É necessário ter lido "Songs about: Sunday Morning", em Maroon 5 / Finalizadas


Ela deu um grito quando as primeiras gotas d'água caíram em suas costas e escorreram por sua pele.
- Que gelada! - falou, cruzando os braços em frente aos seios nus.
A abracei, esticando minha mão para regular a temperatura do chuveiro.
- Assim... - avisou e parei, posicionando minha palma em sua lombar.
Ela relaxou e seus braços deixaram de ser um obstáculo entre nossos corpos; suas unhas passaram a arranhar levemente meus ombros.
- Gosto de homens tatuados - confessou, contornando alguns de meus desenhos com a ponta do indicador.
A agarrei pela cintura, beijando-a.
Ela virou-se de costas para mim, entregando-me a esponja para que eu a ensaboasse.
- Poderíamos pedir alguma coisa ao invés de sairmos para comer - sugeriu.
Pensei em contestar, dizer que o Valentine tinha recomendado um restaurante recém-inaugurado na Sunset Boulevard, mas ela agachou à minha frente e seus dedos subiram de meus joelhos à virilha, me fazendo perder a linha de raciocínio.
Incontáveis minutos depois, nos encontrávamos na banheira. Ela estava em meu colo, com suas longas pernas de modelo dobradas para fora, assoprando a espuma em suas mãos.
O telefone tocou em meu quarto.
- Deixa... - falei, beijando sua boca.
Escutei o sinal avisar para a pessoa deixar uma mensagem. E ela o fez.
- Amanhã estarei em Nova Iorque - pausou a fala. - A gente podia... sei lá, se ver? - mais uma pausa. - Ah, é a .
Uma data, uma localidade, um pedido e um homem em êxtase.
Parei de beijar Anne, que me olhou com feição interrogativa.
- Quem é ? - ajeitou-se na banheira, de modo que seu corpo ficou de frente para o meu, sem muito contato.
Eu não sabia o que responder, afinal, não sabia descrever . Ou melhor, sabia, porém não de uma forma que a garota com quem eu estava saindo fosse gostar.
Anne esperava por uma resposta e apelei para um rótulo.
- Uma amiga.
- Uma amiga? - questionou com tom de desconfiança.

Flashback on.
São Paulo, 2008.
Era noite de domingo, após o show da banda Maroon 5.
Um coquetel organizado pela produtora contava com a presença de artistas brasileiros e algumas pseudo-celebridades femininas, vulgo mulheres saídas de reality shows, que conseguiram seus apartamentos por meio de poses para revistas masculinas e que tentavam a todo custo chamar a atenção de Adam Levine e sua trupe.
Era a segunda bebida do vocalista, a primeira de , cada um em um canto, separados por pessoas falantes e fumantes; ela estava rodeada por recém-formados em cursos de teatro e ele por mulheres que preferiam academia à livraria.
Adam estava ansioso para sair daquele ambiente, sentia o mesmo. Ele fez um gesto com os olhos azuis, levemente vermelhos pelo excesso de fumaça e pelo forte ar-condicionado, e ela obedeceu.
- Vento! - brincou ao chegar na sacada do apartamento.
- E silêncio - ele completou, apesar das buzinas caóticas do trânsito paulistano, dez andares abaixo.
Ficaram calados, sorrindo, bebendo, olhando a rotina do edifício à frente.
Adam deu um passo para a direita, encostando seu braço no de .
- Aposto que aquele casal ali do... - contou - quinto andar vai terminar a briga transando no chão.
- Adam! - ela o repreendeu. - Imagina se alguém vigiasse sua vida dessa form... - interrompeu a fala. - Paparazzis, né? Esquece o que eu ia dizer - balançou a cabeça para os lados, bebendo o resto de sua bebida em um gole só. - Acho que estou um pouco bêbada - brincou.
- Interessante... - ele riu, também tomando o resto do conteúdo de seu copo.
- Adam! - repetiu, no mesmo tom.
- Adoro quando você diz meu nome - a olhou. - É bonitinho - passou o polegar em sua bochecha, retirando alguns fios de cabelo esvoaçantes. - E sexy - sussurrou, encostando seu rosto no de , como se fossem dançar uma música lenta.
- Olha o casal - a garota desvencilhou-se, segurando no parapeito da sacada. - Eu adorava dublar pessoas quando era mais nova. Geralmente em aeroportos ou na faculdade, durante o intervalo - falou, nervosa.
- ...
- Adam, não. Por favor!
- Por quê?
Ela deixou o copo sobre a pequena mesa de madeira e respirou fundo.
- Não sei quando vamos nos ver novamente. Não quero me envolver com alguém que está tão distante...
Adam encaixou suas mãos na cintura de , dobrando um pouco seus joelhos, para ficar na altura da garota e olhá-la nos olhos.
- Estou aqui. - falou, aproximando seu rosto do dela.
pousou sua mão direita no peito do vocalista, afastando-o, movimentando os lábios em um "Não", sem emitir som, saindo em seguida.
Adam estava com o maxiliar contraído, fechou o punho e bateu no parapeito, no mesmo local onde ela segurou. Olhou em direção à sala e a viu conversar com sua mãe, deixando o apartamento - sozinha - em seguida. De lá de cima, ele a observou sair do edifício. Ela atravessou a rua, correndo, equilibrando-se em seus saltos enquanto ajeitava sua echarpe sobre os ombros descobertos, e entrou em seu carro preto.
Flashback off.

- uma amiga - confirmei.
Depois do nosso encontro, em 2008, não nos vimos mais. Por diversas madrugadas após sair de shows ou noitadas com amigos - e mulheres -, enviei mensagens das quais não tive retorno. Seu silêncio me matava lentamente.
No ano seguinte, recebi um pedido de desculpas. Apenas "Desculpa". Oito caracteres no visor do meu celular, que me tirou o foco da canção que eu ensaiava.
Nossa "amizade distante", como ela propôs em conversas seguintes, baseava-se em troca de e-mails e SMS poucas vezes por mês.
- Adam! - a voz irritada de Anne me devolveu à realidade. - Estou perguntando o que você quer...
Quase respondi "", mas me toquei que ela perguntava sobre o jantar. Falei o primeiro prato que me veio à mente.

A noite foi longa. Peguei no sono por volta das três; Anne dormiu ao meu lado, duas horas antes. Acordei às oito.
Na cozinha, encostado na pia, cheguei a digitar em meu celular o endereço de um restaurante entre a Madison e a Park Ave, em retorno à mensagem ainda não respondida para a brasileira, mas apaguei.
Assim como aconteceu com Jane, provavelmente seria com : uma paixão frustrada transformada em música e vendida a $1.29 na iTunes Store.
Sentei à mesa com o jornal em mãos e uma xícara de café. Escutei os passos de Anne e senti sua presença atrás de mim. Ela abaixou e beijou minha orelha, desejando "Bom dia", e deslizou suas mãos sobre meu peito.
- Vamos? Vou tomar café com a equipe - avisou e assenti.
Dei carona para Anne até o casarão onde ela iria tirar fotos para uma revista, e segui para o aeroporto.
Durante o vôo, indo para o estúdio e todo o tempo em que permaneci no local, pensei em . Conversava com Robert Lange, sentado no sofá, pensando em quanto tempo o papo demoraria para que eu pudesse ligar para ela. Estava decidido. E foi então que, através do vidro da porta de entrada, a vi. Do outro lado da rua, abraçando o senhor que vendia vinis.
Deixei Robert falando sozinho e saí correndo, pulando a perna esticada de Carmichael.
A porta do estúdio estava trancada. Bati algumas vezes e chamei por . Ela chamou um táxi, a porta se abriu - a da minha frente e a do automóvel -. Corri, sem ao menos olhar para os lados, e cheguei ao outro lado da calçada.
- !
- Adam? - ficou surpresa, com metade do corpo dentro do veículo. Ela olhou dele para mim, com a mesma feição de quando tirei a camisa vermelha e lhe entreguei. - Preciso ir - apontou com a cabeça para o motorista. - Te mandei mensagem, mas não tive resposta. Estou voltando para São Paulo em poucas horas.
Coloquei minhas mãos em seu rosto e beijei sua boca. Deslizei minha palma para sua nuca, puxando os cabelos entre meus dedos. Minha língua tocou a sua, apressada; tanto pelo trânsito parado quanto pelo desejo que eu sentia. Percebi que ela estava diminuindo a velocidade do beijo e recebi três selinhos.
- Preciso ir... - repetiu, desta vez, de forma doce.
A ajudei a entrar no táxi e fechei a porta.
Tirei a blusa que vestia e a entreguei pela janela do carro.
- Devolva-me.
- Lavada, dentro de uma caixa, como da última vez? - brincou.
- Não. Em você...

Fim


Nota da Autora: O Adam tirou minha virgindade (oh, céus!) de POV masculino; sempre escrevi em primeira pessoa como mocinha ou em terceira. Foi estranho, confesso, e espero que ninguém me atire pedras por isso.
Quero agradecer a Fran, autora da primeira fic da série ("Songs about: Sunday Morning"), por ter tido esta ideia e por me convidar para fazer parte ("Tenho uma proposta '66" - hahaha). Obrigada por todos os elogios (sabe como sou insegura, né?).
Para quem comentar, agradeço também. Se for comentário bacana, ganha um beijo do Adam :)
Ah, e um obrigada à Gabee, que conheci nos meus tempos de beta, pela revisão.


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