So Many Times
Autora: Laise Franccy
Beta-Reader: Amy Moore | Revisão: Caah Souza



Você às vezes não se dá conta do quanto é importante, tantas vezes eu tentei lhe mostrar...

- , ... Abre esta porta, o que você está fazendo aí? – Perguntei, batendo na porta do banheiro.
- O que você acha? Ganhando meu salário! Vomitando o que eu comi!
- , por favor, você não precisa disso. Você é perfeita!
Quantas vezes tentei ajudá-la, e não com mentiras! Era a mais pura das verdades; ela era perfeita em todos os sentidos! Mas ela não queria aceitar.
- Diz isso para minha chefe! - Ela gritou lá de dentro.
- Você sabe que não precisa disso! - Repeti baixo, os olhos carregados com minhas lágrimas idiotas, tentando convencer mais a mim do que a ela, talvez.

Tantas vezes te amei sem preconceitos e você nem se importava muito... Mas me amava também, eu sabia disso. Nós sabíamos, era real!

- , tenho uma surpresa para você! – Gritei, entrando pela porta.
- Oi, amor. - Ela veio correndo me abraçar - O que é? – Perguntou, apressada.
- Isso... - Eu falei, mostrando um anel que brilhava dentro de uma caixinha vermelha aveludada – , você quer se casar comigo? – Perguntei, temendo a resposta.
- É claro, - ela falou, voando em meu pescoço. - Eu te amo! , me desculpe, eu tenho que ir trabalhar agora, ok? Quando eu voltar, a gente comemora! Me desculpe!
- É... Tudo bem, !

Tantas vezes eu te vi chorar...

- - ela disse, vindo até mim, as suas lágrimas me machucavam - ! - Ela suplicava.

E eu tentei ajudar!

- ?! O que houve? , olha para mim, me diz... O que aconteceu? – perguntei, confortando-a com um abraço.
- , eu não quero viver. ... Eu... - Ela disse, causando uma dor iminente e insuportável em mim.
- Ei, , não diz isso. Amor, o mundo não seria o mesmo sem você!
Nós choramos juntos. Éramos um!

Quantas vezes nos ferimos de forma recíproca. Você me feriu por vezes, eu a feri também.

- Quem era aquela, ? - Ela tremia, sem parar.
- Não importa! - Me arrependo de ter sido tão frio.
- Você estava com outra garota e não importa?
- É, quer saber? Vá embora, ! - Eu me arrependo de ter sido tão insensível.
- Eu vou mesmo! Mas, escute, nunca vai me ver atravessando esta porta de novo!

(Tantas vezes só precisávamos de palavras, palavras certas a serem ditas!)
Tantas vezes entrei nesse "negócio da miséria" e não sabia como sair. E me amaldiçoei por isso! Mas a verdade é que não vivo, não respiro sem você!


- , eu, hm... Eu vou entender se você não atender os telefonemas - comecei a falar depois do "BIP" - Mas é que, é... Não sei bem como dizer, mas provavelmente você já deve saber o que é, então... É tão óbvio! Eu estou envergonhado! , me perdoe? Por favor, te imploro!

E eu me sentia mais idiota, ingrato ainda, porque você sempre voltava! Eu a via entrar por aquela porta de novo e me sentia vivo e culpado de novo! E eu só consegui dizer "me perdoe!".

Tantas vezes te via sofrer sem poder fazer algo que a curasse, e sofríamos juntos. Eu me sentia inútil. Eu assistia você morrendo aos poucos e aquilo me matava.


- ? Você está bem? Fale comigo, ! – Falei, desesperado, ao vê-la caída no chão, imóvel e de olhos fechados. Temi que fosse o fim. Eu a tomei em meu colo e corri para o carro, tão rápido como nunca antes havia feito...

- Por favor, alguém pode me ajudar? Ela desmaiou! – Falei, entrando por uma porta qualquer do hospital.
- Desculpe, senhor, você não pode entrar aí - a moça da recepção falou, me barrando.
- Ela desmaiou, ela tem que ser atendida! – Falei, ainda segurando em meu colo.
- Espere um minuto, senhor.
- Eu não tenho um minuto. E se ela não tiver um minuto?! Eu quero ser atendido agora! - Eu gritava enfurecidamente.

E eu fiz tudo que estava em meu alcance por você.

- Tudo bem, você pode entrar, ela será atendida agora - ela disse, depois que algumas pessoas "importantes" entraram na recepção e falaram algo com ela.

E confesso, eu temi o pior.

- Senhor ?
- Sim, doutor? – Falei, me levantando da cadeira de espera onde eu estava.
- Constatamos que ela está com uma doença e...
- O quê? - Eu não podia acreditar – Doutor, só me diz que ela ficará bem!
- Ela tem início de Leucemia. - Aquela palavra me causou arrepios. - Graças a Deus, o quadro pode ser revertido, então não é com isso que devemos nos preocupar agora!
- Ela... Tem alguma outra doença?
- Lamentamos, senhor! Ela está com Anemia, mas infelizmente já é tarde demais para...
- Ela não ficará bem?
- Seria um milagre! - O medico disse, se retirando.
Eu não conseguia acreditar, eu não podia. Milagres acontecem, certo?

Tantas vezes tive que voltar ao mundo real contra minha vontade para conseguir suportar algumas coisas. Quantas vezes tive de segurar as pontas, manter firme e ser forte para te dar uma má noticia.

- Oi, querida! – Falei ao entrar no quarto onde ela estava, seria realmente muito bom, se eu tivesse conseguido segurar minhas lágrimas. Mas eu não suportava vê-la daquele jeito - Como está agora?
- Pálida, eu acho - ela disse, dando um leve sorriso, e eu a fitava em silêncio. Mantendo minha expressão dolorida de alguém que esta sendo torturado. Não havia nem uma ponta de humor em minha alma!
E você sempre mantinha seu senso de humor.
- , eu já sei, okay? Eu estou morrendo. - Ela lia meu rosto, tentava tirar um fardo das minhas costas e não sei se foi melhor ou pior para nós - Mas quem liga? Todos nós estamos! Você pode se poupar de fazer, okay, amor? - Ela falava, compreensiva.
- Eu não quero te perder! - Falei entre lágrimas.
- Não vai. Vou ser sua para sempre!

E eu nunca imaginei como era bom ouvir sua voz de novo!

- Vamos terminar os exames e ela provavelmente receberá alta amanhã pela manhã – informou a enfermeira.

E quantas vezes nós sorrimos e nos divertimos. E quantas vezes nós nos iludimos, imaginando que haveria um final feliz para nós dois. E quantas vezes superamos as expectativas e quantas tivemos recaídas.

E daquele dia em diante, não houve uma semana sequer que não víssemos um jaleco branco! E aquilo me cortava por dentro. Eu não podia fazer muito para mudar a situação.

E os dias nunca mais foram os mesmos. E quantas vezes eu precisei ver seu sorriso para me sentir aliviado.


- Amor... - Eu falei, tentando acordá-la.
- Oi, - Sua voz era fraca de sono.
- Eu não consigo dormir!
- , é só fechar os olhos, isso não é tão difícil assim.
- Não é isso, , eu não consigo, eu não posso!
- Por quê?
- Eu estou com medo!
- Você não se acha grandinho demais, não?
- É medo de fechar os olhos e você não abrir os seus amanhã.
- Isso não vai acontecer. Você ouviu o médico, meu estado é estável. - Ela tentou me reconfortar.
- Tá. Mas, , posso te pedir uma coisa?
- Claro, .
- Sorria para mim e prometa que ficará tudo bem...
- É claro que vai, . Cofie em mim! - Ela sorriu e voltou a dormir, mas eu não fiz o mesmo.

Eu não dormia quase nunca. Não dormia se não tivesse certeza, eu passei várias noites acordado contando seus batimentos.
Cada um deles!
E tantas vezes erramos o compasso e erramos a letra. E eu a via sangrar. Eu poderia desistir e tentar viver bem. Tentar esquecer que a cada segundo ficava mais perto do dia que eu a perderia. Mas não, nunca é tarde demais.

Mais um dia, digamos que comum. Eu corria para o hospital, fazendo o caminho rotineiro na velocidade máxima.

- Senhor ?
- Ela está bem? – Perguntei, tentando me manter calmo.
- É... Ela quer te ver. Lamento, mas seja forte, talvez seja a última vez... - Não consegui conter as lágrimas ao ouvir aquela frase, meu coração gelou e eu me senti derrotado.
Entrei no quarto, era comum vê-la daquela forma, mas desta vez doeu miríades de vezes mais do que qualquer outra vez que eu pisara ali antes. Prendi a respiração, tentando conter as lágrimas que queimavam minha face. Eu a escutei falando algo e me concentrei em escutá-la.

- , desta vez é pra valer, né? - Ela chorava muito e sorria tristemente com um ar de despedida. Eu não consegui responder, eu não sabia o que dizer a ela. Por mais que a resposta fosse clara. - Isso é tão irônico, eu pensei que este dia nunca ia chegar. Eu vou sentir tanto a sua falta. - Embora ela chorasse, parecia calma como sempre.
Eu não encontrava minha voz.
- Não se preocupe, , nós ficaremos bem.
- Não! - Sussurrei baixo, ainda chorando.
- , você é a melhor pessoa do mundo e não merece sofrer por isso. Nós dois sabíamos que isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde, não podemos evitar. Não há uma válvula de escape. Eu só quero que prometa que você ficará bem, okay? - Sua voz era trêmula e doce.
- Eu não vou, você sabe que eu não vou. Por favor, , fique comigo, por favor!
-Você sabe que não posso escolher. , seja forte!

", seja forte!", foi o que ela disse. Exatamente o que eu imaginei que ela diria antes de partir. "Seja forte!"
Eu não poderia cumprir esta promessa. E nós sabíamos muito bem disso.


Eu a assisti fechar os olho para sempre. E aqueles aparelhos idiotas começaram a apitar, enfermeiras entravam correndo no quarto tentando reanimá-la e outras pessoas me arrastaram para fora do quarto.

E quantas vezes tropeçamos em pedras durante o caminho e andamos sobre brasa... Andamos sobre cordas bambas... Nós sabemos que uma hora iremos falhar. Nem sempre é previsível, mas um dia cairemos, porque a única garantia é a de que não há garantia! E somos propícios a nos sentir mal quando falhamos. É fácil errar quando apostamos todas as fichas. Talvez consigamos segurar enquanto é uma rachadura, mas quebrar de vez nós não podemos agüentar por muito tempo. Sempre há duas opções: primeiro, é tentar e ir até o fim; segundo...

E não deu tempo de ouvi-la pela última vez dizendo adeus e saindo pela porta. Se fosse assim, saberia que ela iria voltar. "Eu podia desistir e não correr o risco; tentar viver bem de novo. Mas desde o dia que você se foi, nunca haverá dias melhores!".

Segundo, poderia desistir, mas... Não!

NUNCA É TARDE ATÉ ACABAR!


- Diga adeus - eu sussurrei.

E sei que enquanto houver estrelas no céu ela será minha! Mas e quando as estrelas caírem?
Minhas lágrimas ainda queimam minha face. Não houve milagres, restou minhas opções. Há uma saída! Talvez se eu jogasse o carro contra um muro, me jogasse de uma ponte... Resolveria!
Mas eu a prometi que seria forte! Dias melhores virão, eu espero.

Para mim, o começo do fim!



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Nota da Beta: Comentem. Não demora, faz a autora feliz e evita possíveis sequestros - só um toque. Qualquer erro encontrado nesta fanfiction é meu. Por favor, me avise por email ou Twitter. Obrigada. Amy Moore xx