Primeira história da série "Songs about", sequência disponível em Maroon 5 / Finalizadas


Eu posso começar dizendo com precisão que tenho tara por homem de camisa vermelha e calça jeans. Não é lá muita coisa para ser contada, mas ajuda a traçar o plano memorialístico que vem se repetindo tarde após tarde na minha cabeça.
Daquelas que não fica em dúvida entre calcinha vermelha e preta, e leva as duas logo de uma vez, pensando em utilidades clássicas e ousadas. Eu sempre fui uma daquelas pessoas estrategistas, que tem em mente o plano exato de como proceder. Quer dizer, esse princípio é real em quase 90% dos momentos que vivenciei até hoje.
Não fosse por ele e pela maneira arrebatadora como a maldita camisa vermelha apareceu na minha vida, a palavra “problemas” não seria parte do meu vocabulário.
Conheci Adam há seis anos e, desde então, jamais fui a mesma.
2004 foi o ano mais apavorantemente delicioso de minha vida. Quer dizer, em comparação com o dilema que estou vivendo agora, posso afirmar que tive surpresas bem interessantes para a linha fina, frágil e pungente que liga meu destino ao desse homem.
Nas rádios internacionais uma canção emplacava em todas os hit parades, com exceção do Top Top nacional, é claro. Eu tive o privilégio de conhecer o Maroon 5 antes de todos os réles mortais brasileiros... e isso aconteceu por pura sorte. Minha mãe é produtora da Artplan há quase quinze anos e, bem, temos uma relação agradável com o senhor Medina.
Desde pequena, estive entre os holofotes das grandes produções, conhecendo nomes de astros e estrelas, e, consequentemente, aprendendo a me relacionar com o mundo dos negócios e do agenciamento.
Hoje em dia qualquer um escreve coluna de fofoca - né Perez Hilton? - e a informação está na ponta da língua, por ocorrência da grande mídia que anda super plugada no que rola no Brasil e no mundo. Em 2004, as coisas não eram bem assim e, com a pouca projeção da banda, Adam e eu tivemos um momento tranquilo para construir o que viria a ser uma... amizade distante?
Como dizia, eu era uma privilegiada e graças a posição de contatos e relações sociais, advindas do trabalho de minha mãe, cresci com um arsenal considerável de autógrafos e coleções de ingressos.
Em outras palavras, vi de perto a explosão de Harder to Breathe e estive nos pocket shows do Rio e de São Paulo, quando o Maroon 5 esteve no Brasil pela primeira vez.
Eu estive com Adam Levine naqueles shows. Sei que muita gente pode duvidar de meu relato, mas o que aconteceu em nossas vidas desde então esteve absolutamente relacionado com a primeira manhã de domingo que passamos juntos.

Flashback on
São Paulo, 2004.
A moça que desceu as escadas mal parecia a pirralha mimada que ele conhecia. Pedro estava acostumado a olhar sua prima como um ser bizarro, cheio de espinhas e com roupas esfarrapadas. Ainda que os dois fossem amigos e tivessem crescido juntos, aqueles anos que ela passou em Nova York foram absolutamente evolutivos na composição da garota e ela, de certa forma, não era mais a mesma.
O rapaz via os pés descendo os degraus da escada e se perguntava se era apenas a moça linda, inteligente e agradável, ou um ser angelical desgraçadamente tentador. As contradições se uniam na visão e o biotipo particular oscilava entre o olhar fora de série e os lábios sensíveis.
- Te deixei esperando muito tempo? - O jovem moreno, de cabelos castanhos, sorriu hipnotizado. Era difícil se manter consciente mediante aquela visão.
Vestido vermelho, a pele bronzeada pelo fim de semana passado no Rio, os olhos com algum tipo de maquiagem dos deuses, que os fazia parecer um convite demoníaco. Ela era o portal entre o paraíso e o inferno, com as feições de menina e o corpo de mulher.
Pedro teria que respirar fundo antes de tentar pronunciar qualquer palavra.
- O suficiente para me tirar o fôlego. Você está... nossa! Está linda.
A satisfação de era latente. Havia se apaixonado pelo primo quando era criança e até os 11 anos, certamente, seria capaz de abandonar o lar para ganhar o primeiro beijo vindo dele. Sorte sua a infância ter ficado no passado. Pedro era bonito, mas... quadradinho demais para o seu perfil.
A sede que tinha em desbravar um homem era tão evidente em sua maneira de agir que, muitas vezes, a mãe a advertia sobre “o perigo de brincar com fogo”.
Fazer o que? Era natural. não tinha nenhuma grande beleza digna de ganhar capas de revista, mas algo nela era interessante a ponto de prender o olhar de um homem e, até mesmo, fazê-lo realizar ações que não queria. Era um poder oculto que sua melhor amiga chamava de “canto da sereia”, fazendo virar os olhos pelo misto de obviedade e criatividade no nome.
Para ela, tratava-se da leveza com a qual via o mundo e as coisas. Tudo era bastante simples. A única dificuldade da vida estava em respirar e manter-se de olhos abertos.
O fato é que, com relação aos homens, a garota costumava ser gentil o suficiente para enrolar sua presa, mas na hora H era inexperiente demais para dar o bote. As más línguas a taxavam de ingênua. Ela se denominava sutil.
Filha de pais separados, não tinha a imagem masculina como digna de força e proteção, ao contrário, talvez estivesse em busca de um homem realmente capaz de ser desafiado. Um cara a sua altura, que lhe mostrasse como se comportar e, quem sabe assim pudesse domar o animal feroz que ela escondia, tão completamente, no corpo que estava colado naquele vestido vermelho.

- Então podemos ir? Acho que a minha mãe vai me dar uma bronca mais tarde.
- Ela teria toda razão, afinal, meia hora de atraso não são dez minutos... mas duvido que alguém tenha coragem de pensar em te chamar atenção.
- É mesmo? - sorriu enganchando no braço do primo, que trajava uma jaqueta de couro e uma calça jeans. - E por que não? - Os dois caminharam da sala até o pátio, onde estava seu automóvel.
- Porque você é irresistível.
Seguiram para a confraternização na mansão dos Guanaes, como se estivessem a caminho de um simples churrascão em família. A alta sociedade paulista e carioca estaria presente no local, além de uma banda contratada pelo neto de Nizan Guanaes para animar a festinha com 150 convidados.
Pedro era uma companhia agradável e, apesar de não ver nele um pretendente em potencial, talvez fosse bom aparecer acompanhada, só para variar. A discrição fazia dela uma pessoa reservada e a maior parte de seus pequenos casos não era sequer cogitado entre as fofoqueiras da nata paulistana.

- É um prazer revê-la, .

As bajulações começaram entre um cumprimento e outro. se juntou a um grupo de garotas e Pedro foi jogar conversa fora com alguns amigos do jóquei. Não se viram mais.
Às vezes aquela aglomeração de beijos falsos era cansativa e esse foi um bom motivo para a moça se afastar dos demais convidados. Ao que parecia, a banda convidada não havia chegado para tocar e algumas pessoas estavam agitadas entre a área de confraternização e o pequeno palco de apresentações.
O lugar era gigantesco. Um gramado belíssimo, com crisântemos, tulipas e flores do campo entre uma mesa e outra, mostrando a decoração alegre, cheia de vida e de cores, combinando com a primavera brasileira.
Os passos da jovem eram lentos, enquanto se afastava pelo gramado afora, sem ser notada pelos demais convidados, que continuavam rindo e trocando informações desnecessárias. A mãe de ainda não aparecera, devia estar ocupada como geralmente se mostrava.
Alguns minutos se passaram, enquanto a garota tocava uma e outra flor, deixando o pensamento voar entre a brisa leve da manhã de domingo e o som confortante dos pássaros nas árvores ao redor.
O pequeno susto que levou ao ter o ombro levemente tocado mudou o rumo de sua vida. Ao virar-se para trás, rapidamente, movida pela surpresa de ter sido tirada do mundo da lua, a garota fez com que a taça de champanhe na mão do homem moreno de olhos azuis derramasse, quase que completamente, na camiseta vermelha que ele vestia.
Adam soltou uma exclamação de surpresa por não esperar a reação, literalmente, de choque entre ele e a moça do vestido vermelho. Sem entender como o movimento rápido da garota havia acontecido e sentindo que o contato com ela havia despertado uma espécie de choque de alta tensão entre ambos, o americano se manteve estático.

- Oh my God, I am so, so sorry!
também se desculpou em inglês, após ouvir o homem, e tentou respirar fundo para se controlar. Estava assustada, seu corpo estava com uma adrenalina fora do normal e era absolutamente estranho que o simples toque tivesse ocasionado algo assim. Jamais um gesto tão simples havia feito seu corpo responder daquela maneira.
Concentrando-se no indivíduo, a brasileira se ofereceu para ajudá-lo a limpar a roupa molhada.
- Eu realmente sinto muito, quer dizer, eu não sei bem como isso aconteceu, mas... a gente se conhece?
não se reconhecia pelo súbito nervosismo e ficou preocupada com a reação que observou nos olhos azuis. Ela realmente o conhecia, não conhecia? Estava conversando em inglês, o que não era habitual no Brasil, quer dizer, não com estranhos e... Ela agora havia parado de sentir a reação de choque e surpresa, porque o olhar prezo no oceano, que eram os olhos dele, tiraram qualquer possibilidade de raciocínio lógico de seu corpo.
- Nossa. - Foi tudo o que o californiano pode dizer. Seus olhos estavam fixados nos olhos da espetacular mulher a sua frente e ele não podia mexer qualquer músculo do corpo, por estar fora de si. Era um reencontro, não era?
Quando viu a garota de vestido vermelho caminhando sozinha, deu uma desculpa ao grupo com o qual conversava e resolveu cumprimentar a moça que, de certa forma, lembrava-lhe Jane. Mas naquele momento, frente a frente com os olhos brilhantes e os lábios delicadamente pintados com uma cor escurecida, Adam não pode pensar direito ou organizar uma sentença plausível.
- Precisa de ajuda com a camisa?
Adam ficou alguns segundos mais olhando fixamente para a moça e, em seguida, baixou os olhos vendo o estrago que a bebida fizera em sua roupa.
- Oh shit! Eu vou me apresentar hoje. Que droga!
sentiu-se culpada e ofereceu-se, novamente, para ajudar.
- Você é um dos músicos? Eu não acredito, que atrapalhada. Quer dizer, bem, não foi minha intenção eu... como posso ajudar?
teve uma pequena parada cardíaca ao ver que o homem a encarou languidamente e em seguida com um sorriso leviano, arrancou a camisa bem diante dos olhos dela, com uma naturalidade que a brasileira só entenderia anos depois.
- Fica melhor assim, não fica? - Disse ele observando a expressão da menina. Adam sorriu e entregou a camisa para . - Me entregue quando estiver lavada.
Boquiaberta, olhou para o homem e para o objeto um par de vezes sem saber o que fazer. Como se o momento não estivesse suficientemente estranho, uma chuva rala começou a cair e uma porção de pessoas se esconderam no pátio coberto.
Adam e continuaram ali por mais alguns segundos, antes do homem segurar a mão da garota e puxá-la para perto do palco, enquanto a chuva tratava de engrossar.
Com as pernas bambas, a brasileira não conseguia ouvir ou decifrar as instruções que o moreno sem camisa lhe dava e, de alguma maneira, ficou perdida entre o barulho da chuva, o ruído alto das conversas paralelas e o som que, de repente, começou a sair dos amplificadores.
Ele agora estava no palco e a camisa estava nas mãos dela, que seguia de pé, um pouco molhada e com os olhos estarrecidos pelo momento.
Adam sorriu do palco e começou a dançar entre um falsete e outro, com caras e bocas que iam do cômico ao sedutor. Ele cantava para ela e ela só conseguia pensar em permanecer em pé. Havia o aroma forte do perfume das flores, o sol de domingo e a chuva constante que o acompanhava, formando um arco-íris em um canto abençoado do céu.
Flashback off

A paz daquele momento nunca saiu da minha cabeça. Foi um episódio tão marcante e tão surreal, que por vezes me perguntei se não havia sido um sonho.
De fato, deve ter sido algo entre um sonho e uma projeção astral, mas o perfume era real e ele, com certeza, esteve ali. Entre a chuva, entre o sol, entre o arco-íris e a beleza daquele domingo.
Assim que desceu do palco, Adam me deu um abraço, que resultou em mais meia hora de corrente elétrica. Ele me apresentou um de seus companheiros da banda e o homem loiro de cabelos compridos lembrou de perguntar qual era o meu nome.
Parecia que, de fato, nos conhecíamos há anos.
Os comentários de nossa conversa, a partir daí, foram desde a beleza do meu país até a maravilha de fazer uma apresentação VIP em São Paulo. Troquei algumas palavras com os meninos da banda, me interando de quem realmente eram e dessa maneira conheci e me apaixonei pelo Maroon 5.
A contratação para shows, no mesmo ano, e o single nas rádios brasileiras foram obras da minha mãe. Tive que convencê-la de que o mercado nacional tinha lugar para aqueles caras talentosos e, alguns meses depois, This Love estava na playlist de uma novela global. Mas essas são outras histórias...

Naquele domingo, Adam e eu caminhamos pelos jardins do casarão surreal, depois que a chuva parou de cair e nos deixou respirar a brisa suave e tão hipnotizante quanto aquele homem. Conversávamos como antigos amigos e ríamos juntos, entre um comentário e outro.
Nunca me senti tão completa. Nunca me senti tão feliz. Nunca me senti tão segura. Se eu pudesse voltar no tempo não mudaria nenhum detalhe. Talvez apenas tivesse tocado na mão dele, chamando-a para segurar a minha... Nosso primeiro encontro foi desprovido de beijos. Teve, não muito mais do que, um toque, um momento, um caminhar e algumas palavras.
Ele colocou uma flor em meu cabelo, tocou o meu rosto, traçando com seu indicador o desenho de meus lábios e, então, sorriu fraco, encarando-me por um instante infinito. Nenhuma palavra saiu de sua boca, mas eu pude ouvir o mundo gritando naquele silêncio.
Esperei pacientemente por um beijo seu. Ele seria meu e eu soube desde o princípio.

Ao fim da festa, Adam rumou para seu hotel, pegou todas as suas roupas e partiu. Foi assim que ele passou a fazer parte da minha vida e só Deus sabe o quanto eu gostaria de que a nossa história não tivesse se complicado tanto.

Fim


Nota da Autora:Eu escrevi a fic em 3 horas. Acho que nunca fiquei tão ansiosa para um projeto. Motivo? A próxima fiction. Convidei ninguém menos que a Li N. (escritora de Apartamento 23 e Sangue, Suor e Lágrimas) para fazer uma parceria pecaminosa, na construção de um romance com Adam Levine.
Cada fiction uma música, cada música uma história, cada história um encontro. A primeira é minha, a segunda é dela e, se você sobreviver, a terceira é nossa.
Agradeço a Gabee pela revisão.
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