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Capítulo 1
Dude, eu juro que nunca mais me apaixono por cara nenhum. Não importa qual seja o grau de gostosura do desgraçado, juro que não me apaixono.
Ok, tem aquele cara do colégio, o nome dele é e eu meio que tenho uma queda por ele desde... sempre. Na verdade, é mais que apenas uma queda, ele é tão perfeito, como eu poderia não estar apaixonada? Bem, pelo menos parecia que ele era perfeito.
Eu entrei em casa louca pra me encher de porrada por ter me declarado pra ele. O que eu achava? Que nós ficamos mais íntimos só porque ele me ajudou com aquele castigo aos cérebros da humanidade? (lê-se física). E como se não bastasse a minha cara de idiota enquanto confessava pra ele que sempre gostei dele, ele ainda me responde com um sorriso encantador e um "É, eu sei". Do jeito que ele sorriu pra mim... o que mais eu podia deduzir? Ele simplesmente só podia corresponder ao que eu sentia por ele, não é? NÃO É? Não, não é.
Ele me beijou. Fui ao céu e voltei. OMG, como ele era gostoso. E depois que o beijo perfeito e inesquecível terminou, ele riu pra mim e disse: "Ok, eu não acho que minha namorada vá gostar muito disso. Então não vamos comentar, tá bom?"
GRRRR, qual era o problema dele? Ele me beijou! E depois vem me avisar sobre a namorada dele!
Só quem já passou por uma decepção assim podia saber o que eu tava sentindo agora. Ter a esperança de que ele também goste de mim tanto quanto eu gosto dele, e depois ter todas essas esperanças arrancadas de você brutalmente. É uma das piores sensações do mundo, eu tenho que dizer.
Naquela noite, quando meu pai chegou pro jantar, eu fiquei completamente alheia a tudo que ele me dizia. Fui pra cama cedo, mas não dormi tão cedo assim. Eu só queria que todas essas emoções que passeavam por todo o meu corpo agora cessassem e me deixassem em paz. Não queria ter que pensar no , mas parecia que as imagens vinham ainda com mais força só porque eu não queria que elas viessem, só pra me irritar!

- , me desculpa por aquilo. Eu não tenho namorada nenhuma, eu te amo! - dizia pra mim, com os olhos cheio de lágrimas.
- , não posso mais ficar com você, sinto muito.
- Por que não, ? Eu te amo, você me ama...
- Mas não dá! Porque... você... você... - Eu tentava dizer, agoniada e com as lágrimas já escorrendo.
- O que? Eu preciso saber...
- Você tá usando um pijama do pokemon no meio do colégio! Não posso aguentar isso! - Eu gritei e corri com todas as minhas forças pra longe dele no corredor do colégio.

- AAAAAAAAAAAAAAAH! - Eu gritei assustada, cobrindo o rosto com o edredom. Pijama do pokemon no era o meu pior pesadelo! Depois de pijama de ursinhos carinhosos, obviamente.
- Desculpe, não quis te assustar.
- Não, tudo bem, eu não tava gritando por sua causa. - Eu respondi, tirando o edredom do meu rosto e me levantando.
- Ah, sim. - Ele respondeu. Espera... Ele quem? Como assim?
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - Comecei a gritar feito louca olhando em volta a procura de qualquer coisa que pudesse servir de defesa.
- Você gosta de gritar quando acorda, então? - Ele perguntou, parecendo bem tranquilo encostado na parede do meu quarto.
- NÃO! AGORA ESTOU GRITANDO POR SUA CAUSA! QUEM É VOCÊ? POR QUE TÁ NO MEU QUARTO?
- Er, desculpe. - Ele pediu, se desencostando da parede e dando um passo em minha direção.
- NÃO! NÃO SE MEXE! NÃO ENCOSTA EM MIM! - Eu gritei, tacando a primeira coisa que vi na minha frente na direção dele. Ele desviou, agora parecendo assustado.
- Você não me parece perigosa. - Ele disse, completamente parado depois do meu ataque.
- Vou te mostrar quem é perigosa se você não sair daqui agora! O que você quer de mim?
- Eu não quero nada. Só sua ajuda. Por favor. - Ele pediu, olhando fixamente pra mim. Gente do céu, agora que a afobação toda passou, mygosh, que homem é esse? Eu olhei pra ele de cima a baixo, e meu Deus, ele é tão lindo. Tinha a pele branca, o cabelo desorganizado, mas parecia totalmente perfeito.
- Er, pra que precisa da minha ajuda?
- Conhece alguém que possa me vender algum transfusor de platina XF67YU?
- WTF?
- Como?
- Er, perguntei o que é isso.
- Ah sim. Preciso de um para que possa resolver um problema no meu veículo.
- Hm, desculpa, eu não entendo nada de carros. Invadiu o meu quarto só pra pedir esse transfusômetro pla... Essa coisa aí?
- Não é um carro. - Ele parecia estar prestes a explicar qual era o veículo dele ou coisa assim, mas então seus olhos se prenderam em mim com muita atenção. Ele me olhava tão intensamente, parecia estar analisando cada mísera parte do meu corpo com o olhar. O olhar dele me fez sentir muito constangida; eu me encolhi um pouco. - Você parece tanto comigo.
- Eu não acho que eu pareça com você. Nem um pouco.
- Digo que nossas fisionomias são semelhantes.
- Olha, você é esquisito. - Eu comentei, meio assustada com o jeito que ele falou.
- Você também é esquisita. - Ele respondeu, sorrindo. E que sorriso... ele era tão perfeito, man.
- Sou perfeitamente normal. Você é estranho, está aqui no meu quarto e não fala coisa com coisa, e também não explica nada.
- Ah, é verdade. Eu estava viajando, procurava uma coisa importante para o meu povo. Acontece que tive problemas no veículo e... Espera, primeiro tenho que saber se posso confiar em você.
- Seja lá o que for, juro que não conto pra ninguém. Quer dizer, não está traficando drogas nem nada do tipo, não é?
- Eu... eu acho que não. E eu acho que você não está acostumada com nada disso, pela sua reação.
- Homens invadindo meu quarto do nada? Acontece o tempo todo. - Eu disse sarcasticamente, ele riu.
- Aterrisei no seu planeta. - Ele falou rápido e baixo. - Não conhecia nada aqui, e bem, sua casa parecia o abrigo mais próximo, então entrei. Sinto muito se fui um incômodo.
- Ok, fale sério! - Eu pedi, rindo. Ele me fitava, os lábios perfeitamente relaxados, não parecia estar brincando. Mas é óbvio que ele estava brincando, ou isso de aterrisar no meu planeta era alguma espécie de metáfora?
- Como poderia falar mais sério?
- Parar de dizer coisas absurdas ajuda um pouco.
- Bem, eu me expliquei para você. Agora cabe a você confiar em mim como confiei em você.
- Espera, tá mesmo falando sério?
- Certamente.
- Tipo, sério sério mesmo que você não é da Terra? Quer dizer... como pode? Você é tão humano...
- Foi o que quis dizer quando comentei que somos parecidos. Incrível, mas é verdade.
- Tudo bem então. - Eu disse fechando os olhos e respirando fundo pra absorver aquilo. Se não fosse verdade... bem, o que custa fingir que acredito? - Ah, meu nome é , mas me chama de . Qual o seu nome?
- Hm... - Ele ficou pensativo por tanto tempo que comecei a imaginar que ele não ia responder. Talvez... talvez ele não tivesse um.
- Vou te chamar de Joe. O que acha?
- Parece bom. - Ele concordou com um sorriso. - Então, ... pode me ajudar a voltar pra casa?
- Er, eu acho que não. Acho que só a NASA poderia te ajudar com isso, mas com certeza não seria uma boa ideia ir falar com eles não.
- Por que não? Eles vão me ajudar, não é?
- Acho que não. Acho que só te prenderiam em algum laboratório e tentariam te dissecar pra pesquisas, não ia ser nada agradável, não é? - Ele apenas negou com a cabeça. A curiosidade começou a queimar meu cérebro. Caramba, ele era mesmo um alien ou coisa assim? - Então, como é isso? Como somos de planetas diferentes e parecemos da mesma espécie?
- Eu não estou muito certo, mas acho que há uma explicação simples. Nesse universo gingantesco, existem incontáveis estrelas, e algumas podem ser bem parecidas com o Sol de vocês, só que em outras galáxias. Então é perfeitamente possível que existam planetas semelhantes aos nossos, com organismos semelhantes aos nossos, e condições semelhantes às quais vivemos. O meu planeta se parece com o seu, só que temos muito mais tecnologia.
- Uau, que legal! Sabe, temos tecnologia por aqui também, mas não aqui, porque moro em uma fazenda e isso é uma zona rural, quer dizer que só tem mato. - Agora eu estava sentada de volta na minha cama, completamente fascinada com ele. Uma beleza dessas só podia ser de outro planeta, e essa voz linda, aqueles olhos... com certeza não era daqui. - Como fala meu idioma? Nem os terráqueos falam a mesma língua, como você conhece a minha?
- Posso absorver informações se eu estiver perto de você. Sabe, conhecer melhor seus costumes e tudo isso.
Eu estava pasma demais pra falar alguma coisa. O que? Ele também tinha superpoderes ou algo assim? Ele me observava calmamente, ainda parado onde eu mandei ele ficar quando tentei assassiná-lo com o abajour que se encontrava espatifado no chão agora. Enquanto observava a perfeição dele, finalmente percebi que as roupas que ele usava eram totalmente esquisitas. Calças brancas de um tecido que lembrava casacos de esqui, e uma espécie de jaqueta combinando, com uns detalhes pretos, tudo muito estranho.
- Hm, acho que temos que arrumar roupas normais pra você, Joe. - Eu disse, me levantando da cama e andando até ele.
- O que há de errado com minhas vestimentas?
- Pessoas normais não se vestem assim por aqui. Você deve estar com calor.
- Sim, tem razão. Está quente. No meu planeta não temos temperaturas assim. - Enquanto ele falava, eu segurei a mão dele para guiá-lo até o quarto do  meu pai. A pele era tão... diferente, mas de uma forma boa, uma forma ótima. Macia, lisa e morna.
Enquanto o guiava, fiquei pensando se eu era pervertida o suficiente para dizer pra ele que aqui no meu planeta não usamos roupas.
- Você não mentiria pra mim desse jeito, não é? - Ele perguntou, divertido. Eu olhei pra ele, pasma.
- Como assim? Você tá lendo minha mente? Como? - Perguntei, apavorada. Quer dizer, ele não podia ler minha mente, já era falta de privacidade suficiente ele entrar no meu quarto enquanto estou dormindo e absorver o meu conhecimento ou sei lá o que ele fazia!
- O que? Você não disse aquilo em voz alta? - Ele perguntou, tão confuso e pasmo quanto eu.
- Por que eu diria aquilo em voz alta, meu Deus? - Eu questionei, falando alto demais.
- Isso é muito estranho, mas acho mesmo que li sua mente. - Ele respondeu, pensativo.
Omg, omg, agora ele vai saber que eu acho ele super gostoso! ! Pára de pensar nisso! Eu não acho ele gostoso, quer dizer... não que ele não seja, é só que... OMG! COMO FAÇO PRA CALAR MEU CÉREBRO?
Enquanto eu debatia comigo mesma por pensamento essas coisas estúpidas e constrangedoras, Joe sorriu, parecia satisfeito. Bem, pelo menos, pelo visto, ele conhecia o suficiente da minha cultura pra saber que eu achá-lo gostoso não quer dizer que quero comê-lo. Bem, mais ou menos.
- É interessante, porque antes eu não conseguia ouvir seus pensamentos. Isso foi depois de... - Ele pensou um pouco, e depois levantou nossas mãos entrelaçadas. - Acho que foi quando nos tocamos. - Ele deduziu, e eu imediatamente soltei a mão dele. Eu ainda estava pertubada com isso, mas ele parecia fascinado. Claro, não era ele que tinha passado por uma situação constrangedora com alguém sabendo o que você pensa sobre ele. -No meu planeta eu não posso ouvir os pensamentos de ninguém, mesmo com contato físico. Isso parece muito... legal. -Ele procurou a palavra por um tempo.
- Não é nada legal! Não me toque mais, ok? - Eu disse, me afastando exageradamente dele.
- Tudo bem, se a incomoda.
Depois da brilhante descoberta de Joe sobre os dons dele, chegamos ao quarto do meu pai, e eu comecei a procurar por algo que pudesse ficar bem nele. Ok, que ele era um gato e qualquer coisa ficaria bem nele. Eu tive que olhar bem pro rosto dele depois disso pra garantir que ele não tinha ouvido o que eu pensei. Pela expressão vazia dele, deduzi que realmente ele só ouvia quando nos tocávamos.
Eu achei uma calça jeans velha do meu pai que com um cinto poderia se ajustar ao quadril do Joe, e peguei mais uma camisa de abotoar e joguei tudo pra ele. Ele analisou as roupas por um momento, e depois começou a tirar a tal jaqueta estranha que ele usava. Eu fiquei olhando bem pra ele enquanto ele se virava com a camisa, nem pensei em ajudá-lo. Ele tinha um abdomen tão... perfeito. Os braços então? Nem falo nada, ficar babando já diz tudo. Não tinha outra palavra pra definir qualquer parte dele que não fosse perfeito. Assim que ele conseguiu enfiar os braços e a cabeça pelos buracos certos, suas mãos foram ao cós da calça. Espera aí, era impressão minha ou ele ia mesmo tirar a roupa na minha frente?
- Não, não, não! - Gritei na mesma hora, e ele se sobressaltou. - Eu não preciso ver o que você tem aí embaixo, por que não vai ali no banheiro e volta quando já tiver trocado de roupa?
- Hm, tudo bem, . - Ele disse, sem ficar constrangido. E seguiu para o banheiro da suíte do meu pai.

Joe demorou tanto naquele banheiro que eu deitei na cama do meu pai e fiquei olhando pro teto. Eu estava pensando em levantar e ver se ele precisa de ajuda com as roupas, mas resolvi ficar onde eu estava assim que minha mente começou a processar a imagem de eu tentando ajudá-lo a vestir uma calça, com certeza não era a coisa mais encorajadora do mundo.
Eu fechei meus olhos por um tempo... será que ele estava bem? Quem é que conseguia correr perigo dentro de um banheiro? Bem, se eu estivesse lá dentro com ele, com certeza ele correria perigo... Tá, tenho que parar de pensar nessas coisas, estou ficando com medo de mim mesma.
Eu estava deitada, quando de repente minha visão do teto foi bloqueada pelo rosto de Joe; ele me assustou, então eu ergui minha cabeça, dando com minha testa na dele.
- OUCH! - Eu disse, esfregando o local com a palma aberta.
- Desculpe. - Ele praticamente implorou, embora tivesse sido eu que o tivesse agredido. - Você se assusta com muita facilidade.
- Claro, eu estou distraída e vem você e põe esse rosto lindo... er... quer dizer... - Eu me enrolei. Dude, ele nem precisava ler minha mente para ouvir besteiras sobre ele, sou mesmo incrível! Incrivelmente tapada, é claro. Enquanto eu ficava intensamente corada, ele apenas me olhava com um sorriso que não mostrava seus dentes. - Er... ok, já que você já está usando roupas decentes, vamos voltar.
Ele assentiu com a cabeça, e eu o guiei de volta ao meu quarto, dessa vez sem tocar nele.
- Tá, você confundiu a minha manhã toda, Joe. Agora eu quero que você fique aqui quietinho, não pode sair daqui de jeito nenhum, entendeu?
- Aonde você vai? - Ele perguntou em um tom de voz e uma expressão como se fosse começar a chorar se eu fosse embora. Quase me fez parar e dizer "ooooun". Mas eu só fiquei olhando pra ele com cara de tacho mesmo.
- Vou tomar banho, tomar café. Nossa, eu to uma bagunça! Não acredito que deixei você me ver assim esse tempo todo! Eu to horrível! - Eu protestei, encarando meu descabelado reflexo no espelho.
- Eu acho você muito bonita, . - Ele comentou normalmente. Eu desviei o olhar pro chão pra não começar a rir compulsivamente como faço quando fico sem-graça.
- Er, obrigada. –Eu respondi, sem olhar nos olhos dele e saí do quarto.
Eu tomei um banho longo, geralmente eu meio que morro quando estou no chuveiro, demoro um pouco pra ressuscitar.
Depois que terminei todas as tarefas matinais que eu tinha pra fazer no banheiro, me vesti e fui até a cozinha procurar o que comer. , a empregada, tinha posto algumas opções à mesa, mas como eu não gostava muito da presença dela, eu sempre catava o que eu queria na cozinha e levava tudo pro quarto. Tudo bem que hoje eu tinha um motivo diferente pra levar o café da manhã pro quarto.
- Bom dia, . –Ela saudou.
- Bom dia, . –Eu respondi só pra ser educada, na verdade.
- Você demorou a descer pro café hoje.
- Pois é. –Eu fiz uma pequena pausa. –Fui. –Então me retirei com toda a comida que eu conseguia carregar.

Eu subi as escadas com pressa, mas tomando cuidado pra não tropeçar e me estabacar no chão, não ia ser legal.
Eu entrei no quarto e Joe não estava mais onde eu o tinha deixado. Estava em pé do outro lado do cômodo, observando meu quadro magnético de fotos.
- Hey, Joe. –Eu chamei, e a cabeça dele se voltou para mim automaticamente. –Está com fome?
- Sim, obrigado. –Ele respondeu, olhando tudo aquilo que eu carregava com certa dificuldade e vindo me ajudar a pôr em cima do carpete. Nós dois nos sentamos com as costas apoiadas na lateral da minha cama, um ao lado do outro.
- Eu... eu não sei se você come esse tipo de coisa. - Eu disse, observando Joe com o prato de waffers. Ok que eu tive que praticamente fazer malabarismo pra trazer um prato com wafers sozinha, mas vale a pena, porque adoro wafers.
- Não deve ser tão ruim. - Ele disse, e deu uma dentada no wafer. Eu podia ter achado meio nojento o jeito como a cobertura escorreu pelas mãos dele, mas só consegui achar lindo... e perfeito... e maravilhoso... ok, acho que não estou mais falando da cobertura do wafer. O modo como ele parecia desajeitado era completamente fascinante pra mim.
Eu praticamente me esqueci da minha própria fome, só observando Joe atacar tudo como se não comesse há sabe-se lá quanto tempo. Quem sabe não fosse mesmo esse o caso?
- Então... não é tão ruim?
- Isso é muito bom. Obrigado, . - Ele agradeceu, com a boca suja de cobertura de amora.
- De nada. - Eu respondi sorrindo. Peguei um guardanapo para limpar a boca dele, ele ficou completamente parado enquanto eu fazia isso, os olhos em mim. Eu nem percebi que tinha desistido do guardanapo; quando eu dei por mim, estava alisando o rosto dele com minha mão. A pele dele era tão chamativa pra mim, a textura era tão perfeita.
- , você disse que não era para nos tocarmos mais. - Ele me lembrou, mas não tirou minha mão do rosto dele. Eu demorei um pouco pra processar as palavras dele, e logo recolhi minha mão. Legal, agora ele também sabia que eu estava obcecada pela pele dele.
- Ah é, desculpe.
- Não tenho nenhum problema com isso. A regra foi sua, lembra?
- Vai dizer que não te incomoda que eu fique pensando mil besteiras sobre você? -Eu perguntei, rindo... porque estava sem-graça.
- Não. Eu gosto. - Ele confessou, sorrindo abertamente. Juro que até esqueci de onde eu estava, com aquele sorriso.
- Ok... mesmo assim não vou deixar você ficar ouvindo o que eu penso, é muito constrangedor.
- Tudo bem, se você prefere assim. - Ele fez uma pausa para comer mais um pouco. Eu aproveitei pra beliscar alguns petiscos também. Ficamos em silêncio por algum tempo.
- Hm... eu quero saber mais. Como é que nossos pesquisadores nunca encontraram vida em outros planetas, e você me encontrou assim... tão de repente?
- Não faço idéia. Mas te encontrar não foi de repente, levei anos pra chegar do meu planeta até aqui.
- Quantos anos? Você deve ter minha idade, mais ou menos.
- Não sei como contam anos aqui.
- Ah... sabe, quando a Terra dá uma volta inteira ao redor do Sol... um ano.
- Sendo assim... ah, perdi a conta dos anos.
- Tenho .
- Sou bem mais velho. Muito mais. Dever ser por isso que os habitantes daqui nunca chegaram ao meu planeta, fica a muitos anos-luz de distância, acho que vocês não vivem o suficiente pra chegar lá.
- Como assim?
- Vocês envelhecem rápido demais. Você tem só ... e aparenta ter minha idade, que tenho muitos mais anos de vida do que você.
- Você é imortal ou coisa assim?
- Não, vou morrer um dia, daqui a muito tempo.
Eu me calei depois daquilo. O quão mais velho que eu ele devia ser? Parecia um adolescente comum... mas é claro que ele era bem mais que isso.

Terminamos o nosso café, com Joe devorando quase tudo e eu só comendo as migalhas, eu desci pra levar as coisas pra cozinha. Geralmente vinha limpar tudo, mas hoje eu certamente não queria que ninguém viesse ver o que eu tinha no meu quarto, não é? Ela meio que estranhou eu ter arrumado tudo sozinha, mas não disse nada. Afinal, to fazendo o trabalho dela e ela ainda reclamaria? Claro que não.

Voltei pro meu quarto, e Joe estava com meu celular na mão, sentado na minha cama.
- Tava tocando, mas você disse pra eu não sair daqui de jeito nenhum, então eu não fui te avisar. - Ele falou em tom de desculpa. Eu andei até ele, e ele me entregou o aparelho. Dei uma olhada no visor para descobrir quem tinha ligado.
- Olha, que legal, você sabe o que é um celular. - Eu disse, sem fazer nenhum sentido.
- É, meu bisavô tinha um mais ou menos parecido com o seu. - Ele respondeu e eu senti minha cara no chão. Tá né, eu achava que meu celular era super moderno, depois disso não sei de mais nada.
- Tá, chega de humilhar meu celular. - Eu disse, apertando o "send" pra retornar a última ligação.
Era minha amiga, me chamando pra sair. Eu ia recusar, tinha muitas novidades dentro de casa que ninguém precisava saber. Mas parei pra pensar que não ia fazer mal levar o Joe pra dar uma volta comigo, e ninguém ia olhar pra ele e dizer: "OLHA, É UM ALIENÍGENA!". Então confirmei que eu ia sim.
- E aí, Joe, o que acha de dar uma volta comigo e uns amigos? - Eu perguntei quando desliguei o telefone.
- Mesmo? Eu não sei... não conheço ninguém.
- Fica tranquilo, eu não vou deixar ninguém te mandar pra NASA não. Vamos.

Eu me arrumei melhor, despistei a empregada e saí com Joe. Como a cidade é super pequena, fomos a pé até a lanchonete onde eu e meus amigos costumamos nos encontrar. Joe não parecia surpreso com absolutamente nada a nossa volta, ele simplesmente andava ao meu lado, olhando para frente. Com certeza no tal planeta dele as coisas deviam ser bem futurísticas.
Enquanto caminhávamos, fui conversando com ele e e repassando as estratégias:
- Ok, então é o seguinte... você é um amigo meu que mora em New Jersey que eu conheci na Internet. Você está passando uma temporada por aqui. Entendeu?
- New Jersey... Internet... é, entendi.
- Tudo bem. Então não fale nada que você não falaria se fosse mesmo um TERRÁQUEO normal ok? Aja normalmente.
- Tá, acho que posso fazer isso. -Ele disse, e continuou andando em passos ritmados, parecia pensar um pouco. -Eu não devia estar saindo com seus amigos agora, . Tenho que trabalhar naquele problema, para poder voltar pra casa.
- aaah, mas um pouco de diversão não faz mal a ninguém né? -Eu perguntei, e ele pareceu concordar. - Olha, chegamos!
Joe e eu entramos na lanchonete e logo localizei a mesa onde meus amigos estavam reunidos. Eles me chamaram para sentar com eles, obviamente. E pude perceber que todas as garotas lançavam olhares pro Joe, mas ele não parecia notar. Estava mais preocupado em analisar o local.
Eu parei e apresentei Joe a todos. Nós dois seguramos o riso quando ele teve que apertar a mão de todo mundo e consequentemente ouvir os pensamentos dos meus amigos também.
Então eu vi quem estava lá. ! Por que? Qual dos meus amigos conhecia o ? Comofas?
E por que ele ficava me encarando daquele jeito? Eu me sentia muito nervosa, o meu rosto devia estar super vermelho e a minha cabeça girava desconfortavelmente. O meu ouvido começou a zunir e eu podia até desmaiar. Eu hein, qual o meu problema? Preciso de psicólogo, omg!
- Hey, , tá tudo bem? -, minha melhor amiga, perguntou.
- Ãh... to bem. - Eu respondi, e não consegui disfarçar que era por causa do . Ele com certeza reparou.- Er, e aí, o que vamos fazer?
- A gente queria ir até o shopping. se ofereceu pra levar a gente, ele tá de carro. - respondeu, citando aquele nome que eu não queria ouvir.
Todo mundo queria ir, e eu não queria ser estraga prazeres nem nada. Eu podia aguentar ficar no mesmo espaço que o . Afinal de contas, eu sou um homem ou um rato? Er, nenhum dos dois, mas acho que to mais próxima do rato.
O carro ficou lotado, todo mundo foi apertado, mas chegamos ao Shopping que era uma droga. Pequeno, muito naturalista. Aposto que tinha mais plantas naquele jardim do que lojas.
Assim que o carro foi estacionado, veio até mim.
- , posso falar com você?
- Agora não, . Eu tenho que ficar com meus amigos... - Eu disse rapidamente, arrumando qualquer desculpa pra não ficar a sós com ele.
- Vai ser rápido. Vamos, . -Ele pediu. Eu suspirei e fui com ele até um canto do estacionamento. -Olha, eu sei que aquilo não foi legal, mas eu realmente gosto de você, . Eu não sabia que você gostava de mim, agora eu posso mudar tudo...
- Mudar como?
- Posso terminar com minha namorada por você. Não consigo parar de pensar naquele beijo nem por um instante.
- , eu...
- Você pode pelo menos pensar na proposta? - Eu fiz uma pausa, e depois me preparei pra negar. Mas ele foi mais rápido. - Por favor.
- Tudo bem. - Ok, sou mesmo um rato. Sem comentários.
- Promete?
- Tá, eu prometo pensar. - Eu disse, quase sem voz. Ele foi se aproximando de mim, mas eu me afastei dele. - Eu disse que vou PENSAR!
- Tá, tudo bem.
Após nossa brilhante conversa, voltamos pra onde o pessoal estava. Todo mundo me olhava com caras pasmas, afinal, era um dos mais desejados do colégio.
O shopping estava um tédio, então todos concordaram em voltar pra casa depois de uma hora andando mil vezes pelos mesmos lugares. No carro, desafiamos a lei da ipenetrabilidade, com vários corpos ocupando o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Well, pelo menos minhas aulas de física com o não foram um fracasso total.
Joe e eu fomos andando da lanchonete até em casa, como na ida. Ele estava muitíssimo quieto, só mexia os músculos necessários para caminhar.
Quando cheguei em casa, fui dar uma checada pra ver se o caminho estava livre, e guiei Joe de volta pro meu quarto, seu esconderijo. Não era só Joe que estava quieto, eu também só conseguia pensar no . Eu estava flutuando com a proposta do , sentada precisamente no meio da minha cama, até que Joe quebrou o silêncio:
- Então... O que o queria?
- Nossa, Joe... Eu... ah, qual foi? Não vou dizer isso pra você. - Eu falei, envergonhada. Até hoje de manhã eu o achava super atraente, não ia falar sobre a proposta do , ia?
- Por que não? Não vou contar pra ninguém. - Ele citou minhas palavras de quando ele perguntou se podia confiar em mim. Ah, eu confiava nele. Podia contar, não é?
- Hm... Eu meio que gosto dele. Muito. Mas ele tem namorada, só que ele também gosta de mim. - Eu expliquei, ficando super ruborizada. - Ele quer ficar comigo. - Eu praticamente cantei as palavras, totalmente admirada. O quarto ficou em silêncio por um tempo, imaginei que Joe tinha desistido do assunto.
- Mas você não vai ficar com ele, não é?
- Bem, ainda estou pensando. Mas... por que não?
- Porque ele não gosta de você! - Joe me assustou com o tom de voz alto.
- Desculpe, Joe, mas você não sabe disso. - Eu argumentei. Ele sinalizou para a própria testa.
- Sabe, o carro estava bem cheio. Fiquei a viagem de volta todinha com o meu braço encostado no dele, ele estava pensando em você o tempo todo, mas dava pra ver que não é bem amor o que ele sente.
- O que ele estava pensando? - Perguntei me sentando mais ereta na cama, prestando mais atenção ao que Joe dizia.
- Não vou dizer, você também não gostaria se eu ficasse espalhando seus pensamentos.
- Então como vou saber se você não interpretou errado os pensamentos dele? Talvez ele me ame e você entendeu tudo errado. - Eu disse, me recusando a aceitar facilmente os argumentos de Joe. Eu tinha esperanças demais pra me livrar delas assim tão rápido.
- Tá, você venceu. Ele não te ama, . Vou dizer que foi muito desagradável ouvir os pensamentos dele durante a viagem de volta, mas se vai servir pra te ajudar, vai valer a pena.
- Então diz logo o que é que ele estava pensando - Eu pedi, já impaciente.
- Ele não vai terminar com a namorada dele pra ficar com você. Ele só te acha gostosa, preciso dizer mais?
- Um cara que me acha gostosa não pode me amar? - Eu perguntei, me segurando ao ultimo fio de possibilidade.
- Não quando tudo que ele quer é transar com você. E só. - Ele disse de vez. As palavras dele imediatamente trouxeram as lágrimas aos meus olhos. Por que eu tinha que gostar logo do cara mais cafajeste do colégio? - Desculpe, eu não quis te magoar. - Ele pediu, se aproximando um pouco da minha cama, onde eu ainda estava sentada.
- Será que não tem nada mais de especial em mim? - Eu perguntei pra ele, com a voz chorosa.
- Isso é só o que ele acha. Você é muito mais do que apenas isso, e eu percebi isso só nesse pouco tempo em que te conheço. Então um homem tem que ser muito idiota pra não perceber isso durante o tempo que esse conhece você.
- Joe... - Eu sussurrei, tentando recolher as lágrimas. Não queria mais chorar por causa disso. era muito desmerecedor das minhas lágrimas.
- O quê? - Ele perguntou quando eu não concluí a minha frase.
- Obrigada. - Eu disse, mas não era isso que eu ia dizer quando chamei o nome dele. Eu sou tão covarde, acho que um rato é mais corajoso.
- De nada, . Você me ajudou mesmo que não me conhecesse, eu quero retribuir.
Eu lancei um sorriso pra ele, mas não pareceu verdadeiro por causa das marcas de lágrimas pretas de rímel nas minhas bochechas. Sorrisos devem ser sempre felizes.
- Joe... - Eu tentei de novo.
- Sim?
- Me abraça? - Eu disse, conseguindo pedir o que eu queria inicialmente.
- Mas você disse pra não te tocar... - Ele começou.
- Não importa o que eu disse. Me abrace, por favor. - Eu pedi de novo, dessa vez com um tom mais implorativo.
Ele veio até o meio da cama onde eu estava sentada e me envolveu lentamente em seus braços. Ele foi tão cuidadoso que senti aos poucos o calor da pele dele tocar a minha. Eu não fui tão delicada assim, apertando forte a cintura dele e enterrando meu rosto no peito dele. Mesmo que o conhecesse há menos de um dia, eu já sentia que ele era meu melhor amigo. Talvez fosse porque confiamos um ao outro nossos maiores segredos, sem questionar nem nada. Ele era tão interessante e perfeito... então por que eu estou aqui chorando por um babaca como o ?
- É exatamente o que estou me perguntando agora. - Ele comentou. Eu não me importei que ele estivesse lendo meus pensamentos, eu queria dividir isso com ele. -Eu acho que você vai viver muito pouco pra perder tempo sofrendo por ele, ele não dá a mínima pra você. Desculpe, não quero te deixar pior.
- Verdades têm que ser ditas. E você tem razão, não vou mais perder meu tempo com ele. -Eu decidi, levantando minha cabeça e tentando limpar o rosto com as mãos.
- Melhor assim.
- Pode ficar ainda melhor. - Eu disse, e então toquei meus lábios nos dele bem de leve, pra saber se eu seria rejeitada antes de atacar o garoto.
Joe pareceu bem surpreso de início, mas ele relaxou, então me senti confiante pra seguir em frente. Minhas mãos foram ao rosto dele, acariciando de leve, e eu comecei a aprofundar o beijo, com total aceitação da parte dele. Agora as mãos dele seguravam minhas costas, me apertando contra ele. Seria tosco dizer que o beijo dele também era de outro planeta de tão bom? Ele riu por baixo dos meus lábios ao ouvir isso, e eu ri também, mas sem interromper. Eu passei a correr meus dedos pelos fios do cabelo dele, tão macios. Aquele beijo que de início era apenas um encostar de lábios, agora era bem intenso. Nossas respirações fortes eram a única coisa que se ouvia no quarto. Eu estava levemente ciente de que me jogava em cima do garoto, mas não consegui me importar o suficiente com isso. Naquele momento, eu não tinha motivo nenhum para lamentar por nada, as lágrimas tão recentes pareciam completamente sem sentido algum. Porque Joe era o único que eu queria beijar e abraçar, o único rosto lindo que eu queria observar. Ele era o único que eu queria escolher.
Eu desviei meus lábios da boca de Joe e comecei a espalhar beijos leves pelo rosto dele. As mãos dele acariciavam os meus braços e depois ele segurou meu rosto, me fazendo olhar para ele. Então me deu um selinho de uma forma muito doce, como se fosse o beijo mais especial do mundo e cada movimento tivesse que ser precisamente calculado. (N/A: não, não plageei o chapolin colorado tá? u-u ele que rouba minhas ideias, fikdik) E então tinha acabado.
Fiquei olhando pra ele com cara de sei lá o que por um tempo, apenas analisando cada detalhe daquele rosto lindo, aqueles olhos dourados, os lábios corados depois do beijo...
- Bem, vou lavar o rosto. - Eu disse, quando o silêncio começou a ficar desconfortável.
Eu levantei da cama e Joe foi comigo. Ele ficou encostado na porta aberta enquanto eu encarava meu rosto no espelho, meu rímel e lápis de olho marcavam minhas bochechas de preto. Eu comecei a passar água para remover a sujeira.
- ... - Joe chamou, eu levantei o rosto pra olhar pra ele e sinalizei com a cabeça para que ele prosseguisse. - Sabe, eu sentei ao lado do no carro de propósito.
- Por quê? - Eu perguntei, prestando total atenção nele agora.
- Eu... fiquei com ciúmes quando ele pediu pra falar com você. Eu queria saber o que ele tinha dito, então eu dei um jeito de ouvir o que ele estava pensando. Desculpe, eu sei que não devia me meter...
- Você ficou com ciúmes? - Eu perguntei, com certa emoção transparecendo na minha voz.
- Sim. - Ele admitiu.
- Mas agora você sabe o que eu penso. Quer dizer, você realmente sabe.
- Você também é a única que quero escolher.

O dia se passou sem mais problemas, eu roubei comida da cozinha de novo pra almoçar no quarto com Joe. E conversamos e assistimos TV durante a tarde toda. A noite tive que fazer sala pro meu pai e Joe ficou escondido no meu quarto enquanto isso.
Depois foi meio que um problema decidir onde Joe ia dormir, já que eu só tinha uma cama no meu quarto. Não que não desse de jeito nenhum para dormimos juntos (N/A: não pensem nesse sentido, pervs :B), mas eu não ia me sentir muito confortável com isso porque nunca dividi uma cama com garoto algum.
Como não pude levar janta pro Joe por causa do meu pai, esperamos a madrugada chegar e fomos os dois assaltar a geladeira. Tudo bem que fizemos uma bagunça enorme e deixamos uma jarra de água cair no chão, e eu escorreguei no chão molhado. Mas foi divertido mesmo com a bagunça e o barulho que poderia trazer meu pai à cozinha a qualquer momento. Por sorte nossa meu pai tem um sono pesado. Ficamos tanto tempo arrumando tudo na cozinha para que no dia seguinte quando a chegasse ela encontrasse tudo como deixou, que estava super tarde quando voltamos pro meu quarto, eu estava exausta. Troquei a roupa molhada por uma seca e como Joe e eu tínhamos deixado pra decidir depois da "janta dele" onde ele ia dormir... bem, àquela hora da madrugada eu não tava nem um pouco capacitada pra pensar em nada, então apenas joguei todos os lençóis e travesseiros que estavam em cima da minha cama no carpete e me deitei lá. Joe deitou ao meu lado, mas mantendo uma certa distância que não seria possível de ser mantida na minha cama de solteiro. Até que não era desconfortável dormir no carpete macio com todos aqueles lençóis por cima, mas talvez seja só porque eu tava com tanto sono que não me importei.



Capítulo 2
Quando eu acordei de manhã, eu rolei meio desajeitada pela cama. E então abri os olhos de vez. O que eu tava fazendo na minha cama? Eu não tinha dormido no chão? Será que Joe tinha sido apenas um sonho louco?
- Joe? - Eu chamei me sentindo uma babaca caso tivesse sido só um sonho mesmo.
Levantei da cama e sorri ao ver uma camisa xadrez do meu pai em cima da cadeira de escritório que eu usava para ficar ao computador. Com certeza aquela camisa não foi parar ali a toa.
- Joe?! - Eu chamei mais alto, agora tendo mais certeza de que ele existia.
Era domingo, ele não podia andar por aí, porque hoje meu pai estava em casa.
Depois de esperar um tempo pela resposta dele e não receber nada, resolvi que ele não precisava me ver no estado que eu acordo de novo, então fui ao banheiro tomar um banho e escovar os dentes e vesti algo que caísse bem em mim. E quando voltei ao meu quarto... lá estava ele! Como ele fazia isso?
- Joe! Onde você estava? Já estava me fazendo questionar minha sanidade, garoto!
- Desculpe, não quis te acordar. Mas não se preocupe, ninguém me viu saindo ou voltando.
- Aonde você foi? Como eu fui parar na minha cama? - Eu jogava as perguntas.
- Eu fui procurar algum lugar onde pudesse encontrar ferramentas ou coisas assim, e encontrei sua garagem, acho que tem o que preciso, e o que não tem posso improvisar. E sobre sua cama, quando eu acordei achei que você estava desconfortável no carpete, então te pus na cama, espero que não se importe.
- Er, não. Obrigada, mas não precisava. - Eu agradeci meio sem jeito. - Então... está tentando consertar seu disco voador?
- Não é um disco. - Ele respondeu, revirando os olhos.
- Onde ele está afinal? Não está parado no meio do meu quintal nem nada assim não é?
- Não. Eu o escondi naquela aglomeração de plantas que há aqui perto, antes de vir pra sua casa.
- Eu posso ver? - Perguntei, animada.
- Claro, mas teríamos uma boa caminhada até chegar lá.
- LEGAL! Vou procurar meus tênis. - Eu gritei e corri pelo quarto procurando meus tênis embaixo da cama. Quando os encontrei, calcei e desci pra tomar café com meu pai. Joe ficou no quarto, é claro.
- Bom dia, querida. - Meu pai desejou quando entrei na cozinha e discretamente enfiei algumas barrinhas de cereal nos bolsos do meu casaco. Hoje não estava tão quente quanto ontem.
-Bom dia, pai. -Eu retribuí. Eu sabia que com meu pai eu não precisava começar nenhum assunto. -Hey, pai. Eu vou dar uma volta na fazenda, tudo bem?
-Claro. Divirta-se.
-Obrigada. -Eu disse e depois subi pro meu quarto pra buscar Joe. Saímos pela porta da frente, porque dessa forma não teríamos que passar pelo meu pai.

Joe e eu estávamos caminhando pela fazenda, pretendíamos chegar na parte onde a vegetação toma conta do terreno.
-Então... você dormiu bem? -Eu perguntei pra puxar assunto. Um assunto idiota, eu sei.
- Muito bem, e você? - Ele respondeu rindo e retornou a pergunta para mim.
- Ah, sei lá, eu capotei assim que deitei, não lembro de nada.
- Você é tão desligada.
- Obrigada pela parte que me toca. - Eu respondi, sarcástica. Qual foi? Ele arranjou um jeito mais delicado de me chamar de lesada ou tapada. Não que eu realmente não fosse, mas ele não precisava dizer, não é?
- Mas eu gosto de você mesmo assim. - Ele disse. Eu senti as famosas borboletas dançando "Macarena" no meu estômago.
- Acho bom você gostar, porque senão te coloco no olho da rua, hein garoto! - Eu brinquei, e ele riu.

Caminhamos um bom pedaço até chegarmos na parte onde a vegetação era bem densa. Não era tão difícil andar por lá, as árvores tinham um certo espaço entre elas e o que ocupava esse espaço não passava de vegetação rasteira.
Joe me perguntou algumas coisas durante o trajeto, mas eu estava mais preocupada em não me perder do que conversar.
E então, quando eu achava que não aguentaria nem mais um passo sem que minhas pernas virassem pó, Joe parou.
- Chegamos.
- Chegamos aonde?
- No meu "disco voador". - Ele explicou, perceptivelmente brincando comigo quando citou disco voador.
- Não vejo nada. Só planta.
- Está embaixo das plantas, eu tive que dar um jeito de camuflar. - Ele disse, afastando rapidamente algumas samambaias e aos poucos uma estrutura de metal foi aparecendo. E então percebi que era uma espécie de porta, só que redonda. Agora que eu estava olhando melhor, as plantas realmente formavam uma espécie de monte, deve ter dado um super trabalho cobrir a nave toda.
- WOW. - Eu disse, simplesmente. Estava tão admirada. Não era muito diferente do que as espaçonaves da NASA aqui na Terra. E o que me deixou mais de queixo caído é que isso era a prova final de que Joe era mesmo um extraterrestre.
- Quer entrar? - Ele perguntou, tirando do bolso uma espécie de controle remoto, só que com um design muito mais moderno, um formato meio arredondado e ondulado. (N/A: me inspirei no controle remoto de "Click" pra descrever o controle do Joe. Pra quem não sabe, Click é um filme (: )
- Sério? Posso mesmo entrar? - Eu perguntei, dando pulos no mesmo lugar.
- Por favor. - Ele disse. E apertou um botão lá super legal e umas luzinhas loucas ficaram piscando no controle, aí fez um barulhinho suuuper divo e a porta abriu. OMG, agora sim ele pode esculachar o meu celular a vontade, eu deixo. Vou até jogar no lixo depois disso.
Quando a porta abriu totalmente (ela era meio lentinha, que nem porta de ônibus. Ugh, odeio ônibus) eu fui logo metendo a cara. Eu dei uma olhada nas coisas, achei meio esquisito. As luzes acenderam todas sozinhas, ou Joe tinha apertado no controle e eu não vi, sei lá.
- Pode entrar, . - Ele disse, empurrando de leve minha cintura.
E aí eu entrei. Joe entrou logo depois de mim. Eu podia ficar em pé confortavelmente sem bater a cabeça no teto, lá dentro era mais espaçoso do que parecia olhando pelo lado de fora.
- Não entendo... por que você não ficou morando na nave? Quer dizer, não que eu esteja reclamando, mas aqui parece bem confortável. - Eu questionei, me sentando em um dos bancos e tomando cuidado pra não tocar em nenhum botão que pudesse mandar a gente pra Lua.
- Eu podia ter ficado escondido aqui, mas eu tinha que arriscar pedir ajuda a alguém, senão nunca sairia daqui.
- Entendo.
Então Joe começou a rabiscar alguns cálculos em uma escrita esquisita, usando uma tela que era como um quadro branco de colégio, só que digital. Eu fiquei quieta pra não desconcentrá-lo, mas meus olhos avaliavam tudo.
- As chances são otimistas. - Ele começou a murmurrar com ele mesmo, talvez eu estivesse tão quieta que ele esqueceu que eu estava lá. - Acho que... hm... no máximo em três dias eu resolvo isso.
- Três dias? - Eu perguntei e ele se assustou. Com certeza ele esqueceu que eu estava lá.
- Sim! Não é ótimo? Eu achei que ia levar uma eternidade, mas vocês têm mais recursos tecnológicos do que eu tinha pensado inicialmente.
- Por mim, eu mandava toda a nossa tecnologia pra um buraco negro. - Eu disse, baixo, mas com certeza ele ouviu. Porque se virou pra mim e se aproximou. Assim que ele se afastou da tela digital onde ele estava escrevendo, a tela sumiu sozinha. Medo.
- ...
- Eu... não quero mais ficar aqui, Joe. Vamos pra casa? - Eu praticamente implorei. Tá, eu implorei. Ele me olhava de um jeito indecifrável. Eu não me sentia bem aqui, como se a qualquer momento ele pudesse ligar tudo e me sequestrar.
- Você não pode esperar mais um pouco? - Ele pediu. - Ainda tenho que preparar tudo pra começar o reparo.
- Tá bom. - Eu concordei. Ele sorriu e voltou a fazer os tais cálculos, depois foi dar uma olhada no que eu reconheci ser a caixa de ferramentas que ele roubou do meu pai.
Enquanto ele trabalhava, eu me encolhi no banco. O que eu ia fazer quando ele fosse embora? Eu sei que era cedo pra dizer, mas... eu já sentia que ele fazia parte de mim. Eu tenho mesmo um repelente pra garotos, não é possível. Como é que eu consigo me apaixonar por um cara que não presta, me desiludir dele, então achar a solução ao lado do Joe, e agora perder ele também? Como é que eu posso me apaixonar tão rápido, meu Deus? Agora que Joe tinha realmente me feito acreditar em tudo que ele dizia ser... não podia me deixar aqui e ir embora, não é?
- , você está chorando? - Joe perguntou. Eu levantei a cabeça e de repente ele estava ajoelhado bem na minha frente.
- Não to. - Eu respondi, virando o rosto. Eu não estava chorando, ainda. Faltava um piscar de olhos pra primeira lágrima escorrer.
- Por favor, não chore. - Ele pediu mesmo assim. Estendeu a mão para tocar o meu rosto, mas eu desviei dele.
- Não toca em mim! - Eu falei, e a minha voz estava embargada porque eu estava fazendo de tudo pra não chorar, e isso dava um nó enorme na minha garganta.
- Você muda de idéia com muito frequencia. Primeiro posso tocar, depois não posso, depois posso, depois não posso...
- Pois é, é verdade.  - Eu disse. Não podia deixá-lo saber o que eu pensava. Eu estava super caidinha por ele, e ele não sentia o mesmo por mim. Não podia culpá-lo, fui eu quem tomou todas as iniciativas, não ele.
- Tá bom. Então vai me dizer porque está chorando? Não temos segredos, lembra?
- Não vou dizer, Joe. Me deixa. - Não, não me deixa, eu repetia em pensamento.
- Não, . Eu quero saber, odeio te ver chorando.
- Joe, que saco! Volta pro seu planeta, me deixa em paz! - Eu gritei, e o nó na minha garganta não pôde mais ser suportado. Se ele odeia tanto me ver chorando, ele ia ter que aguentar isso, porque agora sim eu estava chorando de verdade.
- É por isso? - Ele perguntou, a expressão surpresa.
- É! Está feliz agora? - Eu joguei as perguntas rudemente pra ele.
- Nem perto disso. - Ele respondeu. - A gente pode conversar quando você estiver mais calma, tudo bem? - Ele propôs. Só quando ele disse isso eu percebi o quanto eu estava sendo idiota. Eu estava gritando pra ele ir embora? Por quê?
- Joe... desculpa. Eu dou esses ataques às vezes. Eu estou mais calma, juro.
- Ótimo. Então... onde estávamos depois que você me mandou voltar pro meu planeta e te deixar em paz...?
- Eu não quis dizer isso. Eu só disse isso porque não quero que você vá.
- E você disse pra eu ir embora porque você não quer que eu vá? - Ele perguntou, confuso.
- É, foi o que eu disse! Não tente entender meu raciocínio tá?
- Tá bom. - Ele riu, e eu quase ri com ele. Quase.
- Você vai me achar muito maluca se eu disser que agora você pode me tocar? - Eu questionei. Ele riu em tom alto.
- Vou sim, com certeza. - Ele respondeu, e em seguida ficou mais sério. Eu já tinha parado de chorar à essa altura.
Joe foi se aproximando de mim, as mãos apoiadas nas laterais do banco. Eu automaticamente fechei meus olhos e quase ao mesmo tempo senti os lábios mornos dele sobre os meus. Comecei a mover meus lábios, acompanhando o ritmo dos dele. Eu me inclinei para ele, o envolvendo em meus braços, e ele fez o mesmo, segurando minha cintura. Então os lábios dele se separaram dos meus e foram deslizando agilmente até o meu queixo e depois até minha garganta, eu inclinei minha cabeça para trás enquanto isso. Os lábios dele tocando a pele sensível do meu pescoço me deixaram arrepiada. Então quando meu cérebro voltou a funcionar, eu o empurrei de leve.
- Ok, já chega. - Eu disse, ofegante e ainda arrepiada.
- O que foi?
- Joe... não posso mais fazer isso. Depois você vai embora e como eu fico? Quanto mais de você eu tiver agora, mais eu vou sentir falta quando eu não tiver mais nada.
- , quero te perguntar uma coisa. - Joe disse, parecia nervoso.
- Pergunte.
-O que você acha de... ir comigo?
- O QUÊ? - Eu gritei, surpresa. E depois coloquei ambas as mãos sobre minha boca, para impedir mais gritos inesperados como esse.
- É, eu sabia que não era uma boa ideia. Deixa pra lá.
- Não, espera, você estava falando mesmo sério? Quer dizer, por que você não fica aqui?
- Eu não posso, ... Eu não me encaixo aqui, não poderia morar no seu quarto pra sempre, usando as roupas do seu pai e assaltando a geladeira toda madrugada.
- E o que te faz pensar que eu me encaixaria no seu planeta?
- Porque lá eu poderia contar aos meus parentes que você é de outro planeta, eles não iam ligar.
- Mas... isso é loucura. Eu tenho meu pai aqui, e meus amigos...
- Eu também tenho meus entes queridos...
- Então é isso mesmo? Você vai, eu fico...
- Quem sabe não temos outra solução?
- Qual seria?
- Ainda não pensei nela, mas vou dar um jeito. -Ele disse, determinado, e eu só sinalizava um "não" com a cabeça, continuamente. Então ele segurou meu rosto com as duas mãos para me fazer olhar pra ele. - Olha, , não é só você que vai sentir minha falta, tá? Eu preciso voltar pra casa tanto quanto preciso ficar com você, você não tem a menor noção do quanto isso me atormentou a noite toda. Enquanto você dormia eu só conseguia observar seu rosto e pensar no quanto eu queria você.
- Eu também quero você. - Eu sussurrei, e coloquei a palma da minha mão sobre a bochecha dele. Alisei brevemente seu rosto e depois recolhi minha mão.
Ele sorriu pra mim e depois se levantou (ainda estava ajoelhado no chão).
- Vamos?
- Pra onde?
- Você disse que não queria mais ficar aqui, lembra?
- Mas agora eu quero ficar, aqui é legal.
- Meu Deus, ! Eu nunca vou entender você! Mesmo.
- Não é pra entender, Joe. Você vai ficar louco se tentar, acredite.

Joe e eu passamos um tempão lá, eu agradeci por ter trazido as barrinhas de cereal. Meu pai não ia ficar preocupado, eu costumava mesmo sumir assim pela fazenda quando eu passeava por lá, mas sempre encontro o caminho de volta pra casa (N/A:  you can say goodbye, and you can say hello, but you'll always find your way back home... tá, parei com o momento hannah montana). Quando o sol estava se pondo, eu achei melhor voltarmos. Meu pai podia ser um pai de boa, mas ainda assim era um pai né?
Enquanto Joe estava trabalhando naquele aparelho dele lá, eu estava mexendo no controle legal, mas sem apertar os botões que ele disse pra não apertar. Ele estava arrumando tudo pra voltarmos pra casa, mas aí ele deixou cair no chão uma parada que parecia super pesada pelo barulho que fez e eu me assustei com isso, deixando o controle cair.
- Ai, Joe, que susto.
- Tá tudo bem. Vamos?
- To pronta! -Eu disse, me pondo a postos.
- Onde está o controle?
- Ah, eu deixei cair, você me assustou. Deve estar por aqui. - Eu disse, olhando pro chão. O controle não estava no chão, que estranho.
- , diz que você não deixou cair naquele buraco ali. - Ele pediu, apontando pra um buraco esquisito na parede.
- Er, é provável que tenha caído lá, eu não vi onde caiu. O que é aquele buraco?
- O triturador de lixo! - Ele praticamente gritou as palavras. Fiquei com medo que ele ficasse com raiva de mim por ter destruído o controle super legal dele.
- Desculpe, Joe. Eu sou uma desastrada mesmo, que droga! Desculpe, desculpe, desculpe... - Comecei a pedir compulsivamente. Não queria que ele ficasse bravo comigo.
- Tudo bem, agora não podemos fazer nada. Nada mesmo, nem abrir a porta.
- Como assim? Estamos trancados aqui pra sempre? - Eu perguntei, apavorada. Meu pai ia ter um ataque se eu não voltasse pro jantar.
- Ou até eu dar um jeito de sairmos daqui. Eu sabia que tinha que ter um botão no painel da nave. - Ele disse, passando a mão nos cabelos.
- Você sabe como nos tirar daqui? - Eu perguntei com os olhos brilhando.
- Posso tentar configurar manualmente. Talvez dê certo, talvez não.
- Se não der... o que a gente faz?
- Não faço idéia. - Ele disse, e eu me desesperei. Comecei a andar de um lado pro outro.
- Cara! O que eu faço agora? Que droga, não acredito que vou ficar presa aqui! Joe, você TEM que dar um jeito de nos tirar daqui! AGORA!
- Hey, calma, . Primeiro que a culpa é toda sua, então pára de gritar comigo.
- A culpa não é minha! Você é que teve a coragem de entregar um controle importante daqueles nas mãos de uma desastrada como eu! - Eu acusei.
- Olha, não vamos resolver nada nos acusando desse jeito. Eu vou pôr a mão na massa e você fica quietinha aí e não mexe em mais nada, ok?
- Tá. - Eu disse em voz baixa e voltei a me sentar no mesmo banco onde sentei quando entrei aqui. Joe ficou mexendo no computador que humilhava o que eu tinha em casa.
Eu o observei, fascinada. Ele era tão inteligente com toda aquela habilidade pra resolver qualquer problema. Mas a minha admiração não durou muito tempo. Eu estava começando a ficar desesperada. Ok, eu já estava desesperada desde o início, mas agora estava ficando pior.
As minhas unhas já estavam todas roídas com a ansiedade de sair logo dali.
Joe demorou uma eternidade naquilo, e eu quase pulei do banco quando ele terminou.
- E aí?! - Eu perguntei com a voz ansiosa.
- Tenho uma boa notícia e uma má notícia...
- Fala logo! Está me deixando louca! - Eu gritei impaciente.
- Tá. A boa notícia é que consegui reconfigurar o sistema para abrir a porta pelo computador mesmo, manualmente. A má notícia é que pra isso eu tive que fazer um sistema novo, tudo de novo, e... bem, vai demorar um pouco pra instalar tudo.
- Quanto?
- Hm... algumas horas. Umas sete horas.
- SETE HORAS? Meu pai vai me esganar!
- Pelo menos agora sabemos que em sete horas poderemos sair.
- Ah, ta né. Fazer o quê? - Eu disse, me contentando.

Tudo bem, ficar mais sete horas trancada aqui dentro era melhor do que ficar trancada pra sempre, pelo menos. Enquanto estávamos presos ali, Joe e eu nos sentamos em uma espécie de sofá que havia lá dentro e ele me contou várias histórias das viagens dele e do planeta dele, e fizemos algumas comparações e pensamos em várias teorias para explicar alguns fatos. Foi bem divertido e interessante.

- Cara, eu to exausta. Faz um tempo que não durmo muito bem. - Eu disse, e com certeza era verdade. Dormir tarde porque fiquei pensando no , depois acordar daquele pesadelo horrível e ver o Joe no meu quarto, depois ficar até tarde acordada limpando a cozinha com o Joe... realmente eu não agüentava mais nenhuma madrugada em claro.
- Tudo bem, vamos dormir. Eu também estou cansado.
- Ah, espero que você tenha mais de uma cama aqui.
- Suas esperanças são em vão. Mas não se preocupe, eu posso dormir aqui no sofá.
- Claro que não, Joe! A cama é sua, você dorme nela.
- Mas você não dormiu na sua cama na noite passada por minha causa, agora vou retribuir seu sacrifício.
- Nada disso. Não vou conseguir dormir no conforto sabendo que você vai acordar com uma dor nas costas ou algo assim.
- Então o que você sugere?
- Nada. - Eu disse com uma voz triste. Eu não tinha nenhuma idéia.
- Já que você não tem uma idéia melhor, eu durmo no sofá e você fica na cama, pronto.
- Não! - Eu gritei, eu odiava perder. Não é justo quando eu perco; simples assim. - Vamos dividir, ok? Pra você ver como eu sou boazinha.
- Dividir a cama? Está falando sério?
- Se tiver espaço pra nós dois... estou.
- Er, ta bom. - Ele concordou, meio receoso.

Joe e eu andamos até uma parte da nave e ao apertar um botão na parede, a mesma se converteu em uma cama. Não me perguntem como. Era uma parede, e agora é uma cama. Esse lugar realmente me assusta, mas é legal.
A cama estava arrumada de uma forma... sei lá, estranha. Mas parecia confortável. Eu fui na frente e me deitei no colchão. Caaara, que colchão era aquele? Era como um colchão d’água, só que mil vezes melhor. Era relaxante... como aquelas cadeiras de massagem automática. Ok, eu sou péssima descrevendo essas coisas alienígenas, mas eu tento.
Eu fui mais pro canto e Joe se deitou ao meu lado. Ficamos um de frente para o outro, nos encarando. Depois de um tempo assim, meu rosto começou a corar.
- Er... boa noite. - Eu disse e me inclinei para dar um beijo de boa noite nele. Na verdade, era para ser apenas um selinho, mas eu não consegui resistir a aprofundar um pouquinho mais o beijo. Claro que também não me empolguei demais, antes que esse beijo acabasse em OUTRAS coisas, eu me obriguei a tirar minhas mãos da nuca dele e separar nossos lábios.
- Boa noite, . - Ele respondeu sorrindo. Então eu encostei minha cabeça no peito dele e fechei os olhos.



Capítulo 3
Eu não me lembrava o que eu havia sonhado na noite anterior, mas não importava. Nenhum sonho poderia ser melhor do que aquele que estava adormecido ao meu lado. Eu ainda não tinha tido a oportunidade de vê-lo dormindo, mas agora que eu estava tendo essa oportunidade, de alguma forma comecei a pensar que haveria um jeito de ficarmos juntos. Eu não sabia que jeito seria esse, mas eu sabia que ele existia. Eu tinha que saber disso para poder continuar em frente.
Eu queria muito continuar ali acordada observando Joe dormir, e também queria muito deixá-lo dormir, só de imaginar o quão cansado ele deveria estar. Entretanto, seria muito egoísmo da minha parte, já que há essa altura meu pai devia estar arrancando os cabelos, isso se já não tiver enfartado. Tínhamos que nos arrumar para que eu pudesse ir para casa agora, não havia mais tempo a ser perdido.
- Joe... - Sussurrei enquanto sacudia os ombros dele levemente.
- Hmm... - Ele resmungou, retorcendo suavemente os lábios em um sorriso mínimo. Como ele consegue sorrir quando está sendo acordado? Eu só sinto vontade de socar todo mundo quando me acordam assim.
- Temos que ir. Acorda. - Eu falei baixo, ainda sacudindo o ombro dele.
- Hmm... - Ele resmungou de novo, mas dessa vez fez mais esforço para se mover, e abriu os lindos olhos castanhos-claro. - Tudo bem. - Ele respondeu, ficando sentado na cama de um jeito desajeitado.
- Eu estou com preguiça. - Eu disse, ainda deitada. Ele sorriu.
- Como assim? Foi você mesma que disse que temos que ir.
- Eu sei, eu disse que temos que ir, não que quero ir.
- ! - Ele exclamou, rindo um pouco mais ruidosamente. - Ontem à noite você só faltou me esganar pra te tirar daqui, e agora você não quer sair. Você é mesmo muito indecisa.
- Eu gosto do jeito que você sorri pra mim. - Eu comecei a dizer, sem pensar muito no porque de estar falando isso. Ele simplesmente estava sorrindo pra mim e eu tive o impulso de dizer isso. -Me faz sentir como se nunca estivéssemos perdendo tempo. Como agora.
- Com sorriso ou não, estamos perdendo tempo sim. Vamos, seus parentes devem estar preocupados com você. - Ele disse, e parecia estar fazendo um esforço para ficar sério e não me deixar mais abobalhada ainda.
Joe e eu nos arrumamos o melhor que pudemos, ele deu um retoque pequeno na camuflagem da nave, e nos preparamos para a droga da caminhada. Era realmente um daqueles dias em que você preferia ter ficado na cama. Bem, dessa vez a caminhada pareceu durar menos, devia ser porque era a segunda vez que eu fazia esse trajeto. Demorou muito pouco até eu reconhecer que havíamos chegado ao limite do terreno da fazenda. Andamos mais um pouco e quando estávamos quase chegando aos estábulos, eu ouvi alguém gritar meu nome. Alguém de voz conhecida. Eu não sabia se eu agradecia por não ser o meu pai (ele me mataria se visse o Joe comigo), ou se eu lamentava por ser... o .
- ! - Ele gritou de novo, correndo até onde eu estava parada.
- Ah, oi, . O que faz aqui? - Perguntei, confusa. Desde quando o ficava dando voltas pela minha fazenda?
- O que eu faço aqui? Por que você não diz o que você tá fazendo?! Você é louca? Tá todo mundo atrás de você, eu fiquei super preocupado!
- Calma, está tudo bem... - Eu comecei a dizer, mas parecia muito perturbado. E... parecia mesmo preoucupado.
- Como assim tudo bem? Como você deixa a cidade toda preocupada só pra passar a noite com esse seu amiguinho aí? - Ele questionou, com raiva. Eu fiquei com raiva também. Aliás, eu estava com raiva dele desde... bem, vocês sabem.
- Olha, , agradeço sua preocupação, mas o que eu faço ou deixo de fazer não diz respeito a você. - Eu respondi, rudemente. Isso pareceu atingi-lo, a máscara de raiva no rosto dele se dissolveu.
- Então é por causa dele que você estava estranha comigo ontem no shopping?  , eu estava preocupado tá? Eu... achei que você e eu tínhamos algo especial. - Ele disse, em tom triste. Eu olhei pro rosto do Joe a tempo para vê-lo revirar os olhos.
O que me tocou nisso tudo foi que as expressões faciais do , o jeito como ele falava, ele parecia tão sincero. Ele me olhava como... se realmente tivéssemos algo especial.
Mas eu sabia que era tudo fingimento, porque o Joe leu os pensamentos do e tem certeza de que ele não me ama, não é? Então me ocorreu um pensamento... Joe tinha dito que leu os pensamentos do porque estava com ciúmes... E se ele estava com ciúmes, não poderia ter inventado isso só para que eu não ficasse com o ? Ele realmente poderia fazer isso? Claro que sim! OMG, como eu fui idiota, eu acreditei nele sem nem ao menos questionar.
- Você mentiu pra mim. - Eu acusei Joe em um sussurro. O rosto dele desmonstrou surpresa. Surpresa por ter sido descoberto, talvez?
- Do que está falando, ? - Joe perguntou, confuso.
- Como você pôde, Joe? Eu confiei em você! - Eu gritei dessa vez. estava meio que boiando, mas parecia feliz por agora eu estar discutindo com Joe em vez dele.
- Eu nunca menti pra você, ! Não faço a menor idéia de a que está se referindo.
- Não inventou isso só por causa do ciúmes não é? Você não seria capaz, seria?
- O que? De acabar com sua felicidade de propósito? Isso nunca poderia me deixar feliz, !
- Como posso saber se está falando a verdade? Não estou dentro da sua cabeça. - Eu falei discretamente, tentando fazer parecer uma metáfora caso estivesse prestando atenção.
- Tem razão. Não posso provar.
- Então tenho razão?! - Eu perguntei, pasma.
- Tudo que você tem a fazer é olhar pra mim e decidir no que você vai acreditar.
Omg, Joe também parecia estar sendo sincero. Como eu poderia saber quem está falando a verdade? Tudo bem que estou muito mais apaixonada pelo Joe do que já estive por qualquer outro cara, mas como eu poderia ficar com ele se os artifícios que ele usou para me conseguir foram falsos e baseados em mentiras? Mas e se ele estivesse falando a verdade e o realmente fosse me decepcionar? Eu estava tão divida que ia começar a chorar, mas pôs uma mão em cada um dos meus ombros.
- , eu não sei o que está acontecendo, mas acho que você podia deixar essa discussão pra depois. Seu pai nem sabe se você está viva.
- Tem razão, . Vamos. - Eu disse, sem convidar ninguém em particular. Mas ambos se sentiram convidados, e foram comigo até minha casa.
Quando entrei pela porta, meu pai e alguns vizinhos estavam lá. Eu me senti muito culpada quando vi a expressão do meu pai, parecia tão torturado. Assim que ele me viu, correu até a porta e me abraçou com força. Eu retribuí o abraço o melhor que pude.
- Onde você se meteu, ?
- Desculpe, pai. Eu me perdi, não queria deixar ninguém preocupado.
- Como assim se perdeu? Você anda por aí sozinha desde criança.
- Fui longe demais dessa vez. - Eu disse, e não estava mentindo.
Meu pai me abraçou de novo.
- Nunca mais faça isso comigo de novo, tá?
- Certo. - Eu respondi. - Pai, posso ir pro meu quarto agora? Estou muito cansada.
- Claro, querida.
- Agradeça a todos por mim, ok? - Eu disse, me referindo aos voluntários que iam se envolver na minha busca.
Meu pai concordou e eu subi até o meu quarto. Eu ia esperar a poeira baixar pra ir atrás do Joe, agora ele que se virasse sozinho por um tempo. Além do mais, eu tinha que parar pra pensar.
Eu tinha que saber se ele mentiu para mim sobre as verdadeiras intenções do . Era de vital importancia que eu soubesse disso, porque ficar com o Joe envolvia muitas mudanças, e antes de decidir coisas importantes como me mudar de planeta, eu tinha que saber se ele era o que eu realmente queria, e se eu realmente podia confiar nele. Eu enfiei minha cabeça no travesseiro, não querendo me distrair com nada que fosse menos importante do que decidir isso.
Depois de me estressar o suficiente, fui cuidar um pouco da minha higiene pessoal. Eu estava uma bagunça (novidade). E em nenhum momento consegui parar de pensar neles dois.
Quando voltei pro meu quarto, estava lá. Ok, eu nunca ia ter privacidade!
- Você nem ao menos pensou na minha proposta, não é? - Ele perguntou.
- Pensei, . Mas... ainda não me decidi.
- É aquele Joe? Eu percebi na discussão de vocês... o que ele falou sobre mim? Eu posso assegurar que é tudo mentira. -Ele argumentou. Eu quase mandei ele calar a boca. Eu já tinha minha cabeça muito cheia disso para ele ainda ficar repetindo.
- Onde ele está? - Eu perguntei. Quando vim pro meu quarto, deixei e Joe parados na porta.
- Ele não disse pra onde ia. , ele não está nem aí pra você, você não consegue ver isso?
Eu fechei meus olhos com força por um tempo, pressionando meus dedos na minha cabeça. Quando eu abri os olhos de novo, estava bem na minha frente.
- Sabe, não é pra te fazer sentir nenhuma responsabilidade não... mas, eu já terminei com minha namorada. Mesmo que você dissesse não, não ia dar certo ficar com ela quando só consigo pensar em você. - Ele disse, com os lábios muito próximos dos meus. Eu não movi um músculo. Então ele me beijou.
Espeeera, eu ainda não tinha decidido nada! O que estava acontecendo aqui? Como eu perdi o controle de tudo tão de repente?
- Eu quero você, . - Ele sussurrou ao mesmo tempo em que me beijava. Uma das mãos dele se prendeu em meus cabelos, e a outra escorregava perigosamente pela minha cintura.
Não, não era isso que eu queria. Não eram esses lábios, não era esse cheiro, não era essa voz. Não era ele! Não era o que eu queria.
Ele me beijava de um jeito que passava longe de ser delicado. Meu corpo tremeu quando senti as mãos frias dele alisarem minhas costas por baixo da minha blusa.
- , pára. - Eu sussurrei, o empurrando com delicadeza. Ele resistiu, então coloquei mais força para empurrá-lo. Joe obviamente estava certo.
- O que foi, ? Achei que fosse isso que você queria. - Ele perguntou sensualmente, parando de me beijar, mas suas mãos ainda não saíam de cima de mim.
- Mas você estava completamente enganado. Por favor, sai do meu quarto. - Eu pedi, já um pouco preocupada se eu tivesse que lutar com ele, ou algo parecido. Mas ele me soltou, com um pouco de relutância.
- Você é muito difícil, sabia? - Ele disse em um tom baixo, e saiu pela porta.

Eu me joguei na minha cama depois disso. Agora eu não tinha nada para fazer além de esperar que o Joe fosse o próximo a entrar por aquela porta. Foi uma esperança em vão, ele não apareceu durante o dia todo.
Passei a tarde na varanda do meu quarto, observando o pasto ao longe, esperando ver a silhueta dele. Eu só queria poder pedir desculpas por duvidar dele quando tudo que ele queria era me ajudar. Ele ia voltar, não ia?
Foi nessa dúvida angustiante que eu fiquei durante o resto da tarde, e o fim da noite. Lá pras 2:00 da manhã eu adormeci.
- ... -Eu ouvi o meu nome. De início, não dei muita importância. Afinal de contas, a luz não tentava penetrar pelas minhas pálpebras, o que significava que ainda era de madrugada, e qualquer um que tentasse me acordar antes do sol nascer não merecia atenção da minha parte. - , acorda. - A insistência continuou, mas dessa vez senti aquelas mãos mornas tocarem meu rosto. Então o meu cérebro começou a processar a voz... aquela voz. Abri meus olhos instantaneamente depois disso.
- Joe! - Eu disse, alto demais. Voei no pescoço dele e o abracei. Ele me envolveu pela cintura, desajeitado.
- Oi. - Ele respondeu com a voz baixa, acho que tentava me lembrar de que ninguém podia saber que ele estava aqui.
- Onde você estava? Eu fiquei te esperando o dia todo! Por que não veio aqui antes? O que estava fazendo? - Eu atirava as perguntas todas de uma vez.
- Achei que você estava brigada comigo.
- Ah... isso. - Eu parei, tentando avaliar a expressão dele no escuro. - Desculpe, Joe. Mil vezes, me desculpe! Aquilo foi um surto da minha mente, um pensamento que me ocorreu de repente, que talvez você não estivesse dizendo a verdade. Eu fui muito idiota em cogitar essa possibilidade... agora eu estou pensando com mais clareza.
- Hm... Então agora acredita que não inventei aquilo sobre ter más intenções com você?
- Sim. Eu acredito em você. - Eu pausei um pouco, para organizar meus pensamentos. Eu sentia que estava escondendo os detalhes do Joe por pura vergonha, por medo que ele fosse dizer "Eu te avisei". Não queria ser incompleta com ele. - Na verdade, o próprio provou que você estava dizendo a verdade.
- O que ele fez com você? , desculpe, eu não devia ter sumido. Eu... devia ter ficado aqui com você, desculpe! O que ele fez? Você está bem? - Ele começou a perguntar compulsivamente.
- Ei, tudo bem. Eu não deixei ele fazer nada, fica calmo. Eu só estava dizendo que ele tentou, e isso me fez ver com quem estava minha verdadeira confiança.
- Por favor, nunca mais me acuse de mentir pra você de novo, tá bom?
- Tá. Eu prometo. - Eu disse, acariciando de leve os cabelos dele. Parei minha mão na nuca dele e o puxei lentamente para mim, encostei nossos lábios em um beijo muito delicado, apenas um selo da minha promessa. Eu nunca mais duvidaria dele de novo.
Ficamos calados por um tempo. Então ele respirou fundo e alisou meu rosto com as pontas dos dedos.
- , eu voltei aqui só pra te dizer adeus. - Ele disse, olhando bem pra mim. Estava escuro, mas a luz da lua invadia o quarto através da janela.
- Como? - Eu perguntei, pasma demais pra agarrar na cintura dele e começar a implorar pra ele não fazer isso.
- Hoje tive o dia todo livre, então pude trabalhar no meu transfusor. Está tudo pronto. E como você aparentemente nem queria mais falar comigo, eu resolvi passar aqui só pra dizer tchau.
- Não. - Eu sussurrei, quase inaudível.
- Sinto muito. - Ele disse, e claramente ele sentia mesmo. Mas ele não sentia mais do que eu. Ele estava muito enganado se achava que eu o deixaria ir.
- Mas... nós dois... Joe, não. Você não pode ir embora agora.
- Preciso ir. Não posso mais ficar aqui. Você só tem que me prometer que vai encontrar uma pessoa que te dê mais valor do que o . Claro que não alguém que te ame tanto quanto eu, isso já é exigir demais. -Ele acrescentou com um sorriso. Um sorriso triste.
- O que você disse? - Eu perguntei, paralizada.
- Eu amo você. - Ele repetiu a declaração simples, mas que me fez sorrir involuntariamente.
- Eu também amo você. É exatamente por isso que você não pode ir.
- Mas você não me ama o suficiente para ir comigo, certo? - Ele questionou, tentando me colocar contra a parede. Mas eu não ia deixar ele sair por cima nessa.
- Você também não me ama o suficiente para ficar. - Eu afirmei.
- Às vezes as separações são necessárias, . Não quer dizer que eu vá te amar menos só por estar longe.
- Não quer dizer que não vou sentir sua falta como louca!
- Idem. - Ele disse. E depois se calou.
- Você vai voltar algum dia? - Eu perguntei, tentando encontrar uma solução.
- Eu até poderia. Entretando, você não estaria mais aqui quando eu voltasse, demoraria muito tempo para ir e voltar.
Tudo bem, por que é que nessa fic eu chorei por tanta besteira e agora eu não conseguia derramar sequer uma lágrima? Todo o meu corpo doía por dentro, era insuportável, eu queria gritar. Gritar para que Joe ficasse, porque era a única forma de fazer a dor parar. Se doía tanto, por que eu não conseguia chorar? Tudo que eu conseguia fazer era pensar no rosto dele enquanto dormia nessa manhã. Enquanto isso eu ficava lá parada, sentada, possivelmente com uma cara muito lesada enquanto olhava pro nada. Joe me puxou pro peito dele e me abraçou. Passei meus braços envolta dele também e o apertei contra mim.
E a imagem dele dormindo não saía da minha cabeça, por mais que eu tentasse enxergar outra coisa. Não que essa não fosse uma boa visão, mas não era o que eu queria ver agora. Eu queria ver uma luz, uma saída... Então eu realizei. Era isso! Essa manhã enquanto eu observava o rosto dele eu tive aquela estranha sensação de que tudo ia se resolver. Não sabia como, mas ia se resolver. Por isso eu não estava chorando; tudo ia ficar bem.
- Sim, vamos ficar bem. - Ele concordou, lendo meus pensamentos.
- Vamos ficar bem, e juntos. - Eu afirmei com total certeza. Ele não concordou com isso, mas eu sabia que aconteça o que acontecer, estaríamos juntos.
- Você tem razão. - Ele concordou. E depois me soltou. Quando ele fez menção de se levantar da minha cama, eu me levantei também. Ele andou a passos lentos até a porta do meu quarto, eu estava bem atrás dele.
Antes de abrir a porta, ele se virou para mim, posicionou cada mão em um lado do meu rosto e me puxou para ele, me beijando ardentemente. Meu Deus, eu tinha mesmo que deixá-lo ir? Talvez nós... pudéssemos levar isso um pouco adiante agora. Afinal, ele não tinha hora marcada no dentista lá no planeta dele, tinha?
Eu fui seguindo minha linha de pensamentos automaticamente. Nossos lábios se movendo em sintonia, e minhas mãos se ocupavam em abrir os botões da camisa dele. Então ele separou nossos lábios e se afastou.
- Eu acho que posso fazer isso melhor que o . - Ele disse, sorrindo. - Você merece mais.
- Como você pretende fazer isso se for embora agora? - Eu disse, confusa. Aonde ele queria chegar?
- Nós vamos ficar bem. - Ele citou. Me deu um selinho e abriu a porta. Então se foi.


Epílogo

Passaram-se quatro anos desde que Joe foi embora da minha vida. Desde que isso aconteceu, eu tenho enfrentado certas dificuldades com viver a vida normalmente, mas eu tenho tentado.
Eu havia me mudado para NY, porque sempre quis morar aqui. E aquele quarto, aquela cozinha, aquela fazenda... me lembravam demais o Joe para que eu pudesse ter qualquer paz de espírito.
Naquela tarde eu estava voltando do meu trabalho. Não era o emprego dos meus sonhos nem nada parecido, mas eu ganhava mais que o suficiente para ter uma vida confortável.
Eu estacionei meu carro na garagem do prédio e peguei o elevador. Cheguei à porta do meu apartamento e girei a chave na tranca. A porta se abriu e a sala familiar estava lá me acolhendo como todos os dias. Eu sentei no sofá e tirei os sapatos, deixando-os largados no chão de qualquer jeito.
- Oi. - Ele me cumprimentou.
- Oi. - Eu respondi educadamente. Ei, espera. Pra quem estou dando oi? - AAAAAAAAAAAH! - Eu gritei, me virando no sofá, tentando ver quem estava atrás de mim.
- Você é tão desligada, . - Ele comentou. Eu não podia acreditar no que estava vendo.
- JOE! - Eu gritei, sem conseguir ter nenhuma outra reação. Por que eu ainda estava sentada aqui? Era ele! Estava ali, parado, na entrada para minha cozinha!
Eu levantei do sofá e atravessei a sala correndo. Me joguei em cima dele com tudo e comecei a passar as mãos pelo rosto dele, cabelo, peito, braços. Precisava sentir que ele era real. E era. Ele me abraçou também, e beijou meu cabelo.
- Como você voltou? Quer dizer... você voltou! E eu não to nem perto de morrer ainda! - Eu dizia, tão animada que não sabia o que dizer!
- É interessante, ... Mas agora temos novas tecnologias por lá, acho que vocês chamariam de "teletransporte".
- O que? Teletransporte? Está falando sério? - Eu perguntei, incrédula.
- Estou. Mas será que podemos conversar mais tarde? Deu um trabalhão te achar aqui, eu não aguento nem mais um segundo. - Ele disse. E então me beijou. Eu nunca cheguei a esquecer como o beijo dele era bom.
Nos beijamos intensamente por um tempo imensuável. Não existia mais nada a nossa volta. E eu ainda não conseguia me fazer acreditar que ele estava realmente aqui e que era meu. E que nada ia nos separar dessa vez.
- Nunca estivemos separados. - Ele comentou meus pensamentos, dando uma pausa no beijo. - ... quero perguntar uma coisa.
- Se você pode morar aqui? Claro que pode né! Que idéia, Joe.
- Não é isso. - Ele disse, revirando os olhos.
- O que é?
- ... eu te amo, e isso é totalmente sério e nunca vai mudar. Você... você quer casar comigo? - Ele perguntou, meio enrolado. Mas ele ficava tão lindo quando estava sem-graça, e gostoso! Meu Deus, como ele era gostoso! Ele fica me olhando com esse sorriso envergonhado e esse olhar ansioso... tão perfeito. Então finalmente aquilo sobre “fazer melhor que o ” fez sentido pra mim. Joe não queria apenas me ter por aquela noite, como o . Ele pretendia voltar, pra me pedir em casamento!
Espera, ele perguntou se eu queria casar com ele? - Eu fiz uma pausa mental, lembrando que ele sabia tudo que se passava na minha mente. - Joe, não se atreva a me chamar de tapada. Eu vou responder, só me dê um tempo pra respirar.
- Tudo bem. - Ele respondeu, rindo um pouco. Era a primeira vez, se não me engano, em que eu de fato conversava com ele mentamente.
- Ok, acho que agora estou bem. - Eu disse, mais sem-graça do que ele agora. - E... é claro que eu aceito! Cada pergunta idiota que você faz, garoto. - Eu brinquei, revirando os olhos teatralmente.
Ele não tentou entrar no meu teatro. Sorriu o mais radiante dos sorrisos e nos beijamos novamente.


N/A: Olá pobres *3*
Entãããão, acabou. :x
Tá, podem dizer que eu só tenho ideia surtada, vai. Espero que não tenha ficado louco demais pra vocês, porque tipo, pra mim ficou. Eu não teria cara-de-pau de publicar essa coisa louca aqui se não fosse a minha amiga Mila Cullen me dizendo que tava super legal e tals, então ela me convenceu né. Thanks, Mila (:
E... EU SEI que ficou super twilight/new moon/eclipse, e a culpa não é minha. A Stephenie Meyer é que anda copiando minhas ideias, vê se pode u-u
Não, sério, eu não tinha a menor intenção de fazer nada parecido com twilight, entretando, eu não tenho culpa nenhuma se o Joe é como um vampiro perfeito *-* Eu não fiz inspirada em twilight, caso vocês queiram saber. Eu me inspirei totalmente em Joe Jonas, e no fato do garoto ser tão surtado que acha que nasceu em outro planeta e que tem super poderes (isso entre vários outros problemas mentais que Joe Jonas tem que eu não vou citar aqui pra não ofender o coitadinho, rs)
E também me inspirei nisso enquanto eu ouvia "Switch" da Ashley Tisdale. Se quiserem baixar, vão em frente, mas vou avisando que a música é tão boa que vai ficar na sua cabeça pra sempre o-o (ainda está na minha cabeça @_@)
Espero que vocês tenham gostado da fic, gente. Pronunciem-se nos comentários ok? Eu simplesmente AMO ler os comentários. *O*
Agora a hora da propaganda, eee... vivaeu *-* Minha fic sobre twilight é "two different worlds collide" (Não está concluída)
E tenho uma oneshot sobre os Jonas Brothers aqui também. É "please, remember december" (Concluída né, oneshot, :B)
E leiam as da Mila Cullen também pra ela ficar feliz, são todas muuuito boas. A que tem aqui no FFADD é "you'll always be my thunder", sobre os Jonas (Concluída) e em breve deve entrar a "long shot's island", também sobre os Jonas (Concluída. Aliás, vocês TÊM que ler essa. É simplesmente MARA *-*)
Tá, agora só mais uma propaganda pra acabar. Me sigam no twitter e me avisem que eu sigo vocês também :B @eveelima
bjs pra todas. Obrigada de novo gente, vocês são demais <3



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