Prólogo
Dean pegou uma cerveja, enquanto ouvia Bobby e Sam conversando.
- O que isso parece? – Sam perguntou, olhando alguns dos papeis sobre a mesa.
- Não sei ao certo, garoto. Mas do jeito que vocês relataram essa explosão de luz, eu diria que é assunto para Castiel.
- Mas Bobby, explosões causadas por anjos são apenas luzes, e nessa tinha fogo, além de um enorme buraco na terra.
- Eu não sei, rapazes. Acho que deveriam perguntar ele.
- Droga. – Dean exclamou, vindo da cozinha. – Só faltava essa. Mais anjos. – suspirou. – Vou tentar chamar o Castiel.
Olhou para o teto da sala, imaginando o céu, preparando-se para chamar pelo anjo, mas uma batida na porta da frente o fez parar.
- Tá esperando alguém? – Dean olhou para Bobby, ofendido por ter seu "ritual" interrompido.
- Não que eu saiba. – Bobby levantou de sua habitual cadeira indo em direção à porta de entrada. Pela vidraça, viu uma mulher parada de costas. Não parecia ofensiva, por isso abriu a porta. – Em que posso ajudá-la?
A mulher aparentava ter uns vinte e sete anos, pelo menos foi o que ele constatou quando ela se virou; tinha o cabelo loiro caindo na lateral do rosto.
- Tio Bobby! – A jovem abraçou o velho homem, assustando-o.
Dean olhou de esguelha para Sam, que fitava a porta, boquiaberto.
- Tio? – Ele exclamou, olhando para a mulher.

The Beginning Of The End
História por Caa Winchester | Revisão por Carol Mello

Capítulo 1

- Tio, você não mudou nada! – A mulher se afastou para olhar o rosto dele.
- ? – Bobby a admirou, não acreditando no que via. – Mas como? Isto é impos...
- Faz tanto tempo que não nos vemos... Quis fazer uma visita!
- Sua mãe sabe disso?
- Minha mãe? – A garota ficou um pouco atrapalhada com a pergunta. – Não, eu não tive tempo de falar com ela.
Bobby ficou olhando para , desconfiado. Algo estava errado.
- Não vai me convidar para entrar?
- Ah, claro. Entre. – Ele se afastou da porta, dando espaço para que ela entrasse. Além da bolsa, carregava uma mala de viagem. – Estes são Sam e Dean Winchester.
estendeu a mão para cumprimentar ambos.
- Não sabíamos que Bobby tinha uma sobrinha – Sam falou ao apertar a mão da moça.
Bobby abriu a boca para dar uma resposta, mas foi interrompido pela mulher.
- É uma longa história. Minha mãe é irmã do Bobby, mas quando o tio abandonou a família, nunca mais o vimos.
Dean ficou um pouco desconfiado.
- Pra que a mala, ? – Bobby perguntou.
- Ah... Tio, será que eu poderia ficar uns dois dias?
Ele hesitou em responder. Ficou encarando a sobrinha; alguma coisa dentro dele dizia que algo estava errado. Os olhos verdes dela perfuraram os azuis de Bobby. No mesmo instante ele desviou o olhar, como se aquilo machucasse.
- Está bem. – Falou, pegando a mala dela. – Venha, vou lhe mostrar o seu quarto. – disse, conduzindo a moça escada acima.
Dean esperou até que eles sumissem no corredor, voltando até onde Sam estava sentado.
- Isso - apontou em direção às escadas. –, foi estranho.
- Nem me fala! – Sam disse. – Mais estranho é o Bobby nunca ter falado nada a respeito disso.
- Será que ela sabe sobre...
- Bobby ser um caçador? Duvido. Viu como ela disse sobre ele ter abandonado a família sem dizer nada?
- Verdade – Dean tomou um gole da cerveja, olhando para o lugar onde a mulher esteve. - Acha que ele vai nos contar algo?
- Eu não sei. Talvez amanhã, ou...
- Ou nunca.

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- Bom dia! - cumprimentou Dean quando ele apareceu no corredor, indo para a cozinha. – Eu fiz algo para você comer.
Ela trouxe ovos fritos na frigideira, e despejou no prato sobre a mesa.
- Os outros já acordaram? – Ele perguntou, sentando defronte ao seu prato, cortando umas fatias do ovo e comendo.
- Sam está lá fora com Bobby. Ouvi-os falando algo sobre uma explosão.
Dean tossiu, se engasgando um pouco com a comida.
- Ouvi dizer que foi ontem no fim da tarde. Engraçado ser no mesmo dia em que cheguei.
- É, engraçado - Ele falou com a voz falha. – De onde você está vindo?
- Alliance. Viagem cansativa.
Dean não disse nada. Ela não deveria ter algo a ver com a explosão, pois ocorrera na outra estrada, contrária ao percurso à Alliance.
- Eu vou lá pra fora. Obrigado... Hm... Pelos ovos.
- Por nada. – Ela sorriu. Obeservou Dean sair pela porta dos fundos, vendo-o desaparecer entre os carros.
O sorriso no rosto dela se desfez. Aproveitou que estava sozinha e foi até a sala. Começou a vasculhar os papéis sob a mesa. Havia livros sobre tudo: espíritos, bruxos, poltergeist, vampiros, lobisomens, demônios, anjos... Mas nada sobre o que estava procurando.
Não achando nada na mesa, começou a vasculhar os livros na estante. Finalmente encontrou um de capa gasta. Abriu-o quase nas últimas páginas. Seus lábios se moviam silenciosamente lendo o que ali estava escrito.
- Eu sabia. – falou para si mesma.
- O que está fazendo aqui? – Bobby entrou na sala, surpreendendo-a.
- Nada! – Ela disse, fechando o livro.
- O que está fazendo com esta Bíblia? – Ele perguntou, tirando o livro das mãos dela.
- Estava lendo. É uma Bíblia muito antiga.
Bobby nada disse, devolvendo o livro ao seu lugar na estante.
- Eu não quero ver você mexendo nas minhas coisas.
- Desculpe. – A moça saiu detrás da mesa. – Onde estão Sam e Dean?
- Tiveram de sair. À noite eles estarão de volta.

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Dean fechou a porta do Impala com um baque. Ele e Sam foram ao local onde ocorreu a explosão.
Foram andando lado a lado, antes de entrar na densa floresta. Ambos carregavam armas e lanternas.
- Cara, aquela tal pode ser bonita, mas eu não fui com a cara dela.
- Percebi isso quando você não jogou uma de suas cantadas nela. – disse Sam.
- Não cara, é sério! Aquela mulher está escondendo algo. Tenho certeza.
- Ela não tem algo a ver com essa explosão? – perguntou Sam.
- Não. – Dean acendeu a lanterna, adentrando a mata. Sam o seguiu. – Ela disse que veio de Alliance. São lados opostos.
- Qualquer um poderia dizer isso, Dean.
- Eu sei. – Mais à frente, eles podiam ver a claridade. – Mas quando eu olhei para ela, parece que fui dominado, e concordei com aquilo. Depois que saí de lá, pareceu que tudo ficou claro novamente.
Eles cortaram alguns galhos à frente, e pararam.
- Além do mais, não acho que alguém como ela poderia fazer algo assim.
Na frente de ambos, um enorme buraco se abria na terra. Todas as árvores ao redor foram arrancadas, e as que sobraram estavam chamuscadas pelo fogo. De alguns galhos ainda saía fumaça.
- Mas que droga... - Foi a primeira coisa que Sam falou. – É melhor chamar o Castiel agora, Dean.
Dean suspirou e pela segunda vez olhou para o céu.
- Ei Cass! Consegue me ouvir? – Silêncio. – Tem algo realmente estranho aqui. Achamos que é coisa da sua gente.
Dean olhou ao seu redor. Apenas ele e Sam estavam ali.
- Cass, é algo importante...
- Não precisa repetir. Eu ouvi da primeira vez. – Sam e Dean olharam para trás e viram Castiel saindo da mata.
O anjo andou até a ponta do buraco. No mesmo instante, desapareceu e reapareceu no centro da cratera.
Dean revirou os olhos.
- Então, o que você acha? – Ele berrou para o Anjo.
- Como assim? – Sam perguntou.
- Eu não posso confirmar nada. – Ele falou. – Assim que eu encontrar algo, lhes aviso.
- Mas...
Antes que Sam pudesse perguntar algo, o anjo sumiu.
- Adiantou muito chamá-lo. – Disse Dean, entrando na floresta. Sam foi logo atrás dele.

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Já era noite quando os dois chegaram à casa. Apenas o lampião da sala estava aceso quando eles entraram.
Bobby estava lá. Ficara acordado esperando por eles.
- O que foi, Bobby? Por que ainda está de pé? – Sam perguntou.
- Schhh. – O velho colocou o dedo nos lábio, mandando-os ficarem quietos.
- O que aconteceu? Onde está ?
- Dormindo. Tenho que lhes contar uma coisa antes que ela levante.
- Contar o que? – perguntou Dean, ficando preocupado.
- está morta!
- Como assim, morta? Acabou de nos falar que ela está dormindo!
- Mas esta não é ! Não pode ser!
- Você está nos assustando, Bobby. – Sam falou.
- Minha irmã, Elizah, deu a luz à . O marido fugiu. Quando tinha doze anos, Elizah nos contou que a garota tinha falecido.
- E onde está Elizah? – Dean quis saber.
- Morreu há doze anos.
- Espere, por que não nos contou antes?
- Não conseguia. Na noite em que ela chegou e olhei nos olhos dela, pareceu que eu não controlava meus pensamentos e ações. Eu sabia que tinha algo errado, mas não consegui falar. Agora que ela está dormindo, parece que amenizou um pouco o efeito.
- Isso aconteceu comigo também. Hoje de manhã.
- Espera, se ela não é , quem é? – Sam perguntou.
Bobby se levantou e pegou a arma com sal sobre a mesa. Dean pegou a Colt dentro do armário, e Sam, a faca de Ruby no bolso da jaqueta. Os três subiram as escadas o mais silenciosamente possível. O quarto em que a mulher estava ficava no fim do corredor. A porta estava destrancada quando Dean girou a maçaneta. A desconhecida estava realmente dormindo. Todos os três se prepararam para atacar. Dean, ao destravar a arma, fez com que a mulher acordasse. Bobby e Dean atiraram ao mesmo tempo, mas onde a mulher estava, agora jazia apenas o colchão vazio.
- O que vocês estão fazendo? – a voz dela veio de trás deles. Sam virou e atacou-a com a faca, abrindo um corte no braço dela. A ferida começou a borbulhar, e sumiu novamente. No andar de baixo, um grito chamou a atenção deles.
Desceram a escada correndo. No meio da sala, um círculo de fogo fora formado e no centro dele estava a mulher. Castiel estava parado de frente para ela, observando o fogo crepitar.
- Bem na hora, Cass! – Dean falou, dando um tapinha no ombro do amigo.
- Espera, não faz sentido o fogo sagrado. – Sam disse parando ao lado do Anjo. – Eu a feri com a faca. – Ele mostrou a faca de Ruby para Castiel. O sangue da mulher escorria pela ponta do artefato.
- Faz sentido. Ela é um Nefilim.
- Nefilim? – Sam e Dean perguntaram ao mesmo tempo. – E o que é isso? – Dean emendou.
- Filho de anjo com humano. Foi ela quem causou aquela explosão. Nefilins fazem isso.
- Pensei que tinha dito ter vindo de Alliance. – Dean falou com desdém.
- Eu vim de Alliance. Só decidi "descer" num lugar mais afastado.
- Como a matamos? – Foi a primeira coisa que o irmão mais velho quis saber.
- Espere. – Bobby interrompeu o alvoroço. – Eu quero saber como ela tomou o corpo de .
- Tomar o corpo? – A nefilim falou pela primeira vez. – Eu não tomei o corpo de ninguém!
- Como assim, sua miserável?
- Você não ouviu o Castiel? Eu sou filha de anjo com uma humana. E não é um anjo qualquer. Nefilins são filhos de alados que foram expulsos do céu e mandados para o Sheol. Depois de anos servindo lá, esses anjos conseguiram escapar para a Terra, e aqui procriaram.
- Então... Elizah...
- Sim. Ela sempre soube. Conforme eu ia crescendo, meus poderes foram surgindo e ficando cada vez mais fortes.
- Poderes? – Sam pareceu se interessar.
- Exato. Celestiais e Abissais, por causa de meu pai. Quando fiz doze anos, minha mãe me pôs para adoção. Meu pai veio me procurar, mas Elizah não sabia onde eu estava. O desgraçado a matou. Semanas atrás, eu o achei e o liquidei.
- E por que está aqui? – Dean quis saber. Ainda não estava convencido do que ela falava.
- Vim ajudá-los. Vocês correm perigo. Me tirem daqui. – Ela olhou para o círculo de fogo ao seu redor. – Eu lhes explicarei tudo.
- Pra nos matar? Não mesmo.
- Espere, Dean. – Castiel o interrompeu, ficando de frente para ela. – De qual linhagem você descende?
- Acólitos. Desejamos apenas sorver a vida até a última gota, além de defender e não desistir de nossos ideais.
O anjo encarou a mulher nos olhos. Os jogos de persuasão dela não funcionavam com ele; olhos verdes e azuis se encontraram pela primeira vez.
O alado estendeu a palma da mão sobre o fogo, fazendo com que as chamas se apagassem.
- Obrigada. – Sorriu de mau gosto para o anjo.
- Agora explique essa história de que estamos correndo perigo.
sentou no sofá defronte a todos eles.
- Eu vim com algumas notícias...
- Boas ou ruins? – Dean interrompeu-a.
- Se fossem boas, eu nunca teria vindo. – Ela respondeu com desdém. – É o Apocalipse.
Dean começou a rir feito uma criança que acabara de ouvir uma piada. Todos olharam para ele sem entender o motivo da graça.
- Olha, gracinha, me desculpe desapontá-la. – Ele começou a falar após se recuperar do ataque de riso. – Mas você chegou um pouco atrasada. Toda essa baboseira sobre Apocalipse aconteceu há um ano atrás.
- É, eu sei. Sam disse sim a Lúcifer, jogando-o de volta na jaula, junto com Miguel. Porém... – Ela levantou a mão quando viu que Dean ia interrompê-la novamente. – Todos se precipitaram e esqueceram de alguns fatores importantíssimos que antecipam a Grande Batalha.
"Aquilo não foi o Apocalipse. Foi apenas um equívoco dos arcanjos. Foi uma briguinha, um aperitivo antes do prato principal.”
- E que fatores são esses?
- As Sete trombetas. Nenhuma foi tocada.
- Como assim trombeta? – Sam perguntou sem entender.
- As Sete Trombetas. – Dessa vez foi Castiel quem começou a falar. – Após o sétimo selo ter se rompido e Lúcifer se libertado, a batalha do Armagedon terá início após as Sete Trombetas serem tocadaa. Cada trombeta é seguida de uma catástrofe em Terra.
- Mas espere, como você sabe que elas não foram tocadas?
- Além de não ter acontecido nenhuma catátrofe mundial... – continuou. – Nós, celestiais e abissais, conseguimos ouvir o soar delas. E durante todo o tempo em que os arcanjos estavam em terra, nenhuma trombeta soou.
- Mas os selos foram todos quebrados!
- Sim, Sam. Mas não é por isso que logo em seguida devem tocar as trombetas e iniciar a Batalha. Não até agora...
- Merda! Você só pode estar de brincadeira!
- Mas Lúcifer e Miguel estão presos na jaula. Não tem como saírem, a não ser usando os anéis que estão conosco. – Sam rebateu.
- Eles não precisam dos anéis quando têm um garoto chamado Jesse. – viu Dean lançar um olhar a ela, e parecia que ele ia ter outro acesso de risos. – Aposto que lembram dele, não?
- Jesse? O Anticristo? – Sam sorriu, prestes a fazer coro com o irmão. – Impossível.
- Impossível? É isso o que você acha? – Agora era quem ria; mas não era uma risada bonita, pois estava cheia de sarcasmo. – Não quando ele resolveu abrir uma "transmissão de rádio" entre ele e o seu querido "papai" Lúcifer.
- O que você quer dizer com isso?
- O que eu quero dizer é que você tinham que ter matado o garoto quando tiverem a oportunidade! – Ela ficou em pé, encarando os rapazes. – Vocês não ficaram sabendo, mas os pais adotivos de Jesse ficaram meses procurando pelo garoto. Eu vi de perto a agonia que aquela mulher sentia ao saber que seu filhinho tinha sumido. Vi a esperança iluminar o olhar dela toda vez que o marido chegava em casa, esperando que ele trouxesse alguma notícia boa, mas tudo o que ouvia era que eles continuavam procurando, sem obter resultado algum, e ver que tudo o que faziam era em vão! – Fora a primeira vez que a Nefilim se descontrolava daquela maneira há anos. Conforme ela falava, não apenas palavras saíam de sua boca, mas a ira também, como uma cobra, esperando para dar o bote, e seus olhos ficavam vermelhos feito sangue. – Até que, cansada de tudo isso, achou uma forma de acabar com todo aquele sofrimento, e pensando que o filho estava morto, resolveu se juntar a ele. O marido a encontrou morta no chão da cozinha, com um corte fundo no pescoço e a faca repousada em sua mão, agora gélida.
"A visão de sua mulher naquele estado, com uma poça do próprio sangue marcando o assoalho, fez com que o único fio de sanidade do homem se rompesse. Por que Deus estava fazendo aquilo com eles? Por que fizera com que sua família ficasse em pedaços em menos de um mês? Agora, o marido vive num manicômio, sendo atormentado pela visão da mulher morta e do filho desaparecido, esperando que a sua vida se esvaeça de seu corpo, para que ele não fique mais sofrendo. Jesse ficou sabendo de tudo. E adivinhe quem ele culpa por isso?"
- Nós... – Sam falou num sussurro.
- Exatamente! E foi isso que ele pensou! – deu alguns passos em direção à Sam. – “Quem apareceu em nossa casa, dizendo o que eu era? Antes, tudo estava em perfeita paz. Por que não me deixaram lá, com meus brinquedos e minha imaginação? Quem são os culpados por eu ter fugido? Por terem feito mamãe se matar e papai enlouquecer?” - A mulher não estava mais falando por ela, era como se agora tomasse o papel do garoto. Cada vez mais fora de controle, seus olhos chegaram a certo tom de vermelho que doía só de olhá-los. – De quem é a culpa? De vocês, Sam e Dean Winchester! – A mulher gritou como se ela fosse o próprio Anticristo, e sentisse a dor que o rapaz sentia; o chão da casa começou a tremer e alguns livros da estante caíram no chão com um baque surdo. Sua alma parecia estar em chamas.
- NEFILIM! Se acalme! – Castiel sussurrou no ouvido da criatura, ríspido como se desse uma ordem.
No mesmo instante, a coloração dos olhos dela voltaram ao tom normal de verde, sua respiração também voltara a ficar compassada. A mulher se apoiou no sofá, parecendo exausta; agradeceu em silêncio ao anjo.
- Me desculpem. – Falou aos demais. Dean e Sam estava petrificados, de olhos arregalados, e Bobby segurava a arma apontada para ela. – É muito difícil, às vezes, manter o equilíbrio.
- Mas que porcaria foi essa? – Dean falou, parecendo sair do estado de transe.
- Entendam, eu chego a ser uma criatura tão poderosa quanto o anticristo.
- Como assim? – Bobby abaixou a arma, mas não a soltou.
- O fato de eu ser uma mistura incomum e altamente improvável... – Ela respirou alguns segundos, retomando o fôlego. – Filho de um humano com um anjo que caiu nos abismos e retornou para caminhar em nosso mundo, é algo que chama atenção dos dois lados que disputam o destino dos céus. Esse meu equilíbrio é algo muito delicado. Caso eu o perca, posso acabar tendo de servir aos céus ou ao inferno, e acredite, nem um deles vale à pena quando você se torna uma marionete.
- E em qual deles você prefere cair?
- Em nenhum, Dean. – A nefilim encarou o rapaz. – Por isso estou aqui. Agora, o Anticristo tem se comunicado muito com o "papai", e pretende libertá-lo em breve, e claro que junto virá Miguel.
- E então, toda essa merda vai começar de novo.
- Basicamente. Mas desta vez, eu duvido que eles queiram tê-los como receptáculos.
- Por que?
- Porque Dean, vocês foram uma total perda de tempo, e acredito que eles tenham aprendido a lição ao querer tomá-los como avatar.
- E qual vai ser o nosso papel nisso?
- Vocês deverão lutar contra eles. Não está escrito, mas caso queiram salvar a si próprios e à Terra, deverão impedi-los. Não que isso não cause estrago, mas é o melhor que temos.
- O melhor que temos? – Dean falou com desdém. – E com o que vamos lutar? A colt de nada adianta.
- Por isso vocês não vão usá-la. Dean irá usar a Flagelo de Fogo, e eu estou tentando criar algo para Sam.
- A Flagelo de Fogo? – Castiel se intrometeu. – E como você vai acha-lá?
- Gabriel era meu amigo, ele sabia que tinha algo errado, então me deu algumas pistas caso um dia eu precisasse. E Castiel, você não deve voltar, de maneira alguma, pro Céu.
- Você é maluca? Eu estou em Guerra no Céu.
- Esta Guerra é uma armadilha! É uma armação que espera pela volta do Príncipe dos Arcanjos. E acredite, quando isso acontecer, eles caçarão os traidores do mesmo modo que caçam os demônios.
- Não acredito em você.
- Meu irmão, não deixe que o orgulho tome conta da sua aura.
- Não sou seu irmão. – Castiel pronunciou cada uma daquelas palavras com ênfase.
não iria discutir. Esse era o problema dos anjos: se tivessem o poder nem que fosse por um curto período de tempo, já se achavam donos da verdade.
- Pois bem, boa sorte caso consiga sair vivo de lá. – Ela encerrou a discussão. – O Anticristo está à procura de vocês para libertar os arcanjos diante dos culpados pelas prisões deles. Tentem não chamar muita atenção.
- Espera, eu ainda não entendi. O que é Flagelo de Fogo? – Dean perguntou.
- Sorte que você é bonito. – se impressionou com a ignorância do homem. – A Flagelo de Fogo é a espada de Gabriel. Todos os Arcanjos possuem uma espada própria.
- Como a do Cass?
- Muito, mas muito mais poderosa, Sam.
- Então, Dean terá de lutar contra Miguel, usando essa tal flagelo, e eu terei de lutar com Lúcifer com uma espada que você está criando?
- Por enquanto sim, mas eu estou à procura de algo, talvez no final tudo mude.
- E o Anticristo, quem lutará com ele? Afinal, não conseguiremos chegar perto dos arcanjos caso Jesse esteja lá.
- É por isso que eu irei matá-lo na batalha final.
Todos ficaram em silêncio, tentando absorver tudo o que acabaram de ouvir.
Bobby largou a arma sobre a mesa e se jogou na cadeira , cobrindo o rosto com as mãos. Ele suspirou profundamente e pareceu exausto, como se acabasse de voltar de uma batalha.
se aproximou dele e se ajoelhou, de modo que seus rostos ficassem na mesma altura.
- Tio, eu sinto muito. Você não imagina como eu queria que tudo fosse normal. Que a mamãe estivesse aqui, e que fôssemos uma família. Mamãe ficaria tão feliz de vê-lo pelo menos mais uma vez...
- Pare de falar nela! – Bobby olhou para a mulher com nojo. - Você pode ser tudo, menos parte desta família. É um encosto. Eu preferia que você estivesse morta, como Elizah dizia que estava. Nós só vamos ter que suportá-la até o fim dessa encrenca, e quando tudo isso acabar eu não quero mais ver o seu rosto.
Ele levantou, tentando não encostar na criatura ao passar do lado dela.
- Castiel, eu agradeceria se você ficasse de olho nessa coisa, caso ela esteja tramando algo.
- Bobby pediu ao Anjo. – Eu vou me deitar.
podia sentir todos a encarando. Algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. Horas como essas eram a parte mais difícil de controlar seu equilíbrio. Seus olhos começaram a ficar pretos; sua parte humana se abalava facilmente com emoções.
- Ah. – Bobby parou na metade do caminho e virou na direção dela. – E você pode ficar em qualquer lugar na cidade, mas na minha casa você não fica.
O velho olhou para os irmãos, fazendo sinal para que eles saíssem de lá.
- Vamos, Sam. – Dean olhava feio para as costas da anja, no entanto Sam carregava pena no olhar. Dean puxou o irmão pelo ombro para que eles saíssem dali.
A nefilim permanecera ajoelhada no piso de madeira. Não esperava que aquilo acontecesse, mas também não achava que tudo seria feito na maior calmaria.
Ela percebeu que o anjo continuava ali. Não queria ficar mais nem um segundo. Levantou-se. Num momento ela estava em pé na sala de Bobby, e no outro estava em um quarto de hotel. Chovia no lado de fora, e pela janela, viu raios cortando o céu. Ao virar, viu o Anjo encostado na parede lateral do quarto.
- Agora tenho um cão de guarda nos meus calcanhares? – Não iria ficar com alguém seguindo cada passo que dava. Partiu em direção à porta, determinada a sair daquele lugar sem seguidores da maneira que fosse necessária.
- Você não vai a lugar algum. - Agora Castiel estava parado em sua frente, bloqueando a porta, impedindo que ela passasse.
- O que foi? Não confia em mim, anjo?
- Nem um pouco.
- Eu entendo... Não deve ser fácil acreditar que está sendo enganado pelos seus irmãos no céu. E a sua aura – Falou olhando ao redor do anjo, como se algo estivesse ali que apenas eles pudessem ver. – está emanando ódio. E ódio de mim, sem dúvida. – Ela riu com escárnio. – Não é minha culpa! Tudo isso está acontecendo desde que Miguel foi preso na jaula junto de Lúcifer. Para ser mais realista, nunca houve um fim. Então, não me culpe por trazer a verdade. Um simples obrigado bastaria. Agora, eu tenho coisas mais importantes com que me preocupar. – desviou dele, abrindo a porta e saindo de lá, a chuva caindo bruscamente sobre sua cabeça.
- Eu disse que você não vai a lugar algum. – Novamente ele apareceu, segurando-a no ombro, impedindo ela de prosseguir.
- Castiel, me solte. – Falou virando para olhá-lo. Agora ela não parecia mais pacífica, pois seu semblante era pesado, sério. – Eu não quero te machucar. – Desvencilhou-se da mão dele.
- Mas eu quero.
A tempo, percebeu a ação da espada do oponente.
Em súbita agressão, o anjo a atacou com toda energia e perícia, e por um momento a nefilim achou que não teria conseguido, mas a sua espada subiu para bloquear a poderosa lâmina do adversário.
Ao choque das armas, faíscas expeliram de ambas. A arma do anjo era comum: totalmente prateada, exceto que em sua lâmina jaziam escrituras vermelhas.
Já a arma da nefilim era dourada, e escrituras prateadas de tão poderoso efeito quantos as do anjo estavam cravadas em sua lâmina.
- Castiel, pare com isso. – Rosnou a mulher.
- Só irei parar quando você estiver morta. – Rebateu o celeste. Em suprema velocidade, rolou para o lado e avançou como uma fera voraz.
Mas a nefilim era astuta e se defendeu. As lâminas se encontraram, e a Nefilim resistia, mas era clara a superioridade do Anjo, não por sua técnica em luta, mas pelo motivo de a mulher não estar querendo dar continuidade à briga.
Estava perdendo tempo. Tempo precioso que poderia ser usado na busca da espada do arcanjo. Mas percebeu que teria de fazer algo, caso quisesse acabar com aquilo; tentando terminar a luta, partiu para o ataque, e num só golpe desarmou o anjo, fazendo com que a arma dele fosse lançada no outro estremo do pátio, e num segundo golpe, apoiou o punho de sua espada no pescoço do anjo.
- Agora me escute. – A mulher começou a falar, visivelmente brava, repreendendo o celeste com um olhar duro. Frio. – Pare de criancisse. Eu não farei mal a você, muito menos aos Winchester. E se a minha morte é o que você anseia, fique sabendo que eu não sobreviverei ao crepúsculo dos tempos.
- Espero que seja eu a matá-la. – O anjo cuspiu aquelas palavras no rosto dela.
- Talvez de alguma maneira você o faça. Pare de me seguir. – Um farfalhar de asas anunciou que a mulher desaparecera.

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- Então Bobby, achou algo? – Sam perguntou ansioso. Fazia dois meses desde que a Nefilim sumira. Castiel tentou segui-la, mas com o tempo, perdera seu rastro. Desde então, nada acontecera.
- Nada. Tudo está na perfeita paz. – Bobby falou, fechando um dos vários livros que examinava. – Aquela charlatã enganou a todos. Estavam inventando tudo.
- Mas por que ela mentiria?
- Ela não mentiu.
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Dean estava saindo de uma lanchonete com um pacote de sanduíche e salada, além de estar comendo um dos sanduíches presos à sua mão. Pegou a chave do Impala, e ao entrar no carro, colocou a chave na ignição prestes a dar a partida, quando tudo à sua volta sumiu, e ele estava parado em um campo aberto, um cemitério.
Já estivera ali antes, há um ano atrás, pra ser mais preciso, quando aprisionou os arcanjos na jaula.
Mas como fora parar ali? No mesmo instante, Sam apareceu ao seu lado.
- Sammy... – Dean foi ao encalço do irmão. – O que está acontecendo?
- Eu sei lá. Estava amparando o Cass quando vim parar aqui. Ele deve ter batido a cara no chão.
- Mas que inferno.
- Ora, ora, ora, o que temos aqui? – Uma voz desconhecida surgiu atrás deles. Um rapaz de cabelos negros estava parado de braços cruzados, contemplando a imagem; parecia ter uns vinte e cindo anos. – Agora a festa vai começar.
Dean cerrou os olhos tentando reconhecer quem era aquele homem.
- Ah, qual é! Você não está me reconhecendo? Tudo bem que eu deixei de ser um garotinho, quis envelhecer um pouco, mas não mudei tanto assim.
- Jesse!
- Bingo! Muito bom, Dean. E Sam, como você está? Pelo visto conseguiu dominar a grande muralha aí na sua cabecinha! Sem dúvida está muito melhor que meu pai, que está junto com o irmãozinho dentro de uma jaula... Mas não por muito tempo, certo?
- Seu filho da...
- O anticristo estendeu a mão e fez a voz de Dean sumir antes que ele pronunciasse a última palavra.
- Vamos esclarecer uma coisa antes, ok?
- Não precisa, seu imbecil. – Sam partiu pra cima de Jesse, mas antes que pudesse alcançar o oponente, ficou preso no chão, sem conseguir se mover.
- Olhe Sam, nada teria acontecido se vocês não tivessem aparecido em minha casa. Não tivessem dito que eu era anormal...
- Você não é anormal...
- Não me interrompa. – Com outro aceno, Sam ficou sem voz também. – Minha mãe se matou, não foi como a de vocês que virou carvão e foi morta por alguém. E meu pai enlouqueceu... Preferia que ele estivesse morto...
"Mas agora o meu verdadeiro pai vai retornar, e vocês estarão mortos, finalmente."
- Só se for por cima do nosso cadáver. – Dean falou recuperando a voz.
- Pois se isso te consola, Dean, sem dúvida ele vai passar por cima dos seus cadáveres.
O anticristo se aproximou de Dean e, com uma faca, fez um corte no rosto dele. O sangue escorria pela lâmina. A criatura levou a faca até o centro do campo e começou a fazer um ritual, deixando pingar várias gotas do sangue no chão.
- Droga, Sam! Pensa em algo!
- No que, Dean? Estamos presos!
Conforme o rapaz pronunciava o encantamento, o sangue no chão formava o desenho de um círculo.
- Em breve, meu pai estará aqui e vocês terão o prazer de lhe dar as boas vindas.
- Acho que não, Jesse.
O rapaz virou-se e viu uma mulher loira parada do lado oposto do campo.
- Isso só pode ser brincadeira. – Ele falou, não entendendo o que um humano repugnante estava fazendo ali. – Lugar errado, hora errada, mocinha. – Com um gesto, o homem estalou os dedos, visando fazer algo contra ela, mas nada aconteceu.
- Bela tentativa, mas não funcionará. – Num piscar de olhos, asas brancas gigantescas brotaram das costas da mulher.
O anticristo arregalou os olhos ao ver aquilo, mas um sorriso irônico começou a surgir no canto dos lábios dele.
- Quem diria! Uma Nefilim! – Ele deu uma risada maligna. – Se não é minha irmã ! Veio presenciar o retorno de meu pai?
- Não dessa vez. Desculpe, mas tenho repugnância a este tipo de praga.
- Mas seu pai também irá voltar, junto com Lúcifer, não?
- Miguel não é meu pai. Nunca foi e nunca será.
- Exatamente! – O homem começou a andar em volta da nefilim. – É perfeito!
- Perfeito?
- Pense , pense! – Ele olhou para o rosto dela e percebeu que a dúvida permanecia ali. – Você odeia Miguel. Nós odiamos Miguel. Agora, imagine-nos lutando juntos contra o anjo. Afinal, é tudo culpa dele. Veja, ele aboliu o anjo que matou sua mãe... Junte as partes, e no fim sempre chegamos a Miguel. – O rapaz parou próximo ao ombro dela, e começou a sussurrar em seu ouvido. – É isso que você quer? Vingança? E agora nem o seu tio quer você, porque você é uma aberração. Sua mãe não te quis e te abandonou na sarjeta. E o anjo que você supôs que ficaria do seu lado, quer te matar. E agora você quer vingança!
Os olhos da anja ficaram vermelhos e o chão aos seus pés começou a tremer.
- Droga, droga, droga! – Dean começou a tentar achar um modo de se mover, mas nada adiantava. – , não dê ouvidos a ele!
Por uma fração de segundos, a mente da Nefilim voltou ao normal; tempo suficiente para que brandisse sua espada contra o Anticristo. No entanto, sua lâmina cortou o ar; ela olhou ao redor procurando pelo homem, mas ele sumira.
O sangue no chão completou o desenho, Dean e Sam acreditaram estar tendo um déjà vu, idêntico ao do convento abandonado, há um ano atrás.
Tudo ao redor deles começou a tremer vorazmente, e do centro do círculo uma luz branca começou a surgir, além de um zunido irritante, que chegava a doer.
A nefilim correu até os irmãos, e começou a pronunciar algum tipo de encantamento em latim; o feitiço que prendia os irmãos se desfez, libertando-os.
- Onde está o Anticristo? – Sam perguntou.
- Acho que temos um peixe maior para nos preocuparmos agora.
- Encontro vocês na casa do Bobby. – falando isso, a mulher tocou os irmãos na testa fazendo-os sumirem. Virou então, para olhar a jaula no chão que se abria. começou a pronunciar várias palavras em latim, tentando fazer com que a jaula se fechasse, mas nada adiantava. A luz branca chegou até a borda do círculo de sangue, e englobou tudo ao seu redor.

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- Rapazes!
Dean e Sam abriram os olhos ao mesmo tempo, vendo que estavam na sala da casa de Bobby.
- Vocês estão bem? O que acontec...
Antes que ele pudesse terminar a frase, um tremor abalou as estruturas da casa e todos puderam ouvir um barulho distante, algo que lembrava uma explosão.
- Eles voltaram... – A voz de anunciou a má notícia. O rosto da mulher sangrava, com um corte na testa.
- Meu Deus, você está sangrando! – Bobby fez menção de levantar, mas foi impedido pela mulher.
- Eu estou bem... Mas não posso dizer o mesmo dele. – A mulher foi até onde Castiel estava deitado; ele estava desacordado por causa dos ferimentos. Por mais que Bobby tivesse tentado estancar o sangue, o fluído escorria pelo rosto do anjo.
Já o ferimento no rosto dela parara de sangrar, e sobre o corte uma nova pela já aparecia. Em segundos não havia nada ali.
Enquanto isto, ela pegou do bolso um emaranhado de ervas. Com um graveto, amassou a planta dentro de uma cuia de barro, que pedira para Bobby, e em outro pote acendeu fogo embaixo dele. Ao mesmo tempo, dispôs a seu lado quarto largas tiras de couro, para cada corte.
Com a ajuda de um dos irmãos, ela tirou a camisa do anjo, e vários cortes profundos marcavam o peitoral dele.
Quando o fogo irrompeu, queimou as ervas dentro do recipiente.
- O que é isso?
- É um tratamento conhecido como moxibustão. É bastante eficaz no combate a várias enfermidades e ajuda na cicatrização. Os anjos que o atacaram eram fortes e usaram algum tipo de arma que não apenas o feriu fisicamente mais atingiu sua aura também... Eu nunca vi nenhum anjo tão ligado ao seu avatar como este... Isto vai doer um pouco. – Ela tentou avisar ao anjo, mesmo ele estando desacordado. Sobre um dos cortes no tórax dele, ela pôs as cinzas flamejantes, que provocaram queimaduras superficiais na pele. A reação foi imediata. Um grito agonizante saiu da boca do anjo. Ele segurou a mão da mulher impedindo-a de prosseguir.
- Fique calmo. – Ela tocou o rosto dele. - Deixe-me continuar.
Fixou a tira sobre o ferimento, apertando as ervas ferventes. Repetiu o mesmo processo sucessivamente em cada corte, arrancando gritos de dor do homem em cada um deles.
- Agora feche os olhos e tente descansar. – Falou, após terminar o procedimento.
O anjo fez o que foi pedido, adormecendo no mesmo instante.
- Pensei que anjos não dormissem.
- Não dormem. A não ser quando estão feridos. – Ela pegou as vasilhas, levando até a pia. – Agora, eu já protegi a casa contra visitas indesejadas. - Dirigiu-se a Bobby, no outro cômodo da casa. – Mesmo Lúcifer e Miguel não tendo seus recipientes, tentarão nos achar, mandando demônios e anjos.
- Vai começar tudo novamente. Pegar os anéis... Abrir a jaula...
- Dean, isso não vai acontecer. Eu tentei impedir os arcanjos, mas não consegui, e ao saírem, Lúcifer destruiu a prisão.
- Destruiu? Merda! O que faremos agora?
- Lutaremos? – Sam olhou para , esperando que ela tivesse outra resposta.
- Sim... Lembra quando eu falei sobre espadas? Então, eu fiquei sabendo que a espada de Miguel foi perdida, mas eu acredito ter a encontrado... E Sam vai usar a espada de Gabriel.
- Espere, Zachariah disse que era a espada de Miguel.
- Zachariah estava mentindo. Você era apenas o recipiente de Miguel. Eles perderam a Chama da Morte.
- E onde ela está?
- No mesmo lugar de sempre. Em um castelo... Em uma colina feita de 42 cães.
- Depósito Castelo, Colina Rover, 42.

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Seattle

O vento uivava e fazia com que as folhas nas árvores dançassem e uma por uma caíssem no chão. Os telejornais anunciavam a vinda de uma tempestade, provavelmente a pior dos últimos vinte anos.
Peter dormia no andar de cima de uma casa central. Morava sozinho, era odiado por todos por causa do seu sucesso. Sucesso, claro, vindo por meio de subornos e trapaças.
Um galho batendo em sua janela o fez acordar.
Maldita árvore!
Virou para o lado, no intuito de voltar a dormir, mas onde estava vazia a cama agora um homem a ocupava; ele tinha o rosto machucado por escoriações.
- Você foi escolhido.
- Quem é você? Como entrou na minha casa? – Peter pulou da cama, pegando um taco de beisebol perto da parede.
- Calma, meu amigo. Você foi o escolhido, não há motivo para temer.
- Escolhido? Escolhido pra quê?
- Você irá ceder o seu corpo para mim, Lúcifer.
- Saia da minha casa, seu demente!
- Calma Peter, eu posso lhe propor um acordo. Juro devolver o seu corpo assim que terminar de usá-lo, e além disso, farei você ter mais prestígio e sucesso do que jamais imaginou!
- Sucesso? – Os olhos do rapaz brilharam. – Digamos que isso seja um sonho, e eu aceitar, você promete me dar sucesso?
- Já falei uma vez! Só basta você dizer sim.
- Sim!
O estranho sorriu com a burrice do rapaz, e no mesmo instante, uma luz branca inundou o quarto e depois tudo ficou escuro. O corpo do estranho despencou, vazio, no chão. Peter passou por cima do sujeito, como se aquilo fosse um bicho, indo se olhar no espelho.
- Muito fácil. – O arcanjo sorriu. Agora, aquele corpo pertencia a ele. Ao Arcanjo Negro.


New Jersey.

O sol estava no ponto mais alto no céu. Devia ser por volta de meio dia. Era domingo, e Henry saía da igreja. Aquela era sua última esperança.
Sua mulher estava com câncer, e os médicos estavam fazendo de tudo para salvá-la, mas Henry deixara de acreditar fazia tempo. Como uma última e desesperada tentativa, ele resolve recorrer às orações.
Parecia ser antiético, pois nunca fora voltado à religião e só agora que os problemas bateram à sua porta, ele recorreu a Deus. Mas ele precisava tentar.
Naquele dia, resolveu tomar um caminho diferente ao sair do templo; queria ficar sozinho com seus pensamentos, antes que tivesse de voltar para o leito da mulher.
Um vento leve soprava às costas do homem, mas do nada, o vento mudou de direção, ricocheteando no rosto dele.
Não havia ninguém andando pelas ruas. Uma nova rajada de vento anunciou a chegada de um desconhecido.
- Olá, Henry!
- Quem é você?
- Meu nome é Miguel. Eu vim lhe fazer uma proposta.
- Olha cara, eu não tenho tempo pra ouvir baboseiras sobre venda de produtos, ok?
- Na verdade, estou mais interessado em comprar algo, do que vender...
- Dá licença, não estou interessado em nada!
- Mesmo que isso salve sua mulher?
- Como é? – Henry parou de andar, olhando onde o homem estava parado. – Como você sabe sobre minha esposa? Quem é você?
- Já disse. Me chamo Miguel, mas alguns me conhecem como o Príncipe dos Anjos.
- Você é demente.
- E você está perdendo uma grande oportunidade.
- Como sabe quem eu sou?
- Vocês humanos são tão difíceis... Deixe-me explicar. – O arcanjo apoiou a mão no ombro do homem, andando ao seu lado. – Sou Miguel, um dos cinco arcanjos, filho do Altíssimo.
- Se for verdade, o que eu tenho a ver com isso?
- Tudo! Você foi o escolhido para me ajudar a derrotar um dos meus irmãos, Lúcifer.
- Espere, isso tem algo em relação ao Apocalipse?
- Exato! Mas para que eu derrote-o, você tem que me deixar usar seu corpo, pois esse em que estou não tem força suficiente.
- Tomar meu corpo? E o que ganho com isso?
- Eu posso curar sua querida Rachel. Aquele câncer está a matando. Posso fazer esse câncer sumir.
- E por que eu devo acreditar em você?
- Eu sou um anjo! Dou minha palavra.
Henry ficou em silêncio, pensando em todas as possibilidades. Não tinha nada a perder. E aquele homem estava prometendo curar Rachel. Ela era a coisa mais importante para Henry. Olhou então, para Miguel, decidindo qual decisão tomar.
- Está bem, eu aceito.
Miguel sorriu, estalando os dedos no ar.
- Sua mulher ficará bem. Agora...
Uma luz branca e um zumbido tão forte quanto os que surgiram na casa de Peter tomaram conta do local; em cada fenda do corpo em que Miguel estava, brotava feixes de luz. Num minuto, aquele corpo caiu inerte, e o Arcanjo já possuía um novo vaso.
- Agora é só esperar pelo anúncio das sete trombetas...
E o bosque estava novamente vazio, como se nada nem ninguém estivera ali um dia.

Capítulo 2
Heart in a Cage

- Não temos mais razão para ficar esperando. – Dean falou, levantando-se irritado da cadeira e andando de um lado para o outro na saleta. Estavam discutindo pela milésima vez como ir ao Depósito Castelo.
- Eu concordo com o Dean, Bobby. – Sam apoiou o irmão. – Nós já sabemos que deve ter pelo menos cinco anjos guardando o local à espera de Miguel, mas se ficarmos esperando, o número irá aumentar até a chegada do Arcanjo.
- Eu não sei, rapazes... – Bobby olhou para . – O que acha?
- Eu concordo com eles. Castiel e eu estaremos lá. Os anjos ficam por nossa conta. Mas devemos chegar antes de Miguel. Se ele pegar a espada, as coisas irão se complicar um pouco.
- Saímos hoje à noite. – Dean falou, encerrando o assunto pela última vez.

O Impala preto rodava no asfalto em uma estrada deserta; ao longe, um pássaro levantou vôo com o barulho do motor do carro. Fazia mais de uma hora que eles haviam saído da casa de Bobby e estavam próximos ao destino.
A nefilim decidira acompanhar os irmãos de carro até Colina Rover. Dean dirigia em silêncio, sendo que o único som ouvido vinha do carro.
A escuridão tomava conta da rodovia, que era iluminada apenas pelos faróis do Impala.
- Eu não entendi por que Jesse fugiu quando você quis atacá-lo. – Sam quebrou o silêncio. – Quer dizer, ele é poderoso, podia ter lutado com você, não?
- Por que o Anticristo iria querer arriscar o pescoço dele, sendo que o que precisava fazer já estava concluído? Ele vê em mim um adversário à altura. Se eu fosse ele, teria feito a mesma coisa.
- Mas ele não quis te matar a princípio...
- Não.
- Por que?
- Antes deles tentarem me matar, Sam, irão fazer todo o possível para me ter como aliada. Em último caso, vão tentar me matar.
- E os anjos?
- Que têm eles?
- O que eles pretendem fazer em relação aos nefilins?
- Todos querem matá-los. – Castiel falou, aparecendo no banco traseiro ao lado de , assustando todos no veículo.
- Cass, já conversamos sobre aparecer do nada. – Dean falou, olhando para o alado pelo espelho retrovisor.
- Matar? – Sam pareceu interessado.
- Claro! Até o amigo de vocês aqui já tentou acabar comigo.
- Mas por que?
- Sam, existem regras no céu, e uma delas é que um anjo nunca, jamais pode ter filhos com um humano. Meu pai violou esta lei, além de ser um anjo caído, o que torna tudo pior. E para os anjos, saber que existe um descendente de anjo caído na Terra é inaceitável.
- Sem querer interromper o conto de fadas, mas chegamos. – Dean estacionou o Impala do lado oposto da rua.
Já era passado de meia-noite, e a rua estava completamente vazia.
A luz do letreiro do Depósito Castelo piscava descompassada, iluminando uma parte do beco.
- Tá certo, todos sabem o plano, querem que eu repasse?
- Dean, fica calmo. A gente cuida de tudo. – falou, desaparecendo; Castiel sumiu logo em seguida.
Dean e Sam olharam pelo vidro do carro e viram os dois na calçada do outro lado da rua. Os alados andavam lado a lado até a porta dos fundos do depósito.
- Preparado, anjo? – A mulher provocou Castiel.
- Sempre estou preparado. – E rebateu. – E você?
- Como nunca. – Respondeu de prontidão, segurando a maçaneta da porta; fez um sinal para o homem, abrindo-a e entrando juntos.
A iluminação da sala era fraca, mas suficiente para revelar um desenho de um pentáculo no chão para prender demônios caso algum quisesse entrar ali. Tudo parecia estar na perfeita ordem e não viram nenhum anjo.
- Você tem certeza de que a espada está aqui?
- Tinha! Todas as evidências apontavam para este lugar, mas não consigo sentir a aura ou presença de anjos aqui.
- Você tramou isso, não foi? – Castiel acusou a mulher, pegando sua espada e partindo em direção à ela.
- Castiel, pare, eu não fiz nada! – A mulher falou na hora em que ele ergueu a arma no ar, e num movimento rápido desceu a lança.
fechou os olhos com força, esperando pela lâmina perfurar seu corpo, mas nada aconteceu; abriu os olhos e foi então que viu a espada do anjo perfurando a garganta de um outro homem às suas costas.
- Por sorte, ainda não foi desta vez. – Castiel falou, seu rosto muito próximo ao dela.
- Cuidado! – Outro anjo surgiu atrás de Castiel, e a tempo, a nefilim perfurou o inimigo antes que ele atacasse.
Mais seis anjos apareceram no recinto. Todos estavam de terno, segurando suas armas, prontos para atacar.
- Um nefilim! Miguel ficará feliz em saber. – Um dos anjos, o mais alto de todos, falou se destacando dos demais.
- Olá, Euzin. É bom vê-lo também.
- E vejam só...Castiel, eu sabia que você se misturava com a Haled, mas agora isto? Uma nefilim? E ainda está tentando roubar a espada de meu amo?
- Isso não é da sua conta, não é mesmo Euzin?
- Castiel, Castiel... Vejo que deixou de ser um de nós há muito tempo, não?
Aquilo pareceu ofender o anjo; levantou sua espada, preparando-se para lutar. Euzin sorriu, indo para os fundos da sala, deixando seus subordinados à frente.
- Acabem com eles.
Todos partiram ao ataque ao mesmo tempo. As espadas dos anjos começaram a tilintar ao choque das lâminas de e Castiel. Parecia que tudo estava combinado, e como em uma dança, eles davam compassados, desviando dos ataques.
A lâmina da Nefilim perfurou o primeiro anjo, que gritou ao sentir o corpo ser perfurado, e quase ao mesmo tempo, outro anjo gritou quando foi atingido por Castiel.
A nefilim conseguira derrubar mais um alado, sobrando apenas um. Pelo canto do olho, viu Castiel sendo encurralado por dois anjos, e sem pensar duas vezes, arremessou sua arma para o companheiro, que segurou a espada no ar e perfurou com as duas armas os anjos à sua frente. Sem esperar, jogou a arma da nefilim contra o anjo que a atacava, que gritou ao ser atingido.
tomou sua arma nas mãos, e olhou ao redor procurando por Euzin, mas aquele já havia sumido.
- Covarde. – A mulher acusou o anjo que fugira. – Se você não ficasse tentando me matar, formaríamos uma bela equipe, Castiel.
O anjo não dera ouvidos para o que ela falara, indo até a porta. De lá, ele fez um sinal para que os irmãos viessem.
- Uau, perdemos a melhor parte? – Dean falou ao entrar na sala.
- Eu ainda não consigo entender. – Castiel comentou, questionando em seguida. – Como isso pode ser a melhor parte?
Ninguém respondeu ao comentário do anjo. Sam fechou a porta do aposento.
- E agora?
- Agora, Sam, vem a parte difícil. – A nefilim falou, deixando o centro do local vazio. - ????? ?? ????, ???? ?????, ??? ???? ?? ??????? ???. ???? ?? ???? ??????? ???? ???, ????? ??? ?????? ?????. ?????, ???? ????? ????? ???, ??????. – Repetiu, em voz alta, o chamado; a entonação era estranha aos ouvidos de Dean e Sam. O brilho da lua, que cortava a janela, foi sumindo aos poucos, até tudo lá fora ser dominado pela mais completa escuridão, um breu terrível.
- O que está acontecendo?
- Você não achou que Miguel iria deixar sua espada jogada aqui, achou? – olhou para Sam. – Estou tentando abrir uma passagem para o plano onde a espada se encontra. Ela atenderá ao chamado. – O foco no teto apagou, permanecendo apenas a claridade de um uma lâmpada na rua, que mal conseguia iluminar o local.
No centro da sala, surgiu então, uma espada flamejante de cabo adornado; a Chama da Morte.
- Pode pegar, Dean. – A mulher mandou o homem se aproximar. Dean estendeu o braço, e num movimento rápido tomou a espada nas mãos e apertou firme o cabo da arma. O humano captou a poderosa aura da espada.
A janela do depósito acendeu, refletindo a luminosidade mundana dos postes elétricos e trazendo-os de volta à realidade comum.
- Estamos de volta? – perguntou Sam.
- Sim. – A nefilim falou, olhando para a espada. – Miguel vai me matar por isso.
- Legal! – Dean falou para a espada, parecendo uma criança com um brinquedo novo.
- Faça-me o favor de não ir cortar presunto com isto! – Falou a mulher, censurando-o. – Só deve usá-la para matar Miguel! Agora vamos sair daqui antes que mais anjos cheguem.
Todos saíram rápido de lá, indo e direção ao carro.
- Ainda acha que eu estou mentindo? – Aproveitou para falar quando Castiel passou ao seu lado.
O anjo olhou para ela, mas desapareceu logo em seguida.
- Vai ser difícil ter a confiança dele. – Falou entrando no carro com os irmãos.
- Ele só está fazendo birra porque você estava certa sobre a falsa guerra no céu e acho que também por você ser mais forte do que ele. – Sam falou.
nada respondeu. Estava cansada, e mesmo sendo uma nefilim, também era humana, e seu corpo e mente pediam por descanso. Ajeitou-se no banco traseiro e fechou os olhos, esperando conseguir dormir por alguns minutos.

Fazia dois dias desde que conseguiram a espada de Miguel, que agora estava sobre a lareira do escritório de Bobby. Dean estava pegando uma cerveja para ele e Sam, enquanto Bobby tirava um cochilo no sofá. Castiel estava lá também; vasculhava os livros na estante, pegando vários e lendo algumas partes, apenas por curiosidade. Pegara um de capa branca, desgastado pelo tempo, e abrira em uma página qualquer.
- "Eu poderia me apresentar apropriadamente... – O anjo começou a ler em voz alta, atraindo os olhares dos irmãos. - Mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível..."
- "Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente." – apareceu no canto da sala, terminando de recitar o que ele lia. O anjo fechou a cara, fechando o livro com um baque e colocando-o no lugar.
- Estranho... – Dean falou em voz baixa para o irmão.
- Nem me fale.
- Então, sentiram minha falta? – A nefilim falou brincando, fazendo com que Bobby acordasse com o falatório. – Eu trouxe novidades da Flagelo de Fogo...
Subitamente, um barulho estremeceu a membrana. Não era uma sonoridade natural, mas uma sinfonia do além, que abalou todo o tecido. e Castiel caíram de joelhos, com os tímpanos ardendo. Ambos apertaram as mãos contra os ouvidos, mas não adiantou. Era como um sopro desafinado e irritante, cujo eco demorou a se dissipar. Os seres humanos não podiam ouvi-la, mas todos os anjos e demônios, em todas as partes do mundo ouviram. A nefilim abriu os olhos alguns centímetros, e pôde ver Bobby ao seu lado e Dean amparando Castiel, que estava no chão como ela.
Quando a agonia cessou, conseguiu recuperar aos poucos a audição, podendo ouvir Dean perguntando ao amigo se ele estava bem.
- Você está bem? – Agora Bobby perguntara a ela, ajudando-a a ficar em pé.
- Sim. – Falou, procurando o olhar do outro anjo, e quando se encontraram ela pôde distinguir a mesma expressão que devia estar no rosto dela, presente na do anjo.
- O que aconteceu? Vocês caíram no chão e tamparam os ouvidos como se estivessem ouvindo algo...
- E ouvimos.
- Mas nós não ouvimos nada. – Sam falou incrédulo.
- Porque vocês não conseguem ouvir!
- Começou... – Castiel falou olhando para Dean. – A primeira trombeta foi tocada.
- Sam, ligue a TV. – pediu ao rapaz. Sam levantou e foi até a sala, ligando o aparelho. Os outros foram ao seu encalço, ver o que estava acontecendo.
A mulher do telejornal falava apressada, e parecia assustada, como se alguma catástrofe tivesse ocorrido.
- Aconteceu há menos de meia hora! – narrava a jornalista. – O míssil que atingiu a Coreia do Norte levava uma ogiva de cem megatons e devastou toda a área metropolitana. O impacto estendeu-se a outras cidades. Os prejuízos são incalculáveis.
A tela mostrou as primeiras imagens da capital norte coreana. Sobreviventes andavam desesperados pelas ruas, em meios aos destroços de prédios. A voz continuou em off:
- Os chefes de Estados americanos e europeus ainda não se manifestaram a respeito, mas o parlamento coreano afirmou ter provas de que o ataque partiu de seu viziinho, a Coréia do Sul, e prometeu uma resposta violenta à qualquer aliado à Coreia. O Chefe das Relações Internacionais... – desligou a televisão.
- E tem início o Apocalipse. – falou, suspirando. – E vocês pensavam que furacões e terremotos já eram o bastante. Como eu disse... Aquilo foi só o aperitivo.
- Já entendemos, dona da razão! – Dean fez com que ela ficasse quieta por alguns instantes. – Você disse que tinha novidades...
- Ah sim. Acho que sei onde está a arma de Gabriel.
- Você a encontrou?
- Não, eu disse que acho que sei onde ela está. Lembram da Deusa Kali?
- Gabriel se amarrava nela.
- Pois é, Dean. E é por isso que ele deixou a espada com ela.
- Fala sério! – Dean exclamou. – Aquela mulher é muito temperamental.
- Eu gosto tanto dela quanto você. Até hoje eu não sei o que Gabriel viu nela.
- E o que você viu nele?
- Gabriel era como um irmão para mim.
- Aham, e eu nasci ontem.
não fez comentário algum às provocações de Dean; não estava de bom humor.
- Nós temos que ser rápidos. Com o soar da primeira trombeta, as outras não tardarão a serem tocadas.
- Cento, quando partimos?
- Bom, você vai ficar com o Bobby. Sam, Castiel e eu iremos...
- Uou, espere aí, como assim eu fico com o Bobby?
- Você já tem sua arma, meu bem. – Ela sorriu com sarcasmo. – Sam não.
- E eu vou ficar fazendo o que aqui?
- Faça tricô. – O irmão mais velho a olhou com desdém. – Só não traga problemas pelas vinte e quatro horas seguintes. Consegue fazer isso?
- Dean olhou para Bobby, tornando a olhar para a Nefilim, mas ela, Sam e Castiel não estavam mais ali; o farfalhar de asas anunciou a partida deles.

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e Sam apareceram juntos na calçada de uma rua movimentada. Uma loja na lateral estava com as televisões ligadas no mesmo noticiário. Castiel apareceu ao lado deles, olhando para as imagens no televisor.
- Vamos andando. – Sam puxou o anjo pelo ombro.
os guiou pela rua e entraram numa ruela. O salto de sua bota fazia barulho e ecoava pelo beco; entrou pela porta de um dos quartos do hotel que tinha a saída para a viela.
A porta fechou-se às costas deles quando o último entrou; tanto a nefilim quanto o anjo pegaram suas espadas e deixaram a postos.
Uma luz irradiou no centro do quarto, cegando os três por alguns instantes. Aos poucos, seus olhos se adaptaram à claridade.
- , , é bom vê-la novamente. – Uma voz feminina surgiu, e todos puderam ver a deusa indiana parada à frente deles.
- Queria poder dizer o mesmo, querida.
Kali sorriu com desdém; aquilo parecia diverti-la.
- E vejam se não é Sam Winchester. Desta vez não trouxe seu irmãozinho?
- Desta vez não.
- E você deve ser Castiel... Como estão as férias permanentes do céu? Pelo visto, nada agradáveis. – A deusa constatou ao ver o desgosto no olhar do anjo.
- Nós viemos atrás de algo que Gabriel deixou com você. – falou sem demora, querendo terminar esse assunto de uma vez por todas.
- Vocês vieram atrás disto, não foi? – A mulher segurava a arma de Gabriel, a Flagelo de Fogo, espada flamejante. No entanto, ela parecia estar tramando algo. – Sinto dizer que não posso dar isto a você.
- Esta espada não lhe pertence.
- Muito menos a você! Gabriel me entregou antes de morrer.
- E disse para você entregá-la ao portador que a usará para matar O Filho do Alvorecer.
- Pequenos detalhes...
- Gabriel confiou em você para passar a espada adiante.
- Sabe , esse era um dos principais defeitos de Gabriel. Ele confiava demais nas pessoas. Se apegava demais. Mas por incrível que possa parecer, ele não confiou na sua mais fiel parceira... Não é mesmo?
A nefilim desviou o olhar da deusa, mirando o chão, lembrando-se do arcanjo. Algumas lágrimas brotaram nos seus olhos, mas elas não caíram.
- Gabriel teve seus motivos.
- É mesmo? Ou será que é por que ele me amava mais do que um dia poderia amar você?
- Cala a boca. – A nefilim murmurou.
- O que foi? Não consegue encarar uma competiçãozinha? Não é minha culpa se Gabriel preferiu a mim.
- Me entregue a Flagelo de Fogo. – falou, olhando para a indiana. Os olhos dela estavam agora negros.
- Venha pegar!
apertou a sua espada na mão, e com um grito de ódio, partiu ao ataque.
- Nefilim, não! – Castiel tentou impedir a mulher, mas já era tarde.
A deusa Kali começou a lançar fogo de suas mãos sobre a nefilim, que mantinha a espada em defesa, impedindo que as chamas tocassem sua pele; com o brilho do fogo, era possível ver os olhos negros da nefilim.
A criatura dava passos à frente e chegava cada vez mais perto da deusa, que tentava aumentar a potência do fogo.
A nefilim aguentava firme, sem se abalar com o ataque; seus olhos tão negros quanto o céu à noite, e o cabelo a esvoaçar. Num segundo passo, suas asas se abriram, o que aumentava sua força e magnificência . Ela pode sentir seu próprio poder, e baixou a espada que bloqueava o fogo, começando a detê-lo com a mão. Parecia que sua pele absorvia as chamas, sem causar queimadura alguma, mas algo estava errado. Algumas penas de suas asas começaram a mudar de tonalidade. Uma a uma, elas começaram a ter a cor do carvão e da noite sem estrelas, tal como seus olhos. Lentamente, uma pluma deixava de ser branca. A expressão da nefilim era demoníaca. Com a outra mão, ela preparou o ataque à deusa com sua espada. Kali assistia aquilo horrorizada. Estava se arrependendo de ter feito aquelas provocações à mulher. Mas de nada adiantava se arrepender agora.
A criatura chegou perto o bastante da deusa, e com um sorriso malfazejo, ergueu a espada no ar.
- Você não sabe nada sobre Gabriel. – E com extrema força, encerrou o golpe, cravando a espada contra o peito da deusa, perfurando-a.
No mesmo instante o fogo se dissipou. A Flagelo de Fogo voou longe, caindo com um estalo no chão, mas logo foi apanhada por Sam; a espada pareceu sentir o toque do portador, voltando a ter o seu brilho verdadeiro.
Mas Sam não percebeu. Tanto ele quanto Castiel olhavam para a nefilim, que permanecia de costas. A maioria de suas penas continuavam a ter sua pigmentação original, mas algumas perto do tronco estavam negras, e pareciam não voltar à coloração normal.
- Ãh.. ? – Sam a chamou, receoso com o que poderia ver.
A nefilim virou para olhar para eles. Sam, e por incrível que pareça, Castiel também, se assustaram com o que viram. Algumas veias estavam saltadas no rosto da mulher; Sam teve uma lembrança de si próprio daquele jeito, mas no seu caso, era uma reação ao sangue de demônio. Os olhos dela permaneciam negros.
Ela não sorria. Na verdade, não havia sentimento algum no seu rosto. Era como se fosse oco.
começou a andar na direção deles, e ambos começaram a recuar. No entanto, na metade do caminho, a mulher desabou no chão, e com um grito quase ensurdecedor, soltou a espada, pressionando a cabeça com as mãos; o grito não cessou de imediato, fazendo as janelas do aposentos se espatifarem, lançando cacos de vidro em todas as direções. Então, o barulho cessou de uma só vez, os olhos da mulher ficaram brancos, e ela começou a tremer no chão, tendo um ataque de convulsão.
- Cass, me ajude! – Ela pôde ouvir a voz de Samuel ao longe, e depois disso não ouviu, viu ou sentiu coisa alguma.

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abriu os olhos. Não estava em nenhum lugar conhecido. Estava presa pelos braços, atada por correntes; seu corpo estava suspenso no ar pelas amarras de ferro.
- Olá, ! – Uma demônia surgiu na sua frente; segurava uma faca nas mãos e brincava com a ponta da lâmina. O cabelo negro caía em ondas pela lateral do rosto, que esboçava um sorriso debochado.
- Olá Meg. Como conseguiram me capturar?
- Ah, isso está acontecendo no seu subconsciente, mas pode ficar calma, é tudo real!
- Oh, muito obrigada, me tranquilizou bastante.
O demônio aproximou-se da mulher e começou a deslizar a faca pelo pescoço dela.
- Fiquei sabendo que vocês furtaram a espada de Miguel, ! O que pretende fazer com a arma? Brincar de samurai?
- Muito engraçado... Mas na verdade pretendemos perfurar seu pai com ela.
A mulher riu, debochando da prisioneira.
- Mas vocês nefilins são audaciosos, não? Aprendeu com os demônios?
- Coisa de família.
- Falando em família, o que foi isso que aconteceu com você? Não teve um celeste ou abissal sequer, que não sentiu sua aura.
- Ficou com medo?
- Medo? – Ela riu novamente. – Irmãzinha, você está quase se tornando uma de nós! Quase se tornou... Mas pelo visto, algo fez você voltar a si. Me diga, foi a lembrança do Gabriel? Ou Dean, Sam ou Bobby? O anjo eu sei que não foi. Mas por pouco, irmã! Logo você será uma de nós. Meu pai previu isso.
- Seu pai acredita muito nessas previsões, mas sinto dizer que ele está enganado! Nunca serei uma de vocês! – A nefilim cuspiu na cara do demônio.
Aquilo irritou Meg. Ela pegou a faca e lentamente começou a perfurar a barriga de .
Ela teria gritado com a dor que a lâmina causou ao perfurar sua pele, mas nenhum som saíra de sua boca.
Meg riu com a reação da mulher e isso a fazia prosseguir. Perfurou a pele de sem dar intervalo entre as facadas, rindo com a agonia da nefilim.

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- Eu não estou conseguindo sentir o pulso... – Vozes começaram a surgir ao longe.
- Ela está em agonia...
- Não tinha como você fechar isso?
- Nós tentamos, Bobby, mas nada adiantou. Pelo menos as veias não estão mais marcando o rosto dela.
- Eu vou pegar um pouco de água gelada...
As vozes cessaram, e parecia que ela estava sozinha ali. Não conseguia abrir os olhos, nem falar e muito menos se mexer. Mas ela conseguia sentir a queimação onde a faca perfurou sua pele.
Ela pôde sentir algo ser pressionado sobre sua testa. Era gélido, e a fez ter uma compreensão melhor de onde estava.
Pôde sentir que estava deitada sobre uma cama, além de começar a sentir as articulações das suas asas.
- Os batimentos cardíacos voltaram.
- Saia daí. Me dê esse pano. Vocês anjos não conseguem fazer nada direito.
O pano foi pressionado na sua testa novamente, mas ela pôde sentir mais uma perfuração em seu peito e isso a fez abrir os olhos.
Ela puxou o ar como se tivesse a respiração trancada, aquilo ardeu ao chegar no pulmões. Suas asas se fecharam, entrando na pele, quando sentou na cama. Sua visão estava turva, e ela não conseguia distinguir as formas direito.
- Calma, ... – Ela ouviu Bobby, sua voz estava próxima. – Feche os olhos, e abra-os devagar, para se adaptarem à luz.
fez o que fora dito. Fechou os olhos e tornou a abri-los devagar. As formas tomaram seu lugar e a luminosidade também.
Bobby estava sentado em uma cadeira ao lado da cama, e segurava um pano molhado nas mãos.
Sam e Dean estavam parados lado a lado à frente, ambos com olhares temerosos. E Castiel era o mais distante, parado junto à janela, e era o único que não olhava para ela.
- , você está bem?
- Estou bem tio... Robert. – A mulher olhou para Sam. – O que aconteceu? Eu só me lembro de estar no hotel com você e Castiel, e estar pedindo a arma para a indiana... Então tudo se apagou...
- Você não lembra de nada?
- Não... Só quando olhei para vocês e vi o C... Então me lembro de ter caído no chão, e apaguei de novo.
- Essa coisa de equilíbrio é mais perigosa do que pensei. – Castiel falou, finalmente olhando para a nefilim, e seu olhar era de repreensão, o que fez a mulher se encolher.
- Uau... É sorte sua você não se lembrar.
- Foi tão ruim assim?
- Foi medonho. Você partiu pra cima da mulher e o fogo que ela lançava contra você não te atingia, na verdade parecia que aquilo te dava forças... Então você abriu as asas, mas as suas penas... Começaram a ficar negras...
- Essa não...
- Mas voltaram ao normal, só algumas ficaram cinza... Mas o pior, é que quando você matou Kali e olhou para nós, sua pele tinha veias em alto relevo, negras, e você quis nos atacar. Mas então você caiu. Sorte que conseguimos te trazer aqui.
- Como assim? O que mais aconteceu?
Sam desviou o olhar para o anjo.
- A segunda trombeta foi tocada.
- Miami está em chamas. Os coreanos acharam prova de que os EUA ajudaram a Coreia do Sul no ataque. O mundo está em guerra.
- Há quanto tempo eu estou desacordada?
- Metade da noite... Já está quase amanhecendo.
- Não podemos ficar esperando. Temos que prepará-los para a luta. – Falou para Castiel.
O anjo concordou. Sam olhou para Dean, visivelmente preocupado. Sobre a mesa, a Bíblia estava aberta, e ali dizia:
" O segundo anjo tocou. Foi jogada no mar uma coisa parecida com uma grande montanha em brasa. A terça parte do mar virou sangue.".

Capítulo 3

Em um prédio abandonado, Lúcifer esfregava as mãos aguardando o soar das trombetas. Já ordenara que todos os demônios se preparassem para a batalha final, pois sabia que Miguel seria escoltado pelo seu exército celestial.
Meg surgira logo atrás de seu mestre.
- Meu altíssimo, fiz o que me mandara.
- Muito obrigado, minha criança. Conto com a ajuda de Carmen. O anticristo se diz poderoso, mas a Nefilim possui um domínio superior a seus poderes. Percebi como ela ficou alterada naquele hotel, e por motivos supérfluos. Imagine quando realmente tiver motivos para se rebelar. Quero ter aquela criatura em meu poder na batalha.
Lúcifer tomou sua espada de fogo nas mãos. Ficou a observar o magnífico instrumento.
- E tenho que agradecer à Carmen por ter impedido meu querido irmão de pegar sua espada. Mesmo a querendo para propósitos contra minha pessoa, ela me fez um grande favor...
- Eu havia lhe dito que ela puxara isso da nossa família.
- Uma parte, mas o sangue que corre nas veias dela é o mesmo que de seu tio. E os Singer são tão audaciosos quanto nós.
- Meu mestre, se me permite o atrevimento, como vossa excelência fará a Nefilim se unir à nós?
Lúcifer não gostou da curiosidade do demônio, mas não quis se preocupar em repreendê-la.
- Usarei aqueles que ela mais ama contra si própria... Agora saia daqui.
Meg assentiu desaparecendo do quarto.
- Ah, Carmen... Você não perde por esperar... – O arcanjo sorriu, mirando a janela, olhando para o horizonte.

Hot Blooded

- Tudo bem, Dean, pode me atacar. – Eles estavam nos fundos da casa de Bobby, próximos às carcaças dos carros. Dean empunhava uma espada comum de anjo, que Castiel havia recuperado dos anjos mortos no Depósito Castelo. Sam também segurava uma, mas ele e Castiel estavam longe, assistindo ao desempenho de Dean. Carmen esperava que ele a atacasse. – Mostre o que você sabe fazer.
De espada em punho, Dean partiu para o ataque, erguendo a arma com as duas mãos sobre a cabeça. A nefilim partiu com velocidade e apoiou o punho da arma na barriga do homem.
- Nunca erga sua arma nesta altura como primeiro ataque. Faça isso, e Miguel vai acabar com você em segundos. – Ela recolheu a arma, ficando ao lado de Dean. – Tente fazer um movimento circular. – A mulher desceu a espada, descrevendo o movimento no ar, descendo do ombro à cintura. – Assim você consegue bloquear o ataque. Tente outra vez.
Dean repetiu o ataque, desta vez com o movimento ensinado. Carmen deixou que as espadas se chocassem, então iniciou a uma série de ataques sucessivos, sem que o homem estivesse preparado.
- Calma, calma! – Dean começou a protestar, mas Carmen não deu ouvidos.
- Não pare, Dean! Miguel não terá calma! – Ela continuou os ataques, obrigando Dean a se defender de qualquer maneira. Aproveitando o nervosismo dele, a mulher desapareceu, reaparecendo atrás de Dean, e apoiando a espada nas costas dele.
- Isso não é justo!
- Lição número dois: Arcanjos são trapaceiros! Agora, me ataque e não pare.
Sam observava a luta. Bobby apareceu trazendo duas garrafas de cerveja, e entregou uma delas para Sam.
- Como ele está indo? – Perguntou, tomando um gole da sua cerveja.
- Acho que bem... Alguma novidade?
- Rufus ligou.
- O que ele disse?
- Só que mais um dos nossos morreu. Um grupo de demônios os atacaram. O mundo está uma merda.
- Isso Dean, não pare. Mude de ataque, improvise! – eles ouviram a nefilim.
- Hey, Cass... – Sam chamou o anjo, que olhava concentrado para a luta. – Por que Carmen ficou naquele estado quando Kali falou do Gabriel? Será que eles tiveram alguma coisa?
- Não sei lhe dizer.
- Gabriel? O arcanjo? – Bobby perguntou, prestando atenção à conversa.
- Sim. Ela perdeu o controle quando a deusa começou a falar do Gabriel. Relatou os motivos porque o arcanjo não confiou em Carmen, algo assim.
Eles olharam para a mulher que golpeava Dean sucessivamente.
- O que quer que tenha sido, tenho certeza que ela e o arcanjo tinham uma ligação.
Naquele instante, a mulher dera uma rasteira em Dean e fincou a espada no concreto ao lado da cabeça dele.
- Cuidado com o movimento dos pés, e lembre-se... Trapaceiros.
Ela sorriu estendendo a mão para ajudar Dean a levantar.
- Então Sam, quer tentar? – Carmen perguntou enquanto Dean deixava o "campo de batalha", e ia sentar, com a respiração ofegante.
- Hum... Vou te deixar descansar.
A nefilim arqueou uma das sobrancelhas; era visível que a mulher não estava cansada, nem sequer transpirara e sua respiração era normal.
- Ta... – Ela riu, estranhando a desculpa do mais novo. – Castiel, quer fazer uma demonstração? Pelo que eu me lembro, acho que você estava querendo uma revanche daquele dia no hotel...
O anjo caminhou em direção à mulher, retirando a espada de dentro da capa. A nefilim sorriu, pegando a sua espada no chão.
- Vou fazer uma luta limpa. – Ela falou, girando a arma entre os dedos.
- Nunca acredite em um anjo quando se fala em luta limpa.
- Esperto.
Desta vez Carmen iniciou o ataque, descrevendo um círculo no ar, em direção ao rosto do anjo, mas o mesmo se defendeu, bloqueando o ataque.
Ambos persistiam em fervoroso duelo. Os gládios se encontravam. Carmen tentou avançar com um assalto na vertical, mirando a cabeça do anjo, depois na horizontal à direita e à esquerda. Castiel defendia com tanta força que o bloqueio era quase um ataque.
A luta não estava correndo como deveria; a nefilim se sentia fraca, como se de repente sua força estivesse escapando.
A nefilim se adiantou, tentando lançar outro golpe, mas a mulher baixou sua arma antes de encerrar o ataque, olhando para a própria barriga, onde na camiseta branca surgia marcas de sangue provenientes de um corte profundo.
Mas não fora apenas ali, em várias partes do braço e das costas outras marcas de sangue surgiam.
Todos no mesmo local onde Meg a perfurara com a lâmina da faca. Alguns respingos começaram a sair da sua boca.
- Bobby... – Sam chamou a atenção do homem, fazendo-o olhar onde os anjos lutavam. Na mesma hora Carmen caiu ajoelhada, segurando firme no ombro do anjo tentando se apoiar.
A profundidade dos cortes aumentaram, fazendo mais sangue escorrer pelos ferimentos e por sua boca.
Sem esperar os outros, Castiel tomou nos braços a nefilim, que se apoiou no sobretudo do anjo, fazendo o sangue manchar a camisa branca por debaixo do terno. Castiel deu meia-volta em direção à porta da cozinha. De posse da mulher, entrou pela sala, repousando-a no sofá.
A mulher estava prestes a desmaiar; muito pálida.
O anjo pegou uma tira grande de pano e rasgou, formando uma segunda tira; levantou a blusa da mulher até o corte em sua barriga, e começou a enrolar o pano em torno do tronco da nefilim, dando um nó ao término. Aquele era o pior corte de todo o corpo dela. Depois cuidou dos cortes do braço e das costas.
- Isso vai fazer o sangue estancar. – Falou ele, baixando a blusa dela sobre as tiras. – Logo, suas habilidades cicatrizarão os cortes.
- Como você pode fatiá-la inteira com sua espada, seu anjo desgraçado... – Bobby puxou o anjo pelo colarinho, fazendo-o ficar em pé. – Você está em minha casa, não tem...
- Robert... – Carmen conseguiu falar; a cor já estava voltando ao rosto, e um dos cortes no braço já estava cicatrizando. – Castiel não fez nada, foi Megan...
- Meg? O demônio? – Dean perguntou, raivoso. – Mas como?
- Enquanto eu estava desmaiada, ela... De alguma forma, conseguiu capturar a minha alma no subconsciente, e decidiu iniciar uma sessão de tortura...
- Como assim? – Dean parecia confuso.
- Uma das fraquezas do nefilins, Dean, é que... Corpo e alma são um só.
- Mas se ela tinha sua alma, por que não te matou? Não que eu quisesse que isso acontecesse... – Dean emendou.
- Pelo visto eu sou muito valiosa para eles... Sam e Castiel viram no que posso me transformar e Lúcifer não iria querer perder esta arma.
Sam e Dean se entreolharam; parecia que as coisas só complicavam.
- Bom, Castiel, você treina os rapazes, eu vou encontrar Rufus, ele diz ter algumas pistas de onde o capeta está...
- Eu te ajudo... – A nefilim tentou levantar, mas a dor não permitiu.
- Você vai ficar aí. – Bobby a censurou. – Não quero recolher seus pedaços depois.
Falando isso ele saiu, pegando a chave da van.
- Você vai ficar bem? – Sam perguntou, antes de sair com os outros pela porta dos fundos.
- Vou sobreviver. Obrigada.
O homem sorriu; Gostava da nefilim. Há tempos não tinha alguém com quem conversar, e Sam a considerava como uma irmã. Saiu da casa, indo à sua primeira luta.
Carmen não viu outra saída, e encostou a cabeça no braço do sofá, fechando os olhos. Minutos depois, ou foi o que lhe pareceu, acordou. Sentia-se melhor, embora parecesse que não dormira nem dez minutos. Levantou, reparando que já era noite. Quantas horas dormira?
Nenhuma luz na casa estava acesa; deduziu que Sam e Dean estavam dormindo. Depois de dias, finalmente eles puderam descansar. Pisava com leveza no assoalho, sem fazer barulho. Abriu a porta da geladeira pegando uma jarra com água. Sentia a boca seca, tomando quase todo o líquido do recipiente.
Um vulto sobre os carros chamou sua atenção. Olhou através da janela, e viu que no alto de uma das pilhas de carros, um homem de sobretudo bege estava sentado.
A nefilim saiu; Estava frio, e como uma reação comum, ela colocou as mãos sobre os ombros, tentando se proteger dar rajadas do vento.
No momento seguinte, ela estava sobre uma das pilhas de automóveis. Podia ver o anjo sentado sobre o capô de um deles, olhando fixamente para as estrelas.
- Posso lhe fazer companhia? – A mulher perguntou, aparecendo em pé ao lado dele.
O anjo apenas assentiu com a cabeça, sem desviar o olhar do céu. Carmen sentou ao lado dele, observando o céu também, sem nada dizer.
- Obrigada... – Ela falou, depois de um longo silêncio.
- Pelo quê? – Ele perguntou, ainda olhando o céu.
- Por ter me ajudado hoje... E por ontem também, no hotel...
- Não precisa agradecer.
- Na verdade, preciso... Foi minha culpa, se eu tivesse te escutado não teria atacado a mulher... Foi irracional. Eu perdi o controle quando ela mencionou Gabr... – Ela parou de falar quando percebeu que iria mencionar o arcanjo, mirando o céu novamente.
Isso chamou a atenção do anjo, que olhou para ela.
- Por que o arcanjo afeta você? – Ele perguntou abruptamente, lembrando do que Sam falara para Bobby naquela manhã.
- É um assunto delicado... – A mulher hesitou, pensando se falaria algo para o anjo. – Mas... Acho que devo uma explicação. Gabriel me ajudou numa hora em que ninguém mais o fez. Foi há nove anos.
"Estava prestes a morrer nas mãos de demônios, e ninguém do céu quis me ajudar... Só Gabriel. Esse era o maior defeito dele... A compaixão. Gabriel amava os humanos, mais do que seus próprios irmãos; ele amou os humanos como seu pai amou. Depois que Gabriel me ajudou, eu não me separei dele. Eu o amava, mas o arcanjo amava outra pessoa. Tentei fazê-lo me amar, mas ele me via como uma irmã. Por fim, deixei de amá-lo desta maneira, aceitando-o como um amigo. Ele dizia que eu era como pavio de pólvora, a qualquer momento podia explodir... Ele confiava em mim mais que tudo."
- Mas não o suficiente para deixar a espada com você.
- Verdade... – Ela sorriu com tristeza. – Ele teve motivos. Sabia que eu era instável. Temeu que eu tivesse uma recaída e entregasse a espada para um dos arcanjos. Não o culpo.
- Então você não o ama mais? – Ele perguntou, tentando entender.
- Apenas como irmão... E acho que sempre foi assim.
Eles ficaram em silêncio novamente. Carmen olhou para o anjo, percebendo algumas diferenças entre ele e o arcanjo morto. Castiel percebeu que ela o encarava.
- O que foi?
- Você é diferente dos outros anjos, até de Gabriel... Você é muito mais... Humano.
- Os outros também achavam isso... Tanto que me expulsaram do céu.
- Eu sinto muito por isso. Sei que deve ter sido difícil...
- Você avisou que isto aconteceria.
- Mesmo assim, é um golpe e tanto. Sinto muito mesmo. – Ela reforçou.
- Eu vou sobreviver. Passei por isso uma vez, posso passar por uma segunda.
- E quando tudo acabar... Você vai retornar aos céus?
Castiel ficou em silêncio, tentando achar uma resposta coerente.
- O certo a fazer seria isso, mas... Não consigo me ver lá. Claro que não consigo viver sem meus poderes, mas acabei me apegando aos humanos, ao modo de vida deles. Estou quase aprendendo a mentir. Já fiquei bêbado, embora não recomende este último...
- Este é o jeito Dean Winchester de viver a vida. Mentiras, bebidas e mulheres, sem nunca estar realmente satisfeito. Tenho pena dele...
- Mas não é assim que deve ser?
- Ah, não! Você conhece apenas o modo deles de se viver. Sam, no entanto, é um pouco diferente de Dean, mas ainda assim, não é o melhor exemplo que temos. – Ela sorriu. – Você ainda não compreendeu as emoções.
- Como assim? – Ele a olhou, estranhando a afirmação da mulher.
- Veja o meu caso, Castiel, as emoções são coisas que me afetam mais do que a qualquer outro. São as mesmas emoções, porém mais intensas. Os humanos não conseguem viver sem elas... Alegria, ódio, tristeza, paixão...
- Isso eu entendo. Apenas não sei reconhecer uma emoção, como elas nos afetam... Na verdade, como afetam a mim.
A mulher ficou em silêncio, aparentemente sem ter uma resposta. Desviou o olhar do anjo, procurando as respostas nas estrelas; era uma noite estranha. Não havia nuvem alguma no céu, parecendo que estavam em um campo, em que as estrelas aparecem muito mais claramente do que quando vistas da cidade. O rosto da nefilim se iluminou como se uma delas tivesse lhe dado a resposta de que precisava.
- Tive uma ideia. Vamos até a sala, acho que posso lhe mostrar o que quero dizer.
Ambos sumiram, reaparecendo na sala de entrada. Carmen fechou a porta de correr que dava acesso ao escritório e às escadas.
Andou até o outro extremo do cômodo, onde havia um piano de armário antigo, em que a mulher de Bobby costumava tocar. Carmen sentou no banquinho defronte ao instrumento, abrindo-o; uma fileira de teclas brancas e pretas se seguiam. Por último testou os pedais, pedindo para que o anjo sentasse ao seu lado.
- Não compreendi. – O anjo falou, sentando ao lado da mulher.
- Calma, logo vai entender. – Os dedos da moça começaram a percorrer várias teclas, como se eles dançassem formando uma melodia que tomou conta do silêncio do local. – Eu costumo dizer que a música é o que mais se aproxima à voz de Deus.
A melodia começava a tomar forma. Notas suaves eram formadas, mas não felizes, e sim tristes com uma tonalidade doce, em que a delicadeza era marcante, sem deixar que se tornasse alegre. Algumas das notas eram tocadas ansiedade, mas que ao fim eram infelizes. Castiel fechou os olhos, deixando a música penetrar em seus ouvidos, causando sensações estranhas e novas em seu ser; sentia-se flutuar, porém não era Deus que imaginava.
Em sua mente, as feições da nefilim tomavam seus pensamentos, e a cada nota tocada imaginava a mulher, em sua forma mais sensível e doce.
Tornou a abrir os olhos e a via dedilhar as teclas, com a mesma suavidade que a imaginara, contemplando seu rosto. Fora a primeira vez que realmente a via; os cabelos caindo pelos ombros, a suavidade da pele rosada nas maçãs do rosto, os lábios perfeitamente desenhados, e os olhos numa tonalidade de verde e azul que se igualava à do mar. Castiel ansiava poder tocar-lhe a face, senti-la.
A música se finalizou quando as últimas notas foram tocadas, e a mulher olhou para o anjo. Ela pôde notar algo diferente nele, e isso a alarmou.
Antes, porém, que ela pudesse dizer algo, o anjo se aproximou dela, segurando seu rosto entre as mãos; o toque dele provocou uma ardência em sua pele, provavelmente ficando um pouco avermelhada. O rosto do anjo estava próximo ao de Carmen; ele pôde sentir o aroma doce da boca dela. Sensações novas e desconhecidas tomaram conta dele quando seus lábios se tocaram. O beijo que se sucedeu foi calmo e extremamente doce; aquilo era tão novo para Castiel quanto para a nefilim.
Aquele momento poderia ter durado dias, meses, anos ou até séculos, mas durou alguns instantes. Rápido demais, ele soltou o rosto da mulher, separando-se dela.
- Me perdoe. – O anjo levantou o rosto, vestindo aquela máscara quase indecifrável novamente. – Eu voltarei em alguns dias. Quando tiverem alguma informação, me chamem.
E no mesmo instante, o anjo desapareceu com o farfalhar de asas.
Carmen permanecera sentada, olhando para o lugar onde Castiel sumira. Estava estarrecida; mal conseguindo piscar. O que havia acontecido? A nefilim ainda podia sentir o toque dos lábios suaves dele nos dela. Seu coração começava voltar ao ritmo normal. Foi deitar no sofá da sala, mas não conseguiu fechar os olhos; ficou durante horas com seus pensamentos no anjo. Ela sabia desde o começo que se apaixonara, mas não imaginava que isso acontecera com ele também. Era óbvio que não, ela só podia estar louca. Mas isso não explicava o beijo. Mesmo que o anjo sentisse algo, seria impossível. Sabia qual era o seu destino. Não sabia como, mas sabia o que um dia iria lhe acontecer, querendo ou não. Depois de horas, finalmente adormeceu.




"Adeus, babaca! – disse Dean, empurrando o sujeito..." - Isto está uma droga. – Chuck apertou a tecla delete, deixando pressionada até que tudo naquela página se apagasse. – Eu costumava escrever coisas melhores...
Pegou o copo de bebida sobre a mesa, terminando de tomar o whisky nele.
- Por que a bebida sempre acaba? – Falou irritado. O telefone começou a tocar ao lado do notebook. Chuck pegou o aparelho e sem olhar o número, atendeu. – Quem é?
- Nossa, você me odeia tanto assim? – A voz de Dean saiu do fone.
- Dean! Não, me desculpe... É que as coisas andam complicadas por aqui.
- Começou a ter visões novamente? Tem alguém que quer falar com você...
- Oi, Chuck! É a...
- Carmen? – Chuck reconheceu a voz da mulher. – Você está bem?
- Suponho que sim. Escrevendo muitas coisas a meu respeito?
- Na verdade, até demais. Mas não estava esperando essa ligação...
- Pois é... Mudança de plano. A terceira trombeta acabou de tocar, e nós estamos sem nenhuma referência de onde acontecerá a batalha...
- Eles estão tentando evitar deixar rastros... Você sabe, por causa de Sam e Dean. Você sabe a importância deles, e com você por perto, tudo se complicou. A batalha acontecerá em Oregon.
- Oregon, certo. E você sabe quando devemos partir?
- O diabo estará lá ao soar da quinta trombeta. Mas Carmen, é melhor você...
- Ta certo, obrigada.
- Carmen espere! – O telefone ficara mudo. – Merda!
Chuck jogou o aparelho sobre a mesa, fechando as mãos sobre o rosto, visivelmente preocupado.
- Você não pode ficar aí, Carmen... – Mas de nada adiantava falar agora.

Carmen apertou o botão de desligar do celular de Dean, devolvendo o aparelho para ele. Dean o pegou, olhando com uma sobrancelha arqueada para o celular, em seguida para a mulher.
- Você desligou na cara dele?
- Não! O que te fez pensar isso?
- Não sei, talvez pelo "Carmen, espere!".
- Eu não ouvi. – Ela desviou o olhar, convencida de que ele estava ouvindo coisas. – Pois bem, a batalha será em Oregon, em meio à floresta. Devemos partir ao soar da quinta trombeta.
- Quinta? Meu Deus, já não basta terem acabado de destruir uma parte da China? – Bobby falou.
Carmen deu de ombros, enquanto Sam vasculhava sua agenda telefônica no celular.
- Devemos ligar para o Cass. – Sam falou, discando o número. – Tem dois dias que ele não dá sinal de vida. Hey Cass, pode vir aqui? Sim, estamos na casa do Bobby.
Meio segundo depois, o anjo apareceu.
- Finalmente! Tava sumido! – Dean falou, se jogando no sofá. – Andou fazendo o que?
- Coisas. – Fora a única coisa que Dean obteve como resposta. – O que descobriram?
- Conte a ele, Carmen.
O clima no local mudou de uma hora para outra; uma tensão tomou conta de Carmen. A mulher não sabia como agir diante do anjo; ele, no entanto, não demonstrava nada.
- Bem... – A nefilim sentiu a boca ficar seca. – Chuck nos falou que... Que acontecerá em Oregon. Ao soar da quinta trombeta, devemos partir.
- Carmen, você está bem? – Bobby perguntou, olhando apreensivo para a mulher. – Você está vermelha...
- Eu? Vermelha? – Ela deu uma risada forçada, colocando a mão sobre o rosto, sentido a pela arder. – Deve ser o calor...
Era uma boa desculpa, pois estava realmente quente, mas ela sabia que não era isso. A presença do anjo a deixara daquele jeito.
- Você está esquisita. – Dean comentou, olhando para a mulher do mesmo jeito que olhara para o celular, minutos antes.
- Eu vou tomar água. – Falou, saindo do escritório o mais rápido que pôde.
Fechou a porta que dava acesso do escritório para a cozinha. Pegou um copo e encheu-o de água até a borda.
- Se acalme... Isso não ajuda em nada. – Falou para si mesma, tomando um gole enorme do líquido. – Isso é loucura!
- Talvez não seja...
Carmen viu pela janela o reflexo do anjo parado próximo à porta atrás de si. Ela virou, para olhá-lo.
- Castiel, me desculpe. Foi minha culpa, isso nunca poderia ter acontecido... Não é certo...
- Acho que nenhum de nós pode ser considerado um modelo do que é certo.
- Não complique as coisas. O Apocalipse está sobre nossas cabeças... Já temos problemas suficientes.
- Não estou tentando complicar nada, só quero esclarecer.
- Então deixe-me esclarecer. Isso não está certo. Não pode dar certo...
- Por que não?
- Porque no final, morrerei. Eu sei disso.
- Eu nunca vou deixar isso acontecer com você.
- Mas vai acontecer, Castiel. De um jeito ou outro. Só peço para que trabalhemos como um time. Nada mais. Não pode dar certo.
O anjo suspirou, caminhando até ela; era incrível como o seu semblante sério se desfazia diante da mulher. Pousou a mão delicadamente em seu rosto.
- Eu nunca vou te deixar morrer. – Ele repetiu.
A nefilim suspirou. Não adiantaria discutir. Afinal, como aquilo fora acontecer? Não era o anjo que a odiava?
- Pensei que era você quem queria me matar...
- As cosias mudam... Os opostos se atraem. – Ele aproximou novamente o rosto do dela, como fizera na outra noite.
- Castiel, por favor... – Ela pediu novamente. O anjo parou, seu semblante voltando ao normal. Naquele momento a campainha tocou.
Ambos abriram a porta de correr, indo para a sala, onde Bobby e Sam já estavam de prontidão, um segurando uma arma e o outro a faca de Ruby, respectivamente. Dean era o que estava mais próximo à porta e quem a abriu, apontando a arma para o sujeito.
- Vejam quem chegou para fazer parte da festa! – Um homem de mais ou menos 1,84, loiro e de olhos castanhos, estava parado diante deles. – Agora o show pode começar!
Ninguém estava acreditando no que viam. Aquilo era logicamente impossível.
- Gabriel? – Dean perguntou, quase com uma exclamação.
O arcanjo sorriu para o homem, entrando na casa.

Capítulo 4

- Atenção! – bradou o Arcanjo Miguel. Todos os anjos pararam para ouvi-lo; mais de mil anjos compunham a tropa; uma grande parte daqueles soldados não acompanharia o arcanjo na batalha direta, pois se espalhariam em várias partes do mundo, onde outras batalhas entre demônios aconteceriam. – A batalha do Armagedon está próxima! Eu conto com a força e habilidade de vocês para darmos um fim a isto. Para que derrotemos cada inseto, cada um desses homens de barro, cada demônio, para que meu irmão caia em desgraça novamente, ou morra por toda a eternidade. E se isso inclui destruir a maior obra de meu Pai, que assim seja.
"Pois tudo está escrito. Foi tudo previsto pelo Criador. E se esta fora Sua ordem, que Sua vontade seja feita!"
O arcanjo brandiu no ar sua nova espada, não tão boa ou habilidosa quanto a original, mas que bastaria para acabar com qualquer um que cruzasse seu caminho.
- Meu amo... E quanto aos Winchester?
- Eles não serão problema. – O arcanjo falou, voltando-se para os outros anjos. – Mas se algum Winchester ou qualquer aliado deles, seja este um alado ou não, deverá ser punido pelo que fizeram a mim! Pelo que fizeram a nós! Ao soar da sexta trombeta partiremos, cada qual para o seu destino. Sessenta de vocês virão comigo, em direção a Oregon, onde se decidirá a batalha. Onde o Juízo Final terá início.
Os anjos responderam com um clamor estrondoso, que ecoou pelo espaço infindável.

Ghost of you

- Gabriel? – Dean perguntou, quase numa exclamação.
O arcanjo sorriu para o homem, entrando na casa.
- Mas que droga! – Sam andou chegando próximo ao Arcanjo. – Não é possível.
- Ora Sammy, claro que é! Você e Dean já não morreram várias vezes e voltaram para contar a história?! Eu vim contar a minha.
- Como?
- Deus. Papai me trouxe de volta, Dean.
- Mas isso não prova que você é você mesmo.
- É ele, Dean. Posso sentir a aura. – Castiel falou, aparecendo na sala. – Cada anjo tem a sua, e uma é diferente da outra.
- Exatamente, Cass! – O anjo concordou, estralando os dedos.
- Sentiram minha falta?
- Gabriel?! – entrou na sala, logo atrás de Castiel.
- Olá!
A mulher sorriu, começando a chorar, e correu até o arcanjo, envolvendo-o em seu braços num longo abraço.
- Eu não acredito que é você mesmo! – segurou o rosto do arcanjo entre as mãos, examinando-o, observando cada detalhe, como se não acreditasse no que via.
- Eu disse que nunca te deixaria, não disse? – Falou, beijando a palma da mão da mulher. – Então, como estão os preparativos para a Grande Festa? – Perguntou, segurando nos ombros, como num meio abraço, ficando de frente para os outros.
Todos naquela sala tinham uma expressão estranha, mas nenhuma delas, de Sam, Dean ou Bobby se comparava à de Castiel. Parecia que ele estava a ponto de atacar o recém chegado. Como se o maior desejo dele fosse ter o sangue do arcanjo escorrendo pelas suas mãos.
teve apenas um relance daquela visão, pois em segundos o anjo voltou a ter sua expressão normal, controlada.
Eles passaram o dia relatando para Gabriel como estavam se preparando para a batalha do Apocalipse, quando sairiam da casa do Bobby e para onde iriam.
Já era passado da uma da manhã, quando todos foram se deitar, menos e Gabriel. Os dois ficaram sentados na sala conversando.
- Você não mudou nada! Só envelheceu um pouco...
- Não me chame de velha! – Ela riu, segurando a mão do arcanjo. – Você também não mudou... Afinal, como conseguiu achar o seu antigo receptáculo?
- Por aí... Eu gostava desse, me deixa sexy...
Isso fez com que risse escandalosamente.
- Ah Gabriel, tinha me esquecido como você me divertia. Senti a sua falta.
- E eu a sua, minha querida. Deixo você sozinha por apenas dois anos e veja o que acontece!
- Você sabia que eu era um ímã para problemas...
- Ainda é! – O arcanjo falou, ficando sério. – Você matou Kali. A minha Kali.
estranhou ter mencionado aquilo, o sorriso desaparecendo do rosto.
- Como?
- Não se faça de santa, você a matou. Eu a amava.
- Ninguém mandou você deixar a espada com ela.
- Eu não podia deixá-la com você. Mas por que a matou? Você traiu a mim, e sabe que nunca te perdoarei por isso, não sabe?
- Me desculpe, Gabriel. Mas eu tive motivos...
- Tendo motivos ou não... – O arcanjo não concluiu. – Eu ainda amo você, mas nunca vou te perdoar por matá-la.
A nefilim soltou a mão do arcanjo e saiu da sala; não tinha raiva de Gabriel, tinha raiva de si mesma. Ele tinha razão, sempre tivera, e ela fez errado ao matar aquela mulher. Subiu as escadas, deixando o arcanjo sozinho.
Gabriel se levantou, mas ficou parado no meio da saleta.
- Castiel, Castiel... Não sabe que é falta de educação ouvir a conversa dos outros?
O anjo apareceu atrás do arcanjo, as mãos dentro dos bolsos do seu sobretudo bege.
- Afinal, você está fazendo o que? Me vigiando?
- Não tenho motivo algum para vigiar você.
- Ah... Você está vigiando ela, não é isso? – Gabriel olhou para cima, imaginando onde estaria deitada. – Quem diria que você se apaixonaria? E por um nefilim!
- Isso não é da sua conta.
- Estamos curtos e grossos hoje! O que foi? Incomoda saber que a antiga paixão de voltou?
- Fique longe dela!
- Isso é uma ameaça? – O arcanjo sorriu irônico.
- Afinal, por que você jogou a culpa nela? Que nunca a perdoaria pela morte da deusa? Quase perdemos naquele dia. O que você pretende fazer? Abalá-la novamente?
- Me desculpe, prometo não fazer de novo, está bem? – Gabriel falou com desdém. – O que foi? Não confia em mim?
- Nem um pouco. – Falou, desta vez desaparecendo de vez.
No momento em que Castiel sumiu, os olhos castanhos do arcanjo ficaram vermelhos, seu rosto convertendo-se num sorriso demoníaco.
Na manhã seguinte, todos foram acordados pelo barulho de trovoadas. Chovia forte, e várias rajadas de vento faziam as árvores ali perto balançaram violentamente.
- Estamos ficando sem comida, água, cerveja... – Bobby falou olhando a geladeira praticamente vazia. – Vocês têm que ir comprar. – Falou para Sam e Dean.
- Ah, qual é Bobby, temos que ir? – Dean falou olhando pela janela. – Ta a maior chuva lá fora.
- Se você não quiser morrer de fome, sim!
- Pode deixar, eu vou. – se prontificou, Dean a agradeceu pelo olhar.
- Tem certeza?
- Sim. Não aguento mais ficar dentro de casa. – Falou, levantando e colocando uma jaqueta verde. – Volto antes do almoço.
E falando isso, desapareceu, reaparecendo com um guarda-chuva preto, aberto sob sua cabeça. A chuva caía com força, enquanto ela andava pela calçada. Poderia ter ido direto à loja, mas preferiu andar um pouco, aparecendo alguns quarteirões antes do destino.
O barulho do seu salto fazia com que a água acumulada em poças espirrasse em sua calça. Parou então de andar; era a única pessoa que se aventurou a andar na rua debaixo da chuva.
- Resolveu ficar me seguindo novamente? – Ela falou em voz alta; não havia uma pessoa sequer ali além dela. – Esqueceu o que aconteceu da última vez?
- Não me esqueci. – Castiel falou, aparecendo ao lado da mulher, tomando o guarda-chuva das mãos dela, protegendo os dois do aguaceiro. – Você ainda me deve uma luta. A última não valeu.
- É verdade, tenho que anotar na minha agenda. – Voltou a andar, um pouco mais devagar, para acompanhar o passo dele, caso não quisesse se molhar. – Mas por que voltou a me seguir? Deixou de confiar em mim?
- Não, em você confio. Não confio no arcanjo.
- Gabriel? Por quê?
- Por onde eu devo começar? – Castiel falou, tentando ser sarcástico, mas não tendo muito sucesso. – O jeito como ele chegou à casa do Bobby. Afinal, como sabia que estávamos lá? O que eu estranhei também foi ele não perguntar pela sua espada, afinal todo arcanjo que se preze gostaria de saber da sua arma. Cada arcanjo é ligado através da sua aura com a espada. E eu... – O anjo parou de falar, assumindo suas feições sérias, preferindo guardar para si a terceira crítica.
- Você o que? – A nefilim incentivou o anjo a continuar.
- Eu não gosto do jeito que ele te trata.
- Como assim?
- Ontem ele ficou te culpando. Dizendo que você não podia ter matado a deusa Kali.
- Espera um pouco... Você estava ouvindo? – parou de frente para o anjo, mantendo os olhos grudados nos dele.
- O que? Não... Claro que não...
- Castiel, depois de todo esse tempo com os meninos, você ainda não aprendeu a mentir. – sorriu, mas logo ficou séria. – Mas Gabriel estava certo, eu não devia...
- Era isso o que ele queria fazer. – O anjo falou. – Fazer você se sentir culpada.
- Claro que não! – A mulher achou ridícula a desconfiança dele. – De onde você tirou essa ideia? Tem mais alguma coisa para falar contra Gabriel?
- Não gosto do jeito que ele te olha, nem de como te abraça...
- Castiel, você está com ciúmes? – cerrou os olhos, conseguindo ver no rosto dele alguns traços do ciúmes. – Ele é como um irmão para mim.
- Então me diga por que você está me rejeitando.
Ela suspirou, vendo que ele ia retomar aquela conversa.
- Pensei que já tínhamos falado sobre isso. Não quero trazer mais problemas.
- , problemas temos de monte. – O anjo a puxou pelo braço, entrando numa rua lateral, debaixo de uma marquise. – Me diga a verdade, por quê?
De nada adiantaria ficar insistindo naquela desculpa; os olhos azuis do anjo eram intensos, ela não conseguiria mentir mesmo se quisesse.
- Eu tenho medo. Medo que no final alguém se machuque. – Ela suspirou, tentando ser bem clara. – Gabriel me magoou uma vez. E essa é uma dor que eu jamais gostaria de sentir novamente. Ainda mais agora, em que estou muito mais vulnerável.
- ... – O anjo pousou a mão sobre o rosto da mulher; por mais inexperiente que fosse, ele parecia entender perfeitamente como agir. – Eu jamais faria isso com você. Jamais conseguiria te deixar. Eu sei que parece estranho dizer isso, mas há tempos eu não sentia como era ter uma alma, e você fez isso renascer em mim. Você é minha alma. E Gabriel é um ser demente, e ele ter te deixado só prova isso.
- Castiel, eu não sei...
- Se você não me quer, é só dizer. Diga, deixarei você em paz. Prometo. Só diga. É isso? Você não me quer?
A mulher ficou em silêncio, não por não saber a resposta, ou por querer negá-la; da sua decisão ela não tinha dúvida, mas ficou em silêncio pensando no que era certo. Sua mente, dizia o que era o lógico, porém seu coração só fazia as coisas se complicarem.
O anjo entendeu que o silêncio fosse uma negação à sua pergunta.
- Tudo bem, vou saber respeitar a sua decisão, se for o que você quer. - O anjo fez menção de sair andando de volta a rua principal.
Porém não permitiu que ele o fizesse. Puxou o anjo pela mão, e seus lábios encontraram os dele, de forma muito gentil. Ela pôde sentir cada parte de seu corpo queimar; seu coração acelerando. Os lábios dele desistiram dos dela, e a boca seguiu a linha do queixo, depois explorou seu pescoço, por fim encontraram a sua orelha.
- Eu nunca vou te magoar , nunca. – Sussurrou com a voz rouca.
o abraçou com força, repousando o queixo sobre o ombro dele. Pela primeira vez em séculos, se sentiu segura. Agora ela poderia ter alguém ao seu lado com que pudesse contar em todos os momentos.
- Amo você desde o primeiro momento em que te vi – Ela revelou; O que não era nenhuma mentira, pois desde que seus olhos se cruzaram na casa de Bobby e da luta que tiveram no estacionamento, ela não tirava o anjo de seus pensamentos, por menores que eles fossem. – Não me deixe. – Sussurrou, fechando os olhos, ainda envolta nos braços dele.

Longe daquele lugar, a China preparava um ataque nuclear; A aliança entre o Estados Unidos e a Europa atiçara os nervos dos chineses, russos e coreanos do norte. Minutos depois um míssil fora lançado.
A explosão abateu-se sobre o parlamento inglês. Londres estava em chamas. O míssil passara despercebido pelos radares ingleses, atingindo a capital britânica.
Na rua, sob a marquise, e Castiel puderam ouvir o barulho estridente da Quarta Trombeta. A nefilim e o anjo cambalearam por causa do zunido, mas se recuperaram de prontidão. Aquele som tinha sido muito mais forte do que os outros.
- Nós temos que ir. – Castiel falou, ambos sumindo.
- Ela está demorando muito! – Sam falou, olhando para o relógio que marcava duas horas da tarde.
- Verdade. Eu tô com fome. – Dean reclamou.
No mesmo instante os dois anjos apareceram; largou duas sacolas cheias sobre a mesa.
- Temos que nos apressar. A quarta trombeta foi tocada. – A mulher falou. – Vamos arrumar tudo. Partimos hoje à noite.
- Onde está o arcanjo? – Castiel perguntou, reparando que o alado não estava ali.
- Ele não estava com vocês? – Sam perguntou, abrindo uma das sacolas e tirando um pote com salada de dentro.
- Não...
- Até o fim do dia ele aparece. – Dean falou, pegando o sanduíche que Sam lhe entregara. - Ele quem? – Gabriel perguntou, surgindo ao lado de .
- Falando no diabo...
- Onde você estava? – foi a primeira a perguntar. – Ouvir o soar?
- Ouvi sim, minha querida. – Ele falou, sem responder à primeira pergunta. – Acho bom começarmos a encher o carro, a viagem vai ser um saco...
- Eu te ajudo. – Sam se prontificou, pegando a chave do Impala, e saindo para os fundos com o arcanjo.
Durante o resto do dia eles ficaram estocando armas e produzindo balas com sal, para o caso de algum demônio aparecer.
Já era quase onze horas quando terminaram. Apenas ficara do lado de fora, terminando de arrumar as coisas, enquanto os outros foram esperar do lado de dentro.
Dean mudava de canal freneticamente.
"Os ingleses prometem uma investida violenta contra os países Asiáticos."
"Um terremoto com magnitude de 8,9 graus na escala Richter assolou a costa nordeste do Japão e gerou um tsunami de dez metros que arrastou cidades litorâneas próximas ao epicentro."
"Um homem invade escola no Brasil, mata 10 crianças e fere outras 10."
"O fim do mundo..."
- Desligue isso! – Bobby falou. Dean obedeceu, desligando a televisão.
No pátio, conseguiu ouvir as várias chamadas dos noticiários; pôde ouvir passos se aproximando. Olhou para a direção de onde eles vinham e pôde ver Castiel se aproximando. Ela andou até ele, parando à sua frente, beijando-o.
Porém ele não retrubuíra. Ficara estático, sem se mover.
- Você está bem? – Ela perguntou, reparando no jeito dele.
Um sorriso feio se formou no rosto do anjo.
- Você é realmente uma criatura medíocre. Sabia disso?
- Como?
- Não se faça de boba. Me diga, o que realmente te fez pensar que um dia eu poderia sequer gostar de você? – Ele falou cruzando os braços. – Você é um nefilim! Só por isso meio universo já te odeia! Mas o que te fez pensar que comigo seria diferente?
- Castiel, pare com isso...
- E eu não sou o único! Vamos fazer uma lista. Vejamos... Acho que eu nem preciso mencionar sua mãe e seu pai, certo? Ambos morreram por causa da filha. Bobby simplesmente tem nojo só de olhar para você. E pensar que você achava que ele te consideraria como uma sobrinha. Você matou a única irmã dele.
"Sam e Dean... Se tivessem a chance, já teriam te matado no momento em que entrou pela porta. Você trouxe o Apocalipse de volta, está os obrigando a lutarem contra os Arcanjos, que é sentenciar a própria morte.
“Seu querido Gabriel... Na verdade, você sempre foi uma pedra no sapato dele. Uma carga que ele era obrigado a carregar. Ele nunca amou você, nem como irmã, e ainda por cima você mata a mulher que ele amava. E te digo uma coisa, se eu fosse ele, já teria acabado com você."
- Castiel, por favor, pare. – Lágrimas começavam a escorrer pelo rosto da mulher.
- E eu jamais iria amar uma criatura como você. – O anjo continuou, rodeando a mulher, deixando-a de costas para a casa. – Nós anjos odiamos a sua espécie. Vocês são parasitas, uma praga. Ninguém aqui precisa de você. Ninguém.
não conseguiu suportar tamanha dor que rasgava sua alma. Um grito estridente e aterrorizante saiu da boca da mulher. Um grito de puro ódio. Cada parte do seu corpo queimava, seus olhos ficando negros como a noite; suas asas se abriram e como da última vez, suas penas brancas começaram a escurecer, porém numa velocidade muito maior; seu cabelo loiro esvoaçavam em torno de seu rosto, algumas veias surgindo em sua testa.
Ao ouvirem o grito, Sam, Dean, Bobby e Castiel saíram correndo da sala até o pátio dos carros para ver o que estava acontecendo. Ao chegaram lá, só tiveram a visão das costas da mulher, suas asas completamente negras, e no braço nu dela algumas veias se destacavam tão negras quanto as asas.
- Puta merda... – Dean exclamou. Ele e Bobby não tinham presenciado aquilo antes.
A mulher não vira o grupo reunido ali, levantando vôo. Naquele instante a quinta trombeta soara.
Agora havia apenas um homem ali. Um homem idêntico a Castiel, exceto nos olhos, que eram de um vermelho sangue.
Sam olhou assustado para Castiel parado ao seu lado e o outro à frente deles.
- Que merda é essa?
- Calma Sammy, eu não sou o Castiel. – O homem no meio do pátio se pronunciou. Seu rosto começou a se deformar, assumindo a aparência do arcanjo Gabriel.
- Gabriel? – Dean perguntou, mais confuso ainda. Por que o arcanjo faria algo assim?
- Opa, opção errada! – Agora porém, diante deles estava o verdadeiro impostor. O anticristo.
- Jesse!?
- Agora sim. – Falou arrumando a gola da camisa. – Rapazes, o nosso último encontro foi tão rápido! Nem pudemos conversar direito.
- O que você fez com minha sobrinha? Seu desgraçado!
- Eu fiz? Foi ela quem fez isso a si própria. – O anticristo apontou de modo teatral para a direção em que ela sumira. – Bom, é claro que eu dei uma forcinha.
- Seu filho da p...
O anticristo apontou o dedo para Dean fazendo ele se silenciar.
- Bom, eu não posso perder tempo aqui, afinal faltam apenas duas trombetas. E eu tenho que me unir à minha irmãzinha. Talvez nos vejamos no campo no campo de batalha... Ou não. Depois disso, seria muita audácia e burrice vocês irem até lá.
Castiel tomou sua espada nas mãos, partindo em direção do demônio, mas ele já havia desaparecido.
- E agora? – Sam passou os dedos por entre as mechas do cabelo, visivelmente nervoso, porém mais do que isso, sentia-se esgotado.
Ninguém respondeu nada, ainda chocados com o que acabaram de presenciar. Sem dúvida a batalha estava perdida. Agora que estavam sem o apoio da nefilim, tudo se desmoronara em suas cabeças.
- Agora não resta mais nada a fazer. O desgraçado está certo, será uma burrice irmos até lá. Estaríamos nos entregando de braços abertos à morte. - Bobby falou.
- Mas e ?
- Acabou! – Dean salientou com raiva. – Não temos a menor chance, Bobby está certo.
- Não Dean, nós vamos lutar! – Castiel falou, indo até o grupo. – Vocês iriam lutar sozinhos de qualquer maneira.
- Mas e ? – Dean repetiu a pergunta de Sam.
- Eu cuidarei da nefilim. – O anjo falou, a voz seca, seu olhar parecia pesar quilos. – Nós temos que ir.
Em alguns minutos Dean e Sam percorriam a estrada no Impala, seguidos por Bobby e Castiel no furgão.

estava invisível no céu, voando ao encontro de seu novo mestre. O equilíbrio da nefilim se esvaíra por completo, e o que todos temiam acontecera. Agora nada faria ela voltar a ser o que um dia fora. Sua alma jamais conseguiria se recuperar. O dano já estava feito. A criatura não possuía sentimento algum além do ódio; virara uma máquina guiada pelos demônios. Sua mente, que era o que mantinha a nefilim consciente de seu equilíbrio não mais existia.
A mulher se aproximava de um terraço em um pequeno prédio. Ela não estava sozinha.
O arcanjo sombrio a esperava. A nefilim pousou sobre o concreto, caminhando ao encontro do arcanjo, ajoelhando perante o mestre, as asas dobradas para trás, demonstrando respeito.
O arcanjo olhou para a nefilim com uma mistura de cobiça e nojo de tal criatura.
- Levante-se nefilim! – Ordenou.
A criatura obedeceu olhando-o.
O rosto de estava completamente deformado. Estava pálida. Seus lábios, bochechas, pescoço não tinham um traço sequer de vermelho ou qualquer outra cor que não fosse o branco pálido. Além disso, as veias negras percorriam o seu rosto, que só de olhar, causava repugnância A um ser tão demoníaco, além dos olhos, tão negros quanto sua alma. jamais voltaria a existir, estava morta para sempre.
- A partir de agora, você me pertence. – O filho do Alvorecer estava confiante, previa sua vitória sobre o irmão. – Tenho pena de você... Tão forte, mas ao mesmo tempo tão frágil... – O arcanjo começou a andar em torno dela. – Eu jamais faria o que os Winchester lhe fizeram. Muito menos o que Bobby lhe fez, ele nunca te considerou da família, o que lhe fez pensar que isso um dia mudaria? E quanto ao Castiel... Ele se tornou um anjo caído tal como o seu pai! Não ligava em machucar os sentimentos das pessoas, especialmente os de sua podre mãe... Castiel brincou com você, usou você... Tal como fizeram com sua mãe.
A mão da nefilim se fechou, seus cabelos esvoaçavam parecendo chamas.
- Isso mesmo. – O arcanjo observou extasiado o poder da criatura. – E quando chegar a hora da batalha, deixarei que você mate cada um deles.
- Obrigada mestre, farei isso com prazer.
Lúcifer e não estavam mais sozinhos. O anticristo surgira perante o pai, fazendo uma reverência exagerada.
- Meu Pai...
- Jesse... Devo dizer que fez um ótimo trabalho.
- Obrigado Pai, fiz pelo senhor.
- Atenção! Todos vocês! – O Arcanjo Negro anunciou em voz alta. Centenas de demônios apareceram no terraço, cada um em seu receptáculo. Os demônios se ajoelharam como havia feito a nefilim.
- A Batalha vai começar! Logo o mundo inteiro estará sob meus pés. Vamos acabar com todos os anjos que nos expulsaram do Paraíso. Vocês já sabem o que fazer!
No mesmo instante todos os demoníacos sumiram, inclusive Megan, que acompanhava tudo de perto.
Lúcifer virou para o Anticristo e , e com uma confirmação, sumiram também.

O barulho do motor do Impala e da van romperam o silêncio ao cruzarem a estrada vazia para Grants Pass, Oregon.
A Chama da Morte e a Flagelo de Fogo estavam repousadas no porta-malas do Chevrolet. Dean e Sam não falavam nada; na verdade não tinham o que falar, pois nada poderia descrever o que ambos estavam sentindo. Pode-se dizer que estavam confusos. Além de estarem indo ao encontro da morte, tinham acabado de perder , porém isto estava lhes causando mais mal do que deveria. Durante os poucos meses que passaram com ela, consideravam-na como se fosse da família, e não só por ser sobrinha de Bobby, mas também como se fosse uma prima para eles.
No carro de trás, Robert dirigia, sem desviar os olhos da estrada, e Castiel estava sentado nos fundos da van, olhando fixo para o vidro da porta, de onde podia ver a lua a brilhar no céu. Parecia que os céus zombavam deles.
- Castiel, você está bem? – Bobby perguntou, olhando o anjo pelo retrovisor.
- Eu vou matar o anticristo com esta lâmina. – O anjo falou, virando-se para encarar Bobby pelo espelho. Em uma das mãos segurava sua arma, a lâmina prateada brilhava fraca com a luz proveniente da lua. O rosto do anjo estava fechado, numa máscara de raiva, mas ao mesmo tempo de sofrimento. – Vou perfurar o coração daquele desgraçado, nem que seja a última coisa que eu faça. Vou matá-lo assim como ele matou .
- Fique calmo. não está morta. Ela tem o sangue da família nas veias, não vai desistir tão rápido.
Quem ele estava enganando? Bobby gostaria de ter certeza pelo menos desta vez. Assim como afirmava tudo com facilidade em relação a algum monstro apenas pesquisando sobre eles, queria ter certeza desta vez de que estava viva; acabara se afeiçoando pela sobrinha. Cada vez que olhava para ela, se lembrava de sua irmã.
Castiel voltou a olhar para a lua; em seu íntimo rezava a seu Pai para que tudo isso terminasse de uma vez.
Eram dez horas da manhã quando finalmente chegaram a Grants Pass. Um nevoeiro se estendia por toda a cidade, além de nuvens escuras cobrirem o céu, e rajadas de vento batiam com força nas árvores e fios de luz. O dia estava virando noite. Uma tempestade estava a caminho.
Mas não era apenas isso que chamava a atenção, mas o fato de a cidade estar deserta.
Mesmo a neblina atrapalhando a visão, não viram uma pessoa sequer pelas ruas, ou dentro de lojas e casas. Dean parou o carro no acostamento. Sam desceu, e foi abrir o porta-malas, colocando uma arma na calça, e pegou a Flagelo de Fogo, segurando-a firme na mão.
Bobby parou a van atrás; Castiel apareceu ao lado de Sam, pegando uma das armas.
- Impressão minha ou o Diabo está na cidade?! – Dean falou segurando a Chama da Morte.
- E você tem dúvida disso? – Sam retrucou.
- Por aqui. – Castiel não queria ficar parado, esperando. O tempo era crucial. Saiu andando em direção a uma ruela.
Sam olhou para o irmão e para Bobby, visivelmente preocupado com o anjo, seguindo-o, todos os três empunhando suas armas.
As ruas, lojas, tudo ao redor deles estava vazio, nenhum barulho era ouvido a não ser ruídos provocados pelo vento.
Dean estava logo atrás do anjo, mas não percebeu quando ele parou, esbarrando no amigo.
Antes, porém, que Dean reclamasse, Castiel levou o dedo ao lábios, sinalizando para que todos ficassem em silêncio, tornando a olhar o que chamava a atenção.
O fim da ruela em que estavam dava início a uma orla; aos redores árvores se erguiam formando uma densa floresta à sua frente. O arcanjo Miguel estava parado defronte a um batalhão de sessenta de anjos, todos esperando o consentimento do mestre para adentrarem a floresta.
- Atenção! – Bradou o arcanjo, sua voz poderosa alcançou cada parte da cidade. – De todas as guerras celestiais ou terrenas, esta é a maior. A disputa que encerrará a direção do universo. Somos as armas de Deus, a mão da justiça, a herança do Pai Criador. Não importa se eles possuem o anticristo ou o Anjo Negro, nós temos a fé...
- Anjo Negro? – Sam sussurrou, sem entender a quem o arcanjo se referia.
- É uma entidade poderosíssima, de natureza indecifrável. Deveria servir ao Arcanjo Miguel, mas quando corrompido, servirá ao Arcanjo Sombrio. – Castiel sussurrou em resposta, olhando por fim para Sam. – .
-... Aos probos, os louros. – Miguel entoava. – Aos perversos, a morte!
Sob fervorosa consagração, Miguel desfraldou as asas rajadas e junto aos soldados, lançaram-se rumo à floresta.
- Vamos – Dean falou, tomando a frente, embrenhando-se na floresta com os outros.
Num espaço entreaberto entre as árvores, uma horda de satânicos se preparavam. Podiam ouvir os anjos se aproximarem do local em que estavam.
Em uma campina mais distante, Lúcifer estava sentado em uma rocha; atrás dele estava o anticristo e a nefilim, ou como a caracterizavam, Anjo Negro.
- A Batalha já irá começar, meu Pai. – Falou Jesse.
O arcanjo nada respondeu.
Enquanto isso, no outro extremo, um esquadrão se aproximava. Sessenta anjos, hábeis e corajosos, avançavam em seta, prontos para perfurar o bloqueio inimigo. Os demônios enxergavam o ímpeto dos invasores, sua crença na vitória e a sede de sangue em seus austeros semblantes.
Alguns pensaram em recuar, mas o Anticristo, surgindo logo atrás dos demônios, gritou uma ordem. Sua voz era como um rugido, e seus compatriotas endureceram nas linhas.
Os Winchester, Bobby e Castiel corriam por entre as árvores tentando encontrar Lúcifer.
Porém, Miguel chegou primeiro ao local desejado pelo grupo.
- Olá. – O arcanjo anunciou sua presença, fechando as asas.
- Olá Miguel! – Lúcifer levantou, ficando frente a frente ao irmão. Ele poderia até tentar jogar a ladainha sobre Miguel, de que eles não precisavam fazer aquilo, mas não queria jogar fora a chance de acabar com o irmão. – Finalmente a batalha terá início.
- Vocês não vão querer começar a festa antes de nós! – Dean surgiu, gritando de entre as árvores, em direção aos arcanjos. Sam surgiu logo em seguida, acompanhado de Bobby e Castiel.
- Ah sim... Os Winchester. Vocês são um pé no saco, sabiam? – Lúcifer suspirou, entediado pela presença dos homens.
- E é por isso que estamos aqui. – Dean retrucou.
- Nós temos coisas a acertar. – Sam falou para o Diabo.
- Nisso, meu irmão, eu concordo com ele. – Miguel se pronunciou. – Por culpa deles que ficamos presos naquela jaula. Não vou deixar isso simplesmente passar.
Dean se afastou para o outro extremo da clareira, longe o bastante de onde Sam estava. Miguel acompanhou o andar do outro.
Lúcifer e Sam ficaram parados onde estavam, encarando um ao outro.
- Sabe, vocês dois... – O arcanjo apontou para Castiel e Bobby. – Tem duas pessoas que estão loucas para vê-los.
Com um estalar de dedos, Meg apareceu logo atrás do amo.
- Vejam só, Castiel! – A mulher riu com desdém. – Sabe, eu até poderia acabar com você Castiel, acredite. Mas eu não poderia fazer isso com a minha mais nova irmãzinha. Ela está louca para acabar com você.
Das árvores atrás de Lúcifer, surgiu a nefilim, terrível e imponente.
- Meu Deus... – Bobby exclamou baixinho, as palavras morrendo em sua boca.
Mesmo a uma longa distância, a criatura teve a visão de Dean de um lado da campina, e de outro a de Sam e Bobby, mas seus olhos negros como a noite se fixaram na figura estática do anjo Castiel. A dor em seu peito aumentou, mas não era uma dor no coração, pois não era apenas ele que movia as suas emoções; sua alma ardia de fúria. A lembrança das acusações que o anjo lhe rogara voltaram à sua memória, causando-lhe mais ódio.
A nefilim investiu com extrema velocidade, cruzando o campo em segundos, porém ela não parou, sua mão fechada atingiu perfeitamente o rosto de Castiel, lançando-o longe. Ele só parou quando as costas encontraram uma grande árvore, escorregando para o chão.
Com o nariz imundo de sangue, Castiel viu a nefilim voando até ele.
Sam e Bobby acompanharam boquiabertos o golpe que o anjo levara.
- Não fique assim. – Meg falou, próxima a Bobby. – Sua vez chegou.
Surgiu ao lado do demônio o barulho de cachorros, mas Bobby não via nada ali.
- Cães do Inferno... – Robert empunhou a arma, dando alguns passos para trás. Pareciam ser o total de dois cães ali. Ele pôde ver o sorriso de Meg.
- Podem atacar, meninos.
Atirou no primeiro lugar onde parecia ter um dos cães. Por sorte acertara, mas precisou dar mais três tiros até ter certeza de que aquele tinha morrido. Megan havia sumido, mas Bobby não tinha ideia de onde estava o segundo cão.
Naquele momento, Sam iniciou seu ataque ao arcanjo sombrio. As espadas faiscaram ao se tocarem, e por alguns instantes Sam pensou que seu fim estava próximo, porém uma pequena esperança reascendeu em si, e a Flagelo de Fogo pareceu sentir a coragem de seu portador, tornando a brilhar tal como brilhava para seu antigo dono, o arcanjo Gabriel.
Dean e Miguel se entreolhavam, em perfeita concentração, iluminados pelo ardor de suas espadas fulgentes. Eram os únicos que ainda não lutavam.
- Essa espada me pertence. – Miguel falou, olhando para a Chama da Morte nas mãos do caçador. – Tive que fazer outra arma para mim.
- Ninguém mandou descuidar do que é seu. – Dean replicou. – Achado não é roubado.
Confiante em sua grandiosidade, o Príncipe dos Anjos esperava pelo primeiro golpe, deliciando-se com a tensão do inimigo. Dean por sua vez, suava, aguardando um vacilo para manobrar sua lâmina.
- Dean... Até para você, isso é um novo tipo de burrice. – O arcanjo começou a andar em círculo, fazendo com que Dean se movimentasse também. – Você não é forte o suficiente.
- Aí que você se engana! – Dean viu pelo canto do olho que Sam e Lúcifer já lutavam, e que por incrível que pudesse parecer, a luta estava equilibrada. – E você sabe disso.
Miguel riu, entendendo aonde o caçador queria chegar.
- Você não é mais o recipiente. Não tem direito de estar aqui.
- Você se acha muito esperto, mas não passa de um monte de bosta...
- Seu vermezinho. Você não faz mais parte desta história.
- Sam e eu ainda somos seus verdadeiros recipientes. Você e Lúcifer não tem força o suficiente para acabar com a gente. – Dean gritou, sorrindo com ironia ao ver o rosto do arcanjo se transformar em uma máscara de ódio. – É muito útil ser amigo de um profeta. – Ele piscou, testando a paciência de Miguel.
- Sabe, eu tentei ser legal... Mas você é um pé no meu saco.
Em súbita agressão o tirano atacou com toda a energia e perícia, e por um momento o caçador achou-se desesperado. Mas uma força superior animou seus movimentos, e a Chama da Morte subiu para bloquear a poderosa lâmina do adversário.
Ao choque das armas, um raio cruzou o céu, causando um barulho quase ensurdecedor. A chuva precipitou caindo com força à suas cabeças.
A sétima trombeta acabara de tocar.
Castiel se levantou, apoiando-se em uma árvore. A visão era turva. A face ensangüentada tornava a mirada obscura, mas ele distinguiu uma mancha preta crescendo em sua direção - era a nefilim que corria novamente ao ataque.
Abrindo as asas em posição defensiva, o anjo usou os outros sentidos, menos feridos, para perceber a mulher.
vinha em carga; seria tolice bater de frente com ela, um ser poderoso. No instante em que os dois lutadores estavam para se chocar, Castiel se desviou. E em vez de deixar que a nefilim enfrentasse as árvores, simplesmente a agarrou pela gola da camisa e alçou vôo.
- ! Me escute! – tentou falar, enquanto a puxava para cima.
- Você merece morrer! – Uma voz horrenda saiu da boca dela, nada semelhante com a voz suave que tinha.
Agora, quem estava sendo puxado era Castiel, e de novo, o herói foi jogado longe, onde havia duas fileiras de pinheiros. O choque do corpo fez partir vários galhos pesados das árvores, e o anjo continuou a trajetória, abrindo um caminho profundo no chão.
Aquele era um duelo de grandes.
Bobby procurava ouvir cada barulho, tentando detectar onde estava aquele maldito cão. Um farfalhar de galhos à suas costas, o fez parar. Virou cautelosamente para trás, mas já era tarde, o cão partiu para cima do homem, o derrubando no chão.
Ele não tinha tempo, mas com sorte, conseguiu atirar nas fuças do cachorro, bem na hora em que este fizera um corte não muito profundo em seu peito.
Megan apareceu na frente do caçador, que conseguira ficar em pé, embora com dificuldade.
- Devo dizer que você lidou bem com os cães.
- Venha lutar, sua desgraçada.
Meg, apostando em suas habilidades, partiu para cima de Bobby, mas fora burrice. Na mão do caçador estava presa a faca de Ruby, e na hora em que o demônio se jogou para o golpear, a faca atravessou o estômago da criatura. Um grito saiu da boca daquele ser, assim como um pequeno brilho, onde estava cravejada a faca. Finalmente Meg estava morta.
Lúcifer vendo a cena, atacou Sam, golpeando com a Raio da Aurora, em traiçoeira manobra. Ao enérgico impacto da arma inimiga, a Flagelo de Fogo escorregou das mãos de Sam, indo perder-se em um extremo da grama.
Desarmado, o caçador preparou para lutar sem arma alguma, mas antes disso sofreu mais um assalto. Conseguiu esquivar-se, mas não tinha lugar algum para que ele se escondesse.
Dean tentou avançar com um assalto vertical contra Miguel, mirando-lhe a cabeça, depois na horizontal, à direita e à esquerda. Miguel defendia com tanta força que o bloqueio era quase um ataque e obrigava o caçador a usar toda a potência dos músculos para não se partir ao meio.
Miguel lutava com maestria ímpar. Lançou uma sequência de ataques ligeiros, sem muita penetração, só para cansar o inimigo. Por pura sorte, a Chama da Morte encontrou a arma do arcanjo. Dean foi duramente jogado contra o chão. Um pouco de sangue escorreu pela boca, mas ele se levantou prontamente. Aquilo não iria durar muito; por mais que eles tivessem a sorte de serem o recipientes verdadeiros dos arcanjos, eram humanos. Não iriam conseguir aguentar por muito mais tempo.
Nesse instante, Sam conseguiu recuperar a sua arma, porém ao partir para cima do arcanjo, sentiu-se perfurado pela lâmina da Raio da Aurora.
- Vocês humanos não se cansam de perder. Desta vez, ninguém trará você de volta, desgraçado. Logo vocês serão uma linda e feliz família morta. Isso é por ter me deixado naquela jaula.
Sangue escorria pela boca do Winchester mais novo. Pôde ouvir ao longe Bobby gritar em sua direção, e ainda pôde ver o seu irmão. Ao bloquear um ataque, Dean olhou em direção de Lúcifer, e pôde ver a espada atravessada no corpo de Sam.
O Diabo puxou a espada, retirando-a cheia do sangue do Winchester, e largando o corpo quase inerte do homem no chão.
- Seu desgraçado. – Dean falou para Miguel. Neste instante, uma força surgiu em suas mãos, e segurando firme o pulso do arcanjo, o Winchester fez com que a espada do arcanjo voasse longe. Por impulso, ele jogou a sua também.
Se fosse para acabar com aquele miserável, seria como homem. Como humano.
Dean iniciou um sequência de socos na cara do arcanjo, que arrancou apenas um filete de sangue. O arcanjo segurou o caçador pela gola, iniciando agora o seu ataque. Era possível ouvir o barulho de alguns ossos se quebrando no rosto de Dean.
Lúcifer não estava mais no campo, mas não por muito tempo.
A nefilim pousou, caminhando até o anjo, que ainda estava caído no chão. Segurou pela gola do sobretudo dele, erguendo-o no ar. Castiel estava muito ferido, suas asas sangravam, mas o sangue em seus olhos diminuíra, ajudando-o a visualizar o rosto de .
- , não... Era eu... – O anjo tentou falar, mas o sangue escorria freneticamente de seus lábios.
A mulher pegou sua espada, - a chuva caindo com força sobre eles, além de raios atravessarem o céu a cada segundo - erguendo-a no ar, pronta para investir.
- ...
O Anjo não pronunciara o nome dela implorando, mas num lamento, como se estivesse dizendo que a perdoava, que nada daquilo era culpa dela.
A mulher ficou segurando a espada no ar, sem encerrar o ataque.
- Mate-o. – Um sussurro surgiu próximo ao rosto dela. Castiel pode ver o Anticristo parado ao lado da criatura. – Você sabe o que ele te fez. Mate-o. Mate-o agora!
Ela tomou novo impulso, convicta de matar o anjo, mas naquele instante, seus olhos tornaram a ficar verdes; o verde natural, apenas os olhos. Por alguns instantes, os olhos dela e do anjo se cruzaram, pela última vez. Um grito saiu da boca dela, mas ao invés de matar o anjo, ela se virou, iniciando um ataque contra o anticristo. O rapaz protegia-se com sua arma, mas em instantes, ele segurou a arma da nefilim, virando-a contra ela própria, cravejando a espada no coração da mulher.
caiu, ainda viva no chão, o sangue escorrendo pelo seu corpo, as veias já não mais presentes em seu rosto, apenas as suas plumas que começavam a ficar cinzas, mas não terminaram seu ciclo.
- Não! – Castiel gritou, alçando vôo contra o anticristo, sua espada em punho.
Jesse bloqueou o ataque. Uma ira tomou conta do anjo, uma raiva que ele nunca sentira antes. O anticristo se arrependeu de ter iniciado o apocalipse. Teria certeza de que ganhariam no final. Castiel segurou o rapaz pelo pescoço, uma luminosidade começou a sair de dentro de Jesse, matando o rapaz em instantes. O anjo largou o miserável no chão, onde ninguém o acharia. Segurou entre os braços, e voou ao campo principal da batalha, onde Bobby estava parado ao lado do corpo já inerte de Sam.
Dean ainda lutava com o arcanjo Miguel.
Castiel deixou junto de Bobby, e partiu para o lado onde Miguel batia em Dean, porém, antes que pudesse chegar até lá, Lúcifer parou na sua frente, o impedindo de continuar. O anjo, sem pensar, preparou para golpear o arcanjo, porém neste instante, um ruído ensurdecedor surgiu em meio ao som da chuva, além de um raio cortar o céu ao meio.
Parado entre eles, estava outro homem, que nenhum do Winchester vira antes. Apenas os arcanjos e Castiel sabiam quem era aquele.
- Nathanael... – Castiel exclamou.
- O que você quer aqui, seu anjinho nojento? – Lúcifer proferiu, virando-se contra o recém chegado.
Este, porém, encostou a mão na testa do arcanjo, que começara a queimar.
O recipiente de Lúcifer queimava, e apenas o grito do diabo era ouvido, e em instantes nada sobrara ali.
Nathanael já estava ao lado de Miguel e fizera a mesma coisa que fez com Lúcifer. Miguel ardia em chamas, e depois nada.
Dean viu tudo aquilo estupefato.
- Quem é você?
- Sou Nathanael. Deus me mandou.
- Ah, Deus? E por quê?
- Lúcifer e Miguel estavam prestes a destruir a sua maior criação. O Apocalipse não pode ser forçado a acontecer, tem de ser naturalmente.
- Então mande Deus se ferrar.
- Você não fale assim de Meu Pai. – Nathanael aproximou de Dean ameaçadoramente. – Acabei de salvar a sua vida.
- Mas não salvou a de meu irmão!
Nathanael olhou para onde estava Sam, e em frações de segundos, o rapaz já estava em pé, novo em folha. Sem sangue algum em seu rosto.
Dean foi até o irmão, abraçando-o.
Castiel já estava ao lado de , que estava com a vida a esvair de suas mãos.
- O que aconteceu com Lúcifer e Miguel?
- Estão na jaula.
- Na jaula? Mas como? Ela foi destruída.
- Eu criei outra. Agora eles só poderão sair de lá através dos anéis.
- Nathanael. – Castiel chamou o anjo. – Você não pode fazer nada?
- Sinto muito. Nada poderei fazer em relação à Nefilim. Este é o destino dela.
- Então você pode ir.
Castiel voltou a olhar para , enquanto Nathanael desaparecia.
- Me Perdoe... Castiel... – A mulher tentava pronunciar as palavras.
- Fique comigo.
- Tem de... Tem de ser assim... – Ela sorriu, porém seus lábios se desmancharam.
Todo o seu corpo se desmanchava em cinzas, que desapareciam, como se nunca tivessem existido. Tudo se esvaiu da mão do anjo, não restando nada.
- Aonde está ela? – Bobby perguntou, espantado e visivelmente abalado.
- Nefilins tem sua alma presa ao corpo. Ao morrerem, não vão para o céu ou inferno, simplesmente deixam de existir. – Sam falou, sua voz morrendo.
A batalha havia acabado. Porém ninguém tinha vencido. A única coisa que lhes restou foi a perda, exatamente como da última vez. Eles poderiam apenas apagar esse acontecimento da mente deles, mas era impossível.
As espadas tanto de Miguel, Lúcifer e Gabriel sumiram junto com Nathanael. Voltaram aos seus lugares de origem.
Ninguém falou nada durante o percurso de volta. Não haviam palavras que dessem apoio ou que os consolassem, o silêncio serviria de consolo para todos, e isto bastaria.
As guerras entre os países tiveram fim meses depois, quando a ONU conseguiu intervir, finalizando os ataques, e após descobrirem que os ataques partiram de uma rede terrorista. E teve um verdadeiro fim, após os EUA declararem que haviam matado o líder dos terroristas, Osama.
Quando chegaram à casa, Dean foi direto à geladeira pegar três cervejas, para ele, Sam e Bobby. Robert sentia como se tivesse perdido sua irmã novamente, e não pudera fazer nada a respeito. Sam e Dean estavam abalados, mas não tanto quanto Bobby.
Todos dormiam, um em cada parte da casa. Não tinham mais o que fazer, apenas seguir a vida, como faziam meses atrás. Dean e Sam voltariam a caçar dali uma semana. Teriam que resolver um caso de um vampiro. Já Bobby estava ajudando Rufus, em alguns casos estranhos que estavam acontecendo, provavelmente referidos a uma tal "mãe de todas as coisas".
Castiel olhava fixo para a janela da sala, tentando entender qual fora o propósito de tudo aquilo. Ele não demonstrava, mas era o que mais estava sofrendo. As emoções que ele tinha tanta curiosidade em conhecer eram agora suas inimigas. Algumas lágrimas escorreram pelo rosto do anjo.
Aquela era a primeira vez que ele chorava.


A caneta de pena corria entre meus dedos, escrevendo as últimas palavras daquela narrativa. Eu não tinha um motivo exato para escrever aquilo, mas depois de ter tido essas visões várias vezes, decidi passar em meu caderno, caso me levasse para algum fato importante em meu futuro. Porém até agora nada fazia sentido.
O que era mais estranho em minhas visões é que eu era essa tal de nefilim. O que não fazia mesmo sentido, mesmo meu nome sendo , eu não me lembrava de nada parecido com isto em meu passado. E seria impossível eu esquecer algo como o Armagedon.
Senti alguém me cutucar no ombro. Olhei vendo que era o cobrador do ônibus.
- Moça, nós estamos recolhendo.
Não respondi, fechando meu caderno, bem na hora em que tinha escrito o grande fim, e pegando minha bolsa, desci do ônibus.
Tanto o motorista, quanto o cobrador achavam estranho eu ficar a maior parte do dia no ônibus apenas escrevendo. Ficava até à noite, quando sempre o mesmo homem me alertava da parada final.
A luz dos postes na rua iluminavam-me fracamente. Eu caminhava tranquilamente pela rua, sem um destino aparente.
De sua sombra, asas grandes emergiam de suas costas.

Fim


Nota da Beta: Qualquer tipo de erro encontrado nessa atualização, contacte-me por e-mail, não utilizem a caixa de comentários. Obrigada, espero que gostem da fic. XX

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