choro.
- Ok, vou calar a minha boca, porque se não vamos ter uma piscina por aqui.
- Bobinho! - ela disse, com a cabeça em meu peito.
- Atrapalhamos alguma coisa? - meus pais disseram juntos, descendo a escada.
- Não. - eu disse, ainda com a apoiada em meu peito.
- O que... O que houve com ela?
- Nada demais. - um silêncio ficou por ali.
- Vocês... Vocês trocaram alianças?! - minha mãe perguntou.
- Sim. - eu disse, sorrindo, ainda abraçando a .
- Oh... Que coisa mais linda, filho! Viu, Ed, nosso bebê está crescendo! - minha mãe disse, com uma voz chorosa. Eu odeio esses papos de família, credo.
- Ok, mãe. Sem chorar, por favor.
- Então era por isso que você me mandou separar o pedaço da ...
- Foi, mãe.
- Que lindo, eu nem desconfiei! - rimos. - Bom, vamos parar com a sessão choro e vamos para sala assistir a um filme bem legal que eu aluguei...
- Que não seja Um amor pra recordar, está tudo certo. - eu disse.
- Ah, , pára, ok. Esse filme é lindo!
- Você e sua obsessão por filmes românticos.
- Me deixa ok, Sr. Chato de Galochas.
- Vamos para de discutir, por favor. O filme é Pequena Miss Sunshine. - minha mãe nos interrompeu.
- Ok.
- Eu adoro esse filme!
- Foi por isso que aluguei. me disse. - ela imediatamente lançou um olhar fofo pra mim.
- Vamos assistir ou os dois vão ficar se olhando com essas carinhas de apaixonados o dia inteiro? - minha mãe disse, rindo.
- Ai, mãe. Nos cortou legal. Ok, vamos. - eu disse, pegando a mãozinha dela e indo na direção do sofá.
- Deixa ela, . Foi só uma brincadeirinha. - ela disse, ao sentarmos no sofá, me fazendo sorrir de novo.
- Ui, tá frio aqui!
- Lógico, olha bem para os seus trajes! - eu disse, dando o meu primeiro ataque de ciúmes, que show.
- Own, está com ciúmes! - ela disse, apertando as minhas bochechas.
- Estou mesmo. Mas, deita aqui, eu te esquento. - nem precisei falar. Quando dei por mim, ela já estava se aninhando em cima do meu peito.
- Rapidinha você, hein?
- Estava com saudades desse meu travesseirinho lindo! - ela disse, apertando sua cabeça em meu peito.
- Cadê sua mãe?
- Nem queira saber, bê.
- Tudo bem.
Assim passamos boa parte da tarde. Agarradinhos. Quentinhos. Quem disse que vimos algum filme? Não, nós ficamos nos pegando. Deixa essa parte para os meus pais. Eca. Enfim, dormimos logo na primeira parte.
- ? Filho? - senti algo em meu braço. Acordei com um pulo.
- Cacete, mãe!! Eu já disse que odeio acordar com susto! - eu sussurei, para não acordar ela.
- Desculpa, meu bem. Era só pra saber se vocês queriam um lanchinho...
- Você me acordou pra saber se nós queríamos um lanchinho?!?!
- É... - poxa, mãe. Isso é coisa mais normal do mundo.
- Não, mãe! Nós não estamos com fome!
- Tudo bem... - assim que ela deu o primeiro passo, eu disse.
- Pensando melhor... Aquele seu miojinho esperto cairia como uma luva agora!
- Hm, você não resiste aos dotes culinários da mamãe, né, gordinho?
- É, mãe, é. Agora vai, que eu estou com muita fome! - dá corda pra ela pra você ver o que acontece.
- E ela?
- O que que tem?
- Faço mais um?
- Faz, por via das dúvidas. Não creio que ela vá acordar.
- Nem eu. Parece uma pedra.
- Vou levá-la lá pra cima, ok?
- Ok.
Eu a levei para o meu quarto. Assim que eu a coloquei na cama, ela fez uma carinha meio triste, ainda dormindo, como se quisesse estar ainda no meu colo. Até parece que eu iria deixar ela ali sozinha. Deitei em seu lado e comecei a acariciar sua cabeça. Foi assim até que ela acordou.
- Você está ai há muito tempo?
- Não... Na verdade, nós estávamos lá embaixo vendo filme, ai nós dormimos e eu acordei antes de você e te trouxe aqui pra cima.
- Eu estou muito feia?
- Tá. Acho que você está com uma juba de leão.
- É sério, . Meu cabelo costuma ficar horrível quando eu acordo.
- Mas...
- Ah sim. Eu não tenho mais tanto cabelo como antigamente.
- Ei, ei! Vamos parando. Eu não gosto do seu cabelo, eu gosto de você.
- Você deveria ter me conhecido antes da doença, ! Eu era linda, modéstia a parte, é claro.
- Você é linda.
- Hm, fofinho! - Não, eu estou falando sério. Você é a menina mais linda que eu conheci em toda a minha vida.
- Eita, seu exagerado. E a sua ex namorada?
- Perto de você? Um poodle sarnento. Tirando o fato de eu abominar poodles...
- Ótimo. - ela riu.
- Não sei por que você ainda se preocupa com ela... Eu nem sei por onde ela anda! - Implicância saudável, amorzinho. E necessária.
Um silêncio tomou conta do recinto. Por pouco tempo, é claro. Até ela começar a me beijar. Calorosamente. Era o sinal que eu precisava.
- Você tem certeza disso?
- Mais do que nunca tive em toda a minha vida.
- Eu te amo tanto, tanto... - Não esqueça que você sempre será a minha vida, .
E foi assim que aconteceu. Fiz o máximo para ela se sentir a pessoa mais amada do mundo. Acho que estou ficando bom nisso. Eu não esperava que isso fosse acontecer. Não agora. Mas aconteceu. Eu sou o primeiro homem dela, de fato. Quer coisa melhor do que isso? Oi, eu me chamo e meu sobrenome não é mais e, sim, felicidade.
- Não vai dormir de novo, né?
- Vai se acostumando, amor. Eu sou um ursinho. Sou muito fofinha, mas, também, hiberno.
- Muito convencida essa minha namorada... - eu trouxe sua cabeça para o meu peito. É impressionante como eu gosto disso, como isso me conforta.
- É sério! Pode perguntar pra minha mãe.
- E por falar nela... Acho melhor você dar sinal de vida, né.
- Pois é. Você está pegando o meu lugar!
- Lugar de quê, criatura?
- De falar as coisas certas nas horas certas.
- É o convívio, né.
- Que lindo! - ela pulou em cima de mim e depois se levantou para ligar para a mãe dela.
- E a sua, onde se encontra?
- Continue não querendo saber, docinho.
- Ok. - ela disse, ainda com a inocência da primeira vez em que me perguntou.
- Adoro essa sua inocência, .
- Eu não sou inocente. Só não sou pervertida. - ela disse, já ficando corada.
- O que você acabou de fazer comigo...
- Não foi pervertido. Foi mais uma prova do meu amor por você. Isso não é perversão. - Concordo. Foi só pra te testar. - ri.
- Idiota! - ela berrou e fez biquinho.
- Ai, ! Você está chateada?
- Não. - ela riu.
- Que merda, cara! Quando eu vou parar de cair nas suas ceninhas?
- Nunca, seu bobinho. Elas foram feitas para pessoas lerdinhas feito você.
- Também te amo.
- Eu sei que sim.
De repente, eis que surge um vulto descabelado na porta, fazendo com que a desse um pulo na minha cama, pois ainda estava nua, assim como eu. Só podia ser alguém.
- Oi, mãe.
- Como você sabia que era eu?!
- Esse seu cabelo desgrenhado nunca me será estranho.
- Ai, bebê, não faz assim com a mamãe! - rimos. - Só passei pra avisar que o jantar está pronto.
- Ok, mãe. Já estamos descendo.
- Ok. Eu vou dormir. Você lava a louça pra mim, filho?
- Tudo bem, mãe. Pode ir. Boa noite.
- Boa noite, abajur.
- Abajur???
- É porque você ilumina a minha vida.
- Que lindo, !
- , não dá corda! - eu disse. - Tá bom, mãe. Acho que o sono já está afetando seu cérebro. Tchau. - ela saiu.
- Boa noite, norinha! - ela voltou.
- Boa noite, tia.
- Mãe!
- Já fui.
- Jesus amado! Minha mãe consegue ser um chiclete quando quer.
- Não reclama, seu bobo. Ela vem sendo um amor com você. É que ela tá fazendo o que ela deixou de fazer esses anos todos.
- E ai está você, mais uma vez, dizendo as coisas certas, iluminando as minhas idéias. Tá ai, você é meu abajur.
- Hm, depois reclama das “conclusões” da sua mãe...
- Agora até que faz sentido.
- E por que não fez antes?
- Por que eu ainda não consegui 100% de assimilação no quesito “mãe amorosa”.
- Ah, sim. Mas, é melhor você ir se acostumando, porque daqui pra frente, vai ser amor pra todos os lados.
- Eu sei.
- Não era assim que você queria?
- É. Mas, eu vou demorar um pouco pra me acostumar. Ou não.
- Tá vendo... É só você deixar que ela interaja com você.
- Eu estou fazendo isso.
- Eu sei. Vai dar tudo certo.
- Eu sei disso.
Outro silêncio.
- Amor... Vamos comer? Estou morrendo de fome! - ela disse.
- Nossa! Tinha até me esquecido do miojo. Vamos.
E quando nós descemos, nos deparamos com uma senhora mesa. Cheia de velas, rosas vermelhas... Um jantar romântico improvisado. Te devo essa, mãe.
- Que lindo, !
- Isso pode parecer meio idiota, mas, não fui eu quem fez. Foi a minha mãe.
- Eu não acho idiota! Mostra que ela se preocupa com você, seu bobo!
- Mas eu que deveria ter feito, eu sou seu namorado, lembra?
- Eu não quero que você fique chateado com isso, . Vem, vamos aproveitar o nosso jantar. - ela pegou sua mãozinha pequena e me guiou até a mesa.
Passamos a noite conversando sobre mil e uma coisas, olhando um para o outro, em silêncio. A nossa vontade de admirar um ao outro era recíproca. E, a cada vez que eu via um sorriso no rostinho dela, a minha felicidade aumentava.
- Amor, é melhor você dormir aqui hoje. Já está tarde e seus pais devem estar dormindo há muito tempo.
- Eu também acho. É melhor eu ligar pra ela, de qualquer forma, né.
- É. Faça isso enquanto eu arrumo tudo por aqui.
- Mas eu quero ajudar!
- Não. Você é visita!
- Justamente por isso!
- ...
- Tá bom, já fui. - ela saiu em busca de seu celular. - Ela disse que tudo bem.
- Ai que susto, criaturinha!
- Eu sou tão feia assim? - ela disse com um sorriso no rosto, já imaginando o que eu iria falar.
- Dã. - fiz bico. Ela pulou em cima de mim.
- Coisa fofa, eu estava só brincando! Eu sei que você me acha linda.
- Ainda bem que você sabe. - fiz bico e ela riu. - Bom, vamos dormir? Já está tarde... - Só se você me levar até o seu quarto nas suas costas. - eu ri. Foi fofo, vai.
- Tudo bem.
- Lá vou eu! 1, 2, 3 e já! - ela correu e eu senti uma pluminha se encostando a mim. - E o porquê dessa coisa com as minhas costas agora, posso saber? - perguntei, enquanto subíamos os degraus da escada.
- Sei lá. - ela riu. - Elas me pareceram bem bonitas sem blusa. - ela corou. Fofa.
- Mas você já não tinha visto, criaturinha?
- Não nessa circunstância, né, gordinho!
- Ok, se segura aí, hein.
- Tá, amor, eu estou muito bem aqui. - ela disse ao ir se aninhando ao meu ombro, como um bebê. Pude sentir sua respiração ficando pesada. Pegou no sono. Não sei de onde ela tirou esse sono, mas tudo bem. Não foi a toa que ela disse que era um ursinho. E vale citar que o cheirinho dela estava me deixando doidão, no sentido apaixonado de ser, é claro.
Chegamos ao quarto.
Tirei-a das minhas costas, como se realmente estivesse pegando em uma pluma.
Coloquei-a em minha cama.
- Aonde você vai?
- Shhh, volta a dormir. - eu disse, baixinho, agachado, perto de seu rosto.
- Você vai embora, eu não consigo.
- Que vou embora o quê, tá doida?! Só vou pegar cobertores mais quentinhos pra você. Tá meio frio hoje, você não pode pegar friagem. - eu disse, já indo em direção a porta.
- Não precisa, seu bobo. Você é quentinho o suficiente. - pega essa fofa!! Eu apenas andei até a cama, onde ela estava a minha espera. Não era preciso dizer mais nada. Bastou eu deitar ao seu lado para ela vir deitar em meu peito. Eu não sei o que ela vê demais nesse meu peito magrelo, não que eu esteja reclamando, pelo contrário, é fofo vê-la dormindo feito uma criancinha indefesa de tão perto.
- Bom dia, meus amores! - minha mãe abriu a cortina, fazendo com que a pouca claridade entrasse.
- Ai, mãe, fecha isso! - reflitam, a não moveu nenhum dedinho.
- Nada disso, já está na hora de acordar! Já são quase dez horas!
- Mãe!! Dez horas?! Por favor, hoje é sábado!!!
- Sai dessa inércia, homem! O nosso dia vai ser longo hoje, esqueceu? - eu sou um abestado mesmo.
- Tá, mãe.
- E deixa-a dormir mais um pouquinho, ela deve estar cansada.
- Mas ela está toda abraçada em mim. Não tem como eu sair daqui.
- Hm, então espera aí.
- Ok.
- E não acorda ela!!
- Acho que já entendi, mãe. - ela saiu e eu imediatamente dormi. - Filho. - e nada de eu acordar. E se for um sonho?
- Filho? - merda, não é.
- Porra, mãe! O que você quer?
- Não fala assim com a mamãe. Eu trouxe o café. Acorda ela.
- Tem certeza? Ela fica tão linda dormindo... Ela está em um sono tão pesado. Deve realmente estar cansada.
- E com fome. - minha mãe completou.
- Tudo bem. Mas eu não garanto nada.
- Pelo menos tenta.
- ... Amorzinho... Já está na hora de acordar... - eu sussurrei.
- Não... Ainda não são sete horas... - ela balbuciou.
- Acorda pelo menos para comer alguma coisa. - peguei no ponto fraco da criança, assistam.
- Hm, tá bom. - ela foi despertando, ainda agarrada em mim.
- Oi, tia! Eu tinha visto que você estava ai! - ela deu um pulo, me soltando e sentando na cama.
- Não fique com vergonha, querida. Pode voltar pra onde você estava. - ela sorriu e voltou a deitar em meu peito, se aconchegando.
- O que você quer comer, ? - eu disse, acariciando seu cabelo.
- Acordei com desejo de pão com Nutella.
- Ótimo, porque eu já trouxe. O também adora. Eu imaginei que ele fosse querer comer hoje.
- É, amor?
- Aham.
- Bom, aqui estão.
- Brigada, mãe.
- Brigada, tia.
- Vou deixar meus pimpolhos a sós. - ela riu da própria fala e saiu.
- Antes que eu me esqueça: liga pra sua mãe.
- Bem lembrado, papai. - ela riu. - Me deixa acordar primeiro.
- Pede pra ela te buscar? - ela arregalou os olhos.
- Por quê? Já enjoou de mim? - eu dei uma risada.
- Deixa de ser boba, amor! É lógico que não. É que hoje eu sinto que a minha mãe vai me alugar seriamente.
- Se for pra você ficar com a sua mãe, eu vou sim. Mas fica com esse celular ligado, ouviu?
- Sim, senhora. - eu imitei um soldado e ela riu.
- ‘Bora, ! Liga pra sua mãe!
- Ela não atende!! Oi, mãe. - eu segurei o riso.
- É, eu ia te pedir isso mesmo. Ah, você já está por aqui? Ótimo. Beijinho. - ela disse.
- Saco. Ela já está chegando?
- Uhum.
- Não me olha assim, por favor!!
- Eu vou sentir saudade!
- Eu também, meu bebezinho. Mas eu vou te ligar assim que eu puder.
- Tudo bem. Eu acho que posso agüentar. - ela disse.
- Eu também. Não é o fim do mundo, certo?
- Certo. E, olha só, seja um gentleman com a tia Janett ok!
- Digo o mesmo. Seja um amor com a minha querida sogrinha.
- Ela vai me levar para um dia de menina no shopping. Não que eu seja uma patricinha, mas quem não gosta de fazer compras, né? - ela sorriu.
- Isso mesmo, . Ai meu Deus, como é bom ver sorrir! Divirta-se. - ouvimos o barulho da buzina. Os olhinhos dela fecharam imediatamente.
- Acho que chegou a hora, né? - ela disse ainda com os olhos fechados.
- É. Se veste rápido, enquanto eu pego as suas coisas. - eu corri e peguei a bolsa dela. - Toma, . Acho que está tudo aí, né? - eu disse, descendo as escadas com ela.
- Tá sim. Eu não quero ir, ! - ela disse, fazendo bico.
- Mas você tem. Sua mãe deve estar sentindo a sua falta.
- Faz tempo que eu não sei o que é ficar uma hora longe de você.
- Eu sei, . Mas agora vai. - ela foi caminhando até a porta, até que parou no meio do caminho.
- Me dá um beijo. - eu dei um selinho.
- Não, não assim. Como o nosso primeiro beijo. - auto - explicativo, né.
- Um dia você ainda me mata, .
- Nada disso.
- Então... Até daqui a pouco ou sei lá.
- Até. - eu segurei o riso.
- O que houve, ? - ela perguntou, já quase chegando à porta.
- Nada, amor, nada.
- Não esquece de me ligar! - ela veio correndo e pulou em mim.
- Pode deixar. - eu disse, levando-a até a porta, ainda abraçado a ela. - Eu te amo.
- Eu também. - assim que ela disse isso, ela se soltou do abraço, jogou um beijo pra mim e entrou no carro. E o vazio começou a tomar conta de mim. Eu realmente não sabia o que era ficar sem ela por perto nem por cinco minutos. Fiquei olhando o carro indo embora pela janela.
- ?
- Oi, mãe. - ela disse, me tirando do transe.
- Você... Você tá bem?
- Aham.
- Esse ‘aham’ não foi muito convincente. O que houve?
- É ela, mãe.
- Vocês terminaram?!?! - ela começou a dar ataques.
- Não!! - isola ok. - É que eu já estou com saudades dela, isso é normal ou eu sou muito exagerado?
- Oh , isso é totalmente normal. Faz alguns dias que vocês estão se vendo constantemente e, agora, que ela foi pra casa dela, vocês está sentindo falta daquela fofa. E você não é anormal por isso, seu bobo!
- Alguma coisa me faz pensar que ela pode não voltar ou sei lá... - eu e meus ataques de emuxo.
- Nada disso! Esquece esses pensamentos negativos! Ela te ama, filho.
- Sei lá... Acho que é a minha insegurança que me deixa assim. Eu sei que ela me ama e é recíproco, mas, alguma parte defeituosa dos meus neurônios manda mensagens erradas e, às vezes eu me pego pensando nisso.
- Só o tempo vai te fazer sentir seguro, querido. Acredita na mamãe.
- Eu sei. Mas e se der errado e eu me machucar de novo?
- Não, filho. Dessa vez vai ser diferente porque ela é diferente. Eu sei em quem você está se baseado pra dizer isso, mas, pára. Aquelazinha lá não é nada comparada a . Lembra do que ela fazia com você? Mentia que era uma beleza.
- E como você sabe disso? Eu acho que eu nunca te contei.
- Você me contou uma vez sim, quando as mentiras já deviam estar no auge. Eu deduzi que ela fazia isso há muito tempo já.
- Não lembro. - eu ri.
- O que importa é que você está com a agora. E essa Gina sumiu do mapa, então não tem ninguém pra atrapalhar o amor de vocês.
- É Giovanna, mãe. - ri de novo.
- Que seja. Agora vai tomar seu banho, pois nós temos uma festa pra organizar!
- Mas o aniversário dela é só amanhã!
- Mas nós ainda não temos nada pronto. Vamos começar hoje.
- Pensando por esse lado... Tudo bem. Vou me arrumar.
- Ok.
- E cadê o papai?
- Saiu mais cedo pra começar a comprar os salgadinhos. - ela disse, sorrindo.
- Ah sim.
- Anda, mocinho, já pro banho, sem tentar me enrolar! - quem olha pensa que eu sou o cascão. Tá, eu não sou muito chegado a banho. Acho que preciso que renovar as minhas táticas.
Fui finalmente pro banho.
- , anda logo!! - minha mãe berrou, batendo na porta. Odeio que batam na porta.
- Já vou!! - ora bolas, eu posso ficar cheiroso direitinho? Obrigado.
Peguei a toalha e saí.
- Até que enfim, né!
- Ai mãe, eu só queria tomar um banho demorado.
- Não agora, né, filho! Temos muito ainda pra resolver. - ela disse, correndo para pegar a sua bolsa, eu acho.
- Eu tenho tempo pra colocar uma roupa, pelo menos?
- Tem, criatura. Vai logo.
- Ok. - saí correndo, molhando a casa toda. Espero não levar esporro por isso.
- !!!! - tarde demais.
- Já está pronto? - ufa.
- Falta o cabelo. - como se fosse pouco. É a parte mais demorada. E eu não sou gay ok. - É melhor eu sentar e descansar então. - pude a ouvir dizer lá de baixo. Eu sou lerdo ok, entendam isso.
- Tcharan! - eu disse, ao parar na frente dela.
- Uau, esse ser lindo saiu de dentro de mim? Meu Deus, como assim!
- Tá, mãe, menos. - rimos.
- Vamos então?
- Vamos!
Saímos de casa e entramos no carro.
- Filho... Além de empadão, o que a gosta? - Tudo que envolva queijo. É sério, ela ama.
- Gosta de brigadeiro, essas coisas de festa?
- Gosta, aliás, também ama. Eu fiz várias vezes escondido pra ela no hospital. Era divertido, eu me vestia de enfermeiro com a ajuda de uma das enfermeiras dela. E creio que ninguém sabe disso até hoje. Enfim, ela gosta. - eu ri. - Mas não daqueles industrializados, e, sim, os de panela e tal.
- Tá... E cor, que cor ela gosta?
- Verde e lilás. - ela me olhou com uma cara estranha. - É, ela gosta das duas.
- Bom, acho que vou encerrando meu interrogatório por aqui porque nós chegamos!
- Tudo bem. - nota mental: minha mãe fala pelos cotovelos. Deve ser genético.
- Bom, vamos por partes. Você vai para parte dos ingredientes do brigadeiro e eu vou pra parte de festas.
- Ok.
- Macacos me mordam!! Eu não acho o raio da manteiga! - pensei. - Oh, besta humana, está bem aqui! - conclui e fui procurar a minha mãe. Ok, esse mercado é gigante e eu não tinha me tocado disso. Odeio mercados, dica.
- Oi, bebê, eu estava te procurando! Já acabou?
- Eu também estava te procurando. Me lembre de nunca mais aparecer por aqui. Finalmente, já acabei. Demorei anos pra achar a manteiga. E aí, o que você conseguiu?
- Acho que tudo. Só não sei que velas levar...
- Ela me disse uma vez que adora os desenhos da Disney... Especialmente “A Bela e a Fera”. Tem alguma desse tipo aí?
- Acho que vi uma...
- ...Na mão daquela gorda ali.
- O quê?! Calma. - ela fez uma cara de quem ia fazer uma grande merda. Não gosto disso.
- Distrai-a.
- Mãe...
- Vai, anda!
- Tá. - eu tive que pensar em alguma coisa bem rápida.
- Ai!! - a mulher gritou.
- Me desculpe!! Machucou? Você está bem? - ela me deu uma olhada muito maliciosa. Fiquei com medo.
- Sim... E você pode me ajudar a melhorar... - Ai puta merda, ela está chegando perto. Sai pra lá, coisa esquisita.
- Err... Desculpa, eu tenho namorada... Talvez uma outra hora... - na hora em que eu enlouquecer, eu te ligo, coisa.
- Ela não vai nem desconfiar... - ela deu uma risadinha. Cadê a poia da minha mãe? - , vem! - ela fez sinal.
- Eu tenho que ir, a gente se vê... - nunca mais.
- Ah, meu gatão, que pena, fica... - olha o atentado ao pudor, amiga, tira essa mão daí! - É sério, eu tenho que ir! - saí correndo, foda-se.
- Mãe!! Olha o que eu tive que passar por causa de você!! A gordinha quase me pegou ali mesmo!! - ela riu.
- Pegou a vela, pelo menos?
- Em mãos. - ela sorriu, com a própria na mão.
- Então vamos embora antes que aquela gordinha maluca me ache!! - ela riu de novo. Aquela situação foi trágica ok, não teve graça!! - Depois dessa longa e tenebrosa aventura, nós podemos ir para casa?
- Nada disso. Temos que encontrar seu pai na loja de salgados aqui perto. Creio que ele teve alguns probleminhas também. Enfim, nós vamos passar, pega-lo e depois vamos almoçar em algum lugar.
- Qualquer coisa, menos esse lugar. Estou esperando no carro. - meio que sai correndo. Aquele treco era grande, mas nem tanto. E é um fato que eu estou traumatizado. Toda vez em que eu ver uma gordinha ou esse supermercado, eu vou desmaiar. Drama king, esse sou eu.
- Finalmente!
- O seu amor estava lá na fila! - ela gargalhou.
- Isola!! Ela não é o meu amor ok. É só mais uma gordinha tensa.
- Ok, - ela riu e, logo após ver minha cara, segurou o riso. - Vamos falar de coisas boas.
- Por favor.
- Hm, esses dias eu tava pensando em uma coisa...
- O que?
- Por que você não volta com aquela sua banda? Era o que te fazia feliz naquela época, né?
- Como você lembra?
- Mal ou bem, eu via um sorriso no seu rostinho quando chegava à casa com a sua guitarra.
- Não sabia que você reparava. Enfim, eu gostava deles. Eu me sentia útil, pois eles diziam que eu tinha um grande potencial. Mas acabou, eu acho. Não sei se eles estão tocando ainda.
- E por que você saiu?
- Eu não me lembro bem o porquê, mas deve ter sido um motivo bem idiota. E como eles já deviam estar cansados...
- Ah sim... Filho da puta!!!
- Mãe?
- Oh, filho, não é com você! - ela falou, espantada. - Foi com esse babaca que acabou de me cortar!
- Domingueiro.
- Como diria o reclamão do seu pai. - rimos.
- Aliás, o que será que ele deve ter feito lá?
- Eu não faço a mínima idéia. Não deve ter sido nada grave.
- Assim espero.
Mal sabia ela que já estava em meus planos tentar voltar com a banda. Pelo menos por um dia, por causa da surpresa da . Mas eu queria, sinceramente, voltar. No fundo, eu sentia falta daqueles idiotas. Eles foram meus únicos e melhores amigos. Não tem como simplesmente esquecer. E eu nunca consegui. Eu apenas conseguir não lembrar.
Chegamos à loja.
- Amor, o que você arrumou ai?
- Nada demais, meu bem. Só que essa vendedora imbecil não aprontou os salgadinhos na hora em que eu marquei ontem. Eu estou há horas esperando e nada.
- Mãe, chega de me fazer passar por aventuras indesejadas. - ela riu. - Deixa que eu resolvo isso.
- Ok, nós vamos esperar aqui fora. - assenti e entrei na loja. Cinco minutos depois, sai com tudo encomendado na mão.
- Ahn?? Como assim??
- Isso se chama calma. Vamos embora, família barraqueira. - entramos no carro.
- Ed, seu filho trocou a hoje!
- Mãe!
- Não!! , o que você tem na cabeça?
- Não acredita nela, pai, é mentira! - rimos e ele ficou boiando.
- Dá pra alguém me contar??
- Ok, é que o hoje a mamãe me fez passar por uma aventura hoje.
- É, ele teve que deixar uma gordinha dar em cima dele só pra eu conseguir pegar uma vela que ela estava prestes a pegar. - rimos.
- Agora eu entendi! - riu. - Que isso, hein, filhão! Tá podendo! - eles riram.
- Ah, parou ok! Vamos esquecer essa gordinha!
- Tudo bem, filho. - mamãe segurou o riso. - Animado pra festa?
- Você não imagina o quanto. - sorri. - Eu só fico imaginando a reação dela...
- Bom, aonde vamos almoçar?
- Naquele restaurante de sempre?
- Não, vamos almoçar por aqui mesmo.
- Olha, tem aquele ali. - apontei para um que tinha um letreiro bonitinho.
- Tudo bem. - eles concordaram.
Meu pai estacionou o carro, descemos e entramos no restaurante.
- Hm, agradável o lugar. - minha mãe falou, me abraçando.
- Boa tarde, mesa para quantos?
- Três, por favor.
- Não, filho, aqui não deve ter nenhuma garçonete chamada . - minha mãe disse, fazendo com que eu desse uma risadinha.
Pedimos nossos respectivos pratos e ficamos conversando, rindo. Estava realmente divertido. É lógico que falamos das minhas peripécias infantis, até porque eu adoro saber o que eu fazia quando era pequeno. E por falar em gente pequena... Estava a caminho de casa, quando alguém deu sinal de vida.
- !! Você não me ligou!! - uma menininha um tanto quanto estressada gritada no outro lado da linha.
- Eu tive um dia cheio, amor! Minha mãe me alugou até uns cinco minutos atrás. Mas foi muito divertido.
- Que bom, !
- E você, pequena? Como foi o seu dia?
- Também foi bom. Mamãe e papai me levaram ao shopping para fazer compras. Comi no Subway, ! Fazia eras que eu não comia lá. E estou cheia de roupas novas. Só sei que não quero mais ir ao shopping por um bom tempo. Ah, , comprei um casaco lindo pra você... É xadrez, do jeitinho que você gosta. E também comprei uma bolsa linda. Nossa me senti uma patricinha hoje... Amor, eu estou falando muito?
- Mais do que o de costume. - eu ri.
- Se você quiser...
- Não... - bocejei no meio da frase. - Pode continuar...
- Você está com sono. Vai dormir um pouquinho se não você vai ficar com dor de cabeça depois.
- Minha mãe diria a mesma coisa. - ela riu.
- Mas é sério, dorme, ok?
- Com prazer. - ri.
- Eu também vou dormir, esse shopping de hoje me cansou.
- Então vai lá, um beijo e dorme com Deus.
- Beijinhos, monstrinho.
- Monstrinho?!
- É, você é meu monstrinho fofo! - Então tá né. - rimos. - Você e seus apelidos criativos...
- Mas agora vai lá, amor.
- Sonha comigo, ok?
- Pode deixar. - ela riu.

E acabou que eu sonhei com ela. Nós éramos casados e ela estava grávida do nosso primeiro bebê. Era uma menina que iria se chamar Jordan. Nós tínhamos nos mudado para Londres por causa da banda. estava trabalhando como vendedora de uma loja de roupas. Era uma segunda-feira de manhã, quando recebo uma ligação do hospital, dizendo que a tinha sido internada. Ela já estava no nono mês. Corri feito um louco, ouvia pessoas me xingando, mas eu não ligava. A minha menininha iria nascer. Cheguei o mais rápido que pude no hospital, ela estava com sete centímetros de dilatação. Esperamos, até que a hora chegou. Nossos pais e amigos estavam lá. Até que... Vimos uma cabecinha ruivinha. gritava muito. Jordan saiu, já chorando. O médico colocou a nossa menina em cima da barriga da , que chorava muito. Eu chorava também. Flashes de câmeras vinham em nossa direção, mas parecia que eu não estava ali, que isso tudo era um sonho. Jordan tinha os meus olhos e a boquinha de boneca da mãe, que foi a primeira semelhança que vi. Ela era bem gordinha e rosadinha.
Acordei assustado. Já era de manhã.

- Bom dia, filhinho!
- Mãe...
- Oi, amor.
- Eu tive um sonho tão lindo.
- Foi comigo?
- Você também tava... Senta ai, eu preciso contar pra alguém. - ela sentou e eu contei tudo. Pra que, né. Ela chorava de soluçar.
- Mãe... Mãe!! - eu sacudi ela. - O que houve?
- Isso pode ser um sinal... A está ou não está grávida, ?!
- Ah, mãe. Por favor, isso foi só um sonho!
- Daqui a pouco você se casa com a , vai morar com ela...
- Mãe, calma! Eu não tenho planos de casar com ela ainda. E muito menos de ter um bebê!
- Você promete? Vocês são tão jovens ainda...
- E é por isso mesmo. Mas a nossa Jordan era tão linda, mãe...
- Ah, meu filho. Eu imagino. Você é a coisa mais linda e a é muito bonita também, só podia resultar em perfeição! - ela riu, enxugando as lágrimas que ainda caiam de seus olhos.
- Mãe, pára de chorar, ok? Não vai ser agora que você vai ter uma netinha...
- Assim espero. E anda, mocinho! É hoje!

Finalmente! Ok, fiquei nervoso. Será que ela gosta de surpresas? Será que ela gosta de brigadeiro branco ou preto? Concentra, . E para de conversar com você mesmo. Vão achar que você é maluco. Se é que já não acham. Ok.
Corri para o banho. Gelado, pra dar aquela acordada básica. E também porque ajuda no controle da oleosidade do cabelo. Eu não sou gay, ok. Foi a que me disse isso. Enfim. Terminei meu banho e coloquei uma pólo azul, com uma calça preta e um tênis qualquer. Me enchi de perfume. O preferido dela, claro. Desci correndo, pegando meu celular e uma maçã que estava em cima de um bilhete.


Filho,
Nós fomos mais cedo pra casa da para ajudar os pais dela. Não se atrase,
não esqueça seu celular e coma essa maçã.
Deixamos dinheiro para o táxi.
Amamos você,
mamãe e papai


Peguei o dinheiro, a maçã e o meu celular. Chamei o táxi. O mesmo chegou em menos de dez minutos. Dei as coordenadas pro taxista. Senti o meu bolso vibrar. Era mamãe.
- Oi, filho!
- Oi, mãe! Como estão as coisas por aí?
- Está ficando lindo! Ela vai amar!
- Mãe, acabei de me lembrar que tenho que fazer um negócio antes de ir...
- Você não consegue chegar a tempo, né, filho. Que mania!
- É importante, mãe.
- Então faz o seguinte. Passa de táxi na casa da Alex, que é uma amiga da . Ela está dormindo lá hoje. E leve-a com você.
- Ótima idéia, mãe!
- Comeu a maçã?
- Aham. - ouvi gritos. - Estou atrapalhando, né?
- Estamos ocupadas. Tenho que ir, estão me chamando na cozinha.
- Mas, mãe...
- Oi.
- Como eu vou fazer pra mantê-la longe daí?
- Ah, , vai ao cinema, vai lá pra casa... Não sei. Depois o seu pai pode ir buscar vocês onde quer que vocês estejam.
- Tudo bem.
- Mas alguma pergunta?
- Só mais uma.
- Hm.
- Uma menina chamada está ai?
- Está sim.
- Ótimo. - pensei. Ela vai adorar isso.
- Por quê?
- Nada, mãe.
- Eu já sei de tudo, seu bobinho. Ela já contou tudo pra gente. - rimos.
- Tenho que desligar, mãe. Já estou na casa da Alex.
- Beijinhos, filho. Ah! Ela mora no bloco II, apartamento 305, ok?
- Ok. Beijos.

Cheguei à casa da tal amiga da . Que se importa quem é ela? Hoje é aniversário da minha pequena! Tudo o que eu quero é abraçá-la. Ok, acho que estou meio perdido. Nossa mãe, quanto mato. Ok, espero não ser atacado por nenhum inseto. Bom, bloco II, apartamento... Vamos, , lembra, seu idiota! Era com 3 no começo... Isso! 305! Memória de velho inconveniente.
Toquei a campainha.
Esperei.
Esperei mais pouco.
Minhas pernas já estavam inquietas.
Ouvi um barulho de chave. Alívio.
Uma menina de cabelos loiros meio amassados atendeu a porta, olhou pra mim e tomou um susto daqueles. Qual é, eu sou tão feio assim?

- Oi! Você deve ser o namorado da , né? - não, poxa eu sou o Papa. Vim dar a sua benção a domilício. Dã.
- Aham.
- Pode entrar! E não repara no tamanho do cafofo não... - ela riu.
- Ela não está acordada, né?
- Não.
- Imaginei. - dei uma risadinha.
- Você quer alguma coisa? Uma água, um suco?
- Não, eu estou bem. Obrigado.
- Pode ir lá ao quarto, se quiser. Prometo não incomodar.
- Você não mora com mais ninguém?
- Não. Por quê?
- Não quero dar de cara com ninguém fazendo coisas... Sabe como é. - ri.
- Ah sim. - ela riu. - Pode ficar tranqüilo, eu moro sozinha.
- Onde é?
- Segunda porta, à direita.
- Ok.
Entrei no quarto esperando que aquele fosse realmente o certo. E... Era. E, adivinhem só? Ela dormia como uma pedra. Sério, ela deve ter algum tipo de problema. Depois a minha mãe vem me chamar de dorminhoco. Mas, isso era bom, porque, como eu já disse, ela fica muito fofa dormindo. Sentei na beirada da cama e fiquei observando-a. Meia hora se passou e nada de mexer um dedinho sequer.
E se eu falar que eu fiquei meia hora sentada só olhando pra carinha de bebê dela, vocês vão me bater muito?
Ok, eu fiquei meia hora sentado admirando a minha namorada sim, ok, e sou feliz. Opa, acho que a minha bela adormecida resolveu despertar. E nem precisou de um beijo meu.
- ?! - ela sentou na cama em um pulo.
- Eu!
- O que... Como...
- Liguei pra sua mãe. - enquanto eu falava, ela ia se levantando. Até que ela parou, de pé, na minha frente.
- Hm, não vai falar nada? - Falar, eu não falei. Só a abracei. Forte.
- Parabéns por ser quem você é, agüentando meus ataques e dando conselhos. Eu te desejo todas as coisas boas que existem, amor! Inclusive, eu, é claro. - ela riu.
- Você é tão fofinho! E convencido. Mas, eu já tenho você mesmo, então nada mais importa. - ela disse, segurando meu rosto com as suas mãozinhas delicadas e, me dando um beijo.
- Bom, eu quero passar o dia todo com você hoje, então fala para a sua amiga que nós já estamos indo!
- ! Ela vai ouvir!
Ouvimos passos.
E depois duas batidas na porta.
- Pode entrar!
- Oi, amiga! Parabéns! - ela entrou no quarto feito um furacão. - Tudo de bom, minha lindinha!
- Obrigada, Alex. - deu um sorriso largo. - Só passei aqui no quarto pra te dar um beijo. A idiota da minha patroa quer que eu trabalhe hoje pra cobrir a falta da Emily. Você me desculpa, amiga?
- Tudo bem, Alex. Eu sei o quanto você lutou por essa vaga nessa revista. Eu não vou ficar chateada, pode ficar tranqüila.
- Que alívio, . Eu tinha esperanças que essa monga me liberasse hoje, mas como ela não falou nada, chamei você pra dormir aqui antes pra ficar pertinho de mim algumas horas.
- Já falei que não precisa se preocupar!
- Sério mesmo?
- Sério.
- Então me deixa ir porque já estou atrasada! E parabéns mais uma vez, amiguinha linda! - ela disse, abraçando de novo a . - Obrigada mais uma vez, amiguinha linda. - disse, rindo. Ouvimos o barulho da porta batendo.
- Acho que ela já foi...
- Vamos então?
- Vamos. Vai se arrumando enquanto eu chamo o táxi.
- Tudo bem. - ela disse, indo para o banheiro.
Chamei o táxi, previsão de dez minutos. Ok, eu agüento.
Acho que vou aceitar o suco que a dona da casa, que não está mais aqui, me ofereceu mais cedo.
Tudo bem.
O interfone tocou, já estava pronta.
Descemos.
Entramos no carro.
- Para onde vamos, amorzinho?
- Antes de irmos lá pra casa, vamos passar na casa de uns amigos meus. Quero que você os conheça.
- Oba, fiquei curiosa! - ri.
- Já tá chegando? - ela disse, depois de alguns minutos de viagem.
- Calma, criança, faltam só mais alguns minutos.
- Tudo bem.
- Bom, acho que já chegamos. - ela sorriu. Não sei o porquê elaestava tão ansiosa. Enfim.
- Aqui está, moço. Obrigado.
- De nada, jovem. Tenha um bom dia. - sorri.
- Nossa, amor, aqui é grande!
- Mudou muito desde a última vez em que estive aqui...
- Faz tempo?
- Faz. Enfim, não quero me lembrar do quão idiota eu fui com eles.
- O que... O que você fez?
- Eu briguei com eles.
- Hmm...
- É, eu era um pouco difícil de se lidar naquela época. Não que eu ainda não seja, mas estou melhorando.
- Eu sei disso. - ela sorriu.
- Bom, pelo que eu me lembre, era por aqui... - quando terminei de falar, ouvi umas batidas. - É, eles não mudaram o costume. Ensaios de manhã. Incomodar os vizinhos era o que a gente fazia de melhor. - ri. - Vamos seguir o som.
- Mas, amor, é por aqui! - ok, eu estou nervoso.
- Ops. - ri e a segui.
Chegamos até o prédio deles.
- Bom dia, meninos.
- Bom dia, John.
- ! Quanto tempo!
- Pois é. - dei uma risada sem-graça.
- Vejo que a Giov... - preciso descrever a cara da ?
- Foi pro espaço. Há muito tempo, aliás. Essa aqui é a , minha nova namorada.
- Desculpa, . Eu não sabia! Faz tempo que o não passa por aqui.
- Tudo bem. - ela sorriu amigavelmente.
- Eles estão ai, certo?
- Estão. Aliás, o apartamento deles está tendo uma movimentação estranha de uns tempos pra ... Parece que estão fazendo mais ensaios do que eu costumava ouvir. E agüentar. - ele riu.
- Bom, vou dar uma passada lá. Vamos, ?
- Vamos.
- Tchau, John. - eu disse.
- Tchau, nova namorada do .
- Tchau. - ela riu.
- Esses seus amigos são estranhos, amor!
- Ele é meio perturbado mesmo. - rimos.
Pegamos o elevador e subimos.
- Ainda estou curiosa! Como eles são? Baixos? Altos? Legais?
- Calma, ! Já chegamos ao andar. - o elevador abriu assim que eu falei.
- Percebe-se pelo barulho.
- Vem. - peguei a mão dela e andei mais rápido. Lembrando que eu estava bem nervoso.
- Anda, amor, toca a campainha!
- Calma, deixa eu me situar primeiro.
- Ora bolas, deixa de ser fresco! - ela deu uma apertada singela na pobre campainha. Assim que ela apertou a campainha, não ouvi mais os sons dos instrumentos e, sim, vozes. Aquilo me deixou mais nervoso.
- Deixa que eu atendo! - alguém falou, passando a chave na fechadura. Era , que ficou olhando pra minha cara, sem saber o que dizer.
- Err... Oi! - eu disse, de uma forma muito aviadada, se você quer saber.
- Oi. - ele disse, meio seco.
- , quer fazer o favor de pegar a pizza logo!
- Não é a pizza, ...
- Então o que é?
- Vem ver com os seus próprios olhos... - ele deu passagem para que me visse.
- O que você está fazendo aqui, ?! - ele disse, também seco.
- Eles são seus amigos, amor?! - disse, me lembrando que ela estava atrás de mim.
- Não sei. - disse e fitei o chão por uns cinco minutos, até que resolveu falar comigo também.
- Você... Você quer entrar?
- Gostaria, eu acho. - ele deu passagem para que entrássemos. Eu e sentamos em um sofá qualquer. Mas que porra de silêncio desconfortável! Ok, eu vou ter que me pronunciar.
- Vocês devem estar achando que eu comi merda ou coisa parecida, mas, não, eu não comi. - ri alto de nervoso. - Eu posso falar tudo o que está engasgado aqui? - eles não falaram nada, só olhavam assustados para mim. - Naquela época em que eu estava na banda, eu era feliz, sabe. Eu tinha vocês, meus únicos amigos. Mas, eu estava passando por sérios problemas familiares e não soube não descontar isso nas pessoas que eu mais me importava naquele momento, que eram vocês. Acabou que eu saí da banda e, por muito tempo, eu me sentia uma merda, porque eu sabia que eu tinha causado tudo aquilo. Mas, um dia eu conheci essa menininha aqui, e, ela me trouxe a luz que eu precisava. Ela me fez perceber que eu estava agindo errado com os meus pais e que eu estava agindo errado com vocês. Eu fui orgulhoso e egoísta, não soube assumir que estava errado. - que merda, estou chorando. Foda-se, homens também choram. Ao ver as lágrimas caindo do meu rosto, apertou forte a minha mão. - E ela me deu forças para vir até aqui me desculpar, eu sei que está mais do que tarde, mas eu não tive coragem antes. Saibam que eu estou me sentindo a pessoa mais vulnerável do mundo agora mas, mesmo assim, se vocês não quiserem me desculpar, eu vou entender totalmente. Não devia ser fácil conviver comigo. Porém, eu vou ser daqui feliz, na medida do possível, é claro. Eu estou aprendendo a pedir desculpas porque não quero mais perder as pessoas que eu amo. - lágrima idiota, volta! apertou mais uma vez a minha mão. Olhei pra ela e ela, num sussurro, disse que estava orgulhosa de mim. Mais um silêncio.
E outro.
Mais um.
Ok, resolveu falar.
- , eu não sei o que dizer. Sério, eu não esperava te ver hoje, ou melhor, eu não espera te ver tão cedo e também não esperava que você fosse falar tudo isso. Acho que nenhum de nós três esperávamos... - disse.
começou a falar.
- Eu senti sua falta quando você foi embora. Nunca foi a mesma coisa sem você aqui. Nós fizemos inúmeros testes para novos integrantes, mas nenhum foi bom o suficiente pra te substituir. Eu estou falando isso de coração. Mas a gente não ia correr atrás de você, a gente cansou desse joguinho de gato e rato, sabe? Por mais que a gente quisesse você de volta pra banda, a gente sabia que se a gente te chamasse, você provavelmente iria fazer de novo e de novo. Você precisava de uma lição. - nunca vi falar tanto.
- E a gente acha que você aprendeu. - disse.
- Nós te desculpamos, seu idiota. - disse. Um sorriso largo brotou no meu rosto. E, automaticamente, no de .
- Abraço em grupo? - propôs. Segurei as minhas lágrimas idiotas. Nos abraçamos.
- Amor, você não vai me apresentar à eles direito? - disse em meu ouvido, depois que já tínhamos parado o abraço.
- Ah sim! , e , essa é a , minha namorada. - eu disse. cumprimentou os três com dois beijinhos.
- Amor, porque você não vai ligando para o táxi? - eu disse.
- Você não quer ficar mais um pouquinho? Eu não me importo... - disse.
- Fiquem para o almoço!
- Não tem problema? - eu disse.
- Só tem problema se vocês não gostarem de pizza... - disse, rindo.
- E também se a sua namorada não gostar de barulho... - completou, rindo.
- Então vamos ficar. - eu disse.
- Err... . - disse.
- Oi.
- Você pode me mostrar onde fica o banheiro?
- Claro!
- Vê se tem alguma coisa lá antes, pelo amor de Deus. - disse.
- Garotas não aparecem por aqui há um bom tempo... - disse, coçando a cabeça e rindo.
- Eu preciso falar outra coisa com vocês... - eu disse, quando voltou.
- Hm. - eles falaram.
- É que hoje é aniversário da e eu, os meus pais e os pais dela estamos organizando uma festa surpresa pra ela e como ela gosta das nossas músicas, eu achei que seria legal se a gente tocasse lá.
- Como nos velhos nem tão velhos tempos? - disse.
- É. - sorri.
- Hm, eu estava pensando em uma coisa...
- Fala, pessoa. - e disseram.
- Se nós vamos tocar hoje juntos, isso significa que você está na banda de novo, né? - disse.
- Eu não tinha pensado por esse lado... - eu disse. - Eu aceito, se estiver tudo bem pra vocês.
- É lógico que está tudo bem pra gente, ! Eu hein, que idéia. - parecia realmente indignado.
- Toma, toca qualquer coisa pra ver se você ainda está afinado. - disse, me dando um violão.
- Espera a voltar. - disse.
- Oi, gente.
- Amor, eu voltei pra banda! eu disse, assim que vi surgir na sala.
- AH! Que demais, lindinho! - ela disse.
- O que vocês querem que eu toque?
- Que tal... Obviolsly?
- Tudo bem.
Sentei no sofá e eles no chão, incluindo . Depois dessa música, toquei outras nossas, menos “Not Alone”. Essa... Bom, deixa quieto. E ali ficamos, durante horas.
- Alguém está com fome?! - disse.
- Eu estou. - disse.
- Que novidade! - disse.
- Vou ligar pra Domino’s então. - se levantou e foi pra cozinha.
- Santa Domino’s! - eu disse.
- Amor, deixa de ser esfomeado! - disse, rindo.
- Então... ... disse.
- Oi, .
- Quais são as suas intenções com o ? - ! - disse, reprimindo-o. - Vai assustar a menina!
- Eu quero saber, ora bolas!
- Tudo bem, gente. - ela riu. - As minhas intenções com o são as melhores possíveis, ... Ele sabe disso. - ela disse, olhando para mim e sorrindo. Dei o meu melhor sorriso de volta.
- Hm, bom saber. - ele ficou pensativo enquanto os outros riam. tinha uns surtos de vez em quando, só pra ficar bem claro.
- Vocês querem pizza de que? - gritou da cozinha.
- Calabresa! - todos gritaram.
- Tudo bem. - gritou de volta e voltou a falar ao telefone.
Ficamos conversando, rindo. já havia acabado o pedido e se juntou ao nosso grupo. A já parecia amiga íntima dos meninos, o que me deixava feliz a cada minuto que percebia isso.
A campainha tocou, interrompendo nossa rodinha musical. Dessa vez, e levantou para atender. Logo depois, levantou para constatar que não faria uma completa sujeira no apartamento. É, só eu e os meninos sabemos como esse ser é desastrado.
o ajudou com as pizzas e as cervejas. Comemos e, como já era de se esperar, conseguiu sujar a mesa toda de cerveja por causa de uma risada efusiva. Eu e ele - !
- Ah, pára, foi engraçado ok!
- Vamos parando. O meu tombo foi lindo, mas eu não gosto de lembrar daquele show. Tudo o que tinha pra dar errado... Deu! - disse, depois de dar um gole em sua cerveja.
- É mesmo... - eu ri, junto com .
- , cuidado para não derrubar mais cerveja! - disse , fazendo com que desse um soco em seu ombro. Esses dois são só amor, eu hein.
- Amor, acho melhor irmos embora, não é? - eu disse.
- Ah, , esse foi um dos melhores aniversários que eu já passei! Vamos ficar mais um pouco!
- Aniversário?! - os três disseram juntos.
- Por que você não disse antes?! - disse.
- Não seja por isso... - disse.
- , toca “Parabéns pra você” e a gente canta! - ele rapidamente levantou e pegou o violão.
Sério. Só vendo a carinha dela pra acreditar... Os olhinhos cheios d’água, um largo sorriso no rosto. Eu ficava eufórico só de lembrar que eu é que estava dando aquilo pra ela, aquele pequeno momento para ela se sentir feliz. É a melhor sensação do mundo. E, além do mais, é o primeiro aniversário que ela passa longe do hospital, o que torna isso mais especial do que já é.
- ÊÊÊÊÊ, FELIZ ANIVERSÁRIO! - nós gritamos e ela abriu um enorme sorriso.
- Obrigada! - ela disse, em um tom animado. - Ai, gente, eu vou chorar!
- Chooooooooora coração!
- , controle-se, homem! - disse .
- Ok. - ele disse, envergonhado. Rimos.
- Falando sério agora, amor. Acho melhor nós irmos mesmo. A minha mãe disse que não quer que a gente volte tarde porque quer jantar com você e tal.
- Que fofa ela! - disse.
- A sua mãe? Fofa? Err, tem alguma coisa de errado nessa frase... - disse.
- É, gente, muita coisa mudou... - eu disse, sorriso e a abraçando. - Agora a gente está bem. E ela vai ficar feliz de saber que eu estou de volta na banda.
- Se você diz...
- É, pois é. É difícil de acreditar, mas é verdade.
- Então vamos, amor.
Nos levantamos e ficamos nos olhando. resolveu se despedir de mim primeiro.
- Tchau, ! - ele me deu um abraço apertado. - Estava com saudades!
- É, eu também, .
- Outro abraço em grupo! - propôs.
- Tchau, ! Cuida bem do meu rapaz, hein! - disse, dando dois beijinhos nela. Ela sorriu e olhou pra mim. Sorri de volta.
- Tchau, . Foi bom te conhecer. - disse , também dando dois beijinhos.
- Er, tchau, ! - disse, fazendo o mesmo que os outros dois. - E, mais uma vez, não ligue pro mongol do . Ele tem sérios problemas. - ela riu.
- Deixa pra lá! Ele é divertido! - rimos.
- Eu ligo pra vocês amanhã, ok? - eu disse, dando aquela piscadela de quem vai aprontar alguma. Claro, sem ela ver.
- Tudo bem. - eles disseram.
Saímos da casa deles. Respirei aliviado. Que sensação maravilhosa! Parece que um elefante saiu de cima de mim. Mais um, no caso.
- Amor, eu já adoro os seus amigos! Eles são uns fofos!
- Com eles, eu posso dizer ‘eu te amo’ sem medo de parecer um viado.
- Eles parecem sentir o mesmo.
- Eu espero. - sorri.
- Já ligou pro táxi?
- Não. Vou ligar pro meu pai. Ele está a nossa disposição hoje, minha dama.
- Ah, é? E aonde nós vamos, senhor?
- Vamos jantar em um lugar especial...
- Hm, que ótimo! Já estava começando a ficar com fome!
- Eu sabia. - ri.
Liguei para o meu pai e, por sorte, ele disse que já estava ali por perto. Além da festa surpresa, eu resolvi fazer uma outra surpresa de última hora. Uma coisa que ela quer desde quando eu a conheço.
Meu pai chegou. Entramos no carro.
- Meus parabéns, norinha! Tudo de bom! Paz, saúde e... Paciência para aturar esse pentelho chamado ! - eles riram.
- Nem achei graça.
- Ele só estava brincando, amor! Deixa de ser chato!
- E eu também estou brincando! - ri. Ela bocejou. - Hmm, vejo que alguém está com soninho...
- Nada! Foi só um... - ela bocejou de novo. - Bocejo. - sorriu.
- Vem, deita aqui... - eu disse, apontando pro meu colo. Vendo que eu eu não iria desistir enquanto ela não deitasse, ela rapidamente deitou e se aconchegou, como sempre fazia. Fiquei fazendo carinho no cabelo dela, até senti sua respiração baixa e pesada. Ela havia, em questão de minutos, dormido. E eu ainda continuava tentando entender a facilidade que ela de dormir. Enfim.
Pegamos um pequeno trânsito... Propositalmente, é claro. Os preparativos ainda estavam sendo terminados, por isso, fomos pelo caminho mais longo. Tentando fazer o mínimo de movimento, peguei meu celular no bolso e mandei uma mensagem para os meninos só pra checar se estava tudo certo.
Algum deles me respondeu, dizendo que já tinham chegado à casa dela e que já estavam se instalando por lá. Sorri ao acabar de ler. Tudo estava saindo exatamente como eu planejei. Não exatamente, porque eu não estava contando com o reencontro com os meus melhores amigos. Enfim. Ainda sim, eu estava feliz. Feliz porque eu ia deixar o amor da minha vida feliz. Logo reconheci o condomínio dela. Logicamente, eu deixei para acordá-la no último minuto, pois isso daria mais tempo para que qualquer imprevisto fosse resolvido. Chegamos a portaria do prédio dela. Meu pai estacionou rapidamente, me deu a chave e saiu correndo. Eu ri da cena. Comecei a acordá-la. Como eu já esperava, ela demorou uns cinco minutos até perceber que eu estava cutucando seu braço. Finalmente, ela abriu os olhos.
- Onde estamos? - perguntou.
- No seu prédio. - eu disse, rindo da situação.
- Mas nós não íamos jantar, amor?
- Sim, nós vamos jantar. Passamos aqui para pegar seus pais, para depois pegarmos a minha mãe, que é sempre a mais lerda para se arrumar.
- Tudo bem. Então, vamos?
- Vamos. - eu disse, saindo do carro. Esperei sair e tranquei tudo.
- E cadê o seu pai?
- Papai sempre tem problemas intestinais em datas importantes... - hm, idiota, acho que não tinha desculpa pior do que essa. Mas acho que vai colar.
- Nossa, amor, coitadinho dele! - parece que funcionou. Também, ela acabou de acordar.
- Pois é. - eu acho que ele vai me matar quando souber que eu inventei isso sobre ele. Só acho.
Eu estava ficando ansioso. Conseqüentemente, comecei a andar mais rápido, puxando a mão dela comigo. Como ela ainda estava um pouco grogue, não estava reparando muito no que estava fazendo.
- Vamos, amor! A gente tem reserva no restaurante para daqui a uma hora. Não podemos nos atrasar.
- Eu não vou suja desse jeito, ! Eu preciso de um banho! - já não estava mais grogue.
- Calma, ! Ainda vai dar tempo de nós dois tomarmos banho... se você andar mais rápido. - eu disse, guiando-a pelas costas.
- Tudo bem.
Já estávamos na porta do elevador. Fiquei muito mais ansioso. A minha vontade era de sair correndo pro apartamento dela. Mas tive que me conter. Agora, calmamente, fomos caminhando até o apartamento dela. A própria não entendeu a mudança repentina da velocidade, mas não ligou. Nem eu entendi, na verdade. Eu tenho a tendência de ser meio retardado quando estou nervoso. Enfim.
Finalmente, estávamos em frente a porta dela. Eu nem preciso dizer o que eu estou sentindo agora, até porque nem eu sei. Como sempre, a impaciência de fez com que ela esmagasse a campainha.
É agora.
Ok, não é agora. Atende logo essa merda de porta!!!
É agora!
- Ué, amor, você não diss...
- SURPRESAAAAAAA! - inúmeros gritos saíram de dentro do apartamento. Um sorriso que quase não cabia na minha boca brotou. Tudo deu certo! Ela ficou parada na porta, examinando cada rosto presente e, logo depois, olhou profundamente em meus olhos. Ela sorria, com os olhos marejados.
- Eu te amo, ! Tanto... - ela disse, com a voz abafada por causa do abraço forte que estava me dando. Eu podia sentir as lágrimas dela molhando a minha blusa.
- Eu também, minha linda... - eu disse, fazendo carinho em sua cabeça.
Ela se soltou do abraço, mas ficou com um dos braços em minha cintura. Como vi que ela iria ficar estática por um bom tempo, comecei a andar para dentro do apartamento e ela prontamente me acompanhou.
Assim que entramos, um mundo de gente veio falar com ela. Resolvi deixar a minha pequena falando com todas aquelas pessoas e fui ver como andava a outra surpresa que eu ia fazer.
Passei pelos meninos, que me jogaram beijos. Retribui os três beijos, aos risos. Fui até o quarto dela. A surpresa estava intacta. Ótimo.
Voltei para a sala principal e ela ainda estava rodeada de gente. Pelo o que eu conheço da minha menina, ela já deve estar de saco cheio. Fui ver como as coisas estavam lá. E não foi muito diferente do que eu pensei. Uma tia dela, creio eu, estava esmagando suas bochechas. Segundo ela, isso só era bom quando eu fazia. Então, eu acho que ela não deve estar gostando muito. Fui até a rodinha em que as duas estavam.
- Posso roubar a sua sobrinha um pouquinho? - a cara dela de alívio quase me fez rir.
- É claro, meu querido. Estava justamente dizendo a como eu aprovo o namoro de vocês...
- Fico feliz em saber disso. Agora, se nos der licença... - eu disse, tirando a dali.
- Não sei por que a mamãe ainda insiste em chamar essa pessoa para os nossos eventos de família...
- Não se preocupe, agora você está a salvo. - eu disse, rindo.
- ... Como você fez isso tudo?! Eu não...
- Teve a partipação até dos meus amigos... - eu disse, indiferente. Tinha me esquecido que ela não tinha reparado nesse detalhe.
- Amor! Até eles?!
- É. - eu disse, sorrindo.
- Você é perfeito. - ela disse, olhando em meus olhos e sorrindo. Sorri também.
- Como vai a aniversariante do dia?! - minha mãe chegou, de repente.
- Com um pouco de hematomas, mas bem. - ela disse, bufando. E eu ri de sua reação.
- O que...
- Nada demais, mãe. Uma tia dela exagerou nos apertões nas bochechas fartas dela.
- ! - eu e minha mãe rimos.
- Eu preciso ir à cozinha rapidinho, meus amores. Filho, cuide dela para que mais incidentes como esse não aconteçam. - ela disse, rindo.
- Pode deixar, mãe. - ri também.
De repente, viu uma pessoa que eu tinha até esquecido que estava lá. A . Um sorriso logo brotou no rostinho dela, fazendo com que fosse ao encontro daquela que não via há muito tempo.
- ! Você veio!
- Sim, eu vim. - ela disse, rindo da observação óbvia de . - A sua mãe me ligou e eu aceitei o convite. Achei que seria uma ótima oportunidade de rever o meu casal preferido.
Ouvi alguma coisa vindo do lugar onde , e estavam. Era um sinal para que eu me juntasse à eles.
- , você pode ficar com a um pouquinho?
- Claro, .
- Aonde você vai, amor?
- Os meninos estão me chamando, volto num instante!
- Tudo bem.
Corri até onde eles estavam. Os instrumentos estavam em uma parte da casa onde não poderia ver se não procurasse bem. Eles me avisaram que já estavam prontos. Fomos até o lugar onde tudo estava. Peguei a minha guitarra e chamei a atenção de todos.
- 1, 2, 3... Som! - a festa toda se voltou para mim. Inclusive , que me olhava com uma cara assustada. Logo percebeu o que queríamos fazer. Sua expressão mudou e o sorriso que eu mais amo apareceu no rostinho dela. Bom, acho que ela não percebeu tudo... Mas, isso também faz parte da surpresa. - Bom, como todos já sabem, a passou por um grande problema recentemente e... conseguiu sair viva dele. E eu agradeço todos os dias por isso ter acontecido. Mas não é ai que quero chegar. Havia uma música que eu tocava para ela enquanto estava no hospital. Por causa daquela música, ela sabia que não estava sozinha. E eu resolvi relembrá-la disso nesse dia tão especial.
Comecei a tocar Not Alone. Assim que os primeiros acordes saíram, eu olhei para , que estava me olhando também. Ela parecia realmente não acreditar que aquilo estava acontecendo. Então, ela sussurrou: “Você não cansa de ser perfeito?! e eu sussurrei de volta: “Se isso te fizer feliz...” E comecei a cantar.
Em nenhum momento, eu deixei de olhar para a . Eu queria ver cada reação que ela tinha, cada mudança em seu rosto...
Ela estava chorando, porém sorria. passava a mão em seus ombros e também olhava pra mim, também com um sorriso no rosto. Eu estava, além de inflado de felicidade, me divertido ali naquele palco improvisado. Eu via a reação de todos a minha pequena surpresa de camarote... A minha mãe e a mãe delachoravam feito bebês, já que elas sabiam o que viria pela frente. Até a tia maluca dela chorava. Voltei a olhar pra ela.
Comecei a ver uma confusão estranha, que vinha do quarto de para sala onde todos estavam. Merda! Foi aonde eu deixei... Tarde demais.
Aquela bola de pêlos já havia saído do seu lugar. Esbarrando em todos que estavam em seu caminho, ele perseguia uma bolinha de brinquedo que eu não sei como foi parar ali, na verdade. Continuei a cantar, já que ela parecia não ter percebido que a casa toda não estava mais olhando para mim e pros meninos.
olhou para trás e levou um susto. Finalmente, olhou para trás para ver o que tinha feito levar o susto e se deparou com um filhote de labrador com um laço vermelho em volta do pescoço, sentado, com a cara mais lavada do mundo, como se não tivesse quase botado o apartamento de cabeça para baixo. Ela logo olhou pra mim, com mais lágrimas nos olhos. Ela havia percebido que isso também fazia parte do que eu tinha preparado para o dia dela. E o cachorrinho também percebeu isso, pois enquanto afagava a sua cabeça, ele deu um pulo, fazendo com que ela caísse sentada e começou a lamber o seu rosto, arrancando risada de todos os presentes.
Ela pegou o filhote no colo, como se ele fosse um bebê e ficou de frente pra mim, no mesmo lugar de cinco minutos atrás.
Finalizei a música, olhando em seus olhos. Ela começou a chorar de novo e todos os outros bateram palmas, fazendo o filhote latir loucamente.
afagou sua barriga e ele logo parou. - Era esse o meu recado. Espero que você tenha entendido, minha linda. - ela saiu correndo de onde estava, ainda com o filhote nos braços. Me deu um abraço forte, na medida que o cachorro permitiu. Quando ela parou de me abraçar, o cachorro lambeu a minha bochecha. Ela riu, me fazendo rir também.
- Eu não tenho explicações para isso, . Simplesmente não consigo achar palavras que descrevam o quão feliz eu me sinto!
- Que bom que você gostou, meu amor. - eu disse, passando a mão em sua bochecha.
- Como você explica... isso? - ela disse, apontando pro filhote.
- Você sempre quis um, certo?
- Certo.
- Bom, esse cachorrinho também vem com uma coisa extra. Preciso voltar ao microfone para anunciá-la. E você vem comigo.
- , já não chega de microfone por hoje?!
- Essa é a última vez, eu prometo.
- Tá... Vamos logo.
Fui até o microfone. Os meninos já estavam no bolo de pessoas que se concentrou na sala ao me chegar de novo naquele lugar.
- Eu sei que vocês já devem estar cansados de mim, mas eu prometo que essa vai ser a minha última vinda ao microfone! - todos riram. Olhei para ela e comecei a falar. - Eu pensei muitas vezes antes de tomar essa decisão, . Mas foi você, na verdade, que me fez chegar a uma opinião concreta sobre isso que eu vou falar agora. Agora que eu tenho uma banda novamente, eu quero levar isso a sério. Mas para começarmos, precisamos de novos ares... Por isso, eu, , e decidimos nos mudar para Londres, porque lá as opções são melhores. - De repente, C, que estava com uma expressão alegre, começou a chorar de novo.
- Você...
- Me deixe terminar, ...
- Eu...
- Não é isso que você está pensando, meu amor. Eu nunca te deixaria sozinha. O que te fez pensar isso?!
- Então...
- É nesse ponto que quero chegar. Você quer se mudar com a gente para Londres? - a expressão dela logo mudou, fazendo as lágrimas pararem e o sorriso que eu mais amo surgir no rosto dela. Antes de me responder, ela lançou um olhar para seus pais, que estavam sorrindo. Eles já sabiam de tudo, obviamente. Assim como os meus.
- Sim, eu quero me mudar com vocês, . - Me senti em um estádio cheio. Todos batiam palmas calorosamente. Ela me deu um beijo, fazendo com que todas as sensações que isso me causava aparecerem. Era um tanto quanto constrangedor, pensei comigo mesmo. Mas, quem liga?! A minha vida está mais do que maravilhosa, eu quero mesmo é que todos saibam disso! Assim que paramos o beijo, nossos pais vieram nos abraçar. Outro momento para ser eternizado.
Eles foram falar com parentes que tinham que ir embora. Eu tive que me despedir da minha avó, então deixei brincando com o cachorrinho.
Os meninos logo me encontraram. Eles falavam que não viam desde o momento em que acabamos de tocar. A última coisa que eu imaginaria ver estava a metros de distância de mim. e se beijando em um parede. Esse é o meu garoto! Os outros viram para onde eu estava olhando e começaram a comemorar. era meio que o bebê da banda.
- Amor, vem ver uma coisa! - gritei. chegou e eu apontei para o casal.
- Eu já sabia de tudo. - ela disse, rindo. - Eu vi os dois trocando olhares desde o momento que soube que eles estavam aqui.
- Você não me disse nada!
- Não queria estragar a surpresa.
- Ué, cadê o seu mais novo fiel escudeiro?
- Coloquei ele no quarto. - ela disse, passando a mão na minha cintura.
Os dois chegaram, de repente.
- Oi, casal!
- Pára, , deixa de ser boba! - disse, constrangida, logo depois da risada também constrangida de . Rimos.
- Olha que legal! A vai estagiar em Londres! - disse.
- Ei, sua ridícula, você não me disse isso!
- Eu pretendia, ok. Achou que fosse se ver livre de mim, han? - emburrou a cara, fazendo todos rirem.
Minha mãe fez um sinal para mim. Deixei conversando e fui ver o que ela queria. Na hora em que eu ia perguntar o que ela queria, meu pai a puxou para um beijo. Por que eu sempre estou por perto quando os meus pais resolvem se beijar, alguém pode me dizer? Isso sim é constrangedor. Enfim. Eles perceberam que eu estava ali e pararam, envergonhados.
- Filho, eu acho que já está tarde...
- Mãe, eu não posso ir embora. Não agora.
- Mas o seu pai e eu temos que trabalhar, meu amor... - eu não tinha percebido que quase metade da festa já havia ido embora.
- Tudo bem, mãe. Vou falar com ela e com os meus amigos.
- Ok, mas não demore.
- Tá.
Quando eu cheguei à rodinha, estava com uma cara meio triste.
- Você vai embora, né?
- Vou, mas amanhã a gente vai se ver, meu amor.
- Mas...
- Eu preciso ir.
- Posso te falar uma coisa?
- O que você quiser.
- Eu já estou sentindo saudades.
- Não sinta. São só algumas horas.
- Amor, nós não demos nome para o cachorrinho! - ela estava tentando me distrair. E era sempre ótima nisso.
- Hmmm, estive pensando em Jake, o que você acha?
- Ótimo! - ela sorriu. - ?
- Sim.
- Os seus pais já estão na porta...
- Droga, eu tenho mesmo que ir, .
- Eu sei. - ela fez um biquinho.
- Tchau, viadinhos.
- Tchau, minha lindinha. - disse.
- Tchau, . - disse, rindo da despedida de .
- Tchau, tcholinha. - disse .
- Tchau, . - eu disse.
- Tchau, .
Fomos até eles. se despediu dos meus pais e eu dos dela.
E, por fim, me despedi dela.
- Tchau, meu amor.
- Se você não me ligar amanhã...
- Eu vou te ligar, . Não se preocupe. E cuide bem do seu pestinha.
- Nosso pestinha. - Sorri com a correção.
Da forma de como o nosso relacionamento está, fica cada vez mais difícil me despedir dela. E eu sei que ela sente o mesmo. Com muita dificuldade, soltei a mão dela e fui embora.
O caminho todo até o carro foi tomado por um silêncio constrangedor, talvez porque meus pais soubessem que eu não queria ir embora naquela hora.
Enfim chegamos ao carro.
E é engraçado como as coisas demoram a passar quando ela não está perto de mim. E também é engraçado o fato de eu ainda não ter me acostumado com isso.
Minha mãe resolveu quebrar o silêncio.
- Eu estou muito orgulhosa de você, meu bem. Eu não sabia que você fazia essas coisas com ela.
- Eu gostava daquele trabalho...
- Eu também estou extremamente orgulhoso de você, . Você faz aquela menina a pessoa mais feliz do mundo. E hoje você só deixou isso bem claro pra ela e pra todos os presentes naquela festa. - sorri.
Voltei para os meus pensamentos. Eu não podia afirmar que estava me sentindo diferente, mas poderia dizer que estava me sentindo mais feliz do eu jamais havia me sentindo antes. Aqueles comerciais de manteiga, onde tudo é perfeito, poderiam descrever exatamente a minha vida no momento. Eu não tenho mais pressa, tenho o tempo ao meu favor. Ela não ia mais morrer e íamos finalmente poder aproveitar o nosso amor sem pensar se haveria uma segunda ou terceira vez. A morte não faz mais parte da nossa rotina e isso é maravilhoso. Tenho os meus pais ao meu lado também, agora me apoiando em tudo e em todas as decisões que eu acho certas para a minha vida.
Era esse o conceito que sempre tive de felicidade plena. E eu nunca achei que fosse conseguir chegar nem a um terço disso. E... consegui. Eu não preciso mais ter pressa para nada, pois tudo o que eu mais queria, eu consegui. E melhor do que ter plena consciência de que nada disso é um sonho, é ter a certeza de não preciso mais correr contra o tempo.


The End



Nota da autora: Nhoin, esse é a primeira fic que eu consegui terminar. Nota que eu demorei mais de um ano, mas ok. Eu tenho um carinho especial por ela, por isso, eu espero que vocês gostem. Desde já, eu queria agradecer a quem ler e a quem comentar (se alguém fizer isso hehe) e também quero agradecer ao Danny, por ser minha inspiração sempre, obrigada a Alê por me aturar e dar opiniões, te amo muito, ném. Críticas construtivas são sempre bem-vindas!
Se alguém quiser alguma forma de contato:
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Beijinhos, Cá





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