Sempre tem aquela fase da adolescência que todos seus amigos começam a namorar. Você pode fazer parte desse grupo ou não, independente disso, outros casais se formam de uma hora pra outra e ninguém nem mesmo entende como que aconteceu ou surgiu.
Tem também a fase que, assim como todos foram formados juntos, parece que todos casais decidem terminar seus relacionamentos ao mesmo tempo.
Hoje em dia, eu agradeço as fases em que as pessoas decidem se casar. E assim como na adolescência, todos tomam esse tipo de decisão no mesmo período.
Eu faço parte da equipe fotográfica de uma empresa em que o dono é um excelente fotógrafo rumo à aposentadoria, e desde sempre trabalhamos com casamentos. Quando eu ainda estava na faculdade, fui apresentada a ele por intermédio de um professor que via em mim um potencial que eu mesma não via. Hoje, sou a fotógrafa principal da empresa composta por inúmeros profissionais, todos igualmente capacitados a fazer o mesmo tipo de trabalho, e exatamente por isso eu me destaco. Quando você aprende de tudo, você começa a se aventurar e testar os limites de sua própria habilidade. No caso, incrementei meu portfólio com fotos de casamentos de famosos que viram no meu trabalho um diferencial que pra mim era essencial. É meio óbvio até. A noiva não é uma modelo, ela é alguém normal e quer apenas que algumas imagens capturadas possam lá na frente fazê-la se sentir da mesma forma que ela se sentiu na hora do casório e da festa. Elas querem voltar àquele momento e vivê-lo na memória através das imagens na mesma intensidade em que eles realmente aconteceram. Muitos profissionais vêm as noivas, o casal em si, como modelos e os perturba, chamando-os pra tirar foto com Deus e o mundo. Eles devem aproveitar o momento, dançar, falar com seus convidados espontaneamente, não formalmente, posando pra fotos e sorrindo forçadamente para uma lente, sendo que por trás dela não tem nenhum conhecido que os faça rir. E eu estou lá pra captar os momentos espontâneos e animados, felizes, e torná-los eternamente memoráveis.

- Já tá na hora de parar de procurar defeitos nessa foto, não acha? Ela está perfeita do jeito que está, . – Adam entrou em meu escritório enquanto eu me perdia observando uma das fotos do último evento que fotografamos juntos e colocava uma xícara com um líquido quente – imaginei, devido à pouca fumaça que saía por cima dela - em cima da minha mesa. Ele encostou sua cintura em minha mesa e ficou analisando a foto junto comigo. Na verdade, eu não analisava a foto, apenas perdi meus pensamentos observado um convidado que aparecia na maioria delas.
- Não tô procurando defeitos… - respondi me virando de lado pro computador e de frente pra ele, pegando minha xícara e bebericando o que eu descobri ser chá de limão. Eu estava sempre na defensiva quando o assunto era minha incansável mania de perfeição.
- Não. Está apenas fazendo uma análise sobre a composição da luz – ele debochou de mim, utilizando a desculpa que eu adorava dar quando eu cismava que uma foto não deveria ser mostrada pro casal no CD que entregamos antes de mandar fazer o álbum para que eles escolhessem as que os agradavam. Eu costumava dizer que depois de ter feito uma análise sobre a luz, a foto deveria ficar em preto e branco e tirar qualquer defeito que eu via nela. Adam sempre negava e dizia que isso não resolveria o problema que fosse e que o casal que deveria escolher se gostariam em preto e branco ou colorida, e que eu deveria colocar as duas no CD. No fim, o casal sempre escolhia a original como uma das fotos pro álbum de casamento deles. Eu mandei língua para ele e me virei novamente para o meu computador.
Eu odiava ter que fazer pós-produção nas fotos. Se um fotógrafo se considera bom o suficiente, ele procura não depender disso e dá seu jeito para que saia tudo perfeito na hora do click. É questão de dar trabalho também. Mas de qualquer forma, lá ficava eu, repassando as mais de mil e quinhentas fotos e dando uns toques de vez em quando.

- Pela primeira vez posso dizer que não, não estava fazendo uma análise crítica sobre a foto. Gostei do jeito que ela está, as pessoas parecem felizes e se divertindo. E as luzes da pista de dança fizeram um contraste legal com o vestido dessa mulher. – Apontei para a tela, indicando o verde do laser do DJ e o vestido amarelo ovo de uma menina nova que era amiga da noiva. O que eu ocultei foi minha admiração pelo homem que aparecia também.
- Tá… - ele aceitou, ainda desconfiando dos meus motivos pra encarar a foto por tanto tempo. – Eu tô indo, ok?! Amanhã a gente se vê no Regent’s pra fazer as externas?
- Aham, claro. Fica tranquilo que eu passo na sua casa pra te levar. – de qualquer forma eu teria que ir de carro pra levar os equipamentos e dar uma carona para ele não seria problema algum. – É até melhor que a gente chega junto e eu não tenho que ficar louca te esperando sair na estação de metrô com medo de perder o horário. – Ele riu concordando e me deu um beijo na bochecha e apertou meu ombro direito com uma de suas mãos quando se virou para ir embora de minha casa, se despedindo.

Não sei se no geral é bom ou ruim, mas trabalhar em casa certamente tem seus pontos positivos. Logicamente eu não saio cedo pra pegar trânsito e chegar ao escritório, eu apenas ando até o quarto ao lado da minha suíte e já estou pronta pra começar a editar fotos e montar álbuns. A trabalho eu só saía pra fazer fotos externas, como as que eu faria no dia seguinte, no Regent’s Park, com Adam, ia para salões fazer making of das noivas e possivelmente pro estúdio quando eu fotografava pra alguma revista como freelancer. Não tinha cobranças do chefe nem mesmo tinha que bater cartão. Eu só tinha que me preocupar com meus horários e com os prazos que eu estipulava com os clientes. Organização própria é o ponto negativo.
Desliguei o computador depois de observar mais um pouco o homem nas fotos e decidi que deveria ir dormir, já que eu tinha que acordar mais cedo no dia seguinte pra poder correr no parque próximo à minha casa. Era um hábito que eu tinha, já que a preguiça sempre me ganhava quando eu pensava em me inscrever em uma academia e ter que levantar pesos, então eu passei a correr algumas vezes na semana e tinha meus próprios pesinhos em casa pra poder ganhar alguma massa no braço. Carregar uma câmera com todas aquelas lentes e flashes durante eventos de, às vezes, sete horas requer força.
Naquela terça, eu acordei com disposição e o despertador não me incomodou quando apitou, o que era algo extremamente raro. Tomei rapidamente um café da manhã e fui me trocar depois para que eu não passasse mal durante a corrida por estar com estômago cheio. O dia não estava bonito, não fazia sol e o vento era cortante, a grama do parque estava coberta de orvalho e os esquilos anda se escondiam, mas lá estava eu correndo e dando voltas e mais voltas naquele parque que eu tanto odiava. Só parei de correr quando o sol ameaçou sair de trás das nuvens e meu celular, que estava preso em meu braço sendo usado pra ouvir música, começou a tocar. Era Adam perguntando se eu gostaria de almoçar com ele antes de irmos encontrar o casal do dia.
O almoço foi bem tranquilo e fora inevitável não comentar sobre um dos casamentos do final de semana, já que começou a tocar baixinho Raining Man do The Village People no restaurante e tinha sido justamente a música que o noivo escolheu pra dançar com os amigos uma coreografia na festa. Eu consegui excelentes fotos com o rosto da noiva com vergonha estampada por causa disso.

- Vamos aproveitar que o sol tá saindo e não tem ninguém passando ali no meio, a gente pode usar esse cenário. Se quiserem sentar, fiquem à vontade. – Indiquei o local para o casal que se casaria dentro de duas semanas e captei alguns momentos em que o noivo ajudava a noiva a se sentar e eles nem repararam. Adam tirava fotos de outros ângulos pra termos várias opções ao mostrar pra eles nosso trabalho posteriormente. Gastamos apenas uma hora e meia no parque e conseguimos fotos espontâneas e as tradicionais de casamento. Adam me ajudou como assistente de iluminação e conseguimos dar um toque diferente ao clichê de um book de casamento.
- Chega de fotos externas nesse frio, meus dedos estão quase congelando, – Adam comentou enquanto recolocávamos os equipamentos na mala traseira do meu carro. Dei um empurrãozinho nele com meus ombros de brincadeira e me afastei pra bater a porta.
- Deixa de ser fresco. Você ficou de luva a maior parte do tempo enquanto segurava aquele flash – brinquei com ele quando entramos no carro e eu liguei o aquecedor quase no máximo. – Quero ver quando você for fazer algum ensaio sozinho e estivermos no inverno. Isso é só brisa de outono ainda.
- Fazer ensaio sozinho? Por que eu faria isso quando tenho você? – Ele riu e ligou o rádio.
- Já passei dessa fase de assistente, Adam, e eu não pretendo virar ajudante quando meus planos futuros incluem autonomia total de você, – eu era sim uma profissional independente, já que não dá pra ser muito dependente de alguém quando se é fotógrafo, apenas em casos de freelancer pra jornal que eles normalmente têm mais equipamento próprio pra emprestar e você acaba dependente deles. Mas isso é um caso muito específico. O problema é que eu sentia que devia algo para o meu chefe, eu tinha crescido como profissional porque o acompanhei por um tempo, não só isso, eu tinha virado uma profissional por causa dele. O nome era algo no mercado hoje por causa das oportunidades que ele tinha me dado e eu não poderia simplesmente ignorar isso tudo por simples rebeldia. Eu não dava satisfações a ele sobre como eu exercia meu trabalho, mas eu ainda conseguia muitos clientes por causa do nome da empresa. – ou te fazer de escravo. Das duas, uma, você quem escolhe. – Sorri angelicalmente.
O caminho foi todo em meio a brincadeiras e piadinhas, às vezes cantávamos a música que tocava na rádio e ele implicava comigo pra que eu parasse porque minha voz, segundo ele, era de taquara rachada.
- Amanhã você vai lá em casa me ajudar com essas fotos? Tô com um álbum pra montar, três casamentos e as externas de hoje pra editar – perguntei antes de ir embora, ele estava parado em frente a sua casa tentando abrir a porta de vidro, aquela maçaneta dele sempre tinha sido um problema.
- O que você não pede rindo que eu não faço chorando? - ele brincou por último, já sabendo que ele não tinha opção, já que aquele também era o trabalho dele.
- Te vejo amanhã então! – Ele finalmente conseguiu abrir a porta e eu arranquei com o carro, indo pra minha casa. Já que eu passaria o dia seguinte todo com Adam ajeitando as coisas do trabalho, decidi ficar um pouco na internet ouvindo música e depois fui ler um livro. Tomei um banho antes de dormir e capotei na cama.
No dia seguinte, acordei quase isolando o despertador na parede do quarto. A ironia é que quando eu olhei pela janela, percebi que o sol brilhava como raramente acontecia nessa cidade. Londres era assim, imprevisível. De manhã, chuva, de tarde, sol, e à noite caía chuva acompanhada de trovões, mas o que nunca deixava a cidade era o vento. Forte ou fraco, ele sempre estava ali. Como qualquer dia de sol no outono quer dizer que está fazendo mais frio do que o normal, vesti uma calça xadrez de flanela e coloquei uma blusa branca lisa pra poder ficar mais confortável no calor que o aquecedor emanava. Tomei café esperando que Adam chegasse a qualquer momento. Depois de meia hora enrolando na cozinha pra poder lavar a louça, eu finalmente comecei, já que eu não teria outro momento pra fazer aquilo durante o dia.
Editar foto dava muito mais trabalho do que comparecer a eventos e ter que lidar com os clientes e seus convidados, entrar em acordo com a equipe de filmagem para que ninguém se atrapalhe e derivados. Apesar de ser o momento mais calmo, eu preferia fazer quatro eventos semanais e editar apenas um deles. Pelo menos Adam me ajudava em tudo e mais um pouco. Quando ele chegou, fomos ao quarto que eu deixava como escritório e me sentei em frente ao computador, pronta pra continuar vendo as fotos do último casamento. A primeira que abriu foi justamente uma que tinha aquele homem e uma criança dançando. Ele parecia se divertir segurando a menininha próxima ao seu peito, com os pés dela fora do chão. Ela mantinha um sorriso de orelha a orelha e ele passava o braço dele pelas costas dela e o outro ele esticou segurando sua pequena mão. Fiquei feliz apenas em olhar para o encantamento nos olhos dela, como se admirasse o homem a sua frente da mesma forma que eu o admirava agora.
O fotógrafo, depois de tirar todas aquelas fotos cheia de pose do casal com mais da metade dos convidados, com as madrinhas, mães e pais deles, não tem muito o que fazer a não ser observar e aproveitar todas as deixas que ele puder pra tirar fotos memoráveis. E foi o que eu fiz. Durante a festa, esse homem me chamou bastante atenção e ele parecia fazer gracinhas pra agradar as crianças que estavam dançando quietas em um canto, mas quando voltava para sua mesa, ele tinha a expressão brincalhona e séria ao mesmo tempo. Como se quando você fosse falar de um assunto importante, ele fosse saber te ouvir, mas quando você precisasse descontrair, ele estaria ao seu lado pronto pra te divertir.

- Se você ficar encarando a mesma foto o dia inteiro, não vai conseguir chegar nem na metade do segundo casamento. Só avisando… - Adam me tirou dos meus pensamentos e eu acabei levando um susto sozinha. – Não, é sério. O que você tanto olha nessas fotos? – Ele levantou do sofá onde esteve sentado o tempo todo com o laptop em seu colo montando o álbum de casamento que fotografamos há mais de um mês e veio se apoiar nas costas da minha cadeira.
- Nada! – me apressei em falar e passar pras próximas fotos, já que eu não tinha que alterar nada de luz naquela sequência. – Eu tava tentando achar uma ferramenta aqui que…
- Você tava olhando esse homem! – Adam apontou pra tela do computador e depois me deu um tapa na cabeça rindo – Sua cara de pau. Quantas fotos você tirou dele? Deixa eu ver isso aqui. – Então ele começou a passar todas as miniaturas do casamento olhando rapidamente que o tal cara aparece em metade das que eu tirei na pista de dança.
- Lógico que não! Deixa eu terminar meu trabalho quieta, e você volta já pro sofá que você também tem muita coisa pra fazer. – Tratei logo de tirar o mouse de sua mão e empurrá-lo de lado pra que ele saísse de perto de mim.
- Olha ela na defensiva, gente! – ele brincou, voltando pra perto de mim pra me fazer cosquinha na nuca.
- Adam, quantos anos você tem? – falei em meio a risadas. Ninguém fazia cosquinha em mim há… bem, bastante tempo.
- Fala sério, quantos anos você tem. Vai ficar de amor platônico com um cara que você nem conhece? – Ele desceu suas mãos para minha cintura e continuou a me torturar. Eu já estava perdendo o ar de tanto rir quando eu me toquei do que ele tinha dito. Amor platônico? Oi?
- Tá brincando, né?! – Acabei por encolher minhas pernas e empurrar a cadeira com os pés, apoiando-os na mesa. A cadeira, que era de rodinhas, andou pra trás e deixou um dos apoios de braço dela bater quase no local impróprio dos homens. Adam se afastou imediatamente, fazendo drama ao se jogar no chão. Sério, quantos anos ele tinha? - Ele é só um convidado qualquer do casamento e eu era a fotógrafa, por que eu não tiraria foto dele? – Dei um chute de leve em sua barriga. – Chega de drama e levanta, eu vi que não pegou no little one.
- Mas podia ter pegado! – Virei minha cadeira de lado e fiquei o encarando. – E little one? Sério? – Ele olhou pra mim indignado. – Você bem sabe que de pequeno ele não tem nada. – Sorriu malicioso, voltando pro sofá. Digamos que logo que Adam começou a trabalhar comigo, nós tenhamos perdido a cabeça por um tempo. Sempre até tarde em eventos, sem ninguém pra dar satisfações… Nos divertíamos juntos, mas era apenas fogo de palha. Logo vimos que pra manter a relação ia ser melhor sermos apenas amigos e colegas de trabalho. Ainda nos divertíamos juntos, mas de maneiras diferentes, já que somos amigos de verdade agora.
- Com quem você andou se comparando, Adam? – o olhei estranho, decidi implicar um pouco. – Ah, para, você tá vendo filme pornô? – Caí na gargalhada. Era apenas brincadeira e eu sabia mesmo que de pequeno ele não tinha nada, mas eu tinha com quem comparar, ele não.
- Não! Meu Deus, que nojo. Eu não tenho mais 16 anos. – Ele voltou a colocar o laptop em seu colo, tentando não trocar olhares comigo.
- Tem 27, grande diferença. Você não deve ter amadurecido nada nesses anos todos.
– E a senhorita está fugindo do assunto. Eu acho que só tem duas ou três fotos, das que eu tirei, que esse cara aparece. – Adam tinha seu olhar fixo na tela de seu laptop, provavelmente olhando rapidamente todas as fotos daquele casamento.
- Isso é só mais uma prova do porquê de eu sou a fotógrafa contratada e você o meu assistente. – O olhei superior e, enquanto ele me encarava com cara de deboche, eu o mandei um beijo no ar.
Assim que eu terminei de editar as fotos do segundo casamento e Adam tinha montado o álbum, decidimos fazer uma pausa. Enquanto eu ligava para o restaurante da rua de trás pra fazer o pedido do nosso, já atrasado, almoço, o telefone dele tocou e eu não dei importância. De certo era a mais nova namorada não oficial dele.
Depois que terminei de fazer o pedido e abri a geladeira pra pensar, ele chegou na cozinha.
- Era um cliente, . – Fiz um barulho com a boca, indicando que eu estava prestando atenção, mesmo estando de costas e olhando a geladeira procurando algum suco de caixa pra beber. – Ele quer conversar com você pessoalmente e eu falei que ele poderia vir no escritório mais tarde.
- Por mim tudo bem. Eu vou pro banho enquanto a comida não chega, que horas você marcou com ele? – Eu já estava saindo da cozinha quando me virei na porta novamente pra ouvir a resposta.
- Às sete.

Fui pro banho e procurei não demorar muito, apesar de ter sido um pouco difícil. A água quente tava relaxando bastante meus músculos, tensionados por ter ficado tanto tempo sentada naquela cadeira na frente do computador. Me arrumei propriamente para encontrar um cliente. Não coloquei o “uniforme” habitual dos casamentos, logicamente, eu não ficaria de roupa social toda preta em casa. Quem fica de terninho em casa, afinal? Só uma calça jeans clara, uma blusa solta e um cardigã azul já era o suficiente. A sapatilha eu colocaria quando ele chegasse, não gostava muito de ficar de sapatos em casa por causa do carpete. Acho que era por isso também que eu não tinha cachorros ou gatos, apesar de querer muito. Quando desci, Adam já estava colocando a comida em um prato e tinha um copo de suco de laranja ao seu lado na grande bancada que ficava entre a cozinha e a sala de jantar.

- Olha ele se servindo sozinho, que bonitinho. Já pode casar – impliquei apenas por força do hábito. Peguei um prato também, me juntei a ele no balcão e comemos rapidamente para depois voltarmos a trabalhar. Eu tinha as externas do dia anterior pra editar e ele as fotos de um casamento que fizemos na semana passada. Estávamos adiantados, até porque normalmente eu só pegaria nessas fotos dentro de três semanas, mas é sempre melhor editar o mais rápido que puder e depois revisar. O casal não vai ver isso agora mesmo, eles estão mais preocupados em curtir a Lua de Mel. De qualquer forma, quando olhei no relógio já eram cinco da tarde e eu não aguentava mais ficar em frente àquele computador. Adam também não. Eu podia perceber pelo modo que ele mais cantava e encenava as músicas que ele tinha colocado pra tocar em seu laptop do que ficava olhando de fato pra tela dele. Ainda assim a gente se divertia.
Logo mais ele foi embora e eu assistia televisão quando a campainha tocou e eu fui correndo colocar minha sapatilha. E então eu abri a porta e não acreditei em quem estava à minha frente.

- Boa noite – ele me cumprimentou e sorriu docemente. Eu poderia derreter ali mesmo se eu não tivesse que responder e manter a pose profissional.
- Boa noite, pode entrar e ficar à vontade. – Abri mais a porta pra dar passagem àquele homem que tinha roubado minha atenção desde aquela festa de casamento no último final de semana. – Aceita alguma coisa pra beber, senhor…? – finalmente dei margem pra que ele se apresentasse. Ele provavelmente já sabia quem eu era, afinal, ele estava ali por causa do meu trabalho.
- . Mas pode chamar de . – Ele estendeu sua mão e eu apertei. Firme. Interessante. Mas então eu me toquei do porquê de ele estar me procurando. Eu sou fotógrafa de casamentos. E como sempre eu só escolhia os homens errados, era óbvio que ele estava noivo! – Aceito uma água.
- Prazer, – tentei parecer normal. Aquilo estava bastante constrangedor. Quer dizer, pra mim. Tinha certeza que ele estava ali sem ter a menor noção do tanto que ele tinha chamado minha atenção naquela festa de casamento e o quanto eu fiquei babando em todas as fotos que ele aparecia. – Pode ficar aqui, - indiquei a ele a porta onde ficava o escritório – que eu já volto com a sua água. – Saí e fui pra cozinha buscar uma água antes pra mim do que pra ele. Como assim ele aprecia na minha porta procurando pelos meus serviços? Não é possível. Ele nem mesmo usa aliança! Se bem que nem existe mais essa tradição. Homens só usam mesmo depois que casam de verdade. Droga, droga. Mil vezes droga.

Okay. Chega de pití.

Voltei pro quarto que eu tinha feito de escritório e ele estava sentado no sofá que Adam ocupou durante toda tarde. Estendi o copo em sua direção e esperei que ele o pegasse pra poder me sentar na cadeira do outro lado da mesa. Ele me acompanhou com o olhar e foi na mesma direção que eu para poder se sentar na cadeira de frente pra mim.

- Então, qual a ocasião? Freelancer, casamento…? – Freela, freela, freela. Meu coração pedia insistentemente pra que fosse a primeira opção.
- É casamento. – Eu devo ter soltado algum suspiro, porque ele riu de lado. – Eu sei que sua agenda é super lotada, não é a toa que seu nome é um dos mais mencionados quando pedem indicações, mas eu realmente preciso disso bem feito e não me importa muito quanto você vai cobrar pra encaixar esse evento nos seus horários. Ele é realmente importante.
- Todo casamento é importante, senhor – me forcei a chamá-lo pelo sobrenome mesmo que minha boca já quase estivesse pronunciando um apelido. Mas fui obrigada a me corrigir quando ele me olhou de forma repreensora. – .
- Eu sei, mas é que você não está entendendo minha situação. Normalmente o padrinho tem que guardar a aliança, a noiva cuida de tudo junto com a mãe e as amigas, esse tipo de coisa. Mas pra ser diferente, meu amigo decidiu fazer uma surpresa pra noiva. Poupá-la do estresse de organizar tudo, porque, coitada, ela mal consegue respirar com o trabalho dela e ela não se importa de não planejar tudo, porque aparentemente ela confia nele pra isso. – Ele parecia meio afoito. Quase pedi que ele pausasse e respirasse, mas deixei que ele continuasse falando, mesmo que rápido. Permaneci atenta a todas aquelas palavras, focando meus olhos em seus lábios carnudos. – E sobrou pra mim, que supostamente só deveria guardar a aliança e ajudá-lo a escrever os votos, o papel de organizador e eu meio que esqueci uma das coisas mais importantes e o casamento já é mês que vem. – Ele parou pra respirar.
- Okay, vamos ver o que eu posso fazer. Pra que dia está marcado? – perguntei, já abrindo minha agenda de horários com todos os eventos que eu tinha pra fotografar, externas pra fazer e, eventualmente, modelos pra revistas sobre Noivas. Quando na verdade o que eu queria fazer era abrir, escancarar meu sorriso. Ele não era o noivo. E por que mesmo que eu tava feliz por isso? Eu não posso me envolver com algum convidado, isso é antiético.
- 7 de novembro. Vai ser de tarde, no sul da França. – Parei e o olhei incrédula. Sul da França em pleno inverno? Ele pareceu entender e riu, voltando a falar. – Em um vinhedo, na verdade, e pra pouquíssimas pessoas.
- Como quase ninguém costuma casar em uma quarta-feira, eu posso sim nesse dia. Vou remarcar um compromisso e enfim… Acho que consigo sim encaixar o casamento do seu amigo aqui. – Ele abriu um sorriso tão grande que eu tive que me segurar pra não acompanhá-lo.

/Flashback

Depois daquele dia, ele passou a me ligar cerca de uma vez ao dia e cada hora inventava um assunto aleatório. No início era lógico que Adam já implicava comigo dizendo que ele era meu futuro ex, assim como ele mesmo era meu quase futuro ex, simplesmente porque já tínhamos saído pra almoçar algumas vezes, sempre a negócios. Eu precisava saber como ia ser todo o processo, porque eu também faço o making of da noiva e não sabia quando ela chegaria ao tal vinhedo. Ele me manteve o tempo todo a par dos planos de seu amigo, o qual eu ainda não tinha conhecido, me dizia que dia eu deveria ir pra França e informações do hotel. Porém, no meio das conversas sobre casamento, minha vida profissional, França e vinhedos, comecei a descobrir mais sobre ele. Não podia negar, tinha adorado o fato de que ele tivesse me procurado, mesmo que do jeito que estava sendo, eu nunca tinha feito aquilo com cliente nenhum, até porque, em sua devastadora maioria, os clientes eram os próprios noivos, e não o padrinho que estava encarregado de alguns detalhes. Como eu poderia sair pra almoçar com o noivo? Pegaria mais do que mal.

O tempo é relativo. Eu o conhecia há apenas um mês quando eu fotografei o casamento do , mas eu sentia que ele sabia tanto de mim quanto Adam. E ao conversar com , eu colocava tantos pensamentos em ordem que passou a me fazer bem, e mantivemos contato mesmo que não tivesse mais nada pra falar sobre o matrimônio de seu amigo.
Era estranho eu saber que eu estava tão ligada ao homem das fotos que eu fiquei babando. Até o dia do próprio casamento. passou toda a festa brincando e implicando com seus amigos da mesma forma que tinha feito no outro, que eu descobri ser da prima de segundo grau dele. Dançou com mais algumas crianças e ocasionalmente brincava comigo. E eu, pela primeira vez na vida, tive vontade de mandar a ética pro alto e curtir aquela festa com ele. Onde já se viu um fotógrafo se relacionando com seu cliente? Bem… por que não?
me chamou pro canto ao fim da festa, Adam nos deixou a sós com um risinho esperto em seus lábios e continuou guardando o equipamento nas maletas que costumávamos carregar. Foi então que eu descobri que aquilo tudo fora uma mentira.

A princípio eu fiquei irritada, obviamente. Por que raios ele mentiria sobre o casamento do amigo, usando meu trabalho pra se aproximar de mim? Eu estava ali, não estava? Pensei mesmo que toda a festa tinha sido uma farsa apenas pra me fazer de idiota. Mas era muita burrice pensar isso, logicamente ninguém gastaria tanto dinheiro apenas pra fazer uma pessoa qualquer de otária. Mas eu me lembro de suas palavras até hoje.

“Eu sabia que você não tinha olhado pra mim da mesma forma que eu tinha te olhado. Você estava concentrada e sorria junto das pessoas que você fotografava. Aquilo chamou mais minha atenção do que os flashes de luz que você lançava.”

Ele estava errado. Eu o tinha olhado de outra forma sim. E Adam ajudou. se aproximou dele durante a festa de casamento onde estávamos trabalhando e pediu meu telefone, já que eu tinha cara de que não dar bola alguma para convidados. Devo admitir que ele estava certo, acho antiprofissional. De qualquer forma, Adam disse que poderia dá-lo apenas o telefone de trabalho e assim ele daria um jeito de se aproximar. E assim ele o fez, junto do meu amigo, marcaram aquele orçamento pro casamento de . E que de fato não era uma farsa. Ele me contou que fez com que o amigo cancelasse com o fotógrafo contratado com a promessa de trazer apenas pra que eu pudesse conceder um pouco do meu tempo a ele. E a mentira era de que na verdade ele não tinha se esquecido de nada, ele queria que eu aceitasse. Ele tinha dado um jeito de que eu aceitasse aquele trabalho.
E eu estava tão apaixonada por ele desde o momento que eu o vi naquelas fotos que eu só fui capaz de achar tudo que ele fez lindo e beijá-lo. Eu estava na França. E eu tinha o dever de deixar todo aquele romance me contagiar.

The End


Nota: Acho que essa é a primeira fic que eu finalizo de verdade, o resto só está finalizada na cabeça. E pra um especial interno, nossa, adoro. E eu finalizei essa coisa aqui da pior forma possível, não me odeiem por isso. Também não sei fazer final feliz aí cagou tudo.
Mas o importante é que essa fic foi escrita pra That e era pra ser Levine, até porque no dia 25 de Agosto, dia que TWM está indo pro ar, estarei eu linda apreciando o Adam por ela. Mas eu vou pensar em você, That, preocupa não.
That’s all folks, espero que tenham gostado. E se não, bem... a única pessoa que tem que gostar de verdade é a That, porque essa coisa ruim aqui é presente de aniversário dela!
Beijos,
Mel.

Minha outra fic:
Bed Bath & Beyond – Restritas/Andamento [fanfics/b/bedbathandbeyond.htm]

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